Hoje Macau China / ÁsiaMoçambique | China doa 13,9ME e perdoa sete milhões da dívida 20 milhões de euros, entre uma doação e um perdão da dívida, é o valor da ajuda de Pequim a Maputo, num dos “momentos difíceis” que o país africano atravessa A China vai doar o equivalente a 13,9 milhões de euros e cancelar sete milhões de euros de dívida de Moçambique no âmbito de acordos assinados terça-feira em Maputo entre os dois países. A doação resulta do Acordo sobre a Cooperação Económica e Técnica assinado pela ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Moçambique, Verónica Macamo, e pelo embaixador da China em Maputo, Wang Hejun. Macamo e Wang assinaram ainda o Acordo de Perdão Parcial da Dívida de Moçambique e um certificado de entrega de produtos alimentares de assistência humanitária por parte de Pequim. “Este gesto é mais um símbolo inequívoco da nossa profunda amizade, solidariedade e cooperação forjados desde os tempos da luta de libertação nacional, no qual a República Popular da China concedeu o seu precioso apoio multiforme à causa da autodeterminação do povo moçambicano”, afirmou a ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação. Referindo-se em concreto ao Acordo de Perdão Parcial da Dívida, Verónica Macamo assinalou que o entendimento vai contribuir para o alívio das contas públicas e para a disponibilização de recursos para projetos de desenvolvimento social e económico do país. “A República Popular da China é um país amigo que tem estado ao lado de Moçambique, dando a sua contribuição nos esforços rumo ao desenvolvimento sustentável do nosso país”, enfatizou. Por seu turno, o embaixador chinês observou que os dois países têm intensificado a cooperação em vários domínios, consolidando laços históricos. “A China continuará a expandir as formas e os campos de cooperação com Moçambique e a promover, de acordo com as necessidades de Moçambique, mais projectos pragmáticos e de benefício mútuo”, destacou. No final da cerimónia não houve oportunidade para perguntas dos jornalistas, mas em março de 2021 o ministro da Economia e Finanças de Moçambique, Adriano Maleiane, disse no parlamento que o país devia 1.700 milhões de euros à China, o equivalente a 16% do valor total da dívida pública (estimada em 10.420 milhões de euros). A quase totalidade (1.660 milhões de euros) era devida ao Exim Bank Chinês pela construção de estradas e pontes, incluindo a via circular de Maputo, a ponte suspensa sobre a baía de Maputo e as estradas a sul, afirmou Maleiane. Sempre ao lado de Moçambique A presidente do parlamento moçambicano enalteceu também a importância da cooperação com a China, lembrando que o país asiático “sempre esteve ao lado de Moçambique nos momentos mais difíceis”. “A China está sempre presente nos momentos mais difíceis de Moçambique”, declarou Esperança Bias, durante uma reunião virtual com Wang Yang, presidente do Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês. A presidente do parlamento moçambicano lembrou o apoio que a China prestou a Moçambique face à pandemia, destacando que o país asiático foi o primeiro a disponibilizar vacinas contra a covid-19 para Maputo. “Apesar de a China ter sofrido fortemente com o impacto desta pandemia, ajudou Moçambique com vários lotes de vacinas”, frisou Esperança Bias. Segundo a responsável, os dois países vão continuar a envidar esforços para reforçar a cooperação bilateral, destacando as áreas política e económica como as prioritárias. “As relações entre os nossos dois países são bastante antigas e têm-se fortificado ao longo dos tempos”, acrescentou a presidente do parlamento moçambicano.
Hoje Macau SociedadeJogo | Ligações com a Suncity “tramam” The Star Entertainment A The Star Entertainment foi considerada sem idoneidade para explorar casinos em Novas Gales do Sul, na Austrália, num relatório publicado pela Comissão Independente do Jogo. O documento dado a conhecer na terça-feira feira faz várias as menções ao empresário Alvin Chau e ao grupo Suncity. De acordo com o portal GGR Asia, o relatório indica que “na segunda metade de 2019, apesar de tudo o que era conhecido pelas empresas do universo The Star sobre a Suncity e o senhor Chau não houve avaliações de risco adicionais sobre as ligações com a Suncity e o senhor Chau”, pode ler-se no documento. Em causa, está um outro relatório que focou as relações entre a Crown, empresa do jogo australiana, as ligações com o grupo promotor de jogo em Macau e as crescentes suspeitas de actividades de lavagem de dinheiro. “Nestas circunstâncias, foi totalmente indesculpável e inconsistente com as obrigações das operadoras de casino de avaliarem os riscos de infiltrações criminosas e de actividades lavagem de dinheiro”, é acrescentado no relatório sobre a The Star Entertainment. A empresa foi assim considerada, nas condições actuais, sem idoneidade para estar focada, ou sequer associada, à exploração de qualquer casino em Novas Gales do Sul. Contudo, o relatório não indica que medidas devem ser tomadas para que a empresa possa continuar a operar.
Hoje Macau Manchete PolíticaMNE | China oferece três documentários a média dos PLP A China prendou os média de países lusófonos com documentários sobre cultura do chá, medicina tradicional chinesa e ecossistemas das quatro estações do ano no país. Os conteúdos produzidos pela televisão estatal foram traduzidos pela TDM. O comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros em Macau, Liu Xianfa, presidiu à cerimónia de entrega A cultura como meio de comunicação e cooperação entre meios de comunicação social chineses e dos países lusófonos. Foi com este intuito que a China ofereceu aos países lusófonos três documentários produzidos pela televisão estatal chinesa e traduzidos para português pela TDM-Teledifusão de Macau. “Seleccionámos com cuidado e traduzimos três documentários sobre a cultura chinesa e oferecemo-los aos media dos países de língua portuguesa, com o objectivo de aproveitar a cultura como um meio para desenvolver um novo caminho para a cooperação entre os media da China e dos países de língua portuguesa, fornecer novas dinâmicas a esta cooperação e elevá-la para um novo patamar”, afirmou o comissário Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) na RAEM, Liu Xianfa, na cerimónia que oficializou a oferta. Os três filmes versam sobre a cultura do chá, a medicina tradicional chinesa e a diversidade de ecossistemas durante as quatro estações. Sobre o primeiro tema, Liu Xianfa apontou que o chá é um dos “cartões de visita” da China, desde a Rota da Seda e a Antiga Rota do Chá nos tempos antigos, até ao projecto ‘Uma Faixa, Uma Rota’ e à ‘Rota Marítima da Seda do Século XXI’, atravessando hoje a história e as fronteiras, transmitindo o espírito de harmonia e diferença e o conceito de abertura e cooperação”. “Macau foi o primeiro porto a partir do qual, o chá chinês foi exportado em grande escala”, acrescentou o comissário do MNE. Contra os muros Liu Xianfa demonstrou esperança de que os meios de comunicação social da lusofonia “assumam melhor as suas responsabilidades sociais”, trabalhem em conjunto para defender os valores comuns de toda a humanidade, adiram ao conceito de igualdade, apreciação mútua, diálogo e tolerância das civilizações, e promovam o respeito mútuo, a harmonia e a coexistência entre os povos. A oferta simbólica dos conteúdos multimédia representa um esforço para “eliminar barreiras culturais através de intercâmbios culturais, transcender o choque de civilizações através da apreciação mútua de civilizações, e substituir a superioridade civilizacional pela coexistência civilizacional”. O representante do Governo Central afirmou na cerimónia que “alguns países estão a contrariar a tendência da história ao ‘desligar’, construir ‘pequenos pátios e muros altos’, impor sanções extremas, e criar tensões artificiais, contradições e confrontos divisivos”. Face ao contexto de globalização económica acelerada e de partilha de informação ao segundo nas redes sociais, Liu Xianfa destacou a necessidade “ainda maior” de a China e os países de língua portuguesa aprofundarem intercâmbios, expandirem a cooperação e promoverem o desenvolvimento. Após a cerimónia de oferta, todos os presentes assistiram a um espectáculo de língua e cultura portuguesa em Macau.
Hoje Macau China / ÁsiaNuclear | Seul alerta Pyongyang para “caminho de autodestruição” A Coreia do Sul avisou ontem Pyongyang de que o recurso a armas nucleares vai colocar o país num “caminho de autodestruição”, depois de a Coreia do Norte ter aprovado legislação sobre o uso de armas nucleares de modo preventivo. Habitualmente, Seul evita usar termos tão fortes para evitar o aumento da tensão na península coreana. O Ministério da Defesa sul-coreano considera que a legislação apenas vai aprofundar o isolamento da Coreia do Norte e incitar Seul e Washington a “reforçar ainda mais a capacidade de dissuasão e reacção”, disse aos jornalistas Moon Hong-sik, porta-voz da tutela. Para conseguir que a Coreia do Norte não use armas nucleares, o ministério disse que a Coreia do Sul vai impulsionar fortemente a capacidade de ataque preventivo, defesa antimísseis e de retaliação maciça, enquanto procura um maior compromisso de segurança dos Estados Unidos da América (EUA) para defender o país aliado, com todas as capacidades disponíveis, incluindo a nuclear. “Advertimos o Governo norte-coreano de que enfrentará a resposta esmagadora da aliança militar Coreia do Sul-EUA e seguirá o caminho da autodestruição, se tentar utilizar armas nucleares”, salientou o porta-voz. Na semana passada, o parlamento da Coreia do Norte aprovou a legislação sobre as regras relativas ao arsenal nuclear, permitindo a Pyongyang recorrer ao armamento atómico, se a liderança enfrentar um ataque iminente ou se pretender evitar uma “crise catastrófica” não especificada para o país. Num discurso, no parlamento, o líder norte-coreano, Kim Jong-un, afirmou que o país nunca abandonará as armas nucleares de que necessita para responder às ameaças dos EUA, que acusou de pressionarem para enfraquecer as defesas do país e eventualmente derrubar o regime que lidera.
