Análise | Patacas e política anti-covid “menos rígida” atenuam ressentimento

Analistas ouvidos pela Lusa defendem que as manifestações na China contra as restrições pandémicas dificilmente farão eco em Macau, onde uma estratégia “menos rígida”, apoiada pela distribuição de dinheiro e subsídios, tem conseguido “atenuar o ressentimento público”

 

Uma vaga de protestos alastrou-se, nos últimos tempos, a várias cidades chinesas contra as rigorosas medidas de confinamento impostas pelas autoridades nacionais. A contestação intensificou-se após a morte de dez pessoas num incêndio, num edifício alvo de confinamento em Urumqi, capital da região autónoma de Xinjiang.

Macau, que registou seis mortes desde o início da pandemia, também segue a política de ‘zero covid’, apostando em testagens em massa, confinamentos de zonas de risco e quarentenas de cinco dias para quem chega ao território – com excepção de quem vem da China continental.

“Temos cada vez mais pessoas a queixarem-se que se seguirmos a política do Interior da China vamos gerar mais problemas em Macau, mas parece-me que o ressentimento público ainda não alcançou aquele nível”, começou por dizer o cientista político Eilo Yu.

O professor da Universidade de Macau observou, porém, que a estratégia em Macau é “menos rígida” do que no Interior da China, estando, além do mais, amparada por “subsídios e dinheiro”, na forma, por exemplo, de várias rondas de distribuição de cartões de apoio ao consumo no valor de oito mil patacas.

Protesto a solo

Em solidariedade com as vítimas de Urumqi e os protestos na China, um estudante da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST), oriundo do interior da China, manifestou-se no início desta semana nas instalações do estabelecimento de ensino.

Apesar da imagem do episódio ter aparecido nas redes sociais, o jovem, que aparecia a segurar um papel A4 branco – já um símbolo de resistência no país – pediu à Lusa para não ser identificado pelo nome, por receio de sofrer represálias.

“Vi muitos estudantes universitários, um pouco por todo o país, a serem suficientemente corajosos para se levantarem e erguerem papéis brancos em defesa dos compatriotas, e soube nessa altura que podia fazer algo, mesmo que a uma escala menor”, explicou.

O manifestante solitário contou que esteve uma hora no local, “até ser persuadido por um professor a ir-se embora” e que um segurança “impediu pessoas de fotografarem” o acto de contestação.

Questão de sensibilidade

Para um sociólogo entrevistado pela Lusa, “a acção na MUST” tratou-se de um acto isolado, não existindo “uma dinâmica em Macau que motive as pessoas a saírem para a rua”.

O docente, uma das várias pessoas entrevistadas para este trabalho que não quis divulgar a identidade – “este é um tema muito sensível” – apontou diferenças entre a população de Macau e de Hong Kong, onde, na segunda-feira, estudantes protestaram contra as medidas de contenção da pandemia na China.

“A população [de Hong Kong] está mais cansada do que a de Macau e algumas pessoas são mais sensíveis do que aqui”, disse. “Ao receber-se dinheiro do Governo, existe a obrigação de não se ter voz”, concretizou.

Também o silêncio da comunicação social local pode justificar o alheamento da população de Macau, reforçou o politólogo Eilo Yu. Mas ressalvou: “Se a situação piorar e for feito barulho junto da comunidade internacional, então acredito que mais residentes de Macau se apercebam da campanha e das manifestações e isso poderá gerar algum tipo de empatia”, referiu.

No mesmo sentido, o deputado português José Pereira Coutinho considerou que os média em Macau estão a falhar: “Muitas vezes nem sequer relatam questões que os deputados levantam bastante sérias”. E completou, referindo-se aos protestos: “Quanto mais aquilo que está no interior do continente”.

O também presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública, para quem a situação em Macau “não está tão mal ao ponto de as pessoas saírem à rua”, defendeu ainda que não é com manifestações “que se resolvem os problemas”.

Lei da rolha

A Lusa contactou outros dois académicos para este trabalho, mas sem sucesso. Num email, uma outra docente universitária disse não acreditar que as manifestações se alastrem a Macau, porque além de as medidas de prevenção pandémica não serem “tão duras”, em comparação com o outro lado da fronteira, “para a maior parte das pessoas em Macau a mobilidade não é tão importante”.

“A passagem fronteiriça para Zhuhai [cidade adjacente a Macau] continua a ser frequente apesar dos inconvenientes e para aqueles que pensam que a mobilidade internacional é importante provavelmente já deixaram Macau nos últimos dois anos ou estão tristemente a pensar deixar”, indicou.

A académica, que também não quis ver o nome referido neste texto, lamentou que a instituição para a qual trabalha “desencoraje os professores a falarem com a comunicação social”. Antes, “o nosso contributo com conhecimento e perspectivas era considerado um serviço à comunidade e à sociedade de Macau. Sinto-me bastante chateada e enfraquecida”, concluiu.

5 Dez 2022

Jiang Zemin | Governo e Função Pública observam três minutos de silêncio

O Governo e os principais titulares de cargos públicos vão observar amanhã três minutos de silêncio durante a cerimónia memorial em homenagem ao antigo Presidente da China Jiang Zemin.

“Todos os funcionários públicos irão cumprir também os três minutos de silêncio e as sirenes das embarcações e as buzinas das viaturas do governo irão soar durante três minutos, à mesma hora que na cerimónia memorial em homenagem” de Jiang Zemin, falecido na quarta-feira, de acordo com um comunicado do Gabinete de Comunicação Social.

As cerimónias fúnebres do antigo Presidente chinês Jiang Zemin estão marcadas para as 10h, e vão realizar-se em Pequim no Palácio do Povo.

O Governo, dirigido por Ho Iat Seng, determinou ainda que “os titulares dos principais cargos da RAEM [Região Administrativa Especial de Macau], os membros do Conselho Executivo e os dirigentes dos serviços públicos, assistam juntos à transmissão directa da cerimónia memorial, cumprindo três minutos de silêncio”.

A transmissão directa da cerimónia memorial é assegurada pela Teledifusão de Macau (TDM).
O Executivo determinou ainda que na terça-feira “todos os titulares dos cargos públicos do Governo” não vão participar “em actividades públicas de entretenimento e todas as actividades de entretenimento e de carácter celebrativo organizadas ou subsidiadas pelo governo serão suspensas”.

Também a Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude vai coordenar com as instituições do ensino superior, não superior e do ensino infantil a colocação de bandeiras a meia haste amanhã e a suspensão de todas as celebrações.

“As escolas devem organizar, de acordo com as suas condições, os professores e os alunos para que estes cumpram os três minutos de silêncio à mesma hora que na cerimónia memorial”, acrescentou.

5 Dez 2022

Segurança Nacional | Novo diploma pronto a aplicar com urgência

O Conselho Executivo de Macau anunciou na sexta-feira a conclusão da discussão sobre a nova lei de segurança do Estado. A proposta de lei segue agora para a Assembleia Legislativa para ser aprovada e “aplicada o mais breve possível”

 

“Com vista a preencher as lacunas do sistema jurídico, a obter protecção contra os riscos de segurança e a melhorar o nível de aplicação de lei, a proposta da revisão de lei deve ser aplicada o mais breve possível”, pode ler-se no documento distribuído em conferência de imprensa.

Na mesma nota sugere-se “aditar as disposições relativas à atribuição do carácter urgente aos procedimentos para a execução da Lei relativa à defesa da segurança do Estado e ao seu tratamento confidencial dos processos, que, juntamente com as disposições de procedimento penal e as medidas preventivas acima mencionadas, são aplicáveis também aos crimes contra a segurança”.

O Governo de Macau avançou em Agosto com a consulta pública sobre revisão legislativa da lei da segurança nacional, que durou até 5 de Outubro, tendo recebido quase seis mil opiniões.

Na sexta-feira, durante a conferência de imprensa do Conselho Executivo, o secretário para a Segurança informou que a lei que vai ser agora remetida para a Assembleia Legislativa é essencialmente a mesma que foi para consulta pública, apenas com alguns “ajustes técnicos e nos termos”.

Wong Sio Chak garantiu ainda que a lei está em sintonia com os pactos internacionais aplicados em Macau e que procura proteger os direitos fundamentais da população, mas que tal não significa que as pessoas possam atentar contra a segurança do Estado.

A nova lei prevê, entre muitas outras disposições, punir qualquer pessoa no estrangeiro que cometa crimes contra a segurança nacional da China.

Lista de crimes

As autoridades anunciaram que querem “introduzir adaptações para sancionar legalmente qualquer indivíduo, organização ou associação que pratique actos prejudiciais à segurança do Estado através das diversas formas de ligação”.

O crime de secessão de Estado passa a englobar a utilização de meios ilícitos não violentos. O crime de “subversão contra o Governo Popular Central” passa a ter uma maior abrangência e a ser definido como “subversão contra o poder político do Estado”.

Ao crime de sedição acrescenta-se que “é punível criminalmente quem, pública e directamente, incite à prática do crime de rebelião que prejudique a estabilidade do Estado”. O crime de “subtracção de segredo de Estado” passa a denominar-se de “violação de segredo de Estado”, com uma maior abrangência e agravamento da sanção.

