Óbito | Biógrafa de Agustina sublinha “obra extraordinária que não morre hoje”

[dropcap]A[/dropcap] escritora Isabel Rio-Novo, autora da biografia de Agustina Bessa-Luís, considera que a “obra extraordinária” da autora “não morre hoje” e “continuará a ser lida e apreciada seguramente daqui por cem ou duzentos anos”. Agustina Bessa-Luís morreu ontem no Porto aos 96 anos.

“Enquanto leitora, enquanto biógrafa e pessoa que ainda teve o privilégio de poder conhecer pessoalmente sinto-me profundamente grata por uma obra extraordinária que não morre hoje”, disse Isabel Rio-Novo à agência Lusa.

A escritora, que publicou em Janeiro a biografia “O Poço e a Estrada”, sobre Agustina Bessa-Luís, recorda “uma obra inqualificável, extremamente prolífica, de uma forma de escrita e de uma forma de compreensão e de indagação da natureza humana absolutamente única no contexto da literatura portuguesa e mundial”.

Isabel Rio-Novo disse ter conhecido pessoalmente Agustina Bessa-Luís no contexto de projectos de investigação, e recordou “toda a sua inteligência, o seu humor, a sua graça, cuja gargalhada cristalina era verdadeiramente contagiante”.

A cerimónia fúnebre da escritora Agustina Bessa-Luís decorrerá na terça-feira, na Sé Catedral do Porto, seguindo depois para o cemitério do Peso da Régua, Vila Real, revelou ontem o Círculo Literário Agustina Bessa-Luís.

Em comunicado, a direcção explica que o corpo da escritora ficará em câmara ardente na Sé Catedral do Porto, a partir das 10:30 de terça-feira. Às 16:00 “serão celebradas exéquias solenes”, presididas pelo bispo do Porto.

“Finda a cerimónia religiosa, o corpo seguirá para o Cemitério do Peso da Régua, onde será sepultado na intimidade da família”, refere o Círculo Literário Agustina Bessa-Luís. O Governo decretou para terça-feira um dia de luto nacional pela morte da escritora.

Percurso de ouro

Agustina Bessa-Luís nasceu em 15 de Outubro de 1922, em Vila Meã, Amarante, e encontrava-se afastada da vida pública, por razões de saúde, há cerca de duas décadas.

O nome de Agustina Bessa-Luís destacou-se em 1954, com a publicação do romance “A Sibila”, que lhe valeu os prémios Delfim Guimarães e Eça de Queiroz, duas de muitas distinções que recebeu ao longo da vida.

Em 1983 recebeu o Grande Prémio de Romance e Novela, da Associação Portuguesa de Escritores, pela obra “Os Meninos de Ouro”, um galardão que voltou a receber em 2001, com “O Princípio da Incerteza I – Joia de Família”.

A escritora foi distinguida pela totalidade da sua obra com o Prémio Adelaide Ristori, do Centro Cultural Italiano de Roma, em 1975, e com o Prémio Eduardo Lourenço, em 2015.

Foi condecorada como Grande Oficial da Ordem de Sant’Iago da Espada, de Portugal, em 1981, elevada a Grã-Cruz em 2006, e ao grau de Cavaleiro da Ordem das Artes e das Letras, de França, em 1989, tendo recebido a Medalha de Honra da Cidade do Porto, em 1988.

Questionada sobre o que escrevia, a autora disse, num encontro na Póvoa de Varzim: “É uma confissão espontânea que coloco no papel”.

4 Jun 2019

RAEM, 20 anos | ‘Um Olhar Sobre Macau” apresenta obras de 27 fotógrafos

[dropcap]A[/dropcap] exposição de fotografia “RAEM, 20 Anos – Um Olhar Sobre Macau” é hoje inaugurada, às 18h30, na Chancelaria do Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong. A mostra reúne o trabalho de 27 fotógrafos profissionais e amadores – entre portugueses e macaenses, mas contando também com uma brasileira –, sobre o território após a transferência de soberania.

“A primeira abordagem começou por ser um projecto pensado para 20 fotógrafos, 20 imagens, 20 anos, mas depois, obviamente, mais fotógrafos demonstraram interesse em participar, tanto amadores como profissionais”, comentou o coordenador da exposição, Gonçalo Lobo Pinheiro, que achou por bem integrar na iniciativa todos os participantes interessados.

O resultado final “ficou em 27 fotógrafos e 27 imagens, e é isso que nós vamos ver amanhã [hoje]. São fotografias que têm um espaço temporal de 20 anos, quase literalmente, porque temos fotos do dia 20 de Dezembro de 1999, só não temos fotos do dia 3 de Junho de 2019…”, acrescentou.

Portanto, “é um leque vasto de fotografias, imagens com bastante qualidade, trabalhos muito interessantes, que acho que as pessoas vão gostar de ver”, referiu ainda.

Atrás da objectiva

Participam nesta mostra, além de Gonçalo Lobo Pinheiro, coordenador e fotógrafo, também André Branco, António Leong, António Mil-Homens, António Monteiro, Carlos Dias, Carlos Gonçalves, Carmo Correia, Catarina Domingues, Edite Ribeiro, Eduardo Leal, Eduardo Martins, Fátima Cameira, Francisco Ricarte, Hugo Pinto, João Miguel Barros, João Monteiro, Maria José Freitas, Miguel Valle de Figueiredo, Nuno Assis, Paulo Cabral Taipa, Pedro Reis, Renato Marques, Rogério Luz, Rui Palma, Sara Augusto e Sofia Mota.

A organização do evento, que vai estar patente ao público durante um mês, entre os dias 4 de Junho e 5 de Julho, de segunda a sexta das 9h às 17h, é da responsabilidade da Casa de Portugal, no âmbito das comemorações de “Junho, Mês de Portugal” e também das iniciativas integradas no “Arte Macau” da RAEM.

A exposição deverá seguir mais tarde para Portugal, onde irá participar durante o Verão num festival de fotografia, na cidade do Porto.

4 Jun 2019

Exposição | “Sunless Asteroid AO22” de Sun Xiaoyu amanhã no Armazém do Boi

Fazer uma viagem futurista a um asteróide imaginário, que um dia teve o nome de Macau, é a proposta da artista multimédia chinesa que se apresenta amanhã no Armazém do Boi

 

[dropcap]A[/dropcap] viagem começa com uma simbólica cerimónia de desmagnetização da identidade, antes da partida marcada para um mundo alternativo, onde a reflexão sobre o futuro é uma metáfora cosmológica da visão da terra. A exposição “Sunless Asteroid AO22”, da jovem artista de multimédia chinesa Sun Xiaoyu, ocupa a partir de amanhã, 5 de Junho, o espaço do Armazém do Boi, que pretende ser o portal de passagem para esse outro lugar.

Equipada com nove ecrãs, que serão janelas para olhar o universo, a galeria vai projectar o mais recente trabalho videográfico de Sun Xiaoyu, intitulado “No Destinations”, resultante da residência artística de um mês que a trouxe ao território, em Maio passado. As imagens então recolhidas, e agora expostas, gravitam à volta do título “Asteróide sem Sol”, nome de código AO22, uma espécie de planetóide imaginário outrora chamado Macau (AoMen, 1998).

“Após o colapso do sistema solar, o asteróide perdeu a sua estrela e tem andado à deriva pelo universo. Em AO22 não existe dia nem noite, a areia preta semi-fluida contém solo e água. Não se dorme e as nuvens baixas, compostas de mercúrio, estão carregadas com altos níveis de oxigénio.

Na linha do horizonte, amarelo-brilhante, podem ver-se camadas de miragens paradisíacas, construídas por colonos humanos neste asteróide morto. Depois de muita fusão de histórias de colonos e imigrantes, foi imposta uma ‘lei de isolamento’: apenas é permitida a existência a pessoas sem identidade”, é o repto da exposição.

Eis o ponto de partida para a viagem, onde os espectadores são convidados a forjar uma não-identidade, para entrarem de uma forma clandestina no AO22. “Durante gerações, lendas misteriosas sobre o AO22 espalharam-se por todos os quadrantes, relatando como incontáveis criaturas tentaram viajar até lá e nunca regressaram”, afirma o manifesto da artista.

Novo mundo

Sun Xiaoyu é uma artista de vídeo que se graduou em 2017, na Escola de Artes Intermediáticas da Academia de Artes Chinesa, com um mestrado em Narrativa da Imagem Espacial. Actualmente vive entre as cidades de Hangzhou e Xangai, e trabalha em fotografia artística para instalação de painéis de vídeo, criando narrativas de linguagem visual que reflectem o pensamento actual, através do ritmo entre a imagem e o espaço expositivo.

“O seu trabalho é construir um novíssimo mundo da imagem, recorrendo a metáforas surreais e rompendo com a linguagem intrínseca à própria construção. Explora também a percepção e a lógica interna da narrativa, através da imagem, sobre a realidade presente e o espaço futuro”, pode ler-se no comunicado de imprensa.

Apesar da curta carreira, Sun Xiaoyu participou já em diversas mostras nacionais – no Western Art Museum de Xi’an, no New Media Art Festival em Chongqing, no CAA Art Museum em Hangzhou, no Times Art Museum de Pequim, e recentemente no Wuhan Art Museum – e internacionais – no San Francisco Art Institute, EUA, no Brüder Grimm-Museum em Kessel, Alemanha, e na Saatchi Gallery de Londres, Reino Unido.

O projecto de “Sunless Asteroid AO22”, organizado pelo Armazém do Boi (Ox Wharehouse), foi desenvolvido pela curadora Lin Canwen, mestre de Arte Contemporânea no Instituto de Investigação de Ideologia Social da Academia de Artes Chinesa. A mostra estará patente na Rua do Volong, entre 5 de Junho e 4 de Agosto, todos os dias das 12h às 19h, encerrando à segunda-feira. A entrada é gratuita.

4 Jun 2019

Portugal exibe selecção de documentos da colecção “Chapas Sínicas” em Pequim

[dropcap]U[/dropcap]ma exposição com uma centena de documentos seleccionados da colecção “Chapas Sínicas” – Registos Oficiais de Macau durante a Dinastia Qing (1693-1886), vai ser inaugurada a 10 de Junho, em Pequim, na China.

De acordo com a Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), a iniciativa, conjunta com o Arquivo Nacional da Torre do Tombo de Portugal, está inserida nos 40 anos de relações diplomáticas estabelecidas entre Portugal e a China.

Também se enquadra no 20.º aniversário da passagem da soberania de Macau para a República Popular da China, com celebrações ao longo de 2019.

A exposição “Chapas Sínicas – Histórias de Macau na Torre do Tombo” será integrada no Festival de Cultura de Portugal na China, e apresentada no Museu Nacional de Livros Clássicos, em Pequim.

