Japão | Shinzo Abe em Moscovo para discutir ilhas disputadas com Rússia

[dropcap]O[/dropcap] primeiro-ministro do Japão viajou ontem para Moscovo, em visita oficial, para tentar resolver o impasse sobre as ilhas Curilas, no Pacífico, disputadas entre os dois países há mais de sete décadas.

“As negociações com a Rússia estão pendentes há 70 anos e não serão fáceis”, disse Shinzo Abe aos jornalistas antes de embarcar no avião que o levará a Moscovo, onde se encontrará com o Presidente russo, Vladimir Putin, na terça-feira.

Moscovo e Tóquio estão há mais de sete décadas sem assinar o tratado de paz depois do conflito armado devido ao contencioso territorial sobre quatro ilhas, retiradas ao Japão pela então União Soviética.
“Quero falar honestamente com Putin para poder avançar o máximo possível na negociação do tratado de paz”, sublinhou o primeiro-ministro nipónico.

As negociações não se adivinham nada fáceis. Na semana passada, O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergey Lavrov, insistiu que o Japão deve reconhecer que as disputadas ilhas Curilas, no Pacífico, são parte do território russo como ponto de partida para as negociações.

A declaração do ministro russo, depois de conversações com o seu homólogo japonês, Taro Kono, reflectem os esforços de Moscovo para moderar as expectativas japonesas de um acordo iminente.

22 Jan 2019

Filipinos muçulmanos em referendo que pode terminar com conflito separatista

[dropcap]M[/dropcap]ais de dois milhões de filipinos da comunidade de maioria muçulmana no sul do país foram ontem chamados a participar num referendo para tornar esta região mais autónoma, como solução para acabar com cinco décadas de conflito.

O porta-voz da comissão eleitoral James Jimenez afirmou que “o início do processo eleitoral parece estar a desenrolar-se bem”, logo após a abertura das mesas de voto, onde cerca de 2,1 milhões de filipinos podiam votar.

A votação centrou-se nas províncias de Basilan, Lanao del Sur, Maguindanao, Sulu e Tawi-Tawi, que compõem a Região Autónoma Muçulmana de Mindanao (ARMM), que resultam do armistício de 1996 com a Frente Moro de Libertação Islâmica (FMLI).

No referendo é pedida aprovação da lei orgânica de Bangsamoro, assinada em Julho pelo Presidente filipino, Rodrigo Duterte, que vai pôr em prática o acordo de paz alcançado em 2014 com a Frente Moro de Libertação Islâmica (FMLI).

Maior grupo rebelde muçulmano do país, a FMLI vai governar Bangsamoro, depois de ter deposto as armas e renunciado às aspirações independentistas.

Esta lei é vista como a solução para a paz no sul do arquipélago, que viveu cinco décadas de conflito armado e onde continuam a actuar milícias de grupos extremistas como o Abu Sayyaf, os Lutadores pela Libertação Islâmica de Bangsamoro, ou o Grupo Maute, opostos a qualquer acordo de paz.

Fundado em 1991 por alguns ex-combatentes da guerra do Afeganistão contra a antiga União Soviética, são atribuídos ao Abu Sayyaf alguns dos mais sangrentos atentados dos últimos anos nas Filipinas e vários sequestros com os quais se financia.

Em 6 de Fevereiro é a vez dos cerca de 600.000 habitantes de Lanao del Norte decidirem pela aprovação, ou não, da lei orgânica de Bangsamoro.

Com 20 milhões de habitantes, cerca de 20% dos quais muçulmanos, Mindanao tem sido cenário, há décadas, de conflitos entre o Governo e grupos extremistas islâmicos, bem como a guerrilha comunista do Novo Exército do Povo.

22 Jan 2019

População chinesa chega a 1.395 milhões de habitantes

A China registou em 2018 o menor número de nascimentos desde o ano 2000. Apesar do fim da política do filho único, em 2016, e dos incentivos à natalidade, a população activa continua estagnada e o números de habitantes do sexo masculino traduzem ainda um excedente de 30 milhões

 

[dropcap]A[/dropcap] população da China aumentou 15,23 milhões, para 1.395 milhões de habitantes, em 2018, segundo dados oficiais ontem divulgados, prolongando a contínua queda na taxa de natalidade do país mais populoso do mundo.

Trata-se do número de nascimentos mais baixo desde 2000 e um abrandamento de 3,81%, face ao ano anterior, apesar de Pequim ter abolido a política de filho único, em 2016.

O país onde vive cerca de 18% da humanidade, aboliu a 1 de Janeiro de 2016 a política de “um casal, um filho”, pondo fim a um rígido controlo da natalidade que durava desde 1980. Pelas contas do Governo, sem aquela política, a China teria hoje quase 1.700 milhões.

Mas a população em idade activa estagnou, enquanto o rácio de dependência – o número de trabalhadores em relação à população que não trabalha (sobretudo crianças e reformados) – continua a aumentar.
As autoridades chinesas estimam que a população do país atingirá o pico de 1,442 milhões, em 2029, e que entrará em declínio no ano seguinte.

Entretanto, e fruto da tradição feudal que dá preferência a filhos do sexo masculino, a política de filho único gerou um excedente de 30 milhões de homens.

Segundo a actual política de natalidade, que substituiu a de “um casal, um filho”, a maioria dos casais chineses pode ter apenas duas crianças.

Em 2016, o primeiro ano desde a abolição da política de filho único, o número de nascimentos aumentou, de 16,55 milhões, no ano anterior, para 17,86 milhões.

Desde então, a taxa de natalidade caiu sucessivamente, apesar de Pequim ter deixado de promover abortos forçados e multas, e passando a oferecer incentivos à natalidade. Em 2017, o número total de nascimentos fixou-se em 17,23 milhões, menos 630.000 do que no ano anterior.

Índia a crescer

O cuidado com os idosos passou a ser uma preocupação crescente do governo, já que a percentagem de população em idade activa continua a cair.

Segundo especialistas, a queda no número de nascimentos deve-se sobretudo à redução no número de mulheres em idade fértil, um grupo que perde entre cinco e seis milhões de pessoas por ano, e aos altos custos e falta de tempo para criar uma criança.

A actual restrição de dois filhos pode assim vir a ser também abolida, permitindo que as famílias tenham vários filhos, pela primeira vez em décadas.

Mas apesar das projecções de declínio no país mais populoso do mundo, as Nações Unidas estimam que a população global continue a crescer. Um relatório de 2017 estima que, em 2030, chegue aos 8,6 mil milhões, e que, até ao final do século, alcance os 11,2 mil milhões. A Índia deve superar a China como o país mais populoso até 2024, segundo a ONU.

