Andreia Sofia Silva Eventos MancheteRota das Letras | Valério Romão apresenta “Mais uma Desilusão” este domingo “Mais uma Desilusão – Primeira incursão de um novelista na criação poética” é o nome do evento em que Valério Romão, escritor e tradutor, apresenta o seu novo e primeiro livro de poesia, ou escrita poética. “Mais uma Desilusão” é um livro que reflecte sobre o Portugal de hoje, um país com várias crises, da económica à existencial, em que o autor se estreia numa nova forma de escrita. A apresentação começa às 16h no Antigo Matadouro, na Barra Valério Romão gosta de Portugal, mas já não sabe muito bem porquê. Não entende o sentimento por um país que está permanentemente em crise, seja política ou económica, desde há vários anos, e que 50 anos depois do 25 de Abril de 1974, quando caiu a ditadura do Estado Novo, ainda está à procura de se encontrar. A identidade do português nem sempre é a mais optimista, e falta estratégia ao país para se encontrar e ter uma existência mais saudável. Todas estas ideias podem ser encontradas no novo livro de poesia de Valério Romão, “Mais uma Desilusão”, recentemente lançado em Portugal com a chancela da Abysmo e que será apresentado este domingo no âmbito do festival literário Rota das Letras, no Antigo Matadouro, na Barra. Macau não é uma novidade para Valério Romão, por ser um território que o acolheu para uma residência literária, ou para anteriores participações no Rota das Letras. Apesar disso, o regresso faz-se sempre com curiosidade. “Espero poder falar do meu mais recente livro, e como é um festival internacional, com forte presença de escritores chineses, quero conhecer o trabalho dos outros e alargar um pouco os horizontes”, confessou ao HM. “Não sei se a cultura chinesa tem uma influência declarada no meu trabalho, mas certamente tem uma influência devida. Os escritores são, normalmente, produto das suas experiências, do que colheram e viveram. Nesse sentido, a cultura chinesa tornou-se central, na medida em que mostra uma forma de pensar diferente, estranha e às vezes incompreensível. Mas estimula-me sempre uma curiosidade tremenda”, adiantou. Novos territórios Voltando ao livro, Valério Romão assume que “quis explorar um novo mundo na escrita, sobretudo na forma”, depois de ter brindado os leitores com romances onde a família é tema central, como “Autismo” ou “O da Joana”, que pertencem a uma trilogia. “As ideias andavam na minha cabeça há algum tempo, mas essa forma de escrita, que algumas pessoas chamam de poesia e outras, prosa poética, sim, foi uma novidade. Despir a pele de romancista foi algo natural, porque mesmo na minha escrita em prosa utilizo muito a metáfora, a comparação e figuras de estilo, e a ironia também. Muito do que está em ‘Mais uma Desilusão’ pode ser visto nos meus romances e contos anteriores, nessa prosa, mesmo que de forma embrionária”, confessou. País em chamas Valério Romão mostra, na escrita, a desilusão para com Portugal. “Não acho que ofereça grandes condições de vida. Estamos a recondicionar o país nos serviços, numa espécie de ‘tailandização’ para explorar tudo o que possamos dos turistas que vêm cá, mas depois não há apostas estratégicas. Não vejo grande liderança nacional que nos possa conduzir, nem sinto que haja ideias que, daqui a uns anos, nos possam levar para outro sítio. Se estivermos noutro sítio, e melhores, daqui a 30 anos, será mais por carolice e desenrascanço, que são tipicamente portugueses, do que propriamente por planeamento”, defendeu. O autor entende que os portugueses são pessimistas, com pouca auto-estima, e com uma maior tendência para a melancolia do que para outro tipo de sentimentos mais alegres. “Só conseguimos olhar-nos ao espelho se alguém nos colocar o espelho à frente. E é importante [que essa análise] seja feita por historiadores, escritores, poetas, músicos. Temos a tendência a achar que somos os melhores e, ao mesmo tempo, os piores do universo, tendo uma auto-estima frágil e uma imagem distorcida, para o bem e para o mal, de nós próprios”. Com “Mais uma Desilusão”, Valério Romão não quer “fazer um exercício de reflexão nacional”, tratando-se apenas de um “exercício de reflexão privada”. “Espero que contribua para mais conversas e reflexões”, aponta. Sobre a identidade do português, “é demasiado tudo, é muito mediterrânico, mas ao mesmo tempo tem o Fado nos genes, então mais depressa vai para o Fado do que para o Samba”. Portugal está na cauda da Europa em termos geográficos e, para Valério Romão, esse pode ser um dos factores para a crise existencial do país. “A classe política é um reflexo da nossa população e tem de melhorar quando nós, como país e portugueses, melhorarmos também. Isso tem a ver com os anos da ditadura, com o estarmos entre o Atlântico e a Europa central, com o estatuto periférico da Europa. Essa recuperação não se consegue em 50 anos [de democracia], talvez em 100, mas falta a educação também.” O autor, que considera que, actualmente, “é pouco sexy falar de educação, por parecer haver uma ditadura da opinião pouco esclarecida”, mas, para si, “a educação é mesmo o elevador do indivíduo e dos povos”. “As pessoas têm dificuldades económicas e até existenciais. Nos anos 90 toda a gente queria enviar os filhos para a faculdade, porque achavam que isso dava garantia de um futuro garantido, mas nesta altura percebemos que essa garantia não existe.” O autor frisou ainda que “estamos numa altura em que existe um sentimento anti-ciência, anti-academia, em que se suspeita de tudo o que vem da academia”. “Estamos no paradoxo, em que achamos que a tecnologia nos dá acesso à árvore das patacas e em que, por outro lado, considerarmos que a ciência não serve para nada, sobretudo as ciências sociais”, disse ainda. Em “Mais uma Desilusão”, Valério Romão confessou não ter sentido “grande diferença enquanto autor na escrita deste livro”. “Segui o roteiro que estava a ser imposto, a forma estava a adequar-se ao conteúdo, e vice-versa. Sou bastante livre quando escrevo um livro, no sentido em que acabo por não ter grandes regras antes de o começar, e não tenho grandes regras quando o estou a escrever”, rematou.
João Santos Filipe Manchete SociedadeEdifício Fong Nam | Incêndio leva três residentes ao hospital Um homem foi transportado sem sinais vitais para o Centro Hospitalar Conde São Januário, na sequência de um incêndio no Edifício Fong Nam, no Istmo de Ferreira Amaral Um homem com cerca de 70 anos foi ontem transportado em estado grave para o hospital, devido a um incêndio ocorrido no 15.º andar do Edifício Fong Nam, no Istmo de Ferreira Amaral. O residente foi encontrado pelo Corpo de Bombeiros (CB) na casa-de-banho, sem sinais de respiração ou ritmo cardíaco, e levado para o Centro Hospitalar Conde São Januário. Além do homem, outras duas moradoras, uma com 74 anos, e outra com 51 anos, tiveram igualmente de ser hospitalizadas, mas encontram-se fora de perigo e numa situação considerada estável. A moradora de 74 anos terá sofrido uma queda, depois de ter inalado fumo que subiu até ao 21.º andar. Já a residente de 51 anos, foi levada para o hospital, depois de ter sofrido um ataque de pânico. O alerta para o incêndio foi dado por volta das 11h, por um outro morador, após ter sentido cheiro a queimado e ter visto fumo na sua habitação. De acordo com o jornal Ou Mun, quando o Corpo de Bombeiros chegou ao local do incêndio teve de utilizar ferramentas para abrir a porta e entrar na habitação em chamas. Após o combate ao fogo com mangueiras de água, os bombeiros levaram ventoinhas para a habitação para remover o fumo. A casa afectada pelas chamas tem três quartos e suspeita-se que o incêndio tinha começado num deles, onde um armário ardeu por completo. Os restantes quartos e a cozinha não sofreram danos de maior, apesar de um candeeiro ter derretido com o calor das chamas. A investigação preliminar não conseguiu determinar ainda a origem do incêndio. O incidente fez também com que cerca de 10 moradores tivessem de abandonar as suas habitações e aguardar pelo socorro no rés-do-chão do edifício. Sete em um mês Com o incêndio de ontem, contabilizam-se, no espaço de um mês, sete incêndios em edifícios de habitação com necessidade de retirar os moradores do edifício. O início desta semana foi particularmente propenso a acidentes, com dois incêndios no domingo. Um ocorreu no Edifício Hoi Fu, que levou a que duas pessoas tivessem de ser hospitalizadas devido à inalação de fumos. Nesse mesmo dia, teve lugar outro fogo no Edifício Jardim Iat Lai, embora sem feridos. Todavia, a série negra começou a 24 de Fevereiro, quando as chamas atingiram o Edifício do Lago, o que fez com que dois moradores tivessem de ser transportados para o hospital. Houve ainda 18 moradores que tiveram de deixar temporariamente as suas casas. Este fogo ficou marcado pelo facto de o alarme de incêndio não ter funcionado, o que levou a alertas de alguns deputados, como Lo Choi In. No entanto, o pior incidente aconteceu no Edifício Jardim Cidade Nova (também denominado San Seng Si Fa Un), na Avenida Tamagnini Barbosa, no bairro do Toi San, em que três pessoas tiveram de ser transportadas para o hospital, duas crianças e uma empregada doméstica, com queimaduras no corpo.
