África nossa

LIXEIRAS de materiais electrónicos e metais venenosos têm aumentado exponencialmente pelo mundo fora, sobretudo na África e nos países do Indo-Pacífico. Segundo o relatório publicado na semana passada pela ONU, o ritmo médio anual de crescimento dos resíduos electrónicos foi de 30 por cento entre 2010 e 2022, mostrando que os antigos impérios coloniais, além de continuarem a explorar as suas possessões perdidas para a independência formal, donde importam as suas matérias primas a muito baixo preço, também as utilizam como depósito final para os televisores, computadores, telemóveis e todo o tipo de máquinas de funcionamento electrónico que deixaram de servir.

Os africanos que em 2023 geraram, em média, por pessoa, 0,44kg de resíduos electrónicos recebem parte substancial dos 3,25kg que cada indivíduo produz no mundo desenvolvido.

Informa o relatório da UNCTAD que “os países em desenvolvimento suportam a maior parte dos custos ambientais da digitalização, ao mesmo tempo que colhem menos benefícios. Exportam matérias-primas de baixo valor acrescentado e importam dispositivos de elevado valor acrescentado, a par de um aumento dos resíduos digitais. (…) Constituídos por poluentes orgânicos e metais pesados como o mercúrio e o chumbo, os resíduos de equipamentos eléctricos e electrónicos são classificados como perigosos pela Convenção de Basileia.”

Em janeiro de 2023, a polícia espanhola desmantelou uma rede que exportou ilegalmente mais de cinco mil toneladas de resíduos electrónicos da Europa para a África Ocidental, através das Canárias.

A Comissão Europeia calcula que, dos dois mil milhões de toneladas de resíduos produzidos pelos países da União Europeia (95 milhões considerados perigosos), entre 15% e 30% são exportados ilegalmente por organizações criminosas para países da África, América Latina e Sudeste Asiático. Da exportação legal, que é muito mais volumosa, nada diz.

Compreende-se…

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Quando a escravatura foi abolida, houve países que se endividaram para pagar indemnizações, mas apenas aos proprietários de escravos. O que veio a seguir foi o trabalho forçado, que teve práticas diferenciadas em todo o ex-império português e culminou com o massacre da Baixa do Cassange, no sul de Angola, no dia 4 de janeiro de 1961.

Aí, cansados das condições de trabalho impostas pela companhia Cotonang, com apoio do governo da colónia portuguesa, milhares de trabalhadores angolanos dos campos de algodão lançaram-se num levantamento popular. A revolta foi brutalmente reprimida, tendo sido assassinados milhares de trabalhadores. Ainda hoje não se sabe quantos.

A Cotonang e as autoridades coloniais perpetraram então o que ficou para a História como o Massacre da Baixa de Cassange. Tratava-se de uma companhia luso-belga que obteve uma concessão para plantio de algodão nessa região e forçava os camponeses a cultivarem as fibras, sem receberem salário ou a vendê-las por um preço irrisório-

Os agricultores não tinham salário ou eram forçados a vender a sua produção por um valor muito abaixo do preço no mercado mundial. A obrigação de plantar algodão impedia as famílias de cultivarem seus próprios alimentos.

O poeta Arlindo Barbeitos, que lutou pela independência no Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), descreve assim esta situação:

“As pessoas eram obrigadas a plantar algodão e era absolutamente indiferente que houvesse colheita de milho, massambala (sorgo), batata-doce, mandioca, feijão, aquilo que as pessoas comiam. Não importava, a colheita do algodão tinha que ser garantida. E o algodão só podia ser vendido a uma determinada empresa que tinha o monopólio, as balanças eram falseadas e o preço era baixíssimo. Se não produzissem o algodão devido, eram espancados. Isso são coisas que eu vi.”

Na revolta, os agricultores destruíram plantações, pontes e casas. A colônia reagiu enviando aviões da Força Aérea Portuguesa, que lançaram bombas sobre as pessoas. O número de mortes varia de mil até dez mil agricultores.

*

Fiquei com a pedra no sapato, ao ver o que substituiu a tão antiga, renovada e readaptada realidade da escravatura e, hoje, com o pé a doer cada vez mais, não descansei enquanto não fui mergulhar sem preconceitos óbvios nem certezas ingenuamente adquiridas nesse mar podre onde Gilgameche, Homero, Vigílio, Santo Agostinho, Averróis, Petrarca, Loyola, Camões, António Vieira, Fernando Pessoa e Hermano Saraiva, ministro de um ditador beirão e contador de histórias na TV, fizeram proliferar e repartir as águas por baleias, bacalhaus, sardinhas e medusas e alforrecas, com golfinhos de circo a entreter as academias e os patriotas da historiografia.

Quase me engasguei ao tentar saborear uma palavra que em absoluto desconhecia, chibalo, e até comecei por admitir que podia ser uma gralha arreliadora, já que tem uma fonética muito próxima um étimo moderno caçado aos espanhóis e muito em uso entre os jovens, chavalo. Provavelmente, 99,999 por cento dos humanos existentes nos dois hemisférios terrestres sabem tanto como eu sabia dos chibalos, aqueles infelizes que foram postos a substituir os escravos e os escravizados nas minas e nas plantações dos impérios coloniais.

Trata-se, afinal, segundo a Wikipédia, de “um conceito de servidão por dívida ou trabalho forçado no Ultramar Português (as províncias ultramarinas portuguesas na Ásia África), mais notadamente em Angola e em Portugal (ao contrário dos outros impérios europeus do século 20, as possessões portuguesas deixaram de ser consideradas legalmente colónias pela revisão constitucional de 1951, passando a ser designadas como províncias ultramarinas, parcelas de pleno direito do Estado Português, como forma de atenuar a pressão internacional para a descolonização). Em 1869, os portugueses aboliram oficialmente a escravatura, substituindo o escravo pelo chibalo foi usado para construir a infraestrutura das províncias africanas, pois apenas colonos portugueses e assimilados recebiam educação e estavam isentos deste trabalho forçado.”

Apesar de um pouco arrevesada, esta tradução wikipédica para o português, dá jeito utilizá-la, assim como a citação que faz do professor Motsomi Marobela: “No coração do colapso da agricultura na África Austral estava um desagradável sistema tributário colonial – o imposto sobre cabanas. Foi a introdução desse imposto que criou o que Marx chamou ’exército de reserva de trabalho’ e, que foi barbaramente explorado pelo capital de mineração. Foi esse trabalho forçado que trabalhou plantações e minas coloniais. Assim, de acordo com Seddon (2002), ‘o termo chibalo ou xibalo foi usado comumente na África Central e do Sul a partir do final do século XIX para descrever uma variedade de formas opressivas de trabalho introduzidas pelos europeus.’ Em Botsuana, por exemplo, diz-se que os homens que partiram para as minas sul-africanas foram para o makgoeng (para os brancos) por um período de seis meses como trabalhadores migrantes. Parte de seus pequenos ganhos foi para pagar o imposto. Mas as consequências de tal migração de mão de obra coagida foram profundamente prejudiciais para as economias nativas, que eram principalmente agrárias.”

Com Salazar, o chibalo foi usado em Moçambique para cultivar algodão, sendo “a Companhia do Niassa um exemplo do tipo de empresas que poderiam florescer desde que tivessem acesso a uma força de trabalho não remunerada. O investimento estrangeiro nas províncias ultramarinas portuguesas foi banido para que Portugal se beneficiasse diretamente. Todos os homens de idade adequada tiveram que trabalhar nos campos de algodão, que, por isso, se tornaram inúteis para a produção de alimentos, levando à fome e desnutrição.”

O chibalo substituiu a escravidão que apenas tinha sido abolida “em 1901, uma mera década e meia antes do final dos cinco séculos que abrangem o Império Português. No entanto, enfrentou forte oposição desde o final do século XIX de colonialistas e empresários portugueses, nomeadamente Theodorico de Sacadura Botte”, nas então províncias de Marracuene e Magude.

26 Jul 2024

Afreximbank: “Se os europeus não investirem em África, os chineses investem”

O aviso do presidente do Afreximbank surgiu durante o Fórum Eurafrica que decorre até hoje em Carcavelos

 

 

O presidente do Banco Africano de Exportações e Importações (Afreximbank) alertou ontem que se as empresas europeias não investirem no continente de forma a potenciar o desenvolvimento económico, as empresas chinesas ocuparão o seu lugar.

“A relação com a Europa é baseada na economia; precisamos uns dos outros, não pode ser uma relação condescendente; a razão para o acordo de livre comércio continental africano [AfCFTA] é aumentar o poder de negociação e fortalecer as nossas cadeias de valor, tornando-as mais atractivas para os investidores; se os europeus não vierem, vêm os chineses”, disse Benedict Oramah.

Falando durante o painel sobre ‘Geopolitics: New Map’, no âmbito da quinta edição do Fórum Eurafrica, que decorre em Carcavelos, nos arredores de Lisboa, o presidente do Afreximbank defendeu também a necessidade de aumentar a produção dos produtos e matérias-primas africanas, dando o exemplo dos fertilizantes e dos alimentos.

“A produção alimentar no continente tem de ser aumentada e o conhecimento do que cada país faz tem também de ser aumentado porque a situação actual é que, na verdade, produzimos mais fertilizantes do que o que consumimos, mas por causa da fragmentação da informação, muitos países dependem de fertilizantes importados”, vincou o banqueiro.

 

Potencial adiado

De acordo com os dados transmitidos à Lusa pelo Afreximbank, o continente africano exportou, em 2020, cerca de 11 mil milhões de dólares de fertilizantes, tendo importado o equivalente a 5 mil milhões de dólares, cerca de 4,9 mil milhões de euros.

Na intervenção no fórum, Oramah lembrou o lançamento de uma plataforma que permite a disponibilização da informação sobre os produtos disponíveis para exportação e mostrou-se optimista sobre o futuro.

“Desde pequeno, sempre ouvi dizer que África tem muito potencial, e cheguei à idade adulta, e África continua a ter muito potencial, mas nunca mais vejo o potencial a transformar-se em realidade”, lamentou, concluindo que, com esta e outras iniciativas, “o potencial de África vai, desta vez, transformar-se em realidade a sério”.

A quinta edição do Fórum Eurafrica está organizada em torno de cinco eixos e conta com a participação do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, dos presidentes de Portugal, de Cabo Verde e de São Tomé e Príncipe, e de vários empresários e banqueiros portugueses e africanos.

29 Jul 2022

Principal diplomata chinês em África condena vídeos ofensivos com crianças

O alto diplomata chinês para a África subsaariana, Wu Peng, condenou ontem um esquema de exploração de crianças vulneráveis no Maláui que produz vídeos que são depois difundidos nas redes sociais chinesas, alguns com conteúdo racista.

“A China tem tolerância zero para o racismo”, escreveu Wu, na rede social Twitter, após reunir com a ministra dos Negócios Estrangeiros do Maláui, Nancy Tembo. As autoridades chinesas “proíbem estes actos ilegais ‘online’” e “vão continuar a combater estes vídeos que contêm discriminação racial no futuro”, apontou.

Um documentário de 49 minutos, publicado na segunda-feira pela cadeia televisiva BBC, com o título Racism for Sale (“Racismo à venda”, em português), mostra como criadores de conteúdo chineses venderam vídeos de crianças no Maláui a gritar insultos raciais contra negros, proferidos em chinês.

Num desses vídeos, que remonta a Fevereiro de 2020, um grupo de crianças africanas foi instruído a repetir a frase, sem entenderem o que estão a dizer, “sou um monstro negro e o meu QI [Quociente de Inteligência] é baixo”.

