Hengqin | Ordenada liquidação de promotor de complexo imobiliário

O Tribunal Intermédio de Zhuhai ordenou a nomeação de um administrador para a liquidação de um promotor imobiliário responsável pela construção de um icónico bloco de edifícios que tem como ex-líbris o Haoyi Fortune Center, em Hengqin. A empresa em questão é de Macau

 

Na passada terça-feira, o Tribunal Intermédio do Povo de Zhuhai ordenou a nomeação de um administrador para proceder à liquidação de bens do promotor imobiliário de um mega-projecto em Hengqin, perto do posto fronteiriço com Macau, que tem o Haoyi Fortune Center como a principal joia da coroa.

O tribunal estabeleceu a próxima segunda-feira como prazo limite para a nomeação do administrador de liquidação, avançou ontem a Macau News Agency (MNA).

De acordo com o China Internet Information Center, um portal de informação do Governo Central, o projecto do Haoyi Fortune Center foi desenvolvido pela Hengqin Haoyi Real Estate Development, que é referida como uma empresa de Macau. Segundo o órgão judicial da cidade vizinha, o projecto imobiliário não está sujeito a hipotecas ou penhoras.

O comunicado do Tribunal Intermédio do Povo de Zhuhai indica que a Hengqin Haoyi Real Estate Development foi registada pelas autoridades da Ilha da Montanha em Setembro de 2013, com um capital social de 760 milhões de renminbis.

Povo na rua

A MNA realça que esta não é a primeira vez que a empresa enfrenta dificuldades financeiras, chamando a atenção e escrutínio público. Por exemplo, em 2021 um grupo de proprietários montou um protesto no exterior do complexo em Henqgin devido ao incumprimento do compromisso assumido de terminar o projecto dentro do prazo fixado. Na altura, foi reportado que mais de 200 proprietários, envolvendo cerca de 3.000 fracções, protestaram o incumprimento da promotora imobiliária responsável pelo projecto.

A empresa terá prometido que a construção, acabamentos e decoração das fracções seriam concluídos até ao final de 2020. Esta data foi empurrada para o meio de 2021, devido à pandemia da covid-19, situação que se voltou a verificar no fim desse ano devido aos mesmos motivos.

A última gota de paciência dos proprietários foi atingida quando a empresa informou que não havia prazo limite para entregar as fracções.

O ex-líbris do projecto, o Haoyi Fortune Center, é um complexo de escritórios, cuja construção terminou no início de Dezembro de 2020, composto por duas torres com 30 e 45 andares, com quase mil escritórios, quase 900 espaços comerciais e mais de 600 fracções habitacionais e cerca de 1.300 estacionamentos.

16 Jul 2024

Água/ HK | Detectados níveis elevados de bromato em duas marcas

O Conselho de Consumidores da RAEHK analisou a qualidade e segurança das águas à venda no território vizinho e considerou a situação satisfatória. Porém, as marcas Nongfu Spring e Ganten apresentam níveis máximos elevados de uma substância que pode ser cancerígena

 

As autoridades de Hong Kong alertaram ontem para o facto de as águas das marcas Nongfu Spring e Ganten apresentarem níveis de bromato que atingiram os limites máximos recomendados pela União Europeia. O alerta foi deixado pelo Conselho de Consumidores de Hong Kong, que analisou a segurança de 30 marcas de água à venda na REAHK, muitas das quais estão também disponíveis em Macau.

O bromato é uma substância que se pode desenvolver na água devido aos meios de desinfecção de água para consumo, como acontece com métodos que utilizam o ozono. De acordo com diferentes relações da Organização Mundial de Saúde (OMS), em níveis de concentração muito elevados, o potássio de bromato é considerado cancerígeno e um risco para a saúde.

Na apresentação dos resultados sobre a qualidade da água, as autoridades de Hong Kong consideraram as águas vendidas ao público seguras, mas reconheceram que no caso das marcas Nongfu Spring e Ganten os níveis de bromato atingiram o limite recomendado. O nível máximo aconselhado actualmente pela UE é de 3 microgramas de bromato por litro.

De acordo com o portal HK01, os responsáveis pelo estudo indicaram que no caso do consumo destas águas em grande quantidade, os consumidores podem sentir náusea, dores abdominais, vómitos e diarreias. Além disso, o consumo pode afectar ainda os rins e o sistema nervoso.

Em reacção aos resultados, aponta o HK01, representantes da empresa responsável pela água Nongfu Spring garantiram que internamente são adoptados critérios mais elevados de segurança na concepção dos produtos. O artigo não cita qualquer posição da empresa Ganten.

A Nongfu Spring é detida pela empresa com o mesmo nome e tem a sede em Hangzhou, na província de Zhejian. Também a Ganten é uma água do Interior, com sede em Shenzhen, e apresenta uma face mais internacional, como patrocinadora alguns eventos a nível mundial, dos quais o Open da Austrália em Ténis é um dos mais relevantes.

Tudo aprovado

Nas 30 águas investigadas não consta qualquer marca portuguesa. No entanto, há vários tipos disponíveis em Macau, como acontece com as marcas Cool, Bonaqua, Watson, Suntory, Volvic, Perrier, Evian, Vita ou Meadow.

As águas analisadas englobaram águas minerais, destiladas e purificadas. No que diz respeito às águas minerais, os preços são, em média, três vezes superiores face às águas destiladas e purificadas. Todavia, nenhuma das águas minerais apresentou um valor “muito elevado” do nível minerais dissolvidos.

Apesar disso, o Conselho dos Consumidores indicou que estas águas apresentam efectivamente um valor de minerais dissolvido mais elevado em comparação com as restantes.

16 Jul 2024

Chefe do Executivo | Jorge Chiang denuncia famílias poderosas

Quem é o empresário que pretende ser candidato a Chefe do Executivo? Jorge Chiang é natural de Macau, católico, pretende fazer visitas de cortesia aos membros da Comissão Eleitoral e apresentar-se às gerações mais novas. Chiang afirma ainda que “algumas famílias” monopolizam certos aspectos da sociedade, algo que a população sabe, mas não ousa dizer

 

Afinal quem é Jorge Chiang, o empresário de 61 anos que revelou na semana passada a intenção de concorrer às eleições para Chefe do Executivo? O HM falou o potencial candidato sobre o seu percurso, origem e o caminho que pretende seguir para chegar à mais elevada posição no Governo da RAEM.

“Nasci em Macau. A minha família vive cá há muitos anos, desde a década de 1940. Estudei áudio, iluminação e telecomunicações e trabalhei na área financeira tanto na China, como no exterior. Durante a juventude, trabalhei no Centro Diocesano dos Meios de Comunicação Social. Sou católico”, contou o candidato ao HM.

Em relação à falta de visibilidade na sociedade local, Jorge Chiang assume que essa é uma lacuna a colmatar. “A população não me conhece, nem tem uma ideia de quem sou, sou como uma página em branco. As novas gerações não me conhecem, porque não apareço publicamente em eventos. Acho que só as gerações mais velhas me conhecem bem.” Para já, a agenda de Jorge Chiang tem o início das suas aparições públicas para depois do encerramento da 3.ª Sessão Plenária do 20º Comité Central do Partido Comunista da China, que começou ontem.

Sobre a falta de participação em associações locais, Jorge Chiang indica a que sua vida profissional, que implica viagens constantes a cidades da Grande Baía e a outros locais no Interior da China, lhe ocupa o tempo para se dedicar à vida associativa. Porém, acabou por criar a Associação de Institucionalismo de Macau (em 2020) e a Associação de Comércio Macau Lotus (em 2021).

Fé no futuro

Em relação à possibilidade de cumprir o requisito legal de reunir assinaturas de pelo menos 66 membros da Comissão Eleitoral no boletim de propositura, Jorge Chiang revelou ao HM que está confiante de que irá conseguir atingir esse objectivo.

“Vou visitar pessoalmente cada membro da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo em breve, enquanto acto de cortesia”, afirmou. Recorde-se que a comissão é constituída por 344 membros.

De momento, o nepotismo é um dos problemas que Jorge Chiang destaca em Macau, apesar de ainda estar a preparar as propostas para o futuro do território. “O Governo e algumas famílias monopolizam muitos interesses e sectores sociais. Isso provoca a irritação da população, que conhece muito bem estes problemas, mas não ousa falar. Espero que esta situação seja corrigida gradualmente”, indicou. Para já, o potencial candidato quer ouvir a população e confirmar a veracidade de algumas queixas que já ouviu, para procurar soluções para esses problemas.

Vida cara

Os preços praticados em Macau são uma das preocupações de Jorge Chiang, em particular os produtos alimentares. O empresário gere algumas propriedades em Zhuhai e Foshan onde são criados animais para alimentar o mercado de Macau, como frangos, porcos, patos, gansos e legumes. Em Huizhou, também em Guangdong, Jorge Chiang tem uma propriedade dedicada à aquacultura para fornecer peixe e marisco a Macau, “devido à poluição provocada pelos japoneses”.

“Neste momento, Macau tem os preços mais elevados da Grande Baía. Temos de controlar esse problema de inflação procurando a importação de produtos mais baratos de outras províncias do Interior da China. Estou empenhado num projecto de comércio electrónico que tem esse objectivo, de encontrar mercadorias mais baratas noutras províncias e trazê-las para a Grande Baía. Mas também importar mercadorias estrangeiras para o Interior da China como, por exemplo, leite”, contou Jorge Chiang.

16 Jul 2024

Chefe do Executivo | Nomeada comissão para apurar resultados eleitorais

A lista dos membros da Assembleia de Apuramento Geral para as eleições do Chefe do Executivo e da Comissão Eleitoral que escolhe o futuro líder da RAEM foi anunciada ontem. Kuok Kin Hong, delegado coordenador do Ministério Público, será o presidente

 

O nome das cinco pessoas que constituem a Assembleia de Apuramento Geral das eleições e os membros da Comissão Eleitoral e da eleição para o cargo do Chefe do Executivo foram anunciados ontem no Boletim Oficial. A escolha dos membros vem assinada por André Cheong, secretário para a Administração e Justiça, que actualmente desempenha as funções de Chefe do Executivo, de forma interina, dado que Ho Iat Seng está oficialmente de férias.

Kuok Kin Hong, delegado coordenador do Ministério Público (MP) é promovido a presidente da comissão, substituindo Mai Man Ieng, delegado do procurador do MP, que em 2019 tinha presidido à comissão. Em 2019, Kuok Kin Hong tinha integrado esta comissão, mas não como presidente. A lei define que o presidente da comissão tem de ser sempre um magistrado do MP.

Segundo a informação oficial, Kuok Kin Hong é licenciado em Direito pela Universidade de Macau (UM), e antes das funções actuais desempenhou os cargos de intérprete-tradutor de chinês e português na antiga Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública, antiga Capitania dos Portos e no antigo Gabinete para a Tradução Jurídica. Foi ainda conservador na Conservatória do Registo Predial e notário do Cartório Notarial das Ilhas. Entre 2002 e 2004 participou no curso e estágio de formação para ingresso nas magistraturas judicial e MP, tendo sido nomeado como Delegado do Procurador do Ministério Público da RAEM, em Agosto de 2004.

Os membros do MP nas comissões de apuramento dos resultadas das eleições incluem também a estreia de Cheong Kuok Chi, delegado coordenador. À semelhança de Kuok, Cheong é licenciado em Direito pela UM. Em termos profissionais, desempenhou funções de técnico superior do Fundo de Pensões em 2009. Entre esse ano e 2011 participou no curso e estágio de formação para ingresso nas magistraturas judicial e do MP, tendo sido nomeado como Delegado do Procurador em Setembro de 2011.

