Conferência Ministerial do Fórum Macau em Outubro

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] conferência ministerial do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa vai realizar-se nos próximos dias 11 e 12 de Outubro, anunciou ontem o Governo. A conferência ministerial do chamado Fórum Macau vai ter por base a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, estando o foco apontado ao desenvolvimento, “de modo a promover as relações económicas e comerciais entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, refere um comunicado oficial.
Esta conferência ministerial, que será a quinta desde 2003, vai contar com a participação de delegações oficiais da China e de sete países de língua portuguesa (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e Timor-Leste). São Tomé e Príncipe encontra-se excluído por manter relações diplomáticas com Taiwan em detrimento de Pequim.
No entanto, São Tomé e Príncipe tem participado como observador nas reuniões do Fórum Macau. Aliás, na última conferência ministerial, realizada em 2013, enviou, pela primeira vez, um representante com a categoria de Ministro. Na conferência ministerial vai ser assinado, como tem sido prática, o plano de acção para a cooperação económica e comercial para o próximo biénio (2017-2019).
O Fórum Macau tem, desde 11 de Agosto, uma nova secretária-geral: Xu Yingzhen, que era conselheira comercial para a América Latina do Ministério do Comércio da China, foi escolhida para suceder a Cheng Hexi.

7 Set 2016

São Miguel Arcanjo cheio de vegetação. IACM diz nada poder fazer

[dropcap style≠’circle’]“O[/dropcap] Cemitério de S. Miguel Arcanjo está em mau estado, cheio de grandes ervas e algumas campas estão cobertas de vegetação.” Estas são as palavras de Gina Rangel, que contactou o HM para dar conta de uma situação que considera “não respeitar a memória dos mortos e os sentimentos dos vivos”.
Católica de nascimento, a cidadã costuma dirigir-se, todas as semanas, ao cemitério, para colocar flores e tratar da campa de família. “De há dois meses para cá, comecei a notar que a erva não era aparada.” Algo que comprova com fotografias que mostra ao HM. O tempo foi passando, “sempre na expectativa que a situação fosse ultrapassada. Mas não foi”. No sábado passado, quando se dirigiu ao cemitério, Gina Rangel deparou-se com o mesmo cenário. “Em cerca de dois meses ainda não conseguiram encontrar uma solução?”, questiona.
Para a cidadã, esta é uma situação insustentável porque também “dá uma má imagem de Macau”. “Os cemitérios são locais visitados e fotografados por turistas. Será que ninguém pensou nisso?”, reforça, acrescentando outra preocupação. “Como a relva não é tratada nem aparada, há uma concentração de mosquitos que eu até tenho receio por causa do Zika. Já há tantos casos em Singapura que é aqui ao lado.”
Contactado pelo HM, o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) explicou que o Cemitério de São Miguel Arcanjo tem um contrato com uma empresa que, duas vezes por ano, procede ao corte das ervas. “Isso acontece sempre na véspera dos dois feriados de homenagem aos finados.” O último foi a 4 de Abril e o próximo é no dia 9 de Outubro. Até lá a situação vai manter-se.

Campas negligenciadas

Gina Rangel explica ainda que “há muitas campas” velhas e em mau estado, partidas, tortas e sujas. “Isto certamente acontece porque muitas das famílias a quem pertencem foram-se embora e não há agora quem trate delas. Devia ser feito um levantamento para se saber a quem pertencem e tomar-se uma atitude. Eu não percebo como é que o IACM deixou o cemitério chegar àquele estado”, atira.
Já o IACM diz não ter qualquer poder nessa matéria, uma vez que neste cemitério todas as campas são perpétuas e isto significa que são propriedade de alguém. “A manutenção e preservação é da responsabilidade dos donos”, conclui.

7 Set 2016

MGM | Oitava edição do Oktoberfest chega dia 13 do mês que vem

Os bilhetes para mais um festival tradicional do Oktoberfest alemão em Macau começam a ser vendidos no dia 12 deste mês. A Hogl Fun Band vai actuar no evento do MGM e promete lançar ao vivo a canção “Nei Ho, Macau!”. Haverá ainda um dia dedicado à família

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá a chegar aquela altura do ano em que o MGM se transforma num Oktoberfest em ponto pequeno mas com tudo aquilo que existe no evento verdadeiro, que anualmente se realiza em Munique, na Alemanha. A oitava edição arranca dia 13 de Outubro, sendo que os bilhetes estão disponíveis a partir do dia 12 de Setembro.
Para este ano a animação promete acontecer com a ajuda da banda Hogl Fun, que compôs o tema “Nei Ho, Macau!”, que significa “Olá Macau!”. Segundo as contas do MGM, os 11 dias do evento deverão contar com cerca de cem mil pessoas, mais de 96 mil litros de cerveja e ainda mais de 21 mil quilos de porco e outros tantos quilos de frango assado e pretzel. O evento realiza-se, como já é habitual, em colaboração com o Consulado-geral da Alemanha em Hong Kong e Macau e com a Associação Comercial Alemã, bem como com o Governo local.

O dia da família

Uma das novidades apontadas para este ano prende-se com a realização do Dia Especial para a Família, o qual decorrerá no dia 22 de Outubro, entre as 11h00 e as 15h00. Neste período vão ser disponibilizadas bebidas sem álcool e a tradicional música e comida. A Spaten, uma das mais conhecidas cervejas alemãs, será servida no The Vista, o espaço do MGM com panorâmica sobre o Delta do Rio das Pérolas.
O Oktoberfest começou a ser organizado há cerca de 200 anos e no início servia apenas para os cidadãos de Munique se divertirem às portas da cidade aquando da realização dos casamentos reais, bem como para promover as cervejas típicas. Hoje é um dos eventos mais conhecidos em todo o mundo, que atrai milhares de turistas à cidade. Música tradicional, raparigas com saias coloridas e coletes justos, salsichas e enormes canecas de cerveja estão garantidas.
O bilhete para o Oktoberfest no MGM terá tudo isso pelo preço de 160 patacas, o qual inclui uma cerveja ou outra bebida. Crianças até aos nove anos não pagam entrada. O evento decorrerá entre as 13h00 e as 20h00, sendo que o número de mesas disponível é limitado. O Festival encerra portas no dia 23 de Outubro.

7 Set 2016

HK | ”Localistas” com 30 assentos no LegCo. Pequim reage

No dia seguinte a terem sido conhecidos os resultados das eleições em Hong Kong, o continente reagiu, e uma vez mais reforçou que a luta pela independência é inconstitucional face à lei da China

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]m reacção às eleições de domingo para o LegCo, Pequim reafirmou a sua “resoluta oposição” a qualquer tipo de movimentações que visem a “independência de Hong Kong”, após partidos pró independência terem ganho, pela primeira vez, espaço no parlamento daquela região. Em comunicado, o Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado lembra que a “independência de Hong Kong é contra a Constituição da China, a Lei Básica de Hong Kong e leis relevantes da Região Administrativa Especial (RAE)”.
Na maior votação desde que os protestos pró-democracia de 2014 falharam em conseguir as reformas políticas desejadas, os partidos que exigem maior autonomia em relação a Pequim conseguiram 30 assentos entre 70, contra os 40 da ala conservadora. Esta foi também a primeira vez que defensores assumidos da independência de Hong Kong conquistaram espaço dentro do Conselho Legislativo (LegCo, parlamento).
Para Pequim, o resultado “ameaça a soberania e segurança da China, prejudica a prosperidade e estabilidade de Hong Kong e vai contra os interesses fundamentais dos cidadãos” da região. “Apoiamos firmemente o governo da RAE de Hong Kong a definir penalizações, de acordo com a lei”, conclui o comunicado.

Chapéus há muitos

As eleições de domingo em Hong Kong ficaram marcadas pela entrada de 26 novos rostos na Assembleia legislativa, vindos do chamado grupo de “localistas”, nascidos durante a manifestação dos “chapéus de chuva”.
Em 2014, a Assembleia Nacional Popular chinesa concordou que o Chefe do Executivo de Hong Kong seja eleito por sufrágio directo já a partir de 2017, mas impôs que haja apenas “dois ou três” candidatos, previamente aprovados por um Comité de Nomeação, numa decisão que desencadeou os protestos.
De acordo com a fórmula “um país, dois sistemas”, adoptada em Hong Kong e Macau, as políticas socialistas em vigor no resto da China, não são aplicadas naquelas regiões. Excepto nas áreas da Defesa e Relações Externas, que são da competência exclusiva de Pequim, a antiga colónia britânica goza de “um alto grau de autonomia”, é “governada por pessoas de Hong Kong”, mantém a sua moeda, o HK Dólar e não paga impostos ao governo central chinês.

7 Set 2016

EcoAmigo, consultora ambiental: “Plantar é positivo para a vida”

Qual é a relação entre a engenharia e a protecção ambiental? Esta empresa sediada em Macau pode talvez, dar uma resposta

[dropcap style≠’circle’]“E[/dropcap]coAmigo é uma companhia de engenharia e consultoria ambiental, que quer melhorar o ambiente e a qualidade de vida da sociedade em Macau”, começou por explicar a secretária Karen Chan. Conhecemos a empresa porque tem uma loja na Rua da Tercena – atrás da Rua Cinco de Outubro – com uma porta de vidro que dá para ver o que se passa lá dentro: tudo é verde e branco. Karen explicou-nos que a empresa já tem quatro anos de existência mas o espaço onde está o “showroom” foi aberto há cerca de um mês.
Lawrence Tam, director executivo, explica que a empresa promove as novas tecnologias de poupança de energia como é o caso da solar. Mas ao lidar com este mercado, apercebeu-se que ainda é um assunto desconhecido e que muitos pensam ser complexo, por isso esclarece que, a protecção ambiental não tem de ser uma coisa complicada e tecnológica, mas sim uma coisa simples e que pode fazer parte da vida. Decidiu abrir a loja para “aproximar a população”, promovendo a ideia junto do público e do Governo.
“Green living” é o principal conceito da empresa. EcoAmigo quer que cada pessoa, cada família de Macau plante em casa ou no local de trabalho, tornando-se um interesse ou um hábito do dia-a-dia. Espera também que as crianças compreendam a ciência simples do ambiente e da agricultura.
Mas não só de plantas verdes, solo orgânico, mini-estufa, e sistema de purificação do ar interior, vive esta empresa. Painéis solares, design, consultoria e gestão de projectos de interior são outros serviços que a EcoAmigo oferece.
Além disso, Lawrence acrescentou que a empresa tenta também envolver-se na parte da Educação. Já elaborou programas e materiais didácticos para escolas primárias, com conteúdos como reciclagem e energia solar, para que os alunos aprendam mais sobre a protecção ambiental.
“Olhando à minha volta , 80% de pessoas não têm o hábito de plantar, mas eu espero criar esta tendência porque, primeiro; plantar é muito barato e segundo; é positivo para a vida. Se o Governo não promove, eu promovo. Sugiro também que os namorados não comprem ramos de flores para as namoradas, mas sim uma planta inteira, que é reproduzível.”
Durante a visita à loja, Lawrence salientou que todos os produtos que a EcoAmigo selecciona para vender são da Europa e têm boa qualidade, e por isso os preços são um pouco mais caros. O que o responsável quer trazer para Macau produtos de qualidade.
“Por exemplo, vendemos um vaso de plantas com preço de 150 patacas, muito mais caro do que um vaso normal, mas o nosso é especial porque se consegue regar a planta automaticamente e aumentar a taxa de sobrevivência da planta. Mesmo que se esqueça de regar a planta durante duas semanas, ela não morre,” acrescentou.
Outro produto que a secretária Karen recomenda, é de uma marca portuguesa, Minigarden, o “green wall”, que reutiliza materiais incluindo pneus abandonados para fazer uma parede, onde se pode plantar produtos hortícolas na varanda, com um sistema de rega automática e poupança de água. O produto tem garantia de fabricante de dez anos.
Em tom de orgulho, Karen acrescentou que esta loja não é só de venda de produtos. Porque caso haja algum problema com algum dos produtos aqui comprados, comprometem-se a resolver os problemas e a prestar a máxima ajuda.
Apesar de estarem abertos há pouco tempo, Karen explicou que a loja já conseguiu atrair a atenção dos moradores e recebeu bons comentários.
“Os clientes disseram-nos que não havia uma selecção de produtos como os nossos em Macau. Os pais também aceitaram bem estes conceitos, porque não querem que os filhos passem todo o tempo a jogar no smartphone ou a ver televisão. Querem também incutir-lhes o espírito de plantar legumes na varanda, em casa”, disse.
Para Karen, o que é preciso para a empresa nesta altura, é apostar mais na promoção e é por essa razão que a EcoAmigo participa na Feira da Taipa, todos os domingos, no Largo dos Bombeiros, onde espera poder promover os seus produtos ecológicos.
Como outras pequenas e médias empresas, EcoAmigo enfrenta a pressão da renda, mas também grandes custos de, por exemplo, transporte de produtos estrangeiros. Lawrence Tam revelou que o dinheiro investido na loja ainda não foi recuperado, mas os trabalhos paralelos de design e engenharia ajudam a equilibrar as despensas.
No futuro, Karen espera que empresa cresça e gostaria de aumentar a equipa, que agora é de apenas oito pessoas, mas tudo depende da situação que a EcoAmigo vai enfrentar no futuro.

