FRC | Palestra discute importância da estética no ambiente ideal para o estudo

Fong Lin Wa, presidente da Câmara de Comércio de Móveis e Antiguidades de Macau, vai ser o orador do evento que tem como tema a importância da estética na criação da sala de estudo ideal. A palestra está marcada para sexta-feira, às 18h30, na Fundação Rui Cunha

 

[dropcap]O[/dropcap]papel da estética na criação da sala de estudo como um lar e a importância para a reflexão de uma classe intelectual são os temas em discussão na Fundação Rui Cunha, na sexta-feira às 18h30. O evento co-organizado pela Câmara de Comércio de Móveis e Antiguidades de Macau será apresentado em cantonês com interpretação simultânea para inglês, e vai ter como principal orador o presidente Fong Lin Wa.

Com o tema “Elegância dos Literatos I – Introdução aos Objectos de Madeira da Classe Intelectual”, Fong Lin Wa vai partilhar a história de quatro objectos raros feitos de madeira de sândalo vermelho e como estes foram importantes na constituição de um ambiente propício à reflexão de antigos estudiosos. Os objectos em causa são uma caixa e capa embelezada, um suporte para tinta, uma mesa e ainda um ceptro Ruyi de madeira esculpida.

Não só de palavras vai viver a palestra que promete cativar outros sentidos, como o tacto. Assim sendo, os participantes vão ter a oportunidade para tocar nos objectos e sentirem a textura da madeira de sândalo vermelho, matéria-prima originária da Índia e que ao longo da história foi muito utilizada na escultura, principalmente em móveis, mas também em representações religiosas ligadas ao hinduísmo.
Além dos objectos, a palestra vai abordar a ligação com os intelectuais na criação de um ambiente propício ao estudo. “Uma sala de estudo antiga não seria apenas um espaço físico destinado ao trabalho e produção intelectual, mas também uma habitação espiritual de antigos letrados chineses, tendo como lema ‘lar é onde está o coração’, tal como ecoa na reflexão poética de Su Dongbo”, é explicado no comunicado sobre o evento.

Dongbo viveu entre 1037 e 1101, e é considerado um dos pensadores mais influentes da Dinastia Song. Além da influência a nível do pensamento político, afirmou-se como homem das artes, com trabalhos de caligrafia, pintura, poesia, e até gastronomia e farmacologia.
Ao longo da palestra vai também ser abordado o contexto das “tradicionais salas de estudo, repletas de peças de arte de refinada elegância”, ao mesmo tempo que vai traçar-se um perfil sobre “o gosto estético desta classe de eruditos”.

Mercado de arte

A palestra de sexta-feira resulta de um esforço conjunto entre a Fundação Rui Cunha e a Câmara do Comércio de Móveis e Antiguidades de Macau, uma associação sem fins lucrativos que tem como objectivo “incentivar o desenvolvimento do mercado de arte antiga em Macau”, ao mesmo tempo que tenta promover “a cultura artística chinesa” e reforçar a “comunicação e o profissionalismo” da indústria.
Fong Lin Wa é o actual presidente da associação e ao mesmo tempo o CEO da empresa Old House Gallery, que fundou em 1993 e se dedica à venda de materiais de colecção. Conta com mais de 30 anos de experiência no ramo das peças de mobiliário antigo.

A Câmara do Comércio de Móveis e Antiguidades de Macau, e a Old House Gallery, vão estar ainda representadas na palestra através de Fong Mei Leng, que vai assumir a posição de anfitriã. Fong tem um mestrado em Arte Empresarial na Universidade de Tsinghua, uma das mais conceituadas do Interior, e também no Instituto de Arte da Sotheby’s, uma multinacional dedicada a leilões e venda de objectos de arte.

11 Ago 2020

Actor Alberto Villar morre aos 87 anos

[dropcap]O[/dropcap] actor Alberto Villar, morreu sábado aos 87 anos, em Lisboa, onde estava hospitalizado, confirmou à Lusa fonte familiar.
Nascido em 1933, Villar estreou-se como amador no Grupo Miguel Joaquim Leitão, em Leiria, e, como profissional, em 1959, na companhia itinerante de Rafael de Oliveira, onde se manteve até 1961, e com a qual percorreu o país em sucessivas digressões.
A sua carreira foi marcada por várias digressões, tanto em Portugal como no estrangeiro, nas distintas companhias a que pertenceu, nomeadamente na de Amélia Rey Colaço/Robles Monteiro, Metrul, onde foi também encenador, na de Francisco Ribeiro, ou no Teatro de Todos os Tempos e na Companhia Independente de Teatro e no Teatro Experimental de Cascais (TEC).
No Teatro Nacional D. Maria II, desde a sua reabertura, em 1978, participou em várias peças, designadamente, “Auto da Geração Humana”, “O Judeu”, “Pedro, o Cru”, “Auto de Santo António”, “As Fúrias”, “Ricardo II”, “Felizmente Há Luar”, “As Alegres Comadres de Windsor” ou “Os Filhos do Sol”. A sua carreira de mais de 50 anos está muito associada ao D. Maria II, onde esteve em cena quando se deu o incêndio no edifício, em 1968.
“Foi um dia muito triste”, recordou, numa entrevista à agência Lusa, referindo “a força e o ânimo da Sra. D.ª Amélia [Rey-Colaço] para [continuar] como companhia, noutro teatro”.

Lápis azul

Estrearam em seguida, no então Teatro Avenida, em Lisboa, “A Invasão”, de Miguel Franco, em que fez parte do elenco. A peça “saiu de cena pouco depois da estreia, proibida pela Censura, após uma ida ao teatro do almirante Américo Thomaz”, então Presidente da República.
“Ficámos todos arrasados, mas seguimos em frente pois a companhia dependia da bilheteira, já que era muito curto o apoio do Estado”, afirmou.
Não foi a primeira vez que Villar sentiu a repressão da Censura. Em 1973 fez parte do elenco da peça “Fonte de Ovejuna”, de Lope de Vega, segundo versão de Natália Correia, pelo TEC, numa encenação de Carlos Avilez.
“A estratégia era apresentar a peça em Espanha e, confiando numa boa apresentação e recolher boas críticas, como aconteceu, e apresentá-la depois em Portugal, contornando a Censura Prévia”.
A peça em que no final as actrizes despiam as blusas e de peito nu se dirigiam à plateia foi apresentada em Portugal, mas com advertência das autoridades de “apenas o ser no concelho de Cascais”, contou numa entrevista à agência Lusa.
Uma das últimas vezes que surgiu em palco foi em 2015, no Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa, na peça “Cyrano de Bergerac”, de Edmond de Rostand, que João Mota encenou.
Alberto Villar era o nome artístico de José Alberto do Espírito Santo, nascido em Leiria a 2 de Novembro de 1933.
Alberto Villar contracenou, entre outros, com os actores Raul Solnado, Camilo de Oliveira, Eunice Muñoz, Catarina Avelar, Guida Maria, Rita Ribeiro e Alina Vaz, com quem codirigiu o projecto “Viagens ao Teatro”, que esteve em cena, em Lisboa, durante 25 anos.

10 Ago 2020

Terminadas pinturas em dois murais na Rua de 5 de Outubro

[dropcap]O[/dropcap]O “Plano das Lojas com Características Próprias” foi lançado no início do mês passado, e a primeira fase teve como foco a Rua de 5 de Outubro, comunicou a Direcção dos Serviços de Economia (DSE). Houve 41 lojas com características reconhecidas, cumprindo os requisitos de terem produtos característicos ou serviços de alta qualidade, elementos culturais e sucessão de técnicas, reconhecimento social, estilo inovador e boa reputação.

O objectivo da DSE passa por remodelar as imagens distintivas de diferentes zonas e criar pontos populares para mostrar as histórias e cultura locais de Macau através de murais de pintura. Foram concluídos os trabalhos dois murais, e vão começar “em breve” os trabalhos da terceira pintura, esperando o Governo que a iniciativa promova o fluxo de pessoas que visita essas zonas.

“As lojas participantes concordam, em geral, que o plano pode produzir efeitos da marca e desempenhar um papel activo na promoção e divulgação (…) para encontrar novas oportunidades de negócios quando os turistas voltarem a Macau após a epidemia”, pode ler-se na nota.

A Rua de 5 de Outubro é descrita pela DSE como uma zona “rica em história” e com “grande concentração de lojas e restaurantes característicos”. As primeiras lojas receberam apoio da DSE para entrar na plataforma de consumo Meituan Dianping, do Interior da China, para que os turistas tenham informações sobre os seus negócios.

“Com o desenvolvimento social e o avanço da informação tecnológica, as PME devem procurar mudança pela inovação, especialmente havendo um grande espaço para a exploração de marcas, elevação do valor acrescentado de serviços e produtos, desenvolvimento científico, tecnologia e as aplicações on-line”, defendeu a DSE.

O organismo criou um projecto para as lojas características, com instrutores de consultoria a dar orientações às empresas, em conjunto com o Centro de Produtividade e Transferência de Tecnologia de Macau. Estão ainda planeados workshops nas áreas de vendas online, serviço de qualidade e venda, aplicação técnica e gestão de riscos e de operações.

10 Ago 2020

FRC | Conferências abordam facetas de Eça de Queiroz, da diplomacia à ópera

O 120.º aniversário da morte do escritor Eça de Queiroz vai ser assinalado em Agosto e Setembro na Fundação Rui Cunha, num ciclo de conferências que aborda o autor português em três facetas, da diplomacia à ópera. O programa é organizado em parceria com a Associação dos Amigos do Livro em Macau e o Instituto Português do Oriente

 

[dropcap]O[/dropcap] programa comemorativo dos 120 anos da morte de Eça de Queiroz, organizado pela Fundação Rui Cunha, a Associação dos Amigos do Livro em Macau e o IPOR – Instituto Português do Oriente, arranca em 13 de Agosto, quinta-feira, às 18h30, no auditório Stanley Ho, com uma conferência sobre a carreira diplomática do escritor, apresentada por Carlos Frota, primeiro cônsul-geral de Portugal no território.

Uma das questões mais pertinentes sobre a carreira diplomática de José Maria de Eça de Queiroz é saber quanto prevalecia o olho de jornalista e de romancista cáustico na defesa dos interesses de Portugal.
O autor que ficaria para a história como um dos nomes maiores do realismo literário português, ingressou na carreira diplomática em 1873 com a nomeação para cônsul de Portugal em Havana. Durante o auge da produção literária, desempenhou funções consulares em Newcastle e Bristol, em Inglaterra, seguindo-se Paris como destino profissional, em 1888.