João Luz Manchete SociedadeJogo | Estímulos ao consumo na China podem trazer benefícios A indústria do jogo de Macau poderá beneficiar do mais recente pacote de estímulos ao consumo anunciados pelo Governo Central no domingo. O analista Vitaly Umansky da Seaport Research Partners prevê que a médio prazo os estímulos aumentem a confiança dos consumidores e impulsionem os resultados dos casinos de Macau, em especial no segmento de massas Macau poderá beneficiar dos estímulos ao consumo anunciados no domingo pelo Governo Central, com um reflexo directo das receitas dos casinos, na perspectiva do analista Vitaly Umansky, da Seaport Research Partners. “O Governo chinês anunciou recentemente planos ambiciosos para impulsionar o consumo e melhorar a confiança dos consumidores. Estas iniciativas políticas deverão contribuir para aumentar as receitas de Macau”, referiu o analista sénior num comunicado divulgado na quarta-feira. Apesar de o pacote de estímulos não incluir a distribuição directa de dinheiro aos cidadãos, Vitaly Umansky considera que as medidas não só eram esperadas devido ao fraco consumo interno, como podem ajudar a melhorar a procura e confiança dos consumidores, seguindo a primeira ronda de estímulos e apoio ao mercado imobiliário de Setembro do ano passado. “Esperamos que, a médio prazo, estas medidas ajudem a apoiar o crescimento da procura em Macau. A melhoria da confiança dos consumidores e a expansão das carteiras dos consumidores deverão apoiar a longo prazo o crescimento da base de clientes de massa de Macau”, afirmou o analista, citado pelo portal GGR Asia. Calor da noite A nota da Seaport Research Partners realça que, apesar de o segmento premium ter demonstrado alguma resiliência à crise depois de terem sido levantadas as restrições no combate à pandemia, o mercado base de massas, composto por jogadores que gastam menos, continuou abaixo das previsões dos analistas. O cenário é ainda mais pessimista tendo em conta o mercado dos apostadores que não pernoitam em Macau, com Vitaly Umansky a salientar que mesmo o negócio das excursões de um dia vindas de Guangdong, sem pernoita, tem sido mais forte para Hong Kong do que para Macau. A postura positiva de Pequim em relação a Macau, que inclui a expansão das políticas de facilitação de vistos para viajar para a RAEM, foi também destacada pela Seaport Research Partners como uma ajuda para o crescimento económico de Macau no futuro, embora ressalvando o fraco impacto a curto-prazo. Enquanto ainda não são conhecidos os contornos concretos das medidas, o Governo Central anunciou, para já, que o pacote de estímulos tem como objectivos revitalizar a procura interna, aliviar os encargos financeiros dos consumidores, com destaque para os sectores da habitação, automóveis, turismo de idosos e indústrias emergentes ligadas à inteligência artificial. Segundo a agência Xinhua, Pequim pretende também promover o aumento de salários, nomeadamente aperfeiçoando o mecanismo de ajuste do salário mínimo, e expandir fontes de rendimento através da estabilização do mercado de capitais e da emissão de mais títulos de obrigações concebidos para investidores individuais.
João Santos Filipe Manchete PolíticaComércio | Lao Ngai Leong quer mais veículos vindos de Hong Kong Com o comércio local a perder cada vez mais receitas para o Interior, o membro da Assembleia Popular Nacional por Macau sugere que o território aceite mais viaturas de Hong Kong, para ajudar à recuperação dos negócios as pequenas e médias empresas O membro da Assembleia Popular Nacional por Macau, Lao Ngai Leong, sugere a atribuição de mais quotas para veículos de Hong Kong podere circular em Macau, para compensar as pequenas e médias empresas (PME), pelas perdas das receitas para o Interior. A proposta foi apresentada durante uma sessão para aprender o “espírito das duas sessões”, realizada Associação de Federação e Comercial União de Shun De de Macau, na quarta-feira. Durante a sessão, de acordo com o Jornal do Cidadão, Lao Ngai Leong abordou os problemas do comércio local, provocados pelo consumo cada vez mais frequente dos residentes do outro lado da fronteira. Contudo, Lao destacou que a questão é mais abrangente e que tem vantagens, dado que “também as pequenas e médias empresas começaram a consumir mais no Norte”. Apesar deste cenário, o também empresário espera que os veículos de Guangdong possam circular cada vez mais perto de Macau, para visitarem o território e aumentar o volume de negócios das PME. No entanto, o político avisou a população local da necessidade de ter maior capacidade para aceitar o aumento de tráfego nas estradas de Macau. A sugestão foi apresentada numa altura em que os residentes de Hong Kong tendem a consumir cada vez mais no Interior, em especial em Shenzhen, onde os preços são mais baratos do que na RAEHK ou em Macau. A reconhecer a realidade Em relação às PME dos bairros comunitários, o deputado reconheceu a existência de dificuldades acrescidas, dado que os novos turistas de Zhuhai não ficam, nem compram nessas zonas. Lao Ngai Leong defendeu assim que o Governo tem de criar outras atracções nos bairros e atribuir maior apoios ao comércio local, para atravessar esta fase complicada. Apesar das dificuldades, o empresário defendeu que a economia de Macau está a “recuperar relativamente bem depois da pandemia” e que é a “obrigação de todos os sectores aproveitarem as políticas preferenciais do Governo Central”. O político afirmou igualmente que “as PME devem revitalizar-se e criar novo valor, para serem mais competitivas”. Lao contou ainda que a sua empresa de comida no Interior começou a trabalhar com universidades para criar novos produtos e a seguir as novas tendências de consumo, pedindo ao comércio local que siga este exemplo.
João Santos Filipe Manchete PolíticaNAPE | FAOM pede abertura de Centro de Saúde A conclusão de edifícios para escritórios da Administração no NAPE é vista pelo deputado da FAOM, Leong Sun Iok, como a oportunidade para abrir novas instalações de saúde, numa zona que afirma ter pouca cobertura Leong Sun Iok defende a abertura de um Centro de Saúde público no NAPE, após a construção dos novos edifícios da Administração. O pedido faz parte de uma interpelação escrita do deputado ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM). Segundo o legislador, actualmente, os residentes do NAPE são servidos pelo Centro de Saúde do Tap Seac, que tem uma das maiores coberturas da RAEM e maior número de utentes. No entanto, Leong indica que a capacidade do centro de saúde é limitada pelo que em 2027 vai surgir uma oportunidade para resolver o problema. “De acordo com a área de cobertura dos centros de saúde, actualmente, os residentes da zona do recebem serviços médicos e de saúde no Centro de Saúde de Tap Seac. No entanto, com o aumento da população verificado nos últimos anos, há uma necessidade urgente de um novo centro de saúde na zona do NAPE”, afirmou o deputado. “Com a conclusão, em 2027, dos edifícios de escritórios públicos nos lotes 25 e 12 no NAPE, espera-se que a oportunidade seja aproveitada para abrir o novo Centro de Saúde, para colmatar esta lacuna e aliviar a pressão sobre o Centro de Saúde de Tap Seac”, é acrescentado. O deputado defende que os edifícios pensados como escritórios para a Administração possam ser reconvertidos para expandir a rede de clínicas do território. Leong Sun Iok lamenta também que actualmente os residentes do NAPE apenas se possam deslocar ao Tap Seac, por considerar que as opções são limitadas. Além disso, aponta a falta de serviços de saúde, mesmo privados, naquela zona. “Como não existem actualmente instituições médicas públicas no NAPE, e são poucas as clínicas privadas, é difícil satisfazer as necessidades médicas e de cuidados de saúde dos residentes naquela área”, atira. Tap Seac com limitações Por outro lado, Leong Sun Iok destaca as limitações do Centro de Saúde do Tap Seac, apesar de admitir que estão identificadas e que os Serviços de Saúde têm planos para melhorar os espaços para as consultas. Na interpelação, o deputado recorda também que o Plano para uma Macau Saudável tem como pilares da política de saúde a detecção preventiva das doenças mais graves e o aprofundar da cooperação com as clínicas privadas. Por isso, e no caso de não haver planos de abertura de uma clínica, Leong Sun Iok questiona o Governo sobre como vai concretizar a política de detecção preventiva das doenças mais graves no NAPE, assim como a possibilidade de serem instalados equipamentos naquela zona. Na interpelação, Leong Sun Iok elogia ainda o desenvolvimento dos serviços médicos nos últimos anos, que considera que têm contribuído para melhorar a vida da população.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteVera Lúcia Raposo, jurista e docente: “IA propaga-se hoje como um vírus” Vera Lúcia Raposo apresentou na quarta-feira na Universidade de Macau o novo quadro regulatório da União Europeia para Inteligência Artificial, numa sessão promovida pelo Instituto de Estudos Europeus de Macau. A ex-docente da Universidade de Macau defende que a China está a ganhar a corrida numa área que nunca esteve tão presente nas nossas vidas Falou na quarta-feira do “AI Act” aprovado pela União Europeia (UE). Concretamente, quais são os principais pontos deste documento? Trata-se do regulamento de Inteligência Artificial (IA) publicado no ano passado no jornal oficial da UE. É uma lei europeia, mas é também, até ao momento, o mais detalhado regime legal sobre os produtos que envolvem a IA. É difícil legislar sobre a IA nesta fase tão preliminar? Se calhar nunca vamos deixar de estar nesta fase. Repare, a IA não surgiu com o ChatGPT nem nada que se pareça. Desde meados do século passado, e ainda antes, mas sobretudo desde o ‘paper’ de Alan Turing que a IA existe, primeiro em laboratório, cingida a um grupo de investigadores. Depois começou a ser lançada no mundo e a fazer parte das nossas vidas, mas nunca como agora. Actualmente, estamos numa espécie de outra pandemia, em que a IA se propaga na nossa existência como um vírus, mas não um vírus mau, pois entendo que, muitas vezes, a IA se propaga com efeitos positivos. Claro que, apesar de não ser uma coisa completamente nova, é uma realidade ainda muito misteriosa para nós juristas. O problema começa pelo facto de nem sequer conseguirmos obter uma definição maioritariamente aceite pelos especialistas do que é a IA. Desde logo, não sabemos o que é, porque é uma entidade em movimento, que muda constantemente. O que achávamos que há dez anos era IA, hoje já será um algoritmo. Nas áreas da defesa da vida privada, ou dados pessoais, por exemplo, ou ainda direitos de autor, o que nos diz a legislação europeia em termos concretos? O regulamento de IA [da UE] insere-se no que chamamos “data package” [pacote de dados], insere-se no grupo de regulamentos que dizem respeito à segurança do produto. Mas isso é entendido em termos muito abrangentes, não é apenas a segurança como estamos habituados a pensá-la, como algo que põe em causa a integridade física, mas abrange questões ambientais, o respeito pelos valores fundamentais e direitos de tecnologia e protecção de dados. É verdade que o regulamento tem essas aspirações e concretizações práticas em algumas normas, mas a ideia é que se desenvolva com outros regulamentos já existentes em matéria de protecção de dados e propriedade intelectual, e que não entre em conflito com eles. Temos, actualmente, o ChatGPT do lado americano, e o DeepSeek do lado chinês. Acha que a China se posiciona como líder na área da IA? Constata-se que a China é um colosso no mundo digital. A forma como o mundo tem vindo a evoluir tem diferenciado. Há 100 anos atrás tínhamos conflitos bélicos, e hoje temos guerras onde se continua a matar pessoas, mas temos também guerras comerciais e estas guerras tecnológicas. E digo que mais do que uma guerra, é uma corrida para chegar à nova invenção. Os velhos blocos de países têm estratégias diferentes. Por exemplo, no caso dos Estados Unidos da América (EUA), essa estratégia mudou muito com a Presidência de Trump, mas sempre foi mais liberal e “laissez-faire”. Essa também tem sido a forma de actuação dos EUA, mas com Trump está mais na linha do “vale