7 Set 2016

Eleições HK| LegCo com novos rostos pró democracia, mas Pequim mantém maioria

As eleições para o Conselho Legislativo de Hong Kong tiveram uma participação histórica. Mais de dois milhões de cidadãos eleitores esperaram horas nas filas para exercerem o seu direito ao voto

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s urnas abriram às 7h30 e deviam ter fechado às 22h30 mas houve vários atrasos e algumas regiões encerraram as mesas eleitorais duas horas depois do previsto, o que vai prolongar o processo de contagem dos votos. Segundo dados divulgados pela Comissão para os Assuntos Eleitorais, 2,2 milhões de pessoas foram votar – num universo de 3,77 milhões, ou seja 58% do total dos inscritos. Nas anterior eleições, em 2012, o número foi de 53%.
Mais de 200 candidatos distribuídos por 84 listas concorreram para ocupar os 35 assentos dos cinco círculos eleitorais geográficos, os únicos eleitos por sufrágio directo. Ao todo são 70 os lugares disponíveis no LegCo, sendo que os restantes 35 lugares ficam reservados a membros designados pelo sistema de indirectos e de nomeados.
Entre vários movimentos que apareceram nos últimos tempos, alguns rostos são mais marcantes. É o caso de Nathan Law, líder estudantil do movimento ‘Occupy’ em 2014, que conquistou um dos três assentos no Conselho Legislativo a que concorreu com o partido Demosisto. Torna-se assim o mais jovem legislador alguma vez sentado neste hemiciclo. Em declarações à imprensa, Nathan Law disse que “os residentes de Hong Kong queriam realmente uma mudança”.
Eddie Chu Hoi-Dick, o candidato radical pró-independência que centrou a sua campanha sob o pressuposto da equidade do uso das terras nas zonas rurais de Hong Kong, foi um dos candidatos mais votados, conseguindo mais de 84 mil votos nas urnas.
“O resultado mostra que a sociedade de Hong Kong acredita que é precisa uma mudança do modelo dentro do movimento democrático”, disse o político, de 38 anos.
Outro activista eleito é Yau Wai-ching. Com apenas 25 anos recebeu 20,643 votos, garantindo assim um lugar na Assembleia Legislativa. Pertence ao partido “Youngspiration”.
Sixtus “Baggio” Leung tem 30 anos e pertence à facção mais radical, defendendo uma independência do território face à China. “Estamos a perder a nossa liberdade”, disse recentemente numa entrevista ao The Guardian. A frase valeu-lhe 31.344 votos, garantindo uma cadeira no centro de decisão. O Cheng Chung-tai, de 31 anos, foi eleito pelo partido Civic Passion. Leung Kwok-hung, conhecido como “Long Hair”, garantiu a sua reeleição com uma margem de apenas 1051 votos face ao penúltimo deputado a ser eleito, ocupando o último assento dedicado aos deputados directos.
Panorama
Estas eleições para o Conselho Legislativo acontecem num momento em que a sociedade está dividida e onde os movimentos pró-autonomia ganham maior dimensão. A par disso, existe nos cidadãos a ideia de que a China está a exercer uma maior pressão para controlar a antiga província inglesa.
Esta nova geração vem sobretudo dos grupos que em 2014 integraram o “Movimento dos Guarda-Chuva”, que durante dois meses conseguiram fechar bairros inteiros, mas em termos práticos não conseguiu mais do que chamar a atenção da opinião pública para aquilo a que chamam falta de democracia na região. A China manteve-se firme e não houve qualquer concessão em matéria de reformas políticas.
Mas os ventos de mudança começaram a soprar. E esses movimentos acabaram por polvilhar a ideia de que é possível mudar, acabando com as linhas políticas tradicionais e polarizando o debate. Depois disto, nada voltaria a ser como antes.
A registar essa alteração está a primeira manifestação pública alguma fez feita naquele território a defender a independência. Agora, com estas eleições, este é, para muitos, o início de um percurso irreversível que vai mudar a história na região, até porque há bem pouco tempo este era um assunto de que nem se falava. Mas a China não dá tréguas. Ainda recentemente cinco destes defensores da ruptura foram impedidos de se tornarem candidatos, com o argumento de que militar pela independência é ilegal.

Novos rostos

Para Leong Wan Chang, professor no Instituto Politécnico de Macau, a afluência às urnas da região vizinha mostra que, “depois de 20 anos da prática ‘um país, dois sistemas e quatro assembleias’ as pessoas – quanto à eleição e ao aperfeiçoamento do regime político – têm uma preocupação racional”. Um dos marcos, diz, foi também a quantidade de rostos novos, sobretudo ligados à causa pró-independência.
“Isso é uma imagem positiva e também está a  seguir  as regras do desenvolvimento. Quer dizer que há mais pessoas e rostos novos a participarem nos assuntos políticos”, continua. Quanto a conselhos, o professor defende que devem ser firmes com os seus princípios e que não devem esquecer que, enquanto representantes da opinião pública, “devem ser objectivos, não podem tratar dos assuntos de forma leviana”.
Larry So, comentador político, também tem acompanhado as eleições de Hong Kong e refere que, apesar dos novos rostos na senda política, a verdade é que “no final do dia são as forças políticas de sempre que vão ganhar”.
Apesar de concordar que sopram ventos de mudança, So não acredita numa independência para breve até porque “essa não é a solução para Hong kong”. Nestas eleições assistimos ao surgimento daquilo a que se chama “uma terceira força política, que partilha a vontade com a já existente facção contra o Governo de Pequim, que é expulsar CY Leung”, Chefe do Executivo. Larry So reforça ainda que “há uma nova maneira de pensar em Hong Kong”, disso não há dúvida.
Apesar de saber que há muita expectativa nestas eleições, Scott Chiang, presidente da Associação Novo Macau, não alinha pelo mesmo passo.
“Há muitos rostos novos e muitos jovens que se candidatam pela primeira vez, mas a pergunta que se faz é ‘estarão eles à altura do desafio’?” E mesmo que estejam, a verdade é que serão uma minoria na assembleia. “Portanto, na minha opinião, as expectativas vão ser logradas.”
Apesar de as coisas estarem a mudar em Hong Kong, “disso não há dúvida, estará Hong Kong a caminhar na direcção certa?”, questiona. “No futuro veremos o que acontece, mas receio que não estejam a caminhar no bom sentido.”
Para Jason Chao, vice-presidente da Associação Novo Macau, o resultado massivo de afluência às urnas tem que ver “com a deterioração das políticas de direitos humanos e das políticas de protecção e apoio às mulheres em Hong Kong”.
A insatisfação política foi outro factor decisivo que levou as pessoas a saírem para a rua e em consciência escolherem os seus representantes. Em relação aos novos rostos, Jason Chao afirma que “muitos apareceram de repente nestes movimentos mais liberais e nem são conhecidos por actividades comunitárias”. De qualquer maneira, frisa, são a escolha do eleitorado. Há realmente uma mudança a acontecer e as eleições são a “expressão da vontade dos eleitores”, conclui.

6 Set 2016

Cimeira | Xi Jinping em reuniões bilaterais resolve conflitos regionais

A cimeira do G20 tem permitido aos líderes de Estado reuniões bilaterais a fim de resolverem questões regionais. Foi o que aconteceu entre o Presidente chinês, Xi Jinping, e a sua homóloga da Coreia do Sul, Park Geun-hye

[dropcap style≠’circle’]X[/dropcap]i e Park reuniram à margem da cimeira do G20, que decorre na cidade de Hangzhou, costa leste da China, após Seul ter decidido instalar no seu território o THAAD, na sequência dos testes nucleares realizados pela Coreia do Norte. “Uma gestão inadequada do problema não propicia a estabilidade estratégica na região e pode intensificar os conflitos”, afirmou Xi, que considera que o THAAD tem como verdadeiro alvo a China. Durante a reunião, Xi reafirmou o compromisso da China na desnuclearização da península coreana, e insistiu que a única via para resolver a disputa é o diálogo.
O líder chinês pediu que as conversações a seis (China, Japão, Rússia, EUA e a duas Coreias), interrompidas em 2009, sejam retomadas, e que se considere os pontos de vista de cada um dos países implicados.”Os sintomas e a raiz do problema devem ser discutidos”, referiu Xi.
Segundo Washington e Seul, a instalação do THAAD na península coreana visa interceptar projécteis da Coreia do Norte, depois do regime de Kim Jong-un ter alcançado progressos nos seus programas nuclear e de mísseis.
Os Governos da China e Rússia consideram, no entanto, que a finalidade do sistema é aceder a dados das suas bases militares mais próximas, constituindo uma ameaça directa à sua segurança.

