Cinemateca | “Sea of Mirrors”, de Thomas Lim, estreia dia 24

“Sea of Mirrors”, o novo filme de Thomas Lim filmado em Macau, estreia no próximo dia 24 na Cinemateca Paixão. O realizador confessa que sempre desejou estrear a sua nova produção no território, apesar dos contactos que está a fazer para o colocar na agenda de festivais de cinema de todo o mundo

 

[dropcap]A[/dropcap]s filmagens terminaram no final do ano passado, mas só agora está pronto para ser exibido ao grande público. “Sea of Mirrors”, o novo filme do realizador Thomas Lim, filmado totalmente com iPhone, terá a sua estreia no próximo dia 24, na Cinemateca Paixão, um objectivo que o cineasta quis cumprir, devido à ligação especial que sempre manteve com o território.

Citado por um comunicado, o realizador assume que “sempre quis lançar ‘Sea of Mirrors’ em Macau antes de qualquer outro país, por se tratar, em primeiro lugar, de um filme de Macau. Apesar da história não ser facilmente relatável (é sobre uma actriz caída em desgraça que se encontra com o seu lascivo fã de meia idade em Macau para satisfazer a sua vontade de atenção), acredito que é, em cem por cento, aplicável a Macau”.

Para o realizador nascido em Singapura e actualmente a viver em Los Angeles, “a mensagem do filme é sobre como os estrangeiros, sobretudo os americanos brancos e europeus vivem na Ásia e se comportam como celebridades simplesmente porque são brancos”.

“A atenção que recebem na Ásia é assim tão justificável? A actriz japonesa caída em desgraça representa esses estrangeiros que já não estão nos seus países de origem e que viajam para Macau para se sentirem novamente importantes. Claro que não são todos os americanos ou europeus que encaram Macau e a Ásia desta maneira, mas tenho visto muitos assim na década que já tenho de afiliação a Macau”, descreveu Thomas Lim.

Lim revela excitação por lançar o seu novo filme em Macau, apesar de, nesta fase, estar envolvido em mais 12 produções de cinema e televisão em Los Angeles, graças à sua ligação profissional a uma produtora de Hong Kong.

Apoio à indústria

“Sea of Mirrors” tem percorrido o mundo inteiro graças ao trabalho da empresa de distribuição “1220 Film Production”, que tem vindo a “apoiar incondicionalmente as produções de Macau tal como ‘Sea of Mirrors’, e que deveria ser o caso para todos os festivais, cinemas, colegas, centros de arte, realizadores e públicos em Macau”.

Para Thomas Lim, “esta é a única maneira de Macau desenvolver a sua indústria de cinema nesta altura. Em qualquer lugar leva tempo a desenvolver uma indústria cinematográfica, e isso só pode acontecer quando todas as entidades na comunidade dão o seu apoio”.

Neste sentido, o realizador destaca o apoio que o território sempre lhe deu, o que fez com que sempre tenha filmado em Macau. “Sem este apoio incondicional da maior parte da comunidade, eu nunca teria a carreira que tenho hoje, uma vez que actualmente faço projectos ligados a Hollywood. E uma vez que Macau me apoia, eu tento devolver à comunidade tudo o que posso. Espero que o público goste de ‘Sea of Mirrors’”, rematou.

Antes desta película Thomas Lim realizou em Macau “Roulette City”, que teve a sua estreia comercial no Japão, Singapura e Macau. O realizador está a pensar numa terceira produção que completa uma espécie de trilogia sobre a sua relação com o território, que pisou pela primeira vez em 2002.

7 Mai 2019

“Sou eu agora com tudo o que já fui”, diz Lena d’Água sobre o novo álbum

[dropcap]A[/dropcap]os 62 anos, Lena d’Água edita “Desalmadamente”, um álbum escrito por Pedro da Silva Martins para ela, sem saudosismos nem regressos ao passado. “Isto sou eu agora, com tudo aquilo que já fui”, contou à agência Lusa.

“Desalmadamente”, que sai na sexta-feira, tem dez canções originais compostas por Pedro da Silva Martins (Deolinda), produzidas e interpretadas por um grupo de músicos com quem Lena d’Água se cruzou recentemente e que tinham vontade de trabalhar com ela: Francisca Cortesão, Mariana Ricardo, Benjamim e Sérgio Nascimento.

“Não tenho palavras para lhes agradecer. (…) Eles têm metade da minha idade, mas têm uma sabedoria, uma musicalidade, um talento e um jeito. Foi tão bom. Senti-me dirigida de uma maneira muito firme e muito doce”, afirma a cantora, figura pioneira do rock pop dos anos 1980.

Lena d’Água rejeita qualquer ideia de regresso à música portuguesa, porque esteve sempre activa, talvez com menor visibilidade pública. Aliás, diz que nunca se foi embora, citando a música que levou ao Festival da Canção em 2017, fruto da primeira experiência com composição de Pedro da Silva Martins e participação daqueles músicos.

“‘Isto’ foram muitos encontros, nós fomos experimentando as canções do Pedro, a ver quais as que queríamos mais, aquelas que me diziam mais fortemente e depois fomos fazendo experiências, acertar a tonalidade de cada canção, os andamentos”, explicou.

Além de dar nome ao disco, “Desalmadamente” é também título de uma das canções novas. Esteve para ser a escolhida para o Festival da Canção, mas acabou convertida em disco. Nela, Lena d’Água canta “O corpo lá responde ao pensamento, ó ai / que julga ainda ter só 20 anos, ui / e às vezes vai / tropegamente / ganha ligeireza e assim flui”.

“Ter 60 [anos], já não tenho nem 20, 30, 40, ok, mas agora apesar de o meu corpo ter decaído um bocado, de ter ganho peso, sou mais feliz. Eu era amada pelos motivos errados, naquela altura. Nunca foram amores felizes, foram sempre desencontros. Eu por dentro sou a mesma que fui quando tinha 20 anos, e foi isso que o Pedro percebeu”, afirmou a cantora.

Lena d’Água começou nos Beatnicks – é considerada a primeira mulher portuguesa a integrar uma banda rock -, foi co.fundadora dos Salada de Frutas, passou pelos Atlântida, cantou António Variações, interpretou canções para crianças e ficou conhecida sobretudo pelos temas compostos por Luís Pedro Fonseca.

“Os meus discos dos anos 1980, para mim, tiveram uma parte de sofrimento muito grande, a minha relação com o Luís Pedro era um bocadinho difícil, porque era uma relação afectiva, e depois ele era um bocado bruto como dizia as coisas. Eu não me sentia livre, à vontade, estava em estúdio sempre em grande sofrimento e a achar-me uma merda. É verdade!”, exclama a cantora.

Foi “um tempo muito rico e muito forte na música portuguesa” e que diz ter ficado tatuado nela para sempre. Ainda hoje sobrevivem músicas como “Sempre que o amor me quiser”, “Perto de ti” ou “Robot”, mas sobre essa época não há qualquer nostalgia.

“Os primeiros discos ficaram perfeitos, mas foram difíceis de fazer, sofri bastante em todos eles. E agora no ‘Desalmadamente’, o único sofrimento foi a parte da espera para continuar um trabalho que eu tinha a certeza que ia ficar brutal”, contou.

Num tempo em que a música portuguesa era feita sobretudo por homens, Lena d’Água recorda que “o país era um bocado atrasado”, porque se interessava mais pelas pernas de uma cantora do que por aquilo que cantava.

Hoje vê tudo mais diverso, rico e multiplicado na música portuguesa e não se cansa de sublinhar a participação de duas mulheres na construção do novo disco, com Francisca Cortesão e Mariana Ricardo.

Lena d’Água quer agora levar “Desalmadamente” para o palco, com “a banda desalmada”. “Espero muito que nos queiram ver ao vivo”, disse.

O concerto de apresentação está marcado para 4 de Junho, no Teatro Villaret, em Lisboa, e esperam-se novas datas nos próximos meses com as canções novas. Enquanto isso, Lena d’Água manterá ainda alguns concertos já marcados com Primeira Dama (projecto de Manuel Lourenço) e a banda Xita, uma colaboração que se tem estendido desde 2018, com interpretação de repertório de ambos: este mês estarão no festival Aleste, na Madeira, e, em Junho, no Festival Primavera Sound, no Porto.

6 Mai 2019

Museu do Oriente adquire e mostra peças da Colecção Cunha Alves

[dropcap]O[/dropcap] Museu do Oriente inaugura a exposição “Um Mundo de Porcelana Chinesa – A Antiga Colecção Cunha Alves”, no dia 9 de Maio, quinta-feira, com cerca de 180 peças de porcelana de exportação, decorada com cenas europeias, datada dos séculos XVII a XIX, que a Fundação Oriente adquiriu no ano de 2018.

O conjunto faz agora parte integrante do acervo museológico, segundo informa a instituição. A Colecção Cunha Alves é “uma das maiores e mais completas colecções de porcelana chinesa de exportação existente na Europa, que passa a estar integrada na exposição permanente dedicada à presença portuguesa na Ásia”. Foi adquirida ao coleccionador e diplomata Paulo Cunha Alves, que a constituiu ao longo de 25 anos, em países como Portugal, Bélgica, Estados Unidos, França, Países Baixos, Reino Unido e Austrália.

A aquisição constitui um importante marco para a instituição. Trata-se de um conjunto expressivo de peças que, pela sua raridade, qualidade e quantidade, constitui um dos mais valiosos núcleos de porcelana chinesa de encomenda no contexto nacional. A mostra dá a conhecer diferentes formas e motivos decorativos que foram resultado de encomendas inspiradas em distintas fontes iconográficas europeias.

O que se encontra neste conjunto são “imagens ao gosto europeu que os artesãos chineses copiaram deixando transparecer no traço a pouca familiaridade para com este tipo de representação, muitas vezes conotada com costumes e hábitos ocidentais”, revela o comunicado do Museu do Oriente.

“Desenhos, gravuras e pequenas pinturas a óleo, tendo por base modelos em prata, faiança, porcelana, estanho e madeira, eram enviados para serem copiados pelos artesãos chineses, resultando em coloridas representações a azul e branco sob o vidrado, e a esmaltes da “família rosa”, grisaille, preto e sépia, rosa carmim e dourado, sobre o vidrado”, conforme exemplifica a instituição.

A exposição vai estar agrupada de acordo com os temas “Expansão da Fé Cristã”, “Os Deuses do Olimpo” e “Prazeres da Vida ao Ar Livre”.

Arte por encomenda

A chegada de Vasco da Gama à Índia, em 1498, e a conquista de Malaca em 1511, marcaram o início das encomendas de porcelana chinesa para o mercado ocidental, onde Portugal desempenhou um papel pioneiro, recorda o museu.