Hoje Macau China / ÁsiaDiplomacia | China e Rússia querem ordem internacional “mais justa” A China está a trabalhar com a Rússia para estabelecer uma ordem internacional “justa e razoável”, disse ontem o mais alto quadro da diplomacia chinesa, nas vésperas de uma reunião entre os líderes dos dois países. O Presidente chinês, Xi Jinping, deve reunir-se com o homólogo russo, Vladimir Putin, esta semana, no Uzbequistão, à margem da cimeira da Organização de Cooperação de Xangai (SCO), de acordo com a diplomacia russa. “Sob a liderança estratégica do Presidente Xi Jinping e do Presidente Vladimir Putin, as nossas relações sempre progrediram no caminho certo”, defendeu Yang Jiechi, o principal diplomata do Partido Comunista Chinês, segundo uma nota emitida ontem pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da China. O comunicado citou Yang durante uma reunião com o embaixador russo na China, Andrey Denisov, que está de saída do cargo. “A China está disposta a trabalhar com a Rússia para implementar ininterruptamente o espírito de cooperação estratégica de alto nível entre os dois países, salvaguardar os interesses comuns e promover o desenvolvimento da ordem internacional numa direcção mais justa e razoável”, afirmou Yang. Face às sanções ocidentais e isolamento diplomático, em resultado da invasão da Ucrânia, a Rússia está a tentar reforçar laços com os países asiáticos, sobretudo com a China. Bons parceiros Semanas antes de a Rússia invadir a Ucrânia, a 4 de Fevereiro, Xi recebeu Putin. Os dois líderes anunciaram então uma parceria “sem limites”. O país asiático recusou condenar a Rússia pela invasão da Ucrânia e criticou a imposição de sanções contra Moscovo. Pequim considera a parceria com o país vizinho fundamental para contrapor a ordem democrática liberal, liderada pelos Estados Unidos. Na semana passada, o número três do regime chinês, o presidente do Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular da China, Li Zhanshu, tornou-se o líder chinês mais importante a visitar a Rússia desde o início da intervenção militar. Li elogiou o “nível sem precedentes” de confiança e cooperação entre Pequim e Moscovo, observando em particular a cooperação na região Ásia – Pacífico, bem como no Extremo Oriente russo, no âmbito da iniciativa chinesa “Uma Faixa, Uma Rota”.
Hoje Macau China / ÁsiaCibernética | Relatórios chineses revelam detalhes de ataques dos EUA A China divulgou ontem relatórios de investigação com detalhes de ataques cibernéticos a uma universidade chinesa, lançados pela Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA). De acordo com o Centro Nacional de Resposta Emergencial contra Vírus de Computador da China (CVERC), 41 tipos de armas cibernéticas foram usadas pelo Escritório de Operações de Acesso Adaptadas(TAO), afiliado à NSA, nos ataques recentemente expostos contra a Universidade Politécnica do Noroeste da China, informa a Xinhua. Entre elas, a arma cibernética “Suctionchar” para espionagem e roubo é uma das principais ferramentas usadas para o desvio de uma grande quantidade de dados confidenciais, disse o CVERC. Sendo altamente furtiva e adaptável ao ambiente, a “Suctionchar” pode roubar contas e senhas de uma variedade de serviços de gestão remota e transferência de arquivos em servidores-alvo, de acordo com o relatório divulgado pelo CVERC em colaboração com a empresa de cibersegurança Beijing Qi’an Pangu Laboratory Technology Co., Ltd. A análise técnica mostra que a “Suctionchar” pode efectivamente trabalhar com outras armas cibernéticas implantadas pela NSA, de acordo com especialistas em segurança citados pelo CVERC. Nos ataques cibernéticos do TAO contra a universidade chinesa, foi descoberto que a “Suctionchar” funcionou em conjunto com outros componentes do programa de troia Bvp47, uma arma de alto nível do Equation Group de Hackers da NSA.
Hoje Macau China / ÁsiaCovid-19 | Pequim intensifica medidas de prevenção face a novo surto Face à aproximação do Congresso do Partido Comunista Chinês, com início marcado para 16 de Outubro, e a um surto que atingiu vários ‘campus’ universitários, as restrições de circulação voltam a aumentar na capital chinesa Pequim intensificou ontem as medidas de prevenção epidémica, na sequência de um novo surto de covid-19, a poucas semanas da cidade receber o 20.º Congresso do Partido Comunista Chinês, o mais importante evento da agenda política chinesa. O governo municipal de Pequim anunciou que funcionários e estudantes devem apresentar um teste negativo para o novo coronavírus realizado nas últimas 48 horas para regressarem ao trabalho e à escola, após o feriado do festival de meados do Outono. Este reforço das medidas acabou por suscitar ontem de manhã alguma confusão na capital chinesa, à medida que os passageiros eram impedidos de embarcar nos transportes públicos. Pequim está em alerta desde a semana passada, quando um novo surto da doença covid-19 atingiu vários ‘campus’ universitários. As autoridades encerraram a Universidade de Comunicação da China, no distrito de Chaoyang, e colocaram várias pessoas em isolamento. Esta situação acontece a poucas semanas da cidade acolher o 20.º Congresso do Partido Comunista Chinês, que arranca a 16 de outubro. Trata-se do mais importante evento da agenda política da China, que é realizado a cada cinco anos. Pequim registou 16 casos, nas últimas 24 horas, entre os quais seis infecções assintomáticas. A China mantém uma estratégia de zero casos de covid-19. Isto inclui o bloqueio de distritos e cidades inteiras, sempre que é detectado um caso, o isolamento de todos os casos positivos e contactos directos em instalações designadas pelo Governo, e a testagem de toda a população. Várias cidades em redor da capital chinesa também estão em alerta. As autoridades de Sanhe, na província de Hebei, anunciaram um bloqueio de quatro dias, desde ontem, e quatro rondas de testes em massa, após terem diagnosticado um caso. Serviços de transporte público foram também suspensos. “Todos os blocos residenciais devem deixar apenas uma porta de acesso aberta, com funcionários a vigiar 24 horas por dia. Os residentes não devem sair a menos que tenham uma emergência médica”, lê-se num comunicado do governo local. Centenas de milhares de pessoas vivem nas cidades em redor de Pequim, incluindo Sanhe, onde as rendas são mais baratas. Mais testes Várias cidades do país intensificaram os bloqueios e impuseram restrições mais rígidas às viagens domésticas. As autoridades chinesas pediram às cidades – mesmo as que não têm surtos – que testem regularmente a população até ao final de Outubro. Na sexta-feira, a vice-primeira-ministra Sun Chunlan, que supervisiona as medidas de combate à covid-19, instruiu os funcionários do Conselho de Estado a tomarem “medidas resolutas” para controlar o vírus o mais rápido possível e minimizar os efeitos nas comunidades. As autoridades de saúde de Pequim também reiteraram que quem chegar à cidade deve fazer dois testes em três dias, incluindo um dentro de 24 horas após a chegada.
Hoje Macau SociedadeObras públicas | Nick Lei quer saber número de residentes contratados O deputado Nick Lei questionou o Governo, através de uma interpelação escrita, sobre a proporção de residentes que trabalham em projectos de obras públicas desde 2020. Na interpelação, o deputado lembrou que, no caso da contratação de fiscais de obras pelo Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), percebeu-se que a proporção de trabalhadores não-residentes (TNR) contratados acabou por ser diferente da proposta inicial. O também presidente da associação Aliança do Povo de Instituição de Macau questionou as autoridades sobre se já foram multados os adjudicatários que não respeitaram a proporção de trabalhadores locais e de TNR. Nick Lei apontou também que os actuais concursos para obras públicas exigem às empresas candidatas a prioridade à contratação de locais, mas não foi ainda definida uma proporção entre residentes e TNR. Desta forma, o deputado entende que o Governo deve clarificar esta proporção nos regulamentos dos concursos públicos. Nick Lei questiona ainda quantos residentes locais já foram formados em acções promovidas pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais e quantos foram contratados.
Hoje Macau SociedadeFestival Lunar | Sector hoteleiro descontente com números do turismo Lou Chi Leong, presidente da Associação dos Hoteleiros de Macau, disse que os profissionais do sector estão descontentes com a taxa de ocupação hoteleira durante o Festival Lunar, que não foi além dos 40 a 50 por cento. Em declarações ao jornal Ou Mun, Lou Chi Leong disse que estes números se devem a vários factores, nomeadamente à ocorrência de surtos epidémicos nas regiões vizinhas no Interior da China e os apelos feitos pela Comissão Nacional de Saúde para que os cidadãos do país evitassem viagens. Além disso, a emissão dos vistos turísticos tornou-se mais complexa e ainda não foi normalizada a passagem transfronteiriça entre Macau e Zhuhai. O responsável adiantou que o número diário de turistas em Macau neste período foi cerca de dez mil, semelhante aos restantes dias, pelo que não se verificou uma melhoria na taxa de ocupação hoteleira como era esperado. Lou Chi Leong acrescentou que será difícil ao sector hoteleiro obter melhores resultados este ano, pelo que só em 2023 se poderão esperar números mais satisfatórios. Para o presidente da associação, o sector deve ainda observar os resultados do 20.º Congresso do Partido Comunista Chinês para saber se as medidas anunciadas vão garantir um equilíbrio entre o desenvolvimento económico e o combate à pandemia.
Hoje Macau PolíticaCódigo de saúde | Associação quer aulas sobre aplicação A Aliança de Povo de Instituição de Macau apelou ao Governo que organize aulas que ensinem os mais velhos a usar o código de saúde. A informação foi avançada ontem pelo Jornal do Cidadão, e o apelo surgiu no âmbito de um simpósio organizado pela associação, em Seac Pai Van. O pedido foi feito depois de alguns idosos que participaram no evento se terem mostrado desagradados com a complexidade do preenchimento da declaração do código de saúde e do código de localização. Apesar de não serem contra a medida, que dizem ser útil para saber onde estiveram infectados, os participantes indicaram que o procedimento é demasiado difícil e que o surto de 18 de Junho veio colocar a nu esse problema. Segundo a sugestão da instituição, as aulas deviam ser organizadas diariamente, de forma a serem acessíveis. O sistema implementado pelo Governo dificulta a deslocação a pessoas que não têm telemóvel, que muitas vezes ficam sem alternativas para entrar em espaços privados e públicos. Os Serviços de Saúde defendem a legalidade de proibir entrada em espaços privados e públicos a quem não apresenta o código de saúde. Além das dificuldades técnicas, os idosos apelaram ainda para que seja aberta uma clínica de medicina tradicional chinesa em Seac Pai Van.
Hoje Macau EventosRealizador Jean-Luc Godard morre aos 91 anos O cineasta franco-suíço Jean-Luc Godard, um dos principais nomes do cinema desde a estreia em longas-metragens com “O Acossado”, em 1960, morreu, aos 91 anos, avançou hoje o jornal francês Liberátion, citando fontes próximas. Parte fundamental da ‘Nouvelle Vague’ francesa, movimento que revolucionou o cinema a partir dos anos 1950, Godard tem uma longa carreira premiada, que vai desde o galardão de melhor realizador, em Berlim, logo por “O Acossado”, até um Óscar honorário, entregue em 2010 numa cerimónia à qual não compareceu. Autor de obras influentes sobre várias gerações de realizadores como “O Desprezo” (1963), com Brigitte Bardot, “Bando à Parte” (1964), “Pedro, o Louco” (1965) ou os mais recentes “Filme Socialismo” (2010) e “Adeus à Linguagem” (2014), Jean-Luc Godard ficou conhecido “pelo seu estilo de filmar iconoclasta, aparentemente improvisado, bem como pelo seu inflexível radicalismo”, como recorda o The Guardian no obituário do cineasta.
