José Pedro Castanheira, autor de “Os Últimos do Estado Novo”: “Quis juntar vencedores e vencidos”

José Pedro Castanheira, antigo repórter do jornal Expresso, acaba de lançar o livro “Os Últimos do Estado Novo”, com a chancela da Tinta da China. A obra compila entrevistas e reportagens sobre os últimos momentos e personagens do regime ditatorial que durou entre 1933 e 1974. “Os Últimos do Estado Novo” faz uma “radiografia” do regime em “fase terminal”, nos meses que antecederam à revolução do 25 de Abril

Foto de Ana Brígida cedida pela Tinta da China

 

Que Estado Novo é contado neste livro?

Conta o Estado Novo na sua fase terminal. É uma espécie de radiografia dos últimos meses do regime, de como as estruturas que o sustentavam eram dirigidas. Entrevistei, por exemplo, o último director da censura, Mário Bento Soares, e também o último presidente do partido único, a ANP [Acção Nacional Popular, anterior União Nacional]. Depois encontrei o último director do campo de concentração do Tarrafal [em Cabo Verde], que era a prisão mais conhecida e tenebrosa do regime. Reconstituí o último Governo da ditadura, falei com quase todos os governantes de Marcello Caetano [último presidente do Conselho] e também com seu último porta-voz e secretário particular. Juntar todos esses trabalhos deu-me uma ideia de como o regime estava estruturado, organizado, mas também apodrecido, quase como um nado-morto. É uma radiografia dessa fase final do Estado Novo.

O regime manteve-se durante 48 anos graças ao corporativismo, às hierarquias rígidas…

Também não nos podemos esquecer que um regime que dura quase meio século também tinha algum suporte popular, evidentemente. Não há nenhum regime que dure tanto tempo sem ter uma base social de apoio. Mas houve também estruturas que o ajudaram a consolidar e a perpetuá-lo, como a existência de uma polícia política, a censura e um partido único. Havia o apoio indiscutível de vários sectores da sociedade, em particular a hierarquia católica, as forças armadas, [apoio] que se tornou ainda mais forte com o início da Guerra Colonial. Até ao seu início, houve sucessivas convulsões e tentativas de contestação por parte de facções descontentes das forças armadas, mas a partir da Guerra Colonial isso mudou completamente. Nas proximidades do 25 de Abril o regime estava em agonia, e só isso explica que um golpe militar o tenha derrubado em menos de 24 horas. As estruturas intermédias das forças armadas perceberam, ao longo dos 13 anos de Guerra Colonial, que no final desse tempo o conflito não tinha uma solução militar, e que a questão colonial passava por uma solução política. O regime não estava disposto a encontrar essa solução, e a única alternativa foi o derrube do próprio Governo.

De todas as pessoas que entrevistou, alguma mostrou arrependimento ou culpa por ter feito parte da ditadura?

Durante a minha pesquisa histórica, na qualidade de jornalista, falei com muitas pessoas com responsabilidade no Estado Novo, polícias, militares, diplomatas, censores, agentes da PIDE. Quase nunca encontrei [arrependimento]. Só houve uma pessoa que verdadeiramente se mostrou arrependido pelo facto de ter desempenhado as funções, o último director da censura. Esteve no cargo apenas 13 meses, e foi o único civil que esteve à frente dos serviços de censura, porque estes eram sempre dirigidos por militares. Mas Mário Bento Soares, que curiosamente tomou posse no Dia das Mentiras, a 1 de Abril de 1973, fez sempre trabalho parcial, o que é bizarro. Mostrou-se contrafeito, admitindo que o trabalho que fez era ignóbil e lamentando o cargo que desempenhou. Mas foi o único que teve coragem moral para reconhecer que aquilo que fez, do ponto de vista profissional, não era correcto.

Terminado o Estado Novo e o período do PREC [Processo Revolucionário em Curso], estas pessoas tiveram uma vida normal?

Falando apenas dos governantes, é surpreendente que quase todos eles tenham refeito a sua vida dentro da nova sociedade democrática. A democracia foi capaz de os integrar e incluir, e até de recorrer aos seus serviços e experiência. Dos 36 governantes que fizeram parte do último Executivo do Estado Novo, apenas quatro foram presos. Tratava-se dos governantes que tinham a tutela da Defesa e do Exército, portanto directamente ligados à Guerra Colonial. Desses, só um viria a ser julgado e condenado, o último ministro do Interior, César Moreira Baptista. Desses 36 governantes verifiquei que 22 tinham saído do país, indo para o exílio, para o Brasil, Espanha e também países como França, Reino Unido e Estados Unidos. Mas todos acabaram por regressar a Portugal e refizeram a sua vida. Muitos prestaram serviços para o Estado português continuando a viver no Brasil. Só um se recusou sempre a voltar a Portugal, que foi o próprio Marcello Caetano, que morreu no Brasil. Três governantes viriam a ser eleitos deputados por partidos democráticos, na Assembleia da República, quatro viriam a desempenhar, de novo, cargos governativos e, curiosamente, em Governos do Partido Socialista. Um deles, que vinha do tempo de Salazar, foi eleito em democracia presidente do Supremo Tribunal de Justiça. Dá ideia da capacidade de tolerância do regime democrático. Oito desses governantes viriam a ser condecorados pelos Presidentes da República, Ramalho Eanes, Jorge Sampaio e Mário Soares.

Na apresentação do livro juntou Miguel Caetano, filho de Marcello Caetano, e Isabel Soares, filha de Mário Soares, perseguido pelo regime. Quis juntar diferentes lados num debate sobre o passado?

Sim. Obviamente que foi propositado e simbólico. Costuma dizer-se que dos derrotados não reza a história, que normalmente é feita pelos vencedores. Este livro recolhe os testemunhos dos derrotados. Convidei para a sessão um dos familiares dos vencedores, a Isabel Soares, e Miguel Caetano, filho do principal derrotado do golpe militar do 25 de Abril. Não se pode confundir a figura do filho com o pai, porque Miguel Caetano sempre foi um democrata e até foi bem penalizado durante a vigência do Estado Novo por participar nos movimentos católicos progressistas. Quis de facto juntar vencedores e vencidos e pô-los a falar, algo que só é possível num regime de enorme tolerância como é a democracia.

Começou a carreira de repórter em 1974. Acompanhou os tempos do PREC, investigou esse período. Como olha hoje para esse passado e para esses trabalhos?

Nunca trabalhei sob censura. Sou filho do 25 de Abril em termos profissionais. Como jornalista acompanhei, de facto, todo o PREC, testemunhando alguns dos episódios mais marcantes da revolução. Isso obviamente deu-me vantagens quando, anos depois, comecei a escrever sobre esses mesmos episódios, na tentativa de os reconstituir, de os aprofundar, revelar nas suas múltiplas dimensões.

O que ainda nos falta descobrir sobre o Estado Novo, numa altura em que se celebram 50 anos sobre o 25 de Abril? Falta compreender a ditadura?

Sem dúvida. Um fenómeno tão complexo como é uma governação tão prolongada e marcante na própria cultura, idiossincrasia do povo português, tem necessariamente de ser mais estudada e completada. Haverá sempre terreno e novas pistas para uma melhor compreensão desse meio século marcante da nossa história mais recente. Acredito que há histórias por conhecer.

8 Nov 2023

Bairros históricos | Exigida coordenação do IC nos projectos com operadoras

Maria José de Freitas e António Monteiro, membros do Conselho do Património Cultural, defendem que o Instituto Cultural deve ter a responsabilidade de assegurar a preservação da identidade histórica dos locais que serão revitalizados em conjunto com as operadoras de jogo. O assunto esteve em discussão ontem na Fundação Rui Cunha

 

O Governo está a juntar as mãos às operadoras de jogo para revitalizar alguns dos mais icónicos bairros antigos de Macau. A situação é “inédita”, defende a arquitecta Maria José de Freitas, tendo em conta que, até à data, tínhamos apenas as intervenções pontuais da Sociedade de Turismo e Diversões de Macau (STDM), feitas no âmbito do primeiro contrato de concessão de jogo com a empresa de Stanley Ho, em 1963.

Tanto Maria José de Freitas como António Monteiro, presidente da Associação dos Jovens Macaenses (AJM), e ambos membros do Conselho do Património Cultural, defendem que as parcerias que estão a ser pensadas entre Governo e casinos para revitalizar a zona da Barra, da Rua da Felicidade ou da avenida Almeida Ribeiro devem ser acompanhadas de uma forte fiscalização e coordenação por parte do Instituto Cultural (IC) a fim de assegurar a identidade dos locais.

Este assunto foi abordado na palestra que decorreu ontem na Fundação Rui Cunha (FRC), intitulada “Património Cultural de Macau – Identidade e Sítios Históricos”, que contou ainda com intervenções de Sally Ng, da Associação dos Embaixadores do Património de Macau, e Heiman Chan, da recém-criada Associação de Estudos de Reinvenção do Património Cultural de Macau.

Ao HM, Maria José de Freitas falou da necessidade de haver “um grande acompanhamento” dos vários projectos por parte do IC, pois “a revitalização não vai ficar completamente sob responsabilidade das concessionárias”.

“Estas darão o seu input em termos de marketing e de relação com o público, no sentido de o atrair para estas zonas, mas o IC deve ter o papel forte de controlar e acautelar os conteúdos históricos que venham a prevalecer, devendo fundamentar as acções que se irão desenvolver.”

Na visão da arquitecta, que tem desenvolvido estudos académicos sobre a área do património, “o IC tem uma grande responsabilidade e tem de estar apetrechado de arquitectos, arqueólogos e historiadores que possam acompanhar estas várias intervenções ao longo da cidade, que terão de ser fundamentadas e têm de estar articuladas entre si, não podendo ser situações muito díspares”.

No caso de António Monteiro, impera assegurar a identidade histórica de cada local. “Com esta revitalização que está a ser feita e planeada nos bairros históricos, temos a sensação de que deve ser preservada a identidade de cada bairro. Temos visto um bocado a repetição do que se vê nos hotéis, nomeadamente na Rua da Felicidade, em que se fez um palco com floreados. Queremos promover a cultura da Wynn, ou de Macau? É essa a questão que fica.”

Organizar o seminário na FRC foi uma forma de os participantes dialogarem com o público sobre espaços que pertencem a todos e à memória de muitos. “Há vários projectos em curso, mas não sabemos ainda como é que vão ser executados. O Governo pretende apostar na diversificação económica e estimular o movimento em certos bairros históricos, e essa intenção é muito boa. Mas é necessário conjugar [essa iniciativa] com a sociedade civil e as associações culturais.”

Nesse sentido, adiantou, “é preciso dialogar muito com os habitantes dos bairros, porque estes precisam de ser ouvidos e dar opiniões sobre as características específicas de cada sítio”. “Devem ser estimuladas coisas novas, mas não se pode perder essa identidade. Penso que a sociedade está muito atenta e quem tem a responsabilidade é o IC”, frisou António Monteiro.

Situação “prometedora”

Maria José de Freitas não deixou de dar o contexto histórico dos locais que serão intervencionados com o investimento das operadoras. No caso da avenida Almeida Ribeiro, a sua abertura aconteceu já no século XX, mas foi precedida por um projecto de saneamento básico desenvolvido nos finais do século XIX. Por outro lado, a Rua da Felicidade, outrora um lugar associado ao jogo e à prostituição, é hoje um espaço com as portas pintadas de verde e com um âmbito bem mais cultural.

Contudo, “vamos ter de perceber o que vai ser no futuro, porque há muitas lojas que ainda estão abandonadas”, lembrou Maria José de Freitas. “Deve existir um tratamento criterioso e tem de prevalecer a história do sítio integrada e entrecruzada com a história da cidade. Há edifícios que, restaurados, podem ser aproveitados para transmitir essa história. Estamos em Macau que é um museu a céu aberto”, salientou.

A arquitecta lembra que estes projectos de revitalização não devem estar dissociados do desenvolvimento da RAEM, nomeadamente os novos aterros ou até Hengqin. “Esta é uma situação nova, pioneira e muito prometedora, porque, de alguma forma, as concessionárias ficam mais ligadas à história de Macau e, no fim, o património pode beneficiar com isso. De alguma forma o legado histórico está a ser preservado, mas não pode ser isolado e ficar uma ilha no meio do resto. Estas novas situações são quase um novo panorama com determinados pontos que depois se podem associar à vizinhança, de modo a criar zonas mais atractivas.”

A responsável lembrou o caso do teatro Cheng Peng, na Rua da Felicidade, que pode ter oficinas e espaços para a realização de workshops, tornando-se um espaço interessante e revitalizado para “a juventude que tanto precisa”.

“Pode-se criar um ponto de acção que pode ser coadjuvado pelas lojas à volta, criando-se uma sinergia que pode potenciar o desenvolvimento das coisas. A Rua da Felicidade está sem interesse, mas tem edifícios de referência que, se tiverem utilização, vão chamar gente.”

Controlar os turistas

Maria José de Freitas não deixou de frisar a importância de controlar o fluxo de turistas no contexto destes projectos de revitalização. “A covid deu-nos tempo para parar e reflectir e estamos a caminho de voltar aos números de turistas registados no período anterior à pandemia. Se tudo isso não for controlado vai traduzir-se num grande desgaste para a população residente, a própria cidade e os sítios patrimoniais. É tempo de fazer uma reflexão e trabalhar em conjunto com as operadoras para maximizar o potencial [dos locais], mas controlar as multidões.”

