Filipa Araújo Manchete PolíticaViolência Doméstica | Lei que torna crime público aprovada A tão esperada proposta de Lei de Combate à Violência Doméstica foi aprovada na especialidade. Sem questões profundas e comentários polémicos, o hemiciclo votou e decidiu por unanimidade tornar o crime público. “Tolerância zero” é o objectivo de Alexis Tam [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]proposta de Lei de Combate e Prevenção à Violência Doméstica foi finalmente aprovada na especialidade. Depois de dois anos em análise após a aprovação na generalidade, e com muita discórdia entre os envolvidos, o plenário aprovou por unanimidade, na passada sexta-feira, o diploma que torna este tipo de violência crime público. Depois de publicada em Boletim Oficial, algo que deve acontecer nas próximas duas semanas, a lei entrará em vigor 120 dias depois, em Setembro. Durante a discussão no plenário, o deputado Vong Hin Fai foi o legislador mais activo, pedindo vários esclarecimentos sobre termos jurídicos que compõem o articulado da proposta. Alguns deputados voltaram as suas atenções para a questão da prevenção, uma das cinco medidas propostas pela lei, seguindo-se a proteccionista, sancionatória e restaurativa. José Pereira Coutinho foi um desses deputados, que questionou Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, sobre a responsabilidade de prevenção na sociedade. Na visão do deputado não faz sentido essa medida ser da responsabilidade do Instituto de Acção Social (IAS). Alexis Tam assegurou que nenhum organismo do Governo está a trabalhar sozinho. A ideia foi reafirmada por Vong Yim Mui, presidente do IAS, que esclareceu que o Governo tem realizado um trabalho interdepartamental, envolvendo várias direcções e entidades públicas, estando “tudo a postos” para a entrada em vigor da lei. Quando questionada sobre a formação do pessoal para saber lidar com os casos, Vong Yim Mui garantiu que durante os últimos dois anos os recursos humanos do Governo receberam formações de especialistas de Hong Kong e Taiwan, estando por isso, agora, preparados para lidar com os casos e, acrescentou, dar formação a novo pessoal. “A formação na violência doméstica exige muito profissionalismo. No ano passado procedemos a acções de formação para o nosso pessoal, para serem formadores, nesta vertente, no futuro. Convidámos peritos, professores de Hong Kong e Taiwan, para formar o pessoal. Para serem no futuro professores habilitados para o efeito. (…) Vai ser um trabalho contínuo. [Os casos vão] ser acompanhados por profissionais”, garantiu. Rever para crer Alexis Tam mostrou-se satisfeito com a decisão dos deputados, afirmando que este é o caminho para a “tolerância zero” face aos casos de violência doméstica. O Secretário afirmou acreditar que estes irão diminuir com a entrada em vigor da lei, sendo que é preciso, frisou, educar e formar a sociedade. “A família é o elemento fundamental constitutivo da nossa sociedade e a harmonia familiar é um pressuposto para a harmonia da sociedade. A tolerância zero para com a violência doméstica constitui não só a meta suprema desta lei, como também uma linha mestra da nossa acção governativa”, reagiu o Secretário, após a aprovação. “O Governo está convicto de que com a publicação [da lei] se irá travar ainda mais a ocorrência de casos deste tipo e permitir que, em caso de uma qualquer infeliz ocorrência, se detecte o caso precocemente e se intervenha de forma urgente no sentido de proteger a vítima e, simultaneamente, efectivar a responsabilidade penal do agressor. As medidas permitem ainda dar uma reposta positiva às orientações das Nações Unidas”, rematou. A futura lei, explicou o Governo, vai ser revista dentro de três anos, permitindo à Administração perceber as possíveis falhas a melhorar em 2019.
Flora Fong Manchete SociedadeMuseus | Especialista pede alteração a sistema de guias e exposições Os museus de Macau são bons, mas não estão actualizados o suficiente. Deveriam ter mais conteúdos e características específicas nas exposições, defendem visitantes e um especialista. O facto dos serviços de guia só poderem ser prestados com marcação prévia e apenas alguns dias por semana também não agrada. Há quem defenda ainda a criação de um novo museu com mais símbolos de Macau nos novos aterros [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]o domingo passado, continuavam as actividades do Dia Internacional de Museus de Macau, organizadas pelo Instituto Cultural (IC), que permitem aos residentes e turistas visitar os museus gratuitamente. No Museu de Macau, como o HM testemunhou, visitantes não faltavam: havia famílias a explicar às crianças que Macau foi uma vila de pesca e depois se tornou um porto de comércio. Havia jovens interessados em objectos símbolos da religião católica em Macau, no mapa da antiga rota da seda e nos bens da China que passaram por tantos países e regiões. Liu, proveniente do Cantão, veio visitar Macau com a sua família. Em conversa com o HM, mostrou-se satisfeito com o facto das exposições e objectos do Museu de Macau serem tão delicados e demonstrarem a história do território em diferentes épocas. Liu é trabalhador da área de Comunicação, o que o leva a pensar que a apresentação das exposições é suficiente. No entanto, a parte sobre a rota marítima poderia, na sua opinião, ser mais detalhada. “Estou mais interessado na exposição sobre o comércio marítimo, os barcos usados e a rota marítima. Partiu da China, passou por Macau e chegou à África e América. No entanto, os detalhes são importantes mas não estão visíveis. Penso que o museu poderia ter mais conteúdos sobre esta matéria”, começa por dizer ao HM. Encontrámos outra turista, Maria, esta proveniente de México e em Macau pela primeira vez. O Museu de Macau, confessa-nos, pareceu-lhe “incrível”. “Há muitas fotografias que explicam a cultura e a história de Macau. Eu não esperava ver nada aqui, mas fiquei agradavelmente surpreendida depois de visitar o museu. Consegui perceber as antigas profissões de Macau, as casas onde as pessoas moravam, as cerimónias religiosas. Estou surpreendida também com o mapa que mostra a rota da seda. Tudo é muito bom, estou a ver muito mais do que esperava”, disse. O Museu de Macau recebeu, no ano passado, mais de 359 mil visitantes. Além de exposições permanentes, tem organizado exposições temporárias, como é o caso da peças sobre a Cultura da Ópera Cantonesa como “O Fascinante Barco Vermelho”, que vai ser inaugurada esta quinta-feira. Exposições que perduram Apesar dos esforços do Governo em promover os museus com viagens gratuitas, por exemplo, e da impressão dos turistas, as exposições permanentes do Museu de Macau já não são actualizadas há anos. Quem o afirma é Lam Fat Iam, director do Centro de Estudos das Culturas Sino-Ocidentais do Instituto Politécnico de Macau (IPM). “As exposições dos museus são fixas e não são mudadas ao longo de muitos anos. Tal como o Museu de Macau, além de ter organizado exposições especiais onde convida artistas estrangeiros e traz relíquias de fora, não se consegue ver uma grande diferença entre os objectos das exposições.” Lam considera que hoje em dia é totalmente necessária uma renovação do Museu de Macau, dado que a transferência de soberania de Macau já foi há 16 anos e houve, entretanto, grandes mudanças no desenvolvimento do território. “Há novos resultados dos estudos sobre o património material e imaterial, bem como da história. É preciso pensar como integrar os novos resultados e mostrar a natureza de Macau. Penso que o Museu de Macau tem todas as condições para replanear a disposição [das exposições]”, assegura. Numa resposta ao HM, o Museu de Macau afirma que, além de uma modificação anual, desde a inauguração em 1998, que as exposições foram “renovadas várias vezes”, incluindo os conteúdos de apresentação das exposições e os objectos, tais como os vestidos de casamentos do estilo chinês, as docas de pesca, a introdução dos macaenses e a actualização das informações do “Corredor do Tempo”, uma cronologia, em 2008. Lam Fat Iam, também membro do Conselho de Património Cultural, admite que os museus de Macau parecem estar satisfeitos com o facto de serem muitos e diversificados neste tão pequeno território. No entanto, assegura, existem problemas e desafios. “Existe um museu de Macau que demonstre a história e características desta cidade? Qual é? O Museu de Macau ou o Museu de Arte de Macau, ou nenhum dos dois? Penso que temos falta de um museu representante e típico de Macau.” A falta de um museu desse tipo, explicou Lam, tem a ver com vários aspectos: terrenos insuficientes e espaços limitados. Mas não só. “Embora seja uma cidade histórica e cultural famosa, não temos relíquias históricas desenterradas em Macau que sejam preciosas e remetam para a história e os processos de civilização humana. Portanto, muitos museus de Macau têm falta de colecções que tenham grandes valores universais, comparado com os museus nacionais de outros sítios”, indica. O académico continua, assegurando que o Museu de Macau tem coleccionado muitas relíquias históricas de Macau, que não são todas mostradas. “Vale a pena pensar se é preciso escolher um sítio nos novos aterros para criar um novo museu. Poderá ser um museu central e simbólico de Macau, mais concentrado na colecção de objectos que tenham valor para a literatura e arte local. Ali, qualquer turista ou residente de Macau pode aproximar-se do território logo que entre no museu”, indicou. Importância invisível? O dia 18 de Maio é o Dia Internacional dos Museus. Em Macau, o IC tem organizado durante este mês várias actividades, tais como workshops, palestras e visitas. O HM aproveitou o dia para conhecer a situação das visitas, mas no Museu Marítimo, de manhã, não encontrámos nenhum turista. Vários grupos de alunos, contudo, estavam em passeio, levados por algumas escolas primárias e secundárias do território. “Não sabia que hoje é o Dia Internacional dos Museus. Esta é uma visita que a escola marcou”, disse Sara Figueira, professora do Jardim de Infância Costa Nunes, quando a sua turma de alunos experimentava o “Tancá” – local onde vivia a população marítima. “É importante que os alunos conheçam os museus, a história, os sítios onde estamos. Vou explicar a sua importância e esta data quando voltarmos à escola.” Sara explica-nos que esta visita não foi a única – os alunos já tinham visitado o Centro de Ciência e preparavam-se para visitar as Casas-Museu da Taipa. “Temos uma série de visitas a museus, ao longo do ano”, explica-nos a professora. Noutro canto do museu, em silêncio, encontrámos Ho, residente de Macau que visitava o Museu Marítimo sozinha. “Há 20 anos que não visitava o museu, porque estou sempre a trabalhar. Estou aqui porque hoje estou de folga e soube das actividades do dia dos museus. Mas pensei que havia serviços de guias, afinal é só possível visitar”, disse. Ho considera que o museu abrange vários tipos de situações históricas, mas defende que seria melhor se existissem guias para fornecer informações quando os visitantes precisarem. “Não deve apenas haver guardas no museu”, indica. Ao que o HM apurou, os serviços de guias no Museu Marítimo são apenas prestados com três dias de marcação prévia e apenas durante os dias úteis. Guias desencontrados Os serviços de guias são precisamente outro problema que Lam Fat Iam aponta e que considera que precisam de ser melhorados. “Os guias são importantes para apresentar de forma profissional as exposições dos museus, para que os turistas e residentes de Macau não leiam só os folhetos mas também possam ter outras escolhas e esclarecer dúvidas”, começa por indicar. “Sobretudo nos museus principais, como o Museu de Macau, que é localizado no coração da zona turística, é necessário promover mais os serviços de guias, tornando-os mais procurados.” O Museu de Macau tem formado guias para prestar serviços de visitas guiadas, em Cantonês, Mandarim e Inglês, para escolas, grupos e público. No entanto, os interessados precisam de marcar o serviço com antecedência e os guias são apenas disponibilizados às quintas-feiras, sábados e domingos. O director do Centro de Estudos das Culturas Sino-Ocidentais sugere que se altera o actual sistema. “Os guias podem fazer visitas de meia em meia hora todos os dias, não só aos fins-de-semana e com necessidade de se fazer marcação prévia. Os turistas podem ter mais vontade de conhecer se souberem que há guias”, indica. No mesmo dia à tarde, visitámos o Museu de Arte de Macau (MAM). Igualmente sem nenhum turista, encontrámos Jing, investigadora da área de planeamento urbanístico da Universidade de Macau. “Estou interessada na arte, gosto de visitar os museus e as bibliotecas de Macau. Já fui a vários, mas o meu favorito é aqui, o MAM”, conta-nos. Para Jing, contudo, as exposições no MAM não são alteradas com frequência e há poucas obras de artistas locais, pelo que lhe parece difícil um artista local conseguir ter uma exposição neste museu. “Sou de Wuhan, da província Hubei, onde há um museu de arte. Este permite todos os meses aos estudantes de arte e artistas locais fazer exposições. Mas em Macau parece não se fazer isso.” Poucos residentes a visitar Através de um pequeno inquérito feito pelo HM a 34 residentes de Macau, com idades entre os 19 a 30 anos, é possível perceber que mais de metade não visitou nenhum museu de Macau durante o ano passado. Cerca de 17% dos inquiridos fez a última visita há cinco anos, outros 17% há cerca de um ano. Além disso, 82% dos residentes questionados não conhecia o Dia Internacional dos Museus, mas 70% disse pensar ir visitar os museus nesse dia. O académico Lam Fat Iam considera que de forma geral os residentes de Macau não têm grande intenção de entrar em museus do território, ou vão apenas uma vez e não querem visitar mais. Lam considera que mais actividades e promoção podem ser feitas para estimular os residentes. Rua da Felicidade e indústria do Jogo “devem ter” museus Actualmente existem 23 museus espalhados pelo território, com temáticas que vão da Comunicação, à História, Arte, transferência de soberania, vinhos, Grande Prémio, entre outras. Mas, para o académico Lam Fat Iam não basta isso e Macau tem todas as condições para desenvolver outros museus: por exemplo a Rua de Felicidade. “A Rua de Felicidade tem os prédios antigos de prostituição (Qinglou, em Mandarim), raramente bem preservados em toda a China e onde podemos perceber os efeitos visuais das fachadas características”, começa por dizer ao HM. O também director da Associação de História Oral de Macau afirma que se tem esforçado, desde o ano passado, na criação de uma sala de exposição “Cultura de Qinglou da Rua da Felicidade”, onde se pretende mostrar os tempos antigos e os estabelecimentos ligados à prostituição, que deram, até, nome à rua. Lam espera que a inauguração aconteça ainda este ano, sendo o primeiro passo a criação de um museu. Além disso, defende, sendo uma cidade de Jogo, não ter um museu de Jogo em Macau não faz sentido. Lam Fat Iam considera que seria “totalmente viável” a criação de um espaço. “No sector de Jogo e entre académicos há anos que se apresentou a ideia de criar um museu de Jogo, sugerindo-se até abrir um canto no Hotel Lisboa para fazer a exposição, porque sabemos que a Sociedade de Jogos de Macau (SJM) preserva muitos objectos antigos ligados ao jogo”, diz Lam. O académico diz que o Governo é sensível nesta temática por recear que os outros critiquem a promoção do Jogo e considera que a ideia não foi concretizada devido a esse problema. “É mesmo preciso de um museu de Jogo, para mostrar as características do território. Não estamos a promover jogar no casino, pelo contrário, podemos mostrar no museu os aspectos negativos do Jogo, tais como o vício e as dívidas. Não devemos evitar as histórias, mas sim mostrá-las”, rematou.
Flora Fong Manchete PolíticaRejeitado recurso de funcionários de associação de Chan Meng Kam Os dois voluntários que terão pedido votos em Chan Meng Kam, Song Pek Kei e Si Ka Lon nas eleições de 2013 a troco de refeições gratuitas continuam a enfrentar uma pena de um ano de prisão por corrupção eleitoral. Os funcionários da associação que é a sede dos membros do hemiciclo perderam o recurso no tribunal [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Tribunal de Segunda Instância (TSI) rejeitou o recurso dos dois funcionários da Aliança do Povo de Instituição de Macau – associação dos deputados Chan Meng Kam, Song Pek Kei e Si Ka Lon – face à condenação de mais de um ano de prisão por corrupção eleitoral. Os dois funcionários foram acusados de telefonarem a eleitores – incluindo dois investigadores do Comissariado contra a Corrupção (CCAC), que revelaram o caso – para oferecer refeições gratuitas e transporte, como forma de comprar votos para os três deputados durante as eleições da Assembleia Legislativa (AL) em 2013. O Tribunal Judicial de Base (TJB) tinha condenado os funcionários, em Julho do ano passado, a uma pena de prisão de mais de um ano, mas estes apresentaram recurso ao TSI, alegando que os funcionários do CCAC estavam à paisana e, por isso, as provas obtidas por esse acto devem ser proibidas. Na sentença da semana passada, o TSI considera que não há informações concretas mostrando que os dois investigadores do CCAC “foram enviados com antecedência” pelo organismo, nem sobre a alegada identidade falsa, como agentes à paisana, utilizada na Aliança do Povo de Instituição de Macau. Conforme o caso na primeira instância, os dois funcionários do CCAC “nunca incentivaram, nem encorajaram a intenção dos dois arguidos na prática de crime de corrupção nas eleições”, pelo contrário, diz o tribunal, os dois réus fizeram telefonemas directamente aos investigadores, pedindo o apoio e votação no grupo de candidatos, tendo garantido que pudessem ter refeições gratuitas. O TSI considera que os dois arguidos “concordaram mutuamente em levar a cabo trabalhos para promover a compra de votos durante as eleições da AL em 2013”, mesmo que a refeição que iria ser oferecida acabasse por ser cancelada por causa da acção do CCAC. “O tribunal analisou os factos provados e não provados da primeira sentença e considera que qualquer pessoa pode perceber, depois de ler a sentença e conforme as experiências de vida quotidiana, que o resultado da primeira decisão não é irracional. Os dois arguidos não podem tentar derrubar o resultado através das opiniões subjectivas sobre os factos”, lê-se na sentença em língua chinesa. Assim, o TSI não aceitou os argumentos de “crime impossível” e “acção não consumada” dos dois arguidos e julgou improcedente o pedido de recurso para alterar a condenação e a punição. A condenação a mais de um ano de prisão mantém-se. Furioso outra vez Ao HM, Chan Tak Seng, presidente da Aliança do Povo de Instituição de Macau, afirmou que está furioso sobre a decisão do TSI, que considera ser uma “grande injustiça” para o grupo porque os seus funcionários são inocentes mas o CCAC “executou a lei de forma selectiva”. “O caso mostra que no sistema judicial há pressões políticas. Durante o caso, os funcionários do CCAC foram investigar à paisana, mas segundo a actual lei esta forma não é legal. Porque é que fizeram isso à nossa Associação que serve sempre a sociedade? Não somos um grupo criminoso.” Chan Tak Seng defendeu que os dois funcionários “nunca garantiram a oferta de refeições gratuitas” mas os investigadores insistiram em perguntar. Sendo líder da Aliança, Chan disse que não concorda com corrupção, pelo que não deu indicações aos funcionários para estes instigarem à compra de votos. Os dois condenados, uma mulher e um homem, têm 67 e 64 anos. Não é a primeira vez que a candidatura de Chan Meng Kam é associada à compra de votos. O primeiro caso de corrupção eleitoral resultou na condenação de 12 pessoas, que pagaram ou receberam 500 patacas em troca de um voto no deputado. Os três deputados da lista, que foi pioneira em ocupar três assentos no hemiciclo em 2013, nunca compareceram em tribunal por considerarem que os condenados, voluntários na Associação, não trabalhavam para eles.
