Jorge Álvares | Localização de réplica da biblioteca ainda por decidir

A Fundação Jorge Álvares quer edificar em Lisboa uma réplica da biblioteca de matriz chinesa que se encontra no jardim de São Francisco, junto ao Clube Militar, mas a localização ainda não é certa. Quatro anos depois, projecto ainda está a ser avaliado

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi há quatro anos que a Fundação Jorge Álvares decidiu erguer na capital portuguesa uma réplica da pequena biblioteca de matriz chinesa, da Associação Comercial de Macau, que está localizada junto ao Clube Militar.

Contudo, e após uma mudança de planos, o projecto ainda se encontra sob análise da Câmara Municipal de Lisboa, confirmou a própria fundação ao HM.

“O processo de execução da réplica [da biblioteca] encontra-se em desenvolvimento na Câmara Municipal de Lisboa. Entre outros aspectos administrativos, aguarda-se, após uma primeira definição, que consideramos inapropriada, de um local definitivo para a sua edificação e construção”, lê-se em resposta escrita.

Em 2014, Guilherme Valente, editor literário, era membro do conselho de administração da fundação e explicou ao HM que o projecto estaria a cargo do arquitecto Carlos Bonina Moreno.

“É um projecto muito edificante. Esta ideia foi acarinhada pela câmara municipal de Lisboa e já temos o projecto feito”, disse o responsável, garantindo que os custos deste projecto seriam totalmente suportados pela entidade.

“A fundação tem gerido com um rigor muito grande os seus fundos e tem recursos de rendimento que lhe permitem assumir a despesa toda”, acrescentou.

Nem data, nem local

Se em 2014 a fundação não tinha previsto um calendário para a sua inauguração, este continua a não existir, após a alteração dos planos iniciais.

“Desejamos [que seja inaugurada] o mais depressa possível, mas as coisas têm de ser bem feitas. Estamos a trabalhar para que o sítio indicado seja visitado, frequentado e animado”, frisou Guilherme Valente.

A ideia do editor literário era mostrar a união de duas culturas na capital portuguesa.

“Não há em Lisboa um monumento que seja bonito, significativo e que relacione e lembre a China e a nossa presença [em Macau]. Lembrámo-nos que um monumento bonito seria uma réplica da biblioteca chinesa do jardim de São Francisco”, apontou.

À data, a Fundação Jorge Álvares não tinha ainda feito contactos com o Governo de Macau para este projecto, mas mostrava-se aberta a eventuais parcerias.

19 Set 2017

Cinema | Thomas Lim quer colocar “Sea of Mirrors” no Festival Internacional de Macau

Começou a ser gravado em Abril, deverá estar concluído em Dezembro. “Sea of Mirrors”, a nova película de Thomas Lim, poderá ser um dos filmes presentes no Festival Internacional de Cinema de Macau

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]homas Lim, cineasta de Singapura a residir actualmente em Los Angeles, tem vindo a ter contactos e reuniões com organizadores do Festival Internacional de Cinema de Macau para que o seu mais recente filme, “Sea of Mirrors”, possa fazer parte das películas a concurso.

Em entrevista ao HM, o cineasta quis deixar claro que o filme só deverá estar concluído no próximo mês de Dezembro. Ainda assim, Thomas Lim quer fazer esta tentativa para mostrar uma película sobre Macau no território onde ela foi filmada.

“Tenho vindo a ter reuniões com os organizadores do festival e disseram-me que gostariam de ver um excerto do filme, ainda que a edição de vídeo e imagem não esteja concluída”, contou Thomas Lim, que deverá entregar as primeiras imagens já em Outubro.

“Faltam ainda três fases para concluir o filme, relacionadas com a edição de imagem, som e banda sonora, mas espero conseguir fazer isso. Como cineasta de Macau seria importante ter o meu filme neste festival.”

“É um festival local e seria para este filme um bom começo”, acrescentou o realizador. Contudo, Thomas Lim não quer criar falsas expectativas ou, sequer, apresentar uma película incompleta aos organizadores da segunda edição do evento.

“Não quero acelerar o processo de produção do filme. Vou tentar o meu melhor, mas não quero apresentar algo incompleto. Não quero dar uma má primeira impressão. Gostaria de lançar o meu filme no mercado no próximo ano, em meados do ano novo chinês, por isso seria óptimo mostrar agora o meu filme”, adiantou Thomas Lim.

ROBYN BECK/AFP/Getty Images)

Mais experiência

Thomas Lim passou recentemente por Macau, para onde viaja com alguma frequência. O território faz parte do seu imaginário como cineasta e é a ele que Lim recorre sempre que quer fazer um filme.

“Roulette City”, a sua primeira longa-metragem, teve o jogo como pano de fundo. Mas com “Sea of Mirrors” o cineasta de Singapura quis fazer diferente e contar outras histórias. Toda a película foi filmada com um iPhone. Mas entre os dois filmes há mais diferenças.

“Ambos foram filmados em Macau, mas sinto que, desta vez, aprendi mais. À medida que o tempo passa vamos aprendendo mais e mais, e aprendi muito a fazer o ‘Roulette City’.”

Com “Sea of Mirrors”, Thomas Lim conta que teve mais recursos e percebeu melhor as estratégias do que queria fazer. “Filmar com um iPhone foi uma das estratégias que decidi adoptar, trabalhar com antigos colaboradores foi outra. Quando fiz o ‘Roulette City’ não tinha muitos colaboradores a trabalhar comigo, foi o meu primeiro filme.”

A história de “Sea Of Mirrors” é sobre um ex-actriz japonesa que viaja para Macau na esperança de encontrar um investidor que pague um novo filme por ela protagonizado, mas nem tudo corre como esperado.

“O meu segundo filme continua a ser sobre Macau e o que acontece aqui. Gosto de usar Macau como a personagem principal dos meus filmes, e espero poder contar histórias que só tenham Macau dentro delas”, frisou.

Se no seu primeiro filme Thomas Lim deu destaque às interpretações, porque antes de ser cineasta foi actor, desta vez, em “Sea Of Mirrors”, a atenção foi transposta para a parte da realização.

Cineasta vs orador

No dia em que Thomas Lim conversou com o HM, esteve na Universidade de Macau a dar uma palestra para alunos. Algo que o cineasta afirma gostar de fazer, mas que não está no topo das suas preferências.

“Em primeiro lugar, gosto de fazer filmes. Porque, no final de contas, todas estas conferências que dou, estes eventos onde vou, acontecem porque faço filmes. E o filme tem de ser bom, então essa é a minha prioridade. A seguir, começo a pensar em como fazer um novo filme que também seja bom.”

Thomas Lim gosta de contar as suas experiências como cineasta, uma oportunidade que não teve quando começou no mundo do cinema.

“Não me considero um professor de cinema, apenas dou umas palestras nas universidades. E dá-me muita satisfação poder partilhar as minhas ideias junto dos jovens, porque quando comecei não tinha muitas pessoas que me inspirassem”, contou.

Em Singapura, Thomas Lim sentiu falta de referências. “Lá não temos figuras que nos inspirem no mundo das artes ou do desporto, por exemplo. Temos talvez figuras que nos inspirem no meio político, empresários. Não sabia, quando era jovem, que podia fazer isto. Não creio ser ainda bem sucedido, mas espero poder inspirar alguém com aquilo que faço.”

Macau e o jogo

Apesar de ter feito um filme que tinha os casinos como tema principal, Thomas Lim considera importante filmar outros fragmentos de Macau, contar outras histórias. Mas assume: filmar os casinos garante sempre a atenção da indústria estrangeira.

“Não foi deliberado não fazer, desta vez, um filme sobre o sector do jogo. Não temos de usar sempre o jogo como protagonista de um filme, mas podemos tirar partido disso, porque se a história tiver o jogo como pano de fundo vai atrair sempre mais a atenção do mercado internacional. Se fizermos um filme apenas sobre Coloane, vai ser difícil à comunidade internacional estabelecer um ponto de ligação, em termos de atenção”, rematou.

18 Set 2017

Eleições | Pereira Coutinho respirou de alívio e foi uma das forças políticas mais votadas

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi um dos primeiros candidatos a admitir que, nestas eleições legislativas, poderia não ser eleito deputado, cargo que ocupa desde 2005. Estavam em jogo 24 listas candidatas mas, além disso, José Pereira Coutinho tinha uma questão delicada contra ele: o processo dos seus filhos em tribunal, arguidos num processo de tráfico de droga, que serviu de arma de arremesso à candidata Song Pek Kei, num debate televisivo.

No final de contas, a vida familiar de Coutinho em nada afectou a sua reeleição, por 14.383 votos. Leong Veng Chai, o seu número dois, acabou por ficar pelo caminho.

“[O processo e as acusações] não afectaram [o resultado] porque as pessoas perceberam que são coisas separadas e que têm de ser resolvidas de maneira diferente. Estou satisfeito com o facto de isso não ter influenciado o resultado das eleições”, adiantou ao HM, na sede da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau.

Numa sala onde, horas antes, a festa aconteceu, restavam já poucas pessoas depois de o relógio ter passado das 2h. Marília Coutinho, sua cunhada, olhava para o ecrã com os resultados ao lado da irmã do candidato reeleito, Deliciosa Coutinho.

Ambas garantiam que, tal como a água se separa do azeite, Coutinho acabaria por vencer de novo, imune a processos e ataques dos adversários. “Não receei, nem por um momento, que ele não ganhasse as eleições”, defendeu Marília Coutinho ao HM. “Penso que as acusações de que foi alvo até viraram o bico ao prego. As pessoas ficaram mais compreensivas”, acrescentou.

Um novo cenário

Com a estreia de Agnes Lam e Sulu Sou na Assembleia Legislativa (AL), Pereira Coutinho entende que estamos perante um novo panorama político. “Dá para pensar nos resultados destas eleições porque mudam, de alguma forma, a fisionomia da próxima AL. Tenho algumas expectativas sobre a próxima legislatura, espero que haja uma maior fiscalização da acção governativa. Com a entrada desses jovens, é um primeiro passo para poder reformar a AL, que é pouco transparente.”

Apesar da vitória, o líder da lista Nova Esperança assegura que estas eleições “foram muito injustas”. “Houve muito aliciamento ao voto. As eleições mostraram que o trabalho que as forças tradicionais fazem ao longo do ano, com o licenciamento com bens de consumo de primeira necessidade, ainda funciona.”

“Basta ver as listas da Associação Geral dos Operários de Macau e moradores para percebermos que Macau ainda tem muito a fazer para elevar o nível cívico e político. Não será com uma ou duas gerações que isso será alterado”, rematou.

18 Set 2017

Agnes Lam promete abordar questão da liberdade académica

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]oncorreu pela primeira vez às eleições legislativas em 2009, mas perdeu. Quatro anos depois, o cenário repetiu-se. Mas, desta vez, a lista número quatro, intitulada Observatório Cívico, foi a grande surpresa da noite eleitoral.

Agnes Lam, docente da Universidade de Macau (UM), venceu com 9590 votos, mas ainda não sabe se vai abandonar de vez o Departamento de Comunicação da instituição pública de ensino.

“Tenho de falar com a reitoria da universidade primeiro, porque a eleição não era propriamente esperada. Tenho de organizar primeiro o meu trabalho”, contou ao HM.

A docente, que já foi jornalista, afirmou que vai “abordar a questão da falta de liberdade académica” no território, mas não esquece os restantes problemas. Muitos deles vieram à tona com a chegada do tufão Hato.

“Já temos na nossa agenda a abordagem aos problemas verificados com a implementação da lei do erro médico. Mas, graças à passagem do tufão Hato, percebemos que há muitas questões relacionadas com a segurança dos prédios, e também com o planeamento urbano.”

Virar o disco

Para ganhar as eleições legislativas, Agnes Lam assumiu ter adoptado uma estratégia diferente. “Foi uma vitória, estou muito contente. Mudei a minha estratégia e revi tudo depois de ter falado com algumas pessoas. Pensei que dessa forma chegaria a mais pessoas, porque originalmente a minha base de eleitores era muito restrita. Então mudei bastante a minha estratégia e agora resultou.”

A eleição de Agnes Lam pode introduzir uma certa participação de docentes universitários no meio político, mas também trazer, na perspectiva da candidata eleita, um maior brio na discussão das propostas de lei.

“Na Assembleia Legislativa, nos últimos anos, temos visto a aprovação de muitas leis e depois observamos a existência de muitos erros na sua implementação. Isso já aconteceu várias vezes, então a verdade é que existem vários problemas na forma como os deputados trabalham nos projectos de lei. Sendo eu académica, penso que serei mais cuidadosa com esse trabalho”, concluiu.

18 Set 2017

Melinda Chan, da lista 18, foi a grande derrotada das eleições

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] noite eleitoral começou bem para os lados da Doca dos Pescadores e os primeiros resultados, após a contagem dos votos de Coloane, pareciam indicar a reeleição de Melinda Chan, que concorria como líder da lista 18, a Aliança pr’a Mudança.

Contudo, à medida que as horas passavam, os gritos de euforia e os sorrisos depressa passaram às lágrimas da derrota. Melinda Chan não foi reeleita deputada por uma margem de 160 votos, e cá fora não faltaram rostos tristes e de semblante carregado, incluindo o de David Chow, seu marido e empresário, que esteve sempre ao seu lado à medida que se viam os números no ecrã.

“Estava confiante e estou muito desiludida”, disse aos jornalistas, por volta das 2h00, quando já se conheciam os primeiros vencedores. “Nunca pensei que não ia vencer, mas respeito a decisão dos cidadãos. Não sei o que aconteceu, talvez não tenham gostado do que disse na campanha”, apontou.

A candidata derrotada não sabe o que vai fazer a seguir. Continuar o trabalho na Associação de Beneficência Sin Meng é um dos planos, tal como “tirar umas longas férias”. O desapontamento de Melinda Chan foi tão grande que não sabe sequer se será candidata nas próximas legislativas, daqui a quatro anos. “Não me parece que vá concorrer novamente”, frisou.

O número três da lista, Jorge Valente, também se mostrou francamente desiludido, naquela que foi a sua estreia na política. “Teremos menos uma voz na Assembleia Legislativa que levaria várias ideias, incluindo algumas minhas”, respondeu. “Acho que perdemos alguns votos que viriam dos casinos, das listas que representam os trabalhadores, e os democratas ganharam alguns lugares. Temos de aceitar o resultado”, adiantou.

Apoiantes de Melinda Chan no auditório da Doca dos Pescadores. Foto: HM

Mudança de estratégia

No início da noite, o ambiente era de festa e vários residentes de Macau, a viver no Continente, deslocaram-se de propósito à Doca dos Pescadores para ver Melinda Chan vencer de novo.

Na plateia encontravam-se vários jovens, como foi o caso de Mathew Wong, de 27 anos e trabalhador num banco. “Ela teve um papel importante na discussão sobre a lei de protecção dos animais e lei da violência doméstica. Sinto que ela representa a maioria das pessoas. As gerações mais jovens querem uma mudança na sociedade e acredito que a maioria pensa que o futuro de Macau tem de mudar”, defendeu ao HM.

Mathew Wong não tem dúvidas de que a passagem do tufão Hato por Macau fez despertar consciências. “Muitas pessoas perceberam que algo tem de mudar no Governo e que precisamos de melhores transportes e infra-estruturas, mais transparência e menos burocracia”, apontou.

Foto: HM

Jorge Fão, que foi número dois de David Chow, marido de Melinda Chan, no hemiciclo, disse que a Aliança pr’a Mudança tinha mudado a sua estratégia. Dos assuntos sociais, queria começar a abordar as necessidades dos pequenos empresários e do sector do turismo.

“Mudámos para a classe média, média alta. Mudámos a estratégia, com alguns riscos, mas mudámos. Acho que isto vai dar bons resultados porque, neste momento, vamos contar com uma base de apoio suficiente. Vamos ver se isto vai pegar”, disse ao HM. Horas depois, ficou confirmado que a mudança de estratégia não gerou frutos.

18 Set 2017

Eleições | Chefe do Executivo e secretários votaram e apelaram ao voto

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s assembleias de voto abriram ontem às 9h00, tendo o Chefe do Executivo, Chui Sai On, ido votar por volta de um meio dia na secção de voto a que pertence na qualidade de eleitor, no Instituto Salesiano Imaculada Conceição.

