China | Fortes chuvas deixam pelo menos 56 mortos e 22 desaparecidos

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s chuvas torrenciais deixaram nos últimos dias pelo menos 56 mortos e 22 desaparecidos no centro e sul da China, onde centenas de milhares de pessoas tiveram que abandonar as suas casas, informaram nesta terça-feira as autoridades de várias províncias.

Segundo os últimos dados divulgados pela agência oficial Xinhua, um total de 27 mil casas desmoronaram e 37 mil sofreram graves por conta dos deslizamentos de terra e inundações. O Governo central designou uma ajuda de emergência de US$ 278 milhões, embora estime-se que as perdas económicas ultrapassem os US$ 3,7 mil milhões.

As fortes chuvas causaram inundações e fizeram com que os níveis de água de mais de 60 rios no sul da China tenham subido acima do seu máximo. As províncias mais afectadas são Hunan e a região autónoma de Zhuang, disse o Ministério dos Assuntos Civis.

Milhares de soldados, policiais, funcionários públicos e civis estão a lutar contra as inundações em várias províncias ao longo do rio Yangtzé. A estação de monitoramento do nível de água em Changsha (capital de Hunan) no rio Xiangjiang, um importante afluente do Yangtzé, alcançou um recorde de 39,51 metros, superando o recorde anterior de 39,18 metros estabelecidos por uma inundação em 1998.

As inundações destruíram casas, arrancaram árvores, danificaram veículos, estradas e as plantações de muitos agricultores, enquanto milhares de pessoas tiveram que deixar a região.

Em Hubei, cerca de 16 mil pessoas estão em alerta máximo pela enchente dos rios, e em Guangxi, foram confirmadas as mortes de 16 pessoas, enquanto dez estão desaparecidas.

Por outro lado, o calor está sufocante no norte do país. Na capital Pequim e em províncias como Shaanxi, Hebei e Henan, as temperaturas chegam aos 40 graus. Na Região Autónoma da Mongólia Interior, mais de 200 bombeiros estão a lutar contra um incêndio que atravessou o norte da China, a partir da Mongólia.

Nesta época do ano são frequentes as chuvas torrenciais na China e é comum que aconteçam inundações, deslizamentos e outras catástrofes motivadas por fenómenos meteorológicos.

O fato mais grave ocorrido nesta temporada aconteceu no último dia 24 de Junho, em Sichuan, quando também ocorreram fortes chuvas e parte de uma montanha caiu sobre a aldeia de Xinmo.

5 Jul 2017

China | Hospital condenado por impor reorientação sexual

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m hospital chinês foi condenado pela justiça por impor um tratamento de reorientação sexual a um paciente, segundo a sentença de um tribunal anunciada ontem. De acordo com a cópia do veredicto, o hospital psiquiátrico de Zhumadian, na província de Henan foi condenado por um tribunal da mesma cidade e terá de fazer um pedido público de desculpas e pagar ao queixoso 647 euros pelos danos causados.

M. Yu foi admitido na instituição em Outubro de 2015, pouco depois de ter revelado a sua homossexualidade à esposa e pedido o divórcio. O paciente foi então diagnosticado com “problemas de orientação sexual” pelo hospital, que se recusou a deixá-lo sair, e impôs um tratamento médico para garantir “cura” de Yu. A “terapia de reorientação sexual” aplicada é considerada uma prática não científica e ineficaz pelos peritos, embora continue a ser utilizada em várias clínicas do país.

Yu foi amarrado durante cerca de 20 dias à sua cama de hospital e forçado a tomar comprimidos e receber injecções concebidos “para corrigir” a sua orientação sexual, sob pena de espancamentos, explicou o próprio, numa entrevista à agência France-Presse.

Uma testemunha confirmou em tribunal que Yu foi “tratado contra a sua vontade durante 19 dias”, através de medicação que incluía antidepressivos e injecções, lê-se no documento do tribunal.

“Este veredicto é importante para a comunidade homossexual porque nenhuma lei oferece protecção” contra o tratamento forçado, disse Peng Yanhui, director de uma organização não-governamental que defende os direitos LGBT na China.

Num caso semelhante, em Dezembro de 2014, um tribunal de Pequim condenou uma clínica em Chongqing, no sudoeste da China pela prática de tratamentos com o objectivo de “curar” a homossexualidade.

A China removeu a homossexualidade da sua lista de doenças mentais em 2001, mas muitas pessoas da comunidade continuam a ser vítimas de discriminação e sofrem de pressão familiar.

5 Jul 2017

Análise | Partido Comunista Chinês a caminho do centenário

Vai a caminho dos 100 anos. Na versão oficial dos acontecimentos, contam-se mais feitos do que derrotas, mais tiros certeiros do que danos colaterais. O Partido Comunista Chinês celebrou 96 anos entre as celebrações das duas décadas da transferência de soberania de Hong Kong. Tem pela frente vários desafios, mas a corrupção é o único assumido

[dropcap style≠’circle’]“H[/dropcap]á um século, o comunismo era encarado como um fantasma. Quando foi fundado, em 1921, poucos eram aqueles que acreditavam que o Partido Comunista Chinês (PCC) poderia sobreviver. Agora, o mundo observa o maior partido do mundo no poder em direcção aos objectivos do seu primeiro centenário.”

É assim que começa um longo texto da agência oficial chinesa sobre os 96 anos do PCC, comemorados este ano à sombra da transferência de soberania de Hong Kong. O número não é redondo e o foco esteve na mais antiga (e problemática) das duas regiões administrativas especiais, com o líder do partido a deslocar-se à antiga colónia britânica.

A Xinhua encarregou-se de que a data não fosse esquecida, com um texto em que são reconhecidas dificuldades, mas em que o futuro se pinta risonho. O PCC vive este ano um momento histórico: no Outono, o congresso do partido vai escolher os líderes para mais cinco anos, com a renovação de vários elementos do Politburo, e serão eles que vão estar no poder quando se assinalar o centenário. Para os 100 anos, existe uma meta: fazer com que a China seja “um país abastado”.

Assim que este objectivo for alcançado, refere a agência oficial, quase um quinto da população mundial viverá numa “sociedade moderadamente próspera em todos os aspectos”. “O PCC está confiante e determinado”, sublinha a Xinhua.

Os autores do texto reconhecem que nem tudo foram – e são – rosas. “Desde o seu estabelecimento, o partido foi recebido com dúvidas, incapacidade de compreensão e até hostilidade. Não obstante, cresceu como uma das histórias do mundo mais bem-sucedidas e excitantes.”

Quando o PCC foi fundado, recorda-se, a China era uma nação pobre marcada por invasões estrangeiras e pela guerra civil. Hoje em dia, é a segunda maior economia do mundo e um dos principais actores do cenário político internacional.

A importância do líder

No início, era um grupo de 50 pessoas. Hoje, o partido tem mais de 89 milhões de membros, um número revisto e aumentado recentemente (ver texto nestas páginas). A estrutura partidária tem mais gente do que a população da Alemanha, congratula-se a agência de notícias.

“A legitimidade política advém da competência e da prosperidade”, atesta Zhang Weiwei, director do Instituto de Estudos da China, da Universidade Fudan, citado pela Xinhua. “A experiência do PCC demonstra que o principal teste de um bom sistema é o modo como assegura a boa governação, na percepção das pessoas que vivem nesse país.”

Não há memória de a China ter tão boas condições como as actuais, prossegue o académico, que considera existirem todas as razões para acreditar que o partido está a conduzir o país de “regresso ao centro do palco do mundo”.

No ano passado, Xi Jinping, o secretário-geral do PCC, ganhou um novo estatuto: passou a ser o líder central da estrutura, uma “promoção” que, na altura, foi entendida por analistas fora da China como sendo um reforço excessivo de poder.

A versão oficial coloca a questão noutros termos: os especialistas consultados pela Xinhua consideram que o posicionamento de Xi Jinping é a chave para o partido e para o país, para que ambos possam desenvolver-se indo pelo caminho certo.

Liu Dongchao, professor da Academia Chinesa de Governação, explica que os chineses precisam de estar unidos em torno de uma figura central, porque a sua influência pode ligar as pessoas, e garantir a sabedoria colectiva para formular e implementar políticas adequadas.

Durante os primeiros 14 anos de existência, o PCC não teve um líder forte, o que fez com que se tivessem registado “vários percalços na causa revolucionária”, contextualiza a Xinhua. “O partido esteve prestes a desaparecer.” Em 1935, Mao Zedong impôs a sua autoridade no comité central e na estrutura militar. “Desde então, a liderança do PCC tem sido essencial para ultrapassar as dificuldades.”

Agora, Xi Jinping está determinado em fazer com que “a nação cumpra o sonho chinês do rejuvenescimento nacional, tendo estabelecido um plano para promover o desenvolvimento económico, político, cultural, social e ecológico de características socialistas”. O secretário-geral do partido quer alcançar “um desenvolvimento partilhado” numa altura em que “manter o crescimento sustentável se torna cada vez mais difícil”.

O académico Xin Ming, do Escola do Partido do Comité Central do PCC, garante que “o marxismo continua e deve continuar a ser a directriz principal do partido”.

Consenso e pobreza

Nesta análise da agência oficial chinesa, as conquistas da China são totalmente atribuídas ao PCC, que criou “a receita para o sucesso” – o socialismo com características chinesas. É através deste modelo que o partido “representa os interesses da grande maioria das pessoas e as coloca em primeiro lugar”.

As reformas que têm sido levadas a cabo têm na base decisões que “reflectem o consenso generalizado da sociedade chinesa”. A estabilidade social é mantida, aponta a Xinhiua, sem fazer qualquer referência às vozes que não concordam com o regime ou às críticas sobre os direitos humanos, nem tampouco às teorias de analistas que avisam para a possível oposição de uma crescente classe média, mais exigente em termos políticos.

No aspecto económico, prossegue o texto, a relação entre Governo e mercado tem sido capaz de garantir que o país saiu ileso dos tempos conturbados vividos em termos internacionais.

O caminho escolhido tem vindo a conquistar um vasto apoio da população, “graças sobretudo ao facto de a maioria das pessoas ter visto os seus padrões de vida melhorar significativamente nas últimas décadas”, observa Liu Dongchao.

A análise do professor da Academia Chinesa de Governação é subscrita pelo académico Xin Ming, que considera que a visão de Xi Jinping acerca do sonho chinês garantiu a união da maioria das pessoas no país. “O partido inspira um espírito de luta por um futuro melhor.”

A agência oficial deixa números como prova do sucesso do caminho da China comandada pelo PCC: mais de 700 milhões de pessoas saíram da pobreza. Só nos últimos quatro anos, 55 milhões de chineses deixaram essa condição. O partido olha agora para os 40 milhões que ainda não conseguiram deixar de ser pobres.

Em 2020, os residentes das áreas rurais já não deverão ter preocupações com comida e alimentação, e deverão ter garantidos serviços médicos básicos, educação e habitação. Todos eles sairão da pobreza, perspectiva a agência.

“Desde que se preste atenção, se pense da forma correcta, se tomem medidas efectivas e se trabalhe com os pés na terra, é perfeitamente possível acabar com a pobreza”, afirmou Xi Jinping numa recente viagem à província de Shanxi, no norte do país.

A Xinhua não deixa de enviar um recado no texto publicado no seu site em língua inglesa: “Confiante no seu próprio percurso, a China não tem qualquer intenção de promover o seu modelo como uma alternativa para outras pessoas ou países.”