Como cliente basta enviar o pedido, com a frase e requisitos, para o criador de conteúdo. Os vídeos não são apenas de conteúdo racista, incluindo muitas vezes desejos de feliz aniversário, bom ano novo, ou anúncios para empresas chinesas.

Alguns dos vídeos identificados na investigação foram vendidos nas redes sociais chinesas Weibo e Huoshan, entre outras aplicações chinesas de partilha de vídeos. O preço destes vídeos varia entre o equivalente a 10 e 70 euros.

Consternação geral

Nancy Tembo expressou na quarta-feira “consternação” com o caso. “Estão a usar os nossos filhos para enriquecer, o que é mau. Isto é algo que um malauiano não pode aceitar. Estão a desonrar-nos como malauianos”, afirmou.

“A polícia e os assuntos internos estão a investigar e vamos envolver os nossos colegas chineses para ajudar a identificar este homem. Apelo às autoridades locais para estarem sempre alertas nas suas comunidades e também aos pais para protegerem sempre os seus filhos”, disse, referindo-se ao autor dos vídeos.

17 Jun 2022

Diplomacia | O que faz Wang Yi em África?

A diplomacia chinesa tem uma tradição de 32 anos: a sua primeira visita no início de cada ano deve ser a um país africano

 

O conselheiro de Estado e ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, clarificou os três objectivos da sua visita a África durante uma reunião com a sua homóloga do Quénia, Raychelle Omamo, na cidade de Mombasa.
Wang Yi disse que a diplomacia chinesa tem uma tradição de 32 anos: a sua primeira visita no início de cada ano deve ser a um país africano. “A tradição mostra com acções concretas que a China preza a sua amizade tradicional com a África, dá prioridade a África na diplomacia chinesa e está disposta a ser um bom amigo e parceiro de África.

Apesar dos desafios impostos pela pandemia, viemos aqui conforme programado, faça chuva ou faça sol, e permanecemos fiéis à nossa aspiração inicial. Este é o tom da amizade China-África”, disse Wang, acrescentando que a sua “visita para a África tem três objetivos principais”.

Assim, segundo Wang Yi, o primeiro objectivo é trabalhar com a África para derrotar a epidemia. “O mundo enfrenta uma nova onda da variante Omicron. Como amiga da África, a China nunca ficará de braços cruzados. O presidente chinês, Xi Jinping, anunciou que a China fornecerá mais mil milhões de doses de vacinas a África, que é o maior pacote de ajuda e está em andamento. As vacinas estão a ser enviadas por mar para todas as partes de África que as necessitam. Hoje, anunciamos mais 10 milhões de doses de vacina para o Quênia. Vamos apoiar os nossos irmãos e irmãs africanos até que a vitória final seja conquistada”, disse Wang.

Em segundo lugar, prosseguiu o MNE chinês, “a implementação dos resultados do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC) deve ser acelerada. Há mais de um mês, foi realizada com sucesso a 8ª Conferência Ministerial do FOCAC. O presidente Xi anunciou nove programas para a cooperação prática China-África. A série de documentos de cooperação bilateral assinados pela China e pelo Quênia hoje são a primeira colheita dos nove programas no Quénia.”

“Estamos prontos para aumentar a sinergia com os nossos parceiros africanos, arregaçar as mangas e trabalhar duro para entregar todos os resultados da conferência em benefício do povo africano, ajudar a África a acelerar a recuperação pós-epidemia e embarcar no caminho da independência e desenvolvimento sustentável”, disse Wang.

Wang Yi referiu ainda que a chamada “armadilha da dívida” em África não é um facto, mas um “exagero com segundas intenções”. É uma “armadilha do discurso” criada por forças externas que não querem ver África acelerar o desenvolvimento. Se há alguma “armadilha” em África, é a “armadilha da pobreza” e a “armadilha do atraso”.

“A China está pronta a trabalhar com todos os países amigos para ajudar os africanos a acelerar a recuperação pós-pandemia, eliminar a pobreza e o atraso, actualizar-se o mais rápido possível, alcançar um desenvolvimento comum e criar um futuro melhor. A China e a África devem defender firmemente os interesses comuns. Em face da hegemonia, agressores e actos unilaterais, a China e a África têm a responsabilidade de praticar conjuntamente o verdadeiro multilateralismo e salvaguardar a equidade e a justiça internacionais.”

“Por último, a China está pronta para fortalecer a coordenação e cooperação com a África em assuntos internacionais e regionais, salvaguardar o sistema internacional com as Nações Unidas no seu núcleo e as normas básicas que regem as relações internacionais, salvaguardam os interesses legítimos dos países em desenvolvimento e tornam a ordem internacional mais justa e equitativa”, concluiu.

10 Jan 2022

Presidente chinês promete a África mil milhões de doses de vacinas contra a covid-19

O Presidente chinês, Xi Jinping, prometeu ontem a entrega de mil milhões de doses de vacinas anti-Covid a África, quer como doação, quer através de apoios à produção local.

“No âmbito da luta contra o Covid, a China fornecerá a África mais mil milhões de doses de vacinas, incluindo 600 milhões sob a forma de doações e 400 milhões sob outras formas, como a criação de unidades de produção de vacinas”, afirmou o chefe de Estado chinês num discurso remoto transmitido no Fórum de Cooperação China-África (Focac), a decorrer nos arredores da capital senegalesa.

A conferência surge numa altura em que os países africanos estão a trabalhar para reanimar as suas economias, duramente atingidas pela pandemia, e os seus organizadores contam com uma cooperação mais estreita com a China, o maior parceiro comercial do continente, para o conseguir.

Perante a situação de atraso de África na campanha de vacinação, Xi Jinping afirmou a necessidade de se “continuar a lutar juntos contra o Covid”. “Temos de dar prioridade à proteção da população e colmatar a lacuna de vacinação”, concretizou o Presidente chinês.

30 Nov 2021

Do bairro

J. é do bairro. Na verdade é de África mas sabe-se lá quanto de uma pessoa pertence ao passado e quanto pertence ao futuro. O presente é estranho. Um homem quase menino, espigado e magro como um cálamo e quase a intuir-se-lhe esse pequeno passo que o separa, como um vime, de quebrar. O presente em que se apresenta sinuoso um e o outro. Quanto daquele corpo se formou e desapareceu desde que foi um atleta vocacionado e prometedor.

Futebolista daqueles em que há como uma inteligência rápida a mobilizar os reflexos psicomotores como se uma estratégia estudada guiasse no momento certo um movimento instantâneo, uma resposta, um salto sobre o espaço que medeia a corrida e a bola – a abordagem e o domínio – e o objectivo. Um mapa prévio ao disparo. Um animal felino, atendendo às proporções, mas de que a massa muscular desapareceu. O álcool, dizem no bairro, mas já não. Drogas. Talvez. Mas uns dias sim e outros não. E uns dizem que sim e outros que não. É misterioso e sem norte, o que sempre dá trabalho à imaginação.

Trabalha focado. Dilacerado por uma história de insucesso do passado. Pai militar que lhe exigia. Regras. Levantar-se de madrugada porque sim. Um dia o fascínio da dança. Algo nele suspeito de feminino. Mas a dança não seria sintoma sério. Nem a doença, doença. Não podia ser. Não entendi bem a cronologia da rejeição. Algo organiza a dança antes ou depois do futebol. E as drogas antes ou depois do álcool. E expulso de casa. Como pode ser casa de quem é a casa e haver um vómito. Uma autoridade, uma prepotência. Pais donos de filhos e donos de casa e se uns não estão em sintonia com outros, pais que se demitem violentamente de ter decidido um dia dar ao mundo alguém que não pediu para nascer. Mas algo nele adora esse pai de antes ou de depois, como se pode adorar – mesmo assim – quem faz mal. E espera. Talvez.

J. é uma sombra desse atleta pujante e tridimensional. Sobra-lhe a altura mas quebrada de uma certa inclinação com que se mexe, como a tentar não ocupar todo o espaço que a fita métrica lhe admitiria. Oferece trabalho nas obras. Asseado. Com a força incontestável do desespero que não pergunta, simplesmente lhe diz: pega. Meticuloso.

Uns dias, sim. Outros, desaparecido e triste. Não, triste é o olhar todos os dias. Do passado chega ao presente e sem apelo, a adoração por esse pai longínquo que expulsou de casa. Militar. Dono da bola. Como aqueles meninos nos recreios e que negam aos outros o direito de brincar, somente porque podem.

Sobra o presente. Onde não se consegue imaginar a cartografia da memória. A distância de casa. A casa limpa e arrumada, que não paga há dois anos. Custo a ler o mapa em que se desenha este bairro e a dança e o futebol e o tempo vindouro. Se há. A relação com esta rua. A irrequietude com que aparece e desaparece na obra. O olhar que não se prende, talvez sempre presa de outras miragens passadas ou futuras. Aceita um bolo e sem olhar e já lá não está. Arrepia-me pensar que alguém não come o suficiente. J. É do bairro. Todos o conhecem. Resta saber de onde se sente. J. De cá ou de lá. Preso de um desejo de reparação ou de um desapontamento sobre o que poderia ter tido em troca, mas não houve.

Mais esguio do que uma sombra. Persigo-o com os olhos à espera de comprovar se faz ou não sombra nas paredes ao longo das quais se esgueira entre tarefas. Sombrio ele. Mas sem espaço. Quando a obra terminar.

Faz-me lembrar furtivamente as esculturas de Giacometti. O homem que caminha. Mas este, se bem que igualmente fino, furtivo. Com uma qualidade de rapidez e aleatoriedade, que mais nos traz a noção de que há uma mente a determinar, não a caminhada em frente, persistente e imparável, mas a qualidade do movimento rápido, com que se esgueira, esquivo. Está e deixa de estar. É rápido. Uma espécie de felino na floresta urbana. Escuro como uma pantera e sem rasto. Como se algo, à partida, o tivesse apagado.

Mas é do bairro. Como a senhora que ia ao pão com o cãozito pela trela. E roupão turquesa. Gosto deste bairro vindo da idade média e de pessoas que vêm de tão longe como de lá e como eu.

22 Jun 2021

China/África | Cooperação fortalece países em desenvolvimento

O Presidente chinês continua, através da política “Uma Faixa, Uma Rota”, levada a cabo desde 2013, a dinamizar as relações entre os países africanos e a China. Xi Jinping advoga que a colaboração entre o gigante asiático e o continente africano impulsiona a economia dos países em desenvolvimento

 
[dropcap]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, defendeu ontem que a cooperação entre China e África fortalece os países em desenvolvimento, erguendo um novo tipo de relações internacionais, e encorajou os líderes africanos a avançarem com a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”.

Na mensagem que abriu um encontro, em Pequim, entre vários líderes africanos, dedicado à implementação das acções definidas no Fórum China-África do ano passado, Xi lembrou que o mundo atravessa “profundas mudanças, não vistas em um século”, e que a ascensão dos países em desenvolvimento atravessa um momento forte.

Xi considerou o fórum, que em Setembro passado reuniu, em Pequim, dezenas de chefes de Estado e de Governo africanos, um “sucesso” e um “marco na história das relações” entre a China e África.

O Presidente chinês lembrou que os líderes chineses e africanos decidiram por “unanimidade” avançar com a construção conjunta da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”.

A crescer

Lançado em 2013, o projecto inclui aeroportos, centrais eléctricas ou zonas de comércio livre, visando dinamizar regiões pouco integradas na economia global.

Bancos e outras instituições chinesas estão a conceder enormes empréstimos para projectos lançados no quadro da iniciativa, que inclui ainda uma malha ferroviária e autoestradas, a ligar a região oeste da China à Europa e Oceano Índico, cruzando Rússia e Ásia Central, e uma rede de portos em África e no Mediterrâneo, que reforçarão as ligações marítimas do próspero litoral chinês.