Segundo um comunicado oficial, Chui Sai On apelou “aos eleitores para participarem activamente no processo eleitoral, exercendo o seu direito e dever cívicos, a fim de votar na lista favorita”.

O Chefe do Executivo referiu também que “as eleições decorrem de forma ordenada”, além de ter elogiado o trabalho da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL).

Nas palavras de Chui Sai On à imprensa, este órgão tem cumprido a lei em vigor, “permitindo aos cidadãos escolherem os seus representantes na Assembleia Legislativa, com o objectivo de fiscalizar os trabalhos do governo, bem como, preceder aos trabalhos de legislação, apresentação e revisão de lei”.

Confrontado com notícias de pessoas que terão sido barradas na fronteira, Chui Sai On disse “não estar a par dos pormenores”, tendo referido que esse caso “não tem relação directa com os trabalhos da CAEAL e do Comissariado contra a Corrupção”.

Secretários também apelam

Quem também votou ontem de manhã foi o secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, que se deslocou à assembleia de voto localizada no Estádio de Macau, na Taipa.

Lionel Leong também apelou à participação cívica, tendo adiantado que “as eleições decorrem de forma legal, justa, transparente e íntegra”.

O secretário acrescentou que “os eleitores irão certamente exercer o seu direito de voto de forma racional e prudente, no sentido de eleger deputados à Assembleia Legislativa com capacidade de supervisão, debate político e aptidão legislative”.

Lionel Leong disse ainda, citado por um comunicado, que “qualquer tema político ou económico merece a atenção dos candidatos e dos futuros deputados”.

Também Alexis Tam, secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, votou num dos pavilhões do Estádio de Macau, tendo dito que o território “promoveu um sufrágio justo, parcial e íntegro”.

Alexis Tam votou esta manhã na Taipa. Foto: GCS

“De acordo com as notícias e com aquilo que fui ouvindo da parte dos residentes, as eleições deste ano encontram-se a decorrer de uma melhor forma em relação às edições anteriores”, disse, citado por um comunicado.

Alexis Tam lembrou a participação de todos os eleitores registados, mas sobretudo dos jovens, para que escolham os deputados que “falem por Macau e que trabalhem verdadeiramente pelos interesses da população”.

Quem também votou na Taipa, por volta das 9h00, foi Raimundo do Rosário, secretário dos Transportes e Obras Públicas, que disse estar bem disposto.

Relatório a caminho

Sónia Chan, secretária para a Administração e Justiça, também votou esta manhã, tendo dito que os eleitores “se devem empenhar no exercício do seu direito cívico”.

Sónia Chan, secretária para a Administração e Justiça

Concluídas as eleições, a secretária adiantou que a CAEAL “irá elaborar um relatório final onde irão constar as questões relacionadas com a execução da Lei Eleitoral e respectivas sugestões, que posteriormente servirão de referência para uma avaliação a ser efectuada pelo Governo”.

Presidente do TUI votou

Sam Hou Fai, presidente do Tribunal de Última Instância (TUI), votou no mesmo local que Chui Sai On e apelou aos eleitores para “exercerem o seu direito e dever cívico e para que participem activamente no acto eleitoral”. Tudo para que possam eleger “os candidatos que consideram estar empenhados no território, para que estes façam parte do próximo hemiciclo”.

O presidente do TUI adiantou ainda que “não recebeu qualquer informação sobre corrupção eleitoral, pelo que acredita que mesmo que existam casos, os mesmos deverão estar em fase de investigação e análise”.

Palavra de presidente

Ho Iat Seng, presidente da Assembleia Legislativa, votou ontem no Instituto Politécnico de Macau e disse esperar que “surjam novas caras na VI AL”, pois tal “dinamizará os trabalhos do hemiciclo”.

Ho Iat Seng votou esta manhã

“A AL dá sempre atenção às questões ligadas ao quotidiano da vida da população. Quando os assuntos ligados à habitação, transporte, assistência médica, educação e economia são bem resolvidos, a sociedade sente-se estável e os residentes são mais felizes”, acrescentou Ho Iat Seng.

O presidente do hemiciclo espera ainda que os novos deputados hoje eleitos possam “trabalhar de forma racional e não violar o Regimento da Assembleia Legislativa”.

17 Set 2017

Eleições | Lista de Sulu Sou queixa-se de três listas concorrentes ao Ministério Público

A lista Associação do Novo Progresso de Macau entregou três queixas junto do Ministério Público. Sulu Sou e Paul Chan Wai Chi dizem-se vítimas de difamação e boicote por parte das listas Ajuda Mútua Grassroots, Ou Mun Kong I e pela candidatura de Lee Kin Yun

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] campanha eleitoral da lista Associação do Novo Progresso de Macau tem decorrido de forma turbulenta nos últimos dias. A candidatura liderada por Sulu Sou e Paul Chan Wai diz-se vítima de difamação por parte de três listas concorrentes.

Segundo explicou Andrew Cheung, membro da lista, ao HM, as queixas apresentadas junto do Ministério Público (MP) dizem respeito a alegadas acções promovidas pela lista número 22, intitulada Ajuda Mútua Grassroots e liderada por Wong Wai Man. A lista número 23, Associação Activismo para a Democracia, liderada pelo activista Lee Kin Yun, é também uma das visadas, bem como a lista número 17, Justiça de Macau (Ou Mun Kong I), de Lei Sio Kuan.

Em causa estão acções de boicote nas actividades de campanha promovidas pela lista dos candidatos pró-democrata. De acordo com Andrew Cheung, as três listas visadas terão enviado grupos de pessoas para as actividades de campanha de Sulu Sou e Paul Chan Wai Chi, tendo empenhado cartazes com comentários negativos e proferido palavras de ataque.

“Segundo a lei, este tipo de comportamento violento pode levar a três anos de prisão. Além dos próprios candidatos, existem mais pessoas que interferiram nas nossas campanhas, e questionamo-nos porque é que a polícia não agiu”, afirmou Andrew Cheung.

Um dos últimos casos originou inclusivamente a abertura de um processo de investigação da parte da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL).

Em plena acção de campanha, esta semana, os líderes da lista Associação do Novo Progresso de Macau foram confrontados com um grupo de pessoas que começou a gritar frases como “Wong Kin Long, não envenene os jovens!”, “Perante a desgraça, a pátria apoia-nos” e “A independência de Hong Kong é desumana”.

Estas pessoas afirmaram ter lido notícias que garantiam que o candidato seria a favor do movimento independentista de Hong Kong, que tem os activistas Joshua Wong e Nathan Law como protagonistas. Após esse episódio, os candidatos esclareceram que essas acusações são falsas e que não apoiam o movimento em causa. No entanto, a CAEAL prometeu averiguar o caso.

Contratos a prazo

Ontem, os candidatos Sulu Sou e Paul Chan Wai Chi realizaram uma conferência de imprensa no bairro do Iao Hon, onde prometeram lutar pela revisão do quadro geral do pessoal docente das escolas particulares do ensino não superior.

Em causa está a perda de garantias dos docentes com mais anos de experiência e que são, alegadamente, empurrados para a reforma sem o desejarem.

“Sabemos do caso de uma escola que recentemente despediu dez professores, sendo nove deles experientes. O Governo não garantiu uma supervisão adequada à acção destas escolas”, adiantou Andrew Cheung.

Segundo disse Sulu Sou ao HM, a lista tem vindo a receber muitas queixas de professores e docentes nos últimos dias de campanha. “A nossa plataforma política dá atenção ao sector da educação. Temos vindo a receber muitas opiniões e queixas nas últimas duas semanas. São opiniões de professores e pais. Querem que apelemos junto do Governo sobre a lei das escolas privadas”, frisou o líder da lista.

Sulu Sou disse ainda que são sempre assinados contratos a prazo a cada dois anos, sem que isso dê uma estabilidade à carreira docente. “Algumas escolas privadas, aquando da revisão dos contratos todos os anos, não respeitam a lei laboral. Mesmo que o professor trabalhe na escola durante o período de dois anos continuam a ser assinados contratos a prazo. Isto não está de acordo com a lei e isso causa pressão psicológica aos professores”, disse.

O candidato a um lugar no hemiciclo afirma existirem ainda, nas escolas privadas, casos de professores despedidos sem justa causa. “Queremos rever a lei caso sejamos eleitos, para que os professores tenham mais garantias”, concluiu Sulu Sou.

17 Set 2017

Cloee Chao, croupier e candidata às eleições: “Os meus votos não são os de Angela Leong”

Passou de activista a candidata e diz que a sua lista, a Linha da Frente dos Trabalhadores dos Casinos, é a única exclusivamente composta por funcionários de jogo das camadas mais baixas. Cloee Chao lidera a lista número 25 e promete lutar pela melhoria das regalias dos trabalhadores do jogo, caso seja eleita para a Assembleia Legislativa

 

É presidente da Associação Novo Macau para os Direitos dos Trabalhadores do Jogo, que realizou várias actividades de manifestação como a entrega de cartas. Tem dados estatísticos sobre o número de queixas que recebeu este ano?

Não, mas recebemos, em média, uma ou duas solicitações por mês. Uma vez recebemos oito queixas sobre um caso de aumentos salariais e, através da nossa associação, falámos com a empresa para melhorar a situação. Só quando o assunto não é resolvido é que decidimos manifestar-nos e tornar o assunto público. Recebemos um caso ligado à Sands China, em que um grupo de engenheiros continuava com o estatuto de estagiários ao fim de três anos de trabalho. Os engenheiros que estavam a ser recrutados recebiam 15 mil patacas de ordenado, mas esse grupo de trabalhadores continuava a receber 11 mil patacas, sem qualquer aumento.

Que assunto gera queixas mais frequentes?

Recebemos muitas queixas sobre a questão da proibição de fumo. A lei diz que não é permitido fumar em algumas salas de jogo, mas a empresa permite que os clientes fumem. Até há fiscais que fumam e usam os copos de água como se fossem cinzeiros. Se os croupiers se queixarem, os fiscais ficam do lado dos clientes e criticam os trabalhadores. Por isso, temos vindo a contactar com o Gabinete para a Prevenção e Controlo do Tabagismo e os Serviços de Saúde para que resolvam estes casos. A situação melhora durante uns tempos, mas depois volta a repetir-se.

O seu programa político foca-se na defesa dos direitos e interesses dos trabalhadores de jogo. Mas o que defende em relação a outras áreas, como a habitação e o trânsito, por exemplo?

Este ano, a concorrência nas eleições é enorme e muitas das listas já abordaram de forma detalhada esses assuntos. É por isso que decidimos enfatizar os problemas que existem na nossa indústria. Das 24 listas candidatas, a nossa é a que dá mais destaque às solicitações dos trabalhadores do jogo, mas isso não quer dizer que ignoremos os outros assuntos. Ao nível da habitação, é difícil para um trabalhador do jogo candidatar-se à obtenção de uma casa económica, porque há muitos jovens a candidatar-se. Com o regime em vigor, os interessados demoram 20 anos a conseguir entrar na lista. Quanto à habitação social, só mesmo os desempregados é que conseguem uma fracção, porque uma família com membros que tenham emprego não consegue ter esse direito. No sector privado, é preciso, no mínimo, um milhão de patacas para adquirir uma casa muito básica. Um casal, em que ambos sejam croupiers, leva para casa todos os meses cerca de 40 mil patacas. Isso não dá para pagar as prestações, porque também existem outras despesas. Concordamos com o candidato Ng Kuok Cheong quanto à ideia de “terra de Macau destinada às gentes de Macau”, porque é preciso ajudar os jovens a comprar uma casa e combater os actos de especulação.

Foto: Sofia Margarida Mota

Tem medo de perder votos, uma vez que o seu programa político não dá destaque aos assuntos sociais?

Pensámos rigorosamente sobre isso e decidimos cortar essas áreas do nosso programa. Penso que as pessoas não têm compreendido muito bem a nossa lista, porque acham que a nossa candidatura vai roubar votos às outras listas. O nosso objectivo é aumentar as fontes dos votos. A sociedade julga que os trabalhadores do jogo não dão muita atenção à política, mas vão começar a prestar mais atenção quando começarem a pensar nas condições de vida nos próximos anos. Os empregados dos casinos querem melhores condições de trabalho, por isso vão estar mais atentos à política, mesmo que não tenham direito a votar. Com base nessa ideia, decidimos eliminar as propostas sobre habitação, trânsito e assuntos sociais. 

Acredita que vai conseguir roubar votos a Angela Leong (candidata pela União do Desenvolvimento de Macau)?

A minha fonte de votos é diferente da de Angela Leong. Há também outras listas que estão ligadas ao sector do jogo, mas os seus líderes ocupam cargos de chefia. Somos a única lista composta apenas por trabalhadores das camadas base. Isto é óbvio e não causa qualquer confusão. 

Num debate televisivo foi confrontada por Kou Meng Pok, candidato que luta pelos direitos dos investidores do Pearl Horizon. O candidato fez-lhe uma pergunta sobre a protecção do direito à propriedade privada, prevista na Lei Básica, mas depois foi interrompida. O que pensa de facto sobre esse assunto?

Concordo com esse ponto da Lei Básica e também com a implementação da Lei Sindical. Esperamos que seja implementada porque nos últimos anos não tem passado de papéis em branco. Nesse momento queria responder a Kou Meng Pok que concordava com ele, que quero garantir a protecção da Lei Básica e a implementação da Lei Sindical. Defendemos o direito à propriedade privada, mas essa é uma solicitação deles. 

Caso seja eleita, qual vai ser a sua prioridade como deputada à Assembleia Legislativa (AL)?

Vou focar-me no aumento das regalias dos trabalhadores dos jogos, para que sejam iguais às dos funcionários públicos. Apesar de as operadoras de jogo serem empresas privadas, são concessionárias e, nos últimos anos, os juízes têm aplicado as infracções aos funcionários de jogo como se trabalhassem para o Executivo, com os mesmos critérios. Os trabalhadores, caso sejam culpados, merecem ser punidos, mas então não teriam também direito a regalias iguais? Aquando da liberalização do sector do jogo, foi feita a promessa de que os trabalhadores seriam bem tratados, mas vimos agora que as receitas estão estáveis. É altura de as operadoras cumprirem com aquilo que prometeram. O prazo para a renovação das licenças está a terminar, mas as operadoras ainda não cumpriram o prometido.

Caso não seja eleita, que planos tem para o futuro?

Tenho trabalhado na associação e esse trabalho não vai parar. Sou também vice-presidente do conselho fiscal da Iniciativa de Desenvolvimento Comunitário de Macau, pelo facto de o jogo ser uma parte essencial do desenvolvimento comunitário. Vou lutar pela melhoria das condições providenciadas pela indústria, que envolve milhares de famílias. Espero que haja uma mudança.

Manterá então o trabalho que tem vindo a fazer.

Sim. Vamos continuar a exigir às operadoras de jogo mais acções antes da renovação das licenças. Será sempre melhor ser eleita, claro, mas caso não o seja, ao menos mostramos à sociedade o que pensamos, o nosso programa político, se bem que já atingimos esse objectivo. Se obtiver, por exemplo, seis mil votos e não for eleita, ao menos sei que há seis mil pessoas que me apoiam. Quando chegar a altura da renovação das licenças, acredito que o Governo não vai ignorar essas solicitações.

A sua lista tem menos recursos do que as outras?

Muitos questionaram-nos sobre a origem dos nossos fundos e recursos. A nossa lista tem oito candidatos e recorremos às nossas poupanças para comprarmos as coisas e fazermos as actividades. Não gastámos muito dinheiro porque os panfletos foram feitos por nós, bem como os vídeos. A nossa música de campanha foi feita pela minha filha.

O facto de terem poucos recursos vai afectar os resultados das eleições?

Se compararmos com as associações tradicionais, temos menos vantagens. Nos últimos dias temos feito muitas acções de campanha durante a noite, mas não é a falta de recursos que nos impede de fazer mais. A única coisa que podemos fazer é distribuir panfletos, divulgar o nosso programa político e dizermos quem somos. Temos aproveitado muito as redes sociais para mostrar o nosso programa político.

Em 2014 esteve muito activa nos protestos em defesa dos croupiers. Depois afastou-se. Este ano voltou como candidata. Deixou de sofrer pressões de algum tipo?