Conversa com música

A 20 de Agosto, também às 18h30, é a vez de a professora Ana Paula Dias apresentar “Eça na ópera”, na Fundação Rui Cunha, a propósito das referências à música clássica e árias líricas nos seus romances.
A sessão, que vai incluir alguns trechos musicais alusivos à obra de Eça, falecido em 16 de Agosto de 1900, integra-se nas “Conversas Ilustradas com Música”, produzidas pelo escritor Shee Vá na Fundação Rui Cunha, cujo ciclo actual tem como tema “A ópera na literatura – Ouvir com os olhos”.

A fechar o programa, no dia 1 de Setembro, também na Fundação Rui Cunha, o mote é a internacionalização, tradução e adaptação da obra do escritor, com a exibição do filme mexicano “O Crime do Padre Amaro”, do realizador Carlos Carrera, com Gael Garcia Bernal, Ana Claudia Talacon e Sancho Garcia.
A controversa adaptação do romance homónimo de Eça foi nomeada para o Óscar de melhor filme estrangeiro em 2002.

A sessão é precedida de uma conferência pela professora Dora Nunes Gago.
Todas as sessões serão em português e a entrada é livre, mas sujeita a limite, em virtude do cumprimento das medidas sanitárias regulamentares em vigor.

10 Ago 2020

Covid-19 | Escolhidos os vencedores de concurso que visa combater o vírus através da arte 

Estão escolhidos os vencedores do concurso “Calling Macau Students to Fight Vírus with Art”, promovido pela Associação de Cultura e Arte Chinesa e apoiado pela Sociedade de Jogos de Macau. No total participaram 1,489 estudantes de 52 escolas primárias e secundárias, números que revelam, para a organização, “a determinação dos estudantes de lutar contra a doença em conjunto com a sociedade”

 

[dropcap]O[/dropcap] concurso “Calling Macau Students to Fight Virus with Art”, criado para levar os alunos de Macau a expressarem a sua luta contra o novo coronavirus, já tem os seus vencedores escolhidos. A iniciativa, organizada pela Associação de Cultura e Arte Chinesa de Macau e apoiada pela Sociedade de Jogos de Macau (SJM) recebeu um total de 1,489 projectos artísticos candidatos, feitos por alunos de 52 escolas primárias e secundárias. Segundo um comunicado, “a impressionante resposta teve como significado a determinação dos estudantes em lutarem contra a doença em conjunto com a sociedade”. O júri seleccionou um total de 216 trabalhos.

Liao U Hei, da escola Fu Luen, venceu na categoria “Chinese Calligraphy – Primary Junior”, enquanto que na categoria “Chinese Calligraphy – Primary Senior” venceu o aluno Leong Wai I, da escola Hou Kong. Na categoria “Chinese Calligraphy – Secondary Junior” o estudante Leong Hio Cheng, da escola Hou Kong, arrecadou o primeiro prémio.

Ainda na categoria “Chinese Calligraphy – Secondary Senior”, Ng Weng Lam, também da escola Hou Kong, obteve a primeira classificação. Relativamente à categoria “Painting – Primary Junior”, Leong Sam Ut, também da escola Hou Kong, arrecadou o primeiro prémio. O concurso tinha ainda mais duas categorias na área da pintura. Em todas as categorias do concurso foram atribuídos o segundo e terceiro prémios, tendo sido também concedidas 20 menções honrosas. Os alunos vencedores foram contemplados com um prémio pecuniário que poderão usar na compra de livros, além de receberem o respectivo certificado.

O tema deste concurso era “Love in the Time of Coronavirus” [O amor em tempos de coronavírus] e tinha como principal objectivo “encorajar os estudantes a expressar os seus sentimentos de preocupação relativamente à pandemia, contribuindo para os esforços concertados da sociedade na luta contra a doença”.

Além disso, o concurso pretendia, “ao mesmo tempo, promover a cultura chinesa e a criatividade nas artes no seio das gerações mais jovens”.

“Atitude positiva”

Ambrose So, presidente da Associação de Cultura e Arte Chinesa de Macau e CEO da SJM, disse estar “impressionado” com o elevado número de projectos artísticos apresentados a concurso. “Agradecemos sinceramente a participação das escolas – directores, professores e estudantes – por fazer desta actividade um sucesso frutífero neste período desafiante. Conseguimos compreender a preocupação por parte dos jovens relativamente a esta pandemia global através dos seus trabalhos”, disse, citado pelo mesmo comunicado.

Daisy Ho, presidente-executiva da SJM, afirmou que os trabalhos apresentados pelos alunos “não apenas reflectem as suas técnicas e criatividade mas também revelam uma atitude positiva no combate à doença”.

“A SJM está muito satisfeita por poder colaborar com a Associação de Cultura e Arte Chinesa de Macau nesta actividade e poder permitir aos estudantes partilharem as suas mensagens de amor junto da comunidade através da caligrafia e pintura”, frisou a empresária, filha do falecido magnata Stanley Ho.

Devido à pandemia, não é possível realizar a cerimónia de entrega de prémios, cuja data será anunciada posteriormente. No júri deste concurso participaram veteranos de caligrafia chinesa ou profissionais do meio artístico, tal como Ung Si Meng, Lai Ieng, Lok Hei, Kuan Kun Cheong, Li Tak Seng, Chan Heng Sang, Ho Loi Seng, Ieong Keang Sang and Fok Chi Chiu.

7 Ago 2020

As imagens no Taipa Village Art Space que revelam o “processo orgânico” de um emigrante 

Hugo Teixeira está de regresso às exposições em Macau com “Paisagens Involuntárias”, uma mostra que pode ser vista no Taipa Village Art Space até Outubro. Em conversa com o HM, a partir da Califórnia, onde reside, o fotógrafo fala de um projecto que associa as paisagens alentejana e californiana e que remetem para as vivências de quem emigra

 

[dropcap]N[/dropcap]asceu em Portugal, mas partiu com oito meses de idade para os EUA. Hugo Teixeira, fotógrafo, sente-se luso-americano e sabe bem o que é viver nessa dualidade constante de culturas e idiomas. Esse sentimento está bem patente na sua segunda exposição em Macau, intitulada “Paisagens Involuntárias”, que foi ontem inaugurada no Taipa Village Art Space e que pode ser visitada até ao mês de Outubro.

Actualmente a residir na Califórnia e impossibilitado de viajar devido à pandemia, Hugo Teixeira conversou com o HM via Zoom e falou desta sua exposição, composta por 20 composições de imagens da paisagem alentejana e californiana. “Gosto muito da ideia de viagem, da road trip, que permite fazer muita fotografia de paisagem. Por isso comecei a fazer montagens com o montado alentejano e o chaparral na Califórnia, porque são paisagens muito parecidas e representam aquilo que quero comunicar.”

Este é o resultado de um total de 14 mil composições que são o espelho da dualidade de sentimentos com que se depara um emigrante. “Estas imagens não referenciam memórias específicas, mas diria que cada montagem combina com uma fotografia de paisagem que encontrei.” Essa descoberta fez-se, um dia, na Feira da Ladra, em Lisboa, onde Hugo Teixeira adquiriu várias fotografias, que combinou depois com as imagens que captou.

“Essas fotografias [compradas na Feira da Ladra] fizeram-me lembrar as poucas imagens de família que temos da época da emigração, nos anos 60 e 70. Acabam por representar memórias que não são minhas, mas herdadas. Como filho de emigrantes sempre ouvi histórias da terra, em Portugal, que são uma componente importante da minha identidade”, contou.

O processo de selecção das 20 composições foi feito em parceria com João Ó, curador da exposição. Hugo Teixeira assume ser incapaz de escolher uma montagem preferida. “Tenho muito material e é difícil escolher uma imagem preferida.”

“Para mim esse processo de criar dezenas de milhares de pequenas experiências representa um bocado o caminho do emigrante num país novo ou num país antigo, o não saber bem onde colocar o pé e às vezes enganar-se. É um processo orgânico de descoberta de culturas e de países”, acrescentou.

Emigração com história

Hugo Teixeira terminou recentemente um mestrado em belas-artes, com especialização em fotografia, e as imagens que compõem a exposição “Paisagens Involuntárias” fazem parte do projecto de curso. Além disso, o fotógrafo é também professor de inglês, mas a pandemia obrigou-o a olhar para a fotografia como uma possibilidade de carreira, estando “numa fase de transição”.

Apesar de ter ido ainda bebé para os EUA, Hugo Teixeira tem uma família com uma longa história de emigração. “Um irmão do meu avô que emigrou em 1914, mas a família mais próxima começou a emigrar nos anos 60. O meu pai, em 1969, foi para França depois de ter estado preso vários anos pela PIDE, porque se recusava a combater nas colónias. Em 1971 reuniu-se com os irmãos na Califórnia por opção. Mais tarde voltou a Portugal e casou com a minha mãe e depois ela veio para a Califórnia em 1980.”

Desta forma, Hugo Teixeira diz que o trabalho fotográfico que tem vindo a desenvolver, e que culmina agora nesta mostra, é revelador de uma “identidade híbrida”. “Um país, uma cultura e uma só língua não permitem expressar aquilo que eu sou, tenho sempre de utilizar as duas”, frisou.

Hugo Teixeira viveu em Macau entre 2010 e 2018, tendo feito uma primeira exposição no território em 2017, também com o apoio de João Ó. Aí fazia essencialmente fotografia de retrato.

“Surgiram várias oportunidades relacionadas com o ambiente, pois a paisagem urbana e fotografia de rua não me interessam. É difícil encontrar paisagem natural em Macau, as possibilidades são limitadas, e eu tinha condições para fazer o retrato.”

De Macau o fotógrafo guarda boas memórias. “É muito bom voltar a Macau, deu-me muitas oportunidades na área da fotografia. Conheci muitas pessoas no meio que se tornaram meus amigos e continuo a ter um contacto forte com eles. A galeria [Taipa Village Art Space] também me apoiou nessa época e continua a fazê-lo”, rematou.

6 Ago 2020

Disney decide lançar filme “Mulan” em plataforma de ‘streaming’ por preço adicional

[dropcap]O[/dropcap] filme “Mulan” vai ser lançado pela Disney na sua plataforma de ‘streaming’ no dia 4 de Setembro, anunciou a empresa, que assim abdica de uma estreia em sala para uma das maiores estreias cinematográficas do ano. Segundo a companhia, os assinantes do serviço Disney+ terão de pagar um preço suplementar de 29,99 dólares, para além do valor normal da subscrição.

“Estamos a olhar para ‘Mulan’ como um caso isolado em vez de significar um novo modelo de negócio”, afirmou o presidente executivo da Disney, Bob Chapek, na apresentação de resultados da empresa, citado pela Variety. O filme, uma versão de ação real do original de animação “Mulan”, teve um orçamento de produção de 200 milhões de dólares e era apontado pela indústria como uma das maiores estreias do verão, antes de ser adiado repetidas vezes.