Hoje Macau China / ÁsiaUzbequistão | Líderes da China, Rússia e Índia, em cimeira presencial Xi, Putin e Modi deverão encontrar-se presencialmente no final desta semana, durante a reunião dos Estados membros da Organização de Cooperação de Xangai. Cazaquistão, Quirguistão, Uzbequistão e Tajiquistão e Paquistão marcam também presença O primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, participará numa cimeira regional esta semana no Uzebequistão que, segundo Moscovo, incluirá conversações presenciais entre o Presidente russo, Vladimir Putin, e o Presidente chinês, Xi Jinping. A reunião dos Estados membros da Organização de Cooperação de Xangai, que pretende ser um contrapeso à influência ocidental e que inclui, além da China, Rússia e Índia, quatro países da Ásia Central (Cazaquistão, Quirguistão, Uzbequistão e Tajiquistão) e Paquistão, está agendada para 15 e 16 de Setembro em Samarcanda, no sudeste do Uzbequistão. Na quarta-feira, o embaixador da Rússia em Pequim disse que Putin e Xi se reunirão na cimeira. O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês não o confirmou imediatamente, e o porta-voz disse, na habitual conferência de imprensa, que não havia “qualquer informação a dar” sobre o assunto, de acordo com a agência francesa de notícias, a France-Presse (AFP). Há conversa? Xi Jinping não deixa o país desde uma visita de estado ao Myanmar, em Janeiro de 2020, logo no início da pandemia de covid-19. Na sua declaração, o governo indiano não disse se Modi iria manter conversações bilaterais com Putin, Xi ou com Shehbaz Sharif, no que seria o primeiro encontro entre ambos desde a tomada de posse do líder paquistanês, em Abril. A Índia, tal como a China, recusou-se a condenar a invasão da Ucrânia e aumentou as suas compras de petróleo à Rússia. As relações entre a Índia e a China têm estado tensas desde os combates de 2020 na disputada fronteira dos Himalaias. De acordo com a AFP, Modi e Xi Jinping não têm mantido conversações bilaterais desde 2019. A Índia também faz parte do “Quad”, com os EUA, Japão e Austrália, um agrupamento visto como um contrapeso à China.
Hoje Macau PolíticaPatrimónio | Criticado relatório sobre destruição das muralhas antigas O deputado Ron Lam criticou o relatório da Direcção dos Serviços de Obras Públicas (DSOP) sobre a queda das antigas muralhas da cidade junto à Estrada de S. Francisco, por considerar que faltou mencionar as medidas de protecção a serem adoptadas no futuro e o apuramento de responsabilidades. Em declaração ao jornal All About Macau, Ron Lam apontou que o relatório só declara os factores que levaram ao acidente, mas não explica as medidas que deviam ser adoptadas nos estaleiros daquela zona, de forma a evitar novos acidentes. Os estaleiros dizem respeito às obras do Edifício de Especialidade de Saúde Pública e a uma obra privada. Lam justificou ainda que esteve no local a assistir aos estragos do deslizamento e que estes se ficaram a dever ao facto de os estaleiros não terem assegurado a realização dos trabalhos de prevenção e protecção das muralhas e das taludes. Apesar de um dos estaleiros ter um mecanismo de supervisão, os dados estavam constantemente desactualizados, o que terá contribuído para que não fosse possível perceber a situação do deslizamento de terras. O deslizamento das terras resultou em danos nas muralhas antigas da cidade e ainda para três habitações do edifício Ka On Kok. Anteriormente, o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, anunciou na Assembleia Legislativa que tinha havido um acordo com os proprietários e que a situação estava ultrapassada.
Hoje Macau Manchete SociedadeInvestigação | UM em aliança para estudar impacto das “alterações climáticas” A Universidade de Macau está a liderar uma aliança entre 19 universidades da China e dos países de língua portuguesa para estudar o impacto das alterações climáticas para os oceanos Uma nova aliança entre 19 universidades da China e dos países de língua portuguesa quer lançar projectos conjuntos de investigação sobre os oceanos, disse na sexta-feira o vice-reitor da Universidade de Macau, Rui Martins. O principal objectivo da Aliança de Investigação Científica Oceânica entre a China e os Países de Língua Portuguesa é “reunir especialistas para definir áreas de pesquisa em que se vai tentar obter financiamento para projectos conjuntos”, explicou à Lusa o académico português. Entre a investigação prioritária estará o impacto das “alterações climáticas, que se reflectem de forma enorme nos oceanos e na vida marinha”, sublinhou o vice-reitor da Universidade de Macau. A cerimónia de estabelecimento aconteceu na sexta-feira, com mais de 70 representantes das 19 universidades e institutos que fazem parte da aliança, uma iniciativa da Universidade de Macau, disse Rui Martins. A coordenação da aliança vai ficar a cargo do Centro dos Oceanos Regionais, um instituto de investigação criado pela universidade da região administrativa especial chinesa em 2020, referiu o vice-reitor. Esforço global Do lado chinês, a iniciativa reúne dez universidades “de topo nesta área” da China continental, assim como a Universidade de Macau e a Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong, disse o português. A aliança inclui ainda a Universidade Agostinho Neto, em Angola e a Universidade Eduardo Mondlane, em Moçambique, o Instituto Superior Técnico e a Universidade do Algarve, em Portugal, a Universidade de São Paulo e a Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Universidade Federal do Rio Grande, no Brasil, acrescentou Rui Martins. “Há muita alta tecnologia disponível em Portugal, no Brasil e também na China”, defendeu o vice-reitor da Universidade de Macau. O Instituto Superior Técnico “desenvolve, no âmbito de projectos europeus, por exemplo, equipamento de robótica marinha, veículos não tripulados que exploram o oceano”, lembrou. À cerimónia de lançamento da iniciativa seguiu-se, também através de videoconferência, o primeiro simpósio científico da aliança, com dez académicos da China, Portugal e Brasil a apresentarem a sua pesquisa, disse Rui Martins. De acordo com grupos ambientalistas, as mudanças climáticas são uma das grandes ameaças aos oceanos, juntamente com a poluição e novas tecnologias que abrem as portas à exploração mineira em alto mar e à pesca mais intensiva.
Hoje Macau Grande PlanoMorreu Isabel II, rainha de Inglaterra. Príncipe Carlos torna-se rei Carlos III O Rei Carlos III qualificou a morte da “querida mãe”, a rainha Isabel II, como “um momento de grande tristeza” para toda a família, segundo um comunicado. “A morte da minha querida mãe, Sua Majestade a Rainha, é um momento de grande tristeza para mim e todos os membros da minha família”, refere, acrescentando que era uma “monarca acarinhada e uma mãe muito amada”. “Sei que a morte dela vai ser sentida por todo o país, reinos e na Commonwealth e por inúmeras pessoas em todo o mundo. Durante este período de luto e mudança, a minha família e eu seremos confortados e suportados por saber do respeito e profunda afeição pela Rainha”. A Rainha Isabel II morreu esta quinta-feira aos 96 anos no Castelo de Balmoral, na Escócia, foi anunciado pela família real. “A rainha morreu pacificamente em Balmoral esta tarde. O Rei e a Rainha Consorte permanecerão em Balmoral esta noite e voltarão a Londres amanhã [sexta-feira]”, anunciou o Palácio de Buckingham em comunicado, numa referência a Carlos e Camila. A notícia foi conhecida após membros próximos da família real terem viajado hoje subitamente para Balmoral para estar com a rainha após um comunicado dando conta da preocupação dos médicos com o estado de saúde da monarca de 96 anos. Bandeira a meia haste A bandeira britânica foi colocada a meia haste no Palácio de Buckingham, onde a multidão, ali reunida quando foi anunciada a morte da Rainha Isabel II, guardou silêncio e muitas pessoas choravam ao ouvir a notícia. Na multidão em frente ao palácio, que começou a aumentar à medida que passavam as horas depois dos médicos terem anunciado que o estado de saúde da Rainha preocupava, muitas pessoas choraram e outras ficaram em silêncio, disse um jornalista da France-Presse no local. Ao mesmo tempo, a BBC transmitia o hino britânico e a bandeira do Palácio de Buckingham, residência oficial em Londres de Isabel II, foi colocada a meia haste, sinal de luto. À medida que a notícia da morte se espalhou, a multidão cresceu significativamente fora do Palácio de Buckingham, para onde muitas pessoas se deslocaram sozinhas e outras em grupo com amigos, segundo a BBC. Guterres presta homenagem O secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, disse estar “profundamente triste” com a morte da rainha Isabel II, prestando uma homenagem à sua “dedicação longa e inabalável” em servir o seu povo. “Estou profundamente triste com o falecimento de Sua Majestade a Rainha Elizabeth II [Isabel II], Rainha do Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte. Estendo as minhas sinceras condolências à sua família enlutada, ao Governo e ao seu povo e à Comunidade das Nações mais ampla”, disse Guterres em comunicado. Com o reinado mais longo do Reino Unido, a rainha “era amplamente admirada pela sua graça, dignidade e dedicação em todo o mundo”, disse Guterres. O secretário-geral das Nações Unidas considerou que Isabel II foi uma “presença tranquilizadora” ao longo de décadas de “mudanças radicais, incluindo a descolonização da África e da Ásia e a evolução da ‘Commonwealth’”. Em comunicado, o ex-primeiro-ministro português recordou ainda as duas visitas que a rainha fez à sede da ONU em Nova Iorque, declarando que a monarca “era uma boa amiga das Nações Unidas”. “Ela estava profundamente comprometida com muitas causas beneficentes e ambientais e falou de forma comovente aos delegados nas negociações climáticas da COP26 – cimeira mundial do clima – em Glasgow”, observou António Guterres. “Gostaria de prestar homenagem à rainha Elizabeth II pela sua dedicação longa e inabalável em servir o seu povo. O mundo se lembrará por muito tempo da sua devoção e liderança”, conclui o secretário-geral da ONU. Liz Truss declara lealdade a novo rei A primeira-ministra britânica, Liz Truss, declarou “lealdade e devoção” ao Rei Carlos III, o novo chefe de Estado do Reino Unido, após a morte da rainha Isabel II. “Ao nosso novo monarca, o nosso novo Chefe de Estado, Sua Majestade o Rei Carlos III. Tal como a família do Rei, lamentamos a perda da sua mãe. E enquanto choramos, devemos unir-nos como povo para o apoiar e ajudá-lo a suportar a espantosa responsabilidade que ele agora carrega por todos nós. Oferecemos-lhe a nossa lealdade e devoção, tal como a sua mãe tanto dedicou a tantos durante tanto tempo” , disse numa comunicação à porta da residência oficial em Downing Street. Truss disse que os britânicos estão “devastados” pela notícia da monarca, que representa “um enorme choque para o país e para o mundo”. “A Rainha Isabel II foi a rocha sobre a qual o Reino Unido moderno foi construída. O nosso país cresceu e floresceu sob o seu reinado. O Reino Unido é o grande país que é hoje por causa dela”, afirmou. A primeira-ministra indicou que, sob Isabel II, o país tornou-se numa “nação moderna, próspera e dinâmica” porque a monarca deu a “estabilidade e a força” de que os cidadãos precisavam. Liz Truss, que foi indigitada pessoalmente pela monarca de 96 anos na terça-feira, recebeu as notícias da deterioração do estado de saúde da rainha quando se encontrava no parlamento a apresentar um plano para congelar os preços da energia doméstica. Imagens da Câmara dos Comuns mostram vários deputados a passarem um papel com a informação, nomeadamente o líder do principal partido da oposição, Keir Starmer, mas o anúncio da morte só foi confirmado várias horas mais tarde.
