Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaEleições | Uma campanha morna nas ruas e sem novidades nos programas Termina esta sexta-feira o período de campanha eleitoral para as eleições legislativas, que acontecem no domingo. Analistas consideram que os candidatos não trouxeram novos temas para a praça pública e que, num sistema político onde o Executivo domina, é difícil implementar ideias. Perante a desqualificação de deputados, torna-se difícil prever a composição da Assembleia Legislativa Com Pedro Arede e João Santos Filipe Mais habitação, mais apoios sociais e financeiros para combater os efeitos nefastos na economia devido à pandemia da covid-19, um melhor sistema de trânsito e o modelo de gestão do novo hospital das ilhas. Estes têm sido os temas mais marcantes de uma campanha eleitoral que arrancou a 28 de Agosto e termina esta sexta-feira. Analistas ouvidos pelo HM defendem que os programas eleitorais das 14 listas candidatas revelaram-se pouco inovadores em termos de ideias para o território. “Ouvi apenas o programa de duas listas, na rádio, que não falava de outra coisa a não ser do aumento dos subsídios. Portanto, pode ser um tema interessante entre os candidatos, que puxam o seu eleitorado pelos cifrões”, ironizou Leonel Alves, advogado e antigo deputado da Assembleia Legislativa (AL) durante 33 anos. No entanto, o causídico alerta para o facto de os deputados terem pouca margem de manobra para mudar algo nesta área. “A Lei Básica diz-nos que tudo o que esteja relacionado com encargos financeiros e despesa pública depende da proposta do Chefe do Executivo. Portanto, quanto muito, um deputado pode fazer certas reivindicações. Parece que agora é geral usar este argumento do aumento dos subsídios para congregar votos.” Também Jorge Fão, antigo deputado e dirigente da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC), diz que os temas abordados pelos candidatos pouco variaram nos últimos anos. “Quase todas as listas se focam nos mesmos assuntos, que é a habitação, o trânsito, a saúde, o desemprego. São questões que não são fáceis de resolver, como é o caso também da diversificação da economia, de que se fala há dezenas de anos e não sei como pode ser feita.” Jorge Fão destaca que, na implementação de políticas, o poder Executivo domina. “Estamos muito dependentes das políticas do Governo e a AL tem poucas palavras a dizer. O Executivo tem domínio sobre todos os temas do território e o espaço de manobra dos deputados é relativamente pequeno. É preciso que o Governo esteja em sintonia com os comentários e as críticas.” Portanto, as ideias abordadas em plena campanha não passam “de uma retórica eleitoral”, embora Jorge Fão deposite esperanças na verdadeira resolução de um problema antigo: a falta de habitação. “Acredito que essa questão, com o actual Governo, vai ser resolvida. Pelo que se vê publicamente, e com as construções em curso, acredito que a habitação económica e social vai ter uma solução, mas não na totalidade.” Em relação aos restantes pedidos feitos pelos candidatos, o dirigente macaense tem menos crenças. “Quanto ao pedido de mais dinheiro e subsídios, penso que o Governo não terá capacidade para suportar mais encargos, porque sabemos que as receitas de todos os casinos estão a cair.” Depressão colectiva Para Leonel Alves, o facto de a maior parte das listas pedir um aumento dos apoios financeiros parte do sentimento de depressão generalizado sentido pela população desde que a pandemia começou. “Estamos em crise há algum tempo e as perspectivas podiam ser melhores se não fosse o prolongamento deste lockdown em Macau. As pessoas não chegam de Hong Kong, que é um mercado importante. Vejo lojas pequenas a fechar. A saúde da população não está no seu melhor e quando isso acontece obviamente que o medicamento é mais subsídio. Interpreto isso como um sentimento generalizado de que Macau está a passar por uma crise prolongada e sem perspectivas de alteração rápida e a curto prazo.” Nesse sentido, é “uma preocupação legítima da parte dos candidatos”. A pandemia pode também ter afastado das ruas a normal agitação eleitoral com carros e slogans. “Antes havia mais barulho nas ruas, mais carros a fazer a sua propaganda. Não se se isso se deve à crise ou a outros factores, não tenho visto este burburinho”, lembrou Leonel Alves, que destacou o facto de a maior parte das listas candidatas estarem a apostar nas redes sociais e formatos digitais para transmitir o seu programa político. “Hoje em dia procura-se mais as vias digitais [para fazer a campanha], que evita esta propaganda pelas ruas, e talvez por essa via seja melhor conseguido. Essa é a grande diferença.” António Katchi, jurista, considera que os temas abordados pelas listas “eram os esperados, tendo em conta a sua natureza, as circunstâncias actuais e os precedentes históricos”. “A divisão das classes trabalhadoras em trabalhadores residentes e não residentes – uma das maiores fracturas sociais existentes em Macau – tem sido sempre encarada pelos deputados e pelas listas concorrentes como uma situação normal e inevitável”, sendo este, para o jurista, “um tema estrutural que merecia um amplo debate”. Katchi também destaca a importância de debater nesta campanha os direitos laborais, “quer os direitos individuais, [sobre] o despedimento, o horário de trabalho e as férias, quer os direitos colectivos, como a liberdade sindical, negociação colectiva e greve”. Alerta Coutinho Esta campanha ficou marcada também pelo grito de alerta do deputado e candidato José Pereira Coutinho, líder da lista Nova Esperança, que se assumiu como o único candidato democrata nestas eleições, após a desqualificação de vários candidatos. Coutinho apelou ao voto para que a sua voz política, a única em língua portuguesa, se mantenha no hemiciclo, antevendo dificuldades para manter o assento pela via directa. António Katchi, jurista, concorda com esta posição. “Excluídas as listas ligadas à ‘constelação’ da Associação Novo Macau, a lista encabeçada por Pereira Coutinho é, de facto, a única em que os democratas podem encontrar, por um lado, simpatia e compreensão em relação a eles próprios (da parte das outras listas só encontram hostilidade e desprezo), e, por outro, ideias semelhantes às suas para a sociedade de Macau.” Katchi acredita que a lista Nova Esperança “também captará votos junto dos apoiantes da lista encabeçada por Cloee Chao, excluída das eleições”. Outra parte do eleitorado poderá votar nos deputados ligados à Federação das Associações dos Operários de Macau, como é o caso de Ella Lei e Leong Sun Iok, da lista União Promotora para o Progresso. Com a desqualificação de candidatos, é difícil para os analistas preverem como ficará a composição do hemiciclo a partir de domingo. Leonel Alves não antevê, para já, grandes mudanças. “Provavelmente uma ou outra lista manterá o número de deputados. Quem antes tinha dois deputados e passou a ter um, nesta actual situação pode vir a ter novamente dois candidatos eleitos. No geral, o hemiciclo não vai sofrer grandes alterações. Ou há a abstenção ou é diluído, porque o eleitorado também subiu para os sectores tradicionais.” Jorge Fão defende que é ainda uma “incógnita” a futura composição da AL. “Temos deputados que estão lá há mais de 20 anos e que nunca tiveram uma intervenção, entraram calados e saíram mudos. E temos outros que fizeram muito barulho mas que, na realidade, não fizeram nada, não passaram de retórica”, argumentou. Para o dirigente da APOMAC, o período de campanha eleitoral trouxe algum colorido às ruas, mas nada mais do que isso. “Os temas dos programas eleitorais de há quatro ou cinco anos não variam muito em relação aos deste ano. Houve a desqualificação de alguns deputados e os seus apoiantes poderão não votar. Mas também pode acontecer o contrário, nunca se sabe. Há votos que podem ser aproveitados por outras listas”, rematou Jorge Fão.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeAssociação de Jovens Macaenses | Jorge Valente pondera deixar direcção Com oito anos de existência celebrados na última semana, a Associação de Jovens Macaenses pode mudar de presidente no próximo ano. Isto porque Jorge Valente está a ponderar não se recandidatar para dar lugar a sangue novo O mandato de Jorge Valente como presidente da Associação dos Jovens Macaenses termina este ano, e nas próximas eleições a liderança poderá ter um novo rosto. Isto porque o empresário confessou ao HM que está a ponderar não se recandidatar. “Provavelmente não me recandidato como presidente da direcção porque as ideias novas acabam por se esgotar se for sempre a mesma pessoa. Nos últimos anos atraímos mais jovens e preparamos mais pessoas para se chegarem à frente e levarem a associação a fazer coisas mais inovadoras.” Os estatutos determinam que os associados não podem ter mais de 45 anos. Apesar de ainda não ter atingido essa idade, Jorge Valente disse que está na altura “de surgirem outras pessoas que, no próximo mandato, levem a associação a patamares mais altos”. O actual dirigente “gostaria de ver mais dinamismo e mais vertentes” na associação. Com oito anos celebrados na passada quinta-feira, a Associação dos Jovens Macaenses sofreu as consequências da pandemia, ao ter de cancelar uma série de eventos. “O nosso mandato termina no fim deste ano e para o ano há novas eleições. A próxima equipa terá de definir o que a associação vai fazer no futuro”, declarou. Balanço positivo Nos últimos oito anos, a Associação dos Jovens Macaenses viu muitos jovens sair para outras entidades, mas Jorge Valente considera que esse é um sinal de que os jovens macaenses estão hoje mais despertos para o associativismo. “A divulgação aumentou, o que fez com que os jovens macaenses tenham percebido que a sociedade de Macau é inclusiva. Não estamos excluídos. Vários jovens entraram para a nossa associação, saíram e entraram para outras associações de matriz portuguesa ou outras mais ligadas aos seus passatempos. De outra forma, talvez não tivessem começado.” Em relação ao futuro e à integração regional do território na Grande Baía, Jorge Valente considera que “a comunidade macaense adapta-se e sobrevive”. “É uma questão de fazer ajustamentos e seguir em frente”, frisou. A associação “começou do nada” há oito anos, mas conseguiu “firmar a sua presença”. “Hoje temos uma maior participação, embora ainda seja longe do que queríamos atingir na altura. Mas o balanço que faço é positivo. Ao longo destes anos tivemos de ser de tudo um pouco, para toda a gente. Temos uma vertente de desporto, fazemos viagens de intercâmbio, actividades relacionadas com música, palestras com vários temas”, defendeu. Relativamente ao futuro, Jorge Valente quer que a associação se mantenha eclética e não apenas virada para a vertente comercial.
João Santos Filipe Manchete SociedadeEstudo | Jovens sem perspectivas de mobilidade social A crise económica causada pela pandemia está a ter consequências nas expectativas económicas dos jovens de Macau. Segundo um estudo da Associação de Nova Juventude Chinesa de Macau, apenas um terço dos inquiridos acredita na melhoria das hipóteses de mobilidade social nos próximos 10 anos Quase metade dos jovens de Macau considera que nos últimos cinco anos não houve oportunidades de mobilidade social e apenas 30 por cento diz que as oportunidades vão surgir nos próximos 10 anos. Estes resultados fazem parte do estudo “2021 Relatório sobre o Desenvolvimento da Juventude”, realizado pela Associação de Nova Juventude Chinesa de Macau, com base em 824 questionários. Segundo a informação apresentada ontem em conferência de imprensa, e citada pelo Jornal Ou Mun, os resultados reflectem o ambiente que se vive com a pandemia, mas a tendência não é nova. Apesar de tudo, o panorama actual tornou mais claro para os inquiridos que Macau é uma sociedade estratificada, onde as pessoas com rendimentos médios e baixos têm maiores probabilidades de baixarem de classe do que de subir, devido à crise económica. Chan Ka In, líder da equipa de investigação e vice-presidente da associação, revelou que menos de um quarto dos jovens, mais precisamente 22 por cento, acredita que as oportunidades de mobilidade na sociedade são suficientes. Em comparação com o estudo feito em 2019, foi ainda sublinhado que a situação pandémica é tida pelos jovens como a principal alteração. Segundo as conclusões, o actual panorama socioeconómico aumenta os índices de competitividade na procura de emprego e alarga o fenómeno do desemprego jovem. Aposta na diversificação Na sequência dos problemas assinalados, os investigadores da Associação de Nova Juventude Chinesa de Macau apontaram a diversificação económica como a solução. No entender da associação, o Governo tem de apostar em outras indústrias, como na tecnologia de ponta na área da saúde e no mundo da alta finança. Com mais indústria, os investigadores acreditam que as oportunidades de emprego vão aumentar, assim como a mobilidade social em outros sectores. Por outro lado, a associação defende a criação de uma plataforma mais alargada de oferta de empregos, assim como a aposta em estágios pagos, para responder aos anseios da população. De resto a formação profissional para as áreas indicadas nos planos de diversificação é um dos caminhos indicados, com a associação a pedir ao Governo a coordenação de esforços, inclusive a criação de bolsas de estudo.
