Análise | Saída americana de acordo ambiental é oportunidade para a China

Enquanto Donald Trump retira os Estados Unidos do Acordo de Paris, Xi Jinping tem uma oportunidade única de liderar num dos tópicos que dominará o futuro do mundo. A China pode passar de maior poluidor para referência mundial na luta contra as alterações climáticas, ocupando o antigo papel dos norte-americanos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Acordo de Paris foi o culminar de mais de duas décadas de luta diplomática num assunto de vital importância para o futuro do planeta. Ainda assim, surgiu envolto em polémica por ser pouco ambicioso nas metas acordadas de cortes nas emissões de dióxido de carbono para a atmosfera. No final da semana passada, Donald Trump anunciou a saída do histórico acordo, ratificado por 148 países, incluindo a China e a Índia.

Nos últimos anos os Estados Unidos têm conseguido reduzir as emissões de dióxido de carbono, apesar dos constantes ataques por parte de republicanos e lobistas de produtores de petróleo, principalmente através de políticas de iniciativa local e da descida do preço do gás natural.

Neste aspecto importa esclarecer que o gás natural produz cerca de metade das emissões da queima de carvão, assim como acrescentar que Trump tem sido, desde a campanha eleitoral, um defensor da indústria do carvão, uma das formas mais poluentes de produção energética.

Com a promessa de colocar os Estados Unidos primeiro, a persistência nas políticas isolacionistas por parte de Washington podem ter um efeito adverso ao pretendido, com a possibilidade das empresas exportadoras americanas serem vistas como poluidoras, o que pode representar um desastre de marketing.

No entanto, o Presidente norte-americano no discurso em que anunciou a cisão rotulou o Acordo de Paris como uma forma da China, Índia e outros países, ganharem vantagens económicas sobre Washington.

Aliás, Donald Trump há anos que reitera uma teoria de que o “aquecimento global é uma conspiração organizada pela China para tornar a indústria norte-americana menos competitiva”. Isto, apesar do consenso científico em torno do assunto.

Em resposta à decisão de Washington, o primeiro-ministro chinês Li Keqiang reforçou que Pequim “se mantém fiel ao compromisso firmado”. Numa alfinetada à Casa Branca, Li afirmou que “lutar contra as alterações climáticas é um consenso mundial, não é algo inventado pela China”. É de salientar que as declarações do representante chinês foram feitas à margem de um encontro em Berlim com a chanceler Angela Merkel.

Vantagem Xi Jinping

Esta tomada de posição de Washington pode representar uma oportunidade para Pequim tomar a liderança política a lidar com uma das mais sérias ameaças à segurança do planeta.

A assinatura do Acordo de Paris foi em parte possível graças à acção concertada dos Estados Unidos e da China, os dois maiores produtores mundiais de emissões de dióxido de carbono. Ainda assim, os chineses são responsáveis pelo dobro das emissões norte-americanas.

No últimos anos, Pequim tem investido muito dinheiro em políticas amigas do ambiente, tendo estabelecido um investimento de 361 mil milhões de dólares em energias renováveis até 2020, isto com o objectivo de cortar as emissões de carbono entre 40 a 45 por cento até esse ano. É de salientar que o Presidente chinês firmou a defesa do Acordo de Paris, no início do ano, durante o Fórum Económico Mundial, apelando a uma cooperação internacional mais forte.

Aliás, aquando da assinatura do acordo em questão, Barack Obama agradeceu a Xi Jinping a ajuda nas negociações. Em reacção à renúncia norte-americana, o antigo ocupante da Casa Branca considerou o postura da nova administração como uma desgraça internacional e o abdicar de liderança.

Esta não é a primeira vez que os Estados Unidos voltam atrás num compromisso resultante de um processo que lideraram, o mesmo já havia acontecido em 1997 quando George W. Bush renunciou ao Acordo de Quioto. Mas Paris conseguiu o feito de reunir consenso mundial das principais potências, apesar de muitos críticos acharem as metas pouco ambiciosas. Como seria de esperar, a reacção dos aliados tradicionais de Washington não se fez esperar e a saída norte-americana do acordo que pode levar, por exemplo, a Europa a aproximar-se mais de Pequim em matérias de produção energética.

Reacção mundial

Num encontro com o recém-eleito Presidente francês, Narendra Modi, primeiro-ministro indiano reiterou que o compromisso de Paris faz parte da “herança compartilhada do mundo”. Modi não só se mostrou intrépido na defesa do acordo, como garantiu que o seu país irá “mais longe” que os objectivos firmados no compromisso na luta contra o aquecimento global.

A reacção indiana havia sido precedida por Emmanuel Macron, que reagiu de imediato à toma de posição de Donald Trump.

O novo ocupante do Eliseu fez um apelo na sequência da saída norte-americana do Acordo de Paris que se tornou viral. Num vídeo que correu mundo, Macron lançou um desafio “a todos os cientistas, engenheiros, empreendedores e cidadãos responsáveis que ficaram desapontados com a decisão dos Estados Unidos”. A ideia é que esta mão-de-obra especializada pode encontrar na França “um segundo lar”. O francês garantiu que o seu país não vai desistir da luta e que se mantém confiante no sucesso do compromisso firmado em Paris. Macron afirmou que o mundo inteiro “partilha a mesma responsabilidade: tornar o planeta bom outra vez”, numa alusão ao lema que elegeu Donald Trump “make America great again”.

Em declarações à CNN, o comissário europeu que lida com os assuntos energéticos e climatéricos, Miguel Arias Cañete, expressou a aproximação de Bruxelas a Pequim. “Ninguém deveria ficar para trás, mas a UE e a China decidiram seguir em frente”, garantiu o comissário. Cañete adiantou ainda que há “uma cooperação de sucesso em assuntos como o comércio de emissões e tecnologias amigas do ambiente que está a dar frutos”. O responsável europeu, na sequência do anúncio da Casa Branca, afirmou que esta é a altura para “fortalecer laços” de forma a alcançar objectivos na luta contra o aquecimento global.

O próprio presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker referiu que o vazio deixado na liderança das negociações pelas alterações climáticas “será preenchido, e os chineses estão numa posição privilegiada para se assumirem como líderes”. Juncker acrescentou que aquando da Cimeira do G7, na Sicília, foi explicado a Donald Trump que não seria positivo o desaparecimento norte-americano do plano internacional. “Parece que essa tentativa não teve sucesso”, comentou o líder europeu.

À margem do encontro com Li Keqiang, Angela Merkel reforçou a ideia de que “o papel da China, enquanto parceiro estratégico, tem assumido uma importância crescente”. As conversações entre os dois líderes não se ficaram pelas questões climatéricas, tendo sido também discutidos dossiers quentes como a crise da Coreia do Norte, direitos humanos e acordos comerciais.

No ano passado, a China já era o principal parceiro comercial da Alemanha, com os negócios a atingir um volume de 170 mil milhões de euros. A chanceler alemã adjectivou este montante como “impressionante” e confirmou que “ambas as partes querem aumentar o comércio” entre os dois países.

Merkel revelou que está previsto no futuro mais cooperação e negócios no sector dos automóveis, tecnologia de aviação, reciclagem e inteligência artificial. Um dos acordos já firmados aconteceu entre a alemã Daimler e a chinesa BAIC Motor Corporation, para a implementação de uma fábrica da Mercedes-Benz em Pequim que produzirá carros eléctricos.

Enquanto os Estados Unidos se encerram em si próprios, a China aproveita a inoperância da Administração Trump para tomar o papel dianteiro no palco internacional.

5 Jun 2017

Tiananmen | Censura e educação causam “amnésia” sobre massacre

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] chinês Jiahao nasceu em 1989, o ano em que a sangrenta repressão do movimento de Tiananmen abalou a China, mas foi só quase três décadas depois, quando estudava nos EUA, que descobriu o que se passou.

