A manga, as líchias e o marido ideal 毛佬佬与习大大

* por Julie O’Yang

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]os tempos que vivemos torna-se cada mais pertinente fazer uma reflexão sobre o culto de personalidade do Grande Líder Chinês. Vamos começar pelo episódio das mangas.
Há cinquenta anos atrás, a China viveu a década mais turbulenta e traumática da sua história recente – a Revolução Cultural. Durante 10 anos, a nação mergulhou numa espécie de adoração histérica: uma obsessão, não por Mao, mas por… mangas!
Corria o ano de 1966 quando Mao convocou os Guardas Vermelhos para se rebelarem contra os “reaccionários” que integravam o Governo central. Pretendia “reestruturar a sociedade purgando os elementos “burgueses” e as formas de pensar tradicionais”. Na realidade tratava-se de uma forma eficaz, mas também cruel, de se ver livre dos seus rivais políticos e das vozes discordantes. Durante o Verão de 1968 o País estava mergulhado num clima de hostilidades e cada uma das facções políticas em confronto agitava mais alto o Livrinho Vermelho, para demonstrar a sua lealdade ao Secretário-geral. Antecipando a eminência de uma carnificina, Mao decidiu enviar 30.000 trabalhadores à Universidade de Qinghua, em Pequim. Os estudantes atacaram-nos com setas e ácido sulfúrico. Os trabalhadores venceram a contenda. Para lhes agradecer, Mao enviou cerca de 40 mangas como presente, que tinha recebido no dia anterior do Ministro dos Negócios Estrangeiros paquistanês.
O gesto de Mao teve um impacto enorme.
No norte da China ninguém sabia o que eram mangas. Por isso os trabalhadores passaram a noite acordados a olhá-las e a acariciá-las, maravilhados com o poderoso odor e a forma exótica. Foi então que estes trabalhadores receberam a ‘mensagem sagrada’ de Mao: o proletariado deverá liderar em todas as frentes! Foi este o ponto de viragem do poder, que se transferiu dos estudantes para os operários e camponeses, unidos pelo mágico poder das mangas!
As mangas de Mao provocaram intensos debates nos locais de trabalho. Um representante militar chegou a uma fábrica segurando uma manga nas mãos e deu inicio à discussão: o que fazer com ela, comê-la ou conservá-la? Acabaram por levar a fruta a um hospital e pô-la em formol! Neste ponto, os responsáveis da fábrica decidiram passar a produzir mangas de cera, cobertas com uma campânula de vidro. Cada uma destas réplicas seria oferecida aos trabalhadores revolucionários, que deveriam transportar o fruto “sagrado” solene e reverentemente e que seriam admoestados se falhassem a missão. A manga tornou-se um fruto destinado a altos voos! Conta-se também que quando uma manga apodrecia, os trabalhadores pelavam-na, ferviam-na em água, e cada um deles sorvia um golo do “santo” xarope. Uma das mangas de cera foi transportada por um representante dos trabalhadores em procissão acompanhada pelo rufar dos tambores, desde a fábrica até ao aeroporto, de onde partiria para uma fábrica de Xangai, enquanto as pessoas nas ruas se inclinavam à sua passagem!
As mangas percorreram o País de lés a lés e foram “passeadas” solenemente em muitas procissões. A fruta tornou-se objecto de intensa devoção, com rituais inspirados nas tradições Budista e Taoista, chegando a ser colocada em altares nas fábricas para que os operários lhe pudessem vir prestar homenagem. “Ver as mangas douradas / É o mesmo que ver o Grande Líder Mao!” era parte de um poema que circulava na altura.
A China tem uma longa história de simbolismos associados a alimentos que representam noções culturais importantes, tais como “profunda bondade” (pêssego), “longevidade” (cogumelos), estando o amor romântico inevitavelmente associado às líchias e a Yang Guifei.
Yang Gui Fei, 杨贵妃. A Consorte Imperial Yang foi uma das quatro beldades da antiga China. Nasceu em 719 CE e recebeu o nome de Yang Yu Huan 杨玉环. Na corte foi baptizada “Guifei” 贵妃, uma consorte de grande categoria, e passou a ser conhecida como Yang Guifei ou a Dama Yang.
As pinturas da Dinastia Tang mostram que, à semelhança de outras beldades da época, Yang Guifei era uma mulher corpulenta. Para lhe agradar, o Imperador mandou fazer grandes obras no Palácio das Termas de Huaqing onde, lânguida, ela passava muitas horas banhando-se para conservar a frescura da pele. As líchias, o seu fruto preferido, eram todas as semanas trazidas de pónei desde Guangzhou, cobrindo uma distância de cerca de 2000 Kms. Estou convencida que Yang Guifei foi uma espécie de cruzamento entre Eva e Helena de Tróia. Os historiadores afirmaram muitas vezes que o Imperador Tang, Xuanzong, se deixava levar pelos prazeres da carne em detrimento das suas responsabilidades na corte. Yang foi a causa directa da queda da Dinastia Tang e o Imperador acabou por lhe ordenar que se enforcasse. Desde essa altura que o amor romântico ganhou má fama na China. Compreende-se muito bem porquê!
Mas as líchias são bem melhores que as maçãs, digo-vos eu, carnudas e sumarentas, macias como a pele dum bebé. Da próxima vez que as comerem, peço-vos que se lembrem dos lascivos lábios húmidos da Dama Yang. Ganham muito se forem comidas numa noite escura de Inverno.
A minha nota final vai para uma canção que se tornou viral a semana passada, sobre o actual Presidente chinês, Xi Jinping. O Imperador Tang, o Secretário-geral Mao e o Presidente Xi Jinping foram considerados maridos chineses ideais. Então porque é que prefere brutos?
“Se quiseres casar, escolhe alguém como o Xi Dada (Tio Xi), um homem heróico com amor para te dar; não importam as mudanças, nem os escolhos no caminho, ele não deixa de avançar.”
https://bit.ly/1X6PO RV

9 Mar 2016

Aviação | Construção de terceira pista em Hong Kong pode causar problemas

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]ais de 90% das partidas do aeroporto de Macau e quase 43% das aterragens em Shenzhen (China) podem ser afectadas por problemas de espaço aéreo causados pela construção de uma terceira pista em Hong Kong, conclui um estudo citado na imprensa. O trabalho é citado pelo jornal South China Morning Post, que indica que o grupo ambientalista Green Sense, juntamente com o Airport Development Concern Network, recorreu a dados dos portais FlightAware e Flightradar24 para analisar 1628 partidas de aviões de Macau em Janeiro, que representam cerca de metade do total dos movimentos aéreos.
Foram também analisados mais de 16 mil movimentos aéreos de um total de 24 mil que chegaram e partiram do aeroporto Bao An de Shenzhen no mesmo mês.
Pelo menos 5200 chegadas e 304 partidas de e para Shenzhen ficam em risco de se cruzarem com três rotas aéreas de Hong Kong. No caso de Macau, quase todas as partidas do aeroporto analisadas podem potencialmente chocar com saídas da pista norte de Hong Kong.
Contactada pela agência Lusa, a Autoridade de Aviação Civil de Macau explica que “a gestão do tráfego aéreo da região do Delta do Rio das Pérolas é uma das mais complicadas do mundo” e que, por esse motivo, as autoridades da China, Macau e Hong Kong recorrem a um “mecanismo tripartido” para operarem.
“Quaisquer alterações de procedimentos de voo ou desenvolvimentos no Delta do Rio das Pérolas têm de ser discutidas e acordadas entre as três partes, sob o princípio de que qualquer desenvolvimento nos aeroportos da região não pode prejudicar o desenvolvimento de outros aeroportos”, indica o organismo.
Assim, “os procedimentos de voo da terceira pista do Aeroporto Internacional de Hong Kong estão a ser estudados e desenvolvidos e serão discutidos no âmbito do mecanismo referido em tempo oportuno”.

Divisões de risco

O South China Morning Post cita o director-executivo da Green Sense, Roy Tam Hoi-pong, que acredita que os problemas de conflito de rotas, se não forem solucionados, podem fazer com que Hong Kong tenha de ceder algum espaço aéreo à China continental, violando o princípio ‘Um país, dois sistemas’ e gerando uma repetição de uma polémica em torno da ligação ferroviária de alta velocidade para Cantão.
Durante a reunião do conselho de planeamento da cidade este ano, o Departamento de Aviação Civil sugeriu que o espaço aéreo fosse dividido em dois, com Hong Kong a gerir a zona inferior e a China a superior. No entanto, Tam acredita que tal iria violar o artigo 130.º da Lei Básica de Hong Kong, que estipula que o território é responsável pelas matérias de gestão empresarial e técnica da aviação civil.
“Se ainda acreditamos no princípio ‘Um país, dois sistemas’, então Hong Kong tem de gerir o seu espaço aéreo”, disse, pedindo que o projecto fosse arquivado.
A construção de uma terceira pista no aeroporto de Hong Kong, aprovada em 2012, tem sido criticada por organizações ecologistas que alertam para impactos no ruído, poluição e biodiversidade.

