APEC | Xi alerta para o regresso à mentalidade de Guerra Fria

O Presidente chinês, Xi Jinping, alertou ontem para o ressurgimento de uma mentalidade de Guerra Fria no leste do Pacífico, numa altura em que os Estados Unidos tentam conter a ascensão da China.

O comentário de Xi, à margem da cimeira anual do Fórum de Cooperação Económica da Ásia–Pacífico (APEC), surge semanas depois de os EUA, Reino Unido e Austrália anunciarem uma nova aliança de segurança para a região, que inclui o fornecimento de submarinos nucleares para a Austrália.

Pequim condenou aquele acordo.

A intervenção de Xi foi feita através de um vídeo pré-gravado. O Presidente chinês vai participar numa reunião virtual com outros líderes do Pacífico, incluindo o Presidente dos EUA, Joe Biden, no sábado.

Xi disse que as tentativas de traçar fronteiras na região através de linhas ideológicas ou geopolíticas fracassarão. “A região da Ásia-Pacífico não pode e não deve recair no confronto e divisão da era da Guerra Fria”, frisou.

O Presidente chinês defendeu que a região deve assegurar o funcionamento das cadeias de abastecimento e continuar a liberalizar o comércio e os investimentos.

“A China vai permanecer firme no avanço das reformas e na abertura, visando adicionar ímpeto ao desenvolvimento económico”, assegurou.

A tarefa mais urgente na região é fazer um esforço total para combater a pandemia, acrescentou.

No conjunto, os membros da APEC somam 3 mil milhões de pessoas e cerca de 60 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Mas tensões profundas dividem o grupo de 21 nações e territórios, que incluem membros com interesses divergentes entre si, como os EUA, China, Taiwan, Rússia e Austrália.

13 Nov 2021

Inês Pedrosa, escritora: “Machismo serve mal mulheres e homens”

O que mudou no papel da mulher desde o ano 2000, ano em que foi lançada a primeira edição de “Vinte grandes mulheres do século XX”? Com uma nova reedição apresentada este ano, Inês Pedrosa defende que mudou muita coisa, mas que há ainda muito por fazer. A escritora, e também editora, acaba de lançar, em português, os escritos do poeta chinês Jidi Majia

O seu último livro fala das grandes mulheres do século XX. Como chegou a esta selecção?

Foi difícil porque, felizmente, no século XX, as mulheres surgiram, e, portanto, há muitas. Na verdade, este livro é uma reedição de um livro publicado em 2000, intitulado “As 20 mulheres para o século XX”. Tudo começou porque colaborava com o Expresso e o jornal pediu-me uma biografia da Eva Péron, e depois comecei a pensar na sua força, que foi maior do que a do marido. Era um populismo específico, ela foi uma das primeiras populistas. Vinha do nada e tornou-se um ícone político. Pensei que seria interessante fazer um livro com as mulheres do século XX e fui pensando nas mais diversas áreas. A selecção é arbitrária, pois procurei mostrar a entrada de mulheres em diversas áreas onde não tinham grande expressão. [A escolha] é arbitrária porque acaba por ser também uma selecção em torno das mulheres que, de alguma maneira, me marcaram. Não tenho nada a ver com a madre Teresa de Calcutá, mas foi muito interessante ver como na Igreja Católica, um centro patriarcal, aquela freira conseguiu ser um Papa, à sua maneira. Não são mulheres com as quais concordo mas são polémicas, controversas, e tinham um projecto de poder sobre a linguagem, como a Virginia Woolf. Uma das críticas que me fizeram quando o livro saiu pela primeira vez foi só ter escolhido cinco portuguesas no meio de 20 mulheres do mundo inteiro.

Como reagiu?

Disse que se fosse norte-americana, as 20 mulheres do século XX seriam, talvez, 19 americanas e uma não americana. Era um livro para sair em Portugal com a força das mulheres de Portugal e, felizmente, quando o publiquei, quase todas elas estavam vivas e agora a Paula Rego e a Maria João Pires ainda estão. O livro estava fora do mercado há muito tempo e por isso fiz uma revisão das biografias. Tem também ensaios biográficos, porque em cada uma das figuras procurei pensar como é que elas tinham contribuído para mudar a imagem das mulheres e para lhes dar poder. Por exemplo, a Bette Davis não cumpria os padrões de Hollywood mas conseguiu fazer um caminho de uma Meryl Streep, o que foi muito mais difícil no seu tempo. Refiz esse livro, mas hoje apetecia-me fazer 40 figuras.

O que mudaria então no livro, caso existisse esse projecto?

Gosto muito do Brasil, e quando escrevi este livro [na primeira edição] não conhecia a Clarice Lispector, que hoje teria incluindo. Teria incluindo uma figura como Carolina Maria de Jesus, que é uma favelada do Brasil que fez uma obra literária que só agora veio a ser descoberta, ou a Billie Holiday. Hoje falta a mulher negra nestas mulheres do século XX, que tiveram muito mais dificuldades. A mulher sempre foi destratada pela outra metade da sociedade e a mulher negra ainda mais, mesmo as que conseguiram ser figuras que se destacaram. Demoraram mais a ter esse destaque durante o século XX e hoje, século XXI, é que lhes estamos a dar esse crédito.

Houve uma evolução do papel da mulher ao longo destes anos?

Apesar de tudo, houve. Quando era jovem, nos anos 80, dizia-se “estamos quase a chegar lá”, e começou a dizer-se que não se podia deixar de contar com as mulheres. Agora oiço um discurso “o que interessa se são homens ou mulheres? O que interessa é a qualidade”. Criei uma editora [Sibila] para publicar mulheres porque têm muito menos visibilidade que os homens. Nas redes sociais, que hoje são um pouco o barómetro do nosso tempo, aparecem-me logo homens e mulheres que dizem não reparar se lêem um escritor ou uma escritora, que só lhes interessa a qualidade.

Não se trata aí de esconder a realidade?

Há uma tentativa de fazer isso. Sinto que, cada vez que há uma crise económica, há uma tentativa de afastar as mulheres dos lugares de visibilidade, sempre que escasseia o trabalho e o dinheiro empurram-se as mulheres. Houve uma certa inversão e agora está também na moda dizer que não há mulheres, que somos todos pessoas. E quando se começa a dizer isso, deixamos de ter estatísticas sobre a violência sobre as mulheres. Sinto que as mulheres começaram a ganhar uma tal presença que agora se tenta apagá-las de diversas maneiras. Há uma discriminação sub-reptícia que é muito mais forte, porque é menos visível. Mas por outro lado vejo uma juventude que não voltará atrás. Claro que é privilegiada, estudou, tem mais mundo do que nós tínhamos. As mulheres da nova geração não se deixarão ultrapassar desta maneira.

O livro “Nas Tuas Mãos” conta três gerações de mulheres, e depois editou “Os Íntimos”, onde os homens falam sobre mulheres. Sente que também faz um trabalho em torno dos sentimentos e da questão do género?

Sinto. É engraçado falar-me do “Nas Tuas Mãos”, porque vou reeditá-lo este mês, já está na gráfica. Esse livro não está a ser editado porque não renovei o contrato com a D. Quixote e vou reeditá-lo eu. Comecei uma editora em 2017 e no ano passado terminei o contrato com a Porto Editora e não faz sentido não editar o meu livro. Assim já não tenho que ouvir que tenho mau feitio, e que sou esquisita com as capas. Portanto vou colocar todos os meus livros no mercado à medida que lanço outras obras de outros autores. Editei agora um livro de um poeta chinês maravilhoso. Mas de facto o mundo das mulheres está em “Nas Tuas Mãos” e de como esse mundo evoluiu ao longo do século XX em Portugal. “Os Íntimos” apareceu depois de eu ter verificado que, quer em Portugal ou no Brasil, e em outros países, existir aquele hábito dos homens que são amigos de infância e que têm o hábito de juntar um grupo para um jantar em dia de futebol, mas como uma espécie de porto de abrigo, e que é muito diferente da relação das mulheres. Verifiquei que vários amigos meus, de idades diferentes, tinham esse hábito. A sociedade patriarcal e o machismo também torna os homens muito inseguros e obriga-os a serem muita coisa que vai contra eles mesmos. O feminismo só ganhará quando perceber que o machismo serve mal as mulheres e os homens. Cria infelicidade, lugares fixos, obrigações, clichés.

O homem não chora…

Sim, ou que o homem tem de estar sempre pronto para o sexo. O homem tem de ir à guerra. Quem viveu em Portugal antes do 25 de Abril sabe disso. O meu irmão cresceu na iminência de que, quando fosse grande, iria para África pegar em armas. Mas contra quê? São temas interessantes porque nada mudou tanto. Dizemos que o século XX foi o século das grandes descobertas do espaço, da tecnologia. Mas foi uma revolução nas relações humanas.

Voltando à edição dos escritos do poeta chinês. Como chegou a esse autor?

O livro acabou de sair [Planeta Dilacerado, de Jidi Majia]. Conheci-o através do poeta Nuno Júdice, um grande amigo meu. Ele leu esse poeta em tradução francesa e espanhola e gostou muito. O livro tem vários poemas, mas tem um poema central que se chama “Planeta Dilacerado”, uma espécie de poema épico sobre o tempo contemporâneo que estamos a trazer ao planeta. Uma espécie de manifesto poético, mas muito, muito bom.

Com o livro “Faz-me Falta” teve a sua afirmação como escritora? Não falo do número de edições vendidas, mas para si própria.