Aberta ao público de 11 de Junho a 26 de Julho, a mostra apresentará uma selecção de mais de cem documentos, escolhidos de entre os cerca de mais de 3.600 que constituem a colecção “Chapas Sínicas” – Registos Oficiais de Macau durante a Dinastia Qing (1693-1886).

De acordo com a DGLAB, os registos desta correspondência “reflectem as condições da sociedade, a vida das pessoas, as interacções político-administrativas, a gestão urbanística, a administração da justiça e tributária, e outros assuntos de natureza religiosa e comercial que ocorreram em Macau durante a dinastia Qing”.

A colecção “Chapas Sínicas” foi alvo de uma candidatura conjunta do Arquivo Nacional da Torre do Tombo de Portugal e do Arquivo Histórico da Região Administrativa Especial de Macau, e encontra-se, desde 30 de Outubro de 2017, inscrita pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) no Registo da Memória do Mundo.

Primeiramente exposta no dia 6 de Julho de 2018 no Museu das Ofertas sobre a Transferência de Soberania de Macau, no âmbito da edição inaugural do “Encontro em Macau – Festival de Artes e Cultura entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, a exposição “suscitou enorme interesse e afluência de público”, recorda a DGLAB.

Após Pequim, será exposta em Portugal, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Outubro de 2019. A cerimónia de inauguração contará com a presença da ministra da Cultura, Graça Fonseca, e terá lugar no dia 10 de Junho, pelas 15h00 horas.

1 Jun 2019

Três escritores portugueses participam no II Fórum Literário China-Portugal

[dropcap]O[/dropcap]s escritores portugueses Isabela Figueiredo, Bruno Vieira Amaral e José Luís Peixoto vão participar no II Fórum Literário China-Portugal, que vai decorrer em Pequim a 12 de Junho.

Segundo comunicado da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB), o evento vai decorrer no Museu Nacional da Literatura Moderna Chinesa e vai contar com a presença da ministra da Cultura, Graça Fonseca, além da presidente da Associação de Escritores da China, Tie Ning.

Depois de uma primeira edição em Lisboa, em Junho de 2017, o segundo evento vai cruzar os três autores portugueses com os chineses Lu Min, Liu Zhenyun e Xu Zechen, numa conversa que será moderada por outro escritor, Qiu Huadong.

José Luís Peixoto já tinha participado na primeira edição, então ao lado de Gonçalo M. Tavares e Dulce Maria Cardoso. De acordo com o comunicado, o ponto alto será o painel subordinado ao tema “Visão e Imaginação”, marcado para a tarde.

Para a manhã, está marcada “uma apresentação sobre a literatura chinesa e portuguesa e a sua internacionalização”, com a directora de serviços do Livro da DGLAB, Maria Carlos Loureiro, e Qiu Huadong.

A medida insere-se no Festival de Cultura Portuguesa na China, promovido por Portugal no âmbito da celebração dos 40 anos do restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países e os 20 anos da passagem da soberania de Macau para a República Popular da China.

“Este fórum acontece no âmbito do memorando de entendimento entre a República portuguesa e a China no domínio do livro e da literatura, assinado em 2015”, explica a DGLAB, no qual reforça a parceria entre Associação Chinesa de Escritores e este organismo.

1 Jun 2019

“Junho, Mês de Portugal” com teatro infantil e marionetas

[dropcap]O[/dropcap]s mais pequenos estão todos convidados para celebrar amanhã, 1 de Junho, o Dia Mundial das Crianças. Há espectáculos de marionetas e teatro, no âmbito do programa das festividades de “Junho, Mês de Portugal”, organizadas pela Casa de Portugal e pelo IPOR.

“A Magia do Circo” é uma história de marionetas, com doze personagens principais, e mais alguns amigos, que vão ganhar vida nas mãos da artista Elisa Vilaça. São figuras que habitam o mágico mundo circense, com palhaços, malabaristas, e outros convidados, que podem ser vistos por crianças a partir dos 6 meses em diante.

O espectáculo tem duas sessões no Conservatório de Macau, às 11h30 e às 15h00, e os bilhetes gratuitos podem ser levantados na Casa de Portugal.

Pelas 17h30, é a vez da peça “O Nabo Gigante” subir ao palco do Auditório da Casa Garden, um espectáculo de teatro oara a infância adaptado do conto tradicional russo, com o mesmo nome, recolhido por Alexis Tolstoi no séc. XIX. A história relata as inquietações de um casal idoso, que encontra na sua quinta um nabo que não pára de crescer. O conto popular tem ingredientes divertidos e é adequado a crianças a partir dos 5 anos de idade.

Trazido pela companhia ATE – Associação de Teatro Educação, a peça será contada pelos artistas Alexandre Sá e Rita Burmester, com organização do Instituto Português do Oriente.

1 Jun 2019

Música | Matiné no LMA traz três bandas de indie-rock até Macau

Qual a melhor hora para se começar um concerto? O LMA quer fazer a experiência e vai abrir as portas amanhã às cinco da tarde, com um programa de bandas alternativas indie-rock, vindas do Japão, Hong Kong e Guangzhou

 

[dropcap]H[/dropcap]oje é dia de matiné no LMA – Live Music Association – com um trio de bandas indie-rock de referência para a juventude local, que prometem festa de arromba até ao início da noite. É uma oportunidade única para ver estes grupos musicais num só dia: Buddhistson, do Japão, The Lovesong, de Hong Kong, e Smellyhoover, de Guangzhou.

O director da associação, Vincent Chi Tat, tem grandes expectativas para este encontro de bandas que quis reunir num só espectáculo, de tributo aos 11 anos de concertos ao vivo que o LMA tem conseguido trazer até Macau. “Queríamos organizar uma grande festa para mostrar às pessoas que temos já mais de uma década de actividade na organização de eventos de música alternativa ao vivo”.

O destaque vai para a banda Buddhistson, que faz as honras da festa e está no território pela quarta vez. A primeira actuação foi em 2006, numa edição do Festival Hush!, onde Vincent os conheceu. “Foi há mais de uma década e foi a primeira vez que os vi ao vivo. A banda era muito boa, muito impressionante, e adorei a música. Então, anos mais tarde o LMA voltou a convidá-los para tocarem em Macau por duas vezes, como artistas principais para celebrar o 2º aniversário do LMA (em 2010), e uma terceira vez, com uma performance acústica.

Os Buddhistson são uma banda indie-rock criada em 1999, que vem de Kashiwa, no Japão. Com um som etéreo e cru, vozes roucas e melodias emocionalmente carregadas, o grupo conta já com quatro álbuns originais editados e um de compilações. Shima é o vocalista, compositor e guitarrista, que deu o nome à banda por ser, quem diria, um fã de Buddha. São reconhecidos pelo charme e qualidade dos seus espectáculos ao vivo, recorrendo muitas vezes ao grafismo animado nos cenários dos shows.

Os The Lovesong, de Hong Kong, também se juntam ao evento, outra banda iniciada em 1999, definida como pós-hardcore e emocore – género com influências punk-rock da década de 1980, caracterizado por melodias expressivas e letras confessionais –, que acrescenta elementos soul e noise, com ritmos sincopados e algum reggae.

Saltaram para a ribalta com o seu primeiro grande show em Hong Kong, em 2005, foram depois convidados como banda honorária para representar o território vizinho no maior festival de rock ao ar livre da China, o Midi Festival, e, ainda em 2007, fizeram a abertura do concerto da banda de rock industrial norte-americana, os Nine Inch Nails, em Hong Kong.

A terceira banda, Smelly Hoover, é “uma orquestra de um homem só”, Shi Miaoli, que vem de Guangzhou. “Ele era o vocalista de uma outra banda conhecida de Guangzhou, chamada Golden Cage, que agora tem este projecto a solo”, desde 2012. Canta em cantonês, misturando rock, folk, electrónica e shoegaze – um estilo de rock em que os diversos instrumentos e vozes se esbatem num som indistinto – para partilhar sentimentos de alegria e tristeza, louvor e sátira, elogios e críticas, adicionando e gravando os diversos instrumentos e estilos ao vivo, até conseguir músicas completas.

E não só

Entre os três concertos haverá música seleccionada por artistas convidados: o DJ Lobo, produtor de música local, o DJ Ryoma, japonês baseado em Macau, e um dos músicos japoneses da banda Buddhistson, que também vai dar ritmo ao público. A festa começa às 17h da tarde e termina por volta das 22h30, uma proposta diferente para jovens num dia de sábado, em que se espera mais tempo de chuva no território.

“Temos sempre muitas reclamações por causa do barulho, já que os eventos são geralmente pela noite fora. Desta vez quisemos experimentar fazer uma coisa diferente, num outro horário em que os fãs podem vir ouvir música e dançar, sem chegar tarde a casa. Quem sabe qual é a melhor hora para se começar um concerto? Pode ser ao início da tarde. Vamos testar…”, comentou Vincent Chi Tat. Os bilhetes custam 220 patacas e estão à venda na Livraria Portuguesa (250 à porta do LMA).

1 Jun 2019

Exposição | Espaço e Lugar a partir de amanhã na Casa Garden

Um reflexão sobre Macau sentido como espaço físico e lugar emocional é a proposta de “Espaço e Lugar”. A mostra reúne os trabalhos de Maria Mesquitela, João Palla, Alexandre Marreiros, Sofia Campilho e Maria Albergaria, e tem inauguração marcada para amanhã, às 18h30 na Casa Garden

 

[dropcap]”[/dropcap]Espaço e Lugar” é a exposição que tem inauguração marcada para amanhã às 18h30, na Casa Garden, e que reúne os trabalhos de cinco artistas de diferentes sectores das artes plásticas. De Macau vão estar presentes as criações dos arquitectos João Palla e Alexandre Marreiros.

Já de Portugal vêm os trabalhos de Maria Albergaria, Maria Mesquitela e Sofia Campilho. Juntos “dialogam entre si através de um tratamento e de uma abordagem visual do território dando primazia ao cenário urbano e à sua envolvência natural”, apontou a fotógrafa Maria Mesquitela ao HM.

O tema coloca frente a frente as concepções de espaço e de lugar numa metamorfose capaz de transformar o primeiro conceito no segundo.

Aos arquitectos coube essencialmente a interpretação do espaço, enquanto objecto concreto, sendo que o lugar é o tema sujeito à interpretação “mais individual dos artistas, daquilo que os aproxima emocionalmente do espaço, transformando-o ou não no dito lugar”.

“Para ser lugar é preciso uma aproximação emocional, por exemplo, uma casa onde nós habitamos é um lugar. Mas se calhar uma estação de metro é um espaço, a menos que seja um sítio de referência diário, de uma rotina, com a qual existe uma ligação”, explica Maria Mesquitela.

