Leonor Sá Machado Manchete SociedadeEmprego | Grupos empresariais com vagas sem ninguém para as preencher A feira de emprego do IFT começou ontem e acaba hoje e as empresas representadas não têm dúvidas: há uma série de vagas, mas ninguém para as preencher. E a culpa é da “competitividade do mercado” [dropcap style=’circle’]H[/dropcap]á, na indústria hoteleira local, bastante procura de pessoal qualificado na área de Gestão, Culinária e Logística. No entanto, poucos têm disponibilidade para trabalhar a tempo inteiro e por isso mesmo as empresas começam a resignar-se e abrir vagas de part-time para atrair talento local. Mas nem sempre são bem sucedidas. É o que defendem alguns empresários ouvidos pelo HM. O Instituto de Formação Turística (IFT) organiza, desde ontem e até hoje à tarde, uma feira de emprego destinada à indústria hoteleira local que procura a fornada anual de recém-formados desta instituição. Em declarações à imprensa, a presidente do IFT, Fanny Vong, disse estar “confiante” de que uma iniciativa deste género possa ajudar à aproximação entre patronato e recém-licenciados. “Há mais hotéis a abrir no futuro e estes vão precisar de mão-de-obra. A acrescentar a isso está o facto de que a taxa de empregabilidade aqui ser muito reduzida”, começou por dizer. “Temos vários alunos do 3º ano a fazer estágios, o que lhes dá vantagem sobre aqueles que tentam entrar sem experiência.” Mas, a verdade é que são basicamente sete cães a um osso, de acordo com a explicação de Tommy Cheang, da empresa de retalho Richemont. Tanto este como um outro grupo hoteleiro presente na feira – que prefere não ser identificado – lidam com um problema imperceptível a olho nu. “Estamos à procura de estudantes que estejam a frequentar cursos relacionados com a indústria hoteleira e que pretendam integrar a nossa equipa. Esta é uma das áreas de mercado mais competitiva e, infelizmente, só o IFT é realmente profissional ao nível da Hotelaria”, começa por explicar. Além da esmagadora maioria dos jovens só terem o certificado na mão no Verão, poucos pretendem arranjar um emprego a tempo inteiro. O representante da empresa em anonimato confessa, por isso, que o público-alvo da feira são os estudantes com vontade de trabalhar a tempo parcial. “Por alguma razão que desconheço, é bastante difícil contratar pessoal a tempo inteiro, seja devido à baixa taxa de desemprego ou à posição oferecida”, lamenta. A opção de part-time vem, assim, trazer aos alunos “a oportunidade de conhecerem o mundo hoteleiro” e “engordarem o mealheiro”. Começar por baixo A experiência, confessam, é essencial para iniciar uma carreira na área, mas há muitas oportunidades e torna-se difícil escolher. Isso mesmo disse Angela Lo, finalista do curso de Gestão Hoteleira. “Para já, prefiro arranjar um trabalho que me permita conhecer a indústria, mas que não me ocupe a semana inteira”, confessou. Ao HM, disse ainda que procura trabalho na área administrativa, podendo ser em Comunicação, Eventos ou Relações Públicas. No entanto, de acordo com a gerente assistente de Recursos Humanos do Sofitel, Emily Tang, tal vontade pode constituir um problema. “Às vezes deparamo-nos com a falta de pessoal que não se importa de começar por baixo, em posições abaixo da administração. A ideia geral dos recém-formados é que os lugares de administração e gerência estão abertos para todos os qualificados, mas a indústria hoteleira não funciona assim”, explica. “É preciso começar por baixo, funciona muito com o esquema de promoção por reconhecimento”, remata. De recepcionista se torce o talento Na feira estavam presentes não mais do que 15 stands, a esmagadora maioria de grupos hoteleiros e relacionados com a indústria do Jogo. Exemplo disso são a Accor – que detém o Sofitel em Macau e vários outros hotéis a nível internacional –, a Galaxy, a Sands China, a Melco Crown, o Louis XIII, hotel ainda por inaugurar, e a Richemont, entre outras. Algumas pretendiam somente promover-se no seio de potenciais empregadores, não estando neste momento a contratar pessoal. Havia ainda quem preferisse conhecer os interessados primeiro e só depois proceder ao envio de um email com pedido de currículo. No entanto, grande parte estava a contratar pessoal através da entrega, no local, de currículo e outros documentos de identificação. Sarah e Anson chegaram juntos à feira e conheceram-se no IFT, onde completam agora o quarto ano. Finalistas, portanto. Ambos estavam ali para encontrar um “bom emprego”, mas, ao contrário do que Emily Tang explicou, nenhum se mostrou importado com o facto de ter que começar por baixo. “Estou à procura de emprego na área de assistente e administração, mas amanhã (hoje) quero apostar na entrega de currículos à Air Macau e ao St. Regis, para as posições de apoio ao cliente ou recepcionista”, afirmou Sarah, quando questionada pelo HM sobre o objectivo da visita à feira. O seu colega Anson está à procura de uma oportunidade a tempo inteiro, mas só depois de findo o curso. “Queria trabalhar na área de operações hoteleiras, desde recepcionista a empregado de F&B”, começa por dizer. Também o jovem considera que arranjar trabalho em Macau é “muito fácil”, já que “há sempre falta de pessoal qualificado”. Tal constitui uma mais-valia para ambos os lados: as empresas têm muito por onde escolher e os recém-licenciados vários endereços para onde enviar currículos. Língua inglesa é cada vez mais pioritária O Inglês é, cada vez mais, uma ferramenta essencial quando chega a altura de passar o currículo para as mãos da entidade empregadora. Isso mesmo confirmam candidatos e empresas. Tommy Cheang acredita que conhecimentos de inglês ao nível da fluência são sempre uma mais valia. O gerente de uma outra cadeia, que preferiu não ser identificado, confessa que é no IFT que se encontram os alunos com melhores qualificações linguísticas. “Vimos procurar aqui no IFT porque é a escola que mais conhecimentos passa aos alunos”, confessa, não descredibilizando, contudo, o ensino oferecido em instituições académicas como a Universidade de Macau ou o Instituto Politécnico. Ainda assim, várias das vagas que podem ser encontradas online dão prioridade ao Cantonês e ao Mandarim como línguas essenciais, muitas vezes colocando o Inglês como opcional. O mesmo profissional defende que o que interessa é o contrário. “Tudo na nossa empresa é feito em Inglês, incluindo comunicados de imprensa, notas de administração aos trabalhadores e outras formas de comunicação, pela simples razão de que o patronato é geralmente nativo de Inglês”, esclarece. Estes podem ser australianos, britânicos, norte-americanos, mas também da Malásia, Singapura e outros locais onde o Chinês não é a língua principal. O problema para a falta de falantes de língua inglesa em Macau está, na opinião do mesmo responsável, na falta de empenho das escolas básicas e secundárias. “Acho que deve ser uma aposta das próprias escolas, porque as únicas línguas são o Mandarim e o Cantonês. Não é que isto seja mau, mas deve ser reforçado o ensino da língua”, defendeu. O dialecto de Shakespeare passa então para terceiro e até quarto plano quando, na opinião de alguns profissionais da feira, deve ser essencial para promover Macau. Questionado sobre que trabalhadores devem saber Inglês, o gerente aponta uma necessidade premente para o pessoal de apoio ao cliente, porteiros, recepcionistas e pessoal de Comunicação. Empregabilidade máxima O Inglês é, para Sarah, a “primeira e mais importante língua” para quem pretender ocupar cargos de gestão e atendimento ao cliente, mesmo com uma percentagem maioritária de turistas do continente. “A segunda creio que seja o Mandarim, devido à quantidade de turistas da China”, continua. A finalizar a sua licenciatura, a aluna acredita que “é bastante fácil” encontrar emprego na região. A estudante atribui esta facilidade à quantidade avultada de casinos e hotéis. Alex Lu é das poucas empresas que ali está com efectiva intenção de contratar pessoal. Tanto para a empresa da qual é director-executivo, como para seus clientes. A Engage funciona como consultora de recursos humanos, agregando currículos e servindo de ponte entre empregados e empregadores. Até ao encerramento da feira, Lu prevê a entrega de cerca de centenas de currículos, mas apenas conta empregar cerca de dez pessoas. “Seis ou sete destas pessoas serão para a nossa empresa e os restantes, para empresas nossas clientes”, disse. Primeiro é preciso falar pessoalmente com cada um, depois proceder à selecção e perceber que posição se adequa a cada um.” Também aqui o Inglês desempenha um papel essencial. Lu aponta mesmo para uma importância “semelhante à do Mandarim”.
Flora Fong Manchete SociedadeEnsino Superior | Ideia de atrair estudantes estrangeiros divide opiniões Macau vai precisar de estudantes de fora se quiser preencher as vagas nas instituições superiores locais, mas é preciso pensar primeiro cá dentro antes de receber quem vem lá de fora, dizem analistas [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Secretário para os Assuntos Socais e Cultura, Alexis Tam, quer atrair mais estudantes da China continental e de outros países para as universidades e instituições de ensino superior em Macau, mas académicos dividem-se quanto à ideia. Para Teresa Vong, da Universidade de Macau, há ainda dúvidas quanto à orientação e planeamento do ensino superior local como ele está actualmente. A professora aponta preocupações, enquanto o deputado Si Ka Lon diz que é necessário pensar-se primeiro em reforçar as características do ensino da RAEM. Seja como for, para Vong a ideia é capaz de ser positiva por um lado financeiro: mais alunos, menos custos. “Com a mudança do novo campus da UM para a Ilha da Montanha, o tamanho aumentou 20 vezes comparativamente ao espaço antigo e temos que admitir estudantes suficientes para corresponder aos custos de formar estudantes. Para manter o funcionamento normal [do espaço] vai ser necessário atrair mais estudantes porque cada vez menos estudantes locais vão frequentar universidades em Macau”, aponta ao HM. A académica não deixa de apontar, contudo, a questão “da orientação do ensino superior de Macau”. Ainda que, na sua opinião, a apresentação da medida de Alexis Tam seja apenas para corresponder à política “Uma faixa, Uma rota” do Governo Central, é preciso pensar se trazer mais alunos de fora não vai contrariar o ensino superior local. “Macau é um sítio tão pequeno que o desenvolvimento é facilmente afectado pelas regiões vizinhas. Preocupo-me, neste momento, com qual é o plano local. Se não sabemos qual é a perspectiva e o desenvolvimento de cá é perigoso [trazer mais alunos de fora] porque o ensino superior é o que suporta o desenvolvimento sustentável de Macau e fornece talentos profissionais”, diz, acrescentando ter dúvidas sobre se as instituições do ensino superior de Macau estão preparadas e atentas ao “desenvolvimento internacional e global”. Questão de equilíbrio O Secretário para os Assuntos Socais e Cultura afirmou recentemente que em cinco anos vão existir apenas 3500 finalistas de escolas secundárias ao ano, número que não satisfaz a necessidade de admissão de estudantes nas instituições do ensino superior da RAEM. O Governo apresentou, por isso, ao Ministério de Educação do Governo Central uma proposta para que sejam alargadas as vagas dedicadas aos estudantes do continente, até porque há universidades, como a de São José, onde esses alunos não podem entrar. Para Teresa Vong, contudo, é também preciso equilibrar a necessidade de globalização com a do desenvolvimento de Macau. “Temos de colocar este assunto no plano de desenvolvimento de cada universidade, porque se apenas abrimos mais a porta a estudantes estrangeiros, isso pode incomodar a aprendizagem dos estudantes locais e não trazer vantagens”, indicou. Segundo informações do Gabinete de Apoio a Ensino Superior (GAES), os estudantes estrangeiros nas dez instituições de ensino superior de Macau ocupam 36% do bolo total, sendo mais de dez mil. Mais rigor Si Ka Lon relembra que, actualmente, nas instituições públicas, a admissão de estudantes não residentes não pode ultrapassar 10% do total e nas instituições privadas não pode superar os 50%. Mesmo assim, cada ano Macau tem cerca de seis mil finalistas de escolas secundárias e 80% deles frequentam universidades – mas metade sai de Macau, o que faz com que menos de três mil estudem no território. O deputado elogia, por isso, a ideia de se aumentarem as vagas de estudantes estrangeiros e não apenas da China, para se “quebrar com a mesma fonte” de estudantes de sempre, que é, neste momento, o continente. “Actualmente 90% dos estudantes estrangeiros de Macau são da China continental e isso não é bom para o desenvolvimento dos estudantes, nem para criar um centro mundial de lazer e turismo”, diz. O deputado considera que Macau pode ter como referência Taiwan, onde o Governo tem um papel principal na atracção de estudantes de fora. Mas alerta. “É necessário reforçar as características de ensino em Macau, bem como ter rigor na qualidade do ensino”. Si Ka Lon considera ainda que, para já, é importante ter em conta como estão a ser atribuídos os subsídios às instituições de ensino superior. “Além das instituições públicas, as privadas podem ser também sem fins lucrativos? As propinas, os subsídios e as contas podem ser mais transparentes para que a sociedade as compreenda? Porque para formar um estudante, as despesas que cada instituição cobre é diferente, mas os subsídios atribuídos são sempre valores altos”, rematou. Recém-licenciados com salários inferiores aos croupiers Um inquérito realizado pelo Gabinete de Apoio ao Ensino Superior mostra que o primeiro salário dos recém-licenciados de Macau é, na maior parte dos casos, inferior à remuneração média dos trabalhadores do jogo ou mesmo dos croupiers, diz a Rádio Macau. Entre os licenciados, 29% têm um primeiro ordenado de dez mil e a 14 mil patacas, enquanto para 25% o rendimento mensal logo após a conclusão da licenciatura se situa entre as 14 e as 18 mil patacas. Segundo a rádio, os números ficam aquém da remuneração média do sector do Jogo, que se situa, segundo os dados mais recentes, nas 21.480 patacas. No caso dos croupiers, o salário médio ronda as 18.500 patacas. Entre os quase dois mil estudantes entrevistados, 85,4% disseram estar empregados enquanto 3,4% continuava a prosseguir os estudos, sendo que Educação, Administração Pública e Banca são os sectores com mais estudantes a trabalhar.