Baseado no original da Disney, lançado em 1998, que por sua vez adapta a lenda chinesa de Hua Mulan, o filme retrata a história de uma jovem que se disfarça de guerreiro para salvar o pai. O original faturou mais de 300 milhões de dólares a nível mundial e foi nomeado para Globos de Ouro e Óscares, para além de ter vencido vários prémios de animação Annie.

Na semana passada, a Paramount revelou ter passado para 2021 alguns destaques deste ano, como as sequelas de “Top Gun” ou “Um Lugar Silencioso”.

Também as estreias dos novos filmes das sagas “Avatar” e “Guerra das Estrelas” foram adiadas um ano, para 2022 e 2023, respectivamente. Hollywood está há mais de quatro meses sem um lançamento de grande dimensão em sala.

A sequela de “Um Lugar Silencioso”, com John Krasinski e Emily Blunt, passou para 23 de Abril 2021, em vez da abertura prevista em setembro deste ano, enquanto “Top Gun: Maverick”, com Tom Cruise, tem nova data de estreia em 2 de Julho de 2021.

A covid-19 teve um impacto enorme na indústria cinematográfica, paralisando produções de cinema, levando ao encerramento de salas, ao adiamento de festivais de cinema e à reflexão sobre estratégias de exibição cinematográfica envolvendo, sobretudo, as plataformas de ‘streaming’.

5 Ago 2020

Dança | Companhia Stella & Artists celebra aniversário no palco do CCM

No próximo sábado, o grande auditório do Centro Cultural de Macau recebe dois espectáculos da companhia de dança local Stella & Artists, depois do adiamento em Fevereiro devido à pandemia. O grupo irá brindar o público com interpretações que cruzam géneros tão díspares como dança folclórica chinesa, ballet e dança contemporânea

 

[dropcap]O[/dropcap] grande auditório do Centro Cultural de Macau está reservado no próximo sábado para dois espectáculos de dança, às 15h30 e às 20h, intitulados “The 7th Anniversary Performance of Stella & Artists”. Como o nome indica, a companhia dirigida por Stella Ho celebra em palco sete anos de existência, com um percurso que vai muito além de ensaios e performances em palco.

O HM falou com a mentora e directora artística do projecto, Stella Ho, que revelou que o espectáculo de celebração começou a ser preparado em Outubro do ano passado com o objectivo de ser apresentado a 2 de Fevereiro. “Devido à covid-19, a data de apresentação da performance foi alterada para 8 de Agosto.

Portanto, recomeçámos os ensaios em Maio para cumprir as medidas exigidas pelo Instituto Cultural e podermos actuar no Centro Cultural”, conta Stella Ho. O espectáculo foi redimensionado, com limites impostos ao número de bailarinos e aos elementos da equipa de produção. A adaptação às condições impostas por razões de saúde pública forçou à reinvenção do espectáculo. “A performance de 2 de Fevereiro foi adaptada para as duas performances que vamos apresentar no sábado”, revela a directora artística.

O grupo de intérpretes que dá corpo ao “The 7th Anniversary Performance of Stella & Artists” é variado, com idades a partir dos 4 anos até pessoas mais maduras. “Damos cursos de dança chinesa e ballet como formação de base para os nossos alunos e bailarinos. Apesar de as nossas produções serem principalmente focadas na dança contemporânea, esta é um testemunho do percurso que fizemos nos últimos sete anos, com a apresentação de diversos géneros como dança folclórica chinesa, ballet, ballet contemporâneo e dança contemporânea”, desvenda a directora artística.

Em palco vão cruzar-se professores e alunos de dança, assim como os bailarinos da companhia. Uma parte do espectáculo, interpretada por um dueto de professores, foi pensada pela promissora coreógrafa de Hong Kong Justyne Li.

O espectáculo de sábado será o somatório de vários géneros de dança coreografados pelos professores da Stella & Artists e do progresso que os alunos fizeram ao longo dos anos.

Para Macau

“Quando olho para trás, para o caminho que a Stella & Artists percorreu em sete anos, só posso ficar feliz com os objectivos que conquistámos, passo a passo, e a nossa contribuição para o desenvolvimento da dança em Macau.” É assim que Stella Ho arrisca um balanço do tempo de actividade da companhia que fundou.

Além de produção de qualidade e intercâmbios recheados de significado e colaborações com artistas estrangeiros, a preparação do espectáculo de aniversário tem servido para a directora artística reflectir no trabalho feito até agora. Os ensaios e a forma como a performance de aniversário correu enche Stella Ho de confiança no caminho que a companhia tem pela frente, especialmente na oferta educativa de formação de dança. “Estou muito contente com o progresso que os nossos professores fizeram, que se pode ver nas coreografias e performances dos alunos. O trabalho de equipa e a atitude positiva dos professores tornou possível o progresso”, remata a directora artística.

A Stella & Artists foi fundada em 2012 com o objectivo de promover a dança contemporânea ao mesmo tempo que actua como veículo para dar a conhecer os elementos tradicionais da dança chinesa. Absorver e incorporar o quotidiano de Macau, assim como reflectir a partilha de expressão artística com outras culturas são também metas da companhia que celebra o sétimo aniversário. Os bilhetes para o espectáculo estão à venda e custam entre 150 e 200 patacas.

5 Ago 2020

FRC | Estudantes superam deficiência através da arte

A Fundação Rui Cunha recebe a partir de 11 de Agosto uma exposição de pintura com peças feitas pelos estudantes da Associação de Apoio aos Deficientes Mentais de Macau. “Protect, Hope, Love – Student Art Exhibition 2020” tem como tema, a luta contra a covid-19. A fundação recebe o evento pelo terceiro ano consecutivo

 

[dropcap]A[/dropcap] Fundação Rui Cunha acolhe a partir do dia 11 de Agosto uma exposição de pintura executada por alunos portadores de deficiências mentais de várias escolas e centros de formação integrados na Associação de Apoio aos Deficientes Mentais de Macau.

Daqui a precisamente uma semana, e durante três dias, serão expostas na “Protect, Hope, Love – Student Art Exhibition 2020, o total, de 26 peças preparadas pelos alunos da Escola Kai Chi, Centro de Formação Inicial Kai Chi, Centro Vocacional Kai Lung, Centro Kai Hon e Casa de Petiscos “Sam Meng Chi”, sob a orientação dos seus mentores, que procuraram desafiar os alunos a superar as suas deficiências através da arte.

Com o combate contra a pandemia de covid-19 como pano de fundo, as pinturas pretendem reflectir, segundo um comunicado divulgado ontem pela Fundação Rui Cunha, “a preocupação dos alunos com os desafios que a sociedade local enfrenta” e incentivar “as equipes da linha da frente no seu progresso”.

Com linhas finas ou mais cheias, as cores das peças são tanto mais vívidas ou ténues, consoante a ideia de esperança e preocupação que parecem querer transmitir. Com a crise provocada pelo novo tipo de coronavírus a marcar, durante meses a fio, o quotidiano de todos, as obras pretendem, não só revelar o percurso e a evolução pessoal deste grupo de estudantes ao longo do último ano, mas mostrar também a “extraordinária imaginação e criatividade das pessoas com deficiência mental através da sua arte”.

Trabalhar a consciência

A Associação de Apoio aos Deficientes Mentais de Macau é uma organização sem fins lucrativos estabelecida no território em 1986, esperando, através da plataforma da Fundação Rui Cunha, “contribuir para aumentar a consciência e a compreensão sobre o valor da criação artística entre pessoas com incapacidades intelectuais”.

Recorde-se ainda que este é o terceiro ano consecutivo em que a Fundação Rui Cunha recebe o evento. Na edição do ano passado, “Art-Infinite – Student Art Exhibition 2019”, foram exibidas 38 peças de arte, incluindo pintura, cerâmica, mosaico e colagens.

A exposição “Protect, Hope, Love – Student Art Exhibition 2020” abre ao público a partir das 11h do dia 11 de Agosto e pode ser vista até 13 de Agosto. A entrada é livre.

4 Ago 2020

IndieLisboa | Covid-19 afasta filmes de Macau de cartaz com obras asiáticas

Já é conhecido o cartaz do festival de cinema IndieLisboa, que arranca a 25 de Agosto. A pandemia da covid-19 não permitiu a concretização, este ano, da habitual parceria com o Turismo de Macau, mas mantém-se a presença de filmes asiáticos no cartaz. “Signal 8”, filmado em Hong Kong pelo realizador Simon Liu, é um dos exemplos

 

[dropcap]O[/dropcap] IndieLisboa, como todos os eventos organizados este ano, teve de se adaptar e adiar datas para contornar os obstáculos trazidos pela pandemia. Ainda assim, o festival de cinema persiste e arranca a 25 de Agosto, em Lisboa, mas, ao contrário do que tem sido habitual nos últimos anos, o cinema de Macau não faz parte do cartaz devido aos constrangimentos causados pela pandemia.

“Habitualmente, temos uma parceria com o Turismo de Macau, para ter alguns novos filmes de realizadores macaenses, mas este ano, devido à pandemia, esta parceria não foi possível concretizar-se”, contou ao HM Carlos Ramos, um dos directores de programação do festival.

Apesar de não ter produções de Macau, o programa deste ano mantém a presença de filmes asiáticos, muitos deles em co-produção com países europeus.

Na categoria “Silvestre” destaca-se a presença de “Signal 8” do realizador de Hong Kong Simon Liu, uma produção de 2019. O filme olha para o território como um local “à espera de uma ruptura trazida pelo crescimento constante”.

Carlos Ramos descreve a curta-metragem experimental de Simon Liu como uma obra que “traça um olhar sobre a situação de Hong Kong neste momento, com todas as coisas que estão a acontecer, e com este sinal 8 [de tufão] em que para tudo”.

“É um filme sem diálogo, só com imagens de 16 e 35 milímetros, em película, e som. O realizador foca-se em pormenores do dia-a-dia de Hong Kong em que praticamente não se veem pessoas, só o ambiente. É construída uma espécie de tapeçaria da cidade, em que por vezes há atrasos ou se acelera, à medida que se constrói essa tapeçaria do tráfego humano em Hong Kong”, comentou Carlos Ramos.

Também na categoria “Silvestre” está o filme “A Bright Summer Diary”, do realizador chinês Lei Lei, uma co-produção China/EUA. Trata-se de uma obra de construção de memórias familiares e afectivas, conforme adiantou Carlos Ramos. “Ele [realizador] parte de uma fotografia tirada com a mãe, no final dos anos 80, e a partir daí começa a trabalhar sobre as memórias individuais e colectivas. Ele tirou a fotografia quando era criança e vai construir toda a história da sua família a partir dessa fotografia, mas também usando outras, e recorrendo à animação.”

