Armazém do Boi | Novos criadores podem enviar propostas de exposições

O Armazém do Boi está a receber propostas de jovens artistas para realizar exposições no próximo ano. A nova geração de criadores locais terá as salas do Armazém do Boi para expor novas ideias e conceitos artísticos. As candidaturas podem ser submetidas até ao fim do mês

 

[dropcap]A[/dropcap]s revoluções artísticas, mudanças de paradigmas e conceitos, nascem normalmente da emergência de uma nova geração, de novo sangue, com diferentes ideias de contemporaneidade, reflectindo vivências invisíveis à percepção dos progenitores. O Armazém do Boi quer captar essa frescura criativa e conceptual e materializa-la em exposições, num programa que encha a temporada artística de 2021. Essa é a ideia de Innovate G, “a iniciativa organizada pelo Armazém do Boi para apoiar a nova geração de jovens e emergentes artistas de Macau”, refere a organização em comunicado.

Assim sendo, o Armazém do Boi prontifica-se a colocar à disposição o seu espaço e o total apoio de curadoria e a servir de plataforma “para quem queira expressar novas ideias e novas formas”, num convite aberto para expor no ano que vem.

Os novos projectos podem ser para exposições individuais ou colectivas, a realizar entre Fevereiro e Dezembro de 2021. Cada mostra terá um período de exibição de quatro semanas. O período de candidatura vai estar aberto até ao dia 31 de Julho.

Os artistas vão ter três dias para montar os seus trabalhos no espaço do Armazém do Boi antes do dia da inauguração e, da mesma forma, outros três dias para desmontar. No caso de ser necessário mais tempo, ou de se desejar um período de exibição específico, a organização exige que esses detalhes sejam especificados na candidatura.

Regras do jogo

Além de ideias frescas, os candidatos devem ter, pelo menos, 18 anos e as obras submetidas têm de ter menos de três anos desde a sua concepção. Como é natural, os artistas precisam ter a totalidade dos direitos de autor sobre as obras submetidas e assinar uma declaração que garanta que os trabalhos são originais. Qualquer violação das regras de direitos autorais resulta na desqualificação da candidatura.

No que ao conteúdo diz respeito, o Armazém do Boi ter como propósito encorajar a expressão de novas ideias através de formatos originais, não impondo qualquer limite ao meio ou género de expressão artística.

Além da proposta da exposição, os candidatos precisam entregar um programa e introdução ao tema e conteúdo dos trabalhos.

De resto, o Armazém do Boi será responsável pela assistência na montagem da exposição, pela sua promoção e publicidade, assim como pelos materiais usados nas criações, ficando o artista obrigado a ceder os direitos de imagem para material promocional.

14 Jul 2020

Book Carnival | Organização retirou livro com bandeira de Taiwan na capa

[dropcap]I[/dropcap]mwa Chan, presidente da Associação da Promoção da Literacia de Macau, assumiu ter retirado da lista de livros em exposição na Macau Book Carnival um livro de política que tem a bandeira de Taiwan na capa, sem referir que de obra se trata.

“Em relação aos livros de política, retirei um ontem à noite. Um livro que fala sobre bandeiras nacionais. Como é um livro de Taiwan, coloca a bandeira da República da China (na capa), achei que era inadequado. Por isso optei por não exibir esse livro. Os restantes estão bem”, disse em declarações reproduzidas pelo Canal Macau da TDM.

A edição deste ano da Macau Book Fair, que decorre no ginásio do Instituto Politécnico de Macau (IPM) até ao dia 19 de Julho, conta com mais de 25 mil livros em exposição, vendidos a preços de saldo. Só o Instituto Cultural disponibiliza um total de 1.100 títulos.

Devido à pandemia da covid-19, não estão expostas obras oriundas da China. “Este ano, na oferta, não temos, lamentavelmente, os livros da China continental, pois os que são importados de lá devem ficar em quarentena por mais de 10 dias. O número de livros de Hong Kong e Taiwan é semelhante ao do ano passado. E existem cerca de 20 por cento de livros em idiomas estrangeiros”, justificou Imwa Chan.

13 Jul 2020

Poesia | Lisbon Poets & Co celebra edição de Camilo Pessanha em espanhol, inglês e francês

“Clepsydra”, obra-prima de Camilo Pessanha, quase toda escrita em Macau, ganhou novas edições bilingues em português/inglês, português/francês e português/espanhol com a chancela da editora portuguesa Lisbon Poets & Co. O editor Miguel Neto acredita ter chegado mais perto da organização que Pessanha queria para os seus escritos e que não foi conseguida por Ana de Castro Osório na edição de 1920

 

[dropcap]E[/dropcap]ste ano celebra-se o centenário da primeira edição de “Clepsydra”, a obra mais importante do poeta Camilo Pessanha, editada em 1920 por Ana de Castro Osório. Como forma simbólica de celebrar a data, a editora portuguesa Lisbon Poets & Co celebra a edição de duas edições bilingues, “Clepsydra – The Poetry of Camilo Pessanha” e “Clepsydra – La Poesía de Camilo Pessanha”, com introdução da académica Helena Buescu, da Universidade de Lisboa, e organização e fixação do texto por parte do professor Paulo Franchetti. Franchetti havia, inclusivamente, trabalhado na obra de Pessanha em edições anteriores publicadas em língua portuguesa.

“Estas duas edições são importantes para dar a conhecer a falantes de outras línguas [a obra de Pessanha]. Também vamos publicar uma edição em francês, que está a ser terminada, e vamos traduzir para outras línguas. Pessanha já é pouco lido e editado em Portugal e em outros países é, de facto, muito pouco conhecido”, apontou ao HM o editor Miguel Neto. É também objectivo da Lisbon Poets & Co “fazer esse contributo [para reavivar a memória]”. “

“A sua poesia tem uma natureza velada, é um pouco inacessível e difícil, o que não torna muito fácil uma leitura imediata. Além disso, Pessanha esteve longe de Portugal, passou quatro décadas em Macau e foi lá que escreveu a maior parte dos poemas, e em Portugal produziu muito pouco”, frisou Miguel Neto.

Ainda assim, isso não impediu Pessanha de ser considerado um dos nomes maiores do Simbolismo português. “‘Clepsydra’ é realmente marcante e é também a maior representação do Simbolismo em língua portuguesa, além de ser um livro que marcou toda a poesia vindoura, com Mário de Sá-Carneiro e Fernando Pessoa e poetas posteriores, como Eugénio de Andrade.”

Questão de organização

Aquando da primeira publicação de “Clepsydra”, em 1920, Ana de Castro Osório não terá seguido a organização dos poemas conforme o desejo de Pessanha. A descoberta foi feita por Paulo Franchetti através de um documento depositado na Biblioteca Nacional colado a um dos primeiros exemplares de “Clepsydra”.

Estas duas edições bilingues apresentam, portanto, uma organização o mais possível aproximada à vontade do autor. Aos poemas cuja ordem é indicada pelo autor juntam-se os restantes organizados por Paulo Franchetti, onde se incluem “dois poemas inacabados, poemas satíricos e poemas citados de memória por outras pessoas”.

Por esse motivo, “o que está no livro não é apenas uma aproximação possível e mais recente à ‘Clepsydra’, mas também a toda a poesia de Pessanha, e é a primeira vez que ela é traduzida integralmente para inglês e para espanhol”, rematou Miguel Neto.

Além destas edições, a editora Lisbon Poets & Co também promoveu nas redes sociais, em parceria com várias livrarias portuguesas independentes, vídeos com a leitura de poemas de Camilo Pessanha. A campanha dura até esta quarta-feira, dia 15.

13 Jul 2020

Macau Book Carnival | 23ª edição da feira do livro arranca esta sexta-feira 

Começa esta sexta-feira mais uma edição do Macau Book Carnival, uma feira do livro organizada pela Associação de Promoção da Literacia de Macau. Com eventos para toda a família, além da venda de livros com desconto, a feira do livro recebe, no sábado, para uma conversa sobre o livro bilingue “Na Rua”, da editora Mandarina

 

[dropcap]A[/dropcap] 23ª edição do Macau Book Carnival começa esta sexta-feira e, à semelhança dos anos anteriores, tem lugar no ginásio do Instituto Politécnico de Macau (IPM). Até ao dia 19 de Julho o público poderá não só usufruir de livros mais baratos como também ter acesso a espectáculos musicais e outras actividades para toda a família.

Este sábado, dia 11, por volta das 15h30, tem lugar uma sessão de lançamento do livro bilingue “Na Rua”, lançado pela editora de livros infantis Mandarina. A sessão conta com a presença de Catarina Mesquita, fundadora da Mandarina, e o escritor Joe Tang.

Ao HM, Imwa Chan, presidente da Associação de Promoção de Literacia de Macau, explicou que a edição deste ano conta com a presença de 30 livrarias e editoras, que vão apresentar obras em chinês, inglês e português. A apresentação do livro “Na Rua” partiu de um convite da associação.

“Esperamos que os leitores chineses que querem aprender português possam comprar o livro”, frisou.
Imwa Chan assegura que, 22 anos depois, esta feira do livro tornou-se mais do que local onde se vendem livros com desconto. “Sinto-me encorajada com o facto de este não ser apenas um evento para vender livros com desconto, mas pode também ser uma plataforma para que livrarias, e escritores e leitores se possam reunir num só espaço e possam trocar impressões sobre o seu trabalho. Trata-se de uma plataforma para promover a literatura de Macau, uma vez que o território é um lugar cheio de cultura e história, com uma grande ligação ao património.”

Anos de desafios

Imwa Chan assegurou ao HM que organizar uma feira do livro como esta nos últimos 22 anos não foi fácil. A maior dificuldade prendeu-se com a falta de uma localização específica. “Lembro-me que houve um ano em que tivemos de organizar esta feira num centro comercial, um espaço muito pobre para este tipo de eventos.

Temos de ter um parceiro a longo prazo para que possamos ter uma localização permanente, e felizmente que o IPM nos apoiou.”

“Quando o semestre termina o ginásio fica disponível para o nosso evento. Finalmente conseguimos obter uma localização permanente e um calendário regular para organizar a nossa feira do livro, o que corresponde às expectativas dos leitores locais”, acrescentou.

A ideia para a organização do Macau Book Carnival surgiu graças à presença regular de Iwma Chan na feira do livro que todos os anos se organiza em Hong Kong.

“Há 20 anos achei que havia a necessidade de organizar uma feira do livro em Macau no período das férias para os leitores. Sempre visitei a feira do livro anual em Hong Kong e pensei que necessitávamos de um evento semelhante em Macau, mesmo que tenhamos uma população mais pequena em relação a Hong Kong”, explicou ao HM.