Questionada se o IC teria capacidade, em termos de recursos humanos e técnicos, para realizar sozinho a revitalização destes bairros, Maria José de Freitas entende que é uma situação que traz ganhos ao Governo e às operadoras, com ambos a terem recursos técnicos para desenvolver estas iniciativas.

“Como acontece sempre em Macau, é uma situação de “win-win” [ganhos mútuos]. O Governo está apetrechado de técnicos e vai ter de os ter em número suficiente para poder acompanhar uma situação destas. No que diz respeito ao marketing que é preciso fazer para a divulgação destas zonas, penso que as operadoras devem ter funcionários para fazer isso.”

Acima de tudo, o que o Governo procura, nestes acordos, “é desenvolver a parte de marketing e de atracção de público”, sendo que as concessionárias “também têm grupos de arquitectos”. Cria-se, assim, “uma joint-venture em que se acertam metodologias e onde se reforça a componente multicultural, numa atitude aberta”.

A Rua da Felicidade esteve fechada ao trânsito no dia 29 de Outubro, a título experimental, entre as 11h e a 1h, tal como as ruas adjacentes. Este projecto foi desenvolvido em parceria com a Wynn.

Nas semanas seguintes, as seis operadoras apresentaram as estratégias para a cidade, com a Sands China a anunciar, entre outros projectos, um plano de incubação para pequenas e médias empresas na rua das Estalagens e a transformação das Casas-Museu da Taipa num destino para fotografias de casamento.

No caso da MGM China Holdings Limited foi assinado um acordo com o Governo para a concretização de um programa de revitalização para a área da Barra e à volta da Doca D. Carlos I, a fim de se criar um parque cultural e criativo. O Galaxy Entertainment Group projectou para os antigos estaleiros navais de Lai Chi Vun, em Coloane, um salão de exposições, uma pista de gelo e uma quinta urbana.

Nos planos da Sociedade de Jogos de Macau Resorts está a revitalização e conservação das pontes-cais n.º 14 e 16 e do antigo casino flutuante Palácio de Macau, no Porto Interior. Já as pontes-cais n.º 23 e 25 vão integrar elementos culturais e artísticos, num projecto da Melco Resorts, que, em conjunto com o Governo, vai ainda revitalizar a zona da Fortaleza do Monte. Ainda não são conhecidos os valores totais que as operadoras vão desembolsar. Com Lusa

7 Nov 2023

Dóci Papiaçám di Macau | Trinta anos a trazer o patuá para o palco

O 30º aniversário dos Dóci Papiaçám di Macau, grupo de teatro exclusivamente em patuá, celebrou-se na semana passada, mas a festa faz-se dia 1 de Dezembro com um jantar que reúne antigos e actuais colaboradores. Os desafios continuam a ser o financiamento e a necessidade de uma sede, mas a renovação do grupo, com novos actores, parece estar garantida

 

O Festival Internacional de Artes de Macau integra todos os anos um espectáculo muito especial para as comunidades macaense e portuguesa. A habitual peça dos Dóci Papiaçám di Macau, grupo que há 30 anos faz teatro em patuá, o dialecto em vias de extinção da comunidade macaense, todos os anos atrai muito público para o Centro Cultural de Macau (CCM).

Numa altura em que o dialecto macaense praticamente não tem falantes em Macau e no mundo, o trabalho deste grupo revela-se fundamental para manter viva um linguajar tradicional. Alvo de muitos trabalhos académicos, precisamente pelo papel que têm na preservação de uma característica cultural da comunidade, os Dóci Papiaçám di Macau, sempre com Miguel de Senna Fernandes como dramaturgo, tem-se mantido ao longo dos anos enfrentando desafios permanentes. Em 30 anos, o grupo nunca conseguiu ter sede própria, ensaiando na Escola Portuguesa de Macau. Relativamente ao financiamento, o apoio do Instituto Cultural não tem faltado, mas é sempre pouco tendo em conta os custos de uma produção teatral. E, por último, o desafio da sobrevivência, sendo que neste campo os Dóci têm provado ser resistentes: mantém actores mais antigos, que ajudaram a fundar o grupo, mas conseguiram atrair novos actores, até oriundos da comunidade portuguesa.

O jornalista João Picanço foi um deles. Nunca tinha ouvido falar do patuá ou visto uma peça, mas fez a sua primeira peça com os Dóci em 2018. Hoje já é uma voz e um rosto característico do grupo.

“Ser um dos jovens actores do grupo para mim é muito gratificante, porque quem me convidou, o Miguel de Senna Fernandes, poderia ter convidado outras pessoas. Tenho um passado ligado ao teatro amador e confesso que estava à espera de encontrar o mesmo, mas a verdade é que não foi nada disso que encontrei”, começou por dizer ao HM. “Fiquei muito surpreendido quando percebi o que estava em causa. O primeiro espectáculo em que participei foi também o primeiro que vi. Acho que o nível da produção não envergonha ninguém, muito pelo contrário, dada a natureza do grupo. O que me trouxe responsabilidade”, adiantou.

João Picanço recorda que muitos dizem que os Dóci continuam a fazer teatro “por carolice”, para não deixar morrer um dialecto que busca influência da língua portuguesa e de outros idiomas, mas o jornalista entende que está muito mais em causa.

“O patuá é um pedaço importante da cultura macaense, sendo a língua é um pedaço importante de qualquer cultura ou povo. Mas acho que é um pouco superficial encarar [o projecto] como algo feito por carolice. Aquilo é para os macaenses, principalmente. Os Dóci representam, de facto, uma importante conquista para a comunidade, e isso tem sido reconhecido apesar de todos os tumultos e medos, sobretudo o medo do fim do patuá. Há uma grande verdade nas pessoas que trabalham ali, e isso é algo muito bonito.”

A experiência em palco

Ao contrário de João Picanço, Sónia Palmer é uma das actrizes mais antigas, tendo sido uma das fundadoras do grupo. Ao HM, diz que já foram tantas as personagens que interpretou que nem consegue dizer quais foram as mais desafiantes. “Foi tudo mais difícil no princípio [com a preparação das personagens], mas agora é mais fácil”, disse.

“O facto de o nosso grupo fazer 30 anos é algo bastante significativo para o trabalho que temos feito, é sinal de que temos feito coisas boas. Mas para um grupo continuar no activo durante tanto tempo é preciso um grande esforço por parte de todas as pessoas”, confessou.

Sónia Palmer revela que a celebração dos 30 anos acontece dia 1 de Dezembro com um jantar para o qual foram convidadas “todas as pessoas que participam ou participaram no grupo, tanto nas peças como nos bastidores”.

Olhando para o presente, a colaboradora e actriz, membro da comunidade macaense, assume que o maior desafio continua a ser a falta de uma sede. “Todos os anos temos de pedir um sítio emprestado para ensaiarmos. Felizmente que a Escola Portuguesa de Macau nos tem ajudado. Falta-nos ainda financiamento, porque para fazer uma peça é preciso muito dinheiro.”

O senhor dramaturgo

Miguel de Senna Fernandes, o grande dinamizador dos Dóci e autor de todas as peças, escreveu nas redes sociais um texto sobre o aniversário, lembrando os primórdios do projecto.

“Hoje, há trinta anos, estávamos com os nervos em franja, com o coração e suor nas mãos, nos bastidores do vetusto Teatro D. Pedro V, então recém-renovado. O tempo não andava e cada minuto parecia horas. Na plateia figurariam gente de peso. O então Governador General Rocha Vieira, o Dr. Carlos Monjardino, a Dr.ª Anabela Ritchie e outras figuras de vulto. Tudo em torno da visita do então Presidente da República Portuguesa, Mário Soares, com uma peça escrita em sua homenagem.”

A peça em causa foi “Olâ Pisidente!” e acabou por “marcar o início de uma aventura que não se esperava”. “Julgo termos cumprido o que, com o tempo, passou a esperar-se de nós”, escreveu ainda.

Ao HM, Miguel de Senna Fernandes confessa que gostaria de encontrar novos dramaturgos para as peças dos Dóci. “Há novas pessoas que vão aparecendo, mas é fundamental que haja mais pessoas a escrever. Quando comecei, tinha os mais veteranos no patuá diziam como se escreviam algumas palavras, como a Fernanda Robarts, a minha professora ‘de facto’. Dizia-me que havia expressões demasiado portuguesas, que não se podia escrever assim. Esse é agora o meu papel. Haver mais pessoas a escrever vai valorizar [o nosso projecto].”

Outro sonho de Miguel de Senna Fernandes, que preside também à Associação dos Macaenses, é levar as peças dos Dóci a Lisboa e até à China, com as devidas adaptações. “O meu sonho é levar o espectáculo para Lisboa e para o continente. Gostaria muito de voltar a Lisboa e representar para a comunidade macaense em Lisboa, que é forte. Mas não temos ainda contactos feitos. Há que utilizar uma fórmula que funcione em palco, em Lisboa, e com algumas adaptações na China.”

Em Portugal, destaca, “há uma comunidade macaense, mas também temos os portugueses que viveram em Macau e que conhecem os Dóci. Fazia todo o sentido levar lá o espectáculo. Não há nenhum sítio pensado, nem contactos ainda feitos com nenhuma entidade. Para isso é preciso fazer um projecto. Veremos se o projecto do próximo ano possa dar azo a isso. Lisboa está na calha, não sei com que dinheiro, mas não custa nada tentar”, salientou.

Miguel de Senna Fernandes diz que o grande desafio para o futuro do grupo é “manter o interesse das pessoas no palco e da própria assistência”. “Este binómio tem de funcionar sempre para que isto tenha sucesso. Da nossa parte estamos sempre motivados e falamos também da motivação de gente nova que queira participar e manter esta chama, a apetência para estar em palco e representar em patuá.”

Uma das forças motrizes do grupo promete não deixar os Dóci tão depressa. “Os actores mais veteranos são fundamentais para que a comédia em palco se desenvolva. Já não são os actores da primeira linha, mas estão na retaguarda para dar o suporte fundamental para que a comédia funcione. Estamos sempre em família. Mas tem havido sangue novo, de uma geração que não tem uma tradição com o patuá. Acham muito interessante e ficam deslumbrados com o projecto, mas depois começam a ter a noção da importância das coisas. São essas pessoas novas que precisamos de cativar”, rematou.

6 Nov 2023

Salão de Outono | Pintura, fotografia e instalação para ver a partir de domingo

Está de regresso mais uma edição do Salão de Outono, organizado em conjunto com a AFA – Art for All Society, e Fundação Oriente. A partir deste domingo, e até ao dia 26 deste mês, o público poderá ver, na Casa Garden, 92 trabalhos de variados géneros artísticos, que vão desde a fotografia, à pintura ou instalação. O “Prémio de Arte da Fundação Oriente” será conhecido dia 11

 

Há 14 anos que Macau acolhe o Salão de Outono, exposição que revela o que de melhor se faz em termos artísticos a nível local. A nova edição do Salão de Outono, organizada pela AFA – Art for All Society e Fundação Oriente, apresenta um total de 92 peças seleccionadas de 45 artistas, tendo sido recebidos 120 trabalhos.

Esta mostra tem por objectivo “estabelecer uma plataforma entre os artistas de Macau e o público”, tendo curadoria de Alice Kok, também ela artista e uma das fundadoras da AFA.

Segundo um comunicado da organização, as obras seleccionadas representam “a actual vitalidade da criação artística local, com um terço das obras centradas em representações figurativas em meios tradicionais como a pintura a óleo, aguarela, tinta e cerâmica”. Enquanto isso, o outro terço das obras “é mais abstracto, mais uma vez com uma forte incidência na pintura”. Destaque ainda para a presença de obras num formato digital, como a fotografia, a ilustração digital, a modelação 3D vídeo e instalação. Outra característica desta mostra é a diversidade, pois os artistas participantes “são desde estudantes universitários de arte a artistas emergentes”.

Exemplo disso é a participação de Francisco Ricarte, arquitecto e fotógrafo, que participa com a imagem “Into The Palace”, enquanto Wu Hao Zheng apresenta um conjunto de quatro fotografias intitulado “The Realm of Oyster”. Destaque ainda para a colaboração de Leong Hio Sam, com a pintura “Sleeplesse City Macau” ou ainda a instalação, com recurso a luzes LED, de Tong Chi Fong, um trabalho intitulado “Life”.

Participam ainda nomes de artistas, com níveis de experiência diferentes, como é o caso de Ada Zhang, Celeste C. da Luz, Gui Jesus Carvalho Freitas da Silva, José Nyögeri, ou Nicholas Mok.

Novos talentos

Apesar da exposição poder ser visitada já a partir deste domingo, a cerimónia de inauguração acontece dia 11, dia em que também será conhecido o vencedor do “Prémio de Arte da Fundação Oriente”, que visa “incentivar a criação de jovens artistas” de Macau. O vencedor irá receber um prémio nunca inferior a 40 mil patacas e a oportunidade de realizar, em Portugal, uma residência artística na sede da Fundação Oriente, em Lisboa.

A primeira edição deste prémio decorreu em 2012 e foi ganha pelo artista Lai Sio Kit, que desde então tem protagonizado diversas exposições, a título individual ou colectivo, no território. Lai Sio Kit, que estudou na Academia de Belas Artes em Pequim, garantiu o prémio com a obra “The Secret Gardens” (óleo sobre tela).