Nome da experiência

A Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP) está representada na comissão de apuramento de resultados pela subdirectora, Joana Maria Noronha, tal como aconteceu em 2019. Joana Maria Noronha é licenciada Ciências Sociais pela Universidade da Ásia Oriental de Macau, desde 1989, e tem um mestrado em Administração Pública pela Universidade de Sun Yat-Sen. Integrou a função pública em 1990 e fez toda a carreira nos SAFP, passando por posições, como técnica superior do Departamento de Administração Civil e Divisão de Apoio Técnico-Eleitoral, adjunta da Divisão de Apoio Técnico-Eleitoral, Chefe do Centro de Atendimento e Informação ao Público. Finalmente, em 2011 transitou para a posição de subdirectora, que ainda desempenha.

O quarto membro da comissão é Lai Ka Chon, subdirector da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC), que também se estreia. Em 2019, a DSEC foi representada pela então subdirectora Cheng I Wan. Lai Ka Chon licenciou-se em Informática em 2019, na Universidade Politécnica de Macau, e tem um mestrado em Engenharia Informática, pela UM.

Lai ingressou na função pública como assistente de informática na Direcção dos Serviços de Economia, onde ficou até 2010. Nesse ano faz a transição para a DSEC onde assumiu comissões de Chefe do Sector de Administração do Sistema Informático e Chefe do Departamento de Sistemas de Informação e Informática. A partir de Fevereiro de 2023 chegou a subdirector da DSEC, primeiro como substituto, mas está em comissão de serviço desde Janeiro deste ano.

À semelhança de 2019, Cheong Sek Lun, o chefe da Divisão de Apoio Técnico-Eleitoral dos SAFP, volta a integrar a comissão. Cheong licenciou-se em Tradução e Interpretação Português-Chinês pela UM, em 1997, e integrou os SAFP logo nesse ano. Está no mesmo serviço desde essa altura, e desde 2011 que desempenha a posição actual.

As eleições para escolher os membros da comissão eleitoral que vão escolher o futuro Chefe do Executivo estão marcadas para 11 de Agosto. As eleições para o futuro líder da RAEM ainda não têm data marcada, visto estarem dependentes das eleições dos membros da comissão.

16 Jul 2024

Ensino | Reforço do patriotismo nas novas competências exigidas a alunos

O Governo alterou as competências académicas básicas exigidas aos alunos dos ensinos primário e secundário. Em concreto, as alterações abrangem as áreas da Educação Moral e Cívica, História, Tecnologias de Informação, Artes, Sociedade, Ciências Naturais e Humanidades. Amor a Macau e à pátria e relacionamentos interpessoais são alguns dos principais focos

 

Que conteúdos deve um aluno dos ensinos primário e secundário dominar nas mais diversas disciplinas, desde História à Educação Moral e Cívica, e como se deve relacionar com o outro, com a sociedade e o ambiente que o rodeia? Que domínios deve ter ao nível da tecnologia, Macau e China, bem como o relacionamento entre as diversas etnias e comunidades que compõem as sociedades?

São a estas perguntas que respondem as novas exigências em matéria de competências básicas que os estudantes dos ensinos primário, secundário geral e secundário complementar devem ter. O despacho, assinado pela secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, foi ontem publicado no Boletim Oficial (BO), redefine competências definidas noutros despachos e dá primazia à defesa do patriotismo em prol do território e do país.

As novas exigências passam a aplicar-se no próximo ano lectivo, de 2024/2025. No caso dos três primeiros anos de escolaridade do ensino primário, as exigências devem aplicar-se “a partir do primeiro dia do ano escolar de 2024/2025”, sendo que nos restantes anos de escolaridade do mesmo grau de ensino se aplicam “a partir do primeiro dia do ano escolar de 2025/2026”.

No caso de todos os anos do ensino secundário geral, as novas recomendações de conteúdos programáticos seguem-se “a partir do primeiro dia do ano escolar de 2025/2026”, enquanto no ensino secundário complementar as novas exigências vigoram “a partir do primeiro dia do ano escolar de 2026/2027”.

Contudo, caso se reúnam “condições para a sua implementação”, as novas exigências podem ser aplicadas do quarto ao sexto ano de escolaridade do ensino primário, bem como a “todos os anos de escolaridade do ensino secundário geral e do ensino secundário complementar”.

Em matéria de patriotismo, e no caso dos alunos do ensino primário, estes devem “desenvolver o sentimento do amor à pátria e a Macau, permitindo-lhes valorizar e apreciar a excelente cultura tradicional chinesa, reconhecer a sua identidade nacional e respeitar as tradições culturais e costumes de vida de diferentes países e etnias, formando uma preliminar consciência internacional”.

São ainda definidos alguns códigos com letras e números que remetem para princípios que devem ser respeitados em cada nível de ensino, tal como “conhecer os principais monumentos de Macau e saber que o ‘Centro Histórico de Macau’ está listado na ‘Lista do Património Mundial’. Outro código diz respeito à obrigatoriedade de “conhecer, estimar e proteger a bandeira e emblema regionais da RAEM, bem como conhecer o seu significado”.

Outras competências básicas devem passar pelo conceito de “amar Macau” e o fomento da “preocupação com as mudanças e o desenvolvimento de Macau”, bem como “compreender minimamente a ‘Lei Básica da RAEM da República Popular da China (RPC) e os respectivos diplomas legais relacionados com os jovens de Macau, obedecendo de forma consciente à lei e ordem pública”.

Os alunos devem ainda “conhecer a estrutura e orgânica básicas do Governo da RAEM, bem como as suas principais funções”, sem esquecer “os direitos e deveres fundamentais dos residentes de Macau”.

O país acima de tudo

Os códigos criados estão inseridos em secções, descritas como “âmbitos de aprendizagem”, conforme a área de relacionamento interpessoal do estudante. Ficam, assim, definidas as áreas “sobre si mesmo”, “família”, “eu e escola”, “eu e sociedade”, “eu e o país”, “eu e o mundo” e ainda “eu e o ambiente”.

Em relação à China, os alunos até ao sexto ano de escolaridade devem “conhecer, estimar e proteger a bandeira e emblema nacionais”, bem como “compreender o seu significado”. Os estudantes devem também “saber cantar o hino nacional e conhecer o cerimonial relativo à execução instrumental e vocal do hino”.

É fundamental “conhecer o mapa da RPC e saber que o território da pátria é sagrado e inviolável”, bem como “conhecer os resultados representativos da excelente cultura tradicional chinesa”.

Os alunos terão de “conhecer minimamente a Constituição da RPC” e “saber que o nosso país tem uma longa história e cultura”. No rol de exigências inclui-se ainda “conhecer as principais características da cultura chinesa e sentir-se orgulhoso pelos resultados civilizacionais alcançados pela nação chinesa”.

Em relação à China, os alunos devem “conhecer a sua identidade nacional e sentir-se orgulhosos em ser chineses”, ou ainda “preocupar-se com a segurança e interesses do país”.

As novas exigências fazem também referência ao posicionamento de Macau e do seu lugar na história, pois os estudantes devem “saber que Macau é território da China desde os tempos remotos”

Relativamente à presença portuguesa no território, ficou definido pelo Governo que os estudantes devem conseguir “abordar o processo de povoamento até à ocupação pelos portugueses em Macau e as respectivas influências através da leitura de diversos dados históricos”. Deve ainda ser compreendida “a evolução histórica do estabelecimento dos órgãos administrativos da China e de Portugal em Macau depois de os portugueses terem adquirido o direito de habitação em Macau”.

Na área das “actividades de descoberta” a ser seguidas pelos alunos do ensino primário é referido “o estabelecimento da relação entre os alunos e o ambiente social, com relevância para ajudar os alunos a conhecer as tradições e a situação actual da sociedade local, bem como os actuais temas sociais da China e do mundo, no sentido de desenvolver nos alunos o sentimento de amor pela pátria e por Macau e o espírito de preocupação humana”.

Não é esquecido o tema da defesa da segurança nacional. “Através da compreensão dos conhecimentos gerais da segurança nacional, os alunos serão inspirados a desenvolver, por sua iniciativa, um sentido de responsabilidade sobre a defesa da segurança nacional e, através do conhecimento da história e cultura chinesas e estrangeiras, a desenvolver nos alunos uma consciência de respeito e de transmissão da história e da excelente cultura tradicional e um espírito de missão e de sentimento de pertença à Pátria”.

No que diz respeito às competências musicais, destaca-se a necessidade de “conseguir cantar na língua original das canções locais, do nosso País e de outros países e etnias, mostrando interesse pelo conhecimento das diferentes culturas e, em particular, saber cantar o Hino Nacional da República Popular da China”.

Ao nível do ensino secundário geral, a escola deve contribuir para “aumentar o sentimento de pertença dos alunos à família e à escola”, bem como “reforçar o seu reconhecimento do país e do povo e compreender o princípio ‘um país, dois sistemas’, desenvolvendo o seu amor pela pátria e por Macau, criando um conceito nacional”.

Os alunos devem desenvolver conceitos como “democracia, estado de direito, de direitos humanos e de justiça, bem como ter pensamento crítico, juízo racional e capacidade de participação social activa na vida pública”.

Diz-me com quem andas

No rol de exigências a cumprir pelos estudantes não faltam ideias sobre como se devem comportar perante os outros e as instituições sociais. A diversidade cultural de Macau não é ignorada, pois afirma-se que o aluno deve “preocupar-se e aceitar as crianças novas imigrantes em Macau” e ainda “conhecer as consequências nefastas da discriminação, maus tratos e actos violentos bem como conhecer os meios para pedir ajuda”.

É ainda referido que os estudantes devem ter a capacidade de “saber minimamente distinguir e escolher amigos”.

Os jovens adolescentes devem também “saber escolher actividades saudáveis para a saúde física e mental”, bem como “conhecer os efeitos nocivos da droga, alcoolismo, tabaco e pornografia, e saber recusá-los”.

16 Jul 2024

Suncity | Publicada mensagem pessoal com foto de Alvin Chau

Num registo pessoal, mas sem assinatura, a mensagem publicada com a fotografia daquele que foi um dos grandes junkets justifica que nos últimos 10 anos tudo o que fez foi por amor a Macau

 

Tudo feito por amor a Macau. É desta forma que mensagem publicada em tom pessoal e com a fotografia de Alvin Chau no Facebook oficial da Suncity faz uma análise dos últimos 10 anos.

No que aparenta ser uma mensagem de Alvin Chau, dado que é escrita na primeira pessoa, embora sem assinatura, o texto começa por indicar que passaram “dois anos num piscar de olhos”, para depois fazer um balanço dos “últimos 10 anos”. Alvin Chau está preso desde Novembro de 2021, e cumpre uma pena de 18 anos de prisão.

Seguida da introdução, em que também é perguntado a “todos os ex-colegas e amigos” se estão bem, a publicação adquire um cariz ainda mais pessoal, em que o autor questiona se cometeu erros no passado. “Às vezes, pergunto-me, será que realmente cometi erros? Será que tenho a consciência pesada?”, interroga.

O autor garante igualmente que “sempre assumiu as responsabilidades de contribuir para Macau”, e que tentou “deixar a cidade mais brilhante no palco internacional”. Neste sentido, argumenta que a Suncity, “ao longo dos anos” “impulsionou a economia das artes, cultural e entretenimento”. “Organizávamos e patrocinámos mais de 50 concertos e espectáculos de grande dimensão em Macau”, é frisado. “Nós investimos imensos recursos na promoção de Macau como destino turístico, fomos os patrocinadores do Grande Prémio, do Festival Internacional de Cinema, do Encontro de Mestres de Wushu e do concurso Miss Macau”, é acrescentado.

