Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteStephan Rothlin, presidente do Instituto Mateus Ricci: “Tem havido um aumento da intolerância” Presidente do Instituto Ricci desde 2015, o académico e padre jesuíta fala esta sexta-feira numa palestra sobre a luta pela essência da fé, promovida pelo Fórum Luso-Asiático. Stephan Rothlin acredita que a intolerância em relação às diferentes religiões tem aumentado, defendendo um maior diálogo para acabar com os conflitos. Na área educativa, Stephan Rothlin chama a atenção para a necessidade dos jovens de Macau estudarem mandarim e tentarem ir além das pequenas fronteiras do território [dropcap]E[/dropcap]sta sexta-feira vai falar da profundidade da fé e da luta pela sua essência, com base no filme “Silence”, de Martin Scorcese. Que ideias vai abordar? Há muitos anos que recorro a filmes para fazer uma espécie de referência a alguns problemas. Pretendo mostrar uma série de questões que estão relacionadas com a fé, com a missão. O filme fala da missão jesuíta [no Japão] que começou em Macau e fala de uma série de problemas que acontecem quando a religião é imposta num outro país. Não devemos impor uma religião estrangeira sem dar o nosso melhor para compreender a cultura local. É importante ter a consciência da cultura de cada um. Claro que essa consciência tem de ser formada pela virtude de Deus ou através do ensino da Igreja, mas sempre tendo em conta de que a cultura de cada um é algo sagrado. Sempre considerámos ser crucial, se queremos fazer essa incursão numa cultura, compreender o idioma local. Falando da China e do facto de ainda não possuir relações com a Igreja Católica. Acredita que com o Papa Francisco essa situação irá mudar nos próximos anos? O Papa Francisco, que é jesuíta, é muito influenciado por esta espécie de paixão pela China, que foi iniciada por Mateus Ricci. Certamente conhece todos os passos a tomar para se chegar a um acordo com a China. Refiro-me também a toda uma dinâmica diferente onde, na Europa, à excepção da Polónia e de Portugal, a Igreja está num profundo declínio, e há outras dinâmicas em países asiáticos como a China ou o Vietname, onde diferentes igrejas católicas atraem as pessoas. É através dessa dinâmica que o Papa vai tentar de tudo para chegar a uma espécie de acordo com o Governo chinês. Actualmente as religiões estão em conflito em vários lugares do mundo, sobretudo na Europa. Estamos de facto a vivenciar uma guerra ideológica, na qual as pessoas deixaram de compreender a religião do outro e o seu papel? Nos últimos anos tem havido um aumento da intolerância. Sobretudo devido ao terrorismo, a imagem do Islão tem sido extremamente negativa, então tem aumentado o mútuo desrespeito. Claro que na Europa temos o tópico dominante dos refugiados. Nesse contexto, é ainda mais importante argumentar em prol do diálogo entre religiões, e essa é também a missão do Instituto Mateus Ricci. Temos esta entidade e uma história de ligação entre a China e a Europa, temos bolsas de estudo e queremos lançar um jornal que estabelece uma comparação em termos de espiritualidade, inovação social e liderança moral. Tudo para que, através desse diálogo entre religiões, se possa encontrar uma forma de ultrapassar esse tipo de mentalidade. O Instituto Mateus Ricci vai mudar-se para as instalações da Universidade de São José. Quando é que esse processo de mudança vai ficar concluído? O nosso calendário baseia-se com o protocolo que assinámos com a universidade, segundo o qual mantemos uma cooperação, mas temos uma independência em termos legais. O nosso plano é concluir a mudança em Junho deste ano. Com este processo, o instituto vai ter um novo papel, mais predominante, na sociedade de Macau? Há planos para a organização de mais eventos? O meu antecessor deixou uma base bastante sólida, mas nunca podemos ficar no mesmo sítio. Queremos chegar a mais pessoas de Macau, Hong Kong e China, então o meu plano é continuar a cooperar com o Centro de Ensino à Distância da China, da Universidade de Economia e Comércio de Pequim, com o qual colaboro há muitos anos. O plano é instalar um centro para o ensino à distância, com cursos online, em Macau, já este ano. E esses cursos vão focar-se em que áreas? Temos esta missão de ensinar o português e o inglês com ligação aos negócios. Essa é também a missão que o Governo quer atingir. Claro que em primeiro lugar está o inglês, e temos esta ligação com os países de língua portuguesa, e aí promovemos o português. Com a base já criada teremos cursos na área do empreendedorismo. Macau é uma porta importante para a China e um lugar incrível em termos de multiculturalidade, e há que promover esse empreendedorismo, uma vez que para as gerações mais jovens é cada vez mais difícil encontrar emprego. Teremos cursos online que ensinam a criar um negócio ou relacionados com a ética no trabalho. É uma revolução ao nível educacional ter a oportunidade de chegar a pessoas que não conseguem pagar para ter mais educação. Quando diz que é mais difícil para os jovens encontrarem um emprego, refere-se a Macau ou ao resto do mundo? Vivi cerca de 19 anos em Pequim e, hoje em dia, independentemente se o curso foi ou não feito numa universidade de prestígio, é uma dura batalha conseguir um trabalho. Em 1999 havia um milhão de graduados, hoje teremos cerca de nove milhões. Vejo essa realidade em Macau ou em Hong Kong também. No caso de Macau, essa dificuldade será maior, uma vez que o sector do jogo tem vindo a decrescer? É sempre difícil prever, mas penso que sim. Se alguém tiver formação em Macau deveria ter sempre uma perspectiva internacional, e não apenas planear ficar para sempre no território. Sabemos que isso pode representar o paraíso (risos), mas também podem ficar perdidos no paraíso. Os casinos não garantem um desenvolvimento sustentável, pelo que temos visto nos últimos meses. Em primeiro lugar, é necessário ir para a China aprender mandarim, mas também ter uma perspectiva face a Hong Kong, a Portugal e à Europa, para existir uma maior pressão para que [o território] tenha um papel internacional. Nesse sentido, o ensino superior necessita de amadurecer? Ensinei na Faculdade de Comércio e Economia da Universidade de Hong Kong e [o ensino superior do território] tem, de facto, uma série de vantagens. Macau tem um enorme desafio de levar a cabo uma melhoria de todas as universidades. A USJ, por exemplo, tem uma ligação à Europa e tem um enorme potencial. Penso que têm de ser feitos enormes esforços, ao nível da cooperação com este mundo altamente tecnológico. Deve ainda ser estimulado o pensamento crítico e criativo. A mentalidade de trabalhar na mesma empresa para sempre já não existe, já não funciona. As escolas católicas têm um impacto enorme a esse nível, maior do que na Europa. A começar com a escola primária, e há uma grande procura, deve haver essa aposta na educação e na inspiração dos alunos a esse nível. Acredita que os jovens de Macau perderam o interesse em estudar ciências sociais? Que razões pode apontar para isso? Por um lado, penso que as pessoas de facto não estão interessadas nessas áreas mas, por outro, também noto um grande interesse. Temos estudantes chineses e americanos, e se na Europa quase temos de pagar para que os alunos prestem atenção ao que dizemos, aqui podemos encontrar alunos muito mais motivados, e que reúnem dinheiro para estudar. Pode haver mais motivação até. Penso que os institutos de investigação têm de explicar melhor aquilo que têm para oferecer. Há os jovens que olham constantemente para o telemóvel e temos de saber como responder a este fenómeno. Temos de ser mais sofisticados para atrair a atenção desta geração. Na minha opinião, estes cursos online que queremos promover podem ajudar, mas é sempre necessário uma interacção. Macau tem este lado multicultural que pode ajudar a criar espírito critico e criativo. É preciso preparar as pessoas para entrarem no mercado de trabalho e há muitas queixas das empresas, que consideram que os jovens não estão preparados para lidar com desafios diários e para desafiar o seu espírito crítico. Um jesuíta com a sua missão Antes de dirigir o Instituto Mateus Ricci, Stephan Rothlin esteve na China, onde, entre 1998 e 2002, dirigiu o Centro de Estudos Chineses em Pequim e foi professor convidado da Universidade de Renmin. Nascido na Suíça, Stephan Rothlin teve ainda uma experiência em Taipé, Taiwan, onde foi investigador na Universidade Católica Fu Jen. Voltaria à capital chinesa em 2005, onde foi presidente da consultora Rothlin International Management até 2013. Com este projecto, o também padre jesuíta desenvolveu trabalhos de consultadoria para empresas ao nível da responsabilidade social e corporativa, tanto no Continente, como em Hong Kong. No seu país natal, Stephan Rothlin estudou Economia na Universidade de Zurique e foi professor do Instituto de Gestão e Economia de Zurique.
Andreia Sofia Silva Ócios & Negócios PessoasFood Truck, espaço de pronto-a-comer | “Quis ir buscar receitas antigas” Pedro Esteves orgulha-se de ter aberto a primeira roulotte de Macau que vende a típica bifana portuguesa. É certo que o veículo foi instalado dentro de uma loja comum, mas o engenho não roubou o lado tradicional dos petiscos portugueses [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]omer uma bifana ou um cachorro quente enquanto se bebe uma cerveja é comum em Portugal, sobretudo em feiras, festivais ou concertos. Em Macau, não há roulottes, nem a legislação permite a existência desse tipo de negócios nas ruas. Ainda assim, Pedro Esteves, há muito ligado ao sector da restauração, não desistiu da ideia. Assim que encontrou uma loja para arrendar, descobriu-a na Rua dos Ervanários, soube que tinha o local certo para fundar a Food Truck Company. “Há muito tempo que queria ter uma roulotte na rua, mas isso não existe aqui. Então tive a oportunidade de abrir essa roulotte dentro de uma loja, tive de arrendar a loja para poder desenvolver o conceito. Temos bifanas, couratos, entremeadas, só produtos portugueses. Gostava que a lei mudasse e que fossem permitidos vendedores ambulantes, para podermos fazer isto na rua”, contou ao HM. Com a casa aberta apenas há algumas semanas, Pedro Esteves já nota o sucesso da sua ideia. “O negócio está a correr bem, tanto em termos de locais, como de turistas.” Apesar disso, muitos estranham que a Food Truck Company seja algo totalmente diferente de um café ou restaurante. “As pessoas de Hong Kong conhecem, mas as pessoas de Macau não percebem bem o que é isto, se é uma carrinha a sério. É verdadeira, mas não tem motor. Esta é a primeira roulotte em Macau, está é dentro de uma loja.” Os petiscos são muitos e variados. “Não há cá a nossa bifana, e a minha bifana é a mais parecida possível à bifana portuguesa. Uma simples costeleta de porco como as que fazem aqui não tem nada que ver. Vou fazer também hambúrgueres vegetarianos”, conta Pedro Esteves que, para já, é o único a gerir o negócio, a atender clientes e a trabalhar atrás do balcão. “Estou com problemas de mão-de-obra e quero ter locais. Não tenho mais ninguém para me ajudar e não é fácil fazer tudo. Tenho de tratar das compras, confecção da comida, atendimento ao público. É por isso que estou a fazer uma pré-abertura”, disse. Mas nem só de comida se faz este espaço. Isto porque o local onde funciona a Food Truck Company tem ainda expostos trabalhos do fotógrafo António Mil-Homens. Os petiscos de sempre Na carrinha improvisada há petiscos para todos os gostos, sem esquecer as cervejas, o café português e o chá chinês. “Quem entra aqui é como se estivesse a entrar dentro da cozinha”, assume Pedro Esteves. “A nossa gastronomia tem muita coisa por explorar. Nunca vi ninguém a fazer couratos em Macau. Quis ir buscar receitas antigas. Queria fazer uma casa de petiscos também, e aí ia buscar petiscos como morcela com ananás, peixinhos da horta, coisas que temos na nossa gastronomia que não existem em Macau. Porque pratos como arroz de pato ou amêijoas toda a gente tem”, defende. Esta não é a primeira vez que Pedro Esteves se aventura no mundo dos tachos e panelas. Há vários anos em Macau, o português já foi gerente de um restaurante português e chegou mesmo a viver na China, em Cantão. “No ano passado tive um projecto em São Lázaro, para fazer uma espécie de Bairro Alto, queria fazer um festival de caracóis também, mas a ideia acabou por não ir para a frente. Acabei por abrir apenas um supermercado, mas em São Lázaro, na altura, as coisas ainda estavam mortas e decidi fechar, pois iria perder dinheiro. Fiquei desempregado quase um ano e encontrei este negócio. Estou a começar do zero”, diz. Na Food Truck não há mesas nem cadeiras, os clientes encostam-se ao balcão enquanto o cozinheiro pega na frigideira e prepara os petiscos que se comem à mão, com a ajuda do guardanapo. Em Macau ainda restam alguns vendilhões de comida, mas as regras mandam que, quem compra, pegue no ta-pao e vá conversar para outras paragens. Na Food Truck, tal como mandam os costumes portugueses, fica-se à conversa entre uma ou outra cerveja. > Food Truck Company, Rua dos Ervanários, N.º31 (ou Rua Nossa Senhora do Amparo, N.º 26)