A unir os dois conceitos está Macau e a vivência da cidade quer por quem cá está, quer por quem vem de fora e a sente pela primeira vez. “Somos três artistas portuguesas que vimos de fora, e vamos abordar a cidade, o nosso primeiro, segundo e terceiro impacto, é como se estivéssemos a ver a cidade, este espaço de fora para dentro, ou seja uma visão mais sensitiva, sensorial, em que não há uma crítica sobre o sítio, porque não o vivenciamos”, aponta a fotógrafa referindo-se à participação das três portuguesas. Para Mesquitela, é neste movimento que se vai percepcionando a identificação de um lugar.

João Palla e Alexandre Marreiros, habitantes do território, têm uma abordagem feita “muito mais de dentro para fora”, visto que Macau já é o seu lugar e que acabam por ter que se afastar para analisar o espaço em si. “Ou seja, é mais parcial, talvez com alguma crítica em que mostram a cidade com alguns pormenores muito particulares”, revela Maria Mesquitela.

Matérias primas

Também os meios usados são diversos e variam de autor para autor. Maria Mesquitela, fotógrafa, vai usar o meio que lhe serve de profissão. Depois de três vindas a Macau em que sentiu a cidade sempre de formas diferentes e foi acompanhando as sensações de imagens, a artista mostra agora estas transformações em forma de fotografia. “O meu trabalho é muito ao nível da imagem, por ser fotografia, com uma percepção mais imediata”, diz. Em “Espaço e Lugar” vão estar presentes 3 peças de instalação, que conjugam a “textura com as cores de Macau” em panos.

Já Sofia Campinho utiliza a técnica mista para dar corpo ao seu trabalho artístico de onde se destaca o uso do desenho, de recortes e da pintura. Talvez por ter passado na sua formação académica e profissional pela área da Psicologia, apresenta aqui “um trabalho mais relacionado com a vivência das pessoas, mais íntimo”, conta Maria Mesquitela.

“Por exemplo, tenta procurar o indivíduo que vive numa cidade como Macau, quando é que ele se isola, quando é que está em contemplação, quando é que está em movimento”. Para o efeito, a artista usou motivos e materiais locais – “algumas folhas e papéis com caligrafia e com rezas” – aos quais adaptou a sua percepção da cidade.

A aplicação de ouro a vários suportes é o mote para as criações de Maria Albergaria. No trabalho em que traz a sua representação de Macau, Albergaria debruçou-se sobre a flora local e “foi procurar os jardins e toda esta natureza, que é muito bonita, e juntou-lhe o ouro, que é a sua técnica primordial o que, no fundo, também está muito relacionada com Macau”, conta Mesquitela.

Das mulheres artistas que vieram de fora saem as obras “mais românticas, sensitivas e muito imediatas”.

Por outro lado

As mesas de jogo são o mote de João Palla que vai apresentar uma instalação em que aborda o tema da principal actividade local. A ideia é representar “o casino, como um lugar que molda a cidade”. O trabalho do arquitecto é uma observação “sobre os diferentes tipos de mesa de jogo, apropriando-se delas numa reinterpretação do lugar do jogo não esquecendo a importância dos casinos, para o bem e para o mal”.

Alexandre Marreiros estará como peixe na água na exploração que faz do seu “tema preferido que é o território arquitectónico e urbano, que está relacionado com esta abordagem do espaço e do lugar”.

Marreiros construiu o seu trabalho na observação do crescimento da cidade de Macau, e mostra o que considera ser uma “arquitectura de aparência” ou de “cosmética”, o antes e o depois de Macau, e a rapidez com que o território evolui e se transforma, “talvez como um inventário”. Uma das peças presentes, “Bestiário da arquitectura” é precisamente sobre a arquitectura contemporânea de Macau, “numa contemplação e crítica do espaço habitado e, portanto, o que é lugar e o que não é lugar”.

O resultado, é “um misto de interpretações de quem vem de fora e de quem está dentro, de como cada pessoa interpreta este tema”, remata a fotógrafa.

30 Mai 2019

Grande Baía | Candidaturas a financiamento na área do cinema até 14 de Junho

[dropcap]A[/dropcap] “Feira de Investimento na Produção Cinematográfica da Grande Baía – Guangdong-Hong Kong-Macau 2019” lança a partir de hoje o repto aos membros da indústria cinematográfica do território, interessados em submeter as suas candidaturas a financiamento de projectos, entre 28 de Maio e 14 de Junho.

Organizada pelo Instituto Cultural (IC), pela Administração de Cinema da Província de Guangdong, e pela CreateHK, esta feira de investimento está a receber propostas de candidatos locais, com idade igual ou superior a 18 anos, que sejam os realizadores dos projectos que apresentam, contando já com filmes de ficção previamente exibidos ao público, com pelo menos 20 minutos de duração.

Um júri composto por profissionais da indústria, convidados pelo IC, seleccionará até oito propostas locais para serem objecto de recomendação e participação, numa fase posterior de selecção global das três regiões, de acordo com critérios de selecção como: criatividade do argumento, viabilidade do projecto experiência, capacidade de execução do candidato e equipa, bem como razoabilidade orçamental.

A iniciativa realiza-se no território desde 2014, com o objectivo de estabelecer uma plataforma de qualidade e conveniência para o intercâmbio entre produtores e investidores na área do cinema.

Nas edições anteriores participaram 111 projectos e 210 investidores das três regiões. Os formulários podem ser descarregados nas páginas electrónicas do IC e das Indústrias Culturais e Criativas de Macau.

28 Mai 2019

Ciclo afro-americano na Cinemateca Paixão em Junho

Os últimos filmes de Spike Lee e de Barry Jenkins, dois nomes de destaque do cinema afro-americano, vão estar na mostra “Black is Beautiful” que inaugura sexta-feira na Cinemateca Paixão. Cinema de excelência é no mês de Junho

 

[dropcap]A[/dropcap] Cinemateca Paixão inaugura o ciclo de cinema afro-americano “Black is Beautiful”, que decorre de 7 a 20 de Junho em Macau, com festa, filmes e conversas sobre a cultura e a sociedade negra dos Estados Unidos da América. São 10 títulos de excelência que prestam tributo à crescente popularidade do cinema feito por cineastas de etnia africana, com filmes de referência, clássicos e actuais, premiados nos mais importantes festivais da especialidade.

“Já era altura”, explicou a directora da Cinemateca, Rita Wong, “de reunirmos um conjunto de filmes de importantes realizadores afro-americanos, num ciclo temático que representasse a qualidade das produções que têm sido feitas nos últimos anos”. A vontade vem desde há dois anos atrás, quando o filme “Moonlight” (2016), de Barry Jenkins, venceu o Óscar de Melhor Filme da Academia, ao mesmo tempo que o documentário “I’m Not Your Negro” (2016), de Raoul Peck, sobre a vida do escritor e activista James Baldwin, também nomeado para Melhor Documentário aos Óscares da 89ª Cerimónia da Academia de Cinema e vencedor na mesma categoria dos Prémio BAFTA, ambos anteriormente exibidos na Cinemateca.

O projecto “Black is Beautiful” é assinado pelo curador Francisco Lo, “com quem temos trabalhado já em diversas ocasiões, nomeadamente no ciclo que fizemos no ano passado sobre o Novo Cinema Americano, com diversas produções independentes norte-americanas. Ele tem estudado e trabalhado muitos anos como crítico de cinema nos EUA, por isso está bem familiarizado com este cinema de cultura negra, que é hoje uma tendência que desperta enorme interessante, um cinema maduro e experiente, que achámos que merecia uma maior atenção do nosso público em Macau”, sublinhou Rita Wong.

O ciclo é especial e começa logo em clima de festa, com a presença dos DJs convidados de Hong Kong, Kong Matt Force e Fotan Laiki, que são prova de que a cultura pop urbana, como o rap e o hip-hop, evoluíram desde as raízes negras do Bronx até se tornarem num fenómeno global. “Na mostra também vamos conhecer melhor esta cultura, de dentro para fora. Quando escolhemos os filmes, procurámos cobrir diferentes áreas, como a música, os movimentos artísticos, a literatura, a vida em sociedade, todos dirigidos por realizadores afro-americanos, homens e mulheres”, segundo revelou.

O filme de abertura é o mais recente do realizador Spike Lee, “BlacKKKlansman” (2018), que venceu o Grande Prémio de Cannes em 2918 e o Melhor Argumento Adaptado nos Óscares de 2019, baseado na história verídica de um detective policial negro que se infiltra com sucesso, por via telefónica, na Klu Klux Klan. O cineasta volta a bisar nesta mostra com “Do The Right Thing” (1989), sobre o crescendo de tensão e violência, entre negros, brancos, porto-riquenhos e coreanos, num dia demasiado quente em Brooklyn. Exibido três décadas antes, o filme, nomeado em várias categorias aos Óscares e Golden Globes, sairia das passadeiras vermelhas de mãos abanar.

Aos pares

Pela longa e extraordinária carreira de 40 anos, como realizador, produtor, argumentista e actor, Spike Lee tem nesta mostra lugar de destaque, contador por excelência de histórias de conflitos raciais, pesando nas consciências de Hollywood com os temas incómodos do seu país. Os dois filmes, antigo e recente, integram o primeiro dos cinco pares de títulos em que esta mostra está organizada: Um clássico e um Vencedor, Rebelião de L.A., Afro-Futurismo, Estranhos Companheiros de Cama, e Vencidos Pela Lei.

“O curador teve esta ideia interessante, de colocar cada par de filmes numa espécie de confronto, como se fosse um jogo de basquetebol da NBA, muito característico da cultura norte-americana.

Os pares têm, cada um, uma unidade temática, que os relaciona por razões de semelhança ou contraste, em comparações destinadas a criar uma certa química entre eles”, explicou a directora.

Pela ordem acima descrita, o segundo par em confronto é “Killer of Sheep” (1978), de Charles Burnett, sobre os altos e baixos de um trabalhador de matadouro que luta com a família pela sobrevivência num bairro de Los Angeles, e “Daughters of the Dust” (1991), de Julie Dash, sobre uma comunidade descendente de escravos das Sea Islands, na costa da Carolina do Sul, que tenta resistir e preservar a sua cultura e património.

O terceiro par opõe “An Oversimplification of Her Beauty” (2012), de Terence Nance, sobre a sensação de se ficar pendurado num encontro, com a divagação fantasiosa que daí resulta, a “Sorry to Bother You” (2018), de Boots Riley, em que o protagonista, cansado de maus empregos, aprende a usar a sua “voz branca” ao telefone para ascender ao lugar de vendedor de topo.

O quarto par junta “Losing Ground” (1982), de Kathleen Collins, sobre uma mulher negra culta, contadora de histórias de humor e reflexão social, numa interessante comédia cerebral, e “Chameleon Street” (1990), de Wendell Harris Jr, baseado na história de vida de um embusteiro que, entre outras coisas, se fez passar por repórter, cirurgião e advogado, até a lei o apanhar. Foi vencedor do Grande Prémio do Júri no Festival Sundance de 1990.

