José Cesário indaga Portugal quanto ao futuro da EPM

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]deputado eleito pelo círculo fora da Europa nas últimas eleições legislativas portuguesas, José Cesário, entregou uma pergunta ao Governo português, direccionada ao Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, relativamente ao futuro da Escola Portuguesa de Macau (EPM).
José Cesário, ex-Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, apontou que o caminho até agora percorrido pela instituição de ensino “não tem sido fácil”. Cesário dá como exemplo o processo de localização das instalações, que segundo o mesmo “se arrastou” durante algum tempo e que nunca chegou a acontecer. Mas não só.
“A definição do seu projecto pedagógico tem igualmente sido alvo de vários debates e reflexões, com implicações em matérias como o ensino da Língua Chinesa, a fronteira entre o Mandarim e o Cantonense, as opções de ensino vocacional ou mesmo profissionalizante, a relação com as restantes escolas locais, entre outras”, apontou o actual deputado, que assina a carta com Carlos Páscoa.
Perante a situação, embora a escola em causa se encontre “estabilizada e com boas perspectivas de desenvolvimento”, importa, diz, conhecer com o “pormenor possível, quais as intenções do actual Governo relativamente ao seu desenvolvimento para o futuro”.
José Cesário pede então ao Ministério da Educação que sejam respondidas as questões e dados os esclarecimentos necessários relativamente ao futuro da EPM.

25 Jan 2016

Hepatite C | Dezoito pessoas podem receber tratamento, mas SS só estão autorizados a financiar metade

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Saúde (SS) confirmaram que 18 dos 200 doentes com Hepatite C em Macau estarão aptos a receber o tratamento com o Sofosbuvir, o novo medicamento que promete uma cura de 90%. Segundo um comunicado, a vinda desse medicamento para Macau encontra-se “na fase de encomenda e transporte” Segundo Lei Chin Ion, director dos SS, “a Hepatite C é uma doença crónica, daí que o tempo utilizado no processo de encomenda não irá afectar a segurança dos utentes”.

Só metade paga

Apesar de custearam o tratamento, os SS não conseguem apoiar totalmente os pacientes sem autorização. Lei Chin Ion afirmou que o custo de cada tratamento é de cerca de um milhão de patacas, sendo 500 mil patacas o preço do medicamento. O valor total ultrapassa em 50% o valor limite para autorização de despesas dos SS. A despesa de um milhão terá de ser autorizada.
O Executivo deverá gastar cerca de nove milhões de patacas para adquirir Sofosbuvir para cada paciente, mas a lei não permite que os SS decidam a injecção de outros nove autonomamente.
Mas Lei Chin Ion acredita no tratamento. “Apesar do elevado custo deste tipo de tratamento, o mesmo é mais favorável, porque a Hepatite C pode causar, entre outras complicações, cancro do fígado. O custo associado ao tratamento do cancro acrescido de assistência médica pode ultrapassar, e muito, o valor do medicamento”, apontam os SS.

Condicionalismos

Apesar de passar a estar disponível gratuitamente, os doentes só vão ter acesso ao Sofosbuvir depois de uma análise prévia ao seu estado de saúde. “Convém frisar que este tratamento medicamentoso só será prescrito de acordo com a decisão dos médicos especialistas dos SS, consoante a necessidade, o estado do doente e após a avaliação pormenorizada e a realização de vários exames”, lê-se num comunicado.
O HM publicou em Dezembro a notícia de que um doente de Macau já estaria a ser medicado com o Sofosbuvir, mas em Hong Kong, após os médicos terem concluído que o seu caso necessitava de tratamento urgente. Até esta data os doentes de Macau com Hepatite C têm sido tratados gratuitamente com um medicamento que traz vários efeitos secundários. Até este momento, o Sofosbuvir tem estado disponível apenas no hospital Kiang Wu com um custo de 500 mil patacas.

25 Jan 2016

Fundação Macau mantém apoio a associação acusada de abuso sexual

A Fundação Macau garante que vai continuar a apoiar financeiramente a Associação Águias Voadoras, investigada por um caso de abuso sexual. Contudo, a análise dos pedidos promete ser mais rigorosa

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Associação Águias Voadoras de Macau vai continuar a receber apoio financeiro da Fundação Macau (FM), apesar de estar envolvida num alegado caso de abuso sexual ocorrido numa actividade. Em resposta ao HM, e depois da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) ter cortado os apoios, a FM garantiu que vai continuar a conceder subsídios a esta entidade, ainda que de forma mais rigorosa.
“O apoio financeiro concedido por esta Fundação à Associação das Águias Voadoras de Macau em 2015 não se destinou à realização da actividade em que aconteceu o caso de suspeita de abuso sexual. Daqui em diante, esta Fundação vai continuar a analisar e apreciar, de forma prudente e rigorosa e seguindo as formalidades administrativas necessárias, os pedidos de apoio financeiro da Associação em causa e, simultaneamente, vai ficar mais atenta às acções de formação destinadas a jovens na análise e apreciação do seu conteúdo”, confirmou a FM em resposta escrita.
O HM inquiriu a FM sobre a concessão de apoios depois DSEJ ter anunciado o fim dos apoios financeiros à Associação, com base num relatório entregue. Dados do Boletim Oficial (BO) revelam que a Águias Voadoras também é apoiada pela FM, tendo recebido 120 mil patacas para o plano de actividades de 2014 e cerca de um milhão de patacas para o plano de actividades de 2012. Já a DSEJ concedeu, no terceiro trimestre de 2015, um total de 1,67 milhões de patacas à Associação.

Em investigação

O alegado caso de abuso sexual continua a ser investigado pela Polícia Judiciária e foi tornado público em Novembro do ano passado, envolvendo um instrutor de um campo de treino militar em Coloane e seis rapazes com idades compreendidas entre os 12 e os 14 anos. O suspeito, de 39 anos e vindo do continente, admitiu o crime às autoridades mas disse tê-lo cometido pela primeira vez. Os abusos terão ocorrido nos quartos dos alunos por volta das três da manhã.

25 Jan 2016

Novo Bispo toma posse e aprende Português

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]novo Bispo de Macau, Stephen Lee, tomou posse no sábado, numa cerimónia na Sé Catedral em que expressou “respeito pela cultura portuguesa, tradição e costumes de Macau”. Stephen Lee, que era bispo auxiliar de Hong Kong, é o primeiro bispo de Macau a não dominar o Português, sendo antes fluente em Chinês, Inglês e Espanhol.
Tendo em consideração as características da congregação, a que pertencem vários fiéis lusófonos, Lee proferiu um curto discurso em Língua Portuguesa, numa cerimónia que decorreu maioritariamente em Chinês, com traduções também em Inglês.
“Gostaria de dizer algumas palavras em Português. Desculpem os meus erros de pronúncia, aprendi a língua apenas há alguns dias. Tento aprender a língua para mostrar que amo as pessoas que falam Português e gostaria de continuar a ir ao encontro de todos. Respeito a cultura portuguesa, a tradição e costumes de Macau. Agradeço a vossa presença aqui”, disse Stephen Lee, na Igreja Matriz de Macau que se apresentava cheia.
Após ser empossado, Stephen Lee cumprimentou os fiéis, incluindo o Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, o Cônsul-geral de Portugal, Vítor Sereno, e alguns deputados.
No final da cerimónia, o novo bispo manifestou-se “muito comovido com os sentimentos que as pessoas demonstraram, o apoio, as orações”. “[São] sentimentos de muita devoção, estou muito feliz de estar aqui”, disse.
Questionado sobre o seu esforço para comunicar em Português, Lee disse ter começado agora a aprender a língua. “Comecei ontem apenas. A tradição é muito forte aqui e acho que é simpático aprender para chegar a todos”, justificou.
Para a sua missão em Macau destacou a importância de “unir, procurar santidade e propagar a fé a mais pessoas, porque há muito poucos católicos aqui”.
Sobre o papel de Macau – o berço do catolicismo no Oriente – na relação entre a Igreja e a China, Lee disse apenas que “é difícil”. “A minha atenção vai para a diocese de Macau, acho que é isso que o Santo Padre quer”, rematou.

Dia de aniversário

A tomada de posse do novo Bispo coincidiu com o aniversário da Diocese, que celebra 440 anos de existência, sendo a primeira diocese do Extremo Oriente da era moderna e ainda em funcionamento – a primeira foi a Arquidiocese de Pequim, erguida em 1307, seguida da diocese de Quanzhou, mas ambas desapareceram ao fim de pouco tempo.
Sobre este aniversário, o Bispo demissionário, José Lai – que deixou o cargo por motivos de saúde – lembrou a intenção do Papa Gregório XIII, seu fundador: “Queria que esta diocese fosse uma plataforma para o intercâmbio cultural e académico entre Oriente e Ocidente. Além disso, a diocese tem uma missão de evangelizar estes povos desta terra do extremo Oriente”.
Na sexta-feira, após um encontro com o novo Bispo, o Chefe do Executivo comprometeu-se a “respeitar a liberdade de crença religiosa”, bem como a “manter a cooperação com a diocese no sentido de, com mútuo apoio, continuar a servir a população local”.