9 Mar 2016

Campanha contra a corrupção chega a Macau e Hong Kong

O Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado passou a estar sob a alçada da Comissão Central de Inspecção e Disciplina do Partido Comunista da China, organismo que tem levado a cabo a campanha contra a corrupção no país. A notícia é avançada pela RTHK, que cita Li Qiufang, inspectora da Comissão Central de Inspecção e Disciplina. Li Qiufang falava aos jornalistas à margem de um encontro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, em Pequim.
No passado dia 25 de Fevereiro, o jornal Epoch Times noticiou que o gabinete do Conselho de Estado responsável pelas duas regiões administrativas especiais estava “pela primeira vez” sob a fiscalização do organismo que combate a corrupção. Na altura, relembra a rádio Macau, a publicação com ligações ao movimento espiritual Falun Gong, proibido na China, escreveu que podia acontecer a demissão de titulares de altos cargos públicos em Macau e Hong Kong “a qualquer momento”.
Dois dias depois, a 27 de Fevereiro, foi detido em Macau o ex-procurador Ho Chio Meng, acusado de corrupção. Em declarações sobre este caso, Chui Sai On disse que Pequim foi informado da investigação a Ho Chio Meng, mas o Chefe do Executivo garantiu que não houve interferências no processo.

9 Mar 2016

USJ | Como depurar águas residuais com pântanos

Utilizar jardins e pântanos para tratamento de águas residuais é o tema da conferência que Cristina Calheiros vai proferir amanhã na Universidade de São José (USJ). Para a bióloga, “é crucial que os sistemas de tratamento de águas residuais cumpram a sua função de forma a que a reutilização da água possa ser utilizada na protecção dos ecossistemas”.
Na conferência vai ser explicado como as zonas pantanosas artificiais são um complemento da eco-tecnologia para o tratamento das águas residuais ou mesmo como forma principal de tratamento destas. “Estes sistemas, biológicos”, lê-se no prenúncio da conferência, “têm por objectivo mimetizar os processos biogeoquímicos que ocorrem nos pântanos naturais para depuração de águas residuais”. Na oportunidade serão apresentados casos onde estes sistemas já são utilizados com sucesso.
Cristina Calheiros tem uma pós-graduação em Biotecnologia, com especialização em Ciências Ambientais da Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica e é também uma investigadora em pós-graduação do Centro de Biotecnologia e Química Fina em colaboração com a Aarhus University da Dinamarca, precisamente na área de tratamento de águas residuais por via da instalação de zonas pantanosas aplicadas a instalações turísticas.
A conferência será moderada pelo professor David Gonçalves e acontece no “Speakers Hall” da USJ pelas 19h00. A entrada é gratuita.

9 Mar 2016

Jovem consegue transplante pulmonar com sucesso

Os Serviços de Saúde (SS) informam que a situação clínica do jovem de Macau que efectuou um transplante pulmonar no Primeiro Hospital Afiliado da Universidade de Medicina de Cantão é estável e para já não precisa de sangue. A informação surge na sequência do pedido público que os familiares do jovem fizeram, para sangue do tipo B+. A informação dos SS surge após contacto com o médico assistente do doente em Cantão, tendo sido apurado que o transplante decorreu sem problemas. Não houve hemorragias graves e após três dias em observação não há necessidade de transfusões de sangue em grande quantidade.

9 Mar 2016

Portugueses ajudaram Macau ao nível político, mas não o suficiente

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s portugueses ajudaram à democratização de Macau, mas também falharam ao não fazer mais exigências neste sentido antes da transição. É uma das considerações do sociólogo Hao Zhidong, presidente da Associação de Sociologia de Macau, em entrevista à agência Lusa.
O académico aponta a “tradição religiosa” como um exemplo de um “legado positivo” dos portugueses em Macau, tal como a “relativa” democratização, reflectida na possibilidade de eleger uma parte da Assembleia Legislativa. Contudo, salienta o sistema eleitoral como a principal falha dos portugueses durante as negociações que antecederam a transição – ao não insistirem para que a Lei Básica de Macau previsse o sufrágio universal, como aconteceu em Hong Kong.
Ainda assim, Hao concede que “a democratização [existente] é um legado português”, que deve ser valorizado e desenvolvido, acabando com deputados nomeados pelo Chefe do Executivo ou, pelo menos, reduzindo o seu número. Segundo o académico, considerando “a longa história de totalitarismo” da China, é necessário em Macau “algo que contraponha essa tradição”, ou seja, o legado dos portugueses, que transporta a tradição europeia “de liberdade e direitos humanos”.

Juventude diferente

Hao identifica uma juventude em Macau mais preocupada com a democracia, em grande parte por influência de Hong Kong e Taiwan. “Isso reflectiu-se num inquérito sobre a mudança de atitudes em relação à China. Identificam-se menos do que antes, menos do que em 1999 e até do que há uns anos”, explica.
O académico acredita contudo que a comunidade portuguesa poderia ter um papel relevante no esforço de democratização.
“Se houvesse diálogo entre grupos, entre os que acreditam na democracia, por exemplo, podia delinear-se uma estratégia para lutar por isso”, afirma o investigador, sublinhado como seria benéfico que portugueses e chineses cooperassem para “fazer um trabalho sério” de “investigação sobre Macau”.
Apesar do seu olhar optimista quanto ao futuro, identifica sinais de ‘continentalização’ que considera preocupantes, como o caso dos dois académicos – Éric Sautedé e Bill Chou – que foram afastados dos seus lugares na Universidade de São José e Universidade de Macau, respectivamente, por motivos políticos.
As pessoas de Macau, diz ainda, “estão numa crise de identidade”.
A esmagadora maioria identifica-se como chinesa, mas tem em conta que isso acarreta muitas facetas: “As pessoas têm mesmo de pensar em quem são, politicamente. Se respondem que são chineses, de que tipo? Identificam-se com o Governo chinês ou com valores universais? São a favor do centralismo, da ditadura ou da democracia? Que tipo de China perspectivam?”
O sociólogo defende que há pouca identificação com a República Popular como entidade política e o que o princípio ‘Um país, dois sistemas’ é acolhido. “É o único mecanismo que os protege”, sublinha.
Hao mantém, contudo, as boas perspectivas para um futuro mais longínquo. “Não há fuga à democratização. Não acho que o Governo da China possa manter esta pressão em Hong Kong e, por associação, em Macau”, defende.
Olhando para 2049, vários cenários se vislumbram: “Se a China se democratizar – política, social e culturalmente –, Macau e Hong Kong também o vão fazer. Esse é o melhor cenário, mas há também a possibilidade de as coisas se manterem mais ou menos na mesma, até depois de 2049. Há uma terceira possibilidade, pior, em que Macau se torna mais ‘continentalizado’, com menos liberdade de expressão, de imprensa, mais problemas na indústria do jogo, mais descontentamento popular. Mas acho improvável”.

Canto lusitano

Hao não hesita em reconhecer que a relação entre chineses e portugueses foi sempre de desencontros, mantendo-se assim até hoje. Admite que “os portugueses não tiveram uma boa prestação no passado porque estiveram sempre separados da comunidade chinesa”, o que “é uma pena porque até depois da transferência podia ter havido mais diálogo”, mas diz que 500 anos de presença portuguesa deixaram marcas no tecido social, mesmo após o retorno à China. “Diria que as pessoas têm orgulho em ser de Macau, acreditam que são diferentes dos chineses da China continental. São mais abertas politicamente, menos controladas pelo Governo, mais rebeldes. Também há rebeldes na China, mas são muito poucos, proporcionalmente. Consideram-se mais progressistas e isso faz parte do legado português”, diagnostica. Para o sociólogo, Macau precisa de “empreendedores culturais” que estabeleçam essa ponte de comunicação. “Aqui não temos essas pessoas, todos estão a tratar das suas coisas, não procuram as outras comunidades”, diz.

História precisa-se

Um dos outros problemas apontados pelo sociólogo é o desconhecimento da História. Dezasseis anos após a transferência de Macau para a China, o território ainda não sabe o que fazer com o seu passado e o desconhecimento da história impede-o de aproveitar e desenvolver o legado português, defende.
“Há cada vez menos conhecimento sobre o que aconteceu no passado. [As autoridades] não sabem como lidar com a história, com o passado colonial como o de Ferreira do Amaral. Acho que devíamos recuperar a estátua, pô-la num museu, ou assim”, afirmou o presidente da Associação de Sociologia de Macau, referindo-se a um dos mais polémicos governadores da história de Macau, visto pelos chineses como símbolo do poder opressor português.
João Maria Ferreira do Amaral liderou o território entre 1846 e 1849, quando foi assassinado. No início dos anos 1940 foi erguida no centro da cidade uma estátua em sua homenagem, em que o governador empunhava um chicote sobre um grupo de chineses, que foi retirada em 1992.
“Devemos compreender a avaliar o legado colonial, o que foi bom, o que foi problemático. E se houve algo bom, devemos manter esse legado e até expandi-lo”, defendeu o autor do livro “Macau History and Society”, que analisa a história do território, com particular foco no desenvolvimento identitário de Macau.