Hoje Macau Manchete SociedadeSaúde | Mais médicos, enfermeiros e camas [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]número de médicos e enfermeiros aumentou no ano passado 5,2% e 14,5%, respectivamente, segundo dados oficiais divulgados na semana passada. Em 2015, havia 1674 médicos no território – 2,6 por cada mil habitantes. Quanto aos enfermeiros, passaram a ser 2279 no ano passado em Macau, ou 3,5 por cada mil habitantes. Apesar do aumento de profissionais, esta taxa de cobertura da população manteve-se quase inalterada – era 2,5 em 2014, abaixo da média da OCDE (3,2 por mil habitantes), mas acima da média dos países e regiões da Ásia (1,2). A taxa de enfermeiros é também um pouco melhor do que em 2014, quando o rácio estava nos 3,1 por cada mil habitantes, também abaixo da média da OCDE (8,7), mas acima da média na Ásia (2,8). Em Maio do ano passado, o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, disse que o território precisava de 2640 profissionais de saúde nos próximos cinco anos, incluindo quase 500 médicos. “Está previsto que serão necessários nos próximos cinco anos cerca de 480 médicos, 1700 enfermeiros, 120 farmacêuticos, 200 técnicos superiores de saúde, 140 técnicos de diagnóstico e terapêutica, num total de 2640 profissionais de saúde”, na Assembleia Legislativa. Em Dezembro, o responsável disse que no ano passado foram recrutados 529 profissionais de Saúde, incluindo 60 médicos e 188 enfermeiros. E acrescentou a intenção de contratar mais 300 médicos e enfermeiros, incluindo em Portugal. “Temos já dados para confirmar as necessidades dos recursos humanos. E daí que, para fazermos face ao recrutamento de mais trabalhadores – mais médicos e mais enfermeiros – aumentámos o orçamento em sete mil milhões de patacas, um aumento de 13% em 2015. Mas não só: vamos aumentar o número de profissionais num total de 300 profissionais”, afirmou, tendo reconhecido que “há insuficiência de recursos humanos no hospital público” e que perante o aumento da população e visitantes há “necessidade de continuar a contratar” pessoal médico. Segundo as estatísticas divulgadas, as camas hospitalares para internamento em Macau em 2015 também aumentaram: passaram a ser 1494, mais 73 do que em 2014. Os internamentos chegaram aos 54 mil, mais 4% do que no ano anterior.
Flora Fong Manchete SociedadeIC | Antigo vice-presidente considerado inocente pelo TJB Stephen Chan, ex-vice-presidente do IC, foi considerado inocente ao lado de Lei Man Fong, um funcionário, depois dos dois irem acusados de ajudar a empresa do irmão de Chan a ganhar dois concursos públicos. O antigo responsável só terá de pagar um multa por não ter declarado bens [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]tephen Chan, ex-vice-presidente do Instituto Cultural (IC), e Lei Man Fong, funcionário do organismo, foram considerados inocentes da acusação de abuso de poder e de violação de segredo. A decisão do Tribunal Judicial de Base (TJB), conhecida na passada sexta-feira, indica que não há provas que mostrem que a empresa do irmão deste antigo responsável ganhou nos concursos públicos devido à revelação de informações secretas. Stephen Chan ia acusado pelo Ministério Público (MP) de revelar dados sobre as cotações de outras empresas candidatas para que a Empresa de Engenharia Vo Tin, onde o irmão trabalha, ganhasse concursos públicos do IC – uma para a manutenção de instalações da Biblioteca Central de Macau e outro para a instalação de electricidade e de iluminação básica e monitorização na Casa do Mandarim, em 2008. Lei Man Fong foi acusado de ajudar o superior. Juiz decide No TJB, o juiz Lam Peng Fai ditou que não conseguiu confirmar que o irmão de Stephen Chan é sócio ou responsável da empresa Vo Tin. Depois de ouvir as testemunhas que foram parte da Comissão de Selecção dos concursos públicos, onde o antigo vice-presidente desempenhava o cargo de presidente, o juiz considera que não se percebe que a decisão de cancelar o primeiro concurso público para a manutenção de instalações da Biblioteca Central e de fazer outro foi feita por Stephen Chan, apesar de o MP suspeitar que foi isto que permitiu à empresa Vo Tin a possibilidade de apresentar cotações muito inferiores à das outras empresas – a primeira proposta da empresa no concurso cancelado foi de quatro milhões e a posterior foi de 1,9 milhões. O tribunal diz ainda que não há provas mostrando que Stephen Chan revelou informações sobre as cotações ao irmão, nem conseguiu provar-se que a empresa onde o irmão trabalha ganhou esses concursos por causa dessas informações. Sem factos objectivos, o juiz não deu razão à acusação de abuso de poder e de violação de segredo. Recorde-se que um investigador do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) assegurou no TJB que na empresa do irmão foram descobertos documentos “extremamente semelhantes” a documentos secretos do IC. Mas Stephen Chan afirmou que “nunca conversou” com o irmão sobre o seu trabalho, apenas permitindo às empresas irem ao IC copiar as informações das cotações das outras empresas depois de já terem acabado os concursos públicos, como é “hábito” nos departamentos. Multas por falsidade O funcionário do IC, Lei Man Fong, foi considerado totalmente inocente, mas Stephen Chan foi condenado por dois crimes de declarações incorrectas, depois do MP descobrir que o antigo vice-presidente não declarou bens em 2008 e em 2010 no valor de cerca de 400 mil patacas. O CCAC suspeita que o dinheiro chegou de “um banco privado ilegal do interior da China”, mas o juiz acredita que o dinheiro foi ganho pela venda de um imóvel na China continental. Stephen Chan tem, assim, de pagar uma multa de 420 mil patacas. Depois da sentença, Stephen Chan afirmou ao canal chinês da TDM que nunca cometeu erros na Função Pública e que pondera recorrer, dado que o caso “afectou muito a sua vida”.
Joana Freitas Manchete SociedadeUNESCO | “Chapas Sínicas” no Registo da Memória do Mundo Os mais de 3600 documentos que compõem as Chapas Sínicas e que falam das relações entre Portugal e Macau são agora parte do património documental da humanidade. A decisão foi ontem aprovada pela UNESCO, meses depois da candidatura [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s Chapas Sínicas são, agora, património. A decisão saiu da última reunião geral do Programa Memória do Mundo da UNESCO para Ásia e Pacífico, depois de uma candidatura conjunta de Portugal e Macau, em Outubro do ano passado. Ao que o HM apurou, as Chapas Sínicas passaram agora a estar classificados pela UNESCO a “nível regional como integrantes no Registo da Memória do Mundo”. As Chapas Sínicas são compostas por mais de 3600 documentos individuais e em forma de registo, provenientes da antiga Procuratura do Leal Senado de Macau e fazem parte do acervo do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa. A candidatura dos documentos tinha sido feita pelo Arquivo de Macau juntamente com esta instituição. Os documentos ilustram as relações luso-chinesas desenvolvidas entre o procurador do Leal Senado e as diversas autoridades chinesas, abrangendo um período entre 1693 e 1886, sendo que os assuntos e temas referem-se a diversos aspectos das relações entre as duas autoridades. “Os mais recorrentes são as questões de justiça e de jurisdição, os assuntos económicos e de comércio (a proibição do ópio, contrabando, mercadores), os problemas religiosos (a missão clandestina na China, a repressão contra os católicos chineses), as relações diplomáticas (entre Macau e os países asiáticos e europeus, nomeadamente a Inglaterra e a sua presença em Macau, circulação de estrangeiros, o envio de embaixadas), a navegação dos mares e utilização de portos (combate à pirataria, embarcações, naufrágios e náufragos, tributos à navegação). São igualmente frequentes as situações referentes a obras em edificações, quer civis quer militares, e a construção clandestina”, explica o documento. Satisfação ao máximo A candidatura ao programa da UNESCO iniciado em 1992 e cujo objectivo é preservar a herança documental da Humanidade, tinha sido feito em Outubro do ano passado. Nessa altura, O Instituto Cultural selou um memorando de entendimento no Arquivo da Torre do Tombo para a candidatura. O encontro, que decorre desde dia 18 até amanhã no Vietname, contou com a presença da directora do Arquivo Histórico, Lau Fong, que se mostra satisfeita com a aprovação da UNESCO. “Estes valiosos documentos apelidados de ‘Chapas Sínicas’ agora distinguidos pela UNESCO como ‘Registo da Memória do Mundo da Ásia – Pacífico’ constituem um testemunho autêntico do rico e importantíssimo legado histórico de Macau, enquanto plataforma fundamental para a globalização e encontro entre o Ocidente e o Oriente. O resultado desta candidatura muito prestigia e dignifica Macau”, frisou, citada num comunicado a que o HM teve acesso. No final deste mês vai ainda ser entregue uma segunda candidatura à UNESCO, do mesmo acervo documental, mas para uma aplicação a nível mundial.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaAL | Em 15 anos maioria dos debates foi chumbada. Pró-democratas lideram pedidos Contam-se pelos dedos das mãos os pedidos de debate e audições feitos pelos deputados no hemiciclo nos últimos 15 anos. A maioria deles foi chumbada. Os deputados do campo pró-democrata têm sido protagonistas, mas o panorama parece estar a mudar [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]stávamos no ano de 2000 quando a Assembleia Legislativa (AL) acolheu o seu primeiro debate proposto por três deputados. João Manuel Baptista Leão, deputado nomeado, juntou-se aos deputados eleitos pela via directa Cheong Vai Kei, Iong Weng Ian e Kou Hoi In. O objectivo seria debater a criação de uma lei que obrigasse os jovens com menos de 16 anos a andarem na rua acompanhados pelos seus pais ou tutores após a meia-noite. “Achamos que este tema suscita a atenção de todos. Espero que possamos ouvir amplamente as vossas opiniões para atingirmos o objectivo do debate com a maior brevidade possível. Desejo obter os vossos apoios”, disse Cheong Vai Kei, a quem coube a apresentação da proposta. O debate acabaria por ser aprovado, mas a lei nunca foi feita. Uma análise aos diários dos plenários da AL desde o estabelecimento da RAEM permite chegar à conclusão que as aprovações dos debates não têm sido o prato forte do hemiciclo. A preservação de Coloane, terrenos, a atribuição das campas no cemitério de São Miguel Arcanjo, a inflação, o fim do monopólio dos produtos alimentares, a necessidade da AL fiscalizar melhor as contas públicas, a implementação do sufrágio universal. Todos estes temas já foram propostos para debate e foram chumbados. Muitos problemas que não foram analisados permanecem por resolver em Macau, como é o caso da elevada inflação e do alegado monopólio existente no sector dos alimentos e telecomunicações, temas levantados por Au Kam San já em 2000. Olhando para os diários do hemiciclo, três nomes saltam à vista. Ng Kuok Cheong, Au Kam San e Paul Chan Wai Chi, que não conseguiu ser reeleito em 2013, lideram os pedidos de debate feitos nos últimos 15 anos. Todos estes são da bancada pró-democrata e foram escolhidos pela população. Batatas quentes Nem sempre os temas foram pacíficos e muitas vezes os deputados foram acusados de confundir o hemiciclo com o tribunal. Veja-se o exemplo do pedido de debate feito em 2012 por Ng Kuok Cheong e Paul Chan Wai Chi sobre os terrenos em frente ao aeroporto, envolvidos no caso La Scala. “Acho estranho que os dois colegas tenham proposto a realização da audição sobre um assunto que tinha sido tratado nos órgãos judiciários, na situação em que o senhor deputado Au Kam San, que pertence à mesma associação dos mesmos deputados (Associação Novo Macau), tinha participado o caso junto do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) e do Ministério Público”, disse o deputado Tsui Wai Kwan, na altura. No pedido de debate sobre a atribuição de dez sepulturas perpétuas no cemitério de São Miguel Arcanjo (caso onde a ex-Secretária Florinda Chan acabou por ser ilibada), em Novembro de 2011, houve mais uma farpa aos proponentes do debate. “Tendo em consideração o facto de o Ministério Público ter instruído o processo penal sobre a mencionada atribuição de dez sepulturas perpétuas, assim como o apuramento dos respectivos factos se ter tornado o objecto de um processo judicial, acho que é inconveniente à AL proceder a uma audição para o esclarecimento do assunto”, apontou a deputada directa Angela Leong. Quando as acusações se fizeram ouvir no pedido de debate sobre a demolição violenta feita ao bairro de lata da Ilha Verde, realizado em 2011, Paul Chan Wai Chi não se calou. “Trata-se apenas de um pedido de audição, não é um julgamento em tribunal. Sou novato aqui, mas, por sorte, temos cá uns veteranos, isto quando se fala na incongruência entre o regulamento das audições e o regimento da AL. Por este andar ainda teremos de mexer nas coisas, ao nível interno do funcionamento”, alertou. Desde sempre Levar assuntos que interessam à sociedade ao hemiciclo “sempre foi uma intenção dos democratas”, como conta ao HM Ng Kuok Cheong. “Quando entrei na AL, em 1992, sempre tentámos várias formas para levar o hemiciclo a debater os assuntos sociais. Na altura os deputados não propunham debates e quase não falavam e o Governo português também não respondia.” No meio dos chumbos houve pedidos bem sucedidos, como foi o caso do ensino secundário gratuito, já implementado, e sobre o metro ligeiro. “Nos últimos anos começou a haver maior probabilidade dos debates serem aprovados. Há dois anos um debate sobre o metro foi aprovado e só aqui se soube que a construção ia ser adiada”, lembrou Ng Kuok Cheong. Hong Kong começou João Manuel Baptista Leão, um dos proponentes do primeiro debate de sempre na AL, já não se recorda daquilo que gostaria de debater com o Governo, pois deixou de ser deputado em 2002. Fala de um tempo em que os próprios deputados não sabiam bem qual seria o seu papel no hemiciclo após 1999. Questionado sobre o facto de muitos dos pedidos de debate acabarem chumbados, João Manuel Baptista Leão é directo. “Bom, isso é democracia, a maioria vence. Se um deputado propõe um moção tudo vai depender da votação. Temos de aceitar o método.” O antigo deputado nomeado diz que é sempre importante à AL acolher pedidos de debate. “Qualquer entidade ou organização carece sempre de debates para que se explique bem aos membros o estado das diversas coisas.” Jorge Fão, que foi deputado entre 2001 e 2005, recorda que “antes da [transferência] nunca houve qualquer pedido de debate”, sendo que após 1999, “começou a surgir uma ténue experiência de pedir debates com a presença do Governo para discutir os problemas”, algo que, segundo Fão, aconteceu por influência de Hong Kong. “Estes pedidos envolviam matérias muito sensíveis e como Macau não estava preparada os deputados não aprovavam sequer esses pedidos. Houve pedidos e alguns não foram aprovados, outros acabaram por decorrer. A verdade é que de facto, apesar de existir um maior número de debates, não significa que foram encontradas as melhores soluções para o tema em causa. Não vejo nesses debates o encontro de melhores soluções, por parte do Executivo e da própria Assembleia, proponentes e deputados, que não estavam preparados para este tipo de debates”, defendeu. Jorge Fão fala de um hemiciclo que precisa de amadurecer. “O debate em si é útil, na maneira em que devem existir mais. Mesmo que não se encontrem as melhores soluções, é sempre lícito que o Governo seja chamado para dar explicações sobre matérias menos transparentes. Essa é a função da própria AL e dos deputados. Sobretudo para mostrar ao mundo que Macau tem uma Assembleia que funciona. Temos de dar tempo ao tempo e reconhecer esse aspecto (falta de maturidade).” Novas facções Nos últimos tempos deputados de outras áreas têm vindo a pedir debates, nomeadamente Ella Lei, eleita pela via indirecta em representação da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), ou até os parceiros políticos de Chan Meng Kam, como Song Pek Kei e Si Ka Lon. Leong Veng Chai, Mak Soi Kun e Zheng Anting também fizeram as suas propostas. Os vários pedidos de debate sobre o edifício de doenças infecto-contagiosas, que aconteceu esta semana, foi um dos raros exemplos de aprovação ao qual o hemiciclo assistiu. Para Jorge Fão, os pedidos vindos de outras facções são um sinal de que há assentos a manter. “Talvez nos primórdios fosse o campo pró-democrata (a pedir debates), mas nas últimas duas sessões legislativas os mais tradicionais também estão a pedir debates, como a FAOM. E porquê? Porque todos eles sabem que precisam de fazer esse trabalho. São pessoas eleitas pela via directa. Se tal não viesse a acontecer correriam o risco de perder o assento amanhã. Não tem a ver apenas com o assunto, mas com a sua própria representação. Os deputados indirectos têm uma menor responsabilidade, os nomeados não têm”, rematou. Paul Chan Wai considera que a “cultura começou a mudar”. “A alteração ao regimento da AL fez com que o pedido de audição seja mais rigoroso e os deputados podem ter chegado à conclusão que podem expressar melhor as suas ideias através de um debate, tal como aconteceu com o edifício das doenças.” “Fazemos um braço-de-ferro” Defendida fim da votação para diálogo com o Governo “É preciso mudar. Porque é que os debates têm de receber a aprovação do plenário? Antes a apresentação de interpelações orais também precisava de aprovação, mas isso mudou com a entrada de Susana Chou para a presidência. Deve existir o mesmo modelo para os debates, para que se possa eliminar essa barreira e tornar os debates uma coisa comum. Os debates não são bichos de sete cabeças, é apenas um diálogo com o Governo”, considerou Au Kam San ao HM, quando questionado sobre o assunto. “Os debates sobre temas sociais são uma função muito importante para a AL. No passado era difícil aprovar os debates, porque é preciso obter a maioria. Esta dificuldade faz com que uma parte dos deputados não considere esta uma ferramenta importante, optando por obter informações do Governo através das associações”, acrescentou o deputado. A raíz do problema Au Kam San apresenta uma explicação para tantos chumbos nos últimos anos. Os problemas repetem-se, diz, e continuam a acontecer porque há “grandes interesses por detrás deles”. O deputado recorda um pedido de debate que fez para a implementação do ensino secundário gratuito, no qual “foi bem sucedido, talvez porque essa medida não prejudique os interesses de ninguém”. “Mas sobre a construção de habitação pública ou a diminuição do número de não residentes alguém pode perder, então surgem muitos obstáculos.” Ng Kuok Cheong opta por dizer que os pró-democratas fazem “um braço-de-ferro”. “O sistema deve ser aperfeiçoado. Os deputados que apoiam o Governo continuam a ocupar o espaço e só temos a hipótese de apresentar uma audição depois de um debate. Há problemas que continuam por resolver há muitos anos e o problema está no regime político. O Chefe do Executivo é eleito por um pequeno grupo de pessoas, os deputados não são todos eleitos e estão mais preocupados com os interesses das pessoas com riqueza e poder”, referiu. “Consegue-se ver que os temas mais sensíveis não foram aprovados e os menos sensíveis conseguiram ser aprovados. Os deputados não deixaram que fossem aprovados”, alertou Paul Chan Wai Chi. “Mesmo que os debates não tragam soluções claras para os problemas, mas isso faz com que os residentes conheçam melhor as questões e conheçam o desempenho dos deputados”, referiu ainda.