Leonor Sá Machado Manchete PolíticaPresidenciais | Portugueses dividem-se entre vitória de Marcelo ou segunda volta Marcelo Rebelo de Sousa reúne uma maioria de 54,8% dos votos nas últimas sondagens, mas há quem acredite que uma segunda volta reúna consenso num dos candidatos de Esquerda. As opiniões dividem-se, mesmo face às evidências [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s eleições presidenciais portuguesas, que têm lugar este domingo, integram dez candidatos mas, na opinião de portugueses contactados pelo HM, apenas três reúnem condições para seguir em frente. As opiniões dividem-se: enquanto alguns acreditam na vitória clara numa primeira ronda do professor e jurista Marcelo Rebelo de Sousa, outros prevêem que haja uma segunda volta, com um dos candidatos de Esquerda na linha da frente. À Direita – mas com um apoio popular maioritário – está Rebelo de Sousa, com António Sampaio da Nóvoa em segundo plano e Maria de Belém em terceiro lugar, ambos com ligações ao Partido Socialista (PS). O Primeiro-Ministro e líder do PS, António Costa, também já confirmou liberdade de voto aos seus militantes. É que neste caso específico, os militantes do partido dividem-se em termos de apoio, com uma maioria a suportar a candidatura de Sampaio da Nóvoa. Embora Maria de Belém seja adjectivada como “uma figura pouco carismática”, tem um passado marcante na política nacional, tendo já sido Ministra da Saúde, Secretária de Estado portuguesa e administradora da TDM, entre 1986 e 1987. Poucos estão confiantes na figura feminina para Presidente da República, ainda que a maioria acredite numa segunda volta. Torna a virar Para Tiago Pereira, representante do PS de Macau, as campanhas “não trouxeram questões especialmente controversas” e decorreram sem altos e baixos. Chegada a altura de prever os resultados do próximo domingo, o socialista manifesta esperança em que se siga para uma segunda ronda. “Estou confiante”, declarou ao HM. “As sondagens indicam uma presumível vitória de Marcelo Rebelo de Sousa, mas as estatísticas, especialmente no caso das Presidenciais, têm um grau de incerteza maior e, nesta altura, é perfeitamente possível que os resultados levem a uma eventual segunda volta”, continuou. As posições de Maria de Belém e de Sampaio da Nóvoa, acrescenta Tiago Pereira, são semelhantes. “Maria de Belém é uma figura do PS que comanda enorme respeito perto de todos os socialistas e Sampaio da Nóvoa é uma pessoa de quem a simpatia com o PS é conhecida, mas cuja candidatura é declaradamente independente”, avança. O PS, faz notar o representante da secção local, não apoia qualquer uma das candidaturas em termos formais. Há, no entanto, simpatizantes e militantes dentro do partido que se identificam com um dos dois. Filipa Rodrigues também se mostrou “confiante” numa segunda volta, estando no entanto indecisa sobre qual dos socialistas segue em frente. A residente local espera ainda que haja “menos abstenção” do que em eleições anteriores. Embora tenha confessado não saber ainda em que vai votar, Filipa defende que “é preciso uma nova forma de ver o mundo”, sendo “interessante para o país” que fosse eleita uma mulher para o cargo de Presidente. “Se Marcelo Rebelo de Sousa tiver entre 30% e 40% numa primeira volta, isso obrigá-lo-á a uma segunda com um dos outros dois candidatos com uma percentagem semelhante”, prevê. Como nos 80 A facção Socialista e simpatizante do sector da Esquerda acredita numa segunda volta, com uma maioria a crer que o frente a frente acontece entre o professor da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e Sampaio da Nóvoa. Nesta próxima ronda deixam de ter presença todos os restantes candidatos, com Maria de Belém a perder força e dar espaço ao concorrente Socialista. O cenário que se segue é uma vitória, tal como em 86, quando Mário Soares destrona Freitas do Amaral pela simples razão de toda a Esquerda ter apoiado a candidatura do socialista numa segunda volta. Gonçalo Pinheiro é um dos residentes que acredita neste cenário: “A minha dúvida é se só existe uma volta e penso que há necessidade de uma segunda. Se numa primeira volta Rebelo de Sousa se apresentar como um candidato destacadíssimo dos outros, pode acontecer como nos anos 80, quando Mário Soares foi o vencedor. Ou seja, a Direita arrisca-se a perder, porque a Esquerda vai votar toda num só, não no Marcelo”, explica o jornalista e fotógrafo. Sem hipótese Sebastião Gomes (nome fictício) afirma que não foi uma opção inteligente, por parte do PS, lançar aos leões dois candidatos. “Só se devia ter candidatado um militante, porque os resultados seriam muito mais marcantes”, esclarece. “O PS está todo repartido e o que fazia sentido era haver só um candidato”, continua. Para o português, Marcelo Rebelo de Sousa não reúne apenas os votos da Direita, mas também de outras facções da população, devido à sua simpatia e presença. Já Maria de Belém não tem, a seu ver, “carisma”, nem é a pessoa indicada para subir à Presidência. “Maria de Belém não tem hipótese”, reitera, em declarações ao HM. O residente e advogado crê realmente numa vitória de Rebelo de Sousa à primeira tentativa. Se assim não for, “certamente” à segunda, mas na probabilidade remota de se seguir para um regresso às urnas. Professor ao poder Conhecido pelos seus comentários semanais – primeiro na rádio TSF e, mais recentemente, no canal televisivo TVI – Marcelo Rebelo de Sousa tornou-se não só uma voz conhecida, como querida da população portuguesa. A arte da oratória e os comentários públicos de crítica (positiva e negativa) a atitudes e situações da vida política e social de Portugal fizeram-no conquistar um lugar na televisão nacional. No entanto, como nota Sebastião Gomes, “pouco se conhece de Rebelo de Sousa político”, ficando-se a familiaridade pelos comentários de domingo à noite. É o jurista que mais consenso reúne nas mais recentes sondagens realizadas pelo canal SIC, vencendo com maioria numa primeira volta. Previsões há muitas, mas apenas duas são expressivas: ou Rebelo de Sousa vence à primeira volta, ou terá um frente a frente com Sampaio da Nóvoa numa segunda volta. Nessa altura, surgem duas outras hipóteses: ou a maioria insiste no professor de Direito, ou a Esquerda se une para votar, de forma massiva, em Sampaio da Nóvoa. No entanto, três dos cinco residentes contactados focam um problema eterno: a abstenção. É que se for alta, pode tramar a vitória de Rebelo de Sousa e aproximar Sampaio da Nóvoa da meta. Questionado acerca da votação em Macau, Tiago Pereira acredita que as urnas terão afluência, já que, ao contrário das Legislativas, estão são presenciais. “Faz muito mais sentido que seja presencial, simplifica a vida a muita gente”, ressalva. Campanha sui generis Para o militante Social-Democrata Óscar Madureira, houve na presente campanha uma certa “orfandade partidária”, no sentido em que nenhum candidato mostrou oficialmente as cores da sua vestimenta. O também jurista considera que “o número de candidatos é anormal”, o que não deu grande espaço para que cada um desse conta dos seus planos. Além disso, faz notar que os candidatos de esquerda são “fracos” e não têm a mesma presença de Rebelo de Sousa, com Maria de Belém a ser novamente caracterizada como não tendo “carisma suficiente”. Sampaio da Nóvoa teve uma máquina de campanha bem oleada, diz, mas não tem grande passado político e por isso, para Madureira, sobra o jurista da universidade alfacinha. Para o advogado, só um socialista podia ter feito frente ao professor: António Guterres. Portugal vai a votos no domingo. Perfis Maria de Belém Roseira A única mulher na corrida à Presidência da República, tornou-se figura conhecida dos portugueses quando ocupou o cargo de Ministra da Saúde. Mais tarde, em 2011, apresentou-se como mandatária de Manuel Alegre às Presidenciais desse ano, mas cinco anos antes, o seu apoio foi para o então adversário de Alegre, Mário Soares. Além disso, cumpriu funções como presidente do PS. Nascida em 1949, entrou nas lides políticas com tenra idade e tem estado, desde sempre, associada ao Partido Socialista. Marcelo Rebelo de Sousa Professor catedrático de profissão, lecciona Direito na Faculdade de Direito na Universidade de Lisboa. No entanto, é como comentador político e social – agora na TVI e antes na rádio TSF – que os portugueses o conhecem. Rebelo de Sousa é figura emblemática, cujo voz e presença é querida de vários portugueses. Está neste momento à frente nas últimas sondagens e é militante do PSD. António Sampaio da Nóvoa Conhecido pelo apelido, o candidato à Presidência traz na sacola um doutoramento em Ciências da Educação e outro em História Moderna e Contemporânea, ambos tirados lá fora. Actualmente, lecciona Educação no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa. Nascido em 1954, tem mais de 150 publicações da sua autoria, contando com o apoio de António Costa para as eleições de domingo.
Filipa Araújo Manchete PolíticaEleições | Governo diz não ter condições para votos no exterior Zheng Anting pediu, mas o Governo diz que não. Os eleitores que não estão em Macau vão continuar sem poder votar, porque a Administração não tem condições para que isso aconteça [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s residentes de Macau que moram no exterior vão continuar sem poder votar nas eleições para a Assembleia Legislativa (AL), uma vez que não existe mecanismo para que isso possa acontecer e não há condições para tal. Quem o diz é o Governo, numa resposta ao HM. “Para colocar pontos de votação fora do território é necessário considerar o transporte de votos, número de pontos de votação, a escolha da localização e os recursos humanos”, diz o Executivo, que enumera ainda as despesas das eleições e a coordenação com as entidades de outras regiões, entre outros “factores incertos”, como justificações. “Antes de haver condições maduras, a RAEM não considera adicionar esse mecanismo na legislação eleitoral.” O esclarecimento dado ao HM surge depois de, numa interpelação escrita entregue no início do mês, o deputado Zheng Anting apelar ao Governo a implementação de um sistema que permita aos residentes de Macau no estrangeiro votar. O deputado chega mesmo a pedir que seja realizada uma consulta pública sobre o assunto antes de 2017, altura das próximas eleições para a AL. Direito de todos Existindo milhares de residentes de Macau a trabalhar ou estudar no estrangeiro, assim como idosos que se encontram a viver em lares do interior da China, o deputado argumentou os benefícios da implementação de um novo sistema de voto. Para Zheng Anting, estas pessoas usufruem dos mesmos direitos de eleger e ser eleitos, tal como dita a Lei Básica. “Já há muitas opiniões que apelam ao Governo para estudar o regime de votação à distância através da designação de locais de voto, para que os residentes possam participar nas eleições quando estão no estrangeiro. Actualmente vários países e regiões com sistemas mais democráticos usam este sistema”, lembrou o deputado. O Governo explica, na resposta, que “a legislação eleitoral tem regulamentos claros sobre os procedimentos de votação, para assegurar a justiça e equidade” e que “ não existe um mecanismo de colocar pontos de votação em regiões fora de Macau”, nem vai haver.
Flora Fong Manchete SociedadeCaso Dore | Maioria dos investidores não pôs empresa em tribunal A “esperança” no Governo fez com que a maioria dos investidores da sala VIP da Dore – que ficaram sem dinheiro depois de um rombo de milhões – não tenha levado o caso a tribunal. A bola, dizem, está do lado de Paulo Chan [dropcap style’circle’]A[/dropcap]maioria dos investidores da sala VIP da Dore no casino Wynn optou por deixar o caso fora das barras dos tribunais. Isso mesmo confirmou o porta-voz dos investidores ao HM, dizendo ainda que estes se sentem ignorados pelo Governo. Ontem, mais de duas dezenas de investidores entregaram uma carta à Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), pedindo informações sobre o ponto de situação da investigação. Os investidores afirmam querer encontrar-se com o novo director do organismo, Paulo Chan, até porque, dizem, as suas preces não têm sido ouvidas. “O caso já aconteceu há quatro meses e incomoda todos os lesados, que ainda estão à espera de uma resposta do Governo”, frisou Ip Kim Fong, porta-voz dos investidores que investiu um milhão de patacas na sala da Dore. “Um dos investidores sofreu um acidente cerebral por causa da perda do dinheiro. Espero ver esclarecida a verdade do caso e que se resolva a questão o mais rápido possível”. Seja como for, Ip Kim Fong afirmou ao HM que a maioria dos investidores não interpôs processo contra a empresa em tribunal. Ele próprio tomou essa opção, por considerar, apesar de tudo, que o Governo ainda vai tomar as rédeas do problema. “Acredito no Governo. E acredito que o director Paulo Chan esclarecerá as verdades e as mentiras do caso, protegendo os direitos de investidores”, explicou, admitindo contudo que “até ao momento nenhum departamento do Governo contactou as vítimas para esclarecer a situação”. “Nós temos recibos claros dos investimentos que fizemos na Dore, por isso devemos recuperar o dinheiro.” Com esperança Como Paulo Chan explicou na semana passada no programa “Macau Talk”, do canal chinês da Rádio Macau, a existência de uma parte das contas dos investidores já foi reconhecida pelo Governo e pela empresa Dore. O caso diz respeito a um rombo de mais de 300 milhões de dólares de Hong Kong, valor que foi “depositado” na sala VIP controlada pela Dore dentro do casino Wynn. O dinheiro foi desviado pela então contabilista, que se encontra em parte incerta. A Dore já disse não ter a responsabilidade e esperança reside agora no Executivo. “Saí com [o meu irmão] para entregar a carta porque temos esperança no novo director da DICJ”, frisou uma das investidoras, de nome Tan, ontem ao HM. Esta é irmã de um outro investidor que sofreu um acidente vascular devido ao caso, segundo a família, que diz ter investido três milhões de dólares de Hong Kong desde Abril do ano passado.
Filipa Araújo Manchete SociedadeÓbito | Almeida Santos relembrado como peça importante para Macau António Almeida Santos, presidente honorário do PS, morreu aos 89 anos deixando para trás uma marca de “espírito jovem”, “diplomacia” e “integridade”. O socialista foi uma peça importante para Macau na “pequena revolução” trazida pela elaboração do Estatuto Orgânico [dropcap style=’circle’]T[/dropcap]inha 89 anos de idade mas um “espírito muito jovem”. António Almeida Santos, figura histórica do Partido Socialista (PS) e um dos presidentes honorários do partido, morreu na noite de segunda feira, deixando para trás um exemplo de “diplomacia” e “integridade”. “Era uma pessoa muito íntegra, com valores muito fortes, um negociador e apaziguador que deixa um lugar que nunca será ocupado no Partido Socialista”, disse ao HM Vítor Moutinho, assessor, que trabalhou juntamente com o político. “Ele era presidente na altura em que trabalhei com os governos de [António] Guterres e José Sócrates. Em alguns congressos e campanhas, era uma voz sempre ouvida, sempre opinativa”, apontou, relembrando que “sempre que era necessário contar com uma opinião mais política e mais sensata [Almeida Santos] era sempre ouvido”. O assessor chega a dizer que em “situações extremas”, em que era necessário “bom senso político” e “diplomacia política”, Almeida Santos “era uma voz sempre auscultada e respeitada”. Pequena revolução Em Macau, Almeida Santos teve um papel importante, nomeadamente em 1974, como Ministro da Coordenação Interterritorial durante os II, III e IV Governos Provisórios. “[Almeida Santos] teve a seu cargo a recolha de informações em relação à situação de Macau. Reuniu em Pequim para perceber [a situação]”, relembra Tiago Pereira, líder do PS Macau. “Foi peremptório quando declarou que Macau não era considerada uma colónia”, apontou. O presidente honorário socialista assumiu ainda um “papel fundamental” na elaboração do Estatuto Orgânico do território. “Conjuntamente com figuras locais, Almeida Santos teve um papel fundamental na elaboração deste Estatuto, que foi uma pequena revolução, acto muito significativo, porque trouxe à luz um conceito novo e uma nova forma de encarar a situação em Macau, no sentido em que estabeleceu uma reforma profunda da Assembleia Legislativa (AL), com a sua democratização parcial”, referiu, frisando que o valor desse trabalho viu-se na sua duração, mantendo-se – apesar das ligeiras alterações – até 1999, altura da transição da soberania de Macau para a China. “Foi sem dúvida um trabalho muito bom”, remata. A sua ligação à empresa Geocapital, sediada em Macau, foi alvo de muitas críticas, tendo o ex-bastonário dos advogados, Marinho e Pinto, acusado Almeida Santos de ser um dos advogados “que mais negócios fizera à custa do que é público”. O socialista disse, na altura, ter muito orgulho na sua participação da constituição da Geocapital. De apontar a participação dos empresários Stanley Ho e Ambrose So na empresa. Referência incontornável “Com muita emoção.” Foi assim que Anabela Ritchie, ex-presidente da AL, recebeu a notícia. “Ainda há dois dias o víamos na campanha de Maria de Belém [candidata à Presidência da República] e estava muito bem. Custa muito saber da morte dele, uma figura para Portugal absolutamente incontornável, um ponto de referência”, defendeu. Para a ex-presidente da AL, Almeida Santos “teve um papel muito importante para Macau, não só nas diversas funções oficiais em que esteve envolvido, mas também a nível de amizades”. “Como tive uma carreira bastante comprida, pude acompanhar a disponibilidade e a dedicação que Almeida Santos tinha para com Macau e as suas questões, desde antes do 25 de Abril, como depois”, apontou. O conhecimento dos estatutos das antigas províncias ultramarinas permitiu ao socialista ter uma forte capacidade na elaboração do Estatuto Orgânico de Macau. “Sabia muito sobre as competências em que Macau estava investido e das competências que Macau devia adquirir com o Estatuto, com vista a uma autonomia desejável, com que ele sonhava e nós também”, argumentou. Uma pessoa sempre disponível sobre a qual Anabela Richie lamenta a “grande perda”. Aprender com o exemplo Vítor Moutinho relembra o exemplo que Almeida Santos foi para a sua – e de tantos outros – aprendizagem. “É quase como quando estamos na escola e gostamos sempre de aprender com os mais velhos. Era uma aprendizagem de comportamentos. Há que diga que a velhice é um posto, mas neste caso os anos não passaram por Almeida Santos. Foi alguém que sempre aprendeu com os mais novos e gostava de estar a par das novas informações e de como funcionavam as novas tecnologias. Até podia não as usar muito, mas era interessado”, ilustrou. Ideia também partilhada por Tiago Pereira, que diz que esta “figura história do PS e da própria democracia portuguesa” carregava em si um “espírito jovem”. “Isso notava-se até pelas suas posições políticas mais recentes. Isto reflecte uma consciência clara da nova realidade, dos novos tempos e da forma como o mundo mudou. Espelha o entusiasmo pela vida política que nunca perdeu”, rematou. Almeida Santos, licenciado em Direito, pela Universidade de Coimbra, faria no próximo mês 90 anos. Morreu em sua casa, em Oeiras, depois de se ter sentido mal no final do jantar. Foi assistido no local, mas sem sucesso. Maria de Belém cancelou a campanha até ao funeral de Almeida Santos, que ainda não tem data marcada.
