Médio Oriente | Irão não quer “escalada da guerra”. EUA avaliam retaliações iranianas

O mundo acordou ontem com a confirmação de que o Irão atacou duas bases militares norte-americanas no Iraque. Teerão disse que não deseja uma “escalada de guerra”, mas que irá defender-se “de qualquer agressão”. A comissária europeia Ursula von der Leyen expressou preocupação e afirmou a importância de manter o acordo nuclear

 

Com agências

[dropcap]M[/dropcap]orto e enterrado o general Qassem Soleimani, o Irão deixou ontem bem claro que não pretende ficar de braços cruzados depois da morte ordenada pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apesar de não desejar uma “escalada de guerra”, como disse o ministro dos Negócios Estrangeiros. O Pentágono confirmou ontem o ataque a duas bases militares norte-americanas no Iraque, noticiaram agências.

“O Irão disparou mais de uma dúzia de mísseis balísticos contra as forças militares dos Estados Unidos da América e da coligação em Ain Assad e Arbil”, afirmou, em comunicado, um porta-voz do Departamento da Defesa norte-americano, Jonathan Hoffman, citado pela agência France-Presse, acrescentando que “está claro que os mísseis foram disparados” a partir de território iraniano.

A televisão estatal do Irão anunciou depois que dezenas de mísseis iranianos foram lançados contra a base aérea iraquiana de Ain Assad, que alberga tropas norte-americanas. A estação descreveu esta acção, com mísseis terra-terra e desencadeada na madrugada desta quarta-feira, como uma operação de vingança na sequência do ataque de que resultou a morte do general iraniano Qassem Soleimani. Esta operação militar foi designada “Mártir Soleimani” e foi desencadeada pela divisão aeroespacial dos Guardas da Revolução, que controla o programa de mísseis iranianos.

A base aérea de Ain al-Assad foi a primeira utilizada pelos forças militares norte-americanas após a invasão do Iraque em 2003, destinada a derrubar Saddam Hussein. As forças dos EUA permaneceram estacionadas no local quando foi desencadeado o combate no Iraque e na Síria contra o grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico. O Irão ameaçou ainda atacar “no interior dos EUA”, “Israel” e “aliados dos EUA”, segundo os Guardas da Revolução, na eventualidade de haver uma retaliação norte-americana.

EUA avaliam respostas ao Irão

As forças militares dos Estados Unidos não comentaram no imediato esta informação, mas Donald Trump não deixou de tweetar sobre este assunto, tendo feito uma declaração pública ontem.

“Está tudo bem! Mísseis lançados do Irão para duas bases militares localizadas no Iraque. Avaliação das vítimas e danos materiais está em curso. Até agora, está tudo bem”, escreveu o Presidente às 21h45, hora de Washington. Trump frisou ainda que os EUA têm “as mais poderosas e mais bem equipadas forças armadas em todo o mundo, de longe”.

Trump disse posteriormente que Washington ainda está a estudar retaliações pelo ataque iraniano desta madrugada contra instalações norte-americanas no Iraque, mas que quer a paz.

Donald Trump diz que ainda estão em aberto as opções de resposta ao Irão, mas que, para já, os EUA vão intensificar sanções económicas contra o Irão, como retaliação contra os ataques iranianos com mísseis que esta madrugada atingiram duas bases militares que albergam soldados norte-americanos no Iraque.

Durante uma comunicação ao país, ao lado de chefes militares e altos funcionários do seu Governo, Trump disse que os ataques iranianos desta madrugada não provocaram vítimas e fizeram “danos materiais mínimos” e considera que o Irão está a recuar no conflito. “Eles parecem estar a retirar. E isso é bom”, afirmou o Presidente norte-americano.

Palavras de Pompeo

Esta terça-feira, Mike Pompeo, secretário de Estado norte-americano, disse aos jornalistas que Soleimani não se encontrava em missão diplomática no Iraque na altura em que foi morto. “Mas alguém aqui acredita nisto? Há algo na História que indica, mesmo sendo uma possibilidade remota, que este senhor estaria numa missão pacífica? Sabemos que isso não é verdade. Trata-se de propaganda iraniana, mas isso não é novidade, uma vez que no passado afirmaram estar em causa missões diplomáticas. Posso garantir que ele [Soleimani] não estava lá [em Bagdade] a representar algum tipo de acordo”, disse, de acordo com o canal Euronews.

Donald Trump admitiu que a morte de Soleimani foi orquestrada para prevenir “ataques iminentes contra diplomatas americanos e pessoal militar”. À luz de uma Resolução de 1973, o Congresso norte-americano deveria ter sido informado de que estava em causa um ataque iminente, mas a informação providenciada pelo Governo de Trump apenas continha documentação confidencial no que diz respeito às provas.

Nancy Pelosi, democrata presidente da Câmara dos Representantes, disse mesmo que a notificação “apresenta mais dúvidas do que respostas”, incluindo “questões sérias e urgentes sobre o tempo, forma e justificação para a decisão da Administração de levar a cabo hostilidades contra o Irão”, escreveu o New York Times.

O senador republicano Lindsey Graham, próximo do Presidente, considerou “um acto de guerra” os disparos de mísseis contra duas bases iraquianas com militares dos EUA e admitiu ataques de represália às instalações petrolíferas iranianas. “Deixem-me dizer isto hoje: se estão a ver televisão no Irão, acabei de falar com o Presidente (Trump) e têm o vosso destino nas vossas mãos, em termos de viabilidade económica do regime. Se (vocês, iranianos) continuarem com isto vão acordar um dia fora do negócio do petróleo”.

Antes, dissera que Trump poderia escolher atacar alvos militares ou petrolíferos. Pompeo admitiu terça-feira que seriam analisados todos os potenciais alvos à luz das leis internacionais.

UE atenta

Na primeira reunião do ano da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, presidente, expressou “as mais profundas condolências” para os familiares das vítimas, tendo lembrado a investigação em curso.

O encontro teve como ponto principal de discussão a crise que se vive entre o Irão e os Estados Unidos. “Esta crise afecta não apenas a região, mas todos nós. E o uso de armas deve parar agora para dar espaço ao diálogo. A União Europeia (UE), de uma maneira muito própria, tem muito a oferecer. Temos vindo a estabelecer relações duradouras com muitos dos actores da região”, disse.

“Vamos fazer tudo para garantir a manutenção do acordo nuclear”, assegurou a presidente da Comissão Europeia. “A comissão também analisou potenciais consequências de uma crise nuclear para a UE. Por exemplo, em áreas como transportes, energias, fronteiras e migração, mas também no que diz respeito ao desenvolvimento económico, estabilização e reconstrução que a UE está a fazer nestas áreas. A UE está dedicada a estas áreas, com as nossas vozes a serem ouvidas. Queremos actuar da forma mais activa possível.”

Josep Borrell, Alto Representante da UE para a Política Externa e vice-presidente da Comissão) sublinhou que “os recentes desenvolvimentos são extremamente preocupantes” e apontou que “os últimos ataques [da passada madrugada] contra bases no Iraque usados pelos Estados Unidos e por forças da coligação [contra o autodenominado Estado Islâmico], entre as quais forças europeias, é mais um exemplo da escalada e confrontação crescente”. “Não é do interesse de ninguém levar esta espiral de violência ainda mais longe”, frisou.

Entretanto, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, alertou ontem o Irão de que Israel responderá de “forma retumbante” caso o país seja atacado. “Quem nos atacar receberá uma resposta retumbante”, garantiu Netanyahu.

 

Transportes | Companhias aéreas evitam Médio Oriente

Algumas companhias aéreas comerciais redirecionaram ontem os voos que cruzam o Médio Oriente para evitar eventuais perigos no meio da crescente tensão entre os Estados Unidos e o Irão. A transportadora australiana Qantas disse que estava a alterar as suas rotas de Londres para Perth, na Austrália, para evitar o espaço aéreo do Irão e do Iraque até novo aviso. As companhias aéreas Emirates e Flydubai, dos Emirados Árabes Unidos, cancelaram os seus voos para Bagdade nos seus sites na internet.

Fonte da Flightradar, que monitoriza o tráfego aéreo, disse que dois voos da Emirates fizeram uma rota diferente para evitar a passagem pelo Iraque, enquanto um voo da Air Canada para o Dubai foi forçado a redirecionar o trajeto pelo Egipto e Arábia Saudita.

A companhia aérea Malaysia Airlines confirmou que “devido aos recentes acontecimentos”’, os seus aviões evitariam o espaço aéreo iraniano. A Singapore Airlines também disse que os seus voos para a Europa seriam redireccionados para evitar o espaço aéreo do Irão.

A Administração Federal de Aviação (FAA) dos EUA disse que estava a proibir pilotos e transportadoras americanas de voar nalgumas áreas do Iraque, Irão e nalgum espaço aéreo do Golfo Pérsico. A entidade alertou ainda para o “potencial de erro de cálculo ou identificação errónea” de aeronaves civis mo meio da escalada da tensão entre os EUA e o Irão. A FAA disse ainda que as restrições estão a ser emitidas devido a “actividades militares mais activas e aumento das tensões políticas no Médio Oriente, que apresentam um risco para as operações de aviação civil dos EUA”.

Queda de avião de companhia ucraniana e sismo à margem da clima tenso

A tensão internacional que se vive desde a morte de Soleimani agravou-se com a queda de um avião ucraniano em Teerão que provocou a morte de 176 pessoas, a maioria nacionais do Canadá e do Irão. Estas seguiam a bordo do Boeing 737, que se despenhou pouco depois de descolar do aeroporto internacional Imam Khomeini, em Teerão.

De acordo com o jornal The Guardian, citado pela Lusa, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Vadym Prystaiko, afirmou em comunicado que a bordo do avião estavam 82 iranianos, 63 canadianos, 11 ucranianos, 10 suecos, quatro afegãos, três alemães e três britânicos. “Expressamos as nossas condolências. As autoridades ucranianas continuam a investigar”, disse Prystaiko.

Apenas dois passageiros e os nove elementos da tripulação da Ukraine International Airlines eram de nacionalidade ucraniana, indicou. O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, já apelou para que se evitem especulações sobre a queda do avião ucraniano no Irão.

“Peço a todos que se abstenham de especulações e versões não verificadas do desastre”, escreveu Zelensky na rede social Facebook. Uma informação divulgada anteriormente pela televisão estatal iraniana dava conta de que 180 pessoas seguiam a bordo da aeronave.

Segundo agências internacionais, o avião da Ukraine International Airlines caiu num terreno agrícola a sudoeste de Teerão, para onde já foi mobilizada uma equipa de investigação.
As primeiras indicações disponibilizadas pelas autoridades iranianas apontaram para a existência de problemas mecânicos.

O acidente ocorreu horas depois do lançamento de dezenas de mísseis iranianos contra duas bases em Ain Assad e Arbil, no Iraque, utilizadas pelo exército norte-americano, numa operação de vingança pela morte do general iraniano Qassem Soleimani.

Sismo nuclear

Entretanto, um terramoto de magnitude 4,5 atingiu ontem a região sudoeste do Irão, onde a está situada a central nuclear de Bushehr, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês). O sismo foi registado a 10 quilómetros de profundidade, numa área que se situa a 17 quilómetros a sudeste da cidade de Borazjan às 06h49 (hora local), segundo o USGS. O terramoto foi sentido em Bushehr, onde está localizada a única central nuclear iraniana. Não existem informações de vítimas ou danos.

9 Jan 2020

Médio Oriente | Irão não quer “escalada da guerra”. EUA avaliam retaliações iranianas

O mundo acordou ontem com a confirmação de que o Irão atacou duas bases militares norte-americanas no Iraque. Teerão disse que não deseja uma “escalada de guerra”, mas que irá defender-se “de qualquer agressão”. A comissária europeia Ursula von der Leyen expressou preocupação e afirmou a importância de manter o acordo nuclear

 
Com agências
[dropcap]M[/dropcap]orto e enterrado o general Qassem Soleimani, o Irão deixou ontem bem claro que não pretende ficar de braços cruzados depois da morte ordenada pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apesar de não desejar uma “escalada de guerra”, como disse o ministro dos Negócios Estrangeiros. O Pentágono confirmou ontem o ataque a duas bases militares norte-americanas no Iraque, noticiaram agências.
“O Irão disparou mais de uma dúzia de mísseis balísticos contra as forças militares dos Estados Unidos da América e da coligação em Ain Assad e Arbil”, afirmou, em comunicado, um porta-voz do Departamento da Defesa norte-americano, Jonathan Hoffman, citado pela agência France-Presse, acrescentando que “está claro que os mísseis foram disparados” a partir de território iraniano.
A televisão estatal do Irão anunciou depois que dezenas de mísseis iranianos foram lançados contra a base aérea iraquiana de Ain Assad, que alberga tropas norte-americanas. A estação descreveu esta acção, com mísseis terra-terra e desencadeada na madrugada desta quarta-feira, como uma operação de vingança na sequência do ataque de que resultou a morte do general iraniano Qassem Soleimani. Esta operação militar foi designada “Mártir Soleimani” e foi desencadeada pela divisão aeroespacial dos Guardas da Revolução, que controla o programa de mísseis iranianos.
A base aérea de Ain al-Assad foi a primeira utilizada pelos forças militares norte-americanas após a invasão do Iraque em 2003, destinada a derrubar Saddam Hussein. As forças dos EUA permaneceram estacionadas no local quando foi desencadeado o combate no Iraque e na Síria contra o grupo ‘jihadista’ Estado Islâmico. O Irão ameaçou ainda atacar “no interior dos EUA”, “Israel” e “aliados dos EUA”, segundo os Guardas da Revolução, na eventualidade de haver uma retaliação norte-americana.

EUA avaliam respostas ao Irão

As forças militares dos Estados Unidos não comentaram no imediato esta informação, mas Donald Trump não deixou de tweetar sobre este assunto, tendo feito uma declaração pública ontem.
“Está tudo bem! Mísseis lançados do Irão para duas bases militares localizadas no Iraque. Avaliação das vítimas e danos materiais está em curso. Até agora, está tudo bem”, escreveu o Presidente às 21h45, hora de Washington. Trump frisou ainda que os EUA têm “as mais poderosas e mais bem equipadas forças armadas em todo o mundo, de longe”.
Trump disse posteriormente que Washington ainda está a estudar retaliações pelo ataque iraniano desta madrugada contra instalações norte-americanas no Iraque, mas que quer a paz.
Donald Trump diz que ainda estão em aberto as opções de resposta ao Irão, mas que, para já, os EUA vão intensificar sanções económicas contra o Irão, como retaliação contra os ataques iranianos com mísseis que esta madrugada atingiram duas bases militares que albergam soldados norte-americanos no Iraque.
Durante uma comunicação ao país, ao lado de chefes militares e altos funcionários do seu Governo, Trump disse que os ataques iranianos desta madrugada não provocaram vítimas e fizeram “danos materiais mínimos” e considera que o Irão está a recuar no conflito. “Eles parecem estar a retirar. E isso é bom”, afirmou o Presidente norte-americano.

Palavras de Pompeo

Esta terça-feira, Mike Pompeo, secretário de Estado norte-americano, disse aos jornalistas que Soleimani não se encontrava em missão diplomática no Iraque na altura em que foi morto. “Mas alguém aqui acredita nisto? Há algo na História que indica, mesmo sendo uma possibilidade remota, que este senhor estaria numa missão pacífica? Sabemos que isso não é verdade. Trata-se de propaganda iraniana, mas isso não é novidade, uma vez que no passado afirmaram estar em causa missões diplomáticas. Posso garantir que ele [Soleimani] não estava lá [em Bagdade] a representar algum tipo de acordo”, disse, de acordo com o canal Euronews.
Donald Trump admitiu que a morte de Soleimani foi orquestrada para prevenir “ataques iminentes contra diplomatas americanos e pessoal militar”. À luz de uma Resolução de 1973, o Congresso norte-americano deveria ter sido informado de que estava em causa um ataque iminente, mas a informação providenciada pelo Governo de Trump apenas continha documentação confidencial no que diz respeito às provas.
Nancy Pelosi, democrata presidente da Câmara dos Representantes, disse mesmo que a notificação “apresenta mais dúvidas do que respostas”, incluindo “questões sérias e urgentes sobre o tempo, forma e justificação para a decisão da Administração de levar a cabo hostilidades contra o Irão”, escreveu o New York Times.
O senador republicano Lindsey Graham, próximo do Presidente, considerou “um acto de guerra” os disparos de mísseis contra duas bases iraquianas com militares dos EUA e admitiu ataques de represália às instalações petrolíferas iranianas. “Deixem-me dizer isto hoje: se estão a ver televisão no Irão, acabei de falar com o Presidente (Trump) e têm o vosso destino nas vossas mãos, em termos de viabilidade económica do regime. Se (vocês, iranianos) continuarem com isto vão acordar um dia fora do negócio do petróleo”.
Antes, dissera que Trump poderia escolher atacar alvos militares ou petrolíferos. Pompeo admitiu terça-feira que seriam analisados todos os potenciais alvos à luz das leis internacionais.