Desde então que a adesão ao evento tem sido positiva, uma vez que, segundo Imwa Chan, o ano passado estiveram presentes na feira cerca de 5.000 pessoas.

O evento conta com o apoio da Fundação Macau e do Instituto Cultural. O Instituto Português do Oriente (IPOR) tem sido uma presença habitual no evento mas este ano, alegando falta de recursos humanos, a entidade não estará representada.

O Macau Book Carnival acontece todos os dias da semana entre 10 e 19 de Julho. Durante a semana o horário de funcionamento é entre as 11h e as 21h, enquanto que aos sábados e domingo a feira tem as portas abertas entre as 11h30 e as 21h30.

9 Jul 2020

IC celebra 15.º aniversário de Macau como Património Mundial com folclore português

[dropcap]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) assinala o 15.º aniversário da inscrição do centro histórico de Macau na lista do Património Mundial da UNESCO com dois dias de actividades, que incluem folclore português e ópera em cantonês.

O evento, com entrada livre, vai decorrer na Casa do Mandarim e no Largo do Lilau, em 11 e 12 de julho, entre as 10:30 e as 18:00, com “actuações de canto e dança”, incluindo a “dança do leão, ópera cantonense e dança folclórica portuguesa”, além de “cabines de jogos, uma exposição temática, ‘workshops’ e venda de produtos culturais e criativos”, refere um comunicado do IC.

O objectivo das comemorações, que decorrem sob medidas de higiene, para evitar a propagação da covid-19, é “dar a conhecer, a partir de diferentes perspectivas, o património cultural da cidade e as suas ações de conservação”, segundo a nota.

Além dos dois dias de festa, o IC realiza outras actividades durante o mês de julho, no âmbito do “Dia Aberto do Património Mundial”, incluindo um passatempo no ‘Wechat’ e visitas ao Farol da Guia e à Biblioteca do Senado.

O centro histórico de Macau foi inscrito na lista do Património da Humanidade da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) em 15 de julho de 2005, tendo sido designado como o 31.º local do Património Mundial da China.

A classificação integra vários edifícios históricos construídos pelos portugueses, incluindo o edifício do Leal Senado, a Santa Casa da Misericórdia, a Igreja da Sé, as Ruínas de São Paulo ou a fortaleza da Guia.

8 Jul 2020

Exposição | Artista de Taiwan exibe obra na Creative Macau

Entre 16 e 22 de Agosto a Creative Macau acolhe a exposição “A Place that is Never on the Map”, do artista de Taiwan radicado em Macau, Cai Guo Jie. Da sua obra implodem traços coloridos que, apesar de revelarem monumentos de Macau, vistos de perto, são na verdade caracteres de caligrafia chinesa. Formas reveladas a partir de planos urbanísticos é outra das apostas do artista

 

[dropcap]A[/dropcap]s aguarelas de Cai Guo Jie escondem pinceladas com segredos bem guardados. A obra do artista de Taiwan, que vai estar exposta na Creative Macau entre 16 e 22 de Agosto, dá primazia à desconstrução e reconstrução dos elementos que compõem as suas criações, ao ponto de deixar a dúvida a quem vê, de estar a olhar para uma pintura ou, na verdade, um escrito.

Se à primeira vista as cores vívidas das suas pinturas dão forma a marcos icónicos de Macau como a Igreja de São Domingos ou a Rua do Cunha, saltando à vista a roupagem mais ocidental deixada pelo legado português, um olhar mais atento, revela uma “espinha dorsal” composta por caracteres de caligrafia chinesa.

“Visto de perto, é possível reparar nas pinceladas rigorosas de caligrafia chinesa. Linhas e golpes de força em constante mutação percorrem a tela em diferentes velocidades, fundindo formas e caracteres que, no limite, se materializam numa paisagem pitoresca”, pode ler-se no comunicado da Creative Macau acerca da exposição.

Procurando transpor a arquitectura e o ambiente peculiares de Macau, Cai Guo Jie empresta às suas aguarelas o espírito e a história da produção de caracteres de caligrafia chinesa. “Para sermos precisos, Cai está sempre a escrever e não a pintar aguarelas”.

A demonstrá-lo, fascinado pelo processo de desconstrução, está o quadro dedicado à Igreja de São Domingos que “explora tridimensionalmente o espaço da igreja quase como se fosse um bonsai”.

Urbanismo alternativo

Contactada pelo HM, Lúcia Lemos, coordenadora da Creative Macau, revela que outro dos focos principais do artista de Taiwan radicado em Macau está relacionado com a história por detrás das terras e projectos urbanísticos da região.

“Há vários anos que o Cai Guo Jie tem vindo a desenvolver um projecto urbanístico no sentido de explorar história e o passado sobre essas terras que eram passadas de mão em mão ou de família para família através de um papel que era o equivalente a um simples reconhecimento verbal, o que era muito comum em Macau”, partilhou Lúcia Lemos.

Focado na ideia da divisão de terras ao longo dos tempos e da forma como eram estabelecidas as fronteiras que acabam por revelar sempre espaços intocados que não pertencem a ninguém, a obra de Cai sobre o planeamento urbanístico pretende, segundo a coordenadora da Creative Macau, retratar também a “evolução do campo para a cidade” e o facto de o tecido urbanístico “ter progressivamente invadido as aldeias”.

8 Jul 2020

Poesia | António Mil-homens lança “Poemografias” este sábado na Casa Garden 

É já no próximo sábado, dia 11, que o fotógrafo António Mil-homens lança o seu novo livro de poesia “Poemografia”, que surge numa versão trilingue, português, chinês e inglês. A obra, que conta com apresentação do ex-embaixador Carlos Frota, contém também fotografias e espelha a vivência muito própria do autor com a Macau que habita há vários anos

 

[dropcap]A[/dropcap]proveitando a viagem da sua primeira exposição de pintura, intitulada “Monochrome”, António Mil-homens prepara-se para lançar um novo livro de poesia no mesmo local onde estão expostas as obras, a Casa Garden. O evento de apresentação de “Poemografia” acontece no sábado por volta das 16h e terá como convidados o ex-embaixador Carlos Frota, além de personalidades que vão ler os poemas nas suas versões em português, chinês e inglês. A música de Fabrizio Croce irá acompanhar a leitura dos poemas. A edição do livro está a cargo do Instituto Cultural (IC).

“Poemografias” é o resultado das vivências de António Mil-homens com Macau. “É no fundo uma súmula daquilo que tenho escrito sobre Macau ao sabor da inspiração e daquilo que vou sentindo e vivenciando”, contou ao HM.

Um dos poemas retrata, por exemplo, o primeiro momento em que António Mil-homens chegou a Macau, decorria o ano de 1996. Desde aí que houve alterações na forma de escrita, precisamente devido a uma forte ligação com a cultura chinesa. “De repente ganhei consciência de que o estilo [de escrita] é mais configurativo. Se calhar o estilo de escrita dos poemas reflecte muito daquilo que em mim foi sendo inculcado pela cultura chinesa. Diria que são poemas meus, mas se calhar são muito chineses na forma como foram naturalmente escritos, sem ter tido consciência ou intenção disso.”

O autor não domina a língua chinesa, mas diz sentir-se muito ligado à cultura, sobretudo ao confucionismo e à arte chinesa. “Tenho uma enorme admiração e um profundo respeito. Não ignoro as diferenças e procuro entendê-las. É a minha postura normal relativamente a outras culturas: procurar e analisá-las sem grandes pré-concepções, porque essa é a única forma. Prefiro ter um olhar mais transparente sobre aquilo que me rodeia.”

Há uma naturalidade e sobretudo uma espontaneidade na escrita de António Mil-homens que surgiu quase sem o autor perceber como. “De repente as coisas acontecem e eu tenho necessidade de pegar numa folha de papel para registar o que me está a ocorrer. É raríssimo fazer qualquer rasura ou substituição de palavras.”

Projecto antigo

“Poemografias” começou a ser pensado em 2014, ainda Yao Jingming era vice-presidente do IC. Até que António Mil-homens decidiu que este “não seria mais um livro de poesia em português” e pagou a tradução dos poemas para chinês e inglês. A edição aconteceu o ano passado, a propósito da celebração dos 20 anos da RAEM, mas o lançamento acabou por ser adiado.

Fotógrafo há vários anos, António Mil-homens enveredou recentemente pela pintura, tendo já inclusivamente algumas ideias para uma nova exposição com quadros de maior dimensão. Sobre a escrita, diz ter recebido comentários positivos, o que lhe dá força para continuar a trabalhar em várias vertentes artísticas.

“Além de pessoalmente estar satisfeito com o projecto, sinto-me auto-gratificado. Nunca me passou pela cabeça, quando comecei a pintar, que ia sair com esta força. O retorno ou as opiniões que tenho recebido é de apreciação e de encorajamento, de pessoas a quem não perguntei nada. Ganhei uma força que não me passaria pela cabeça que acontecesse. É mesmo para continuar”, rematou.

7 Jul 2020

Compositor Ennio Morricone morreu aos 91 anos

[dropcap]O[/dropcap] compositor italiano Ennio Morricone, autor de inúmeras bandas sonoras de filmes, morreu na noite de domingo para segunda-feira, noticia hoje a imprensa de Itália.

Ennio Morricone, 91 anos, agraciado com um Óscar em 2016, morreu numa clínica em Roma onde se encontrava hospitalizado após uma fratura de fémur na sequência de uma queda, referem as fontes citadas pelos jornais italianos.

Morricone é autor das músicas dos filmes “Era uma vez no Oeste”, “Era uma vez na América”, “Por um Punhado de Dólares”, “A Missão” e “Cinema Paraíso”, entre outros.

O “maestro” italiano foi autor de mais de 500 músicas para cinema, entre as quais melodias como a que criou para o filme “O Bom, o Mau e o Vilão” (1966), do realizador Sergeo Leone, com o ator Clint Eastwood.

Ennio Morricone “morreu ao amanhecer de 06 de julho no conforto da fé”, indica o comunicado do advogado e amigo da família, Giorgio Assuma, citado pelos vários jornais italianos hoje de manhã. “Esteve totalmente lúcido e manteve uma grande dignidade até ao último momento”, acrescenta o mesmo comunicado.

“Adeus ‘maestro’ e obrigado pelas emoções que nos ofereceste”, disse Roberto Speranza, ministro da Saúde do governo de Roma, através de uma mensagem difundida pela rede social Twitter”.

Ennio Morricone foi distinguido em 2016 com o Óscar de melhor banda sonora para o filme “Hateful Eight” de Quentin Tarantino.