A mensagem foca ainda “os esforços de caridade”, “promoção do desporto” e criação de equipas de voluntariado, futebol, basquetebol e barco-dragão. “Eu contribuí muito para Macau, só por uma razão, porque amo este lugar!”, é indicado.

Publicação viral

O texto termina depois com a certeza de que tudo foi feito para melhorar a cidade. “Nos últimos 10 anos, nem por um momento parei! Eu realmente tentei fazer o meu melhor para contribuir para Macau”, é vincado. “Espero sinceramente que esta cidade esteja cada vez melhor!”, realçou.

A publicação rapidamente se tornou viral e em menos de 24 horas contava com mais de 5,2 mil reacções, 718 comentários e 518 partilhas. Entre os comentários, vários ex-trabalhadores da empresa, como Gina Lei, ex-vice-presidente do grupo Suncity, deixaram elogios e palavras de apoio a Alvin Chau. Também vários comentários indicavam que Alvin Chau tinha sido o melhor patrão que alguma vez tinham encontrado na vida profissional.

15 Jul 2024

Acidente | Trabalhador morre após queda quando substituía ar-condicionado

A vítima era um trabalhador não-residente do Interior, teria meia-idade e suspeita-se que tenha prendido a corda de segurança a um apoio de ar-condicionado, que acabou por ceder

 

Um trabalhador perdeu a vida na sequência de uma queda quando substituía um ar-condicionado. O acidente acontece no sábado, por volta do meio-dia, e a ocorrência ficou captada em vários vídeos que circularam nas redes sociais.

De acordo com a versão das autoridades, o acidente e terá acontecido quando o homem “de meia idade” substituía um ar-condicionado, no exterior de um edifício, na Alameda Dr. Carlos de Assumpção. Suspeita-se que o homem terá prendido a corda de segurança a um dos braços do apoio do ar-condicionado.

No entanto, o braço do apoio do ar-condicionado terá cedido, o que levou a que o homem caísse. Nas imagens que circularam online, e que foram captadas por viaturas que seguiam na Rotunda do Arco Oriente e na Alameda Dr. Carlos de Assumpção, vê-se o homem a cair ao mesmo tempo do aparelho de ar-condicionado.

A queda aconteceu à frente da entrada de um parque de estacionamento, e não houve feridos a registar, além da vítima mortal. Todavia, os vídeos que circularam mostraram que pelo menos uma viatura terá sofridos danos. A vítima é um trabalhador não-residente do Interior.

Alerta ao meio dia

Após o acidente o Corpo de Bombeiros foi chamado ao local, por volta das 12h12. Como a vítima foi declarada morta minutos depois, também a Polícia Judiciária se deslocou à Alameda Dr. Carlos de Assumpção.

“Depois de um exame ao corpo do morto, apurou-se que as lesões são consistentes com os ferimentos causados por uma queda em altura”, pode ler-se na informação revelada aos órgãos de comunicação social. “Além dos ferimentos da queda em altura, não foram detectadas lesões suspeitas. Também com a investigação se descobriu que o homem estava a substituir um ar-condicionado do edifício onde a queda aconteceu”, foi acrescentado.

Dado que a ocorrência foi classificada como acidente de trabalho, a Direcção de Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) esteve igualmente no local. Horas depois, a DSAL emitiu um comunicado a lamentar o acidente e a garantir que tem promovido a segurança ocupacional e no trabalho.

“A DSAL expressa a sua grande preocupação e tristeza e envia as condolências à família da vítima”, foi comunicado. “Ao mesmo tempo, estamos a tentar compreender o acidente e vamos assistir a família com todos os procedimentos e na obtenção das compensações relacionada com o acidente de trabalho”, foi acrescentado. A DSAL sublinhou também que o acidente vai continuar a ser investigado.

De acordo com as estatísticas oficiais mais recentes, entre Janeiro e Março houve três vítimas mortais em acidentes de trabalho, mais uma face ao período homólogo.

15 Jul 2024

Portugal | BE critica nomeação de Vitório Cardoso, “apologista de ditaduras”

O Bloco de Esquerda questionou o Governo português sobre a nomeação de Vitório Cardoso como secretário pessoal do secretário de Estado das Comunidades, José Cesário, qualificando-o de “lobista e apologista de ditaduras” e temendo o seu acesso a “informação sensível”

 

Numa pergunta dirigida ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, subscrita pela deputada Marisa Matias, o Bloco de Esquerda (BE) refere-se à nomeação publicada em Diário da República no dia 4 de Julho do secretário pessoal de José Cesário. Trata-se da nomeação de Vitório Rosário Cardoso, “lobista e apologista de ditaduras, para cargo onde lidará com informação sensível”, aponta o BE, argumentando que a pessoa em causa “não tem idoneidade, nem deve merecer confiança para lidar com matérias e com informações tão sensíveis” como aquelas que o cargo acarreta.

“Vitório Rosário Cardoso exalta as ditaduras franquista e salazarista, diz que Aristides Sousa Mendes ‘pôs em risco a vida de todos os portugueses’, que o 25 de Abril foi ‘um dia de luto’ e defende a PIDE por considerar que teve ‘um papel fundamental para combater os atos subversivos da oposição política em prol da ‘unidade, liberdade e soberania nacionais’”, sustentam no documento.

A pergunta do BE surge após a revista Sábado ter noticiado na quinta-feira a nomeação de Vitório Cardoso, num artigo em que recordava o seu percurso e as suas posições políticas, que já o levaram a participar na manifestação do Chega que negava a existência de racismo em Portugal, apesar de ser militante do PSD de Macau.

“Acresce a tudo isto que Vitório Rosário Cardoso é conhecido pela sua actividade de lóbi económico”, aponta ainda a deputada Marisa Matias.

Segundo a exposição do BE, o agora secretário de José Cesário é “vice-presidente das Regiões Autónomas de Portugal da PORCHAM Portugal, uma empresa que se apresenta como ‘uma plataforma formal para empresas, profissionais e empresários luso-chineses se conectarem’ e que tem como objectivo ajudar ‘as empresas portuguesas a terem uma presença de sucesso na China, assim como as empresas chinesas a terem uma presença de sucesso em Portugal’”.

“É uma actividade que já vem de longe, sendo conhecido o seu papel de intermediário de negócio entre Portugal e China pelo menos desde 2014, tendo inclusivamente acompanhado uma comitiva de empresários chineses no distrito de Viseu, já na altura acompanhando José Cesário”, acrescenta.

Pote de mel

Marisa Matias aponta que cabe ao secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, entre outras matérias, “todos os actos respeitantes à Direção-Geral dos Assuntos Consulares e das Comunidades Portuguesas, ao Conselho das Comunidades Portuguesas, ao Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, I. P., à Comissão Interministerial para as Migrações e Comunidades Portuguesas e à Comissão Organizadora do Recenseamento Eleitoral dos Portugueses no Estrangeiro”.

São ainda competência do secretário de Estado, sublinha, a decisão de recursos hierárquicos sobre pedidos de vistos apresentados nos Serviços Periféricos Externos do Ministério dos Negócios Estrangeiros, as matérias relativas com o Programa Nacional de Apoio ao Investimento da Diáspora ou a designação de trabalhadores para as secções consulares.

Para a deputada bloquista, “torna-se óbvio que a nomeação feita não podia ter acontecido nem deve continuar, sob pena de se colocar num lugar de acesso a informação sensível e privilegiada alguém que representa interesses económicos particulares, em clara situação de conflito de interesses”.

Marisa Matias pergunta se o ministro dos Negócios Estrangeiros tem conhecimento da nomeação e se “considera que alguém que defende ditaduras e polícias políticas pode ser nomeado para um cargo de tamanha confiança política e onde lidará com informação e assuntos sensíveis”.

A parlamentar bloquista questiona ainda Paulo Rangel sobre se “alguém que tem ficado conhecido pela sua actividade de lobby e de facilitador económico pode ser nomeado para um cargo onde estará em claro conflito de interesse” e se vai “compactuar com esta nomeação, mesmo sendo notório que ela vai ao arrepio de todos os valores que Portugal deve representar”.

15 Jul 2024

CAECE | Mais de um terço dos candidatos são estreantes

A lista de candidatos para a Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo foi revelada na sexta-feira, com mais de um terço de caras novas. O antigo Chefe do Executivo Chui Sai On estreia-se no grupo. No total, foram recebidas 348 candidaturas válidas para os 344 lugares da comissão eleitoral que irá votar o próximo líder do Governo

 

A lista de candidatos à Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo (CECE) foi afixada na sexta-feira, que agrega 348 candidaturas para 344 lugares disponíveis, proporção que a presidente da Comissão de Assuntos Eleitorais do Chefe do Executivo (CAECE), Song Man Lei, considerou ser sinónimo de uma “eleição competitiva”.

A maioria dos 348 candidatos tem menos de 65 anos e 121 apresentaram pela primeira vez candidatura ao colégio eleitoral que elege o Chefe do Executivo, uma proporção de estreantes superior a um terço.

Na conferência de imprensa de sexta-feira, em que foi anunciada a lista de candidatos à CECE, Song Man Lei referiu que os subsectores educacional e do trabalho registaram mais quatro candidatos, dois de cada, do que o número de assentos atribuídos de acordo com a lei.

Uma das caras novas no colégio eleitoral será Fernando Chui Sai On, o antecessor de Ho Iat Seng que liderou o Executivo da RAEM entre 2009 e 2019, que irá concorrer no subsector educacional.

Alta fidelidade

Song Man Lei afirmou ainda que a Comissão de Defesa da Segurança do Estado verificou que todos os candidatos e representantes dos subsectores da religião e de membros de Macau na Assembleia Popular Nacional “defendem a Lei Básica e são fiéis à Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China”.

Em relação aos candidatos com ligações à comunidade portuguesa, Jorge Neto Valente e Carlos Rodrigues vão concorrer pelo sector industrial, comercial e financeiro, onde constam também nomes como Frederico Ma, Manuel Iok Pui Ferreira, David Chow, Pansy Ho, e os deputados Chan Chak Mo e Wang Sai Man.

Pelo subsector cultural, concorrem Manuel Pires, José Chan Rodrigues. Pelo sub-sector educacional, destaque para o presidente da Confraria da Gastronomia Macaense Carlos Cabral, o deputado nomeado pelo Chefe do Executivo Kou Kam Fai e José Chan Rodrigues.

No subsector profissional constam os nomes de António Dias Azedo, Paulino Comandante, os arquitectos Carlos Marreiros e André Ritchie, a tradutora e intérprete Manuela Aguiar, Casimiro de Jesus Pinto e Leonel Alves.

No subsector desportivo, concorrem João Manuel Paes D´Assumpção, Eurico de Jesus e Daniela Fão, enquanto no subsector dos serviços sociais permanece o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Macau António José de Freitas, e entra Duarte da Silva Rosário. A eleição dos membros da CECE está marcada para o dia 11 de Agosto.

15 Jul 2024

Luís Bernardino, investigador e docente universitário: “Passagem de Macau para a China foi exemplar”

Luís Bernardino, docente da Universidade Autónoma de Lisboa, faz parte do recém-criado think-tank “Global Strategic Platform”, que irá organizar uma série de eventos centrados na China. O programa está a ser preparado e não deixa Macau de fora. Luís Bernardino fala ainda sobre o sucesso da transição de Macau

 

 

Foi apresentado, há dias, o projecto “China Sessions” no âmbito da “Global Strategic Platform”. Em que consiste esta iniciativa?