“Só então entendi porque punham as pessoas uma expressão que era um misto de curiosidade e cautela, quando me perguntavam o que eu achava do 4 de Junho”, lembra Jiahao à agência Lusa.

Iniciado por estudantes da Universidade de Pequim, o movimento pró-democracia da Praça Tiananmen foi esmagado pelo exército na noite de 3 para 4 de Junho de 1989, quando os tanques do exército foram enviados para pôr fim a sete semanas de protestos.

O número exacto de pessoas mortas continua a ser segredo de Estado, mas as “Mães de Tiananmen”, associação não-governamental constituída por mulheres que perderam os filhos naquela altura, já identificaram mais de 200.

Natural de Pequim e fluente em inglês, Jiahao teve que pesquisar no Google – motor de busca bloqueado na China-, para saber do que se tratava, ilustrando o sucesso do Governo chinês em censurar qualquer informação relativa ao episódio.

“A China tem sido notavelmente bem-sucedida em eliminar a memória” da repressão de há 28 anos, diz Louisa Lim, investigadora que escreveu um livro sobre o movimento.

A autora do “The People’s Republic of Amnesia: Tiananmen Revisited”, publicado em 2014, diz mesmo ter ficado “chocada com o nível de ignorância sobre as mortes dos estudantes chineses em 1989”.

Desde que o Presidente chinês, Xi Jinping, ascendeu ao poder, em 2013, passaram a existir “movimentações no sentido de prevenir actos de homenagem privados”, como a “detenção de pessoas que se reúnem à porta fechada”, em memória das vítimas, conta a académica ligada à Universidade de Michigan.

Nem o ‘boom’ do número de cibernautas no país – são já cerca de 730 milhões – parece abalar a censura, que tem conseguido controlar a informação difundida na rede.

Por outro lado, a educação patriótica promovida após o massacre desviou também a atenção das novas gerações chinesas para as preocupações económicas, em detrimento das políticas.

Muitos jovens chineses têm hoje outras prioridades, “mais tangíveis”, como “encontrar emprego ou comprar uma casa”, conta Lim.

Outros valores

Desde 1989, a economia chinesa cresceu, em média, quase 10% ao ano, o triplo da média global.

A China é hoje a segunda maior economia do mundo e principal potência comercial do planeta, tendo-se convertido numa potência capaz de disputar a liderança global com os EUA.

Chen Xi, 28 anos e gestor de compras num hospital de Pequim, diz que Tiananmen “pertence à geração dos seus pais.”

“A política não me interessa muito”, aponta. “Aquilo que sei é através de conversas entre os meus pais, que de vez em quando comentam o que se passou”.

As autoridades defendem que a acção do Governo, em 1989, foi necessária para abrir caminho ao crescimento económico, e que se o exército não interviesse, “a China mergulharia no caos”, como aconteceu em outros países socialistas.

Louisa diz que se trata de “uma justificação retrospectiva da repressão”, que se tornou numa “corrente dominante na China”, até porque “as pessoas podem ver que as suas vidas são melhores do que a que os seus pais e avôs tiveram”.

O uso da força, contudo, foi “claramente uma movimentação política, com o intuito de enviar a mensagem de que movimentos coordenados não seriam tolerados”, defende.

E a julgar pelas declarações de Cheng Yunhui, jovem natural de Pequim, o massacre parece ter surtido o efeito desejado.

“Se apelares aos estudantes de hoje para se unirem em torno de uma causa, duvido que tenham o mesmo voluntarismo”, diz. “As pessoas tornaram-se apáticas”.

Em Macau, os acontecimentos de Tiananmen foram lembrados com uma vigília na praça do Leal Senado.

5 Jun 2017

Programa nuclear de Pyongyang é “uma ameaça para todos”, diz Jim Mattis

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] secretário da Defesa norte-americano, Jim Mattis, alertou sábado para o acelerado desenvolvimento do programa de armamento da Coreia do Norte, que representa “uma ameaça para todos” e que é encarado pelos Estados Unidos como “um claro perigo”.

Em declarações numa conferência sobre segurança internacional em Singapura, Mattis disse que a administração Trump se sente encorajada pelo compromisso renovado da China em trabalhar com os Estados Unidos para impedir o desenvolvimento de armas nucleares pela Coreia do Norte.

A China bloqueou as novas e mais severas sanções contra Pyongyang que os Estados Unido propuseram ao Conselho de Segurança da ONU. Ainda assim, o Conselho de segurança votou unanimemente para adicionar 15 indivíduos e quatro entidades ligadas ao programa nuclear e de mísseis norte-coreano à ‘lista negra’ de sanções da ONU.

“O contínuo desenvolvimento, pela Coreia do Norte, de armas nucleares e meios para as lançar não é novo, mas o regime acelerou o ritmo e alargou âmbito dos seus esforços”, disse, aludindo aos vários testes de dispositivos nucleares e mísseis que o regime de Kimg Jong-un tem levado a cabo.

“Apesar de o regime da Coreia do Norte ter um longo historial de homicídio de diplomatas, sequestros, morte de marinheiros, e actividade criminosa, o seu programa de armas nucleares é uma ameaça para todos. Em termos de segurança nacional, os Estados Unidos consideram que a ameaça da Coreia do Norte é um perigo claro e presente”, afirmou Mattis.

No seu discurso, Mattis equilibrou os elogios à China com críticas ao que chamou de desrespeito de Pequim pela lei internacional devido à sua “indiscutível militarização” de ilhas artificiais em zonas disputadas no Mar do Sul da China.

“Não podemos e não vamos aceitar mudanças unilaterais e coercivas ao ‘status quo’” no Mar do Sul da China, disse.

5 Jun 2017

Corrupção | Ex-chefe das estatísticas condenado a prisão perpétua

[dropcap style≠’circle’]W[/dropcap]ang Baoan, ex-director do Gabinete Nacional de Estatísticas (GNE) chinês, organismo encarregado de calcular e anunciar os dados económicos do país, foi condenado na quarta-feira a prisão perpétua, por aceitar subornos, informou a agência noticiosa oficial Xinhua.

A sentença foi anunciada pelo Tribunal Popular Intermédio de Zhangjiakou, que ordenou o confisco de todos os bens de Wang e a sua privação de direitos políticos para sempre.

O tribunal considerou Wang, 52 anos, culpado por aceitar subornos no valor de mais de 153 milhões de yuan durante os diferentes cargos que ocupou na Administração Estatal dos Impostos, Ministério das Finanças, governo provincial de Heilongjiang e no GNE.

A investigação contra Wang foi anunciada em Janeiro de 2016, uma semana depois de este ter anunciado, em conferência de imprensa, os dados referentes ao crescimento da economia chinesa no ano anterior.

Em Agosto passado foi expulso do Partido Comunista Chinês (PCC).

A Comissão Central de Disciplina e Inspecção do PCC acusa-o de “falta absoluta de convicções políticas”, de se “envolver regularmente em actividades supersticiosas”, ou “fazer discursos contra os princípios do PCC”.

Wang é um funcionário na “bancarrota moral”, considerou o órgão máximo anti-corrupção do PCC, acusando-o de frequentar hotéis e locais de luxo e de usar a sua posição para obter dinheiro e favores sexuais, “de forma insaciável”.

Segundo a Xinhua, Wang recebeu uma sentença “benévola”, por ter cooperado com as investigações, entregue os ganhos obtidos ilegalmente e admitido os seus crimes.

Cheios de penas

Na quarta-feira, foram anunciadas as penas de vários casos de corrupção envolvendo figuras proeminentes na China, como a sentença a seis anos de prisão de Chang Xiaobing, o ex-presidente das estatais China Telecom e China Unicom, também acusado de receber subornos.

O antigo vice-governador da província de Sichuan, centro do país, Li Chengyun, foi condenado a dez anos de prisão acusado do mesmo crime.