O quinto par une os filmes “Fruitvale Station” (2014), de Ryan Coogler, sobre um jovem negro que é abatido por um agente policial numa estação ferroviária de Oakland, um problema de brutalidade e preconceito racial tão comum na América, e “If Beale Street Could Talk” (2018), de Barry Jenkins, a mais recente obra do realizador do oscarizado “Moonlight”, que conta uma história de amor intimista, passada nos anos 70, antes de sofrer uma grande reviravolta em busca do triunfo contra o ódio e a injustiça. O argumento é adaptado do romance homónimo de James Baldwin.

Conversas à parte

Haverá ainda tempo para uma conversa, no dia 15 (sábado) às 16h30, com o curador Francisco Lo e Derek Lam, da Universidade de Hong Kong, que tencionam apresentar o tema “Essa Cena É Minha! – Porque a Arte Negra Importa” e debater com o público sobre o futuro do cinema afro-americano e as implicações sociais, políticas e artísticas na sociedade americana e não só. A entrada da palestra é livre, mas os lugares estão sujeitos a reserva antecipada por telefone.

Quem não pretende perder um fotograma deste festival é a própria directora, Rita Wong, que não elege favoritos, mas confessou que “vou estar muito atenta ao filme do dia 8 de Maio, “If Beale Street Could Talk”, porque gosto muito do realizador e tenho grandes expectativas em relação ao filme, que ainda não vi. Nesse dia vou reservar o melhor lugar da sala para mim…”, gracejou.

Todos os títulos serão exibidos duas vezes durante o festival. Os bilhetes já se encontram à venda, ao preço de 60 patacas.

 

Filmes em Cartaz

“BlacKKKlansman” (O Infiltrado, 2018) de Spike Lee
7 Junho 16H00 | 11 Junho 19h30

“Do The Right Thing” (Não Dês Bronca, 1989) de Spike Lee
7 Junho 19h00 | 16 Junho 21h30

“Losing Ground” (Perdendo Terreno, 1982) de Kathleen Collins
8 Junho 16h30 | 12 Junho 19h30

“If Beale Street Could Talk” (Se Esta Rua Falasse, 2018) de Barry Jenkins
8 Junho 21h30 | 13 Junho 19h30

“Killer of Sheep” (O Matador de Ovelhas, 1978) de Charles Burnett,
9 Junho 16h30 | 15 Junho 19h30

“Daughters of the Dust” (Filhas do Pó, 1991) de Julie Dash
9 Junho 21h30 | 16 Junho 14h30

“Fruitvale Station” (A Última Paragem, 2014) de Ryan Coogler
14 Junho 19h30 | 18 Junho 19h30

“An Oversimplification of Her Beauty” (Uma Simplificação Excessiva da Sua Beleza, 2012), de Terence Nance
15 Junho 14h30 | 20 Junho 21h30

“Chameleon Street” (Street, O Camaleão, 1990) de Wendell Harris Jr
15 Junho 21h30 | 20 Junho 19h30

“Sorry to Bother You” (Desculpe Incomodar, 2018) de Boots Riley
16 Junho 17h00 | 19 Junho 19h30

28 Mai 2019

USJ | Finalistas do curso de Comunicação e Media mostram trabalhos

[dropcap]C[/dropcap]hama-se “Emotion” e é o nome da nova exposição dos alunos finalistas do curso de licenciatura em Comunicação e Media da Universidade de São José (USJ). De acordo com um comunicado, a exposição visa mostrar trabalhos multimédia e será inaugurada no próximo dia 29, pelas 18 horas, na Galeria de Exposições Kent Wong, situada na USJ.

A secção de vídeos será apresentada no Auditório Nossa Senhora de Fátima, na USJ, a partir das 19 horas do mesmo dia. “Emotion” tenta abranger o tema dos sentimentos intuitivos interpretados pela fotografia e produção de vídeo. A exibição vai estar patente até ao dia 10 de Junho de 2019.

Os principais temas das obras centram-se no desejo, morte, representações abstractas da vida e conexões humanas, entre outros. “A exposição de fotografia mostra a visão criativa dos alunos na captação de imagens, adicionando mais profundidade aos seus trabalhos através da manipulação de fotos e tratamento técnico”, considera a USJ, enquanto que “a instalação de vídeos mostrará uma série de documentários de curta metragem que abordam assuntos envolvendo a psique humana, incluindo a interacção interpessoal com a comunidade e as novas tecnologias”.

27 Mai 2019

João Oliveira estudou o humor na literatura macaense

João Oliveira apresentou esta semana, em Lisboa, a palestra “Humor e língua na literatura em crioulo de Macau”, resultado da sua tese de mestrado. O autor estudou a obra de José dos Santos Ferreira (Adé) e Leopoldo Danilo Barreiros, sem esquecer o trabalho do grupo teatral Dóci Papiaçam di Macau. O académico encontrou muita auto-crítica à condição macaense e uma demarcação daquilo que é chinês

 

[dropcap]A[/dropcap] literatura macaense dos primórdios do século XX está marcada por uma fina ironia daquilo que é ser macaense, com laivos fortes da cultura portuguesa e um total afastamento face ao que é chinês. João Oliveira, mestre pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), apresentou, esta semana, uma palestra dedicada ao humor presente nas obras de autores como Leopoldo Danilo Barreiros ou José dos Santos Ferreira, também conhecido por Adé. Dentro da contemporaneidade, João Oliveira não esqueceu o trabalho desenvolvido pelo grupo teatral Dóci Papiaçam di Macau, dirigido por Miguel de Senna Fernandes.

Em entrevista ao HM, o académico diz ter encontrado nos textos literários de Barreiros e Adé uma auto-crítica face ao que é ser macaense, mas de uma forma não ofensiva. “Na altura existia auto-humor, digamos assim. Os macaenses brincavam sobretudo com eles próprios, com a sua cultura, muitas das vezes diminuindo-se de uma forma que, para quem lê, não é verdadeiramente para inferiorizar.”

Neste sentido, a língua portuguesa surge como um idioma elegante e formal, ao contrário do patuá. “Os macaenses brincam muito com eles próprios e com o elemento português, que muitas vezes é visto como o elemento supra cultural. As personagens, tal como a própria língua portuguesa, são representadas com alguma hiperformalidade, pois vista como uma língua muito formal e pouco natural no dia-a-dia, enquanto que a língua e as personagens de Macau são identificadas de forma contrária.”

Para João Oliveira, “o crioulo macaense é visto como uma língua muito coloquial”, e nas obras literárias “as personagens são pouco sofisticadas e isso aparece sobretudo nas personagens mais velhas”. “Embora haja uma falta de cultura, ao mesmo tempo há um certo saudosismo por um Macau passado que se perdeu sobretudo nas últimas décadas, com o crescimento económico e a globalização”, acrescentou o académico.

Se o português era a língua de excelência e o patuá caía para segundo plano, o chinês nem tinha direito a referência nas obras humorísticas em crioulo de Macau. “Parece-me que o elemento chinês é bastante ignorado, talvez como uma tentativa de resistência e de demarcação. Há um sentido humorístico até um pouco insultuoso, pois a maior parte das vezes os termos chineses estão ligados a insultos ou a nomes que poderiam ser entendidos como tal.”

Para não desaparecer

Depois do falecimento de Adé e de Leopoldo Danilo Barreiros, não se voltou a escrever humor em Macau da mesma maneira, pelo menos em patuá. João Oliveira não tem dúvidas de que, se não fosse o trabalho de Miguel de Senna Fernandes com os Dóci Papiaçam di Macau, o humor em crioulo já teria desaparecido.

“Talvez como resposta à globalização que se torna cada vez mais evidente, parece-me que os Dóci surgem porque o humor e a cultura literária macaense estava e está em declínio. Como vivemos numa altura em que parece haver uma cada vez maior homogeneização da cultura, acho que os Dóci surgem para tentar que esta minoria não seja engolida pela modernidade e pela China.”

Os Dóci Papiaçam Di Macau acabam por se inspirar nestes textos do século XX, mas com as devidas mudanças impostas pelo tempo. “Há uma grande continuidade das obras mais antigas que falei. Parece-me evidente que Miguel de Senna Fernandes, quando começa por estudar os textos já existentes não faz uma quebra brutal mas sim algumas adaptações mais modernas.” Este modernismo também se nota nos vídeos produzidos, nota o académico.

Em nome da modernidade, os textos de Miguel de Senna Fernandes já abordam mais o universo chinês.

“Nos textos literários surge muito mais o universo português referenciado, e as personagens chinesas, que na altura seriam muitas em Macau, são ignoradas. Surgem mesmo nos textos denominações de origem chinesa, de pessoas, para insultar uma criança, um rapaz de rua, ou para insultar uma mulher vã, por exemplo. Essa presença não vemos nos vídeos dos Dóci.”

Neles “existe uma maior presença do elemento chinês que estava completamente ausente dos textos literários e que começa a aparecer nos vídeos, não num sentido tão negativo”, concluiu João Oliveira. Para o académico, “Miguel de Senna Fernandes é, além de um artista, um académico que estuda o crioulo de Macau e que tenta preservá-lo”.

27 Mai 2019

Palma de Ouro de Cannes para o filme “Parasite” do sul-coreano Bong Joon-ho

[dropcap]”P[/dropcap]arasite”, do realizador sul-coreano Bong Joon-ho, conquistou a Palma de Ouro do Festival de Cinema de Cannes, e os cineastas brasileiros Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles partilham o Prémio do Júri, com o francês Ladj Ly.

Na competição oficial, os filmes “Les Misèrables”, do realizador francês Ladj Ly, e “Bacurau”, dos realizadores brasileiros Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, protagonizado por Sónia Braga, conquistaram ex-aequo o prémio do Júri de Cannes.

O Grande Prémio do Festival foi para a realizadora franco-senegalesa Mati Diop, pelo filme “Atlantique”. O prémio de melhor realização foi para os irmãos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne, pela longa-metragem “Le jeune Ahmed”.

O actor espanhol Antonio Banderas recebeu o prémio de interpretação masculina pelo desempenho no filme de Pedro Almodovar “Dor e Glória”, e a britânica Emily Beecham, o prémio de melhor actriz, pelo papel em “Little Joe”, de Jessica Hausner.

“Parasite”, um drama familiar, aborda o problema das desigualdades sociais. Do mesmo realizador sul-coreano teve estreia em Portugal, em 2014, o filme “O Expresso do Amanhã”.

O prémio de melhor argumento foi para “Portrait de la jeune fille en feu”, da francesa Céline Sciamma, conhecida por “Maria Rapaz” e pelo argumento de “A Minha Vida de Courgette”.
Houve ainda uma menção especial do júri para “It must be heaven”, do palestiniano Elia Suleiman, o realizador de “O Tempo Que Resta” que, no filme levado a Cannes, viaja por diferentes cidades do mundo, estabelecendo paralelos com a Palestina natal.