A “Global Strategic Platform” é uma plataforma virtual que liga professores que estão nos EUA, Angola e Portugal e que foi criada há cerca de dois anos para organizar eventos que sejam de carácter global nas áreas da geopolítica e geoestratégica, ou mesmo relações internacionais. Nessa altura, criámos as “Africa Sessions” que, de certa forma, nos últimos dois anos, tem feito um caminho no sentido de ter conferências sobre os temas da agenda africana. No ano passado surgiu-nos a ideia de ampliar este projecto, ou seja, criar dois outros pilares. Um deles é o “Transatlantic Sessions”, ou seja, estudar as relações transatlânticas, e começámos a fazer isso, e agora queremos criar uma terceira área de estudos sobre a China, com as “China Sessions”. Este segmento pretende ser um conjunto de eventos que procuramos criar online, embora alguns eventos sejam presenciais, com transmissão para todo o mundo, sobre a problemática da China no mundo. A ver pelo primeiro tema, e a adesão das pessoas, temos um bom acolhimento. Fizemos esta sessão de abertura no Centro Científico e Cultural de Macau e isso foi muito importante porque essa relação tem de estar ligada a Macau.

De que forma?

Macau desempenha um papel muito importante na relação da China com África, e se quisermos ser mais concretos, com os países de língua portuguesa. Isso parece-nos ser também um vector importante de análise. Portanto, queremos trazer essas temáticas para as “China Sessions”, cujo programa de actividades estamos agora a desenvolver.

Será uma espécie de think-tank?

Será um think-tank que pretende abrir a discussão ao mundo global utilizando as ferramentas digitais, congregando pessoas de todos os quadrantes, a nível mundial, num tema que nos parece muito actual por várias ordens de ideias. Desde logo porque a China já é um actor global e as dinâmicas do país têm impacto com todos os outros actores. É importante que este projecto possa realizar essa análise. Vamos ter vários campos. A primeira conferência foi sobre a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, e vamos já fazer uma segunda sessão em que falaremos sobre os dez anos da mesma iniciativa, mas numa perspectiva mais económica. Depois queremos abrir espaço para falar sobre segurança, cultura, diplomacia. São esses os objectivos que temos. Vamos abrir este projecto a todos, embora tenhamos uma dificuldade acrescida quanto à língua, nomeadamente ao chinês e dos fusos horários. Se estamos a estudar, comentar e a analisar a China, também queremos ser ouvidos na China e que as nossas actividades cheguem ao país e a Macau. Temos algumas ideias nesse sentido e queremos encontrar um equilíbrio entre aquilo que são as necessidades de ajustamento de temas com os tempos e as horas.

Vão ser estabelecidas mais ligações a Macau?

Depende de cada um dos temas e de cada um de nós [participantes nas “China Sessions”]. Conheço relativamente bem Macau, a Fundação Rui Cunha, as universidades, e vamos tentar gerar oportunidades. Estamos disponíveis para nos associarmos na realização de conferências, por exemplo. Queremos aprofundar algumas das nossas experiências que já concretizamos nas “Africa Sessions” para as “China Sessions”. Vamos todos ganhar com isso porque teremos diferentes painéis com especialistas que nos vão mostrar aquilo que, de facto, a China está a fazer no mundo. É importante compreendermos essa dinâmica crescente da China nos vários vectores em que se posiciona, não apenas na “Faixa e Rota”, mas demais áreas conexas.

Que balanço faz dos dez anos da iniciativa lançada por Pequim?

Penso que há ainda muito a descobrir. Em dez anos não dá ainda para ver perfeitamente o alcance daquilo que são as dinâmicas de “Uma Faixa, Uma Rota”. Uma coisa me parece clara é a intenção da China de querer ser uma potência global, mas também penso que não há ainda uma ideia concreta de como isso vai acontecer. Para ser uma potência global tem de ser uma potência económica e militar, e também ao nível diplomático, e esses vectores todos têm de estar congregados numa estratégia nacional que às vezes me parece algo difusa.

Por definir?

Por definir em alguns aspectos. Obviamente que “Uma Faixa, Uma Rota” é um projecto global, de grande alcance, de longo termo, e creio que estes dez anos também serviram para a China aprofundar e desenvolver um pouco da sua estratégia de abordagem global. Terão de ser alinhados outros instrumentos do poder com a parte económica.

Macau tem também um certo posicionamento a cumprir nesta iniciativa. Considera que tem desempenhado o seu papel da melhor forma no âmbito de “Uma Faixa, Uma Rota”?

Penso que sim. Macau desempenha um papel muito importante, não apenas na relação com os países de língua portuguesa, mas também com a geografia global. Macau, obviamente, representa também para a China uma forma diferente de olhar para esta iniciativa. Eventualmente, da parte da CPLP [Comunidades dos Países de Língua Portuguesa] e países lusófonos não há, ainda, um completo entendimento e perspectiva de como isto pode ser benéfico na transacção comercial e na linha do que será a geopolítica do futuro. Portanto, há uma aprendizagem que deve ser feita, e Macau representa uma coisa interessante. Muitas vezes discutimos a questão das independências e a passagem de Macau [no que respeita à administração portuguesa] para a China foi, de facto, exemplar, permitindo criar estruturas, dinâmicas, consensos e projectar o território numa parceria que facilita quem está na China e em Macau. O território é agora uma porta de entrada para os países que querem apostar na China como entidade parceria, e também na construção de uma relação comercial. Esse é um activo estratégico de Macau na geopolítica da relação da China com o mundo. Vamos ver se a China consegue, efectivamente, perceber isso e potenciar esse instrumento de política externa que é e será Macau. De certa forma, o tamanho não conta, neste caso. Macau é um território de tamanho muito reduzido, mas tem uma dimensão geoestratégica muito grande. Essa é condição para que Macau seja vista pela China e pelo mundo como um espaço geoestratégico relevante no contexto global.

Celebra-se este ano o 25º aniversário da transição da administração portuguesa de Macau para a China. O balanço que faz do território é positivo? Macau tem sabido posicionar-se em todos estes contextos?

Sim. Há de facto muitas coisas positivas. Foi bom o facto de haver uma parte cultural, da lusofonia, da língua e cultura portuguesas que se mantém. Estive em Macau e gostei de ver o património, o Clube Militar, e sentimo-nos muito em casa em Macau, com tanta história que ficou num espaço tão longínquo e distinto. Portugal fez uma transição exemplar que é vista como um bom exemplo na transição entre Estados. A minha avaliação é positiva e veremos se temos capacidade de apostar e fortalecer esta relação e perceber que Macau é, de facto, importante nesta nossa ligação com a China e CPLP.

15 Jul 2024

Crime | Empregada que se suicidou terá sido sequestrada por polícia

Uma empregada doméstica terá cometido suicídio no final de Abril, depois de ter sido sequestrada durante várias horas pelos empregadores. A causa da violência terá sido o furto de 60 mil patacas

 

A Polícia Judiciária (PJ) anunciou a detenção de uma mulher e do namorado, por alegadamente terem sequestrado, retido o passaporte e mantido com mãos atadas uma empregada doméstica, que acabou por se suicidar. Os contornos do caso foram revelados ontem pelas autoridades.

De acordo com a informação da PJ, citada pelo canal chinês da Rádio Macau, a investigação do caso começou a 28 de Abril, com a morte da empregada doméstica, após uma queda em altura de um prédio, na Areia Preta. A vítima foi identificada como sendo do sudeste asiático, embora a nacionalidade não tenha sido revelada.

Após a morte, as autoridades entraram em contacto com os empregadores da mulher, uma residente local com 36 anos, que trabalha no Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) e o namorado, com 34 anos, guia turístico. Estes contaram às autoridades que a mulher terá cometido o suicídio, depois de ter furtado cerca de 60 mil patacas aos empregadores.

Ao investigar o caso, a PJ apontou ter contactado mais testemunhas que traçaram um cenário diferente do relatado pelos dois suspeitos.

Uma história diferente

Sem revelar a identidade das testemunhas, as autoridades indicam que foram informadas que depois do furto a empregada foi mantida em cativeiro, tendo sido interrogada entre as 23h de 27 de Abril e as 2h da madrugada do dia seguinte. Além disso, os dois terão retido o passaporte da mulher, investigado o seu telemóvel, e atado as mãos da mulher com fita-cola.

Submetida à pressão, a vítima terá confessado aos empregadores a subtracão do dinheiro. Nessa altura, a mulher fez uma primeira tentativa para se libertar e fugir para a casa-de-banho. Apesar de ter conseguido libertar-se da fita-cola, foi parada pelos suspeitos.

Mais tarde, por volta das 08h de 28 de Abril, a mulher conseguiu soltar-se, fechou-se na casa-de-banhou e saltou para fora do edifício, acabando por morrer.

Além do relato das testemunhas, a PJ indicou que ao longo da investigação juntou vários indícios contraditórios com os depoimentos dos empregadores. A PJ referiu também que a empregada foi sujeita a “tortura mental” e que a autópsia não terá revelado sinais de outros tipos de violência física.

“Muito chocado”

Após o caso ter sido tornado público, o CPSP emitiu um comunicado em que afirmou estar “muito chocado” com os acontecimentos. “É totalmente inaceitável que agentes da polícia violem a lei de forma consciente”, pode ler-se na mensagem. “Este incidente reflecte a grave falta de conhecimento jurídico do pessoal envolvido, que passou de vítima a suspeito de crimes. Este incidente é muito triste”, foi acrescentado.

As autoridades apontaram também que o caso vai ser utilizado para reforçar a formação e consciência jurídica dos agentes. Ao mesmo tempo, foi anunciada a abertura um inquérito interno à agente, assim como a suspensão imediata das funções.

Ontem, ao final do dia, as medidas de coacção aplicadas ainda não eram conhecidas, o que só deverá acontecer mais tarde.

12 Jul 2024

DSAL | Abertas inscrições para estágios em Xangai e Hengqin

O Governo, em conjunto com as autoridades de Hengqin, vai lançar dois planos de estágios subsidiados com 90 vagas para jovens de Macau. O primeiro plano, com 30 vagas, levará os estagiários a Xangai para adquirirem experiência de trabalho em desporto electrónico (videojogos). O plano de Hengqin oferece 60 estágios nas indústrias 1+4

 

A Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) anunciou ontem a organização, em conjunto com a Direcção dos Serviços de Assuntos de Subsistência de Hengqin, de dois planos de estágios destinados a jovens de Macau, que irá no total facultar 90 vagas. As inscrições abrem hoje às 12h e encerram às 12h de 2 de Agosto e podem ser submetidas no website da DSAL.

As vagas estão destinadas a jovens de Macau com idade inferior a 35 anos, titulares de BIR, com licenciatura ou grau académico superior que satisfaçam as exigências de competências técnicas necessárias para os estágios. A DSAL acrescenta que será dada prioridade aos “jovens que possuírem as experiências profissionais adequadas”, e aos jovens que vão completar os estudos universitários no próximo ano lectivo.

O plano de estágios de desporto electrónico (competições de videojogos), que faculta 30 vagas, terá lugar em Xangai, ao longo de oito semanas, oferecendo aos jovens experiência de trabalho na empresa VSPO, um dos maiores operadores de desportos electrónicos asiáticos.

A DSAL caracteriza o desporto electrónico como “um sector emergente que abrange tecnologia, competição, diversão e interacção social”. Os jovens vão receber formação profissional antes de começaram os estágios. É a quarta vez que a DSAL organiza este programa de estágios.