Lu Ziyue, presidente da câmara da cidade portuária de Ningbo, foi também condenado a prisão perpétua por receber subornos.

Após ascender ao poder, o Presidente chinês, Xi Jinping, lançou uma campanha anti-corrupção, hoje considerada a mais persistente e ampla na história da China comunista, e que resultou já na punição de um milhão de membros do partido.

Os alvos incluíram oficiais menores, a que Xi se refere como “moscas”, mas também mais de uma centena de “tigres” – altos quadros do partido, com a categoria de vice-ministro ou superior.

Os dois casos mais mediáticos envolveram a prisão do antigo chefe da Segurança Zhou Yongkang e do ex-director do Comité Central do PCC e adjunto do antigo presidente Hu Jintao, Ling Jihua.

2 Jun 2017

China | Empresa que fabrica sapatos Ivanka Trump rejeita acusações

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma empresa chinesa que fabrica sapatos para a marca da filha do Presidente norte-americano, Donald Trump, rejeitou ontem as acusações de salários baixos e tempo de trabalho excessivo feitas por três activistas que se encontram detidos ou desaparecidos.

Hua Haifeng, um dos investigadores da organização não-governamental norte-americana China Labor Watch, foi detido por vigilância ilegal, segundo avançou a agência The Associated Press. Dois colegas seus – Li Zhao e Su Heng – estão desaparecidos.

Os três estavam a elaborar um relatório sobre as condições de trabalho na Huajian, empresa chinesa que produz sapatos da marca Ivanka Trump, que incluía acusações de salários baixos, tempo de trabalho excessivo e abuso de estagiários.

“Estamos chocados”, disse Long Shan, porta-voz do grupo Huajian, num e-mail enviado à Associated Press. “Vocês avançaram com informações falsas que não são baseadas em factos, e sem o nosso consentimento”, refere.

Long afirmou que a empresa parou de produzir sapatos Ivanka Trump há vários meses e revelou que Hua Haifeng trabalhou no grupo em Maio, por menos de uma semana, enquanto Su Heng entrou para a fábrica no final de Abril, mas saiu pouco tempo depois.

A porta-voz do grupo disse ainda desconhecer onde estão os dois homens.

Problemas de expressão

Long disse que acusações de que os patrões abusavam verbalmente dos funcionários, inclusive insultando-os, têm como base mal-entendidos.

“É o dialecto local a ser utilizado como linguagem de gestão”, disse.

A porta-voz afirmou ainda que a Huajian está a investigar alegações sobre o uso impróprio de estagiários.

Nos últimos 17 anos, a China Labor Watch tem investigado as condições de trabalho nos fornecedores chineses de algumas das empresas mais conhecidas a nível mundial, mas nunca tinha atraído o escrutínio do aparelho de segurança chinês, segundo Li Qiang.

O caso levantou questões sobre se os interesses comerciais da família Trump na China podem influenciar a posição norte-americana na promoção dos direitos humanos.

2 Jun 2017

Filipinas | Pelo menos 174 mortos em combates entre extremistas e exército

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ubiu para 174 o número de mortos em combates na cidade de Marawi, no sul das Filipinas, entre grupos extremistas ligados ao Estado Islâmico e o exército, informaram ontem fontes militares.

O tenente-coronel Jo-ar Herrera, porta-voz da 1.ª Divisão da Infantaria, declarou aos media que pelo menos 120 islamitas foram abatidos enquanto 25 efectivos governamentais perderam a vida em acção.

O ministro de Defesa filipino, Delfin Lorenzana, confirmou ontem que pelo menos outros 10 soldados morreram durante um ataque aéreo lançado pelo próprio exército, o que eleva o número de baixas governamentais para 35.

Os números oficiais também dão conta da morte de 19 civis, enquanto o porta-voz do Comité de Gestão de Crises da província de Lanao do Sul, Zia Alonto Adiong, disse à agência Efe que “o número de baixas civis rondará uma centena”.

Entre 50 a 100 extremistas do grupo Maute, ligado ao Estado Islâmico, permanecem no centro da cidade e usam mulheres e crianças como escudo humano, disse em conferência de imprensa o porta-voz do exército Restituto Padilla.

Os combates começaram no dia 23 de Maio com o fracasso de uma operação militar para capturar Isnilon Hapilon, líder do grupo extremista Abu Sayyaf, também com ligações ao Estado Islâmico, e que estava a ser protegido por membros do grupo Maute.

Os extremistas contra-atacaram com o objectivo de tomar parcialmente a cidade e pegaram fogo a uma esquadra da polícia, uma prisão e uma igreja, de onde sequestraram um padre e 13 paroquianos, que mantiveram cativos.

O exército recuperou desde então 90% da população e tenta eliminar “pequenos grupos de resistência” escondidos atrás de um número indeterminado de civis.

2 Jun 2017

Li Keqiang diz que combate às alterações climáticas é “consenso global”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, disse ontem que o combate às alterações climáticas é um “consenso global” e uma “responsabilidade internacional”, face à possibilidade de os Estados Unidos se retirarem do Acordo de Paris.

“As nossas palavras têm peso e as nossas acções devem alcançar o êxito”, disse Li, numa conferência de imprensa em Berlim, ao lado da chanceler alemã, Angela Merkel.

O responsável chinês recordou que o seu país teve um papel activo no processo de negociação do acordo e foi um dos primeiros a levá-lo ao parlamento para ser ratificado e a apresentar nas Nações Unidas as medidas que planeia implementar.

“A China é um grande país e assume a sua responsabilidade internacional”, realçou.

Em Pequim, a porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros Hua Chunying afirmou também que a China vai trabalhar com a União Europeia (UE) para manter o Acordo de Paris contra as alterações climáticas, mesmo que se confirme a retirada dos EUA.

O aquecimento global é um “desafio global” que nenhum país pode ignorar, afirmou Hua.

“Não importa as mudanças nas posições de outros países, nós vamos manter um modelo de desenvolvimento sustentável”, afirmou.

O Presidente norte-americano, Donald Trump, deve estar prestes a anunciar a sua decisão sobre a retirada dos EUA.

Caminho conjunto

A China é o maior emissor mundial de gases com efeito de estufa, seguida pelos EUA. Ambos os países foram elementos chave para a conclusão do acordo em Paris, em 2015, que foi assinado por 195 nações.

Trump afirmou anteriormente que as alterações climáticas são uma “farsa” criada pela China para danificar a economia norte-americana, numa posição que desafia um consenso cientifico alargado.

Na sexta-feira, o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, vai abordar o acordo em Bruxelas, durante um encontro com líderes da UE.

“Desejamos trabalhar com a UE para reforçar a nossa comunicação e cooperação prática nas alterações climáticas”, disse Hua.

Questionada sobre qual o tipo de intercâmbio que os líderes chineses têm tido com Trump sobre a sua decisão, Hua afirmou apenas que a China e os EUA “têm mantido uma comunicação próxima a vários níveis”, incluindo na questão das alterações climáticas.

2 Jun 2017

Maioria dos fumadores chineses não quer deixar o vício

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]ma investigação desenvolvida ao longo da última década indica que a maioria dos fumadores na China, o maior consumidor mundial de tabaco, não tem intenção de deixar de fumar e continua a desconhecer os riscos para a saúde.

O estudo, divulgado ontem pelo Centro Chinês para o Controlo de Doenças e investigadores do Canadá, apura que 316 milhões de chineses fumam, um número que tem vindo a crescer.

A grande maioria dos fumadores são homens, entre os quais 59% diz não querer deixar de fumar.

Geoffrey Fong, coautor do estudo, afirma que um em cada três homens chineses vai morrer de doenças relacionadas com o tabaco e que 60% destes homens não sabem que fumar pode provocar ataque cardíaco.

