Sofia Margarida Mota Entrevista EventosEntrevista | Carlos Braz Lopes, criador de “O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo” Tudo começou por ser uma brincadeira. Mas quis o destino que uma tentativa gorada para reproduzir outra iguaria se transformasse em “O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo”. O seu criador, Carlos Braz Lopes, está em Macau para dar a provar este bolo, hoje, no Clube Militar às 18h30 [dropcap style≠‘circle’]C[/dropcap]omo apareceu o “Melhor Bolo de Chocolate do Mundo”? Tive um restaurante em Lisboa de cozinha tradicional portuguesa. Estávamos no ano de 1987, quando o panorama era muito diferente do que é hoje em dia. Nessa altura, resolvi fazer uma viagem entre Londres e Paris para ver o que por ali se andava a fazer com a intenção de vir a introduzir alguma coisa na oferta desse restaurante. Quando resolvemos escolher as sobremesas, além do tradicional leite creme, tínhamos de ter, como acontecia em todos os restaurantes, uma sobremesa de chocolate. Lembrei-me que tinha comido uma coisa em Paris que me chamou a atenção pela textura: era um bolo de chocolate com merengue e mousse. Aliás, basicamente, é esta conjugação que fazia a diferença deste bolo para os outros. Achei que era interessante. Não tenho formação em pastelaria mas sempre fui curioso, desde os tempos da faculdade onde estudei gestão. Mas como sou um bocadinho pretensioso, achei que chegava a Lisboa e ia conseguir fazer aquele bolo. É evidente que nunca consegui fazer igual. Masdei a provar a vários amigos o que fiz e eles acharam que estava bom. Acabei por fazer o bolo para servir no restaurante. Na altura, só se chamava bolo de chocolate. Como se transformou no melhor do mundo? As pessoas começaram a perguntar por esta sobremesa e a pedir para guardar uma fatia caso estivesse disponível. O bolo começou a ser um sucesso porque era realmente diferente. Mais tarde, abri uma loja que se chamava “Cozinhomania” onde se vendiam utensílios e se faziam cursos de cozinha. Como já tinha uma cozinha lá instalada, comecei a fazer o bolo. As pessoas entravam na loja e perguntavam porque é que cheirava a chocolate. Eu respondia que estava a fazer um bolo. As pessoas perguntavam se o bolo era bom e eu respondia que era o melhor do mundo. Foi assim que apareceu o melhor bolo de chocolate do mundo, que, no fundo, era apenas uma brincadeira. As encomendas começaram a surgir e a aumentar e pensei que tinha ali um negócio “sem saber ler nem escrever”. Na altura, já tinha uma pequena equipa para me ajudar a confeccionar, mas não era ainda o meu negócio permanente. FOTO: Sofia Mota Como justifica o sucesso? Há aqui vários factores. As pessoas que queriam fazer encomendas tinham de telefonar 48h antes para garantir o bolo. Não era um serviço fácil mesmo para o cliente. Acabei criar uma imagem à volta do bolo que dava a sensação de que era uma coisa difícil de conseguir e de que era um produto feito, personalizadamente, para aquele dia e para aquele cliente, o que acabou por lhe dar uma certa mitologia. O negócio nasceu completamente impensado mas depois acabou por funcionar a meu favor, desde o nome ao processo de aquisição. Mais tarde, verifiquei que o nome foi aquilo que me dizem ser “um golpe de marketing extraordinário”. Qualquer loja do mundo que abra com este nome chama sempre alguém a entrar, por estar irritado com o nome, por achar graça ou para testar. Já lá vão 16 anos desde que abri oficialmente “O melhor Bolo de Chocolate do Mundo”. Tive sorte. Tenho a sorte de ter visto negócios que me despertaram a atenção e que na altura não existiam em Portugal. Às vezes, acho que as pessoas saem do país à procura de novas oportunidades de negócio e quando regressam acabam por fazer coisas que já existem. Isto não quer dizer que não tenham sucesso, mas a luta é mais difícil. No meu caso, apareci como pioneiro na loja de produtos e cursos de cozinha. Tanto este negócio como “O Melhor Bolo de Chocolate do Mundo”, por serem novidade, fizeram com que depois a cobertura dos media também mostrasse interesse por eles, o que ajudou muito. Actualmente, é um produto espalhado por todo o mundo. Sim, já estamos no Brasil, em Espanha, na Austrália, em Angola e, talvez, estejamos no Kuwait em breve. Podemos dizer que o gosto pelo chocolate é universal? Sim, o gosto por chocolate é universal. Por exemplo, a Ásia já conhece há muito tempo a pastelaria que se faz na Europa. Aqui não se usa tanto açúcar, mas mesmo assim, num período de Natal em que vendi pontualmente para o Japão, este bolo foi um sucesso. Quem vive na Ásia também já viaja muito mais e começa a provar sabores que não se conheciam tanto. Um exemplo disso é que grande parte dos países asiáticos já têm pastelarias francesas.
Sofia Margarida Mota PolíticaGalgos | Ng Kuok Cheong pede acção do Governo no realojamento dos animais Se o período de adopção dos galgos se prolongar por muito tempo, o Chefe do Executivo deve intervir de forma a mudar de finalidade do terreno do Pac On. Mas antes, considera o deputado, cabe ainda ao Governo averiguar quanto tempo será necessário para que os cães sejam adoptados [dropcap style≠‘circle’]N[/dropcap]g Kuok Cheong quer que o Executivo apure quanto tempo será necessário para que os galgos, que se encontram actualmente no Canídromo, sejam adoptados. A ideia foi expressa ontem pelo deputado pró-democrata que acompanhou um grupo de idosos do Asilo Vila Madalena na entrega de uma carta na sede do Governo. Na missiva, os interessados protestam contra a possível ida dos galgos para o terreno da Cordoaria, junto ao lar. De acordo com Ng Kuok Cheong, caso a adopção não demore muito tempo, os cães devem manter-se nas instalações do Canídromo. No entanto, se os processos de adopção se prolongar ao longo do tempo, o deputado entende que é necessário que o Executivo encontre uma opção que fique distante de zonas residências, referiu Ng. O deputado deu como exemplo o terreno situado no Pac On, que considera ser a melhor opção para o realojamento sem causar incómodos à população. Para o deputado, a alteração da finalidade do terreno em questão pode ser resolvida pelo próprio Chui Sai On. “O Chefe do Executivo, se quiser que o terreno do Pac On acolha os galgos deve em primeiro lugar confirmar os possíveis impactos negativos do realojamento e depois levar o assunto à Assembleia Legislativa (AL)”. O objectivo é que seja debatida “a mudança de finalidade daquele terreno”, explicou o deputado. Cães que ladram Entretanto, mais de uma dezena de manifestantes, entre idosos que estão no Asilo Vila Madalena, familiares e responsáveis da instituição, entregaram ontem uma carta ao Governo. A directora do lar, Ip, revelou que a vida dos utentes pode ser afectada se os cães forem levados para o terreno situado junto da instituição. A responsável referiu ainda que este facto já foi constatado. “Há dias foram transportados alguns cães para o terreno da Cordoaria e fizeram muito barulho. Como é que os utentes conseguem dormir nestas condições?”, questionou. Os subscritores da carta afirmaram ainda que os trabalhos para realojar os galgos naquela zona continuam, apesar da ordem de suspensão emitida pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT). De acordo com o canal de rádio da TDM, a DSSOPT ordenou a suspensão das obras na semana passada. No entanto, os interessados entregaram um plano de nivelamento do terreno e os serviços estão a analisar a situação.
Sofia Margarida Mota PolíticaInundações | Agnes Lam quer planos de prevenção para Coloane e Porto Interior A passagem do tufão Mangkhut permitiu constatar que as medidas adoptadas depois do Hato tiveram resultados positivos. Mas é preciso mais, defende Agnes Lam, afirmando que o Porto Interior e Coloane ainda não têm solução para os problemas com as inundações [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap]gnes Lam quer que o Governo apresente projectos com medidas a médio e longo prazo para resolver os problemas das cheias, não só no Porto Interior, como também na zona de Coloane. Em interpelação escrita, a deputada sublinha que, “apesar da intensidade do tufão Mangkhut ter sido idêntica à do Hato no ano passado, as perdas foram muito menores”. No entanto, há ainda problemas que precisam de resolução e planeamento o que respeita a inundações. De acordo com a deputada, “embora o Governo tenha definido uma série de medidas de curto, médio e longo prazo, ainda há muito que fazer”. O Hato e o Mangkhut ocorreram com cerca de um ano de intervalo, o que possibilitou aferir o sucesso de algumas acções planeadas a curto prazo, mas ainda existem limitações. Para Lam, as causas das inundações no Porto Interior e Coloane mantêm-se. É preciso intervir, reclama Agnes Lam, e realizar projectos cujos resultados se reflictam no futuro. Terra esquecida A deputada quer conhecer o plano para travar o avanço das ondas na costa de Coloane e facilitar a drenagem das águas. De acordo com Lam, não há ainda um projecto, nem se interveio na zona costeira levando a que os lixos acumulados dificultassem ainda mais o escoamento das águas. Por outro lado, os sistemas de drenagem do Porto Interior foram de facto melhorados, mas o problema das inundações continua por resolver, admite a deputada. Para Agnes Lam, “não é através da atribuição de subsídios sempre que há cheias, que se vai evitar a perda de bens e os estragos nas casas e estabelecimentos comerciais dos que ali vivem e trabalham”. Neste sentido, a deputada apela ao Governo que, tendo em conta o futuro plano de renovação urbana, estabeleça um planeamento adequado para evitar a subida das águas e livrar moradores e empresários “do pesadelo anual das inundações”. “Pudemos observar que foram aprendidas lições com o tufão Hato e tomámos medidas mais eficazes para lidar com este tipo de catástrofes”. Faltam agora projectos claros para evitar os problemas que se repetem, remata a deputada.
Sofia Margarida Mota PolíticaATFPM quer aumento de cinco por cento para funcionários públicos [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) pede ao Governo um aumento de cinco por cento nos salários dos trabalhadores. A sugestão foi feita numa reunião que a ATFPM teve com a secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan, destinada a “expressar opiniões tendo em conta as Linhas de Acção Governativa de 2019″, revelou José Pereira Coutinho ao HM. Para o deputado e presidente da direcção da ATFPM é urgente que o Governo actualize os salários dos trabalhadores da função pública com um aumento de cinco por cento. “É preciso ter em consideração que ainda falta recuperar o poder de compra que continua diminuído devido à inflação atribulada que se regista desde o estabelecimento da RAEM”, justifica. Terras reservadas A ATFPM quer ainda que Chui Sai On, antes de deixar o cargo, proceda à reserva de terrenos para construção de habitação destinada a trabalhadores da função pública e das forças de segurança. De acordo com o deputado, Sónia Chan reagiu à sugestão “de uma forma positiva, até porque o Chefe do Executivo sempre teve muito interesse na situação de habitação destes trabalhadores”. No entanto, esta preocupação ainda não se manifestou em actos efectivos e que passariam pela “reserva de terrenos para esta função e o planeamento dos mesmos tendo em conta o uso exclusivo para a construção de habitação para trabalhadores da função pública”, sublinha Pereira Coutinho. A ATFPM quer ainda que o Chefe do Executivo resolva antes do fim do último mandato, “de uma vez para sempre, a questão dos aposentados da Caixa Geral de Aposentações para que possam voltar a receber os subsídios de residência que foram cortados há alguns anos”. De acordo com o deputado, a aceitação por parte do Governo destas sugestões seria uma forma airosa de Chui Sai On terminar o seu mandato. “Temos a expectativa que, sendo o último ano do mandato do Chefe do Executivo, ele possa deixar uma boa memória da sua governação de Macau perante os trabalhadores da função pública”, remata.