Metas a cumprir

O outro plano diz respeito às indústrias prioritárias (1+4) para o plano de diversificação adequada, facultando 60 vagas de estágio, também com a duração de oito semanas, em empresas de Hengqin das áreas de “tecnologia de ponta, medicina tradicional chinesa, cultura, turismo, convenções, exposições e comércio, e ainda, indústria financeira moderna”. A DSAL especifica que o plano abrange postos especializados em “tecnologias de informação, tecnologia financeira, análise de dados, biomedicina, comércio electrónico, marketing, assuntos de telecomunicações, expansão de negócios, apoio às operações de gestão, serviços de apoio ao cliente, finanças, administração, recursos humanos, concepção artística e engenharia”.

Por cada quatro semanas, a DSAL atribui “um subsídio de 5.000 patacas e um subsídio único para as despesas de transporte e seguros de viagem (sendo a quantia consoante ao plano a participar)”. Além disso, as autoridades de Hengqin atribuem a cada quatro semanas um subsídio de 4.000 renminbis para residências para o plano de Xangai e 2.000 renminbis para subsistência com a mesma periodicidade. Para os planos de estágios em Hengqin, a cada quatro semanas os estagiários recebem 4.000 renminbis subsídio de subsistência, enquanto o alojamento é garantido pelas autoridades. As restantes “despesas de subsistência e alimentação a cargo dos estagiários”.

12 Jul 2024

Segurança | Websites da polícia e bombeiros alvo de ataques

Os serviços dos websites do gabinete de Wong Sio Chak, CPSP, bombeiros, Serviços das Forças de Segurança e da Escola Superior das Forças de Segurança, foram alvo de um ataque informático na noite de quarta-feira. A normalidade foi reposta três horas depois. A Polícia Judiciária está a investigar o caso

 

Na noite de quarta-feira, por volta das 20h, os serviços dos websites do gabinete do secretário para a Segurança, Corpo de Polícia de Segurança Pública, Corpo de Bombeiros, Direcção dos Serviços das Forças de Segurança de Macau e Escola Superior das Forças de Segurança de Macau foram interrompidos devido a um ataque de negação de serviço oriundo do exterior, segundo o gabinete do secretário Wong Sio Chak.

Quando o ataque foi detectado, as autoridades meteram em marcha “trabalhos de gestão de emergência” com os operadores de telecomunicações (a CTM), para retomar a normalidade dos serviços.

Segundo um comunicado da Direcção dos Serviços das Forças de Segurança de Macau (DSFSM), emitido ontem de madrugada, a equipa de técnicos de segurança da CTM conseguiu bloquear o ataque de negação de serviço, com os websites afectados a voltarem ao normal por volta das 20h45 de quarta-feira, 45 minutos depois da detecção das anomalias. Porém, os webistes continuaram inacessíveis através da rede da CTM, apesar de o acesso ter ficado normalidade através de outras redes. O acesso através da rede de internet da CTM foi restabelecido às 23h13 da mesma noite.

Inundação digital

A DSFSM pediu à CTM, que providencia serviços de bloqueio de ataque de negação de serviço, uma investigação exaustiva ao incidente, assim como um relatório sobre o sucedido e um plano para evitar que incidentes semelhantes voltem a acontecer.

Entretanto, a Polícia Judiciária iniciou as diligências para proceder à investigação do crime desde que este foi reportado.

O ataque sofrido pelos websites dos vários serviços de segurança de Macau, ataque de negação de serviço, costuma ter como objectivo primário tornar os recursos de um sistema indisponíveis para os utilizadores, tornando-os inacessíveis através da sua invalidação por sobrecarga. Este tipo de ataque informático não é uma invasão de sistema, mas força o sistema atacado a ser reiniciado ou a consumir todos os seus recursos, como memória de processamento, para interromper as suas funcionalidades.

As autoridades não revelaram a origem do ataque, limitando-se a indicar que terá vindo do exterior.

12 Jul 2024

Chefe do Executivo | Empresário Jorge Chiang apresenta candidatura

O empresário e presidente da Associação de Comércio Macau Lotus Jorge Chiang apresentou candidatura a Chefe do Executivo. O HM falou com o potencial candidato que indicou estar ainda a alinhar o seu programa político. Jorge Chiang acredita que a governação de Macau precisa de se adaptar aos novos tempos e ser mais inovadora

 

“A decisão de concorrer às eleições para Chefe do Executivo não foi repentina, mas algo em que pensei nos últimos cinco anos. Desde então, não vi mudanças em Macau. Aliás, a situação está ainda pior, por isso vou concorrer às eleições para Chefe do Executivo.” Foi assim que o empresário Jorge Chiang contou ao HM aquilo que o moveu para apresentar a candidatura ao cargo político mais elevado da RAEM.

“Depois das governações dos Executivos anteriores, apareceram muitos problemas em Macau que é necessário corrigir gradualmente”, acrescentou ao HM, cerca de 20 horas depois de anunciar a candidatura nas redes sociais.

Jorge Chiang preside à Associação de Institucionalismo de Macau (criada em 2020) e à Associação de Comércio Macau Lotus (criada 2021), além de ser supervisor da Associação Desportiva de Artes Marciais Zhong Hua.

Para já, Jorge Chiang admitiu ainda não ter um programa político detalhado, mas remete para o anúncio que publicou nas redes sociais para dar uma ideia das linhas basilares da sua candidatura.

Virar a página

Numa publicação intitulada “nova era, novas ideias, nova Macau”, o candidato afirma que “num panorama com desafios sem igual em 100 anos, o velho estilo de governação não se adaptou aos novos tempos em Macau, tornando-se obsoleto”. “Macau deve atrever-se a inovar a começar de novo. Assumo uma nova missão e não pouparei esforços para ajudar a implementar em Macau as principais políticas designadas nacionalmente. Tenho o corpo em Macau, mas o coração com a pátria e o povo, e uma determinação sem igual para falar pelo povo e defender o povo”, pode ler-se na declaração do candidato.

Com um forte cariz nacionalista, Jorge Chiang defende a “implementação do socialismo com características chinesas” e comprometeu-se a liderar Macau “na nova era, com novas ideias de governação”. “Quero construir uma sociedade baseada no Estado de Direito e na prosperidade de todos”, indicou.

Para entrar na corrida, a lei determina que a candidatura de Jorge Chiang seja “feita mediante a aposição das assinaturas de pelo menos 66 membros da Comissão Eleitoral no boletim de propositura”.

Na passada terça-feira, o portal Macau News Agency (MNA) avançou que Ho Iat Seng se iria candidatar a um segundo mandato a Chefe do Executivo e que, segundo fontes anónimas, a candidatura deveria ser apresentada depois de 11 de Agosto, dia em que decorrem as eleições para os membros da Comissão Eleitoral.

12 Jul 2024

Amílcar Falcão, reitor da Universidade de Coimbra: “Há uma vontade de partilharmos conhecimentos”

O reitor da Universidade de Coimbra (UC) Amílcar Falcão esteve recentemente em Macau para estreitar relações com o ensino superior local. O responsável, com formação em farmácia, destaca a colaboração de Macau no projecto europeu na área do envelhecimento saudável e o potencial da prática clínica da medicina tradicional chinesa, embora admita faltar ainda alguma evidência científica

 

 

Esteve em Macau onde recebeu um doutoramento honoris causa pela Universidade Politécnica de Macau (UPM), além de ter feito outros contactos oficiais. Que balanço faz da visita?

Foi a primeira vez que estive em Macau. A UC tem ligações fortes com Macau já há algum tempo. Temos um laboratório conjunto com a Universidade de Macau (UM), na área da engenharia informática, a funcionar. Queria muito ir a Macau na sequência dos contactos feitos pelo vice-reitor para as relações externas e receber o doutoramento honoris causa que generosamente a UPM me concedeu. Fomos recebidos ao mais alto nível e isso era importante para perceber como podemos cooperar no futuro. No geral, a visita correu bastante bem e confirmou as minhas expectativas, pois tenho uma impressão muito boa da China. Fui vice-reitor da UC durante oito anos e estive na génese da criação do Instituto Confúcio, além de ter estado ligado ao desenvolvimento da área da medicina tradicional chinesa (MTC) [na UC]. Este foi um dos temas abordados na viagem, nomeadamente ao nível de um projecto de investigação que temos na área do envelhecimento, um problema da China, Portugal e dos países mais desenvolvidos. Penso que existe uma confiança mútua com as autoridades chinesas e isso é importante para os projectos que iremos desenvolver e que já estão em andamento.

Relativamente a Hengqin. Que papel pode ter esta região nas cooperações com a UC?

Uma das razões componentes distintivas do Instituto Confúcio em Coimbra é ter o foco na MTC. Temos, aqui em Coimbra, formação nessa área. Sou farmacêutico de formação e há componentes da MTC que entendo, mas não parece que tenham fundamento científico evoluído. Mas, por outro lado, há áreas dessa mesma medicina que, pela evidência clínica, merecem mais estudos e conhecimentos.

Quais? A MTC tem, sobretudo, um papel mais preventivo?

Sim. Na questão da longevidade e qualidade de vida das pessoas pode ter impacto. Esse é o tema do projecto que temos em carteira e que no qual estamos a trabalhar de forma mais aprofundada. Aí a MTC tem muito a acrescentar ao que é a medicina ocidental, ao nível da compreensão do corpo e dos seus pontos, permitindo mitigar dores e situações de ansiedade. Temos muitos séculos de MTC que podem e devem ser aproveitados para aprendermos, aprofundando cientificamente alguns aspectos. No parque de MTC em Hengqin há duas áreas, relacionadas com a produção de medicamentos e com o controlo de qualidade, e há uma vontade de partilharmos conhecimentos e trabalharmos em conjunto. Vamos tentar perceber o que a UC pode contribuir para essa matéria, nomeadamente na identificação de componentes activos na MTC.

Como esses componentes podem depois ser aplicados na prática?

Podem depois de ser transpostos para medicamentos que usamos na Europa ou EUA, que não sejam propriamente plantas nem produtos medicinais, como chás ou infusões. O potencial desse trabalho é enorme. A China, juntamente com Macau e o nosso laboratório conjunto, está muito entusiasmada em usar a inteligência artificial (IA) para procurar moléculas e desenvolver novos medicamentos a partir da MTC. Creio que aí temos um papel importante como parceiros, porque podemos ajudar, quer pela experiência que temos no desenvolvimento de novos medicamentos, quer porque claramente faz falta a componente experimental e pré-clínica, com animais, à MTC. É algo que estamos habituados a fazer em Coimbra.

Como explica esta ausência de fundamento científico em algumas áreas da MTC?

Há questões dessa natureza que tenho dificuldades em responder porque não sou político. Diria que talvez uma mistura entre o facto de a China ter estado fechada ao mundo muitos anos e alguma resistência por parte da comunidade científica ocidental a esse tipo de medicina. Falamos aqui de Macau e da China, mas se formos para o Brasil ou África encontramos um cenário semelhante com as medicinas mais tradicionais, e até em Portugal. Temos as ervanárias que vendem chás diversos. O chá de valeriana tem uma componente ansiolítica importante para controlar a ansiedade, por exemplo. Há um potencial de prática médica chinesa de séculos que não está cientificamente provada, no sentido de dizermos que há ensaios clínicos feitos em pessoas e um dossier para colocar o medicamento no mercado, mas há uma evidência clínica muito forte que é de aproveitar e tentar procurar estimular. É natural que ao longo de séculos regiões que são mais longínquas que as nossas tenham desenvolvido as suas metodologias e se tenham baseado na evidência do poder curativo e preventivo. Os seus conhecimentos são, muitas vezes, empíricos, mas é um empirismo que mostra resultados. Cabe à ciência reproduzir esses resultados e tentar encontrar soluções.