8 Mar 2016

Menos trabalhadores na indústria do Jogo

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]o fim do quarto trimestre de 2015 havia menos trabalhadores na principal indústria de Macau, mostram dados dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) divulgados ontem. O âmbito do inquérito exclui os promotores de jogo, mas indica que se encontravam 56.217 trabalhadores a tempo completo no sector das lotarias e outros jogos de aposta, menos 2,7% em relação ao fim do mesmo trimestre de 2014. Os croupiers foram os que diminuíram mais, sendo que de todos os trabalhadores 24.619 desempenhavam essa função, tendo diminuído 4,4%, em termos anuais. Neste ramo de actividade económica os trabalhadores que laboravam por turnos equivaleram a 92,6% do total.
Contudo, os números subiram face aos ordenados. Em Dezembro de 2015 a remuneração média dos trabalhadores a tempo completo no sector das lotarias e outros jogos de aposta – excluindo as participações nos lucros e os prémios – situou-se nas 21.630 patacas, correspondendo a um acréscimo de 4,6% em comparação com o mês homólogo do ano anterior. A remuneração média dos croupiers se cifrou nas 18.780 patacas, subindo 4,3%, em relação a Dezembro de 2014.
No fim do trimestre em análise existiam 462 postos vagos no sector das lotarias e outros jogos de aposta, equivalentes a uma descida de 379 lugares face ao fim do quarto trimestre de 2014. A maioria das vagas pertencia à área de “empregados administrativos” e ao “pessoal dos serviços e vendedores”, contudo, não se registou nenhuma vaga de croupiers no trimestre de referência.
Em relação aos requisitos de recrutamento, 42,0% dos postos vagos requeriam experiência profissional, 70,6% exigiam habilitações académicas iguais ou superiores ao ensino secundário complementar, 88,7% requeriam o Mandarim e 55,8% o Inglês.
Durante o quarto trimestre de 2015 foram recrutados 376 trabalhadores, uma redução de 80% face aos 1968 registados no mesmo trimestre de 2014. A taxa de recrutamento (0,7%), a taxa de rotatividade de trabalhadores (1,8%) e a taxa de vagas (0,8%) diminuíram 2,7; 0,8 e 0,6 pontos percentuais, respectivamente. Segundo a DSEC, as quedas reflectem que a procura de recursos humanos no sector das lotarias e outros jogos de aposta abrandou mais do que em anos anteriores.

8 Mar 2016

Caso Ho Chio Meng – Afinal… em que ficamos?

* Por Mário Alves Cardoso, advogado

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]todos os títulos, é uma questão bem curiosa, jurídica e socialmente interessante, a que agora se levantou a propósito do julgamento do pedido de habeas corpus interposto pelo antigo Procurador do Ministério Público de Macau e actual Procurador-Adjunto, Ho Chio Meng.
Questão essa que, sucintamente, se traduz no seguinte: qual a posição, qual o estatuto de que o magistrado em causa gozava no momento em que interpôs o pedido de habeas corpus, alegando a ilegalidade da prisão preventiva decretada pelo TUI ?
Para ele, para a sua defesa, a fundamentação do pedido era simples, crê-se: o arguido, magistrado do Ministério Público, não podia ser nem detido nem preso preventivamente, tendo em conta o n.º 1 do art.º 33.º do Estatuto dos Magistrados ( que é uma lei especial, sublinhe-se, e prevalece por isso sobre as leis gerais, nomeadamente sobre o Código de Processo Penal ), o qual estipula que « Os magistrados não podem ser detidos ou preventivamente presos antes de pronunciados ou de designado dia para a audiência, excepto em flagrante delito por crime punível com pena de prisão de limite máximo superior a 3 ( três ) anos.»
E, no entanto, o magistrado em causa foi detido e depois colocado em prisão preventiva, sem que estivesse pronunciado, sem que houvesse dia designado para a audiência de julgamento e, mesmo, sem que houvesse acusação por parte do Ministério Público.
Apresentado o arguido ao TUI, foi este órgão judicial supremo que tomou a decisão de o colocar em prisão preventiva. Ou seja, considerou-se competente para tal, face ao art.º 44.º da Lei de Bases da Organização Judiciária da RAEM, que determina, na alínea 8), a competência daquele tribunal para « julgar processos por crimes e contravenções cometidos pelos magistrados referidos na alínea anterior. » ( ou seja, por Juízes de Última Instância, pelo Procurador, por Juízes de Segunda Instância e por Procuradores-Adjuntos ).
Julgou-se, pois, o TUI competente para apreciar, quer tivesse considerado a categoria profissional do arguido à data dos alegados factos criminosos ( Procurador ) ou a categoria à data da decisão ( Procurador-Adjunto ). De resto, o arguido fora já ouvido no CCAC, em 4 de Fevereiro de 2015 — de acordo com a Comunicação Social de matriz portuguesa –, pouco antes de ter sido nomeado coordenador da Comissão de Estudos do Sistema Jurídico-Criminal.
Pois bem: de acordo igualmente com notícias da mesma Comunicação Social, em favor da decisão que indeferiu o pedido de habeas corpus militou a circunstância de o TUI considerar que não era aplicável ao caso a citada norma especial do art.º 33.º do Estatuto dos Magistrados. Isto pelo facto – ainda de acordo com o noticiado nos jornais – de o arguido não estar actualmente a desempenhar funções de magistrado do MP mas outras estranhas à sua magistratura.
Dando como certo este ponto de vista, esta posição do TUI – que não conhecemos em pormenor por só ter sido publicitada pelo tribunal, até agora, a versão em língua chinesa do acórdão proferido –, levanta-se então uma importante questão, cremos, e salvo melhor e fundada opinião: a competência do Tribunal de Última Instância para o processo em causa.
Para isso, há que esclarecer: o que é que altera ( ou não ) o ponto de vista alegadamente adoptado pelo TUI no que respeita à sua competência para julgar o processo-crime relativo a um ex-Procurador e actual Procurador-Adjunto ? Será que o facto de considerar não aplicável in casu o art.º 33.º do Estatuto dos Magistrados ao arguido, por não se encontrar na situação de exercício efectivo de funções judiciais, poderá levar a que se conclua também que, então, a sua condição, o seu « estatuto de magistrado » está suspenso ? E que, face a essa suspensão, não seria aplicável ao caso a regra da competência do TUI estabelecida na Lei de Bases da Organização Judiciária?
Afigura-se-nos — salvo melhor opinião –, no que respeita à competência para apreciar e julgar, que o TUI continua a ser o tribunal competente face ao disposto na Lei de Bases da Organização Judiciária, porque o arguido não deixou de ser magistrado com determinada categoria, no caso, Procurador-Adjunto.
Mas, se para este efeito o arguido continua a ser magistrado e com aquela categoria, e, por conseguinte, a competência do TUI se mantém – independentemente de o magistrado estar, ou não, no exercício efectivo de funções judiciais –, então a subordinação plena, total, do arguido ao Estatuto dos Magistrados ( aos deveres que ele impõe mas também ao benefício dos direitos que nele estão consignados ) parece-nos inevitável.
De resto, é o próprio Estatuto dos Magistrados que decide, que expressamente consigna, a única excepção a esta regra de subordinação dos profissionais do foro abrangidos, ao estipular, no n.º 6 do artº 72.º, que « A pena de demissão importa a perda do estatuto de magistrado conferido pelo presente diploma e dos correspondentes direitos. »
Face ao ponto de vista alegadamente expresso pelo TUI na decisão que indeferiu o habeas corpus requerido – ou seja, a impossibilidade de o arguido se socorrer da norma constante do art.º 33.º, que lhe confere o direito a não ser detido nem preso preventivamente quando não se verificam as situações ali referidas, decorrente do facto de estar a desempenhar outras funções que não as judiciais –, posição radical ( polémica, certamente ) poderia então equacionar-se, concretamente a seguinte: o magistrado que deixe de exercer, temporariamente, as funções judiciais inerentes ao seu cargo e categoria passa, automaticamente, a deixar de estar abrangido pelas regras do Estatuto dos Magistrados.
Ou seja, a sua condição de magistrado passa a estar suspensa, não produzindo ela quaisquer efeitos enquanto se mantiver a situação de não exercício das funções judiciais. Assim sendo, não seriam aplicáveis ao magistrado com essa condição suspensa, e por causa disso, quaisquer regras jurídicas que se reportem à condição de magistrado.
Forçoso seria, então, de concluir, por exemplo, que os tribunais de última e de segunda instância – competentes, como se viu, para apreciarem processos e decidirem acções que envolvam magistrados – deixariam, nessa circunstância, de o ser, dada a ausência, temporária, da condição de magistrados dos arguidos. Passando, então, a competência para apreciar os crimes e contravenções, alegadamente praticados por aqueles magistrados « suspensos », para os tribunais de base, de primeira instância.
É um facto que o comunicado emitido pelo TUI na sua página oficial electrónica apenas refere não ter admitido o pedido o pedido de habeas corpus porque este « só pode ser pedido e concedido nos termos prescritos na lei, fundamentando-se, obrigatoriamente, nas situações enumeradas nas diversas alíneas do n.º 2 do art.º 206.º do Código do Processo Penal. Outros tipos de eventual prisão ilegal não podem servir de fundamento do pedido de habeas corpus. » Não há, pois, no comunicado qualquer referência ao alegado « ponto de vista do tribunal » quanto à não aplicabilidade do referido art.º 33.º do Estatuto dos Magistrados à situação concreta do arguido, o não exercício efectivo, no momento, de funções judiciais.
Repita-se: não conhecemos o texto exacto ( em língua portuguesa ) do acórdão proferido. Mas, conhecemos o comunicado oficial em Português divulgado pelo tribunal. E, perante ele, é forçoso concluir: o indeferimento do pedido de habeas corpus nada tem a ver com a aplicabilidade, ou não, do art.º 33 do Estatuto dos Magistrados.
Tem a ver, sim – e, pelos vistos, exclusivamente –, com o facto de o tribunal ter considerado não estar preenchido nenhum dos pressupostos exigidos pelo art.º 206.º do Código de Processo Penal para o deferimento de um tal pedido de libertação de arguido preso. Ou seja, que: a ) a prisão foi ordenada por entidade incompetente; b ) foi motivada a prisão por facto pelo qual a lei a não permite; e c ) que a prisão se manteve para além dos prazos fixados pela ou por decisão judicial.
Todavia, escreveu-se num jornal: « O juiz Sam Hou Fai acrescentou ainda que , para inverter a situação de prisão preventiva, Ho Chio Meng teria de interpor um recurso e não fazer um pedido de habeas corpus. » ( « Hoje Macau », 2 de Março ). Permita-se-nos que perguntemos: o meritíssimo juiz-presidente do TUI afirmou, na audiência de julgamento do pedido, aquilo mesmo que atrás está referido? Que o arguido em causa teria que interpor um recurso da decisão que ordenou a sua prisão preventiva ? Um recurso ? Mas para quem ?
Com todo o respeito que o tribunal, as pessoas e a matéria nos merecem, isto demonstra claramente a incongruência do sistema jurídico quando se trata de decisões do TUI tomadas em primeira instância, pois que, como é sabido, é jurisprudência daquele tribunal delas não ser admissível recurso.
Ao arrepio da justiça e do bom-senso, como o reconhece a maioria da comunidade jurídica da RAEM. E, provavelmente, como o sente o próprio Tribunal de Última Instância.