“Foi na dinastia Ming que os portugueses procederam à encomenda de uma série de porcelanas personalizadas, as mais antigas a ostentarem formas ou decorações europeias, como as armas reais portuguesas, (…), a esfera armilar, o monograma IHS, heráldica de nobres e ordens religiosas e inscrições em português e latim”, lê-se no documento.

Sob a dinastia Qing, “a porcelana atingiu uma perfeição incomparável no âmbito da técnica”. “Todos os problemas foram resolvidos, desde os da matéria aos do fogo, e o gosto pela cor domina, tendo sido inventados novos tons até então desconhecidos”.

A produção sob a dinastia Qing foi extremamente abundante, tendo sido exportada em massa para a Europa pelas diferentes Companhias das Índias europeias e, posteriormente, para os Estados Unidos da América, recorda ainda o museu.

6 Mai 2019

Palestra | O património desaparecido revisitado por um macaense

“A Mansão do Poço da Velha” é o tema da palestra que António Conceição Júnior leva esta quarta-feira, 8 de Maio pelas 18h30, à Fundação Rui Cunha. As memórias do orador vão recordar outros tempos da cidade, outra gente e outros lugares que existiram ali na baía da Praia Grande, a mesma onde agora acontece este encontro

 

[dropcap]”M[/dropcap]acau é um lugar por onde perpassam vários planos de memórias. Algumas foram sendo esquecidas ou então são ignoradas pela mudança das gentes que o povoam, que a terra foi, desde sempre, local de passagem”, lê-se na nota de imprensa da Fundação Rui Cunha (FRC), que convidou António Conceição Júnior para o próximo ciclo “Pauta de Histórias”, quarta-feira ao final da tarde.

“A Mansão do Poço da Velha” é o mote da conversa sobre as recordações de um património desaparecido, que o artista macaense – autor de uma extensa obra artística de ilustração, pintura, fotografia, artes gráficas, e também ex-dirigente cultural por muitos anos no território – ainda guarda no seu baú de narrativas.

E esta história é sobre “uma parte do património de Macau” e sobre uma antiga “mansão onde vivi quando era criança, aqui em Macau, e a que chamei Mansão do Poço da Velha”, desvenda Conceição Júnior ao Hoje Macau, sem querer revelar muito mais. O casarão já não existe. Mas é também sobre isso que vai falar na palestra.

Afinal, os tempos mudaram. E a baía, onde hoje fica a sede da Fundação, foi outrora lugar de palacetes e mansões opulentas, tal como testemunha a prolífera obra do pintor inglês do século XIX que encontrou no território a sua morada e aqui veio a falecer. “Toda a Praia Grande, se for ver as pinturas de George Chinnery, verá que era constituída por palacetes com mobiliário vindo de Portugal. Estamos a falar do século XVIII, século XIX. E nos princípios do século XX, ainda havia palacetes”, conta Conceição Júnior.

A conversa será sobre muito mais. “É de facto a revelação de um espaço e de uma forma de vida dos macaenses. Porque eu acho que, hoje em dia, as pessoas não sabem o que era a comunidade portuguesa de Macau e, dentro dessa comunidade portuguesa, a comunidade macaense. Sobretudo, aquela que era, digamos, a elite macaense, que vivia muito bem, vivia de uma forma esplêndida”.

E acrescenta, “a comunidade macaense era de tal forma pujante, até aos anos 60, que todos os portugueses – e eram muito poucos aqueles que vinham para Macau – eram imediata e prontamente absorvidos pela comunidade. Entre essas pessoas contam-se o Manuel da Silva Mendes ou o Camilo Pessanha, que são pessoas que, passe a expressão, se tornaram macaenses.

Não por nascimento, mas pelo afecto. São só dois exemplos de um período mais distante, mas houve outros, como o Joaquim Morais Alves, noutro período, que foi presidente do Leal Senado, e por aí fora”.

Memórias de menino

António Conceição Júnior nasceu em Macau, em Dezembro de 1951. Licenciado em Artes Plásticas e Design, pela Escola Superior de Belas Artes de Lisboa, veio a ser dirigente cultural em Macau desde 1978, responsável por muita da formulação da política cultural do território. Pelo meio, “viveu em diversos espaços e cresceu com lembranças que lhe foram legadas. Em menino ouvia o seu pai e amigos conversarem sobre Manuel da Silva Mendes [professor, sinólogo, filósofo], Camilo Pessanha [poeta, advogado, juiz, professor], de quem fora aluno, ou José Vicente Jorge [intérprete e tradutor de assuntos políticos]”, personalidades que marcaram a política e a sociedade da época.

“Conviveu com personalidades do círculo mais erudito de Macau, tendo tido acesso, por exemplo, a Luís Gonzaga Gomes e às primeiras edições das suas obras, saídas do prelo na colecção “Notícias de Macau”, jornal propriedade de Herman Machado Monteiro, e em cuja redacção os pais de Conceição Júnior, ambos jornalistas, se casaram”, conforme relata o comunicado da FRC.

Se dúvidas houvesse, aqui se encontram razões de sobra para não faltar a este encontro de fim de tarde. A entrada é livre.

6 Mai 2019

Museus | Dia Internacional celebrado com Carnaval a 12 de Maio

[dropcap]O[/dropcap] Dia Internacional dos Museus, efeméride com data de 18 de Maio, vai ser celebrado em Macau já a partir de dia 12, domingo, com a anual festa de “carnaval”, designação do evento co-organizado pelo Instituto Cultural, este ano dedicado ao tema “O Museu Móvel – Praia Grande x Hub Cultural”.

O centro das cerimónias vai ser o Anim’Arte Nam Van, em frente aos lagos artificiais, onde uma série de actividades e alguns objectos vão ser trazidos dos museus para interagirem com crianças e famílias, através de jogos, workshops, conversas e brincadeiras.

Além dos planos para animar a Praia Grande, os espaços museológicos também vão ter novidades para os visitantes, conforme a informação divulgada ontem em conferência de imprensa.

Estão incluídos neste projecto as seguintes entidades: Museu de Macau, Museu de Arte de Macau, Centro de Ciência de Macau, Museu Marítimo, Museu das Comunicações, Museu das Ofertas sobre a Transferência de Soberania de Macau, Museu do Grande Prémio, Museu dos Bombeiros, Museu da História da Taipa e Coloane, Museu Memorial Lin Zexu de Macau, Museu do Vinho, Casas da Taipa, Galeria do Arquivo Histórico de Tung Sin Tong, e Espaço Patrimonial – Uma Casa de Penhores Tradicional.

3 Mai 2019

Festival | Shi Fu Miz 2019 este fim-de-semana na ilha de Cheung Chau

[dropcap]M[/dropcap]úsica electrónica underground, sessões de percussão, workshops, instalações artísticas e yoga são alguns dos ingredientes do Festival Shi Fu Miz 2019, que acontece no sábado e domingo em Hong Kong, na ilha de Cheung Chau. O evento terá lugar na bela Sai Yuen Farm, que se situa na ponta sudoeste da ilha, e que, segundo a organização “é o sítio perfeito para relaxar e entrar em contacto com a natureza”.

Dos nomes que compõem o cartaz, destaque para a dupla Shuya Okino, formada pelos irmãos Shuya e Yoshi Okino, que constituem também os Kyoto Jazz Massive. A dupla aquece pistas de dança desde o início dos anos 90 e é conhecida como um dos projectos mais inovadores que ajudou a dar vida à mistura entre Jazz e música electrónica. Aliás, Shuya é um também o rosto do The Room Club em Shibuya, um espaço de eleição para as sonoridades de fusão na música de dança japonesa.

Outro dos destaques é o projecto Palms Trax, nome de guerra de Jay Donaldson, um DJ baseado em Berlim que se dedica ao house.

Os bilhetes para o festival custam para os dois dias 680 HKD, no próprio dia 880 HKD. Os ingressos para um dia custam 480 HKD e para um dia 580 HKD. O campismo custa 300 HKD para quem levar a sua própria tenda.

3 Mai 2019

“Arte Macau” vai ter eventos ao longo do Verão

[dropcap]A[/dropcap] inauguração está marcada para o dia 6 de Junho, mas já arrancaram pré-eventos pela cidade que podem ser vistos pelo público em diversos locais. Até Outubro, a cultura vai estar nos museus, nas ruas, nos hotéis, para atrair residentes e turistas.

“Arte Macau” é o nome do festival internacional de artes e cultura, que atravessa o Verão de Junho a Outubro, com uma série de eventos que incluem várias exposições, espectáculos, festivais internacionais juvenis e mostras de instituições do ensino superior.

Este encontro de artes tem uma dimensão sem precedentes, que se propõe colocar Macau na rota do turismo cultural, contando para isso com o apoio da indústria de hotelaria e de entretenimento do território, refere a nota de imprensa do Instituto Cultural (IC), co-organizador a par da Direcção dos Serviços do Turismo (DST).

No âmbito desta iniciativa, a inaugurar no dia 6 de Junho, também abre as portas a exposição “Arte Macau: Exposição Internacional de Arte”, no Museu de Arte de Macau (MAC) que é o principal local de encontro para o conjunto de eventos. A mostra reúne “um conjunto de obras valiosas de várias operadoras de estâncias turísticas e empresas hoteleiras, incluindo obras de pintura, cerâmica, escultura, instalações interactivas e multimédia, evidenciando, de forma diversificada, o fascínio das artes visuais contemporâneas”.

E há mais

A par desta exposição haverá eventos artísticos, espectáculos e outras mostras patentes em unidades hoteleiras e espaços de diversão, bem como instalações de arte ao ar livre ou noutros pontos de interesse na cidade, reunindo obras de arte antigas e contemporâneas de artistas chineses e estrangeiros. O destaque vai também para a temporada de concertos da Orquestra de Macau e da Orquestra Chinesa de Macau, o Festival Juvenil Internacional de Dança, o Festival Juvenil Internacional de Música, o Festival Juvenil Internacional de Teatro e outras actividades.

Ao todo, estão previstos 31 programas, incluindo 18 exposições e 10 espectáculos de grande dimensão, os quais terão lugar em 33 locais por toda a cidade. Entretanto, estrearam já em Abril exposições, a título de pré-evento, como os “Desenhos da Renascença Italiana do British Museum”, a “Beleza na Nova Era – Obras-primas da Colecção do Museu Nacional de Arte da China”, ou “Reminiscências da Rota da Seda – Exposição de Relíquias Culturais da Dinastia Xia do Oeste”, no MAM.

Sob o patrocínio da Secretaria para os Assuntos Sociais e Cultura, a iniciativa “Arte Macau” conta ainda com a colaboração da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) e da Direcção dos Serviços do Ensino Superior (DSES).