Não foi bem assim. Em 2013 já estava activa nas manifestações, um ano depois tornei-me secretária-geral da Forefront of Macau Gaming e nessa altura realizávamos protestos duas a três vezes por mês. Depois disso muitos colegas meus deixaram de ir para as ruas e fiquei sozinha a contribuir para essas iniciativas. Talvez devido aos nossos recursos limitados não tenham recebido as informações e, por isso, pense que estive mais afastada. Os trabalhadores do jogo sabem que estive sozinha a trabalhar nesta área. Muitos dos meus colegas começaram a ser pressionados pela empresa onde trabalhavam e também nas redes sociais, e depois deixaram de aparecer. Várias notícias sobre as nossas acções não foram publicadas de propósito, e daí surgir essa ideia de desaparecimento.

Durante os protestos de 2014 sofreu pressões da empresa?

No início houve algumas pressões, mas depois no meu local de trabalho começaram a ficar habituados porque, como os problemas não se resolviam, os trabalhadores continuaram a aparecer e a fazer queixas. Várias empresas começaram a aceitar as nossas reivindicações. Neste momento, em alguns casos, já nem precisamos de enviar cartas, os problemas começam logo a ser solucionados.

Está satisfeita com o que tem feito ao longo destes anos? Acha que conseguiu resultados?

Há muitos aspectos que foram melhorados. Valeu a pena, mas também passei pouco tempo com a minha família. Os resultados que obtive levaram-me a participar nestas eleições.

17 Set 2017

Arnaldo Ho, candidato às eleições: “Políticas de jogo e habitação não se devem misturar”

Filho de Stanley Ho e Angela Leong, Arnaldo Ho participa pela primeira vez nas eleições de Macau. Ligado ao projecto do Lisboa Palace e à gestão do Grand Lisboa, o candidato conta que começou por aprender a ser croupier para perceber as bases do negócio. Estudou em Londres e passou férias no empreendimento Vale de Lobo, no Algarve, mas é aqui que diz querer servir a comunidade. Arnaldo Ho garante que todos os eleitores são importantes, incluindo os portugueses, e defende que a habitação é o problema mais grave que o Governo tem de resolver

 

Que balanço faz dos últimos dias de campanha? Acredita que podem eleger dois candidatos?

Tenho de acreditar que existe essa possibilidade. Todos os nossos candidatos têm trabalhado arduamente nas últimas semanas. Precisamos de pessoas que acreditem e votem em nós.

Quais têm sido as maiores preocupações das pessoas, com base no contacto que tem tido com a população?

Uma das questões que mais tem preocupado as pessoas nos últimos dias tem que ver com a capacidade do território em termos de infra-estruturas e desenvolvimento urbano, depois da passagem do tufão Hato.

Num dos últimos debates promovidos pela TDM, a candidata Wong Kit Cheng [líder da Aliança do Bom Lar] acusou-o de não conhecer bem Macau. O que tem a dizer sobre isso?

Ela não me conhece bem. Eu também nunca me cruzei com ela na vida. Relativamente a Macau, estudei no estrangeiro [viveu oito anos em Londres, onde estudou Gestão de Empresas no King’s College], mas sempre viajei muitas vezes entre Hong Kong e Macau. Macau sempre foi a minha casa e aqui sempre fiz trabalhos de Verão. Alguns familiares meus vivem em Macau e vinha para cá todas as férias ou fins-de-semana desde criança. Sempre tive interesse pelos negócios da família e, na verdade, sempre estudei e analisei a sociedade de Macau. Quando entrei na Sociedade de Jogos de Macau (SJM) comecei por ocupar os cargos base da empresa. Todos os dias, quando terminava o meu trabalho, ia para as salas de formação para aprender a ser croupier.

Achava importante começar do início.

Queria aprender a ser croupier, esse era o meu interesse, para poder compreender todo o negócio. Temos de compreender o que os empregados fazem; se não, como podemos gerir um negócio como este? Nos últimos tempos tenho estado muito envolvido no projecto do Lisboa Palace e nas operações do Grand Lisboa. Talvez seja por isso que a candidata Wong Kit Cheng não saiba muito bem o que ando a fazer. O empreendimento Lisboa Palace deve abrir no próximo ano e tenho estado envolvido nos preparativos, na parte da construção, e gasto muito do meu tempo a gerir a pré-abertura. Estimamos que vamos necessitar de recrutar cerca de oito mil pessoas e isso constitui uma grande oportunidade para Macau, sobretudo para as gerações mais novas. Estou exactamente a fazer aquilo de que Wong Kit Cheng me acusou de não fazer, que é providenciar empregos e oportunidades aos mais jovens. E não são apenas empregos na área do jogo, mas em várias áreas, por se tratar de um grande resort. Queremos trazer um conceito novo. 

Em que sentido?

Queria ainda falar mais sobre a ideia de comunidade e serviço social. Ser um candidato e fazer parte desta lista mostra que sempre quis fazer este projecto, servir a comunidade que me deu oportunidades e experiências. Uma coisa vinda dos meus pais [Angela Leong e Stanley Ho] que sempre me inspirou foi o facto de não ter sido criado apenas com a ideia de ganhar dinheiro e operar um negócio. Sempre me transmitiram a ideia de como poderia servir a comunidade, os meus pais sempre acreditaram nisto. Ser candidato permite-me ter esta voz e atingir este objectivo. O meu pai sempre me transmitiu a ideia de servir a sociedade e nunca me esqueci das minhas raízes em Macau. É preciso olhar para as necessidades dos grupos mais vulneráveis e temos de nos focar na diversificação da economia e na implementação das políticas do Governo, caso sejamos eleitos. 

Há 24 listas a participar nestas eleições. Quais as grandes diferenças entre a Nova União para o Desenvolvimento de Macau e os restantes candidatos?

Temos 12 membros na nossa lista que vêm de várias áreas, não apenas do sector do jogo, mas também do imobiliário, desporto, educação e serviço social. Representam desde grupos vulneráveis a empresários, passando por trabalhadores da área social. A nossa lista abrange, portanto, um grande número de grupos sociais. A grande diferença é que, como equipa, entendemos as pessoas de diferentes estratos sociais, as suas necessidades e problemas. A nossa proposta para o futuro de Macau foca-se na resolução de problemas de uma forma prática.

Pode vir a substituir a sua mãe, Angela Leong, como número um nas próximas eleições legislativas?

Tenho aprendido muito com ela. Não gostaria ou deveria substitui-la nesse papel. Ela é o meu modelo e tenho vindo a compreender muitas coisas nesta campanha. De facto, esta é uma grande oportunidade para aprender. 

Vem de uma família muito importante do sector do jogo. Que ideias tem para os jovens da sua idade que enfrentam dificuldades diárias para a compra de casa ou pagamento de uma renda?

Compreendo que o mais difícil para os jovens de Macau neste momento é a compra de uma habitação no sector privado. Um empréstimo leva anos a ser pago e os casais com rendas elevadas sentem, claro, uma frustração ainda maior. Outro aspecto que também é importante é o facto de os jovens de Macau necessitarem de se focar nas suas carreiras, pois acredito que a sociedade precisa de inovação e diversificação. Mas ainda na área da habitação, a nossa lista defende a criação de alojamentos para jovens. Com este sistema os jovens poderiam ter acesso a uma casa por um período de três a cinco anos, a preços mais baixos. Nesse período poderiam focar-se na sua carreira ou na criação de um negócio, e não teriam de se preocupar com a questão da habitação.

No que toca aos principais problemas de Macau, quais são aqueles que ainda não têm uma solução apresentada pelo Governo?

A habitação é talvez o maior problema. Não há terrenos suficientes para a construção de habitação pública e os preços das casas privadas não são suportáveis. Esse é um problema que o Governo tem de resolver. Além da implementação dos alojamentos para jovens, o Governo deveria adoptar políticas diferentes. Em Hong Kong aponta-se para a adopção de medidas que apoiem os compradores da primeira habitação. Ainda não foram criadas, mas Macau poderia olhar para elas. Os mercados são diferentes, mas o Executivo precisa mesmo de adoptar outras políticas.

O Governo não garantiu, nos últimos anos, um equilíbrio entre o fornecimento de terrenos para o jogo e habitação?

As políticas do jogo e de habitação não se devem misturar. Os resorts construídos no Cotai foram um plano adoptado para o território há muitos anos e foi bom para a economia. O jogo tornou-se a indústria mais importante e todos os países do mundo têm uma indústria mais forte na sua economia, não podemos desistir disso. Agora que a maior parte dos empreendimentos está construída, precisamos de diversificar com mais elementos não relacionados com o jogo. A habitação é outra questão. Nos novos aterros o Governo tem de garantir um crescimento na vertical, como vemos em Hong Kong. Há que apostar também na renovação dos bairros antigos.

Sente-se ligado à comunidade portuguesa? Considera que é uma comunidade importante para as eleições, apesar de representar um pequeno número de eleitores?

É uma comunidade importante para o desenvolvimento social e económico. A estratégia nacional de “Uma Faixa, Uma Rota” e o projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau são muito importantes para o futuro de Macau e aqui a comunidade portuguesa pode tornar-se mais importante na contribuição das relações comerciais com os países de língua portuguesa. Quanto às eleições, todos os cidadãos de Macau e todos os eleitores são importantes, porque têm o direito de votar. Cada comunidade tem o seu pensamento e os seus objectivos. É preciso comunicarmos mais entre nós, caso contrário nunca saberemos o que cada comunidade deseja.

14 Set 2017

Marisa Peixoto, directora do Jardim de Infância D. José da Costa Nunes

 

Era, até há bem pouco tempo, educadora no jardim-de-infância de matriz portuguesa, mas a saída de Lola Flores do Rosário levou à sua escolha para a direcção do D. José da Costa Nunes. Marisa Peixoto quer aproximar a escola aos pais e à comunidade, e diz que são necessários mais terapeutas da fala em Macau

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m novo ano lectivo, mais alunos. O que traz de novo ao Costa Nunes?

Por enquanto, ideias, porque tenho de seguir o que já estava definido. Normalmente preparamos o ano lectivo no fim do ano anterior. Tenho sobretudo ideias para implementar nos próximos anos. Espero que o ano lectivo corra da melhor maneira possível e que as crianças saiam daqui felizes, e que os pais também estejam satisfeitos.

É, portanto, uma directora na continuidade.

Ajudei a fazer o plano anual, mas ainda como educadora. Como directora ainda não trago nada de novo.

Disse que queria fomentar o ensino do cantonês. Como é que isso vai ser feito?

O cantonês já existia no ensino extracurricular. Este ano vamos ter o cantonês mas em moldes de workshops, e como são muitas horas dá para estender durante todo o ano lectivo. As crianças vão participar, sendo que o workshop é também dirigido a funcionários.

O jardim-de-infância é de matriz portuguesa, mas tem cada vez mais alunos chineses. O objectivo deste projecto é ir transformando aos poucos a escola numa instituição bilingue?

Não, de todo. O objectivo é que as crianças portuguesas e de língua não materna chinesa (temos crianças que só falam mandarim) possam aprender um pouco mais de cantonês, que é a língua que se fala na rua. Eu adorava saber cantonês, por exemplo. É interessante, já que vivemos em Macau, ter essa oportunidade, e decidimos estender isso às crianças. Quanto mais cedo começarem, melhor.

O jardim-de-infância recebe mais alunos todos os anos. Há uma capacidade de expansão e de resposta face a esta tendência?

Por enquanto temos capacidade de resposta, mas não iremos ter para muitas mais turmas. Estamos a usar a sala de actividades no edifício novo, onde estão as educadoras de infância. Temos ainda salas no edifício antigo, que são usadas como refeitório e também para as restantes actividades. A nossa capacidade não irá além de duas ou três salas, mas estão sempre a sair os alunos de cinco anos, que ocupam quatro salas. Por isso temos capacidade de reabrir estas salas.

Sobre o ensino do mandarim, vão tentar equilibrar o ensino nas duas línguas?

O mandarim é obrigatório para todos, mesmo para as crianças que já dominam a língua. Temos apoio ao português todos os dias e as crianças que já dominam o cantonês podem ter workshops de português, enquanto as outras estão nos workshops de cantonês. Mas ainda vamos fazer esses horários.

As línguas dificultam o processo de integração dos alunos e a relação com as educadoras e os colegas?

No início é um pouco difícil, se bem que tentamos ter sempre na sala alguém que fale cantonês. Algumas educadoras falam, mas nem todas. Depois, as crianças vão interiorizando algumas palavras. Para os pais também é difícil, ficam ansiosos porque não conseguem ajudar. Acham que depois de um mês as crianças já deveriam falar português. Eu tive a experiência como educadora. Como não domino cantonês, sentia que não os conseguia perceber para satisfazer as necessidades que tinham.

Esperava chegar a directora de uma escola em Macau, sobretudo uma instituição como esta, com um papel importante na sociedade?

Não, de todo. Estava a fazer o meu papel como educadora com muito gosto e não estava à espera. Fiquei contente porque é o reconhecimento do meu trabalho. Quando saiu a directora Vera Gonçalves achava que a nova directora (Lola Couto do Rosário) era para ficar.

Traz a estabilidade que o Costa Nunes precisa, com esta nova direcção?

Espero que sim.

Disse-me que está a seguir o plano que já tinha sido estabelecido. Mas que novas ideias traz para o jardim-de-infância?

São ideias que vou ter de amadurecer com as minhas colegas, porque muitas são elas que as põem em prática. Gostava de chamar mais os pais, para que fizessem mais parte deste processo educativo de três anos. Gostava de ter mais actividades direccionadas a pais e filhos e também à comunidade envolvente. Ia passar por pequenos e grandes projectos. Quero chamar mais a comunidade e os pais ao jardim-de-infância.

As famílias entregam muito a educação dos seus filhos à escola e depois há um distanciamento?

Não tenho essa ideia, de todo. Mas, se calhar, até gostariam de estar mais presentes. Temos algumas actividades dirigidas a pais e filhos, mas não muitas. Sinto os pais muito interessados no processo de educação dos filhos.

A língua portuguesa é realmente uma aposta da parte deles. O Costa Nunes vai responder a isso nos próximos anos? Há uma manutenção desta tendência?

Penso que sim, e se tivermos mais crianças de língua não materna portuguesa teremos de ter mais apoio, dentro e fora da sala de aula, ao português. A tendência vai continuar a ser esta, a ter mais crianças de língua materna não portuguesa.

Em termos de recursos humanos fazem falta mais educadoras bilingues?

Se existirem, óptimo. Por outro lado, se não souberem, não caem na tentação de falar a mesma língua da criança. Desta forma, as crianças mais rapidamente entendem o português e fazem um esforço para falar e entender. Mas, de facto, se houvesse mais educadoras bilingues não sentiam as dificuldades que senti no início.

Pretendem contratar mais pessoas?

Se abrirmos novas salas sim, até lá penso que não.

Em termos de infra-estruturas, havia alguns projectos de obras em andamento. Como está esse processo?

Já foram autorizadas as obras no recreio, que serão feitas no Verão do próximo ano. As obras nada têm que ver com tufão, tivemos apenas pequenos danos.

O Costa Nunes continua a fazer a diferença e a demarcar-se das outras instituições de ensino? Como?

A maior diferença – e é a opinião dos pais que nos chega, chineses sobretudo – é ser uma escola com um currículo muito diferente, mais aberto, onde as crianças aprendem através do brincar. Não temos o ensino da escrita e da leitura. Se virmos que a criança tem necessidade disso, claro que vamos alimentar, mas não é institucional, não é obrigatório. Temos crianças que antes de chegarem aos seis anos já conseguem ler, e aí não pomos de parte essa competência. Essa obrigatoriedade de leitura e de escrita não está sequer nas metas que seguimos de Portugal e de Macau. Os pais sentem essa liberdade e gostam da parte de brincar dos filhos, sentem falta disso nos currículos das escolas chinesas.

Tendo em conta as novas directrizes implementadas pela Direcção dos Serviços de Educação e Juventude (DSEJ), acha que o ensino é muito exigente e apela pouco à criatividade e pensamento livre do aluno?

As escolas pecam por isso. A DSEJ está a tentar mudar, a criar currículos mais flexíveis e que as escolas apliquem isso, que dêem importância à parte artística e ao brincar, que é tão importante nestas idades. É uma questão cultural, mas a DSEJ está a tentar mudar para melhor.

Chegou a Macau em 2014. Que desafios sentiu em relação ao sistema educativo?