tudo”, do que importa é chegar em primeiro lugar. Há um grande fomento das companhias tecnológicas, como se vê com o grande apoio que elas deram à campanha presidencial de Trump. Depois temos a China, com uma política estatal, que não está tanto nas mãos dos privados. Há um foco muito grande no avanço tecnológico, mas é visível que o país está já numa posição que, dificilmente, será alcançada pelos outros. A Europa não está propriamente bem posicionada. Porquê? A Europa tomou a decisão de que a melhor forma de desenvolver o progresso tecnológico e fomentar a inovação é pela via da hiper-regulação. Não há um centímetro que não esteja regulado ou que não venha a ser regulado pela UE. Claro que pode ter algumas vantagens, e as aspirações é que possamos estar perante um desenvolvimento controlado e sustentável, e que respeite os nossos direitos fundamentais e o Estado de Direito. Mas tenho algumas dúvidas. Primeiro, de que isto seja conseguido, porque a protecção dos direitos fundamentais também não passa por esta hiper-regulamentação. Depois parece-me que estamos a fazer isto à custa de um valor que me parece primordial, que é a inovação. Essa ideia vem, aliás, no relatório de Mário Draghi, que alertou a UE para a possibilidade de hipotecar as gerações futuras porque estamos a deixar a inovação para trás. Não vejo que nenhum destes três modelos tecnológicos [EUA, China e UE] seja particularmente frutífero, porque têm benefícios e desvantagens. Temos um modelo interessante, que é o britânico. Em que sentido? O Reino Unido mantém o quadro jurídico que herdou da UE, e ainda não o alterou. O Reino Unido não vai adoptar o regulamento da IA [Europe’s AI Act], porque já não faz parte da UE, parece que também não vai criar um quadro regulatório semelhante a esse, mas têm uma abordagem que é ter um quadro muito genérico que fixa os pontos principais e limites, mas depois haverá uma regulamentação sectorial. Esta regulamentação, que ainda está a ser criada, é para estabelecer as ‘guidelines’ para cada área de actividade, para que haja autonomia em cada sector e sempre no respeito das particularidades de cada um. Em teoria, é mais interessante, mas está tudo no início e ainda não vi casos aplicados na prática. Como comenta o uso da IA na área jurídica e judicial? Utilizar fontes que não são desejáveis para fazer o nosso trabalho não foi algo que chegou com o ChatGPT. Falando de algo que conheço bem, como teses académicas ou ‘papers’ científicos, não é inaudito que alguns autores menos escrupulosos citem fontes nas quais nunca puseram os olhos, e depois citam de forma errada, ou citam fontes que não existem. Há situações em que se citam fontes pouco credíveis, como blogues, ou ‘papers’ que não foram sujeitos ao sistema de revisão por pares. Isso não é novo. Termos o ChatGPT ao lado ajuda muito e a tentação é grande. Não acho que seja o fim do mundo. A literacia IA é fundamental para a academia e qualquer cidadão. Todos temos de compreender quais os benefícios da IA generativa e riscos também. Uma pesquisa nas páginas da Wikipedia também pode gerar erros. É impossível dizer aos alunos para não usarem o ChatGPT, porque essa proibição seria oca. Não posso saber como as pessoas fazem o seu trabalho. Pode haver situações de desonestidade científica e situações em que a informação não é verdadeira, mas se alguém me disser que escreveu algo com apoio do ChatGPT, não tenho problema com isso. Tenho se a pessoa se considerar na totalidade a autora do trabalho. O ChatGPT funciona muito como uma pesquisa no Google, não é algo completamente novo. Mas tenho de perceber que a informação que o ChatGPT me dá tem de ser muito analisada e novamente investigada. O ChatGPT só me pode dar pistas para onde posso ir, e aí pode ser útil e fazer-nos pensar. É uma fonte como outra qualquer, mas que não tem muito credibilidade. O ChatGPT nunca trata das coisas em detalhe, por exemplo.
João Luz Manchete SociedadeClima | Observatório de HK prevê até oito tufões este ano O Observatório de Hong Kong prevê que este ano as temperaturas na região continuem a aumentar, devido ao impacto das alterações climáticas. São também esperados até oito tufões a passar num raio de 500 quilómetros da cidade, que fica a cerca de 65 quilómetros de Macau, a partir de Junho O Observatório de Hong Kong lançou na terça-feira uma previsão para 2025 que aponta para temperaturas mais elevadas devido ao impacto contínuo das alterações climáticas. A entidade que monitoriza os fenómenos meteorológicos e climáticos na cidade vizinha, e que normalmente está em consonância com os Serviços Meteorológicos e Geofísicos de Macau, estima que este ano entrem num raio de 500 quilómetros da cidade até oito ciclones tropicais, a partir de Junho ou mesmo antes. A agência de meteorologia afirmou ainda que Hong Kong será afectada por tempestades e chuvadas fortes e localizadas, apesar de prever que a precipitação anual se situe dentro dos valores normais. “De um modo geral, as temperaturas em Hong Kong têm registado uma tendência ascendente nos últimos anos. De facto, no último ano, registámos a temperatura de vento mais elevada de Hong Kong. É o resultado da urbanização e também do efeito das alterações climáticas”, disse o director do observatório, Chan Pak-wai, citado pela emissora pública RTHK. O director do Observatório de Hong Kong apontou que 2024 foi o ano mais quente desde que existem registos globais e que na região foram registados 11 meses com temperaturas acima do habitual. Em lume brando Segundo os Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) da RAEM, no ano passado a temperatura média em Macau foi de 23,6 graus celsius, 0,8 graus acima dos valores médios climáticos, igualando o ano mais quente desde que há registos (2019). Aliás, 2024 foi um ano de recordes a quase todos os níveis meteorológicos, somando às elevadas temperaturas, as tempestades tropicais e chuvadas torrenciais. Na análise anual referente a 2024, divulgada no início de Janeiro, os SMG justificaram a ocorrência mais frequente de fenómenos extremos e a subida do nível do mar com o aumento da temperatura e o aquecimento oceânico, representando uma ameaça para cidades costeiras como Macau. No ano passado, Abril foi um mês em destaque como o mais quente desde Abril de 1952, “tendo a temperatura média mensal, a temperatura média mensal mais elevada e a temperatura média mensal mais baixa batido todos os recordes, atingindo os valores mais elevados de sempre para o mesmo período”, destacam os SMG. No total, Macau registou no ano passado 42 dias quentes, mais 10,7 em relação aos valores médios climáticos, de 31,3 dias.
João Luz Manchete SociedadeEscolas | Novas orientações para o uso de telemóveis Os serviços sociais da Sheng Kung Hui Macau receberam pedidos de ajuda relacionados com vício de internet referentes a crianças entre os seis e oito anos de idade. A DSEDJ vai lançar orientações para o próximo ano lectivo sobre as alturas e circunstâncias em que os alunos podem usar o telemóvel O Governo vai lançar um conjunto de orientações sobre o uso de telemóveis para alunos de escolas do ensino não superior do território, que passará a vigorar a partir do próximo ano lectivo. A medida foi revelada ontem pelo chefe da divisão de ensino secundário da Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DESDJ), Leong I On, durante o programa Fórum Macau do canal chinês da Rádio Macau. O responsável indicou que as orientações vão servir de guia de gestão, e um ponto de partida para escolas e pais chegarem a consensos, indicando as circunstâncias em que os estudantes podem utilizar o telemóvel, mas limitando o seu uso durante as aulas e mesmo nos intervalos Para ajudar as escolas a transitar para a nova realidade, a DSEDJ compromete-se em apoiar as escolas a comprar armários para guardar os aparelhos. No mesmo programa, o chefe de divisão de desenvolvimento curricular e avaliação da DESDJ, Cheang Sek Kit, lembrou que o Governo difundiu entre as escolas do território instruções que devem ser incluídas no sistema de ensino sobre o bom uso da internet. Estas instruções indicam que um uso adequado e saudável da internet por um jovem não deve ultrapassar uma média diária de uma hora, com intervalos de 20 em 20 minutos. A chupeta do ecrã Por outro lado, um representante dos serviços sociais da Associação de Beneficência Sheng Kung Hui (Macau) relevou aos microfones da emissora pública que o vício na internet afecta jovens cada vez mais novos. Ho Ka Hong, assistente social da organização de serviços sociais ligada à Igreja Anglicana, vincou a necessidade de reforçar a literacia cibernética nas escolas e promover o bom uso da tecnologia entre os mais novos. “A nossa organização acompanha na sua maioria jovens com idades entre 10 e 24 anos viciados na internet. No entanto, já recebemos pedidos de ajuda de pais devido ao uso excessivo de internet por filhos com idades entre seis e oito anos”, referiu o assistente social. Ho Ka Hong recordou que em 2022, a Sheng Kung Hui realizou um inquérito sobre literacia na internet que mostrou, sem surpresa, que o estado mental dos jovens se deteriora consoante o tempo que passam online, com particular incidência para o uso de redes sociais. “Os jovens estão sempre atentos às notificações das suas redes sociais, o que pode influenciar as suas emoções e causar ansiedade”, acrescentou o assistente social.
João Santos Filipe Manchete PolíticaRestauração | Chan Chak Mo pede mais apoios ao Governo O presidente Associações dos Proprietários de Estabelecimentos de Restauração e Bebidas de Macau reconheceu que existe um ambiente generalizado de “falta de crença” no futuro e que a guerra comercial entre os EUA e a China pode agravar ainda mais a situação O deputado e presidente Associações dos Proprietários de Estabelecimentos de Restauração e Bebidas de Macau, Chan Chak Mo, defende o aumento dos apoios do Governo aos restaurantes e ao comércio local. As declarações foram prestadas aos órgãos de comunicação social em língua chinesa, na tomada de posse dos novos órgãos sociais da associação. De acordo com as explicações de Chan, os proprietários dos restaurantes estão muito preocupados com as mudanças nos padrões de consumo e no poder de compra dos visitantes. O deputado explicou que apesar do número de visitantes ter aumentado em Fevereiro e em Março, face ao período homólogo, que muitos restaurantes não estão a sentir os benefícios desse aumento. Os meses mais recentes foram mesmo caracterizados como períodos com receitas “sofríveis”, o que Chan afirmou contribuir para agravar a situação complicada da restauração. A este cenário junta-se um Ano Novo Lunar com um impacto muito diferente, e nem sempre de acordo com as expectavas. Segundo o empresário, os restaurantes junto aos grandes casinos foram beneficiados pela época alta do turismo. No entanto, o impacto para os outros restaurantes foi variável, e em muitos casos abaixo das expectativas. Por este motivo, Chan Chak Mo apelou ao Governo para lançar novas medidas de apoio, como o Carnaval Do Consumo, que começa na próxima semana, mas também a revitalização eficaz dos bairros antigos, maiores facilidades na emissão das licenças para os novos restaurantes e a criação de mais eventos de turismo, para levar os visitantes aos bairros comunitários. Receitas a descer A nível do seu negócio de restauração, Chan Chak Mo reconheceu que até os restaurantes nas zonas mais turísticas da cidade estão a sofrer, com as receitas a apresentarem quebras de 10 a 20 por cento. Quando tentou explicar estas alterações, Chan indicou a quebra da confiança na economia dos visitantes, o ambiente de incerteza económica no Interior e a redução do número de visitantes no pós Ano Novo Lunar. Face a todas as alterações, o presidente Associações dos Proprietários de Estabelecimentos de Restauração e Bebidas de Macau admitiu também que o sector atravessa uma fase de “falta de crença” generalizada. Neste contexto, e tendo em conta a possibilidade de uma guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, Chan defendeu que o Governo deve adoptar mais medidas de apoio à restauração, como a distribuições de cupões de consumo e a realização de actividades nos bairros comunitários, para atrair turistas.