UE atenta

Na primeira reunião do ano da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, presidente, expressou “as mais profundas condolências” para os familiares das vítimas, tendo lembrado a investigação em curso.
O encontro teve como ponto principal de discussão a crise que se vive entre o Irão e os Estados Unidos. “Esta crise afecta não apenas a região, mas todos nós. E o uso de armas deve parar agora para dar espaço ao diálogo. A União Europeia (UE), de uma maneira muito própria, tem muito a oferecer. Temos vindo a estabelecer relações duradouras com muitos dos actores da região”, disse.
“Vamos fazer tudo para garantir a manutenção do acordo nuclear”, assegurou a presidente da Comissão Europeia. “A comissão também analisou potenciais consequências de uma crise nuclear para a UE. Por exemplo, em áreas como transportes, energias, fronteiras e migração, mas também no que diz respeito ao desenvolvimento económico, estabilização e reconstrução que a UE está a fazer nestas áreas. A UE está dedicada a estas áreas, com as nossas vozes a serem ouvidas. Queremos actuar da forma mais activa possível.”
Josep Borrell, Alto Representante da UE para a Política Externa e vice-presidente da Comissão) sublinhou que “os recentes desenvolvimentos são extremamente preocupantes” e apontou que “os últimos ataques [da passada madrugada] contra bases no Iraque usados pelos Estados Unidos e por forças da coligação [contra o autodenominado Estado Islâmico], entre as quais forças europeias, é mais um exemplo da escalada e confrontação crescente”. “Não é do interesse de ninguém levar esta espiral de violência ainda mais longe”, frisou.
Entretanto, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, alertou ontem o Irão de que Israel responderá de “forma retumbante” caso o país seja atacado. “Quem nos atacar receberá uma resposta retumbante”, garantiu Netanyahu.
 

Transportes | Companhias aéreas evitam Médio Oriente

Algumas companhias aéreas comerciais redirecionaram ontem os voos que cruzam o Médio Oriente para evitar eventuais perigos no meio da crescente tensão entre os Estados Unidos e o Irão. A transportadora australiana Qantas disse que estava a alterar as suas rotas de Londres para Perth, na Austrália, para evitar o espaço aéreo do Irão e do Iraque até novo aviso. As companhias aéreas Emirates e Flydubai, dos Emirados Árabes Unidos, cancelaram os seus voos para Bagdade nos seus sites na internet.
Fonte da Flightradar, que monitoriza o tráfego aéreo, disse que dois voos da Emirates fizeram uma rota diferente para evitar a passagem pelo Iraque, enquanto um voo da Air Canada para o Dubai foi forçado a redirecionar o trajeto pelo Egipto e Arábia Saudita.
A companhia aérea Malaysia Airlines confirmou que “devido aos recentes acontecimentos”’, os seus aviões evitariam o espaço aéreo iraniano. A Singapore Airlines também disse que os seus voos para a Europa seriam redireccionados para evitar o espaço aéreo do Irão.
A Administração Federal de Aviação (FAA) dos EUA disse que estava a proibir pilotos e transportadoras americanas de voar nalgumas áreas do Iraque, Irão e nalgum espaço aéreo do Golfo Pérsico. A entidade alertou ainda para o “potencial de erro de cálculo ou identificação errónea” de aeronaves civis mo meio da escalada da tensão entre os EUA e o Irão. A FAA disse ainda que as restrições estão a ser emitidas devido a “actividades militares mais activas e aumento das tensões políticas no Médio Oriente, que apresentam um risco para as operações de aviação civil dos EUA”.

Queda de avião de companhia ucraniana e sismo à margem da clima tenso

A tensão internacional que se vive desde a morte de Soleimani agravou-se com a queda de um avião ucraniano em Teerão que provocou a morte de 176 pessoas, a maioria nacionais do Canadá e do Irão. Estas seguiam a bordo do Boeing 737, que se despenhou pouco depois de descolar do aeroporto internacional Imam Khomeini, em Teerão.
De acordo com o jornal The Guardian, citado pela Lusa, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Vadym Prystaiko, afirmou em comunicado que a bordo do avião estavam 82 iranianos, 63 canadianos, 11 ucranianos, 10 suecos, quatro afegãos, três alemães e três britânicos. “Expressamos as nossas condolências. As autoridades ucranianas continuam a investigar”, disse Prystaiko.
Apenas dois passageiros e os nove elementos da tripulação da Ukraine International Airlines eram de nacionalidade ucraniana, indicou. O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, já apelou para que se evitem especulações sobre a queda do avião ucraniano no Irão.
“Peço a todos que se abstenham de especulações e versões não verificadas do desastre”, escreveu Zelensky na rede social Facebook. Uma informação divulgada anteriormente pela televisão estatal iraniana dava conta de que 180 pessoas seguiam a bordo da aeronave.
Segundo agências internacionais, o avião da Ukraine International Airlines caiu num terreno agrícola a sudoeste de Teerão, para onde já foi mobilizada uma equipa de investigação.
As primeiras indicações disponibilizadas pelas autoridades iranianas apontaram para a existência de problemas mecânicos.
O acidente ocorreu horas depois do lançamento de dezenas de mísseis iranianos contra duas bases em Ain Assad e Arbil, no Iraque, utilizadas pelo exército norte-americano, numa operação de vingança pela morte do general iraniano Qassem Soleimani.

Sismo nuclear

Entretanto, um terramoto de magnitude 4,5 atingiu ontem a região sudoeste do Irão, onde a está situada a central nuclear de Bushehr, segundo o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês). O sismo foi registado a 10 quilómetros de profundidade, numa área que se situa a 17 quilómetros a sudeste da cidade de Borazjan às 06h49 (hora local), segundo o USGS. O terramoto foi sentido em Bushehr, onde está localizada a única central nuclear iraniana. Não existem informações de vítimas ou danos.

9 Jan 2020

TJB | Homem condenado a seis anos e nove meses de prisão por violação

Um homem natural de Macau foi condenado pelo Tribunal Judicial de Base a seis anos de prisão por ter violado duas jovens, uma delas menor. O depoimento das duas jovens amigas foi considerado credível pelo tribunal, apesar de uma delas ter, noutras ocasiões, mantido relações consentidas com o arguido

 

[dropcap]U[/dropcap]m residente de Macau, de apelido Ieong, foi condenado pelo Tribunal Judicial de Base (TJB) a seis anos de prisão pelo crime de violação. De acordo com o jornal Ou Mun, as duas jovens, uma delas menor de idade, chegaram a assumir relacionamento com o culpado, que as forçou a manter relações sexuais sem preservativo.

A primeira vítima contou ao tribunal que não queria fazer sexo com Ieong, que resistiu e chorou várias vezes, até que o homem a forçou a ter relações sexuais impondo-se fisicamente, abrindo as pernas da jovem e segurando-lhe as mãos. Durante o seu testemunho, a vítima disse não se recordar se Ieong tinha ou não utilizado preservativo e confessou que aquela era a sua primeira relação sexual. Depois da violação, a vítima não comunicou o caso à polícia e deixou de falar com o violador.

No segundo caso, a vítima era menor de 16 anos e também virgem. A primeira relação sexual com o homem também foi forçada, algo que não evitou que mantivessem posteriormente relações sexuais, muitas vezes sem uso de preservativo. Em todas as situações, o arguido alegou ser infértil.

Sem provas de mentiras

O acórdão, noticiado pelo jornal Ou Mun, declara que, apesar de as duas vítimas serem amigas e de uma delas não ter denunciado o caso à polícia, o TJB entendeu que as vítimas tiveram uma atitude honesta, tendo apresentado informações claras sobre o sucedido, sem exagerar os factos. O acórdão acrescenta ainda que Ieong teve relações sexuais com a primeira vítima de forma consciente e livre, aproveitando a ignorância da outra rapariga para, com ela, ter também sexo.

Ieong foi condenado a cinco anos de prisão pelo crime de violação, mais um ano e nove meses pelo estupro praticado contra menor com idade entre 14 e 16 anos. No total, a pena perfaz seis anos e nove meses.

8 Jan 2020

TJB | Homem condenado a seis anos e nove meses de prisão por violação

Um homem natural de Macau foi condenado pelo Tribunal Judicial de Base a seis anos de prisão por ter violado duas jovens, uma delas menor. O depoimento das duas jovens amigas foi considerado credível pelo tribunal, apesar de uma delas ter, noutras ocasiões, mantido relações consentidas com o arguido

 
[dropcap]U[/dropcap]m residente de Macau, de apelido Ieong, foi condenado pelo Tribunal Judicial de Base (TJB) a seis anos de prisão pelo crime de violação. De acordo com o jornal Ou Mun, as duas jovens, uma delas menor de idade, chegaram a assumir relacionamento com o culpado, que as forçou a manter relações sexuais sem preservativo.
A primeira vítima contou ao tribunal que não queria fazer sexo com Ieong, que resistiu e chorou várias vezes, até que o homem a forçou a ter relações sexuais impondo-se fisicamente, abrindo as pernas da jovem e segurando-lhe as mãos. Durante o seu testemunho, a vítima disse não se recordar se Ieong tinha ou não utilizado preservativo e confessou que aquela era a sua primeira relação sexual. Depois da violação, a vítima não comunicou o caso à polícia e deixou de falar com o violador.
No segundo caso, a vítima era menor de 16 anos e também virgem. A primeira relação sexual com o homem também foi forçada, algo que não evitou que mantivessem posteriormente relações sexuais, muitas vezes sem uso de preservativo. Em todas as situações, o arguido alegou ser infértil.

Sem provas de mentiras

O acórdão, noticiado pelo jornal Ou Mun, declara que, apesar de as duas vítimas serem amigas e de uma delas não ter denunciado o caso à polícia, o TJB entendeu que as vítimas tiveram uma atitude honesta, tendo apresentado informações claras sobre o sucedido, sem exagerar os factos. O acórdão acrescenta ainda que Ieong teve relações sexuais com a primeira vítima de forma consciente e livre, aproveitando a ignorância da outra rapariga para, com ela, ter também sexo.
Ieong foi condenado a cinco anos de prisão pelo crime de violação, mais um ano e nove meses pelo estupro praticado contra menor com idade entre 14 e 16 anos. No total, a pena perfaz seis anos e nove meses.

8 Jan 2020

Sismos | Dez anos depois, lei para regular construção de edifícios continua por rever

Em 2009, o Laboratório de Engenharia Civil de Macau entregou à DSSOPT uma proposta de revisão do Regulamento de Segurança e Acções em Estruturas de Edifícios e Pontes. Até hoje o documento não foi ainda legislado e continua em processo de revisão. Especialistas em engenharia civil alertam para o facto de a actual legislação não assegurar a resistência necessária de edifícios para suportarem sismos mais fortes

 

[dropcap]H[/dropcap]á dez anos que o Governo está a rever o Regulamento de Segurança e Acções em Estruturas de Edifícios e Pontes, que data de 1996. Em 2009, o Laboratório de Engenharia Civil de Macau (LECM) entregou uma proposta de revisão à Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), que chegou a apresentar publicamente esta matéria.

Dez anos depois, o regulamento continua em processo de revisão. “A regulamentação relativa à acção sísmica está a ser revista para ter em conta métodos mais sofisticados de análise, bem como dados actualizados de actividade sísmica. Mas os estudos efectuados entretanto demonstram que a regulamentação em vigor é conservativa, ou seja, peca pelo lado da segurança”, explicou ao HM Tiago Pereira, engenheiro civil do LECM.

Tiago Pereira adiantou ainda que o actual decreto-lei apresenta “regras claras para o dimensionamento de estruturas tendo em conta a acção sísmica”, sendo que “as exigências aí estipuladas oferecem larga margem de segurança às edificações quando sujeitas a esta acção”.

Em 2010, de acordo com uma notícia do jornal Ponto Final, o LECM dava o seu trabalho por terminado, aguardando uma acção por parte da DSSOPT.

“A revisão legislativa está já nas mãos da Direcção de Obras Públicas. Terminámos a nossa parte. Cabe-lhes agora decidir quando publicar e fazer vigorar a nova regulação. É esta a situação actual”, disse ao jornal Ao Peng Kong, presidente da direcção do LECM.

À data, o responsável adiantava que o novo documento permite métodos de análise mais científicos e dinâmicos no conhecimento dos efeitos de vento e sismos sobre as construções e uma adequação mais cautelosa à realidade local.

“Se todos os projectos seguirem rigorosamente a regulamentação serão bastante seguros. [Mas] não podemos garantir que 100 por cento das construções cumpram a lei, nem podemos dizer sobre um edifício particular se é ou não seguro. É preciso haver uma análise individual”, acrescentou Ao Peng Kong.

Até ao fecho desta edição, não foi possível obter esclarecimentos adicionais junto da DSSOPT face ao paradeiro do novo regulamento. Num comunicado oficial de 2008 apontava-se que o regulamento em vigor “foi publicado há mais de dez anos” e que, “com o rápido desenvolvimento tecnológico na área da construção civil em Macau, considerou-se que não é suficiente para atingir as necessidades locais”.

Até um limite

Na manhã deste domingo, por volta das 6h55, foi registado um sismo de 3,5 graus de magnitude na escala de Ritcher, com epicentro localizado a 31 quilómetros de Macau, nas águas do distrito de Xiang Zhou da cidade de Zhuhai.

Dois especialistas contactados pelo HM asseguram que, à luz das medidas de segurança previstas nas leis actuais, há o risco de os edifícios não aguentarem sismos com uma maior magnitude, sobretudo as zonas mais antigas.

“Macau não é uma zona completamente livre de sismos. No passado houve vários com a escala de 5.5 a 200 quilómetros de Macau, um deles com escala de 7 em Yanhgwong. A maior parte dos quatro a cinco mil edifícios antigos de Macau estão propensos aos perigos de sismos, tal como dos tufões”, disse Lee Hay Ip, engenheiro civil e presidente honorário da Associação de Empresas de Consultores de Engenharia de Macau.

Para o responsável, houve alguma evolução a este nível desde o ano 2000, mas as regras existentes não são suficientes para assegurar uma total segurança dos edifícios.

“Desde o ano 2000 que os códigos utilizados em Macau passaram a ter em conta as condições do solo (dependendo da localização dos edifícios) que influenciam o impacto das forças sísmicas nos edifícios. Nos últimos cinco anos, esses códigos têm-se baseado nos códigos chineses da província de Guangzhou. O metro da Taipa, no qual fui consultor para as suas fundações, foi desenvolvido com base nestes códigos.”

No entanto, no caso de sismos de magnitude de 7.5, por exemplo, “os códigos existentes, que garantem a resistência de um edifício, são incompletos, e têm deficiências em requerimentos específicos, como por exemplo qual a quantidade de aço que deve ser utilizada”.

“Às vezes, mesmo que o nível de resistência [a um sismo] de um projecto conste na documentação da obra, não se põem em prática certos requisitos, pelo que há problemas de controlo de qualidade e tal deveria ser melhorado. Além disso, o conhecimento das condições do solo necessita de ser mais estudado com base nos requisitos previstos nos códigos chineses”, frisou Lee Hay Ip.

Olhar o património

Angus Lam, professor no departamento de engenharia da Universidade de Macau (UM), especialista em engenharia de estruturas, defendeu ao HM que é necessária uma nova lei nesta área. “A actual lei é conservadora em relação aos novos edifícios, e necessitamos de mais linhas orientadoras e regulamentos para a protecção dos edifícios históricos face a desastres naturais como sismos ou tufões.”

“Uma vez que Macau não é um território sísmico activo, a concepção dos edifícios tendo esse aspecto como referência nem sempre está de acordo com as regras em vigor. Se um sismo for inferior a uma magnitude de 5, então a maior parte dos edifícios estará segura. Contudo, é necessário prestarmos mais atenção aos edifícios históricos, que não foram construídos de acordo com os códigos usados nos edifícios mais modernos.”

Neste aspecto, Ao Peng Kong disse ao Ponto Final, em 2010, que, no caso das Ruínas de São Paulo não é conhecida a sua estrutura na totalidade. “Não sabemos. Não temos provas que o sustentem. Não existe qualquer projecto de estrutura das Ruínas de São Paulo, nem tão-pouco conhecemos qual a estrutura da fachada das Ruínas – ninguém sabe. Talvez não seja conhecido, mas a estrutura da fachada é oca em algumas partes. A fachada não é toda sólida”, admitiu o presidente do LECM.

“Poderíamos abrir um buraco para conduzir uma investigação, mas ninguém nos permitiria fazer isso. É difícil dizer. Já tentámos usar equipamento sónico para apurar qual é ao certo a estrutura da fachada. Mas ninguém sabe. Aquilo que sabemos é que se tem mantido de pé por mais de duzentos anos. Relativamente a este edifício patrimonial, não há muito que possamos fazer para reforçar a estrutura. Podemos apenas monitorizá-lo e evitar que se deteriore”, concluiu ao jornal.

Ao Peng Kong adiantou também ao mesmo jornal, há dez anos, que o novo regulamento iria alterar normas com décadas de existência, sendo que muitas delas tinham sido feitas a pensar na realidade portuguesa e adaptadas depois à realidade local, com os códigos chineses.

O decreto-lei ainda em vigor prevê que a análise dos efeitos da actividade sísmica e dos ventos é feita tendo como base intervalos de ocorrência de duzentos anos para determinação dos registos de maior intensidade. A nova lei iria reduzir esse período para 50 anos, além de prever métodos mais científicos para analisar o impacto das estruturas.