Algumas cidades chinesas proíbem o consumo de cigarros em espaços públicos. Funcionários chineses e estrangeiros da área da saúde defendem que aquela proibição deve ser alargada a todo o país.

Seria um “passo crucial”, afirmou Yuan Jiang, um dos responsáveis pelo estudo, em comunicado.

A decisão de alargar a todo o país a proibição de fumar em espaços públicos era para ser aprovada no final de 2016, segundo anunciou o Ministério da Saúde chinês, mas até agora não avançou.

“Eles têm que perceber o que é importante como política”, afirmou Fong. “Quando tens tabaco barato, as pessoas vão fumar”, acrescentou.

Em linha com a tendência mundial, os índices de consumo de tabaco caíram lentamente nos últimos 25 anos na China.

Cerca de um por cento por ano, entre os homens, e 2,6%, entre as mulheres, segundo um outro estudo, publicado em Abril pela revista médica The Lancet.

No entanto, devido ao aumento da população chinesa, para cerca de 1.375 milhões de habitantes, o número de fumadores aumentou.

O aumento do poder de compra significa que fumar se tornou também mais barato, enquanto os baixos impostos mantêm o preço de algumas marcas a menos de um euro por maço de cigarros.

1 Jun 2017

Investimento europeu no país cai 23%

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] investimento por empresas europeias na China registou uma queda homóloga de 23%, no ano passado, em parte devido aos obstáculos no acesso ao mercado chinês, e apesar da retórica pró-abertura e globalização adoptada por Pequim.

No total, as firmas dos países da União Europeia (UE) investiram 8.000 milhões de euros no país asiático, segundo um relatório ontem difundido pela Câmara do Comércio da UE em Pequim.

Este valor “seria substancialmente maior se fossem eliminados os obstáculos no acesso ao mercado e melhorado o ambiente jurídico”, lê-se no documento, assinado pelo presidente da Câmara, Mats Harbon.

O responsável afirma que 54% das empresas se sentem descriminadas face às firmas locais.

A falta de reciprocidade é mais evidente no acesso ao mercado.

Em 2016, a China investiu um total de 35.000 milhões de euros na UE, uma subida homóloga de 77%.

Além do referido favorecimento, as empresas europeias observam também que as firmas chinesas são cada vez mais inovadoras, um fenómeno que devem “seguir com cuidado”, aponta o documento.

Ainda assim

Apesar da percepção pouco optimista das empresas europeias sobre o mercado chinês, 55% destas registaram um aumento dos lucros no país, em 2016.

As firmas dos sectores transportes, logística e distribuição apresentaram os piores resultados, mas os esforços de Pequim para atacar a poluição sustentaram um forte crescimento entre as empresas na área do ambiente.

Ainda assim, apenas seis por cento das empresas europeias nota menos dificuldades em fazer negócios na China, enquanto 49% dizem que piorou.

O sector mais afectado é o da engenharia civil e construção, com 79% das empresas a considerar que o acesso ao mercado se tornou mais difícil, com Pequim a conceder os contratos a empresas chinesas, sobretudo estatais.

As empresas europeias enalteceram ainda a campanha anti-corrupção lançada pelo Presidente chinês, Xi Jinping, mas criticaram o pesado e imprevisível quadro regulamentar e a ambiguidade das leis no país.

1 Jun 2017

ONG questionam posição dos EUA sobre direitos humanos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]rganizações não-governamentais questionaram se os interesses comerciais da família Trump na China influenciam a posição norte-americana na promoção dos direitos humanos, após a detenção e desaparecimento de investigadores numa fábrica chinesa que fornece a marca Ivanka Trump.

“A vontade de membros da família em fazer negócios na China, enquanto ignoram o histórico do país em Direitos Humanos e laborais é preocupante”, afirmou Nicholas Bequelin, director para o leste da Ásia da Amnistia Internacional.

“Vamos ter que esperar para ver até que ponto os negócios estão a diminuir o capital diplomático norte-americano na promoção dos direitos humanos, direitos dos trabalhadores e democracia”, acrescentou.

Um grupo de defesa de direitos cívicos denunciou na terça-feira que um homem que investigava condições de trabalho numa empresa chinesa que produz sapatos da marca Ivanka Trump foi detido e dois outros desapareceram.

Os homens trabalhavam para a organização não-governamental norte-americana China Labor Watch na elaboração de um relatório que incluía acusações de salários baixos, tempo de trabalho excessivo e abuso de estagiários.

Segundo o director executivo da organização, Li Qiang, os homens devem estar detidos pela fábrica ou pela polícia.

Nos últimos 17 anos, este grupo tem investigado as condições de trabalho nos fornecedores chineses de algumas das empresas mais conhecidas a nível mundial, mas nunca tinha atraído o escrutínio do aparelho de segurança chinês, afirmou Li.

A investigação da China Labor Watch tem também um alvo inédito: uma marca detida pela filha do Presidente dos Estados Unidos.

“A marca da Ivanka deve imediatamente suspender a colaboração com este fornecedor, e a administração Trump deve inverter o seu curso actual e confrontar a China sobre abusos dos Direitos Humanos”, disse Adrienne Watson, porta-voz do Comité Nacional Democrata dos EUA, citado pela agência Associated Press.

Ivanka Trump deve decidir “se pode ignorar uma aparente tentativa do Governo chinês de silenciar uma investigação sobre abusos no trabalho”, acrescentou.

Negócios da China

Os acessórios e vestuários da marca Ivanka Trump são quase todos importados da China, segundo dados oficiais.

O Presidente norte-americano, Donald Trump, tem também várias marcas registadas no país, apesar de não ter uma presença forte no sector do imobiliário ou do retalho.

No mês passado, a irmã de Jared Kushner, marido de Ivanka e conselheiro de Trump, esteve na China para promover o investimento de privados chineses num projecto imobiliário na cidade norte-americana de New Jersey.

A mulher de Hua Haifeng, um dos investigadores detidos, informou que este foi acusado de vigilância ilegal, acrescentando que a polícia lhe ligou na tarde de terça-feira e, sem lhe dar qualquer detalhe, anunciou-lhe que não lhe iria ser possível ver, falar ou receber dinheiro do seu marido, que é o ‘ganha-pão’ da família.

Li Qiang disse que os homens relataram que os funcionários trabalhavam às vezes mais de 18 horas por dia, por salários abaixo do mínimo legal.

Os desaparecidos estavam a trabalhar para confirmar evidências de que os estagiários trabalhavam horas excessivas em tarefas que não estavam relacionadas com a sua área de estudo, em violação da lei chinesa.

1 Jun 2017

China | Governo planeia dar continuidade à abertura do país

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China tem actualmente em mãos planos para alargar os limites de propriedade por entidades estrangeiras em sectores como a electrónica automóvel, baterias de veículos movidos a novas energias e motociclos, numa altura em que o país altera o campo de acção do mundo dos negócios, segundo declarou o porta-voz do Ministério do Comércio na quinta-feira passada.

Sun Jiwen disse que o governo tem vindo a expandir os seus esforços no sentido de abrir ainda mais o sector manufactureiro de ponta ao investimento estrangeiro.

Sun disse, durante uma conferência de imprensa em Pequim, que uma versão revista do Catálogo para a Orientação das Indústrias de Investimento Estrangeiro será lançada e validada num futuro próximo.

Resposta pronta

Os comentários de Sun surgem no seguimento das afirmações da ministra da Economia alemã, Brigitte Zypries, nas quais referiu que os limites do investimento estrangeiro da China não são consentâneos com a posição do país no comércio livre internacional.

Sun enfatizou que a absorção de investimento estrangeiro é uma parte importante da política de abertura chinesa. O governo chinês, reiterou, tem movido esforços no sentido de abrir progressivamente o país, seguindo as normas da OMC.