Tive de mudar algumas coisas porque tinha crianças de língua não materna portuguesa. Esse foi o meu maior desafio. Tive de remodelar o meu modo de ensino, os meus planos, e tentar trabalhar de modo a dar mais apoio a essas crianças. Quando queria contar uma história, a alunos de três anos, tinha de usar coisas mais visuais. Tive de me adaptar.

É preciso inovar no sistema educativo local? Em termos de recursos humanos e não só de docentes, mas ter, por exemplo, mais formação para o pessoal auxiliar?

Em relação ao pessoal auxiliar, ou agentes de ensino, nenhuma das pessoas que temos cá tem formação em educação. Em Portugal já há esse curso e acho que seria importante ter cursos de formação aqui. Sentimos que é importante, e fazia a diferença e sentido.

Em termos de apoio pedagógico ou de medidas para crianças com necessidades educativas especiais, há lacunas?

No nosso caso, não temos necessidade de mais terapeutas. Temos duas educadoras a tempo inteiro para o apoio ao aluno inclusivo, três conselheiras escolares e uma psicóloga. Sentimos falta, com a quantidade de crianças que temos tido, de termos mais terapeutas da fala. Começamos a sentir que a pessoa que dá a terapia da fala não tem mãos a medir com tantas crianças. Seria importante termos um terapeuta mais dirigida para a nossa escola e não um profissional que tenha de andar por várias escolas. Pelo menos que estivesse a tempo parcial.

É necessária uma flexibilização do sistema de recrutamento no sector da educação?

Acho que sim. Não temos direito a um terapeuta só para nós, temos de seguir algumas normas, como termos um número de alunos suficiente. Mas depois têm poucas horas por semana. Os alunos recebem esse apoio, mas não é necessário para resolver alguns casos. Há pais que têm de recorrer ao apoio privado, e a maioria das terapeutas só fala chinês. Terapeutas que dominam o português são poucos.

Aquando da saída de Lola Flores do Rosário foi noticiado que havia questões relacionadas com orçamentos por clarificar. Tudo isso já foi resolvido?

Sim, penso que foi sobretudo sobre o financiamento do Fundo de Desenvolvimento Educativo, da DSEJ. Mas já está tudo resolvido.

13 Set 2017

Eleições | Na Rotunda Carlos da Maia, a política não importa muito

Ella Lei, líder da lista União para o Desenvolvimento, queixa-se de ser alvo de difamações anteriormente feitas à sua antecessora, Kwan Tsui Hang. A candidata fez ontem campanha junto à Rotunda de Carlos da Maia, mas os potenciais eleitores mostraram-se mais interessados nos espectáculos

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s 24 listas candidatas às eleições legislativas do próximo domingo têm percorrido as ruas com panfletos e actividades. Ontem foi a vez de Ella Lei, número um da lista União para o Desenvolvimento, que esteve presente numa acção de campanha junto à Rotunda de Carlos da Maia.
Junto ao mercado dos Três Candeeiros, os apoiantes da lista envergavam roupa de cor vermelha com corações, a imagem oficial da lista 16. No meio de panfletos e holofotes, a plateia, na sua maioria idosa, mostrou-se mais atenta à música e ao espectáculo do que às ideias políticas que ali se iam discutir.
Duas pessoas com quem o HM falou afirmaram que se dirigem à Rotunda de Carlos da Maia todas as vezes que se realizam actividades das listas candidatas às eleições. Num dos locais mais populosos do território, junto à Avenida Horta e Costa, o objectivo de quem ali vai não parece ser ouvir debates políticos ou pensar sobre o trabalho dos deputados, mas sim ver os espectáculos organizados pelas listas candidatas à Assembleia Legislativa.
Sou, de 90 anos, disse que as actividades realizadas no local trazem mais dinamismo a quem ali vive. Política à parte, este residente considera que o Governo deveria organizar mais eventos naquela pequena rotunda, para impulsionar mais o bairro.
Quando questionados sobre o sistema político, os dois idosos deram respostas vagas, revelando mais incertezas do que ideias concretas. “Não sei muito sobre assuntos sociais”, disse Wong, de 67 anos. Mesmo sem uma opinião formada, Wong admitiu que vai votar no próximo domingo, por ser uma obrigação que deve cumprir como residente permanente.

Actos e acusações

À margem da actividade de apelo ao voto, Ella Lei disse que a concorrência este ano é uma das maiores da história política do território, tendo assumido a existência de vários desafios nos últimos dias de campanha.
A candidata garantiu que, apesar de ter trabalhado muito desde que o arranque da campanha, os trabalhos relacionados com os assuntos sociais não têm parado.
Ella Lei contou ainda ter vindo a ser alvo de boatos difamatórios nos últimos dias, que já estariam associados a Kwan Tsui Hang quando esta era número um da candidatura ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau. A candidata explicou ainda que, como Kwan Tsui Hang está de saída da Assembleia Legislativa, os actos de difamação foram transferidos para si.
O caso já estará em tribunal, mas Ella Lei adiantou que os actos de difamação não terminaram. Segundo a candidata, grupos de pessoas terão empunhado cartazes com fotografias suas na zona das Portas do Cerco, com várias frases de acusação.
Nessas acções, Ella Lei foi acusada de participar em actividades de incitamento ao voto, mas a candidata disse não ter estado sequer presente. A líder da lista 16 acrescentou que já foi feita uma queixa junto da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa.

13 Set 2017

Novo Macau | Lista diz-se afastada do movimento independentista de Hong Kong

A lista Associação do Novo Progresso de Macau, liderada por Sulu Sou e ligada à Novo Macau, diz-se afastada do movimento independentista de Hong Kong e nega notícias que associam declarações de um candidato aos episódios políticos do território vizinho

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ulu Sou e Paul Chan Wai Chi, os dois principais candidatos da Associação do Novo Progresso de Macau (ANPM), realizaram ontem uma conferência de imprensa para negar o que consideram serem rumores e falsas interpretações publicados na imprensa chinesa. Em causa estão comentários feitos pelo número quatro da lista, Wong Kin Long, no ano passado, nas redes sociais relativos a Macau e ao movimento independentista de Hong Kong.

Em comunicado, a Associação Novo Macau (ANM), ligada à lista em causa, diz que as declarações do candidato foram retiradas do seu contexto e diz que “se opõe ao movimento independentista”. “A ANPM, ligada à ANM, rege-se pela Lei Básica e pelo princípio ‘Um País, Dois Sistemas’”.

“Os candidatos da lista ANPM assinaram uma declaração de fidelidade para com a RAEM e a República Popular da China junto da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa. As palavras que o candidato número quatro disse num debate académico foram descontextualizadas”, lê-se no comunicado.

Os candidatos consideram que o surgimento destas notícias faz parte de uma “campanha para descredibilizar” a lista. “Wong escreveu nas redes sociais sobre a questão hipotética de uma possível coexistência entre a defesa da independência e candidatura. O objectivo do levantamento desta questão foi lembrar o público sobre a existência de possíveis lacunas na lei de segurança nacional e na lei eleitoral da Assembleia Legislativa”, esclarecem os candidatos.

Sulu Sou e Paul Chan Wai Chi afirmam ainda que o número quatro da ANPM “foi o primeiro, este ano, a falar da discrepância entre as versões portuguesa e chinesa da lei eleitoral”

Protestos em campanha

Segundo o jornal Ponto Final, este caso levou a uma acção de boicote de uma actividade de campanha eleitoral levada a cabo pela ANPM. Quando os candidatos se encontravam a distribuir folhetos na zona da Rotunda de Carlos da Maia, uma dúzia de homens e mulheres começou a gritar frases como “Wong Kin Long, não envenene os jovens!”, “Perante a desgraça, a pátria apoia-nos” e “A independência de Hong Kong é desumana”.

O mesmo jornal escreve que este grupo de pessoas afirmou ter lido notícias que afirmavam que o candidato seria a favor do movimento independentista de Hong Kong, que tem os activistas Joshua Wong e Nathan Law como os principais protagonistas.

Ao HM, Andrew Cheung, outro dos candidatos da lista, afirmou que este episódio e a publicação destas notícias têm apenas como objectivo manchar a candidatura ligada ao campo pró-democrata.

A conferência de imprensa de ontem serviu ainda para os candidatos se justificarem em relação a outros rumores que têm surgido na imprensa chinesa. Sobre o caso dos alegados subornos recebidos por Andrew Cheong, um caso que já está a ser investigado pelo Ministério Público, após queixa de Caruso Fong, os pró-democratas esperam que se faça justiça.

“[Andrew] Cheong espera que o início do processo de investigação pelas autoridades revele a verdade junto do público. Cheong tem orgulho na sua participação honesta no seu trabalho e activismo”, remata o comunicado.

12 Set 2017

Análise | Indústria norte-americana do jogo com pouca influência na política local

A presença da Wynn e da Sands China na indústria do jogo trouxe para Macau dois gigantes norte-americanos: Sheldon Adelson e Steve Wynn. Os dois magnatas têm uma enorme influência na política norte-americana e um pouco por onde estabelecem negócios. Por cá, passam despercebidos e não se metem no sufrágio que vai eleger o próximo elenco da Assembleia Legislativa. O HM falou com alguns analistas que desvendaram este discreto fenómeno

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s eleições em Macau estão longe de estar inundadas com dinheiro de Super Pac, de anúncios televisivos milionários, grupos de lobbies a trabalhar com legisladores e outras emanações políticas norte-americanas. A curta duração da campanha eleitoral, em comparação com os quase três anos de angariação de dinheiro que os políticos norte-americanos têm de fazer para terem uma chance de eleição, mudam a forma como os grupos de interesse se podem aproximar dos centros de poder. Ainda assim, vista a composição da Assembleia Legislativa (AL), não falta representação de indústrias como a construção, imobiliário e, claro está, o jogo.

Sheldon Adelson

No entanto, os dois magnatas que têm uma influência tremenda em tudo o que são corridas eleitorais americanas, não apenas à Casa Branca, parecem afastados da eleição do próximo domingo.

Uma das razões para tal acontecer passa pela própria legislação eleitoral que exige uma posição de neutralidade às concessionárias de jogo no que toca à qualquer vestígio de influência nas eleições. Isso não impede que tenham assento parlamentar figuras ligadas ao sector, tal como Angela Leong.

“Não podem apoiar nenhum candidato, nem podem financiar directamente ninguém em específico. Se olharmos para Angela Leong, ou Melinda Chan, que estão ligadas à indústria dos casinos, reparamos que são candidatas que estão separadas do sector durante as eleições”, comenta o académico Larry So.

Entre as pessoas com mais preponderância na política norte-americana oriundas do Estado do Nevada, onde fica Las Vegas, Adelson e Wynn surgem como duas figuras incontornáveis. Na campanha que viria a conduzir Donald Trump para a Casa Branca, Sheldon Adelson fez doações de mais de 82,5 milhões de dólares para candidatos republicanos e 40 mil dólares para democratas.

O magnata e CEO da Sands já havia doado mais de 150 milhões de dólares na campanha que resultou na reeleição de Barack Obama. Estas são as somas que se conhecem, que foram declaradas à Comissão Federal de Eleições. Porém, existem formas de doar dinheiro anonimamente, através dos chamados Super Pac, que escapam a este controlo.

Por cá, esta influência directa nos processos de eleição/nomeação não existe. Nem de forma sub-reptícia, de acordo com Larry So. “Não acredito que, mesmo de uma forma indirecta, apoiem candidaturas, não de uma forma tipicamente norte-americana, não compram candidatos ou influenciam as eleições”.

Viragem histórica

Steve Wynn

Mas que não se pense que os interesses de quem financia o Super Pac e grupos de lobby fica pela predilecção de candidatos. Sheldon Adelson doou cerca de 20 milhões de dólares para um Super Pac, próximo do líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, que resultou numa iniciativa legislativa que, efectivamente, iria banir o jogo online. Uma medida que o magnata do jogo há muito perseguia. As contribuições em dinheiro tornaram-se públicas no dia 20 de Setembro do ano passado; no dia 21 a legislação foi proposta ao Senado.

Em Macau, este grau de interferência não se sente. Larry So entende que existe igualmente uma barreira cultural e de política internacional, ou seja, “as relações com norte-americanos podem levantar suspeitas”. O analista explica que os líderes do sector norte-americano do jogo em Macau podem ter alguém em mente, mas que esta proximidade não pode ser estrategicamente visível. A aproximação dos interesses norte-americanos ao poder local teria de implicar “uma abordagem mais diplomática”.

O apoio directo a uma lista seria um óbvio erro para máquinas empresariais que estão habituadas a estar perto dos centros decisórios. “Eles preferem usar as suas práticas normais, sendo assim mais fácil tentar influenciar políticos que já estão no poder”, comenta Larry So.

Numa outra perspectiva, Arnaldo Gonçalves entende que as operadoras de jogo não têm qualquer relação com a ida às urnas. “As eleições são para eleger representantes das comunidades locais, as operadoras são meros operadores económicos como os outros”, comenta. O académico considera que um comportamento deste género seria “uma intromissão nas questões internas da RAEM”, uma interferência que não se regista noutros sectores da sociedade.

Aliás, no contexto do sufrágio que se avizinha, Arnaldo Gonçalves entende que “estas eleições marcam uma viragem na história, têm uma natureza completamente diferente das anteriores, são mais abertas, ligadas a grupos funcionais e a interesses da própria comunidade, não tanto como no passado, mais ligadas a casinos e a associações mais tradicionais”. O académico considera que Macau está a atravessar um período em que, “do ponto de vista político, há mais riqueza”.

Pouca utilidade

Arnaldo Gonçalves. Foto: Gonçalo Lobo Pinheiro

Outra das questões que pode ser determinante para a não interferência dos grupos norte-americanos nas eleições que se avizinham é a proximidade da data de fim das actuais concessões. “Os empresários dos casinos não são estúpidos, estamos a alguns anos da revisão das licenças de jogo e esse comportamento seria um tiro no pé”, comenta Arnaldo Gonçalves. O académico acresce que tal estratégia representaria uma má aposta, uma perda de dinheiro e oportunidade.

Na opinião de Arnaldo Gonçalves, a própria candidatura de Angela Leong, directora-executiva da Sociedade de Jogos de Macau, acontece do ponto de vista individual.

O académico encara este tipo de candidaturas numa perspectiva da importância social de uma figura de relevo na sociedade que toma um papel de preponderância na esfera política. “Acho que vamos ver esta tendência no futuro. Por exemplo, nas eleições europeias, sobretudo as locais, temos pessoas importantes da comunidade a apresentar candidaturas independentes sem ligação a partidos”, comenta.

Esta é uma tendência que Arnaldo Gonçalves encara que possa vir a ser cada vez mais frequente.

As diferenças entre a política norte-americana, ou mesmo ocidental, e a de Macau são consideráveis no que à orgânica diz respeito. Como tal, a influência sobre o órgão legislativo pode não ser o alvo mais apetecível de interesses especiais. Aliás, já nas eleições de 2013 Adelson e Wynn se mantiveram afastados das eleições para a AL.

Benjamin Wang, director do Centro Pedagógico e Científico da Área do Jogo, levanta a questão de que o verdadeiro poder não se encontra na AL. O académico é da opinião de que exercer influência no órgão legislativo não é uma estratégia eficaz. “Nestas eleições, apenas 14 deputados são eleitos directamente pelos cidadãos e, de qualquer forma, os legisladores não são a melhor via para fazer uma aproximação ao poder, porque não têm grande influência para a indústria”, teoriza o académico.

Benjamim Wang não vê na AL o alvo mais apetecível para este tipo de sector. “Não acho que os legisladores sejam os melhores agentes para afectar o Governo, aliás, o sector tem muitos canais para passar a sua mensagem, tais como meios de comunicação social para moldarem a opinião pública”, explica.

O investigador entende que para estabelecer um contacto mais directo seria mais útil uma aproximação à liderança da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos, à Direcção dos Serviços de Finanças, a representantes do Governo mais elevados, incluindo o próprio Chefe do Executivo.

12 Set 2017

Menstruação | Grupo de Hong Kong quer promover educação nas escolas de Macau

Chama-se “MenstruAction” e é um grupo que visa o debate sobre um assunto que ainda é tabu em Hong Kong. Joyce Fung tem vindo a promover workshops em prol da liberdade de escolha das mulheres. O grupo quer também desenvolver acções com escolas de Macau

[dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]oyce Fung licenciou-se em Sociologia pela Universidade de Hong Kong e decidiu abordar um assunto que é ainda tabu numa sociedade que considera conservadora. A menstruação e a falta de debate sobre o assunto levaram-na a desenvolver um projecto final de curso e a criar o grupo “MenstruAction”, juntamente com Jessie Leung.