25 Jan 2016

Casinos | Trabalho por turnos é questão de necessidade, mas nem todos se queixam

Trabalhar por turnos não é assim tão problemático como alguns pintam, confirmam alguns funcionários de casinos locais. Se para uns é um mal necessário, para outros é até positivo

[dropcap style=’circle’]T[/dropcap]rabalhar com horários flexíveis é saber que noite é dia e dia é noite. No horário da manhã, o ponto pica-se entre as 9h00 e as 10h00, no da tarde, perto das 14h00 e, no da noite, às 18h00 ou 00h00. A folha branca rascunhada a caracteres vai circulando pelo pessoal até chegar aos azarados do mês. Quem em Dezembro trabalhou durante a noite, pode em Janeiro ter de se manter acordado a partir das 9h00. E quem, por sua vez, se levantou de madrugada para cumprir funções durante o dia, pode agora ser obrigado a picar o ponto pela noite fora. Confuso? É a vida dos funcionários do Jogo, que dizem que as coisas não são assim tão complicadas.
Num estudo publicado no ano passado – intitulado “The Macau Family-in-Transition: The Perceived Impacto of Casino Emplyment on Family Relationships Among Dealer Families, de Simon Chan, Clara Kwok e Johnny Siu, da Universidade Baptista de Hong Kong – vários croupiers locais admitiam que trabalhar por turnos trouxe constrangimentos ao ambiente familiar e alguma tensão, até ao nível do bem-estar físico e psicológico. A amostra foi reduzida – 113 dos mais de 42 mil existentes na região –, mas serve para ilustrar as possíveis consequências de não ter um emprego com horas fixas de entrada e saída. Buscar os filhos à escola, organizar almoços de família ou ter uma noite romântica deixaram de ser tarefas óbvias para se tornarem um luxo na vida de quem acorda todos os meses a horas diferentes.
No entanto, há muitas outras profissões no ramo do Jogo que não o de croupier, que também acontecem por turnos. Ao contrário do que se possa pensar, nem todos cumprem a flexibilidade de horários com tal pesar. Há mesmo quem os considere dinâmicos e quem os faça de sorriso na cara, para fugir ao que está para lá daquelas quatro paredes.

Com tempo para os outros

A guardar o Lisboa está Lou. Engravatado da cabeça aos pés – de chapéu e tudo a que tem direito – o residente local, na casa dos 50, vai-se passeando frente a uma das entradas do hotel. De mãos atrás das costas e gabardine de lã, começa por dizer que aquele é o seu poiso há 20 anos, onde divide três turnos com outros colegas. Para Lou, trabalhar por turnos é hoje um dado adquirido depois de alguma habituação.
“É normal ter que partilhar o tempo entre a vida privada e o trabalho e a minha família compreende isso”, começa por dizer. Também a sua mulher tem um horário flexível e talvez seja esta a melhor forma de dinamizar a relação. Juntos há mais de 20 anos, têm já dois filhos crescidos que estão a estudar e por isso passam bastante tempo fora de casa.
“Aproveito as folgas e as férias para me juntar com a família”. Se o clã se queixa? De acordo com Lou, não. É que trata-se de “compreender” a importância que o trabalho tem e o papel que desempenha no pão que se serve às refeições. “A família deve entender, porque se trata de uma necessidade. Não posso trabalhar com um horário fixo, mas isso não tem mal”, defende. Quando está por caso, o porteiro cozinha para os filhos. Quando são as folgas da esposa, esta aproveita para concluir as lides domésticas.

Vida facilitada

É certo que todos os croupiers têm necessariamente que ser residentes de Macau, mas um casino não vive só disso. Há porteiros, seguranças, empregados de limpeza e de mesa, pessoal de atendimento ao balcão, supervisores, recepcionistas e todo um rol de outras profissões que deixam um casino mais composto. O HM não conseguiu falar com croupiers. Além de olhos revirados e sentimentos de timidez, outros saíam apressados porta dos fundos fora para a desejada pausa de dez minutos. De acordo com uma das chefias de segurança do Star World, os croupiers trabalham em turnos de oito horas com intervalos de 15 minutos de descanso.
No entanto, foi possível chegar a pessoal de outras funções, como Rita, oriunda do Vietname. Começou a trabalhar como empregada de mesa no StarWorld há duas semanas. A funcionária considera que a política dos turnos afecta “bastante” a saúde mental e física, mas atribui a sensação ao parco tempo que está em funções.
“Cheguei a Macau há pouco tempo e além de ainda não me ter habituado ao clima, também acho difícil habituar-me a trabalhar por turnos, porque o tempo passa devagar, mas ando muito ocupada, sobretudo à noite”, explica.
Contudo, Rita não trouxe família consigo, apenas amigos. Questionada sobre a dificuldade em manter uma vida social activa, a jovem mostra-se despreocupada, já que, defende, prefere descansar nas folgas. As relações familiares, diz, não são afectadas pelo trabalho em turnos, porque consegue contactar com todos os membros através das redes sociais.
“Os turnos mudam todas as semanas ou todos os meses. O mais difícil são os primeiros dias depois da alteração de horário, mas acredito que me vou habituar”, diz.

Ralhetes necessários

De meia idade, Ho Kuan é trabalhadora de limpeza do casino Lisboa. Trabalha também por três turnos. Tem dois filhos que estão a trabalhar e, embora reconheça já se ter acostumado, confessa que os turnos trazem alguns problemas em casa.
“É um pouco difícil, porque às vezes eu estou de férias, os meus filhos e o meu marido não e não conseguimos estar juntos”, descreve. Talvez fosse mais fácil se, tal como a mulher de Lou, o marido de Ho Kuan pudesse trabalhar por turnos. Mas não. “Às vezes discutimos. Os meus filhos têm tempo livre, mas não fazem trabalhos domésticos quando eu estou a trabalhar e por vezes zangamo-nos”.
À semelhança de Ho, que preferia ter um horário fixo, também o residente local A Man traz na bagagem cansaço de corpo e alma. Como supervisor de uma das secções do casino do Star World, passa horas a fio de pé, com a obrigatoriedade de se passear, com elevada atenção, por todas as máquinas, não vão as slot machines encravar ou os jogadores rebelarem-se contra os empregados. Também ele trabalha em três diferentes horários. A Man “não se importa” de não se cruzar com a família, já que vê o trabalho como uma espécie de escape para o mundo exterior.
“Mais nenhum membro trabalha por turnos, portanto é complicado encontrarmo-nos e, quando quero sair com amigos, às vezes também é difícil combinar”, explica. Contudo, este não é o principal factor pelo qual preferia um emprego de horários fixos: “Não é bom para a saúde trabalhar depois da meia noite”. Prefiro trabalhar com um turno fixo”.

Regalias iguais

À conversa com seis funcionários de casinos locais, o HM apurou que o grupo para quem a flexibilidade de horários é mais ingrata é o dos croupiers, já que outros afirmam não ter dificuldades de ajustamento ou problemas familiares de maior. Quase todos preferiam, se dados a escolher, um tabela fixa de entrada e saída, mas o ordenado ao fim do mês compensa o esforço. Também o estudo referido admite isso mesmo: aplicado somente aos croupiers, mostra consequências profundas quando num trabalho que obriga a horários díspares do resto da família, principalmente durante o crescimento dos filhos e na vida conjugal. No entanto, também estes inquiridos afirmam que estas condições lhes dão capacidade para suportar a família em termos financeiros. O conforto do cheque ao final do mês é, afinal, o que os mantém à coca das cartas.

Académicos sugerem implementação de medidas para atenuar dificuldades

De acordo com Carlos Siu, professor do Centro Científico e Pedagógico da Área do Jogo do Instituto Politécnico de Macau (IPM), o aumento repentino do número de habitantes e desenvolvimento da cidade obrigou a que mais pessoas trabalhem mais para fazer face ao crescimento. Essa é a principal justificação do académico para explicar que “as pessoas precisam de encontrar novas formas de coordenar o trabalho com a vida familiar”. É que o passo não vai abrandar.
“Se neste ambiente acelerado tivermos a mesma atitude face ao trabalho como tínhamos antigamente, é provável que não haja equilíbrio”, explica. Questionado acerca das desvantagens de trabalhar por turnos, Carlos Siu defende a ideia do estudo: no caso dos croupiers, a harmonia familiar é afectada. No entanto, acredita ser possível tirar algo positivo disso mesmo.
“Confesso que trabalhar como croupier não é fácil, mas tem a vantagem de ser uma aprendizagem para o futuro, no caso de se querer seguir a área empresarial ou abrir um negócio”, define.
Os académicos Simon Chan, Clara Kwok e Johnny Siu, da Universidade Baptista de Hong Kong, sugerem o emprego de medidas para atenuar estes efeitos que, dizem, “desempenham um papel fundamental na construção de uma sociedade a longo prazo”.
Entre as medidas – que devem ser aplicados pelos casinos – estão a organização de actividades para a família, como festas temáticas e workshops e serviços de aconselhamento psicológico para croupiers. As recomendações vão além-casinos: os académicos acreditam que também as escolas se devem empenhar em ajudar os alunos que tenham pais a trabalhar por turnos. Aulas extra e sessões de explicações são exemplo disso. No entanto, o Governo também deve desempenhar, defendem, um papel fundamental na implementação destas medidas.
“O apoio do Governo, das empresas de Jogo e de serviços sociais é claramente essencial para desenvolver estes programas. O Executivo é responsável por assegurar o equilíbrio entre o emprego oferecido por estas empresas e a vida pessoal dos trabalhadores para atingir condições saudáveis de um desenvolvimento contínuo da região”, conclui o documento.
No entanto, o estudo, feito em parceria com o Centro do IPM, não é o único a advogar melhorias. O deputado José Pereira Coutinho é outro defensor da implementação de medidas como a atribuição de um subsídio para quem trabalha por turnos. Já em 2012 o também presidente da Associação de Trabalhadores da Função Pública de Macau pedia ao Governo que fossem adoptadas as mesmas regras que são empregues na Administração para o sector dos casinos, sugerindo igualmente a revisão ao sistema laboral local.
“O trabalho nocturno e por turnos implica para os trabalhadores que o prestam a uma variação anormal do horário de trabalho do qual resultam substanciais alterações do ritmo de vida pessoal, conjugal e familiar bem como o esforço acrescido e redobrado para o desempenho cabal das funções. Vai o Governo propor alteração legislativa no sentido de permitir que todos os trabalhadores tenham em igualdade de circunstâncias o direito de receber os respectivos subsídios de turnos e nocturnos?”, questionou numa interpelação há três anos.
A luta continua e, em Junho passado, a voz do deputado junta-se à da Associação Power of The Macao Gaming para exigir, novamente, regalias para quem nos casinos passa dias e noites de trabalho.

