Filipa Araújo SociedadeAMCM | Especialistas consideram positivo acordo com banco chinês Especialistas em economia acreditam que o acordo assinado entre a China e Macau é apenas mais um passo na atitude de tolerância zero para com a corrupção e o branqueamento de capitais. “Um passo positivo” e uma “atitude determinada” irão permitir a Macau atingir uma economia saudável [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] acordo de reforço de cooperação assinado, na semana passada, entre a Autoridade Monetária de Macau (AMCM) e o Banco Popular da China é considerado um “bom passo” na posição assumida pelo o Governo Central: o fim à corrupção. Apesar das poucas informações das cláusulas deste acordo, a entidade bancária explicou que o que se pretende é reforçar a troca de informações e acções de fiscalização entre os assinantes para prevenir o branqueamento de capitais. Para José Sales Marques, economista, não existe “outra leitura possível”, este acordo é claramente um “tópico de trabalho de cooperação entre duas autoridades de supervisão bancária e portanto o objectivo é o que se tem divulgado, aumentar a colaboração para detectar, precaver e controlar a lavagem de dinheiro”. Os efeitos, do ponto de visto económico, são também eles claros para o especialista: “as medidas que têm por finalidade este tipo de situações, assim como a fraude ou actividades que tenham que ver com um certo tipo de criminalidade, são sempre boas iniciativas”. “Não vejo nada em contrário quanto a este tipo de acordo”, reforçou Sales Marques, acrescentando ainda que acções como estas são de “aplaudir”. Uma postura francamente positiva é a classificação atribuída ainda por Liu Bolong, professor da área na Universidade de Macau (UM) para o novo acordo. “Isto é claramente positivo e um dos efeitos da postura que o Governo Central assumiu, especialmente por causa dos casinos de Macau”, começou por explicar o docente. Ter uma boa cooperação com as entidades bancárias da China é também uma vantagem para que tudo seja mais transparente, conforme indica Liu Bolong. Jogo em causa Relativamente às quedas do Jogo e à perda de jogadores, Sales Marques não tem dúvidas, as coisas têm de ser vistas de uma forma diferente daquelas que têm sido. “É de facto preocupante que este tipo de medidas estejam aliadas ao ‘prejudicar a economia de Macau’. Isto faz-nos questionar: o que é a economia de Macau?”, argumenta. Até agora, diz, tem-se vivido “com os olhos fechados aqui e acolá”, mas estas questões económicas começam a ser combatidas e “isto só pode ser positivo”. “Não queremos ser conotados como a capital da lavagem do dinheiro. Como tudo na vida, estas medidas podem ter algum efeito nos negócios, naturalmente que sim, mas este efeito não pode ser visto como algo negativo, nunca”, remata. Uma nova postura é o que o académico da UM aconselha as operadores a assumir. O Governo Central está “determinado e a sua postura é clara”, por isso, o Governo de Macau e a indústria de entretenimento local “devem tentar arranjar uma nova forma de gestão, abandonando o sistema de junkets, (…) para que Macau seja saudável e tenha um desenvolvimento sustentável dessas mesmas indústrias”, conclui.
Hoje Macau SociedadeCorrupção | AMCM assina acordo com Banco da China [dropcap style= ‘circle’]A[/dropcap] Autoridade Monetária de Macau (AMCM) assinou um acordo de cooperação com o Banco da China que visa uma maior troca de informações no combate à lavagem de dinheiro e à corrupção entre o Governo Central e a RAEM. A notícia, avançada pela edição de domingo do jornal de Hong Kong, Sunday Morning Post, refere serem desconhecidos os detalhes do acordo, do qual se sabe apenas que deve servir para apertar o cerco ao branqueamento de capitais que tem alegadamente lugar nos casinos da região. O periódico afirma que este acordo promove uma cooperação “sem precedentes” neste campo e o facto dos seus detalhes serem desconhecidos pode levantar suspeitas sobre o grau de independência de Macau face à China. A mesma notícia, que cita um comunicado do Banco da China, refere que os dois lados vão adoptar as recomendações feitas pelo Grupo de Trabalho de Acção Financeira (FATF, na sigla inglesa). Combate e independência “A FATF é uma entidade intergovernamental criada em 1989 (…) cujos objectivos são estabelecer padrões e promover a implementação de medidas legais, regulatórias e operacionais para combater a lavagem de dinheiro, o financiamento do terrorismo e outras ameaças relacionadas”, informa a entidade no seu website oficial. Portugal é um dos 34 países-membros da FATF. A assinatura deste Memorando de Entendimento (MOU, na sigla inglesa) levanta questões de independência nos dois únicos territórios que são considerados autónomos: Macau e Hong Kong. “Somos uma entidade autónoma, ou não? Se Macau é, então nós [Hong Kong] também devíamos promover esse tipo de informações a Pequim”, refere uma fonte do Sunday Morning Post, identificada como empresário industrial. Ao mesmo jornal, um especialista em Jogo disse, em tom de aviso, que a RAEHK devia ser cautelosa quanto aos próximos passos do Governo Central. “A campanha anti-corrupção não abarca só Macau e se este tipo de acordo pode ser feito numa das RAE, porque é que não vai ser feito na outra?”, questionou.