A ideia do grupo criado no Facebook, e que já foi notícia no jornal Guardian, é dar liberdade de escolha às mulheres, para que tenham mais opções além do tradicional penso higiénico. O grupo de mulheres que compõe o “MenstruAction” tem também promovido workshops e campanhas de educação sexual.

Ao HM, Joyce Fung contou que o projecto poderá também estender-se a Macau, território que considera ser também conservador neste aspecto. “Não conheço o panorama da educação sexual em Macau, mas em Hong Kong há ainda muito conservadorismo em relação a isso. Macau é também uma sociedade tradicional chinesa e penso que a situação seja mais ou menos semelhante ao que temos aqui”, afirma.

“Penso que seria interessante contactar entidades em Macau que têm interesse em divulgar a mensagem que estamos a promover. Poderíamos começar nas escolas, por exemplo”, acrescentou uma das fundadoras do grupo.

Governo tem culpa

Além das palestras sobre o assunto, as mulheres que fazem parte do grupo “MenstruAction” pretendem implementar máquinas, acessíveis um pouco por toda a cidade, que possam disponibilizar vários tipos de produtos para os dias do período, como é o caso dos tampões ou dos copos menstruais.

“Queria começar um debate sobre este assunto porque na sociedade chinesa, bem como nas sociedades asiáticas, gostaríamos que existisse um maior debate, para que o estigma deixe de existir”, explicou Joyce Fung, que defende que o Governo de Hong Kong ajuda a que se prolongue o tabu.

“O Executivo de Hong Kong tem alguma culpa, pois faz com que a sociedade continue a ser conservadora sobre este assunto. Enquanto grupo apenas podemos trabalhar do ponto de vista da educação e penso que isso é muito importante. O nosso Governo não tem feito o suficiente e não tem promovido campanhas de educação sexual suficientes”, considera.

Para Joyce Fung, Taiwan será o território onde as mulheres têm uma maior liberdade de escolha em termos de produtos e também acesso a mais diálogo. Se Macau está no mesmo patamar que Hong Kong, no Continente a situação será ainda pior, aponta.

“Conheço melhor a realidade de Taiwan, e são mais abertos sobre esta questão. As pessoas já usam outro tipo de produtos e não apenas os pensos higiénicos. As gerações mais novas em Hong Kong já começam a aceitar, mas as gerações mais velhas não. Na China a situação é ainda pior, as mulheres nem sequer usam tampões”, frisou.

12 Set 2017

Eleições | Menos de metade das listas têm programa político em português

Apenas quatro das 24 listas candidatas às eleições legislativas pelo sufrágio directo têm programas políticos em português e inglês. No sufrágio indirecto, só Chan Hong tem algumas frases na língua de Camões. Candidatos e um ex-deputado consideram que há um distanciamento face ao eleitorado que domina o português, por ser pouco representativo

[dropcap style≠’circle’]“É[/dropcap] necessária uma voz profissional e independente na Assembleia Legislativa (AL)”. É esta a frase que faz a capa do programa político de Agnes Lam, docente universitária e líder da lista Observatório Cívico. A lista número 4, candidata às legislativas do próximo dia 17, é das poucas que tem o programa político traduzido em português, bem como em inglês.

No ano em que as eleições contam com o maior número de listas candidatas de sempre, um total de 24, são apenas quatro as listas que optaram por traduzir os seus programas políticos na íntegra. Algumas das restantes listas têm apenas algumas frases traduzidas para português, inclusivamente com alguns erros gramaticais.

A Aliança pr’a Mudança, liderada por Melinda Chan, além de ter o macaense Jorge Valente na lista, é outra das que apresenta um programa político bilingue. Um dos lemas é “lutar pelas futuras gerações” e promete-se, entre outras coisas, “promover o desenvolvimento do sistema político, fiscalizar as acções governativas e aperfeiçoar o ordenamento jurídico”.

A lista Nova Esperança, liderada por José Pereira Coutinho, também tem um programa eleitoral nas duas línguas. Com macaenses e chineses na lista, a Nova Esperança propõe-se a lutar pelo aumento do valor dado pelo Governo nos cheques pecuniários, bem como “aumentar os direitos e regalias dos grupos vulneráveis”.

A lista “Nova Ideais de Macau”, liderada por Carl Ching, é a única que tem o programa político traduzido para inglês, algo que pode estar associado ao facto de o candidato ser natural de Hong Kong.

A lista encabeçada por Sulu Sou, intitulada Associação do Novo Progresso de Macau, diz apenas na língua de Camões que pretende “Unir esperanças para o progresso de Macau”. Já a lista do veterano Au Kam San, intitulada Associação de Novo Movimento Democrático, apresenta apenas palavras chave como “habitação”, “emprego” ou “transporte”, bem como a máxima “Aumentar as habitações públicas, assegurar os empregos, avançar corajosamente para Macau”.

O único espaço que portugueses e macaenses (que não dominam por completo a língua chinesa) têm para ouvir as ideias de todos os candidatos é no período de tempo de antena que passa diariamente na Rádio Macau. Aí é garantida a tradução.

Eleitorado sem interesse

Em declarações ao HM, Jorge Fão, membro da direcção da Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC), e antigo deputado, garante que a ausência de tradução é uma questão de “pragmatismo”: afinal de contas, o universo de eleitores portugueses conta muito pouco para a obtenção de um assento no hemiciclo.

“É uma questão de pragmatismo e não de desprezo [pelo idioma]. As pessoas acham que a comunidade portuguesa é pequena e não tem havido contactos. Pensaram que eventualmente poderiam dispensar os votos das comunidades portuguesa e macaense”, defendeu. 

Fão, que chegou a ser deputado ao lado de David Chow, recorda que a língua portuguesa nunca foi presença assídua nas campanhas eleitorais.

“É triste e é uma pena que as pessoas não dêem importância à língua lusa. Já antes de ser deputado, nos actos eleitorais, apoiando o meu amigo, tínhamos sempre os programas nas duas línguas. E nas outras listas raramente havia programas traduzidos.”

O membro da direcção da APOMAC destaca uma ou outra lista que traduziu as suas ideias políticas para a língua de Camões, incluindo a presença de “vários membros da comunidade”, como é o caso de José Luís Pedruco Achiam e de Armando Amante, que compõem a lista liderada por Angela Leong, Nova União para o Desenvolvimento de Macau.

Jorge Fão aponta sobretudo o dedo às listas do campo pró-democrata.

“Nunca deram muita importância à nossa língua. Conheço Ng Kuok Cheong há muito tempo e sempre foi um indivíduo que nunca deu muita importância à nossa língua. É triste verificar isto. Acharam que não temos força em termos de votos para influenciar o que quer que seja, e podem dar-se ao luxo de dispensar os nossos votos.”

Afastamento natural

Para Jorge Valente, número três da lista Aliança pr’a Mudança, estamos perante uma situação onde há “falta de visão e de abrangência”. 

“Um deputado deveria representar toda a população, e se não fizer um programa político noutras línguas está a excluir os falantes de português.”

Para o candidato, a ausência de tradução não afasta os eleitores. Simplesmente mostra que a lista em causa não tem nada para lhes oferecer em termos de ideias e objectivos políticos.

“Não afasta o eleitorado, as listas é que, por opção, não têm nada que interesse aos falantes da língua portuguesa. Há listas que não têm nada que seja a favor dos portugueses e macaenses”, apontou.

Jorge Valente adiantou ainda que “nestas eleições observamos que há muitas listas específicas”. “Não é isto que um deputado deveria ser. Quem vai para a AL não deve representar só um grupo de interesses.”

Jorge Fão recorda que todo este afastamento ou distanciamento começou após a transferência de soberania.

“Estamos um pouco à margem. Depois de 1999 a comunidade começou a desligar-se mais da política. Até aí estávamos bastante ligados. Isto não é bom, mas é a realidade. Tem sido difícil para vingar ou ganhar alguma coisa no acto eleitoral, a não ser que já tenhamos uma máquina montada.”

Jorge Fão recorda o tempo em que foi dirigente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM). “Nessa altura a máquina estava montada e elegemos um deputado.”

José Pereira Coutinho, actualmente presidente da ATFPM, só seria eleito em 2005. “Quando ainda estava nas lides eleitorais Coutinho também não foi eleito. Apesar de ser uma máquina, nem sempre conseguiu eleger. E com o meu afastamento ele foi eleito”, frisou.

Obrigar ou não?

Para Jorge Fão, a Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL) deveria obrigar as listas candidatas a elaborarem os programas políticos nas duas línguas oficiais.

“A CAEAL deveria exigir isto, poderia dar instruções nesse sentido. Se não deu, foi incorrecta”, apontou.

“Para que a comunidade pudesse participar deveríamos obrigar a que os programas políticos fossem feitos nas duas línguas. A CAEAL fez publicidade nas redes sociais e mesmo aí a língua usada é o cantonense, não ouvi português. A própria comissão eleitoral também não se dignou a estimular o uso da língua portuguesa, o que não é bom.”

Para o candidato Jorge Valente, tornar a tradução uma obrigação poderia ser interessante, mas não mais do que isso.

“Não sei se faz muito sentido obrigar. A campanha eleitoral é feita pelas listas, e se eles optarem por não traduzir o programa politico diz tudo, estão a mandar uma mensagem muito clara no sentido que os falantes de português estão excluídos.”

“Mesmo que o programa eleitoral seja traduzido este eleitorado não encontra nada que os interesse. Seria interessante mas não iria mudar nada, seria algo feito por obrigação e até poderia ficar tudo mal traduzido”, rematou o número três da Aliança pr’á Mudança.

 

Um macaense numa lista chinesa

Na lista Poderes do Pensamento Político o nome de António da Conceição Oliveira Lopes é o nome português que se destaca. Ao HM, o candidato, que assume o lugar de número dois, explicou que foi ele próprio que traduziu algumas ideias essenciais do programa político para português. Ainda assim sentiu dificuldades, por não ser formado em tradução. 

“O nosso programa foi escrito em chinês e traduzimos alguns pontos essenciais para português. Só temos mesmo alguns temas em português, é difícil para mim fazer a tradução e foi difícil encontrar tradutores para fazer este trabalho, para me ajudar. Tenho feito este trabalho sozinho”, apontou.

Falta de meios e recursos financeiros são apontados por António Lopes como causas para a ausência de tradução. “Era importante que os programas tivessem traduzidos, porque há muitos portugueses e macaenses. Há quem só fale português e quem não consegue ler chinês.”

António Lopes garante que a tradução acaba por ficar posta de lado pelo facto dos candidatos terem a ideia de que o eleitorado português pouco ou nada acrescenta aos votos necessários para a eleição.

“Sei de muitas pessoas que sabem que a maioria dos eleitores são chineses e não ligam muito aos portugueses e macaenses. Muitos pensam que se colocarem o programa em português não traz grandes avanços, e acabam por pôr isso de parte.”

Na visão do número dois da Poderes do Pensamento Político, a própria CAEAL deveria “obrigar à existência dos programas nas duas línguas”. “Seria melhor para os macaenses que não conseguem ler chinês, para que possam ter acesso a todos os programas.”

 

Sufrágio indirecto sem tradução 

Um olhar sobre os candidatos à Assembleia Legislativa pela via do sufrágio indirecto permite concluir que a língua portuguesa também está afastada dos programas eleitorais. A tradução não existe mesmo nas listas em que um dos membros domina o português, como é o caso da União dos Interesses Profissionais de Macau, que tem o advogado Vong Hin Fai como candidato. Chan Hong, que concorre pelo sector educacional, é a única candidata que tem algumas frases em português no seu programa político. Os seus objectivos passam por “zelar pela salvaguarda da justiça social”, “promover a inclusão e a convivência harmoniosa dos deficientes” ou “reflectir as opiniões da população.

11 Set 2017

Warmwall | No disco “City of Dreams” há um outro lado de Macau

Chamam-se Gassi Pang e Chai Kefu e juntos formam a banda Warmwall. O disco “City of Dreams”, lançado recentemente, é muito mais do que uma alusão ao famoso casino do Cotai. São oito canções sobre os sonhos ou a falta deles, ou de como podemos ficar confortavelmente presos a cadeiras imaginárias

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s sonoridades pouco ou nada têm de asiático ou de inspiração das famosas musicas K-Pop. Ouvir as oito canções que compõem o álbum “City of Dreams” remetem-nos para a Europa ou Estados Unidos.

São estas sonoridades mais pop-rock, ou de rock alternativo, que fazem bater os corações de Gassi Pang e Chai Kefu na hora de fazer canções. “City of Dreams” foi lançado recentemente no espaço de concertos intitulado Live Music Association e, para ser gravado, obteve o apoio financeiro do Instituto Cultural (IC).

O HM encontrou-se com Gassi Pang e Chai Kefu e conversámos sobre um álbum que começou a ser delineado, um pouco por acaso, quando ambos eram alunos da escola secundária. Chai Kefu começou a escrever algumas canções, enquanto Gassi Pang concluiu muitas das composições que iam surgindo.

“Já tocávamos numa banda há cinco anos”, contou Gassi Pang. “Nessa altura tinha outro nome, mas esse projecto acabou.”

Para gravar “City of Dreams”, os dois fizeram-se acompanhar por vários músicos para chegarem ao resultado desejado.

“Tivemos muitos parceiros para gravar este disco. Somos apenas dois músicos e gostaríamos de adicionar outras sonoridades, outros instrumentos”, explicou Gassi Pang.

Gritos na cidade

“City of Dreams”, a música que dá o nome ao álbum, é, aos olhos dos seus compositores, um grito, uma expressão por aquilo que este território é na maior parte das vezes.

“Quando escrevi a canção ainda era estudante. Já conhecia o Gassi e foi ele que acabou de compor. A sensação que tínhamos nesta altura era uma enorme vontade de gritar. Gritar por causa da cidade”, contou Chai Kefu.

Para Gassi, as oito canções do disco dão a resposta aquilo que o álbum é na sua essência.

“Todas estas canções são diferentes, mas têm um ponto em comum: o facto de estarmos em Macau. É o mesmo nome do casino, mas é um nome que tem outro significado. A imagem do álbum mostra uma cadeira, e é como se alguém tivesse sempre amarrado à cadeira. A partir daí decidimos dar o nome ‘City of Dreams’”, apontou.

Quando Gassi saiu da escola começou a trabalhar num casino. Foi aí que se deparou com vidas presas a cadeiras, pessoas que ficam eternamente em empregos demasiado confortáveis, mas sem uma perspectiva de futuro.

“Trabalhava num casino há cinco anos mas não estava muito feliz. Vi muitos jovens assim, nestes trabalhos, sentados nestas cadeiras. Os meus colegas eram assim. Alguns deles preferiam estar a fazer música, ou outro tipo de trabalho, mas simplesmente optavam por ficar na cadeira, por causa do bom salário.”

Na cidade onde existe um espaço de jogo intitulado “City of Dreams” será fácil sonhar? Gassi garante que, no território onde existe pleno emprego, é fácil ter um bom salário, mas não chega para ter acesso a todos os sonhos.

“Talvez seja difícil sonhar em Macau. É fácil encontrar um trabalho, é fácil entrar nos casinos, este nome explica isso. Os mais jovens podem encontrar facilmente um emprego mas não têm outras perspectivas. A maior parte está sentada numa cadeira como a que está na capa do álbum e não se mexem, estão confortáveis. É isso que significa”, acrescentou um dos membros da banda.

Em Macau “as pessoas andam pela cidade, a um ritmo alucinante, e existem construções por todo o lado”. “Vivemos na cidade dos sonhos, mas só temos acesso a metade disso”, frisou Gassi.

Banda separada

Para divulgarem este projecto, a banda deixou espalhadas pela cidade várias mensagens nas paredes, onde constam apenas as palavras “City of Dreams” e pequenas cadeiras. Depois do primeiro concerto no LMA, é pouco provável que este disco volte a ser tocado ao vivo. Pelo menos no território, já que há a possibilidade de serem realizados alguns espectáculos em Taiwan, onde estuda Chai Kefu.

“Quanto a outros concertos, para já não, porque eles os dois vão voltar para Taiwan para estudar e este mês ainda podemos tocar em Macau. Mas como grupo será difícil voltar a tocar o ‘City of Dreams’”, explicou Gassi.