João Santos Filipe Manchete SociedadeTelevisão | Maria Cordero promete renunciar a nacionalidade portuguesa A macaense Maria Cordero defende o encerramento da indústria do entretenimento do Interior a estrangeiros e promete abdicar da nacionalidade portuguesa para continuar a trabalhar na China A artista macaense Maria Cordero, presença assídua na televisão de Hong Kong, em particular em programas de culinária e música, prometeu abdicar da nacionalidade portuguesa para continuar a trabalhar no Interior. A promessa foi feita em entrevista a meios de comunicação chinesa, em que abordou a recente campanha do Interior contra artistas de Hong Kong com dupla nacionalidade. “Se uma pessoa que trabalhar no Interior, o correcto é renunciar a qualquer nacionalidade estrangeira. Se alguém quer trabalhar no Interior, deve ter nacionalidade chinesa e não vejo nenhum problema nisso”, afirmou a cantora de 67 anos. As declarações de Cordero surgem na sequência da partilha de uma lista com nomes de artistas em risco de serem banidos do Interior por terem dupla nacionalidade. A lista não foi confirmada pelas autoridades, mas tem nomes muito conhecidos do público como Jet Li, Nicholas Tse, Liu Yifei, Stefanie Su ou Wang Leehom. A possibilidade de exclusão de trabalhos no Interior da China foi afastada por alguns artistas, levando a agência de representa Stefanie Sun a emitir um comunicado a negar a possibilidade. Porém, Nicholas Tse declarou que irá renunciar à nacionalidade canadiana, decisão que foi aplaudida por Maria Cordero. “Vi a notícia que o Nicholas Tse iria renunciar à nacionalidade canadiana. Acredito que todos os artistas com dupla nacionalidade vão fazer o mesmo, uns atrás dos outros”, vaticinou. “A não ser que não queiram fazer dinheiro na China e não gostem de viver aqui”, vincou. O lado pragmático Segundo Maria Cordero, conhecida como Mãe Gorda, abdicar da nacionalidade estrangeira, como a portuguesa, não é apenas uma obrigação para quem quer trabalhar na China, mas também uma atitude pragmática. “Ter nacionalidade chinesa é uma garantia, se tivermos nacionalidade chinesa temos acesso a seguro, protecção laboral e às protecções das políticas sociais”, justificou. Além de cantora e de participar em programas de culinária, Maria Cordero tem assumido posições políticas com bastante frequência nos últimos anos, nomeadamente no apoio ao Governo de Hong Kong. É também uma das grandes defensoras da integração de Hong Kong e Macau na Grande Baía. Filha de pai português e mãe chinesa, Maria Cordero nasceu em Macau em 1954 e aos nove anos de idade, por volta de 1963, mudou-se para Hong Kong onde fez carreira na indústria do entretenimento.
João Luz Manchete PolíticaHong Kong | Residentes de Macau isentos de quarentena à entrada O Governo de Carrie Lam anunciou ontem que a partir de 15 de Setembro pessoas oriundas de Macau e Guangdong podem entrar em Hong Kong sem terem de cumprir quarentena. As entradas na região vizinha serão limitadas a 2.000 por dia, mediante apresentação de teste de ácido nucleico negativo A partir de 15 de Setembro, residentes de Macau e do Interior da China vão poder entrar em Hong Kong sem terem de cumprir quarentena obrigatória. A medida foi anunciada ontem por Carrie Lam, durante a semanal conferência de imprensa do Conselho Executivo da RAEHK. A isenção de quarentena irá beneficiar um máximo de 2.000 pessoas por dia, divididas entre quem vem de Macau e quem vem de Shenzhen. “Será disponibilizada uma quota diária de 1.000 pessoas para o posto fronteiriço da Ponte Hong Kong – Zhuhai – Macau e para o posto fronteiriço de Shekou em Shenzhen”, revelou Carrie Lam. A Chefe do Executivo da RAEHK adiantou que a política “Come2HK” (vem para Hong Kong) tem estado em cima da mesa das negociações há bastante tempo, mas foi sucessivamente adiada devido à ocorrência de surtos em Hong Kong e no Interior da China. Carrie Lam anunciou também que a partir de hoje residentes de Hong Kong que estejam em Macau ou no Interior da China podem regressar à RAEHK sem terem de cumprir quarentena obrigatória. Esta medida, a que o Governo vizinho chama “Return2HK” (Regresso a Hong Kong), recomeçou a 5 de Agosto, apenas para quem voltava da província de Guangdong, depois de ter arrancado em Novembro do ano passado. Desde então, e depois de mais de 200.000 entradas, “não houve um único caso de infecção confirmada”, declarou Carrie Lam. Com juízo As políticas de entrada em Hong Kong requerem a apresentação de resultado negativo a teste de ácido nucleico no posto fronteiriço e subsequentes testes depois da entrada no território. A novidade anunciada ontem pela Chefe do Governo de Hong Kong aconteceu exactamente 21 dias depois da descoberta do último caso local de covid-19, no passado dia 17 de Agosto. Lam frisou que a passagem dos 21 dias é uma marca temporal importante, porque reflecte o tempo de incubação do vírus. “O que significa que, basicamente, chegámos à marca de zero casos”, acrescentou, citada pelo portal de comunicação do Governo da RAEHK. A relativa abertura das fronteiras de Hong Kong surge num contexto recente de alívio de medidas de restrição, com particular destaque para a permissão de entrada de empregadas domésticas, inoculadas com duas doses de vacina contra a covid-19, oriundas das Filipinas e Indonésia. A medida, implementada na semana passada requer a apresentação de um certificado de vacinação e quarentena obrigatória de três semanas.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeGoverno exige testes regulares à covid-19 a trabalhadores de risco O Centro de Coordenação de Contingência do novo tipo de coronavírus anunciou ontem que trabalhadores de quatro grupos considerados de risco, que incluem pessoal de saúde, funcionários de hotéis e dos postos fronteiriços, trabalhadores da área dos congelados e empregados de limpeza no aeroporto terão de fazer testes regulares à covid-19, incluindo testes diários. A medida surge na sequência da visita de especialistas da Comissão Nacional de Saúde da China ao território. “A comissão propôs a realização de testes a determinados grupos de pessoas. Tendo em conta a recente evolução epidémica em Cantão, iniciámos testes a quatro grupos chave que no seu trabalho diário possam estar expostos a infectados ou pessoas de contacto próximo”, referiu Tai Wa Hou, coordenador do programa de vacinação. Estes trabalhadores terão de realizar um teste de ácido nucleico a cada sete dias, mas “quem tem um maior risco de exposição [ao vírus] terá de fazer um teste por dia”, incluindo os trabalhadores de limpeza que fazem a desinfecção de espaços por onde passaram pessoas infectadas, ou quem tenha contacto com essas pessoas, até mesmo funcionários de limpeza do aeroporto, adiantou Tai Wa Hou. Os testes serão gratuitos e essenciais para passagem transfronteiriça e para apresentação ao serviço. Mais de dez mil trabalhadores serão abrangidos por esta medida, embora as autoridades “ponderem incluir funcionários dos serviços sociais e motoristas de transportes públicos”. A Comissão Nacional de Saúde da China deixou ainda indicações sobre o plano de vacinação, mas o Governo ainda está a estudar medidas sobre esta matéria. “Quanto à vacinação, há medidas que ainda temos de estudar. Pela análise a esses grupos chave, quem não recebeu a vacina tem de fazer um teste. Dependendo do grau de exposição [do trabalhador], poderemos ter prazos diferentes. Um maior risco de exposição implica a realização de um teste de sete em sete dias, e com menor risco de 14 em 14 dias. Os dados concretos serão depois divulgados”, referiu Tai Wa Hou. De frisar que a definição destes grupos chave surge depois de ter sido detectado um novo caso de infecção numa funcionária de um hotel em Cantão. Irmão teve alta O Centro de Coordenação adiantou ontem que um dos membros da família de quatro pessoas infectadas com covid-19 teve alta, o segundo depois da irmã ter deixado o hospital nos últimos dias de Agosto. Trata-se do irmão mais velho, com 15 anos, que não apresenta sintomas e testou negativo em todos os testes. Em relação ao pai e à mãe, estão sem febre e sem problemas respiratórios. Relativamente ao plano de vacinação, o Executivo pretende encomendar mais 30 mil vacinas da Sinopharm, embora ainda tenha 170 mil doses deste laboratório e 50 mil doses da mRNA/BioNTech. “Tendo em conta os números da vacinação penso que o nosso stock dura mais 100 dias”, referiu Tai Wa Hou.
Hoje Macau Manchete SociedadeCerca de 30% de negócios de turismo e restauração fechou portas Desde o início do ano que 30 por cento dos negócios virados para o turismo, como venda de lembranças ou de restauração fechou desapareceu. O número foi apresentado por Aeson Lei, presidente da Associação de Qualidade Verde Marca, durante um simpósio no domingo, para Pequenas e Médias Empresas. De acordo com declarações prestadas ao Jornal Cheng Pou, Aeson Lei mostrou-se muito preocupado porque os encerramentos foram quase todos uma consequência de degradação da situação económica imposta pela pandemia da covid-19 e pelas restrições de circulação. Lei explicou que também as plataformas de distribuição de comida fizeram com que a situação dos restaurantes se degradasse, através da cobrança de comissões muito elevadas. Para o panorama “negro” contribui ainda a redução do poder de compra não só dos residentes, que é cada vez mais acentuada, mas também dos turistas, que gastam menos do que em anos anteriores. O responsável da associação explicou ainda que os alimentos que chegam a Macau, e produtos relacionados, estão mais caros, o que tem reduzido as margens de lucro praticadas. Sobre as dificuldades acrescidas no consumo, Aeson Lei exemplificou ainda que o cartão de consumo electrónico e a distribuição de vales electrónicos tem um impacto mais limitado do que no ano passado porque “as pessoas estão mais cautelosas na forma como gastam o dinheiro”. Mais regulação e apoio Face à crise económica, o presidente da Associação de Qualidade Verde Marca sublinhou que são muitas as empresas a lutar pela sobrevivência e pediu que o Governo lance medidas de apoio a curto, médio e longo prazo a pensar nas Pequenas e Médias Empresas. No que diz às margens do negócio, o principal problema apontado foram as plataformas de distribuição. De acordo com Aeson Lei, os donos dos restaurantes queixaram-se de que as comissões cobradas nas entregas são demasiado elevadas e precisam de ser controladas. Foi ainda pedida uma regulação exigente para este tipo de plataformas, que, segundo Lei, funcionam numa situação de vácuo jurídico.
Hoje Macau Manchete PolíticaCAEAL disposta a adiar eleições em caso de tufão de sinal 8 A Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) admite adiar as eleições, caso seja içado o sinal número oito de tufão. O cenário está em cima da mesa, uma vez que se formou uma tempestade tropical com o nome Conson, a leste das Filipinas. Segundo as informações dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG), “ainda existem incertezas na previsão de intensidade e trajectória”, mas não é afastada a possibilidade de afectar o território. Perante a situação, Tong Hio Fong, presidente da CAEAL, explicou que se for necessário o acto pode ser adiado deste domingo, 12 de Setembro, para o seguinte, ou seja 19 de Setembro. “Se houver sinal oito e não pudermos fazer a eleição […] de acordo com a legislação, o dia da votação pode ser adiado para o fim-de-semana seguinte”, indicou Tong. A CAEAL garantiu ainda que se vai manter “em comunicação” com os SMG. Se as eleições forem adiadas, o período de campanha poderá ser prolongado até sexta-feira dia 17 deste mês. “De acordo com o previsto na lei, se houver adiamento, e como a lei prevê que a campanha pode ser feita até dois dias antes do dia da eleição, vai ser estendido o período de campanha”, explicou Tong. Simulação de voto Ontem, os membros da CAEAL estiveram no Pavilhão Polidesportivo Tap Seac a visitar a local de voto de simulação, que permite à população vivenciar, e preparar-se, para o voto de domingo. O “teste” permitiu aos membros da CAEAL recolherem algumas indicações, como a necessidade de manter marcas amarelas no chão, para que o distanciamento social seja respeitado nas filas de espera para votar. O evento da CAEAL decorreu ao mesmo tempo que uma visita do Colégio Perpétuo Socorro Chan Sui Ki, com os alunos a assistirem a uma apresentação sobre o acto eleitoral, através de vídeo, e a terem a oportunidade de utilizarem as urnas de voto de simulação. Até sexta-feira, o espaço está aberto para que mais alunos possam aprender como decorrem as eleições. As visitas estão disponíveis para todos os cidadãos.