(Hesita). Para mim foi um livro muito especial, muito duro de escrever, mas muito fácil. Demorou muito a sair, mas é o único livro que tenho manuscrito, e foi quase todo sem rasuras, o que é raro, pois eu corrijo imenso. E foi um livro muito forte para mim. Foi talvez a minha afirmação como escritora porque quando entreguei o livro ao editor, ele achou que eu o devia reescrever novamente, porque era muito triste, muito poético, e ele achou que os meus leitores de “Nas Tuas Mãos” não iam gostar. Os críticos também iriam achar que era um lirismo descabelado. E eu disse que o livro era aquilo e que se tinha sido importante para mim iria ser importante para alguém. Lutei pelo livro. Até hoje, quando encontro alguém na rua, me falam desse livro. Não posso se não estar grata a ele. Mas acho que os meus últimos livros são melhores do que todos esses. Talvez goste mais do “Nas Tuas Mãos”, pois foi um livro que me fez viajar muito na minha cabeça. Aquelas personagens não têm a ver comigo mas ajudaram-me a perceber muitas coisas.

O livro é como se fosse uma viagem a Portugal desde meados do século XX.

Sim. A história da Jenny, improvável, do casamento disfarçado, contaram-me como sendo de uma tia de uma amiga, que eu não conheci, que morreu louca, sozinha e virgem. Sonhei com essa velha a dizer “estás a julgar a tua vida com os parâmetros que não são os meus”, e aí comecei a escrever por causa disso. Depois percebi, na minha história, que não é uma vítima, é outra coisa. Depois ela é que chamou as outras personagens. A história da Jenny é do tempo daquele salazarismo denso, do tempo da guerra, e senti que tinha de haver resposta de outras mulheres.

Surge então o período do 25 de Abril, dos anos 80 no Frágil, no Bairro Alto.

Aí foi a minha experiência. O que é que se tinha transformado, o que é que tinham sido aqueles anos 80? Recuperei um bocado isso novamente no último romance que escrevi, “O Processo Violeta”. Os anos 80 foram os anos da minha juventude, mas também de ebulição em Portugal, quando assentou a democracia. Íamos para a Europa e havia um cosmopolitismo um bocado estonteado. Era a experimentação.

11 Nov 2021

Web Summit | Grande Baía em destaque no evento em Lisboa

O projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau esteve representado na última edição da Web Summit em Lisboa, através do Governo de Hong Kong. Macau ficou de fora da edição deste ano do evento

A última edição da Web Summit em Lisboa, dedicada à tecnologia e startups, contou com uma representação do Governo de Hong Kong, e de outras entidades ligadas ao investimento na região, que levaram o projecto da Grande Baía Guangdong – Hong Kong – Macau ao evento em Portugal.

No caso do Turismo de Hong Kong (Hong Kong Tourism Board – HKTB), o foco incidiu sobre o RISE, um evento tecnológico criado em 2015 e que vai voltar a Hong Kong entre 2022 e 2026. A presença na Web Summit serviu para tentar captar participantes para os próximos anos, conforme disse Dawn Page, directora do Turismo de Hong Kong para os mercados do Reino Unido e norte da Europa.

“Procuramos aqui potenciais delegados para participarem no RISE, além de darmos informações sobre o que a cidade tem para oferecer aos visitantes, com as suas infra-estruturas de excelência e localização estratégica na zona da Grande Baía”, contou ao HM.

Citado por um comunicado, o presidente do HKTB, Yiu Kai Pang, destacou essa mesma localização estratégica [da Grande Baía] que permite que “os participantes do evento possam também capitalizar uma multitude de oportunidades na região”. No mesmo comunicado, Paddy Cosgrave, fundador da Web Summit, destacou “o crescimento tecnológico e da economia de startups” em Hong Kong desde 2015.

“Sempre tentámos regressar a Hong Kong. O RISE tem crescido para o que é hoje depois de cinco bem-sucedidos anos na cidade. O evento estabelece uma importante relação entre o Oriente e o resto do mundo”, frisou.

Tenda para investidores

A Grande Baía esteve também em destaque na tenda da “InvestHK”, uma plataforma governamental que promove o investimento no território. Paula Kant, directora de promoção de investimentos da “InvestHK”, explicou ao HM que foi organizada uma masterclass sobre oportunidades de negócios na Grande Baía, que comporta, além de Macau e Hong Kong, nove cidades do sul da China e que “representa um enorme mercado com 86 milhões de habitantes”, disse a responsável.

” Na Web Summit informamos empresas estrangeiras sobre o que devem fazer para se estabelecerem em Macau ou Hong Kong, com a vantagem de estas serem cidades internacionais. Através [destas regiões] podem facilmente aceder ao mercado da Grande Baía”, frisou a responsável.

Paula Kant adiantou que, em Portugal, a “InvestHK” tem parcerias com a Câmara de Comércio e Indústria Portugal-Hong Kong, bem como com a Associação de Jovens Empresários Portugal-China.

A “InvestHK” criou também na WebSummit um espaço onde potenciais investidores e empresários puderam partilhar intenções de negócio e ideias, na tenda “Investor do startup meetings”, à qual o HM não teve acesso.

Depois de uma presença inédita na Web Summit em 2019, com uma delegação de 11 pequenas e médias empresas (PME), Macau ficou de fora do evento este ano. O HM confirmou que a Direcção dos Serviços de Turismo não esteve representada, além de que na lista de startups participantes no evento de tecnologia não constava o nome de nenhuma empresa local.

Fonte da Fábrica de Startups, plataforma que, em 2019, trouxe empresas de Macau à Web Summit, em conjunto com a Direcção dos Serviços de Economia e Desenvolvimento Tecnológico, adiantou ao HM “não ter nenhuma informação oficial acerca da presença de Macau” no evento.

O Instituto de Promoção do Comércio e Investimento de Macau (IPIM) foi também contactado, mas até ao fecho desta edição não foi obtida qualquer resposta. Esta segunda-feira o IPIM garantiu ao HM que não enviou qualquer delegação empresarial a este evento. A Web Summit decorreu entre 2 e 4 de Novembro no Parque das Nações, e regressa a Lisboa no próximo ano.

8 Nov 2021

Arquitectura | Atelier de João Ó e Rita Machado distinguido nos Architecture Masterprize

“Chasing Sounds”, desenvolvido em Hong Kong pelo atelier Improptu Projects, acaba de ser distinguido com o prémio “Landscape Architecture”, categoria de “Installation and structures”, dos Architecture Masterprize. João Ó e Rita Machado assumem querer cada vez mais desenvolver iniciativas multidisciplinares que vão além da chamada arquitectura tradicional

 

A inserção da construção tradicional com o bambu numa paisagem natural transformou-se no projecto “Chasing Sounds” e deu o terceiro prémio deste ano ao atelier Improptu Projects, de João Ó e Rita Machado. A dupla, juntamente com Madalena Saldanha e Alexandre Marquês, acaba de vencer o prémio “Landscape Architecture” [Arquitectura de Paisagem], na categoria “Installation and Structures” [Instalações e Estruturas], dos Architecture Masterprize Awards.

“Chasing Sounds” esteve exposto no Hong Kong Zoological and Botanical Gardens onde representava as ondas de música, com o objectivo de desenvolver “um ambiente sonoro para o público entrar e ter uma experiência imersiva”.
A iniciativa partiu de uma parceria com a orquestra Hong Kong New Music Essemble.

Rita Machado assume ao HM que este prémio “é um reconhecimento de todo um percurso que temos vindo a traçar desde a abertura do nosso estúdio”, bem como “uma projecção local e internacional que nos interessa para a divulgação das nossas concepções de espaços e projectos”.

“Chasing Sounds” começou a ser pensado e preparado em 2017 e, devido às restrições da covid-19, levou a equipa a desenvolvê-lo à distância, sem poder estar fisicamente em Hong Kong. O convite formal por parte da Hong Kong New Music Essemble chegou em 2018, mas só este ano é que o projecto foi concebido.

“A intenção era fazer um coreto ou um palco que pudesse albergar uma série de espectáculos no jardim zoológico e botânico de Hong Kong. Depois de várias reuniões percebemos que queríamos experimentar um novo conceito, que passava por o público ir ao encontro da música. Nesse sentido criámos uma onda sonora, um percurso, onde os músicos pudessem estar localizados em pontos rigorosamente escolhidos por eles e que fizesse com que o público fluísse na estrutura indo ao encontro dos diferentes tipos de sons”, adiantou Rita Machado.

Esta estrutura acabou por ganhar transparência, criando “um espaço muito envolvente” e que “cria momentos de visão e de vivência do espaço diferentes”. Rita Machado recorda que nunca se tratou “de um recinto fechado”, mas sim de um local que “permitia esta permeabilidade do espaço”.

Além do convencional

João Ó revela também que este prémio traduz a vontade do atelier em abraçar projectos cada vez mais multidisciplinares, que não passem apenas pela arquitectura mais tradicional, de construção de edifícios.

“Tentamos traçar um percurso paralelo, mas significativo, que é propor instalações num espaço público. Espaços improváveis, alternativas de ocupação. Tudo isso tem vindo a vingar com prémios internacionais, o que é muito bom”, frisou.

Esta acaba por ser uma arquitectura efémera, mas “abre o leque daquilo que [ela] pode ser, com pensamento crítico e do espaço público”, acrescenta o arquitecto.

João Ó fala ainda da importância da dinâmica que se criou no diálogo com a Hong Kong New Essemble para desenvolver “Chasing Sounds”. “Discutimos o projecto com o compositor também. Toda esta sinergia de discussão ajudou-nos a ultrapassar as limitações, para que não estejamos sempre agarrados às mesmas fórmulas. Apesar de se usar o bambu, esta discussão leva a outro tipo de intervenção. Queremos cada vez mais colaborar com diferentes disciplinas”, exemplificou o arquitecto.

O fotojornalista português e ex-editor do HM, Gonçalo Lobo Pinheiro, foi outro dos distinguidos, naquele que foi a primeira edição do prémio virado para a fotografia de arquitectura. Uma imagem do hotel e casino Grand Lisboa, da perspectiva da Rua Nova à Guia, foi a escolhida.