22 Jan 2019

Obras ilegais | Demolidas duas construções em terraço de edifício

[dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) informou ontem que duas construções clandestinas nos terraços e um portão na escada comum de acesso de um edifício situado na Rua de Leôncio Ferreira, perto do Jardim Lou Lim Ioc, foram demolidas.

A acção, levada a cabo pelo Grupo Permanente de Trabalho Interdepartamental para Demolição e Desocupação das Obras Ilegais, teve lugar após uma queixa. A DSSOPT emitiu ordens de embargo e exigiu aos infractores que procedessem, por iniciativa própria, à demolição e reposição do terraço dentro do prazo fixado, mas em vão.

Expirado o referido prazo e sem que a demolição se tivesse concretizado, havendo mesmo indícios que as construções clandestinas estavam a ser utilizadas, o grupo procedeu à sua demolição.

22 Jan 2019

Comissão Eleitoral | Publicada lista dos 16 representantes da CCPPC

[dropcap]F[/dropcap]oi publicada ontem, em Boletim Oficial, a lista dos representantes dos membros de Macau no Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês do 4.º sector da Comissão Eleitoral do Chefe do Executivo, eleitos pelos novos representantes dos membros de Macau no Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, mediante sufrágio interno, resultante da mudança de mandato.

Os 16 membros são Lei Heong Iok, Edmund Ho, Lawrence Ho, David Chow, Chan Meng Kam, Chan Kam Meng, Suen Yan Kwong, Hoi Kin Hong, Leong Wa, Leong Lai, Zhang Zongzhen, Cheong U, Tina Ho, Liu Chak Wan, Leonel Alves e Sio Tak Hong.

22 Jan 2019

Obras Públicas | Ng Kuok Cheong questiona custos

[dropcap]O[/dropcap]s custos de várias obras, como o mercado abastecedor da Nam Yue, são o alvo de uma interpelação escrita do deputado Ng Kuok Cheong, que procura justificações para o aumento dos preços.

Em causa está o facto de se terem verificado derrapagens orçamentais que o pró-democrata diz não conseguir compreender e que ainda não foram explicadas.

Segundo o legislador, é preciso apurar se tem havido desperdício dos recursos públicos quando se registam derrapagens orçamentais.

22 Jan 2019

Pensões Ilegais | Chan Tak Seng defende criminalização

[dropcap]O[/dropcap] presidente da Associação de Gestão Imobiliária de Macau e dirigente da Aliança de Povo de Instituição de Macau, Chan Tak Seng, defende a criminalização das pensões ilegais. As declarações foram publicadas ontem pelo jornal em língua chinesa Exmoo, em reacção ao caso da pensão ilegal que funcionava dentro da Universidade de Macau.

Segundo Chan, cuja associação está representada na Assembleia Legislativa através dos deputados Si Ka Lon e Song Pek Kei, este é um problema que se arrasta devido à inacção do Executivo. O responsável mostrou igualmente preocupação com a possibilidade de pessoas entrarem e saírem sem controlo da Universidade de Macau, o que além dos danos em termos da reputação, pode gerar igualmente situações de roubo.

O presidente da Associação de Gestão Imobiliária de Macau considera que o Governo de Chui Sai On tem ignorado os perigos das pensões ilegais e que se tem limitado “a pontapear as ondas”, ao mesmo tempo que gasta o tempo a repetir discussões.

Ainda de acordo com Chan Tak Seng, o problema das pensões ilegais é uma “praga” que há muito afecta os proprietários dos edifícios de Macau. Esta é uma realidade, diz Chan, que nos últimos anos proporcionou actos de vandalismo, disputas entre senhorios e inquilinos e até mesmo agressões.

O membro da associação de Chan Meng Kam disse ainda acreditar que a acção da polícia é fundamental para se resolver este problema.

22 Jan 2019

Reunião anual de Davos sem estrelas políticas olha para Bolsonaro

[dropcap]A ausência de estadistas como Donald Trump, Emmanuel Macron ou Theresa May faz com que a estreia em Davos do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, seja um dos pontos de interesse político no Fórum Económico Mundial 2019, que começa hoje.

O Presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou que não estará presente na reunião anual do Fórum Económico Mundial, que decorre em Davos, Suíça, entre hoje e sexta-feira, alegando os afazeres à volta da paralisação parcial do governo norte-americano, que entra na quinta semana.

Também a primeira-ministra britânica, Theresa May, cancelou a viagem a Davos, no meio das negociações para um acordo do ‘Brexit’, e o Presidente francês, Emmanuel Macron, invocou uma agenda sobrecarregada, incluindo as manifestações do movimento “coletes amarelos”, para anular a sua presença.

Em termos políticos, a atenção em Davos vira-se este ano para a estreia do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que prometeu levar ao Fórum a agenda das reformas económicas que pretende realizar, durante o mandato que agora iniciou.

Os assessores de Bolsonaro já disseram que o Presidente irá a Davos anunciar que pretende “um Brasil diferente, livre de qualquer amarra ideológica e da corrupção generalizada”.

O Presidente brasileiro, crítico da globalização e céptico relativamente às alterações climáticas pode ser um interveniente incómodo, na reunião de Davos.

Em 2018, o então Presidente do Brasil, Michel Temer , teve ao seu lado o homólogo angolano, João Lourenço, mas este ano não está programada a ida do Presidente de Angola.

A lista de deserções aumentou com o anúncio, sexta-feira, de que também a primeira-ministra da Noruega, Erna Solberg, estará ausente de Davos, a braços com uma reorganização do seu executivo governamental.

Ainda assim, os organizadores do Fórum Económico Mundial dizem que terão no seu seio 25% do Produto Interno Bruto mundial, com vários líderes políticos e muitos dos mais abastados empresários globais.

Dos Estados Unidos, deslocam-se mais de 800 participantes, mas a China não fica muito atrás, na lista de presenças e também como tema de discussão, na altura em que o Presidente Xi Jinping anda a fazer uma apresentação do seu programa da “nova rota da seda”.

A guerra comercial entre os EUA e a China será certamente um dos tópicos de discussão nos palcos e nos corredores, debaixo da atenção de muitos políticos e empresários.

E a lista de famosos é longa, contando com a habitual presença de Bill Gates, o bilionário filantropo fundador da Microsoft, Christine Lagarde, directora do Fundo Monetário Internacional, David Attenborough, naturalista e documentarista britânico, Will.I.Am, músico de hip hop, ou o Príncipe William, herdeiro da coroa britânica.

