Andreia Sofia Silva PolíticaCovid-19 | Três pessoas violaram quarentena obrigatória Dois residentes e um trabalhador não residente violaram o regime de quarentena obrigatória, segundo informação do Corpo de Polícia de Segurança Pública. Um deles saiu do quarto de hotel onde cumpria quarentena, enquanto que os restantes saíram de suas casas. Será entregue um relatório ao Ministério Público para acompanhamento [dropcap]O[/dropcap] regime de quarentena obrigatória durante 14 dias foi violado por três pessoas, dois residentes permanentes e um trabalhador não residente oriundo da Indonésia. O caso foi ontem anunciado por Ma Chio Hong, representante do Corpo de Polícia de Segurança Pública (CPSP) na conferência de imprensa do Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus. Um dos casos diz respeito a uma pessoa que está a cumprir quarentena num hotel designado para esse fim e que saiu do seu quarto. “Dois casos foram verificados durante a nossa inspecção geral, pois todos os dias realizamos uma inspecção nos locais onde as pessoas estão em isolamento para verificar se estão ou não a cumprir as regras. O outro caso foi encaminhado pelo centro de coordenação, e quando nos deslocámos ao hotel verificámos que essa pessoa tinha saído do seu quarto, se calhar para ir buscar comida ou bens essenciais”, adiantou Ma Chio Hong. Para já o CPSP está a elaborar um relatório sobre as ocorrências para entregar ao Ministério Público. Estes actos violam as regras do isolamento obrigatório previstas na lei de prevenção, controlo e tratamento de doenças transmissíveis, em vigor desde 2004. “Estas pessoas foram informadas de que tinham de ficar sujeitas a 14 dias de observação médica e que não podiam sair das suas casas, mas violaram as regras. O CPSP apela a todas as pessoas em observação domiciliária para colaborarem com os nossos trabalhos e cumprirem a lei.” Vários impasses Depois de Hong Kong ter proibido a entrada a não residentes como medida de combate à pandemia da covid-19, o Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, declarou que passou a ser proibida, desde as 00h de hoje, a entrada em Macau de residentes do interior da China, Hong Kong e Taiwan que tenham estado em países estrangeiros nos 14 dias anteriores à viagem. Questionado sobre a possibilidade de prolongar o prazo dos vistos a turistas que não consigam apanhar o voo no aeroporto de Hong Kong e que, por isso, tenham de ficar mais tempo em Macau, Ma Chio Hong referiu que a medida será avaliada caso a caso. Quanto à ideia de criar um canal especial para residentes de Macau que necessitem de apanhar um voo em Hong Kong, o Executivo esclareceu que é algo que ainda não está previsto. “Depois do dia 25 [hoje] vai ser proibida a entrada [em Hong Kong] de residentes de Macau. Estes não podem entrar em Hong Kong e apanhar voos. Não temos um veículo especial para transportar os residentes para o aeroporto, porque estão envolvidas muitas formalidades e também envolve a parte de Hong Kong. Neste momento, não temos esse tipo de consenso”, adiantou Inês Chan, representante da Direcção dos Serviços de Turismo (DST). Quanto ao apoio aos residentes que estão a regressar a Macau são para manter, ao mesmo tempo que se prolonga o diálogo entre as duas regiões administrativas especiais. “Temos a responsabilidade de apoiar os residentes e vamos ajudar todos os que pretendem regressar a Macau. As medidas não são aplicadas apenas por Macau e temos ainda de negociar com Hong Kong. Eles também utilizaram muitos recursos e ultrapassaram muitos obstáculos para nos ajudar”, frisou Inês Chan. A representante da DST destacou ainda o facto de as companhias aéreas “terem um papel fundamental” neste processo. Reunião com hotéis O Governo admitiu a dificuldade para encontrar novos hotéis para o cumprimento de quarentena, embora tenha anunciado ontem a 9ª unidade hoteleira disposta a receber pessoas. Inês Chan, directora dos Serviços de Turismo, afastou a possibilidade de serem escolhidas áreas maiores dentro dos casinos, por terem alguns bares e restaurantes a funcionar, e defendeu a necessidade de se marcar uma reunião com responsáveis do sector hoteleiro. “Temos actualmente 1751 pessoas em quarentena e 1900 pessoas que se registaram [para regressar a Macau]. Os hotéis devem manifestar a sua vontade de cooperação. Passo a passo poderemos resolver as dificuldades. Este é o primeiro passo, se os responsáveis dos hotéis quiserem sentar-se connosco para discutir.”
Andreia Sofia Silva SociedadeTJB | SSM com razão em caso de recusa de isolamento [dropcap]O[/dropcap] Tribunal Judicial de Base (TJB) deu razão aos Serviços de Saúde de Macau (SSM) em três casos em que foi decretado isolamento obrigatório de pessoas com suspeita de infecção e que recusaram tal medida. De acordo com um comunicado, um dos casos ocorreu a 24 de Janeiro deste ano, estando, por isso, relacionado com a covid-19. Em causa estavam “suspeitas de que os respectivos indivíduos pudessem estar infectados com doenças transmissíveis constantes na lista da Lei de prevenção, controlo e tratamento de doenças transmissíveis”. O TJB “confirmou judicialmente as medidas de isolamento obrigatório determinadas pelos SSM em todos os processos acima referidos”. De frisar que, além do caso relativo à covid-19, há mais dois processos ligado ao vírus H7N9, relativos a 17 de Março de 2014 e 5 de Fevereiro de 2016. Neste último processo, o indivíduo chegou a recorrer para o Tribunal de Segunda Instância (TSI), que manteve a decisão da primeira instância.
Andreia Sofia Silva SociedadeFMUP | Director diz que Marcelo Rebelo de Sousa deve pedir ajuda a Macau [dropcap]A[/dropcap]ltamiro da Costa Pereira, director da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), defendeu, numa carta aberta publicada no semanário Expresso, que o Presidente da República portuguesa, Marcelo Rebelo de Sousa, deveria pedir ajuda a Macau no combate à pandemia da covid-19. “Apelo-lhe, como português e cidadão europeu, para que exerça a sua enorme influência simbólica e diplomática, junto de países ou regiões que têm partilhado com Portugal relações históricas, comerciais e de entre ajuda, há já mais de 500 anos, para que nos auxiliem agora, neste momento de enorme necessidade.” O responsável máximo pela FMUP refere-se “ao Japão e República Popular da China, com especial destaque para a Região Administrativa Especial de Macau”. “Na verdade, fruto de terem tido que lidar com a epidemia de SARS no início deste milénio e agora com a de covid-19, a China e suas Regiões Administrativas Especiais estão preparadas como nenhum outro país – com as possíveis excepções do Japão e da Coreia do Sul – para nos ajudar neste combate que, tendo chegado agora de forma avassaladora até nós, não irá tão cedo deixar-nos dormir descansados”, acrescentou. Altamiro da Costa Pereira defende que esta ajuda “não deverá ser apenas de natureza material, com os seus equipamentos de protecção, de diagnóstico e de tratamento (por exemplo, máscaras, medicamentos e ventiladores) de que já temos e teremos cada vez mais falta no nosso SNS [Serviço Nacional de Saúde], à medida que a situação vá piorando, mas também e, talvez sobretudo, deverá ser através da partilha de conhecimento epidemiológico e de saúde pública”.