Crescente moderado

Só no último ano, o Partido Comunista Chinês (PCC) conseguiu acrescentar mais 688 mil membros à sua longa lista, que vai em 89.447 milhões. De acordo com dados oficiais, verificou-se uma mudança significativa entre as classes mais baixas da população: há mais 105 mil membros, para um total que vai agora em 4,518 mil milhões. Em nota oficial, o Departamento de Organização do Comité Central do PCC realça que as estatísticas demonstram que houve um reforço do vigor e da vitalidade do partido. Explica-se ainda que a taxa de crescimento de membros tem estado a diminuir desde 2013 porque o PCC implementou métodos de recrutamento que valorizam a qualidade dos candidatos. Entre os novos membros, 1571 têm menos de 35 anos.

 

O mal pela raiz

“A chave para se fazerem bem as coisas na China está no PCC.” Porque existem alguns espinhos, a agência oficial reproduz os avisos reiterados da liderança em relação à corrupção e admite que é preciso melhorar esta dimensão para que seja possível ao partido manter-se no poder.

Desde que Xi Jinping assumiu o poder – primeiro na estrutura partidária, depois como Presidente – que uma forte campanha anticorrupção tem varrido o país. Aparentemente, ninguém tem sido poupado: desde o 18.o Congresso Nacional do PCC, foram investigados pelo menos 240 altos quadros e mais de um milhão de funcionários em níveis mais baixos da hierarquia.

As avaliações internas têm mostrado resultados: mais de 50 por cento dos processos relativos a pessoas sob a alçada da Administração Central foram desencadeados por inspectores da Comissão Central para a Inspecção da Disciplina.

O partido lançou ainda uma série de campanhas nos últimos anos, com destaque para a aproximação à população e o combate aos excessos cometidos por funcionários.

Zhang Weiwei, director do Instituto de Estudos da China, destaca que, em termos internacionais, as incertezas que hoje se vivem fazem com que se questione a definição da legitimidade da governação. “Neste contexto, a quase centenária sabedoria do PCC e as suas práticas podem ser cada vez mais relevantes”, remata.

4 Jul 2017

Pequim envia navios para o Mar do Sul após incursão dos EUA

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês confirmou ontem o envio de navios militares e aviões de combate para o Mar do Sul da China, depois da incursão no domingo de um contratorpedeiro norte-americano perto de uma das ilhas Paracel. A operação foi uma “séria provocação política e militar” disse o comunicado, emitido na noite de domingo, citando o porta-voz do Ministério, Lu Kang, acrescentando que a China enviou navios de batalha e aviões de caça para advertir o Stethem.

“A China destacou navios militares e aviões de combate para colocar sobreaviso o contratorpedeiro norte-americano”, disse na noite de domingo Lu Kang, num comunicado. “A China insta os Estados Unidos a porem fim imediato a este tipo de operações provocatórias que violam a soberania do país e ameaçam a segurança”, acrescentou.

Essa foi a segunda “operação de liberdade de navegação” conduzida durante o governo do presidente Donald Trump, após um teste feito no final de Maio no qual um navio de guerra norte-americano navegou a 12 milhas náuticas de uma ilha artificial chinesa no Mar do Sul da China.

As declarações do governo chinês foram feitas depois de ser conhecida a incursão no domingo de um contratorpedeiro norte-americano em frente à ilha Trinton, uma das ilhas Paracel, ou Xisha, na designação em chinês, e que Pequim considera estarem sob a sua soberania.

De facto, um navio de guerra norte-americano aproximou-se no domingo da ilha, alvo de disputa entre China, Taiwan e Vietname, numa operação que tinha como objectivo desafiar as reivindicações concorrentes de todas as três nações, disse uma autoridade do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. O USS Stethem, um destroier de mísseis teleguiados, navegou a 12 milhas náuticas da ilha Triton. A operação foi relatada inicialmente pela Fox News, no domingo.

Apesar de os Estados Unidos e a China terem acordado posições após a reunião entre o Presidente norte-americano, Donald Trump, e o homólogo chinês, Xi Jinping, na Flórida, as tensões entre ambos no Mar do Sul da China continuam a ser recorrentes.

O conflito das Paracel remonta aos anos 1970, mas aumentou de intensidade nos últimos anos, coincidindo com uma maior implicação dos Estados Unidos na disputa.

A China tomou o controlo das Paracel em 1974, depois de vencer uma batalha naval contra o então denominado Vietname do Sul.

4 Jul 2017

Imobiliário | Arrefecimento vai afectar crescimento da economia

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] arrefecimento do mercado imobiliário na China, estimulado pelas autoridades para evitar uma bolha imobiliária, vai ter consequências negativas para a economia no segundo semestre e em 2018, disse ontem a agência de notação Fitch.

O mercado imobiliário vai continuar provavelmente a arrefecer em resposta às maiores restrições para a compra de casa em muitas cidades e a condições mais difíceis para o crédito, indicou a Fitch num relatório.

“O imobiliário é o sector cíclico chave na economia chinesa e vai influenciar o crescimento na segunda metade do ano”, afirmou.

A Fitch insistiu que o arrefecimento se deve às políticas públicas, já que as autoridades querem evitar a “excessiva ebulição no mercado”.

As restrições, sobretudo nas principais cidades, têm estado centradas em questões como o aumento do pagamento inicial ou limitações à aquisição da segunda casa pela população.

Além disso, a crescente atenção das autoridades à redução do excessivo endividamento e dos riscos financeiros conduziu a um aumento dos juros, o que também contribuiu para o abrandamento, acrescentou.

A Fitch considerou que o arrefecimento imobiliário vai causar a estabilização das vendas durante a segunda metade do ano e considera provável que os preços baixem nesse mesmo período.

Os preços nas principais cidades chinesas (Pequim, Xangai ou Cantão) subiram 90% nos últimos quatro anos, bastante acima dos 10-25% em cidades menos importantes, adiantou.

A agência considerou que a estabilização do mercado vai ter um impacto sobre toda a economia chinesa, já que o investimento na habitação representa aproximadamente 10% do produto interno bruto do país.

A Fitch previu que, devido ao período de geração do efeito, o crescimento da economia chinesa seja inferior a 6% durante 2018.

4 Jul 2017

Pequim vai garantir aplicação firme de “Um País, Dois Sistemas”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente chinês sublinhou que Pequim vai garantir a aplicação “com firmeza” do princípio “um país, dois sistemas” em Hong Kong.

O Governo de Hong Kong “deve manter-se fiel a esta direcção e respeitar integralmente” aquele princípio, afirmou Xi Jinping, perante mais de dois mil convidados que assistiram, momentos antes, à cerimónia de posse da chefe do Executivo, Carrie Lam, primeira mulher a desempenhar o cargo.

Este conceito foi criado para defender a unidade do país e qualquer desafio à soberania ou apoio à oposição representa uma ruptura do princípio “um país, dois sistemas”, acrescentou Xi. “Qualquer tentativa que ponha em perigo a soberania e segurança da China, desafie o poder do Governo central e a autoridade da Lei Básica de Hong Kong ou usar Hong Kong para infiltrações ou actividades de sabotagem contra a China é um acto que passa a linha vermelha é absolutamente inadmissível”, declarou. ”. A questão da soberania, lembrou, não esteve em discussão durante as negociações com Londres.

Xi Jinping defende ainda que é importante manter a estabilidade social: “Hong Kong é uma sociedade plural.” Por isso, observou, “não surpreendem as diferentes opiniões ou mesmo grandes diferenças em questões específicas”.  Ainda assim, “fazer de tudo política, ou deliberadamente criar diferenças e provocar a confrontação, não vai resolver problemas”.

O presidente diz que o Governo Central está preparado para o diálogo com quem “ame o país, Hong Kong e que apoie, genuinamente, o princípio ‘um país, dois sistemas’, não importa a posição política” dos interlocutores.

Xi Jinping considerou que o princípio “um país, dois sistemas” foi a melhor solução para Hong Kong e que, há vinte anos, “acabou um passado de humilhação”. O respeito e aplicação do princípio “um país, dois sistemas” responde às necessidades da população de Hong Kong, de manter a prosperidade e estabilidade de Hong Kong, serve os interesses fundamentais da nação e as aspirações partilhadas de todos os chineses, disse, de acordo com a agência noticiosa chinesa Xinhua.

Mas o Governo de Hong Kong deve fazer mais para responder aos desafios colocados pela economia, habitação, segurança e aumentar a educação patriótica, considerou. Xi Jinping ofereceu a ajuda e força económica da China como “uma oportunidade” para revitalizar Hong Kong, numa altura em que o preço das habitações é incomportável para os residentes e a competitividade internacional do território diminuiu. “Criar deliberadamente divergências políticas e provocar a confrontação não vai resolver os problemas. Pelo contrário, só vai impedir gravemente o desenvolvimento económico e social de Hong Kong”, advertiu.

Ontem, o Presidente chinês terminou a sua visita de três dias a Hong Kong, com uma inspecção aos trabalhos da futura ponte Hong Kong-Macau-Zhuhai, indicou a Rádio Televisão de Hong Kong (RTHK). Este mega-projecto, que se prevê ser a maior travessia do mundo sobre o mar, tem registado derrapagens orçamentais e acidentes industriais e, no mês passado, o governo de Hong Kong anunciou que a empresa contratada para realizar testes de segurança ao betão usado na ponte apresentou mais de 200 resultados falsificados.

Depois da visita à ponte, Xi dirigiu-se ao aeroporto de Chek Lap Kok, tendo deixado o território cerca da 13:00, a bordo de um avião da Air China.

 

Nova chefe do Executivo empossada

O Presidente chinês, Xi Jinping, empossou no sábado a nova chefe do Executivo de Hong Kong, Carrie Lam, primeira mulher a exercer o cargo. Em seguida, os titulares dos principais cargos do governo prestaram juramento perante Carrie Lam, sob o olhar do Presidente da China. Mais de dois mil convidados assistiram à cerimónia de investidura do quinto executivo da Região Administrativa Especial de Hong Kong desde transferência de soberania do Reino Unido para a China, em Julho de 1997. O chefe do Executivo de Macau, Chui Sai On, estava entre os convidados oficiais.

Durante a manhã, decorreu a cerimónia do hastear das bandeiras da China e de Hong Kong, a marcar o 20.º aniversário da transferência, na praça Bauhinia, no centro da cidade.

Novos acordos económicos e culturais

Pequim e Hong Kong assinaram este fim de semana acordos sobre investimento e cooperação económica e técnica (Ecotech) no marco do Acordo de Parceria Económica entre a Parte Continental e Hong Kong (CEPA, em inglês). Segundo o acordo de investimento, a parte continental está comprometida a oferecer tratamento mais favorável a Hong Kong. Hong Kong também pode gozar de tratamento preferencial nos sectores de carga marítima, produção de aviões e exploração de energia. O acordo sobre Ecotech assinala especialmente o apoio da parte continental a Hong Kong na participação da iniciativa Uma Faixa, uma Rota.

O presidente Xi também participou da cerimónia de assinatura de um acordo de cooperação para o desenvolvimento do Museu do Palácio de Hong Kong. Segundo o acordo, a cooperação estende-se a áreas como a exibição de relíquias, formação de pessoal e trocas de pessoas. Assim, a colecção de obras de arte do Museu do Palácio será exibida no Museu do Palácio de Hong Kong.

Xi mostrou grande interesse no desenvolvimento cultural e artístico de Hong Kong, e foi informado sobre o planeamento do Distrito Cultural de Kowloon Ocidental e sobre a selecção e construção do local do Museu do Palácio de Hong Kong.