5 Nov 2021

Lei Sindical | Coutinho diz que proposta é “coxa”. Lam Lon Wai exige patriotismo 

O documento de consulta relativo à lei sindical foi um dos temas principais do segundo plenário da nova sessão legislativa. Enquanto que Pereira Coutinho previu que a lei seria “coxa” e limitativa na protecção dos direitos dos trabalhadores, Lam Lon Wai defende que sindicatos devem ser patriotas

 

O documento de consulta relativo à lei sindical, actualmente em consulta pública, foi ontem analisada por três deputados no período de intervenções antes da ordem do dia na Assembleia Legislativa (AL). O mais crítico foi Pereira Coutinho, que considera as propostas limitativas na garantia dos direitos dos trabalhadores. Aliás, com estas propostas o deputado entende que a lei sindical será “amputada”, “coxa” e “inoperante”.

“O documento de consulta pública começa por limitar profissões, como os trabalhadores da Administração Pública, pessoal médico e de enfermagem, concessionárias de água, electricidade, telecomunicações, transportes colectivos, forças e serviços de segurança. Já agora, porque não também as concessionárias de jogo?”, questiona.

Para Coutinho, eliminar estas profissões “põe em causa o critério da aplicabilidade directa do artigo 27º da Lei Básica, no que toca a direitos, liberdades e garantias dos sindicatos e [entidades] de negociação colectiva”. Nesse sentido, “classificar sindicatos em sectores e profissões é excluir e proibir aquilo que não está excluído e proibido na Lei Básica e nas convenções da Organização Internacional do Trabalho (OIT), bem como em pactos internacionais”.

Na óptica de Pereira Coutinho, a materializar-se em proposta de lei o que consta do documento de consulta, o diploma “vai deixar dezenas de milhares de trabalhadores sem apoio das estruturas sindicais”. Enquanto autor de diversos projectos de lei sindical, o deputado apelou “a uma análise comparativa” para formular “um projecto estruturado de melhor forma e que responda às necessidades da sociedade”.

Em nome do patriotismo

Na mesma linha, Lei Chan U, ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), considerou que as 36 convenções internacionais da OIT que se aplicam no território ainda estão por concretizar. “O cumprimento dos compromissos assumidos nestas convenções deixa a desejar. Algumas regras transpostas das convenções precisam ser actualizadas, pois estão desfasadas da realidade, tal como a convenção sobre o número de horas de trabalho nos estabelecimentos industriais.”

Por outro lado, Lam Lon Wai, também ligado à FAOM, defende que os sindicatos em Macau devem ser patriotas, exigindo regras consagradas na lei. “É claro que os sindicatos têm de amar a pátria e Macau, devendo incluir-se no registo sindical e no regime de constituição as condições ‘amor à pátria e a Macau’, a fim de evitar que, sob a designação dos sindicatos, se tente influenciar a prosperidade e a estabilidade de Macau.”

Para o deputado, o actual mecanismo de concertação social “tem-se mostrado eficaz”, devendo existir “disposições transitórias” para as actuais associações de defesa dos direitos dos trabalhadores.

Muitas destas entidades “têm um histórico e contribuíram para salvaguardar os direitos e interesses dos trabalhadores”, pelo que “a lei sindical deve estipular que continuem a desempenhar as suas funções”, rematou Lam Lon Wai.

5 Nov 2021

Revisão orçamental | Deputados aprovam novos apoios económicos, que dizem ser insuficientes

Foi aprovada ontem na generalidade a proposta de alteração à lei do orçamento de 2021. A rectificação orçamental irá implementar oito medidas de apoio a algumas profissões e empresas devido à crise gerada pela pandemia. No entanto, o Governo ouviu várias críticas quanto à sua insuficiência.

“Estamos limitados a seis tipos de profissões liberais”, defendeu Ron Lam U Tou. Já Song Pek Kei pediu “melhorias” das medidas.

Ella Lei, ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), referiu que, em termos gerais, a população concorda com a criação de mais medidas de apoio, “mas a cobertura é insuficiente”. “As empresas tiveram de suspender actividade por diversas vezes e por muito tempo, como os salões de beleza e os centros de explicações.

O Governo dá este apoio pecuniário, mas será que isto vai contribuir para aliviar as dificuldades?”, questionou. Ella Lei frisou ainda que, em relação aos empréstimos concedidos às pequenas e médias empresas, “podem aliviar a situação nos primeiros meses, mas e depois?”. “Não sabemos se haverá nova suspensão de actividade. Esses apoios têm de ser concretos”, concluiu.

Leong Sun Iok, também ligado à FAOM, lembrou que as oito medidas abrangem cerca de 300 mil pessoas, mas há trabalhadores de fora, como os trabalhadores do jogo. “Será que estas medidas conseguem apoiar as pessoas que têm rendimentos constantemente a baixar?”, questionou.

Prontos para o pior

Um representante do Governo adiantou que as oito medidas de apoio “destinam-se a grupos económicos mais afectados”, além de que os mais de mil pedidos de apoio ainda estão a ser processados.

“Não pretendemos recusar pedidos só porque os empregadores não entregaram os documentos. Ainda este mês esperamos atribuir os apoios pecuniários”, assegurou o mesmo responsável.

Outra proposta do Governo é a exclusão das empresas de fachada, como as que não têm trabalhadores ou instalações físicas. “Esperamos que o nosso plano seja benéfico para os que de facto necessitam destes apoios”, referiu o mesmo representante do Executivo.

Lei Wai Nong, secretário para a Economia e Finanças, garantiu que a situação empresarial é melhor do que no ano passado. “Lançámos duas ondas de apoio, em Junho e Julho, e atribuímos seis mil milhões de patacas a empresas e trabalhadores porque, nessa altura, o mercado não funcionou. O Governo teve de actuar, mas a situação é diferente este ano.”

O secretário adiantou que, com base em dados estatísticos, “muitos sectores recuperaram bem”, mas que a ocorrência de surtos levou a perda de oportunidades de mais turismo no Verão e na semana dourada.

O governante deixou também um recado para o futuro. “A pandemia não vai acabar em breve e pode tornar-se mais grave. Desta vez lançámos medidas mais específicas, mas temos de estar bem preparados para outro surto.”

5 Nov 2021

Deputados pedem mudanças no modelo de atribuição do subsídio a cuidadores

Os deputados Ho Ion Sang e Wong Kit Cheng defenderam ontem, no período de interpelações antes da ordem do dia, que o programa piloto de atribuição de subsídios aos cuidadores informais deve sofrer alterações. “Segundo me disseram muitos cuidadores, os requisitos de candidatura são exigentes e devem ser relaxados. Uma vez que está envolvido um vasto leque de serviços, sugere-se que o Governo, aquando da revisão do projecto, alargue gradualmente a sua cobertura, abrangendo os cuidadores de pessoas autistas, portadores de doenças especiais, crianças com uma educação especial e deficientes mentais”, defendeu Ho Ion Sang.

Igual ideia defendeu Wong Kit Cheng, que lembrou que, dos 226 pedidos de apoio entregues até Agosto, apenas 119 preenchem os requisitos. “Os referidos dados demonstram que o âmbito dos beneficiários é muito limitado. Com o aproximar do fim do projecto-piloto, cujo prazo é de um ano, é necessário rever a situação.”

Os dois deputados defendem ainda um aumento do valor mensal do subsídio, que actualmente é de 2175 patacas. “Quando a situação financeira o permitir, espera-se que o Governo aumente gradualmente o montante dos subsídios. Propõe-se que seja avaliada a complexidade dos procedimentos de candidatura, no sentido de simplificar e acelerar a apreciação e a autorização dos pedidos”, disse Ho Ion Sang.

4 Nov 2021

Hospital das ilhas | Si Ka Lon defende seguro de saúde universal

O deputado Si Ka Lon defendeu hoje, no período de intervenções antes da ordem do dia, que as autoridades deveriam ponderar a criação de um seguro universal de saúde, tendo em conta o aumento do orçamento com a abertura do novo hospital das ilhas.

“É necessário fazer bem o planeamento para uma distribuição mais razoável dos seguros de saúde, aprofundando os estudos sobre a viabilidade de um ‘seguro de saúde para toda a população’”. Como referência, Si Ka Lon sugere a adopção de projectos piloto “tendo como referência o programa de seguro de saúde voluntário de Hong Kong, a fim de permitir que os residentes pagarem o respectivo prémio com os valores resultantes da devolução anual de impostos”.

O deputado, que representa a comunidade de Fujian, acredita que haverá a necessidade de dar resposta, em termos de especialidades médicas, tendo em conta a entrada em funcionamento do novo hospital. Isto porque “há cerca de 300 médicos especialistas nas entidades públicas” e “é provável que não consigam satisfazer as necessidades de funcionamento do hospital das ilhas”.

4 Nov 2021

Poluição | Deputados alertam para perigos de oficinas em edifícios residenciais

Os deputados Zheng Anting e Ron Lam U Tou usaram hoje o período de intervenções de antes da ordem do dia para alertar para os perigos da localização das oficinas em edifícios residenciais, após vários moradores do edifício Sek I, na Travessa do Armazém Velho, terem feito queixas a estes dois membros do hemiciclo. Esta oficina, além de libertar maus cheiros, que já causaram problemas de saúde aos moradores, originou um incêndio, sanado sem vítimas, no passado dia 9.

Zheng Anting considera que existe em Macau cerca de 500 oficinas, “muitas delas em funcionamento há vários anos sem a devida licença”. Neste sentido, o deputado defende que “o Governo deve criar um grupo interdepartamental para avaliar as condições das oficinas nas diversas zonas da cidade, exigindo que estas procedam a melhorias”.

Deve também “ser definido um regulamento claro e pormenorizado sobre o funcionamento e licenciamento das oficinas de reparação de veículos motorizados”, além de que Zheng Anting pede que se mudem “as oficinas para edifícios industriais adequados”.