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeApoio judiciário | Mais de uma pessoa por dia recorre ao sistema Um total de 465 pessoas recorreu ao apoio judiciário no ano passado. É o número mais alto desde que a nova lei entrou em vigor, em 2013. Para Miguel de Senna Fernandes, é sinal de que a população recorre e confia nos tribunais [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]m três anos de implementação do novo regime geral de apoio judiciário, os dados relativos aos pedidos apresentados mantiveram-se relativamente estáveis, sendo que, na prática, mais do que uma pessoa por dia requereu ajuda junto da Comissão de Apoio Judiciário (CAJ). Em 2016, o CAJ recebeu um total de 465 pedidos, o número mais elevado de sempre. No primeiro ano da entrada em vigor do diploma, foram recebidos 437 pedidos, seguindo-se 443 em 2014 e 414 no ano de 2015. Em declarações ao HM, o advogado Miguel de Senna Fernandes considera que os valores mostram, sobretudo, a confiança que a população começou a revelar em relação ao sistema judicial. “Os números apontam para um certo sentido, que é o facto da confiança no tribunal para a resolução de conflitos ter aumentado. Isso é coisa que não se via há uns dez anos, ou mesmo 15. Para que o tribunal possa agir e para que os cidadãos desistam da chamada justiça privada, é um bom sinal”, afirma. “Sem dúvida estes números dizem-nos que os cidadãos têm noção de que existem os tribunais para resolverem problemas e conflitos entre as partes”, vincou. Miguel de Senna Fernandes entende, no entanto, ser importante saber mais informações sobre estes números. “Temos o número de pedidos de apoio judiciário, mas é importante saber que apoio é este, em que áreas é mais solicitado. Será mais na área penal, como normalmente o apoio judiciário é solicitado? Se em direito penal é normal haver apoio judiciário, porque as razões para esse acesso são diferentes, temos de ver se houve este aumento ou não, se tem uma expressão nas acções cíveis”, frisou. O facto de o CAJ ter recebido mais 51 pedidos entre o ano passado e 2015 não é, no entanto, um reflexo do aumento de processos na área laboral. João Nogueira Marques, também advogado, explicou que ao nível dos conflitos laborais esta questão não se coloca, porque cabe ao Ministério Público representar o trabalhador no processo. João Nogueira Marques diz ainda “não ter conhecimento de muitas queixas relativas ao funcionamento do sistema de apoio judiciário”. Na apresentação das Linhas de Acção Governativa para este ano, a secretária para a Administração e Justiça avançou com a possibilidade de introduzir alterações ao diploma referente ao apoio judiciário. Sónia Chan referiu serem necessárias mudanças, uma vez que os funcionários públicos não estão abrangidos por este esquema. “Vamos rever a lei e ver se já não se adapta à realidade, sobretudo quando [estes trabalhadores] são lesados na execução da lei”, disse.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaPequim | Chui Sai On traz recados para dirigentes do Governo De dedo bem esticado: terminadas as reuniões da Assembleia Popular Nacional e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, o Chefe do Executivo trouxe um recado sério dirigido às chefias locais: “descentralização do poder” e “combate à corrupção” [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]uma altura em que o antigo procurador da RAEM, Ho Chio Meng, responde em tribunal pela acusação da prática de mais de 1500 crimes, Chui Sai On, Chefe do Executivo, chega de Pequim com mensagens claras para todos os que trabalham na Função Pública, sobretudo para quem tem responsabilidades de chefia. Segundo um comunicado oficial, o Chefe do Executivo fez na passada sexta-feira um balanço das reuniões da Assembleia Popular Nacional (APN) e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês (CCPPC). Citado pelo documento, Chui Sai On terá alertado para a necessidade de “acelerar a reforma legislativa e da administração pública”, bem como “melhorar a governação pública”. Foi ainda referido que “os dirigentes de todos os serviços da administração pública devem ser os primeiros a aprender e aprofundar o espírito das duas reuniões”. Chui Sai On considerou ainda que “os dirigentes de todos os serviços da administração pública devem concretizar, sem falhar no alvo, os objectivos do Governo Central e cumprir escrupulosamente a Constituição e a Lei Básica de Macau no exercício das suas funções”. Os funcionários devem ainda “defender, com firmeza e soberania, a segurança e os interesses de desenvolvimento do país e aproveitar, de maneira eficiente, o regime de ‘Um País, Dois Sistemas’, as vantagens e características singulares de Macau”. Para Macau, considera o Chefe do Executivo, é fundamental “seguir escrupulosamente a Constituição e a Lei Básica, acelerar a reforma da administração pública, a descentralização do poder, o combate à corrupção e promover a integridade”. Zona A e trânsito Chui Sai On falou ainda de quatro áreas importantes, às quais a sociedade local deve prestar atenção. Como líder de Governo, Chui Sai On disse ser necessário “dar prioridade às questões relacionadas com o bem-estar da população e a diversificação adequada da economia”, sem esquecer a implementação do Plano de Desenvolvimento Quinquenal de Macau. Devem concretizar-se, assim, “as medidas benéficas e a resolução dos problemas que afligem a população”. Além disso, deve “continuar a dar-se prioridade aos trabalhos que interessam à população, nomeadamente habitação e trânsito, entre outros”. Sobre o projecto dos novos aterros, Chui Sai On entendeu ser fundamental “acelerar as obras de aterro da zona A, contribuindo para a criação de um lar e conforto para os residentes”, sem esquecer as restantes obras de infra-estruturas transfronteiriças, designadamente a ponte Hong Kong, Zhuhai Macau e os novos acessos entre Guangdong e Macau”. O Chefe do Executivo falou ainda da necessidade de promover o lado empreendedor dos mais jovens, sempre com o foco na garantia da ideia de “amor à Pátria”. O ano das eleições Edmund Ho, primeiro Chefe do Executivo da era RAEM e vice-presidente da CCPPC, também esteve presente na reunião, tendo feito referência “à nova concepção de governação, quer ao nível de ideologia, quer ao nível de mentalidades e estratégias”, contida no discurso do presidente chinês, Xi Jinping. Lembrando que 2017 é o ano de eleições legislativas, Edmund Ho referiu que “será importante criar e garantir um bom ambiente político e consequentemente impulsionar o desenvolvimento de todos os vectores da sociedade de Macau”. Wang Zhimin, director do Gabinete de Ligação do Governo Central na Região Administrativa Especial de Macau, revelou ainda “três desejos” para o território: que a sociedade local tenha “confiança no desenvolvimento do País e de Macau”, que possam “aproveitar as vantagens do segundo sistema”, em prol do “desenvolvimento sustentável da economia diversificada”. Para além disso, “todos os sectores da sociedade devem continuar a promover o amor à Pátria”. Passagem de saber preocupa Ng Fok O Chefe do Executivo reuniu “recentemente” com Ng Fok, conhecido empresário local, presidente da Associação de Amizade e Coordenação dos ex-Deputados da APN e ex-Membros da CCPPC. Segundo um comunicado, foram trocadas “ideias sobre o desenvolvimento da sociedade, da economia e assuntos dos jovens de Macau”. Os dirigentes associativos apresentaram o programa de actividades deste ano, tendo referido que é “importante a associação envolver os jovens”, de forma a “garantir a passagem de saber de geração em geração”.
Andreia Sofia Silva SociedadeDeputada critica abordagem da educação sexual [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] deputada Wong Kit Cheng interpelou o Governo sobre a adesão das escolas ao “Plano de apoio à educação sexual nas escolas”, alertando sobre a necessidade de mais instituições de ensino terem o dever de aderir a esta medida promovida pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ). “Desde a implementação do referido plano, as escolas participantes representam apenas 70 por cento de todos os estabelecimentos de ensino de Macau”, lembra Wong Kit Cheng. Nesse sentido, a deputada, eleita pela União Geral das Associações de Moradores de Macau (UGAMM, ou Kaifong), deseja saber “como é que as autoridades vão garantir a participação de todas as escolas no referido plano, de modo a maximizar os seus efeitos?”, questionou. A deputada quer ainda saber como é que o Executivo “vai avaliar os resultados obtidos nos trabalhos ao nível da educação sexual”. Quanto à aplicação prática do referido plano, Wong Kit Cheng frisou que “as autoridades realizaram um inquérito para recolher opiniões dos respectivos docentes, verificando-se que o referido plano obtém o reconhecimento da maioria dos inquiridos”. Para além disso, “uma pequena parte deles continua a preocupar-se com a falta de técnicas de ensino de educação sexual, o que significa que o plano em causa pode melhorar as técnicas do ensino dos professores”, escreveu a deputada. Wong Kit Cheng fala ainda da existência de uma atitude conservadora na implementação deste plano. “De acordo com um estudo levado a cabo em 2013, os pais e as escolas de Macau têm uma atitude relativamente conservadora junto dos jovens quanto à educação sexual, sendo mais conservadora a atitude dos pais, e alguns jovens não falam com os professores ou os pais sobre questões sexuais.” “O que é que as autoridades já realizaram nos últimos anos para encorajar os pais a participarem nos trabalhos de educação sexual? Futuramente como vão aumentar o seu entusiasmo?”, questionou ainda Wong Kit Cheng.
Andreia Sofia Silva EventosRota das Letras | Gei Fei poderá estar presente em 2018 Terminada mais uma edição do festival literário Rota das Letras, Hélder Beja, director de programação do evento, fala da diversidade de autores que passaram por Macau e levanta a ponta do véu para a próxima edição: Gei Fei, autor chinês contemporâneo, que começou a publicar na década de 80 [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]hegou ontem ao fim a edição deste ano do festival literário Rota das Letras, que durante duas semanas trouxe ao edifício do antigo tribunal uma panóplia de autores de vinte nacionalidades diferentes, sem esquecer os concertos e os espectáculos. Para Hélder Beja, director do programação do festival, essa diversidade cultural foi um dos pontos altos. “O ano passado tivemos várias nacionalidades mas este ano tivemos mais: cerca de vinte, uma coisa nova para Macau e para este festival. A maior parte das sessões tiveram bastante público. Esse para mim é o grande resumo: a diversidade resultou e o festival tem de continuar a ser essa ponte entre a China e os países de língua portuguesa, mas deve ser mais do que isso e, a partir de agora, vai ser ainda mais isso”, contou ao HM. A pensar nisso, Hélder Beja falou de um importante nome da literatura contemporânea chinesa que já foi convidado e que poderá mesmo marcar presença em 2018: Gei Fei. “Ainda não veio, há-de vir, está convidado. Queremos trazê-lo para o ano, mas tudo depende muito das agendas dos autores”, apontou Hélder Beja. “Os pontos altos desta edição foram os que esperávamos: a passagem por Macau de pessoas como o Pedro Mexia ou Yu Hua. Houve pontos altos surpreendentes, como a Jéssica Faleiro, uma autora que nos surpreendeu a nós e que recebeu a atenção do público, e Bruno Vieira do Amaral, por ser um autor com muita qualidade e por ter o dom da palavra, sem ser deselegante, o que é raro de encontrar”, acrescentou Hélder Beja. Ao nível dos espectáculos e performances, o subdirector do Rota das Letras destaca a presença de Sérgio Godinho, “como autor e como músico”, e ainda da “performance lindíssima da Vera Paz, uma das mais lindas em seis anos de festival”. Palavras do mundo Num lugar onde vários idiomas se misturam, o director de programação do Rota das Letras considera que a ligação entre a literatura chinesa e os autores internacionais acaba por ser mais imediata, por comparação com o distanciamento físico da literatura portuguesa. “Esse encontro [da língua chinesa] é até mais fácil do que o encontro com a literatura em língua portuguesa. Isto porque os autores que trazemos aqui já estão traduzidos para inglês, mas não estão em português. Na literatura em português há um maior desconhecimento, o que é normal, porque os autores vivem noutro hemisfério, que passa mais pela língua portuguesa”, adiantou. Cheng Yongxin, director da revista literária Harvest, editor e escritor, disse ao HM ter ficado surpreendido com a diversidade cultural que este festival conseguiu trazer. “Fiquei muito surpreendido quando recebi o convite e quando vi este festival, achava que Macau era um lugar só com casinos, mas este festival teve uma grande escala, com tantos escritores. A literatura tem uma grande influência em pessoas tão diferentes e de todo o mundo, então penso que este evento é muito importante.” Quanto aos autores de Macau, Hélder Beja referiu que é objectivo da direcção do festival continuar a convidar cerca de seis nomes por edição. “Há que ser muito estruturado em algumas coisas. Há três anos decidimos ter seis autores de Macau em cada edição, não achamos ser possível haver mais autores de Macau do que esse número, muitas vezes porque não há. Temos de fazer um trabalho de ir à procura de autores que não têm nada publicado numa outra língua que não seja o chinês. Queremos continuar a trazer autores de língua portuguesa de Macau, de língua chinesa e também autores internacionais que façam de Macau a sua casa.” “Um livro excelente” Em relação ao concurso de contos, os vencedores foram João Carvalho da Silva, que, apesar de ser português, venceu na categoria de conto em inglês. A brasileira Adi Berenice e Silva venceu na categoria do conto escrito em português, enquanto que Chi Pang Loi foi o vencedor de língua chinesa. O livro com os contos vencedores e com contos escritos por alguns autores da edição 2016 do festival foi ontem lançado. “O concurso correu bem, não tivemos mais submissões do que o ano anterior. Estendemos o prazo e isso ajudou. Este quinto livro é excelente, tivemos muitas contribuições dos autores de 2016”, rematou Hélder Beja.
Andreia Sofia Silva SociedadeSalas de fumo | SJM diz que um ano será suficiente para as operadoras Ambrose So, administrador da Sociedade de Jogos de Macau, acredita que as seis operadoras de jogo vão conseguir cumprir os novos padrões para a instalação de salas de fumo, e que um ano será tempo suficiente para isso. A empresa vai precisar de dez mil trabalhadores até 2018 [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s operadoras de jogo parecem estar preparadas para cumprir os novos padrões a definir pelo Governo para a instalação das salas de fumo nos casinos. A ideia foi deixada ontem por Ambrose So, administrador da Sociedade de Jogos de Macau (SJM). Segundo o canal chinês da Rádio Macau, Ambrose So sublinhou que as novas regras para a manutenção das salas de fumo nos casinos vão implicar uma grande mudança em termos de equipamentos. Ainda assim, o responsável acredita que a SJM e as restantes operadoras vão conseguir concluir os trabalhos de instalação das novas salas no prazo de um ano. Na última reunião da comissão permanente da Assembleia Legislativa encarregue de analisar a revisão da lei do tabaco na especialidade, ficou claro que as alterações à lei serão votadas já em Abril, mas os novos padrões para as salas fumos só serão conhecidos em 2018. “A entrada em vigor dos requisitos vai ser a 1 de Janeiro de 2018 e as salas de fumo têm de reunir os requisitos definidos por regulamento administrativo no prazo de um ano”, afirmou o deputado Chan Chak Mo. Chan Chak Mo disse ainda que “a instalação dos requisitos tem de ser concluída antes de 1 de Janeiro de 2019, visto o prazo para proceder às obras ser de um ano após a publicação do regulamento administrativo”. Ambrose So apontou ainda que não sabe qual o orçamento que será necessário para as mudanças de infra-estruturas. Será necessário esperar pelos requisitos para fazer as contas aos gastos. Dez mil vagas necessárias Ambrose So falou aos meios de comunicação social à margem da inauguração do Centro de Recrutamento da SJM, que ficará localizado no edifício China Civil Plaza. Segundo um comunicado emitido pela empresa, a ideia de criação do centro visa garantir as “acções de recrutamento em larga escala” por parte da empresa. Tendo em conta a abertura do hotel Jai Alai e a inauguração do empreendimento Grand Lisboa Palace, no Cotai, a concessionária estima que irá necessitar de mais dez mil trabalhadores em várias áreas. A SJM volta a apontar a primeira metade do próximo ano como prazo para a abertura do Grand Lisboa Palace. Citada no comunicado, Angela Leong, presidente executiva da SJM, afirma que a abertura do centro está também relacionada com a necessidade de recrutar locais para as vagas da empresa. “Os cidadãos de Macau podem agora visitar o website e colocar os seus currículos online”, disse a empresária, sem esquecer a aposta nas redes sociais. No evento de inauguração esteve presente Shuen Ka Hung, ex-director dos Serviços para os Assuntos Laborais e actual presidente do Centro de Produtividade e Tecnologia de Macau.