3 Nov 2023

Lei eleitoral | Consagrado patriotismo dos candidatos à AL

A definição legal dos critérios de apreciação da qualificação dos candidatos ao cargo de deputado na Assembleia Legislativa (AL) recebeu a concordância “da esmagadora maioria das opiniões” que participaram na consulta pública da revisão da lei eleitoral para a AL.

Esta é uma das conclusões do relatório final da consulta, ontem divulgado. Definir legalmente os critérios, lê-se, vai “contribuir, em termos de regime, para uma implementação eficaz do princípio ‘Macau governado por patriotas’, bem como para a promoção do desenvolvimento da educação patriótica”.

O relatório conclui também que “os diversos sectores da sociedade, na sua esmagadora maioria, concordam e apoiam as orientações e conteúdo” da revisão, considerando que esta é “necessária e oportuna”. Além disso, é considerado que a revisão do diploma “contribui para a implementação plena do princípio ‘Macau governado por patriotas’, a concretização do conceito geral da segurança nacional, a melhor salvaguarda da ordem da gestão das eleições e a garantia dos residentes no exercício do direito fundamental de eleição”.

A consulta pública decorreu entre os dias 15 de Junho e 29 de Julho, ao longo de oito sessões com a participação de 1367 pessoas. Foram realizadas apenas 118 intervenções nessas sessões.

3 Nov 2023

Diversificação económica | Apresentado plano com 81 projectos até 2028

Foi apresentado na quarta-feira o Plano de Desenvolvimento da Diversificação Adequada da Economia, com 81 projectos para implementar até 2028. As principais apostas passam pelo aumento do valor global do sector financeiro, trazer mais turistas internacionais e garantir a certificação de 40 empresas de tecnologia

 

O Governo anunciou na quarta-feira um plano que define 81 projectos prioritários para os próximos cinco anos com o objectivo diversificar a economia e atenuar a dependência do jogo.

Turismo, jogo e desenvolvimento de indústrias na área da saúde, finanças e tecnologia de ponta, bem como no sector de convenções, exposições e comércio constituem o foco do Plano de Desenvolvimento da Diversificação Adequada da Economia da Região Administrativa Especial de Macau (2024-2028) apresentado em conferência de imprensa.

A integração nacional foi assumida como uma via essencial para alavancar Macau, que o secretário para a Economia e Finanças, Lei Wai Nong, caracterizou como uma “microeconomia aberta” cujo “desenvolvimento das indústrias depende da cooperação regional” e que tem também “de servir as necessidades do país”.

Daí que se tenha colocado ênfase na importância de o território participar “na construção da Zona de Cooperação Aprofundada (…) em Hengqin e na da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau”, afirmou Lei Wai Nong.

“Espera-se que, através da Zona de Cooperação Aprofundada, as vantagens de Macau como porto franco, zona aduaneira autónoma, livre entrada e saída de capitais, entre outras, possam estar estreitamente ligadas ao enorme mercado de procura interna da Grande Baía, à sua cadeia industrial e às suas infra-estruturas”, concretizou.

Em termos concretos, espera-se, para 2028, a redução do grau de dependência das receitas correntes [da Administração] em relação às receitas do jogo, podendo-se atingir “uma percentagem mais baixa em comparação com o ano de 2019. Em 2022, esse peso foi de 50,4 por cento. Prevê-se ainda que o peso do valor acrescentado bruto das actividades não jogo, de 74,2 por cento em 2022, reduza para cerca de 60 por cento em 2028. Já os empregados não relacionados com o jogo deverão manter-se em cerca de 80 por cento, sendo que, no ano passado, esse peso era de 81,1 por cento.

Turismo em altas

Em matéria de turismo, para 2028 o Governo espera “um aumento gradual” tanto do número de visitantes internacionais como do número de visitantes que pernoitam em Macau, a fim de “voltar ao nível atingido no ano de 2019”. A actual média de estadia dos visitantes, de 1,5 dias, “mantém-se em crescimento” até 2028, enquanto a despesa per capita dos turistas, sem as apostas de jogo, que se situam nas 3.187 patacas, “também se mantém em crescimento”, segundo as previsões do Executivo. Espera-se ainda a criação de mais dez cursos ligados ao sector do turismo e lazer até 2028.

A medicina tradicional chinesa, outra indústria apontada como potencial pilar económico de Macau, também está na mira das políticas para os próximos anos. O objectivo passa por “aumentar gradualmente até 2028” o valor acrescentado da indústria, que é de 320 milhões de patacas.

Actualmente, existem 16 fábricas de medicamentos tradicionais chineses e produtos associados à área de “big health”, dimensão industrial que o Governo deseja aumentar. É também sublinhada a necessidade de “um aumento significativo” do número de medicamentos tradicionais chineses registados no território, dos actuais seis produtos.

O desenvolvimento da indústria financeira é um outro dos sectores fundamentais que o Governo quer desenvolver para diversificar a economia, com o plano a descrever “o alargamento contínuo da dimensão da indústria financeira moderna”.

Até finais de Junho deste ano, “os activos totais do sector bancário atingiram 2.509,77 mil milhões de patacas”, enquanto “os activos totais do sector segurador atingiram 260,70 mil milhões de patacas”, o que significa que o total de activos do sector chegou às 2.773,54 mil milhões de patacas.

No plano, o Governo indica que “os diversos indicadores de estabilidade financeira se mantêm num nível satisfatório”, sendo que as bases para o desenvolvimento “do mercado de obrigações e fundos de investimento estão a ser aperfeiçoadas gradualmente”. Espera-se “um grau de internacionalização cada vez mais elevado” do sector financeiro de Macau, foi sulinhado por Lei Wai Nong.

Até 2028, o Executivo pretende aumentar o número de instituições financeiras autorizadas, que actualmente é de 95, enquanto o número de cursos superiores nesta área deve passar de 18 para 25.

O plano apresenta a previsão de um número acumulado de 40 empresas de tecnologia qualificadas certificadas em Macau. Quanto ao investimento público na investigação e desenvolvimento da inovação científica e tecnológica, espera-se um valor acumulado de investimento de um mínimo de cinco mil milhões de patacas até 2028. Já os cursos superiores na área da tecnologia de ponta deverão passar dos actuais 24 para 40.

Aposta nas conferências

Entre os 81 projectos prioritários que constam do plano de Macau para diversificar a economia, destaque para a expansão de mercados de visitantes internacionais, promoção do turismo gastronómico e da medicina tradicional chinesa, alargamento e modernização da indústria financeira, apoio à inovação e ao desenvolvimento das empresas tecnológicas, bem como para o reforço de actividades ao nível do sector das convenções. Os autores do plano, de resto, estimam que o número de convenções e exposições em Macau passe do meio milhar para entre 2.000 e 2.500.

No plano lê-se que Macau se encontra “numa fase crucial de reconversão e valorização das indústrias tradicionais e de desenvolvimento das indústrias emergentes”. Impera, então, “consolidar e elevar o nível das indústrias privilegiadas e concentrar esforços no desenvolvimento das indústrias emergentes e optimizar a estrutura económica”.

O Governo promete aumentar “os terrenos destinados à economia”, sendo criadas mais “zonas comerciais e instalações complementares nas áreas adjacentes aos postos fronteiriços, em alguns bairros, nas novas zonas urbanas e no lado norte da Taipa”, fornecendo-se “mais terrenos para a construção de edifícios comerciais.

Em matéria de recursos humanos para garantir o suporte da diversificação económica, o Governo promete implementar o Regime Jurídico de Captação de Quadros Qualificados e com ele captar, “de forma faseada” e através de “programas para quadros qualificados de elevada qualidade, quadros altamente qualificados e profissionais de nível avançado”, bem como “quadros qualificados indispensáveis ao desenvolvimento das diversas indústrias-chave”.

O secretário para a Economia e Finanças prometeu também aumentar o “investimento dos recursos” e reforçar “a construção de uma plataforma de ensino superior de alta qualidade a nível internacional”. O plano inclui o “fomento de programas para o prosseguimento dos estudos em Portugal, aprofundando-se a cooperação entre as instituições do ensino superior de Macau e as de Portugal, com vista à formação de quadros em língua portuguesa”.

“Um novo patamar”

O Governo organizou 13 sessões de auscultação de opiniões, tendo também realizado uma consulta pública durante 30 dias para a elaboração do plano apresentado na quarta-feira. O secretário lembrou que os residentes “geralmente apoiaram” o documento de consulta, “com 92,1 por cento de opiniões favoráveis”.

O governante adiantou também que o Executivo, durante a preparação do plano, sentiu “a grande preocupação dos diversos sectores sociais com o desenvolvimento de Macau, bem como a firme convicção na promoção da diversificação económica”. Este irá “permitir uma maior clareza quanto ao caminho para o desenvolvimento das indústrias ‘1+4’, sendo um passo muito significativo para a reunião de consenso social e para a superação conjunta das dificuldades”, disse Lei Wai Nong.

Neste contexto, o secretário disse esperar que as indústrias “1+4”, já anunciadas pelo Chefe do Executivo “se possam promover mutuamente e atingir um desenvolvimento conjunto”. “Depois de as indústrias emergentes terem atingido gradualmente uma certa dimensão, podem ser cultivados novos pontos de crescimento económico”, frisou.

O secretário salientou que “a economia de Macau está a caminhar para um novo patamar de desenvolvimento”, e que “algumas medidas positivas adoptadas pelo Governo já produziram os primeiros resultados”. “Ao longo do corrente ano a recuperação da economia global tem superado as expectativas, marcando um bom começo para as indústrias de ‘1 + 4′”, disse Lei Wai Nong.

Acima de tudo, a nível local, “é necessário desenvolver a economia, melhorar a vida da população, resolver os conflitos e problemas profundos que surjam no desenvolvimento socioeconómico”, a fim de “alcançar a prosperidade e estabilidade a longo prazo”. É também fundamental “uma melhor integração na conjuntura do desenvolvimento nacional, a fim de desempenhar melhor o seu papel na concretização da grande revitalização da nação chinesa”. Com Lusa

3 Nov 2023

Excursões | Subida de mais de 900% em termos anuais

Dados da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) mostram que nos três primeiros trimestres deste ano realizaram-se 743 mil excursões de visitantes do exterior para Macau, enquanto 291 mil residentes adquiriram excursões em agências de viagens para visitarem outros países e regiões. Trata-se de um aumento de 931,7 por cento face a igual período de 2022.

Também nos três primeiros trimestres deste ano, a taxa de ocupação média hoteleira foi de 80,6 por cento, mais 43,1 por cento face a igual período do ano passado. Os hotéis e pensões hospedaram um total de 9.793.000 indivíduos, mais 160,9 por cento face ao idêntico período de 2022. Por sua vez, o período de permanência dos hóspedes correspondeu a 1,7 noites, em média, menos 0,2 noites.

Quanto ao mês de Setembro último, registou-se uma taxa de ocupação hoteleira de 78,6 por cento, mais 41,1 por cento face a Setembro de 2022. A taxa foi de 81,9 por cento nos hotéis de cinco estrelas, enquanto os hotéis de duas estrelas tiveram uma taxa de ocupação de 77,3 por cento, o que representa um aumento de 46 e 35,7 por cento, respectivamente.

1 Nov 2023

Lusofonia | Associações pedem aumento de subsídio entre 20 a 30%

Terminado o Festival da Lusofonia, as associações participantes traçaram um balanço francamente positivo. Contudo, mantém-se o problema do financiamento, com dirigentes a pedirem aumentos de 20 a 30 por cento no próximo ano. Amélia António notou menos portugueses nas Casas-Museu da Taipa, concluindo que muitos deixaram o território

 

A música, as cores e os ritmos lusófonos voltaram à zona das Casas-Museu da Taipa quase como os tempos pré-covid, mas, ainda assim, “não foi exactamente um regresso aos bons velhos tempos”, denota Amélia António, presidente da Casa de Portugal em Macau (CPM). Isto porque “marcaram-se várias iniciativas às mesmas horas e em diversos sítios”, o que levou a um “efeito de dispersão de visitantes que habitualmente estavam na Lusofonia”.

Além disso, continua, segundo a dirigente e advogada, “a não fazer sentido a limitação horária por causa do ruído num sítio onde praticamente não vivem pessoas”, restrição que acaba por “cortar o sentido da festa”.

Tendo em conta que muitas visitantes vieram de Hong Kong para recordar um evento onde gostam de estar quando visitam Macau, Amélia António dá conta da grande ausência de portugueses. “Senti uma diminuição muito grande da comunidade portuguesa. Muita gente foi embora [de Macau].”

Além dos concertos organizados pelo Instituto Cultural (IC) e patrocinados por empresas locais, as noites de Lusofonia são marcadas pela romaria pelas habituais barracas decoradas e geridas pelas associações de Macau de matriz lusófona que todos os anos são obrigadas a gerir um magro orçamento de 50 mil patacas. Por isso, Amélia António defende que está na hora de um aumento decretado pelo IC.

“As coisas estão estabilizadas, mas tudo tem de ser gerido com algum cuidado porque os preços dos serviços e dos bens vão aumentando, mas o financiamento vai-se mantendo. Isso exige um equilíbrio cada vez maior da parte das associações para fazerem bom e diferente.”

A dirigente defende “uma subida entre os 20 e os 25 por cento, que poderia cobrir a diferença de preços”.