Macau pode ajudar a internacionalizar a MTC, ao nível da medicação e dos próprios profissionais?

Penso que sim. Macau pode mesmo funcionar como uma porta para a entrada e saída de serviços e produtos trabalhados em conjunto com a República Popular da China.

Fale-me mais desse projecto de investigação na área do envelhecimento que a UC está a desenvolver e onde as instituições de Macau irão colaborar.

Temos um projecto em Coimbra muito relevante, em que somos referência, relativamente à vida activa e envelhecimento. É um dos maiores projectos financiados que existem na Europa e que pretende ter várias componentes e dimensões, podendo beneficiar muito com a colaboração de Macau e da China. Uma das componentes dessa iniciativa tem a ver com a criação de empresas na área da saúde e do envelhecimento. Temos a intenção de criar conhecimento sobre o envelhecimento e os factores que o causam, e que podem estar relacionados com a genética. Falamos de uma população caucasiana, em Portugal, e de uma população asiática em Macau e China. Temos com os brasileiros um projecto semelhante. O aumento da população envelhecida e da esperança média de vida é comum a Portugal e a China, embora sejamos países muito diferentes. Queremos estudar essas diferenças e como se pode contribuir para que haja um melhor envelhecimento, com mais qualidade de vida. Há um grupo de pessoas que está a ser trabalhado em Macau e outro em Portugal. Queremos a internacionalização do nosso próprio projecto através de Macau, atingindo assim objectivos que, de outra forma, não iríamos conseguir, pois limitados a Portugal não íamos conseguir fazer esse tipo de estudos com caracterização genética. É um projecto de investigação de sete anos que será concluído em 2027.

Do encontro com o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, saíram novas ideias sobre a cooperação, algo de concreto?

Sim. O Chefe do Executivo foi muito amável e aberto às ideias que levávamos, tendo demonstrado muito interesse, quer ao nível da ciência e do que é a componente empresarial, com a criação de empresas da área. Mostrou vontade de apoiar, até financeiramente, projectos. A possibilidade de termos um laboratório conjunto nesta área [MTC], associado ao que já temos na área da informática, é importante para movimentar investigadores. Uma das coisas que fizemos em Macau foi também ao nível do programa de doutoramento na área do envelhecimento que temos na UC. Iremos introduzir uma componente de IA nesse programa de doutoramento cuja gestão foi atribuída a Macau. Iremos começar já a fazer esse doutoramento conjunto.

12 Jul 2024

Mercados | Associações dizem que obras não melhoraram negócios

Após a remodelação do Mercado da Mitra, os negócios dos comerciantes ficaram na mesma. Porém, a situação mais dramática nos mercados municipais verifica-se no Mercado de Tamagnini Barbosa, onde o presidente da Associação de Auxílio Mútuo de Vendilhões de Macau estima uma taxa de desocupação de bancas de 70 por cento

 

“As bancas do Mercado Municipal da Horta da Mitra têm uma oferta pouco variada, numa área muito reduzida. Não conseguem competir com a variedade de produtos vendidos nos supermercados e lojas das imediações. A situação é agudizada pela obrigação de vender apenas os produtos previstos nas licenças”, afirmou ao HM O Cheng Wong, presidente da Associação de Auxílio Mútuo de Vendilhões de Macau. O dirigente associativo revela que, após meio ano da reabertura do Mercado da Horta da Mitra, os negócios se mantiveram como antes, não beneficiando das melhorias nas instalações.

Uma das reivindicações de O Cheng Wong é a flexibilização das regras que estabelecem que tipo de produtos os comerciantes podem vender nos mercados, medida que poderia potenciar os negócios e evitar o surgimento de mais bancas vazias.

Ainda em relação ao Mercado da Mitra, o representante do sector salienta o encerramento de bancas no exterior do mercado poder ser outro factor que contribui para o escasso fluxo dentro das instalações. Algo que não acontece com o Mercado Vermelho e o Mercado de São Lourenço, cujas imediações estão repletas de bancas de venda de frutas e vegetais.

O bom e o mau

Durante o período de obras de remodelação do Mercado Vermelho, que durou cerca de dois anos, 31 bancas ficaram desocupadas devido à desistência dos comerciantes que as operavam. Desde que o histórico mercado reabriu, o presidente da Associação de Auxílio Mútuo de Vendilhões revela que não se verificou mais nenhuma desistência. Sobre a capacidade para atrair fregueses, O Cheng Wong salienta que o Mercado Vermelho oferece uma grande variedade de marisco e peixe em oferta.

No geral, o representante indicou que as bancas de venda de carnes e vegetais enfrentam maiores dificuldades, sendo maioritariamente aquelas que acabam por encerrar.

Entre os sete mercados municipais, O Cheng Wong destaca a situação de abandono a que está votado o Mercado de Tamagnini Barbosa, onde cerca de 70 por cento das bancas estão vazias. Isto apesar dos negócios no centro de comidas (food court) estarem a correr bem. Como tal, o dirigente associativo indica que apenas as bancas que ficam perto da zona da restauração conseguem captar mais clientes.

Face a este cenário, o representante dos comerciantes de mercado afirma a urgência de remodelar o Mercado de Tamagnini Barbosa e flexibilizar as regras que estabelecem o tipo de produtos que podem ser vendidos nas bancas dos mercados municipais. “O Governo responde sempre que vai pensar ou que planeia fazer isso. Entretanto, o tempo continua a avançar e temos situações em que algumas bancas permanecem vazias há cerca de sete anos. O Governo tem de abrir concursos para estas bancas”, afirmou ao HM o presidente da Associação de Auxílio Mútuo de Vendilhões.

10 Jul 2024

Terrenos | TSI isenta Governo de indemnizar construtora Cheong Kong

O tribunal considerou que a empresa deixou passar o prazo para ser compensada por uma possível violação da lei pela RAEM. Contudo, mandou o Tribunal Administrativo avaliar se a RAEM violou o contrato assinado com a empresa, no que pode ser a última esperança da construtora de vir a ser compensada

 

O Tribunal de Segunda Instância (TSI) absolveu, para já, a RAEM do pagamento de uma indemnização de pelo menos 175,9 milhões de patacas à Companhia de Construção Cheong Kong. Em causa, está um diferendo sobre um terreno em Seac Pai Van, recuperado pela RAEM, que a empresa defende que só não foi aproveitado em tempo útil devido à actuação do Governo.

O terreno com uma área de 5.980 metros quadrados foi originalmente concessionado por arrendamento à Cheong Kong, em 1989, por um prazo de 25 anos, com o propósito de ter uma fábrica de asfalto. No entanto, em 1993, por sugestão da Administração, foi sugerido que a finalidade fosse alterada para uso habitacional, o que a empresa aceitou.

De acordo com a versão da empresa, ao longo dos anos não foram emitidas as licenças necessárias que permitissem avançar com as obras. Além disso, durante alguns anos, o terreno foi terá sido emprestado à RAEM como depósito de materiais de construção durante as obras da habitação pública em Seac Pai Van.

Face a estes desenvolvimentos, quando o Governo declarou a recuperação do terreno, em 2017, a empresa avançou para os tribunais, para a evitar. As sucessivas batalhas jurídicas para evitar a recuperação do terreno foram perdidas.

No entanto, desde 2020, que a Companhia de Construção Cheong Kong procura ser compensada, dado que considera que a responsabilidade do não aproveitamento pertence à administração. A empresa defende também que a actuação do Governo da RAEM violou o princípio da boa fé na negociação e assinatura do contrato da concessão.

Resultados mistos

Na primeira decisão sobre a compensação, tomada no ano passado pelo Tribunal Administrativo, foi considerado que o Governo não tinha de pagar qualquer compensação à empresa.

No que diz respeito à obrigação de indemnização pelos danos que surgiram da violação da lei por parte da RAEM, a chamada responsabilidade extracontratual, o Tribunal Administrativo considerou que a empresa deixou passar o prazo para ser compensada, que seria de três anos. Esta leitura mereceu a concordância do Tribunal de Segunda Instância, na decisão mais recente, de Maio deste ano.

Contudo, no que diz respeito, ao pedido de indemnização com base na violação do contrato pelo Governo, o TSI remeteu a questão novamente para o Tribunal Administrativo, por considerar que este não julgou o caso.

Segundo o TSI, o TA não apurou todos os factos sobre uma possível violação do contrato pelo Governo, nem fundamentou os motivos que levaram a que parte do caso apresentado pela empresa não tivesse sido analisado ou dado como não provado.

A empresa vence assim parte do recurso e tem uma nova esperança de poder ser ressarcida pela actuação da RAEM, durante o período da vigência da concessão sobre o terreno recuperado.

10 Jul 2024

SMG | Previsto tufão na segunda metade de Julho

O director dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos prevê que na segunda metade de Julho Macau comece a ser afectado por ciclones tropicais e tufões. Leong Weng Kun explicou também a dificuldade de prever com exactidão a intensidade, local e altura em tempestades se abatam pelo território

 

Um tufão poderá passar por Macau na segunda metade de Julho. A previsão foi avançada ontem pelo director dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG), Leong Weng Kun, durante o programa Fórum Macau, no canal chinês da Rádio Macau.

Apesar de estimar a formação de ciclones tropicais ainda este mês, o responsável não arriscou prognósticos em relação ao impacto na cidade. Leong Weng Kun recordou que os SMG já içaram o sinal 8 no início de Junho, quando a tempestade tropical Maliksi passou por Macau, que apesar de não ter provocado muitos danos, quatro pessoas ficaram feridas e as aulas suspensas.

O responsável sublinhou também que a época de tufões normalmente prolonga-se até Outubro e que, devido ao aquecimento global, a temperatura da água do mar, que tem gerado mais super-tufões, mas também o surgimento de tufões fora de época, por vezes em Dezembro. Recorde-se que em 2021, o tufão Rai passou por Macau uns dias antes do Natal, algo que não acontecia há quase meio século.

O director dos SMG lembrou ainda que a Organização Meteorológica Mundial, uma agência da Organização das Nações Unidas (ONU), lançou um alerta para o facto de 2023 ter sido o ano mais quente desde que existem registos. Leong Weng Kun perspectivou que dadas as temperaturas elevadas será provável o aumento do impacto de super tufões, chuvadas e temperaturas extremas em Macau.

Comunicar é preciso

A melhor forma de lidar com os fenómenos atmosféricos severos passa pela eficaz disseminação de informação, indicou o director dos SMG. Como tal, informações de previsões de tempo severo devem chegar à população o mais cedo possível, de forma a dar tempo de preparação.

Apesar dos SMG terem sido reconhecidos pela Organização Internacional de Normalização com a certificação ISO do seu sistema de previsão de ciclones tropicais, e alertas de tempestade e chuvadas fortes, Leong Weng Kun realçou a dificuldade de prever este último fenómeno atmosférico. Ainda assim, indicou que a taxa de precisão dos alertas de chuvas fortes dos últimos anos se situa em cerca de 70 por cento.

Neste domínio, o director dos SMG realçou as dificuldades para prever estes fenómenos, sentidas em todo o mundo. A aleatoriedade da progressão das tempestades aliada à reduzida dimensão geográfica de Macau, às taxas de dissipação e movimentação tornam muito difícil prever a formação, intensidade e os locais mais afectados. Ainda assim, o responsável garantiu que os SMG vão continuar a criar informações gráficas que alertem a população para a possibilidade de tempestades com três a quatro dias de antecedência.