Filipa Araújo Manchete SociedadeEducação Sexual | DSEJ diz que cada escola tem de fazer o seu trabalho Sexo. O Governo esclarece que cada escola que tem que se esforçar para passar os conceitos correctos aos alunos. Seguindo as suas próprias filosofias, as escolas não podem ignorar a tendência e os professores têm “de perder a vergonha de falar” sobre o assunto. É o que defende a DSEJ, que diz que a Educação Sexual não será uma disciplina independente [dropcap style=’circle’]D[/dropcap]epois de algumas escolas criticarem a Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) – mais precisamente o Centro de Educação Moral – quanto aos materiais escolares “desactualizados” sobre Educação Moral e Cívica, onde se inclui a sexualidade, o mesmo organismo reage: diz que tem os materiais adequados e existem formações para os docentes. Mas, frisa, é preciso que as escolas se dediquem também. “O docente é um profissional, os manuais servem apenas como referência. O docente pode fazer um ajustamento ao que ensina. Este manual não é feito para uma escola, mas sim para todas. Acredito que algumas escolas possam achar que os recursos possam ser desactualizados. Mas é precisamente nestas situações que os docentes têm de fazer um trabalho de ajuste”, reagiu Leong I On, director do Centro, num encontro com o HM espoletado pela reportagem que indicava desagrado na forma como se ensina a matéria às crianças e jovens. O primeiro esclarecimento começa na linha educativa escolhida pelo próprio Governo. Pelas palavras de Leong I On, a tarefa de ir ao encontro de todas as crenças e ideologias seguidas pelas escolas de Macau, não “é fácil”. Por isso, foi preciso que o Governo, depois de alguns estudos, criasse uma linha de sugestão de ensino que “agradasse a todos”. É necessário, aponta o responsável, perceber que existem escolas em Macau de conotação religiosa, outras de valores chineses mais tradicionais e até escolas que seguem as linhas educativas ocidentais. “A Educação Sexual não é muito falada em Macau e é preciso darmos alguma importância para romper com este assunto que ainda é tabu”, começa por explicar o director ao HM, reforçando a ideia de “ponto em comum” entre as escolas. “Como se sabe Macau tem diferentes escolas, de diferentes origens, chinesas, portuguesas, internacionais. Quando fizemos este trabalho tivemos de encontrar um ponto em comum entre todas. Tentámos também encontrar na nossa sociedade os valores de família e do sexo”, acrescentou. Dos números Trabalho que culminou em vários recursos auxiliares, para o ensino infantil, primário, secundário geral e complementar. Feitas as contas, no ano lectivo de 2015/2016, 95% das escolas de ensino infantil receberam os manuais doados pelo Centro, 82% das escolas de ensino primário também. Nos dois tipos de ensino secundário a percentagem de escolas a aceitar este manuais não ultrapassou os 70%. Sobre os cursos de formação para instrutores de Educação Sexual, que se dividem em três níveis – básico, avançado e prático, até 2015 e desde 2013, 630 docentes receberam formação. Até ao ano passado, “mais de 80% das escolas formaram grupos” de trabalho de Educação Moral nas escolas. Quanto ao plano de apoio da DSEJ sobre a Educação Sexual, os números mostram que 60% das escolas participaram nesses trabalhos, contando com a presença de cinco mil participantes, docentes ou não. Posto isto, o director é claro: os manuais disponibilizados e as formações cedidas têm conteúdos sobre a sexualidade, no entanto é preciso “que os professores percam a vergonha de falar de sexo”. “É preciso que os professores estejam preparados. É preciso que eles conheçam valores diferentes sobre sexo, por isso é que também organizamos encontros entre eles e homossexuais, ou pessoas que se dedicam à prostituição, entre outros”, esclarece. Apesar disto, reforça, a abordagem do tema vai depender sempre da ideologia escolhida por cada escola, sendo que não compete ao Governo essa última decisão. Amor destacado Quando questionado sobre a ausência de abordagem de questões práticas, como a aplicação de um preservativo, ou o uso de outro tipos de contraceptivos, Leong I On explica que algumas dessas informações estão nos materiais doados às escolas, mas é preciso perceber que a ideologia em Macau é vocacionada para o “conceito de amor”. Ou seja, são abordados temas como família, harmonia, respeito pelo outro, sentimentos para com outra pessoa. “O que pretendemos é criar noções de valores. Esta também foi a conclusão que chegamos sobre o que pensa a sociedade. Eles querem isto. Volto a salientar, [a linha educativa escolhida permite] que o jovem tome as suas decisões, tem liberdade no que faz. Por isso queremos introduzir valores correctos [morais e cívicos] e eles tomam as suas decisões”, esclareceu. À pergunta sobre se há possibilidade de criar Educação Sexual como uma disciplina independente, Leong I On afasta a hipótese. “Há muita gente que levanta essa questão. Não achamos que exista essa necessidade. Não serão apenas umas aulas que irão ajudar os alunos a ter conhecimentos sobre este tema. O que nós consideramos é que este processo é duradouro e acumulativo, isto é, o aluno aprende através de diferentes formas, pela família, na escola, na sociedade, com todos os programas que o Governo consegue oferecer (grupos de trabalho, actividades de aconselhamento de educação sexual, entre outros)”, argumentou. Caso o Governo optasse por introduzir a disciplina de Educação Sexual nos programas curriculares “estava a limitar as escolas na suas opções de ensino”, dos conteúdos que cada direcção escolhe. Apesar desta liberdade de cada instituição, o director garante que o Governo tem as suas exigências e essas são cumpridas pelas escolas. Depois há outra questão: comparar ensino oriental com ocidental é um erro. “Não posso dizer que um está certo e outro errado. Não, mas são diferentes. São culturas diferentes” e, por isso, os conceitos, métodos e abordagem também são diferentes.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeLivro | Macau considerado “pioneiro” no tratamento de dependências em Portugal João Pedro Augusto, autor do livro “Tratamento de Dependências – Evolução do Sistema Português 1958-2014”, considera Macau como um território pioneiro para os tratamentos adoptados em Portugal e fala de um aumento de residentes a procurar apoio no seu centro [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]acau foi um território pioneiro no tratamento de dependências como o álcool ou a droga, tendo ajudado na adopção do modelo de cura em Portugal. Quem o diz é João Pedro Augusto, autor do livro “Tratamento de Dependências – Evolução do Sistema Português 1958-2014”, lançado no mês passado em Lisboa. “Essa foi uma das constatações deste trabalho de pesquisa”, contou o autor ao HM, por e-mail. “As primeiras estruturas de tratamento surgiram em Macau no decorrer da década de 60 do século XX (no Centro de Recuperação Social da Ilha de Taipa) e os profissionais que são escolhidos numa primeira fase pós 25 de Abril para liderar em Portugal as estruturas governamentais de tratamento de drogas são pessoas que obtiveram essa experiência profissional precisamente em Macau, como por exemplo, o psiquiatra Alberto Cotta Guerra”, revelou João Pedro Augusto. O autor, que é responsável pelo departamento de admissões de uma unidade de tratamento em Portugal, alerta para um aumento de residentes que procuram os serviços fora da RAEM, defendendo que os actuais recursos e estruturas não serão as mais ideais. “Da minha experiência enquanto responsável por uma unidade de tratamento que por vezes é procurada por pacientes provenientes de Macau, não me parece que [a existência de recursos ideais e suficientes] suceda neste momento. Para além dos problemas mais tradicionais de dependências químicas (álcool e drogas), nos últimos anos o problema da dependência do jogo tem aumentado consideravelmente na RAEM”, apontou. João Pedro Augusto fala de quase uma dezena de pessoas que já procuraram tratamento no seu centro e não apenas portugueses. “O que se nota de forma clara é que nos últimos dois a três anos há uma procura cada vez maior por parte dos residentes de Macau de pedidos de informação sobre os nossos tratamentos. Isso acontece por vários motivos, seja por não confiarem nos serviços de tratamento existentes na RAEM, ou por questões compreensíveis de tentativa de manutenção do anonimato.” A maior razão Augusto Nogueira, presidente da Associação de Reabilitação de Toxicodependentes de Macau (ARTM), garante que a procura se deve mais pela busca do anonimato. “Não temos dados das pessoas que pedem apoio a Portugal, porque talvez sejam pessoas que nos telefonam de forma anónima à procura de soluções. Macau tem respostas e apoios para o tratamento dos locais. Temos boas capacidades. Se essas pessoas procuram outros sítios é porque querem esconder o que se passa na sua casa, porque Macau é um meio pequeno, muitas vezes passa por isso”, disse ao HM. Nuno Roque Jorge, presidente da Organização das Famílias para a Ásia-Pacífico, também defende a existência de boas estruturas em Macau na resposta a estes casos. “Não há um grande problema em relação à qualidade do tratamento, mas pode ser de facto em relação ao anonimato. Macau é uma terra muito pequena”, rematou. “O sector público tem dado resposta”, disse ainda Nuno Roque Jorge. O HM tentou obter dados de tratamento junto dos Serviços de Saúde mas até ao fecho desta edição não foi possível. Conferência sobre droga em 2017 A Organização das Famílias para a Ásia-Pacífico, que tem o estatuto especial consultivo junto da Organização das Nações Unidas, volta a organizar em Macau uma conferência internacional sobre a problemática da droga, à semelhança do que foi feito em 2013. Segundo confirmou Nuno Roque Jorge, o evento terá lugar em Novembro de 2017.
Joana Freitas Manchete SociedadeCanídromo | Estudo feito com análises a “cartas e opiniões nos jornais” [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]unca foi dito que o Instituto de Estudos sobre a indústria do Jogo da Universidade de Macau (UM) iria “ouvir” opiniões das associações de protecção animal sobre o encerramento do Canídromo. É assim que Davis Fong, director do Instituto responsável pelo estudo encomendado pelo Governo sobre o espaço da Yat Yuen, explica ao HM por que razão a principal promotora do encerramento do Canídromo diz não ter sido ouvida. Ontem, numa resposta por telefone ao HM, o responsável do Instituto explicou que há uma diferença entre “consultar” e “ouvir” as opiniões. As opiniões de associações de protecção animal foram tidas em conta, como frisou Davis Fong no programa Macau Talk da rádio chinesa esta semana, mas não por contacto directo. “Tenho que esclarecer que não fui ouvir as opiniões da sociedade. Nós não fomos directamente saber as opiniões de associações porque não sabemos quantas entidades [são] e são várias. Penso que [as associações que defendem] os galgos e animais são uma boa parte. Portanto, não temos uma lista para [saber como] consultar as associações”, indicou ao HM. Davis Fong afirmou que, ao invés disso, analisou as opiniões das associações “através dos conteúdos de jornais e das cartas enviadas para o Governo”. A ANIMA disse esta semana ao HM não ter sido ouvida. O HM tentou perceber junto da Associação de Protecção aos Animais Abandonados de Macau se foi ouvida, mas não foi possível. Este estudo – cujo montante ainda é desconhecido – foi encomendado pelo Governo à UM depois de ter sido decidida a prorrogação do contrato com a Yat Yuen – Companhia do Canídromo, em Dezembro de 2015, por mais um ano. As conclusões, dizia na altura, o Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, só iriam ser conhecidas no final deste ano e teriam como base a decisão sobre a manutenção ou encerramento do Canídromo. Incógnitas Ao HM, Davis Fong não quis levantar a ponta do véu sobre a análise feita, por não ser “adequado”. A ANIMA – Sociedade Protectora dos Animais ainda chegou a criticar o facto de o estudo não ter sido “feito antes”, uma vez que o Canídromo funciona há 50 anos. Segundo as associações de protecção animal locais todos os anos 400 galgos morrem ou são abatidos no Canídromo, considerado como “o pior” do mundo. Recentemente, diversas associações e imprensa à volta do mundo têm pressionado o Governo a encerrar o espaço. As receitas das corridas de galgos encontram-se em acentuada queda.
