Hoje Macau Grande PlanoTarifas: Sete acordos desde que Trump chegou à Casa Branca Os Estados Unidos alcançaram sete acordos comerciais bilaterais desde que Donald Trump regressou à Casa Branca, em janeiro, e o mais recente, assinado no domingo com a União Europeia (UE), é o maior em termos de volume de negócio. Além do acordo com a UE, o Governo norte-americano acertou novos termos comerciais com o Reino Unido, China, Vietname, Japão, Filipinas e Indonésia, enquanto as negociações prosseguem com dezenas de outros países, segundo as autoridades norte-americanas. Eis os dados da lista dos sete acordos comerciais bilaterais que Trump conseguiu obter desde janeiro, quando regressou à Casa Branca para um segundo mandato presidencial. +++ REINO UNIDO +++ Assinado a 08 de maio, foi o primeiro acordo bilateral assinado por Trump, desde que o Governo norte-americano anunciou um novo plano de tarifas. Este acordo estabelece a redução das tarifas sobre os automóveis britânicos de 25% para 10% — até 100 mil veículos por ano — e a eliminação das tarifas sobre o aço e o alumínio; permissões recíprocas para exportação de carne de bovino e produtos agrícolas, bem como redução de barreiras não tarifárias e simplificação de procedimentos aduaneiros. +++ CHINA +++ A 26 de junho, após ameaças recíprocas de tarifas até 115%, os Estados Unidos e a China chegaram a um acordo de princípio, que ainda está a ser desenvolvido. Embora mantenha tarifas elevadas — 55% para a exportação de determinados produtos chineses para os Estados Unidos —, facilita a exportação de terras raras da China, elimina as medidas de retaliação mútua e suaviza os controlos sobre o acesso dos produtos chineses ao mercado norte-americano. +++ VIETNAME +++ Os EUA e o Vietname concordaram, a 02 de julho, em aumentar a tarifa sobre as exportações vietnamitas para os EUA para 20% (com uma taxa de 40% sobre os produtos suspeitos de serem de origem chinesa). A ameaça anterior de Trump era de estabelecer as tarifas nos 46%. ++ JAPÃO ++ O Japão concorda com uma tarifa de 15% sobre todas as suas exportações para os Estados Unidos, em comparação com a tarifa de 25% com que Trump tinha ameaçado. O país comprometeu-se a investir 550 mil milhões de dólares (cerca de 470 mil milhões de euros) nos EUA e a abrir os seus mercados a setores como o automóvel, arroz e produtos agrícolas. ++ FILIPINAS ++ Os EUA passam a impor uma tarifa de 19% sobre os produtos filipinos, menos um ponto percentual do que os 20% que tinha ameaçado, em troca da isenção de tarifas sobre os produtos norte-americanos que entram nas Filipinas. O anúncio foi feito a 22 de julho, após a visita do Presidente filipino, Ferdinand Marcos Jr., à Casa Branca. ++ INDONÉSIA ++ Na mesma data, 22 de julho, e com conteúdo quase idêntico, o acordo de Trump com a Indonésia estabelece tarifas de 19% sobre as exportações para os Estados Unidos e, em paralelo, inclui compromissos de compra de aeronaves, produtos agrícolas e energéticos norte-americanos da Indonésia. ++ UNIÃO EUROPEIA ++ No domingo, 27 de julho, foi anunciado o acordo comercial entre os Estados Unidos e a UE, qu estabelece que a maioria das exportações europeias ficará sujeita a tarifas de 15% — Trump tinha ameaçado com 30% —, mas incluiu isenções tarifárias para determinados produtos. No acordo, a UE compromete-se a comprar 750 mil milhões de dólares (cerca de 650 mil milhões de euros) em energia aos Estados Unidos, investir 600 mil milhões de dólares (cerca de 510 mil milhões de euros) no país e aumentar as suas compras de equipamento militar aos EUA.
Hoje Macau China / ÁsiaTemplo Shaolin | Retirado estatuto religioso a abade por peculato As autoridades chinesas revogaram ontem o estatuto religioso de Shi Yongxin, abade do célebre templo Shaolin, que está a ser investigado por alegados crimes financeiros e por manter relações impróprias em violação dos preceitos budistas. A Associação Budista da China, subordinada ao departamento da Frente Unida do Partido Comunista Chinês, anunciou ter retirado o certificado de ordenação monástica ao religioso, após receber um pedido da associação provincial de Henan. Shi Yongxin, de 59 anos, é suspeito de ter desviado fundos ligados a projectos do templo e de ter usurpado bens do mosteiro, além de manter, durante anos, relações com várias mulheres, das quais terá tido pelo menos um filho, segundo as autoridades religiosas. Localizado na província central de Henan, o templo Shaolin é um dos mais conhecidos da China e símbolo internacional do budismo chan e do kung-fu, disciplinas que lhe deram fama mundial e o transformaram num importante destino turístico. Conhecido pelo nome secular Liu Yincheng, Shi Yongxin liderava o templo há três décadas. Construído há mais de 1.500 anos, em Dengfeng, o mosteiro é considerado o berço do budismo zen e das artes marciais Shaolin. Em 2015, o monge já tinha sido alvo de acusações semelhantes feitas por antigos monges e funcionários do templo, mas as autoridades encerraram então o caso sem apresentar acusações. O escândalo não afectou, para já, a actividade turística do mosteiro, que continua aberto ao público, confirmou o centro de visitantes do templo ao jornal local The Paper.
Hoje Macau China / ÁsiaTailândia/Camboja | Cessar-fogo “imediato e incondicional” aceite pelas duas partes A Tailândia e o Camboja concordaram com o cessar-fogo proposto ontem numa reunião na Malásia, após os piores combates da última década. Horas antes do início das negociações, representantes dos dois países trocaram acusações A Tailândia e o Camboja concordaram com um cessar-fogo “imediato e incondicional”, anunciou ontem ao final da tarde o primeiro-ministro da Malásia após realizar negociações de paz. Anwar Ibrahim, que recebeu os líderes de ambos os países, disse que o cessar-fogo terá início à meia-noite de segunda-feira, hora local. “Tanto o Camboja como a Tailândia chegaram a um entendimento comum”, disse Ibrahim após as negociações de mediação na Malásia. Os embaixadores dos Estados Unidos e da China na Malásia também estiveram presentes na reunião na capital administrativa da Malásia, Putrajaya. Recorde-se que a Malásia detém a presidência rotativa da Associação de Nações do Sudeste Asiático (ASEAN), da qual Banguecoque e Phnom Penh são membros, e já interveio como mediadora entre as partes no segundo dia do diferendo. Pelo menos 35 pessoas foram mortas e mais de 270.000 deslocadas pelos piores combates em mais de uma década entre os países vizinhos. Os confrontos continuaram na madrugada de segunda-feira, poucas horas antes do início das negociações. Além do confronto físico, os dirigentes dos dois países também trocaram acusações horas antes da negociações que parecem apontar para o fim do conflito. O primeiro-ministro interino tailandês acusou o Camboja de falta de “boa fé”, ao partir para a Malásia. “Não achamos que o Camboja esteja a agir de boa-fé, tendo em conta as acções para resolver o problema. Eles têm de demonstrar uma intenção sincera”, disse Phumtham Wechayachai aos jornalistas no aeroporto em Banguecoque. Também o Camboja afirmou que os ataques continuaram na madrugada de segunda-feira nos templos disputados de Ta Moan Thom e Ta Krabey, a mais de 400 quilómetros de Banguecoque e Phnom Penh. A porta-voz do Ministério da Defesa do Camboja, Maly Socheata, disse, numa conferência de imprensa, que a Tailândia atacou o território cambojano entre domingo e a madrugada de ontem com obuses de artilharia e bombas de fragmentação. “Sublinhamos a necessidade de ambas as partes exercerem a máxima contenção e se comprometerem com um cessar-fogo imediato, abstendo-se de qualquer acção que o possa prejudicar”, lê-se num comunicado do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Malásia ainda antes da reunião. “Exortamos ambas as partes a cessarem todas as hostilidades, a regressarem à mesa das negociações para restaurar a paz e a estabilidade e a resolverem os diferendos e as divergências por meios pacíficos”, declarou ainda o Governo de Kuala Lumpur. Potências atentas O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Marco Rubio, exortou os dois países a diminuírem as tensões “de imediato” e a concordarem com um cessar-fogo na disputa fronteiriça. “Tanto o Presidente [Donald] Trump como eu estamos em contacto com os nossos homólogos de cada país e estamos a acompanhar a situação de muito perto. Queremos que este conflito termine o mais rapidamente possível”, apontou Rubio na rede social X. Também o Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês apelou à paz. “Camboja e Tailândia são vizinhos próximos e também amigos da China. A paz e a boa vizinhança são do interesse comum de ambas as partes”, declarou o porta-voz do ministério, Guo Jiakun, em conferência de imprensa. As declarações surgem após o primeiro-ministro interino tailandês, Phumtham Wechayachai, ter citado a China, juntamente com os Estados Unidos e a Malásia, como um dos países que “intervieram para ajudar” a viabilizar o encontro entre Banguecoque e Phnom Penh, em confronto desde quinta-feira passada devido a uma disputa territorial na fronteira comum. Além de Washington, Pequim e da ASEAN, também a ONU, União Europeia, Japão e Rússia, entre outros, apelaram à contenção e ao diálogo entre as partes.