8 Mar 2016

USJ | Conferência sobre alunos com o síndrome de Down

Tornar o sistema educativo mais inclusivo e, por implicação, as próprias escolas é a preocupação de Donna Couzens, na palestra que orienta na próxima sexta-feira sobre a integração de alunos com o síndrome de Down nas escolas. Para a académica, um sistema educativo só o pode ser verdadeiramente se as escolas também se tornarem mais inclusivas.
No enunciado da sua palestra, e citando um relatório da UNESCO de 2009, Donna refere que “as escolas normais com uma orientação inclusiva são a forma mais eficaz de combate à discriminação, ao gerarem comunidades mais acolhedoras promovendo a educação para todos”. “As diferenças cognitivas”, lê-se ainda, “são largamente mal entendidas pelos educadores pois o cérebro é um órgão complexo e escondido”. Na conferência vai ser explorada a forma como os professores podem decidir como e quando devem compensar as dificuldades de aprendizagem dos estudantes.
Donna Couzens é uma investigadora honorária da Escola de Educação da Universidade de Queensland, Austrália, e as suas pesquisas centram-se na compreensão e no suporte a estudantes com um foco específico nas diferenças cognitivas, de comunicação e de comportamento. A académica tem ainda desenvolvido pesquisas relativas a estudantes com autismo, deficiências físicas e com diferentes imperfeições no processo de aprendizagem.
A palestra acontece no próximo dia 11 (sexta-feira) no Speakers Hall da Universidade de São José pelas 18h30. A entrada é livre.

8 Mar 2016

Transferência | Bandeira portuguesa de Macau entregue por Rocha Vieira

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]bandeira nacional arriada no último dia da Administração portuguesa de Macau foi na sexta-feira entregue pelo general na reserva Rocha Vieira à Liga dos Combatentes, que a depositará no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha. Na sede da Liga dos Combatentes, em Lisboa, o último governador de Macau entregou a bandeira nacional ao presidente da Liga dos Combatentes, general Chito Vieira, numa cerimónia a que assistiram o ex-Presidente da República general Ramalho Eanes, o professor Adriano Moreira, os chefes militares e o ministro da Defesa Nacional, Azeredo Lopes.
A bandeira será levada no Dia do Combatente, dia 9 de Abril, para a sala das oferendas no Mosteiro de Santa Maria da Vitória, na Batalha, Leiria. Também foi entregue a salva de prata onde foi depositada a bandeira depois de ter sido arriada, há 16 anos, em Macau.
“A bandeira não podia ficar em melhores mãos”, afirmou Rocha Vieira, que lembrou o “simbolismo muito forte” da cerimónia de transferência de soberania da RAEM de Portugal para a China, a 19 de Dezembro de 1999.
A forma como foi feita a transição, defendeu, permitiu que Macau continuasse a ter “a vocação que sempre teve no passado mas adaptada ao século XXI, de ser uma plataforma, de ser terra de charneira entre a China e o resto do mundo”. “Macau é um exemplo do legado que Portugal deixou”, disse.
Quando, há dez anos, foi tornado público que a bandeira nacional estava numa gaveta na casa do ajudante de campo de Rocha Vieira à altura, tenente-coronel Vasconcelos, muitas pessoas se interrogaram qual seria o destino da bandeira e muitas instituições se ofereceram para a guardar.
Até que um governo – Rocha Vieira não disse qual – lhe telefonou a sugerir que a bandeira ficasse num “museu da expansão” que haveria de ser construído com todas as bandeiras usadas nos territórios administrados por Portugal.
O museu nunca foi construído mas, sugeriu, poderia haver, no futuro, um local que reunisse as bandeiras ainda existentes e que estão fora do olhar do público.
José Alberto Azeredo Lopes afirmou por seu lado sentir-se como “o padre nos casamentos católicos”, uma testemunha da cerimónia, e lembrou o momento que ficou registado numa imagem que “marcou muita gente”: a do general Rocha Vieira com a bandeira nacional junto ao coração, depois de lhe ter sido entregue.

7 Mar 2016

Macau terá “destaque” no desenvolvimento económico da China

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Governo chinês afirmou que Macau e Hong Kong vão ter um papel com maior destaque no desenvolvimento económico da China e garantiu o respeito pelas leis básicas dos dois territórios. Na apresentação o XIII Plano Quinquenal da China, para o período 2016-2020, perante a Assembleia Nacional Popular (ANP), o primeiro-ministro Li Keqiang manifestou “pleno apoio” aos Chefes dos Executivos das duas regiões na sua condução das cidades “de acordo com as respectivas leis”.
“Vamos dar expressão às forças distintivas de Hong Kong e Macau e elevar as suas posições e papéis no desenvolvimento e abertura económica da China”, afirmou, na abertura da sessão anual da ANP, que decorre até 14 de Março.
Em relação a Macau, as linhas gerais do XIII Plano Quinquenal, segundo noticia o jornal South China Morning Post, asseguram que Pequim continuará a apoiar a estratégia local de transformar o território num “centro mundial de turismo e lazer”.
Sobre Hong Kong, o documento diz que será lançado “no momento apropriado” a já anunciada fusão das bolsas de Hong Kong e Shenzen e garante apoio à aposta local nas novas tecnologias e na inovação.
Na terça-feira, o porta-voz da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CPCPC) já havia afirmado que o XIII plano quinquenal da China traz “boas notícias” para as regiões de Hong Kong e Macau.
“A liderança coloca grande importância e expectativas no papel de Hong Kong e Macau, enquanto planeia o desenvolvimento da China”, afirmou Wang Guoqing, citado pela imprensa estatal.
Wang assegurou que o documento, que vai ser aprovado pela ANP a 14 de Março e norteará a política económica do país entre 2016 e 2020, vai “considerar as necessidades das pessoas de Hong Kong e Macau”.
A proposta para aquele plano, delineada pela liderança do país em Novembro passado, “deixou claro que as regiões irão desempenhar um papel único no crescimento económico e na abertura da China”.
“O Governo central vai apoiar as duas regiões administrativas especiais como sempre o fez, visando aumentar a sua competitividade”, concluiu.

7 Mar 2016

Festival Literário | Pacheco Pereira na sessão abertura

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]historiador José Pacheco Pereira alertou para o perigo da desvalorização crescente das humanidades e matérias consideradas “não úteis”, no arranque da 5.ª edição do Festival Literário de Macau.

“A aparente inutilidade das humanidades é um recuo civilizacional muito significativo”, afirmou ontem, no debate inaugural do Rota das Letras, sob o tema “Para que serve a cultura na vida do homem comum”.

“Quando propus este tema foi também porque no meu país há uma discussão sobre o valor das humanidades, das matérias que ‘não são úteis'”, como o latim, a literatura clássica ou a filosofia, começou por explicar.

Para Pacheco Pereira, “há uma certa ironia na maneira como se discute hoje a cultura e as humanidades por parte das pessoas dos negócios, que pressionam as universidades a ter cursos que sirvam as suas empresas”.

No entanto, mais tarde, são estes mesmos empresários, já bem sucedidos, que “oferecem a si próprios e aos seus colaboradores cursos na Suíça em que vão aprender filosofia”. “Percebem que há uma série de conhecimentos que são importantes até no mundo empresarial”, comentou.

Por vezes essa crítica às humanidades “é feita nas universidades”, que se mostram cépticas em relação até a “ramos da ciência que não parecem ter utilidade imediata”.

Há, assim, “uma perda da ideia da universidade”, tornando as instituições “como se fossem marcas, empresas”, lamentou.

“Não quero ser um apocalíptico mas (…) houve momentos na história em que se perdeu conhecimento. Não temos a certeza que a história corre sempre de maneira a que o futuro seja melhor do que o passado”, alertou, chamando a atenção para a importância de as sociedades “lutarem por um determinado tipo de vida e cultura” que valoriza o conhecimento, sob o risco que a sua “relação com o mundo fique mais pobre”.

Pacheco Pereira, que dividiu a mesa com a escritora taiwanesa Lolita Hu, argumentou que a cultura tem um papel importante na vida do homem comum – que definiu como alguém para quem “o trabalho intelectual não é central” – porque o ajuda a compreender o mundo.

Os exemplos, indicou, estão em todo o lado: “As séries televisivas têm tido um grande sucesso. É importante saber que o principal bandido do The Wire é uma espécie de Édipo porque apesar de tudo o que faz não consegue ultrapassar o próprio destino? É útil ou não é útil?”.

A resposta surgiu afirmativa. “É útil, dá mais liberdade às pessoas e torna-as mais capazes de intervir à sua volta, quer na sua intervenção junto de amigos, quer na intervenção cívica e na sociedade”, afirmou.

Historicamente a cultura é importante “para resistir à opressão”, mas é também essencial mesmo que se viva “numa sociedade democrática e livre”. “Precisamos de cultura para compreender o mundo, para compreender o que se passa”, defendeu.

Tal não significa, no entanto, “que ser culto nos defenda da barbárie”, ressalvou, lembrando que “alguns dos guardas dos campos de concentração faziam parte dos quartetos de música.

