Israel bombardeia Rafah alegando que Hamas atacou unidade militar

Israel lançou uma série de ataques aéreos contra a cidade de Rafah, na Faixa de Gaza, após acusar o Hamas de atacar uma unidade de engenharia militar, avançaram ontem fontes de segurança citadas pela imprensa israelita.

Enquanto se aguarda uma declaração oficial das Forças de Defesa de Israel e do grupo islamita Hamas, fontes militares confirmaram ao ‘site’ israelita Walla e ao jornal Times of Israel terem sido realizados ataques aéreos e terrestres em Rafah, alegando ter-se tratado de uma resposta a um ataque a uma escavadora militar israelita encarregada de destruir os túneis da organização islamita.

Embora não haja ainda informações oficiais sobre a existência de mortos ou feridos, fontes militares israelitas adiantaram a uma televisão israelita que dois alegados militantes do Hamas foram mortos. Desconhece-se também se este fogo cruzado pode pôr em causa o cessar-fogo que entrou em vigor a 10 de Outubro, mas o ministro da Segurança Nacional israelita, Itamar Ben Givr, já instou o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, a retomar a ofensiva contra a Faixa de Gaza.

“Peço ao primeiro-ministro que ordene às Forças de Defesa de Israel (FDI) que retomem totalmente os combates na Faixa de Gaza com todo o seu efectivo”, disse o ministro, que foi condenado no passado por incitar ao ódio contra os palestinianos, ao vandalismo e ao apoio ao terrorismo. De acordo com uma fonte do braço armado do Hamas, o grupo tinha lançado uma operação em Rafah para eliminar o líder da milícia rival, conhecida como ‘Forças Populares’, Yasser Abu Shabab.

No entanto, os soldados israelitas intervieram para apoiar Shabab, o que resultou num fogo cruzado e provocou a explosão da escavadora israelita. Os Estados Unidos avisaram no sábado que tinham “informações credíveis” sobre um “ataque iminente” do Hamas contra civis palestinianos, numa “violação clara” ao cessar-fogo.

Caos instalado

Ontem de manhã, o grupo islamita rejeitou a acusação e culpou Israel por ter armado e financiado outras milícias, que, segundo disse, realizaram “assassinatos, raptos, roubos de camiões de ajuda humanitária e furtos contra civis”.

Segundo o Hamas, os seus membros em Gaza estão, “com o amplo apoio civil e popular”, a perseguir estes gangues e a responsabilizá-los “de acordo com mecanismos legais claros, para proteger os cidadãos e preservar a propriedade pública e privada”.

Apenas um dia após o cessar-fogo, os militantes do Hamas começaram a reprimir todos os clãs e milícias que alegadamente colaboraram com Israel durante a guerra dos últimos dois anos, incluindo execuções públicas de alegados colaboradores, cujas imagens se tornaram virais.

O cessar-fogo em Gaza – proposto pelos Estados Unidos e acordado entre Israel e o Hamas – está em vigor desde o dia 10 de Outubro, prevendo três fases: a libertação dos reféns, o desarmamento do Hamas e a reconstrução gradual do território, sob supervisão internacional. A segunda etapa, centrada na “desmilitarização”, continua a ser a mais controversa e a que Israel considera essencial para pôr fim ao conflito.

19 Out 2025

Partido Liberal do Japão perto de garantir novo acordo de coligação

O Partido Liberal Democrático (PLD), no poder no Japão, está perto de formar uma coligação governamental, que deixaria a líder Sanae Takaichi a apenas dois deputados de garantir a eleição como primeira-ministra.

Os principais meios de comunicação japoneses avançaram ontem que o acordo com o Partido da Inovação do Japão (Ishin) poderá ser fechado já na segunda-feira, um dia antes do parlamento se reunir para escolher o sucessor de Shigeru Ishiba. O primeiro-ministro cessante demitiu-se em Setembro da liderança do Governo e do PLD, que, em primárias realizadas no início de Outubro, escolheu a conservadora e nacionalista Takaichi como candidata a ser a primeira mulher a liderar o Japão.

De acordo com a agência de notícias japonesa Kyodo, o PLD e o Ishin terão concordado em formar uma coligação sem que o partido da oposição garanta lugares no novo Governo. Em troca, o PLD comprometer-se-ia a cumprir uma série de propostas, incluindo a redução do número de deputados, a eliminação do imposto sobre o consumo alimentar e a eliminação de donativos políticos de empresas e organizações. Hoje, é esperada uma reunião final com o PLD.

Liderança frágil

O jornal referiu que o partido da oposição está relutante em ocupar cargos no possível Governo de Takaichi e prefere primeiro garantir que a nova líder do PLD cumpre os termos do acordo. Se for eleita, a conservadora irá liderar um dos governos mais fracos da história política do Japão, com uma clara minoria em ambas as câmaras do parlamento, o que a obrigaria a cooperar com a oposição para aprovar qualquer lei.

O apoio de Ishin é fundamental para Takaichi, especialmente depois de o partido budista Komeito, ao qual o PLD esteve aliado durante 26 anos, ter abandonado a coligação no poder. O centrista Komeito retirou-se da aliança devido a notícias publicadas sobre alegados fundos secretos do PLD, tendo também criticado Sanae Takaichi devido a supostas mudanças de postura da líder face às visitas a Yasukuni.

Temores diplomáticos

Takaichi, conhecida pela postura de linha dura em relação à China, visitou inúmeras vezes no passado, principalmente quando era ministra, o santuário xintoísta, considerado um símbolo do passado militarista do país. Mas, na sexta-feira, no primeiro dia do festival de Outono de Yasukuni, 64 anos, esteve ausente e enviou apenas uma oferenda, por, segundo os meios de comunicação japoneses, temer que uma visita pudesse incomodar os países vizinhos.

As visitas anteriores de altos funcionários japoneses ao santuário irritaram Pequim e Seul. A China e a península coreana foram palco de atrocidades cometidas pelos militares japoneses na primeira metade do século XX. Nenhum primeiro-ministro japonês em funções visitou o santuário em Tóquio desde 2013, quando a visita de Shinzo Abe provocou fúria entre os países vizinhos e reprimendas dos Estados Unidos.

O santuário presta homenagem aos cerca de 2,5 milhões de soldados japoneses mortos em combate, mas também a oficiais e políticos japoneses condenados por crimes de guerra por um tribunal internacional após a Segunda Guerra Mundial. O PLD tem governado o Japão quase em permanência desde 1955, apesar das frequentes mudanças de liderança.

19 Out 2025

Camboja | Deportados 64 sul-coreanos por práticas criminosas

Seul estima que cerca de mil cidadãos sul-coreanos sejam tratados como escravos e trabalhem em centros no Camboja dedicados a praticar fraudes via internet

A polícia da Coreia do Sul confirmou sábado que o Camboja deportou 64 cidadãos sul-coreanos acusados de envolvimento com centros que praticam fraudes através da Internet. A Coreia do Sul enviou na quarta-feira uma equipa para o Camboja, onde acredita que cerca de mil sul-coreanos estão a trabalhar nestes centros, para discutir dezenas de casos de raptos através de ofertas de emprego fraudulentas.

Seul anunciou então, na sexta-feira à noite, que estava a fretar um voo para trazer de volta cerca de 60 cidadãos, “participantes voluntários e não voluntários” dos esquemas de burlas, que estavam detidos pela polícia cambojana. O grupo aterrou na manhã de sábado no Aeroporto de Incheon, disse um dirigente da polícia sul-coreana à agência de notícias France-Presse. As autoridades policiais foram vistas a preparar-se para os transportar em carrinhas de segurança pretas.

A maioria dos sul-coreanos regressados foi detida no Camboja durante repressões contra centros de burla e vai enfrentar investigações policiais em casa, disse o director de segurança nacional de Seul, Wi Sung-lac.

Na sexta-feira, o Governo da Coreia do Sul proibiu os sul-coreanos de viajar para o Camboja, face ao aumento do número de pessoas supostamente raptadas por redes de tráfico de seres humanos e grupos de crime organizado com base no Camboja. Os grupos criminosos obrigaram os cidadãos sul-coreanos a praticarem fraudes, envolvendo criptomoedas, através da Internet, num ambiente semelhante ao de uma prisão.

De acordo com fontes diplomáticas de Seul e da ONU, os cidadãos sul-coreanos são mantidos como escravos e foram submetidos a actos de tortura pelos grupos de crime organizado. O alerta de Seul recomenda igualmente aos cidadãos sul-coreanos a abandonarem certas zonas do Camboja.

Encontros capitais

O aviso foi difundido no dia em que o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Sul, Kim Jina, se reuniu com o primeiro-ministro do Camboja, Hun Manet, em Phnom Penh. O encontro na capital do Camboja aconteceu após a morte de um estudante sul-coreano que terá sido forçado a trabalhar num centro de burlas no Camboja.