Quem também pede alterações a este nível é Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação dos Macaenses (ADM). “No próximo ano, seria a altura ideal para darem [o Governo] mais [dinheiro] às associações. Falo de um aumento de cerca de 20 ou 30 por cento.”

“É sempre um desafio fazer a festa porque o subsídio não aumentou, mas o custo das coisas sim. É importante que os responsáveis saibam que as associações lutam por causa disto. É apenas 50 mil patacas de subsídio para cada uma das associações. Para termos uma barraca mais apetrechada, com mais elementos culturais, é preciso mais, porque o valor não aumenta há anos”, frisou.

Miguel de Senna Fernandes destaca que “é importante que a RAEM se lembre que sem estas associações não há Lusofonia”.

Questionado se há espaço para inovar ou fazer diferente, o dirigente considera que o público espera exactamente aquele formato que funciona há muitos anos e que se tornou muito popular, indo muito além do espectro da comunidade portuguesa.

“Acho que há sempre espaço para inovação, mas temos de ver em que termos vão ser feitas modificações. Se o formato funciona, será que se deveria mudar? Foram-se ensaiando, ao longo destes anos, ligeiras diferenças e mudanças. A verdade é que este formato funciona e o público espera exactamente isso. Se calhar, não vale a pena mexer assim muito.”

Associação exige sede

Da parte do Núcleo de Animação Cultural de Goa, Damão e Diu, associação liderada por Vicente Coutinho, os desafios para fazer a festa da Lusofonia começam logo ao nível das infra-estruturas. “Nem temos uma sede, pelo que, quando acaba o evento, somos obrigados a deitar fora muito material que poderia ser reutilizado”, lamenta.

Quanto ao financiamento, Vicente Coutinho também se queixa da ginástica financeira a que obriga o orçamento. “É cada vez mais difícil organizar a festa. As coisas ficaram mais caras e esperamos que o Governo, através das seis concessionárias, consiga veicular alguns subsídios para todas as associações de forma equitativa e de acordo com os projectos de cada uma. As cláusulas dos novos contratos de jogo dizem, preto no branco, que devem ser apoiadas as actividades locais.”

Vicente Coutinho frisa que no território ocorrem outros eventos bem mais caros que nada têm a ver com as especificidades locais. “Vemos muito esbanjamento de dinheiro para outras coisas que não têm características de Macau. Os eventos onde se gastam, talvez, rios de dinheiro para contratar artistas que vêm da China, mas aí não se divulga a cultura de Macau.”

Vicente Coutinho entende que o festival da Lusofonia é “um estandarte fundamental de Macau em relação a Pequim ou a Zhuhai”, sendo da “responsabilidade do Governo de Macau ou de Pequim o apoio às associações, que não têm lucro”.

Elias Colaço, antigo dirigente da mesma associação também denuncia a “redução substancial dos apoios às associações”. “Sentiu-se isso ao olhar para as barracas, percebeu-se que faltava algo. As associações só dependem do festival da Lusofonia e têm de ter apoio do Governo. Nota-se que não há dinheiro para que as associações sozinhas suportem custos tão elevados. Quando não há dinheiro fazem-se as coisas com o que se tem, e isso tem resultados.”

Apesar de tudo, Elias Colaço diz que a edição deste ano obteve “resultados altamente positivos”. “Notei uma grande alegria este ano da parte do público, com uma grande adesão, não só das pessoas ligadas às comunidades, mas até da parte da população chinesa que tem aderido à Lusofonia. No ano passado tivemos a prata da casa que deu uma resposta muito positiva, mas o facto de este ano termos tido artistas internacionais foi muito bom. Todos os concertos estavam cheios.”

O residente recorda que “é a própria RAEM que sai beneficiada com o evento”. “Ir empobrecendo a organização é quase como tirar o tapete debaixo dos pés. As associações não têm [recursos], é quase tudo feito com base na carolice de cada um”, destacou.

Moçambique satisfeito

Ângelo Rafael, que dirige a Associação dos Amigos de Moçambique de Macau, também traça um balanço bastante positivo. “Esta foi a primeira edição depois do fim das restrições ligadas à pandemia e tudo correu sem sobressaltos.” O dirigente revela que houve, inclusivamente, espaço para algumas novidades. “Podemos ter novas peças de artesanato que foram um dos grandes atractivos a quem passava pela nossa tenda. O desenho da tenda foi ilustrativo do processo de renovação da Catedral de Nossa Senhora do Livramento, a Catedral de Quelimane, agora transformada em Museu da Cidade, algo que foi também muito elogiado pelos visitantes.”

A associação promoveu ainda a actuação do grupo de danças “Pérolas do Índico”, composto por estudantes moçambicanos e sócios da associação. “Da nossa parte o evento correu muito bem”, rematou.

Recorde-se que esta edição teve como novidade o regresso de artistas estrangeiros, que actuaram a par de bandas locais. Destaque para o concerto de Carlão, ex-vocalista dos portuguese Da Weasel e da banda cabo-verdiana Fogo Fogo.

1 Nov 2023

Justiça | Kong Chi quis ver processos que não lhe pertenciam

Na sessão do julgamento de ontem que coloca Kong Chi, procurador-adjunto do Ministério Público, no banco dos réus, três testemunhas confirmaram que este lhes pediu para consultar processos que não estavam sob a sua alçada. No período da manhã a sessão ficou parada meia hora para se verificar a veracidade dos documentos

 

Três delegados do Ministério Público (MP) confirmaram ontem em tribunal que o arguido Kong Chi, procurador-adjunto do MP, lhes pediu para consultar processos que não estavam sob sua responsabilidade. Segundo a TDM Rádio Macau, uma das magistradas recusou o pedido de Kong Chi, mas como este foi insistente, acabou por ter acesso ao processo em causa. Estas foram as primeiras testemunhas a corroborar a acusação de Kong Chi.

Uma das testemunhas ouvidas foi o procurador do MP Wu Hio que, segundo o canal chinês da Rádio Macau, foi questionado sobre um caso em que Kong Chi lhe pediu informações relevantes em quatro ocasiões diferentes.

A testemunha disse que Kong Chi era seu superior hierárquico e que já se conheciam há muitos anos, sendo que, quando foi questionado, não teve em conta as razões que levaram Kong Chi a pedir o processo emprestado.

Wu Hio explicou que, nos termos da legislação em vigor, o MP deve dar instruções sobre a apresentação dos processos, sendo que o MP, não fazendo mediação jurídica, só notifica os suspeitos se a vítima do caso manifestar o desejo de o resolver mais rapidamente. Wu Hio respondeu ainda a perguntas sobre o mecanismo de controlo interno do MP.

Kong Chi está formalmente acusado da prática dos crimes de corrupção passiva para acto ilícito, favorecimento pessoal praticado por funcionário, abuso de poder, violação de segredo de justiça e prevaricação.

Numa anterior sessão do julgamento, que decorre no Tribunal de Segunda Instância (TSI), Kong Chi disse pensar que poderia consultar os processos, sendo suspeito de eliminar provas ou objectos mais susceptíveis associados aos casos que poderiam incriminar os suspeitos da prática do crime a troco de dinheiro.

Documentos em análise

No período da manhã a sessão de julgamento ficou marcada por uma breve paragem de meia hora, por ter sido questionada a veracidade da documentação relacionada com o processo pelo próprio presidente do TSI, Tong Hio Fong. Foi ordenada a saída de todos os presentes da sala para verificar a autenticidade dos documentos, tendo o juiz anunciado posteriormente que a Polícia Judiciária (PJ) vai efectuar perícias para confirmar a veracidade dos mesmos e das respectivas assinaturas.

Na mesma sessão, Tong Hio Fong perguntou a Kong Chi e aos restantes três arguidos quais os seus rendimentos mensais, habilitações académicas e situação familiar.

Kong Chi adiantou que ganha 170 mil patacas por mês, e afirmou que o seu irmão mais velho estava viciado em jogo e faliu, necessitando de ser protegido e mantido por si.

O quarto arguido, Kuan Hoi Lon, foi ainda confrontado com perguntas sobre a sociedade de advogados que manteve com a segunda arguida, Chio Sao Ieng. Kuan Hoi Lon respondeu que a arguida era uma espécie de solicitadora, tendo como responsabilidade contactar clientes e procurar casos. Por vezes, adiantou o arguido, Chio Sao Ieng, comunicava com o colega no sentido de perceber se ele poderia defender os casos.

Kuan Hoi Lon adiantou também que os casos sob alçada de Chio Sao Ieng representavam apenas 20 a 30 por cento de todo o trabalho jurídico desenvolvido pelo escritório, focado, na maioria, em processos das áreas civil e criminal. O arguido acabou por revelar que dissolveu a sociedade com Chio Sao Ieng devido à distribuição “injusta” da remuneração pelos processos jurídicos.

31 Out 2023

Hospital das Ilhas | Arrancou recrutamento de 90 profissionais

Teve ontem início a primeira fase de recrutamento de médicos, enfermeiros e demais profissionais de saúde para o hospital Macau Union, localizado no Cotai e que deverá começar a funcionar a título experimental já em Dezembro.

Segundo uma nota dos Serviços de Saúde de Macau (SSM), esta fase de recrutamento destina-se a residentes, sendo contratados 90 trabalhadores em regime de contrato individual de trabalho, nomeadamente cinco médicos gerais, 50 enfermeiros, três farmacêuticos, seis técnicos de radiologia, seis ajudantes técnicos de farmácia, dez auxiliares de enfermagem e dez recepcionistas hospitalares. As candidaturas devem ser entregues entre hoje e o dia 10 de Novembro, não sendo admitidos documentos em falta após a apresentação da candidatura.

A nota dos SSM dá conta que “será dada prioridade ao recrutamento dos residentes de Macau”, além de ser “intensificada a formação dos profissionais de saúde locais”. Pretende-se ainda “desenvolver os serviços de cuidados de saúde diferenciados de alta qualidade”, além de que “serão melhorados a saúde e o bem-estar dos residentes”.

A ideia é que, com o novo hospital no Cotai, com gestão do Peking Union Medical College Hospital, de Pequim, se possa desenvolver “um centro regional de tratamento médico virado para a Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau e respectiva periferia”.

31 Out 2023

Jovens alertam para fraca aposta do Governo na formação de quadros

Um inquérito realizado pela Associação da Nova Juventude Chinesa de Macau conclui que a maioria dos jovens entende que o Governo deve dar mais apoios financeiros para que os quadros qualificados frequentem acções de formação, entendendo que são necessários mais recursos para este fim.

Os inquiridos que consideram que há ainda espaço de melhoria dos recursos do Governo canalizados para a formação de quadros representam 4,88 pontos de 0 a 11 pontos, ligeiramente abaixo da média de cinco pontos. Aqueles que concordam com as medidas lançadas pelo Executivo para a formação de quadros qualificados representam 4,78 pontos, sendo que apenas 5,7 por cento dos entrevistados considera as medidas muito eficientes. Apenas 14,4 por cento dos jovens inquiridos disseram entender bem as medidas destinadas à formação de quadros qualificados, enquanto 30 por cento confessou não conhecer bem o que tem vindo a ser feito a este nível.

“Falta de literacia digital”

O inquérito revela ainda que 39,9 por cento dos entrevistados considera que as pessoas de Macau têm falta de capacidades no contexto de uma maior abertura ou internacionalização do território, enquanto 35,8 por cento aponta para a falta de criatividade e 32,8 falam da falta de experiências e domínio de técnicas profissionais.

Cerca de 46 por cento dos entrevistados diz que os jovens têm falta de literacia digital quando comparados com os cidadãos de outros países ou regiões, enquanto mais de 60 por cento diz querer participar em mais acções de formação como forma de auto-crescimento.

A equipa que realizou o estudo defende que o Governo pode incentivar as empresas privadas a desenvolverem mais acções de formação durante o horário de trabalho, além de criar mais incentivos, melhorar o programa de desenvolvimento e aperfeiçoamento contínuo e ainda subsidiar os jovens locais sempre que estes frequentem cursos que correspondam aos objectivos da diversificação da economia.

Chan Chi Weng, vice-presidente da associação, exemplificou que o Governo pode subsidiar metade dos custos dos exames profissionais que estejam de fora do programa de desenvolvimento e aperfeiçoamento contínuo. O inquérito foi realizado em Maio, tendo sido recebidas 662 respostas válidas de pessoas dos 18 aos 44 anos entrevistadas na rua, e 39 entrevistas em Agosto.

30 Out 2023

Empreendorismo | Finalistas do “929 Challenge” conhecidos amanhã

É já amanhã que serão conhecidos os finalistas do concurso “929 Challenge”, ligado à área das startups e do empreendedorismo, decorrendo a cerimónia no complexo do Fórum Macau. Alexandre Leitão, cônsul-geral de Portugal em Macau e Hong Kong, e Kevin Ho, director-geral da KNJ Investments, serão algumas das personalidades presentes. Segundo um comunicado, a edição deste ano contou com mais de 280 equipas de nove países de língua portuguesa e da China e um total de 1.520 participantes.

Durante três semanas decorreram mais de 160 sessões de mentoria a quem deseja fundar a sua primeira startup ou desenvolver um projecto empresarial jovem. A ideia do “929 Challenge” é “dinamizar oportunidades de negócios entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, tendo decorrido com duas categorias, “startups” e “universidades”. Na categoria “startups”, encontram-se os projectos “Bayqi”, de Angola, “Easy Pay”, de Cabo Verde, “Sichuan Mingyi Technology Co. Ltd”, da China, “Maktub”, de Moçambique, “Bedev”, “Fykia”, “Glooma” e “Sea4Us”, de Portugal.