Encontro a dois

Xi Jiping tem-se desdobrado em negociações nesta cimeira, assinando acordos bilaterais e até levando a China a aceitar o Tratado de Paris, numa acção conjunta com o Presidente Barack Obama num momento que ficará registado para a história. Na senda dos encontros com os seus homólogos, fica o registo com Mariano Rajoy. Xi agradeceu ao primeiro-ministro espanhol pela sua presença na cimeira, apesar da situação política em Espanha. Os líderes reuniram-se antes do início do segundo dia da cimeira e ambos constataram as boas relações bilaterais, prometendo que continuarão a cooperar em todas as áreas. Reconhecendo que Espanha está bastante ocupada com problemas políticos, numa alusão à ausência de um governo em plenas funções no país, Xi Jinping agradeceu de forma especial a presença de Rajoy em Hangzhou.

Troca de galhardetes

Fontes do Governo espanhol revelaram ainda que o líder chinês felicitou Rajoy pela “evolução positiva” na economia de Espanha. Rajoy aproveitou a reunião para convidar o Presidente chinês a visitar Espanha, e Xi pediu-lhe para transmitir um convite ao rei Filipe VI, visto que Rajoy já visitou a China.
O primeiro-ministro de Espanha disse ainda que o seu Governo tem total disposição para colaborar no sentido de incrementar o ensino do espanhol na China, através, por exemplo, da formação de professores.

6 Set 2016

Coreia do Norte | EUA condenam lançamento de mísseis

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s Estados Unidos condenaram ontem o lançamento de três mísseis balísticos pela Coreia do Norte, considerando-o uma ameaça para os seus aliados e para os voos comerciais, e defenderam uma acção diplomática contra Pyongyang.
“Os lançamentos irresponsáveis da Coreia do Norte são uma ameaça para a aviação civil e para o comércio marítimo na região”, disse uma fonte oficial da administração norte-americana.
O responsável, que falava à margem da cimeira do G20 na China, disse que Washington irá “apoiar uma acção internacional para responsabilizar a Coreia Norte pelas suas acções provocadoras”.
A Coreia do Norte disparou ontem três mísseis balísticos a partir da sua costa leste, cerca de duas semanas depois de testar um míssil balístico a partir de um submarino, noticiou a agência sul-coreana Yonhap.
Os mísseis foram disparados para o Mar do Japão, a partir da região de Hwangju, pelas 04:00, segundo a Yonhap, que cita os chefes de Estado-maior sul-coreanos.
Ainda não se sabe de que tipo são os mísseis disparados, com um porta-voz do Ministério da Defesa de Seul a informar que o exército sul-coreano está agora a analisar o ensaio.

Acção contínua

A Coreia do Norte realizou uma série de testes de mísseis este ano, o mais recente a 24 de Agosto, quando foi lançado um míssil balístico a partir de um submarino que se deslocou 500 quilómetros na direcção do Japão.
Esse lançamento, amplamente condenado, marcou o que analistas de armamento descreveram como um claro passo em frente nas ambições nucleares da Coreia do Norte.
O lançamento de ontem surge horas depois de a Presidente sul-coreana, Park Geun-Hye, e o Presidente chinês, Xi Jinping, se reunirem, à margem da cimeira do G20 em Hangzhou.
A China é o único grande aliado de Pyongyang, mas os laços entre os dois países têm vindo a enfraquecer devido aos testes nucleares da Coreia do Norte, que causaram tensão na península.

6 Set 2016

G20 pede à OCDE uma lista negra de paraísos fiscais

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s dirigentes do G20 encarregaram ontem a OCDE de entregar ao grupo no próximo ano uma lista negra de países que não colaboram na luta contra a evasão fiscal, após a cimeira realizada na China.
“Pedimos à OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) para informar os ministros das Finanças e os governadores dos bancos centrais, até Junho de 2017, dos progressos alcançados em matéria de transparência fiscal”, indicou o G20 na declaração final da cimeira de Hangzhou.
A OCDE poderá “preparar até à cimeira de chefes de Estado e de governo do G20 de Julho de 2017 uma lista de países que não progrediram para atingir um nível satisfatório de aplicação de normas internacionais reconhecidas sobre a transparência fiscal”, indicaram os dirigentes do grupo das 20 principais potências mundiais.
“É uma estreia”, afirmou o ministro da Economia e Finanças francês, Michel Sapin, acrescentando que alguns dos elementos avançados nunca tinham sido mencionados nos comunicados de anteriores cimeiras.
“Mais do que nunca, a luta contra os paraísos fiscais é uma prioridade do G20”, disse à AFP o director do centro de política e de administração fiscal da OCDE, Pascal de Saint-Amans, também presente em Hangzhou.
Esta mensagem “bastante forte” do G20 significa que os países que não cooperam têm até Julho de 2017 “para ficarem em conformidade com os critérios da OCDE”, acrescentou.
“Estar na lista negra terá um impacto devastador na economia dos países citados”, previu, considerando que se trata de uma sanção “extremamente pesada”.

6 Set 2016

Hoje Macau 15 anos | 15 pontos (alguns negros, gordurosos)

1. O indizível
Na nossa primeira edição dizíamos o que ninguém queria ouvir: que o ex-Hotel Bela Vista (hoje excelentíssima residência consular) deixará de ser português em 2049. Bom… é verdade que isso hoje não interessa a ninguém, até porque nada do que se vai passar daqui a vinte anos interessa a alguém. Mas não deixou de ser uma bela manchete… assim para começar.

2. O improvável
Houve um tempo em que se queria destruir o velho mercado da Taipa para aí construir um centro cultural. Devia ser boa ideia mas por quê ali, onde haviam colunas portuguesas encimadas por um telhado chinês? Escrevemos muito contra isso e resultou. Olhando para o local, talvez estejamos um pouco arrependidos… ou talvez não.

3. O previsível
Quando a liberalização do Jogo estava prestes a abrir os diques do disparate e permitir que esta cidade fosse controlada por uma ganância irresponsável, bem que publicámos artigo atrás de artigo, avisando para a desarmonia vindoura. Social, ambiental, económica e quiçá política. Ela aí está, em todo o seu esplendor.

4. O imponderável
Como antecipar a maravilhosa vinda de magotes de neo-portugueses? Como futurar sobre a crise que assolou o petit pays, assim de repente? Impossível. Tão orgulhosos eles estavam, tão incertos da sua europeidade eles aqui chegaram. Como se conhecem mal a si próprios esses ditos portugueses… e como é bela a sua eventual transformação…

5. O inaudível
Centenas de artigos, de reportagens, de entrevistas. Para não falar de opiniões, escritas, gritadas, preto no branco. E, diga-se a verdade, poucos nos ouvem. Chovemos no molhado, é certo. Mas o pior é que, a maior parte das vezes, choramos sobre o leite derramado. Não deixaremos por isso de continuar. Afinal, a voz que fica é o insistente sussurro – e pouco mais somos do que isso – que insiste e não se cala.

6. O poucochinho
Temo-lo dito, uma, duas, cem, milhares de vezes: o Governo tem obrigação de fazer melhor. Há dinheiro, existem meios, confie-se nas pessoas. Macau merece mais, isto é poucochinho. Precisamos de arrojo, de vaidade, de confiança. Somos a cidade da China que menos confia em si mesma. Porque pouco conhece de si própria. E julga-se que anda tudo ao mesmo. Pois não anda.

7. Os glutões
É o poder, é o dinheiro, meus senhores e minhas senhoras, o que ele mais adorava. E dele não quer largar mão. E não é ele, mas eles, que por aqui ninguém alinhava sozinho. E dele não abre mão. Nem que custe a vida ou um milhão. É assim a RAEM: dos mesmos para os mesmos sem saciedade à vista. A fome é muita, demais e, por vezes, as indigestões são fatais.

8. Os benfeitores
Não fosse Pequim ter lançado a teta da ligação de Macau aos países lusófonos e estaríamos hoje a berrar como vitelos desmamados. Foi essa China do outro lado das Portas do Cerco que nos liberou, que nos justificou, além e aquém da História. Abençoados sejam por todos os deuses e mais um. Abençoado seja quem sabe realmente ler. Alguém percebeu Macau e não foi ninguém daqui.

9. Os insatisfeitos
Há muitos porque não fácil assistir ao deslizar do patacame sem molhar o bico nesse ribeiro de fortuna e excessividades. Não deixam, contudo, de ter alguma razão. Não conseguem, entretanto, descobrir o caminho que mais lhes convém. Para não servir, é preciso ser assumir os riscos. Para ter sucesso, é sempre fundamental ousar. Recado: queixem-se menos, façam mais. Não dá? Façam outra vez.

10. Os falhados
São os nossos favoritos: os que falham. Normalmente, fazem-no por razões verdadeiras e delas não querem abdicar. Temos assistido a inúmeros casos. Deles nada criticamos. Simplesmente não dá. Macau nunca foi fácil, a não ser para os que têm como assegurado o dia da partida. Nas razões dos falhados estão, na maior parte dos casos, os fantasmas do sucesso dos que ousam ficar.

11. Os intragáveis
Chegaram há dez anos de um sítio qualquer da China e, por terem obtido, sabe-se lá porque meios, o cartão de residente permanente julgam-se donos da cidade. Sentam-se na AL, discursam forte na Ou Mun Tin Toi. São mesmo os primeiros a pretender que mais ninguém obtenha o estatuto de cidadania. Dariam vontade de rir se, na realidade, não fossem tendo cada vez mais e mais poder. Perante a inércia dos que aqui nasceram. OK: continuam a dar vontade de rir.

12. A maltratada
É a língua, senhores, a lusa língua. A língua prometida, a língua oficial, essa mesma a que rebola por essas ruas, corrida a pontapés, varrida a sopapos, espancada pela ignorância e o desinteresse gerais: coitadinha. Deve ser por falta de jeito dos altos responsáveis ou então porque há para aí uns doutores que prometeram aos americanos fazer do inglês a língua primeira desta terra. E tudo isto sem um pingo de vergonha na cara. De quando em vez, passa Pequim, levanta-a do chão, sacode-lhe a poeira e tenta que Macau cumpra o seu histórico desígnio. E não, não é canalizar dinheiro para os candidatos quando das eleições nos EUA.

13. Os escandalosos
Que um Secretário das Obras Públicas meta a mão na massa indevida, não é bonito, mas compreende-se. Afinal, acontece ou pode acontecer um pouco por todo o lado. Em Macau, saiu-nos Ao Man Long, o pequeno homem de desejos enormes. E lá está em Coloane, a cumprir os seus 28 anos de sombra. Mas que o Procurador da RAEM tenha seguido o mesmo caminho e se pensarmos que esse mesmo senhor foi um putativo candidato a Chefe do Executivo, a coisa muda de figura e torna-se preta. Que raio de terra é esta em que o Justiceiro-mor, o defensor dos interesses do povo, garante da legalidade, é apanhado com a boca em botija alheia. Não é só triste: é, sobretudo, extremamente preocupante.

14. Os poderosos
Ao pé deles, o Governo treme, a polícia cora e os juízes encolhem-se. Estaremos a falar dos militares do EPL? Não, referimo-nos aos taxistas. Nesta cidade, eles fazem o que muito bem lhes apetece, pondo em causa a lei, a boa educação, o civismo e a imagem de Macau no exterior. E o que faz o Governo? Não licencia a Uber, faz o jogo de quem pesca pela cidade a seu bel-prazer: umas multinhas de vez em quando e pouco mais. É uma vergonha. O poder não está na ponta da espingarda. Aqui anda sobre rodas.