“O distrito não apenas oferecerá aos residentes locais um conveniente local cultural e de entretenimento, mas também favorecerá o desenvolvimento da indústria cultural e de inovação na RAEHK”, assinalou Xi. O presidente disse esperar que a RAEHK possa “impulsionar a cultura tradicional, desempenhar seu papel como uma plataforma que facilite as trocas culturais entre a China e o Ocidente e promover os intercâmbios e a cooperação culturais com a parte continental”.

Xi também assistiu a algumas selecções de ópera cantonense interpretadas por crianças. O presidente comentou que as formas de cultura tradicional, incluindo a ópera cantonense, apresentam novas oportunidades de desenvolvimento depois do retorno de Hong Kong à pátria. O presidente chinês incentivou ainda os actores de Hong Kong e da parte continental a realizar mais trocas e aprender uns com os outros.

Presidente inspecciona guarnição do ELP

O presidente chinês Xi Jinping inspecionou na sexta-feira a guarnição do Exército de Libertação Popular (ELP) na Região Administrativa Especial de Hong Kong (RAEHK) no quartel de Shek Kong, na véspera do 20º aniversário do retorno de Hong Kong à China. Xi, também secretário-geral do Comité Central do Partido Comunista da China e presidente da Comissão Militar Central, analisou as tropas com a companhia de Tan Benhong, comandante da Guarnição do ELP na RAEHK. Mais de 3100 oficiais e soldados participaram da actividade e mais de 100 equipamentos militares, incluindo mísseis de defesa aérea e helicópteros, foram exibidos. Cerca de quatro mil espectadores de todos os sectores da sociedade em Hong Kong compareceram como espectadores.

3 Jul 2017

Taiwan | Pequim opõe-se “firmemente” a venda de armas americanas

Acabou oficialmente a lua-de-mel entre os presidentes Trump e Xi Jinping. O motivo é simples: os americanos acabam de vender armas a Taiwan no valor de muitos milhões.

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China anunciou sexta-feira que se “opõe firmemente” à venda de armas pelos Estados Unidos à Taiwan. O Governo do Presidente Donald Trump autorizou a venda de armas por 1,3 mil milhões de dólares a Taipé, incluindo bombas guiadas, mísseis e torpedos, anunciou o Departamento de Defesa norte-americano na quinta-feira. A transacção também inclui actualizações de armas que Taiwan já possui, incluindo um radar de defesa aérea e um sistema de guerra electrónica.

Pequim “protestou solenemente junto dos Estados Unidos”, sublinhou Lu Kang, um porta-voz do ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, durante uma conferência de imprensa diária. “Taiwan é uma parte indissociável do território chinês e nós nos opomos firmemente em relação a esta venda de armas”, acrescentou.

A embaixada chinesa já havia reagido à questão, dizendo que a venda de armas para Taiwan “vai prejudicar a confiança mútua e a cooperação entre a China e os Estados Unidos”.

O Presidente chinês, Xi Jinping, encontrou-se em Abril com o seu homólogo norte-americano, Donald Trump, na residência pessoal do bilionário republicano, na Florida. As relações bilaterais pareciam, desde então, ter reaquecido. Entretanto, a lua-de-mel não durou muito, especialmente porque Trump mudou o tom em relação à China, na quinta-feira, devido à questão nuclear norte-coreana.

Trump anunciou, pela primeira vez, sanções contra um banco chinês acusado por Washington de realizar actividades ilícitas com a Coreia do Norte, que desenvolve um programa nuclear e ameaça constantemente os Estados Unidos.

Novas armas ameaçam navios dos EUA

Entretanto, num artigo para revista The National Interest, o especialista Kris Osborn afirma que a marinha norte-americana poderá ter problemas sérios devido ao desenvolvimento dos mísseis hipersónicos. O perigo principal deriva dos porta-aviões se moverem muito lentamente.

Osborn aponta para a existência de programas de países como a China, com o seu míssil DF-ZF, e a Rússia, que estão a desenvolver actualmente armamento hipersónico, e acrescenta que existe uma tendência notória e um interesse de outras nações em ostentar tecnologias hipersónicas. Por isso, a Força Aérea dos EUA está a acelerar os seus programas deste tipo de armas, com o objectivo de combater qualquer ameaça.

De acordo com fontes militares citadas pelo especialista, enquanto que um míssil de cruzeiro voa a uma velocidade de 956 quilómetros por hora, as armas hipersónicas serão capazes de atingir velocidades de mais de Mach 5 (5 vezes a velocidade do som).

Nesse sentido, os Estados Unidos progrediram há vários anos no desenvolvimento de aeronaves e mísseis hipersónicos, adiciona Osborn. Entre os novos armamentos, o analista destaca o X-51 Waverider, um míssil de cruzeiro hipersónico. Osborn também acrescenta, citando o chefe científico da Força Aérea dos EUA, Geoffrey Zacharias, que os voos não tripulados a velocidades hipersónicas poderiam ser uma realidade em 2030, e o seu uso múltiplo não será possível até pelo menos 2040.

“Uma vez que os veículos hipersónicos podem viajar numa trajectória de voo do tipo parabólico, que se elevam muito alto na atmosfera para atingir velocidades hipersónicas antes de voltar a altitudes mais baixas, o desenvolvimento de aviões não tripulados recuperáveis é muito mais difícil dado o nível de autonomia necessário para os veículos hipersónicos na descida”, aponta o especialista. As vantagens de voo de um avião hipersônico não tripulado seriam principalmente a velocidade e o aumento do poder de destruição, concluiu Kris Osborn.

3 Jul 2017

Comércio | Portugal ainda não consegue exportar plenamente para a China

AICEP quer fim de “entraves ainda existentes” às exportações

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] administrador-executivo da AICEP, António Silva, fez hoje votos para os “entraves ainda existentes” à exportação de “muitos produtos alimentares portugueses” para a China sejam “objecto de negociação entre as autoridades competentes” dos dois países.

“Muito gostaríamos que os entraves ainda existentes para a exportação de muitos produtos alimentares portugueses fossem objecto de negociação entre as autoridades competentes dos nossos países”, afirmou o líder da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), em declarações no Fórum Portugal-China, um evento realizado na Assembleia da República, que acolheu uma comitiva de empresários chineses provenientes da província de Guangdong, e aberto à participação de deputados e empresários portugueses.

António Silva começou por sublinhar a importância de Guangdong, a província chinesa “mais fortemente orientada para o exterior, para a exportação e internacionalização”, onde se localizam as principais três zonas especiais de comércio e investimento, Shenzhen, Zhuhai e Shantou, e deu conta do “relacionamento excepcional, a todos os níveis”, entre Portugal e a China. “Portugal e a China têm um relacionamento excepcional a todos os níveis. Estamos talvez no melhor momento deste nosso relacionamento”, disse.

O presidente da AICEP manifestou-se “optimista” em relação à participação portuguesa no projecto “Uma faixa, uma rota”, que a China está a desenvolver e que será o chapéu das relações económicas entre o gigante asiático e a Europa. “O posicionamento estratégico de Portugal transcontinental e transatlântico permite ser optimista em relação à nossa participação no projeto”, afirmou.

“No âmbito da iniciativa ‘Uma faixa, uma rota’, destacamos como oportunidades para Portugal as áreas dos Transportes e Logística, Infra-estruturas de transportes portuárias e respectivas zonas logísticas associadas, designadamente, Sines, que neste contexto assume uma importância estratégica para o comércio mundial”, especificou o responsável.

Neste contexto, Silva destacou a importância da assinatura do memorando de entendimento entre o Haitong Bank, o Banco de Desenvolvimento da China e a AICEP visando a identificação de potenciais grupos chineses interessados no estabelecimento da zona industrial e logística de Sines.

Na área das energias renováveis, a prioridade dada à utilização de energias não poluentes ao longo da rota, tendo em conta o conhecimento e a oferta no sector, “Portugal pode ser um parceiro muito interessante”, disse ainda o responsável português, que valorizou ainda o potencial português nos domínios da economia do mar e do know-how das empresas lusas em áreas como as da urbanização inteligente – desenvolvimento de “smart cities” -, ou agricultura moderna, etc.

O valor das exportações de bens e serviços portugueses para a China em 2016, de acordo com a AICEP, atingiu os 861 milhões de euros, com uma taxa de cobertura da ordem dos 50%. No entanto, sublinhou António Silva, 2016 foi um ano com resultados ligeiramente inferiores aos de 2015.

“Em contrapartida, no período de Janeiro a Abril de 2017, comparado com o período homólogo de 2016, as exportações de bens e serviços portugueses para a China aumentou 61%, pelo que estamos otimistas em relação aos resultados de 2017, que deverão atingir um recorde histórico nas nossas relações económicas”, disse.

Depois de uma queda em 2016, as trocas comerciais entre a China e os países de língua portuguesa subiram 40,41% até Abril, em termos anuais homólogos, atingindo 34,17 mil milhões de dólares, indicam dados oficiais.

Dados dos Serviços de Alfândega da China, publicados ontem no portal do Fórum Macau, indicam que a China comprou aos países de língua portuguesa bens avaliados em 24,41 mil milhões de dólares – mais 50,93% – e vendeu produtos no valor de 9,75 mil milhões de dólares– mais 19,56%.

O Brasil manteve-se como o principal parceiro económico da China, com o volume das trocas comerciais bilaterais a cifrar-se em 24,31 mil milhões de dólares entre Janeiro e Abril, um valor que traduz um aumento anual homólogo de 40,50%.

As exportações da China para o Brasil atingiram 7,67 mil milhões de dólares, reflectindo uma subida de 29,51%, enquanto as importações chinesas totalizaram 16,63 mil milhões de dólares, mais 46,19% face aos primeiros quatro meses do ano transacto.

Com Angola – o segundo parceiro chinês no universo da lusofonia – as trocas comerciais cresceram 61,83%, atingindo 7,60 mil milhões de dólares.

Pequim vendeu a Luanda produtos avaliados em 597,05 milhões de dólares – mais 27,71% – e comprou mercadorias avaliadas em 7,0 mil milhões de dólares – reflectindo uma subida de 65,60%.

Já com Portugal, terceiro parceiro da China entre os países de língua portuguesa, o comércio bilateral cifrou-se em 1,61 mil milhões de dólares – menos 5,11% –, numa balança comercial favorável a Pequim.

A China vendeu a Lisboa bens na ordem de 1,03 mil milhões de dólares – menos 20,34% – e, em contrapartida, comprou produtos avaliados em 583,73 milhões de dólares, mais 43,61% face aos primeiros quatro meses do ano passado.

Os dados divulgados incluem – como sempre incluíram – São Tomé e Príncipe, apesar de só ter passado a fazer parte da ‘família’ do Fórum Macau no final de Março, após a China ter anunciado o restabelecimento dos laços diplomáticos com São Tomé e Príncipe, dias depois de o país africano ter cortado relações com Taiwan e reconhecido Pequim.

O comércio entre São Tomé e Príncipe e a China é, contudo, insignificante: entre Janeiro e Abril cifrou-se em 1,71 milhões de dólares, valor que corresponde na totalidade às exportações chinesas – que caíram quase um terço -, já que as compras de Pequim ao pequeno arquipélago africano estavam a zero.

 

Moçambique | Bancos tentam ganhar mercado nas empresas chinesas

A Economist Intelligence Unit (EIU) considera que o reajustamento do sector financeiro e restrições na política monetária chinesa vão influenciar a actividade das empresas em Moçambique apesar dos esforços dos bancos moçambicanos para atrair estas empresas.