João Santos Filipe Manchete PolíticaSaúde | Sam Hou Fai diz que Hospital das Ilhas terá “influência internacional” Um centro médico de “primeira classe” e com “influência internacional”. Foi esta a promessa de Sam Hou Fai para o futuro do Hospital das Ilhas. O líder do Governo afirmou ainda que o Executivo está a trabalhar para que os residentes possam tratar doenças graves em Macau, em vez de procurarem tratamento no exterior O Chefe do Executivo afirmou que o Hospital das Ilhas, explorado pelo Hospital Peking Union Medical College, vai alcançar “influência internacional”. As declarações surgem no comunicado oficial de um encontro, à porta fechada, com o presidente honorário do Peking Union Medical College Hospital (PUMCH) e presidente da Associação Chinesa dos Profissionais de Medicina, Zhao Yupei. Durante a reunião, que foi comunicada na terça-feira à noite, Sam Hou Fai afirmou que “com o esforço conjunto” o Governo e a instituição nacional “conseguirão definitivamente criar um centro médico de primeira classe com influência internacional, contribuindo para desenvolver o sector da ‘saúde + turismo’ e enriquecendo a indústria de da saúde compreensiva”. O Hospital das Ilhas é a aposta do Executivo para desenvolver Macau como um centro de turismo de saúde, tendo a exploração do espaço, construído com capitais públicos, sido atribuída ao Hospital Peking Union Medical College. Esta aposta também é encarada por Sam Hou Fai, e pelo seu antecessor Ho Iat Seng, como o caminho para alcançar a diversificação da economia do território. Actualmente, o Hospital das Ilhas é gerido como uma instituição privada, pelo que os residentes têm de pagar o preço de utilização. A excepção só se verifica quando os residentes são encaminhados pelos Serviços de Saúde para a instituição, acedendo a cuidados médicos nas condições de serviço público. Ficar em Macau Entre as declarações citadas no comunicado oficial, Sam Hou Fai apontou ainda o Hospital das Ilhas como a esperança para que os residentes deixem de ter de sair de Macau para tratar doenças mais graves. O líder do Governo disse que “para alcançar o objectivo de ‘Tratar doenças graves sem sair de Macau’, o Centro Médico de Macau expande gradualmente os seus serviços de consultas externas especializadas, o que demonstra claramente a determinação do Governo da RAEM no alargamento da cobertura de saúde e na optimização da distribuição de recursos médicos”. As declarações surgem depois da recente abertura das consultas externas especializadas a não-residentes de Macau, como trabalhadores, alunos e outras pessoas com autorizações especiais de fixação. No entanto, o objectivo passa por alargar o serviço a turistas de saúde. Neste aspecto, o governante indicou que a abertura das consultas externas “não só proporciona uma opção conveniente aos não-residentes de Macau, como também aumenta a atractividade para os residentes da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau e dos países do Sudeste Asiático”. Durante o encontro foi também assinado o acordo sobre a “taxa de cooperação operacional 2025 do Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas – Centro Médico de Macau do Peking Union Medical College Hospital”. Contudo, o conteúdo do documento, não foi revelado, nem o eventual pagamento por parte do Governo à instituição do Interior da China.
Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteCharles William Ricou e a história da aviação em Macau Célia Reis, historiadora e docente, encontra-se a desenvolver um projecto de investigação em torno dos primórdios da aviação em Macau e foi esse o tema que levou às “Conferências da Primavera” na segunda-feira, com a sessão “A aviação e navegação aérea em Macau nos anos 20 – um processo de inovação colonial”. Célia Reis falou de um período em que a aviação começou a ser importante para a China, por questões de segurança, e começa também a ser pensada para Macau. Neste processo, há uma personalidade cujo nome importa reter, um francês nascido em Hong Kong: Charles William Ricou, um piloto formado em engenharia e em aviação. Este começou a equacionar, a partir de Novembro de 1919, a possibilidade de “estabelecer uma carreira aérea entre Macau, Hong Kong, Xangai, Filipinas, Java, Índia”, contactando com entidades governamentais locais para a obtenção de facilidades e acordos. Célia Reis explicou que Ricou pretendia formar duas companhias aéreas, a “Far East Aviation Company”, com “uma ligação bastante mais alargada, chegando até Manila”, e outra para ligar Macau, Hong Kong e Cantão, com o nome “Macau Aerial Transport Company Limited”. Esta empresa “foi constituída em Hong Kong, com um capital de 50 mil dólares, e tinha como sócios fundadores personalidades de Macau, como Humberto de Avelar, Rodrigues dos Santos, Francisco Nolasco e Francisco da Silva”. A historiadora disse ainda na apresentação que a ideia “era completar o resto do capital necessário com acções de baixo valor para que pudessem ser compradas por todos [os habitantes] em Macau”. “Chega mesmo a haver o apelo por parte do conselho de administração da companhia para que os macaenses subscrevessem o capital, mostrando que a empresa era extremamente importante para os habitantes de Macau, realçando-se o seu valor patriótico, de solidariedade para com o progresso”, acrescentou. “Várias vozes demonstraram nessa altura que o sucesso comercial da companhia, no início, poderia ser pouco ou nenhum, embora se pensasse que a empresa poderia vir a ter alguns lucros, tendo a capacidade de servir de transporte ao correio aéreo. Porém, essa capacidade de transporte seria extremamente limitada, pois o número de objectos de correio a transportar de Macau eram 24 cartas por dia”, adiantou Célia Reis. Na altura pensava-se que Macau seria pioneira, pois “seria o primeiro território a Extremo Oriente a ter uma companhia de aviação”, algo que “traria mais visitantes e aumento do comércio”. O Governo de Macau, então liderado pelo Governador Correia da Silva, “cede aos apelos da companhia, concedendo várias facilidades, como a permissão de construção de um hangar provisório num terreno público que estava vago ou de infra-estruturas de acesso ao mar”. Além disso, foi permitida “a isenção do pagamento do imposto sobre o armazenamento do combustível”. Assim, Macau chegou a ter hidroaviões e 21 aviadores americanos contratados pela companhia. “Considerava-se que era o maior carregamento de material aéreo exportado pelos Estados Unidos da América (EUA), todo trazido para Macau.” Depois, a companhia tenta organizar-se, “chegando a pedir espaço na ilha da Taipa, concebida para ter hangares definitivos, embora tenham existido concessões provisórias”. Nesse contexto, recordou a historiadora, “houve subsídios, um contrato para o transporte de malas postais”, para que se “permitisse um desenvolvimento da navegação aérea”. Impasses até ao fim Em Maio de 1920 surgiu uma nova convenção mundial na área da aviação, à qual Portugal adere, o que faz com que a “Macau Aerial Transport Company Limited” tivesse de ser nacionalizada. O projecto chega a avançar, mas depressa recua. “A companhia aérea acede, portanto, a nacionalizar-se com a condição de obter um subsídio, e ter quatro aviões disponíveis para o serviço militar em Macau, caso fosse necessário. A questão da defesa estava sempre presente. Começou depois a haver algum desentendimento entre as condições exigidas pela companhia e aquelas que o Governador entendia serem necessárias. Além disso, o Governo de Macau precisava da autorização de Lisboa para o funcionamento da companhia aérea. Lisboa demora muito a responder, mas depois diz que o Governador pode avançar, e este começa a negociar com a companhia. Porém, começam a surgir vozes em Lisboa que vão fazer com que as coisas mudem.” Tal passa pela ideia de que os EUA estariam a demonstrar interesses ocultos através do estabelecimento da companhia. “[Em Lisboa] receia-se que esta seja a forma encontrada de uma companhia de aviação americana instalar-se em Macau, território português, por vias diferentes.” Primeiro, Lisboa proíbe, recuando-se nas negociações, sendo que o Governador seguinte, Rodrigo Rodrigues, “não está de acordo com a companhia, entendendo que não será viável”, o que leva a que todo o projecto e diálogo fiquem suspensos. Célia Reis destacou ainda que “o Governo de Correia da Silva passou por várias dificuldades nestes anos, em termos de segurança”, tendo ocorrido “incidentes muito graves na relação entre Portugal e a China”. “Por essa razão, o Governador considerava que ter aviões era extremamente importante porque, neste momento, a China também estava a recorrer à aviação. As autoridades de Portugal, porém, consideravam que os aviões de Macau não teriam nenhuma importância, comparando com o conjunto de aviões que teria a China ou mesmo o Japão. Quando se dá permissão para a constituição da companhia aérea em Macau, Lisboa entende que o território estava numa situação preocupante e poderia ter aviões com funções militares, mesmo que fossem poucos”, explicou a historiadora. O projecto cairia, porém, por terra.
João Santos Filipe Manchete SociedadeImobiliário | Sobem transacções. Descem preços Em Fevereiro, foram compradas e vendidas 176 habitações, a uma média de 76.243 patacas por metro quadrado. Em comparação com o que acontecia há um ano, os preços sofreram uma redução de 11,6 por cento, mas registaram-se mais 44 transacções No mês passado, o preço da habitação apresentou uma redução de 11,6 por cento, face ao período homólogo, para uma média de 76.243 patacas por metro quadrado. A informação foi divulgada pela Direcção de Serviços de Finanças (DSF). Em Fevereiro do ano passado, o preço médio do metro quadrado da habitação era de 86.225 patacas, 9.982 patacas acima dos valores mais recentes, divulgados na segunda-feira. Todavia, quando a comparação é entre Janeiro e Fevereiro deste ano, o preço médio das habitações apresenta uma valorização de 6 por cento, de 71.917 patacas por metro quadrado para 76.243 patacas por metro quadrado. A nível dos preços, a realidade é agora diferente do que acontecia em 2019. Antes da pandemia, o preço médio por metro quadrado era de 98.618 patacas, o que representa uma redução de 22,7 por cento, ou 22.375 patacas, face aos dados disponibilizados na segunda-feira. A informação sobre o mês passado mostra que Coloane foi a zona mais cara do território, com uma média de 83.5 71 patacas por metro quadrado. Na Taipa, o preço médio do metro quadrado foi de 82.471 patacas, e na Península de Macau de 72.986 patacas. Maior procura A maior redução dos preços parece ter resultado num aumento do número de compras e vendas de habitações. Em Fevereiro, registaram-se 176 transacções, mais 44 do que no período homólogo, quando se contabilizaram 132, o que significa um crescimento de um terço. Quando a comparação é feita entre o mês passado e Janeiro, houve menos 94 transacções, uma quebra de 34,8 por cento, de 270 compras e vendas para 176 transacções, em Fevereiro. No entanto, em 2019, antes da pandemia da covid-19, o mercado apresentava-se mais activo do que acontece actualmente. Em Fevereiro de 2019, foram registadas 279 transacções, mais 103 do que no mês passado. Contudo, em termos do volume de transacções, os números de Fevereiro de 2019 aproximam-se do registo de Janeiro deste ano. Os dados mais recentes revelam igualmente que a Península de Macau foi o local com mais transacções, um total de 126 compras e vendas de habitação. No segundo lugar surgem a Taipa com 36 transacções e Coloane, onde se registaram 14 compras e vendas de habitação.