Andreia Sofia Silva SociedadeQuestionados resultados da equipa de psicologia comunitária [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] deputada Kwan Tsui Hang pretende saber quais os resultados de um ano de funcionamento da equipa de prestação de serviços psicológicos comunitários, criada pelos Serviços de Saúde de Macau (SSM) em Julho do ano passado. Para a deputada, continuam a existir muitas famílias com elementos a necessitar de apoio psicológico ou psiquiátrico, mas que desconhecem a existência do serviço. “Alguns dos familiares dos pacientes afirmam que não têm forma de ficar a par do teor dos respectivos serviços, nem canais para pedirem o respectivo apoio. Eu também cheguei a consultar o website dos SSM, mas não encontrei informações relacionadas”, escreveu a deputada numa interpelação escrita entregue ao Governo. Kwan Tsui Hang pretende saber ainda se os SSM vão promover mais este serviço. “Quais os meios de que dispõem os SSM para promoverem os serviços desta equipa? Vão ou não aumentar os meios para a sua divulgação e reforçar os trabalhos de promoção, de modo a facilitar que os doentes e familiares com necessidades tomem conhecimento dos serviços prestados pela referida equipa e peçam o seu apoio?” A deputada oriunda da Federação das Associações dos Operários de Macau alerta ainda para o facto de existir o projecto de lançamento de uma segunda equipa, sendo que ainda não foram avançados mais detalhes. “Qual o ponto de situação do trabalho da equipa desde a sua entrada em funcionamento, em Julho do ano passado? E quais os resultados? Numa reunião do Conselho Consultivo dos Serviços Comunitários da Zona Norte, em Novembro do ano passado, o Governo revelou que ia preparar a criação de uma segunda equipa. Qual o ponto de situação?”, questiona. Kwan Tsui Hang recorda ainda as recomendações da Organização Mundial de Saúde, que afirma que “os doentes mentais devem ser integrados nos bairros comunitários e conviver com as suas famílias, ao mesmo tempo que recebem o devido tratamento, até conseguirem recuperar por completo a sua saúde”. “O Governo criou ou não mecanismos que permitam às famílias aprender os conhecimentos necessários para viverem com os doentes recuperados, assim como receber apoio adequado em caso de necessidade?”, inquiriu ainda a deputada.
Andreia Sofia Silva EventosSound and Image Challenge recebe filmes até 20 de Agosto [dropcap style≠’circle’]V[/dropcap]em aí mais uma edição do festival Sound and Image Challenge International, organizado pelo Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM) e pela Creative Macau. Os jovens realizadores terão a oportunidade de submeter os seus filmes até ao dia 20 de Agosto, sendo que a sétima edição do evento conta com algumas novidades. Será feita uma pré-selecção de 50 películas que depois irão a concurso. Apesar de se manterem as categorias de Ficção, Documentário e Animação, nas competições “Shorts” e “Volume”, cai a categoria de Publicidade. “Em 2015, começámos a definir as categorias cinematográficas, mas achamos que a publicidade não fazia muito sentido, por ser algo mais televisivo. Vai ganhar mais a ficção, o documentário e a animação”, explicou Lúcia Lemos, responsável pela Creative Macau e directora do Sound and Challenge International Festival. Outra novidade prende-se com a criação da competição “Festival Poster”, em que o projecto vencedor será a imagem oficial da oitava edição do evento. Para Lúcia Lemos, o prémio poderia ser melhor, mas é apenas um começo para que os designers gráficos de Macau possam mostrar os seus trabalhos. Entre os dias 20 de Maio e 20 de Julho, os interessados poderão submeter as suas propostas, sendo que os finalistas terão direito a uma exposição na Creative Macau, que estará aberta o público entre os dias 23 de Novembro e 30 de Dezembro. Chamar a experiência Em sete anos, a direcção do festival recebeu cerca de cinco mil filmes a concurso, de países tão diversos como Espanha, Estados Unidos, França ou Brasil, entre outros. Só o ano passado, o Sound and Challenge International Festival recebeu 1650 produções, que resultaram em 41 filmes nomeados. Este ano há outra novidade que, diz Lúcia Lemos, pode representar uma maior chamada de atenção em relação ao evento: o convite de antigos vencedores para fazerem parte do júri. “Creio que o grande júri pode atrair mais submissões. Vamos convidar os vencedores internacionais das outras edições para a competição de ‘Short Films’, e isso vai contribuir para melhorar. São pessoas da área e têm a experiência pessoal como vencedores, do nosso e de outros festivais. Vai qualificar mais ainda e dar mais autoridade [ao festival]”, sublinhou Lúcia Lemos. Além da visualização de filmes, o Sound and Image Challenge International Festival vai integrar masterclasses e palestras sobre os filmes visionados, marcadas já para o período entre 5 e 8 de Dezembro. Logo a seguir, nos dias 9 e 10, serão transmitidos os filmes finalistas, incluindo filmes extra, cuja selecção ficou a cargo de alguns curadores convidados. A Cinemateca Paixão, que é inaugurada oficialmente este mês, poderá ser outro local para a transmissão dos filmes, mas há ainda detalhes por confirmar. Os prémios variam entre as quatro e as 20 mil patacas.
Andreia Sofia Silva Perfil PessoasYu Jiang, estudante, tradutor e intérprete | O exercício da descoberta [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá a dar os primeiros passos, ainda muito tímidos, no mundo da tradução, mas a paixão pela língua inglesa começou desde muito cedo. Natural de Yunnan, na China, Yu Jiang veio para Macau estudar uma segunda língua e, ao contrário de muitos jovens do seu país, a língua portuguesa não foi a sua escolha. “Para mim, o português é mais difícil e percebi que não iria conseguir pronunciar certos sons. Mas agora comecei a estudar espanhol como terceira língua, porque me parecia um pouco mais fácil, e desde então tenho vindo a encontrar várias semelhanças com o português. Talvez aprenda português no futuro”, contou ao HM. Ainda em Yunnan, Yu Jiang começou a interessar-se pela língua estrangeira que agora estuda na universidade. “Comecei a aprender inglês desde muito cedo, apesar de ainda não me considerar um falante bilingue de inglês e chinês”, afirmou. “Nessa altura, achava que era um língua muito bonita e que poderia ter um papel fundamental na construção de pontes entre culturas e comunidades. A comunicação, sobretudo se for entre diferentes grupos de pessoas, é um tema que me fascina e do qual gosto muito.” Já no ensino superior, Yu Jiang espera que o curso lhe possa dar acesso, sobretudo, a um mundo fora da China. “Decidi então tirar um major em inglês, na esperança de conseguir estabelecer ligações com pessoas de diferentes comunidades no futuro, usando a língua. A tradução e a interpretação são os métodos mais importantes para atingir esse objectivo.” Fora do mundo das palavras e dos caracteres, e da constante tentativa de ambos fazerem sentido, Yu Jiang assume “adorar ler romances”. E faz mesmo uma incursão por autores da nova geração literária da China, que contam histórias que originam reflexão sobre aquilo que o país foi um dia. “O romance de que mais gosto, e que faz parte das minhas leituras recentes, é ‘To Live’, de Yu Hua. Através deste romance pude conhecer uma história dura onde os personagens sofrem de várias dores causadas pelo contexto especial da China naquela altura. Inspirou-me sob diferentes perspectivas, através da história, vida e seres humanos”, contou. Outros mundos Em Macau, cedo Yu Jiang percebeu a complexidade cultural desta sociedade e como pessoas de vários locais interagem umas com as outras. Ainda assim, o jovem acredita que os colegas da sua idade deveriam tentar ver mais vezes o mundo lá fora, para lá dos livros e das salas de aula. “Em vez de os mais jovens estarem focados nos seus estudos na universidade, poderiam tentar ou ter a iniciativa de se exporem a mais coisas diferentes, como eventos culturais, questões sociais, projectos experimentais, por exemplo”, disse. “Poderiam também expor-se a pessoas diferentes e a diferentes comunidades, para saírem da sua zona de conforto. Isso permitir-lhes-ia ter novas experiências onde pudessem explorar os seus interesses e paixões, e também experiências de vida diferentes”, acrescentou o estudante. Yu Jiang defende que essa abertura pode ajudar a abrir portas, traçar caminhos. “Poderiam, com essas experiências, ter uma perspectiva mais clara do que vão fazer com o seu futuro e a sua carreira. Até porque a vida é um processo constante de exploração, em que vamos vivendo coisas que não esperamos e sem o valor esperado. Mas se não as vivêssemos nunca saberíamos o que são.” Por ser uma sociedade “culturalmente muito diversa”, com “chineses, que são a maioria, mas também portugueses, filipinos e indonésios”, deveria ser feito mais do ponto de vista institucional para promover todas essas diferenças. “Para lá da cultura chinesa local, virada para o cantonês, acredito que o Governo poderia promover mais a cultura no sentido de incluir mais as culturas das minorias, de modo a mostrar a imagem de Macau como um território onde não existe só uma indústria do turismo, que é próspera, mas também onde diferentes culturas coexistem.”
Andreia Sofia Silva PolíticaPereira Coutinho questiona prazos para recenseamento eleitoral [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado José Pereira Coutinho entregou uma interpelação escrita ao Governo onde questiona as razões para a antecipação das datas para o recenseamento eleitoral. Isto porque, antes de 2008, os residentes podiam recensear-se até ao dia 1 de Junho do ano de eleições. “Porque é que o Governo optou por terminar tão cedo o respectivo prazo?”, questiona. A lei do recenseamento eleitoral foi alvo de alterações nesse ano, tendo sido definido o prazo de 1 de Janeiro do ano de eleições para o recenseamento. “Vários cidadãos fizeram reflectir junto do meu gabinete o facto de que, tendo em conta que as eleições para a nova legislatura apenas terão lugar em Setembro, o prazo fixado para a conclusão do recenseamento eleitoral é demasiado imprudente. Em consequência disto, alguns cidadãos, que já tinham reunido os necessários requisitos, não realizaram a inscrição no recenseamento eleitoral. Isto significa que agora já não podem cumprir os seus deveres cívicos”, escreve o deputado. Pereira Coutinho faz mesmo uma comparação com os prazos vigentes em Hong Kong e Taiwan, que dão mais margem de manobra aos cidadãos para se inscreverem. “Em Hong Kong, o prazo de recenseamento para as eleições do Conselho Legislativo é até ao dia 2 de Julho do ano de eleições (em caso de coincidência com o ano de eleições para os conselhos legislativos distritais) ou até ao dia 2 de Maio do ano de eleições (em caso de não coincidência com o ano de eleição para os referidos conselhos distritais). Em Taiwan, o prazo de recenseamento para as eleições do ‘Legislative Yuan’ é até ao vigésimo dia anterior ao dia da eleição.” Dado que ambos os territórios têm maiores populações em relação à RAEM, José Pereira Coutinho diz não compreender a actual situação. “As eleições do órgão legislativo nas duas regiões referidas são mais complexas, pois o respectivo número da população eleitoral é muito maior do que em Macau. No entanto, o prazo para a inscrição no recenseamento eleitoral é muito mais longo do que em Macau.” Que planos? Perante estes dados, Pereira Coutinho pretende saber quais os planos do Governo para incluir os potenciais eleitores que não foram a tempo de concluir o processo de recenseamento. “Devido ao termo precoce do prazo de recenseamento eleitoral e a uma divulgação insuficiente por parte do Governo, alguns cidadãos perderam a inscrição. Será que o Governo dispõe de alguns planos viáveis para que seja dado a mais cidadãos o reconhecimento sobre a actualidade das eleições da Assembleia Legislativa e possa ser efectuada a respectiva inscrição de forma atempada?”, inquiriu.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaEleições | Comissão vai “monitorizar” mensagens de apelo ao voto Muitos residentes já começaram a receber SMS de apelo à participação nas eleições. A Comissão de Assuntos Eleitorais assegura que tais actos ainda não são ilegais, mas promete estar atenta à situação. Pereira Coutinho, que tem enviado mensagens escritas, argumenta com a importância de apelar à participação no acto eleitoral [dropcap style≠’circle’]“D[/dropcap]ia 17 de Setembro é o dia das eleições para a Assembleia Legislativa da RAEM. É favor, incluindo a família, estar em Macau para votar.” Este é um exemplo das mensagens de apelo ao voto que já começaram a ser enviadas aos residentes, sem que haja referências directas a candidatos, até porque as listas ainda não estão oficializadas. Apesar de não existirem queixas formais, os membros da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) afirmam terem tido conhecimento do envio de SMS e prometem estar atentos. “Ainda não notámos nenhuma irregularidade mas, para garantir a imparcialidade e a justiça nas eleições, não encorajamos as associações ou entidades a fazerem propaganda ou a chamar os outros a votar. Se a comissão verificar que alguém está a violar a lei eleitoral, iremos actuar”, disse apenas Tong Hio Fong, presidente da CAEAL. Nesta fase não é ilegal o acto de enviar mensagens a apelar à participação nas eleições, mas a CAEAL não incentiva tal gesto. “Não encorajamos, mas se não constituir uma irregularidade nós vamos monitorizar consoante o caso e decidiremos se vamos intervir. Se calhar, nesta fase a situação ainda não constitui uma irregularidade, mas as pessoas devem disciplinar-se. Se for uma contravenção podemos encaminhar para o Comissariado contra a Corrupção (CCAC) ou para o Corpo de Polícia de Segurança Pública”, acrescentou Tong Hio Fong. “Temos comunicação com o CCAC para os casos que não estão expressamente a violar a lei. Não excluímos a possibilidade de qualquer caso que tenha violado a lei ser encaminhado para as entidades competentes e aguardaremos depois uma decisão”, disse ainda o presidente da CAEAL. Contra a ignorância A mensagem acima citada foi enviada pela Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM). Confrontado com a posição da CAEAL, o presidente da associação e deputado José Pereira Coutinho desvaloriza os comentários feitos. “As nossas mensagens vão na sequência do apelo que se deve fazer à população para que seja mais participativa. O grande problema em Macau é que, na maior parte das vezes, as pessoas não sabem o que está a acontecer. É importante que reservem esse dia como um dia muito importante de participação política activa. Espero que o Governo faça mais nesse sentido”, defende. Pereira Coutinho afirmou ainda que muitos não estão sequer informados. “Esta data está a ser divulgada na comunicação oficial e no Boletim Oficial (BO). Mas muitas pessoas não lêem o BO, não lêem jornais. Muita gente agradeceu-me pelo alerta que fizemos”, acrescentou o deputado. Menos votos nulos A reunião de ontem da CAEAL serviu ainda para analisar a nova forma de elaboração dos boletins de voto por forma a apoiar os deficientes visuais, uma vez que, nas eleições legislativas de 2013, muitos votos foram considerados nulos. “Nestas eleições a nossa comissão irá criar boletins para facilitar [o voto] a essas pessoas com dificuldades visuais. Alguns votos foram considerados nulos porque os carimbos não foram colocados de forma correcta, então falámos sobre a melhor forma de os colocar”, explicou Tong Hio Fong, sem adiantar dados quanto ao número de votos nulos registados em 2013. A comissão quer ainda resolver problemas ao nível das notificações dos lugares onde os residentes podem ir votar. “Considerando as últimas eleições para a AL, um grande número de eleitores não conseguiu receber as notificações. Talvez tenham existido enganos ou não soubessem a qual assembleia de voto se deveriam deslocar. Houve inconveniências. Temos trabalhado para melhorar a situação. Se esses eleitores tiverem alterado a residência, devem mudar a morada”, concluiu o presidente da CAEAL. A cronologia das eleições, que define questões como o período de campanha eleitoral e apresentação de candidaturas, é publicada hoje. CAEAL não vai definir critérios para media Pairam no ar algumas dúvidas quanto ao tratamento noticioso que deve ser dado nas eleições deste ano, após declarações recentes do presidente da CAEAL. Tong Hio Fong garantiu ontem que não serão definidos critérios para os órgãos de comunicação social. Estes “devem saber o que é propaganda eleitoral e o que constitui uma irregularidade, devem saber o que podem relatar e o que não podem”. “Vocês é que determinam o que é permitido. Por mais exemplos que nos apresentem agora, a questionar o que constitui uma irregularidade, digo o mesmo: todos os actos que não respeitem esses artigos [da lei Eleitoral] constituem uma violação à lei.” Tong Hio Fong disse mesmo que “a comissão já referiu que não pode ensinar à comunicação social como fazer, cabe à entidade, à ética profissional e disciplina definirem o que podem e não podem relatar. É esse o vosso dever.”
