História | Análise a relatos de época da primeira viagem de avião entre Portugal e Macau

As académicas Cátia Miriam Costa e Olívia Pestana analisaram a forma como os jornais Diário de Lisboa e O Comércio do Porto noticiaram a aventura dos aviadores José Manuel Sarmento de Beires e António Jacinto da Silva Brito Pais, que em 1924 voaram de Vila Nova da Milfontes com destino a Macau acabando por aterrar em Cantão. Ambas as publicações deram grande destaque à viagem, que serviu de bandeira nacional, e cujo 97º aniversário se celebra daqui a duas semanas

 

No dia 2 de Abril de 1924 os aviadores portugueses José Manuel Sarmento de Beires e António Jacinto da Silva Brito Pais partiram de Vila Nova de Milfontes, em Portugal, para fazer aquela que seria a primeira viagem de avião entre Portugal e Macau, apenas dois anos depois da célebre travessia entre Lisboa e o Rio de Janeiro feita por Gago Coutinho e Sacadura Cabral.

No entanto, os dois aviadores, que se fizeram acompanhar por um alferes mecânico, Manuel Gouveia, acabariam por aterrar nos arredores de Cantão a 23 de Junho, depois de terem percorrido 16.380 quilómetros. Foram usados dois aviões, com os nomes “Pátria” e “Pátria II”.

Cátia Miriam Costa, do Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL) e Olívia Pestana, da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, analisaram a forma como dois jornais portugueses da época, o Diário de Lisboa e O Comércio do Porto, noticiaram a viagem, no trabalho académico “De Lisboa a Macau: A conquista dos ares vista pela imprensa portuguesa do ponto de vista comparativo”, publicado recentemente no Portuguese Journal of Social Science.

Além de olharem para a cobertura do evento do ponto de vista jornalístico, as autoras analisaram “o compromisso [dos jornais] com a recolha de fundos e o seu papel na mobilização do público como intermediários entre os pilotos e as autoridades públicas”.

Apesar do entusiasmo gerado, as académicas concluem que a aventura acabou por cair no esquecimento. “Apesar dos investigadores das ciências aeroespaciais considerarem ainda esta viagem como essencial para o conhecimento técnico e científico, o voo é geralmente desconhecido e pouco estudado. Enquanto Portugal celebra outras aventuras aéreas, esta parece ter caído no esquecimento, e as referências oficiais são pequenas e escassas”, pode ler-se no documento.

As explicações para este esquecimento foram dadas por Cátia Miriam Costa à agência Lusa, em 2019, e devem-se a questões políticas. “Esta viagem foi apagada da memória portuguesa não porque seja menos importante que a viagem de Gago Coutinho e Sacadura Cabral. Mas, sobretudo, porque Sarmento de Beires é um opositor ao regime que se anunciava.”

“Apesar de militar, não concorda com a Ditadura militar, nem posteriormente com o Estado Novo, é um homem perseguido durante o período das ditaduras em Portugal”, recordou.

Um “evento nacional” e não só

Porquê estes jornais? Segundo as autoras, “a escolha reflecte a necessidade de comparar diferenças abordagens à viagem aérea e detectar eventuais estratégias editoriais que poderiam justificar as diferenças existentes”. Além disso, os familiares dos aviadores tinham estreitas ligações às cidades de Lisboa e do Porto, “o que ajudou a aumentar o interesse do seu desafiante voo na experiência destas famílias”.

As autoras concluem que “o Diário de Lisboa publicou mais notícias sobre este assunto do que O Comércio do Porto”, embora com “visíveis diferenças”. “Do ponto de vista do discurso jornalístico, o orgulho pelos pilotos e pelo projecto é uma realidade desde o início. No entanto, há também um discurso patriótico que emerge à medida que as dificuldades aumentam e a aventura avança. O uso de pontos de exclamação era também um padrão”, acrescenta-se.

No caso do Diário de Lisboa, foi usada com “frequência a expressão ‘aqui e agora’, convidando o leitor a tomar parte desta iniciativa que é sempre apresentada como um evento nacional envolvendo todos os portugueses”.

Quando não havia informações para publicar sobre a viagem propriamente dita, os jornais recorriam a histórias em torno dos seus protagonistas. “O Diário de Lisboa publicava notícias sobre a campanha de recolha de fundos, com entrevistas aos apoiantes do projecto em Portugal (como por exemplo, o Director de Aviação) ou artigos sobre as dificuldades que os aviadores e as suas famílias iam enfrentando”, descrevem as investigadoras.

No caso d’O Comércio do Porto, as notícias “eram em menor número”. “Os acontecimentos em torno do voo transformaram-se numa narrativa que preencheu páginas de jornal quando não havia notícias sobre os pilotos. Conteúdos sobre a campanha de fundos são sempre noticiados em relação com o projecto e como parte da aventura, devido ao facto de uma das dificuldades mais significativas durante a viagem foi a falta de fundos, sejam de fontes públicas ou privadas”, pode ler-se.

No início do século XX, as fontes usadas pelos jornais passavam pelas entrevistas, telegramas e agências noticiosas. Segundo as autoras, “o discurso directo foi usado algumas vezes no Diário de Lisboa, muitas vezes transcrito em forma de diálogo, enquanto que em outras alturas foi usado o discurso indirecto, apresentando linhas gerais da narrativa enquanto cita declarações (em geral pessoas directamente envolvidas com o projecto ou com o campo da aviação”.

No caso do jornal do Porto, foi muito usado o discurso indirecto, “provavelmente devido ao facto de ter citado fontes de informação”.

Em ambos os jornais “os telegramas oficiais e as notícias de agências internacionais eram transcritas, tal como outra correspondência (cartas a familiares, por exemplo), em adição de informação com base em telefonemas”.

Foi detectado, por parte das autoras do estudo, “um forte compromisso de afirmar a credibilidade da informação e a sua verosimilhança através (…) do uso de fontes, recursos de estilo no discurso, a busca pela identificação e envolvimento do leitor na aventura”. Este compromisso “é evidente em ambos os jornais, mas O Comércio do Porto mostra a credibilidade da informação ao citar notícias de outras fontes de informação”.

Apesar do esquecimento a que ficou votada a jornada, ela teve, à época, uma dimensão equiparada às viagens feitas internacionalmente. “Outro aspecto que merece ser enfatizado é o panorama nacional e internacional deste evento: as notícias publicadas sobre o estado da aviação em Portugal, bem como o seu significado político. O mesmo tipo de projectos desenvolvidos pelos aviadores de outras nacionalidades são também mencionados, o que nos permite posicionar este evento ao mesmo nível dos outros [a nível internacional]”, denotam as investigadoras.

O Diário de Lisboa foi fundado em 1921 e publicou-se na capital portuguesa até 1990. A publicação “orgulhava-se da independência das opiniões dos jornalistas”, assumindo-se, pelos fundadores, como um jornal republicano, moderado e independente. No caso d’O Comércio do Porto, foi fundado em 1854 e fechou portas a 30 de Julho de 2005.

Uma viagem importante

Cátia Miriam Costa e Olívia Pestana apontam que, quando Brito Pais e Sarmento Beires começaram os planos depararam-se de imediato com a necessidade de recolha de fundos. “Nem o poder político estabelecido nem as forças armadas tinham fundos necessários para patrocinar a viagem, então a primeira vez que esta viagem captou a atenção do público foi através da ideia de obter fundos para comprar um avião.”

Com uma crise económica e divisões políticas, o primeiro voo entre Portugal e Macau acabou por ganhar “um significado de unificação e uma forma de confirmar a presença portuguesa no radar dos céus”.

O primeiro avião, “Pátria”, cairia perto de Cantão devido a uma tempestade. Durante o voo, “os aviadores perderam a aeronave e tiveram de esperar pela sua substituição”. Novamente os pilotos conseguiram comprar um segundo avião através da recolha de fundos, e desta vez com um maior envolvimento da imprensa portuguesa.

Tratou-se de uma viagem “com várias paragens” e acompanhada também pelos media internacionais, “o que transformou o projecto num evento internacional”. Os jornais analisados pelas investigadoras noticiaram a viagem “desde o início”, tendo os leitores “respondido aos apelos por fundos e mantendo-se fiéis” às notícias e reportagens sobre o voo.

O feito serviu também para Portugal se “comparar a outra nação poderosa”. Neste período “as relações com a China eram tensas devido ao debate em torno das águas que circundavam Macau”, pelo que o voo “era um símbolo de como Portugal era ainda um poder político com capacidade externa para lutar pelos seus territórios”.

“A ligação com as relações sino-portuguesas não é clara mas a aventura emerge como algo acima dos eventos políticos em Portugal, que exalta a presença portuguesa no mundo”, apontam as autoras.

Em 1924 estava no auge o conflito entre a I República, que já estava na sua fase terminal [a Ditadura Militar foi instituída em 1926], e os aviadores da Força Aérea. O voo serviu também “para desviar as atenções dos jornalistas e leitores dos problemas das Forças Armadas e as tensões entre o Governo, o parlamento e os militares”.

Brito Pais não esteve envolvido intelectualmente nem ideologicamente com esse tipo de lutas. No entanto, acaba por sofrer do mesmo ostracismo que vem do facto de não se poder reconhecer o seu companheiro de viagem”, indicou Cátia Miriam Costa à Lusa .

Em Macau os pilotos foram recebidos de forma “triunfal”, descreveu a investigadora, ainda que o voo não tenha terminado no território. Ainda assim, nas páginas do Diário de Lisboa a aventura foi considerada um sucesso. “As dificuldades causadas por uma tempestade sazonal e o facto de não haver nenhum lugar preparado em Macau para a aterragem foram aspectos noticiados pelo Diário de Lisboa antes do fim da viagem.”

Desta forma, as publicações “acabaram por baixar as expectativas e preparar o público para a possibilidade da viagem ser incompleta. O jornal celebrou o fim da viagem como se o avião tivesse aterrado em Macau.”

Em Lisboa os pilotos também foram bem recebidos e receberam condecorações militares ainda das mãos dos governantes da I República. Com a instauração do Estado Novo, em 1933, a viagem e os pilotos acabariam por ser despenhar num profundo esquecimento.

9 Jun 2021

Jardim Botânico | Fundação Casa de Macau vai renovar pavilhão

A Fundação Casa de Macau vai restaurar o pavilhão de chá no Espaço Jardim de Macau, situado no Jardim Botânico de Lisboa. O projecto deverá ser feito em parceria com a Universidade de Lisboa e a Fundação Jorge Álvares

 

O pavilhão de chá que esteve exposto na Expo 98, e que está hoje no Espaço Jardim de Macau, dentro do Jardim Botânico de Lisboa, vai ser alvo de obras de remodelação. Este projecto consta do plano de actividades da Fundação Casa de Macau (FCM) em Lisboa para este ano.

“Graças à reitoria da Universidade de Lisboa (UL) tem havido uma grande intervenção, sobretudo valorativa. Acompanhamos isso, mas falta valorizar o pavilhão de chá, que veio da Expo 98, que está inscrito no nosso orçamento queremos fazer o mais rapidamente possível”, disse ao HM Mário Matos dos Santos, administrador da FCM.

Nesta fase foi proposta cooperação à Fundação Jorge Álvares e à própria reitoria da UL, cujos detalhes ainda estão a ser ultimados. “Não vamos pedir apoio financeiro a Macau e faremos isto com mais duas entidades directamente interessadas. Gostaríamos de ter a obra pronta no Verão deste ano”, acrescentou. Sem avançar o orçamento, Mário Matos dos Santos referiu apenas que é um “valor normal para este tipo de trabalhos”.