“Com a procura interna de serviços financeiros em Moçambique retraída pela iliteracia financeira e pela natureza informal da economia, direccionar os esforços para as empresas chinesas pode dar uma oportunidade de expansão aos bancos nacionais”, escrevem os peritos da unidade de análise económica da revista britânica The Economist.

No entanto, acrescentam: “Duvidamos que as empresas chinesas vão confiar fortemente nos bancos nacionais quando operam em Moçambique, principalmente porque conseguem geralmente aceder a melhores negócios e serviços na China”.

Numa nota enviada aos investidores sobre os esforços da banca moçambicana para captar mais clientes empresariais chineses, a que a Lusa teve acesso, os analistas notam que apesar destes constrangimentos, “o forte reajustamento em perspectiva no sector financeiro chinês e as condições monetárias mais apertadas a partir de 2018 deverão influenciar o ritmo da expansão das empresas chinesas em Moçambique”.

Exemplificando com o Millennium bim, de capitais portugueses e o maior em Moçambique em termos de quota de mercado de activos, que no princípio deste mês anunciou um serviço de troca de moeda externa para as empresas chinesas, a EIU diz que esta é uma tendência do mercado seguida por outros bancos como o Standard Bank e a Société Générale.

“Esta tendência do sector bancário de melhorar a sua oferta às empresas chinesas reflecte o facto de a sua presença comercial estar a crescer”, salienta a EIU, lembrando os negócios de 6 mil milhões de dólares no projecto de gás natural liquefeito, no qual a petrolífera estatal chinesa tem uma quota de 20%, e o de 1,4 mil milhões de dólares nos caminhos-de-ferro, um empreendimento no qual a China National Complete Engineering tem 50%.

“O sector financeiro de Moçambique é demasiado pequeno para oferecer crédito a estes megaprojetos, mas os bancos estão provavelmente na esperança que estas grandes empreitadas encorajem outras firmas privadas chinesas a expandir a sua presença no país”, nomeadamente no sector dos serviços, conclui a EIU.

2 Jul 2017

Hong Kong, 20 anos | Quase 200 mil pessoas residem em fracções subdivididas

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]em menos de sete metros quadrados o espaço a que Wong chama de casa. Localizado num prédio do bairro mais pobre de Hong Kong, reflecte as condições miseráveis em que milhares sobrevivem num dos territórios mais ricos da Ásia.

Wong, de 55 anos, subiu as escadas sem perder o fôlego, habituada que está à rotina de viver num quinto andar sem elevador de um prédio antigo de Sham Shui Po. À boa maneira chinesa, deixa o calçado à porta do minúsculo espaço pelo qual paga 3200 dólares de Hong Kong por mês.

O beliche ocupa boa parte dos aproximadamente 6,5 metros quadrados da fracção subdividida onde mora. A parte inferior serve para dormir, a superior para guardar os poucos pertences: volumosos sacos pretos quase tapam os lençóis sobre os quais pousam ainda utensílios do dia-a-dia, produtos de higiene ou um rádio.

Ao lado do beliche encontra-se um frigorífico, com um microondas por cima, defronte para um móvel de gavetas de plástico onde está uma televisão. Por cima, funciona quase ininterruptamente uma ventoinha fixa na parede que ajuda a suportar o calor. Existe uma pequena janela, mas nunca se abre, porque lá fora há “apenas lixo”, diz Wong à Agência Lusa.

Do outro lado, a casa de banho e a cozinha formam uma ‘divisão’, ainda que sem porta, onde cabe uma pessoa. A sanita encontra-se ao lado da bancada e o lava-loiça e o lavatório são uma e a mesma coisa, expondo “problemas de higiene” que Wong reconhece, sem ter como os solucionar.

Wong, que é empregada de limpeza, cozinha quase sempre, embora “não seja fácil”, “porque o espaço é muito pequeno”.

Diz ser rara a vez em que vai buscar ‘tapau’, optando por regressar a casa nas duas horas que tem de almoço. A refeição é feita sobre uma pequena mesa, sentada numa cadeira, ambas desdobráveis, que quando abertas tomam todo o espaço livre entre o beliche e a parede.

Já do tecto brotam peças de roupa penduradas em cruzetas engatadas em pregos, depois de terem sido lavadas à mão numa bacia colocada sobre a tampa da sanita, custando “dores de costas” à simpática Wong.

O único dia de descanso usa-o principalmente para duas coisas: dormir e ir à rua fazer compras. Também vai uma vez por semana à igreja pentecostal à qual pertence, como denuncia um autocolante na porta.

O contrato da chamada unidade subdividida – cujo modelo pode ser adquirido numa papelaria – expira em Fevereiro do próximo ano. Pese embora as condições, Wong não deseja mudar, não só pelo “pesado fardo financeiro” que será pagar um depósito e renda extra, mas porque sabe à partida da dificuldade de encontrar um lugar melhor, compatível com as suas possibilidades.

Wong tem um rendimento mensal de 8900 dólares de Hong Kong, pelo que praticamente metade vai para as despesas relacionadas com a habitação, incluindo água e electricidade.

A morar há quatro anos em Sham Shui Po, só conhece fracções subdivididas desde então. A anterior, onde foi surpreendida com um despejo, era maior, mas igualmente degradada, descreve.

Um elevador faria a “grande diferença” para Wong que se queixa também do “barulho frequente de obras” e “da chatice” de morar no espaço que fica logo à entrada do apartamento subdividido – que tem mais três espaços idênticos – porque, às vezes, os vizinhos acordam-na.

Habitação social não chega

A vida de Wong – chinesa nascida na Indonésia que se mudou para Hong Kong em 1989 e casou, no ano seguinte, com um residente da então colónia britânica – nem sempre esteve confinada a um cubículo.

A separação levou-a a deixar a habitação pública em Ma On Shan, nos Novos Territórios, onde residia com o marido e três filhos, hoje com idades entre 20 e 28 anos, com os quais não mantém contacto. “Nunca me ajudaram, nunca me deram um único dólar”, lamenta.

O seu sonho é voltar a viver numa habitação pública. Contudo, a lista de candidatos é extensa e a espera longa. Além disso, para formalizar o pedido tem de primeiro oficializar o divórcio, um processo em curso graças à ajuda legal que a Society for Community Organization arranjou, explica Gordon Chick, assistente social que a acompanha e que serve como intérprete-tradutor.

Wong foi referenciada pela organização não-governamental há aproximadamente um ano, altura em que foi despejada da anterior fracção subdividida e a ajudaram a arranjar dinheiro para suportar os custos inerentes à mudança. Já Wong destaca antes, com especial carinho, quando lhe consertaram a televisão que se avariara.

Não obstante as duras condições, as suas expectativas são “muito simples”, à imagem e semelhança da sua vida: “Manter o emprego e ter saúde”.

Pelo menos 200 mil pessoas vivem em habitações inadequadas em Hong Kong, em fracções subdivididas de variadas formas, em cubículos ou gaiolas, muitas com condições precárias que constituem um “insulto à dignidade humana”, na descrição da ONU.

2 Jul 2017

Hong Kong, 20 anos | Aumentam pedidos de passaportes britânicos

[dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]á cada vez mais residentes de Hong Kong a tentarem assegurar passaportes estrangeiros como garantia para o futuro, conta a Reuters. São pessoas que temem o aumento dos conflitos sociais ou uma rápida erosão das liberdades.

A agência combinou dados oficiais, informações de fontes diplomáticas e testemunhos de vários residentes para fazer aquilo que diz ser “o retrato de uma ansiedade crescente em relação ao futuro”. Sobretudo entre a nova geração, a influência cada vez maior de Pequim é encarada como uma sombra.

A procura de passaportes estrangeiros cresceu a partir do momento em que a sociedade se fragmentou, na sequência do movimento Occupy de 2014. O facto de haver quem peça a independência – uma linha vermelha que o Governo Central não deixa pisar – contribuiu para o aumento dos receios, assim como o episódio do desaparecimento de vários editores e livreiros de Hong Kong.

“Em 2047, acaba o período da transição e não sabemos o que irá acontecer. Estou a preparar-me para o pior”, conta Dennis Ngan, um jovem de 25 anos. À semelhança de vários amigos, vai renovar o seu BN(O) – o passaporte britânico especial dado aos permanentes residentes antes de 1997. No ano passado, foram emitidos mais de 37.500 documentos deste género, um aumento de 44 por cento em relação a 2015 e o número mais elevado da última década.

O BN(O) não dá direito à residência no Reino Unido, mas os seus titulares podem permanecer seis meses e têm garantida protecção consular britânica. As autoridades do Reino Unido não forneceram à Reuters dados sobre os passaportes emitidos este ano, nem o número de pessoas que pediram a cidadania. No entanto, fontes diplomáticas da agência garantiram que houve “uma corrida aos pedidos de cidadania”, um fenómeno que justificam com as preocupações sobre o futuro do território.

Outras possibilidades

Há quem prefira olhar para o Canadá: o número de residentes de Hong Kong com passaporte do país cresceu substancialmente entre 2005 e 2015. Também Taiwan é visto como uma possível saída. Só no ano passado, 1086 pessoas de Hong Kong passaram a ser residentes da ilha, o valor mais elevado da última década.

Em 2015, o número de cidadãos da RAEHK que pediu residência permanente na Coreia do Sul foi sete vezes superior ao registado em 2007. Os vistos concedidos pelos Estados Unidos aumentaram 22 por cento de 2015 para 2016.

2 Jul 2017

Hong Kong, 20 anos | Primeira geração pós-97 não se identifica com a China

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]asceu no ano da transferência de soberania. Chau Ho-oi tem hoje 20 anos e houve uma altura em que sentia um orgulho imenso em pertencer a um território que faz parte da Grande China. Em entrevista à Reuters, a jovem recorda um desses momentos: os Jogos Olímpicos de Pequim 2008, em que a selecção nacional conquistou 48 medalhas de ouro, mais do que qualquer outro país. Chan tinha 11 anos.

“Achava que a China era óptima. Se me perguntassem, na altura, se me sentia chinesa, dizia imediatamente que sim”, conta. Nove anos depois, a forma como lida com o país modificou-se. E não é a única: a primeira geração pós-transferência está, cada vez mais, a virar as costas ao Continente.

De acordo com um estudo da Universidade de Hong Kong publicado na semana passada, apenas 3,12 por cento dos 120 jovens entrevistados consideram ser “chineses”. Os inquiridos têm entre 18 e 29 anos. Há duas décadas, quando o estudo começou a ser feito, 31 por cento diziam ter um sentimento de pertença à China.

A Reuters conversou com dez jovens nascidos em 1997. Todos eles, incluindo um migrante da China Continental a viver na antiga colónia britânica, afirmaram que se identificam como “Hong Kongers”. E acrescentaram que a lealdade que sentem é para com a cidade.

Para esta forma de estar contribuíram em muito vários acontecimentos percepcionados pelos residentes como manobras de Pequim para controlar o território. Em 2012, o então adolescente de 15 anos Joshua Wong arrastou milhares de pessoas para as ruas em protesto contra um novo currículo nacional obrigatório, entendido como uma “lavagem cerebral” aos estudantes, que tinha como objectivo promover o patriotismo. O currículo acabou por ser engavetado.