Andreia Sofia Silva SociedadeCovid-19 | Serviços de saúde passam a realizar testes nos hotéis onde se efectuam quarentenas [dropcap]A[/dropcap]lvis Lo, médico dos Serviços de Saúde de Macau (SSM), anunciou ontem que as autoridades vão adoptar novas medidas de despistagem de infecção com a covid-19 para todos os que estão sujeitos a quarentena obrigatória à chegada ao território. Neste sentido, são os próprios profissionais de saúde que irão aos hotéis onde se encontram estas pessoas a fim de realizarem testes de ácido nucleico. Este método já foi usado no hotel Golden Crown China Hotel. “Antes apenas retirávamos amostras de saliva, mas verificámos que demorava mais tempo a fazer o teste em laboratório. Verificámos que é mais fácil enviar pessoas para os hotéis para realizarem testes de ácido nucleico, por isso mudámos a forma de fazer os testes. No futuro vamos usar este método para aplicar em outros hotéis”, frisou o médico. Alvis Lo adiantou também que esta medida foi adoptada oficialmente este domingo, depois de terem sido testadas duas pessoas a cumprir quarentena obrigatória no hotel Golden Crown China Hotel.
Andreia Sofia Silva SociedadeCovid-19 | Lei Chin Ion diz que novos casos de infecção estão dentro das previsões do Governo [dropcap]O[/dropcap]s novos casos de infecção de covid-19 registados nos últimos dias estão dentro das previsões do Executivo, declarou Lei Chin Ion, director dos Serviços de Saúde de Macau (SSM). “Temos muitos estudantes que vão regressar de zonas de alto risco para Macau, por isso os cinco novos casos estão dentro das nossas previsões. São apenas oito estudantes e, por isso, a proporção é inferior a 1 por cento [é 0,9 por cento].” Lei Chin Ion assegurou ainda que não há risco de infecção comunitária através destas pessoas que regressam do exterior, uma vez que foram detectadas e observadas a tempo as pessoas com contacto próximo. “Nos últimos dias houve muitos residentes a regressar a Macau, mas acredito que esses números vão diminuir. Nos últimos dois dias foi o pico do regresso dos estudantes, hoje [segunda-feira] e amanhã [hoje] há menos estudantes a regressar. Com menos pessoas a regressar o número de casos também vai diminuir. Conseguimos encontrar casos nos hotéis e fronteiras e isso não traz qualquer risco à comunidade”, rematou o director dos SSM.
Andreia Sofia Silva EventosFotografia | “Macau Solidário” dá exemplo do uso da máscara [dropcap]O[/dropcap] grupo online “Macau Solidário”, que visa apoiar Portugal no envio de material médico e máscaras no combate à pandemia Covid-19, promove hoje no Leal Senado uma iniciativa de fotografia que visa incentivar o uso de máscaras em Portugal no combate à doença. O evento, intitulado “Máscara, usa e abusa!”, decorre hoje às 12h. Cabe à fotógrafa Tatiana Lages captar as imagens de pessoas a usar a sua máscara, sendo que cada um irá partilhar as mensagens “Macau está convosco” ou “Vai ficar tudo bem”. As fotografias serão depois publicadas na página de Facebook do grupo “Macau Solidário”. Ao HM, Tatiana Lages explicou que a principal razão para esta iniciativa é dar o exemplo das boas práticas que o Governo de Macau implementou no combate a esta nova pandemia. “A ideia é mostrar apoio dos cidadãos de Macau aos portugueses que estão agora a viver essa situação que vivemos há dois meses. Achamos estranho que o Governo português não faça questão do uso da máscara. Queremos mostrar o que aprendemos com os asiáticos e com o Governo de Macau e passar esse exemplo para Portugal”, frisou.
Andreia Sofia Silva Manchete ReportagemCovid-19 | Esperas, atrasos e proibições marcam regresso a Macau dos que fazem quarentena Para muitos dos residentes que viajaram do estrangeiro para Macau nos últimos dias, o regime obrigatório de quarentena implicou muitas horas de espera e constrangimentos provocados por falta de comunicação. Um residente que viajou com a mãe idosa e a empregada doméstica não residente ficou sem apoio depois de ter sido negada a entrada da trabalhadora em Macau. Nos quartos de hotel, a vida acontece muito devagar ao ritmo das refeições entregues à porta [dropcap]A[/dropcap]pesar do apoio concedido pelo Governo a todos os residentes sujeitos a quarentena obrigatória de 14 dias, por viajarem de países estrangeiros que não a China, Hong Kong ou Taiwan, há relatos de inúmeros atrasos, horas de espera e peripécias várias. Quem aterrou no Aeroporto Internacional de Hong Kong e veio para Macau no transporte cedido pelo Governo relata uma viagem sem fim. “Quando chegámos a Hong Kong recebi de imediato um telefonema do Gabinete de Gestão de Crises do Turismo (GGCT) a perguntar como estávamos. Levaram-nos de imediato para a área reservada a quem ia apanhar o transporte de Hong Kong para Macau. E aí é que as coisas ficaram caóticas”, conta ao HM Margarida, residente, que veio de Portugal. “Tivemos seis horas à espera para ir para Macau. Havia idosos, crianças e também estudantes que estavam a regressar, mas havia grupos de pessoas que mereciam outro tipo de atenção. Não houve noção de prioridade. Não se justificava uma espera de seis horas, sem ninguém vir falar connosco ou dizer o que se estava a passar. Ficámos pura e simplesmente ali”, recorda. Quando chegou a hora de embarcar no autocarro que levaria os residentes para Macau, a espera prolongou-se. “Chegavam três autocarros de cada vez e cada autocarro só levava 10 pessoas. Também tínhamos de esperar que os autocarros fossem a Macau e voltassem para Hong Kong. A entrada nos autocarros era feita de forma lenta, pois ia um a um, e cada pessoa demorava 20 minutos a entrar. Não se justificava, pois, o autocarro estava logo ali. Pediam-nos os documentos várias vezes”, apontou Margarida. Antes do percurso, até à chegada ao hotel, houve esperas de uma hora dentro do autocarro. “Aquilo que não correu bem foi não haver ali ninguém para nos dizer o que se estava a passar, o que podíamos fazer, quanto tempo tínhamos de esperar. Não entendo porque tivemos uma hora no autocarro à espera que arrancasse. Quando finalmente arrancou, fomos para o posto fronteiriço e depois tivemos outra hora à espera. Ninguém se preocupou se precisávamos de ir à casa de banho. Não nos disseram nada, o que se estava a passar e quanto tempo ia demorar. Estávamos numa situação de alguma ansiedade.” Já no hotel, Margarida lamenta que a inexistência de um guia com regras claras para o isolamento. “As únicas indicações que temos são as horas das refeições e as horas em que pomos o lixo à porta. Não temos indicações de como funciona o isolamento, deveríamos ter um manual de instruções. Pensámos que poderíamos sair para apanhar ar, porque isto de estar 14 dias num sítio só com ar-condicionado é mau. Não sabemos se podemos, ou não, não sabemos nada”, conclui. Empregada não entra O facto de o Governo ter proibido, na última quinta-feira, a entrada no território de trabalhadores não residentes (TNR) que não tenham o título de TNR da China, Taiwan ou Hong Kong