Joana Freitas Manchete SociedadeMUST | Arrendamento do hospital custa mais de 50 milhões em cinco anos Durante cinco anos de arrendamento, foram pagos mais de 50 milhões de patacas à MUST devido à utilização dos espaço pelo São Januário. O valor da renda não subiu e o espaço é para continuar até existir um hospital público nas ilhas [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s Serviços de Saúde (SS) garantiram ao HM que o valor da renda do espaço hospitalar na Universidade de Ciência e Tecnologia (MUST, na sigla inglesa) se mantém igual desde 2011. Numa resposta ao nosso jornal, o organismo assegura que o preço pelo arrendamento do espaço – que causou polémica – não se alterou ao longo dos anos. “A área arrendada é de cerca de 37 mil pés quadrados, sendo a renda mensal de 910 mil patacas, uma média de aproximadamente 24,62 patacas por pé quadrado. Somos a informar que os valores se mantêm inalterados”, pode ler-se na resposta ao HM. Fazendo as contas desde Fevereiro de 2011, data de assinatura do contrato, até Janeiro deste ano, o espaço do Posto de Urgência das Ilhas do Centro Hospitalar Conde de São Januário – a funcionar sob dependência da MUST ainda que seja do Governo – custou aos cofres públicos 54,6 milhões de patacas. Os SS e a MUST celebraram um acordo de cooperação para a abertura do Posto em 2011, devido ao atraso na construção do novo hospital público das Ilhas, que ainda não começou sequer a ser construído. “Antes da conclusão e inauguração das instalações do hospital público nas Ilhas, o Hospital Universitário concorda em proporcionar aos SS instalações, permitindo ao Centro Hospitalar Conde de São Januário a criação, a gestão e o funcionamento dos serviços de urgência e do serviço hospitalar de reabilitação”, justificou na altura o organismo. Valores polémicos Apesar da MUST providenciar os espaços físicos, instalações médicas e equipamentos médicos – e destes estarem incluídos na renda paga pelo Governo – o valor pago levantou polémica. Entre outras razões, pelo facto do hospital estar dentro de uma universidade privada controlada por figuras políticas de Macau, como Liu Chak Wan, membro do Conselho Executivo, e por o terreno onde fica o hospital universitário ter sido cedido gratuitamente à MUST pelo Governo. Na altura do acordo, o Executivo disse que a escolha se deveu à “melhor conveniência geográfica”, além de “as instalações ao redor do Hospital Universitário serem relativamente mais completas” e dos vários apetrechamentos e equipamentos médicos existentes.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaBIR | Conselho das Comunidades pede intervenção de Sereno As exigências salariais e registos bancários que estão a ser pedidos no processo de atribuição do BIR levou o Conselho das Comunidades Portuguesas a pedir a intervenção do Cônsul-geral de Portugal, Vítor Sereno. Este promete abordar o assunto no próximo encontro com o Secretário [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s portugueses que pretendem obter o seu Bilhete de Identidade de Residente (BIR) pela primeira vez, ou que visam apenas renovar a residência, têm sido confrontados pelas autoridades com a obrigatoriedade de apresentação de extractos bancários, para além de serem exigidos salários superiores a 25 mil patacas para garantir a permanência no território. Tais requisitos levaram o Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) a pedir ontem ao Cônsul-geral de Portugal, Vítor Sereno, uma intervenção junto do Executivo. Segundo José Pereira Coutinho, um dos três Conselheiros, a situação acontece desde 2014, ano em que Aníbal Cavaco Silva, presidente da República, visitou o território. “Chegou a altura do Cônsul-geral intervir e fazer um ponto de situação sobre esta matéria. Temos recebido dezenas de pedidos de apoio dos portugueses e sabemos que estas situações só se podem resolver a nível diplomático junto das autoridades locais, para que o sistema seja mais transparente e para que todas as pessoas percebam quais são os requisitos, para que estes sejam iguais para todos”, disse José Pereira Coutinho ao HM. Desbloqueámos vários casos junto do Secretário para a Segurança [Wong Sio Chak], mas achamos que com o novo Governo [em Portugal] essas questões têm de ser resolvidas de uma vez para sempre, para que as pessoas que vêm trabalhar para Macau mantenham a confiança”, disse ainda o Conselheiro do CCP. Ilegalidades? Para o Conselheiro, as exigências dos extractos bancários e dos salários são ilegais. “Nada vem na lei que as pessoas, para determinadas profissões, tenham de ter um determinado salário e os salários que estão a ser exigidos são extremamente elevados, na medida em que há várias profissões em que os salários são inferiores a 25 mil patacas”, referiu. Para além disso, diz, apresentar os movimentos bancários não é a forma mais correcta de controlo das pessoas. “Não temos casos de pessoas que se tenham aproveitado do sistema para permanecer em Macau e que tenham tido problemas sociais com a sua sobrevivência”, apontou Pereira Coutinho. Na carta, o CCP pede que a intervenção do Cônsul-geral ajude “a proceder de uma forma mais expedita os pedidos de autorização de permanência e acabar de vez com os pedidos de movimentos bancários e salários exagerados aquando da análise dos pedidos”. Confrontado com esta questão, Vítor Sereno garantiu ao HM que vai abordar o assunto no próximo encontro com Wong Sio Chak, Secretário para a Segurança. “Tenho mantido contactos regulares com o Gabinete do Secretário para a Segurança e feito avaliações periódicas sobre tudo o que diz respeito à comunidade portuguesa. Temos tido [do Secretário] a maior abertura e simpatia para a resolução dos nossos problemas. Este tema de [ontem] na carta será seguramente um dos assuntos que será colocado no próximo encontro”, disse o Cônsul-geral de Portugal em Macau. Numa recente entrevista concedida à Rádio Macau, Amélia António, presidente da Casa de Portugal em Macau, também fez críticas às exigências burocráticas que têm sido feitas, considerando a situação um “exagero” e uma prática “ilegal”. O HM tentou obter mais esclarecimentos junto dos Serviços de Emigração e da Direcção dos Serviços de Identificação, mas até ao fecho da edição não foi possível obter respostas.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaIniciativa para apresentação de Lei Sindical pelo Governo continua a ser “estudada” [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Governo continua a não revelar uma posição clara quanto à possibilidade de apresentar uma proposta de Lei Sindical. Em resposta ao HM, a Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL) afirma que o Executivo “tem vindo a manter uma atitude aberta sobre a elaboração da Lei Sindical”, mas não avança nada de concreto. O Governo acrescenta apenas que “irá auscultar, através de diferentes meios, as opiniões e sugestões dos sectores sociais sobre a elaboração da mesma”. É esta a posição oficial numa altura em que a Assembleia Legislativa (AL) se prepara para votar, pela sétima vez, um projecto de Lei Sindical apresentado pelos deputados. Ella Lei, Kwan Tsui Hang e Lam Heong Sang, todos ligados à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), tiveram a iniciativa de apresentar o diploma. Anteriormente, a Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFPM), através de Jorge Fão, quando deputado, e José Pereira Coutinho teve a mesma iniciativa, que registou sucessivos chumbos do hemiciclo. Aqueles que há muito esperam pela legislação de um dos direitos dos cidadãos consagrado na Lei Básica têm esperança que, desta vez, possam obter o apoio de todos os membros da AL. Numa recente entrevista ao HM, a deputada Kwan Tsui Hang admitiu já ter contactado os deputados para obter votos a favor e disse que cerca de metade dos membros admitiram apoiar o projecto de lei. “Não tenho muita certeza, mas estamos a tentar ganhar apoio. Mas alguns já mostraram que não vão votar a favor”, alertou, contudo, a deputada. Kwan Tsui Hang frisou ainda que o Executivo não deverá apresentar o seu projecto de lei a curto prazo. “Creio que o Governo não vai apresentar [a lei] num futuro próximo, porque o Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS) ainda não discutiu sobre esse assunto, apesar dos constantes pedidos dos representantes dos trabalhadores”, rematou. José Pereira Coutinho garantiu ao HM que espera que os deputados nomeados possam votar a favor da lei no plenário de amanhã. “Vejo com grande esperança o facto de haver colegas que finalmente decidiram apresentar o projecto. Espero que reúna o consenso e os votos necessários para a sua apreciação na generalidade. Não vai ser fácil [obter o apoio], mas acredito que se houver da parte do Chefe do Executivo uma boa vontade, e se der indicações positivas para que os deputados nomeados tenham abertura em relação a este diploma, então não vejo razão para que continuemos a aceitar lacunas desta natureza”, frisou o deputado directo.
Filipa Araújo Manchete SociedadePorto Interior | Encerramento de terminal de Wanchai criticado As autoridades de Wanchai encerraram o terminal marítimo que fazia ligação com o Porto Interior e os residentes e associações não estão contentes com a decisão. Mais demoras, mais filas – tudo piora com a falta destas rotas, já para não falar da diminuição do comércio [dropcap style=’circle’]D[/dropcap style=’circle’]esde os usuários à empresa de Ferry Zhuhai-Macau, ninguém está contente com o encerramento sem aviso prévio do Terminal Marítimo de Wanchai, por parte das autoridades da China. As rotas até ao Porto Interior estão encerradas, mas eram uma alternativa que facilitava “em muito” a vida dos residentes tanto do lado de Macau como de Zhuhai. Lai Wai, usuária do serviço de transporte, caracterizou este encerramento como “ridículo”. “Este encerramento vem contra aquilo que o Governo tem vindo a desenvolver. Quer que haja uma distribuição das pessoas que passam as fronteiras, incluindo nas Portas do Cerco, Cotai e Porto Interior. Isto vem contra essa vontade”, apontou a utente. O encerramento foi justificado por uma falha na segurança depois das autoridades de Zhuhai levarem a cabo uma avaliação às instalações do terminal da região vizinha. “As autoridades apontam para um problema de segurança, mas então isto também quer dizer que o problema já existe há algum tempo, ou seja não é de agora”, argumentou ainda Lai Wai, que diz que nunca houve motivo de temer pela segurança. “Usei o barco e não senti que houvesse qualquer problema com a segurança. Os barcos são grandes e confortáveis, a distância em si é curta, demoramos no máximo cinco minutos”, registou. Para Kai, residente em Wanchai, junto ao terminal em causa, mas a trabalhar em Macau, o encerramento vem prejudicar muito a rotina de muitas pessoas. “Esta viagem era apenas de cerca de três minutos de barco, não existiam muitas pessoas, portanto não há aquele caos comuns noutras passagens. O horário da manhã também era bom e [os barcos eram] muito pontuais. O serviço não era de todo mau”, reforça. Negócio afundado A empresa de Ferry Zhuhai-Macau queixou-se que o encerramento influencia em muito o seu negócio e, por isso, vai pedir a reabertura do terminal e o prolongamento dos horários tanto ao Governo de Macau como ao de Zhuhai. Zhang Qinglan, presidente da empresa, citado pelo jornal Ou Mun, indicou que ontem, depois do anúncio de encerramento, “mais de 50 clientes estavam para usar o serviço para regressarem ao Porto Interior e mais de 200 para o regresso ao Porto de Wanchai”. A empresa critica a postura do Governo de Wanchai, que não só encerrou o espaço sem aviso prévio como não apresenta soluções para o futuro, deixando estes usuários sem transporte. “O terminal de Wanchai diminuiu a pressão das Portas do Centro e têm sido muitos os residentes que usam este porto para visitar Macau. A rota marítima é uma maneira bastante conveniente, rápida e que respeita a protecção ambiental. O tempo de percurso do ferry é muito curto, portanto é bom. O encerramento deste porto vai ainda influenciar as actividades comerciais do próprio Porto Interior”, argumentou. Diariamente, indicou o presidente, mais de duas mil pessoas usam a rota, através das várias empresas de transporte marítimo, sendo que anualmente os números ultrapassam um milhão de passageiros. No Ano Novo Lunar, no primeiro e segundo dia, passam mais de seis mil residentes e turistas por dia. “Nos terceiros e quatro dias, o número de turistas pode chegar aos dez mil ou mais por dia”, acrescenta. O presidente rematou que “a empresa irá discutir com os Governos sobre a reabertura do porto, bem como vai entregará um pedido de prolongamento dos horários”. “Caso os Governos respondem ao prolongamento, a nossa empresa vai adicionar mais barcos”, garantiu. Efeitos negativos Zhu Hong In, director da Associação de Mútuo Auxílio dos Moradores da Marginal indicou que, embora o encerramento não influencie em massa os moradores de Macau, a decisão irá ter consequências negativas para as actividades comerciais da zona do Porto Interior, especialmente nos primeiros dias do Ano Novo Chinês. O director sugere que os Governos criem um plano que possa ligar estes portos, como por exemplo uma ponte entre Macau e Wanchai. Apesar de Ieong Tou Hong, director da Associação Promotora da Economia de Macau, ter lançado uma proposta de renovação do terminal em 2012 ao Governo de Zhuhai, nada aconteceu. A proposta foi recusada e o terminal em causa nunca foi alvo de renovações ou reconstruções. Para o director, que também propôs a construção de uma ponte que ligue as duas zonas, é natural que as pessoas estejam descontentes com o encerramento da única forma de passagem naquela zona. Mais e melhor Para Kai, portadora do passe que lhe permite pagar, pelo bilhete diário, dez patacas em vez de 30, o serviço deverá ser restituído mas com nova cara. “A questão dos horários é problemática, porque o último ferry era às 16h30 e isto é muito cedo para quem trabalha em Macau e tem de voltar para Wanchai. A cobrança dos bilhetes é também um ponto negativo do serviço, porque, por exemplo, nas Portas do Cerco não pago nada”, argumenta. “Espero que o porto possa ser aberto novamente, mas com mais barcos e preços baratos, especialmente depois de todas as fronteiras oferecerem flexibilidade de horários. Não vejo porque é que este terminal marítimo deva funcionar de forma diferente”, registou. Lai Wai acredita que o encerramento desta alternativa vem dificultar e trazer mais problemas. “Isto vai fazer com que a pressão nas outras fronteiras, principalmente nas Portas do Cerco, aumente. Espero que o serviço abra rapidamente e que o horário seja alargado”, rematou.
Leonor Sá Machado Manchete SociedadeMP arquiva investigação sobre Lai Man Wa A família já saberá a causa da morte da antiga directora dos SA, mas não quer revelar pormenores. A investigação foi arquivada pelo MP, que assume que a conclusão aponta mesmo para o suicídio de Lai Man Wa [dropcap style=’circle’]L[/dropcap]ai Man Wa suicidou-se mesmo. É isso, pelo menos, que conclui o agora arquivado processo de investigação à morte da então directora dos Serviços de Alfândega (SA). “Segundo todas as provas no processo, mostra-se que a morte de Lai Man Wa foi suicídio, não se tendo encontrado quaisquer indícios no processo que indicassem que o falecimento [estivesse] relacionado com actividade criminal”, afirma um despacho do Ministério Público (MP) enviado à Polícia Judiciária (PJ) no passado dia 5, mas que só agora foi dado a conhecer. O documento, assinado pelo delegado do procurador do MP, determina que o processo é então dado como arquivado. No comunicado enviado ontem à imprensa, a PJ fala de “rumores” que surgiram em volta deste caso e que geraram “alguma polémica”, referindo-se ao facto de terem sido questionadas as condições em que morreu a responsável e terem sido levantadas suspeitas de homicídio. Da privacidade Aparentemente, haverá já também uma conclusão sobre o motivo que terá levado Lai Man Wa a matar-se. O delegado do MP assegura no comunicado que “não se opôs a que fosse divulgado” o motivo do suicídio, mas a família é que não autorizou a sua divulgação. “De acordo com a lei para fazer respeitar a vontade da família e assegurar o direito da falecida à privacidade, a PJ não está autorizada a divulgar a causa do suicídio”, revela o mesmo comunicado, datado de 18 de Janeiro. A directora dos SA foi encontrada já sem vida numa casa de banho pública dos Oceans Gardens, na Taipa. Este era também o condomínio onde Lai Man Wa residia. Em Novembro passado, o Secretário para a Segurança afirmara que nada na investigação – ainda a decorrer – apontava para um possível homicídio, tendo o Governo sempre defendido a tese de que a ex-directora havia tirado a sua própria vida. “A Polícia Judiciária e os médicos forenses não encontraram quaisquer outras provas fortes que possam indicar que a morte não foi através de suicídio”, indicou Wong Sio Chak nessa mesma altura. No entanto, foram várias as vozes que se insurgiram contra o agora confirmado suicídio devido aos pormenores divulgados pelos peritos: Lai Man Wa tinha uma faca e comprimidos guardados na mala, um golpe no pescoço e um saco na cabeça. Estes elementos, juntamente com mensagens encontradas no seu telefone pessoal, levaram a que deputados como Au Kam San, José Pereira Coutinho ou a ex-presidente da Assembleia Legislativa, Susana Chou, levantassem dúvidas sobre os contornos do caso publicamente.
Flora Fong Manchete PolíticaLei Sindical | Ella Lei critica atitude passiva de Chui Sai On: “O Governo não pode não ter um papel a assumir” A Lei Sindical é fundamental e o Governo tem a “responsabilidade” de a fazer, mas está há anos a esquivar-se. É o que diz Ella Lei, que apresentou com Kwan Tsui Hang e Lam Heong Sang um projecto que vai a votos amanhã. Tudo se pode esperar de deputados nomeados, diz, habitualmente “contra” a protecção aos trabalhadores [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]orque é que decidiram apresentar agora o projecto da Lei Sindical? Não apresentámos o projecto de forma repentina mas, como temos vindo a dizer, a [criação] da Lei Sindical está fundamentada através da legislação de Macau. A Lei Básica regulamenta a liberdade de organizar e participar sindicatos, de fazer greve. A Convenção Internacional assinada por Macau [relativamente ao trabalho] tem artigos sobre os direitos de organização sindical. No entanto, ao longo dos anos, o Governo nem fez muitos estudos, nem impulsionou a criação da lei. Já consultámos as associações da Federação das Associações de Operários de Macau (FAOM) e queremos apresentar o projecto e ganhar apoio, sendo que, se for aprovado [na generalidade], podemos discutir mais detalhes da lei. É mesmo preciso haver esta discussão neste território para que todos entendam porque é que necessitamos da Lei Sindical. Existem algumas diferenças entre este projecto e os anteriores apresentados pelo deputado Pereira Coutinho? Não comparamos, mas o projecto que elaborámos, fizemo-lo junto das associações e tendo em conta as suas opiniões. Tiveram ajuda de especialistas ? Agradecemos também aos assessores jurídicos da Assembleia Legislativa, porque eles apresentaram sugestões e eventuais problemas do projecto original para fazermos uma correcção. Acredito que cada associação tem o seu ponto de vista sobre a Lei Sindical e ouvimos diferentes opiniões. O que quero é apenas promover, discutir e implementar a lei. Os antigos projectos de Lei Sindical foram seis vezes chumbados. Acredita que desta vez os deputados vão votar a favor? Já contactaram alguns? Quando nos encontrámos com alguns deputados, ficamos com a esperança de que eles vão apoiar o projecto, mas não posso dizer agora quantos colegas do hemiciclo vão votar a favor. Cada deputado tem as suas opiniões. Só demos as nossas opiniões e razões para a necessidade da Lei Sindical. Quando há conflitos laborais, a parte laboral fica sempre em desvantagem face ao patronato, em qualquer situação económica. A Lei Sindical fará equilibrar esse problema e vai ajudar a resolver os conflitos laborais. Daí que tentemos ao máximo ganhar apoio. Mas pensa que a área que os deputados representam pode ter influência? Por exemplo, os deputados nomeados e da área comercial podem votar contra? Não apenas face à Lei Sindical, mas também quando discutimos a revisão de leis sobre o trabalho, metade de deputados tem opiniões contra. Agora é ver se nos apoiam no dia 20. Esses deputados poderão votar a favor apenas se Chui Sai On concordar com o projecto da lei? Não faço ideia se esse será o caso. O Governo declara sempre que tem uma atitude aberta perante a Lei Sindical, mas não concordo com isso. Em relação aos assuntos sociais, o Governo não pode não ter um papel para assumir. Por exemplo, quando as associações internacionais laborais pedem ao Governo que entregue um relatório para ver se está a pôr em prática o que diz a Convenção Internacional, o Governo diz apenas e sempre que “tem uma atitude aberta”. Para mim, isso não chega. O Governo deve ter uma ideia fundada, não apenas deixar os representantes dos trabalhadores e empregadores sozinhos face a um eventual consenso sobre a lei. Portanto, considera que tanto o Governo como o Chefe do Executivo ainda não têm uma opinião clara sobre a Lei Sindical? Considero que eles têm essa responsabilidade. Isto não é apenas uma política que mereça discussão, é um princípio consagrado na Lei Básica e é preciso esta lei para pôr em prática os direitos e liberdade dos trabalhadores e sindicatos. O Governo tem um grande papel nesta matéria mas, depois de tanto tempo, o Chefe do Executivo ainda não promoveu a implementação desta lei. Se este projecto de lei for reprovado, acredita que o Governo irá apresentar outro no futuro? Como já disse, o Governo tem essa responsabilidade e é também o que vamos solicitar [se o projecto reprovar]. O que nós vamos fazer é continuar a impulsionar a Lei Sindical, mesmo que possa demorar muitos anos, temos que nos esforçar. O vosso projecto de Lei Sindical também engloba os Trabalhadores Não Residentes (TNR). Quando elaborámos o projecto de lei não separamos a definição de trabalhadores locais e de TNR. O objecto da lei são os trabalhadores. Daí termos incluído os TNR propositadamente.
