Presidente da Alemanha em visita de Estado à China

Sem papas na língua. Num discurso para estudantes universitários, Gauck criticou fortemente os regimes comunistas, advogou a liberdade académica e mostrou-se preocupado com as recentes as recentes restrições impostas à sociedade civil chinesa. Um tom que rompe com os habituais elogios às relações económicas dos Chefes de Estado que visitam a China

O Presidente da Alemanha, Joachim Gauck, condenou ontem o regime ilegítimo comunista na antiga Alemanha de leste e enalteceu a importância dos direitos humanos durante um discurso para estudantes universitários em Xangai, a “capital” económica da China.
Evocando episódios da história alemã e da sua vida na antiga Alemanha do leste, Gauck condenou aquela “ditadura”: “A maioria das pessoas não eram nem felizes, nem livres. Todo o sistema carecia legitimidade”, afirmou.
Desde 1949, o “papel dirigente” do Partido Comunista Chinês (PCC) é um “princípio cardial” da governança da China.
Durante a actual liderança do actual Presidente chinês, Xi Jinping, as autoridades reforçaram o controlo sob académicos, advogados e jornalistas, segundo organizações de defesa dos direitos humanos.
Referindo-se à antiga Alemanha do leste, Gauck disse que “não existiam eleições livres, igualitárias e com voto secreto”
“O resultado era uma falta de credibilidade, que acompanhava a desconfiança entre governadores e aqueles que eram governados”, acrescentou.
“Era um Estado que, como parte da união de países comunistas dependentes da União Soviética, silenciava o seu próprio povo, prendendo-o e humilhando aqueles que recusavam seguir a vontade dos seus líderes”, disse ainda.

Liberdades fundamentais

Os comentários de Gauck contrastam com as afirmações da maioria dos chefes de Estado que visitam a China e que preferem enaltecer publicamente a importância das relações comerciais com a segunda maior economia do mundo.
Gauck, que se reuniu no início desta semana com Xi Jinping, em Pequim, afirmou que a Alemanha estava “preocupada” com as recentes notícias que dão conta de maiores restrições impostas à sociedade civil chinesa.
“Uma sociedade civil activa e vibrante traduz-se sempre numa sociedade flexível e inovadora”, afirmou.
O Presidente da Alemanha disse ainda aos estudantes que a liberdade académica beneficia toda a sociedade.
“A universidade tem de ser um local de investigação e discussão livre e franca”, realçou, perante cerca de 100 estudantes e professores. “Esta liberdade é um bem precioso”, disse.
Gauck rejeitou ainda que a noção de direitos humanos que consta da Declaração Universal das Nações Unidas seja um “produto do ocidente”, como é frequentemente defendido pelos líderes chineses.

Direitos humanos? Uma banalidade

No mês passado, a China qualificou de “irresponsáveis” os comentários do responsável pelos direitos humanos da ONU Zeid Ra’ad Al Hussein, que apelou à libertação imediata de advogados defensores dos direitos humanos e activistas detidos por Pequim.
Zeid disse estar preocupado com a detenção de 250 advogados e activistas pelas autoridades chinesas desde Junho, na sequência de uma campanha repressiva sobre os dissidentes em todo o país.
Na segunda-feira, a edição em inglês do jornal oficial do PCC Global Times afirmou em editorial que a questão dos direitos humanos não seria uma prioridade da visita do Presidente alemão, mas antes uma “questão banal”.
“O ocidente deveria avaliar os direitos humanos na China com base em factos. O progresso que a China fez nos direitos à vida e desenvolvimento dos seus 1,3 mil milhões de habitantes merecem um aplauso”, defendeu o jornal.

24 Mar 2016

Treze empresas portuguesas visitam China em Abril

Treze empresas portuguesas do sector turístico visitam em Abril a China, o maior emissor mundial de turistas, para uma série de encontros com operadores locais, anunciou ontem à Lusa o presidente do Turismo de Portugal, Luís Araújo.
“É uma maneira de as empresas sentirem as necessidades específicas dos turistas chineses”, explicou Araújo em Pequim, à margem de uma visita de quatro dias à China.
Segundo o responsável, o número de turistas chineses que visitaram Portugal no ano passado cresceu 36%, face a 2014, para “cerca de 150 mil”.
Em média, o turista chinês foi o que mais gastou em compras ‘tax free’ – 641 euros por transacção -, de acordo com estimativas da empresa Global Blue.
“Dá uma ideia da curiosidade que existe relativamente a Portugal como destino turístico e de investimento, duas componentes que temos de ter em consideração quando falamos do mercado chinês”, frisou Luís Araújo.
O homem que sucedeu em Fevereiro no cargo a João Cotrim de Figueiredo destacou ainda os novos centros para emissão de vistos para Portugal, com abertura prevista em cinco cidades chinesas (Shenyang, Nanjing, Fuzhou, Wuhan e Chengdu).

Consulado em Cantão

A abertura de um consulado-geral em Cantão, capital da província de Guangdong, no sul da China, “está também na recta final”, segundo confirmou a embaixada de Portugal em Pequim.
“Hoje em dia os vistos são emitidos em 24 horas. Isso é algo reconhecido por todas as entidades com quem estivemos”, enalteceu Luís Araújo.
Pelas contas do Governo chinês, 120 milhões de chineses viajaram para fora da China Continental em 2015, um aumento de 19,5% face ao ano anterior.
Em 2014, o Turismo de Portugal passou a ter uma representante permanente na China, Inês Cunha Alves, 39 anos, especialista em relações internacionais e empreendedorismo.
No mesmo ano, o Governo português lançou uma campanha de promoção no país centrada na imagem de “C Luo” (Cristiano Ronaldo, em chinês), a figura portuguesa mais conhecida entre os chineses.
O turista chinês “viaja durante o ano todo” e é o que “gasta mais e fica mais tempo”, apontou Araújo. “E isso representa algo que nós queremos”, concluiu.

24 Mar 2016

AFA | Época de exposições abre com fotógrafos locais

A Art for All Society (AFA) abre a sua temporada de exposições no próximo dia 30 de Março, com “Paisagens Escondidas”, que integra imagens da dupla de autores da terra Season Lao e Tang Kuok Hou. Pelas 18h30, a exposição “Paisagens Escondidas” reúne fotografias de Macau e do Inverno de Hokkaido com trabalhos da série “Dialects”, de Lao.
Ao falarem de si, os autores – apesar das proximidade etárias – consideram que assumem estilos artísticos francamente diferentes. Lao, que vive neste momento no Japão, apresenta trabalhos que visam essencialmente a natureza numa perspectiva “zen”- Já Tang, graduado pelo Departamento de Sociologia da Universidade de Macau, terá optado pelo trabalho artístico debruçando-se nos conceitos identitários, temporais e referentes aos problemas culturais.
“Paisagens Escondidas” é também percepcionada de forma diferente por ambos. Lao, que visitou Hokkaido enquanto estrangeiro, terá ficado absolutamente fascinado pelas paisagens naturais da região bem como pelas suas florestas brancas de neve, o que o terá levado à ânsia de fotografar cada um destes cenários. Por outro lado, Tang procede a uma abordagem da actual Macau, numa tentativa de captura de cenários distintivos locais, longe do estilo Las Vegas, mas antes em busca do silêncio da cidade.
Apesar das diferenças, ambos estão no encalce de uma paisagem que se esconde na sua mudez e beleza. A exposição estará patente ao público até 30 de Abril e tem entrada livre.

24 Mar 2016

Bruxelas | Irmãos el Bakraoui são os responsáveis dos atentados

Os dois bombistas suicidas responsáveis pelos atentados em Bruxelas são os irmãos Khalid e Ibrahim el Bakraoui, de 27 e 30 anos, confirmou esta quarta-feira o procurador federal belga, Fréderic Van Leeuw, numa conferência de imprensa. Ibrahim el Bakraoui fez-se explodir no aeroporto de Zaventem, enquanto  Khalid el Barakoui foi o responsável pelo atentado no metro de Bruxelas, avançou ainda Leeuw.
A polícia encontrou o computador de Ibrahim el Brakaoui, que continha o seu testamento, dentro de um caixote do lixo em Schaerbeek. No documento, citado pelo procurador federal belga, lê-se que Ibrahim sentia-se “pressionado” por estar a ser “procurado em todo o lado”, temendo ser capturado pelas autoridades por não estar em segurança. 
Van Leeuw confirmou que os atacantes chegaram ao aeroporto de táxi, provenientes da comuna de Schaerbeek. O taxista que levou os três suspeitos que se fizeram explodir no aeroporto afirma que os três homens queriam, inicialmente, transportar cinco malas, mas que o táxi apenas tinha espaço para três.
No atentado do aeroporto, um segundo bombista fez-se explodir mas ainda não foi identificado. O terceiro suspeito dos atentados, que foi identificado pelas câmaras de segurança do aeroporto, na foto vestido de branco e de chapéu na cabeça, continua em fuga e ainda não se sabe a sua identidade. 
Foram ainda feitas buscas em Anderlecht, tendo sido uma pessoa detida pelas autoridades belgas. Não se conhece a identidade do suspeito, mas confirma-se que não se trata de Najim Laachraoui, que continua em fuga. 