Igual pedido faz o deputado Ron Lam U Tou, que alerta também para o facto de o regime de condicionamento administrativo ter estado sob consulta pública há vários anos, sem que se tenham verificado avanços.

A legislação em vigor “apenas restringe os horários de funcionamento dos estabelecimentos de reparação de veículos, não estabelecendo um regime de licenciamento nem exigindo que os processos de forja e pintura, que perturbam muito os moradores, sejam realizados em estabelecimentos industriais”. Para Ron Lam U Tou, “há que assegurar que os procedimentos de reparação que envolvem a forja, soldadura e pintura têm de ser obrigatoriamente realizadas em estabelecimentos industriais”.

4 Nov 2021

Mangais | Equipa da USJ estuda impacto na redução dos efeitos de tufões

Uma equipa da Universidade de São José encontra-se a estudar o papel que os mangais podem ter na diminuição do impacto de ondas fortes em caso de tufões e na erosão de zonas costeiras. As autoras do estudo defendem a importância de uma maior reflorestação com mangais em Macau

 

O Instituto da Ciência e Ambiente da Universidade de São José (USJ) está a investigar o papel dos mangais na contenção dos efeitos de fortes ondas em caso de tufões no território e numa menor erosão das zonas costeiras. Este não é o primeiro estudo sobre a matéria, mas é a primeira vez que é desenvolvido em Macau, graças ao trabalho de uma equipa composta por Karen Tagulao e Cristina Calheiros, entre outros investigadores.

Ao HM, Karen Tagulao referiu que a investigação sobre o papel positivo dos mangais em caso de tempestade está ainda na sua fase inicial. “Os mangais não ajudam apenas a limpar a água mas também acumulam dióxido de carbono. São muito importantes na mitigação [dos impactos] das alterações climáticas. No ano passado o projecto continuou a desenvolver-se e agora o nosso foco é [analisar] como é que os mangais podem reduzir o impacto das ondas em caso de tempestade, por exemplo durante os tufões.”

Isto porque, segundo Karen Tagulao, as alterações climáticas levam ao aumento não só do número de tempestades como da sua força. “No caso dos tufões queremos perceber como é que os mangais podem ajudar a reduzir o impacto de fortes ondas em cidades como Macau”, frisou.

Cristina Calheiros, professora adjunta na USJ, adiantou que esta perspectiva ligada aos tufões não é o foco principal deste estudo, mas que a investigação “ajuda a perceber a dinâmica dos mangais”. “Está inerente ao valor dos mangais a protecção da erosão costeira, que agora com as alterações climáticas se está a intensificar. Com esta intensificação, precisamos de soluções que nos ajudem a evitar que haja mais erosão. A nível económico é mais interessante ter mais mangais do que fazer paredões, porque são organismos vivos e adaptam-se às necessidades. Não reduzem os tufões, mas sim os efeitos destrutivos que eles têm sobre a costa.”

Águas mais limpas

A académica Cristina Calheiros explicou também que este estudo está a ser desenvolvido no âmbito do projecto intitulado “Nature-based solutions for a cleaner and safer Macao”, que tem vindo a ser desenvolvido desde 2020.
Além de avaliar o impacto na ocorrência de tufões, este estudo “tem como principal objectivo avaliar a capacidade dos manguezais para remediar a poluição por azoto e fósforo nas águas costeiras de Macau. Os resultados das investigações de campo trarão novos dados sobre a poluição por nutrientes em várias áreas, com e sem mangal, nas águas costeiras de Macau”. A investigação tem sempre um ponto comparativo entre zonas com mangais e sem eles.

Cristina Calheiros explica que “os resultados, até agora, são bastante promissores”, e que os dados preliminares revelam que “a concentração de nutrientes na água é menor em áreas com mangais em comparação com áreas sem manguezais”.

Desta forma, a académica faz um apelo para a preservação do mangal existente, no Cotai, mas também para a necessidade de se “plantar mais mangais ao longo da costa de Macau”.

Karen Tagulao não tem dúvidas de que existe vontade por parte do Governo de apostar nesta preservação. “Pela minha observação a área tem-se mantido estável. Nos últimos dez anos não foi feita nenhuma construção na zona. A eco-zona no Cotai tem vindo a expandir-se, comparando com 10 ou 20 anos atrás, então é um bom sinal. A melhor forma de manter um ecossistema é deixá-lo existir e não fazer nada. E até agora nada foi feito de significativo”, concluiu.

4 Nov 2021

KINO | Festival começa amanhã e traz o clássico “Metropolis”, de Fritz Lang 

Pela sexta vez, o festival de cinema alemão chega a Macau fruto da parceria entre a associação CUT e o Instituto Goethe de Hong Kong. O KINO destaca o movimento expressionista do cinema alemão e traz ao território o clássico “Metropolis”, de Fritz Lang. As exibições têm lugar no Cinema Alegria e na Casa Garden

 

A associação CUT, que geriu anteriormente a Cinemateca Paixão, traz de volta a Macau o festival de cinema alemão KINO. A sexta edição arranca amanhã e apresenta cinco novos filmes além de clássicos do Expressionismo alemão, como “Metropolis”, de Fritz Lang. As exibições acontecem entre esta sexta-feira e domingo, e ainda entre os dias 12 a 14 de Novembro, no Cinema Alegria e na Casa Garden.

Os cinco novos filmes apresentados são a expressão de vários géneros cinematográficos e temas, como ficção científica, comédia, amor ou história. O cartaz inclui também quatro clássicos do Expressionismo alemão, onde, além de “Metropolis”, figuram “The Cabinet of Dr. Caligari”, “Nosferatu” e “The Golem: How He Came into the World”, títulos que acabaram por influenciar realizadores contemporâneos como David Lynch e Tim Burton. Estes clássicos alemães deixaram também a sua marca no clássico de Ridley Scott “Blade Runner”, por exemplo.

Os bilhetes estão à venda desde o dia 25 de Outubro e podem ser adquiridos online, tendo um custo de 70 patacas.
O cartaz começa esta sexta-feira, às 19h30, com a exibição de “Kiss me Before it Blows Up!”, um filme de 2020 de Gershon Klein. Este filme retrata uma história de amor que ultrapassa fronteiras e culturas, com a história de amor de duas mulheres israelitas que se apaixonam por uma mulher alemã e um homem da Palestina. Depressa as diferenças sócio-culturais entre famílias se tornam demasiado evidentes, gerando situações de tensão. No domingo é dia de exibir, também no Cinema Alegria, às 16h30, o filme “The Kangaroo Chronicles”. Ainda neste dia, o público poderá ver, às 19h30 na Casa Garden, o clássico “Nosferatu”, que inspirou muitos outros filme de terror. “Nosferatu” conta a história de um vampiro que vive luxuosamente no seu castelo e que procura o sangue de uma bela mulher, enquanto espera uma oportunidade para regressar ao mundo.

Já “The Cabinet of Dr. Caligari” é exibido no sábado, às 19h30, também na Casa Garden, retrata a vida de um homem sonâmbulo que hipnotizado comete uma série de crimes. Este filme é visto como uma metáfora do crescimento do Nazismo na Alemanha nos anos 30 e sobre os acontecimentos que antecederam a II Guerra Mundial – uma submissão quase irracional a uma nova autoridade fascista.

O KINO prossegue no fim-de-semana seguinte com a exibição, dia 12, de “The German Lesson”, que se baseia num dos mais famosos romances alemães da literatura do pós-II Guerra Mundial.

A história passa-se, portanto, no período pós-1945, quando Siggi Jepsen, um jovem detido, tem de escrever um ensaio, que só consegue ver a luz do dia quando o seu autor se encontra preso. Depressa vêm ao de cima as memórias do seu pai, polícia, que teve de banir uma pintura do artista expressionista Max Ludwig Nansen para responder aos desígnios nazis. Siggi, então com 11 anos de idade, depressa se vê envolvido num conflito que lhe traz as tristes memórias do passado. “The German Lesson” venceu dois prémios e recebeu três nomeações em festivais.

Metropolis no Alegria

O KINO volta a acontecer no sábado dia 13, na Casa Garden, com a exibição, às 15h, do filme “Berlin Alexanderplatz”, seguindo-se, no domingo, “Tides”, exibido no Cinema Alegria às 16h30. Este é um filme que explora a temática actual do abuso de recursos naturais e da necessidade de protecção do meio ambiente, decorrendo numa altura em que o planeta Terra é afectado por uma catástrofe global. É então que a colónia espacial Kepler resolve organizar uma missão para analisar em que condições se encontra o planeta, onde a vida humana se tornou impossível.

Também no dia 13, é exibido “Metropolis”, às 21h30, à volta do qual foi construída toda a imagem gráfica do KINO. Nesta obra-prima do cinema, Fritz Lang experimenta, pela primeira vez, efeitos especiais que mais tarde se tornariam comuns para muitos realizadores. “Metropolis” é um filme distópico e futurista que conta a história de um mundo que se divide em duas classes sociais: os que se divertem e bebem a toda a hora, e os restantes que trabalham até à morte. Em “Metropolis”, Fritz Lang imagina um mundo com robots sem pensamento próprio, que se limitam a cumprir as regras impostas por um regime. Mesmo aqueles que outrora se rebelavam contra o sistema.
Domingo, dia 14, é exibido, na Casa Garden e às 19h30, mais um clássico: “The Golem: How he came into the world”, filmado em Praga. Esta obra foi realizada por Karl Freund e traz novamente para o ecrã leituras sobre o período político da Alemanha à época, marcado pelo anti-semitismo e pelo nazismo.

Além da exibição dos filmes, o KINO apresenta também uma palestra, protagonizada por Derek Lam, onde os amantes do cinema poderão aprender mais sobre o movimento expressionista alemão. Esta palestra será transmitida online e está agendada para sábado, dia 19h, entre as 18h e as 19h.