6 Jul 2020

“Soft and Weak Companions of Life” | Exposição de Zheng Bo em Portugal aborda relações entre o homem e as plantas

Zheng Bo, nascido na China, com formação académica feita nos EUA e actualmente a residir em Hong Kong, é um artista que olha para lugar que as plantas ocupam na sociedade, criando nos seus trabalhos uma relação com o ser humano, onde o sexo e a intimidade desempenham um papel importante. Pela primeira vez Zheng Bo expõe em Lisboa, Portugal, numa mostra intitulada “The Soft and Weak are Companions of Life 柔弱者生之”

 

[dropcap]A[/dropcap] galeria Kunsthalle Lissabon, em Lisboa, apresenta, até 29 de Agosto, a primeira exposição de Zheng Bo, artista natural da China actualmente a residir em Hong Kong. A mostra tem como nome “The Soft and Weak Are Companions of Life” e é composta por desenhos e vídeos que expressam o lugar das plantas nas sociedades contemporâneas e a sua relação com os seres humanos.

Zheng Bo trabalha muito com a ideia de que o ser humano desconhece quase por completo os habitats naturais que existem à sua volta, o que leva ao conceito de “plantas marginalizadas”. Além disso, “insistindo na ideia de intimidade, o artista dá-nos um exemplo de uma possível relação entre humanos e o mundo vegetal, derrubando, nesse processo, a visão antropocêntrica que temos da natureza”.

Nesta relação entram temáticas como a sexualidade e a intimidade, como se corpos humanos se pudessem fundir com as plantas, uma vez que estas “representam também o negligenciado e o queer num entendimento estandardizado do binário natureza-cultura, apontando, dessa maneira, a necessidade urgente de expandir as nossas noções de relações interespécies, comunidades e contra- públicos”.

Em Lisboa, o público poderá ver desenhos, uma das primeiras paixões de Zheng Bo, numa colecção intitulada “Drawing Life”. “Quando era criança interessava-me em desenhar pessoas. Depois, quando fui para os EUA, comecei a estudar arte de forma mais séria e comecei a pintar retratos”, contou ao HM.

A exposição contém também uma série de vídeos, intitulada “Pteridophilia”, que retrata corpos de jovens nus numa floresta em Taiwan, onde se espelha essa relação mais íntima que o ser humano pode ter com as plantas. “Os homens criam e mantêm relações emocionais e físicas com as plantas: lambem-nas, envolvem-nas, acariciam-nas, mordem-nas, comem-nas e têm relações sexuais com elas, mostrando-nos um número infinito de possibilidades de intimidade vegetal-humana.”

Aqui entra a questão da ética, da controvérsia. Em “Pteridophilia”, o artista revela que “estava interessado na ideia de intimidade”. “A maior parte das pessoas não são muito próximas de plantas, então ter sexo com elas é uma das formas para levar as pessoas a estarem mais próximas das plantas. Claro que também levanta questões éticas e morais, porque quando falamos de sexo estas questões surgem sempre”, contou.

Não que isso o preocupe, conforme revelou ao HM. “Não penso sobre isso, sou um artista, e o meu papel é olhar para o mundo e encontrar maneiras de experimentar e de me expressar. Não antecipo a controvérsia. Mas claro que o trabalho foi controverso há alguns anos, mas não perco tempo a pensar nisso. Não é um problema para mim.”

O nome da exposição é uma frase do capítulo 76 do Dao De Jing, o texto taoísta escrito no século IV ac em chinês clássico e que, dada a sua complexidade, está aberto a uma infinidade de interpretações.

“Neste vasto horizonte de alternativas, Zheng Bo, com os seus vídeos, as suas taxonomias e a sua filosofia, apresenta-nos a possibilidade de repensar todo o sistema humano que visa a categorização do conhecimento sobre a natureza, convidando-nos a articular todos os elementos que temos ao nosso redor, encontrando todas as diferentes combinações e optimizando todas as potencialidades inerentes a plantas e humanos.”

A bela Hong Kong

Zheng Bo saiu de Pequim para estudar arte nos EUA, e quando foi para Hong Kong começou por ter um trabalho antes de se tornar artista a tempo inteiro. A paixão pelo desenho sempre lá esteve, até que o convite para realizar um projecto em Xangai o fez perceber o dinamismo e a beleza das plantas. Desde aí, que estas constituem o foco principal do seu trabalho.

O artista olha para as questões ambientais contemporâneas e reflecte sobre elas. “Interessa-me a política no sentido de perceber como é a nossa relação com o planeta. Sou menos interessado na natureza da política, e penso que estamos a vivenciar uma crise ecológica, com alterações climáticas extremas e com uma pandemia, que é parte desta crise.

A residir em Lantau, Zheng Bo lamenta que a sociedade de Hong Kong esteja, muitas vezes, divorciada do seu próprio meio-ambiente. “Há uma grande área de natureza preservada, Hong Kong é um bom exemplo em termos da preservação de plantas. Há mais de três mil espécies, mas, pela minha experiência, muitas das pessoas não percebem que Hong Kong é um sítio muito bonito. A maior parte das pessoas pensam no território como sendo um centro financeiro e um sítio para fazer compras, e fico surpreendido quando vejo que muitas pessoas não sabem sequer onde nadar, uma vez que estamos junto ao mar. Há mais pessoas a fazer caminhadas e a ir à praia, mas em termos culturais podemos mudar e começar a ver Hong Kong como um sítio onde se podem observar plantas.”

Parte da exposição em Lisboa resulta de passeios diários por Lantau, uma vez que Zheng Bo se dedica a olhar as plantas que rodeiam a sua casa e a dar-lhes um nome, além de as desenhar. Numa altura em que está impedido de viajar, devido à pandemia da covid-19, esse tem sido o seu trabalho mais regular.

Influência ocidental

Zheng Bo, que nunca esteve em Lisboa ou em Portugal, confessa que gostaria de visitar a sua própria exposição, uma vez que essa viagem iria constituir “uma boa oportunidade para conhecer os artistas locais, porque sei que há muitos artistas europeus a mudarem-se para Lisboa, de Berlim e outros locais”.

O artista diz-se muito mais próximo da cultura ocidental, devido à sua experiência de vida. “Estudei nos EUA e, na verdade, estou mais familiarizado com o meio artístico ocidental do que com o chinês. Só agora é que gradualmente vou aprendendo mais sobre o panorama cultural chinês porque tenho interesse nisso. Fiz uma residência artística em Paris durante três meses, em 2016, e este ano deveria ter estado 9 meses em Berlim. Penso que recebo mais convites da Europa do que de outras partes do mundo, pelo menos neste momento.”

Expor em Lisboa é, para Zheng Bo “uma experiência muito diferente”. Questionado sobre Macau, Zheng Bo diz nunca ter feito nenhuma exposição no território. “Nunca recebi convites, e normalmente trabalho mais por convite”, disse apenas.

6 Jul 2020

Maus Hábitos recebe exposição sobre “a temática da mulher” de fotógrafas da China e de Macau

[dropcap]O[/dropcap] espaço Maus Hábitos – Espaço de Intervenção Cultural, no Porto, inaugura na próxima quinta-feira, 9 de Julho, uma exposição que junta fotografias de cinco fotógrafas da China e de Macau, subordinada à “temática da mulher e do feminino”.

Patente até 30 de Agosto, a mostra “Outros Portos – Outros Olhares” é organizada pela associação Saco Azul e pelo espaço Maus Hábitos, e tem curadoria de Clara Brito e Gu Zhenqing, apresentando 25 fotografias de Margarida Gouveia, Mina Ao, Peng Yun, Xing Danwen e O Zhang.

Segundo explicou à Lusa Clara Brito, a ideia é “mostrar trabalho artístico de artistas de Macau e da China”, e apresentar visões de fotógrafas femininas.

“O objectivo é repensar a mulher enquanto sujeito político, no âmbito mais geral, e trazer isso para o debate. Poder, desta maneira, discutir uma temática que é actual e ver qual é a gramática dos femininos contemporâneos”, afirmou.

Mais distante do eixo central da mostra está o trabalho de O Zhang, uma vez que esta fotógrafa chinesa está sediada nos Estados Unidos e documenta “várias famílias norte-americanas que adoptaram crianças chinesas, na sua maioria mulheres”.

“Questiona o papel das mulheres numa família nova, num novo país, de acolhimento, e que acção e impacto mais forte na sociedade, incluindo em termos políticos, podem ter estas futuras mulheres, quando crescerem, estando acolhidas numa outra cultura, de valores e referências completamente distintos”, acrescenta Clara Brito.

Assim, há obras de Xing Danwen, “uma das primeiras chinesas que se auto-fotografa, e que fotografa outras mulheres”, à procura de escapar ao habitual olhar masculino, aproximando-se do debate sobre “uma narrativa visual que mostra as visões destas mulheres, como se vêem e se querem documentar, representar e ser vistas”.

Caracteres e significados

Esse “novo olhar sobre as mulheres, com maior luz, de relevância e de presença”, marca também o trabalho de Peng Yun, de “curiosidade feminina”, ou de Margarida Gouveia, nascida em Lisboa, “que olha para si como podendo ser uma autora fora dela mesma”, ou as “várias facetas, de mulher, mãe e artista” de Mina Ao.

“Uma das coisas presentes na exposição são os caracteres chineses. Um deles representa a palavra medo e, outro, a palavra prazer. Prazer não só no sentido mais vago, mas enquanto força de vida e presença activa. (…) É esta dicotomia de emoções que também se pretende mostrar e discutir”, revela a curadora.

No Maus Hábitos, “as pessoas vão encontrar fotografias que narram e questionam esta temática”, porque “as mudanças culturais são sempre as mais difíceis” e, numa sociedade “onde as visões masculinas” são predominantes, assim como a ocupação de cargos de poder, é importante debater e “dar voz e olhar às mulheres”.

Clara Brito adianta ainda que, neste “contexto muito particular com a pandemia de covid-19”, estão a ser pensados formatos para “poder mostrar conteúdos e debater”, sobretudo através da Internet, e “dar voz às artistas e outras pessoas que trabalham estes temas”. “Outros Portos – Outros Olhares” pode ser visto de 9 de Julho até 30 de Agosto, no Maus Hábitos, entre as 12:00 e as 23:00, de terça-feira a sábado, e das 12:00 às 16:00 de domingo.

3 Jul 2020

Concerto | Música em patuá em espectáculo nas Casas Museu da Taipa

Gabriel sobe ao palco na tarde de domingo na zona das Casas Museu da Taipa, onde vai cantar em patuá, uma vertente da cultura macaense que quer promover. O artista vai lançar uma música ainda este mês, focada na dependência dos telemóveis

 

[dropcap]O[/dropcap] patuá vai subir ao palco este fim de semana num evento organizado pelo Instituto Cultural (IC). Gabriel, o projecto a solo de Delfino Gabriel, visa “promover mais a língua patuá, mas de uma maneira mais interactiva, através da música”, disse o artista ao HM. Encontrou na música uma forma de as filhas aprenderem a língua e de divulgar esse elemento cultural ao público em geral. “Não é uma língua que se fale diariamente, mas também faz parte do património cultural intangível de Macau”, observou.