Phnom Penh informou na quinta-feira que, nos últimos meses, deportou 180 cidadãos sul-coreanos envolvidos em cibercrime e outros 60 aguardam repatriamento. Segundo um relatório das Nações Unidas, pelo menos 200 mil pessoas estão actualmente retidas em centros de fraude no Camboja, enquanto em Myanmar (antiga Birmânia), outro epicentro deste fenómeno, o número ascende a cerca de 120 mil.

A decisão de Seul surgiu na mesma semana em que os governos do Reino Unido e dos Estados Unidos anunciaram a aplicação de sanções conjuntas contra o conglomerado Prince Group, com base no Camboja. O presidente do grupo de empresas, Chen Zhi, é acusado de montar rede de cibercrime e tráfico de seres humanos.

19 Out 2025

Física | Morreu Chen Ning Yang, vencedor do Prémio Nobel

O físico chinês Chen Ning Yang, vencedor do Prémio Nobel da Física em 1957 e considerado um dos investigadores mais influentes do século XX da física moderna, morreu sábado aos 103 anos em Pequim, anunciou a Xinhua.

Chen Ning Yang, nascido na cidade oriental chinesa de Hefei em 1922, recebeu o Prémio Nobel da Física, juntamente com o investigador e seu compatriota Tsung Dao Lee, por investigações sobre a lei da conservação da paridade, princípio fundamental da física nuclear.

Os dois investigadores fugiram da China durante a guerra contra o Japão (1937-1945) e desenvolveram a sua carreira profissional nos Estados Unidos, onde Chen Ning Yang era professor na Universidade de Princeton e Tsung Dao Lee na Universidade de Columbia, quando receberam o prémio.

Por esta razão e por ambos terem adquirido a nacionalidade norte-americana – a China não reconhece a dupla nacionalidade —, durante muitos anos Yang não foi considerado um vencedor “chinês” do Nobel.

Chen Ning Yang regressou à China como professor da prestigiada Universidade Tsinghua de Pequim em 2003, que o destacou como “o físico mais influente” da era actual e lembrou que, após o descongelamento das relações com Washington em 1971, foi o primeiro cientista chinês residente nos Estados Unidos a poder regressar ao seu país.

Em 2015, 51 anos depois de obter a nacionalidade norte-americana, renunciou-a. “Yang foi um dos maiores físicos teóricos do século XX. Ele estava mais próximo de Einstein do que os seus contemporâneos”, afirmou Shi Yu, professor do Instituto de Estudos Avançados de Xangai, citado sábado pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post.

Além do seu trabalho académico, o físico tornou-se uma celebridade a nível nacional ao casar-se em 2004, aos 84 anos, com Weng Fan, uma estudante de 28 anos. Meses antes, no final de 2003, tinha morrido a sua primeira esposa, Tu Chih-li, com quem se casara em 1950.

19 Out 2025

Mar do Sul | Pequim pede às Filipinas que abandonem fantasias

As disputas marítimas na região provocaram mais um embate entre embarcações chinesas e Filipinas

Pequim instou sábado as Filipinas a abandonar o que descreveu como “ilusões irrealistas” e farsas, após uma colisão entre navios dos dois países, no domingo passado, no disputado mar do Sul da China.

“Os factos são muito claros e as Filipinas não têm motivos para justificar ou negar as suas intrusões, provocações e acções impróprias”, disse o porta-voz do Ministério da Defesa chinês, citado pela agência de notícias oficial chinesa Xinhua. Zhang Xiaogang acusou Manila de realizar uma “intrusão ilegal” junto ao arquipélago conhecido na China como Nansha e denunciou a recente reivindicação por parte das Filipinas da soberania sobre Nansha e a ilha de Huangyan.

“O âmbito do território filipino foi definido por uma série de tratados internacionais, e as ilhas de Huangyan e Nansha, que pertencem à China, não estão incluídos nele”, argumentou o porta-voz. O Governo chinês prometeu novas “medidas resolutas” para defender a soberania sobre as ilhas e os direitos marítimos, face ao que disse ser a “distorção deliberada” de “factos históricos e jurídicos” por parte das Filipinas.

Em 12 de Outubro, um navio da Guarda Costeira chinesa e uma embarcação das autoridades filipinas embateram perto da ilha Thitu, conhecida nas Filipinas por Ragasa, no mar do Sul da China. A Guarda Costeira chinesa atribuiu a responsabilidade do incidente às Filipinas, afirmando que três embarcações de Manila se aproximaram de navios de patrulha chineses e que uma delas terá causado o embate.

Voz da América

Dois dias depois, o porta-voz adjunto do Departamento de Estado dos EUA, Tommy Pigott, condenou o embate “e o uso de canhões de água por parte da China” contra o navio do Gabinete de Pesca e Recursos Aquáticos das Filipinas. Pigott acusou Pequim de estar a intensificar acções “cada vez mais coercivas” no quadro das suas “amplas reivindicações territoriais e marítimas” nesta zona disputada, que envolve também outros países do sudeste asiático.

Estas acções perigosas continuam, segundo o responsável, “a minar a estabilidade regional” e “contradizem os compromissos anteriores de resolver as disputas de forma pacífica”. O porta-voz reiterou o apoio de Washington a Manila e recordou que o Tratado de Defesa Mútua entre os dois países cobre qualquer ataque armado “contra as Forças Armadas, embarcações públicas ou aeronaves filipinas, incluindo as da Guarda Costeira, em qualquer ponto do mar do Sul da China”.

As águas disputadas do mar do Sul da China são atravessadas por rotas comerciais cruciais e especialistas acreditam que os fundos marinhos poderão conter importantes reservas de petróleo e gás. Pequim tem reiteradamente tomado medidas contra embarcações filipinas, acusando-as de entrarem em águas que reivindica como sendo território chinês.

19 Out 2025

Taiwan | Kuomingtang elege Cheng Li-wun como nova líder

O principal partido da oposição em Taiwan, os nacionalistas do Kuomingtang (KMT), escolheu uma antiga deputada como nova presidente.

Cheng Li-wun — a única candidata na corrida que se posicionou como reformista — derrotou no sábado, por larga margem, o ex-presidente da Câmara de Taipé, Hau Lung-bin, e outros quatro candidatos à liderança do partido pró-Pequim. Numa conferência de imprensa após a vitória, Cheng disse que os nacionalistas iriam defender os princípios da igualdade, do respeito e dos benefícios mútuos na condução das relações externas.

“Não devemos deixar que Taiwan se torne um criador de problemas. Em segundo lugar, não devemos deixar que Taiwan seja sacrificada à geopolítica”, disse, acrescentando que o KMT seria também um pacificador. Os nacionalistas mantêm uma forte influência política em Taiwan, apesar de terem perdido três eleições presidenciais consecutivas para o DPP, que defende um afastamento da China.

O KMT detém lugares suficientes para formar um bloco maioritário com os aliados no parlamento. Com tomada de posse prevista para Novembro, Cheng Li-wun poderá influenciar a forma como Taiwan lida com Pequim e outras políticas importantes e questões políticas nacionais e internacionais. Cheng será também a líder do partido nas eleições locais de 2026. O KMT deverá ainda preparar um candidato que desafie o DPP de William Lai Ching-te nas eleições de 2028.

19 Out 2025

Air China | Avião desviado para Xangai após fogo numa bateria guardada em bagagem

Um avião da companhia Air China foi desviado com segurança para Xangai sábado, depois de uma bateria guardada na bagagem de mão de um passageiro se ter incendiado, informou a companhia aérea.

O incidente ocorreu a bordo do voo da cidade de Hangzhou, no leste da China, para o Aeroporto Internacional de Incheon, perto de Seul, na Coreia do Sul. “Uma bateria de lítio guardada na bagagem de mão de um passageiro no compartimento superior do voo CA139 incendiou-se espontaneamente”, disse a companhia aérea, num comunicado publicado na rede social chinesa Weibo.

“A tripulação lidou imediatamente com a situação com base nos procedimentos, e ninguém ficou ferido”, refere o documento, acrescentando que o avião foi desviado para o Aeroporto Internacional de Xangai Pudong “para garantir a segurança do voo”. Uma imagem tirada por um passageiro e publicada pelo meio de comunicação nacional estatal Jimu News mostra chamas num compartimento superior, onde é visível fumo preto e, pelo menos, um passageiro a tentar apagar o fogo.

De acordo com dados do Flightradar24, que faz a monitorização do tráfego aéreo global, o voo descolou de Hangzhou às 09:47 locais (, sobrevoou o mar, aproximadamente equidistante da costa leste da China e da ilha japonesa de Kyushu, antes de aterrar em Xangai pouco depois das 11:00 locais.

19 Out 2025

Três cidadãos chineses condenados por Moçambique violarem suspensão de mineração

O tribunal judicial do distrito de Sussundenga, na província moçambicana de Manica, condenou sexta-feira três indivíduos de nacionalidade chinesa a uma pena de três meses de prisão efectiva por violarem a suspensão de mineração naquela província.