3 Nov 2021

Poesia | “Salitre”, de Duarte Drumond Braga, editado na RAEM pela Capítulo Oriental

O novo livro do académico Duarte Drumond Braga tem Macau como musa e tema central. “Salitre” será editado este mês pela Capítulo Oriental e é, como descreve o autor, uma metáfora poética sobre as características do território

 

“É que / na aldeia lê-se o que há na papelaria, / vai-se a tudo o que há no Dom Pedro V / desfraldou-se uma vela / e perseguimos o pirata”. O verso do poema “Sal” espelha bem a matéria do mais recente livro de poemas de Duarte Drumond Braga, académico da Universidade de Lisboa que viveu em Macau.

“Sal” é um dos poemas que integra “Salitre”, livro de poesia inteiramente dedicado ao território, com versos escritos entre os anos de 2019 e 2020. Editado este mês no território pela Capítulo Oriental, com apoio da Universidade de Macau, ainda sem data oficial de lançamento devido à pandemia. A obra terá também lançamento em Lisboa.

O livro de poesia é uma ode metafórica ao território que acolheu Duarte Drumond Braga. “Salitre é um fenómeno químico bem conhecido que actua nas paredes das casas. O salitre talvez possa ser uma metáfora da acumulação de sinais, traços, uns legíveis outros menos, que constitui uma cidade como Macau. Poderia ser também o bolor ou o mofo, bem conhecidos dos habitantes de Macau, mas já há um livro de Augusto Abelaira com o título do primeiro e talvez estes remetam menos para a escrita como acumulação de traços ou raspagens”, contou ao HM.

O poeta e investigador escreveu “Salitre” ao mesmo tempo que ia fazendo versos para “Os Sininhos do Inferno”, mas os poemas do livro agora lançado foram “quase exclusivamente” escritos no território. Escrever novamente sobre Macau surgiu como uma necessidade, dado o interesse constante do autor pelas suas “textualidades”.

“É pena termos sempre acesso a um dos lados da moeda apenas, nós que não falamos chinês, porque o texto-Macau tem muitas autorias. O livro procura mostrar, antes de mais graficamente, que esta é uma cidade que é também um conjunto de citações, em línguas diferentes, que se cruzam, formando um texto único, mas de autoria múltipla.”

A Macau histórica

Nestas muitas versões da mesma história, há também espaço para a Macau histórica, consumo de ópio e piratas. Exemplo disso é o verso “No esterquilínio / é a cena do ópio: / um homem / tragicamente hirsuto / de olhos rolados, / dobrado sobre si mesmo / como um feto ao fogo / e uma mulher / que queima bolas”.

Mas, conforme explicou Duarte Drumond Braga, “Salitre” não é apenas isso. Os seus poemas contêm referências “a espaços muito concretos”, e não apenas a eventos históricos.

“Volta-se a esse imaginário para colocá-lo de forma diferente, por vezes de forma cortante. Creio que ainda há marcas de um certo exotismo na literatura em língua portuguesa de/sobre Macau. Este livro demarca-se dele, ainda que não se esgote nisso.”

A Capítulo Oriental indica que a obra contém uma Macau “lida como uma cidade-texto, feita de letras, signos, sinais”, “uma cidade que é também um conjunto de citações, em línguas diferentes, que se cruzam, formando um texto único, mas de autoria múltipla”.

Uma interpenetração

“Salitre” é também uma espécie de “livro-colagem”, onde “os versos à esquerda são da minha autoria e os destacados à direita pertencem a vários livros de literatura e até de história de Macau”, aponta o seu autor. Neste processo, “os lugares, as referências históricas e as personagens dessa cidade constituem um mapa que mobiliza a transformação de Macau em tropo da linguagem”.

Investigador na área da literatura comparada, Duarte Drumond Braga adianta que “a investigação e a poesia são actividades que se interpenetram”. “Interessa-me cada vez mais a poesia como forma de investigação, interessa-me construi-la em simultâneo com as questões que eu estudo, como sendo a Ásia e a produção escrita de língua portuguesa, essencialmente”, frisou.

Editar “Salitre”, o seu terceiro livro de poesia, em Macau é importante para o autor. “Vinte anos depois da transferência da soberania, a publicação de qualquer livro em língua portuguesa em Macau – o que é talvez mais significativo quanto a um livro de literatura – constitui, em si mesmo, um facto cultural de relevo”, rematou.

Fundada em 2019, a Capítulo Oriental é a primeira agência literária a trabalhar entre a Ásia e países ou territórios de língua portuguesa, e que tem sede em Macau. Representa também autores de Macau, China, Hong Kong, Taiwan e Portugal, entre outros territórios.

1 Nov 2021

Desperdício alimentar | Frigorífico comunitário ajuda quem mais precisa

Localizado no Centro Pastoral Católico, na Rua de Francisco António, o frigorífico comunitário é um projecto de Gilberto Camacho que tem como objectivo reduzir o desperdício alimentar e ajudar quem mais sofrem com esta crise: os trabalhadores migrantes

 

A cada dois ou três dias é deixada comida no frigorífico cujas portas todos podem abrir. É assim há cerca de um mês, quando o projecto do primeiro frigorífico comunitário se tornou realidade graças ao acolhimento do Centro Pastoral Católico, na Rua de Francisco António.

Ao HM, Gilberto Camacho, fundador do grupo Macau ECOnscious e conselheiro das comunidades portuguesas, explicou a ideia por detrás da iniciativa que existe em vários países.

“Esta ideia não é nova e não é minha, mas pensei em fazer [algo do género] em Junho ou Julho deste ano. Em Agosto participei numa palestra na Universidade de São José, acerca do desperdício alimentar, e apresentei a ideia. Depois tive a ajuda de uns amigos [para a instalação do frigorífico]”, contou.

Situado perto da Ponte 16, o Centro Pastoral Católico já fazia doações de comida, sobretudo aos trabalhadores migrantes que mais sofreram com as consequências económicas da pandemia.
“Qualquer pessoa pode deixar alimentos ou comida já preparada, desde que esteja em boas condições. Quis juntar o útil ao agradável, porque nós, que doamos comida, também ficamos felizes, porque não a desperdiçamos. Temos os trabalhadores migrantes, que são o suporte da economia em Macau, alguns perderam o emprego ou trabalham a tempo parcial. Se temos excesso de comida que é deitada para o lixo, porque não ajudar estas pessoas?”, questionou Gilberto Camacho.

Exemplo a seguir

Apesar de estar ainda no seu início, o projecto do frigorífico comunitário poderá chegar a outros espaços. “Estou a pensar abrir um frigorífico noutro espaço, mas neste momento, estou a melhorar esta iniciativa. Talvez tenha de fazer alguns ajustes. Também estou em conversações com hotéis e casinos, por exemplo.”

Gilberto Camacho gostaria de trazer para o frigorífico comunitário restos de comida e outros bens alimentares provenientes dos casinos, nomeadamente dos espaços de restauração e hotéis do Venetian, mas o processo ainda não está concluído.

Para já, a adesão à iniciativa solidária ainda está nos primórdios, embora, nos últimos dias, o frigorífico comunitário tenha recebido uma grande doação. “Este projecto está no início e coincidiu com um surto de covid-19 em Macau. As pessoas ficaram mais reticentes em sair de casa e estar em espaços fechados.”

O relatório da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), relativo a 2020, revela que o lixo orgânico, composto essencialmente por resíduos alimentares, representa 35 por cento de todo o lixo feito no território, representando a maior percentagem.

Para o conselheiro das comunidades portuguesas, “esta questão [do desperdício alimentar] deveria ser pensada para ontem”. “Não podemos pensar apenas em momentos de crise como este, mas também de fartura”, rematou.

1 Nov 2021

Jogo | Novo Macau alerta para delegados do Governo nos casinos

A Associação Novo Macau (ANM) entregou, na sexta-feira, sugestões à Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) a propósito da revisão da lei do jogo.

A associação defende que a presença de delegados do Governo no conselho de administração de concessionárias de jogo, uma das propostas avançadas pelo Executivo, pode originar corrupção e trazer impacto negativo na confiança dos investidores. Além disso, as propostas entregues à DICJ fazem referência à necessidade de acabar com as subconcessões de jogo, bem como da importância de mais responsabilidade na garantia dos direitos laborais por parte das operadoras, incluindo os apoios às pequenas e médias empresas e projectos de protecção ambiental.

A Novo Macau pede ainda o aumento da percentagem de impostos sobre o jogo destinada ao Fundo de Segurança Social, bem como a contratação de trabalhadores locais para cargos de gestão nas operadoras.

1 Nov 2021

Previdência Central | Regime só será obrigatório entre 2026 ou 2028

O regime de previdência central só deverá ser obrigatório entre 2026 e 2028, e a culpa é da pandemia. Esta é a principal conclusão do relatório de avaliação, elaborado pela Universidade de Macau, e que foi apresentado pelo Governo na sexta-feira. O documento aponta que “se a economia estivesse a acompanhar a tendência positiva do ano 2019, o regime já disporia de condições favoráveis para se tornar num regime obrigatório”.

No entanto, com o surgimento da pandemia, “a economia de Macau foi afectada”, pelo que se propõe “fixar um período de observação de três anos” até 2023. Posteriormente deverá ser estabelecido, “conforme a recuperação da economia, duas propostas de ‘Período de preparação de 5 anos’ e ‘Período de preparação de 7 anos’, sendo implementado o regime de previdência central obrigatório no ano 2026 ou 2028”.

Relativamente às dotações, o regime obteve 28,6 mil milhões de patacas entre os anos de 2010 e 2020. Além disso, “ao longo dos três anos de implementação do regime contributivo, o número de participações, a dimensão de fundos de pensões e o retorno de investimento tem vindo a aumentar”.

Até setembro deste ano estavam registados no regime mais de 264 empregados e cerca de 24 mil trabalhadores participavam no plano conjunto de previdência. Por sua vez, mais de 75 mil residentes criaram os seus planos individuais de previdência. Para este estudo foram realizadas 20 entrevistas, sendo que “a maior parte dos entrevistados concorda com os arranjos do regime existente e tem uma atitude positiva em relação à implementação obrigatória do regime de previdência central”.

