Corrupção | Televisão chinesa divulga pormenores de processos

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] estação de televisão estatal da China começou esta semana a transmitir um documentário que revela ao público os detalhes de alguns dos casos de corrupção mais dramáticos do país. A série – dividida em oito episódios – foi para o ar pela primeira vez na noite da passada segunda-feira e, escreve a agência Reuters, promete uma abordagem em que não ficam de fora os defeitos dos protagonistas das histórias de subornos e de vidas extravagantes, desvendadas pelo Partido Comunista Chinês (PCC) nos últimos anos.

O Presidente Xi Jinping lançou uma campanha contra a corrupção mal chegou ao poder, há quase quatro anos, tendo então prometido que ninguém – independentemente da posição – ficaria de fora do combate a um dos principais problemas da política nacional. A promessa foi cumprida, com homens outrora poderosos a caírem em desgraça.

Três destes “tigres” estão em destaque no primeiro episódio da série: Bai Enpei, o antigo chefe do PCC na província de Yunnan; Zhou Benshun, que liderou o partido em Hebei; e Li Chuncheng, vice-secretário da estrutura política em Sichuan.  Bai Enpei e Li Chuncheng já foram condenados, mas Zhou Benshun continua a aguardar julgamento – os detalhes mais curiosos são precisamente os que dizem respeito ao político de Hebei.

O enterro da tartaruga

Com um fundo de imagens de um templo budista e ao som de cânticos de monges, os autores do documentário descrevem Zhou como estando envolvido em “práticas supersticiosas”. “Tinha expectativas contando com a protecção de seres sobrenaturais”, conta o narrador. “Depois de uma tartaruga ter morrido em sua casa, transcreveu escrituras e enterrou-as com o animal.” O ex-alto funcionário do Partido Comunista Chinês até tinha um tratador para os animais de estimação, conta um investigador.

Os funcionários do PCC não devem ter qualquer envolvimento em actos religiosos e a acusação de superstição é frequentemente utilizada contra os suspeitos de corrupção como forma de denegrir, ainda mais, a imagem dos arguidos.

Os três políticos caídos em desgraça admitem a culpa durante o programa – a Reuters vinca que não foi possível confirmar com os protagonistas se a participação foi feita de forma voluntária. No entanto, o PCC vê com bons olhos as confissões e os actos de contrição: há funcionários que conseguiram evitar a pena de morte porque mostraram remorsos e cooperaram com as investigações.

Ao assumir a culpa, Li Chuncheng, condenado em 2015 a 13 anos de prisão, não conseguiu conter as lágrimas. “Comecei a achar, desde novo, que sob a liderança do Partido conseguiria contribuir para o progresso da sociedade, fazer as pessoas felizes. Mas, no fim, por minha causa, não alcancei os meus objectivos. Desiludi o Partido. Desiludi as pessoas”, admitiu.

O documentário chama-se, numa tradução livre, “Sempre na estrada”, uma referência ao desejo que o PCC tem em não abrandar o combate à corrupção. Estão prometidas novas revelações para o final desta semana.

O primeiro episódio da série foi de imediato alvo de muito debate nas redes sociais chinesas, com algumas pessoas a considerarem as lágrimas de Li Chuncheng, o antigo político de Sichuan, pouco convincentes e muito teatrais.

19 Out 2016

Projecto do Teatro Meridional sobre Macau em cena até Novembro

Maria João Belchior

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]a sala, a primeira luz ilumina uma névoa. É a imagem inicial de um Oriente mágico que estamos prestes a conhecer ou, quem sabe, a primeira pista de um caminho que nos leva à recordação de Macau, onde chegámos há muito tempo. A mais recente produção do Teatro Meridional – “Macau” – entrou em cena a 12 de Outubro, em Lisboa, onde vai ficar até 6 de Novembro. A palavra, a dança e a música unem-se na evocação de um lugar real e tantas vezes imaginado. E o resultado é sublime.

Em palco, o actor Romeu Costa, a bailarina Margarida Belo Costa e o músico Rui Rebelo personificam uma ideia de Macau, um lugar no Oriente que se nos apresenta como resultado de fragmentos e memórias de uma viagem feita a primeira vez há muitos séculos. Na História, Macau, o sítio, ficou gravado no tempo também através da escrita de contos, romances e poemas, por autores portugueses e macaenses. Agora, em Lisboa, ouvimos essas histórias. A dramaturgia, trabalho da encenadora Natália Luiza, traz-nos um texto final, fruto de uma selecção que juntou 22 autores. E é pela voz de Romeu Costa, pelos movimentos dançantes de Margarida Belo Costa e pela música composta por Rui Rebelo que a viagem começa e prossegue num enriquecimento que nos surpreende até ao fim.

<h4>Do bazar ao tancá</h4>

Em passos largos, Romeu Costa atravessa o bazar. No espaço cénico imaginamos um mercado. Ouvimos os vendedores. A bailarina, a vendedora chinesa, transporta os cestos que olhamos como cheios de coisas. É ela quem cativa o ocidental, é ela o “outro” que encanta num fascínio pelo exótico que representa. Os colares de contas entrelaçam-se, giram entre si. Romeu Costa abre a sombrinha de papel e segue caminho nas suas palavras que nos transportam à lenda de Wong Mei. O conto de Deolinda da Conceição projecta-se numa sombra. Do outro lado da fina cortina, a bailarina, agora na figura da pobre chinesa castigada a ir buscar água à fonte, surge recortada na perfeição. Numa contraluz, a sombra da sua silhueta entrança-se na realidade das palavras de uma lenda que se passa entre este mundo e o outro. Entre a terra e o céu dá-se um casamento. Soam os panchões, saltam os papéis vermelhos da fortuna e a música prolonga a história. Até hoje, a gente da terra continua a ir àquela fonte de água na busca de encontrar a sorte.

A peça teatral e a música nasceram de uma raiz comum – Macau. “Estive perfeitamente livre para criar”, diz Natália Luiza, a encenadora que investigou a prosa e a poesia por autores portugueses e macaenses. Do resultado surgiu muito material onde a dificuldade “prazerosa” foi encontrar um sentido entre os textos que os relacionasse uns com os outros. É verdade que há um caminho mas, mais certo ainda, é que não é só um, uma vez que os diferentes tempos de escrita retratam mais do que uma Macau. A do tempo antigo, a do patuá, a dos tempos da Guerra e do pós-II Guerra, a Macau moderna, a Macau das lendas e a cidade dos factos e dos números. Poetas, escritores, cronistas, bloggers, são vários autores na voz de Romeu Costa, sempre em palco com a bailarina que não cessamos de seguir na sua perfeição de movimentos. Dança, balança, caminha em passos curtinhos. É a mulher de um Oriente que nos “deixou cativos”.

O tempo não se lê num sentido cronológico em que o peso aparente do passado se reflecte no presente. No casino, é Bocage quem fala, mas também Rai Mutsu, um blogger contemporâneo. As narrativas da tradição oral, recuperadas, entre outros, pelo escritor Wenceslau de Moraes, relembram-nos Darumá e a origem do chá. Coisa santa, como se vê. Tudo flui – palavra, luzes, sombras, movimentos, melodia. Ao fundo, Rui Rebelo toca flauta chinesa, um entre vários instrumentos que viajaram especificamente para este espectáculo. Os gongos chineses, as flautas e o erhu vão soando, qual deixa que oferece uma nova direcção à nossa imaginação.

<h4>Macau sã assi</h4>

Maria Ana Acciaioli Tamagnini, Altino do Tojal, Camilo Pessanha, Benjamim Videira Pires, Maria Ondina Braga, José dos Santos Ferreira, Henrique de Senna Fernandes, Deolinda da Conceição, Carlos Frota, Alberto Eduardo Estima de Oliveira, Fernanda Dias, entre vários outros nomes, surgem na folha de apresentação que lemos antes de entrar na sala. São parte inalienável do conjunto de escrita que inspirou o texto final.

Mas “Macau” não é para ser visto em sentido literal. São “evocações”, explica a encenadora do Meridional, Natália Luiza. Do texto, partiu-se para a música, imaginada por Rui Rebelo especialmente para este espectáculo. Tal como a dança. Trata-se de um “trabalho em conjunto” que traz ao público em Lisboa um leque de autores que muitas vezes já só se encontram em bibliotecas.

O patuá, num poema de Adé (José dos Santos Ferreira), chega-nos como numa canção onde há quem tente reconhecer algo familiar. É do “Poéma di Macau”, estórias dentro da história da própria língua no território. Guardamos os versos e embarcamos no destino que nos levou até ali. Seguimos com a lenda de A-Chan, de um livro de Henrique de Senna Fernandes. No tancá pressentimos quão frágil é a história daquele amor. Nasce Mei Lai, a pequena criança, que a tancareira passa ao soldado que regressa ao seu país. Ficamos atentos a ver como a tinta-da-china fica mesmo gravada na pele. Da beira-rio à casa de chá, da rua animada ao bazar, da vendedora à máscara chinesa, da cortina com sombras ao templo, do real ao imaginado, não demos pelo tempo a passar. Foram séculos, agora contados numa escrita poética para ser ouvida.

<h5>O teatro ao encontro do mundo</h5>

Fruto de um trabalho de pesquisa da língua portuguesa e da sua escrita poética, ficcional e de prosa, o projecto Contos em Viagem, concebido pelo Teatro Meridional, nasce em 2006 com a primeira peça “Brasil”. Em 2007, apresenta-se “Contos em Viagem – Cabo Verde”, e, no ano 2009 “Contos em Viagem – Brasil, Novas Rotas”. “Macau” é parte do projecto que continua com o conceito de uma viagem literária a partir de textos não dramáticos. A escolha de virar para Oriente vem ao encontro de diminuir um “desconhecimento que a nossa passagem cultural por Macau teve, e continua a ter, em termos da produção literária aí escrita e desenvolvida.” O Teatro Meridional comemora em 2017 o seu 25º aniversário.