15. Os insípidos

Cada vez que vimos uma pessoa nova chegar ao poder em Macau, o nosso coração alegra-se, por julgar que algo de novo vai brotar, que muito vai ser corrigido e uma nova mentalidade poderá surgir. Cruel engano! Os novos governantes, com excepções (?), não passam de gente insípida com mais amor ao lugar do que à cidade ou mesmo ao seu próprio desempenho. Dos pais não herdaram a determinação e aos filhos não passam o sentido do dever e de servir a coisa pública. Enfim, na maior parte dos casos, são uma grandessíssima decepção.

5 Set 2016

Hoje Macau, 15 anos | Barba e borbulhas

[dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uando o director deste jornal tinha quinze anos, cometeu alguns erros não fundamentais mas fulcrais para a minha vida. Por exemplo, escolheu ser engenheiro químico e, devido a essa decisão, estudou ciências exactas durante dois anos quando o que lhe interessava mesmo eram as ciências humanas. Arrependeu-se? Não. Aprendeu muita coisa que não viria a aprender se, imediatamente, tivesse enveredado pelo caminho das humanidades. E isso hoje é importante para ele.
Aos quinze anos não sabemos bem para onde queremos ir e, sobretudo, ainda não sabemos o que somos. Existem pistas, indícios, uma plataforma cultural e civilizacional onde nos movemos, mas fazemo-lo dotados uma parca consciência e sem sequer dessa fragilidade nos damos conta. Nasce-nos a barba, ainda rala, mas vem coroada de borbulhas. Ou seja, cada coisa é, geralmente, um problema.
Felizmente, temos pais, gente mais velha, amigos, que nos desculpam, nos acarinham e permitem continuar a vida, apesar dos disparates que fazemos. Já não somos crianças a quem tudo é permitido. Já não temos a graça de quem começa, nem a inconsciência tolerada. Somos grandes. De repente, crescemos. Temos quinze anos e ocupamos imenso espaço, muitas vezes sem sabermos o que fazer dele.

*

Confessemos: a vida dos adultos é, aparte do sexo, fundamentalmente aborrecida. E isso, aos quinze anos, olhando à volta, é fácil de perceber. Não que com esta idade se julgue saber mais que os outros: o que se questiona é o valor dessa sabedoria. Afinal, o mundo não é propriamente um lugar idílico para viver. Serão os adultos um modelo a seguir? Parece que não. Tudo nos grita que não. Eu, Hoje Macau, não quero ser como os senhores que fazem o mundo arder sem se preocuparem com quem constantemente se queima nessa fogueira a que chamamos História.
Basta olhar. E não é para o passado, é para o presente e com os olhos postos nos futuro. O que vem aí? Que mundo nos entregam? Ainda há quem se lembre de quando a religião, o racismo, as diferenças de género, o direito do mais fraco à liberdade eram coisas resolvidas, que ninguém pensava poderem regredir, até que, de repente e inesperadamente, vivemos outra vez num mundo de idiotas. O movimento imprescindível que conduziu à educação obrigatória serviu de desculpa para baixar o nível geral da comunicação e isso foi um dos erros (talvez propositado) em que caiu a democracia ocidental.

*

E o que é isto de ser comunicação social? Devo ser informação ou entretenimento? Devo entreter enquanto informo ou deixar cair a informação que me apetece entre duas levas de emoção pura e dura? Caramba! Tenho quinze anos, o mundo é confuso, cada um puxa para o seu lado, nenhum para o meu, e não faço parte de nenhum clube. Nem Igreja , nem Maçonaria; nem Governo, nem Oposição. Não é essa a minha filiação, não foi assim que os meus pais me ensinaram.
Hoje, como há quinze anos, os meus donos são os mesmos. E não, queridos leitores, não sois vós. Não julgais que satisfaço os vossos desejos. Os meus verdadeiros donos são uma coisa que inventei, a que chamo população de Macau. E inventei-a porque ela só existe de forma ténue, mal definida, flutuante. Julgo, no entanto, servir os seus interesses. Quanto mais não seja por me dedicar a fazer jornalismo. A sério. Com o rigor possível e a imaginação impossível. Com a dedicação de quem não tem mais nada para fazer. Nasci para isto e nesta demanda me mantenho. O caminho nunca é óbvio: como ser um jornal numa cidade em que, de uma maneira ou de outra, somos todos primos? Experimentem e verão quantas vezes a vossa face será acometida de um súbito rubor, quantas vezes a consciência vos gritará horrorizada pelo trabalho bem feito e necessário; quantas vezes a emoção não vos obrigaria a tomar outro caminho.
Não sou nenhum herói, muito menos um cruzado. Como vos dizia, não sei exactamente o que sou para além de ser um jornal feito por jornalistas que, como eu, também têm muitas dúvidas sobre o mundo e ainda mais sobre Macau. Esta terra, onde orgulhosamente nasci a falar português, é mais complexa que um labirinto, mais indecifrável que um palimpsesto, mais difícil de ler que um romance do Lobo Antunes.
Talvez por isso ela seja o meu amor. Nós, que escrevemos em português, gostamos de mistérios, de coisas inenarráveis, complicadas, absurdas. Daquelas que só aos poucos vão sendo ditas, sendo despidas, com a lentidão de exasperar um monge. Adoro Macau. A cidade dá-me tudo, sobretudo esta energia estranha que ma faz palmilhar de um lado para o outro e nunca me cansar de nela encontrar novas formas, novas gentes, novas coisas. Por vezes é uma querida; doutras uma bruxa. Mas sempre a roçar o insuportável: impossível de viver com ela, impossível de a largar. É a vida…

*

Tenho quinze anos: peçam-me muito, exijam-me mais, que eu preciso. Ponham-me na ordem quando for necessário. Esperem por uma resposta pronta, talvez violenta, sempre que me atacarem. É que, além de mim, tenho muito a defender. A tal população, lembram-se… e, além dela, os magros princípios que me guiam.
Trouxe-os de um outro continente. Num caso, modifiquei-os.
Eu explico. Mantive, cimeiro a todos, a Liberdade. Não prescindi, nem prescindirei de um desejo de Igualdade, sobretudo de oportunidades, acima de tudo pelo mérito. Resolvi, entretanto, afinar a ideia de Fraternidade. Nunca, de facto, me havia agradado, dadas as suas ressonâncias maçónico-cristãs. Parece que se só destina aos que se consideram irmãos (frater).
E os outros? Os que ousam discordar da seita? Adoptei por isso, no seu lugar o conceito de Ren, aprendido em Confúcio, e que se destina a toda a Humanidade. Nele é vigente a regra de ouro, a saber: não faças aos outros, o que não queres que façam a ti próprio. Nele não admito separações étnicas, religiosas ou de qualquer outra espécie. Nele vivem todos os homens e nele imperará, nesta acepção, uma benevolência extensa a todos os seres humanos. Ele implica, fundamentalmente, educação e cortesia, algo importante para manter a civilidade e a distância.
Dos proletários aprendemos a autenticidade, a importância da luta; da aristocracia pretendemos o refinamento. Da burguesia nada queremos, além dos anúncios.
Sou, por isso, do lado que considera a existência do Outro fundamental para mim. É o caso da minha dita concorrência. Preciso da Tribuna e do Ponto Final; aplaudo a existência do Clarim e do Plataforma. Eles mostram-me como eu não quero ser – e não considerem isto uma crítica – mas uma afirmação de mim pela negativa. Todos a fazemos para existir, para garantir uma identidade, e eu, porque tenho quinze anos, tenho ainda o descaramento de o admitir.
Fossem estes quinze anos um sonho, uma fantasia, e valia a pena ter dormido. Felizmente, sou uma realidade diária, palpável, até legível. Tenho tido comigo gente excepcional. Muitos partiram para outras aventuras porque eu não sou o fim do mundo. Pelo contrário, considero-me um início, um ritual de aproximação, de iniciação. Através de mim, alguns tiveram e têm acesso a um certo Macau e outras coisas para além dele. Talvez não exista melhor mediador. Este é o meu lado ainda inseguro e, por isso, convencido.
Publico, logo existo. Disto eu tenho a certeza. Não tenho, no entanto, certezas quanto à veracidade da minha existência, apesar de publicar. Será que por duvidar, isso me garante que existirei? Adoro paradoxos, essas frases onde o óbvio se esvai e a verdade se insinua. Preciso, simplesmente, de ser publicado. Bem sei que isto é confuso. Talvez um pouco infantil. Só tenho quinze anos. Não sei ainda o que me espera. Nem exactamente o que vou ser. Depende, diria… da barba, das borbulhas e, finalmente, de vós, meus queridos e imprescindíveis leitores.

5 Set 2016

Alexis Tam | Secretário sob fogo explica posição sobre assuntos polémicos

Alexis Tam veio a terreiro responder a uma série de questões prementes. A recente suspensão do restaurante português nas Casas-Museu da Taipa, a Construção da Nova Biblioteca e o reaproveitamento do património cultural são alguns exemplos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] responsável para os Assuntos Socais e Cultura reuniu com a imprensa numa tentativa de clarificar alguns assuntos que têm sido polémicos. Neste encontro o responsável falou sobre qual a posição do seu gabinete e quais as intenções para o futuro da cultura e do património na região.
A suspensão do restaurante nas Casas-Museu da Taipa foi merecedor de atenção. Relembrando que Macau se prepara para a candidatura para o título de Cidade Criativa da Gastronomia, o responsável afirmou que “antes da transferência de poderes, a então Direcção dos Serviços de turismo já tinha concebido a transformação de um edifício do local em restaurante”, mas apela ao consenso da população visto que “há neste momento opiniões contra a criação de um restaurante nas Casas-Museu da Taipa e o Governo quer ouvir essas opiniões”. Como já tinha sido notícia, o projecto fica suspenso, até porque as entidades envolvidas não o consideram com carácter urgente.

É para avançar

Em relação à construção do edifício das doenças infecto-contagiosas Alexis Tam disse que este “está relacionado com a salvaguarda da vida e da saúde da população” e por essa razão o Governo está apostado em dar-lhe seguimento, “impulsionando os trabalhos de construção”. As salas de enfermarias de isolamento no Complexo de Cuidados de Saúde das Ilhas são também para avançar. Ambos os complexos de saúde fazem falta à população e o secretário reforçou dizendo que “é necessário a existência dos dois, um em Macau outro nas Ilhas, na medida em que só assim poderemos aproveitar os recursos médicos dos hospitais, de forma a assegurar a segurança pública.”
Durante a conversa com os jornalista foi também abordada a questão do vírus Zika, uma vez que na vizinha Singapura a doença já se trata de um caso de saúde pública. isto de acordo com a Organização Mundial de Saúde, que classificou a zona como tal. Devido à proximidade geográfica e ao fluxo turístico, Macau deverá estar alerta.
Outra questão polémica é o Hotel Estoril e as duas casas situadas na zona de construção do edifício das doenças infecto-contagiosas. O mesmo responsável diz que estes não são “património cultural”, não sendo por isso a sua preservação garantida. Assim e relativamente à manutenção da fachada principal e à preservação do azulejo do Hotel Estoril, “aguardam-se pareceres técnicos”, mas alertou para o mau estado quem que o edifício encontra. “Está destruído devido às térmitas” e alertou que a sua reparação e manutenção “terá um custo elevado”.
Alexis Tam conclui referindo que todas as acções sob a sua tutela são realizadas em prol de Macau, pedindo ainda compreensão e o apoio de todos os cidadãos. Valorizou a importância do turismo e impulsionou a “transformação de Macau enquanto Centro Internacional de Turismo e Lazer” com o objectivo de trazer mais benefícios para a RAEM.