A mão de Berardo

O Jardim Botânico Tropical, que chegou a chamar-se Jardim Colonial de Lisboa, foi criado em 1906. Em 1940, já no período do Estado Novo, realizou-se a “Exposição do Mundo Português”, na qual o jardim albergou uma secção de Etnografia Colonial.

Com “o objectivo de documentar e expor ao público fiéis representações de elementos da vida macaense e amostras naturais que constituíam a riqueza e paisagem natural de Macau”, conforme descreve a FCM, foi então concebido o Espaço Jardim de Macau.

Foram construídos elementos como o Arco de Macau e a Rua de Macau, que “se tornaram incontornáveis pontos de interesse daquele Jardim”. Esta iniciativa aconteceu a partir de 1949.

No final da Expo 98, a FCM doou alguns equipamentos que tinham feito parte do Pavilhão de Macau. Em Janeiro do ano passado o Jardim Espaço de Macau foi redesenhado e passou a ter plantas asiáticas. Além do trabalho feito pela reitoria, a sua manutenção chegou a ter a ajuda do empresário Joe Berardo.

“Durante a Expo 98 demos um grande apoio ao espaço e sempre estivemos próximos. Houve uma altura em que o Joe Berardo nos ajudou a colocar muitas coisas naquele jardim. A grande mudança deu-se com a entrada da reitoria [da UL], e desde esse momento que foram feitas alterações, como um novo alinhamento do percurso do jardim. A única coisa que falta fazer, e que é da nossa responsabilidade, é o pavilhão de chá”, rematou Mário Matos dos Santos.

O HM contactou o general Garcia Leandro, ex-Governador de Macau e actual presidente da Fundação Jorge Álvares, que confirmou a proposta da FCM. “É algo que está muito no princípio. Há muita coisa a fazer no jardim tropical e haverá uma parte ligada a Macau, que precisa de ser trabalhada, e irá contar com o apoio de certeza. Mas não temos pormenores”, concluiu.

O Jardim Botânico Tropical está classificado como Monumento Nacional e desde 2015 que integra a UL, sendo actualmente gerido em conjunto com o Museu de História Natural e da Ciência e o Jardim Botânico de Lisboa. A primeira fase da renovação do Jardim Espaço de Macau arrancou em 2019.

8 Jun 2021

PJ | Detida por suspeitas de passar dinheiro falso no Cotai

A Polícia Judiciária (PJ) deteve uma mulher associada a um caso de notas falsas detectado em Janeiro do ano passado. A mulher entrou em Macau novamente no passado dia 30 de Maio, e foi interceptada pelas autoridades num hotel a 3 de Junho.

O caso remonta a 18 de Janeiro de 2020, quando as autoridades receberam uma queixa de um casino no Cotai sobre a descoberta de seis notas alegadamente falsas detidas por um cidadão da China, que tentou trocar dez notas de 100 renminbi por dólares de Hong Kong. Mais tarde a PJ descobriu que o mesmo indivíduo tinha consigo mais 84 notas falsas de renminbi. O suspeito alegou ter recebido as notas de uma mulher num local ilegal de câmbio de dinheiro.

A PJ identificou a mulher, que deixou o território depois de dar as notas falsas ao homem. As autoridades associaram também o caso a um outro, ocorrido a 16 de Janeiro, quando os gerentes do mesmo casino, no Cotai, encontraram um molho de notas falsas de renminbi numa casa de banho para mulheres. A suspeita é acusada da prática do crime de burla e passagem de moeda falsa. O caso seguiu para investigação no Ministério Público.

7 Jun 2021

Covid-19 | IPM estuda previsão de infecções com base em análises ao sangue 

Cinco investigadores do Instituto Politécnico de Macau e da Universidade de Bolonha recorreram à inteligência artificial para analisar a precisão de quatro modelos de dados com o objectivo de prever o contágio de covid-19 através de análises ao sangue. Um deles atingiu bons resultados em todas as variáveis estudadas

 

A possibilidade de prever contágios de covid-19 através de uma simples análise ao sangue, com recurso à inteligência artificial, foi o foco do estudo desenvolvido por quatro investigadores do Instituto Politécnico de Macau (IPM), Ziyue Yu, Lihua He, Wuman Luo e Rita Tse, e da investigadora Giovanni Pau da Universidade de Bolonha e departamento de ciências computacionais de Los Angeles.

Na tese de doutoramento intitulada “Deep Learning for COVID-19 Prediction based on Blood Test” é feita uma análise a quatro modelos híbridos de Deep Learning, aplicados depois a 18 dados de análises sanguíneas do Israelta Albert Einstein Hospital, no Brasil. Este trabalho foi feito, em parte, com recurso ao sistema Big Data Driven Intelligent Computing do IPM.

Foram analisados quatro modelos de Deep Learning, CNN+GRU, CNN+Bi-RNN, CNN+Bi-LSTM e CNN+Bi-GRU, aplicados depois aos dados das análises ao sangue. Os investigadores compararam depois os modelos segundo a sua precisão, recolha e pontuação, entre outras variáveis, sendo que “os resultados experimentais mostram que o modelo CNN+Bi-GRU atinge a melhor performance em todas as cinco métricas”.

Os investigadores assumem que este estudo visa “aliviar o pessoal de saúde do trabalho duro de testagem” e “acelerar” esse mesmo processo, tendo em conta o problema da falta de recursos humanos na área da saúde.

“Até agora a inteligência artificial tem vindo a tornar-se muito importante ao nível do diagnóstico médico. No entanto, a investigação ao nível da previsão da covid-19 com base no sistema de Deep Learning está ainda numa fase preliminar”. De frisar que o sistema de Deep Learning permite configurar parâmetros sobre dados e treinar o computador para fazer sozinho a sua leitura e reconhecimento.

Apoio precioso

Na tese pode ler-se que “o modelo CNN+Bi-GRU irá ser um método efectivo para o diagnóstico da covid-19 com base numa análise de sangue”. “No futuro, vamos continuar a explorar modelos de Deep Learning para a previsão da covid-19 e conceber novos modelos de previsão”, apontam os autores.

Actualmente, há duas formas de testar a infecção por covid-19, através da análise ao sangue e do teste de ácido nucleico. Este “é de momento o mais usado dada a sua simplicidade”, mas “a percentagem de falsos negativos atinge os 20 por cento”. Os investigadores defendem que “a performance da análise ao sangue em termos de falsos positivos e negativos, por comparação ao teste de ácido nucleico, é muito menor”.

Numa publicação nas redes sociais, o IPM comentou que esta investigação representa “uma ajuda altamente efectiva e precisa na previsão da infecção da covid-19”, além de constituir “um valor prático e académico significativo que pode ser aplicado de forma abrangente na prevenção e cura desta pandemia global”.

Este estudo foi distinguido na 6.ª Conferência Internacional da Internet das Coisas e Segurança de Dados, em Abril, além de ter recebido um outro prémio atribuído pelo Instituto de Sistemas e Tecnologias da Informação, Controlo e Comunicação, uma associação sem fins lucrativos sediada em Lisboa.

4 Jun 2021

4 de Junho | TUI nega recurso sobre realização de vigília no Leal Senado 

O Tribunal de Última Instância rejeitou o recurso apresentado pela União de Macau para o Desenvolvimento da Democracia, alegando que a vigília constitui “um planeado e deliberado ataque e insulto a autoridades, entidades e instituições” de Pequim. Associação irá realizar vigília online

 

Pelo segundo ano consecutivo a zona do Leal Senado não irá receber a vigília do 4 de Junho em memória das vítimas dos acontecimentos de Tiananmen. Isto porque o Tribunal de Última Instância (TUI) rejeitou o recurso apresentado pelo deputado Au Kam San, em nome da União de Macau para o Desenvolvimento da Democracia (UMDD), que pedia a anulação da decisão do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP), de 25 de Maio, que proibiu a realização da vigília.

Segundo o acórdão, em causa estão as expressões usadas em cartazes e que constituem “um planeado e deliberado ataque e insulto a autoridades, entidades e instituições do Governo Central da República Popular da China (RPC)”.

Considera o TUI que “o recurso a expressões como ‘terror’, ‘massacre’ e ‘matança’ (e outras), que pela sua própria natureza e sentido implicam, (no mínimo), a causa da morte de um grande número de pessoas com ‘crueldade e desprezo’ e com ‘intenção do seu extermínio’” e que fazem recordar “episódios negros da história da Humanidade’, (como os ocorridos em Nanjing e Auschwitz) – são, sem dúvida, inadmissíveis em qualquer espécie de evento público”.

O uso destas expressões “com o claro propósito de incitar, incendiar e instigar à pública ‘oposição’, ‘combate’, ‘derrube’ e (à própria) ‘extinção’ das referidas Autoridades e Instituições, constitui, igualmente, uma conduta que ultrapassa o aceitável”.

Os juízes entenderam também que este exercício do direito de reunião e manifestação “pode ‘colidir’ com o exercício de outros direitos”, podendo estar em causa um “excesso” e uma “clara e directa ‘ofensa à honra e consideração’ do seu destinatário”.

“Invocar-se o direito – fundamental – à “reunião e manifestação” para cobertura (e palco) de um planeado e deliberado ataque e insulto a Autoridades, Entidades e Instituições do Governo Central da RPC, violando-se, grosseiramente, a honra, dignidade, respeito e consideração que lhes é devido, é, como se mostra óbvio, claramente inadmissível e de necessário repúdio”, acrescenta ainda o TUI.

De frisar que José Dias Azedo fez uma declaração de voto apontando que “se podia avançar para uma solução no sentido de se permitir a pretendida ‘reunião/manifestação’ desde que expurgada de todos os seus ‘elementos abusivos e ofensivos’”.

O CPSP entendeu, no despacho, que esta acção estaria “ferida de ilegalidade” e que seria “incompatível” com a lei de prevenção, controlo e tratamento de doenças transmissíveis, devido à pandemia.

Online avança

Au Kam San anunciou ontem a realização da vigília online às 20h do dia 4 de Junho num apartamento na zona da Praia Grande. O público poderá assistir ao evento no Facebook da UDDM e do gabinete dos deputados Au Kam San e Ng Kuok Cheong.

O responsável disse temer não conseguir proteger os participantes. “Se a polícia acusar alguém de violar a lei, isso não tem custos, mas os participantes pagam um preço alto para provar a sua inocência. Achamos que não é apropriado os residentes arriscarem.”

Foi feito um apelo para que a população “recorde [Tiananmen] de forma apropriada”. “Há pessoas que sugeriram vestir roupas pretas, ou colocar velas brancas em casa. Os pais podem procurar informações e partilhá-las com os filhos. Isso é educação cívica”, explicou.

Au Kam San lembrou que, nos anos anteriores, a realização da vigília nunca constituiu uma ilegalidade e que não iria haver cartazes com as expressões referidas pelo CPSP e no acórdão do TUI. “Normalmente usamos slogans como ‘Reabilitação do movimento democrático de 1989’ e ‘Desenvolver a China democrática’”, frisou.

O Governo disse que a decisão do TUI “vem confirmar que a reunião em causa viola artigos da Constituição, da Lei Básica e do Código Penal”. “O Governo da RAEM apela ao promotor em causa para dar cumprimento à decisão do TUI”, esperando que “a população reconheça a ilegalidade da actividade e o perigo que pode constituir à segurança nacional”.

4 Jun 2021

Ana Jacinto Nunes, pintora e artista plástica: “Gosto da fusão da caligrafia com pintura ocidental”

“Notícias da Floresta” é o nome da exposição de Ana Jacinto Nunes com inauguração marcada para 11 de Junho no edifício do Fórum Macau, no âmbito das celebrações do Dia de Portugal, Camões e Comunidades Portuguesas. A artista fala dos trabalhos que acabam por ser um diário do confinamento ou “um resumo dos dias”, onde se vislumbra “quase um final feliz”

 

“Notícias da Floresta”. Porquê este nome?