Andreia Sofia Silva EventosEric Chau, vice-presidente do Macau Pen Club: “Nem todos querem promover romances na China” Há 30 anos, um grupo de escritores do território criava a Associação de Escritores de Macau, também conhecida como o Macau Pen Club. Eric Chau, vice-presidente, fala dos projectos para o futuro e de como deve ser promovida a leitura entre os mais jovens [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o início eram as ideias, a vontade de partilhar palavras escritas na solidão, pequenos contos, poemas, romances. Em 1987 nascia a Associação de Escritores de Macau, ou o Macau Pen Club, e desde então que o panorama literário de Macau em língua chinesa tem ganho outra dimensão. Convidado do festival Rota das Letras, Eric Chau, vice-presidente do Macau Pen Club, falou ao HM dos projectos para o futuro. Em Setembro ou Outubro deverão ser realizadas várias actividades para celebrar o 30.º aniversário do Macau Pen Club, incluindo a aposta numa maior promoção da revista do grupo, que se publica desde o início da associação. Actualmente o Macau Pen Club conta com 93 membros, e o interesse dos mais jovens não diminuiu. “Há cada vez mais pessoas interessadas em aderir ao Macau Pen Club, mas nem todos podem aderir. Precisam de já ter alguns trabalhos publicados e o ponto mais importante é que têm de ter qualidade. Há muitos membros que estão a aderir à associação, mas não tantos quanto os interessados”, contou Eric Chau ao HM. Ainda assim, o Macau Pen Club continua a não estar aberto à comunidade de escritores de língua portuguesa ou inglesa, embora, para Eric Chau, essa pudesse ser uma realidade. “Queremos atrair mais escritores portugueses ou ingleses, mas nem todos os nossos membros dominam estas línguas. O festival Rota das Letras deveria apostar mais nessa conexão de escritores, promover eventos em conjunto e levar a uma partilha de ideias. Espero que este festival possa desempenhar um papel mais importante a este nível.” Não obstante, a literatura portuguesa desde sempre teve influência nos escritores locais. “Tem inspirado muitos dos nossos escritores chineses. Muitos dos nossos membros ficaram muito interessados em ler os romances do escritor José Saramago, Prémio Nobel da Literatura. Mas o maior desafio na ligação entre escritores chineses e portugueses continua a ser a tradução. O foco do Macau Pen Club continua a ser os leitores chineses, e o nosso funcionamento é ainda muito baseado nos escritores chineses”, acrescentou o vice-presidente. Um plano de leitura? Sendo este um território onde os mais novos lêem muito pouco, mas onde as bibliotecas estão cheias de leitores de jornais, Eric Chau pede que se aposte em mais actividades por parte das bibliotecas públicas, que consigam atrair os mais novos para a leitura de romances ou contos. “Os docentes das escolas sempre comunicaram com o Macau Pen Club no sentido de promovermos mais a paixão pela leitura junto dos alunos, mas penso que essa deve ser uma responsabilidade dos professores. Não é sequer responsabilidade dos escritores, que apenas se devem focar em produzir literatura e escrever bons livros. Deveríamos fazer mais coisas para promover essa paixão pela leitura, e espero que essa situação melhore.” Para Eric Chau, também as livrarias “deveriam desenvolver um papel mais activo em termos de promoção da paixão pela leitura junto das crianças e adolescentes”. “As actividades desenvolvidas pelas bibliotecas públicas nem sempre são interessantes e muitas vezes são mais focadas para as pessoas que já gostam de ler. Deve ser feito o contrário”, acrescentou. Questionado sobre a possibilidade da adopção de um plano de leitura por parte do Governo, que incluiria livros recomendados às escolas [à semelhança do que acontece em Portugal], Eric Chau lembra a pequenez de Macau e do mercado. “Em termos da recomendação de livros, Macau é um território tão pequeno. Em Hong Kong, Taiwan e China já há muitas recomendações de livros, e o Governo de Macau ou as próprias entidades podem fazer referência a essas recomendações. Mas criar uma lista de livros obrigatórios não é o mais importante. O mais importante é que tipo de estratégias devem ou podem ser adoptadas pelas bibliotecas públicas para atrair os estudantes”, apontou. China, esse gigante diferente Outra das realidades do panorama literário local é que se publica muito, mas vende-se pouco. O acesso ao mercado chinês não é fácil, mas o vice-presidente do Macau Pen Club assegura que nem todos querem ir mais longe. “Nem todos os escritores de Macau estão interessados em promover os seus romances na China. Não têm esse grande objectivo de atingir os leitores da China, não têm essa ambição.” Além disso, “há diferenças, incluindo diferenças culturais, e se vendermos directamente os livros de Macau na China, penso que será difícil aos leitores do Continente entenderem o contexto das obras, o que está por detrás do romance. Há muita comunicação nas aplicações, nas redes sociais, mas publicar e vender um livro de Macau na China é difícil por causa da lei, que é mais restrita”, rematou Eric Chau.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteRita Wong e Albert Chu, gestores da Cinemateca Paixão: “Queremos trazer cinema de todo o mundo” A pequena sala de cadeiras coloridas começa finalmente a receber público de forma regular já a partir do dia 30 deste mês. Sob gestão da Associação Audiovisual CUT, a Cinemateca Paixão será também um espaço para aprender mais sobre a história do cinema de Macau, através de uma biblioteca com material reunido pelo Instituto Cultural. Rita Wong, presidente da associação, e Albert Chu, director artístico, falam da intenção de trazer uma pluralidade de experiências relacionadas com o grande ecrã, com workshops e residências para cineastas [dropcap]A[/dropcap] vossa associação ganhou o concurso público para a gestão da Cinemateca Paixão, por um período de três anos. Por que decidiram participar neste processo? Albert Chu (A.C.) – A associação já levou a cabo várias projecções de filmes e promoveu várias produções de Macau. Quando soubemos que o Instituto Cultural (IC) iria abrir o concurso público, acabou por ser uma decisão natural para nós, a de que deveríamos ser um dos concorrentes. Era uma hipótese que coincidia com o que vínhamos fazendo até então, e queríamos continuar a fazer esta promoção e a realizar exibições para as pessoas de Macau. Mas a nossa maior preocupação era se conseguiríamos levar a cabo actividades numa base diária e garantir a operacionalização do espaço, porque é algo muito diferente do que realizar algumas actividades por ano. A possibilidade tornou-se mais próxima da realidade e agora já se tornou uma coisa real. Rita Wong (R.W.) – Antes de aderir a este projecto já trabalhava nesta área, pois estive no Centro Cultural de Macau (CCM) durante dez anos, ligada a projectos de audiovisual. Então a oportunidade de aderir ao projecto foi natural, foi uma boa oportunidade para concentrar todos os esforços na promoção do cinema. A.C. – Já havia uma parceria com o CCM para fazer o Macau Indies. Já nos conhecíamos bem e era uma boa maneira de trabalharmos em conjunto. Além da exibição de filmes, que outras actividades pretendem desenvolver na Cinemateca? R.W. – Queremos estabelecer aqui um centro de exibição de filmes temáticos. O que temos planeado é, além da normal exibição, termos todos os meses temas especiais e eventos relacionados com os filmes, como workshops ou residências para cineastas, ou ainda palestras. Queremos que este seja não só um espaço de mostra de filmes, mas também de partilha e discussão depois da sua exibição. Em Abril vamos arrancar com um workshop sobre critica de cinema, que terá a duração de um ano. Em Maio vamos convidar alguns cineastas de Taiwan para participarem num workshop ligado ao marketing, para analisar o que o mercado necessita. Em Junho vamos ter uma residência de cineastas e vamos convidar realizadores de cinema da região – vamos ter também exibição de filmes e depois uma conversa com o público. É objectivo dessa residência levar filmes para as escolas e realizar workshops com realizadores de Macau, para que haja uma ligação. A.C. – Estamos mais activos em termos de estratégia. O dito cinema normal apenas depende do mercado, dos últimos lançamentos mas, na Cinemateca, queremos criar diferentes eventos e projectos, com várias temáticas. Temos um plano e queremos promover a cultura do filme. Que filmes poderão ser exibidos na Cinemateca? O público poderá ver cinema asiático, mas também europeu? R.W. – Queremos trazer cinema de todo o mundo. A nossa postura vai no sentido de trazer uma diversidade e também filmes que estejam fora do circuito comercial, como filmes independentes ou filmes de arte. Claro que todos os meses vamos ter filmes locais também. Em dois fins-de-semana, por exemplo, teremos películas para mostrar aos residentes e também aos turistas. Em Abril vamos começar a mostrar filmes de Macau realizados nos últimos 20 anos. Para contar a história de novo. R.W. – Sim. Em Maio teremos um maior foco nos realizadores de cinema e, em Junho, teremos uma selecção de filmes produzidos por cineastas mulheres. Na verdade vamos trabalhar com diferentes curadores, para termos esse programa diversificado. Disse-me que a Cinemateca também vai ter uma livraria e um espaço aberto ao público. Macau já teve uma importante indústria de cinema, que se foi perdendo. É importante contar a história, para que se possa recomeçar? A.C. – Em relação à livraria apenas garantimos a sua operacionalização. Cabe ao IC a cedência dos materiais. Não é algo que está sob o nosso controlo, mas penso que a ideia é reunir todos os livros e informações disponíveis em termos não só da produção de filmes em Macau, mas também de filmes que tenham uma ligação ao território. No entanto, apenas podemos fazer recomendações ao IC. Será um projecto a implementar lentamente no próximo meio ano, mas depois penso que será feito de forma mais rápida. Em relação à exibição de filmes, todos os anos teremos dois temas relacionados com Macau, duas pequenas actividades. É fundamental fazer esse trabalho de recolha? Era algo que fazia falta ao sector? A.C. – Esse sempre foi o objectivo e vamos tentar realizar isso. Estiveram envolvidos no Macau Indies por um longo período de tempo. Tracy Choi foi premiada na primeira edição do Festival Internacional de Cinema. Como descrevem a produção cinematográfica nos dias de hoje? Acreditam que Macau começa agora a desenvolver novos passos, com mais produções? A.C. – Há muitos realizadores que têm mais conhecimentos para fazer os seus filmes. Têm uma plataforma [com o apoio do CCM] para isso, para filmar e fazer grandes produções. Nos últimos anos vimos várias pequenas produções a nascer. Têm hoje mais oportunidades para participar em diferentes festivais de cinema e para terem acesso a mais lugares para filmar. Tudo isso fará com que Macau, em termos de produção cinematográfica, vá no bom sentido. Tudo depende de quão arduamente o realizador vai trabalhar. De como será trabalhada a sua criatividade. Se é bom o suficiente, se reflecte a realidade de Macau. R.W. – Cresci praticamente com todos eles que, no início, trabalhavam muito de forma individual, a aprender. A coisa mais extraordinária é que esse processo levou-os a crescer, mas a crescerem juntos, desde as primeiras edições do Macau Indies. Vejo-os agora a fazer filmes de uma forma mais madura, em termos de sonoridade, da escrita de guiões. São ainda pequenas produções, mas estão a seguir um caminho. É a parte mais feliz de tudo isto. Numa das edições do Macau Indies venceu uma produção que abordava a temática da homossexualidade. Os realizadores locais também estão a começar a abordar outro tipo de temas, há uma maior diversidade de assuntos no cinema local? A.C. – Deveria haver. Mas muitas vezes depende da sensibilidade de cada realizador. Em poucos anos estarão mais focados num ou outro projecto e os temas começaram a ser mais diversos. Isso é bom. Pensam mais nos problemas da sociedade? A.C. – No Macau Stories 3 – City Maze [produção da Associação Audiovisual CUT] houve uma ligação ao suspense, com um certo lado negro. Aí os realizadores começaram a abordar esse género e, no futuro, vamos ter cada vez mais abordagens a outros géneros cinematográficos. R.W. – O CCM tem uma plataforma onde os realizadores têm toda a liberdade para desenvolver os temas escolhidos. Isso vai acontecer mais em Macau, sendo que vão ter de lidar com a pressão do mercado. Vão ter a liberdade para abordar temas sociais sobre os quais tenham interesse ou preocupação. De certa forma, há ainda uma experimentação? R.W. – Sim. A.C. – Há cinco anos, todos eram realizadores. Mas, agora, se quisermos montar uma equipa, há pessoas para os diferentes cargos [necessários para a rodagem e produção de um filme]. Esse é um grande salto, se compararmos com os últimos cinco anos. Falaram do mercado. Como é que os locais olham para o cinema local, uma vez que os filmes da China ou da Coreia do Sul são muito populares? É difícil às produções locais obterem o seu espaço? R.W. – Temos de começar primeiro pelas pequenas produções. Não diria que ainda estejam a experimentar, mas têm de se focar em pequenas produções primeiro. Como contar uma história da melhor forma. Isso é o mais importante. A.C. – Olhar para as intenções do público é também a nossa missão. Queremos atrair mais locais para que venham aqui. É verdade que o público de Macau terá uma tendência para escolher primeiro os filmes coreanos, chineses e até de Hollywood. Isso é porque pensam que as produções de Macau não são boas o suficiente, ou porque é algo artístico que não compreendem. Mas a nossa Cinemateca é uma boa forma para estarmos mais perto do público, para que possam conhecer que as produções de Macau são próximas das suas vidas mas, ao mesmo tempo, têm padrões profissionais. É uma missão de longo prazo para nós. Inauguração com direito a filme Rita Wong e Albert Chu confirmaram ainda na conversa com o HM que o dia da inauguração oficial vai servir para mostrar uma pequena produção que contou com a participação de três cineastas de Macau: Tracy Choi, Choi Koiwang e António Caetano de Faria. O contrato com a Associação Audiovisual CUT arrancou no passado dia 1 de Janeiro e está avaliado em oito milhões de patacas anuais.