complicou a vida a um residente, que não quis ser identificado, e que viajou com a mãe, idosa, também residente, e a empregada doméstica natural das Filipinas. Quando embarcou em Lisboa não só essa proibição não tinha sido decretada como a empregada doméstica estava inscrita com a família para ter acesso ao transporte cedido pelo Governo da RAEM. Contudo, quando chegaram a Hong Kong, as coisas complicaram-se. A empregada não entrou na RAEM e foi para as Filipinas, o que deixou o residente sem o apoio para cuidar da mãe. “A minha mãe de 90 anos é portadora de deficiência física e cognitiva, o que obriga a cuidados e a um acompanhamento permanente. Beneficia de uma autorização de um TNR para esse efeito e viajou a Portugal para consulta de especialidade acompanhada por essa pessoa que lhe presta assistência diária. Após iniciada a viagem foi negada pelo centro de controlo de doenças o regresso do TNR que acompanhava a minha mãe.” O residente pediu a abertura de uma excepção para o seu caso, tendo em conta o despacho assinado pelo Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, que faz referência às “necessidades básicas dos residentes”. “Em comunicação com o centro de controlo de doenças, o mesmo director [dos Serviços de Saúde de Macau (SSM), Lei Chin Ion] mandou informar que ‘as necessidades básicas dos residentes’ significam as ‘necessidades do público em geral’ e não dos residentes em particular. Ou seja, significa palavras que não são as que estão escritas”, adiantou. Sem empregada doméstica, este residente obteve a garantia de que, à chegada a Macau, teria a ajuda de uma assistente social, o que não aconteceu. “Naquele imenso terminal, não havia uma cadeira de rodas disponível nem funcionários atentos à idade dos passageiros, constantes da papelada que processam. Este residente e a mãe acabariam por ser encaminhados para um hotel sem terem o apoio de uma assistente social. Chegados à unidade hoteleira onde cumprem quarentena, surgiu mais um problema: foram colocados em quartos diferentes sem possibilidade de contacto. “Neste momento, a minha mãe está aterrorizada num quarto que desconhece ao lado do meu. No corredor do hotel existe um guarda que nos ameaça fechar à chave por eu me deslocar ao quarto da minha mãe para a assistir.” O HM sabe que, entretanto, a situação foi resolvida, e ambos partilham o mesmo quarto. Ainda assim, o residente acusa Lei Chin Ion de “expor a provações e de colocar residentes à mercê de um cenário de alegada prudência, desatenta no extremo do que é humanamente possível suportar com 90 anos de idade”. O residente considera que o director dos SSM “negou o que já estava assegurado prudente e responsavelmente, porque não condescende nas excepções da lei”. Sem queixas No caso de Jorge Cruz, que viajou de Portugal via Banguecoque para Macau, as peripécias foram bem menores. Este residente também descreve a falta de noção de prioridade para crianças ou idosos, mas defende que, “tendo em conta a quantidade de burocracia, nem esperámos muito tempo”. “Até agora, não tenho nada a apontar quanto à organização deste hotel. Dão-nos pequeno-almoço, almoço e jantar, medem-nos a febre duas vezes por dia. Se nos faltar água, basta ligar para a recepção e vêm trazer. Em termos psicológicos ainda me estou a adaptar, mas deixaram contactos telefónicos caso precisasse de ajuda”, contou ao HM. As regras de quarentena permitem a entrega de comida ou outro tipo de produtos uma vez por dia entre as 17h e as 19h. Mediante a apresentação do nome e do número do quarto, os produtos são depois entregues pelos funcionários do hotel. Bruno Simões, que tem três filhas adolescentes de quarentena, assegura que tudo tem corrido pelo melhor. “Do meu lado a experiência tem sido boa. Servem três refeições ao dia e há apenas a apontar a questão da limpeza, porque parece que ninguém entra para limpar o quarto. O pessoal é simpático, têm internet. Posso dizer que as minhas filhas estão a ter uma vida muito de adolescente, porque não têm o pai a dizer a que horas têm de acordar nem quanto tempo podem estar ao telemóvel. Para os adolescentes, devem ser umas férias.” O HM questionou o GGCT sobre os atrasos e esperas relatadas pelos residentes. Na conferência de imprensa de sexta-feira, as questões foram respondidas. Inês Chan, representante da Direcção dos Serviços de Turismo, pediu “paciência” a quem está sujeito a quarentena. “O Governo de Hong Kong presta o máximo de apoio para coordenar [as acções] connosco. Se calhar, os estudantes [e todos os residentes] têm de esperar algum tempo no aeroporto de Hong Kong. Peço a sua paciência pois durante a deslocação há muitas situações como o registo de dados. Os nossos trabalhadores trabalham durante 24 horas, estamos sempre a receber novas informações e é uma confusão. Todas estas questões levam muito tempo [para resolver], é um trabalho muito difícil.” Cerca de duas mil pessoas foram encaminhadas para quarentena em Macau desde o início do surto do novo coronavírus e até sábado, disseram ontem as autoridades. No sábado mais 308 pessoas foram colocadas em quarentena, das quais 301 são estudantes que regressaram ao território. Até ontem estavam 1.394 pessoas isoladas em hotéis que o Governo converteu em centros de quarentena, para responder ao regresso de milhares de residentes ao território, a esmagadora maioria estudantes. Desde que as autoridades reforçaram as medidas de prevenção, 14 pessoas com passaporte português ficaram sob quarentena. Familiares e amigos acorrem a hotéis para levar bens a isolados A calma com que Leong, nome fictício, aguarda na fila para entregar bens ao filho que acabou de ser transferido para um hotel depois de chegar do Reino Unido, contrasta com o ar apreensivo de outros familiares e amigos que acorreram ali para trazer algum conforto extra às pessoas obrigadas ao isolamento à chegada a Macau. Apesar do ar composto, Leong revelou ao HM alguma preocupação, “normal para uma mãe”, mas deixa em aberto a possibilidade de a experiência “ser uma boa lição” para o filho, de 17 anos, que chegou a Macau na passada sexta-feira, vindo do Reino Unido e para o resto da família. Depois de deixar alguns mimos, Leong fez questão de frisar que acha que o Governo de Macau está a fazer um bom trabalho. “Claro que sinto falta do meu filho, e não posso deixar de me preocupar, mas acho que ele pode aprender a importância de se viver em sociedade, de ser responsável e retribuir. O Governo ajudou-o a regressar, portanto, ele também sente que tem de colaborar, aliás, já tinha aceite a ideia antes de chegar”, conta a mãe. Apesar das circunstâncias, Leong acha que regressar a Macau foi a melhor e mais segura decisão. Quanto ao futuro, não vê a necessidade de se deslocar todos os dias ao hotel, até porque está em constante contacto com o filho. Para já, as conversas ficam-se pelas mensagens escritas, porque o jovem está ocupado com as aulas online do curso de fisioterapia que está a tirar em Inglaterra.