De acordo com dados do ministério, o investimento directo estrangeiro totalizou 286,4 mil milhões de yuans nos primeiros quatro meses deste ano, uma queda de 0,1% face ao ano anterior.

Durante o período homólogo, 9,726 empresas internacionais estabeleceram-se ao longo do país, um aumento de 17,2% face ao mesmo período no ano passado.

Juntamente com o sector manufactureiro, a orientação deverá oferecer mais acesso ao investimento estrangeiro no sector de serviços e na indústria mineira, bem como reduzir o número de medidas restritivas de 93 para 62.

31 Mai 2017

Pequim reforça controlo na fronteira com a Coreia do Norte

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] responsável máxima pela diplomacia norte-americana no leste asiático considerou sexta-feira que a China tem reforçado a fiscalização ao longo da fronteira com a Coreia do Norte, visando cumprir com as sanções impostas pela ONU a Pyongyang.

Num encontro com jornalistas em Pequim, Susan Thornton disse que a China está cada vez mais consciente da urgência de pressionar a Coreia do Norte no sentido de suspender os testes nucleares e de mísseis balísticos.

Em Abril passado, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez um renovado apelo ao homólogo chinês, Xi Jinping, para ajudar nesses esforços.

Thornton afirmou que os EUA observaram uma “mudança de ênfase” na abordagem da China ao seu vizinho e aliado ideológico.

Pequim “disse que intensificou o controlo nas fronteiras, reforçando o policiamento e as inspecções”, exemplificou.

Sem avançar detalhes, a responsável norte-americana afirmou que Pequim também fez “uma série de outras coisas a empresas” que têm negócios com Pyongyang.

Pedidos e respostas

Washington tem apelado a Pequim para que tome medidas contra firmas específicas e aguarda acções da China, disse.

Pequim aprovou as sanções da ONU e adoptou a suspensão total das importações de carvão oriundas da Coreia do Norte até ao final do ano.

O principal aliado comercial e diplomático de Pyongyang continua a opor-se, no entanto, a que “qualquer país estrangeiro, incluindo os Estados Unidos, mudem o regime pela força”, disse à agência Lusa Wang Li, professor de Relações Internacionais na Universidade de Jilin, província chinesa situada junto à fronteira com a Coreia do Norte.

Thornton afirmou ainda que os EUA, a China e outros países estão também a debater uma futura resolução para a Coreia do Norte, visando reduzir o tempo necessário para adoptar acções na sequência de outro teste nuclear ou com mísseis.

“Estamos a estudar outra série de medidas, que seriam tomadas após outra provocação”, afirmou Thornton.

Essas medidas podem incluir o reforço da pressão económica sobre a Coreia do Norte, apontando como alvo o comércio de bens, possivelmente têxteis, acrescentou.

Enquanto a China tem repetidamente apelado ao diálogo directo entre Washington e Pyongyang, Thornton defende que Pequim percebe agora que é preciso colocar mais pressão antes que isso aconteça.

A responsável revelou ainda que a China parece também ter reconhecido que as acções da Coreia do Norte estão a “prejudicar a própria segurança chinesa de forma fundamental”.

No ano passado, Pyongyang realizou dois testes nucleares, um dos quais reclama ter sido uma bomba de hidrogénio.

Imagens de satélite sugerem que pode estar preparada para realizar o seu sexto teste atómico a qualquer momento.

Na segunda-feira, Pyongyang disse estar pronta para iniciar a produção em massa de um novo míssil de médio alcance, após ter realizado um teste no fim de semana que confirmou a sua capacidade para ser usado em combate.

O objectivo do regime é produzir um míssil balístico intercontinental capaz de atingir o território dos Estados Unidos.

29 Mai 2017

Kim Jong-un supervisiona testes de novo sistema de defesa anti-aéreo

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] líder da Coreia do Norte supervisionou os testes de um novo sistema de defesa antiaéreo e ordenou a sua produção em massa para o implantar em todo o país asiático, informou ontem a agência de notícias norte-coreana KCNA.

A agência, que não especificou a data do ensaio, disse que ao ver o “teste bem sucedido” organizado pela Academia Nacional da Ciência de Defesa, Kim Jong-un destacou a perfeição do sistema de orientação e elogiou o progresso “notável” na detecção e mapeamento de alvos, e a melhoria da precisão.

O líder norte-coreano supervisionou em Abril de 2016 os testes de um sistema guiado antiaéreo.

“O sistema, cuja capacidade operativa foi plenamente verificada, deve ser produzido em massa para ser implementado em todo o país, tais como em florestas, para assim destruir completamente os sonhos selvagens do inimigo de dominar o ar, potenciando a supremacia aérea e o poder das armas”, disse Kim no recente teste.

O líder norte-coreano estava acompanhado de figuras importantes do regime como o considerado “número dois”, Hwang Pyong-lo, e o vice-chefe do Estado-Maior do Exército e director do Escritório Geral de Operações, Ri Yong-gil, segundo a KCNA .

O novo ensaio da Coreia do Norte ocorre num momento de tensão na região perante os seus repetidos testes, que levaram também a uma escalada verbal com Washington, que chegou a insinuar que estuda possíveis ataques preventivos.

No sábado Pyongyang acusou a Coreia do Sul de violar o seu espaço aéreo com um aparelho não tripulado, um incidente que qualificou como uma “grave provocação militar”, segundo a agência de notícias norte-coreana KCNA.

29 Mai 2017

Go | Computador volta a derrotar campeão chinês

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m computador derrotou ontem pela segunda vez o campeão chinês de go, jogo de tabuleiro oriundo da China, num teste à capacidade de intuição da inteligência artificial, que Pequim tem censurado por envolver a Google.

Ke Jie voltou a perder, apesar de o sistema criado pela Google AlphaGo indicar que foi o melhor jogo que qualquer adversário já realizou contra si, segundo Demis Hassabis, fundador da subsidiária que desenvolveu o computador.

Na terça-feira, o Alpha Go tinha já derrotado Ke, um prodígio de 19 anos, no primeiro jogo de uma série de três que decorre em Wuzhen, costa leste da China, parte de um evento que coloca computadores a competir contra os melhores jogadores chineses.

O derradeiro confronto realiza-se no sábado.

Desde há alguns anos que os computadores dominam o xadrez e outros jogos, nas devido à intuição necessária para jogar go, os jogadores esperavam que fosse preciso mais uma década até que os sistemas de inteligência artificial conseguissem disputá-lo.

Em 2015, no entanto, o AlphaGo surpreendeu ao derrotar o campeão europeu. No ano passado, venceu um dos melhores jogadores sul-coreanos.

Apesar de decorrer na China e envolver o campeão chinês, a televisão estatal CCTV e os grandes serviços de transmissão via internet do país, como os gigantes Tencent e Sina, não transmitiram o jogo em directo.

A única plataforma de partilha de vídeos que transmite em directo os confrontos é o Youtube, que está bloqueado na China.

O evento tem tido também pouca cobertura na imprensa estatal.

Segundo informa o jornal South China Morning Post, a imprensa chinesa recebeu ordem para não mencionar a Google ao noticiar o torneio e para referir apenas a DeepMind, a subsidiária da Google, com sede no Reino Unido, que desenvolveu o AlphaGo.

A multinacional norte-americana mantém um diferendo com o Governo chinês desde 2010, quando acusou Pequim de espiar o correio electrónico no Gmail de dissidentes e rejeitou compactuar com a censura do regime.

Desde então, o motor de busca encontra-se bloqueado no país.

A resposta de Pequim ilustra o conflito entre as ambições do Governo em desenvolver a tecnologia do país e em limitar o acesso do público à informação.

O Partido Comunista Chinês encoraja os cibernautas a usar a Internet para negócios e ensino, mas censura conteúdo considerado subversivo.