7 Mar 2016

Benfica de Macau vence Ka I e mantém liderança

O jogo começou vivo e equilibrado com bola cá, bola lá apesar do Benfica se mostrar mais assertivo nas aproximações à baliza adversária mas sem efeitos práticos quer para um, quer para o outro lado. Na segunda parte, com o primeiro golo do Benfica logo no início, o Ka I foi-se desmoronando aos poucos

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]ra um jogo essencial para o Ka I que precisava de ganhar se pretendesse ainda manter sonhos de título, e a equipa até começou bem com mais posse de bola, o problema é que não sabia muito bem o que lhe fazer com os avançados sempre a serem mal servidos. O Benfica, com o seu futebol mais apoiado, tinha menos bola mas chegava mais perto da baliza adversária e, logo aos sete minutos, surge uma entrada perigosa de Iuri pelo lado direito área que viria a dar canto. Na sequência, um remate fora da área cruzado que por pouco não era emendado junto à baliza. 
Perto do quarto de hora, o Benfica já somava três cantos contra nenhum do Ka I, apesar destes até parecerem mais balanceados no ataque deixando sempre dois homens na frente, William e Fabrício Lima. É também nessa altura que surge o primeiro cartão amarelo do jogo, para Leonardo, o central do Ka I, por falta dura sobre Niki. Leonardo estava, inclusivamente a ser o jogador mais esclarecido na equipa do Ka I. O jogo, aliás, viria a ficar marcado por muita dureza de parte a parte com o árbitro, o senhor Grant, a mostrar alguma indulgência perante as entradas mais ou menos duras que se iam sucedendo. 
Aos 20 minutos o Ka I cria finalmente algum pânico na defesa do Benfica mas a teve pouco esclarecimento na altura de dar o melhor seguimento à bola. O Benfica, nesta fase, defendia com todos deixando apenas Niki na frente que alternava com Leo. 
De qualquer forma, era o Benfica que continuava a somar cantos e só pouco depois da meia hora o Ka I conseguia o primeiro remate com algum perigo. Foi por intermédio de Adilson mas a bola viria a sair ao lado. No final da primeira parte jogaram-se mais três minutos a justificar as diversas interrupções motivadas por faltas mais duras com vários jogadores de ambos os lados a necessitarem de assistência.

Custou mas foi
A segunda parte inicia-se com um ataque veloz do Benfica que culmina com um remate violento de Leo por cima da barra, ignorando um jogador do Ka I que estava lesionado dentro da área apesar dos gritos do treinador Henrique Nunes e dos jogadores do Kai que pedias que a bola fosse enviada para fora a fim de que o jogador pudesse ser assistido. Tal não aconteceu o que deixou o técnico benfiquista muito irritado. Aos 50 minutos era finalmente inaugurado o marcador na sequência de um canto. Centro para a área de Chi Kin do lado esquerdo, uma primeira cabeça dentro da área que serviu para amortizar a bola para um remate frouxo de Leo, rasteiro, de fora da área mas colocado, com o guarda-redes do Ka I ainda a tocar na bola mas com esta a acabar por entrar junto ao seu poste direito. 
O jogo continuava cheio de entradas duras para um lado e para o outro o que viria mesmo, aos 58 minutos, a resultar na lesão de Fabrício Lima, do Ka I, que seria substituído por Vinicius.
Aos 60 minutos, o Ka I mostrava os dentes com um livre marcado a meio do meio campo do Benfica por Chan Pak Chun. A bola seguiu a pingar para a baliza e o guarda-redes do Benfica salva in extremis desviando por cima da barra para canto. Da marcação resultaram uma série de remates do Ka I dentro da pequena área do Benfica terminando a jogada com um cabeceamento de Leonardo por cima da barra. 
Aos 67 minutos, um contra ataque rápido conduzido por Filipe Aguiar termina com este a sofrer falta à entrada da área, do lado esquerdo do ataque do Benfica. Do livre sairia o segundo golo dos líderes do campeonato. Edgar Teixeira na marcação da falta enviou a bola para o segundo poste onde Leo surgiu sem marcação a cabecear para golo. Nem precisou de levantar os pés do chão tal a passividade da defesa do Ka I. 
O Kai I acusou bastante este golo e o Benfica aproveitou para agarrar nas rédeas do jogo com o seu treinador sempre muito interventivo a pedir aos jogadores para pressionarem alto e não deixarem o adversário sair a jogar. 
Aos 76 minutos novo canto para o Benfica e novo golo. Desta vez foi Niki, também de cabeça, com a bola entrar a pingar no canto superior direito da baliza do Ka I, quase parecendo que a bola ia sair por cima da barra e talvez também tivesse sido essa a sensação do guarda redes do Ka I. Mas não. Golo muito festejado pelas hostes benfiquistas que assim sabiam estar a matar o jogo. Apesar de moribundo, o Ka I ainda descobriu alguma clarividência nos minutos finais obrigando a defesa benfiquista aplicar-se e, inclusive, a cometer alguns erros mas que não chegaram para o Ka I marcar. Aos 88 minutos fica um penálti por assinalar a favor do Benfica com Chan Man a ser puxado dentro da área, mas o árbitro assim não entendeu. Chegados aos 90 foram dados mais três minutos de tempo extra por razões idênticas às da primeira parte. O jogo viria a terminar com o Ka I a tentar o golo de honra, o que não veio a acontecer.
Com o apito final seguiram-se as celebrações efusivas da equipa benfiquista que, com este resultado, fica claramente mais perto do título. Seguem-se agora os jogos com CPK, Monte Carlo e Sporting onde, aí sim, o título desta época irá ser decidido.

Henrique Nunes, treinador do Benfica – “Ainda não podemos pensar no título”

Para o treinador do Benfica ainda falta algum tempo até que possam pensar a sério na revalidação do título porque ainda faltam jogos cruciais como os embates com o CPK e o Sporting mas, adianta, “se continuarmos a ter esta postura e a ganharmos fica mais perto, mas para já não”. Henrique Nunes voltou a queixar-se do estado do terreno mas também do calor apesar de reconhecer que “foi igual para ambas as equipas”. Todavia, o estado do relvado é mesmo a sua principal lamentação argumentando que isso “inviabilizou a equipa de apresentar um melhor futebol”. Em relação ao jogo, considerou que as coisas ficaram mais facilitadas após o primeiro golo dizendo que “a equipa soltou-se mais na segunda parte e as coisas acabaram por ficar mais simples”.

Josicler, treinador do Ka I – “A direcção tem de parar de inventar”

Naturalmente, foi um Josicler insatisfeito que encontramos no final do jogo. Com a equipa e com a direcção do clube. “Não podemos ter jogadores a dormir nas bolas paradas”, disse, adiantando ainda que “para mim bola parada é bola morta e não se admite tanta falta de concentração” apontado o facto de todos os golos terem sido sofridos dessa forma. Mas, para Josicler, o principal problema está a montante: “a direcção tem de perceber que para montar uma equipa é preciso perceber de futebol. Senão percebem, não inventem”, disse o treinador que não compreende como se desmancha uma equipa que foi vice-campeã no ano passado e vencedora da Taça. “Sempre escolhi os jogadores mas este ano não”, disse Josicler explicando que precisa de ter jogadores que transportem a bola com qualidade para os avançados como, por exemplo, o Benfica tem. “Perdi jogadores importantes que faziam a diferença na equipa e agora estamos a pagar o preço”, disse ainda Josicler. Em relação ao jogo, o treinador do Ka I referiu que “os atacantes estiveram muito isolados” apesar da equipa ter equilibrado as operações na primeira parte reforçando a necessidade de estabilizar o plantel como as principais equipas concorrentes o fizerem. Com mais esta derrota os objectivos agora passam por “voltar às vitórias para moralizar os jogadores”, explicou Josicler.

Jackson Martinez marca na jornada inaugural da Superliga chinesa

O internacional colombiano Jackson Martinez, antigo jogador do FC Porto, marcou na jornada inaugural da Superliga chinesa de futebol, ao serviço do Guangzhou Evergrande, que perdeu, por 2-1, no estádio do Chongqing Lifan. Martinez, que chegou em Janeiro à China, oriundo dos espanhóis do Atlético de Madrid, numa transferência avaliada em 42 milhões de euros, marcou no início da segunda parte, quando o Evergrande perdia por 1-0. O colombiano é a segunda contratação mais cara de sempre por um clube chinês. O clube treinado pelo brasileiro Luiz Felipe Scolari, antigo seleccionador de Portugal e do Brasil, tem vindo a dominar o futebol chinês nos últimos cinco anos, mas o crescente poderio financeiro de outros emblemas promete elevar a competição ao rubro.O primeiro golo foi marcado pelo internacional brasileiro, e antigo jogador do Benfica, Ramires, a outra ‘loucura’ do Suning – custou 30 milhões de euros. Já a equipa do único jogador português na competição, o médio internacional Rúben Micael, arrancou com uma derrota, por 0-1, na recepção ao Liaoning Whowin. A Superliga chinesa decorre até ao final de Outubro.