Expo de Turismo | Comitiva Portuguesa reúne com Secretário

Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, reuniu na sexta-feira com os chefes da delegação portuguesa presentes na 4ª Expo Internacional de Turismo (indústria) de Macau, (Expo de Turismo). A reunião foi no sentido de aprofundar as boas relações de amizade bem como o papel da RAEM enquanto porta de entrada para a China e de Portugal para a Europa, com vista a dinamizar o mercado do turismo.
Alexis Tam reuniu com o Presidente da Câmara de Aveiro, José Agostinho Ribau Esteves, o presidente do Turismo do Centro de Portugal, Pedro Machado entre outros membros da comitiva, com o objectivo de reforçar as relações na área do turismo. Nas várias regiões com interesse, destaca-se o santuário de Fátima, visto como um potencial de interesse uma vez que é um importante local de visita para todos os católicos do mundo. A região centro de Portugal, onde se situa “Fátima” é tida como detentora de uma vasta capacidade na organização de eventos internacionais relacionados com o turismo religiosa e Macau está entre as regiões com tradição e festividades católicas na Ásia. Um ponto comum entre ambos.
Alexis Tam reuniu também com o Presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagem e Turismo (APAVT), Pedro Costa Ferreira e foi discutido o plano para a realização do 43º Congresso Nacional daquela associação em Macau. A acontecer será no próximo ano e será a 5ª vez que se dá. Este é um dos assuntos destaque da agenda de negociações.
A China devido à sua dimensão e índice populacional, continua a ser um mercado muito apetecível para todos os operadores turísticos. Macau encontra-se numa situação privilegiada quer devido à aproximação geográfica quer por razões políticas. Portugal tenta assim, fazer valer as relações privilegiadas com a RAEM no sentido de facilitar os fluxos turísticos de Portugal para a China e vice versa.

5 Set 2016

Air Macau | Check-in não aceita portugueses sem bilhete de regresso

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Air Macau deu instruções aos seus assistentes de terra, responsáveis pelo check-in, no sentido de não permitirem o embarque de cidadãos de Portugal, que voem para a RAEM, no caso destes não terem na sua posse um bilhete de volta. Um documento enviado a todos os aeroportos para onde voa a companhia de bandeira, a que o HM teve acesso, explicita que, no caso do cliente não possuir o referido bilhete, poderá ser-lhe interdito entrar no avião e desembarcar em Macau.

O balcão de check-in da Air Macau não soube explicar ao HM se as instruções têm origem na companhia ou se partem de indicações dos Serviços de Emigração e Fronteiras. Ontem, até ao fecho desta edição não foi possível confirmar com o Governo a origem desta ordem executiva.

Ora esta ordem, a ser realmente executada, impede, por exemplo, um português que se desloque a Macau via Hong Kong e aqui entre pela fronteira marítima, de se deslocar a Banguecoque pela Air Macau, pois quando pretender voltar à RAEM poderá ser impedido de o fazer. Como impede um cidadão de Portugal de usar Macau meramente como ponto de passagem para a China, por exemplo.

O HM sabe que em vários aeroportos tem sido colocada esta questão, embora nenhum caso de recusa liminar tenha sido reportado. Os assistentes da Air Macau, perante o espanto e indignação dos passageiros, acabam por possibilitar, depois de muita consideração e perdas de tempo, a viagem até à RAEM. É claro que esta questão não se coloca no caso do cidadão português ser cidadão de Macau, permanente ou não-permanente.

Atrasos, atrasos e mais atrasos

Um dos mais graves problemas que atinge a Air Macau são os constantes atrasos. Nas páginas de análise da aviação na internet, a maioria dos clientes queixa-se dos atrasos e, sobretudo, de não serem antecipadamente prevenidos, nem ser normalmente prestada qualquer justificação.

São inúmeros os casos relatados, de fazerem corar os responsáveis da Air Macau, se estes realmente estiverem interessados no futuro da companhia. Mas o que disseram ao HM fontes bem informadas é que a empresa servirá de trampolim (ou castigo) a funcionários da Air China e da CACC, o que talvez explique o seu estado actual.

Também são conhecidos casos em que as regras mudam a meio de voos, sobretudo os que têm conexão com a Air China, havendo discrepâncias, por exemplo, no peso que é permitido transportar. A imagem de Macau tem sido gravemente prejudicada, garantem-nos, com este tipo de comportamentos.

Nas páginas da especialidade na internet, as classificações da Air Macau são extremamente baixas e os comentários todos (ou quase todos) negativos.

Língua oficial, o que é isso?

Facto indesmentível é que a Air Macau ignora completamente a língua portuguesa, não recebendo a bordo quaisquer dos jornais publicados na RAEM na língua de Camões, apesar desta ser oficial. Enquanto companhia de bandeira, muitos consideram que seria curial da parte da empresa de ter parte da sua comunicação em Português, algo que não acontece.
Nos aviões da Air Macau, existem jornais em chinês, um em inglês e outros noutras línguas, dependendo do destino do avião. Em português, nem um para amostra. A cidade como ponte entre a China e os Países Lusófonos é algo que passa ao lado da companhia.

5 Set 2016

Hong Kong elegeu deputados sob fortes medidas de segurança

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ais de três milhões de pessoas votaram ontem nas eleições para o Conselho Legislativo de Hong Kong, sob forte dispositivo de segurança, com pelo menos cinco mil polícias mobilizados, incluindo junto às assembleias de voto. No início da semana, mais de mil polícias participaram num exercício de dois dias, que incluiu a simulação de motim, com recurso a gás pimenta e gás lacrimogéneo, segundo imagens difundidas pelas televisões locais.
A imprensa local noticiou também a vigilância pelas autoridades das páginas de Facebook e fóruns online de grupos ‘localists’ (localistas), formados após o movimento pró-democracia ‘Occupy’ em 2014, e que advogam uma maior autonomia de Hong Kong em relação à China e mesmo a independência.
Analistas vêem nas medidas de segurança uma forma de o governo “jogar pelo seguro”, após a desqualificação de candidaturas nestas eleições, e da radicalização dos protestos em fevereiro, nos primeiros confrontos com a polícia desde o movimento ‘Occupy’, em que um agente efetuou dois disparos com balas reais para o ar.
O elevado número de candidatos a lugares eleitos pelo voto da população é também visto por analistas como motivo para o reforço da segurança junto às assembleias de voto, para evitar altercações.
O Conselho Legislativo (LegCo) da Região Administrativa Especial chinesa é composto por 70 lugares, mas apenas 35 resultam de candidaturas apresentadas individualmente por cidadãos e do voto direto de 3,77 milhões de eleitores, em cinco círculos eleitorais definidos por áreas geográficas. Estes círculos eleitorais vão ser disputados por um recorde de 213 candidatos, distribuídos em 84 listas.
Outros 30 lugares são reservados a círculos eleitorais definidos com base em setores profissionais e corporativos – que vão desde áreas como a agricultura e pescas, à saúde e direito – que estão divididos em 28 categorias, das quais 18 vão ser votadas, por apenas 233 mil eleitores.
Há ainda cinco lugares que são um híbrido dos dois sistemas, com os candidatos a serem previamente eleitos nas eleições distritais, tendo depois de obter o apoio de pelo menos 15 conselheiros distritais, antes de finalmente serem submetidos ao voto de quase todos os eleitores, menos os que votam nos círculos profissionais e corporativos.
As eleições de hoje deverão manter a maioria das forças pró-Pequim no parlamento, mas também o poder de veto da ala pró-democracia, sendo marcadas pela renovação geracional dos dois blocos políticos, e pela disputa de lugares por novos grupos – os ‘localists’–, apesar da desqualificação dos candidatos considerados mais radicais.
Estas são as primeiras eleições depois de revelados os desaparecimentos de cinco livreiros no final de 2015, um caso que gerou forte contestação popular, com acusações a Pequim de desrespeito do princípio “Um país, dois sistemas”, ao abrigo do qual Hong Kong e Macau gozam de ampla autonomia.
Além disso, decorrem numa altura em que permanecem as dúvidas sobre a eventual recandidatura do chefe do Executivo, Leung Chun-ying, bastante impopular desde o início do mandato em 2012.
Pequim chegou a concordar com a eleição do líder de Hong Kong por sufrágio universal, mas impunha que os “dois ou três” únicos candidatos fossem previamente aprovados, uma proposta que levou à ocupação das ruas em 2014, e que acabou chumbada, em junho do ano passado, pelos deputados de Hong Kong.
As próximas eleições para o cargo de chefe do Executivo são a 26 de Março de 2017 e vão decorrer segundo a mesma metodologia. O líder da região administrativa especial vai continuar a ser escolhido por um comité com 1.200 elementos. Em 2012, Leung Chun-ying foi eleito com apenas 689 votos a favor dos membros deste comité.

HK | Governo “atacado por piratas informáticos chineses”

Piratas informáticos chineses, alegadamente, atacaram dois departamentos governamentais de Hong Kong, a poucos dias das eleições na antiga colónia britânica, disse ontem uma empresa de segurança sedeada nos Estados Unidos. O ataque aconteceu em Agosto, durante a corrida para as eleições legislativas de domingo, numa altura em que o receio de um ‘apertar de cerco’ de Pequim a Hong Kong atinge níveis elevados.
A empresa de segurança FireEye, sedeada na Califórnia, disse que um grupo baseado na China, que a firma tem vindo a seguir desde 2011, atacou pelo menos dois departamentos do Governo de Hong Kong em Agosto. O diretor do departamento de tecnologia da empresa para a Ásia Pacífico, Bryce Boland, acredita que o grupo responsável pelos ataques, conhecido como APT3, “é patrocinado pela República Popular da China”.
“Normalmente, quando vemos ataques de governos a outros governos, tem que ver com recolha de informação ou tentativas de aceder a informação que não podem ter por outras vias”, disse Boland à agência AFP. “[Há] muita discussão, muita incerteza sobre o futuro político de Hong Kong. Imagino que estão a tentar formar uma imagem mais clara do que se passa dentro de alguns destes departamentos governamentais”, disse.
Um dos métodos usados pelo grupo APT3 nos ataques recentes foi enviar um email, que alegam ser um relatório sobre os resultados eleitorais, e que contém um ‘hiperlink’ que leva a ‘malware’ (programa malicioso). As autoridades confirmaram os ataques dizendo que “medidas de segurança relevantes foram já adotadas para bloquear os emails suspeitos”.
A empresa de Boland não conseguiu identificar quais os dados recolhidos e não especificou que departamentos foram atacados. Segundo Boland, este tipo de ataques tem aumentado desde o “Movimento dos Guarda-Chuvas”, de protestos pró-democracia, em 2014.