Condenados pelo crime de desobediência, ao terem sido apanhados a explorar ouro “num período em que as actividades se encontravam suspensas temporariamente de forma global na província de Manica”, os três homens terão ainda de pagar uma multa diária de sete mil meticais (93,84 euros), disse a juíza da causa, Eugénia Conceição.

De acordo com a fundamentação do tribunal, os cidadãos chineses foram encontrados a fazer extracção de ouro por uma equipa multissectorial que incluía a polícia de protecção dos recursos naturais e meio ambiente, sendo que, durante a sua actividade de mineração, deitavam resíduos poluentes directamente num rio.

O executivo moçambicano decidiu, em 30 de Setembro, suspender todas as licenças de mineração na província de Manica e criou uma comissão interministerial para rever o regime de licenciamento, reforçar a fiscalização e avançar com medidas de recuperação ambiental com a participação activa dos prevaricadores, autoridades locais, populações e outras entidades relevantes.

Lei da selva

Esta suspensão acontece após o Presidente moçambicano, Daniel Chapo, ter avançado, em 17 de Setembro, que a mineração está a causar um “desastre ambiental”, tendo admitido a possibilidade da suspensão total da actividade. A suspensão das licenças mineiras em Manica ocorre após o executivo ter apreciado o relatório do comando operativo das Forças de Defesa e Segurança (FDS), que esteve naquela província entre 17 e 19 de Julho para averiguar a situação ambiental face à mineração.

Foi constatado no terreno, em Manica, uma “mineração descontrolada” feita por operadores licenciados, com empresas a operar sem plano de recuperação ambiental e sistemas de contenção de resíduos, além de violações dos direitos dos trabalhadores.

O Governo classificou de crítica a situação ambiental em Manica, apontando para “grave poluição” dos rios que apresentam “águas com coloração avermelhada, turva e opaca,” resultante de lavagem directa de minérios e despejo de resíduos desta actividade sem qualquer tratamento.

19 Out 2025

Segurança | China acusa EUA de ciberataque contra centro que gere o horário

As autoridades chinesas acusam a NSA de promover ataques cibernéticos contra o Centro Nacional de Serviço de Horário que põem em risco actividades como o sistema financeiro, os transportes ou lançamentos espaciais

 

O Ministério da Segurança do Estado (MSS) chinês acusou ontem os Estados Unidos de realizarem um ciberataque contra o Centro Nacional de Serviço de Horário, a instituição responsável por manter a precisão da hora oficial do país.

Num artigo publicado numa aplicação de mensagens, o MSS, que é a principal agência de inteligência da China, afirma ter descoberto recentemente “provas irrefutáveis” de um “grande ciberataque” orquestrado pela Agência de Segurança Nacional dos EUA (NSA) contra a referida instituição para “roubar segredos, infiltrar-se e sabotar”.

O ministério explica que o Centro Nacional de Serviço de Horário (NTSC) fornece serviços essenciais para sectores como a energia, os transportes e a defesa, e que um ciberataque pode resultar em falhas de rede, problemas para o sistema financeiro, apagões, interrupções nos transportes ou falhas nos lançamentos espaciais.

Segundo a China, o ataque “sistemático e planeado há muito tempo” dos EUA contra o NTSC começou em 2022 através de uma vulnerabilidade no serviço de SMS (mensagens curtas) de uma “marca estrangeira” de telemóveis, que permitiu “atacar secretamente e obter o controlo dos telemóveis de vários funcionários do NTSC e roubar dados confidenciais armazenados nos mesmos”.

Um ano depois, a NSA terá utilizado credenciais roubadas para aceder à rede informática do NTSC e espiar e, em Junho de 2024, lançou “ataques cibernéticos de alta intensidade contra vários sistemas de rede internos” da instituição, alegam os serviços secretos chineses.

“As autoridades de segurança nacional responderam aos ataques reunindo provas de ataques cibernéticos dos EUA, ordenando ao NTSC que conduzisse uma investigação, interrompendo a cadeia de ataques e melhorando as capacidades de prevenção para eliminar potenciais ameaças”, refere o artigo.

Guerra contínua

Nos últimos anos, a China e os EUA têm-se acusado mutuamente de inúmeros ciberataques, e o MSS reiterou ontem esta acusação: “As agências de espionagem, lideradas pela NSA, têm agido de forma imprudente, realizando ataques cibernéticos contínuos contra a China, o sudeste asiático, a Europa e a América do Sul”.

Neste caso, a acusação surge dias antes de uma nova ronda de negociações presenciais entre Pequim e Washington para tentar aliviar as renovadas tensões comerciais entre as duas principais potências económicas do mundo.

Além disso, os presidentes da China e dos EUA, Xi Jinping e Donald Trump respectivamente, deverão reunir-se ainda este mês durante a cimeira de líderes da APEC (Cooperação Económica Ásia-Pacífico, na sigla em inglês), que se realizará na Coreia do Sul.

19 Out 2025

China | Descoberta grande jazida com mais de 40 toneladas de ouro

A província chinesa de Gansu anunciou a descoberta de um novo jazigo de ouro de grandes dimensões na zona de Qianhongquan-Heishanbeitan, no município de Yumen, com reservas estimadas em mais de 40 toneladas, informou ontem a televisão estatal CCTV.

Segundo o Departamento de Recursos Naturais provincial, a descoberta equivale, em volume, a duas grandes minas de ouro e soma-se aos depósitos já identificados no cinturão de Beishan, um dos principais polos auríferos da região.

Gansu ocupa o segundo lugar na China em volume de reservas de ouro. Nos últimos anos, o Governo local intensificou as prospecções no âmbito do plano nacional de exploração geológica, com maior concentração de investimentos no norte da província. O projecto de prospecção em Qianhongquan recebeu um investimento total de 76,28 milhões de yuan e permitiu concluir 30.000 metros cúbicos de escavações e mais de 35.000 metros de perfurações, segundo a CCTV.

Os trabalhos resultaram na identificação de uma nova faixa mineralizada com cerca de 14 quilómetros de comprimento e entre 10 e 100 metros de largura, com reservas superiores a 40 toneladas de ouro. A descoberta em Gansu ocorre num contexto de forte valorização do ouro, cujo preço ultrapassou recentemente os 4.000 dólares por onça, atingindo um novo máximo histórico.

O metal precioso acumula uma subida superior a 50 por cento desde o início do ano, impulsionado pela fraqueza do dólar, pelas tensões geopolíticas e pelas compras de bancos centrais – sobretudo de economias emergentes – que procuram diversificar as suas reservas. Nos últimos anos, o crescimento da classe média chinesa e a procura por lingotes como forma de protecção contra a volatilidade macroeconómica global também contribuíram para o aumento da procura interna pelo metal precioso.

17 Out 2025

Coreia do Norte | ONG pede à China que ponha fim às deportações forçadas

A organização não governamental (ONG) Human Rights Watch instou a China a pôr fim às deportações à força de norte-coreanos para o seu país, face ao “grave risco de perseguição e maus-tratos”. Num comunicado divulgado na quarta-feira, a ONG estimou que a China tenha deportado 406 pessoas para a Coreia do Norte desde o início 2024, apesar de as autoridades chinesas terem conhecimento das “condições opressivas” em que vivem os norte-coreanos.

Esta informação baseia-se em “Stephen Kim, pseudónimo de uma pessoa com amplos contactos na Coreia do Norte e na China”, cuja informação a Human Rights Watch “há muito considera fidedigna”, embora aponte a falta de dados oficiais disponíveis. “As autoridades chinesas estão a devolver centenas de norte-coreanos a um lugar onde sabem que aqueles que regressarem serão severamente perseguidos”, disse a chefe de investigação da Human Rights Watch na Coreia do Sul, citada na nota.

Lina Yoon instou Pequim a “permitir imediatamente que a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) tenha acesso a todas as pessoas em risco de regresso forçado à Coreia do Norte”, bem como a “interromper o repatriamento forçado de norte-coreanos”.

17 Out 2025

Timor-Leste | Adesão à ASEAN é lutar pela paz, diálogo e desenvolvimento

Xanana Gusmão salientou a importância de Timor-Leste se juntar ao grupo de nações asiáticas em defesa da paz e do desenvolvimento regional

O primeiro-ministro de Timor-Leste afirmou ontem que o mais importante da adesão à Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN) é juntar a voz a um grupo de países pela paz, diálogo e desenvolvimento.

“Não podemos dizer que vamos receber todos os benefícios e não podemos também dizer que nós é que vamos beneficiar todos os países da ASEAN. Vamos aproveitar esta adesão para facilitar talvez em muitas áreas que ainda necessitamos. Nós somos o país mais pobre, mais atrasado na ASEAN”, afirmou Xanana Gusmão.