João Santos Filipe Manchete SociedadeCinema | Anunciadas novas orientações para filmagens O atropelamento de 12 pessoas durante a gravação de uma cena de perseguição vai levar o Instituto Cultural a mudar as instruções para as equipas de filmagens no território. As autoridades querem ter mais informação sobre os planos e cenas gravadas A presidente do Instituto Cultural (IC), Deland Leong Wai Man, revelou que vão ser emitidas novas orientações para as equipas de filmagens a trabalhar no território. A informação foi revelada ontem, e surge na sequência de um acidente de viação, ocorrido em Fevereiro, durante a rodagem de um filme. Segundo Deland Leong, os diferentes departamentos do Governo estão actualmente em comunicação para ultimarem os novos planos e instruções. A partir do momento em que novas equipas de filmagem pretendam vir a Macau, as instruções vão ser distribuídas e terão de ser seguidas. As novas directrizes prevêem igualmente que as equipas de produção têm de fornecer planos mais detalhados sobre as filmagens em Macau, com a necessidade de indicarem a utilização de estradas, encerramento de ruas e condução de veículos. A partir desses planos, as autoridades vão ouvir os diferentes departamentos, como o Corpo de Polícia de Segurança Pública e a Direcção de Serviços para os Assuntos de Tráfego, para garantir que as filmagens decorrem num ambiente mais seguro e controlado. À comunicação social, Deland Leong Wai Man defendeu que seguindo este novo método, com pedidos de informações mais detalhados, a indústria do cinema vai ter um desenvolvimento mais saudável, face ao contexto actual. Rodagem suspensa Ao mesmo tempo, a responsável pelo IC confirmou a manutenção da ordem de suspensão da equipa do filme que esteve na origem de um acidente com 12 feridos, entre eles duas crianças com 5 e 6 anos de idade. O acidente aconteceu no final de Fevereiro, quando um condutor perdeu o controlo do automóvel durante a filmagem de uma cena de perseguição. Mais tarde, o caso ganhou outras dimensões quando as autoridades revelaram que a cena de perseguição estava a ser filmada, pela equipa do Interior, à margem das orientações emitidas. Sobre este episódio, Leong informou que ainda está a ser alvo de discussão, pelo que não podem ser emitidas quaisquer conclusões. Todavia, a responsável admitiu que está em cima da mesa a hipótese de cancelar a licença para gravar em Macau, dado que a equipa não seguiu as orientações inicialmente emitidas. A presidente do IC foi ainda questionada sobre se o incidente pode contribuir para que as grandes produções comecem a evitar o território. No entanto, Leong afastou este cenário e destacou que no ano passado mais de 300 equipas de filmagens do exterior estiveram em Macau, o que disse ser o número mais alto da história. A líder do IC apontou ainda que Macau é um destino cada vez mais atractivo para a gravação de filmes.
João Santos Filipe Manchete SociedadeCultura | Miguel de Senna Fernandes distinguido como embaixador O nome do macaense consta numa lista, com 942 individualidades, elaborada pelo Ministério da Cultura e Turismo da China. O embaixador tem como funções a promoção e protecção do património cultural imaterial Miguel de Senna Fernandes foi distinguido como embaixador do Património Cultural Imaterial Nacional. A lista com um total de 942 nomes foi anunciada, na noite de segunda-feira, pelo Ministério da Cultura e Turismo da China. Desde 2021 que o Teatro em Patuá faz parte da lista de Património Cultural Imaterial da China. Miguel de Senna Fernandes foi escolhido como embaixador pelo seu papel no grupo Dóci Papiaçám, além de co-fundador é ainda o dramaturgo e encenador. “Sinto-me muito honrado e naturalmente feliz. Mas, principalmente honrado por ter sido escolhido. Agora, a responsabilidade, que já era grande, passa a ser maior”, afirmou Senna Fernandes, em declarações ao HM. “Ao longo destes anos, contei sempre com um grupo de pessoas muito talentosas e este prémio é deles. Esta distinção não é individual, neste tipo de coisas nunca é um trabalho individual, é um trabalho de grupo. Foi através do grupo que se exteriorizou aquilo que foi criado”, acrescentou. De acordo com o comunicado oficial do Governo Central, a figura do embaixador do Património Cultural Imaterial Nacional tem como funções assegurar a promoção e protecção do património cultural. Além da ligação a manifestações culturais protegidas, o comunicado indica que as pessoas são escolhidas por apresentarem “uma boa moral” e “excelente competência” para protegerem e garantirem a transmissão do património cultural imaterial. “Espera-se que os embaixadores do património cultural imaterial nacional desempenhem um papel exemplar, realizem activamente actividades de herança, cultivem sucessores e contribuam mais para a protecção do património cultural imaterial”, foi indicado no comunicado com as novas nomeações. Mais garantias Em declarações prestadas ao HM, Miguel de Senna Fernandes revelou ainda ver a distinção como uma “importantíssima garantia” para a sobrevivência do Teatro em Patuá, com as características do teatro macaense. “É uma garantia importantíssima da sobrevivência do teatro com todas as características que ao longo dos anos fomos firmando”, frisou o dramaturgo. “Quando antigamente falávamos para pessoas que não entendiam este tipo de piadas, de humor, tínhamos algumas reticências. Mas, hoje em dia, parto do princípio que conhecem, ou devem conhecer, o tipo de humor que colocamos em palco”, apontou. “O grupo Dóci Papiaçám sempre apresentou um teatro satírico, que visou os costumes, sejam eles quais forem, com crítica social, escárnio e maldizer. É o histórico do teatro maquista. O teatro macaense é isto. É claro que podemos fazer teatro em patuá, mas sem estas características pode não ser teatro maquista”, argumentou. Espaço para a comunidade Miguel de Senna Fernandes destacou igualmente a importância da distinção para a comunidade. “É muito bom, porque, pelo menos, nesta área da cultura, a comunidade tem um papel que continua a ser relevante e isto é importante”, considerou. “Estamos a ver uma Macau bem diferente do que era e neste mar de gente, numa espécie de cultura – à falta de melhor expressão – mais monolítica, o teatro, a cultural macaense ser relevante é algo bom para a comunidade e isto é importante”, destacou. A próxima actuação do grupo Dóci Papiaçám está agendada para os dias 30 e 31 de Maio, no âmbito do 35.º do Festival de Artes de Macau, com o nome Cuza Tá Renâ? (Que se Passa?, em português). A peça será apresentada no Grande Auditório do Centro Cultural de Macau. O macaense não arrisca antever que a distinção se vá reflectir num maior impacto ao nível da presença do público. Contudo, admite que a expectativa da organização do festival passa por ter casa cheia. Sonhos por cumprir Em relação ao futuro do teatro em patuá e dos Dóci Papiaçám, Senna Fernandes confessa que o “grande sonho” nesta fase passa por regressar a Portugal para actuar. A última vez que o grupo actuou em Portugal foi em 1999, ainda antes da transferência de soberania de Macau para a China. “O sonho é ir a Portugal”, confessou. “É uma questão de dinheiro e de logística. No ano passado, o coro foi a Portugal, mas agora queremos levar o teatro e estou a trabalhar seriamente nisto”, indicou. “A última vez que o teatro foi a Portugal foi em 1999. E nunca mais lá fomos! Não pode ser! Temos de quebrar este silêncio”, acrescentou, em tom bem-humorado. No entanto, Portugal não é o único objectivo. O co-fundador acredita também que no futuro vai ser possível ter uma actuação no Interior da China, embora admita que os moldes dessa actuação, apesar da vontade, não estão pensados. Crença e costume Em relação a Macau, além de Miguel de Senna Fernandes, consta na lista o nome de Lo Seng Chung, como embaixador da Crença e Costumes de Tou Tei. As crenças de Tou Tei dizem respeito a um dos deuses chineses mais conhecidos, também chamado como “Tou Tei Kong”, “Foc Tac Cheng San” ou “Tai Pak Kong”. De acordo com o Instituto Cultural, é “um dos mais populares deuses chineses” e tido pelos crentes “como responsável por assuntos como a protecção da vida, a saúde e a riqueza dos residentes, entre outros aspectos”.