Isso tem sido o que temos tido. Está tudo fechado em casa e as notícias que temos é daquilo que nos é próximo, de um ecossistema grande em que tudo é importante e tudo faz parte de um todo. A notícia está a crescer, a semente brotou, a flor abriu, hoje choveu. São notícias que não interessam a ninguém, no fundo, mas que vão acontecendo.

Que obras podemos ver nesta exposição?

Os papéis funcionam quase como um diário, que não é gráfico no seu formato típico de apontamento, mas acaba por ser um diário. É uma escolha de desenhos que fui fazendo desde que não fui para Macau, porque a ideia inicial era fazer a quarentena aí. Há um desenho base, que é a menina e o cão, e que é alterado. Mas as telas não, são um resumo dos dias, momentos. Nas telas acaba por haver um final em que já se está mais descontraído. Apareceu o sol. Há quase um final feliz.

À semelhança de uma exposição que tem patente em Grândola, Portugal, também pintou muito o que estava à sua volta, ao invés de um tema em específico?

Sim. O tema específico talvez seja aquilo que me rodeia. Não tenho uns óculos de mergulho em casa, não desenho à vista, nunca. Parte tudo muito do meu imaginário, que é feito daquilo que vou vivendo.

Há obras da exposição de Grândola nesta mostra, ou pelo menos que transmitam uma mensagem semelhante?

Sendo eu a mesma artista há um fundo que é sempre o mesmo. Tenho estado cada vez mais preocupada com a situação das mulheres na pintura. Talvez isso esteja mais assumido, mas não sei muito bem como.

Porquê?

É óbvio que as mulheres estão menos representadas em todas as áreas. Se perguntarmos, a alguém fora de Portugal, quantas mulheres pintoras conhece, de certeza que são muito poucas. Temos a Paula Rêgo, a Lurdes de Castro. E as mulheres vendem a sua arte mais barata do que os homens.

Como é que através do seu trabalho chama a atenção para isso?

Quando pinto não chamo a atenção. Eu faço mais citações ou mais declarações. Não digo “agora vou fazer uma mulher debaixo da mão de um homem”. Mas se calhar a falta de expressão, o ter sempre o mesmo olhar, um olhar apático e incrédulo. O ter sempre uma mulher ou menina que olha para ti. Os bichos podem ser machos, mas a figura principal é sempre uma mulher. Mas esta exposição em Macau tem uma grande mistura. A forma de pintar, o pincel, o gesto. Nos últimos tempos tenho vindo a juntar o que procurava fazer no meu trabalho de antigamente, junto a expressividade da pincelada mais oriental. Na minha cabeça é um bocadinho como a caligrafia, tenho vindo a fazer isso. Não sei se é muito evidente nesta exposição. Já fiz trabalhos para aí muito dentro deste perceber que gosto de misturar os materiais daí com os de cá e fazer uma fusão entre a caligrafia e a pintura ocidental.

Gosta de trabalhar com vários materiais, de ir experimentando?

Gosto muito. Lá em cima [em casa] está tudo sujo, com óleos, e venho cá para baixo e posso desenhar. Depois tenho a garagem onde tenho a prensa, o material todo para fazer gravura.

É perfeccionista, alguém que quando aprende uma coisa nova quer ir ao detalhe?

Não. Nem pensar. Demora-se uma vida a ser meramente bom no que fazemos. Ter aspirações a fazer uma coisa perfeitinha é um trabalho. Na gravura sim. Não consegues fazer uma edição sem saber fazer aquilo na perfeição. Tudo vem de há muito tempo. O trabalho, aquilo que vou vendo e pensando, e lendo também, vai tudo para o trabalho. Desde há muito tempo que trabalho sozinha. Na gravura temos 90 por cento de trabalho e cinco por cento de criatividade. É um trabalho técnico e muito maior do que o criativo. Mas também gosto desse trabalho. Não gosto nada do trabalho esporádico, mas gosto do de continuidade.

Os animais estão sempre muito presentes nas suas obras.

[Na exposição de Grândola] há de facto muitos gansos, já os desenho há muito tempo. Se calhar tem a ver com a ida ao parque com os miúdos, não faço ideia. Mas na Gulbenkian eu fugia dos gansos. Em miúda lembro-me de ver um bando de gansos a fazer barulho, e eu adorava aquilo. Na minha cabeça tem a ver com uma antiguidade. [O meu trabalho é] o que acontece dentro de nós, à nossa volta, o que está em casa. E não interessa quando vou ver um concerto à Gulbenkian. Interessa-me todos os dias, se há pão ou não. E não é político o que estou a dizer. Há mesmo pão?

O lado prático da questão, sem ideologia.

Prático é uma expressão que eu não uso porque não sou nada prática.

É desorganizada quando está a criar?

Completamente. E quanto mais em pânico estou, e próxima de uma exposição fico, fica tudo um caos, como a minha cabeça. É preciso fazer e vai tudo à frente. Com os miúdos é: o que querem comer, tratem do assunto, tragam comida. Eles aturam… a Clara neste momento tem uma tela enorme que eu coloquei no quarto dela. Há três dias estava uma desorganização e eu não estava a gostar, aquilo não fazia sentido e queria aqueles quadros lá, mas… e sozinha à noite é que andei com os quadros de um lado para o outro. Eu sei o que está na minha cabeça mas se calhar não o sei dizer muito bem, se calhar por isso é que pinto. Fiz recentemente uma ilustração com base num livro que adorei, “O Plantador de Abóboras”, de Luís Cardoso.

E acabou por ir para o seu trabalho.

É dentro do meu mundo, completamente. O que ele escreve, para mim tem o mesmo tipo de encanto que tem a Marguerite Duras, no sentido de como eu me sinto a ler aquilo, embora não tenha nada a ver. O tipo de mundo em que tu entras… ele numa entrevista diz que as mulheres é que estão, vêem, estão presentes, preocupam-se. Diz que quem lhe contava as histórias era uma mulher, então cada vez que ele conta uma história é através dessa voz. Ele diz as coisas de uma forma muito bonita e consciente do modo de vida das mulheres. O que está na exposição [de Grândola] são ilustrações que foram usadas para esse livro e também outras que não foram usadas. Posso dizer que continuo a ter ali trabalho com os livros da Marguerite Duras que li em Macau, em 1996. Continuam ali, não sei onde, num cantinho.

Que livros da autora a marcaram mais?

Gostei de todos, só não consegui ler teatro. Não consegui fazer as vozes cá dentro, cansa-me muito. Mas “A Barragem contra o Pacífico”, que tenho andado a pensar que podia ler outra vez, porque há muito que não lia um livro que me encha as medidas, isto antes do livro de Luís Cardoso. Mas tenho aquele medo… vai lá ler “A Metamorfose”, de Kafka, agora. A mim não me apetece, não quero. Lês aos 14 ou 16 anos e faz sentido, mas aos 47? Deixa estar. E não queria isso com um dos livros que mais gostei. Mas ando com vontade de ler mais autoras mulheres agora.

Porquê?

Quando cresci, o que é que eu lia? Kafka, Boris Vian, tudo homens.

Foi algo espontâneo?

Lia homens porque ia a uma livraria, quantas mulheres escritoras havia em 1980? Poucas, hoje há mais. Há de facto um lobby masculino. Mas e nas outras artes? Falou-se nos jornais de que temos uma maestrina portuguesa.

A Joana Carneiro.

Sim, mas é a única. Gosto muito de música. Tenho uma filha que me lê em voz alta enquanto eu trabalho, o que se pode querer mais? E um filho que treina escalas ao piano, adoro ouvir aquilo. Acho muito bonito. Trabalho muito com música. Estou a trabalhar num quadro que começa com uma música. Durante aquele tempo, e para azar de quem vive comigo pode ser um mês, só se ouve aquilo. Se voltar daqui a três meses, posso ouvir a mesma música. É como se fosse um discurso musical que me põe naquele sítio a pintar aquilo. A Sylvia Plath tem um verso num poema que diz “I’m vertical but I would like be horizontal”, que penso que é a vontade de morrer dela. Mas aquela coisa entre o vertical e o horizontal, entre a vida e a morte, entre as nuvens e os papiros, ou entre lá em cima e o cá em baixo, o etéreo e o terra a terra… isto tem uma amplitude, para um lado e para o outro, muito grande. Se calhar por causa da doença ou de não sei o quê, e de a casa estar cheia, há a vontade de ir para o Alentejo, ter um sítio grande e arranjar paz.

É uma nova fase.

Sim, um descanso. A vida toda até aos 40 andei um bocado à procura de quem era. E agora não sei, mas estou-me lixando. Sou eu e não quero saber o que os outros pensam, se está bem ou mal. É como eu gosto e quero.

Isso é uma grande liberdade. Sente-se mais livre agora do que antes?

Sim, muito mais. Não voltava aos meus 16 anos nem com o Euromilhões na mão.

Não tem medo de envelhecer?

Estou a ficar velha, é esquisito olhar-nos no espelho e ver estas rugas. Dois anos foi muito tempo, as preocupações. Eu emagreci quando todos engordaram na quarentena. Mas comi muitos bolos. Mas não voltava aos 25 nem aos 35 anos. Talvez voltasse aos 40.

4 Jun 2021

Pais contestam explicações sobre aumento de propinas na EPM

Filipe Regêncio Figueiredo, presidente da Associação de Pais da Escola Portuguesa de Macau (APEPM), disse ao HM que não concorda com as explicações dadas por José Sales Marques, administrador da Fundação da EPM, sobre o aumento das propinas em 12 por cento.

“Contesto que venha dizer que não é verdade o que nós dissemos. O aumento global da propina é de 12 por cento, mas no montante global da propina anual não corresponde ao que os pais vão pagar, mas sim [um aumento de] 34 a 46 por cento dependendo do ciclo de ensino. Ele não pode dizer que são coisas que não têm nada a ver com a fundação. Esse aumento de 12 por cento é um problema da fundação e se os pais não colocarem os filhos na escola ela não serve para nada nem a fundação.”

O presidente da APEPM lamenta também que Sales Marques o tenha acusado de “desinformação por referir que houve baixas de salário”. “O que disse é que há uma diminuição no valor do orçamento da escola para o ano lectivo 2019/2020 relativamente ao pessoal docente, mas há um aumento do orçamento para o pessoal da direcção, quando o pessoal dirigente [da escola] são apenas duas pessoas [Manuel Machado e Zélia Mieiro]. É o que consta nos documentos, pelo menos desde o ano lectivo de 2016/2017.”

Além disso, Filipe Regêncio Figueiredo diz que a fundação “nunca respondeu aos nossos emails e desde ontem [terça-feira] que continuamos sem resposta nem qualquer tipo de contacto”.

Instalações diferentes

José Sales Marques referiu que existe a necessidade de aumento de propinas dadas as “dificuldades” financeiras que a fundação tem enfrentado e a redução do subsídio atribuído pela Fundação Macau em 1 milhão de patacas. Afirmou ainda que a EPM é, no seio das escolas privadas, a que cobra das propinas mais baixas. No entanto, Filipe Regêncio Figueiredo diz que há outras matérias a ponderar.

“Não sei quanto se paga nas outras escolas, porque não estou interessado. Se comparar as instalações da EPM com a Escola Internacional de Macau [TIS], comparamos o incomparável. Tem de se olhar para aquilo que a propina engloba.”