19 Out 2016

Portugal é “País Parceiro” na 21ª edição da MIF

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] 21ª edição da Feira Internacional de Macau (MIF, na sigla inglesa) arranca amanhã e dura até ao dia 22 de Outubro. Este ano Portugal terá um pavilhão próprio na qualidade de “País Parceiro”, enquanto que Pequim será a “Cidade Parceira”, sendo a primeira vez que são estabelecidas estes pavilhões temáticos. O pavilhão português terá como tema “surpresas de Portugal”, sendo que irá servir para apresentar “o ambiente de investimento económico e comercial, as suas infra-estruturas e a sua dinâmica de futuro”. Quanto ao pavilhão de Pequim irá debruçar-se, entre outros projectos, sobre a organização dos Jogos Olímpicos de Inverno em 2022.

Segundo um comunicado oficial, “serão organizadas delegações ao mais alto nível para virem a Macau participar em exposições e apresentações de grande envergadura, por forma a procurarem oportunidades de cooperação bilateral e multilateral”. A nova edição da MIF terá cerca de 1600 expositores e delegações oriundas de 50 países ou regiões. Para além da realização da Exposição de Produtos e Serviços dos Países de Língua Portuguesa, será lançada, pela primeira vez, a Zona Especial de Serviços Comerciais para as Pequenas e Médias Empresas Sino-lusófonas. Será ainda lançado o serviço de bolsas de contacto online “dedicado a aumentar a eficácia da MIF”. O público poderá visitar a MIF nos dias 21 e 22 de Outubro, sendo o dia 22 dedicado a contactos empresariais e oficiais.

19 Out 2016

China | Livro Branco destaca combate à miséria

A constatação é oficial: a redução da pobreza é a grande prova dos progressos da China em matéria de direitos humanos. Em termos globais, 70 por cento das pessoas que saíram da miséria são chinesas, aponta um livro branco publicado ontem em Pequim

[dropcap style]D[/dropcap]esde a abertura da China ao mundo e o início das reformas do país, mais de 700 milhões de pessoas saíram da pobreza. O número faz parte de um livro branco publicado ontem pelo Gabinete de Informação do Conselho de Estado. “Depois de anos de tentativas e testes, a China acumulou muita experiência na promoção dos direitos humanos através do desenvolvimento orientado para a redução da pobreza”, lê-se no documento, que fala de “um novo modelo de alívio da pobreza de características chinesas”.

Para combater um dos principais problemas sociais do país, o Governo Central criou fundos especiais que, entre 2011 e 2015, chegaram aos 189,84 mil milhões de yuan, com um aumento anual médio de 14,5 por cento. “As autoridades vão continuar a destinar mais fundos para que seja possível o combate à pobreza nos próximos cinco anos”, assinala o livro branco, amplamente divulgado pela agência oficial Xinhua.

No final do ano passado, a China continuava a ter 55,75 milhões de pessoas que viviam na pobreza – o equivalente à população de um país de dimensão média. Pequim pretende acabar com o flagelo até 2020.

A educação primeiro

O relatório indica que, entre 2011 e 2015, o Governo Central deu prioridade à educação como forma de erradicar a pobreza. Para assegurar o acesso dos cidadãos ao sistema de ensino, as autoridades adoptaram medidas para promover a educação obrigatória, diminuir o fosso entre as zonas rurais e urbanas e melhorar as infra-estruturas ligadas à educação nas áreas mais carenciadas. Foram ainda criados mais subsídios e bolsas para estudantes.

Nos últimos três anos, Pequim gastou 83,1 mil milhões de yuan na renovação de escolas, para viabilizar o programa de ensino obrigatório, e destinou 14 mil milhões de yuan para a construção de dormitórios que albergam cerca de 300 mil professores em zonas rurais remotas.

Nas áreas rurais menos desenvolvidas – sobretudo no centro e no oeste do país –, o número de crianças a frequentar jardins-de-infância aumentou cerca de 30 por cento, de 21,53 milhões, em 2011, para 27,89 milhões, no ano passado.

Foram atribuídos subsídios para professores que leccionam nas províncias mais pobres, beneficiando um milhão de docentes em 600 condados.

Há mais números: um programa de educação específico para as áreas que lutam contra a pobreza envolveu 183 mil alunos em 832 condados, entre 2012 e 2015. Já nos últimos dois anos, o crescimento médio do número de estudantes das zonas rurais a entrar no sistema universitário foi superior a 10 por cento.

Menores protegidos

“Para garantir que o direito das crianças à segurança social, à educação e a outros serviços públicos é efectivamente salvaguardado nos esforços de combate à pobreza, a China introduziu um sistema e serviços inclusivos de segurança social, e levou a cabo trabalhos para o encorajamento da protecção de menores”, aponta ainda o livro branco.

“O país também promoveu o estabelecimento de um sistema de resgate e protecção de crianças ao nível dos condados, vilas e aldeias”, refere o documento. Os números oficiais reconhecem que cerca de 10 mil menores desaparecem todos os anos, mas há organizações internacionais de defesa dos direitos humanos que falam em 70 mil sequestros.

O relatório explica que, desde 2011, mais de metade dos condados chineses implementaram um programa de melhorias da alimentação para os estudantes das zonas rurais que frequentam o ensino obrigatório. O projecto implicou um investimento público de 67 mil milhões de yuan, beneficiando 33,6 milhões de alunos.

Em 2012, o Governo tinha já apresentado um programa de nutrição de crianças para as zonas mais carenciadas, disponibilizando gratuitamente bens alimentares para bebés entre os seis e os 24 meses. Só no ano passado, Pequim atribuiu 500 mil milhões de yuan para este programa, que beneficia 2,11 milhões de crianças em 341 condados.

Lá fora também

Não é só dentro de casa que a China tem estado a combater a pobreza, assinala o livro branco ontem publicado sobre a matéria da autoria do Gabinete de Informação do Conselho de Estado. Num texto publicado pela agência Xinhua, destaca-se que Pequim tem ajudado activamente outros países em desenvolvimento na resolução dos problemas relacionados com a miséria.

Durante as mais de seis décadas desde o estabelecimento da República Popular da China em 1949, Pequim disponibilizou quase 400 mil milhões de yuan a 166 países e organizações internacionais, enviou mais de 600 mil trabalhadores humanitários, prestou assistência médica a 69 países e ajudou mais de 120 países em desenvolvimento a atingir os Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, enumera o relatório. Além disso, em várias ocasiões a China perdoou os juros de empréstimos a nações fortemente endividadas e menos desenvolvidas.

O livro branco sublinha que a China pretende aumentar a cooperação com países em vias de desenvolvimento e organizações internacionais em matéria de combate à pobreza e direitos humanos: Pequim vai “partilhar conceitos avançados e a experiência acumulada nesses campos através da ajuda externa, projectos de cooperação, transferência tecnológica e intercâmbio entre gabinetes de estudo”.

O Gabinete de Informação do Conselho de Estado assegura que o compromisso da China em relação ao combate à pobreza “representa o sentido de responsabilidade no mundo”. Assim sendo, o Governo Central vai “continuar a honrar as obrigações internacionais atendendo ao estado do seu próprio desenvolvimento”.

O relatório de 2015 dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio indica que a proporção de pessoas que vivem na extrema pobreza na China caiu para metade, de 61 por cento, em 1990, para 30 por cento, em 2002 – em 2014, o número tinha baixado para 4,2 por cento, recorda o livro branco.


O que diz a Human Rights Watch

Os números do livro branco ontem publicado por Pequim mostram uma redução efectiva da pobreza, mas os problemas em termos de direitos humanos do país ensombram a conquista das últimas décadas, considera a analista Maya Wang, investigadora da Human Rights Watch.

Numa reacção ao documento da autoria do Gabinete de Informação do Conselho de Estado, Maya Wang começa por dizer que “é inegável que as pessoas na China ganharam muito em termos materiais ao longo dos últimos anos”, mas salienta que se trata do resultado de um trabalho conjunto. “Considero que é justo dizer-se que a melhoria das condições de vida se deve à acção do Governo Central, mas não só: é também o resultado do trabalho muito árduo das pessoas que viviam na miséria e que conseguiram sair da pobreza. Portanto, é uma combinação entre a acção do Governo e os esforços da própria população”, destaca a investigadora.

Wang ressalva que “continua a haver muita pobreza na China e o nível de desenvolvimento do país é muito desequilibrado”, e diz também que “o esforço contínuo de luta contra a pobreza acaba por ser manchado pelo facto de o Governo Central continuar a restringir direitos humanos essenciais, como a liberdade de informação e de expressão”. A analista dá o exemplo de cidadãos das zonas rurais a quem são, de forma indevida, expropriadas as terras e que, “se se queixarem, são detidos ou punidos de outra forma pelas autoridades”. “Existem poucos canais para que as vítimas deste tipo de injustiças possam apresentar queixa e obter justiça de forma pública”, nota.

ISABEL CASTRO

18 Out 2016

Acções da Crown Resorts com quebra de 10 por cento após detenções

[dropcap]A[/dropcap]s acções da empresa de jogo australiana Crown Resorts, com casinos em Macau, desceram mais de 10 por cento nas primeiras transacções de ontem na bolsa de Sidney, após confirmada a detenção de 18 funcionários do grupo na China. O jornal Australian Financial Review noticiou que pelo menos 18 pessoas foram detidas para interrogatório pelas autoridades chinesas, incluindo três australianos que fazem parte da equipa de vendas e marketing no país.

Entre os detidos consta ainda um executivo da empresa encarregado de atrair grandes apostadores chineses para a Austrália. “Em relação às notícias publicadas este fim-de -semana, a Crown Resorts Limited acredita que o vice-presidente executivo Jason O’Connor é um dos 18 funcionários que foram detidos pelas autoridades chinesas”, afirmou a empresa em comunicado.