3 Mai 2019

Hong Kong | Arte multimédia revisita obra de Van Gogh

É a exposição de arte multi-sensorial mais visitada no mundo e pode ser vista diariamente em Hong Kong. Chegou em Abril à baía de Kowloon e vai ficar por lá até ao dia 7 de Julho. Entrar dentro de quadros como “A Noite Estrelada” ou “Os Girassóis” era até aqui imaginação apenas. Agora é só dar um salto ali ao lado

 

[dropcap]A[/dropcap] experiência de arte imersiva sobre um dos mais ilustres pintores holandeses está a dar que falar no vizinho território, depois de ter passado por mais de 40 cidades internacionais e atraído cerca de quatro milhões de visitantes em todo o mundo.

“Van Gogh Alive” é como assistir em três dimensões às várias fases da obra do pintor, onde três mil imagens são projectadas nas paredes, colunas, chão e tecto, criando movimentos que se transformam através das galerias e transcendem a noção de tempo e do espaço.

Poder estar dentro dos famosos quadros do pintor pós-impressionista é uma nova sensação para os visitantes, que se passeiam pelo “Campo de Trigo com Corvos”, as “Amendoeiras em Flor”, o “Quarto em Arles” ou a “Estrada com Cipreste e Estrela”, amplificados nos murais de LED com quase dez metros de altura. São mais de uma centena de telas que acompanham a vida e obra de Van Gogh, durante o período de 1880 a 1890, integrando as paisagens de Arles, Saint-Rémy-de-Provence e Auvers-sur-Oise, lugares onde se refugiou nos últimos anos de vida e onde criou os seus quadros mais icónicos.

O clássico mundo das artes abre-se com este espectáculo às grandes audiências, saindo do espaço de silêncio dos museus, onde a distância de protecção entre o público e a obra não admite a proximidade aqui conseguida. Este novo conceito de arte, como experiência para as massas, é possível graças a um sistema de tecnologia único, o Sensory4, que permite combinar as imagens gráficas em movimento com sons de alta-fidelidade, através de canais múltiplos com qualidade de cinema, que são projectados em ecrãs gigantes de alta resolução.

A dinâmica visual é o resultado desta experiência, com imagens incrivelmente detalhadas, num espaço saturado de cor e som, onde a cada canto se pode encontrar um novo ponto de vista ou um especial pormenor, nos conhecidos quadros do pintor que tantas obras-primas deixou, entre paisagens, naturezas mortas, retratos e auto-retratos, com orelha e sem orelha.

Viagem pelo mundo

A exposição chegou à FTLife Tower de Hong Kong, em Kowloon, no passado mês de Abril e vai ficar por lá até ao dia 7 de Julho. Entretanto, percorreu várias cidades como Madrid, Roma, Berlim, Atenas, Istambul, Moscovo, Varsóvia, Dubai, Singapura, Tel Aviv, São Petersburgo e, só no continente chinês, Xangai, Xiamen, Hangzhou ou Qingdao. Também em Lisboa, a exposição passou já pela Cordoaria Nacional, no verão de 2017.

Em Hong Kong está em exibição de segunda a quinta, das 10h às 21h, sextas a domingos, ou feriados, das 10h às 22h. Os bilhetes custam 230 dólares de Hong Kong, por adulto, e 190 para menores de 15 e maiores de 65 anos.

3 Mai 2019

Antologia de poesia erótica de Natália Correia regressa conforme original de 1965

[dropcap]A[/dropcap] “Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica”, de Natália Correia, livro apreendido pela Polícia Internacional e de Defesa do Estado (PIDE), que funcionou durante o período do Estado Novo em Portugal e que levou a autora a tribunal, foi agora republicado pela Ponto de Fuga, pela primeira vez com as ilustrações originais de Cruzeiro Seixas.

Ao fim de mais de dez anos afastada das livrarias, esta “obra proibida” volta a ser editada, desta vez com as ilustrações do poeta e pintor do surrealismo português Cruzeiro de Seixas, tal como constava da edição original do livro, que chegou às livrarias em Dezembro de 1965, pela editora Afrodite, de Fernando Ribeiro de Mello.

“Finalmente num único livro, a poesia maldita dos nossos poetas”, “as cantigas medievais em linguagem actualizada”, “dezenas de inéditos” e “a revelação do erotismo de Fernando Pessoa”, prometia a cinta que acompanhava o volume de 552 páginas.

O facto é que a obra causou escândalo e foi apreendida pela PIDE, a polícia política da ditadura, com vários intervenientes – entre os quais os escritores e poetas Mário Cesariny, Luiz Pacheco, José Carlos Ary dos Santos, Ernesto de Melo e Castro e o editor Fernando Ribeiro de Mello, além da própria Natália Correia – julgados e condenados em tribunal plenário, num processo que se arrastou durante anos.

O julgamento dos escritores, “por motivo da publicação de um livro tido por imoral”, acto considerado “abuso de liberdade de imprensa”, como relatava o Diário de Lisboa de 8 de Janeiro de 1970, terminou a 21 de Março desse ano com a condenação da autora e do editor, por “ofensiva do pudor geral, da decência e da moralidade pública e dos bons costumes” a uma pena de 90 dias de prisão correcional, substituíveis por igual tempo de multa, a 50 escudos por dia, mais 15 dias de multa à mesma taxa.

As penas foram suspensas por três anos e os livros apreendidos foram declarados perdidos a favor do Estado para serem destruídos, tendo os restantes arguidos sido condenados a penas de 45 dias de prisão, igualmente substituíveis por multas, excepção feita a Luiz Pacheco, dispensado de a pagar, devido à sua situação económica.

A polémica “Antologia de Poesia Portuguesa Erótica e Satírica” nasceu de um desafio lançado por Fernando Ribeiro de Mello a Natália Correia que, não obstante ter visto sucessivos livros seus serem apreendidos pela censura do Estado Novo, aceitou o convite do irreverente editor da extinta chancela Afrodite, que era também seu amigo.

Este jovem filho de um abastado causídico do Porto, que chegou à capital portuguesa em 1963 como declamador de poesia e que ficou conhecido como o “Dali de Lisboa”, pela figura excêntrica, de traje impecável e bigode afilado, não demorou a integrar o núcleo duro de ‘habitués’ do salão de Natália Correia, recorda o editor da Ponto de Fuga, Vladimiro Nunes, no texto introdutório da obra agora editada.

“Com a anfitriã dos míticos saraus que decorriam no quinto andar da rua Rodrigues Sampaio, 52, o editor da Afrodite partilhava o espírito libertário e a irresistível tentação do risco”, escreve Vladimiro Nunes.

Quando a Antologia foi publicada, um relatório do Secretariado Nacional de Informação (SNI) dava conta de que, “apesar do pretensioso prefácio da autora da selecção, eivado de tendências sartrianas e das intenções que daí derivam, não é possível admitir que seja viável a circulação deste livro em Portugal, dado o seu carácter pornográfico. (…) Nestas condições, propõe-se a proibição rigorosa deste livro”.

Prevendo esta eventualidade, Ribeiro de Mello “foi rápido no contra-ataque” e, com o consentimento de Natália Correia, abriu caminho à produção de uma edição “pirata”, sem as ilustrações de Cruzeiro Seixas, e indicando como origem geográfica o Brasil, o que lhe permitiria escapar ao crivo censório, como o eram todos os livros importados daquele país.

Os livros venderam-se todos, tendo sido esta edição alternativa a chamar a atenção do público leitor e a contribuir para a fama da Afrodite, na altura ainda uma incipiente editora, que, antes da edição original, antes só tinha publicado um livro, o “Kama Sutra”, rapidamente proibido, mas que, durante os anos do processo, não evitou novos escândalos, com títulos como “Filosofia na Alcova”, de Sade, que levou de novo Fernando Ribeiro de Mello a tribunal.

Esta reedição da obra de Natália Correia pela Ponto de Fuga reproduz a original: além das ilustrações de Cruzeiro Seixas, e do prefácio e notas da autora, por debaixo da sobrecapa – que apresenta uma foto de uma jovem Natália Correia – esconde-se uma réplica da capa original, em tudo igual à da edição da Afrodite, excepto o nome da editora.

A Ponto de Fuga acrescentou-lhe ainda novos textos introdutórios e reproduções de documentos que contextualizam este marco histórico na edição em Portugal.

Numa introdução intitulada “Versos escarlates, risos amarelos e lápis azuis: crónica de um livro proibido”, Vladimiro Nunes conta toda a história desta antologia, desde a sua génese, incluindo o processo judicial a que deu origem, apresentando cópias das notícias da imprensa da altura, dos relatórios da censura e dos autos da polícia.

Segue-se um outro texto introdutório, da autoria de Francisco Topa, professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, intitulado “Fahrenheit 451” – uma alusão ao romance de Ray Bradbury que se passa num futuro onde todos os livros são proibidos -, no qual se debruça sobre o processo judicial levantado contra a antologia de Natália Correia.

Natália Correia nasceu nos Açores, em 13 de Setembro de 1923 e morreu em Lisboa, em 16 de Março de 1993. Poetisa, ficcionista, contista, dramaturga, ensaísta, editora, jornalista, cooperativista, deputada à Assembleia da República (primeiro pelo PSD, depois como independente, pelo PRD), foi uma das vozes mais proeminentes da literatura e da cultura portuguesas na segunda metade do século XX, tendo resistido energicamente ao Estado Novo e aos radicalismos do pós-25 de Abril.

“Ecuménica e eclética, filantropa e idealista, anteviu um novo tempo, que garantisse a paz, a dignidade humana, a justiça social e o direito à diferença como raízes indeléveis da democracia”, descreve a editora.

2 Mai 2019

Com “Hotel Império” Ivo M. Ferreira fez um filme distópico sobre Macau

[dropcap]O[/dropcap] filme “Hotel Império”, de Ivo M. Ferreira, que se estreia a 9 de Maio em Lisboa, é uma obra distópica dedicada a Macau, onde o realizador tem vivido desde 1994, numa visão entre o passado e o presente.

“Quis fazer um filme distópico, no sentido que podia atravessar vários períodos da vida de Macau. Há cenas que não são credíveis agora, mas eram há dez ou vinte anos, mas, por outro lado, quis agarrá-lo muito ao presente”, contou Ivo M. Ferreira à agência Lusa.

“Hotel Império”, que será exibido no festival IndieLisboa, antes de chegar a 15 salas do circuito comercial, é protagonizado pela atriz portuguesa Margarida Vila-Nova e pelo actor anglo-taiwanês Rhydian Vaughan e foi integralmente rodado em Macau, o terceiro protagonista do filme.

O filme “vai buscar as minhas memórias e a curiosidade quando cheguei, quando ouvia mahjong numa janela e não percebia o que era, quando ouvia uma rapariga e entrava num sítio e não percebia onde ia”, explicou.