Andreia Sofia Silva SociedadeEPM | Maioria dos alunos inscritos nos exames nacionais [dropcap]A[/dropcap] inscrição nos exames nacionais em Portugal por parte dos alunos do ensino secundário da Escola Portuguesa de Macau (EPM) está, para já, a ser feita sem constrangimentos, apesar do estado de emergência decretado em Portugal. Esta terça-feira o Ministério da Educação em Lisboa adiantou que o prazo de inscrição será prolongado até ao dia 3 de Abril, com o processo a desenrolar-se online. Ao HM, Zélia Mieiro adiantou que os alunos “estão praticamente todos inscritos”, não tendo existido qualquer tipo de constrangimento com o processo. Questionada sobre a forma como se serão feitos os exames, se online ou de forma presencial, na sala de aula, Zélia Mieira explicou que as provas estão marcadas para 15 de Junho. “Até lá veremos o que vai acontecer”, disse apenas. A EPM, à semelhança de outras escolas do território, tem vindo a funcionar através do sistema de ensino online, devido à suspensão de aulas decretada para controlar a pandemia da Covid-19. Escolas lideram Coube ao Júri Nacional de Exames (JNE), em Portugal, anunciar a medida de inscrição online esta terça-feira, sendo os documentos necessários disponibilizados a escolas e agrupamentos escolares. “As escolas enviarão às famílias a informação sobre o procedimento a adotar, inclusive o pedido da senha para obtenção posterior da ficha ENES”, refere uma nota enviada pelo Ministério da Educação. De acordo com o JNE, as escolas procedem à disponibilização de boletins de inscrição em formato editável, nas suas páginas electrónicas, para que os alunos ou os encarregados de educação descarreguem, preencham e enviem o referido boletim devidamente preenchido para o email disponibilizado pela escola. Os alunos deverão, ainda, enviar o pedido de atribuição de senha efectuado na página electrónica da Direcção-Geral do Ensino Superior. Serão também os estabelecimentos de ensino a proceder à verificação da conformidade da inscrição relativamente à situação escolar do aluno e, em caso de eventuais irregularidades, contactar o encarregado de educação para as necessárias correcções. O pagamento da inscrição nos exames deverá ser feito “findo o prazo de suspensão da actividade lectiva presencial”.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaProibição de entrada de TNR | Governo nega discriminação e diz não confiar nos números da Covid-19 no sudeste asiático A decisão de proibir a entrada no território a todos os trabalhadores não residentes estrangeiros, à excepção dos residentes da China, Hong Kong e Taiwan, está a dar polémica. Várias personalidades falam em discriminação, mas o director dos Serviços de Saúde nega críticas e diz que mais de metade dos novos casos são oriundos do sudeste asiático, pelo que há necessidade de prevenção. Lei Chin Ion apontou também que os dados oficiais destes países relativos à Covid-19 “não são credíveis” [dropcap]A[/dropcap] medida foi tomada em poucas horas e sem pré-aviso: desde a meia-noite de quinta-feira passou a ser proibida a entrada em Macau de trabalhadores não residentes (TNR) estrangeiros, à excepção dos oriundos da China, Hong Kong e Taiwan. A medida visa combater o aparecimento de mais casos de infecção com o vírus da Covid-19. Não há, para já, uma data para a suspensão da proibição de entrada. De pronto, surgiram críticas, mas Lei Chin Ion, director dos Serviços de Saúde de Macau (SSM), frisou ontem, na habitual conferência de imprensa sobre a pandemia Covid-19, que, dos sete novos casos de infecção importados, quatro são TNR, facto que motiva a acção imediata. “Em quatro dias tivemos sete novos casos, quatro deles têm a ver com TNR, pelo que a proporção é muito elevada”, explicou o director dos SSM, negando que seja uma medida discriminatória, uma vez que, nas primeiras medidas adoptadas, “foi implementada a proibição de entrada a estrangeiros, mas os TNR estrangeiros podiam entrar, assim como pessoas de Hong Kong, Taiwan e China”. “Não é uma medida discriminatória. Nunca teve este sentido, o que queremos é servir em primeiro lugar os residentes de Macau. É a nossa responsabilidade especial nesta causa pública para controlar a pandemia. Em todo o mundo se proíbe a entrada de estrangeiros. Quando os serviços são partilhados com estrangeiros isso é injusto para os residentes, afectando a sua saúde”, adiantou Lei Chin Ion. O responsável rebateu as acusações de discriminação com o facto de os portadores de blue card poderem comprar máscaras nas farmácias convencionadas ao mesmo preço que os residentes. “Quando os TNR não estão em Macau não podemos assegurar a sua saúde. Se me perguntam se esta medida é justa ou não, só posso dizer que todos os que estão em Macau são tratados de forma igual, mas quanto aos que não estão em Macau não podemos fazer nada. Os que têm blue card são protegidos.” Ainda assim, “há sempre uma certa diferença, e têm de perceber porque o documento de identificação é diferente”. As diferenças verificam-se “na atribuição do cheque pecuniário ou dos vales de saúde, as regalias e os tratamentos também são diferentes”, frisou. “Nos próximos um ou dois meses iremos enfrentar o regresso dos estudantes [que são residentes da RAEM] que estão no estrangeiro e os recursos devem ser poupados e reservados aos residentes”, frisou. O director dos SSM disse também que, horas depois desta medida entrar em vigor, ou seja, perto das três da manhã de quinta-feira, as autoridades conseguiram despistar um voo oriundo da Tailândia. “Comunicámos com a parte tailandesa sobre esta nova medida e conseguimos fazer com que boa parte dos TNR não embarcassem no voo.” Dados pouco fiáveis Lei Chin Ion admitiu também na conferência de imprensa não confiar nos dados oficiais apresentados pelos países do sudeste asiático no que diz respeito à infecção com o vírus SARS-Cov-2, que causa a Covid-19. “Acredito nos dados do nosso país, mas os dados do sudeste asiático não são muito credíveis.” “Não acredito que sejam verídicos, porque dos sete casos confirmados [no território], quatro são TNR, é mais de metade. Como especialista, digo que nem todos os dados são públicos e que há uma boa parte oculta.” Questionado sobre eventuais medidas de apoio para quem perca o emprego e a casa, Lei Chin Ion garantiu que, numa primeira fase, é importante assegurar a protecção da saúde. O director dos SSM admitiu que a decisão pode afectar o funcionamento dos casinos. “Mais vale afectar os casinos do que o resto da sociedade. Neste momento, os casinos não têm muitos turistas, será que precisam de todos os funcionários? Sabem melhor do que eu. Mas não podemos trazer riscos para toda a sociedade.” Na mesma conferência de imprensa ficou garantido a manutenção da regra de quarentena obrigatória em Zhuhai para todos os TNR oriundos da China. “O hotel em Zhuhai já está cheio e estamos a acompanhar as medidas de quarentena por parte de Zhuhai”, disse Leong Iek Hou, coordenadora do Centro de Coordenação de Contingência do Novo Tipo de Coronavírus. O HM quis saber junto do Gabinete de Gestão de Crises de Turismo (GGCT) o que acontece com todos os TNR que acompanham residentes que estão a regressar a Macau e que estariam inscritos para aceder ao transporte especial do Aeroporto Internacional de Hong Kong para o território, a fim de cumprirem quarentena obrigatória. Foi garantido que, tendo em