O concerto integra o programa dos “Espectáculos no âmbito da Excursão Cultural Profunda nas zonas do Porto Interior e da Taipa”, do IC, que neste fim de semana tem lugar nas Casas Museu da Taipa entre as 16h e as 18h. Gabriel foi convidado para actuar enquanto artista local.

Gabriel também tenta promover o patuá junto da comunidade chinesa de Macau, para dar a conhecer a diferença em relação ao português. E comentou que na sua idade “uma pessoa agora tenta fazer coisas que tenham valor para a próxima geração”. Do lado dessa comunidade sente que há curiosidade. “Como eu falo cantonês conseguimos ter um canal de comunicação”, explicou. Mas se esse é o primeiro patamar, o artista explica que o segundo passa por “conseguir promover isso mais também para os turistas que vêm cá”, por assumir que a economia se “vai restabelecer” e que a língua “faz parte da nossa história”.

A sua participação num vídeo dos Dóci Papiaçám fez com que o papel da música como veículo de aprendizagem sobressaísse. As filhas, que também participaram, repetiram várias em casa uma música envolvida no projecto. Algo que o motivou fazer música “de uma maneira mais organizada e com um objectivo, para elas também aprenderem”.

“Single” ainda este mês

Nem todas as músicas de Gabriel são em patuá, o português e o cantonês também integram o seu trabalho musical. E o português também assume um papel no seu processo criativo. “Faço tudo em português primeiro. Penso e escrevo em português, e depois tento traduzir para patuá, porque o meu dicionário de patuá é muito limitado”, explicou, observando que também procura apoio com a tradução junto de amigos.

No final de Julho vai lançar o seu primeiro “single”, cujo tema se foca na dependência do telemóvel, pelo foco constante das pessoas nas redes sociais e a verificarem mensagens em vez de comunicarem: “uma pessoa parece que está a usar isso para conectar, mas acaba por se desconectar muito da realidade, da família”.
Gabriel conjuga a música com a vida familiar e o trabalho. Pretende lançar um “EP” no próximo ano em Macau, uma vez que já tem outras duas músicas a caminho e vai passar depois para a fase de gravação.

3 Jul 2020

Museu desenhado por Álvaro Siza na China abre ao público em Novembro na China

[dropcap]O[/dropcap] primeiro museu de educação artística da China, desenhado pelo arquitecto português Álvaro Siza, deverá abrir portas ao público em Novembro, na província de Zhejiang. As obras de construção do Museu de Educação Artística Huamao já terminaram, anunciaram no domingo as autoridades de Yinzhou, um dos distritos da cidade de Ningbo, no leste da China.

O museu, situado junto ao Lago Dongqian, tem uma área de mais de seis mil metros quadrados, revelou o Departamento de Informação do Comité Distrital de Yinzhou, do Partido Comunista Chinês.

Num comunicado publicado no portal oficial, o Departamento sublinha que, em vez de escadas, o edifício, com uma altura de 25 metros, tem uma rampa sem barreiras a ligar os cinco andares e é iluminado apenas por janelas situadas no rés-do-chão e no topo do museu.

O edifício, um projecto do grupo privado chinês Huamao Group, terá uma área interactiva onde os visitantes poderão experimentar escultura, impressão a três dimensões e copiar pinturas famosas.

O Huamao já investiu mais de 2,5 mil milhões de yuan no projecto, que inclui um hotel, um centro de conferências e 22 estúdios para artistas, cinco dos quais foram também desenhados por Álvaro Siza Vieira.

O presidente do Huamao Group, Xu Wanmao, refere no comunicado que decidiu convidar Álvaro Siza Vieira a liderar o projecto após visitar o Museu de Arte Contemporânea, que o arquitecto desenhou para a Fundação Serralves, no Porto.

A primeira obra de Siza Vieira na China – um edifício de escritórios, desenhado em parceria com o arquitecto Carlos Castanheira – foi inaugurado em Agosto de 2014, no leste do país. Na altura, foi anunciada a adjudicação do projecto do museu ao arquitecto português.

2 Jul 2020

Teatro | “A Number” sobe ao palco entre 10 e 12 de Julho

A adaptação da obra da britânica Caryl Churchill será levada à cena durante três dias no Edifício do Antigo Tribunal, pela companhia Dirks Theatre. Com o tema da identidade em pano de fundo, a clonagem serve de pretexto para abordar a condição humana perante as incertezas e a avalanche de dados da era digital. As quatro personagens de “A Number” estão a cargo de dois actores

 

[dropcap]“A[/dropcap] Number” estará em cena entre os dias 10 e 12 de Julho no Teatro Caixa Preta, no Edifício do Antigo Tribunal. A peça sobe ao palco pelas mãos da companhia de teatro local, Dirks Theatre, e conta com as interpretações de Ip Ka Man e Wong Pak Hou para dar vida às quatro personagens da obra.

Abordando a temática da identidade e da clonagem humana no advento da Era digital, a obra de Caryl Churchill foi a escolhida para ser adaptada pelo grupo. Ao HM os encenadores Ip Ka Man, que também entra na peça como actor, e Wu May Bo apontaram as razões dessa decisão.

“A Caryl Churchill é uma das dramaturgas mais influentes desde a década de 80. Com a sua perspectiva revolucionária é capaz de reinventar o teatro vezes sem conta através do uso da linguagem, da forma e da sua preocupação com a condição humana”.

Vincando que um dos pontos de interesse da performance passa pela interpretação de quatro personagens apenas por dois actores, facto que os encenadores consideram “muito interessante e desafiante para os artistas”, o grupo aponta ainda a importância de abordar o tema da identidade, especialmente num mundo globalizado e digitalizado, em que “os nossos pensamentos são muitas vezes moldados de forma inconsciente por dados, conteúdos e até publicidade”. “A resposta à pergunta ‘quem sou eu’ parece estar a tornar-se mais complicada, acrescentam Ip Ka Man e Wu May Bo.

Outras questões para as quais a peça quer alertar o público, passam pela tendência constante de categorizar as pessoas pelo valor que têm para os outros e para a sociedade, ao invés dessa definição ser tomada a partir do contacto com os sentimentos e o rumo das suas vida. “Não deveria bastar sermos apenas nós próprios? Conhecemo-nos realmente a nós próprios?”, questionaram os responsáveis pela encenação.

Ao HM, Ip Ka Man e Wu May Bo partilharam ainda as dificuldades que passaram para encontrar actores de meia idade em Macau, sobretudo quando a obra explora as diferenças ao nível das tomadas de decisão de acordo com a experiência de vida de cada um, neste caso de um pai e dos filhos.

Tempos difíceis

Questionada sobre os desafios encontrados durante a produção de um espectáculo em plena crise pandémica, a companhia refere que as incertezas encontradas têm sido inúmeras e que ainda persistem dúvidas sobre a forma de execução do espectáculo.

“A nossa equipa de produção está a trabalhar arduamente para criar planos alternativos relativos à disposição do público, bilheteira, marketing e questões de higiene. No entanto, temos visto nestas dificuldades uma oportunidade para crescer (…) e estamos preparados para dar o nosso melhor, de forma a assegurar a qualidade do espectáculo”, apontam Ip Ka Man e Wu May Bo.

Outro dos constrangimentos, que resultou da situação provocada pelo novo tipo de coronavírus, prende-se com as restrições financeiras, situação que forçou a Dirks Theatre a optar por não incluir legendagem em inglês ou português durante o espectáculo.

“Era algo que queríamos concretizar (…) mas infelizmente, devido ao coronavírus, estamos a enfrentar circunstâncias rígidas, tanto a nível de design, como de orçamento. Por isso tivemos de deixar cair alguns dos nossos planos originais, como a legendagem. Pedimos desculpa por isso”, explicam os encenadores.

2 Jul 2020

Património intangível | Confecção do Aluá na nova lista do Instituto Cultural 

O Instituto Cultural decidiu acrescentar 55 novas manifestações na lista de património cultural intangível. A confecção do Aluá, uma das mais conhecidas sobremesas macaenses, faz agora parte da lista. Esta inclui também manifestações culturais portuguesas como a confecção dos pastéis de nata, o fabrico e pintura de azulejos portugueses e as danças folclóricas lusitanas, entre outras

 

[dropcap]A[/dropcap] gastronomia macaense obteve ontem mais um reconhecimento oficial. Isto porque o Instituto Cultural (IC) decidiu incluir a confecção do Aluá, uma sobremesa, na lista das 55 novas manifestações do património cultural intangível.

O Aluá é uma sobremesa que se faz a partir do côco ralado juntando-se manteiga e açúcar mascavado, bem como pinhões e amêndoas. Ao HM, a chefe de gastronomia macaense, Florita Morais Alves, explicou que todos os ingredientes são depois cozidos em lume brando, com farinha.

“É uma receita antiga e requer uma técnica caseira. Nunca faria isso com máquinas, tem de ser cozido à mão, em lume brando, até formar uma massa homogénea. Quando ganha forma, fica cristalizado e corta-se aos quadrados”, adiantou.

Esta sobremesa, de difícil preparação, traz uma lenda consigo. “É uma guloseima que transmite a tradição macaense. As pessoas antigas contam que o Aluá é o colchão do menino jesus. Come-se sobretudo nas épocas festivas, no Natal, no Inverno.”

Para Florita Morais Alves, é importante esta distinção do Governo. “Para as pessoas mais antigas de Macau é uma coisa muito apreciada. Acho que o Aluá é uma das iguarias macaenses com maior representatividade e importância, tal como o minchi.”

Também Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação dos Macaenses, se congratula com esta distinção. “É importante incluir este prato e também outros, como o Ladu. Mas se calhar é necessário que o Ladu venha a ser mais popularizado. Mas o Aluá é um dos doces muito populares de Macau, eu adoro. A minha avó fazia sempre e as minhas tias também. Era uma coisa importantíssima pela altura do Natal”, contou ao HM.

Miguel de Senna Fernandes destaca o facto de, nos dias de hoje, a comunidade chinesa fazer também a sua própria versão do Aluá. “É uma versão mais adocicada, com mais gordura. O nosso Aluá típico é diferente, é uma coisa trabalhosa que requer arte. Felizmente continuamos a ter hoje pessoas que o fazem.”