Timor-Leste vai tornar-se o 11.º estado-membro da ASEAN, no próximo dia 26, durante a cimeira de chefes de Estado e de Governo da organização do sudeste asiático, que se vai realizar em Kuala Lumpur, na Malásia, 14 anos depois de ter apresentado o pedido de admissão.

“O importante para nós é juntar a nossa voz, de Timor-Leste, a um grupo de países pela paz, pela reconciliação, pelo diálogo e pelo desenvolvimento sustentável. (…) Nós não vamos desempenhar um papel crucial na ASEAN”, salientou Xanana Gusmão.

“Não temos muito a ambição [de que] vamos receber muitos benefícios nem temos ambição de dizer que nós é que vamos orientar ou dirigir a ASEAN. Vamos estudando a forma como alguns países se comportaram e orientaram o seu desenvolvimento”, insistiu o chefe do Governo timorense. Questionado pela Lusa sobre o plano pós-adesão, apresentado quarta-feira, na reunião do Conselho de Ministros, pela vice-ministra para os Assuntos da ASEAN, Milena Rangel, Xanana Gusmão disse que é preciso mais realismo.

“Vamos estudar, vamos ver, vamos ser mais realistas, olharmos mais para o que estamos a necessitar, para o que o povo está a pedir, do que apresentarmo-nos como um país que, imediatamente, com aquele roteiro, vai ser qualquer coisa com que sonhamos há muito tempo”, acrescentou o primeiro-ministro, que falava no final do encontro semanal com o Presidente timorense José Ramos-Horta.

Objectivos definidos

O plano pós-adesão para o período 2026-2030 estabelece, segundo o comunicado do Conselho de Ministros, a “intenção estratégica de transformar a participação de Timor-Leste na ASEAN em resultados concretos e mensuráveis, através do reforço da capacidade institucional, da diversificação económica e do desenvolvimento do capital humano”.

O documento “destaca a contribuição activa de Timor-Leste para a Visão ASEAN 2045, orientada para a construção de uma comunidade regional resiliente, inovadora, dinâmica e centrada nas pessoas”, pode ler-se no comunicado. A nota salienta que o objectivo estratégico visa preparar Timor-Leste para receber a presidência rotativa da ASEAN em 2030.

“Com a implementação rigorosa deste plano, Timor-Leste deixará de ser apenas um novo membro para se afirmar como um parceiro activo e contributivo da ASEAN, utilizando a integração regional como catalisador do desenvolvimento nacional sustentável e da prosperidade do povo timorense”, acrescenta.

A ASEAN foi criada em 1967 pela Indonésia, Singapura, Tailândia, Malásia e Filipinas e tem como objectivo promover a cooperação entre os estados-membros para garantir a paz, a estabilidade e o desenvolvimento económico, social e cultural da região. Integram também a ASEAN o Brunei Darussalam, o Camboja, o Laos, o Myanmar (antiga Birmânia) e o Vietname.

17 Out 2025

Índia | População de elefantes diminuiu um quarto em oito anos

A população de elefantes selvagens na Índia diminuiu um quarto nos últimos oito anos, atingindo quase 22.500 indivíduos, revela um censo liderado pelo Governo.

De acordo com as estatísticas mais recentes do Fundo Mundial para a Vida Selvagem (WWF), menos de 50.000 elefantes asiáticos permanecem em estado selvagem em todo o mundo, 60 por cento deles em solo indiano. A União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) incluiu-os na sua longa lista de espécies animais ameaçadas.

O estudo publicado na terça-feira pelo Governo indiano identificou um total de 22.446 elefantes na Índia com base no seu ADN, em comparação com 29.964 contados em 2017 através de outro método, um declínio de 25 por cento. “As ameaças incluem a redução do seu habitat natural, a fragmentação (de manadas) e o aumento de casos de conflito entre elefantes e humanos”, pode ler-se no relatório para explicar este declínio.

Os autores enfatizaram o isolamento ou a “rápida dispersão” das manadas, que atribuem, em particular, à expansão das terras dedicadas às plantações de chá e café, à construção de vedações e à redução das áreas florestais.

A distribuição das populações de elefantes indianos representa actualmente apenas 3,5 por cento do seu tamanho histórico, estimaram. “Reforçar os corredores e as suas ligações, restaurar os habitats naturais, melhorar as estratégias de protecção e reduzir o impacto dos projectos de desenvolvimento são necessários para proteger” a espécie, recomendaram ainda os autores. O censo foi realizado através da análise de ADN de 21.000 amostras de estrume e de uma rede de armadilhas fotográficas.

17 Out 2025

Japão | Salários registam aumento recorde

Um inquérito do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar Social do Japão apurou que o aumento dos salários médios atingiu um recorde este ano, desde que registos nesse sentido passaram a ser compilados na sua forma actual, em 1999. O levantamento foi realizado entre os meses de Julho e Agosto e teve como alvo empresas privadas com 100 ou mais trabalhadores. A pesquisa recebeu respostas de 1.847 empresas, ou 50,7por cento das contactadas, indica a NHK world.

Segundo o apurado, entre as empresas que implementaram ou planeiam implementar revisões salariais este ano, o salário médio mensal por trabalhador aumentou em 13.601 ienes, ou cerca de 90 dólares. O valor subiu 1.640 ienes, ou por volta de 11 dólares, em relação ao mesmo período do ano passado e marca o terceiro ano consecutivo de aumentos salariais recordes.

Empresas ligadas a sindicatos trabalhistas aumentaram os salários em 15.229 ienes, ou aproximadamente 101 dólares, enquanto as companhias sem vínculos sindicais registaram uma subida de 11.980 ienes, ou em torno de 79 dólares.

Quanto maior o tamanho da empresa, maior o aumento salarial. Funcionários do Ministério do Trabalho afirmaram que o forte crescimento dos salários reflecte os efeitos das negociações trabalhistas da Primavera. Os funcionários indicaram que grandes empresas com bases financeiras sólidas parecem estar a elevar os salários mais do que companhias de pequeno e médio porte para garantir trabalhadores. Os funcionários ministeriais disseram ainda que continuarão a monitorar de perto as tendências salariais.

17 Out 2025

TSMC | Aumento de quase 40% no lucro com impulso da IA

A TSMC, maior fabricante mundial de semicondutores, anunciou ontem um aumento de quase 40 por cento no lucro líquido do último trimestre, impulsionado pela crescente procura por aplicações de inteligência artificial. A Taiwan Semiconductor Manufacturing Company registou um lucro líquido recorde de 452,3 mil milhões de dólares taiwaneses entre Julho e Setembro, superando as previsões dos analistas. A empresa já tinha indicado que as receitas cresceram 30 por cento em termos homólogos no mesmo período.

Face às tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China, a TSMC tem investido na construção de fábricas nos EUA e no Japão, numa estratégia de diversificação de risco. A fabricante taiwanesa é fornecedora de referência para gigantes como a Apple e a Nvidia.

“A procura pelos produtos da TSMC mantém-se firme”, escreveram analistas da Morningstar numa nota recente. “Dada a posição dominante da empresa, duvidamos que venha a ser prejudicada mesmo que enfrente tarifas sobre exportações para os EUA. Esperamos que a procura por soluções de inteligência artificial continue resiliente”, apontaram.

O secretário norte-americano do Comércio, Howard Lutnick, propôs no mês passado que a produção de ‘chips’ fosse repartida em partes iguais entre Taiwan e os Estados Unidos – sugestão rejeitada por Taipé, onde actualmente se concentra a maioria da produção mundial. A TSMC comprometeu-se já com investimentos de 100 mil milhões de dólares nos EUA, incluindo a construção de novas fábricas no estado do Arizona, além dos 65 mil milhões já anunciados anteriormente.

17 Out 2025

China e França realizam diálogo estratégico com apelos a maior confiança mútua

China e França concordaram em reforçar a confiança mútua e aprofundar a cooperação bilateral, durante a 27.ª ronda do Diálogo Estratégico entre os dois países, informou ontem a agência de notícias oficial chinesa Xinhua. O encontro reuniu na quarta-feira o chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, e o conselheiro diplomático do Presidente francês, Emmanuel Bonne, e centrou-se no reforço das relações políticas e económicas bilaterais, além de abordar questões internacionais como a guerra na Ucrânia e a situação no Médio Oriente.

Segundo a mesma fonte, a reunião decorreu no contexto de um estreitamento dos contactos entre Pequim e as principais capitais europeias e serviu para rever os avanços do último ano nas relações sino-francesas, sublinhando a necessidade de manter uma cooperação “estratégica, estável e com visão de futuro”.

Wang Yi defendeu que ambos os países, membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas, devem “aprofundar a confiança mútua”, “explorar novos sectores de cooperação” e reforçar a coordenação em fóruns multilaterais. O chefe da diplomacia chinesa expressou ainda o desejo de que França promova, no seio da União Europeia, uma “percepção correcta da China” e apoie a “autonomia estratégica” do bloco europeu.