Sofia Margarida Mota PolíticaGIT garante que contrato com MTR prevê penalizações [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Gabinete para as Infra-estruturas de Transportes (GIT) assegura que o vínculo contratual com a MTR é claro e prevê sanções em caso de incumprimento. O Governo encarregou esta operadora de prestar os serviços de assistência à operação e manutenção da Linha da Taipa do Metro Ligeiro num contrato no valor de 5880 milhões de patacas. Leung Sun Iok, em interpelação escrita, demonstra receio que, à semelhança do que tem acontecido com outros contratos relativos ao Metro Ligeiro, as condições de funcionamento e sanções não estivessem claras neste contrato. O GIT garante que vai proceder “periodicamente à avaliação do desempenho dos diversos trabalhos relativos à prestação de serviços de operação e de manutenção sendo que estão definidas as sanções a implementar nas situações em que não estejam em conformidade com as exigências”, aponta. Vai caber ao MTR a prestação de serviços que abrangem o ensaio e activação dos sistemas antes da entrada em funcionamento da Linha da Taipa, a composição da equipa de operação e a formação de funcionários antes de iniciarem funções. A referida empresa é ainda responsável pelo primeiros cinco anos de actividade desta linha e pela reparação e manutenção dos comboios, dos sistemas de sinalização e das instalação de infra-estruturas. Contratações locais Leung Sun Iok mostra-se ainda preocupado com a prioridade na contratação de residentes para os quadros altamente qualificados e de gestão. O GIT apenas adianta que “o Governo exigiu, através do contrato, à entidade operadora para dar prioridade à contratação de mão-de-obra local”. No que respeita à inexecução da decisão do Tribunal de Última Instância (TUI) sobre a empreitada de construção do parque de materiais e oficina do Metro Ligeiro, o GIT justifica a invocação de uma causa legítima para esta tomada de posição, até porque que “mais de 90 por cento da referida empreitada já estava concluída e restam apenas trabalhos de ajuste, ensaio e vistoria”. O Governo reitera ainda que “está confiante que a Linha da Taipa possa entrar em funcionamento em 2019”.
Sofia Margarida Mota Manchete SociedadeEntrevista | Gaspar Zhang, coordenador do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do IPM Nasceu numa pequena cidade nos arredores de Xangai. Aprender português não foi uma escolha pessoal, mas um “acidente” do seu percurso académico. No entanto, a língua de Camões acabou por mudar a vida de Gaspar Zhang, o actual Coordenador do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do IPM [dropcap style≠‘circle’]Q[/dropcap]uais as razões que o levaram a estudar português? Nasci em Nantong, uma cidade pequena perto de Xangai. Comecei a estudar português no início deste século e, na realidade, não foi uma escolha pessoal, mas da Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim, que selecionou um grupos de alunos com uma boa proficiência em língua chinesa e inglesa para aprender uma terceira língua. No meu caso, a indicação que recebi foi que teria de estudar português. Penso que esta selecção também esteve relacionada com a necessidade do país de ter pessoas com conhecimento nesta língua, principalmente naquela altura. Uma necessidade que continua a existir, mas que penso que nos anos 2000 era maior. Não me arrependi. Acabei por gostar muito da língua e da cultura portuguesa. E esta opção mudou o rumo da minha vida. Assim que terminei a licenciatura fui convidado para leccionar português na mesma universidade, o que também era um hábito da instituição: convidar os melhores alunos para ensinar. Comecei a ensinar em 2007, o ano em que iniciei o mestrado em tradução chinês/português, o primeiro curso de mestrado nessa área na China continental. Terminado o mestrado, uns anos depois, fui fazer o doutoramento em linguística portuguesa, em Coimbra. Terminei este ano. Também ensinei português na Universidade de Pequim, a melhor de toda a China. Referiu que o português lhe mudou a vida. Porquê? Penso que me abriu para um mundo completamente diferente, que nunca teria oportunidade de conhecer se não fosse a língua. Apesar de estar mais ligado à linguística, gosta de literatura portuguesa? Sim. A minha área é a linguística, não sou especialista em literatura. Quando me fez essa questão, o primeiro nome que me passou pela cabeça foi o de Maria Ondina Braga, que viveu muitos anos em Pequim. Gostei muito de “A China fica ao lado”. A autora foi leitora da universidade onde estudei e também viveu alguns anos em Macau. Para mim, trata-se de uma autora muito observadora e que escreve o que se passa à sua volta. O seu currículo implica um domínio muito grande da língua portuguesa, em pouco tempo. Como é que o conseguiu? Passei o terceiro ano da licenciatura aqui em Macau, o que me ajudou a ter um contacto mais próximo com a cultura. Depois, no mestrado, frequentei um ano em Lisboa um curso de língua na Faculdade de Letras. Durante o doutoramento, vivi mais um ano em Coimbra. No total, passei dois anos em Portugal. Durante a parte curricular do doutoramento passei tempos difíceis, porque era o único aluno chinês a fazer Linguística Portuguesa. Por outro lado, escolhi um tema complexo para abordar no doutoramento, mas que também me fez ter que ter um domínio muito forte. Além disso, contei com um grande apoio da minha orientadora. O que mais gosta em Portugal? Fiquei impressionado com a hospitalidade do povo português. Os portugueses que conheço, não só em Portugal mas também aqui em Macau, são muito simpáticos. Quando fui a Portugal pela primeira vez, em 2008, fui muito bem recebido, quer por funcionários da escola, quer pela senhoria e os colegas. Recordo um encontro com um presidente de uma junta de freguesia que me disse uma coisa com a qual concordo em pleno: “o povo português é um povo tolerante”. Também não posso deixar de referir a gastronomia portuguesa, uma grande parte da cultura. Sou uma pessoa que não passa sem arroz. Portugal, felizmente, tem muitos pratos com arroz. Aliás, a este respeito até me disseram que os portugueses são os chineses da Europa por comerem muito arroz de várias formas. Mas, o meu prato preferido é bacalhau assado no forno com azeite. Tem em exercido funções de professor de português. Quais as maiores dificuldades no ensino desta língua a estrangeiros, nomeadamente a alunos chineses? O chinês e o português são duas línguas tipologicamente muito diferentes, tanto a nível da sintaxe como da fonética/fonologia. De acordo com a minha experiência, penso que a maioria dos alunos chineses têm dificuldades em distinguir, por exemplo, o imperfeito e o pretérito perfeito simples. Uma outra dificuldade é o conjuntivo. Isto porque em chinês não há tempos nem modos verbais. Nós, em chinês, utilizamos alguns elementos ou partículas para indicar se é uma acção concluída ou se é no futuro e também não conjugamos os verbos. Um outro problema que observei na China foi a falta de contacto directo com a língua e cultura portuguesa. O contacto é muito importante. Macau, por exemplo, tem muitas vantagens a este nível. Como são línguas muito diferentes e não há este contacto directo, a aprendizagem do português torna-se mais difícil. Na sua opinião, qual o papel da língua portuguesa, e mesmo da lusofonia, na China contemporânea? Podemos falar nessa importância segundo diferentes pontos de vista. Do ponto de vista económico e comercial, a China e os Países de Língua Portuguesa (PLP) são parceiros estratégicos muito importantes a nível global. Do ponto de vista político, a China está a apostar no desenvolvimento das relações com os PLP. Os meus colegas de faculdade estão espalhados por todo o mundo a trabalhar nesta área. É de frisar que, de um ponto de vista político, a China está a apostar na relação com os PLP e, por essa razão, existe uma grande procura de falantes bilingues, não apenas em Macau, mas também no Interior da China e nos próprios PLP. E como vê a importância do português em Macau? Macau está a desempenhar um papel especialmente importante na medida em que serve de plataforma e ponte de ligação entre a China e os PLP. Penso que, actualmente, estamos numa nova era, em que a língua portuguesa desempenha um papel fundamental na iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota”. O próprio embaixador chinês em Portugal salientou que Portugal é um parceiro muito importante nesta iniciativa. Também não nos podemos esquecer de que estamos num contexto geográfico muito particular: a Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. Como sabe, a província de Guandong é a província chinesa com maior cooperação económica e comercial com os PLP. É o sucessor do professor Carlos Ascenso André no CPCLP. Que desafios tem pela frente? Iniciei as minhas funções há cerca de duas semanas no CPCLP. A adaptação ao cargo não foi difícil e consegui numa semana perceber o seu funcionamento, isto porque já estava muito bem organizado quer pelo próprio professor Carlos André, quer pelos colegas que o integram. Aliás, gostava de agradecer publicamente ao professor Carlos André pela sua dedicação na divulgação da língua portuguesa em Macau, no Interior da China e mesmo na região Ásia-Pacífico. Por outro lado, expresso o meu agradecimento a todos os colegas do CPCLP pela forma calorosa com que me receberam e pelo apoio que me têm prestado desde a minha tomada de posse. É uma equipa dinâmica e altamente qualificada, quer a nível académico quer científico, na qual reina o bom ambiente de trabalho. Que planos tem para este centro? Para melhor responder a essa questão gostava de dividir os trabalhos que temos planeados pelas regiões diferentes a que se destinam. Em primeiro lugar, começava por referir o que temos planeado ainda dentro do Instituto Politécnico de Macau, onde pretendemos continuar o apoio dado aos trabalhos desenvolvidos no Laboratório de Tradução Automática do IPM. Trata-se de uma área em que este estabelecimento de ensino está a investir muito. Vamos ainda tentar contribuir para a criação e a leccionação de certas disciplinas do Curso de Mestrado em Tradução/Interpretação Chinês-Português/Português-Chinês e do Curso de Doutoramento em Português. Este não é um trabalho directo do CPCLP, mas sim uma cooperação com a Escola Superior de Línguas e Tradução. Vamos também continuar envolvidos na leccionação de disciplinas nas três licenciaturas relacionadas com a língua portuguesa do IPM. Já em Macau, o CPCLP está, neste momento, a colaborar com a Direcção de Serviços de Educação e Juventude (DSEJ) na formação de professores de língua portuguesa no ensino não superior, projecto que será alargado, a partir do próximo ano, a todos os professores desta língua do ensino não superior de Macau. Daremos continuidade à promoção de eventos académicos e em Novembro vamos ter o colóquio “Produção de Materiais Didácticos para o Ensino de Português como Língua Estrangeira no Contexto da China e Ásia-Pacífico”, para o qual foram convidados professores de renome internacional. Um dos nomes que se pode já revelar é Rod Ellis. A nossa missão também passa pela publicação científica, de manuais e de materiais de português língua estrangeira. Uma novidade muito importante é que estes manuais serão disponibilizados online, em versão PDF, permitindo o acesso mais alargado, mais fácil, a mais pessoas. Pretendemos que este projecto esteja disponível no final do ano ou no início do próximo. O centro também vai continuar a organizar concursos relacionados com língua portuguesa, nomeadamente o Concurso de Debate, que se costuma realizar em Novembro e que este ano está marcado para os dias 27 e 28, e o Concurso de Declamação em Poesia, que ocorre normalmente em Março ou Abril. E além-fronteiras? Na China continental temos uma missão muito importante e damos apoio ao ensino de português. Colaboramos com universidades chinesas na organização de eventos académico. Exemplo disso, é o que vai acontecer no próximo Verão, em que o IPM-CPCLP e a Universidade de Estudos Estrangeiros de Cantão vão co-organizar o 5º Fórum Internacional do Ensino de Língua Portuguesa na China. É uma iniciativa que se realiza de dois em dois anos. No ano passado, foi em Pequim e para o ano é em Cantão. A nossa actividade também inclui o Curso de Formação Contínua de Professores de PLE na China/Ásia-Pacífico, uma formação destinada aos professores de língua portuguesa no ensino superior da China. Trata-se de um curso que já é certificado pelo Instituto Camões desde Abril deste ano. Nos últimos cinco anos, o CPCLP conseguiu estabelecer contactos com todas as universidades que oferecem língua portuguesa na China. O contacto com esta rede de ensino de português foi uma herança muito importante do professor Carlos André para este centro. Avançamos também com contactos importantes com várias universidades portuguesas em Coimbra, Lisboa e Porto.