Hoje Macau China / ÁsiaTarifas | China e Estados Unidos reunidos para prolongar trégua Responsáveis norte-americanos e chineses estão reunidos desde ontem, em Estocolmo, com o objectivo de prolongar a trégua na guerra comercial entre as duas maiores economias do mundo, num contexto ainda incerto. Trata-se do terceiro encontro entre Pequim e Washington, depois das reuniões em Genebra, em Maio, e Londres, em Junho, que permitiram pôr fim à escalada nas tensões comerciais entre os dois países. A reunião decorre no início de uma semana decisiva para a política comercial do Presidente norte-americano, Donald Trump, uma vez que as tarifas aplicadas à maioria dos principais parceiros comerciais dos Estados Unidos deverão sofrer um forte aumento a partir de sexta-feira. As discussões em Estocolmo visam prolongar a pausa de 90 dias negociada em Maio, em Genebra, que pôs fim às represálias de ambos os lados do Pacífico, responsáveis por sobretaxas de 125 por cento sobre produtos norte-americanos e 145 por cento sobre produtos chineses.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Análise: Batalha contra deflação e excesso de oferta ainda longe da vitória O Financial Times alertou que a China continua longe de vencer a deflação, apesar de a inflação homóloga ter regressado a terreno positivo em Junho, pela primeira vez desde Janeiro. Os analistas aconselharam uma redução da oferta De acordo com o editorial do Financial Times (FT), publicado no domingo, “poucos acreditam que o crescimento sustentado dos preços esteja de volta”, devido sobretudo à fraca procura interna. Pequim tem feito esforços para incentivar o consumo, mas terá de ir mais longe, nomeadamente através do reforço dos sistemas de pensões e benefícios sociais, de modo a reduzir a poupança preventiva das famílias. O FT sublinha ainda que a dinâmica deflacionista não será travada se o Partido Comunista Chinês não enfrentar também o excesso de oferta. A deflação consiste numa queda dos preços ao longo do tempo, por oposição a uma subida (inflação). O fenómeno reflecte debilidade no consumo doméstico e investimento e é particularmente perigoso, já que uma queda no preço dos activos, por norma contraídos com recurso a crédito, gera um desequilíbrio entre o valor dos empréstimos e as garantias bancárias. Outro dos efeitos é o de levar ao adiamento das decisões de consumo e investimento em resultado de expectativas de preços mais baixos no futuro, podendo criar uma espiral descendente de preços e procura difícil de inverter, afectando a economia por inteiro. O risco de deflação na economia chinesa agravou-se nos últimos dois anos, suscitado por uma profunda crise imobiliária, que afectou o investimento e o consumo, e o excesso de capacidade de produção em vários sectores. Os preços de produção estão em queda desde Outubro de 2022, num contexto em que as fábricas chinesas reduzem os preços para manter quota de mercado, tanto em indústrias tradicionais, como o aço e o cimento, como em sectores modernos, incluindo veículos eléctricos, painéis solares e inteligência artificial. O jornal britânico lembra que o Presidente chinês, Xi Jinping, e outros altos responsáveis passaram de negar as preocupações externas sobre excesso de capacidade de produção a criticar os fabricantes domésticos pelo fenómeno de neijuan (“involução”), expressão usada para descrever a concorrência excessiva em preços. Fabricar eficiência O editorial frisa que as próprias políticas de Pequim alimentaram o problema, com a aposta em “novas forças produtivas de qualidade”, voltadas para tecnologias avançadas e novas indústrias, a desencadear uma corrida para atrair apoio político e subsídios locais. O resultado é “um surto de investimento com duplicações em excesso”, levando a cortes de preços e acumulação de produtos armazenados, desde veículos eléctricos estacionados em portos a semicondutores para sistemas de inteligência artificial sem uso. “Está a tornar-se cada vez mais difícil para os fabricantes chineses exportarem este excesso de produção, à medida que os parceiros comerciais estão mais conscientes do impacto da importação de produtos baratos nas suas indústrias locais”, nota o jornal. Vários dos principais parceiros comerciais do país asiático, incluindo União Europeia, Estados Unidos, mas também países em desenvolvimento como o Brasil, têm adoptado medidas proteccionistas, incluindo o aumento de taxas alfandegárias, e lançado investigações ‘antidumping’ contra a China. O ‘dumping’ consiste na venda abaixo do custo de produção. O Financial Times defende que Pequim deve limitar a “generosidade do Estado” e criar um mercado nacional mais unificado, restringindo os incentivos distorcivos dos governos locais. Propõe ainda alterar as metas provinciais, reduzindo a ênfase no Produto Interno Bruto, e reforçar a protecção da propriedade intelectual para incentivar uma diferenciação mais inovadora. Segundo o editorial, Xi Jinping poderá tentar fixar tectos de produção e pressionar os fabricantes a reduzir a oferta, mas “Pequim fará bem em perceber que o seu apoio excessivo é o problema”. “O Estado pode construir fábricas, mas não pode fabricar eficiência”, aponta o Financial Times.
Hoje Macau Via do MeioBudismo na China: Florescimento durante a Era Sui-Tang (continuação do número anterior) O Budismo atingiu o auge do seu desenvolvimento e impacto na sociedade chinesa durante as dinastias Sui (581-618) e Tang (618-907). Esta era é frequentemente evocada como a idade de ouro do budismo chinês, distinguida por uma combinação notável de engenho intelectual, vitalidade institucional, devoção fervorosa e criatividade artística. O período Tang é também invulgarmente aceite como o ponto alto da civilização chinesa, uma era de poder dinástico e prosperidade sem rival, celebrada pela sua sofisticação cultural, efervescência e cosmopolitismo. O ápice do budismo na China coincidiu, assim, com um dos períodos mais significativos da história chinesa, quando o Império do Meio emergiu como o país mais avançado e poderoso do mundo. Nessa altura, o Budismo era claramente a tradição religiosa mais prevalecente e influente na China, embora não fosse de modo algum a única. O confucionismo e o taoísmo também floresceram, no meio de um ambiente sociocultural positivo que fomentou aquilo a que hoje poderíamos chamar atitudes multiculturais e a aceitação do pluralismo religioso. Além disso, durante esta época, foram introduzidas na China várias outras religiões “ocidentais”, incluindo o zoroastrismo, o islamismo, o cristianismo nestoriano e o maniqueísmo. Durante a era Tang, os mosteiros, templos e santuários budistas eram uma mistura proeminente de paisagens urbanas e rurais. Os monges e os mosteiros eram símbolos altamente visíveis da presença generalizada do budismo em toda a China, o que tinha ramificações sociais, políticas e económicas significativas. A ordem monástica assumiu posições-chave de liderança religiosa e esteve na linha da frente dos principais desenvolvimentos institucionais e intelectuais. Embora a maioria dos líderes monásticos viesse de origens privilegiadas, havia também numerosos monges e monjas com uma educação mais humilde que atendiam às necessidades religiosas do povo comum. Chang’an, a principal capital Tang, tinha mais de 150 mosteiros e conventos, que albergavam milhares de monges e freiras. Os principais complexos monásticos da capital eram de grande dimensão, com numerosos edifícios, pavilhões e pátios. Eram também conhecidos pelo seu esplendor arquitetónico e pelo seu ambiente requintado. Com várias funções religiosas, que incluíam rituais realizados em nome da família imperial e da dinastia reinante, os mosteiros eram também importantes centros da vida social, bem como locais onde se realizavam variados eventos culturais. Luoyang, a capital secundária, não ficou muito atrás no que diz respeito à presença de estabelecimentos e actividades budistas, especialmente durante o reinado da Imperatriz Wu (r. 690-705), a única monarca feminina na história chinesa, que era conhecida pelo seu patrocínio ao budismo. Houve também notáveis construções e expansões em Longmen e Dunhuang, os famosos complexos de cavernas que estão entre os maiores e mais importantes repositórios de arte budista. A profusão de estátuas, frescos, inscrições e relevos que enfeitam os santuários das grutas são um testemunho impressionante das imensas alturas da criatividade artística de inspiração budista e do fervor religioso que caracterizaram esta época. Também nos dão a conhecer a gama de aspirações e motivações evidenciadas entre os fiéis budistas, que envolviam intrincadas intersecções de considerações religiosas, económicas, políticas e sociais. Muitos mosteiros famosos situavam-se também em capitais de províncias ou prefeituras. Havia ainda mais mosteiros situados em várias montanhas – como Wutaishan, Lushan, Tiantaishan e Nanyue – que, para além do seu papel primordial como centros de treino monástico, serviam também como importantes locais de peregrinação (para Nanyue, ver Robson 2009). Os oficiais e literatos Tang visitavam frequentemente este tipo de estabelecimentos monásticos, onde interagiam de perto com o clero budista. Muitos deles eram também patronos proeminentes e fervorosos apoiantes da causa budista. De um modo geral, os literatos desempenharam papéis essenciais no crescimento e transformação do budismo. Um bom número deles esteve mesmo ativamente empenhado na propagação das doutrinas e práticas budistas. Além disso, afirmaram o lugar central do Budismo na vida cultural e social chinesa e, em momentos-chave, defenderam a fé budista contra os seus vários detractores (Halperin 2006: 27-61). A influência generalizada do budismo na esfera cultural é claramente evidente na literatura e na poesia Tang, que evocam frequentemente temas, ideias e imagens budistas. Em várias inscrições escritas para mosteiros budistas e outros tipos de escritos, os literatos escreviam sobre a sua devoção pessoal e apresentavam testemunhos embelezados sobre a sublimidade ou a eficácia dos ensinamentos budistas. Exemplos copiosos de tais sentimentos podem ser encontrados nos escritos de poetas famosos como Wang Wei (701-761) e Bo Juyi (772-846, também conhecido como Bai Juyi). Ambos os poetas eram bem conhecidos pelos seus compromissos sérios com os ideais e práticas budistas, especialmente os associados ao nascente movimento Chan, pelo que não é surpreendente que a sua poesia estivesse imbuída de sentimentos budistas. Em muitos poemas, os tropos ou imagens budistas assumem um papel central, o que os torna