Esta é a história de uma portuguesa que vive num velho hotel situado nos bairros tradicionais de Macau, que é cobiçado por especuladores imobiliários para ser demolido. Maria canta num casino e acaba por ceder à prostituição de luxo para conseguir manter o hotel de pé.

Ivo M. Ferreira recorda que quis pegar em lugares-comuns associados a Macau – jogo e prostituição -, sem esquecer o problema da mudança agressiva do espaço urbano e, nesse aspecto, remete para uma realidade que é também portuguesa, pela especulação imobiliária.

“Há um lado identitário que me interessa imenso. O facto de o espaço urbano estar em erosão muito rápida também espoleta uma série de coisas que está a acontecer em Lisboa. (…) Não é nada um filme de despedida, mas um filme que viesse procurar coisas que eu tinha sentido na minha primeira chegada em 1994”, explicou.

Vinte anos depois da transferência administrativa de Macau de Portugal para a China, Ivo M. Ferreira fala de “uma cidade muito viva”, com património recuperado, mas com uma narrativa que não corresponde à realidade.

“‘Ah, os portugueses cuidaram disto muito bem e depois vieram os chineses e destruíram tudo’. É o contrário!”, disse. O realizador português, de 43 anos, estreia “Hotel Império” em Portugal, terminou uma série televisiva, “Sul”, para a RTP e prepara aquele que considera o primeiro projecto de vida, enquanto realizador.

“É talvez o meu primeiro desejo de filmar, com oito ou dez anos. Chama-se ‘Projecto Global’ e é muito inspirado nas FP25, que abalaram muito Portugal nos anos 1980”, disse o realizador, sobre o projecto que está ainda na fase de escrita do argumento.

Ivo M. Ferreira é autor de curtas como “O Homem da Bicicleta” (1997) e “Na Escama do Dragão” (2002) e das longas “Águas Mil” (2009) e “Cartas da Guerra” (2016).

1 Mai 2019

Xangai recebe I Mostra de Cinema em Língua Portuguesa

[dropcap]A[/dropcap] primeira mostra de cinema em língua portuguesa arranca na quinta-feira, em Xangai, com a exibição de filmes de Portugal, Brasil e Cabo Verde para promover a cultura lusófona no maior centro financeiro da China.

O ciclo abre na quinta-feira à tarde com o filme “A Mãe é que Sabe”, uma comédia do realizador português Nuno Rocha. Para o último dia está reservada uma sessão dupla, com o drama “Florbela”, sobre a poetisa Florbela Espanca, e o documentário “O Paraíso São os Outros”, de Miguel Gonçalves, com texto do escritor português Valter Hugo Mãe e que reúne depoimentos de falantes da língua portuguesa.

O programa inclui ainda “Cinema, Aspirinas e Urubus” e “Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo”, do Brasil, e “Os Dois Irmãos”, de Cabo Verde. Todos os filmes serão falados em português, com legendas em inglês.

A mostra é o primeiro evento organizado pelo recém-criado Grupo Lusófono, formado pelos Consulados-Gerais do Brasil e de Portugal na cidade de Xangai, para promover a cultura dos países de língua portuguesa “nas suas mais variadas vertentes”, disse o cônsul português, Israel Saraiva.

O ciclo, de entrada gratuita, vai decorrer na fundação Fosun, que foi estabelecida em 2012 como “braço humanitário” do grupo privado chinês. Em Portugal, a Fosun detém já a seguradora Fidelidade e a Luz Saúde, a maior participação no banco Millennium BCP e cerca de 5% da REN (Redes Energéticas Nacionais).

1 Mai 2019

Teatro | Cai Fora faz percurso interactivo pela cidade

[dropcap]A[/dropcap] companhia teatral local “Cai Fora” apresenta na sexta-feira “A Viagem de Curry Bone 2019”, uma história que se baseia num guia turístico com o mesmo nome e que vai dar a volta pela cidade, todos os dias de 3 a 10 de Maio, pelas 20h.

A proposta reúne as experiências de Curry Bone na Terra dos Anões, onde se diz que “há apenas ruas e museus e as ruas tornaram-se lugares populares para descobrir: aqui não há ruínas mas relíquias, e não há morte mas revitalização”, pode ler-se no programa do Instituto Cultural (IC).

“A Viagem de Curry Bone” estreou em 2009, causando um profundo impacto no público com a sua sátira ao desenvolvimento urbano e a sua busca de reconhecimento identitário. Após alguns anos de silêncio, Curry Bone está de volta, desta vez passando da sala de espectáculos para o ar livre”.

O guia turístico Curry Bone tem também aplicação de telemóvel – Curry Bone’s Travel – que pode ser descarregada e levada para o percurso.

Os espectadores, viajantes nesta experiência, devem levar o telemóvel e os auscultadores. O trajecto dura 2 horas e 30 minutos, com áudio em cantonense, para maiores de 13 anos. Os bilhetes custam 150 patacas.

A companhia “Cai Fora” tem desenvolvido obras que são um diálogo entre a história e o desenvolvimento urbano. Criada em 2001, não desenvolve apenas trabalhos de teatro e de dança, produzindo trabalhos multidisciplinares que “são caracterizados pelo uso hábil da linguagem teatral poética e estética na composição de fábulas contemporâneas sobre a cidade urbana”, segundo o IC. O grupo macaense já integrou o FAM de 2013, com a peça “Um Mundo de Jogo”.

30 Abr 2019

FAM 2109 | Inauguração com espectáculo de dança contemporânea

É “Vertikal” porque desafia as leis da gravidade e os demais sentidos. O espectáculo que abre a 30ª edição do FAM é uma proposta assinada pelo coreógrafo francês Mourad Merzouki, que traz o hip-hop e a dança contemporânea para o palco do Centro Cultural de Macau. Ainda há bilhetes, mas são poucos

 

[dropcap]A[/dropcap] 30ª edição do Festival de Artes de Macau (FAM) arranca já na sexta feira, 3 de Maio, com o espectáculo de dança contemporânea “Vertikal”, assinado pelo director artístico e coreógrafo Mourad Merzouki, o homem que levou o movimento hip-hop da rua para os palcos no início dos anos 90.

O evento está agendado para as 20h, no Grande Auditório do Centro Cultural de Macau (CCM), logo após a cerimónia de inauguração do FAM, marcada para as 19h40. O espectáculo repete no sábado, 4 de Maio, e ainda há alguns bilhetes para as duas sessões.

“Vertikal” é uma co-produção do Centro Coreográfico Nacional (CCN) de Créteil & Val-de-Marne e da Compagnie Käfig, onde “dez dançarinos deslizam no ar por cordas, libertando-se dos limites da gravidade para criar elementos coreográficos e produzir sequências de hip-hop únicas e contemporâneas”, segundo o Instituto Cultural de Macau (IC), organizador do FAM.

Além de movimentos como inversões, elevações e cambalhotas, os “dançarinos são sustentados por cabos, executando saltos e acrobacias aéreas que desafiam a gravidade, como se estivessem num espaço de gravidade zero ou a flutuar na água. O espectáculo não traz apenas movimentos simples como uma cambalhota para o grande palco, também acrescenta um toque de romance poético à vigorosa e directa linguagem da dança de rua”, informa ainda o IC no material de divulgação.

Ao comando da Compagnie Käfig, considerada pela organização do FAM como “uma das principais companhias de dança hip-hop de renome mundial”, Mourad Merzouki vai apresentar no território uma performance onde explora “a relação com o chão, que é essencial para o dançarino de hip hop”, com a introdução de novos elementos, a partir da colaboração de Fabrice Guillot, director artístico da Retouramont, empresa especialista em técnicas aéreas.

Este equipamento permite ao coreógrafo um novo campo de possibilidades, libertando-se da dimensão horizontal do palco. “Os jogos de contacto entre os artistas funcionam através de impulsos: o dançarino pode ser alternadamente a base e o transportador ou, ao contrário, um trapezista, uma marioneta animada pelo contrapeso dos seus parceiros no chão”, explica Merzouki.

A música do compositor Armand Amar – premiado autor de bandas sonoras para mais de duas dezenas de filmes e detentor de um César para Melhor Música em 2010, com a película “Le Concert” de Radu Mihăileanu – vai acompanhar as acrobacias dos dançarinos, combinando instrumentos electrónicos e de cordas, ao longo do espectáculo, que tem duração aproximada de 1 hora e 10 minutos, sem intervalo.

Workshop na vertical

A par dos dois espectáculos “Vertikal”, o coreógrafo realizará um workshop de dança no sábado, dia 4, entre as 10h e as 12h, no mesmo palco do CCM, para proporcionar a experiência do hip-hop aéreo a oito dançarinos locais.

As inscrições para este evento decorreram até 16 de Abril, limitadas a candidatos com mais de três anos de experiência na área da dança. Outros vinte lugares foram disponibilizados para assistir ao workshop, sem direito a participação, que esgotaram também rapidamente.

30 Abr 2019

Itália celebra Leonardo Da Vinci com “uma festa” de mais de 500 iniciativas até 2020

[dropcap]F[/dropcap]lorença, Turim, Milão, Roma e Veneza então entre os principais centros de celebração de Leonardo Da Vinci, em Itália, quando passam 500 anos sobre a data da sua morte, em Ambroise, no dia 2 de Maio de 1519.

Uma exposição dedicada às origens de Leonardo, através da obra do seu mestre, Andrea del Verrocchio, em Florença, “Tesouros Escondidos” do pintor, em Turim, “Da Vinci, O Homem Modelo do Mundo”, em Veneza, “Leonardo: Os Artistas e As Suas Técnicas”, em Milão, além da mostra “A Ciência antes da Ciência”, em Roma, com mais de 200 peças de Da Vinci, são algumas das iniciativas a realizar em Itália, até ao final de Abril de 2020.

O programa foi apresentado pelo Governo italiano, no passado mês de Março, “é uma festa que durará todo o ano, e uma oportunidade para Itália celebrar um génio (…) tão universalmente apreciado, que as celebrações terão lugar em todo o mundo”, disse então o primeiro-ministro, Giuseppe Conte.

Até ao final de Abril do próximo ano, estão previstas mais de 500 iniciativas, em todo o território italiano, envolvendo escolas, museus, bibliotecas, instituições públicas e privadas, além de organismos tutelados por diferentes ministérios, incluindo os da Cultura, Educação e dos Negócios Estrangeiros.

No próximo dia 2, entrarão em circulação, em Itália, selos postais com obras de Da Vinci, uma nota com o seu rosto, serão apresentadas produções televisivas sobre o mestre, e o ‘site’ e a aplicação “Leonardo500”, que congregará iniciativas e informações do centenário em várias línguas, entrará em produção regular, com suporte técnico e redacção própria, segundo o anúncio do Ministério da Cultura.