Portugueses entre os feridos

O procurador federal belga afirmou também que os atentados de Bruxelas mataram 31 pessoas e deixaram 270 feridas, rectificando os números avançados ao longo de terça-feira. Contudo, o número poderá aumentar tendo em conta a gravidade de alguns dos feridos. Entre os feridos, estão pelo menos 21 portugueses. 
Os dois irmãos tinham registo criminal e eram procurados pela polícia. Ibrahim el Bakraoui foi condenado em 2010 pelo tribunal de Bruxelas depois de ter disparado, com uma Kalashnikov, contra a polícia. Este acontecimento remonta a 30 de Janeiro daquele ano quando, na sequência de um assalto, Ibrahim disparou repetidamente contra agentes da polícia, tendo ferido um deles. Foi condenado a nove anos de prisão. Em 2011, o seu irmão, Khalid el Bakraoui, foi condenado por vários assaltos a uma pena de cinco anos. Ficou então em liberdade condicional. 
A televisão belga RTBF afirma que Khalid el Bakraoui alugou, com uma identidade falsa, um apartamento no bairro de Forest, na capital belga. Foi neste bairro que a polícia matou na semana passada, quando ainda procurava por Salah Abdeslam, Mohamed Belkaid, um argelino de 35 anos, que vivia ilegalmente na Bélgica. Na altura, as autoridades descobriram ao lado do corpo deste argelino uma bandeira do auto-designado Estado Islâmico (EI), uma arma de fogo, vários explosivos e impressões digitais de Salah Abdeslam, o principal suspeito dos atentados de Novembro, em Paris, e que foi preso dias depois. 
Os dois irmãos estavam também referenciados por terem alugado, sob nome falso, um apartamento em Charleroi, no Sul da Bélgica, onde dois atacantes se reuniram antes de partirem para Paris, em Novembro, para levar a cabo os ataques que mataram 130 pessoas. A RTBF avança também com a informação de que um dos irmãos el Bakraoui terá fornecido armas e munições para os atacantes que abriram fogo na zona dos bares e no Bataclan, em Paris. 

A monte

Najim Laachraoui, de 24 anos, que é procurado pelas autoridades desde segunda-feira continua em fuga. O seu ADN foi encontrado nos apartamentos utilizados para a preparação dos ataques de Paris, onde terá ajudado a planear os atentados bombistas e a preparar os explosivos. Com o nome falso de Soufiane Kayal alugou uma casa em Auvelais – onde se prepararam os atentados de Paris.
O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, afirmou na manhã desta quarta-feira que é necessário “reforçar o controlo das fronteiras externas” da União Europeia, considerando que a Europa “fechou os olhos” às “ideias extremistas do salafismo”. “É urgente adoptar o PNR [acrónimo de Passenger Name Record, um programa de vigilância de passageiros aéreos]. Estas são as propostas francesas para os próximos meses”, declarou Valls à rádio francesa Europe 1. 

24 Mar 2016

Ambiente | IPIM e DSPA lançam 9ª edição do MIECF

Começa a 31 de Março a nona edição do Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau (MIECF). A apresentação da feira versou sobre verde, plataforma, trocas de informação e oportunidades de negócios verdes. O grande tema para este ano é o da gestão de resíduos, com o objectivo de reduzir a sua produção

[dropcap style=’circle’]C[/dropcap]om uma área de cerca de 17 mil metros quadrados, o Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau (MIECF, na sigla inglesa) abre no final deste mês, a 31 de Março. A edição deste ano apresenta um programa extenso com uma série de fóruns, bolsas de contactos e várias exposições.
Presentes, além de várias dezenas de especialistas de todo o mundo, estarão 460 expositores provenientes de vários países e regiões, incluindo Portugal, registando-se ainda um aumento da presença dos países de Língua Portuguesa. O orçamento mantém-se inalterável, nos 25 milhões de patacas.
O foco para este ano, segundo Raymond Tam, director dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), são os resíduos, o seu tratamento e o sensibilizar da população e agentes locais para a necessidade de reduzir o desperdício. Tam referiu ainda que o Governo pretende ver Macau como uma plataforma de intercâmbio entre empresários de empresas do ambiente do Delta do Rio das Pérolas e Europa.
Para além da gestão resíduos, a construção e a deslocação verdes são outros dos sectores em destaque no certame.

Todos a reciclar

Segundo Irene Lau, Directora Executiva do Instituto de Promoção do Comércio e Investimento de Macau (IPIM), o pavilhão de Macau tem vindo desde 2008 a adoptar conceitos amigos do ambiente conseguindo este ano, uma redução de 70% no consumo de energia. Para esta responsável governamental, pretende-se apresentar “um conceito ecológico que se possa mostrar ao mundo”. Para o efeito são utilizados materiais recicláveis na estrutura, que se pretende que possa ser utilizada noutras feiras em Macau. Esta atitude, disse ainda Irene Lau, é algo que se quer também ver nos expositores da feira com o objectivo de diminuir os resíduos produzidos pelo evento.

Negócios verdes

Um ponto destacado na apresentação foi a da promoção dos negócios na área da gestão ambiental sendo salientado por diversas vezes a vontade de Macau em se constituir como plataforma comercial entre a região do Delta e a Europa. Para o efeito, vão ser apresentados vários modelos de negócio e casos de estudo de opções bem sucedidas.
De acordo com a organização, nesta edição já estão assegurados, pelo menos, 25 protocolos, sendo que dez vão ser subscritos por entidades da região do Delta do Rio das Pérolas.
A mobilização do público é “vital” para a organização, que pretende utilizar este evento para o familiarizar dos cidadãos com práticas ambientais. O Dia Verde do Público – o último da feira, a 2 de Abril – foi criado para habituar as pessoas reduzirem a produção de resíduos com um programa de actividades educativas como jogos, workshops, apresentações em palco e sorteios.

23 Mar 2016

IACM lança novo sistema para infracções nos espaços públicos

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Instituto para os Assuntos Cívicos Municipais (IACM) dotou os seus fiscais de meios electrónicos, para estes multarem os infractores do Regulamento Geral dos Espaços Públicos. A nova ferramenta permite a selecção dos artigos infringidos e tem um sistema GPS para registar o “local do crime”. Com esta medida, o IACM espera reduzir erros de escrita, melhorar a informação e poupar tempo.
“O objectivo”, diz o IACM, é o de “optimizar o trabalho de fiscalização na área da sanidade e higiene ambiental”. Assim, durante dois anos, o sistema foi testado, sendo que agora está já nas mãos dos fiscais. O Sistema Electrónico para Autuação (IPMS), assim se chama, é dedicado à aplicação de multas na área da higiene ambiental. Anteriormente, o sistema utilizado era exclusivamente em papel, o que possibilitava a existência de erros nos procedimentos.
O IPMS permite aos fiscais a selecção dos artigos relativos à infracção, a data e hora de acusação, visto que a nova ferramenta dispõe de um sistema GPS que permite registar com precisão o local onde foi cometida a ilegalidade. Basta aos fiscais introduzirem os dados pessoais e observações relativas aos infractores. Para o IACM, “esta medida vem reduzir as possibilidades de erros de escrita, economizar tempo e aumentar a precisão da informação de acusação”.
A par disso, lê-se ainda numa nota distribuída à imprensa, “facilita os trabalhos posteriores de processamento de texto e apresenta vantagens para efeitos de análise de dados e estatísticas”. Assim, garante o IACM, “a comunicação entre os serviços é aperfeiçoada e o tempo de processamento de infracções é reduzido, o que melhora significativamente a eficiência de todo o processo”.
Segundo a mesma nota, o aumento populacional da cidade, que já ultrapassa as 600 mil pessoas adicionadas a 30 milhões de turistas por ano, tem provocado um impacto nos trabalhos de manutenção da sanidade e da limpeza ambiental do território e da aplicação da lei. Assim, informa aquele instituto, “no ano de 2015, foram registadas 21.040 infracções ao Regulamento Geral dos Espaços Públicos, enquanto nos dois primeiros meses do corrente ano foram registadas 4712 infracções”.

23 Mar 2016

Sound & Image Challenge | Abertas inscrições para 7ª edição

Já começaram os preparativos para aquele que será o sétimo Sound & Image Challenge, numa iniciativa da Creative Macau e de cariz internacional rumo à promoção local da criação audiovisual. As inscrições para a recepção de filmes e videoclipes estão abertas e dia 2 de Abril já há um evento

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]stão abertas as inscrições para que aconteça entre 6 e 11 de Dezembro mais uma edição do festival de curtas de Macau Sound & Image Challenge, organizado pela Creative Macau. Com uma periodicidade anual, este é o momento local de excelência dedicado às curtas-metragens em que se pretende estimular a produção cinematográfica, bem como incentivar os produtores do exterior a competir em Macau. Por outro lado é também seu intuito promover de modo geral a cultura audiovisual .
Para isso, são realizados dois concursos: o “Shorts”, que incorpora quatro categorias principais – ficção, documentário, publicidade e animação, bem como filmes que integrem os valores de Macau dentro dessas mesmas categorias – e o “Volume” para a produção de vídeos musicais de bandas de Macau.
As submissões para o concurso estão abertas, sendo que o período termina no próximo dia 16 de Junho. Para os participantes do Volume, está disponível a lista de canções de bandas locais através do site do concurso (www.soundandimagechallenge.com.mo), sendo que os interessados poderão ainda utilizar temas à sua escolha desde que sejam de Macau. Farão parte do júri profissionais da indústria audiovisual e vídeo-musical.
No “Shorts”, o júri da pré-selecção é constituído por Alice Kok, artista e curadora, António Caetano Faria, realizador e produtor, Emily Chan, realizadora e argumentista, Lorence Chan, realizador, e João Cordeiro também membro do júri de pré-selecção.
Cada concorrente poderá participar com um máximo de três filmes originais, sendo que as respectivas produções terão que ter data de término entre 1 de Janeiro de 2015 e 16 de Junho de 2016.