Com a nova legislação propõe-se criar o crime de “instigação ou apoio à sedição”, para se “reforçar a política penal de defesa da segurança nacional e criminalizar de forma independente a instigação ou a assistência relacionada”.

Dados e emprestados

Outra proposta passa por criar “a medida preventiva de ‘intercepção de comunicação de informações’”, que, na prática, significa a possibilidade de aceder ao registo de comunicações dos últimos seis meses directamente de operadores de telecomunicações e prestadores de serviços de comunicações em rede.

Na nova legislação prevê-se igualmente a introdução da medida de “restrição temporária de saída de fronteiras”, o que na prática possibilita que alguém seja detido sem ainda ter sido constituído arguido, “de modo a garantir que os suspeitos possam cooperar com as autoridades policiais na investigação e recolha de provas num período de tempo relativamente curto”.

Com a revisão legislativa pretende-se também passar a exigir o fornecimento de dados de actividades às organizações ou pessoas suspeitas em Macau, ficando apenas de fora quem goze de imunidade diplomática.

As autoridades pretendem ainda criar disposições idênticas às previstas na Lei da Criminalidade Organizada, na qual se determina a inexistência da suspensão da pena e a aplicação ao arguido da medida de prisão preventiva pelo juiz.

5 Dez 2022

Crise | Deputado interroga-se de haverá emprego para portugueses em Macau

Pereira Coutinho disse, em entrevista à Lusa, ter dúvidas sobre a continuidade de oportunidades de emprego no território para portugueses, tal como acontecia no passado, lamentando a saída de quadros qualificados lusos. Além disso, vinca a tradicional proximidade entre políticos e interesses económicos e a necessidade de transparência governativa

 

“Nada foi alterado quanto à política dos portugueses virem para cá trabalhar”, sublinhou. Mas, “será que existirão empregos para os portugueses virem para Macau?”, perguntou, para concluir: “Essa é que é a grande dúvida”, apontou o deputado José Pereira Coutinho, em entrevista à Lusa.

Em causa está a crise económica, desencadeada pelas restrições pandémicas, mas também a saída de quadros qualificados portugueses, que não são substituídos por outros vindos de Portugal, mas por quadros locais ou do interior da China, salientou.

“Preocupa-me (…) a vinda de, por exemplo, mais médicos especialistas, mais juristas, mais delegados do MP [Ministério Público], mais juízes para Macau”, explicou. “Quando verifico no Boletim Oficial a saída de um ou outro desses senhores que estão a contribuir com a sua área pessoal de especialidade nessas vertentes, e não são substituídos, aí dói-me, porque, de facto, é menos um, mais uma perda”, lamentou.

Trabalho de bastidores

Ainda assim, ex-conselheiro das comunidades portuguesas e deputado da Assembleia Legislativa destacou o “excelente trabalho” do “Governo de Portugal, nomeadamente do cônsul-geral” nesta área, “a dizer que Portugal tem quadros qualificados para dar esses contributos”.

Vê com bons olhos os protocolos de cooperação firmados entre Portugal e Macau ao nível da educação, sobretudo ao nível do ensino superior, mas permanece a “preocupação quando nos departamentos de estudos portugueses não são preenchidas as vagas com professores portugueses” no território, que tem registado uma subida da taxa de desemprego, com muitos deputados, associações e as autoridades a defenderem uma política prioritária de contratação local.

Pereira Coutinho sustentou que, por esta razão, “é preciso fazer algum trabalho de bastidores” e que “esse trabalho compete às autoridades (…) de Portugal, delegados, cônsul-geral, e também os conselheiros da comunidade portuguesa, que estão a fazer um excelente trabalho”.

O deputado disse estar convencido de que as regras pandémicas não vão durar eternamente e que esse não será, por isso, o factor que vai determinar o abandono do território no futuro. “[Mas] Vejo de uma outra perspectiva: é se as oportunidades de emprego continuarão a existir como no passado. Aí sim, preocupa-me bastante, quando não substituem as pessoas nas áreas que acabei de referir”, enfatizou.

“Quando sai um português é evidente que não têm aquele cuidado de substituir por um outro português, para marcar a diferença”, uma realidade que tem o risco de tornar Macau como mais uma cidade do Interior da China, alertou, sem que se acautele o estatuto diferenciador da multiculturalidade.

“Esse património humano tem de ser mantido e aí estamos de facto a ficar de alguma forma preocupados porque não sei se é desleixo ou também porque há grande procura para preencher as vagas na função pública. Em Macau toda a gente quer trabalhar na Função Pública. E agora ainda muito mais, porque as receitas dos casinos estão a diminuir”, argumentou.

Coração apertado

Apesar de estar convicto numa mudança a breve prazo das restrições pandémicas e numa eliminação das quarentenas obrigatórias nos hotéis, que tem defendido na Assembleia Legislativa, o deputado admitiu que a política de prevenção tem contribuído para algum mal-estar na comunidade.

“Existem tantos portugueses que não estão a ver os pais há anos. Três anos e tal. Têm pais idosos. [Com] 80, 90 anos de idade. Têm filhos nas universidades europeias com os quais não têm contactos pessoais”, realçou.

“Tudo isto somado, faz com que algumas pessoas sintam efeitos psicológicos, sobretudo aquelas que olham para a televisão e vêem o mundo inteiro a voltar à normalidade”, resumiu, para de seguida expressar um lamento: “É pena que esta pandemia não tenha facilitado a saída das nossas autoridades competentes nas diversas áreas. Não têm ido para o estrangeiro, espero que saiam, vejam o mundial [de futebol]. Ninguém com máscara e nós andamos ainda com máscaras na rua”.

Tudo na mesma

O deputado disse ainda que será difícil no futuro ter uma maioria dos parlamentares eleitos democraticamente em Macau.

“Antes do estabelecimento da RAEM [Região Administrativa Especial de Macau] foi uma pena não ter sido alterado, de forma a que a maioria dos deputados na Assembleia Legislativa (…) sejam eleitos pela via directa”, sustentou Pereira Coutinho.

“Não foi assim no passado na administração portuguesa, não foi assim após o estabelecimento da RAEM e até à presente data, e não vai ser fácil no futuro termos uma Assembleia Legislativa [com deputados] maioritariamente eleitos pelo voto democrático”, afirmou o parlamentar, que nas eleições do ano passado conseguiu tornar a sua lista na terceira força política na AL, numas eleições marcadas pela exclusão dos candidatos associados ao campo pró-democracia.

A Assembleia Legislativa é constituída por 33 deputados, 14 dos quais eleitos directamente pela população, 12 por sufrágio indirecto (através das associações) e sete nomeados pelo Chefe do Executivo. Por outro lado, Pereira Coutinho lamentou que até hoje não exista “um regime específico de [declaração] de conflito de interesses”.

“É um regime [em] que tenho estado a trabalhar nos últimos 20 anos em Macau para que as coisas sejam mais transparentes, para que saibamos quem é quem cá em Macau, o que está por trás, quais são as suas responsabilidades, quais são as suas empresas, que funções exercem em determinadas associações”, explicou.

O deputado afirmou que “há deputados que nem habilitações académicas e profissionais põem lá no seu perfil individual da Assembleia Legislativa”. E insistiu na crítica: “Macau foi sempre, no passado, no tempo da administração portuguesa, uma teia de interesses, de conflito de interesses no seu dia-a-dia. Porque é que as pessoas querem ser deputados? Porque de facto facilita a vida do empresário, da sua actividade comercial, e isto foi sempre assim no passado, no tempo da administração portuguesa, e continua a ser agora”.

Imaculados elefantes

Afectada pela crise económica causada pela pandemia de covid-19, Pereira Coutinho garantiu que a população está atenta ao dinheiro desperdiçado pelos responsáveis políticos em projectos megalómanos, nos “elefantes brancos” que têm impacto no erário público, sobretudo quando a sociedade sente cada vez mais na pele o desemprego, sobretudo o juvenil, num território em que a população está a envelhecer, em que há falta de contribuições sociais, em que as receitas do jogo não são suficientes para cobrir as despesas e em que as reservas financeiras estão a diminuir.

Ainda que as pessoas vivam naquela que “continua a ser a cidade mais segura do mundo”, hoje há cada vez mais uma grande pressão psicológica”, num território em que a questão da habitação foi sempre um grande problema, mas que foi agora substituído por um “muito mais grave”. Ou seja, precisou, o desemprego, que trouxe ainda ‘à boleia’ outras adversidades, umas mais locais, outras potenciadas pelo cenário de crise mundial, como “a inflação, a subida dos preços e dos bens essenciais, a perda da qualidade de vida e do poder de compra”.

“E isto tem afetado tanto que se está a repercutir na sociedade com o número de suicídios, no aumento de pessoas a pedir os cestos de comida”, argumentou, ressalvando que o aumento em Macau no número de suicídios durante o período pandémico tem “várias causas”.

“Nós sabemos que muitas dessas causas têm a ver com altercações familiares, as reduzidas dimensões das habitações, o trabalho parcial, as dificuldades de pagar as amortizações, as rendas e os sustentos dos filhos”, elencou, sustentando que “há uma série de problemas que advêm das regras pandémicas extremamente rigorosas e que têm feito com que as pessoas (…) não tenham receitas suficientes para ultrapassar as dificuldades”.