João Santos Filipe Manchete PolíticaEleições | Lista Bom Lar usou recursos da DSEDJ para imprimir materiais de campanha Escolas, campanha eleitoral e confusão. Depois de, em 2017, ter sido suspeita de distribuir panfletos de campanha junto às escolas, a lista de Wong Kit Cheng foi agora apanhada a utilizar recursos da DSEDJ A Lista Aliança de Bom Lar é suspeita de ter utilizado o Centro de Recursos Educativos da Direcção de Serviços de Educação e Juventude (DSEDJ) para imprimir materiais de campanha. A denúncia foi revelada ontem pelo portal Macau Concealers e a Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) confirmou que está a decorrer uma investigação, por parte do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP). O episódio aconteceu a 1 de Setembro deste ano, quando uma pessoa vestida de cor-de-rosa e com o número nove da candidatura liderada por Wong Kit Cheng foi vista a imprimir materiais que se acreditam ser de campanha. “A CAEAL já tinha avisado que as pessoas [das listas] não podem pedir serviços junto das entidades que têm de seguir o princípio da neutralidade. Por isso, encaminhámos o caso ao Corpo de Polícia de Segurança Pública”, confirmou Tong Hio Fong. “As indicações que temos é que estariam a ser imprimidos panfletos de campanha, mas ainda temos de investigar”, reconheceu. O caso levantou suspeitas e alguns dos presentes terão denunciado a situação ao jornal. Suspeita-se que o espaço seja de acesso restrito, o que implica que apenas professores e funcionários públicos ali podem entrar. “Neste momento ainda estamos a investigar se [o envolvido] é um funcionário público […] Se o caso envolver funcionários públicos, eles têm de assumir as respectivas responsabilidades”, respondeu Tong. De acordo com as denúncias, pelo menos um membro da lista foi visto na zona de acesso para professores a imprimir materiais publicitários com o nome “Aliança de Bom Lar”. A existência de professores na Lista Aliança de Bom Lar não será um problema. A lista é apoiada pela Associação Geral das Mulheres de Macau, responsável por várias escolas na RAEM. Em 2017, a mesma lista, também encabeçada por Wong Kit Cheng, usou alunos das suas escolas para enviar materiais da candidatura aos encarregados de educação. Apanhados O momento foi captado pelas câmaras de vigilância, segundo a CAEL, que, no entanto, diz que os trabalhadores da DSEDJ não tiverem qualquer intervenção, no sentido de evitar que os recursos fossem utilizados de forma imprópria. De acordo com a lei, as instituições públicas estão obrigadas a manter a neutralidade política e não podem disponibilizar recursos para as listas. Por sua vez, a DSEDJ, segundo os esclarecimentos citados pela CAEAL ao Macau Concealers, prometeu uma maior consciencialização dos funcionários contra a possível utilização recursos pelas listas na campanha e instrui-los de forma a garantir que não há abuso dos recursos. Até ontem, a CAEAL tinha recebido 17 queixas, das quais cinco foram reencaminhadas para o Corpo de Polícia de Segurança Pública, duas para o Comissário Contra a Corrupção e outras duas para a Polícia Judiciária.
Pedro Arede Grande Plano MancheteAnálise | Zona de cooperação em Hengqin vai acelerar investimento, mas faltam detalhes José Luís Sales Marques e Jorge Neto Valente consideram que o anúncio do projecto de cooperação em Hengqin é uma “excelente notícia” para Macau. Contudo, para Neto Valente, os empresários precisam de “certezas” para avançar, até porque não é certo se os portugueses com BIR terão a mesma facilidade de circulação. O plano prevê para 2029 uma “economia altamente articulada” entre Macau e a Ilha da Montanha Depois de, em 2009, o Comité Central do Partido Comunista da China e o Conselho de Estado terem decidido o destino da Ilha da Montanha (Hengqin), foi dado mais um passo para reforçar a integração e o desenvolvimento económico de Macau. O Governo Central anunciou no passado domingo, o plano geral para a construção de uma zona de cooperação aprofundada entre Macau e Guangdong em Hengqin. No seguimento do anúncio, analistas contactados pelo HM consideram que o “Projecto geral de construção da zona de cooperação aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin” é uma “excelente notícia” que pode “apressar” o investimento na Ilha da Montanha e acelerar o desenvolvimento de Macau. Para o empresário Jorge Neto Valente o projecto surge como resposta a uma ideia que tem estado “em águas de bacalhau” e se tem desenvolvido “muito devagar”. “Este novo modelo parece ser uma fórmula para podermos apressar o investimento em Hengqin e dar apoio a Macau”, apontou o empresário. Entre as possíveis vantagens, Jorge Neto Valente destaca as facilidades de circulação de pessoas e mercadorias e ainda a previsível redução do custo de arrendamento de espaços comerciais, que poderá trazer vantagens para pequenas e médias empresas (PME). “[Actualmente] a importação é difícil. Há mercadorias que temos aqui e não existem na China. Pode ser que na zona de Hengqin haja mais produtos iguais aos de Macau. A longo prazo, a zona de cooperação pode levar também à redução do preço dos espaços comerciais. As PME têm um problema grande em conseguir espaços de baixo custo. E em Hengqin o que não falta é espaço”, disse ao HM, referindo-se aos 106 quilómetros quadrados da Zona de Cooperação. Copo meio cheio Para o economista José Luís Sales Marques, apesar de haver aspectos que precisam de ser definidos posteriormente, a promulgação do Projecto de Cooperação entre Macau e Guangdong em Hengqin surge numa altura em que “todas as boas notícias são bem-vindas” e tem o condão de “criar excelentes oportunidades para Macau e para a população em geral”. “Numa primeira abordagem, [o projecto] responde a várias questões. Em geral, acho que é um plano muito interessante e cria novas oportunidades para Macau. A questão da própria plataforma de serviços entre a China e os países de língua portuguesa, os produtos ‘Made in Macau’ e a medicina tradicional chinesa (…) implicam arranjos que estão relacionados com as regras internacionais e regularização da Organização Mundial do Comércio [OMC]”, referiu. Sobre o sistema de administração conjunta entre os Governos de Macau e Guangdong, previsto no plano, através da criação da Comissão de Gestão da Zona de Cooperação, Sales Marques acredita que este é um passo que serve o propósito de acelerar a integração de Macau na Grande Baía. “Haverá uma supervisão muito forte do Governo Central e do próprio partido no que diz respeito ao processo de acelerar a integração de Macau na Grande Baía. Diria que a Ilha da Montanha é quase uma zona de demonstração do que podem ser os esforços conjuntos de Macau, Guangdong e Zhuhai no que diz respeito à criação de novas oportunidades”, explicou. Detalhes por apurar Contudo, Jorge Neto Valente aponta haver ainda detalhes por afinar no projecto, nomeadamente quanto às condições que as empresas de Macau vão gozar se decidirem rumar a Hengqin. “O formato e as directivas gerais estão definidas, mas ainda faltam detalhes. Esse é o lado negativo, porque nós, as PME, precisamos de ter certezas na implementação de coisas para poder planear e avançar”, defendeu. Outro dos pontos que para o empresário não é claro, prende-se com a circulação de residentes de Macau detentores de passaporte estrangeiro, já que, para todos os efeitos, não vão deixar de existir fronteiras. “Para residentes chineses com salvo conduto, vai ser mais fácil [circular], mas com a ressalva de que não se aplica a portugueses e outros estrangeiros. Vamos ter um problema que é o facto de estas facilidades não chegarem a toda a população e é uma pena. Os portugueses com BIR permanente deveriam ter as mesmas regalias, mas, como há uma fronteira, não vai ser tão fácil como para os cidadãos chineses. Não está bem definido e é um problema”, apontou Jorge Neto Valente. Campo fértil O plano, aprovado pelo Comité Central do Partido Comunista da China e pelo Conselho de Estado, foi tornado público no domingo, noticiou a agência Xinhua segundo a Lusa, com as autoridades a salientarem que se trata de um acordo importante para enriquecer a prática do princípio “Um País, Dois Sistemas” e uma importante força motriz para o desenvolvimento de Macau a longo prazo. A zona de cooperação vai abranger uma área total de 106 quilómetros quadrados, que servirá de casa a uma nova plataforma para impulsionar a “diversificação económica de Macau, um novo espaço que proporciona conveniência à vida e emprego dos residentes”. Por outro lado, vai permitir reforçar também o projecto da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau. Segundo o plano, a zona de cooperação irá desenvolver novas indústrias para ajudar a promover a diversificação económica de Macau, com um foco nas áreas de investigação e tecnologia de ponta, além da promoção da medicina tradicional chinesa, das indústrias associadas à cultura e ao turismo, do sector das convenções e exposições, bem como das finanças. As políticas fiscais sobre o rendimento das sociedades serão alvo de incentivos e vão ser desenvolvidas medidas para atrair quadros qualificados, de Macau e do estrangeiro, sublinha-se. A zona de cooperação pretende ainda ser um novo lar para os residentes de Macau habitarem e trabalharem. De acordo com o plano, está previsto o encorajamento dos residentes para encontrarem emprego ou criarem as suas próprias empresas, com a promessa de que a conectividade das infra-estruturas e os serviços públicos serão também impulsionados. Os procedimentos de declaração de mercadorias que saem e entram entre Macau e a zona de cooperação “serão ainda mais simplificados”, prevendo-se ainda a introdução de medidas “inovadoras em termos de gestão financeira transfronteiriça”, acrescentou a Xinhua. Segundo o projecto, em 2024, ano em que se comemora o 25.º aniversário da transferência de soberania, o mecanismo do sistema de negociação, construção e administração conjuntas entre Guangdong e Macau “irá funcionar bem”. Seis anos depois, em 2029, prevê-se que haja uma economia “altamente articulada” entre a zona de cooperação e Macau. Por fim, em 2035 estarão “basicamente concretizados os objectivos da promoção do desenvolvimento da diversificação da economia de Macau”. Circulação e Habitação . Articulação de serviços públicos de educação, saúde e serviços sociais . Aceleração do projecto “Novos Moradores de Macau” . Liberalização total de entrada e saída de veículos motorizados . Extensão do Metro Ligeiro à zona de cooperação e à rede ferroviária de Zhuhai . Eliminação gradual das tarifas de roaming . Construção de uma via verde de ligação da rede fixa à internet a nível internacional Regime fiscal Residentes Imposto sobre rendimento pessoal cobrado à taxa de imposto de Macau Talentos de alto nível Imposto sobre rendimento pessoal cobrado à taxa de 15% Empresas . Taxa de imposto sobre o rendimento de 15% para empresas qualificadas . Permitida dedução de uma vez do cálculo do imposto no período corrente das despesas . Isenção de imposto sobre investimentos do exterior obtidos por empresas de turismo, serviços modernos e tecnologia Mercadoria . Isenção de pagamento de impostos à saída de Macau (há excepções) . Isenção de imposto aduaneiro de importação para mercadoria ao entrar no Interior da China a partir da zona de cooperação FAOM defende iniciativa Lee Chong Cheng, presidente da Federação das Associações dos Operários de Macau, acredita que só com a organização conjunta da Ilha da Montanha vai ser possível avançar com a diversificação da economia. Segundo o representante da FAOM, no últimos anos, Macau apostou na investigação científica e desenvolvimento tecnológico, produção de alta tecnologia, medicina chinesa tradicional e no sector das convenções. Contudo, as apostas esbarraram em vários obstáculos, como a falta de espaço. Por isso, o presidente da FAOM mostrou-se confiante que a organização conjunta permita à RAEM alcançar a meta de diversificar a economia. Alexandre Ma apoia cooperação Alexandre Ma, presidente da Associação Comercial de Macau, diz que está comprometido com o projecto e que a associação vai trabalhar para que a cooperação entre Macau e Zhuhai, através da Ilha da Montanha, seja bem sucedida. O empresário sublinhou também que a criação de um Conselho de Administração para a Zona de Cooperação com representantes das altas esferas de Macau e Guangdong mostra que o projecto é de extrema importância. O empresário também desejou que a população se empenhe na diversificação da economia. Ligação directa O Gabinete de Ligação do Governo Central em Macau reagiu em comunicado ao anúncio da Construção da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin, afirmando ser um projecto a que o Presidente Xi Jinping atribuiu grande importância. O organismo acrescentou que a zona tem um grande significado para o impulsionamento da diversificação económica de Macau, o enriquecimento da prática do princípio ‘Um País, Dois Sistemas’ e o desenvolvimento da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau. Grande prenda Joey Lao, o deputado e presidente da Associação Económica de Macau, reagiu ao anúncio do projecto de Hengqin caracterizando-o como um presente gigante que o Governo Central deu a Macau, permitindo a integração no desenvolvimento nacional, imprimindo uma nova dinâmica à região. No seu entender, o projecto cria uma plataforma para a diversificação económica de Macau, e é um factor positivo na criação de emprego, inovação e empreendedorismo.