7 Mar 2016

Encontro de escritores de Língua Portuguesa em Macau em 2017

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]acau acolherá pela primeira vez em 2017 o Encontro de Escritores de Língua Portuguesa, confirmou na sexta-feira o coordenador cultural da União das Cidades Capitais de Língua Portuguesa (UCCLA), Rui d’Ávila Lourido. Como aconteceu nas seis edições anteriores (quatro no Brasil, uma em Angola e outra em Cabo Verde), o objectivo da UCCLA é reunir em Macau escritores de todos os países lusófonos, mas também, neste caso, para que haja “um contributo para o desenvolvimento da Língua Portuguesa e no contacto com a China e com Macau”, explicou em declarações aos jornalistas.
“É um outro critério que queremos deixar expresso, que seja um contributo para as relações entre os países que falam a Língua Portuguesa, a lusofonia, a cultura expressa em Português, com a China e com Macau em particular”, afirmou.
Rui d’Ávila Lourido considerou que “Macau é fundamental” por representar cinco séculos de presença da Língua Portuguesa na China, que ao longo da História tiveram como resultado obras como “Peregrinação”, de Fernão Mendes Pinto, e tem hoje continuidade com, por exemplo, autores e investigadores chineses que falam Português.
A UCCLA está a negociar a possibilidade de o encontro de 2017 ser feito em associação com o Festival Literário de Macau e com o apoio “das instituições que em Macau se dedicam à cultura”, afirmou.
Nos seis encontros anteriores já estiveram mais de 90 escritores, incluindo cinco Prémios Camões e alguns dos “mais famosos” autores dos países da lusofonia, referiu.
Rui d’Ávila Lourido apelou, por outro lado, à participação de autores de Macau no Prémio Literário UCCLA, apresentado no ano passado e que será atribuído este ano pela primeira vez.
As candidaturas acabam a 31 de Março e o vencedor será anunciado a 5 de Maio, que a Comunidade de Países de Língua Portuguesa instituiu como o Dia da Língua Portuguesa.
Além do vencedor do prémio, serão atribuídas oito menções honrosas – um autor de cada país ou território de Língua portuguesa será distinguido. Todas as obras premidas serão publicadas.
Integram o júri nomes como Germano de Almeida (Cabo Verde), Inocência Mata (São Tomé e Príncipe), Isabel Pires de Lima (Portugal) ou José Mendonça (Angola).

7 Mar 2016

Laginha junta-se a Cristina Branco ao vivo 

O pianista e compositor Mário Laginha vai acompanhar Cristina Branco no concerto da fadista que estava já anunciado para o próximo dia 12 de Março, foi ontem divulgado. Assim, vão ambos actuar no Centro Cultural no concerto integrado no Festival Literário Rota das Letras, que arrancou no sábado com a presença do escritor José Pacheco Pereira e a projecção do filme “Cartas da Guerra”, do realizador Ivo Ferreira. A quinta edição do Rota das Letras decorre até 19 de Março e homenageia o poeta português Camilo Pessanha, no 90.º aniversário da sua morte.

7 Mar 2016

Novos parquímetros trazem mais rotatividade

A Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) garante que, face aos novos parquímetros de uma hora, “a taxa de utilização não teve grande alteração, mas a rotatividade aumentou significativamente”, com esta a variar entre os 20 a 100% consoante os diversos locais da cidade. Segundo um inquérito realizado a condutores e lojistas, 57% disse que os parquímetros de uma hora ajudaram a aumentar a rotatividade dos lugares, sendo que 50% dos inquiridos diz apoiar a instalação de mais parquímetros deste género em zonas movimentadas. A DSAT promete instalar mais 41 parquímetros azuis, os quais custam ao utilizador uma pataca por dez minutos e seis patacas por hora. Os novos parquímetros ficarão situados na Rua de Lei Pou Chon (10), Estrada de Adolfo Loureiro (10) e Estrada de Coelho do Amaral (21).

7 Mar 2016

PME | Plano de incentivo a jovens empresários

A Associação Industrial e Comercial de Macau vai lançar um plano já em Junho para ajudar os jovens que queiram montar o seu negócio. A informação foi avançada por Kevin Ho Kin Lun, presidente da associação, ao jornal Ou Mun. “O plano está na fase de preparação e temos um princípio de orientação para que os jovens possam participar em vários seminários e reuniões para a partilha de experiências”, referiu. Kevin Ho Kin Lun disse ainda que muitos jovens empresários pretendem abrir o seu próprio negócio com o subsídio do Governo, mas que a maioria não sabe gerir esse montante. O presidente da associação considera assim que o plano vai corresponder às medidas do Governo e fornecer mais informações. “O mercado é limitado e os jovens devem procurar mais oportunidades para os seus negócios”, rematou.

7 Mar 2016

DJ Ride (feat. Capicua) – “Fumo Denso”

“Fumo Denso”

Tu fumas à janela, olho pra ti espelhado nela,
A noite é longa e dentro dela, a chuva pinta uma aguarela
Somos tu e eu, só tu e eu, tu e eu, só tu e eu…
E é quando me tocas que eu sei. Eu sei.
Porque é que eu ainda não te ultrapassei. E sei…
Que nada eu que eu vivi ou viverei
Pode ser maior que o nosso fogo e neste jogo todo és rei.

O lume, o fumo, o perfume, o cheiro…
O lume, o fumo, o perfume, o cheiro…
O lume, o fumo, o perfume, o cheiro…
O lume… o cheiro…

E é quando me falas que eu sinto…
Que as palavras são amargas como o tinto
E esses lábios doces cor de vinho
Só me mentem ao dizer “Eu não te minto”!
E nesses olhos verdes absinto
Eu só consigo ver um labirtinto.
E é quando tu te calas que eu penso…
Porque é que não és feito de silêncio?
Dás-me um copo que eu dispenso
Estendo o corpo e adormeço
sono tenso, sonho intenso
entre nós só fumo denso
fumo denso…
é só fumo denso…
fumo denso…
Dás-me um copo que eu dispenso
Estendo o corpo e adormeço
sono tenso, sonho intenso
entre nós só fumo denso
só fumo denso…
fumo denso…
é só fumo denso…

Tu fumas à janela, olho pra ti espelhado nela,
A noite é longa e dentro dela, a chuva pinta uma aguarela
Somos tu e eu, só tu e eu, tu e eu, só tu e eu…
O lume, o fumo, o perfume, o cheiro…
O lume, o fumo, o perfume, o cheiro…
O lume, o fumo, o perfume, o cheiro…
O lume… O cheiro…

DJ Ride

OLIVEIROS TOMÁS OLIVEIRA, ANA MATOS FERNANDES

5 Mar 2016

Hong Kong | Pequim diz que vai libertar três dos cinco livreiros

Três dos cinco livreiros de Hong Kong detidos na China vão ser libertados dentro de poucos dias, após uma confissão na televisão estatal, confirmaram as autoridades chinesas às de Hong Kong na noite de quarta-feira.
Num comunicado, a polícia de Hong Kong confirma a iminente libertação de Cheung Chi-ping, Lui Por e Lam Wing-kei, ainda que continue a desconhecer-se o destino dos outros dois livreiros, Gui Minhai e Lee Bo, ambos com passaportes europeus.
Cheung, Lui e Lam serão libertados sob fiança devido à “boa atitude” manifestada, apesar de continuarem a ser investigados e ainda não se saber se poderão voltar às suas casas em Hong Kong ou se terão de permanecer na China continental.
As autoridades acusam-nos de estarem envolvidos num caso de comércio de livros proibidos na China, uma actividade que alegadamente realizaram sob ordens de Gui Minhai, considerado o cérebro da operação.
Os cinco livreiros trabalham para editoras especializadas em livros sobre pormenores sórdidos acerca do Partido Comunista e dos seus líderes, bem como batalhas internas pelo poder, e desapareceram em misteriosas circunstâncias quando se encontravam em Hong Kong, na Tailândia ou durante deslocações à China interior.
Todos reapareceram sob custódia chinesa e protagonizaram confissões transmitidas na televisão estatal, uma prática habitual no país e que é muito criticada por organizações de direitos humanos, que consideram que são realizadas sob coação.

Sem autorização

Gui, com passaporte sueco, é dono da editora Mighty Current e tem como sócio Lee Bo, com passaporte britânico. Liu Por era gerente da empresa, Cheung Ji-ping seu assistente e Lam Wing-kei gerente da livraria Causeway Bay Books, propriedade da Mighty Current.
As autoridades chinesas argumentam que Cheung, Lam e Liu enviaram 4.000 exemplares não autorizados a 380 compradores no território chinês desde Outubro de 2014, algo que teriam feito sob a ordem de Gui.
Desconhece-se de que é acusado Lee, mas o livreiro explicou, na sua confissão na televisão, que se tinha deslocado à China por vontade própria para colaborar com uma investigação sobre a sua editora.
A União Europeia já mostrou preocupação com a situação dos cinco livreiros, e sublinhou que, além da questão de direitos humanos, este caso põe em causa “o respeito” para com o princípio “Um país, dois sistemas”, que estipula que Hong Kong e Macau têm mais liberdades que aquelas que existem no resto da China, como é o caso da liberdade de expressão.