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeRevitalização da zona de Mong-Há discutida este sábado Vários profissionais ligados ao urbanismo vão reunir-se para debater a renovação da zona de Mong-Há. Com “Relink_Revive” pretende-se olhar para as formas de ligação dos vários pontos culturais e habitacionais da zona, sem esquecer o aproveitamento do Canídromo [dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]ual a utilização que deve ser dada ao actual terreno ocupado pelo Canídromo? Que ligações podem ser estabelecidas em toda a zona de Mong-Há, com mais acessos pedonais? São algumas das questões para as quais vão ser encontradas respostas no debate “Relink_Revive” [ligar e reviver], que vai juntar vários profissionais ligados ao urbanismo. O encontro terá lugar no Centro de Design de Macau e é organizado pelo Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM), o departamento de arquitectura da Universidade de São José, o Instituto Politécnico de Milão e o Albergue SCM. Ao HM, José Luís Sales Marques, presidente do IEEM, explicou que a ideia é abordar estudos de caso e ter acesso a uma visão mais alargada, trazida por profissionais estrangeiros. A utilização do terreno onde se situa o Canídromo será um dos temas abordados. “Espero que seja um espaço público”, apontou Sales Marques. “Pode ser utilizado para aumentar a área de espaço público para toda aquela zona, que tem uma elevada densidade populacional.” O arquitecto Francisco Vizeu Pinheiro será um dos oradores e irá revelar um estudo desenvolvido por alunos da USJ para a revitalização daquela zona. “A grande preocupação para o futuro é o que será feito do Canídromo, porque têm aparecido nos jornais diferentes ideias para o aproveitamento do espaço. É importante fazer valer o significado histórico e cultural de Mong-Há”, defendeu. “Está previsto no Plano de Desenvolvimento Quinquenal que essa zona seja ligada ao lazer e cultura, mas isso não é compatível com a oferta turística actual, que está centrada na Almeida Ribeiro e Ruínas de São Paulo. Temos de ter mais espaços pedonais e zonas que sejam de mais fácil acesso”, disse ainda o arquitecto. Já Maria José de Freitas, autora da primeira fase de requalificação de Mong-Há e outra das oradoras, aponta que “se o Canídromo sair dali, que seja um lugar que tenha que ver com espaços polivalentes”. Melhores acessos Para José Luís Sales Marques, a zona de Mong-Há carece sobretudo de novos e melhores acessos, que liguem os diversos pontos culturais e habitacionais. “A zona do Canídromo está separada de Mong-Há através da avenida Almirante Lacerda, como se fosse um muro. Tudo o que existe na colina de Mong-Há é recente, do final dos anos 90. Criaram-se algumas estruturas, mas não foi feita foi a ligação com o Armazém do Boi e a colina. Há um dado adicional, o edifício do canil municipal, que agora é património. Isso significa que há regras estabelecidas e sem dúvida que todo aquele espaço merece ser requalificado”, lembrou o presidente do IEEM. Sales Marques acredita ainda que deveria ser feito um trabalho de revitalização olhando para algumas zonas da Areia Preta, onde “começa a aparecer um conjunto interessante de restaurantes, com o próprio Centro de Design de Macau, que é um pólo importante”. Também Francisco Vizeu Pinheiro fala da necessidade de “revitalizar o património que não está a ser usado”, pois existem “vários pontos culturais que estão desconectados”. “A Avenida Coronel Mesquita poderia ser mais amigável”, referiu. Aproximar e renovar A primeira fase de requalificação de Mong-Há foi concluída, mas o segundo projecto acabaria por ficar na gaveta, à boleia da mudança causada pela transferência de administração. Para Maria José de Freitas, seria importante, nos dias de hoje, “aproximar o quarteirão de Mong Há que envolve o Canídromo e os antigos estábulos municipais que, hoje em dia, são o Armazém do Boi”. “Deve dar-se atenção à área do Canídromo. A colina de Mong-Há tem cerca de 50 metros e, para pessoas com uma certa idade, é difícil chegar ao topo. Era importante ter meios mecânicos de acesso e de ligação entre o topo da colina e a área adjacente”, defendeu. Maria José de Freitas dá também atenção às casas históricas da Avenida Coronel Mesquita. “Há situações interessantes de moradias que eram de funcionários públicos e que estão abandonadas, e seria mais um tentáculo de ligação. Muita coisa poderia acontecer para que este espaço fosse mais integrado.” José Luís Sales Marques referiu ainda ao HM que a intenção é que a participação nesta conferência possa dar acesso a pontos para a renovação da licença dos profissionais do urbanismo, tendo já sido submetido um pedido ao Conselho de Arquitectura, Engenharia e Urbanismo para esse efeito. A entrada é gratuita.
Andreia Sofia Silva EventosJosé Maçãs de Carvalho, fotógrafo: “Interessa-me a aparência das coisas no plano visual” Com “Arquivo e Democracia” transportou para Lisboa a realidade das empregadas filipinas de Hong Kong que usufruem das ruas da cidade para aproveitarem os domingos de descanso. A exposição está no Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia. As histórias de vida são duras mas, ainda assim, José Maçãs de Carvalho, fotógrafo e subdirector do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra, assume não retratar episódios do ponto de vista sociológico, mas sim meramente visual. O ex-residente de Macau prepara novos projectos para o território [dropcap]C[/dropcap]omo surgiu a possibilidade de fotografar as empregadas filipinas de Hong Kong? A ideia de fazer um ensaio visual sobre a questão já existe desde o tempo em que vivi em Macau [entre 1994 a 1998]. Desde 1999 tenho regressado a Macau anualmente e desde 2009 que comecei a filmar com mais regularidade. Porquê o nome “Arquivo e Democracia”? Desde 2011 que investigo a matéria do arquivo. Já fiz sete exposições cujos títulos têm a palavra. Aliás, a minha tese de doutoramento (2014) é sobre Arquivo e Memória. Aqui, em Hong Kong, o ‘Arquivo’ vem pelo excesso, excesso de pessoas na rua ao domingo, excesso no gesto, enfim, acumulação também. ‘Democracia’ porque a forma como ocupam as ruas configura uma espécie de democracia plena, total. O que mais o fascinou durante a realização deste projecto a Oriente? Filmei entre 2009 e 2012. Sempre achei este acontecimento muito curioso, estranho, e por ser contingente. Se não se for ao domingo a Hong Kong nunca se vê este fenómeno. Em Macau, as empregadas domésticas residem nos seus próprios apartamentos, o que faz com que não estejam nas ruas nos seus dias de folga como em Hong Kong, onde vivem em regime interno na casa dos patrões. Pensou em abordar também a realidade das empregadas em Macau? Não me interessa aquele acontecimento como facto social, não adopto um ponto de vista sociológico. Interessa-me a aparência das coisas no plano visual, portanto não são as empregadas filipinas que me interessam, mas a forma como aquelas mulheres ocupam a zona mais rica de Hong Kong e como interagem com a arquitectura. As empregadas filipinas e indonésias em Hong Kong têm estado no epicentro de uma discussão sobre os direitos humanos e laborais. Como é que a fotografia pode contribuir para esse debate e reflexão? A arte pode sempre contribuir para o debate se tiver uma ligação ao real. Macau surge também retratada no projecto “Arquivo e Melancolia”, recentemente em exposição no Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado (MNAC). Porquê ir buscar uma imagem tirada dos anos 90, numa altura em que o território era tão diferente? Que história faltava contar? O filme que mostrei no MNAC foi filmado em 2011 e retomava uma fotografia que fiz numa loja de parafusos, no Porto Interior, quando vivia em Macau, no fim dos anos 90. Mais uma vez, esse filme não é sobre Macau, é sobre uma acumulação excessiva e periclitante de milhares de parafusos e porcas; um epítome da precariedade do arquivo e da memória. Tem algum novo projecto pensado sobre Macau e sobre a Ásia? Há vários projectos em progresso: uma exposição que desenvolverei com a Margarida Saraiva, ainda sem data, e ainda um projecto de fotografia que iniciei em 1999 e que retrata o quotidiano de ex-alunos meus de Macau. Macau teve uma comunidade portuguesa pujante nos anos 80 e 90, período em que viveu no território. Que memórias guarda, que análise faz à produção de arte em Macau na altura? As melhores memórias. Macau é a minha segunda terra. Até poderia morrer em Macau. Nesse tempo a produção artística era muito irregular: coisas fracas e coisas muito boas. Anos depois da transição, Macau ainda constitui um fascínio para os artistas portugueses? Diria que a Ásia, mais do que Macau. É subdirector do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra. Estão pensadas parcerias com o território? Para já, não. Temos parcerias com o Museu Russo de S. Petersburgo e a Universidade da Sorbonne, em Paris. Temos ainda em estudo uma parceria com uma universidade inglesa. Novo livro lançado a 18 de Março As fotografias sobre as empregadas filipinas que ocupam as ruas de Hong Kong e o trabalho desenvolvido sobre esse tema são parte integrante do novo livro de José Maçãs de Carvalho, a ser lançado no próximo dia 18. A obra chama-se “Arquivo e Intervalo” e é o resultado da exposição no Museu de Arte, Arquitectura e Tecnologia (MAAT), tendo o apoio da editora Stolen Books e do Colégio das Artes da Universidade de Coimbra. A obra reúne quatro textos “que se aproximam de quatro filmes em torno da matéria do arquivo e que, de algum modo, também epitomam questões fulcrais da prática fotográfica e videográfica”, escreve o autor. Desde 2010 que José Maçãs de Carvalho tem trabalhado “em exclusivo problemáticas relativas ao arquivo e à sua expressividade”. Os textos do novo livro “problematizam a substância do arquivo naquilo que ele tem de excesso, precariedade e esquecimento, mas também aquilo que o marca como lugar e temporalidade”, acrescenta. Os textos de “Arquivo e Intervalo” têm organização de José Maçãs de Carvalho e são da autoria de José Bragança de Miranda, Pedro Pousada, Adelaide Ginga e Ana Rito. A apresentação será feita no próximo dia 18, no MAAT, em Lisboa, pelo escritor Gonçalo M. Tavares e por José Bragança de Miranda, investigador e ensaísta.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadePouca liberdade académica, investigações e prestígio: a análise ao trabalho do reitor da UM, Wei Zhao Em nove anos à frente da Universidade de Macau, Wei Zhao lidou com a mudança da instituição para o campus da Ilha da Montanha e enfrentou investigações de auditoria. Há quem entenda que trouxe prestígio à instituição. Outros dizem que não respeitou a liberdade académica [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]ntrou em 2008 e deixará o lugar dez anos depois, em Novembro do próximo ano. Está quase concluída a história de Wei Zhao como reitor da Universidade de Macau (UM), após ter decidido não se recandidatar a um terceiro mandato. O Governo reagiu ontem à sua saída da universidade pública através de um comunicado oficial. “O secretário para os Assuntos Sociais e Cultura [Alexis Tam] respeita a autonomia de que beneficia a UM, assim como a decisão tomada pelo próprio reitor”, lê-se no documento. Além disso, o secretário “reconhece os trabalhos realizados pelo professor Wei Zhao enquanto reitor da UM”. A UM emitiu ontem um comunicado onde explica que o novo reitor será escolhido com base num processo de recrutamento internacional, levado a cabo por uma comissão que ainda não tem data para ser criada. “A universidade fez grandes progressos nos últimos anos em termos de desempenho e ao nível da obtenção de reputação internacional, investigação e publicações, e na promoção dos talentos”, considerou Peter Lam, presidente do organismo. O HM falou com personalidades que não têm uma relação directa com a UM para analisar o mandato de Wei Zhao. Segundo o politólogo Larry So, foi um homem que, acima de tudo, contribuiu para um maior prestígio da universidade. “A coisa mais importante é que a UM mudou-se para a Ilha da Montanha e tem hoje um campus muito maior do que o anterior. Durante o seu mandato, houve uma maior promoção da UM junto da China em termos de reputação e rankings. Colocou um grande ênfase na construção da reputação da universidade”, apontou. Pouca liberdade académica Ainda assim, as críticas chegam quanto à promoção de uma maior liberdade académica. Poderia ter feito mais, mas não fez. “Por norma, a liberdade académica é aceitável [em Macau]. Tanto na UM, como no Instituto Politécnico de Macau a Administração respeita-a, mas diria que há umas certas limitações, uma espécie de autocensura. O próprio reitor nunca fez uma promoção no sentido de existir uma forte liberdade académica ou de expressão. Ele teve bastantes oportunidades para fazer uma melhoria nesse sentido”, acrescentou Larry So. Jason Chao, activista, é ainda mais claro. “Não posso dizer que tenha sido um grande apoiante da liberdade académica. Não acredito que haja uma garantia da liberdade académica dentro do actual sistema. Independentemente da pessoa que for escolhida para ser o novo reitor, não me parece que as coisas vão mudar.” Para Éric Sautedé, actualmente a trabalhar em Hong Kong, Wei Zhao não respeitou a liberdade académica, tendo-a ignorado. “O grande erro foi o despedimento de Bill Chou em 2014, por razões possivelmente ‘fabricadas’ e muito dúbias. A liberdade de expressão não foi respeitada e continua a ser esquecida como, por exemplo, para organizar um simples evento para celebrar o 4 de Junho [dia do protesto em Tiananmen]”, apontou. Polémicas e silêncios Wei Zhao tem sido um reitor parco em palavras, em que as raras entrevistas são concedidas aos meios de comunicação de língua chinesa. Ainda assim, não teve um mandato fácil. Um dos casos mais polémicos aconteceu em 2011, quando se soube que o recém-nomeado director da faculdade de Direito, John Mo [entretanto substituído por Gabriel Tong], não era especialista em Direito de Macau. O facto gerou várias críticas por parte da comunidade jurídica, mas o próprio John Mo acabaria por desvalorizar o episódio. Já em Fevereiro de 2015, o Comissariado de Auditoria (CA) resolveu investigar o “regime de atribuição de alojamento aos trabalhadores da UM”, tema que foi alvo de reportagens devido à existência de alegadas irregularidades e desigualdades na distribuição de apartamentos a docentes no novo campus. Contudo, nada foi apontado à instituição. Foi também analisada a “Instalação da Fundação para o Desenvolvimento da Universidade de Macau”. O CA analisou ainda a criação do Instituto de Investigação Científica e Tecnológica da Universidade de Macau em Zhuhai, cuja criação “comportou graves riscos” para a Administração. Vários juristas chegaram a apontar ao HM que tal acto constituía uma violação da Lei Básica, mas o Governo optou por não fazer uma investigação por considerar que esta interpretação não constou do relatório do CA. “Não temos muitas informações sobre essa questão. Se me pergunta se, de certa forma, afectou a continuidade do mandato ou a sua reputação, teríamos de ter mais informações para fazer comentários. Comentar algo de forma especulativa não seria justo nem para ele, nem para a própria universidade”, comenta agora Larry So. Para Éric Sautedé, Wei Zhao “implementou um sistema bastante opaco de gestão, em que o instituto de investigação em Zhuhai é apenas a ponta do icebergue”.