Dois anos depois, aconteceu o movimento “Occupy”, mais uma vez com Joshua Wong ao leme. Foram 79 dias de protestos nas ruas numa tentativa – falhada – de pressionar Pequim a autorizar o sufrágio directo universal para a eleição do Chefe do Executivo.

O desaparecimento de vários editores de Hong Kong e os esforços de Pequim para que dois jovens deputados eleitos, ambos pró-independentistas, fossem afastados do Conselho Legislativo também abalaram a confiança no princípio “Um país, dois sistemas”.

O medo invisível

Vinte anos depois da transferência de soberania, as perspectivas não são animadoras. A estudante Candy Lau tem receio de que a vida em Hong Kong seja cada vez mais controlada. A jovem teme que “a vigilância massiva da China Continental” chegue a Hong Kong, que deixará de ser “uma cidade segura”. “É um medo invisível”, diz.

Há cada vez mais jovens a lutarem pela autonomia do território e, nos últimos anos, surgiu uma palavra nova no léxico político local: a independência, ideia que é, obviamente, afastada por Pequim com veemência.

No mês passado, o número três da hierarquia chinesa, Zhang Dejiang, responsável pelos assuntos de Hong Kong, vincou que é necessário “reforçar a educação nacional junto da juventude de Hong Kong e desenvolver conceitos correctos acerca do país desde tenra idade”, para que a população mais nova possa “amar a pátria”.

Carrie Lam, que toma amanhã posse como Chefe do Executivo, não perdeu tempo: em declarações à Agência Xinhua, prometeu que vai cultivar o conceito “Eu sou chinês” desde as creches.

A agência oficial chinesa deu conta da participação de 120 mil jovens de Hong Kong em programas de intercâmbio com o Continente, no âmbito do 20.o aniversário da transferência. Para os entrevistados da Reuters, estes esforços podem ser contraproducentes.

“Como é que o Governo não percebe que quanto mais obriga as pessoas de Hong Kong a amar a China, mais força dá à oposição?”, pergunta o jovem Jojo Wong.

A importância da cultura

Até mesmo os estudantes mais moderados, que dizem não ter qualquer posicionamento político – como é o caso de Felix Wu –, preferem identificar-se primeiro como sendo “Hong Kongers” e só depois fazem referência ao facto de serem da etnia Han.

“A China é um mercado muito grande e Hong Kong tem necessidade de se integrar neste mercado”, afirma Wu. “Mas politicamente prometeram que nada iria mudar durante 50 anos. Acho que estão a faltar um pouco à palavra.”

Ludovic Chan, um estudante de Gestão que quer ser funcionário público, também diz ser um “Hong Konger”, mas não vê como é que o seu sentimento de pertença conflitua com o facto de ser chinês. “As duas culturas diferentes podem coexistir. Não deviam estar sempre a dizer que Hong Kong e a China têm de estar integrados. Mas os dois lados deviam tentar um entendimento mútuo.”

Há estudantes do Continente a viverem na antiga colónia britânica que olham para a questão de uma forma mais optimista. “Vinte anos são apenas o início”, lança Yoshi Yue, a viver na RAEHK há três anos. “Irão lentamente desenvolver um sentimento de pertença. Vem da cultura, não da política.”

2 Jul 2017

Hong Kong, 20 anos | Aproximação à China com impacto no modo de vida

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] historiador Jason Wordie considera que as maiores mudanças dos últimos 20 anos em Hong Kong estão relacionadas com o aumento de turistas e residentes da China continental.

O fluxo de gente vinda do outro lado da fronteira teve um efeito quase transversal: o comércio passou a estar subordinado aos seus interesses, alterando a fisionomia de grandes partes da cidade, e o excesso de gente em quase todos os espaços públicos gerou uma tensão que explica, pelo menos em parte, a contestação política actual.

“Há 150 mil pessoas por dia a vir da China. Desde a transferência, mais de um milhão passou a residir em Hong Kong”, salienta o britânico, a viver na cidade há três décadas.

Dados oficiais indicam que dos 7,3 milhões de habitantes de Hong Kong 2,2 milhões nasceram na China Continental, em Macau ou em Taiwan. Em 2016, mais de 56 milhões de turistas visitaram a cidade, a maioria da China.

“Há 20 anos não havia o fluxo de turismo da China. Em algumas zonas vemos que o comércio mudou. Locais onde originalmente as pessoas comuns viviam, tornaram-se áreas de comércio para os ‘mainlanders’. Sítios que costumavam ser cafés, bancas de jornais, agora vendem cosméticos ou produtos de leite ou alguma coisa que os chineses querem”, aponta.

Isto veio alterar o ambiente de vastas partes da cidade, onde “é preciso andar muito para se encontrar uma papelaria”. Segundo Wordie, há um sentimento de que a cidade foi, de alguma forma, sequestrada.

O historiador lembra um protesto numa zona pacata, Yuen Long, que considerou compreensível, perante o cenário de fim-de-semana, em que “as pessoas comuns não conseguem atravessar a rua porque toda aquela gente está lá, com malas de viagem, a comprar coisas”. O mesmo se passa na piscina pública, onde grupos turísticos terminam as visitas, e subitamente “estão lá mais 300 pessoas”.

“Os residentes sentem: Esta é a minha cidade, é o meu dia de folga e não consigo entrar num café, ir ao cinema”, explica.

Wordie destaca que o volume chama a atenção para a origem, que noutra situação não seria problemática. “As pessoas sentem-se pressionadas. Além disso, os que vêm de fora têm um nível cultural diferente e há choques. Quando subitamente são 18h e o metro está a abarrotar, há pessoas a empurrar… Isso enfatiza a diferença. Quando as pessoas são fisicamente confrontadas com outras faz com que digam: Nós não somos como eles”, comenta.

O número de visitantes da China começou a aumentar em 2003, depois de serem lançadas medidas para facilitar a entrada, após um surto de pneumonia atípica. No entanto, foi a partir de 2008 que “os números aceleraram muito” e isso deu “um grande empurrão à situação política”, de grande contestação.

A presença dos chamados ‘mainlanders’ aliou-se se a outros factores que fazem com que hoje Hong Kong seja “mais como a China”. “Ouve-se mais mandarim, o Governo parece-se mais com o da China, é mais burocrático”, exemplifica.

O valor do antigo

No topo das cidades mais caras do mundo, Hong Kong esticou as pernas nas últimas duas décadas: tem um novo aeroporto, os aterros permitiram-lhe crescer, tem novas pontes, mais linhas de metro, mais construção em altura. Mas este ímpeto de modernização gerou a vontade de proteger as primeiras vítimas do desenvolvimento desenfreado, os edifícios.

“Há uma lojinha em processo de ser preservada, tem 130 anos, uma arquitectura interessante, é uma sobrevivente, mas ouvindo alguns dos activistas até parece que é o Coliseu de Roma”, ironiza o autor de três livros sobre a história de Hong Kong, admitindo que esse tipo de movimentação “é sinal que as pessoas sentem que tudo está a mudar e têm de se agarrar a algo”.

“As pessoas precisam de alguns edifícios velhos”, que carregam a memória e a identidade do espaço.

Há 114 edifícios protegidos em Hong Kong (considerados monumentos) e outros mil classificados como tendo algum valor histórico. No entanto, nem todos os imóveis com valor estão nas mãos do Governo e os elevadíssimos preços fazem com que não seja viável a aquisição dos que estão na mão de privados.

“O promotor imobiliário vai dizer ‘Isto não é histórico, é só velho e posso ganhar dez mil milhões de dólares [de Hong Kong] com ele’”, aponta Wordie.

O historiador, que organiza passeios históricos pela cidade orientados para residentes, entende que entre 2003 e 2014 “gerou-se uma verdadeira consciencialização em Hong Kong sobre questões de património, ambientais, de igualdade, por melhores políticas sociais”.

“As pessoas sentiam-se com poder”, principalmente depois de meio milhão de ter saído à rua, para rejeitar a adopção da legislação sobre o Artigo 23.o – e ter conseguido. “Nos últimos cinco anos isso acabou.”

“As pessoas olham em volta e dizem: ‘Qual é o objectivo? Não está a funcionar, ninguém está a ouvir, estou a perder tempo’. Muitos juntaram as peças e perceberam que vai tudo dar à política”, afirma.

2 Jul 2017

Hong Kong, 20 anos | Êxodo de expatriados nos sectores bancário e financeiro

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ai um, entra outro. Sai um estrangeiro, entra um oriundo da China Continental. É este o fenómeno que se tem vindo a verificar nos sectores bancário e financeiro de Hong Kong, uma movimentação que chamou a atenção das agências internacionais de notícias e que pode resultar na descaracterização de uma das principais praças de negócios do mundo.

“Houve um influxo de profissionais da China em Hong Kong, mais visível no sector financeiro”, explica ao HM Diana Pires, uma gestora luso-britânica que trabalha na RAEHK, no sector financeiro. “Olhando para trás, há apenas dois anos os expatriados teriam várias ofertas de emprego a qualquer momento. Isso mudou drasticamente.”

De acordo com dados oficiais, o aumento de pessoas oriundas do Continente regista-se sobretudo em bancos de investimento, onde 80 por cento dos funcionários são oriundos do outro lado da fronteira.

Um dos gestores do BOCOM International contou à Reuters por que decidiu trocar a capital pela região administrativa especial: “O ambiente é muito melhor do que o de Pequim, onde costumava trabalhar”. Hong Hao vive em Hong Kong há já cinco anos. “A comida é boa e os impostos também.”

Diana Pires confirma a impressão transmitida por Hong Hao. “Os profissionais da China são cada vez mais atraídos pelo estilo de vida de Hong Kong”, diz. Esta procura pela região é “impulsionada principalmente pelo sistema fiscal atractivo que aqui temos”. Os impostos na RAEHK variam entre 15 e 17 por cento; no Continente podem chegar aos 45 por cento do valor do vencimento.

O mercado da língua

As ofertas públicas iniciais (IPO, na sigla inglesa) chinesas dominam o mercado de Hong Kong. No ano passado, era o maior do mundo em termos de IPO, com 80 por cento das novas empresas listadas a surgirem da China Continental. Os serviços financeiros representam neste momento 18 por cento da economia do território, uma subida significativa quando comparando com os 10,4 por cento de 1997.

Evan Zhang, um jovem de 26 anos natural da província de Guangdong, é uma das novas contratações da CITIC Securities International e olha para o aumento do capital chinês em Hong Kong como uma oportunidade pessoal, por poder “desempenhar um papel” nestas transacções.

Num mundo de negócios cada vez mais em língua chinesa, os profissionais do Continente têm uma vantagem em relação a muitos expatriados: o domínio do idioma. “Não estamos a ver apenas um aumento significativo nos executivos da China Continental. O conjunto de habilidades também mudou. As línguas tornaram-se um requisito, seja cantonês ou mandarim, ou então ambos os idiomas”, aponta Diana Pires. “É uma habilidade que muitos expatriados não têm.”

O aumento dos negócios da China está a ser acompanhado por algum desinvestimento de multinacionais com sede no Ocidente, que procuram deslocar os seus serviços para cidades menos dispendiosas.

Numa cidade com um custo de vida elevado, as condições que se oferecem aos expatriados têm vindo a cair. O valor médio dos salários oferecidos a gestores com alguns anos de carreira diminuiu dois por cento nos últimos cinco anos; os benefícios desceram cinco por cento, apontam as consultoras internacionais.

“Há uma enorme mudança no panorama de expatriados e naquilo que lhes é oferecido para trabalharem aqui”, constatou à Reuters a gestora Christine Davis, a viver em Hong Kong desde 2011, depois de ter residido na cidade entre 1999 e 2001.