“Através de um teste em túnel de vento podemos simular o mapa geológico de Macau e, com a localização de uma estação de observação meteorológica, construímos um modelo tridimensional de Macau. No túnel de vento, simulamos a velocidade de vento máxima registada. Com esse perfil tridimensional é possível saber qual a acção do vento”, explicou Ao Peng Kong.

8 Jan 2020

Sismos | Dez anos depois, lei para regular construção de edifícios continua por rever

Em 2009, o Laboratório de Engenharia Civil de Macau entregou à DSSOPT uma proposta de revisão do Regulamento de Segurança e Acções em Estruturas de Edifícios e Pontes. Até hoje o documento não foi ainda legislado e continua em processo de revisão. Especialistas em engenharia civil alertam para o facto de a actual legislação não assegurar a resistência necessária de edifícios para suportarem sismos mais fortes

 
[dropcap]H[/dropcap]á dez anos que o Governo está a rever o Regulamento de Segurança e Acções em Estruturas de Edifícios e Pontes, que data de 1996. Em 2009, o Laboratório de Engenharia Civil de Macau (LECM) entregou uma proposta de revisão à Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), que chegou a apresentar publicamente esta matéria.
Dez anos depois, o regulamento continua em processo de revisão. “A regulamentação relativa à acção sísmica está a ser revista para ter em conta métodos mais sofisticados de análise, bem como dados actualizados de actividade sísmica. Mas os estudos efectuados entretanto demonstram que a regulamentação em vigor é conservativa, ou seja, peca pelo lado da segurança”, explicou ao HM Tiago Pereira, engenheiro civil do LECM.
Tiago Pereira adiantou ainda que o actual decreto-lei apresenta “regras claras para o dimensionamento de estruturas tendo em conta a acção sísmica”, sendo que “as exigências aí estipuladas oferecem larga margem de segurança às edificações quando sujeitas a esta acção”.
Em 2010, de acordo com uma notícia do jornal Ponto Final, o LECM dava o seu trabalho por terminado, aguardando uma acção por parte da DSSOPT.
“A revisão legislativa está já nas mãos da Direcção de Obras Públicas. Terminámos a nossa parte. Cabe-lhes agora decidir quando publicar e fazer vigorar a nova regulação. É esta a situação actual”, disse ao jornal Ao Peng Kong, presidente da direcção do LECM.
À data, o responsável adiantava que o novo documento permite métodos de análise mais científicos e dinâmicos no conhecimento dos efeitos de vento e sismos sobre as construções e uma adequação mais cautelosa à realidade local.
“Se todos os projectos seguirem rigorosamente a regulamentação serão bastante seguros. [Mas] não podemos garantir que 100 por cento das construções cumpram a lei, nem podemos dizer sobre um edifício particular se é ou não seguro. É preciso haver uma análise individual”, acrescentou Ao Peng Kong.
Até ao fecho desta edição, não foi possível obter esclarecimentos adicionais junto da DSSOPT face ao paradeiro do novo regulamento. Num comunicado oficial de 2008 apontava-se que o regulamento em vigor “foi publicado há mais de dez anos” e que, “com o rápido desenvolvimento tecnológico na área da construção civil em Macau, considerou-se que não é suficiente para atingir as necessidades locais”.

Até um limite

Na manhã deste domingo, por volta das 6h55, foi registado um sismo de 3,5 graus de magnitude na escala de Ritcher, com epicentro localizado a 31 quilómetros de Macau, nas águas do distrito de Xiang Zhou da cidade de Zhuhai.
Dois especialistas contactados pelo HM asseguram que, à luz das medidas de segurança previstas nas leis actuais, há o risco de os edifícios não aguentarem sismos com uma maior magnitude, sobretudo as zonas mais antigas.
“Macau não é uma zona completamente livre de sismos. No passado houve vários com a escala de 5.5 a 200 quilómetros de Macau, um deles com escala de 7 em Yanhgwong. A maior parte dos quatro a cinco mil edifícios antigos de Macau estão propensos aos perigos de sismos, tal como dos tufões”, disse Lee Hay Ip, engenheiro civil e presidente honorário da Associação de Empresas de Consultores de Engenharia de Macau.
Para o responsável, houve alguma evolução a este nível desde o ano 2000, mas as regras existentes não são suficientes para assegurar uma total segurança dos edifícios.
“Desde o ano 2000 que os códigos utilizados em Macau passaram a ter em conta as condições do solo (dependendo da localização dos edifícios) que influenciam o impacto das forças sísmicas nos edifícios. Nos últimos cinco anos, esses códigos têm-se baseado nos códigos chineses da província de Guangzhou. O metro da Taipa, no qual fui consultor para as suas fundações, foi desenvolvido com base nestes códigos.”
No entanto, no caso de sismos de magnitude de 7.5, por exemplo, “os códigos existentes, que garantem a resistência de um edifício, são incompletos, e têm deficiências em requerimentos específicos, como por exemplo qual a quantidade de aço que deve ser utilizada”.
“Às vezes, mesmo que o nível de resistência [a um sismo] de um projecto conste na documentação da obra, não se põem em prática certos requisitos, pelo que há problemas de controlo de qualidade e tal deveria ser melhorado. Além disso, o conhecimento das condições do solo necessita de ser mais estudado com base nos requisitos previstos nos códigos chineses”, frisou Lee Hay Ip.

Olhar o património

Angus Lam, professor no departamento de engenharia da Universidade de Macau (UM), especialista em engenharia de estruturas, defendeu ao HM que é necessária uma nova lei nesta área. “A actual lei é conservadora em relação aos novos edifícios, e necessitamos de mais linhas orientadoras e regulamentos para a protecção dos edifícios históricos face a desastres naturais como sismos ou tufões.”
“Uma vez que Macau não é um território sísmico activo, a concepção dos edifícios tendo esse aspecto como referência nem sempre está de acordo com as regras em vigor. Se um sismo for inferior a uma magnitude de 5, então a maior parte dos edifícios estará segura. Contudo, é necessário prestarmos mais atenção aos edifícios históricos, que não foram construídos de acordo com os códigos usados nos edifícios mais modernos.”
Neste aspecto, Ao Peng Kong disse ao Ponto Final, em 2010, que, no caso das Ruínas de São Paulo não é conhecida a sua estrutura na totalidade. “Não sabemos. Não temos provas que o sustentem. Não existe qualquer projecto de estrutura das Ruínas de São Paulo, nem tão-pouco conhecemos qual a estrutura da fachada das Ruínas – ninguém sabe. Talvez não seja conhecido, mas a estrutura da fachada é oca em algumas partes. A fachada não é toda sólida”, admitiu o presidente do LECM.
“Poderíamos abrir um buraco para conduzir uma investigação, mas ninguém nos permitiria fazer isso. É difícil dizer. Já tentámos usar equipamento sónico para apurar qual é ao certo a estrutura da fachada. Mas ninguém sabe. Aquilo que sabemos é que se tem mantido de pé por mais de duzentos anos. Relativamente a este edifício patrimonial, não há muito que possamos fazer para reforçar a estrutura. Podemos apenas monitorizá-lo e evitar que se deteriore”, concluiu ao jornal.
Ao Peng Kong adiantou também ao mesmo jornal, há dez anos, que o novo regulamento iria alterar normas com décadas de existência, sendo que muitas delas tinham sido feitas a pensar na realidade portuguesa e adaptadas depois à realidade local, com os códigos chineses.
O decreto-lei ainda em vigor prevê que a análise dos efeitos da actividade sísmica e dos ventos é feita tendo como base intervalos de ocorrência de duzentos anos para determinação dos registos de maior intensidade. A nova lei iria reduzir esse período para 50 anos, além de prever métodos mais científicos para analisar o impacto das estruturas.
“Através de um teste em túnel de vento podemos simular o mapa geológico de Macau e, com a localização de uma estação de observação meteorológica, construímos um modelo tridimensional de Macau. No túnel de vento, simulamos a velocidade de vento máxima registada. Com esse perfil tridimensional é possível saber qual a acção do vento”, explicou Ao Peng Kong.

8 Jan 2020

Festival Fringe | Os poemas musicados que contam como foi e é Macau

A Casa de Portugal em Macau apresenta nos dias 11 e 12 deste mês o espectáculo “Era uma vez em Macau”, com poemas musicados da autoria de Diana Soeiro. A ideia é que o público presente na Fortaleza do Monte e no Jardim Camões possa descobrir mais sobre o passado e o presente de Macau num espectáculo que junta música e animação

 

[dropcap]T[/dropcap]udo começou em Setembro do ano passado, quando a Casa de Portugal em Macau (CPM) levou aos palcos do teatro D. Pedro V o espectáculo “Era uma vez em Macau”, a pensar nos mais pequenos. O mesmo projecto integra agora o cartaz da edição deste ano do Festival Fringe, com o espectáculo a voltar a ser mostrado ao público nos dias 11 e 12 deste mês na Fortaleza do Monte e Jardim Camões.

O espectáculo tem como conceitos principais a poesia musicada e animação infantil. Diana Soeiro, coordenadora da CPM e autora dos poemas, contou ao HM o que o público pode esperar de um projecto que, inicialmente, era pessoal.

“Foi pensado para celebrar os 20 anos de Macau, mas com o objectivo de sensibilizar os mais pequenos para a história e cultura de Macau, para que ganhassem consciência daquilo que os rodeia. Eu fiz os poemas e a nossa equipa de músicos da CPM fez a parte da composição musical.”

A possibilidade de participação no Fringe surgiu depois, com a decisão do Instituto Cultural (IC) em integrar o espectáculo “Era uma vez em Macau” no cartaz da 19ª edição do evento.

“É um concerto onde vão ser apresentadas 13 músicas e vai ter animadores. Pensámos em criar personagens porque os poemas falam de personagens que podem estar relacionadas com o imaginário das crianças sobre Macau. Vamos ter um dragão a interagir com os mais pequenos, por exemplo. Vamos ter mais coisas, mas tem de ser surpresa. Também vamos ter um número de marionetas para interagir com o público.”

Entre o D. Pedro V e o Fringe foram necessárias adaptações. “Quando apresentámos o projecto em Setembro foi em formato de auditório, mas adaptámos o cenário e a experiência dos animadores para o conceito de um espectáculo ao ar livre.”

Diana Soeiro, mãe de três crianças, cresceu em Macau e pretende manter a memória de uma terra que sente sua. “Os poemas que escrevi são dirigidos às crianças, falam de alguns aspectos da história de Macau. O desafio foi pesquisar e tentar transmitir esses aspectos da história e cultura de Macau com uma linguagem acessível às crianças.”

O disco que serve de mote ao espectáculo tem, assim, canções sobre o Farol da Guia, Jardim Camões, o Cotai ou o Jetfoil entre Macau e Hong Kong. “A ideia era conciliar aspectos do passado com Macau mais actual para que através das músicas tenham mais vontade de conhecer e perceber melhor o que os rodeia.”

Ir além da comunidade

Para esta edição do Fringe, Diana Soeiro tem expectativas elevadas, uma vez que no último ano “o espectáculo da CPM contou com um público muito participativo”. “Há uma diferença em relação aos anos anteriores, que é o facto de termos dois dias de espectáculo. Um deles é na Fortaleza do Monte e aí estamos a contar com menos público português, será um espectáculo mais direccionado para os turistas. Vamos ter de apostar mais na animação porque terão mais dificuldade em perceber as letras. No Jardim Camões estamos à espera de um público português.”

Para a coordenadora da CPM, estes espectáculos ajudam a associação a expandir-se a toda a sociedade e a chegar a um público mais vasto. “Sentimos que através destes projectos conseguimos concretizar esta parte do entretenimento dos residentes, mas que também divulgamos o português. O nosso objectivo é divulgar a língua e a cultura portuguesas e Macau. Através destes projectos conseguimos chegar a um público muitíssimo variado e divulgar o trabalho das casas. Os turistas e a comunidade chinesa aderem com enorme entusiasmo.”

7 Jan 2020

Festival Fringe | Os poemas musicados que contam como foi e é Macau

A Casa de Portugal em Macau apresenta nos dias 11 e 12 deste mês o espectáculo “Era uma vez em Macau”, com poemas musicados da autoria de Diana Soeiro. A ideia é que o público presente na Fortaleza do Monte e no Jardim Camões possa descobrir mais sobre o passado e o presente de Macau num espectáculo que junta música e animação

 
[dropcap]T[/dropcap]udo começou em Setembro do ano passado, quando a Casa de Portugal em Macau (CPM) levou aos palcos do teatro D. Pedro V o espectáculo “Era uma vez em Macau”, a pensar nos mais pequenos. O mesmo projecto integra agora o cartaz da edição deste ano do Festival Fringe, com o espectáculo a voltar a ser mostrado ao público nos dias 11 e 12 deste mês na Fortaleza do Monte e Jardim Camões.
O espectáculo tem como conceitos principais a poesia musicada e animação infantil. Diana Soeiro, coordenadora da CPM e autora dos poemas, contou ao HM o que o público pode esperar de um projecto que, inicialmente, era pessoal.
“Foi pensado para celebrar os 20 anos de Macau, mas com o objectivo de sensibilizar os mais pequenos para a história e cultura de Macau, para que ganhassem consciência daquilo que os rodeia. Eu fiz os poemas e a nossa equipa de músicos da CPM fez a parte da composição musical.”
A possibilidade de participação no Fringe surgiu depois, com a decisão do Instituto Cultural (IC) em integrar o espectáculo “Era uma vez em Macau” no cartaz da 19ª edição do evento.
“É um concerto onde vão ser apresentadas 13 músicas e vai ter animadores. Pensámos em criar personagens porque os poemas falam de personagens que podem estar relacionadas com o imaginário das crianças sobre Macau. Vamos ter um dragão a interagir com os mais pequenos, por exemplo. Vamos ter mais coisas, mas tem de ser surpresa. Também vamos ter um número de marionetas para interagir com o público.”
Entre o D. Pedro V e o Fringe foram necessárias adaptações. “Quando apresentámos o projecto em Setembro foi em formato de auditório, mas adaptámos o cenário e a experiência dos animadores para o conceito de um espectáculo ao ar livre.”
Diana Soeiro, mãe de três crianças, cresceu em Macau e pretende manter a memória de uma terra que sente sua. “Os poemas que escrevi são dirigidos às crianças, falam de alguns aspectos da história de Macau. O desafio foi pesquisar e tentar transmitir esses aspectos da história e cultura de Macau com uma linguagem acessível às crianças.”
O disco que serve de mote ao espectáculo tem, assim, canções sobre o Farol da Guia, Jardim Camões, o Cotai ou o Jetfoil entre Macau e Hong Kong. “A ideia era conciliar aspectos do passado com Macau mais actual para que através das músicas tenham mais vontade de conhecer e perceber melhor o que os rodeia.”

Ir além da comunidade

Para esta edição do Fringe, Diana Soeiro tem expectativas elevadas, uma vez que no último ano “o espectáculo da CPM contou com um público muito participativo”. “Há uma diferença em relação aos anos anteriores, que é o facto de termos dois dias de espectáculo. Um deles é na Fortaleza do Monte e aí estamos a contar com menos público português, será um espectáculo mais direccionado para os turistas. Vamos ter de apostar mais na animação porque terão mais dificuldade em perceber as letras. No Jardim Camões estamos à espera de um público português.”
Para a coordenadora da CPM, estes espectáculos ajudam a associação a expandir-se a toda a sociedade e a chegar a um público mais vasto. “Sentimos que através destes projectos conseguimos concretizar esta parte do entretenimento dos residentes, mas que também divulgamos o português. O nosso objectivo é divulgar a língua e a cultura portuguesas e Macau. Através destes projectos conseguimos chegar a um público muitíssimo variado e divulgar o trabalho das casas. Os turistas e a comunidade chinesa aderem com enorme entusiasmo.”

7 Jan 2020

MacauPass | Parquímetros não aceitam cartões antigos, o que gera críticas

O facto de os modelos mais antigos do MacauPass não estar a ser aceite pelos parquímetros geridos pela Forehap Parking Management gerou um mar de críticas nas redes sociais. A MacauPass SA prometeu resolver o problema, mas os utentes queixam-se da necessidade de apresentar documento de identificação

 

[dropcap]A[/dropcap] página de Facebook Macau Buses and Public Transport Enthusiatic, destinada a partilhar notícias e informações sobre autocarros e outros meios de transporte público, tem sido o lugar escolhido por dezenas de condutores para criticarem o facto de os cartões antigos da MacauPass não serem aceites nos parquímetros geridos pela empresa Forehap Parking Management.

De acordo com a mesma página, para actualizar o cartão é necessário apresentar documento de identificação, um requisito que não é pedido a quem compra o cartão normalmente. Caso a pessoa não tivesse consigo este documento teria de adquirir um novo MacauPass em vez de actualizar o seu cartão antigo, o que motivou críticas.

De acordo com o jornal Cheng Pou, a MacauPass SA emitiu um comunicado no sábado a prometer melhorias no sistema. “Verificou-se recentemente que os cartões mais antigos da Macau Pass não funcionam normalmente. Vamos colaborar com os responsáveis pela gestão dos parquímetros para que tudo volte à normalidade”, lê-se no comunicado citado pelo jornal.