João Luz Manchete PolíticaCAEAL | Reunião com escolas devida a recolha de assinaturas Alegações de que teria sido pedido a professores de escolas geridas por associações a recolha de assinaturas para as próximas eleições vai levar a comissão eleitoral a reunir com representantes dos estabelecimentos de ensino. A comissão recebeu também a queixa de um membro de uma associação que alega ter-lhe sido exigido um número mínimo de assinaturas para uma lista Foram partilhadas nas redes sociais queixas de alegados docentes de escolas geridas por associações de que teriam sido solicitados para recolher assinaturas para listas candidatas às próximas eleições legislativas, marcadas para 14 de Setembro. Após a reunião de ontem da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL), o presidente da entidade, o juiz Seng Ioi Man, adiantou que irá marcar reuniões com representantes das escolas no início de Abril para partilhar os valores da justiça, integridade e igualdade. De forma geral, o responsável indicou ainda que o uso de coerção ou métodos enganosos para angariar assinaturas é um crime. Numa conferência de imprensa realizada ontem, o magistrado referiu que se a investigação confirmar as alegações dos professores, os formulários para constituir candidaturas serão considerados inválidos, de acordo com o canal chinês da Rádio Macau. A interferência no processo eleitoral de escolas geridas por associações com representação na Assembleia Legislativa, e financiadas pelo Governo, tem sido uma constante em sufrágios anteriores, nomeadamente com o pedido para docentes e funcionários assinarem proposituras de candidaturas e até de encarregados de educação. Por exemplo, em 2021, um professor da escola Choi Nong Chi Tai, ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), terá apelado a encarregados de educação para assinarem documentos das comissões de candidatura para as eleições legislativas. No sufrágio de 2017, também houve queixas semelhantes, sem que tenha havido repercussões para as listas envolvidas. No capítulo das repercussões, o presidente da CAEAL foi ontem questionado sobre a possibilidade de os candidatos desqualificados poderem ou não submeter candidaturas nestas eleições, que são as primeiras após a exclusão de cinco listas e 21 candidatos, a maioria do campo pró-democracia, em 2021. Sem responder directamente à questão, Seng Ioi Man lembrou que, de acordo com a lei eleitoral, quem não apoiar a Lei Básica e não for leal à RAEM fica afastado das eleições durante cinco anos. Seguir as pistas Em relação às suspeitas de que uma idosa terá sido convidada a assinar um boletim de propositura de candidatura às eleições legislativas quando trocava o cartão Macau Pass para idosos, o presidente da CAEAL revelou que o caso foi investigado, mas que não foi possível recolher informações concretas. Além disso, a CAEAL terá recebido a queixa de um membro de uma associação que foi incumbido de recolher um determinado número de assinaturas para uma lista. Seng Ioi Man garantiu que vai acompanhar este caso. O responsável salientou que quem ajude a angariar apoio para formar uma lista para as eleições deve assinar o formulário de nomeação e prestar assistência de forma voluntária e clara. Além disso, o presidente da CAEAL reiterou que os dirigentes de listas ou organizadores de campanha não podem recorrer a coação, fraude, pressão profissional ou promessas de benefícios para influenciar eleitores no apoio a determinada lista, seja através do voto ou da assinatura para constituir uma lista candidata. Para já, foram pedidos à CAEAL nove formulários para constituições de listas para as eleições legislativas, mas ainda nenhum foi entregue. O prazo para apresentar as comissões de candidatura termina a 6 de Junho.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteRuby Hui, presidente da Associação de Autismo de Macau: “Autismo difere de pessoa para pessoa” Criada em 2012, a Associação de Autismo de Macau continua a lutar por mais cuidados destinados a crianças e jovens com esta perturbação de desenvolvimento. Mas a presidente da associação, Ruby Hui, alerta para a necessidade de políticas mais incisivas para adolescentes e as suas necessidades específicas, sobretudo no acesso ao emprego Que balanço faz do trabalho realizado pela associação nos últimos anos? O meu trabalho é sobretudo estabelecer uma ligação com todas as entidades e recursos disponibilizados pelo Governo e também com a indústria do jogo, pois as autoridades passaram a pedir [no contexto dos novos contratos de concessão de jogo] que desenvolvam mais actividades de apoio social. Portanto, reunimos todos esses recursos para que sejam organizadas actividades recreativas para crianças e jovens. Além disso, organizamos sessões de terapia para os nossos membros. Habitualmente, pedimos apoios financeiros a empresas privadas e ao Governo, cobrindo 30 a 50 por cento dessas despesas. O apoio do sector do jogo é, portanto, bastante importante. Sim, mas na verdade não tem sido um apoio muito grande. Por exemplo, o Governo cobre parte das nossas despesas mensais, cerca de 40 mil patacas. Mas esse montante chega apenas para contratar dois funcionários a tempo inteiro e um funcionário a tempo parcial. São eles que organizam todas as actividades, tratam da parte burocrática, onde se inclui a apresentação de muitos relatórios ao Governo, porque pedimos subsídios para quase metade das nossas despesas. Assim sendo, considera que são precisos mais apoios do Executivo para poder contratar mais profissionais? Sim, seria o ideal. Associações como a nossa estão a ficar maiores e as crianças a que damos apoio estão a crescer. Diria que 60 por cento dos nossos membros têm 11 ou mais anos, e cerca de 20 por cento são ainda maiores, com mais de 14 anos. Temos de pensar no futuro deles e das necessidades em termos de terapia e tratamento para adolescentes, pois não são só os miúdos pequenos que precisam de terapias, como terapia da fala ou ocupacional. São jovens que ainda estão no liceu e precisam de adquirir diferentes tipos de competências sociais, os rapazes precisam de saber lidar com raparigas e vice-versa. Depois, quando se tornam adultos, precisam de saber lidar com os chefes, no emprego. Há muitas valências a explorar e sim, neste momento diria que os apoios não são suficientes. As escolas ainda não estão preparadas para receber estes alunos, por exemplo? O autismo pode ser diferente de pessoa para pessoa. Os alunos com autismo, mas que têm melhores capacidades de aprendizagem, estão em escolas normais. Mas os pais dizem-me que não há professores suficientes com determinadas competências para lidar e ensinar estas crianças. Há professores que têm ainda uma mentalidade muito tradicional para tratar deste tipo de jovens, que muitas vezes têm de lidar sozinhas com situações de bullying, por exemplo. Diria que existem muitas crianças e jovens com autismo com problemas psicológicos por causa da escola. Quando fala da mentalidade tradicional, o que significa isso em concreto? No caso do meu filho, por exemplo, ele é obrigado a estar sempre sentado na escola, mas muitas vezes gosta de se mexer e levantar da cadeira. Do ponto de vista dos pais que têm filhos com este problema, não haveria problema, desde que não incomodasse os outros, mas para os professores não pode ser, e queixam-se. Dizem coisas do género: “Ele vai bater na mesa, vai mexer no quadro, faz muito barulho”. Todos os dias recebo queixas dos pais na ligação com a escola, e por situações pequenas como esta. Quais são as principais dificuldades ou desafios que as famílias de Macau enfrentam quando lidam com um filho autista? No meu caso, a minha família é de classe média, e financeiramente estamos bem. Mas quando o meu filho era mais novo precisou de fazer terapia e ficou muito caro. Agora essas terapias custam ainda mais. No tempo em que o meu filho andava no ensino primário, pagava-se 600 a 700 patacas por cada sessão de terapia, mas há dias um pai disse-me que as sessões custam agora cerca de 1000 patacas por aula, o que é muito caro. Famílias de classes sociais mais baixas não conseguem pagar. Portanto, esse apoio é um dos grandes objectivos da nossa associação, angariar dinheiro para podermos fornecer explicações, sessões de terapia ou outro tipo de apoio. Tudo para que os nossos membros possam frequentar as aulas com 50 por cento de desconto, em que a associação paga metade do valor. Quando a associação foi criada, quais eram os seus principais objectivos? Em 2012 o autismo não era um tema muito falado. Por isso, juntámo-nos [alguns pais e famílias] e começámos a pedir apoio ao Governo e a tentar chamar a atenção para o assunto. Conseguimos algumas coisas, porque o Governo agora dá mais apoio a estes jovens, pelo menos para os que têm menos de 12 anos. O problema que sentimos é que esses jovens estão a crescer e para os adolescentes são necessários outros tipos de apoios, que não existem. O que é preciso mudar nas mentalidades e na sociedade em relação ao autismo? Em Macau não há muitas empresas dispostas a contratar jovens com autismo. Situação que não se verifica em Hong Kong, onde existem vários programas de contratação com empresas de cariz social. Macau precisa seguir esse caminho. Um dia no rio O Dia Mundial da Consciencialização do Autismo celebra-se a 2 de Abril e, nesse contexto, a Associação de Autismo de Macau juntou-se à Sands China para uma série de actividades com crianças e pais, que decorreu no passado dia 10 de Março. Através do Programa “Sands Cares”, a operadora de jogo proporcionou uma visita à exposição “Coastal Fantasia”, com a figura do “Rei Lagosta”, uma criação do artista Philip Colbert, e um passeio de barco pelo Delta do Rio das Pérolas. No total, participaram 70 pessoas. Citada por um comunicado da operadora de jogo, Ruby Hoi disse que o passeio “permitiu às crianças desfrutarem ao máximo da viagem”. “Agradeço por todo o apoio prestado às pessoas com autismo em Macau, e espero que todos os sectores da sociedade possam continuar a apoiar o desenvolvimento destas pessoas e a promover a sua inclusão na sociedade”, referiu. Para a operadora de jogo, este tipo de eventos pode ajudar a “reforçar a coesão das famílias que lidam com o autismo, mas também promover a sensibilização da sociedade e o apoio à comunidade de pessoas com autismo fomentando um ambiente social mais inclusivo e solidário”.
João Santos Filipe Manchete SociedadeRestauração | Lucros de empresa de Chan Chak Mo caem 87,7% No espaço de um ano, os lucros da Future Bright encolheram em 42,6 milhões de dólares de Hong Kong. O grupo aponta como principais razões para a quebra o abrandamento económico e a concorrência dos espaços comerciais no outro lado da fronteira A Future Bright, grupo de restauração detido por Chan Chak Mo, alertou os investidores para uma quebra nos lucros de cerca de 87,7 por cento, para 6 milhões de dólares de Hong Kong. O aviso foi deixado num comunicado à Bolsa de Hong Kong, em que é apresentada parte dos resultados não auditados da companhia. Os resultados esperados contrastam com os resultados de 2023, quando foi registado um lucro de 48,6 milhões de dólares de Hong Kong. Ao contrário desse ano, em que todos os trimestres geraram lucros para o grupo superiores a 10 milhões de dólares de Hong Kong, no ano passado em dois semestres foram acumulados prejuízos. E no segundo trimestre, o prejuízo atingiu 8,2 milhões de dólares de Hong Kong. A situação de redução dos lucros é justificada com os menores gastos dos turistas em Macau e Hong Kong. Apesar desta diminuição, a Future Bright não deixa de reconhecer que os dois territórios até receberam mais visitantes do que no ano precedente. “As operações do Grupo em Macau e Hong Kong continuaram a enfrentar desafios, à semelhança do que acontece com muitos operadores de restauração e bebidas, incluindo o abrandamento económico, a fraca confiança dos consumidores, a tendência predominante de consumir no Interior, a intensa concorrência e o aumento dos custos operacionais”, foi explicado. Todos estes desafios afectaram a rentabilidade do Grupo durante o ano”, foi acrescentado. Fragilidade local Como consequência do menor consumo, o segmento do negócio que se dedica à restauração e catering apresentou perdas de 3,6 milhões de dólares de Hong Kong, em comparação com os lucros de 24,4 milhões do ano anterior. O negócio de vendas de bolos secos e lembranças afirmou-se como o mais lucrativo, ao gerar 15,9 milhões de dólares de Hong Kong, enquanto o ramo de imobiliário gerou lucros de 1,1 milhões de dólares de Hong Kong. Finalmente, o grupo apresentou ainda perdas com outras despesas de 7,4 milhões de dólares de Hong Kong. Em termos de mercados, os principais lucros foram gerados em Hong Kong, com ganhos de 4,4 milhões de dólares de Hong Kong, enquanto em Macau os lucros foram de 1,6 milhões de dólares. No ano passado, após perdas crónicas, a Future Bright deixou de estar presente no Interior. Apesar dos resultados, a administração mostrou-se confiante no futuro: “O conselho de administração está optimista e acredita que o grupo beneficiará da recuperação contínua das despesas com viagens e turismo em Macau e Hong Kong”, pode ler-se no comunicado assinado por Chan Chak Mo, administrador da empresa. Além disso, os administradores prometem ajustar as estratégias comerciais a nível do menos, preços e marketing, para melhorarem a competitividade.