O grupo ainda não conseguiu contactar os funcionários. “Até à data, a Crown ainda não conseguiu falar com nenhum dos funcionários e está a colaborar com o departamento de Negócios Estrangeiros e Comércio para contactar urgentemente com os seus funcionários e averiguar a situação”, refere. A mesma nota revela ainda que a Crown ainda não foi informada sobre os motivos das detenções.

A emissora pública Australian Broadcasting Corporation avançou, entretanto, que estas estão relacionadas com a angariação de grandes apostadores chineses para jogar em casinos no estrangeiro. Já o jornal Australian Financial Review escreve que as detenções podem estar relacionadas com a operação “Operation Chain Break”, que visa travar o fluxo ilícito de fundos para casinos além-fronteiras.

O Governo australiano diz que os seus funcionários consulares em Pequim estão a tentar obter mais detalhes sobre este caso. “As autoridades chinesas têm três dias para notificar a detenção de cidadãos australianos, de acordo com o previsto num tratado bilateral”, afirmou um porta-voz, indicando que a notificação oficial deveria ser feita ainda ontem.

18 Out 2016

Angela Leong concorda com proibição de entrada a croupiers nos casinos

A deputada e administradora da Sociedade de Jogos de Macau disse ontem no hemiciclo que concorda com a vontade do Executivo em proibir os croupiers de jogarem nos casinos

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]ngela Leong, deputada e administradora-delegada da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), afirmou concordar com a proibição do acesso dos trabalhadores do sector do jogo a todos os casinos fora do horário laboral. Numa intervenção no plenário da Assembleia Legislativa (AL), a deputada eleita por sufrágio universal garantiu que a iniciativa merece todo o seu apoio e faz “votos de que sejam esclarecidos os respectivos objectivos e que a proposta de lei seja elaborada com toda a cautela, com vista à sua real e eficaz operacionalidade”.

A Direcção de Inspecção e Coordenação dos Jogos (DICJ) de Macau indicou haver um consenso quanto ao controlo do acesso dos trabalhadores do sector aos casinos fora das horas de serviço e “que se vai fazer todo o possível para apresentar a correspondente proposta de lei à AL antes do termo desta sessão”, de acordo com a deputada.

“Nestes últimos anos, têm surgido, de quando em vez, notícias sobre trabalhadores de casinos viciados no jogo. Segundo vários relatórios de estudo sobre o assunto, os ‘croupiers’ são os mais expostos ao perigo da dependência”, sublinhou Angela Leong, para quem “os operadores do sector do jogo ganham bem, mas o seu trabalho é monótono, e a necessidade de fazer turnos limita as suas relações sociais”.

Dinheiro nas mãos

A isto “juntam-se as elevadas somas de dinheiro que lhes passam pelas mãos e a impossibilidade de atenuar o stress e de resistir à sedução do dinheiro, que os leva a apostar”, observou a deputada, apontando, por outro lado, que “também não são poucos os trabalhadores que consideram que a ordem de interdição de entrada nos casinos é uma discriminação”.

Neste sentido, defendeu que “os serviços competentes devem auscultar as opiniões do sector e também as dos trabalhadores para pensarem novamente sobre como fazer a lei e conseguirem chegar a um consenso”. “O Governo deve reforçar as políticas sobre o jogo responsável, garantindo aos trabalhadores da indústria do jogo uma vida saudável, com vista a poderem contribuir, em boa forma, quer física, quer psicológica para o desenvolvimento sustentável da indústria do jogo de Macau”, sustentou Angela Leong, quarta mulher do magnata do jogo Stanley Ho.

O Instituto de Acção Social (IAS) emite anualmente um relatório relativo ao “sistema de registo central dos indivíduos afectados pelo distúrbio do vício do jogo”, em que junta informação estatística sobre quem procura ajuda devido a problemas relacionados com o jogo, na tentativa de compreender hábitos e comportamentos.

Em 2015, encontravam-se registadas 147 pessoas no sistema central, dos quais mais de 80% eram residentes de Macau. Aproximadamente 20% das pessoas empregadas que procuraram ajuda do Governo eram ‘croupiers’ (que trabalham em mesas de jogo dos casinos), de acordo com o documento publicado pelo IAS.

18 Out 2016

China | Lançada com êxito missão ao Espaço com dois astronautas

Com o lançamento da nave tripulada “Longa Marcha 2F”, esta segunda-feira, a China continua a tentar aproximar-se da Europa e dos Estados Unidos nas conquistas espaciais

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China lançou ontem com êxito a missão espacial tripulada Shenzhou-11, com dois astronautas a bordo, que deverão passar um mês no espaço, no laboratório Tiangong-2.

O foguetão “Longa Marcha 2F” foi lançado sem problemas às 07:30 locais, a partir do centro de Jiuquan, na província de Gansu, no deserto de Gobi, segundo os responsáveis pela missão.

Uma câmara colocada dentro da cápsula permitiu ver os dois astronautas, Jing Haipeng e Chen Dong, durante todo o lançamento e chegada à órbita terrestre.

Esta é a sexta missão que a China envia para o espaço com astronautas a bordo e será a mais longa, se tudo correr como planeado.

Os dois tripulantes da nave Shenzhou-11 permanecerão 33 dias em órbita. A missão anterior demorou 15 dias.

Jing Haipeng, de 50 anos, faz a sua terceira viagem espacial e comanda a nave, levando consigo o estreante Chen Dong, de 37 anos.

O principal objectivo da missão Shenzhou-11 é verificar o correcto funcionamento dos sistemas do laboratório Tiangong-2 e começar os preparativos para a futura estação espacial chinesa, que as autoridades de Pequim esperam ter a funcionar até 2022.

Os dois astronautas farão ainda experiências científicas, que incluem projectos em colaboração com instituições académicas e outros propostos por estudantes do ensino secundário de Hong Kong sobre medicina, física espacial ou botânica.

Pequim tem vindo a investir no seu programa espacial, na tentativa de acompanhar os progressos dos Estados Unidos da América e da Europa.

Anunciou em Abril que quer enviar uma nave espacial “perto de 2020” para orbitar Marte, aterrar e colocar um ‘rover’ para explorar a superfície do Planeta Vermelho.

Pequim vê o programa espacial como um símbolo do progresso da China e da sua emergência como potência mundial.

No entanto, até agora, tem reproduzido apenas actividades em que os Estados Unidos e a União Soviética foram pioneiros há várias décadas.

Parabéns presidenciais

O presidente chinês Xi Jinping enviou uma mensagem de felicitações pelo lançamento bem-sucedido da nave espacial tripulada.

Xi expressou enviou mensagens de parabéns a todos os investigadores e funcionários envolvidos na missão assim como aos astronautas.

Pediu que os funcionários da missão garantam a boa realização das metas planeadas, encorajando-os a “abrir novos caminhos de forma constante para o programa espacial tripulado, para que o povo chinês dê maiores passos e avance mais na pesquisa do espaço, e faça novas contribuições para construir a China numa potência espacial”, relata a Xinhua.

O Presidente chinês enviou a mensagem de Goa, onde participou na 8º Cimeira dos BRICS.

18 Out 2016

Japão | Comité especial debatee abdicação do imperador

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] comité estabelecido pelo governo do Japão para estudar a abdicação do imperador Akihito começou ontem a deliberar opções para dar andamento à situação, que não consta na Constituição do país.

O comité especial foi formado em Setembro, depois do monarca, de 82 anos, ter expressado publicamente o desejo de delegar o trono ao seu filho Naruhito antes da sua morte, devido à idade saúde delicada.

O que sair do grupo de especialistas pode abrir caminho para reformar o papel da Casa Imperial, instituição submetida a uma estrita legislação que não é modificada desde 1947.

O governo quer que este comité envie o mais breve possível uma série de recomendações para poder activar uma legislação especial que não requeira uma emenda da Constituição, processo que actualmente é longo e complexo demais, para cumprir os desejos de Akihito.

Apesar de só a abdicação póstuma estar prevista na lei vigente de 1947, no passado metade dos 125 imperadores que ocuparam o trono puderam deixar o trono.

O objectivo do governo japonês é apresentar o projecto de lei específico ao parlamento no começo de 2017, para permitir a abdicação do imperador, algo que a maioria dos cidadãos parece aprovar nas pesquisas efectuadas.

A saúde do imperador Akihito ficou debilitada nos últimos anos, já que se submeteu a uma operação coronária de “by-pass” em 2012 e sofreu de cancro de próstata em 2003, e ainda teve osteoporose devido ao efeito do tratamento hormonal que lhe foi receitado.

18 Out 2016

Eleições de 2017 na Tailândia vão para a frente

Num momento de incerteza política, a imprensa do país garante que a junta militar vai cumprir com a palavra dada. As eleições gerais que podem devolver o poder aos civis estão marcadas para o próximo ano

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] morte do rei tailandês não vai afectar a realização das eleições do próximo ano planeadas pela junta militar no poder. A garantia é dada pela imprensa do país, numa altura em que os tailandeses lamentam a morte do rei Bhumibol, que esteve sete décadas no trono.

O desaparecimento do monarca, na passada semana, tem causado fortes dúvidas sobre o destino político do país. A junta militar prometeu eleições gerais para 2017, para que o poder executivo possa voltar a ser exercido por civis, mas a instabilidade gerada pela morte do rei levou a que tivesse sido colocada a possibilidade de um adiamento do sufrágio – uma hipótese que é afastada pelo Bangkok Post.

“O Governo reafirmou o compromisso em relação ao roteiro para as eleições gerais agendadas para o final do próximo ano”, escreve o diário da capital. À agência Reuters, um porta-voz da junta militar declinou fazer comentários. “Esta não é a altura apropriada para discutir política”, afirmou Weerachon Sukondhapatipak.