A Palma de Ouro para curta-metragem distinguiu “La distance entre le ciel et nous”, do grego Vasilis Kekatos, e a menção especial para curta-metragem foi para “Monstruos Dios”, da argentina Agustina San Martin.

O documentário “For Sama” de Waad al-Kateab, que filmou a vida na cidade de Alepo, num dos períodos mais violentos do conflito na Síria, foi distinguido, partilhando o prémio desta categoria com o documentário do chileno Patricio Guzman “La cordillera de los sueños”, uma obra sobre a exploração mineira no Chile, com o foco nos anos da ditadura militar.
Guzmán estreou em Portugal “O Botão de Nacar” e “Nostalgia da Luz”, em que focava igualmente os anos da ditadura chilena.

O cineasta guatemalteco César Díaz ganhou o prémio para melhor primeira obra com o filme “Nuestras madres”, que fala das 200.000 vítimas e 45.000 desaparecidos do conflito interno no seu país, e dos familiares que sobreviveram.

A 72.ª edição do festival de Cannes terminou hoje, com a entrega dos prémios atribuídos pelo júri da competição oficial, presidido pelo cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu.

26 Mai 2019

Pintura portuguesa no Clube Militar de Macau integra comemorações do 10 de Junho

[dropcap]O[/dropcap] Clube Militar de Macau organiza a partir de quinta-feira uma exposição de pintura portuguesa, a primeira da série anual “Pontes de Encontro”, integrada nas comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

A mostra do artista plástico português Vítor Pomar, que se prolonga até 7 de Julho, chama-se “Ver o Mundo como Ornamento” e inclui um total de 29 obras originais. A produção executiva está a cargo da Associação para a Promoção de Actividades Culturais (APAC) e a curadoria é da responsabilidade de Lina Ramadas e José I. Duarte.

A iniciativa é apoiada pela Fundação Macau, Sociedade de Jogos de Macau, Banco Nacional Ultramarino, Sam Lei Group e pelo comendador Ng Fok. Em comunicado, a APAC sublinhou o trajecto do artista nascido em 1949, que frequentou as Escolas Superiores de Belas Artes de Lisboa e do Porto, e a quem o Museu de Arte Contemporânea de Serralves dedicou uma exposição antológica em 2003.

A produção artística de Vítor Pomar inclui obras de pintura, fotografia, cinema e vídeo experimental e instalações. A obra fotográfica foi objecto de exposições na Fundação Calouste Gulbenkian em 1988 e 2011.

Em 2018, a série “Pontes de Encontro” apresentou os pintores portugueses Pedro Proença, Madalena Pequito e Maria João Franco.

24 Mai 2019

IC | Dia do Património Cultural e Natural da China celebrado em Macau

[dropcap]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) vai assinalar o Dia do Património Cultural e Natural da China, a 8 de Junho, uma série de actividades com destaque para “Génese e Espírito – Mostra de Património Cultural Intangível de Zhejiang”.

O evento multidisciplinar irá mostrar o diversificado património cultural intangível de Zhejiang através de concertos, exposições, workshops, bem como acesso livre ao Farol da Guia e à Sala de Obras Antigas e Raras Chinesas da Biblioteca Sir Robert Ho Tung. Este evento estende-se entre os dias 8 e 25 de Junho.

Para 8 de Junho está agendado o “Workshop de miniaturas de pratos macaenses em plasticina” a ter lugar na Casa de Recepções das Casas da Taipa pelas 10h e pelas 14h30 horas, e o workshop “Em Busca das Pinturas Rupestres das Montanhas Helan – Workshop de Decalque de Pinturas Rupestres das Montanhas Helan” que terá lugar no Centro Ecuménico Kun Iam, pelas 14h30.

A exposição “Unicidade: Caligrafia pelo Professor Jao Tsung-I” está patente na Academia Jao Tsung-I, apresentando 15 conjuntos de obras de caligrafia do Professor Jao.

No dia 29 de Junho, a Orquestra Chinesa de Macau apresenta no Teatro Dom Pedro V, pelas 20h, o concerto de música tradicional chinesa “Ganso Selvagem do Sul e Vento para Norte”, sob a direcção do maestro Zhang Lie. Os bilhetes para o concerto encontram-se à venda e custam entre 60 e 80 patacas.

24 Mai 2019

FAM | Peça de Lao She no Centro Cultural de Macau este fim-de-semana

“O Sr. Ma e o Filho” é a peça de teatro que o Festival de Artes de Macau apresenta este sábado e domingo. A comédia de costumes aborda o conflito entre Oriente e Ocidente, num confronto bem humorado ente as realidades de Pequim e Londres dos anos 20

 

[dropcap]O[/dropcap] Sr. Ma viaja para Londres com o filho, após a morte do seu irmão, para assumir a gerência da loja de antiguidades por ele deixada. O pai torna-se num modesto comerciante e instala-se com o filho numa residencial britânica, onde várias peripécias acontecem, numa comédia de equívocos com lugar para o romance e a sátira entre hóspede e patroa, em contraponto com a adaptação mais fácil da geração mais nova.

Os desafios vividos pelos dois chineses em terras europeias é o ponto de partida para a divertida peça, adaptada do romance homónimo do escritor e dramaturgo Lao She, inicialmente escrito em fascículos e publicado mensalmente num jornal literário de Xangai, em 1929. Além de dar continuidade às bem-humoradas subtilezas do trabalho original de Lao She, a produção adiciona elementos inovadores que homenageiam esta obra clássica com uma nova dimensão.

A peça sobe ao palco do Centro Cultural de Macau (CCM) nos próximos dias 25 e 26 de Maio, sábado e domingo, às 20h, pela mão do encenador e actor Fang Xu, também ele dramaturgo e uma referência na divulgação teatral da obra de Lao She por toda a China. A escolha desta história, que reflecte o choque entre as culturas chinesa e ocidental na década de 20 do século XX, ainda hoje faz sentido.

“Essa é a mensagem, o racismo europeu que existia contra os chineses, considerados pobres e sem os costumes daquela sociedade, mas que existe também hoje, em que os chineses ricos e bem sucedidos continuam a ser vistos com algum preconceito”, revelou ontem Fang Xu, em conferência de imprensa. O encenador fez uma adaptação radical do texto para a peça, mantendo a ideia do original, uma preocupação sua para com a obra do Lao She, que tem sido dissipada pelos filhos do autor, entretanto bons amigos, e “que afirmam que confiam nas minhas adaptações”, acrescentou.

O contacto forçado entre os valores tradicionais chineses e a ideologia ocidental, é aqui revelado através da sagacidade chinesa e do humor britânico, de uma forma leve e provocadora, num jogo onde cinco actores masculinos interpretam nove personagens, masculinas e femininas, e se divertem juntamente com o público. “Este é um drama alegre, em que colocámos algumas expressões modernas no texto, piadas também mais actuais que não existiam no original, mas não fazemos piadas políticas, só brincadeiras e interacção com a plateia”, comentou Fang Xu.

Sobre o teatro em Macau, o encenador pequinês não conhece muita coisa, mas acredita que “no território há mais liberdade e menos restrições para se poder ser criativo, o que é uma coisa boa”, afirmou, embora no continente chinês seja um actor e encenador famoso e possa apresentar as peças que quer. A próxima já está a ser preparada, também com base numa obra de Lao She.

E o que fazem tantos chapéus no cenário? “Foi a nossa ideia de representar a cidade de Londres”, com a formalidade inglesa dos costumes e dos acessórios, sobretudo na década de 20. “Achámos que alguns elementos, como os jornais e os chapéus, nos transportavam imediatamente para lá”, explicou.

Londres anos 20

A obra clássica de Lao She foi também ela influenciada pela experiência do autor, nascido em 1899 em Pequim, no seio de uma família Manchu, que foi viver para Londres como professor de chinês mandarim, em 1924. Aí traduziu para inglês literatura clássica chinesa, mas também conheceu os grandes clássicos britânicos, como Charles Dickens, um dos preferidos, que o veio a inspirar na escrita do seu primeiro livro.

Quando regressou à China, em 1931, percebeu que as suas obras eram famosas, pela comédia, o humor e a acção que continham. Mas a carreira como escritor foi afectada pela política, quando a guerra sino-japonesa eclodiu, em 1937, e o escritor se tornou patriótico e defensor de um estilo propagandístico que afectaria a qualidade do seu trabalho. Com a Revolução Cultural, em 1966, tornou-se num escritor proscrito e perseguido, vindo a falecer em resultado de agressões pelos Guardas Vermelhos, segundo consta na sua biografia.

Os dois espectáculos do próximo fim-de-semana vão ser interpretados em mandarim, com legendas em chinês e inglês. Têm duas horas de duração, sem intervalo.

24 Mai 2019

FAM | Teatro do Eléctrico apresenta “Karl Valentin Kabarett” amanhã em Macau

“Karl Valentin Kabarett” é o nome da peça que a companhia portuguesa Teatro do Eléctrico traz ao Festival das Artes de Macau. Inspirada na obra e personalidade de Karl Valentin, que ficou conhecido com o Chaplin alemão, a peça sobe ao palco do Sands Theatre amanhã às 20h

 

[dropcap]”N[/dropcap]a verdade, é como um tributo ao ser humano. Mesmo nos momentos mais agrestes conseguimos florir.” É assim que Ricardo Neves-Neves, director da companhia Teatro do Eléctrico, se refere à vida e obra do comediante e multifacetado performer alemão Karl Valentin, o homem que serve de inspiração para “Karl Valentin Kabarett”, o espectáculo que traz a Macau. A peça adaptada pela companhia portuguesa sobe ao palco do Sands Theatre amanhã às 20h e é um dos espectáculos mais aguardados do cartaz deste ano do Festival das Artes de Macau.

Karl Valentin foi uma figura ímpar no panorama performativo do início do século XX. Autor, músico, palhaço, actor e pilar de um movimento artístico que espalhou o humor durante uma das épocas mais negras da história da Europa. Ricardo Neves-Neves salienta que o alemão teve a capacidade de marcar as artes performativas europeias do início do século XX ao longo de um período que incluiu duas grandes guerras.

“Trabalhou a comédia e os textos com uma grande leveza e com um lado solar muito forte numa altura muito negra, densa e pesada”, contextualiza o director do Teatro do Eléctrico, acrescentando que arrancar gargalhadas durante esta época histórica é um feito, no mínimo, heróico.

“Li os textos dele em 2011. Ao perceber a altura em que foram produzidos, achei incrível. Como é que um homem a viver na Alemanha, a viver toda aquela pressão, antes, durante e pós-guerras, continua a fazer teatro, música, cabarés, a cantar e ter a sua dose de humor? É incrível, uma verdadeira história de herói”. Foi este deslumbramento que levou Ricardo Neves-Neves a adaptar os textos do alemão.