Sales Marques admitiu analisar casos de famílias com dificuldades devido à pandemia, mas o presidente da APEP não vê como essas situações possam ser resolvidas. “Vão abrir um regime excepcional por cada aluno? No meu caso pessoal, felizmente não entro em situações de dificuldades, mas tenho três filhos na escola e para o ano vou ter quatro. São questões que têm de ser ponderadas.” Contactado pelo HM, José Sales Marques não quis prestar mais declarações.

3 Jun 2021

Guia Fest | Primeira edição arranca no domingo em vários locais da cidade

O cartaz da primeira edição do Guia Fest não é feito apenas de música experimental, mas é essencialmente sobre ela. Os organizadores apostam na realização de workshops para que os participantes possam criar as suas próprias sonoridades. O festival termina a 20 de Junho e acontece em quatro locais diferentes de Macau

 

A primeira edição do Guia Fest começa este domingo e, até ao dia 20 deste mês, promete juntar músicos e público para que, em conjunto, explorem os meandros da música experimental. A ideia é criar “uma nova experiência sonora” e reúne “vários músicos de Macau, de diferentes géneros musicais”, como o DJ japonês AKI. O objectivo é “experimentar a música e o som além da nossa imaginação em diferentes formatos”.

Este domingo, acontece o workshop de sintetizadores modulares na zona do Tap Siac, um equipamento que se tem tornado cada vez mais popular nos últimos anos “mas que só agora está a surgir em Macau”. O sintetizador modular é usado para criar sonoridades de raiz e, neste workshop, “vários músicos vão mostrar a diversidade [deste equipamento] e a forma como misturam estes instrumentos”. O workshop será apenas em cantonês, sem direito a tradução.

A 12 de Junho, tem lugar o workshop sobre design de som, focado num programa de computador intitulado “Supercollider”, criado por James McCartney em 1996. Este workshop será administrado por Daniel Maszkowicz, um músico oriundo da Suíça que “vai ensinar os princípios e técnicas” deste programa através de um tutorial online.

Já no domingo, 13 de Junho, ocorre o evento “Sound and Cocktail” [Som e Cocktail], no bar Two Moons, onde se pretende fazer uma “fusão experimental do álcool com o som”, uma vez que “o som e o álcool sempre fizeram parte da vida urbana, e a cidade sempre esteve repleta de álcool e som”. O público é convidado a testemunhar “com os olhos, ouvidos e pupilas degustativas um cocktail sonoro feito à medida”.

O Guia Fest termina no dia 20 de Junho com o concerto “Guia Live!”, no espaço Live Music Association, onde “uma variedade de músicos locais vão sair da sua zona de conforto para trazer toda uma nova experiência numa performance sem precedentes ao nível dos estilos e formatos”. Neste concerto participam AKI com KaWaiNg, Ellison, membro da banda local Whyoceans e os INFLUUT, um duo de jazz electroacústico da Suíça.

A novidade é o foco

Ao HM, Matthew Ho e Steven Ng, organizadores do festival e membros do grupo Guia Experimental, explicaram que, inicialmente, a ideia era realizar uma série de workshops “sobre música feita com sintetizadores modulares”. “Tínhamos muitas ideias na área da música experimental. Então optámos por organizar um festival”, apontou Matthew Ho.

Os amantes da música experimental no território constituem ainda “uma comunidade muito pequena”, mas, na hora de convidar os músicos a participar, a ideia é que estes toquem “músicas que nunca experimentaram antes”.

“Faz-se muita música comercial, com bandas, música de dança ou hip-hop, mas queremos que os músicos explorem outras sonoridades para marcarem a diferença, para que haja algo de novo”, frisou Matthew.

“O nosso conceito de música experimental não passa apenas pelos instrumentos. É também fazer algo que nunca se fez, uma experiência totalmente nova que não esteja no mercado neste momento. O que é experimental para mim pode não ser para ti, mas pelo menos estou a fazer algo novo sem pensar no mercado ou no público”, defendeu o organizador.

A ideia de realizar os workshops é de levar as pessoas a explorarem novos territórios musicais. “Nos anos 60 e 70 estes instrumentos eram usados para fazer sons. Nessa altura, em Hollywood e em alguns anúncios publicitários usavam-se estes sons e equipamentos, mas não como usamos hoje. Decidimos então fazer um workshop para que os participantes façam os seus próprios sons sem recorrer a software, pois tem as sonoridades pré-definidas. Queremos que as pessoas comecem do nada para criar os seus próprios sons”, frisou Matthew Ho.

Olhar para a história

O mentor do Guia Fest explicou que a música experimental era uma realidade em Macau na década de 90, feita por alguns membros da comunidade portuguesa. Depois de um interregno entre 2000 e 2010, começou a surgir novamente. Eric Chan, membro da banda Forget the G, foi um dos grandes impulsionadores do movimento. “Nunca esperamos que o público adore a música experimental, mas esperamos que possa conhecer mais sobre o facto de esse género musical existir no mundo e em Macau”, disse Matthew Ho.

Em 2018, teve lugar no território um festival de música experimental e industrial [noise music], mas, devido à pandemia, o seu curador ficou retido em Taiwan. Desta forma, explicou Steve Ng, optou-se por fazer um festival totalmente novo e apenas dedicado à música experimental.

Também em 2018, foi criado o grupo Guia Experimental. “Na altura um artista da Suíça pediu-nos para fazermos a curadoria de um espectáculo dele, pois estava a fazer uma tour pela Ásia. Queriam que Macau fosse um dos locais de paragem e foi aí que decidimos criar este grupo. Continuamos a organizar espectáculos depois disso”, adiantou Matthew.

3 Jun 2021

Advocacia | Ordem quer reactivar Protocolo com AAM no início do próximo ano 

A Ordem dos Advogados assegura que o Protocolo com a Associação dos Advogados de Macau poderá ser retomado no início do próximo ano, ultrapassado o impasse causado pela pandemia da covid-19. O Bastonário, Luís Menezes Leitão, assegura que “a principal questão” nas negociações prende-se “com a exigência de formação complementar para exercer a advocacia”

 

Pode estar para breve a reactivação do Protocolo entre a Ordem dos Advogados (OA) em Portugal e a Associação dos Advogados de Macau (AAM). Depois de meses de negociações, a OA aponta como prazo para a entrada em vigor o início do próximo ano.

“Desde o início que manifestamos concordância com a recuperação do Protocolo, havendo apenas que ultimar as questões que se colocam para efeitos de reciprocidade. A pandemia prejudicou, no entanto, o decorrer das negociações. Temos esperança que, estando tudo resolvido, no início do próximo ano o mesmo possa ser reactivado”, confirmou ao HM Luís Menezes Leitão, Bastonário da OA.

A exigência de formação complementar além da licenciatura em advocacia é, para já, o tema que continua a ser discutido. Esta formação é exigida para exercer a profissão no território e ter “o conhecimento da lei local, que é cada vez mais diferente em Portugal e Macau”. “Teremos que acertar em condições de reciprocidade qual a formação exigida para o exercício da advocacia em cada uma das jurisdições”, adiantou o Bastonário. Esta formação prende-se com a necessidade de aprendizagem do Direito de Macau.

Um ano de negociações

As negociações para que este Protocolo seja reactivado duram há cerca de um ano. Numa entrevista ao HM, Luís Menezes Leitão falou da importância do documento para a OA. “É uma forma de mantermos a nossa ligação em termos jurídicos com Macau onde neste momento existe ainda um grande património jurídico comum. Achamos que ambas as advocacias podem trabalhar em conjunto.”

Jorge Neto Valente, presidente da AAM, referiu recentemente que o número de advogados portugueses que vêm para Macau trabalhar é cada vez menor. Em 1999 “havia 87 advogados de pleno direito e 13 estagiários, e a esmagadora maioria, seguramente 70 por cento, eram de língua materna portuguesa”, recordou. “Neste momento, eu diria que 70 por cento [dos inscritos] são de língua materna chinesa”, num universo de “436 advogados e 127 estagiários”, apontou o presidente da AAM em declarações à Lusa.

“Há muito poucos [causídicos], porque, além da questão da pandemia, os advogados de Portugal não podem chegar aqui, bater à porta e dizer ‘estou cá’”, disse. Antes de poderem exercer no território, têm de obter autorização de residência e de trabalho, “o que não é fácil”, e “fazer um curso de adaptação ao Direito de Macau”. “Ou então têm de começar pelo estágio, e a maior parte dos advogados não quer ter de fazer estágio outra vez”, explicou Jorge Neto Valente.

3 Jun 2021

Ana Saldanha, autora de “Literatura, Arte e Sociedade em Portugal”: “Há falta de perspectiva para compreender o passado”

O novo livro de Ana Saldanha, apresentado hoje na Fundação Rui Cunha, dá a conhecer as manifestações literárias e artísticas no Portugal contemporâneo entre o Golpe de Estado de 1926, a instauração do fascismo e a Revolução do 25 de Abril de 1974. A docente do Instituto Politécnico de Macau analisa movimentos e autores que não se dissociam do seu tempo

 

Como surgiu a possibilidade de editar este livro, que traça um olhar transversal à sociedade portuguesa entre 1926 e 1974?

Trabalho com literatura portuguesa desde o meu doutoramento e tenho trabalhado bastante com a literatura produzida durante o fascismo, nomeadamente a literatura neo-realista. Tenho trabalhado também com a literatura do pós-25 de Abril das décadas de 70 e 80. Tenho feito também trabalho com a arte muralista, com a literatura feita por autoras mulheres, e este livro partiu da ideia de juntar tudo isto e fazer uma obra que se dedicasse ao período do fascismo e do 25 de Abril de um ponto de vista da sociologia da literatura.

Temos então um olhar transversal sobre tudo o que se fez na área da cultura neste período de tempo.

Não considero que a literatura se deva desligar dos movimentos da sociedade e de outras manifestações artísticas. Temos de ter uma visão de conjunto para compreender a literatura, arte e aspectos socio-políticos. É nesse sentido que construo este livro: compreender a literatura não apenas fechada no seu próprio universo mas algo que comunica com todos os outros aspectos da sociedade, com a canção, a arte e o cinema.

Entre 1926 e 1974 acontece muita coisa na sociedade portuguesa. Olhando para as representações artísticas de 1926, consegue fazer uma comparação face a períodos posteriores relativamente ao papel que tiveram?

A questão será mais a inversa, pois a partir do golpe militar de 1926 instala-se uma nova situação socio-política em Portugal. Portanto, todas as manifestações artísticas das décadas de 20 e de 30 não se podem desligar desse contexto, e não é por acaso que o neo-realismo vai depois surgir na década de 40. Não considero que possamos ler as manifestações artísticas sem ter uma compreensão prévia do contexto socio-histórico. Temos de fazer uma leitura dialéctica.

Foram-se construindo passos para, em 1974, dar lugar a outras manifestações, como a música de intervenção no período do 25 de Abril. Em 1926 não haveria outro tipo de expressões ao nível da música, haveria outras.

Sim. Ainda que a música de intervenção surja de uma certa linha contestatária que já vinha de antes do 25 de Abril. Mas mais uma vez não a podemos compreender sem compreender também o contexto socio-histórico. Em relação à literatura, como diz Eduardo Lourenço, nos anos que imediatamente se seguiram ao 25 de Abril, de facto não há uma grande produção literária. Esta só surge no final da década de 70. Mas durante esse período em que não há uma grande produção literária temos, por exemplo, a arte que se manifesta de uma outra forma, que sai das galerias e que vai para as ruas, tal como a música. E a música de intervenção vem um pouco no sentido da arte, porque deixa de estar escondida. A música torna-se na palavra do povo português, ela é apropriada pelo povo. De uma certa forma é uma manifestação artística, em que há um autor, quem a cante, mas há também um movimento colectivo em volta disto, inclusivamente com a arte muralista. Esta interligação entre o colectivo e o individual também é bastante interessante como fenómeno socio-estético depois do 25 de Abril. Naturalmente que a literatura, depois de um período de censura, com o 25 de Abril e a ideia de construção de uma sociedade diferente, seguiu depois os seus caminhos próprios, ainda que nas décadas de 70 e 80 esteja extremamente ligada ao passado recente português.