Palcos especiais

Esta edição conta novamente com a utilização de dois espaços privilegiados de Macau: o Teatro D. Pedro V, que será o espaço das “honras da casa” e acolherá a recepção das cerimónias de abertura e entrega de prémios, a mostra das curtas finalistas, para votação da audiência para o prémio “Melhor Filme do Público”, extensões, estreias e será ainda o lugar de encontro com os realizadores internacionais que virão a Macau expressamente para o Sound & Image Challenge.
O outro espaço eleito foi a Cinemateca Paixão, conhecida pela sua dedicação à divulgação da cultura cinematográfica em Macau, onde irá decorrer entre 10 e 11 de Dezembro um programa mais concentrado na mostra de filmes e videoclipes musicais, tanto finalistas com premiados. Será também o palco de encontro entre os realizadores internacionais e locais.

Sucesso em números

Segundo a organização, o festival terá sido um “tremendo sucesso” em 2015, com destaque para a “qualidade representada nos 680 filmes submetidos, com proveniência de 65 países, não descurando a participação na área musical com a recepção de 45 videoclipes”. E como sem público não há “festa”, a organização salienta também o interesse crescente da população local.

Simpósio no MAM

O dia 2 de Abril é a data marcada para um simpósio acerca de filmografia, já inserido no âmbito do SIC 2016. O encontro a ter lugar no Museu de Arte de Macau convida os oradores Joyce Yang, crítica de cinema e membro da FSCHK, Sam Ho, curador do festivais de cinema e escritor, Albert Chu, realizador e produtor, e João Cordeiro, designer de som e animação, sendo moderado por Alice Kok e Benjamin Hodges, professor de produção de vídeo e multimédia.

Categorias e prémios

Melhor Evento do Festival – 20 mil patacas
Melhor Ficção – 10 mil patacas
Melhor Documentário – 10 mil patacas
Melhor Animação – 10 mil patacas
Melhor Publicidade – 10 mil patacas
Melhor Local – 10 mil patacas
Identidade Cultural de Macau – 10 mil patacas
Prémio do Público – 3 mil patacas
Melhor VOLUME – 10 mil patacas

23 Mar 2016

Que estamos nós aqui a fazer, tão longe de casa? 5- Ele

* por José Drummond

[dropcap style=’circle’]P[/dropcap]or onde ficaste? Por onde andas? Por onde tenho eu saudades tuas? Consome-me este espaço em que me sinto a perder-te cada vez mais. Este espaço onde não reconheço a memória. Este espaço onde não reconheço a palpitação das coisas. Não sei o que te disse que tudo alterou. Onde estava que nada fiz? Nada mais que estar perto e longe, e amedrontar-me, e desaparecer sozinho na escuridão da noite. E desaparecer sozinho no nevoeiro da manhã. Sozinho. E agora? Onde estou que me preparo para um perigo muito maior? O perigo de me abandonar a este espaço. De me abandonar neste espaço. Este espaço onde o oxigénio carece. Onde tudo se transforma em limbo. Este espaço onde não reconheço a palpitação das coisas. Eu! Um eu qualquer que realmente não quero reconhecer. Um eu, em que, no qual, infelizmente, não posso pensar. Um eu qualquer. Um eu que não tem objectivo. Um eu que não se oferece. Que não tem corpo. Que não se indemniza. Que não é tangível. Atentamente eu. Atentamente eu. Desatentamente eu.

Por onde ficaste? Por onde andas? Naquele café em Viena enquanto nos deliciámos com bolo de chocolate? Naquela banco de jardim em Budapeste onde nos perdemos e nos encontrámos? Naquela praça em Praga onde o relógio da igreja tocou nove badaladas e as minhas palavras fizeram correr uma lágrima no teu rosto? Naquela praça em Praga onde ao mesmo tempo me disseste que estavas triste? Por onde ficaste? Por onde andas? Porque te quero tanto? A ilusão é jovem e imortaliza-se. Não é errado iludirmo-nos. É assim como uma bomba. É assim como uma explosão. Aquela explosão que recordamos sempre com nome de romance. Aquele romance que tão bem ilustra a impossibilidade do amor. Aquele romance que me faz pensar em nós. É assim e aos trinta e quatro anos és linda. Na verdade. É assim e és linda qualquer que seja a tua idade. Espera. Deixa-me dizer-te agora. Calmamente. Amo-te. Amo-te como nunca pensei. Amo-te até ao ponto de ser incapaz de te tirar retratos. Amo-te até ao ponto de fazer auto-retratos. Eu? O que significa isso afinal? Eu isto e eu aquilo. Quantos eus tem um eu? O eu do café em Viena é diferente do eu naquela rua em Budapeste e diferente daquela praça em Praga. Um eu dissemelhante? Um eu mesmo? Que eu fiz eu? Eu sei que sou um eu melhor quando estou contigo. Contigo sou um eu como o eu naquela canção do Lou Reed. “Just a perfect day/You made me forget myself/I thought I was/Someone else, someone good.

Mas deixa-me perguntar-te de novo por onde ficaste? Por onde andas? Deixa-me dizer-te de novo que fugi porque tenho medo de mim. Porque vejo em mim todos os tipos de fealdade. Porque quando tu visses o que eu vejo em mim irias ser tu a ir-te embora. E eu iria acabar a odiar-te se o fizesses. E as pessoas iriam pensar que eu era bom. E eu não sou bom. E eu não podia deixar que isso acontecesse. Porque eu só sou bom contigo. E isto não tem nada a ver com o amor. Ou tem tudo a ver com o amor. Talvez tenha medo de mim porque aquilo que vejo quando olho para mim incorpora todos os tipos de fealdade. E não importa se estou nu ou vestido. Porque os dias perfeitos só existem contigo. Porque me fazes esquecer de quem sou e penso que sou um outro e até penso que sou bom.

Recordo-me daquele dia em que parecias imperturbável. Parecias imperturbável mas, na realidade, o teu coração batia apressado e disseste-me estas palavras. “Estou tão feliz!” Como elas ecoam agora em mim. “Estou tão feliz!” Palavras que se insinuam. Que misteriosamente se insinuam. Recordo-me da tua pele enquanto as disseste. Do teu corpo quase encostado ao meu. Em abstracto recordo-me dessa ondulação suave e perfumada. E de como cheiravas. Recordo-me do teu rosto que me deste a ver de tantas formas. Em formas que não deixas os outros ver. Um rosto tão perfeito que quando me lembro dele o meu coração inunda-se de uma vontade de te procurar e gritar com toda a força que tenho o que sinto por ti. Um rosto que não tem imperfeições mesmo que à força, muitas vezes, me quisesses mostrar irregularidades. Mas é aí que reside o problema. É que, apesar de me quereres mostrar o contrário, são exactamente essas irregularidades que fazem com que o teu rosto seja perfeito. Recordo-me dos desenhos dos teus olhos em sobreposição de luz e sombra quando em espelho de parque de diversões soltaste estas palavras mágicas. “Estou tão feliz!”  E elas ecoam agora em mim e eu estou triste. E agora estas palavras são trágicas. E este eu não é o eu que tu conheces de mim.

Mas porque te importarias tu que eu esteja agora triste. Que esteja triste nesta cama de hotel onde posso morrer. Nesta cama de hotel sem a tua presença. Nesta cama de hotel onde revisito todas as camas de hotel onde estivemos juntos. Nesta cama de hotel onde sinto este único tipo de desconforto cinza das inúmeras pequenas rugas que apresentam os meus olhos moídos. Nesta extensão de memória onde as minhas camisas brancas estão torcidas. Neste puro desconforto de ter de existir neste lugar. E tudo me parece um pouco errado de cada vez que olho ao redor deste quarto. A sensação impressionista do padrão do sofá. A inepta posição da torneira na bacia na casa de banho sempre que lavo as mãos. O emaranhado embriagado de cada peça de roupa que usei sem lavar. As meias compradas com desconto para preencher uma necessidade imediata. Por quanto mais tempo me irei dedicar a estudar o errado no quarto para não estudar o errado do eu? O eu mais triste que se solta e sente e parece ter sido um eu usado por outro homem. Mas se agora aqui estivesses eu até diria uma piada. Só para te ver sorrir. Por exemplo se tivesse que compilar uma lista das piores cómodas esta que suporta a televisão aqui neste quarto estaria no topo. Porque escolhe o eu um lugar deliberadamente profanado para padecer? E a televisão que solta grunhidos em cantonês. E as legendas que o eu imagina. “Como foi que isso aconteceu?” “Morreu na cama de um hotel há três dias atrás sem ninguém saber nada.” “Realmente triste!” “Realmente triste!”