Pereira Coutinho defendeu que resta “ter esperança que as regras pandémicas sejam eliminadas, que a vida normalize” e que “haja mais turistas, que se crie mais riqueza através das pequenas e médias empresas” e que “Macau seja cada vez menos dependente (…) do jogo, de acordo com aquilo que está planeado pelo Governo nos próximos dez anos, e que não vai ser fácil”, admitiu.

5 Dez 2022

‘Startups’ portuguesas em contacto com investidores da Grande Baía

Seis ‘startups’ portuguesas apresentaram esta quarta-feira os negócios a fundos de capital de risco na China, numa sessão ‘online’ promovida para “abrir portas” ao investimento na região chinesa da Grande Baía.

“Estamos à procura de investimento e conhecimento, especialmente no mercado chinês, onde não temos contactos. Estamos à procura de alguém para estabelecer essa ponte”, disse durante a sessão “928 Invest Connect” Gabriela Gonçalves, representante da ProBio Vaccine, empresa portuguesa que desenvolve vacinas orais para peixes em aquacultura.

Renee Pan, do fundo de investimento Gobi China, foi uma das intervenientes a abordar a empresa portuguesa, questionando se a estratégia de entrada no gigante asiático pode passar “por alianças com empresas locais”.

Gabriela Gonçalves respondeu afirmativamente e realçou que os parceiros chineses podem dar apoio com informação e “estabelecer plataformas para incorporar a vacina na alimentação dos peixes, fornecendo-a aos agricultores locais”.

Entre as empresas presentes na sessão, esteve também a Inclita Seaweed Solutions (ISS), negócio de biotecnologia marinha que desenvolve ingredientes funcionais à base de extractos de algas.

Desafios no mercado

A ProBio Vaccine e a ISS são duas das seis finalistas do “928 Challenge”, uma competição para ‘startups’ entre os países de língua portuguesa e a China, explicou à Lusa Marco Rizzolio, cofundador da 928.

“Pegámos nas melhores [‘startups’] portuguesas que estiveram nas finais e criámos este pós-evento”, notou Rizzolio, observando que a ideia é “abrir portas” aos candidatos para o mercado chinês.

“Para quem está no mundo das ‘startups’ sabe que captar investimento é muito complicado, o processo é difícil, é um mundo muito fechado”, realçou.

Marco Rizzolio espera ainda que a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), um dos coorganizadores desta bolsa de contactos, possa fazer a apresentação das empresas a investidores da China, “o segundo maior mercado do mundo de fundos de capital de risco”.

Mário Ferreira, diretor da AICEP em Guangzhou, capital da província de Cantão, assumiu-se como “uma espécie de engenheiro que quer construir novas pontes entre Portugal e a China” e expressou disponibilidade para apoiar as empresas de Portugal no diálogo.

De acordo com a organização este foi o “primeiro contacto entre equipas [de ‘startups’] portuguesas e investidores da área da Grande Baía”.

2 Dez 2022

Indonésia | Portuguesa Vision-Box vai instalar equipamentos em quatro aeroportos

A empresa portuguesa Vision-Box venceu um concurso internacional para instalar nova tecnologia biométrica para controlo automático de fronteiras em quatro aeroportos da Indonésia, incluindo Jacarta e Bali, disse um responsável da empresa.

Pedro Pinto, responsável global de Desenvolvimento de Negócio da Vision-Box, disse à Lusa num contacto telefónico a partir de Jacarta, que o projecto segue o sucesso da primeira instalação da empresa levada a cabo em 2017 num dos terminais do aeroporto internacional de Jacarta.

“Tivemos muito sucesso nessa instalação em 2017. Há agora uma estratégia muito agressiva do Governo de conseguirem abrir novamente para o turismo e querem que todo o processo de chegadas e partidas seja o mais simples e eficaz possível, para reduzir as filas de espera na imigração”, explicou à Lusa.

“Com um parceiro local respondemos a um concurso publico internacional e fomos seleccionados para implementar nova tecnologia biométrica para controlo automático de fronteira”, disse.

Pedro Pinto sublinha que para a Vision-Box o foco de internacionalização está agora virado para a Ásia, tendo a empresa vencido um concurso internacional para cinco aeroportos no Vietname, e mantendo a presença em países como a Malásia, o Japão e outros, incluindo, eventualmente no futuro, Timor-Leste.

“A Indonésia é um país com imenso potencial para o nosso crescimento orgânico, com 200 milhões de pessoas, 30 aeroportos, grande potencial de crescimento orgânico”, disse, destacando o apoio da diplomacia económica da Embaixada de Portugal em Jacarta.

Boas ligações

O responsável da empresa – com sede em Lisboa, mais de 500 funcionários de 25 nacionalidades em todo o mundo e vários projectos em curso em várias geografias – disse que Portugal é “um país muito bem visto” na Indonésia e na região “com uma “boa reputação tecnológica”.

“O nome de Portugal nas tecnologias é bem visto em todos os 35 países onde estamos. Há muitas empresas tecnológicas portuguesas com imenso potencial e começamos a ver cada vez mais empresas a iniciarem o processo de internacionalização”, disse.

Pedro Pinto falava à Lusa à margem de um almoço que reuniu ontem em Jacarta o secretário de Estado para a Internacionalização, Bernardo Ivo Cruz, responsáveis de empresas portuguesas com negócios na Indonésia, a Câmara de Comércio e Indústria Indonésia – Portugal, e a EuroCham Indonesia, a Câmara de Comércio Europeia na Indonésia.

“É mais um sinal de que Portugal é um país que está na primeira linha da 4.ª e 5.ª revoluções industriais. O que a Vision-Box faz é de primeira linha e qualidade em qualquer lugar do mundo”, afirmou.
Bernardo Ivo Cruz está numa digressão pela região, que inclui já uma visita a Timor-Leste. De Jacarta partiu para Singapura.

2 Dez 2022

André Carrilho premiado nos EUA com livro “Senhor Mar”

O autor português André Carrilho foi distinguido nos Estados Unidos, pela Society of Illustrators, pelas ilustrações para o livro “Senhor Mar”, foi quarta-feira comunicado aos vencedores.

Embora aquela organização norte-americana não tenha ainda divulgado os autores distinguidos na 65.ª competição anual “Illustrators”, os premiados foram notificados e André Carrilho partilhou nas redes sociais que recebeu a medalha de ouro na categoria de livro ilustrado pelo livro “Senhor Mar”.

O trabalho premiado fará parte da exposição anual de ilustração da Society of Illustrators, em Nova Iorque, em data a anunciar, e do catálogo anual do prémio.

“Senhor Mar”, publicado em Junho passado pela Bertrand, é o segundo livro ilustrado de André Carrilho para a infância. O livro é sobre uma menina que, na praia, quer saltar para as ondas, mas tem de ouvir os conselhos dos pais e respeitar o mar.

“Estava na praia com a minha filha e ela queria atirar-se para dentro do mar, com umas ondas muito grandes, sem se aperceber do perigo. E comecei a conversar com ela sobre as características do mar, sobre os perigos, as coisas boas, as coisas más. (…) Quando lhe disse que tinha de respeitar e ter cuidado, para não se atirar às ondas, ela disse: ‘Eu tenho cuidado, senhor mar'”, explicou André Carrilho, à agência Lusa.

Novos caminhos

“Senhor Mar” saiu dois anos depois de André Carrilho ter publicado “A menina com os olhos ocupados”, já distinguido com vários prémios, nomeadamente o Prémio Nacional de Ilustração e uma medalha de ouro também da Society of Illustrators.

Os dois livros têm pontos de contacto: ambos são protagonizados por uma menina, estão escritos em rima, há uma relevância maior da ilustração, feita em aguarela e trabalhada em digital, e uma temática subjacente à narrativa.

Com mais de duas décadas de trabalho na ilustração, em animação e sobretudo em caricatura e cartoon, áreas que lhe valeram vários prémios internacionais, André Carrilho encontrou no livro ilustrado um caminho novo de trabalho.

“Com o primeiro livro percebi que os leitores mais novos são leitores mais atentos e vivem os livros de uma maneira que acho muito interessante e gratificante. Foi um livro muito pessoal que fiz sem ter nenhuma espécie de expectativa de retorno. O que me fez pensar foi que quanto mais pessoal for, e quanto mais coisas fizer que me são caras, talvez seja um bom caminho de futuro, uma boa maneira de orientar a minha carreira”, disse.

2 Dez 2022

Covid-19 | Pequim admite que Ómicron é menos virulenta e sinaliza fim de ‘zero casos’

A vice-primeira-ministra chinesa encarregue de supervisionar as políticas de prevenção epidémica reconheceu ontem que o país se encontra numa “situação nova” e que a virulência da covid-19 “está a enfraquecer”, sinalizando o fim da estratégia ‘zero casos’.

Sun Chunlan “ouviu as opiniões e sugestões dos especialistas” da Comissão Nacional de Saúde da China sobre como “aprimorar as medidas de contenção”, informou a agência noticiosa oficial Xinhua.

Além de a variante Ómicron da covid-19 ter uma virulência “reduzida”, a responsável salientou que “cada vez mais pessoas estão a ser vacinadas” e que “está a ser acumulada maior experiência na contenção do vírus”.