Gassi diz-se, ele próprio, afastado das canções que ajudou a compor há um punhado de anos. O tempo passou e ele próprio mudou como pessoa. Ainda trabalha num casino, mas confessa ter outros projectos musicais em mente.

“Acho que não vou fazer outro álbum, mas ele (Chai Kefu) sim. Fizemos estas músicas há três anos mas já não sinto nada em relação a estas canções, porque estou mais virado para outras sonoridades, como o Folk. Já não sou a mesma pessoa, mudei”, rematou.

11 Set 2017

Eleições | O balanço da primeira semana de campanha

[dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]az amanhã uma semana que as 24 listas candidatas à Assembleia Legislativa andam nas ruas a apresentar os seus programas políticos à população. Três analistas dizem existir pouca inovação por parte dos candidatos, uma repetição de ideias e uma mera troca de acusações entre adversários.

O pontapé de saída oficial para a campanha eleitoral deu-se na passada sexta-feira à noite, na praça do Tap Seac. Desde então que a semana tem sido preenchida com acções de campanha e apresentação dos programas políticos das 24 listas que se candidatam este ano à Assembleia Legislativa (AL) pela via directa.
Além das promessas habituais, os debates na TDM com todos os candidatos já originaram uma polémica, com a deputada Song Pek Kei a fazer referência ao facto dos filhos de José Pereira Coutinho estarem a ser julgados no Tribunal Judicial de Base por suspeitas de tráfico de droga. (Ver texto na secção de política).
Troca de galhardetes e promessas à parte, três analistas dizem que existe pouca inovação dos programas políticos e que falta uma estratégia bem definida.
“O maior problema que encontro nos programas políticos é o facto de parecerem catálogos e de não estarem muito bem projectados”, disse Eric Sautedé, analista político e docente universitário.
“Falta um projecto, uma ambição, propostas que sejam abrangentes e ainda assim coerentes. Em vez disso, na melhor das hipóteses, os eleitores têm um catálogo com algumas boas ideias sem uma perspectiva articulada”, acrescentou o académico.
Eric Sautedé diz que estes “catálogos” têm uma boa dose de populismo.
“Do que temos visto, temos sobretudo um catálogo com sugestões populistas. São, na maioria, propostas que os candidatos, assim que forem eleitos, vão esquecer ou deixar de lado.”
O analista, que expressou, nas redes sociais, o apoio à lista Associação do Novo Progresso de Macau, encabeçada por Sulu Sou e Paul Chan Wai Chi, explica as estratégias que as listas deveriam adoptar.
“Se é uma lista pró-ambiente, as medidas de protecção ambiental devem ser o principal foco do projecto político. Se é uma lista mais virada para o mercado, então as medidas económicas são cruciais. Isto não significa que as listas não devam cobrir todos os assuntos, apenas revela que os candidatos estão dispostos a assumir prioridades.”

Só acusações

Façamos então uma retrospectiva do que algumas listas têm prometido, caso obtenham votos suficientes para os seus líderes terem assentos no hemiciclo. A lista União para o Desenvolvimento é agora liderada por Ella Lei e volta a defender a necessidade de atribuir regularmente habitação pública aos residentes, tal como garantir que não há importação excessiva de não residentes.
Au Kam San e Ng Kuok Cheong são veteranos e concorrem este ano em listas separadas, Associação Novo Democrático e Associação Próspero Macau Democrático, respectivamente, mas as suas promessas não variam muito do que têm dito na AL: querem que seja implementado o sufrágio universal para a eleição do Chefe do Executivo e dos deputados, pedem mais concursos para habitação pública, sem esquecer a renovação dos bairros antigos.
Wong Kit Cheng, estreante nas lides da política em 2013, lidera agora a Aliança do Bom Lar, que volta a pedir a implementação da licença de paternidade e o alargamento da licença da maternidade, sem esquecer mais medidas para os idosos e os jovens.
Para Larry So, politólogo, estamos perante um sem número de ideias que estão longe de ser novidade. Até porque a maioria dos candidatos foram deputados nos últimos anos e estes são os temas que têm sido abordados na maioria das interpelações que apresentam ao Governo ou nas intervenções que fazem nos plenários.
Larry So, politólogo, acredita que os candidatos estão sobretudo a auto-promoverem-se, ao invés de trazerem novas ideias ao panorama político.
“Temos muitos debates e repetem-se os mesmos assuntos. Se olharmos para todas estas campanhas parece que os candidatos se estão a promover a si próprios mais do que a fazer realmente uma campanha. Depois falam do tufão, dos casinos e dos seus trabalhadores, mas não apontam o cerne das questões para que depois sejam feitas sugestões que resolvam os problemas”, acrescentou.

Aniquilar o adversário

Há, na maioria, uma troca de acusações entre candidatos, na visão de Larry So. “A maior partes das listas não tens mais objectivos em mente se não o de se venderem. Eles sabem que estão a ser irracionais e que não estão a usar este momento para propor mudanças para melhor por parte do governo”, disse.
O antigo docente do Instituto Politécnico de Macau reforça a ideia da existência de uma certa irracionalidade. “Estão treinados para ser mais agressivos para com os seus adversários e não para fiscalizar e olhar para o Governo. Desta forma querem ganhar a confiança das pessoas, através da supressão do adversário, em termos de performance e tendo em conta diferentes personalidades e backgrounds.”
Ainda assim, o politólogo assegura que o panorama não é muito diferente daquele que se verifica em Hong Kong. “Este tipo de debates não traz uma discussão genuína nem racional. Mas a maior parte dos debates que vimos em Hong Kong para a campanha do Conselho Legislativo (LegCo) também revelaram o mesmo tipo de comportamento.”

Incompetências antigas

Eric Sautedé não esquece as várias polémicas que têm povoado o hemiciclo, tal como a aprovação da Lei de Terras, em 2013, que deixou sem casas centenas de investidores do edifício Pearl Horizon.
“Diria que oito listas pertencem à categoria dos candidatos pró-Governo que ultimamente têm falhado na monitorização e na supervisão das acções governativas e falharam na sua acção ao votarem a favor de leis que interessam a toda a comunidade.”
Na sua visão, “os deputados que são eleitos por sufrágio universal são os únicos que têm alguma legitimidade popular. Os que são nomeados pelo Chefe do Executivo provaram ser incompetentes e não terem qualquer tipo de representatividade, algo que ficou claro com o caso da Lei de Terras”, exemplificou.
O antigo docente da Universidade de São José fala também da campanha, bem mais discreta, que tem sido feita pelas 14 listas que concorrem pela via do sufrágio indirecto.
“Os deputados eleitos pela via indirecta concorrem num campo oposto e representam vastos interesses relacionados com o sector empresarial. Os dois assentos adicionados em 2012 ao sufrágio indirecto revelaram-se absolutamente inúteis e provou-se ser um desastre nos casos de Chan Hong e Chan Iek Lap. Estes deputados têm acções ineficazes e irrelevantes”, rematou.

Quando os candidatos parecem governantes

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]os últimos dias os programas políticos têm-se focado mais em medidas que entram na alçada do poder Executivo, relacionadas com a adopção de políticas ao nível da habitação, trânsito ou emprego. São poucos aqueles que dão destaque a matérias relacionadas com a iniciativa legislativa dos deputados.
A título de exemplo, a lista Ou Mun Kong I, liderada por Lee Sio Kuan, apresentou há dias um programa político que, entre outras coisas, promete lutar pela proibição de importação de trabalhadores não residentes no sector dos croupiers e dos motoristas.
Para Eric Sautedé, este não é, contudo, “o maior problema” nesta campanha.
“O facto dos candidatos fazerem propostas relacionadas com o poder Executivo tem alguma lógica, se considerarmos que o Governo não é uma emanação do poder legislativo nem uma escolha soberana da população, mas uma selecção oriunda dos interesses da comissão eleitoral do Chefe do Executivo atestados por Pequim.”

Pouca manobra

António Katchi, jurista e docente do Instituto Politécnico de Macau (IPM) também desvaloriza esta questão, referindo que a apresentação destas medidas estão relacionadas com os entraves do próprio sistema.
“Nestas eleições, como nas anteriores, as medidas preconizadas nos programas eleitorais exorbitam não tanto o poder legislativo da AL mas sobretudo o poder de iniciativa legislativa dos deputados, nomeadamente o seu poder de apresentar projectos de lei.”
Para António Katchi, “um dos vários aspectos anti-democráticos do sistema político de Macau consiste precisamente nesta limitação do poder de iniciativa legislativa dos deputados”. “Sirva de exemplo a proibição que impende sobre os deputados de apresentarem quaisquer projectos de lei que envolvam receitas ou despesas públicas”, acrescentou.
Isto faz com que os candidatos tenham de ir um pouco mais além da sua função legislativa. “Imaginemos quão pouco substancial ficaria reduzido um programa eleitoral se estivesse cingido às matérias sobre as quais os deputados dispõem de um poder de iniciativa legislativa. É natural que as listas concorrentes não queiram circunscrever o seu programa eleitoral dessa maneira.”
Katchi diz mesmo que “há vantagem para os eleitores” que assim seja. “É importante que as listas exponham com a máxima amplitude possível o seu ideário político. Quanto mais não seja, fica-se a saber que posição os candidatos a deputados tencionam adoptar perante as propostas do Governo. Ainda assim, convém que informem os eleitores sobre as dificuldades impostas pelo quadro constitucional e político vigente”, concluiu.

Aproveitamento político de um tufão

A passagem do tufão Hato e as suas consequências desastrosas entraram de imediato para a agenda política dos candidatos. Larry So não tem dúvidas de que houve um aproveitamento político da tragédia. “Quase todas as listas falam no facto de o Governo não ter feito o trabalho necessário. Algumas vão mesmo mais longe e falam dos voluntários e das motivações políticas associadas. De certo modo o tufão veio trazer aspectos de que as diferentes listas estão a tirar vantagens. Por um lado acusam o Governo de não ter feito nada, e depois as listas atacam-se mutuamente”, defendeu.

8 Set 2017

Eleições | Salário mínimo foi tema de debate entre candidatos

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]m mais um dia de debate sobre as eleições legislativas, promovido pela TDM, cinco candidatos discutiram a questão do salário mínimo. Lee Sio Kuan teve ainda alguma troca de palavras com Melinda Chan por causa de David Chow.

A TDM voltou ontem a transmitir mais um debate com cinco candidatos às eleições legislativas de 17 de Setembro. Participaram Ella Lei, da União para o Desenvolvimento, Melinda Chan, da Aliança pr’a Mudança, Mak Soi Kun, da União de Macau-Guangdong e ainda Lee Sio Kuan, da Ou Mun Kong I e o advogado Hou Weng Kuan, da Associação dos Cidadãos Unidos para a Construção de Macau.
A implementação do salário mínimo em Macau, que actualmente não é universal e existe apenas para as profissões de segurança e trabalho doméstico foi o tema principal do encontro.
Lee Sio Kuan disse que, apesar do Governo realizar vários estudos sobre a matéria, existem sempre dificuldades a aprovar propostas de lei na Assembleia Legislativa (AL), não tendo feito mais comentários sobre o tema.
Já Hou Weng Kuan, líder da lista número 19, afirmou que é necessário aumentar os valores do salário mínimo, mas não disse se concorda com o salário mínimo universal, pelo facto de muitas famílias não conseguirem suportar os custos de ter empregados domésticos.
Ella Lei defendeu que é necessária a realização, o mais depressa possível, de um estudo sobre a matéria, tendo acrescentado que, se for bem discutido, o salário mínimo pode garantir os direitos e interesses dos trabalhadores.

Liga ao David

O debate serviu ainda para falar da ocupação de cargos de gestão nos casinos pelos residentes. Ella Lei questionou Melinda Chan sobre a possibilidade de 90 por cento destas vagas de emprego serem ocupadas por locais. A candidata pela lista Aliança pr’a Mudança disse apenas “concordamos”, sem mais nada acrescentar.
Na hora de Lee Sio Kuan colocar perguntas, o nome de David Chow, empresário e marido de Melinda Chan, foi bastante evocado. Como resposta, Melinda Chan sugeriu ao adversário ligar, ele próprio, ao proprietário dos empreendimentos Doca dos Pescadores e Landmark para colocar as suas questões.
A líder da Aliança pr’a Mudança quis deixar claro que a sua candidatura representa todos os cidadãos de Macau e não apenas as operadoras de jogo e o sector do turismo.

“Votem em mim”
O tema da corrupção eleitoral também foi abordado. Hou Weng Kuan questionou os restantes candidatos se defendiam a realização de eleições limpas, tendo Mak Soi Kun afirmado que nunca ofereceu refeições em troca de votos.
O advogado e candidato pediu a Mak Soi Kun que mantenha a máxima “não vote por mim só pela refeição por mim oferecida”, mas o líder da União de Macau-Guangdong referiu apenas que “uma sociedade democrática tem a sua própria maneira de eleição”, tendo pedido aos telespectadores e presentes para votarem em si.
Na sessão de perguntas e respostas, os candidatos falaram ainda sobre o mecanismo de garantias dos idosos e os serviços a eles prestados. A líder da União para o Desenvolvimento prometeu lutar pela implementação do regime de previdência central obrigatório, sem esquecer a criação de dormitórios para os mais velhos, para que tenham cuidados adequados.

8 Set 2017

Programa político dedicado à defesa dos lesados do Pearl Horizon

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] defesa dos compradores de casa ao grupo Polytec é quase objectivo único da União dos Promitentes-Compradores do “Pearl Horizon” para Defesa dos Direitos. A lista 24 apresentou ontem o seu programa político e comparou o caso ao tufão Hato.

Na corrida eleitoral, a lista 24 é aquela que tem como objectivo a defesa dos compradores de casa do Pearl Horizon. A União dos Promitentes-Compradores do “Pearl Horizon” para Defesa dos Direitos, liderada por Kou Meng Pok, apresentou ontem o seu programa eleitoral e reforçou o propósito que levou os cinco candidatos que a compõem, a avançar para o voto.
Em conferência de imprensa, o número um da lista candidata foi claro: “o objectivo de candidatura é intensificar forças de modo a resolver o caso”, disse.
Kou Meng Pok admite que apesar de o programa político ser simples, em que o destaque vai apenas para o caso que levou os deputados a apresentarem candidatura, não deixa de ter importância, visto tratar-se de uma causa que diz respeito a muitos residentes do território. “O caso de Pearl Horizon é um dos assuntos maiores na sociedade e envolve mais de 10 mil indivíduos directamente, e indirectamente, dezenas de milhares das pessoas”, argumentou o cabeça de lista.
Kou Meng Pok não deixou de comparar o caso que defende com o tufão Hato que teve um efeito devastador no território há duas semanas. “É uma bomba relógio, que pode ter efeitos semelhantes aos provocados pelo tufão”, referiu, sendo que considera prioritária a resolução do caso que envolve os compradores de casa no projecto que não vai avante. A ideia é evitar “a repetição de um desastre e salvar a reputação de Macau a nível internacional”.

Caso pessoal

Durante a conferência de imprensa, Kou Meng Pok mencionou o seu caso pessoal no processo Pearl Horizon. O candidato comprou casa ao grupo Polytec, e está neste momento sem ela e sem solução para o dinheiro que avançou. Esta, considera, é a razão principal que o move há cerca de dois anos e meio e à qual as autoridades não têm dado importância. “O Pearl Horizon não tem sido tratado de forma razoável”, referiu.
“Os compradores lesados adquiriram casa entre 2010 e 2013, mas em 2015 o Governo recuperou as nossas fracções residenciais com a lei de terras aprovada em 2014”, recordou Kou Meng Pok. O candidato afirma que não fez nada que fosse contra a lei, mas que, ainda assim, acabou por sofrer as consequências.
Defendendo aqueles que se encontram em situação semelhante à sua, Kou Meng Pok lamenta que “nem todas as pessoas são capazes de aguentar tal sofrimento”.
Outro dos aspectos referidos como parte do programa político da União dos Promitentes-Compradores do “Pearl Horizon” para Defesa dos Direitos é a “luta pelo aumento do nível e felicidade dos residentes de Macau”. Kou Meng Pok deu alguns exemplos de sectores que podem ser melhorados neste sentido, e destacou a necessidade de uma melhor dinâmica comercial, de uma distribuição justa de recursos e de um aumento de eficácia por parte do Governo.
Mesmo que não seja eleito, Kou Meng Pok garante que o a luta não vai terminar até que os proprietários lesados consigam reaver as suas casas.