Florença, cidade central do Renascimento, tem patente, desde 9 de Março, a exposição “Andrea del Verrocchio, O Mestre de Leonardo”, que ficará patente no Palácio Strozzi até 14 de Julho. A mostra reúne 120 obras, entre pintura, escultura e desenho, provenientes de colecções como as do Louvre, em Paris, do Metropolitan, em Nova Iorque, o Rijks, em Amesterdão, e o Victoria and Albert, em Londres, além da Galeria dos Ofícios, em Florença.

A cidade acolherá ainda “Leonardo e Florença”, até 24 de Junho, no Palácio Vecchio, e “Leonardo da Vinci e a Botânica”, no outono, de 13 de Setembro a 15 de Dezembro, em Santa Maria Novella.
Vinci, nos arredores de Florença, a cidade onde Leonardo nasceu em 1452, terá, até 15 de Agosto, a mostra iterativa “As Origens do Génio”, centrada na ligação do artista à região, com a representação possível do mestre, em holograma.

Em Turim, foi inaugurada a exposição “Leonardo da Vinci: Tesouros Escondidos”, que permanece até 12 de Maio, a que se segue “Leonardo da Vinci: Desenho do Futuro”, até 14 de Julho.

A Biblioteca Ambrosiana de Milão mostra “Os Segredos do Código Atlântico: Leonardo na Ambrosiana”, até 16 de Junho, seguindo-se “Leonardo em França: Desenhos da Época Francesa do Código Atlântico”, de 18 de Junho a 15 de Setembro, e “Leonardo: Os Artistas e Suas Técnicas”, dedicada aos desenhos do pintor e dos artistas de seu círculo, que fica patente de 17 de Setembro a 12 de Janeiro de 2020.

A exposição “Da Vinci, o Homem Modelo do Mundo” foi inaugurada há uma semana, na Academia de Veneza, onde ficará até 14 de Julho, com mais de 20 desenhos do artista, incluindo o famoso “Homem Vitruviano”.

Em Roma, o Palácio Quirinale reuniu mais de 200 peças para a mostra “A Ciência antes da Ciência”, que mostra o trabalho de investigação de Da Vinci, até 30 de Junho.

“Não há disciplina que [Leonardo] não tenha explorado, das artes às humanidades, da biologia e anatomia, à matemática e filosofia. Ele é imortal”, disse o primeiro-ministro italiano quando da apresentação do programa para os 500 anos da morte de Leonardo Da Vinci.

29 Abr 2019

Carlos Ramos, programador do IndieLisboa: “Macau está mais sólida”

Os 20 anos da transferência de soberania de Macau para a China celebram-se este ano na tela graças ao festival de cinema IndieLisboa, que tem início no próximo dia 2 de Maio. Carlos Ramos destaca a contemporaneidade dos filmes escolhidos e a evolução do cinema de Macau, sem esquecer a busca pela diversidade daquilo que se vai filmando na Ásia

[dropcap]O[/dropcap] que levou o Festival a homenagear os 20 anos da transição de Macau?
Este é o terceiro ano consecutivo em que trabalhamos com o Turismo de Macau, devido às várias ligações que existem entre o IndieLisboa e Macau, não só ao nível de alguns programadores do festival que viveram em Macau, mas também devido a um conjunto de filmes que passamos do Ivo Ferreira ou do Guerra da Mata, por exemplo. Com essa colaboração mostramos uma nova cinematografia de Macau, algo que tem funcionado ao nível de sessões de cinema, com conjuntos de curtas e longas metragens que seleccionamos da produção anual de Macau. Já o ano passado queríamos fazer um programa que juntasse o novo filme do Ivo Ferreira, mas houve agora oportunidade de o fazer, dado o mote da transferência de soberania e dos 20 anos. O Ivo também vai estar no júri. Temos a oportunidade de mostrar o foco de alguém que viveu em Macau, e o filme fala um pouco sobre isso, dessa passagem de Macau de Portugal para a China. Por outro lado, queremos mostrar o que se está a fazer de novo em Macau. Estas sessões têm sido muito bem recebidas no Indie.

Todos os filmes que vão estar em exibição foram feitos em 2018. Como chegaram a estes realizadores?
Recebemos anualmente um conjunto de filmes desenvolvidos pelos vários apoios que existem em Macau para a produção cinematográfica. Um dos critérios é a diversidade do que é feito, porque o Indie é um festival generalista e isso tem eco na programação de Macau. A ideia é ir do documentário à ficção e animação. Temos algumas animações que funcionam por desenho e formato digital, mas depois temos o documentário “The Cricket Dinasty” que fala da luta de grilos que ainda se faz em Macau e na China e que é uma tradição que se tem vindo a perder. O programa complementa-se depois com duas ficções. Uma delas é bastante divertida e fala de um grupo de avós que se juntam, embora o que está por detrás disso seja sempre uma coisa universal, um capitalismo algo latente, pois estas avós não têm meios e juntam-se para assaltar um banco. Depois há outro filme que fala de jovens que trabalham em entregas e que têm de recorrer a outros meios para sobreviver. Há uma linha que mostra a nova cinematografia de Macau, mas que endereça também questões sociais globais.

São filmes que mostram uma Macau contemporânea.
O filme do Ivo fala-nos deste hotel Império que existia ainda no tempo português, e que depois resistiu e se mantém, e fala também um bocadinho destes fantasmas e de como os vestígios da presença portuguesa vão desaparecendo. Por outro lado, faz-se um contraponto com umas curtas que mostram Macau hoje em dia.

A cinematografia de Macau está pouco desenvolvida se compararmos com o que se faz na China e em Hong Kong. Nota, ainda assim, alguma evolução? Macau já tem uma cinemateca, por exemplo.
Nota-se alguma evolução. Consegue notar-se alguma evolução nestes filmes em relação aos primeiros, e acho que isso é fruto, por um lado, dos apoios que estão a existir, e por outro do trabalho da Cinemateca Paixão, com quem nós também colaboramos e que é um dos pontos de ligação do Indie com Macau. Trazemos a Lisboa os realizadores macaenses, mas depois levamos umas curtas portuguesas para Macau para mostrar um pouco a contemporaneidade do cinema português. Esse trabalho da cinemateca tem sido muito importante para desenvolver o cinema em Macau e também a forma como ele é feito. Lembro-me que, da primeira vez que vimos algumas películas para programar para o festival, havia alguma dificuldade na obtenção dos filmes e que também não havia muitos disponíveis. Este ano foi completamente diferente. Macau ainda está longe dessas cinematografias de que falou e tem algumas fragilidades, mas está mais sólida.

FOTO: IndieLisboa

Que realizadores são mais representativos do cinema de Macau dos dias de hoje?
Ivo Ferreira e Tracy Choi são fundamentais. Mostrámos a longa da Tracy Choi na primeira edição e ela veio ao IndieLisboa. Queremos promover o contacto profissional entre os realizadores de Macau e os meios dos festivais europeus. E a Tracy é uma das pontas de lança do cinema em Macau. Na altura, os contactos que se fizeram foram muito importantes.

O que é que o público pode esperar dos restantes filmes asiáticos?
O festival tem sempre um maior pendor europeu mas procuramos sempre ter uma diversidade regional. Este ano destacaria alguns filmes, como por exemplo uma longa-metragem na secção de competição internacional que estreou na Holanda este ano, intitulada “Present Perfect”, e que é um documentário muito contemporâneo que retrata seis ou sete pessoas que vivem nas suas casas e nos seus quartos e transmitem toda a sua vida pela Internet. É uma reflexão sobre os dias de hoje, mas também sobre a solidão que a tecnologia pode trazer à vida das pessoas. Destacaria também três curtas metragens. Uma delas é uma animação delirante, com personagens que andam num autocarro e galinhas que gostariam de ir para o exército. É uma coisa muito surreal. Temos um filme do Camboja que tem uma ligação com os filmes de Macau, porque também fala de uma transição e de uma região que existia e que deixa de existir para se tornar num campo de golfe. O filme vive no presente, passado e futuro. A curta-metragem “A Fly in the Restaurant” é também um conto de animação, mas o mais interessante neste filme é mesmo a parte formal, porque funciona como se fosse uma câmara que roda à volta de si própria e as histórias vão acontecendo de forma circular.

Como descreve o cinema do sudeste asiático, por comparação com o cinema chinês? Este já é mais conhecido na Europa, o que se faz no sudeste asiático começa a despertar mais interesse?
Sempre despertou interesse. A questão é que num festival como o Indie vamos sempre à procura de novas cinematografias em todo o mundo. A China, também por causa da sua dimensão e por estar mais cimentada no cinema internacional, tem uma maior oferta. Mas não olhamos para a China como algo diferente do sudeste asiático, vamos é à procura de novas vozes e gerações de realizadores.


No cartaz

Na categoria “Especial Macau 20 anos” será exibido “Foco Macau – 20 anos depois” de Lou Ka Choi, bem como “The Cricket Dynasty”, de Chang Seng Pong, ambos de 2018. O cartaz conta também com a película “G.D.P.: Grandmas’ Dangerous Project”, de Peeko Wong, e “Rabbit Meets Crocodile”, de Sam Kin Hang, um filme de animação também produzido em 2018. “Sheep”, de Mak Kit Wai, também do mesmo ano, encerra o cartaz dedicado ao cinema local. O IndieLisboa leva também um pedaço do cinema asiático a Lisboa, com as curtas-metragens chinesas “A Fly in the Restaurant”, de Xi Chen e Xu An, bem como “Wong Ping’s Fables 1”, de Hong Kong. “A Million Years”, uma curta de Danech San, em representação do Cambodja, será também exibida. O IndieLisboa acontece entre os dias 2 e 12 de Maio em vários locais da capital lisboeta e contará com mais de 50 filmes portugueses, presentes em toda a programação, entre estreias mundiais, estreias nacionais e primeiras obras. Há 17 filmes na competição de curtas-metragens.

29 Abr 2019

Fotografia | Gonçalo Lobo Pinheiro ganha Menção Honrosa do Estação Imagem

[dropcap]O[/dropcap] fotojornalista local Gonçalo Lobo Pinheiro recebeu uma menção honrosa nos prémios Estação Imagem com o trabalho “Esperança e Crença” sobre uma emigrante indonésia muçulmana que vive e trabalha em condições precárias em Macau.

O grande vencedor do maior galardão do fotojornalismo português de 2019 foi Leonel de Castro, com um trabalho sobre o papel social dos cuidadores informais, intitulado “Almas”.