No entanto, um dia depois das explicações da empresa, a Forehap Parking Management colocou em todos os parquímetros um anúncio onde se lê que deve ser usado o novo cartão da MacauPass, o cartão Quickpass ou proceder ao pagamento com moedas.

Duas opções

Os anúncios colocados nos parquímetros levaram à corrida às lojas da MacauPass, onde, segundo relatos dos cibernautas, constavam as mesmas informações avançadas pelo comunicado de sábado.

Nas redes sociais, as questões foram várias. “Isto viola ou não a lei de protecção de dados pessoais?”, “Não é o cartão que precisa de ser actualizado, mas sim a empresa” ou “Os parquímetros têm problemas, mas pede-se a actualização dos cartões? Ridículo”, são algumas reacções publicadas na página Macau Buses and Public Transport Enthusiatic.

Na manhã de ontem, a MacauPass divulgou um novo comunicado onde garante que há, afinal, duas soluções para o problema. A empresa assegura que os utilizadores podem mudar de forma gratuita para um novo cartão, com a transferência do montante existente, ou actualizar o cartão antigo para que volte a funcionar nos parquímetros.

Ao jornal Cheng Pou, responsáveis da MacauPass garantiram que não é necessária a apresentação de um documento de identificação para obter um novo cartão.

7 Jan 2020

MacauPass | Parquímetros não aceitam cartões antigos, o que gera críticas

O facto de os modelos mais antigos do MacauPass não estar a ser aceite pelos parquímetros geridos pela Forehap Parking Management gerou um mar de críticas nas redes sociais. A MacauPass SA prometeu resolver o problema, mas os utentes queixam-se da necessidade de apresentar documento de identificação

 
[dropcap]A[/dropcap] página de Facebook Macau Buses and Public Transport Enthusiatic, destinada a partilhar notícias e informações sobre autocarros e outros meios de transporte público, tem sido o lugar escolhido por dezenas de condutores para criticarem o facto de os cartões antigos da MacauPass não serem aceites nos parquímetros geridos pela empresa Forehap Parking Management.
De acordo com a mesma página, para actualizar o cartão é necessário apresentar documento de identificação, um requisito que não é pedido a quem compra o cartão normalmente. Caso a pessoa não tivesse consigo este documento teria de adquirir um novo MacauPass em vez de actualizar o seu cartão antigo, o que motivou críticas.
De acordo com o jornal Cheng Pou, a MacauPass SA emitiu um comunicado no sábado a prometer melhorias no sistema. “Verificou-se recentemente que os cartões mais antigos da Macau Pass não funcionam normalmente. Vamos colaborar com os responsáveis pela gestão dos parquímetros para que tudo volte à normalidade”, lê-se no comunicado citado pelo jornal.
No entanto, um dia depois das explicações da empresa, a Forehap Parking Management colocou em todos os parquímetros um anúncio onde se lê que deve ser usado o novo cartão da MacauPass, o cartão Quickpass ou proceder ao pagamento com moedas.

Duas opções

Os anúncios colocados nos parquímetros levaram à corrida às lojas da MacauPass, onde, segundo relatos dos cibernautas, constavam as mesmas informações avançadas pelo comunicado de sábado.
Nas redes sociais, as questões foram várias. “Isto viola ou não a lei de protecção de dados pessoais?”, “Não é o cartão que precisa de ser actualizado, mas sim a empresa” ou “Os parquímetros têm problemas, mas pede-se a actualização dos cartões? Ridículo”, são algumas reacções publicadas na página Macau Buses and Public Transport Enthusiatic.
Na manhã de ontem, a MacauPass divulgou um novo comunicado onde garante que há, afinal, duas soluções para o problema. A empresa assegura que os utilizadores podem mudar de forma gratuita para um novo cartão, com a transferência do montante existente, ou actualizar o cartão antigo para que volte a funcionar nos parquímetros.
Ao jornal Cheng Pou, responsáveis da MacauPass garantiram que não é necessária a apresentação de um documento de identificação para obter um novo cartão.

7 Jan 2020

Irão-EUA | As lágrimas no funeral de Qassem Soleimani e a urgente reunião da NATO

Ali Khamenei, o líder supremo do Irão, chorou e rezou ontem no funeral do general Qassem Soleimani, em Teerão. A morte causada pelas tropas norte-americanas está a provocar uma verdadeira tensão a nível mundial, que obrigou a NATO a reunir ontem de emergência. A China pede “calma e razão” no que diz respeito ao acordo nuclear, que os EUA já abandonaram

Com agências 

 

[dropcap]A[/dropcap] situação política no Médio Oriente está num limbo difícil de decifrar depois da morte do general Qassem Soleimani por parte de tropas norte-americanas. O líder supremo do Irão, ‘ayatollah’ Ali Khamenei, orou e chorou ontem próximo dos caixões do general Qassem Soleimani e de outros mortos no ataque norte-americano em Bagdad na sexta-feira, durante as cerimónias fúnebres em Teerão.

O sucessor de Soleimani na força de elite iraniana Al-Quds, Esmail Ghaani, ficou ao lado de Ali Khamenei, assim como o Presidente iraniano, Hassan Rouhani, e outros líderes da República Islâmica durante as cerimónias fúnebres. Centenas de milhares de pessoas presentes no acto fúnebre também choraram a morte do general iraniano. A filha de Qassem Soleimani, Zeinab, ameaçou directamente um ataque às forças armadas dos EUA no Médio Oriente enquanto falava diante de multidão em Teerão.

“As famílias dos soldados norte-americanos no oeste da Ásia (…) passam o dia esperando a morte de seus filhos”, disse Zeinab. A TV estatal iraniana falou numa multidão de “milhões” de pessoas, embora esse número não possa ser verificado.

O líder do grupo militante palestino Hamas, Ismail Haniyeh, está em Teerão e assistiu também às cerimónias fúnebres de Soleimani. Ismail Haniyeh, num discurso aos iranianos, descreveu o general Qassem Soleimani, como “o mártir de Jerusalém”.

O responsável do Hamas prometeu que grupos militantes palestinianos – incluindo o seu grupo, que controla a Faixa de Gaza -, seguirão o caminho de Soleimani “para confrontar o projeto sionista e a influência norte-americana”.

A reunião da NATO

A escalada da tensão na região teve início quando o general Qassem Soleimani, comandante da força de elite iraniana Al-Quds, morreu na sexta-feira num ataque aéreo contra o carro em que seguia, junto ao aeroporto internacional de Bagdade, ordenado pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

No mesmo ataque morreu também o ‘número dois’ da coligação de grupos paramilitares pró-iranianos no Iraque, Abu Mehdi al-Muhandis, conhecida como Mobilização Popular [Hachd al-Chaabi], além de outras oito pessoas.

O ataque ocorreu três dias depois de um assalto inédito à embaixada norte-americana que durou dois dias e só terminou quando Donald Trump anunciou o envio de mais 750 soldados para o Médio Oriente.

O incidente obrigou os embaixadores dos 29 países da NATO a reunir ontem de forma extraordinária para discutir a crise entre o Irão e os Estados Unidos, disse um porta-voz da organização à agência de notícias AFP. “O secretário-geral [Jens Stoltenberg] decidiu organizar esta reunião de embaixadores da NATO depois de ter discutido com os aliados.”

No sábado, a NATO anunciou que suspenderia as operações de treino no Iraque após a morte do general iraniano Qassem Soleimani durante um ataque norte-americano a Bagdad, no Iraque, na sexta-feira. A missão da NATO no Iraque, que tem algumas centenas de militares, treina as forças do país desde outubro de 2018, a pedido do Governo iraquiano, para impedir o retorno do Estado Islâmico (EI).

A posição da China

Entretanto as autoridades chinesas consideraram ontem que a “pressão máxima” exercida pelos Estados Unidos está na raiz das renovadas tensões com o Irão. O porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros Geng Shuang respondeu assim, em conferência de imprensa, a uma questão sobre a decisão de Teerão de abdicar das limitações impostas ao seu programa nuclear pelo acordo de 2015.

Pequim apelou aos outros participantes do acordo – Rússia, França, Reino Unido e Alemanha – que “mantenham a calma e a razão”. Para a China, o acordo só poderá sobreviver através de uma solução “política e diplomática”, o fim de interferências externas e evitando “qualquer medida que possa complicar ainda mais a situação”. A Europa tentou tomar medidas para salvaguardar o acordo, mas o canal de pagamentos especiais, que visava contornar as sanções, ainda não foi lançado.

Wang Jianwei, professor de ciência política da Universidade de Macau, declarou ao HM que “a China deverá manter uma posição forte durante um eventual conflito entre os EUA e o Irão”. “Em termos gerais, a China procura sempre evitar o uso de força. Um conflito na região entre os EUA e o Irão não interessa aos assuntos da China. Por isso acho que a posição da China será no sentido de apelar aos dois lados que tenham calma (…) para a tensão não escalar na região”, acrescentou o académico.

Japão e companhia

Outros países asiáticos também já manifestaram os seus receios sobre a escalada de violência, nomeadamente Shinzo Abe, primeiro-ministro do Japão. “Quero pedir às partes implicadas que se esforcem para evitar uma escalada destas tensões”, afirmou Shinzo Abe, na primeira conferência de imprensa do ano, durante uma visita à prefeitura de Mie, a sudoeste de Tóquio.

O chefe do Governo japonês manifestou “profunda preocupação” com a actual situação e lembrou que o Japão importa a quase totalidade do petróleo que consome do Irão e de outros países do Médio Oriente.
“Vamos desenvolver esforços diplomáticos para aliviar as tensões e para estabilizar a situação”, sublinhou Abe. O Japão e o Irão mantêm uma relação estreita, reiterada pelos dois Governos nos últimos meses.

Por sua vez o Presidente filipino, Rodrigo Duterte, ordenou que os militares preparassem as suas aeronaves e os seus navios para retirar, “a qualquer momento”, milhares de trabalhadores filipinos do Iraque e do Irão.
Duterte realizou uma reunião de emergência com o seu secretário de Defesa e altos oficiais militares e policiais no domingo para discutir os planos de retirada dos seus nacionais naquela região.

“O Presidente Duterte ordenou que as Forças Armadas das Filipinas estivessem preparadas para deslocar activos militares para repatriar filipinos no exterior, principalmente do Irão e do Iraque, a qualquer momento”, disse o senador Christopher Lawrence Go, um aliado próximo do Duterte que esteve na reunião.

O chefe de gabinete militar de Duterte, tenente-general Felimon Santos Jr., disse que as forças filipinas identificaram possíveis rotas para a retirada dos seus nacionais não apenas do Iraque e do Irão, mas de outros pontos críticos, como Israel. “Existem estas probabilidades e estamos a melhorar os nossos planos para cobrir tudo, caso algo aconteça”, disse Santos aos jornalistas em Manila.

Existem mais de 7.000 trabalhadores filipinos e dependentes no Iraque e no Irão, incluindo muitos que trabalham para os EUA e em outras instalações estrangeiras e estabelecimentos comerciais em Bagdad, disse o Departamento de Defesa Nacional.

Outras nações asiáticas com grandes populações de mão-de-obra expatriada podem enfrentar decisões semelhantes perante a escalada da tensão entre os Estados Unidos e o Irão. O Governo sul-coreano já está a discutir o fortalecimento da protecção para os quase 1.900 sul-coreanos no Iraque e no Irão.

O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros indiano, Raveesh Kumar, disse que a Índia “ainda” não planeia retirar cidadãos daquela região. Os asiáticos representam 40 por cento dos migrantes do mundo e os países do Médio Oriente são um destino comum.

Os migrantes africanos também são mão-de-obra comum no Médio Oriente, embora a possibilidade de seus países de origem organizarem uma retirada seja incerta.

Os países árabes do Golfo abrigam mais de sete milhões de expatriados indianos que ajudam a impulsionar a economia da região e a manter as suas cidades repletas de médicos, engenheiros, professores, motoristas, trabalhadores da construção civil. Nos Emirados Árabes Unidos, os indianos superam os nacionais em três para um.

As ameaças de Trump

No Iraque, o parlamento aprovou uma resolução em que pede ao Governo para rasgar o acordo com os EUA, estabelecido em 2016, no qual Washington se compromete a ajudar na luta contra o grupo terrorista Estado Islâmico e que justifica a presença de cerca de 5.200 militares norte-americanos no território iraquiano.
Entretanto, Donald Trump prometeu ontem “enormes represálias” caso ocorram ataques iranianos contra instalações norte-americanas no Médio Oriente.

“Se eles fizerem alguma coisa, haverá enormes represálias”, declarou ontem Donald Trump a bordo do avião presidencial Air Force One, no regresso a Washington após duas semanas de férias na Florida.
Trump deixou também a ameaça de atacar locais culturais iranianos. “Eles têm o direito de matar os nossos cidadãos (…) e não temos o direito de atingir os seus locais culturais? Isso não funciona assim”, declarou.
Trump reagia assim à aprovação pelo parlamento iraquiano de uma resolução que pede o fim da presença das tropas norte-americanas no país, pondo fim ao acordo com os Estados Unidos, estabelecido em 2016.

7 Jan 2020

Irão-EUA | As lágrimas no funeral de Qassem Soleimani e a urgente reunião da NATO

Ali Khamenei, o líder supremo do Irão, chorou e rezou ontem no funeral do general Qassem Soleimani, em Teerão. A morte causada pelas tropas norte-americanas está a provocar uma verdadeira tensão a nível mundial, que obrigou a NATO a reunir ontem de emergência. A China pede “calma e razão” no que diz respeito ao acordo nuclear, que os EUA já abandonaram

Com agências 
 
[dropcap]A[/dropcap] situação política no Médio Oriente está num limbo difícil de decifrar depois da morte do general Qassem Soleimani por parte de tropas norte-americanas. O líder supremo do Irão, ‘ayatollah’ Ali Khamenei, orou e chorou ontem próximo dos caixões do general Qassem Soleimani e de outros mortos no ataque norte-americano em Bagdad na sexta-feira, durante as cerimónias fúnebres em Teerão.
O sucessor de Soleimani na força de elite iraniana Al-Quds, Esmail Ghaani, ficou ao lado de Ali Khamenei, assim como o Presidente iraniano, Hassan Rouhani, e outros líderes da República Islâmica durante as cerimónias fúnebres. Centenas de milhares de pessoas presentes no acto fúnebre também choraram a morte do general iraniano. A filha de Qassem Soleimani, Zeinab, ameaçou directamente um ataque às forças armadas dos EUA no Médio Oriente enquanto falava diante de multidão em Teerão.
“As famílias dos soldados norte-americanos no oeste da Ásia (…) passam o dia esperando a morte de seus filhos”, disse Zeinab. A TV estatal iraniana falou numa multidão de “milhões” de pessoas, embora esse número não possa ser verificado.
O líder do grupo militante palestino Hamas, Ismail Haniyeh, está em Teerão e assistiu também às cerimónias fúnebres de Soleimani. Ismail Haniyeh, num discurso aos iranianos, descreveu o general Qassem Soleimani, como “o mártir de Jerusalém”.
O responsável do Hamas prometeu que grupos militantes palestinianos – incluindo o seu grupo, que controla a Faixa de Gaza -, seguirão o caminho de Soleimani “para confrontar o projeto sionista e a influência norte-americana”.

A reunião da NATO

A escalada da tensão na região teve início quando o general Qassem Soleimani, comandante da força de elite iraniana Al-Quds, morreu na sexta-feira num ataque aéreo contra o carro em que seguia, junto ao aeroporto internacional de Bagdade, ordenado pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
No mesmo ataque morreu também o ‘número dois’ da coligação de grupos paramilitares pró-iranianos no Iraque, Abu Mehdi al-Muhandis, conhecida como Mobilização Popular [Hachd al-Chaabi], além de outras oito pessoas.
O ataque ocorreu três dias depois de um assalto inédito à embaixada norte-americana que durou dois dias e só terminou quando Donald Trump anunciou o envio de mais 750 soldados para o Médio Oriente.
O incidente obrigou os embaixadores dos 29 países da NATO a reunir ontem de forma extraordinária para discutir a crise entre o Irão e os Estados Unidos, disse um porta-voz da organização à agência de notícias AFP. “O secretário-geral [Jens Stoltenberg] decidiu organizar esta reunião de embaixadores da NATO depois de ter discutido com os aliados.”
No sábado, a NATO anunciou que suspenderia as operações de treino no Iraque após a morte do general iraniano Qassem Soleimani durante um ataque norte-americano a Bagdad, no Iraque, na sexta-feira. A missão da NATO no Iraque, que tem algumas centenas de militares, treina as forças do país desde outubro de 2018, a pedido do Governo iraquiano, para impedir o retorno do Estado Islâmico (EI).