22 Jan 2019

Fotógrafo oficial de Obama lidera em Setembro “expedição” turística a Portugal

O fotógrafo oficial das administrações Reagan e Obama, o luso-descendente Pete Souza, vai levar a Portugal, em Setembro, 28 fotógrafos profissionais e amadores, naquela que será a sua primeira viagem de férias à parte continental do país.

A viagem é promovida pela agência Sagres Vacations, baseada nos Estados Unidos (Massachusetts e Fall River) e com escritórios no Porto, especializada em experiências turísticas personalizadas nos mercados português e espanhol.

Para Pete Souza, que é descendente de açorianos, esta será a primeira “verdadeira” viagem a Portugal, onde esteve apenas em visitas oficiais a acompanhar os presidentes norte-americanos Ronald Reagan e Barack Obama, para quem trabalhou como fotógrafo oficial.

“Na verdade nunca passei grande tempo em Portugal continental e pensei que esta seria uma oportunidade incrível para fazer essa viagem”, disse Pete Souza à agência Lusa.

Marcada para de 2 a 12 de Setembro, a viagem começa no Porto e termina nos Açores, percorrendo as principais cidades turísticas de Portugal.

Com lugar para apenas 28 pessoas, o programa, que se destina a fotógrafos profissionais e amadores ou a amantes da fotografia, esgotou quase de imediato, como disse à agência Lusa Marco Fernandes, vice-presidente da Sagres Vacations.

“Mal divulgámos a viagem, tivemos logo muito interesse. O Pete pôs também no ‘Instagram’ dele e, de imediato, os últimos lugares que estavam disponíveis esgotaram. Na última semana de Dezembro, tivemos 180 pessoas a perguntar sobre o programa”, disse.

Durante a viagem, Pete Souza acompanhará os visitantes e dará “dicas” sobre como melhor fotografar os locais visitados, fazendo uma série de “mini workshops” ao longo de todo o roteiro.

“O atractivo do programa é esse conceito. Já fizemos outros programas de fotografia, mas sem o chamariz que é o Pete Souza. O Pete Souza tem seguidores em todo o mundo – recebemos contactos da Austrália para este programa – e, como é um programa de fotografia, vamos ter pessoas que sabem tirar fotografias e vão dar uma melhor imagem de Portugal”, considerou Marco Fernandes.

“É uma viagem turística para pessoas que gostam de tirar fotografias. Imagino que o nível das capacidades das pessoas que se vão juntar a nós serão muito variados, por isso espero conseguir ajudar a melhorar as suas fotografias de viagem”, considerou, por seu lado, Pete Souza.

Para o fotógrafo “freelance” e autor de vários livros, o grande atractivo é poder conhecer a parte continental de Portugal, bem como regressar, com tempo, aos Açores, que visitou na década de 1980.

“Não conheço de todo a parte continental de Portugal. Estive em Portugal duas vezes, uma vez com o Presidente Reagan e outra com o Presidente Obama, mas nas visitas presidenciais não temos verdadeiramente oportunidade de ver grande coisa fora dos encontros formais”, disse.

“Estive nos Açores numa viagem alargada, mas já foi em 1988. Será interessante ver o quanto mudou. Os meus avós são dos Açores, por isso, para mim, esta será a parte mais emocional da viagem”, acrescentou.

O fotógrafo acredita que Portugal “está a tornar-se cada vez mais um destino turístico para muitos norte-americanos” e espera “poder divertir-se, tirar algumas fotografias e ajudar algumas pessoas a melhorarem as suas imagens”.

Nascido em South Dartmouth, Massachussets, neto de emigrantes açorianos, Pete Souza trabalhou como fotojornalista “freelance” e tem trabalhos divulgados pelas principais publicações norte-americanas, bem como vários prémios de fotojornalismo.

Pete de Souza é também autor de vários livros, o mais recente dos quais – “Shade: A tale of two presidents” – compara os primeiros 500 dias de Obama com o atual Presidente norte-americano, Donald Trump.

O livro é a passagem ao papel do mesmo exercício que Pete Souza vem fazendo na sua página na rede social ‘Instagram’, onde tem mais de 2,1 milhões de seguidores.

O ‘Instagram’ de Pete Souza tem sido uma espécie de “sombra crítica” da administração Trump, com a publicação de fotografias de Obama em situações semelhantes às protagonizadas pelo actual inquilino da Casa Branca, num registo bem humorado e em que o antigo Presidente “sai sempre melhor na fotografia”.

Com várias exposições no currículo, Pete Souza tem prevista, para Fevereiro, a inauguração de uma mostra sobre os dois presidentes com quem trabalhou intitulada “Two Presidentes: Obama and Reagan”.

21 Jan 2019

Directora do Arquivo Histórico Ultramarino, em Lisboa, afasta possibilidade de reclamação de espólio

[dropcap]A[/dropcap]9 directora do Arquivo Histórico Ultramarino (AHU), em Lisboa, que tem à sua guarda documentação desde o século XVI até 1975, afasta qualquer possibilidade de os países onde houve domínio administrativo português virem a reclamar qualquer espólio documental deste acervo.

Em entrevista à agência Lusa, Ana Canas, à frente do AHU desde Junho de 2005, disse que, “no fundamental, a documentação dos organismos sediados nas anteriores colónias ficou lá”, ”nos países que se tornaram independentes de Portugal”, após a revolução de Abril de 1974.

A documentação do AHU, cerca de 17 quilómetros de prateleiras, “é esmagadoramente de organismos da administração colonial portuguesa, centrada em Lisboa”, colocando-se antes a questão de colaboração e de existência de uma base de dados comum, uma vez que este arquivo, em concreto, “é muito virado para os outros povos e não apenas para o nosso”.

“Estes arquivos também são instrumentos de soberania”, disse à Lusa, e “muitas vezes só nos apercebemos da sua importância se acontece uma catástrofe”.

“Um arquivo histórico – é genérico afirmar isto – serve para preservar a nossa identidade, a nossa memória, etc., mas serve também para reutilizar a informação que contém para questões pragmáticas do presente, mais do que se possa pensar”, disse a responsável.

“Este é um arquivo orientado para fora, não é só sobre Portugal”, sublinhou, afirmando que é necessário os portugueses “terem a percepção de que este património é importante do ponto de vista de se conhecerem a si próprios, enquanto comunidades e sociedade, na sua relação com os outros, e essa é talvez a maior riqueza e distinção do AHU”.

No tocante ao acesso, uso e difusão da documentação do AHU e dos seus conteúdos, está em funcionamento o ‘site’ http://ahu.dglab.gov.pt.

O AHU, instalado no Palácio da Ega, à Junqueira, em Lisboa, foi criado em 1931 e alberga documentação de cinco séculos, sobre todos os territórios e domínios que estiveram sob jurisdição portuguesa ou em contacto com Portugal, durante esse período.