25 Jan 2016

China confiante na diversificação económica em Macau

[dropcap style=’circle’]Y[/dropcap]ao Quin, subchefe do Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM, afirmou que a Administração Nacional do Turismo vai reunir com Macau em Fevereiro próximo, para reforçar a promoção da criação do Centro de Lazer e Turismo. As declarações foram dadas ao jornal Ou Mun, onde o subchefe indica ainda que o Governo Central irá continuar a apoiar a diversificação económica de Macau.
O representante indicou que de acordo com o rápido desenvolvimento económico em Macau nos últimos anos, muitos problemas surgiram, como por exemplo, o preço alto para o imobiliário, a dificuldade de recrutamento para as pequenas e médias empresas (PME) e o aumento dos orçamentos empresariais. “Até 2015 a economia de Macau apresentava quedas – o Produto Interno Bruto perdeu 25% só o ano passado – mas é um declínio positivo pois Macau terá mais espaço para melhorar e voltar a subir.” Especialmente, defendeu, nos sectores como o Jogo e serviços que possam reforçar o desenvolvimento da diversificação económica. dólar-de-macau-patacas-9957290
Yao Quin sublinhou que o Governo Central se preocupa com a situação económica de Macau: se, por um lado, exige que Macau continue a construir “Um Centro para a Lusofonia”, para aumentar a diversidade, por outro, quer que a Administração aposte na construção do Centro Internacional de Turismo e Lazer. Tendo em conta a criação da comissão para o assunto, presidida por Chui Sai On, Chefe do Executivo, a Administração Nacional do Turismo irá ter uma reunião com a RAEM para discutir sobre os trabalhos de promoção, reforçadamente, o Centro de Lazer e Turismo, nos últimos dias de Fevereiro próximo.

Mais capaz

“Embora o número de turistas não tenha aumentado muito, a permanência é por mais tempo. A qualidade dos turistas também tem aumentando e, neste momento, há mais turistas que viajam só para Macau, contrastando com o que se verificava antigamente em que o território era local de visita juntamente com Hong Kong. Tudo isto garante a Macau a sua capacidade para se assumir como um Centro Mundial”, avançou.
O subchefe frisou ainda que o território está no caminho certo para criar um Centro de Distribuição Alimentar de Produtos Lusófonos, podendo, quando pronto, oferecer serviços às PME. Macau pode ainda, apontou, ter um papel fundamental no futuro Centro de Exposição dos Comércios Luso-Chineses, como plataforma de “liquidação internacional de renminbi com os países lusófonos”.
Yao Quin termina a explicar que “a 5ª Conferência Ministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa será realizada no quatro trimestre do ano, com novas actividades para reforçar o papel de Macau”.

22 Jan 2016

Jogo | Aumentos vão depender das receitas, dizem analistas

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]sta semana volta a subir o número de associações de trabalhadores de Jogo que pedem às operadoras para aumentar o ordenado dos seus funcionários. Mas analistas contactados pelo HM dizem não estar certos que o Jogo verá melhores dias. Caso isso não aconteça, não é exequível aumentar salários. Casino_Lisboa_Macau
“Se as empresas conseguirem ver um futuro positivo no sentido de aumento das receitas, então passa a haver razão e fundamento para engordar os salários”, começa por explicar Carlos Siu, do Centro Pedagógico e Científico na Área de Jogo. Mas, para o académico, há que ser realista. “Os trabalhadores têm noção do estado da economia, eles sabem perfeitamente em que altura estamos”, afirma.
A opinião de Siu não é única: também Kwok Chi Chung, da Associação de Mediadores de Jogos e Entretenimento de Macau, afirma que a hipótese de aumento só se põe se as receitas seguirem o mesmo caminho.
“Os trabalhadores têm que ver bem a situação actual e perceber se realmente é possível proceder a aumentos, mas se as receitas melhorarem, é provável que haja espaço para isso”, disse ao HM.

Inflação tramada

Para a Associação Power of the Macao Gaming, é preciso encher os bolsos destes empregados para que possam fazer face ao aumento da inflação. A Associação explicou, numa conferência na passada quarta-feira, que face à queda das receitas de 23 mil milhões de patacas, as operadoras não mostram qualquer intenção de aumentar os ordenados. Um porta-voz do colectivo considera que tal medida pode “afectar a motivação dos funcionários”, uma vez que a tendência no sector das PME é inverso.
A Associação acredita que aumentar a remuneração ou atribuir bónus a 60 mil funcionários das seis operadoras de Jogo  “não vai implicar pressão ao funcionamento e financiamento das empresas”. Já em meados de Janeiro, a Associação de Empregados das Empresas de Jogo Macau entregou uma carta a seis operadoras de Jogo, igualmente pedindo o aumento de salários.
Choi Kam Fu, director geral da associação mostra-se optimista em relação ao pedido, justificando que a abertura de novos empreendimentos no Cotai pode ajudar a estabilizar as receitas. Actualmente, o ordenado médio de um croupier é de pouco mais de 18 mil patacas.

22 Jan 2016

Tabaco | Sete mil infracções à lei durante o ano passado

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Saúde (SS) anunciaram que foram registadas, ao longo de 2015, quase sete mil infracções à lei anti-tabaco, em vigor há quatro anos. A esmagadora maioria (99,4%) diz respeito a infractores individuais – apanhados em fumar em locais proibidos –, aos quais se somam 33 casos de venda de produtos de tabaco que não satisfaziam as normas de rotulagem e seis em que os estabelecimentos de disponibilizavam tabaco por meios directamente acessíveis aos compradores.
Os números referentes a 2015 elevam o universo de infractores multados pelas autoridades para 31.126 desde a entrada em vigor da lei. Só este ano, os SS indicam que foram realizadas 289.300 inspecções a estabelecimentos, ou seja, uma média de 792 por dia. A maioria dos infractores detectados em 2015 é do sexo masculino (6445 ou 92,9%) e residente de Macau (4242 multas ou 61,2%). Em 314 casos foi necessário o apoio das forças de segurança, refere o organismo.

tabaco
Os cibercafés mantêm-se no topo dos locais onde foram detectadas as infracções, com 1376 casos (19,7%), seguidos dos parques/ jardins e zonas de lazer, com 902 casos (12,9%) e lojas e centros comerciais, com 845 casos (12,1%), segundo os SS, que não especificam onde foram detectadas as restantes irregularidades.
Desde o início do ano passado, 5636 pessoas (80,8%) pagaram entretanto a multa. A Lei da Prevenção e Controlo do Tabagismo entrou em vigor a 1 de Janeiro de 2012. Em 2015, entrou em vigor a proibição total de fumar em bares, salas de dança, estabelecimentos de saunas e de massagens.
No que toca ao cumprimento da lei nos casinos, os SS dão conta de 424 inspecções efectuadas em 2015 em conjunto com a Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos, dando conta de 490 acusados de infringirem a lei, sendo que a maioria eram turistas (392 ou 80%).
Actualmente, encontra-se em sede de análise pela 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa uma alteração ao Regime de Prevenção e Controlo de Tabagismo para implementar a proibição total de fumar nos casinos.

22 Jan 2016

Terrorismo | Deputados querem reforço de segurança nos casinos

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] empresa de consultoria de risco de Hong Kong SVA falou de eventuais riscos de ataques terroristas nos casinos de Macau e a Associação de Polícias Aposentados de Macau defende que um incidente destes pode ter graves repercussões para a cidade, devido à sua dimensão. Mas, também deputados estão agora a engordar a lista de defensores de uma segurança mais apertada nos casinos, como foi o caso de Angela Leong e Zheng Anting.
A empresa da cidade vizinha, dirigida por Steve Vickers, publicou um relatório este ano onde fala sobre a avaliação de risco na Ásia Pacífico, considerando que a ameaça de terrorismo é uma preocupação, sobretudo para os casinos da região, “que envolvem interesses de chineses, norte-americanos e judeus”. Os casinos acolhem cerca de 30 milhões de turistas por ano, o que, para o subdirector da Associação de Polícias Aposentados de Macau, Lei Wai Meng, é uma situação efectivamente preocupante. O representante considera que Macau cumpre os requisitos de uma cidade-alvo. Terrorismo no Iraque 3
“Caso tivesse lugar um ataque terrorista aqui, pessoas de muitos países podiam ser afectadas, porque as ruas de Macau são estreitas, mas existem muitos visitantes. Se todas as pessoas fugirem para um mesmo sítio como um beco, facilmente podem ter lugar fenómenos de debandada em que as pessoas se pisam umas às outras e de onde geralmente saem muitos feridos”, disse ao jornal San Wa Ou.
Apesar disso, Lei Wai Meng defende que a Segurança tem trocado informações com outros países e regiões, evitando a entrada de criminosos no território. O presidente da Associação acredita que é importante fazer testes e simulações de um ataque deste género, mas confessa ser difícil organizar uma iniciativa destas em locais turísticos, como são as ruínas de S. Paulo e as ruas que ali desembocam. No entanto, escolas e hospitais são um bom local para estes exercícios, diz.
Apoio de quem legisla
Ao coro juntam-se os deputados Angela Leong e Zheng Anting. A também directora-geral da Sociedade de Jogos de Macau disse ao canal chinês da Rádio Macau que vai reforçar a segurança nos seus casinos, mas espera que as autoridades policiais também contribuam. O deputado Zheng Anting acha também que na, revisão aos contratos da indústria de Jogo, é necessário aumentar a qualidade e credenciação dos profissionais de segurança, pelo que sugere a criação de uma medida que obrigue todos os visitantes de casinos a apresentar os seus documentos identificativos à porta.