O rei Bhumibol ganhou a devoção dos tailandeses pelos esforços feitos para ajudar as zonas rurais empobrecidas, incluindo projectos de desenvolvimento do sector agrícola. Era ainda visto como uma figura consensual num país marcado por uma forte instabilidade política.

A junta militar veio assegurar, logo depois da morte do rei, que a economia e o Governo vão continuar a funcionar de forma normal. “Vai tudo continuar a ser feito de acordo com o planeado”, vincou o vice-primeiro-ministro Wissanu Krea-ngam numa entrevista transmitida, no final da passada semana, pela emissora estatal de televisão.

Entretanto, a Reuters conta que o Governo tem aumentado a censura aos órgãos de comunicação social estrangeiros desde a morte do rei, com destaque para a estação de televisão BBC, que sofreu várias interrupções durante o passado fim-de-semana. O chefe da diplomacia tailandesa criticou a cobertura ao desaparecimento do monarca feita pelos media estrangeiros, dizendo que as reportagens de alguns têm “natureza manipuladora e provocadora”.

As autoridades declararam um ano de luto oficial pela morte do rei. O príncipe herdeiro, Vajiralongkorn, pediu para a sua coroação ser adiada até estar cumprido o período de luto.

Na terça-feira da semana passada, dois dias antes da morte do rei, o Governo recebeu a proposta final para a nova Constituição do país, aprovada em Agosto num referendo e que para entrar em vigor terá de ser ratificada pelo rei do país. A junta militar, no poder desde o golpe de Estado de Maio de 2014, colocou como condição para convocar eleições e restabelecer a democracia a aprovação da nova Constituição.

No domingo, a junta militar expressou lealdade ao príncipe herdeiro, para acabar com a incerteza sobre a sucessão ao trono.

18 Out 2016

Enquadramento orçamental e revogação legislativa na ordem do dia da AL

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Assembleia Legislativa (AL) de Macau regressa esta semana aos trabalhos apreciando a prometida proposta de lei de Enquadramento Orçamental, que prevê a apresentação de um relatório intercalar da execução. O diploma, que vai ser debatido e votado na generalidade na terça-feira, vem determinar a apresentação ao hemiciclo de um relatório intercalar de execução, até 10 de Agosto de cada ano; e do relatório da execução orçamental do PIDDA (Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração), no prazo de 30 dias após o termo de cada trimestre.
Quando da proposta de orçamento, que tem de ser apresentada em Novembro, constarem despesas relativas a projectos que impliquem encargos plurianuais, o Governo é também obrigado a facultar aos deputados dados adicionais, como o encargo total previsto ou estimado para cada um dos projectos, bem como as parcelas respeitantes ao do ano do orçamento em causa e, com carácter indicativo, de cada um dos anos subsequentes.
A nova lei do Enquadramento Orçamental, que tem entrada em vigor prevista para 2017, vem ainda definir que o valor da dotação provisional (exclusivamente destinada a situações imprevistas) não pode exceder 3% do total das despesas orçamentadas.
De acordo com a nota justificativa enviada aos deputados, o diploma tem como “ponto essencial” a “atribuição de maior transparência da operação financeira pública”.

Leis que já não servem

Na ordem do dia do plenário de terça-feira há ainda a apresentação e votação, também na generalidade, de uma proposta de lei de “determinação de não-vigência das leis e decretos-leis publicados no período compreendido entre os anos de 1976 e 1987”.
O Governo de Macau concluiu os trabalhos de análise técnica das leis e decretos-leis (num total de 2.123 diplomas) publicados entre 1976 e 19 de Dezembro de 1999, dia da transferência do exercício de soberania de Macau de Portugal para a China, enumerando os diplomas ainda em vigor.
“Existem certos diplomas que embora ainda estejam em vigor, já estão desactualizados e deixaram, na realidade, de ser aplicados ou não têm, de facto, razão de existir”, pelo que “o grupo de trabalho sugere também que sejam revogados expressamente, pretendendo-se assim dar mais um passo na simplificação do sistema normativo de Macau”, lê-se na nota justificativa.
A sessão legislativa 2016/17 começa, no entanto, esta segunda-feira, com um plenário com dois pontos na ordem do dia: a apresentação do Relatório sobre a Execução do Orçamento de 2015 e do Relatório de Auditoria de Conta Geral de 2015; e do projecto de deliberação do plenário relativo à proposta do Orçamento Privativo da AL para 2017.

17 Out 2016

China | Da fábrica de aço a motorista da Uber

[dropcap style≠’circle’]X[/dropcap]iao Yu tinha uma “tigela de ferro” (expressão em chinês para emprego vitalício), numa firma do Estado, que lhe valia 4.000 yuan (quase 550 euros) por mês. No início deste ano, a sua vida mudou.
“A empresa acumulava prejuízos e deixou de pagar aos trabalhadores. Demiti-me e vim para Pequim”, contou à agência Lusa o jovem chinês de 29 anos, natural da província de Hebei. “Agora, sou motorista da Uber”.
Antes de partir rumo à capital, Xiao trabalhou na indústria siderúrgica, um dos sectores mais afectados pelo excesso de capacidade de produção na China.
O país asiático produz mais aço do que os outros quatro gigantes do sector – Japão, Índia, EUA e Rússia – combinados.
Bruxelas e Washington culpam a produção chinesa, que dizem estar “completamente descoordenada” da procura do mercado, pela queda do preço do aço, o que coloca em risco milhares de emprego na Europa e EUA.
Em Fevereiro passado, Pequim anunciou que reduzirá a capacidade de produção do sector até 150 milhões de toneladas, nos próximos anos.
Na indústria do carvão, alumínio ou cimento, o panorama é idêntico, e o Ministério de Recursos Humanos e Segurança Social da China calcula que, até 2020, só nas indústrias do aço e carvão, o país extinguirá 1,8 milhão de postos de trabalho.
Mas o Governo chinês prefere falar em “transição do modelo económico” e apela a uma “visão compreensiva” da economia chinesa.
“Uma visita a uma unidade da indústria pesada talvez dê a impressão de que a economia está a enfraquecer, mas numa zona tecnológica sente-se pujança económica”, argumentou o primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, em Março passado.

Na prática

Xiao Yu personifica esse cenário. “A trabalhar com a Uber ganho 13.000 yuan por mês. Deduzindo os gastos com gasolina, fico com 8.000 yuan “, contou.
É um valor duas vezes superior ao que Xiao ganhava na fábrica de aço, justificado também pelas longas jornadas ao volante: “em média, trabalho 15 horas por dia”.”Mas é a vantagem da Uber: cria emprego para quem de outra forma não teria sustento”, explicou.
A terra natal de Xiao, Handan, no interior de Hebei, foi durante décadas um importante marco da industrialização chinesa.
“A cidade antiga de Handan deve rejuvenescer como a capital do aço”, proclamou o antigo líder comunista, Mao Zedong, em 1958, no início do “Grande Salto em Frente”, uma campanha que visou “acelerar a transição para o comunismo”, através da colectivização da agricultura e a mobilização da população para a produção de aço.
Aquela campanha acabaria por se revelar um desastre, mas as estatais do sector siderúrgico fundadas na região ganhariam novo ímpeto décadas mais tarde, com a entrada da China na globalização.
O país asiático absorveu então as indústrias “sujas” do ocidente, atraídas pela mão-de-obra barata e falta de regulamentos ambientais.Um exemplo emblemático desse processo é o alto-forno utilizado pela Handan Iron and Steel, a principal produtora de aço de Handan. Nos anos 1990, a estrutura foi desmantelada e enviada, peça por peça, desde o Vale do Ruhr, na Alemanha, onde durante o século XX foi utilizada pela ThyssenKrupp, a maior fabricante de aço germânica. Hoje, Handan é uma das cidades mais poluídas da China, com o seu céu quase sempre coberto por um espesso manto de poluição.
As partículas tóxicas no ar, contudo, deixaram de ser o único problema em Handan: “Agora, é também muito difícil encontrar lá emprego”, disse Xiao.
“Para quem trabalha nas indústrias do aço e mineração é cada vez mais difícil garantir sustento”, explicou.
Da última vez que falou com a Lusa, Xiao tinha acabado de se mudar de Pequim para Qingdao, cidade balnear, na costa noroeste do país, que foi no passado uma concessão alemã e famosa pelo seu festival de cerveja anual.
Através do Wechat (o Whatsapp chinês) o jovem enviou uma foto do mar.
“Aqui, os salários não são altos, mas o céu está sempre azul. Em Pequim ou em Handan, o céu está quase sempre enegrecido”, observou.

17 Out 2016

Angola | Chineses arrancam com reabilitação de barragem

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] obra de reabilitação e reforço de potência no aproveitamento hidroeléctrico no rio Luachimo, construída ainda no período colonial português na província angolana da Lunda Norte, financiada por um banco chinês, vai permitir fornecer electricidade a 186.371 famílias.
O anúncio foi feito pelo ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges, de visita à província e que na quinta-feira consignou a empreitada, avaliada em 210 milhões de dólares, à empresa China Gezhouba Group Company (CGGC).
A barragem data de 1958, no tempo colonial português, construída então para servir sobretudo o sector mineiro, e a obra de reforço de potência da barragem que agora arranca permitirá fornecer electricidade, dentro de três anos, à cidade do Dundo e a outras localidades vizinhas.
O plano do Governo angolano para o sector eléctrico daquela província diamantífera no interior norte do país compreendia, numa primeira fase, a reabilitação e o reforço da produção de energia em Luachimo, de oito para 36 megawatts, bem como a recuperação de nove antigas subestações eléctricas do tempo colonial, paralisadas há 30 anos.