Na categoria “universidades”, destaca-se o projecto “Ilha Verde”, da Universidade de Macau ou “Gastrobiotics” da Universidade de Shenzhen, num total de oito finalistas. Estão incluídos prémios no valor global de 180 mil patacas para os vencedores, incluindo 40 mil patacas para serviços e ferramentas proporcionados pelo grupo Alibaba, parceiro do evento.

27 Out 2023

Lusofonia | Nova edição do Festival arranca hoje às 19h30

Carlão, antigo integrante do grupo português de hip-hop Da Weasel, é um dos grandes nomes do cartaz de mais uma edição do festival da Lusofonia, actuando amanhã nas Casas Museu da Taipa. Este é o regresso de uma das festas mais populares e representativa da multiculturalidade de Macau após o período da pandemia, contando com os habituais postos de venda das associações locais

 

Arranca hoje mais uma edição do Festival da Lusofonia, que habitualmente acontece na Taipa, nomeadamente nas Casas-Museu, Jardim Municipal, Largo do Carmo e Auditório do Carmo e que junta anualmente as mais diversas culturas que habitam Macau, com destaque para a matriz lusófona. O cartaz deste ano é marcado pela presença do músico português Carlão, ex-integrante do grupo Da Weasel, ligado ao hip-hop, que actua amanhã.

Com inúmeras actividades ligadas ao artesanato, cultura e gastronomia organizadas por dezenas de associações locais, os espectáculos começam hoje no Largo do Carmo às 19h30, prolongando-se até às 22h. Destaque para as actuações de artistas locais, nomeadamente Rita Portela, voz do jazz e do fado, Lulu Tavares, o saxofonista Paulo Pereira, Fabrizio Croce, Daniela da Silva, Jandira Silva, um grupo de música popular portuguesa, a banda Janmed e os Goa Groovie Band. Entre as 19h45 e as 22h, decorre ainda, no anfiteatro das Casas Museu da Taipa, actuações de Betchy Barros e o grupo Fogo Fogo, de Cabo Verde.

Amanhã, entre as 16h e as 23h, no anfiteatro das Casas Museu da Taipa, decorrem diversas actuações, nomeadamente de Carlão, do grupo folclórico infantil da Escola Portuguesa de Macau ou do Grupo Axê Capoeira do mestre Eddy Murphy. Destaque ainda para os concertos da banda Concrete/Lotus, formada por Kelsey Wilhem e Joana de Freitas, ou ainda do grupo João Gomes e Banda.

Das 19h30 às 22h, no Largo do Carmo, haverá mais música com diversos artistas como Fabrizio Croce, Giulliana Fellini e João Mascarenhas, Banda Janmed e Betchy Barros.

The Bridge e amigos

Domingo, último dia do festival, é tempo de fechar mais uma edição de um dos eventos mais populares do território com música. Os espectáculos no anfiteatro das Casas Museu da Taipa começam logo às 16h e 22h, sendo protagonizados por vários artistas, tal como o Elvis de Macau, banda Top Riff, Banda Inova, os The Bridge ou o grupo Fado Oriente.

Das 19h30 às 22h, desta vez no Largo do Carmo, acontecem os espectáculos de bandas ou músicos que actuaram nos dias anteriores, nomeadamente os Concrete/Lotus, Daniela da Silva, Giuliana Fellini e João Mascarenhas ou Benjamim Soares.

27 Out 2023

Licenças | Governo vai rever licenciamento de bares e restaurantes

O secretário para a Administração e Justiça André Cheong disse ontem que o processo de licenciamento dos estabelecimentos de comidas e bebidas, segundo o regime de agência única, “será revisto”, sendo “estabelecida uma plataforma electrónica para a apresentação dos pedidos”. Este sistema irá também servir para a “apreciação e aprovação conjunta” a fim de reduzir o tempo de espera para a obtenção das licenças por parte dos empresários da restauração.

Estas informações foram divulgadas em resposta a uma interpelação oral do deputado Lei Chan U, focada na necessidade de simplificação e coordenação dos serviços públicos.

André Cheong sublinhou ser “notório que, no âmbito dos trabalhos interdepartamentais que envolvem serviços públicos de diferentes competências e, até mesmo, de diferentes áreas governativas, podem surgir, efectivamente, dificuldades na coordenação, com procedimentos morosos, entre outros problemas”. Tal panorama pode “afectar a eficácia das acções governativas”, admitiu.

A fim de melhorar estas questões, o secretário prometeu “continuar a melhorar os trabalhos, identificando continuamente os problemas que forem surgindo, de forma a concretizar o objectivo da governação em prol da população, elevando o nível da governação pública”.

26 Out 2023

Estudo | Profissionais de saúde queixam-se de stress devido demasiado trabalho

Um estudo conclui que cerca de 30 por cento dos profissionais de saúde de Macau sentem stress por desempenharem um leque alargado de tarefas, incluindo “trabalhos desnecessários”. Cerca de 30 a 40 por cento destes profissionais diz ainda sentir stress por fazerem trabalhos que vão além das suas competências

 

Os profissionais de saúde de Macau sentem stress por terem de desempenhar tarefas além das que lhe são habitualmente atribuídas ou por terem de fazer trabalho desnecessário. Esta é uma das conclusões mais relevantes do estudo “Análise sobre os Tipos e as Causas do Stress do Papel dos Profissionais de Saúde de Macau: Numa Perspectiva das Relações nos Locais de Trabalho”, da autoria de Ao Io Weng, coordenador-adjunto da Comissão de Juventude da Federação das Associações dos Trabalhadores da Função Pública de Macau. O estudo em causa foi publicado na edição de Setembro da revista Administração, publicação da responsabilidade da Direcção dos Serviços de Administração e Função Pública (SAFP).

Lê-se no estudo que “cerca de 30 por cento dos profissionais reconhecem que sentem stress derivado do conflito de papéis, em virtude de, por exemplo, fazerem trabalhos desnecessários ou de satisfazerem exigências de outros que não são uniformes”.

Enquanto isso, “há também 30 a 40 por cento dos profissionais que reconhecem que sentem stress decorrente da sobrecarga de papéis, ou seja, a natureza ou a carga de trabalho excede as suas competências”. No entanto, acrescenta o autor, “a grande maioria dos profissionais de saúde conhece muito bem o posicionamento do seu papel”, sendo que menos de dez por cento diz sentir stress por não perceber muito bem quais as funções fundamentais que tem de desempenhar.

Uma vez que as origens do stress no local de trabalho podem advir do mau relacionamento entre colegas, por exemplo, o estudo revela que “uma pequena parte, 10 a 20 por cento, dos profissionais de saúde entrevistados reconhece a existência do problema da hostilidade no local de trabalho”.

Este trabalho foi feito com base em 308 questionários válidos, sendo que 78 por cento dos inquiridos são mulheres e 22 por cento homens. Em termos de profissão, predominam os enfermeiros, representando 51,6 por cento dos entrevistados, seguindo-se os médicos, com 26 por cento. Relativamente à idade, os profissionais dos 31 aos 40 anos constituem 33,1 por cento de todos os inquiridos, seguindo-se os trabalhadores de saúde dos 41 aos 50 anos com uma fatia de 29,9 por cento.

A maioria dos participantes no inquérito está habilitada com licenciatura, representando 49,4 por cento, enquanto os com mestrado ou superior representam 29,5 por cento.

Conflitos “não são vulgares”

O autor dá conta que, até à data, não tinham sido publicados muitos estudos sobre as condições de trabalho dos profissionais de saúde no território, apontando para o facto de que “com o desenvolvimento socioeconómico de Macau nos recentes anos, a procura de serviços de saúde por parte dos cidadãos aumentou”. Além do aumento do volume de trabalho devido ao maior acesso à saúde, “se acrescentarmos o impacto da pandemia, os profissionais de saúde têm enfrentado maiores desafios decorrentes do trabalho”.

Tendo em conta os dados apontados, o autor sugere que seja “intensificada a comunicação com o superior hierárquico e entre os colegas por ocasião da planificação das actividades” a fim de “definir objectivos de trabalho que equilibrem as expectativas de todas as partes”, reduzindo situações de stress provenientes de conflitos laborais ou do desempenho de múltiplas tarefas.

Ao Io Weng destaca que “os comportamentos hostis no sector de saúde não são vulgares”, mas há que tomar medidas, nomeadamente a identificação, por parte das autoridades, “das razões pelas quais parte dos profissionais de saúde têm comportamentos hostis”.

Sugere-se a criação de normas contra situações de discriminação no local de trabalho, “por forma a serem defendidos os direitos e os interesses físicos e mentais dos trabalhadores”. Para tal, “talvez possa tomar-se como referência a prática noutros territórios, seguindo o exemplo da Região Administrativa Especial de Hong Kong, no sentido de desenvolver normas contra a discriminação consagradas na Lei Básica”.

Devem ainda, segundo o autor do estudo, “tomar-se uma pluralidade de medidas que aliviem o stress do papel dos profissionais de saúde”. Pede-se ainda que “seja intensificado o apoio logístico aos profissionais de saúde por parte das instituições de saúde, no intuito de reduzir o tempo e a energia gastos no desempenho de tarefas fora da sua especialidade”.

Devem também ser “definidos critérios racionais” para as tarefas, além de se proceder a uma avaliação do trabalho distribuído a cada profissional. Tudo para “evitar desigualdades na carga de trabalho e na distribuição desadequada resultante das relações no local de trabalho”.

Salários importam mais

Ao Io Weng dá ainda conta que, nos últimos anos, “a comunidade tem prestado bastante atenção às pressões de trabalho e às pressões sobre o moral dos trabalhadores”. Assim sendo, o responsável considera que o Governo tem procurado dar resposta a muitas das questões, “investindo recursos para aperfeiçoar as condições de trabalho destes profissionais e para responder ao aumento contínuo da procura de serviços de saúde”.

São apresentados exemplos como “a construção de um novo hospital (Complexo dos Cuidados de Saúde das Ilhas, no Cotai) e a contratação de mais pessoal de saúde”.

O autor dá conta que “algumas associações do sector da saúde e deputados expressam as suas opiniões junto do Governo no sentido de actualizar as regalias e as remunerações do pessoal de saúde da Administração, com vista à elevação do moral daqueles profissionais”.

Ao Io Weng entende que, no que diz respeito ao bem-estar físico e psicológico dos profissionais de saúde, a sociedade dá mais atenção às infra-estruturas e remunerações, sendo que “condições relativas às relações e à cultura [existente] no local de trabalho) são aquelas a que a mesma pouco atende”.

“No contexto em que os recursos financeiros públicos são limitados, torna-se claro que a pretensão de aliviar as pressões sobre o pessoal de saúde mediante o incremento das despesas públicas não é uma alternativa de preferência”, conclui ainda o autor deste trabalho.

26 Out 2023

Vistos | Relaxada política para residentes estrangeiros de Macau

Desde ontem que é possível aos residentes de Macau não chineses obterem vistos de múltiplas entradas para a China. Segundo um comunicado enviado às redacções pelo Gabinete do Comissário do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China em Macau, os residentes permanentes podem ter acesso a um visto com a validade de cinco anos, enquanto os residentes não permanentes terão apenas direito a um visto com a validade máxima de dois anos.

O objectivo desta medida, segundo o Comissariado do MNE em Macau, é “facilitar o intercâmbio de pessoal entre a China e os países estrangeiros”, tendo sido implementados “formulários simplificados para o pedido de vistos”. Será “optimizada ainda mais a política de vistos, a fim de proporcionar uma maior comodidade aos estrangeiros elegíveis de Macau para requerer vistos para o interior da China para as finalidades de negócios, turismo ou visitas familiares”.

Os estrangeiros que vivam em Macau sem residência, considerados “trabalhadores profissionais estrangeiros”, podem requerer um visto de múltiplas entradas com validade máxima de um ano. Enquanto isso, aqueles que são considerados “trabalhadores estrangeiros não profissionais”, bem como as empregadas domésticas a trabalhar no território, podem requerer vistos de múltiplas entradas com uma validade de apenas seis meses.

Segundo o portal Macau News Agency, esta nova política visa as pessoas que participam em grupos turísticos organizados e que entram no país através das regiões administrativas especiais. Assim, o principal requisito é a participação em grupos turísticos organizados por agências de viagens que estejam registadas em Macau e Hong Kong. Será necessário o mínimo de dois participantes para formar um grupo turístico.

Recorde-se que, no início deste mês, foi anunciado que os cidadãos estrangeiros poderiam desfrutar de uma estadia sem visto na província de Guangdong por um período de seis dias.

26 Out 2023

Artes de rua | Graffiti marca presença no Festival “!Outloud”

Está a decorrer a quinta edição do “!Outloud International Street Art Festival” que, tal como o nome indica, se dedica a apresentar ao público local os melhores trabalhos de arte de rua, com destaque para o graffiti. O festival, que arrancou dia 14, apresenta 12 artistas de rua internacionais, com eventos junto ao empreendimento Ponte 16 e Praça de Ponte e Horta

 

A Praça de Ponte e Horta, na zona do Porto Exterior, e a praça exterior ao hotel Sofitel, no empreendimento Ponte 16, são os palcos escolhidos para a quinta edição do festival dedicado à arte urbana e ao graffiti, intitulado “!Outloud International Street Art Festival”. Segundo um comunicado da organização, poderão ver-se eventos e actividades de 12 artistas de rua reconhecidos internacionalmente que farão um mural em graffiti com cerca de 500 metros quadrados entre sexta-feira e domingo. Segundo a organização, trata-se do maior mural do género pintado em Macau até à data.