O género animação é, aliás, familiar a Lei Lei. “É um realizador que tem feito os seus filmes na China, mas que dá aulas nos EUA. Vem principalmente da animação, mas ultimamente tem começado a fazer trabalhos mais híbridos”, esclareceu Carlos Ramos.

Falsificações em Shenzhen

A fechar a lista de filmes asiáticos na categoria “Silvestre” destaque também para “The Works and Days (Of Tayoko Shiojiri in the Shiotani Basin)”, uma co-produção de C.W. Winter e Anders Edström entre países como os EUA, Suécia, Japão, Hong Kong, China e Reino Unido.

Inspirado nos poemas gregos e latinos que elevavam artisticamente a agricultura — como são os casos de “Os Trabalhos e os Dias de Hesíodo” e de “Geórgicas de Virgílio” – a obra acompanha o labor no campo de uma família japonesa, numa pequena vila perto de Quioto. “Catorze meses de rodagem convertem-se nestas nove horas que são uma magnífica ode ao trabalho, à terra, à paisagem sonora e à passagem do tempo e das estações”, lê-se no programa do festival.

Carlos Ramos descreve a produção como “um filme observacional das tarefas diárias dela [de Tayoko Shiojiri], que vive perto de Quioto”. A exibição “será um dos grandes momentos do festival” IndieLisboa, denota o programador.

Na categoria “Competição Internacional” o festival deste ano traz a obra “Shànzhài Screens”, uma co-produção entre a França e China do realizador francês Paul Heintz. O filme conta a história de pintores de réplicas da cidade de Shenzhen. “Temos acompanhado o trabalho deste realizador desde o primeiro filme. Ele trabalha essencialmente com a curta-metragem e este filme é todo filmado em Shenzhen. É um documentário experimental em que acompanha um conjunto de pintores de réplicas, e em que regista o seu quotidiano.”

Carlos Ramos destaca o facto de, numa cidade altamente industrializada e dinâmica, a tecnologia estar sempre presente. “O engraçado é que vemos uma cidade completamente cheia de pessoas que são mediadas pela tecnologia, uma vez que, ao invés de olharem para a obra original, fazem o trabalho da réplica com a ajuda de um ecrã de telemóvel.”

O festival encerra portas a 5 de Setembro e, apesar da pandemia da covid-19, acontece, como habitualmente, em várias salas de cinema da cidade de Lisboa, uma delas o Cinema São Jorge.

3 Ago 2020

LMA | Funk e pop na segunda edição do Arroz Music Festival

Depois de uma bem-sucedida primeira edição, a 18 de Julho, o Arroz Music Festival está de regresso este sábado aos palcos do espaço Live Music Association. O cartaz é composto por bandas de Macau como os LAVY, FIDA, Dr. Jen, Fall to Fly, A Little Salt e Frontline Castle, que sobem ao palco a partir das 18h

 

[dropcap]O[/dropcap] espaço Live Music Association (LMA) volta a acolher mais uma edição do Arroz Music Festival, um evento de concertos que vai mostrar o que de melhor se faz nos mais variados estilos musicais em Macau. Para este sábado o palco está reservado a bandas como LAVY, FIDA, Dr. Jen, Fall to Fly, A Little Salt e Frontline a partir das 18h, com entrada gratuita.

Esta será a segunda edição de uma iniciativa que promete não ficar por aqui, conforme contou ao HM Dickson Cheong, um dos gestores do LMA. “Na primeira edição queríamos focar-nos no punk, heavy metal e rock, esse tipo de som mais pesado. Mas desta vez queremos trazer sons como funk, pop, rock and roll e pop-rock, numa maior aproximação aquilo que as pessoas podem gostar.” A terceira edição contará com a presença de cinco ou seis bandas que tocam no formato de mini-concerto, adiantou Dickson Cheong.

Em altura de pandemia, quando as fronteiras de Macau estão praticamente fechadas, esta é uma boa altura para ouvir música ao vivo e fazer com que as pessoas saiam de casa. “O público está mais aberto a estes eventos porque as pessoas não podem sair de Macau. É uma boa oportunidade para que se aproximem dos concertos e da música ao vivo ao invés de apenas ouvirem as canções no telemóvel”, frisou o responsável pela organização do festival.

Todos a florescer

Os promotores do festival decidiram dar-lhe o nome de arroz por ser um alimento que não só está muito presente na gastronomia de Macau como é um símbolo de união das várias comidas. “Quando estávamos a organizar o festival não sabíamos qual seria o nome ideal para ele. Fizemos uma pausa, pedimos comida de fora e decidimos que o festival poderia chamar-se Arroz, devido à mistura do arroz cozido com comida chinesa ou ocidental. É como a música, em que podemos misturar todo os estilos”, contou Dickson Cheong.

O objectivo do festival é promover mais união entre as bandas locais e o seu potencial público, mas os organizadores querem juntar todos aqueles que trabalham na área cultural e criativa. “Também convidamos pessoas de outras áreas, tal como fotógrafos ou produtores, ou designers. Temos o plano de misturar todas as indústrias para que estas possam florescer, queremos reunir toda a indústria criativa para que, de certa forma, possa renascer.”

Em declarações ao HM, Dickson Cheong nota que há cada vez mais pessoas em Macau a fazer música, seja de forma profissional ou amadora, e que anseiam por mostrar aquilo que fazem. “O ambiente da música não tem parado e tem melhorado significativamente. Conheço pessoas novas que decidiram começar a tocar. O público tem de abrir a mente para experimentar novos tipos de sonoridades e de espectáculos. Há caras novas em todos os eventos e ficamos surpreendidos com isso”, rematou.

31 Jul 2020

AFA | Yves Étienne Sonolet apresenta trabalho sobre a efemeridade da vida

“I’ll Be Gone, You’ll Be Gone – Works by Yves Étienne Sonolet” é o nome da nova exposição do artista francês radicado em Macau, que será inaugurada esta sexta-feira no Tak Chun Macau Art Garden, espaço da AFA (Art for All Society). Os trabalhos, que vão da fotografia à instalação de vídeo, retratam as relações humanas e a efemeridade da existência

 

[dropcap]Y[/dropcap]ves Étienne Sonolet, artista francês radicado em Macau desde 2008, está de regresso às exposições pela mão da AFA – Art for All Society. A exposição “I’ll Be Gone, You’ll Be Gone – Works by Yves Étienne Sonolet” é inaugurada esta sexta-feira, pelas 18h30, no espaço Tak Chun Macau Art Garden e conta com curadoria de Alice Kok.

Desta vez, o artista resolveu abordar a complexidade das relações humanas e a ideia de que somos, afinal, mortais, e que vivemos demasiado no presente, sem pensar no amanhã. A exposição tem como base a obra “A Invenção do Quotidiano”, de Michel de Certeau.

Ao HM, Yves Étienne Sonolet confessa que a ideia por detrás do título da exposição constitui, desde logo, uma “contradição entre duas coisas que podem ser opostas”. Isto porque “há uma ideia que nos remete para a morte, mas ao mesmo tempo existe a ideia de que as pessoas não se preocupam com o futuro e vivemos como se não houvesse amanhã”.

“É a ideia de que aquilo que fazemos não importa verdadeiramente, porque na altura os problemas irão desaparecer. Há um sentimento de indiferença em relação às coisas do dia-a-dia”, frisou o artista, que procurou trazer para esta exposição uma diversidade de trabalhos.

“Tentei reunir alguns trabalhos que fazem um diálogo entre si, há fotografia, instalação de vídeo e alguma interactividade entre os vídeos”.

Para o artista, “I’ll Be Gone, You’ll Be Gone” é, sobretudo, uma mostra “sobre relações entre pessoas”, e um dos trabalhos que espelha isso é “Possible Paths”, filmado junto às Ruínas de São Paulo vazias, ou seja, em tempos de pandemia.

“Não é normal ir lá num dia de semana e não ver ninguém, então filmei [no local] nesta altura, mas sempre a partir do mesmo ângulo. Fiz depois um filme a usar essas imagens, recriando uma multidão com as imagens capturadas das pessoas.”

Com esta exposição, Yves Étienne Sonolet quer que “os trabalhos falem entre si”, sempre com uma mensagem relativa à forma como as pessoas se representam e posicionam no seu mundo. “Não é uma exposição de pintura apenas, mas é mais um conjunto de coisas que estão relacionadas. O que acho interessante é essa relação, são representações artísticas diferentes e há algo de interactivo nisso”, frisou.

Morte vs Vida

Ao expor trabalhos que reflectem sobre as relações humanas, Yves Étienne Sonolet assume pertencer a esta efemeridade. “Considero-me parte de tudo isto. Estamos apenas a evitar pensar sobre a morte. Esta é a grande preocupação, pois todos sabemos que vamos morrer. Nesse sentido temos muitas formas de nos distrairmos, pode ser uma das razões [pelas quais vivemos como se não houvesse amanhã]. Não faz sentido pensar em tudo com muita antecedência.”

O artista fala de uma outra obra, intitulada “Until the End of Time”, onde surge uma pessoa, sozinha, a cantar a música “Love me Tender” de Elvis Presley. “A pessoa canta sozinha e é algo que sabemos que vai acontecer. Há [na exposição] algum sentido de humor também, espero.”

Parte da exposição começou a ser pensada antes do surgimento da pandemia da covid-19, e apenas dois trabalhos foram feitos já em tempos de confinamento. Agora, o artista espera que as pessoas consigam estabelecer alguma ligação às obras que vão ver.

“Há uma ideia de que a arte não é apenas para nós, mas também serve para mostrar algo às pessoas. Não quero que pensem exactamente como eu, mas que tentem encontrar um equilíbrio. Quero proporcionar uma espécie de janela através da qual as pessoas possam olhar e, a partir das suas próprias experiências, possam tirar um significado”, concluiu.

Nas palavras da curadora Alice Kok, o artista francês é alguém com uma variedade de interesses que passam pela sociologia, política, tecnologia, arte ou cultura. “Yves tem um incrível talento para a imaginação e para o humor, com base nas coisas das quais retira prazer através da ‘apropriação’ de objectos aborrecidos do quotidiano, tal como transformar maços de cigarros vazios numa máquina de karaoke”, numa referência à obra “Until the End of Time”.