Grande empreitada

A Lusa noticiou em Agosto último que esta empreitada vai ser financiada em 160 milhões de euros pelo banco chinês Industrial and Commercial Bank of China (ICBC).
A informação consta de um documento do Ministério das Finanças a que a Lusa teve acesso, referente à execução orçamental nos primeiros três meses de 2016, referindo com isso que já este ano foi garantido o financiamento junto do ICBC para cobrir 85 por cento do investimento necessário.
A empresa portuguesa COBA foi contratada em Agosto de 2014, por 7,5 milhões de euros, para elaborar o projecto de execução, assistência técnica especial, aprovação de projectos dos equipamentos electromecânicos e eléctricos da barragem.
Envolve, além da reabilitação e reforço de potência, a construção de uma segunda central, sendo justificada pelo Governo angolano face às “projecções de crescimento da procura de energia eléctrica” no país, a médio e a longo prazo, e em função disso pela “necessidade de aumento acentuado da capacidade de produção”.
A obra tem uma duração prevista de 37 meses, e a também portuguesa Efacec foi contratada em 2014, por 83 milhões de dólares, pela NIARA POWER, enquanto subcontratada da companhia chinesa CGGC, responsável pela empreitada, para fornecer equipamentos geradores.
Envolverá globalmente a reabilitação dos equipamentos da barragem já existente e a construção de uma nova central hidroeléctrica, que será equipada com quatro novos grupos geradores de nove megawatts cada um.

17 Out 2016

Pequim, 7 de Julho de 1978

António Graça de Abreu

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Sporting está na China.
Depois de vencer o Porto por 2-1, na final da Taça de Portugal aí veio a rapaziada verde a caminho de Pequim. Trouxeram uma grande comitiva, 41 personagens entre jogadores, dois árbitros, fotógrafos, jornalistas e figuras públicas
Como não há ainda relações diplomáticas, foi o PCP (m-l), único partido reconhecido pelo PC chinês, quem mexeu os cordelinhos para a concretização da viagem e, para dar sequência ao trabalho, cá estão os militantes Carlos Ricardo e Mourato Costa, meus amigos nas lides partidárias em Lisboa, com o disfarce de serem dirigentes da ADAPC (Associação Democrática de Amizade Portugal-China). O Eduíno Gomes (Vilar), secretário-geral do PCP (m-l), também é um grande sportinguista. Tudo tem funcionado quase na perfeição. Veio também o Veiga Simão, antigo ministro da Educação de Marcelo Caetano e ex-embaixador na ONU e hoje próximo do PS, como uma espécie de chefe da delegação desportiva, mas com uma missão política semi-secreta, a de entregar uma carta do nosso presidente Ramalho Eanes endereçada ao Hua Guofeng ou ao Deng Xiaoping saudando os homens mais poderosos da China e solicitando os bons ofícios de ambos para o rápido restabelecimento das relações diplomáticas.
O futebol foi divertido, uma vitória de 2 a 0 sobre a selecção da China e um empate 0 a 0 com a equipa de Pequim. Os chineses já dão uns bons chutos na bola e gostei de ver o Estádio dos Operários de Pequim cheio como um ovo, eram mais de 100 mil chineses entusiasmados, a aplaudir.
No fim do segundo jogo tive a sorte de regressar do estádio para o hotel Pequim — onde os jogadores e comitiva estão alojados –, viajando no autocarro juntamente com os craques verdes, o Manuel Fernandes, o Inácio, o Laranjeira, o Artur, o Jordão (que chegou de canadianas à China, por estar em recuperação de uma perna partida).
O presidente João Rocha, que percebeu viver eu em Pequim, veio, em privado, fazer-me uma pergunta singular. Queria saber onde poderia comprar uns pós chineses, milagrosos, que faziam maravilhas no revigoramento sexual masculino. Não era para ele, tinha sido o pedido de um amigo. Eu até pensei que poderia ser para dar aos jogadores que assim ocupariam melhor os tempos livres. Creio que se tratava de uma mezinha explosiva elaborada a partir de corno de rinoceronte, produto caro, às vezes falsificado, de facto à venda em farmácias de medicina tradicional chinesa, mas eu não era especialista na matéria. Disse ao João Rocha para falar com os intérpretes da comitiva, eles próprios poderiam tratar da compra da droga benfazeja. Ignoro qual foi o resultado.

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No estádio dos operários toda a equipa do Sporting foi recebida e cumprimentada pelo general Chen Xilian (1915-1999), um velho combatente da guerra contra o Guomindang de Chiang Kai-shek (participou na Longa Marcha!) e contra os japoneses, hoje membro do Politburo do Partido Comunista da China, comandante militar de Pequim e um dos vice-primeiros ministros. Tudo isto é sinal da importância que os chineses deram à visita do Sporting, alargando a via que conduzirá em breve ao estabelecimento das relações diplomáticas.

Beidaihe, 21 de Julho de 1978

Estou na praia, de férias, com a gente das Edições em Línguas Estrangeiras, em Beidaihe, numa estância balnear duzentos quilómetros a nordeste de Pequim.
A vila abre-se numa sucessão de pequenas baías no mar de Bohai — águas interiores do grande Oceano Pacífico –, aconchegadas pela natureza, as areias ao sabor de marés docemente recatadas.
Na vinda, o comboio atravessou a cidade de Tangshan arrasada pelo tremor de terra em Julho de 1976. Há dois anos atrás, a China Comunista foi abalada pela morte dos seus três maiores governantes, morreram as pessoas, as inteligências sinuosas, os homens que encabeçaram o longo processo revolucionário que, em 1949, culminou com a fundação da República Popular da China. Em Janeiro de 1976 faleceu o primeiro-ministro Zhou Enlai, o companheiro sempre fiel a Mao que pôs em execução quase todas as medidas políticas que, para o bem e para o mal, modelaram a Nova China. Em Junho, chegou a hora final do marechal Zhu De (Chu Teh), o supremo comandante militar e estratega da revolução chinesa. Em Setembro, desapareceu para sempre Mao Zedong, o revolucionário determinado e implacável que levou a nau da revolução comunista a bom porto e depois, como timoneiro, foi protagonista de devastadores naufrágios.
O terramoto de Tangshan, cidade situada a setenta quilómetros das praias de Beidaihe, provocou 260.000 mortos numa urbe habitada por um milhão de pessoas. 1976 foi o ano do Dragão, com convulsões na terra chinesa, centenas de milhares de mortos, o desaparecimento dos três maiores dirigentes do Partido e do Estado, tudo sinais dolorosos da chegada ao fim de uma época. A China começou a mudar.
Há três dias atrás, ao passar por Tangshan, atravessei ainda um gigantesco amontoado de ruínas. O comboio caminhou ao longo de três ou quatro quilómetros entre o que haviam sido ruas, casas, armazéns e complexos industriais. Tudo devastado, destruído, paredes solitárias, escombros, estruturas retorcidas, pedras e mais pedras amontoadas no sopé das habitações de outrora. Os olhos diante da catástrofe e da morte.
Chego a Beidaihe. Trouxe a minha bicicleta que viajou no furgão do comboio e me foi entregue impecavelmente protegida por tiras de cartão canelado. Sou alojado num complexo turístico destinado a quadros do Partido Comunista. Dá para comprovar — para o meu cada vez menos ingénuo espanto –, as mordomias e privilégios de que se rodeiam os homens importantes, ou tidos como tal, dentro do aparelho de Estado. Têm direito a muitos luxos, habitações confortáveis, seguranças pessoais, criados e criadas.
Destinam-me um quarto espaçoso, meio espartano mas confortável e funcional, com um jardinzinho à frente, logo depois a praia de areia fina.
Mergulhos nas águas tépidas do Oceano Pacífico, caminhar ao longo do recorte das baías, pelas bermas do mar, encontrar os pescadores que ao entardecer saem para a pesca e, de noite, pintalgam a superfície do oceano com as luzes fortes suspensas dos lampiões dos barcos descendo sobre a água, para chamar o peixe.
Tenho bicicleta e rodas para andar. Quilómetros e quilómetros a pedalar pelas estradinhas em volta de Beidaihe, para entrar por dentro de aldeias de camponeses, por milheirais, campos de sorgo, para beber uma chávena de chá com esta gente, fotografar velhos e crianças, e continuar viagem. Subo ao pavilhão da Pomba Branca. Do alto, debruçado sobre o oceano, o sucessivo estendal das ondas, as águas avançando num rendilhado suave sobre as areias da praia, a imensidão do oceano e um poema que Mao Zedong escreveu exactamente aqui, neste torreão sobre o mar, no Verão de 1954. Traduzo:

Beidaihe

Cascatas de chuva nas terras do norte,
ondas brancas sobem até ao céu.
Os barcos de pesca, para além de Qinhuangdao,
desapareceram no imenso oceano.
Navegaram para qual lugar?
Há mil anos, Wu, o imperador de Wei
brandiu o chicote, viajou para Jieshi, a leste.
Da sua viagem permanecem apenas os poemas.
Hoje, o vento de Outono ainda me entristece,
mas como o mundo mudou…

17 Out 2016

UM | Departamento de Português com metas ambiciosas

O departamento de português da universidade de Macau apresenta através do novo director, Yao Jingming, um conjunto de medidas para pôr o Português de qualidade na ordem do dia no ensino daquela instituição

[dropcap style≠’circle'”O[/dropcap] novo director do departamento de Português da Universidade de Macau, Yao Jingming, promete várias novidades, desde um centro de formação de professores, produção de material didáctico, planos de leitura a um centro de tradução.
“Estamos a trabalhar muito para tentar trazer algumas mudanças ao departamento de Português”, disse à Lusa o também poeta e tradutor, que assumiu o novo cargo em meados de Agosto.
A lista de projectos acaba por se revelar extensa. O académico espera em breve pôr em funcionamento um centro de ensino e formação de professores, que trabalha em parceria com o Fórum Macau e com outras faculdades da Universidade de Macau (UM). Pretende ainda uniformizar os manuais utilizados e está a trabalhar na criação, pela primeira vez, de materiais didácticos próprios. Está também na calha a criação de um centro de tradução que funcione com entidades externas à UM e vai avançar com um plano de leitura lusófona.
Yao explicou que o Centro de Ensino e Formação em Língua Chinesa e Portuguesa, além de pensado para servir os alunos do departamento, pretende oferecer formação a professores de Português locais e da China. “Muitos professores são jovens, não têm experiência suficiente e, por isso, precisam de formação”, disse.
O centro, que Yao espera que esteja a funcionar em 2017, será também vocacionado para o “apoio linguístico” a cursos profissionalizantes ou intensivos para alunos ou quadros de países lusófonos, quer de outras faculdades da UM, quer os ministrados pelo Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa, conhecido como Fórum Macau.
Em relação aos materiais de ensino, já fez arrancar a produção de uma gramática de língua portuguesa, “tendo em conta as características dos alunos locais”, e um livro sobre cultura dos países lusófonos, sendo esta a primeira vez que o departamento o faz.
Tal é “muito importante”, já que os alunos “querem ter materiais sistemáticos, correntes, para estudar passo-a-passo”. Enquanto esta produção não é finalizada, foram já uniformizados os materiais didácticos, para quebrar com o padrão de “cada um ensina à sua maneira”.