5 Set 2016

Ambiente | Pequim e Washington assinam compromisso fundamental

Agora ou talvez nunca. EUA e China assumiram, finalmente e em conjunto, a responsabilidade por não destruir o planeta. Aleluia ou talvez não

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China e os Estados Unidos, os dois maiores emissores de gases de efeito estufa do mundo, anunciaram conjuntamente na manhã de sábado, dia 3, na China, a ratificação do Acordo de Paris, que estabelece esforços do mundo inteiro para reduzir as mudanças climáticas e controlar o aumento de temperatura. Juntos, os dois países são responsáveis por 38% das emissões do planeta. A China é o actual líder, com cerca de 20%, e os EUA, que historicamente assumiram essa posição, respondem hoje por 18%. São os primeiros grandes países a ratificarem o acordo, o que deve acelerar a sua implementação em todo o planeta.
Para entrar em vigor, o acordo, estabelecido no ano passado na Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-21) em Paris, precisa ser ratificado por 55 países, que respondam por 55% das emissões. Até antes do anúncio, 24 países já tinham feito a ratificação, mas correspondiam apenas a cerca de 1% das emissões. Com o anúncio, esta fatia sobe para 39,06%, segundo informações passadas pelos próprios países à ONU. A expectativa é que se alcance o total necessário até ao fim do ano.
O compromisso acordado por 195 nações do mundo é de fazer esforços para reduzir as emissões de gases de efeito estufa para que o aumento da temperatura do planeta não passe muito de 1,5ºC, ficando “bem abaixo de 2ºC”.
Assim como já tinham feito antes, quando também anunciaram conjuntamente os seus compromissos de redução de gases de efeito estufa (cada país do mundo disse quanto pode contribuir para o esforço global), os Presidentes Barack Obama e Xi Jinping fizeram o anúncio na véspera da reunião do G-20 em Hangzhou, na China.
“Assim como eu acredito que o acordo de Paris se vai revelar um ponto de viragem para o nosso planeta, acredito que a História vai julgar os esforços de hoje como fundamentais”, disse Obama, ao lado de Xi Jinping e do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon.

O mundo agradece

A secretária-executiva da Convenção do Clima da ONU (UNFCCC) saudou o anúncio. “Gostaria de agradecer à China e aos Estados Unidos por ratificarem o acordo, sobre o qual repousa a oportunidade de um futuro sustentável para todas as nações e todas as pessoas”, disse numa nota. “Quanto mais cedo o acordo for ratificado e totalmente implementado, mais seguro o futuro se vai tornar”, acrescentou.
A China comprometeu-se a atingir o pico de emissões de CO2 até 2030, reduzir a intensidade de carbono de sua economia (quanto carbono é emitido por unidade económica produzida), aumentar as fontes não-fósseis de energia e aumentar as reservas florestais. Os Estados Unidos comprometeram-se reduzir entre 26% e 28% suas emissões até 2025, em relação aos valores de 2005.
De acordo com análise feita pelo Climate Interactive, com a escola de economia Sloan do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), as duas metas juntas devem responder por 51% das emissões evitadas entre 2016 e 2100 considerando todas os compromissos anunciados pelos demais países.
Além de ser o maior poluidor histórico, a ratificação por parte dos EUA é simbólica porque o país por anos foi considerado o maior entrave a acordos climáticos. A primeira tentativa de se controlar as mudanças climáticas foi o Protocolo de Kyoto, que estabelecia metas de redução das emissões por parte dos países ricos. Mas os EUA, apesar de o terem assinado, acabaram se recusar a ratificá-lo quando o ex-presidente George W. Bush, do partido republicano, assumiu o governo e o protocolo naufragou. A pressa de Obama justifica-se também porque o actual candidato republicano, Donald Trump, já manifestou que, se eleito, iria rever a assinatura do Acordo de Paris.

Acordo de Paris. O que é?

O acordo de Paris é um tratado no âmbito da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança de Clima (UNFCCC) sigla em inglês e foi aprovado a 12 de Dezembro de 2015 precisamente em Paris. Até 2017 os países podem rectificar o acordo, assumindo uma série de medidas de contenção no que se refere a emissão de gases poluentes. O acordo que foi aprovado por 195 países, impõe o compromisso no sentido de manter o aumento da temperatura média global em menos de 2 graus centígrados acima dos níveis pré-industriais e de encetar esforços para limitar o aumento da temperatura em 1,5 graus centígrados dos níveis pré-industriais.
O ponto central do chamado Acordo de Paris é a obrigação de participação de todas as nações e não apenas países ricos no combate às mudanças climáticas. Até agora, as 23 nações que haviam ratificado o acordo eram responsáveis por somente 1% das emissões. “Com a ratificação da China e dos EUA, só será preciso conseguir mais um par de grandes poluidores para que o total de 55% seja alcançado”, explica o analista de questões ambientais da BBC Roger Harrabin.
Mas mesmo que isso ocorra em breve, ainda há muitos desafios pela frente. A Grã-Bretanha, por exemplo, ainda não ratificou o tratado. O Governo fez saber recentemente à BBC que isso seria feito assim que possível, mas não há datas. No Brasil, o tratado passou pela Câmara dos Deputados, mas ainda precisa do aval do Senado.

5 Set 2016

Xi Jinping | “Ajustamentos dolorosos” para dinamizar economia

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] presidente chinês, Xi Jinping, afirmou que o país está disposto a realizar “ajustamentos dolorosos” para solucionar os problemas da economia, a segunda maior do mundo, e a levar estas reformas “até ao fim”. O chefe do Estado chinês, que falava num encontro com empresários do G20 na cidade de Hangzhou, reconheceu que o modelo económico do seu país levado a cabo nos últimos anos “já não é sustentável” e defendeu a alteração dos motores de crescimento para fazer da China “um país inovador”. “Temos vontade de fazer ajustamentos dolorosos e de abordar os problemas que se criaram ao longo de muitos anos”, sublinhou, na véspera da cimeira do G20, que decorre até esta segunda-feira naquela cidade chinesa.
O Presidente assinalou que a economia chinesa se encontra num “novo ponto de partida” para transformar o seu crescimento, manifestando “confiança” para enfrentar esta transição, uma vez que “o medo de avançar é uma oportunidade perdida”. “As reformas são cruciais para manter uma taxa de crescimento média-alta”, assegurou o Presidente chinês.
Xi Jinping afirmou ainda que a economia chinesa pretende “integrar-se mais no mundo e abrir-se mais ao mundo” e anunciou que a China vai facilitar o acesso do investimento estrangeiro no seu território, acelerar as negociações de tratados de comércio livre com outros países e intensificar os seus esforços para tornar o yuan uma divisa internacional.

5 Set 2016

Corações de atum | Dez nações da Ásia-Pacífico falham acordo

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]ez nações da Ásia-Pacífico terminaram ontem uma reunião de cinco dias sem chegarem a um consenso sobre as medidas a tomar para proteger o atum rabilho do Pacífico (Thunnus orientalis), uma situação já criticada por ambientalistas. Japão, China, Estados Unidos, Fidji, Vanuatu, Canadá, Coreia do Sul, Filipinas, ilhas Cook e Taiwan, membros da Comissão das Pescas do Pacífico Ocidental e Central (WCPFC, na sigla em inglês), “não conseguiram chegar a acordo”, no final de cinco dias de discussões na cidade de Fukuoka (sudoeste), indicou a agência japonesa das pescas num comunicado. Associações ecologistas deram conta da sua frustração, considerando a Greenpeace que este resultado é “extremamente lamentável quando os stocks de atum rabilho estão numa situação de emergência”. Perto de 60% das capturas de atum no mundo são feitas no Pacífico. Face ao declínio das reservas, a comissão decidiu o ano passado regular a pesca, devendo os detalhes ser definidos no encontro que ontem terminou. As discussões deverão ser retomadas em Setembro do próximo ano na Coreia do Sul, disse à agência France Presse um responsável japonês, Kazuya Fukaya. O atum rabilho do Pacífico é reconhecido desde 1999 como uma espécie distinta do atum rabilho do Atlântico (Thunnus thynnus), igualmente ameaçado.

5 Set 2016

Diário (secreto) de Pequim (1977/1983)

Ano 1978

Pequim, 8 de Janeiro de 1978

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]esta vez calhou a visita à Universidade de Beida, a mais famosa de toda a China. O nome completo é Beijing Daxue北京大学, o que significa Universidade de Pequim, fundada em 1898. Este vasto império, do tamanho da Europa, com 900 milhões de habitantes, conta com 500.000 estudantes universitários e 380 universidades.
A partir do nosso Hotel da Amizade chega-se com facilidade a Beida, somos quase vizinhos, estamos todos no grande bairro de Haidian, aqui no noroeste de Pequim.
Chegados ao grande campus universitário, somos recebidos pelo prof. Wang Dongxiao que, numa sala de aula, nos vai fazer o relatório introdutório sobre Beida.
Existem aqui vinte faculdades e oitenta e três cursos diferentes, Humanidades, Ciências, Direito, etc., dois mil e setecentos professores e apenas sete mil alunos, cento e sessenta dos quais são estrangeiros. O reduzido número de professores e alunos tem a ver ainda com as sequelas da Revolução Cultural quando esta universidade esteve praticamente encerrada durante anos devido à linha esquerdista que quase ia destruindo o ensino universitário em toda a China. No próximo ano esperam admitir mais 1.500 alunos e, gradualmente, Beida voltará a ser a maior e melhor universidade chinesa.
Porque, segundo me dizem, foi dura a sabotagem do quotidiano universitário levado a cabo pelos apaniguados do “bando dos quatro”. Perseguiram-se professores, até à morte, fecharam-se faculdades, destruíram-se edifícios, enfim uma tenebrosa selvajaria comunista em nome do presidente Mao Zedong, para se acabar com “o ensino burguês” e depois se criar coisa nenhuma. Hoje procura-se reformular tudo, o conhecimento dos professores, a admissão dos alunos, os materiais de estudo e trabalho. Desde a década de sessenta que não há promoções a professores catedráticos. A Universidade é gerida por um comité revolucionário sob a direcção do Partido, conjunto de professores, estudantes e empregados. A maioria dos professores graduaram-se depois de 1949, a data de tomada do poder pelo Partido Comunista. 35% dos professores são mulheres e 40% dos alunos são do sexo feminino. Entram na Universidade entre os 19 e os 25 anos, após selecção e exames. Podem ser operários desde que mostrem vastos conhecimentos e capacidades intelectuais. O objectivo é depois utilizar estas pessoas como professores em pequenas universidades geridas por camponeses e operários, agregadas a comunas agrícolas ou a grandes fábricas.
Estão interessadíssimos no intercâmbio com universidades estrangeiras e em enviar muitos dos seus melhores alunos para completar estudos nos Estados Unidos da América, Canadá, Austrália. De resto a biblioteca desta Universidade de Beida conta com três milhões de livros, 800 mil dos quais em línguas estrangeiras.
É vasto o campus universitário, com as residências para os alunos junto a um grande lago circundado por chorões e um pagode ao fundo, não muito antigo, no interior do qual foi construído um depósito de água.
A Universidade de Beida parece-me uma escola em ebulição lenta, rumo ao fervilhar do futuro.