Hoje Macau Manchete PolíticaChina anuncia plano para criar de zona de cooperação aprofundada Macau-Guangdong As autoridades centrais da China anunciaram um plano geral para a construção de uma zona de cooperação aprofundada entre Macau e a província vizinha de Guangdong em Hengqin. O plano, aprovado pelo Comité Central do Partido Comunista da China e pelo Conselho de Estado, foi tornado público no domingo, noticiou a agência de notícias Xinhua, com as autoridades a salientarem que se trata de um acordo importante para enriquecer a prática de “um país, dois sistemas” e uma importante força motriz para o desenvolvimento de Macau a longo prazo. Hengqin (ilha da Montanha) localiza-se na parte sul da cidade de Zhuhai, na província de Guangdong. A área total da zona de cooperação vai abranger uma área de 106 quilómetros quadrados, de acordo com o plano, no qual se define a posição estratégica da zona como uma nova plataforma para impulsionar a “diversificação económica de Macau, um novo espaço que proporciona conveniência à vida e emprego dos residentes”. Por outro lado, destaca-se que vai permitir reforçar a Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau, um projeto de Pequim para criar uma região que integra as regiões administrativas especiais de Macau, Hong Kong e nove cidades de Guangdong. Segundo o plano, a zona de cooperação irá desenvolver novas indústrias para ajudar a promover a diversificação económica de Macau, com um foco nas áreas de investigação e tecnologia de ponta, para além da promoção da medicina tradicional chinesa, das indústrias associadas à cultura e ao turismo, do setor das convenções e exposições, bem como das finanças. As políticas fiscais sobre o rendimento das sociedades serão alvo de incentivos e vão ser desenvolvidas medidas para atrair quadros qualificados, de Macau e do estrangeiro, sublinha-se. A zona de cooperação será um novo lar para os residentes de Macau viverem e trabalharem, de acordo com o plano, no qual se prevê que os residentes de Macau sejam encorajados a encontrar emprego ou a criar as suas próprias empresas, com a promessa de que a conectividade das infraestruturas será também impulsionada. Os procedimentos de declaração de mercadorias que saem e entram entre Macau e a zona de cooperação “serão ainda mais simplificados”, prevendo-se ainda a introdução de medidas “inovadoras em termos de gestão financeira transfronteiriça”, acrescentou a Xinhua.
Sérgio Fonseca Desporto MancheteAutomobilismo | Competições nacionais na China voltam três meses depois Depois de três meses de interregno forçado, o automobilismo voltou à República Popular da China. Isto é, competições motorizadas de carácter nacional foram novamente autorizadas, pois aquelas com estatuto meramente regional terão continuado a ser organizadas um pouco por todo o país, como são exemplo as corridas realizadas nos últimos meses em Zhaoqing e Zhuzhou. No passado dia 27 de Maio, a Federação dos Desportos Automóveis e Motociclos da República Popular da China (CAMF) suspendeu, com efeito imediato, todas as actividades de automobilismo e motociclismo no país, seguindo assim as recomendações da autoridade máxima dos desportos do país. Todos os circuitos, organizadores e partes interessadas no desporto foram obrigados a rever os seus procedimentos de segurança e emergência. Esta medida, que também abrangeu outros desportos ao ar livre, surgiu depois da tragédia numa prova de atletismo no noroeste da China que vitimou vinte e um participantes. No pretérito fim de semana, em Ningbo, houve finalmente “luz verde” para recomeçar, com a Taça Porsche Carrera Ásia a disputar a sua terceira prova do ano, enquanto o Campeonato da China de Resistência (CEC na sigla inglesa) teve honras de abertura de temporada. A RAEM esteve representada no “Ningbo Carnival” por um trio de pilotos locais – Ng Kin Veng, Cheung Chi On e Ip Tak Meng – que alinhou na corrida do CEC, com um Volkswagen Golf TCR, integrado na categoria de carros de Turismo. Ausência esperada Depois de ter disputado as duas primeiras provas da temporada de 2021 da Taça Porsche Carrera Ásia, André Couto não esteve presente no evento de Ningbo. Desde o início da temporada que era sabido que o experiente piloto do território não previa participar por inteiro na época desportiva do troféu da marca alemã. No entanto, Couto deveria ter estado presente na pista da província de Zhejiang para participar prova do CEC com a Toro Racing, algo que não veio a acontecer devido a uma súbita mudança de planos. A equipa chinesa inscreveu dois dos seus Mercedes-AMG GT3 na prova de Ningbo, mas optou por retirá-los já durante a semana que antecedeu o evento. Assim, e se não existirem mais atrasos ou contratempos causados pela pandemia, André Couto deverá voltar ao volante do Mercedes-AMG GT3 da Toro Racing, fazendo dupla com o o piloto amador chinês Zang Kan, na prova do Campeonato da China de GT no circuito Qinghuangdao Shougang. A pista montada numa zona fabril na província de Hebei está designada para acolher a primeira prova do campeonato no fim de semana de 18 e 19 de Setembro, porém a data final do evento ainda carece confirmação oficial. Optimismo para o recomeço Quem regressa já este fim de semana às pistas é Rodolfo Ávila. No Circuito Internacional de Xangai, o piloto de Macau voltará aos comandos do MG6 XPower TCR na segunda jornada do TCR Ásia/TCR China. Depois de um início de temporada em que os carros da marca sino-britânica não conseguiram medir forças de igual para igual com os favoritos Lynk & Co, Ávila espera uma melhoria de performance já nesta prova. “Já muito tempo passou desde a nossa última prova, mas estou feliz e preparado para este regresso”, afirmou Ávila, em entrevista publicada pela organização do campeonato nas redes sociais chinesas. “O desempenho do carro tem melhorado a cada ano. A experiente equipa 333 tem contribuído muito. Trabalho com esta equipa há mais de seis anos, pelo que nos conhecemos muito bem, o que também nos permite comunicar e trabalhar de forma mais eficiente, optimizando as afinações e assim melhorando os resultados nas corridas. Ir atrás de melhores resultados é sempre o nosso principal objetivo”.
Hoje Macau Manchete SociedadeMacau arranca com primeira competição de ‘startups’ para universidades lusófonas e chinesas A primeira competição de ‘startups’ universitárias entre os países de língua portuguesa e a China dá pelo nome de “928 challenge” e vai decorrer em Macau ao longo do mês de Outubro, com o objectivo de promover negócios orientados para a sustentabilidade e encontrar investidores para projectos promissores. “Temos já 14 equipas registadas, sete da China e, as restantes, de universidades de Moçambique, Cabo Verde, Portugal, Brasil e São Tomé e Príncipe”, nesta competição, que este ano abre só para universidades “para criar ideias de ‘startups'”. A informação foi revelada à Lusa na passada sexta-feira por Marco Duarte Rizzolio, da Universidade Cidade de Macau (CityU), um dos coordenadores do “928 challenge”. “Para o próximo ano queremos abrir [a competição] a empresas”, adiantou o responsável. Denominado “928 challenge”, por integrar nove cidades da Área da Grande Baía, duas regiões administrativas especiais chinesas e oito países de língua portuguesa, o “concurso pretende reforçar o espírito de empreendedorismo, inovação e cooperação entre universidades” lusófonas e chinesas. Até final deste mês decorrem as inscrições para um ‘bootcamp online’ de 15 dias, previsto entre 4 e 15 de Outubro, durante o qual os participantes, deverão “criar planos de negócios que promovam a sustentabilidade e a cooperação entre a China e os países de língua portuguesa”. À procura de investidores Na primeira semana, o ‘bootcamp’ vai servir para partilhar a realidade dos países lusófonos e da China com as equipas participantes que, na segunda semana, irão desenvolver uma ideia de negócio para apresentar a possíveis investidores, explicou Rizzolio, que co-fundou o “928 challenge” com o director da Faculdade de Business da CityU, José Alves. “Estamos à espera, no máximo, de 20 equipas para a final”, que vai decorrer no dia 23 de Outubro, durante a Feira Internacional de Macau (MIF), indicou. O primeiro prémio é de dez mil patacas, o segundo de sete mil e o terceiro de cinco mil. A final será “offline e presencial” para as universidades chinesas, que virão a Macau, acrescentou. No painel de juízes contam-se o presidente e CEO do Banco Nacional Ultramarino (BNU), Carlos Cid Álvares, o presidente e CEO da CESL Asia, António Trindade, ou o presidente da KNJ Investment Limited, Kevin Ho, entre outros, referiu Marco Rizzolio. Além de permitir aprofundar colaborações académicas entre instituições do ensino superior da Grande Baía e dos países lusófonos, a organização pretende identificar projectos de ‘startup’ com potencial para serem implementados e apoiados por investidores de Macau, da Grande Baía ou de países de língua portuguesa.
João Santos Filipe Manchete SociedadeCrime | Mulher detida e acusada de agredir a filha de dois anos A suspeita tem antecedentes criminais, tendo sido presa em 2018, por ter abandonado a filha que agora foi vítima de agressões. A mulher é uma trabalhadora-não residente libertada há seis meses Uma mulher com 30 anos foi detida pelas autoridades e é suspeita de ter agredido a filha de dois anos, na segunda-feira passada, de acordo com as informações reveladas pela Polícia Judiciária (PJ). A trabalhadora não-residente tem antecedentes criminais e há cerca de dois anos tinha sido presa por ter abandonado a filha, que agora agrediu. “A suspeita é a mãe. Estavam num centro de acolhimento e no dia 30 de Agosto, enquanto a vítima e a suspeita estavam juntas, cometeu actos de violência contra a vítima”, afirmou Chong Kam Leung, porta-voz da Polícia Judiciária, na apresentação do caso, que foi revelado apenas na sexta-feira. Na origem do ataque terá estado o facto de a mãe ter considerado que a filha não estava a acatar as suas instruções. As agressões foram detectadas por um trabalhador do centro e fizeram com que a bebé tivesse de ser levada para o hospital. “A vítima foi levada para o hospital com ferimentos num braço. O incidente foi testemunhado por um membro da equipa, que parou a agressão e mandou a vítima para o hospital”, foi relatado pela PJ, citada pela TDM. No hospital, foi confirmado que a vítima tinha sido atacada e apresentava uma mancha negra no braço com sete centímetros de diâmetro. A PJ relatou ainda que os ataques tinham sido captados pelas câmaras de videovigilância. Abandono em 2018 A mulher do Myamar estava em liberdade desde Junho deste ano, após ter cumprido uma pena de dois anos e seis meses por abandono da bebé. A primeira detenção tinha acontecido a 13 de Dezembro de 2018. Em 2018, a trabalhadora não-residente foi para a casa-de-banho da casa onde exercia as funções de doméstica. Como demorou a sair, o incidente acabou por levantar suspeitas, com patroa a entrar na casa-de-banho e a ver a mulher a limpar manchas de sangue. Na altura, a empregada recusou ter dado à luz. No entanto, à noite, a proprietária ouviu uma criança a chorar. Foi à casa-de-banho e do lado de fora da janela, no parapeito do ar-condicionado, acabou por encontrar a recém-nascida. Estavam 13 graus na rua. Na sequência do primeiro crime, a mulher foi condenada a uma pena de dois anos e seis meses. O caso foi entregue ao Ministério Pública (MP) que vai agora proceder com as investigações.
João Santos Filipe Manchete SociedadeIlha Verde | Moradores alertam para nova ocupação ilegal e criticam Governo Uma associação de moradores criticou o Executivo pela inacção e incapacidade para remover um contentor deixado na Colina da Ilha Verde, suspeito de ser usado para habitação clandestina. O Instituto Cultural diz estar atento e a acompanhar o caso Os moradores alertaram para uma nova ocupação ilegal da Colina da Ilha Verde e consideram que o Governo tem culpas no cartório. O caso foi revelado no sábado, por Chan Fong, vice-presidente Associação de Beneficência e Assistência Mútua dos Moradores do Bairro da Ilha Verde, ao jornal Ou Mun. Segundo o relato, nos últimos dias houve pessoas que tentaram deixar de forma ilegal contentores na Colina da Ilha Verde. A operação acabou por ser interrompida pela acção da associação e do proprietário dos terrenos, e as autoridades foram chamadas ao local. Contudo, a intervenção da associação não conseguiu evitar que fosse instalado no local um dos contentores com janelas e ventoinhas para extracção de ar, o que deixa a entender que pode ser utilizado para habitação. Além da polícia, foram notificados outro serviços e institutos públicos, que, segundo Chan Fong, não fizeram nada. Entre as instituições chamadas estão o Instituto Cultural (IC), Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) e Instituto para os Assuntos Municipais (IAM). Chan Fong, dos Kaifong, acha incompreensível a falta da acção dos departamentos governamentais, face aos pedidos de auxílio. Além dos Moradores, também a Companhia de Desenvolvimento Wui San, proprietária de parte da Colina Verde, chamou as autoridades ao local e criticou a sua inacção. Passividade tradicional Ao Ou Mun, um porta-voz da empresa atacou o que disse ser o “caos na Colina da Ilha Verde” e culpou a inércia das autoridades pela situação. Segundo o porta-voz, a polícia foi chamada, mas respondeu que ainda há um processo a decorrer nos tribunais. Ainda de acordo com as autoridades, sem o processo ser resolvido, não pode haver ordem de despejo ou remoção do contentor. Face à nova ocupação, o representante do proprietário lamentou que ao longo dos anos a DSSOPT não tenha aprovado o pedido da planta de condições urbanísticas. Para a empresa, uma planta e a respectiva construção impediriam novas ocupações ilegais. Sobre a conduta do IC, o porta-voz disse que apenas se limitam a pedir que os trabalhos de conservação do convento sejam realizados. “A ocupação ilegal prejudica obviamente o ambiente da colina. Nós impedimos [a ocupação ilegal], mas os nossos direitos têm sido ignorados. Se esta situação se mantém, como é que podemos conservar a Colina da Ilha Verde?”, questionou. Face à ocupação, o IC enviou técnicos ao local para reencaminhar queixas dos envolvidos aos vários serviços competentes e prometeu acompanhar a situação do contentor deixado no terreno.