fontes úteis para o estudo de atitudes e práticas laicas (ver Poceski 2007b). O crescimento do budismo teve também impactos notáveis nas esferas económica e política. Muitos mosteiros tinham estatuto oficial e recebiam financiamento do Estado. Uma vez que as doações religiosas eram vistas como um dos principais geradores de mérito espiritual, os donativos dos fiéis – que provinham das elites sociopolíticas, bem como da população comum – eram uma importante fonte de rendimento para os mosteiros. Alguns estabelecimentos monásticos eram também grandes proprietários de terras. Outras fontes de rendimento eram as actividades comerciais, como a exploração de lagares de azeite, moinhos e casas de penhores (Gernet 1995: 142-52, 167-86). Embora o Estado imperial patrocinasse as actividades religiosas e concedesse certos privilégios ao clero – nomeadamente a isenção de impostos e do serviço militar – também implementou uma série de políticas destinadas a controlar a religião e as suas instituições, que não eram necessariamente exclusivas da era Tang. Estas políticas incluíam o controlo das ordenações monásticas, a regulamentação da construção de templos e mosteiros e a imposição de restrições às actividades do clero e à sua liberdade de movimentos. Dado o relativo conforto da vida monástica e a grande dimensão do clero, que incluía indivíduos com todo o tipo de antecedentes e aspirações, um certo nível de laxismo monástico e de corrupção era um problema constante. Este facto suscitou críticas tanto do exterior como do interior da comunidade budista, juntamente com apelos ocasionais à purificação do clero. No decurso da história da China, muitas dinastias reinantes estavam empenhadas em utilizar o prestígio e a popularidade do budismo para os seus objectivos políticos. Foi esse o caso, nomeadamente, durante a dinastia Sui, que fez uso extensivo do budismo como parte da sua política global de unificação do país sob o seu domínio centralizado. A situação durante a era Tang era um pouco mais complexa e confusa, em parte devido a uma política oficial que dava precedência ao taoísmo. Ao longo da dinastia, o nível de patrocínio oficial do estado e as suas atitudes em relação ao budismo foram influenciados por uma variedade de factores, incluindo as piedades pessoais de cada imperador. Num dos extremos do espetro estava a já mencionada Imperatriz Wu, que ofereceu um apoio generoso e fez uso extensivo do Budismo como uma fonte chave de legitimidade para o seu governo, que foi único nos anais da história chinesa devido ao seu género (ver Weinstein 1987: 37-47). No outro extremo do espetro estava o Imperador Wuzong (r. 842-845), que durante o seu curto reinado iniciou uma das mais abrangentes e devastadoras perseguições anti-budistas. Embora a perseguição se tenha estendido a outras religiões “estrangeiras”, especialmente o zoroastrismo, o maniqueísmo e o cristianismo nestoriano, os monges e mosteiros budistas foram os seus principais alvos. O imperador ordenou a destruição ou o encerramento total dos mosteiros e de outros estabelecimentos budistas, a laicização do clero e a expropriação das terras e propriedades monásticas (Weinstein 1987: 114-36; Ch’en 1964: 226-33). A perseguição foi de curta duração, uma vez que o imperador seguinte, Xuanzong (r. 846-859), mudou rapidamente a política do Estado e tornou-se um generoso apoiante do budismo. No entanto, para alguns historiadores, este acontecimento traumático marcou o fim de uma grande era na história budista chinesa. Escolas do budismo chinês Ao nível da elite, as fases formativas da história budista chinesa foram, em grande medida, moldadas pela formação de tradições exegéticas discretas e pela sistematização de paradigmas doutrinais ou soteriológicos explícitos. Estes processos encontraram as suas expressões mais notáveis no desenvolvimento das chamadas escolas ou tradições do Budismo chinês. No entanto, ao discutir estas escolas, temos de ter em conta que o termo chinês para “escola” (zong) nos coloca uma série de desafios, dadas as suas múltiplas conotações e os seus usos ambivalentes numa série de contextos. O mesmo termo pode ser utilizado para designar o objetivo essencial de uma determinada doutrina (que pode estar associada a uma escritura específica, como o Huayan jing), uma tradição de exegese canónica ou de reflexão filosófica (por exemplo, Madhyamaka), uma sistematização de doutrinas ou práticas particulares, ou um grupo de praticantes que aderem a um conjunto de ensinamentos ou ideais. Muitas vezes, envolve uma combinação de várias destas possibilidades interpretativas. De um modo geral, no contexto budista chinês, a noção de escola não implica uma tradição sectária distinta, por exemplo, ao longo das linhas que se desenvolveram no budismo japonês posterior, que veio a incorporar uma variedade de seitas institucionalmente independentes, como Sōtō Zen, Jōdo, Tendai, Shingon e Nichiren. Não obstante a existência de identidades de grupo distintas ou divisões faccionais – ao longo das linhas daquelas que separam Chan de Tiantai, por exemplo – as escolas do budismo chinês não se desenvolveram em seitas discretas que tinham estruturas eclesiásticas autônomas ou amarras institucionais que as diferenciavam da corrente principal monástica. De facto, todas elas eram partes integrantes de uma tradição budista inclusiva, largamente associada à ordem monástica e ao cânone budista, que era capaz de acomodar uma vasta gama de abordagens e perspectivas. Esta tradição budista mais vasta estava aberta a todo o tipo de gestos ecuménicos e amálgamas sincréticas. Também tinha a capacidade de absorver todos os tipos de debates doutrinários e desacordos faccionais. É, portanto, inútil ou enganador falar de monges (ou praticantes) Chan como um grupo distinto, quer no sentido sociológico, quer no sentido institucional, uma vez que não havia ordenações separadas ou outros marcadores de entrada oficial na escola Chan. Assim, os monges associados ao Chan (bem como às outras escolas) eram capazes de acomodar várias identidades sobrepostas, contextuais e porosas. Estas identidades envolviam a sua participação simultânea no movimento Chan mais alargado e numa das suas linhagens, bem como a sua pertença à ordem monástica e à tradição budista comum, com a sua história rica, saberes cumulativos, literatura expansiva e instituições multifacetadas (Poceski 2007a: 103-06). Da mesma forma, mesmo quando estabelecimentos religiosos específicos eram marcados como “mosteiros Chan”, estavam abertos a todos os tipos de praticantes. Por exemplo, quando um sistema de mosteiros Chan foi estabelecido durante a era Song, eles foram sub-sumidos sob a designação oficial de “mosteiros públicos” (shifang conglin). Estes mosteiros estavam abertos a todos os monges devidamente ordenados e em boa situação. Apenas a sua abadia estava limitada aos detentores da linhagem Chan, que eram também membros proeminentes da ordem monástica principal. O mesmo acontecia com os mosteiros Tiantai, que pertenciam a uma categoria separada de mosteiros de “ensino” (jiao) (ver Schlütter 2008: 31-54). Além disso, quando a escola Chan desenvolveu códigos monásticos específicos para a regulamentação deste tipo de mosteiro, basearam-se em grande medida no Vinaya, o código canónico de disciplina monástica, e incorporaram também uma variedade de costumes e rituais que não eram de modo algum exclusivos da escola Chan (ver Yifa 2002, especialmente o Capítulo 2). Durante o início da história do Budismo na China, especialmente durante o Período da Divisão, a elite monástica preocupou-se em alcançar o domínio dos principais princípios doutrinários e sistematizações filosóficas da tradição indiana Mahāyāna, que foram trazidos para a China em várias fases distintas. No início do século IV, após a chegada de Kumārajīva à China, as tradições dominantes de aprendizagem escolástica e exegese das escrituras giravam em torno do texto e das doutrinas da escola Madhyamaka. As primeiras apropriações chinesas das doutrinas Madhyamaka são evidentes nos escritos de Sengzhao (374-414) – um dos principais discípulos de Kumārajīva – que se distinguem pela sua complexidade intelectual e criatividade, bem como pelo recurso extensivo à terminologia chinesa nativa na exposição de ideias budistas subtis (ver Liu 1994: 37-81). Durante o século VI, os textos e as ideias do Yogā āra tornaram-se objeto de intenso estudo e reflexão, seguidos de uma crescente popularidade das doutrinas da natureza búdica e do tathāgatagarbha (ver Paul 1984, especialmente a Introdução). Estas tendências coalesceram em torno da formação das escolas Shelun e Dilun, que eram principalmente tradições eruditas de exegese canónica centradas em textos selecionados, que envolviam segmentos estreitos e pouco ligados da elite monástica, reconhecidos pela sua perspicácia intelectual e perícia escolástica. Como os nomes das duas escolas indicam, seus principais pontos de partida textuais eram o Daśabhūmikasūtra śāstra de Vasubandhu (Shidi jing lun, geralmente abreviado para Dilun) e o Mahāyān graha de Asa ga (She dasheng lun, ou Shelun). Durante as eras Sui e Tang houve um ressurgimento do interesse pela literatura e ensinamentos Madhya- maka, representado principalmente pelos escritos e actividades prolíficas do famoso erudito Jizang (549-623), que tinha ascendência da Ásia Central. A escola Sanlun (Três Tratados) de Jizang é muitas vezes rotulada como uma versão chinesa de Madhyamaka, embora por uma variedade de razões, incluindo a integração por Jizang da doutrina da natureza búdica na sua sistematização idiossincrática da filosofia budista, a simples equiparação de Sanlun com Madhyamaka seja questionada por alguns académicos. Outros também sugeriram que a escola Tiantai tem igual direito ao título de herdeira e criadora da herança filosófica da tradição Madhyamaka (Swanson 1989: 16). Durante o início da dinastia Tang, houve também um interesse considerável numa variedade de doutrina Yogā āra, trazida para a China pelo famoso tradutor e peregrino Xuanzang, frequentemente referida como a escola Faxiang (Caraterísticas do Dharma). Entre as principais caraterísticas destas escolas contavam-se as suas estreitas ligações a textos canónicos, modelos teóricos e sistemas de análise filosófica de origem indiana. Embora todas elas tenham gozado de uma popularidade considerável durante os seus tempos áureos, acabaram por ser largamente suplantadas pelas novas escolas ou tradições que se tornaram proeminentes durante o período Sui-Tang, nomeadamente Chan, Huayan, Tiantai e Terra Pura, a cada uma das quais é atribuído um capítulo separado na Parte II ou na Parte III deste volume. Não tendo equivalentes exactos no budismo indiano ou da Ásia Central, estas escolas vieram a representar formulações exclusivamente chinesas da doutrina e prática budistas. Entre elas, Huayan e Tiantai são geralmente consideradas como representando os pontos mais altos do desenvolvimento doutrinário no budismo da Ásia Oriental, enquanto Chan e Terra Pura incorporam as abordagens dominantes ao cultivo espiritual, embora seja discutível se a segunda constitui realmente uma escola distinta. Os copiosos textos, crenças, doutrinas e práticas das quatro escolas foram também exportados para o resto da Ásia Oriental, onde se tornaram elementos centrais ou inluentes na formação das tradições budistas nativas. (continua)