Durante a cimeira realizada no ano passado, Xi Jinping anunciou 60 mil milhões de dólares em assistência e empréstimos para países africanos. “Fico feliz em ver que a China e o lado africano trabalharam juntos para impulsionar (…) as acções definidas durante o fórum em Pequim”, disse.

Representantes de dezenas de países africanos participaram ontem na Reunião de Coordenação para Implementação das Acções Definidas na Cimeira de Pequim do Fórum China/África. O país asiático tornou-se, em 2009, o maior parceiro comercial de África.

Segundo as estatísticas chinesas, em 2018, o comércio China-África somou 204 mil milhões de dólares, um crescimento homólogo de 20 por cento. O país asiático é, por exemplo, o maior cliente do petróleo angolano.

26 Jun 2019

Da tristeza

08/04/2018

 

[dropcap]T[/dropcap]inha passado a tarde com o poeta Luís Carlos Patraquim e pelas dezoito ele sugeriu, Vamos visitar o Craveirinha, que está de passagem por Lisboa.

Apanhámos um táxi e quinze minutos depois uma figura plúmbea abriu a porta. En-trámos numa casa soturna, velada por pesados reposteiros e por cores escuras nos mó-veis, maciços, e nos sofás.

E lá estava o poeta, com o semblante mais infeliz que me lembro de ter visto na vida. O Patraca apresentou-nos mas, face ao viático da tristeza, como reagir? O Patrarca tentou uma e outra vez levar o vate a sorrir, mas, atrás do olhar enfermiço, via-se: nevava.

Saí dessa casa com a impressão de ter visitado um castelo desmoronado; alguém que sobrevivera a uma infâmia para agora, a custo, mungir a dor de viver. Não me admirou que pouco tempo depois morresse; aquela presença tersa, fragilizada, subtraída à ilusão de qualquer palavra esfarelava-se à nossa frente. Recebera o Prémio Camões há pouco tempo mas pelos vistos fora tarde.

Creio que o José Craveirinho nunca se livrou do sentimento que o levara a escrever As Saborosas Tangerinas de Inhambane, um poema de revolta e de profunda decepção face ao rumo do país.

Leio agora que cerca de um milhão de crianças moçambicanas estão envolvidas nas piores formas de trabalho infantil, de acordo com os resultados do estudo realizado pelo Ministério do Trabalho, Emprego e Segurança Social (MITESS), em parceria com a Universidade Eduardo Mondlane-UEM.

Um milhão. E essa pesquisa fornece indicações específicas sobre as piores formas desse trabalho infantil: a mineração do tipo garimpo, a prostituição, o tráfico de drogas e o transporte de carga pesada.

Lembro-me de numa visita ao Gabinete Contra a Violência Doméstica, na Beira, ter ficado assarapantado porque até 10 de Março de 2010 – ano em que fiz a investigação -, haviam sido registadas na polícia, só nesses dois meses e meio, 110 crianças abandonadas. E do meu horror ao ter multiplicado isso pelo número das cidades existentes em Moçambique.

Passo a página e leio que Moçambique perdeu, nos últimos 15 anos, cerca de quatro milhões de hectares de floresta, devido à exploração desordenada e outras acções humanas.

As províncias de Nampula, Manica e Sofala são as regiões do país que apresentam o maior desmatamento. Este cenário, dizem os especialistas, ganha contornos preocupantes, agravados pela fraca reposição destes recursos; revela o especialista Credêncio Mahunze: “A província de Nampula, nos últimos 15 anos, perdeu mais de metade da sua área florestal, e se o ritmo continuar, nos próximos 10 anos, podemos não ter florestas nos próximos dez anos”, diz. O que terá efeitos no desencadeamento de um processo de desertificação e, evidentemente, numa alteração do clima local.

Moçambique, leio, perde igualmente elevadas somas com a exploração ilegal da madeira, cujo mercado principal é a China: pelo menos 540 milhões de dólares da venda de madeira não foram para os cofres do estado, entre 2003 e 2013.

Bom, Celso Correia, ministro da Terra e Ambiente, diz que o governo aposta na reforma do sector de florestas e em novos modelos de fiscalização; o mesmo governo que tem fechado os olhos ao saque.

Não creio que estas medidas venham a tempo de abafar as lágrimas não derramadas pela sombra do poeta, irmãs da tristeza que sentia.

09/04/2018

Tive um sonho, uma variação de Fausto; desta vez passa-se em África.

Matusalém – assim alcunhado por ser eterno, mais o seu partido, na chefia do governo – está deprimido: não vê mais nada a que deitar-se a mão.

As riquezas florestais foram delapidadas, vendida a madeira ao desbarato, o que degenerou numa desertificação crescente. Grande parte da mineração continua sem controle, explorada por “camaradas” que desviam para contas no estrangeiros os lucros em vez de os aplicarem na construção de infra-estruturas. Também a agricultura foi desmantelada – num país de terras férteis e bastante irrigado, nem um tomate agora se produz. As poucas fábricas de têxteis foram cilindradas pelas “calamidades” – o negócio que resgata a misericórdia dos países ricos, colocando nas ruas fardos de roupa a preços da chuva. As praias foram vendidas aos lodges estrangeiros. Os elefantes e rinocerontes contam-se agora pelos dedos, pois todos ganharam com a caça clandestina. A riqueza piscícola encontra-se depauperada, depois de décadas de varredura dos leitos do mar por frotas soviéticas e depois chinesas, que nada respeitavam nem tinham defeso. A corrupção alargou-se aos níveis mais capilares.

Matusalém está deprimido: para que raio estar no poder se daí já não vêm vantagens? Só abafar os escândalos, não lhe parece motivador.

Resolve endividar o país, nas costas de um parlamento que nunca respeitou. Em biliões.

E então aconteceu algo inesperado. Um ciclone de inolvidáveis proporções arrasa a segunda maior cidade do país e alaga um território imenso, provocando uma tragédia nunca vista.

Matusalém fica desesperado. Como mostrar uma competência técnica nunca antes exibida para levantar o país da calamidade, sem vislumbre de algo que tenha sobrado e que possa ser depredado?

E então, num rasgo, sugere-lhe o primeiro-ministro. O Presidente convoque o Diabo, ele atenderá.

Podemos vender a sua alma para salvar o país. Parece um mau negócio mas é o melhor. Seremos perdoados, tudo será esquecido, e morreremos ricos e benfazejos. E o Presidente será recordado como o grande salvador.

Melhor plano não havia. Recrutaram-se os melhores espíritas do país e, sob tremendos rituais, convocou-se a Besta. Uma, duas, três vezes, mas o Diabo não reagia.

Convocou-se o diabo uma quarta vez, com sacrifício do último rinoceronte, duas girafas e três pacaças. E aparece um furibundo Balzebu no seu lugar, que atira, dirigindo-se a Matusalém: «Não sei para quê este disparate de te convocares a ti próprio, mas estás a pôr alguns vulcões submarinos furiosos! Cuidado com o que vem aí!”.

Foi aí que se soube que o Diabo sofria de Alzheimer.

11 Abr 2019

Director do IHMT | Malária continua um grande problema em todos os países africanos lusófonos

[dropcap]O[/dropcap] director do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT), Paulo Ferrinho, defende que a malária continua um grande problema em todos os países africanos lusófonos e um desafio maior em matéria de doenças tropicais.

“A malária continua a ser um grande problema em todos os países lusófonos em África, sem excepção. Não podemos dizer que a situação está controlada e, em situações de crise, como a que temos agora em Moçambique, com cheias, esperamos um agravamento da situação”, disse Paulo Ferrinho, em entrevista à agência Lusa.

“A malária continua realmente a ser o nosso grande desafio”, acrescentou. Mais de 90% dos 219 milhões de casos de malária de 2017 e das 435.000 vítimas mortais registaram-se no continente africano, a maioria crianças com menos de cinco anos.

Moçambique é o único país lusófono que no grupo de 11 países em que se registaram 70% de casos (151 milhões) e mortes (274 mil) em 2017 e, por isso, foi escolhido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para aplicar uma nova estratégia de combate à doença.

É o país com a terceira maior percentagem (5%) de casos de malária no mundo e o oitavo onde a doença mais mata (3% do total de vítimas), segundo o relatório anual sobre a doença divulgado em Novembro pela OMS.

Angola surge em 13.º lugar com 2% do total mundial de casos. A Guiné-Bissau registou cerca de 144 mil casos suspeitos de malária em 2017 e 296 mortes, segundo o relatório.

No pólo oposto, entre os países próximos da erradicação da doença está Cabo Verde, que registou, no entanto, em 2017, um surto de paludismo, concentrado sobretudo na ilha de Santiago, com 423 casos – incluindo uma vítima mortal -, nove vezes mais do que os registados no ano anterior.

São Tomé e Príncipe está também próximo da erradicação da doença, com cerca de 2.240 casos suspeitos e sem registo de mortes.

O director do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) falava, à Lusa, antecipando o 5.º Congresso Nacional de Medicina Tropical, que vai reunir, em Lisboa, de 10 a 12 de Abril, especialistas lusófonos, europeus e de outros países para debater as políticas e serviços de saúde no espaço da lusofonia.

Paulo Ferrinho alertou também para a existência nestes países de outras doenças transmitidas por mosquitos (veCtores) “que vão ganhando terreno”.

“Em Angola, temos dengue, Zika, chikungunya, febre-amarela. São doenças que também estão presentes na Guiné-Bissau, mas algumas ainda não estão presentes em Moçambique, onde o grande problema é a malária em todo o território nacional, mas sobre o dengue só temos conhecimento em Nampula, no Norte”, disse.

O reforço dos sistemas de saúde e a promoção do acesso universal à saúde, com ênfase nos sistemas de saúde dos países lusófonos em África, será o foco do congresso, que irá ainda abordar a saúde dos viajantes nestes países e as migrações para a Europa.

Nesse sentido, explicou Paulo Ferrinho, estarão em análise aspectos “considerados os principais estrangulamentos” dos sistemas de saúde, nomeadamente a formação, planeamento e recursos humanos em saúde, a regulação económica do sector ou o apoio laboratorial aos serviços de saúde.

“Vamos ter uma sessão sobre serviços de saúde para viajantes nos países lusófonos. Será uma primeira vez em que vamos fazer um levantamento do que é que se faz nos países lusófonos em relação à saúde dos viajantes. Vamos ter também uma sessão sobre migrantes, olhando para os migrantes de acordo com as necessidades em trânsito para os países de acolhimento, quais as dificuldades e o que se faz para apoiar e acolher esses migrantes”, disse.

Há tendência de globalização de doenças antes restritas ao trópicos

Paulo Ferrinho, alertou, em entrevista à agência Lusa, para a tendência de globalização das doenças tropicais, admitindo a possibilidade de “surtos esporádicos” de malária na Europa.

“A tendência actual das doenças tropicais é de uma convergência cada vez maior entre o tropical e o global. É cada vez mais difícil separar o tropical do global por causa das alterações de contexto, desde as alterações climáticas, à mobilidade das populações, das mercadorias e dos vectores (mosquitos), o que leva à globalização de doenças que antes estavam restritas aos trópicos”, disse Paulo Ferrinho.

O especialista em saúde pública e medicina tropical assinalou que o agente vector (aedes albopictus) de várias destas doenças “é um invasor destemido, que avança mundo fora” e já está “a penetrar na Europa”.

“Ao entrar na Europa, criou alguns surtos de doenças transmitidas por vectores, como a chikungunya, em alguns países europeus. Já temos o aedes albopictus em Portugal e temos de estar atentos para o controlar e para que não se instalem em Portugal doenças que até há pouco tempo eram tropicais”, acrescentou.