A posição da China

Entretanto as autoridades chinesas consideraram ontem que a “pressão máxima” exercida pelos Estados Unidos está na raiz das renovadas tensões com o Irão. O porta-voz do ministério chinês dos Negócios Estrangeiros Geng Shuang respondeu assim, em conferência de imprensa, a uma questão sobre a decisão de Teerão de abdicar das limitações impostas ao seu programa nuclear pelo acordo de 2015.
Pequim apelou aos outros participantes do acordo – Rússia, França, Reino Unido e Alemanha – que “mantenham a calma e a razão”. Para a China, o acordo só poderá sobreviver através de uma solução “política e diplomática”, o fim de interferências externas e evitando “qualquer medida que possa complicar ainda mais a situação”. A Europa tentou tomar medidas para salvaguardar o acordo, mas o canal de pagamentos especiais, que visava contornar as sanções, ainda não foi lançado.
Wang Jianwei, professor de ciência política da Universidade de Macau, declarou ao HM que “a China deverá manter uma posição forte durante um eventual conflito entre os EUA e o Irão”. “Em termos gerais, a China procura sempre evitar o uso de força. Um conflito na região entre os EUA e o Irão não interessa aos assuntos da China. Por isso acho que a posição da China será no sentido de apelar aos dois lados que tenham calma (…) para a tensão não escalar na região”, acrescentou o académico.

Japão e companhia

Outros países asiáticos também já manifestaram os seus receios sobre a escalada de violência, nomeadamente Shinzo Abe, primeiro-ministro do Japão. “Quero pedir às partes implicadas que se esforcem para evitar uma escalada destas tensões”, afirmou Shinzo Abe, na primeira conferência de imprensa do ano, durante uma visita à prefeitura de Mie, a sudoeste de Tóquio.
O chefe do Governo japonês manifestou “profunda preocupação” com a actual situação e lembrou que o Japão importa a quase totalidade do petróleo que consome do Irão e de outros países do Médio Oriente.
“Vamos desenvolver esforços diplomáticos para aliviar as tensões e para estabilizar a situação”, sublinhou Abe. O Japão e o Irão mantêm uma relação estreita, reiterada pelos dois Governos nos últimos meses.
Por sua vez o Presidente filipino, Rodrigo Duterte, ordenou que os militares preparassem as suas aeronaves e os seus navios para retirar, “a qualquer momento”, milhares de trabalhadores filipinos do Iraque e do Irão.
Duterte realizou uma reunião de emergência com o seu secretário de Defesa e altos oficiais militares e policiais no domingo para discutir os planos de retirada dos seus nacionais naquela região.
“O Presidente Duterte ordenou que as Forças Armadas das Filipinas estivessem preparadas para deslocar activos militares para repatriar filipinos no exterior, principalmente do Irão e do Iraque, a qualquer momento”, disse o senador Christopher Lawrence Go, um aliado próximo do Duterte que esteve na reunião.
O chefe de gabinete militar de Duterte, tenente-general Felimon Santos Jr., disse que as forças filipinas identificaram possíveis rotas para a retirada dos seus nacionais não apenas do Iraque e do Irão, mas de outros pontos críticos, como Israel. “Existem estas probabilidades e estamos a melhorar os nossos planos para cobrir tudo, caso algo aconteça”, disse Santos aos jornalistas em Manila.
Existem mais de 7.000 trabalhadores filipinos e dependentes no Iraque e no Irão, incluindo muitos que trabalham para os EUA e em outras instalações estrangeiras e estabelecimentos comerciais em Bagdad, disse o Departamento de Defesa Nacional.
Outras nações asiáticas com grandes populações de mão-de-obra expatriada podem enfrentar decisões semelhantes perante a escalada da tensão entre os Estados Unidos e o Irão. O Governo sul-coreano já está a discutir o fortalecimento da protecção para os quase 1.900 sul-coreanos no Iraque e no Irão.
O porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros indiano, Raveesh Kumar, disse que a Índia “ainda” não planeia retirar cidadãos daquela região. Os asiáticos representam 40 por cento dos migrantes do mundo e os países do Médio Oriente são um destino comum.
Os migrantes africanos também são mão-de-obra comum no Médio Oriente, embora a possibilidade de seus países de origem organizarem uma retirada seja incerta.
Os países árabes do Golfo abrigam mais de sete milhões de expatriados indianos que ajudam a impulsionar a economia da região e a manter as suas cidades repletas de médicos, engenheiros, professores, motoristas, trabalhadores da construção civil. Nos Emirados Árabes Unidos, os indianos superam os nacionais em três para um.

As ameaças de Trump

No Iraque, o parlamento aprovou uma resolução em que pede ao Governo para rasgar o acordo com os EUA, estabelecido em 2016, no qual Washington se compromete a ajudar na luta contra o grupo terrorista Estado Islâmico e que justifica a presença de cerca de 5.200 militares norte-americanos no território iraquiano.
Entretanto, Donald Trump prometeu ontem “enormes represálias” caso ocorram ataques iranianos contra instalações norte-americanas no Médio Oriente.
“Se eles fizerem alguma coisa, haverá enormes represálias”, declarou ontem Donald Trump a bordo do avião presidencial Air Force One, no regresso a Washington após duas semanas de férias na Florida.
Trump deixou também a ameaça de atacar locais culturais iranianos. “Eles têm o direito de matar os nossos cidadãos (…) e não temos o direito de atingir os seus locais culturais? Isso não funciona assim”, declarou.
Trump reagia assim à aprovação pelo parlamento iraquiano de uma resolução que pede o fim da presença das tropas norte-americanas no país, pondo fim ao acordo com os Estados Unidos, estabelecido em 2016.

7 Jan 2020

Circum-navegação | Joaquim Magalhães de Castro participa na expedição do navio Sagres

Joaquim Magalhães de Castro, jornalista freelancer, fotógrafo e autor com ligações a Macau, irá participar na expedição que a tripulação do navio Sagres iniciou ontem para celebrar os 500 anos da viagem de circum-navegação comandada por Fernão de Magalhães. A viagem termina em Julho, no Japão

Com Lusa 

 

[dropcap]O[/dropcap] navio Sagres vai realizar a sua quarta e mais longa viagem de circum-navegação. Deve atracar em Tóquio a 18 de Julho, onde será “a casa de Portugal” durante os Jogos Olímpicos 2020.

A missão está enquadrada no programa das comemorações do V Centenário da Circum-Navegação do navegador português Fernão de Magalhães, que arrancou ontem após a cerimónia de largada, que contou com a presença do Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa entregou à tripulação a bandeira que os atletas portugueses irão utilizar nos Jogos Olímpicos de Tóquio, onde o navio atracará em 18 de Julho.

Joaquim Magalhães de Castro, jornalista freelancer, autor e fotógrafo irá participar na expedição, mas embarcará apenas em algumas tiradas, embarcando em Moçambique. Neste momento, o autor encontra-se na Indonésia, não tendo sido possível, até ao fecho da edição, estabelecer contacto.

De acordo com a agência Lusa, os afazeres foram muitos até à preparação da viagem, com constantes sons de martelos e berbequins, a par com ensaios de discursos e revisões de procedimentos.

O comandante do navio Sagres, Maurício Camilo, não escondeu a ansiedade destes dias que antecederam uma viagem que pretende fazer num ano o que o navegador português fez em três, há cinco séculos, e que percorrerá 41.258 milhas náuticas em 6.782 horas de navegação. “Estamos num frenesim na preparação do navio, no abastecimento do navio e, ao mesmo tempo, a tentar deixar as nossas vidas em terra o mais organizadas possível. Juntando tudo é um frenesim terrível até à largada”, disse o comandante à Lusa, na sexta-feira.

Desafios da viagem

Para Maurício Camilo, o principal desafio da missão é “a própria dimensão da viagem que vai demorar um ano e seis dias, 41 mil milhas, e que vai exigir das pessoas e ao navio algum esforço e, em determinadas alturas, bastante esforço”.

O comandante elege como ponto alto desta missão a presença em Tóquio durante os Jogos Olímpicos, como Casa de Portugal, e a comemoração dos 500 anos da entrada da esquadra de Magalhães no Estreito de Magalhães, em 20 de Outubro. Esta será, de resto, a tirada mais complicada, não só porque é muito longa (32 dias), das maiores que o Sagres já navegou, mas também porque é feita “numa área em que as condições meteorológicas normalmente não são muito favoráveis”. Este deverá ser “o maior desafio em termos de meteorologia”, até porque é esperado mau tempo, adiantou.

Ao leme do navio estará a tenente Diana Azevedo, 29 anos e na Marinha desde 2008, que à Lusa sublinhou a particularidade do navio Sagres: “Além da navegação a motor, temos a componente vélica que nos caracteriza na navegação, nomeadamente oceânica”.

Se, em termos logísticos, o maior desafio passa por preparar o navio, em termos humanos, o repto é manter o espírito de coesão a bordo. “Em termos de convivência, o mais importante é manter uma coesão, um espírito a bordo. Isso ajuda bastante”, disse, sublinhando que as comunicações disponíveis a bordo e nos portos onde o navio vai atracar ajudam a matar as saudades.

Próxima paragem: Espanha

O navio fará a primeira paragem esta sexta-feira, em Tenerife, Espanha. Para Diana Azevedo, este será sem dúvida o seu maior desafio profissional. “Como chefe de serviço de navegação, é um grande desafio. Vou aprender muito na minha área – meteorologia. Vai ser uma experiência totalmente diferente do que estávamos habituados, principalmente pela duração da missão”, explicou.

À volta com as compras anda o primeiro sargento Vítor Rafael, despenseiro no navio Sagres e que tenta assegurar que nada falte na mesa dos 144 tripulantes. Há cerca de um mês que os armazéns começaram a encher-se de secos, como arroz, massa, enlatados. Seguiram-se os congelados – cerca de 12 mil quilos de carne e peixe. Ovos, verdes e fruta também estão assegurados, pelo menos até à próxima paragem em terra.

De acordo com Vítor Rafael, para esta missão foram adquiridas duas toneladas de bacalhau, 3.000 quilos de batatas e 1.000 quilos de cebolas, além de 360 ovos, água, charcutaria, entre outros produtos alimentares, que deverão ser repostos durante as paragens nos 22 portos de 19 países que a viagem contempla.

Miguel Vítor, 25 anos, segundo marinheiro e operador de comunicações, tem consciência que esta é uma viagem histórica e foi por isso que se voluntariou. Acredita que estes últimos dias antes da largada são “os mais complicados”, não só ao nível do trabalho, como a nível pessoal, que “é ainda pior”. “Vai ser um desafio trabalhar com vários tipos de equipamentos e de frequências, mas o importante é que a mensagem chegue a bom porto”, apontou, em relação à sua área profissional.

Para Miguel Vítor, a grande vantagem do navio Sagres, em termos de comunicações, é o satélite que transporta e que, em caso de emergência ou para uma comunicação mais rápida, pode ser utilizado para contactar seja com quem for e para que nível for. E nem as saudades que diz serem complicadas de gerir refreiam o entusiasmo deste navegador. “É para isto que um marinheiro português é feito: para estar no mar e conhecer o mundo”, atirou.

A primeira viagem do navio Sagres com a bandeira portuguesa realizou-se em 25 de Abril de 1962. Já realizou três viagens de circum-navegação em 1978/79, 1983/84 e 2010, mas nenhuma tão longa como a que começou ontem.

6 Jan 2020

Circum-navegação | Joaquim Magalhães de Castro participa na expedição do navio Sagres

Joaquim Magalhães de Castro, jornalista freelancer, fotógrafo e autor com ligações a Macau, irá participar na expedição que a tripulação do navio Sagres iniciou ontem para celebrar os 500 anos da viagem de circum-navegação comandada por Fernão de Magalhães. A viagem termina em Julho, no Japão

Com Lusa 
 
[dropcap]O[/dropcap] navio Sagres vai realizar a sua quarta e mais longa viagem de circum-navegação. Deve atracar em Tóquio a 18 de Julho, onde será “a casa de Portugal” durante os Jogos Olímpicos 2020.
A missão está enquadrada no programa das comemorações do V Centenário da Circum-Navegação do navegador português Fernão de Magalhães, que arrancou ontem após a cerimónia de largada, que contou com a presença do Presidente da República. Marcelo Rebelo de Sousa entregou à tripulação a bandeira que os atletas portugueses irão utilizar nos Jogos Olímpicos de Tóquio, onde o navio atracará em 18 de Julho.
Joaquim Magalhães de Castro, jornalista freelancer, autor e fotógrafo irá participar na expedição, mas embarcará apenas em algumas tiradas, embarcando em Moçambique. Neste momento, o autor encontra-se na Indonésia, não tendo sido possível, até ao fecho da edição, estabelecer contacto.
De acordo com a agência Lusa, os afazeres foram muitos até à preparação da viagem, com constantes sons de martelos e berbequins, a par com ensaios de discursos e revisões de procedimentos.
O comandante do navio Sagres, Maurício Camilo, não escondeu a ansiedade destes dias que antecederam uma viagem que pretende fazer num ano o que o navegador português fez em três, há cinco séculos, e que percorrerá 41.258 milhas náuticas em 6.782 horas de navegação. “Estamos num frenesim na preparação do navio, no abastecimento do navio e, ao mesmo tempo, a tentar deixar as nossas vidas em terra o mais organizadas possível. Juntando tudo é um frenesim terrível até à largada”, disse o comandante à Lusa, na sexta-feira.

Desafios da viagem

Para Maurício Camilo, o principal desafio da missão é “a própria dimensão da viagem que vai demorar um ano e seis dias, 41 mil milhas, e que vai exigir das pessoas e ao navio algum esforço e, em determinadas alturas, bastante esforço”.
O comandante elege como ponto alto desta missão a presença em Tóquio durante os Jogos Olímpicos, como Casa de Portugal, e a comemoração dos 500 anos da entrada da esquadra de Magalhães no Estreito de Magalhães, em 20 de Outubro. Esta será, de resto, a tirada mais complicada, não só porque é muito longa (32 dias), das maiores que o Sagres já navegou, mas também porque é feita “numa área em que as condições meteorológicas normalmente não são muito favoráveis”. Este deverá ser “o maior desafio em termos de meteorologia”, até porque é esperado mau tempo, adiantou.
Ao leme do navio estará a tenente Diana Azevedo, 29 anos e na Marinha desde 2008, que à Lusa sublinhou a particularidade do navio Sagres: “Além da navegação a motor, temos a componente vélica que nos caracteriza na navegação, nomeadamente oceânica”.
Se, em termos logísticos, o maior desafio passa por preparar o navio, em termos humanos, o repto é manter o espírito de coesão a bordo. “Em termos de convivência, o mais importante é manter uma coesão, um espírito a bordo. Isso ajuda bastante”, disse, sublinhando que as comunicações disponíveis a bordo e nos portos onde o navio vai atracar ajudam a matar as saudades.

Próxima paragem: Espanha

O navio fará a primeira paragem esta sexta-feira, em Tenerife, Espanha. Para Diana Azevedo, este será sem dúvida o seu maior desafio profissional. “Como chefe de serviço de navegação, é um grande desafio. Vou aprender muito na minha área – meteorologia. Vai ser uma experiência totalmente diferente do que estávamos habituados, principalmente pela duração da missão”, explicou.
À volta com as compras anda o primeiro sargento Vítor Rafael, despenseiro no navio Sagres e que tenta assegurar que nada falte na mesa dos 144 tripulantes. Há cerca de um mês que os armazéns começaram a encher-se de secos, como arroz, massa, enlatados. Seguiram-se os congelados – cerca de 12 mil quilos de carne e peixe. Ovos, verdes e fruta também estão assegurados, pelo menos até à próxima paragem em terra.
De acordo com Vítor Rafael, para esta missão foram adquiridas duas toneladas de bacalhau, 3.000 quilos de batatas e 1.000 quilos de cebolas, além de 360 ovos, água, charcutaria, entre outros produtos alimentares, que deverão ser repostos durante as paragens nos 22 portos de 19 países que a viagem contempla.
Miguel Vítor, 25 anos, segundo marinheiro e operador de comunicações, tem consciência que esta é uma viagem histórica e foi por isso que se voluntariou. Acredita que estes últimos dias antes da largada são “os mais complicados”, não só ao nível do trabalho, como a nível pessoal, que “é ainda pior”. “Vai ser um desafio trabalhar com vários tipos de equipamentos e de frequências, mas o importante é que a mensagem chegue a bom porto”, apontou, em relação à sua área profissional.
Para Miguel Vítor, a grande vantagem do navio Sagres, em termos de comunicações, é o satélite que transporta e que, em caso de emergência ou para uma comunicação mais rápida, pode ser utilizado para contactar seja com quem for e para que nível for. E nem as saudades que diz serem complicadas de gerir refreiam o entusiasmo deste navegador. “É para isto que um marinheiro português é feito: para estar no mar e conhecer o mundo”, atirou.
A primeira viagem do navio Sagres com a bandeira portuguesa realizou-se em 25 de Abril de 1962. Já realizou três viagens de circum-navegação em 1978/79, 1983/84 e 2010, mas nenhuma tão longa como a que começou ontem.

6 Jan 2020

Acção social | Caritas Portuguesa visita Macau com colaborações na manga

Eugénio Fonseca, presidente da Caritas Portuguesa, inicia amanhã uma visita de vários dias ao território para discutir eventuais colaborações com a entidade congénere de Macau, liderada por Paul Pun. Estão também agendados encontros no Consulado-geral de Portugal em Macau e com Florinda Chan, ex-secretária para a Administração e Justiça

 

[dropcap]D[/dropcap]epois da visita a Portugal do secretário-geral da Caritas Macau, Paul Pun, é a altura de a Caritas Portuguesa visitar o território. Inicia-se amanhã a visita oficial desta entidade, presidida por Eugénio Fonseca, cuja agenda inclui vários encontros com entidades e personalidades do território ligadas à acção social. Paul Pun decidiu não tecer comentários ao HM antes da visita, por preferir que a Caritas Portuguesa conheça primeiro o trabalho social que é desenvolvido em Macau.