23 Mar 2016

Dia Internacional da Mulher: retrospectiva da condição feminina 她

* por Julie O’yang

[dropcap style=’circle’]N[/dropcap]o início do séc. XX surgiram na China uma série de novos termos e conceitos, inventados ou reformulados, que representavam, de diversas formas, uma nova leitura de normas e princípios ancestrais relacionados com o género. Neologismos polémicos, como “nüjie女界 (universo feminino/mulher),” “nü yingxiong女英雄(heroína),” “guomin zhi mu国民之母 (mãe do cidadão),” “nü guomin 女国民” (cidadã) e “yingci英雌 (mulher heróica),” não só nomeavam, logo reconheciam, papeis que as mulheres ao tempo nunca tinham assumido nem sequer imaginado vir a assumir, mas eram também indicadores do complexo processo de mudanças sociais, políticas e culturais pelas quais passava a China moderna. A invenção e identificação de novos pronomes femininos representava a invenção e identificação de um novo universo, inexoravelmente determinado por alterações políticas e sócio-culturais.
Mas recuemos a 1920, quando Liu Bannong 刘半农 (1891-1934), figura destacada do Novo Movimento Cultural, propôs em “Questões sobre o caracter 她ta”, a invenção de um novo caracter chinês representativo do pronome feminino na terceira pessoa. Em Abril de 1920, travaram-se no seio do referido Movimento também conhecido por Movimento do 4 de Maio, discussões acaloradas sobre a reformulação ou abolição do “ta”. Foi a partir deste período que o caracter “ta” ganhou um novo significado. A diferenciação entre “ele” e “ela” na China remontava ao início da década de 70 do séc. XIX, mas o imperativo de inventar o equivalente chinês do nosso pronome “ela” foi também facilitado pela intensificação das interacções culturais e linguísticas com o Ocidente, a partir dos finais do séc. XIX. Liu Bannong e os seus contemporâneos experimentaram criar uma série de neologismos de forma a traduzir correctamente “ela” para chinês. 她ta não era de forma alguma a única tradução possível, mas apenas uma do vasto leque de possibilidades.
Enquanto em todo o mundo se celebrou o Dia da Mulher no passado dia 8, algumas estudantes fizeram questão de celebrar o “Dia da Mulher do Império do Meio” um dia antes, marcado por diversas actividades e por mensagens que eram tudo menos feministas.
Na segunda-feira a rede social Weibo foi inundada por fotografias de cartazes exortando as mulheres a – imaginem – serem boas esposas!
O hashtag introdutório do “Dia da Mulher” no Weibo chinês, apelava às mulheres para “encontrarem o amor e a compreensão junto do seu companheiro” e aos homens, para que as estragassem com mimos e as tratassem como deusas. Será que isto é feminismo à maneira chinesa? Fica-se tentado a duvidar…
À tarde, enquanto passava os olhos por um jornal europeu, fui surpreendida pelo seguinte título: “Pornografia ou Morte”. O artigo era sobre um dos pioneiros da pornografia que conseguiu a sua legalização na Dinamarca. A passagem que se segue impressionou-me especialmente:
“ Um dos critérios usados pela polícia para determinar se uma foto era ou não pornográfica era a distância entre as pernas da modelo. Mais de 20 cms era considerado violação do parágrafo 234. Menos de 20 cms já era arte.”
Corria o ano de 1967.

23 Mar 2016

Orquestra | Missa em Dó Maior na Igreja de S. Domingos

A Orquestra de Macau apresenta nos dias 24 e 25 de Março pelas 20h00 horas o Concerto de Páscoa, na Igreja de S. Domingos. O maestro Peter Tiboris chega a Macau a convite da OM. Também conhecido pelas suas actuações em Carnegie Hall, irá dirigir a “Missa em Dó Maior” de Ludwig van Beethoven e obras sacras de Franz Schubert juntamente com o Coro Filarmónico de Taipé, a soprano de gabarito internacional Eilana Lappalainen e três solistas sul coreanos: a meio-soprano Yang Songmi, o tenor Shin Dongwon e o baixo Yoo Ji Hoon.
“A Missa em Dó Maior”, que será executada nestes dois concertos, foi a primeira missa a ser composta por Beethoven, sendo apreciada pela crítica internacional pelas suas melodias doces e cativantes que transmitem uma atmosfera de paz, piedade e pureza. Nestes concertos, serão ainda apresentadas as obras “Stabat Mater”, “D. 175” e “Tantum ergo”, “D. 962”, de Franz Schubert, e obras rituais tradicionais escritas para a cerimónia da missa.
Com entrada livre, os bilhetes serão distribuídos no local uma hora antes do início do espectáculo, por ordem de chegada, sendo que serão dados individualmente um máximo de dois ingressos.

23 Mar 2016

Exposição | Paisagem humana em fotografia

A Creative Macau inaugura hoje, pelas 18h30, a exposição de fotografia de Tang Kuok Hou “Cenário Humano”. Segundo o autor, as imagens de paisagem têm dado ênfase à apreciação da beleza com negligência sobre as cenas peculiares mais insignificantes. O autor encontra neste tipo de cenas os símbolos do lugar e do momento, concretizando-se como o registo da paisagem. É seu móbil, a redefinição da imagem monótona da cidade e a ligação de todos os seus elementos numa imagem em que pessoas, comunidade, lugar, natureza e memória se encontram. A exposição pode ser vista até 23 de Abril e tem entrada livre.

23 Mar 2016

Unitygate | Portugal, Macau e Taiwan unidos numa dança sem barreiras

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]segunda criação sino-lusa da Amalgama e da Unitygate tem data marcada para os próximos dias 25 e 26 Março pelas 20h00, no pequeno auditório do Centro Cultural de Macau. “Reflections” é um trabalho conjunto da “reconhecida” coreógrafa portuguesa Alexandra Battaglia e da directora artística local Stella Ho, que irão liderar os bailarinos de Portugal e Macau num caminho de cultura e lembrança. “Ambas têm mostrado um empenho especial no que abrange as trocas culturais entre Portugal e Macau sendo que, através deste projecto, pretendem representar as mesmas no seu trajecto já longo e assíduo, se bem que também muito diverso”, indica a organização.
Na mira de uma terceira perspectiva foi ainda convidada a jovem coreógrafa de Taiwan Peng Hsiao-yin com a sua companhia Dancecology, cuja participação se insere numa terceira visão da situação actual de Macau, dando ênfase às fronteiras da dança numa mescla de três espaços físicos.
Segundo a organização, o espectáculo terá o intuito de “depurar a beleza e a tristeza do destino através da linguagem física numa reinterpretação das emoções e da memória e no ‘abraço’ que se estabelece entre os lugares que as preconizam”.
Mais ainda, diz a organização, “é também a representação da purificação espiritual através da dança num reconhecimento interno de nós através do reflexo nos outros, inter-relacionados ou não. Esta viagem usa simbolicamente o movimento e o som para convidar todos a entrar pelo mar adentro, mar portador de memórias, o mar que une e separa.”
Os bilhetes para o espectáculo já se encontram à venda e custam 120 patacas.

22 Mar 2016

Hospital da Taipa | Quase dez milhões para estacas

Parte da construção de parte do Hospital da Taipa, oficialmente designado por Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas, vai finalmente ter início com a adjudicação ao Laboratório de Engenharia Civil de Macau da empreitada das fundações por estacas do Edifício do Hospital Geral e do Edifício de Apoio Logístico. Os serviços vão custar 9,7 milhões de patacas.

22 Mar 2016

UM | Projecção do filme “Timbuktu”

Amanhã, pelas 18h30 é hora de ver “Timbuktu”, na Universidade de Macau. O premiado filme de Abderrahmane Sissako é uma produção franco-maliana que se desenrola na pequena cidade do Mali e que chega agora a Macau através do ciclo de cinema EUAP-M dentro do Festival Francófono organizado pelo Consulado Geral de França em Hong Kong e Macau. Longe do caos, nas dunas, Kidane leva uma vida tranquila com a mulher, a filha e o pequeno pastor Issan. Ao matar acidentalmente Amadou, o pescador que atacou a sua vaca preferida, Kidane deve enfrentar a lei dos ocupantes determinados em derrotar um Islão aberto e tolerante. Face à humilhação e aos maus tratos perpetuados por esses homens complexos, “Timbuktu” conta o combate silencioso e digno de mulheres e homens, o futuro incerto das crianças e a luta pela vida num momento de ocupação que marcou o fim da música, da alegria, da vida conhecida até então. A projecção conta com legendagem em Inglês e será seguida de uma tertúlia de discussão. A entrada é livre.