A arte muralista foi algo muito específico, de um certo período de tempo. Depois da Revolução deixou de se pintar murais, pelo menos com a mesma força.

Há aqui uma questão do facto de a arte ser apenas acessível a uma elite. E antes do 25 de Abril para se ver arte era necessário ir a uma galeria e a um museu. O 25 de Abril veio trazer a possibilidade de todos terem acesso à arte. Esse processo foi muito importante no Brasil, mas ao contrário. Durante a Ditadura Militar traz-se a arte para a rua como forma de consciencialização através de outras expressões artísticas, como a impressão em notas de um real da questão “Quem matou Herzog” [referência ao assassinato do jornalista Vladimir Herzog em 1975]. Em Portugal é assim também, com ligação a um terceiro elemento, bastante peculiar, que é o facto de podermos participar nessa construção da obra de arte. Muitos dos murais foram pintados pelas pessoas que eram orientadas por alguém. Todos podiam participar na construção de uma obra de arte. Havia uma espécie de reciprocidade e isso tem a ver com o contexto revolucionário.

Dedica também um capítulo às antigas colónias neste livro. Macau, ainda que não fosse uma colónia, olhava com algum distanciamento sobre estas manifestações que iam acontecendo na então metrópole?

Não me debruço sobre Macau e não faço essa ligação. O contexto das colónias interessa aqui para compreender a Guerra Colonial, a razão da formação do MFA [Movimento das Forças Armadas], a ligação que tem depois com todo o processo de guerra. Interessa-me como um contexto sócio-histórico e não tanto como produção. Não falo da produção literária que é feita a partir da situação colonial, o que me interessa é, na literatura produzida depois do 25 de Abril, a forma como a situação colonial e a guerra é tratada pelos autores.

E como foi tratada?

Depende. O que acontece é que a guerra colonial passa a ser parte da matéria literária. Depois do 25 de Abril foram anos extremamente traumáticos e passou a haver uma literatura que, reflectindo sobre o passado recente português e a censura, tinha também de reflectir sobre este processo. Este período, de tão traumático que foi, era difícil que não entrasse na matéria literária. Temos o António Lobo Antunes, o escritor onde talvez a guerra colonial esteja mais presente na sua literatura. Dificilmente poderíamos compreender a literatura do Lobo Antunes sem compreender o que foi a guerra colonial, ainda que a vivesse como médico. Mas a guerra colonial surge também em obras de autores como Manuel Alegre, Olga Gonçalves ou Mário de Carvalho.

Depois do 25 de Abril surgem autores como José Saramago, Prémio Nobel, Fernando Namora, José Cardoso Pires. Como caracteriza esta literatura portuguesa do pós-25 de Abril, já com algum distanciamento?

Mesmo que a matéria revolucionária e os acontecimentos históricos pareçam estar ausentes, é sempre uma literatura que não pode ser entendida sem que se faça uma compreensão do 25 de Abril. É esta a ideia que defendo neste livro. Estas obras só surgem porque houve o 25 de Abril, e é como se a matéria socio-histórica estivesse sempre presente. Há uma geração de autores que fazem a reflexão a partir daquilo que escrevem é feita a partir de um contexto revolucionário ou pós-revolucionário.

Esta obra dedica-se ao público no geral, mas os alunos que a folhearem vão ter, no fundo, acesso a uma compilação de dados sobre o Portugal contemporâneo.

Sim. Não há nenhuma obra deste tipo em Macau e, para mais, com esta perspectiva sociológica da literatura. Havendo uma ausência de produção do ponto de vista teórico, mas também nesta tentativa de conjugação da matéria literária com o contexto social e histórico, e para mais com este contexto que é tão importante, como é o da Revolução de Abril, e todo o período do fascismo português, achei que seria necessário ocupar este espaço. Além disso, aqui no IPM há várias disciplinas ligadas à literatura portuguesa onde penso que este livro se pode inserir. Há também uma falta de perspectiva, quer historiográfica quer social e estética que permita reunir e compreender o passado recente português, interligando todos os movimentos da vida e da história.

3 Jun 2021

Joking Case com nova música e desejo de pisar mais palcos 

Chamam-se Joking Case e apresentam-se como uma banda de música alternativa que, no fundo, quer experimentar todos os géneros, desde o pop ao funk. Depois de um recente concerto no espaço Live Music Association, Vickie Cheong, vocalista e compositora, assume que a banda quer pisar novos palcos assim que a pandemia o permitir e fala de “Dualism”, o novo single

 

Tudo começou em 2017 com a participação numa competição de bandas, na qual os Joking Case ficaram em primeiro lugar. Depois disso, a composição do grupo mudou, mas a vontade de fazer música não diminuiu. Prova disso, é o lançamento recente de “Dualism”, o novo single da banda disponível nas plataformas digitais, cujo videoclip foi feito em parceria com Kawai Ho, estudante do Instituto Politécnico de Macau.

Trata-se de uma música “mais ligada à sonoridade funk”, baseada na história de uma pessoa “com várias mentalidades numa só” contou ao HM Vickie Cheong, vocalista e compositora da banda. “Vamos aproximar-nos do formato de pequeno álbum. Esta estudante interessou-se pela nossa música e daí nasceu uma colaboração.

Queremos tocar em diferentes locais e ir a outros países, para que outras pessoas conheçam a nossa música. Mas primeiro queremos lançar mais canções, para podermos ter mais espectáculos”, contou.

Além de Vickie Cheong, fazem parte dos Joking Case Ronald, baterista, Brian, guitarrista e Ethan, baixista. “Sou vocalista e escrevo muitas letras para as composições feitas pelo guitarrista [Brian]. Consideramo-nos como um grupo de música alternativa, porque a música que fazemos actualmente tem diferentes estilos e sonoridades.”

Vickie Cheong confessa que consegue transmitir melhor as suas ideias em inglês do que em chinês. “Esta é a primeira banda na qual participo e passamos bons momentos a compor novas canções. Todos nós temos pensamentos semelhantes na hora de compor, sobre os temas, trabalhamos muito bem nesse aspecto. Diria que escrevo mais em inglês porque é mais fácil expressar o sentido daquilo que quero que seja escrito. Em chinês seria mais desafiante para mim.”

No início, os Joking Case ouviam muitas bandas de Taiwan, e parte da inspiração para as letras veio daí. “Queríamos ter um estilo mais descontraído. Algumas partes estavam mais ligadas à música soul, enquanto que outras tinham uma sonoridade mais forte. A ideia era expressar o significado das nossas canções. As coisas que estávamos a escrever baseavam-se nos nossos próprios pensamentos. Muitas vezes escrevemos sobre histórias de amor, ligações entre rapazes e raparigas, coisas desse género.”

A vocalista frisa que os Joking Case buscam a competição, e isso passa por mostrar as suas músicas “em diferentes plataformas e a pessoas de diferentes países”. “Este foi um bom começo e não queremos parar. Mesmo que alguns membros tenham saído mas ainda queremos fazer mais experiências e criar canções diferentes”, acrescentou.

A experimentação é um dos objectivos dos Joking Case. “Queremos experimentar todos os géneros musicais de que gostamos. Na maior parte das vezes gostamos de compor em inglês, ouvimos diferentes géneros musicais e fazemos uma história para as nossas canções, e produzimo-las. É esse o nosso projecto.”

Problemas que são piada

O nome Joking Case nasce dos problemas que enfrentamos no nosso dia-a-dia que, no final de contas, se resolvem e se transformam nisso mesmo, em situações que acabam, muitas das vezes, por nos fazer rir.

“Escrevemos sobre a realidade e sobre situações que nem sempre são as melhores. Todos enfrentam dificuldades na vida, podemos passar por maus momentos às vezes. Queremos que o público saiba que há situações que, mesmo não sendo as melhores, podem durar apenas um período de tempo e depois fazem parte do passado, deixam de ser importantes. É apenas uma coisa engraçada na tua vida, foi um desafio. É um caso encerrado que pode ser considerado uma piada.”

Assumindo-se como uma “banda independente”, em que tudo o que fazem em termos musicais é pago do seu bolso, os Joking Case querem “tomar as melhores decisões” com base no orçamento de que dispõem. “Esta é a parte mais difícil”, conta Vickie Cheong. Ainda assim, fazer música em Macau é cada vez mais desafiante, defende.

“As bandas de Macau estão cada vez melhores, porque há mais bandas a fazer videoclips, por exemplo. Nos últimos quatro anos aprendemos mais sobre como produzir músicas e agora há mais espectáculos, em espaços como o LMA, e há mais público a aproximar-se destes projectos. O panorama em Macau está a melhorar, há mais bandas com mais géneros musicais, como hip-hop ou música electrónica.”

2 Jun 2021

EPM | Pais questionam aumento de propinas na ordem dos 12 por cento

Os encarregados de educação da Escola Portuguesa de Macau foram ontem informados do aumento de propinas na ordem dos 12 por cento, mas a Associação de Pais contesta os números e pede explicações sobre a gestão do estabelecimento de ensino. A Fundação que gere a escola diz-se aberta ao diálogo, mas afirma que os aumentos são inevitáveis dada a redução dos subsídios

 

A Fundação da Escola Portuguesa de Macau (FEPM) decidiu aumentar as propinas em 12 por cento, depois de em Fevereiro ter sido proposto um aumento de 15 por cento. Os pais foram ontem informados desta actualização.

“Este aumento tem um peso real no bolso dos pais que varia entre 34,05 e 46,19 por cento, dependendo do ciclo de ensino”, disse Filipe Regêncio Figueiredo, presidente da Associação de Pais da EPM (APEP) ao HM. O Governo, através da Direcção dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude, financia parte destes valores, mas apenas para os portadores do BIR.

“Como o subsídio não aumenta com a mesma dimensão da propina, o grande aumento acaba por recair nos encarregados de educação. [Os pais sem BIR] já pagavam bastante mais e vão continuar a pagar mais”, frisou. Estão em causa aumentos, por exemplo, de mais 3.900 patacas anuais no primeiro ciclo, ou de 4.700 patacas por ano no ensino secundário.

Filipe Regêncio Figueiredo alerta para casos em que muitos encarregados de educação perderam o emprego ou viram os seus salários reduzidos devido à crise gerada pela pandemia.

A APEP não está contra o aumento, mas pede justificações sobre o orçamento e gestão da escola. “No ano lectivo de 2014/2015 a EPM teve um resultado líquido de exercício positivo de perto de 2 milhões de patacas. Passados quatro anos, em 2018/2019, teve um resultado líquido negativo superior a 3 milhões de patacas. Com o número de alunos a subir, que leva ao aumento de propinas, pode haver questões com a contratação de mais professores, mas tenho dúvidas”, adiantou o presidente da APEP.

Uma das explicações reside no corte do subsídio, em 1 milhão de patacas, por parte da Fundação Macau (FM), mas é um argumento que também não convence a APEP. “Este aumento [de propinas] é, em média, de 2,5 milhões de patacas, muito acima de 1 milhão cortado pela FM. Não basta dizer que a única forma de reduzir custos é despedir pessoal, porque não é verdade.”

Filipe Regêncio Figueiredo diz não compreender “a discrepância entre o valor médio de um salário de um docente e o valor médio de um salário de alguém da direcção, que é três vezes superior”. De frisar que, nos últimos anos houve aumentos residuais de propinas, à excepção do último ano lectivo.