Hoje Macau EventosPortugal dos Pequenitos aborda países lusófonos atenuando ideia do império O Portugal dos Pequenitos de Coimbra, que exaltava o império colonial quando foi criado em 1940, disponibiliza actualmente um passaporte lúdico aos visitantes que queiram viajar entre os novos países de língua portuguesa representados no parque. Associadas à saga dos Descobrimentos encetados no século XV pelos portugueses, a esfera armilar e a cruz de Cristo permanecem 85 anos depois entre os adornos do espaço turístico instalado na margem esquerda do rio Mondego por Bissaya Barreto (1886-1974), um maçom que foi carbonário na juventude e mais tarde amigo de Salazar. “Acreditamos que é possível aprender a brincar”, disse à agência Lusa o director do parque temático, Nuno Gonçalves, citando o fundador. Na reportagem, percorrendo as miniaturas do Portugal dos Pequenitos (casas tradicionais, monumentos e representações dos países de língua portuguesa, além de Macau, Índia, Açores e Madeira, entre outras), o responsável realçou “a inspiração ludo-pedagógica” de uma visita que já foi realizada por milhões de pessoas de todos os continentes. “Encontramos aqui uma solução perfeita entre a possibilidade de divertimento e de aprendizagem, em que a língua portuguesa é uma forma viva para que as novas gerações possam aprender a brincar”, defendeu. Tanto a esfera armilar, um antigo instrumento de navegação que os republicanos de 1910 incluíram na nova Bandeira Nacional, como a cruz ligada às naus de Vasco da Gama e demais navegadores, foram adoptadas pelo Estado Novo para propagandear um “Portugal do Minho a Timor”, imperial, pluricontinental, supostamente uno e indivisível. A cruz de Cristo, ainda assim, continua a figurar na bandeira da Região Autónoma da Madeira, além de identificar as frotas da Força Aérea e da Marinha Portuguesa. Mais pedagogia Nas últimas décadas, acompanhando a consolidação do regime democrático nascido com o 25 de Abril de 1974, bem como a ascensão à independência das ex-colónias, a primitiva matriz ideológica do Portugal dos Pequenitos foi dando lugar a uma visão mais multicultural que privilegia as componentes lúdica e pedagógica. “Expressão profunda da nossa língua, na medida em que ela é comum” à maioria dos Estados-membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), menos a Guiné Equatorial, o parque é também assumido pela entidade proprietária, a Fundação Bissaya Barreto, como “expressão de interculturalidade” e de tolerância entre povos ligados por laços históricos, disse Nuno Gonçalves, enquanto explicava o funcionamento do passaporte lúdico que pode ser carimbado à entrada de cada país, região ou território. A viagem inclui, designadamente, Brasil, Angola, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Moçambique, Timor-Leste e ainda Açores, Madeira, Índia e Macau, cuja administração portuguesa passou para a China em 1999. “Esta visita inclui a viagem, a experiência, a dinâmica e a narrativa”, enfatizou Nuno Gonçalves. Imaculada concepção Concebido pelo arquitecto Cassiano Branco, o parque nasceu por iniciativa de Bissaya Barreto, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, na qual estudou nos alvores do século XX, fazendo amizade com António Salazar, então ainda um jovem aluno da Faculdade de Direito. Abriu ao público em 1940, escassos meses após ter sido inaugurada, em Lisboa, a Exposição do Mundo Português, que assinalou dois centenários: oito séculos da fundação da nacionalidade, por Afonso Henriques, e 300 anos da restauração da independência de Portugal pelos conjurados de 1640, pondo fim a 60 anos de dinastia dos Filipes e domínio espanhol. Cinquenta anos depois da emancipação política das antigas colónias de África, em 1975, quando Goa, Damão e Diu, a chamada Índia Portuguesa, já tinham sido anexados pela então União Indiana, em 1961, o Portugal dos Pequenitos, entre outras valências, engrandece com “galerias inspiradas nos países de expressão portuguesa”, propondo “uma experiência de visitação que seja também aprendizagem”. “É possível fazer uma visita a Portugal e outros países num curto espaço de tempo e por um valor muito reduzido, porque não temos de apanhar o avião”, gracejou o director.
Hoje Macau SociedadeCrime | Detida por suspeitas de troca ilegal de dinheiro Uma residente com 40 anos foi detida pela Polícia Judiciária perto de um casino, por suspeitas da prática do crime de troca ilegal de dinheiro. A informação foi divulgada ontem pela PJ e citada pelo jornal Ou Mun. De acordo com o relato, no domingo a mulher foi vista por agentes da polícia a aproximar-se de um jogador do Interior da China e a trocar 12.129 renminbis por 13.000 dólares de Hong Kong. O jogador transferiu o dinheiro através de uma aplicação móvel, enquanto a mulher lhe entregou o dinheiro vivo. De seguida, o homem foi ao casino trocar o dinheiro por fichas de jogo e foi detido, assim como a residente suspeita, pelas autoridades. A PJ apreendeu ao jogador 5.700 dólares de Hong Kong em fichas e 5.000 dólares de Hong Kong em dinheiro vivo. Com a mulher foram apreendidos 117 mil dólares de Hong Kong. A PJ acredita que a mulher trocava dinheiro ilegalmente pelo menos desde meados de Julho. O caso foi remetido para o Ministério Público.
Hoje Macau SociedadePraia Grande | Obras no Centro Católico alteram trânsito A realização da segunda fase de obras na rede de esgotos e demais instalações junto ao Centro Católico, na Avenida da Praia Grande, vai obrigar a mudanças na disposição do trânsito entre quinta-feira e o próximo dia 30 de Agosto, nomeadamente entre a Avenida da Praia Grande e a Rua do Campo. Segundo informações disponibilizadas ontem pela Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), irão realizar-se “obras de ligação à rede de esgotos, instalação de condutas de água, cabos eléctricos, tubagens, condutas de gás natural, reordenamento viário e demolição da galeria pedonal temporária”, pelo que o passeio em frente ao Centro Católico ficará vedado a peões. Além disso, a paragem junto ao China Plaza ficará suspensa nesse período, com mudanças nas carreiras de autocarro 10B e 28B. Os passageiros podem usar a paragem localizada a 100 metros, no sentido Avenida do Infante D. Henrique.
Hoje Macau PolíticaAzulejos | Moradores pedem maior atenção a perigos A União Geral das Associações dos Moradores de Macau (UGAMM) pede ao Governo mais fiscalização às obras e à qualidade e segurança dos azulejos instalados nos edifícios habitacionais. Foi desta forma que a associação reagiu aos três casos de queda de azulejos nos blocos 5, 6 e 7 do Edifício Koi Nga, em Seac Pai Van, dois dos quais aconteceram durante a passagem do tufão Wipha, e o terceiro dias nos dias seguintes. Segundo a associação, o Governo tem de intensificar os esforços de inspecção, por questões de segurança pública, até porque no bloco 7 existe uma zona exterior com espaços para uso dos moradores que podem ser atingidos por azulejos. Apesar dos alertas, Leong Hong Sai recordou que os problemas com o Edifício Koi Nga são antigos e que em Maio o Governo, numa resposta a interpelação escrita, admitiu que em sete blocos dois oito blocos houve quedas de azulejos. No entanto, o Executivo também informou na altura que em três dos blocos foram concluídas as obras de recuperação das paredes e que nos outros blocos os trabalhos estavam em curso.
Hoje Macau Manchete PolíticaChikungunya | Aliança do Povo alerta para perigo em terrenos do Governo Os membros da associação sugerem que os terrenos recuperados sejam utilizados temporariamente, para evitar a situação actual com águas paradas e ervas por cortar, propícia à reprodução de mosquitos A Aliança de Instituto de Povo de Macau alertou o Governo para o estado de vários terrenos recuperados na área de Nam Van, propício à propagação de mosquitos. O alerta foi deixado através das declarações de Tong Ho Laam, vogal do conselho executivo da associação, e Tam Sio Pang, director da associação, numa altura em que foram registados quarto casos importados de febre de Chikungunya. De acordo com o relato apresentado, Tong e Tam foram abordados por residentes que se queixam que há muito tempo nos “muitos terrenos desocupados” daquela zona há “poças de água estagnada” e “o crescimento de erva”, o que cria condições ideais para a reprodução dos mosquitos. Neste cenário os dirigentes associativos esperam que o Governo tomem medidas para prevenir a proliferação de mosquitos nos terrenos que estão na sua posse. No artigo, os membros da associação recordam também que anteriormente as Obras Públicas adjudicaram o serviço de remoção de água e mapeamento dos terrenos de Nam Van identificados como A3, A4 e A9. Os trabalhos estão contratualizados para acontecer entre Junho e Setembro. Contudo, Tong Ho Laam e Tam Sio Pang indicam que apesar de os trabalhos estarem a ser realizados no terreno A3, que no A4 ainda existe muita água parada. Em relação ao terreno A9, junto do edifício AIA, é indicado que também existe muita água parada e zonas com ervas altas, uma vez que o terreno em questão tem maior profundidade. Problemas temporários Os membros da associação apelam também ao Governo para fazer uma melhor utilização dos terrenos que se encontram desocupados, com a criação de parques públicos e outras instalações públicas. Desta forma, indicam, estes problemas seriam facilmente resolvido ou nem sem verificariam. Desde o início do ano foram registados quatro casos importados de febre de Chikungunya. Os dois mais recentes foram divulgados na sexta-feira e levaram os Serviços de Saúde a apelar à população para tomar medidas de precaução. Segundo os Serviços de Saúde a febre Chikungunya é uma doença viral, transmitida por mosquitos do género Aedes, principalmente os das espécies Aedes aegypti e Aedes albopictus.