Pedro Arede Manchete PolíticaTurismo | Excursões locais dependem do aval dos Serviços de Saúde O plano de excursões locais só será reactivado após a autorização dos Serviços de Saúde. Segundo Helena de Senna Fernandes o regresso do programa incluirá actividades diárias. A responsável estima que Macau receberá entre 20 a 30 mil visitantes diários durante a Semana Dourada A directora dos Serviços de Turismo, Helena de Senna Fernandes revelou na passada sexta-feira que a retoma do plano de excursões locais “Passeios, Gastronomia e estadia para Residentes de Macau” está dependente da autorização dos Serviços de Saúde (SSM). À TDM-Canal Macau, a responsável afirmou também que, assim que a retoma do plano for aprovada pelas autoridades de saúde, as excursões locais serão reactivadas numa base diária, para que seja possível colmatar os prejuízos que resultaram do novo surto de covid-19 registado no início de Agosto em Macau. Além disso, lembrou Senna Fernandes, nem todos os residentes de Macau estão ocupados durante a semana e essa é uma situação que pode ser aproveitada. “Sabemos que nem todos os residentes de Macau trabalham ou estudam. Por isso, podem participar, durante os dias úteis, nos roteiros. Alguns, por exemplo, poderão mesmo participar nos populares cruzeiros de barco, depois do trabalho. Esta modalidade pode conferir mais margem ao sector do turismo, para apoiar os negócios. Vamos contactar todos os participantes e inquirir sobre a possibilidade de cancelar a respectiva vaga ou escolher outra”, apontou. Segundo a TDM-Canal Macau, o interregno do programa de excursões locais durante um mês, terá afectado cerca de 10.000 participantes. Garimpeiros a postos Questionada sobre as previsões de entrada de turistas em Macau durante a Semana Dourada de Outubro, Maria Helena de Senna Fernandes apontou que são esperados entre 20 e 30 mil visitantes por dia. A pensar nos feriados de Outubro e para atrair mais visitantes, a responsável avançou que, no imediato, a prioridade passa por restabelecer a confiança dos turistas do Interior da China. “Desde o dia 18 de Agosto, depois de Macau aliviar gradualmente as restrições implementadas por causa da pandemia, temos trabalhado no sentido de consolidar a confiança dos turistas do Continente no turismo de Macau e de estabelecer uma imagem de turismo saudável e seguro, a pensar na semana de 1 de Outubro. Esperamos que durante a Semana Dourada possamos voltar a ter visitantes entre os 20 mil e os 30 mil ou até mais de 30 mil, nalguns dias. Para o sector do turismo vai ser uma grande ajuda”, sublinhou Helena de Senna Fernandes. Recorde-se que, depois do novo surto de covid-19 em Macau, o número de turistas caiu 47 por cento e a ocupação hoteleira caiu de 63 para 35 por cento, em relação a Julho.
João Santos Filipe Manchete PolíticaEleições | Ella Lei e Leong Sun Iok querem novo cartão de consumo A menos de uma semana das eleições, os candidatos metem a carne toda no assador. Os representantes da FAOM pedem mais um cartão de consumo de 8 mil patacas, enquanto Agnes Lam quer ver o problema das cheias resolvido Ella Lei e Leong Sun Iok, da lista União Para O Desenvolvimento, defendem que o Governo tem a obrigação de lançar uma nova ronda do cartão de consumo com pelo menos 8 mil patacas por residente. O apelo foi deixado, no sábado, no Mercado do Iao Hon, onde a lista apoiada pela Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) realizou uma acção de campanha. Segundo os argumentos apresentados pelos candidatos e deputados, o Governo tem a obrigação de garantir a estabilidade económica e proteger os empregos. Por isso, exigem que haja uma nova ronda do cartão de consumo de 8 mil patacas para “aliviar a pressão” na vida dos residentes. Uma das preocupações mostrada por Leong foi o desemprego. O deputado diz que há cada vez mais desempregados de longo prazo e pessoas obrigadas a tirar licenças sem vencimento. Ella Lei e Leong Sun Iok exigem que haja um controlo dos preços, para impedir aumentos nos combustíveis, como dizem estar a acontecer. Segundo esta versão, a gasolina e o gasóleo sobem sempre de forma muito rápida, mas o mesmo não acontece quando é para fazer descer os preços. Combate às cheias Em campanha no mesmo dia, mas no Largo do Pagode do Bazar, Agnes Lam, deputada e cabeça-de-lista da Observatório Cívico, considerou que um dos assuntos mais urgentes é resolução do problema das cheias no Porto Interior. Segundo a candidata, todos os Verões há cheias e é necessário haver medidas concretas e mais determinadas para aumentar a capacidade de retenção de água e drenagem. Por isso, Agnes Lam apelou a que essa construção seja acelerada, ao mesmo tempo que se melhorem as rotas de evacuação e planos de salvamento. Ainda sobre as cheias, Lam colocou-se ao lado dos comerciantes das zonas mais atingidas e afirmou que os subsídios monetários para pagar os danos não são suficientes. Segundo a candidata, os comerciantes das zonas com cheias vivem um ciclo vicioso em que pedem subsídios e mal os acabam de pagar, precisam de pedir outro novamente, porque voltou a haver cheias. Face a este cenário, Lam apelou ao Executivo para resolver o problema de uma vez por todas. Progresso só no Interior À mesma hora, a União Promotora para o Progresso, lista apoiada pelos Kai Fong, estava na Praça do Tap Seac a afirmar que só a integração na Grande Baía vai contribuir para criar oportunidades para os mais novos. Nos discursos de campanha, os candidatos número um, Leong Hong Sai, e número dois, Ngan Iek Hang, afirmaram que a mobilidade social em Macau está cada vez pior e que é necessário prestar mais atenção às oportunidades dos mais jovens. Por esse motivo, prometeram dedicar grande atenção às políticas de integração de Macau no Interior e na Grande Baía, que dizem ser a única via para os mais jovens melhorarem profissionalmente. Ainda sobre os assuntos dos mais jovens, a lista União Promotora para o Progresso, representada na Assembleia Legislativa há mais de 30 anos, prometeu fazer tudo para obrigar o Executivo a finalmente resolver os problemas de habitação, que se foram agravando com o desenvolvimento económico.
João Santos Filipe Manchete SociedadePastelaria Trigo d’Ouro nasceu na pandemia para trazer o doce de Portugal Aberta desde Setembro de 2020 em Seac Pai Van, a pastelaria Trigo d’Ouro expandiu-se em Julho para a Península. Nos dias que correm, a Trigo d’Ouro é exemplo de um negócio que tem crescido, apesar do contexto de crise generalizada Em tempo de pandemia, um passeio pelas zonas mais turísticas da cidade revela várias lojas fechadas e espaços para arrendar. Mas, no meio das dificuldades, há quem esteja em contraciclo e encontre oportunidades para montar negócio e fazê-lo crescer. É o caso da pastelaria e padaria de produtos portugueses Trigo d’Ouro, que em Setembro de 2020 abriu em Seac Pai Van e em Julho expandiu para a Península, na Avenida Comercial de Macau, perto da AIA Tower. A proprietária Vânia Vieira, em parceria com o marido Diogo Vieira, explicou ao HM a aposta em contraciclo com as condições da comunidade portuguesa, que devido a quarentenas se encontra, em muitos casos, impossibilitada de viajar para Portugal. “Claro que houve algum receio abrir um negócio na altura da pandemia. Só que achámos que como a comunidade não pode sair de Macau, seria uma boa aposta levar às pessoas a proximidade de Portugal. Sentimos que seria benéfico”, afirmou Vânia Vieira, que reside em Macau há seis anos. “Muitas pessoas estão presas em Macau, não podem sair, e este negócio foi feito a pensar na comunidade. Felizmente, tem corrido bem”, acrescentou. Também os produtos vendidos, e para garantir a qualidade, são importados de Portugal. A opção tem por base os conhecimentos e experiência de Vânia Vieira, que fez carreira no sector da restauração e geriu a cadeia de saladas Vitaminas. “Os nossos produtos são ultracongelados e importados de Portugal, depois são cozinhados nas nossas cozinhas. Acreditamos que com a importação a qualidade é superior”, afirmou a proprietária. “Nem sempre é fácil encontrar em Macau os ingredientes necessários, e às vezes basta a água ser diferente para alterar o produto. Com a importação queremos manter a consistência, se vier comer hoje um palmier recheado e amanhã a qualidade é igual”, justificou. Café ao balcão Com a comunidade em mente, a pastelaria Trigo d’Ouro faz questão de permitir que as pessoas bebam o café ao balcão. “É uma forma muito portuguesa de beber o café e temos disponível nos dois espaços. Em Macau, os clientes podem mesmo ficar nas mesas, no piso de cima. Em Seac Pai Van, o conceito é diferente, mais virado para o takeaway ou só para o consumo ao balcão”, informou Vânia Vieira. Se, por um lado, a comunidade portuguesa foi a principal aposta, por outro, as outras comunidades locais também não foram ignoradas. E apesar do receito que os produtos fossem muito doces para os consumidores chineses, a Trigo d’Ouro tem clientes de todas as origens. “As pessoas quando vêm à Trigo d’Ouro esperam ter a experiência verdadeira da pastelaria portuguesa. Por isso, o feedback tem sido bom. Os nossos clientes são 50/50, e eles gostam dos produtos, até as tendências de consumo são as mesmas”, indicou. “No início, os clientes chineses escolhem produtos que já conhecem, mas depois acabam por experimentar outras coisas, como palmiers, bolos de coco. Na verdade, também esperava que a comunidade chinesa pudesse achar os bolos muito doces, mas até agora a resposta tem sido positiva”, reconheceu.
João Santos Filipe Manchete SociedadeDescendentes de Fundadores do Teatro D. Pedro V criticam utilização Exposições com porcos de peluches, ornamentos com desenhos animados japoneses e misses do Vietname. A utilização do Teatro D. Pedro V está a ser criticada por falta de elementos que respeitem o seu passado cultural. No entanto, um representante da associação de proprietários diz que estas actividades são “expressões da cultura chinesa” Descendentes dos fundadores do Teatro D. Pedro V criticam a forma como o espaço está a ser utilizado, principalmente devido a exposições e ornamentos que não respeitam o que consideram ser a sua tradição artística. Em causa está uma exposição organizada em 2019, com peluches de porcos e fotografias de misses (alguns dos materiais ainda estão no espaço), assim como desenhos animados japoneses e outras decorações, que adornam o teatro construído em 1860. Ao HM, Henrique Nolasco da Silva, bisneto de um dos fundadores e filho de antigo presidente da Direcção da Associação dos Proprietários do Teatro D. Pedro V, aponta que a decoração desprestigia o espaço. “Essas exposições nada têm a ver com o património cultural de Macau, considerando que se trata de um edifício classificado como tendo valor cultural, não só para a RAEM como também para a Humanidade”, começou por considerar Nolasco da Silva. “Nenhum daqueles temas tem alguma relação, próxima ou remota, com Macau. São realizações que desprestigiam o imóvel, desvirtuam o fim para que ele foi construído e subvertem os pressupostos da sua classificação pela UNESCO”, acrescentou. Questionado sobre se o espaço tem ignorado as comunidades portuguesa e macaense, Henrique Nolasco da Silva aceitou a hipótese e promete acompanhar o caso: “Completamente [ignoradas]. As exposições e actividades que ali estão a ser realizadas são legítimas, mas noutro local, não ali. Os porcos de peluche cor-de-rosa, por exemplo, podem ficar enquadrados numa feira de domingo no Tap Seac, mas não ali”, disse. “Esta questão do Teatro D. Pedro V deve ser objecto de uma reflexão colectiva, pelo que o grupo de descendentes dos fundadores e dirigentes históricos do Teatro vai continuar a dedicar-lhe particular atenção”, prometeu. Elogios ao Instituto Cultural Também Catarina Canavarro Ramos, neta de outros dos fundadores, afirmou estar preocupada com a utilização do espaço. “A preservação física do imóvel está bem feita, mérito do Instituto Cultural e a sua utilização pelo IC respeita a história do Teatro, mas a utilização feita pela suposta Direcção da Associação dos Proprietários do Teatro D. Pedro V é, como já foi dito, absolutamente imprópria, só possível por parte de quem não faça ideia do passado do Teatro”, apontou a descendente. “O indivíduo que se apresenta como Presidente da Direcção tentou vendê-lo ao IC. Não é por acaso. Deve referir-se que essa má utilização pode estar a ser feita com o apoio ou, pelo menos, a inércia do Clube Macau que ocupava uma parte do edifício”, acrescentou. “Portanto, o espaço, embora preservado fisicamente, é culturalmente abusado por essas pessoas e, nessa medida, não está a ser preservado”, concluiu. Responsabilidades alheias Confrontado com as críticas, Ma Lin Chong, representante da Direcção da Associação dos Proprietários do Teatro D. Pedro V, explicou que o conteúdo das exposições é dos organizadores, a quem o espaço é disponibilizado sem qualquer custo. “A exposição já foi um evento de 2019, o espaço serve principalmente a finalidade para emprestar. Se pergunta se os conteúdos da exposição são correctos ou não, se pergunta se as pessoas se queixam ou não, cada um tem sua opinião”, afirmou Ma. “Os membros da associação de proprietários têm autonomia para decidir, e a nossa prática é deixar o público utilizar o espaço para qualquer actividade, desde que não violem as leis”, acrescentou. Nas declarações prestadas ao HM, em momento alguns os descendentes dos fundadores do Teatro D. Pedro V questionaram actividades ligadas à cultura chinesa, como as estátuas taoistas, símbolos nacionais ou a realização de ópera cantonesa. A postura demonstrada foi de aceitação da expressão artística das várias comunidades de Macau. Porém, Ma Lin Chong considera que o problema dos fundadores é de promoção dos valores chineses, como diz ter acontecido na exposição com fotografias de misses do Vietname: “A escultura em bambu [com misses do Vietname e porcos de peluche] é uma das artes da China. Acho que estas queixas são 100 por cento injustas. Na verdade, a soberania de Macau já foi transferida [para a China], e a divulgação da cultura chinesa corresponde à tendência corrente”, respondeu.