30 Jul 2020

Urban Nights | Iniciativas temáticas promovem negócios locais para combater a crise 

A crise gerada pela pandemia do novo coronavírus está a deixar muitos negócios à beira da ruína. A pensar nisso, Rui Carreiro e Cristiana Figueiredo decidiram promover as Urban Nights, uma série de eventos temáticos que pretendem levar mais pessoas a consumir aquilo que é criado e feito em Macau. Depois de um evento dedicado à fotografia, vêm aí iniciativas ligadas à moda e música, sem esquecer o fado

 

[dropcap]R[/dropcap]ui Carreiro, proprietário do espaço de restauração Urban Tribe, e Cristiana Figueiredo, proprietária do Cuppa Coffee, decidiram unir esforços para combater a crise com que se debatem muitos dos negócios locais desde que começou a pandemia da covid-19, devido à falta de turistas. A ideia é organizar eventos temáticos, com o nome “Urban Nights”, em vários locais do território a fim de promover o trabalho de artistas locais. Além disso, pretende-se que os residentes gastem o dinheiro dos cartões de consumo nos espaços comerciais de Macau e não em lojas de marcas internacionais.

“Achamos estranho o facto de as pessoas só utilizarem o cartão de consumo nos supermercados, não faz sentido”, contou ao HM Rui Carreiro. “Usem o cartão em lojas locais. Nós somos a cara de Macau e não um casino ou um franchise. Sustentamos famílias. No meu caso, tenho três ordenados para pagar e a minha renda apenas baixou 10 por cento”, frisou.

Para cada evento será convidada uma empresa local. No caso do primeiro “Urban Nights”, que decorreu no passado sábado e que foi inteiramente dedicado à fotografia, a empresa associada foi a ID Core. “Queremos também promover os artistas de Macau. Não vivemos de likes no Facebook e penso que é uma obrigação das pessoas de Macau, que têm direito ao cartão de consumo, ajudar os negócios locais. É um dever moral e cívico”, disse o proprietário do espaço Urban Tribe, que serve comida vegan e vegetariana.

Moda, música e fado

Depois do sucesso do primeiro “Urban Nights”, que juntou mais de 100 pessoas, Rui Carreiro já está a organizar o segundo evento que será dedicado à música, com uma banda de Macau e que conta com uma empresa de organização de eventos como convidada. Mas a ideia é organizar, a cada 15 dias ou três semanas, um evento diferente. “O terceiro evento será um jantar temático com actuações de vários artistas.

Vamos ter também uma noite dedicada à moda e outra ao fado. Ainda estamos numa fase experimental para ver o que podemos fazer.”

Em todas as iniciativas será servida comida vegan ou vegetariana do espaço Urban Tribe. Rui Carreiro diz que o lucro não é a principal prioridade, mas sim reunir pessoas de todas as comunidades existentes em Macau em prol de uma causa comum.

“Queremos mesmo ser uma comunidade, ninguém está aqui para fazer milhões. Estes eventos dão pouco lucro, mas queremos difundir a mensagem.

A ideia aqui não é só fazer com que as pessoas usem o cartão de consumo em negócios locais, mas atrair as pessoas para as lojas locais, para que não o gastem em franchises. O dinheiro desses franchises não fica cá, vai para as casas mães que estão fora de Macau. Vamos tentar usar o dinheiro que o Governo nos ofereceu para ajudar a economia local.”, rematou Rui Carreiro.

29 Jul 2020

TEDX Senado Square | Edição deste ano é online e acontece a 9 de Agosto

A edição deste ano do TEDX Senado Square acontece no dia 9 de Agosto entre as 14h e 16h numa versão online. Venus Loi, promotora do evento, diz que a lista de inscrições já excedeu as expectativas. Painel de convidados conta com a presença do arquitecto português Nuno Soares e de Kitty Choi, que, a partir de Hong Kong, falará sobre sexualidade e relações, entre outras personalidades

 

[dropcap]A[/dropcap] pandemia da covid-19 ditou que a edição deste ano do painel de debates do TEDX Senado Square seja online, mas nem por isso menos diverso. O evento acontece no dia 9 de Agosto, domingo, entre as 14h e 16h e já é conhecido o programa deste ano que se pauta, acima de tudo, pela diversidade, conforme explicou Venus Loi, promotora do evento, ao HM.

“Tentámos obter alguma diversidade. Alguns oradores falam de questões pessoais e outros falam também do desenvolvimento da cidade de uma maneira geral. Temos diferentes ângulos e espero que possamos partilhar boas ideias nesta altura de pandemia.”

Nuno Soares, arquitecto português, é um dos convidados e irá abordar o tema do desenvolvimento urbanístico do território. Derek Wong, professor da Universidade de Macau, irá apresentar o seu projecto da máquina de tradução automática de chinês para português e de português para chinês. “Ele tem vindo a trabalhar neste projecto nos últimos 14 anos e ganhou vários prémios internacionais. Penso que esta é uma boa oportunidade para deixar as pessoas saberem que também temos boas invenções em Macau”, disse Venus Loi.

Segue-se Kitty Choi, mestranda em psicologia pela Universidade de Hong Kong e directora da Sticky Rice Love, uma plataforma onde jovens podem discutir sobre sexualidade e relações amorosas. Com esta entidade, Kitty Choi promove também a educação sexual em Hong Kong.

“Não nos queremos focar num tema em específico e queremos ter uma variedade de tópicos para discussão”, adiantou a promotora do TEDX Senado Square. “Temos o arquitecto que irá falar sobre o planeamento urbanístico e o desenvolvimento da cidade, e temos uma educadora de Hong Kong que vai abordar muitas questões que os jovens de hoje em dia têm em relação à sexualidade e relações. Teremos também uma convidada [Daisy Ma] que o ano passado viajou até ao Nepal e que irá partilhar connosco algumas das experiências que viveu, nomeadamente as questões ambientais com as quais se deparou durante essa viagem.”

Música incluída

O cartaz da edição deste ano do TEDX Senado Square fica completo com mais duas convidadas de Hong Kong, Cintia Nunes e Dorothy Lam. Juntas criaram a Dream Impact 2.0, focada no conceito de lugar de trabalho partilhado e na criação de uma comunidade de empreendedores e de startups com recursos e impacto social.

As duas oradoras “vão revelar a experiência de empreededorismo social e de inovação porque trabalham nesta área há muito tempo”, explicou Venus Loi. “Pode-se encontrar um equilíbrio entre uma organização não-governamental e um modelo de negócio, mas Macau não está tão desenvolvido como Hong Kong neste âmbito. É um conceito novo para o território e queremos mostrar isso”, adiantou a responsável pelo evento.

Para já, a adesão do público ao TEDX Senado Square parece ser muita. “A nossa lista de registos está acima das expectativas neste momento. Esta não está limitada a pessoas de Macau, embora Macau seja sempre a nossa prioridade em termos de público.” Além dos discursos e debates, o evento conta também com a presença musical do DJ Akitsugu Fukushima e espectáculo com uma associação de dança. Mesmo com os desafios da pandemia, Venus Loi assume querer continuar a organizar este evento anual, procurando captar novos membros para a edição de 2021.

28 Jul 2020

Exposição | “Dino Art Toy Boom” revela a personagem do ilustrador Siomeng Chan 

Foi inaugurada ontem a exposição “Dino Art Toy Boom”, na galeria At Light, que revela seis trabalhos de Siomeng Chan, ilustrador de Macau que decidiu virar-se para o mundo dos bonecos. “Dino”, o personagem criado em 2016, ganha novas versões e perspectivas através da pintura, escultura e outras representações artísticas

 

[dropcap]N[/dropcap]ão fosse o pai ter trabalhado numa fábrica de produção de bonecos, ou os colegas da faculdade serem apaixonados pela ilustração, e a vida de Siomeng Chan teria sido certamente diferente.

Estes dois episódios foram fundamentais para fazer dele um ilustrador e designer que decidiu juntar o trabalho ao mundo dos bonecos, apreciados por miúdos e graúdos.

A actividade de Siomeng Chan associada aos bonecos, em particular a um por si criado em 2016, de nome Dino, pode agora ser vista na galeria de At Light. Ao HM, Siomeng Chan explicou como surgiu esta oportunidade de transformar o Dino num objecto artístico.

“O Dino foi um dos trabalhos de ilustração que fiz em 2016. Na altura o cliente não escolheu este desenho, que foi deixado de lado. Mas como gostei do personagem decidi pegar nele e redesenhá-lo, para que agora possamos ter esta imagem actual do Dino”, disse.

A exposição conta com seis trabalhos de Siomeng Chan e outros de 30 artistas de todo o mundo, convidados pelo artista de Macau. Desta forma, o boneco Dino ganha assim diferentes perspectivas e interpretações.

“Decidi convidar 30 artistas ligados a vários tipos de arte, como a tatuagem, a ilustração ou a escultura. Dei-lhes o boneco Dino e deixei-os criar ou transformar o Dino segundo o seu estilo artístico ou a sua visão. Esta era uma experiência que queria fazer, ver quais são os limites para este tipo de bonecos.”

Isto porque, para Siomeng Chan, os bonecos são muito mais do que meros brinquedos usados pelas crianças. “A maioria dos bonecos ditos normais são brinquedos para crianças. Mas acho que não tem de ser assim. Podem ser peças de arte sem qualquer tipo de limitações. Quero quebrar essas regras e criar algo de infinito”, contou o autor.

Os trabalhos com a assinatura de Siomeng Chan são diversos. Um deles, intitulado “Dino Boom”, não é mais do que “uma grande caixa com mais de 80 bonecos Dino lá dentro”. Segue-se uma pintura, intitulada “The First Day of Adventure”, que conta a história da amizade do boneco Dino com mais três amigos. “Eu desenhei o primeiro dia em que começaram a sua aventura”, declarou o ilustrador. Nos restantes trabalhos, o artista assume que quis trabalhar de “uma forma mais abstracta” em ilustrações mais pequenas.

Espécie de movimento

Siomeng Chan acredita ser o único artista em Macau que associa o trabalho de ilustração ao mundo dos bonecos e deseja mesmo instituir uma espécie de novo movimento com esta exposição.

“Não há muitas pessoas que desenhem bonecos em Macau, penso mesmo que sou o único que faz este trabalho a tempo inteiro. Por isso penso que existe potencial para o design de bonecos em Macau.”

A ideia é expandir este ramo para outros países na Ásia, Europa ou América, confessou. “Não há pessoas que trabalhem nesta área, combinando a arte com os bonecos. Penso que é um novo movimento que se pode criar em Macau”, frisou.

A exposição conta, além dos trabalhos de Siomeng Chan e de artistas por si convidados, de uma linha cronológica que revela o percurso artístico e de vida do ilustrador. “O meu pai trabalhava numa fábrica de bonecos e quando eu era criança aprendi muito sobre esse mundo. Na universidade muitos dos meus colegas também gostavam muito de ilustração e isso levou-me a descobrir esta profissão. Sou ilustrador e designer por causa deles, e penso que os bonecos associados ao design e à ilustração são os elementos que fazem de mim aquilo que sou hoje”, rematou.