Hoje Macau PolíticaImobiliário | Associação critica Governo por falta de medidas O presidente da Associação Geral do Sector Imobiliário de Macau, Ip Kin Wa, alertou novamente para o risco do crédito malparado nos bancos de Macau atingir níveis preocupantes, na consequência da crise do mercado imobiliário e do encerramento dos casinos-satélites. As declarações foram prestadas numa entrevista ao jornal Ming Pao, de Hong Kong. Na opinião de Ip, a situação económica de Macau não é única e a tendência negativa verifica-se igualmente no Interior da China e em Hong Kong. Contudo, o dirigente associativo mostra-se preocupado porque diz que nas outras duas regiões os Governos tomaram medidas para promover a estabilização dos mercados imobiliários. Ao mesmo tempo, Ip indica que em Hong Kong o Executivo enviou uma comitiva ao Médio Oriente para atrair investimento imobiliário e quadros qualificados. No entanto, o presidente da Associação Geral do Sector Imobiliário de Macau lamenta que na RAEM o Executivo não apresente medidas para atrair quadros qualificados. Ip criticou também o facto de o Governo não ter alterado o imposto de selo nas transacções de imobiliário, que actualmente varia de 1 a 3 por cento, consoante o valor do imóvel. O presidente da associação afirmou que este imposto é o mais elevado da Grande Baía. “Actualmente, em Macau, realizam-se pouco mais de 100 transacções de imóveis por mês e apenas 2.000 transacções ao longo do ano. Os preços dos imóveis estão a descer e é necessário salvar o sector imobiliário para estabilizar o consumo e a economia”, apelou Ip.
Hoje Macau PolíticaEducação | Governo prepara manual para sobredotados O Governo está a trabalhar num manual escolar para apoiar os alunos sobredotados. A revelação foi feita por Kong Chi Meng, director dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude, em resposta a uma interpelação escrita do deputado Ron Lam. “Actualmente, a DSEDJ está a elaborar um manual escolar de apoio à educação sobredotada, fornecendo sugestões práticas para o planeamento escolar e desenvolvimento da educação para alunos sobredotados”, foi revelado. “A DSEDJ espera, através das escolas, pais/encarregados de educação e alunos, atender às necessidades de desenvolvimento dos alunos sobredotados, nos seus vários aspectos e, no futuro, reforçar as acções de divulgação e promoção, incentivando mais escolas a promover a sua própria educação de sobredotados, promovendo, de forma contínua, o seu desenvolvimento”, foi acrescentado. Na resposta, Kong Chi Meng realça também que desde 2009 a DSEDJ tem dado formação especial a professores para identificarem este tipo de alunos: “Para reforçar a capacidade de identificação e apoio prestado pelo pessoal docente da linha da frente e quadros médios e superiores de gestão, desde 2009, a DSEDJ tem vindo a organizar, sistematicamente, cursos de formação e actividades de aprendizagem e intercâmbio sobre educação de alunos sobredotados, bem como palestras destinadas a pais/encarregados de educação, com vista a aumentar os seus conhecimentos sobre os seus filhos sobredotados e a aumentar a eficácia da educação”, foi indicado.
Hoje Macau PolíticaDispositivos médicos | Nova lei entra em vigor em 2026 O novo “Regime de supervisão e administração de dispositivos médicos”, que foi aprovado no hemiciclo no passado dia 14 de Julho e publicado ontem em Boletim Oficial, entra em vigor a 1 de Julho do próximo ano. O diploma passar a regulamentar ao uso e compra de materiais e aparelhos que vão dos simples pensos rápidos, agulhas de acupunctura, a desfibriladores e respiradores. A lei tem o objectivo de proporcionar “uma supervisão integral, em todas as fases, de dispositivos médicos”, nomeadamente nas fases da “investigação, desenvolvimento, fabrico, importação, exportação, venda por grosso e venda a retalho”. Desta forma, aponta uma nota oficial do Governo, “será possível garantir a qualidade, eficácia e segurança [destes dispositivos], defendendo-se e promovendo-se a saúde pública”. Segundo o novo regime jurídico, os dispositivos médicos são classificados em três classes principais de acordo com o seu nível de risco potencial, sendo que “apenas os dispositivos médicos que tenham sido aprovados para registo ou tenham sido inscritos podem circular no mercado de Macau”.
Hoje Macau China / ÁsiaDiplomacia | Tailândia concorda em princípio com cessar-fogo com Camboja O primeiro-ministro interino da Tailândia, Phumtham Wechayachai, disse ontem que o país concordou, em princípio, com um cessar-fogo, mas enfatizou a necessidade de “intenções sinceras” por parte do Camboja De acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros tailandês, Phumtham Wechayachai apelou a negociações bilaterais rápidas para discutir medidas concretas no sentido de uma resolução pacífica do conflito. O actual líder do Governo da Tailândia agradeceu ainda ao Presidente dos Estados Unidos, com quem falou horas antes, numa conversa por telefone em que Donald Trump apresentou uma proposta de cessar-fogo. Também o primeiro-ministro do Camboja, Hun Manet, disse ontem que o país aceitou negociações para um “cessar-fogo imediato e incondicional”. “Esta é uma boa notícia para os soldados e para o povo de ambos os países”, disse o líder cambojano, num comunicado. Manet instruiu o ministro dos Negócios Estrangeiros, Prak Sokhonn, a iniciar discussões com o homólogo norte-americano, Marco Rubio, para pôr fim ao conflito que eclodiu na quinta-feira. Ainda assim, jornalistas da agência de notícias France-Presse em Samraong, no Camboja, a cerca de 20 quilómetros da fronteira com a Tailândia, ouviram o som de disparos de artilharia esta madrugada. Uma porta-voz do Ministério da Defesa do Camboja afirmou ainda que a Tailândia tinha atacado às 04h50 (05h50 em Macau) perto de dois templos cuja soberania é disputada pelos dois países. O coronel Richa Suksowanont, porta-voz adjunto do exército tailandês, acusou as forças cambojanas de dispararem ontem de manhã artilharia pesada contra a província de Surin, incluindo contra casas de civis. Richa Suksowanont disse que o Camboja também lançou ataques com foguetes contra o antigo templo de Ta Muen Thom, reivindicado por ambos os países, e outras áreas, numa tentativa de recuperar o território protegido pelas tropas tailandesas. As forças tailandesas responderam com artilharia de longo alcance para atingir a artilharia e os lança-foguetes cambojanos. As operações no campo de batalha vão continuar e um cessar-fogo só poderá acontecer se o Camboja iniciar formalmente as negociações, acrescentou Richa Suksowanont. Do outro lado A porta-voz do Ministério da Defesa do Camboja, tenente-general Maly Socheata, acusou as forças tailandesas de intensificarem a violência com bombardeamentos em território cambojano na manhã de domingo, seguidos de uma “incursão em grande escala” envolvendo tanques e tropas terrestres em várias áreas. “Tais acções minam todos os esforços para uma resolução pacífica e expõem a clara intenção da Tailândia de intensificar o conflito, em vez de o apaziguar”, afirmou. Uma histórica disputa fronteiriça entre os dois países conduziu na quinta-feira a confrontos que envolveram caças, tanques, tropas terrestres e artilharia. Os combates causaram 33 mortes e mais de 130 mil deslocados em ambos os lados da fronteira. O saldo já supera o da série anterior de grandes confrontos fronteiriços entre os dois países, que causaram 28 mortes entre 2008 e 2011. O Conselho de Segurança da ONU reuniu-se de urgência e, no sábado, o secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres, condenou a escalada de violência entre a Tailândia e o Camboja, pediu a ambas as partes que se comprometam com um cessar-fogo e ofereceu-se como mediador.
Hoje Macau China / ÁsiaTelegram | Milhares de homens partilharam fotos íntimas de mulheres Milhares de homens na China partilharam fotos e vídeos íntimos das suas namoradas ou esposas, sem o consentimento destas, na aplicação de mensagens Telegram, o que gerou um apelo geral para reforçar a protecção das mulheres. A onda de reacções ocorreu após uma estudante chinesa ter sido expulsa de uma universidade a meio de Julho por “violação da dignidade nacional”, depois que um jogador ucraniano de e-sport ter divulgado vídeos no Telegram, mostrando que tiveram relações íntimas. Um evento semelhante ocorreu na quinta-feira. Uma chinesa descobriu que fotos dela, tiradas sem seu conhecimento, foram partilhadas num fórum desta mesma aplicação de mensagens com mais de 100.000 utilizadores, principalmente homens chineses, revelou o Southern Daily, um meio de comunicação estatal. “Não somos conteúdo que pode ser descarregado, visualizado e fantasiado ao acaso”, pode-se ler-se num comentário na rede social Red Note. “Não podemos mais permanecer em silêncio.”Porque da próxima, posso ser eu, ou seres tu”, acrescenta. A pornografia é ilegal na China e os comportamentos conservadores em relação às mulheres continuam a ser a norma, reforçados pelos meios de comunicação estatais e pela cultura popular. O maior grupo deste tipo no Telegram, chamado “Mask Park”, foi desde então removido, mas grupos menores derivados deste permanecem activos, segundo a mulher contactada pelo Southern Daily. Outros membros do fórum também partilharam fotos de suas actuais ou antigas companheiras, de acordo com um artigo publicado no Guangming Daily, um meio de comunicação apoiado pelo Partido Comunista Chinês no poder, suscitando um choque geral na Internet. Um hashtag associado a este caso foi consultado mais de 230 milhões de vezes na plataforma social Weibo desde quinta-feira. As autoridades chinesas ainda não anunciaram quaisquer medidas contra o Telegram, que é proibido na China, mas que continua acessível através de algumas redes privadas virtuais, afirmou a plataforma à agência de notícias AFP.