conta a nova medida, “todos os trabalhadores não residentes com exclusão das situações acima referidas [TNR da China, Hong Kong e Taiwan] não poderão estar incluídos no uso do transporte especial entre o Aeroporto Internacional de Hong Kong e Macau”. Ainda assim, o despacho assinado pelo Chefe do Executivo abre a porta a excepções, “por motivo de interesse público, nomeadamente a prevenção, controlo e tratamento da doença, socorro e emergência”, ou em “casos excepcionais de manutenção do funcionamento normal da RAEM ou das necessidades básicas de vida dos residentes”. Aí, “a autoridade sanitária pode dispensar o cumprimento da respectiva medida por parte das pessoas referidas no número anterior”. Vozes contra Jassy Santos, representante da Associação dos Progressistas dos Trabalhadores Domésticos de Macau, disse ao HM que esta medida é altamente discriminatória, porque há muitos TNR a tentar regressar a Macau para manter os empregos e que agora se vêm impossibilitados de entrar. “É uma medida muito má, que não só é racista como discriminatória em relação aos portadores de blue card. Terá um enorme impacto, não apenas nos trabalhadores filipinos que estão a tentar regressar via Hong Kong ou Taiwan para salvarem o seu posto de trabalho.” À TDM Rádio Macau, o jurista António Katchi também teve uma posição semelhante. “Há discriminação, claramente, porque não há aqui nenhuma razão plausível para distinguir, para este efeito, os residentes permanentes e não permanentes, por um lado, e os trabalhadores não residentes, por outro”. Katchi disse ainda que “a medida é discriminatória porque, trata-se de uma preocupação sanitária, o risco de infecção que vem agora de fora de Macau, tanto vem de trabalhadores não residentes como vem de residentes de Macau. Provavelmente, o Governo está a basear-se numa pequena amostra, porque nos últimos dias houve alguns residentes não permanentes que foram detectados com o vírus, mas também houve residentes locais [infectados]. O facto de, numa pequena amostra, ter havido mais trabalhadores não residentes do que residentes, não significa que os trabalhadores não residentes ofereçam maior perigo de contágio e que tenham uma maior probabilidade de trazer o vírus, do que os residentes”. O facto de a medida ter sido tomada em poucas horas constitui ainda uma “violação do princípio da boa fé, que também é um princípio fundamental consagrado no Código de Procedimento Administrativo, além do princípio de igualdade”. José Pereira Coutinho, na qualidade de conselheiro do Conselho das Comunidades Portuguesas, lembrou à Lusa que esta é uma medida discriminatória que também afecta portugueses, pois muitos são portadores de blue card. Deve “imperar o bom senso”, lembrou, uma vez que as autoridades devem “ter em atenção que muitos dos títulos de TNR estão a caducar” e que o prazo para os revalidar tem de ser estendido. “É natural que estejam preocupados. (…) Com bom-senso e compreensão poderá resolver-se a situação, de deixá-los entrar, porque estão numa situação dramática, precisam do trabalho, [e] têm as suas famílias cá”, sustentou. O conselheiro afirmou que “não são muitos os casos” e mostrou-se optimista: os portugueses “podem resolver facilmente a situação”, a começar pelo contacto com o GGCT, precisou, até porque muitos se encontravam de férias quando foi anunciada e entrou em vigor a proibição. Coutinho diz que se cria “um sistema discriminatório para os trabalhadores não residentes”, uma vez que “temos casos de portugueses TNR que estão nos países adjacentes de Macau e esses como estão?”, exemplificou, para concluir: “O mais grave é que o coronavírus não vai ver passaporte ou nacionalidade para atacar”. No dia em que entraram em vigor as novas restrições, foi lançada uma petição online, que contava com mais de 350 subscritores à altura do fecho de edição, que apela às autoridades a revogação da medida, por ser “extremamente injusta”. Os subscritores do documento concordam com a absoluta necessidade de se conter o surto e consideram compreensível o controlo rigoroso à chegada a Macau. Contudo, lembram que isso “não deve levar à negação de direitos fundamentais” de pessoas que vivem e trabalham no território há anos, “e que não podem agora regressar às suas casas (…) e às suas famílias”, lembrando que, segundo os dados oficiais há mais de 190 mil trabalhadores não-residentes. Nos testemunhos colocados na petição, muitos fazem referência a situações dramáticas de risco de pobreza. “Trabalhamos para alimentar as nossas famílias, e banir todos os portadores de blue card significa que o Governo de Macau está a restringir o seu acesso ao trabalho. Sem trabalho não há salário, logo não há comida no prato. Peço que reconsiderem, deixem-nos em conjunto ajudar a lutar e a travar esta pandemia”, pode ler-se.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeMáscaras | Remessas de Macau para Portugal esbarram na alfândega, mas Governo promete agir O envio de máscaras para Portugal para a prevenção da pandemia Covid-19 está a ser bloqueado por questões burocráticas na alfândega em Lisboa, sendo exigido o pagamento de cerca de 790 patacas para levantar a encomenda. Vice-presidente da Associação dos Inspectores Tributários fala de uma situação normal para qualquer remessa oriunda de fora da União Europeia e diz ser “difícil” flexibilizar processo. Governo português deverá resolver problema, escreve o Plataforma [dropcap]P[/dropcap]ortugueses a residir em Macau e que enviaram máscaras para amigos e familiares em Portugal, queixaram-se à Lusa da retenção das remessas pela alfândega portuguesa e do preço exigido para as libertar. A indignação tem sido expressa em diversas publicações nas redes sociais, tanto em Portugal, como em Macau, com algumas pessoas no território a conseguirem até aqui contornarem o problema ao enviarem remessas à ‘boleia’ de alguém que viajasse para território português, antes das restrições dos voos anunciadas na terça-feira pelo Governo português. “O que me informaram aqui nos correios é que havia excesso de encomendas a irem para Portugal, de máscaras, muitas delas não chegavam lá, ficavam retidas na alfândega e tinham de pagar à volta de 90 euros [cerca de 790 patacas] porque estavam a considerar que estávamos a fazer negócio com as máscaras”, disse Fátima Coelho, residente em Macau. “O que é falso, porque nós estamos é muito preocupados com os nossos familiares, com todos os portugueses que estão em Portugal, que não usam máscara, que estão mal informados, e é uma das maneiras que temos de ajudar”, explicou a portuguesa, que conseguiu garantir o envio através de um amigo. Toca a cobrar Odete Sequeira queixou-se dos preços praticados logo nos correios, mesmo desconhecendo o que iria suceder quando a encomenda chegasse à alfândega portuguesa. Pagou mais de 20 euros [cerca de 175 patacas] para enviar uma remessa de 60 máscaras (cujo preço unitário ronda os dez cêntimos nas farmácias convencionadas em Macau), questionava a dependência portuguesa de materiais de prevenção. Odete Sequeira, tal como muitos que integram comunidade portuguesa, tentou fazer chegar máscaras a Portugal, junto de familiares, num momento em que o material escasseia em território português. “Eu debato-me com um problema sério, que é uma mãe com 90 anos que está num lugar de risco, e um filho com 26 [ambos em Portugal] que, naturalmente, não