Diana Pires destaca que a facilidade em se contratar profissionais na China faz com que as empresas invistam menos no recrutamento de estrangeiros. “É por isso que existe um êxodo de expatriados. Os pacotes não são tão atraentes e a concorrência da China é feroz.”

No sector bancário, os jovens chineses ganham entre menos 20 a 30 por cento do que os colegas expatriados. Na lista de benefícios não constam, por exemplo, a habitação e as propinas das escolas dos filhos.

Outros impactos

A Reuters assinala que esta mudança demográfica na indústria financeira tem reflexos na economia local. Os restaurantes de comida chinesa congratulam-se com os resultados obtidos. O mesmo acontece com as empresas que têm apartamentos prontos a arrendar a executivos sem famílias e os centros que oferecem cursos de Inglês. Há ainda um aumento de Audis nas estradas, uma vez que se trata de uma marca de carros muito popular entre os chineses.

Esta alteração na demografia tem impacto junto de restaurantes ocidentais de certas zonas da cidade e, noutra perspectiva, poderá significar uma mudança no modo como Hong Kong tem vivido e se tem apresentado ao mundo. “Sem ocidentais em Hong Kong ou chineses ocidentalizados, os chineses [do Continente] têm pouca visão sobre a condução dos negócios ocidentais”, afirma Diana Pires. “E esse foi essencialmente um dos muitos papéis de Hong Kong.”

2 Jul 2017

Embaixador americano quer Liu Xiaobo tratado no estrangeiro

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] novo embaixador dos Estados Unidos na China reiterou nesta quarta-feira o “desejo” de que Liu Xiaobo, vencedor do Nobel da Paz em 2010, recentemente libertado, possa viajar ao exterior para receber tratamento médico.

O embaixador Terry Branstad, que conhece o presidente chinês Xi Jinping, chegou a Pequim um dia depois da libertação de Liu Xiaobo, vítima de um cancro no fígado em fase terminal.

“Os nossos pensamentos estão com ele e a sua mulher e estamos dispostos a fazer o que pode ser feito para ver se é possível”, afirmou o diplomata americano a respeito de uma viagem ao exterior. “Como americanos gostaríamos que ele tivesse a oportunidade de receber tratamento em outro lugar, caso isto o ajude”, completou.

Liu Xiaobo foi condenado em 2009 a 11 anos de prisão por “subversão” depois de assinar a Carta 8, que defendia uma democracia pluralista na China. O advogado do dissidente, Mo Shaoping, afirmou à AFP que, em tese, as pessoas em liberdade condicional não podem viajar ao exterior. Mas explicou que a possibilidade existe se, como prevê a lei chinesa, Liu for considerado um “caso especial”.

O jornal Global Times, ligado ao governo, considerou nesta quarta-feira que um exílio do dissidente poderia “estimular ainda mais os ataques da opinião pública ocidental contra a China”. “Mas, por outro lado, o Ocidente teria menos interesse nele se deixasse a China”, completa o jornal.

Terry Branstad, 70 anos, ex-governador do estado de Iowa, conhece o presidente chinês desde 1985, quando Xi Jinping, na época um jovem dirigente, fez uma viagem de estudos aos Estados Unidos.

29 Jun 2017

Tráfico humano | EUA colocam China na lista negra

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s Estados Unidos adicionaram a China a uma lista negra de países que não lutam o suficiente contra o tráfico humano, que integra 23 países, incluindo a Síria, a Coreia do Norte e a Rússia.

O relatório anual do Departamento de Estado norte-americano ontem divulgado incluiu nomeadamente o tratamento dispensado à minoria uigur, que é alvo de trabalho forçado, e ainda o repatriamento forçado de refugiados norte-coreanos na China.

A diplomacia norte-americana acredita que Pequim “não está a fazer esforços significativos” para resolver esta situação. Pequim “não tomou medidas sérias” para solucionar a questão, declarou o secretário de Estado norte-americanos, Rex Tillerson. “Os consumidores norte-americanos devem reconhecer que poderão ter uma ligação indesejada com o trabalho forçado” através dos produtos que compram, acrescentou o secretário de Estado.

Os países que estão situados no nível três desta lista sobre o tráfico de pessoas, o mais baixo da tabela, podem ser objecto de sanções que vão desde a restrição na assistência norte-americana ao término de trocas culturais ou educativas com os Estados Unidos. Estas medidas punitivas são deixadas ao critério de apreciação da Casa Branca.

A República Democrática do Congo (RDCongo), a República do Congo e o Mali estão igualmente nesta lista, nomeadamente pela sua permissividade tolerância às crianças-soldados. O Haiti, que havia descido no ano anterior, subiu para o nível dois graças “aos esforços significativos” na luta contra o tráfico de seres humanos, mas continua “sob vigilância”.

29 Jun 2017

China | Bo Xilai sai da prisão para tratar de cancro

Em dois dias é o segundo prisioneiro chinês notável que sai em liberdade condicional para tratar de um cancro. Liu Xiaobo, primeiro, agora Bo Xilai.

[dropcap style≠’circle’]B[/dropcap]o Xilai, ex-dirigente chinês condenado a prisão perpétua por corrupção, foi colocado em liberdade condicional devido a um cancro no fígado, informou ontem a Radio Free Asia. Segundo a emissora, que cita fonte próxima da família, o cancro do ex-membro do Politburo do Partido Comunista Chinês (PCC) estará num estágio inicial e será tratável.

Bo Xilai, de 67 anos, foi condenado à prisão perpétua, em 2013, por corrupção, fraude e abuso de poder. Foi considerado culpado de ter aceitado subornos no valor de 20,4 milhões de yuan, incluindo uma vivenda em França, e de se ter apropriado de cinco milhões de yuan de fundos públicos.

O abuso de poder que lhe foi imputado está relacionado com a investigação em torno do homicídio de um empresário britânico em Chongqing, em Novembro de 2011, quando Bo Xilai era o líder do PCC na cidade. A mulher, Gu Kailai, foi condenada à morte por esse assassínio, mas a pena acabou por ser comutada para prisão perpétua em 2015.

Bo Xilai chegou a ser um dos políticos mais populares da China e um forte candidato ao Comité Permanente do Politburo do PCC, a cúpula do poder. Ex-ministro do Comércio e filho de um antigo vice-primeiro-ministro, Bo Xilai assumia-se como uma espécie de líder da chamada “nova esquerda”, promovia o revivalismo em torno da Grande Revolução Cultural Proletária (1966-76) e criticava as crescentes desigualdades sociais.

A condenação de Bo Xilai a prisão perpétua foi a mais pesada sentença imposta a um ex-membro do Politburo do PCC em cerca de três décadas e foi considerado uma prova do prometido empenho da nova liderança chinesa em combater a corrupção.

Bo Xilai terá sido diagnosticado com cancro na prisão de Qincheng, em Pequim, e transferido para um hospital perto da cidade de Dalian, nordeste da China.

29 Jun 2017

Liu Xiaobo | Pequim critica “observações irresponsáveis” dos EUA

A China apressou-se a responder aos apelos dos EUA sobre a situação de Liu Xiaobo, aconselhando o país de Trump a meter-se na sua vida. Taiwan também se juntou ao coro.

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] República Popular da China criticou ontem “firmemente” as “observações irresponsáveis” dos Estados Unidos sobre Liu Xiaobo, Prémio Nobel da Paz 2010, em “liberdade condicional médica” devido a um cancro de fígado. Os Estados Unidos instaram a China a conceder “liberdade de movimentos” a Liu Xiaobo, 61 anos, hospitalizado devido a um cancro em fase terminal.

Condenado em 2009 a uma pena de 11 anos de cadeia por subversão, Liu Xiaobo, foi libertado após lhe ter sido diagnosticado, no mês passado, um cancro no fígado em fase terminal, anunciou, na segunda-feira, o advogado Mo Shaoping.

Liu Xiaobo estava na prisão de Jinzhou, em Liaoning, no norte do país e, segundo o Departamento da Administração das Prisões encontra-se sob regime de “liberdade condicional médica” no Hospital Número 1 da Universidade de Medicina da República Popular da China.

“Nenhum país tem o direito de se ingerir ou de fazer observações irresponsáveis sobre os assuntos internos chineses”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Pequim, Lu Kuang, durante uma conferência de imprensa em Pequim. “A China é um país que se rege pelo Estado de Direito, onde todos são iguais perante a lei. Todos os países devem respeitar a soberania judicial da China e não devem utilizar casos individuais para atitudes de ingerência”, disse Lu Kuang questionado sobre a posição manifestada pelos Estados Unidos sobre Liu Xiaobo.

Apelo americano

Uma porta-voz da embaixada norte-americana em Pequim disse à agência noticiosa France Presse que os Estados Unidos estão a tentar recolher mais informações sobre a situação de Liu Xiaobo, particularmente sobre o estado de saúde. “Apelamos às autoridades chinesas para que libertem Liu, mas também a mulher, Liu Xia, da prisão domiciliária de que é alvo”, sem nunca ter sido formalmente acusada de qualquer crime, afirmou.

Liu Xia permanece em prisão domiciliária, em Pequim, desde 2010, privada de praticamente qualquer contacto com o exterior. Mesmo assim, a mulher de Liu Xiaobo deu a entender que o cancro no fígado de que padece o Nobel da Paz chinês é “inoperável”, num vídeo difundido na Internet, segunda-feira à noite.

Ye Du, um amigo da família, confirmou a autenticidade da gravação, em declarações publicadas pelo jornal South China Morning Post, da Região Administrativa Especial de Hong Kong, acrescentando que o vídeo foi gravado nos últimos dois dias.

Devido à situação de Liu Xiaobo, Taiwan pediu a Pequim para mostrar tolerância para com os activistas e a defender os direitos humanos. A República Popular da China deve garantir a “protecção dos direitos humanos básicos daqueles que pedem de forma pacífica reformas políticas e desenvolvimento democrático”, disse um porta-voz do presidente de Taiwan numa conferência de imprensa em Taipé.

 

O dao de Liu

Símbolo da luta pela democracia na China, Liu Xiaobo foi condenado depois de ter sido um dos promotores da chamada “Carta 08”, um manifesto a favor da introdução de reformas políticas democráticas e do respeito pelos direitos humanos no país, subscrito inicialmente por mais de 300 intelectuais, inspirado na “Carta 77” lançada por Vaclav Havel na antiga Checoslováquia socialista. Professor de Literatura na Universidade de Pequim, escreveu sobre a sociedade e a cultura chinesas, centrando-se na democracia e nos direitos humanos e era influente no meio intelectual. Liu foi um dos animadores do movimento estudantil pró-democracia da Praça Tiananmen, em 1989, tendo estado preso durante 21 meses após a violenta repressão dos protestos. Em 1996, foi condenado a três anos de “reeducação através do trabalho”, em resultado de mais acções de luta pelos direitos fundamentais. Foi novamente detido a 8 de Dezembro de 2008, dois dias antes da publicação, por ocasião do 60.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos, da “Carta 08”, embora a data formal da detenção tenha sido 23 de Junho de 2009, por suspeita de “alegadas acções de agitação destinadas a subverter o Governo e derrubar o sistema socialista”. Em 9 de Dezembro de 2009 foi oficialmente acusado de “incitar à subversão do poder do Estado” e no dia 25 do mesmo mês, após um julgamento que não cumpriu os padrões processuais internacionais mínimos, foi condenado a uma pena de 11 anos de cadeia. A Academia Nobel atribuiu-lhe em 8 de Outubro de 2010 o galardão da Paz, em reconhecimento da “longa e não-violenta luta pelos direitos humanos fundamentais na China”.