Foi a Sun – a única mulher no Politburo do Partido Comunista Chinês – que coube o papel de se deslocar às cidades que registavam surtos do novo coronavírus, para instar à imposição de confinamentos e restrições, nos últimos dois anos.

A responsável pediu agora esforços para “optimizar” a resposta contra a covid-19 e “melhorar” as medidas de diagnóstico, detecção, tratamento e quarentena, exigindo que o sistema de saúde aumente as reservas de medicamentos e outros recursos, para o tratamento de pacientes.

2 Dez 2022

UE | Xi Jinping assegura que “não existem conflitos estratégicos” entre Pequim e Europa

O Presidente chinês, durante o encontro com o representante do Conselho Europeu, Charles Michel, reafirmou a vontade do país estreitar laços com o velho continente e de trabalhar em conjunto para a construção de um mundo mais harmonioso e pacífico

 

O líder chinês, Xi Jinping, assegurou ontem, em Pequim, que “não existem conflitos estratégicos” entre a China e a União Europeia e que ambas as partes devem “reforçar a comunicação”, num encontro com o Presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.

“Não existe conflito estratégico entre a China e a União Europeia [UE]”, afirmou o Presidente chinês, de acordo com um comunicado divulgado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros da China. “Devemos reforçar a coordenação em questões macroeconómicas, garantir em conjunto cadeias de fornecimento estável, construir alicerces para a economia digital e proteger o meio ambiente”, acrescentou.

Xi enfatizou que ambos os lados devem opor-se à “desassociação entre economias, a uma nova guerra fria ou ao proteccionismo comercial”. “A China vai permanecer aberta às empresas europeias e espera que a UE elimine a interferência e forneça um ambiente de negócios justo e transparente para as empresas chinesas”, acrescentou.

Laços fortalecidos

Segundo Xi Jinping, a China deseja que a UE se torne num “parceiro importante” para o país asiático, para que ambos “aproveitem as oportunidades de mercado que vão surgir”.

“Devemos esclarecer que não há diferenças estratégicas ou conflitos fundamentais entre os dois. A China não quer dominar ninguém e apoia a UE a manter uma estratégia autónoma”, frisou, numa referência aos laços entre a Europa e Estados Unidos.

“Esperamos que as instituições europeias e os seus Estados-membros possam ter uma compreensão objectiva e correcta da China e aderir a uma política de coexistência e cooperação pacíficas”, acrescentou.
Xi Jinping acrescentou que, mesmo que “haja diferenças em alguns assuntos”, ambos os lados devem “manter uma comunicação construtiva”.

“A chave é respeitar as preocupações e interesses de cada um, especialmente em relação à soberania e integridade territorial, e não interferir nos assuntos internos da outra parte”, afirmou Xi, antes de assegurar que Pequim está “pronta” para manter o Diálogo China – UE sobre os Direitos Humanos, “com base na igualdade e no respeito mútuo”. “Quanto mais turbulento o mundo se tornar e quanto mais desafios globais enfrentarmos, mais significativas serão as relações entre nós”, afirmou.

Em relação à guerra na Ucrânia, Xi disse que uma solução “política” é do “melhor interesse da Europa e dos países da Eurásia”. “É necessário evitar uma escalada ou um aprofundamento da crise”, disse.

“Persistimos na promoção do diálogo para a paz e no controlo dos efeitos indirectos da crise. A China apoia a UE a mediar e liderar a construção de uma arquitectura de segurança europeia equilibrada, eficaz e sustentável. A China está sempre do lado da paz e continuará a desempenhar um papel construtivo à sua maneira”, apontou.

Do outro lado

De acordo com o comunicado das autoridades chinesas, Charles Michel disse a Xi que a UE respeita a política de ‘Uma só China’ e que deseja “reforçar a comunicação”, para “reduzir mal-entendidos” e “enfrentar desafios no âmbito da energia, saúde e clima”.

“O lado europeu está disposto a continuar a promover o processo para chegar a um acordo de investimento entre ambas as partes”, disse o presidente do Conselho Europeu, sobre o acordo que está congelado há mais de um ano.

2 Dez 2022

UM | Criado prémio Henrique de Senna Fernandes

Henrique de Senna Fernandes, conhecido escritor macaense, dá nome ao mais recente prémio académico criado pela Universidade de Macau (UM).

Segundo disse à TDM Rádio Macau o vice-reitor da instituição, Rui Martins, a distinção visa reconhecer as melhores teses de mestrado e doutoramento na área do Direito e Estudos Portugueses, tendo um valor de dez mil patacas.

No primeiro ano de funcionamento do prémio, foram escolhidas uma tese de doutoramento defendida no departamento de português da UM e uma tese de mestrado da Faculdade de Direito. Para esta edição foram seleccionadas teses dos últimos dois anos, embora este prémio seja anual.

2 Dez 2022

Macau Legend | So Ka Man é o novo representante da empresa

A Macau Legend tem um novo secretário e representante, desde ontem. De acordo com um documento apresentado pela empresa à Bolsa de Valores de Hong Kong, So Ka Man passa a ser o representante da Macau Legend.

O responsável conta no currículo com duas décadas de experiência executiva, e é “actualmente director de serviços corporativos da Tricor Services, empresa especializada em planeamentos integrados de negócios e serviços de investimento”, é indicado no documento.

So Ka Man ocupa o lugar deixado em aberto pela saída de Tsang Ka Hung, anterior secretário e representante da empresa, que levou a Macau Legend a anunciar no início de Outubro não estar em condições de respeitar os regulamentos da Bolsa de Valores de Hong Kong. No passado mês de Setembro, foi revelado que a empresa responsável pelo hotel Legend Palace e pela Doca dos Pescadores estaria em situação de incumprimento perante créditos nos bancos Luso e CMB Wing Lung.

2 Dez 2022

Obras públicas | Li Canfeng negou dar cobro a interesses ilegítimos

O antigo diretor da Direcção dos Serviços de Solos e Obras Públicas (DSSOP), Li Canfeng, negou ontem em tribunal ter dado cobro a quaisquer interesses legítimos ao aprovar projectos ou na tomada de decisões.

Em mais uma sessão de julgamento, foi abordada a transferência dos bens que estavam em nome de Li Canfeng antes deste assumir o cargo. A acusação afirma que o antigo dirigente passou para o nome da companheira a maioria dos bens, bem como para Li Han, também arguida no processo. No entanto, após ter-se tornado director da DSSOP, Li Canfeng adquiriu 11 casas a, precisamente, Li Han e à sua companheira.

O jornal Ou Mun escreve que Li Canfeng negou dar cobro a interesses porque, quando adquiriu as casas, fê-lo sem nenhum desconto no valor. Questionado sobre se enganou o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, e o ex-Chefe do Executivo, Chui Sai On, na aprovação dos projectos para os lotes TN20 e TN24, na zona da Taipa Grande [próximo da avenida Dr. Sun Yat-sen], Li Canfeng disse que não, uma vez que os membros do Conselho do Planeamento Urbanístico não se mostraram contra o projecto em causa.

Mais tarde, quando já decorria a investigação, Chui Sai On emitiria um despacho de confirmação do projecto, tendo Li Canfeng acrescentado que Raimundo do Rosário, por ser muito profissional, jamais poderia ter sido enganado por ele.

A sessão de ontem ficou ainda marcada pelas explicações do antigo director da DSSOP sobre a venda de acções. Li Canfeng adiantou que era necessário desfazer-se das acções que detinha em cinco empresas por estar prestes a assumir um cargo público, e que vendeu algumas das participações que detinha, sem intenção de esconder dados ou detalhes do processo.

2 Dez 2022

Da inquietação ou o inexplicável brinco de pérola

Por Carlos Coutinho

 

Estamos todos a ver bem o inexplicável brinco de pérola que Johannes Vermeer pendurou na orelha daquela rapariga de olhar misterioso que nos encara com a maior das complacências? Por incrível que pareça, no mesmo dia que o pintor flamengo, mas exactamente 277 anos antes, tinha igualmente nascido, mas em Coimbra, o nosso rei “Formoso”. Dá para nos pôr a matutar esta coincidência? Porque não?

Ora, talvez não seja completamente inapropriado recordar que Fernão Lopes definiu D. Fernando como um “amador de mulheres e chegador a elas”, um monarca verdadeiramente “Inconstante” que, no entanto, padecia de uma obsessão permanente pela caça. Para ele, a vida da corte era a condenação a um tédio mortal que só podia ser aliviado com perseguições implacáveis a fidalgas, lebres e pombos.

Não me venham cá com histórias. A ordem universal possui as suas próprias leis e a verdade é que Vermeer era casado com uma mulher quase-megera e tinha de pagar as contas todas da família. Foi isso que o livrou do tédio? Não creio.

O pintor de Delft aprendeu cedo, bem à sua custa, a refugiar-se no mundo imaginário de “A Leiteira”, ou de “A “Mulher de Azul Lendo Uma Carta”, ou de “O Copo de Vinho”, ou de “A Alcoviteira”, ou do enigma metafísico que lhe era facultado secretamente pelo olhar daquela rapariga que nunca viria a conhecer Freud.