Versão própria

Os textos daquele que ficou para a história como o Charlie Chaplin alemão foram adaptados para cena pela primeira vez em Portugal pelas mãos do encenador Jorge Silva Melo. A peça subiu ao palco do Teatro da Cornucópia na década de 70. “Este espectáculo é quase um género de herança da primeira encenação em Portugal. Foi o Jorge Silva Melo que me deu a ler os textos de Karl Valentin, tivemos várias conversas e depois fizemos a nossa própria versão”, conta Ricardo Neves-Neves.

Apesar dos textos da peça serem em português, “Karl Valentin Kabarett” é uma peça musicada e cantada em alemão, partindo de um repertório popular germânico do início do séc. XX. O director do Teatro do Eléctrico explica esta opção com a vontade de aliar “a dureza dos tempos à dureza da língua alemã que, ao mesmo tempo, pode ser muito cómica”.

Durante a fase de ensaios, Ricardo Neves-Neves sentia que a pequena companhia que dirige se estava a transformar num dispositivo orquestral, um pouco à semelhança da orquestra mecânica de Valentin, que com o rodar de uma manivela punha a tocar 20 instrumentos musicais. “Houve uma altura nos ensaios em que parecíamos uma grande engrenagem. A máquina foi-se montando segundo as necessidades do espectáculo”, conta o director da companhia.

“Chegámos a ter três ou quatro salas de trabalho em simultâneo: uma onde estava com os actores, noutra o meu assistente a fazer e a recordar as cenas, a solidificar. Depois havia uma sala onde aprendemos as canções e uma outra sala dedicada à coreografia. Parecia uma produção gigantesca e nós somos uma pequena estrutura”, recorda.

Esta é a primeira internacionalização do Teatro do Eléctrico e “logo para o outro lado do mundo”. Num palco desprovido de complexidades cénicas vão estar 11 actores, um cantor lírico e uma orquestra composta por dez músicos. O preço dos ingressos para provar o requinte da doce ironia de Karl Valentin situa-se entre as 150 e as 200 patacas.

23 Mai 2019

Chico Buarque é o vencedor do Prémio Camões 2019

[dropcap]O[/dropcap] músico e escritor Chico Buarque é o vencedor do Prémio Camões 2019, foi ontem anunciado, após reunião do júri, na Biblioteca Nacional do Brasil, no Rio de Janeiro.

O Prémio Camões de literatura em língua portuguesa foi instituído por Portugal e pelo Brasil em 1988, com o objectivo de distinguir um autor “cuja obra contribua para a projecção e reconhecimento do património literário e cultural da língua comum”.

Foi atribuído pela primeira vez, em 1989, ao escritor Miguel Torga. Em 2018 o prémio distinguiu o escritor cabo-verdiano Germano Almeida, autor de “A ilha fantástica”, “Os dois irmãos” e “O testamento do Sr. Napumoceno da Silva Araújo”, entre outras obras.

“Feliz e honrado”

Chico Buarque ficou “muito feliz e honrado de seguir os passos de Raduan Nassar”, o seu compatriota distinguido com o prémio em 2016. “Fiquei muito feliz e honrado de seguir os passos de Raduan Nassar”, refere a curta declaração divulgada pela assessoria de Chico Buarque.

O músico e escritor brasileiro fora já distinguido com o prémio Jabuti, o mais importante prémio literário no Brasil, pelos romances “Estorvo”, “Leite Derramado”, obra com que também venceu o antigo Prémio Portugal Telecom de Literatura (actual Prémio Oceanos), e por “Budapeste”.

Chico Buarque foi escolhido pelos jurados Clara Rowland e Manuel Frias Martins, professores universitários indicados pelo Ministério português da Cultura, pelo ensaísta António Cícero Correia Lima e pelo professor António Carlos Hohlfeldt, indicados pelo Governo brasileiro, pela professora angolana Ana Paula Tavares e pelo professor moçambicano Nataniel Ngomane.

Escritor, compositor e cantor, Francisco Buarque de Holanda nasceu em 19 de Junho de 1944, no Rio de Janeiro. Estreou-se no romance com “Estorvo”, em 1991, a que se seguiram “Benjamim”, “Budapeste”, “Leite Derramado” e “O Irmão Alemão”, publicado em 2014. Em 2017, venceu em França o prémio Roger Caillois pelo conjunto da obra literária.

22 Mai 2019

IC | Programa de subsídios para estudos artísticos e culturais abre a 20 de Junho

[dropcap]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) anunciou ontem que as inscrições para o “Programa de Concessão de Subsídios para Realização de Estudos Artísticos e Culturais” 2019/2020 vão abrir de 20 de Junho até 5 de Julho.

O programa abrange o financiamento para estudos de bacharelato ou mestrado nas áreas da investigação ou salvaguarda do património cultural, artes performativas, artes visuais, cinema e vídeo, design, banda desenhada e animação, administração das artes, literatura, estudos culturais, ensino das artes ou outras indústrias culturais e criativas.

Os candidatos têm de ser residentes permanentes da RAEM admitidos em instituições de ensino superior no exterior para prosseguir estudos de licenciatura e mestrado nas áreas acima mencionadas e que tenham estudado em escolas públicas ou privadas em Macau no mínimo três anos.

22 Mai 2019

Filme cabo-verdiano inaugurou Semana de África 2019

O cinema de Samira Vera-Cruz é o encontro intimista de uma jovem realizadora com o retrato humano da sua gente. Entre o real e a superstição, a tradição e a modernidade, a lente da sua câmara vai tentando descobrir a identidade actual de Cabo Verde

 

[dropcap]S[/dropcap]amira Vera-Cruz aterrou em Macau para apresentar o filme ‘Hora di Bai’, ontem à tarde, na inauguração da Semana de África 2019. É uma jovem realizadora que tem conseguido captar a atenção dos festivais internacionais e dar crescente visibilidade ao cinema da sua terra, contando já vários títulos no currículo, entre curtas e longas-metragens.

O destaque da sua obra é o pequeno documentário ‘Hora di Bai” que, em 24 minutos, aborda o universo das tradições e superstições, a partir dos rituais fúnebres na Ilha de Santiago. É uma produção de 2017, cujo projecto venceu o concurso Curtas PALOP – TL, no quadro das comemorações do 25º aniversário de cooperação com a União Europeia.

“Eu tinha a ideia de filmar os rituais de despedida na hora da morte, na Ilha de Santiago, porque em Cabo Verde somos uma mistura entre o europeu e o africano, o branco e o negro, e isso faz com que muitos dos nossos rituais sejam mistos, nem bem uma coisa nem outra. E fiquei interessada porque sou de São Vicente, onde não há essa cultura tão forte, essa forma de velar os mortos, esse choro tradicional, como na Ilha de Santiago”.

Depois de conseguir financiamento, a realizadora teve acesso a uma residência artística e pôde conviver de perto com as personagens do seu filme, que “acabou por se tornar menos sobre os rituais em si, e mais sobre a relação das pessoas a um nível mais humano com a morte”, como recorda.

A personagem principal é, então, a Dona Gregória. “Já tinha 100 anos de idade quando a filmámos. No documentário aparece com 99, mas descobrimos depois que tinha mais um ano e não sabia, não se recordava da data”. Faleceu entretanto, em 2018, com 101. “A Dona Gregória já tinha a morte preparada há mais de 30 anos, era de um pragmatismo incrível, dizia que ‘a morte é certa, só não sabemos quando’, então para quê deixar para depois, para os filhos gastarem dinheiro, se podia ficar já tudo tratado….”, revela Samira Vera-Cruz.

As restantes personagens são a Dona Adélia, a carpideira, “que não acredita tanto nos rituais, mas segue-os porque é tradição”. E depois há o Sr. Leocádio, “que é o que nós chamamos de ‘rezeiro’, um rezador profissional, a quem pagam para ir rezar nos rituais. E ele acredita mesmo nisso, diz que libertou mais de não sei quantos espíritos, porque em Cabo Verde acredita-se numa morte violenta se o espírito fica preso”, esclarece.

Preservar a memória

O cinema de Samira Vera-Cruz tem dois propósitos fundamentais, como a própria define, “um é a preservação da memória, individual e colectiva, o outro é um lado mais moderno, mais de provocação socio-económico-cultural”. O interesse pela cultura do país, a insistência no uso da língua de Cabo Verde – o crioulo –, o papel das mulheres na sociedade local, as manifestações populares que ainda resistem, são a matéria que tem explorado na sua filmografia.

Foi assim que começou a fazer cinema, com ‘Buska Santu’, em 2016, uma pequena curta onde conta a história de um pai e de um filho, tendo como pano de fundo “a ‘tabanka’, uma manifestação cultural cabo-verdiana, muito típica na Ilha de Santiago”. Quando avançou com o projecto, “não havia muita coisa sobre o tema, havia coisas escritas, mas nada em cinema de ficção. E decidimos ir por aí”, uma experiência que lhe deu o estímulo de abrir a sua própria empresa – a Parallax Produções – e dedicar-se ao cinema.

Seguiram-se depois “Sukuru”, de 2017, a primeira longa metragem, cuja tradução para português é ‘escuro’, “um thriller psicológico sobre um jovem esquizofrénico, que acaba por se viciar em ‘crack’. É muito pesado. A saúde mental sobre foi um tema que me interessou muito, principalmente por ser tabu em Cabo Verde, não se fala sobre isso”, explica Samira, que pesquisou bastante junto da classe médica para escrever o guião, um trabalho “muito intenso”.

A curta que fez em 2018, ‘Ti Ki Nu Odja’ ou ‘Até um Dia’, é um projecto criado para o Dia da Mulher Cabo-verdiana – 27 de Março –, mas que aguarda vir a ser uma longa-metragem, talvez para o ano que vem. Surgiu como “uma coincidência, de eu estar em Maputo e passar em frente da casa de uma senhora cabo-verdiana, há mais de 60 anos em Moçambique”.

Entretanto, está ocupada com o filme que vai começar a rodar já em Junho, com o título ‘E Quem Cozinha?’. “É um documentário sobre uma jovem cega em Cabo Verde, uma história de abandono que pretende ser um retrato sobre a realidade da mulher cabo-verdiana, muito comum nos estratos socio-económicos mais baixos”. A personagem é abandonada pelo pai, e pelo pai do filho, que questionam a sua capacidade para cozinhar por serem cegas.

“Afinal, num país que já foi o segundo do mundo com mais mulheres ministras, em 2015, ainda é a mulher que tem que cozinhar para o homem. É uma sociedade muito matriarcal e, ainda assim, muito machista”, considera Samira Vera-Cruz, que vai falar mais sobre a sua obra na palestra sobre o “Desenvolvimento do Cinema em Cabo Verde”, amanhã às 18h30, na Universidade de São José, com entrada aberta ao público.