Hoje Macau China / ÁsiaCovid-19 | Estratégia ‘zero casos’ é economicamente mais “racional” A estratégia ‘zero casos’ de covid-19 continua a ser economicamente “mais racional” para a China do que coexistir com o coronavírus, asseguraram ontem as autoridades de saúde do país asiático, citadas pela imprensa estatal. A política chinesa é a “forma mais científica de travar a covid-19, à medida que a pandemia continua a alastrar-se pelo mundo, criando novos riscos”, defendeu o vice-director do Centro Nacional de Prevenção e Controlo de Doenças, Chang Jile. A abordagem chinesa consiste em “detectar rapidamente novos surtos e conter a propagação com o menor custo possível”, descreveu Chang. Isto inclui o isolamento de todos os casos positivos e contactos diretos em instalações designadas, o bloqueio de distritos e cidades inteiras e a realização de testes em massa. A China mantém também as fronteiras praticamente encerradas desde março de 2020, com as ligações áreas reduzidas a menos de 2%, em comparação com 2019. Quem viaja para o país tem que cumprir pelo menos sete dias de quarentena num hotel designado pelas autoridades. Chang argumentou que a estratégia chinesa garante a “normalização da produção e a segurança das pessoas em todo o país, e cadeias de fornecimento estáveis”. O responsável pediu “determinação” face à pandemia, que disse ainda se encontrar num “alto nível, com novas variantes e com o conhecimento sobre o vírus ainda em curso”. Chang anunciou também a “optimização das medidas de controlo”, com base na “situação actual”, e afirmou que as “políticas de contenção vão ser equilibradas com o desenvolvimento social e económico”. Chengdu Entretanto, as empresas em Chengdu, na província de Sichuan, no sudoeste da China, afirmaram que estão a funcionar normalmente e que retomaram a produção no meio de um novo surto de COVID-19 após a recente escassez de energia eléctrica ter sido atenuada. A fábrica de Foxconn em Chengdu está actualmente sob gestão de circuito fechado e está agora a funcionar normalmente, disse a empresa. Um gerente de apelido He, que trabalha para um negócio de fabrico de moldes na Zona Oeste de Chengdu, disse que a fábrica da empresa voltou à produção total e está sob gestão de ciclo fechado. “A nossa fábrica regressou à produção total após o fornecimento de energia ter sido restaurado. Os empregados chegaram à fábrica na segunda-feira e a produção começou”, disse He. O gerente observou que a empresa permanece em estrita conformidade com os requisitos de prevenção de epidemias, com detecção de ácido nucleico realizada para cada empregado a cada 24 horas. De acordo com as últimas estatísticas, um total de 766 casos locais foram relatados em Chengdu até quinta-feira, incluindo 570 casos confirmados. Antes desta última explosão da COVID-19, a província de Sichuan tinha sofrido uma escassez de fornecimento de energia devido à seca contínua, uma vez que a província está fortemente dependente da produção de energia hidroeléctrica. Os níveis de água em várias centrais hidroeléctricas em Sichuan desceram até 40 metros em Agosto. A energia hidroeléctrica representou 78 por cento de toda a energia produzida em Sichuan em 2021, enquanto a energia hidroeléctrica representou apenas 15 por cento da produção de energia na China no mesmo período, de acordo com estatísticas oficiais. Empresas sediadas em Sichuan anunciaram que retomaram a produção e que a escassez do fornecimento de energia teve pouco impacto nas suas operações globais. Tianqi Lithium, com sede em Suining, Sichuan, anunciou durante a sua apresentação de desempenho semestral que, desde meados de Agosto, a empresa tem cumprido rigorosamente os requisitos mandatados pelas autoridades locais, adoptado activamente medidas de salvaguarda, e organizado a produção de uma forma razoável e ordenada. Com a premissa de cumprir os requisitos das autoridades locais, as fábricas de Tianqi têm estado a funcionar normalmente. “O recente racionamento de energia não tem tido um impacto significativo na produção e operações da empresa”, disse Tianqi. Segundo as contas oficiais, 5226 morreram no país devido ao novo coronavírus, desde que os primeiros casos foram detectados na cidade de Wuhan, centro da China, no final de 2019.
Hoje Macau h | Artes, Letras e IdeiasO Poeta da Montanha Fria – Liu Qiuyin Porquê questionar as gotas de orvalho, o sol nasce, elas transformam-se em névoa. O corpo não é um palácio, mas uma simples estalagem. Por isso tu, hóspede de passagem, liberta-te da paixão, da ignorância, do ódio. O que resta depois? A mágoa, a iluminação, uma gota de orvalho, rigorosamente nada. O homem que um dia se chamou Han Shan, ninguém sabe quem foi. Quando alguém o via, considerava-o um doido, um pobre diabo. Vivia retirado na montanha Tiantai, sete léguas a oeste do distrito de Tangxing, num lugar chamado Han Shan (Montanha Fria), entre rochas e falésias. Daí descia frequentemente para o templo de Guoqing, ao encontro do seu amigo Shi De, encarregado da limpeza da cozinha do mosteiro que lhe guardava restos de comida em malgas feitas com cana de bambu. Han Shan costumava passear-se pelos terraços do templo, gritava de alegria, falava e ria sozinho. Os monges corriam atrás dele, tentavam agarrá-lo, insultavam-no, às vezes queriam bater-lhe. Então Han Shan assumia outra vez um comportamento normal, esfregava as mãos, sorria e partia. Parecia um verdadeiro mendigo. O corpo e o rosto estavam gastos, consumidos pelos anos, no entanto havia coerência nas suas palavras e bastava pensar no discurso de Han Shan para adivinhar ideias profundas. Tudo o que dizia tinha a ver com os segredos do passado, com o subtil princípio das coisas. O seu chapéu era uma casca de bétula, as suas roupas estavam cheias de buracos e usava tamancos de madeira muito gastos. Assim vivia este homem extraordinário, afável, isolado, diluído na natureza, espalhando bom gosto. Nos terraços do mosteiro murmurava palavras surpreendentes como “a transmigração e os três mundos”. Nas aldeias e herdades próximas, Han Shan cantava e brincava com as crianças que pastoreavam os búfalos de água. Quer as coisas lhe corressem bem, quer as coisas lhe corressem mal, mostrava-se sempre satisfeito. Se não estávamos na presença de um sábio, então como reconhecer um sábio?… Há tempos atrás, quando ainda não ouvira falar em Han Shan, fui nomeado para um posto pouco importante na prefeitura de Tanqiu. Na altura da partida apareceram-me umas terríveis enxaquecas. Chamei um curandeiro que me tratou, mas os padecimentos agravaram-se. Atendendo à minha solicitação, veio então um mestre chan 禅 de nome Feng Gan que me disse habitar no templo de Guoqing, na montanha Tiantai. O monge Feng Gan cantava hinos e costumava cavalgar um tigre, o que assustava os outros monges. Quando lhe perguntavam qual era a essência dos ensinamentos de Buda, o mestre respondia: “Seguir o tempo.” Pedi-lhe então que tratasse da minha enfermidade. Feng Gan sorriu e disse: “Os quatro elementos estão no seu corpo, a doença provém da ilusão. Se vos quereis libertar da moléstia é preciso simplesmente água pura.” Trouxeram água e o mestre despejou-a sobre mim. Pouco tempo depois as enxaquecas desapareceram. Feng Gan acrescentou: “A prefeitura de Tanqiu fica junto ao mar, perto das ilhas no meio do oceano, o clima é muito húmido. Ao chegar, cuidai bem de vós.” Perguntei-lhe: “Gostava de saber se existem alguns sábios na região, pessoas que eu possa considerar como meus mestres”. Feng Gan respondeu: “Os sábios são fáceis de encontrar, difíceis de reconhecer. Quando a gente os vê, não os reconhece, quando a gente os reconhece, não os vê. Se quereis mesmo vê-los, não confiai nas aparências. Podereis então olhar para eles. Han Shan é como Manjusri,[1] escondido no templo de Guoqing, por sua vez, Shi De é como Samatabhadra.[2] Ambos parecem uns pobres diabos, uns doidos. Chegam e desaparecem, trabalham no templo de Guoqing, cuidam dos fogões, da cozinha.” O mestre acabou de falar, pediu licença para se retirar e partiu. Chegou a altura de ser eu a meter pés ao caminho, rumo ao meu posto em Tanqiu. Não esqueci o assunto e, três dias depois de entrar em funções, dirigi-me a um templo próximo e interroguei respeitosamente um velho monge. O que me respondeu, correspondia exactamente às palavras do mestre Feng Gan. Dei então ordens para que, em todo o distrito de Tangxing, se tentasse encontrar Han Shan e Shi De. O mandarim distrital disse-me: “Quinze léguas a oeste da nossa prefeitura encontra-se uma falésia enorme onde existe uma gruta habitada por um vagabundo que visita frequentemente o templo de Guoqing. Às vezes passa lá a noite. Na cozinha do mosteiro trabalha um monge parecido com ele, de nome Shi De.” Decidi então dirigir-me para Guoqing. Ao chegar perguntei: “Este templo é habitado por um mestre chan chamado Feng Gan. Onde se encontra o seu quarto? Vivem também aqui os monges Han Shan e Shi De, como é que eu os posso encontrar?” Um religioso de nome Tao Jiao respondeu: “O quarto do mestre Feng Gan fica por detrás da biblioteca, mas neste momento ninguém habita lá e de vez em quando ouvimos os rugidos de um tigre. Han Shan e Shi De estão agora na cozinha.” Em seguida, o mestre conduziu-me ao quarto de Feng Gan. Abriu a porta e não havia ninguém, viam-se apenas as pegadas de um tigre. Perguntei aos monges Tao Jiao e Pao De: “Quando o mestre se encontra aqui, o que faz?” Deram-me a seguinte resposta: “Durante o dia, Feng Gan anda por aí, recolhendo e descascando arroz, à noite canta para se distrair.” Dirigi-me depois para a cozinha. Diante do fogão dois indivíduos aqueciam-se e riam às gargalhadas, os rostos iluminados pelo fogo. Saudei-os respeitosamente. Deram um grito, apertaram as mãos e começaram outra vez a rir. Um deles disse: “Ah, o Feng Gan, esse grande coscuvilheiro! Se o senhor não é capaz de reconhecer um Amithaba[3] porque nos veio cumprimentar?” Aproximaram-se outros monges surpreendidos com a estranha situação de um mandarim saudar e