Ou seja, um clarão suave que nada perde com a vizinha exuberância dos panejamentos que o rodeiam nem, sobretudo, a verticalidade absurda daquele lenço que se destina a contrapor a cor do marfim à do tecido marítimo que lhe envolve a cabeça. Metade do barrete, metade da orelha e mais de terços da pérola ficam na sombra.

Porquê?

E o juvenil carmim daqueles túmidos lábios entreabertos que furor disfarça? E o colarinho branco está ali para mostrar que basta uma pequena fracção da pérola iluminada para demonstrar que a luz, mesmo sendo incorpórea, pode conter a noção precisa de qualquer paraíso?

Não faço a mínima ideia, mas não me custa a crer que lampejos destes possam ser suficientes para tresloucar um Fernando Inconstante ou salvar da loucura um génio mal remunerado que trabalha humildemente numa pequena reentrância de um minúsculo país quase submerso.

E o que agora me inquieta – desculpem-me esta tentação de repetir, por tudo e por nada, o título de uma novela minha – é a ameaça que temos sobre a cabeça: os quatro elementos estruturais da vida e do cosmos – a terra, o fogo, o ar e a água – tentam nitidamente recolocar-se sob o arbítrio dos deuses que, como se sabe, nunca dão ponto sem nó.

As alterações climáticas e a sobrevivência das religiões devem, portanto, ser entendidas como um sério aviso, tanto da iminência da cegueira saramagueana como do prosseguimento do desvario da sua imparável Blimunda.

O inexplicável brinco de pérola.

1 Dez 2022

Covid-19 | Número de casos continua a aumentar

A dinâmica de infecções de covid-19 acelera em Macau. Ontem, foram detectados mais seis casos positivos que se juntam aos noticiados anteriormente aquando do episódio do taxista. Além da descoberta de uma mulher de 62 anos que trabalha no restaurante onde o taxista tomava o pequeno-almoço, foram anunciados pelo Centro de Contingência, durante a noite, mais seis ocorrências.

O primeiro caso foi detectado numa mulher de 68 anos, residente em Macau, esposa do homem de 69 anos com resultado positivo no teste de ácido nucleico, anunciado na madrugada de quarta-feira.

O segundo caso diz respeito a um homem de 77 anos, residente em Macau, aposentado, e que reside no Edf. Tim Yee, situado na Calçada Central de S. Lázaro. O doente em causa tomou pequeno-almoço no Estabelecimento de Comidas “Tong Kei” e teve o mesmo itinerário que o taxista com resultado positivo.

Outro caso anunciado, diz respeito a um homem de 36 anos, residente do Interior da China, que reside no Bloco 3 do Edf. Cerese, situado na Avenida do Coronel Mesquita, e é operador na Ponte-cais n.º 5 do Porto Interior. A esposa, de 29 anos, funcionária do Departamento de Recursos Humanos do Casino Wynn, foi igualmente diagnosticada como positiva.

Alem disso, foram diagnosticados dois casos relacionados com os casos importados nas zonas sob controlo (os dois estão sob controlo desde o dia 28 de Novembro), daí o risco de transmissão comunitária ser relativamente baixo, afirma o Centro de Contingência.

1 Dez 2022

Escolhida equipa que vai representar Macau na Bienal de Arquitectura de Veneza

Está escolhida a equipa que vai representar a RAEM na 18ª Bienal de Arquitectura de Veneza, que será composta por Jimmy Wardhana, Choi Wan Sun, Lin Ian Neng e Tong Tou U, de acordo com o anúncio divulgado na terça-feira pelo Instituto Cultural.

A selecção foi apurada através de um concurso de propostas intitulado “Exposição para a “18.ª Exposição Internacional de Arquitectura La Biennale di Venezia – Evento Colateral de Macau, China”, organizado pelo Museu de Arte de Macau (MAM), sob a tutela do IC e co-organizada pela Associação dos Arquitectos de Macau.

O IC indica que “o evento colateral, sob o tema ‘RECALIBRAGEM – Exploração da Cultura Arquitectónica Contemporânea de Macau’, visa abordar o desenvolvimento urbano e arquitectónico de Macau.

O júri que analisou as propostas foi composto pela presidente do Instituto Cultural, Leong Wai Man e por quatro arquitectos experientes de Hong Kong e Macau, incluindo o ex-Presidente da World Association Chinese Architects, Arquitecto Eddie Wong Yue Kai, o presidente do Conselho Geral da Associação dos Arquitectos de Macau, Carlos Marreiros. Contaram-se também entre os jurados o director da Macau Renovação Urbana, S.A., C. Y. Wong e fundador do Atelier Global Limited, o arquitecto Frankie Lui, realizou duas rondas de avaliação rigorosa das nove propostas de exposição apresentadas ao concurso.

Pódio local

O Prémio de Ouro foi entregue a Jimmy Wardhana pelo projecto “RECALIBRAGEM – Exploração da Cultura Arquitectónica Contemporânea de Macau”. Enquanto o Prémio de Prata e o Prémio de Bronze foram atribuídos respectivamente a Alexandre Leong Marreiros, pela proposta “Bamborella”, e a Sou Un Teng, pela proposta “Uma Polegada de Terra: Separação e Agregação”, afirmou o IC.

Criada em 1980, a Bienal de Arquitectura de Veneza é um dos mais importantes eventos da actualidade no âmbito da arquitectura. Desde 2014, o Instituto Cultural, sob a designação “Macau-China”, coordenou quatro participações de profissionais do sector arquitectónico de Macau e outros especialistas relacionados no evento, tendo colhido sempre comentários positivos. A Organização espera que o evento colateral de Macau, China continue a brilhar e mostrar ao público estrangeiro o encanto diversificado da arquitectura de Macau.

1 Dez 2022

ONU | Xi Jinping felicita reunião que marca solidariedade com Palestina

O Presidente chinês, Xi Jinping, felicitou a reunião da ONU realizada na terça-feira para comemorar o Dia Internacional de Solidariedade para com o Povo Palestino. Numa mensagem, Xi disse que a questão palestina está no centro da questão do Oriente Médio, e uma solução abrangente e justa da questão palestina tem a ver com a paz e a estabilidade regionais, bem como com a equidade e a justiça internacionais.

A coexistência pacífica entre Palestina e Israel e o desenvolvimento conjunto das nações árabes e judaicas são do interesse de longo prazo de ambos os lados e permanecem como uma aspiração comum dos povos de todos os países, disse Xi, citado pelo Diário do Povo.

A comunidade internacional deve aderir à solução de dois Estados, priorizar a questão palestina na agenda internacional e ajudar o povo palestino a realizar o seu sonho de um Estado independente a curto prazo, acrescentou.

Xi enfatizou também que a China apoia de forma consistente e firme a justa causa do povo palestino de restaurar os seus legítimos direitos nacionais, promove activamente as negociações de paz e promove a paz entre a Palestina e Israel.

Como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU e um grande país responsável, a China continuará a trabalhar com a comunidade internacional para fazer contribuições positivas para a paz duradoura, a segurança universal e a prosperidade comum no Oriente Médio, rematou o Presidente chinês.

1 Dez 2022

Foshan | Construída réplica de Macau por 1,5 mil milhões de yuan

A cidade chinesa de Foshan construiu uma réplica de Macau, um investimento de cerca de 1,5 mil milhões de yuan, anunciaram ontem as autoridades locais. A construção em Foshan, localizada a cerca de uma centena de quilómetros de Macau, ficou concluída na terça-feira e deverá abrir ao público em meados do próximo ano.

As autoridades sublinharam que este é o primeiro projecto de integração comercial, cultural e turística ao estilo Macau-Português na vizinha província de Guangdong.

A cidade de Macau em Foshan cobre uma área que ronda os cinco quilómetros quadrados e é constituída por dois grandes grupos: residencial e o distrito comercial ao “estilo Macau-Português”.

Está planeada a introdução de comércio a retalho, gastronomia luso-macaense, actividades culturais, entre outros negócios, com a aposta em atracções turísticas que recuperam essencialmente o centro histórico de Macau e que vão desde as Ruínas de São Paulo até à calçada portuguesa, mas também a Rua do Cunha, situada na ilha da Taipa.

Foshan é uma das cidades da área da Grande Baía, o projecto de Pequim de construir uma metrópole mundial que integra Macau, Honk Kong e nove cidades chinesas da província de Guangdong.
Foshan tem uma área de quase quatro mil quilómetros quadrados e 9,5 milhões de habitantes, de acordo com o Censo de 2020.

Por toda a China, partes de grandes cidades foram transformadas para se assemelharem a destinos ocidentais e cidades inteiras foram inspiradas ou construídas à imagem de locais emblemáticos estrangeiros, tal como Paris (Tianducheng), Hallstatt (Luoyang), Florença (Tianjin e Foshan), Hallstattan (Cantão), Londres (Suzhou), Manhattan (Tianjin), Reino Unido (Songiang), Amesterdão e Países Baixos (Pudong) e Veneza (Dalian).