Leonor Sá Machado Manchete SociedadeEstudo aponta para aposta na energia solar em Macau. Arquitectos de pé atrás Macau deveria apostar na energia solar para preservar o ambiente, defende um estudo de três investigadores chineses. Especialistas locais até concordam, mas apontam para a falta de espaço e poluição [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]instalação de painéis solares no topo de edifícios, em Macau, pode reduzir até 10% as emissões de carbono na região. É esta a conclusão de um estudo de três investigadores chineses da Universidade de Xangai em parceria com uma norte-americana – Zhengwi Li, Steve Quan e Perri Pei-ju Yang. Embora este tipo de mecanismo esteja a disseminar-se em vários países, Macau faz pouco uso dele e arquitectos contactados pelo HM estão divididos: é uma ideia inovadora, mas que pode não ser adaptável à vida urbana da cidade. Em cima da mesa estão problemas como a falta de sol devido à poluição e escassez de espaço para a instalação. O estudo teve em conta os bairros do Yao Hon (na zona norte) e os NAPE, onde se situam os casinos MGM, Wynn e StarWorld. A ideia seria aproveitar a “alta densidade” de edifícios construídos com recuo – prédios em que uma parcela de andares mais baixos é mais larga do que os mais altos – e em feitio de pedestal – condomínios com pódio, como os Nova City ou Nova Taipa – para instalar painéis solares e assim poupar energia. Aqueles construídos em recuo têm, de acordo com os autores do artigo, a vantagem de permitirem uma muito maior entrada de luz solar dentro dos apartamentos de baixo, já que existe menos sombra. Maldita poluição Tiago Quadros é um dos profissionais que concorda com a ideia, ainda que com reticências. O profissional defende que a instalação de painéis fotovoltaicos pode ser benéfica, não houvesse o problema da falta de espaço. É que esta é uma das questões com que urbanistas e arquitectos se debatem e que impossibilita a realização de projectos mais amigos do ambiente. Verdade é que o clima e a poluição também não ajudam. É o que diz também a arquitecta Ana Macedo e Couto. “[Seria interessante que o estudo] considerasse os dias onde o sol não está encoberto seja por poluição ou pela alta taxa de humidade no ar, pressupondo que tem impacto na eficácia da utilização de painéis solares”, começa por dizer ao HM. Não obstante, a profissional apoia a ideia defendida no estudo, acrescentando que também nos seus projectos se esforça ao máximo pela implementação de técnicas e materiais amigos do ambiente. “Alinho muito mais pela eficiência energética dos edifícios, tanto pelos materiais e técnicas utilizados como pela instalação de sistemas que permitam de alguma forma a produção de energia ou redução desta. Com painéis solares, por exemplo”. Também o engenheiro electrotécnico Francisco Carvalho faz a ressalva do problema da poluição, embora a ideia agrade. “Os painéis fotovoltaicos, para funcionarem com o seu rendimento máximo, necessitam de ter o sol a incidir directamente nas células fotovoltaicas. Macau, durante grande parte dos dias, está coberto por uma névoa de poluição ou por nuvens atmosféricas, o que iria dificultar bastante a produção de energia eléctrica”, explica o profissional. Ainda falta Para o engenheiro, os painéis fotovoltaicos só terão viabilidade “daqui a uns anos”, quando o seu custo for menor. Dessa forma, será possível “comprar” mais potência num espaço mais reduzido. “Para se ter uma instalação com uma potencia considerável, teremos de instalar muitos painéis solares. Este tipo de instalações necessita sempre de uma área grande e aqui não é coisa que se encontre com facilidade. Mesmo instalando no cimo dos prédios existentes, as áreas nunca são suficientes para se poder obter uma potência produzida considerável”, esclarece Francisco Carvalho. “Quando os painéis fotovoltaicos forem mais rentáveis, iremos obter uma maior potência/m2 e aí provavelmente será uma excelente solução para ser implementada em cidades como Macau.” Sombra que mata Para dois dos especialistas contactados pelo HM, a sombra também é um ponto negativo para a implementação deste tipo de práticas. Para Tiago Quadros, é preciso não esquecer que está em acção a Lei de Sombras – cálculo que define o ângulo do projecto de forma a minimizar a sombra nos passeios – que, feitas as contas com a escassez de terreno, deixa pouca margem para a implementação de energias renováveis. Se todos os edifícios de uma zona de construção altamente densa forem altos, coloca-se o problema do sol não ser capaz de chegar aos andares mais baixos e até ao passeio. Já Ana Macedo e Couto tem “sentimento ambíguos” quanto a esta norma. “Acho que se pode tornar impraticável, tendo em conta a alturas dos novos edifícios e a largura de ruas que deveriam impor para cumprir a lei, mas por outro lado, ter arruamentos excessivamente largos não tem em consideração a mobilidade pedonal”, defende a arquitecta. E tudo o resto Quando questionados acerca da redução da pegada de carbono, tanto Ana Macedo e Couto como Francisco Carvalho apontam para falhas noutros factores que não o do sol. Outra das razões para o aumento dos valores de energia consumida é, de acordo com a arquitecta, a “falta de eficácia com que todos os edifícios são ainda hoje construídos”, insistindo-se em janelas de vidro simples ou falta de isolamento térmico. “São coisas que considero que deviam ser requisitos mínimos nos dias de hoje e que, uma vez que não estão em prática no território, acabamos por ter edifícios que, do ponto energético, são muito pouco eficientes, exigindo o uso quase constante de equipamentos de ar condicionado para proporcionar temperaturas adequadas para a sua utilização praticamente durante o ano todo e não apenas nos meses extremos”, alerta. Francisco Carvalho lembra que “os grandes empreendimentos” como casinos e hotéis são quem mais oportunidades tem para instalar painéis fotovoltaicos e quem mais consome electricidade na região. No entanto, o mesmo especialista revela que a energia solar tem dois inconvenientes: é que não só faz uso de tecnologia “bastante dispendiosa”, como tem “pouco rendimento”, que aponta estar na ordem dos 15% a 20% quando comparada a outras que chegam aos 60%. “Não deveria ser possível fazer projectos sem considerações ambientais” Leis obsoletas dificultam melhorias, defende arquitecta [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]ara a arquitecta Ana Macedo e Couto, falta rever uma série de leis e regulamentos relativos à construção no território. Além da obrigatoriedade de utilizar determinados materiais e técnicas de poupança de energia, a profissional recomenda ainda que todas as renovações de prédios tenham em conta a protecção ambiental e seja criado um código especial para o ramo. “Hoje em dia, não deveria sequer ser possível submeter um projecto sem estas considerações [ambientais] e muito menos [sem haver] qualquer fiscalização de obra que garanta que tudo é feito correctamente”, atira Ana Macedo e Couto, quando questionada acerca das normas vigentes na região. No fundo, sobre quem recai a responsabilidade por estes males? A arquitecta atribui parte da culpa ao Governo e outra à “legislação obsoleta”. Para resolver o problema, sugere que se arrume a casa de alguns regulamentos que precisam de novas roupas. “É uma vergonha um território como o de Macau, que tem tido uma vaga de crescimento enorme, continuar com legislação obsoleta”, avança. Questionada sobre se a adopção de medidas de poupança pode ser um problema para os construtores na altura de fazer contas à obra, a arquitecta concorda, mas defende que é preço a pagar pela melhoria do ambiente. “É um custo que deve ser reflectido no valor do imobiliário, obviamente, mas no território oculto de um imóvel não reflecte nada mais que a especulação e a ganância”, critica. A fiscalização de obras na cidade é um tema sensível para Ana Macedo e Couto, que pede mudanças profundas no actual sistema de inspecção. “Deveria ser obrigatório os edifícios terem uma certificação de qualidade e que qualquer projecto de renovação contemplasse alguns mecanismos que ajudem a caminhar nessa direcção”, acrescentou. “Se houvesse um conjunto de exigências para os locais de construção e a seguir para a fiscalização, as coisas acabariam por, com certeza tomar o rumo certo.” A arquitecta vai mais longe e afirma mesmo ao HM que Macau até poderia ser um exemplo a seguir, mas falta vontade dos governantes e construtores. “Porque é que Macau não é o sítio onde se experimenta, o sítio que está no topo da inovação? Há dinheiro e o território tem dimensão para se poderem controlar as ‘experiências’”, sugere.
Filipa Araújo Manchete PolíticaVong Yim Mui, presidente do Instituto de Acção Social: “Não acordámos agora para a violência doméstica” A nova presidente do IAS afirma que o envelhecimento da população é prioridade, com consulta pública sobre o assunto marcada para Março. Vong diz ainda que a Lei da Adopção poderá ser revista e que a UM está a fazer um estudo sobre creches. Mais: jura que a prevenção da violência doméstica esteve sempre na mira do Governo Acabou de tomar posse como presidente do Instituto de Acção Social (IAS). Quais são os planos de trabalho que gostaria de ver realizados? Com o constante desenvolvimento social, a acção social assume um papel muito relevante na sociedade, na medida em que está intimamente relacionada com a vida e bem-estar de milhares de residentes. Sendo o IAS o organismo público do Governo encarregado de assegurar os benefícios sociais, deve o mesmo estar imbuído de um elevado sentido de responsabilidade, uma vasta visão profissional, um grande espírito de solidariedade social, bem como de uma capacidade de acção delicada e minuciosa para organizar, planificar, promover e elevar cada projecto desta área específica e os respectivos trabalhos. O IAS tem vindo a empenhar-se na implementação das políticas e medidas inseridas das Linhas de Acção Governativa (LAG), estando actualmente a desenvolver de forma ordenada os diversos planos de trabalhos de curto, médio e longo prazos. Mas isso é, de algum modo, o trabalho regular e que espera do Governo. Algo de novo para o futuro? Perspectivando o futuro, o IAS vai continuar a consolidar o apoio aos grupos sociais vulneráveis, reforçar a rede dos serviços de apoio à família e comunidade, procurar aumentar o número de vagas das creches, implementar de forma ordenada o Plano Decenal de Desenvolvimento dos Serviços de Apoio a Idoso e de Reabilitação, promover constantemente o desenvolvimento dos serviços de prevenção e tratamento da dependência do Jogo e da droga, optimizar o novo regime de subsídios às instituições, acompanhar a construção e o funcionamento dos novos equipamentos sociais, promover os trabalho relativos à prevenção e tratamento da violência doméstica, bem como assegurar os trabalhos legislativos relativos ao Regime de Garantia dos Direitos dos Idosos e ao Regime de Credenciação Profissional dos Assistentes Sociais. O IAS foi alvo de uma reestruturação orgânica… O IAS encetou uma nova página da sua história, com um âmbito de atribuições mais vasto por englobar agora os serviços de reinserção social. No futuro, irá reunir todos os seus trabalhos para nos empenharmos de forma incansável na prestação de apoio aos cidadãos, na resolução das suas dificuldades e na construção de uma nova vida, reforçando e desenvolvendo deste modo a cooperação amistosa com as instituições com as instituições particulares e os outros serviços do Governo, com vista a elevar conjuntamente o nível do seu profissionalismo, a fim de proporcionar à população serviços de elevada qualidade e eficiência e melhorar o bem-estar dos residentes. Em termos práticos, o que significam esses planos? O valor de risco social foi já aumentado de acordo com o mecanismo de ajustamento. O montante do seu valor para as famílias com um agregado familiar subiu de 3920 patacas para 4050 patacas, o que representa uma taxa de aumento de 3,3%. Quanto ao serviço de apoio alimentar de curto prazo, o mesmo irá transformar-se num serviço regular, prevendo-se que cerca de 3800 famílias ficarão beneficiadas com essa alteração. Além disso, será reforçado o trabalho de divulgação para mais famílias carenciadas tomarem conhecimento da existência do serviço. Paralelamente, serão implementados mais serviços diversificados de valorização pessoal e familiar. Em relação aos serviços de apoio às minorias, mediante o contacto directo ou encaminhando-os para os respectivos serviços de apoio, com vista a ajudar a uma mais rápida integração comunitária. Há uma lista vasta de serviços prestados pelo IAS. Serão suficientes? O IAS tem uma enorme área de actuação e com muitas tarefas. E todas as tarefas são importantes, mas temos que as dividir em várias fases, por exemplo trabalho a curto prazo, médio prazo e longo prazo. Todos são importantes, mas temos em foco o apoio aos grupos sociais vulneráveis, aos idosos e deficientes. Em relação a isto, temos à nossa frente – e damos a nossa importância – à área que está relacionada com o envelhecimento da população. Vamos criar mais lares para idosos, isso é um ponto essencial e prioritário do trabalho que temos pela frente. No primeiro trimestre vamos ter o plano decenal para o serviço de idosos – vamos concretizar isso este ano. Portanto, nos primeiros três meses de trabalho – e do ano – o foco serão os idosos. Sim. Temos de enfrentar o problema de envelhecimento populacional que se regista actualmente. Para prosseguir as diversas medidas do Plano Decenal de Acção para o Desenvolvimento dos Serviços de Reabilitação, será lançada em Março uma consulta pública. No âmbito das suas atribuições, o IAS irá empenhar-se na concretização do trabalho do primeiro ano de implementação desse plano, como tarefa prioritária, na promoção do desenvolvimento do planeamento do serviço de tratamento precoce, do serviço de reabilitação para deficientes, da saúde mental da população, da construção de equipamentos sociais para deficientes e do alargamento do serviço de autocarro de reabilitação. O facto de ser mulher é uma mais valia para o cargo que agora ocupa por ter, porventura, outra sensibilidade por exemplo para os casos de violência doméstica em que maioritariamente, em Macau, as vítimas são mulheres? Claro que o IAS dá muita importância à violência doméstica. Mas é preciso esclarecer que o IAS não está à espera que a Lei da Violência Doméstica seja aprovada para fazer o que quer que seja. Não ficamos aqui sem fazer nada. Já estamos a fazer muitas coisas, por exemplo, os contactos com os serviços [de apoio]. Quando a lei for aprovada os serviços já estão preparados: a polícia, os Serviços de Saúde, o Instituto de Habitação. Está tudo preparado. E não é só com os serviços públicos, também com os privados, para que haja comunicação sobre a problemática. Temos na mão alguns dados e estamos a promover acções de formação para as pessoas da linha da frente, para que possam lidar com o problema da violência doméstica. É preciso ainda apontar que a nossa visão é unilateral, ou seja, os alvos de violência doméstica não são só mulheres, também podem ser homens. Esta é a nossa visão. Homens e mulheres. Vamos sempre dar apoio e formação às vítimas, para evitar mais ofensas. Temos ainda uma linha aberta, que já está a funcionar, que lida com este problema. Portanto, não acordámos agora. Concorda com que a violência doméstica seja crime público? Quanto a esta questão, após muitas discussões, o ponto essencial é definir a natureza do acto ou o próprio acto de violência doméstica. Na minha opinião pessoal, se realmente se verificar que é um acto de violência doméstica, então deve ser um crime público. O mais importante é preciso distinguir o acto, se é violência doméstica. Por exemplo, uma bofetada, como é que as pessoas vêem? Qual o ponto de vista? Depois da saída da lei isto vai estar muito bem definido. Tem-se notado um acréscimo nos pedidos de ajuda? De uma forma geral, o IAS recebe dois tipos de pedidos, os que surgem pelas instituições particulares ou pelo próprio IAS. A porta do IAS está sempre aberta, por exemplo, na sua sede e nos centros de acção social. É o grupo de deficientes que tem mais solicitações de ajuda. Por exemplo, sobre o plano decenal de apoio à deficiência – como sabemos ainda está em fase de consulta pública. É este grupo e o dos idosos os que mais pedidos de ajuda solicitam. A Lei da Adopção foi alvo de críticas sobre a protecção aos progenitores, permitindo que as crianças não possam ser adoptadas. Segundo o que o HM apurou, numa reportagem, existem poucas crianças disponíveis para adopção, sendo que as que estão não o são por serem deficientes. Como é que o IAS pretende resolver esta questão? Este é de facto um assunto importante. Temos de dar mais importância a isto. Temos aqui dois lados: o primeiro é o Regime de Protecção das Crianças e o Regime de Actuação. Vamos analisar o conteúdo e depois dar uma opinião aos serviços competentes para se estudar a possibilidade e viabilidade de alterar os regimes. Quanto à acusação da lei proteger os progenitores e, nesse caso, as crianças deficientes estarem mais vulneráveis, isso é preciso ver de forma concreta. É preciso estudar casos concretos. Se isto se confirmar, a nossa primeira preocupação será proteger a criança. Temos a responsabilidade de prestar cuidados e atenção. Podemos fazer isso também com as instituições privadas. Quanto ao Regime de Actuação já é um domínio diferente. Portanto temos de dividir a situação em dois lados: protecção e actuação. Por enquanto é assim. Sei que os Serviços de Justiça estão a propor uma revisão do regime, mas por enquanto só sabemos isso. Tal como avançado pelo HM, há pessoas a dormirem em restaurantes, por exemplo o McDonald’s, que estão abertos 24 horas por dia. O IAS tem conhecimento disto? Neste momento funcionamos em cooperação com uma instituição particular [Cáritas] para gerir um centro para os desalojados. Em Macau há um mecanismo para proteger estes desalojados, mas há pessoas que não querem essa ajuda. Quando elas não querem e optam por ficar nos McDonald’s, o IAS tem que ver a intenção da pessoa. Não sabemos qual a causa, pode não ser um desalojado. Há também casos de pessoas com perturbações psicológicas – é preciso ver o contexto e a intenção da pessoa. Temos ainda trabalhadores de um serviço extensivo, cabe-lhes a eles irem fazer as rondas. Vão à rua para tratar destes casos, perceber as necessidades. Temos uma equipa que faz isso. Relativamente às vagas nas creches, o IAS quer aumentar o número. Como? Para continuar a aumentar o número de vagas das creches, vamos cooperar com as instituições particulares e os serviços públicos, no âmbito da criação de novas creches e da ampliação das instalações das creches existentes, com vista a aumentar as vagas até mais de dez mil. Paralelamente, vamos continuar a desenvolver os serviços de creche diversificados que abrangem o prolongamento do horário de funcionamento, o serviços nos feriados, o serviço em situações de urgência e temporárias, etc., no sentido de responder às necessidades diferentes dos encarregados de educação. Além disso, será incumbida à Universidade de Macau a criação de um curso de diploma para monitores de creches com duas edições, para formar cem pessoas, no sentido de melhorar os seus conhecimentos e técnicas de cuidar e educar crianças. Entretanto, foi encarregada também a mesma universidade de efectuar um estudo sobre a procura dos serviços de creche e o planeamento da respectiva política, a fim de definir o plano de desenvolvimento dos serviços de creche de 2018 a 2022. Falou numa maior necessidade de prevenção da droga. A lei foi alterada recentemente, aumentando as penas. Concorda que é através de maiores penas que se controla o consumo? Na revisão da lei, todo o trabalho legislativo passou pela Comissão da Luta Contra a Droga e já tivemos discussões mais do que suficientes sobre o assunto. Demos os nossos pareceres também. Portanto, a maneira de estruturar a lei partiu de um consenso. O essencial é ajudar os toxicodependentes, apesar da lei ser mais rigorosa. É preciso ver que existe um mecanismo de suspensão de penas, num período onde é encorajado o tratamento dos toxicodependentes. Isso já é uma medida para dar a oportunidade para corrigir. A lei é o último meio. Dados Entre 2011 a 2015 foram recebidos 20 mil casos de pedidos de avaliação de deficiência, sendo que 50% são considerados portadores do Cartão de Registo de Avaliação de Deficiência válido. Entre Janeiro a Outubro do ano passado foi atribuído o subsídio regular a cerca de 4500 famílias. O apoio alimentar de curto prazo do Centro do Serviço de Fornecimento Temporário de Alimentos da Cáritas foi atribuído – no mesmo período de tempo – a cem novas pessoas, ultrapassando os 3100 beneficiários regulares. Em 2015 o subsídio de idosos garantiu a sobrevivência a 65 mil pessoas.