Proximidade cultural

Este é um dos pontos em que Yao concede que o facto de ser um chinês – o primeiro a dirigir o departamento – pode ser uma mais-valia: “Se calhar, como chinês, conheço melhor as características dos alunos, a maneira de ser deles, as dificuldades que encontram. Para nós não é uma língua fácil de aprender. Por isso estamos a fazer algumas mudanças, a uniformização de programas ou de materiais, porque assim os chineses conseguem estudar de forma mais sistemática. Tudo tem de estar claro, em vez de ‘Olha uma fotocópia, amanhã é outra fotocópia’. Isso causava alguma confusão”.
Em elaboração está também um plano de leitura que “se calhar vai ser uma coisa obrigatória” e inserida na avaliação contínua. “Cada aluno tem de ler um número determinado de títulos”, explica, indicando que a lista de obras está agora a ser elaborada.

Eduardo Lourenço, obrigatório

Um autor que constará da lista é Eduardo Lourenço, que Yao já recomenda aos seus alunos de mestrado. “Através de qualquer livro dele vão ficar a conhecer muito mais, não só sobre a história, mas o pensamento e a maneira de ser dos portugueses”, disse.
Yao propõe ainda a criação de um núcleo de tradução. A ideia surgiu no seguimento de um projecto em que está envolvido, de tradução de clássicos da literatura em chinês e português, apoiado pelo Governo central da China.
As obras portuguesas, entre 16 ou 18, vão ser as primeiras a ser traduzidas, de autores como Camões, e Fernando Pessoa, mas também contemporâneos como António Lobo Antunes, Gonçalo M. Tavares e José Luís Peixoto.
Numa fase posterior, serão traduzidas obras chinesas para português, um “desafio ainda maior” já que “quase não há sinólogos em Portugal que possam assumir esse trabalho de tradução”.

17 Out 2016

“Os Resistentes – Retratos de Macau” #1

Sapataria Wong Lam Kei • 1946

“Os Resistentes – Retratos de Macau” de António Caetano Faria • Locanda Films • 2014


Realizador e Editor: António Caetano Faria
Produtores: Tracy Choy e Eliz L. Ilum
Câmara e Cor: Gonçalo Ferreira
Som: Bruno Oliveira
Assistente de Câmara: Nuno Cortez-Pinto
Editor Assistente: Hélder Alhada Ricardo
Sonorização e Mistura de Som: Ellison Keong
Música: Orquestra Chinesa de Macau – “Capricho Macau” de Li Binyang
17 Out 2016

Junket de Macau que fugiu com dinheiro está no Vietname

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m antigo junket de Macau, desaparecido desde 2014, depois de alegadamente ter desviado fundos dos investidores, foi encontrado no Camboja, revelou a World Gaming Magazine (WGM). De acordo com a revista especializada, a informação foi avançada pela Macau Gaming Information Association (MGIA), que indicou que o antigo angariador de grandes apostadores para os casinos foi levado para Ha Long Bay, no Vietname, onde se encontra sob ‘custódia’ de representantes dos credores.
Huang Shan é suspeito de ter protagonizado um dos golpes mais mediáticos que minou a confiança nos junkets ao ter alegadamente fugido com um valor estimado na altura em até dez mil milhões de dólares de Hong Kong. O caso ocorreu em Abril de 2014, nas vésperas da primeira queda das receitas dos casinos de Macau.
Accionista do grupo Kimren – que operava na altura salas VIP nos casinos Grand Lisboa, StarWorld, Altira e MGM – é suspeito de ter enganado os investidores oferecendo-lhes retornos mais elevados comparativamente a outros junkets. Peças fundamentais nos casinos, dada a tradicional elevada dependência do segmento VIP, os junkets têm atravessado um período conturbado provocado por diversos factores, desde o golpe de confiança infligido por uma série de desfalques às crescentes restrições de movimentos de capital da China, passando pelo abrandamento económico chinês e a campanha anti-corrupção lançada por Pequim.
Embora sem o fluxo de outrora, o segmento VIP ainda gera mais de metade das receitas dos casinos de Macau, capital mundial do jogo e o único lugar na China onde os casinos são legais. As receitas do jogo, pilar da economia de Macau, estiveram em queda durante mais de dois anos, de Junho de 2014 a Agosto deste ano.

14 Out 2016

Edição deste ano da MIF tem Portugal como país parceiro

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] edição deste ano da Feira Internacional de Macau, de 20 a 22 de Outubro, tem Portugal como “país parceiro”, estando previsto um seminário para apresentar o país como “plataforma atlântica” para investimentos na Europa, foi ontem anunciado. A MIF (a sigla em Inglês por que é conhecida a feira de negócios de Macau) estreia nesta 21.ª edição a figura do “país parceiro”, que terá direito a um “pavilhão temático” na entrada do espaço, ao lado do pavilhão da “cidade parceira” (Pequim).
No total, os dois pavilhões dos parceiros terão 800 metros quadrados, “mostrando a cultura, a história e divulgando informações sobre o ambiente de investimento e a situação económica mais recentes destes dois locais, de forma a que os visitantes sintam os carismas de Portugal e de Pequim logo que entrem”, segundo divulgou num comunicado o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento (IPIM), a entidade que organiza a MIF.
A MIF contará ainda com uma “exposição de produtos e serviços” dos países lusófonos e um pavilhão de mostra e venda de produtos dos países de língua portuguesa.
No ano passado, Portugal teve na MIF a sua maior representação de sempre, com 120 empresas dentro de um total de 133 entidades nacionais, quase o dobro de 2014.
Este ano, a MIF conta com a participação de mais de 50 países e regiões, representados em mais de 1600 stands, segundo o comunicado de do IPIM.
Do programa da 21.ª MIF, disponível na página oficial da feira na internet, fazem ainda parte fóruns e conferências, incluindo um seminário organizado pela Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AIECP), dedicado ao tema de Portugal como “plataforma atlântica” para investir na Europa.

14 Out 2016

Pequim pode usar Base das Lajes para pesquisa científica

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] primeiro-ministro português, António Costa, admitiu que a base aérea das Lajes pode ser usada pela China se os Estados Unidos não renovarem o acordo de exclusividade, mas apenas para fins científicos e não militares. “Temos um acordo com os Estados Unidos, e queremos continuar com esse acordo, mas respeitamos a decisão” dos norte-americanos, disse António Costa numa entrevista difundida hoje pela agência de informação financeira Bloomberg. “A base nos Açores é muito importante em termos militares, mas também em termos de logística e tecnologia e pesquisa nas águas profundas e de alterações climáticas”, disse António Costa.
Perante a insistência do jornalista da Bloomberg sobre a utilização da base aérea pela China, Costa admitiu: “Claro que é uma boa oportunidade para criar uma plataforma de pesquisa científica e estamos abertos a cooperação com todos os parceiros, incluindo a China”. O primeiro-ministro vincou, no entanto, que “o uso militar da base não está em cima da mesa, o que está em cima da mesa é reutilizar a infra-estrutura para fins de pesquisa”. “Seria uma enorme pena não usar a infra-estrutura, e se não para fins militares, porque não para pesquisa científica”, questionou o chefe do Executivo no final da entrevista.

Mo man Tai

Antes, já António Costa tinha garantido que Portugal não tem qualquer problema com os investimentos chineses, que classificou de muito positivos para a economia. “Portugal tem sido sempre uma economia aberta, e o investimento chinês tem sido muito positivo, particularmente no sector financeiro, mas também na energia e noutros, por exemplo, o investimento chinês permitiu recapitalizar os nossos bancos”, disse António Costa. Sobre a banca, disse aliás que “no final do ano esperamos ultrapassar os problemas com os bancos” e ter “uma solução com crédito malparado”.
Questionado sobre se está confortável com a diversidade de áreas em que o investimento da segunda maior economia do mundo tem estado a ser feito, António Costa disse sentir-se “bastante confortável” e exemplificou que também há investimento avultado de Espanha e Angola. “Queremos uma economia aberta, queremos diversificar as fontes de investimento, e vemos isso como uma vantagem e não como uma desvantagem”, vincou o chefe do Governo.
Questionado sobre as consequências da saída do Reino Unido da União Europeia, Costa disse estar “confiante de que as relações centenárias entre os dois países vão permanecer fortes”.