Fontes oficiais chinesas indicam que o país emprega dois milhões de pessoas na monitorização permanente da rede. Outra medida ‘orwelliana’ inclui a contratação de internautas para fazerem comentários pró-Governo em fóruns ‘online’.

Da perfeição

O sistema AlphaGo considerou ontem que Ke Jie fez um jogo “perfeito” nas primeiras 100 jogadas, afirmou Hassabis em conferência de imprensa.

“Nas primeiras 100 jogadas é o melhor jogo que algumas vez vimos alguém fazer contra a versão mestre do AlphaGo”, disse.

Ke disse que o computador fez jogadas inesperadas.

“Da perspectiva de um ser humano, alargou-se um pouco e eu fiquei surpreendido a certo ponto”, disse.

“Eu também pensei que estava perto de vencer o jogo a meio”, afirmou. “Podia sentir o meu coração a pulsar. Mas talvez por estar demasiado excitado, fiz algo de errado ou jogadas estúpidas. Será esse talvez o ponto mais fraco dos seres humanos”, acrescentou.

Oriundo da China, o go é considerado mais difícil do que o xadrez, devido ao número quase infinito de possíveis posições que as pedras pretas e brancas vão alternadamente ocupando.

O AlphaGo foi projectado para simular a intuição na resolução de problemas complexos.

Funcionários da Google dizem que querem aplicar aquela tecnologia em áreas como assistência para smartphones e na resolução de problemas do mundo real.

Com cerca de 730 milhões de cibernautas, a China tem a mais larga população ‘online’ do mundo.

26 Mai 2017

Greenpeace encontra 226 substâncias nocivas próximo de parque industrial

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] organização ambiental Greenpeace revelou ontem ter encontrado 226 substâncias poluentes em amostras de águas, ar e solo, recolhidas em torno de um conhecido parque industrial químico no leste da China.

“O parque de Lianyungang demonstra uma chocante negligência em termos de segurança”, assegurou ontem em comunicado Cheng Qian, responsável da Greenpeace no leste asiático.

Segundo a organização, o complexo recebeu desde a abertura mais de duzentas multas, tanto das autoridades provinciais como municipais, “por incumprimento das normas ambientais”.

“Os trabalhadores, a saúde pública e o meio ambiente estão em sério risco devido aos danos causados pelos químicos”, acrescentou.

A Greenpeace detectou ainda nas amostras três Poluidores Orgânicos Persistentes – substâncias químicas tóxicas para a saúde e o meio-ambiente – e assegurou que aquelas substâncias são “ilegais”, segundo a legislação chinesa e internacional.

A investigação, realizada nas imediações do Parque Químico Industrial Lianyungang, revelou que entre as referidas substâncias nocivas havia “até 16 de tipo cancerígena para o ser humano”, sobretudo metais prejudiciais para a saúde.

Ponta do iceberg

Os resultados da investigação são “sintomáticos de um problema muito maior de gestão negligente da indústria química na China”, nota a organização.

Apesar de a China ser o maior produtor de químicos do mundo e onde o sector cresce ao ritmo mais acelerado, a gestão desta indústria no país é “extremamente negligente”, denuncia.

A Greenpeace aconselha as autoridades a adoptar um sistema para que a “indústria não se desenvolva como uma bomba relógio”.

Em 2016, a indústria química chinesa alcançou 8,7 biliões de yuan  em volume de negócios, com 25.000 empresas a operar no sector, entre as quais 18.000 produzem “químicos nocivos”.

A Greenpeace estima que a indústria química chinesa crescerá em média 66%, por ano, entre 2012 e 2020. Acidentes complexos químicos acontecem regularmente.

Em Agosto de 2015, uma explosão num armazém no porto de Tianjin, no norte do país, devido á armazenagem ilegal de químicos, provocou 173 mortos.

26 Mai 2017

China | Polícia reforça vigilância à “baleia azul”

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] polícia chinesa reforçou a vigilância das redes de comunicação utilizadas pelos jovens, depois da chegada ao país da “baleia azul”, uma série de desafios feitos pela Internet que induzem à auto-mutilação e ao suicídio.

O jornal Shanghai Daily avançou ontem que, nas últimas semanas, foram detectados alguns casos no país, como o desmantelamento de um grupo ‘online’, na província de Zhejiang, depois de uma mãe o ter denunciado.

“Se cravar uma baleia azul no meu braço, fará cicatriz?”, perguntou um jovem à mãe, que contactou as autoridades.

No grupo foram encontradas mensagens de um dos fundadores, que distribuía as tarefas.

Na cidade de Ningbo, em Zhejiang, foi encontrado outro grupo, fundado por uma menina de 12 anos.

Zhu Wei, da Universidade da China de Ciência Políticas e Direito, explicou ao Global Times que serviu de consultor jurídico para as autoridades e assegurou que se estão a tomar medidas para evitar a difusão do fenómeno “baleia azul”.

A polícia está a monitorar qualquer menção ao termo nas redes sociais e fóruns e, uma vez detectadas mensagens ou discussões envolvendo este, são eliminadas imediatamente.

Em Hangzhou, capital da província de Zhejiang, as autoridades apelaram às escolas primárias e secundárias que informem os pais sobre o jogo, avança o Shanghai Daily.

O gigante tecnológico Tencent, proprietário de algumas das redes sociais mais populares do país, informou que encontrou pelo menos 12 grupos no seu serviço de mensagens instantâneas QQ relacionados com o jogo e alertou que o número está a aumentar.

25 Mai 2017

Pequim critica Moody’s por baixar ‘rating’ da dívida do país

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China criticou ontem a decisão da Moody’s de baixar a nota da dívida do país e considerou que a agência de notação financeira utilizou um “sistema inapropriado” para analisar a situação na segunda maior economia mundial.

A Moody’s baixou a classificação da dívida chinesa a longo prazo de Aa3 para A1, devido às expectativas de que a saúde financeira do país venha a sentir nos próximos anos os efeitos do aumento da dívida.

Em comunicado, o Ministério das Finanças chinês assegurou que o endividamento do Governo central vai crescer a um “ritmo adequado” e disse estar confiante de que a crescente dívida dos governos locais e empresas estatais não se acrescentará à dívida soberana.

Para as autoridades chinesas, a Moody’s exagerou, “em certo sentido, as dificuldades que a economia chinesa enfrenta” e “subestimou a capacidade do Governo chinês para aprofundar” as reformas económicas, perante o excesso de capacidade de produção no sector secundário.

Outras perspectivas

A agência de notação indicou que a importância que Pequim atribui à manutenção de um forte crescimento económico vai traduzir-se em maiores estímulos, o que vai contribuir para um aumento da dívida.

A Moody’s mudou a perspectiva da dívida chinesa de “negativa” para “estável”, já que no nível “A1” os “riscos são equilibrados”, destacando os mecanismos do país para atacar a instabilidade financeira.

Pequim garantiu que a tendência da economia é “estável” e expressou confiança na manutenção do actual ritmo de crescimento económico, de 6,7%.

As autoridades chinesas acrescentaram que o ‘ratio’ da dívida pública relativamente ao Produto Interno Bruto (PIB) se situou em 36,7%, em 2016, valor “inferior ao limite definido pela União Europeia”.

25 Mai 2017

Combatentes islâmicos decapitam polícia no sul das Filipinas

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]ombatentes islâmicos que têm semeado o caos numa cidade do sul das Filipinas decapitaram um chefe da polícia local, afirmou ontem o Presidente filipino, Rodrigo Duterte.

“O chefe da polícia de Malabang foi parado quando regressava a casa (…) pelos terroristas e creio que o decapitaram no local”, declarou o Presidente para justificar a lei marcial imposta no sul das Filipinas.

Duterte disse que poderá declarar aquele regime de excepção “em todo o país para proteger a população”.

O Presidente impôs na terça-feira a lei marcial na região de Mindanao, onde vivem cerca de 20 milhões de pessoas, depois de se terem registado violentos confrontos entre as forças armadas filipinas e combatentes com ligações ao grupo extremista Estado Islâmico (EI).