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeBispo D. José Lai deixa cargo ao fim de 15 anos Stephen Lee Bun-sang será, a partir do dia 23, o novo bispo da Diocese de Macau. A saúde afastou D. José Lai do cargo que ocupava há 15 anos. Paul Pun e José Miguel Encarnação lembram o homem conservador que deixou a Diocese de Macau bem organizada [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]homem que liderou os destinos da Diocese de Macau durante 15 anos vai deixar o cargo por motivos de saúde. D. José Lai Hung-seng, 70 anos, abandona oficialmente as suas funções no próximo dia 23 de Janeiro, sendo substituído pelo actual bispo de Hong Kong, Stephen Lee Bun-sang, ligado à Opus Dei. (ver texto secundário) Conhecido por ser conservador e discreto, D. José Lai revelou isso mesmo na sua última entrevista ao HM, em 2013, ano em que o Papa Francisco mostrou abertura da Igreja Católica ao casamento homossexual. “Não vamos condenar aqueles que são gays mas a sua atitude. Os gays são nossos irmãos, mas com mais dificuldades”. Paul Pun, secretário-geral da Cáritas, prefere recordar o seu lado mais solidário. “Tentou espalhar a mensagem de caridade e amor junto das pessoas. Lembro-me que, quando foi ordenado bispo, recebeu as famílias de pessoas com deficiência e enviou os casos à Caritas para assistência. Da experiência que tive com ele posso dizer que é uma pessoa humilde e que gosta de ajudar os outros, sem uma posição arrogante de dizer aquilo que a Igreja defende que devemos fazer”, contou ao HM. O padre José O Mandia, actual director do semanário católico O Clarim, apenas lidou mais de perto com D. José Lai por vias do jornal. “O bispo Lai sempre nos apoiou e encorajou. Deixou-nos trabalhar com toda a liberdade e deu sempre as boas-vindas às iniciativas”, disse, por e-mail, ao HM. O HM tentou contactar D. José Lai para saber mais pormenores sobre a sua saída, mas até ao fecho da edição não foi possível. Peter Stilwell, actual reitor da Universidade de São José (USJ), não quis fazer qualquer comentário a esta mudança. A USJ é uma instituição de ensino superior privada gerida pela Fundação Católica de Ensino Superior de Macau, a qual é presidida por D. José Lai. Diocese autónoma José Miguel Encarnação, editor d’ O Clarim, disse ao HM que a saída de D. José Lai representa “o encerrar de uma era e o início de outra”. “Foi o primeiro bispo da RAEM e herdou o legado de D. Domingos Lam, o qual se centrou em garantir a estabilidade da diocese, em termos de recursos humanos e financeiros. D. José Lai teve de continuar essa obra. Teve um papel preponderante na parte da evangelização, tendo conseguido trazer para Macau muitas congregações e ordens religiosas. Em termos financeiros conseguiu criar alicerces para que a diocese hoje seja um organismo financeiramente autónomo, com receitas próprias”, lembrou. José Miguel Encarnação falou ainda do papel de D. José Lai na área educativa. “Não nos devemos esquecer do forte empenho da Diocese para a criação da USJ. Faltava uma universidade, que já está constituída. Houve um consolidar da fé nas três comunidades, chinesa, portuguesa e macaense e com grande incremento na comunidade filipina. Foi um trabalho bem conseguido”, rematou. O percurso de D. José Lai à frente da Diocese de Macau ficou ainda marcado pela polémica saída do docente Eric Sautedé da USJ, em 2014. Numa carta a alunos e colegas, o académico acusou directamente o Bispo de estar envolvido no seu despedimento, mas D. José Lai acabaria por dizer que nunca foi consultado sobre a matéria e que Peter Stilwell teria a responsabilidade sobre esse assunto. Apostar na formação Para o editor d’ O Clarim, caberá a Stephen Lee Bun-sang apostar na formação religiosa e desenvolver novos projectos na Diocese de Macau. “O novo bispo, estando ligado à Opus Dei, vai apostar muito na catequese e na catequese dos adultos. Vai estar muito empenhado na parte da formação religiosa e talvez reestruture um pouco o organograma da Diocese, os organismos, pessoas… penso que um projecto que está por fazer é a constituição de um gabinete de imprensa. A Opus Dei é uma prelatura muito sensível às questões da imprensa. Ainda há muita margem de manobra para se construírem novos projectos”, rematou. Da Arquitectura à Opus Dei – Novo bispo focado na “formação religiosa” [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]escolha do Papa Francisco para a liderança da Diocese local representa a vinda para o território de um homem da prelatura da Opus Dei. Nascido em 1956 em Hong Kong, Stephen Lee Bun-sang chegou a exercer Arquitectura, mas cedo se decidiu pela Religião. Estudou Arquitectura no Reino Unido durante cinco anos, tendo começado a exercer em Hong Kong no ano de 1982. Mas já antes o chamamento da religião tinha falado mais alto, tendo Stephen Lee Bun-sang aderido pela primeira vez à Opus Dei no Reino Unido, em 1978. Desde aí não mais deixou a vida religiosa. Dois anos depois de se ter tornado arquitecto, Stephen Lee Bun-sang entrou para o seminário internacional da prelatura da Opus Dei em Roma para estudar Filosofia e Teologia. Mais tarde fez os estudos na Universidade de Navarra, em Pamplona, Espanha, onde obteve conhecimentos de castelhano. Com um doutoramento em Lei Canónica, o novo bispo de Macau foi ordenado padre em Espanha em 1988. Um ano depois regressaria a Hong Kong, tendo sido capelão em escolas e centros da Opus Dei. Na década de 90, o novo bispo de Macau chegou a publicar um livro em espanhol sobre as relações entre a República Popular da China e a Igreja Católica. Em 2012 foi nomeado pela prelatura da Opus Dei como o vigário regional para a zona leste da Ásia, embora tenha continuado a dar diversas aulas em diversas comunidades religiosas. Em Julho de 2014 foi nomeado pelo Papa Francisco como Bispo Auxiliar de Hong Kong e ordenado em Agosto. Desde então que é responsável pela formação de escolas, liturgias e por todos os desenvolvimentos da diocese da região vizinha. Sem problemas Para José Miguel Encarnação, editor d’ O Clarim, a ligação à Opus Dei não trará qualquer espécie de conflito. “A Opus Dei é uma prelatura pessoal e é a única prelatura pessoal do Vaticano, como qualquer outra congregação ou ordem religiosa. Temos padres paulista, jesuítas e franciscanos. É mais um movimento da Igreja, com algumas especificidades, mas penso que não irá influir em nada no que é a maneira de estar da Diocese e dos fiéis. Mas a Opus Dei poderá criar aqui um novo ‘élan’ em Macau”, disse ao HM. O facto de Stephen Lee Bun-sang não falar Português, ao contrário de D. José Lai, também não constituirá um entrave. “Quando o director d’ O Clarim assumiu funções também foi levantado esse problema. Depois veio verificar-se que isso não é um problema. Tanto o padre José O. Mandia como o Bispo Stephen estudaram na Universidade de Navarra, a universidade da Opus Dei em Espanha. Os cursos são todos em Castelhano, falam e escrevem fluentemente Castelhano e a partir daí chegam facilmente ao Português, sem esquecer que têm boas bases de Latim. Não é um problema e acho que se ultrapassa esse domínio”, acrescentou José Miguel Encarnação. Um perfil inesperado Por Carlos Morais José Desde o seu início que o catolicismo em Macau fala a língua portuguesa. Em tempos passados, os destemidos missionários do Padroado Português conseguiram o que todos julgavam impossível: relações estáveis com a China imperial. Foi preciso a vinda dos padres franceses para estragar todo o trabalho que homens como Mateo Ricci ou Tomás Pereira tinham desenvolvido junto do poder chinês que, entretanto, aceitara a presença da religião católica. O que lá vai, lá foi, mas a recente nomeação de um bispo de Hong Kong, terra de anglicanos e protestantes, falante de Inglês e profundamente imerso na Opus Dei, é uma bofetada naqueles que constituem a mais antiga diocese do Extremo Oriente e na própria História, que a Igreja teria a obrigação moral de preservar. É muito estranho que, em terra onde os Jesuítas desempenharam e desempenham um papel fundamental, a vários níveis, e aqui detêm uma universidade, a sinistra Opus Dei aqui encontre terreno para frutificar o seu poder. Entende-se que seja uma diocese cobiçada pela organização fundada pelo franquista Escrivá de Balaguer. Mas o que seria interessante saber são as movimentações de bastidores no Vaticano e até que ponto o Papa Francisco teve mão nesta escolha ou se esta foi feita à sua revelia e faz parte dos jogos de poderes, luz e sombras na Cúria Romana. Olhando para o currículo do novo bispo e atendendo à sua idade, não podemos deixar de criar algumas expectativas que o distingam do consulado cinzento de D. José Lai. Arquitecto, com pós-doutoramento em Filosofia e Teologia, perfila-se um interlocutor interessante, que deverá ter menos receio de falar em público do que o seu antecessor. Macau precisa de uma Igreja moderna e actuante, desempoeirada e empenhada. Mas não precisará, com certeza, de ser palco de lutas fratricidas no seio da comunidade católica. A nomeação do novo bispo é, ao mesmo tempo, um passo delicado e uma mudança radical de paradigma. Para já, não acho isto nada bem. Um homem que não fala Português à frente da diocese de Macau não é correcto e não augura nada de bom. Pode ser que me engane. Certo é que Deus não me perdoará. Simplesmente, porque não existe.
Tomás Chio Desporto MancheteFutebol | Liga de Elite arrancou este fim-de-semana Na primeira jornada da nova época da Liga de Elite, Benfica e e Kai golearam os seus opositores por idêntico resultado: 5-0. No jogo mais equilibrado do fim-de-semana, destaque para a vitória do Chao Pak Kei(C.P.K) sobre o Monte Carlo por 3-2, com o golo da vitória a surgir nos descontos [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]jogo mais equilibrado da semana que inaugurou a nova época juntou o Monte Carlo , quarto classificado da temporada transacta, e o CPK, que obteve o terceiro lugar. Depois de 40 minutos bem disputados, mas em que não se registou nenhuma oportunidade de golo significativa, a animação chegou em cima do intervalo. Silva Ronieli, inaugurou o marcador para o CPK, aos 42’, depois de receber um passe longo de um colega de equipa. O avançado não desperdiçou a oportunidade e rematou com êxito para as redes dos “canarinhos”. Um minuto depois, num lance desastrado, o guarda-redes do CPK chutou a bola contra o corpo do adversário, o avançado Ristof Amarildo, e esta entrou para dentro da baliza, dando o empate ao Monte Carlo. No início do segundo tempo o jogo manteve-se dividido sobretudo na zona do meio-campo. Porém aos 56’ o guarda-redes do C.P.K., Domingo Chan, voltou a ser infeliz ao rematar contra um adversário. A bola chegou aos pés de Nunes Jullyan e o jogador do Monte Carlo fez o segundo golo da sua equipa, passando assim para a frente do marcador. No entanto, a vantagem não duraria muito tempo já que no minuto 64 Silva Ronieli bisou na partida, colocando o resultado em 2-2. Resultado que se manteve até perto do fim da partida, quando no segundo minuto do tempo de compensação, Ronald Damian, defensa do C.P.K., recebeu a, marcou de cabeça na sequência de um pontapé de canto. O C.P.K. acabou por ser a equipa mais feliz amealhando assim os três pontos da vitória Steven Chao, treinador de C.P.K., estava visivelmente satisfeito com a vitória obtida ao cair do pano. “A nossa equipa tem capacidade para lutar por títulos, mas os jogadores ainda não estão na melhor forma, só estamos a 70%. Precisamos mais dois ou três jogos oficiais para evoluirmos, mas sinto-me muito satisfeito por termos conseguido os 3 pontos,” afirmou ao HM. Diego Silva Patriota, jogador do C.P.K. considerado o melhor jogador de Macau de 2015 sublinhou que “o primeiro jogo é muito difícil para os jogadores estrangeiros, como eu e o Ronieli que chegámos a Macau na última sexta. Sinto-me satisfeito com o resultado, e vamos melhorar de jogo para jogo. Para o futuro esperamos uma melhoria progressiva,. Agora vamo-nos entrosar melhor com os outros jogadores, conhecer melhor o estilo de jogo. Acho que vamos melhorar dia após dia,” rematou. Para crescer Cláudio Roberto, treinador de Monte Carlo, lamentou a derrota. “Sinto que a derrota foi muito pesada, mas o futebol é assim, às vezes cometes erros, e os erros pagam-se caros. Mas eu acredito que a equipa vai crescer, evoluir. Pelo pouco tempo que estou com a equipa já percebo comportamentos quando treinamos, e isso é muito bom, é muito importante. Não vejo a derrota como o fim da linha. Vamos trabalhar e por isso crescer,” disse ao HM. O treinador mostrou-se ainda optimista quanto ao futuro da sua equipa na competição. “Temos expectativas positivas, temos vários jogadores jovens e que vão amadurecer com o desenrolar dos jogos. Como equipa vamos crescer, não tenho duvidas disso. Este jogo deu-me demonstrações claras que a nossa equipa vai crescer e com o tempo vamos conseguir bons resultados.” Outros jogos O Benfica não teve dificuldades em derrotar a Polícia ganhando por 5-0, com o avançado, Góis Fernandes Leonel a fazer 4 golos no jogo, todos no primeiro tempo. Lei Kam Hong também inscreveu o seu nome na lista de marcadores no segundo tempo. Com um “hat-trick” de William Carlos Gomes, O Ka I ganhou também por 5-0. A Casa de Portugal empatou com o Chuac Lun por 3-3. O Sporting venceu categoricamente por 4-1 o Lai Chi. Ao fim da primeira jornada, O Benfica e Ka I lideram a Liga fruto da grande capacidade ofensiva. Seguem-se Sporting e C.P.K. Na próxima jornada o Monte Carlo defronta o bi-campeão e actual líder Benfica, no sábado. Resultados Benfica – Polícia 5-0 Chuac Lun- Casa de Portugal 3-3 Kei Lun-Kai I 0-5 Monte Carlo- C.P.K. 2-3 Lai Chi- Sporting 1-4 Classificação Benfica 3 Kai I 3 Sporting 3 Chao Pak Kei(C.P.K) 3 Chuac Lun 1 Casa de Portugal 1 Monte Carlo 0 Lai Chi 0 Policia 0 Kei Lun 0
Joana Freitas Manchete SociedadeSeis polícias detidos por corrupção e associação criminosa Ajudavam ilegais a entrar e permanecer “protegidos” no território e agora vêem-se presentes a tribunal. Seis agentes da PSP podem vir a ser presos, caso se comprove ligações às seitas e crimes de corrupção [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]eis agentes da PSP foram detidos, na quinta-feira, por suspeitas de associação criminosa, corrupção passiva e usurpação de funções por terem facilitado entradas ilegais no território, num esquema que lhes valeu cerca de 1,83 milhões de patacas. A Polícia Judiciária, juntamente com a PSP e os Serviços de Polícia Unitários, revelou que os seis agentes têm idades entre os 34 e os 52 anos, estando o mais velho já aposentado. Todos estão em prisão preventiva, depois de terem sido presentes ao Juízo de Instrução Criminal. Em causa está a ligação dos polícias, que operaram em grupo durante quatro anos, a seitas. No âmbito desta colaboração, os agentes permitiram a entrada e saída ilegal de pessoas da China, que desejavam frequentar casinos, mediante pagamentos. “Descobrimos agentes que aproveitaram as suas funções para colaborar com criminosos. Os agentes tinham relações com pessoas de associações secretas”, explicou o comandante geral dos Serviços de Polícia Unitários, Ma Io Kun. Toca a pagar Segundo as autoridades, cada pessoa que desejava entrar em Macau deste modo pagava 70 mil patacas à entrada e outras 70 mil patacas à saída, a que se podiam adicionar 80 mil patacas para protecção durante a estadia no território. Não foi revelado o número de pessoas que entraram desta forma em Macau, mas, no total, o grupo terá arrecadado cerca de 1,83 milhões de patacas. “Permitiam que imigrantes ilegais entrassem em Macau e até providenciavam transporte para o local indicado. Os pedidos vieram de frequentadores dos casinos”, disse o director da PJ, Chau Wai Kuong, revelando que quatro dos agentes trabalhavam para o Departamento de Informação da PSP e um para o Departamento de Migração. “Lamento muito este tipo de casos. Não vamos tolerar infractores e vamos estabelecer novas medidas de prevenção”, afirmou o comandante do Corpo de Polícia de Segurança Pública, Leong Man Cheong. Também o Gabinete do secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, emitiu um comunicado em que “lamenta profundamente o envolvimento de agentes policiais suspeitos de abuso de poder, em actividades criminosas que considera graves”. Wong Sio Chak “emitiu orientações muito precisas” à Judiciária no âmbito dos trabalhos de investigação e determinou a “imediata instauração de processos disciplinares aos suspeitos” por parte da PSP. Mais poder para Comissão de Fiscalização O deputado Au Kam San apresentou dúvidas sobre se o Secretário para a Segurança tem capacidade de supervisão da sua equipa. Numa reacção ao caso dos agentes, ao jornal Ou Mun, o deputado disse mesmo crer que possam estar mais agentes envolvidos. O deputado acrescentou que este caso piorou a imagem das forças policiais. Também a Comissão de Fiscalização da Disciplina da PSP reagiu, dizendo que precisa de mais poder para evitar situações como esta. Para Leong Sio Pui, membro da Comissão, o facto de a Comissão não ter direito de executar leis implica a que casos como este não possam ser detectados facilmente. Condenado polícia que abusou de menores O Tribunal Judicial de Base condenou o agente da polícia acusado de abuso de menores a oito anos de prisão. Segundo o tribunal, ficou provado que o polícia abusou de 16 meninas, sendo que a mais nova tinha menos de 14 anos. O caso foi dado a conhecer o ano passado, quando a Secretaria para a Segurança denunciou o caso: segundo a investigação policial, o agente chantageava as menores para ter relações sexuais e foram descobertos mais de 1700 fotografias e vídeos. Mais de 160 raparigas eram residentes de Macau e pelo menos nove delas terão sofrido abusos sexuais. O agente tinha 22 anos e era da Unidade Táctica de Intervenção da Polícia (UTIP), tendo começado a trabalhar na polícia em 2014. Uma das vítimas vai ser indemnizada em 30 mil patacas.