27 Jul 2020

Bar Che Che – The Breathers acolhe “Sensations”, com várias actuações ao vivo 

Beber um copo enquanto se ouve um som é a aposta do bar Che Che – The Breathers para este sábado. O evento “Sensations”, organizado em parceria com o colectivo de músicos Darkroom Perfume, traz ao palco nomes como Rita M, Betchy Barros, MNDY, ARI e um DJ Set de Rocklee, numa promessa de variedade de sons

 

[dropcap]S[/dropcap]ensações no palco e fora dele, com música para todos os gostos, do hip-hop à electrónica, e ao pop-rock. É esta a aposta do bar Che Che – The Breathers, situado na Taipa, em parceria com o colectivo Darkroom Perfume. Na página oficial do evento no Facebook, a promessa é de uma noite com “sons cheios de alma com vocalistas, músicos e rappers, bem como DJs”.

No cartaz constam nomes Rita M, MNDY, ARI, Betchy Barros e Rocklee, que protagoniza um DJ set. Ao HM, Rita Martins, artista integrante do colectivo Darkroom Perfume, confessou que a ideia por detrás de “Sensations” é organizar “um evento com tipos de música que nem toda a gente está acostumada a ouvir e que vai fazer com que as pessoas explorem as suas experiências e sentimentos quando ouvem as músicas”.

Da parte de Gabriel Yung, gerente do bar, também havia a vontade de organizar algo diferente em termos de entretenimento nocturno. “Na verdade contactei o Rocklee para trabalhar em parceria com o meu bar, pois acho que faltam em Macau locais onde se possam organizar este tipo de eventos, onde as pessoas podem desfrutar de música num bar.”

Rita Martins tem boas expectativas para sábado, até porque “o pessoal já sabe o tipo de eventos que organizamos”. É o mesmo público que “demonstra apoio para aquilo que estamos a tentar fazer na área do entretenimento em Macau”.

Cartaz preenchido

MNDY, vocalista nascido e criado em Macau, é um dos nomes que faz parte do cartaz de sábado. Formado na conceituada Berklee College of Music em Boston, Estados Unidos, MNDY “viajou até as suas raízes para se conectar mais com a música que se faz a nível local”. Desta forma, o estilo desta cantora é uma mistura entre jazz, música alternativa e R&B, onde músicos como James Blake, Banks e AURORA são as suas influências.

Betchy Barros, uma cantora de neo-soul radicada em Macau, sobe também ao palco do Che Che – The Breathers no sábado. As suas maiores inspirações são os grandes nomes da soul, como Erykah Badu, Alicia Keys e Amy Winehouse. “Devido à sua formação multicultural, o maior desejo de Betchy é partilhar a sua mente com o mundo enquanto luta pela igualdade como activista”, aponta o colectivo Darkroom Perfume numa nota partilhada nas redes sociais.

ARI, diminutivo de Ariclan, é outro dos nomes que actuam no sábado. Trata-se de um músico e compositor natural de Macau que toca vários instrumentos, trazendo uma “luz única” aos seus concertos. “Esta façanha deu-lhe um reconhecimento por parte da indústria musical mais comercial e proporcionou-lhe oportunidades para colaborar com vários artistas do sudeste asiático”, explica o colectivo Darkroom Perfume.

Um dos exemplos do sucesso de ARI foi em 2016, quando o músico representou Macau na competição chinesa “Sing! China”. No ano seguinte, o artista fez uma digressão pela Ásia e América do Norte com o artista Matzka, de Taiwan. Mais recentemente, ARI tem colaborado com outras produções musicais e artistas.

Esta não é a primeira vez que os Darkroom Perfume organizam eventos em Macau, mas a aposta na diversidade e na diferença é algo que está sempre presente. “O nosso colectivo quer oferecer uma plataforma para artistas locais, quer sejam djs, cantores, rappers ou músicos, para poderem partilhar com o público de Macau, e não só, o gosto pela música. Normalmente fazemos uma mistura de live acts com dj sets, dependendo do tipo de evento que é organizado”, explicou Rita Martins. No sábado as portas abrem às 21h e a entrada são 150 patacas, com direito a duas bebidas.

24 Jul 2020

História | Centenário da presença militar portuguesa em Macau em debate

Ricardo Borges, investigador da Universidade de São José, dá hoje uma palestra intitulada “100 anos de presença militar portuguesa em Macau (1875-1975)”. Ao HM, o académico denuncia alguns “erros” e “mitos” que foi encontrando em artigos sobre a história militar portuguesa do século XX e alerta para um afastamento progressivo da génese das fortificações militares actualmente destinadas ao turismo

 

[dropcap]F[/dropcap]oi em 1975 que se deu a saída da Guarnição Militar Portuguesa de Macau, mas antes disso há uma imensa história com 100 anos de existência para contar. Ricardo Borges, investigador da Universidade de São José (USJ), aborda hoje essa história no Grand Lapa, a partir das 19h, numa palestra promovida pela Câmara de Comércio França-Macau.

Ao olhar para o centenário da presença militar portuguesa em Macau, o investigador percebeu “a falta de estudos sistematizados”, uma vez que “todas as publicações que existem acabam por parar no final do século XIX e não há uma continuação para o século XX”, disse ao HM.

No início do século XX, sobretudo até ao final da I Guerra Mundial, em 1918, houve “um investimento na Guarnição com o Governador Correia da Silva, que de facto trouxe a Guarnição para o século XX em termos tecnológicos e estruturais, já com cerca de 20 anos de atraso”.

Em 1933 dá-se início ao Estado Novo em Portugal, com a implementação de uma nova Constituição, que acaba por influenciar o posicionamento e o investimento do Governo de Salazar na Guarnição Militar Portuguesa em Macau e em todo o Ultramar.

Ricardo Borges denota que existe “uma marcada diferença de abordar a Guarnição até 1933”, uma vez que, com a nova Constituição, “existem ordens de Lisboa para se cortar nas despesas de todas as colónias e as despesas militares são as primeiras a levarem um corte”.

Posteriormente desenvolve-se “um período de grande instabilidade na Ásia”, onde, além dos tumultos políticos na China, com a queda do Império e a Guerra Civil entre nacionalistas e comunistas, acontecem “as ambições imperiais japonesas que se fazem sentir mais cedo do que a II Guerra Mundial”.

“Em 1937 já se sentiam essas fricções no sul da China e vou falar um pouco sobre algumas das coisas que ainda não foram abordadas sobre Macau no período da II Guerra Mundial”. Nesse sentido, Ricardo Borges vai “aprofundar aquilo que a Administração portuguesa aqui em Macau acabou por vender aos japoneses. E também vou falar da documentação que foi destruída, era uma situação muito complicada”.

A “grande guarnição”

A implementação da República Popular da China, em 1949, faz Salazar reforçar o número de homens na Guarnição Militar Portuguesa em Macau. Esta passa a constituir “um projecto político muito importante para a imagem internacional do Estado Novo e para a própria imagem interna de sustentação do regime”.

Dessa forma, “em 1949 e até ao final da década estavam em Macau todos os anos mais de 3 mil soldados, uma grande guarnição num território pequeno e com uma população diminuta”. Tal acabou por ter um efeito social, uma vez que muitos soldados portugueses acabaram por constituir família em Macau e ficar pelo território. “É um período com muita influência na comunidade portuguesa.”

Até 1975 mantém-se “intocável o status quo entre Portugal, a Administração portuguesa e o regime comunista na China”. Ricardo Borges diz ter recolhido depoimentos de antigos soldados e oficiais que “revelam que a postura era muito diferente na forma de encarar os militares em Macau”.

Militares e turismo

Olhando para as fortificações e infra-estruturas militares que permanecem no território, Ricardo Borges lamenta que não haja uma maior associação entre a sua génese e significado original e o turismo. “Tudo começou com a Fortaleza da Barra, que foi transformada em pousada em 1981, mas também quando o Governador Rocha Vieira transformou a Fortaleza do Monte no Museu de Macau. O património está materialmente bem preservado e há cuidados, mas todas as novas sinergias que estão a ser associadas a estes locais afastam sempre o visitante da sua origem militar.”

Ricardo Borges dá o exemplo da Fortaleza da Barra, “onde existe uma grande transformação do espaço e que dissocia muito daquilo que era a sua função original”. Quanto à Fortaleza do Monte está-se perante “um caso paradigmático”, uma vez que “se o visitante entrar na Fortaleza pelo Museu, quando chega lá acima não tem nenhuma noção de que está numa fortificação”.

O investigador alerta para o facto de existir “cada vez mais uma postura pós-colonialista, com uma clara dissociação daquilo que é a antiga função [das estruturas militares] e da forma como são hoje apresentadas a visitantes ou residentes”.

Em termos académicos, Ricardo Borges também lamenta que, na feitura da história militar na viragem do século XIX para o século XX, existem “inúmeros erros”. “É o que chamo de mitos gravados na pedra, mas que não têm qualquer sustentação. Muita da investigação que tenho feito contradiz muitos destes mitos que se calcificaram ao longo do século XX. É necessário muito cuidado quando se trata da história militar em Macau durante o século XX. Esse é um trabalho que ainda está por fazer”, conclui.

23 Jul 2020

Leão de Ouro de Carreira do Festival de Cinema de Veneza para Ann Hui e Tilda Swinton

[dropcap]A[/dropcap] realizadora Ann Hui e a atriz Tilda Swinton vão ser distinguidas com o Leão de Ouro de Carreira do 77.º Festival Internacional de Cinema de Veneza, que decorre em setembro naquela cidade italiana. Segundo a organização do festival, num comunicado, este ano o Leão de Ouro de Carreira será atribuído à realizadora “aclamada pela crítica” Ann Hui e à “icónica” atriz Tilda Swinton.

Ann Hui, ao aceitar a distinção, citada no comunicado, declarou-se “muito feliz pela notícia e honrada pelo prémio”. “Tão feliz que sinto que não consigo encontrar palavras. Só espero que tudo melhore rápido no mundo e que toda a gente consiga sentir-se tão feliz como eu estou neste momento”, afirmou a realizadora classificada como uma “das figuras de proa da Nova Vaga de Hong Kong”, que revolucionou os filmes daquele território nos anos 1970 e 1980.

Por seu lado, Tilda Swinton, ao aceitar o prémio disse: “Este grande festival está próximo do meu coração há três décadas: ser homenageada por ele desta maneira é extremamente dignificante”.