Manuel Nunes Manchete SociedadeG2E Asia | Nova geração chinesa vai mudar o turismo de Macau A nova geração chinesa e as suas ambições como viajantes são factos importantes para Macau, que tem de mudar a face sob pena de alienar estes novos turistas. Mais colaboração entre as operadoras, um plano para a cidade e uma alteração na oferta são necessidades prementes, dizem analistas [dropcap style=’circle’]U[/dropcap]ma das conferências do Global Asia Gaming Expo (G2E Asia) realizada ontem focava-se na geração chinesa do milénio e na forma como esta pode moldar o futuro do turismo de Macau. Duas analistas do sector de inteligência da Bloomberg, Catherine Lim e Margaret Huang, dizem que muita coisa terá de mudar no perfil de Macau para atender a uma geração mais sofisticada, hiperligada e que procura coisas novas, diferentes e únicas. “Os milenários querem uma imersão cultural, querem aprender algo”, diz Margaret Huang, avançando ainda que “Macau tem estado num lugar confortável como um destino de casinos e não tem pensado muito em criar elementos diferenciadores do produto”. Trazer o elemento cultural para a equação, é importante, refere a analista, que mostra dados de 7% dos rendimentos das operadoras no sector extra-jogo, que, no seu todo, cresceu 5%. “O Venetian lidera-o porque tem mais coisas para oferecer”, indica. Destino mundial? A ideia de transformar Macau num local de turismo mundial de lazer não parece a melhor ideia para as analistas. “Primeiro, é logisticamente difícil e ninguém na Europa ou noutro lugar pensará em vir para Macau a não ser para jogar”, diz Margaret Huang. “Como não jogadora”, acrescenta Catherine Lim, “mesmo estando em Singapura, levar quase quatro horas para vir a uma terra de casinos não é muito atractivo. Macau precisa de algo único que atraia a atenção do público, para além do jogo”. O segredo é começar por apostar “no fruto mais à mão”, diz, e esse é a nova geração de milenários chineses. “Mas é preciso conhecê-los e perceber o que os motiva”. “Balinghou” e “Jiulinghou” Em conjunto, “Balinghou” e “Jiulinghou” formam os milenários. Mas são muito diferentes e não gostam de ser confundidos. Os “Balinghou”, nascidos na década de 80, são a primeira geração pós-reforma. Mais consumistas, mais optimistas no futuro, mais focados no empreendedorismo e convictos do seu papel de transformarem a China numa superpotência. Os “Jiulinghou” são outra história: a primeira geração a viajar extensivamente, a ligar-se de forma quase plena na internet (90% tem telefones inteligentes) e que, como diz Margaret, “não querem billboards, querem histórias”. Além disso, têm um enorme sentido de individualidade pelo que, adianta a analista, “procuram coisas únicas, experiências diferentes para mostrarem aos amigos via internet”. Não gostam de viajar em grupo e o seu grande objectivo é divertirem-se. Retalho singular Actividades como jogos de computador e idas ao cinema conquistam grande parte das preferências, mas a compras em lojas também podem ser uma possibilidade apesar da permanente ligação à net os fazer adquirir produtos online. O segredo é uma oferta original. “Macau já foi o paraíso do retalho”, diz Catherine Lim. Mas vai mudar. “Fiquei espantada ao saber que apenas agora vai abrir uma loja da Apple no Galaxy”, diz para ilustrar a ideia que o mercado de gadgets electrónicos é essencial para esta nova geração. Além disso, garante, as marcas de luxo estão a começar a pensar no número de portas que têm abertas na grande China. “A questão”, diz a analista, “é todos esses espaços novos que vêm para Macau terem de pensar muito bem no que vão lá colocar dentro”. Com a nova clientela que se avizinha, Catherine aposta no “premium affordable”, na exclusividade, no raro. “Algo mais funky, tech, lifestyle por oposição ao ‘high end’. O luxo não desaparecerá mas as marcas terão de repensar posicionamentos. “Talvez devam ser mais exclusivas e não iguais às que se encontram pela Ásia fora”, diz Margaret. Segundo Catherine Lim, até a Chow Tai Fook e a Lukfook, que têm invadido o centro da cidade, um dia poderão começar a fechar. “Sei que eles começam a pensar se o número de portas abertas em Macau é justificado”, diz, adiantando que “se ainda têm tantas é devido a compromissos que assinaram com os amigos.” Segundo a analista, “antes de 2014 o retalho de jóias e relógios cresceu mais rápido” mas isso já não se verifica, porque “há uma nova dinâmica nos gastos de chineses”. Marketing, planeamento e cooperação A colaboração entre operadoras é outro dos pontos que consideram essencial. Para lá da impermeabilidade entre operadoras também “não está a ser feito um bom trabalho de marketing”, diz Margaret. “Em Hong Kong não estamos a par da maioria das coisas que aqui se passam e é tão perto…” lamenta, acrescentando ainda que “em Macau só se fala de casinos”. Uma opinião corroborada por Catherine que utilizou mesmo o sítio do Turismo de Macau como exemplo de má comunicação: “O património tem pouco conteúdo. A zona de comidas é pobre. Não há nada que nos transporte”, referindo ainda a apresentação “antiquada, com cores estranhas, onde há de tudo um pouco mas nada significativo”. A falta de planeamento urbanístico é outro dos pontos onde Macau tem de se focar para que “não apareçam coisas desconexas”. Um planeamento que, do ponto de vista da analista, deve ir além do urbanismo, incluindo entretenimento e cultura pois “facilita a estratégia de marketing que pode ser potenciada pela redes sociais tão importantes para os milénios”, explica. “Macau precisa de imagens fortes e de mais cultura, pois estamos perante uma nova clientela muito sofisticada”. Wynn | Sala VIP fechada. Funcionários sem salários Uma sala VIP do grupo Goldmoon, localizada no casino Wynn, fecha portas este sábado, dia 21, estando previsto o despedimento de todos os seus trabalhadores. Segundo o canal Mastv, os funcionários queixam-se de salários em atraso desde Fevereiro. O fim do negócio terá sido comunicado através de uma circular interna colocada na sala VIP. As razões apontadas pelo grupo Goldmoon alertam para o abrandamento da economia. A empresa terá prometido uma indemnização, mas um funcionário disse à Mastv que desde Fevereiro que não são pagos salários. A Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) confirmou que recebeu queixas de 17 trabalhadores. Choi Kam Fu, director da Associação de Empregados das Empresas de Jogo de Macau, disse estar preocupado que a empresa de junkets possa dividir os salários dos funcionários em várias partes para pagar apenas a base salarial aquando da definição das indemnizações. Choi Kam Fu considera “irracional” que o salário base de cada funcionário seja de quatro mil patacas, quando na realidade cada trabalhador ganha entre 20 a 30 mil patacas mensais. “Esse é o ponto que trabalhadores e patrões não conseguem coordenar.” O responsável acredita que será fácil aos trabalhadores voltarem a ter trabalho no sector, mas aconselha-os a que façam formação noutras áreas, como contabilidade, técnicos de reparações ou manutenção de equipamentos. (Por Flora Fong)
Filipa Araújo Manchete SociedadeCamilo Pessanha | Trasladação de corpo não agrada a família e vozes de Macau A hipótese está em discussão em Portugal: trasladar o corpo de Camilo Pessanha para o Panteão Nacional. A família afasta de imediato a hipótese e há quem sugira que a aposta deve ser na promoção do seu trabalho. Os restos mortais devem ficar onde estão [dropcap style=’circle’]“[/dropcap]Eu sou da cultura oriental, para mim ninguém mexe. É não.” É esta a reacção imediata de Ana Jorge, bisneta do poeta Camilo de Pessanha, quando questionada sobre a possível trasladação do corpo do bisavô para o Panteão Nacional, em Lisboa. Quem discute o assunto é a Comissão Parlamentar de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto que, esta semana, decidiu adiar o seu parecer final, até conhecer melhor os motivos do pedido. A presidente da Comissão, a socialista Edite Estrela, afirmou que Camilo Pessanha foi “um grande poeta, nomeadamente do simbolismo” e “justifica-se” a trasladação para o Panteão Nacional, mas alertou para a necessidade de se encontrar uma estimativa dos custos, antes do parecer ser entregue à conferência de líderes parlamentares. Já Gabriela Canavilhas, deputada socialista, defendeu que o túmulo do poeta em Macau “é um marco da presença e da memória portuguesas”, acrescentando que “é algo de tangível”. “Não me parece, absolutamente, imprescindível”, rematou. Por cá a família é clara: é um processo que não deve acontecer. “É a minha mãe que tem que dar a palavra, mas conhecendo o seu pensamento não acredito que ela concorde”, explicava ao HM Vítor Jorge, filho de Ana Jorge e tetraneto do poeta. De facto, a mãe não podia estar mais decidida. “Não concordo. Já não concordei em mexerem na campa dele, também não concordo que o tirem daqui”, frisou. Um português no Oriente A comissão parlamentar quer ouvir agora o Instituto Cultural (IC) de Macau e a Academia de Ciência de Lisboa, mas até ontem o organismo de Macau “não recebeu nenhuma informação relevante”, como disse ao HM. Durante a sessão da comissão, Gabriela Canavilhas explicou que em alternativa o Governo de Portugal devia apostar no “aumento da visibilidade [do poeta], mantendo o túmulo nas diferentes rotas e tornar o poeta mais conhecido em Macau”. Ideia que agrada a quem por este lado está. Para Amélia António, presidente da Casa de Portugal, essa devia ser a aposta: divulgar e promover a obra do poeta, seja cá ou lá. Viver e morrer em Macau foi uma escolha de vida de Camilo Pessanha e, por isso, deve ser respeitada. “Por um lado é uma homenagem, mas por outro, Camilo Pessanha adoptou Macau, adoptou a China, fez aqui a sua vida, foi uma escolha sua. Fico muito dividida em relação a essa ideia, embora perceba que isso constituiria indiscutivelmente uma homenagem nacional”, argumentou. Ideia também partilhada por Carlos Ascenso André, director do Centro de Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de Macau (IPM), que não duvida que o “poeta quereria ficar em Macau”. “Camilo Pessanha quis ser um português no Oriente. Quis juntar em si essa dupla realidade, que é uma realidade cultural de Macau. Ele é verdadeiramente um símbolo dessa convergência de culturas, porque ele é simultaneamente um oriental e um português”, argumentou o director, frisando que o “respeito pela memória de Camilo Pessanha recomenda que os restos mortais estejam em Macau”. [quote_boc_left]“Não concordo. Já não concordei em mexerem na campa dele, também não concordo que o tirem daqui” – Ana Jorge, bisneta do poeta[/quote_box_left] Recordar é viver Yao Jingming, professor associado do Departamento de Português da Universidade de Macau (UM) que traduziu vários poetas, incluindo Pessanha, é outra voz contra a possibilidade de trasladação. “Acho que não é justificável levar o corpo dele para Portugal”, apontou o também poeta. Camilo Pessanha “pertence a esta terra”. A concordar com a ideia está a directora Departamento de Português da Universidade de São José, Maria Antónia Espadinha, apesar de admitir perceber o pedido de trasladação. “Não tenho nada contra que o poeta vá para o Panteão, mas o que me parece é que viveu tanto tempo aqui, devia estar aqui”, explicou. Em termos simples, para Maria Antónia Espadinha nem sequer “é importante onde o corpo está”, mas sim onde é lembrado. “Compreendia se a família quisesse, mas não é o caso, portanto deixe-se estar onde está”, explicou. A obra, essa, claramente devia ser “mais conhecida” e isso é a única coisa que interessa. “Devemos sim lembrá-lo, a obra e a pessoa”, defende. Apesar das suas excentricidades, diz, há uma tendência actual para conhecer quem foi este poeta. “O que vale é a obra e a pessoa que fez a obra. Onde estão os restos mortais, não interessa”, reforçou, acrescentando que o pensamento português “é bonito”, mas não faz sentido neste caso. Cair no exagero Carlos Ascenso André levanta ainda outra questão, relativa à escolha das personalidades para o Panteão Nacional. “Sou uma daquelas pessoas que entendem que o Panteão Nacional não pode ser, agora, demasiado banalizado. Apesar de todo o respeito que tenho por Camilo Pessanha, no conjunto de todos os poetas portugueses, este poeta não será dos primeiros a justificar ir para o Panteão”, argumentou. Esta decisão teria de ser “muito discutida”, caso contrário Portugal começa a correr o risco de “toda a gente ir parar ao Panteão Nacional”. “Têm de ser grandes símbolos de portugalidade”, apontou, dando como exemplo Amália Rodrigues e Eusébio da Silva Ferreira. “Quantos grandes escritores há, de Língua Portuguesa, que não vão para o Panteão Nacional? Acho que o próprio Camilo Pessanha não o quereria. Acho que Camilo queria ficar ligado para sempre a Macau”, rematou. Trasladação pedida por poetas. AR decide à frente da família A proposta para a trasladação recolhe a assinatura de seis homens das letras. António Feijó, vice-reitor da Universidade de Lisboa, o administrador da Fundação Calouste Gulbenkian, Guilherme de Oliveira Martins, e os escritores António Mega Ferreira, Fernando Cabral Martins, Fernando Luís Sampaio e Gastão Cruz são os nomes que fazem o pedido. “Se não estou em erro essa proposta foi avançada pelo António Mega Ferreira”, começa por explicar ao HM o poeta Gastão Cruz. “Foi pensado que faria mais sentido [Camilo Pessanha] estar aqui, condignamente sepultado do que aí [em Macau], no cemitério, um bocado desligado da cultura portuguesa e da literatura”, explica. [quote_box_right]“Camilo Pessanha quis ser um português no Oriente. Quis juntar em si essa dupla realidade, que é uma realidade cultural de Macau. Ele é verdadeiramente um símbolo dessa convergência de culturas” – Carlos Ascenso André, director do Centro de Língua Portuguesa do IPM[/quote_box_right] Apesar de apoiar o processo, Gastão Cruz admite que o tema é “sempre” discutível. “Haverá sempre argumentos para o manter aí, dada a ligação dele a Macau, mas por outro lado também faz sentido estar em Portugal, como grande figura que era”, continua. Ainda assim, a família tem sempre uma palavra a dizer, mesmo sendo uma família de grau afastado. O poeta acredita que até seria possível discutir o assunto com a bisneta e tetranetos de Pessanha, mas a família seria sempre a última a decidir. O mesmo acontece com a Assembleia da República (AR). Fonte do parlamento indicou ao HM que em última instância é “sempre a AR que decide”, mas que em “tempo algum existiu um caso em que a decisão da AR fosse contra a da família”. “Este seria o primeiro caso”, rematou. O Ministério da Cultura indicou ainda ao HM, através do gabinete de comunicação, que deu um parecer positivo à proposta, sendo que agora tudo depende da comissão parlamentar que a avalia. Este ano assinalou-se o 90º aniversário da morte do autor. Durante o mês de Março, Camilo Pessanha, que viveu em Macau 32 anos, foi recordado através de várias iniciativas, algumas organizadas pelo Festival Literário Rota das Letras, que dedicou parte do evento ao poeta.
Joana Freitas Manchete SociedadeMorte Cerebral | Médicos vão ter de fazer curso a cargo dos SS Depois de terem sido publicados os critérios sobre a morte cerebral, surgem novas directivas que exigem a formação dos médicos num mínimo de oito horas, em cursos dados pelos Serviços de Saúde [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s médicos de Macau vão ter que tirar um curso para poderem determinar a morte cerebral. Um despacho ontem publicado em Boletim Oficial, assinado por Lei Chin Ion, indica que só depois da formação é que estes profissionais são qualificados para tal. Os cursos terão de ter “não menos do que oito horas de duração” e têm de incluir, para além de formação prática e teórica, o domínio de conhecimentos, metodologias e técnicas como o conceito da morte cerebral e seu desenvolvimento, a anatomia do tronco cerebral, as dificuldades na determinação da morte cerebral, a determinação da morte cerebral em crianças e a legislação e critérios aplicáveis à morte cerebral, estes publicados recentemente. A formação fica a cargo dos SS, como indica o director do organismo no despacho. “A qualificação é obtida após a conclusão, com aproveitamento, de um curso especializado de determinação da morte cerebral a realizar pelos SS”, indica, não explicando, contudo, quem serão os médicos ou entidades responsáveis pelo ensino. No ano passado, os SS não responderam ao HM sobre a existência ou falta de médicos formados para o transplante de órgãos, nem quantos existiriam. Das regras O despacho ontem publicado indica ainda que a determinação da morte cerebral deve ser realizada, conjuntamente, por dois médicos especialistas qualificados, “um dos quais tem de ser médico de categoria igual ou superior à de médico consultor”. Os médicos que efectuam a determinação da morte cerebral não podem pertencer a equipas envolvidas no transplante de órgãos ou tecidos, nem devem pertencer ao serviço em que o doente esteja internado e há ainda novas regras dadas a conhecer: o intervalo entre os segundos exames para definir a morte, que são efectuados quatro horas depois do primeiro conjunto de testes, é alargado a 12 horas para doentes com idades entre o um e os três anos e é de 24 horas para doentes com idades inferiores a um ano. No caso das crianças, tem de ser um médico pediatra a definir a morte e os restantes ficam a cabo de um médico especialista em neurologia, neurocirurgia, anestesiologia, medicina interna, medicina de urgência ou com experiência de cuidados intensivos. Segundo o despacho, as novas directrizes entram em vigor a partir de dia 23 de Outubro deste ano. Recentemente, foram dadas a conhecer as regras para determinar a morte cerebral no que foi um passo em frente face à implementação de transplante e doação de órgãos.