João Santos Filipe Manchete SociedadePatrimónio | Governo retira calçada e asfalta Rua de Eduardo Marques A opção é justificada com a segurança de quem anda de moto na zona e não foi afastada a possibilidade de a calçada deixar de existir em mais zonas da cidade para proteger os motociclistas. A medida gerou críticas entre a população e candidatos eleitorais O Governo mandou retirar a calçada portuguesa da Rua de Eduardo Marques e asfaltar a artéria situada na zona de Protecção do Centro Histórico de Macau. Nas últimas semanas, quem passava na zona podia ver a calçada ser retirada e trocada pelo asfalto, mas, na quarta-feira, foi confirmado que a calçada já não volta. Segundo as explicações avançadas pelo Executivo, durante uma reunião do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários da Zona Central, a escolha prendeu-se com a opção de privilegiar a “segurança” em vez de um troço que não é visto como património. No final da reunião, Lei Chong In, membro do conselho, relatou o conteúdo do encontro e explicou que a preocupação das autoridades prende-se com as chuvas e o facto de a calçada ser considerada escorregadia para os motociclos, que na opinião das autoridades, tem sido responsável por vários acidentes. Em Maio de 2020, o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), através de José Tavares, já tinha afirmado que pretendia remover a calçada por esse motivo. Porém, no mês seguinte, em Junho de 2020, segundo o jornal Cheng Pou, Tavares voltou atrás e prometeu que as características portuguesas das ruas iam ser mantidas. Um ano passou, e o presidente do IAM actuou contra o prometido. Segundo Lei Chong In, o Instituto Cultural, liderado por Mok Ian Ian, aprovou a remoção da calçada, por considerar que não ia ter impacto na zona, que é de Protecção do Centro Histórico. Já durante a noite de ontem, o IC fez saber que a retirada da calçada tinha a ver precisamente com o objectivo de evitar acidentes. Por sua vez, outro membro do conselho consultivo, Chang Ka Wa afirmou que o Governo confirmou que a substituição da calçada pode não ficar por aqui, e há a possibilidade de ser estendida para outras zonas inclinadas da cidade. Chuva de críticas Na opinião de José Pereira Coutinho, deputado e candidato da Lista Nova Esperança, deviam ter sido equacionadas outras alternativas para reforçar a segurança: “Hoje em dia existem outras formas de garantir a segurança neste tipo de superfície, para evitar que seja tão escorregadia”, indicou. Coutinho fez ainda uma analogia entre a solução e um paciente que vai ao dentista para arranjar um dente: “Tomaram a opção de arrancar o dente [do paciente], mas isso não resolve o problema. O que se devia ter feito era encontrar alternativas para que o paciente ficasse com o dente, neste caso a calçada”, vincou. O candidato mostrou-se preocupado com a facilidade com que se muda o ambiente da cidade. “Todo o ambiente onde está inserido esta calçada vai ficar modificado. As ruas não vão ser as mesmas. E isso é muito prejudicial para Macau, que pretende ser uma cidade internacional com características próximas da cultura portuguesa”, afirmou. Pong Chio Fai, presidente da Associação para a Reinvenção de Estudos do Património Cultural de Macau, também se mostrou incomodado com as alterações. Em declarações ao canal chinês da Rádio Macau, Pong considerou que as mudanças tiveram um impacto negativo para o ambiente “tradicional” da Freguesia São Lázaro. Por isso, o representante da associação deixou o desejo que antes de fazer alterações tão profundas o Executivo oiça a população. As críticas sobre as alterações não passaram à margem das redes sociais, onde vários comentários sobre o assunto se tornaram virais. Por exemplo, o deputado Sulu Sou aproveitou para fazer uma sondagem sobre as opiniões contra ou a favor de remover a calçada portuguesa, com recurso aos diferentes tipos de “gostos”. Às 18H, além de quase 500 comentários ao posto, houve 1700 pessoas a expressarem-se contra a remoção da calçada e 480 a favor. Rua do Governador A Rua Eduardo Augusto Marques tem o nome actual desde 7 de Janeiro de 1933 e evoca o antigo Governador de Macau. Antes, a artéria que começa na Estrada do Cemitério e se estende até à Calçada da Igreja de São Lázaro e Rua de São Miguel tinha como nome Rua do Asilo. Eduardo Augusto Marques nasceu em 1867 em Mafra e foi Governador de Timor, entre 1908 e 1909. Depois, entre 1909 e 1910, governou Macau. Apoiante da Ditadura Militar de 1926, foi umas das figuras do Estado Novo, principalmente nas questões coloniais, tendo assumido o cargo de Ministro das Colónias entre 1929 e 1931. Piso escorregadio O Instituto Cultural (IC) justifica a aprovação da remoção da calçada portuguesa na Rua de Eduardo Marques com a necessidade de evitar os acidentes na área devido ao piso escorregadio, sem que daí decorra qualquer impacto negativo sobre o património em causa. Em comunicado, o IC diz que “relativamente às obras de melhoramento da Rua de Eduardo Marques, desenvolvidas pelo Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), que tem causado vários acidentes de viação e incidentes de segurança de peões, especialmente em dias de chuva, a situação torna-se mais grave, pelo que o IAM pretende proceder à substituição do pavimento da via, a fim de reduzir os acidentes de viação e pedonais causados por condições escorregadias e húmidas. Tendo em conta que, em diferentes épocas, foram utilizados diferentes materiais de pavimentação naquela rua, sendo o revestimento de calçada portuguesa foi colocado nas obras de repavimentação posteriormente, e que as respectivas obras de optimização não tiveram impacto negativo sobre os bens imóveis classificados nas imediações, e têm ainda um efeito positivo na segurança pedonal e rodoviária, pelo que o IC não se opôs à obra em causa.”
João Luz Grande Plano MancheteHM/20 anos | Edições iniciais mostram primeiros passos da RAEM e história circular Volvidas duas décadas sobre o nascimento do Hoje Macau, olhámos para as primeiras edições do jornal que testemunham os passos inaugurais da RAEM e notícias que atestam a natureza cíclica da história. Macau preparava-se para as primeiras eleições desde a transferência de soberania, os Censos tinham sido um sucesso e, enquanto se caminhava para a liberalização do jogo, o Hoje Macau esclarecia a natureza da concessão do antigo Hotel Bela Vista No dia 5 de Setembro de 2001 era publicada a edição inaugural do Hoje Macau, com a capa a incidir sobre a polémica questão da titularidade do antigo Hotel Bela Vista, que passou a ser a residência consular de Portugal em Macau, uma entrevista a Ng Kuok Cheong e a notícia do encerramento de websites “críticos à adesão de capitalistas ao Partido Comunista Chinês”. Numa altura em que a Região Administrativa Especial de Macau tinha pouco mais de um ano e meio de idade, a actualidade local vivia dos primordiais passos institucionais e económicos, com destaque para as primeiras eleições para a Assembleia Legislativa desde a transferência e o aceleramento do processo de liberalização do jogo. Lá fora, a Europa preparava-se para a revolução cambial da chegada do Euro, António Guterres, longe dos horizontes internacionais da ONU, visitava as obras da Barragem do Alqueva na condição de primeiro-ministro e o mundo estava prestes a ser abalado pelo ataque terrorista que derrubou as Torres Gémeas em Nova Iorque. No Afeganistão, os talibãs governavam, como uma espécie de testemunho do tempo. Numa altura de ressaca do êxodo de parte da comunidade portuguesa pós-1999, a manchete inaugural do Hoje Macau trazia claridade a um assunto que agigantava boatos e sentimentos crispados. A questão da propriedade do edifício do antigo Hotel Bela Vista abria chagas emocionais entre as comunidades, nos primeiros tempos em que a presença oficial portuguesa no território passava para o âmbito diplomático. O HM publicou o documento da Conservatória do Registo Predial que atesta que o edifício da residência do cônsul de Portugal em Macau não era propriedade do Estado português, mas uma concessão gratuita, com o prazo de arrendamento até 19 de Dezembro de 2042. O documento especifica que o edifício é “afecto às instalações do Consulado-Geral da República Portuguesa em Macau, nomeadamente como residências do Cônsul-Geral e de outros membros do Consulado-Geral”. Na segunda edição do HM, é acrescentada a voz do cônsul-geral da altura, Carlos Frota, confessando pensar que a publicidade à situação jurídica do edifício teria ficado resolvida com a publicação em Boletim Oficial, a 10 de Dezembro de 1997, do acordo alcançado sobre as instalações consulares. No dia seguinte, 7 de Setembro, o assunto ainda mexia, mas apenas no formato leve de uma breve opinativa que comentava o facto de o jornal Ou Mun ter publicado a “não novidade” de que o antigo Hotel Bela Vista não pertencia ao Estado português. Voto na matéria Também em destaque no número um do HM, esteve a entrevista a Ng Kuok Cheong, candidato que viria a ser o mais votado nas eleições que se avizinhavam. Em discurso directo, o histórico deputado dava voz a algumas das reivindicações que marcaram a sua carreira na vida política. Afastando radicalismos, Ng Kuok Cheong gostava que em 2009 o Chefe do Executivo fosse eleito por sufrágio directo, desejo que seria usado, 20 anos depois, para o desqualificar das eleições. De resto, o deputado almejava à abertura das comissões da Assembleia Legislativa, criticava a falta de eficácia da fiscalização do poder legislativo e defendia que a língua portuguesa devia continuar a ser oficial. Dois dias depois, o HM colocava Ng Kuok Cheong “em alta” na “bolsa de valores”, uma coluna de opinião, como um político “mais crescido, mais lúcido, menos radical” e com uma visão “correcta e desassombrada da comunidade portuguesa”. No capítulo das eleições, a comissão eleitoral já se pautava pela confusa regulamentação e vigilância do que era permitido e proibido durante a campanha. O HM citou mesmo uma fonte que dava conta da “fobia regulamentadora da comissão”, que “acabou por ter um resultado castrador nas acções de propaganda das listas, mesmo em pleno período de campanha eleitoral”. Ainda assim, nem tudo era cinzento na actuação da comissão eleitoral em 2021, como demonstra a notícia de 7 de Setembro onde se refere que a entidade teria chegado a acordo com as companhias de transportes públicos para não se pagar bilhete entre as 09h e as 20h do dia das eleições. Coisas da política e da terra Na terceira página do segundo número do HM, o assunto de um pequeno artigo viria a mudar para sempre a face de Macau. O texto versava sobre o aceleramento do processo de liberalização do jogo, uma semana depois da aprovação da lei que permitiria transformar Macau na capital mundial do jogo. O secretário para a Economia e Finanças da altura, Francis Tam, anunciava que estavam em curso “trabalhos para a respectiva regulamentação e para a criação de um grupo coordenador para o efeito”. Fora dos assuntos eleitorais e das questões locais, Macau abraçava e era abraçado pela China e projectava-se no plano global enquanto RAEM. O HM noticiava no dia 10, na sua primeira edição de segunda-feira, a visita de Florinda Chan, secretária para a Administração e Justiça a Pequim para participar no Fórum Internacional “A China e o Mundo no século XXI”. A reunião teria a participação de figuras internacionais como Helmut Kohl, Jacques Santer, Boutros Ghali e Henry Kissinger. Voltando à natureza cíclica da história, há 20 anos, as autoridades agradeciam à população a colaboração nos Censos 2001. No plano desportivo, a grande notícia local era a ausência do piloto português André Couto do Grande Prémio de Macau 2001, depois da participação vitoriosa no ano anterior. Entre notícias sobre novos métodos usados no Matadouro, o desejo da Casa de Portugal em Macau em conseguir voos charters para fazer viagens entre Lisboa e Macau no Natal de 2001, ou uma burla com água mineralizada importada de Zhuhai que afinal era da torneira, o HM surge num momento de ruptura da cena internacional. Com laivos premonitórios, a quinta edição do HM dava conta de um surto de cólera em Hong Kong, a um ano do grande pavor em que a SARS mergulhou a região, lançando alertas que chegaram rapidamente a Macau. Ainda assim, à altura, sem confirmação de casos pelos Serviços de Saúde, uma fonte do HM garantia que Macau não tinha “condições técnicas e de monitorização para fazer face a um hipotético surto de cólera com maiores dimensões”. Este artigo foi publicado no dia 11 de Setembro. No dia seguinte, Osama Bin Laden tornava-se no homem mais procurado do mundo. Planeta de ontem Quanto a notícias sobre Portugal, o futebol era um dos maiores elos de ligação, o cordão umbilical desportivo, com notícias que relatavam as lesões de Mantorras, os voos goleadores de Jardel e os desaires da selecção nacional orientada por António Oliveira. No plano político, o primeiro HM divulgava o aparato de segurança que implicava a chegada do euro a Portugal. O artigo não era sobre o campeonato europeu de futebol, mas sobre a revolução económica, política e cambial do fim da moeda escudo e o início do euro. A operação implicou a chegada de aviões carregados de dinheiro, destinado ao Banco de Portugal e à banca privada, à Base Aérea de Alcochete, com supervisão militar e de grupos privados. Na segunda edição, este jornal noticiava a visita do Engenheiro António Guterres, enquanto primeiro-ministro, às obras da barragem do Alqueva. Porém, o mundo estava prestes a ser abalado por um sismo geopolítico com epicentro em Manhattan. No dia 12 de Setembro, a sexta edição do HM, na capa lia-se “Terror na América – Milhares de Mortos”, com a manchete “Apocalypse Now” e a ilustração mostrava três momentos, desde os embates dos aviões nas Torres Gémeas à derrocada. O mundo mudava, atirando estilhaços que ainda hoje se sentem, moldando a nova configuração da geopolítica e da forma como é concebida a política internacional. Uma mudança de viragem de século, que o HM testemunhou, como tantas outras que foram passando pelas nossas páginas nos últimos 20 anos.