A lei marcial, imposta em caso de emergência ou de perigo, implica a submissão total das autoridades civis aos comandos militares.

A ferro e fogo

O arcebispo Socrates Villegas, presidente da Conferência Episcopal das Filipinas, disse ontem que os extremistas islâmicos entraram na catedral de Marawi e sequestraram um padre, 10 fiéis e três trabalhadores.

Os combates em Marawi, cidade com 200.000 habitantes de maioria muçulmana, começaram com um assalto das forças de segurança contra uma casa que se pensava ser um esconderijo de Isnilon Hapilon, comandante do grupo extremista Abu Sayyaf e “rosto” do Estado Islâmico nas Filipinas.

Os ‘jihadistas’ pediram reforços e uma centena de homens armados de um grupo aliado, o Maute, entraram em Marawi e incendiaram alguns edifícios.

Segundo o arcebispo, o grupo Maute é também o responsável pelo sequestro do padre e das restantes pessoas e os combatentes querem que o governo retire as suas forças.

“Apelamos ao grupo Maute que diz utilizar as armas em nome de um Deus misericordioso e clemente – o mesmo Deus que nós cristãos veneramos – a honrar verdadeiramente o Deus único pela misericórdia e benevolência”, disse Socrates Villegas.

“Na altura da sua captura, o padre Chito exercia as suas funções. Não é um combatente. Não tinha armas. Não ameaçava ninguém. A sua captura e a dos seus companheiros violam todas as normas de um conflito civilizado”, adiantou.

25 Mai 2017

Pequim | Autoridades investigam rede ilegal de venda de placentas humanas

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s autoridades chinesas lançaram uma investigação a vários serviços obstétricos e de maternidade de Pequim, acusados numa reportagem do jornal Beijing News de participar numa rede ilegal de venda de placentas humanas, informou a imprensa local.

A Comissão de Saúde e Planeamento Familiar de Pequim pretende averiguar se a informação avançada este domingo pelo Beijing News está correcta.

Segundo o jornal, os traficantes podem obter uma placenta por 400 yuan no Hospital Obstétrico e Ginecológico de Pequim e duplicar o seu valor ao processar o órgão.

Uma vendedora, identificada como Li Ping, assegurou ao Beijing News que podia conseguir duas ou três placentas por dia – e a partir de cada uma fabricar 112 comprimidos -, ganhando até 100.000 yuan por mês.

Cada comprimido custa 10 yuan.

A direcção do centro hospital desmentiu que haja envolvimento do seu pessoal na operação e disse estar a cooperar com a polícia para resolver a situação.

A placenta humana só pode ser entregue à mulher que deu à luz e, caso esta prescinda da mesma, é da responsabilidade do hospital conservá-la e assegurar-se que não é vendida, segundo uma regulação aprovada pelas autoridades sanitárias, em 2005.

Entre os problemas que podem derivar da ingestão de placenta de origem desconhecida está o risco de contaminação por hepatite B, sida ou sífilis.

Comer a própria placenta após dar à luz é uma tradição com mais de 2.000 anos na China, onde se crê que esta contém propriedades curativas e previne o envelhecimento.

A medicina tradicional chinesa excluiu-a, no entanto, em 2015, apesar de medicina feita com placenta continuar a ser vendida nas farmácias do país.

24 Mai 2017

Polícia de Hong Kong detém 21 motoristas da Uber

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] polícia de Hong Kong lançou ontem uma nova operação contra a Uber, que resultou na detenção de 21 motoristas suspeitos de trabalharem no transporte de passageiros em veículos descaracterizados naquela cidade asiática.

Os motoristas foram detidos sob suspeita de fazerem negócio sem terem licença e seguro contra terceiros.

O inspector chefe Edwin Lau, da unidade de trânsito de West Kowloon, disse que 20 homens e uma mulher com idades entre 21 e 59 anos foram detidos e os seus veículos apreendidos.

“Quero sublinhar que a polícia continua em acção e que não posso excluir a possibilidade de mais condutores serem detidos”, disse aos jornalistas, sem referir o nome da Uber.

A polícia disse que os 21 detidos – que trabalhavam para a Uber há apenas dias ou há anos – cobravam entre 50 e 150 dólares de Hong Kong  por trajecto.

Lau disse que os suspeitos têm de fornecer documentos válidos à polícia no prazo de três dias para provar que são inocentes.

Agentes agiram à paisana e depois de recolherem provas revelaram a operação.

Lau disse que as forças de segurança tinham provas suficientes para sustentar que os motoristas estavam a usar os veículos sem terem licença adequada.

Com história

Em Março, um tribunal de West Kowloon multou cinco motoristas da Uber em 10.000 dólares de Hong Kong depois de terem sido considerados culpados por conduzirem veículos para alugar sem autorizações e seguro contra terceiros.

Os cinco motoristas foram detidos numa série de operações da polícia em 2015.

Dois outros motoristas da Uber, que se declararam culpados dos mesmos crimes, receberam uma multa de 7.000 dólares de Hong Kong cada.

“Estamos extremamente decepcionados com a acção policial hoje (ontem), estamos [solidários] com os 21 parceiros condutores”, disse a Uber em comunicado, acrescentando que irá ajudá-los e dar apoio jurídico.

A empresa, sediada em São Francisco, informou que tem uma apólice de seguro compartilhado, a qual está em conformidade com os requisitos legais de Hong Kong e cobre até 100 milhões de dólares de Hong Kong.

“O transporte partilhado não devia ser crime. Hong Kong é uma cidade internacional conhecida pela sua aceitação das tendências económicas globais e novas tecnologias, mas os regulamentos de transporte actuais não conseguiram acompanhar a inovação”, disse a Uber.

Em 2015, a polícia fez rusgas aos escritórios de Hong Kong da Uber e confiscou computadores e documentos.

24 Mai 2017

Pequim pede “equilíbrio adequado” entre ambiente e economia na Antártida

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m líder chinês pediu ontem um “equilíbrio adequado” entre a protecção do ambiente e os interesses económicos na Antártida, numa altura de crescente preocupação quanto ao impacto das alterações climáticas na região polar.

“É necessário um equilíbrio adequado entre a protecção e a utilização da Antártida, para conseguir um desenvolvimento sustentável e verde do continente e libertar o seu potencial e valor na promoção do progresso científico, crescimento económico e sustentabilidade cultural da humanidade”, afirmou durante o 40.º encontro do Tratado da Antártida.

Pequim acolhe até 1 de Junho um encontro entre os países que supervisionam a Antártida, ilustrando a vontade da China em desempenhar um papel maior no futuro daquela zona do globo.

Cerca de 400 representantes, oriundos de 42 países e dez organizações internacionais, participam no 40.º encontro do Tratado da Antártida.

O vice-primeiro-ministro chinês, Zhang Gaoli, disse aos participantes que a sobrevivência humana dependerá do futuro do frágil ambiente antártico.

“Na exploração e utilização da Antártida, devemos procurar medidas apropriadas e coordenadas para gerir os problemas”, afirmou Zhang.

A dividir

Sete países reivindicam território na Antártida. Os Estados Unidos e a Rússia afirmaram que não reconhecem as reivindicações, mas reservaram para si o direito de reclamarem partes do território.

A pesquisa científica no continente, coberto de gelo, é feita de acordo com um tratado datado de 1959, que designa a Antártida como uma reserva natural, onde é proibida a extracção de recursos para fins comerciais.

A China assinou o tratado em 1983 e, desde então, já abriu quatro estações de pesquisa permanentes na Antártida.

Pequim planeia iniciar a construção de uma pista de aterragem para aviões até ao fim deste ano e de uma quinta estação de pesquisa até 2018.