10 Jul 2024

Farol da Guia | Impacto visual de novo viaduto causa preocupação

Manuel Iok Pui Ferreira apela ao Governo para suspender o concurso público para a construção de um viaduto entre a Zona A e Zona B dos Novos Aterros. Devido ao impacto visual, o urbanista defende a construção de um túnel subaquático, como fora proposto pelo Executivo de Chui Sai On

 

A construção de um novo viaduto com uma altura de 25,8 metros entre a Zona A e Zona B dos Novos Aterros ameaça a paisagem do Farol da Guia. O alerta foi deixado pelo urbanista Manuel Iok Pui Ferreira.

Recentemente, o Governo lançou um concurso público para a construção do viaduto. No entanto, no plano inicial, apresentado em 2011 durante o Executivo liderado por Chui Sai On, a ligação passava pela construção de um túnel subaquático, que seria acompanhado na superfície com várias zonas verdes.

Em declarações ao Jornal do Cidadão, o urbanista opinou que o plano original era mais estético e afirmou que o que será implementado tem uma diferença muito significativa, devido ao impacto visual. Manuel Iok Pui Ferreira disse também que a alternativa inicial favorecia mais a costa do território, porque o novo projecto vai pressionar a paisagem costeira e provocar um efeito irreversível. A proposta escolhida foi também considerada uma “violação clara” dos princípios do design urbano.

Assim sendo, o ex-membro do Conselho do Planeamento Urbanístico considerou que a decisão do Governo foi tomada de “forma imprudente”. O urbanista mostrou-se contra o projecto actual, cujas obras deverão começar no final do ano. Manuel Iok Pui Ferreira criticou igualmente a forma como o processo foi conduzido, por não ter havido apresentação do estudo sobre o impacto da análise para a paisagem das obras. Manuel Iok Pui Ferreira defende assim a suspensão da obra e o regresso ao plano do túnel subaquático.

Sistema danificado

No caso de o Executivo insistir no viaduto, o urbanista teme que a paisagem caracterizada por “colina, mar e cidade” seja danificada, além dos danos para a paisagem do património mundial do território.

Pui Ferreira recordou ainda que, no ano passado, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) acompanhou o planeamento dos Zona A e Zona B dos Novos Aterros. Porém, o ex-conselheiro duvida que o Governo tenha feito um relatório sobre o impacto da construção do viaduto.

O urbanista recordou ainda que no final deste ano, os membros da UNESCO precisam de entregar relatórios sobre os planos e medidas de protecção do património. Manuel Ferreira receia que a situação não seja apresentada de forma honesta pelas autoridades locais.

Manuel Iok Pui Ferreira levantou também reservas sobre a interpretação das autoridades locais, que consideram que os limites à construção em altura na zona do património protegido só se aplicam a edifícios e não a viadutos.

10 Jul 2024

João Graça Gomes, engenheiro e membro do Conselho Mundial de Energia: “Macau podia ser um caso de teste”

João Graça Gomes, engenheiro sénior numa joint-venture ligada à EDP e China Tree Gorges, e membro do Conselho Mundial de Energia, falou na terça-feira, em Lisboa, sobre o panorama do sector da energia na China e no mundo e de como o país irá liderar nesta área. Em entrevista ao HM, o também membro do Conselho da Diáspora Portuguesa avança algumas sugestões que podem tornar Macau um exemplo em matéria de políticas ambientais sustentáveis

 

Como descreve a evolução do sector energético na China nos últimos anos?

A China tem registado um aumento expressivo do consumo energético, o que reflecte o seu rápido crescimento económico. Nos últimos 20 anos, o consumo primário de energia na China cresceu de 11.800 TWh [Terawatt Hours, medida de consumo energético] em 2000 para 47.428 TWh em 2023. Este crescimento foi particularmente acentuado nas regiões costeiras do país. Houve uma redução na dependência do carvão, embora este ainda represente 54 por cento do consumo energético. Em contrapartida, houve um aumento significativo no consumo de gás natural e de fontes renováveis, especialmente energia eólica e solar. A dependência externa da China aumentou de cerca de seis por cento em 2000 para 22 por cento em 2020. Essa tendência é especialmente evidente nas importações de produtos petrolíferos e gás natural. A China importa principalmente petróleo da Rússia, Arábia Saudita e Iraque. Já nas importações de gás natural, destacam-se a Austrália, Países Baixos e Emirados Árabes Unidos como principais fornecedores.

E relativamente às exportações de energia?

A China destaca-se por uma presença robusta na “supply-chain” [cadeia de fornecimento] mundial das energias renováveis. O país é um dos maiores produtores e exportadores de aerogeradores, painéis solares, baterias eléctricas e electrolisadores. A China também se destaca pelas elevadas taxas de extração e processamento de terras raras, cobalto, lítio e outros minerais essenciais para o desenvolvimento e suporte da infra-estrutura eléctrica. O país tem-se consolidado como um líder global no fornecimento de tecnologia que possibilita a transição energética.

O processo de Reforma e Abertura, iniciado por Deng Xiaoping contribuiu para que o sector energético tenha crescido, em termos de segmento de mercado, no país?

Desde esse momento, em 1978, que o país tem experimentado um rápido desenvolvimento socioeconómico, que se traduziu num crescimento médio do PIB [Produto Interno Bruto] de nove por cento ao ano. Entre 1978 e 2023, o consumo energético primário cresceu impressionantes 924 por cento, passando de 4.632 TWh para 47.428 TWh. Várias previsões indicam que essa trajectória de crescimento continuará nas próximas décadas. Para ilustrar a magnitude desse avanço, podemos comparar a realidade chinesa com a portuguesa. Em 1978, o consumo energético per capita em Portugal era de 13.054 kWh, enquanto na China era de apenas 4.850 kWh, menos da metade de Portugal. Em 2023, o consumo per capita na China subiu para 33.267 kWh, superando o consumo per capita português de 25.709 kWh. Em termos de segmentos de mercado, a indústria é preponderante, correspondendo a quase 49 por cento do consumo energético total da China. Este é o sector que mais evoluiu, impulsionado pelas reformas económicas que estimularam a industrialização massiva. O segundo sector com maior crescimento é o dos transportes, que agora representa 15 por cento do consumo energético. O sector residencial representa cerca de 16 por cento do consumo energético e tem-se mantido relativamente estável ao longo do tempo.

De que forma Macau pode contribuir para este desenvolvimento do setor energético na China?

Macau é uma região altamente urbanizada e com uma área bastante reduzida. Essas características limitam a instalação de grandes centrais de electricidade renovável. Mas Macau pode desempenhar um papel crucial no desenvolvimento do sector energético na China de diversas formas, especialmente na investigação e inovação.

De que forma?

Criando-se um laboratório urbano para comunidades sustentáveis, em que Macau poderia servir como um caso de teste para o conceito de comunidade energética sustentável e autónoma. A região poder-se-ia focar no desenvolvimento e criação de tecnologias ligadas a energias renováveis, como painéis solares e sistemas de armazenamento de energia com baterias. Essa abordagem pode transformar Macau num modelo de eficiência energética e autossuficiência. Pode-se também apostar na descarbonização dos transportes, reduzindo as emissões de carbono e aumentar a qualidade do ar. A implementação de veículos eléctricos e a construção de uma infra-estrutura de recarga robusta podem posicionar Macau como líder na mobilidade sustentável. Mas pode também ser feita uma aposta no desenvolvimento de tecnologias de dessalinização.

De que forma poderia ser feito?

Através da instalação de centrais de dessalinização abastecidas por energia renovável, que poderia garantir o abastecimento de água de Macau de forma sustentável, minimizando a dependência de recursos hídricos externos e contribuindo para a segurança hídrica.

A nível académico, o que poderia ser implementado nesta área?

Macau pode utilizar as suas universidades e instituições para estimular estudos avançados em sustentabilidade energética. A colaboração com países de língua portuguesa pode trazer novas perspectivas e tecnologias, fortalecendo a posição de Macau como um “hub” de inovação energética. Macau pode estabelecer parcerias para troca de conhecimentos e tecnologias no sector energético. Isso pode incluir projectos conjuntos de pesquisa, desenvolvimento de novas tecnologias e capacitação de recursos humanos. Usando estes princípios, Macau alcançar a neutralidade carbónica, servindo como exemplo inspirador para outras regiões da China e tornar-se um exemplo global de sustentabilidade urbana e inovação tecnológica.

Como descreve o futuro da China no mercado energético mundial?

O Governo da China anunciou em 2020 uma meta para alcançar a neutralidade carbónica até 2060, algo extremamente ambicioso considerando que o país é actualmente o maior emissor de dióxido de carbono do mundo. Estas emissões devem-se principalmente à elevada dependência do carvão para produção eléctrica. No entanto, se a China continuar no caminho da descarbonização, poderá tornar-se uma superpotência energética. O país já é o maior investidor em tecnologias de energia renovável, e essa tendência deve continuar a crescer. A China tem consistentemente superado as suas metas de integração de energias renováveis, estabelecidas nos planos quinquenais do Governo Central. Nos três últimos planos quinquenais, o país ultrapassou largamente as taxas de crescimento previstas para a capacidade instalada de fontes de energia de baixo carbono, tanto renováveis como nuclear. Se a China continuar neste caminho, não só alcançará os seus próprios objectivos ambientais, mas também definirá o futuro do mercado energético mundial. O seu compromisso com a expansão de energias renováveis e a redução de emissões de carbono poderá influenciar políticas energéticas globais.

A energia é, cada vez mais, um factor fundamental nas relações diplomáticas? A China, neste capítulo, tem-se posicionado da melhor forma?

Sim. Citando Henry Kissinger: “Quem controla a energia pode controlar continentes inteiros”. Neste contexto, a China tem se posicionado de maneira estratégica e eficaz. O país desempenha um papel crucial no futuro do sector energético mundial, evidenciado pelo facto de que, entre os dez maiores produtores de painéis solares, sete são empresas chinesas, e quatro dos dez maiores produtores de aerogeradores também são chineses. No mercado de carros eléctricos, que se correlaciona com a transição energética, a BYD, destaca-se como a maior produtora mundial. Além disso, nos últimos anos, a China tem assegurado a aquisição de minas de metais essenciais em diversos países, necessários para a manufactura de baterias eléctricas, microchips e outros equipamentos vitais para a transição energética. Actualmente, a China produz mais de 80 por cento do total global de metais raros, posicionando-se como líder incontestável no suprimento desses recursos críticos. Esta estratégia tem sido extremamente positiva para a China, demonstrando como o país tem investido em áreas-chave para o futuro do sistema energético mundial.

Têm sido evidentes os acordos e investimentos feitos com outros países nesta área?

A China tem investido além de suas fronteiras para aprender mais e facilitar a cooperação energética. Um exemplo claro é Portugal, onde algumas das maiores investidoras no sector energético são empresas chinesas. A maior accionista da EDP é a China Three Gorges, enquanto a maior accionista da REN é a China State Grid. Contudo, é importante lembrar que não é positivo criar uma dependência excessiva de qualquer país, incluindo a China. Os países devem trabalhar para assegurar a sua independência energética, diversificando as suas fontes de energia e fornecedores. A busca por uma matriz energética diversificada e segura é essencial para evitar vulnerabilidades económicas e políticas. Portanto, embora a China tenha se posicionado de maneira muito eficaz no sector energético global, oferecendo oportunidades de cooperação e desenvolvimento, é fundamental que outros países mantenham uma abordagem equilibrada e estratégica para garantir a sua segurança energética a longo prazo.

Acredita no estreitar de relações com Portugal na área energética?