Filipa Araújo Manchete SociedadeMiguel de Senna Fernandes reage sereno a críticas e reforça declarações [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]entrevista é do início do ano mas só agora parece estar a causar impacto. Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM), afirmou ao HM existirem guetos na comunidade portuguesa e sublinhou o que diz ser uma postura de desdém de alguns portugueses em Macau. A comunidade portuguesa logo se fez notar na imprensa local, com reacções às palavras de Senna Fernandes. De visita a Portugal, Miguel de Senna Fernandes mostrou-se ontem sereno e “sem dramas” para com as reacções. “Com respeito à crítica e consciência das susceptibilidades que sem intenção alguma atingi, estou tranquilo: apenas respondi às questões que me foram colocadas e, a respeito do que está a ser incomodativo para alguns, não disse nada que não fossem apenas casos e ocorrências que tivessem chegado ao meu conhecimento”, apontou ao HM, frisando que lamenta que as vozes se tenham concentrado “em questões que não passaram de mal-entendidos”. “Foi um mal entendido que se gerou, pois partiu-se da premissa de que aproveitei casos existentes para tecer considerações genéricas a uma comunidade portuguesa residente, coisa que contrastaria com o bom relacionamento que tenho com essa mesma comunidade. Houve até a insinuação – impressão minha – de que estaria a fazer deles uma espécie de cavalo de batalha, agora nas novas vestes na APIM, com o intuito de atingir essa comunidade em geral”, argumentou. Relativamente às acusações tecidas em artigos de opinião, sobre a generalização de casos de intolerância cultural, Miguel de Senna Fernandes esclarece. “A questão que vai culminar com a resposta causadora da ‘vaga de indignação’ começa com ‘Há portugueses…’. Desde logo, quis a pergunta afastar a ideia de qualquer generalização, pois se o propósito tivesse sido o contrário, a formulação da mesma teria iniciado com ‘Os portugueses…’. Tanto assim foi que, para se vincar que não me dirigia a todos, mas apenas a uma parte, logo após ter lido a peça no papel, pedi que se acrescentasse na versão on-line do jornal a palavra [alguns]. É neste contexto, não podendo ser outro, que as minhas declarações devem ser inseridas. Sou macaense convicto, mas sou também orgulhoso português”, apontou. Ser português “Sou aberto, sabem que podem abrir-se comigo e que não generalizo gratuitamente. Sou modesto à minha maneira, mas estou no terreno há demasiado tempo para passar despercebido, em particular no que tange à defesa da língua, da portugalidade e da comunidade portuguesa em geral, que ajudei a fortalecer na RAEM. Não tenho que provar mais coisa alguma, porque é patente o meu mote de se ser português, esteja onde estiver no mundo”, frisou, sublinhando as inúmeras actividades levadas a cabo pela Associação dos Macaenses (ADM), grupo que lidera, no intuito de envolver todas as associações de matriz portuguesa. “Com isto não preciso de dizer mais nada sobre o meu envolvimento intenso, a troco de nada, em actividades sócio-culturais no que concerne à defesa e promoção da comunidade portuguesa em geral”, rematou. Sim, existem Casos de “gozo” pela diferença são uma realidade, reafirma, que não se podem negar. “Claro que existem. Muitos destes casos chegam aos meus ouvidos por relatos de próprios portugueses chocados com atitudes que presenciam de outros portugueses. Isto em pleno século XXI. Voltando ao contexto da questão, estava a afirmar a regra sobre todos os portugueses?! Não. Mas se eles existem, existem, não podemos negá-los”, rematou. Como ponto final, Miguel de Senna Fernandes garantiu que ninguém esteve “com o intuito de denegrir o português no geral, como se acusou”. “Não obstante, respeito a crítica feita a mim. Embora não concorde com ela neste caso em particular, nem tudo o que fazemos é do agrado de todos. E qualquer um tem o direito à indignação”, diz, assumindo inclusive as próprias falhas da comunidade macaense. “As críticas aos macaenses, eu próprio as faço. Quem vai às peças de patuá todos os anos sabe que sou duro connosco próprios. Fazer uma análise crítica sobre nós macaenses foi aliás a base da realização de vários colóquios sobre a identidade macaense, que num dos artigos visados foram, sim, desdenhados. É reconhecendo de antemão as nossas falhas que estou também em condições mínimas de falar dos outros”, terminou.
Leonor Sá Machado Entrevista MancheteRoy Choi, membro da Novo Macau e fundador da Macau Concealers [dropcap style=’circle’]T[/dropcap]em estado envolvido numa série de actividades de promoção de um regime democrático em Macau. O que mais o marcou desde o início dessa luta? A manifestação contra o Regime de Garantias de 2014, sem dúvida. Foi um dos eventos que mais influenciou esta minha procura de conhecimento e de informação. Outra iniciativa foi o movimento do ‘referendo civil’ que não organizei, mas que apoiei. Eu e o jornalista Leung Ka Wai fomos detidos por usar o símbolo da PJ numa publicação. Esse foi também um momento marcante, pelas circunstâncias em que teve lugar. Olhando para trás, como vê a sua detenção? Acho natural que o Governo e as autoridades tenham querido combater a realização do ‘referendo’, mas as pessoas assistiram a tudo com muita atenção, não só em Macau como em Hong Kong. Foram dois sítios onde o movimento teve muito eco. A minha detenção foi feita numa altura essencial do movimento, mesmo no fim, antes dos resultados serem conhecidos. Acredito que a detenção já estava prevista, mas na verdade, apenas veio trazer mais expressão aos resultados porque as pessoas viram que as autoridades estavam a reprimir a acção. O caso não chegou sequer a ser retirado do Ministério Público, ainda que a investigação já não esteja a decorrer há um ano. Além de mim, vários outros membros da ANM também foram considerados suspeitos neste caso e em vários outros que dizem respeito a acções de crítica ao Governo. Já fui detido, considerado suspeito, mas nada me aconteceu. Acho estranho que o caso não tenha ainda sido encerrado, mas também que ainda nada me tenha acontecido – a condenação ou algo do género. Isto é perseguição política e intensificou-se bastante com o ‘referendo’. Como é que analisa a perspectiva social sobre este caso? O mais importante é um dia conseguir sentir a aceitação da população, ganhar essa aceitação. Sinto que correspondo às necessidades da sociedade, porque quero promover os ideais e regimes da democracia. No entanto, entendo que a sociedade local está a dar mais atenção aos problemas sociais, a assunto relacionados com as próprias pessoas. No que respeita a assuntos políticos e à democracia, não vejo as pessoas muito atentas. Têm conhecimentos muito básicos. Além disso, o nível de conhecimento dos direitos e deveres das pessoas também é extremamente reduzido. Tendo isto em conta, às vezes é difícil promover este tipo de ideias porque as pessoas sentem que não são assuntos que lhes digam respeito. Poucas pessoas entendem ou aceitam as nossas ideias, é esta a maior dificuldade com que me deparo. Como é possível aumentar esse grau de aceitação das pessoas? Um bom exemplo é usar o meio digital para chamar a atenção, como plataformas de Facebook da Macau Concealers e da Associação Novo Macau. Aqui e nos websites não falamos apenas sobre democracia e seus benefícios, mas também sobre os problemas da sociedade. Inicialmente, o nosso foco era criticar determinadas figuras através do Facebook, satirizando discursos, fotografias, letras de músicas, aproximando assim a política da população. Em Macau, este método funciona porque promove conhecimento sobre assuntos sérios de formas mais relaxada, engraçada. Daí foi apenas um passo para aquilo que agora fazemos: notícias realmente verdadeiras, com sentido. E as pessoas estão efectivamente mais atentas ao que fazemos. Antigamente, este modelo não ia fazer sentido, porque as pessoas preferiam ler notícias em jornais de Hong Kong. Através do que fazemos hoje, tentamos mostrar às pessoas as causas para as injustiças que têm lugar no território. Os valores e o pensamento geral da população ainda não estão ao nível que desejávamos, de aceitação de ideias de maior liberdade e igualdade. Faz em Agosto dois anos desde o ‘referendo civil’, no qual as pessoas afirmaram que não confiavam em Chui Sai On. Acredita que esta tendência continua a ter expressão? De uma forma geral, não creio que a população tenha muita confiança no poder de liderança e gestão de Chui Sai On. Recentemente com mais ênfase, com o suceder de vários acontecimentos. Chui é um Chefe do Executivo invisível porque não vemos qualquer trabalho efectivo com a sua assinatura, apenas os cargos abaixo dele fazem algo. Exemplo disso são os Secretários. Chui Sai On existe para cumprir funções protocolares. Um estudo recente feito em Hong Kong aponta para o crescimento, ainda que mínimo, da confiança das pessoas no líder da RAEM, mas não acredito que isto seja representativo de melhorias no seu desempenho. Significa apenas que Chui Sai On não se viu envolvido em problemas, o seu nome não surgiu na ribalta. E porque acha que Chui Sai On está a ter menos expressão enquanto líder? Chui Sai On já não tem de se preocupar com um próximo mandato porque este é, à luz da lei, o último possível. É a recta final. Já pensou em alguém que poderá ser o próximo líder do Governo? Prefiro não fazer previsões. Que balanço faz do desempenho dos Secretários? Cada um tem o seu nível, mas de forma geral, acho que estão a fazer um melhor trabalho do que os anteriores. Quando se fala de desempenho, penso que são mais activos. Alexis Tam é teimoso porque só faz aquilo que quer. O Secretário quer apresentar demasiados resultados e ser considerado extraordinário, mas acaba por realmente não usar a opinião da população, simplesmente mostra que a pede. Quanto a Raimundo: inicialmente, duvidámos do seu eventual controlo pelo sector comercial, porque alterou uma série de dirigentes de pastas e departamentos, incluindo o director da DSSOPT. No entanto, com o tempo, fomos percebendo que não era bem assim, já que mostrou – por exemplo no caso do Pearl Horizon – ter pulso firme e uma posição determinada. Por outro lado, também desiludiu em algumas matérias, como a dos passes mensais dos parques, em que disse que ia acabar com eles, mas depois manteve [os já emitidos]. Lionel Leong é um governante discreto e por isso não creio ter muito a acrescentar sobre a sua performance. Já Wong Sio Chak é claramente íntimo do Governo Central: nasceu na China e tem boas relações com o Governo chinês. Isso faz-me ficar preocupado com a preservação dos direitos humanos na RAEM. No entanto, devo dizer que tenho notado um maior combate ao crime. No que respeita a Sónia Chan, devo dizer que é bastante diferente da Secretária anterior, ainda que também seja, como Wong, próxima do Governo Central. Está a retirar uma série de pessoal efectivo dos cargos da sua tutela, de pessoas que estavam na Administração desde os portugueses. A Revolução dos Guarda-chuva teve um grande impacto em Hong Kong e até mesmo a nível internacional. Acha que se vai repetir? Não, pelo menos não num futuro próximo. Foi, no fundo, uma derrota da parte dos organizadores e participantes. Já que prejudicou quem luta pela democracia e pela votação por sufrágio. É preciso ponderar os prós e contras deste tipo de iniciativas, perceber se isto realmente funciona. Acho que antes das próximas eleições para a Assembleia Legislativa da RAEHK nada do género se vai repetir. Mas não foi positivo enquanto movimento de reivindicação? Este movimento escalou de forma negativa muito rapidamente. Inicialmente, era uma iniciativa com sentido e bem estruturada. No final, deixou de ser uma coisa que fizesse sentido. Os manifestantes passaram de activos para passivos. A ideia de lutar pelo sufrágio universal transformou-se numa coisa negativa. Até os candidatos a deputados da AL deixaram de promover o sufrágio, como fizeram no início do movimento. Discorda do que motivou as manifestações – o Governo Central escolher os candidatos antes da população poder votar num deles? Discordo, como é óbvio. E se essa proposta fosse feita em Macau? Acho que, a ser oferecida uma proposta pelo Governo Central, terá a mesma natureza e modelo. Isto é aquilo que a China entende como sendo democracia. Deve ser mais fácil promover isto em Macau do que em Hong Kong, porque aqui as pessoas não são tão contra a China, mas continuo a não considerar que seja um modelo perfeito. Um dos dois deputados da ANM mostrou-se aberto a esta ideia, mas afirma que é preciso melhorá-la no futuro. Em princípio, não concordo, mas porque a minha prioridade é que a população se eduque mais em termos de política. É que mesmo que o Governo Central promova este modelo aqui, as pessoas não vão ter conhecimentos suficientes para saber o que fazer. Na verdade, este modelo não traz qualquer forma de sufrágio, porque a população pode exercer o direito de voto, mas continua a não ter poder de escolha. Relativamente à questão dos livreiros alegadamente desaparecidos: que razões podem estar por trás disto? O que eu entendo é que a livraria também funciona como editora de livros sobre escândalos de governantes do continente e os seus segredos. De facto, o Governo Central não fica satisfeito com a publicação deste tipo de matérias. A livraria em questão já existe há vários anos. Isto é claramente uma ameaça para impedir que sejam publicados mais livros deste teor. Isto assemelha-se a situações que já aconteceram na China, de pessoas que criticaram o Governo e “desapareceram”. O maior problema nisto tudo é que este livreiro encontra-se fora das fronteiras e por isso devia ter mais liberdade de expressão, mas não. Isto mostra que a censura já ultrapassa fronteiras, violando o princípio de Um País, Dois Sistemas. As autoridades da China supostamente levaram o livreiro para lá, mas esta não é a única forma de coagir alguém. Isto pode acontecer em Macau? Até agora ninguém faz a edição e publicação de obras deste teor em Macau. Ainda assim, há um certo nível de risco porque a nova geração de pró-democratas é diferente da anterior. Hoje em dia há um maior grau de crítica aos governos, não só mais forte, mas mais directa e isso antigamente não acontecia. Em casos em que achamos que os direitos humanos estão a ser violados, nós – geração mais nova – somos mais abertos. Já sofreu na pele alguma perseguição do Governo Central? Muitos de nós, incluindo Jason Chao, fomos contactados por inspectores do departamento de Segurança Nacional da China. Parte destes agentes falaram connosco enquanto autoridades, mas outros estavam à paisana, ainda que nos tenhamos apercebido. Há quem tenha mesmo fingido ser jornalista, professor ou investigador. O departamento marcou uma reunião individual com cada membro da ANM para saber as actividades que temos desenvolvido. A resposta que demos é que todas as informações da Associação estão disponíveis a título público. As visitas destes agentes aconteceram com muito mais frequência na altura da Revolução dos Guarda-Chuva. Quando foi a última visita? No ano passado, na altura da votação para a Assembleia Legislativa de Hong Kong.