Andreia Sofia Silva EventosSanaz Fotouhi, co-produtora de “Love marriage in kabul”: “A política não vai criar a paz” Co-produziu um filme que aborda a questão dos casamentos arranjados no Afeganistão, mas também escreve. “Love Marriage in Kabul” foi o passaporte para Sanaz Fotouhi vir a Macau participar no festival Rota das Letras. Com o HM conversou sobre o Afeganistão do pós-guerra e de como os padrões ocidentais de liberdade trazem pressão às mulheres do Médio Oriente [dropcap]Q[/dropcap]Qual a história que está por detrás do documentário “Love Marriage Kabul”? Como é que chegou a esse projecto? Na realidade, é uma história longa. Quando decidimos [Sanaz trabalhou com Amin Palangi e Pat Fiske] fazer o filme não era para ser este em particular. Em 2006, decidimos fazer um filme sobre o Afeganistão, então viajámos para lá e procurámos por temas interessantes. Deparámo-nos com um assunto terrível, as mulheres que se imolam, como tentativa de suicídio. Mas a curta-metragem, intitulada “Hidden Generation [Geração Escondida]”, continha um assunto tão horrível que as pessoas não se identificaram e, surpreendentemente, o filme não correu assim tão bem, porque não houve essa identificação. Decidimos fazer algo mais positivo. Demorámos alguns anos a pesquisar sobre este assunto, queríamos encontrar uma história feliz. Só depois de ter acesso a esta organização [Mahboba’s Promise] é que descobrimos a história perfeita para fazer o filme. É difícil encontrar histórias felizes junto das mulheres do Médio Oriente? Penso que não é difícil, há muitas histórias. É difícil, isso sim, ter acesso às histórias. Sabemos que elas existem, mas o que é mais difícil é estabelecer esse contacto para que as pessoas contem as suas histórias. As pessoas têm medo de contar ou consideram que muitos dos casos que ocorrem são normais? É uma questão cultural. O Médio Oriente tem sociedades muito segregadas, a diferença entre o que é público e privado é muito clara. Assuntos como o casamento, ter filhos, suicídio, são coisas muito pessoais, sobre as quais as pessoas não querem falar, sobretudo com alguém estrangeiro. Por isso é que ajudou bastante o facto de ser mulher para fazer este filme. O meu parceiro é o director do filme, mas é um homem [Amin Palangi] e não conseguiu ir a sítios onde eu conseguia ir. Então o meu papel para obter as histórias das mulheres foi muito importante. Este filme teve uma grande projecção internacional. Isso é fundamental para mostrar ao mundo o que está a acontecer com as mulheres no Médio Oriente? Sim. Quisemos sobretudo mostrar às pessoas que a vida continua, que as pessoas conseguem viver para além da guerra [do Afeganistão], algo que tem vindo a acontecer de forma contínua nos últimos anos. Com o “Hidden Generation” quisemos mostrar a ocorrência de um problema, era urgente e importante, mas como era muito errado, não havia uma conexão com as pessoas. Mas “Love Marriage in Kabul” tem uma história que todos gostam, todos se apaixonam por ela. Por isso é que as pessoas se identificam mais com este filme. Nasceu no Irão. Por que decidiu fazer um filme no Afeganistão? Em parte foi coincidência. O meu pai trabalhou no Afeganistão, em Cabul, então ficámos fascinados com o país. E depois é muito mais fácil fazer filmes no Afeganistão do que no Irão (risos). Devido à censura? Sim e também porque precisamos de muitas coisas, permissões, pedidos. No Afeganistão podemos ir simplesmente aos sítios. Há ainda uma repressão em relação à mulher iraniana? Para quem vive fora do Irão, ter acesso à realidade do país pode ser surpreendente, porque as mulheres na verdade têm bastante poder e têm vindo a ganhá-lo nos últimos anos. Olhando para os números de acesso às universidades, há mais mulheres do que homens, as mulheres são poderosas nos negócios, são educadas, têm uma voz. A situação é boa se compararmos com outros países vizinhos. Como a Arábia Saudita, por exemplo. Sim. Não posso comparar com o Afeganistão, porque o país ainda está a recuperar da guerra. É preciso tempo para recuperar. Mas, comparando com a Arábia Saudita, sem dúvida que a vida é melhor. Há grandes diferenças. E no Afeganistão? A sociedade está a recuperar no sentido certo? As coisas têm vindo a melhorar. Quando visitámos o país em 2006, e quando voltámos em 2009, e depois em 2013, fomos observando muitas mudanças. Logo a seguir à saída dos Talibã o país não tinha quaisquer infra-estruturas. Não havia telefones, bancos, tudo foi destruído. Gradualmente fomos vendo uma melhoria na sociedade. Mas, ao mesmo tempo, penso que a situação das mulheres ficou diferente. No filme “Hidden Generation” investigámos as razões pelas quais as mulheres se tentavam imolar. E surpreendentemente as mulheres começaram a fazer essas tentativas depois da saída dos Talibã. Pensávamos que as coisas seriam piores durante o Governo Talibã, mas descobrimos que, com a sua saída, novas coisas começaram a aparecer no país. As mulheres ficaram expostas a novas ideias, mas houve muita pressão. Não sabiam como lidar com essas ideias. Não sabiam. Quando os Talibã saíram, a televisão voltou ao Afeganistão. Então as mulheres começaram a assistir a filmes Bollywood e a ver coisas diferentes, mulheres a exporem-se. Muitas pessoas decidiram ir para países como o Paquistão ou o Irão porque a guerra acabou, mas depararam-se com situações de pobreza, também com muita pressão. Depois da guerra começou a surgir também a influência de muitas organizações não-governamentais (ONG) que chegaram ao Afeganistão e começaram a dizer que era preciso dar liberdade às mulheres. Mas a liberdade foi imposta segundo padrões ocidentais. O que percebemos é que podemos ensinar isso às mulheres, mas os homens não estão preparados para ter isso na sociedade. As mulheres podem começar a protestar, mas os homens vão dizer “cala-te e senta-te”. É uma situação extremamente complexa. Não podemos culpar os homens directamente, porque para eles é uma forma de protecção, não sabem lidar com isso. Como se pode criar então uma liberdade com padrões adaptados ao Médio Oriente, aos seus usos e costumes? A liberdade é uma coisa relativa. Há diferentes padrões de liberdade. É muito difícil abordar isto porque a liberdade dos países ocidentais é muito diferente da liberdade do Médio Oriente. Há uma enorme diferença cultural. Não acho que a comunidade internacional seja responsabilizada por trazer essa liberdade. Temos é de criar compreensão para que as pessoas possam avançar para isso sem qualquer tipo de críticas. Essa é a solução. É necessário então uma maior promoção dos ideais e mais acções de educação. Mais do que as ONG, penso que as histórias são importantes, a arte é importante. Acho que a política não vai criar a paz, é apenas sobre benefícios materiais. Exposições, fotografias, filmes, são uma boa forma de criar essa conexão. A sua família estava no Irão em 1979. Como viveram a revolução? A minha história é diferente, porque eu não cresci no Irão. Vivi no Japão, na América, em Hong Kong. O meu pai era bancário e não me considero a típica mulher iraniana. Mas sim, a minha família estava no país nessa altura, viram tudo de fora, não eram propriamente apoiantes do que estavam a acontecer, não se envolveram nessa questão. O meu pai sempre trabalhou em vários países. Sente-se afortunada pelo facto de não ter vivido no Irão? Isso deu-lhe maior liberdade para fazer coisas? Essa é uma pergunta interessante, nunca pensei sobre isso. A minha história é única. Sinto que faço mais coisas, e não apenas em relação às mulheres no Irão. Mas isso não tem que ver com o facto de ser iraniana, mas sim com o meu estilo de vida, com o facto de viajar tanto. Que projectos pretende desenvolver a seguir? Estou a trabalhar num livro sobre este filme, estou à procura de uma editora. É sobre os bastidores do filme, mas também sobre a minha perspectiva enquanto mulher no Afeganistão. Também sou directora-geral da Asia-Pacific Writers and Translators (Escritores e Tradutores da Ásia-Pacífico).