O evento, que termina no último dia do mês, na próxima terça-feira, é organizado pela Associação de Promoção dos Bairros Antigos de Macau, sendo co-organizado pela United Culture Media LTD e diversas associações locais, além de ser patrocinado pelo próprio Sofitel. O objectivo é “promover a arte de rua e o intercâmbio criativo”, bem como “desenvolver a consciência cultural e promover os bairros antigos de Macau”.

O festival pretende unir a praça exterior do hotel Sofitel e a Praça de Ponte e Horta, sendo o graffiti o meio criativo escolhido para o fazer. Esperam-se competições de dança e de graffiti, workshops, sessões de pintura ao vivo, instalações de arte, concertos e desfiles de rua, sem esquecer a organização de eventos de caridade. A ideia é que o público possa ter “uma experiência imersiva completa” com este evento.

“Entre o velho e o novo”

Apesar de esta ser a quinta edição do festival, a verdade é que o evento começou a ser pensado há dez anos numa cidade “multifacetada e enérgica que alberga uma mistura entre o Oriente e o Ocidente, entre o velho e o novo”, sendo um destino de eleição “para os visitantes que apreciam a fusão de culturas e experiências”.

O facto de o festival se situar na zona histórica da península faz com que haja “uma riqueza [proporcionada] pelos antecedentes históricos e pelas múltiplas lojas com vários perfis”, tendo muito recentemente sido integrados o graffiti e a arte de rua como símbolos “do amor partilhado entre as comunidades locais”.

A organização do festival destaca, em comunicado, que nos últimos anos tanto o graffiti como a arte de rua “transformaram-se em arte urbana moderna e numa forma de representação da personalidade das cidades”, graças aos vários formatos de letras pintados, “visuais impactantes, caracteres apelativos e cores vivas”.

O festival, com os artistas, mas também com toda a envolvente do público e do lado histórico do local, promete trazer “energia e vida a todas as comunidades locais, elevando o lado comunitário e deixando memórias para os visitantes”, além de contribuir para uma maior “consciência global da própria cidade”.

26 Out 2023

Paulo Duarte, académico: “Soft power chinês foi bastante afectado”

O professor da Universidade Lusófona e da Universidade do Minho Paulo Duarte defende que o “soft power chinês” está “bastante afectado” por causa da pandemia e da questão da Ucrânia. O académico defende ainda que China e EUA podem estabelecer uma parceria que contribua para solucionar o conflito israelo-palestiniano

 

Abordou recentemente, numa conferência em Lisboa, o tema “Soft Power com características chinesas – Ponto de situação”. E em que ponto está?

Está bastante afectado por causa da pandemia e, sobretudo, do alinhamento ambíguo da China relativamente à guerra na Ucrânia. No caso português, manifesta-se pela perda da “lua de mel” que se vivia entre Portugal e a China. Não se tem verificado essa aquisição massiva de serviços ou de activos estratégicos [portugueses]. Por outro lado, também tem a ver com a própria situação interna na China, que atravessa dificuldades.

Recentemente decorreu o fórum sobre a iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”, que celebra dez anos de existência. Como olha hoje para esta política?

Há dez anos o período era outro. A China tenderá a concentrar-se no “pequeno, mas bonito”. Muitos desses projectos deverão ir por água abaixo e ficar estagnados. No caso português, ficámos muito condicionados pela forma como a União Europeia (UE) olha para a China. Foi uma desilusão, para a UE e EUA, o facto de a China não ter condenado a agressão russa à Ucrânia. Isso obrigou-nos a repensar a nossa relação com o país. Mantemos bons contactos e ligações com a China, mas para todos os efeitos o fim desse período de “lua de mel” pode ditar que sejamos apenas bons amigos e não tanto namorados como antigamente.

A questão em torno da rede 5G e a sua condenação por parte de alguns Estados-membros da UE também influenciou este cenário?

[Portugal], ao ser dos últimos a tomar uma posição na UE face à rede 5G, estava a medir os prós e os contras, acabando por tomar essa decisão sem querer hostilizar a China. Sempre fomos um estudo de caso dadas as boas relações que sempre tivemos no contexto da UE. Fomos condicionados a ter de escolher entre a China e o alinhamento com os EUA. Mas o soft power chinês foi-se, de facto, muito abaixo, porque a China, que defende uma posição de ganhos mútuos e de uma comunidade com objectivos comuns, nunca se poderia pôr do lado do agressor, ou, pelo menos, teria de ter condenado uma invasão, e não o fez. Portanto, isso pesou em relação a nós, que temos compromissos a honrar com a UE e a NATO.

Se o soft power da China está enfraquecido, que alternativas poderão ser criadas por Xi Jinping?

A iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota” prometeu mais do que fez. Temos o caso de Itália, que simplesmente quis sair. [A iniciativa] criou uma série de artérias logísticas, mas para muitos países isso deveria ter facilitado, acima de tudo, a exportação de produtos chineses. A China compra praticamente petróleo e gás, mas não compra [produtos] a muitos outros países. Este é o problema. “Uma Faixa, Uma Rota” foi, sobretudo, uma narrativa que serviu para escoar produtos chineses, mas estes países [receptores] estão descontentes. Hoje os bancos chineses já não estão tão propensos a financiar [projectos] como antes, portanto a concentração [do investimento] é hoje mais pequena, mas mais estratégica. Xi Jinping não vai condenar “Uma Faixa, Uma Rota”. Pelo contrário, vai sempre exaltar o que de bom foi feito. Mas, ao mesmo tempo, estamos a assistir, indirectamente, a uma demarcação da iniciativa, [com o surgimento] da Iniciativa de Desenvolvimento Global e a viragem para os BRICS. A China percebeu que tem de criar outras narrativas porque “Uma Faixa, Uma Rota” não foi assim tão bem-sucedida. O país pode considerar, mas os países não a vêem como bem-sucedida. Há dez anos, a China precisava expandir a sua produção, mas hoje a situação não é bem essa e faz sentido haver uma actualização dos projectos. É preciso reinventar a narrativa para que a China consiga “escoar” melhor o seu soft power.

Estamos com outra guerra, desta vez no Médio Oriente. A China já disse que a acção de Israel ultrapassa o domínio da auto-defesa. Como analisa a posição chinesa no contexto do conflito israelo-palestiniano?

Os EUA queriam que a China condenasse a postura do Hamas. Ao contrário da UE e dos EUA, a China não reconhece o Hamas como uma organização terrorista, mas o país tem de facto procurado que haja ali, a nível diplomático, a busca por uma solução para ambos os lados, algo que com o Hamas não se verifica. O Hamas luta pela auto-determinação e resistência do povo palestiniano e nem sequer admite a solução dos dois Estados [Israel e Palestina]. A China teve uma posição muito interessante, mérito seu, mas [também] muito por causa dos erros estratégicos dos EUA, que acreditam que vão levar a democracia ao Médio Oriente. Não foi assim que funcionou com o Iraque, por exemplo. Os sauditas e os iranianos aproveitaram-se do apoio [chinês], pois independentemente de ser a China a ajudar, tinha de vir [algum país] para ajudar a acabar com anos de guerras e problemas. A China foi esse parceiro, poderia ter sido outro, mas aproveitou-se desse espaço deixado pelos EUA, que ligam muito às questões dos direitos e das democracias, mas depois têm dois pesos e duas medidas na questão de Israel e da Palestina. A China fez então esse trabalho de casa muito interessante que é um êxito na diplomacia, digamos assim, juntar sauditas e iranianos. [A China] poderia ter também um empenho interessante na Palestina, porque já se viu que a ONU é um órgão ineficaz e obsoleto. Só estamos a assistir a uma diplomacia dos EUA na região feita à última da hora, a tentar convencer os países a ser recuperados. E a China também poderia estar aqui juntamente com os EUA, a usar da sua influência no Irão e na Arábia Saudita para um bem comum, independentemente das rivalidades que tem com os EUA, para trazerem paz para a região.

Como dois países com enormes tensões entre si se podem unir na questão do Médio Oriente?

Olhamos para Netanyahu, cuja credibilidade baixou muito. Ainda assim, formou-se um Governo de unidade nacional. Era isso que deveria fazer sentido com a China e os EUA, uma espécie de frente com um interesse comum, de convergência neste momento, em que há palestinianos a morrer a toda a hora e em que a comunidade internacional está meramente focada nos israelitas que estão sequestrados [pelo Hamas]. Os palestinianos não têm, sequer, direito a água, tendo de sair das suas casas onde vivem há anos. Israel também tem de ser condenado pela desproporção com que está a tratar a situação.

O Médio Oriente é, desde há muito uma zona de conflito, onde a questão do petróleo assume uma grande importância. Os EUA e China têm interesse nesta matéria, mas não só.

A China está a usufruir de petróleo mais barato do que [o petróleo] da Rússia. Mas se os preços do petróleo sobem, sobe tudo o resto. Já tivemos uma crise de cereais e de alimentação [com o conflito na Ucrânia], a economia desacelerou devido à covid-19, e agora tudo isto tem consequências negativas, directa ou indirectamente, nos EUA, China e resto do mundo. A crise na Ucrânia não acabou, simplesmente está fora do foco dos media. A Ucrânia, uma crise no Médio Oriente, mais a questão de Taiwan e da Coreia do Norte, podem ter impacto com o aumento dos preços do petróleo, o que seria gravíssimo quando as pessoas já se deparam com a subida das taxas de juros e a inflação, podendo ocorrer uma subida do custo de vida.

O ataque do Hamas pode originar um conflito mais global, tendo em conta que decorre, como disse, a guerra na Ucrânia?

O Hamas sempre esteve presente, mas nunca teve esta intensidade. Foi uma falha semelhante à dos EUA no 11 de Setembro. Israel conheceu o seu próprio 11 de Setembro, e estamos neste momento na fase de averiguações internas para se perceber o que é que falhou, porque Israel pareceu não estar minimamente preparado [para responder aos ataques do Hamas]. Há lições a tirar e nada será como dantes, até para os próprios serviços secretos israelitas. Duvido que Israel [consiga acabar] o Hamas. Acabará com uma grande parte da sua força militar, mas não acaba com os líderes que vivem no estrangeiro. O Hamas é um polvo, que pode ser enfraquecido militarmente, mas não nos podemos esquecer de que o Irão continua a apoiar o Hamas. É uma utopia pensar que se vai acabar com o Hamas. Percebo os receios de Israel de garantir que a população não vai ser atacada, mas é utópico pensar-se que se irá acabar com a violência, pois esta dura desde os anos 40, quando o Estado de Israel foi criado.

Lembrou há pouco que a postura de Israel também tem de ser condenada.

Não tem razão de ser um Estado com outra religião estar a colonizar um espaço que não é o seu [colonatos judeus em território palestiniano]. Agora não se vai colocar Israel noutra parte do mundo, tem de se manter e sobreviver, que conta com parceiros fundamentais, como os EUA e o Reino Unido. Temos agora a UE, que diz uma coisa na figura da presidente da Comissão Europeia [Ursula Von der Leyen], mais radical na postura face a Israel, e outra mais comedida, de Joseph Borrell [Alto representante da União para os Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança da UE], que diz que Israel não pode ser desproporcional, cometendo outra atrocidade.

Soft power no ISCTE

A conferência “O soft power de características chinesas – Um ponto de situação”, protagonizada por Paulo Duarte, aconteceu no passado dia 18 de Outubro no Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), em Lisboa, no âmbito do ciclo de palestras “Encontros de Estudos sobre a China”, promovido pelo ISCTE. A sessão foi moderada por Jorge Tavares da Silva, professor auxiliar da Universidade da Beira Interior, na Covilhã.

26 Out 2023

Literatura | UM e UCM recordam escrita de Henrique de Senna Fernandes

“Lembrando Henrique de Senna Fernandes – Jornadas em torno da identidade macaense” é o nome do colóquio que decorre hoje e amanhã na Universidade Cidade de Macau e na Universidade de Macau. A ideia é falar do autor macaense no ano em que se celebra o centenário do seu nascimento, incluindo-se ainda sessões sobre a identidade macaense e a literatura de Macau

 

Arranca hoje na Universidade Cidade de Macau (UCM) um colóquio inteiramente dedicado a Henrique de Senna Fernandes, aquele que é considerado o grande escritor de Macau, que sempre escolheu o português para as suas obras e que nunca deixou de se identificar como macaense. “Lembrando Henrique de Senna Fernandes – Jornadas em torno da identidade macaense” acontece ainda amanhã na Faculdade de Artes e Humanidades da Universidade de Macau (UM).

O evento começa hoje às 10h15, na UCM, com a palestra plenária de Mónica Simas, académica brasileira e grande especialista na obra de Henrique de Senna Fernandes, que vai apresentar “O mundo extraordinário de Henrique de Senna Fernandes”, com moderação de Carina Liu, da UCM.

Este colóquio de dois dias inclui ainda painéis sobre a ligação do autor à literatura de Macau, a literatura euroasiática, a identidade linguística e cultural, bem como as áreas da tradução e do ensino do português como língua estrangeira. Decorrerá ainda uma mesa redonda sobre o tema “Ser Macaense – A identidade macaense na primeira pessoa”.