Paulo Ferrinho lembrou que o vírus da sida, que surgiu na República Democrática do Congo, levou 80 anos a globalizar-se, mas alertou que a disseminação de doenças pode ser hoje muito mais rápida.

“Há risco de termos surtos esporádicos de malária na Europa. Aliás, já tivemos, por exemplo, na Grécia e em Itália. O vector existe e é preciso estar atento e aconselhar os viajantes sobre como se comportar quando se deslocam a países de risco, mas também estar atentos aos migrantes desses países”, afirmou.

Cerca de mil milhões de pessoas ficarão expostas a doenças como a febre dengue se o aquecimento global continuar, segundo um estudo científico publicado, na quarta-feira, no boletim científico PLOS, que se baseou no registo mensal das temperaturas mundiais.

Os cientistas concluíram que as doenças de climas tropicais estão em expansão e atingirão zonas do globo com climas actualmente menos favoráveis aos mosquitos, porque os vírus que estes propagam provocam epidemias explosivas quando se verificam as condições certas.

Fundado em 1902, o Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) dedica-se ao ensino e à investigação da saúde pública, medicina tropical, ciências biomédicas e epidemiologia, com especial incidência na ligação com os países de língua oficial portuguesa.

2 Abr 2019

África | Analistas apontam fim da política chinesa de não-intervenção

[dropcap]A[/dropcap] China tem recorrido a formas “subtis” de interferir nos assuntos domésticos dos países africanos, desrespeitando o princípio de não-intervenção, através do crescente peso económico e papel em organismos multilaterais, consideram analistas ouvidos pela agência Lusa.

Obert Hodzi, autor do livro “The End of China’s Non-Intervention Policy in Africa”, aponta como Pequim tem “protegido infraestruturas importantes de petrolíferas chinesa” e “treinado as suas tropas para combater no terreno”, através da participação em missões de manutenção da paz da ONU no Sudão do Sul ou no Mali.

Pequim, que outrora considerava aquelas missões como uma forma de interferência, e enviava apenas médicos ou engenheiros, passou nos últimos anos a destacar também soldados para combate – 2.506, no ano passado, o maior número entre os membros do Conselho de Segurança.

Em 2017, o país asiático abriu ainda a sua primeira base militar no estrangeiro, em Djibuti, no Corno de África e, desde 2013, as exportações chinesas de armamento para África aumentaram 55 por cento, face aos cinco anos anteriores, segundo o Instituto Internacional de Investigação sobre a Paz.

O princípio de não-intervenção nos assuntos domésticos de outros países é frequente na retórica da China e foi inicialmente cultivado pela primeira geração de líderes da República Popular, fundada em 1949, em parte porque Pequim não admite, igualmente, interferências na sua política doméstica.

No entanto, a então pobre e isolada China, líder do Movimento dos Países Não Alinhados, converteu-se na segunda maior economia mundial, com fortes necessidades energéticas e de acesso a matérias-primas que alimentem o seu explosivo desenvolvimento.

Novo enquadramento

Eric Olander, jornalista especializado nas relações entre China e África, comenta como o país asiático, que é o maior parceiro comercial de África e o principal credor de vários países do continente, se serve do seu crescente peso económico para cimentar relações tributárias com os Estados africanos, num sistema que remonta à China Antiga, então o Império dominante no Extremo Oriente.

“Para os países que alinham com a agenda da China, tudo corre bem: há acesso ao mercado, apoio, visitas de alto nível. Com sorte até conhecem o Imperador (ou o Presidente, neste caso)”, considera Olander.

“Já em caso de divergência com os chineses, a vida tornar-se-á muito difícil”, acrescenta.

O fundador do portal The China Africa Project lembra que este “relacionamento tributário é muito diferente de um relacionamento colonial”, e deve ser “ancorado na tradição histórica chinesa, ao invés de enquadrado numa lente ocidental”.

Na segunda maior economia do mundo, o papel dirigente do Partido Comunista é um “princípio cardial”, abarcando os sectores chave da economia, judiciário ou imprensa, o que permite às autoridades retaliar de várias formas em caso de fricções diplomáticas.

Uma visita oficial do líder espiritual dos tibetanos, Dalai Lama, que Pequim acusa de ser um separatista, por exemplo, pode ter como consequência que as empresas do país visitado tenham dificuldades em desalfandegar produtos nos portos chineses ou em manterem operações na China.

“É esse o poder que Pequim exerce: grandes oportunidades de negócio – ou os países se comportam como deseja ou não há linhas de financiamento”, descreve Obert Hodzi.

O académico lembra, no entanto, que este tipo de intervenção, “menos coerciva”, tem mais aceitação no continente africano do que o tradicional intervencionismo militar das potências ocidentais.

“A China intervém de uma forma mais humana”, nota, “protege os seus interesses e tenta equilibrá-los de forma a que os países se sintam respeitados”.

19 Mar 2019

Deputado cabo-verdiano critica qualidade de materiais chineses usados em furos

[dropcap]O[/dropcap] deputado cabo-verdiano Damião Medina, do MdP, partido no poder no país, afirmou ontem, no parlamento, que os materiais chineses usados para equipar furos no concelho do Porto Novo, ilha de São Antão, são de má qualidade.

“Furos foram equipados nas vésperas das campanhas eleitorais em Porto Novo, foram mal dimensionados, material de má qualidade, atrevemos até dizer material chinês, que hoje estamos a resolver. Essas são as intervenções que vocês fizeram durante esses 15 anos”, disse o deputado do Movimento para a Democracia (MpD), eleito pelo círculo eleitoral da ilha de Santo Antão.

O deputado fazia referência às obras realizadas pelo Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV), agora na oposição, após perder as eleições em 2016, depois de 15 anos no poder.

Damião Medina fazia uma intervenção no debate com o ministro da Agricultura e Ambiente, Gilberto Silva, no arranque da sessão plenária de Janeiro no parlamento cabo-verdiano, precisamente num edifício construído e reabilitado pela China.

Em resposta, o deputado do PAICV Carlos Delgado pediu um pronunciamento do presidente da Assembleia Nacional, Jorge Santos, relativamente às declarações de Damião Medina, o que não chegou a acontecer.

“Gostaria de ouvir o pronunciamento do presidente sobre essa afirmação infeliz do deputado, que acusou gravemente um país, que é a China, que tem uma cooperação histórica com este país”, afirmou Carlos Delgado, eleito também pelo círculo eleitoral de Santo Antão.

Damião Medina voltou a intervir, dizendo que o seu colega não o vai colocar em problemas com a China. “Reconheço o que a China tem feito pelo país e não é o caso que referencia”, esclareceu.

A China é um dos principais parceiros de Cabo Verde, em relações diplomáticas estabelecidas em 1976, um ano após a independência do país africano.

Além da Assembleia Nacional, a China construiu vários outros edifícios emblemáticos em Cabo Verde, como a Biblioteca e o Auditório nacionais, a primeira barragem no país, e tem apoiado outros projectos e instituições no arquipélago.

17 Jan 2019

Salva Dut, activista e sobrevivente da Guerra Civil do Sudão: “Corri na direcção oposta ao som das balas…”

Era só mais um dia de escola quando os tiros romperam pela aldeia onde vivia Salva Dut, à altura com 11 anos. Depois de perder o contacto com a família, a luta pela sobrevivência deu-lhe forças para caminhar centenas de quilómetros no deserto até chegar a um campo de refugiados. Hoje, com 44 anos, leva água potável ao país de origem e conta a sua história na primeira pessoa

[dropcap]Q[/dropcap]ue memórias guarda do dia em que foi obrigado a fugir da sua aldeia devido à guerra?
É um dia que tenho muito presente. Eram 10h da manhã e estava na escola. De repente, começámos a ouvir o barulho dos tiros e tivemos de fugir. O nosso professor apenas nos disse para fugir… E corri na direcção oposta ao som das balas…

Que cenário viu quando fugiu da escola?
Foi um momento muito assustador. Lembro-me de ver pessoas perdidas a correrem em todas as direcções. Muitas já estavam cobertas por sangue, havia sangue por todo o lado.

Entre esse momento, em 1985, até 2002 esteve 16 anos sem saber da sua família. Pensou neles quando fugia?
Não. Num momento daqueles não se pensa em quase nada. O nosso objectivo é fugir, evitar o perigo e chegar a um lugar seguro. Quando o professor nos disse para fugir, deixei tudo para trás, até o livro de exercícios. Só queria fugir para longe do barulho das balas e nem pensei na minha família.

Quando se lembrou deles?
Quando me senti mais seguro, comecei a pensar neles, a perguntar-me como ia regressar a casa, a pensar se eles estariam vivos. Foi um pensamento que me perseguiu durante quase 17 anos…

FOTO: Escola Internacional de Macau

Após a fuga, em conjunto com 1500 rapazes, passou a fronteira para a Etiópia e mais tarde para o Quénia, com uma nova passagem pelo Sudão. Temeu morrer durante a fuga?
Sem dúvida, o medo estava sempre muito presente. Não estávamos num lugar seguro, não tínhamos como arranjar água nem comida, e depois havia os ataques das tribos e dos animais selvagens… Nessa altura, um dos meus melhores amigos morreu devido a um ataque de um animal.

Foi atacado por leão?
Não sei dizer, talvez tenha sido um leão ou uma hiena. Aconteceu tudo à noite, quando estávamos entre a vegetação e não vimos como aconteceu. Só começámos a ouvir os gritos dele e percebemos que estava a ser atacado. Mas era de noite e não conseguimos ver nada, por isso também não pudemos fazer nada… Fomos ouvindo os gritos até que eles chegaram ao fim…

A caminhada foi feita principalmente à noite?
Tinha de ser, até porque tínhamos de passar por outras tribos. Se nos vissem, o normal era que nos atacasse porque nos consideravam o inimigo. Assim, à noite caminhávamos para tentar passar sem ser vistos, e durante o dia tínhamos de manter-nos escondidos. Eram alturas em que não se descansava.

O que passa pela cabeça de um rapaz de 11 anos que vive uma experiência destas?
Sobreviver. Estamos tão assustados que só pensamos em fazer tudo para chegar a um lugar seguro. Não pensamos em mais nada que não seja, para onde vamos ou como vamos arranjar água ou comida. Também há sempre o medo de sermos encontramos pelo inimigo, que nos quer matar. São dias em que o único pensamento é a sobrevivência.

Neste tipo de conflitos, há tendência para os militares matarem as crianças, que se podem tornar soldados do inimigo. Vocês tinham noção disso?
Sim, nós sabíamos que as crianças eram alvos preferenciais e, como é óbvio, isso contribuía para que tivéssemos mais medo.

Como é que uma criança com 11 anos lida com esta situação e com o facto de ter perdido o contacto com a família?
Eu estava tão focado em sobreviver que o meu cérebro não pensava em mais nada. Só às vezes, nos momentos de descanso, é que pensava no que estava a acontecer e na minha família… Mas o que é que eu podia fazer? Não havia correios, não havia telefones, não havia transportes para regressar… Tive de aceitar que o que não tem remédio, remediado está…

O Salva Dut é cristão. Alguma vez pensou que Deus não existisse nesta fase?
(Pausa) Acho que nunca tive esse sentimento. Eu rezava sempre à noite e de manhã. Rezar e estabelecer uma ligação com Deus foi um grande apoio, uma grande motivação nessa fase. Até porque quando uma porta se fecha, há sempre a possibilidade de Deus abrir outra. Considero que foi isso que aconteceu.

Esteve no campo de refugiados de Lodawar, no Quénia, seis anos. Como era a vida nesse local?
Foi uma altura em que estava por minha conta. Não tinha familiares e no campo, que é gerido pelas Nações Unidas, davam-nos comida e roupas. De resto, não havia muito mais nada para fazer. O objectivo era estar num lugar seguro.