Em expansão

Na reunião realizada na cidade chinesa de Hangzhou (leste), Emmanuel Bonne afirmou, segundo a chancelaria chinesa, que França “mantém a sua política externa independente” e reafirmou o compromisso com o princípio de “uma só China”.

Bonne manifestou a intenção de Paris em expandir a cooperação económica, no sector da energia nuclear civil, nas áreas da tecnologia e energia, “num espírito de igualdade e benefício mútuo”, reiterando também a rejeição da “confrontação entre blocos ou guerras comerciais”.

Esta foi a terceira conversa entre Wang e Bonne no último ano, após uma chamada telefónica em Outubro de 2024, na qual discutiram a guerra na Ucrânia e as tensões comerciais entre a China e a União Europeia, e um encontro em Março de 2025, onde ambos defenderam a necessidade de “evitar que o mundo regresse à lei da selva” e de resolver as diferenças económicas através do diálogo.

17 Out 2025

Pequim defende como legítima cooperação comercial e energética com a Rússia

Pequim defendeu ontem como “legítima a sua cooperação energética com Moscovo, após Washington afirmar esperar que a China suspenda as compras de petróleo russo, à semelhança do prometido pelo primeiro-ministro indiano, Narendra Modi.

“O comércio normal da China com países de todo o mundo, incluindo a Rússia, é legítimo e conforme as regras”, afirmou o porta-voz da diplomacia chinesa Lin Jian, em conferência de imprensa. Lin acusou os EUA de praticarem “intimidação unilateral e coerção económica”, que “violam gravemente as normas do comércio internacional e colocam em risco a segurança e estabilidade das cadeias industriais e de abastecimento globais”.

O porta-voz sublinhou que a posição da China em relação à guerra na Ucrânia “tem sido sempre objectiva e justa”, sendo “clara, pública e amplamente reconhecida”. “Opomo-nos firmemente ao uso frequente da China como pretexto por parte dos Estados Unidos e ao abuso de sanções unilaterais ilegais e de jurisdição extraterritorial”, acrescentou.

Lin advertiu ainda que, caso “os direitos da China sejam violados”, Pequim “responderá com firmeza e salvaguardará resolutamente a sua soberania, segurança e interesses de desenvolvimento”. Na quarta-feira, Trump declarou, durante uma conferência de imprensa na Casa Branca, que Modi lhe assegurou que a Índia irá suspender as importações de petróleo russo, como forma de reduzir as receitas energéticas de Moscovo, após a invasão da Ucrânia em 2022.

Gostos e desgostos

O líder norte-americano afirmou que “não gostou” que Modi comprasse petróleo à Rússia, pois isso “permite-lhe continuar a sua guerra absurda”.

A Índia, a par da China, tem sido um dos principais compradores de crude russo, beneficiando de preços mais baixos desde a imposição de sanções ocidentais. Durante o seu mandato anterior, Trump impôs tarifas sobre as importações indianas, mas evitou penalizar directamente a China devido às tensões comerciais em curso. “Agora o meu objectivo é que a China faça o mesmo”, afirmou Trump.

17 Out 2025

Tarifas | Pequim acusa Estados Unidos de arbitrariedade

Os editoriais do Global Times e do China Daily criticam veementemente a política norte-americana de ameaças constantes e falta de visão estratégica

Pequim acusou ontem os Estados Unidos de agirem com arbitrariedade e visão de “curto prazo” na política comercial, após Washington alertar que a China será “a mais prejudicada” se mantiver restrições à exportação de minerais estratégicos.

Num editorial intitulado “Washington não deveria surpreender-se com a resposta da China”, o jornal oficial Global Times atribuiu as novas tensões entre as duas maiores economias do mundo ao “incumprimento de promessas” por parte dos Estados Unidos e à sua “conduta unilateral”. O texto responsabiliza os EUA por “sobrestimar o seu poder de coerção” e “subestimar a capacidade de resposta da China”, afirmando que as ameaças de novas tarifas “desestabilizaram os mercados globais e as cadeias de abastecimento”.

Segundo o jornal, as contramedidas adoptadas por Pequim representam “uma defesa dos seus direitos legítimos e da justiça internacional”. O editorial critica ainda a política comercial norte-americana por revelar “falta de visão estratégica” e avisa que o “grande bastão” empunhado por Washington “não passa de um tigre de papel” para o povo chinês – expressão comum na retórica política do país asiático.

Um outro jornal oficial, o China Daily, publicou um comentário do académico Zheng Jueshi, que acusa os EUA de aplicarem a “lei da selva” nas relações internacionais, tratando aliados, parceiros e rivais como “parte do seu menu político”. Na sua opinião, Washington “sacrifica os interesses de outros países” em nome da sua hegemonia, enquanto Pequim “defende um sistema de governação mais justo”.

As críticas surgem um dia depois de o secretário do Tesouro norte-americano, Scott Bessent, ter afirmado, em Nova Iorque, que a China “será a mais prejudicada” se continuar a adoptar políticas “decepcionantes e coercivas”, numa alusão às restrições impostas por Pequim à exportação de terras raras, minerais essenciais para as indústrias tecnológicas e de defesa.

O responsável norte-americano afirmou que estas acções demonstram “o risco de depender de um parceiro pouco fiável” e defendeu que os EUA e os seus aliados devem “diversificar as cadeias de abastecimento”. Bessent anunciou ainda a fixação de preços mínimos em várias indústrias e o reforço da “política industrial” norte-americana para reduzir a dependência do mercado chinês.

Corda a esticar

As tensões comerciais entre os dois países agravaram-se nas últimas semanas, após a decisão de Pequim de aplicar sanções a filiais norte-americanas da sul-coreana Hanwha Ocean e impor novas tarifas a navios com bandeira dos EUA. Washington respondeu com medidas semelhantes e ameaçou impor tarifas de 100 por cento a todos os produtos chineses a partir de 01 de Novembro.

O actual impasse recorda os episódios de confronto tarifário registados no início do ano, quando ambos os governos se acusaram de distorcer o comércio global através de controlos à exportação de tecnologias e matérias-primas estratégicas.

Embora nem o Global Times nem o China Daily mencionem directamente Bessent, os editoriais reiteram a mensagem habitual das autoridades chinesas após críticas de Washington, insistindo na necessidade de “igualdade e respeito mútuo” nas negociações bilaterais.

17 Out 2025

Filosofia e História: Interpretando a “Era Xi Jinping”

Por Jiang Shigong

Jiang Shigong (强世功, nascido em 1967) é professor da Universidade de Pequim e um dos quadros mais importantes do Partido Comunista Chinês (PCC) na área da filosofia, uma figura central no pensamento que defende um caminho de desenvolvimento distinto para a China, baseado nas suas próprias tradições e realidades, em contraponto com os modelos ocidentais. Uma leitura importante para compreender o modo como a filosofia clássica é integrada na via actualmente percorrida pela liderança chinesa e onde igualmente se referem as diferenças entre o “Ocidente metafísico” e a “China histórica”.

(continuação do número anterior)

Socialismo com características chinesas para uma nova era: A solução chinesa para a modernização

O terceiro posicionamento da era Xi Jinping fornecido pelo relatório ao 19.º Congresso do Partido está dentro da história do movimento comunista internacional. O relatório destaca especialmente que o Socialismo com Características Chinesas entrou numa nova era, indicando que “o socialismo científico está cheio de vitalidade na China do século XXI e que a bandeira do Socialismo com Características Chinesas está agora hasteada bem alto e orgulhosa para que todos vejam”.

Marx e Engels defenderam o socialismo científico e promoveram o movimento comunista no mundo, dando início à busca pelo caminho para a modernização do socialismo. Se dissermos que Marx e Engels fizeram parte da primeira fase da experiência socialista na Europa Ocidental (ou seja, a Comuna de Paris), então a segunda fase é o modelo soviético baseado na construção do socialismo após a Revolução de Outubro e o impacto que isso teve no campo socialista. A Nova China basicamente imitou o modelo da URSS no período imediatamente após a sua fundação. Desde a exploração inicial de Deng Xiaoping do Socialismo com Características Chinesas até à defesa posterior de Xi Jinping do Socialismo com Características Chinesas, esta abordagem amadureceu e tomou forma continuamente, e agora se mantém firme como a terceira fase na busca do caminho para a modernização do socialismo.

Na verdade, esta fase começou com a reflexão de Mao Zedong sobre o modelo soviético após 1956 e com o seu «Sobre as Dez Grandes Relações», quando a China começou a traçar um caminho de desenvolvimento independente para a modernização do socialismo. No entanto, devido a circunstâncias históricas particulares, a busca por um caminho chinês tornou-se a ainda mais radical «Revolução Cultural». A Reforma e Abertura, na verdade, voltaram ao caminho aberto por «Sobre as Dez Grandes Relações», buscando mais uma vez construir o socialismo com características chinesas. Quando o caminho soviético para a modernização do socialismo fracassou completamente, devido à desintegração da União Soviética e ao fim da Guerra Fria, a China ergueu a grande bandeira do Socialismo com Características Chinesas no cenário mundial, tornando-se um poderoso concorrente do capitalismo ocidental como modelo de desenvolvimento. Os estudiosos apontaram que, se no início o socialismo salvou a China, agora a China salvou o socialismo.