Carlos Morais José Editorial MancheteHM/20 anos | O jornal e o elefante 2001. Ano da Serpente. No dia 5 de Setembro nascia o Hoje Macau. Não eram tempos fáceis os primeiros anos da RAEM, sobretudo para a comunidade portuguesa remanescente. Muitos esqueceram, outros ainda se lembram. Da sensação de orfandade e da incerteza reinantes, se bem que habitadas por uma réstia de esperança misturada com amor à terra, que nos levara a ficar. Não sabíamos o que poderia acontecer, apesar dos discursos oficiais, ou como a população reagiria à nossa presença. Ouviam-se, por vezes, algumas vozes antiportuguesas, embora nunca tenham feito um coro suficientemente forte para apagar as palavras reconfortantes e securizantes que o então Chefe do Executivo Edmund Ho esporadicamente emitia. Eram tempos incertos quando o Hoje Macau nasceu. Tempos de luta e afirmação, de recolocação de pessoas em diferentes lugares, de emergência de novas elites, de conflitos dentro da própria comunicação social, de sedimentação de projectos em contexto de mudança extrema. Todos apalpávamos o terreno, na posse de poucas certezas. Nós, o Governo e a população. Lá fora, nesse mundo próximo e distante, seis dias depois de ter saído o primeiro número do Hoje Macau, acontecia o 11 de Setembro. (É agora tempo, vinte anos depois, de homenagear e agradecer a João Severino, proprietário e director do Macau Hoje, publicação que este jornal veio substituir. Foi graças a ele que o Hoje Macau nasceu e deu os primeiros passos, ainda amparado pela sua mão generosa. Durante o largo período que permaneceu em Macau, João Severino deixou uma marca indelével no jornalismo local que grande parte dos leitores lembra com saudade e que a História recordará.) Foi somente em 2003, depois do Governo Central ter designado Macau como ponte entre a China e os Países de Língua Portuguesa (PLP), que a nossa comunidade entendeu ter aqui uma plataforma de trabalho e a possibilidade de um contributo real para o crescimento e desenvolvimento da RAEM. Com estas directivas, Macau reafirmava a sua identidade única no contexto da nação chinesa, identidade que obrigatoriamente passava pela língua portuguesa e pela existência de relações de raízes seculares. A comunidade portuguesa poderia agora assumir um papel relevante na construção dos pilares e do tabuleiro das pontes que Pequim encarregava a RAEM de estabelecer. Por outras palavras, o Governo Central dava-nos argumentos para justificar a nossa presença. Ou, resumindo, a criação do Fórum Macau e a constante afirmação da RAEM como ponte para a Lusofonia fez-nos exalar um enorme e sincero suspiro de alívio. Nos anos seguintes, Macau entrou num processo desenfreado de crescimento que viria a durar cerca de década e meia. A liberalização do Jogo mudou o panorama da cidade em numerosos e profundos aspectos. Novos casinos e novas lojas mudaram o centro da cidade, o COTAI nasceu. Milhares de empregos bem remunerados elevaram de forma radical o nível de vida da população. Nem sempre o crescimento foi acompanhado por um desenvolvimento ecologicamente sustentado ou sequer preocupado com a qualidade de vida da população, mas Macau conheceu uma prosperidade fabulosa, que adveio do facto de se transformar na mais lucrativa praça de casinos do mundo. Entretanto, em 2008, estalava mais uma crise global. Nada que por aqui nos preocupasse. Mas Portugal entrou em profunda recessão, o que motivou uma emigração em massa, parte da qual aterrou em Macau onde, de uma forma geral, foi bem acolhida e encontrou meios para sobreviver. Eram pessoas diferentes das que por aqui haviam ficado, mais novas, com outros saberes e outros fazeres. A chegada de mais duas mil pessoas reforçou de forma significativa a nossa comunidade e foi motivo de regozijo generalizado, sobretudo para quem considera importante manter a inopinada presença lusófona, idosa de 500 anos, nesta pequena cidade do sul da China. Durante todo este período, a imprensa em língua portuguesa, ao contrário do que havia sido previsto, prosperou e consolidou-se. Três jornais diários, um semanário católico, outro bilingue, uma estação de rádio e outra de televisão, compõem o ramalhete de órgãos de comunicação social em língua portuguesa existente em Macau. O Hoje Macau foi lendo a realidade circundante, reflectindo sobre o seu papel e adoptando a forma que entendemos ser mais conveniente, útil aos nossos leitores e que nos agrada produzir. Assim, focámos a nossa atenção basicamente em assuntos locais, sejam eles de política, sociedade, desporto ou cultura. Se damos menos atenção a notícias internacionais ou de Portugal é porque sabemos terem os nossos leitores acesso a essa informação através de outros media melhor qualificados para o efeito. Assim, se exceptuarmos as notícias locais, o Hoje Macau preocupa-se em dar notícias da China e da Ásia, na medida em que são escassas no mundo de língua portuguesa, e em publicar artigos ou entrevistas cujo conteúdo ultrapassa a mera informação local e procuram, outrossim, estabelecer padrões éticos e políticos de comportamentos, de acordo com a nossa linha editorial, expressa desde o nosso primeiro número. Por outro lado, criámos a secção h, de artes, letras e ideias, na qual já contribuíram e contribuem escritores, artistas, pensadores e poetas relevantes da Lusofonia, fazendo assim com que o nome de Macau continuamente ressoe nos círculos literários e filosóficos dos PLP. Nesta mesma secção, promovemos ao longo dos anos a tradução sistemática de clássicos da poesia e do pensamento chinês, além de artigos sobre História de Macau e cultura chinesa de uma forma geral. Como diria Jacques de La Palice, tudo corria bem até começar a correr mal. Desde o início que sabíamos existirem em Hong Kong forças (estrangeiras, de Taiwan ou locais) que cuidavam poder fazer da RAEHK uma plataforma para atacar o Governo Central e o próprio país, ao abrigo da liberdade de expressão garantida pelo princípio “um país, dois sistemas”. Esses ataques foram tomando várias formas e exibindo variados pretextos mas alcançaram um ponto de viragem importante após 2016 e as mudanças operadas no contexto internacional, nomeadamente a postura muito mais agressiva dos Estados Unidos face à China, explanada em diversas campanhas internacionais e as acções de ONG’s patrocinadas pela CIA, o Congresso americano ou seus derivados. Hong Kong era o terreno ideal para lançar sombras sobre as esperadas acções do Governo chinês. Ideias de mais autonomia e até independência começaram a ser veiculadas em vários níveis comunicacionais mas que tinham sempre como alvo preferencial a juventude. Os 1000 (!) funcionários do consulado dos EUA em Hong Kong não ficaram inactivos e de mãos a abanar. Na óptica chinesa, as garantias e os direitos vigentes no segundo sistema não podiam de modo nenhum ser utilizados para atacar o país ou o seu Governo. Pequim compreendeu a situação e exigiu “patriotismo” aos candidatos a Chefe do Executivo nas eleições de 2017. A rua explodiu, o Governo local estremeceu e as eleições nunca chegaram a acontecer. O pretexto seguinte foi uma “casca de banana” chamada lei da extradição, na qual o Governo de Hong Kong escorregou sem pensar duas vezes. Pedida pela justiça de Taiwan para obter a extradição de um cidadão de Hong Kong, que alegadamente assassinara uma jovem na Formosa, o Governo entendeu, obviamente, que a lei não podia ignorar também a extradição para o Interior da China. E nestes termos a elaborou. Mal deu entrada no Conselho Legislativo, a rua explodiu. O governo recuou mas parte da rua, parte dos dois milhões que se manifestara contra a lei, recusou voltar para casa e entendeu pedir tudo o que sabia ser impossível de obter. Contudo, desta vez, as coisas estavam muito mais bem montadas. Nas manifestações surgiam kits especialmente preparados, enveredava-se pela violência, dividia-se a cidade em dois (azuis e amarelos), os principais activistas desdobravam-se em viagens internacionais para obter visibilidade, apoio e sanções contra a RAEHK e o país, portanto, tudo indicava estarmos perante esquemas bem planeados e preparados para manter o caos vivo nas ruas da cidade. E, durante meses, assim aconteceu. Hong Kong manteve-se paralisada e o seu Governo mostrou-se impotente para resolver o problema. Do lado dos activistas e, sobretudo, dos seus títeres, anunciavam-se tanques e tropas do outro lado da fronteira, rezava-se por uma intervenção militar que reavivasse os fantasmas de Tiananmen. Mas Pequim não mandou tropas, mandou uma lei. Chamou-lhe “de segurança nacional”. E com isto deixou todos com as calças na mão e a caminho do tribunal. Do resto rezará a História, conforme quem a contar. Poderia Macau passar incólume face aos problemas da ex-colónia britânica? Sabemos que não. Nunca assim foi, desde 1848, data da fundação de Hong Kong, e nunca assim será. Em primeiro lugar, a referida lei de segurança nacional foi dotada de extraterritorialidade, o que significa que pode ser aplicada fora de Hong Kong, isto é, por exemplo, em Macau. Mas, em segundo lugar, a lei é um aspecto da questão e o ano de 2021 foi fértil em mostrar-nos outros aspectos, talvez mais sombrios, quiçá mais preocupantes, que a mera extensão de uma lei, aliás desnecessária na RAEM, quer em termos jurídicos, quer em termos político-sociais. Antes de mais, teremos de referir os dois acontecimentos que mais ondas levantaram durante este ano: o caso TDM e a exclusão de candidatos às eleições para a Assembleia Legislativa. Claramente, o caso TDM, que se refere aos canais em língua portuguesa, está relacionado com a cobertura noticiosa que os canais efectuaram dos conflitos em Hong Kong, bem como do tom empregue em certas notícias claramente contrárias às posições do Governo chinês, que reproduziam a narrativa dos EUA e dos seus aliados sobre questões como Taiwan, Tibete ou o Xinjiang. Sendo a TDM um órgão de comunicação social que pertence, maioritariamente, ao Governo da RAEM, podemos imaginar que tipo de reacções terão existido da parte de um Gabinete de Ligação do Governo Central e de um Comissariado do Ministério dos Negócios Estrangeiros cada vez mais atentos e bem equipados com pessoal capaz de ler e entender português, ao ver que um canal de televisão de um governo local exprimia posições e opiniões, na sua maioria, contrárias à narrativa nacional. Ora, se até certa altura o que era publicado em língua portuguesa parecia não afectar as autoridades chinesas, a partir dos eventos de Hong Kong operou-se uma mudança significativa, na medida em que a China considera, provavelmente com razão, que se encontra sob um ataque “frio” do Ocidente e de modo nenhum quer admitir no seu território um espaço que apoie, abrigue ou fomente esse ataque. Obviamente, a recém-nomeada administração da TDM vinha com a missão de regular o estado do sítio. Não o conseguiu, contudo, fazer sem levantar ondas, de forma pacífica e harmoniosa. Ao sublinhar perante a redacção constituída por jornalistas portugueses que o patriotismo era um valor a respeitar, entre outras afirmações lost in translation, levou a uma série de demissões e rectificações na cadeia de comando da emissora. A administração da TDM pretendia uma linha editorial mais de acordo com as orientações nacionais, sobretudo em temas não relacionados com Macau mas com o país. Muito então se questionou e berrou que a liberdade de imprensa tinha acabado em Macau, que o segundo sistema já era. O que não é verdade, porque além da TDM, os outros media não foram chamados, não foram avisados, condicionados ou censurados prévia ou posteriormente no sentido de estabelecer esta ou aquela narrativa sobre este ou aquele acontecimento. É certo que são mantidas (e ainda bem) numerosas conversas e contactos com as autoridades, que se esforçam, como em qualquer lugar do mundo, por passar a sua versão dos factos. Cabe aos jornalistas fazer o rastreio final e assim temos feito no nosso jornal sem problemas. O que de algum modo se estranha é a surpresa que estes eventos causaram nalguns, como se não fosse prática comum dos governos em geral intervir nos media que controlam. Talvez, por inocência ou ignorância, julgassem que Macau é uma terra utópica onde as práticas banais de controlo por parte do poder não existem, que a TDM é uma cooperativa de jornalistas e que o segundo sistema (ou seja, a manutenção, em termos largos, do mesmo regime que existia antes da transferência de soberania) garante uma