Leonel de Castro, que pertence desde 1997 aos quadros do Jornal de Notícias, ganhou também o prémio “Fotografia do Ano” com o trabalho “Mulher Berbére”, sobre “os poucos direitos e muitos deveres” das mulheres muçulmanas em Marrocos.

O júri foi composto por Stéphane Arnaud, editor-chefe de Fotografia Internacional da AFP; Darrin Zammit Lupi, fotógrafo colaborador da Reuters desde 1997; George Steinmetz, fotógrafo que trabalha para a National Geographic e a Geo; e Michael Kamber, diretor do Bronx Documentary Center.

O festival de fotojornalismo arrancou na terça-feira, em Coimbra, contando com nove exposições, uma das quais que junta o trabalho de vários fotojornalistas em torno da passagem do ciclone Idai em Moçambique. Todas as nove exposições do festival vão estar patentes em diversas salas de Coimbra até 21 de Junho.

29 Abr 2019

Exposição | Cidade Desfocada hoje à tarde na Casa Garden

Cidade Desfocada é o resultado da residência artística de Nuno Cera em Macau. A visão do fotógrafo sobre a região vai poder ser conhecida, a partir de hoje à tarde na Fundação Oriente, numa instalação de imagens em vídeo, fotografia e outras experiências visuais

 

Por Raquel Moz 

[dropcap]O[/dropcap] fotógrafo e vídeo-artista Nuno Cera aterrou em Macau para uma residência artística de um mês, entre Setembro e Outubro de 2018, a convite da Associação Cultural Babel. O resultado dos trabalhos chega agora ao espaço da Casa Garden, onde vão estar expostas as impressões das “paisagens urbanas, arquitecturas, infra-estruturas, passagens, rupturas quotidianas e destroços urbanos, numa reflexão contínua sobre o tempo, o espaço e as suas transformações”, nas palavras da curadora Margarida Saraiva.

“A exposição inicia-se com uma tela gigante num cavalete de madeira, que é a mesma imagem do convite”, começou por descrever a responsável. Nos salões principais da galeria vão ser apresentados dois vídeos e dezassete fotografias, onde o artista oferece uma perspectiva sobre as “três grandes cidades da região do Delta do Rio das Pérolas, sem artifícios ou qualquer tipo de julgamento” e, “ao fazê-lo, abre um novo espaço à reflexão”.

A “Cidade Desfocada” são essas três cidades – Macau, Hong Kong e Cantão – e é também o título do vídeo principal. O segundo trabalho videográfico dá pelo nome de “Vertical Hong Kong”, e “fala-nos contemplativamente de arte, do espaço global da existência contemporânea e das ameaças à nossa sobrevivência hoje”, adiantou Margarida Saraiva. A exposição reúne ainda um conjunto de seis “ready-mades”, “que são feitos a partir de néons antigos, recolhidos em antiquários de Macau, que têm pedaços da cidade antiga, descontextualizada, e que aqui adquirem todo um novo simbolismo”.

Terra do futuro

No último salão está uma reinterpretação do projecto Futureland, que Nuno Cera desenvolveu entre 2008 e 2010, composto por trinta e seis fotografias, “originalmente concebido como um atlas visual, subjectivo, mas também narrativo e documental, de cidades como Istambul, Cairo, Dubai, Los Angeles, Cidade do México, Xangai, Jacarta e Bombaim”. A retrospectiva, originalmente em vídeo, aqui vai poder ser revisitada como uma instalação fotográfica.

Para Margarida Saraiva, este projecto foi uma das razões pelas quais a Babel convidou o artista a vir criar no território. “Tínhamos o desejo de ver a cidade fotografada pelo Nuno, e também de posicionar Macau em relação a esse trabalho mais antigo” que, de acordo com uma entrevista feita em 2018 pela curadora ao fotógrafo, “foi um projecto que tinha como conceito inicial ser uma investigação artística sobre o impacto do crescimento urbano nas pessoas e no ambiente, assim como retratar a ligação entre arquitectura, espaço público e sociedade”.

O trabalho do artista, segundo o comunicado de imprensa, “aborda questões espaciais, de arquitectura e situações urbanas, através de formas ficcionais, poéticas e documentais”. Nuno Cera foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian em Berlim, em 2001; publicou o livro “Cimêncio” com o arquitecto Diogo Seixas Lopes, em 2002; foi nomeado para o prémio Besphoto 2004; fez uma residência artística no ISCP de Nova Iorque, em 2006; realizou o vídeo Sans, Souci e o projecto Futureland, em 2007 e 2008; foi seleccionado na XX edição da Bolsa Fundación Botin, Santander, com o projecto A Sinfonia do Desconhecido, em 2012; e nova residência artística na International Artist Residency Récollets, Paris, em 2013.

Foi o artista convidado pela A+A Books para fotografar a série de Guias de Arquitectura: Álvaro Siza, 2017, Eduardo Souto de Moura, 2018 e João Luís Carrilho da Graça, 2019. Em 2018, foi convidado para representar Portugal na 16ª Bienal de Arquitectura de Veneza e, actualmente, expõe “El Futuro ya ha Comenzado – Álvaro Siza Vieira, Manuel Marques de Aguiar e Nuno Cera, XIII Havana Biennial”, em Lisboa, de 12 de Abril a 25 de Maio.

26 Abr 2019

25 de Abril | Portugueses assinalam 45 anos de liberdade à mesa

A celebração de mais um aniversário do 25 de Abril volta a estar na agenda de hoje. Um jantar independente que se realiza há mais de 30 anos para celebrar a liberdade vai ter lugar no restaurante Galo e conta com a organização de Fernando Sales Lopes. O habitual convívio organizado pela Casa de Portugal tem assento reservado na Torre de Macau

 

[dropcap]A[/dropcap]contece há mais de 30 anos. É um jantar convívio que reúne amigos e desconhecidos à mesa. O objectivo é comemorar o 25 de Abril e a liberdade. Organizado por Fernando Sales Lopes, o assinalar dos 45 anos da data do fim da ditadura em Portugal tem lugar no restaurante O Galo, no NAPE. A partir das 20h, é tempo de comer, beber, conversar e recordar poemas e canções da revolução, numa actividade que, sem ser programada, também se pretende livre, como a data que se assinala. “Acontecem umas cantorias mais ou menos bem cantadas conforme os artistas presentes, mas o mais importante é que seja um evento livre, uma coisa de liberdade como o 25 de Abril é”, apontou Sales Lopes ao HM.

O organizador recordou ainda outros tempos deste convívio, tempos de “mais esplendor” em que havia meios e pessoas para participar em peças de teatro e outros apontamentos musicais. “Agora já não é assim”, mas o importante é que o 25 de Abril não seja esquecido, sublinhou. “Trata-se de uma data que não pode entrar no esquecimento” até porque a celebração do 25 de Abril é um acto que “faz sempre sentido”. “Temos que comemorar o fim da ditadura, temos que comemorar a liberdade e tudo aquilo que nos trouxe, é uma obrigação, pelo menos das pessoas que são pela democracia”, apontou.

Interesse de todos

A necessidade de manter vivo o momento que marca a liberdade em Portugal é válida para todos, independentemente da geração a que pertencem e inclui especialmente os mais novos que muitas vezes desconhecem este dia por culpa do próprio ensino que “se esquece de falar destas coisas”.

“Nota-se que nestas últimas gerações há pessoas que felizmente nem sabem o que foi o 25 de Abril, como se isso não tivesse importância nenhuma. Quando no fim de contas, tudo aquilo que vivemos hoje em Portugal tem tudo que ver com este acontecimento”, advertiu.

Além das falhas do ensino que têm este capítulo da história já no final dos currículos escolares e por isso, não é devidamente apresentado, Sales Lopes alerta ainda para pouca atractividade dos programas de divulgação da revolução para serem capazes de chegar a um público mais jovem.

“A televisão dá frequentemente entrevistas das pessoas que viveram o acontecimento na altura, ou seja, a ignorância dos jovens não acontece por falta de informação mas porque a informação dada é mal conduzida ou, dito de outra forma, é um prato fabricado de maneira que não oferece grande vontade de comer”, disse.

O organizador recordou ainda a origem deste convívio. “Nasceu há mais de 30 anos porque na altura eram raras as comemorações que existiam em Macau do 25 de Abril e achámos que isso fazia falta”. Por outro lado, no território esta data assume características particulares. “Aqui em Macau é ainda mais interessante”, disse. Sales Lopes que assistiu à transferência de administração considera que “a forma correcta como foi feita, sem interrupções sem aleijar ninguém e com respeito mútuo”, não seria possível sem o 25 de Abril . “Se não houvesse o 25 de Abril não teríamos relações com a China, como é que se conseguiria negociar uma coisa com um país sem se ter relações diplomáticas com ele?”, apontou.

Liberdade na Torre

“A necessidade de celebrar o 25 de Abril é cada vez maior”, referiu ao HM a presidente da Casa de Portugal em Macau, Amélia António, que organiza o jantar desta noite na Torre de Macau.

“Com tudo o que vemos a acontecer pelo mundo e na Europa, é importante recordar que aquilo que as pessoas hoje têm não é um dado adquirido, foi uma coisa pela qual se lutou muito, e portanto não é uma coisa que não seja reversível com tudo o que vemos acontecer”, justificou.

Daí, “a necessidade de que as pessoas estejam conscientes, mais ainda quando vemos o aparecimento de movimentos muito estranhos”, acrescentou.

Para combater o perigo futuro é preciso não esquecer, “manter a memória do que vivemos e do que não queremos ver regressar”. “As pessoas têm que estar atentas e ter a noção do que era o nosso país, de tudo o que o 25 de Abril trouxe: a liberdade das pessoas estudarem e abrir horizontes”.

“O habitual jantar de confraternização “vai ter lugar na Torre de Macau, a partir das 19h30. A animar as celebrações vai estar o agrupamento musical “Os Vocalistas”. Este ano a banda aparece numa versão diferente da que apresentou no ano passado na mesma data, e vai ser responsável por diferentes momentos musicais. Além do tradicional tributo ao 25 de Abril, com a interpretação de temas emblemáticos  que marcaram a luta contra a ditadura, “Os Vocalistas” vão ainda apresentar temas do seu último trabalho discográfico. A organização espera a participação de cerca de 200 pessoas, o “habitual”.

Os interessados ainda se podem inscrever ao longo do dia de hoje, através da Casa de Portugal. O valor de inscrição varia entre as 350 patacas para os sócios e as 450 para os não sócios e conta com a oferta de vinho.

25 Abr 2019

Politécnico de Macau acolheu concurso de declamação de poesia em português

[dropcap]O[/dropcap] Instituto Politécnico de Macau (IPM) acolheu, na semana passada, mais um concurso de declamação de poesia em português, que reúne anualmente alunos de universidades macaenses e do interior da China, anunciou hoje organização.