Filipa Araújo Manchete PolíticaRendas | Advogados apontam falhas a projecto de lei de deputados [dropcap style=’circle’]J[/dropcap]uristas ouvidos pelo HM não têm dúvidas: é preciso rever a lei que controla as rendas, mas tem de se ter atenção ao projecto apresentado por deputados e que foi aprovado no ano passado na generalidade. Uma das ideias mais defendida é que Chui Sai On não fique, como sugerido, com a responsabilidade de definir o coeficiente de aumento das rendas – um organismo autónomo, defendem alguns, deveria ficar com essa matéria a seu cargo. “Este projecto de lei tem algumas desvantagens pois pode afectar o mercado livre, porque actualmente, com o Código Civil, existe a liberdade para os inquilinos e senhorios decidirem as rendas”, começa por apontar o advogado Lei Wun Kong, relativamente ao projecto de Lei de Arrendamento, apresentado pelo deputado Chan Meng Kam e assinado por Leonel Alves, Pereira Coutinho, Ho Ion Sang e Kwan Tsui Hang. Ainda assim, diz, existem vantagens. “Caso o projecto seja aprovado, os senhorios não podem aumentar a renda à vontade, pois as rendas devem seguir o acordo do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), sendo que o coeficiente das actualizações deve ser aprovado pelo próprio Chefe do Executivo [Chui Sai On]. Isto é uma vantagem, assim conseguimos evitar os aumentos constantes do preços das rendas”, referiu. Para o advogado, contudo, esta é de facto uma lei que vem proteger mais os inquilinos do que os senhorios. “Mas por outro lado, evita os casos de pessoas que não aguentam os aumentos e são obrigadas a sair das suas casas, portanto, posso dizer que este projecto tem tanto de vantagens como de desvantagens”, sublinhou. Três pontos principais Para o advogado Bruno Almeida existem três pontos importantes no projecto que se encontra agora em consulta pública até Fevereiro. Parece-lhe ser um documento neutro, defende, beneficiando ambos os lados. A consideração de meios alternativos para a resolução de litígios é uma das alterações propostas que merecem destaque. “Neste caso, a previsão do recurso à arbitragem como uma via para resolução de conflitos, relativamente ao arrendamento, é relevante, porque permite que as partes recorram a meios mais céleres para pequenas causas, com valores pouco significativos”, apontou. Esta alteração vem permitir que alguns processos não precisem de chegar aos tribunais. “É uma proposta bem-vinda e que me parece trazer vantagens”, defendeu. Também o advogado José Filipe Salreta fez notar este primeiro ponto, defendendo que está é uma medida “positiva”, que “pode de facto simplificar a resolução de problemas nos contratos de arrendamento e descongestionar os tribunais, desviando litígios de menor complexidade jurídica para centros arbitrais especializados”. Bruno Almeida destaca ainda a actualização das rendas, ainda que aponte falta de clareza na forma como isso acontece. “Julgo que a formulação não é absolutamente clara sobre se alguma das partes pode impor alguma actualização dentro do coeficiente [determinado]”, defendeu, afirmando que o projecto em causa parece mostrar que a ideia é “definir um tecto máximo”. “Não me parece possível que, não havendo acordo e não estando previsto no contrato, algumas das partes possa obrigar a outra a actualizar a renda. Mas acho que o projecto não é absolutamente claro quanto a isso. Pode haver quem o interprete de outra forma”, referiu. Questionado sobre a última palavra de Chui Sai On na definição do coeficiente, Bruno Almeida concorda com esta hipótese. “Sim, julgo que [é viável], mas tenho algumas reticências quanto ao facto da situação do mercado imobiliário ser um factor considerado para esse efeito. Aquilo que se pretende com a fixação de um coeficiente de actualização é algo muito objectivo, é uma percentagem (…) e o critério da situação do mercado imobiliário parece-me que é demasiado aberto e subjectivo.” Por isso é que, indica, a habitação não costuma ser considerada no IPC. Para José Filipe Salreta a lei parece clara: esta medida envolve não só questões de ordem prática, mas também opções de política económica. “Muito embora a situação no mercado exigisse um travão às rendas especulativas – e muitas vezes predatórias -, esta revisão ao Código Civil vai obrigar o Chefe do Executivo a rever todos os anos o coeficiente de actualização e qualquer atraso implicará um desfasamento económico por imposição administrativa. Talvez fosse mais avisado autonomizar legislativamente o arrendamento urbano em Macau e atribuir a revisão do referido coeficiente a uma entidade autónoma, sem prejuízo de a mesma poder ser corrigida por intervenção do Governo”, apontou. A decisão de ser Chui Sai On a rever o coeficiente de actualização parece, ao advogado, uma “solução pouco ágil”, na medida que “obriga o Chefe do Executivo a rever todos os anos – ou quiçá mensalmente caso haja flutuações acentuadas na economia de Macau – o coeficiente de actualização”. Já para a advogada Helena de Nazaré Valente esta decisão, para além de exequível, é “desejável”, visto “que o assunto é urgente”. No entanto, alerta para os prazos apertados e para o facto de não poder haver atrasos na definição deste coeficiente. “Se se conseguir garantir que no dia 1 de Janeiro de cada ano teremos um coeficiente de actualização das rendas definido, isso parece-me perfeito. Caso contrário, penso que seria desejável constituir um organismo, ou um departamento, responsável apenas por esse assunto”, defendeu. Tudo às claras Bruno Almeida aponta ainda um outro ponto no novo diploma como positivo: uma maior solenização do contrato, já que se exige que, além da forma escrita, também haja uma intervenção de um notário. Esta alteração, aponta, vem “trazer à luz do dia arrendamentos que hoje, por falta de forma ou intervenção notarial, não são [re]conhecidos”. Isto traz também um maior protecção aos arrendatários, sendo que “obriga a que todas as situações de arrendamento sejam formalizadas e delas seja dado conhecimento às autoridades”. José Filipe Salreta admite que a “exigência de reconhecimento notarial das assinaturas pode dificultar o arrendamento a pessoas sem autorização de permanência ou em situação ilegal”, diz, enquanto fala ainda de consequências desta nova exigência formal, como a obrigatoriedade de todas as agências imobiliárias estarem devidamente legitimadas. Isto faz com que tenham de estar munidas de uma procuração, para “poderem assinar em nome dos senhorios que frequentemente não estão em Macau e deixam as referidas agências negociar – e muitas vezes inflacionar artificialmente – o valor da renda”. A pensar na prática O advogado Lei Wun Kong alerta ainda para os limites para as renovações dos contratos relativamente à actualização dos preços, sendo que esta obrigatoriedade deixa de existir se os inquilinos do imóvel em causa forem novos. Quer com isto dizer, explica, que este projecto poderá estar a provocar que os senhorios “prefiram estar a fazer novos contratos com novos inquilinos de forma constante em vez de renovarem com os mesmos, por causa das actualizações”. “É preciso olhar as questões na prática”, rematou. Ainda assim, para Helena de Nazaré Valente, só o facto deste projecto existir é positivo, visto que significa que “finalmente os órgãos decisores tomaram consciência de que alguma coisa precisa de ser feita neste campo”. Com Flora Fong
Hoje Macau China / Ásia MancheteTaiwan elege presidente para defender identidade e soberania [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] população de Taiwan deverá eleger no sábado, após anos de aproximação de Pequim, um presidente menos favorável à China, num escrutínio que simboliza a luta pela identidade e soberania da ilha em relação ao gigante asiático. O principal partido da oposição, o Partido Democrático Progressista (PDP), e a dirigente, Tsai Ing-Wen, de 59 anos, vão ser os principais beneficiários da insatisfação popular e Tsai poderá tornar-se na primeira mulher na presidência da República da China, de acordo com as últimas sondagens. As últimas sondagens atribuem a Tsai 40% dos votos, ou o dobro do que pode obter o candidato do KMT, Eric Chu, de 54 anos, presidente da Nova Taipé. Um conservador “externo” está também na corrida presidencial: James Soong, de 72 anos, saído das fileiras do KMT e presidente de um movimento favorável a Pequim, o Partido Povo Primeiro. Uma vitória de Tsai dará ao PDP a segunda presidência, depois dos dois mandatos de Chen Shui-Bian (2000-2008). O PDP espera aproveitar a insatisfação dos eleitores para conquistar também e pela primeira vez a maioria dos 113 lugares do parlamento, nas legislativas que decorrem no mesmo dia. Se vencer Tsai sucederá a Ma Ying-Jeou, membro do Kuomintang (KMT) e líder de uma política inédita de oito anos de aprofundamento dos laços com Pequim, que resultou, em Novembro, numa histórica cimeira bilateral entre Ma e o presidente chinês, Xi Jinping, 66 anos depois da violenta separação entre os dois lados do estreito. A ilha é independente desde 1949, data em que os nacionalistas do KMT ali se refugiaram depois de terem sido derrotados pelos comunistas, que fundaram, no continente, a República Popular da China. Pequim considera Taiwan parte da China, que deverá ser reunificada, se necessário pela força. Com peso e medida O degelo iniciado pelo KMT permitiu a assinatura de acordos comerciais e um aumento do turismo na ilha, mas muitos habitantes receiam que ao tornar o país economicamente dependente de Pequim, a ilha perca identidade e soberania, além de considerarem que esta política só beneficia as grandes empresas. “Tenho medo de um governo entusiasta das relações com a China sem uma avaliação cuidadosa dos riscos”, disse Lee Yi-Chung, um empresário de Taiwan. “Não quero que Taiwan seja dirigido pela China”. A oposição acusou regularmente o presidente cessante de ter vendido a ilha, em segredo, à China. Em 2014, o parlamento foi ocupado por manifestantes em protesto contra um acordo comercial que alegaram ter sido negociado em segredo. Para Lee Shiao-Feng, professor na universidade nacional de Educação de Taipé, a população receia que a ilha seja um dia “engolida” por Pequim. “Eles querem dizer ‘não’ à China. Os estudos mostram que cada vez mais pessoas, mesmo os continentais de segunda ou terceira geração, consideram-se de Taiwan e não chineses”. Tsai afirmou que a ilha deve voltar as costas à dependência económica de Pequim e prometeu que ouvirá a opinião pública relativamente às relações bilaterais. Sinal de pragmatismo, a candidata teve o cuidado de sublinhar que o “status quo” será mantido, moderando consideravelmente o discurso tradicionalmente independentista do PDP. O objectivo é tranquilizar Pequim, mas também os Estados Unidos, principal aliado de Taipé, que querem manter a estabilidade na região. Por outro lado, a grande maioria dos eleitores também quer a paz. Pequim já advertiu que não negociará com um dirigente que não reconheça o princípio de que Taiwan faz parte “de uma única China”. Este consenso táctico, concluído em 1992 entre os dois lados, determina a existência de “uma única China”, deixando a cada parte a interpretação deste princípio. Arrefecimento local Diversos especialistas consideraram que a China não pretende alienar Taiwan, caso Tsai vença as eleições, dado que o objectivo final é a reunificação. “Pelo menos durante o primeiro ano, Pequim vai avançar com gestos de conciliação”, afirmou Willy Lam, professor do centro de Estudos Chineses da universidade chinesa de Hong Kong. Mas “se após dois ou três anos, o governo continuar a mostrar sinais de indiferença em relação ao diálogo político, é possível que Pequim endureça a sua posição”, acrescentou. “As relações vão arrefecer”, previu Steve Tsang, professor de Estudos sobre a China contemporânea na universidade de Nottingham (Reino Unido). “Tsai não fará nada, nem dirá algo para provocar Pequim, mas Pequim não confia nela” ou no PDP, disse. Durante o percurso da China em direcção à posição dominante que ocupa agora no mundo, Taiwan foi sendo progressivamente marginalizada na cena diplomática, sendo apenas oficialmente reconhecida por 22 países. A ilha mantém laços informais com os Estados Unidos.
Hoje Macau Entrevista Eventos MancheteK’ang-Hsi, imperador da China, revela segredo do sucesso da sua governação [dropcap style=’circle’]C[/dropcap]hegou ao poder muito novo e há quem diga que existiram vários sinais que previam a sua coroação e reinado. Quer dizer aos leitores de Macau algo sobre isto? O meu nascimento foi tudo menos miraculoso – nada de extraordinário aconteceu enquanto cresci. Cheguei ao trono com oito anos. Nunca permiti que se falasse de influências sobrenaturais do género das que se encontram registadas nas Histórias: estrelas da sorte, nuvens auspiciosas, unicórnios e fénixes, a erva chih e outras bênçãos, ou queimar pérolas e jade em frente do palácio, ou livros celestes enviados para manifestar a vontade do Céu. Tudo isto não passam de palavras vãs e não posso ir tão longe nas minha presunção. Limito-me a viver cada dia de uma forma normal concentrando-me em governar bem. É fácil, durante toda a vida, exercer constantemente o poder? Dar e tirar a vida. São esses os poderes do imperador. Ele sabe que os erros dos funcionários administrativos em departamentos do governo podem ser rectificados mas que um criminoso que foi executado não pode ser ressuscitado. Assim como uma corda cortada não pode de novo ser unida. Sabe, também, que por vezes as pessoas têm de ser chamadas à moralidade através do exemplo de uma execução. Em 1683, depois da captura de Taiwan, discuti com os sábios da corte a imagem do 56º hexagrama do Livro das Mutações, “Fogo na Montanha”. A calma da montanha significa o cuidado que se deve por na imposição de penas; o fogo move-se rapidamente, queimando a erva, tal como os processos, que devem ser resolvidos com celeridade. A minha leitura é que um regente necessita ao mesmo tempo de clarividência e cuidado no castigar. A sua intenção deverá ser castigar de forma a evitar a necessidade de mais castigo. No seu tempo a corrupção era um problema. Quer falar-nos de alguns casos mais relevantes? Hu Chien-ching era um subdirector do Tribunal de Adoração Sacrificial cuja família aterrorizava a sua região natal em Kiangsu, apoderando-se de terras, mulheres e filhas alheias e assassinando pessoas depois de as acusar falsamente de roubo. Quando finalmente um cidadão vulgar conseguiu demonstrar a sua culpa, o Governador considerou o caso longamente e o Conselho de Castigos recomendou que Hu fosse demitido e exilado por três anos. Eu, por outro lado, ordenei a sua execução, com o resto da família, na sua terra natal para que todos pudessem observar a minha visão de tal comportamento. O cabo Yambu foi condenado à morte por alta corrupção nos estaleiros navais; não só concordei com a pena como enviei o oficial da guarda Uge para supervisionar a decapitação, ordenando que todo o pessoal dos estaleiros, dos generais ao mais baixo soldado, se ajoelhasse em armadura completa e ouvisse o meu aviso de que o seu destino seria a execução se não pusessem fim à sua perfídia. Mas a pena de morte… Hoje em dia há quem seja contra… Em tempo de guerra deve haver execuções para castigar a cobardia ou a desobediência. A penal capital da morte lenta deve ser aplicada em casos de traição, tal como o Código Legal determina. Está então à vontade quando envia um homem para a morte? De entre as coisas que considero desagradáveis, nenhuma outra é pior do que dar o veredicto final sobre as sentenças de morte que me são enviadas para ratificação depois das sessões de Outono. Os relatórios de julgamento devem ser todos verificados pelos Secretários Superiores, no entanto, encontram-se ainda erros de caligrafia, ou mesmo passagens inteiras incorrectamente escritas. Isto é indesculpável quando se lida com a vida e a morte. Apesar de, naturalmente, me ser impossível examinar cada caso em pormenor, tenho, ainda assim, o hábito de ler as listas no palácio todos os anos, verificando o nome, registo e estatuto de cada homem condenado à morte e a razão por que lhe foi aplicada tal pena. Depois, verifico de novo a lista na sala de audiências com os Secretários Superiores e o seu pessoal, decidindo quais podem ser poupados. Quando julga alguém, que princípios aplica? É um bom princípio procurar sempre os aspectos bons de uma pessoa ignorando os maus. Quando se suspeita constantemente das pessoas estas acabam por suspeitar de nós. Mesmo quando se trata de Chineses (han)? Tentei ser imparcial entre Manchu e Chineses, não os separando nos julgamentos. Mas confiava plenamente nos seus oficiais chineses? Avisaram-me para não nomear o Almirante Shih Lang para liderar a campanha contra Taiwan por ter servido antes a Dinastia Ming e tambémo rebelde Coxinga e, logo, poder revoltar-se se lhe desse navios e tropas. Mas uma vez que os restantes almirantes Chineses asseguravam que Taiwan nunca seria tomada, chamei Shih Lang para uma audiência e disse-lhe pessoalmente: “Na corte dizem que te revoltarás quando chegares a Taiwan. É minha opinião que enquanto não fores enviado a Taiwan a ilha não será pacificada. Não te revoltarás, garanto-te.” Shih Lang capturou Taiwan num ápice e provou ser um oficial leal. Apesar de arrogante e desprovido de instrução, compensou esses defeitos pela prontidão e ferocidade das suas capacidades militares. Os seus dois filhos têm-me servido com distinção. Qual a sua visão sobre a queda da dinastia Ming? Passaram-se coisas absurdas durante os Ming: quando, no fim da dinastia, o Imperador Ch’ung-chen aprendeu a montar tinha dois homens para segurarem o freio, dois para os estribos e dois para o arreio de garupa – mesmo assim caiu mandando aplicar quarenta chicotadas ao cavalo e enviando-o para trabalhos forçados num posto militar. Do mesmo modo, quando uma pedra para ser usada na construção do palácio não passava na Porta Wu-men, Ch’ung-chen mandava aplicar-lhe sessenta chicotadas. Alguma loucura… mas os seus ritos imperiais também exageram… O imperador tem de suportar o elogio com que o cobrem e que enche os seus ouvidos e que não lhe é de melhor uso do que a chamada “medicina-restaurativa”. Essas banalidades evasivas asseguram o mesmo sustento que a pastelaria fina e rapidamente se tornam enjoativas. A balofice, pelos vistos, não funciona consigo. E exageros intelectuais também não. Se desejar, conhecer algo tem de o observar ou experimentar em pessoa. Se afirma conhecer algo com base em ouvir dizer, ou por o descobrir num livro, será motivo de riso para aqueles que realmente conhecem. Demasiadas pessoas afirmam conhecer as coisas quando, na verdade, nada sabem acerca delas. Desde a minha infância tenho procurado descobrir as coisas por mim mesmo em vez de fingir possuir conhecimento quando ignorante. Sempre que me encontrava com pessoas mais velhas inquiria acerca das suas experiências e recordava o que me diziam. Mantenha uma mente aberta e aprenderá coisas. Perderá as boas qualidades dos outros se apenas se concentrar nas suas próprias capacidades. Para si, a experiência parece ser fundamental. A nossa ideia de princípio deriva mais da