A agenda de amanhã consiste numa visita a vários centros da Caritas Macau, como é o caso do centro de serviços de fornecimento temporário de alimentos, o centro de apoio aos carenciados trabalhadores não residentes e ao centro de serviços integrados de apoio a família – fonte de alegria de energia.

Para quarta-feira está marcada uma reunião no Consulado-geral de Portugal em Macau com o cônsul Paulo Cunha Alves, seguindo-se uma reunião com a Caritas Macau para “debater futuras colaborações”, aponta o programa oficial.

Reunião com Florinda

Na agenda de Eugénio Fonseca consta também um encontro, na sede da Caritas Macau, com Florinda Chan, ex-secretária para a Administração e Justiça. Na sexta-feira está marcada uma visita às mulheres reclusas do Estabelecimento Prisional de Coloane, sem esquecer um encontro com Fátima dos Santos Ferreira, da Associação de Reabilitação Fuhong, que trabalha com portadores de deficiência.

Em Outubro do ano passado, na sequência da visita de Paul Pun, foi assinado um acordo entre a Cáritas de Macau e a Cáritas Portuguesa, que visa a “colaboração em actividades de ajuda humanitária e de causas humanitárias”, bem como a “exploração de oportunidades de colaboração no trabalho para a protecção dos direitos dos refugiados, pessoas deslocadas e migrantes e tráfico de seres humanos”, explica um comunicado oficial.

O mesmo documento dá conta que este protocolo abrange a “colaboração em iniciativas para promover as orientações estratégicas da Caritas Internationalis na construção de uma sociedade inclusiva e equitativa de modo a proteger a dignidade humana”. Outro dos propósitos é a aproximação e o apoio aos países lusófonos, nomeadamente, através da participação da Cáritas de Macau, como observador, no Fórum das Cáritas Lusófonas e a colaboração em projectos de cooperação para o desenvolvimento nos países lusófonos, através da rede Cáritas.

6 Jan 2020

Acção social | Caritas Portuguesa visita Macau com colaborações na manga

Eugénio Fonseca, presidente da Caritas Portuguesa, inicia amanhã uma visita de vários dias ao território para discutir eventuais colaborações com a entidade congénere de Macau, liderada por Paul Pun. Estão também agendados encontros no Consulado-geral de Portugal em Macau e com Florinda Chan, ex-secretária para a Administração e Justiça

 
[dropcap]D[/dropcap]epois da visita a Portugal do secretário-geral da Caritas Macau, Paul Pun, é a altura de a Caritas Portuguesa visitar o território. Inicia-se amanhã a visita oficial desta entidade, presidida por Eugénio Fonseca, cuja agenda inclui vários encontros com entidades e personalidades do território ligadas à acção social. Paul Pun decidiu não tecer comentários ao HM antes da visita, por preferir que a Caritas Portuguesa conheça primeiro o trabalho social que é desenvolvido em Macau.
A agenda de amanhã consiste numa visita a vários centros da Caritas Macau, como é o caso do centro de serviços de fornecimento temporário de alimentos, o centro de apoio aos carenciados trabalhadores não residentes e ao centro de serviços integrados de apoio a família – fonte de alegria de energia.
Para quarta-feira está marcada uma reunião no Consulado-geral de Portugal em Macau com o cônsul Paulo Cunha Alves, seguindo-se uma reunião com a Caritas Macau para “debater futuras colaborações”, aponta o programa oficial.

Reunião com Florinda

Na agenda de Eugénio Fonseca consta também um encontro, na sede da Caritas Macau, com Florinda Chan, ex-secretária para a Administração e Justiça. Na sexta-feira está marcada uma visita às mulheres reclusas do Estabelecimento Prisional de Coloane, sem esquecer um encontro com Fátima dos Santos Ferreira, da Associação de Reabilitação Fuhong, que trabalha com portadores de deficiência.
Em Outubro do ano passado, na sequência da visita de Paul Pun, foi assinado um acordo entre a Cáritas de Macau e a Cáritas Portuguesa, que visa a “colaboração em actividades de ajuda humanitária e de causas humanitárias”, bem como a “exploração de oportunidades de colaboração no trabalho para a protecção dos direitos dos refugiados, pessoas deslocadas e migrantes e tráfico de seres humanos”, explica um comunicado oficial.
O mesmo documento dá conta que este protocolo abrange a “colaboração em iniciativas para promover as orientações estratégicas da Caritas Internationalis na construção de uma sociedade inclusiva e equitativa de modo a proteger a dignidade humana”. Outro dos propósitos é a aproximação e o apoio aos países lusófonos, nomeadamente, através da participação da Cáritas de Macau, como observador, no Fórum das Cáritas Lusófonas e a colaboração em projectos de cooperação para o desenvolvimento nos países lusófonos, através da rede Cáritas.

6 Jan 2020

Austrália | Graves incêndios provocam mais uma morte e profundo impacto ambiental

Os incêndios florestais no sudeste da Austrália provocaram no sábado mais um morto, obrigaram à evacuação de milhares de pessoas e causaram “danos consideráveis”, anunciaram ontem as autoridades locais. Agências apontam para a morte de cerca de 500 milhões de animais. Scott Morrison, primeiro-ministro, tem sido duramente criticado pela resposta tardia à crise

 

Com agências 

[dropcap]C[/dropcap]entenas de propriedades na Austrália têm sido destruídas devido aos fortes incêndios que se têm propagado no país desde Setembro. Um total de 24 pessoas morreram desde essa data na sequência de incêndios florestais, sendo que última morte foi registada este sábado, com o falecimento de um homem por insuficiência cardíaca na zona de Nova Gales do Sul, anunciou a chefe do Governo da região, Gladys Berejiklian.

“Estamos em território desconhecido”, afirmou Berejiklian, após um dia marcado por fortes ventos e temperaturas acima dos 40 graus Celcius em três estados. “Nunca vivemos isto antes”, vincou Berejiklian, advertindo: “Muitas aldeias que nunca tinham sido ameaçadas por incêndios florestais estão em perigo de ser completamente destruídas”.

Em menos de uma semana, cerca de 500 casas foram destruídas pelas chamas no sudeste do país, na sua maioria em Nova Gales do Sul, elevando para mais de 1.500 o número total de casas destruídas desde Setembro, com prejuízos avaliados em 268 milhões de euros.

A oeste de Sydney, no subúrbio de Penrith, os termómetros chegaram aos 48,9 graus Celcius no sábado. A cidade mais populosa da Austrália, com de cinco milhões de habitantes, está a sofrer cortes de energia após duas subestações terem sido destruídas pelo fogo, enquanto as autoridades já pediram aos residentes que restrinjam o consumo de eletricidade.

Na capital, Camberra, a temperatura atingiu 44 graus, um valor sem precedentes, segundo um porta-voz do serviço meteorológico australiano. A dimensão dos fogos é tal que o céu da vizinha Nova Zelândia transformou-se num imenso laranja devido ao fumo.

Este sábado foi anunciada a evacuação de partes de estados de Victoria e Nova Gales do Sul, na costa sudeste da Austrália. Michael Grainger, da polícia de Victoria, disse mesmo às populações que “se valorizam a segurança têm de partir”. “Nestas circunstâncias, os bens pessoais têm muito, muito pouco valor. São circunstâncias terríveis, que não haja dúvidas”, frisou.

As críticas a Morrison

O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, cuja postura perante os incêndios tem sido criticada, convocou no sábado três mil militares na reserva para reforçar o combate aos incêndios. De acordo com o The Guardian, o primeiro-ministro australiano também garantiu a criação de kits de apoio para as áreas mais afectadas, além de que vai ponderar o pagamento de uma comissão real “tendo em conta os Estados e os territórios” virada para os agricultores, pequenos comerciantes e “outros que participaram no esforço de reconstrução” após os incêndios.

Josh Frydenberg, tesoureiro e membro da Câmara de Deputados australiana, disse que o Governo “está comprometido com tudo o que é necessário e com o mais que seja pedido”.
De acordo com a agência Reuters, Morrison tem sido duramente criticado por ter estado de férias no Havai numa altura em que a situação dos fogos piorou, ainda que tenha reduzido o tempo de estadia.

O primeiro-ministro falou da ocorrência de uma “quebra nas comunicações” depois de uma queixa apresentada por Shane Fitzsimmons, chefe dos bombeiros de New South Wales, que declarou ter sabido pelos jornais da intenção de Morrison de criar uma nova agência nacional de recuperação de incêndios florestais, o que trouxe confusão na hora de dar resposta à crise.

“Senti-me desapontando e frustrado no meio de um dos nossos piores incêndios de que há registo, com deslocações massivas de pessoas e com a necessidade de lidar com condições climatéricas muito más”, disse Fitzsimmons ontem.

Por norma, na Austrália, os incêndios são combatidos e geridos a nível local, mas a gravidade da situação levou o primeiro-ministro a equacionar uma resposta nacional com o estabelecimento de uma nova agência. Morrison deixou claro que a criação desta nova entidade não era sinónimo de um mau trabalho desenvolvido até então, uma vez que as agências de combate aos fogos estatais fizeram “um trabalho extraordinário”.

Sobre as suas férias no Havai no pico da crise, Morrison pediu desculpa. Ainda assim, muitos locais recusaram cumprimentar o primeiro-ministro esta sexta-feira, quando ele realizou uma visita às cidades mais afectadas pelos fogos. O descontentamento das pessoas afectadas pelos fogos é tão grande que chegou mesmo a ser criada a hashtag #ScottyFromMarketing, que tem sido bastante utilizada nas principais contas de Twitter australianas.

Scott Morrison preparava-se para viajar na próxima semana para a Índia em viagem oficial, mas já cancelou a viagem. O primeiro-ministro continua crente na sua continuação no cargo e diz que, por agora, está focado na resolução da crise causada pelos incêndios.

“Têm existido muitos comentários, muito criticismo. Tirei o benefício de muitas análises sobre muitos assuntos, mas não me posso distrair com isso”, apontou.

Animais em perigo

Os fogos têm causado também um enorme impacto na fauna do país, tendo devastado nos últimos meses várias comunidades do mundo animal. Depois de ter sido noticiado que cerca de um terço da população de coalas pode já ter morrido nestes incêndios, os cangurus estão agora também sob ameaça. Agências apontam para a morte de cerca de 500 milhões de animais.

Este sábado, um vídeo, divulgado nas redes sociais, pela Warriors for Wildlife, mostra centenas de cangurus a fugirem das chamas na ilha Kangaroo, a 112 quilómetros de Adelaide, no estado da Austrália do Sul – uma das zonas do país que está a ser mais afectada pelos fogos.

As condições meteorológicas continuam a não ser favoráveis à resolução da crise, uma vez que no fim-de-semana se registou uma subida das temperaturas e ventos fortes.
Na ilha Kangaroo já arderam 100 mil hectares, a maioria no Flinders Chase National Park, onde vivem cerca de 60.000 cangurus e 50.000 coalas.

Uma questão ambiental?

Os enormes incêndios na Austrália têm também gerado um debate em torno das verdadeiras origens da tragédia. Muitos falam em consequências das alterações climáticas, mas fala-se também da existência de uma “conspiração” por parte de ambientalistas para “fechar” os parques nacionais e evitar acções de prevenção aos incêndios tal como a realização de queimadas e limpezas de florestas.

No sábado, citado pelo The Guardian, Scott Morrison disse que “a questão que mais me foi colocada tem sido a gestão das reservas de combustível nos parques nacionais”. “As pessoas que dizem esperar acções ao nível das alterações climáticas” poderiam ser as mesmas pessoas que “não partilham da mesma urgência em lidar com a redução de riscos”.

Contido, David Bowman, director de um centro de investigação sobre incêndios da Universidade de Tasmânia, disse que a utilização deste argumento por parte do primeiro-ministro é “ridículo”. “Enquadrar isto como uma questão de redução de riscos de incêndio nos parques nacionais é retórica política preguiçosa”, afirmou.

6 Jan 2020

Austrália | Graves incêndios provocam mais uma morte e profundo impacto ambiental

Os incêndios florestais no sudeste da Austrália provocaram no sábado mais um morto, obrigaram à evacuação de milhares de pessoas e causaram “danos consideráveis”, anunciaram ontem as autoridades locais. Agências apontam para a morte de cerca de 500 milhões de animais. Scott Morrison, primeiro-ministro, tem sido duramente criticado pela resposta tardia à crise

 
Com agências 
[dropcap]C[/dropcap]entenas de propriedades na Austrália têm sido destruídas devido aos fortes incêndios que se têm propagado no país desde Setembro. Um total de 24 pessoas morreram desde essa data na sequência de incêndios florestais, sendo que última morte foi registada este sábado, com o falecimento de um homem por insuficiência cardíaca na zona de Nova Gales do Sul, anunciou a chefe do Governo da região, Gladys Berejiklian.
“Estamos em território desconhecido”, afirmou Berejiklian, após um dia marcado por fortes ventos e temperaturas acima dos 40 graus Celcius em três estados. “Nunca vivemos isto antes”, vincou Berejiklian, advertindo: “Muitas aldeias que nunca tinham sido ameaçadas por incêndios florestais estão em perigo de ser completamente destruídas”.
Em menos de uma semana, cerca de 500 casas foram destruídas pelas chamas no sudeste do país, na sua maioria em Nova Gales do Sul, elevando para mais de 1.500 o número total de casas destruídas desde Setembro, com prejuízos avaliados em 268 milhões de euros.
A oeste de Sydney, no subúrbio de Penrith, os termómetros chegaram aos 48,9 graus Celcius no sábado. A cidade mais populosa da Austrália, com de cinco milhões de habitantes, está a sofrer cortes de energia após duas subestações terem sido destruídas pelo fogo, enquanto as autoridades já pediram aos residentes que restrinjam o consumo de eletricidade.
Na capital, Camberra, a temperatura atingiu 44 graus, um valor sem precedentes, segundo um porta-voz do serviço meteorológico australiano. A dimensão dos fogos é tal que o céu da vizinha Nova Zelândia transformou-se num imenso laranja devido ao fumo.
Este sábado foi anunciada a evacuação de partes de estados de Victoria e Nova Gales do Sul, na costa sudeste da Austrália. Michael Grainger, da polícia de Victoria, disse mesmo às populações que “se valorizam a segurança têm de partir”. “Nestas circunstâncias, os bens pessoais têm muito, muito pouco valor. São circunstâncias terríveis, que não haja dúvidas”, frisou.

As críticas a Morrison

O primeiro-ministro australiano, Scott Morrison, cuja postura perante os incêndios tem sido criticada, convocou no sábado três mil militares na reserva para reforçar o combate aos incêndios. De acordo com o The Guardian, o primeiro-ministro australiano também garantiu a criação de kits de apoio para as áreas mais afectadas, além de que vai ponderar o pagamento de uma comissão real “tendo em conta os Estados e os territórios” virada para os agricultores, pequenos comerciantes e “outros que participaram no esforço de reconstrução” após os incêndios.
Josh Frydenberg, tesoureiro e membro da Câmara de Deputados australiana, disse que o Governo “está comprometido com tudo o que é necessário e com o mais que seja pedido”.
De acordo com a agência Reuters, Morrison tem sido duramente criticado por ter estado de férias no Havai numa altura em que a situação dos fogos piorou, ainda que tenha reduzido o tempo de estadia.
O primeiro-ministro falou da ocorrência de uma “quebra nas comunicações” depois de uma queixa apresentada por Shane Fitzsimmons, chefe dos bombeiros de New South Wales, que declarou ter sabido pelos jornais da intenção de Morrison de criar uma nova agência nacional de recuperação de incêndios florestais, o que trouxe confusão na hora de dar resposta à crise.
“Senti-me desapontando e frustrado no meio de um dos nossos piores incêndios de que há registo, com deslocações massivas de pessoas e com a necessidade de lidar com condições climatéricas muito más”, disse Fitzsimmons ontem.
Por norma, na Austrália, os incêndios são combatidos e geridos a nível local, mas a gravidade da situação levou o primeiro-ministro a equacionar uma resposta nacional com o estabelecimento de uma nova agência. Morrison deixou claro que a criação desta nova entidade não era sinónimo de um mau trabalho desenvolvido até então, uma vez que as agências de combate aos fogos estatais fizeram “um trabalho extraordinário”.
Sobre as suas férias no Havai no pico da crise, Morrison pediu desculpa. Ainda assim, muitos locais recusaram cumprimentar o primeiro-ministro esta sexta-feira, quando ele realizou uma visita às cidades mais afectadas pelos fogos. O descontentamento das pessoas afectadas pelos fogos é tão grande que chegou mesmo a ser criada a hashtag #ScottyFromMarketing, que tem sido bastante utilizada nas principais contas de Twitter australianas.
Scott Morrison preparava-se para viajar na próxima semana para a Índia em viagem oficial, mas já cancelou a viagem. O primeiro-ministro continua crente na sua continuação no cargo e diz que, por agora, está focado na resolução da crise causada pelos incêndios.
“Têm existido muitos comentários, muito criticismo. Tirei o benefício de muitas análises sobre muitos assuntos, mas não me posso distrair com isso”, apontou.