encara estas dificuldades como eu encaro, como a minha mãe encara, como as pessoas com mais experiência de vida encaram”, explicou. Flexibilidade é difícil O HM procurou explicações junto da Autoridade Tributária em Portugal e dos CTT, mas até ao fecho da edição não obteve respostas. Mas António Castela, vice-presidente da Associação de Inspectores Tributários, explicou, em traços gerais, o que poderá estar em causa. “Elas [máscaras] estão sujeitas a imposições aduaneiras, mas nós não retemos material desse tipo. De uma forma geral, uma mercadoria que chega a Portugal e que vem de um país fora da União Europeia (UE) está sujeita a certificações, algumas autorizações, a direitos aduaneiros e ao pagamento de IVA. Quem faz a apresentação dessa mercadoria na alfândega é responsável por ter a documentação toda pronta e fazer a declaração nesse sentido.” Dessa forma, “se alguém, um particular, manda máscaras via DHL, Correios ou FEDX para pessoas de cá, é evidente que pode ficar sujeito à apresentação do processo de importação”. “A responsabilidade não será da alfândega porque assim que apresentam o processo de importação… digo-lhe que o pior que pode acontecer é de um dia para o outro [em termos de espera para levantamento das encomendas]”, frisou António Castela. O responsável adiantou que será difícil flexibilizar este processo. “Face à falta de máscaras, não sei se deveria haver, por parte do Governo, algumas indicações no sentido de a importação de máscaras estar sujeita a uma situação [mais flexível]. Mas vai ser difícil pois as regras são comunitárias. Os direitos aduaneiros cobrados na Alfândega nem sequer são receita do país, mas sim da UE. Só depois é que a UE envia 25 por cento a cada Estado-membro. Não é uma coisa fácil de contornar”, rematou. Fonte contactada pelo HM adiantou que parte dessas despesas podem estar associadas a custos ligados ao serviço das empresas de expedição de encomendas. Uma factura à qual o HM teve acesso mostra isso mesmo: o envio de 10 máscaras teve um custo de 783 patacas, via DHL, e levou ao pagamento de taxa de desalfandegamento e IVA de cerca de 72 euros. José Pereira Coutinho, conselheiro do Conselho das Comunidades Portuguesas, diz ter contactado as autoridades portuguesas sobre este assunto, estando a aguardar resposta. Governo dá ordens de libertação Entretanto, o portal Plataforma Media escreveu ontem que o Governo português vai mandar libertar as remessas de máscaras retidas na alfândega, segundo fonte próxima deste processo. Segundo revelaram outras fontes da alfândega ao Plataforma, a retenção de algumas remessas deveram-se ao facto de terem chegado “volumes gigantes e sem informação sobre o conteúdo das mesmas”. Esta medida, aliás, de acordo com as mesmas fontes, é tomada “em todas as encomendas com estas características”.
Andreia Sofia Silva China / ÁsiaCovid-19 | Portugal em estado de emergência até ao dia 2 de Abril Com 785 casos confirmados de Covid-19 e três mortes, Portugal adoptou ontem medidas mais restritivas no combate à pandemia. O estado de emergência entrou em vigor à meia-noite de quinta-feira e dura até 2 de Abril. Restringe a circulação de pessoas, que devem sair de casa apenas para o estritamente necessário, e evitar grupos. Negócios essenciais, como supermercados ou bombas de gasolina, mantêm as portas abertas [dropcap]C[/dropcap]onfinamento compulsivo dos cidadãos em casa e restrições à circulação na via pública, excepto com justificação. É assim a vida em Portugal desde a meia-noite de quinta-feira, quando foi decretado o estado de emergência, a primeira vez desde o 25 de Abril de 1974. Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República portuguesa, falou ao país às 20h de quarta-feira para apresentar uma “decisão excepcional, num tempo excepcional”, uma vez que “a pandemia da Covid-19 não é uma qualquer como aquelas que já conhecemos na nossa democracia”. “Está a ser e vai ser mais intensa, vai durar mais tempo até desaparecerem os seus últimos efeitos. Está a ser e vai ser um teste nunca vivido ao nosso Serviço Nacional de Saúde (SNS) e à sociedade portuguesa chamada a uma contenção e a um tratamento em família sem precedentes”, adiantou o Presidente, que falou de um “desafio enorme para a economia” portuguesa, com “efeitos nas exportações, no turismo e no investimento”. Marcelo Rebelo de Sousa comparou o combate à pandemia a uma verdadeira guerra, e destacou o “heroísmo diário no SNS e de todos aqueles que fazem a distribuição de bens essenciais”. Desde que as escolas fecharam esta segunda-feira, que os portugueses começaram a fazer isolamento voluntário em casa. O estado de emergência não decreta o recolher obrigatório nem impõe a quarentena obrigatória. As autoridades pedem que os cidadãos façam a sua vida normal, restringindo, no entanto, as saídas ao estritamente essencial. Estar em casa é palavra de ordem, e mesmo nas cidades mais pequenas os espaços de restauração e lojas fecharam portas. Apesar de não haver falta de bens alimentares, muitos portugueses têm corrido aos supermercados nestes dias, esvaziando as prateleiras. Houve, da parte da Presidência da República, uma tentativa, com o estado de emergência, de “equilibrar contenção no espaço público e nas fronteiras e [assegurar] a não paragem da vida económica e social”. Ontem à tarde foi apresentada a lista final de regras que devem ser cumpridas pelos cidadãos, decididas em Conselho de Ministros, e que passam pelo encerramento dos serviços públicos, a proibição de saídas que não sejam para o trabalho, supermercado, farmácias, passear o cão ou realização de actividades físicas sem ser em grupo. Quanto às actividades económicas só se manterão abertos estabelecimentos comerciais que fornecem bens ou serviços essenciais como padarias, supermercados, mini-mercados. Os restaurantes mantém-se encerrados, mantendo o serviço de entrega de refeições em casa. Além disso, todas as empresas em laboração devem ter em atenção regras da Direcção-geral de Saúde, tal cumprir o afastamento social, atendendo clientes à porta e cumprir regras de higienização. António Costa disse, em conferência de imprensa, que as medidas do estado de emergência não prevêem um isolamento obrigatório para generalidade da população. Este só é aplicado para doentes com Covid-19 ou que estejam sob vigilância activa. O incumprimento é punido por “crime de desobediência”, explicou, cabendo a fiscalização às forças de segurança. Relativamente à restante população, as autoridades e forças de segurança “vão actuar pedagogicamente”. Tal como já tinha dito após a declaração do estado de alerta, e antes de ser decidido o estado de emergência, o primeiro-ministro afirmou que “as pessoas têm cumprido tão bem” que seria “um desrespeito pelos portugueses impor um quadro sancionatório”. Logo na intervenção inicial, Costa afirmou ainda que “a preocupação” do Governo na definição das medidas do estado de emergência foi “assegurar a máxima contenção e o mínimo de perturbação”, sempre tendo em vista encontrar a “melhor forma possível para conter a expansão da pandemia”. Forças Armadas “quando necessário” António Costa afirmou também que as Forças Armadas serão utilizadas no âmbito do estado de emergência “se e quando for necessário” e dentro do quadro legal previsto. “O quadro de intervenção das Forças Armadas no âmbito do estado de emergência está claramente