Sofia Margarida Mota EventosExposição | Book – Hop vai mostrar livros de artista na Casa Garden [dropcap style≠‘circle’]B[/dropcap]ook – Hop é o nome da primeira exposição de livros de artista em Macau. Com curadoria de Paulo Côrte-Real e Jorge Simões, a iniciativa pretende dar a conhecer o livro de artista enquanto obra de arte independente. A mostra é inaugurada a 25 de Setembro na Casa Garden. A primeira exposição de livros de artista em Macau vai ter lugar a partir do próximo dia 25 na Casa Garden. O evento conta com a curadoria do fotógrafo português Jorge Simões e o designer local Paulo Côrte-Real. O projecto pretende divulgar “acima de tudo, o livro de artista enquanto obra de arte, isoladamente” começa por contar o co-curador Paulo Côrte-Real ao HM. Na Book – Hop vão estar livros com um máximo de 300 edições. Côrte-Real explica: “Consideramos que este número de exemplares de um livro ainda se pode integrar dentro do livro de artista”. São obras produzidas pelos próprios autores que “não são comerciais”. A ideia é que, “esse livro, mesmo que tenha 300 exemplares, possa ser considerado uma obra de arte assim como acontece com as serigrafias ou com a fotografia que são produzidas em séries limitadas”, acrescenta. No entanto, aqui, em vez de a obra ir para a parede, como uma pintura, vai para uma mesa e é um livro. Além de pretender dar a conhecer o objecto, a Book – Hop pretende ainda que esta obra abra portas para outros trabalhos dos artistas incluídos, ou seja “por via dessa obra de arte conhecemos os artistas que estão por detrás deste livro e o que estão a fazer”, completa o curador. Toque delicado Mas, explorar um livro implica uma relação com o mesmo, uma interactividade que, tratando-se de uma obra de arte, requer certos preceitos. Na Casa Garden vão estar livros protegidos e outros que podem ser devidamente manuseados e prontos a serem explorados. “Há artistas que não querem que os livros sejam manuseados e então temos de os colocar dentro campânulas”, refere o curador. No entanto, a maior parte dos livros expostos vão ter os seus conteúdos acessíveis. “Vamos ter umas luvas, o público vai interagir com a obra e as pessoas folheiam”, explica. Entre os exploráveis e os intocáveis a exposição vai contar com cerca de 50 obras. De Coimbra para Macau Paulo Côrte-Real assume a curadoria com Jorge Simões, este último o mentor de uma primeira edição do Book – Hop em Coimbra no Centro de Artes Visuais. Depois da edição em Portugal, os curadores escolheram uma série de livros que queriam trazer a Macau. Por cá, o também designer, escolheu artistas locais para o evento. “O meu critério aqui teve como base o conhecimento que tinha do trabalho dos artistas locais”, conta Paulo Côrte-Real. Talvez por isso seja natural que a representação de artistas chineses não tenha correspondido às expectativas do curador. “Conheço um bocadinho menos o percurso dos artistas chineses de cá, daí não estarem tão presentes. Portanto, convidei aqueles que sei que têm trabalhos nesta área”, diz. Entre os artistas locais vão estar expostos livros de Rui Rasquinho, Carlos Marreiros, Konstantin Bessmertny, Francisco Ricarte e João Miguel Barros. “Acho que consegui ir buscar uma boa amostra e que junta o trabalho de ilustradores, artistas plásticos, arquitectos e fotógrafos”, comentou satisfeito. De auxiliar a estrela O livro de artista não é uma novidade e tem sido um meio adoptado pelos próprios, normalmente para acompanhar as exposições. Mas, cada vez mais, este objecto se assume como independente, como obra por si só, ao ponto de integrar actualmente um lugar de destaque dentro do universo da arte contemporânea, considera Paulo Côrte-Real. “Por exemplo, agora no Porto há um galerista, o Mário Centeno, que está a abrir uma galeria onde vai dedicar um espaço só a livros de artista”, conta. Na Europa, o livro de artista é uma forma de expressão a que muitos criadores se dedicam e que motiva a atenção das galerias. Em Macau, o Book – Hop é o primeiro evento deste género. “Os artistas até têm os seus livros porque acabam por os ir construindo à medida que vão fazendo o seu trabalho mas não imaginam muitas vezes que isso também possa ser exposto”, aponta. Além do público, esta exposição pretende ainda chamar a atenção para os próprios criadores, sendo que “as pessoas vão começar a ter mais cuidado e, quando fazem os seus esboços, vão pensar que também podem fazer daquilo uma obra de arte”, refere o co-curador. Mas há excepções por cá: “O Rui Rasquinho já sabe perfeitamente o que está a fazer e já faz isso há algum tempo como se pode ver nos trabalhos que tem apresentado nas últimas exposições que fez”. Outros artistas fazem o livro como suporte para as exposições mas ainda não o consideram, muitas vezes, uma obra. “O objectivo da exposição também é esse, mostrar aos artistas o que pode ser e incentivá-los a fazer”, sublinha. Esta é a primeira iniciativa do género mas a ideia é que não seja a única. “Vamos agora mostrar e dar a conhecer e se tudo correr bem, vamos continuar a promover o livro de artista com outros eventos “, rematou Paulo Côrte-Real.
Sofia Margarida Mota Manchete SociedadeAmbiente | Lixo invade as praias de Coloane [dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap]s praias de Hac Sa e de Cheok Van foram invadidas por uma onda de lixo, essencialmente plásticos, depois da passagem do tufão Mangkhut. “Este é um problema global que em situações de tempestade se torna mais visível. O facto de Macau estar no delta de um dos dez rios do mundo que mais lixo transporta faz com que o território seja mais sensível a este tipo de situações”, afirma David Gonçalves. Com a passagem do tufão Mangkhut, a zona costeira de Coloane foi assolada por lixo trazido pelas águas do mar. O facto não é novo nem se cinge geograficamente a esta zona, no entanto Macau situa-se no delta de um dos dez rios que arrasta mais poluição, principalmente plástico, para os oceanos, afirmou o director do Instituto de Ciências e Ambiente, da Universidade de São José, David Gonçalves, ao HM. “Há dez grandes rios no mundo que são responsáveis por cerca de 95 por cento do transporte do plástico por via fluvial, que é uma das principais vias do transporte dos plásticos para os oceanos, e o Rio das pérolas é um deles”, começou por dizer. Ora Macau situa-se precisamente numa zona sensível a este respeito. “Estamos aqui localizados e daí que não seja de estranhar que quando há uma tempestade ou um tufão, este problema que é mais ou menos invisível, se torne bem palpável”, apontou. Da análise feita dos lixos que deram à costa no passado domingo, a maioria são itens de esferovite e de plástico, referiu o responsável. O problema, apontou, não é de fácil resolução até porque as pessoas estão muito dependentes dos derivados de plástico. Soluções urgentes A solução passa pela alteração dos hábitos de consumo deste tipo de materiais e pelo evoluir para uma economia circular, ou seja, em que os produtos descartados no final do seu uso, são reciclados e acabam por voltar a integrar a corrente de produção e de circulação. “Apenas desta forma é possível que o desperdício seja praticamente zero e que não seja necessário continuar nesta cadeia linear de produtos descartáveis”, referiu. Em Macau o problema agrava-se. A produção e lixo per capita, ao invés de diminuir, “tem vindo a aumentar nos últimos anos o que quer dizer que o problema não está na questão de haver mais pessoas, mas de cada uma das pessoas estar a produzir mais lixo todos os anos”, disse. Esta situação mostra que não está a ser feito o que devia ser feito para tentarmos reduzir, quer o consumo, quer a entrada dos produtos de novo na linha de produção”, lamentou. De acordo com a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), num relatório referente a 2016, a quantidade de resíduos sólidos urbanos descartados ‘per capita’ neste ano superou, “quase no dobro, a de diversas cidades nas regiões vizinhas”. A quantidade de lixo produzido por pessoa em Macau correspondeu a 2,11 quilogramas por dia, “um nível muito alto”, ultrapassando Pequim (um quilograma/dia), Xangai (0,70 quilogramas/dia), Cantão (0,93 quilogramas/dia), Hong Kong (1,39 quilogramas/dia) ou Singapura (1,49 quilograma/dia), indicava um relatório. Deste lixo, 21 por cento era referente a plásticos. O HM tentou contactar a DSPA e a Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA) para averiguar se há medidas específicas para inverter o consumo de plástico e da poluição marítima e fluvial, respectivamente, mas não teve qualquer resposta até ao final desta edição. Fim da linha Para David Gonçalves, “estes números são o fim de linha e reflectem o que vai parar à incineradora no que respeita a materiais que foram utilizados e descartados”. Recorde-se que no final de Agosto, foi entregue uma petição ao Governo que reunia com 4.700 assinaturas a exigir medidas para banir o uso de plástico descartável. Os promotores da iniciativa solicitavam também uma resposta pública até ao dia 13 deste mês, o que não aconteceu. O problema não é novo mas agrava-se , considera David Gonçalves, e as estimativas para o futuro não são animadoras. “Estima-se que a produção de plástico vai triplicar até 2050 e aumentou já de uma forma muito exponencial desde os anos 70 até agora”, referiu.
Sofia Margarida Mota Fotogalerias Manchete SociedadeManghkut | De volta à normalidade [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oram nove horas de sinal 10 içado em Macau. As cheias não pouparam as zonas adjacentes ao Porto Interior onde os danos foram elevados, mas, desta vez, a prevenção também. No dia seguinte à passagem do Manghkut, a zona central de Macau regressava à normalidade. FOTOS: Sofia Mota
Sofia Margarida Mota Manchete PolíticaMetro Ligeiro | Comissariado de Auditoria denuncia incompetência do GIT Falta de planeamento, incumprimento de prazos, alterações sucessivas, não aplicação de sanções e desrespeito de normas internacionais de gestão e fiscalização. Estas são algumas das falhas que o Comissariado de Auditoria volta a apontar ao Gabinete para as Infra-estruturas de Transportes no quarto relatório sobre o sistema de Metro Ligeiro de Macau, divulgado ontem [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]proposta de implementação da 1ª fase do sistema de Metro Ligeiro foi apresentada em 2009 pelo Gabinete para as Infra-estruturas de Transportes (GIT). Na altura, estava prevista a construção de 21 estações, a primeira fase do projecto teria 21 quilómetros de extensão e que entraria em funcionamento em 2014. “Porém, até Agosto de 2018, apenas se prevê que a linha da Taipa entre em funcionamento em 2019”, recorda o quarto relatório acerca do sistema de Metro Ligeiro de Macau do Comissariado de Auditoria (CA), divulgado ontem. O órgão fiscalizador justifica as demoras com a incompetência dos serviços “que tem passado pelo incumprimento de praticamente todas as disposições inicialmente previstas”, aponta o mesmo documento. O CA destaca falhas no planeamento, problemas de fiscalização, não aplicação de sanções e sucessivas derrapagens orçamentais. “Existe, portanto, uma grande diferença entre o que inicialmente foi planeado e o que foi executado – desde o plano inicial e a execução efectiva do sistema de Metro Ligeiro, incluindo a definição dos traçados, estimativa dos custos de construção, gestão de obras e a data de conclusão”, realça o relatório. Prazos intermináveis Um dos pontos em que o relatório do CA se centra é na análise dos pedidos de prorrogação de prazos que têm levado a demoras sucessivas nas obras. De acordo com o documento, o incumprimento dos processos não é novo. Por outro lado, as medidas para evitar atrasos e que compreendem a aplicação de multas em caso de incumprimento têm sido contornadas em vários sectores, nomeadamente nas obra públicas. “Anteriormente, os serviços públicos da área das obras públicas afirmaram publicamente que em Macau não havia uma cultura de aplicação de multas, pese embora tivessem admitido que tal não era a melhor prática”, lê-se. No entanto, a presente auditoria constatou que também os GIT continuam a não dar “a importância devida aos procedimentos de apreciação dos pedidos de prorrogação do prazo – enquanto mecanismo de controlo da aplicação de multas – sendo tal uma das principais razões pelo atraso na construção do metro ligeiro”, aponta o relatório. A inoperância faz com que o GIT seja “a causa dos atrasos verificados, demonstrando que o gabinete não tem cumprido cabalmente as suas funções”. Isto porque, considera o CA, se os serviços públicos continuarem a descurar a análise e o controlo dos pedidos de prorrogação e a estipulação de cláusulas penais nos contratos, “os adjudicatários irão continuar a executar os trabalhos conforme entenderem e tampouco ponderarão de forma séria se têm ou não capacidade de executar a obra em causa, pois saberão que nenhuma consequência daí advirá se não o fizerem”, lê-se. Na situação do Metro Ligeiro, e devido ao referido, os atrasos ocorridos “demonstram claramente que o dono da obra dá pouca importância à pontualidade no cumprimento da sua execução”. Perante esta situação, a atitude dos GIT é de passividade, acusa o CA, “nunca exigindo que a entidade fiscalizadora efectuassem uma apreciação rigorosa do número de dias a serem prorrogados nem a auxiliar o gabinete na elaboração de diferentes planos e propostas de execução da obra que permitissem recuperar o tempo perdido”. Desta forma, “o GIT não tem sido capaz de exercer cabalmente as suas atribuições em relação à execução das obras do metro ligeiro, tal se comprova com o facto de o plano global do projecto ter sido mudado várias vezes de modo a fazer face às necessidades da sociedade”, acrescenta o CA. Informação perdida Outra preocupação demonstrada pelo CA tem de ver com