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteLam U Tou: Candidatura à AL? “Não afasto essa possibilidade” [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]studou Ciências Ambientais, mas optou por ter este papel activo junto de associações locais. Porquê? Tudo começou por acaso. Em 1999, quando acabei a escola secundária, precisava de escolher um curso na universidade. Tinha boas notas, mas era um pouco teimoso. Não queria os cursos que a maioria escolhia e acabei por escolher Ciências Ambientais, porque gostava muito de geografia e da área do ambiente. Na altura vi a notícia de que o Governo iria criar a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental, e aí tive mais certezas da minha decisão, porque as questões ambientais ainda eram uma novidade. Depois comecei na comunicação social, o que me deu uma ideia do que acontecia na sociedade. Entrei para uma associação e tornei-me assistente de um deputado e, desde então, tenho estado ligado aos assuntos sociais. Graças ao meu trabalho nas associações tenho contacto com pessoas de várias classes sociais, e participei directamente em muitos casos. Tudo isso ajudou a que fizesse este caminho. Decidiu sair da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) e criar a Associação Sinergia de Macau. Porquê? Além de trabalhar na FAOM, também estava na Associação Choi In Tong Sam. As duas entidades são independentes mas, de certa maneira, têm algumas relações. Tratava de casos nas associações e descobri que na sociedade existem diversos problemas que estão por resolver. Há uma coisa que lamento: que as pessoas não resolvam os seus problemas e só façam comentários de uma forma geral. Há pessoas a favor do Governo, outras estão contra o Governo, mas muitas vezes não bastar só ter estas duas opções. O mais importante é fazer um balanço entre os problemas, ouvir as vozes dos vários sectores e tudo isso acontece pouco na sociedade. Que outras razões o levaram a tomar essa decisão? Já tenho mais de 30 anos e achei que poderia experimentar um novo caminho. Na Associação Sinergia quero reunir uma experiência de dez anos e melhorar as resoluções para os problemas existentes em Macau. Se me pergunta se tenho grandes objectivos ou expectativas, digo que não, mas acho que devemos fazer uma mudança. Mesmo que não seja eu a fazer, alguém em Macau deve fazê-lo. Quais as razões para a sua saída da FAOM? Achou que não podia conciliar as duas coisas? Não. A FAOM é uma associação tradicional e sem dúvida que ocupa uma certa posição social em Macau. Mas quando estava na FAOM muitos atribuíam-me uma categoria, como se eu só representasse os trabalhadores e não tivesse em conta as outras questões. Era uma grande pressão para mim. Percebi que o facto de me estarem a colocar numa categoria iria influenciar a eficiência das decisões e soluções, então decidi sair da FAOM e da Choi In Tong Sam. Na altura, questionei os meus actuais colegas da Associação Sinergia de Macau e percebi que tínhamos ideias semelhantes sobre como Macau deve mudar. A nossa associação tem pessoas de áreas diferentes, e se mantivesse a identificação como membro da FAOM seria difícil unir as pessoas. Quais os trabalhos que a nova associação se propõe fazer? Estamos focados em questões políticas e seguimos temas que já vínhamos seguindo, na área do trânsito ou da habitação, que são dois temas muito discutidos pelos cidadãos. Muitos dizem que o Governo não faz um bom trabalho nestas áreas, admito que é verdade, mas temos de ver como podemos avançar e resolver os problemas. Temos de ser racionais. Que ideias tem para esses dois assuntos? Ao nível do trânsito, apresentei várias sugestões quando era membro do Conselho Consultivo dos Serviços Comunitários. Falei do túnel pedonal da Guia, pois pensava que, com isso, haveria mais uma opção para os cidadãos se deslocarem. Recentemente o Governo anunciou a intenção de controlo do número de veículos. Não estamos contra a ideia, mas esse controlo, por si só, não melhora o trânsito em Macau, porque já há muitos veículos a circular. Com base nas minhas observações as autoridades devem encorajar as pessoas a terem mais opções em termos de transportes públicos. Seria também eficaz se pudéssemos andar a pé. Mas quanto ao túnel pedonal da Guia, se existisse iríamos demorar apenas 20 minutos entre a zona da Horta e Costa e o NAPE. Recebi muitas queixas de cidadãos que dizem não conseguir apanhar autocarros nesse percurso por causa do trânsito. Além disso, os serviços de autocarros escolares não satisfazem as necessidades, pelo que os pais optam por levar os seus filhos à escola de carro. Além da habitação e do trânsito, em que outros assuntos se focam? Na verdade, não nos focamos num assunto específico. Houve pessoas que me perguntaram se a nossa associação se focava apenas para um lado. Honestamente digo que não. Damos importância a todos os assuntos sociais. Convidamos para a nossa associação todos aqueles que quiserem trazer uma mudança para Macau. É candidato à Assembleia Legislativa este ano? Ainda não tenho nenhum plano sobre uma candidatura à AL, mas não vou eliminar essa possibilidade. Aproveitamos todos os meios para participar na sociedade. Claro que os trabalhos de candidatura às eleições da AL são muitos e difíceis. Vamos considerar todas as possibilidades mas, neste momento, não tenho um plano concreto. Como somos uma associação nova, temos muitas restrições. Quer seja na AL, quer seja numa entidade consultiva, a associação vai sempre participar de forma activa, porque queremos de facto implementar uma mudança. Sobre a candidatura é cedo para falar, não tenho planos, mas não afasto essa possibilidade. Pensa que as eleições vão trazer alguma mudança ao hemiciclo? O que poderemos esperar? Há algo de irracional na AL, sobretudo ao nível dos candidatos que não distinguem entre a distribuição de benefícios e as eleições. Esse é um dos assuntos mais discutidos na sociedade. É necessário que exista uma fiscalização mais rigorosa. Há violação às normas e há muitos espaços cinzentos. Em termos de instruções, Macau ainda tem de fazer mais. O regime de eleições legislativas não é justo para quem possui poucos recursos e a sociedade não está a dar muita atenção a este assunto. O actual sistema político não encoraja os jovens que queiram contribuir para serviços sociais de forma independente. De que forma? Isso tem de ser pensado. Se a sociedade quiser encorajar os jovens a expressar mais a sua opinião, temos de criar um sistema em que eles participem e que os permita irem subindo. Nas entidades do Governo, como os conselhos consultivos, as pessoas trabalham a tempo inteiro ou parcial? As pessoas só recebem montante igual ao índice 10 da tabela salarial da Função Pública quando assistem a uma actividade, se não estou em erro. Poderíamos disponibilizar trabalhos a tempo inteiro aos jovens, para que participem com maior esforço. Há muitos cursos de formação na área da política, mas isso não chega. Precisamos de aperfeiçoar o sistema para criar uma plataforma de participação. Refere-se também à AL? O problema é o mesmo. As pessoas dizem que não há novos rostos na AL, porque o sistema deve ser melhorado. As pessoas não têm outra opção. Não há uma subida gradual na sociedade e só se entra directamente na AL. Então é difícil [o acesso] para jovens sem recursos e experiência que queiram servir a sociedade. Apesar disso, acredita em novos rostos nas próximas eleições? É difícil prever resultados. Mas, com o que temos visto, não antevemos grandes mudanças. É provável que se mantenham os cenários anteriores. E previsões para a candidatura da FAOM? Kwan Tsui Hang não deverá ser candidata. Como saí da FAOM, penso que não é conveniente fazer comentários. A FAOM tem uma boa base e acredito que, se continuar assim, com o seu trabalho bem feito, vai receber votos suficientes dos cidadãos. Que análise faz ao funcionamento da Assembleia Legislativa? Na AL há comissões permanentes e de acompanhamento. Penso que as suas funções devem ter mais destaque, pois têm capacidade para exigir explicações ao Governo. Muitos relatórios de auditoria revelam problemas, mas tenho dúvidas se o Governo dará o devido seguimento para a sua resolução. Por isso, estas comissões devem ter um papel mais prático. Além disso, o número de reuniões realizadas não é suficiente, o que significa que não dão o devido seguimento aos dossiers. Noutros países, este tipo de comissões têm sempre muitos trabalhos em agenda mas, em Macau, isso não acontece. Quanto ao Governo, não dá dados concretos para explicar determinadas políticas. Deve esforçar-se mais nesta área. É membro do Conselho para a Renovação Urbana (CRU). O modo de funcionamento é o ideal? Se me pergunta se os trabalhos são feitos de forma muito lenta, digo que sim. Os trabalhos deveriam ter sido feitos pelo antigo Conselho Consultivo para o Reordenamento dos Bairros Antigos, pois o CRU tem um âmbito maior e mais objectivos. Sempre achei importante fazer bem os trabalhos desde o início. O grande problema é sempre a necessidade de os proprietários chegarem a acordo. Já tentámos fazer ver ao Governo que são necessárias normas claras para a inspecção predial, bem como manter o programa de apoio financeiro para renovação de velhos edifícios. Essas ideias já existiam, mas o problema é que é necessário alterar as leis. Que outros problemas afectam os avanços na renovação dos edifícios? Depois de atingido o consenso, os proprietários necessitam de pagar mais do que uma vez o imposto do selo sobre a transmissão do imóvel e o imposto do selo especial. Acho que isso não faz sentido e contraria a intenção original. Já fizemos sugestões ao Governo, resta esperar pela legislação. São ainda precisas melhorias ao nível do ambiente, tráfego e instalações das zonas antigas. Há ainda a necessidade de dinamização dos vestígios e património culturais. Estes quatro pontos devem continuar a ser discutidos no CRU, mas o Governo não coordena bem os trabalhos. Que outros problemas na sociedade destaca? A doação de órgãos. Em 1998 já tínhamos legislação sobre o assunto e um regime de doação. Como é que, até agora, ainda não podemos doar órgãos? Esse assunto deve ser analisado. Dedica-se à associação a tempo inteiro? Nos próximos meses sim, irei trabalhar para cimentar a associação, mas depois terei de arranjar outro trabalho. Quase parece que agora estou de férias. Espero que a associação possa continuar a funcionar com os esforços de toda a gente.
Andreia Sofia Silva SociedadeCAEU | Governo promete mais cursos de formação em português [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] falta de cursos de formação em língua portuguesa na área do urbanismo tem sido uma questão levantada por muitos profissionais, sejam eles arquitectos, engenheiros ou urbanistas. Em resposta ao HM, a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) referiu que é objectivo criar mais acções de formação na língua de Camões. “Para responder às aspirações do sector, a DSSOPT e as instituições de ensino estão a organizar várias acções de formação contínua, algumas das quais têm interpretação simultânea para português.” O HM revelou numa reportagem publicada em Fevereiro que a predominância de cursos em chinês e as poucas acções de formação realizadas por entidades como a Associação de Arquitectos de Macau (AAM), ou a própria DSSOPT, pode originar dificuldades na renovação das licenças profissionais. Na resposta, o organismo liderado por Li Canfeng alerta ainda para a necessidade de divulgar previamente as mesmas iniciativas. “À luz do regulamento administrativo, as listas das acções de formação contínua reconhecidas devem ser divulgadas na página electrónica do Conselho de Arquitectura, Engenharia e Urbanismo, juntamente com os demais dados relativos às entidades formadoras, condições de frequência e carga horária das acções de formação.” A DSSOPT não adianta, porém, qualquer calendário para a realização de acções de formação com recurso à língua portuguesa. Programa activo Nuno Soares, membro da direcção da AAM, explicava em Janeiro que o objectivo da entidade é realizar mais acções de formação do que aquelas que têm sido feitas. “Nem todos os cursos são em português ou inglês, e a regra é que a maior parte deles sejam em inglês, para permitir que todos os membros possam assistir. Há algumas formações em chinês, mas serão a excepção. Sempre que pudermos, faremos em português”, frisou Nuno Soares. “Todos nós queremos fazer mais formações, a AAM já tinha essa preocupação. Vários membros têm manifestado o facto de não terem muitas horas de formação e, por isso, estamos a tentar fazer mais do que aquelas com as quais nos comprometemos. Estamos a tentar aproximarmo-nos de um curso por mês. O programa está activo e estamos a tentar intensificá-lo”, apontou ainda.
Andreia Sofia Silva Manchete ReportagemLai Chi Vun | Os projectos e as ideias antes das demolições Muito antes de o Governo decidir deitar abaixo os estaleiros, a povoação de Lai Chi Vun foi alvo de vários projectos vindos do sector privado. A muitos deles, o Governo nunca deu uma resposta, chegando a rejeitar outros. O HM revela três projectos propostos por dois amantes da indústria naval, sem esquecer as ideias de estudantes de Arquitectura [dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]ouve uma altura em que se pensou além do vazio virado para o mar. Sobre Lai Chi Vun já muito se criou antes de se decretar a demolição dos velhos estaleiros. Alunos de Arquitectura e amantes de barcos feitos com madeira dedicaram tempo pessoal a estudar e a apresentar sugestões para revitalizar a povoação. Muitas propostas foram entregues ao Governo, explicadas ao detalhe, ou então foram discutidas em debates públicos nos quais membros do Executivo estiveram presentes. Para Lai Chi Vun pensaram-se edifícios multiusos, ligações ao Cotai ou ao campus da Universidade de Macau, museus, um parque temático ligado à indústria naval, pequenas moradias. Muitos destes projectos acabaram por ficar na gaveta, pendentes, à espera de uma resposta que nunca chegou. Noutros casos, houve recusas. Um dos projectos partiu de Henrique Silva. O seu amor pelos barcos levou-o a preparar um projecto conceptual em parceria com uma empresa que se dedica à construção de empreendimentos navais virados para o turismo. A proposta foi apresentada ao Governo no ano passado. “Este projecto contemplava a existência de oficinas, que é uma coisa que não existe em Macau para quem precisa de manutenção de barcos, um museu e um clube para iates. E ainda uma escola de vela”, explicou ao HM. Além disso, “na zona onde ficaria a marina colocar-se-iam vivendas”, para dar uma oportunidade de investimento ao sector imobiliário. “Criava-se ali uma zona privilegiada, porque o turista que chega de barco não é propriamente uma pessoa pobre, e ficaria ainda com acesso privilegiado ao Cotai. Todos ganhavam, porque o projecto também ajudaria a desenvolver a economia tradicional de Coloane, sem ter de a destruir. Desenvolvia-se um núcleo diferente, com outro tipo de animações”, apontou Henrique Silva. A ideia era, assim, criar um complexo náutico “de nível internacional”, uma vez que a Doca de Lam Mau, localizada na zona do Fai Chi Kei, é de mais difícil e longínquo acesso. “Mantinha-se a memória do espaço e depois poderiam ser incorporados mais pormenores”, disse ainda. Parque temático à beira-mar Tam Chon Ip estudou arqueologia, é freelancer e um apaixonado pela cultura de um território que o viu nascer. Também ele teve ideias que gostaria de ver implementadas em Lai Chi Vun. A abertura de uma espécie de parque temático foi uma delas. “O nosso plano visava a preservação dos estaleiros para serem mostrados ao público, com a implementação de uma zona de teatro, um espaço público e outro tipo de infra-estruturas. Teríamos elementos não comerciais, com a conservação da arte e cultura. A parte mais importante seria um parque temático com workshops sobre a construção de barcos. Os participantes poderiam vivenciar a experiência da cultura tradicional de Macau”, resumiu ao HM. Um dos pontos centrais do projecto seria o estaleiro Liuhe, onde foi construída a Lorcha Macau. “Sempre pensei que indústria de construção de barcos se poderia transformar em algo cultural e criativo, em que o lado tradicional e inovador poderiam combinar. É possível optimizar a povoação para os turistas, moradores e residentes. A própria povoação de Lai Chi Vun é um museu ao ar livre.” Apesar do esforço, Tam Chon Ip acabou por ver algumas das suas ideias recusadas, ao nível de pedido para financiamento. “Temos vindo a promover o projecto e também nos candidatámos a vários apoios, mas alguns projectos não foram aceites, o que criou dificuldades.” Este amante da história e da cultura chegou a promover uma pequena exposição sobre os estaleiros