Hoje Macau China / ÁsiaTecnologia | Pequim quer reconciliar inteligência artificial e o seus riscos O Governo chinês pediu a reconciliação entre o desenvolvimento da inteligência artificial e os riscos representados por esta tecnologia, defendendo um consenso global, apesar da rivalidade entre Pequim e Washington neste assunto O Presidente norte-americano, Donald Trump, divulgou esta semana um plano de acção para promover o desenvolvimento irrestrito de modelos americanos de inteligência artificial (IA) nos Estados Unidos e no estrangeiro, descartando as preocupações sobre potenciais abusos. O Presidente norte-americano rompe, assim, com a linha do antecessor democrata Joe Biden, que defendia o desenvolvimento controlado. “Não deixaremos que nenhuma outra nação nos vença” na corrida da IA, declarou Trump. No sábado, na abertura da Conferência Mundial de Inteligência Artificial (WAIC) em Xangai, o primeiro-ministro chinês, Li Qiang, apelou para a boa governação e a partilha de recursos, anunciando, nomeadamente, a criação de um organismo, lançado pela China, para estimular a cooperação internacional em IA. “Os riscos e os desafios associados à inteligência artificial estão a atrair uma ampla atenção (…) Encontrar um equilíbrio entre o desenvolvimento e a segurança requer um consenso urgente e mais amplo de toda a sociedade”, sublinhou. Não forneceu detalhes sobre o novo organismo, embora os meios de comunicação estatais tenham relatado que “a primeira consideração” era que a sede fosse em Xangai (nordeste). A organização deve “promover a governação global, uma ampla consulta, contribuição conjunta e benefícios partilhados”, informou a agência de notícias estatal chinesa Xinhua. Um tigre bebé Numa altura em que a IA se está a integrar em praticamente todos os sectores, o uso tem levantado questões éticas significativas, que vão desde a disseminação da desinformação ao impacto no emprego e à potencial perda de controlo tecnológico, avançou a agência de notícias France-Presse. Durante um discurso na conferência de Xangai, o Prémio Nobel da Física, Geoffrey Hinton, utilizou uma metáfora, ‘como um tigre bebé a viver em casa’ , para descrever a situação global actual. Hinton descreveu a actual atitude em relação à IA como semelhante a “uma pessoa adoptar um filhote de tigre fofo como animal de estimação”. “Para sobreviver”, disse, “é preciso ter a certeza de que se pode treiná-lo para que não o mate quando crescer”. Os enormes avanços na tecnologia de IA nos últimos anos também a colocaram na vanguarda da rivalidade entre os Estados Unidos e a China. A China “incentiva activamente” o desenvolvimento da IA de código aberto e está disposta a partilhar avanços tecnológicos com outros países, especialmente as nações em desenvolvimento, destacou. “Se estabelecermos monopólios, controlos ou barreiras tecnológicas, a inteligência artificial corre o risco de se tornar um privilégio de um pequeno número de países e empresas”, alertou, por seu turno, Li Qiang. O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Ma Zhaoxu, alertou, por sua vez, contra o “unilateralismo e o proteccionismo” numa reunião subsequente. Os Estados Unidos intensificaram os esforços nos últimos anos para restringir as exportações de ‘chips’ avançados para a China, com Washington a manifestar preocupação de que possam ser usados para modernizar as Forças Armadas chinesas e enfraquecer a posição norte-americana na corrida tecnológica. O primeiro-ministro chinês citou “a escassez de ‘chips’ e de capacidade computacional” entre uma lista de obstáculos ao desenvolvimento do sector.
Hoje Macau Via do MeioO Budismo na História da China Por Mario Poceski (continuação do número anterior) Apesar do seu sucesso a longo prazo na China, no processo de crescimento e assimilação, o budismo teve de ultrapassar uma série de obstáculos. A um nível básico, havia problemas linguísticos, uma vez que o chinês literário era muito diferente do sânscrito, a principal língua canónica da tradição Mahāyāna. Havia também desafios formidáveis relacionados com a superação das vastas diferenças de perspectivas intelectuais, valores culturais e predilecções religiosas que separavam a China da Índia. Em contraste com a transmissão do budismo a muitas outras partes da Ásia, onde a sua chegada foi associada à entrada de uma cultura superior, no contexto chinês a religião estrangeira entrou num país (ou numa área cultural e geográfica distinta) com um sentido bem estabelecido de auto-identidade e ricas tradições filosóficas, políticas e religiosas. No esquema chinês, a sua civilização era suprema, assente em valores duradouros e sustentada por instituições excepcionais. Aos olhos de muitos ideólogos e intelectuais chineses, a sua cultura era gloriosa e completa. Também tinha sábios ilustres, como Confúcio e Laozi, que nos tempos antigos revelaram os padrões essenciais do comportamento humano adequado e exploraram os mistérios intemporais do Tao. Por isso, parecia indecoroso que os seus compatriotas adorassem uma estranha divindade estrangeira ou seguissem costumes estranhos importados de terras distantes. Com a crescente influência do budismo na China medieval, alguns dos literatos, especialmente aqueles com predilecções confucionistas, articularam uma série de críticas à religião estrangeira. O objeto mais proeminente das suas críticas contundentes foi a ordem monástica (Sangha). Inicialmente, o monaquismo representava um novo tipo de instituição, sem equivalente na sociedade chinesa. Consequentemente, foi identificado por alguns oficiais como sendo potencialmente subversivo, ou pelo menos irreconciliável com o sistema sociopolítico tradicional da China. Por exemplo, a renúncia monástica aos laços sociais e a observância do celibato foram criticadas como sendo incompatíveis com o ethos confucionista dominante, que privilegiava o patriarcado e sublinhava a primazia das relações sociais, especialmente as centradas na família. Consequentemente, os monges eram criticados por se desviarem das normas sociais estabelecidas. Eram acusados de não serem iliais, sobretudo por não se casarem e não produzirem descendência masculina. Numa sociedade que louvava a piedade ilial como uma virtude suprema – que estava ligada ao culto prevalecente dos antepassados – tais acusações representavam sérios impedimentos à ampla aceitação do budismo e ao crescimento da ordem monástica. O budismo foi também rejeitado por oficiais e literatos xenófobos devido às suas origens estrangeiras (lit. “bárbaras”). Aos seus olhos, isso tornava-o hostil aos valores chineses essenciais e inadequado como religião para o povo chinês. Além disso, de acordo com alguns dos seus detractores, a ordem monástica era economicamente improdutiva, impondo um encargo financeiro excessivo e injustificável tanto ao Estado imperial como ao público em geral. Outro ponto de discórdia, com sérias implicações políticas, era a insistência da ordem monástica na sua independência institucional – ou, pelo menos, numa aparência de independência – que colidia com as opiniões prevalecentes sobre a autoridade absoluta do imperador e o primado do Estado chinês. Por vezes, estas críticas conduziram mesmo a apelos explícitos à proclamação do budismo, o que, em duas ocasiões distintas, culminou em perseguições conduzidas pelo Estado, sob as dinastias Wei do Norte (446-451) e Zhou do Norte (574-577). No entanto, estes foram apenas contratempos temporários, uma vez que em ambos os casos as comunidades budistas locais conseguiram recuperar rapidamente (Ch’en 1964: 147-53, 190-94). No final do século VI, nas vésperas da reunificação da China sob a dinastia pró-budista Sui (581-618), o budismo já tinha estabelecido raízes duradouras em todo o território da China. Durante o Período da Divisão, o budismo chinês também passou a desempenhar um papel central nos vastos processos de difusão cultural e realinhamento político que aproximaram outras partes da Ásia Oriental da esfera de influência da China. As formas chinesas de budismo do norte foram introduzidas pela primeira vez na península coreana durante o século IV e, ao longo dos séculos seguintes, houve um fluxo constante de monges coreanos que foram estudar para a China (ver o capítulo de Sem Vermeerch neste volume). Depois, no século VI, o budismo foi também introduzido no Japão, onde rapidamente se tornou proeminente. Em pouco tempo, o budismo tornou-se a religião nacional de facto do Estado insular e, nas épocas seguintes, continuou a exercer uma influência notável na cultura e na sociedade japonesas (ver o capítulo de Heather Blair neste volume). Formação canónica e classificação doutrinal Muitos dos monges missionários que entraram na China trouxeram consigo uma série de escrituras e outros textos budistas. Durante vários séculos, até ao início da era Tang, a tradução de textos canónicos para chinês foi uma das principais preocupações do clero budista e dos seus patronos leigos. O enfoque nos textos sagrados e a reverência que lhes era dirigida reflectiam as atitudes budistas tradicionais, mas eram também influenciadas pela orientação esmagadoramente literária da cultura chinesa de elite, na qual a palavra escrita era tida em grande consideração. Em muitas ocasiões, o Estado foi um dos principais patrocinadores de vários projectos de tradução. Os principais exemplos disso são as volumosas traduções produzidas pelos grandes gabinetes de tradução dirigidos por Kumārajīva (344-413?) e Xuanzang (ca. 600-664), provavelmente os dois tradutores mais conhecidos de textos budistas para chinês. Tanto o missionário Kuchan como o monge chinês trabalharam sob os auspícios imperiais em Chang’an, a capital imperial, ou nos seus arredores. Os seus gabinetes de tradução oficialmente sancionados estavam situados em mosteiros apoiados pelo Estado, com numerosos monges proeminentes a servir como seus assistentes. Xuanzang também era famoso pela sua peregrinação épica à Índia, de onde trouxe de volta numerosos manuscritos budistas, enquanto Kumārajīva era um expoente proeminente da doutrina do vazio, tal como proposta pela escola Madhyamaka. A tarefa de traduzir textos budistas para chinês foi um empreendimento monumental, não só devido aos desafios linguísticos, conceptuais e transculturais acima referidos, mas também devido à enorme dimensão dos vários cânones produzidos pelas principais tradições do budismo indiano. A tradição Mahāyāna, que se tornou dominante na China, tinha um cânone aberto, e os seus adeptos eram criadores especialmente prolíficos da literatura canónica. Também temos de ter em mente que, ao mesmo tempo que o Budismo crescia na China, o movimento Mahāyāna indiano passava por importantes desenvolvimentos e mudanças de paradigma, com impactos notáveis nas esferas doutrinal, literária e institucional. Desenvolvimentos notáveis no budismo indiano que tiveram lugar durante os primeiros séculos da Era Comum, que vieram a exercer inluências significativas no budismo chinês, incluíram o aparecimento de escolas distintas de orientação filosófica, como Madhyamaka e Yogā āra, cada uma das quais produziu extensa literatura. A emergência do movimento tântrico durante o século VII, apesar da sua ênfase nas práticas rituais, levou à produção de ainda mais textos. Muitos destes textos foram, a seu tempo, traduzidos para chinês, o que levou à criação de comentários