Em 1996, é escolhido num programa norte-americano para ser adoptado por um família em Rochester, Nova Iorque. Foi uma mudança radical?
Foi muito difícil. O choque cultural foi tremendo e lembro-me que achava que estava sempre frio. Também não falava a língua, mas tinha de ir à escola, trabalhar… Foi difícil, mas sabia que tinha de me adaptar, porque poderia melhorar muito a minha vida.

Vinha de uma aldeia onde não havia água nem electricidade. Sentiu uma grande diferença no estilo de vida?
Sim. Na casa onde vivia no Sudão do Sul não existiam lâmpadas nem água. Quando cheguei ao EUA há todas estas coisas que tornam a nossa vida muito confortável e que utilizamos de forma automática. Por exemplo, eu não sabia acender uma luz. Este tipo de coisas que as pessoas nos países mais desenvolvidos fazem de forma natural, porque sempre viveram com elas, eu tive de aprendê-las.

Como se sentiu por ir para os EUA?
Sinto-me abençoado por Deus, que me guiou e me deu algo de positivo, apesar de todas as situações difíceis. Estive numa situação de guerra com 11 anos, tive toda aquela caminhada de centenas de quilómetros até chegar a um lugar seguro, foram condições em que muitos morreram. Eu sobrevivi e ainda tive a oportunidade de ir para os EUA. Também pude regressar ao Sudão do Sul, ajudar as pessoas lá, e reencontrei os meus pais. É algo fantástico.

Em 2002, um ex-companheiro do campo de refugiados informa-o que o seu pai está a ser tratado numa clínica das Nações Unidas… Como foi o reencontro?
Foi uma emoção tremenda. Quando me aproximei dele, ele não me reconheceu. Eu, primeiro, disse: “Olá, pai”, e ele respondeu: “Quem és tu?”. Tive de dizer: “Sou eu, o Salva” e ficámos ambos muito emocionados. Durante esses anos todos tinha muitas dúvidas de que o voltaria a ver vivo.

É também a partir desse momento que decide criar a Water for South Sudan, fundação que tem como objectivo levar água potável às várias aldeias do Sudão do Sul…
Ele estava a receber tratamento devido a uma doença causada pela ingestão de água que não é potável. Nessa altura, decidi que tinha de fazer alguma coisa para ajudar as pessoas como o meu pai.

E o reencontro com a sua mãe, quando ocorreu?
O meu pai teve de caminhar mais de 480 quilómetros para chegar à clínica e ela ficou na nossa aldeia a tomar conta do resto da família. Por isso, só estive com ela depois de regressar aos EUA e voltar novamente ao Sudão do Sul.

Ela reconheceu-o?
Não, fui eu que a reconheci. Estava sentado numa mesa numa sala, quando ela entrou. Nessa altura não a vi logo, porque estava a falar com o meu tio. Até que ela entra e pergunta ao meu tio: “Onde é que ele está?”. E ele disse “é este rapaz aqui”. Foi fantástico o reencontro.

Como se sente por ter estado tanto tempo afastado da sua família?
Sinto-me muito mal com isso. É algo que desejava que nunca tivesse acontecido. E é isto que é a guerra. Sempre que há guerra quem sofre são os inocentes.

Este tipo de injustiça motiva-o para tentar melhorar a situação no Sudão do Sul?
Talvez seja uma das razões…

Uma das ideia que defende é que o acesso a água pode pacificar os conflitos entre as diferentes tribos do Sudão do Sul. Porquê?
Quando as pessoas têm acesso à água não precisam de se deslocar à procura deste bem-essencial. Esta busca é uma das causas dos conflitos entre as tribos. É frequente no Sudão do Sul, ver as pessoas mais novas a matarem-se umas às outras devido ao acesso à água. Neste sentido, trazer água para as diferentes aldeias também é contribuir para a paz.

E isso não cria um sentimento de inveja?
Não é a isso que temos assistido, pelo contrário. É comum que pessoas de tribos diferentes se ajudem a abrir novos poços. Nessas situações é comum ouvirmos as pessoas de tribos diferentes a dizerem somos todos o mesmo povo.

Qual é o maior desafio nos trabalhos de escavação de poços de água?
Há muitos. O principal é a falta de infra-estruturas, não temos estradas, fábricas com capacidade para produzir tubos que utilizamos, ou as bombas de água. Todos os materiais que utilizamos são importados.

O Sudão do Sul está em guerra civil desde 2013. Na semana passada houve um acordo de paz entre o Governo e as forças rebeldes. Acredita que é desta que a guerra termina?
No passado houve acordos semelhantes que foram violados. Não sei o que vai acontecer desta vez. Mas espero que seja diferente, que haja paz. As pessoas do Sudão do Sul já sofreram demasiado com as guerras e só com a paz e estabilidade poderá haver prosperidade.


Perfil

Nascido em 1974, Salva Dut nasceu na tribo Dinka e aos onze anos, em 1985, viu-se obrigado a fugir da aldeia onde vivia, no Sul do Sudão, devido à Segunda Guerra Civil. É um dos 40 mil “Lost Boys” [crianças perdidas em português], nome para os menores que se perderam dos pais devido ao conflito armado. Em fuga, com um grupo de várias crianças, Salva teve de percorrer centenas de quilómetros, para encontrar abrigo, primeiro, num campo de refugiados na Etiópia e, depois, no Quénia. Em 1996, ao abrigo de um programa das Nações Unidas foi adoptado por uma família de Nova Iorque. Actualmente, é cidadão norte-americano e licenciou-se em Negócios Internacionais no Colégio Comunitário de Monroe, que pertence à Universidade Estadual de Nova Iorque. Em 2003, fundou com um grupo de amigos a associação sem fins lucrativos Water for South Sudan [Água para o Sudão do Sul], que tem como objectivo levar água potável a um dos mais novos países do mundo.

Conflitos armados desde 1955

Em 2011, a República do Sudão do Sul tornou-se oficialmente um país. Porém, encontra-se em guerra civil desde 2013. Na semana passada, foi assinado um acordo de paz entre o Governo e as forças rebeldes, mas há bastantes dúvidas quanto ao sucesso da resolução, uma vez que no passado, por várias vezes, acordos deste género não foram cumpridos. Desde 1955, altura em que o território que agora constitui a República do Sudão do Sul pertencia ao Sudão, que a História do país está marcada pela guerra. Nos períodos 1955-1972 e 1983-2005, o Sudão do Sul, maioritariamente cristão, lutou com o Sudão, maioritariamente muçulmano, por maior representatividade e mais tarde por independência. O objectivo foi alcançado em 2011, após um referendo. Porém, dois anos depois, conflito armado regressou à região. Agora, Salva Kiir, presidente do país, e Riek Machar, líder dos rebeldes, dizem que vão partilhar o poder. Resta saber se vão efectivamente conseguir entender-se e terminar a guerra.

Convite da Escola Internacional de Macau

Salva Dut esteve em Macau a convite da Escola Internacional de Macau [The International School, em inglês], onde teve a oportunidade de partilhar a sua história e falar das actividades da Water for South Sudan com os alunos da instituição. Além disso, houve actividades promovidas pela escola de recolha de fundos para financiar a escavação de mais poços no Sudão do Sul. “Até hoje, já cavámos 349 poços e treinámos uma equipa especializada para auxiliar as diferentes aldeias em questões de higiene e manutenção desses poços”, disse Salva Dut, ao HM. “Os efeitos da escavação de um poço são fantásticos para as comunidades. A menina que antes tinha de andar quilómetros para ir buscar água para a família passa a ter tempo para poder ir à escola. E isso é uma semente para um futuro melhor para o Sudão do Sul e para a sua população”, acrescentou.

• Ajude a Water for South Sudan
5 Nov 2018

A China e a Construção de Infraestruturas em África

[dropcap]O[/dropcap]sector de infraestruturas representou desde sempre uma área importante na relação entre a China e África, importância essa que ganhou ainda maior proeminência ao longo das últimas duas décadas. Nos anos subsequentes à crise financeira de 2008, o papel da China como financiadora e construtora de infraestruturas em África apenas tornou-se mais preponderante.

O crescimento da China neste sector deverá ser lido à luz de dois factores determinantes: em primeiro lugar, o excesso de capacidade doméstica aliado a um considerável volume de reservas cambiais convida à exportação desse excedente, o que está em linha com a política Chinesa “Going Out”; em segundo, o facto de países e instituições internacionais que tradicionalmente apoiam África terem desde há várias décadas (anos 80) optado por reduzir o apoio ao desenvolvimento de infraestruturas em África, política que se tornou ainda mais pronunciada em virtude da crise financeira de 2008.

No que concerne o investimento Chinês neste sector, o financiamento é providenciado sobretudo através do Banco de Exportação-Importação Chinês (China Eximbank) e pelo Banco de Desenvolvimento da China (China Development Bank, CDB), policy banks da China e, como tal, instrumentos de implementação da estratégia Chinesa. E embora as condições contratuais associadas sejam comparativamente menos exigentes que as das Instituições Financeiras Internacionais, o financiamento é feito sob a condição de contratação de empresas Chinesas e aquisição de tecnologia, equipamentos e serviços Chineses. Em tudo semelhante ao praticado por outros países.

Exemplos recentes de projectos financiados pela China em África (alguns deles associados à Iniciativa Faixa e Rota, BRI) incluem as ferrovias SGR (Standard Gauge Railway) no Quénia e na Nigéria, e a ferrovia transfronteiriça entre Addis Ababa na Etiópia e o Djibouti. Muitos destes projectos estão localizados em países sem grandes recursos naturais, não obstante estarem associados (mas nem sempre) à sua exploração, constituindo muitas vezes um factor de sustentabilidade do investimento. É certo, no entanto, que a viabilidade dos projectos é fundamental no processo de tomada de decisão de investimento, um aspecto que ganhou importância fruto de lições de investimentos Chineses em África no passado, mas também tendo em vista a projecção da uma imagem do financiamento Chinês como sendo feito de forma responsável, sem intenção de colocar países recipientes numa situação de endividamento insustentável. Acima de tudo, a China procura convergir interesses: o desenvolvimento desses países, conjugado com a abertura de mercados aos seus bens e serviços.

A imagem do investimento Chinês em África como ambientalmente irresponsável é enviesada. Em primeiro lugar, a avaliação do impacto ambiental de um determinado projecto fica normalmente a cargo do país recipiente. Em segundo, e relativamente à actuação de empresas de construção Chinesas, um estudo recente da SAIS-CARI (Universidade John Hopkins) relativo à avaliação do desempenho de empresas de construção Chinesas em projectos do Banco Mundial em África indica a existência de problemas ambientais e sociais em apenas 2 projectos num total de 72. Finalmente, esta imagem ignora o facto de a China ser excedentária também na área das energias renováveis, tendo já desenvolvido múltiplos projectos neste sector: parques eólicos na Etiópia, projectos de geração de energia solar na África do Sul, e múltiplos projectos hidroeléctricos em todo o continente.