1 Dez 2022

Financial Times | Magnata Jack Ma está a viver em Tóquio

O patrão da plataforma gigante Alibabba vive há cerca de seis meses na capital nipónica, segundo o Financial Times

 

O bilionário fundador da plataforma de vendas ‘online’ Alibaba, Jack Ma, vive em Tóquio há seis meses, noticiou ontem o jornal Financial Times (FT). A mudança de Ma para o Japão aconteceu, na sequência de críticas, no final de 2020, à burocracia chinesa e do fracasso na oferta pública inicial da empresa de ‘fintech’ Ant Group, agravado pela maior multa ‘anti-trust’ da história da China, imposta por Pequim à Alibaba em Abril de 2021, no valor de 2,8 mil milhões de dólares.

Ma permaneceu na capital japonesa com a família e nos últimos meses viajou para outras zonas do Japão, Estados Unidos e Israel, entre outros países, disseram ao FT fontes próximas do magnata.

A ausência de Ma da vida pública chinesa coincidiu com as novas restrições de prevenção e controlo da pandemia da covid-19, no âmbito da política oficial ‘zero covid’, em algumas das principais cidades do país, incluindo Xangai e Hangzhou, onde fica a sede da Alibaba e onde o empresário também possui uma casa.

Durante a estada em Tóquio, Ma optou também pela discrição e reduziu a vida social a uma série de clubes privados nos bairros mais famosos da capital nipónica, frequentados por outros empresários chineses que vivem no Japão ou que permanecem por longos períodos de tempo no país, de acordo com as mesmas fontes, citadas pelo jornal.

Amigos do negócio

A presença no Japão levou a especulações sobre os movimentos de Ma relacionados com a possível cedência de controlo nas empresas. A gigante tecnológica japonesa Softbank anunciou uma redução da participação na Alibaba de 24,28 por cento para 23,73 por cento, entre Abril e Junho, uma transação que coincidiu com a estada da Ma em Tóquio e trouxe à empresa japonesa lucros de 5,37 triliões de ienes (37,13 mil milhões de euros).

Ma integrou o conselho de administração da Softbank até meados de 2020, enquanto o fundador e CEO do grupo japonês, Masayoshi Son, também ocupou um lugar no conselho de administração da Alibaba.

1 Dez 2022

Hotelaria | Ocupação até Outubro abaixo dos 40%

Até ao final de Outubro deste ano, a taxa de ocupação média dos quartos de hóspedes dos estabelecimentos hoteleiros de Macau foi de 37,9 por cento, menos 12,0 pontos percentuais, relativamente ao mesmo período de 2021, indicou ontem a Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC)

No total, durante os primeiros 10 meses do ano, os hotéis de Macau hospedaram 4.248.000 indivíduos, menos 22,5 por cento, face a idêntico período de 2021. A duração média das estadias manteve-se em 1,8 noites.

Olhando apenas para o mês de Outubro, a DSEC indicou que a taxa de ocupação média dos quartos de hóspedes foi de 41,8 por cento (-3,0 pontos percentuais, em termos anuais). No total, fizeram check-in em hotéis de Macau 494.000 pessoas, mais 11,3 por cento em termos anuais. Neste universo, destaque para o aumento de hóspedes do Interior da China que subiu 15 por cento para 390.000, enquanto os hóspedes locais desceram 11,1 por cento para 70.000.

Os maiores decréscimos em termos anuais verificaram-se nos hotéis de 4 estrelas e nos de 2 estrelas, com quebras de 20 e 18,6 por cento, respectivamente.

1 Dez 2022

Jiang Zemin (1926-2022): Um líder de grandes momentos

Jiang Zemin presidiu a alguns dos momentos mais relevantes da história da China contemporânea. Em 1992, reafirmou a abertura e as reformas económicas. Supervisionou as transferências de soberania de Hong Kong e Macau; e conseguiu a entrada da China na Organização Mundial do Comércio e os Jogos Olímpicos de Pequim. Sob a sua liderança, o país prosperou e tornou-se numa superpotência económica

 

Jiang Zemin, ex-presidente da China, morreu na quarta-feira em Xangai, aos 96 anos. A ausência de Jiang no 20º congresso do Partido Comunista em Outubro, bem como as celebrações do centenário do partido no ano passado, foram lidos como sinais claros do seu estado de saúde em declínio. Morreu de leucemia e falha de múltiplos órgãos às 12.13h de quarta-feira, de acordo com a agência noticiosa Xinhua.

Após o anúncio da sua morte, todas as bandeiras em locais como a Praça Tiananmen de Pequim, os gabinetes de ligação em Hong Kong e Macau e todas as embaixadas chinesas no estrangeiro foram baixadas a meia haste até depois do funeral. Não foram fornecidos mais pormenores sobre os eventos comemorativos.

O Presidente Xi Jinping dirigirá a comissão de 688 membros encarregada dos seus preparativos funerários. Os seus outros membros incluem o antigo presidente Hu Jintao e o antigo primeiro-ministro Zhu Rongji.

“De acordo com o costume, nenhum governo, partidos políticos ou delegações estrangeiras será convidado a assistir a eventos de homenagem na China”, afirmou o primeiro aviso oficial publicado pela comissão funerária. Serão também criados salões funerários nas embaixadas e consulados-gerais chineses para que as pessoas no estrangeiro prestem homenagem.

Jiang foi visto pela última vez em público a 1 de Outubro de 2019, tomando o seu lugar entre os mais idosos convidados para assistir às celebrações do 70º aniversário da fundação da República Popular da China e a um desfile militar que assinalou a ocasião.

De Xangai com fervor

Jiang Zemin, que serviu como secretário-geral do partido de 1989 a 2002, foi o primeiro líder de topo a não ter lutado na revolução, que culminou com a criação da República Popular após a vitória na guerra civil em 1949.

Jiang era o chefe do partido de Xangai quando lhe foi atribuído o cargo máximo do partido em Junho de 1989. A promoção de Jiang aconteceu quando o Ocidente virou as costas à China por causa dos incidentes de Tiananmen. Mas, nos anos seguintes, presidiu a alguns dos momentos mais simbólicos da China, marcando uma maior integração do país com a economia global e ganhando um estatuto mais elevado como potência mundial. Estes incluíram a entrega de Hong Kong em 1997 e de Macau em 1999, quando estas cidades regressaram à soberania chinesa. Foi sob a sua liderança que a China se tornou formalmente membro da OMC em 2001 e, no mesmo ano, Pequim obteve o estatuto de cidade anfitriã dos Jogos Olímpicos de Verão de 2008.

Jiang Zemin renunciou voluntariamente ao cargo de chefe do partido em 2002, para o entregar a Hu Jintao, e ao cargo de chefe das forças armadas em 2004.

Jiang é recordado por muitos como uma figura carismática e confiante, o que o fez sobressair entre outros líderes chineses. Aos 71 anos, fez manchetes por nadar e tocar ukleke no Havai, e mostrou os seus talentos ao cantar ópera de Pequim, durante uma visita estatal aos EUA em 1997.

PCC: “um líder notável”

O anúncio da sua morte foi feito pelo Comité Central do Partido Comunista da China (CPC), o Comité Permanente do Congresso Nacional Popular da República Popular da China (RPC), o Conselho de Estado da RPC, o Comité Nacional da Conferência Consultiva Política Popular Chinesa, e as Comissões Militares Centrais do CPC e da RPC. Foi anunciado numa carta dirigida a todo o partido, a todo o exército e ao povo chinês de todos os grupos étnicos.

A carta diz que “anunciam com profundo pesar a todo o Partido, a todos os militares e ao povo chinês de todos os grupos étnicos que o nosso amado camarada Jiang Zemin morreu de leucemia e falência de múltiplos órgãos depois de todos os tratamentos médicos terem falhado”.

Ainda segundo a carta, “o camarada Jiang Zemin era um líder notável gozando de grande prestígio reconhecido por todo o partido, por todo o exército e pelo povo chinês de todos os grupos étnicos, um grande marxista, um grande revolucionário proletário, estadista, estratega militar e diplomata, um lutador comunista há muito testado, e um líder notável da grande causa do socialismo com características chinesas. Ele foi o núcleo da terceira geração da liderança colectiva central do CPC e o principal fundador da Teoria das Três Representantes”, a saber: “o Partido deve sempre representar as necessidades ligadas ao desenvolvimento das forças produtivas da China, a orientação da cultura superior da China, e os interesses da larga maioria do povo chinês”.

De engenheiro a presidente

Jiang Zemin (江泽民) nasceu na cidade de Yangzhou, Jiangsu, China, a 17 de Agosto de 1926. A sua casa ancestral foi a aldeia Jiangcun, no condado de Jingde, Anhui. Jiang cresceu durante os anos da ocupação japonesa. O seu tio e o seu pai adoptivo, Jiang Shangqing, morreu a combater os japoneses em 1939 e é considerado como um herói nacional.

Jiang frequentou o Departamento de Engenharia Eléctrica na Universidade Central Nacional em Nanjing, ocupada pelo Japão, antes de se transferir para a Universidade Nacional Chiao Tung (actualmente Universidade Jiao Tong de Xangai). Formou-se em 1947 com um bacharelato em engenharia eléctrica.

A sua entrada no Partido Comunista Chinês deu-se quando ainda estava na faculdade. Em 1949, casou com Wang Yeping, também natural de Yangzhou, formada na Universidade de Estudos Internacionais de Xangai. Tiveram dois filhos, Jiang Mianheng (nascido em 1951) e Jiang Miankang (nascido em 1956).