Pequim, 20 de Janeiro de 1978

Reunião dos quatro portugueses da célula do PCP (m-l) em Pequim.
Eu digo:
“Somos todos diferentes, eu gosto mais do isolamento, dos meus livros, de ouvir o silêncio, de escrever, da minha música na paz da minha casa. O meu tipo de vida terá necessariamente de ser diferente do vosso. Gostava de aproveitar estes quatro anos para aprender tudo o que puder sobre a China, gostava que isso fosse possível convosco. É importante que me compreendam e me aceitem como sou”.

Pequim, 7 de Fevereiro de 1978

Festa da Primavera, o Ano Novo Chinês.
O tempo ainda está gélido em Pequim mas, segundo o calendário sínico, começou hoje a Primavera e há que festejar. A Festa é uma espécie de Natal e Carnaval, ao mesmo tempo. As famílias reúnem-se, comem coisas boas, banqueteiam-se excelentemente pelo menos uma vez por ano, as crianças lançam uma espécie de bombinhas carnavalescas e fogo de artifício.
Uns tantos chineses que trabalham connosco vêm cá a casa, cumprimentar, saudar, desejar felicidades para o Novo Ano, comer uns petiscos e beber uns copos. Correspondo com o que tenho, e tenho sempre mais do que estes meus camaradas chineses, ganho 500 yuans por mês, contra os 40 ou 60 yuans que eles recebem mensalmente. E o patrão é o mesmo, as Edições de Pequim. Sou um privilegiado, um estranho nestas festividades e nesta China diferente do meu alicerce cultural e do mundo de onde provenho.

Pequim, 21 de Fevereiro de 1978

Setecentos e cinquenta milhões de camponeses na China, quantos são os analfabetos? Os que sabem ler, gostam de ler o quê?
Questiono os meus companheiros de trabalho.
Falam-me em contadores de histórias que, na tradição da velha China, andam de aldeia em aldeia, reúnem assembleias de gente e as entretêm com narrações vivas de contos tradicionais e com a descrição dos feitos heróicos acontecidos em velhos e novos tempos.
Os que sabem mesmo ler contam com livros ilustrados, tipo banda desenhada com historietas exaltantes sobre a revolução e o socialismo. Outros lerão romances, mas o nível cultural dos camponeses é baixo. A herança recebida pelos comunistas em 1949 no que à educação diz respeito era pior do que má. Nesse ano existiam 90% de analfabetos no país. Em 1961 a situação havia melhorado muito, segundo dados oficiais, o analfabetismo atingia 66% dos habitantes do campo e 22% da população das cidades.
Podemos talvez assim compreender o voluntarismo de Mao Zedong e do Partido Comunista que a partir de 1966 lançou a Revolução Cultural, também como uma tentativa de elevar o nível educacional do povo chinês, dando ordens para a deslocação das cidades para o campo de milhões de jovens instruídos (ou tidos como tal!) O objectivo era viverem junto dos camponeses, ensinarem e aprenderem com eles, e dar testemunho da sua experiência. Apareceram escritores como Liu Xinwu e Zhao Shuli que se especializaram no conto e na novela sobre a vida no seio da gente do campo. Numa linguagem terra a terra têm tentado retratar as alegrias, tristezas e extremas dificuldades dos quotidianos na China socialista. Um destes homens, de nome Liu Ching viveu durante catorze anos numa aldeia na província de Shaanxi e disse: “Uma árvore lança raízes, cresce na terra, o mesmo deve fazer o escritor em relação ao povo.”
Onde começa a literatura e depois descamba para a propaganda política? Até que ponto são sinceros estes autores que sabem melhor do que ninguém como tem sido dolorosa a sua inserção no meio das pessoas do campo, frequentemente rejeitados pelos próprios camponeses que, sabemos agora, olhavam tantas vezes para os jovens das cidades como alguém que nada produzia e era mais uma boca para sustentar.
“O pão é mais importante do que a poesia” disse Jean Paul Sartre. Pois é, pão e poesia, arroz e revolução.

5 Set 2016

Carlos André participa na próxima sessão de “Conversas sobre o livro”

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Fundação Rui Cunha patrocina mais uma vez “Conversa sobre o livro” com o título “Percursos inesperados de um leitor”. O orador convidado para dinamizar a sessão é o Professor Carlos André, que trocou Coimbra por Macau em 2012.
A iniciativa é promovida pela Associação Amigos do Livro em Macau e vai acontecer na próxima quarta-feira, no espaço da fundação
Ler um livro é uma experiência pessoal. Cada um interpreta as palavras escritas de acordo com a sua experiência de vida e os seus gostos pessoais. “Cada leitor tem o seu percurso; alguns percursos são mais ortodoxos, outros nem tanto”, refere o comunicado da Fundação Rui Cunha. As opiniões variam consoante as correntes; as que defendem que uma leitura deve ser escolhida com critério; outros defendem exactamente o contrário. A surpresa e o inesperado são por vezes os maiores aliados de uma leitura com prazer.
O convidado de cada sessão dá o seu contributo e partilha a sua experiência. Nesta intervenção o professor é convidado a intervir com o seu percurso que, segundo a mesma fonte, ” é o de quem descobriu a leitura por aquilo que ela é, etimologicamente, um simples prazer de juntar sinais e deles fazer palavras com sentido e na sucessão delas apreender histórias”.
Através da leitura descobrem-se histórias e é possível fazer um percurso “onde cada etapa é um capítulo; que talvez nada tenha a ver com o capítulo seguinte”.

Paixão lusófona

O orador convidado para esta palestra é uma figura conhecida da escrita, pelo seu contributo em vários planos mas sobretudo na área da literatura Latina e Portuguesa. Envolveu-se activamente em acções de cooperação com países lusófonos como é o caso de Moçambique, Timor, Brasil e Angola. Macau valeu-lhe particular atenção. Deslocou-se pela primeira vez a este território em 1984, acabando sempre por voltar, até se ter estabelecido em 2012.
Desempenhou vários cargos tendo sido membro fundador da Associação Internacional de Lusitanistas, da qual foi, depois, Vice-Presidente e Secretário-Geral-Tesoureiro. Foi Director da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (2006-2013) e Coordenador do Pólo de Leiria da Universidade Católica Portuguesa. É Professor da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (em licença especial) e foi “Visiting Professor” nas Universidades da Ásia Oriental, Macau (1984), Hamburgo e Gottingen (1992/1993) e Poitiers (1994 e 1996). É membro da Academia das Ciências de Lisboa e da Academia Brasileira de Filologia. E desempenha actualmente o cargo de Coordenador do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa, do Instituto Politécnico de Macau.
Até ao fim do ano, a Associação Amigos do Livro em Macau assegurará mais duas “Conversas sobre o livro”, com intervenções do Prof. Yao Jiming com o tema “Imagens Constantes na Poesia Clássica Chinesa” e do Prof. Peter, Cheng Wai Ming sobre “Literatura chinesa moderna”.
Tal como acontecerá na próxima quarta-feira, a Fundação Rui Cunha assegurará, em todas as sessões, a tradução simultânea para cantonense.

5 Set 2016

Hoje Macau, 15 anos | Regresso aqui

Carlos Picassinos e João Costeira Varela, ex-directores do Hoje Macau

[dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uinze anos na vida de um jornal não é uma vida, é uma eternidade. E, como é próprio da eternidade, o tempo é uma medida obsoleta.
Esta é uma das contradições de um objecto como um diário. Atormentado pela pressão da actualidade, pela racionalidade do espaço, um jornal é para sempre, e por isso, objecto utópico, feito para um horizonte ausente, e um ideal romântico de paixão e impossibilidade.
Antes de ser tudo, o Hoje Macau foi isto. Foi, sobretudo, isto.
Nestes quinze anos, com as intermitências e os intervalos dos subscritores, o jornal foi audaz e corajoso, foi pertinente e adolescente, informativo, pertinaz, provocador, subjectivo, ingénuo, descuidado e rigoroso. Antes do mais, este jornal atravessou e revirou-nos nossas vidas.
Como numa novela de cordel, houve camaradagens e traições, houve zangas e paixões e acusações, homens revoltados, mulheres abandonadas, gritaria e zaragata, adolescentes louros, pintores e poetas pobres, alcoolizados e adictivos, despertares penosos, noctívagos embrutecidos, arroubos geniais, escrevemos em taças de ouro e bebemos em chinas. Houve amores. Amores perdidos. Dramas, ópera bufa. Solidão, solidão. Houve ressacas, ressentimentos, rugas, cãs e, como num western americano, os renegados, os enjeitados e os desperados. Amigos grandes e grandes penas. E os largos silêncios, os que nunca mais voltaram, aqueles que já partiram. Os que permaneceram, os que permanecem sempre, que entregam tudo como se cada dia fosse o primeiro das férias grandes. Fomos enamorados, adolescentes tardios, de bagagem inteira, sem função pública, jovens turcos, náufragos. Só nós, nós todos.
Em 1961, Umberto Eco escrevia aquele que havia de ser considerado um dos ensaios precursores da crítica televisiva. Tratava-se de uma invectiva contra o apogeu da mediocridade promovido pela televisão na embrionária sociedade de massas, no boom do pós guerra italiano. Dirigia-se contra a figura do apresentador italo-americano Mike Bongiorno – a corporização do homem que não provoca complexos de inferioridade junto do público. Embora sendo um deus, todos se encontram ao seu nível e nada há de inquietação. Nenhuma tensão entre ser e dever ser. E, por isso, o público, na exortação da sua mediocridade, ama-o. Umberto Eco chamou a este famoso ensaio “A fenomenologia de Mike Bongiorno”.
Desde a transição, nestes primeiros quinze anos de vida, o Hoje Macau foi o projecto editorial mais interessante e ambicioso da RAEM. Não esteve isento de contradições, mas a matriz de crítica e distinção cultural embandeirada pelo jornal desde a sua refundação transformou-o nessa lança contra a mediania e a mediocridade. Foi sempre essa a ambição deste jornal – escrever bem para um público ideal de leitores cultos. Assim como na vida, assim no dia a dia, uma vez foi feliz, outras infeliz. Parabéns jornal.

5 Set 2016

Duterte declara “estado de anarquia” após atentado nas Filipinas

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, declarou sábado o “estado de anarquia” no país, após o atentado à bomba na noite de sexta-feira na cidade de Davao, no sul, o qual provocou a morte de pelo menos 14 pessoas e 67 feridas.
“Vivemos tempos extraordinários. Estamos a tentar lidar com esta crise agora. Parece que há um ambiente de anarquia”, disse o Presidente filipino à imprensa no local do atentado, horas depois da explosão.
Segundo o chefe de Estado, a medida implica um aumento da presença de militares e de polícias em todo o país para combater a ameaça terrorista.