22 Mar 2016

Clube C&C | Palestra sobre os milhões do Desporto

“Desporto – uma indústria de milhões” é o mote para uma palestra que tem lugar ao final de tarde de hoje, às 18h45, no Clube C&C, numa conversa conduzida por Fernando Vinhais Guedes. Segundo o próprio, constará neste espaço a abordagem do desporto enquanto indústria geradora de altos rendimentos, tendo como pilares três dos maiores acontecimentos desportivos mundiais: os Jogos Olímpicos, o campeonato mundial de futebol e a Fórmula 1. Fernando Vinhais Guedes é licenciado pelo Instituto Nacional de Educação Física (INEF) e conta com uma vida profissional intimamente ligada ao Desporto e à dinamização das suas instituições e iniciativas, contando ainda com a autoria em diversas publicações, entre elas a colaboração no livro “Olhares sobre o desporto” . Foi ainda autor de “Desporto em Macau 1981-1985” e “Desporto com palavras”, publicado também no território em 2012. A entrada é livre.

22 Mar 2016

Armazém do Boi | Festival Internacional de Artes Performativas de regresso

Vai ter lugar nos próximos dias 26 e 27 de Março mais uma edição do Festival Internacional de Artes Performativas de Macau, no Armazém do Boi, com a apresentação de obras vindas da Suíça

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Armazém do Boi organiza mais uma edição do Festival Internacional de Artes Performativas de Macau (MIPAF), sendo também, mais uma vez, o palco de um conjunto de espectáculos que, este ano, contam com a apresentação do trabalho de uma série de artistas contemporâneos suíços. Estes trazem o Espectro dos Sentidos – “Spectrum of SENSES – Swiss Window in Asia Performance Showcase”, numa colaboração com o Swiss Arts Council e curadoria de Stéphane Noël.
Segundo o site da organização, estas encenações representam o cruzamento entre as artes visuais e performativas, em que seis grupos e artistas interpretam trabalhos situados entre a poesia e a política, o movimento e a estaticidade, percorrendo territórios que, apesar de conhecidos, são ainda espaços inexplorados.
Segundo Ann Hoi, co-curadora local deste projecto que falou ao jornal Ponto Final, será objectivo deste espaço “cultivar e reforçar o local como uma plataforma legítima para o intercâmbio de artistas internacionais das artes performativas”. Hoi considera ainda que o Armazém do Boi é o espaço indicado para a apresentação de trabalhos experimentais em coerência com o próprio espaço, uma vez que “é uma forma de arte que se apresenta como o mecanismo perfeito, para catalisar a tensão em torno da independência artística”.
As hostes este ano têm entrada livre e abrem sábado, 26 de Março, às 16h00 com a apresentação de “Vernissage” pela 2B Company. Às 15h00 é a vez de Alexandra Bachzetsis apresentar “Gold” e às 18h00 “Bain brisé” é interpretado por Yann Marussich.
Domingo contará com “The Triumph of Fame” por Marie-Caroline Hominal, com apresentações de 15 minutos entre as 12h00 e as 15h30. Às 17h00 é a vez de “THIS IS A GALA”, performance levada a cabo por Martin Schick, sendo que às 18h00 sobe ao palco “Más Distinguidas” com La Ribot. A edição termina com “Duchesses” por Marie-Caroline Hominal & François Chaignaud às 19h30.
O MIPAF apresenta-se como um dos maiores eventos anuais acolhidos pelo Armazém do Boi, trazendo a Macau artistas de reconhecimento internacional de modo a promover trocas criativas. Esta edição conta ainda com o apoio do Instituto Cultural e da Fundação Macau.

22 Mar 2016

“Macau na construção de uma herança” é tema de palestra no Instituto Ricci

[dropcap style=’circle’]T[/dropcap]erá lugar no próximo dia 29 de Março, às 18h30, a palestra “A construção de uma herança: cultura, agência local e a cidade” no instituto Ricci de Macau. Presidida por  Stephan Rothlin S.J., director do instituto, e proferida por Sheyla Schuvartz Zandonai, investigadora do Departamento de Sociologia da Universidade de Macau e investigadora associada no Laboratoire Architecture Anthropologie (LAA), École Nationale Supérieure d’Architecture de Paris La Villette (França) desde 2014.
A oradora é ainda conhecida pelos seus trabalhos na área do estudo das relações entre a transformação urbana e as políticas económicas do jogo e do turismo, bem com da emergência de práticas e discursos do lugar, herança e pertença em Macau.
Esta apresentação tem subjacente a economia de Macau, que terá passado de um estado “arrastado” para um crescimento galopante com a entrada do século 21 e da liberalização do jogo. As forças de mercado aliadas à indústria  do jogo vão não só aumentar o rendimento e o emprego, como também promover a ascensão do custo de vida e do turismo de massas, num movimento de transformação tanto espacial como da moldura e dinâmica social, indica a organização.
“Nesta transformação a posição dos moradores de Macau terá passado do entusiasmo inicial para o cepticismo e inquietação, ao mesmo tempo a que se assiste ao seu envolvimento em movimentos de descontentamento e contestação, ou mesmo de oposição ao poder dominante do jogo sobre a economia e sociedade de Macau”, pode ler-se.
A palestra incide em como a herança e o património se tornaram um ponto importante enquanto agentes populares rumo à criação de uma outra imagem e experiência de Macau, mais distante do jogo e mais próxima da percepção e entendimento das pessoas acerca da sua cidade. Sob uma perspectiva etnográfica, esta palestra descreve e analisa algumas destas reacções promotoras de uma nova visão e uma nova construção de património por parte dos moradores da RAEM.
A palestra será realizada em Inglês e tem entrada livre, sendo que está condicionada à reserva prévia de lugares.

22 Mar 2016

UM | Homem versus máquina em discussão esta quarta

A Universidade de Macau (UM) acolhe esta quarta-feira a palestra “Está a Inteligência Humana a ser Ultrapassada pela Inteligência Artificial? O segredo AlphaGo”. Esta será proferida pelo professor Lionel Ni, vice-reitor dos Assuntos Académicos e professor no Departamento de Computadores e Ciências da Informação da instituição.
O programa AlphaGo conquistou na terça-feira a vitória final com quatro partidas no campeonato do jogo “Go”, entre homem e máquina, no qual competia com o campeão sul-coreano Lee Se-Dol. A vitória do programa AlphaGo, criado pela DeepMind, representa um êxito para esta companhia da Google, que assegura ter criado uma nova forma de inteligência artificial (AI) com pensamento “intuitivo”. O AlphaGo usa dois jogos de “redes neutras”, que lhe permitem processar dados de uma forma semelhante à do homem, anulando milhões de potenciais movimentos inúteis. Outra das suas grandes novidades é que emprega algoritmos que lhe permitem aprender e melhorar com experiências passadas. Resta a questão se estamos perante uma bênção ou uma maldição.
Em cima da mesa está o esclarecimento sobre as questões relativas à IA, em que Lionel Ni explicará a diferença entre a inteligência humana e inteligência artificial em termos leigos. As inovações pioneiras de algoritmos de computador e a descoberta de ondas gravitacionais na Física são outros dos temas da palestra, que terá lugar no Anthony Lau Building da UM, às 17h00 e contará com tradução em Inglês. Com entrada livre, a participação é sujeita a registo através do site da UM.

21 Mar 2016

Rota das Letras anuncia vencedores de Concurso de Contos

[dropcap style=’circle’]H[/dropcap]omens sombrios, diospiros que ainda são verdes e o dia em que Macau mudou de soberania estão no pódio da quarta edição do Concurso de Contos do Rota das Letras. Os vencedores deste ano são Zhong Younghua, de Macau, Darío Bravo, do Brasil e a australiana Jane Camens, nas categorias de Chinês, Português e Inglês. Os vencedores receberam um prémio monetário no valor de dez mil patacas cada e têm os seus trabalhos traduzidos e publicados no livro de contos “Quarto Crescente”, onde constam também textos de autores presentes na edição de 2015 e que foi lançado este fim-de-semana.

Brilho no café

Zhong Younghua conta a história de Mr. Blackrose, homem taciturno de origem chinesa frequentador assíduo de um café em Macau, que transporta consigo uma rosa negra e vários segredos sombrios. A escolha desta história pela aclamada autora chinesa Wang Anyi, é explicada pela mesma: “Escolhi Mr. Blackrose de entre os quatro finalistas por a narrativa possuir um certo nível de talento e estilo, uma história completa, uma estrutura lógica e uma prosa fluida. O espaço ficcional do café cria o ambiente perfeito para o desenrolar da história, sugerindo a transformação romântica de um destino intolerável. Assim, uma existência limitada é finalmente capaz de se abrir, brilhando, ao perseguir valores clássicos”.

Wang Anyi referiu ainda que “a vida em Macau raramente surge representada na literatura, pelo que o valor destes textos reside no facto de abrirem esse caminho”.

Retrato de mestre

Na categoria de Língua Portuguesa, o prémio foi atribuído ao brasileiro Darío Bravo. O conto “Diospiro Verde” relata a história de um homem que lida com o passado e a perda de alguém que amou. O escritor e académico Carlos André considera que este trabalho “surpreende pela riqueza do retrato humano, pelo primor do desenho, pela mestria da palavra, pela força da imaginação” e por tudo isso estar contido num texto curto. “O conto é assim mesmo: breve. E, quando nele cabe tanto, como é o caso de ‘Diospiro Verde’, ser breve é ser tudo”.