No programa do evento, os organizadores da conferência descrevem Henrique de Senna Fernandes como um “icónico escritor de Macau, que nos apresenta nos seus contos e romances a Macau de meados do século XX”, revelando também “uma história secular de co-habitação de culturas muito distintas, com especial incidência na representação da comunidade macaense”.

Assim, este pretende ser “um fórum de reflexão e discussão da condição macaense e da problemática multicultural a marcar a Cidade do Nome de Deus [Macau] desde a sua fundação”.

Cultura e afectos

Na primeira sessão, a ideia é debater se Macau tem, de facto, uma cultura própria, chamando a atenção para a “importância da preservação da cultura local”. Trata-se de uma sessão que “procura introduzir alguns conceitos teóricos, como a Globalização e a cultura local, para compreender a necessidade de preservar culturas particulares, bem como a luta do escritor Henrique de Senna Fernandes pelo reconhecimento das características de Macau”, apontam os organizadores.

Por sua vez, na segunda sessão, procura-se analisar “as representações das relações afectivas e contextos conjugais” nos textos do autor macaense.

“A identidade macaense surge a partir de processos matrimoniais que envolvem um conhecimento sobre os intensos fluxos migratórios pelos quais a região passou. As relações entre diferentes etnias geraram uma sociedade mestiça que envolve tabus que tiveram de ser superados”, descreve o programa, que vai ainda analisar “as relações amorosas descritas por Henrique de Senna Fernandes, identificando os desafios que enfrentaram”.

Académicos em conjunto

Depois da palestra protagonizada por Mónica Simas, o programa prossegue a partir das 11h com o painel “Henrique de Senna Fernandes e a literatura de Macau”, com a participação de Sara Augusto, académica actualmente em funções no Instituto Português do Oriente, que vai falar de “Senna Fernandes: A herança literária na obra de Miguel de Senna Fernandes”, seu filho e presidente da Associação dos Macaenses.

Por sua vez, Manuela Carvalho, da UM, vai falar da “Adaptação cinematográfica de ‘Amor e Dedinhos de Pé’: (Re) criação e Transgressão”, enquanto hoje, a partir das 15h, Maria José Grosso, docente da UM, vai apresentar “A educação no olhar evocativo de Senna Fernandes”. Maria Antónia Espadinha, antiga docente da UM e da Universidade de São José, falará d’”As mulheres de Henrique de Senna Fernandes”, enquanto Pedro Caeiro, da UCM, aborda “A Cultura Local no ensino PLE [Português como Língua Estrangeira] em Macau – Mong-Há como material didáctico”. Destaque ainda para a sessão das 17h15 até às 18h, protagonizada pelo docente da UM Mário Pinharanda Nunes, que vai falar da “Obra de Henrique de Senna Fernandes enquanto fonte documental da génese e evolução do patuá”.

A mesa redonda sobre a temática “Ser Macaense: A identidade macaense na primeira pessoa”, que começa às 18h15, traz para o debate nomes de personalidades macaenses como Miguel de Senna Fernandes, José Luís Sales Marques, António Monteiro, Sérgio Perez e Elisabela Larrea.

Da identidade

Amanhã o colóquio prossegue na UM, a partir das 10h, com moderação de Mário Pinharanda Nunes, discutindo-se “Henrique de Senna Fernandes: O Homem, a Obra e a Cultura Macaense”. Mónica Simas volta a pisar o palco para questionar se Macau tem uma cultura própria e para falar da “preservação da cultura local”. Marisa Gaspar, antropóloga que está a realizar uma investigação pós-doutoramento no território, aborda o romance de Senna Fernandes adaptado ao cinema por Luís Filipe Rocha, “Amor e Dedinhos de Pé”, apresentando um “olhar antropológico sobre a memória e identidade na comunidade macaense”.

O colóquio encerra amanhã ao final do dia com um sexto painel, intitulado “A obra de Henrique de Senna Fernandes no contexto de outras literaturas euroasiáticas”, com a presença dos académicos Rogério Miguel Puga, da Universidade Nova de Lisboa, e Melissa de Silva, da Universidade Nacional de Singapura.

24 Out 2023

Cultura | FDC não revela que espectáculos contêm conteúdo “obscenos”

O Fundo de Desenvolvimento da Cultura não revela quais são os espectáculos “obscenos” que motivaram o envio de emails a associações culturais com ameaças de corte de subsídio. Dois artistas contactados pelo HM falam de falta de transparência, numa postura “absurda” do FDC e dizem sentir pressão do Governo que afecta a sua liberdade criativa

Os artistas que receberam, no início do mês, um aviso do Governo sobre a possibilidade do corte de subsídio caso produzam espectáculos com conteúdo “obsceno” continuam sem saber a que espectáculos o Fundo de Desenvolvimento da Cultura (FDC) se refere em concreto. Contactado pelo HM, o FDC, que funciona sob alçada do Instituto Cultural, manteve-se em silêncio, dizendo apenas que “recebeu recentemente várias queixas sobre o impacto negativo do projecto financiado que envolve linguagem obscena”. Desta forma, o FDC “emitiu, como princípio de boa-fé, uma mensagem aos beneficiários sobre as observações na execução de projectos financiados, cujo conteúdo é também claramente referido no regulamento do plano de apoio financeiro”.

Contactado pelo HM, Kevin Chio, da companhia teatral “Rolling Puppet” adiantou que as queixas em causa “são anónimas”, sendo que “nunca foi dito sobre quais espetáculos [em concreto] incidiram as críticas”. “Desconheço qual foi o grau do aviso, a idade das crianças visadas ou se os pais foram propriamente informados. Mesmo que tenha existido conteúdo obsceno, já existem linhas orientadoras para diferentes grupos etários. Não penso que proibir todo o ‘conteúdo inapropriado’ seja uma boa aproximação ao mundo das artes, que deve provocar, usar metáforas”, adiantou.

Kevin Chio não tem dúvidas de que esta foi a forma que o Governo encontrou para “chamar a atenção para a legislação”, nomeadamente para a parte que diz respeito aos “deveres do beneficiário” no Plano de Apoio Financeiro para Actividades ou Projectos Culturais 2024. O artista destaca que, na versão deste ano, se refere que as associações candidatas devem “garantir que o conteúdo da actividade ou projecto candidato e o procedimento de sua execução não violam as disposições legais, nem quaisquer direitos alheios”.

Contudo, na nova versão, para os apoios do próximo ano, acrescenta-se que os projectos candidatos não podem “envolver elementos impróprios, como linguagem indecente e elementos violentos, pornográficos, obscenos, de jogos, de palavrões, de insinuação ou de violação de terceiros”.

“Como pode o FDC fazer este tipo de alteração na regulação sem nos consultar?”, questionou o co-fundador da “Rolling Puppet”, que defende que “às vezes é necessário ter algo de ‘inapropriado’ a fim de reflectir a nossa vida real nas artes”.

“Absurdo e irrazoável”

Jenny Mok, dirigente da associação Comuna de Pedra, foi uma das signatárias da carta aberta. Ao HM, disse que “não há uma acusação sobre determinados espectáculos em concreto, foi apenas um aviso do FDC”.

“É algo estranho, porque eles enviaram-nos este aviso, mas não sabemos porquê. Não há nenhuma transparência naquilo que aconteceu. Não sabemos quem fez as queixas ou a que espectáculos se referem. O Governo disse que houve queixas anónimas e eles decidiram agir, o que é muito estranho porque qualquer pessoa pode agir de forma anónima”, adiantou.

Jenny Mok diz não suspeitar de nenhum espectáculo que esteja em cena, ou que tenha sido exibido nos últimos dias, que possa ter ferido susceptibilidades do público, assumindo que existem sempre conteúdos “irónicos que projectam situações ou indivíduos”, sendo algo difícil de especificar. “Qualquer espectáculo pode ser suspeito”, frisou.

A artista e coreógrafa refere que “não houve explicações concretas sobre o que aconteceu e sobre as queixas”. “Penso que este tipo de avisos tem um efeito negativo [no trabalho dos artistas]. É necessário uma explicação e comunicação [do Governo] depois deste aviso. Não é razoável haver queixas anónimas e recebermos depois um aviso daquela forma.”

“O Governo diz que houve queixas, mas não há nomes. Quando somos financiados, temos de apresentar relatórios sobre os espectáculos, por isso é estranho que tenham feito este aviso com base em queixas anónimas. Não é suposto monitorizarem a situação se houver algum problema com os espectáculos financiados?”, questionou a dirigente da Comuna de Pedra.

Para Jenny Mok, Macau vive uma fase de imposição do “politicamente correcto” que está a afectar o sector das artes. “Mais do que institucional, é algo político. Estamos sob pressão de uma espécie de censura relacionada com a moralidade.”

Na carta em questão, divulgada nas redes sociais, refere-se que o FDC enviou emails a diversas entidades culturais a alertar para que evitem “incluir nas criações [artísticas] elementos impróprios [considerados] indecentes, [como] a violência, pornografia, obscenidade, jogos de azar, insinuações ou violação dos direitos de outras pessoas”, “a fim de evitar o cancelamento do subsídio”.

Recentemente, em declarações à TDM, Alice Kok, curadora e presidente da AFA – Art for All, falou de um panorama difícil no sector das artes, com a diminuição significativa do financiamento público no “período de transição” desde o fim da pandemia.

24 Out 2023

Carmen Mendes, presidente do Centro Científico e Cultural de Macau: “O interesse pelo CCCM tem aumentado”

A presidente do Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) participou recentemente numa visita a Pequim organizada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia da China. Carmen Amado Mendes diz que a iniciativa serviu para “aprofundar o conhecimento bilateral de políticas” nas áreas da ciência e tecnologia e que podem surgir novas cooperações com o CCCM

 

Quais os propósitos fundamentais desta visita à China?

[Pretendeu-se] aprofundar do conhecimento bilateral das políticas e do desenvolvimento da ciência, tecnologia e da inovação entre países europeus e a China, assim como o incremento da cooperação nestes domínios. Além dos contactos com a parte chinesa, o programa permitiu estabelecer contactos entre os delegados dos vários países europeus e, consequentemente, ter um conhecimento mais aprofundado e uma panorâmica mais abrangente sobre as relações de cada um desses países com a China.

O programa foi promovido pelo Ministério da Ciência e Tecnologia da China (MOST, na sigla inglesa) e incluiu ainda conexões com o China Science and Technology Exchange Center [Centro de Intercâmbio para a Ciência e Tecnologia da China]. Até que ponto se enquadram com a filosofia do CCCM? Acha que vão surgir novas parcerias?

O CCCM é um instituto público tutelado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (MCTES), vocacionado para promover e divulgar conhecimento enquanto plataforma entre Portugal e a China. Isto foi especificamente referido no Memorando de Entendimento assinado entre o MCTES e o MOST em 2018, sobre a Promoção das Actividades de Cooperação para a Implementação da Parceria China-Portugal Ciência e Tecnologia 2030. E cito a seguinte parte: “A cooperação sobre o património cultural, história da ciência e tecnologia e interações contemporâneas emergentes, pode incluir […] a promoção da colaboração da China e de instituições chinesas com o Centro Científico e Cultural de Macau, CCCM, localizado em Lisboa”. O relacionamento e o intercâmbio institucionais são, por isso mesmo, essenciais.

Porque foi tão importante a presença do CCCM nesta visita?

Foi da maior importância. Os encontros desta natureza permitem dar a conhecer o Centro fora de portas, apresentando as suas actividades e projectos, bem como os vários pilares: a biblioteca, o museu, a casa editorial, o centro de investigação e de formação. É também uma oportunidade para apresentar o que tem sido feito em termos de cooperação institucional e explorar novas oportunidades de cooperação futura com entidades relevantes para a missão do CCCM.

Surgiram oportunidades para novas colaborações com o CCCM?

Sim, mas a sua implementação requer um tempo próprio. Provavelmente, aquela em que os resultados serão visíveis de forma mais célere é o intercâmbio de pessoas. Um exemplo é o posicionamento do CCCM como instituição de acolhimento de estagiários de instituições europeias e chinesas. Os nossos programas de estágio e voluntariado são cada vez mais procurados, incluindo estagiários Erasmus, na Europa, e estudantes chineses. A preparação de candidaturas conjuntas a financiamento de projetos é outra das possibilidades.

Há novidades face ao projecto Macau Academic Hub e Spin Incubator?

Trata-se de um projecto implementado de raiz, que estamos a desenvolver com a Universidade de São José nas instalações do CCCM. Está a andar a bom ritmo, mas é um projecto que tem tanto de desafiante como de complexo, indo desde a criação das infra-estruturas à definição de uma programação, por isso os resultados só serão visíveis a médio prazo.

Que balanço faz da iniciativa “Conferências de Primavera” e número de doutorandos associados? O CCCM conseguiu aumentar a ligação à academia desde que tomou posse?

A adesão às “Conferências de Primavera” ultrapassou todas as expectativas, sendo que o número de intervenções tem oscilado entre as 160 e as 180. O balanço tem sido extremamente positivo, não só pelo número de participantes como pela qualidade das comunicações apresentadas, que têm permitido dar a conhecer o que de mais actual se produz em termos de conhecimento no âmbito dos Estudos Asiáticos. Não sendo o CCCM uma instituição académica, creio que o grande mérito das conferências é congregar a quase totalidade da comunidade académica e científica que trata as questões da China, incluindo Macau, e do resto da Ásia. As bolsas CCCM/FCT são financiadas pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia [FCT]. O programa teve início em 2021 e já temos 25 doutorandos no CCCM a desenvolver as suas investigações relacionadas com a Ásia, e em particular a China, nas mais variadas áreas.