28 Jun 2017

Li Keqiang | Meta de crescimento de 2017 vai ser realizada

Na abertura do Fórum Davos de Verão, em Dalian, o primeiro-ministro fez o balanço da situação económica chinesa e propôs as metas do país para o mundo. Li Keqiang garante que o crescimento não abrandará e mostrou-se um partidário indefectível da globalização

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] primeiro-ministro chinês Li Keqiang disse nesta terça-feira que a China é totalmente capaz de completar os principais objectivos de crescimento deste ano, graças à transição económica estável. “A economia chinesa tornou-se mais estável e sustentável devido a melhorias na estrutura e eficiência”, disse Li ao discursar na abertura da Reunião Anual dos Novos Campeões 2017, também conhecida como Fórum Davos de Verão, em Dalian.

O governo estabeleceu a meta de crescimento do PIB em cerca de 6,5% para o ano inteiro, mas no primeiro trimestre a segunda maior economia do mundo registou uma taxa de crescimento anual do PIB de 6,9%, o mais rápido em 18 meses, superando a previsão. Além disso, a China manterá a taxa de inflação em aproximadamente 3% e a de desemprego urbano dentro de 4,5%.

O primeiro-ministro acredita que uma forte China criará mais oportunidades para o resto do mundo. O país importou US$ 1,6 biliões de produtos no ano passado, enquanto o número de viagens ao exterior chegou a 130 milhões.

Ao mostrar a confiança, Li não receia admitir desafios. “Flutuações pequenas e de curto prazo de indicadores económicos são inevitáveis, mas a tendência estável de longo prazo não vai mudar”, declarou, descartando a possibilidade de um abrandamento forçado da economia.

“A China continuará impulsionando sua reforma estrutural no lado da oferta, melhorando a administração, garantindo o acesso mais fácil ao mercado, promovendo o empreendedorismo e inovação, controlando sectores saturados e estimulando o consumo”, prometeu Li.

Riscos controlados

Li Keqiang reiterou ainda que foram tomadas medidas para dissolver os pontos de risco. “Defenderemos um resultado sem riscos sistemáticos”, disse, apesar de admitir os riscos ocultos em algumas indústrias, mas enfatizou que a situação é geralmente controlável, citando a baixa dívida do governo, alta poupança, suficiente capital bancário e cobertura das provisões.

“Nós somos capazes de desviar todos os tipos de riscos e garantir que o crescimento económico fique numa faixa razoável”, disse Li, classificando a estagnação como o maior risco para a China.

O governo formulou uma série de medidas para refrear os riscos no sector financeiro, especialmente uma campanha de redução da crédito com escrutínio rigoroso contra financiamento arriscado e o sector bancário paralelo.

Globalização já

Os países devem defender com firmeza a globalização económica para obter crescimento inclusivo, declarou o primeiro-ministro. Para Li, “o livre comércio deve ser a base do comércio justo e impedi-lo não trará comércio justo”, afirmou. “As disputas comerciais devem ser tratadas de acordo com as situações diferentes em países diferentes”, indicou Li.

“Com base no princípio de consulta equitativa, entendimento mútuo e acomodação, assim como tratamento igual sem discriminação, os países devem buscar interesses convergentes e complementar-se uns aos outros, usando as vantagens para obter resultados de benefício mútuo.” “Não devemos impor regras unilaterais em outros, nem politizar o comércio justo.”

 

Inovação garante crescimento

Li Keqiang salientou que a China alcançou resultados acima da expectativa ao impulsionar o empreendedorismo e inovação em massa. “O número de entidades de mercado na China aumentou a um ritmo diário médio de 40 mil nos últimos três anos”, disse Li em um discurso na cerimónia de inauguração do Fórum Davos de Verão.

Durante o período, 14 mil empresas foram registadas diariamente em média, com cerca de 70% delas activas nos negócios, e o número de novas empresas aumentou para 18 mil por dia em Maio este ano, de acordo com Li.

O primeiro-ministro descreveu o empreendedorismo e a inovação em massa como uma maneira efectiva para realizar o crescimento inclusivo, dizendo que “o processo junta e beneficia o povo extensivamente”.

O novo ímpeto de crescimento, incluindo novas indústrias e novos modelos comerciais, contribuiu com cerca de 70% de todos os novos empregos criados nas cidades do país no ano passado, segundo o primeiro-ministro. “A regulação inclusiva e prudente” pelo governo estimulou o desenvolvimento rápido das indústrias e os modelos comerciais emergentes incluindo o comércio electrónico, o pagamento móvel e a partilha de bicicletas, disse Li. Ao mesmo tempo, “o empreendedorismo e a inovação em massa também ajudou a transformar os sectores tradicionais do país e acelerar a actualização da economia”, reforçou.

Li Keqiang atribuiu o desempenho positivo à actual reestruturação económica do país. “A China não tomou medidas estimulantes nem seguiu o antigo caminho velho de depender de investimento e recursos. Pelo contrário, apostou na inovação e reforma a fim de transformar-se para uma economia orientada pelo consumo e serviços”, assinalou Li. O consumo contribuiu com 64,6% do PIB em 2016, enquanto o sector de serviços representou 51,6% do crescimento económico. “A procura nacional tornou-se um pilar significante (para a economia)”, concluiu Li.

 

Fórum Davos de Verão

Realizado de terça a quinta-feira, o Fórum Davos de Verão deste ano, intitulado “Alcançar o crescimento inclusivo na IV Revolução Industrial”, foca-se em como as inovações de tecnologia e política podem acelerar um estilo mais inclusivo do desenvolvimento económico que dá prioridade à criação de empregos significativos e ao desenvolvimento sustentável.

Cerca de 1500 políticos, funcionários, empresários, académicos e representantes dos media de mais de 90 países e regiões discutirão os tópicos, que variam do crescimento inclusivo à nova revolução industrial. Estabelecido pelo Fórum Económico Mundial em 2007, o Davos de Verão é realizado anualmente na China, alternando entre Dalian e Tianjin.

28 Jun 2017

Timor-Leste | Casal português reitera inocência

Tiago e Fong Fong Guerra
[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m casal português acusado de vários crimes financeiros em Timor-Leste defendeu ontem a sua inocência numa intervenção, a única que fizeram, na recta final do julgamento que ficou visto para sentença. Tiago e Fong Fong Guerra foram julgados pelos crimes de peculato, branqueamento de capitais e falsificação documental sendo central ao caso uma transferência de 859 mil dólares, feita em 2011 por um consultor norte-americano, Bobby Boye.

Nas alegações finais, e para os crimes de peculato e branqueamento de capitais, o Ministério Público pediu penas de prisão de 8 anos para cada um dos dois arguidos, além do pagamento de uma indemnização no valor de 859.706 dólares com juros desde 2011. A defesa pediu a absolvição do casal.

Tiago Guerra lamentou o facto de todo o processo se ter prolongado quase três anos, recordando que sempre colaborou com a justiça e que dois anos antes de ser detido colaborou com a Comissão Anti-Corrupção (CAC) para dar informações solicitadas sobre um caso. “Sou uma pessoa formada com princípios éticos dos mais elevados, criado sempre a pensar na dignidade dos outros. Quando decidimos vir para este país viemos para ajudar. Custou-nos imenso, a mim pessoalmente, receber uma acusação tão grave como esta que afecta todos os princípios morais com que fui criado”, afirmou. “Custou-me muito, dada a mágoa e trauma que o caso causou a toda a família, à nossa saúde mental e física. Perdi 14 quilos na prisão, estive internado várias vezes, necessito de operações que não posso fazer aqui”, relatou.

Fong Fong Guerra, por seu lado disse que continua sem entender porque é que a procuradoria mantém que os dois arguidos conspiraram com o consultor americano Bobby Boye que foi condenado nos Estados Unidos por lesar o estado timorense. “A procuradoria insiste que nós conspiramos com o Bobby Boye. Somos honestos e abertos com tudo. Sempre fomos. Bobby Boye nunca nos disse nada sobre o seu trabalho, o que acontecia no seu trabalho no Governo”, disse.

“Não é verdade que tenhamos conspirado nada com ele. Nós até pensamos que ele tinha uma filha a estudar nos Estados Unidos. Só depois é que percebi que era mentira. Sempre pensamos que era sul-africano-americano, e afinal era nigeriano”, considerou.

Na sua declaração, Fong Fong Guerra referiu-se também ao impacto que o caso está a ter nos dois filhos do casal, de quem estão separados há quase três anos. “Se fossemos gananciosos então porque é que não continuámos a branquear dinheiro? Espero que os juízes nos dêem a justiça que merecemos. Já perdemos 3 anos do crescimento dos nossos filhos. Fomos punidos demais já só porque conhecíamos uma pessoa”, considerou.

Esta foi a única declaração que os arguidos proferiram durante todo o julgamento em que a defesa prescindiu de quaisquer testemunhas. Jacinta Correia – que preside ao colectivo de juízes do Tribunal Distrital de Díli que ouviu o caso desde finais de Fevereiro – marcou a data de leitura da sentença para 24 de julho.

28 Jun 2017

Embaixador dos EUA diz que Coreia do Norte é prioridade nas relações com a China

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] novo embaixador norte-americano na China, Terry Branstad, afirmou num vídeo difundido ontem na plataforma chinesa ‘Ai qiyi’ (IQIYI, na sigla inglesa), que a Coreia do Norte é uma prioridade nas relações bilaterais com o país. “Resolver a desigualdade comercial entre os dois países, deter a ameaça norte-coreana e reforçar os laços entre os nossos povos são as minhas principais prioridades”, afirmou Branstad na gravação, difundida na IQIYI, uma espécie de Youtube chinês que em 2014 tinha 345 milhões de utilizadores.

“Partilhamos [Estados Unidos e China] muitos dos desafios que ambos enfrentamos”, acrescentou Branstad, que assegurou que uma relação “forte” entre os dois países pode ajudar a encontrar “soluções” para questões de emprego, educação, saúde ou envelhecimento da população.

O novo embaixador norte-americano conta, no vídeo, como em 1984 conheceu o agora Presidente chinês Xi Jinping, quando este fez a sua primeira viagem oficial ao país como secretário local do Partido Comunista Chinês (PCC). “Mais de três décadas e cinco viagens à China depois, espero poder trabalhar com o povo chinês na construção dos futuros laços entre os Estados Unidos e a China”, afirmou Branstad.

Em intervenções anteriores, Branstad já tinha manifestado a sua postura de respeito para com a China, que diz ser um parceiro essencial para a resolução do conflito na península coreana, e também noutros desafios, como as disputas no Mar do Sul da China, direitos humanos e novos avanços da cibersegurança.

O republicano Terry Branstad foi governador do estado de Iowa em duas ocasiões: entre 1983 e 1999, e desde 2014 até Maio deste ano, quando Donald Trump o nomeou para o novo cargo.

27 Jun 2017

Pequim medeia entre Afeganistão e Paquistão

Pequim surge como mediador entre dois vizinhos problemáticos. A China age agora, claramente, como uma nova superpotência.

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi, visitou o Afeganistão e o Paquistão nos dias 24 e 25 tendo, durante a sua visita, as três partes trocado opiniões sobre as relações entre Afeganistão e Paquistão e a cooperação entre as três partes, chegando a “amplos consensos”, segundo um comunicado final.