A responsável disse à Lusa que uma das suas preocupações é no âmbito da conservação preventiva do acervo, “o que tem sido continuado, no quadro da Direcção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas [DGLAB], incluindo quanto ao controlo de pragas”, designadamente os insectos.

Esta questão dos insetos é, aliás, um alerta constante, também quanto à recepção de espólios particulares.

Reconhecendo que o AHU “não tem feito uma campanha activa” neste sentido, Ana Canas referiu que há um conjunto de acções que tem de ser feito, antes de se receber quaisquer documentos, mas que têm dado entrada no arquivo alguns espólios.

A responsável justificou ainda esta opção, pelo facto de terem “tantas responsabilidades” com a documentação a cargo, “havendo partes do acervo que ainda não estão tratadas, como alguma documentação que pertencia ao ex-Ministério do Ultramar”, transferida em 2006.

“A prioridade mais imediata, no tocante ao pessoal, é na área da conservação e restauro, até porque o apoio dos respectivos serviços da DGLAB é limitado”, mas outras das preocupações de Ana Canas é “a necessária renovação de recursos humanos”, alertando que “há que preparar a renovação geracional”.

Reconhecendo que “tudo isto tem custos”, a responsável disse à Lusa que “são necessários jovens”, uma questão “que se coloca com acuidade à administração pública, mas não só”.

21 Jan 2019

Tradição filipina do “Santo Niño” foi celebrada em Lisboa

[dropcap]C[/dropcap]erca de cem pessoas assistiram ontem, em Lisboa, à celebração do “Santo Niño”, uma tradição filipina, que evoca a chegada do navegador Fernão de Magalhães à ilha de Cebu, e o batismo católico dos soberanos e de 800 autóctones.

“A festa do ‘Santo Niño’, que celebramos no terceiro domingo de Janeiro, evoca a chegada de Fernão de Magalhães, a Cebu, e que entregou uma escultura do Menino Jesus aos locais, e demonstra a devoção das Filipinas ao Menino Jesus”, disse à agência Lusa a embaixadora das Filipinas em Lisboa, Celia Anna Feria, que assistiu à festa, seguida da celebração da eucaristia.

No adro da basílica da Estrela, em Lisboa, figurantes evocaram a chegada do navegador português ao serviço de Espanha, em Abril de 1521, a Cebu, o baptismo dos reis locais, Hara Amihan e Humabon, que passaram a ostentar os nomes de Joana e Carlos, e várias danças em honra do “Santo Niño”.

A celebração tem origem na ilha de Cebu, uma das maiores da região central filipina de Visayas, mas “estendeu-se a todas as partes das Filipinas”, como explicou a diplomata.

No adro da basílica da Estrela foram apresentadas três danças tradicionais, uma delas com origem na tradição local, que era de agradecimento pelas colheitas a um deus da mitologia insular, mas com a adoção do catolicismo, passou a ser em honra de “Sinulog”, que na língua nacional filipina, o tagalog, significa Jesus.

Entre outras individualidades, à cerimónia assistiu o núncio apostólico em Lisboa, o arcebispo Rino Passigato. Segundo Celia Anna Feria em Portugal a comunidade filipina “é menos de 2.000 pessoas, a maioria em Lisboa”.

Questionada pela Lusa quanto aos preparativos da evocação dos 500 anos da chegada de Fernão Magalhães às Filipinas, no âmbito da viagem de circum-navegação ao serviço de Espanha, a diplomata disse que tal “só acontecerá em 2021”, mas foi já constituída uma comissão nacional para esse efeito, e que a embaixada em Lisboa tem estado a desenvolver contactos com várias universidades, nomeadamente a Nova de Lisboa.

Neste âmbito, a embaixadora quer a “produção de vasta bibliografia que dê a conhecer as Filipinas e a sua cultura”. A eucaristia na basílica da Estrela foi celebrada em tagalog, inglês e português.

Fernão de Magalhães (1480-1521), natural de Sabrosa, em Trás-os-Montes e Alto Douro, capitaneou a primeira viagem de circum-navegação e foi o primeiro europeu a alcançar a Terra de Fogo, no extremo meridional da América do Sul.

A viagem de circum-navegação, sob bandeira de Espanha, foi iniciada em 1519 e terminou em 1522, já sob o comando de Juan Elcano, pois o navegador português foi morto por autóctones na ilha de Cebu, nas Filipinas.

A imagem do “Santo Niño”, que encontra paralelo na tradição católica no Menino Jesus da Cartolinha, de Miranda do Douro, e no Menino Jesus de Praga, entre outros, é a mais antiga relíquia católica das Filipinas, e encontra-se na Basílica Menor do Santo Niño, na cidade de Cebu.

21 Jan 2019

Economia chinesa cresceu 6,6% em 2018, o pior resultado desde 1990

[dropcap]A[/dropcap] economia da China, a segunda maior do mundo, cresceu 6,6%, em 2018, ou seja, ao ritmo mais lento dos últimos 28 anos, anunciou hoje o Gabinete Nacional de Estatísticas do país.

Trata-se do menor crescimento desde 1990, quando se fixou em 3,7%, devido às sanções económicas internacionais impostas na sequência da sangrenta repressão do movimento de Tiananmen, em 1989.

Representa também uma desaceleração de duas décimas face ao crescimento registado em 2017, mas dentro da meta definida pelo Governo, de “cerca de 6,5%”.

No último trimestre do ano, a economia chinesa registou um crescimento homólogo de 6,4%, menos uma décima do que nos três meses anteriores.

A liderança chinesa está a encetar uma transição no modelo económico do país, visando uma maior preponderância do sector dos serviços e do consumo, em detrimento das exportações e construção de obras públicas.

Mas a desaceleração tem sido mais acentuada do que o previsto, levando Pequim a reduzir as restrições no acesso ao crédito e a aumentar a despesa pública, visando evitar a destruição de empregos, o que poderia resultar em instabilidade social.

A actividade económica permaneceu robusta durante a maior parte do ano, apesar de a guerra comercial que espoletou, no verão passado, com Washington, e suscitada pelas ambições chinesas para o sector tecnológico.

No entanto, as exportações caíram em Dezembro, reflectindo os efeitos da entrada em vigor de uma segunda ronda de taxas alfandegárias nos Estados Unidos, sobre cerca de 200.000 milhões de dólares de bens oriundos da China.

Em termos nominais, o valor do Produto Interno Bruto chinês ascendeu a 90,03 biliões de yuan.