as sucessivas alterações nos traçados das linhas do metro. Pior, o GIT nunca apresentou um plano global do projecto , optando por o divulgar de forma fragmentada e “em alguns casos o GIT apenas anunciou medidas ou planos depois de se terem verificado problemas no andamento das obras”, denuncia o relatório. Para o CA, o gabinete não é capaz de, por iniciativa própria, fornecer informação e “muito menos dispõe de um mecanismo de divulgação de informações completas e precisas”. A falta de conhecimento acerca de planos, custos e prazos tem feito com que a população esteja a perder confiança no Governo, lamenta o CA. Por outro lado, o GIT é ainda acusado de divulgar informações contraditórias. O relatório explica, “o GIT tem salientado sempre que os custos deste projecto não ultrapassam o previsto (referindo-se apenas à linha da Taipa que se encontra parcialmente concluída) e que os trabalhos estão a ser executados conforme o plano estabelecido (porém, nunca foi divulgado um plano actualizado dos trabalhos)”. Estimativas grosseiras A previsão de custos também tem sido um desastre, considera o CA, classificando mesmo as estimativas apresentadas pelo GIT de “grosseiras”. O Comissariado salienta que o gabinete nunca efectuou uma estimativa rigorosa dos custos do projecto do Metro Ligeiro e nem sequer foi capaz de executar um plano global definido no início da sua construção”. Pelo contrário, “este gabinete efectuou a estimativa de forma grosseira e alterou sucessivamente os planos durante a execução das obras”, salienta o CA. Aí reside um problema fulcral: nunca existiu uma estimativa para a totalidade do projecto porque esse plano não existe. No entanto, os gastos acumulam-se e aumentam de forma milionária. “O GIT tem despendido grandes somas do erário público em estudos preliminares, na contratação de entidades fiscalizadoras das obras que pouca eficácia têm tido no seu controlo, na contratação de adjudicatários que demoram um tempo inusitado na execução das obras, enfim, tudo para, no final de contas, o metro ligeiro entrar parcialmente em funcionamento”, enumera o CA. O comissariado questiona ainda se, com tantos gastos sem planeamento se é justificado um investimento nesta estrutura que deveria melhorar a vida da população. “Durante as quatro Auditorias Concomitantes, constatou-se que, apesar de o Governo da RAEM inicialmente ter previsto um gasto de 4200 milhões de patacas, em 2007, as diversas falhas causaram atrasos na execução da obra e o GIT nunca foi capaz de calcular o custo global do investimento do empreendimento”, aponta do relatório. Contas feitas Entretanto, até Dezembro de 2017, os montantes despendidos na construção da linha a Taipa totalizaram 10800 milhões de patacas e as despesas com a construção do parque de materiais e oficina, o sistema de operação do metro e o material circulante (sendo que a capacidade das carruagens do Metro Ligeiro excedem em muito o fluxo de passageiros previstos para esta linha) totalizaram os 5 600 milhões de patacas. Quanto à construção das 11 estações e à instalação dos carris, prevê-se que vão ser investidos 5200 milhões de patacas, o que dá uma média de cerca 500 milhões de patacas por estação. De acordo com os dados do CA, a estimativa do investimento para a totalidade das linhas de metro pode exceder os 51 mil milhões de patacas. Relativamente à média dos custos de operação e manutenção do sistema do Metro Ligeiro, prevê-se que estes sejam de cerca de 900 milhões de patacas por ano. Já para a quantidade de despesas contínuas e de despesas que irão aumentar em função das necessidades operacionais, os custos não estão ainda pormenorizados. Para o CA, com o actual plano de gastos definido pelo GIT, tendo em conta a previsão de uma despesa anual de 900 milhões de patacas, é necessário questionar se o investimento no Metro Ligeiro compensa os benefícios que poderá, um dia, trazer a Macau. “O sistema de Metro Ligeiro foi inicialmente proposto para resolver os problemas do tráfego. Contudo, presentemente, além de não conseguir esse desiderato, está-se a tornar num encargo demasiado oneroso para o Governo e para a sociedade”, refere o documento. Macau esquecido Por outro lado, o CA recorda que, de acordo com os planos de 2016, o Metro Ligeiro iria ter uma maior abrangência e que seria feito para solucionar os problemas de tráfego, nomeadamente na península de Macau, e contribuir para facilitar a circulação das pessoas. “Tendo em conta que a linha com maior fluxo de passageiros é a linha de Macau e que o objectivo da construção do Metro Ligeiro é melhorar a circulação do tráfego, questiona-se a razão pela qual o GIT adiou significativamente a construção desta linha, que supostamente geraria uma maior sinergia entre os diversos meios de transporte”, aponta ao CA. O comissariado não entende porque é que este objectivo tem sido passado para segundo plano. “Porque é que a construção da linha de Macau, que inicialmente fazia parte da 1ª fase do Metro Ligeiro, passou a integrar o plano a médio prazo e, ao invés disso, no plano a curto prazo, ficou prevista a construção da linha Leste?”, questiona. De acordo com os planos actuais, os traçados previstos para o curto prazo estarão concluídos, na melhor das hipóteses, em 2026, enquanto os traçados previstos para concretizar a médio prazo, ainda não têm sequer data de conclusão prevista. Além disso, o GIT até ao momento ainda não anunciou os planos relativos à linha Leste, que ligará Macau à Taipa, nomeadamente, se o projecto passa pela construção de uma ponte ou de um túnel subaquático. Para o CA há demasiadas incertezas quanto à capacidade de gestão do GIT, problemas que “não desaparecem com o tempo, pelo contrário, só se agravarão”. Relativamente a possíveis traçados na península o CA alerta ainda que o GIT deve prestar atenção à viabilidade da construção da linha do Porto Interior, tendo em conta que vão ser executadas obras de prevenção de inundações”.
Sofia Margarida Mota Manchete SociedadeTufão | Corrida a produtos essenciais esvazia prateleiras de supermercados As prateleiras dos supermercados do centro de Macau começam a ter falta de produtos. Não há garrafões de água e as garrafas escasseiam. Os aperitivos e enlatados também estão a esgotar face à possibilidade da passagem de um super tufão nos próximos dias pelo território. As autoridades garantem que os stocks são suficientes e que estão a prevenir a inflação de preços [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]a caixa de pagamento do supermercado mais de dez garrafas de água, talvez as que a cliente conseguia transportar, são a representação perfeita do momento que Macau atravessa, ainda com as memórias do Hato bem presente. Atrás deste cliente, estava uma fila que se aproximava do lugar de pagamento com carrinhos cheios, essencialmente de água. Este era o cenário da tarde de ontem num dos supermercados da zona centro de Macau. A razão para esta corrida está na possibilidade de passagem de mais um super tufão pelo território durante o próximo fim-de-semana. Desta vez, o nome a temer é Mangkhut. Com a memória das dificuldades e faltas que se fizeram sentir no ano passado, ainda frescas, veio ao de cima a imperiosa necessidade de prevenir e abastecer a dispensa de bens essenciais. A dias de uma eventual catástrofe, o nervosismo e necessidade de prevenir lideram as prioridades do dia. Dentro do mesmo estabelecimento, as prateleiras reservadas às garrafas de água estão praticamente vazias. Sobram as de meio litro e algumas de um litro de marcas mais caras, cinco vezes o preço das que já se venderam. A azáfama nesta zona é grande: de um lado o responsável pelo abastecimento a tomar notas, do outro dois funcionários que se apressam a ir repor o stock. Questionado se o estabelecimento tem capacidade para responder à procura que se espera, um dos funcionários respondeu: “sim, pelo menos hoje e amanhã estamos garantidos”. Mais à frente, num outro supermercado, o cenário é idêntico. Perto das prateleiras vazias está o responsável pela reposição de produtos. Ali, a água esgotou naquele preciso momento, sem haver qualquer chance de reposição. “A água acabou muito rapidamente, estou agora à espera de mais stock o que deve acontecer até ao final da tarde”, disse. “Depois, teremos água para, pelo menos, dois dias”, acrescentou. À semelhança do que se passa noutras superfícies comerciais do território, a funcionária responsável pela caixa também não tem mãos a medir. “Tem vindo muito mais gente com a expectativa da passagem de mais um super tufão, as pessoas estão com medo que aconteça o que aconteceu no ano passado”, apontou. De entre os produtos que mais lhe passaram ontem pelas mãos, além da água estão os biscoitos e aperitivos secos, referiu. Entretanto, L, empregada doméstica, enche o carrinho de compras com tudo o que consegue. “Levo muito pão, biscoitos e enlatados”, disse ao HM. “Também preciso de água, mas aqui já só há a mais cara e não a posso levar. Vou procurar noutro sítio”, disse preocupada. De entre os três estabelecimentos que o HM visitou, até ontem, ainda não se tinha registado inflação de preço como aconteceu no ano passado. Autoridades atentas De modo a prevenir a inflação de preços e a falta de produtos, como aconteceu depois da passagem do Hato, o Conselho de Consumidores (CC) e a Direcção dos Serviços de Economia (DSE) reuniram ontem com os comerciantes do sector grossista e retalhista de bens essenciais e de água engarrafada “para manter a estabilidade do preço dos produtos de primeira necessidade”, apontaram ontem em comunicado. De acordo com a mesma fonte, o encontro teve como objectivo “verificar a situação de procura e oferta dos ditos produtos nas fases de comercialização por grosso e de venda a retalho”, sendo que, garantem, “os produtos de primeira necessidade em stock, de momento, são suficientes e o seu abastecimento mantém-se estável”. No encontro de ontem, os comerciantes foram ainda advertidos para não inflacionarem os preços dos produtos mais procurados em situação de tufão. Entretanto, já se encontra em funcionamento a linha aberta de Whatsapp do CC (62980886), através da qual os consumidores podem fazer queixa caso descubram infracções por parte de estabelecimentos comerciais “como a elevação de preços e o açambarcamento de produtos”, aponta o mesmo comunicado.
Sofia Margarida Mota EventosPintura | Joaquim Franco apresenta “The wave and other poems” em Hong Kong Joaquim Franco dedica grande parte da mostra “The wave and other poems” a trabalhos que têm como foco o mar e a sua importância. A exposição está patente na Galeria Nido, em Hong Kong, até dia 23 de Setembro [dropcap style=’circle’]T[/dropcap]he Wave and other poems” é nome da exposição do artista local Joaquim Franco que está patente na Galeria Nido em Hong Kong até ao próximo dia 23 de Setembro. A mostra divide-se em dois momentos. Um primeiro constituído pela instalação “The Wave” seguido pela exibição quadros sob o tema “Other Poems”. A primeira parte dos trabalhos apresentados por Joaquim Franco é uma instalação, “uma grande onda”, segundo a descrição do próprio. Mas não é uma onda qualquer, é uma instalação que tem uma mensagem de alerta para o problema do plástico e da crescente poluição que afecta, nomeadamente, os oceanos. “Esta instalação é uma onda de plástico que invade a galeria e que pretende representar metaforicamente a forma como o plástico está a invadir os oceanos”, apontou o artista ao HM. Esta preocupação com o ambiente, em especial com a poluição das águas do mar, é um assunto que diz pessoalmente respeito ao artista e que tem origem na sua infância. “Sou da Ericeira, que fica mesmo virada para o mar, e por isso tenho esta ligação profunda ao oceano”, explicou. Por outro lado, “é importante alertar as pessoas para o que se impõe que é um menor uso do plástico e a modificação do nosso comportamento em relação e este material para irmos acabando por o deixar de usar com esta intensidade”, sublinhou. A ideia para a instalação partiu de um quadro produzido para uma exposição na Casa Garden, que se chamava “Oceano”, em que a presença do plástico apareceu pela primeira vez. “Mais tarde, entrei no atelier e encontrei uma série de sacos no chão. Foi quando me lembrei que este material tanto invade os oceanos como o estúdio onde trabalho, como os quadros que faço”, apontou. Ainda dentro deste primeiro momento expositivo estão integradas duas pinturas: “O Oceano Atlântico” e o “Oceano Pacífico”, “numa onda que traz o plástico ao longo do espaço e passa por estes dois quadros”, referiu. Homenagem a Cousteau O segundo momento expositivo é referente “aos outros poemas” e é preenchido por vários quadros do artista. Também aqui se nota a presença do oceano, nomeadamente em três obras inspiradas em Jacques Cousteau. Um deles intitulado “O mundo do silêncio”, nome inspirado no livro homónimo do explorador francês. “Faço uma homenagem à sua vida porque foi alguém que se dedicou aos oceanos. Fez um estudo sobre a Antártida e conseguiu junto das Nações Unidas que aquela zona não fosse explorada”, revela o artista quanto às referências que recolheu para o trabalho. Um segundo quadro, “Calypso”, é o nome do barco do cientista. A mostra patente na região vizinha tem ainda outra obra de inspiração oceânica, mas também ligada à infância do artista e que tem que ver com castelos de areia. “Aqui, a metáfora tem de ver com a ilusão que é associada a este tipo de construção”, referiu. Para o artista, a presença de Cousteau nestas obras não foi um acaso. “Todos os sábados, quando era miúdo, havia na televisão um programa dele e o facto de o ver acabou por se tornar uma rotina tão importante para mim como a de ir à praia”, acrescentou. As restantes obras são quadros que retratam “outros poemas como o amor ou as relações entre as pessoas.”