22 Jan 2016

Caso Alan Ho rebentou com denúncia anónima em 2014

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] caso da rede de prostituição do Hotel Lisboa, que está em julgamento, foi, de acordo com o agente da Polícia Judiciária responsável pelo caso, denunciado de forma anónima em Abril de 2014. De acordo com declarações do agente na sessão de ontem do julgamento, este foi o momento determinante para o início da investigação, cita a rádio Macau.
A denúncia fala da então vice-gerente do hotel e a segunda arguida do processo, Kelly Wang. De acordo com notícia da Rádio Macau, alegava-se que Wang estaria a receber despesas de protecção das prostitutas que trabalhavam no Hotel Lisboa. O principal meio de investigação até ao momento são escutas telefónicas aos suspeitos. No testemunho do agente da PJ, Kelly Wang surge como a pessoa que controlava a rede de prostituição em articulação com proxenetas. Wang cobrava 150 mil yuan às mulheres que queriam oferecer serviços sexuais no Lisboa. O agente da PJ referiu também que, durante um período em que Kelly Wang esteve doente, a gestão da entrada e saída das raparigas passou para as mãos de Alan Ho e Peter Lun, gerente geral do espaço. MACAU-CRIME-PROSTITUTION-CASINO
Nas escutas, a PJ monitorizou uma gravação de uma das prostitutas que fora enviada a Alan Ho, onde esta lamentava a cobrança da verba, pedindo que o director-executivo do Hotel Lisboa se inteirasse da situação, justificando que a empresa estava a perder dinheiro.
Foi também através das escutas telefónicas que a PJ chegou às contas bancárias utilizadas por Kelly Wang e pelo marido. Dados fornecidos pelas autoridades chinesas mostram movimentos nestas contas, mas os dados apresentados foram contestados pelos advogados de defesa, que entendem que não devem ser admitidos como meio de prova. Os juristas alegam que os documentos não estão devidamente autenticados, não se sabendo quem os fez nem quando foram elaborados. O colectivo de juízes remeteu uma decisão sobre a matéria para mais tarde.

22 Jan 2016

Kiang Wu | Hospital aumentou custos de operação e internamento

Desde há seis anos que a inflação tem aumentado e, por isso, o hospital privado vai subir os custos de operação para os pacientes

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Hospital Kiang Wu foi alvo, recentemente, de um aumento nos custos de operação e hospitalização, depois de seis anos sem nenhum aumento. A subida, diz a instituição, é razoável e acontece devido a um aumento do custo dos materiais médicos. Em declarações ao HM, o hospital explicou ainda que o Centro Médico Especializado Dr. Henry Y. T. Fok foi alvo também de aumentos.
“Foi cancelado o tipo do quarto do hospital [que custava] 350 patacas por dia, agora o mínimo é de 600 patacas por dia. O depósito de hospitalização de residentes de Macau é de oito mil patacas e de não residentes é 30 mil. A despesa de consulta diária é 250 patacas, a despesa de companhia à noite é 140 patacas”, indicaram. hospital kiang wu
Segundo o Jornal Ou Mun, o último aumento de custos do hospital aconteceu em 2009. A Associação de Beneficência do Hospital Kiang Wu – dirigida pelo deputado Fong Chi Keong – defende que, na actual situação da sociedade, é preciso que o hospital controle ao máximo os seus custos.

Boa vontade

Os custos subiram, diz ainda, porque as despesas com os materiais e equipamentos médicos têm aumentado e o hospital decidiu fazer a revisão das despesas no final do ano passado, implementando o ajustamento de “despesas muito mais baixas do que custos”. Este ano os custos aumentam tendo “em conta a inflação anual dos seis anos passados” e, assegura o hospital, “acredita que a sociedade irá perceber o aumento”.
Desde 1999 que o hospital privado cobrava 30 patacas para cada consulta e 50 patacas de despesa diária de hospitalização. Até 2009, decidiu não cobrar despesas aos residentes de Macau com mais de 65 anos ou menos de 18 anos da idade, ou portadores de cartão de pobreza do Instituto de Acção Social (IAS).
“Existe um diz-que-disse em Macau que indica que o Hospital Kiang Wu rouba dinheiro. Esta interpretação é um rapto de moralidade à caridade, é um comentário injusto sobre a dedicação da Associação”, acrescentou a entidade.
A Associação diz ainda que já foram elaborados materiais promocionais sobre o ajustamento das despesas para que as pessoas compreendam e estejam informadas. O Kiang Wu tem um orçamento próprio, ainda que lhe sejam atribuídos diversos subsídios públicos.

22 Jan 2016

Desvalorização do dólar de Hong Kong não preocupa economistas locais

O dólar de Hong Kong apresentou ontem os valores mais baixos desde 2007, mas economistas locais afastam receios. Mostram, no entanto, reservas quanto à saúde da economia chinesa e das RAEs

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]professor e economista Bruce Hall desvaloriza a queda do dólar de Hong Kong que nos últimos cinco dias tem feito tremer bolsas e investidores. Hall fala, até, de “possíveis consequências positivas” para a RAEM, como a promoção de turismo estrangeiro, agora que compensa converter patacas.
“Não me parece que seja razão para alarme, até porque ficaria receoso era se o dólar norte-americano aumentasse rapidamente, principalmente contra o reminbi”, acrescenta.
No entanto, faz previsões negras para o mercado chinês que, por sua vez, afectarão todos os outros. “A China vai continuar a sentir-se pressionada a reduzir as suas taxas de conversão para maximizar as exportações, mas isto vai implicar negativamente o valor do reminbi face a moedas como a pataca”, defende.
Ao HM, o académico da Universidade de Macau explicou que a presente queda do HKD é pouco expressiva face ao que se está a passar na China. O HKD caiu 0,79% nos últimos cinco dias, de acordo com o índice Hang Seng (bolsa de Hong Kong), pelo que 1 dólar norte-americano valia ontem 7,8 HKD em vez de valer os 7,76 HKD do passado dia 13.
Questionado sobre esta tendência da moeda, o economista local Albano Martins não se mostra preocupado, já que, diz, “está dentro do limite” estabelecido na década de 80. “Não me parece que vá haver grande intervenção [da RAEHK]”, acrescentou. 
O valor ontem registado será o mais baixo desde 2007, ano que antecedeu uma das mais profundas crises económicas do milénio. No entanto, Albano Martins olha para os números como estando “dentro do limite” do aceitável, não sendo assim necessário amparar a queda. A descida do HKD é atribuída à subida das taxas de juro nos EUA e à crise mundial.
“Os EUA estão a implementar medidas restritivas como subir as taxas de juro, para fazer com que as empresas e pessoas paguem mais para importar crédito, numa altura em que Macau está em recessão e Hong Kong também não está numa fase famosa”, lembra Albano Martins.

Soluções à vista

Martins explica que, no caso da reserva financeira vizinha ter de largar os cordões à bolsa e ceder USD, tal não será um problema, uma vez que “Hong Kong tem biliões na sua reserva”. O cenário de um apoio não está colocado de parte: “Se a Autoridade Monetária de Hong Kong entender que esse limite mínimo do valor do HKD está a querer ser ultrapassado, intervirá comprando USD ou actuando no sentido de evitar a especulação pela subida das taxas de juro”, explica o economista.
Publicações como a Bloomberg ou o Wall Street Journal (WSJ) tinham ontem títulos que indicavam um futuro negro baseado na descida do HKD. Para Ira Iosebashvili e Carolyn Cui do WSJ, a presente crise da moeda chinesa chegou, na passada terça, a um limite e tal é “o mais recente sinal de que os problemas da economia chinesa estão agora a contaminar” os mercados mundiais. “Alguns investidores acreditam que Hong Kong vai ser forçada a abandonar a relação cambial que se mantém há 30 anos”, escrevem.
Já Albano Martins tem vindo a defender que a pataca e o HKD deviam passar a estar indexados ao reminbi, dada a proximidade do país e as estruturas social e económica que imperam nos três locais. No entanto, o problema mantém-se: a moeda chinesa não é ainda convertível, impossibilitando qualquer indexação.

O poder que se esvai

Hall também apoia a tese do economista português, embora justifique a sua despreocupação com outros factores. Um deles é a queda – já visível – da economia chinesa. O enorme fomento ao investimento e a dívida são dois dos males. “A China já esgotou todo o potencial do modelo de negócios que implementou: o Governo Central percebeu que a procura, por parte da Europa e dos EUA, tenderia a diminuir e era preciso ir buscar capital a algum lado.” As pessoas, diz, deixaram de “querer comprar o bom e barato da China”, pelo que o país teve que se virar para onde pôde: mercados de investimentos, com enfoque em projectos de desenvolvimento. “Como consequência, temos hoje cidades e aeroportos-fantasma, com a China a somar o mesmo que cinco Nova Iorques em apartamentos construídos, mas abandonados”, repara.

21 Jan 2016

CPU pede plano geral das zonas em vez de análise caso a caso

A análise a determinados terrenos ou construções leva a que não se possa ter a ideia total do que vai nascer em determinadas zonas de Macau. Membros do CPU pedem, por isso, que se analisem planos gerais

[dropcap style=’circle’]W[/dropcap]u Chou Kit, membro do Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU), pediu ontem que o Governo se dedicasse a fazer um planeamento alargado das zonas, em vez de se analisarem os projectos para novos imóveis caso a caso, como tem acontecido desde a entrada em vigor da Lei do Planeamento Urbanístico. Na primeira reunião do CPU, que decorreu ontem e onde estavam em discussão a atribuição de licenças de construção a 14 imóveis em Macau e nas ilhas, Wu Chou Kit alertou para necessidade de existência de um plano alargado por zona, de forma a que se perceba o que está a ser avaliado. A Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) respondeu vagamente, referindo apenas que, no futuro, quando existirem mais dados recolhidos, essa opção poderá ser adoptada.
Foi também discutido na reunião o poder vinculativo, ou não, dos pareceres do Instituto Cultural (IC) sobre as construções, já que na prática, como disse Wu Chou Kit, os construtores acabam por fazer o “que bem entendem”. Relativamente a este assunto, o Secretário para as Obras Públicas e Transportes Raimundo do Rosário, também presidente da Comissão, assegurou que se as indicações do IC estiverem na planta os construtores têm tendência a segui-las.