22 Mai 2019

Design moçambicano e pintura guineense no ArtGarden Galery

Patrícia Vasco e Sidney Cerqueira são dois jovens artistas que, a convite da organização da Semana de África 2019, vieram a Macau mostrar peças de design de moda moçambicano e de pintura guineense. Ontem de manhã, enquanto montavam a exposição conjunta no ArtGarden Galery, falaram da sua arte ao HM

 

Como é que o design de moda e a pintura entraram na vossa vida? Quando é que começaram a criar os vossos primeiros trabalhos?

[dropcap]P[/dropcap]atrícia Vasco (PV): O design de moda entrou na minha vida por causa da dança, que é uma das minhas formações de base. Eu desenhava roupa para os espectáculos que fazia, mas na altura ainda só por brincadeira. Mais tarde, já eu trabalhava num banco para conseguir ter uma renda um pouco maior, decidi participar num evento que acontece anualmente em Moçambique – o Mozambique Fashion Week –, onde as pessoas apresentam os seus modelos. Entrei pela primeira vez, em 2013, na categoria de ‘young designer’, e desde então não deixei mais o design. Hoje tenho 29, mas apesar de ter começado a criar cedo, essa foi a data oficial, quando também criei a minha marca ‘Amorambique’, que era o nome da colecção que apresentei.
Sidney Cerqueira (SC): Eu faço parte de uma família de artistas e sempre desenhei desde criança. Sempre estive ligado ao desenho, mas a pintura aconteceu em 2014, quando a minha parceira, na altura, insistiu muito comigo para eu fazer um curso de pintura. Só que eu não estava muito entusiasmado. Até que um dia, ao chegar a casa, vi um formulário em cima da mesa, para fazer um curso à distância. Inscrevi-me, enviaram-me os materiais, cavaletes e telas, e foi assim que comecei. Nunca mais parei até hoje. Isto aconteceu em Lisboa, para onde eu fui viver no ano 2000, embora seja da Guiné Bissau.

O que é que vos inspira quando criam as vossas peças?

SC: Eu há muito tempo que deixei de ficar à espera de inspiração, porque tenho que trabalhar… (risos). Todos os dias entro no atelier de manhã e saio à noite, excepto ao fim-de-semana. É à noite, quando vou para a cama, que começo a trabalhar mentalmente no próximo quadro. Também faço muita pesquisa na internet e vou-me inspirando nos trabalhos de outros artistas.

PV: Olha, a capulana em si já nos inspira a fazer várias coisas. É o nosso tecido tradicional e proporciona-me várias ideias. Normalmente não crio nada que não exista já, o que faço é conjugar os tecidos tradicionais com alguns materiais para fazer coisas novas e adaptá-las à moda. A ideia é internacionalizar o nosso tecido. Só fiz moda durante um ano, porque em Moçambique temos já muitos estilistas. Para não ficar na ‘mesmice’, decidi enveredar pela área dos acessórios: carteiras e calçado.

E, do ponto de vista emocional, como é que definem a vossa arte?

PV: É impossível ficar triste ao lado da capulana! Por mais que o dia esteja cinzento, se a pessoa está vestida com todas aquelas cores da capulana, não consegue não ficar bem. No fundo, o que faço é transmitir essa alegria e uma certa confiança. Mostrar o que é nosso, de forma enquadrada, através das carteiras e do calçado, provando que é possível fazer moda actual com estes tecidos, que não são só para as pessoas com menos posses. Apesar de servirem habitualmente para carregar crianças ao colo, ou segurar num balde de água, também podem ser integrados no nosso dia-a-dia, inclusive em locais de trabalho mais formais como, por exemplo, num banco, como aquele onde trabalhei.

SC: Sim, é muita alegria! Muita alegria e muito calor. As minhas cores preferidas são o vermelho e o amarelo, as cores quentes são as que eu mais uso. Isto foi uma evolução, do carvão para a cor. Ainda me lembro do primeiro quadro que fiz, decidi pintar camelos, mas foram os camelos mais feios que alguma vez surgiram na tela. Esse quadro já nem existe. Claro que houve uma evolução, comecei com a paisagem, depois fui para o abstracto, passei ao figurativo, já fiz realismo também e, agora, misturo um pouco do realismo com o abstracto. É como vai saindo no momento. E tudo com cor, porque a África tem muito influência no meu trabalho.

Como é que está a evoluir a pintura na Guiné Bissau e o design de moda em Moçambique? E como vêem também hoje a arte africana no contexto mundial?

SC: Hoje em dia a pintura africana está a sair daquele estilo habitual, sempre com as mulheres com uma cabaça na cabeça, ou as tabancas e as aldeias. A arte está a desprender-se disso, já temos arte africana contemporânea, e pessoas a fazer pintura com plástico, por exemplo, com a mensagem da reciclagem. Em Moçambique, em Angola, no Senegal, então, estão a fazer-se coisas incríveis! A arte em África está a evoluir muito. As dificuldades que temos são o acesso a galerias, a falta de materiais para trabalhar, a falta de condições para expor na Europa ou na América. Só não temos falta, realmente, é de artistas e de ideias.

PV: Nós, em Moçambique, ainda estamos a caminhar. É algo que eu sinto que ainda é novo. Há muitos jovens designers super talentosos, só que não existem muitas oportunidades. Temos apenas uma plataforma para mostrar o trabalho dos designers – o Mozambique Fashion Week – que só acontece em Dezembro. De Janeiro até Novembro não acontece nada, o designer é que tem que correr atrás das oportunidades. Alugar um espaço para fazer um desfile é muito difícil, para comprar os tecidos e materiais é preciso patrocínios, e nós não temos. E depois não é só isso.

Em Moçambique, a arte ainda não é uma profissão estável, como ser médico, bancário, piloto. Ser artista é visto como uma ocupação para quem não tem que fazer. Enquanto que, em países como a Nigéria ou o Senegal, isso já é fonte de sustento e encontram-se ruas inteiras só de lojas.

E as vendas online? É através da internet que vocês dão a conhecer ao público o vosso trabalho?

PV: Sim, sim. Eu vim a Macau pelo Instagram! E fui a Paris pelo Instagram. Se não fosse a internet, seria muito difícil.

SC: Sem ela a minha carreira não seria o que é hoje, 90 por cento do que eu vendo é pela internet.

A internet trouxe-vos uma plataforma de visibilidade para os restantes países lusófonos e para o mundo, onde já têm exposto o vosso trabalho. Essas experiências também se reflectem depois nas obras seguintes?

SC: Sim, isso também nos inspira. É um intercâmbio e, sem fazer muito esforço, ele acontece. Eu estou sempre aberto a novas coisas, novas ideias, novas amizades, outras culturas. E quero aprender, sinto que ainda não sei nada. Quanto mais se viaja, mais se absorvem coisas novas e positivas.

PV: Claro que sim. E é incrível também ver o ‘feedback’ das pessoas de fora, que quando vêem coisas africanas ficam maravilhadas.

É a primeira vez que vêm a Macau. As cores e as luzes do território também vos impressionaram?

PV: Sim, causa algum impacto ver o céu cinzento e depois olhar para as estruturas que são em dourado e vermelho, tudo colorido. E a temperatura lembra-nos muito os nossos países, Moçambique e Guiné Bissau. Vamos levar muita coisa daqui, com certeza, e vamos inspirar-nos para as próximas colecções.

SC: Eu só cheguei ontem [domingo]. Mas vou levar alguma coisa comigo, de certeza absoluta. Fiquei completamente apaixonado pela cidade, pelo que vi ontem. É a primeira vez que venho para a Ásia e que vejo algo assim, edifícios totalmente iluminados, com várias cores e cheios de vida. É muito bonito.

Também já passearam pelas zonas de influência colonial portuguesa?

SC: Eu ainda não tive oportunidade.

PV: Eu já fui passear ali pelo Largo do Senado e pensei que estava em Lisboa! Restou muito pouco, mas lembra muito. O clima é que me pareceu mesmo que saímos de África para chegar a África…

Vocês vieram de África para a China, mas há muito que a China chegou a África. Já estavam acostumados com a cultura asiática?

SC: Eu vim de Portugal. Mas os chineses na Guiné são muito reservados. Não frequentam cafés, nem bares ou discotecas. Criam os espaços de encontro deles, mas não os conhecemos. Só temos contacto com eles através das lojas [de artigos baratos]. E também não temos restaurantes chineses na Guiné Bissau.

PV: Em Moçambique eles investiram muito em infra-estruturas no país, têm também muitas lojas de coisas chinesas, e frequentam os nossos restaurantes. Saem às sextas-feiras para os nossos locais, claro que com os grupos deles, mas se alguém lhes falar, também fazem conversa. E os moçambicanos também frequentam muito os restaurantes deles. Até temos um restaurante de Macau!

Visto que só se conheceram agora em Macau, o que tiveram oportunidade de descobrir já sobre a obra um do outro?

PV: Eu só agora é que estou a ver as obras dele, e estou muito interessada em saber de onde vêm estas cores e esta inspiração. Certos pintores têm uma pintura tão abstracta, que a pessoa tem que ficar ali horas para tentar entender o que está a ver, mas a dele eu olho e já sei o que é. E o quadro que me chamou logo a atenção foi o da bailarina, porque a minha formação é de dança.

SC: É interessante, como eu disse de manhã na rádio, cada quadro é uma história, esta exposição é um livro de contos. Este quadro da bailarina, com essa fita onde ela está suspensa, para mim essa fita é a vida. Ou seja, se nós não nos equilibrarmos na vida, o resultado é tombarmos. E quem melhor para falar do equilíbrio, do que uma bailarina. Essa é a mensagem.

Que peças trouxeram na mala para exibir nesta exposição que hoje [ontem] inaugura em Macau?

SC: Algumas das obras já faziam parte de outras colecções, como o Chaplin ou o Gandhi, que fiz, para uma exposição do Parlamento Europeu, e quis trazer também até Macau. Mas, a maior parte dos quadros, fiz a pensar nesta exposição. O da bailarina já existia, é o quadro mais antigo que eu tenho aqui, que é de 2016. São 17 peças com técnicas diversas: uns são acrílicos, outros são óleos, outros são óleo e acrílico. Eu trabalho com óleo, acrílico e aguarela.

PV: Eu trouxe muita coisa, são várias peças em capulana, e ainda não tenho ideia do que vou expor. Vou esperar para ver o que sobra, em termos de espaço [após a instalação dos quadros de Sidney Cerqueira], para organizar as minhas peças.

21 Mai 2019

Organização da Eurovisão apanhada de surpresa com bandeiras em atuação de Madonna

[dropcap]A[/dropcap] organização do 64.º Festival Eurovisão da Canção admitiu ontem ter sido apanhada de surpresa pela inclusão de bandeiras da Palestina na actuação da cantora norte-americana Madonna, referindo que esse elemento cénico não fez parte dos ensaios.