Sofia Margarida Mota Manchete PolíticaCibersegurança | Multas podem chegar aos cinco milhões de patacas Terminou a discussão da proposta de lei da cibersegurança no Conselho Executivo. O diploma prevê multas até aos cinco milhões de patacas e cria um novo cargo que será assumido pelos operadores das infra-estruturas críticas e que irá funcionar como o “principal responsável da cibersegurança” [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s multas a aplicar aos operadores de infra-estruturas críticas que violarem a lei da cibersegurança podem chegar aos cinco milhões de patacas, de acordo com o diploma que foi apresentado ontem pelo Conselho Executivo (CE). “A proposta de lei prevê que as infracções dos deveres da cibersegurança são punidas com multa de 50 mil a cinco milhões de patacas, sendo ainda aplicáveis sanções acessórias”, revelou ontem o porta-voz, Leong Heng Teng. No que respeita às sanções acessórias, o porta-voz do CE não foi claro, no entanto avançou a perda de subsídios do Governo a título de exemplo de possíveis penalizações. Os operadores de infra-estruturas críticas incluem serviços e órgãos públicos bem como entidades privadas de transporte, telecomunicações, bancos, seguros, cuidados de saúde entre outros. No que respeita às sanções aplicadas a entidades que abusem das competências que lhes vão ser atribuídas neste âmbito, o diploma não faz qualquer referência. Na proposta de lei está ainda definida a constituição das entidades que vão ter a seu cargo a implementação do sistema de cibersegurança. O sistema vai ser composto por uma Comissão Permanente para a Cibersegurança (CPC), pelo Centro de Alerta e Resposta a Incidentes de Cibersegurança (CARIC) e por entidades supervisoras de cibersegurança. A CPC é um órgão decisório do Governo, ao qual compete “definir orientações, objectivos de ordem geral e de estratégias”, apontou Leong. Já o CARIC será constituído “por entidades públicas com funções técnicas especiais em termos de segurança de rede e coordenado pela Polícia Judiciária”. Cabe ainda ao CARIC assumir funções de gestão e execução das medidas de resposta em caso de emergência. Por último, as entidades supervisoras ficam responsáveis pela fiscalização do cumprimento das regras por parte dos diferentes operadores. Cargos novos De acordo com a proposta que vai ser apresentado à Assembleia Legislativa, vai ainda ser criado um novo posto que será o “principal responsável da cibersegurança”. Esta é uma obrigação das operadoras e o profissional que ocupar o cargo tem de ter residência habitual no território. Segundo o assessor do gabinete do secretário para a Segurança, Chan Hin Chi, tem de ser alguém “com competência de mobilizar recursos humanos e financeiros e demais apoios logísticos para poder melhor monitorizar a segurança cibernética”, além de idóneo e com experiencia profissional na área da cibersegurança. Cabe ainda ao principal responsável da cibersegurança “avisar o CARIC sempre que ocorrerem “incidentes”, acrescentou Leong Heng Teng, bem como “proceder regularmente à auto-avaliação, submetendo o respectivo relatório à entidade supervisora”. Telefones controlados As operadores de telecomunicações têm, a partir da entrada em vigor da lei da cibersegurança, 60 dias para pedir aos utilizadores de cartões SIM pré-pagos os seus dados de identificação. Já os utilizadores têm, após este prazo, mais 60 dias para fornecer as informações solicitadas sem que ocorram em ilegalidade. “Se o cliente não quiser fornecer os seus dados à operadora, esta tem que desactivar aquele número”, apontou Chan Hin Chi. O objectivo é garantir que todos os utilizadores das redes telefónicas locais se encontrem devidamente identificados, acrescentou.
Sofia Margarida Mota EventosArte | AFA apresenta “0 – Obras de Wong Weng Io” “O – Obras de Wong Weng Io” é a exposição da artista local que vai ser inaugurada no próximo dia 17 de Setembro nas instalações da associação Art for All (AFA) [dropcap style=’circle’]W[/dropcap]ong Weng Io, também conhecida como Yoyo, questiona através dos seus trabalhos “o relacionamento e o impacto mútuo entre a existência humana, informação, tecnologia, dados pessoais, inteligência artificial e robótica”, refere a apresentação do evento. De acordo com a organização, “0 – Obras de Wong Weng Io” traz à AFA uma reflexão da vida quotidiana que pode ser comparável “à infinita futilidade de Sísifo na mitologia grega”. Para o efeito, a artista recorre às sequências numéricas que se apresentam em repetições infinitas. A exposição é composta por 365 obras em acrílico feitas a partir de fotografias que imitam o movimento dos dedos humanos no ecrã dos telemóveis. É nestes movimentos e na sua transposição que mostra o que mais prende as pessoas no dia-a-dia. Numa actividade constante, sem início nem fim, naquilo a que chama de “zero”. “É o começo e é o fim. É zero e é infinito ao mesmo tempo. É como se [estes movimentos] fizessem parte de um jogo de dominó, sendo que aqui é um jogo que nunca tem um verdadeiro começo”, aponta a AFA. A exposição estará patente até 8 de Outubro.
Sofia Margarida Mota EventosDia Nacional | Acrobacia chinesa marca aniversário da RPC em Macau O 69º aniversário da República Popular da China celebra-se em Macau com um espectáculo tradicional que tem a acrobacia como ponto central. “Arco-íris sobre a Rota da Seda” vai ser apresentado a 30 de Setembro e 1 de Outubro no Fórum de Macau pela Companhia de Artes Acrobáticas de Shaanxi [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]rco-íris sobre a Rota da Seda” é o espectáculo acrobático que vai assinalar em Macau o 69º aniversário da República Popular da China, nos próximos dias 30 de Setembro e 1 de Outubro. A iniciativa do Gabinete de Ligação do Governo Popular Central na R.A.E.M e do Instituto Cultural traz ao território a Companhia de Artes Acrobáticas de Shaanxi. O objectivo é “dar a conhecer as artes cénicas chinesas tradicionais”, refere o comunicado oficial. De acordo com a organização, “o espectáculo acrobático ‘Arco-íris sobre a Rota da Seda’ irá levar o público numa viagem através do tempo em busca de culturas europeias e asiáticas”. A apresentação conta a história de uma caravana comercial chinesa que lutou por estabelecer a Rota da Seda, na sua era dourada, durante o reinado da dinastia Tang. Com a viagem dos acrobatas, é dada a conhecer a cultura “inclusiva desta dinastia no seu auge e a Rota da Seda como uma rota de comércio e amizade”, aponta a mesma fonte. Acrobacias alternativas Ao contrário dos espectáculos acrobáticos tradicionais, “Arco-íris sobre a Rota da Seda”, não se limita à exibição de excelência de movimentos e vai mais longe: conta toda uma história em que os movimentos são acompanhados de música e dança, e em que os intervenientes envergam um guarda roupa que muda consoante o contexto. O evento que marca o Dia Nacional é apresentado em três a actos: “Chang’an Dinâmica”, “Fantasia no Campo de Neve”, “Dunhuang Hipnotizante”, “Destino Conjugal na Pérsia” e “Apaixonante Roma”. “Arco-íris sobre a Rota da Seda” foi reconhecido com os prémios Projecto Clássico da Arte Contemporânea de Shaanxi, o Prémio para Melhor Performance no 1º Festival Internacional de Artes da Rota da Seda e no 7º Festival de Artes da Província de Shaanxi com a designação do maior Projecto Cultural Nacional de Exportação 2015-2016. O programa terá lugar no Fórum de Macau pelas 20h dos dias 30 de Setembro e 1 de Outubro. Os bilhetes já se encontram à venda na Bilheteira Online de Macau.
Sofia Margarida Mota Manchete PolíticaSegurança | Leong Sun Iok quer reconhecimento facial nos casinos e hotéis O Governo deve implementar nos casinos e hotéis o sistema de reconhecimento facial que já existe nas caixas multibanco. A sugestão é do deputado Leong Sun Iok e tem como objectivo o controlo da criminalidade nestes espaços [dropcap]O[/dropcap]deputado Leung Sun Iok pede ao Governo a aplicação do sistema de reconhecimento facial nos casinos. A medida tem como objectivo garantir a segurança destes espaços. Leong Sun Iok argumenta com os dados da criminalidade que apontam os casinos como os locais onde se praticam mais crimes no território. Para evitar essa situação, o deputado entende que o reconhecimento facial utilizado nas caixas multibanco deve ser alargado aos espaços de jogo. “Irão as autoridades referir-se a práticas relevantes para instalar um sistema de reconhecimento facial nos casinos e nas instalações dos hotéis em Macau para melhorar a sua segurança?”, lê-se em interpelação escrita. Para justificar o pedido, o deputado recorda os dados da criminalidade divulgados recentemente pela secretaria para a Segurança. Nos primeiros seis meses do ano, verificaram-se seis casos de assaltos em casinos e 13 casos em hotéis, “números que representam um aumento na ordem dos 50 por cento em relação ao período homólogo do ano anterior”, aponta. No que respeita a casos de burla dentro de salas de jogo, registaram-se 93 casos, número que representa um aumento de 24 por cento em relação ao mesmo período em 2017. Turistas atacados De acordo com a secretaria para a Segurança, na primeira metade de 2018 houve um total de 2159 turistas do continente que durante a sua visita a Macau acabaram vítimas de actos criminosos tais como, ofensas corporais, furto, assalto e usura, que na sua maioria ocorreram em casinos, postos fronteiriços e zonas turísticas, refere Leong. Por outro lado, Macau recebe mais de 30 milhões de turistas por ano, o que, considera, “traz muitas pressão à manutenção da segurança”, diz o deputado. Acresce ainda que a larga maioria deste turismo é destinado à indústria do jogo, onde “há muitos crimes envolvendo casinos e clientes estrangeiros”. Neste sentido, o Leong Sun Iok quer também saber se existe alguma lista negra para impedir os estrangeiros que cometeram ilegalidades de entrarem nas salas de jogo. Melco pioneira O sistema de vigilância através de reconhecimento facial já está a ser implementado pela Melco Crown Entertainment. O sistema utilizado é o FaceVACS-VideoScan, desenvolvido pela empresa de tecnologia Cognitec, sob a indicação da Melco Crown, apontava o jornal Ponto Final em 2016. Segundo a mesma fonte, tratava-se do primeiro sistema do género criado especialmente para a indústria do jogo. O software utiliza tecnologia avançada de reconhecimento facial para detectar os rostos de clientes em imagens de vídeo captadas no local, comparando-os automaticamente com os dados contidos em bases de dados de pessoas banidas das salas de jogo.