conversar com aqueles pobres diabos. Han Shan e Shi De aproveitaram para fugir. Ainda pedi que alguém fosse no seu encalço, mas os dois homens já tinham desaparecido a caminho da Montanha Fria. Perguntei depois aos monges se eles estariam dispostos a alojar as duas criaturas permanentemente no mosteiro. Foram preparados dois quartos para eles e pedi que alguém lhes fosse comunicar o meu desejo de se instalarem de vez no templo de Guoqing. De regresso à prefeitura, dei ordens para que fossem feitas roupas novas para Han Shan e Shi De e que as mesmas lhes fossem entregues, junto com pauzinhos de incenso. Os dois homens não haviam regressado mais ao templo e os meus criados levaram as vestes e o incenso para a Montanha Fria. Quando lá chegaram, Han Shan gritou: “Ladrões, ladrões!” E entrou numa gruta. Antes de desaparecer, pronunciou estas últimas palavras: “Digo-vos, segui os ensinamentos de Buda.” Depois foi impossível acompanhar os seus passos. O rasto de Han Shan tinha desaparecido. Por fim, solicitei ao monge Tao Jiao que tentasse saber algo mais sobre os dois homens e que recolhesse os poemas de Han Shan. O homem da Montanha Fria escrevera pouco mais de trezentos poemas que gravara em lâminas de bambu, na casca das árvores, nas rochas, em muros de aldeias. Shi De escrevera os seus poemas nas paredes do templo. Tudo foi então compilado e organizado em livro. O meu coração procurou o refúgio de Buda. Tive a sorte de encontrar os homens do Tao. *Governador de Taizhou Pilar superior do Império Portador da insígnia do peixe, dom do Imperador, guardado num estojo vermelho (Séc. IX) Tradução e notas de António Graça de Abreu
Hoje Macau Eventos MancheteA Abelha da China | Três fundadores: um cirurgião, um padre e um militar Por João Guedes O cirurgião José de Almeida, o padre António de S. Gonçalo de Amarante e o tenente-coronel Paulino Barbosa: estes, três dos personagens que assistiram em 1822 ao nascimento do primeiro jornal de Macau, que seria também o primeiro da Ásia Oriental. Paredes meias, vencidos, mas preparando desde logo a desforra, o juiz Miguel de Arriaga Brun da Silveira, o governador José Osório de Castro Cabral e Albuquerque e o barão de S. José de Porto Alegre, entre outros, que rejeitaram ab initio essa filha do escândalo que era a liberdade de imprensa dada pela revolução do Porto às colónias da Coroa. «A Abelha da China», semanário das quintas-feiras de Macau, que era também (espante-se!) a folha oficial do governo, reivindicou para si o estatuto de primeiro jornal de toda a Ásia a Leste da Índia, e para o seu redactor o de primeiro jornalista de um mundo onde, ironicamente, existia imprensa há mais de mil anos. O nascimento do jornal resultou de um «parto» difícil e dramático, provocado pelo choque inevitável do liberalismo que avassalava o mundo, contra o «status quo», antigo e aceite, do regime monárquico absoluto. Este, em matéria de palavra escrita, vinha, com ligeiras alterações (essencialmente provocadas pela expansão colonial de quinhentos), a percorrer imperturbável a história desde o primeiro Rei, envolto ainda no pó da catedral de Zamora e empunhado os códices antiquíssimos dos visigodos e os textos dos doutores da Igreja, como se fossem os únicos produtos possíveis das máquinas de Gutenberg. A imprensa Ocidental, também pioneiramente introduzida na Ásia pelos Portugueses (Jesuítas) do século XVI, vivia de facto há séculos em Macau, mas só a lei resultante da Revolução Liberal de 1820 permitiria o aparecimento de um jornal semelhante aos que desde há mais de cem anos formavam a opinião pública e influenciavam os destinos políticos das nações europeias. Antes de lei libertadora apenas obras pias saíam das prensas da Diocese de Macau. «A Abelha da China», cujo nome comportava uma clara intencionalidade política (picar o «establishment»), viu a luz do dia numa quinta-feira, dia 12 de Setembro de 1922. «Havendo o Leal Senado incumbido a redacção do presente periódico, julgamos ser uma das principais obrigações de um redactor o expor com verdade e com franqueza os motivos que aceleraram a gloriosa façanha sucedida no dia 19 do mês passado, dia memorável, em que os macaenses arvoraram o Pavilhão da Liberdade e derrocaram o horrendo colosso do Despotismo, que tantos anos haviam suportado. Confessamos, todavia, que esta tarefa é superior às nossas partes para a justificação de um facto que pôs termo à arbitrariedade e que consolidou os direitos e o deveres do Cidadão, instalando-se entre as salvas de um contentamento público, e incessantes vivas de alegria, um Governo Provisório, segundo a vontade geral de todos os moradores, o qual, no pouco tempo da sua instalação, tem dado sobejas provas do seu patriotismo, do seu zelo e da sua actividade pelos interesses nacionais». Este, um excerto do primeiro editorial da «Abelha», saído do ousado aparo de Frei António de S. Gonçalo de Amarante. A citada prosa definia com resolução e desassombro os objectivos de jornal, situando-o claramente no campo do liberalismo, não como instrumento passivo das novas ideias, mas como arma ideológica que não cessaria desde o primeiro dia de desferir contundentes estocadas sobre a «reacção» legitimista. Num terreno completamente «minado», desde logo a «Abelha» serviu os liberais como instrumento de defesa (mantendo embora sempre a ofensiva), tribuna de doutrinação política e porta-voz. O projecto foi o resultado natural de um tácito consenso, forjado e amadurecido no decorrer de um processo político que se desenvolvia em crescendo. O liberalismo chegava à cidade nos brigues e escunas da longínqua Metrópole através de oficiais e funcionários, que eram cada vez em maior número. Na colónia portuguesa, por seu turno, os portadores do novo espírito juntavam-se a americanos e ingleses, difundido as ideias e tornando mais consistentes as consciências liberais. À medida que estas hodiernas concepções germinavam, abria-se também um fosso entre dois campos. Num postava-se uma oposição heterogénea e do outro o poder localizado em torno da Ouvidoria, Leal Senado e do Governador, instituições que formavam o governo odiado. Uma história por fazer «A falta de confiança, pois, que ele ( o povo de Macau) tinha no governo e o aferro com que este pretendia entronizar-se, valendo-se para esse fim de modos não só impróprios, mas até indignos do carácter português, foi a causa principal por que, reiteradas vezes, se apresentou ao Senado a necessidade que havia de um governo que obstasse e ser visse de barreira à torrente impetuosa de males que ameaçavam o comércio; um novo governo que impedisse uma inevitável e próxima anarquia; pois que tudo lhe augurava um futuro assaz desagradável de das mais funestas consequências, uma vez que as coisas continuassem do mesmo modo que até ali continuado haviam, isto é: conservando-se no lugar uma das autoridades (o Ouvidor Miguel de Arriaga, cuja exclusão exigiam) como fonte e origem donde brotava todo o mal ao comércio e, por consequência, à cidade inteira». Isto dizia a «Abelha», resumindo as razões latentes de uma revolta que apenas esperava o pretexto para eclodir. Tal pretexto surgiu logo que chegaram as primeiras notícias da revolução de 24 de Agosto de 1820, levando-a a irromper triunfante nas ruas de Macau, arrasando oposições com tanto ímpeto quanto dura tinha sido a repressão. A história do Liberalismo em Macau continua ainda por fazer, mas pode dizer-se as forças em confronto no Território possuíam, fundamentalmente, as mesmas características das de Portugal, segundo também um percurso político semelhante. Nos anos da «Abelha» a colónia tornou-se um espelho pequenino dessas convulsões, que reflectia quase passo a passo. Como afirmava o «Abelha», Macau estava desde há muito sujeita à vontade de um reduzido número de pessoas que geriam a cidade segunda a flutuação dos seus interesses pessoais, ligados em exclusivo ao comércio do ópio, o único sustento da economia local. Capitaneava este grupo Miguel de Arriaga Brun da Silveira, o jovem e talentoso magistrado que, às suas qualidades de senhor do governo e diplomata exímio, juntava a de hábil comerciante activo e bem-sucedido. Multiplicando os lucros, ignorava a lei e pouca importância concedia à ética, dedicando-se indiferentemente – e com o mesmo entusiasmo – à magistratura, ao governo de Macau e ao comércio. Revestidos de poderes muito mais amplos do que os de um juiz dos nossos tempos, comportava-se como autêntico governador, confinando este à tarefa de referendar despachos que oficialmente deveriam sair exclusivamente da sua lavra. Manter a paz nos quartéis e o sossego nas ruas eram as únicas competências que Arriaga lhe permitia exercer. Apoiado numa rara habilidade política, Arriaga aliara a si a maior fortuna de Macau, casando com a filha do Barão de S. José de Porto Alegre. Esta figura, extravagante e perdulária, que vivia do comércio do ópio, tinha entrada fácil (segundo voz corrente) nos corredores da corte do Rio de Janeiro, o que convinha plenamente ao Ouvidor. Para além de Porto Alegre, um grupo fiel acompanhava Arriaga, apoiando-o em todas as decisões que eram, superior e invariavelmente, abençoadas pelo Visconde de Rio Preto, Governador-Geral da índia, senhor todo-poderoso do Império Colonial português, valido de El-Rei D. João VI e protector de Arriaga. Talento, visão política e probidade eram as cores com que era visto embora, à boca pequena, circulassem histórias que o enlameavam. Estes segredos não teriam tido consequências se não tivesse entrado em cena a «Abelha», transformando os sussurros em letra de forma. As revelações constituíram pedra fundamental da campanha de destruição da figura do poderoso Ouvidor, encetada logo após os primeiros golpes resultantes dos ecos da Revolução do Porto, que abalaram o seu poder. Com todo o entusiasmo, a «Abelha» demonstrou desde logo até que ponto era possível manipular palavras, transformando-as em verdadeiros projécteis de efeitos capitais. Ao mesmo tempo instituía, pode dizer-se, uma escola e tradição que nunca morreriam na imprensa de Macau: as «Cartas ao Director» (rubrica que no semanário recebia o título lacónico de «Correspondência») eram dessa faceta exemplo, ao dar abrigo à opinião alheia a fim de personalizar ataques, ficando reservado ao redactor o papel de crítico de sistemas e propagandista de ideias. Arriaga passa então a ser o alvo preferencial desta orientação, como consta da primeira carta aberta dirigida contra ele. «A experiência de uma vintena de anos que o referido senhor esteve no governo mostrou-me o quanto era meu inimigo declarado – como é público nesta cidade – quanto devia ser meu amigo, pois, se se lembrasse, eu nunca o incomodei e sempre o servi em tudo quanto me ocupou – o que posso mostrar por documentos, uns assinados por seu próprio punho e outros por alguns dos seus apaniguados – com bastante prejuízo meu; estou certo que deixaria de me perturbar», dizia Francisco José de Paiva, abastado comerciante. Na carta aberta, Paiva recusava a Arriaga o direito de lhe contabilizar os bens, dizendo que «se ele, Ministro, julga dos meus teres pelo negócio que tenho feito em Macau, quanto não deve o público julgar dos teres dele, Ministro!!!