Um dia e duas noites

A australiana Jane Camens, que é simultaneamente uma das convidadas da edição deste ano, venceu na categoria de língua inglesa com o conto “Depois da Meia-Noite”, uma história que se desenrola no dia da transferência de soberania de Macau para a China, em Dezembro de 1999.

Yan Ge, membro do júri e autora chinesa, refere que “guiado pela história, o leitor testemunha um dia e duas noites nas vidas de pessoas da época: os correspondentes internacionais, os portugueses, os chineses e os macaenses. A narrativa é perspicaz e genuína, lírica e pungente. Mostra uma imagem abrangente desta grande despedida, bem como uma jornada pessoal de amor e perda. A complexidade e ambiguidade da humanidade nunca devem ser esquecidas, especialmente num momento de transição.”

Esta quarta edição do concurso de contos foi a mais concorrida de sempre, tendo a organização recebido mais de cem trabalhos. O regulamento e prazos para o 5º Concurso de Contos será brevemente anunciado pela organização.

21 Mar 2016

Património de Macau por outras lentes

[dropcap style=’circle’]V[/dropcap]ai ter lugar na próxima quarta-feira, pelas 18h30, no edifício do Antigo Tribunal a inauguração da exposição “O Lugar onde o Património Mundial Brilha – Exposição Fotográfica do Centro Histórico de Macau”, do fotógrafo local Chan Hin Io. Na mostra estarão patentes imagens que pretendem revelar a beleza e a vitalidade do património cultural de Macau, bem como o charme desta pequena cidade”, sob diferentes perspectivas, numa co-organização do Instituto Cultural (IC) e da Associação para a Reinvenção de Estudos do Património Cultural de Macau.
As obras desta exposição incluem fotografias tiradas a elevada altitude e a longa distância, de diferentes ângulos e a diferentes horas do dia, de modo a que o público possa experimentar as diferentes perspectivas de Chan Hin Io sobre o Centro Histórico, bem como a ter a percepção do trajecto do autor.
De acordo com a organização, Chan Hin Io é já uma referência no panorama nacional e um reconhecido fotógrafo em Macau que, nos últimos anos, se tem dedicado à captura dos costumes da terra e das suas paisagens urbanas, o que lhe tem valido várias premiações no mundo da fotografia. Entre as suas obras destaca-se “Bairros de Macau: Fotografia Documental, Memórias dos Ofícios, Negócios Tradicionais de Macau” e “Vida em Macau 2012” .
Acompanha ainda o evento, o lançamento do livro de nome homónimo, numa edição autografada pelo autor. A exposição estará patente de 24 de Março a 16 de Abril, no horário compreendido entre as 10h00 e as 20h00 e tem entrada livre.

21 Mar 2016

Mário Laginha, músico: “Tive uma epifania quando vi Keith Jarrett”

Esteve em Macau a convite do Festival Literário Rota das Letras e tocou lado a lado com Cristina Branco. Mário Laginha fala do Jazz, do Fado e de todo um caminho cheio de música – um caminho que quase não acontecia por causa… da ginástica

[dropcap]O[/dropcap] piano vem desde muito pequeno. Foi por opção, por gosto?
Começou porque tive sorte. Porque os meus pais tinham interesse em que os filhos tivessem uma educação completa e queriam que, tanto eu como o meu irmão, [aprendêssemos] música, um desporto e o ensino convencional. Portanto, comecei por ter essa sorte, por ter uns pais que queriam que fizesse isso. A minha mãe tinha percebido que eu tinha muita facilidade [em aprender] e tive a sorte de gostar tanto de estudar piano que, para mim, era um prazer. Não olhava para aquilo como um estudo, era o que gostava de fazer. Em vez de ir jogar ao berlinde, ia tocar piano. Isso permitiu-me evoluir depressa ainda novo. E acho que foi graças a isso que, apesar de ter parado alguns anos, que são importantes quando se estuda música no piano, deu para recuperar.

Esses anos de paragem aconteceram por volta da adolescência? Apareceram outras músicas?
Tive vários gritos do Ipiranga. Estava um bocadinho farto. Diziam que tocava muito bem para a idade e sempre que ia alguém lá a casa, era “olha João, vai lá tocar um bocadinho”. E não foi só isso: na escola havia concertos aos sábados e eu, por tocar bem, não tinha dia descanso, ia para escola todos os sábados de manhã. Acho que isso me começou a cansar um bocado em relação ao piano. Comecei a olhar para o piano de uma outra maneira: “eu gosto mas obriga-me a estar indisponível quando às vezes gostava de estar disponível”. Entretanto pedi ao meu pai que me desse uma guitarra, que deu, e durante uns tempos só queria tocar guitarra. Queria uma coisa muito rock, mais do meu mundo da altura. Curiosamente a música que ouvia não era aquela que normalmente tentava tocar na guitarra, não sei por quê. Andava muito apaixonado pelo Paco de Lucía e pelo flamenco, tentava fazer umas coisas, sempre auto-didacta. E o que ouvia era o que se ouvia na época: Génesis, Jethro Tull, Emerson Lake & Palmer. Numa coisa mais rock, era Deep Purple, Black Sabath, etc. Mas o meu apreço maior era a ginástica.

Foi quase atleta Olímpico. A música e a ginástica eram uma espécie de “dois amores”?

Sim, mas na altura a música era uma coisa que estava posta de parte, pelo menos no ponto vista do querer utilizar isso no futuro. Era uma coisa que tinha feito e tocava umas guitarradas se fosse preciso. Ao piano não ligava nada. A ginástica gostava muito. Sempre pratiquei ginástica destes os três anos. Competia em todas as seis modalidades e praticava várias horas por dia.

Como é que a música voltou a ser uma opção mais séria?
Tive uma grande epifania quando vi [Keith] Jarrett na televisão. Não sabia sequer quem era, vi um tipo a tocar piano – na altura estava com o cabelo tipo carapinha – e achei que era a coisa mais fascinante que podia ouvir. Aquilo mudou-me a vida completamente. Não sabia que se podia tocar piano assim! “Assim, eu quero”, pensei. Antes disso já estava um bocadinho mais desperto para a música porque no ginásio, lá no Dafundo, houve um dia em que estavam fazer umas arrumações de uns colchões e por trás de um colchão descobriram um piano vertical. De repente, um dos meus colegas começou a tentar tocar uma música no piano. Eu fui lá e toquei. Ele disse:“tu sabes tocar piano assim e nunca falaste nisso?” Nem sabiam que eu tocava piano e eram meus amigos íntimos, de há cinco anos. Como tinha bases sólidas, não tentei tocar, toquei. E aquilo, de certa forma, despertou-me um nadinha. Será que estou a desprezar uma coisa que não deveria? Isto foi antes de entrar na sala e dar com Jarrett, que, na altura, não sabia ainda que era o Jarrett, a tocar. Depois o meu irmão comprou-me um disco, o “Facing You”, que ainda hoje é um dos meus discos de eleição, é um disco esmagador. Aquilo que curiosamente ouvi no disco era mais complexo do que aquilo que me tinha conquistado, mas era uma complexidade que ouvia a primeira vez e à segunda já estava completamente apaixonado. Estava no propedêutico nessa altura e as aulas eram na televisão. Eu não via nenhuma, nada. A partir do momento em que o descobri fui para o piano e pronto. Levantava-me e ia tocar piano. Inscrevi-me na Academia dos Amadores de Música e depois no Conservatório. Ao princípio até para me apoiar porque o que queria tocar era Jazz. Aliás, no princípio nem queria tocar Jazz, queria tocar como ele, o que era uma coisa muito ingénua claro, sob todos os pontos de vista, mas com muita força. Depois quis saber como é que ele tinha chegado ali, então soube que estudou Jazz. Ai é? Então também vou estudar Jazz, que apareceu de uma forma muito naif. Comecei a estudar e conheci várias pessoas, um dos meus amigos da época, o Luís Sá Pessoa, que toca violoncelo e que se dedicou mais ao clássico disse-me: “Acho que também te deverias inscrever no conservatório para melhorares a técnica.” Inscrevi-me e, ao princípio, ao contrário do que as pessoas pensam, não era uma coisa para levar a sério. Só que gostei tanto daquilo que decidi levar o curso até ao fim. mário laginha

Entre o Jazz, o clássico e outras abordagens, onde é que o Mário se situa?
Acho que o meu mundo musical é bastante poroso, as coisas que gosto comunicam-se e deixo que isso me influencie. Mas considero-me muito mais músico de Jazz do que propriamente um pianista clássico, que tem nas mãos as notas das partituras de Mozart. Quando faço algum repertório clássico estou imenso tempo a estudar e faço-o em situações muito particulares. Por exemplo, agora estou a preparar um repertório novo com o Pedro Burmester  para dois pianos e estou focado naquilo, mas de uma maneira geral não estou focado no clássico. Sou muito mais músico de Jazz, em relação às influências. Acho que para mim e muitos músicos da minha geração, e provavelmente das vindouras ainda mais, a música passou a estar toda ao alcance. Sempre tive muita influência de música africana, não pela minha ascendência, [infelizmente], mas porque gostava. Costumava comprar discos, aqueles que na época só havia na “Book Close”. Na parte de baixo havia uma parte só com música étnica, muitas vezes era de uma tribo não sei de onde e ouvia aquilo e adorava, porque sempre achei que era de uma grande simplicidade do lado melódico e de grande complexidade no lado rítmico, mas tudo aquilo é feito no equilíbrio e acho que me apaixonei por isso também. Tenho muitas influências e quero que isso se repercuta naquilo que faço, que é a minha personalidade musical. Que seja reflexo dessas paixões todas.