Cuidado com as imitações

O arquitecto Rui Leão, outro dos membros da Comissão, manifestou-se contra a vinculação obrigatória no que às linhas arquitectónicas dos imóveis diz respeito, alertando para o problema da autenticidade pois, conforme disse, “descobriu-se em várias cidades que esse método era um erro pois dava origem à criação de obras falsas e à eventual demolição das originais por já não estarem ao nível daquelas que entretanto vão sendo construídas.”
Em discussão ontem estiveram diversas construções, como o caso de um terreno junto ao Largo da Ponte, na Taipa, que terá sido o que mais comentários suscitou, quer da parte dos conselheiros, quer por via da consulta pública. Como o terreno em causa é público – e é apenas uma parcela de um terreno maior e desocupado – vários conselheiros voltaram a trazer à discussão a necessidade de um planeamento geral, interrogando-se porque se avalia apenas aquela parcela e não o terreno todo.

Edifício de 93 metros no centro da cidade?

Segundo notícia ontem avançada pelo jornal Tribuna de Macau, o lote na Av. Dr. Mário Soares ao lado do hotel Grand Emperor, que foi excluído da lista de terrenos cuja concessão iria caducar, poderá albergar um edifício até 93 metros de altura nos 41.69 metros quadrados disponíveis. O imóvel será destinado a comércio, escritórios e estacionamento e está agora em consulta pública a viabilidade da sua construção. É ainda referido no projecto que a futura construção terá o mérito “de melhorar a paisagem na Travessa Central da Praia Grande pois irá providenciar a manutenção dos canteiros”.

21 Jan 2016

Óbito | Nuno Teotónio Pereira: Da habitação social ao combate ao regime

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]arquitecto Nuno Teotónio Pereira, que faleceu ontem, em Lisboa, aos 93 anos, foi um dos pioneiros da habitação social, contestou a arquitectura do regime de Salazar e defendeu a importância da beleza e do bem-estar nos edifícios.
Com mais de 60 anos de carreira, o arquitecto nascido em Lisboa, em 1922, foi homenageado pelos pares na Ordem dos Arquitectos, em 2010, e recebeu no ano passado o Prémio Universidade de Lisboa.
Na altura, a Universidade destacou o exercício “brilhante” na área da arquitectura e apontou-o como uma “figura ética”.
Nuno Teotónio Pereira, que faria 94 anos a 30 de Janeiro, foi galardoado por três vezes com o Prémio Valmor para edifícios como a Torre de Habitação Social, nos Olivais Norte, o chamado Edifício “Franjinhas” e a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, todos em Lisboa.
Pioneiro na área da habitação social, foi também um activista dos direitos cívicos e políticos, integrando o movimento dos chamados “católicos progressistas”, que o levou por várias vezes à prisão no regime ditatorial do Estado Novo.
Participou no 1.º Congresso Nacional de Arquitectura, em 1948, afirmando-se como um dos opositores à estética do regime de Salazar, nomeadamente contra a ideia de uma “arquitectura portuguesa” típica.
Assinou, ao longo da vida, dezenas de projectos em nome próprio ou em co-autoria com arquitectos como Bartolomeu da Costa Cabral, Nuno Portas, João Braula Reis e Gonçalo Byrne, entre outros.

Amor alfacinha

O histórico arquitecto, continuava a declarar “um grande amor por Lisboa”, uma cidade onde procurou sempre “contribuir para a beleza do espaço e o bem-estar das pessoas”.
“A construção está quase parada em Portugal. Há pouco dinheiro, mas um projecto feito por um arquitecto competente sai mais económico do que se for feito por um arquitecto incompetente”, comentou, em 2010, numa entrevista à agência Lusa.
Formado na Escola de Belas Artes de Lisboa, recordou que, “antigamente, havia um conceito errado ao recorrer aos arquitectos apenas para criar obras sumptuosas”. “Hoje, os arquitectos devem fazer desde as obras mais modestas às mais grandiosas”.
Com uma experiência de vinte anos na área da habitação social, defendeu que este conceito “continua a fazer sentido, enquanto houver pessoas ou famílias sem casa digna”.
“Estou esperançado que acabem com os bairros de lata no país”, comentou o co-autor do projecto de Habitação Social para Olivais Norte, que viria a receber o Prémio Valmor em 1968.
Defendia, contudo, que a habitação social devia ter certas características, como não se diferenciar da restante paisagem urbana para evitar ser de imediato classificada como “casa dos pobres”, e fugir à criação de “ilhas” sociais.

Boas influências

Nuno Teotónio Pereira decidiu seguir arquitectura contagiado pelo entusiasmo de um colega, Carlos Manuel Ramos (filho do arquitecto Carlos Ramos), numa altura em que se sentia mais inclinado pela Geografia.
A paixão pela arquitectura manteve-se ao longo da carreira, mas “houve momentos difíceis”, sobretudo durante o regime salazarista, quando foi preso várias vezes pela PIDE, a polícia política da ditadura.
Teotónio Pereira repudiava as pressões para alterar projectos conforme o gosto do regime: “Sempre defendi que os edifícios devem ser construídos de acordo com o seu próprio tempo. Eles queriam que se construísse tudo no estilo antigo”.

21 Jan 2016

Jogo | Receitas descem 34% em 2015. Galgos no fim da lista

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s receitas do jogo VIP sofreram uma quebra de 39,86% em 2015, atingindo 127.818 milhões de patacas, indicam dados oficiais. Segundo dados publicados no portal da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), os proventos do jogo VIP representaram 55,3% das receitas brutas arrecadadas pelos casinos em 2015, quando no cômputo de 2014, a proporção correspondeu a 60,4%.
Já o segmento de massas sofreu uma quebra de 25,8% em 2015 – por comparação com 2014 –, de acordo com os mesmos dados, totalizando 103.022 milhões de patacas.
Os casinos fecharam 2015 com receitas de 230.840 milhões de patacas sofrendo um tombo de 34,3%. Tratou-se do segundo ano consecutivo de quebra das receitas dos casinos depois de, em 2014, terem sofrido uma diminuição de 2,6%.
As corridas de galgos continuam em último lugar no que às receitas de apostas diz respeito. Em primeiro figuraram as apostas nos jogos de futebol que, ao longo do ano passado, renderam 503 milhões de patacas. Seguiram-se as receitas das apostas nos jogos de basquetebol, com 170 milhões, que ultrapassaram as das corridas de cavalos, com 166 milhões de patacas e as corridas de galgos com 125 milhões de patacas.
Em 2015, Macau contava com 5957 mesas de jogo e 14.578 slot machines distribuídas por um universo de 36 casinos. 

21 Jan 2016

Cancro dos ovários coloca mulheres de Macau em risco

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Associação de Oncologia de Macau alertou ontem para o facto do cancro dos ovários ser um dos dez cancros com maior taxa de mortalidade em Macau. O grande problema, refere a Associação, é que a maioria das mulheres não tem noção sobre o risco que corre, sendo que 70% das pacientes diagnosticadas com este tipo de cancro só o foi já na fase terminal.
A Associação deu esta semana a conhecer o relatório da tendência recente de mortalidade e tratamento do cancro dos ovários no interior da China, Hong Kong e Macau. Wong Io Pan, chefe do Departamento de Ginecologia do Hospital Kiang Wu, referiu que o cancro dos ovários é muito encontrado em mulheres que têm entre os 50 e os 70 anos de idade. “Entre os tipos de doenças ginecológicas malignas, os casos não são muitos, mas a mortalidade é elevada”, explicou.
O médico acrescentou que os sintomas do cancro dos ovários incluem barriga inchada, indigestão, dores ao urinar, dores abdominais e lombares. Os sintomas são semelhantes a outras doenças e as pacientes podem não ter consciência do risco que correm, pelo que os especialistas apelam às mulheres com mais de 50 anos que façam o exame periodicamente.
“Tive uma paciente cujo tumor tinha um diâmetro de 20 centímetros, semelhante a uma bola”, exemplificou.
Cao Ya Bing, médico de Oncologia, afirmou que no ano passado foram diagnosticados 33 casos, 70% deles já na fase terminal e 30% foram alvo de mutações mais comuns.
Wong Io Pan considera que a maioria das mulheres não tem conhecimentos suficientes sobre o cancro dos ovários.