Animais em perigo

Os fogos têm causado também um enorme impacto na fauna do país, tendo devastado nos últimos meses várias comunidades do mundo animal. Depois de ter sido noticiado que cerca de um terço da população de coalas pode já ter morrido nestes incêndios, os cangurus estão agora também sob ameaça. Agências apontam para a morte de cerca de 500 milhões de animais.
Este sábado, um vídeo, divulgado nas redes sociais, pela Warriors for Wildlife, mostra centenas de cangurus a fugirem das chamas na ilha Kangaroo, a 112 quilómetros de Adelaide, no estado da Austrália do Sul – uma das zonas do país que está a ser mais afectada pelos fogos.
As condições meteorológicas continuam a não ser favoráveis à resolução da crise, uma vez que no fim-de-semana se registou uma subida das temperaturas e ventos fortes.
Na ilha Kangaroo já arderam 100 mil hectares, a maioria no Flinders Chase National Park, onde vivem cerca de 60.000 cangurus e 50.000 coalas.

Uma questão ambiental?

Os enormes incêndios na Austrália têm também gerado um debate em torno das verdadeiras origens da tragédia. Muitos falam em consequências das alterações climáticas, mas fala-se também da existência de uma “conspiração” por parte de ambientalistas para “fechar” os parques nacionais e evitar acções de prevenção aos incêndios tal como a realização de queimadas e limpezas de florestas.
No sábado, citado pelo The Guardian, Scott Morrison disse que “a questão que mais me foi colocada tem sido a gestão das reservas de combustível nos parques nacionais”. “As pessoas que dizem esperar acções ao nível das alterações climáticas” poderiam ser as mesmas pessoas que “não partilham da mesma urgência em lidar com a redução de riscos”.
Contido, David Bowman, director de um centro de investigação sobre incêndios da Universidade de Tasmânia, disse que a utilização deste argumento por parte do primeiro-ministro é “ridículo”. “Enquadrar isto como uma questão de redução de riscos de incêndio nos parques nacionais é retórica política preguiçosa”, afirmou.

6 Jan 2020

Terrenos | STDM e Transmac levam negas do Tribunal da Segunda Instância

Foram considerados improcedentes cinco recursos relativos à anulação da concessão de terrenos, cujos despachos foram assinados por Chui Sai On. Dois dos terrenos haviam sido concessionados à Sociedade de Turismo e Diversões de Macau e à Companhia de Autocarros de Macau Foi Lei, actual Transmac

 

[dropcap]O[/dropcap] Tribunal de Segunda Instância (TSI) rejeitou os recursos apresentados por cinco concessionárias em relação à anulação, por parte do Chefe do Executivo, da concessão de cinco terrenos. De acordo com um comunicado ontem emitido, as decisões foram proferidas nos dias 14, 21 e 28 de Novembro do ano passado.

Uma das empresas em causa é a antiga Companhia de Autocarros de Macau Foi Lei, que hoje se denomina Transmac e que actualmente é uma das concessionárias do serviço de autocarros públicos em Macau. A empresa recebeu do Governo a concessão de um terreno situado na Estrada Marginal da Ilha Verde a 30 de Dezembro de 1988, por um período de 25 anos. No entanto, a concessão chegou ao fim a 29 de Dezembro de 2013 sem que tenham sido efectuados os devidos desenvolvimentos no terreno.

O despacho assinado pelo então Chefe do Executivo, Chui Sai On, a anular a concessão foi publicado em Boletim Oficial a 9 de Março de 2016.

Outra empresa que viu as suas intenções negadas pelo TSI foi a Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), que era concessionária de um terreno situado na Baixa da Taipa, onde deveria ter sido construído um edifício com duas torres destinado à habitação, comércio e estacionamento. A concessão foi anulada por Chui Sai On a 30 de Setembro de 2015.

Decisões sobre Coloane

Outro recurso que o TSI considerou improcedente diz respeito a outro terreno na Taipa, desta feita na Avenida de Kwong Tung, e que havia sido concedido à Companhia de Investimento Predial Hamilton, Limitada. O prazo de validade do arrendamento do terreno era de 50 anos, com prazo de aproveitamento de 42 meses, mas a concessão foi declarada nula a 15 de Maio de 2015 também por falta de aproveitamento.

As restantes duas decisões dizem respeito a um terreno situado em Coloane, concessionado a Tan Di, em nome da Sociedade de Desenvolvimento e Fomento Predial Kin Chit, Limitada, empresa que, há data, ainda estava por criar oficialmente.

Também em Coloane, na Zona Industrial de Seac Pai Van, foi anulada a concessão de um lote de terreno concessionado à Sociedade Internacional de Indústria Pedreira, Lda. O despacho a dar conta da anulação da concessão foi publicado a 13 de Fevereiro de 2017.

3 Jan 2020

Terrenos | STDM e Transmac levam negas do Tribunal da Segunda Instância

Foram considerados improcedentes cinco recursos relativos à anulação da concessão de terrenos, cujos despachos foram assinados por Chui Sai On. Dois dos terrenos haviam sido concessionados à Sociedade de Turismo e Diversões de Macau e à Companhia de Autocarros de Macau Foi Lei, actual Transmac

 
[dropcap]O[/dropcap] Tribunal de Segunda Instância (TSI) rejeitou os recursos apresentados por cinco concessionárias em relação à anulação, por parte do Chefe do Executivo, da concessão de cinco terrenos. De acordo com um comunicado ontem emitido, as decisões foram proferidas nos dias 14, 21 e 28 de Novembro do ano passado.
Uma das empresas em causa é a antiga Companhia de Autocarros de Macau Foi Lei, que hoje se denomina Transmac e que actualmente é uma das concessionárias do serviço de autocarros públicos em Macau. A empresa recebeu do Governo a concessão de um terreno situado na Estrada Marginal da Ilha Verde a 30 de Dezembro de 1988, por um período de 25 anos. No entanto, a concessão chegou ao fim a 29 de Dezembro de 2013 sem que tenham sido efectuados os devidos desenvolvimentos no terreno.
O despacho assinado pelo então Chefe do Executivo, Chui Sai On, a anular a concessão foi publicado em Boletim Oficial a 9 de Março de 2016.
Outra empresa que viu as suas intenções negadas pelo TSI foi a Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), que era concessionária de um terreno situado na Baixa da Taipa, onde deveria ter sido construído um edifício com duas torres destinado à habitação, comércio e estacionamento. A concessão foi anulada por Chui Sai On a 30 de Setembro de 2015.

Decisões sobre Coloane

Outro recurso que o TSI considerou improcedente diz respeito a outro terreno na Taipa, desta feita na Avenida de Kwong Tung, e que havia sido concedido à Companhia de Investimento Predial Hamilton, Limitada. O prazo de validade do arrendamento do terreno era de 50 anos, com prazo de aproveitamento de 42 meses, mas a concessão foi declarada nula a 15 de Maio de 2015 também por falta de aproveitamento.
As restantes duas decisões dizem respeito a um terreno situado em Coloane, concessionado a Tan Di, em nome da Sociedade de Desenvolvimento e Fomento Predial Kin Chit, Limitada, empresa que, há data, ainda estava por criar oficialmente.
Também em Coloane, na Zona Industrial de Seac Pai Van, foi anulada a concessão de um lote de terreno concessionado à Sociedade Internacional de Indústria Pedreira, Lda. O despacho a dar conta da anulação da concessão foi publicado a 13 de Fevereiro de 2017.

3 Jan 2020

Coutinho exige regularização do regime de disponibilidade permanente na Administração

[dropcap]O[/dropcap] deputado José Pereira Coutinho interpelou o Governo sobre a necessidade de legislar sobre o regime de disponibilidade permanente existente para os funcionários da Administração. Em interpelação escrita, o deputado lembrou que “desde o estabelecimento da RAEM até à presente data muitos trabalhadores de serviços públicos estão impedidos de ausentar da RAEM nos dias de descanso e nos feriados obrigatórios por estarem sujeitos ao regime de disponibilidade permanente quer nos termos da lei geral quer por via de legislação especial, sem qualquer tipo de compensação pecuniária”.

Para o deputado, “estas decisões arbitrárias e sem cobertura legal violam o disposto do artigo 33 da Lei Básica”, que determina que “aos residentes de Macau são reconhecidas a liberdade de se deslocarem e fixarem em qualquer parte da RAEM e a liberdade de emigrarem para outros países ou regiões”.

José Pereira Coutinho apresenta o exemplo do pessoal de saúde, como é o caso dos enfermeiros, “sujeitos ao regime de disponibilidade permanente que consiste na possibilidade de serem chamados a exercer funções fora do horário normal de prestação de trabalho”, bem como os médicos dos Serviços de Saúde de Macau (SSM).

“De acordo com um parecer de 2009, o Governo prometeu há quase uma década criar um regime próprio sobre esta matéria para todos os trabalhadores da Administração. Decorrida uma década, esta promessa ainda não foi concretizada”, disse ainda.

Medidas compensatórias

Além de questionar as razões para o atraso na apresentação deste projecto de lei na Assembleia Legislativa, José Pereira Coutinho quer também saber quais as medidas compensatórias a ser criadas pelo Executivo.

“Que medidas vão ser adoptadas para compensar os trabalhadores da Administração Pública, nomeadamente os enfermeiros dos SSM e pessoal das Forças de Segurança de Macau que são obrigados a sujeitar-se ao regime de disponibilidade permanente sem qualquer tipo de compensação? Como vai o Governo elevar a moral dos trabalhadores que têm vindo a ser explorados no não pagamento de subsídios de disponibilidade permanente desde o estabelecimento da RAEM?”, questionou.

3 Jan 2020

Conselho de Estado diz que “forças externas” estão a tentar infiltrar-se em Macau

[dropcap]Z[/dropcap]hang Xiaoming, director do Gabinete dos Assuntos de Hong Kong e Macau junto do Conselho de Estado, em Pequim, publicou ontem um artigo numa publicação do Partido Comunista Chinês, intitulada Qiushi, onde escreve que existem “forças externas” a tentar penetrar na sociedade de Macau, tal como ocorreu em Hong Kong, sem especificar que tipo de forças externas estão em causa. De frisar que este artigo foi publicado após a visita do Presidente Xi Jinping a Macau, em Dezembro último.

De acordo com o South China Morning Post (SCMP), Zhang Xiaoming citou as palavras de Xi Jinping, que defendeu que “a segurança nacional, a segurança e os interesses da população” eram objectivos firmes da China e que o país nunca iria tolerar interferências estrangeiras nas duas regiões administrativas especiais.

Escreveu Zhang Xiaoming que “estes comentários feitos pelo secretário-geral Xi Jinping constituíram um golpe para eles e pretendem servir de encorajamento para nós na nossa legítima luta e contra-reacções quando as forças externas estão profundamente envolvidas nos tumultos relacionados com a lei da extradição, tomando parte da questão e manobrando o caos em Hong Kong, e também estão a tentar infiltrar-se em Macau”, escreveu, citado pelo SCMP.

O responsável adiantou ainda que Hong Kong sofreu “revés”, mas que Macau tem feito muitos avanços na implementação da política “Um País, Dois Sistemas”. Além disso, no artigo lê-se ainda que os dois territórios são diferentes, mas que Xi Jinping disse que o território deveria servir “de importante guia” para Hong Kong. Zhang Xiaoming foi director do Gabinete de Ligação do Governo Central em Hong Kong entre 2012 e 2017.

O custo de ser internacional

No artigo do SCMP, são citadas declarações de Lau Siu-kai, vice-presidente da Associação Chinesa de Estudos para Hong Kong e Macau, que lembrou que “Pequim sempre teve preocupações em termos de segurança nacional relacionadas com Macau, e muita desta preocupação está relacionada com os Estados Unidos. Mas as organizações estrangeiras tiveram problemas ao estabelecer-se em Macau, então Pequim acredita que estas têm mais possibilidades de [construir a sua] influência através [da sua presença] em Hong Kong”.

Lau Siu-kai frisou que, apesar do Governo Central procurar que Macau diversifique a sua economia e se abra ao investimento estrangeiro, esta preocupação relacionada com as forças externas existe sempre.
“Pequim pode pensar que tem menos a recear em Macau pelo facto de o território ser menos desenvolvido [em relação a Hong Kong], mas as suas preocupações vão aumentar quando procura que Macau se torne mais internacional”, rematou.

3 Jan 2020

Isabel Pina, investigadora do Centro Cultural e Científico de Macau | Álvaro Semedo, o homem e o mito

Historiadora, com trabalho focado na missão dos jesuítas em Macau e China, Isabel Pina dedica-se actualmente a estudar Álvaro Semedo, o primeiro a registar por escrito, em 1642, a questão de Macau ter sido doada aos portugueses devido ao combate aos piratas

[dropcap]E[/dropcap]m Dezembro deu uma palestra, promovida pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, com o título “A China Ming ao tempo de Xavier”. E como era a China neste tempo?
Estávamos perante uma China de uma dimensão completamente diferente daquilo que era conhecido pelos missionários e pelos europeus, ao nível da escala demográfica e económica, não tinha qualquer comparação possível. Havia uma capacidade de adaptação do produtor chinês ao mercado consumidor, e dei o exemplo da porcelana azul e branca, um produto chinês que foi adaptado às exigências do mercado persa, e depois passou também a ser vendido para a Europa. Outro aspecto que referi em relação à China Ming, que deixou também os europeus atónitos e os missionários, europeus muito cultos à época, foi a indústria livreira. No século XVI quando chegam os primeiros missionários, deparam-se com bibliotecas que tinham uma escala absolutamente diferente do que existia na Europa.

Como era a relação de Macau com a China nessa altura?
Macau era um lugar central, desde logo para os missionários. Eles faziam um caminho obrigatório [por lá]. Os jesuítas pertenciam ao padroado português e tinham de embarcar obrigatoriamente em Lisboa, paravam em Goa e muitas vezes ficavam lá um tempo, e depois iam para Macau. A partir de Macau iam para as missões da Ásia Oriental, incluindo Japão, que até ao início do século XVII é missão de grande sucesso, e depois para a China. Quando são expulsos do Japão vão para outras missões. Macau era central em termos de viagem e muitas vezes em termos de estudo, pois muitos vão acabar o percurso académico em Macau no Colégio de São Paulo. Alguns começam a aprender mandarim em Macau, que é também central no envio de verbas para a missão da China, na questão de preparação de chineses, que os jesuítas diziam ser as suas mãos e pés. Alguns deles eram integrados na Companhia de Jesus, no que diz respeito a essa capacidade de recursos humanos para apoiarem a missão. Dá para imaginar as dificuldades com que se deparavam, pois muitos [missionários] não falavam ainda o chinês.

FOTO: Hoje Macau

Quais as principais diferenças entre a missão jesuíta na China e no Japão?
No Japão há uma penetração muito rápida e desde logo torna-se uma missão que é definida à época como um grande sucesso. Muitas das cartas de candidatura dos jesuítas, em que eles pediam para ir para as índias, apresentavam pedidos para o Japão. A China não exercia o mesmo fascínio durante muito tempo.

Porquê?
A China provavelmente não teria o mesmo no comércio que tinha o Japão, além de que a própria sociedade era diferente. Era uma sociedade mais centralizada, quando os jesuítas chegam ao Japão o país estava em guerra civil. Havia ali uma possibilidade que não havia na China. Para a China iam sempre poucos missionários face à dimensão demográfica, e só passados os primeiros, por volta da década de 1630, ou seja, ao fim de cerca de 50 anos é que os números de baptismo começam a aumentar mais. De qualquer forma o cristianismo é sempre uma religião marginal, com muito pouco peso.

Até aos dias de hoje.
Sim, se bem que há o édito de prescrição do cristianismo, em 1684, assinado por um imperador chinês, mas os estudos mais recentes apontam que não foi uma oportunidade perdida, não se perdeu tudo. Houve sim uma transformação e houve estudos para a província de Fujian e de Guangdong que mostram que há uma apropriação do cristianismo, em que este se torna mais local. Há clãs e famílias que continuam cristãs, dão um tom mais local ao cristianismo, que se torna mais chinês.

Cria-se outro cristianismo.
Sim, adapta-se mais ainda, mas continuam com o culto. A partir daí, o clero local cresce exponencialmente e atinge números que nunca tinha tido. O meu doutoramento foi precisamente sobre os jesuítas chineses, e o que constatei é que durante 100 anos foram 28 e a partir do século XVIII há muitos mais religiosos chineses. Mas também já não são só os jesuítas, há mais ordens no terreno, mais missionários de diferentes congregações. Mas as diferenças entre o Japão e a China iria no sentido em que foi mais difícil o percurso de entrada e de aumento de baptismos na China do que foi no Japão. Mas depois na China perdurou com todas as metamorfoses, e sempre como uma religião marginal.