O que deve ser observado é que o conceito empregado pela primeira vez por Deng Xiaoping foi “um socialismo com características chinesas”, que também foi o tema central do relatório do 13º Congresso do Partido (1987). O relatório do 14º Congresso do Partido (1992) mudou isso para “socialismo, com características chinesas”. A partir do relatório do 16.º Congresso Nacional, passou a ser “socialismo com características chinesas”. À primeira vista, isto parece ser apenas uma questão de semântica, mas, na verdade, as mudanças reflectem uma profunda importância política. As duas primeiras expressões assumem como certo que existe um «socialismo» fundamental, o socialismo definido pelas obras de Marx e Lenin e pela prática da União Soviética, e que apenas adicionamos algumas «características chinesas» à estrutura socialista básica.

Mas a ideia de «socialismo com características chinesas» significa que o socialismo não tem realmente um modelo de desenvolvimento fundamental, consistindo, em vez disso, num conjunto de princípios e ideias básicos. Esses princípios e ideias devem ser continuamente explorados e desenvolvidos na prática, acompanhando o avanço do tempo. O “socialismo com características chinesas” não está a adicionar características chinesas a uma “estrutura socialista” já definida. Em vez disso, utiliza a experiência vivida pela China para explorar e definir o que, em última análise, é o “socialismo”. Por esta razão, o «socialismo» não é um dogma ossificado, mas sim um conceito aberto que aguarda exploração e definição. A China não está a seguir cegamente as ideias e instituições socialistas produzidas pela experiência ocidental do socialismo, mas sim a traçar o caminho do desenvolvimento socialista com base numa maior autoconfiança, levando o projecto da modernização da construção socialista à sua terceira fase. Por esta razão, o relatório do 18.º Congresso Nacional falou correctamente sobre «autoconfiança no caminho», «autoconfiança na teoria» e «autoconfiança nas instituições» envolvidas na construção do Socialismo com Características Chinesas.

A razão pela qual a China se tornou cada vez mais autoconfiante e encorajada na sua busca pelo caminho para a modernização do socialismo tem a ver com a profundidade da tradição cultural chinesa. Foi precisamente a cultura chinesa que infundiu à ideia de «comunismo» uma nova capacidade espiritual, abrindo um novo caminho para a modernização do socialismo e encorajando todos os países em desenvolvimento a abrirem os seus próprios caminhos para a modernização. Por esta razão, o relatório ao 19.º Congresso Nacional acrescentou a «autoconfiança cultural» às outras três, de modo que agora existem «quatro autoconfianças».

Uma vez adotada a perspectiva do movimento comunista internacional, o posicionamento da era Xi Jinping não pode mais se limitar à história do Partido, à história da república ou à história da civilização chinesa. Ele entra na história da civilização mundial por meio do movimento comunista internacional. Isso significa que o socialismo com características chinesas deve alcançar reconhecimento universal em todo o mundo.

A história da civilização mundial é a história dos diferentes países e povos em todo o mundo passando da tradição para a modernidade. Neste processo de transformação, os Estados Unidos e certos países da Europa Ocidental lideraram a transição para a modernidade. Isso levou-os a colonizar outros países e povos, forçando-os a escolher o modelo ocidental. Ao longo do século XIX, a Alemanha foi a primeira a iniciar a busca por um caminho para a modernização diferente do capitalismo da Inglaterra e dos Estados Unidos, um modelo que mais tarde foi apelidado de «capitalismo de Estado».

Após a derrota da Alemanha nas duas guerras mundiais, o desafio do modelo alemão ao modelo anglo-americano fracassou. No século XX, o modelo soviético representou o segundo desafio ao caminho capitalista ocidental para a modernidade, estabelecendo o seu próprio caminho socialista de estilo soviético para a modernidade e, ao fazê-lo, mudou a configuração mundial. Países de desenvolvimento tardio, como a URSS e a China, transformaram-se da noite para o dia de países atrasados, feudais e agrícolas em superpotências mundiais, ilustrando claramente a superioridade interna do caminho socialista. No entanto, o desafio do modelo soviético fracassou com a desintegração da União Soviética. O capitalismo ocidental liderado pelos Estados Unidos parecia anunciar uma vitória mundial e lançou uma campanha de «globalização» baseada no modelo ocidental.

Por esta razão, para alguns pensadores ocidentais, o caminho ocidental para a modernização tornou-se a única verdade universal, e a história mundial entrou na fase do «fim da história». Aos olhos de outros pensadores, porém, embora a globalização tenha levado superficialmente ao «fim da história», na realidade o fim da história produziu conflitos que resultaram num «choque de civilizações». Essa noção substituiu a ideologia da Guerra Fria, e a civilização da humanidade correu o risco de retornar à idade das trevas pré-moderna.

Neste contexto internacional, a construção do socialismo com características chinesas não só tem grande significado no que diz respeito ao grande renascimento da nação chinesa no contexto da história da civilização chinesa, como também possui grande significado no que diz respeito à busca do futuro da civilização da humanidade em geral. A possibilidade de a civilização chinesa dar uma nova contribuição para toda a humanidade depende, em grande medida, da capacidade da civilização chinesa de encontrar um novo caminho para a modernização do desenvolvimento da humanidade. Isso é especialmente verdadeiro no caso dos países em desenvolvimento tardio: eles podem livrar-se da dependência imposta pela modernidade capitalista e superar os conflitos culturais e as dificuldades que enfrentam nas divisões mundiais actuais? Foi precisamente nesse sentido que o relatório do 19.º Congresso Nacional posicionou claramente a era Xi Jinping na história da civilização mundial: «Ela oferece uma nova opção para outros países e nações que desejam acelerar o seu desenvolvimento, preservando a sua independência; e oferece a sabedoria chinesa e uma abordagem chinesa para resolver os problemas que a humanidade enfrenta.»

Durante a era Deng Xiaoping, o objectivo da exploração do socialismo com características chinesas era compreender como resolver as questões de desenvolvimento da própria China e evitar ser “deixada para trás” pela onda da globalização. Mas, após a ascensão da China para se tornar a segunda economia mundial, o país agora está no centro do palco mundial e não pode ignorar as suas obrigações para com o resto do mundo, concentrando-se exclusivamente no seu próprio destino. A China deve recalibrar as suas relações com o mundo, ligando a construção do socialismo com características chinesas ao desenvolvimento de todo o mundo, participando activamente na governação mundial e assumindo as suas responsabilidades para com toda a humanidade.

Para conseguir isso, desde o 18.º Congresso do Partido, Xi Jinping tem-se dedicado a impulsionar a transformação da política, da economia e do pensamento chineses, apontando claramente a necessidade de construir um novo sistema de governação internacional com base no «princípio de alcançar o crescimento partilhado por meio da discussão e da colaboração» 共商共建共享的全球治理观. Esta noção de «alcançar o crescimento partilhado através da discussão e da colaboração» tem as suas raízes no pensamento da cultura tradicional chinesa de que «o mundo pertence a todos» 天下为公, bem como nas noções de harmonia expressas no ditado «harmonia sem uniformidade» 和而不同. Tudo isto é, sem dúvida, a contribuição da sabedoria chinesa para toda a humanidade.

No relatório ao 19.º Congresso do Partido, a palavra «contribuição» aparece onze vezes, o maior número em qualquer relatório do Partido na história. E a razão pela qual o PCC toma a sua «contribuição» para a humanidade como seu próprio guia de ação é precisamente para provar que o grande renascimento do povo chinês não é nacionalista, mas cosmopolita. Uma das raízes desse espírito cosmopolita está na tradição universalista confucionista (tianxia 天下), como vemos quando o relatório ao 19º Congresso do Partido invoca a noção de “quando a Via prevalece, tianxia [tudo sob o céu] é compartilhado por todos” 大道之行,天下为公; outra raiz é a crença comunista na libertação de toda a humanidade. O relatório ao 19.º Congresso do Partido salienta especialmente que «o Partido Comunista Chinês luta tanto pelo bem-estar do povo chinês como pelo progresso humano. Fazer novas e maiores contribuições para a humanidade é a missão permanente do nosso Partido».

Historicamente, a civilização chinesa fez contribuições fundamentais e importantes para o desenvolvimento da civilização no Leste Asiático e em todo o mundo. Desde a era moderna, embora a revolução democrática e o caminho socialista da China tenham feito contribuições importantes para a libertação dos povos oprimidos, essas contribuições foram basicamente o resultado de escolhas e decisões feitas diante do modelo ocidental de modernização. Mas uma das razões pelas quais agora enfatizamos o grande renascimento da nação chinesa e a importância histórica desse renascimento é que esperamos integrar as várias conquistas da civilização ocidental com a tradição civilizacional chinesa e criar um novo caminho para a modernização, pavimentando assim um caminho fundamental para a civilização da humanidade à medida que ela passa da tradição para a modernidade.