Após a criação da República Popular da China, Jiang recebeu a sua formação na Stalin Automobile Works, em Moscovo, nos anos 50. Trabalhou também numa fábrica de automóveis em Changchun. Acabou por ser transferido para os serviços governamentais, onde começou a subir de proeminência e posição, acabando por se tornar membro do Comité Central do Partido Comunista, Ministro das Indústrias Electrónicas, em 1983.

Em 1985, Jiang Zemin tornou-se Presidente da Câmara de Xangai, e subsequentemente secretário do Comité do Partido Comunista de Xangai, tendo sido um firme apoiante, durante este período, das reformas económicas de Deng Xiaoping. Chegou a secretário-geral do PCC em 1989, sendo considerado como um líder que gostava de pedir a opinião dos seus conselheiros próximos e é frequentemente creditado com a melhoria das relações externas durante o seu mandato. A construção do caminho-de-ferro Qinghai-Tibet e da Barragem das Três Gargantas começaram sob a sua liderança. Em 1993, foi nomeado presidente da China, cargo que manteve até 2002.

Jiang dominava várias línguas estrangeiras, incluindo o inglês e o russo. Gostava de envolver visitantes estrangeiros em pequenas conversas sobre artes e literatura, na sua língua materna, para além de cantar canções estrangeiras na versão original. Faleceu no dia 30 de Novembro de 2022.

As nossas condolências

“Nesta noite cheia de luar, sopra a brisa refrescante, e o mar é sereno como de rosas”, assim começava o discurso de Jiang Zemin, que nesta cidade marcou o pacífico regresso de Macau à soberania chinesa, no dia 20 de Dezembro de 1999.

“A partir deste momento, a amizade entre o povo chinês e o povo português, e a cooperação amistosa entre os dois países vão também desenvolver-se para a frente, de um novo ponto de partida”, afirma em posterior passagem, dirigindo-se a todos os presentes e, especialmente, ao presidente português Jorge Sampaio, presente na cerimónia e também já falecido.

Tendo tomado as rédeas do país num difícil momento, Jiang Zemin soube — sobretudo depois do Congresso do PCC de 1992, em que reafirmou a abertura ao mundo, e ao longo de todo o seu mandato — conquistar para o país um destacado lugar na comunidade internacional e a sua liderança, juntamente com o primeiro-ministro Zhu Rongji, foi fundamental para tornar a China na superpotência, que hoje afirma inequivocamente a sua importante posição económica, política e militar no mundo contemporâneo.

Durante a sua presidência, a China conheceu um período de estabilidade, desenvolvimento e prosperidade difícil de igualar e sem precedentes na história da Humanidade. O Hoje Macau envia as nossas sentidas condolências à sua família, ao Partido Comunista da China e a todo o povo chinês, pelo desaparecimento deste grande líder.

1 Dez 2022

Covid-19 | Novo caso positivo relacionado com taxista

Um novo caso de infecção positiva de covid-19 relacionado com o taxista que se crê esteja na origem das últimas infeccões detectadas em Macau, foi ontem anunciado pelas autoridades de saúde.

Segundo o Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus, no dia 29 foi registado um novo caso relacionado com o caso importado da COVID-19 em Macau, sendo considerado como um caso detectado sob controlo. A pessoa afectada é um jovem de 17 anos de idade, residente de Macau mais um neto que mora com o caso confirmado, do taxista de 74 anos de idade, anunciado no dia 28.

O infectado foi classificado como contacto próximo anteriormente, já está sujeito a observação médica em isolamento desde a manhã do dia 28 de Novembro, informa o Centro de Contingência. Após dois testes de ácido nucleico negativos, na manhã do dia 29 de Novembro, o jovem começou a sentir um desconforto na garganta. O resultado do teste de ácido nucleico foi positivo.

O valor do CT mostra uma infecção na fase inicial. Este caso foi detectado sob controlo, e foi considerado como caso relacionado com o caso importado da COVID-19. A pessoa em apreço foi encaminhada para tratamento médico em isolamento no Centro Clínico de Saúde Pública no Alto de Coloane, sendo o risco de transmissão comunitária relativamente baixo, remata o Centro de Contingência.

30 Nov 2022

Mundial2022 | Portugal prepara Coreia do Sul sem titulares. Guerreiro e lesionados

A selecção portuguesa de futebol começou ontem a preparar o jogo diante da Coreia do Sul, o derradeiro no Grupo H do Mundial2022, sem a presença dos titulares com o Uruguai, Raphäel Guerreiro e os lesionados. No dia seguinte ao triunfo sobre o Uruguai (2-0), com o qual ‘carimbou’ a passagem aos oitavos de final, a equipa das ‘quinas’ contou com apenas 12 jogadores no relvado do centro de treinos de Al-Shahaniya, nos primeiros 15 minutos abertos aos jornalistas.

Os titulares na partida com os sul-americanos e Raphäel Guerreiro limitaram-se a fazer trabalho de recuperação, sendo que Nuno Mendes, que entrou de início no encontro, se lesionou no final do primeiro tempo e teve de ser substituído pelo lateral do Borussia Dortmund.

Além de Mendes, o lote de indisponíveis inclui ainda Otávio e Danilo Pereira, igualmente lesionados, pelo que, face a estas condicionantes, o seleccionador Fernando Santos teve ao dispor somente os oito jogadores que não foram utilizados diante dos uruguaios e os quatro que entraram no decorrer da segunda parte (Rafael Leão, Palhinha, Matheus Nunes e Gonçalo Ramos).

Portugal venceu na segunda-feira o Uruguai por 2-0, com dois golos de Bruno Fernandes, e assegurou o apuramento para os oitavos de final, ocupando a liderança do Grupo H, com seis pontos, à frente do Gana, que tem três, enquanto os uruguaios e a Coreia do Sul têm ambos um. A equipa das ‘quinas’ defronta na sexta-feira os sul-coreanos a partir das 18:00 locais.

30 Nov 2022

Covid-19 | Pequim vai incrementar vacinação de idosos

A China anunciou ontem a intensificação da campanha de vacinação contra o vírus SARS CoV-2 junto de pessoas com mais de 80 anos. A Comissão Nacional da Saúde comprometeu-se transmitindo um aviso que indica “o incremento de campanhas de vacinação a pessoas com mais de 80 anos” acrescentando que vai também aumentar a inoculação da população entre os 60 e os 79 anos de idade.

O anúncio ocorre numa altura em que se regista contestação às medidas de confinamento adoptadas por Pequim.
No fim de semana, centenas de moradores na capital chinesa saíram à rua, rompendo as medidas de prevenção epidémica vigentes, a que estavam sujeitos, enquanto manifestações se alastraram por várias cidades contra a imposição de medidas de confinamento.

“As pessoas em toda a China estão a assumir riscos extraordinários para exigir os seus direitos”, disse Yaqiu Wang, investigador sénior da Human Rights Watch na China, urgindo as autoridades de Pequim a “permitir que todos expressem pacificamente as suas opiniões”.

No comunicado, a organização lembra as diversas manifestações de protesto pacíficas que se multiplicaram nos últimos dias contra as restrições sanitárias, incluindo moradores no bairro de Urumqui, em Pequim, ou estudantes em diversas cidades chinesas.

30 Nov 2022

A eles!

Por Carlos Coutinho

 

Na praça com o seu nome, em Zamora, encontrei há muitos anos um Viriato de bronze em cima de um pedregulho enorme, com um carneiro gigantesco à sua frente, também de bronze, ao qual indicava em que direção seguir para bem marrar em todos os romanos que encontrasse pelo caminho.

Por tática de combate, a portentosa cornadura do combatente lãzudo escondeu-se atrás da coluna do gradeamento de proteção ao monumento, quando o sol incide pela direita. Eu é que não consigo esconder a minha vergonha por andar uma vida inteira a acreditar que o Viriato de pedra que está em Viseu é o mesmo e foi um genuíno lusitano nascido nos Montes Hermínios, a que hoje chamamos Serra da Estrela.

Fui averiguar e comecei por descobrir que, já em 1997, o historiador Carlos Fabião, no seu ensaio “O Passado Proto-Histórico e Romano”, que inicia o vol. I – “Antes de Portugal”, no extraordinário estudo panorâmico coordenado por José Mattoso, desmontava por completo o mito patrioteiro.

Na verdade, tanto Alexandre Herculano como Oliveira Martins, já no século XIX, tinham desautorizado com boa argumentação esta lenda engendrada do século XVII para legitimar o direito de Portugal à independência, mas foi preciso aparecer outro estudo, este bem mais recente, assinado por Ricardo Raimundo, para eu ficar a saber que a falácia, apesar de salvífica e muito portuguesa, tem raízes bem mais antigas.

Afinal, Viriato parece ter existido, mas era tão pastor como eu. O seu nome deriva do ibérico viria que significa pulseira e é uma abreviatura do céltico viriola. Ou seja, viriato é um portador de pulseiras no braço, como os atuais portugueses de crenças inimagináveis e pouco cuidado higiénico.

As primeiras fontes com referências insistentes a Viriato são do século I a.n.e., da autoria de Possidónio e de Diodoro, que falam de um “herói puro e justo, porque nasceu e viveu em ambientes selvagens, não corrompidos pela decadência que a civilização acarreta”.