Sofia Margarida Mota Manchete SociedadeÓbito | Márcia Schmaltz, académica Márcia Schmaltz morreu na passada sexta-feira, vítima de cancro, com 45 anos. A académica é reconhecida por quem a conheceu de perto como alguém que estava ligada à China por “um cordão umbilical” e que, talvez por isso, transmitia a China ao mundo “de forma natural” [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]sentimento de perda é unânime entre quem conviveu profissional e pessoalmente com Márcia Schmaltz, a académica que viveu para contar a China em Português. Schmaltz faleceu na passada sexta-feira, com 45 anos, vítima de cancro. Figura carismática do Departamento de Português da Universidade de Macau, Márcia Schmaltz encontrou o caminho para o Oriente ainda criança. Nasceu em Porto Alegre, no Brasil, em 1973, mas mudou-se para Taiwan ainda criança, onde morou durante seis anos. Formada em letras, foi professora e tradutora-intérprete de chinês, mestre em Estudos da Linguagem e doutorada em Linguística na Universidade de Macau, onde também leccionou. “É muito triste”, começou por dizer o director do Departamento de Português da Universidade de Macau, Yao Jingming, ao HM. Em causa está não só a imensa perda humana, mas também o desaparecimento de uma força de trabalho quando se fala em interculturalidade. “Era uma pessoa fantástica e muito trabalhadora que deu um grande contributo ao ensino da língua portuguesa em Macau e à divulgação da cultura chinesa quer no território, quer no mundo lusófono, com as obras que traduziu”, acrescentou o académico. Sinologia em português Apesar da sua formação em letras e carreira na área da tradução, Márcia Schmaltz era, acima de tudo uma sinóloga, apontou Yao Jingming. “Ela pode ser considerada como uma sinóloga real, verdadeira”, disse. A justificação é simples: “falava muito bem chinês, falava como nós falamos e conhecia também muito bem a cultura chinesa e a forma de ser deste povo. Ela podia ser chinesa”, sublinhou. A ligação à China não era puramente académica, era “um elo afectivo”. Esta afectividade terá nascido das circunstâncias em que viveu os seus primeiros anos. De acordo com Luís Ortet, editor da Revista Macau e responsável por um blog de divulgação de cultura chinesa em português para o qual Márcia Schmaltz também contribuiu, a académica “teve a particularidade de viver parte da infância em Taiwan, na Grande China”. Esta experiência conferiu-lhe atributos únicos. “Foi uma criança na China rodeada por crianças chinesas que falavam chinês. É um contacto que a aprendizagem que se tem da língua ou da cultura em adulto não consegue captar”, explicou. “Uma grande perda”, reitera Luís Ortet, até porque o trabalho que desenvolvia preenchia uma lacuna no mundo da sinologia. “Quer em Portugal, e de certa maneira também no Brasil, não há uma escola e um empenho por parte das autoridades e dos meios académicos no sentido de criar uma espécie de sinologia lusófona da mesma maneira que há uma francesa, uma alemã e uma de língua inglesa por exemplo”, disse. Como tal, “é mais uma perda neste contexto em que qualquer pessoa que dedique o seu tempo e o seu talento ao estudo, à divulgação e à compreensão da cultura chinesa é uma mais-valia enorme uma vez que os meios institucionais não têm feito grandes apostas no sentido de criar a tal sinologia lusófona”, acrescentou o responsável pela Revista Macau. Márcia Schmaltz colaborou ainda com a editora Livros do Meio. “A notícia da morte prematura de Márcia Schmaltz deixou-me triste e chocado. Conheci-a enquanto especialista em língua e cultura chinesas, professora na Universidade de Macau e tradutora para chinês de um livro importante da literatura brasileira – “Macário”, de Álvares de Azevedo – editado pela Livros do Meio, entre outras obras”, referiu o editor Carlos Morais José. A partida aos 45 anos foi demasiado precoce. “A morte surpreende-nos com as suas escolhas. A Márcia tinha ainda muito para nos dar a todos nós, como amiga, como autora e como académica. E ficará, com certeza, na nossa memória e na história das relações culturais entre o Brasil e a China. Isto é tudo muito injusto”, rematou. Já o amigo pessoal e colega de Márcia Schmaltz , Roberval Teixeira e Silva, director do Centro de Pesquisa para os Estudos Luso-Asiáticos da Universidade de Macau, admitiu que a académica era um caso particular quando se fala de interesse pela cultura chinesa, devido ao “cordão umbilical que manteve sempre com a China”. Na Universidade de Macau onde leccionou, está a ser preparada uma homenagem a Márcia Schmaltz com a produção de um vídeo em sua memória que reúne os vários momentos da sua vida académica no território. Mulher de convicções Para Roberval Teixeira e Silva não é fácil falar dos atributos pessoais da amiga, até porque lhe era “uma pessoa muito próxima”. Mas, as questões do mundo, nomeadamente as que envolviam desigualdades sociais eram uma área que lhe dizia particularmente respeito e que motivava as suas tomadas de posição em qualquer circunstância. No entanto, e também por isso, considera o amigo, “sempre foi uma pessoa muito clara, e dizia o que achava das coisas, o que lhe trouxe uma série de admiradores mas também opositores que estavam de pé atrás, porque não é fácil lidar com pessoas que gostam e precisam de dizer o que pensam e sentem em relação às várias coisas que lhes dizem respeito. Sempre com fundamento”, rematou. Na Universidade de Macau onde leccionou, está a ser preparada uma homenagem a Márcia Schmaltz com a produção de um vídeo em sua memória que reúne os vários momentos da sua vida académica no território. “Estamos a reunir fotografias, escritos, livros que traduziu em homenagem e memória a Márcia Shmaltz”, referiu o director do departamento de português daquela instituição, Yao Jingming. Márcia Schmaltz, ganhou o prémio Xerox/Livro Aberto pela tradução de “Histórias da Mitologia Chinesa” em 2000 e, em 2001, o Prémio Açorianos de Literatura, categoria tradução. Foi editora da colecção Tradução de Clássicos da Literatura Brasileira. Entre as obras que traduziu para português estão “ 50 Fábulas da China Fabulosa” (2007), “Viver”, de Yu Hua (2008), “Contos Sobrenaturais Chineses” (2010), Fábulas Chinesas” (2012), “Me Deixe em Paz”, de Murong Xuechun (2013), e “Contos Completos” de Lu Xun.
Sofia Margarida Mota EventosDança | Sofitel com festa dedicada aos anos 50 “Grease Lightning Swing Dance” é a festa temática de celebração dos sons do jazz dos anos 50 devidamente acompanhados pelos passos de dança que caracterizam a época. O evento realiza-se no Sofitel, no próximo dia 22 de Setembro, e promete uma divertida viagem no tempo [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]“Grease Lightning Swing Dance” é um “novo episódio de uma série de eventos que se centram na dança e na sua alegria”, começa por dizer Joana Soares, uma das organizadoras da iniciativa. O conceito é o de uma festa temática, dedicada ao som e à dança dos anos 40/50, quando o jazz e a alegria se confundiam nas pistas. O objectivo é levar aos residentes um estilo que não tem muita representação no território. “Decidimos fazer esta festa porque o swing dance é ainda relativamente novo em Macau e pensamos que é um estilo que acaba por ser do agrado de toda a gente por ser muito divertido”, acrescenta Joana Soares. Para que a festa seja completa, a organização convida os participantes a vestirem-se a rigor. “Não é difícil, basta uma vista de olhos por qualquer filme dos anos cinquenta e a panóplia de outfits é variada e sempre apropriada”, conta. O estilo pode variar entre o mais fiel aos clássicos de época, até aos mais arrojados com toques do rock´n roll que emergia na mesma altura. Aulas incluídas Que não se inibam os que pensam que não sabem acompanhar a música com os passos de dança mais apropriados. A organização pensou em tudo e antes da festa vai decorrer uma aula em que pelo menos os movimentos básicos são assegurados para abrilhantar a pista. “A entrada que é de 200 patacas e inclui uma aula, e só depois começa a festa” , disse Joana Soares. A ideia é que quando a música tenha início, todos tenham o mínimo conhecimento para dançarem e, “acima de tudo, se divertirem”. Para ajudar à festa, o ingresso, que custa 200 patacas, dá aos participantes o direito a bebidas grátis. Primeiros passos O swing dance é um género que tem ganho popularidade crescente um pouco por todo o mundo. No continente não há cidade que não tenha os seus núcleos que se reúnem religiosamente quase todos os dias, e em Hong Kong as festas acontecem, pelo menos, três vezes por semana. Em Macau, este tipo de eventos é ainda um pouco desconhecido, ou pelo menos pouco promovido. Para Joana Soares, a razão é o desconhecimento. “Penso que há muito pouca gente a dançar este género e talvez ainda ninguém tenha tido a iniciativa de promover eventos deste tipo em que as pessoas também começam a aprender a dançar”, contou ao HM. Por outro lado, “Macau é uma cidade muito pequena e com uma grande parte da população flutuante, que vai e vem, e talvez por isso não exista muito investimento neste tipo de iniciativas para que se tornem mais permanentes”, apontou a responsável. Para Joana Soares, a escassez de eventos sociais de dança não se limita apenas ao Swing. “Não é muito comum existirem festas temáticas e é por isso que decidimos juntarmo-nos e tentar organizar esta alternativa de divertimento”, explicou. A iniciativa partiu de um grupo de amigos que gosta de dar uns passos dança. Joana Soares quer, desta forma, cativar o público para festas temáticas em que a dança é rainha. A ideia não é aplicada apenas ao swing dance, mas a outros estilos como a salsa. A responsável espera que esta seja a primeira de várias festas e, apesar de ainda não existirem em Macau aulas de swing, que “através do seu ensino integrado em eventos, as pessoas se comecem a interessar mais”. O facto de este ser um estilo com cada vez mais adeptos por todo o lado deve-se, por um lado, à simplicidade dos passos, “que não são muito complicados” e fáceis de aprender. Por outro lado, é muito divertido e fluído, por se tratar de “uma dança feliz que dá vontade de mexer para acompanhar a música”, aponta a organizadora.
Sofia Margarida Mota EventosBailado| La Scala de Milão traz “Giselle” a Macau O grande auditório do Centro Cultural de Macau apresenta, entre sexta-feira e domingo, “Giselle” pela Companhia de Ballet do Teatro La Scala de Milão. O espectáculo marca a estreia da companhia italiana em Macau para apresentar um clássico do ballet romântico [dropcap style=’circle’]G[/dropcap]iselle” sobe ao palco do grande auditório do Centro Cultural de Macau entre a próxima sexta-feira e domingo pela mão da Companhia de Ballet do Teatro La Scala de Milão. É a primeira vez que a companhia de renome internacional vem a Macau, o motivo é a apresentação de “Giselle”, um ballet romântico em dois actos. A coreografia que acompanha a composição do francês Adolphe Charles Adam é uma das referências do ballet parisiense do século XIX. A primeira vez que subiu ao palco da Ópera Nacional de Paris corria o ano de 1841. Com popularidade crescente, “Giselle” passou a conquistar os palcos do mundo e foi produzida por grande parte das companhias europeias, russas e mesmo dos Estados Unidos. “Giselle” conta, numa primeira acepção, a história de uma camponesa que acaba por morrer depois de descobrir que “o seu amado estava comprometido com outra mulher”. Esta é a história do primeiro acto da coreografia. “É também o acto que traz o lado real da produção, um lado com luz e ligado ao quotidiano”, referiu ontem o director da Companhia de Ballet Teatro La Scala , Frédéric Olvieri em conferência de imprensa. Mas o espectáculo “desenrola-se entre a luz e a escuridão”, acrescentou. A camponesa morre a junta-se a um grupo de fadas que vivem numa floresta. É aqui que acontece “o grande acto de amor e de perdão”, apontou o director da companhia. “Giselle” salva o amado das garras de espíritos vingativos numa acção que acontece antes do nascer do sol. Este segundo acto, vai ser apresentado na penumbra, no mundo do fantástico. É também o momento em que as qualidades dos bailarinos se podem constatar, considerou Olivieri. “É no segundo acto que a companhia mostra a sua excelência enquanto grupo”, sublinhou. Para o director, a abertura deste acto é, talvez o momento mais “bonito, com a visão que apresenta do grupo em palco”, apontou. A composição, de autoria do francês Adolphe Charles Adam, vai ser interpretada pela Orquestra de Macau sob a batuta do maestro David Coleman. Paralelamente ao espectáculo, o CCM organiza um workshop para “desvendar alguns segredos e técnicas básicas do Ballet do Teatro alla Scala”, refere a organização. A actividade vai ser orientada por profissionais da companhia italiana e dá “aos participantes uma oportunidade de descobrir e ensaiar os passos de dança que mais tarde vão poder ver em palco”, acrescenta a mesma fonte. Rumo à china Depois de Macau, a companhia segue para Xi´an, Tianjin e Xangai onde vai apresentar “Giselle” e também “D. Quixote”. Já com experiência na China, Olivieri nota diferenças nas performances dos bailarinos do continente e do ocidente que advêm das próprias culturas, apontou. Contudo, na óptica do director, os profissionais do continente são “fantásticos quer no que respeita à técnica como à forma de se expressarem artisticamente”. Para o responsável do Ballet do La Scala, “na China há bailarinos fantásticos, o que significa que a formação é de muito boa qualidade, tanto no ballet clássico como contemporâneo”, sublinhou.