terra de leite e mel, onde a liberdade jorra abundante das fontes como nunca jorrou em local conhecido do Homem. Não se lembram, por exemplo, do férreo controlo noticioso nos mesmos canais da TDM durante a vigência da administração portuguesa, que incluiu censura, despedimentos e um total servilismo ao governo, “a bem da nação” e por “patriotismo”. Isto para não falar da censura exercida sobre o canal chinês da mesma empresa. Há muita gente esquecida (ou ignorante) nesta terra… Mas o que estava para vir não tinha a ver com jornalismo. Era pior e mais preocupante do que os acontecimentos na TDM. Ora, em Hong Kong, juntamente com a lei de segurança nacional, emergiu no discurso político de forma radical, como resposta a expressões de maior autonomia ou independência, o conceito de “patriotismo”. Portanto, Hong Kong deixa de ser governado “pelas suas gentes” e passa a ser governado pelas suas gentes sim, mas desde que sejam “patriotas”. Neste sentido, foi nomeada uma comissão para avaliar o patriotismo dos candidatos às eleições e excluir os que não satisfaziam os critérios ou tinham um historial criticável para evitar que elementos anti-China ou anti-Governo Central chegassem a lugares de poder, como acontecera nas eleições anteriores. (É fácil de perceber, por quem se interessa por História, que o conceito de “hai guo” [à letra, amar o país; patriotismo] encontra reverberações na alma chinesa distintas das que se verificam nas suas congéneres ocidentais. Isto porque, além do que as autoridades classificam como “século de humilhação” e que vai da Guerra do Ópio (1848) até à fundação da República Popular em 1949, a China esteve submetida, desde o século XIII, ao domínio mongol e depois manchu, com um breve intervalo de três séculos de dinastia Ming. Durante o “século da humilhação”, o País do Meio, esta civilização de cinco mil anos, viu-se repartido, invadido e espoliado por potências estrangeiras. É por isso muito natural que o conceito de “patriotismo” cale fundo na alma chinesa contemporânea, agora que o país recuperou a sua grandeza e lugar de destaque no contexto global.) Se em Hong Kong o Governo Central poderá entender que pulula gente anti-patriótica, a soldo de interesses estrangeiros, sustentado por ONG’s duvidosas e com meios para convocar manifestações violentas e garantir excelentes resultados eleitorais, tal caso não se verifica, nem se verificou, em Macau. Nesta cidade, por motivos demográficos, entre outros, existe uma população na qual não se detecta a desconfiança e animosidade contra a China e o Partido Comunista que encontramos em Hong Kong. Nem os membros das chamadas “associações democráticas”, de uma forma geral, jamais tiveram um comportamento anti-patriótico que pusesse em questão, por exemplo, a pertença de Macau à China ou a legitimidade do Partido Comunista. Talvez tal tenha acontecido mas disso não temos memória. A sua acção, embora pecando por escassa, limitou-se a um útil papel de vigilância de acções governativas que em nada questionaram os valores essenciais da RAEM. Só a realização das vigílias do 4 de Junho e um esporádico, quase ritual, pedido de eleições directas para o Chefe do Executivo (que, aliás, felizmente não vêm consagradas na Lei Básica), marcaram de outro modo as acções dos ditos “democratas”. Seriam razões suficientes para os excluir das próximas eleições, importando de Hong Kong a “prova de patriotismo”? Não estará Macau a navegar sobre escusadas ondas e a criar uma desnecessária desarmonia? Por outro lado, não estará o círculo de poder na RAEM cada vez mais restrito aos poderosos que logo se apressam a exibir fulgente o seu “patriotismo”, até porque este lhes permite afastar vozes inconvenientes não para os interesses do país ou da população de Macau, mas para os seus próprios interesses. Esta limitação de candidatos às eleições para a Assembleia Legislativa leva-nos a pedir o que sempre pedimos às autoridades da RAEM. Não é mais democracia, nem mais liberdade, mas sim mais transparência governativa. É nossa vontade confiar plenamente no Governo e nas autoridades judiciais. Por isso, urgia compreender as razões, os critérios, os pecados, que levaram às exclusões. Para termos todos a certeza de que vivemos no primado da lei. Entretanto, as coisas são o que são e não outra coisa. O senhor Jacques continua a acompanhar este texto. E neste momento, como há vinte anos, vivemos tempos incertos. A pandemia deixou-nos financeiramente de rastos e não se entrevê uma luz segura no fundo deste túnel. A comunidade portuguesa enfrenta este tempo de pandemia sem uma aberta há quase dois anos para visitar o seu país ou, simplesmente, passar umas férias que não seja na China. O que não pode garantir muita saúde mental. A verdade é que a saída de jornalistas, pelo seu pé, da TDM e as acções desenvolvidas junto da Assembleia da República em Lisboa, bem como a publicação de artigos de opinião e reportagens nos jornais em Portugal, críticos da situação de Macau, alvoraçaram o ambiente no seio da comunidade portuguesa, provocando intensos debates, questionamentos e até desistências. Liberdade para frente, direitos para trás, segurança para um lado, bem-estar para o outro, etc. & tal, e mais alguma coisa. Vozes ultrajadas, olhos arregalados de conjuntivite, pularam bravas em defesa da Declaração Conjunta, da Lei Básica, do derrube dos comunistas e, na onda, talvez do governo socialista de António Costa. Sem se preocuparem com o elefante. Felizmente, tanto o governo português como a Assembleia da República, entenderam que, campanhas internacionais aparte e delírios egóicos esgotados, o problema era outro, precisamente o elefante; o que está no meio desta sala, a quem alguns unicamente sentem a cauda, outros a tromba, sem realmente compreenderem que se trata de um elefante e que importa mantê-lo vivo: a nossa comunidade. É que, na rugosidade do actual contexto internacional e regional, de modo nenhum, a comunidade portuguesa de Macau poderia ser vista por Pequim como um ponta-de-lança local de interesses estrangeiros. De modo nenhum, a comunidade portuguesa de Macau, com uma presença de 500 anos, poderia ser tomada por “inimiga” e, aos poucos, convidada a procurar outras paragens. Ora, também para este jornal, a manutenção da comunidade portuguesa em Macau é um dos nossos principais desideratos e responsabilidade (esta sim, patriótica). Neste sentido, entendemos que não nos cabe a nós, comunidade portuguesa de Macau, como nunca coube, por aqui derrubar ou prejudicar dinastias ou regimes. Demo-nos com os Ming, depois com os Qing, a seguir com as duas repúblicas, e aqui continuamos em paz para cooperar e viver neste grande país, independentemente das atribulações políticas nacionais ou internacionais. O nosso objectivo é criar laços, ligar e construir, do modo que for mais conveniente ao desenvolvimento da RAEM, nomeadamente através da divulgação da civilização e da cultura chinesas em língua portuguesa. É isso que o Hoje Macau, a par com um jornalismo independente e rigoroso, ao serviço da população, aqui faz há vinte anos. E, com a vossa ajuda, se propõe fazer por muitos mais, nesta quinta era do mundo.
João Santos Filipe Manchete SociedadeCovid-19 | Alunos de Macau mais informados que colegas de Zhuhai Um estudo de um grupo de académicos da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau e do Colégio de Ciências e Tecnologia de Zhuhai mostra que os estudantes universitários da RAEM estão um pouco mais informados sobre a covid-19, principalmente em vertentes técnicas Os estudantes universitários de Macau são mais conhecedores das medidas de prevenção da covid-19 do que os colegas de Zhuhai. A conclusão faz parte de um estudo elaborado em parceria por um grupo de oitos académicos de Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau e do Colégio de Ciências e Tecnologia de Zhuhai. Segundo o método de pesquisa, 977 alunos de Macau e 2.818 de Zhuhai responderam a um inquérito de resposta múltipla, em que lhes foi pedido para identificarem comportamentos ou condições que contribuíam para evitar a transmissão do vírus. As perguntas incidiram sobre os componentes dos desinfectantes, condições de inactivação da covid-19 no ambiente, contactos de transmissão e medidas de precaução quanto à utilização de máscaras quando se tem tosse ou espirros. A principal diferença entre os frequentadores do ensino universitário de Macau e Zhuhai surgiu nas perguntas com carácter mais técnico, ou seja, sobre os componentes dos desinfectantes. Em ambos os casos, menos de um quarto dos alunos acertou na questão, em Macau 24,6 por cento conseguiram com sucesso identificar os componentes que não “matam o vírus”, enquanto em Zhuhai o número foi de 17,5 por cento. Ao nível das formas de transmissão do covid-19 os inquiridos mostraram-se bem mais informados, com 84,5 por cento dos alunos a responderem correctamente. Entre os educandos do outro lado da fronteira o número foi relativamente mais baixo de 76,9 por cento. Conhecimentos semelhantes Se no que diz respeito às formas de transmissão do vírus e aos componentes dos desinfectantes que não são eficazes, os residentes locais estão melhor informados, o mesmo não acontece nas condições em que o vírus morre no ambiente. Neste capítulo, em Zhuhai 76,9 por cento das respostas foram correctas, contra 76,8 por cento em Macau. Os dados foram também muito semelhantes a nível dos comportamentos a adoptar em caso de espirros ou tosse, com 75,9 por cento dos estudantes de Macau a darem as respostas certas, e 75,0 por cento dos colegas de Zhuhai a mostrarem conhecer os hábitos mais saudáveis. Os inquéritos foram realizados em Agosto do ano passado, quando ainda não tinha passado um ano do início da pandemia, e os resultados foram publicados em Agosto deste ano, na revista científica online PeerJ. O artigo tem como título “Um Estudo Comparativo entre os Conhecimentos de Prevenção da Covid-19 dos alunos de Macau e Zhuhai”, e foi assinado pelos académicos Tao Xiaoyu, Chan Dong, Liang Rining, Zhang Xiaoyu, Yu Xi, Chung Sookja, Yu Yaqin e Xiao Ying.
Hoje Macau Manchete SociedadeJogo | Receitas com quebra de quase 50 por cento em Agosto As receitas brutas dos casinos de Macau registaram em Agosto o pior resultado do ano. Apesar da subida em termos anuais ser de 234 por cento, as 4,44 mil milhões de patacas facturadas em Agosto representam uma quebra de 47,4 por cento em relação a Julho. Na base do decréscimo está o surto local de covid-19 do início do mês Agosto foi o pior mês do ano a nível das receitas do jogo, com o montante a não ir além de 4,44 mil milhões de patacas. Até ao último mês, o pior registo do ano tinha sido estabelecido em Junho, quando foram apuradas 6,53 mil milhões de patacas. Os dados publicados ontem pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) indicam que as receitas do jogo em Macau desceram 47,4 por cento em Agosto relativamente ao mês anterior, subindo, no entanto, 234 por cento em termos anuais. Em Agosto de 2020, as receitas tinham sido de 1,33 mil milhões de patacas. Nos primeiros oito meses do ano, os casinos registaram uma subida de 70,1 por cento nas receitas comparativamente a igual período do ano passado, com 61,9 mil milhões de patacas de receitas brutas acumuladas contra 36,3 mil milhões de patacas no mesmo período de 2020. A culpa é do surto Os números apresentados ontem foram influenciados por um surto de covid-19 em Macau. No mês passado, uma família de quatro pessoas, regressada do Interior da China, foi diagnosticada com a variante delta do novo coronavírus, o que levou as autoridades a declararem o “estado de prevenção imediata” por considerarem que o território estava “em risco de sofrer um surto comunitário” de covid-19, reforçando as restrições na cidade. O território foi notificado, a 3 de Agosto, pelas autoridades de Zhuhai de que dois residentes de Macau tinham testado positivo à covid-19, um deles um motorista dos Serviços de Saúde. As autoridades pediram à população para não sair de Macau, anunciaram o encerramento de espaços culturais, desportivos e de diversão, à excepção dos casinos, bem como a suspensão ou cancelamento de actividades que levassem à aglomeração de pessoas. A situação levou também as autoridades a desencadearem uma operação maciça de testes à população, com resultados negativos em mais de 710 mil testes. Com mais de 680 mil habitantes, Macau registou, desde o início da pandemia, apenas 63 casos.