… O meu giro comercial tem sido de duzentas e cinquenta, a trezentas mil patacas; ora pode isto comparar-se com a soma de três a quatro milhões de patacas com que o público diz que ele, Ministro, negociava e em cujo tráfico deixara (segundo o mesmo público) muitos dos seus credores numa total ruína?…» Francisco de Paiva terminava a pública missiva citando Madame Deshouliers: «C’est prendre assez bien ses mesures, De venir conter ses raisons Après avoir fait des injures». Oposição heterogénea Um excerto de «Cândido», de Voltaire, ou de «O Contrato Social», de Rousseau, talvez se tivesse mostrado mais apropriado que aquela citação da poetisa pastoral do século XVI. Mas o remate erudito não deixou de fazer o desejado efeito: mostrar erudição e acentuar o protestantismo francês. Destacada marca ideológica dos progressistas de então, o francesismo militante dava azo e fundamento às acusações de «Maçons» e «Traidores à Pátria» proferidos pelos absolutistas. Em resposta, a «Abelha» inseria o epíteto «Corcunda» no prontuário das suas diatribes, oficializando a designação mais pejorativa que a burguesia revolucionária dava, em Portugal, aos absolutistas. Chegava por fim a hora da vingança e da lavagem de afrontas. Sem parte no comércio e cingidos à rígida cadeia de comando que terminava no quartel-general do Governador, grande número dos militares pendia abertamente para os círculos de Francisco de Paiva, embora por motivos muito mais políticos que pessoais. Em grande parte oriundos dos quartéis do Brasil – onde o liberalismo campeava forte – constituíam inimigos tanto mais perigosos, quanto possuíam as armas que os senhores do poder não tinham. Num campo próximo, como estes – longe dos negócios e confinados ao espartilho hierárquico da Diocese comandada com pulsos de ferro pelo Bispo D. Francisco de Nossa Senhora de Luz Chacim – muitos elementos destacados do clero macaense, cultos (e talvez por isso, liberais) e militantes, concentravam-se no Seminário de S. José onde formavam o corpo docente. Comerciantes, padres e militares todos se uniam, ainda que por razões diversas, a fim de abater Arriaga. Pura vingança, militância política, luta pela autonomia de Macau contra a supremacia administrativa de Goa, negócios embargados ou desejos incontidos de poder, constituíam razões válidas e suficientes para obter a inscrição no partido Liberal, amplo e hospitaleiro guarda-chuva da unidade contra o governo. O desencadear da ofensiva remonta à Sé, quando Frei António de S. Gonçalo exprimiu, em timbrado latim, a «satisfação dos povos pelo juramento da Constituição Portuguesa». Ressoando nas abóbadas, as modulações da sua oratória caíam como gotas de ácido sobre a mitra do Bispo Chacim que, impotente, nada pôde fazer senão as primeiras notas do «Te Deum Laudamos» (que a «Abelha» diz ter sido vibrantemente secundado pelos fiéis que enchiam a catedral). O tenente-coronel Paulino Barbosa encabeçou o ataque às instituições, conquistando o Leal Senado através de votação esmagadora do povo (exclusivamente português, entenda-se), reunido no largo fronteiro. Mas a vistosa manifestação internacional de apreço não voltaria a repetir-se face ao rumo dos acontecimentos. De facto, com a mesma alegria com que festejava a Constituição, Macau iluminava-se de novo a breve trecho para festejar a abolição da Constituição e o regresso de D. Miguel e, apenas alguns meses mais tarde, ainda para festejar de novo o ressurgimento da Constituição, que festivamente abolira pouco antes. Na confusão geral, só o «Abelha» parecia perfeitamente consciente do seu papel, publicando os textos orientados da ideologia e os inflamados artigos que se destinavam a manter vivo o entusiasmo popular. Neste âmbito, aos mesmo tempo que, fastidiosamente, explicava as novas orientações da alfândega, explorava em estilo de panfleto o choque provocado pelo assassinato de Luís Prates, um conhecido e benquisto liberal, atribuindo o acto aos «Corcundas». Em seguida, denunciava com contagioso dramatismo a tentativa de sublevação e detenção nos calabouços da fortaleza do Monte do Ouvidor Arriaga e o envio, a ferros, para Goa, do Governador Castro e Albuquerque. A Gazeta cinzenta Manter viva a chama popular em torno do novo regime era, aliás, uma tarefa vital para o «Abelha», face à presença, ao largo, da fragata «Salamandra» do coronel Garcez Palha, que procurava tenazmente a falha capaz de permitir o desembarque dos duzentos homens e artilharia que trazia da capital da Índia portuguesa, para restabelecer a ordem miguelista. Às intenções de Garcez Palha juntavam-se as manobras de Arriaga que, tendo escapado com suspeitas cumplicidades da sua cela do Monte, conspirava em Cantão. Os mandarins seus amigos mostravam-se relutantes em intervir, mas o cerco em torno de Macau constituía por si só eficaz guerra de nervos, que abria irreparáveis brechas no moral da cidade. No dia 18 de Setembro de 1822, o estado de descrença atingiu o seu ponto mais baixo, permitindo o desembarque dos homens da «Salamandra» que, sem um tiro, ocuparam em poucas horas todos os quartéis da cidade. Depois de ter sobrevivido ao auto-de-fé de 21 de Agosto, quando os «Corcundas» já levantavam a cabeça a ponto de se reunirem para queimar, simbolicamente à porta da Ouvidoria, um exemplar do último número do jornal, a «Abelha», extenuada, já não possuía forças que lhe permitissem continuar a fazer fogo sobre a «reacção». Impresso o número 67, num sábado 27 de Dezembro, chegou com ele o fim do sonho. Frei António cobriu nesse dia as máquinas e saiu da Tipografia do Governo, dando a última volta à chave da pesada porta antes de abalar para Calcutá, escapando à repressão que se seguiria. À mesma hora, o cirurgião José de Almeida fugia para Singapura, trocando ali a política pela horticultura científica, opção que levou o seu nome a uma das principais avenidas da cidade-estado do Sudeste Asiático, que ainda hoje se mantém: «D’Almeida Street». O tenente-coronel Paulino Barbosa, chefe da revolução ou «do destempero» (como afirmava Garcez Palha), arrancado (segundo este) pelos soldados do quarto de um amigo, onde se escondia debaixo de uma cama, partia no porão da «Salamandra» para Goa, a fim de ser submetido ao julgamento de Rio Preto que, destituído e reintegrado no governo da Índia por uma vertiginosa sucessão de golpes e contra-golpes, se encontrava de novo no poder. Os corredores do Seminário de S. José esvaziam-se de professores (presos ou em fuga), enquanto os calabouços do Monte e da Guia se enchiam em resultado das depurações nas fileiras, e dos julgamentos políticos civis. As vagas abertas não eram preenchidas: ao absolutismo escasseavam os quadros capazes de as ocupar. José Osório de Castro de Cabral e Albuquerque tinha perdido a face, de um modo que não permitiria a sua readmissão no governo de Macau. Entretanto, Arriaga voltava, reocupando o gabinete da Ouvidoria de onde tinha sido expulso. Afectado pelo reumatismo gotoso, já não adoptava a mesma postura soberana de antigamente, atrás do mogno resplandecente da vasta secretária em que despachava. Mas antes da doença lhe pôr ponto final na carreira e na vida aos 47 anos de idade, ainda disfrutaria por alguns anos da faculdade de mandar só que, ao contrário dos tempos de glória, tinha agora de partilhar o poder de que havia sido único senhor ao longo de duas décadas. Ainda que fisicamente debilitado, o arguto Arriaga não deixou de retirar lições das «desgraças» de um ano. Por isso, foi sem hesitações que se apossou da chave que Frei António, disciplinadamente, devolvera antes da fuga, reabrindo a Tipografia do Governo. O «Abelha» tinha constituído para os Liberais uma surpreendente arma que ainda poderia continuar a produzir resultados para os outros, pensava Arriaga. Nesta linha de pensamento, as máquinas de Frei António recomeçaram a laborar, mas a fábrica de ideias de outrora, produtora de opinião e divulgadora do progresso, havia sido mortalmente liquidada. Das prensas, agora controladas por Arriaga, saía regularmente apenas uma publicação cinzenta e sem chama, denominada «Gazeta de Macau». Finalmente, fiel à sua vocação de Boletim Oficial rigorosamente depurado à lupa de suspeitos descuidos ou equívocas imprecisões, de acordo com os mais estritos regulamentos da censura, divulgava rotineiramente o ponto de vista do poder constituído. Caminhando para a inutilidade à medida que a normalização política se apossava da cidade, tornava-se cada vez mais um dispêndio orçamental desinteressante, que se extinguiria naturalmente em Dezembro de 1826. O destino da «Gazeta» do governo seguia e culminava, aliás, a tendência irreversível do processo histórico, que não admitia a repetição de cenários. Assim, Arriaga desapareceu e, com ele, a poderosa Ouvidoria de Macau, que se desvaneceria pouco depois.