O facto de a comunidade chinesa pegar em receitas macaenses é, para Miguel de Senna Fernandes, importante para divulgar ainda mais a gastronomia da sua comunidade. “Os chineses também se interessaram por isso e é interessante por uma questão de divulgação. Os pratos macaenses não podem ficar reféns da comunidade. Têm de ser divulgados e apreciados por Macau inteiro e só isso é que faz sentido para ser considerado património intangível.”

Cultura portuguesa presente

Além da confecção do Aluá, o IC decidiu incluir muitas manifestações que fazem parte da cultura portuguesa que permanece em Macau, como é o caso da confecção dos pastéis de nata ou o fabrico e pintura de azulejos portugueses.

Ao nível das manifestações ou celebrações religiosas, destaque para a inclusão do Arraial de São João, que todos os anos se realiza no bairro de São Lázaro por ocasião do 24 de Junho, Dia de São João Baptista. O IC decidiu também incluir outras manifestações da religião católica como é o caso da Procissão de Santo António, Procissão do Senhor Morte, Procissão do Senhor Roque, Festa de São Martinho ou Festa da Imaculada Conceição.

Ao nível dos espectáculos ou artes performativas, o IC incluiu também na lista as danças folclóricas portuguesas.

Amélia António, presidente da Casa de Portugal em Macau (CPM) é importante o destaque dado a estes elementos pois eles são a prova viva de um território culturalmente diverso. “É importante o reconhecimento do que é da cultura chinesa e outras culturas, em especial a portuguesa, por causa do tempo e do peso que teve na formação das características de Macau.”

A presidente da CPM destaca o facto de ser necessário “trabalho” para que estes elementos se possam manter vivos além da distinção feita pelo IC. No caso da CPM, há muito que promove cursos na área do artesanato a fim de manter vivas algumas das tradições portuguesas.

“As coisas devem ser promovidas e divulgadas e também ensinadas, que é aquilo que a CPM tem feito ao longo dos anos. Quando abrimos as nossas oficinas, incluindo as oficinas de cerâmica e de pintura de azulejo, foi uma das nossas preocupações, tal como a oficina de joalharia, uma coisa que é também bastante portuguesa”, rematou Amélia António.

No que diz respeito à cultura chinesa, foram incluídos elementos como as danças do dragão e do leão, o festival das lanternas e da Primavera, o festival dos barcos dragão (Tung Ng) e a regata dos barcos dragão, entre outras.

Na área do artesanato, de frisar a inclusão do fabrico de pivetes, a confecção de vestidos de casamento chineses, o fabrico de porcelana chinesa ou a confecção de pastelaria chinesa, entre outras iguarias.

1 Jul 2020

Filme “A metamorfose dos pássaros” de Catarina Vasconcelos premiado em Taiwan

[dropcap]O[/dropcap] filme “A metamorfose dos pássaros”, da realizadora portuguesa Catarina Vasconcelos, foi distinguido com o Prémio Especial do Júri do Festival de Cinema de Taipé, em Taiwan, anunciou hoje a agência Portugal Film.

“Depois de ter vencido o Prémio da Crítica Internacional – FIPRESCI, na Berlinale, onde teve a sua estreia mundial, e o Prémio de Melhor Filme no Festival de Vilnius, na Lituânia, a primeira longa-metragem da realizadora Catarina Vasconcelos vence hoje o Prémio Especial do Júri no Festival de Cinema de Taipé, o mais importante festival de cinema de Taiwan”, refere a Portugal Film, num comunicado hoje divulgado.

“A metamorfose dos pássaros”, a primeira longa-metragem de Catarina Vasconcelos, estava integrada na competição ‘New Talent’ (Novo Talento, em português), que inclui 12 filmes “que revelam novos cineastas”.

Catarina Vasconcelos, citada no comunicado da Portugal Film, recebeu “com enorme felicidade a notícia do Prémio Especial do Júri” do Festival de Cinema de Taipé, que começou na quinta-feira e termina em 07 de julho.

“Pensar que este filme tão pessoal chegou até Taipé já era uma enorme alegria. Mas talvez a maior alegria seja o perceber que não há fronteiras no pensamento da morte e das memórias”, afirmou.

Segundo a Portugal Film, “A metamorfose dos pássaros” já foi selecionado “para mais de 20 festivais internacionais, nos Estados Unidos, Rússia, Espanha, Grécia, Coreia, Canadá, Polónia, Brasil, México, Austrália, Itália, entre outros”. Além disso, “o filme também já foi vendido no território chinês, onde terá estreia comercial”.

Em Portugal, a primeira ‘longa’ de Catarina Vasconcelos será exibida no festival IndieLisboa, que decorre entre 25 de agosto e 05 de setembro, integrado na competição nacional.

Catarina Vasconcelos, 33 anos, demorou-se seis anos na criação deste filme, depois de ter feito a primeira curta-metragem, “Metáfora ou a tristeza virada do avesso” (2013), em contexto académico em Londres.

Os dois filmes aproximam-se em aspectos formais e temáticos e interligam-se porque Catarina Vasconcelos filmou a família, abordando a relação dos pais e a morte da mãe, na curta-metragem, e a história de amor dos avós e a morte da avó paterna – que nunca conheceu -, na longa-metragem.

“Eu queria que [o filme] fosse sobre esta família, mas que pudesse falar com outras pessoas. […] O tempo que ele demora é quase o tempo que eu demoro a conseguir sair de mim para chegar aos outros. Consegui libertar-me da minha família e do medo de inventar sobre eles, para poder inventar à vontade. Isso foi muito importante”, contou em entrevista à agência Lusa.

É por isso que Catarina Vasconcelos apresenta “A metamorfose dos pássaros” como um ‘documentário-ficção’, um filme que está no meio, um “híbrido de formas” baseado nas memórias das infâncias e juventudes da família e preenchido pela ficção.

Sobre este filme, Catarina Vasconcelos fala de “um processo altamente íntimo e pessoal”, na conjugação da montagem de som e imagem, devedora de uma relação que a realizadora tem com as artes plásticas e descrita como “uma coisa muito analógica, de bricolagem”.

Há planos que parecem pinturas ou fotografias animadas, composições visuais encenadas e metafóricas, cheias de simbolismos, sobre a passagem do tempo e sobre a omnipresença da natureza.

“Todo este lado que vem mais das artes plásticas foi muito importante e o filme não podia ter sido construído noutro sítio. Foram as soluções que encontrei para dar resposta a coisas que eu sentia”, explicou.

“A metamorfose dos pássaros” foi produzido por Pedro Duarte e Joana Gusmão, com apoio financeiro do Instituto do Cinema e do Audiovisual, da RTP e da Fundação Calouste Gulbenkian.

30 Jun 2020

Orquestra de Macau e Orquestra Chinesa de Macau regressam aos concertos

[dropcap]J[/dropcap]ulho é o mês que marca o regresso dos concertos da Orquestra de Macau (OM) e da Orquestra Chinesa de Macau (OCHM) depois da suspensão temporária motivada pela pandemia da covid-19.

Ainda assim, e segundo um comunicado do Instituto Cultural (IC), “alguns concertos foram cancelados dada a impossibilidade de deslocação a Macau de vários artistas devido à pandemia do novo tipo de coronavírus”.

A OM apresenta a 18 de Julho o concerto temático “Expresso Clássico – De Volta à Diversão”, no âmbito do Programa Audiência Jovem da OM, que promete levar o público mais jovem “numa viagem divertida e interactiva ao paraíso da música clássica”. No dia 11 é a vez da OCHM realizar, em colaboração com o Centro de Ciência de Macau, uma actividade de extensão do concerto “Varinha Mágica Musical”, durante a qual o público poderá explorar o Centro de Ciência ao som de música chinesa.

A Orquestra realizará ainda o concerto “Uma Noite de Clássicos da Música Chinesa” no Centro Cultural de Macau, no dia 26 de Julho, apresentando um programa de obras-primas da música chinesa, incluindo “A Emboscada de Todos os Lados” e “Alegria do Festival da Água”. Todos os eventos têm entrada livre.

Concertos ao ar-livre

Além disso, ambas as orquestras participam nos “Espectáculos no âmbito da Excursão Cultural Profunda na zona do Porto Interior e pela Taipa” durante o mês de Julho. A OM apresentará concertos nas Casas da Taipa e na Feira do Carmo, na Taipa, e a OCHM actuará no Largo do Pagode da Barra, na Península de Macau.

Os concertos cancelados são “Música para Dançar” (11 de Julho), “Sopros Magníficos” (18 de Julho) e “Concerto de Encerramento da Temporada 2019-20 – Concertos para Piano de Beethoven por Rudolf Buchbinder” (24 e 25 de Julho) pela Orquestra de Macau. Fica também cancelado o “Concerto de Encerramento da Temporada 2019-2020: Dança ao Som de Melodias Pitorescas” (26 de Julho) pela Orquestra Chinesa de Macau. Para pedir o reembolso dos bilhetes o contacto deverá ser feito junto da Bilheteira Online de Macau até 30 de Setembro.

30 Jun 2020

Cinema | IC desconhece pormenores sobre ‘Hollywood’ do Oriente

O Instituto Cultural disse à Lusa desconhecer os pormenores sobre um novo projecto que quer transformar Macau na sede internacional da “Hollywood do Oriente”. A iniciativa, intitulada Mollywood, é co-patrocinada por artistas chineses da indústria, incluindo Jackie Chan

 

[dropcap]“O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) não possui informações pormenorizadas sobre o programa em questão”, apontou, em resposta à agência Lusa, o organismo dirigido por Mok Ian Ian em relação ao projecto que pretende transformar Macau na Hollywood do Oriente.

Ainda assim, o IC frisou estar “muito entusiasmado com a existência de projectos culturais em diferentes áreas, favorecendo a formação de diferentes tipos de talentos culturais e o desenvolvimento do mercado, e desempenhando um determinado papel na promoção do desenvolvimento das indústrias culturais e criativas locais”.

O projecto foi anunciado na semana passada em Langfang, China, e é copatrocinado por mais de 100 artistas da indústria chinesa de entretenimento do cinema e da televisão, entre eles o actor Jackie Chan.

O objectivo é seguir o modelo norte-americano de Hollywood e indiano de Bollywood, desta feita para reforçar a competitividade internacional daquele que é “o segundo maior mercado de filmes do mundo”, a China, anunciou o líder do grupo que quer liderar o investimento, Wang Haige.

Baía de filmes

O projecto, ‘baptizado’ de Mollywood, será “incorporado a outro ‘cluster’ da indústria cultural com o valor de centenas de mil milhões de dólares no futuro para o desenvolvimento diversificado de Macau”, pode ler-se numa nota publicada na Business Wire, uma empresa norte-americana que opera no negócio de distribuição de informação comercial. Importa referir que o termo já existia para designar a indústria cinematográfica indiana do sul do Estado de Kerala.