sobre as escrituras e outras obras exegéticas. Assim, o cânone budista chinês estava em constante expansão e evolução, acabando por se tornar uma das maiores colecções de literatura religiosa do mundo (ver o capítulo de Jiang Wu neste volume). Entre os numerosos textos canónicos traduzidos por Kumārajīva, Xuanzang e outros tradutores notáveis estavam escrituras inluentes como a Escritura do Lótus, indiscutivelmente a escritura mais popular na China (e no Japão), bem como a Escritura Huayan, a Escritura Vimalak rti e a Escritura Amitābha. A origem indiana de alguns destes textos (por exemplo, as Escrituras de Huayan) é incerta, enquanto outros (por exemplo, as Escrituras de Amitābha) não foram assim tão influentes no país onde nasceram, mas, por uma série de razões, captaram a imaginação religiosa dos budistas chineses e vieram a exercer uma imensa influência no desenvolvimento do budismo chinês (e da Ásia Oriental). Algumas obras canónicas, especialmente os textos volumosos e multifacetados, como as escrituras do Lótus e de Huayan, foram abordadas de vários ângulos e utilizadas para uma multiplicidade de fins. Em certos meios intelectuais, serviram de ponto de partida para discussões filosóficas sofisticadas, incluindo reflexões metafísicas sobre a natureza da realidade (ver os capítulos de Haiyan Shen e Imre Hamar neste volume), mas também inspiraram uma série de práticas cultuais. Além disso, impulsionaram criações artísticas requintadas: inscrições caligráficas, pinturas de cenas bem conhecidas das escrituras ou esculturas de divindades nelas representadas. O envolvimento do estado imperial com o cânone não se limitou ao patrocínio de projectos de tradução. Estendeu-se também à encomenda de catálogos de textos canónicos, bem como à compilação e publicação do cânone budista, conhecido como a “Grande Coleção de Escrituras” (Da zang jing). Por vezes, o governo também reivindicou uma prerrogativa auto-designada para tomar decisões sobre o que deveria ser incluído ou excluído do cânone. Quando um determinado movimento ou seita budista entrava em conflito com o governo, isso podia levar não só à sua proibição como heresia subversiva, mas também à proscrição dos seus textos, como aconteceu com o famoso movimento dos Três Estádios durante a era Tang (Hubbard 2001). Com o tempo, o cânone cresceu não só em tamanho, mas também em termos da variedade de textos nele contidos. Por fim, muitos textos compostos na China foram incorporados no cânone – ou melhor, nos cânones, uma vez que havia várias versões do cânone chinês. Isto incluiu numerosas escrituras apócrifas compostas na China, algumas das quais foram aceites como canónicas, tendo algumas delas se tornado bastante inluentes (ver Buswell 1990). Os casos em questão são o Tratado sobre o Despertar da Fé Mahāyāna (Dasheng qi xin lun) e a Escritura do Despertar Perfeito (Yuan jue jing), ambos os quais receberam extensa exegese e foram frequentemente citados numa grande variedade de textos que tratavam de temas filosóficos ou de questões relacionadas com o cultivo espiritual. Ainda mais numerosos foram os textos compostos por autores chineses, a maioria dos quais eram membros da ordem monástica. Exemplos deste tipo incluem várias obras históricas e a pletora de textos produzidos por monges associados a escolas budistas chinesas como Chan, Huayan e Tiantai. A proliferação de textos canónicos, juntamente com a variedade de diferentes perspectivas doutrinais e paradigmas soteriológicos neles expressos, tornaram-se repetidamente fontes de perplexidade para os budistas chineses, especialmente durante as fases iniciais da difusão da religião “indiana”. Toda a situação foi agravada pela forma aleatória como vários textos e doutrinas foram introduzidos na China. Por exemplo, qual era a relação entre as doutrinas Madhyamaka do vazio, das duas verdades e da origem condicionada, e as explorações matizadas do Yogā āra sobre a mente e a realidade em termos de categorias distintas como as três naturezas e as oito consciências? E as noções relacionadas com a natureza búdica e o tathāgatagarbha, que não eram muito influentes na Índia e entraram na China numa fase posterior do desenvolvimento doutrinal, mas que acabaram por ser aceites pela maioria dos budistas chineses como artigos de fé fundamentais e peças centrais da sua visão do mundo? Uma forma de lidar com esta proliferação de modelos teóricos e com a superabundância de significados foi a criação de taxonomias doutrinárias (panjiao, também designadas por classificações de ensinamentos), que se tornaram uma das marcas do escolasticismo budista chinês medieval. A criação de taxonomias doutrinais foi uma forma particular chinesa de lidar com a multiplicidade de textos e ensinamentos contidos no cânone, embora também estivesse relacionada com certas dificuldades religiosas e desenvolvimentos peculiares no seio da tradição budista medieval. De um modo geral, os esquemas classificativos reflectiam as sensibilidades intelectuais chinesas, especialmente a tendência para procurar a harmonia, a ordem e a inclusão. Adoptaram atitudes abrangentes e aparentemente ecuménicas em relação às tradições budistas cumulativas, que eram vistas como repositórios sagrados de verdades intemporais e significados sublimes. Afirmavam que, em última análise, existe apenas uma verdade, que é inefável e transcende todas as construções conceptuais. No entanto, há uma série de caminhos de prática e realização que conduzem à verdade múltipla, adaptados às aptidões espirituais distintas ou às capacidades de grupos distintos de praticantes. Ao mesmo tempo, os vários textos e ensinamentos foram organizados de forma hierárquica, de acordo com critérios pré-determinados e à luz de pontos de vista particulares. Por estes meios, as taxonomias também promoviam a superioridade de um determinado texto ou ensinamento, tornando-se assim ferramentas potencialmente úteis para o avanço de agendas proto-sectárias. Todos estes elementos são evidentes no proeminente esquema taxonómico criado por Fazang (643-712), uma figura de proa da escola Huayan e principal arquiteto do seu sistema doutrinário abrangente e sofisticado. Entre os cinco níveis de ensinamentos incluídos na taxonomia de Fazang, os ensinamentos da Escritura Huayan, que ele apelidou de “ensinamento perfeito”, ocupam a posição mais elevada. De uma forma que reflectia a sua própria perspetiva filosófica, Fazang também organizou os principais sistemas doutrinais do budismo indiano numa forma hierárquica, com a doutrina tathāgatagarbha acima da doutrinas das escolas Yogā āra e Madhyamaka (ver Gregory 1991: 127-43). Como é habitual nas taxonomias doutrinais chinesas, os ensinamentos Hīnayāna ou Pequeno Veículo foram colocados no fundo. Do mesmo modo, nos esquemas taxonómicos produzidos por Zhiyi (538-597) e pela sua escola Tiantai, a Escritura do Lótus, que serviu de texto fundador para o abrangente e engenhoso sistema de filosofia budista de Tiantai, foi exaltada como o texto mais supremo do cânone budista, embora com a ressalva de que nenhuma escritura, por mais pro- funda ou sublime que seja, tem o monopólio da verdade última. Para além disso, ao aplicar diferentes princípios de classificação, a escola Tiantai foi capaz de produzir várias nomenclaturas classificativas distintas. Isso é exemplificado pelos três esquemas taxonómicos conhecidos coletivamente como os “oito ensinamentos e cinco períodos”, que organizam a totalidade dos textos e ensinamentos canónicos em três grupos separados, em termos dos seus conteúdos doutrinários, meios de instrução empregues pelo Buda e os principais períodos na carreira de pregação do Buda. (continua)
Hoje Macau EventosMICAF arranca com exposições, instalações e muita cor Está aí a segunda edição do Festival Internacional de Artes para Crianças de Macau (MICAF, na sigla inglesa), que desde sexta-feira tem a decorrer um programa com 49 actividades e espectáculos em mais de 1.000 sessões, divididos em nove secções. Segundo uma nota do Instituto Cultural (IC), incluem-se nas actividades destinadas aos mais pequenos “programas de artes performativas de nível internacional, um musical de grande escala, exposições de arte, um festival de cinema, grandes instalações ao ar livre, acampamentos artísticos, acampamentos de música, workshops e uma feira artística”. Segundo o IC, o objectivo do MICAF é “iluminar a infância das crianças através da arte, incentivando as famílias e as crianças a contactarem de perto com as artes a partir de diversas perspectivas usando todos os seus sentidos”. Um dos eventos é “O Paraíso do Pequeno MICAF”, que irá realizar-se todos os fins-de-semana na Praça do Centro Cultural de Macau (CCM), sendo que esta iniciativa tem vindo a decorrer desde o início do mês de Julho. O evento inclui sessões com jogos e insufláveis com “elementos desportivos, correspondendo assim ao espírito da 15ª edição dos Jogos Nacionais”, além de que está presente a mascote MICAF de 10 metros de altura. Depois, nos fins-de-semana de 22 a 24 e de 29 a 31 de Agosto, terá lugar o “Dia de Diversão MICAF”, com programas sob o tema “diversão aquática e arte”, incluindo-se também a realização da “Festa da Espuma” e da “Festa de Diversão Aquática”. Haverá também “danças de rua interpretadas por crianças, palhaços, artistas com andas e outras actuações interactivas, bem como workshops de artesanato e exibições de filmes para famílias ao ar livre”. Uma mostra mágica Destaca-se também a realização da exposição “A Magia das Linhas: O Mundo Maravilhoso das Ilustrações de Serge Bloch”, patente no ART Espaço, situado no terraço do primeiro andar do Centro Cultural de Macau até ao dia 7 de Outubro. A mesma mostra apresenta-se também na Zona da Barra no entorno da Doca D. Carlos I – Oficinas Navais N.º 1 e N.º 2 até 14 de Setembro. Esta mostra, organizada em parceria com o MGM, traz três secções que permitem a crianças e adultos “entrarem no espaço criativo construído pelo ilustrador francês Serge Bloch com linhas mágicas” e “embarcarem numa viagem artística cheia de imaginação, alegria e inspiração, na descoberta de um lugar para reconhecerem a beleza dos pequenos momentos da vida”. Interligadas à exposição decorrem actividades como o seminário “Tela Artística – Pincel de Cor”, bem como o “Workshop Extra de Livros Ilustrados”, ambos a realizar-se nas Oficinas Navais nº2. Depois, oficinas como “Aventura de Rabiscos – Criar Histórias Inspiradas na Arte de Bloch”, “Linhas Travessas – Oficina Magia da Colagem para Famílias” e “Mágicos das Linhas – Oficina de Livros Ilustrados para Famílias” decorrem no ART Espaço”. O MICAF traz também a Macau o musical “Disney – A Caixa Mágica”, bem como a peça de teatro de marionetas “Os Hamsters de Chong Chong”, seleccionado no âmbito do “Comissionamento de Produções de Artes Performativas 2024-2026”. O cartaz do MICAF traz também o bailado “Cinderela”, protagonizado pelo Ballet do Teatro Nacional de Brno da República Checa; o teatro multimédia “Poli Pop”, do Teatro Pincelado da Coreia do Sul; sem esquecer “Espectáculo de Neve”, teatro com palhaços. Ainda na vertente de palco vão decorrer os espectáculos “Um Dia de Astronauta” e o teatro musical coral, de estilo familiar, “Sussurrando o Zodíaco: O Concerto Coral do Zodíaco Chinês”. No cinema, a Cinemateca Paixão apresenta um ciclo de filmes para os apaixonados da animação.