João Santos Filipe Manchete SociedadeInfluenza | Infecções em queda após pico de Janeiro Em Fevereiro, registaram-se menos casos de doenças de declaração obrigatória, o que se deveu à ultrapassagem do pico de gripe, ocorrido em Janeiro. Também diminuíram os casos de norovírus e escarlatina Em Fevereiro, foram registados 1.252 casos de gripe, uma redução de 42,8 por cento face às 2.190 ocorrências de Janeiro. Os números foram divulgados na manhã de ontem pelos Serviços de Saúde (SS), no âmbito da informação sobre as doenças de declaração obrigatória em Fevereiro. Os casos de gripe em Macau estavam a subir desde Dezembro, pelo que Fevereiro representa a primeira variação negativa em dois meses. No último mês do ano passado, o número de casos detectados de influenza tinha sido de 732. Quando a comparação é feita entre Fevereiro deste ano e Fevereiro do ano passado, os números mostram uma redução de 28,2 por cento das ocorrências, que no período homólogo tinham sido de 1.744 casos. No total, em Fevereiro de 2025, os SS registaram 1.539 casos de doenças de declaração obrigatória, uma redução significativa face às 2.529 ocorrências de Janeiro, que em grande parte se explicam com a redução nos números da gripe. Além da gripe, as outras doenças mais activas foram as infecções por norovírus, o principal patogénico da gastroenterite não bacteriana, e a escarlatina. Em relação às infecções por norovírus, foram relatados 62 casos, o que significou uma redução de 24,4 por cento em relação aos 82 casos registados em Janeiro. Quando a comparação é feita com o período homólogo, Fevereiro de 2024, a diminuição é mais acentuada, de 40,4 por cento, dado que nesse mês tinham sido registados 104 casos. De acordo com os SS, a infecção por norovírus é uma doença do tracto gastrointestinal, transmitida principalmente pelo consumo de alimentos ou água contaminados, mas também pelo contacto com vómitos ou excrementos dos doentes, ou outros materiais contaminados. Pode ainda ser transmitida por gotículas de saliva no ar. Menos escarlatina No mês de Fevereiro de 2025, foram ainda contabilizados 60 casos de escarlatina, o que correspondeu a uma redução de 38,1 por cento em relação aos 97 casos registados em Janeiro. Face a Fevereiro de 2024, a redução foi mais acentuada, atingido os 60,5 por cento, face aos 152 casos desse mês. Segundo os SS, a escarlatina é uma doença respiratória aguda transmissível causada pelo estreptococo beta hemolítico do grupo A. Geralmente, o período de incubação é de 1 a 3 dias. A doença é transmitida principalmente através de contacto com as secreções orais ou respiratórias ou salpicos de saliva de doentes infectados. Os infectados estão numa situação de elevado contágio, quer antes, quer depois da manifestação da doença. As pessoas podem contrair escarlatina em qualquer período do ano, mas o pico desta doença ocorre geralmente na Primavera e no Inverno e infecta principalmente crianças entre os dois e os oito anos de idade.
Hoje Macau Manchete PolíticaGongbei | Renovação de posto fronteiriço custa 500 milhões Está previsto um investimento de cerca de 500 milhões de renminbis para a remodelação de várias áreas do Posto Fronteiriço de Gongbei, junto às Portas do Cerco, que diariamente é utilizado por milhares de pessoas. A renovação deverá demorar dois anos, foi ontem anunciado Vem aí um novo Posto Fronteiriço de Gongbei. A informação foi avançada ontem pelas autoridades e noticiada pelo portal Macau News Agency (MNA), que descreve que será feito um investimento de cerca de 500 milhões de renminbis (553 milhões de patacas), para um projecto de renovação que deverá demorar dois anos a estar concluído. Segundo o portal, “o projecto faz parte de uma iniciativa mais vasta de revitalização do distrito de Xiangzhou”, em Zhuhai, e inclui um total de 144 planos, avaliados em 32,9 mil milhões de renminbis, que já se encontram “em fase de preparação”. Para já, sabe-se que a primeira fase do projecto de renovação “inclui também infra-estruturas auxiliares de transporte” e alterações no centro comercial subterrâneo, bem próximo da zona alfandegária e dos passaportes. Ou seja, será melhorada a zona dos autocarros, sendo que a estação de comboios de Zhuhai, bem próxima do posto fronteiriço, também estará integrada neste processo de renovação. O MNA descreve que para esta zona está ainda a ser planeada a construção de habitação e espaços de escritórios. Obras, um ano depois A revitalização do Posto Fronteiriço de Gongbei é anunciada um ano depois de ter sido feito um trabalho de renovação ao edifício principal do posto, que abrangeu 33 mil metros quadrados e que melhorou as infra-estruturas de fornecimento de energia, ar condicionado e abastecimento de água. O edifício foi também alvo de melhorias no exterior, entrada principal e ambiente em redor. O Posto Fronteiriço de Gongbei continua a ser um dos mais utilizados por residentes, turistas e moradores de Zhuhai. Só no dia 18 de Janeiro entraram 430 mil pessoas, sendo considerado pelas autoridades o maior número de entradas e saídas dos últimos cinco anos.
João Santos Filipe Manchete PolíticaComércio | Pedidas mudanças no arrendamento público O legislador ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau, Leong Sun Iok, pede ao Governo que apresente alternativas para acabar com as lojas desocupadas durante vários anos e promover a diversificação económica O deputado Leong Sun Iok defende uma nova política de arrendamento dos espaços comerciais geridos pelo Governo nos edifícios de habitação pública. A posição foi tomada através de uma interpelação escrita, para fazer face à redução do número de arrendamentos. Com o objectivo de promover a diversificação da economia, Leong indica a necessidade de aplicar ao arrendamento destes espaços o mesmo tipo de estratégia que foi adoptado no arrendamento dos espaços de restauração do mercado do Patane. Neste espaço, indica o deputado ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), a escolha dos inquilinos teve por base critérios como “o plano de negócios, a experiência, qualificações e a diversidade dos produtos” vendidos. Este foi um método que Leong indicou ser mais “flexível” e que traduz uma postura do Governo “mais consciente” da realidade actual. No entanto, o legislador lamenta que nas lojas arrendadas nas habitações públicas a escolha ainda seja feita através de um sorteio entre os candidatos interessados, como determinado pelo Decreto-Lei sobre o Regulamento da Concessão, Arrendamento e Cedência Gratuita de Espaços em Edifícios de Habitação Social para o Exercício de Actividades Comerciais. Este é um documento que deputado considera desactualizado, por estar “em vigor há mais de 30 anos”, pelo que questiona o Executivo sobre a vontade de substituí-lo para “ter em conta factores como o actual ambiente social e a situação do mercado”. A pensar na mudança De acordo com a versão apresentada pelo deputado, em Abril do ano passado havia 12 lojas vagas e algumas sem qualquer inquilino desde Março de 2018. “A falta de regularidade na realização de concursos públicos para as lojas de habitação pública não favorece a revitalização e o funcionamento eficaz dos recursos e dificulta o planeamento antecipado dos residentes de acordo com a procura prevalecente no mercado”, criticou. Por isso, Leong questiona o Governo sobre a possibilidade de criar um mecanismo de atribuição do arrendamento destes espaços a cada três meses ou a cada seis meses, para acabar com as situações em que as lojas ficam vários anos desocupadas. Numa altura em que vários espaços comerciais nos bairros residenciais encerram portas ou enfrentam dificuldades para competir com os preços em Zhuhai, Leong Sun Iok defende que se siga o exemplo de Hong Kong. Na perspectiva do legislador, o Governo devia ponderar criar um novo programa, para jovens empreendedores, com menos de 35 anos, em que não há uma renda fixa, e os arrendatários apenas têm de pagar 20 por cento dos lucros líquidos obtidos com o negócio.
João Santos Filipe Manchete SociedadeFogo | Dois incêndios levam duas mulheres ao hospital Os incêndios de ontem no Edifício Hoi Fu e no Edifício Jardim Iat Lai fizeram subir para seis o número de fogos em habitações no espaço de um mês. As mulheres levadas para o hospital foram consideradas em situação estável Duas mulheres foram ontem transportadas para o hospital, na sequência de um incêndio que deflagrou no Edifício Hoi Fu. Este foi um dos dois incêndios de ontem em edifícios habitacionais que fez subir para seis o número de ocorrências no espaço de um mês. De acordo com a informação do Corpo de Bombeiros, citada pelo canal chinês da Rádio Macau, na origem das chamas terá estado um curto-circuito num ar-condicionado. Nenhum dos ocupantes da casa sofreu ferimentos graves, mas duas mulheres, com 66 e 32 anos, tiveram de ser transportadas para o hospital, devido à inalação de fumos. Além das duas mulheres feridas, mais cerca de 60 residentes tiveram de abandonar as habitações, temporariamente, tendo regressado a casa posteriormente. O incêndio, que aconteceu no 29.º andar, provocou chamas de grande dimensão que acabaram por ser extintas pelos bombeiros. Após a intervenção, os bombeiros indicaram que todo o apartamento ficou com marcas de fumo, embora algumas divisões tenham sido afectadas de forma mais ligeira. A dobrar Além do caso no Edifício Hoi Fu, o Corpo de Bombeiros voltou a ter de entrar em acção, por volta das 9h, no Toi San. Segundo a informação disponibilizada, deflagrou um incêndio no Edifício Jardim Iat Lai que fez com que cerca de 30 pessoas tivessem de abandonar temporariamente as habitações. Ao contrário da primeira ocorrência da manhã, não houve necessidade de transportar qualquer dos habitantes do edifício para o hospital, e as chamas foram extintas por um dos administradores do edifício. Neste caso, suspeita-se de fogo posto, dado que foram encontrados vestígios de papéis queimados no sétimo andar, perto do local onde as chamas terão deflagrado. Em reacção ao fogo no Edifício Hoi Fu, o Instituto de Acção Social (IAS) indicou que seguiu o primeiro caso com muita atenção e enviou equipas de auxílio para o local. Os ocupantes do apartamento mais afectado precisaram de abrigo. Além disso, não se registaram mais pedidos de auxílio. No caso do Edifício Jardim Iat Lai, o IAS indicou que não recebeu qualquer pedido de ajuda, apesar de estar disponível para dar resposta a qualquer solicitação. Nos últimos tempos, o território tem atravessado uma vaga de incêndios em edifícios habitacionais, o que levou alguns deputados, como Lo Choi In e Si Ka Lon, a pedirem às autoridades para adoptarem novas medidas de segurança. Lo Choi In, deputada ligada à comunidade de Jiangmen, mostrou-se preocupada com o facto de no incêndio do Edifício do Lago o alarme não ter funcionado. Por sua vez, Si Ka Lon apelou ao Governo para ponderar a hipótese de financiar a utilização de gás natural, ao apoiar a instalação nos edifícios locais dos canos de distribuição.