24 Mai 2017

Relações entre Pequim e Pyongyang mais distantes

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] professor chinês de Relações Internacionais Wang Li diz que a política da China para a Coreia do Norte “não se alterou”, mas admite que a actual liderança chinesa se distanciou do regime de Kim Jong-un.

“Os princípios da política externa chinesa não se alteraram: a China opõe-se a que qualquer país estrangeiro, incluindo os Estados Unidos, mudem o regime pela força”, disse Wang à agência Lusa.

Para além da afinidade ideológica, Pequim e Pyongyang combateram lado a lado na Guerra da Coreia (1950-53).

Nos mapas chineses impressos até há cerca de 20 anos, a península coreana correspondia a apenas um país, a Republica Democrática Popular da Coreia, com a capital em Pyongyang. Seul tinha então o estatuto de cidade de província.

O Tratado de Cooperação e Assistência Mútua sino-norte-coreano, assinado em 1961, é tido como uma garantia de que a China intervirá em caso de uma agressão contra o país vizinho.

A retórica na imprensa estatal dos dois lados, contudo, aponta para um deterioramento nas relações, com a agência noticiosa de Pyongyang a acusar a China de “comentários irresponsáveis” sobre o seu programa nuclear, e um jornal oficial do Partido Comunista Chinês a avisar que Pequim poderá cortar o fornecimento de petróleo ao país vizinho, caso este persista com os testes atómicos.

Wang Li, professor da Universidade de Jilin, província chinesa situada junto à fronteira com a Coreia do Norte, reconhece mudanças numa relação até há pouco tempo descrita como sendo “unha com carne”.

O meu tio

Desde que, em 2013, ascendeu ao poder, o Presidente da China, Xi Jinping, nunca se encontrou com Kim Jong-un, tendo-se mesmo tornado no primeiro líder chinês a visitar a Coreia do Sul antes de ir à Coreia do Norte.

Segundo Wang, a postura de Xi deve-se à decisão de Kim Jong-un de executar o seu próprio tio Jang Song-Thaek, considerado a segunda figura do governo norte-coreano e interlocutor do regime com Pequim.

O académico refere que Jang terá aceitado a proposta da China de adoptar reformas económicas e abdicar do programa nuclear em troco do apoio de Pequim.

“Quando Kim Jong-un descobriu, mandou executar o tio”, conta.

O académico chinês admite que o líder norte-coreano, que assumiu o poder em 2011, com apenas 27 anos, “não deve ser sobrestimado”.

“Ele é jovem, mas muito maduro politicamente”, defende. “É cruel e esperto; um tipo perigoso”.

Para além de executar o tio e dezenas de outros altos quadros do Governo, Kim Jong-un terá mandado assassinar o seu meio irmão Kim Jong-nam, que vivia em Macau sob protecção da China, num outro golpe que não caiu bem em Pequim.

“Não há agora ninguém que possa desafiar Kim”, comenta o professor.

Wang Li admite que é “muito difícil” para a China lidar com a situação na península coreana.

“O Partido [Comunista Chinês] e o exército [da China] não querem perder um aliado no norte”, afirma.

Pequim “deseja, no entanto, manter boas relações com os EUA e estabilizar as relações económicas com a Coreia do Sul e Japão, mas a Coreia do Norte age como uma criança e gera problemas para todas as partes”, diz.

Em entrevista à agência Lusa, o professor Wang Li compara a actual situação na Coreia do Norte à da China durante a Revolução Cultural, uma radical campanha política de massas lançada pelo fundador da China comunista, Mao Zedong, entre 1966 e 1976, que mergulhou o país no caos e isolamento.

“A comida é racionada. Os vegetais, carne e leite são escassos”, conta. “Eu vivi a Revolução Cultural e senti isso também”.

Em Jilin, vivem cerca de dois milhões de chineses de étnica coreana; muitos têm familiares no país vizinho para os quais enviam frequentemente roupa e alimentos.

“Excepto pelo ar fresco e ruas limpas, não há muito mais na Coreia do Norte”, diz. “Pode-se sobreviver, mas existe escassez de quase tudo”.

23 Mai 2017

Global Times nega que China tenha morto espiões da CIA

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m jornal do Partido Comunista Chinês (PCC) negou ontem que a China tenha morto pelo menos dez informadores dos serviços de inteligência norte-americanos CIA, entre 2010 e 2012, como avançou no sábado o The New York Times (NYT).

A publicação, que cita funcionários norte-americanos, revelou que entre 18 e 20 fontes da CIA na China foram assassinadas ou obrigadas a deixar de colaborar com uma rede de espionagem que “demorou anos a construir”.

“Este artigo foi muito citado, mas a sua autenticidade continua por verificar”, escreveu em editorial o Global Times, jornal de língua inglesa do grupo do Diário do Povo, o órgão central do PCC.

“E quanto ao relato de que um informador foi morto com um tiro em frente aos seus colegas, no pátio de um edifício governamental, é uma história puramente fabricada, com provavelmente um pouco de imaginação ao estilo americano”, acrescentou.

O Global Times lembra que as actividades de contra-espionagem da China são “justas e legais”, enquanto que as operações exercidas pela CIA são “ilegítimas”.

“Se este artigo é verdadeiro, gostaríamos de aplaudir as actividades chinesas de contra-espionagem”, ironiza o jornal.

E acrescenta que “a imprensa norte-americana devia renunciar ao seu narcisismo moral, quando reporta sobre espionagem da CIA na China”.

“É absurdo que, na sua descrição, os EUA estão sempre do lado nobre, quer quando capturam espiões, quer quando os enviam”, diz.

23 Mai 2017

Pequim acolhe encontro entre países que supervisionam a Antártida

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]equim acolhe desde ontem um encontro entre os países que supervisionam a Antártida, ilustrando as ambições da China naquela zona do globo, numa altura de crescente preocupação quanto ao impacto das alterações climáticas na região polar.

A pesquisa cientifica no continente, coberto de gelo, é feita de acordo com um tratado datado de 1959, que designa a Antártida como uma reserva natural, onde é proibida a extracção de recursos para fins comerciais.

A China assinou o tratado em 1983 e, desde então, já abriu quatro estações de pesquisa permanentes na Antártida. Pequim planeia iniciar a construção de uma pista de aterragem para aviões até ao fim deste ano e de uma quinta estação de investigação até 2018.

Cerca de 400 representantes, oriundos de 42 países e 10 organizações internacionais, são esperados no 40.º encontro do Tratado da Antártida, que decorre até 1 de Junho.

A delegação chinesa é liderada pelo chefe da diplomacia, Yang Jiechi, e pelo vice-primeiro-ministro Zhang Gaoli.

Causa séria

A participação destes representantes ilustra a importância que a China atribui à sua crescente capacidade cientifica e tecnológica, que inclui a aterragem de uma sonda lunar na Lua, em 2013, um exército mais sofisticado e o voo inaugural do primeiro avião chinês de grande porte que teve lugar este mês.

Segundo o ministério chinês dos Negócios Estrangeiros, Pequim emitiu durante a reunião um relatório, denominado “A Causa da China para a Antártida” e assinou acordos de cooperação com os Estados Unidos, Rússia e Alemanha.

As alterações climáticas e o turismo estão também na agenda.

Na semana passada, investigadores da Universidade de Exeter, do Reino Unido, publicaram um estudo que descreve as “mudanças generalizadas e fundamentais” na península da Antártica, à medida que os glaciares derretem e mais áreas aparecem cobertas por musgo. Os representantes das nações que assinaram o tratado vão agora discutir as adptações às mudanças.

Mais de 38.000 turistas visitaram a Antártida e áreas próximas, nos últimos dois anos, um aumento de 29%, face há uma década, segundo dados divulgados pela Associação Internacional de Operadores Turísticos da Antártida.

A China é dos principais contribuintes para este aumento.

23 Mai 2017