FEPM “em dificuldades”

Contactado pelo HM, José Sales Marques, administrador e porta-voz da FEPM, garantiu que continuam abertos ao diálogo com os pais, mas que os tempos são outros. “Este ano tivemos de fazer uns acertos porque os custos da escola são, em muitos aspectos, fixos, como os salários, que tendem a aumentar e não a diminuir. A escola tem tido propinas que são relativamente inferiores a outras escolas privadas. Isso só tem sido possível por causa dos subsídios”, frisou.

Sales Marques confirmou o corte de subsídios por parte da FM e o facto de “a FEPM ter vindo a cobrir os défices anuais [da EPM] com recurso ao seu fundo de reserva”. O responsável destaca o facto de a situação financeira da EPM se dever “a um problema estrutural”, pois começou com “uma base de propinas muito baixa”. Sales Marques admitiu que o donativo de 65 milhões de patacas feito pela Sociedade de Jogos de Macau (SJM) tem vindo a ser gasto nos últimos anos.

“O fundo inicial da FEPM foi de cerca de 25 milhões de patacas e já passamos por muitas dificuldades financeiras que nunca foram reflectidas. Houve anos em que a Fundação Oriente deixou de contribuir, depois houve uma certa reposição de valores, mas sem esses fundos que foram doados, como da SJM, se calhar teríamos de pedir algum ‘socorro’. Mas isso nunca se reflectiu no dia-a-dia da escola. Os salários foram sempre pagos a horas.”

Sales Marques explica que há o risco de não se voltar aos antigos valores subsidiados. “Não sei se irá, provavelmente não, haver uma recuperação do ponto de vista dos subsídios que são dados pela FM”, disse, destacando que esta actualização das propinas é necessária “para que no futuro não tenhamos de fazer aumentos ainda maiores”.

Sales Marques acrescentou que o maior número de alunos não explica tudo. “O aumento do número de alunos não se reflecte imediatamente no rácio entre o custo por aluno e as receitas que a escola pode gerar. Terá de ser sempre compensado com um aumento de propinas. Nos anos anteriores houve inflação e fomos sempre muito prudentes, não quisemos sobrecarregar as famílias”, rematou.

2 Jun 2021

Governo pressionado a apresentar planos para a classe sanduíche

O Governo continua a ser pressionado para apresentar um calendário e planos concretos para a habitação destinada à classe sanduíche, mesmo que, na última sexta-feira, o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, tenha pedido mais tempo para o fazer.

O deputado Ng Kuok Cheong entregou ontem nova interpelação sobre a matéria, lembrando que “ainda não há o regime jurídico sobre as habitações para a classe sanduíche e as residências para idosos”. Para o deputado, estas matérias devem estar incluídas nas Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2022, para que haja “uma base jurídica para a aquisição de imóveis”.

Ng Kuok Cheong pretende também saber quais os planos do Executivo para terrenos em locais como a zona A dos novos aterros, avenida Wai Long, bairro Tamagnini Barbosa, em Mong-Há, e na avenida Venceslau de Morais.

“Depois de desistir dos aterros na zona D, os novos aterros da zona norte da Taipa vão ser afectados? Quantas são as fracções habitacionais ainda disponíveis? Será que os novos aterros em Seac Pai Van incluem os terrenos recuperados da avenida do Vale das Borboletas e da avenida Ip Heng? Quantas são as fracções habitacionais disponíveis?”, questionou.

Mero conceito

Também Leong Sin Man, vice-presidente da Associação da Nova Juventude Chinesa de Macau, defendeu que o Governo deve acelerar a concepção das casas para a classe sanduíche. Segundo o Jornal do Cidadão, o responsável lembrou que o Governo recuperou mais de 80 terrenos não desenvolvidos desde 2015, devendo destinar alguns para construir estas casas, em consonância com o Plano Director. Leong Sin Man defendeu que “há uma necessidade urgente” de casas económicas, que pode ser satisfeita com os projectos para a zona A e avenida Wai Long. No entanto, a habitação para a classe sanduíche não passa ainda de um mero conceito político, referiu.

1 Jun 2021

Azulejo português | Casa de Portugal inaugura nova exposição no jardim Lou Lim Ieoc 

A 7 de Junho é inaugurada a “Mostra Didáctica do Azulejo Português”, uma iniciativa da Casa de Portugal em Macau com curadoria de José Matos. A ideia é mostrar ao público que há mais vida além do tradicional e mais conhecido azulejo português azul e branco, bem como mostrar o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido nas oficinas da associação

 

“Mostra Didáctica do Azulejo Português” é a nova exposição promovida pela Casa de Portugal em Macau (CPM) que abre portas no Pavilhão Che Chou Tong, no Jardim Lou Lim Ioc, na próxima segunda-feira, dia 7 de Junho. Com curadoria de José Matos, o objectivo desta mostra é revelar os segredos e detalhes do azulejo português além do modelo mais conhecido, com as cores azul e branca.

“Vamos ter algumas técnicas de azulejaria portuguesa, a começar pelas técnicas hispano-mouriscas que chegaram à Península Ibérica, primeira a Sevilha e depois a Portugal, como o azulejo aresta ou azulejo de corda seca. Vamos ter a explicação visual de todo o material envolvido na fabricação e concepção de cada azulejo até ter um exemplo de trabalho final”, adiantou ao HM José Matos.

Mas no espaço expositivo haverá também a possibilidade de conhecer mais sobre o azulejo de estampilha, “representativo da reconstrução de Lisboa depois do terramoto de 1755, quando se começou a fazer uma produção diferente”. Além disso, a mostra conta com exemplos do “azulejo figurado, também contemporâneo dessa altura”, bem como da pintura “de vários tipos de temas, desde os jarrões até às carrancas, depois coisas mais ou menos figurativas”. “Temos vários exemplos de tudo o que é pintura de azulejo”, frisou o curador.

Segundo José Matos, “existe muito a ideia, e é o que é mais conhecido cá, de que o azulejo português é o azul e branco, o azulejo barroco”. No entanto, em Portugal, “produziram-se diferentes tipos de azulejo com técnicas diferentes”.

“Também temos representado o estilo figuras de convite, ensinado num curso que terminamos na semana passada, em que foram abordadas várias técnicas, e esses trabalhos também vão estar expostos”, acrescentou o curador.

Das escolas

Os azulejos expostos são fruto do trabalho dos alunos dos cursos que a CPM tem organizado nos últimos anos e, por isso, não têm assinaturas especiais. José Matos focou-se, por isso, mais nas técnicas utilizadas ao invés dos autores na hora de fazer a curadoria.

“É difícil destacar um trabalho em especial. Todas as técnicas têm um trabalho concluído. O que está mais representado será na pintura de azulejo feita em cima do vidrado cru. Temos uns painéis feitos nos últimos anos e serão os trabalhos com um pouco mais de destaque.”

“O principal objectivo da exposição é mostrar as várias técnicas e formas de fazer azulejo e os vários trabalhos finalizados que temos”, adiantou o curador, que falou também do trabalho que será desenvolvido com a comunidade escolar.

“Temos algumas visitas marcadas com as escolas e nessas visitas vou tentar exemplificar, na prática, como se desenvolvem essas técnicas. Vamos ter também todos os fins-de-semana duas pintoras da escola a executar trabalhos ao vivo”, concluiu.

A exposição tem entrada livre e fecha portas a 20 de Junho. Esta iniciativa conta com o apoio de entidades como a Fundação Macau e o Consulado-geral de Portugal em Macau, entre outras.

1 Jun 2021

Kevin Ho apoia recusa das autoridades para a realização da vigília

Kevin Ho, empresário local e membro da Assembleia Popular Nacional (APN), mostrou apoio à recusa, por parte das autoridades, da realização da vigília do 4 de Junho, que recorda o massacre de Tiananmen. Segundo o jornal Ou Mun, Kevin Ho lembrou que na vigília foram divulgadas mensagens como “Acabar com a ditadura de partido único”, o que pode levar à incitação da subversão do poder do Estado chinês, violando a lei da segurança nacional em vigor.

“A divulgação destes assuntos de forma consecutiva pode influenciar as opiniões dos residentes, além de ter um impacto na reputação da governação do país ou do partido”, disse Kevin Ho, referindo-se ao Partido Comunista Chinês (PCC). O empresário frisou que as autoridades de Macau devem assumir uma postura “mais séria” na hora de lidar com este tipo de assuntos, questionando a legitimidade da organização da vigília.

Quanto à possibilidade de esta vir a ser organizada num espaço fechado, Kevin Ho disse que se a vigília conter mensagens como “Acabar com a ditadura de partido único” constitui também uma violação intencional da lei.

Também Suen Yan Kwong, membro da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, se declarou contra a vigília. Macau é agora um local seguro no que diz respeito à covid-19 e a realização de iniciativas como a da vigília “é algo irresponsável e que pode perturbar a ordem social e levar os residentes ao engano”, afirmou.

1 Jun 2021

Literatura | Livro sobre Camilo Pessanha apresentado em Lisboa 

“Clepsydra 1920-2020 – Estudos e revisões” foi lançado este sábado em Lisboa, na Livraria da Lapa, depois de uma primeira apresentação em Macau, em Dezembro. Trata-se de um projecto que faz “a releitura da obra” de Camilo Pessanha “mais do que o foco no seu autor”, lembrou Catarina Nunes de Almeida, coordenadora da obra

 

“Faz sentido começarmos com as palavras do poeta”. E estas foram lidas por Raquel Marinho, com a sua própria edição da Clepsydra, tendo-se ouvido versos como “Eu vi a luz num país perdido” ou “Floriram por engano as rosas bravas”.

Estava assim dado o mote para o lançamento de mais uma obra sobre Camilo Pessanha, o poeta português falecido em Macau em 1926 e um dos expoentes máximos do Simbolismo na literatura portuguesa. Clepsydra seria lançado em 1920, graças aos esforços de Ana Castro Osório.

“Clepsydra 1920-2020 – Estudos e revisões”, com edição da Documenta e coordenada por Catarina Nunes de Almeida, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL), reúne uma série de textos que olham não apenas para o poeta mas também “para o Pessanha sinólogo e jurista”. O lançamento aconteceu este sábado na Livraria da Lapa, em Lisboa, depois de ter sido feito uma primeira apresentação do livro em Macau, em Dezembro do ano passado. “Faz todo o sentido que esteja disponível para aquele universo de leitores, porque é o espaço de Pessanha”, adiantou Catarina Nunes de Almeida.

Esta obra, que teve o patrocínio do jornal Hoje Macau, contém textos de vários académicos, como Paulo Franchetti, Duarte Drumond Braga, Rogério Miguel Puga ou Carlos Morais José, entre outros, que se debruçaram sobre a vida e obra de Pessanha, profundamente ligada a Macau.

Catarina Nunes de Almeida frisou o facto de este trabalho propor-se fazer “a releitura da sua obra, mais do que colocar o foco no seu autor”, fazendo “não apenas uma análise estrita dos poemas, mas contribuindo com novos dados para futuras leituras”.

A coordenadora do livro destacou a importância que os escritos de Pessanha tiveram nas gerações seguintes de autores portugueses mais contemporâneos. “É a geração de Orpheu a primeira a reconhecer o estatuto de mestre [de Pessanha]”, embora os seus escritos tenham “continuado a ecoar em poetas mais recentes”.

Vida e quezílias

Camilo Pessanha viajou para Macau em 1894, quando este era um “território minúsculo”, lembrou Daniel Pires, um dos autores do livro e responsável pelo inventário da biblioteca pessoal de Pessanha.