João Santos Filipe Manchete SociedadeJockey Club | Abortado plano para enviar 100 gatos para Zhuhai O Macau Jockey Club pretendia enviar 100 gatos para Zhuhai, mas abortou o plano depois de ter sido pressionado por cidadãos e associações de protecção dos animais O Macau Jockey Club e o Instituto para os Assuntos os Municipais (IAM) cancelaram um plano para enviar cerca de 100 gatos para Zhuhai, para um destino que as autoridades não quiseram revelar. A polémica estalou ao final do dia de quinta-feira, quando começou a circular a informação de que cerca de 100 gatos, criados no Macau Jockey Club, iam ser enviados para Zhuhai, na tarde do dia seguinte. Contudo, a falta de garantias sobre a segurança dos animais levou vários cidadãos e associações de protecção de animais a mobilizarem-se online, mas também através dos órgãos de comunicação de Hong Kong, para impedirem o desfecho que se adivinhava trágico para os animais. Ao mesmo tempo, começavam também a surgir acusações de que o Macau Jockey Club tinha promovido uma campanha de adopções de “fachada”, com pouca promoção, apenas durante dois dias, da qual só resultaram quatro adopções. Além disso, a instituição terá recusado que alguns cidadãos e associações de protecção dos animais ficassem com vários gatos, com a justificação de que não haveria mais animais para adopção. Face às crescentes críticas públicas, na sexta-feira de manhã, o IAM emitiu um comunicado a defender o Macau Jockey Club e a garantir que Zhuhai tinha condições para receber os animais. Contudo, o IAM nunca identificou o local para onde iriam ser levados os gatos. “Tendo em consideração o bem-estar dos animais, o IAM está satisfeito com a esterilização dos gatos realizada pelo Macau Jockey Club e com as medidas tomadas”, foi indicado. “Recentemente, este Instituto procedeu à inspecção sanitária dos referidos gatos, incluindo a introdução de microchips, vacinação anti-rábica e examinação clínica. O IAM irá emitir os documentos sanitários necessários para a passagem fronteiriça dos gatos exportados, em estrita conformidade com as disposições nacionais, prestando apoio na passagem fronteiriça”, foi acrescentado. O instituto liderado por Chao Wai Ieng veio ainda defender o Jockey Club ao assegurar que tinha recorrido a “vários canais para que alguns gatos fossem adoptados pelos seus trabalhadores e pelo público”. Afinal havia outra Com a polémica a ganhar tracção não só em Macau, mas também em Hong Kong, Mary Jean Reimer, actriz, advogada e activista pelos direitos dos animais de Hong Kong, disponibilizou-se para adoptar todos os animais. Reimer, que é casada com Sean Hotung, da famosa família Hotung, apresentou ainda um plano para levar os gatos para um terreno no Interior, onde garantia a segurança dos animais. Por esta altura, também Zoe Tang, presidente da ANIMA, revelou em declarações ao portal All About Macau que estava a tentar contactar o Jockey Club e a proprietária e deputada Angela Leong para impedir o desfecho, embora sem sucesso. A ANIMA mostrava-se ainda receptiva a ficar com os animais, até que pudesse levar a cabo mais campanhas de adopção. Em vários grupos online de defesa dos animais de Macau, Angela Leong tornava-se também alvo de várias críticas, com acusações de que não tinha aprendido nada sobre a forma como tinha lidado com os 500 galgos no Canídromo, que acabaram abandonados no local, com as associações locais, conjuntamente como IAM, a promoverem campanhas internacionais de adopção. Mudança final Como consequência da polémica e do desagrado face à atitude das as autoridades, por volta das 17h30, o Macau Jockey Club anunciou ter cancelado o envio dos animais para Zhuhai, com cerca de 60 felinos a serem enviados para outras associações. Em comunicado, a empresa sublinhava igualmente “respeitar e valorizar as preocupações e opiniões dos grupos de protecção dos animais” e que ia promover uma campanha de adopções com a ANIMA. O Macau Jockey Club destacou ainda cumprir sempre “as suas responsabilidades sociais”. Além disso, foi organizada uma nova campanha de adopções, em parceria com a ANIMA, que decorreu ontem e que disponibilizava cerca de 30 gatos para adopção. No caso de não serem todos adoptados, está prevista a continuação da campanha no próximo fim-de-semana.
João Santos Filipe Manchete PolíticaOrçamento | Kevin Ho defende subsídios só para quem mais precisa Numa altura em que se espera a apresentação das Linhas de Acção Governativa, as primeiras do novo Governo, Kevin Ho apela à precisão na distribuição de apoios sociais O deputado de Macau na Assembleia Popular Nacional e empresário Kevin Ho defende que o Governo deve ser cauteloso com o orçamento da RAEM, e fazer uma distribuição mais precisa dos apoios sociais. A mensagem foi deixada através de declarações prestada à TDM. “No que diz respeito aos beneficiários da assistência social, o Governo tem de ser mais preciso na sua distribuição. Os que têm mais necessidades devem receber mais”, afirmou o empresário. Nos últimos tempos, vários representantes de diferentes associações têm defendido uma nova distribuição de apoios, apesar de oficialmente o orçamento da RAEM não ser deficitário. No primeiro mês do ano, o orçamento teve um superavit de 3,68 mil milhões de patacas, menos 1,74 mil milhões de patacas do que no primeiro mês do ano passado. “Quer se trate dos subsídios anteriores, em dinheiro, ou das várias políticas preferenciais para os residentes, como a distribuição dos dividendos das receitas da RAEM […] os que têm maiores necessidades devem receber mais apoio”, justificou o empresário. Um dos apoios que tem sido visado por alguns deputados e associações é o programa de comparticipação pecuniária, também conhecido como o “cheque pecuniário”, de 10 mil patacas para residentes permanentes e 6 mil patacas para residentes não-permanentes. Embora não tenha sido visado por Kevin Ho, foram várias as vozes políticas locais que pediram a eliminação do apoio para os residentes que não vivem pelo menos metade do ano na RAEM. Confiança no Governo A emissora pública ouviu também Lao Chi Long, empresário local e membro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC), que apesar de reconhecer as limitações no estado actual da economia, mostrou confiança no Executivo de Sam Hou Fai para dar a volta à situação. “Embora a economia possa não ter um desempenho tão bom quanto o esperado, estou confiante que o Governo da RAEM tem a capacidade de mudar esta situação e implementar mais políticas para impulsionar um desenvolvimento económico positivo”, afirmou Lao, citado pelo Canal Macau. Nos últimos tempos, têm surgido cada vez mais pedidos de apoio às pequenas e médias empresas que não estão a beneficiar do aumento do número de turistas do Interior. Também diferentes representantes do mercado imobiliário, como o ex-deputado Ung Choi Kun, têm defendido políticas de apoio a empresários, construtoras e redução de impostos, para promover mais compras e vendas de casas e espaços comerciais.
João Luz Manchete PolíticaMacau Pass | CAEAL atenta a solicitações em trocas A Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa não recebeu uma “queixa formal” sobre o caso da idosa que terá sido convidada a assinar uma lista para as eleições enquanto trocava o cartão Macau Pass. Ainda assim, a comissão diz estar preocupada e que presta “especial atenção” à situação Mesmo sem qualquer queixa formal, a Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) garante que vai estar atenta ao processo de troca de cartões Macau Pass para idosos, no âmbito do programa de incentivo ao consumo Grande Prémio do Consumo. “Mesmo que ainda não tenha recebido uma queixa formal sobre a situação, a CAEAL vai manter-se em contacto com a Direcção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico (DSEDT) e acompanhar de perto a situação e todas as notícias relativas às eleições legislativas a ter lugar no corrente ano”, indicou a CAEAL em resposta a questões colocadas pelo HM. Recorde-se que na segunda-feira passada, uma residente afirmou aos microfones do programa Fórum Macau, do canal chinês da Rádio Macau, que a sua avó teria sido convidada a assinar um boletim de propositura de candidatura às eleições legislativas quando trocava numa associação local o cartão Macau Pass para idosos para participar no Grande Prémio do Consumo. Sobre este episódio, o organismo que organiza e fiscaliza as eleições legislativas, liderado pelo magistrado Seng Ioi Man, assegura estar a acompanhar o caso. “Aos comentários tecidos pela ouvinte da Rádio Macau sobre a troca do Cartão da Macau Pass para Idosos, a CAEAL presta especial atenção, e para inteirar-se da situação, entrou em contacto imediatamente com a DSEDT, que é responsável pela coordenação do trabalho de substituição daquele cartão com as instituições de serviço social e associações cívicas colaboradoras.” Secar a concorrência Na semana passada, a DSEDT afirmou ao HM ter realizado sessões de formação, emitiu orientações para as associações cívicas que estão a colaborar com o Governo na troca de cartões Macau Pass para idosos e lembrou aos funcionários que devem limitar o seu serviço à substituição dos cartões. “A DSEDT continuará a fiscalizar todos os postos de serviços, e caso verifique a violação das orientações em qualquer um destes, cessará, de imediato, o serviço de substituição de cartões disponibilizado pelo posto de serviço envolvido”, acrescentou a entidade liderada por Yau Yun Wah ao HM. O HM procurou conhecer as consequências para casos em que as associações cívicas tanto junto da CAEAL, como da DSEDT. Além do encerramento dos postos de troca de cartões, não foi referido se haveria alguma consequência legal, ou infracções às leis que regulam as eleições. O ex-deputado Au Kam San apresentou uma explicação para o “nervosismo” das principais associações tradicionais recorrerem a todos os expedientes para recolher o máximo de assinaturas possíveis, mesmo quando prestam serviços públicos, como a troca de cartões Macau Pass para idosos. “Isto é uma táctica, porque na mesma eleição, qualquer eleitor só pode assinar uma vez uma lista (…), caso contrário estará a cometer um crime. Quanto mais assinaturas uma lista conseguir, mais espaço retira a outras listas. Se uma associação reunir 50.000 assinaturas, mesmo que só submeta 500 e que as restantes 49.500 sejam deitadas no lixo, esses eleitores não vão poder assinar outras listas”, indicou Au Kam San numa publicação no Facebook. O ex-deputado salienta que apesar de não ser punido com prisão quem assina mais do que uma propositura de candidatura, além do pagamento de multa, o eleitor pode ficar com registo criminal.