Hoje Macau EventosAlbergue SCM | Lanternas do coelhinho em exibição a partir de amanhã Depois de um interregno devido à pandemia, a mostra “Lanternas do Coelhinho – Uma Exposição de Carlos Marreiros e Amigos – Parte 17 – Lanternas de 2009 a 2022, por ocasião da celebração do 73º aniversário da República Popular da China” será inaugurada amanhã, às 18h30, no Albergue SCM. A edição deste ano reúne um total de 28 lanternas criadas por artistas, designers e diversas personalidades de Macau e de outros países. A mostra fecha portas a 19 de Outubro. No mesmo local vai decorrer a habitual festa de celebração do Festival da Lua, que decorre amanhã, entre as 18h30 e as 21h30. O evento conta com um espectáculo protagonizado pela Tuna Macaense, além de ter sessões de caligrafia chinesa para que todos os participantes possam aprender a arte. Além disso, as crianças podem receber uma lanterna com a figura de um coelho trabalhada de forma criativa em papel e outros materiais, sendo que, a partir das 17h, serão distribuídas caixas com petiscos referentes ao Festival da Lua.
Hoje Macau PolíticaSegurança Nacional | Coutinho diz que juramento é “mera formalidade” José Pereira Coutinho, deputado e presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau, encara como “uma mera formalidade” a obrigação de os funcionários públicos prestaram juramento de lealdade à Lei Básica e à RAEM. A reacção do legislador surge na sequência da notícia de que os trabalhadores da administração pública terão de prestar um juramento ao abrigo da lei revista de segurança nacional, que se encontra neste momento em fase de consulta pública. Em declarações à TDM – Rádio Macau, o representante do sector caracterizou à obrigação como “normal” e algo “que também existe noutras jurisdições”, desde que sejam respeitados os direitos fundamentais dos cidadãos, nomeadamente a liberdade de expressão. “Não vejo nada de especial. Eu próprio, como deputado, aquando das últimas eleições também preenchi um formulário desta natureza e que não tem, em princípio, nada relevante que ponha em causa a minha posição como deputado na Assembleia Legislativa”, acrescentou Pereira Coutinho.
Hoje Macau PolíticaEconomia | Chan Meng Kam apela à confiança em Ho Iat Seng Apesar das dificuldades económicas, Chan Meng Kam apelou à confiança da população e mostrou-se convicto que o futuro vai ser risonho para o território. As declarações foram citadas pelo Jornal do Cidadão, como reacção à promessa do Governo Central, através de Xia Baolong, do estudo e implementação de medidas para promover a diversificação e desenvolvimento da economia local. O empresário e ex-membro do Conselho Executivo reconheceu que nos últimos três anos a população foi afectada pelo impacto da pandemia, com a emergência de vários desafios a nível económico e social. No entanto, apelou à confiança em Macau e no Chefe do Executivo que afirmou ser “o chefe da família” que vai fazer com que todos avancem resolutamente e de forma unida, para enfrentar e ultrapassar as dificuldades. As palavras fazem eco do discurso de Xia Baolong, que também tinha pedido união à volta de Ho Iat Seng. Chan Meng Kam argumentou ainda que Macau tem o apoio do Governo Central, como prometido pelo chefe do Gabinete para os Assuntos de Hong Kong e Macau do Conselho de Estado, o que vai a levar às melhorias da condição de vida. Como prova da confiança, o empresário e proprietário de vários casinos-satélite recordou que desde a transferência de soberania, Macau atravessou muitas dificuldades, como a crise da SARS, crise financeira e vários tufões, mas que conseguiu sair por cima. Por isso, Chan Meng Kam defende que não há razão para que o mesmo não suceda desta vez, e assegurou que o Governo de Ho Iat Seng vai produzir esses resultados, contando que a população se mantenha unida.
Hoje Macau Grande Plano Manchete7º Fórum Económico do Oriente | Pequim e Moscovo reforçam cooperação As políticas hegemónicas dos EUA e as sanções europeias aproximaram, de forma dramática, a China e a Rússia que, durante o 7º Fórum Económico do Oriente, revelaram ter aumentado em mais de 50% o seu volume de negócios. Um mundo multipolar e a “desdolarização” da economia global são pontos altos na agenda A China irá reforçar a cooperação com a Rússia e trabalhar em conjunto com outros membros da comunidade internacional para impulsionar a multipolarização do mundo, afirmaram peritos chineses, no 7º Fórum Económico Oriental (FEO) que decorre em Vladivostok, Rússia. A Rússia também criticou duramente as sanções ocidentais por causa da crise da Ucrânia, uma vez que “causaram grandes danos a toda a gente em todo o mundo, incluindo ao seu próprio povo no Ocidente”. O Presidente russo Vladimir Putin afirmou na quarta-feira no fórum que “o Ocidente está a falhar, o futuro está na Ásia. As nações ocidentais estão a prejudicar toda a gente, incluindo o seu próprio povo, numa tentativa de preservar o domínio global que está a escorregar das suas mãos”, observou Putin. O presidente russo disse também que os esforços para isolar a Rússia foram em vão, fazendo a Rússia voltar-se em direcção à Ásia. O desenrolar da crise económica global foi desencadeado por “elites ocidentais, que não reconhecem, ou mesmo não podem reconhecer, factos objetivos sobre as mudanças globais”, disse ainda o presidente russo. Os líderes dos EUA e seus aliados procuram preservar “a ordem mundial que só os beneficia, forçando todos a viver sob as regras, que eles inventaram e que eles quebram regularmente e mudam constantemente, dependendo da situação”, observou Putin. Face à oposição de nações que não se querem vergar à sua vontade, os EUA e os seus aliados “atacam” e tomam decisões míopes que prejudicam não só os dissidentes, mas também as suas próprias nações, declarou Putin, referindo-se a um “crescente afastamento” das elites ocidentais do povo comum. Presença chinesa A China enviou ao FEO a maior delegação, com 205 representantes, entre os quais Li Zhanshu, presidente do Comité Permanente da Assembleia Nacional Popular, que participou na sessão plenária do FEO na quarta-feira. Wang Yiwei, director do Instituto de Assuntos Internacionais da Universidade de Renmin, disse na quarta-feira que “sob os enormes impactos provocados pelas sanções e pela grande estratégia de competição de poder lançada pelos EUA e os seus aliados ocidentais, a necessidade e importância da cooperação China-Rússia está a aumentar, e os dois países terão de trabalhar em conjunto para salvaguardar e reformar a ordem internacional, enquanto os EUA estão a tentar quebrar e remodelar uma para servir a sua hegemonia”. Um perito em relações internacionais baseado em Pequim, que pediu anonimato, disse que os EUA estão descontentes com a actual ordem internacional e globalização, uma vez que as elites de Washington acreditam que a actual ordem só beneficia as potências em ascensão, especialmente a China, enquanto enfraquece a hegemonia dos EUA, pelo que está a utilizar problemas regionais como a crise da Ucrânia e a tensão do Estreito de Taiwan para mobilizar os seus aliados e servir a estratégia dos EUA de conter a China e a Rússia, mas tem subestimado a resistência e a força dos seus concorrentes. “Mais importante ainda, ignorou os danos causados às pessoas em todo o mundo, como a terrível crise energética e alimentar, o que faz com que cada vez mais países se apercebam do perigo, incerteza e risco de uma ordem dominada pelos EUA, ou de um mundo unipolar. E é por isso que o tema do FEO este ano é “a caminho de um mundo multipolar”. Isto tem reflectido um consenso partilhado por cada vez mais países em todo o mundo”, observou o perito. Desdolarização, multipolarização Putin disse que a Rússia está a abandonar a utilização do dólar americano e da libra esterlina, uma vez que “os EUA minaram os alicerces do sistema económico mundial e as duas moedas perderam assim credibilidade”. O produtor russo de gás natural Gazprom e o maior produtor de petróleo chinês CNPC passarão a efectuar pagamentos em rublos e yuans para o fornecimento de gás à China, informou a TASS na terça-feira. Myanmar anunciou também na quarta-feira que está a comprar produtos petrolíferos russos em rublos. Especialistas disseram que a mudança por parte das empresas energéticas russas e chinesas, quando totalmente implementada, irá retirar uma grande parte do comércio internacional de energia do sistema de pagamento internacional baseado no dólar. Além disso, o ambiente actual, com os países do Grupo dos Sete (G7) a tentar limitar o preço das exportações petrolíferas russas e uma mudança temporária no cabaz energético global para combustíveis fósseis, está previsto um aumento das importações de energia russa por parte da China, disse Jin Lei, professor da Universidade do Petróleo da China. Cooperação de grande sucesso A China é o principal investidor e o maior parceiro comercial do Extremo Oriente russo. Em 2021, o comércio com a região cresceu 28% para 14 mil milhões de dólares, e 54 projectos de investimento chinês, com um investimento total de 14,7 mil milhões de dólares, foram utilizados em infra-estruturas, energia, agricultura ou sectores relacionados com a rota marítima do Árctico. Alex Cao, um empresário chinês participante no fórum, disse que o FEO reúne os chefes de quase todas as grandes empresas russas e é uma plataforma importante para a sua empresa desenvolver laços comerciais. Devido ao aumento da cooperação financeira entre a China e a Rússia no contexto actual, Cao tenciona assinar uma série de acordos financeiros com bancos russos para alimentar o desenvolvimento da sua empresa agrícola. A cooperação financeira bilateral tem registado progressos nos últimos meses à medida que a utilização do yuan continua a expandir-se na Rússia. Grandes empresas russas, incluindo a maior mineradora de ouro russo PJSC Polyus e a empresa russa de alumínio Rusal emitiram obrigações denominadas em yuans no mercado russo, à medida que os actores do mercado russo exploram o yuan como uma alternativa ao dólar americano e ao euro. O comércio da China com a Rússia aumentou 31,4% de Janeiro a Agosto para 117,2 mil milhões de dólares, dados da Administração Geral das Alfândegas da China divulgados na quarta-feira. As importações da China da Rússia aumentaram 50,7 por cento, atingindo 72,95 mil milhões de dólares durante o período referido. O Ministro do Desenvolvimento Económico russo Maxim Reshetnikov disse aos jornalistas que se espera que o comércio entre os dois países atinja um máximo histórico de 170 mil milhões de dólares até ao final do ano, no bom caminho