21 Jan 2016

Emprego | Grupos empresariais com vagas sem ninguém para as preencher

A feira de emprego do IFT começou ontem e acaba hoje e as empresas representadas não têm dúvidas: há uma série de vagas, mas ninguém para as preencher. E a culpa é da “competitividade do mercado”

[dropcap style=’circle’]H[/dropcap]á, na indústria hoteleira local, bastante procura de pessoal qualificado na área de Gestão, Culinária e Logística. No entanto, poucos têm disponibilidade para trabalhar a tempo inteiro e por isso mesmo as empresas começam a resignar-se e abrir vagas de part-time para atrair talento local. Mas nem sempre são bem sucedidas. É o que defendem alguns empresários ouvidos pelo HM.
O Instituto de Formação Turística (IFT) organiza, desde ontem e até hoje à tarde, uma feira de emprego destinada à indústria hoteleira local que procura a fornada anual de recém-formados desta instituição. Em declarações à imprensa, a presidente do IFT, Fanny Vong, disse estar “confiante” de que uma iniciativa deste género possa ajudar à aproximação entre patronato e recém-licenciados. “Há mais hotéis a abrir no futuro e estes vão precisar de mão-de-obra. A acrescentar a isso está o facto de que a taxa de empregabilidade aqui ser muito reduzida”, começou por dizer. “Temos vários alunos do 3º ano a fazer estágios, o que lhes dá vantagem sobre aqueles que tentam entrar sem experiência.”
Mas, a verdade é que são basicamente sete cães a um osso, de acordo com a explicação de Tommy Cheang, da empresa de retalho Richemont. Tanto este como um outro grupo hoteleiro presente na feira – que prefere não ser identificado – lidam com um problema imperceptível a olho nu.
“Estamos à procura de estudantes que estejam a frequentar cursos relacionados com a indústria hoteleira e que pretendam integrar a nossa equipa. Esta é uma das áreas de mercado mais competitiva e, infelizmente, só o IFT é realmente profissional ao nível da Hotelaria”, começa por explicar.
Além da esmagadora maioria dos jovens só terem o certificado na mão no Verão, poucos pretendem arranjar um emprego a tempo inteiro. O representante da empresa em anonimato confessa, por isso, que o público-alvo da feira são os estudantes com vontade de trabalhar a tempo parcial.
“Por alguma razão que desconheço, é bastante difícil contratar pessoal a tempo inteiro, seja devido à baixa taxa de desemprego ou à posição oferecida”, lamenta. A opção de part-time vem, assim, trazer aos alunos “a oportunidade de conhecerem o mundo hoteleiro” e “engordarem o mealheiro”.

Começar por baixo

A experiência, confessam, é essencial para iniciar uma carreira na área, mas há muitas oportunidades e torna-se difícil escolher. Isso mesmo disse Angela Lo, finalista do curso de Gestão Hoteleira. “Para já, prefiro arranjar um trabalho que me permita conhecer a indústria, mas que não me ocupe a semana inteira”, confessou.
Ao HM, disse ainda que procura trabalho na área administrativa, podendo ser em Comunicação, Eventos ou Relações Públicas. No entanto, de acordo com a gerente assistente de Recursos Humanos do Sofitel, Emily Tang, tal vontade pode constituir um problema.
“Às vezes deparamo-nos com a falta de pessoal que não se importa de começar por baixo, em posições abaixo da administração. A ideia geral dos recém-formados é que os lugares de administração e gerência estão abertos para todos os qualificados, mas a indústria hoteleira não funciona assim”, explica. “É preciso começar por baixo, funciona muito com o esquema de promoção por reconhecimento”, remata.

De recepcionista se torce o talento

Na feira estavam presentes não mais do que 15 stands, a esmagadora maioria de grupos hoteleiros e relacionados com a indústria do Jogo. Exemplo disso são a Accor – que detém o Sofitel em Macau e vários outros hotéis a nível internacional –, a Galaxy, a Sands China, a Melco Crown, o Louis XIII, hotel ainda por inaugurar, e a Richemont, entre outras.
Algumas pretendiam somente promover-se no seio de potenciais empregadores, não estando neste momento a contratar pessoal. Havia ainda quem preferisse conhecer os interessados primeiro e só depois proceder ao envio de um email com pedido de currículo. No entanto, grande parte estava a contratar pessoal através da entrega, no local, de currículo e outros documentos de identificação.
Sarah e Anson chegaram juntos à feira e conheceram-se no IFT, onde completam agora o quarto ano. Finalistas, portanto. Ambos estavam ali para encontrar um “bom emprego”, mas, ao contrário do que Emily Tang explicou, nenhum se mostrou importado com o facto de ter que começar por baixo.
“Estou à procura de emprego na área de assistente e administração, mas amanhã (hoje) quero apostar na entrega de currículos à Air Macau e ao St. Regis, para as posições de apoio ao cliente ou recepcionista”, afirmou Sarah, quando questionada pelo HM sobre o objectivo da visita à feira.
O seu colega Anson está à procura de uma oportunidade a tempo inteiro, mas só depois de findo o curso. “Queria trabalhar na área de operações hoteleiras, desde recepcionista a empregado de F&B”, começa por dizer. Também o jovem considera que arranjar trabalho em Macau é “muito fácil”, já que “há sempre falta de pessoal qualificado”. Tal constitui uma mais-valia para ambos os lados: as empresas têm muito por onde escolher e os recém-licenciados vários endereços para onde enviar currículos.

Língua inglesa é cada vez mais pioritária

O Inglês é, cada vez mais, uma ferramenta essencial quando chega a altura de passar o currículo para as mãos da entidade empregadora. Isso mesmo confirmam candidatos e empresas. Tommy Cheang acredita que conhecimentos de inglês ao nível da fluência são sempre uma mais valia. O gerente de uma outra cadeia, que preferiu não ser identificado, confessa que é no IFT que se encontram os alunos com melhores qualificações linguísticas.
“Vimos procurar aqui no IFT porque é a escola que mais conhecimentos passa aos alunos”, confessa, não descredibilizando, contudo, o ensino oferecido em instituições académicas como a Universidade de Macau ou o Instituto Politécnico.
Ainda assim, várias das vagas que podem ser encontradas online dão prioridade ao Cantonês e ao Mandarim como línguas essenciais, muitas vezes colocando o Inglês como opcional. O mesmo profissional defende que o que interessa é o contrário.
“Tudo na nossa empresa é feito em Inglês, incluindo comunicados de imprensa, notas de administração aos trabalhadores e outras formas de comunicação, pela simples razão de que o patronato é geralmente nativo de Inglês”, esclarece. Estes podem ser australianos, britânicos, norte-americanos, mas também da Malásia, Singapura e outros locais onde o Chinês não é a língua principal. O problema para a falta de falantes de língua inglesa em Macau está, na opinião do mesmo responsável, na falta de empenho das escolas básicas e secundárias.
“Acho que deve ser uma aposta das próprias escolas, porque as únicas línguas são o Mandarim e o Cantonês. Não é que isto seja mau, mas deve ser reforçado o ensino da língua”, defendeu.
O dialecto de Shakespeare passa então para terceiro e até quarto plano quando, na opinião de alguns profissionais da feira, deve ser essencial para promover Macau. Questionado sobre que trabalhadores devem saber Inglês, o gerente aponta uma necessidade premente para o pessoal de apoio ao cliente, porteiros, recepcionistas e pessoal de Comunicação.

Empregabilidade máxima

O Inglês é, para Sarah, a “primeira e mais importante língua” para quem pretender ocupar cargos de gestão e atendimento ao cliente, mesmo com uma percentagem maioritária de turistas do continente. “A segunda creio que seja o Mandarim, devido à quantidade de turistas da China”, continua.
A finalizar a sua licenciatura, a aluna acredita que “é bastante fácil” encontrar emprego na região. A estudante atribui esta facilidade à quantidade avultada de casinos e hotéis.
Alex Lu é das poucas empresas que ali está com efectiva intenção de contratar pessoal. Tanto para a empresa da qual é director-executivo, como para seus clientes. A Engage funciona como consultora de recursos humanos, agregando currículos e servindo de ponte entre empregados e empregadores. Até ao encerramento da feira, Lu prevê a entrega de cerca de centenas de currículos, mas apenas conta empregar cerca de dez pessoas. “Seis ou sete destas pessoas serão para a nossa empresa e os restantes, para empresas nossas clientes”, disse. Primeiro é preciso falar pessoalmente com cada um, depois proceder à selecção e perceber que posição se adequa a cada um.”
Também aqui o Inglês desempenha um papel essencial. Lu aponta mesmo para uma importância “semelhante à do Mandarim”.

21 Jan 2016

Ensino Superior | Ideia de atrair estudantes estrangeiros divide opiniões

Macau vai precisar de estudantes de fora se quiser preencher as vagas nas instituições superiores locais, mas é preciso pensar primeiro cá dentro antes de receber quem vem lá de fora, dizem analistas

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Secretário para os Assuntos Socais e Cultura, Alexis Tam, quer atrair mais estudantes da China continental e de outros países para as universidades e instituições de ensino superior em Macau, mas académicos dividem-se quanto à ideia.
Para Teresa Vong, da Universidade de Macau, há ainda dúvidas quanto à orientação e planeamento do ensino superior local como ele está actualmente. A professora aponta preocupações, enquanto o deputado Si Ka Lon diz que é necessário pensar-se primeiro em reforçar as características do ensino da RAEM.
Seja como for, para Vong a ideia é capaz de ser positiva por um lado financeiro: mais alunos, menos custos. “Com a mudança do novo campus da UM para a Ilha da Montanha, o tamanho aumentou 20 vezes comparativamente ao espaço antigo e temos que admitir estudantes suficientes para corresponder aos custos de formar estudantes. Para manter o funcionamento normal [do espaço] vai ser necessário atrair mais estudantes porque cada vez menos estudantes locais vão frequentar universidades em Macau”, aponta ao HM.
A académica não deixa de apontar, contudo, a questão “da orientação do ensino superior de Macau”. Ainda que, na sua opinião, a apresentação da medida de Alexis Tam seja apenas para corresponder à política “Uma faixa, Uma rota” do Governo Central, é preciso pensar se trazer mais alunos de fora não vai contrariar o ensino superior local.
“Macau é um sítio tão pequeno que o desenvolvimento é facilmente afectado pelas regiões vizinhas. Preocupo-me, neste momento, com qual é o plano local. Se não sabemos qual é a perspectiva e o desenvolvimento de cá é perigoso [trazer mais alunos de fora] porque o ensino superior é o que suporta o desenvolvimento sustentável de Macau e fornece talentos profissionais”, diz, acrescentando ter dúvidas sobre se as instituições do ensino superior de Macau estão preparadas e atentas ao “desenvolvimento internacional e global”.