8 Set 2017

Tribunal | PJ diz que Irmãos Coutinho queriam pôr a droga na ATFPM

[dropcap style≠’circle’]R[/dropcap]ealizou-se ontem mais uma sessão do julgamento que coloca os filhos de José Pereira Coutinho no banco dos réus, por suspeita de tráfico de droga. Agentes da Polícia Judiciária disseram que os dois irmãos tinham o plano de despachar droga para a casa e associação a que o pai preside

Decorreu ontem a primeira sessão de julgamento referente ao processo dos dois filhos de José Pereira Coutinho, candidato às eleições legislativas. Segundo o jornal Ou Mun, os arguidos, de nome Alexandre e Benjamim Pereira Coutinho, teriam planos para despachar a droga que alegadamente traficavam por via postal para a casa do pai e também para a associação que este dirige, a Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM).
Ontem vários agentes da Polícia Judiciária (PJ) prestaram depoimentos na qualidade de testemunhas. Um deles, de apelido Lai, referiu que, a 15 de Dezembro do ano passado, os Serviços de Alfândega de Hong Kong descobriram, numa inspecção regular, uma encomenda postal que tinha como destino Macau, e que continha droga no seu interior.
Esta encomenda teria o nome do destinatário e o endereço iguais aos dados do irmão mais velho de Coutinho. A partir daí, as autoridades começaram a acompanhar o processo de transacção. Quando Alexandre e Benjamim chegaram aos correios para levantar a encomenda, um dos irmãos terá cheirado a encomenda, escreve o Ou Mun.
A mesma testemunha disse que o irmão mais novo tinha começado a “enviar encomendas” em Junho do ano passado, tendo sido bem sucedido nas primeiras vezes. A quinta encomenda acabaria por ser alvo da atenção dos serviços alfandegários dos Estados Unidos, e a sexta embalagem seria detectada pelos serviços congéneres de Hong Kong.
A factura referente à encomenda não permitia identificar o remetente como sendo um dos irmãos, mas mensagens trocadas através de uma aplicação de telemóvel permitiram às autoridades ver que o irmão mais novo terá avisado o mais velho para não ir buscar a encomenda, com medo de ser apanhado.

Mensagens ajudaram

A mesma aplicação de telemóvel terá permitido às autoridades ver mensagens que questionavam se as “mercadorias” tinham sido todas vendidas. As autoridades terão ainda visto uma fotografia que serviu de comprovativo de uma transferência bancária de 190 mil patacas. Este dinheiro terá sido transferido para a conta do irmão mais novo.
O advogado de defesa dos filhos de José Pereira Coutinho terá questionado os agentes da PJ quanto à sua presença no momento em que as autoridades de Hong Kong inspeccionaram as encomendas, e se seguiram a legislação vigente nesse processo.
O agente Lai disse que não esteve presente e que o conteúdo do pacote não foi remexido. Apenas os papéis do exterior da encomenda foram retirados.
No final da sessão, que decorreu no Tribunal Judicial de Base, o delegado do procurador do Ministério Público pediu que os agentes dos serviços de alfândega de Hong Kong sejam chamados a testemunhar no processo.

8 Set 2017

Eleições 2017 | O olhar da comunidade portuguesa sobre a campanha

Os votos na “aldeia grande”

Programas políticos com conteúdos pobres, ausência de identificação com ideias, a continuação dos interesses no hemiciclo. Portugueses, com residência permanente, dizem o que acham da campanha eleitoral que anda nas ruas. Votam sempre a cada quatro anos, mas afirmam existir um certo distanciamento face à sua comunidade

 

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]lbano Martins é, talvez, um dos poucos portugueses em Macau que pode votar de duas maneiras para escolher os deputados que quer ver na Assembleia Legislativa (AL). O economista e presidente da ANIMA pode pôr a cruz nos deputados que concorrem pela via directa, bem como naqueles que participam pela via indirecta, através das associações.

Isto significa que, este ano, Albano Martins pode decidir por um dos 24 candidatos que concorrem pelas directas, o maior número de sempre. Pode também votar no nome de uma das 14 listas que participam pela via indirecta.

Mas Albano Martins revela-se, ainda assim, um eleitor desiludido. “Vemos que há muita pólvora e pouca explosão”, disse ao HM. O problema? Ideias que fazem parte do poder Executivo e não Legislativo.

“A maior parte das pessoas ainda pensa que concorre para chefiar o Governo, e não para a AL. As pessoas continuam a fazer programas políticos como se fossem Governo, esquecendo-se que a sua função é fiscalizar o trabalho do Governo e fazer leis. A politica de Macau é feita pelo Governo, isso faz parte da Lei Básica e há-de ser sempre assim”, adiantou.

Albano Martins considera que os “programas políticos das listas são fracos”, numa “aldeia grande” que “cresceu com muito dinheiro e desejos”.

O economista não é o único a apontar o dedo aos cartazes e programas políticos que desde sábado andam nas ruas. Rui Furtado, médico, também é residente permanente e vota sempre, mas revela baixas expectativas para o acto eleitoral de 17 de Setembro.

“A campanha decorre de modo habitual, sem grandes surpresas. O conteúdo da campanha é pobre, sempre foi e continua a ser. As pessoas fazem os programas políticos que são um conjunto de acções e sugestões conforme as ocasiões do momento. O aumento dos salários dos funcionários públicos, a protecção dos residentes. São tudo pedras batidas, não são ideias novas e não têm um verdadeiro conteúdo político”, contou.

“Voto sempre e de acordo com o que tenho possibilidade de votar, nas listas em que me revejo mais ou menos nas ideias. Mas são pobres na mesma”, assegura.

O médico diz que persistem dificuldades de comunicação na campanha eleitoral, pois a comunidade portuguesa não tem acesso à maior parte dos programas políticos em chinês.

“Há traduções, mas são de má qualidade. A pobreza política, intelectual e cultural dos programas é o que toda a gente sabe”, frisou.

Já a arquitecta Maria José de Freitas assume que tem vindo a prestar atenção a “algumas listas”, sem ter ficado muito convencida.

“Não me parecem muito inovadoras nos programas. Tenho vindo a ver até que ponto essas listas espelham algum interesse junto da comunidade portuguesa, e também noutras comunidades, com essa cultura internacional que Macau sempre evidenciou”, defendeu.

Maria José de Freitas diz que não vota por obrigação, mas cada vez que coloca uma cruz no boletim é na lista que poderá trazer algo “favorável ao desenvolvimento do território”, sem esquecer a diversidade cultural.

É por isso que defende que, este ano, os programas eleitorais “não avançaram muito nesse sentido”.

“Pode ser que até às eleições se avance mais um pouco. Tenho algumas expectativas, há listas que ainda podem propor coisas interessantes. Há professores universitários envolvidos, há pessoas com experiência em Macau que conhecem a cidade, mas falta se calhar mais conhecimento cientifico. Esta é uma lacuna importante.”

De costas voltadas

Para Rui Furtado, a necessidade de tradução das ideias políticas ou a falta dela faz com que a comunidade portuguesa seja afastada das eleições. “Nem lhe é dada a oportunidade de estar perto”, assegura.

“Não temos acesso aos programas e são corpos estranhos no meio de toda esta discussão. E isto também vale para as comunidades dos expatriados.”

O antigo presidente da Associação de Médicos de Língua Portuguesa levanta ainda a questão dos actos de corrupção eleitoral. “A verdade das eleições, em si, é uma coisa duvidosa. Entre a compra de votos e as pressões para votar, tudo é altamente duvidoso.”

Albano Martins frisa que há poucos portugueses interessados neste acto cívico, com excepção dos macaenses. No seu reduzido grupo de amigos, as eleições para a AL raramente são tema de conversa.

“Acredito que esse número reduzido de amigos vota, mas não conversam comigo sobre o assunto. Se calhar achamos que não é importante falar sobre isto, mas cada um assume o voto à sua maneira. A maioria das pessoas que conheço tem consciência de que é importante, nem que seja por uma cruz fora do quadrado.”

A arquitecta afirma que “não há muito interesse” da parte dos portugueses, sobretudo dos que acabaram de emigrar. Mas Maria José de Freitas acredita que há uma vontade de mudar o rumo dos acontecimentos.

“As pessoas estão atentas face ao facto de que algo tem de mudar, não podemos sempre ficar no status quo. Por isso estou na expectativa se essa mudança vem mais à superfície.”

Sem representação

Quando se vota coloca-se a cruz no boletim na expectativa de que um candidato represente ou defenda aquilo em que acreditamos. Rui Furtado diz ter a plena consciência de que ninguém o irá representar no hemiciclo da Praia Grande.

“A AL não representa ninguém, representa-se a si própria e aos seus deputados que têm os seus interesses a defender. E quem pensa que tem a AL para os defender está muito enganado.”

Na visão do médico, a falta de empatia entre a comunidade portuguesa e a  política local começa logo nos debates. “Temos um problema: não assistimos às discussões do plenário mas sim à tradução dos debates. Gosto de pensar que os deputados são melhores do que aquilo que são, e que as traduções são melhores do que a realidade.”

“Basta ouvir para vermos o que a AL faz de facto. O interesse dos cidadãos não é a coisa mais importante para quem está na AL”, frisa o médico.

Também Maria José de Freitas reconhece que, apesar de cumprir o seu dever cívico como residente permanente, será difícil ver os seus interesses e desejos representados.

“Se me pergunta se algum dos candidatos corresponde ao que penso, ou qual a utilidade do meu voto, direi que há uns candidatos que correspondem mais do que outros. O ideal é difícil de atingir, mas há-de haver uma situação que pode ser mais interessante apoiar, e é por aí que vou”, remata.

 

Proibições na fronteira

Votar em Macau é sinónimo da existência de um segundo sistema, mas Albano Martins alerta para os recentes casos de proibições de deputados e jornalistas de Hong Kong na fronteira. “Estamos a assistir a mudanças cada vez mais repentinas e muito antes do prazo terminar [2049]. Basta olhar para as fronteiras. Não faz sentido que no segundo sistema um deputado da ala democrata de Hong Kong não entre em Macau por ir contra a segurança do território. Faz parte da lógica do segundo sistema ele poder viajar entre as duas regiões e emitir opiniões. Penso que viajam para a China, mas não podem viajar para Macau. É um dossier que está a ser mal gerido. Se me disserem que há intervenção da China, não acredito. Haverá aqui mais papistas do que o papa.”

A política e a ANIMA

Albano Martins recusa participar em qualquer iniciativa do foro político, além do exercício do dever cívico como residente permanente, por não querer aproveitamento político da associação a que preside, a ANIMA. “Não estou interessado em que haja aproveitamento político do nosso trabalho. Já houve no passado duas organizações que tentaram colar-se a nós, e eu recusei. Incentivo todos os que sejam residentes a participar nas eleições tentando equacionar os problemas que os futuros deputados devem levantar.”

7 Set 2017

Justiça | Português condenado por abuso sexual dos filhos

João Martins foi condenado pelo Tribunal Judicial de Base a cinco anos e seis meses de prisão pela prática de dois crimes de abuso sexual dos dois filhos. O advogado de defesa, João Miguel Barros, afirma que o processo “está completamente cheio de falhas”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] caso remonta a Maio de 2016, mas só ontem se soube o veredicto final. Há muito que a detenção de um português suspeito de abuso sexual dos filhos menores era muito comentada na praça pública, e ontem o Tribunal Judicial de Base (TJB) decidiu condenar o homem a cinco anos e seis meses de prisão.

O nome do arguido, João Martins, só ontem foi revelado. O TJB entendeu absolver o residente do crime de acto exibicionista de carácter sexual, noticiou a Rádio Macau. Não ficou provada a ocorrência de maus tratos nem a prática de relações sexuais com a filha.

Segundo a Rádio Macau, a juíza considerou que os depoimentos dos dois filhos de João Martins em tribunal são “credíveis” e que “não há prova que foi a mãe que influenciou” as crianças.

Em declarações ao HM, o advogado de defesa de João Martins, João Miguel Barros, disse que vai interpor recurso da decisão.

“O processo está completamente cheio de falhas desde o primeiro momento e neste momento não quero fazer declarações sobre o processo”, referiu o causídico, que continua a defender a inocência do seu cliente.

“Digo apenas que acreditamos na inocência do João Tiago, e se não fosse isso nunca teríamos aceite ter sido seus advogados. Por acreditarmos na sua inocência vamos defender a sua posição em recurso. Depois se verá quando acabar a fase de recurso e quando a sentença transitar em julgado”, acrescentou.

Tudo negado

As alegadas vítimas são uma menina de sete anos e um menino de nove. Tudo começou quando a mãe das crianças começou a estranhar o comportamento dos filhos quando estavam na presença do pai. O casal havia passado por um processo de divórcio e a mãe tinha conseguido a guarda das crianças.

Segundo a TDM, terá sido numa consulta com um psicólogo que as crianças contaram que eram vítimas de abusos e que o português lhes terá tocado nos órgãos genitais, além de os intimidar com agressões físicas para que não contassem a ninguém esses episódios.

João Martins vivia perto do Parque Central da Taipa e tinha à sua guarda os filhos desde 2011, ano em que começou a divorciar-se da mulher.

Quando foi detido pela Polícia Judiciária, negou todas as acusações de que era alvo, mas o TJB entendeu ser culpado.

O caso chegou a ser notícia nos media de língua chinesa. O diário Ou Mun, título com maior circulação no território, escreveu que os actos de que João Martins é agora acusado se prolongaram por vários anos. Também o jornal Va Kio escreveu que os filhos começaram a ter medo de estar com o pai.

6 Set 2017

Paulo José Miranda, escritor e poeta: “Esta também é a terra dos portugueses”

Em “Karadeniz – Entrevista com um assassino”, Paulo José Miranda explora um dos muitos limites da natureza humana, ao mesmo tempo que reflecte sobre o terrorismo. Convidado da iniciativa “Camilo Pessanha – 150 anos”, o escritor e poeta fala do novo livro, cuja personagem é o oposto do assassino profissional. O autor, que fala hoje no edifício do antigo tribunal, defende que a existência de duas culturas que se compreendem e que fazem de Macau um lugar singular no mundo, irrepetível

Publicou “Karadeniz – Entrevista com um assassino”, uma compilação dos textos que tem vindo a publicar no HM. Porquê a entrevista a um assassino?

Tenho duas participações no HM. Uma é com os textos que compõem a secção “Máquina Lírica”, em que costumo escrever acerca de livros e maioritariamente poetas mais novos do que eu, que têm editado em Portugal. Participo também com a secção “Em Modo de Perguntar”, com pequenas entrevistas que tenho feito a várias pessoas, actores, poetas e escritores. De repente ocorreu-me a ideia de fazer um projecto, algo que já tinha escrito em 2004, a ver se funcionava. E eu próprio entro como entrevistador. Este livro faz parte de um projecto que já terminei, sobre obras do século XX, onde explorava diversas formas. A entrevista é uma forma utilizada no século XX, e em Portugal o gosto do público pela entrevista intensificou-se nos anos 90.

Porquê?

Talvez devido ao facto de termos vivido muitos anos no Estado Novo, a entrevista não era propriamente algo que agradasse ao regime. Então na década de 90 começou a acontecer uma coisa curiosa, em que as pessoas liam mais as entrevistas dos escritores do que os próprios livros.

Isso mudou ou intensificou-se?

Hoje em dia a situação é diferente porque a internet mudou muita coisa. Partindo dessa observação construí uma narrativa, uma ficção, em forma de entrevista. Já não era preciso estar a ler a entrevista do escritor. O Carlos [Morais José] gostou da ideia, teve alguma aceitação. Depois fez-me a proposta para editarmos o livro. Nunca pensei que o texto fosse editado tão cedo. Uma das razões para isso prende-se com o facto da entrevista ser um formato estranho para um livro, não seria a forma mais apetecível para os editores. Mas julgo que a maior dificuldade é que o texto não é muito longo. Se fosse um longo romance…que, aliás, pretendo fazer um dia.

A partir deste livro?