A ferrovia SGR no Quénia é um caso ilustrativo da complexidade das variantes envolvidas. O caminho-de-ferro atravessa o Parque Nacional de Tsavo, com uma grande população de animais selvagens. Por forma a reduzir a influência do traçado nas rotas de migração de elefantes, girafas e outros animais, a construtora China Road and Bridge Corporation (CRBC) definiu corredores por onde os animais podem passar livremente. Apesar destes esforços, o projecto não deixou de ser merecedor de críticas. No entanto, e no que concerne medidas de protecção ambiental, as opções do trajecto, e as opções de projecto em geral, parecem ter sido definidas tendo em conta sobretudo a pressão do governo Queniano para que o projecto fosse completado no mais curto espaço de tempo possível, e de maneira a minimizar os custos com expropriações. Este último factor constituiu um permanente foco de tensão durante a execução do projecto, fruto de problemas financeiros (os custos com expropriações ficaram a cargo do governo Queniano, e ultrapassaram largamente os valores projectados antes da construção) e sócio-políticos (a diversidade étnica do país a par do aproveitamento político do projecto, gerou tensões com acusações de favorecimento de determinadas etnias e comunidades). Pela sua parte, a CRBC pôs em marcha uma estratégia CSR (Corporate Social Responsibility) com vista à mitigação de problemas de cariz social relacionados com o projecto. Esta estratégia inclui, por exemplo, a nomeação de agentes de ligação em todos os sectores da ferrovia, cuja função foi constituir uma ponte de comunicação entre a construtora e as comunidades locais através da qual as diferentes comunidades apresentavam queixas e pedidos à CRBC.

Daqui resultou, em resposta a algumas das queixas e pretensões manifestadas, que a CRBC renovou escolas, centros de saúde, igrejas e mesquitas, além de ter construído pequenas estradas e pontes a pedido de comunidades locais.

Importa também referir que as firmas Chinesas, em geral, contratam mais trabalhadores locais em África do que outras empresas estrangeiras. Para a ferrovia SGR no Quénia, a CRBC empregou 21858 trabalhadores, 2000 dos quais Chineses, e 19858 trabalhadores Quenianos. É verdade que até há uns anos a proporção de trabalhadores Chineses era maior, mas paulatinamente essa percentagem tem decrescido, a par com o aumento dos vencimentos na China e com a formação de quadros locais. Formação essa providenciada pelas próprias empresas Chinesas.

Muito do aqui escrito contradiz o que é publicado nos meios de comunicação. No entanto, estudos realizados em instituições académicas e de investigação ocidentais descrevem esta realidade. A acção de firmas chinesas em África está em linha com o praticado por empresas Japonesas e ocidentais na China desde finais da década de 70. A ideia é apoiar o desenvolvimento dos países recipientes e ganhar mercado na região. A China tem investido em África tanto pela sua riqueza natural, como pela crença que o continente estará prestes a entrar num ciclo de grande desenvolvimento económico. Consequentemente, a sua influência económica e geopolítica é cada vez maior. Este facto parece ter motivado Donald Trump, este mês, a criar uma nova agência americana de ajuda externa – The United States International Development Finance Corporation – com um capital de 60 mil milhões de dólares para apoiar projectos na Ásia, África e nas Américas. Esta agência surge um mês depois de, durante o encontro FOCAC 2018 em Pequim, Xi Jinping ter anunciado que a China providenciaria financiamento na ordem de 60 mil milhões de dólares a África. Curiosamente, há um ano e meio Trump anunciava a intenção de cortar ajuda externa a África. Não restam dúvidas que as motivações para a criação desta agência não são altruístas.

19 Out 2018

Angola | PR na China a negociar empréstimos de 10 mil milhões  de euros

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap] oão Lourenço regressa a Pequim para negociar um pacote de novos empréstimos que visam financiar projectos que vão do novo Aeroporto, à marginal de Corimba, em Luanda, ou ainda a construção da base da Academia Naval, em Kalunga

O Presidente angolano, João Lourenço, efectua esta terça e quarta-feira uma visita de Estado à China, onde esteve há cerca de mês e meio, enquanto tenta fechar empréstimos de Pequim avaliados em cerca de 10.000 milhões de euros.

O montante em negociação junto de parceiros internacionais (China e Europa), segundo noticiou a Lusa em Maio último, citando fonte governamental, poderá ascender a de 16.500 milhões de euros em linhas de financiamento para projectos no país. Contudo, a maior parte será oriunda de instituições bancárias chinesas.

Cerca de 40 dias depois de ter participado, em Pequim, na terceira cimeira do Fórum de Cooperação China-África, João Lourenço regressa assim ao país, enquanto tenta chegar a um acordo nas negociações que decorrem há vários meses.

A 1 deste mês, fonte da Casa Civil do Presidente da República angolano adiantou que João Lourenço será acompanhado pelo ministro das Relações Exteriores, Manuel Augusto, e pelo Governador do Banco Nacional de Angola, José de Lima Massano.

Em Pequim, acrescentou a fonte, o Presidente angolano será recebido pelo homólogo da China, com quem esteve reunido a 4 de Setembro passado, à margem da cimeira, em que manifestou a Xi Jinping o desejo de ver aumentado o investimento direto de empresas chinesas na produção de bens de amplo consumo.

Em Setembro, durante a estada em Pequim, o Presidente angolano adiantou que o investimento pode ser feito através do estabelecimento de parcerias “mutuamente vantajosas” com empresários angolanos, na partilha de tecnologia e de conhecimento científico e na formação de quadros angolanos.

Para assegurar o êxito dos programas bilaterais de cooperação, o chefe de Estado angolano defendeu o estabelecimento de “mecanismos práticos que possibilitem o acesso aos recursos financeiros necessários para o sucesso das medidas de políticas estabelecidas pelas nações africanas”.

João Lourenço considerou também “necessário” que as instituições bancárias africanas e da China desempenhem um papel importante, “com o objectivo de tornarem real a vontade política de ambos os lados” em proporcionar os recursos e desenvolver projetos que garantam um desenvolvimento que se revele “mutuamente vantajoso”.

Durante a visita de João Lourenço, porém, não foi possível concluírem-se as negociações para a definição de um quadro geral de cooperação financeira bilateral, que ficaram então adiadas para fins de Setembro e, agora, para a visita do Presidente angolano.

“É possível que este acordo (sobre a definição do quadro geral de cooperação financeira) seja assinado na China ainda este ano”, disse então Manuel Augusto, salientando que Pequim está disposta a financiar projectos em África, mas uma das contrapartidas é a transparência nos países que queiram concorrer a esse financiamento.

Obras gerais

A Lusa noticiou em Maio último que o Governo angolano está a negociar mais de 16.500 milhões de euros em linhas de financiamento internacionais para projectos no país, a maior parte junto de instituições da China.

De acordo com informação do Governo angolano enviada na altura a investidores internacionais, Angola está actualmente a negociar “várias novas facilidades de crédito”, algumas das quais em fase avançada de negociação.

É o caso de uma linha de financiamento em negociação com os chineses do ICBC (Banco Industrial e Comercial da China), para projetos de infraestrutura em Angola, avaliados em 11.700 milhões de dólares.

Tendo ainda o ICBC como angariador, agente e credor original, o Governo angolano, lê-se no documento, está “em vias de celebrar um contrato de empréstimo” de 1.281,9 milhões de dólares, para financiar até 85% do preço do contrato para a concepção, construção e fornecimento de equipamentos do Novo Aeroporto Internacional de Luanda, em construção por empresas chinesas nos arredores da capital.

Este empréstimo será por um período de 15 anos e inclui um período inicial de carência de 18 meses, durante o qual Angola não é obrigada a reembolsar o montante principal do empréstimo.

Através do banco estatal chinês que apoia as importações e exportações do país (China EximBank), Angola está a negociar um financiamento para a construção da marginal de Corimba, em Luanda, de 690,2 milhões de dólares, para o sistema de transporte de eletricidade da barragem de Lauchimo, por 760,4 milhões de dólares, e para a construção da base da Academia Naval, em Kalunga, Porto Amboim, no valor de 1.100 milhões de dólares.

Só entre 2013 e final de 2017, dados do Governo angolano indicam que a dívida total de Angola à China – bilateral e aos bancos comerciais chineses – passou de 4.700 milhões de dólares para 21.500 milhões de dólares, equivalente a mais de 60% de toda a dívida contraída externamente pelo país.

Ainda sem estes acordos de financiamento fechados, o Governo angolano estima fechar 2018 com um endividamento público de 77.300 milhões de dólares, equivalente a 70,8% do Produto Interno Bruto (PIB) do país para este ano, excluindo a dívida da petrolífera estatal Sonangol.

8 Out 2018

Interesse da China por África despertou as outras potências

Ahmed Ouyahia, de visita a Lisboa para participar na V Cimeira Luso-Argelina, salientou o papel da China no desenvolvimento económico do continente africano.

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] primeiro-ministro argelino afirmou ontem, em Lisboa, que o interesse da China por África criou “dinâmica económica” e despertou o interesse da Europa e de outros continentes para uma região anteriormente pouco apelativa.

A China já tem uma presença “substancial” na Argélia, em sectores como a construção e o desenvolvimento económico e o país magrebino é signatário do memorando de entendimento relativo à nova Rota da Seda, a ambiciosa iniciativa chinesa de infraestruturas de transportes para facilitar o comércio entre Ásia, Europa e África, lançada pelo Presidente Xi Jinping.

“Pensamos que a África ganhou muito com isto. Antes dos chineses terem chegado, com a sua ajuda, o seu interesse pelas matérias-primas (…) muitas outras regiões desenvolvidas do mundo olhavam para África com pouco interesse”, disse, em entrevista à Lusa, Ahmed Ouyahia, que ontem visitou Portugal, no âmbito da V Cimeira Luso-Argelina.

“No nosso caso, somos um país possuidor de alguns recursos próprios como o petróleo, os chineses têm vindo trabalhar, fazemos contratos e pagamos no fim. Noutros países africanos, têm ajudado África a desenvolver-se com recurso ao crédito e comprando matérias primas. Desde que a China esta cá [África], criou uma dinâmica, importante para este continente e para o resto do mundo”, sublinhou o governante argelino.

Bons parceiros

A China apoiou a revolução argelina contra a França, da qual resultou, há 56 anos, a independência da Argélia, e é actualmente o seu principal parceiro económico.

A cooperação económica, concretizada em 13 acordos em diversas áreas, foi um dos principais temas do encontro que Ahmed Ouyahia teve ontem com o seu homólogo António Costa, mas os dois governos comprometeram-se também a reforçar a cooperação policial e aprofundar os mecanismos de prevenção e combate à criminalidade organizada e terrorismo.

“Uma ameaça que existe em todos os países”, lembrou o primeiro-ministro argelino, mas que “a Argélia praticamente conseguiu acabar” após 15 anos de luta.

Questionado sobre as migrações, outro tema que tem dominado a agenda política europeia, disse que Portugal e Argélia têm uma visão convergente sobre o assunto.

“O problema não é levantar muros, é de gerir e resolver as suas razões [das migrações]”, salientou o primeiro-ministro argelino, acrescentando que o tema do desenvolvimento tem estado ausente na análise deste problema.

5 Out 2018

Diplomacia | Inaugurado novo consulado honorário da Guiné-Bissau

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Guiné-Bissau conta, desde segunda-feira, com um novo consulado honorário, liderado por Chan Meng Kam, empresário e membro do Conselho Executivo.

“Sentimos a necessidade de abrir o novo consulado para aprofundar as relações com Macau, que é uma plataforma entre a China e os países de língua portuguesa”, afirmou à agência Lusa o embaixador guineense em Pequim. Neste sentido, para Malam Sambú era indispensável a Guiné-Bissau marcar presença em Macau até porque era o “único lusófono sem representação” no território.

A inauguração do novo consulado, que funciona no Golden Dragon Center, no NAPE, contou com a presença do ministro dos Negócios Estrangeiros guineense, João Butiam Có, e do Chefe do Executivo, Fernando Chui Sai On. A função de cônsul honorário da Guiné-Bissau em Macau era, até agora, desempenhada pelo empresário local John Lo Seng Chung.