Hoje Macau SociedadeCotai | Espectáculo na zona ao ar livre cancelado Ao contrário do que estava previsto, a realização de um espectáculo no “Local de Espectáculos ao Ar Livre” planeado para o início de Setembro foi cancelada, de acordo com uma nota de imprensa do Instituto Cultural (IC). As autoridades indicam assim que o espaço voltou a ficar disponível para ser temporariamente arrendado. O espectáculo cancelado não foi identificado pelas autoridades, nem as datas concretas em que ia decorrer. “O Local de Espectáculos ao Ar Livre de Macau foi originalmente alugado pela indústria das artes performativas para a realização de um espectáculo de grande dimensão em inícios de Setembro. No entanto, foi recebida uma notificação do respectivo locatário no dia 25 deste mês a informar que o evento foi cancelado, pelo que o espaço se encontra novamente disponível para aluguer no período referido”, informou o IC. No entanto, em Maio, a organização do festival S20, que se destaca por organizar concertos com jactos de água direccionados para o público, tinha revelado uma edição em Macau, que estava agendada para os dias 6 e 7 de Setembro. De acordo com a informação do organizador publicada no Facebook em Maio, o festival estava agendado para o Local de Espectáculos ao Ar Livre. No entanto, e embora o cancelamento não tenha sido confirmado, a pouco mais de um mês ainda não foi anunciado o nome de qualquer artista presente, nem os bilhetes foram colocados à venda.
Hoje Macau SociedadeÁgua | Mais duas marcas falham testes de segurança O Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) anunciou que duas águas produzidas fora de Macau chumbaram os testes de segurança e qualidade. Num comunicado divulgado apenas em língua chinesa, na sexta-feira, o IAM identificou as marcas como a “Água Potável Natural da Vila de Chang Ming Shui”, com origem em Zhongshan, e a australiana “PH8 Natural Alkaline Spring Water”. Segundo o IAM, 42 marcas de água produzidas no exterior de Macau à venda em supermercados locais foram testadas, através da recolha de 240 amostras, o que resultou em 48 produtos testados. Como resultado destes exames, o IAM indicou que as duas águas identificadas não passaram nos testes e que os lotes em causa foram retirados de circulação. Também foi apelado aos residentes que se desfaçam dos produtos e não os consumam. No caso da marca “Água Potável Natural da Vila de Chang Ming Shui” está em causa um lote de garrafões de 18,9 litros, com data de produção de 23 de Maio. O IAM descobriu que a água apresenta níveis de bactérias coliformes que não respeitam os padrões recomendados. As coliforme são um tipo de bactérias, como a e.coli, que habitam no intestino de mamíferos. No caso da água PH8 Natural Alkaline Spring Water, os testes mostraram níveis de bactérias pseudomonas aeruginosa que não respeitam os valores recomendados. As bactérias pseudomonas aeruginosa podem ser encontradas nas águas e nos solos e podem levar a infecções graves nos pulmões, na pele ou no tracto urinário. Os produtos com problemas são garrafas de 1,5 litros que fazem parte do lote identificado como “B/B 09/05/26 PKD09/05/24 B.09”.
Hoje Macau PolíticaTurismo | Governo destaca os bons números do primeiro semestre O gabinete do secretário para a Economia e Finanças destacou ontem os números registados pelo sector do turismo no primeiro semestre, nomeadamente os mais de 19 milhões de turistas que visitaram Macau. Trata-se de “um aumento de 15 por cento em termos anuais e uma recuperação para cerca de 95 por cento dos valores registados no período homólogo de 2019”. O Executivo destaca também que “o número de visitantes internacionais atingiu 1,34 milhões, um aumento de quase 15 por cento em termos anuais”. Os números foram explicados pelo “pleno aproveitamento das vantagens próprias de Macau em conjugação com as políticas de apoio do Governo Central e os esforços de todos os sectores da sociedade”, revelando-se uma “tendência positiva” do “desenvolvimento da indústria turística”.
Hoje Macau PolíticaViagens | Residentes isentos de visto na Jamaica e Chile Os residentes com passaporte da RAEM que pretendam viajar para a Jamaica e Chile passam a estar isentos de visto pelo período de 30 dias. A informação foi divulgada pela Direcção de Serviços de Identificação (DSI), através de um comunicado. As alterações foram comunicadas à RAEM pela Embaixada da Jamaica na República Popular da China e pelo Consulado Geral do Chile em Hong Kong. No caso dos residentes com passaporte de Portugal, também é possível viajar para a Jamaica com fins de turismo e ter uma isenção de 30 dias. No caso das viagens de turismo no Chile, a isenção de visto é de 90 dias.
Hoje Macau Manchete PolíticaEleições | Residentes pedem transparência na exclusão de candidatos Alguns residentes admitem que os deputados devem amar a China e Macau, mas questionam o facto de 12 candidatos à Assembleia Legislativa terem sido excluídos sem que se conheçam os motivos Um guia turístico, um estudante, um reformado e uma desempregada ouvidos pela Lusa questionam a razão da exclusão de 12 candidatos ao parlamento de Macau e pedem mais transparência eleitoral. “Desqualificação sem justificação”. É assim que reage Elory Kuong, guia turístico de 25 anos, à recente exclusão de 12 candidatos à Assembleia Legislativa (AL). Kuong é das poucas pessoas que a Lusa aborda, no centro da cidade, e que se mostra disponível para falar sobre o mais recente episódio de desqualificação eleitoral. “Tudo isto é opaco”, declara o jovem. A Comissão de Defesa da Segurança do Estado (CDSE) excluiu, na semana passada, os candidatos de duas listas às eleições de 14 de Setembro, considerando-os “não defensores da Lei Básica ou não fiéis à Região Administrativa Especial de Macau da República Popular da China” Num comunicado, a CDSE explicou que, quando um candidato é desqualificado por falta de patriotismo, todos os outros da mesma linha são afastados. “Não sei em quem posso votar ou quem me pode representar”, admite Kuong. Ao contrário do guia turístico, Elexa Kam, de 30 anos, e actualmente no desemprego, vai às urnas “por dever”, embora ainda não tenha decidido em quem confiar o voto. Falou à Lusa na praça do Tap Seac, coração da cidade, e, também ela, questiona a transparência do sistema: “Não sabemos por que razão foram desqualificados, acho que o Governo devia ser mais transparente. Os cidadãos têm o direito de saber”. Documentos confidenciais Quando anunciou a exclusão dos 12 candidatos, o presidente da comissão eleitoral, Seng Ioi Man, garantiu aos jornalistas que os pareceres vinculativos da CDSE, dos quais não é possível recorrer, “têm um fundamento legal claro e suficiente” e foram elaborados “tendo em conta os factos”. No entanto, recusou-se a revelar os factos que levaram à exclusão, defendendo que “os trabalhos e documentos” da CDSE “são confidenciais”. “Porque é que tantas pessoas foram desqualificadas? Elas não obstruíram o trabalho de Macau”, assume Wong Yat Hung, reformado de 69 anos e que não está recenseado. “O sistema devia ser mais justo”, declara. A exclusão abrange seis candidatos da lista Força da Livelihood Popular em Macau, liderada pelo assistente social Alberto Wong. A outra lista que ficou de fora é a Poder da Sinergia, do actual deputado Ron Lam U Tou, uma das vozes mais críticas do parlamento. A AL “perdeu o carácter mais liberal e pluralista após as desqualificações”, considera um estudante de 18 anos, de apelido Pun. “É uma pena que essa dinâmica única esteja agora em falta”, lamenta. À semelhança dos outros entrevistados, também Pun expressa frustração com o sistema: “Se eles [Governo] decidirem que tu não deves estar lá, não importa o que faças, serás desqualificado de qualquer maneira”. Apesar de tudo, o estudante admite apoiar e lei eleitoral e a decisão da comissão eleitoral. “Não é uma situação que possa controlar, não sou político, não há como consertar isso”, refere. Após o anúncio da exclusão dos candidatos, o Governo da região demonstrou, num comunicado, “forte apoio” à decisão da CDSE, que descreveu como “uma medida correta para a plena aplicação do princípio fundamental ‘Macau governado por patriotas'”. O que é o patriotismo? À Lusa, Pun também defende que os deputados devem “amar o país, amar Macau e amar as pessoas”, embora admita não conseguir explicar o termo “patriotismo”. E não é o único. “Não consigo definir”, diz Elory Kuong. Joe Chan Chon Meng, da lista de Ron Lam e um dos 12 candidatos excluídos da corrida parlamentar, por falta de patriotismo, disse à Lusa, na semana passada, que toda a equipa “ama Macau e ama a China”. Joe Chan, ambientalista e educador, notou que a única razão que pode encontrar para a desqualificação é que, por vezes, “fala contra eles”, referindo-se às autoridades de Macau. Trata-se da segunda vez que candidatos por sufrágio directo são excluídos na corrida à AL, depois de, em 2021, a comissão ter desqualificado cinco listas e 21 candidatos – 15 dos quais pró-democracia. Com a decisão deste ano, concorrem às eleições seis listas pelo sufrágio directo, menos oito do que em 2021. Trinta e três deputados integram a AL, sendo que 14 são eleitos por sufrágio directo, 12 por sufrágio indirecto, através de associações, e sete são nomeados posteriormente pelo Chefe do Governo Executivo. A lei eleitoral para a Assembleia Legislativa, em vigor desde Abril de 2024, estabelece que “quem, publicamente, incitar os eleitores a não votar, votar em branco ou nulo, é punido com pena de prisão até três anos”.