4 Mar 2016

IC apresenta programa do Festival de Artes

Com o “tempo” por tema e um apelo à imaginação, o festival deste ano traz-nos mais de 100 eventos onde se inclui Shakespeare para todos os gostos, o melhor de Tang Xianzu e até dança no gelo. De Portugal, vem Manuela Azevedo a cantar num campo de ténis, de Macau Álvaro Barbosa e José Alberto Gomes propõem música electrónica sobre imagens da Antárctica e os Dóci Papiaçam voltam à carga por entre aromas de chá

[dropcap style=’circle’]L[/dropcap]evar à audiência as culturas chinesa e ocidental, continua ser objectivo do IC vincando a ideia com o assinalar dos 400 anos da morte de dois nomes de relevo da literatura mundial: William Shakespeare e Tang Xianzu. “Sonho de Uma Noite de Verão”, do dramaturgo britânico, vai mesmo ter honras de abertura num espectáculo produzido pela Shakespeare Theatre Company dos Estados Unidos, voltando os textos do mestre inglês aos palcos para encerrar o FAM com uma adaptação da tragédia “Macbeth”, encenada pela companhia sul-africana Third World Bunfight, que traz uma visão do mundo na paisagem pós-colonial de África e as relações históricas e contemporâneas entre a África e o Ocidente; Tang Xianzu, o grande dramaturgo da dinastia Ming também será evocado e com duas das suas obras: excertos de “O Pavilhão das Peónias”, pela Trupe de Ópera Yue Zhejiang Xiaobaihua e a tragédia romântica Lenda do Gancho de Cabelo Púrpura, interpretada pelo reconhecido actor de ópera cantonense de Macau Chu Chan Wa entre outros talentos locais. A Midsummer's Night Dream, Free-for-All

Shakespeare para todos

Para além das peças enunciadas, Shakespeare estará ainda presente neste festival com a proposta local da Godot Art Association e encenação de Philip Chan, onde três artistas (Chang Wei Tek, Ieong Pan e Sam Choy) irão interpretar, numa noite, os escritos de Shakespeare com abordagens tão diferentes como canto, representação, fala, esgrima, malabarismo e magia em linguagem do dia-a-dia, com ênfase à interacção e colaboração dos espectadores. O Teatro Laitum, de Espanha, traz uma proposta diferente que a organização apresenta como “um espectáculo difícil de explicar, mas muito divertido de interpretar!” Encenado por Toti Toronell, a proposta é a de uma acção de rua intitulada Micro-Shakespeare, produzida para o Royal National Theatre de Londres, que se propõe condensar as obras de Shakespeare em cinco peças de oito minutos.  O espectador atrás da caixa de teatro irá receber instruções através do auricular e movimentar os objectos de acordo com as instruções, sem saber a razão daquilo que ele/ela faz nem aquilo que ele/ela está a fazer.   

Electrónica e um sonho de Chá

Para além de outras actuações de artistas locais, destacam-se o espectáculo “Viagem à Última Fronteira” de Álvaro Barbosa e José Alberto Gomes com Hong Seng no piano solo e a Hong Kong New Music Ensemble. Uma produção realizada a partir de uma expedição de dez dias ao continente antárctico num antigo barco oceanográfico dos anos 70 efectuada por Barbosa e o desenhador de instrumentos musicais, Victor Gama pelas ilhas da Península Antárctica onde coligiram gravações áudio e vídeo. O espectáculo apresenta peças musicais que incluem composições electrónicas originais de Gama tocadas em instrumentos por ele desenhados e num dispositivo de som interactivo (Carrilhão de Vento Radial) inventado por Barbosa. Poder-se-ão ainda ouvir sons gravados na Península Antárctica, transportando o público para a majestosa natureza daquele território.
“O mundo maravilhoso com que temos sonhado desapareceu para sempre, devido à transição, à mudança e ao desenvolvimento da sociedade moderna. Se esta história for sobre a Macau do passado que já não existe, como é que vamos enfrentar e lidar com um futuro imprevisível?” Esta é a proposta dos Dóci Papiaçám que voltam com mais uma peça em patuá de Miguel Senna Fernandes.

Mais gelo e música num campo de ténis

Todos conhecemos Manuela Azevedo como a voz dos Clã mas desta vez ela traz uma proposta inovadora num espectáculo criado pela própria com Hélder Gonçalves e Victor Hugo Pontes.
O espectáculo chama-se “Coppia” e pretende dar início a uma viagem na qual a dança e a música jogam num campo de ténis. O termo evoca parelha, dupla, casal, par remetendo para a ideia de casal amoroso, pois tem a mesma origem de “cópula”, e a associação gráfica evidente com a palavra portuguesa “cópia” e os seus significados – réplica, reflexo, repetição. A ideia é a de explorar todas estas possibilidades com temas David Byrne, Sérgio Godinho, Gilberto Gil, Sonny & Cher, Clã entre outros.
Dança também é o que nos trazem os Le Patin Libre, do Canadá, mas sobre o gelo. Um espectáculo para o Ringue junto ao Camões sugestivamente intitulado “Deslizar”, que o jornal britânico The Guardian considera “um puro ímpeto corporal de liberação e espaço.” Sob a direcção técnica de Alexandre Hamel 
e Pascale Jodoin como co-encenador, cinco patinadores combinam a virtuosidade da patinagem artística com a atitude da dança de rua e a sofisticação do espectáculo contemporâneo. Este programa de 45 minutos foi especialmente criado para esta que é a primeira tournée asiática do grupo e consiste de uma compilação dos mais aclamados espectáculos criados pela companhia ao longo dos últimos dez anos.

De Beckett ao Japão

O monólogo “A Última Gravação de Krapp”, a aclamada obra de Samuel Beckett, encenado e interpretado pelo reconhecido dramaturgo e encenador de renome mundial Robert Wilson é outra das apostas do festival a par com uma peça desempenhada por actores com deficiências cognitivas que nos é trazida pelo Disabled Theater de Jérôme Bel e o Teatro HORA, da Suíça, e que pretende revelar como aqueles, apesar das suas insuficiências, são capazes de questionar a sociedade actual bem como os modos de vida de diferentes pessoas. Do Japão chega o coreógrafo Tao Ye que lidera Teatro TAO Dance nos bailados abstractos 6&7 que exploram o potencial do corpo humano e ainda o bailado Obsessão, da autoria dos coreógrafos japoneses Saburo Teshigawara e Rihoko Sato, que pretende demonstrar como uma obsessão interna pode dilacerar o consciente.

Menos papel, mais recintos

O orçamento deste ano levou um corte em relação ao do ano passado, de 29 para 27 milhões de patacas, mas que Ieong Chi Kin, Chefe do Departamento de Artes e Espectáculo do IC, garante ter sido por via, sobretudo, de uma poupança em materiais impressos passando este ano a organização a apostar mais na promoção online. Ung Vai Meng, presidente do Instituto, reforçou que o corte não terá impacto na qualidade do programa e aproveitou ainda para dizer que a proposta do IC é mesmo a de “levar a cultura a toda a cidade, transfigurando cada canto num ponto de ligação cultural”. O mesmo responsável adiantou ainda que, “sendo este o primeiro festival depois do processo de reestruturação existem agora mais instalações disponíveis e a preocupação do IC em ter espectáculos diversificados para toda a gente”. Ung Vai Meng referiu ainda a disponibilidade do governo em colaborar com entidades privadas para que “aconteçam mais coisas na cidade”. A audiência prevista para o evento estima o IC será na ordem das 13,000 pessoas.
O Festival tem lugar entre os dias 30 de Abril e 29 de Maio e os bilhetes estão disponíveis a partir das 10:00 horas do dia 13 de Março.

4 Mar 2016

Futebol | Superliga chinesa dá o pontapé de saída

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap] Superliga chinesa de futebol arrancou ontem, animada pela contratação de grandes estrelas internacionais, mas o único jogador português na competição, Rúben Micael, considera que o título será disputado apenas por “duas ou três equipas”.
“Até podes ter o Messi, o Ronaldo e o Iniesta, mas se não tiveres mais oito bons jogadores é impossível ganhar o campeonato”, comenta à agência Lusa o médio internacional português.
Apesar dos gastos recorde na contratação de nomes sonantes, Rúben Micael lembra que “quem faz a diferença são os jogadores chineses”.
Segundo os regulamentos vigentes no campeonato chinês, no onze em campo podem alinhar, no máximo, três jogadores estrangeiros não asiáticos.
“Há mais grandes craques de nível mundial que querem vir” para a China, revela Rúben Micael. “O problema são as vagas”.
Por isso, o futebolista, que também já alinhou, entre outros, pelo União Madeira, Nacional, FC Porto e os espanhóis do Atlético de Madrid, acha “que eles deviam apostar mais na formação do jogador chinês”.
O médio de 29 anos foi contratado no ano passado ao Sporting Braga pelo Shijiazhuang Everbright, clube sedeado na capital de Hebei, província que confina com Pequim.
“Os primeiros quinze dias não foram fáceis”, recorda.
O choque de viver entre uma “cultura diferente” foi, entretanto, atenuado por “um tradutor disponível 24 horas” e a “cozinha europeia que o clube faz questão de disponibilizar”.
No Everbright jogam ainda um brasileiro, um venezuelano e um coreano.

Milhões do oriente

A China figura em 93.º lugar no ranking da FIFA. Qualificou-se uma única vez para um Mundial, em 2002, na Coreia do Sul, mas perdeu os três jogos que disputou e não marcou um único golo.
No entanto, as 16 equipas que disputam a prova máxima do futebol chinês investiram este ano cerca de 331 milhões de euros na contratação de jogadores estrangeiros, mais 92% do que gastaram na temporada anterior.
Naquele campo, a China bateu todas as potências desportivas do planeta.
O brasileiro Alex Teixeira, contratado pelo Jiangsu Suning, por 50 milhões de euros, tornou-se o jogador mais caro de sempre no futebol chinês.
O ex-avançado do FC Porto Jackson Martínez, contratado ao Atlético de Madrid pelo Guangzhou Evergrande, por 42 milhões de euros, foi o segundo mais caro.
O clube treinado pelo brasileiro Luiz Felipe Scolari, antigo seleccionador de Portugal, tem vindo a dominar o futebol chinês nos últimos cinco anos.
No ano passado, sagrou-se campeão após uma luta renhida com o Shanghai SIPG, conjunto orientado pelo sueco Sven Goran-Eriksson, que esteve no Benfica cinco épocas (1982/1984 e 1989/1992).4316P24T1
Já o Jiangsu Suning, que terminou em nono lugar na época passada, promete ser também um forte candidato.
Além de Alex Teixeira, aquele clube contratou o internacional brasileiro Ramires, que já passou pelo Benfica, por mais de 30 milhões de euros.
O colombiano Fredy Guarín, que representou o FC Porto, rumou ao Shanghai Shenhua, enquanto o compatriota Freddy Montero, avançado do Sporting, assinou pelo Tianjin Teda, por cinco milhões de euros.
O argentino Ezequiel Lavezzi, o costa-marfinense Gervinho ou o camaronês Stephane Mbia são outros jogadores pagos a ‘peso de ouro’ que se estreiam por emblemas chineses.
A Superliga chinesa decorre até ao final de Outubro.
Apesar do rol de estrelas a rumar a oriente não ter um impacto directo na selecção da China, já eliminada na fase de qualificação para o Mundial de 2018, Rúben Micael concorda que só se aprende com os melhores.
“O jogador chinês vai-se esforçar ao máximo para aprender com os estrangeiros”, prevê.