Vejo de forma bastante positiva o investimento chinês no sector energético português. Tem sido duradouro, estável e permitido a várias empresas um crescimento acentuado. No entanto, nos últimos anos, a tensão geopolítica entre a China e os Estados Unidos tem, infelizmente, colocado algumas dificuldades na relação entre Portugal e a China.

Como vê, então, o futuro?

É difícil prever como evoluirá a relação entre os dois países. Espero que os governantes de ambos os países priorizem o realismo político sobre concepções ideológicas e procurem o melhor para ambos os países. Esse enfoque pode se traduzir numa relação mais estreita, com mais oportunidades de negócios e benefícios mútuos. Portugal deverá continuar a aproveitar o dinamismo e a capacidade de investimento da China no sector energético, enquanto a China poderá beneficiar da experiência e inovação de Portugal em energias renováveis e sustentabilidade.

10 Jul 2024

Estudo | Mudanças nos hábitos de jogadores chineses

A pandemia teve um efeito profundo na forma como jogadores chineses passaram a jogar, segundo um estudo da Universidade Politécnica de Macau. O jogo online passou a atrair mais adeptos e os hábitos de jogo evoluíram consoante estado civil, salário e género

 

O jogo também foi infectado pela covid-19, não só durante os anos de severas restrições de combate à pandemia. Esta realidade está patente num estudo de académicos da Universidade Politécnica de Macau, Jinquan Zhou, Hong-Wai Ho e Chi Biu Chan, onde se indica que a maior mudança se verificou na passagem de muitos jogadores para o mundo virtual, trocando as mesas dos casinos pelo jogo online.

O estudo teve por base inquéritos feitos a 334 jogadores oriundos do Interior da China, com mais de metade destes a interromperem totalmente o jogo durante a pandemia. Muitos dos apostadores desencorajados a visitar Macau para irem aos casinos passaram a jogar online, o que levou à subida de 52,4 por cento do jogo online em comparação com o período antes da pandemia. Segundo o Asia Gaming Brief, a migração para o mundo digital de apostas foi mais pronunciada ocorreu entre os mais jovens, conduzindo uma tendência de clivagem geracional. Além disso, os dados recolhidos pelos investigadores da UPM apontam que a larga maioria dos jogadores (77,7 por cento) que passaram para o online são homens.

Também as características sociais e demográficas influenciam o comportamento de jogo. Género, hábitos, frequência, e níveis salariais foram factores determinantes do comportamento dos jogadores durante a pandemia.

Um dos aspectos destacados pelo Asia Gaming Brief é forma como o estado civil interferiu nas decisões para visitar casinos em Macau, mas não afectou a forma de jogar online. Curiosamente, pessoas casadas que vieram a Macau jogar durante a pandemia acabaram por passar mais tempo nos casinos, em comparação com solteiros. Isto apesar de os “orçamentos” para gastar em jogo se tenham mantido estáveis desde e depois da pandemia, tanto para solteiros como casados.

Fechados no casino

Os dados demográficos relativos à idade revelaram que os jogadores com menos de 25 anos e entre os 26 e os 35 anos foram mais frequentes durante a pandemia do que os jogadores com mais de 36 anos, o que indica uma taxa de participação mais elevada entre os mais jovens. Estes dados foram encarados pelos académicos como um sinal da capacidade de adaptação dos mais novos para alterações ambientais no sentido de continuar a jogar.

Por outro lado, os jogadores regulares antes da pandemia, em especial os que jogavam diariamente, mantinham uma maior frequência de jogo em comparação com os que jogavam semanalmente, mensalmente ou de forma irregular. Neste aspecto, o estudo revela que a pandemia aumentou a frequência de jogo dos apostadores regulares.

O estudo também registou diferenças significativas nos comportamentos de jogo online com base no nível de escolaridade. Os indivíduos com formação universitária tinham mais probabilidades de usarem plataformas de jogo online, em comparação com jogadores que tenham apenas estudos secundários, ou inferiores.

10 Jul 2024

EPM | Nova petição junta mais de 100 assinaturas

A agitação na Escola Portuguesa de Macau tarda em acalmar, e uma nova petição dirigida às autoridades locais vem pedir a continuidade dos professores e da psicóloga dispensados. Além disso, os signatários apelam ao respeito pela lei local

 

O respeito pela lei de Macau, a manutenção dos professores e da psicóloga dispensados e a continuidade da disciplina do português como língua não materna. São estes os pedidos que constam de uma nova petição sobre a Escola Portuguesa de Macau (EPM), dirigida às autoridades de Macau, que está a circular online e que ontem tinha mais de 100 assinaturas.

O texto escrito em nome dos “residentes” do território defende a “manutenção dos professores e da psicóloga dispensados”, o que é justificado com o “saber acumulado ao longo de muitos anos” do exercício das funções em Macau. Este pedido é igualmente fundamentado com o “profissionalismo e empenho” dos visados pelas dispensas, sendo considerado que a sua continuação vai permitir o “sucesso nos estudos” e “numa língua curricular” que “na maioria das vezes” não é a língua materna dos alunos.

Outro dos aspectos mencionados, passa pela defesa da continuidade da disciplina do português como Português como Língua Não Materna (PLNM). Segundo o texto que reuniu mais de 100 assinaturas, o PLNM “permite aos alunos” da “comunidade que frequentam a EPM e que não são de língua materna portuguesa (muitos deles alunos inclusivos), imersos no seu dia-a-dia em línguas e culturas tão diversas, aprenderem o português de forma gradual, sistemática e consolidada, alicerçando o estudo das restantes disciplinas do currículo português”.

Em relação ao PLNM, numa resposta recente da escola à associação de pais, foi reafirmado o compromisso com a manutenção da disciplina.

Por último, a petição apela ao “respeito pela lei da RAEM, nomeadamente no que diz respeito às orientações da Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ) relativas ao pagamento do trabalho realizado pelos professores com os alunos do ensino inclusivo”.

O texto aponta também que o pagamento visa permitir que os alunos sejam “devidamente acompanhados nas suas necessidades educativas” e que possam cumprir a “escolaridade obrigatória na EPM”, permitindo assegurar a “salvaguarda do princípio da inclusão, da defesa da multiculturalidade e da igualdade de oportunidades para todos”.

10 Jul 2024

Areia Preta | Projecto de habitação com duas estradas

A Macau Renovação Urbana indicou ontem que o projecto de habitação temporária no Lote P na Areia Preta será complementado por duas estradas com quatro faixas. A empresa de fundos públicos confirmou que as oito torres de apartamentos vão estar concluídas até ao fim deste ano

 

A Macau Renovação Urbana (MRU) confirmou ontem que projecto de habitação temporária no Lote P na Areia Preta estará completo até ao final deste ano e será servida por duas vias com quatro faixas para aliviar o trânsito na zona. Além das duas estradas, com 24 metros de largura, serão construídas paragens de autocarros, uma zona verde aberta e uma via para uso exclusivo de peões que ligará aos bairros adjacentes.

Num comunicado emitido ontem, a empresa de fundos públicos indicou que a rede de infra-estruturas que irá apetrechar o projecto tem como objectivo criar um ambiente conveniente e habitável.

O projecto que nasceu no terreno que esteve destinado ao complexo do Pearl Horizon foi a resposta do Governo para proporcionar alojamento temporário aos proprietários de fracções situadas em prédios intervencionados para renovação urbana. Durante o período em que as propriedades estão em processo de remodelação, os moradores podem ficar num apartamento de habitação temporária no Lote P na Areia Preta.

A queda do bambu

No passado mês de Dezembro, a MRU anunciou que a fase de construção das estruturas tinha chegado ao fim. Actualmente, estão em curso os trabalhos de adaptação que envolvem os trabalhos de interior, como fazer tectos, paredes, chão e posterior instalação de cabos e canalização. Terminada esta fase, começará a remoção dos andaimes das paredes exteriores.

O complexo irá consistir de oito de torres residenciais com cerca de 2.000 apartamentos, “como o número suficiente de lugares de estacionamento para automóveis e motociclos”, indica a empresa.

A construção do projecto foi entregue a duas empresas, com a primeira empreitada a cargo da China Construction Engineering (Macau) Company Limited (4 mil milhões de patacas), e a segunda empreitada da responsabilidade da joint venture entre a Coneer Engineering Limited-China Road and Bridge Corporation e a Top Design Consultants Company Limited (878 milhões de patacas).

A MRU recorda que quem estiver interessado em saber mais sobre o projecto pode inscrever-se online no website da MRU para marcar uma visita ao andar modelo das habitações temporárias localizado no 3.º andar do Edifício Mong Tak de Habitação Social de Mong Há, na Rua de Francisco Xavier Pereira.

10 Jul 2024

Orçamento | RAEM com superavit de 7,68 mil milhões de patacas

Apesar do aumento de 3,3 mil milhões de patacas em apoios sociais, até ao final de Junho, as contas da RAEM apresentaram um resultado positivo. Os impostos sobre o jogo são responsáveis por quase 85 por cento de todas as receitas

 

Nos primeiros seis meses do ano, as contas da RAEM apresentam um saldo positivo de 7,68 mil milhões de patacas, de acordo com os dados publicados no portal da Direcção de Serviços de Finanças (DSF). O saldo apurado no primeiro semestre resulta de receitas no valor de 52,75 mil milhões de patacas e despesas de 45,07 mil milhões de patacas.

No que diz respeito às receitas, este ano houve um aumento de 8,97 mil milhões de patacas face ao período homólogo de 2023, quando o montante encaixado tinha sido de 43,78 mil milhões de patacas.

Como normalmente acontece, a principal fonte de receitas veio das concessões, nomeadamente aquelas que advêm dos jogos de fortuna ou azar. Nos primeiros seis meses, o jogo foi responsável por receitas fiscais de 44,79 mil milhões de patacas, uma proporção de 84,9 por cento do total das receitas.

Naquele que é o primeiro ano após a pandemia em que o orçamento não está dependente do recurso à reserva financeira, as receitas do jogo praticamente duplicaram em comparação com os 26,79 mil milhões de patacas gerados nos primeiros seis meses do ano passado.

A segunda maior fonte de receitas são os impostos directos que representaram 2,38 mil milhões de patacas, um aumento de aproximadamente 180 milhões de patacas, face ao período homólogo. Ainda ao nível das receitas, o terceiro grande fluxo advém dos impostos indirectos se cifraram nos 1,90 mil milhões de patacas.

Despesa social a subir

Ao nível das despesas, o montante nos primeiros seis meses foi de 45,07 mil milhões de patacas, um aumento de 3,63 mil milhões de patacas face aos 41,44 mil milhões de patacas do ano passado.

Os maiores gastos foram com apoios sociais, as denominadas “transferências, apoios e abonos”, que constituíram uma despesa de 25,13 mil milhões de patacas. Em comparação com o ano passado, em que a despesa social por esta altura estava nos 21,83 mil milhões de patacas, houve um aumento dos gastos de 3,3 mil milhões de patacas.

Outro aspecto em que os gastos estão mais elevados é nas despesas com o pessoal da Administração Pública. Desde o início do ano que foram registados aumentos, e nos primeiros seis meses do ano os gastos representaram 8,01 mil milhões de patacas. Em comparação, no ano passado, os gastos tinham sido de 7,67 mil milhões de patacas.

Uma área onde a despesa está a ser reduzida face ao ano passado, de acordo com os números do primeiro semestre, é no Plano de Investimentos e Despesas da Administração (PIDDA). Os gastos actuais são de 8,52 mil milhões de patacas, quando no passado estavam nos 9,18 mil milhões de patacas.

10 Jul 2024