Do universo dos países de língua oficial portuguesa existem apenas três com consulados-gerais estabelecidos na RAEM: Portugal, Angola e Moçambique. Segundo dados oficiais, no final do ano passado, outros dois países lusófonos tinham nomeado cônsules honorários na RAEM: Cabo Verde e Guiné-Bissau.

26 Set 2018

Fitch | Pagar empréstimos com petróleo angolano é perigoso

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] consultora Fitch Solutions considerou que o modelo de empréstimos pagos com petróleo, muito usado pela China no financiamento a África, nomeadamente a Angola, vai aumentar no continente, mas alerta para os riscos para ambos.

“Enquanto os empréstimos pagos em petróleos reduzem os riscos de pagamento para os financiadores chineses, evitando confiarem na capacidade do governo angolano para cumprir as obrigações de pagar a dívida, salientamos que os altos níveis de endividamento em Angola, representando uns estimados 71,4% do PIB em 2018, vão limitar a capacidade para apoiar projectos de infra-estruturas e restringir o crescimento da indústria da construção nos próximos anos”, escrevem os analistas.

Numa nota sobre a crescente dependência de Angola do financiamento chinês, que vai chegar a mais de 40% da dívida total no seguimento de um acordo de financiamento de 11 mil milhões de dólares para 78 projectos de infra-estruturas acordados em Setembro, em Pequim, a Fitch Solutions escreve que “os custos de servir a dívida vão aumentar e, com o declínio das receitas petrolíferas, o orçamento deverá manter-se em défice até 2027”.

Apesar dos riscos deste modelo, a Fitch Solutions reconhece que o apoio chinês a África, em geral, e a Angola, em particular, deverá acentuar-se devido às dificuldades de financiamento que os países africanos enfrentam devido aos altos níveis de dívida pública a que se sujeitaram no seguimento da descida dos preços das matérias-primas, desde 2014, e ao consequente impacto nas contas públicas e no crescimento económico, que chegou a atirar Angola para uma recessão desde 2016 e que se prolongou ainda no primeiro trimestre deste ano.

“Este acordo reflecte, ainda assim, o considerável empenho da China no desenvolvimento das infra-estruturas em Angola, que tem sido um dos maiores beneficiários do financiamento chinês na África subsariana”, lê-se na nota enviada aos investidores e a que a Lusa teve acesso.

Aposta suprema

“A China é o maior financiador estrangeiro de infra-estruturas em Angola, num total de 22,4 mil milhões de dólares, segundo a nossa base de dados, e o financiamento chinês foi fundamental para o progresso dos maiores projectos de infra-estruturas, incluindo os 6,4 mil milhões de dólares para o novo Aeroporto de Luanda, os 4,5 mil milhões para o projecto da central hidroeléctrica de Caculo Cabaça e a reconstrução dos caminhos de ferro de Benguela, orçados em 1,8 mil milhões de dólares”, acrescentam os analistas.

Estes e outros financiamentos fizeram o sector da construção crescer quase 17,5% ao ano entre 2008 e 2017, segundo a consultora Fitch Solutions, mas o ritmo deverá abrandar para quase um terço (6,4%) até 2027.

“O pacote de ajuda financeira de 11 mil milhões de dólares, que vale um sexto do total prometido para a África subsariana no Fórum de Cooperação China África, é prova deste empenho chinês, mas os altos níveis de dívida pública, as decrescentes receitas petrolíferas e o limitado espaço orçamental para apoiar o desenvolvimento de infra-estruturas vai manter o crescimento económico abaixo do potencial”, concluem os analistas.

25 Set 2018

Comércio entre a China e os PLP subiu 21,5% até Julho

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap]s trocas comerciais entre a China e os países de língua portuguesa atingiram 82,15 mil milhões de dólares nos primeiros sete meses do ano, traduzindo um aumento de 21,50 por cento face ao período homólogo do ano passado.

Dados dos Serviços de Alfândega da China, publicados ontem no portal do Fórum Macau, indicam que a China comprou aos países de língua portuguesa bens avaliados em 57,53 mil milhões de dólares – mais 20,38 por cento – e vendeu produtos no valor de 24,61 mil milhões de dólares – mais 24,19 por cento em termos anuais homólogos.

O Brasil manteve-se como o principal parceiro económico da China, com o volume das trocas comerciais bilaterais a cifrar-se em 61,31 mil milhões de patacas, mais 22,86 por cento do que nos primeiros sete meses do ano passado. As exportações da China para o Brasil atingiram 20,06 mil milhões de dólares, reflectindo um aumento de 28,14 por cento; enquanto as importações totalizaram 41,24 mil milhões de dólares, mais 20,45 por cento em termos anuais homólogos.

Com Angola, o segundo parceiro lusófono da China, as trocas comerciais cresceram 18,28 por cento, atingindo 15,82 mil milhões de dólares. Pequim vendeu a Luanda produtos avaliados em 1,24 mil milhões de dólares – menos 0,60 por cento – e comprou mercadorias avaliadas em 14,58 mil milhões de dólares, reflectindo uma subida de 20,23 por cento.

Com Portugal, terceiro parceiro da China no universo dos países de língua portuguesa, o comércio bilateral entre Janeiro e Julho cifrou-se em 3,39 mil milhões de dólares – mais 6,81 por cento – numa balança comercial favorável a Pequim. A China vendeu a Lisboa bens na ordem de 2,09 mil milhões de dólares – mais 1,43 por cento – e comprou produtos avaliados em 1,29 mil milhões de dólares, mais 16,87 por cento face aos primeiros sete meses do ano passado.

21 Set 2018

Costa diz que visitas de alto nível entre os dois governos têm de intensificar-se

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] primeiro-ministro afirmou ontem que as visitas de alto nível político entre os governos de Portugal e Angola têm de ser menos espaçadas no tempo a partir de agora, evitando a acumulação de assuntos bilaterais por tratar.

António Costa deixou este apelo na conferência de imprensa conjunta com o Presidente da República de Angola, João Lourenço, no Palácio Presidencial, que se seguiu à assinatura de acordos bilaterais entre os dois países.

Esses acordos assinados pelos executivos de Luanda e de Lisboa abrangeram matérias diversas como um memorando para a regularização de dívidas a empresas nacionais, o fim da dupla tributação nas transacções comerciais, o aumento do número de voos entre os dois países, ou o Acordo Estratégico de Cooperação (2018/2022).

O primeiro-ministro começou por referir que ontem mesmo entregou ao chefe de Estado angolano, João Lourenço, o convite formulado pelo Presidente da República Portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, para que visite Portugal em Novembro próximo.

Mas, a este propósito, o líder do executivo português deixou um recado: “É essencial que as visitas entre os dois países não sejam tão espaçadas no tempo, porque depois há muitas matérias que se acumulam por tratar”, disse.

Relações intensas

O último primeiro-ministro de Portugal a visitar Angola foi Pedro Passos Coelho em 2011. Já quanto a Presidentes da República de Angola de visita a Portugal, o último foi José Eduardo dos Santos, em 2010.

“Felizmente”, segundo o primeiro-ministro português, “dentro de dois meses, “já haverá a oportunidade de receber o Presidente de Angola em Portugal”.

Na conferência de imprensa, António Costa defendeu que a assinatura de “11 instrumentos” por parte dos governos de Portugal e de Angola “culmina uma parte importante” dessa sua visita de trabalho de dois dias a Angola.

“O número de instrumentos assinados demonstra a intensidade das nossas relações. Creio que nesta visita ficou bem clara a vontade comum dos dois governos, das respectivas lideranças e dos dois países de prosseguirem em bases sólidas uma cooperação estratégica. Essa cooperação estratégica encontra correspondência clara na nossa sociedade civil, nos nossos agentes económicos”, acentuou o primeiro-ministro português, tendo ao seu lado o Presidente da República de Angola.

19 Set 2018

Estudo | Projecto de infra-estruturas reduz desigualdades económicas

O projecto de infra-estruturas internacional lançado pela China, que suscita preocupações sobre as ambições estratégicas de Pequim, está a reduzir a desigualdade entre países e regiões, afirmou ontem uma unidade de investigação

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]estudo, liderado pela AidData, da universidade norte-americana William & Mary, surge numa altura em que críticos denunciam a armadilha do endividamento nos países incluídos na Nova Rota da Seda.

Bancos estatais e outras instituições da China estão a conceder enormes empréstimos para projectos lançados no âmbito daquela iniciativa, que inclui a construção de portos, aeroportos, autoestradas ou malhas ferroviárias ao longo da Europa, Ásia Central, África e sudeste Asiático. A AidData analisou 3.485 projectos, em 138 países, e concluiu que estes resultaram numa distribuição mais justa da actividade económica, ao melhorar o acesso ao emprego e mercados, reduzindo diferenças económicas que “elevavam o risco de distúrbios violentos”.

“Analistas e políticos ocidentais descrevem muitas vezes Pequim como um actor negligente, egoísta e sinistro”, considera o director da AidData, Bradley C. Parks. No entanto, ao impulsionar uma distribuição mais justa da actividade económica, “o investimento chinês corrige uma das raízes fundamentais para a instabilidade global”, realça. O estudo foca apenas um aspecto do financiamento chinês, enquanto o impacto geral, que inclui a corrupção ou degradação ambiental, é uma questão “mais complexa”, reconhece Park.

Críticos da iniciativa apontam para um aumento problemático do endividamento, que em alguns casos coloca os países numa situação financeira insustentável. No Sri Lanka, um porto de águas profundas construído por uma empresa estatal chinesa, numa localização estratégica no Índico, revelou-se um gasto incomportável para o país, que teve de entregar a concessão da infra-estrutura e dos terrenos próximos à China, por um período de 99 anos.

No Quénia, o Governo enfrenta protestos e greves, depois de ter criado um imposto de 16 por cento sobre combustíveis para pagar os custos de construção. O montante de pagamentos do país aos bancos chineses vai triplicar, a partir de 2019.

Teoria da dívida

No mês passado, o primeiro-ministro da Malásia, Mahathir Mohamad, cancelou projectos apoiados pela liderança chinesa no seu país e avaliados em mais de 19.000 milhões de euros. “Nós não queremos uma nova versão do colonialismo porque os países pobres não conseguem competir com os países ricos”, afirmou Mahathir sobre a sua decisão.

Pequim, que publica poucos detalhes sobre o financiamento além-fronteiras, recusa que a Nova Rota da Seda tenha causado um excesso de endividamento. “O nível de vida das populações e o desenvolvimento económico foram impulsionados”, afirmou, em Agosto passado, o director do Gabinete Nacional de Estatísticas chinês, Ning Jizhe.

O estudo da AidData analisa uma lista de projectos recolhida a partir de comunicados governamentais, notícias e pesquisa de académicos e organizações não-governamentais.
Mais de 40 por cento dos projectos são estradas, caminhos-de-ferro, pontes, portos, aeroportos, rede eléctricas, antenas de telemóveis e linhas de fibra ótica. O resto inclui hospitais, escolas e esgotos.

Para medir o impacto económico, os pesquisadores analisaram as mudanças na utilização de luzes durante a noite em cidades e áreas rurais, com base em imagens de satélite. Os projectos financiados por Pequim talvez produzam mais benefícios, porque as empresas chinesas trabalham mais rápido, enquanto projectos financiados pelo ocidente podem demorar anos, considera Parks.

O estudo considera ainda que os projectos promovidos pela China tendem a ligar áreas no interior dos países a portos, permitindo impulsionar as exportações.

12 Set 2018

China/África | Pequim disponibiliza apoio milionário a Cabo Verde

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]China vai disponibilizar “a título gratuito” cerca de 20 milhões de dólares norte-americanos a Cabo Verde, no âmbito da ajuda pública ao desenvolvimento, anunciou o primeiro-ministro cabo-verdiano.