O Presidente do Mollywood Group, Wang Haige, sublinhou que o facto de a empresa estar registada em Hengqin e fixar a sua sede internacional em Macau lhe permite beneficiar das “vantagens de recursos dos dois locais, tanto para o mercado doméstico quanto para o mercado internacional”.

Por outro lado, afirmou que o projecto abrange campos como produção e distribuição de filmes e televisão, indústria da música, inteligência artificial, ‘marketing’ e publicidade de entretenimento, ‘e-commerce’, exposições criativas, entretenimento de moda e formação de talentos.

30 Jun 2020

Festival de música “Hush!!” começa dia 4 nas Oficinas Navais

[dropcap]A[/dropcap] edição deste ano do festival de música “Hush!! Concertos de Verão 2020” arranca a 4 de Julho no Centro de Arte Contemporânea de Macau – Oficinas Navais Nº2, espectáculos que se prolongam até ao dia seguinte e regressam nos dias 11 e 12 de Julho.

O espectáculo “MV & Eu” inclui cantores que lançaram os seus próprios videoclipes, enquanto que o “Nova Onda Musical” gira em torno dos trabalhos produzidos no âmbito do Programa de Subsídios para a Produção de Álbuns de Música Originais, enquanto o “Duendes Cantores no Teatro – Concerto de Canções de Musicais” parte das composições mais conhecidas do popular género teatral.

Alguns dos musicais apresentados são “22.° Latitude Norte”, pela Associação de Representação Teatral Hiu Koc, “Adeus e Vida Moderna dos Peixes”, pela Associação de Teatro Long Fung, “Motorista de Autocarro” pelo Teatro de Lavradores, “Dreamers Go! Go!” pela Associação de Teatro Sonhoso, “Viagem através de Musicais” de Jordan Cheng e “Eu Sou Um Cantor” pelo The Dancer Studio Macau.

Os interessados podem registar-se para estes espectáculos a partir das 10h do dia 30 de Junho, sendo que os lugares disponíveis para cada concerto são limitadas, sendo distribuídos por ordem de inscrição. Um total de 50 cantores, bandas e outros artistas farão as suas apresentações em outros locais como a praça do Centro de Ciência de Macau, o Terraço da Ponte 9 e o Largo do Senado.

Música e cinema

O festival tem este ano uma extensão junto ao Centro de Ciência. A “Hush!! X Feira das Indústrias Criativas”, está marcada para os dias 18 e 19 de Julho entre as 15h e 21h. Neste local apresenta-se “uma variedade de géneros musicais, como jazz, folclore, música electrónica e pop, permitindo ao público desfrutar de música enquanto assiste ao pôr-do-sol”.

Além disso, “serão também montadas cerca de 100 tendas durante o evento, vendendo uma variedade de produtos criativos e artesanais locais, petiscos e produtos da marca ‘Hush!’”.

No Terraço da Ponte 9 acontece, a 25 de Julho, entre as 18h e as 22h, o “Concerto no Terraço ao Pôr-do-Sol”, onde várias bandas farão apresentações musicais tendo como cenário os pitorescos bairros antigos do Porto Interior e da costa de Wanzai, em Zhuhai. No dia 2 de Agosto, várias bandas locais apresentarão o concerto de música pop “Hot Wave na Cidade”, no Largo do Senado.

Neste concerto participam bandas, músicos e djs como Single Path, Rebel Rabbit, Amulets, FIDA, Kenny Chit, Gracy Lam, Germano Ku, Sean Pang, B_Gei3, Forget the G, Blademark, Flashlight, GAG TOO MORE, Soulomix, Covenant, Peach Punk, João Jazzin’ Samba, SKETCH, Dr. Jen, Hoi Hou Hong, Loiz.P, Hon Chong Chan Jazz Trio, HERBS, Iron Son, 80 e tal, # FFFF99 Champagne Yellow, Achun, Dat Trio, A Little Salt, Why Oceans, akitsugu fukushima, Burnie, Avidya, Chapter 2, Free Yoga Mats, Scamper, Ariclan e LAVY. A edição deste ano do “Hush!!” Inclui ainda o concurso de curtas-metragens “Hush!! 300 Segundos”, com inscrições abertas até ao dia 27 de Julho.

29 Jun 2020

IFFAM | Novo filme de Maxim Bessmertny no Mercado de Filmes de Cannes

O novo filme de Maxim Bessmertny, “Foreign Cop”, foi a produção escolhida pela direcção do Festival Internacional de Cinema de Macau para participar na iniciativa online “Fantastic 7”, no âmbito do Mercado de Filmes de Cannes, que terminou na sexta-feira

 

[dropcap]E[/dropcap]ntre os dias 22 e 26 de Junho um filme de Macau foi o escolhido para integrar uma plataforma online que serve de comunicação entre realizadores, produtores e potenciais investidores. A plataforma “Fantastic 7” surgiu no âmbito do Mercado de Filmes de Cannes, para a qual foram seleccionados sete projectos do género fantástico, escolhidos por sete festivais internacionais de cinema.

A direcção do Festival Internacional de Cinema de Macau (IFFAM, na sigla inglesa) escolheu a nova produção de Maxim Bessmertny e Jorge Santos, intitulada “Foreign Cop”. Segundo um comunicado do IFFAM, a obra de Bessmertny e outros seis filmes foram apresentados numa sessão para a procura de investidores a 24 de Junho. Na sexta-feira, realizaram-se reuniões entre membros do júri, profissionais interessados nos projectos e os realizadores das películas.

O filme de Maxim Bessmertny, que ainda se encontra em fase de produção, passa-se em Macau na década de 80. A história passa-se, portanto, num ambiente em que “gangsters, dançarinas de cabaret e slot machines co-existiam numa empolgante atmosfera de luzes néon, arquitectura kitsch e produtos de electrónicos antigos”.

Tudo começa quando um investigador privado, Mendonza, chega à cidade vindo de Portugal para “apanhar os ladrões que se atreveram a fazer o maior roubo a um casino de que há memória na cidade, matando brutalmente um leal funcionário do recinto de jogo”.

Um thriller “fascinante”

A organização do Mercado de Filmes de Cannes destacou o facto de a curta-metragem de Maxim Bessmertny, intitulada “O Ladrão de Bicicletas”, ter sido seleccionada para o programa de curtas-metragens do Festival Internacional de Cinema de Toronto em 2014. “Acreditamos que ‘Foregin Cop’ tem potencial para ser um thriller criminal fascinante”, acrescentam os organizadores.

Para a edição deste ano do Mercado de Filmes de Cannes os organizadores prepararam exibições, eventos de mercado e bolsas de contactos. Desta forma, distribuidores de cinema de todo mundo participaram nas reuniões e muitos trabalhos cinematográficos tiveram uma oportunidade de promoção junto de potenciais investidores.

Além do IFFAM, participaram no “Fantastic 7” deste ano o Sitges – Festival Internacional de Cinema Fantástico da Catalunha, o Festival Internacional de Cinema Fantástico de Bucheon, o Festival Internacional de Cinema do Cairo, o Festival Internacional de Cinema de Guadalajara, o Festival de Cinema “SXSW South by Southwest” e o Festival Internacional de Cinema de Toronto.

29 Jun 2020

Livro | Macaenses na diáspora sentem-se mais afastados da sua gastronomia

“The Making of Macau’s Fusion Cuisine – From Family Table to World Stage” é o mais recente livro de Annabel Jackson sobre culinária macaense que analisa não só a relação dos macaenses, dentro e fora de Macau, com a sua comida, mas as influências de Malaca nas receitas. Uma das conclusões é que o macaense que vive em Macau sente-se mais próximo da sua gastronomia, do que reside em Hong Kong ou na diáspora

 

[dropcap]C[/dropcap]om o apoio do Instituto de Estudos Europeus de Macau e outras entidades, Annabel Jackson acaba de lançar um novo livro sobre gastronomia macaense intitulado “The Making of Macau’s Fusion Cuisine – From Family Table to World Stage”, uma edição da Hong Kong University Press. A obra resulta de inquéritos à comunidade macaense, dentro e fora de Macau, a partir de 2017, e de trabalho de campo efectuado em Malaca.

Numa obra que olha para a relação dos macaenses com a sua comida, é argumentado que quanto mais a comunidade está longe de Macau, menos relação tem com a gastronomia macaense.

Os dados revelam que, na diáspora, apenas 65 por cento dos inquiridos considera a gastronomia macaense importante para a sua identidade cultural, e apenas 42 por cento comem pratos macaenses, pelo menos, uma vez por semana. A autora considera que os dados sobre a comunidade macaense em Hong Kong “são relativamente semelhantes”.

Na diáspora, sem incluir Hong Kong, 61 por cento afirmou que a comida macaense é a sua favorita, enquanto que em Hong Kong 57 por cento mostraram a mesma predilecção.

Em Macau, os números são bem mais expressivos. 75 por cento dos macaenses que vivem na RAEM dizem que a comida macaense é a sua favorita, a mesma percentagem dos que afirmam que a gastronomia macaense é importante para a sua identidade cultural.

Deste universo de residentes na RAEM, também 75 por cento não dispensam a culinária macaense, pelo menos, uma vez por semana, e quase 50 por cento afirma deliciam-se diariamente.

Ao HM, Annabel Jackson diz que um dos factores que justificam estes números prende-se com o facto de, em Macau, ser muito mais fácil aceder a comida macaense fora de casa. “Se se quiser comer comida macaense pode-se facilmente ir a um local, encomendar e levar para casa, como por exemplo no [restaurante] Riquexó, mas em Hong Kong é praticamente impossível arranjar comida macaense. Há no Club Lusitano, mas é preciso ser membro.”

Para desfrutar desta faceta da cultura macaenses fora de Macau é preciso cozinhar em casa, além do facto de, em Hong Kong, “a comida cantonense se ter tornado muito comum e barata, com [a existência] de bons restaurantes]”, acrescentou.

Annabel Jackson diz que não está em causa o difícil acesso aos ingredientes típicos, “por serem muito semelhantes aos que se encontram em Macau”, mas há diferenças em termos de identidade cultural. A autora entende que quem nasce em Macau sente-se mais próximo da sua comunidade do, por exemplo, quem nasce em Hong Kong ou mesmo na diáspora.

Importância lá fora

Apesar de apenas 65 por cento ter respondido que a gastronomia macaense é importante para a identidade cultural, Annabel Jackson denota grande ligação afectiva de quem vive no estrangeiro aos pratos macaenses.

“O que mais me surpreendeu foi a forma como a comida é importante na diáspora. E mesmo que comam apenas uma vez por ano, é fundamental para a sua identidade. Não é apenas o acto de comer, mas a memória da comida, o significado.”