“Estar em Veneza, este ano de todos os anos, para celebrar o cinema imortal e a sua sobrevivência desafiante face a todos os desafios que a evolução pode colocar-lhe – a todos nós – será a minha verdadeira alegria”, afirmou.

O director do festival, Alberto Barbera, lembrou que Ann Hui é “uma das mais respeitadas, prolíficas e versáteis realizadoras da Ásia dos nossos dias; a sua carreira estende-se por quatro décadas e todas todos os géneros”.

“De maneira pioneira, através da sua linguagem e estilo visual único, não só capturou aspectos específicos da cidade e imaginação de Hong Kong, como os transpôs e traduziu para uma perspetiva universal”, referiu Alberto Barbera.

Sobre Tilda Swinton, o diretor do festival de Veneza afirmou que é “unanimemente reconhecida como uma das mais artistas mais originais e poderosas a consagrar-se no final do século passado”.

“A sua singularidade reside na personalidade imponente e incomparável, versatilidade incomum, e uma capacidade de passar do cinema mais radical para grandes produções de Hollywood, sem nunca descurar a sua necessidade inesgotável de dar vida a personagens não qualificáveis e incomuns”, defendeu.

A 77.ª edição do Festival Internacional de Cinema de Veneza decorre entre 2 e 12 de Setembro.

21 Jul 2020

Três curtas-metragens de Macau exibidas amanhã no Porto

Três curtas-metragens com a assinatura de Tracy Choi, Nancy Io e Emily Chan fazem parte da iniciativa “Femme Sessions”, que decorre esta quarta-feira no espaço Maus Hábitos, no Porto. O curador é Cheong Kin Man, que considera o trio de realizadoras os nomes mais importantes do cinema que se faz actualmente no território

 

[dropcap]O[/dropcap] cinema de Macau vai estar em destaque esta quarta-feira na cidade do Porto, graças à iniciativa do espaço Maus Hábitos. O evento “Femme Sessions” vai contar com a exibição de três curtas-metragens da autoria de Tracy Choi, Emily Chan e Nancy Io, numa iniciativa que conta com a curadoria de Cheong Kin Man, natural de Macau e estudante de doutoramento na Universidade Livre de Berlim.

Uma nota do espaço Maus Hábitos dá conta que “uma das maiores preocupações das cineastas macaenses pós-coloniais é maximizar a criatividade numa sociedade caracterizada pela auto-censura”. Nesse sentido, serão exibidos “três exemplos pertinentes que merecem atenção neste sentido”.

É o caso de “Um Amigo Meu”, realizada por Tracy Choi em 2013, um dos primeiros filmes LGBT de Macau. A história centra-se na bem-comportada Sin que testemunha uma situação de bullying na sua nova escola e ousa não expô-la. Vendo a vítima, Tong, a ser sempre tratada de maneira injusta, oferece-se para ajudar.

Gradualmente, a amizade entre as duas cresce, no entanto, Sin tem medo de se envolver nos problemas de Tong. Desde então, tenta manter distância de Tong e ignora todo o bullying que testemunhou. É então que Sin mergulha num dilema moral.

Tracy Choi é descrita pelos organizadores do evento como uma “brava cineasta que ganhou uma impressão positiva no público transregional”. Ao HM, a aclamada realizadora mostrou-se satisfeita por poder mostrar o seu trabalho na cidade do Porto. “Penso que é uma grande oportunidade para mostrarmos alguns filmes de Macau. É um prazer podermos mostrar estas curtas-metragens ao público.”

Além da curta-metragem de Tracy Choi, os amantes de cinema do Porto poderão também ver “Projecto Miúdos”, realizado em 2016 por Nancy Io, e que conta a vivência de crianças num jardim de infância.

Destaque também para “Até ao fim do mundo”, realizado o ano passado por Emily Chan, e que se centra na possibilidade de 2012 ser o ano em que o mundo acaba. A personagem Zoe decide deixar Macau, mas, antes de partir, encontra um rapaz de quem gosta e decide caminhar com ele uma última vez. As curtas-metragens de Macau voltam a ser exibidas na sexta-feira, desta vez em Aveiro.

Os bons exemplos

Ao HM, o curador da iniciativa explicou que escolheu estas três curtas-metragens por se tratar de um trio realizadoras de Macau “que são as mais importantes no presente”. “São cineastas reconhecidas a nível local e regional. Valorizo os méritos da Tracy [Choi] pelo sucesso obtido ao abordar as questões da comunidade LGBT no seu trabalho, numa sociedade que parece não estar ainda muito habituada ao tema. A Tracy consegue falar do ‘problema’ com a subtileza necessária numa realidade como a de Macau”, explicou Cheong Kin Man.

Quanto a Nancy Io, “é a única das três realizadoras que começou a ter sucesso antes de estudar cinema”. Neste sentido, “é um exemplo de coragem para muitas pessoas de Macau que começam a filmar sem formação académica”.

Cheong Kin Man denota que o cinema local tem sido mostrado em Portugal nos últimos anos, tendo dado como exemplo a apresentação, na Cinemateca Portuguesa, nos anos 90, de vários filmes em que Macau é retratada.

“É evidente que o esforço dos cineastas locais e do Governo da RAEM têm gerado frutos aos quais Portugal começa a dar atenção. Mas temos de ser mais ambiciosos, porque [o cinema] de Macau permanece ainda pouco conhecido no resto da Europa”, frisou.

Além desta mostra de cinema no Porto, Cheong Kin Man apresenta na Conferência Internacional de Cinema – Arte, Tecnologia, Comunicação (AVANCA – CINEMA 2020), em Aveiro, os textos académicos “O papel dos média culturais ‘subalternes’ nos povos ‘indígenas’ do mundo de língua chinesa: análise semântica, temas e traduções” e “Uma identidade reinterpretada: Notas sobre um antigo documentário e antigas pesquisas em redor da identidade macaense”.

Segundo o autor, os textos “lançam a reflexão sobre o conceito de eurocentrismo, ao mesmo tempo que procuram valorizar Macau enquanto objecto pertinente para a investigação pós-colonial”.

21 Jul 2020

Literatura | André Carrilho publica primeiro livro para a infância

Chama-se “A menina com os olhos ocupados” e é o primeiro livro virado para os mais novos em que André Carrilho assume, pela primeira vez, o papel de ilustrador e autor de uma obra. Lançado em Portugal pela mão da editora Bertrand, o livro pretende chamar a atenção para o tempo que as crianças gastam com gadgets, mas é também uma forma de o autor conversar com os próprios filhos

 

[dropcap]U[/dropcap]ma menina passa os dias inteiros com os olhos colados a um ecrã e não se apercebe do mundo que a rodeia. Até que, um dia, o telemóvel que utiliza diariamente desaparece. É esta a história do novo livro de André Carrilho, ilustrador que agora se aventura como autor, e se intitula “A menina com os olhos ocupados”. A apresentação foi feito em Portugal pela editora Bertrand.

Ao HM, André Carrilho, ex-residente em Macau, contou que esta é também uma obra onde aproveita para conversar com os filhos. “Comecei a escrever este livro depois de ter sido pai”, apontou.

“Comecei a deitar a minha filha à noite e o ritual para ir dormir incluía ler uma história. À força de ler tantas histórias comecei a perceber que os livros são ideais para falar com as crianças sobre alguns assuntos e para criar comunicação com elas, e havia alguns assuntos que eu queria falar com os meus filhos sobre os quais não encontrei livros. Um deles era sobre o mundo da tecnologia e dos gadgets, então escrevi este livro para ter uma ferramenta que me permitisse falar com os meus filhos sobre isso.”

Carrilho, que sempre usou a ilustração como o foco principal do seu trabalho, assume agora que as imagens que desenhou são complementares à história, incorporando outros elementos que as palavras não traduzem.

Além da comunicação com os filhos, André Carrilho recorre a “A menina dos olhos ocupados” para chamar a atenção para a problemática relação entre as crianças e a tecnologia.

“O meu livro chama a atenção para isso, mas não faço juízos de valor em relação aos pais que põem os filhos a olhar para os telemóveis. É difícil ser pai e o telemóvel é uma grande ajuda. O que acho é que pais e filhos devem ter consciência de como fazer e impor limites. Este livro é no fundo o começo de uma conversa sobre esses limites e de como podemos encarar o mundo de várias maneiras.”

Mais autor

André Carrilho, cujos cartoons sobre a actualidade noticiosa são publicados com regularidade em publicações como a Vanity Fair ou o Diário de Notícias, assume querer “ser mais autor”. “Quero repetir esta experiência [de lançar um livro infantil] e tenho várias ideias. Já fiz livros para outras pessoas, ilustrei esses livros, mas agora gostava mais de me focar a escrever esses textos.”

Até agora o autor assume que tem recebido “boas reacções, que estão a dar-me bastante ânimo”. Apesar de o lançamento de “A menina com os olhos ocupados” ter ocorrido em tempos de pandemia, a verdade é que a altura não podia ser a mais ideal.

“O livro estava pronto para ser lançado logo que Portugal entrou em confinamento e tivemos de mudar os nossos planos, mas depois falando com a editora chegámos à conclusão que as pessoas precisavam mais do livro do que nunca, porque as crianças estavam em casa e era preciso dar o contraponto, ao invés de estar sempre a olhar para a televisão dar um livro para eles lerem”, rematou André Carrilho.

17 Jul 2020

Exposição | World Press Photo 2020 na Casa Garden em Setembro

A World Press Photo 2020 já tem data marcada para ser exibida em Macau. Entre os dias 25 de Setembro e 18 de Outubro na Casa Garden. Como é hábito no mais prestigiado concurso de fotojornalismo, as obras deste ano vivem das mais básicas emoções humanas, incluindo dos protestos em Hong Kong, Argélia e Sudão

 

[dropcap]“S[/dropcap]traight Voice” é o título do da fotografia que venceu o prémio do júri independente de 2020 do concurso World Press Photo. Um poderoso retrato de Yasuyoshi Chiba, fotógrafo japonês da Agence France Presse (AFP), que mostra um jovem iluminado por telemóveis a recitar poesia de protesto numa manifestação durante um apagão em Cartum, no Sudão. A fotografia tirada no dia 19 de Junho do ano passado por Yasuyoshi Chiba é um dos incontornáveis destaques da exposição World Press Photo 2020, que vai estar patente na Casa Garden de 25 de Setembro a 18 de Outubro.

O júri do concurso descreveu a fotografia vencedora como “poética” e uma demonstração do poder da arte e da juventude.

A imagem representa o momento que se viveu no Sudão, após a queda do regime de Omar al-Bashir, que esteve no poder durante três décadas, levando à divisão violenta entre militares com aspirações executivas e um movimento pró-democracia que encheu as ruas.