31 Out 2021

Covid-19 | Defendida uniformização de regras nas fronteiras 

Depois de Carrie Lam ter anunciado que serão eliminadas as excepções de entrada em Hong Kong, para haver maior igualdade em relação às medidas de Macau, as autoridades locais entendem ser necessário uniformizar as regras de passagem fronteiriça para Hong Kong e o Interior da China

 

As passagens fronteiriças entre os três territórios das regiões administrativas especiais e do Interior da China continuam a ter graus diversos de restrições e, portanto, é fundamental a uniformização de medidas para lidar com a covid-19. Esta foi a ideia deixada por Leong Iek Hou, do Centro de Coordenação e de Contingência do novo tipo de coronavírus, na conferência de imprensa de ontem.

“Sabemos que as autoridades de Hong Kong têm contacto com as autoridades do Interior da China sobre a passagem de fronteiras e relaxamento de medidas. Temos mantido conversações com Hong Kong e o Interior da China. Temos de ter medidas uniformes nos três territórios para conseguirmos controlar a pandemia. Só assim poderemos avançar para o próximo passo de abertura [de fronteiras].”

Segundo o canal RTHK, Carrie Lam, Chefe do Executivo de Hong Kong, disse que serão eliminadas as poucas excepções que ainda existem para entrar no território, tal como a isenção de quarentena para empresários cuja actividade profissional tenha particular relevância para o desenvolvimento económico da região.

“No início do ano passado, em relação às excepções de quarentena para alguns grupos de pessoas, a maior parte serão removidas. Vamos apenas manter as excepções relacionadas com serviços de emergência ou ligados ao fornecimento diário de produtos para Hong Kong, como os motoristas de pesados. Isto dará confiança às autoridades centrais de que é seguro abrir a fronteira.”

Entretanto, as autoridades locais receberam 336 pedidos de estrangeiros que pretendem viajar para Macau a partir de Hong Kong, tendo sido autorizada a entrada a apenas 94 pessoas. Foram recusados 45 pedidos “por não preencherem os requisitos”, adiantou Leong Iek Hou.

Testes sem decisão

Muitas associações do sector do turismo têm pedido o aumento da validade do teste de ácido nucleico para entrar no território para 7 dias. No entanto, o Governo ainda não tomou uma decisão. “Estamos a negociar com as autoridades do Interior da China. Para as pessoas já vacinadas, se calhar a validade do teste pode ser adiada, e para os estrangeiros pode ser exigida uma validade de 48 horas. Mas estamos sempre a analisar a situação de forma dinâmica”, explicou Leong Iek Hou.

Relativamente ao plano de vacinação, recomeça na próxima semana a campanha de proximidade nas escolas do ensino não superior. As crianças com mais de 12 anos podem optar por se vacinar com a BioNTech ou com a Sinopharm.

Foi ontem revelado que cerca de 85 por cento dos docentes do ensino superior estão vacinados, cenário que não se verifica no ensino não superior, onde apenas 46 por cento dos professores foram inoculados. As autoridades continuam a apelar à vacinação de jovens estudantes e idosos, os dois grupos sociais onde a taxa é mais baixa.

29 Out 2021

Rodolfo Faustino e Maria João Ferreira, direcção da Casa de Macau em Lisboa: “Corremos o risco de desaparecer”

A nova direcção da Casa de Macau em Lisboa tomou posse em Abril e quer trazer sangue novo para a instituição, realizar mais actividades culturais e criar uma biblioteca e base de dados pela mão de Maria João Ferreira, que nos acompanha nesta entrevista. Rodolfo Faustino, que preside à instituição, continua a lutar por sócios mais novos e deixa um alerta: a Casa de Macau pode mesmo fechar portas se os jovens não aderirem ao projecto

 

 

Tomou posse como presidente da Casa de Macau em Lisboa em Abril. Que projectos pretende desenvolver?

Rodolfo Faustino (RF) – Tomamos posse em plena pandemia e temos vindo a adaptar-nos a esta situação. A nossa direcção, e ainda bem que é assim, tem uma função pró-bono. Trabalhamos por gosto e por grande ligação a Macau. Queremos trazer juventude para a direcção, e conseguimos trazer o Gonçalo Magalhães, que tem uma longa ligação a Macau e que trabalhou no Instituto Cultural. Trouxemos a Un I Vong, que é uma jovem advogada. Atrás dela vem a juventude que precisamos para a Casa de Macau. Hoje lutamos com esse problema. Temos uma herança e um trabalho árduo à nossa frente. Só fazemos isto por grande vontade e carolice de manter Macau com presença em Portugal. Não podemos desistir.

Quais são os grandes entraves que enfrentam?

RF – O grande entrave foi a pandemia. A nível das finanças, temos as quotas dos sócios, montante irrisório, e o grosso da receita vem da Fundação Casa de Macau, até porque a gestão da Casa é a sua função, através de um subsídio de cerca de 30 mil euros por ano. Temos ainda um subsídio atribuído pelo Conselho das Comunidades Macaenses [financiado pela Fundação Macau]. [Ver Caixa]

Maria João Ferreira (MJF) [membro da direcção] – Que tem sido diminuído…

RF – Neste momento é de 30 mil patacas. Mas tínhamos outra fonte de receitas, ligada às nossas actividades, como os cursos de chinês. Neste momento, achamos que não é oportuno fazê-los, porque há uma série de instituições que os fazem e que dão certificado. Queremos aproveitar o facto de termos connosco o Gonçalo Magalhães, que é mestre em cinema e fotografia, para fazer, no último trimestre, um novo curso de fotografia e cinema, com um tema ligado a Macau. Queremos também exibir alguns filmes de Macau.

MJF – Queremos criar aqui uma dinâmica cultural.

RF – Mas usando os nossos recursos e a nossa temática, que é Macau, e da qual não podemos fugir. Temos a área da gastronomia, na qual vamos apostar novamente, por ser um forte pilar da identidade macaense. Estamos em conversações com a Confraria da Gastronomia Macaense que vai iniciar cursos online. A ideia é que nos sejam fornecidos os vídeos para divulgarmos junto dos nossos sócios. Queremos fazer algumas coisas sobre o Patuá também. Temos falado com o Miguel Senna Fernandes sobre aquilo que podemos fazer, talvez actividades online sobre os projectos que os Doci Papiaçam di Macau realizam. Temos de encontrar soluções de actividades com custos reduzidos, por termos parcos meios.

Relativamente aos apoios da Fundação Macau, têm diminuído para todas as entidades em Macau. É mais difícil sobreviver com esse cenário?

RF – Temos de nos adaptar. Sabemos quais são os nossos custos e temos de organizar as actividades em função das receitas que temos. Temos depois despesas com os funcionários e também com a manutenção do jardim.

Foi publicado no HM um artigo de opinião sobre o estado de degradação do edifício. Planeiam fazer obras de restauro?

RF – A Casa não tem património, este edifício é da Fundação e temos um contrato para o uso das instalações. Portanto, todas as obras são da responsabilidade da Fundação. Temos estado em contacto, sabemos que estão a encontrar soluções para, rapidamente, podermos resolver o estado exterior do edifício. Aqui no interior o edifício está a funcionar. Há necessidade de fazer uma manutenção no exterior como qualquer casa. Estas são obras caríssimas, mas é um assunto que a Fundação tem de resolver, e eles estão muito preocupados com isso.

O vosso orçamento foi reduzido?

RF – A Fundação mantém o subsídio que nos transmite. Onde houve uma diminuição [de receitas] foi pela ausência de actividades, devido à pandemia. Não fizemos o habitual Chá Gordo em Junho e também não celebrámos o Ano Novo Chinês. Somos peritos em fazermos a adaptação ao dinheiro que temos, pois são salvaguardadas as nossas despesas fixas. Até ao final do ano queremos fazer as actividades que referi, na área do cinema e da fotografia. Mas como a Maria João Ferreira é perita em bibliotecas, já iniciou a recuperação e preparação da nossa biblioteca.

Em que consiste esse projecto?

MJF – A Fundação diz que não se justifica a aquisição de uma base de dados por sermos muito pequenos. Mas temos aqui coisas muito valiosas. Propus-me organizar a biblioteca, dar-lhe um cariz mais científico. Encontrei online bases de dados gratuitas, e com o computador que a Fundação nos ofereceu vamos avançar para isso quando tivermos material suficiente para termos utilizadores, até presenciais. Vamos tentar digitalizar alguns artigos e colocá-los online.

Estamos a falar de que tipo de documentação?

MJF – Estou a fazer uma primeira selecção de monografias, para que possamos concentrar todos os livros sobre Macau no primeiro andar. Na cave há imenso material, mas mais recreativo. Quero distinguir entre livros sobre Macau, científicos e históricos.

RF – Vamos também entrar em contacto com as entidades de Macau, uma delas é o Instituto Internacional de Macau (IIM), com quem temos uma relação de grande proximidade. Eles também têm obras fantásticas que podemos trazer para cá, para que os nossos sócios possam consultar. Vamos fazer aqui um grande esforço para termos uma grande biblioteca dentro das nossas possibilidades. Temos espaço e vontade. Somos a entidade em Portugal que carrega às costas a identidade macaense, isso é o que nos move.

Mas aceitou este desafio de ser presidente, apesar das dificuldades.