E aqui o minchi surge como o prato icónico, mesmo que seja comido apenas em dias de festa. “As pessoas falam sempre no minchi, que se tornou num símbolo de Macau. Há pratos que são como lugares, nunca pensei que houvesse esse sentimento em relação à comida”, frisou a autora.

Neste sentido, as Casas de Macau no mundo desempenham um papel de preservação e construção do elo com a gastronomia macaense. Para Annabel Jackson, estas associações “têm feito um trabalho incrível”.

Da mesa para os hotéis

Annabel Jackson, que começou a escrever sobre a gastronomia macaense nos anos 90 e residiu em Hong Kong, recorda que hoje é possível encontrar mais restaurantes de comida macaense e até alguns pratos nos menus dos hotéis. Exemplos que demonstram que é uma gastronomia que consegue sair do lugar exclusivo que ocupava nas mesas familiares.

“Hoje podemos encontrar várias pesquisas sobre a comida macaense. Quando lancei o meu primeiro livro, em 1994, foi a primeira vez que se escreveu sobre esta gastronomia. Mas agora, há todo o tipo de programas de televisão, embora seja uma cozinha de nicho. É uma gastronomia mais falada.”

O título “From Family Table to World Stage” é também um reflexo dessa mudança. “Quando comecei a fazer pesquisa para o meu livro de 1994, havia apenas um restaurante. [Esta gastronomia] passou de algo que as famílias macaenses cozinhavam em casa, ou que se encontrava em alguns restaurantes em Macau, para uma cozinha que se encontra em hotéis de cinco estrelas de grupos internacionais”, apontou a autora.

Ainda sobre o título da obra, Annabel Jackson confessou não estar completamente à vontade com o mesmo, por ainda não ter certezas sobre o que verdadeiramente significa o termo comida de fusão.

“O conceito de comida de fusão é algo complicado. Uma cozinha pode ir mudando ao longo dos tempos devido às circunstâncias ou percepções das mudanças dos tempos. Não gosto do termo de fusão, porque é um termo muito moderno. Em Los Angeles e Londres, nos anos 80 e 90, tornou-se uma tendência.”

Nesse sentido, “não acho que o termo [de cozinha de fusão] dê grande ajuda, sobretudo no caso de Macau”, referiu. “O. conceito de fusão sugere que é comida com qualquer coisa, e sugere que foi algo da comida portuguesa que se fundiu com algo. E os portugueses estiveram em sítios como Malaca. Estou certa de que poderemos encontrar cozinhas semelhantes na América do Sul, por exemplo. A UNESCO disse que era uma das primeiras cozinhas de fusão, mas na verdade não sei o que significa esse termo”, explicou Jackson.

As influências

O debate em torno da possibilidade de a comida macaense ser muito mais do que a fusão da comida portuguesa com a chinesa é longe e controversa. Nesta obra, Annabel Jackson descreve as influências da comunidade Kristang, em Malaca, na comida macaense, fruto de um trabalho de campo realizado em 2018.

Além dos ingredientes, parece haver uma influência forte no nome de alguns pratos.
“A maioria dos pratos macaenses descendem de Malaca e se olharmos para alguns pratos de Malaca, da comunidade Kristang, são quase idênticos, à excepção de que em Malaca adicionam alguns picantes. As comidas macaenses parecem ser mais naturais e menos picantes”, descreve Jackson.
Um dos exemplos é o uso de uma pasta de peixe fermentado que está associada a territórios como Indonésia e Malásia. “Durante o período português em Malaca foi criado um novo molho de camarão fermentado, conhecido como cincaluk. Parece que o macaense balichão é uma espécie de versão do cincaluk; o balichão também aparece em Goa com nomes semelhantes, como ballchow ou balchao”, lê-se na obra.

Annabel Jackson escreve ainda que o balichão, através de Macau, “terá tido a inspiração do condimento de peixe fermentado cantonense [yulu 魚露 ]”.

A cozinha cantonense acabou por influenciar a macaense ao longo de todo o século XX, com “algumas adaptações” como, por exemplo, o Merenda Man, o homem que vendia snacks macaenses, como chilicotes, à comunidade macaense de Hong Kong. Apesar de muitas mulheres de empresários terem levado receitas para o território vizinho, à medida que os anos passaram “os snacks [macaenses] tornaram-se mais ‘cantoneses’ com o uso de ingredientes locais baratos”.

Annabel Jackson dá conta que “algumas das coisas que os portugueses mais adoram, como batatas, cebolas e frango, já existiam muito [na altura] e não era difícil replicar a comida portuguesa em Macau. Mesmo que os sabores fossem diferentes. Mas o que o livro diz é que quando os portugueses chegaram a Malaca já tinham os seus próprios pratos de fusão”, frisou.

Falhas de comunicação

O livro de Annabel Jackson faz também uma referência ao facto de a culinária macaense ser “invisível”, uma vez que a autora considera que há um problema na forma como é transmitida ao público.

“Um turista encontra restaurantes macaenses e há comida macaense nos hotéis, mas existe um problema de comunicação. Fiz alguma análise aos menus dos hotéis e têm pratos locais, mas muitas vezes o que é macaense é chamado de português, ou vice-versa, ou então não existem pratos macaenses de todo, e esse é o problema.”

“É quase impossível para um visitante saber com toda a certeza se está a comer um prato macaense, português ou do sudeste asiático. Por isso digo que a comida macaense é invisível, pela forma como é comunicada.”

Neste sentido, Annabel Jackson defende a criação de um organismo na Direcção de Serviços de Turismo (DST) responsável pela gestão da gastronomia macaense. “Seria frustrante se isso não acontecesse, e agora que Macau é cidade gastronómica da UNESCO gostaria de ver algo mais sistematizado, sem diferentes interpretações, mais centralizado”, rematou.

26 Jun 2020

Livros | Antologia de poemas “Rio das Pérolas” apresentada hoje na Casa de Vidro 

São 24 autores a escreverem sobre a beleza e a singularidade do Delta do Rio das Pérolas. O coordenador da obra, e também poeta, António MR Martins partiu dos contactos já feitos aquando da sua participação no festival literário Rota das Letras e desenvolveu uma antologia poética que se insere no programa oficial das comemorações do 10 de Junho

 

[dropcap]A[/dropcap] imagem da capa é de Erik Fok, os autores são de Macau, por cá passaram ou por cá viveram e alguns ainda vivem. O pequeno território à beira do Delta do Rio das Pérolas plantado é o elo de ligação dos 24 poetas que se dedicaram a escrever sobre o território chinês onde também se fala português, inglês e tantas outras línguas e onde várias culturas se reúnem.

“Rio das Pérolas”, com coordenação do poeta português António MR Martins e edição da Ipsis Verbis, é uma antologia de poesia apresentada hoje na Casa de Vidro do Tap Seac e que se insere nas comemorações oficiais do 10 de Junho – Dia de Portugal, Camões e das Comunidades Portuguesas.

António MR Martins, autor de cinco poemas que compõem esta obra, fala ao HM de um livro que “ficou bonito” e que começou a ser pensado depois da sua participação no festival literário Rota das Letras, em 2016. “Comecei a consultar pessoas e houve adesão. A maior parte das pessoas começaram a apresentar os seus trabalhos, consoante aquilo que fui pedindo. Entretanto, deu-se a covid-19 e atrasou um pouco tudo.”

Neste livro “que é até acima da média em termos poéticos”, participam autores como Carlos Morais José, também director do HM, Ana Cristina Alves, António Graça de Abreu, Fernanda Dias e Fernando Sales Lopes, entre outros. Há também autores brasileiros como Natalia Borges Polesso ou Sellma Luanny, bem como autores de outros países de língua portuguesa, como é o caso de Deusa D’África ou Hirondia Joshua. A ideia, desde o início, era “escrever sobre Macau”. “O que está no livro é Macau, ou é algo sentido em Macau. E mesmo que não seja sobre Macau, foi aqui escrito.”

Era também fundamental que o livro fosse escrito em português. “Há autores que estiveram cá 30 anos, antes da transferência, há autores que estiveram cá na altura da passagem, que estiveram cá a relatar esses factos para a imprensa e para a televisão. Autores que estiveram também na rádio. Há a Macau descrita por pessoas que estiveram cá nos anos 80, anos 90 e a história dos autores de hoje. Toda essa panóplia de conhecimentos tem interesse para as pessoas que vão ler o livro”, apontou António MR Martins.

O “Rio das Pérolas” contém, portanto, poemas de autores que “encontraram no mito, nas lendas, situações para protagonizarem a sua escrita poética”, como é o caso de António Graça de Abreu, tradutor de poesia chinesa e, ele próprio, poeta. “É muito interessante na mistura escrita”, apontou o coordenador do livro.

Depósito de memórias

António MR Martins assume não conseguir escolher um ou vários poemas preferidos desta obra, porque, desde o início que “nunca se colocou nessa posição”. “Os poemas eram enviados, lia o poema para ver se estava tudo em condições, falava com as pessoas se houvesse algum problema. Este livro ainda não o li como leitor”, acrescentou.

Na obra, o coordenador de “O Rio das Pérolas” fala de um “significado emblemático e um valor enorme”, por serem “águas que encerram sentidos a oriente e englobam inúmeras histórias de milhões de pessoas, entre o imaginário e a realidade, muitas vezes míticas”.

No prefácio, Ana Paula Dias, doutorada em Educação e Interculturalidade e com formação em Estudos Portugueses, escreveu que esta antologia está radicada “nas memórias individuais e colectivas de um património comum de vivências” e nela “emergem ecos do cruzamento civilizacional com que os poetas aqui representados, portugueses ou de expressão poética em língua portuguesa, coabitam no quotidiano de Macau”.

Depois de ter coordenado uma antologia de poemas traduzidos para a língua romena, e também outra colectânea de poemas, António MR Martins diz ter o sonho de publicar um segundo volume de “O Rio das Pérolas”. “Pode ser que um dia aconteça um sonho louco, com mais autores que tenham interagido com o território”, rematou.

24 Jun 2020

Semana da Cultura Chinesa | Cinco dias, sete livros

A Semana da Cultura Chinesa chegou ao fim. Durante cinco dias o espaço da Fundação Rui Cunha encheu-se de portugueses, chineses, macaenses e de muitos outros cidadãos de várias nacionalidades, retratando no fundo aquilo que foi, e continua a ser, esta Cidade do Nome de Deus de Macau
NA PRIMEIRA PESSOA

Carlos Morais José

“Este é um primeiro passo. Quero mostrar à comunidade chinesa que os portugueses se interessam pela sua cultura, que não estamos aqui fechados na nossa própria bolha. A comunidade portuguesa de Macau tem o dever de tentar que haja um maior entendimento da China e da cultura chinesa. Estes livros ajudam muito, não só em extensão, como em profundidade, a compreender a mente chinesa. As pessoas vivem um bocado de ‘slogans’ e de lugares comuns. É muito importante compreender a China hoje, até porque existem muitos mal-entendidos em relação à cultura chinesa”.