Julga-se que Diodoro se limitou a dar mais substância à mentira piedosa de Possidónio e Carlos Fabião considera que do cruzamento dessa primeira historiografia com os textos posteriores de diversos autores greco-latinos, pode concluir-se que Viriato teria existido, de facto, e nascido na Lusitânia, não havendo qualquer “Monte Hermínio” associado ao chefe-antirromano e, muito menos, às Guerras Lusitanas, como acabei por verificar em Zamora.

Esse mito deve ter engrossado no século XVI, em pleno renascimento e florescimento humanista, por especial atuação de Sá de Miranda e também de Luís de Camões. Só que isto é pano que dá para muitas mangas, o que não é objetivo destes modestos e pouco ambiciosos apontamentos e, como já pus os pontos nos is, vou apenas acrescentar que quem mais contribuiu para a apropriação lusíada do herói foi um alemão, o desinteressado Adolf Schulten, com o seu “Viriato” traduzido para português em 1927, quando a Espanha reclamava a sua origem ainda hoje assinalada na cidade onde Afonso Henriques foi assinar as condições do nascimento de um novo reino na Ibéria.

A historiografia romana, ao mexer nas Guerras Lusitanas, apontam a sua geografia para uma vasta região do Centro e do Sul da Espanha, muito mais próximos da civilização e dos núcleos urbanos mediterrânicos. Aí, Viriato, um grande terratenente grupal, teria sabido movimentar-se com grande mestria, sobretudo, pelo conhecimento que tinha da região. Provavelmente nem quereria ouvir falar dos selvagens dos Montes Hermínios nem das falsas e brumosas praias atlânticas.

É verdade, no entanto, que Frei Bernardo de Brito, na sua obra “Monarquia Lusitana”, apesar de sujeito ao domínio filipino, e, mais tarde, Brás Garcia Mascarenhas, no seu “Viriato Trágico”, escrito durante a Guerra da Restauração, ligam diretamente os portugueses a Viriato, mas é fácil perceber porquê. Ou não é?

O que não é fácil perceber é eu ter andado quase uma vida inteira a ser tão aldrabado pelos professores e pelos livros do ensino oficial. Nesta e sei lá em quantas falsidades mais.

À tarde

Gostaria de poder estar hoje em Havana, que mais não fosse, para levantar o meu copo a Silvio Rodríguez que faz 76 anos e, seguramente, nunca se arrependerá de ter vindo ao mundo e haver feito o que fez. Pela parte que me toca, não posso deixar de confessar a gula e o enternecimento com que sempre o ouvi em canções agora agrupadas em álbuns como Días y flores, Mujeres, Oh, melancolia, Descartes, Para la espera e certamente outros.

Silvio Rodríguez Domínguez nasceu em San Antonio de Los Baños no dia 29 de novembro de 1946, é músico, compositor, poeta e cantor, cedo se tendo afirmado como alto um expoente da música cubana surgida com a revolução. É dos cantores cubanos contemporâneos de maior relevo internacional, criador da ‘trueba nueva’, com Pablo Milanés, Noel Nicola, Vicente Feliú e outros músicos do movimento Nova Trova Cubana.

Notabilizou-se nacional e internacionalmente como um bom poeta lúcido e inteligente, um criador capaz de sintetizar o intimismo e os temas universais com a mobilização e a consciência social. Até eu, que não engulo tudo o que me põem no prato, me tornei seu fã.

Consta de uma curta biografia sua que, perante a morte do Che Guevara, compôs La Era Está Pariendo un Corazón e Fusil contra fusil, canções que incluiu no disco coletivo Hasta la Victoria Siempre. Nos inícios dos anos 70, junto com Pablo Milanés e outros que mais tarde iriam fazer parte da Nova Trova, integrou o Grupo de Experimentação Sonora.

Desta altura são algumas gravações como El Papalote, Cuba Va (um curioso rock cantado com Pablo Milanés e Noel Nicola), De la Ausencia y de Ti, Velia, El Mayor, Granma (obra coletiva), Oveja Negra, Si Tengo un Hermano, etc. canções editadas, anos mais tarde, em discos como Los Tres del Gesi, Cuando Digo Futuro e Memorias.

Em 1972, fez uma ’tournée’ pela Alemanha e pelo Chile, onde partilhou o cenário com Isabel Parra (filha da famosa Violeta) e com Víctor Jara, o herói chileno cruelmente assassinado no ano seguinte após o golpe de Pinochet.
Silvio publicou em 2010 o disco Segunda Cita (Segundo Encontro) que inclui a canção Sea, señora, uma homenagem às conquistas da Revolução Cubana, que “têm de evoluir sem se esquecer os seus princípios socialistas”, considerou, então. Vejam só… O que eu sou capaz de respigar, quando um assunto qualquer me impressiona…

À noite

Faz hoje 1222 anos que Carlos Magno chegou a Roma para investigar pessoalmente os crimes do Papa Leão III. Se fosse hoje não podia sequer sair de França, porque estaria muito ocupado com o julgamento de 12 cardeais e bispos a contas com a Justiça, por abuso sexual de menores.

Não imagino o que seria a minha mentalidade naqueles séculos remotos em que certos reis mandavam nos papas e tenho quase a certeza de que seria tão perturbador como hoje, quando percebo que os papas mandam em certos reis e ainda em mais presidentes. O que tem como resultado visível o haver tantos pedófilos e predadores sexuais que vivem no melhor dos confortos e nunca se encontrarão a contas com a Justiça.

É certo que um milénio depois de Carlos Magno, o nosso Afonso I, para ser de jure rei, teve de ir a Zamora subscrever as condições que um papa muito cioso do seu total arbítrio ‘a divinis’, mandou o Cardeal Guido de Vico levar o pergaminho iluminado e em duplicado que o façanhudo filho de Teresa e Henrique teve de assinar juntamente com o representante do seu primo também Afonso, mas o VII, de Leão, aceitando com tais rabiscos ficar vassalo da Santa Sé.

O Papa que, além do mais, também passava a esportular um pesado censo anual, era um tal Alexandre III que, para o efeito congeminou a Bula Manifestis Probatum. Mas Leão era também aquele papa florentino que, apesar de ter nascido Giovanni di Lorenzo de Medici, não se coibiu de ser o X e levantar uma sangrenta Contrarreforma, em resposta à Reforma Protestante de Lutero. Assim como outro Medici, o XI, que pontificou menos de um mês, e o XII, que era de Ancona e também esteve no trono menos de seis anos. Com o XIII a coisa já foi diferente, porque este último Leão da série viu a sua Igreja expropriada de riquezas incomensuráveis e, apesar disso, optou pela moderação e a diplomacia na sua resistência, morrendo muito triste em 1903.

Depois vieram os Pios e os Paulos. Pio X reagia à bruta a tudo que lhe cheirasse a modernismo, Pio XI, um militarão frustrado, criou a Ordem da Cavalaria Papal e Pio XII, além de ser no século XX o único papa a usar o dom da infalibilidade papal, foi núncio na Baviera, onde conheceu Hitler, com vantagens para ambos. O ‘führer’ sabia muito bem com quem estava a lidar e, pelo sim pelo não, ameaçou-o de sequestro.

Nessa eventualidade, disse o Papa à Cúria, a sua captura pelos nazis “implicaria a resignação imediata e a eleição de um sucessor, devendo os prelados refugiar-se num país seguro e neutro, Portugal, por exemplo”, onde o Cardeal Cerejeira e o Salazar mostravam ser católicos e profundos respeitadores dos direitos humanos.

Pior do que isto só aquele Paulo que foi o VI e um obcecado devoto mariano, discursando repetidamente a congressistas marianos e em reuniões marianológicas, visitando santuários marianos e publicando três encíclicas marianas. A Humanae vitae veio, aliás, em continuidade da Constituição Pastoral Gaudium et Spes que em dissonância com o próprio Concílio Vaticano II, deixou expresso no capítulo que trata da família que se haveria, “na regulação da natalidade, de recorrer à castidade conjugal”.

Assobiou para o lado enquanto sob os seus auspícios uma operação de salvamento de criminosos de guerra nazis, que ficou conhecida como a Rota dos Ratos, encaminhava para as Américas do Norte e do Sul mais de 1 200 criminosas de guerra e, entre eles, os famosos Eichman, Mengele, Rauff, Wächter, Barbie, Altmann e outros que conseguiram fugir à Justiça, recorrendo à ajuda de membros do Vaticano e da Cruz Vermelha.

Mais astucioso e persistente papa, só outro Paulo, que, além de II, também foi João, um polaco de Wadowice nascido Karol Józef Wojtyła, que em 26 anos de pontificado logrou derrotar o socialismo institucional do pós-guerra, liderando apostolicamente uma organização alegadamente sindical e acabando canonizado após a nova Europa que ajudou a criar e a preparar para guerras e morticínios só ultrapassados pelas forças hitlerianas.

É santo de grande devoção para uma parte muito considerável de ucranianos, precisamente os que em tempos foram dominados pela Polónia expansionista.

Cuidado com os mergulhos no oceano da História, porque podemos apanhar sustos destes e não serve de nada queixarmo-nos ao Marcelo ou ao Costa.

A eles!

30 Nov 2022