No 25 de Abril de 1974, faz 14 anos. Sentiu pessoalmente as mudanças ocorridas, nomeadamente no que respeita ao acesso à cultura?
Muito do que tenho consciência que mudou também me foi contado, ou seja, quando quis procurar coisas e encontrei. Posteriormente soube que só havia aquilo porque tinha existido aquele 25 de Abril. Percebi que a cultura se tornou muito mais universal, que o acesso a essa cultura universal passou a ser uma realidade, que era uma coisa à qual não estávamos habituados. Estávamos virados para o nosso umbigo pequenino, era o folclore, era o Fado e havia a música clássica. Acho que o meu pai ficou em pânico quando lhe disse que me ia dedicar à música. E tinha uma boa razão para isso, ele achava que, se não ia ser músico clássico, como pianista ia acabar num hotel a tocar, o que era o que os músicos da minha época, antes do 25 de Abril, faziam. Os músicos de Jazz eram-no por hobby.

Isso remete para a eterna questão relacionada com o “viver da música”. Como foi para si no início de carreira?
Muito complicado. Durante os primeiros dez anos tive sempre a fazer contas para comer. O meu pai é da velha guarda e eu tinha feito uma opção, portanto tinha que me aguentar e responsabilizar-me por ela. A verdade é que o meu pai não me deixava ficar mal mas ele não me dava dinheiro e eu tinha que lá ir pedir. Já tinha dois filhos entretanto e, quando o frigorífico estava vazio, era uma coisa que tinha que fazer. Mas, apesar de tudo, não houve dramas.

Já não é primeira vez que está em Macau. O que é para si, estar aqui? É tocar para um público português?
Gosto de pensar que não é só para um público português, mas é essencialmente português. Quando uma pessoa sai do seu país há uma carga emocional, de saudade ou do que seja, que as torna ligeiramente diferentes do que essas mesmas pessoas seriam se estivessem a viver em Portugal, provavelmente. Quando estou a tocar muito sinceramente não noto que haja uma diferença, as pessoas são calorosas como costumam ser em Portugal. O que talvez note mais é depois, quando vêm falar, às vezes pedem um autógrafo e penso que há ali, não sei se é uma nostalgia, mas uma saudade em relação ao país de origem e, muitas vezes, uma espécie de identificação cultural. Acho que sentem que pertenço a isto, pertenço a esta cultura e acho que o sentimento de pertença é uma coisa muito boa, que nos ampara. O que penso nestas situações é que, se posso ser uma peça do puzzle que faz as pessoas sentirem-se bem naquele momento, já é óptimo.

Solo, dueto, trio, quinteto e outros “etos”… Como é que, para si funciona este processo de colaborações?

O facto de trabalhar tanto em grupo é porque gosto e a razão pela qual gosto tanto é porque me dá um prazer enorme na partilha de ideias, neste caso ideias musicais. Na realidade, quando nos tornamos amigos não se partilham só ideias musicais, mas no acto de fazer música sim. Acho que escrevo muita música e, quando escrevo, a única pessoa que deu ideias para aquilo fui, obviamente, eu. Gosto muito quando estou a escrever para outras pessoas e lhes dou a partitura – às vezes vêm outras ideias, mesmo ao nível de interpretação. Por exemplo em trio, com o Alexandre Frazão na bateria e o Eduardo Moreira no contrabaixo, às vezes com o Alexandre falo num ritmo e ele faz outro e gosto mais do outro do que aquilo que tinha imaginado. Às vezes a linha de contrabaixo é ligeiramente diferente também e esse processo sempre me fascinou, tenho muito prazer. Agora as escolhas têm a haver com um gosto pessoal e também com os convites que tenho e gosto ou não gosto, aceito ou não.

Uma das suas colaborações sobejamente conhecidas foi o casamento musical com a Maria João. O que fica dessa união?
Ainda tocamos juntos, mas muito raramente. Não houve assim uma coisa de “agora nunca mais”, mas acho que tem sido uma partilha incomum porque somos muito diferentes ainda que os nossos lados sejam coincidentes, são muito fortes. E os lados que não são complementam-se de uma maneira que também funciona. Em Portugal, sei que não há a história de um duo que tenha gravado 14 discos, e nós temo-los. Não sempre em nome dos dois, os primeiros em nome dela e depois em nome de ambos. É muito disco junto e muito tempo. Temos um património enorme em que tenho um orgulho imenso. Acho que algumas das coisas melhores que já fiz estão aí.

E agora esteve em Macau num projecto mais ligado ao Fado, ao acompanhar Cristina Branco.

Com a Cristina o que fiz foi um projecto que veio de uma encomenda também para um festival literário, o de Óbidos, e era para fazer um repertório à volta de Chico Buarque. Ela depois perguntou-me se não queria fazer aquilo com o meu trio e com ela, achei logo a ideia maravilhosa. Adoro o Chico, adoro as músicas, adoro as letras. Fizemos isso e acho que nasceu daí a ideia de convidarem a Cristina, mas queriam que ela viesse mais com Fado, até por causa disto da comunidade portuguesa. Acontece que o pianista com quem ela viria tocar não tinha estas datas livres, numa feliz coincidência. E também já fiz muitas canções para a Cristina. Inicialmente não suportava o Fado. Na realidade, foi uma coisa progressiva. Naquela época em que estava muito concentrado no Jazz, não tinha qualquer interesse no Fado, estava mesmo voltado para outro lado. A única coisa que gostava com a guitarra portuguesa era o Carlos Paredes – que adorava – mas a coisa do Fado… aquilo não me dizia nada. Depois foi uma coisa que surgiu aos poucos. Um dia ouvi uma coisa do Camané que gostei, depois ouvi uma outra que também gostei até que achei que já podia dizer que gostava. Não gosto de tudo, o que também é verdade, mas também não posso dizer que gosto de tudo noutros géneros musicais.

21 Mar 2016

Futebol | Benfica 2 – Sporting 1

O jogo prometia mas deixou muito a desejar em termos de intensidade e situações de golo. De um lado o Benfica mais organizado e sempre mais acutilante, do outro o Sporting a jogar na fé; uma crença baseada na ideia que basta chutar a bola para que um companheiro a receba. Puro engano. Agora, com sete pontos de vantagem e os principais opositores derrotados, o Benfica fica muito perto da revalidação do título

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]bola saiu do Benfica que, por via destas coisas do sorteio, jogava em “casa” e, devido a isso ou não, desde logo mostrou que estava ali para ganhar o jogo, e depressa. Logo a abrir Marco Rios rematava dentro da área e obrigava Hugo Cardoso a aplicar-se e, aos três minutos e meio, Niki entra pela defesa do Sporting adentro, ainda remata à entrada da área mas sofre falta de Victor Almeida. Do livre, mesmo em cima da linha da grande área, Edgar Teixeira fazia a bola sobrevoar a barreira e entrar no lado direito da baliza de um espantado Hugo Cardoso que ficou a olhar para o estrago. 
Aos 20 minutos de jogo, o Sporting ainda não tinha conseguido rematar à baliza do Benfica e os passes falhados, alternavam com o pontapé para a frente. Claramente, o Sporting não conseguia criar soluções para o último terço do terreno e o Benfica, com a presença dinâmica de Cuco à frente da defesa, ia conseguindo manter os leões à distância. Sentiam-se uns rugidos leoninos mas coisa de pouca monta e nada que fizesse realmente perigar o ninho da águia. Talvez por isso, os encarnados também iam adormecendo até que, aos 26 minutos, uma bola cruzada do lado esquerdo do ataque do Benfica encontra Leonel Fernandes ao segundo poste, já na pequena área, que remata primeiro de cabeça, para defesa apertada de Hugo Santos, depois com o pé e a contar, perante a passividade da defesa leonina que não lhe ocorreu tirar a bola dali.
Pouco tempo depois o Sporting tentava despertar e, aos 28, num livre da direita, a bola chegava ao segundo poste onde Taylor surgia a rematar de cabeça mas muito frouxo. Aos 32 chegava a vez de Juninho Soares perder uma cantada dentro da pequena área. No final da primeira parte era a vez de Pio cabecear ao lado na pequena área, como resposta a um centro primoroso de Juninho, vindo da direita. Mas foram actos esporádicos (únicos) porque se a primeira parte ia revelando alguma coisa era um Sporting a reagir mal à pressão alta do Benfica e a cometer muitos erros.