experiência do que do estudo, embora devamos dedicar a mesma atenção a ambos. Afinal, muitas pessoas chamam antiguidades a velhos recipientes de porcelana mas se pensarmos em recipientes do ponto de vista do princípio sabemos que foram a dada altura feitos para ser usados. Apenas no presente nos parecem gastos e impróprios para deles bebermos e, por fim, acabamos por colocá-los nas nossas secretárias ou prateleiras, contemplando-os de quando em vez. Por outro lado, podemos alterar a função de um objecto e, portanto, alterar a sua natureza. Como fiz ao converter uma espada inoxidável que os Holandeses certa vez me ofereceram numa régua que mantinha sobre a minha secretária. Tal como o Jesuíta António Tomás observou, tratou-se de converter algo que transmitia medo em algo que proporcionava prazer. O raro pode tornar-se comum, como acontece com os leões e animais que os embaixadores estrangeiros gostam de nos oferecer e a que os meus filhos se acostumaram. Na guerra é a experiência da acção que conta. Os chamados Sete Clássicos Militares estão recheados de disparates sobre água e fogo, presságios e conselhos sobre o tempo, todos aleatórios e em contradição. Disse uma vez aos meus oficiais que quem seguisse estes livros nunca ganharia uma batalha. Falou de um jesuíta. Vários frequentaram a sua corte. Aprendeu muito com eles, sobretudo na Matemática e Astronomia? Apesar dos métodos Ocidentais serem diferentes dos nossos, podendo mesmo ser vistos como um seu melhoramento, há neles pouco de inovador. Os princípios da Matemática derivam todos do Livro das Mutações e os métodos Ocidentais são de origem Chinesa: a Álgebra – “A-erh-chu-pa-erh”– nasce de uma palavra Oriental. Claro, tudo tem origem na China… Mas esses jesuítas tentavam conhecer a cultura chinesa. Nenhum dos Ocidentais está realmente à vontade com a literatura chinesa – à excepção talvez do Jesuíta Bouvet, que leu muito e desenvolveu a capacidade de conduzir um estudo sério do Livro das Mutações. Muitas vezes não conseguimos impedir sorrir quando eles iniciam uma discussão. Como podem falar acerca “dos grandes princípios da China”? Por vezes, agem erroneamente por não estarem acostumados aos nossos hábitos, outras vezes são induzidos em erro por Chineses ignorantes – o enviado papal, de Tournon, usava caracteres mal escritos nos seus memorandos, empregava frases impróprias e assim em diante. Estou a ver que ainda não esqueceu a Questão dos Ritos, na qual discordou com o Cardeal de Tournon. Sobre a questão dos Ritos Chineses que podiam ser praticados pelos missionários Ocidentais, de Tournon recusou-se a falar, embora lhe tivesse enviado mensagens repetidamente. Concordei com a fórmula que os padres de Pequim estabeleceram em 1700: que Confúcio era honrado pelos Chineses como um mestre mas que o seu nome não era invocado em oração com o propósito de obter felicidade, promoções ou riqueza; que o culto dos antepassados era uma expressão de amor e recordação filial, cuja intenção não era obter protecção para o autor do culto e de que não havia a ideia de que ao erguer uma tábua ao antepassado a sua alma nela residia. Quando eram oferecidos sacrifícios aos Céus estes não eram endereçados ao céu azul, mas sim ao senhor e criador de todas as coisas. Se de Tournon não respondeu, o Bispo Maigrot fê-lo dizendo-me que o Céu é uma coisa material e não devia ser adorada e que se devia apenas invocar o nome de “Senhor do Céu” para mostrar a reverência apropriada. Maigrot não era somente ignorante da literatura Chinesa: não conseguia sequer reconhecer os mais simples caracteres chineses. No entanto, decidiu discutir a falsidade do sistema moral Chinês. O Papa queria impor-lhe um representante, não é verdade? Não compreendo o que quereis dizer com ‘um homem da confiança do Papa’. Na China, ao escolhermos pessoas não fazemos tais distinções. Alguns estão próximos do meu trono, outros a meia distância e outros mais longe. Mas a qual deles poderia confiar qualquer incumbência se houvesse a mais pequena falha da devida lealdade? Quem de entre vós se atreveria a enganar o Papa? A vossa religião proíbe-vos de mentir, aquele que mente ofende a Deus. O enviado respondeu: “Os missionários que aqui habitam são homens honestos, mas falta-lhes o conhecimento interno da Corte Papal. Muitos enviados de outros países convergem para Roma, sendo experientes em negociações e, por isso, preferíveis aos que aqui se encontram.” Então disse-lhe: “Se o Papa mandasse um homem de conduta impecável e dons espirituais tão excelentes quanto os dos Ocidentais que aqui estão agora, um homem que não interferisse com os outros ou os tentasse dominar, ele seria recebido com a mesma hospitalidade que os outros. Mas se dermos a um tal homem poder sobre os outros, como haveis solicitado, haverão muitas e sérias dificuldades. Encontrastes aqui Ocidentais que passaram quarenta anos connosco e, se mesmo esses ainda não têm um conhecimento perfeito dos assuntos imperiais, como poderia alguém tão recentemente transplantado do Ocidente fazer melhor? Ser-me-ia impossível dar-me com ele como me dou com estes. Precisaria de um intérprete, o que implica desconfiança e embaraço. Um tal homem nunca estaria livre de erro e, se fosse nomeado líder de todos, teria de suportar qualquer culpa incorrida pelos restantes e pagar o preço de acordo com os nossos costumes.” A verdade é que Vossa Excelência nunca foi convertido ao catolicismo. As suas palavras não eram diferentes dos mais tresloucados ou impróprios ensinamentos de Budistas e Taoístas, porque deveriam ser tratados de forma diferente? Então se não acredita no Deus cristão, pelo menos acredita no destino? O destino surge das nossas mentes e a nossa felicidade é procurada em nós mesmos. Daí serem feitas previsões a partir do curso dos planetas acerca do casamento e da fortuna, descendentes, carreira e o passar dos anos – no entanto, estas previsões não chegam muitas vezes a realizar-se na experiência posterior. E isto porque se não desempenharmos o nosso papel humano não poderemos compreender o caminho do Céu. Se o astrólogo diz que serás bem sucedido, poderás então dizer: “Estou destinado a sair-me bem e posso dispensar os estudos?” Se aquele afirma que enriquecerás, poderás sentar-te e aguardar a riqueza? Se te oferece uma vida livre de desgraça, poderás ser temerário? Ou ser debochado sem risco apenas por que diz que viverás muito e em saúde? Como encara o seu reinado? Estou a aproximar-me dos setenta e os meus filhos, netos e bisnetos são mais de 150. O país está relativamente em paz e o mundo está em paz. Mesmo que não tenhamos melhorado todas as maneiras e costumes e tornado toda a gente próspera e feliz, trabalhei com incessante diligência e intensa vigilância, nunca descansando, nunca ocioso. Durante décadas exauri todas as minhas forças, dia após dia. Como poderia tudo isso ser resumido numa frase de duas palavras como “trabalho árduo”? Deixa uma extraordinária herança. Qual foi o seu segredo? Todos os Antigos costumavam dizer que o Imperador se devia preocupar com princípios gerais mas que não devia lidar com pormenores. Não posso concordar com isto. O tratamento descuidado de um assunto pode trazer consequências nefastas ao mundo inteiro, um momento de distracção pode causar danos a todas as gerações futuras. A falta de atenção aos pormenores acabará por colocar em risco as nossas maiores virtudes. Por isso dedico sempre a maior atenção aos pormenores. Por exemplo, se negligenciar alguns assuntos hoje e os deixar por resolver, amanhã existirão mais assuntos para resolver. Está portanto satisfeito com o seu desempenho? Desfrutei a veneração do meu país e as riquezas do mundo. Não há objecto que não possua, nada que não tenha experimentado. Mas agora que atingi a velhice não consigo parar nem um momento. Por isso, considero o país como um sandália usada e todas as riquezas como lama e areia. Se morrer sem que tenha havido uma erupção de distúrbios, os meus desejos terão sido satisfeitos. Desejo que todos vós oficiais se recordem que fui o Filho do Céu portador da paz por mais de 50 anos e o que vos repeti, vez após vez, foi realmente sincero. Então, isso terá completado um fim digno da minha vida. Nada mais direi. Na próxima segunda-feira, a Livros do Meio lança “Imperador da China – Autobiografia de K’ang-Hsi”, na Fundação Rui Cunha, pelas 18h30. A apresentação da obra será feita por Carlos Morais José.
Isabel Castro MancheteO contrabaixista [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] principal culpado chamava-se Sérgio e tinha mais meia dúzia de anos do que eu, o suficiente para perceber das coisas importantes da vida. Gostava de ir àquela casa porque o jantar era sempre pizza caseira, numa altura em que não havia pizza em lado algum, e porque o Sérgio – Serginho para a mãe brasileira – tinha um órgão, um objecto que até hoje não suporto mas que, na altura, me fascinava. O Sérgio deu-me uma flauta, daquelas de plástico, quando fiz sete anos. Passado um mês, a meu pedido, entrei para uma escola de música. Passado um ano, tive o meu primeiro violino, um três-quartos de fabrico chinês que produzia um som que os meus pais estoicamente aguentaram até que foi substituído por um violino a sério, antigo, que hoje mora comigo em Macau. Tive a sorte de crescer numa cidade pequena que tinha cinco escolas de música, uma delas de ensino profissional integrado. Era raro o miúdo que não tocava uma coisa qualquer, que não tinha uma banda, que não passava os finais de tarde na garagem de um amigo transformada em sala de ensaios. Nunca fui uma violinista dedicada, apesar de ter sido a única responsável pela minha opção musical, e só mais tarde, quando já dividia o tempo entre os jornais e a universidade, é que comecei a estudar a sério, num conservatório, com exames e madrugadoras horas de estudo. Foi também a altura em que me aproximei de um lado mais profissional da música, em que pisei palcos a sério, em que fiz testes de som e tremi antes do início de concertos. Por causa do violino que hoje guardo no armário de casa, também os meus últimos anos de Portugal foram de relações alimentadas pela música. Amigos músicos, de todas as idades, dentro e fora do conservatório. Amigos músicos, de todos os instrumentos, do mundo erudito à música de raiz tradicional portuguesa. Com vários deles toquei noite fora, nas casas em que não havia vizinhos, e com vários deles toquei na rua, aquela experiência inesquecível da música que se oferece sem pré-aviso às pessoas que passam apressadas, com as ideias longe, com os problemas perto. Vê-las parar e sorrir. Vê-las parar. Acabar com o barulho dos dias, ao entardecer. Estar ali só porque sim. Estar ali só porque se gosta de estar. Com a vinda para Macau, o meu violino conquistou um lugar num armário. Rapidamente percebi que nesta cidade o ambiente era diferente. Quase todos os músicos profissionais de instrumentos do género do meu têm limitações contratuais que fazem com que não possam tocar quando querem, com quem querem. Também não podem andar por aí a dar aulas a adultos que já não estão interessados em regressar ao conservatório. Macau não é propriamente uma cidade musical, apesar de todos nós, sem excepção, termos um vizinho pianista, quase sempre uma miúda de oito anos. Esta semana, ficámos a saber que dois estrangeiros – um por causa de umas fotografias, outro por causa de estar a tocar violino – foram parar umas valentes horas à esquadra. Queixam-se de que foram tratados como criminosos, que não percebem a razão de terem sido levados pela polícia por aquilo que estavam a fazer. Segundo contaram aos jornalistas, foram acusados da prática de uma ilegalidade. E a ilegalidade foi tamanha que não bastou um ó-amigo, arrume-a-tralha-e-vá-se-lá-embora. Às prevaricações fotográfica e musical correspondeu uma visita de estudo às instalações policiais. Um-toma-lá-para-aprenderes. Aprender o quê? Aprender que Macau é uma cidade em que aquilo que se pode fazer na rua corresponde a estranhos critérios de permissão. Não sei há quantos anos é que anda um homem aos saltos no centro da internacional e turística cidade, a pular entre os automóveis, aos gritos em reivindicações que só ganham dimensão pelo ruído que fazem, altifalante na mão de manhã à noite. Conheço pessoas que trabalham no centro da cidade e que dizem estar prestes a enlouquecer com a moldura sonora que os acompanha. O mesmo acontece com quem tem o azar de morar ali. Dizem que não há descanso e eu acredito. Com estes episódios aprende-se também (caso ainda não se saiba) que Macau é uma cidade internacional basicamente para o que não interessa, sobretudo internacionais acontecimentos de ilegais contornos com que as autoridades se poderiam ocupar dias a fio. Casos bem mais interessantes e importantes para a Humanidade do que as seis horas que perderam com cada um dos infelizes turistas que tiveram o azar de expor os seus dotes artísticos nas ruas do território. Não vi as fotos do rapaz russo que anda a dar a volta ao mundo e tenho pena de não ter ouvido o violinista francês, de não ter sido surpreendida com música que se oferece sem pré-aviso às pessoas que passam apressadas, como eu, com as ideias longe, com os problemas perto. Poder parar e sorrir, como parava e sorria quando descobri a música pelo insuportável órgão do Sérgio que, entretanto, cresceu e se tornou contrabaixista.
Joana Freitas Manchete SociedadeRádio-Táxis | Empresa de David Chow foi a única a ser aceite a concurso Uma nova empresa detida pelo empresário David Chow ficará a cargo de cem rádio-táxis por oito anos. A decisão oficial ainda não foi anunciada, mas a Lai Ou foi a única das três candidatas a ser aceite [dropcap style=’circle’]U[/dropcap]ma empresa de David Chow deverá ser a próxima companhia a operar cem rádio-táxis no território. A Lai Ou Serviços de Táxi, S.A. foi a única empresa a ser aceite no concurso público para a atribuição das licenças especiais para a operação destes veículos, depois das outras duas concorrentes terem chumbado por não cumprirem regras do concurso. A Lai Ou tem como presidente David Chow, empresário detentor da Macau Legend, que tem a Doca dos Pescadores. A Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) realizou ontem o acto público de abertura das propostas, que vai valer a emissão de cem licenças de táxi por chamada para oito anos de operação. Dentro das três propostas apresentadas, só a proposta da Lai Ou foi admitida e David Chow já se prepara para a entrada em funcionamento, ainda que o Executivo não tenha anunciado a decisão oficial. “Vamos investir 70 milhões de patacas [em infra-estruturas] e mais 30 milhões em carros. Os veículos que vamos usar vão ser de boas marcas, já temos 30 Mercedes”, disse o empresário ao canal chinês da Rádio Macau. Taxas pensadas Só “no segundo ou terceiro trimestres” é que se deverá saber a decisão do Governo, mas a empresa já tem ideias fixas sobre as taxas que quer cobrar aos passageiros. “A empresa sugere uma taxa de chamada e uma taxa de hora marcada de 15 patacas cada, bem como uma taxa de ausência de cinco patacas”, explica um comunicado da DSAT. O contrato para os rádio-táxis vai ter determinadas exigências, como a obrigação de serem providenciados ao público cinco carros adaptados para deficientes e táxis de grande porte. Mas não só. “Além de disponibilizar a marcação de serviços de táxi por telefone, através da página electrónica e de aplicações de telemóvel, deve-se explorar outras formas de marcação de táxis conforme o desenvolvimento social, a fim de possibilitar também a utilização do serviço por parte de pessoas com carências”, explica a DSAT. Em contrapartida, o concessionário pode requerer ao Governo o pagamento de metade do preço destes veículos e pode ainda cobrar ao passageiro taxas diferentes das dos táxis normais – os pretos. Isto devido ao funcionamento ser apenas permitido por chamada, não podendo estes táxis apanhar passageiros nas ruas ou estar parados nas praças de táxi. As exigências do Governo e a falta de autorização para cobranças de taxas especiais levaram a Vang Iek – anterior empresa responsável por estes táxis – a desistir do funcionamento, alegando falta de condições para tal. O ex-director geral da empresa, Sin Ma Lio, disse mesmo à rádio chinesa que “não entende porque é que o Governo nunca permitiu a cobrança destas taxas anteriormente”, quando a Vang Iek estava em funcionamento. A empresa – que não se candidatou a este concurso e não quis explicar a razão – pediu diversas vezes ao Executivo que autorizasse esta cobrança. O concurso público para a atribuição destas licenças deveria ter terminado no mês passado, mas a DSAT adiou a data de entrega até ontem, na sequência de algumas alterações ao processo. Ainda assim, as duas outras empresas que concorreram contra a Lei Ou não tiveram hipótese no concurso, por não cumprirem regras. No caso da Companhia de Serviços de Rádio Táxi de Macau, a proposta foi rejeitada porque colocou os preços das taxas a aplicar no documento de apresentação, algo que não era permitido porque estes valores só poderiam aparecer nas propostas, que são secretas. Esta empresa reclamou da decisão, mas a comissão responsável pelo concurso, cujo presidente é o vice-director da DSAT, Chiang Ngoc Vai, não aceitou a justificação. As candidatas podem também interpor recurso dentro de dez dias úteis, mas a segunda empresa a ser rejeitada – a Companhia de Serviços de Táxis Taxi Go – não o vai fazer. Esta errou pelo facto de não ter assinado nem carimbado todas as páginas do plano de operação e gestão dos serviços, bem como o currículo do pessoal de gestão da sociedade. O responsável pela empresa, Billy Choi, afirmou que não vai recorrer da decisão. Com a conclusão do acto público, a Comissão tem agora de avaliar a proposta da Lei Ou conforme o plano de operação de gestão e de serviços, sendo que a ideia é que os táxis especiais consigam entrar em funcionamento no próximo ano. A DSAT afirmou que, pelo menos 50 rádio-taxis, devem começar a circular em 2017, incluindo cinco acessíveis a deficientes. Chang Cheong Hin, chefe da Divisão da Gestão de Transportes da DSAT, acredita que o novo modelo de operação vai fazer os cidadãos de Macau “mudar a percepção que têm dos táxis” actualmente, já que este inclui possibilidade de chamada e reserva de serviços através da internet ou de aplicações móveis. Tal e qual como a Uber. “Este é um avanço no actual serviço de táxis, acredito que a qualidade vai alterar a percepção dos cidadãos”, frisou o responsável, escusando-se a comentar se a Uber poderia afectar o funcionamento destes táxis. É preciso mais taxistas O Centro de Política de Sabedoria Colectiva sugere que o Governo impulsione mais condutores a trabalhar como taxistas. Isto porque existem cerca de 14 mil pessoas com carteiras profissionais de táxi, mas apenas mil têm realmente profissão como taxistas. Ao Jornal Ou Mun, um membro do grupo, Choi Seng Hon, disse ser viável aproveitar o concurso público para estudar como atrair mais condutores com carteiras profissionais a integrar o sector, tanto a tempo parcial como inteiro. Nem que para isso seja necessário, diz, fornecer benefícios fiscais aos taxistas.