4 Mar 2016

Alunos de Macau vão participar em intercâmbios com a China

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]ilhares de estudantes de Macau vão ser seleccionados para participar em actividades de intercâmbio na China, ao abrigo do “Programa Mil Talentos”, ao longo dos próximos três anos, lançado pelo Governo. Ao abrigo do programa, que havia sido anunciado em Novembro nas Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2016, vão ser seleccionados anualmente mil candidatos para participarem em actividades de intercâmbio no interior da China, as quais se vão realizar em cooperação com o Ministério da Educação da China e a Federação da Juventude Chinesa.
“Organizar-se-ão visitas nacionais com cariz de investigação e de intercâmbio, inclusive de estudantes universitários e do ensino secundário”, detalhou, em comunicado, o Gabinete do Porta-voz do Governo, indicando que o programa está sob a responsabilidade do Gabinete do Chefe do Executivo, cabendo à Fundação Macau coordenar contactos com escolas e associações juvenis para executar conjuntamente os programas.
No âmbito do programa trienal, vão ser criados dois grupos: o grupo para escolas secundárias e o grupo aberto. No primeiro ano, 12 escolas são convidadas, a título experimental, a seleccionar grupos de alunos do secundário para integrarem as actividades, dando início a programas de geminação com escolas na China.
A triagem dos alunos do ensino profissionalizante será delegada a dez grupos da sociedade civil, que actuam na área da juventude. No primeiro ano, prevê-se a participação de escolas e associações de Cantão, Zhejiang, Jiangsu e Xanghai.
O plano concreto do programa e os trabalhos de inscrição serão iniciados, de forma gradual, pelas associações e escolas, estando previsto que as actividades se subordinem a temas como formação de líderes, inovação científico-tecnológica ou artes e cultura.
O “Programa Mil Talentos” corresponde “a uma tentativa da RAEM de promover em grande escala o trabalho na área da juventude”, segundo o Governo. “Através da interacção com a juventude da China, pretende-se encorajar os jovens de Macau a elevarem o seu nível cultural e capacidades intelectuais”, oferecendo-lhes “oportunidades para conhecerem os desenvolvimentos mais recentes a nível nacional, incentivando-os ao desenvolvimento pessoal em paralelo com o desenvolvimento do país”, refere o comunicado oficial.

3 Mar 2016

Função Pública | Membros da Comissão de Ética reconduzidos

O Chefe do Executivo vai reconduzir a partir de amanhã os membros da Comissão de Ética da Função Pública. Paulino do Lago Comandante, Secretário Geral da Associação de Advogados de Macau e também membro do Conselho para a Renovação Urbana, mantém-se como presidente, ao lado de Lam Heong Sang, deputado pela Federação das Associações dos Operários de Macau, e Kou Peng Kuan, o actual director dos Serviços de Administração e Função Pública. Esta Comissão visa apoiar o Chefe do Executivo “na implementação e fortalecimento de uma cultura de transparência e integridade na Administração Pública” e a ela compete-lhe “analisar e emitir pareceres sobre os pedidos de autorização para o exercício de actividades privadas após a cessação de funções por parte do pessoal da Função Pública”, bem como emitir recomendações, conselhos e orientações relativas à conduta dos trabalhadores.

3 Mar 2016

“O Livro do Desassossego” chega a Londres

* Por Michel Reis

“O coração, se pudesse pensar, pararia.”

[dropcap style=’circle’]”[/dropcap]Van der Aa: The Book of Disquiet”, o espectáculo multimédia do holandês Michel Van der Aa, foi apresentado nos dias 24 e 25 de Fevereiro em Londres, no qual a maestrina portuguesa Joana Carneiro dirigiu a London Sinfonietta, uma das mais conceituadas orquestras sinfónicas britânicas. Com base nos escritos autobiográficos de Bernardo Soares (“semi-heterónimo” de Fernando Pessoa, segundo o próprio), a peça, apresentada pelo Southbank Centre, subiu ao palco do Teatro Coronet numa versão inglesa, com o actor Samuel West a fazer de Bernardo Soares.
Esta peça de teatro musical para actor, agrupamento e filme foi apresentada pela primeira vez na língua alemã, em 2009, em Linz, ano que a cidade alemã foi capital europeia da cultura. Em Fevereiro de 2010 chegou, na sua versão portuguesa, à Casa da Música no Porto, com João Reis como protagonista. O espectáculo de Van der Aa é descrito como um misto de representação com música e vídeo no qual, entre outros, a fadista Ana Moura está presente.
Joana Carneiro, maestrina titular da Orquestra Sinfónica Portuguesa, no Teatro Nacional de São Carlos e tida como uma das melhores regentes do mundo, conta já com uma larga experiência internacional. Em 2009, foi nomeada directora musical da Berkeley Symphony, nos Estados Unidos e Maestrina Convidada da Orquestra Gulbenkian. Seguiram-se concertos com algumas das melhores orquestras de França, Canadá, Espanha, Suécia, Nova Zelândia e Austrália.

VII-1
VII-1

Van der Aa escreveu o seu próprio libreto a partir do livro de Pessoa, a maior parte dito pelo actor, sentado a uma secretária. Ecrãs de vídeo em volta deste oferecem imagens filmadas de outras personagens mencionadas nos textos: um major reformado, um varredor de ruas e uma rapariga com que Soares sonha depois de a ver numa litografia; chama-lhe Ofélia e é retratada em filme pela cantora de fado Ana Moura. Estes seus alter-egos interferem de modo crescente até que surge um diálogo virtuoso entre o actor e os heterónimos, que a seguir desaparecem gradualmente.
Os temas explorados nos escritos de Fernando Pessoa complementam as ideias exploradas no trabalho de Michel Van der Aa. Tal como as suas obras recentes exploram a ideia de identidade, o Livro do Desassossego de Pessoa está escrito na perspectiva do alter-ego de um guarda-livros chamado Bernardo Soares. Pessoa cria diferentes personagens para tornar visível um diálogo interior. Cada um dos heterónimos tem a sua própria biografia, língua e origens, diz Van der Aa. É adequado, então, que estas personagens fracturadas tenham as suas próprias identidades musicais, pelo que o compositor considera The Book of Disquiet como uma das suas partituras mais coloridas. Van der Aa descreve os escritos de Pessoa como densos, bastante pesados e por vezes sombrios, mas cheios de sagacidade e explora as implicações das ideias do poeta na era moderna. Refere ainda que, na realidade, o protagonista não vive; ele escreve sobre os seus amigos ou fala com eles em sonhos porque dessa forma pode afastar-se deles. Não é capaz de se ligar ao resto do mundo. A concluir, refere que o ecrã do computador é a janela e alguns de nós vivemos no Facebook em vez de em pessoa.
Apropriadamente, o compositor concebeu a obra multimédia como um todo em vez a separar nas suas componentes. As diferentes componentes sempre lhe surgem em paralelo uma às outras – quando está a escrever a música pensa no que está a acontecer no filme ou no palco e como estas camadas se encaixam umas nas outras. Refere que não é uma peça com música de fundo – é teatro musical. A música conta a parte da história que o texto não conta e tudo se encaixa.
O Livro do Desassossego é considerado uma das maiores obras de Fernando Pessoa. É um livro fragmentário, sempre em estudo por parte dos críticos pessoanos, tendo estes interpretações díspares sobre o modo de organizar o livro. Existe uma versão resumida do mesmo, com os trechos mais belos e representativos da obra, intitulada Palavras do Livro do Desassossego. Uma das estudiosas de Pessoa, Teresa Sobral Cunha, considera que existem dois Livros do Desassossego. Segundo esta última, que organizou em conjunto com Jacinto do Prado Coelho e Maria Aliete Galhoz a primeira edição do livro, publicada apenas em 1982, 47 anos depois da morte do autor, existem dois autores da obra: Vicente Guedes numa primeira fase (anos 10 e 20) e o já referido Bernardo Soares (final dos anos 20 e 30). Já outro estudioso de Pessoa, António Quadros, considera que a primeira fase do livro pertence a Pessoa. A segunda fase, mais pessoal e de índole da escrita de um diário, é a que pertence a Bernardo Soares.
Quando Fernando Pessoa morreu em 1935, deixou uma arca cheia de escritos incompletos e não publicados, entre os quais estavam as páginas que constituem a sua obra-prima póstuma, O Livro do Desassossego – a autobiografia do seu semi-heterónimo Bernardo Soares. Mais de três décadas depois de ter sido revelada ao mundo, a partitura de Michael Van der Aa transforma a colecção de vinhetas de sonho e anedotas autobiográficas de Pessoa numa obra hipnótica que combina a palavra falada, com música, electrónica e vídeo, examinando a verdadeira natureza do sempre inapreensível ego.

3 Mar 2016