Em 2019, a iniciativa que se realiza há 14 anos contou com a participação de 25 jovens provenientes de dez instituições. Além de quatro universidades de Macau, estiveram representadas seis faculdades do interior da China.

A organização distinguiu este ano três alunos de Macau: o primeiro prémio foi atribuído a um aluno da Universidade de São José, Carlos Angelo de Guzmán, o segundo foi conquistado por Lu Yuhan, do IPM, e o terceiro por Xie Hanuy, da Universidade de Ciência e Tecnologia.

“A competição é hoje um evento muito importante na promoção das culturas e literaturas de língua portuguesa, constituindo um estímulo e um incentivo à leitura”, além de ser uma oportunidade “para apresentar o talento dos alunos que escolheram estudar português”, destacou o IPM, em comunicado.

A iniciativa é co-organizada pelo IPM e pela Direcção dos Serviços de Ensino Superior de Macau, com apoio da Fundação Rui Cunha e da Fundação Oriente. Desde 2005, o IPM já convidou a participar no concurso mais de 30 instituições, sediadas em Macau e em vários pontos da China.

No ano lectivo 2018/2019, o número de estudantes de português no IPM ronda os 500, de acordo com dados disponibilizados à Lusa no final do ano passado.

O IPM recebe ainda, todos os anos, 25 alunos do curso de licenciatura em tradução e interpretação chinês-português do Instituto Politécnico de Leiria.

24 Abr 2019

Livro | “Pássaros de Ferro”, de Maria Helena do Carmo, apresentado em Lisboa

Maria Helena do Carmo apresentou recentemente, na Fundação Casa de Macau, em Lisboa, o seu novo livro, intitulado “Pássaros de Ferro”, que aborda o período da Guerra Sino-Japonesa e do Pacífico. Em entrevista, a autora revela que a obra será também apresentada em Macau em Outubro e explica a sua ligação ao romance histórico

 

[dropcap]”P[/dropcap]ássaros de Ferro” é o mais recente livro de Maria Helena do Carmo, escritora que foi docente em Macau. Lançado em Março em Lisboa, com o apoio da Fundação Casa de Macau, a autora tenciona trazer o novo romance para Macau, em Outubro.

Em 2017 a autora publicou “Estórias de Amor em Macau”, uma edição do Instituto Internacional de Macau (IIM), que acabaria por ser fundamental para “Pássaros de Ferro”. Isto porque a obra de 2017 é composta por “doze contos sobre mulheres de diferentes etnias, que se destacaram das suas contemporâneas durante a ocupação portuguesa, do século XVI ao século XX, e foi aí que encontrei o tema para o este novo livro”.

“Como já havia escrito sobre o séc. XVII – “Nhónha Catarina de Noronha” -, do séc. XVIII o romance “Mercadores do Ópio” e “Bambu Quebrado”, referente ao séc. XIX, decidi investigar o período das Guerras Sino-Japonesa e do Pacífico”, adiantou ainda ao HM.

“Pássaros de Ferro” mantém, assim, o mesmo estilo dos livros anteriores, onde a História assume o protagonismo. “Este livro tem ainda mais investigação, por haver muita matéria publicada desse período em arquivos e uma vasta bibliografia.”

Macau surge neste livro retratada, de acordo com a autora, “com a maior fidelidade possível, de acordo com testemunhos da época, escritos e orais”. É também um livro “cronologicamente correcto, com relatos de factos verídicos, então ocorridos, dando às personagens os seus nomes verdadeiros”. “A ficção intromete-se apenas para dar corpo ao conteúdo do romance”, frisou.

Por contar

Formada em História e depois de ter dado aulas em Macau durante vários anos, Maria Helena do Carmo assegura que nunca abandonou as duas carreiras que abraçou. “Ainda não saí da investigação e do ensino. Não se pode escrever de uma época sem a investigar, e ainda lecciono História na Academia Cultural Sénior de Lagoa. Portanto, acho que sim, que os processos se complementam.”

A autora assegura que ainda não teve vontade de se aposentar. “A atracção pela escrita é antiga, só que nunca arranjei tempo para tal antes de me aposentar. A ideia do romance histórico surgiu quando investigava para a minha dissertação, ao encontrar inúmeros casos dignos de relevo, e de verificar que muitos documentos se contradiziam, ou pecavam por falta de fidelidade. Talvez de propósito, por uma política de sigilo do Governo, ou por desconhecimento da realidade, comecei a duvidar que fossem fidedignos, o que prejudicaria qualquer trabalho histórico. Porém, um trabalho de ficção dá toda a liberdade ao autor.”

A autora defende também que o território continua a ser fértil em temas para a escrita de novos romances. “Não faz ideia de quantas sugestões me são feitas por amigos, para explorar este ou aquele tema. Assim tivesse eu tempo para me deslocar a Lisboa e me entregar aos arquivos.”

Neste sentido, e numa altura em que se celebram os 20 anos da transferência de soberania de Macau para a China, Maria Helena do Carmo não tem dúvidas de que há ainda “muitas histórias” por escrever.

“Umas que vivi nos anos em que residi na cidade, outras de amigos que lá moraram, ou ainda por lá estão, histórias que os textos deixam nas entrelinhas, figuras do passado que merecem destaque, enfim… Não penso parar, porque parar é morrer. Enquanto Deus me der vida, saúde, vista e esta vontade de trabalhar, continuarei a escrever no meu canto, onde me sinto tranquila”, concluiu.

24 Abr 2019

“Alma”, de Manuel Alegre, regressa às livrarias com prefácio de Mário Soares

[dropcap]U[/dropcap]ma nova edição do romance “Alma”, de Manuel Alegre, é publicada hoje, terça-feira, com um prefácio do ex-Presidente da República Mário Soares, que o aponta com “um grande romance de genuína ficção, criativo, original, transfigurado”.

Esta 16.ª edição de “Alma”, além da novidade do prefácio, inclui, no final, um curto texto do escritor Luiz Pacheco, sobre o romance, retirado do seu livro “Isto de Estar Vivo” (2000), no qual afirma que Manuel Alegre consegue nesta narrativa “uma emotiva incursão na sua infância, ao mesmo tempo que nos vai desdobrando o panorama de uma povoação provincial com o seu dia-a-dia marcado pela repressão e medo salazarista”.

Mário Soares, por seu turno, adverte: “‘Alma’ é um grande romance: é a história de uma terra de província, num dado momento histórico, com as suas personagens, o seu ritmo, as paisagens, o rio, os animais, especialmente os peixes e os pássaros, e um certo halo nostálgico da infância, recriada por uma memória intacta, límpida, selectiva, precisa nos mais ínfimos pormenores. Haverá a tentação de identificar ‘Alma’ com Águeda: erro grave, julgo”.

“‘Alma’ é um grande romance de genuína ficção, criativo, original, transfigurado”, escreveu Soares.
O texto agora recuperado como prefácio foi o da apresentação crítica do romance, lido em 21 de Dezembro de 1995, em Lisboa. Tanto Soares como Luiz Pacheco consideraram que Manuel Alegre devia dar continuidade ao romance.

Pacheco, dirigindo-se ao autor, afirmou: “Este seu romance pede, e exige, continuação. Trata-se de um testemunho precioso numa prosa tão directa e certeira como impregnada de emoção e sageza”.

Soares, por seu turno disse: “Não nos deixe com água na boca. Meta mãos ao trabalho. Conte-nos, depressa, o resto da história. Ou será que, ao contrário do que nos quiseram fazer crer há alguns anos, não estamos a viver o fim da História? E teremos de persistir nos nossos velhos combates?”.

Alma, como explica Mário Soares, é uma vila à beira rio, “num tempo parado, onde os ecos da Europa em guerra repercutiam esbatidos, mas provocavam nas famílias divisões insistentes, e onde Maria do Ó [uma das personagens], da mesma idade e vestida de anjinho, ‘só olha p’ró Duarte’ [outra personagem] e em cujos ‘olhos muito azuis começava [para ele] o sul'”. “Uma vila onde ficava a casa, ‘um castelo, um sítio sagrado, o último reduto’, onde reinava a avó Beatriz, detentora, por seu marido, da legitimidade republicana e oposicionista de Alma”.

Pacheco nota-lhe “um testemunho precioso” apresentado o escritor, em forma de metáfora, “uma povoação provincial com o seu dia-a-dia, marcado pela repressão e medo salazarista”.

Mário Soares, que dez anos mais teria o escritor como adversário para as eleições Presidenciais de 2006, recorda a cumplicidade com Alegre, de quem afirma: “Admiro o homem, na sua integridade, como um todo, nas suas qualidades e defeitos. Sou seu companheiro de ideal e de caminho, amigo fraterno, nas boas e nas más horas, com percursos políticos muito semelhantes, provados em tantas batalhas memoráveis, travadas em comum, cúmplices na maneira de estar e de sentir e num certo modo romântico ou, se preferirem, afectivo, de encarar os acontecimentos e de conviver com os outros”.

23 Abr 2019

Falta muito para conhecer a diversidade de vozes que vêm de África, diz Mia Couto

[dropcap]O[/dropcap] escritor e jornalista Mia Couto considera que “falta muito para a Europa conhecer a diversidade de vozes que vêm de África” e lamentou que, no contexto mundial, a África lusófona seja um “subúrbio do subúrbio”.

As declarações do escritor moçambicano foram feitas numa entrevista à agência Efe, no âmbito da festa literária de Saint Jordi, em Barcelona, na qual irá participar.

“A Europa não conhece a literatura africana e, embora a situação já tenha melhorado muito, continuam a ser alguns nomes, em boa parte nigerianos da diáspora, que contam uma certa visão do seu mundo, que é um mundo de mestiçagem, mas creio que ainda falta muito para conhecer o continente linguisticamente mais rico do mundo”, afirmou, em vésperas do Dia Mundial do Livro.
África – acrescentou – herdou algo que não é próprio, “um peso da Europa” que se traduziu em três Áfricas: a francófona, a anglófona e a lusófona. “Se África já é um subúrbio no contexto do mundo, a lusófona é um subúrbio do subúrbio, porque não tem o peso cultural do inglês e do francês”.

A herança linguística que Moçambique recebeu foi “uma conquista mútua, que compartilhamos” e, hoje, o português enriqueceu-se pelo Brasil e pelos cinco países africanos, e acabou aceitando contribuições de outras culturas, considerou.

O autor, que abordou a guerra civil moçambicana e o colonialismo português na sua obra literária, considera que “a paz, no sentido formal, é um processo ainda em curso” que durará enquanto continuar a existir uma força militar da RENAMO que reactive a violência sempre que não consiga no parlamento uma vitória política.