21 Jan 2019

Macau aposta na gastronomia para provar que há mais vida para além do jogo

[dropcap]A[/dropcap] gastronomia é uma das apostas da capital mundial do jogo para diversificar a indústria do turismo, disse à Lusa a directora dos Serviços de Turismo de Macau, à margem de uma iniciativa que reuniu ‘chefs’ internacionais no território.

Na véspera de se ‘apagar’ o Festival de Luzes e a menos de dois meses após o Festival de Gastronomia, uma série de demonstrações públicas em Macau de mais de 30 ‘chefs’ de mais de 20 Cidades Criativas da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) traduz a estratégia do território em mostrar aos turistas que há mais vida para além do jogo, segundo Helena da Senna Fernandes.

A aposta parece estar ganha e a organização admite repetir a iniciativa, adiantou a responsável, embora seja necessária “uma avaliação por parte de todos os parceiros”, ressalvou.

“O tempo está a ajudar e há muita adesão da população local. (…) O alvo é atrair mais turistas para ficarem mais tempo em Macau, e não só nos casinos, daí esta aposta na cultura, no nosso legado gastronómico, e em aproveitar constantemente todas as oportunidades”, salientou, junto ao ‘palco’ onde decorriam as demonstrações culinárias, ladeado por dois ecrãs gigantes a partir dos quais o público seguia a confecção dos pratos.

Desde 2017, quando Macau entrou para a UNESCO na área da Gastronomia, “que esta aposta se tornou muito importante, não só porque temos essa obrigação, mas porque também queremos ajudar a cidade a crescer de forma sustentável”, acrescentou a directora dos Serviços de Turismo do território.

“Temos que avaliar o sucesso do evento com os nossos parceiros, mas julgo que temos toda a possibilidade de repetir a iniciativa”, concluiu Senna Fernandes, reiterando a ideia de que “a gastronomia é um ponto forte de Macau”.

Junto a um dos emblemáticos lagos artificiais que serve de cartão de visita de Macau, no espaço Anim’Arte Nam Van, alguns cozinheiros, num momento pós-demonstração pública dos seus pratos, conversam com o público.

Um ‘chef’ turco passeia-se com um tacho e dá a provar a iguaria confeccionada que só tinha sido possível apreciar no ecrã para a esmagadora maioria das pessoas.

O ‘chef’ brasileiro David Bolhões Vieira França veio de Paraty para fazer a sua estreia na China e em Macau. Na sua bagagem, fez questão de trazer boa parte dos ingredientes, à excepção do peixe.

Na viagem de quase 18 mil quilómetros, o ‘chef’ trouxe farinha de mandioca para fazer a farofa, camarão, banana, coentros selvagens, pimenta dedo-de-moça e palmito, que tanto serve para colorir a comida como para tingir roupas de vermelho, sendo ainda usada pelos indígenas para pintarem o rosto.

“O convite foi irrecusável”, disse à Lusa, explicando que esta oportunidade para interagir com outros ‘chefs’ e com o público é sempre importante.

Por outro lado, frisou, “Paraty tem uma cozinha de muitas influências, que vão desde o pescador à cozinha indígena”, e “Macau tem esta componente de fusão, tendo pertencido a Portugal durante tanto tempo que é muito interessante”, argumentou, apesar do pouco tempo no território ainda não lhe ter permitido significativas experiências gastronómicas.

As demonstrações dos ‘chefs’ é um dos destaques do “Fórum Internacional de Gastronomia”, que começou sábado e chega hoje ao fim.

Além da região administrativa especial chinesa, estão também representadas no evento cidades do interior da China, Coreia do Sul, Japão, Tailândia, Turquia, Espanha, Noruega, Suécia, Itália, Colômbia, México, Brasil, Panamá e Estados Unidos.

Macau entrou para a Rede de Cidades Criativas da UNESCO na área da Gastronomia em 31 de Outubro de 2017, tornando-se na terceira cidade na China, a seguir a Chengdu e Shunde, a conquistar tal feito.

Após o reconhecimento, foi lançado no início de 2018 o “Ano da Gastronomia de Macau”, uma iniciativa inserida num plano a quatro anos para “forjar uma Cidade Criativa” à boleia da designação recém-atribuída.

Realizado pela primeira vez em 2016, quando Macau preparava a candidatura à Rede de Cidades Criativas de Gastronomia da UNESCO, o Fórum Internacional de Gastronomia pretende ser “uma plataforma de relevo para intercâmbio e exploração de iniciativas de colaboração entre Macau, outras Cidades Criativas de Gastronomia, profissionais e académicos do ramo”.

21 Jan 2019

China espera quase 3.000 milhões de viagens durante o Ano Novo Lunar

[dropcap]A[/dropcap] China vive a partir da próxima semana a maior migração interna do planeta, com uma previsão de 2.990 milhões de viagens, ao longo dos 40 dias antes e após o Ano Novo Lunar.

Por estrada ou por mar, de avião ou de comboio, milhões de chineses rumam à sua terra natal para festejar a passagem do Ano Lunar, a principal festa das famílias chinesas, equivalente ao natal nos países ocidentais.
Entre 21 de Janeiro e 1 de Março, o país conta registar quase 3.000 milhões de deslocações internas, um aumento homólogo de 0,6 por cento, anunciou o vice-director da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China, Lian Weiliang, citado pela agência noticiosa oficial Xinhua.

Durante este período, o país terá em funcionamento cerca de 4.800 comboios, entre os quais 3.500 em linhas de alta velocidade, um aumento de 17 por cento, face ao ano anterior, reflectindo a rápida expansão da malha ferroviária de alta velocidade do país, que compõe já dois terços do total do mundo.

O número de voos aumentará 10 por cento, com cerca de 532.000 travessias aéreas programadas durantes os quarenta dias.

Citado pela Xinhua, Lian Weiliang explicou que os viajantes contarão com a ajuda de 230.000 voluntários, durante o pico das viagens.

Dias de festa

O feriado do Ano Novo Lunar começa este ano a 4 de Fevereiro, sob o signo do porco, um dos doze animais do milenar zodíaco chinês.

Todas as escolas, do ensino primário ao superior, fecham durante um mês. Para muitos trabalhadores, as folgas e feriados concedidos nesta quadra pelo Governo e as empresas constituem as únicas férias do ano.
É por isso também a única altura em que muitos das centenas de milhões de trabalhadores migrantes empregados nas prósperas cidades do litoral chinês regressam a casa e revêem os filhos.

Na China, e em todas as ‘chinatown’ espalhadas pelo mundo, os edifícios são engalanados com lanternas vermelhas, enquanto nas ruas se lançam petardos e fogo-de-artifício para “afugentar os maus espíritos’.
Com quase 1.400 milhões de habitantes, a China é o país mais populoso do mundo.