Radicais acusados

O grupo radical islamita Abu Sayyaf foi responsável pelo atentado à bomba na terra natal do Presidente filipino, Rodrigo Duterte, disse sábado a presidente da câmara.
“O Gabinete do Presidente enviou uma mensagem de texto para confirmar que foi uma retaliação do Abu Sayyaf. Nós, no município, estamos a tratar este caso como uma retaliação do Abu Sayyaf”, disse à CNN Filipinas Sarah Duterte, que além de autarca é filha do Presidente Duterte.
O ministro da Defesa, Delfin Lorenzana, também atribuiu o ataque de sexta-feira ao Abu Sayyaf, um grupo islâmico que prometeu lealdade ao Estado islâmico.
“Ninguém assumiu a responsabilidade, mas só podemos concluir que foi cometido pelo grupo terrorista Abu Sayyaf, que causou muitas perdas em Jolo nas últimas semanas”, disse Lorenzana.
O Presidente Duterte lançou uma ofensiva militar contra o Abu Sayyaf.
Na segunda-feira, cinco soldados foram mortos em confrontos com o grupo islâmico na ilha de Jolo, um importante reduto do Abu Sayyaf, a 900 quilómetros de Davao.
 A Amnistia Internacional (AI) instou também sábado o Presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, a respeitar os direitos humanos na resposta ao atentado de sexta-feira.
“A total indiferença demonstrada pelos atacantes pelo direito à vida não deve respondida com uma acção governamental que não tenha em conta os direitos humanos”, indica em comunicado Champa Patel, investigador para a região do sudeste asiático e Pacífico da AI.

5 Set 2016

Casas-Museu| Projecto de restaurante português suspenso

Afinal já não vai haver um restaurante português no número cinco das Casas-Museu da Taipa. Dúvidas sobre que tipo de impacto ambiental teriam na zona as alterações às instalações actuais, deitaram por terra a iniciativa anunciada a semana passada

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] possibilidade de haver um restaurante a funcionar numa das Casas-Museu da Taipa, saiu lograda. A razão apresentada para este desfecho prende-se com dúvidas existentes sobre o impacto ambiental que as obras a ser feitas na cozinha, construída em 1998 e 2000, terão na zona. Estas questões terão sido levantadas por um grupo de cidadãos que as fez chegar ao Instituto de Formação Turística, o órgão que avalia este assunto, de acordo com a informação dada pelo Governo.
A notícia foi avançada ontem pela mesma fonte, que explicou que esta questão foi levantada logo após ter sido dada a novidade do restaurante nas Casas-Taipa. De acordo com a informação “um número significativo de opiniões de cidadãos preocupados com a possibilidade de o projecto poder afectar o ambiente envolvente”, terá chegado às mãos do grupo que está a avaliar este assunto. Depois de analisada a situação o referido grupo, “decidiu suspender o respectivo plano, mantendo a função original do edifício como casas de interesse turístico”. De referir que o plano de optimização das Casas-Museu da Taipa é realizado em conjunto pelo Instituto Cultural, Direcção dos Serviços de Turismo e Instituto de Formação Turística.
De referir que já tinha sido pedida uma avaliação sobre o impacto ambiental que o funcionamento de um restaurante teria no local e, na altura, a entidade responsável, o Instituto para o Desenvolvimento e Qualidade de Macau, disse que “observando-se o cumprimento rigoroso das instruções relativas à protecção do ambiente de Macau no decurso da exploração na casa, o serviço de restauração não causará um grande impacto ao ambiente envolvente”. Mas desde então chegou-se à conclusão que a actual cozinha está a precisar de “umas alterações”. São exactamente essas “alterações” que levantam dúvidas sobre se afectam ou não, e de que maneira, o ambiente envolvente. Perante isto, decidiu-se “suspender o plano de introdução do projecto de restauração, mantendo-se a função original como casas de interesse turístico”, concluem.
Contactada pelo HM, Maria José de Freitas, a arquitecta responsável pela obra actualmente existente, explicou que “a questão ambiental não faz sentido porque a cozinha está construída na moradia número cinco, e licenciada com o número de mesas previsto, os esgotos estão ligados e dão para uma fossa séptica, há o local previsto para o gás, para as câmaras frigoríficas, tudo está previsto neste projecto e devidamente licenciado”. O espaço chegou mesmo a ser utilizado como restaurante “umas duas vezes, sendo que uma delas foi durante a visita de Xi Peng ainda antes de ser Presidente”. Neste momento as obras estão feitas e o que se está a discutir são os equipamentos que “após 15 anos precisam de ser substituídos, por isso nada disto afecta o ambiente e é uma questão que não se põe”, conclui.
O HM tentou falar com Amélia António, presidente da Casa de Portugal, mas até ao fecho da edição não foi possível contactá-la.

2 Set 2016

Primeiro aumento de receitas de Jogo desde 2014

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] mês de Agosto fecha com receitas dos casinos a aumentar. A subida acontece após 26 meses em quedas consecutivas. Comparativamente ao período homólogo no ano passado o aumento das receitas foi de 1,1%, valor baixo, mas positivo e único desde Junho de 2014. No total o montante de receitas de Agosto foi de 18.836 milhões de patacas.
No entanto os analistas do sector ainda apresentam reservas. “Não é necessariamente o fim da crise”, afirmou Ben Lee, analista da consultora IGamix, para quem o resultado “positivo” foi inesperado e é devido à abertura de um novo casino, o Wynn Palace, cita a mesma agência. Por outro lado os próximos três a seis meses são de flutuação entre “ligeiras subidas e ligeiras descidas”.
Grant Govertsen, analista da Union Gaming Research considera que este crescimento mostra ainda, e claramente, “os benefícios da nova oferta”, salvaguardando que foi uma “surpresa”, nomeadamente para os investidores. Independentemente do futuro do sector, o analista considera que este aumento contribui para um “sentimento positivo”.
“Penso que vamos ver novos níveis de crescimento nos próximos meses”, antecipou Grant Govertsen que também considera que o crescimento se venha a manter dada a abertura de novos casinos, nomeadamente o Parisian, da Sands China.
Já para o economista José Isaac Duarte o sinal positivo mantém-se referindo que este “não deixa de ser um bom sinal”. O economista avança ainda que este que pode vir a confirmar uma tendência para a estabilização que se tem vindo a desenhar.
Lionel Leong, o Secretário para a Economia e Finanças, deu a conhecer no início de Junho que o Governo mantém a previsão de fecho de 2016 com receitas de Jogo na ordem dos 200.000 milhões de patacas, o que representa uma diminuição de 13,35% comparativamente ao ano passado.
Segundo os dados publicados ontem pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ), os casinos registaram, nos primeiros oito meses do ano, receitas de 144.396 milhões de patacas.

2 Set 2016

Hong Kong | Debate sobre independência está para durar

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] debate sobre a independência de Hong Kong reflecte a frustração política local e, 19 anos após a transição para a China, vai continuar após as eleições de domingo, apesar das tentativas do governo para erradicar o assunto, consideram académicos.
Seis aspirantes a lugares de deputado ao Conselho Legislativo da Região Administrativa Especial chinesa foram impedidos de concorrer às eleições de domingo pelas suas posições pró-independência.
A ideia da independência é considerada ilegal pelas autoridades locais e pelo governo central em Pequim e permanecia um tabu até à recente emergência de novos grupos políticos, designados ‘localists’ (localistas), que apelam para uma ruptura.
Estas formações foram criadas por iniciativa de jovens desiludidos com a “revolta dos guarda-chuvas”, uma mobilização pela democracia que agitou Hong Kong em 2014, mas fracassou na tentativa de obter concessões políticas da China.
“A independência nunca foi seriamente debatida nos anos 1980 ou 1990 [quando se estava a preparar a transferência da soberania da Grã-Bretanha para a China]”, disse à agência Lusa Chung Kim Wah, professor da Hong Kong Polytechnic University.
O académico, então estudante universitário, recorda que apesar de a opção ter sido brevemente mencionada, nessa altura, “até os jovens acreditavam que era chegada a hora de apagar o passado colonial e voltar para a mãe-pátria”.
“Desta vez é diferente porque os jovens têm vindo a perder a paciência com a reforma política de Hong Kong e muitos acreditam que os princípios ‘Hong Kong governado pelas suas gentes’ e ‘Hong Kong, um país, dois sistemas’ falharam totalmente por causa da intervenção de Pequim, por isso querem uma alternativa”, afirmou.

Temores da terra

Desde a transferência da soberania em 1997 que Hong Kong beneficia de um regime de “ampla autonomia” e teoricamente usufrui até 2047 de liberdades que não são aplicáveis no restante território da China, mas nos últimos anos tem aumentado a preocupação com a interferência de Pequim nos assuntos da região administrativa especial.
Em Julho, uma sondagem da Chinese University of Hong Kong indicou que 17% dos cerca de mil inquiridos apoiam a independência.
Observadores como Sonny Lo, da Education University, são, no entanto, cautelosos na análise dos dados, porque o conceito de independência “continua ambíguo” e “apenas uma minoria parece falar da independência territorial, que viola a Lei Básica [miniconstituição] e foi a justificação usada para excluir candidatos às actuais eleições”.
“Não sabemos o significado de independência, porque alguns dos 17% dos inquiridos identificam-na com um elevado grau de autonomia, não sendo uma separação territorial da China, mas mais a autonomia institucional da cidade, ou seja, querem um sistema político relativamente livre da intervenção de Pequim”, observou.

No terreno

No início de Agosto, Hong Kong registou a primeira manifestação a favor da independência, com pelo menos mil pessoas concentradas num parque junto ao Conselho Legislativo, na presença de candidatos desqualificados, como Edward Leung, do grupo Hong Kong Indigenous.
“O facto de o governo ter feito uso de funcionários públicos [da Comissão Eleitoral] para desqualificar candidaturas tornou o tema ainda mais quente nos fóruns eleitorais. (…) É uma reacção por causa da reacção tonta do governo”, disse Chung Kim Wah.
“Mas enquanto os que defendem a independência não tiverem capacidade real para fazer alguma acção concreta, não constituem uma ameaça à soberania e futuro de Hong Kong”, acrescentou.
Nas últimas semanas, estudantes do ensino secundário, incentivados por um novo grupo designado ‘Studentlocalism’, formaram mais de duas dezenas de grupos para discutir a independência, levando as autoridades locais a condenar os debates nas escolas.
Para Phil C. W. Chan, do Institute for Security and Development Policy, a “reacção alarmista” dos governos local e central pode ser justificada pelo facto de o movimento pró-democracia desencadeado nos últimos anos ser liderado por jovens.
Mas mesmo se estes activistas viessem a ser eleitos, o Conselho Legislativo “continuaria a ser dominado por deputados pró-negócios, pró-governo e pró-Pequim”, sublinhou o analista, observando ainda que “não há maior poder instalado em Hong Kong do que o do governo central da China”.
“Hong Kong enquanto Estado independente não vai acontecer”, argumentou Phil C. W. Chan.
“A autodeterminação, como vimos nos debates sobre a Escócia, Catalunha e Kosovo, é uma ideia atractiva, enquanto princípio, para as pessoas em Hong Kong. (…) Mas Hong Kong não é o Kosovo”, afirmou.
“Hong Kong é um centro financeiro internacional rico, enquanto o Kosovo faz-nos lembrar a pobreza e a limpeza étnica”, concluiu.

2 Set 2016