Joana Freitas Manchete SociedadeCanídromo | Uma centena de emails a pedir encerramento enviada à DST Só este mês chegaram ao Turismo mais de 50 pedidos para fechar o Canídromo. O mar de missivas para acabar de vez com o espaço não pára de aumentar. Entretanto,está quase concluído o estudo que prometeu ajudar a decidir sobre o encerramento do Canídromo, mas a principal impulsionadora do movimento para encerrar o espaço, a ANIMA, ficou de fora das opiniões [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Direcção dos Serviços de Turismo (DST) já recebeu uma centena de emails a pedir o fim do Canídromo. Os dados, fornecidos ao HM pelo organismo, dizem respeito a correio enviado desde Julho do ano passado até este mês. “De Julho passado até agora, recebemos cerca de cem emails sobre o Canídromo e as corridas de galgos”, começa por indica a DST, numa resposta face à questão de quantos emails pediam o encerramento do Canídromo da Yat Yuen. “A DST tem encaminhado, ou vai encaminhar, os pedidos à Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) e ao Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) para informação e seguimento.” Ao que o HM apurou através do grupo Stop Exporting Ireland Greyhounds to China, na rede social Facebook, têm sido vários os activistas que estão a enviar emails no sentido de pressionar o Governo de Macau para fechar o espaço de corridas, devido às contínuas alegações de maus tratos aos galgos e à eutanásia de mais de 30 destes cães por mês, como indicam associações de amigos dos animais e como se pode ver no site do próprio Canídromo. Pressão contínua Os activistas pedem na página que se continue a pressionar a DST, depois de terem conseguido impedir que 24 galgos chegassem a Macau na semana passada, vindos da Irlanda. A Austrália, recorde-se, baniu a exportação devido às más condições e a Irlanda seguiu o exemplo mas apenas para a China continental, deixando Macau de fora. De acordo com a informação prestada pela DST, que respondeu rapidamente ao pedido do HM, a maioria dos casos chegou esta quarta-feira: até às 18h10 foram 51 os emails recebidos, mais do que de 13 de Julho a 31 de Dezembro do ano passado, quando chegaram à DST 37 emails. Ontem, mais alguns terão chegado. O transporte destes galgos para o território tem tomado conta das páginas de jornais em todo o mundo, numa pressão internacional sem precedentes para a imagem de Macau. Actores conhecidos, como Ricky Gervais, já pediram que se acabe com a exportação e que se feche o Canídromo. ANIMA não foi ouvida em estudo já concluído sobre Canídromo Está quase concluído o estudo que prometeu ajudar a decidir sobre o encerramento do Canídromo, garantiu ontem Davis Fong da Universidade de Macau (UM), que diz que o “problema vai ser resolvido este ano”. Contudo, apesar de assegurar que todas associações de protecção animal foram ouvidas, a verdade é que a principal impulsionadora do movimento para encerrar o espaço, a ANIMA, ficou de fora. A Yat Yuen, companhia do Canídromo, viu o seu contrato expirado em 2015 ser renovado por mais um ano devido a um “estudo” pedido pelo Governo, que evocava a tradição de mais de 50 anos do Canídromo que dizia que este não podia fechar “de um dia para o outro”. Esse estudo está quase concluído, assegurou Davis Fong, director do Instituto de Estudos sobre a Indústria do Jogo da UM. A proposta preliminar do estudo “já está basicamente concluída e o problema vai ser resolvido este ano”, disse no programa Macau Talk do canal chinês da Rádio Macau. Fong não se descai sobre a conclusão da análise: sobre se o espaço é para manter ou encerrar, o académico nada diz, referindo apenas que “a proposta preliminar do estudo de avaliação tem agora de ser compreendida pelo Governo” e que é “preciso tempo” para tal. Mas Davis Fong nota que “o problema será resolvido este ano, uma vez que a prorrogação do contrato de concessão vai terminar” em Dezembro. O director diz ainda que fez relatórios sobre as opiniões dos moradores da zona, investigação in loco, nas lojas, nos arquivos e recolheu ainda as sugestões e os comunicados das associações de protecção animal, bem como documentos de reclamação recebidos pelos departamentos governamentais”. Exclusões A verdade, contudo, é que a ANIMA – Sociedade Protectora dos Animais não foi ouvida pela UM, como confirmou o presidente, Albano Martins, ao HM. A ANIMA foi a grande impulsionadora do movimento para fechar o Canídromo. Para o responsável do organismo, que tem até estatuto de entidade pública, a razão é desconhecida. “Não sei. Não percebo, não sei dizer. Eles dizem que leram cartas e sugestões de associações, talvez tenham lido as nossas”, referiu ao HM. Este jornal tentou perceber a razão junto de Davis Fong, mas não foi possível estabelecer contacto. Albano Martins vai encontrar-se em Junho com o Ministro da Agricultura irlandês para tentar travar a exportação de cães. Já Angela Leong, directora-executiva da Sociedade dos Jogos de Macau (SJM) que detém a Yat Yuen, apresentou vários propostas para o desenvolvimento de pequenas e médias empresas e de indústrias culturais e criativas no Canídromo.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaCorrupção eleitoral | Ella Lei exige perda do estatuto de deputado. Pedidos mais assentos A deputada Ella Lei exigiu a perda do estatuto de deputado em casos semelhantes ao que envolveu membros da associação ligada a Chan Meng Kam, Si Ka Lon e Song Pek Kei, acusados pelo tribunal de compra de votos. Vários deputados dizem que a revisão da lei não contempla actos de corrupção fora do sufrágio directo [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oi uma farpa a evocar o que aconteceu nas eleições legislativas de 2013 e que visou de forma quase directa os colegas do hemiciclo Chan Meng Kam, Si Ka Lon e Song Pek Kei. A deputada Ella Lei defendeu ontem que um deputado eleito deve deixar de o ser caso se comprove que a associação à qual está ligado cometeu actos de corrupção eleitoral. “Quando há uma decisão do tribunal a dizer que os apoiantes de um candidato participaram em actos ilegais os votos a favor desse candidato não devem ser contabilizados. Há um vazio legal e quando esses apoiantes cometerem acções ilegais esse candidato não deve ser considerado como um deputado eleito, mesmo que não tenha participado de forma directa nesses actos. Temos de colocar em causa a legitimidade da eleição do deputado. Há procedimentos que devem ser incluídos para garantir a destituição do deputado”, disse Ella Lei no âmbito de uma sessão de auscultação de opiniões dos deputados sobre a revisão da Lei Eleitoral para a Assembleia Legislativa (AL). Kou Peng Kuan, director dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), afastou a possibilidade de inserir essa punição na nova proposta de lei. “Isso está dependente da Lei Básica e do estatuto dos deputados. Mesmo em Hong Kong e Taiwan a perda do estatuto de deputado depende também se esse deputado estiver envolvido directamente nesses actos ilegais”, referiu. Chan Meng Kam e os seus parceiros políticos não estiveram presentes na sessão de auscultação. Em Julho do ano passado o tribunal considerou culpados do crime de compra de votos dois membros da Aliança do Povo de Instituição de Macau, base eleitoral e associativa dos três deputados. Chan Meng Kam queixou-se de “perseguição política”. Corrupção por todo o lado Vários deputados consideraram que a proposta de revisão apresentada pelo Governo não contempla os actos de corrupção no sufrágio indirecto e até no sistema de nomeação dos deputados pelo Chefe do Executivo. “Não são suficientes as alterações, pois a corrupção não existe apenas no sufrágio directo. Não há oferta de jantares no sufrágio indirecto e até mesmo na nomeação de deputados? Não houve casos, mas não se pode prever o futuro. Tem de haver normas para os três sufrágios”, disse Au Kam San. Leong Veng Chai, número dois de José Pereira Coutinho, questionou se para além da oferta de jantares e prendas não haverá mais problemas. “Os outros actos não são considerados crimes eleitorais? Não vejo aqui uma revisão dos procedimentos do sufrágio indirecto, pois neste sufrágio também há possibilidade de ocorrer corrupção eleitoral, e o documento só prevê a existência de corrupção no sufrágio directo”, frisou. Kou Peng Kuan negou essa acusação, referindo que é impossível controlar e proibir todas as actividades levadas a cabo pelas associações. “Não é possível proibir todas as actividades porque não podemos proibir o direito de associação. Se alguma associação quiser realizar essas actividades terá de pedir autorização à Comissão Eleitoral. O texto não se foca apenas nos actos ilícitos do sufrágio directo.” Deputados exigem mais assentos no hemiciclo [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s deputados consideraram ontem que a Assembleia Legislativa (AL) deve ter mais assentos pela via directa e até indirecta, por forma a garantir uma maior representatividade. “Deve aperfeiçoar-se o regime do sufrágio indirecto para que seja reforçada a justiça nas eleições, mas não vejo nada neste texto”, alertou a deputada directa Angela Leong, referindo-se à revisão proposta pelo Executivo para a Lei Eleitoral. “Tendo em conta o crescimento demográfico há mais solicitações por parte da sociedade e deve ser aumentado o número de vagas do sufrágio indirecto e directo. O sufrágio indirecto tem como objectivo representar os diversos sectores da sociedade e estão a surgir mais sectores. Actualmente o sufrágio indirecto apenas representa quatro sectores e isso é insuficiente. Temos de aumentar o profissionalismo e a representatividade na AL”, acrescentou. O deputado José Pereira Coutinho defendeu que a falta de novos assentos pela via directa levou a mais actos de corrupção. “Nos últimos anos verificou-se uma maior participação da população e devem ser aumentados os assentos no sufrágio directo. A falta de assentos directos originou actos de corrupção que carecem de uma investigação profunda”, disse. Democracia ainda não Os deputados Ng Kuok Cheong e Au Kam San voltaram a alertar o Governo sobre a necessidade de implementar o sufrágio universal nas eleições, mas os colegas eleitos pela via indirecta e nomeados garantem que Macau não é como Hong Kong. “Desde o retorno à pátria que toda a população conseguiu participar nas eleições. O progresso gradual do sistema democrático satisfaz as solicitações da população. Não é adequado fazer uma reforma rápida do nosso sistema democrático. Em Hong Kong a situação é diferente e cada país tem o seu modelo. A Lei Básica não diz que temos de ter uma eleição universal. Temos de ver a situação real de Macau”, referiu Sio Chio Wai. Já Lau Veng Seng fez uma referência aos movimentos do Occupy Central. “A RAEM está a atravessar um período diferente na economia e não nos devemos envolver em conflitos ou disputas relacionadas com o desenvolvimento político.” Coutinho diz não entender “limitação” a cargos A nova Lei Eleitoral deverá prever que os “deputados à AL não podem ser titulares de cargo político de outro país durante o mandato”. O deputado José Pereira Coutinho, que foi candidato à Assembleia da República pelo partido português “Nós! Cidadãos” disse “não entender a limitação”, referindo que a Lei Básica nada prevê sobre o assunto. O deputado disse anteriormente que a nova alteração era uma perseguição política à sua pessoa.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaEdifício de Doenças | Empresa privada fez análise ambiental. Orçamento já acima dos 630 milhões Os Serviços de Saúde decidiram contratar uma empresa privada para realizar o relatório de impacto ambiental do futuro edifício de doenças infecto-contagiosas. À DSPA apenas coube o trabalho de analisar as conclusões. O relatório diz que o futuro edifício não trará grandes impactos ambientais. O Governo admite que o preço do centro vai ficar acima dos 630 milhões, mas não tem orçamento [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]construção de um edifício de doenças infecto-contagiosas foi o tema discutido na tarde de ontem na Assembleia Legislativa (AL), num debate marcado pela repetição de argumentos e dúvidas sobre o projecto (ver texto secundário). O Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, entregou aos deputados o “relatório de avaliação do impacto ambiental no edifício de serviços médicos especializados (doenças transmissíveis)”, o qual foi elaborado por uma empresa privada, uma adjudicação feita pelos Serviços de Saúde (SS). À Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) coube apenas o trabalho de análise das conclusões. A 12 de Maio, este organismo, liderado por Raymond Tam, referiu que “o conteúdo do relatório de avaliação do impacto ambiental sobre a primeira fase das obras de ampliação do Centro Hospitalar Conde de São Januário está em conformidade com os pareceres técnicos constantes nos ofícios desta Direcção e as exigências técnicas relativas à avaliação em questão”, lê-se no relatório. Questionado durante o debate sobre o assunto, Alexis Tam, não referiu o nome da empresa e garantiu tratar-se de um procedimento normal na Administração. “Cada serviço faz dessa maneira e tem de se fixar primeiro o conteúdo e o enquadramento e só depois, com a concordância da DSPA, avançamos para o concurso público. Fizemos tudo de acordo com as formalidade e a empresa fez a avaliação com base em sete vertentes”, explicou. O deputado José Pereira Coutinho questionou a adjudicação do trabalho a uma empresa privada. “O relatório de impacto ambiental diz que a 12 de Maio a DSPA elaborou as opiniões a esse pretexto. Porque é que o hospital incumbiu uma empresa privada para elaborar esse relatório, que depois foi encaminhado para a DSPA?”. Poucos estragos O relatório confirma que o futuro edifício de doenças “não terá um impacto global significativo em relação à qualidade do ar”. “Aquando do funcionamento do edifício o aumento de concentração de poluição provocada pelo aumento do tráfego não será evidente, julgando-se um impacto mínimo conforme o estudo”, garante o documento. “Os principais edifícios ao redor do presente projecto são altos e desenvolvidos com alta densidade. A compatibilidade e a integridade com o ambiente em geral são boas (…). Devido ao impacto de bloqueio dos edifícios construídos em redor, o grau de impacto no miradouro não é evidente, mas haverá alterações na vista para quem se encontra no Centro Hospitalar Conde de São Januário, algumas estradas de transito, parques, praças e demais áreas”, acrescenta o relatório. Muralha protegida O relatório de impacto ambiental alerta para a necessidade de proteger a muralha histórica que está localizada perto do Hospital Conde de São Januário, e Alexis Tam garantiu que essa sugestão vai ser seguida. “Quanto à muralha, já fizemos uma visita ao local. Vai haver uma certa distância entre o edifício e a muralha, e esta não vai ser prejudicada. Já adoptamos todas as medidas e podem ficar descansados”, alertou o Secretário. Deputados querem calendário e orçamento, que não existem Os deputados continuam a ter dúvidas em relação ao futuro edifício de doenças infecto-contagiosas que será construído junto ao Complexo Hospitalar Conde de São Januário. Os membros do hemiciclo questionaram Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, sobre a ausência de um orçamento concreto e até de um calendário para a conclusão do projecto. O projecto, sabe-se agora, vai custar mais do que o orçamento previsto inicialmente, de mais de 600 milhões de patacas. O Secretário foi ainda acusado de não dispor de um plano concreto em relação ao número de camas ou de ter levado a cabo “falsas” auscultações públicas. O deputado Ng Kuok Cheong chegou mesmo a entregar uma carta a Alexis Tam com dúvidas de residentes sobre o projecto. Alexis Tam manteve até ao fim do debate a ideia de construir o edifício na península de Macau e não no Cotai, como muitos têm vindo a defender. “A auscultação não foi falsa, nunca parámos de trabalhar. Só dois moradores dos edifícios é que levantaram dúvidas nas sessões que organizámos. A maior parte da população concorda com a decisão do Governo e sabe que o São Januário tem de ser ampliado. Nunca mudámos as nossas informações. O projecto não vai afectar as residências e o que estamos a fazer é correcto”, garantiu. O Secretário disse ainda “lamentar” o facto de não dispor de um orçamento concreto para o edifício, que deverá ser superior a 630 milhões de patacas. “A minha tutela não é responsável pela construção, orçamento ou data de finalização, terão de perguntar ao Secretário Raimundo do Rosário (das Obras Públicas e Transportes). A outra tutela conhece a situação melhor que nós e lamento isso”, apontou. “Passados dois ou três meses poderemos entrar noutra fase e poderemos avançar com mais informações sobre o custo e prazo de conclusão da obra”, disse Alexis Tam. Troca de galhardetes O debate ficou ainda marcado pela intervenção do deputado nomeado Fong Chi Keong. “O senhor Secretário não é especialista e tem de ouvir as opiniões dos moradores. Na imprensa só há opiniões de apoio ao Governo mas essas informações são falsas. Não fique contente com isto, parece que tem sempre razão e nós só dizemos palavras inúteis. As preocupações da população são falsas? Naturalmente que vive em Sai Van, junto da Penha, mas os que vivem junto do hospital têm outras preocupações. Eu também vivo numa casa grande e não tenho preocupações mas temos de ouvir as opiniões dos outros”, acusou. Alexis Tam respondeu à letra: “Não sou especialista mas o senhor deputado também não é. Esta não foi uma decisão pessoal. Um total de 57 associações da área da saúde mostraram apoio ao projecto do Governo. Não fomos nós que pedimos às pessoas para nos apoiar. Se calhar devemos mudar a nossa posição e pensar que em cada quilómetro temos cerca de 20 mil residentes. Precisamos de construir este edifício junto ao São Januário. A população apoia o nosso projecto e a sua posição é errada”, assumiu. O deputado Chan Iek Lap, eleito pela via indirecta e médico, aplaudiu a intervenção do Secretário.