Sporting marca, Benfica falha vários

O Sporting entrou a tocar a bola com o passe mais curto e parecia mais disposto a fazer jogadas com princípio, meio e fim. Afinal de contas estavam dois abaixo e precisavam de reagir. Assim, logo as 47, os leões decidem incomodar Rui Nibra com um livre do lado esquerdo, mesmo na quina da área, e rematado directo à baliza por Lee Keng Pan obrigando Nibra a responder com uma boa defesa para canto. Depois deste assomo de energia, o jogo continuou numa toada morna e só de bola parada o Sporting conseguia criar alguma sensação de aproximação à baliza vermelha. O Benfica, esse, aproveitava para galgar terreno e tornar-se mais ameaçador. Aos 59 minutos uma jogada de combinação do lado direito da grande área do Sporting entre Ricardo Torrão e Aguiar termina com este a rematar forte para a primeira de uma série de boas defesas de Hugo Santos que se seguiriam e que o viriam a destacar como uma das figuras do encontro. 
Aos 66 minutos Iúri tenta um chapéu do meio do meio campo aproveitando uma saída de Hugo mas a bola saía ao lado. Um minuto depois e a defesa do Sporting falhava a intersecção de um cruzamento permitindo um remate forte da entrada da área a Niki Torrão para mais uma defesa do guarda-redes do Sporting. Por esta altura, o Sporting era uma equipa absolutamente passiva sendo frequente verem-se os jogadores especados, a ver jogar, sem procurarem dar linhas de passe aos colegas com bola. O Benfica aproveitava e ia intersectando passes e construindo jogo e, aos 70 minutos, mais duas defesas consecutivas do guarda-redes leonino, uma delas à queima-roupa a remate de Niki, e que assim mantinha o Sporting no terreno da derrota por números dignos.
Aos 73 minutos, Rafael Moreira vê o segundo amarelo e deixa o Sporting a jogar com menos um. Aos 75, na sequência de um canto, Filipe Duarte falha à boca da baliza o que seria o terceiro do Benfica. Aos 78 minutos, penálti contra o Benfica. Rui Nibra, talvez aborrecido pela falta de trabalho, faz uma falta desnecessária sobre Ethan Lay (já estava descaído para o lado direito) saindo e derrubando o avançado sportinguista quando tinha três ou quatro defesas encarnados na zona da baliza. Da marcação por Juninho surgiria o golo de honra do Sporting e o primeiro sofrido pelo Benfica neste campeonato. O Sporting ainda arrebitou após o golo e conseguiu um livre perigoso aos 81 minutos, mesmo à entrada da área, mas que, depois de vários passes entre jogadores leoninos, resultou num remate disparatado, para as nuvens, de Juninho.
Por esta altura já o treinador do Sporting descarregava a sua fúria pontapeando garrafas e bramando para o campo e para o banco de suplentes “falta de atitude” e “primeira parte oferecida”.

Henrique Nunes, treinador do Benfica – “Vencedores justos”

No final do jogo, o treinador do Benfica dizia que “o Benfica foi um vendedor justo porque criámos muito mais oportunidades” mas considerava que jogou com um equipa que “é tão boa como nós”, disse, e que lhes criou bastantes dificuldades.
De qualquer forma garante que, “não há duvida que sofremos um bocado nos minutos finais” mas, para o treinador, “foi por culpa própria já que o Sporting estava em inferioridade numérica e ainda marcou um golo e conseguiu assustar-nos”. Relativamente às contas do título, Henrique Nunes disse que “sendo um jogo que não decidia nada, pode acabar por decidir quase tudo”. E, para bom entendedor, meia palavra basta.

João Pegado, treinador do Sporting – “Demos 45 minutos de avanço”

O treinador leonino estava desencantado considerando ter sido “um jogo onde o Sporting deu 45 minutos de avanço. Não em termos tácticos, mas em termos de atitude”. Para João Pegado, o Benfica mostrou mesmo querer mais o campeonato do que o Sporting.
As melhorias na segunda parte terão a ver com a palestra de Rui Pegado que, ao intervalo, pediu à equipa para se soltar mais : “Melhorámos a nível anímico, quisemos mais a bola e tivemos a hipótese. Mesmo com um a menos ainda fomos procurar o 2-1 e depois até estivemos perto do empate.
De resto enaltece os jogadores pela garra da segunda parte, contra uma equipa que, considera, “tem um boa estrutura e treina duas vezes por semana”. Pegado lamentava-se assim das condições difíceis de trabalho que enfrenta adiantando ainda que: “a minha equipa esta semana treinou uma vez num campo e, curiosamente, a partilhar com o Benfica”.
Em relação ao resto do campeonato o objectivo é manter o segundo lugar e esperar que o Benfica escorregue.

21 Mar 2016

Lionel Leong quer fim das “restrições geográficas” com a China

O Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, disse ontem que o Governo vai envidar esforços para “quebrar as restrições geográficas” com a China, “aperfeiçoando e inovando as próprias ideias e modos através dos vários mecanismos de cooperação existentes”.
Lionel Leong falava no âmbito da realização do Seminário sobre Política de Investimento na China e referiu ainda que é necessário fornecer apoios e serviços de acompanhamento mais completos e mais visados para os sectores de Macau que pretendam investir e desenvolver as suas actividades no interior do país.
“Os serviços das áreas económica e comercial do Governo da RAEM continuarão a criar, tal como sempre, mais plataformas de informação e de intercâmbio para todos sectores de Macau, incluindo macro, pequenas e médias empresas, profissionais e jovens”, disse Lionel Leong. Tudo para que haja “melhores oportunidades de emprego” e para um maior apoio às cidades do interior da China para “realizarem em Macau actividades de captação de investimentos”.
O Secretário disse ainda no seu discurso que as “Opiniões Orientadoras sobre o Aprofundamento da Cooperação Regional do Pan-Delta do Rio das Pérolas”, publicadas recentemente em Pequim pelo Conselho de Estado, vão trazer uma “nova dinâmica para o desenvolvimento da economia de Macau”, bem como “condições mais favoráveis para o desenvolvimento das micro, pequenas e médias empresas, profissionais e jovens de Macau”. O Secretário não deixou de referir que a economia se encontra numa “fase de ajustamento profundo”, sendo que “muitos amigos agem com uma atitude de lutar numa batalha prolongada”.

18 Mar 2016

China | Emissões de CO2 com a maior queda a nível global

Publica o jornal oficial “Diário do Povo”, que as emissões de dióxido de carbono (CO2) relacionadas com a energia na China diminuíram 1,5% em 2015, representando a maior queda em termos de volume na comparação com outros países, reportando declarações na quarta-feira à Xinhua do director-executivo da Agência Internacional de Energia (AIE), Fatih Birol.
“A diminuição das emissões da China devem-se principalmente a uma redução no uso de carvão”, disse Birol em entrevista.
A reestruturação económica da China teve menos indústrias de uso intensivo de energia e os esforços do governo para descarbonizar a geração de energia reduziram o uso de carvão.
Em 2015, o carvão gerou menos de 70% da electricidade na China, 10 pontos percentuais a menos que em 2011. No mesmo período, as fontes com baixas emissões de carbono aumentaram de 19% a 28%. A energia eólica e a hidroeléctrica registaram o maior crescimento, segundo a AIE.

Emissões mundiais sem mudança

As emissões globais de dióxido de carbono relacionadas com a energia — a maior fonte de emissões de gás produtor do efeito estufa geradas pelo homem — permaneceram estáveis pelo segundo ano consecutivo, de acordo com análises de dados preliminares para 2015 divulgados pela AIE.
“As novas cifras confirmam as surpreendentes, mas bem-vindas, notícias do ano passado. Temos visto dois anos consecutivos em que as emissões de gás produtor do efeito estufa não estiveram a par com o crescimento económico”, disse Birol. “Há apenas alguns meses depois do histórico acordo COP21 em Paris, este já é outro impulso para a luta global contra a mudança climática”.
As emissões globais de dióxido de carbono chegaram a 32,1 mil milhões de toneladas em 2015,permanecendo estável desde 2013, disse AIE.
Em mais de 40 anos nos quais a AIE tem proporcionado informação sobre as emissões de CO2, apenas houve quatro períodos em que as emissões se mantiveram ou baixaram com relação ao ano anterior. Três desses — no início da década de 1980, em 1992 e em 2009 — estiveram associados com o enfraquecimento económica global.

Mais gás natural, mais nuclear

Entretanto, o recente travão nas emissões ocorre face à expansão da economia. De acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), o Produto Interno Bruto (PIB) global cresceu 3,4% em 2014 e 3,1% em 2015.
“É uma notícia muito boa que as emissões globais estejam estáveis. Vemos uma importante contribuição da China. Isso deve-se principalmente aos esforços do governo para impulsionar energias renováveis e outras tecnologias de energia limpa”, indicou Birol.
“O governo chinês tem desenhado e aplicado com sucesso as políticas”, afirmou.
“A estrutura energética da China será no futuro muito mais diversificada do que é agora. A principal energia na China tem sido o carvão e o petróleo nos últimos anos. Agora veremos menos carvão e mais energias renováveis, mais gás natural e mais energia nuclear”, disse.
“Espero ver que os objectivos da China indicados no novo Plano Quinquenal sejam cumpridos com sucesso. Também espero ver as emissões da China caírem sequencialmente”, declarou Birol.

18 Mar 2016