O anúncio foi feito por Ulisses Correia e Silva na sua página da rede social Facebook, na qual dá conta do encontro mantido com o Presidente chinês, Xi Jinping, na passada quinta-feira. “Discorremos sobre as questões de índole global, designadamente as mudanças climáticas e a reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas” e “passámos em revista a dinâmica das relações sino-africanas, bem assim a cooperação sino-cabo-verdiana, que se quer cada vez mais inovadora e com enfoque em parcerias económicas mutuamente vantajosas”, lê-se na nota do chefe do governo.

Segundo Ulisses Correia e Silva, os dois governantes comprometeram-se a “trabalhar na identificação das melhores vias para incrementar o conhecimento recíproco, bem como potenciar a cooperação económica e comercial, com ênfase ao projecto da Zona Económica Especial da Economia Marítima em S. Vicente, a segunda fase do projecto Cidade Segura e a construção de um Centro Internacional de Conferências na Cidade da Praia”.

Sobre a ajuda pública ao desenvolvimento, o primeiro-ministro de Cabo Verde referiu que “o Presidente chinês anunciou que irá disponibilizar a Cabo Verde, a título gratuito, apoio financeiro de cerca de 20 milhões de dólares americanos, em áreas a acordar por via diplomática”.

Ulisses Correia e Silva escreveu igualmente que “o Presidente Xi Jinping assegurou ainda que as oito medidas e os 60 mil milhões de dólares, anunciados para triénio 2019 a 2022, no âmbito do Fórum de Cooperação China África (FOCAC), constituem importantes janelas de financiamento ao dispor dos países africanos, que possuem projectos cuja viabilidade económica atestam a sua relevância e sustentabilidade”.

10 Set 2018

China/África | Pequim suspende comentários críticos ‘online’

A caixa de comentários às notícias de que Pequim vai emprestar 60 mil milhões de dólares aos países africanos está suspensa em vários portais noticiosos chineses, após internautas terem manifestado a sua insatisfação nas redes sociais do país

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Presidente chinês, Xi Jinping, avançou esta semana com aquele valor, na abertura da terceira edição do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC), que reuniu, em Pequim, dezenas de chefes de Estado e de Governo do continente africano. Bancos estatais e outras instituições da China estão a conceder enormes empréstimos, alguns isentos de juros ou com condições preferenciais, para projectos lançados no âmbito daquela iniciativa.

Segundo constatou a agência Lusa, no portal de informação económica Caijing ou na versão ‘online’ do jornal Beijing Evening News, a tentativa de colocar uma mensagem resulta no aviso de que “estão proibidos comentários a esta notícia”. A assistência financeira da China ao exterior é frequentemente alvo de críticas no país, onde dezenas de milhões de pessoas continuam a viver abaixo do limiar da pobreza ou sem acesso ao ensino e saúde. No Weibo, o ‘Twitter chinês’, vários internautas compararam o montante prometido por Xi com os gastos domésticos em educação ou no apoio às populações mais pobres.

“Devias primeiro criar as tuas próprias crianças”, escreve um internauta. “Há tantas vítimas na China em desastres naturais ou provocados pelo homem, poderias olhar pelos mais pobres aqui por favor?”.

Um ‘meme’ difundido na Internet chinesa mostra o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, a prometer que a China não vacilará nos seus compromissos económicos com África, ao lado dos comentário do ministro da Educação, Chen Baosheng, que afirma que o país tem escassez de fundos e “não pode exceder o seu estágio de desenvolvimento”.

A imprensa estatal, entretanto, tem realçado os benefícios mútuos da cooperação com África, apontando o grande potencial de consumo e abundantes recursos naturais do continente. “China e África são altamente complementares e o potencial de desenvolvimento de África irá criar um grande mercado”, lê-se num comentário no Diário do Povo, jornal oficial do Partido Comunista Chinês, no qual se acrescenta que a China importa do continente mais algodão e cobre do que produz internamente e que a exploração de campos petrolíferos africanos, por empresas chinesas, “ajudou muito” o país asiático a garantir a sua segurança energética.

Dinheiro entre irmãos

Um outro artigo no Diário do Povo lembra que, apesar de a assistência financeira de Pequim a África “não implicar condições políticas”, o continente tem expressado apoio às reclamações territoriais de Pequim no Mar do Sul da China. “Esta fraternidade não tem preço”, nota.

No FOCAC, Xi Jinping prometeu ainda um perdão das dívidas que venceriam no final deste ano para os países mais pobres do continente africano e 50 mil bolsas de estudos destinadas aos jovens.

Os empréstimos chineses inserem-se no projecto internacional de infra-estruturas lançado pela China, a Nova Rota da Seda, que inclui uma malha ferroviária intercontinental, novos portos, aeroportos ou centrais eléctricas, visando conectar Europa, Ásia Central, África e sudeste Asiático.

Segunda maior economia mundial, a China continua a ter quase 50 milhões de pessoas a viver abaixo do limiar da pobreza, estabelecido pelo Governo chinês em 2.300 yuan anuais (290 euros). Em Pequim ou Xangai, as cidades mais prósperas do país, o rendimento ‘per capita’ é dez vezes superior ao das áreas rurais, onde quase metade dos cerca de 1.400 milhões de chineses continua a viver.

6 Set 2018

China/África | Presidente de Moçambique almoça com empresários chineses

 

O presidente de Moçambique, Filipe Nyusi, participou na segunda-feira num almoço com mais de duas dezenas de directores de empresas chinesas, num clube privado de Pequim, à margem do Fórum de Cooperação China/África

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]evento reuniu 24 empresários chineses, incluindo o conglomerado Tiens Group, que opera nas áreas biotecnologia, logística, finanças e comércio internacional, no Beijing Capital Club, segundo imagens difundidas na rede social Wechat de um dos participantes. Situado no norte de Pequim, junto ao estádio olímpico, e fundado em 1994, o Beijing Capital Club é o “mais antigo” clube privado de negócios da capital chinesa, segundo o seu portal oficial.

Este fim-de-semana, o líder moçambicano revelou que o fluxo de transacções comerciais entre Moçambique e China atingiu os 4,6 mil milhões de dólares, entre 2013 e 2017.
Entre os produtos exportados por Moçambique, Nyusi destacou os bens agrícolas, minérios e matérias-primas, enquanto as importações oriundas da China foram sobretudo compostas por automóveis, cereais, gasóleo, maquinaria e cimento. “No que toca aos investimentos, a China tornou-se também um dos maiores investidores no nosso país: entre 2013 e o primeiro semestre de 2018, foram aprovados 148 projectos, num valor total de 751 milhões de dólares, em investimento directo chinês, susceptíveis de criar 20.000 postos de trabalho para os cidadãos moçambicanos”, acrescentou.

Nyusi destacou a presença da China nos sectores do turismo, agricultura e agro-indústria, e lembrou o potencial do seu país na mineração, produção de energia e infra-estruturas. “É na agricultura, em toda a sua cadeia de valor, onde vemos uma vasta, rápida e imediata participação do empresariado chinês, através da construção de infra-estruturas agrícolas, introdução de novas tecnologias, mecanização e investigação”, disse.

Recursos apetecíveis

O líder moçambicano lembrou ainda que “a República Popular da China é um dos maiores investidores na indústria hoteleira de Moçambique, com grandes empreendimentos turísticos nas principais cidades do país, com destaque para as que pertencem ao grupo AFECC Gloria, donos do maior hotel de Maputo”.

Nyusi destacou “o potencial, ainda enorme, por explorar” no sector da pesca, “sobretudo na pescaria do atum e no cultivo de peixes crustáceos e moluscos”, e na produção de energia hidroeléctrica, solar, eólica, notando que o país detém reservas de 180 biliões de pés cúbicos de gás natural e 20.000 milhões de toneladas de carvão.

“A existência de um grande potencial energético, aliado à localização geoestratégica do nosso país, coloca-nos numa posição privilegiada em relação aos outros países da África Austral, no que concerne à produção de energia, cuja procura situa-se 40 por cento acima das actuais necessidades”, disse.

Na área das infra-estruturas, o líder moçambicano afirmou que é “imperativa a construção de mais portos e a reabilitação das estradas”, enquanto na componente habitacional, “existe um enorme potencial para um mercado que abrange um universo de 350 mil funcionários públicos e jovens em início de carreira”. Nyusi revelou que esteve reunido, em Pequim, com empresários da área farmacêutica, apontando a produção de vacinas, pesticidas, drogas e medicamentos agrários como uma oportunidade de investimento.
O evento contou ainda com a participação do ministro moçambicano dos Recursos Minerais e Energia, Max Tonela, o director-geral da Agência para a Promoção de Investimento e Exportações (APIEX), Lourenço Sambo, e do presidente da Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH), Omar Mithá.

Trinta e nove empresários moçambicanos, do sector público e privado, marcaram também presença.

5 Set 2018

China/África | Xi Jinping garante empréstimos sem “condições políticas”

Xi Jinping, afirmou ontem que apoia a inclusão de África no projecto de infra-estruturas internacional, perante líderes e empresários chineses e africanos, garantindo que o investimento de Pequim não tem “condições políticas”. Para já, o valor total do empréstimo ronda os 60 mil milhões de dólares

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Presidente chinês, Xi Jinping, anunciou ontem, no Fórum de Cooperação China-África, em Pequim, 60 mil milhões de dólares em assistência e empréstimos para países africanos. “A China decidiu emprestar um total de 60 mil milhões de dólares, no formato de assistência governamental e através de investimento e financiamento de instituições financeiras e empresas”, disse.

A China “está pronta a reforçar a cooperação” com África, visando “construir um desenvolvimento de alta qualidade, que se ajuste às condições nacionais e seja inclusivo e benéfico para todos”, afirmou. Xi garantiu que o investimento chinês no continente não acarreta “condições políticas”, numa reacção às acusações de que Pequim deseja aumentar a sua esfera de influência através do plano internacional de infraestruturas Nova Rota da Seda. O líder chinês frisou que “a cooperação China/ África”, no âmbito da Nova Rota da Seda, é uma “forma de atingir prosperidade comum, com benefícios para ambos os povos”. “A China não interfere nos assuntos internos de África e não impõe a sua vontade sobre África”, apontou.

O Presidente chinês falava na cerimónia de abertura do Diálogo de Alto Nível entre Líderes e Representantes Comerciais de China e África, que antecede o Fórum de Cooperação China/África (FOCAC).

Bancos estatais e outras instituições da China estão a conceder enormes empréstimos para projectos lançados no âmbito daquela iniciativa, que inclui a construção de portos, aeroportos, autoestradas ou malhas ferroviárias ao longo da Europa, Ásia Central, África e sudeste Asiático. Críticos apontam para um aumento problemático do endividamento, que em alguns casos coloca os países numa situação financeira insustentável.

Caras novas

O FOCAC traz a Pequim dezenas de chefes de Estado e de Governo do continente africano. Nas vésperas do Fórum, Xi reuniu com dezenas de líderes africanos, incluindo os presidentes de Angola, João Lourenço, e de Moçambique, Filipe Nyusi.

A cimeira contará com três novos países, incluindo São Tomé e Príncipe, que se junta aos restantes países africanos de língua portuguesa, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Moçambique. As restantes estreias são o Burkina Faso e a Gâmbia, que elevam assim para 53 o número de nações africanas com relações com a China.

Desde 2015, a média anual do investimento directo da China no continente fixou-se em 3.000 milhões dólares, com destaque para novos sectores como indústria, finanças, turismo e aviação.

O primeiro Fórum de Cooperação China-África aconteceu em Pequim, em 2006, e a segunda edição decorreu na África do Sul, em 2015.

4 Set 2018