21 Jan 2019

A falsa trégua EUA-China

Barry Eichengreen

 

[dropcap]A[/dropcap] 1 de Dezembro, em Buenos Aires, o Presidente dos EUA, Donald Trump, e o seu homólogo chinês, Xi Jinping, acordaram uma moratória de 90 dias sobre os aumentos das tarifas aduaneiras para estabelecerem uma janela para negociações. Infelizmente, esta abordagem à mediação não é sempre bem-sucedida, e os investidores não ficaram impressionados – como ficou evidente com a queda de 800 pontos do índice Dow Jones Industrial, a 4 de Dezembro. E se os mercados estavam cépticos na altura, estarão ainda mais cépticos agora, com a detenção da directora financeira da Huawei, Meng Wanzhou, por violação das sanções impostas pelos EUA ao Irão.

A abordagem dos dois Presidentes ao alívio das tensões comerciais tem um vasto precedente, mas estes episódios dão poucos motivos para esperança. Em Fevereiro de 1930, a Liga das Nações organizou uma conferência internacional em Genebra para enfrentar o problema do proteccionismo crescente, que “obstruía o desenvolvimento da produção em grande escala e impedia a recuperação europeia” e era geralmente implementado como “arma de guerra económica”. Trinta países enviaram delegações. Os Estados Unidos, embora não sendo membros da Liga, enviaram Edward C. Wilson, o primeiro-secretário da embaixada dos EUA em Paris.

Previamente às negociações, o Comité Económico da Liga redigiu uma convenção para uma trégua aduaneira de dois anos. Mas os delegados não aceitaram este projecto de convenção, nem uma versão revista em baixa posteriormente apresentada pelos franceses. Os novos estados com planos ambiciosos de industrialização não estavam preparados para abandoná-los (algo similar ao “Made in China 2025”). Os países com défices crónicos estavam reticentes em celebrar um acordo que não incluísse o compromisso de outros países receberem mais exportações suas (uma objecção que encontrará eco em Trump).

Nada de substancial foi acordado. Quando os EUA, em resposta a pressões políticas internas, adoptaram a Lei Smoot-Hawley quatro meses mais tarde, os indignados governos europeus responderam à altura. O resto, como se diz, pertence à história.

O planeamento da Smoot-Hawley iniciara-se bastante antes da Grande Depressão. Mas o início da Grande Depressão aumentou a pressão para fazer alguma coisa – qualquer coisa – que pudesse aliviar o colapso do consumo interno. Dadas as discussões anteriores, a solução mais plausível seria o aumento das tarifas.

Hoje, com o arrefecimento do mercado imobiliário e a contracção das condições financeiras nos EUA, não está posta de parte uma recessão nos EUA. Juntamente com um decréscimo no mercado bolsista, uma tal recessão aumentaria a pressão sobre Trump para parecer que faz alguma coisa – qualquer coisa – para estimular a economia. Muito provavelmente, essa solução seria à custa da China.

Parte do problema em 1930 foi que os países participantes na conferência de Genebra tinham perspectivas muito diferentes sobre o que estavam a acordar, o que parece ser o que também acontece hoje. Enquanto a administração Trump espera uma evolução rápida na redução do défice comercial bilateral, a imprensa estatal chinesa refere-se à conveniência de uma redução “gradual”. Enquanto o comunicado de imprensa da Casa Branca especifica um prazo de 90 dias para negociações, a China não menciona qualquer prazo específico.

Do mesmo modo, enquanto a declaração oficial da Casa Branca afirma que a China adquirirá exportações agrícolas, industriais e de energia “muito substanciais” aos EUA, a declaração da China diz apenas que importará mais mercadorias dos EUA. Mas claro que isso acabará sempre por acontecer, sem qualquer acção política, assumindo que a economia chinesa continua a crescer, o que é praticamente certo, dado o recente estímulo fiscal e monetário.

Mais perturbadoras são as diferenças relativas à propriedade intelectual. Segundo a declaração dos EUA, a China negociará imediatamente a transferência forçada de tecnologia e a protecção da PI. Pelo contrário, a declaração chinesa apenas diz que os dois países trabalharão conjuntamente para alcançar um consenso em questões comerciais.

A reforma do regime da PI (Propriedade Intelectual) é uma preocupação válida dos EUA. Na verdade, é a questão mais importante. Mas o fortalecimento das protecções da PI obrigará a uma mudança fundamental do modelo económico da China. As hipóteses de isso acontecer em 90 dias são nulas.

Então, que rumo poderão tomar as negociações? Um dos cenários é que os chineses comprem mais alguma soja americana. Trump caracteriza isso como uma grande vitória. Assim que o Presidente dos EUA mostre a bandeira branca, a guerra comercial termina.

Nada de importante terá mudado, mas pelo menos os ataques diplomáticos e comerciais e a incerteza disruptiva terão terminado. Mais uma vez, esta situação tem vários precedentes, já que a renegociação do Acordo de Comércio Livre Norte-Americano foi concluída deste modo.

Em alternativa, poderíamos imaginar um resultado parecido ao da reunião de Trump com o líder norte-coreano, Kim Jong-un: a China anuncia, ou pelo menos a administração Trump imagina que a China anuncia uma transformação profunda da sua economia. Mas esta crença numa reviravolta é ilusória. Com efeito, nada de substancial se alterou. Quando Trump e os seus conselheiros despertarem para esse facto, as tensões voltarão a crescer, e a guerra comercial recomeçará.

Qual dos cenários será mais provável? Tal como em 1930, a resposta depende de como se desenvolver a situação económica dos EUA. Se a expansão tardia continuar, como aconteceu durante a renegociação do NAFTA, Trump poderá estar inclinado a aceitar concessões cosméticas, que possa caracterizar como o “maior, mais significativo, moderno e equilibrado acordo comercial da história”. Mas se a economia dos EUA apresentar sinais de estar em recessão, Trump precisará de culpar alguém. E, neste caso, podemos estar relativamente certos sobre quem recairão as culpas.

© Project Syndicate

 

Barry Eichengreen é Professor de Economia na University of California, Berkeley. O seu último livro é The Populist Temptation: Economic Grievance and Political Reaction in the Modern Era.

21 Jan 2019

China | Mulher do ex-presidente da Interpol pede asilo a França

[dropcap]A[/dropcap] mulher do ex-presidente da Interpol o chinês Meng Hongwei, detido na China por corrupção depois de desaparecer de forma misteriosa quando viajava para Pequim em Setembro, vai pedir asilo a França porque se sente ameaçada.

