Angola e China “podem ir mais longe” na cooperação

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, manifestou-se esta terça-feira empenhado em “estreitar as relações com a China”, afirmando que os dois países “têm imensas potencialidades para valorizar” e “podem ir mais longe” na cooperação bilateral.

“A história tem demonstrado que é na base da confiança e do respeito mútuos que se forjam relações sólidas e duradouras, como a parceria estratégica com a China”, disse José Eduardo dos Santos no início das conversações com o homólogo chinês, Xi Jinping.

“Os laços de amizade e de solidariedade entre os nossos povos e países são muito fortes e queremos continuar a estreitá-los”, acrescentou.

As conversações decorreram no Grande Palácio do Povo, no centro de Pequim, depois de uma cerimónia de boas vindas com guarda de honra, salvas de canhão e o hino nacional dos dois países tocado por uma banda militar.

Dezenas de crianças agitando bandeiras de Angola e da China saudaram os dois presidentes.

Na avenida que passa no topo norte da praça Tiananmen, frente à imponente tribuna de cor de púrpura que dá o nome do local – Porta da Paz Celestial (Tiananmen) -, os candeeiros estavam ornamentadas com as bandeiras dos dois países.

“A China foi o país que mais depressa compreendeu a situação difícil de Angola no final da guerra, em 2002, e qual a ajuda que poderia dar à reconstrução nacional”, realçou o Presidente angolano.

Numa entrevista feita ainda com os jornalistas presentes na sala, salientou também que “em poucos anos, Angola conseguiu grandes progressos” e que “a China é hoje o maior importador de petróleo angolano”.

O velho amigo

José Eduardo dos Santos iniciou na segunda-feira uma visita de seis dias à China, acompanhado por nove ministros.

É a sua quarta visita àquele país em 27 anos, o que faz do Presidente angolano “um velho amigo da China”, como lhe chamou o homólogo chinês.

“Esta visita injectará novo ímpeto na parceria estratégica entre China e Angola”, disse o presidente chinês, que é também secretário-geral o Partido Comunista Chinês (PCC), o cargo político mais importante do país.

Xi Jinping definiu “o aprofundamento das relações com Angola” como “uma política consistente da China”, afirmando que esse relacionamento “é um modelo da cooperação mutuamente vantajosa” que o seu país mantém com África.

“África é um amigo seguro da China e a China fará o seu melhor para que África alcance a paz e o desenvolvimento económico”, declarou.

Orgulho e estratégia

[quote_box_right]”A China foi o país que mais depressa compreendeu a situação difícil de Angola no final da guerra, em 2002, e qual a ajuda que poderia dar à reconstrução nacional” -José Eduardo dos Santos, Presidente angolano[/quote_box_right]

Evocando o 40.º aniversário da independência de Angola, que se assinala em Novembro próximo, o Presidente chinês disse que o MPLA, o partido no poder, e o povo angolano “devem estar orgulhosos” pelas “extraordinárias mudanças” entretanto ocorridas no país.

O programa de José Eduardo dos Santos na China inclui ainda uma deslocação a Tianjin, o maior porto do norte do país, a cerca de 150 quilómetros da capital, e um fórum económico com quase 200 participantes.

Xi Jinping visitou Angola em 2011, quando era vice-presidente da China, e foi também nesse ano que os dois países assinaram um “acordo de parceria estratégica global”.

Devido à acentuada diminuição do preço do petróleo no mercado mundial, no primeiro trimestre deste ano, o valor das exportações angolanas para a China caíram cerca de 50% em relação a igual período de 2014.

A China anunciou que ajudará financeiramente Angola a “superar as dificuldades” criadas por aquele fenómeno, mas não especificou o montante da ajuda.

Segundo fontes chinesas, o volume dos empréstimos e das linhas de crédito concedidos pela China a Angola desde 2004 rondará os 15.000 milhões de dólares.

11 Jun 2015

Nobel da Paz Aung San Suu Kyi em visita histórica

A líder da oposição da Birmânia e Nobel da Paz Aung San Suu Kyi chegou ontem à China, numa visita histórica que decorre num momento de alguma tensão entre ambos os países

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]ung San Suu Kyi partiu ontem do aeroporto de Rangun com destino à China, para uma visita até domingo, durante a qual terá reuniões com o Presidente chinês, Xi Jinping, com o primeiro-ministro, Li Keqiang, e com um grupo de empresários do país.

Trata-se de uma visita histórica, a primeira de Suu Kyi à China, através da qual Pequim vai tentar reforçar a relação com o Governo reformista birmanês e com a oposição.

Segundo informação do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, esta é uma viagem de “intercâmbios” entre o Partido Comunista da China e a Liga Nacional para a Democracia, presidida por Suu Kyi, uma formação que se estima ter bons resultados nas próximas eleições birmanesas previstas para o final do ano.

Desconfianças

A chegada da Nobel da Paz, um prémio atribuído em 1991 pela sua luta pacífica a favor da liberdade no seu país, acontece num momento de alguma tensão entre ambas as nações.

Por um lado, a aproximação dos Estados Unidos à Birmânia, que durante os anos de governo da Junta Militar – entre o final da década de 1960 até 2011 – praticamente só teve a China como único aliado mundial, gerou desconfiança por parte de Pequim.

Além disso, refere a agência Efe, Pequim encontra-se numa situação delicada em relação à Birmânia, devido ao conflito entre a minoria kokang e o exército birmanês no norte do país, ao longo da fronteira com o sudoeste da China (província de Yunnan).

Em Abril, uma bomba lançada por um caça birmanês causou a morte de cinco chineses e uma dezena de feridos, o que motivou a condenação da China, que desde o início do conflito acolheu milhares de refugiados birmaneses.

A Birmânia denunciou em várias ocasiões que os kokang, dos quais cerca de 90% são da etnia han, tal como a maioria dos cidadãos na China, recebem ajuda da China, que dominou o território até o ceder ao Reino Unido no final do século XIX. Pequim tem, no entanto, negado estas denúncias.

Suu Kyi visita a China pouco tempo depois de ter sido alvo de críticas pelo seu aparente silêncio perante a crise dos migrantes da minoria muçulmana rohingya e numa altura em que outro Prémio Nobel da Paz, o escritor chinês Liu Xiaobo, continua na prisão.
 

11 Jun 2015