“Na transmissão em directo da grande final do Festival Eurovisão da Canção, dois bailarinos de Madonna mostraram momentaneamente bandeiras de Israel e da Palestina nas costas das suas indumentárias. Este elemento da performance não fez parte dos ensaios, tinha sido verificado pela EBU [sigla em inglês para União Europeia de Radiodifusão] e pela emissora de acolhimento, KAN [estação de televisão pública de Israel]”, refere a organização num comunicado citado por vários órgãos de comunicação social.

Na nota, a organização sublinha recorda que o Festival Eurovisão da Canção “é um evento não-político” e que “Madonna foi avisada disso”.

A cantora norte-americana levou o conflito israelo-palestiniano para o palco da final do 64.º Festival Eurovisão da Canção, no sábado à noite em Telavive, terminando a actuação com a expressão “Wake Up” (Acordem, em português) projectada em ecrãs.

Madonna, subiu ao palco da final do concurso, no sábado à noite em Telavive, depois da actuação dos 26 concorrentes. A cantora tinha recebido vários apelos para boicotar o concurso, mas acabou por aproveitar a actuação para tomar uma posição, terminando-a com dois bailarinos que usavam bandeiras de Israel e da Palestina nas costas a caminharem abraçados.

Mas a “rainha da pop” não terá sido a única a quebrar as regras do concurso. De acordo com a organização, a Islândia pode “ser punida”, depois de os seus representantes, a banda Hatari, conhecida pela sua oposição declarada à ocupação israelita dos territórios palestinianos, terem empunhado bandeiras da Palestina durante a emissão em directo.

Num outro comunicado, a organização do concurso refere que “as consequências deste ato serão discutidas na próxima reunião do conselho executivo do concurso”.

Hoje, a ministra da Cultura israelita, Miri Regev, classificou como “um erro” a presença da bandeira palestiniana nas costas de bailarinos durante a actuação de Madonna de sábado.

“Foi um erro, não podemos misturar a política com um evento cultural, com todo o respeito que devo a Madonna “, disse Miri Regev antes do conselho de ministros semanal.

Questionada pelos jornalistas, a ministra, que não assistiu à final do festival, criticou a KAN por ter falhado a missão de impedir as bandeiras de aparecerem no ecrã.

Antes da actuação, Madonna tinha pedido a todos os que a ouviam que “nunca subestimem o poder da música para juntar as pessoas”, e citou “uma grande canção”, da sua autoria, “Music”, na qual canta “music makes the people come together” [a música faz as pessoas unirem-se, em português].

A Holanda venceu no sábado, pela quinta vez, o Festival Eurovisão da Canção, com o tema “Arcade”, interpretado por Duncan Laurence, que era o favorito à vitória de acordo com a média de várias casas de apostas.

Israel acolheu o Festival Eurovisão da Canção, depois de o ter vencido, pela quarta vez, no ano passado, em Lisboa, com o tema “Toy”, interpretado por Netta. O movimento de boicote cultural a Israel instou os artistas a boicotarem o concurso.

20 Mai 2019

Arquitectura | I. M. Pei desapareceu aos 102 anos sem esquecer a pátria-mãe

I. M. Pei deixou a sua marca no mundo e depois voltou à China para fazer o círculo completo. Após um século de vida e de arquitectura, a sua impressão digital ficou no lugar dos seus afectos: o Museu de Suzhou

 

[dropcap]O[/dropcap] desaparecimento do arquitecto de referência mundial Ieoh Ming Pei, no passado dia 17 de Maio, aos 102 anos, não é só uma perda para a classe, mas para a humanidade, fazendo justiça ao conjunto de obras que ergueu e à importância do seu legado, de rupturas harmónicas entre o passado tradicional e a urbanidade moderna, desde os Estados Unidos da América ao Extremo Oriente, passando pela Europa e pelo Médio Oriente.

As obras mais emblemáticas são as bem conhecidas pirâmides de vidro (1989) e a reconstrução da nova ala (1993) do Museu do Louvre em Paris, o edifício leste da National Gallery of Art (1978) em Washington, D.C., as torres Gateway (1991) de Singapura ou, aqui muito perto, o Banco da China (1989) em Hong Kong. Este foi o arranha-céus mais alto do mundo, entre 1989 e 1992, e o desenho da sua estrutura, em diagonais, consegue fintar a força dos ventos e das monções.

A qualidade do trabalho de Pei é extensa e impressionante, laureada com diversas honras e prémios ao mais alto nível, tais como o ‘Pritzker’ de arquitectura em 1983.

Para o arquitecto Rui Leão, I. M. Pei “era um homem inteligentíssimo, que teve sempre um papel bastante interveniente nos projectos que desenvolveu e na relação com os lugares em volta.

Como já disse outras vezes, na arquitectura era um homem capaz de tocar todos os instrumentos, fazendo sempre coisas diferentes e muito bem feitas”. Algumas das suas preferências são a extensão do Louvre em Paris, a National Gallery de Washington, mas também os mais antigos The Luce Chapel em Taiwan, ou o Mesa Lab do Colorado.

A carreira profissional de Pei tem um valor especial nesta região do mundo, onde o arquitecto sino-americano viria a deixar a sua assinatura, a última das quais no Centro de Ciência de Macau, um projecto de arquitectura em co-autoria com o atelier dos seus filhos.

I. M. Pei, como era conhecido, nasceu na cidade de Cantão em Abril de 1917, numa família de Suzhou, na província de Jiangsu, a cidade conhecida como a “Veneza Oriental”, pelos seus canais, pontes e jardins. Chegou aos Estados Unidos da América em 1935, para estudar engenharia arquitectónica na Universidade de Pensilvânia, Filadélfia e, mais tarde, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Formou-se em 1939, mas não voltaria a regressar à China, com o eclodir da 2ª Grande Guerra.

Ao continente chinês retornou, como arquitecto de reputação mundial, com o projecto do Fragrant Hill Hotel (1982), em Pequim, inaugurando no mesmo ano o Sunning Plaza (1982), em Hong Kong, que viria a ser demolido em 2013 para dar lugar a novas construções em Causeway Bay. Depois do Banco da China, em Hong Kong, Pei desenvolveria também o projecto da sede do Banco da China (2001) em Pequim.

Suzhou e os canais

Mas é na província de Jiangsu, a uma centena de quilómetros de Xangai, que I. M. Pei viria a imprimir o seu cunho mais pessoal e afectivo, já no século XXI. “Eu gostava de falar do Museu de Suzhou. Não é o primeiro edifício que ele faz na China, mas para mim tem uma história que representa de facto o seu regresso à China”, comentou o arquitecto Rui Leão, “por ser uma obra muito particular, que tem a ver com o revisitar da arquitectura chinesa e é uma coisa extremamente bem feita”.

A história do Museu de Suzhou, inaugurado em 2006, começou assim. “A municipalidade de Suzhou convidou I. M. Pei para [re]desenhar o museu de arte antiga [fundado em 1960], já ele tinha conquistado o estatuto de “star architect”, e construído o projecto do Fragrant Hills Hotel de 1982, em Pequim. Mas Suzhou é um lugar muito importante na China, porque era uma cidade aristocrática, onde estavam os ‘literati’, pessoas que vinham da carreira militar ou da corte, que eram os intelectuais chineses. É a cidade que tem a maior concentração de jardins privados e os mais bonitos. E este projecto tinha a importância de ser um sítio de reunião de todas as vertentes da arte chinesa – a pintura, a porcelana, etc”.

Só que Pei, embora ligado à cidade pelo afecto, não avançou de imediato. “Ele visitou Sizhou e encontrou a cidade bastante desorganizada. Disse então ao presidente da câmara que aceitaria fazer o museu se, e quando, a cidade resolvesse a questão dos esgotos – a rede de esgoto estava muito mal tratada e misturava-se com os canais [com mais 2500 anos] –, aquilo estava imundo e cheio de lixo”, contou o arquitecto de Macau.

Assim veio a acontecer. Anos depois, ao regressar a Suzhou, encontrou já uma cidade limpa e o esgoto arranjado. Pei concebeu o complexo museológico, “que é um projecto lindíssimo, porque revisita a arquitectura chinesa, mas com um sentido de grande liberdade a nível da escala dos espaços, da geometria e da tecnologia, ou seja, não é uma cópia, não é uma simulação de nada.

Tudo aquilo tem a ver com a percepção de como se pensam os espaços, como é que se traz a luz para dentro, como é que há espaços dentro de espaços, etc. São reflexões que ele fez sobre a arquitectura chinesa”, trazendo o seu ‘know how’ e criatividade para aquela obra especial.

O homem que procurou redefinir a arquitectura de uma China moderna, e várias vezes o conseguiu, em Suzhou viria a fazer o trajecto inverso, erguendo uma obra moderna e geométrica, com pontos de aproximação ao tradicional centro histórico, com estruturas das dinastias Ming e Qing. Integrar as linhas arquitectónicas foi o grande teste, sem comprometer o património classificado.

Para Rui Leão, também relevante “é ele não ter só desenhado o edifício, mas o facto de ele e a mulher terem sido os curadores da própria exposição e das peças do museu. Isso, na altura, foi muito importante: haver curadores que fossem independentes, de maneira que não houvesse uma percepção de que o conteúdo do museu pudesse estar relacionado com uma certa propaganda de Estado. Ele conseguiu dar à cidade de Suzhou, de uma forma extremamente integrada, inteligente e sábia, uma grande instituição, naquela cidade histórica feita de pequenas casinhas e de belíssimos jardins”.

O website site do Museu de Suzhou colocou, também por estes dias, uma imagem de tributo a I. M. Pei, com uma frase em que confessa: “Eu tenho carinho por este museu, porque lhe dediquei muito do meu amor e da minha energia”.

20 Mai 2019

Criador da pirâmide do Louvre morreu aos 102 anos

[dropcap]O[/dropcap] arquitecto sino-americano Ieoh Ming Pei, criador de vários edifícios emblemáticos, como a Pirâmide do Louvre, em Paris, ou Banco da China em Hong Kong, morreu aos 102 anos, foi hoje anunciado.

Nascido em Guangzhou em 26 de Abril de 1917, Ieoh Ming Pei chegou aos Estados Unidos da América em 1935 e adquiriu uma reputação de nível mundial a partir da década de 80, acumulando diversos prémios internacionais, como o Prémio Pritzker, por muitos considerado o Nobel da Arquitectura, ou o ‘Praemium Imperiale’.

O arquitecto morreu na noite de quarta para quinta-feira, anunciou o jornal New York Times, que cita o seu filho Chien Chung Pei. A Pirâmide do Museu do Louvre, em Paris, terminada em 1989, é a sua obra mais conhecida, tornando-se um local de referência da capital francesa.

17 Mai 2019