“Preciso que o Governo francês me proteja, me ajude, a mim e aos meus filhos”, disse sexta-feira a esposa de Meng, em declarações à France Info.

Explicou que está “com medo de ser sequestrada”, que recebeu “telefonemas estranhos” e que foi seguida por um casal de chineses até ao hotel onde está hospedada.

Nas imagens de vídeo-vigilância do hotel, vê-se um homem e uma mulher a entrar e a pedirem o número do quarto da esposa de Meng Hongwei com a desculpa – falsa – de que tinham um compromisso. Pouco depois, o mesmo homem é visto a correr atrás do carro da mulher de Meng para fotografar a matrícula.

Por isso, a mulher do antigo presidente da Interpol diz que vai formalizar o pedido de asilo junto do escritório francês para a protecção de refugiados apátridas.

Em parte incerta

Meng era vice-ministro de Segurança Pública da China quando foi eleito presidente da Interpol, em 2016, perdeu o contacto com a família depois de embarcar num avião para a China no passado dia 25 de Setembro.

Depois de vários dias de silêncio sem que a família recebesse notícias de Meng e face à pressão internacional, a Comissão Nacional de Supervisão da China confirmou a detenção.

De acordo com o Ministério de Segurança Pública da China, a investigação a Meng foi aberta depois de as autoridades chinesas terem dito que detectaram que ele aceitou um suborno e violou a lei estadual com um comportamento que causou “sérios danos” ao partido e à segurança nacional.

Em 21 de Novembro, a Assembleia Geral da Interpol decidiu substituir Meng pelo sul-coreano Kim Jong Yang.
A organização policial internacional tinha recebido no dia 7 de Outubro uma carta de renúncia e uma comunicação de Pequim informando que Meng não seria o delegado da China naquele organismo.

21 Jan 2019

Universidade de Oxford suspende financiamentos da Huawei

[dropcap]A[/dropcap] Universidade de Oxford anunciou sexta-feira a suspensão de bolsas de investigação e financiamentos provenientes da Huawei, perante as crescentes preocupações de segurança sobre o grupo chinês de telecomunicações.

Em comunicado, a Universidade de Oxford, uma das mais importantes instituições de ensino do Reino Unido, indica que decidiu, em 8 de Janeiro, que “não vai procurar novas oportunidades de financiamento” com a Huawei ou com empresas relacionadas.

A decisão, que se aplica tanto ao financiamento de contratos de investigação como a doações filantrópicas, foi tomada “à luz das preocupações do público levantadas nos últimos meses” em torno das parcerias do Reino Unido com a empresa.

O comunicado da Universidade refere que dois projectos de investigação existentes no valor de 692.000 libras vão continuar.

“Esperamos que estes assuntos possam ser resolvidos em breve e observamos a própria vontade da Huawei em tranquilizar os governos sobre o seu papel e as actividades”, salienta o comunicado.

Por seu turno, o grupo chinês de telecomunicações Huawei disse que “não foi informado desta decisão” e aguarda a explicação completa da Universidade.

Sob suspeita

O secretário de defesa do Reino Unido e o seu responsável pelos serviços de informação expressaram preocupações no mês passado sobre o envolvimento da Huawei no lançamento de redes 5G no país.

A Huawei esteve sob investigação pelo Congresso dos Estados Unidos, que num relatório de 2012 considerou que a empresa tem uma relação próxima com o Partido Comunista Chinês, e que facilita a espionagem chinesa.

Fundada em 1987, por Ren Zhenfei, um ex-engenheiro das forças armadas chinesas, a Huawei é hoje o maior fabricante global de equipamentos de rede.

As redes sem fios 5G destinam-se a conectar carros autónomos, fábricas automatizadas, equipamento médico e centrais eléctricas, pelo que vários governos passaram a olhar para as redes de telecomunicações como activos estratégicos para a segurança nacional.

Na semana passada, a agência de contra espionagem da Polónia deteve o director de vendas da Huawei, por suspeitas de espionagem, depois de, no mês passado, a directora financeira da Huawei, Meng Wanzhou, ter sido detida em Vancouver, a pedido das autoridades dos Estados Unidos.

21 Jan 2019

Visita de membros do partido de Bolsonaro à China gera polémica

[dropcap]M[/dropcap]embros do Partido Social Liberal (PSL), do Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, viajaram para a China para tomarem conhecimento sobre tecnologias de reconhecimento facial, o que está a provocar polémica nas redes sociais.

A controvérsia prende-se com as relações do Estado brasileiro com a China, o primeiro parceiro comercial do país sul-americano, acusado durante a campanha eleitoral de Jair Bolsonaro de querer “comprar o Brasil”.
A polémica surgiu no seio da extrema-direita brasileira.

Daniel Silveira, membro do PSL, publicou na noite de quinta-feira um vídeo no qual diz ter sido convidado pelo Governo chinês, a par de outros membros parlamentares, para se familiarizar com técnicas de reconhecimento facial, com o objectivo de as “aplicar no Brasil”.

Olavo de Carvalho, um escritor brasileiro que vive exilado nos Estados Unidos da América, apresentado como o guru de Jair Bolsonaro, e que é responsável pela indicação de dois ministros do actual Governo, foi o primeiro a tecer críticas à viagem à China.

Segundo a agência France-Presse, o escritor descreveu os membros parlamentares em causa como “camponeses”, “palhaços”, “semianalfabetos” e “idiotas”.

“Vocês estão a cometer uma loucura, vocês estão a entregar o Brasil para a China (…). O Executivo vai deixar essas pessoas entregarem o Brasil para o sistema chinês dessa maneira?” questionou Olavo de Carvalho.
Também os apoiantes do Presidente brasileiro usaram a internet para criticar a viagem dos deputados ao país.

21 Jan 2019

Banca | Pedro Cardoso vai ser responsável por área internacional do Bison Bank

[dropcap]P[/dropcap]edro Cardoso, anterior presidente do Banco Nacional Ultramarino (BNU), vai ser o responsável pela área internacional do Bison Bank, antigo Banif – Banco de Investimento, adquirido à Oitante pela Bison Capital Financial Holdings em Novembro de 2018.

Segundo o Jornal Económico, Pedro Cardoso foi inicialmente proposto para ser presidente executivo do Bison Bank, mas o banco acabou por optar pelo chinês Bian Fang, face ao risco de chumbo das avaliações de idoneidade do gestor português no Banco de Portugal.

De acordo com o jornal, o risco de chumbo está relacionado com a auditoria forense à Caixa Geral de Depósitos no período entre 2000 e 2015, altura em que Pedro Cardoso foi administrador.