Não, só com esta forma, mas com outros personagens. Talvez aí seja mais fácil e apetecível para um editor. Quando me foi feita a proposta, aceitei de imediato. E porquê um assassino? O assassino opõe-se em determinados pontos de vista, que me parecem fundamentais, em relação às nossas próprias vidas e ao nosso tempo. Um deles é que ele faz uma vida inteira sem ser conhecido, porque ele era excelente no que fazia e ninguém sabia quem ele era. Isto é o oposto do que nós queremos nos nossos dias. Não só queremos ser reconhecidos pelo trabalho que fazemos como queremos ser reconhecidos só porque sim. 

Queremos ter os tais quinze minutos de fama.

E que os quinze minutos se prolonguem. Houve uma grande explosão, que me parece que está a terminar, em que as pessoas iam para a televisão sem terem feito nada de extraordinário. Este personagem é então o oposto disso tudo. Ao mesmo tempo há um jogo de espelhos entre a actividade dessa pessoa e a do próprio escritor. Vai-se traçando, à medida que ele está a falar, toda uma preparação. Há ainda a relação com a morte. Para ele matar não é encarado como morte, é visto como um trabalho. Há um outro lado, que está muito presente no nosso tempo, que é o modo como o personagem se posiciona de forma antagónica com o terrorismo, o que nos causa algum choque. Imaginamos que um assassino profissional é um terrorista, e ele distancia-se disso.

Editar este livro foi a maneira que encontrou de reflectir sobre essa questão, numa altura em que o terrorismo é tão falado e tão incompreendido?

É uma das maneiras. Tenho um livro, passado em Hong Kong, que é “A Máquina do Mundo”, uma história de amor entre dois assassinos profissionais, que vão perdendo vidas como se fosse um jogo de computador. Aí reflicto mais sobre o assunto. Em “Karadeniz – Entrevista com um assassino”, o que há é o mostrar como nos anos 50 e 60 quase tudo era de elites. Até matar e pagar para matar. Hoje, como diz Karadeniz, qualquer um encomenda uma morte por meia dúzia de tostões. O assassino profissional já se tornou democrático também.

Foto: Sofia Margarida Mota

Percebo que há aí um certo fio condutor em relação à morte. Esse tema, sobretudo a morte premeditada, fascina-o?

Não. O que acho é que o assassino profissional interessa, porque todas as situações limites do ser humano nos fazem pensar. E ser um assassino profissional é uma situação limite. Isso são coisas que me fascinam porque reflicto sobre elas, sem dúvida nenhuma. Alguém que transforma uma pessoa numa coisa entra na esfera do horror.

Algo desprovido de sentimento.

É o horror, como o que aconteceu em Auschwitz. Estas são formas que me interessam para pensar e ao mesmo tempo expor o humano que habita em todos nós. Não vamos a esse extremo, mas há algo que se ilumina a partir dali, daquele limite. O meu próximo livro, um longo romance de mais de 600 páginas, é o oposto: é sobre alguém que viveu a vida de um ponto de vista absolutamente ético. O que também é uma posição radical, de limite. Passou a vida a ler e a estudar, tendo responsabilidade. São casos extraordinários para reflexão. Ao tentarmos descer ou subir até eles, acabamos por nos iluminar a todos nós, o humano, na sua normalidade.

Falou-me do livro “A Máquina do Mundo”. Foi esse o livro que o fez regressar a Portugal depois de ter vivido vários anos no Brasil. Chegou a ser referido na imprensa como um “fantasma literário”, porque desapareceu do panorama literário português durante uns anos.

O João Paulo Cotrim recebeu uma indicação do António Cabrita, que lhe tinha enviado “A Máquina do Mundo”. Ele gostou do texto e contactou-me a perguntar se já tinha editora. Eu vivia em Curitiba e ele foi a minha casa, e conversámos. Durante o ano de 2014 acabei por escrever um livro de poesia, então o João Paulo Cotrim acabou por editar três livros.

Mas como foi regressar? Sentiu-se esse “fantasma literário”?

Não pensei assim e continuei a escrever. No tempo em que não escrevi estava dedicado à música. Não publicava, mas não tentei publicar. Era uma situação difícil para publicar, porque estava muito afastado. Hoje em dia é muito difícil editar livros sem aparecer. Se não apareces para as entrevistas as pessoas deixam de existir, somos cada vez mais numa sociedade mediática.

E o escritor tem de ser uma estrela.

Não diria uma estrela. Comecei a publicar no final dos anos 90 e as coisas eram diferentes. Davam-se entrevistas, mas não se aparecia. Hoje isso é fundamental. Nunca senti a questão do “fantasma literário”. Continuei a publicar, mas de facto não aparecia. Foram livros que passaram, não estava lá. E do ponto de vista do jornalismo é interessante escrever sobre alguém que está exilado, desaparece e de repente edita três livros.

Esta terça-feira falou sobre a experiência do que é ser português em Macau. Viveu essa experiência na pele durante três meses.

Vivi um pouco, mas a minha experiência veio de uma grande intuição, e também pela experiência de ter vivido cinco anos em Istambul. Foi uma experiência mais radical do que estar em Macau, porque ninguém fala português. Haveria talvez uma pessoa que sabia quem tinha sido Fernando Pessoa. Em Macau, além de ter lido as cartas e imenso sobre Pessanha, fiquei com uma percepção. Há qualquer coisa que acontece com os portugueses de Macau que é uma espécie de amplificador de uma estrutura existencial. Essa estrutura é como aquele fenómeno que se passa na mecânica quântica, como se houvesse uma vida paralela. Durante um tempo poucas pessoas que vinham para aqui não sentiriam que a sua vida seria uma vida de empréstimo, e que mais cedo ou mais tarde iriam recuperá-la.

Sente que somos uns privilegiados em Macau?

Hoje em dia já não, mas na década de 90 sim, sem dúvida. As pessoas ganhavam uma fortuna a fazer o mesmo que fariam em Portugal. 

Falo do privilégio de ter acesso à cultura portuguesa e a pontos identitários nesse sentido.

O que acho é que Macau é um lugar privilegiado e provavelmente único. É provavelmente o único lugar onde os portugueses estiveram que não foi conquistado, foi doado. Isso muda tudo. Em Moçambique há uma sensação de racismo, porque os moçambicanos foram colonizados. Aqui isso não existe.

Mas há um distanciamento.

Que advém da enorme diferença cultural e da língua. Há essa experiência que é o convívio de duas culturas muito distantes uma da outra, que não se fundem. Houve muito mais fusão cultural, e entre as pessoas, em Moçambique do que aqui. Os portugueses tiveram, apesar de tudo, uma diferença em relação aos outros países, apesar das atrocidades cometidas. O português misturava-se. Quando chegamos aqui os bárbaros éramos nós, há logo uma diferença, porque havia aqui uma cultura instalada. Sempre houve esse respeito. Em nenhuma parte do mundo acontece isto. No mundo em que nós vivemos, é exemplar.

Quando viveu em Macau veio escrever sobre Camilo Pessanha.

Estava inserido num projecto que era uma parceria entre a Fundação Oriente (FO) e a editora Cotovia, da qual fazia parte. A Cotovia enviava escritores para vários locais a Oriente e publicava os livros. A FO encarregava-se dos custos. Foi-me dado a escolher entre Pessanha e Venceslau de Moraes, e aí iria para o Japão. Eu não escolhi Macau, escolhi Pessanha. É um poeta pelo qual sentia um fascínio há muito tempo. Li muito sobre ele, andei nos lugares onde andou. Foi o Pessanha e a força da poesia dele que me trouxe, e interessei-me depois pela sua pessoa. É uma pessoa contraditória, cheia de mistérios à sua volta, alguém que é viciado em ópio e que tem uma profissão importante. Ao mesmo tempo tinha um desprezo pelos seus conterrâneos, e depois tinha uma sensibilidade enorme. Acho que Macau está melhor, porque já não há a sombra de muitos portugueses que sentiam isto como uma colónia. Alguns achavam que os chineses eram inferiores. Era uma sombra que pairava, mesmo que nem todos pensassem assim. Com a transferência de soberania essa sombra desaparece. Mas esta é também a terra dos portugueses, e isso é hoje mais claro.

6 Set 2017

Timor-Leste | Português condenado fala de incongruências na sentença

“Fomos todos enganados”

Tiago e a esposa, Fong Fong Guerra, foram condenados a oito anos de prisão pelo tribunal de Timor-Leste pela co-autoria do crime de peculato. Em entrevista, Tiago Guerra diz que há incongruências na sentença e muitas dúvidas sobre o paradeiro do dinheiro que o tribunal afirma estar nas contas do casal. O português, que aguarda a decisão do recurso, fala de entraves na sua defesa

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]erdeu 14 quilos enquanto esteve preso preventivamente em Díli. Tanto ele como a esposa necessitam de ser operados e de tratamento médico que não conseguem ter em Timor-Leste.

Do país não podem sai r por terem os passaportes confiscados e estarem sujeitos ao termo de identidade e residência. Os pedidos para que possam procurar ajuda médica no estrangeiro, foram entretanto recusados.

Eles são o casal português Tiago e Fong Fong Guerra, que desde 2014 se vêem a braços com um caso na justiça timorense. No passado dia 24 de Agosto foram ambos condenados pelo tribunal a oito anos de prisão pelo crime de co-autoria num caso de peculato, tendo sido absolvidos dos crimes de branqueamento de capitais e falsificação de documentos. O tribunal condenou-os ainda ao pagamento de 859 mil dólares.

Foram acusados de “prejudicar as finanças e a economia do Estado” de Timor-Leste, por alegadamente se terem apropriado de fundos oriundos da indústria petrolífera, que pertencerão ao país.

Tiago Guerra está na fase de recolha de mais provas para sustentar o seu caso. “Estes dias têm sido muito complicados. Somos condenados por um crime que não cometemos e estamos a ver as nossas vidas destruídas”, contou ao HM.

Tiago Guerra não faz a mínima ideia de quando será proferida a última de todas as decisões. “Aqui em Díli o tribunal de recurso pode demorar um ano ou dois a apreciar um caso. Aqui há dias houve uma decisão que tinha sido interposta em 2014, ainda estava preso. Pode demorar muito tempo.”

O português diz não aceitar a sentença e fala de entraves na apresentação de provas durante a preparação da sua defesa.

“A questão mais importante aqui é o direito à defesa. Os juízes tinham dúvidas, e isso está escrito no acórdão, sobre o paradeiro dos fundos. Queríamos chamar as testemunhas que fizeram a transferência, mas foram todas negadas, os juízes indeferiram esses pedidos. Depois tentamos ainda trazer uma testemunha do banco que fez a transferência, mas o pedido também foi indeferido”, contou.

O português adiantou que “sem direito à defesa, e sem cumprir os princípios básicos de justiça, tem sido muito complicado pensar em como podemos fazer isto”. “Estamos focados na apresentação do recurso e em garantir que está lá tudo”, acrescentou.

Onde está o dinheiro?

Em 2011, Tiago Guerra detinha a Olive Unipessoal, uma empresa sediada em Timor-Leste, a partir da qual efectuava negócios e recebia pagamentos por trabalhos de contabilidade, consultoria e auditoria. Desde 2010 que Fong Fong Guerra, a sua esposa, detinha em Macau uma outra empresa, a Olive Consultancy.

Segundo Tiago Guerra, foi esta empresa que serviu como intermediária no pagamento de 860 mil dólares norte-americanos entre uma sociedade de advogados norueguesa, em representação de uma empresa, a uma outra empresa norte-americana. O pagamento, feito através de um contrato de agente depositário (contrato escrow), foi feito a convite de Bobby Boye, nigeriano com nacionalidade americana.

Esse contrato valeu à Olive Consultancy o pagamento de dez mil dólares americanos, sendo que, a partir da transferência do dinheiro para os Estados Unidos, Tiago Guerra assume nunca mais ter tido contacto com Bobby Boye.

Boye, que chegou a desempenhar funções como assessor do Estado timorense no sector do petróleo, cumpre hoje pena nos Estados Unidos pela prática de vários crimes financeiros.

Tiago Guerra fala das diversas incongruências que encontrou na leitura da sentença que o condenou a si e à sua esposa, relativas ao paradeiro do dinheiro.

“Os juízes dizem que o dinheiro (860 mil dólares) foi enviado e saiu da conta, como ficou provado graças aos peritos do Banco Central, mas depois dizem que está em parte incerta. Há uma terceira afirmação de que o dinheiro está nas nossas contas em Macau. Quando têm estas dúvidas, penso que o principio da defesa não está a ser respeitado.”

Para descobrir o rasto do dinheiro, as autoridades timorenses enviaram cartas rogatórias, a pedir diligências e informações, às autoridades de Macau.

“Pediram cartas com informações sobre nós, e foi enviado um resumo, assinado pela Polícia Judiciária e Interpol, de todas as contas bancárias em nosso nome. O saldo de todas essas contas dá pouco mais de seis mil dólares. Dizem que estão congelados 860 mil dólares? Nessa altura estava preso, não tive nada a ver com esse pedido. [As autoridades timorenses] ignoraram todas essas informações”, clarificou Tiago Guerra.

O português, que foi condenado por alegadamente ter transferido dinheiro que pertence aos cofres públicos de Timor-Leste, afirma ainda que a sentença que ouviu não dá certezas sobre se os 860 mil dólares pertencem, de facto, ao país.

“As autoridades dizem que o dinheiro que foi transferido para a nossa conta lhes pertencia, mas essa é outra questão. Isso não ficou provado em tribunal. A lei diz que os pagamentos de quaisquer receitas do petróleo devem ser feitos directamente ao fundo soberano, que pertence ao Estado timorense e cuja conta está na Reserva Federal em Nova Iorque. Estamos a falar de um banco dessa dimensão”, referiu.

Tiago Guerra questiona: “a partir do momento em que o dinheiro não foi transferido para lá, alguém pensa que pertence ao Estado timorense?”

O português assegura que, quando fez a transferência do montante, em 2011, jamais poderia imaginar que esse dinheiro pertencia a Timor-Leste.

“Só em Dezembro de 2016, quando tivemos acesso aos autos, vimos que o dinheiro está em disputa entre a empresa norueguesa e o Estado timorense. Até então não tínhamos a mínima ideia de que o dinheiro poderia pertencer a Timor e muito menos que viesse dos impostos [da indústria petrolífera].”

Alguma ingenuidade

Tiago Guerra, licenciado em engenharia e com carreira feita na área das telecomunicações, chegou a Timor-Leste em 2010, depois de ter passado pelo Brasil e pela China. Trazia na bagagem uma proposta para abrir a Digicel, empresa irlandesa, em Timor-Leste, projecto que falhou.

“A empresa contratou-me para começar uma empresa de operações de telecomunicações, e quando cheguei não havia uma licença nem a legislação que permitisse ter a licença. Não havia nada.”

Na cabeça do casal Guerra começou a pensar-se a ida para Macau, e foi nessa altura que foi criada a Olive Consultancy. A ideia era colocarem os filhos na Escola Portuguesa de Macau, onde tinham uma reunião agendada que nunca chegou a acontecer, devido ao facto de terem sido detidos no aeroporto de Díli dois dias antes.

A ligação do casal Guerra com Bobby Boye surgiu pelo facto de serem vizinhos.

“Houve a necessidade de um agente depositário e na altura Boye era uma pessoa bem vista aqui. Sei que entretanto fomos todos enganados e ludibriados por ele. Na altura tinha uma óptima reputação aqui, eu diria que era o assessor mais visível em Timor-Leste. Era recebido por todos os ministros. Quando recebemos esta proposta decidimos avançar”, lembrou Tiago Guerra.

Hoje o português não tem duvidas de que foi algo ingénuo na hora de aceitar este contrato.

“Nunca pensei que alguém pudesse ser assim. Éramos vizinhos, quando cheguei a Díli a casa dele era mesmo ao lado da minha. Agora sabemos que é criminoso, está a cumprir a pena, e que já tinha estado antes na prisão. Mesmo assim conseguiu ser escolhido no processo de contratação de um assessor internacional.”

Tiago Guerra frisa ainda não compreender como é que o tribunal timorense nunca notificou Bobby Boye como co-arguido no crime de peculato.

“Não sei como é que estou a ser condenado de ser co-autor de um crime de peculato, quando o autor do crime nem sequer foi notificado pelas autoridades. Está a cumprir pena nos Estados Unidos e são conhecidas todas as informações sobre ele. Dizem que não o conseguem encontrar? Essa informação é difícil de aceitar”, remata.

5 Set 2017