Rui Cunha, presidente da FRC

“Acho extremamente importante e é um trabalho difícil. Não é só uma questão de tradução, mas também de apanhar bem o sentido para que outra mentalidade possa compreender. É um trabalho importante porque nos dá a conhecer o que esta tradição milenar da China fez ao longo de séculos e os seus princípios, que se espalharam pelo mundo”.

Anabela Ritchie, ex-presidente da Assembleia Legislativa

“É uma iniciativa muito louvável e com muito para ensinar a todos os que somos ou vivemos em Macau. É um evento muito interessante porque é dedicado a temas como o pensamento chinês, a cultura, a arte; temas imensos, muito ricos e profundos”.

José Luís Sales Marques, presidente do Instituto de Estudos Europeus

“É da máxima importância conhecer o pensamento e a forma de estar na vida dos chineses e da China, para não cair em lugares comuns. Este é o meio em que vivemos e para muitos de nós é onde passamos a vida toda. Portanto, é fundamental, e agora falando como alguém que está cá há muitos anos, para podermos ser úteis na sociedade em que vivemos e para não cairmos depois em lugares comuns, o que é muito perigoso”.

Amélia António, presidente da Casa de Portugal em Macau

“É importante a tradução das obras por não haver muito acesso à cultura chinesa a não ser através do que se ouve e do que se diz. Não há um trabalho mais profundo em obras que espelhem de forma global diferentes áreas do pensamento chinês e, nessa medida, penso ser extremamente importante. Há traduções em francês ou inglês, mas não é a mesma coisa que ler na nossa língua. Dá-nos outra capacidade de pensar sobre elas. Estamos de parabéns”.

Luís Ortet, jornalista e editor

“A publicação das obras é da maior importância, pois existe sempre a tentação de fazer uma leitura ocidental do Confúcio. Os chineses têm uma lógica própria e temos de dar atenção a isso, pois dão mais importância aos deveres do que aos direitos. A nossa cultura ocidental é baseada nos direitos. É preciso ter a coragem de ouvir, já que a diferença que existe em termos culturais e civilizacionais é grande e qualquer tentativa de suavizar isso é fugir à conversa”.

Frederico Rato, advogado

Sobre “As Leis da Guerra”: “É um livro que dá gosto de ler e é pioneiro relativamente à guerra, porque aborda as questões tácticas e estratégicas, mas que vai mais além: alcança as regras da filosofia, da convivência social e a postura ética e moral face às sociedades que usam a guerra e que também sofrem com essa guerra”.

É uma iniciativa altamente dignificante e simpática e um bom indicador da recuperação cultural que sempre houve relativamente a esta coexistência entre portugueses e chineses há mais de 450 anos. A atracção recíproca dos portugueses pela cultura chinesa e dos chineses pela cultura portuguesa cada vez está a aumentar mais e a estender-se. Esta iniciativa enquadra-se nesta expectativa”.

Shee Va, médico e escritor

“O livro é um entendimento daquilo que se chama o património cultural chinês, e é importante para o Ocidente. Esta obra existe em língua inglesa desde 1880, portanto estamos atrasados em relação à obra em língua portuguesa, mas mais vale tarde do que nunca.”

Leong Iok Fai, presidente da Associação de Pintores e Calígrafos Macau Oriental

“Primeiro temos de aprender sobre a pintura chinesa, só assim podemos apreciá-la. Como o povo dizia há 1000 anos: a pintura só pode ser entendida, não pode ser descrita. Os pintores mencionados nos dois livros são muito antigos, poucas pessoas os investigam, por isso é significativo divulgar estes pintores no exterior. É magnífico: hoje em dia quem quer apreciar ou analisar pinturas chinesas, tem de o fazer segundo os princípios da sua teoria”.

 

22 Jun 2020

Semana da Cultura Chinesa | Médico e escritor Shee Va apresentou “Divino Panorama – Um Inferno Chinês”

A Fundação Rui Cunha voltou ontem a ser palco de mais uma sessão da Semana da Cultura Chinesa, um evento promovido pelo HM e pela editora Livros do Meio. Desta vez foi apresentado o livro “Divino Panorama – Um Inferno Chinês”, uma compilação de textos clássicos que nos remetem para a ligação entre os seres humanos, os seus actos em vida e a existência mitológica de múltiplos infernos

 
“Isto é um tormento. Vão-se deliciar a olhar para isto, os que são mais sádicos. É bom atormentarem-se um bocado.” Foi desta forma que Shee Va, médico e escritor, descreveu o livro “Divino Panorama – Um Inferno Chinês” ontem lançado na Fundação Rui Cunha (FRC).

Trata-se da primeira tradução para português a partir de um original inglês, escrito pelo sinólogo e ex-diplomata britânico na China Herbert Allen Giles. Esta obra de Giles tem como referência textos clássicos com influências do budismo, taoísmo e confucionismo, os quais estão traduzidos para inglês desde 1880.

O livro “é um entendimento daquilo que se chama o património cultural chinês, e é importante para o Ocidente”, disse ao Hoje Macau Shee Va, médico e escritor. “Esta obra existe em língua inglesa desde 1880, portanto estamos atrasados em relação à obra em língua portuguesa, mas mais vale tarde do que nunca.”

Apesar de estarmos perante escritos clássicos, a verdade é que eles foram sendo transmitidos e ensinados às populações ao longo dos séculos, pelo que ainda hoje se reflectem nas acções das pessoas, existindo um eterno conflito entre fazer o bem e escapar do mal. “Pode-se ver na forma de pensar, agir ou em determinados rituais”, apontou.

“As pessoas comportam-se de modo a não serem más, para não serem castigadas no inferno. Por isso é que isto vai moldar o comportamento das pessoas, e é importante ver como actuam face ao mal que lhes pode acontecer”, explicou Shee Va.

Nesse sentido, o uso do termo “um inferno” logo no título é o reflexo de que poderão existir vários infernos. “Provavelmente não existe um inferno chinês. Haverá mais? É possível que sim. Em relação à tradição chinesa, pelo que se diz, há vários infernos. Isto porque as coisas se foram perdendo ou acrescentando com a tradição e é diferente daquilo que imaginamos. É como quando pensamos, do lado ocidental, o que há no inferno, na tradição helénica ou na tradição católica, são infernos diferentes. Aqui acontece a mesma coisa.” Segundo a lenda, o inferno chinês situa-se no Monte Taishan, em Shandong.

Shee Va frisou ainda, ao HM, que, “no fim de contas, muitos destes infernos que foram surgindo e modificados por alterações políticas ou religiosas tinham como fim educar o povo conforme os cânones da época”.

Os 18 andares

Tendo falado de uma referência em relação a um inferno com 10 tribunais, onde os juízes decidem a libertação das almas, Shee Va contou uma história mitológica que é sempre contada às crianças chinesas: a existência de um inferno com 18 andares, e que explica o pluralismo deste conceito.

“Nós, chineses, desde pequenos que ouvimos dizer ‘este criminoso merecia ir para um inferno de 18 andares!’. Então, há um inferno de 18 andares ou com 10 tribunais? Daí considerar que o título do livro está bem escolhido”, apontou na sua apresentação.

Assumindo o seu lado de cultura ocidental, Shee Va confessou que esta questão do inferno presente no livro o faz lembrar “A Divina Comédia”, de Dante. E abordou a forma como ocidentais e orientais olham para os temas da morte, vida, inferno e salvação das almas.

“O inferno de Dante também tem vários andares. Será que há esse paralelismo, em que polos diferentes vão ter a mesma noção de inferno? Este inferno tem uma existência longuíssima desde o aparecimento do Homem. É um escape psicológico, religioso desde que o Homem existe. Quando olhamos para os castigos de que se fala normalmente eles estão relacionados com o mal praticado”, adiantou.

Shee Va não deixou de fazer uma referência à capa da obra, por ser colorida, o que remete para uma reflexão sobre a questão do inferno. Carlos Morais José, director do jornal Hoje Macau, que promove a Semana da Cultura Chinesa, referiu que esta obra “pode ajudar as pessoas a comportarem-se para não terem de sofrer”, ironizou.

A Semana da Cultura Chinesa, na Fundação Rui Cunha, chega ao fim esta sexta-feira com o lançamento do livro “Balada do Mundo”, de Li He, com apresentação de Yao Jingming.

19 Jun 2020

Música | Festival “Hush!” começa no domingo e dura até Agosto 

[dropcap]C[/dropcap]omeça no domingo, dia 21, mais uma edição do festival “Hush!! Concertos de Verão 2020”, organizado pelo Instituto Cultural (IC) em colaboração com o Instituto para os Assuntos Municipais (IAM).

Até Agosto o público poderá assistir a uma série de eventos musicais realizados online e em diferentes zonas da cidade, além de poder participar em vários workshops de música e num Concurso de Curtas-Metragens “HUSH!! 300 segundos”. O primeiro concerto “Dia da Música Online” será transmitido já este domingo através da página “HUSH Full Music” no Facebook(www.facebook.com/hushfullmusic) entre as 15h e as 18h.

No mesmo dia acontece também o evento “Fête de la Musique” (Festa da Música), no âmbito da qual serão realizados eventos musicais gratuitos em mais de 430 cidades de 110 países, difundindo o espírito da música por toda parte. Estreando-se na transmissão online, HUSH!! contará com a participação de músicos de Hong Kong, Interior da China e Macau, incluindo Jun Kung, Ghostly Park, Eva & Sin, Catalyser, Worktone String Quartet e ASURA.

Além dos concertos, o festival inclui quatro workshops que terão lugar no Centro de Arte Contemporânea de Macau – Oficinas Navais, n.º 2. São eles “Workshop de Percussão de Música do Mundo – Aprender Asalato e Handpan” (4 de Julho); “O Que as Letras Podem Dizer Além de Amor? – Joe Lei Fala Sobre Criação de Letras” (5 de Julho); “Workshop de Canto de Metal Growl” (10 de Julho) e “Experimente a Produção de Música Electrónica” (12 de Julho).

A edição deste ano do festival volta a apresentar também o concurso de curtas metragens “HUSH!! 300 Segundos”, com inscrições disponíveis entre hoje e 27 de Julho. A cerimónia de entrega dos prémios está marcada para o dia 2 de Agosto.

18 Jun 2020