Joana Freitas Manchete PolíticaEUA/Presidenciais | Sheldon Adelson vai doar “cem milhões ou mais” a Trump O magnata da Sands disse publicamente estar disposto a contribuir com mais dinheiro para eleger Donald Trump do que aquele que doou em qualquer outra campanha. E a ajuda não se fica por mais de cem milhões de dólares: Sheldon Adelson diz que este é o homem que os EUA precisam, mesmo que “não se concorde” com algumas coisas que ele diz [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s EUA precisam de alguém “forte” na liderança e esse alguém é Donald Trump. É a opinião bem vincada de Sheldon Adelson, o magnata dos casinos da Sands, com casinos em Macau, que justifica assim a doação de mais de cem milhões de dólares que poderá atribuir àquele que é um dos candidatos mais polémicos da corrida presidencial norte-americana. Em 2012, Sheldon Adelson tornou-se o maior dador republicano de sempre, depois de doar entre 98 e 150 milhões de dólares americanos aos candidatos do partido que apoia. Mas este montante incluiu a corrida ao congresso e à presidência. Agora, o magnata está disposto a bater um novo recorde: mais de cem milhões de dólares apenas para Trump e a sua candidatura presidencial, como reportou o New York Times a semana passada. E Sheldon Adelson explica, ele próprio, porquê. “[Entre tantos candidatos], um ganhou a corrida e agora os Republicanos têm de se juntar de forma a garantir que ele vença na etapa seguinte. Enquanto as primárias ainda têm algumas eleições importantes pela frente, está claro que Donald Trump será o Republicano nomeado para presidente”, começou por escrever numa coluna de opinião no jornal Washington Post. “Eu apoio publicamente Trump para a presidência e recomendo fortemente os meus colegas Republicanos – especialmente os oficiais eleitos através do Partido Republicano, os leais ao Partido e aqueles que fornecem um importante apoio financeiro – a fazerem o mesmo.” A opinião de Adelson continua, considerando “assustador” a alternativa à presidência se não Trump. Num longo parágrafo onde critica Barack Obama – o homem que “conseguiu atingir os seus objectivos em muitos assuntos, ainda que estes não fossem os objectivos dos EUA” -, Adelson diz que é preciso colocar na Casa Branca alguém com um “R” (de Republicano) atrás. Esta é, assegura, a única forma de melhorar a situação. E essa oportunidade “ainda existe”. “Sinto realmente que alguém com nível de experiência como CEO está suficientemente bem treinado para o trabalho de presidente. Isso é exactamente o que temos com Trump: ele é um candidato com experiência como CEO, moldado pelo compromisso e risco de utilizar o seu próprio dinheiro em vez do do público. Ele é um CEO com uma história de sucesso, que exemplifica o espírito de auto-determinação americano, compromisso para uma causa e boa gestão de negócios.” Sheldon Adelson não menciona, por exemplo, as mais de duas dezenas de negócios montados por Donald Trump que não foram, de todo, “bem geridos”. Notícias correntes na imprensa norte-americana mostram esses casos – aliás motivo de chacota nos mais populares programas de comédia na televisão. São os bifes de Trump (um ano em funcionamento), o Trump Game (igual ao Monopólio, mas versão Trump, menos de um ano em produção), um restaurante (três meses), um motor de busca de viagens (um ano), água Trump Ice (menos de um ano), uma revista que durou dois anos e até uma universidade que acabou processada por diversos alunos porque, durante os seis anos em que funcionou, nunca conseguiu cursos acreditados. [quote_box_left]Menos de 0,01% é o valor do apoio de Adelson a Trump quando comparado com o valor das receitas totais do ano passado da Sands, já que só a Sands China obteve lucros líquidos de 1,45 mil milhões de dólares em 2015[/quote_box_left] Comer no prato que cuspiu Apesar de alguns problemas nos negócios, a verdade é que Donald Trump foi sempre, de acordo com ele próprio e com média norte-americanos, “auto-financiado” na sua corrida à Casa Branca. Até porque “ele conseguiu alienar muitos dos seus doadores” devido a comentários menos próprios, como realça a imprensa dos EUA. “Para começar a ter mais recursos [financeiros], Trump terá de ser mais activo em conseguir conquistar doadores que isolou durante as primárias”, escreve a CNN. “Charles e David Koch (dois dos maiores apoiantes das presidenciais) não parecem querer apoiar Trump. Charles Koch, em particular, foi publicamente crítico sobre a forma de candidatura de Trump durante as primárias.” Esses comentários não passam sequer pela forma como Donald Trump fala das mulheres, ou da contínua ideia de construir um muro que separe o México do país. Os comentários foram dirigidos precisamente às figuras que agora poderão apoiar o candidato. “Trump foi claro durante a campanha, criticando os oponentes que esperam os ‘super PACS’ e dizendo que eles estavam a ser comprados por doadores ricos”, relembra o Wall Street Journal, referindo-se aos comités organizados para receber somas de dinheiro ilimitadas de empresas, indivíduos e uniões sem contribuírem directamente com o Partido ou os candidatos. Trump dizia mesmo que o poder da sua campanha centrava-se no facto de ser “auto-financiado” e que isso acontecia porque as contribuições “têm um efeito de corrupção nos oficiais do governo”. Palavras que justificava com o facto de ser “um dos maiores doadores ricos a fazer essa compra”, como relembra o site MSNBC. Nem Sheldon Adelson escapou. Quando o magnata apoiou Marco Rubio, Donal Trump não foi meigo. “Ele está a apoiar Marco Rubio para moldá-lo, para que ele seja a sua pequena marioneta”, escrevia o candidato em Novembro do ano passado, acrescentando no início deste ano que “os americanos não têm de se preocupar com esses ricos a dizer ao Trump o que fazer, porque ele não quer – e não recebe – o dinheiro deles”. Apesar da retórica, a ira contra os ‘super PACS’ parece ter amainado, tal como a contra os “doadores ricos”: Donald Trump vai ser apoiado em “cem milhões de dólares ou mais” por Sheldon Adelson e a contribuição deverá ser feita precisamente através de ‘super PACS’. A reacção de Trump quando confrontado pelos jornalistas? “Eu sei que as pessoas gostam de mim e formam um super PAC, mas eu não tenho nada a ver com isso. Vamos ser o que acontece”, disse à NBC News. O dinheiro, escrevem analistas citados pela imprensa americana, é agora um ponto vital na corrida de Trump. É que, para combater Hillary Clinton na corrida geral à Casa Branca, Donald Trump deverá precisar de “700 milhões a mil milhões de dólares”. Trump tem neste momento cerca de 11 milhões de votos, precisando de cerca de 50 a 60 milhões para vencer. As eleições são em Setembro. [quote_box_right]“Ele [Sheldon Adelson] está a apoiar Marco Rubio para moldá-lo, para que ele seja a sua pequena marioneta” – Donald Trump, em Novembro de 2015[/quote_box_right] Jogo, ódio a Obama e Israel – Que interesses estão por trás dos apoios? [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]encontro entre Adelson e Trump de onde surgiu a notícia do apoio aconteceu há duas semanas em Manhattan. Desde então, o magnata do jogo tem insistido na necessidade de se juntarem a ele todos os republicanos possíveis, que ainda estão de pé atrás com Trump. “Apesar de ter sido o neto de um mineiro e filho de um taxista, tenho muito experiência em ser parte de quase meia centena de diferentes negócios nos meus mais de 70 anos de carreira. (…) Ganhei o direito de falar sobre liderança e sucesso. Podem não gostar do estilo de Trump, ou daquilo que ele diz no Twitter, mas este país precisa de uma liderança executiva forte hoje em dia, mais do que em qualquer outro período na sua história”, escreveu Adelson na opinião publicada no Washington Post. Mas, que interesses estão por trás do apoio a Trump? Primeiro, o “ódio” que Sheldon Adelson já manifestou contra Obama e a visão de que Hillary poderá ser a sua substituta mais parecida. “Se os Republicanos não se juntarem no apoio a Trump, Obama vai, basicamente, ter algo que a Constituição não permite – um terceiro mandato em nome de Hillary Clinton. Passei algum tempo a falar com Donald Trump. Se concordo com ele em todos os pontos? Não. Mas é natural que nenhum americano concorde com o seu candidato preferido em todos os assuntos”, defendia Adelson na semana passada. Outra das razões pode ser o interesse de Trump nos casinos. Como recorda a NewsWeek, Adelson é conhecido por apoiar políticos que poderão ajudar nos seus negócios de jogo, ainda que os casinos não pareçam ser o ponto forte do candidato à presidência. Trump declarou falência de três propriedades em Atlantic City: primeiro o casino Trump Taj Mahal, em 1991, depois de um ano em operação. Depois, em 2004, foi a vez do Trump Marina e o Trump Plaza. Depois disto, a Trump Hotels e Casino Resorts decidiu mudar para Trump Entertainment Resorts. Quatro anos depois, também esta empresa faliu. E depois há a questão de Israel. Um dos cavalos de batalha de Adelson, judeu, a segurança de Israel é uma das maiores preocupações do magnata e parece ser, agora, também a de Trump, que Adelson considera ser “bom para Israel”. Mas a situação é confusa. “Durante toda a corrida vimos reviravoltas que não eram suposto acontecer. Uma das maiores razões de Adelson para apoiar Trump é o grande apoio a Israel, ainda que Trump tenha feito comentários no passado que deveriam fazer os zionistas preocupar-se com tal presidência. Mas também já vimos as ideias de Trump mudar em diferentes eventos públicos”, frisou Myles Hoenig, activista e analista político, em declarações à Press TV. Unidos por muros Trump chegou a fazer comentários contrários sobre a questão Israel-Palestina, mas a última declaração pública é favorável à ideia de Sheldon Adelson. E mais uma vez, Trump usa-se a si próprio como exemplo. “Acontece que eu tenho um genro e uma filha que são judeus ok? E dois netos que são judeus.” Para Hoenig, a liderança republicana sempre foi muito pró-Israel, mas também os democratas o têm sido, como refere, frisando que Hillary Clinton até é a candidata que mais apoia o país e que é activa nas suas acções para tal. Mas, para o activista, a dúvida não existe: por que razão Adelson apoia Trump? “Não é só para promover a conversa sobre Israel, mas para mostrar a oposição a todos os aspectos levantados por Obama nestes últimos oito anos. Obama é visto como uma oposição a Israel nas decisões que toma, mas ele apoiou o país em tudo o que fez e até cobriu crimes israelitas contra o povo palestiniano”, diz o analista, assegurando que, seja como for, a política dos EUA face a Israel não deverá mudar. Uma das coisas que os dois milionários parecem ter certamente em comum é a ideia de construir um muro: Trump tem um planeado para o México. Adelson sugeriu construir “um grande, maior do que já existe”, para manter os palestinianos fora de Israel. Wynn amigo de Hillary Clinton? Dentro da política é habitualmente conhecido o papel de Sheldon Adelson como um dos grandes doadores, mas Steve Wynn também pondera apoiar alguém. Ainda que o nome do empresário do jogo, dono do Wynn em Macau e com um novo complexo a nascer no Cotai, não seja tão sonante nos meandros da candidatura, duas coisas são bem conhecidas: Steve Wynn “desaprova Barack Obama”, ao ponto de o comparar ao ex-presidente Richard Nixon, envolto num escândalo de escutas. Mas, ao contrário de Adelson (ver texto principal), o facto de Wynn não gostar de Obama pode não o impedir de apoiar Hillary Clinton, candidata pelos Democratas. Wynn assegura ter tido um “jantar charmoso com Clinton”, ainda que social e “não político” e que não descurava a eventualidade de apoiar a candidata, numa entrevista ao canal de televisão PBS. Do conhecimento público é também que Wynn não está nos melhores termos com Adelson ou Trump. Muito por causa dos negócios de casinos, já que o candidato republicano foi considerado, em tempos, provável competição de Wynn em Atlantic City. Quem apoia quem? Hillary Clinton: apoiada por Ben Affleck, Christina Aguilera, Tony Bennett, Drew Barrymore, Bon Jovi, Mary J. Blige, George Clooney, Bryan Cranston, Leo Dicaprio, Ellen Degeneres, Cher, Jesse Eisenberg, Morgan Freeman, Lady Gaga, Robert De Niro, Richard Gere, Tom Hanks, Ben Harper, Elton John, Beyoncé, Katy Perry Donald Trump: apoiado por Hulk Hogan, Sarah Pallin, Stephen Baldwin, Azealia Banks, Kid Rock, Dennis Rodman, Mike Tyson Bernie Sanders: Rosario Dawson, Danny De Vito, Mark Ruffalo, Danny Glover, Spike Lee, Seth MacFarlane, Michael Moore, Susan Sarandon, Red Hot Chilly Peppers,
Manuel Nunes Desporto MancheteSporting de Macau | Dois jogadores saem do clube, um deles despedido [dropcap style=’circle’]D[/dropcap]e uma assentada, saltaram dois jogadores do Sporting Clube de Macau (SCM). Um foi despedido, o outro despediu-se há umas semanas. Um não queria tomar banho, o outro não aceitava ordens, segundo apurámos junto de João Maria Pegado, treinador dos leões. Os jogadores em causa são o defesa central Vítor Almeida e o avançado Taylor Gomes. A notícia foi veiculada ontem em comunicado da direcção do clube, que se escusou a fazer comentários remetendo-os para o treinador. Da direcção ficou-se apenas a saber a decisão de “terminar o vínculo” com Almeida e a “desvinculação por livre vontade” de Taylor Gomes, por “motivos semelhantes”: não se enquadrarem “nos valores de disciplina, respeito hierárquico, pelo clube e respectiva camisola”. “Foram diversos actos de indisciplina, no campo, a nível táctico e nos treinos. Não dava”, diz João Maria Pegado. Segundo o treinador, Almeida “recusava-se a participar em várias actividades dos treinos” e o jogador “isolou-se do grupo, recusou-se desde o início a tomar banho após os treinos, o que é obrigatório, e também evitou participar nalguns jantares da equipa”. Opinião diferente tem Taylor Gomes, que diz “ter sido sempre bem acolhido por Vítor Almeida”, que até o “ajudou bastante na recuperação de uma lesão”, garantindo que é “um jogador acolhedor”. Taylor acha normal a recusa em tomar banho, pois “as equipas de Macau não têm balneários próprios” e às vezes “têm de ser divididos com outras equipas”, razão pela qual “muitos prefiram ir para casa relaxar”. Face aos jantares, Taylor acha “um argumento falacioso” já que “o Sporting não paga muitos dos jantares (ao contrário de outras equipas) e Vítor esteve sempre nos que o clube pagou”, diz, acrescentando que “para um jogador emigrado, com responsabilidades familiares em Portugal, é natural ter outras prioridades mais importantes do que pagar jantares do bolso só porque o treinador os marcava”. Já Vítor Almeida prefere, para já, o silêncio. “Neste momento não quero falar sobre isso. Direi tudo o que me vai na alma na altura certa. Nunca pensei que passasse por isto e nunca vi isto no futebol. Estou de consciência tranquila e tudo fiz pelo Sporting de Macau e só sei estar de uma forma no futebol e na vida que é respeitar o próximo e ter princípios, mas muitas pessoas desconhecem esses valores”, disse ao HM. Ordens e desordens No comunicado, o SCM aproveitou também para oficializar a desvinculação de Taylor Gomes ocorrida há já algumas semanas. “Foi chamado à atenção no jogo do Benfica e no treino seguinte e teve o descaramento de me dizer que não obedecia a ordens nem dos pais nem dos patrões”, disse João Pegado a propósito do jogador. No caso desse jogo, a ordem era uma técnica de futebol e Taylor terá dito ao treinador para ter calma. O jogador assume as respostas mas chama a atenção para o contexto: “No jogo contra o Benfica, [o treinador] andava descabelado a chamar por mim a toda a hora e, de facto, mandei-o ter calma para que me deixasse jogar futebol.” Após o jogo, diz Taylor, “talvez por não assumir o papel de treinador como deve ser”, terá mandado o treinador-adjunto dizer-lhe que estava aborrecido com ele. “Como não tinha problemas em pedir-lhe desculpa, dirigi-me a ele na primeira oportunidade e ele virou-me a cara”. Depois dessa atitude Taylor confessa ter ficado sem vontade de pedir desculpas mas percebeu que o clima estava estragado mais não fosse por ter ido parar ao banco no jogo seguinte. Numa reunião geral, o treinador terá demonstrado o desagrado, garantindo Taylor ter aproveitado a oportunidade para “demonstrar surpresa por ele ter virado a cara”. Confrontado com a recusa em aceitar ordens, Taylor confirma que o fez, apelando de novo ao contexto. Segundo ele, Pegado perguntou se estaria disponível para acatar ordens. Taylor terá dito “se quiseres dás orientações técnicas, agora ordens não recebo, nem tuas nem de ninguém”, assume. Questionado João Pegado se estas atitudes de indisciplina não teriam sido possíveis de prever antes de contratar os jogadores, o treinador diz que “Taylor já tinha indícios”. “Saiu do Benfica, do Ka I, mas como treinador achei que podia fazer mais dele”, frisa ao HM. Confrontado com estas declarações, Taylor manifesta-se estupefacto: não saiu a mal de nenhum clube, diz, mas sim por opção. Salienta que quando o Sporting foi ter com ele “estava a analisar uma proposta do Ka I mas entendeu que o Sporting seria uma nova experiência”, adiantando ainda ter recebido uma proposta deste clube, na pessoa do treinador Josicler, já depois de representar a equipa leonina, para disputar o Interpor Hong Kong-Macau para os vencedores da “bolinha” dos dois territórios. No caso do Vítor Almeida, José Maria Pegado garante que não tinha essas indicações e foi uma surpresa. “Talvez tivesse sido mal aconselhado. Andava sempre com pessoas de outros clubes”, diz, acrescentando: “quando se apanham boleias para os treinos com um treinador de outro clube, está tudo dito”.