Questão de equilíbrio

O Secretário para os Assuntos Socais e Cultura afirmou recentemente que em cinco anos vão existir apenas 3500 finalistas de escolas secundárias ao ano, número que não satisfaz a necessidade de admissão de estudantes nas instituições do ensino superior da RAEM. O Governo apresentou, por isso, ao Ministério de Educação do Governo Central uma proposta para que sejam alargadas as vagas dedicadas aos estudantes do continente, até porque há universidades, como a de São José, onde esses alunos não podem entrar.
Para Teresa Vong, contudo, é também preciso equilibrar a necessidade de globalização com a do desenvolvimento de Macau. “Temos de colocar este assunto no plano de desenvolvimento de cada universidade, porque se apenas abrimos mais a porta a estudantes estrangeiros, isso pode incomodar a aprendizagem dos estudantes locais e não trazer vantagens”, indicou.
Segundo informações do Gabinete de Apoio a Ensino Superior (GAES), os estudantes estrangeiros nas dez instituições de ensino superior de Macau ocupam 36% do bolo total, sendo mais de dez mil.

Mais rigor

Si Ka Lon relembra que, actualmente, nas instituições públicas, a admissão de estudantes não residentes não pode ultrapassar 10% do total e nas instituições privadas não pode superar os 50%. Mesmo assim, cada ano Macau tem cerca de seis mil finalistas de escolas secundárias e 80% deles frequentam universidades – mas metade sai de Macau, o que faz com que menos de três mil estudem no território. O deputado elogia, por isso, a ideia de se aumentarem as vagas de estudantes estrangeiros e não apenas da China, para se “quebrar com a mesma fonte” de estudantes de sempre, que é, neste momento, o continente.
“Actualmente 90% dos estudantes estrangeiros de Macau são da China continental e isso não é bom para o desenvolvimento dos estudantes, nem para criar um centro mundial de lazer e turismo”, diz. O deputado considera que Macau pode ter como referência Taiwan, onde o Governo tem um papel principal na atracção de estudantes de fora. Mas alerta. “É necessário reforçar as características de ensino em Macau, bem como ter rigor na qualidade do ensino”.
Si Ka Lon considera ainda que, para já, é importante ter em conta como estão a ser atribuídos os subsídios às instituições de ensino superior.
“Além das instituições públicas, as privadas podem ser também sem fins lucrativos? As propinas, os subsídios e as contas podem ser mais transparentes para que a sociedade as compreenda? Porque para formar um estudante, as despesas que cada instituição cobre é diferente, mas os subsídios atribuídos são sempre valores altos”, rematou.

Recém-licenciados com salários inferiores aos croupiers

Um inquérito realizado pelo Gabinete de Apoio ao Ensino Superior mostra que o primeiro salário dos recém-licenciados de Macau é, na maior parte dos casos, inferior à remuneração média dos trabalhadores do jogo ou mesmo dos croupiers, diz a Rádio Macau. Entre os licenciados, 29% têm um primeiro ordenado de dez mil e a 14 mil patacas, enquanto para 25% o rendimento mensal logo após a conclusão da licenciatura se situa entre as 14 e as 18 mil patacas. Segundo a rádio, os números ficam aquém da remuneração média do sector do Jogo, que se situa, segundo os dados mais recentes, nas 21.480 patacas. No caso dos croupiers, o salário médio ronda as 18.500 patacas. Entre os quase dois mil estudantes entrevistados, 85,4% disseram estar empregados enquanto 3,4% continuava a prosseguir os estudos, sendo que Educação, Administração Pública e Banca são os sectores com mais estudantes a trabalhar.
 

21 Jan 2016

Defendida protecção de zona onde vai nascer Centro de Doenças

Não basta a polémica em torno do objecto do novo Centro de Doenças Infecciosas: agora, dois analistas e membros do CPU, dizem que os prédios que o Governo quer destruir para erguer o Centro deveriam ser preservados

[dropcap style=’circle’]D[/dropcap]ois analistas defenderam ontem que a zona em redor do local onde vai nascer o novo Centro de Doenças Infecciosas deveria ser protegida. Manuel Wu Lok Pui Ferreira, membro do Conselho do Planeamento Urbanístico, sugere duas novas ideias para a construção do edifício, ao lado do São Januário, e Lam Lek Chit, planeador urbanístico, pede que haja um equilíbrio entre a construção do novo e a manutenção do que é velho.
Para Manuel Ferreira, a demolição dos dois edifícios ao lado do hospital – que precisarão de ser deitados abaixo para que se erga o Centro – não só não vai agradar à sociedade, como aliás já tem sido demonstrado através de assinaturas -, como vai também prejudicar o ambiente. O analista sugere que o Governo aproveite as fachadas – também elas históricas – da mesma forma como fez com o prédio do BNU.
“O Governo poderia imitar o caso da sede do Banco Nacional Ultramarino: manter a fachada dos edifícios e fazer a renovação por dentro ou cobrir as duas fachadas com vidros, de forma a conservá-las dentro do Centro”, refere Manuel Ferreira, que considera que as suas propostas não iriam afectar o funcionamento do Centro.
O membro do Conselho do Planeamento Urbanístico avançou ainda que existem “algumas ruínas históricas ao lado desses edifícios [que vão abaixo]”, pelo que, defende, “a zona tem o seu valor histórico e o Governo deve preocupar-se com o design do edifício, além da avaliação do impacto ambiental” da construção.
Lam Lek Chit, que também é o membro do mesmo Conselho, não se mostra satisfeito com a demolição e concorda com a preservação de parte dos edifícios. O responsável diz que a informação disponibilizada pelo Governo é “limitada”, que é normal que os residentes não concordem com a proposta de construção publicada pelo Governo.
“Os cidadãos não podem participar, nem discutir, no plano de construção do Governo. É óbvio que se sentem nervosos e discordam da proposta. Se o Governo demolir os edifícios ao lado do Hospital e construir o novo edifício, a paisagem não se vai integrar e a decisão não vai ser harmoniosa”, defende, sugerindo que o Governo preserve as construções.
Recorde-se, contudo, que a polémica contra a construção do Centro não se deve à preservação das fachadas em redor, mas sim ao tipo de espaço que ali vai nascer. Ontem, foi criada uma página no Facebook contra a construção, depois de ter sido entregue uma petição com mais de 700 assinaturas com o mesmo objectivo.

20 Jan 2016

Exposições | Director de empresa denuncia dificuldades para pedir subsídios

[dropcap style=’circle’]L[/dropcap]ai Yee Lap, director geral de uma empresa de exposições local, diz que o Governo está a complicar o desenvolvimento do sector das indústrias de exposições (MICE, na sigla inglesa). Segundo o Jornal Ou Mun, o responsável afirmou que o Governo elaborou um novo regulamento para pedidos de subsídios, que exige a apresentação do pedido três meses antes da realização das exposições. Mas não fica por aqui: o Governo tem agora poder discricionário, podendo rejeitar os pedidos.
Para Lai Yee Lap, o prazo obrigatório de três meses é demasiado alargado, tendo este explicado que, depois de se entregar a lista de empresas e de participantes em exposições, não são permitidas alterações nos nomes de convidados ou local, o que complica a situação, já que normalmente, os participantes só confirmam a sua presença um mês antes do evento em causa ter lugar.
Lai Yee Lap acrescentou que o facto dos pedidos não corresponderem aos requisitos pode influenciar o montante de subsídio oferecido pelo Governo. Para exemplificar, fala de um caso específico de uma cerimónia de abertura, para a qual foram pedidas cem mil patacas e foram recebidas “apenas 20 mil”. “O sector está preocupado com o facto de poderem haver cortes grandes de apoio financeiro, sobretudo quando o Governo tem poder discricionário. O sector já não consegue ter certezas sobre o montante de subsídios que vai receber em função dos pedidos que faz”, critica.
O dono da empresa espera que a apreciação de subsídios seja mais transparente e haja critérios para esclarecer o sector, que é uma das apostas do Executivo para a diversificação económica.
Lai Yee Lap referiu que organizar exposições em Macau tem obstáculos como custos elevados de realização, que incluem o arrendamento de espaços e a contratação de mão-de-obra. Também o número de participantes se ressente, devido à falta de capacidade financeira para organizar uma iniciativa de maior envergadura. O director geral sugere que o Governo crie um mecanismo de avaliação de exposições, atribuindo mais subsídios para novas exposições e menos para as que já organizam eventos há vários anos.

20 Jan 2016

Caso Dore | Maioria dos investidores não pôs empresa em tribunal

A “esperança” no Governo fez com que a maioria dos investidores da sala VIP da Dore – que ficaram sem dinheiro depois de um rombo de milhões – não tenha levado o caso a tribunal. A bola, dizem, está do lado de Paulo Chan

[dropcap style’circle’]A[/dropcap]maioria dos investidores da sala VIP da Dore no casino Wynn optou por deixar o caso fora das barras dos tribunais. Isso mesmo confirmou o porta-voz dos investidores ao HM, dizendo ainda que estes se sentem ignorados pelo Governo.
Ontem, mais de duas dezenas de investidores entregaram uma carta à Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), pedindo informações sobre o ponto de situação da investigação. Os investidores afirmam querer encontrar-se com o novo director do organismo, Paulo Chan, até porque, dizem, as suas preces não têm sido ouvidas.
“O caso já aconteceu há quatro meses e incomoda todos os lesados, que ainda estão à espera de uma resposta do Governo”, frisou Ip Kim Fong, porta-voz dos investidores que investiu um milhão de patacas na sala da Dore. “Um dos investidores sofreu um acidente cerebral por causa da perda do dinheiro. Espero ver esclarecida a verdade do caso e que se resolva a questão o mais rápido possível”.
Seja como for, Ip Kim Fong afirmou ao HM que a maioria dos investidores não interpôs processo contra a empresa em tribunal. Ele próprio tomou essa opção, por considerar, apesar de tudo, que o Governo ainda vai tomar as rédeas do problema.
“Acredito no Governo. E acredito que o director Paulo Chan esclarecerá as verdades e as mentiras do caso, protegendo os direitos de investidores”, explicou, admitindo contudo que “até ao momento nenhum departamento do Governo contactou as vítimas para esclarecer a situação”.
“Nós temos recibos claros dos investimentos que fizemos na Dore, por isso devemos recuperar o dinheiro.”