14 Out 2016

Tailândia | Morreu o rei Bhumibol Adulyadej

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] rei da Tailândia, Bhumibol Adulyadej, morreu ontem aos 88 anos, anunciou o palácio real, num culminar de uma série de problemas de saúde que se arrastavam há quase um ano. “Às 15:52, morreu pacificamente no hospital Siriraj”, refere um comunicado. “A equipa médica foi inexcedível, mas a sua condição deteriorou-se”, acrescentou a nota do palácio real.
Todas as cadeias de televisão interromperam a emissão e transmitiram um anúncio especial, que começou com imagens a preto e branco do rei. Um homem, de fato e camisa pretos, leu a mesma declaração, divulgada minutos antes.
A 9 de Outubro, o palácio real tinha anunciado que o estado de saúde do monarca tailandês “não estava estabilizado” e tinha sido colocado sob respiração assistida, depois de a tensão arterial ter baixado quando estava a ser preparado para diálise e mudança de um dreno. Durante os últimos meses, o palácio real publicou regularmente comunicados sobre o estado de saúde do rei, que sofria de insuficiência renal.
Nos últimos dois anos, Bhumibol Adulyadej esteve quase sempre hospitalizado devido a infeções bacterianas, dificuldades respiratórias, problemas cardíacos e hidrocefalia – acumulação de líquido cefalorraquidiano no cérebro.

Adorado e venerado

Bhumibol Adulyadej chegou ao poder em 9 de Junho de 1946, depois da morte do irmão mais velho, o rei Ananda Mahidol, vítima de um acidente com arma de fogo, no palácio real de Banguecoque. O acidente ficou até hoje por explicar. No início do reinado, já depois da abolição da monarquia absoluta no país, em 1932, o papel do rei foi ensombrado por uma série de líderes militares fortes.
Mas com o apoio de outros membros da família real e alguns generais, Bhumibol Adulyadej fortaleceu o papel da monarquia, com uma série de visitas às províncias mais remotas e através de numerosos projectos de desenvolvimento agrícola. Apresentado como um semideus e benfeitor da nação, as suas imagens são omnipresentes no país e o culto da personalidade foi reforçado após o golpe de Estado de 22 de Maio de 2014, realizado pelos militares em nome da defesa da monarquia.
Sem qualquer prerrogativa constitucional, Bhumibol Adulyadej exerceu uma enorme autoridade moral e foi sempre visto como a única personalidade capaz de unir os tailandeses. Oficialmente, o rei está acima da política, mas Bhumibol interveio em alturas de grande tensão – 1973, 1981 e 1992 -, assistindo a numerosos golpes militares, 19 constituições e ainda mais primeiros-ministros, para encontrar soluções não-violentas em algumas crises. Alguns críticos contestaram esta versão e argumentaram que Bhumibol Adulyadej apoiou golpes militares e, por vezes, não denunciou violações dos direitos humanos.
Cada vez mais fraco e doente, o rei assistiu em Maio de 2014 a mais um golpe de Estado, que colocou no poder o general Prayuth Chan-o-cha. Três meses depois, em Agosto, o rei apoiou formalmente Prayuth no cargo de primeiro-ministro.
Nascido em Cambridge, Massachusetts (Estados Unidos), Bhumibol Adulyadej viveu e estudou na Suíça até final da Segunda Guerra Mundial. Em 2006, recebeu do então secretário-geral da ONU Kofi Annan o primeiro prémio de mérito de Desenvolvimento Humano.
Bhumibol Adulyadej era o monarca há mais tempo no poder e venerado na Tailândia, onde é visto como uma figura unificadora no país marcado por rivalidades políticas. O herdeiro do trono da Tailândia é o príncipe Maha Vajiralongkorn, de 64 anos, que tem vivido grande do tempo no estrangeiro e não tem gozado do mesmo consenso que o seu pai. Há quem preveja tempos difíceis no reino do Sião.

14 Out 2016

Bob Dylan ganha prémio Nobel da Literatura

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Prémio Nobel da Literatura foi esta quinta-feira atribuído em Estocolmo a Bob Dylan. O músico norte-americano tornou-se o 113.º escritor a receber o mais cobiçado prémio literário do planeta. “Por ter criado novas formas de expressão poética no quadro da grande tradição da música americana”, foi assim que a Academia Sueca justificou a entrega do Nobel ao cantor norte-americano.
É o primeiro norte-americano a ganhar o prémio desde Toni Morrison, em 1993. Mais relevante, porém, é o facto de, depois de vários anos em que o seu nome foi avançado como possível vencedor, a atribuição do Nobel a Dylan servir como legitimação literária da canção popular, de que o cantor de Blowing in the wind é um dos maiores representantes. Não por acaso, Sara Danius, Secretária Permanente da Academia Sueca, reconhecendo que a distinção de alguém cujo ofício é o das canções pode ser controverso, manifestou a esperança de a Academia não ser criticada pela escolha. “The times they are-a changing, perhaps” (“Talvez os tempos estejam a mudar”), afirmou, citando o título de uma das mais famosas canções de Dylan.
Nascido em Dulluth, no Minnesota, a 24 de Maio de 1941, Bob Dylan foi uma figura fulcral na revolução musical e cultural da década de 1960. Partindo da tradição folk, blues e country americanas, mas transportando-a para uma nova era de convulsão política e agitação social, levou a palavra, como nunca antes, para o centro da criação pop. Assinou 37 álbuns desde a estreia homónima em 1962. Fallen Angels, editado em 2016, é o último até ao momento.
Tecnicamente, esta não é a primeira vez que um músico é distinguido com o Nobel da Literatura. Em 1913, o indiano Rabindranath Tagore recebeu a distinção. Bob Dylan, porém, é o primeiro Nobel da Literatura cujo ofício se centra num campo exterior ao literário. Isso explicará não só a surpresa com que o anúncio do prémio foi recebida, mas também a polémica que se desencadeou, com várias vozes a questionarem a justiça da distinção.
Poucos terão sido mais cáusticos que o romancista escocês Irvine Welsh. “Sou fã de Dylan, mas isto é um prémio nostálgico mal amanhado, arrancado das próstatas rançosas de hippies senis e gaguejantes”, escreveu na sua conta de Twitter. Salman Rushdie não podia estar mais em desacordo. Igualmente no twitter, defendeu o prémio em três frases: “De Orfeu a Faiz, canção e poesia têm estado intimamente ligados. Dylan é o brilhante herdeiro da tradição dos bardos. Uma grande escolha”. Entre uma posição e outra, não falta naturalmente o humor. O escritor americano Jason Pinter, por exemplo, tem uma sugestão a fazer: “Se o Bob Dylan pode ganhar o Prémio Nobel da Literatura, então julgo que Stephen King dever ser eleito para o Rock’n’Roll Hall of Fame”.
O nome a que chegaram os dezoito membros da Academia Sueca foi, porém, consensual. E, apesar de inusitado na história do Nobel, estará de acordo com os critérios vagos, considera a Academia, deixados em testamento por Alfred Nobel para sua atribuição. “Na verdade, a história do prémio literário surge como uma série de tentativas de interpretar um testamento impreciso na sua formulação”, lê-se no site da Academia.
Na nota biográfica emitida pela instituição, acentua-se que as letras de Dylan “têm sido continuamente publicadas em novas edições, sob o título Lyrics. Enquanto artista, é extraordinariamente versátil; tendo estado activo enquanto pintor, actor e guionista”. A nota despede-se apontando que “a sua influência na música contemporânea é profunda, e ele é alvo de um fluxo contínuo de literatura secundária”.
Inicialmente próximo da tradição da canção de protesto de Woody Guthrie, algo aprimorado nos clubes folk extremamente politizados de Greenwich Village, Nova Iorque, Bob Dylan recusou ser preso no altar de “voz de uma geração” a que foi erguido. A sua música e as suas letras, inicialmente primorosos retratos sociais e denúncia política arrancados à história das canções da velha América e à realidade nas ruas que o envolviam, foram ganhando uma nova dimensão à medida que se virava para si próprio e procurava uma expressão indidivual em que a liberdade poética surgia torrencial, surreal, revolucionária tendo em conta o que era habitual até então na música popular urbana – exemplo magistral disso é a sua trilogia clássica da década de 1960, formada por Bringing It All Back Home (1965), Highway 61 Revisited (1965) e Blonde on Blonde (1966). O final da década traria nova inflexão de rumo, com o mergulho nas raízes e nas mitologias da música americana selado nas famosas Basement Tapes gravadas com a The Band em 1967 e editadas em 1975 ou, simbolicamente, no dueto com Johnny Cash, emGirl from the north country, que abre Nashville Skyline (1969).

14 Out 2016

Xi Jinping quer o Partido a gerir empresas estatais

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]presidente da China, Xi Jinping, afirmou ontem que a liderança das empresas estatais do país cabe ao Partido Comunista Chinês (PCC), depois de o Conselho de Estado ter apelado a uma reforma no sector público.
Xi sublinhou que devem ser feitos esforços para reforçar e melhorar o controlo do partido nessas empresas, de forma a torná-las mais “fiáveis”, informou a agência oficial Xinhua.
Na segunda-feira, o executivo chinês apelou à fusão de empresas estatais, para reduzir o número de firmas que operam no mesmo sector e aumentar o seu tamanho, e à entrada de capital privado no sector público.
O gabinete apelou às firmas estatais para que incorporem a participação de privados através da transferência de ações, aumentos de capital ou novas emissões de títulos.
Numa outra directriz, o executivo ordena aos bancos do país que troquem as dívidas por títulos da empresa, nos “casos de firmas com dificuldades temporárias”, mas com “potencial a longo prazo”.
Ambos os documentos vão de encontro às recomendações de organismos como o Fundo Monetário Internacional, que visam tornar o sector estatal chinês mais rentável.
Das três empresas chinesas que surgem entre as 10 maiores companhias do mundo, na lista das “500 mais” elaborada pela revista Fortune, todas são estatais, ilustrando um sistema que a China designa como “economia de mercado socialista”. A maior de todas é a China State Grid, que em 2012 comprou 25% da REN (Redes Energéticas Nacionais).
Estes grupos são directamente tutelados pelo governo central chinês, através de um organismo conhecido como SASAC (State-owned Assets Supervision and Administration Commission).