Flora Fong Manchete SociedadeRua dos Mercadores | Substituição de parque infantil por estacionamento não agrada Sorrisos, convívio e actividades desportivas foram trocadas pelo silêncio de um parque de estacionamento. Aquela zona, no coração da Rua dos Mercadores, é agora olhada com tristeza. Nada se pode fazer porque se trata de uma propriedade privada [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]parque infantil e zona de equipamentos desportivos na Rua dos Mercadores, que acolhia várias pessoas durante as tardes, é agora um parque de estacionamento privado de dez lugares que poucas vezes são ocupados. Idosos e crianças, especialmente, foram trocados por veículos. Numa visita ao espaço, o HM percebeu o descontentamento dos residentes. “As crianças estão tristes porque já não podem brincar no seu parque”, começa por dizer Chan, moradora na zona. O neto olha atentamente a avó, enquanto esta continua o discurso. “Não concordo nada com a alteração, claro que preferia um parque de lazer e espaço para as crianças”, respondeu quando o HM lhe perguntou se concordava com a alteração. Chan continua a explicar que “as visitas ao parque com o neto” eram uma constante, algo que deixou de acontecer. E alternativas não existem. “Agora só podemos passear na rua”, frisa. Privados à parte O espaço é propriedade privada, conforme indicou o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) ao HM e, por isso, nada há a fazer. Durante os últimos anos foi aproveitado para lazer com o consentimento do próprio proprietário. O dono concordou em disponibilizar o espaço, mantendo-o disponível para uso público, em troca de uma renda de apenas “várias patacas”. Terminado o contrato, no passado mês de Abril, o proprietário decidiu retomar o terreno para investimento. Para isso o IACM foi obrigado a retirar os equipamentos desportivos e os grafittis na parede que tornavam o espaço colorido. Lou, proprietário da loja mais próxima da área, lamentou a transformação. Para o vendedor de máquinas de costura é compreensível que não se possa fazer nada, sendo uma zona privada, mas é uma “pena que o parque tenha desaparecido”. “Ouvi algumas pessoas criticarem a mudança de zona de lazer para estacionamento, sobretudo as crianças e os idosos que passavam muito tempo por aqui. Qualquer pessoa gosta de ter espaços destes em cidades como esta”, explicou ao HM, apontando, entre sorrisos, que do ângulo comercial é inevitável que isto aconteça. “É natural que o proprietário queira fazer render o seu espaço”, frisou em jeito de cumplicidade. “É um espaço privado, não se pode fazer nada”, rematou. Em acordo total Para Lei Cheok Kuan, presidente da Federação da Indústria e Comércio de Macau Centro e Sul Distritos, são tão necessários espaços de lazer, como parques de estacionamento. Mas o presidente avançou ainda que, na realidade, o Complexo Municipal de S. Domingos tem um parque de estacionamento subterrâneo que nunca é utilizado pela população por causa da falha de construção na saída. “O Governo explicou que a saída não é suficientemente grande para os carros. Mas quando construiu o complexo já se sabia que a rua era estreita. Então porque é que deixou aquele parque ao abandono? Mais vale resolver o problema para que aquele parque seja aproveitado”, argumentou. Com ou sem acordo, um espaço que era de lazer e convívio é agora um parque de estacionamento que, pouco ou nada rentável parece. Por hora o preço é de 15 patacas, mas há um desconto para aqueles que querem estacionar das oito da noite às oito da manhã, em 60 patacas.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeLai Chi Vun | Moradores querem plano de recuperação este ano David Marques, porta-voz dos moradores da povoação de Lai Chi Vun, diz que a reconstrução do estaleiro em ruína pela DSAMA é apenas um trabalho preventivo e pede um plano concreto até chegarem os tufões. Marques pede ainda a união das várias povoações de Coloane para que a ilha continue a ser o que é e fala em problemas de propriedade com os terrenos [dropcap style=’circle’]H[/dropcap]á mais de 20 anos o pai de David Marques, macaense, decidiu juntar esforços e construir uma casa na povoação de Lai Chi Vun. Ajudou também a criar a Associação dos Moradores da Povoação de Lai Chi Vun para recuperar uma zona histórica onde um dia existiu uma indústria naval de construção de juncos. Hoje é o jovem David Marques quem dá a cara pelos cerca de 30 moradores que não querem deixar as suas casas e a sua própria cultura. Em entrevista ao HM, David Marques pede um plano de recuperação concreto para os estaleiros de Lai Chi Vun que seja posto em prática ainda este ano. Os Serviços para os Assuntos Marítimos e da Água (DSAMA) prometeram reconstruir um estaleiro em ruína no prazo de 20 dias, mas o porta-voz exige algo mais. “O Governo apenas está a reagir ao inevitável. Estão a tentar garantir a segurança no local por enquanto, mas assim que houver uma chuva mais forte ou um tufão aquilo vai cair. O que eles estão a fazer é pôr um penso numa ferida que está a sangrar. É certo que estão a evitar a queda da estrutura, mas isso não vai resolver o problema”, disse David Marques, que agradece o trabalho de comunicação entre os moradores e os departamentos do Executivo. David Marques considera que não há uma ideia geral para a reconstrução dos estaleiros. “Aquilo pode colapsar de outra forma”, reiterou. E é por isso que o porta-voz quer que algo seja feito até ao Verão. “Quero que algo seja feito até Junho, porque a época dos tufões vem aí e não sei o que vai acontecer. Estamos habituados a inundações, sei o que fazer para lidar com isso, mas há coisas a cair em cima da minha casa”, ironizou. O porta-voz garantiu que já há propostas à espera de aprovação governamental. “O Governo enviou trabalhadores para resolverem a queda da estrutura apenas num estaleiro. Um proprietário de outro estaleiro já enviou uma proposta de reparação mas tem de passar por outros departamentos do Governo, como a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT). Este caso acabou por se tornar numa emergência e foi por isso que os Serviços para os Assuntos Marítimos e da Água (DSAMA) tiveram de intervir”, explicou David Marques. Problemas de propriedade Actualmente em Lai Chi Vun existem cerca de 16 estaleiros mas não é clara a propriedade de todos eles e por isso é que o Executivo apenas interveio em três. David Marques fala de uma situação que vem desde os idos tempos de 1999. “Em primeiro lugar não há documentos. O Governo disse que poderia recuperar três estaleiros a partir dos proprietários e, segundo os contratos, estão apenas como gestores dos estaleiros e esse contrato está assinado com apenas uma pessoa que tem o direito de usar o terreno com aquela finalidade. Mas com a transferência de soberania essa pessoa decidiu vender o terreno a outra para receber dinheiro. O dono vendeu ao cliente A. Esse cliente acreditou que o terreno lhe pertencia e vendeu ao cliente B, que depois vendeu ao cliente C. O cliente C ainda está vivo. Este vai ao Governo porque quer reabilitar a zona, mas o Governo pergunta: ‘quem é o senhor?’” O porta-voz dos moradores traça dois cenários possíveis. “Ou se espera pela morte dos proprietários ou os estaleiros ficam completamente destruídos com um tufão e aí o Governo pode recuperar os terrenos. O Governo legalmente não pode fazer nada enquanto os estaleiros tiverem a cobertura e a estrutura, por causa dos contratos, mas pode reaver os terrenos. Assim que toda a estrutura cair, os terrenos vão para as mãos do Governo. Por isso é que este caso está a gerar tanta tensão. Nós queixamo-nos porque a nossa vida está em perigo e alguém tem de fazer alguma coisa.” Apenas cinco anos Em 2012 o Conselho Consultivo para o Reordenamento dos Bairros Antigos, já extinto, chegou a apresentar um plano para o desenvolvimento de Lai Chi Vun, mas nada mais foi feito. David Marques prevê que daqui a cinco anos os estaleiros possam vir a desaparecer por completo. “Os estaleiros estão construídos como se fossem um dominó, então a ruína do primeiro causou estragos aos restantes. Esses estaleiros foram bem construídos e por isso têm durado tanto tempo. Penso que talvez daqui a cinco anos vão acabar por cair todos, devido às condições climatéricas. Para haver preservação dos estaleiros já deveria ter sido feita, agora estamos numa fase em que não conseguimos preservar nada. Podemos preservar a memória, há poucos homens que ainda sabem como fazer barcos e trabalhar a madeira, mas não ensinam mais ninguém e já têm cerca de 60 anos”, acrescentou. O estudo do conselho consultivo propunha dar ênfase à cultura de construção de juncos, tendo como destinatário a população local, preservando-se assim a atmosfera cultural e costumes locais da Vila de Coloane. Esse plano teria “como destinatário principal a população e os turistas”, olhando para a “manutenção das mesmas instalações, ambiente de construção, estrutura de textura da beira-mar, sistema rodoviário, características da antiga zona da indústria, condições turísticas e os usos e costumes locais”, aponta um comunicado publicado em 2012. O planeamento seria feito por quatro zonas. “A Zona A como praça portal que é o acesso e o nó de trânsito da povoação de Lai Chi Vun, e com uma galeria de exposição do estaleiro naval; Zona B como zona de restauração de lazer e galeria de exposição da fábrica de cal; Zona C como zona de lazer em que os estaleiros de juncos e a fábrica de serralharia servem de locais de exposição dos artifícios com dispositivos de interacção, uma zona cultural e criativa animada; Zona D como zona de exposição geral de construção de juncos”, lê-se. Seria ainda “reservado espaço para realizar acções de formação e workshops”. Saída dará origem a protestos A petição assinada por 30 moradores levou o Executivo a agir e a reunir, após vários gritos de alerta. O Instituto da Habitação (IH) chegou a disponibilizar casas sociais na Ilha Verde, mas a proposta foi recusada. O futuro da zona é uma incógnita. A povoação de Lai Chi Vun é, segundo David Marques, “uma zona muito atraente, em frente ao mar” e estamos perante um “mercado livre”. Poucos sabem o que poderá nascer ali e o Governo até deu mostras de querer preservar os estaleiros e ali construir um museu, mas David Marques pede a união das várias povoações da ilha. “Há muitas coisas a serem construídas em Coloane e queremos fazer parte de uma espécie de fórum ou grupo. Fala-se muito nos problemas de Coloane, mas apenas na vila de Coloane, não se fala da vila de Lai Chi Vun ou de Ká Ho. São áreas diferentes e há grupos diferentes.” Enquanto os trabalhos de reconstrução do estaleiro não chegam ao fim, há cinco famílias que não podem estar em Lai Chi Vun. David Marques garante que vai haver um protesto caso os moradores tenham um dia de deixar a povoação. “Eu gosto de lá viver, todos gostam. A questão que se coloca é onde é que os moradores vão ser colocados. Como é que vão olhar para nós? Estamos a falar de uma vila de pescadores com muitos anos, com a sua própria cultura. A minha mãe fala uma língua diferente, fala o dialecto dos pescadores. Claro que vai haver um protesto se um dia os moradores forem obrigados a deixar Lai Chi Vun. Eu vou fazer para que isso aconteça”, rematou.
Flora Fong Manchete PolíticaJinan | Mais de mil pediram retirada da doação e demissão de Chui Sai On A manifestação de domingo contra a doação de mais de cem milhões de patacas à Universidade de Jinan juntou mais de mil nas ruas para pedir a demissão de Chui Sai On [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]ais de mil pessoas saíram à rua no domingo para protestar contra a doação de cem milhões de yuan (123 milhões de patacas) à Universidade de Jinan. O grupo – que contava, de acordo com a organização, com 3300 pessoas e com 1100 de acordo com a PSP – pedia, entre gritos e cartazes, a demissão de Chui Sai On, a retirada da doação e uma reforma do regime de donativos do Governo. Chui Sai On, Chefe do Executivo, foi confrontado com a acusação de tráfico de influências devido a ser presidente do Conselho de Curadores da Fundação e vice-presidente do Conselho Geral da Universidade de Jinan. O líder do Governo não pediu escusa da apreciação do pedido de doação, ainda que tenha indicado ser membro desses cargos. A polémica doação da FM sem consulta aos residentes e sem comunicação oficial antes da imprensa do continente deu o mote para a saída à rua da Associação Novo Macau (organizadora), da Love Macau, da Associação Iniciativa de Desenvolvimento Comunitário de Macau, da Associação de Activismo para a Democracia e da Associação de Mútuo Auxílio dos Operários. Eram três da tarde, quando o Jardim Vasco da Gama foi ocupado pelos participantes no protesto. A marcha “vermelha” da Associação de Mútuo Auxilio de Operários de Macau começou primeiro, em direcção à Sede do Governo, onde foi entregue uma petição para a retirada da doação de cem milhões, mas os manifestantes levantaram também cartazes que pedem a implementação do “ensino superior gratuito”. O deputado Au Kam San, que se juntou à marcha da Associação Love Macau, criticou a falta de “razoabilidade” da doação, porque a FM é composta por “amigos” do Chefe do Executivo e por si próprio, o que permite que a decisão para a entrega de subsídios para entidades “que tenham boas relações com Chui Sai On” seja fácil, diz o deputado. “Quem dá e recebe os subsídios é a mesma pessoa”, criticou ainda. Cloee Chao, líder da Associação Love Macau, defendeu que a manifestação não foi só contra a doação de cem milhões, mas também para evitar que o Governo conceda mais dinheiro a entidades de fora de Macau sem consultar os residentes. Porcos e pérolas Como já é hábito, foi a Novo Macau, que contou com a participação do deputado Ng Kuok Cheong, a associação mais interventiva: um cartaz com a imagem da cabeça de Chui Sai On com orelhas de porco e um carimbo vermelho na testa com o número 380 – o número de votos com que conquistou a reeleição, em 2014 – foi levantado durante toda a manifestação, com o presidente Scott Chiang a explicar que o cartaz significa que “Chui Sai On está a engordar com o dinheiro do Executivo”, criticando o papel do líder do Governo no caso da doação à Jinan. “Quais são as nossas três solicitações principais?”, questionava alto Scott Chiang. “Primeiro, a retirada dos cem milhões. Segundo, a demissão do Chefe do Executivo. Terceiro, a apreciação pública de grandes doações através da Assembleia Legislativa”, respondiam os participantes. Sou Ka Hou, ex-presidente da ANM que veio de Taiwan para participar na manifestação, recordou que no mesmo mês, há dois anos, aconteceu a manifestação contra o Regime de Garantias dos Titulares de Cargos Políticos, que juntou mais de 20 mil pessoas. Na altura, Chui Sai On afirmou “sou gordo mas não vou engordar com o dinheiro”, em tom de brincadeira. No entanto, o jovem activista leva a ideia a sério e diz o Governo ainda “não é suficientemente sério para corrigir as falhas do regime jurídico-político” e está a permitir que Macau continue a ser “um viveiro de corrupção”. “Não estamos a visar qualquer instituição, nem a convocar conflitos entre os ex-estudantes [da universidade] e os residentes. Mas o cofre público continua a ser usado por debaixo da mesa, sem uma fiscalização pública, ao mesmo tempo que os assuntos sociais e da população ainda não foram tratados. Nenhum residente de Macau aceita isso, é preciso defender os recursos financeiros públicos de Macau”, continuou. Para Ng Kuok Cheong, um dos fundadores da Novo Macau, existe conflito de interesses e um problema que radica na própria FM. “Se o sistema realmente permite que qualquer pessoa deixe de estar em conflito de interesses por não receber salário então isto é um problema muito significativo para Macau porque mostra que o próprio sistema está errado. Este caso que acontece actualmente demonstra muito claramente que a FM não tem legitimidade para lidar com tanto dinheiro (…). Os residentes não acreditam nesta fundação, não têm confiança nela”, sublinhou à agência Lusa. Ng Kuok Cheong indicou que irá propor um mecanismo, como um “debate aberto na Assembleia Legislativa”, onde sejam tomadas decisões sobre a atribuição de fundos para fora de Macau. E os locais? Vestidos com camisolas brancas, a maioria dos manifestantes da ANM era jovem, mas havia também crianças com as famílias. Leong, uma dos manifestantes, afirmou ao HM que saiu à rua porque mais pela falta de transparência do que pelo dinheiro por si. Criticou o facto de o Governo não utilizar o dinheiro que deu à Jinan para “fazer bem os trabalhos na área do ensino”, mas justificar a doação pela formação de alunos de Macau naquela instituição. Outras três jovens, incluindo duas estudantes e uma trabalhadora, decidiram juntar-se por não apoiar o donativo, defendendo que os fundos públicos deviam ser usados em prol da população de Macau. Isabel Neves, outra participante e funcionária pública, juntou vários argumentos: “Esse montante que foi doado não percorreu os caminhos correctos (…). Um montante tão grande devia passar através da Assembleia para eles autorizarem. Esse dinheiro pertence à população de Macau”, frisou à Lusa. Recorde-se que, para o Governo, Macau está numa altura de crise económica que levou à diminuição de algumas despesas. O protesto, sob o ‘slogan’ de três R (“Refund, Resign e Reform”, “Reembolso, Resignação e Reforma), seguiu-se a uma petição lançada online contra a atribuição do apoio. “Desobediência” criticada Quando a marcha da ANM chegou à Praia Grande a confusão instalou-se: depois do TUI ter impedido o grupo de usar a estrada porque o passeio era suficientemente grande para todos, a Novo Macau deparou-se com metade do passeio bloqueado com barreiras, tendo por isso pedido à PSP para continuar a marcha na faixa de rodagem. Mas as autoridades proibiram a passagem, pelo que as duas parte entraram em conflito durante 15 minutos. A PSP diz que a falta de cumprimento do combinado afectou o trânsito e que não se exclui a possibilidade de haver acusados pelo crime de desobediência qualificada. Aviões em Santa Sancha O protesto da ANM não acabou até Sou Ka Hou, Scott Chiang e cerca de cem manifestantes terem tentado chegar ao Palácio de Santa Sancha, na Colina da Penha, para deixar na caixa do correio da residência oficial do Chefe do Executivo uma carta com as reivindicações. Depararam-se com a estrada cortada, pelo que a manifestação terminou com os participantes a transformarem as reivindicações impressas em pequenos aviões de papel que foram lançados, por cima do muro, para o interior da residência. O presidente da Novo Macau, Scott Chiang, prometeu que as iniciativas não vão parar enquanto não forem cumpridos os objectivos da marcha.