Foi “o fundador da Maçonaria em Macau”, um “jurista temido” e um “fumador de ópio”, sem esquecer a amizade que o ligou a diversas personalidades, incluindo Sun Yat-sen e o Governador de Macau Carlos da Maia.

Houve, no entanto, “pessoas que o combateram firmemente, até com calúnias”, como Manuel da Silva Mendes, intelectual português em Macau e muito ligado à cultura chinesa.

Silva Mendes “era o grande rival de Pessanha no domínio da colecção de arte chinesa” e dizia “que a sua poesia não rimava, e que coleccionava bugigangas”. No entanto, Daniel Pires destacou o facto de Manuel da Silva Mendes se ter referido a Pessanha como “um bom advogado e professor”.

“A sua vivência em Macau continua a ter muitas lacunas”, frisou, “e o que de mais puro nos restou para aceder à verdade dessa figura é a sua escrita”. “Se não fossem essas lacunas certamente não teríamos tido um aproveitamento ficcional da personagem de Camilo Pessanha em obras como ‘A Quinta Essência’, de Augustina Bessa Luís, ou ‘O Mar’, de Paulo José Miranda”, lembrou Catarina Nunes de Almeida.

A China na prosa

Duarte Drumond Braga, também investigador da FLUL, é autor do capítulo “Para ler Camilo Pessanha sem sair de Macau”, lugar primordial para se entender a obra do poeta.

“A China mal está representada na Clepsydra, temos apenas dois poemas”, lembrou. Esta está “na prosa, que devemos ler em conjunto”, e que neste momento se encontra em Macau. “Merecia uma reedição”, sugeriu Drumond Braga.

É, sobretudo, fundamental combater a “ideia tola de que Camilo Pessanha não sabia nada sobre a China”. “Se estivermos à procura do bambu e da chinesinha não vamos encontrar nada, vemos outras coisas”, exemplificou.
Ricardo Marques, que analisou a publicação de escritos inéditos de Pessanha em revistas, considerou que existe a ideia da Clepsydra “como uma coisa definida”, mas Pessanha, “como outros poetas, fazia circular inéditos pelas revistas literárias, e isso é importante ver 100 anos depois”.

31 Mai 2021

Turismo | UM passa do 42.º para 25.º lugar no ranking de Xangai

A Universidade de Macau subiu da 42.ª para a 25.ª posição do ranking de Xangai na área da hospitalidade e gestão de turismo, numa lista liderada pelo Instituto Politécnico de Hong Kong. O Instituto de Formação Turística, Universidade Cidade de Macau e Universidade de Ciência e Tecnologia estão abaixo da 30.ª posição

 

Os novos resultados do ranking de Xangai [Shanghai Ranking], que analisa o desempenho de centenas de universidades de todo o mundo no ensino de mais de 50 disciplinas, mostra o crescimento da Universidade de Macau (UM) na área do ensino do turismo.

Isto porque a UM passou da 42.ª posição registada em 2020 para a área da hospitalidade e gestão de turismo para a 25.ª este ano, numa lista liderada pelo Instituto Politécnico de Hong Kong. Em segundo lugar, surge a Universidade Central da Florida, nos EUA, e na terceira posição a Universidade de Surrey.

Em quarto lugar, aparece a Universidade de Sun Yat-sen, sendo que na lista das 30 primeiras instituições destacadas surgem ainda mais universidades chinesas, como é o caso da Universidade de Zhejiang, na 28ª posição, e da Universidade de Xiamen, na 30.ª posição.

A UM é ainda avaliada em mais sete áreas de ensino, sendo que nas disciplinas de automação e controlo está entre as 51 e 75 melhores do mundo, respectivamente, bem como nas áreas das ciências da alimentação e tecnologia. Em ciências computacionais e engenharia a UM está figura as 76 e as 100 melhores, descendo para a lista das 101 a 150 melhores do mundo nas áreas da engenharia de telecomunicações e educação. A UM está também na lista das 151 a 200 melhores nos campos da engenharia electrotécnica, ciência de instrumentos e tecnologia.

Ao HM, a UM considera que este resultado é sinal de que a instituição de ensino “está a entrar num período sem precedentes de desenvolvimento” e que vai continuar a “melhorar, optimizar, desenvolver e inovar” o ensino.

“Como uma universidade de Macau vamos continuar a integrar de forma activa a zona da Grande Baía, em linha com a estratégia de desenvolvimento nacional, e procurar ser cada vez mais internacional”, aponta o gabinete de comunicação. A ideia é “desenvolver uma instituição académica de excelência na área do ensino superior que seja o orgulho dos residentes de Macau e reconhecida na comunidade académica local e exterior”.

À frente do IFT, UCM e MUST

A UM ocupa um lugar cimeiro face às restantes instituições do ensino superior do território que também administram cursos na área do turismo, inclusivamente do próprio Instituto de Formação Turística (IFT), que está em 45.º lugar, com uma pontuação de 33.5, de 0 a 100. Segue-se a Universidade Cidade de Macau, no grupo das 50 e 75 melhores instituições, com uma pontuação de 28.2.

Também entre as 50 e 75 melhores instituições, e com uma pontuação de 28.2, está a Universidade de Ciências e Tecnologia de Macau (MUST, na sigla inglesa), que é avaliada em mais sete disciplinas. A universidade privada obtém a mesma classificação na área da automação e controlo, ocupando depois uma posição entre as 150 e 200 melhores universidades na área das ciências computacionais e engenharias. No ramo da biologia, ciências farmacêuticas, engenharia de telecomunicações ou electrotécnica, a MUST surge entre as 201 e 400 melhores do mundo.

31 Mai 2021

Governo pede tempo para legislar sobre casas para classe sanduíche

O Governo garante que vai tratar do dossier das casas para a chamada classe sanduíche, só precisa de mais tempo para o fazer. A garantia foi dada na sexta-feira na Assembleia Legislativa (AL) pelo secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, em resposta a uma interpelação oral apresentada pelo deputado Ng Kuok Cheong.

“Se me perguntam se podemos fazer tudo ao mesmo tempo, vou encontrar terrenos que sejam destinados a habitações para a classe sanduíche. Mas como é que isso se faz? Naturalmente que temos de seguir a lei”, frisou. O secretário lembrou que as casas para as pessoas que não conseguem comprar habitação no privado nem candidatar-se a uma habitação pública devem seguir a mesma legislação da habitação económica e social.

“Temos de fazer uma lei, e nos termos dessa lei, que a AL eventualmente pode aprovar, é que nós podemos criar ou construir as casas.”

Sobre o relatório da consulta pública relativo a esta matéria, o secretário admitiu que ainda o vai analisar. “Não tenho condições para fazer agora qualquer abordagem, porque não tenho informações sobre isso. Agora não é oportuno dar uma resposta em relação às habitações para a classe sanduíche e ainda não li o relatório”, disse.
Para este ano, ficou prometido o concurso público para a atribuição de mais cinco mil habitações públicas.

Deputado “é pessimista”

No debate de sexta-feira o secretário aproveitou também para pedir mais “confiança” ao deputado Au Kam San, que por norma é bastante crítico das políticas de habitação do Executivo.

“Nunca tivemos a sua confiança nos nossos trabalhos, mas agora temos um mecanismo permanente para a habitação económica. Não acreditava, mas já fizemos. Peço que nos dê mais confiança.”
Raimundo do Rosário deu ainda como exemplo o projecto do metro ligeiro. “Sei que o senhor deputado é um pouco mais pessimista. Lembro-me que em Agosto de 2016 disse em sede de comissão de acompanhamento que iríamos criar as oficinas e a linha da Taipa. Na altura o deputado não acreditava, mas os meus colegas conseguiram. A habitação social, complementada pela económica, já não constitui um problema e já resolvemos, porque temos um mecanismo permanente. Antes não havia terrenos mas agora já temos.”

O governante disse mesmo que “nada cai do céu” e que estes projectos de obras públicas nascem “dos esforços dos colegas”, rematou. Outro membro do Governo falou ainda da habitação para idosos, tendo dito que muitos dos que vivem em zonas antigas já foram consultados. “Todos concordam que a construção de habitação para idosos tem de ser equipada com infra-estruturas sem barreiras, têm de existir pódios e jardins. Vamos ter em conta estes aspectos e iremos facultar muitos serviços aos idosos”, apontou.

31 Mai 2021

Porto Interior | Projectos para travar inundações vão avançar

Raimundo do Rosário, secretário para os Transportes e Obras Públicas, disse no hemiciclo, na última sexta-feira, que a construção dos muretes de protecção contra inundações no Porto Interior e de melhoramento do dique do Porto Exterior vão mesmo avançar, mas não este ano.

Segundo o governante, é necessário coordenar as obras com as autoridades de Zhuhai. “O resultado desse simulacro foi positivo. Posso dizer que vamos avançar com esse projecto. Mas quanto ao preço e ao tempo, ou seja, o prazo, porque se trata de um projecto transfronteiriço, temos também que depender de uma cooperação regional. Espero que no final deste ano possa avançar com mais pormenores sobre o projecto”, adiantou.

O secretário disse mesmo que, com base no relatório de simulação, se houver outro tufão de intensidade semelhante à do Hato, a barreira de proteção de marés pode ser capaz de proteger a área do Porto Interior só até certo ponto, mas nunca na totalidade. “Pode haver um tufão mais forte no futuro e é impossível hoje prever [o que vai acontecer]”, disse.

31 Mai 2021

Alibaba | Cooperação prolongada devido à pandemia

O secretário para a Administração e Justiça, André Cheong, assegurou, em resposta a uma interpelação oral do deputado Lam Lon Wai, que o acordo de cooperação com o grupo de comércio electrónico Alibaba, do magnata Jack Ma, será estendido até Dezembro.

“Proceder-se-á ao ajustamento do Acordo-Quadro inicial e prorrogar-se-á o prazo de cooperação até ao final deste ano, para que os trabalhos sejam executados da melhor forma”, disse o secretário. Esta mudança deve-se “ao impacto da epidemia e à nova direcção do desenvolvimento da governação electrónica”.

O acordo foi celebrado com o grupo Alibaba em 2017, tendo sido concluída em 2019 a primeira fase de cooperação, através da construção do Centro de Computação em Nuvem. A segunda fase de cooperação, teve início em Julho de 2019, estando prevista a sua conclusão no próximo mês de Junho. “Além da optimização das infra-estruturas” será “aprimorada a cidade inteligente e a governação electrónica”, explicou o secretário.

A pandemia “teve um grande impacto no desenvolvimento do programa de cooperação entre as duas partes no âmbito da governação inteligente”, uma vez que a equipa técnica do grupo Alibaba não conseguiu viajar do Interior da China para o território. Este impedimento “dificultou o desenvolvimento atempado dos trabalhos”.

André Cheong disse também no hemiciclo que no segundo semestre deste ano será lançada na conta única de acesso comum a funcionalidade da carteira digital, com vista a tornar efectiva a digitalização de 28 tipos de cartões, como, por exemplo, a do cartão de utente dos Serviços de Saúde e a do Cartão Sport Easy do Instituto do Desporto. Será lançado também o serviço de criação de conta online para os menores de 18 anos de idade.

31 Mai 2021

Caso TDM | Sulu Sou critica ausência de respostas da Comissão Executiva

Coube, mais uma vez, a Inês Chan, directora do Gabinete de Comunicação Social, dar explicações sobre o caso TDM e a alegada mudança da linha editorial em prol de uma informação mais patriótica. O deputado Sulu Sou não gostou e protestou. Kou Hoi In não deu justificações

 

O deputado Sulu Sou exigia a presença da presidente da comissão executiva da Teledifusão de Macau (TDM), Lou Song Man, na Assembleia Legislativa (AL) para dar justificações sobre a eventual mudança da linha editorial da estação pública, mas tal não aconteceu. No debate de sexta-feira, apenas Inês Chan, directora do Gabinete de Comunicação Social (GCS), apareceu para reforçar a ideia de que o Governo não controla os media.