21 Jan 2019

Aviação | Estudo custou quase 800 mil patacas

[dropcap]F[/dropcap]oi à empresa Flight Ascend Consultancy, que integra a Flight Global, que o Governo de Macau encomendou o estudo sobre o futuro da aviação em Macau. O projecto foi adjudicado em Maio de 2017 por 774.805 patacas, segundo dados publicados no portal da Autoridade de Aviação Civil (AACM).

O estudo, cujas principais conclusões não são públicas, serviu de fundamento à opção pela abertura do mercado da aviação civil local e, por conseguinte, à não renovação do contrato exclusivo com a Air Macau, que expira em Novembro de 2020.

A companhia aérea de bandeira da RAEM vai, no entanto, continuar a operar voos após essa data como operador aéreo registado em Macau.

21 Jan 2019

Burla | Investidores perdem 400 milhões de yuan em projecto em Zhuhai

[dropcap]A[/dropcap]proximadamente 300 investidores, de Hong Kong, Macau e da China, perderam um total de 400 milhões de yuan depois de os planos de desenvolvimento de um centro comercial perto de Zhuhai terem desabado. A notícia foi avançada ontem pelo South China Morning Post (SCMP) que indica que os investidores adquiriram espaços comerciais à empresa Zhaohong Shengshi Industrial que começou a construir um ‘shopping’, de 690 mil pés quadrados, no distrito de Xiangzhou.

Contudo, o promotor utilizou outra empresa para dissuadir os investidores a avançarem com o dinheiro, indicou a Federação de Sindicatos de Hong Kong (FTU, na sigla inglesa), que tem estado a ajudar aproximadamente três dezenas de vítimas. A subsidiária alegadamente conseguiu então que assinassem um contrato de arrendamento prometendo um retorno lucrativo, mas muitos reclamam ter recebido muito pouco.

A FTU deu conta de que as vítimas de Hong Kong foram enganadas em cerca de 20 milhões de yuan.
“Desde a abertura da Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, os agentes imobiliários e outras empresas têm tentado activamente convencer os empresários de Hong Kong a investir em propriedades comerciais, prometendo elevado lucro. Mas, infelizmente, muitos acabam por cair numa armadilha”, afirmou Poon Chi-fai, director do braço do centro de serviços da FTU em Zhongshan, em declarações ao SCMP.

Segundo o mesmo responsável, os investidores não têm hipótese de reaver o dinheiro porque o projecto não se concretizou e dado que a subsidiária com a qual assinaram o contrato é uma empresa fantasma. Ou seja, trata-se de uma firma sem activos significativos usada como fachada para a obtenção de financiamento ou evasão fiscal.

21 Jan 2019

Ambiente | Identificar fontes de emissão de poluentes é prioritário

[dropcap]O[/dropcap] investigador Yongjie Li, da Universidade de Macau, defende que a identificação das principais fontes de emissão de poluentes tem de ser uma prioridade, na medida em que só assim será possível elaborar políticas eficazes

“A maior prioridade da nossa cidade deve ser a aposta na identificação das fontes de emissão e captar um quadro geral da situação”, afirmou à Lusa Yongjie Li. Para o especialista em poluição atmosférica, “sem tais evidências científicas não será possível uma política eficaz sobre como controlar as emissões”, pelo que as autoridades têm de ser mais pró-activas.

Dados oficiais indicam que, em 2017, registaram-se em quase todas as estações que medem o índice de qualidade do ar (AQI, na sigla inglesa) mais de 20 dias insalubres. “Este é um grande desafio e o Governo de devia colocar [a qualidade do ar] numa prioridade maior do que a que está a fazer”, defende o professor.

Na mesma linha do especialista ambiental, que apontou falhas na identificação e captação das fontes de emissão de poluentes, têm surgido na última semana críticas por parte da sociedade civil e de activistas ambientais, que apontam falhas nos dados sobre a qualidade do ar recolhidos pelo Governo.

“Infelizmente, o que o Governo está a fazer em Macau não é suficiente em termos de política sustentável, que ainda está muito atrasada em relação ao resto do mundo”, afirmou à Lusa Annie Lao, um dos principais rostos de uma petição que reuniu milhares de assinaturas contra o plástico descartável.

O Relatório do Estado do Ambiente de Macau de 2017 indica que as emissões de dióxido de carbono (CO2) subiram 6,2 por cento entre 2007 e 2016. “A percentagem das emissões estimadas de gases com efeito de estufa em 2016 aumentou 5,9 por cento comparando com 2015. Tal deve-se, principalmente, ao aumento da emissão estimada de CO2 resultante da incineração de resíduos, dos transportes marítimos e da produção local de energia eléctrica”, lê-se no relatório.

Metas para 2019

Nas Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2019, o Governo estabeleceu, entre outras metas, controlar o crescimento do número de veículos para que a taxa de crescimento anual se fixe em 3,5 por cento em 2020, prometeu o aumento de lugares de carregamento de veículos eléctricos para 210 até 2019 e que 40 por cento da iluminação pública seja feita através de luzes LED.

Macau tem aproximadamente 230 mil veículos motorizados, não tem metro, e os transportes movidos a energias sustentáveis são reduzidos. Até Setembro, havia 43.928 pessoas com dois ou mais veículos, numa população de sensivelmente 660 mil habitantes. Existem ainda 1.498 táxis, dos quais apenas 30 eléctricos, segundo dados fornecidos à Lusa pela Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT).

Outra das preocupações de Annie Lao prende-se com os casinos por serem os maiores utilizadores de recursos como “água, energia e plástico”. “Banir palhinhas de plástico por parte dos casinos é apenas um pequeno passo, mas não é de todo suficiente porque os hotéis usam e grande número de plásticos descartáveis e que muitos deles não podem ser reciclados”, apontou a activista.

21 Jan 2019

ETAPM | Função pública consultada sobre segunda fase de revisão

[dropcap]O[/dropcap]s Serviços de Administração e Função Pública (SAFP) realizaram uma consulta junto dos serviços públicos e das associações dos trabalhadores no âmbito dos trabalhos da revisão do Estatuto dos Trabalhadores da Administração Pública de Macau (ETAPM).

A segunda fase de revisão do ETAPM, após a primeira ter entrado em vigor a 1 de Janeiro, centrar-se-á no regime de subsídios e abonos com vista a que “o ETAPM possa adaptar-se às necessidades de funcionamento e gestão administrativa dos serviços públicos actuais e salvaguardar os direitos dos trabalhadores”, indicaram os SAFP em comunicado.

Além do envio do documento de consulta aos serviços públicos, os SAFP também realizaram quatro sessões de esclarecimento que reuniram mais de 500 participantes. A consulta da segunda fase de revisão do ETAPM termina no próximo dia 31.

21 Jan 2019