Embora muitos estudiosos proponham o «modelo chinês» como sendo distinto do «modelo ocidental», Xi Jinping, no seu discurso de 1 de julho de 2016 comemorando a fundação do PCC, escolheu em vez disso a «sabedoria chinesa» e a «solução chinesa». A própria escolha destes conceitos ilustrou a sabedoria chinesa, porque uma teoria tianxia verdadeiramente universal pode conter em si vários modelos de desenvolvimento. Na verdade, os «cinco princípios básicos da coexistência pacífica» há muito defendidos pela Nova China e a noção cultural tradicional chinesa de que «o rei justo não procura governar pessoas além do alcance da lei e da civilização» 王者不治化外之民 fazem parte de uma visão comum.

Historicamente, a China nunca impôs a sua cultura aos países vizinhos, e a razão pela qual a cultura chinesa tem raízes tão profundas que se desenvolveram e se expandiram continuamente é porque a China respeitou a cultura dos países vizinhos e soube adoptar os pontos positivos dessas culturas para o seu próprio aperfeiçoamento contínuo, proporcionando assim uma postura exemplar e atraindo o estudo e a emulação dos países e regiões vizinhos.

Por esta razão, a «solução chinesa» significa que a China não irá, de forma alguma, impor o seu modelo de desenvolvimento a outros países, como fez o Ocidente, mas irá, em vez disso, fornecer um conjunto de princípios, ideias e métodos de desenvolvimento, permitindo que outros países procurem um caminho de desenvolvimento adequado, de acordo com o seu próprio caráter nacional. Da mesma forma, o socialismo com características chinesas, como solução chinesa para a modernização, não procurará lançar um desafio em grande escala para suplantar o modelo capitalista ocidental, como fez o modelo socialista soviético.

Num mundo liderado pela hegemonia ocidental, propor uma «solução chinesa» encontrará naturalmente oposição, contradições e conflitos, mas a China não tomará absolutamente a iniciativa de provocar uma nova Guerra Fria, porque respeita consistentemente o modelo de desenvolvimento de todos os países e continua a estudar e a beneficiar das conquistas razoáveis de outros modelos, enriquecendo e aperfeiçoando assim o seu próprio desenvolvimento. O relatório ao 19.º Congresso indica claramente que devemos «promover a transformação criativa da excelente cultura tradicional da China, criando um novo desenvolvimento», e que não devemos «esquecer a nossa intenção original, absorver elementos do exterior e enfrentar o futuro».

Por esta razão, face aos conflitos regionais e civilizacionais provocados pela defesa ocidental do «fim da história», a China, apesar da sua ascensão, continuará a manter uma postura discreta de contenção e evasão de pactos e, no decorrer dos acontecimentos internacionais, nunca escolherá primeiro um lado com base em desacordos étnicos, religiosos, culturais ou ideológicos.

A China adoptará sempre uma atitude pragmática e, perante conflitos, fará o seu melhor para preservar excelentes relações comerciais, políticas e culturais, ao mesmo tempo que se esforçará por fornecer bens públicos, tais como infraestruturas, transportes e Internet, ao resto do mundo, especialmente aos países em desenvolvimento. A sabedoria chinesa de «evitar conflitos por princípio» mudará silenciosamente o mundo, no decorrer do qual a China demonstrará verdadeiramente uma espécie de autoconfiança cultural e maturidade política.

Por esta razão, em contraste com a busca pela hegemonia mundial que se seguiu à ascensão da Alemanha, da URSS e dos Estados Unidos, a China tem, na verdade, defendido uma espécie de «excepcionalismo chinês» ao longo de sua ascensão. Este excepcionalismo sublinha claramente a diferença entre a cultura chinesa e a cultura ocidental, que é que, enquanto a cultura ocidental tenta consistentemente chegar à resolução de qualquer antagonismo a favor de uma das posições originais, a cultura chinesa procura consistentemente encontrar a unidade dentro do antagonismo, o que resulta num pluralismo baseado em ideias de harmonia. Por esta razão, a ambição da «solução chinesa» é precisamente absorver todos os elementos positivos de todo o mundo a partir da sua base na civilização e tradição chinesas e, posteriormente, promover a transformação moderna da civilização e tradição chinesas, criando, em última análise, uma nova ordem para a civilização humana que transcenda e absorva a civilização ocidental.

Desta perspectiva, tanto os desafios alemães do século XIX como os soviéticos do século XX ao caminho de desenvolvimento ocidental foram, em última análise, divergências dentro da civilização ocidental. Todos estes são modelos de desenvolvimento do «fim da história» baseados na tradição cristã. Apenas a «solução chinesa» que estamos atualmente a construir é um novo caminho de desenvolvimento verdadeiramente construído com base na história e tradição da civilização chinesa. Se dissermos que, desde o início da era moderna até à era de Deng Xiaoping, a principal missão da modernização da China foi aprender e assimilar as conquistas da modernidade capitalista ocidental e da modernização socialista, então a «solução chinesa» para a modernização projectada na era de Xi Jinping busca claramente transformar esse estudo e absorção no renascimento da civilização tradicional e, assim, criar um caminho de desenvolvimento para a modernidade diferente do da civilização ocidental.

Isto significa não só o fim do panorama político global do domínio da civilização ocidental desde a era das grandes descobertas, mas também significa quebrar o domínio global da civilização ocidental nos últimos 500 anos no sentido cultural e, portanto, inaugurar uma nova era na civilização humana. No relatório ao 19.º Congresso do Partido, esta nova era é descrita da seguinte forma: «Devemos respeitar a diversidade das civilizações. Ao lidar com as relações entre civilizações, vamos substituir o afastamento pelo intercâmbio, os conflitos pela aprendizagem mútua e a superioridade pela coexistência.” Isso claramente parte do ponto de vista da civilização chinesa, nega os dois caminhos de desenvolvimento civilizacional ocidentais pós-Guerra Fria, “o fim da história” e o “choque de civilizações”, e traça um novo retrato do desenvolvimento da civilização da humanidade.

(continua)

17 Out 2025

Fotografia | Gonçalo Lobo Pinheiro distinguido no Budapest International Foto

O fotojornalista português Gonçalo Lobo Pinheiro, radicado em Macau há mais de 15 anos, foi distinguido com o prémio Gold na categoria Editorial/Political do prestigiado Budapest International Foto Awards (BIFA), com uma fotoreportagem sobre a visita do Presidente da República Popular da China, Xi Jinping, a Macau, durante as comemorações do 25.º aniversário da RAEM.
Realizada para a Agência Lusa, a série fotográfica documenta momentos-chave da visita presidencial, com imagens que captam o ambiente solene das cerimónias oficiais e o simbolismo político da ocasião.

“Estou muito feliz com esta conquista. Esta série fotográfica documenta momentos-chave da visita do Presidente Xi Jinping a Macau para assinalar o 25.º aniversário da RAEM. Com imagens do Presidente e das autoridades que o acompanharam, a reportagem retrata o ambiente formal das celebrações, sublinhando o peso político da visita”, disse o fotojornalista, ex-editor do HM, citado num comunicado.

As fotografias, marcadas por enquadramentos rigorosos e observação atenta, revelam a coreografia do protocolo de Estado, o simbolismo da unidade e os laços persistentes entre Macau e a China continental neste momento histórico.
“Através de composições cuidadas e um olhar próximo, procurei reflectir a encenação cerimonial e a importância do momento para Macau e para a sua relação com Pequim.”

O prémio reforça o reconhecimento internacional da fotografia de imprensa produzida em Macau e destaca o papel fundamental do fotojornalismo na documentação de eventos políticos de relevo global, destaca a mesma nota.

17 Out 2025

IPOR | Prova de vinhos de Vila Franca de Xira acontece hoje

Decorre hoje a sessão aberta ao público da iniciativa “A Reinvenção do Real” — Arte e Vinhos em Diálogo na Bienal Internacional de Arte de Macau 2025”, a partir das 18h30, nas instalações do Instituto Português do Oriente (IPOR). O evento contará com a presença do enólogo João Passarinho, técnico de viticultura e enologia da Quinta Municipal da Subserra, que irá conduzir as provas e comentar os vinhos seleccionados, depois de uma primeira sessão decorrida ontem exclusivamente para profissionais do sector.

O evento insere-se na “Arte Macau – Bienal Internacional de Arte de Macau 2025”, no âmbito da inauguração prévia do Pavilhão da Cidade de Vila Franca de Xira, que estará exposto na Galeria Tap Seac até ao dia 16 de Novembro.