Tal motivou a apresentação de um protesto por parte do deputado Sulu Sou, que levou para a sala um cartaz com a frase “TDM – Diga a Verdade!”. “Como foi a comunicação entre a AL e a TDM? Se a TDM respondeu, porque é que não esteve presente? Apresento um protesto. A comissão executiva da TDM não respeita as intervenções dos deputados”, frisou.

Kou Hoi In, presidente do hemiciclo, não apresentou qualquer justificação para a ausência. “Encaminhamos a sua carta ao Governo. São arranjos do Governo, não há explicações sobre isto.”

Inês Chan manteve a mesma posição que tem mantido nos últimos meses relativamente a um caso que já levou à saída de nove jornalistas, tanto do canal de televisão como da rádio. “Todos os órgãos de comunicação social têm as suas linhas editoriais independentes. E o Governo defende sempre a liberdade de imprensa e o senhor Chefe do Executivo também já respondeu a esta questão publicamente em Março, ou seja, o Governo da RAEM nunca apertou a sua gestão quanto aos media.”

As dúvidas de Song Pek Kei

Na interpelação oral, Sulu Sou exigia a presença de Lo Song Man também para explicar questões estatutárias da empresa. “A TDM recebe, todos os anos, montantes avultados do erário público, e foi criticada nos relatórios do Comissariado de Auditoria, devido à falta de fiscalização. Quando é que [o Governo] vai legislar para definir o estatuto legal da TDM enquanto entidade de difusão pública e os seus deveres?”, questionou.

Os deputados Ng Kuok Cheong e Agnes Lam assumiram posições de defesa da liberdade de imprensa, uma vez que falaram, respectivamente, na necessidade de uma investigação ao caso e da manutenção da linha editorial.
Song Pek Kei, deputada natural de Fujian, mostrou-se a favor da adopção de uma linha mais patriótica da informação. “A TDM recebe dinheiro do Governo e está a fazer algo que contradiz as políticas do Governo Central e do Governo da RAEM? Isto é adequado ou não?”, apontou.

31 Mai 2021

China-Portugal | Zhao Bentang, embaixador em Lisboa, fala de “questões e desafios em comum”

Zhao Bentang, embaixador da China em Lisboa, falou ontem numa palestra promovida pela Universidade de Aveiro e destacou a intensa relação entre Portugal e China. O embaixador, no cargo há pouco tempo, lembrou que os dois países “enfrentam questões e desafios em comum”. Para o futuro esperam-se “resultados tangíveis” nas áreas da saúde e turismo

 

O novo embaixador da República Popular da China (RPC) em Portugal, Zhao Bentang, fez ontem um discurso optimista sobre a relação bilateral com Portugal no programa “Conferência da Saúde e Bem-estar na Nova Rota da Seda”, que decorreu ontem na Universidade de Aveiro.

Participando por videoconferência, o embaixador disse que “as duas partes enfrentam questões e desafios em comum e realizaram amplas cooperações, com resultados frutíferos”. Além disso, Zhao Bentang destacou o facto de “Portugal ser um dos países europeus mais abertos à cooperação com a China na área da medicina tradicional chinesa”.

“Estamos na expectativa de envidar esforços com Portugal para promover uma interacção profunda entre a medicina tradicional chinesa e a medicina ocidental para beneficiar melhor os dois povos”, disse. O diplomata não esqueceu o facto de Portugal ter sido “um dos primeiros países europeus a assinar um documento de cooperação com a China no âmbito [da política] Uma Faixa, Uma Rota”.

“A cooperação entre os dois países tem uma boa base e uma perspectiva risonha. Ao lutarem juntos contra a pandemia a China e Portugal dão um ao outro apoio e compreensão mútuos”, considerou. Esse futuro passa “pela busca de resultados tangíveis na saúde, turismo e outras áreas abordadas na conferência”, com o objectivo de obter “mais avanços na parceria estratégia global”.

José Augusto Duarte, embaixador português em Pequim, também falou do bom caminho que a cooperação com a China sempre tomou, tendo em conta “a força de uma relação luso-chinesa de 500 anos marcada pela paz”.
“Há um claro interesse em trabalhar com a China na resolução dos desafios que são globais e que exige uma resposta conjunta de todos nós. É o caso, por exemplo, do combate às alterações climáticas, mas também na luta contra a pandemia da covid-19. A ciência deve ocupar um lugar cimeiro e de aproximação dos povos.”

Uma rota da saúde

Ainda sobre a pandemia, Zhao Bentang lembrou que a covid-19 “continua activa a nível global e traz uma enorme ameaça à vida e saúde das pessoas”, gerando “um grande desafio à segurança da saúde pública a nível global e um impacto grave ao desenvolvimento socioeconómico no mundo”.

O responsável, que substituiu Cai Run no cargo em Lisboa, frisou que “nenhum país poderia sobreviver sozinho à grande crise”, pelo que “a união e a cooperação é o único caminho correcto”.

“Nos últimos oito anos [desde o anúncio da política Uma Faixa, Uma Rota], a China e mais de 14 países e 31 organizações internacionais, Portugal incluído, assinaram documentos de cooperação e foi promovido o desenvolvimento constante da construção conjunta” dessa política, concluiu.

Zhao Bentang defendeu que “a cooperação na área da saúde constitui uma parte importante na cooperação pragmática e diversificada no quadro de Uma Faixa, Uma Rota”.

“Desde o início da pandemia da covid-19 que a cooperação internacional [neste âmbito] vem demostrando uma forte resiliência e vitalidade”. Esta política de Pequim desempenha “um papel importante no combate à pandemia, estabilização da economia e apoio ao bem-estar da população dos países”, disse o embaixador.

Zhao Bentang disse mesmo que a política Uma Faixa, Uma Rota “está a tornar-se numa rota da saúde para preservar a saúde dos seres humanos e garantir o espírito de responsabilidade da parte chinesa em proteger a vida humana”.

Académicos de Macau participaram

O ciclo de conferências ficou também marcado pela participação de dois cientistas da Universidade de Macau que apresentaram estudos na área da saúde. San Ming Wang falou da prevenção do cancro na população da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau, enquanto que Simon Lee falou da “Importância do Desenvolvimento da Cooperação com a China no Sistema de Saúde Global”.

Segundo a Xinhua, tanto Zhao Bentang como José Augusto Duarte foram oradores noutro seminário, desta vez promovido pela Universidade de Coimbra, intitulado “O Futuro da Cooperação Sino-Portuguesa e Sino-Europeia”.
Zhao Bentang, disse que, ao longo dos anos, a China tem defendido e promovido activamente a integração do conceito de ecologia verde na construção conjunta de Uma Faixa, Uma Rota, apontando que este desenvolvimento ambiental não é o único caminho para a transformação económica da China. José Augusto Duarte apontou que o desenvolvimento da China nos últimos anos tem sido aberto, alertando para a necessidade de Portugal, China e Europa necessitarem de fortalecer o intercâmbio e a cooperação no combate às alterações climáticas e no combate à epidemia.

28 Mai 2021

Duarte Braga aborda referências à China n’O Livro do Desassossego de Fernando Pessoa

Duarte Drumond Braga, investigador da Universidade de Lisboa, tem estudado a ligação ténue entre a obra de Fernando Pessoa e a China, nomeadamente as referências ao mundo pictórico chinês n’O Livro do Desassossego. Este assunto foi abordado numa palestra promovida pelo departamento de português e espanhol da universidade UC Santa Barbara

 

Decorreu ontem a palestra online intitulada “O Oriente e o Orientalismo em Fernando Pessoa”, promovida pela universidade UC Santa Barbara e em que participou o investigador Duarte Drumond Braga, da Universidade de Lisboa, como orador. Duarte Braga, que há muito se debruça sobre a presença do oriente nos escritos do poeta português, disse ao HM que tem analisado a presença da China em algumas das suas obras.

“Não há nenhum projecto pessoano de escrita sobre a China, mas há referências do Pessoa leitor, escritor, poeta, à China. Há momentos muito interessantes da obra pessoana em que a China aparece, como por exemplo n’O Livro do Desassossego, em que se presta muita atenção à questão da ideia da paisagem impossível, como chama Bernardo Soares, a paisagem da porcelana, dos leques, desse mundo pictórico chinês. Essa paisagem é valorizada por ser demasiado perfeita, irreal, impossível, que é muito a tónica d’O Livro do Desassossego.”

No entanto, estão sempre em causa “referências esporádicas”, uma vez que “quando aparece a China nesse livro é por causa da paisagem representada na porcelana, falar sobre a China não é a primeira ideia”.

Além disso, “há uma carta de Fernando Pessoa para Camilo Pessanha, pedindo a colaboração, e que foi enviada para Macau”. Há também “uma referência de Álvaro de Campos a Macau”.

Na palestra, apoiada pelo Instituto Camões, Duarte Braga falou também do trabalho de alguns investigadores sobre incursões de Fernando Pessoa no Japão, nomeadamente a tentativa do poeta de tentar a poesia do tipo Haiku, tema já abordado no número 9 da revista Pessoa Plural, organizado por Duarte Braga.

Ainda relativamente ao orientalismo na obra de Pessoa, há que destacar a Índia “que se confunde com a ideia do Império português, porque é centrado lá”. Coloca-se “a questão das índias espirituais, porque para Pessoa é necessário descobrir uma outra Índia, que já não estaria nos mapas”.

O português pelo mundo

Na conversa de ontem, Duarte Drumond Braga falou também “de um Pessoa esotérico, onde entra a Ásia”. Há também referências ao mundo árabe e à Pérsia.

O investigador, que viveu em Macau e que colabora com o HM, tem um novo projecto no centro de estudos comparatistas da UL, sobre a literatura em português nos quatro continentes, em zonas como o Brasil, Moçambique, Goa, Macau e Portugal, com um foco nos Açores.

“Esse projecto tem a ver com uma perspectiva não nacionalista sobre as várias tradições de escrita em português, e a Ásia mostra bem isso, com Goa e Macau. São sítios onde há escrita em português, mas não são nações de língua portuguesa, são outros formatos”, remata.

28 Mai 2021

Suspeito de abuso sexual em prisão preventiva

Um residente, de 25 anos de idade, ficou em prisão preventiva por suspeitas de abuso sexual de uma menina de 14 anos. O caso foi encaminhado para o Ministério Público (MP) para mais investigação, e foi aplicada a medida de coacção “tendo em consideração a gravidade dos factos” e a “prática do crime do mesmo tipo pelo arguido no passado”.

O caso remonta a Maio, quando o suspeito conheceu a menor num aplicativo de conversação. “Alguns dias depois os dois tiveram um encontro, durante o qual o arguido levou a ofendida a um apartamento sito na zona Norte e praticou acto sexual com a mesma, mesmo sabendo que a sua idade era inferior a 14 anos”, descreve o MP, em comunicado.

Posteriormente, a menor “recorreu ao assistente social da escola e, em seguida, participou os factos à polícia”. A Polícia Judiciária apurou que, em 2012, o arguido tinha sido condenado à pena de prisão por ter cometido o crime de abuso sexual de menor, com pena suspensa. O MP abriu então um inquérito pela prática do crime de abuso sexual de crianças, que de acordo com o Código Penal é punível com uma pena de prisão que pode ir dos três aos dez anos. Além disso, “o crime precedente pode constituir circunstância a ponderar pelo tribunal na determinação da pena”.

28 Mai 2021