definido na lei e em tudo o que seja necessário poderemos contar com as nossas Forças Armadas para qualquer missão que caiba no quadro legal deste estado de emergência e utilizaremos esse recurso se e quando for necessário”, respondeu o primeiro-ministro. As cinco razões de Marcelo A implementação do estado de emergência foi sendo discutida ao longo de quarta-feira. Marcelo Rebelo de Sousa convocou o Conselho de Estado, órgão consultivo da Presidência, e ouviu também o Governo, que deu parecer positivo. À tarde, a Assembleia da República aprovou a entrada em vigor da medida. O Presidente da República apresentou cinco razões para propor e decretar o estado de emergência. A primeira é o “reforço da solidariedade dos poderes públicos e deles com o povo”, justificando que Portugal precisa de “aprender com os outros” países que, enfrentaram a epidemia há mais tempo e com “passos graduais”, e agora adoptar medidas fortes. “Outros países, que começaram mais cedo do que nós a sofrer a pandemia, ensaiaram os passos graduais e só agora chegaram a decisões mais drásticas. Devemos aprender com os outros e poupar etapas”, frisou. A segunda razão foi a prevenção, para que o Executivo de António Costa, que tem “uma tarefa hercúlea” pela frente, possa “tomar decisões” com rapidez, “ajustadas” e que seja “necessárias no futuro”. Em terceiro ligar, a “certeza”, dado que é preciso prever que um “quadro legal de intervenção” e garantir que, no futuro, não venha a ser “questionado o fundamento jurídico” das decisões. Em quarto lugar está a “contenção”, de forma a garantir que o decreto de estado de emergência não “atinge o essencial dos direitos fundamentais”. Por último, em quinto lugar, o decreto garante flexibilidade na reavaliação da situação do país dentro de 15 dia pelo Governo, tendo em conta a evolução da pandemia. Profissionais de saúde aplaudem Os bastonários das ordens dos Médicos e dos Farmacêuticos concordam e defendem como medida importante o estado de emergência, por ser “absolutamente essencial”, defendeu Miguel Guimarães, bastonário da Ordem dos Médicos (OM). A medida, disse, agradou à generalidade da classe médica e surge porque, acrescentou, se está perante “uma situação muito grave” e “com uma mortalidade bem acima da gripe sazonal”. Olhando para o que a China fez para conter a pandemia, ou Macau, é possível perceber o que se tem de fazer, disse Miguel Guimarães, acrescentando que o Presidente “tomou uma boa atitude” que é um sinal de “bom senso”. Além disso o bastonário recorda que o primeiro-ministro também tomou medidas importantes, como contrariar o Conselho Nacional de Saúde Pública e mandar fechar as escolas. Ana Paula Martins, bastonária da Ordem dos Farmacêuticos, também considerou boa a medida do Presidente da República e acrescentou que, com o estado de emergência, “as normas vão ser intensificadas” e que os portugueses todos juntos vão vencer “a guerra”. Miguel Guimarães apontou que algumas medidas foram tomadas demasiado tarde, que os portugueses também demoraram a perceber a gravidade da situação, e deixou um aviso: “a estratégia de guerra é para ser levada a sério”. O responsável revelou que há um grupo de profissionais que está a trabalhar na possibilidade de serem produzidos ventiladores em Portugal. Ana Paula Martins disse que as farmácias portuguesas são procuradas diariamente por um milhão de pessoas e lamentou que tenha até agora havido “falta de liderança” na luta contra a pandemia. “Não é o momento de apontar o dedo. Mas de dizer que só chegámos a esta situação de uma reacção mais lenta nalgumas medidas porque as lideranças foram desvitalizadas”, disse. A Direcção Geral de Saúde (DGS) está “muito depauperada, sem os recursos que precisa”, e o mesmo se passa com entidades como a Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde ou o Instituto Nacional de Saúde, avisou a bastonária dos farmacêuticos.
Andreia Sofia Silva VozesA nossa vez [dropcap]D[/dropcap]izem que demora tudo a chegar e a acontecer no Alentejo, em Portugal, porque somos lentos e queremos é dormir a sesta debaixo do chaparro. Sem casos de infecção da Covid-19 no distrito, mas estando a uma hora de Lisboa e tão perto de Espanha, permanecemos nas nossas casas e cancelamos todos os nossos compromissos. Lá fora, na cidade pequena, as ruas permanecem pouco diferentes do que sempre foram, mas os cafés fecharam quase todos. Há uns velhos teimosos na taberna que continuam a fugir à excessiva pacatez do lar. Jogam-se cartas, bebem-se uns tintos e mandam-se umas piadas sobre a Covid-19. Piadas de quem passou por guerras e quem já viveu com pouca comida, a trabalhar de sol a sol. Agora há ainda menos que fazer. Observamos as árvores, o campo, o sol e o céu azul, ouvimos os pássaros, privilégio que quem está em Macau não tem. Amigos de Macau, chegou a nossa vez de resistir. Aguardamos tempos difíceis e esperamos que venha o mais que provável Estado de Emergência, talvez decretado hoje, quarta-feira. O mundo parou ainda mais num Alentejo parado. Amigos perguntam-me se podem sair um pouco nas ruas de Lisboa porque não aguentam mais. Desligamos as televisões para não ficarmos paranóicos. O mundo está a dar-nos lições importantes e a inverter peças que julgávamos paradas no seu lugar. Enquanto isso, sonho e penso num mundo livre e de fronteiras abertas.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeAeroporto | CAM acusada de má gestão e de falhas na segurança Um sistema de gestão de bagagens que custou 70 milhões de patacas, mas que nunca foi devidamente implementado, causando graves problemas de segurança. Um hangar provisório onde foram gastos 240 milhões de patacas para um período de apenas oito anos. O Comissariado de Auditoria acusa a CAM – Sociedade do Aeroporto Internacional de Macau de má gestão financeira de ter uma “atitude passiva” [dropcap]A[/dropcap] CAM – Sociedade do Aeroporto Internacional de Macau é acusada pelo Comissariado de Auditoria (CA) de má gestão financeira e de não ter resolvido problemas de segurança graves no aeroporto. O relatório de investigação foi ontem tornado público e remete ao período compreendido entre Janeiro de 2008 e Abril de 2019. Os problemas de segurança referem-se à actualização do sistema de gestão de bagagens do Aeroporto Internacional de Macau (AIM), uma vez que “estas eram recolhidas pelos próprios passageiros e levadas até ao balcão de check-in para serem despachadas”, pelo que, “durante este percurso, podia haver o risco de serem colocados explosivos nas bagagens verificadas”. Perante esta “falha de segurança grave”, a CAM actualizou o sistema de gestão de bagagens, intitulado Baggage Handling System Upgrade (BHS, na sigla inglesa), a fim de implementar “um sistema automático de detecção de explosivos composto por quatro níveis”. Esta actualização custou aos cofres da CAM 70 milhões de patacas mas, devido a falhas de funcionamento, a Autoridade de Aviação Civil de Macau rejeitou o sistema. O CA acusa a CAM de ter tido “uma atitude passiva”, além de ter “ignorado os requisitos definidos nas especificações da concepção do projecto original do BHS sobre a instalação de equipamentos de disponibilização de imagens de raio-X”. Em 2014 ficou definida uma futura actualização, mas o novo equipamento nunca entrou em funcionamento. “Só em Junho de 2018, e após o Governo da RAEM ter instruído a CAM a melhorar a segurança