Desde que tomou posse que o CCCM adquiriu maior visibilidade, como esperava?

Referindo-me apenas ao período desde que assumi funções, creio que o interesse pelo CCCM tem vindo a aumentar progressivamente. Para além dos já referidos níveis de participação nas “Conferências da Primavera” e do número de interessados que se candidata às bolsas de investigação, temos tido uma procura crescente dos nossos programas de estágios e voluntariado. O período da pandemia parece estar ultrapassado e há cada vez mais jovens que vêm diariamente trabalhar para as novas instalações do CCCM. A nossa casa editorial também tem recebido muitos pedidos de publicações de trabalhos, nomeadamente no âmbito das colecções conjuntas que criámos com a Universidade de Macau. E o público que vem assistir aos eventos e cursos que organizamos é cada vez mais diversificado. O objectivo é precisamente esse: transmitir conhecimento em Portugal sobre a Ásia, não apenas a especialistas, mas ao público em geral. É a missão do CCCM.

CCCM prepara novo ciclo de conferências para 2024

O Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM) prepara-se para organizar, no próximo ano, um novo ciclo de conferências sobre estudos dedicados a Macau, China e à Ásia, à semelhança do que tem acontecido nas últimas duas edições. Podem candidatar-se a este ciclo estudantes de mestrado e doutoramento ou ainda personalidades que desenvolvam, de forma independente, estudos sobre o Oriente.

A edição deste ano do “Ciclo de Conferências da Primavera” decorreu entre os meses de Fevereiro e Março e dividiu-se em três painéis, sobre Macau, China e Ásia, que receberam mais de 100 oradores nacionais e internacionais. No caso do painel sobre Macau, houve lugar a apresentações na área de história, nomeadamente a conferência “Relações Transculturais Portugal-Ásia nos séculos XVI e XVIII”, de Luís Filipe Barreto, académico ligado à Universidade de Lisboa que anterior presidente do CCCM.

Roderic Ptak, académico da Universidade de Munique e colaborador do HM apresentou as “Questões relacionadas ao mundo insular de Guangdong Central e do Lingdingyan no período Ming”, enquanto Célia Reis, investigadora da Universidade Nova de Lisboa, apresentou um estudo sobre a política religiosa entre lisboa e Macau, nomeadamente “a presença de jesuítas e irmãs da caridade nas décadas de 1860-70”.

O painel sobre a história de Macau encerrou-se com a apresentação “Originalidades do poder municipal a Oriente: os casos das Câmaras Municipais de Bardez e Salsete (Goa) e do Senado de Macau”, da autoria de Luís Cabral de Oliveira e João Carlos Faria, académicos da Universidade Nova de Lisboa e Instituto Politécnico de Leiria.

Paquistão em Lisboa

Além do ciclo de conferências da Primavera, o CCCM acolhe com frequência eventos dedicados ao Oriente, bem como cursos e diversas oficinas dedicadas ao patuá, ensino do mandarim ou à história de Macau. O mais recente evento foi a conferência “Paquistão-China: desafios e oportunidades nas relações bilaterais”, com Qamar Cheema, director-executivo do Instituto Sanober, um think tank no Paquistão. Destaque ainda para o facto de, até final deste mês, o CCCM estar a aceitar candidaturas para cinco bolsas de doutoramento, “em qualquer área científica que permita o desenvolvimento do conhecimento no âmbito das Relações Europa-Ásia e dos Estudos Asiáticos”. Estas bolsas são financiadas pela Fundação para a Ciência e Tecnologia do Governo português.

24 Out 2023

Future Bright deixa plano da zona de restauração do Grand Lisboa Palace

O grupo Future Brigth, liderado pelo deputado Chan Chak Mo, vai abandonar o projecto para explorar a zona de restauração do Grand Lisboa Palace, o resort integrado da Sociedade de Jogos de Macau (SJM) no Cotai. Segundo o portal GGR Asia, a empresa anunciou aos accionistas em Janeiro de 2020 que iria gerir o espaço durante três anos, período que coincidiu com o período a pandemia.

Num comunicado divulgado à bolsa de valores de Hong Kong no final da semana passada, a empresa refere que “considerando a actual indústria turística em Macau, o grupo pretende concentrar-se nos negócios existentes para gerar rendimentos estáveis e reduzir as despesas operacionais e encargos financeiros”.

Na mesma nota, o grupo referiu que o valor do activo de direito do uso da zona de restauração do grupo, que deixa de ser reconhecido no âmbito do acordo de rescisão do acordo com a SJM, era de cerca de 22,80 milhões de dólares de Hong Kong.

Em Julho de 2021, em plena pandemia e quando o acordo ainda estava em vigor, a operadora de jogo concordou em reduzir a taxa mínima a pagar pelo acordo por parte da Bright Noble Co Ltd., empresa pertencente ao grupo que seria responsável pela exploração de cafés e restaurantes no Sands Cotai Central.

Cartas no Venetian

Pelo contrário, a Future Bright renovou o contrato, por quatro anos, até 31 de Agosto de 2027, para explorar um restaurante japonês no Venetian, espaço gerido pelo grupo desde 2008. O desempenho financeiro do restaurante “tem sido, de um modo geral, satisfatório”, lê-se no mesmo comunicado.

O grupo Future Bright foi criado em 1984 e desde então tem mantido a sua marca na exploração de diversos espaços de restauração em Macau, além de apostar em serviços de catering ou gestão de espaços de entretenimento.

24 Out 2023

Prémios do Cinema Asiático | Macau acolhe campo para novos cineastas

A Academia dos Prémios do Cinema Asiático vai organizar em Macau, no próximo mês de Abril, a primeira edição do “International Film Camp” para jovens cineastas de toda a Ásia. O objectivo do evento é fomentar o contacto com profissionais da indústria, apresentar projectos e atribuir prémios

 

Os resorts da operadora Sands China em Macau serão o palco da primeira edição do “International Film Camp” (IFC) [Campo de Cinema Internacional], destinado a cineastas emergentes de Macau e de toda a Ásia. O evento está marcado para o período entre 9 e 13 de Abril de 2024 e é uma iniciativa promovida pela Academia dos Prémios do Cinema Asiático, uma organização sem fins lucrativos criada em 2007.

O estabelecimento deste campo para cineastas trata-se, segundo um comunicado divulgado pela Sands China, de “uma iniciativa inovadora que visa estimular e capacitar a próxima geração de cineastas asiáticos”, contando com o apoio do Instituto Cultural de Macau e da Direcção dos Serviços de Cultura, Desporto e Turismo de Hong Kong, entre outras entidades.

Pretende-se que o IFC seja “uma plataforma única para os cineastas emergentes interagirem com profissionais da indústria, obterem conhecimentos valiosos sobre os aspectos criativos e comerciais do cinema e receberem financiamento de produção e oportunidades de distribuição através da Academia dos Prémios de Cinema Asiático”.

Curtas e longas

O IFC aceita participantes com idades compreendidas entre 21 e 40 anos, naturais de Macau, Hong Kong, China e demais regiões e países asiáticos. Os candidatos terão de apresentar propostas para uma curta-metragem de ficção centrada no tema “A minha terra natal”.

Além disso, os interessados na iniciativa precisam submeter uma declaração do realizador e um plano de produção, juntamente com uma amostra de cinco minutos de um trabalho ou trabalhos que já tenham realizado. Será depois feita uma pré-selecção de 30 candidatos para entrevistas conduzidas “por um painel distinto de peritos da indústria”. No final, apenas 16 cineastas serão convidados para participar no IFC.

Entre os dias 9 e 13 de Abril, os escolhidos poderão beneficiar “da orientação de profissionais de renome do sector, que partilharão os seus conhecimentos e fornecerão informações valiosas sobre a realização de filmes”. Espera-se, assim, que o IFC promova “um ambiente de colaboração e apoio, encorajando a troca de ideias e a exploração de novos horizontes criativos”.

Os 16 cineastas apresentarão no final os projectos de curtas-metragens a um painel de jurados que atribuirá a oito deles uma bolsa de produção de 300 mil dólares de Hong Kong a cada um para que realizem o projecto cinematográfico. Este painel será presidido pelo mentor principal do campo, o veterano produtor de cinema Terence Chang, cuja carreira de sucesso abrangeu as indústrias cinematográficas de Hong Kong, Hollywood e China.

A Academia dos Prémios de Cinema Asiático fará depois a curadoria dos projectos desenvolvidos no âmbito do IFC, apresentando-os no programa anual de digressão “Asian Cinerama”. Espera-se ainda que os cineastas escolhidos possam ter apoio da Academia para colocar os seus filmes em diversos festivais e atrair potenciais patrocinadores, “ampliando o seu alcance e exposição na indústria”.

Convidados de honra

A iniciativa conta ainda com diversos convidados de honra, sendo que, de Macau, se incluem nomes como o de Tracy Choi, Emily Chan e Hong Heng-Fai, todos realizadores com um importante currículo na indústria do cinema local.

Wilfred Wong, presidente e director-executivo da Sands China, igualmente presidente da Academia dos Prémios de Cinema Asiático, disse que “o cultivo de talentos desempenha um papel crucial na transmissão do sucesso do desenvolvimento da indústria cinematográfica na Ásia”.

Desta forma, o IFC promete reunir “jovens e emergentes cineastas da área da Grande Baía e das regiões asiáticas”, para participar em workshops, seminários, apresentação de guiões e orientação prática por parte de profissionais da indústria. “O nosso objectivo é cultivar jovens talentosos e preparar o seu caminho para um maior desenvolvimento”, concluiu.

De frisar que, além de ligado ao sector do jogo, Wilfred Wong tem desenvolvido bastante trabalho na área do cinema de Hong Kong, sendo presidente do Hong Kong Film Development Council e da Hong Kong International Film Festival Society.

24 Out 2023

“Amor Escarlate” é o primeiro romance de José Basto da Silva

O macaense José Basto da Silva, presidente da Associação dos Antigos Alunos da Escola Comercial Pedro Nolasco, lançou na última semana o seu primeiro romance. Trata-se de “Amor Escarlate – Memórias dos Tempos de Estudante em Macau” e nasce das crónicas que o autor preparou em tempos para o boletim mensal da Associação dos Macaenses, “A Voz”, cuja publicação foi, entretanto, suspensa.

Ao HM, o autor contou que este projecto literário começou há cerca de seis anos, precisamente na altura em que se aventurou como cronista. Quando “A Voz” deixou de se publicar, José Basto da Silva, formado em engenharia informática, pensou transformar as crónicas que não chegaram a ser publicadas num romance. “Acabei por ficar com alguns textos que nunca chegaram a sair, e achei que seria um desperdício deitar tudo fora. Então decidi romancear todos os textos, e até tinha mais histórias para contar. À medida que vamos escrevendo, recordamos sempre mais histórias.”

“Amor Escarlate” conta “histórias da juventude, dos nossos tempos de liceu, que se passaram nos anos 80 entre os alunos da Escola Comercial Pedro Nolasco e o Liceu de Macau”. Algumas histórias foram vividas na primeira pessoa, outras observadas. “São factos que romanceei para tentar criar uma história que tivesse algum fio condutor e interesse. São coisas que, de facto, aconteceram, paixonetas entre estudantes, pequenas guerras, cenas de pancadaria, rivalidades que existiam entre as escolas, corações partidos. Os problemas da juventude.”

Rivalidades e pequenas guerras

Os tempos da adolescência são, por norma, conturbados, e em Macau não foi excepção nos anos 80, mesmo com a coexistência de três comunidades: a portuguesa, a chinesa e a macaense. “Havia uma certa segregação dos alunos macaenses que iam para a escola comercial e os portugueses que iam para o liceu. Havia uma franja que se misturava, mas no geral, os grupos não se misturavam muito e namorava-se dentro dos grupos. Foi a altura em que surgiram os computadores, a MTV, o BreakDance, o Yo-Yo, e há muitas histórias engraçadas da juventude dos anos 80.”

José Basto da Silva recorda uma espécie de “hierarquia” entre as comunidades. “Havia os alunos macaenses de classe média que iam para a escola comercial, com alguns a ter a aspiração de seguir o ensino superior. Havia os alunos mais mal comportados que iam para o Colégio Dom Bosco, com uma formação mais profissional e que não tinham aspirações [de ir para a universidade], e que com 15 anos começavam a trabalhar. Depois havia a elite, os filhos dos portugueses, dos funcionários públicos, que iam para o liceu, tinham dinheiro, falavam português muito bem e gozavam com os macaenses que falavam português com um sotaque próprio. Havia esta rivalidade.”

“Amor Escarlate” apresenta um certo “twist”, mas o autor não quer revelar algumas das histórias que o livro contém. “Esta incursão pelas letras foi interessante e foi uma aprendizagem. Escrever uma coluna ou artigos científicos são coisas mais objectivas, que não envolvem a imaginação. Escrever um livro obrigou-me a puxar pelas minhas recordações. O processo de escrita tem a sua ciência.”

A obra é editada pela Praia Grande Edições e foi lançada no festival literário Rota das Letras, que terminou na última semana.

20 Out 2023