em Lai Chi Vun, “mas não houve qualquer novidade depois da visita das autoridades”. Ligação a Hengqin Em 2013, a povoação de Lai Chi Vun obteve projecção internacional ao ter sido alvo de um projecto desenvolvido por alunos de Arquitectura do Instituto Politécnico de Milão, no âmbito do Prémio Compasso Volante. José Luís Sales Marques, presidente do Instituto de Estudos Europeus de Macau (IEEM), presidiu ao júri, que contou também com a presença do arquitecto Carlos Marreiros. “Foi feito um concurso aberto a estudantes de pós-graduação de várias universidades, nomeadamente o Politécnico de Milão, a Universidade de Palermo, uma universidade de Singapura e outra do Japão. Nesse concurso os alunos vieram a Macau, estiveram alguns dias cá e fizeram vários levantamentos sobre a zona de Lai Chi Vun e a história de Macau”, contextualizou. Os estudantes foram orientados pelos professores, fizeram os projectos e apresentaram-nos primeiro em Palermo, e depois em Milão. “Foi uma oportunidade para expor questões importantes do ponto de vista de reabilitação urbana, e procurar soluções arquitectónicas para problemas que existiam e continuam a existir na cidade”, indicou José Luís Sales Marques. O presidente do IEEM recorda que foram apresentadas “várias soluções”, incluindo a possibilidade de construir uma ligação entre Lai Chi Vun e a Ilha da Montanha, no pedaço de terreno onde funciona o campus da Universidade de Macau. “Foi um exercício muito válido e interessante, que envolveu muita gente, uma comunidade internacional bem informada. Os trabalhos estão bem fundamentados, há pormenores, e descrição do ambiente e do local. As soluções apresentadas eram destinadas sobretudo ao lazer, que é muito aquilo que o Governo pretende para aquela zona.” A importância das técnicas Numa entrevista concedida o ano passado ao HM, Carlos Marreiros revelou alguns detalhes sobre as propostas que o Governo viu, mas sobre as quais nunca reagiu. Foi pensada “a construção de residências de luxo, com apenas três andares, integradas na colina”, sem esquecer a edificação de “uma pequena marina e um museu, incluindo uma super cobertura integrada com a actual estrutura dos estaleiros. A iniciativa privada fazia as suas contas, o Governo adquiria isto e geria-o”. À data, Marreiros confessou que sobre Lai Chi Vun não havia nada de concreto. “Fizemos estudos, propusemos ao Governo, não há resposta. Havia uma parte para viabilizar a construção, para construir e ganhar dinheiro”, apontou. Sales Marques entende que já não é possível deixar os estaleiros como eles estão, mas fala sobretudo da necessidade de manter vivas as técnicas de outrora. “São construções lacustres, que têm uma grande beleza. São estruturas industriais mas feitas com grande plasticidade, e isso também é importante, porque pode servir de inspiração para outras coisas. Os alunos que vieram de Milão ficaram maravilhados com aquela plasticidade, as soluções, o tipo de construção, como se resolviam problemas de arquitectura, com recurso a meios bastante simples.” As exposições do Prémio Compasso Volante levaram à organização de um debate no Albergue SCM, mas poucas respostas foram obtidas. “A nossa ideia era fazer uma exposição com a associação de moradores da zona, mas não conseguimos encontrar um local para isso [em Lai Chi Vun]. Fizemos então um debate ao ar livre nas instalações do Albergue, em que estiveram responsáveis do Instituto Cultural. Apresentamos as ideias todas na altura”, concluiu Sales Marques. O presidente do IEEM frisou que “a questão que se coloca é que não há qualquer resposta”. “É importante perceber o que existe na cabeça de quem manda nestas coisas.” Sales Marques, que se debruçou sobre o estudo de uma importante indústria naval, recorda que nos idos anos 50 e 60 chegaram a morar cerca de 50 mil pessoas na zona do Porto Interior, nas chamadas aldeias flutuantes. Nos dias de hoje parece não haver vontade de preservar essas memórias. “O que é triste em Macau é que as pessoas não dão valor a essas coisas, ao simbolismo, às coisas que nós fazemos. É pena que, por inacção, tenhamos de chegar ao ponto em que parece que não há alternativa se não a demolição. Aquele deve ser um espaço público, e não deve ser privatizado para a construção de luxo”, defendeu Sales Marques.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeFIJ | Caso Jinan terá dado origem a casos de auto-censura nos media chineses A doação de cem milhões de yuan à Universidade de Jinan pela Fundação Macau terá originado situações de auto-censura em alguns meios de comunicação em língua chinesa. É o que aponta o último relatório da Federação Internacional de Jornalistas, que fala de injustiças aquando da visita de Li Keqiang [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] mais recente relatório da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), referente ao ano de 2016, tece duras críticas ao panorama da comunicação social em Macau, com foco para situações de auto-censura e alegada pressão exercida por parte de entidades governamentais. Com o título “Macau discrimina”, a FIJ relata uma situação denunciada pela Associação dos Trabalhadores da Comunicação Social, ocorrida a 13 de Maio do ano passado, sobre a produção noticiosa acerca dos cem milhões de yuan que foram doados pela Fundação Macau (FM) à Universidade de Jinan. A associação “lançou um comunicado a condenar as acções de diversos jornalistas locais que fizeram auto-censura ao seu trabalho”, sendo que “vários jornalistas recusaram revelar os nomes dos funcionários do Governo que foram fontes de artigos que eles próprios escreveram sobre alegados favorecimentos levados a cabo pelo Chefe do Executivo, Chui Sai On”. “O comunicado aponta: ‘Os artigos foram eliminados e os comentários mais críticos dos entrevistados foram removidos. Alguns jornalistas deliberadamente começaram a desempenhar outras funções. Um dos órgãos de comunicação enviou uma lista de entrevistados aos jornalistas e disse que deveriam ser contactados aquando da produção de notícias importantes. Os jornalistas foram ainda avisados de que as notícias deveriam ser positivas’”, lê-se. Segundo a FIJ, a mesma associação referiu que há “razões para acreditar que os órgãos de comunicação social exerceram auto-censura, mas também receberam pressão do Governo”. O relatório faz referência ao facto de Chui Sai On ser parte integrante da direcção da Universidade de Jinan, ao mesmo tempo que também preside ao conselho de curadores da FM. “Chui Sai On foi acusado de utilizar dinheiros públicos para os seus próprios interesses políticos”, aponta o documento. Li Keqiang só para alguns O relatório da FIJ faz também referência ao tratamento dado aos media aquando da visita de Li Keqiang. “Em Outubro, o primeiro-ministro chinês Li Keqiang visitou Macau. Os media locais seguiram todos os procedimentos para pedirem o acesso aos locais de visita, mas pelo menos um meio de comunicação viu ser-lhe negada a permissão para ter acesso à maioria dos eventos, sem que lhe tenha sido dada qualquer explicação”, pode ler-se. Na prática, um “órgão online independente e livre” terá sido “tratado de forma injusta por parte do Governo” de Macau, aponta a FIJ. Sem apontar nomes, a entidade afirma que este “teve apenas permissão para participar em apenas três dos 12 eventos organizados, enquanto os media tradicionais obtiveram permissão para estar nos 12 eventos”. O documento refere ainda o facto de as autoridades policiais não terem divulgado informações sobre dois falsos atentados à bomba, um caso denunciado pela Associação de Jornalistas de Macau. “Quando foram questionados sobre o atraso na transmissão de informação para nós, responderam que ‘Não informamos os media até que todos os riscos tenham sido afastados’”. A associação disse que o acto foi uma clara violação do direito à informação”, esclarece o documento. Os recados da FIJ Na visão da FIJ, os meios de comunicação social locais “enfrentaram obstáculos, não só da parte do Governo que atrasou o fornecimento de informação, mas também ao nível da auto-censura imposta pelas direcções [dos meios de comunicação].” É ainda feito o aviso para a necessidade de maior isenção por parte dos jornalistas. “Consideramos urgente que todos os profissionais de media estejam alerta e que defendam o jornalismo profissional. Devem manter uma solidariedade profissional e manterem-se neutros, precisos, equilibrados e justos. Devem recusar pedidos de manipulação de fontes, questões pré-seleccionadas ou submeter questões para aprovação do Governo ou orquestrar reportagens ‘exclusivas’.” A FIJ defende ainda que “o facto de as pessoas estarem em silêncio não significa que a sociedade é harmoniosa”. “O papel dos media deve ser o de observar e registar o que acontece, e não assumir este ou aquele lado. Um desequilíbrio de poder entre a elite que governa e as pessoas comuns pode levar a uma sociedade desastrosa, na qual ninguém se sente seguro e respeitado.” “Os jornalistas devem estar atentos às necessidades das pessoas e evitar suprimir da informação ou transformarem-se em ‘parceiros’ do outro lado da barricada. Se isso acontecer, as pessoas que apoiam a verdade devem dizer em voz alta ‘não!’”, alerta a FIJ. Ao HM, José Carlos Matias, presidente da Associação de Imprensa em Português e Inglês de Macau (AIPIM), referiu que a entidade não foi contactada pela FIJ. “A nossa associação está a levar a cabo um inquérito sobre questões relacionadas com a liberdade de imprensa e acesso às fontes, estando agora a iniciar o processo de análise e redacção [do relatório]. Quando tivermos o relatório em mãos, vamos tentar ter uma visão sobre os problemas levantados”, concluiu.
Andreia Sofia Silva PolíticaSAFP | Proposta para aumentos por categorias este ano O director dos Serviços de Administração e Função Pública afirma que já no segundo semestre deste ano deverá ser apresentada uma proposta inicial para a actualização dos ordenados dos funcionários públicos. A ideia é estabelecer aumentos salariais conforme as categorias que desempenham [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap] se em vez de os aumentos na função pública serem iguais para todos existissem vários valores de aumento, para as diferentes categorias de trabalho? Em resposta à interpelação escrita do deputado Si Ka Lon, Kou Peng Kuan, director dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP), garantiu que uma proposta inicial nesse sentido deverá ser submetida ainda no segundo semestre deste ano. Os SAFP prometem realizar uma consulta junto dos funcionários públicos sobre o assunto, tendo prometido implementar o regime “passo a passo”. Em 2015, numa resposta a outro deputado, Kou Peng Kuan alertou para as dificuldades de implementação da medida, dada a “alta complexidade” que seria uma total alteração da estrutura salarial da Administração Pública. Kou Peng Kuan adiantou ao deputado Si Ka Lon que os SAFP vão, com base nos resultados da reflexão sobre o regime de carreiras, submeter uma proposta quanto à actualização das remunerações por categorias. O mesmo responsável acrescentou que o Governo já iniciou trabalhos sobre esta questão, tendo analisado o sistema já existente em Hong Kong. Tudo para que seja criado um mecanismo de actualização salarial mais flexível e razoável, e também para afastar os preconceitos em relação ao desempenho de diferentes categorias na função pública. O director dos SAFP recordou ainda a Si Ka Lon que existem várias medidas de apoio financeiro para os trabalhadores públicos das camadas mais baixas. A título de exemplo, no início deste ano o índice mensal do subsídio de residência passou de 30 para 40. Juntar categorias Para o deputado José Pereira Coutinho, também presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFPM), há muito que o Governo vem, sobre esta matéria, “navegando consoante os ventos que sopram”. Apesar de clamar pela implementação dos aumentos por categorias, Pereira Coutinho considera que deve haver junção de algumas delas, uma vez que as funções a desempenhar são muito semelhantes. “Propusemos a junção da categoria de técnico com a de técnico superior, por exemplo, para separar a água doce da água salgada em termos de remunerações, para que a situação seja mais justa para os trabalhadores da função pública. Não recebemos resposta às nossas opiniões”, disse ao HM. “O Governo explora trabalhadores pagando salários diferentes das funções exercidas. Propositadamente, o Governo contrata trabalhadores de índice 195 e obrigam-nos a exercer funções entre as categorias 260 a 350 da tabela indiciária. Enquanto o Governo não respeitar isso e continuar a explorar os trabalhadores desta forma, por mais que se actualizem os vencimentos de algumas categorias não se resolve o problema estruturante”, concluiu.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeLai Chi Vun | Dois estaleiros foram ontem demolidos O Governo arrancou ontem com a demolição de dois estaleiros na povoação de Lai Chi Vun. Os trabalhos fizeram-se de modo tranquilo, sem revolta dos moradores ou antigos construtores navais. As Obras Públicas vão fazer um concurso público para o novo planeamento [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] destruição já se adivinhava há cerca de dois dias na povoação de Lai Chi Vun. Alguns técnicos apareceram no local para fazerem marcações junto aos dois terrenos onde estão localizados os estaleiros em que o risco de queda é maior. Ontem, aquilo que moradores e antigos construtores de barcos mais temiam aconteceu: responsáveis da Direcção dos Serviços para os Assuntos Marítimos e da Água (DSAMA), juntamente com os técnicos da Companhia de Engenharia Sun Hong Kin, procederam à destruição dos dois primeiros estaleiros localizados logo no início da rua. Tudo começou por volta das nove da manhã, mas não houve registo de tumultos ou protestos. David Marques, porta-voz dos moradores de Lai Chi Vun, tem a sua casa localizada ao lado do primeiro estaleiro demolido. Ao HM, explicou que algumas pessoas se reuniram no local para garantir que nada acontecia às suas moradias, mas não houve sequer a tentativa de travar a demolição. A DSAMA nunca chegou a avançar a data oficial para o começo dos trabalhos, apesar de a questão ter sido colocada pelo HM. O comunicado de imprensa sobre o assunto só foi tornado público durante a manhã de ontem, quando as máquinas já trabalhavam a todo o vapor em Lai Chi Vun. O documento aponta que a DSAMA “instou à empresa de construção [Sun Hong Kin] que tomasse medidas para garantir que a obra não afectasse a segurança das barracas e instalações vizinhas”. Por sua vez, o Instituto da Habitação (IH) “aconselhou os residentes das barracas a desocuparem temporariamente as barracas durante a execução das obras”. O mesmo comunicado apontava ainda que “caso estes tenham necessidades e satisfaçam os requisitos, os serviços competentes podem disponibilizar-lhes alojamento temporário”. Necessidade que, segundo o porta-voz dos moradores de Lai Chi Vun, não parece existir para já. Si Kong Iao, engenheiro civil responsável pela empresa Sun Hong Kin, disse ao HM que os trabalhos de demolição dos dois estaleiros, incluindo a limpeza dos terrenos, deverão demorar 50 dias. O comunicado explica que depois “proceder-se-á ao nivelamento do terreno, para garantir a segurança pública e salubridade ambiental”. “A estrutura que dá apoio aos estaleiros estava quase a cair, e o tecto também estava prestes a colapsar. Como engenheiro digo que vale a pena esta demolição porque os estaleiros já estavam em muito mau estado”, referiu. A Sun Hong Kin será apenas responsável pelos trabalhos relativos aos dois estaleiros. “Não sei qual será o futuro dos restantes”, acrescentou Si Kong Iao. Concurso para novo estudo Quanto ao planeamento da zona, a DSAMA adianta apenas que “a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes irá coordenar os trabalhos relativos ao concurso público para a realização do estudo de planeamento”, isto apesar de já existir um relatório datado de 2012, cujo conteúdo se desconhece em pormenor. O objectivo é amplificar o “âmbito do planeamento, tendo em conta a realidade da zona, e ponderar, de forma global, o arruamento e instalações públicas da respectiva zona, atendendo às necessidades de desenvolvimento sustentável da vila de Coloane”. Tudo para que se possa oferecer “no futuro um espaço de melhor qualidade para os cidadãos e turistas”. Sobre os restantes estaleiros, a DSAMA garante que há quatro terrenos “cujo estado de instalações é aceitável e com melhor ambiente”, sendo que a entidade “está a analisar o pedido de renovação das licenças desses lotes”. Há ainda três lotes que foram recuperados nos últimos anos e que se encontram em “procedimento administrativo” por forma a serem entregues “aos serviços competentes após a sua conclusão”.