para atingir o objectivo declarado de aumentar o volume de negócios comerciais para 200 mil milhões de dólares até 2024. O ministro russo acrescentou que estes números são a confirmação do trabalho conjunto entre a Rússia e a China em muitas áreas, incluindo a resolução de problemas de exportação e importação e a garantia do fornecimento ininterrupto de mercadorias e da circulação sem entraves de mercadorias através de postos de controlo fronteiriços, apesar das actuais restrições da COVID. A pressão das sanções ocidentais obrigou a Rússia a intensificar os seus esforços para lançar novas fábricas e empresas, disse Evgeny Markin, director executivo do Conselho Empresarial Russo-Chinês . Os projectos conjuntos na esfera da construção de novas fábricas e empresas estão entre as áreas mais importantes, disse Markin. Um funcionário do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo disse na quarta-feira que a Rússia e a China estão a explorar 79 negócios que poderão ascender a um montante total de 160 mil milhões de dólares. O funcionário disse que “a Rússia acolhe favoravelmente os investimentos da China, ao contrário dos EUA, que tratam tais investimentos de uma forma duvidosa e hostil”. O FEO já assistiu ao registo de mais de 150 negócios no valor de 1,53 biliões de rublos. O fórum foi estabelecido pelo decreto do Presidente Putin em 2015 para apoiar o desenvolvimento económico do Extremo Oriente russo e para expandir a cooperação internacional na região Ásia-Pacífico. Narendra Modi quer mais trocas de bens, serviços e pessoas O Primeiro-Ministro indiano Narendra Modi apelou na quarta-feira para o reforço da parceria da Índia com a Rússia, afirmando que o país apoia todos os esforços pacíficos para pôr fim à crise da Ucrânia. No seu discurso online no Fórum Económico Oriental, na presença de Vladimir Putin, Modi afirmou que a Índia tem vindo a enfatizar a necessidade de adoptar a via da diplomacia e do diálogo desde o início do conflito na Ucrânia. “Apoiamos todos os esforços pacíficos para pôr fim a este conflito”, disse o primeiro-ministro. Modi disse também que a Rússia pode tornar-se um parceiro importante para a indústria siderúrgica indiana através do fornecimento de carvão e que havia margem para uma boa cooperação e mobilidade de especialistas. “Os especialistas indianos têm contribuído para o desenvolvimento de muitas regiões do mundo. Acredito que o talento e o profissionalismo dos indianos podem trazer um rápido desenvolvimento no Extremo Oriente russo”, acrescentou. Referindo-se à antiga doutrina da Índia “Vasudhaiva Kutumbakam”, Modi disse: “ensinou-nos a ver o mundo como uma família e, no mundo globalizado de hoje, os acontecimentos numa parte do mundo criam um impacto global”. “O conflito na Ucrânia e a pandemia da COVID têm tido um grande impacto nas cadeias de abastecimento globais. A escassez de grãos alimentares, fertilizantes e combustíveis é uma grande preocupação para os países em desenvolvimento. Desde o início do conflito na Ucrânia, temos salientado a necessidade de seguir o caminho da diplomacia e do diálogo”, afirmou. Apelando a esforços pacíficos para pôr fim ao conflito, Modi disse que a Índia também se congratula com o recente acordo relativo à exportação segura de cereais e fertilizantes. Recordando a sua participação física na cimeira do fórum em 2019, Modi disse que a Índia tinha anunciado a sua política “Act Far-East” nessa altura e, como resultado disso, a cooperação da Índia com o Extremo Oriente russo aumentou em vários campos. “Esta política tornou-se agora um pilar fundamental da ‘Parceria Estratégica Especial e Privilegiada’ entre a Índia e a Rússia”, acrescentou. “Este mês, 30 anos estão a ser completados desde a criação do Consulado da Índia em Vladivostok. A Índia foi o primeiro país a abrir um consulado nesta cidade. Desde então, esta cidade tem sido testemunha de muitos marcos na nossa relação”, acrescentou ele. Modi disse ainda que o fórum, estabelecido em 2015, tornou-se um importante fórum global para a cooperação internacional no desenvolvimento do Extremo Oriente russo. “Por isto, aprecio a visão do Presidente Putin e também o felicito”, disse ele. Ao falar sobre o Corredor Internacional Norte-Sul, o Corredor Marítimo Chennai-Vladivostok e a Rota do Mar do Norte, Modi disse: “A conectividade desempenhará um papel importante no desenvolvimento das nossas relações no futuro”. “A Índia está interessada em reforçar a sua parceria com a Rússia em questões relacionadas com o Árctico. Existe também um imenso potencial de cooperação no domínio da energia. Juntamente com a energia, a Índia também tem feito investimentos significativos no Extremo Oriente russo nas áreas da farmácia e dos diamantes”, concluiu.
Hoje Macau China / ÁsiaRelatório diz que queda nos lucros agrava crise de liquidez no imobiliário chinês As principais construtoras da China não estão a conseguir gerar dinheiro suficiente para cumprir com as suas obrigações, segundo uma análise dos seus resultados, sugerindo um agravamento da crise de liquidez no setor imobiliário do país. Os lucros líquidos das construtoras caíram, em média, 188%, nos primeiros seis meses de 2022, em termos homólogos, de acordo com um relatório do United Overseas Bank (UOB), banco de investimento com sede em Singapura. O UOB analisou os resultados das 32 construtoras chinesas cotadas em bolsa. As construtoras estatais apresentaram melhores resultados, com uma queda homóloga dos lucros de 27%, em média, segundo o banco. Entre os 32 construtores privados, o total de dinheiro em caixa encolheu 13,8%, prejudicando a sua capacidade de pagar dívidas, apontou o UOB. A CR Land, subsidiária de um dos maiores conglomerados estatais da China, o China Resources Group, foi a única construtora a relatar um aumento do dinheiro em caixa. “É uma situação geral difícil. As construtoras têm muito menos dinheiro para pagar as dívidas e não conseguem obter financiamento”, escreveu Raymond Cheng, analista imobiliário da CGS-CIMB Securities. No ano passado, os reguladores chineses passaram a exigir às construtoras um teto de 70% na relação entre passivo e ativos e um limite de 100% da dívida líquida sobre o património, suscitando uma crise de liquidez no setor, que foi agravada pelas medidas de combate à covid-19. O colapso do grupo Evergrande, cujo passivo supera o Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal, é o caso mais emblemático. O UOB considerou que, sem mudanças nas políticas de apoio do governo central ou uma mudança repentina nos níveis de confiança no mercado, mais construtoras chinesas vão provavelmente entrar em incumprimento num futuro próximo. A crise no imobiliário tem fortes implicações para a classe média do país. Face a um mercado de capitais exíguo, o setor concentra uma enorme parcela da riqueza das famílias chinesas – cerca de 70%, segundo diferentes estimativas. Esta crise surge também num momento político sensível. O Presidente chinês, Xi Jinping, está prestes a assumir um terceiro mandato como secretário-geral do Partido Comunista Chinês, quebrando com a tradição política das últimas décadas. O mercado imobiliário está em contração desde julho de 2021. Entre as 27 construtoras chinesas cotadas na Bolsa de Valores de Hong Kong, o lucro por ação do Agile Group Holdings foi o que mais caiu, com uma queda de 59%, em termos homólogos. As construtoras KWG Group Holdings e China Vanke viram os seus lucros por ação caírem mais de 40% em relação ao ano anterior.
Hoje Macau h | Artes, Letras e IdeiasPoemas da preguiça e do vinho Li Bai, grande poeta da dinastia Tang, traduzido e anotado por António Izidro Sentado sozinho na montanha Jingting Um bando de aves nas alturas do céu, uma nuvem espreguiça-se solitária. Nunca o nosso olhar se farta do outro: eu e a montanha Jingting. Verão na montanha Indolente agito o meu leque de alvas plumas, de tronco nu me obrigo à verdura da floresta, mas quando tiro o turbante e o poiso numa rocha, uma brisa de pinho esfria o orvalho na minha testa. Olhando a Lua depois da chuva Nuvens e névoas se dispersam, abro a janela e dou por meia Lua sorrateira. Campos longínquos, nublados, cruzados por rios de seda pura. A Lua clareia a serra curva a meia altura; inunda de luar o mar quando ascendia; sofrerei se este aro abandonar e por isso velarei até ser dia. Bebendo sozinho ao luar Entre as flores, um jarro de vinho, levanto a taça, bebo sozinho. Convido a Lua, é a sua vez, com a minha sombra já somos três. A Lua não sabe o vinho beber e a sombra só faz o que eu fizer. Tenho estes dois por companhia, noite de Abril, plena alegria. Canto e a Lua ouve o meu cantar, danço e a sombra segue o meu dançar. Folguemos unidos até aguentar, pois depois o sono vai-nos separar. Ó peregrinos sem alma de meu vazio festim,1 na Via Láctea faremos uma outra festa sem fim! 1. Peregrinos sem alma Não obstante a momentânea alegria que trouxeram, a Lua e a sombra são assim tratadas pelo poeta por não perceberem a sua solidão. Pode-se ler nos versos um conceito paradoxal, em linha com a filosofia budista sobre o criar e o desconstruir; em que, se por um lado se constrói, logo algo é desconstruído, desta destruição nasce seguidamente uma nova criação. É assim que o poeta quebra a solidão construindo a presença dos “companheiros”, realidade que logo se desvanece, quando no fim cada um segue o seu caminho; a partir desta separação, o poeta reconstrói a amizade, profetizando encontros perenes na eternidade celeste. Não amasse o Céu o vinho… Não amasse o Céu o vinho e nele não haveria Estrela de Vinho remota. Não amasse a Terra o vinho e nela não haveria fontes de onde o vinho brota.1 Ora se à Terra e ao Céu o vinho tanto agrada, a tudo o que é divino, o meu grande amor ao vinho por certo não é maçada. Fluído, cristalino vinho, para virtuoso beber, e vinho turvo e espesso para letrado entreter:2 Se doutos mestres dele gostam e de bom grado o aceitam, para quê perguntar aos deuses se por acaso o rejeitam? Já vou na terceira taça quando dou por mim na Via, com uma “medida” emborcada a Natureza me guia. Ó gáudio tão desmedido que do vinho se retém, alegria rutilante que o homem sóbrio não tem! 1. Fontes vinícolas. A analogia entre o vinho e as fontes de uma região de onde brotava água tão doce como o vinho. 2. Vinho cristalino e vinho turvo. Um é coado, refinado, o outro não; pelo facto de no culto aos ancestrais ser oferecido apenas o vinho puro, a tradição manda que aos virtuosos seja servido vinho cristalino e aos letrados o vinho turvo. In António Izidro, “Li Bai – A Via do Imortal”, Livros do Meio, 2022