Segundo uma nota do IPOR, estes encontros “propõem uma reflexão sobre os limites da percepção e da representação, reunindo artistas, curadores e o público em torno de práticas que desafiam o real”, sendo que estas sessões incluem provas dos vinhos “Encostas de Xira”, produzidos pelo próprio município.

A Quinta Municipal da Subserra, fundada no Séc. XVII, está ancestralmente ligada à actividade agrícola. Integra o conjunto Palácio e a Capela de S. José, com azulejos seiscentistas e tela do altar-mor do célebre pintor Bento Coelho da Silveira. A Quinta é propriedade do município de Vila Franca de Xira e produz o seu próprio vinho, “Encostas de Xira”. Estes vinhos são elaborados a partir de castas como Syrah ou Touriga Nacional nos Tintos e Arinto ou Moscatel nos Brancos, uvas selecionadas, cultivadas em solos argilo-calcários, sob a denominação IGP-Lisboa, descreve uma nota do IPOR.

17 Out 2025

Grande Prémio | Lançada nova obra com espólio de Victor Hugo Lemos

Depois da edição de “Grande Prémio de Macau – Colecção Pessoal de Victor H. de Lemos, 1954-1978, Volume I (1954-1966)”, em 2023, eis que a segunda edição desta colecção de Victor Hugo Lemos está quase a chegar ao público. O segundo volume do livro da autoria do seu filho, Carlos Lemos, é apresentado na APOMAC a 6 de Novembro

O público de Macau terá acesso à continuidade da preservação do espólio de Victor Hugo de Lemos sobre o Grande Prémio de Macau graças ao lançamento de um segundo volume de um livro já editado em 2023 pelo seu filho, Carlos Lemos. O primeiro volume, intitulado “Grande Prémio de Macau – Colecção Pessoal de Victor H. de Lemos, 1954-1978, Volume I (1954-1966)”, foi editado com o apoio da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC), e o mesmo acontece agora.

O segundo volume da obra, dedicado aos anos de 1967 a 1978, e que é descrita como a “completa história do Grande Prémio de Macau”, será lançado a 6 de Novembro, a partir das 15h, na sede da APOMAC.

Victor Hugo Lemos, já falecido, foi “o maior entusiasta do desporto automobilístico” e desta competição em particular, tendo, “durante anos sucessivos, acompanhado de perto as corridas do circuito da Guia, tendo conseguido reunir uma vasta colecção de fotografias, recortes de imprensa escrita, bilhetes de acesso ao circuito e cartazes”.

Não faltam ainda registos capazes de atrair o maior dos fãs do Grande Prémio, nomeadamente “autógrafos de grandes pilotos como sendo Sir Stirling Moss, Sir Jack Brabham, Juan Manuel Fangio, Sir Jackie Stewart de entre outros”. Segundo uma nota da APOMAC, esta segunda edição é “uma relíquia para todos os amantes do desporto automóvel, em particular os que participaram no evento e para coleccionadores de registos iconográficos”.

Espólio de respeito

Em 2023, Carlos Lemos, residente no Canadá e membro da comunidade macaense, declarou que, ao lançar o primeiro volume do livro, cumpriu “o sonho de lançar um livro sobre os primeiros vinte e cinco anos do Grande Prémio de Macau”. Trata-se de um livro “diferente de todos os outros livros lançados anteriormente” contendo 256 páginas e mais de 250 fotografias.

No primeiro volume partilharam-se registos desde o início da competição, em 1954, até 1978. Esta é última edição da obra relativa ao espólio do macaense. Aquando do primeiro lançamento, Jorge Fão chegou a sugerir que o Museu do Grande Prémio adquirisse o espólio de Victor Lemos para exibição.

A obra lançada a 6 de Novembro tem um custo de 400 patacas, mas no dia de apresentação estará à venda por 350 patacas, sendo que o montante das vendas irá reverter a favor de “dois organismos de natureza social”.

17 Out 2025

Hengqin | Restaurante português abre do outro lado da fronteira

Chama-se “Vivo” e é um restaurante de gastronomia mediterrânica que abre portas amanhã em Hengqin. João Maria Pegado, um dos sócios do projecto e anteriormente ligado ao desporto, aposta agora na área da restauração e tem grandes expectativas face à procura turística do lado da ilha

Um restaurante de gastronomia mediterrânica abre oficialmente amanhã em Hengqin. Localizado no centro comercial Huafa, o restaurante Vivo é um projecto de dois portugueses que viram uma oportunidade de aproximar duas geografias – China e sul da Europa. Não se trata de culinária de fusão. Ainda assim convivem neste restaurante várias tradições: culinárias portuguesa, espanhola e italiana, preparadas por um chef de Xangai com matéria-prima chinesa.

“Estamos na China, queremos apostar em produtos frescos chineses”, diz à Lusa um dos sócios, João Maria Pegado. Tanto é que no menu não se encontra, para já, o tradicional polvo à lagareiro. Há que continuar a percorrer os mercados locais até encontrar o produto ideal, explica Pegado.

“Poderíamos ir a Macau buscar o polvo congelado, mas o nosso grande objectivo era trabalhar com produtos frescos na China. Em termos de custo, torna muito mais rentável, mas queremos também aproveitar e fazer esta fusão entre produtos chineses e pratos portugueses”, diz. O Vivo está em modo ‘soft opening’ desde 18 de Julho. E João Maria Pegado não se queixa do trajecto percorrido até aqui, apesar da dificuldade da língua.

Cada vez mais

À Lusa, Pegado diz que vai concorrer em breve aos apoios do Governo de Macau, numa altura em que as autoridades incentivam o investimento na Zona de Cooperação Aprofundada Macau-Guangdong, em Hengqin. E esta região atrai cada vez mais visitantes de Macau, refere o investidor. Nesta área gerida pelos dois lados da fronteira, já é permitida, por exemplo, a circulação de condutores de Macau, mediante pedido de licença, lembra Pegado.

Mas há outros atractivos: a gasolina é mais barata – “os carros de Macau vêm abastecer-se ao fim de semana, parecemos nós [portugueses] em Badajoz” – os supermercados mais em conta, mais espaço e mais áreas verdes. “Espaço aberto onde se pode relaxar sem se estar no meio da cidade. Essa é a grande razão que faz com que as pessoas troquem Macau por Hengqin ao fim de semana e às vezes até durante a semana, à hora do almoço”, reflecte.

Também Hengqin parece ser uma opção mais económica para os chineses que visitam Macau, onde, de acordo com dados referentes a Agosto, o preço médio de um quarto de hotel é 1.461 patacas. “Hengqin tem sido cada vez mais um ponto de concentração, de dormida, utilizado por muitos visitantes. Muitos dos prédios que foram feitos como escritórios, o Governo deu licenças (…) para se fazerem hotéis ao estilo de Airbnb [alojamento local]”, disse.

Hong Kong e Macau são, para já, origem do grosso dos visitantes do restaurante, mas João Maria Pegado espera também alcançar mais consumidores do interior da China. “Ainda há poucas pessoas que sabem o que significa [o conceito] mediterrânico”, salienta, referindo, no entanto, que, para muitos dos que visitaram o Vivo, a paella negra tem sido escolha recorrente.

A este prato juntam-se outras especialidades da casa, como arroz à pescador, camarões à guilho ou frango no churrasco, nomeia Pegado, que deixou uma carreira ligada ao desporto para se dedicar ao negócio da restauração.

“É especial”, assume. “Sentia que faltava um restaurante de comida ocidental, e que poderia ter sucesso nessa parte (…). Vivo em Hengqin há três anos e é um local que aprecio bastante, permite-me estar perto de Macau, cidade onde cresci e com a qual me sinto identificado”, conclui.

17 Out 2025

LAG 2026 | Macau numa “fase chave” de diversificação, diz secretário

O secretário para a Economia e Finanças, Tai Kin Ip, reuniu recentemente com várias associações a fim de auscultar as suas opiniões para a elaboração das Linhas de Acção Governativa (LAG) para o próximo ano. Citado por uma nota oficial, Tai Kin Ip considerou que “Macau encontra-se numa fase chave na promoção da diversificação económica”, tendo prometido, no âmbito destas reuniões, “optimizar ainda mais o ambiente de negócios”.

Outra das garantias deixadas pelo governante, refere-se ao “apoio às pequenas e médias empresas na melhoria da sua qualidade, estabilizar o emprego local, criar mais oportunidades de desenvolvimento para os residentes e melhorar continuamente as medidas de garantia do bem-estar da população”.

Reuniram com Tai Kin Ip a Associação Geral das Mulheres de Macau, Associação Geral dos Conterrâneos de Fukien de Macau, Aliança de Povo de Instituição de Macau, União Geral das Associações dos Moradores de Macau, Associação Comercial de Macau, Associação Industrial de Macau, Federação de Juventude de Macau, Federação das Associações dos Operários de Macau e Associação Geral dos Chineses Ultramarinos de Macau.

17 Out 2025