RF – As associações hoje em dia têm uma dificuldade em ter gente interessada em dar o seu contributo. Fui quase “levado” a aceitar o cargo. Tenho uma dívida para com Macau, de respeito e de gratidão, e para as gentes de Macau, e achei que tinha de dar o contributo. Cerca de 80 por cento dos nossos sócios têm mais de 65 anos, com dificuldades de deslocação e pouca vontade de se envolverem. O que fizemos foi tentar encontrar sangue regenerador e trouxemos a Un I Vong, que está à frente de associações de jovens estudantes de Macau, que é um núcleo enorme em Portugal. Queríamos criar aqui um núcleo para esses estudantes utilizarem a Casa. Estamos com esperança de que, com a Un I, de conseguir revitalizar a Casa. Vamos criar uma quota especial para os jovens estudantes de Macau.

Esse já era um objectivo da anterior direcção.

RF – Queremos continuar com isso. Falhámos agora por causa da pandemia. Mas temos condições físicas para eles estarem cá.

MJF – Na verdade, fomos unânimes de que o Rodolfo seria a melhor pessoa para exercer as funções de presidente. Devido à sua vida profissional o Rodolfo “mexe-se bem” em muitos meios que interessam à Casa.

RF – Esta não é uma tarefa fácil. Estas instituições vivem com muita dificuldade. Nem falamos da questão financeira, mas de juntar e congregar pessoas. Queremos fazer aqui lançamentos de livros, exibição de filmes. Faço um apelo à comunidade macaense para que nos ajudem a encontrar soluções. Corremos o risco de a Casa de Macau desaparecer, como tantas outras.

Esse risco é a curto ou médio prazo?

RF – Se não houver regeneração… os filhos dos sócios afastaram-se de Macau. O momento agregador é o encontro do Conselho das Comunidades Macaenses. Se não conseguirmos trazer os jovens que estão aqui a estudar… gostávamos que a Casa fosse um polo de negócios para as pessoas que veem de Macau fazer aqui os encontros nessa área. Poderia haver apresentação de produtos, realização de reuniões. Se não fizermos isso as pessoas vão-se afastando. Não é fácil fazer direcções, temos de mendigar quase para que as pessoas venham. É um assunto extremamente importante.

A nível institucional e político, poderiam ter mais apoio de Macau?

RF – Não. Temos o IIM, ao qual temos uma grande ligação, e também entidades em Portugal. A Embaixada da RPC em Lisboa dá-nos apoio, a Delegação Económica e Comercial de Macau em Lisboa também. Teremos em breve uma reunião com o Dr. Alexis Tam onde apresentaremos a nova direcção.

Vão abordar o encerramento da livraria?

RF – Vamos tentar que nos dêem alguns livros para a nossa biblioteca. Somos uma instituição sem fins lucrativos e não podemos vender livros, e a Fundação também não.

 

Orçamento superior a 53 mil euros em 2020

No ano passado o orçamento da Casa de Macau em Lisboa foi de cerca de 53 mil euros, parte desse montante foi suportado por subsídios da Fundação Casa de Macau e Fundação Macau, no valor de 33 mil euros. A Casa recebeu em pagamento de quotas e jóias de sócios quase dez mil euros. Dados fornecidos pela direcção ao HM revelam, relativamente a despesas, que a Casa gastou quase 34 mil euros com funcionários, a maior fatia no rol de custos que a entidade tem actualmente. No total, a Casa de Macau gastou, no ano passado, cerca de 52 mil euros. Esta nova direcção assume funções até 2023.

29 Out 2021

Vales de saúde | SSM prometem reforço de fiscalização após nova burla

Os Serviços de Saúde (SSM) prometem reforçar a fiscalização do uso dos vales de saúde após um novo caso de burla. “A fiscalização, a inspecção surpresa e a realização de vistorias aos profissionais de saúde e aos dados sobre os vales de saúde serão reforçadas através do sistema de vales de saúde electrónico”, apontam os SSM em comunicado.

Prevê-se a recolha de informações “através da aplicação de megadados, análise de razoabilidade dos valores de transações e de números de uso dos vales de saúde para a detecção precoce de eventuais irregularidades”.

O caso de burla envolve uma clínica no Bairro da Areia Preta e uma loja de mariscos secos que são suspeitas de defraudar os pagamentos de vales de saúde. Os SSM receberam uma denuncia pública “que alertava para uma alegada infracção cometida por uma clínica e uma loja de mariscos secos na aquisição de ginseng e mariscos secos através de uso de vales de saúde”.

Depois dessa queixa os SSM concluíram que “apesar não ter estado naquele local um profissional de saúde, existiram transacções de vales de saúde electrónicos”.

28 Out 2021

Hotel Lisboa | TUI mantém 8 anos de prisão para Alan Ho

O Tribunal de Última Instância (TUI) recusou o recurso de Alan Ho, sobrinho de Stanley Ho, relativo ao caso de prostituição no Hotel Lisboa.

Alan Ho foi condenado, pelo Tribunal de Segunda Instância (TSI), a pena de oito anos de prisão pela prática do crime de fundação e cinco anos por chefia de associação criminosa.

A decisão contrariou o entendimento dos juízes do Tribunal Judicial de Base (TJB), que tinha absolvido todos os arguidos da prática do crime de associação criminosa para exploração da prostituição. O terceiro arguido neste processo, de nome Lun, também viu o recurso ser rejeitado pelo TSI.

28 Out 2021

Jogo | Glenn McCartney lamenta falta de políticas para lidar com pandemia

Glenn McCartney lamenta que a pandemia e as medidas para controlar a propagação não estejam contempladas no documento de consulta sobre a revisão da lei do jogo. Mais que o número de concessões, o académico considera fundamental olhar para o futuro da indústria no contexto da Grande Baía

 

Glenn McCartney, especialista na área do turismo e académico da Universidade de Macau (UM), defende que o Governo deveria ter incluído políticas de gestão dos efeitos da pandemia no documento de consulta pública sobre a revisão da lei do jogo. O académico participou ontem na palestra “As concessões de jogo em Macau – Jogar na incerteza?”, promovida pela Câmara de Comércio França-Macau.

“A pandemia não é mencionada no documento de consulta, mas teve um impacto dramático na indústria. Merece maior discussão depois de dois anos de quebra económica e das receitas do jogo”, disse ao HM.

Na visão do académico, o território precisa de “muitos meses para recuperar”. “Mesmo num cenário de reabertura de fronteiras, o que acontece a seguir? O que vai acontecer [para essa recuperação]? A covid-19 deveria ser parte da discussão”, acrescentou.

Glenn McCartney lembrou que “este é um tempo para clarificar”, referindo-se à proposta do Executivo para acabar com as subconcessões. “Precisamos, sem surpresas, de rever a lei, e alguns termos [usados no documento] não surpreendem. O Governo deveria aumentar a supervisão, criando melhores políticas. Este é, para mim, um documento de governança e do interesse público”, adiantou.

Olhar o futuro

Mais do que discutir o número de licenças de jogo que serão atribuídas, Glenn McCartney considera fundamental olhar para o quadro geral da integração de Macau a nível regional.

“Temos seis concessões e mais de 30 casinos, incluindo os casinos satélite. Durante anos ouvi o Governo dizer que poderia ser boa ideia concentrar os casinos no Cotai e não ter tantos casinos pequenos perto das comunidades.

Queremos posicionar Macau como centro mundial de turismo e lazer, mas o que temos de fazer para chegar lá? Como quantificamos a existência de concessões com resorts integrados de alta qualidade? É para isso que eu olho.”

Mais que falar do número de licenças ou de mesas de jogo, “temos de ter a visão de como Macau deve estar daqui a 10 ou 20 anos no contexto da Grande Baía”. “Olhar para o número de casinos ou de mesas de jogo é uma perspectiva errada. É preciso olhar para aquilo que temos de fazer [a longo prazo]”, acrescentou.

Actualmente, Macau enfrenta, na visão do académico, competição no sector do jogo e mudanças no consumo dos visitantes chineses, que hoje buscam destinos com ofertas de lazer e entretenimento, e não apenas com jogo. É nesse sentido que também devem ser pensadas respostas, explicou.

28 Out 2021

Governo garante que previdência não paga indemnizações a professores

Lou Pak Sang, director dos Serviços de Educação e Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ), garantiu, em resposta a interpelação do ex-deputado Sulu Sou, que o fundo de previdência dos docentes de escolas privadas já não é usado para pagar indemnizações.

“Actualmente, as escolas particulares já não incluem nos contratos dos professores a cláusula que permitia que as indemnizações de despedimento fossem pagas com o fundo de previdência.”

Além disso, “as escolas que antes integravam esta cláusula nos contratos dos professores já procederam à devolução dos montantes, à excepção das situações do pessoal que se encontra no exterior e que não procedeu ao levantamento do dinheiro, continuando a DSEDJ a acompanhar esses casos”, frisou Lou Pak Sang.

O dirigente mencionou também ao ex-deputado os aumentos salariais dos professores desde o ano lectivo de 2011/2012. “Todas as escolas definiram um regime de níveis para o pessoal docente e aumentaram, em cerca de 30 por cento, ou acima desse valor, o salário base mensal do pessoal docente de nível 1 e do nível 6. A mediana do rendimento anual do pessoal docente, incluindo subsídios, aumentou de 292 mil patacas, no ano lectivo de 2011/2012, para 516 mil patacas”, pode ler-se na resposta à interpelação.

28 Out 2021

ARTM | Nova exposição inaugura este sábado 

“Art of Healing II” é o nome da nova exposição que a Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau (ARTM) inaugura este sábado, por volta das 16h, na galeria ARTM H2H, situada nas casas amarelas da antiga leprosaria de Ka-Hó, em Coloane.

Esta mostra revela as obras feitas pelas pessoas em recuperação da dependência de drogas não apenas da ARTM, mas também de vários centros de tratamento da China, localizados em 20 províncias do país. É a segunda vez que a associação de Macau colabora com a Comissão de Narcóticos da China para este projecto.

Augusto Nogueira, presidente da ARTM, adiantou que as 90 peças estarão disponíveis para venda, sendo que esta mostra pretende revelar “a importância e valorização da capacidade das pessoas que estão em tratamento de poderem exprimir os seus sentimentos através da arte”.