Com esperança

Como Paulo Chan explicou na semana passada no programa “Macau Talk”, do canal chinês da Rádio Macau, a existência de uma parte das contas dos investidores já foi reconhecida pelo Governo e pela empresa Dore. O caso diz respeito a um rombo de mais de 300 milhões de dólares de Hong Kong, valor que foi “depositado” na sala VIP controlada pela Dore dentro do casino Wynn. O dinheiro foi desviado pela então contabilista, que se encontra em parte incerta. A Dore já disse não ter a responsabilidade e esperança reside agora no Executivo.
“Saí com [o meu irmão] para entregar a carta porque temos esperança no novo director da DICJ”, frisou uma das investidoras, de nome Tan, ontem ao HM. Esta é irmã de um outro investidor que sofreu um acidente vascular devido ao caso, segundo a família, que diz ter investido três milhões de dólares de Hong Kong desde Abril do ano passado.

20 Jan 2016

Hotel Estoril | Governo deverá contratar peritos internacionais mas não sabe quando nem quantos

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Instituto Cultural (IC) deverá convidar peritos internacionais para a apreciação da proposta de classificação do Hotel Estoril como património, apresentada por mais de uma centena de cidadãos. Mas, até ao momento, como confirmou o organismo ao HM, ainda não foram endereçados os convites e o número de peritos poderá ser alterado.
“Temos peritos que vão chegar para ver se há realmente valor ou não. Depois de eles acabarem este trabalho, nós é que vamos tomar uma decisão”, afirmou o presidente do IC, Guilherme Ung Vai Meng, depois da cerimónia de tomada de posse dos novos dirigentes do Instituto de Acção Social (IAS), que aconteceu na passada segunda-feira.
O presidente chegou ainda a indicar que em causa está o convite a três peritos de “nível internacional”, explicando que o ano passado o IC já tentara fazê-lo mas sem sucesso. Ontem, ao HM, o IC explicou que não existe convite oficial, para já e que está em aberto a possibilidade de virem mais ou menos peritos a Macau. “Temos planos para convidar, mas ainda não convidámos”, confirmou o IC ao HM, frisando: “para já queremos três, mas podemos mudar, depende dos convites”.
Sem grandes certezas, permanece o mistério sobre o destino do Hotel Estoril. Uma vez mais, Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, indicou que a vontade do Governo é clara: construir um centro de actividades para jovens, um auto-silo e remodelar a piscina para que possa estar aberta todo o ano.

20 Jan 2016

Governo acusado de falta de fiscalização em caso de abuso sexual

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]presidente da Associação de Educação Chinesa de Macau, Ho Sio Kam, e o reitor da escola primária da Ilha Verde consideram que os casos de abuso sexual na Associação das Águias Voadoras só aconteceu devido à falta de supervisão a estas associações.
Ho Sio Kam, também ex-deputada, disse ao Jornal Ou Mun, que o sector de educação está preocupado com a questão que envolve a Associação, onde um dos funcionários foi acusado de abuso sexual, e diz que a falta de supervisão às associações financiadas pelo Governo é um dos motivos para que casos destes aconteçam. “As actividades realizadas pela Associação são, normalmente, eventos fechados e é difícil que as escolas saibam os problemas que possam ter acontecido durante essas actividades”, diz, relembrando que quando aconteceram os abusos sexuais as crianças estavam num acampamento.
A responsável sugere que as escolas possam garantir que casos destes não aconteçam através do envio de funcionários das próprias escolas com os alunos. Mas diz também que deve ser feita uma avaliação e supervisão às associações que ofereçam este tipo de serviços.
A Associação Águias Voadoras, recorde-se, ficou sem o financiamento da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude depois de se ter descoberto o caso. Para o reitor da escola primária da Ilha Verde, contudo, o “corte dos apoios financeiros não é a melhor maneira de tratar do assunto, porque este caso envolveu o comportamento pessoal de um funcionário e não o da associação”.
O reitor indicou ainda que a associação em causa “muito se dedicou ao sector da educação” durante o ano passado e, por isso, o Governo poderia dar mais uma oportunidade às Águias. O que existe, diz, é falta de supervisão dos departamentos governamentais às associações financiadas.

20 Jan 2016

Óbito | Almeida Santos relembrado como peça importante para Macau

António Almeida Santos, presidente honorário do PS, morreu aos 89 anos deixando para trás uma marca de “espírito jovem”, “diplomacia” e “integridade”. O socialista foi uma peça importante para Macau na “pequena revolução” trazida pela elaboração do Estatuto Orgânico

[dropcap style=’circle’]T[/dropcap]inha 89 anos de idade mas um “espírito muito jovem”. António Almeida Santos, figura histórica do Partido Socialista (PS) e um dos presidentes honorários do partido, morreu na noite de segunda feira, deixando para trás um exemplo de “diplomacia” e “integridade”.
“Era uma pessoa muito íntegra, com valores muito fortes, um negociador e apaziguador que deixa um lugar que nunca será ocupado no Partido Socialista”, disse ao HM Vítor Moutinho, assessor, que trabalhou juntamente com o político. “Ele era presidente na altura em que trabalhei com os governos de [António] Guterres e José Sócrates. Em alguns congressos e campanhas, era uma voz sempre ouvida, sempre opinativa”, apontou, relembrando que “sempre que era necessário contar com uma opinião mais política e mais sensata [Almeida Santos] era sempre ouvido”.
O assessor chega a dizer que em “situações extremas”, em que era necessário “bom senso político” e “diplomacia política”, Almeida Santos “era uma voz sempre auscultada e respeitada”.

Pequena revolução

Em Macau, Almeida Santos teve um papel importante, nomeadamente em 1974, como Ministro da Coordenação Interterritorial durante os II, III e IV Governos Provisórios. “[Almeida Santos] teve a seu cargo a recolha de informações em relação à situação de Macau. Reuniu em Pequim para perceber [a situação]”, relembra Tiago Pereira, líder do PS Macau. “Foi peremptório quando declarou que Macau não era considerada uma colónia”, apontou.
O presidente honorário socialista assumiu ainda um “papel fundamental” na elaboração do Estatuto Orgânico do território. “Conjuntamente com figuras locais, Almeida Santos teve um papel fundamental na elaboração deste Estatuto, que foi uma pequena revolução, acto muito significativo, porque trouxe à luz um conceito novo e uma nova forma de encarar a situação em Macau, no sentido em que estabeleceu uma reforma profunda da Assembleia Legislativa (AL), com a sua democratização parcial”, referiu, frisando que o valor desse trabalho viu-se na sua duração, mantendo-se – apesar das ligeiras alterações – até 1999, altura da transição da soberania de Macau para a China. “Foi sem dúvida um trabalho muito bom”, remata.
A sua ligação à empresa Geocapital, sediada em Macau, foi alvo de muitas críticas, tendo o ex-bastonário dos advogados, Marinho e Pinto, acusado Almeida Santos de ser um dos advogados “que mais negócios fizera à custa do que é público”. O socialista disse, na altura, ter muito orgulho na sua participação da constituição da Geocapital. De apontar a participação dos empresários Stanley Ho e Ambrose So na empresa.

Referência incontornável

“Com muita emoção.” Foi assim que Anabela Ritchie, ex-presidente da AL, recebeu a notícia. “Ainda há dois dias o víamos na campanha de Maria de Belém [candidata à Presidência da República] e estava muito bem. Custa muito saber da morte dele, uma figura para Portugal absolutamente incontornável, um ponto de referência”, defendeu.
Para a ex-presidente da AL, Almeida Santos “teve um papel muito importante para Macau, não só nas diversas funções oficiais em que esteve envolvido, mas também a nível de amizades”. “Como tive uma carreira bastante comprida, pude acompanhar a disponibilidade e a dedicação que Almeida Santos tinha para com Macau e as suas questões, desde antes do 25 de Abril, como depois”, apontou.
O conhecimento dos estatutos das antigas províncias ultramarinas permitiu ao socialista ter uma forte capacidade na elaboração do Estatuto Orgânico de Macau. “Sabia muito sobre as competências em que Macau estava investido e das competências que Macau devia adquirir com o Estatuto, com vista a uma autonomia desejável, com que ele sonhava e nós também”, argumentou. Uma pessoa sempre disponível sobre a qual Anabela Richie lamenta a “grande perda”.

Aprender com o exemplo

Vítor Moutinho relembra o exemplo que Almeida Santos foi para a sua – e de tantos outros – aprendizagem. “É quase como quando estamos na escola e gostamos sempre de aprender com os mais velhos. Era uma aprendizagem de comportamentos. Há que diga que a velhice é um posto, mas neste caso os anos não passaram por Almeida Santos. Foi alguém que sempre aprendeu com os mais novos e gostava de estar a par das novas informações e de como funcionavam as novas tecnologias. Até podia não as usar muito, mas era interessado”, ilustrou.
Ideia também partilhada por Tiago Pereira, que diz que esta “figura história do PS e da própria democracia portuguesa” carregava em si um “espírito jovem”. “Isso notava-se até pelas suas posições políticas mais recentes. Isto reflecte uma consciência clara da nova realidade, dos novos tempos e da forma como o mundo mudou. Espelha o entusiasmo pela vida política que nunca perdeu”, rematou.
Almeida Santos, licenciado em Direito, pela Universidade de Coimbra, faria no próximo mês 90 anos. Morreu em sua casa, em Oeiras, depois de se ter sentido mal no final do jantar. Foi assistido no local, mas sem sucesso. Maria de Belém cancelou a campanha até ao funeral de Almeida Santos, que ainda não tem data marcada.

20 Jan 2016