13 Out 2016

Agências de viagens portuguesas ansiosas por voos directos para a China

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) considera que o início de voos directos entre a China e Portugal em Junho é “uma excelente notícia”, admitindo que há muito trabalho a fazer na adequação da oferta. “É com toda a certeza uma excelente notícia que nos deixa obviamente muito satisfeitos. E mais uma oportunidade para o turismo nacional que competirá às empresas explorar, como tenho a certeza o farão”, disse o presidente da APAVT, Pedro Costa Ferreira.
O responsável admitiu também que “há, certamente, muito a fazer para adequar a oferta às especificidades do mercado chinês”, acrescentando que “este é um trabalho que se impõe”, sabendo-se que se está “a falar do primeiro mercado emissor mundial” de turistas.
Na terça-feira, o Turismo de Portugal anunciou que a ligação aérea directa da China a Portugal arranca em Junho de 2017, com três a quatro frequências por semana, de acordo com o protocolo assinado entre este organismo e o grupo HNA (Beijing Capital Airline). A HNA, accionista da companhia aérea Azul, controlada pelo empresário David Neeleman – um dos donos da TAP -, obteve autorização para lançar uma rota para Portugal no início de Junho deste ano.
O desenvolvimento da negociação da ligação directa China – Portugal é uma parceria entre três entidades portuguesas – o Turismo de Portugal, a ANA Aeroportos e a Associação Turismo de Lisboa (ATL), referiu o organismo.
O Presidente do Turismo de Portugal, Luís Araújo, considerou que “a assinatura do protocolo reforça o compromisso de ambos os países em avançar na cooperação para o crescimento dos fluxos turísticos da China para Portugal”. De acordo com o Turismo de Portugal, até Julho de 2016, e face ao mesmo período de 2015, o número de turistas chineses que visitaram Portugal cresceu 21,6%, tendo passado de 87.045 em 2015 para quase 106.000 em 2016.
A TAP deverá fazer um acordo de partilha de voos com o grupo HNA, que a partir de Junho terá a primeira ligação directa entre a China e Portugal, à semelhança do que faz com três dezenas de outras companhias.
A partilha de voos, designado ‘codeshare’, é um acordo de cooperação pelo qual uma companhia aérea transporta passageiros cujos bilhetes tenham sido emitidos por outra empresa, com o objectivo de disponibilizar aos passageiros mais destinos do que uma só companhia aérea poderia isoladamente.
Na prática, a TAP deverá vir a comercializar directamente voos para a China – nos aviões da HNA – e a companhia aérea chinesa também poderá vender voos da TAP, por exemplo, para o Brasil ou África.
No final de Setembro, David Neeleman anunciou que a TAP se preparava para lançar em cooperação com o grupo chinês HNA quatro voos directos semanais entre Lisboa e Pequim.
Nessa altura, o empresário brasileiro e norte-americano explicou que o grupo HNA só pretendia fazer dois voos semanais, mas que as conversações permitiram chegar aos quatro, revelando ter esperança que a frequência aumente no futuro. “Há 120 milhões de pessoas que viajam para fora da China todos os anos, nós só queremos 1% ou um pedaço de 1%, já seria muito bom para Portugal”, afirmou então David Neeleman.

13 Out 2016

Localistas de Hong Kong desafiam a China na primeira sessão da legislatura

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]lguns dos novos deputados de Hong Kong manifestaram-se ontem contra a “tirania” da China ao prestarem juramento na tomada de posse no Conselho Legislativo, levando à suspensão da sessão. A primeira reunião da nova legislatura acontece após a eleição, no mês passado, de vários novos deputados que apoiam uma maior autonomia e até a independência de Hong Kong.
Antes de assumirem as funções, os deputados devem fazer um curto juramento, em que declaram que Hong Kong é uma “região administrativa especial” da China. Pelo modo como o fizeram, viram os seus juramentos recusados.
O Governo tinha alertado os deputados que arriscavam perder os assentos se não prestassem o juramento de forma adequada. Nathan Law, de 23 anos, o mais jovem deputado do hemiciclo e antigo líder dos protestos pró-democracia de 2014, fez um discurso emocionado antes de prestar juramento. “Podem acorrentar-me, podem torturar-me, podem até destruir o meu corpo, mas nunca vão conseguir prender a minha mente”, disse.
De cada vez que se referiu à China durante o juramento, Law mudou o tom de modo a tornar a palavra numa pergunta. Law, que pede a autodeterminação de Hong Kong, foi um dos principais líderes do Movimento dos Guarda-Chuvas, em 2014, que levou dezenas de milhares de pessoas às ruas, pedindo reformas democráticas.
Dois novos deputados pró-independência, Baggio Leung e Yau Wai-ching, adicionaram as suas palavras antes do juramento, comprometendo-se a servir a “nação de Hong Kong”. Leung envergou uma bandeira com as palavras “Hong Kong não é China”. Ambos prestaram depois o juramento por inteiro, em inglês, mas recusaram-se a pronunciar “China” correctamente.
O novo deputado Eddie Chu, que apoia a realização de um referendo sobre o futuro da soberania de Hong Kong, gritou: “Autodeterminação democrática! A tirania vai morrer!” após o seu juramento.
Lau Siu-lai, também antiga ativista do Movimento dos Guarda-Chuvas, leu todas as palavras do juramento a passo de caracol, fazendo com que alguns deputados pró-Pequim saíssem da sala.
O secretário do Conselho Legislativo disse a Leung, Yau e a outro deputado pró-democracia que não podia “administrar” os seus juramentos já que os tinham modificado.
A sessão foi suspensa após Law se recusar a voltar ao seu lugar, questionando o porquê de o secretário ter recusado os juramentos dos três deputados.

13 Out 2016

António Costa compara Macau a “uma enorme ponte virtual”

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]primeiro-ministro de Portugal comparou Macau “a uma enorme ponte virtual” que liga a China aos países de língua oficial portuguesa de vários continentes, conferindo-lhe uma dimensão de centralidade a vários níveis. António Costa falava no final de uma cerimónia de inauguração de um laboratório de tradução automática entre as línguas portuguesa e chinesa no Instituto Politécnico de Macau, após ter passado pela Escola Portuguesa. Vários responsáveis desta instituição de Ensino Superior classificaram o laboratório automático de tradução como um passo tecnológico “decisivo” para a difusão do português entre os falantes de língua chinesa. Isto, a par da conclusão de dois volumes sobre língua portuguesa, intitulados “Português Global”, que vão ser agora publicados e distribuídos na China pela maior editora chinesa.
De acordo com o líder do executivo português, essa ponte virtual é, de facto, uma enorme ponte, que parte de Macau para Timor-Leste, que depois segue para Moçambique, para a África Ocidental, até ao Brasil, chegando finalmente a Portugal”, declarou.
No seu discurso, António Costa afirmou também que a língua “é um factor de identidade” dos povos, mas que, ao contrário de outros factores de identidade, “é também um meio de aproximação entre culturas”.

E o Coelho? Passou-se

Antes, o primeiro-ministro visitou a Escola Portuguesa de Macau, onde descerrou uma lápide alusiva à sua presença. Nas conversas com as crianças, António Costa teve duas surpresas, a última, já no final da visita, quando uma menina lhe perguntou se “o Passos Coelho” também tinha vindo àquela cerimónia. “Não, não veio”, respondeu António Costa com um sorriso.
Antes de ouvir um coro infantil cantar-lhe o hino nacional, uma criança também perguntou ao primeiro-ministro se ele era irmão do Tiago. A criança referia-se a Tiago Brandão Rodrigues, ministro da Educação, que na quarta-feira vai também visitar a Escola Portuguesa de Macau. António Costa respondeu imediatamente: “Não, não sou irmão do Tiago. Sou só amigo do Tiago [Brandão Rodrigues]”.

Startups de Macau e da China em Lisboa ainda este ano

O primeiro-ministro português, António Costa, convidou as ‘start-ups’ de Macau e de toda a China a participarem na conferência global de tecnologia Web Summit que se realizará em Lisboa em Novembro. António Costa deixou o convite no final do encontro Start-up Macau Fórum, uma iniciativa que contou com o apoio do Governo português.
No âmbito do encontro, os Governos de Macau e de Portugal assinaram um memorando de entendimento para “promover o empreendedorismo e o apoio às ‘start-ups'”, segundo o primeiro-ministro. Voltando a pegar na ideia de que Macau é, historicamente, “uma terra de pontes”, António Costa considerou que “na economia de hoje, assente no conhecimento, na criatividade e inovação, se há algo que é essencial é estabelecer pontes (…) entre o talento e a diferença”, afirmou, acrescentando que isso mesmo visou o encontro Start-up Macau.
“É esse trabalho que queremos prosseguir à escala global, acolhendo em Portugal em Novembro, e nos próximos três anos, o maior evento mundial na área da inovação e do empreendedorismo, que é o Web Summit”, acrescentou. Costa convidou as empresas de Macau e da China continental a somarem-se ao encontro de Lisboa “para se encontrarem (…) com ‘starts ups’ de todo o mundo” e assim “em conjunto contribuir para uma economia mais dinâmica, mais criativa e mais inovadora”.
A Web Summit é uma conferência global de tecnologia que decorrerá este ano em Lisboa (e nos dois anos seguintes, com possibilidade de mais dois anos), onde são aguardados mais de 50.000 participantes, de mais de 150 países, incluindo mais de 20.000 empresas, 7.000 presidentes executivos, 700 investidores e 2.000 jornalistas internacionais. Entre os oradores, estarão os fundadores e presidentes executivos das maiores empresas de tecnologia, bem como importantes personalidades das áreas de desporto, moda e música.

12 Out 2016