Joana Freitas Manchete SociedadeGalgos | Defensores de animais travam transporte até Macau [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s 24 galgos que iam chegar a Macau na semana passada foram parados no Reino Unido, depois de centenas de activistas e defensores de animais terem exercido pressão sobre as autoridades. Em Inglaterra, as autoridades barraram o envio dos cães devido às más condições de transporte – condições a que foram sujeitos os nove galgos que chegaram este ano ao território. “É uma grande vitória”, disse à Lusa o presidente da Anima – Sociedade Protectora dos Animais, que lançou a campanha internacional para encerrar o Canídromo. “O pessoal [do aeroporto] bloqueou, disseram que as condições de viagem não eram adequadas. Os nove cães que chegaram vieram em embalagens iguais, [o que revela que] estão a ser mais rigorosos”, diz o presidente da Anima. O bloqueio dos animais na origem foi a forma como os defensores dos animais conseguiram contornar a falta de acção das autoridades. O fornecimento da Austrália – principal região de exportação destes cães – já foi barrado em Dezembro, mas a Irlanda – que tinha bloqueado o processo para a China em 2011 – decidiu permitir agora a exportação para Macau. Estes 24 galgos iriam chegar na sexta-feira passada. Albano Martins explicou à Lusa que a campanha com organizações irlandesas e inglesas funcionou: no aeroporto de Manchester, onde os cães chegaram de barco vindos da Irlanda e de onde partiriam para Macau num voo da Lufthansa, os animais foram recebidos por activistas que chamaram a atenção para as condições de acondicionamento. Alta pressão Nas redes sociais, especialmente na página Stop Exportation From Ireland Greyhounds to China, as petições sucedem-se. Tanto o Chefe do Executivo de Macau, como a Lufthansa são alguns dos alvos, onde agora se acrescenta, como o HM apurou, a Qatar Airlines. De acordo com Albano Martins circula, actualmente, na Irlanda, um trabalho televisivo australiano que mostra as condições do Canídromo e que teve um impacto significativo na opinião pública da Austrália. As más condições do Canídromo e a morte de dezenas de cães por mês são o foco principal, depois de diversas notícias locais terem dado conta da mesma situação. O presidente da ANIMA vai deslocar-se à Irlanda a 2 de Junho, onde espera ser recebido pelo ministro da Agricultura do país, depois da petição para travar o envio de galgos para Macau ter reunido 350 mil assinaturas. De acordo com a Anima, entre 260 e 280 cães morreram no ano passado, alguns apenas um mês depois de chegarem à pista. Actualmente, há cerca de 720 galgos no Canídromo. O Canídromo opera há 50 anos e viu, naquele que deveria ter sido o último ano de funcionamento, o seu contrato ser renovado. O Governo renovou a concessão por mais um ano, argumentando que não seria “justo” encerrar o espaço “de um dia para o outro” e justificou a necessidade de “estudar” o problema. Rick Gervais está convosco O actor e comediante Ricky Gervais juntou-se ao apelo para a proibição das exportações, por lhes esperar a “morte certa” quando são vendidos para corridas em Macau. “Todos os cães que são enviados para Macau vão morrer lá”, afirmou o humorista britânico e conhecido defensor dos direitos dos animais, em declarações publicadas no domingo pelo jornal Irish Mail. Ricky Gervais apelou, na noite de sábado, ao governo irlandês para banir as exportações evocando até a imagem do país.
Hoje Macau Desporto MancheteI Liga | Benfica Tricampeão [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Benfica conquistou categoricamente o seu 35.º nacional de futebol, o primeiro ‘tri’ desde 1976/77, graças a 20 vitórias nas últimas 21 jornadas e à capacidade para aguentar a pressão, exercida de todas as formas, pelo rival Sporting. Com Rui Vitória no lugar de Jorge Jesus, que transitou para os ‘leões’, e uma mudança de paradigma, para uma clara aposta na formação, no Seixal, os ‘encarnados’ tiveram um começo de época muito complicado, criando desconfiança, mas deram uma resposta que ninguém, se calhar, pensava ser possível. Já foi há muito tempo, e a memória é curta, mas, após oito rondas, o Benfica era oitavo – com menos um jogo, que empataria -, a oito pontos do líder Sporting, que acabava de vencer na Luz por 3-0. Nessa altura, Jesus disse que “era fácil pôr o Rui Vitória deste ‘tamanhinho’ (muito pequeno, pelo forma como colocou os dedos). Estaria, certamente, longe de pensar que o treinador do Benfica ‘cresceria’ e faria ‘crescer’ a sua equipa, ao ponto de ser capaz de ir ‘roubar’ a liderança a Alvalade. Com Novembro a chegar ao fim, houve um momento de mudança, a entrada do jovem Renato Sanches no ‘onze’ (a titularidade chegou antes, na ‘Champions’, com o Astana) e a colocação de Pizzi no lado direito do ataque. Foi um detalhe que revolucionou o futebol dos ‘encarnados’, num plantel castigado por lesões (Nelson Semedo, Luisão, Lisandro López, Júlio César, Salvio, Fejsa e, às vezes, Gaitán), mas que teve o mérito de se reinventar. Foram muitos os momentos em que o treinador Rui Vitória ganhou as apostas que fez, algumas de risco: André Almeida, Lindelöf, Renato Sanches, Ederson, Carcela a espaços ou Raul Jiménez. Assalto ao leão Uma volta depois, de facto, tudo tinha mudado e, à 25.ª jornada, os ‘encarnados’ foram mesmo ‘assaltar’ a liderança ao reduto do Sporting. Um golo do grego Mitroglou, aos 20 minutos, selou o triunfo das ‘águias’, que, na frente, não mais perderam qualquer ponto, só parando no ‘35’. Nos derradeiros nove jogos, o Benfica teve, porém, de sofrer, e muito, nomeadamente para ganhar no Bessa (resolveu Jonas, aos 90+3 minutos) e em Coimbra e Vila do Conde, onde o mexicano Raúl Jiménez saltou do banco para marcar os golos da vitória, aos 85 e 73, respectivamente. A penúltima ronda, no reduto do Marítimo, também foi um teste imenso, com a expulsão de Renato Sanches ainda na primeira parte, com o resultado em ‘branco’, mas o Benfica foi ‘grande’ (2-0), para na última ronda, fazer o que, então, já parecia inevitável, bater o Nacional (4-1) e selar o título. O colectivo, a união do grupo, junto com o sempre poderoso ’12.º jogador’, os adeptos, foram determinantes na conquista do ceptro, selado sob o signo do ‘88’, um novo recorde de pontos e o melhor registo de golos desde 1990/91 (89 do Benfica, de Sven-Goran Eriksson, mas em 38 jornadas). Benfica Mundis – A festa global em tons de vermelho Macau Dezenas de benfiquistas encheram o bar RoadHouse no Cotai para assistir ao jogo que deu o tri-campeonato aos encarnados. Depois de alguma inquietação enquanto não chegavam os golos, a festa foi-se fazendo à medida do desenrolar do encontro, acabando em autêntica euforia com os adeptos encarnados a entoar cânticos de “Campeões, Nós Somos Campeões”! Moçambique A praça Robert Mugabe, na baixa de Maputo, vestiu-se novamente de vermelho na noite do 35.º título do Benfica, e fez, pelo terceiro ano consecutivo, do mais antigo líder africano um Marquês. Centenas de pessoas juntaram-se na praça repetindo os cânticos, glorificando o Benfica, que voltaram a passar persistentemente na televisão por cabo em Moçambique. “As nações são feitas assim, não escolhemos, nascemos nelas e esta é envolvência delas”, justifica Gilberto Mendes, 50 anos, um actor moçambicano que ajudou a compor a festa vermelha no centro de Maputo. “Benfica é o mundo inteiro”, declara Sarmento Fernandes. “Olha para aqui, é só olhar”, prossegue o hoteleiro moçambicano de 36 anos, apontando para a praça e avenidas adjacentes cheias. Cabo Verde Buzinões, batucada, gritos, cânticos, abraços, muita música e dança marcou a festa dos benfiquistas na cidade da Praia, em Cabo Verde, numa manifestação de orgulho pela conquista do tricampeonato nacional de futebol. Os sinais da festa benfiquista começaram a sentir-se mesmo antes do fim do jogo com o Nacional, com alguns buzinões, mas a animação ganhou mais força no final da partida após Luisão levantar a taça do 35º título de campeão do Benfica. Nas principais ruas e pontos de encontro da capital cabo-verdiana há crianças, jovens e adultos vestidos a rigor com o vermelho do Benfica, empunhando bandeiras e cachecóis, a pé ou dentro dos carros, entoando gritos, trocando beijos e abraços e vibrando ao som do funaná, género musical do país. Guiné-Bissau O Benfica deu a muitos guineenses uma razão para esquecer a crise política no país e festejar, com muitos gritos de vitória, cantigas improvisadas e abraços em vários locais de Bissau. “Hoje temos esta vitória para festejar. Estou muito, muito contente”, dizia em voz alta um adepto na sede do Sport Bissau e Benfica. Ali, como noutros pontos da capital, um ecrã de televisão juntou dezenas de adeptos até ao apito final da partida em Lisboa, a 3.000 quilómetros de distância, mas para os benfiquistas da Guiné era como se lá estivessem. “Foi difícil, mas conseguimos”, dizia um dos presentes por entre a gritaria, enquanto uma das poucas mulheres no local referia que tinha sido “Jorge Jesus quem deu mais vontade para conquistar o título”. A festa continuou à porta do Benfica de Bissau, onde os carros passavam a apitar e onde os adeptos se começaram a juntar em maior número. “O Benfica deu-me 35, o Benfica já me deu 35”, foi o refrão de uma música improvisada no local pelo benfiquistas que desvalorizaram a conquista na última jornada. Angola Algumas centenas de angolanos e portugueses festejaram, ao som do kuduro, num hotel de Luanda, o título de campeão nacional português do Benfica, esquecendo, por momentos, a crise que marca o dia-a-dia de Angola. “Neste momento não há crise nenhuma. O Benfica faz esquecer tudo, a crise e os problemas”, disse o apresentador da televisão angolana Pedro N’zagi, que foi o animador de serviço da festa na conhecida “Casa 70”, local de concentração dos benfiquistas em Luanda. Ao ritmo do kuduro e regada com muita Cuca, a cerveja angolana, a festa foi animada ainda pelos cânticos de apoio ao Benfica, repetidos a uma só voz por angolanos e portugueses. “Uma das coisas mais impressionantes é estar fora do país, fora de Portugal, fora da sede do clube e esta família estar aqui como se fosse ao estádio. Essa é a força do Benfica”, rematava Pedro N’Zagi, enquanto já lançava ao microfone da “Casa 70” o desafio: “Benfica dá-me o 36”. Numa ronda pela cidade de Luanda, em vários outros restaurantes era possível ver a festa de angolanos e portugueses, sobretudo no exterior, com todos equipados a rigor e entoando o cântico “Benfica campeão”. As Figuras Rui Vitória Treinador e Cavalheiro Rui Vitória foi a grande figura entre os 27 treinadores que exerceram na I Liga portuguesa de futebol em 2015/16, ao levar o Benfica ao ‘tri’, superando Jorge Jesus e até José Mourinho. Numa luta que se dividiu entre o campo e as conferências de imprensa, onde nunca respondeu aos insultos e desconsiderações do treinador do Sporting, Vitória começou na mó de baixo, mas recuperou e foi buscar a liderança precisamente a ‘casa’ de Jesus, numa 25.ª ronda que marcou o campeonato. Depois desse encontro, o Benfica venceu tudo e selou o ‘tri’, com um novo recorde de pontos (88), superando os 86 do FC Porto, de Mourinho, em 2002/2003. A sua conferência de imprensa, na hora da vitória, foi de uma dignidade exemplar. Jonas O Pistoleiro Implacável Jonas foi a grande figura da I Liga portuguesa de futebol no que respeita a golos, ao totalizar 32. O brasileiro, que a época passada perdeu ‘in-extremis’ o título de ‘rei’ dos marcadores, não deu hipóteses à concorrência, contribuindo decisivamente para os 88 do Benfica, o melhor registo colectivo desde a versão 1990/91 das ‘águias’, que, sob o comando de Eriksson, marcaram 89, em 38 jogos. O avançado logrou apenas um ‘hat-trick’, mas foi o ‘rei’ dos ‘bis’, com 10. Renato Sanches Revelação Explosiva Renato Sanches entrou para a equipa principal do Benfica por volta do Natal e a sua presença mudou o modo de jogar da equipa. Foi nítida, sobretudo nos primeiros jogos que disputou, a forma como levava a bola para a frente e demonstrava um vigor físico que lhe permitia disputar o esférico durante todo o tempo de jogo. O jovem médio teve assim um papel fundamental na conquista deste campeonato. De tal modo deu nas vistas que Carlo Ancelotti pediu ao Bayern Munique a sua contratação por 35 milhões de euros (+ 45 milhões por objectivos). “Tendo em conta a sua idade e a sua qualidade, Renato Sanches tinha propostas de vários clubes europeus, mais concretamente de Inglaterra. Uma das principais razões pelas quais ele decidiu vir para o Bayern Munique foi, não só o clube, mas também o nosso novo treinador [Ancelotti] e o facto de ele o querer contratar», afirmou Karl-Heinz Rummenigge, director do Bayern.à FCB.tv. Assistências O Outro Jogador O Benfica dominou de forma ‘esmagadora’ o campeonato das assistências na I Liga portuguesa de futebol, tendo marcado presença nos 10 jogos mais vistos da edição 2015/16. Os nove encontros com maior número de espectadores realizaram-se no Estádio da Luz, e, a fechar o ‘top 10’, os ‘encarnados’ também estiveram presentes, na maior enchente da época no Estádio José Alvalade. A casa das ‘águias’, cuja capacidade oficial é de 64.642 lugares, foi o palco que contou maior assistência (855.474, à média de 50.322 por jogo). Além de dominar em casa, o Benfica também foi o clube mais visto em quase todos os campos, sendo excepções as deslocações a Braga, Tondela e Setúbal. A recepção do Benfica ao Nacional, na última jornada, foi o jogo mais visto do campeonato, com 64.642 espectadores, registo que superou os 63.534 do Benfica-FC Porto da época passada. Paixão asiática Há adeptos apaixonados e depois há… Emma Runyun Zhang. A chinesa havia viajado de Los Angeles, nos EUA, onde reside, para Portugal em Fevereiro especialmente para dar os parabéns a Nico Gaitán (seu jogador preferido) pelo seu 28.º aniversário e agora esteve novamente Lisboa para ver o Benfica ser tricampeão.
Joana Freitas Manchete SociedadeFronteiras | Segundo plano de contingência até Setembro A possibilidade de uma avaria do sistema das fronteiras já tinha sido detectada no ano passado, mas a implementação de um segundo plano de contingência não chegou antes de serem terminados testes à sua capacidade. Este vai agora ser implementado até Setembro e pode haver mesmo um terceiro subsistema [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]té Setembro, Macau vai contar com um segundo sistema que controle as fronteiras, depois da avaria que levou milhares a ficar horas na fila para entrar e sair do território. De acordo com Wong Sio Chak, está até a ser estudada a implementação de um terceiro sistema, caso os dois anteriores falhem. “Para evitar situações semelhantes, no futuro, e assegurar a fluidez na passagem das fronteiras, está prevista a entrada em funcionamento do segundo subsistema de migração, entre os meses de Julho a Setembro, estando-se ainda a estudar a possibilidade de um terceiro subsistema”, frisou o Secretário para a Segurança, citado em comunicado. Wong Sio Chak voltou a assegurar que o plano de contingência foi activado de imediato, mas este, recorde-se, não foi eficaz, como admitiram as autoridades, sendo que o problema levou mais de duas horas a resolver-se em todas as fronteiras de Macau. “[Há] ainda espaço para melhorar todo o sistema de migração”, assumiu Wong Sio Chak. Para já, o segundo subsistema encontra-se em “fase de teste” e, depois de uma actualização do equipamento, este poderá entrar em funcionamento entre os meses de Julho e Setembro. Já necessário O subsistema irá funcionar em simultâneo com o sistema principal, com o objectivo de aliviar a sobrecarga deste. Caso o sistema principal falhe, o segundo subsistema continua a funcionar e há ainda a possibilidade da existência de um terceiro subsistema, que reforçará o sistema de passagem nas fronteiras, como garante o Executivo. Já no ano passado, garante Wong Sio Chak, “sentiu-se a urgência de se criar um segundo subsistema”. Mas este não chegou a tempo. “Antes da conclusão dos testes, registou-se a avaria do sistema [principal]”, frisou, admitindo que não existe calendarização para a criação do terceiro do subsistema por “motivos técnicos, pois será necessário mais tempo para estudos e avaliações”. O caso foi uma falha informática mas a avaria “não se tratou de um ataque”, como garante o Executivo. Relativamente à aplicação de sanções ao fornecedor do sistema, Wong Sio Chak disse apenas que vai pedir responsabilidades conforme as disposições no contrato. “Contudo, neste caso, o fornecedor cumpriu com as suas obrigações e responsabilidades previstas no contrato. Se houver necessidade de elaborar disposições contratuais mais rigorosas, será necessário satisfazer e respeitar os respectivos regulamentos comerciais”, sublinhou. Anunciadas infra-estruturas da nova fronteira O Governo Central já aprovou o projecto para o posto transfronteiriço da nova ponte Hong-Kong – Macau – Zhuhai, sendo que o complexo terá não apenas os balcões de confirmação dos documentos de viagem como uma estação do metro, um centro de transportes para barcos e uma zona comercial. A informação foi confirmada pela Direcção dos Serviços de Turismo (DST) ao deputado Ho Ion Sang. O complexo vai ainda ter dois parques de estacionamento, um de cada lado da fronteira.