Sofia Margarida Mota Entrevista EventosPamela Chan, directora da Taipa Village Culture Association : “Um lugar romântico” A Taipa Village Culture Association é uma entidade dedicada à promoção da Taipa Velha como destino a conhecer, não só para turistas como para residentes. Nos próximos dias 22 e 23 de Setembro, a associação promove um festival dedicado ao Japão onde não vai faltar música, artesanato e costumes nipónicos [dropcap]A[/dropcap]A Taipa Village Cultural Association está a organizar um festival dedicado à cultura japonesa. Porquê? Tanto eu como o meu sócio somos fãs da cultura japonesa. Foi essa a principal razão que nos levou a organizar este evento. Trata-se de uma cultura muito rica. Não é a primeira vez que existe uma iniciativa do género. Em 2005, Macau chegou a ter um festival idêntico mas centrado essencialmente na música. Achámos que deveríamos trazer o Japão de volta. Este evento pretende oferecer mais do a música japonesa. Queremos integrar outros elementos que caracterizam aquele país. A Taipa está cheia, por exemplo, de ofertas gastronómicas relacionadas com a cozinha macaense e portuguesa, até porque Macau está muito ligado a estas duas culturas. Nós concordamos, mas achamos que é bom promover outras culturas também. O objectivo é ter lugar para uma verdadeira diversidade cultural e trazer novos elementos à vila da Taipa. Por outro lado, a cultura Japonesa também é muito popular por cá, tanto em Macau, como na região vizinha de Hong Kong e mesmo junto das pessoas do continente. Para este evento queremos trazer elementos ligados à música, à gastronomia, e mesmo à moda e ao artesanato. Também pensamos que está na altura de promover mais laços culturais entre o território e o Japão. Através da interacção com referências culturais japoneses podemos tentar a sua inserção dentro das culturas macaenses e portuguesas. O que mais gosta na cultura japonesa? Da comida, até porque há muitos restaurantes japoneses em Macau, o que facilita este contacto gastronómico. Que actividades destaca no cartaz do festival? Vai haver muita música e muita gastronomia, mas também workshops relacionados com artesano. Vamos ter artes marciais, costumes ligados aos rituais religiosos, vamos ter quimonos e ensinar as técnicas para os vestir. Vamos ensinar ainda várias técnicas tradicionais de produção de objectos decorativos e acessórios de moda. Vai haver também um workshop de caligrafia para o qual convidámos professores para ensinar a arte de escrever em japonês. FOTO: Sofia Mota Esta é uma forma de diversificar a oferta turística do território? Tentamos promover sempre a arte e a cultura. Este ano, por exemplo, é o ano da gastronomia e nós queremos não só promover eventos ligados a este tema dentro da nossa programação, mas tentamos ainda fazer actividades culturais paralelas que possam trazer mais pessoas à vila da Taipa. Fazemos eventos especiais tanto para os locais como para os turistas. Ao ter um conjunto de eventos a decorrer aqui na Taipa conseguimos atrair as pessoas cá, mas também conseguimos promover estadias de mais tempo aqui na Taipa. Não queremos que as pessoas venham à vila só para jantar e fazer compras. Queremos que elas possam ter mais opções e que fiquem por mais tempo. Temos, por exemplo, actividades de pintura facial e outro tipo de eventos mais orientados para a família e mesmo para as crianças. Com eles, além dos turistas também queremos proporcionar mais lazer à população local. Temos rotas gastronómicas que passam por vários restaurantes para dar a provar uma variedade maior de produtos. Como associação, o nosso foco está mais direcionado para actividades artísticas e culturais. Neste momento, estamos também com projectos em que queremos envolver os estudantes do ensino secundário. Porquê esta aposta nos mais novos? O objectivo é ensinar às futuras gerações mais sobre a história da Taipa e de Macau. Já estamos a trabalhar com uma escola sino-portuguesa para estudar melhor o mercado e ver se funciona, mas acreditamos que sim, que funciona. A ideia é ajudar os estudantes a conhecer e, ao mesmo tempo, inspirar para o conhecimento da Taipa através de actividades que promovam o divertimento, como concursos, etc. A ideia é também convidar a comunidade a disfrutar da nossa terra. A próxima geração é muito importante. Tentamos educar as nossas crianças acerca da particularidade de Macau com a sua mistura entre a cultura portuguesa e a chinesa. Isto é uma coisa que temos que transmitir e reforçar. Para si, o que tem a vila da Taipa de especial? É uma vila muito única e cheia de história. Está perto de tudo e temos bons acessos. É muito diversificada e tudo de uma forma muito concentrada. É também um bom lugar para todos, para famílias, para crianças, para jovens e para casais, porque é um lugar romântico.
Sofia Margarida Mota PolíticaSi Ka Lon quer explicações para atrasos do Governo Electrónico [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]deputado Si Ka Lon quer que o Executivo explique os atrasos do plano de implementação do Governo Electrónico que teve início há cerca de dez anos. Si Ka Lon acusa a Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública (DSAFP) de “fuga a responsabilidades” pela ineficácia do projecto do Governo Electrónico. Em interpelação escrita o deputado aponta que de acordo com o relatório sobre o desenvolvimento deste projecto, em que estão investidas mais de 230 milhões de patacas, apenas 39 acções foram concluídas entre as 61 previstas, num período de dez anos. Para o deputado, a responsabilidade é dos próprios SAFP. O deputado refere que segundo o relatório apresentado pelo Comissariado de Auditoria (CA), “a razão que levou à baixa taxa de execução dos trabalhos está muito relacionada com a atitude e o hábito de trabalho do SAFP”, aponta. O deputado frisa ainda que o CA denuncia diversos atrasos “o que mostra que a organização dos serviços não está clara”, diz. Das razões Neste sentido, Si Ka Lon pede ao Governo explicações para actividades que integram o plano para o Governo Electrónico que, dez anos depois, ainda se encontram por terminar e muitas estão ainda sem qualquer calendarização para o efeito. Por outro lado, e de modo a agilizar o processo, o deputado sugere a criação de um grupo de trabalho que se dedique apenas à implementação deste plano e com a responsabilidade de coordenação de todos os trabalhos. Para combater “a passividade existente nos serviços públicos”, o deputado questiona ainda o Executivo se é sua intenção tomar medidas. Para Si Ka Lon deve ser criada uma lista com as atribuições e competências dos serviços públicos capaz de ajudar no acompanhamento da implementação dos planos da Administração. Desta forma, seria mais fácil fazer uma avaliação do progresso dos vários trabalhos e da eficiência dos dirigentes. Esta seria, considera, uma “forma activa” de motivar o trabalho na função pública.
Sofia Margarida Mota Entrevista Manchete SociedadeEntrevista | Inocência Mata, académica: “O Homem é igual em todo mundo” Inocência Mata, professora da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, passou os últimos quatro anos na Universidade de Macau. Dias antes de regressar a Portugal, a académica revela o que leva de cá. Mais que a experiência de ensino, Macau deu-lhe uma nova perspectiva e maior relativização das coisas do quotidiano [dropcap]Q[/dropcap]uatro anos em Macau. O que é que leva daqui? Levo uma nova aprendizagem do outro. Aqui, não só me senti diferente como, de facto, o sou. Levo também uma aprendizagem cultural e humana que por mais que eu lesse nunca conseguiria conhecer desta forma, com o sentir na pele. Sou professora e investigadora na área das culturas. É verdade que já tinha a percepção que cada cultura tem uma lógica e o importante é entender essa lógica, independente de aderirmos ou concordarmos com ela. Temos que a entender o porquê, e só assim é que podemos interagir. Mas repito, não temos que concordar com ela. Eu, por exemplo, não concordo com todas as lógicas culturais mesmo das culturas que me são afectas. Há aspectos da cultura que são nefastos ao desenvolvimento humano. Mas o importante é entender a lógica. Nesta perspectiva, o que aprendi cá vai-me ajudar a relativizar as coisas ainda mais. Como? Já sou uma pessoa que relativiza, até porque tenho uma família feita de diferentes. Não apenas em termos étnico raciais, mas também em termos sociais. A minha avó materna era negra lavadeira e o meu avô materno era médico branco. Cresci com esta diferença e foi ela que me enriqueceu. A minha avó mal sabia falar português e o que nos contava eram histórias em crioulo e o meu avô obrigávamos a ler os clássicos portugueses. Sempre fui uma pessoa que cresceu na diferença. Além de uma vivência pessoal também estudo nesta área. O ter vivido de forma tão intensa o lugar do outro como aconteceu cá, vai certamente predispor-me para entender coisas que eu à partida recusava. Continuarei a recusar, mas já lhes entendo a tal lógica. Pode dar alguns exemplos? As relações aqui não são baseadas na confiança. Isto chocava-me imenso no início. Chocava-me só de pensar que tinha que mostrar todos os originais de documentos porque aqui se partia do princípio de que estaria a mentir. Isto era quase uma afronta. Com o tempo fui entendendo o porquê. FOTO: Sofia Mota Como é que se aprende a lidar com esse tipo de características que por vezes são, como diz, chocantes? Bem, ao princípio é a indignação e uma pessoa barafusta. Depois vai-se percebendo a lógica que é bastante prosaica. Por outro lado, acho que existe um certo autismo para se perceber que apesar do nome, a China não é propriamente o centro do mundo. Sente que essa centralidade ou essa percepção de centralidade se vive aqui? Não sei se existe esta consciência ou se o sistema social ou da administração se constrói com base nessa lógica. Mas sei que o que mais me incomoda nem é bem essa centralidade, mas sim a rasura do indivíduo. Como assim? Aqui, quando há uma norma é para ser aplicada sempre sem que se tenha em conta, alguma vez, o contexto. Não há uma adaptação. Há que ter em conta situações especiais. E o que mais apreciou por cá? Tive o privilégio de conhecer a China com chineses. Todas as vezes que estive no continente, e foram muitas, foi sempre com chineses e isso fez com que eu não conhecesse apenas a China turística. Deu-me oportunidade de, por exemplo, ir ao mercado. Foi com esse tipo de experiência que percebi que, pelo menos no continente, as pessoas se deliciam com o diferente e achei isso muito bonito. Na China, perante a diferença as pessoas são simpáticas, e olham, e perguntam. Percebo perfeitamente esta curiosidade. Existe uma pré-disposição para conhecer a alteridade. Por outro lado, esta alteridade que referi no início da conversa foi vivida de forma muito positiva. Outra coisa de que gostei muito aqui foi da comida. Em Portugal gostava muito de ir a restaurantes chineses e muitos amigos me diziam que aquilo não era comida chinesa. Aqui conheci realmente o que era. Nos primeiros tempos que cá estive, ia sozinha aos restaurantes e não gostava do que comia porque nem sabia o que estava a pedir, quando comecei a ir com amigos de cá, tudo mudou. Foi também cá que desfiz muitos mitos acerca do oriente. O conhecimento que se tem no ocidente acerca deste lado do mundo é ainda uma construção que tem por base o próprio ocidente. Existe uma invenção do oriente pelo ocidente e isso é uma coisa normal porque criamos, naturalmente, mitos acerca daquilo que desconhecemos. O que me aconteceu aqui foi um desfazer disso mesmo. Foi uma aprendizagem cultural e também uma aprendizagem do humano. Para uma pessoa que lida com culturas, quer a nível pessoal como profissional, foi uma mais-valia? Sim, sem dúvida, até porque o meu conhecimento de culturas parava na Índia. E tudo muda quando se passa do Índico. Aprendi muito. É conhecida por ser pioneira na produção de ensaios em língua portuguesa acerca do período pós-colonial. É nestes ensaios que também se debruça acerca das diferenças entre independência e liberdade. Pode ser que no espaço da língua portuguesa de facto tivesse sido “pioneira” a debruçar-me sobre este assunto. Os estudiosos das ciências sociais tinham até há pouco tempo uma certa autocensura relativamente a esta matéria. Tendo em conta África, é preciso notar que no final dos anos 50, início de 60, começaram a aparecer livros de escritores africanos que já diziam que a conquista da independência não significou a conquista da liberdade. Há dois livros que são fundamentais para perceber que esta reflexão desde as primeiras independências africanas. São “Man of the people” de Chinua Achebe, e “Os sóis das independências” de Ahmadou Kourouma, que já mostram que os sóis das independências dos anos 60 estavam bem crepusculares. Independência não é sinónimo de liberdade. Nem é sinónimo de liberdade nem é sinónimo de viragens de mentalidade e das formulações culturais. É preciso dizer que a ideologia nacionalista, obviamente necessária à conquista da independência, era uma ideologia igualmente monolítica. Era uma ideologia que não admitia a diferença. Uma coisa é a independência, e aí acho que todos os povos têm direito à sua autonomia, e outra coisa é a gestão da sociedade e as liberdades têm que ver com a gestão da sociedade e dos regimes. Não apenas dos regimes políticos, porque o regime pode ser multipartidário e ainda assim extremamente ditatorial. Também o multipartidarismo não é sinónimo de democracia. Temos exemplos: o de São Tomé e Príncipe actualmente e, até há pouco tempo, o de Angola em que havia o multipartidarismo e não se podia dizer que houvesse democracia. Há um discurso que associa o facto de se ter eleições de quatro em quatro anos ser sinónimo de democracia, e daí? O importante é a gestão interna desse complexo de diferenças que é a sociedade. É na busca destas perspectivas de poder que me interesso pelos estudos pós-coloniais. O pós-colonial não é uma categoria da cronologia, é uma categoria da epistemologia. O pós-colonial é uma categoria de análise e que tem que ver com a forma como as relações de poder se estabelecem na sociedade, sejam elas no âmbito político partidário, mas também relações de poder no âmbito de género, de classe de etnia, raça etc. É aqui que me interessa estudar o pós-colonial e estas relações de poder, e não estou a inventar nada até porque neste aspecto Michel Foucault já inventou tudo acerca de como é que estas relações se estabelecem e se actualizam na sociedade. Se nós virmos bem, estas relações de poder depois da independência, pouco ou nada mudaram. Porquê? Porque o Homem é igual em toda a parte do mundo e sendo igual na sua natureza, se não é forçado a distribuir o poder, ele não o faz. Tenho amigos que me dizem, quando se fala, por exemplo, da corrupção em Angola: “mas em França também há corrupção”. Sim, lá está, o Homem é igual em todo o lado, mas no exemplo da França há mecanismos em que o próprio sistema neutraliza muitos actos de corrupção e se falarmos da Noruega o sistema blinda mesmo esses actos. É preciso que as suas sociedades arranjem sistemas que blindem a possibilidade de corrupção. Isto não quer dizer que o norueguês seja melhor homem que o angolano, mas o norueguês já sabe que se for caçado é fortemente punido. Também estuda as relações de poder dentro das diferenças de género. Como estamos no que respeita às desigualdade e na transformação desse tipo de relação? Tenho um projecto no centro de estudos comparativos e que trata precisamente o género, a normatividade e as representações. Não se trata apenas da condição feminina. A condição feminina é realmente central mas aqui é sobretudo a ideia da normatividade e da representação vista quer no discurso literário quer na imprensa. A imprensa, nos países africanos, particularmente, é muito machista. Diz-se tradicionalista, só que a tradição é machista. Por outro lado, tenho amigas, também académicas, mas que a sua forma de se afirmarem e de serem reconhecidas é com frases como: “cozinham muito bem”. Não estou a dizer que não se faça isso, mas isto significa que os estereótipos de género vivem debaixo da pele das pessoas e elas assumem esse estereótipo, esta normatividade. Elas são excelentes profissionais mas nunca se apresentam como tal. As minhas amigas assumem o trabalho tradicionalmente associado à mulher como uma mais-valia da sua feminilidade. O que é quase um boicote à luta pela igualdade de género. São pessoas que, claro, lutam contra a violência domestica, por exemplo. No entanto, fazem um discurso que continua a confinar a mulher a um espaço privado. É isso que quero desenvolver nos meus estudos. Não é apenas a condição feminina, mas o discurso da normatividade. Trabalhar sobre a condição feminina tem de se ir além de tratar do planeamento ou do aleitamento que são assuntos muito importantes, mas não é essa a minha luta. É uma mulher da literatura. Quais são os seus livros favoritos? São tantos e isso depende muito das fases em que estou. Livros inesquecíveis: dois são de Gabriel Garcia Marques, o “Cem anos de solidão” e “Amor em tempos de cólera”. Depois, claro, “Os Maias” do Eça e o “Anna Karenina” de Liev Tolstói. Dentro dos autores africanos é “Lueji” do Pepetela. Também gosto muito da “Montanha mágica” do Thomas Mann e mesmo de “Os três mosqueteiros”. Agora, por exemplo, estou na fase de “O conde de Monte Cristo”, de como um injustiçado regressa à vida. Ensinou cultura na Universidade de Macau. Como é trazer culturas do ocidente para a China? É fantástico. Nós aqui descentramo-nos. O que nós pensamos que é lógico e evidente, aqui não é. Temos de sair da nossa cultura para que possamos olhar para ela e explicá-la. O que eu acho que estou a explicar, segundo a normalidade, não é a normalidade para o outro e é o outro que me faz ver isso. Existe uma invenção do oriente pelo ocidente e isso é uma coisa normal porque criamos, naturalmente, mitos acerca daquilo que desconhecemos.