Afeganistão e Paquistão acusam-se mutuamente de fechar os olhos aos militantes que operam ao longo da sua fronteira. O Paquistão construiu um muro ao longo de uma parte da fronteira, o que também causou tensões, uma vez que o Afeganistão não reconhece a linha da era colonial como uma fronteira internacional.

Agora, segundo o comunicado, China, Afeganistão e Paquistão “dedicar-se-ão à defesa da paz e estabilidade da região, ao reforço da interligação e interconexão regional e cooperação económica e à promoção da segurança e desenvolvimento comuns.”

Continuar a conversa

Ainda segundo o comunicado, “Afeganistão e Paquistão afirmaram o seu desejo de melhorar as relações bilaterais, aumentar a confiança política mútua e reforçar cooperações em diversas áreas, incluindo o combate antiterrorista. Ambas as partes ainda concordaram em estabelecer um mecanismo de controlo e prevenção de riscos”.

Por outro lado, os três países resolveram estabelecer um mecanismo de diálogo de MNEs e consideram que deve ser retomado o grupo de coordenação composto por Afeganistão, Paquistão, China e EUA, com o objectivo de criar boas condições para que os talibãs integrem o processo de paz.

Além disso, as três partes apoiam o Processo de Cabul e concordam que é necessário retomar os trabalhos do Grupo de Ligação OSX (Organização de Cooperação de Xangai) – Afeganistão, a fim de promover o processo de paz.

No domingo, o MNE chinês, Wang Yi, havia dito que Pequim manteria um diálogo com o Afeganistão e o Paquistão para ajudar a melhorar as relações entre os dois vizinhos.

27 Jun 2017

Nobel da Paz | Liu Xiaobo libertado após diagnóstico de cancro terminal

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] prémio Nobel da Paz chinês, Liu Xiaobo, foi libertado da prisão depois de lhe ter sido diagnosticado um cancro no fígado em fase terminal no mês passado, anunciou ontem o seu advogado. “Há cerca de um mês que está a ser tratado no hospital de Shenyang [na província de Liaoning, nordeste da China]. Não tem nenhum projecto em particular. Está apenas a receber tratamento”, disse, citado pela agência France Press, o advogado Mo Shaoping, precisando que Liu Xiaobo recebeu o diagnóstico no passado dia 23 de Maio e foi libertado alguns dias mais tarde.

Liu está preso em Jinzhou desde 2009, acusado de tentar “subverter as instituições do Estado” por ter participado na elaboração da Carta 08, um documento que celebrava o 60.º aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem.

Em 2010, o escritor foi galardoado com o Prémio Nobel da Paz, tornando-se na terceira pessoa a receber o prémio durante o cumprimento de uma pena de prisão, depois do alemão Carl von Ossietzky, em 1935, e a birmanesa Aung San Suu Kyi, em 1991.

A atribuição do Nobel a Liu foi muito mal recebida pelas autoridades chinesas, que censuraram todas as notícias sobre o assunto e desencadearam uma onda de repressão contra outros activistas. A mulher do escritor, Liu Xia, está desde 2010 detida em prisão domiciliária, embora nunca tenha sido formalmente acusada.

“As autoridades devem imediatamente e de forma incondicional levantar todas as restrições à sua mulher e permitir que os dois se voltem a encontrar o mais depressa possível”, afirmou o investigador da Amnistia Internacional, Patrick Poon, citado pelo The Guardian.

27 Jun 2017

Tragédia em Sichuan | Deslizamento de terras faz mais de 110 desaparecidos

Depois de chuvas intensas, a aldeia de Xinmo, situada no norte da província de Sichuan, foi inundada por terra e pedras. A derrocada engoliu 62 casas particulares e um hotel, deixando mais de uma centena de pessoas desaparecidas. Até ao fecho da edição o número de mortos encontrados era de 15

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]nquanto a chuva intensa continua a provocar danos nas províncias de Hunan e Hubei, em Sichuan a calamidade acrescentou terra e pedras à forte precipitação. Na madrugada de sábado, às 05:45 da manhã, a aldeia de Xinmo, em Sichuan, foi atingida por um deslizamento de terras que cobriu a localidade de terra e pedregulhos. O local sinistrado fica a 170 quilómetros a norte de Chengdu, a capital da província e é habitado, sobretudo, por uma vasta comunidade de tibetanos e famílias da etnia Qiang.

Até ao fecho desta edição o número de vítimas mortais situava-se nos 15, com mais de 110 pessoas desaparecidas. A localidade, situada no sopé de uma montanha, faz fronteira com o Tibete. Ao local acorreram cerca de 3 mil operacionais munidos de aparelhos de detecção e equipas cinotécnicas em busca de sobreviventes debaixo dos escombros. As equipas de salvamento focam os seus esforços na área mais afectada, onde 62 casas e um hotel foram totalmente arrasados pelo poder das terras. Numa altura em que já se procediam a salvamentos, em plena luz do dia, uma segunda derrocada que fez rolar sobre a fustigada aldeia pedras de grandes dimensões. O segundo deslize dificultou as manobras de máquinas de grandes dimensões nos esforços de salvamento, além de ter perpetuado o pânico.

É de salientar que as chuvadas e consequentes deslizes de terras são frequentes nesta zona da China, sendo que desta vez a aldeia de Xinmo foi varrida por uma parcela do topo de uma montanha da província de Aba no Tibete.

Caíram sobre a população do pequeno povoado cerca de 18 milhões de metros cúbicos de terra e rocha, de acordo com informação veiculada pela agência Xinhua. A chuva de pedras abrangeu uma área de três quilómetros de diâmetro, enterrou 1,6 quilómetros de estrada e bloqueou dois quilómetros do leito de um rio.

Terra tremida

A região havia sido fustigada por um enorme terramoto a 12 de Maio de 2008, que vitimou mais de 87 mil pessoas, e que foi sentido em Macau três minutos depois de tremor original. Passados seis meses da calamidade que entrou directamente para o pódio dos terramotos mais mortíferos do século XXI, o Governo chinês anunciou o investimento de 1 bilião de renminbis, parte do programa de estímulo económico chinês, para reconstruir a zona afectada.

Ouvido pela televisão estatal chinesa, Tian Yanshan, geólogo especializado em respostas urgentes do Ministério da Terra e Recursos, afirma que as montanhas da região se encontram numa situação de instabilidade desde o forte abalo de 2008. “A razão para o deslizamento de terras é complicada. Chuva forte e uma estrutura montanhosa instável contribuíram para o desastre”, concluiu o geólogo à CCTV. O especialista acrescentou ainda à lista de possíveis explicações a intervenção humana na zona, em particular actividades ligadas à indústria da mineração.

De acordo com os serviços meteorológicos, as fortes chuvadas vão-se manter. Como tal, as províncias de Hunan, Hubei, Guizhou e Anhui continuam com alertas de emergência de forma a dar resposta a possíveis focos de inundação. Foi também lançado um alerta de deslize de terras para a cidade de Jin, em Hunan.

Neste aspecto é de salientar que nas províncias de Hunan e Hubei, no centro da China, as inundações provocadas pelas chuvas registadas nos últimos dias afectaram cerca de 466.500 pessoas e causaram pelo menos dois mortos, informou a agência noticiosa estatal Xinhua. As cheias provocaram danos patrimoniais ainda por apurar, sendo que meia centena de casas ruiu e mais de 9 mil pessoas tiveram de ser retiradas das suas moradias.

Depois da deslize de terras, ocorreram a Xinmo mais de um milhar de bombeiros, pessoal de assistência médica e polícias. A logística deslocada para a remota zona do noroeste da província de Sichuan inclui um veículo com equipamento satélite e drones. O Departamento dos Assuntos Civis da Prefeitura Autónoma do Aba Tibetano e Qiang montou na zona do desastre um acampamento com 20 tendas e dois geradores eléctricos. Foram também enviados para o Xinmo cerca de 400 mantas e mudas de roupa para servir de apoio logístico aos sinistrados.

Resposta de Pequim

Os votos de solidariedade não se fizeram esperar, um pouco por todo o mundo. O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, manifestou no sábado tristeza pela perda de vidas humanas e devastação causada pelo deslizamento de terras. Guterres acrescentou ainda que as Nações Unidas disponibilizam a Pequim todo o apoio que Pequim necessitar. De resto, o português deixou as condolências para o povo e Governo da República Popular da China, e “desejos de melhoras rápidas” para os feridos.

Assim que foi dada notícia da calamidade em Xinmo, o Presidente Xi Jinping, assim como o Primeiro-Ministro Li Keqiang, emitiram um comunicado compelindo as equipas de salvamento a “fazerem o máximo esforço para minimizar casualidades”. Xi Jinping acrescentou ainda que será prestado o cuidado apropriado a familiares de vitimas e a quem teve prejuízo com o desastre.

Um oficial local, Li Yuanjun, relatou ao Sichuan Daily que ao chegar à zona afectada deparou-se com um cenário de total devastação. “De toda a aldeia só consegui ver uma casa de pé, o resto está enterrado debaixo das rochas”, contou.

26 Jun 2017

Hong Kong | Xi Jinping presente nos 20 anos da transferência de soberania

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, acompanhado pela sua esposa Peng Liyan, inicia na quinta-feira uma visita de três dias a Hong Kong para participar nas cerimónias do 20.º aniversário da transição para a China, informou a agência de notícias Xinhua. Num breve comunicado, a agência de notícias chinesa refere que Xi vai estar em Hong Kong para “inspeccionar” a Região Administrativa Especial chinesa, sem avançar detalhes.

O secretário para a Segurança de Hong Kong, Lai Tung-kwok, apelou à compreensão da população para as necessárias medidas de segurança durante a visita do Presidente chinês à cidade, escreve a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK).

Alguns grupos já anunciaram que organizarão protestos durante a visita de Xi, que será marcada por importantes medidas de segurança.

A segurança foi reforçada, comparando com a visita há dez anos do então Presidente Hu Jintao, e a imprensa enfrenta maiores restrições. Os jornalistas têm agora de submeter os seus números de cartão de identificação à polícia antecipadamente para a visita de Xi Jinping, algo que não foi exigido há dez anos, quando do décimo aniversário da transição da antiga colónia britânica para a soberania chinesa, refere a RTHK.

Lai disse que o reforço das medidas de segurança era necessário para que as autoridades possam tratar os pedidos de cobertura de forma suave e eficiente. Questionado sobre se as pessoas teriam de passar por postos de controlo de identificação caso estejam perto das áreas visitadas por Xi Jinping, Lai disse que estas questões eram “muito detalhadas” e que não dispunha de detalhes operacionais sobre a actuação da polícia.

Xi Jinping, também secretário-geral do Comité Central do Partido Comunista da China e presidente da Comissão Militar Central, vai igualmente marcar presença na tomada de posse do quinto governo daquela Região Administrativa Especial chinesa, liderado por Carrie Lam.

Primeira mulher a desempenhar o cargo, Carrie Lam foi eleita, a 26 de Março, por um comité formado por apenas 1.200 membros de diversos sectores da sociedade.

No início de Maio, o jornal South China Morning Post noticiou que dez mil agentes policiais iriam ser mobilizados em Hong Kong para as cerimónias do 20.º aniversário da transferência de soberania do Reino Unido para a China. Mais de um terço de toda a força policial da RAEHK vai garantir a segurança dos líderes, incluindo o Presidente da China, que vão assistir às cerimónias, acrescentou o diário.

26 Jun 2017