A contribuição da literatura para esse processo de paz é, na opinião do escritor, “ter feito uma incursão num território proibido: a memória da guerra”.

Mia Couto comentou que, se alguém visita hoje Moçambique, parece que não houve guerra e isso acontece porque “as pessoas optaram por esquecer, não foi uma coisa das forças políticas, mas sim das pessoas, pois as raízes da guerra continuam vivas e ninguém quer reabrir essa caixa de Pandora”.

A literatura ajudou a “visitar esse tempo cruel, a guerra, e tentou reumanizá-la através de histórias contadas às pessoas que nela intervieram”, disse.

Sobre o dia do livro, Mia Couto confessa que lhe falaram tanto de Sant Jordi que é como se já conhecesse a festa: “É algo estranho no mundo e isto é motivo de esperança nos tempos que correm”, comentou.

Os seus inícios na poesia foram resultado “mais de incompetência do que de competência” e, como filho de um poeta, cresceu com a poesia em casa.

“O meu pai vivia poeticamente e dava importância a coisas que não eram visíveis, que eram inúteis e isso ajudou-nos a ter uma visão do mundo. E foi ele quem me roubou os versos que saíram no jornal e que publicou sem a minha autorização; e embora na altura me tenha chateado muito com ele, agora estou-lhe eternamente agradecido”.

Apesar de posteriormente se ter dedicado à narrativa, Mia Couto continua a considerar-se “um poeta que conta histórias” e acrescenta que “em Moçambique é difícil não ser poeta, porque este encontro entre diferentes visões do mundo só se pode resolver através da poesia” e a África que conhece “é poética”.

O lirismo africano que se produz de norte a sul está intimamente ligado a uma cultura dominada pela “oralidade”, num continente em que as tradições orais estão muito vivas.

Sobre a questão do rigor, o escritor relatou: “Uma vez um macaco viu um peixe num rio e pensou pobre animal, está-se a afogar. Pegou nele e verificando que se mexia, pensou que era de felicidade, mas acabou por morrer. Pensou que se tivesse chegado antes, teria conseguido salvá-lo. O mundo está cheio de salvadores, e esta história foi o melhor combate à demagogia do político”.

Depois de ter recentemente publicado “Trilogia de Moçambique”/ “As Areias do Imperador” (“Mulheres de Cinzas”, “A Espada e a Azagaia” e “O Bebedor de Horizontes”), Mia Couto já tem escritos doze capítulos do seu novo livro, um romance sobre a infância na sua cidade natal da Beira.

“Ia visitar a minha cidade, para reactivar memórias, mas nessa semana ocorreu o furacão e não pude, e esse facto mudará profundamente esta história. Ia em busca das minhas recordações e alguns desses lugares já não existem”, assinalou Mia Couto, que se sente “perdido neste momento”, um pouco órfão da sua própria infância.

O escritor revela ainda a sua ligação à poesia de Lorca e de Miguel Hernández, como herança poética do pai, mas também por “empatia política com a história que encarnaram ambos”, um vínculo que perdurou no tempo, graças às versões musicadas de Joan Manuel Serrat.

23 Abr 2019

Investigação | Cinematografia da Ásia lusitana ao serviço do regime

[dropcap]F[/dropcap]ilmar em Goa, Timor e Macau representava viagens longas e custos elevados, o que explica o facto da “Ásia portuguesa” ter sido menos retratada no cinema do que as antigas colónias de África. Maria do Carmo Piçarra garantiu ao HM que o que se fez foram, essencialmente, filmes de propaganda.

“Durante muito tempo filmou-se pouco nas colónias da chamada Ásia portuguesa. Fizeram-se sobretudo filmes de propaganda políticos e filmes científicos onde os sinais de propaganda são muito fortes.”À época, não havia “uma produção própria, apesar de terem sido feitas tentativas em Goa”.

“No geral, Portugal não criou em nenhum dos sítios onde era potência colonial condições para se fazer cinema. Nem sequer havia televisão até à independência africana. Em Goa, a partir dos anos 50, arranca uma maneira muito ligeira de fazer cinema. Em Macau há depois uma produção internacional.”Em Timor, Maria do Carmo Piçarra destaca o trabalho de António Almeida.

“Nos anos 40 há uma tentativa de fazer filmes não apenas de propaganda política, mas também económica. É contratado um senhor para fazer três filmes para uma grande empresa que detinha a exploração de cacau em Timor. Nos anos 50 António Almeida, um antropólogo em missão, faz vários filmes que se confundem com os filmes de propaganda ao regime.”

Quem também retratou Timor foi o poeta português Ruy Cinatti. “Enquanto estava a fazer o seu doutoramento, Ruy Cinatti foi a Macau e comprou uma câmara de filmar. Depois pediu ajuda a Lisboa ao Instituto de Investigação Científica e Tropical e consegue que lhe enviem o operador que já tinha filmado para o António Almeida, chamado Nascimento Rodrigues.

Ambos registaram cerca de 13 horas de materiais que nunca foram montados, sem som. ”Por entre museus, o arquivo da RTP e espólios privados, a investigadora portuguesa denota uma grande dispersão do que se filmou na Ásia na altura, pelo facto dos territórios “terem histórias muito diferentes”.

23 Abr 2019

Manuel Antunes Amor, o primeiro realizador a retratar Macau

Em 1919 Manuel Antunes Amor foi para Macau trabalhar como inspector escolar, mas a sua paixão pelo cinema fez dele o primeiro realizador a filmar, ainda que de forma amadora, o território. A investigadora Maria do Carmo Piçarra fala hoje, em Lisboa, deste realizador e das formas como Macau, Goa e Timor foram retratados no cinema nos tempos do Império colonial português

 

[dropcap]C[/dropcap]hama-se “Macau, Cidade Progressiva e Monumental” e é provavelmente o primeiro filme feito sobre Macau. Datado de 1923, a autoria pertence a Manuel Antunes Amor, um homem que nunca fez do cinema a sua profissão, mas cujo trabalho amador acabaria por contribuir para uma representação de Macau do início do século XX.

O filme, que retrata o quotidiano da Baía da Praia Grande, das principais avenidas, dos riquexós e do jogo do “Clu-Clu”, entre outros pedaços da vida da população da altura, foi digitalizado em 2015 e pode ser visto hoje no website da Cinemateca Portuguesa.

O trabalho de Manuel Antunes Amor tem vindo a ser analisado por Maria do Carmo Piçarra, investigadora que apresenta hoje, na Universidade de Lisboa, a palestra “Cinema Império – Projecções dos arquivos e uma constelação de perguntas”, inserida no ciclo de conferências “Representações Visuais da ‘Ásia Portuguesa’ – Perspectivas críticas”.

Maria do Carmo Piçarra não tem dúvidas de que Manuel Antunes Amor “foi, de alguma forma, a primeira pessoa a fazer filmes em Goa e em Macau”.

A chegada do realizador amador ao território aconteceu em 1919, depois de uma passagem por Goa. “Ele foi convidado para ir para Macau fazer uma reconversão do ensino público. Aí passa três anos. Compra uma câmara de filmar e um projector portátil e começa a usar as suas sessões de cinema para ensinar os alunos do ensino primário.”

“Macau, Cidade Progressiva e Monumental” é, nas palavras de Maria do Carmo Piçarra, “um dos filmes mais antigos sobre as colónias e esteve, durante muitos anos, mal datado”. “Em 1922 está de regresso a Goa e faz uma série de filmes sobre as escolas locais que estão desaparecidos”, acrescentou.

Ainda em Goa, e antes do regresso a Macau, Manuel Antunes Amor já revelava uma predisposição para a sétima arte. “No final da primeira década do século XX estudou pedagogia na Alemanha e em 1915 ganhou o concurso público para ser inspector do ensino primário em Goa, para onde levou ideias muito avançadas para a época em termos de pedagogia.”

Além disso, Manuel Antunes Amor “era pintor e fotógrafo, e acompanhava a linguagem cinematográfica e tudo o que se passava no mundo nessa altura”.

Da propaganda

Com o passar dos anos, e após o regresso a Portugal ditado por motivos de saúde, em 1928, o trabalho amador de Manuel Antunes Amor acaba por ser usado pelos regimes políticos que se foram estabelecendo. Primeiro pela Ditadura Militar de 1926, depois pelo Estado Novo, em 1933.

“Ele começa a apresentar alguns filmes que fez em sessões privadas e que acabam por ser usados pelo regime português. O agente geral das colónias, Armando Cortesão, determina, com o apoio de Salazar, que Portugal deve participar nas grandes exposições coloniais da altura, e os filmes que Manuel Antunes Amor fez de Goa passam na exposição de Antuérpia, enquanto que as filmagens de Macau passam na exposição de Paris.”

O trabalho de investigação de Maria do Carmo Piçarra sobre o realizador está longe de estar terminado. “Um dos objectivos da minha pesquisa é tentar identificar materiais existentes de Manuel Antunes Amor. Desde que vim de Goa consegui encontrar o contacto de uma sobrinha, e tenho expectativas de que ela possa ter documentação ou um outro filme.”

A investigadora portuguesa regressa a Macau em Novembro para procurar mais informação sobre uma outra realizadora das primeiras décadas do século XX, de nome Lucrécia Borges, que geria uma produtora com o marido.

“Em 1925 há uma grande exposição em Macau e nesse período uma senhora, Lucrécia Borges, obtém a exclusividade para fazer filmagens no território durante um determinado período de tempo. Sobre essa senhora nunca se escreveu nada em Portugal. Tenho muita curiosidade”, frisou. Já sobre Manuel Antunes Amor, “tem-se escrito pouco e mal”.

O trabalho de Miguel Spiegel

Macau foi também retratada por Miguel Spiegel que, apesar de não ter nacionalidade portuguesa, residiu no país durante muitos anos. Este era “um grande apaixonado por Macau e fez vários filmes nas décadas de 50 e 70”.

“Alguns desses filmes eram de propaganda para o Estado português, mas também fez obras de propaganda turística e para a Polícia Judiciária sobre o consumo de ópio”, disse a investigadora. Além disso, Miguel Spiegel realizou “uma trilogia com elementos ficcionais”.

Maria do Carmo Piçarra tem vindo a deparar-se com uma quantidade de materiais dispersos que não ajudam ao seu trabalho de investigação sobre o cinema feito no antigo império português na Ásia (ver texto secundário). Macau, um território bastante retratado no cinema norte-americano e europeu a partir dos anos 50, é o território onde há uma maior organização.

“Há documentação mais bem organizada, mas não quer dizer que o acervo fílmico esteja muito bem tratado. Já percebi que não há cópias de filmes de realizadores portugueses e era importante que existissem. O último filme de António Lopes Ribeiro foi feito em Macau e não o consegui ver até hoje”, rematou.

23 Abr 2019