Sofia Margarida Mota Manchete SociedadeAssistência social | Profissionais discutem desafios do território Envelhecimento da população, depressão, autonomia e investigação são alguns dos maiores desafios da assistência social em Macau. Na passada sexta-feira, académicos e profissionais discutiram na Universidade de Macau possíveis caminhos e soluções para o sector [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]Macau tem já uma rede de segurança e apoios sociais “madura”. Ainda assim, há desafios que precisam de ser enfrentados. A ideia foi deixada numa palestra, na passada sexta-feira, pela directora do Centro de Estudos de Macau da Universidade de Macau (UM) e deputada, Agnes Lam, à margem da conferência “As novas tendências da segurança e assistência social”. O envelhecimento da população é um dado garantido, ao qual acresce a falta de “infra-estruturas suficientes”, numa “cidade que não está construída para promover a mobilidade dos mais velhos”, contextualizou a deputada. A questão que colocada aos profissionais de apoio social e ao próprio Governo é “o que se pode fazer para melhorar a qualidade de vida destas pessoas, até porque se fala muito neste assunto, mas pouco tem sido feito para o resolver”, lamentou a docente universitária. Também o director do departamento de serviços familiares e comunitários do Instituto de Acção Social (IAS), Tang Yuk Wa, se mostrou preocupado com o envelhecimento populacional e as necessidades que esse fenómeno levanta. “Penso que há três áreas fundamentais quando se fala de protecção dos mais velhos que têm que ser levadas em consideração”, começou por dizer à margem do mesmo evento que assinalou o 30º aniversário do Jornal de Estudos de Macau. A mais óbvia, referiu, é a que se refere à segurança social e aos apoios financeiros de que esta faixa etária carece. Também o sistema de saúde tem de ser melhorado para responder a uma população com a saúde mais frágil. Olhar a solidão Para o responsável do IAS, um dos problemas mais relevantes prende-se com a solidão no seio da população idosa, pelo que é necessário investir em planos que promovam o contacto social, considerou. A este respeito, Agnes Lam apontou o exemplo de quem vive no complexo de habitação social de Seac Pai Van. “Temos muitos idosos a viver nessas instalações sociais, o que faz com que, de alguma forma, estejam ali muito isolados, longe da comunidade onde terão vivido”. A solidão é um problema que não surge isolado e que muitas vezes é agudizado por outra realidade: a pobreza. De acordo com Agnes Lam, “é possível identificar casos de pessoas que vão pedir ajuda para comer e que se se for aprofundar a situação destas pessoas verifica-se que são sozinhas, que não têm um suporte familiar ou social”. De acordo com a responsável, a pobreza está muito associada à solidão essencialmente na velhice. O aumento de casos de depressão foi outro dos temas discutidos entre académicos e profissionais, um problema social que deve ser prioridade das instituições de apoio social e para o próprio Governo. “A depressão, neste momento, é um assunto preocupante em Macau”, apontou Agnes Lam. Uma situação agravada pela falta de profissionais de psicologia. Na opinião de Lam, não há psicólogos suficientes para combater a depressão. O caso é tanto mais grave visto que a sua resolução pode não ser possível num curto espaço de tempo. “Macau não tem hipótese de formar muitos profissionais em pouco tempo o que vai levar ao agravamento do problema”, referiu aos jornalistas. Agnes Lam abordou ainda o problema das clivagens socioeconómicos num dos território com maior PIB per capita do mundo. “Há cada vez mais pessoas que não conseguem financiar os requisitos exigidos por esta sociedade que está a nascer. Isto vai trazer ainda mais problemas de adaptação e de exclusão”, sublinhou. A deputada ressalvou ainda que esta é uma situação que pode ser contornada dada a abundância de recursos. “Nos anos 80, por exemplo, havia muita pobreza em Macau e os recursos eram escassos e isso não acontece agora”, apontou. Gente independente Outro dos grandes desafios que se colocam em Macau é a formação dos residentes para serem independentes das ajudas dadas pelo Governo. “Não podemos limitarmo-nos a dar dinheiro às pessoas sem ensinar como é que elas podem amadurecer para que, depois de adquiridas as ferramentas necessárias, serem independentes”, referiu Agnes Lam. A opinião é partilhada pelo director do departamento dos serviços familiares e comunitários. O responsável deu como exemplo a situação em que “uma família recebia apoios para os estudos de um filho. O filho cresceu e terminou os estudos superiores. Sem necessidade das entidades competentes continuarem a subsidiar os estudos, o apoio terminou e a família ficou muito indignada porque queria continuar a receber aquele dinheiro”, disse, acrescentando que este tipo de situações é muito comum. Para Tang Yuk Wa, “é preciso educar para a responsabilidade individual de cada um na construção do seu bem-estar”. “Enquanto assistente social, espero que este trabalho seja feito por todos. As pessoas ao pensarem que têm direito aos apoios sociais, também devem ver que têm o dever de fazer o que podem de modo a emancipar-se relativamente a estes apoios”, disse. Tang considera que tem de existir mais implicação da família e da própria sociedade tendo em conta uma bem-estar comum. Mais pesquisa Por outro lado, e de modo a que se saiba efectivamente quais as necessidades e desafios que Macau enfrenta nestas matérias impõe-se um maior investimento na área da investigação. O objectivo, salientou Agnes Lam, “é ajudar o Governo a trabalhar com as diversas instituições de modo a encontrar soluções mais apropriadas para os problemas que vão surgindo”, tendo em conta a constante mutação dos contextos sociais. Mais longe vai o a académico Brian Hall, professor no departamento de psicologia da UM. Para Hall é difícil, neste momento, perceber quais os desafios que se colocam no âmbito da assistência social até porque “ainda não há pesquisas suficientes a esse respeito”. A mesma necessidade de conhecimento é válida para que se possam traçar estratégias. “Sem conhecimento do que está a acontecer é difícil traçar caminhos”, disse. No final do ano passado, Macau tinha 653.100 habitantes, mais 8.200 do que no final de 2016. A população idosa representava 10,5 por cento da população, um crescimento de 0,7 pontos percentuais em termos anuais. A esta situação acresce a diminuição da população adulta para 76,7 por cento, um decréscimo de 1 ponto percentual. O índice de envelhecimento foi de 83 por cento, mais 4,1 pontos percentuais face a 2016. A agravar a situação está o recuo no número de nascimentos, menos 617 do que no ano anterio Visão diferente “Os assistentes sociais têm agora uma percepção diferente da violência doméstica”, disse ontem a académica Cecília Ho referindo-se ao resultado de uma investigação. “Antes estes profissionais consideravam que se tratava de um assunto familiar e que não lhes dizia respeito, agora que é considerado crime já percebem a violência doméstica como um assunto grave e que deve ser de imediato reportado às autoridades”. Para Ho este é um avanço “muito positivo”.
Sofia Margarida Mota EventosArtes plásticas | 3ª Mostra Oriente/Ocidente acontece em Setembro A 8º edição da C.A.M. Casino Arts Metting e a 3ª Mostra de Artes Oriente Ocidente vai ter lugar no próximo dia 20 de Setembro no Casino Lisboa. Este ano, o cartaz do evento tem em destaque a mostra “Bicicletas de Macau”, um trabalho fotográfico de António Mil-Homens [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]fotógrafo local António Mil-Homens vai apresentar em Lisboa os trabalhos que constituem a colecção titulada “Bicicletas de Macau”. A exposição é inaugurada a 12 de Setembro e vai ainda integrar a mostra alargada de artes plásticas C.A.M. Casino Arts Metting, 3ª Mostra de Artes Oriente Ocidente, uma iniciativa da Plataforma UNITYGATE – Pontes interculturais Oriente Ocidente que, nesta sua 8ª edição se realiza a 20 de Setembro na Galeria do Casino Lisboa. A presença do fotógrafo vai, de acordo com um comunicado oficial, sublinhar a interdisciplinaridade do evento e contribuir para a sua internacionalização. Cruzamentos artísticos Segundo a organização, o C.A.M. tem como objectivo a promoção de uma “visão interdisciplinar através da promoção da arte, das relações culturais sino lusas, do incentivo a artistas emergentes” e do cruzamento artístico entre várias áreas. Desta forma, a UNYGATE “dá continuidade ao trabalho de intercâmbio cultural que a plataforma tem vindo a desenvolver”, lê-se no comunicado da organização do evento. Neste sentido, a UNYGATE está actualmente a receber trabalhos em várias áreas para participarem no evento e poderem ser seleccionados para o concurso que a C.A.M. vai proporcionar. Os interessados com mais de 18 anos podem enviar os seus projectos, sendo que o tema tem que estar ligado ao conceito do evento ou seja, à dicotomia oriente/ocidente. Depois de seleccionadas, as propostas vão ser exibidas na C.A.M. onde podem ser colocadas à venda e sujeitas a concurso. O C.A.M. inclui a atribuição de três prémios monetários de 600, 400 e 250 euros para os 1ª, 2ª e 3ª lugar respectivamente. A curadoria do evento vai estar a cargo de Ana Catarino e Ana Battaglia Abreu.