Hoje Macau SociedadeAMCM prevê impacto negativo da desvalorização do yuan Consequências ao nível da competitividade das exportações e dos investimentos da Reserva Financeira: eis o impacto para a economia local da desvalorização do yuan, analisadas pela Autoridade Monetária e Cambial de Macau [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Autoridade Monetária de Macau (AMCM) prevê que a desvalorização do yuan tenha impacto na economia de Macau nomeadamente na competitividade das exportações, no número de visitantes e nos investimentos da Reserva Financeira, sem traçar, porém, cenários alarmistas. Numa avaliação preliminar, divulgada na passada sexta-feira, a AMCM estima um “enfraquecimento, a curto prazo, da competitividade das exportações”; e que “pode eventualmente diminuir a atracção” de visitantes da China, a principal fonte de turistas, um cenário passível, por seu turno, de “conduzir a um impacto negativo de curto prazo, quer para o sector do turismo, quer para o sector retalhista”. A AMCM calcula também “um impacto negativo de curto prazo sobre os rendimentos e medidas de controlo de risco prestes a aplicar”, apesar de ressalvar que tem diminuído a proporção de activos denominados na moeda oficial chinesa. A rentabilidade do yuan tornou-se “bastante atraente” nos últimos anos, com as taxas de juros nos países desenvolvidos a aproximarem-se do nível zero, acrescendo o enfraquecimento do câmbio. No entanto, continua a AMCM, “face à mudança da direcção das políticas monetárias internacionais, nomeadamente ao aumento da taxa de juros do USD [dólar norte-americano] e ao fortalecimento do seu câmbio, a Reserva Financeira reduziu, gradualmente, no início do ano, a percentagem dos activos denominados em RMB para controlar o risco”. Assim, “até finais de Junho, depois de ajustar a carteira de posições – contratos de ‘swap’, os activos denominados em RMB representavam 33% dos activos da Reserva Financeira, número inferior ao nível dos 48,6% em 2014”, especifica a entidade reguladora da banca em comunicado. Sublinha ainda a AMCM que, segundo as estimativas preliminares, até Junho, a rentabilidade anual da Reserva Financeira será de cerca de 4%, prognosticando-se, como consequência da queda do câmbio do yuan, uma diminuição da mesma no período de Janeiro a Agosto. No entanto, “o desempenho anual depende ainda da evolução dos mercados financeiros internacionais nos restantes meses do ano [e], segundo as previsões, a Reserva Financeira continua a registar uma rentabilidade positiva”, ressalva. O lado bom Em contrapartida, na análise da AMCM, a desvalorização do yuan pode ter pelo menos um efeito positivo: aliviar a inflação que, no primeiro semestre, foi de 4,92%. “A queda do câmbio do RMB pode baixar o preço dos bens importados e diminuir a pressão sobre a vida da população em geral”, já que uma larga variedade de produtos alimentares provém do interior da China. A AMCM refere ainda que “uma resposta às recomendações das organizações internacionais pode beneficiar o reforço dos rendimentos a médio e longo prazo”, realçando ser “do conhecimento geral do mercado que a implementação das medidas da reforma para aperfeiçoamento do câmbio do RMB visa responder ao relatório de avaliação do Fundo Monetário Internacional (FMI) sobre ‘Direitos de Saque Especiais’, publicado na última semana”. “A adopção pelo Banco Popular da China das políticas de reforma do câmbio pode eliminar os obstáculos que existam na adesão do RMB aos ‘Direitos de Saque Especiais’ [SDR, na sigla em inglês], o que pode contribuir, a longo prazo, para o impulso da transferência, por uma grande variedade de bancos centrais e investidores institucionais, dos seus activos para os denominados em RMB”, antecipa a AMCM na mesma nota. “Em consequência, a detenção pela Reserva Financeira dos activos em RMB pode contribuir para o aumento da sua rentabilidade a médio e longo prazo, no contexto em que são adoptadas estratégias de investimento caracterizadas pelo controlo rigoroso do risco”, conclui a entidade reguladora. Esta quarta-feira, o FMI vincou, porém, que as medidas de Pequim “não têm implicações directas” nos critérios referentes à eventual inclusão do yuan no cabaz de moedas usado pelo FMI, isto apesar de ter saudado a reforma cambial como um “bom passo” para a abertura e flexibilização do mercado de divisas da segunda economia mundial. Nos últimos três dias, a moeda chinesa desvalorizou sucessivamente 1,9%, 1,6% e 1,1% face ao dólar norte-americano, na maior descida do género em mais de duas décadas.