“Este foi o único momento em que presenciei o protesto de um grupo pacífico durante a minha estadia no Sudão. Senti a solidariedade invencível, como uma chama que não se apaga”, referiu Chiba sobre o momento que captou, em declarações citadas pela AFP.

O presidente do júri deste ano do World Press Photo, Lekgetho Makola, considera que, apesar de ter sido tirada num contexto de conflito, a fotografia tem o poder de “inspirar as pessoas”. “Vemos este jovem, que não está a disparar uma arma, nem a atirar uma pedra, mas a recitar um poema. Representa o reconhecimento e a expressão da esperança”, acrescentou à AFP.

Rostos da ira

Entre as distinções deste ano está uma fotografia dos protestos antigovernamentais de Hong Kong, de autoria de Nicolas Asfouri, também da AFP, na categoria de foto de notícias gerais.

Dos momentos captados pelo fotógrafo, o júri destacou duas fotografias. Uma mostra um grupo de jovens estudantes, trajadas com uniforme escolar, de mãos dadas a atravessar uma passadeira, e a outra tem como figura central uma mulher a avançar com determinação e raiva estampadas no rosto, por uma avenida cheia de detritos, segurando um guarda-chuva numa mão e uma placa com a palavra “amor” na outra.

Entre os nomeados para fotografia do ano conta-se também uma imagem que espelha a brutalidade que os manifestantes anti-governo argelinos sofreram desde Fevereiro do ano passado, depois de Abdelaziz Bouteflika ter renunciado ao poder, deixando o destino do país à mercê da ascensão executiva de um grupo de militares. Esta equação política levou a protestos de larga escala a exigir o retorno à democracia liderada por civis. A fotografia de Farouk Batiche ilustra o esmagamento literal dos manifestantes argelinos pela polícia.

Outra das fotografias premiadas é de Anna, uma rapariga arménia de 15 anos, que valeu a Tomek Kaczor a distinção de melhor retrato do ano. A foto a preto e branco, intitulada “Despertar”, mostra a jovem, numa cadeira de rodas, acabada de acordar de um estado catatónico resultante do Síndrome da Resignação. O pano de fundo é um centro de acolhimento de refugiados em Podkowa Lesna, nas imediações de Varsóvia.

O Síndrome da Resignação é uma doença psicológica pós-traumática de contornos ainda pouco conhecidos, que afecta particularmente crianças, tornando-as passivas, imóveis, sem resposta perante estímulos e sem falar. A enfermidade foi detectada em menores que escaparam de zonas de conflito bélico, como as crianças Yazidi e a geração traumatizada pela guerra dos Balcãs.

Durante a exibição, a Casa Garden ficará assim ilustrada não só com o de melhor se faz em fotojornalismo, mas também com as imagens que marcaram o mundo no ano passado, antes das máscaras cirúrgicas inundarem tudo o que é retratável.

16 Jul 2020

Fotografia | Gonçalo Lobo Pinheiro agraciado na Malásia

[dropcap]A[/dropcap] fotografia “Hope and belief” voltou a ser novamente agraciada num concurso internacional de fotografia. Desta vez conseguiu chegar a finalista do Kuala Lumpur International Photoawards, na Malásia, um concurso exclusivamente dedicado à fotografia de retrato. A imagem de Ratna Khaleesy, captada em 2018, ficou entre os 40 finalistas num total de 1220 fotografias a concurso. “Os padrões de escolha foram extremamente elevados e a sua participação inspirou todos os membros do júri, ronda após ronda”, discussão após discussão”, pode ler-se em nota escrita em inglês enviada ao autor pelo director dos prémios, Steven Lee.

Os juízes concederam o primeiro lugar a um retrato de Karoline Schneider, enquanto o segundo lugar foi para uma pose de perfil discreto em estilo clássico de Umaru Joji. O terceiro prémio foi concedido a um retrato captado por Natalia Ershova, da Rússia”, revelou ainda Steven Lee. As fotografias dos vencedores e 40 finalistas podem ser vistas neste link: https://www.klphotoawards.com/singles-finalists-2020

O júri desta edição foi composto pelo fotógrafo Kenny Loh, pela artista Haley Morris-Cafiero, pela editora de fotografia da Leica, Carol Körting, pela directora do Festival de Fotografia de Kuala Lumpur, Jessica Chan, e também pelo fotógrafo SC Shekar.

O Kuala Lumpur International Photoawards [KLPA] é um dos mais conceituados prémios anuais de fotografia do mundo, dedicado exclusivamente ao retrato. Gonçalo Lobo Pinheiro é um fotojornalista português com 20 anos de carreira. Nascido em 1979 em Alfama, Lisboa, Portugal, está radicado em Macau desde 2010, onde tem vindo a desenvolver trabalho fotográfico documental em áreas maioritariamente de índole social, mas também de fotografia de viagem.

15 Jul 2020

Quiosque do Lilau tem nova gerência e oferece pedaços de cultura portuguesa 

Elias Colaço, presidente da Associação de Goa, Damão e Diu em Macau, ganhou o concurso público para a exploração do Quiosque do Lilau, situado no largo com o mesmo nome. Com o objectivo de dinamizar a zona e reunir as gentes do bairro, Elias Colaço disponibiliza cerveja de pressão e quer começar a apostar nos petiscos e pratos de raiz portuguesa, entre outros

 

[dropcap]U[/dropcap]m espaço sem vida, mas cheio de história, ganha agora um novo dinamismo graças ao projecto de Elias Colaço, que venceu o concurso público do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) para a exploração do Quiosque do Lilau. Desta forma, o espaço constitui agora um novo local de convívio para todas as comunidades que habitam Macau, mas sobretudo para aqueles que têm saudades do hábito tipicamente português de beber cerveja e petiscar ao ar livre.

Elias Colaço, também presidente da Associação de Goa, Damão e Diu em Macau, reconhece que trouxe uma lufada de ar fresco aos quiosques de Macau, que nunca tinham tido um projecto de concessão virado para a cultura portuguesa.

“Introduzi essa novidade e há muita gente da nossa comunidade portuguesa que fica satisfeita por saber que eu peguei num quiosque e tentei dar-lhe um cunho português”, contou ao HM. “Não é normal ver-se cerveja de pressão nos quiosques de Macau e eu tenho isso aqui. E tenho tremoços, bem à moda portuguesa.”

A concessão esteve em risco de não acontecer, uma vez que havia outro concorrente em primeiro lugar, mas este acabou por desistir. “Acho que o que levou o IAM a tomar uma decisão foi o facto de o nosso projecto ser completamente diferente aquilo a que as pessoas estavam habituadas. Perceberam que uma coisa que estava completamente abandonada poderia gerar novas oportunidades”, frisou Elias Colaço.

A bela chamuça

O projecto do presidente da Associação de Goa, Damão e Diu não passa apenas pela comida e bebida, pois há a ideia de promover espectáculos musicais e outro tipo de eventos no jardim. Elias Colaço quer, aos poucos, disponibilizar uma gastronomia de origem portuguesa, muito devido às suas origens.

“Como sou da Índia Portuguesa [Damão], quero servir algumas especialidades da minha terra, e as pessoas contam com isso. Quero apostar em produtos diferenciados, estou a trabalhar para ter hambúrgueres com um toque especial, por exemplo, ou refeições ligeiras”, frisou.

Para já a cerveja de pressão e alguns salgados e petiscos, como a chamuça, fazem sucesso. “O feedback tem sido positivo, embora ainda venha pouca gente. Não há uma regularidade, mas a partir de quinta-feira começa a vir muita gente. Aos fins-de-semana costumo ter a casa cheia.”

Ao explorar o Quiosque do Lilau, Elias Colaço quer também chamar a atenção para a importância do património português no território. “O Largo do Lilau está inserido no centro histórico, que é património da UNESCO. Fazia-me confusão porque é que uma zona que tem classificação da UNESCO estava quase sem nada”, rematou.

15 Jul 2020

Luso-canadiano quer criar mural em Macau dentro de dois anos 

[dropcap]U[/dropcap]m português a residir no Canadá pretende criar uma “aldeia global virtual” das comunidades portuguesas espalhadas nos vários cantos do mundo, um projecto que envolve a colocação de 25 murais dedicados à fadista Amália Rodrigues.

“O objectivo é de criar uma comunidade virtual entre as comunidades portuguesas no mundo para comunicarmos virtualmente. Para partilharmos a nossa cultura”, afirmou à Lusa o empresário e escritor Herman Alves, 62 anos, radicado no Canadá há 50 anos. Depois do Canadá, o próximo mural será pintado em Paris, pela artista luso-francesa Nathalie Afonso, obra que será acompanhada pela canção “Amália Aux Milles Reflets” interpretada por Marta Raposo, artista luso-canadiana a residir em Montreal.

Dentro de dois anos, o promotor espera ter murais de Amália nos vários cantos do mundo, como em Goa, Macau, Timor-Leste e em outras antigas colónias portuguesas ou países onde existem grandes comunidades portuguesas.

Natural de Porto de Mós, no distrito de Leiria, e a residir em Montreal, no Quebeque, Herman Alves lançou o projecto da colocação de 25 murais de Amália Rodrigues em várias cidades com grande representatividade da comunidade portuguesa. “Esperamos organizar na altura do Natal um concerto virtual, junto dos murais, com a contribuição de cada cidade”, sublinhou.

Com canções

O artista Paulo Carreira começou ontem a pintar o mural da diva do fado junto ao Parque de Portugal, em Montreal, próximo da residência do músico canadiano Leonard Cohen, e que terá a sua inauguração no centenário do aniversário de Amália Rodrigues, no dia 23 de Julho. Além de Montreal, Porto de Mós já dispõe de um mural da fadista, na Praça Arménio Marques, inaugurado no dia 29 de Maio, e as próximas cidades a receber as respectivas obras serão Toronto (Canadá), Fall River e New Bradford (Estados Unidos), Buenos Aires (Argentina) e Praia (Cabo Verde).

No entanto, o empresário também destaca outra vertente cultural da iniciativa, através do fado, interpretado por artistas das comunidades locais e em língua oficial desses mesmos países.

“O plano é fazer 25 murais com 25 canções para depois lançarmos dois álbuns, por artistas locais. Por exemplo em Cabo Verde será interpretada por José Perdigão em crioulo. Cada mural terá a sua canção, em inglês e em francês”, explicou.

Este ano assinala-se o centenário do nascimento de Amália Rodrigues.  A fadista tem uma ligação especial com a comunidade portuguesa no Canadá: o município de Toronto, em 1986, proclamou 6 de Outubro como o Dia de Amália, naquela cidade, curiosamente o mesmo dia em que a fadista viria a falecer, em 1999.

14 Jul 2020