Para o presidente da entidade, é também importante que estas pessoas “se sintam valorizados” e que haja uma desmistificação da ideia de que estes pacientes são criminosos apenas por consumirem estupefacientes.

Nesse sentido, é importante “fazer entender que a recuperação é possível e que estas pessoas precisam de ajuda e não devem ser punidas”, existindo em Macau “canais próprios em Macau para ajudar pessoas com problemas”, frisou Augusto Nogueira. A mostra celebra também o Dia Nacional da República Popular da China.

27 Out 2021

TEDX Senado Square | Saúde mental marca edição deste ano 

Acontece este sábado, no Teatro D. Pedro V, mais uma edição do TEDX Senado Square, desta vez de forma presencial. O programa é composto por seis oradores que vão falar dos seus projectos e experiências, sempre dentro do tema “Despertar”. Venus Loi, curadora do evento, revela que a saúde mental é a grande problemática desta edição, tendo em conta o contexto da pandemia

 

O TEDX Senado Square está de regresso a Macau de forma presencial. Este sábado o evento acontece entre as 13h30 e as 18h no Teatro D. Pedro V com seis oradores locais e dois artistas musicais que vão actuar nos intervalos das palestras.

Sob o tema “Despertar” participam personalidades como Danny Leong, biólogo e um dos seleccionados pela National Geographic para integrar um grupo de 15 exploradores emergentes a nível global. O painel conta também com a presença do arquitecto André Lui, a curadora e artista Alice Kok e ainda o psicólogo Elvo Sou, que irá falar sobre “Sentimentos. Palavras. Diálogo com as Emoções”. Em palco, haverá ainda espaço para a partilha das experiências com o teatro físico, graças à presença de Yukie Lai, e da meditação, com Hio Lou Chang.

Ao HM, a curadora do evento, Venus Loi, referiu que o TEDX Senado Square terá apenas 160 lugares disponíveis, devido às restrições pandémicas. A escolha do tema “Despertar” pareceu natural tendo em conta o panorama da covid-19 que ainda se vive no território, com as fronteiras quase fechadas ao exterior.

“A pandemia entrou nas nossas vidas nos últimos dois anos e temos passado por um período de incertezas. Espero que com esta edição do TEDX Senado Square possamos partilhar algo que nos ajude a repensar o nosso estilo de vida e de como nos podemos adaptar à pandemia. Esta edição tem temas que pretendem levar as pessoas a pensar sobre isso”, apontou.

Desta forma, as palestras apresentadas pelos oradores convidados versam sobre as emoções, mas também sobre temáticas relacionadas com a protecção ambiental. “Este evento é uma plataforma importante para Macau. Uma vez que não conseguimos trazer oradores internacionais é importante partilhar ideias locais.”

Exemplo disso é o convite feito ao biólogo e investigador Danny Leong “Ele foi seleccionado pela National Geographic e, para Macau, é algo impressionante. Queremos que o mundo conheça os nossos feitos e também queremos partilhar discussões ligadas à protecção ambiental, tendo em conta o rápido desenvolvimento de Macau”, adiantou Venus Loi.

A sós

Venus Loi não tem dúvidas de que a questão da saúde mental é central no cartaz deste ano. “Durante a pandemia passámos mais tempo connosco próprios e reflectimos mais sobre quem somos e que tipo de desenvolvimento pessoal queremos. Aprendemos a lidar com as emoções e sobretudo com as incertezas.”

A curadora do evento chama a atenção para o aumento de problemas psicológicos junto dos jovens. “Não estou certa das razões, mas penso que isso talvez se deva ao facto de passarmos mais tempo sozinhos ou com as nossas famílias, devido ao confinamento, o que levou a problemas de comunicação entre pais e filhos. Também houve uma adaptação a um outro estilo de vida”, concluiu.

27 Out 2021

História | “De Portugal a Macau – A viagem do Pátria” com edição bilingue

“De Portugal a Macau – A viagem do Pátria”, livro do aviador Sarmento de Beires sobre a primeira viagem de avião entre Portugal e Macau, em 1924, é agora reeditado e traduzido para mandarim. Poeta e personalidade ligada ao grupo Seara Nova, crítico do regime da Ditadura Militar, Sarmento de Beires é hoje um herói da aviação caído em esquecimento

 

Acaba de ser reeditado em Portugal “De Portugal a Macau – A viagem do Pátria”, livro da autoria do aviador José Manuel Sarmento de Beires sobre a primeira travessia aérea entre Portugal e Macau, em 1924, na companhia de Brito Paes e Manuel Gouveia. O projecto tem a chancela da Edições Afrontamento e do CITCEM – Centro de Investigação Transdisciplinar “Cultura, Espaço e Memória”, da Universidade do Porto. As coordenadoras da obra juntaram esforços numa série de felizes acasos, uma vez que Rita Pina Brito já tinha as ilustrações e a tradução para mandarim da autoria de Yu Yong, enquanto que a académica Isabel Morujão tinha o projecto em mente.

Ao HM, Rita Pina Brito explica “a longa viagem” para a reedição deste livro, iniciada em 2014 e 2015. “A Isabel [Morujão] tem uma ligação familiar a Sarmento de Beires, e queria traduzir o livro de português para inglês, que será agora o próximo passo, já estamos a trabalhar nisso. Mas depois alguém sugeriu a tradução para mandarim. E nós já tínhamos a tradução feita. O meu pai foi há muitos anos ao Oriente e foi ele que me disse que este livro tinha de ser traduzido para mandarim.”

Esta não é uma mera reedição dos escritos de Sarmento de Beires, mas um livro de viagens com ilustrações. “Desde o início queríamos fazer um livro que não fosse tão sério. Sempre disse que eu levaria [para este projecto] as traduções e ilustrações, e a Isabel levou os textos académicos para dar contexto. Ela é uma estudiosa do Sarmento de Beires e faz uma análise do apoio que o país lhe deu e que o Estado acabou por não dar. Há, por exemplo, registos do apoio da imprensa.”

Rita Pina Brito tem também ligações familiares com Sarmento de Beires, que chegou a enviar uma carta ao seu avô. “O primeiro contacto que tive [com a história de Sarmento Beires] foi através do meu pai. Já todos ouvimos falar do Gago Coutinho e Sacadura Cabral, que são heróis nacionais, mas o meu pai falou-me de Sarmento de Beires e Brito Paes. Há ainda um grande desconhecimento, quase ninguém conhece estes aviadores.”

Realizado em 1924, a primeira viagem de avião Portugal-Macau aconteceu graças a uma intensa campanha de recolha de fundos num país prestes a abraçar uma Ditadura Militar, a que se seguiria o Estado Novo, a partir de 1933. São anos em que o Estado decide não apoiar financeiramente esta viagem, sendo ela feita com apoios da sociedade e de jornais da época, que muito publicitaram o feito de Sarmento de Beires e Brito Paes.

Um crítico do regime

Sarmento de Beires foi mais do que um aviador. Foi poeta e membro da revista Seara Nova, fundada em 1921, uma publicação que foi uma arma crítica contra a ditadura.

“Esteve muito associado a esse grupo e chegou a pertencer ao corpo directivo da revista. Pretendia um Portugal com opinião, era um cidadão consciente e esclarecido das suas decisões e com capacidade de intervenção”, recordou Isabel Morujão.

A primeira edição do livro de Sarmento de Beires foi publicada em 1925, seguindo-se a segunda edição em 1953 e a terceira em 1968, já uma edição de autor. Para Isabel Morujão, esta reedição, feita em pleno período do Estado Novo, prova que a viagem entre Portugal e Macau já tinha caído no esquecimento.

“[Sarmento de Beires] teve a necessidade de corrigir algumas informações e dedicar o livro a Brito Paes. Esta dedicatória mostra, em 1968, que esta viagem estava apagada da memória dos portugueses pelo facto de Sarmento de Beires ter sido um opositor ao regime. Esteve exilado na década de 30, viveu no Brasil e França. Teve de viver das traduções que fazia e passou mal economicamente.”

Aquando da terceira reedição, já Brito Paes havia falecido em 1934, e Manuel Gouveia, em 1966. Sarmento de Beires morreria no ano da Revolução dos Cravos 1974.

A travessia aérea entre Portugal e Macau “foi uma tentativa de preparar uma volta ao mundo de avião”, recorda Isabel Morujão. “Gago Coutinho, sendo um homem do regime de Salazar, manteve sempre imparcialidade muito digna em relação a estes aviadores, tendo dito sempre que eles fizeram metade da volta ao mundo em quilómetros.”

Nas primeiras décadas do século XX não se vivia apenas um intenso período político marcado pela instabilidade da primeira República. Porém, finda a I Guerra Mundial, em 1918, a aviação estava ao serviço da paz. “Nestes primeiros 30 anos da aviação mundial, a aviação tinha um desígnio de paz e isso vem muito referido na obra de Sarmento de Beires.”

No Oriente, com a recente instauração da República e queda do poder imperial na China, em 1911, também se viviam tempos conturbados e de profunda mudança. “Esta viagem tem um contexto especial, de efervescência dos anos pós-República. Na China existia um certo turbilhão, e o local onde o avião aterra era um terreno incrustado numa zona que tinha sido recentemente conquistada pelo exército de Sun Yat-sen”, recorda Isabel Morujão.

Rita Pina Brito não tem dúvidas. Sarmento de Beires foi, acima de tudo, “um homem corajoso”, cuja audácia não se mede apenas pela viagem que realizou. “Alguém que não se encaixa nos moldes que a sociedade dita naquele momento é uma pessoa corajosa. Como se incompatibilizou com o regime, foi esquecido”, rematou.

Apesar do esquecimento, restaram em Portugal pedaços desta memória, tal como um monumento em Vila Nova de Milfontes, onde teve início a viagem, e a exibição de vários objectos testemunha da travessia no Museu do Ar.

26 Out 2021