Fez o seu doutoramento sobre “Jesuítas Asiáticos e Mestiços na Missão/Vice-Província da China (1589-1689)” em 2009. Porquê este tema?
Na minha abordagem aos missionários e ao catolicismo na China tenho trabalhado mais na perspectiva dos mediadores culturais e não tanto em termos da religião em si. Para mim é mais fascinante a parte cultural porque são efectivamente os primeiros europeus que vão estudar a língua de forma regular e que vão viver na China. São eles que dão a conhecer a China Ming e Ching aos europeus pela primeira vez. Quando os jesuítas chegam, em 1582, o livro do Marco Polo ainda era muito importante. Dá para perceber o desfasamento, pois já se tinham passados uns séculos e estávamos numa dinastia diferente, e é uma China diferente que vão conhecer. Tenho trabalhado a constituição do conhecimento europeu sobre a China e o livro do Marco Polo continua a ser muito usado enquanto fonte de autoridade pelos jesuítas. Mas são esses europeus que criam os primeiros programas sobre a língua e de como se deve estudar o chinês.

O mandarim era uma língua completamente desconhecida, daí a importância desses mediadores.
Completamente. Logo o São Francisco Xavier fala em aprender o chinês, ainda no geral, sem definir qual a língua chinesa que ia estudar. O seu sucessor, Melchior Nunes Barreto, decidiu (isto tudo ainda antes da missão ter começado) deixar um irmão jesuíta em Cantão para aprender a língua com mestres locais enquanto faz a viagem para o Japão. Quando regressa, este irmão tinha enlouquecido (risos). Ele diz que teve uma fraqueza de cabeça.

Falamos de que ano?
O primeiro plano é um português que estabelece, depois de discutir com outros missionários, em 1684. E os jesuítas tiveram, a partir de 1578 ou 1579, quando se decide estudar o mandarim. Portanto desde 1579 até 1624 eles estão a ganhar experiência. O estudo começa em Macau e depois o estudo continua na China. Mas só ao fim desse tempo é que criam um primeiro plano de estudo.

Como era a relação com a corte imperial chinesa? Quando chegavam, tinham alguns contactos prévios feitos, tinham algum domínio da língua?
Estes homens eram muito bem preparados. Era um investimento enorme que começava logo na viagem, ou ainda antes. Eram homens com anos de estudos, que custavam dinheiro, e depois a viagem até Macau. Depois outro investimento era colocá-los na China. Essa relação com a corte é muito diferente entre as dinastias Ming e Ching. Na dinastia Ming estabeleciam uma rede de relações com missionários, com três mandarins e oficiais de alto nível, e é através dos conhecimentos científicos que começavam a desenvolver todo este relacionamento, o Guanxi, criando relações com os oficiais importantes. Na dinastia Ching era completamente diferente, pois tinham acesso à corte imperial com a realização do calendário. Entraram na corte os missionários que tinham alguma especialização, em termos de astronomia, matemática, relógios ou conhecimento de instrumentos musicais, e pintura também. Tinham de ter algum tipo de especialização para ter acesso ao imperador e começavam a preparar o calendário logo no início da dinastia. Entre 1644 e 1683 os jesuítas jogavam nas duas frentes.

Em que sentido?
Faziam-no enquanto ainda não estava bem definida a situação política na China. Vemos alguns jesuítas a actuarem e a estabelecerem relações com os Ming do sul, e vemos os outros em Pequim. Joga-se em todas as frentes do tabuleiro político. Um dos missionários que estou a estudar actualmente, o Álvaro Semedo, estava junto dos Ming do sul, com estes Ming a tentarem arranjar apoio militar por parte da Europa. O Adam Shau já estava em Pequim a entrar no departamento astronómico e a preparar o calendário para os Ching.

Participou também num estudo sobre o jesuíta Tomás Pereira.
No Centro Cultural e Científico de Macau (CCCM) fizemos um projecto central sobre o Tomás Pereira, que foi um missionário absolutamente interessante e que tinha sido completamente apagado, mesmo à época, pelos jesuítas franceses por questões relacionadas com o padroado português, com o rei de França. O Tomás Pereira era uma figura próxima do imperador Kang Shi, dentro daquilo que um europeu pode ter de proximidade. Muitas das ideias que passaram para a Europa foram passadas pelos próprios missionários, que exageram sempre o papel deles perante a corte.

A propósito de Álvaro Semedo, o que destaca nesta figura histórica?
Era um missionário que pertenceu à vice-província da China, fez parte dos quadros, mas passou muito tempo em Macau. Em 1617, quando há a primeira perseguição, a primeira crise em que o poder imperial está envolvido, é um dos missionários que é expulso por decreto imperial. Tem mesmo de ir para Macau e fica cerca de três anos. Quando regressa à China, já tem outro nome, pois não podia ter o mesmo. Ao longo da sua vida Álvaro Semedo vive cerca de 45 anos na China, sendo que cerca de 10 anos são em Macau. O que é particularmente interessante é que o Álvaro Semedo é o primeiro a pôr em registo escrito o mito nacional de Macau, a questão de Macau ter sido doada aos portugueses por causa do combate aos piratas. Não é ele que vai formular este mito pela primeira vez, porque aparece em manuscrito antes disso, na década de 1620, mas em 1642 fica impresso pela primeira vez. Só isso torna o Álvaro Semedo [importante] face a Macau porque está em causa o mito das origens [de Macau], que tem um peso enorme até pelo menos ao século XX.

Como era Macau nesse tempo?
Ele próprio diz isso, ele chega ainda num período em que Macau ainda tem comércio com o Japão, e depois ele vem para a Europa em 1637 e quando regressa a Macau diz que o território já está numa crise profunda. Descreve, já com uma certa nostalgia, aquilo que tinha encontrado quando chegara lá, pois tinha chegado em 1611 ou 1612, ainda o comércio com o Japão decorria, apesar de estar no final. O comércio tinha sido cortado e Macau vivia uma crise profunda.

Fez um estudo sobre a linguagem dos jesuítas macaenses nos séculos XVI e XVII. Eram apenas intérpretes, tiveram um papel como sempre teve a comunidade macaense ao longo dos séculos?
Sim, mas durante muito tempo eram mesmo chineses da região envolvente ou de Fujian, ou Zhejiang. Os intérpretes podiam ser chineses ou africanos, chineses que estavam em Macau durante um ano e que regressavam à China, sabendo uma ou duas palavras, e que eram então referidos como intérpretes. Os missionários aprendiam o mandarim, mas estávamos numa China onde havia vários dialectos. Havia a língua da Administração que lhes permitia pôr em prática uma estratégia, garantir o acesso à corte imperial, mas no dia-a-dia tinham de lidar com os dialectos.

3 Jan 2020

Isabel Pina, investigadora do Centro Cultural e Científico de Macau | Álvaro Semedo, o homem e o mito

Historiadora, com trabalho focado na missão dos jesuítas em Macau e China, Isabel Pina dedica-se actualmente a estudar Álvaro Semedo, o primeiro a registar por escrito, em 1642, a questão de Macau ter sido doada aos portugueses devido ao combate aos piratas

[dropcap]E[/dropcap]m Dezembro deu uma palestra, promovida pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, com o título “A China Ming ao tempo de Xavier”. E como era a China neste tempo?
Estávamos perante uma China de uma dimensão completamente diferente daquilo que era conhecido pelos missionários e pelos europeus, ao nível da escala demográfica e económica, não tinha qualquer comparação possível. Havia uma capacidade de adaptação do produtor chinês ao mercado consumidor, e dei o exemplo da porcelana azul e branca, um produto chinês que foi adaptado às exigências do mercado persa, e depois passou também a ser vendido para a Europa. Outro aspecto que referi em relação à China Ming, que deixou também os europeus atónitos e os missionários, europeus muito cultos à época, foi a indústria livreira. No século XVI quando chegam os primeiros missionários, deparam-se com bibliotecas que tinham uma escala absolutamente diferente do que existia na Europa.
Como era a relação de Macau com a China nessa altura?
Macau era um lugar central, desde logo para os missionários. Eles faziam um caminho obrigatório [por lá]. Os jesuítas pertenciam ao padroado português e tinham de embarcar obrigatoriamente em Lisboa, paravam em Goa e muitas vezes ficavam lá um tempo, e depois iam para Macau. A partir de Macau iam para as missões da Ásia Oriental, incluindo Japão, que até ao início do século XVII é missão de grande sucesso, e depois para a China. Quando são expulsos do Japão vão para outras missões. Macau era central em termos de viagem e muitas vezes em termos de estudo, pois muitos vão acabar o percurso académico em Macau no Colégio de São Paulo. Alguns começam a aprender mandarim em Macau, que é também central no envio de verbas para a missão da China, na questão de preparação de chineses, que os jesuítas diziam ser as suas mãos e pés. Alguns deles eram integrados na Companhia de Jesus, no que diz respeito a essa capacidade de recursos humanos para apoiarem a missão. Dá para imaginar as dificuldades com que se deparavam, pois muitos [missionários] não falavam ainda o chinês.

FOTO: Hoje Macau

Quais as principais diferenças entre a missão jesuíta na China e no Japão?
No Japão há uma penetração muito rápida e desde logo torna-se uma missão que é definida à época como um grande sucesso. Muitas das cartas de candidatura dos jesuítas, em que eles pediam para ir para as índias, apresentavam pedidos para o Japão. A China não exercia o mesmo fascínio durante muito tempo.
Porquê?
A China provavelmente não teria o mesmo no comércio que tinha o Japão, além de que a própria sociedade era diferente. Era uma sociedade mais centralizada, quando os jesuítas chegam ao Japão o país estava em guerra civil. Havia ali uma possibilidade que não havia na China. Para a China iam sempre poucos missionários face à dimensão demográfica, e só passados os primeiros, por volta da década de 1630, ou seja, ao fim de cerca de 50 anos é que os números de baptismo começam a aumentar mais. De qualquer forma o cristianismo é sempre uma religião marginal, com muito pouco peso.
Até aos dias de hoje.
Sim, se bem que há o édito de prescrição do cristianismo, em 1684, assinado por um imperador chinês, mas os estudos mais recentes apontam que não foi uma oportunidade perdida, não se perdeu tudo. Houve sim uma transformação e houve estudos para a província de Fujian e de Guangdong que mostram que há uma apropriação do cristianismo, em que este se torna mais local. Há clãs e famílias que continuam cristãs, dão um tom mais local ao cristianismo, que se torna mais chinês.
Cria-se outro cristianismo.
Sim, adapta-se mais ainda, mas continuam com o culto. A partir daí, o clero local cresce exponencialmente e atinge números que nunca tinha tido. O meu doutoramento foi precisamente sobre os jesuítas chineses, e o que constatei é que durante 100 anos foram 28 e a partir do século XVIII há muitos mais religiosos chineses. Mas também já não são só os jesuítas, há mais ordens no terreno, mais missionários de diferentes congregações. Mas as diferenças entre o Japão e a China iria no sentido em que foi mais difícil o percurso de entrada e de aumento de baptismos na China do que foi no Japão. Mas depois na China perdurou com todas as metamorfoses, e sempre como uma religião marginal.
Fez o seu doutoramento sobre “Jesuítas Asiáticos e Mestiços na Missão/Vice-Província da China (1589-1689)” em 2009. Porquê este tema?
Na minha abordagem aos missionários e ao catolicismo na China tenho trabalhado mais na perspectiva dos mediadores culturais e não tanto em termos da religião em si. Para mim é mais fascinante a parte cultural porque são efectivamente os primeiros europeus que vão estudar a língua de forma regular e que vão viver na China. São eles que dão a conhecer a China Ming e Ching aos europeus pela primeira vez. Quando os jesuítas chegam, em 1582, o livro do Marco Polo ainda era muito importante. Dá para perceber o desfasamento, pois já se tinham passados uns séculos e estávamos numa dinastia diferente, e é uma China diferente que vão conhecer. Tenho trabalhado a constituição do conhecimento europeu sobre a China e o livro do Marco Polo continua a ser muito usado enquanto fonte de autoridade pelos jesuítas. Mas são esses europeus que criam os primeiros programas sobre a língua e de como se deve estudar o chinês.
O mandarim era uma língua completamente desconhecida, daí a importância desses mediadores.
Completamente. Logo o São Francisco Xavier fala em aprender o chinês, ainda no geral, sem definir qual a língua chinesa que ia estudar. O seu sucessor, Melchior Nunes Barreto, decidiu (isto tudo ainda antes da missão ter começado) deixar um irmão jesuíta em Cantão para aprender a língua com mestres locais enquanto faz a viagem para o Japão. Quando regressa, este irmão tinha enlouquecido (risos). Ele diz que teve uma fraqueza de cabeça.
Falamos de que ano?
O primeiro plano é um português que estabelece, depois de discutir com outros missionários, em 1684. E os jesuítas tiveram, a partir de 1578 ou 1579, quando se decide estudar o mandarim. Portanto desde 1579 até 1624 eles estão a ganhar experiência. O estudo começa em Macau e depois o estudo continua na China. Mas só ao fim desse tempo é que criam um primeiro plano de estudo.
Como era a relação com a corte imperial chinesa? Quando chegavam, tinham alguns contactos prévios feitos, tinham algum domínio da língua?
Estes homens eram muito bem preparados. Era um investimento enorme que começava logo na viagem, ou ainda antes. Eram homens com anos de estudos, que custavam dinheiro, e depois a viagem até Macau. Depois outro investimento era colocá-los na China. Essa relação com a corte é muito diferente entre as dinastias Ming e Ching. Na dinastia Ming estabeleciam uma rede de relações com missionários, com três mandarins e oficiais de alto nível, e é através dos conhecimentos científicos que começavam a desenvolver todo este relacionamento, o Guanxi, criando relações com os oficiais importantes. Na dinastia Ching era completamente diferente, pois tinham acesso à corte imperial com a realização do calendário. Entraram na corte os missionários que tinham alguma especialização, em termos de astronomia, matemática, relógios ou conhecimento de instrumentos musicais, e pintura também. Tinham de ter algum tipo de especialização para ter acesso ao imperador e começavam a preparar o calendário logo no início da dinastia. Entre 1644 e 1683 os jesuítas jogavam nas duas frentes.
Em que sentido?
Faziam-no enquanto ainda não estava bem definida a situação política na China. Vemos alguns jesuítas a actuarem e a estabelecerem relações com os Ming do sul, e vemos os outros em Pequim. Joga-se em todas as frentes do tabuleiro político. Um dos missionários que estou a estudar actualmente, o Álvaro Semedo, estava junto dos Ming do sul, com estes Ming a tentarem arranjar apoio militar por parte da Europa. O Adam Shau já estava em Pequim a entrar no departamento astronómico e a preparar o calendário para os Ching.
Participou também num estudo sobre o jesuíta Tomás Pereira.
No Centro Cultural e Científico de Macau (CCCM) fizemos um projecto central sobre o Tomás Pereira, que foi um missionário absolutamente interessante e que tinha sido completamente apagado, mesmo à época, pelos jesuítas franceses por questões relacionadas com o padroado português, com o rei de França. O Tomás Pereira era uma figura próxima do imperador Kang Shi, dentro daquilo que um europeu pode ter de proximidade. Muitas das ideias que passaram para a Europa foram passadas pelos próprios missionários, que exageram sempre o papel deles perante a corte.
A propósito de Álvaro Semedo, o que destaca nesta figura histórica?
Era um missionário que pertenceu à vice-província da China, fez parte dos quadros, mas passou muito tempo em Macau. Em 1617, quando há a primeira perseguição, a primeira crise em que o poder imperial está envolvido, é um dos missionários que é expulso por decreto imperial. Tem mesmo de ir para Macau e fica cerca de três anos. Quando regressa à China, já tem outro nome, pois não podia ter o mesmo. Ao longo da sua vida Álvaro Semedo vive cerca de 45 anos na China, sendo que cerca de 10 anos são em Macau. O que é particularmente interessante é que o Álvaro Semedo é o primeiro a pôr em registo escrito o mito nacional de Macau, a questão de Macau ter sido doada aos portugueses por causa do combate aos piratas. Não é ele que vai formular este mito pela primeira vez, porque aparece em manuscrito antes disso, na década de 1620, mas em 1642 fica impresso pela primeira vez. Só isso torna o Álvaro Semedo [importante] face a Macau porque está em causa o mito das origens [de Macau], que tem um peso enorme até pelo menos ao século XX.
Como era Macau nesse tempo?
Ele próprio diz isso, ele chega ainda num período em que Macau ainda tem comércio com o Japão, e depois ele vem para a Europa em 1637 e quando regressa a Macau diz que o território já está numa crise profunda. Descreve, já com uma certa nostalgia, aquilo que tinha encontrado quando chegara lá, pois tinha chegado em 1611 ou 1612, ainda o comércio com o Japão decorria, apesar de estar no final. O comércio tinha sido cortado e Macau vivia uma crise profunda.
Fez um estudo sobre a linguagem dos jesuítas macaenses nos séculos XVI e XVII. Eram apenas intérpretes, tiveram um papel como sempre teve a comunidade macaense ao longo dos séculos?
Sim, mas durante muito tempo eram mesmo chineses da região envolvente ou de Fujian, ou Zhejiang. Os intérpretes podiam ser chineses ou africanos, chineses que estavam em Macau durante um ano e que regressavam à China, sabendo uma ou duas palavras, e que eram então referidos como intérpretes. Os missionários aprendiam o mandarim, mas estávamos numa China onde havia vários dialectos. Havia a língua da Administração que lhes permitia pôr em prática uma estratégia, garantir o acesso à corte imperial, mas no dia-a-dia tinham de lidar com os dialectos.

3 Jan 2020