do aeroporto, é que foi criado um grupo de trabalho para acompanhar as questões em causa, tendo o plano de actualização do BHS sido aprovado nove meses depois”, escreve o CA. No entanto, o organismo liderado por Ho Veng On aponta que esta actualização “não foi capaz de resolver completamente os problemas com o BHS, [pois] os riscos mantinham-se”. No hangar O relatório do CA dá ainda conta dos gastos excessivos com a construção de um hangar provisório para aeronaves executivas, no valor de 240 milhões de patacas, para um prazo de utilização de oito anos e meio. “Além de não ter havido suficientes estudos e discussões sobre os rendimentos provenientes do investimento, e de o hangar definitivo para a manutenção de aeronaves executivas entrar em serviço dentro de três anos e cinco meses, os órgãos de administração insistiram em investir 240 milhões de patacas na construção de um hangar provisório que terá de ser demolido dentro de nove anos (excluindo a fase de construção, o hangar terá apenas oito anos e meio de funcionamento efectivo).” Desde a entrada em funcionamento do hangar provisório até à sua demolição, as perdas financeiras, de acordo com preços actuais, “rondariam entre 80 e 166 milhões de patacas”, aponta o CA. O hangar provisório passou a funcionar na óptica da manutenção, reparação e revisão de aeronaves, mas quando o contrato com a empresa que presta serviços terminou, a CAM não encontrou outra entidade substituta. Perante isto, o hangar provisório passou a servir apenas para estacionar aeronaves, com uma taxa de ocupação inferior a 75 por cento. O CA conclui, assim, que “não havendo serviços de manutenção para atrair mais clientes, o hangar provisório de aviação executiva acabou por não alcançar os benefícios económicos previstos”. Como resposta, a CAM declarou que “o resultado das medidas aplicadas não é satisfatório”, uma vez que “os departamentos e entidades da especialidade envolvidos poderiam ter intensificado esforços na coordenação, assim como o órgão de administração poderia ter intervindo mais activamente”. A CAM frisou também que estão a ser adoptadas “medidas para reforçar a inspecção dos departamentos envolvidos”, além de estarem a ser estudadas “as situações e questões referidas no relatório de auditoria”. CAM | Secretário diz que “empresa tem de resolver os problemas” O secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, disse ontem não ser necessário um segundo relatório de acompanhamento à resolução dos problemas apontados pelo Comissariado de Auditoria, mas garantiu que a Autoridade de Aviação Civil de Macau (AACM) vai assegurar a fiscalização. “Falei com a AACM no sentido de reforçar a fiscalização relativamente a tudo, mas em particular às matérias que estão referidas no relatório. A empresa [a CAM] é uma entidade autónoma, não é do Governo, mas a sua actividade está sujeita a regulação da AACM, mas não compete a esta resolver o problema, mas sim à companhia. Os problemas que estão no relatório têm de ser resolvidos e é a empresa que tem de fazer isso”, declarou.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeAeroporto | CAM acusada de má gestão e de falhas na segurança Um sistema de gestão de bagagens que custou 70 milhões de patacas, mas que nunca foi devidamente implementado, causando graves problemas de segurança. Um hangar provisório onde foram gastos 240 milhões de patacas para um período de apenas oito anos. O Comissariado de Auditoria acusa a CAM – Sociedade do Aeroporto Internacional de Macau de má gestão financeira de ter uma “atitude passiva” [dropcap]A[/dropcap] CAM – Sociedade do Aeroporto Internacional de Macau é acusada pelo Comissariado de Auditoria (CA) de má gestão financeira e de não ter resolvido problemas de segurança graves no aeroporto. O relatório de investigação foi ontem tornado público e remete ao período compreendido entre Janeiro de 2008 e Abril de 2019. Os problemas de segurança referem-se à actualização do sistema de gestão de bagagens do Aeroporto Internacional de Macau (AIM), uma vez que “estas eram recolhidas pelos próprios passageiros e levadas até ao balcão de check-in para serem despachadas”, pelo que, “durante este percurso, podia haver o risco de serem colocados explosivos nas bagagens verificadas”. Perante esta “falha de segurança grave”, a CAM actualizou o sistema de gestão de bagagens, intitulado Baggage Handling System Upgrade (BHS, na sigla inglesa), a fim de implementar “um sistema automático de detecção de explosivos composto por quatro níveis”. Esta actualização custou aos cofres da CAM 70 milhões de patacas mas, devido a falhas de funcionamento, a Autoridade de Aviação Civil de Macau rejeitou o sistema. O CA acusa a CAM de ter tido “uma atitude passiva”, além de ter “ignorado os requisitos definidos nas especificações da concepção do projecto original do BHS sobre a instalação de equipamentos de disponibilização de imagens de raio-X”. Em 2014 ficou definida uma futura actualização, mas o novo equipamento nunca entrou em funcionamento. “Só em Junho de 2018, e após o Governo da RAEM ter instruído a CAM a melhorar a segurança do aeroporto, é que foi criado um grupo de trabalho para acompanhar as questões em causa, tendo o plano de actualização do BHS sido aprovado nove meses depois”, escreve o CA. No entanto, o organismo liderado por Ho Veng On aponta que esta actualização “não foi capaz de resolver completamente os problemas com o BHS, [pois] os riscos mantinham-se”. No hangar O relatório do CA dá ainda conta dos gastos excessivos com a construção de um hangar provisório para aeronaves executivas, no valor de 240 milhões de patacas, para um prazo de utilização de oito anos e meio. “Além de não ter havido suficientes estudos e discussões sobre os rendimentos provenientes do investimento, e de o hangar definitivo para a manutenção de aeronaves executivas entrar em serviço dentro de três anos e cinco meses, os órgãos de administração insistiram em investir 240 milhões de patacas na construção de um hangar provisório que terá de ser demolido dentro de nove anos (excluindo a fase de construção, o hangar terá apenas oito anos e meio de funcionamento efectivo).” Desde a entrada em funcionamento do hangar provisório até à sua demolição, as perdas financeiras, de acordo com preços actuais, “rondariam entre 80 e 166 milhões de patacas”, aponta o CA. O hangar provisório passou a funcionar na óptica da manutenção, reparação e revisão de aeronaves, mas quando o contrato com a empresa que presta serviços terminou, a CAM não encontrou outra entidade substituta. Perante isto, o hangar provisório passou a servir apenas para estacionar aeronaves, com uma taxa de ocupação inferior a 75 por cento. O CA conclui, assim, que “não havendo serviços de manutenção para atrair mais clientes, o hangar provisório de aviação executiva acabou por não alcançar os benefícios económicos previstos”. Como resposta, a CAM declarou que “o resultado das medidas aplicadas não é satisfatório”, uma vez que “os departamentos e entidades da especialidade envolvidos poderiam ter intensificado esforços na coordenação, assim como o órgão de administração poderia ter intervindo mais activamente”. A CAM frisou também que estão a ser adoptadas “medidas para reforçar a inspecção dos departamentos envolvidos”, além de estarem a ser estudadas “as situações e questões referidas no relatório de auditoria”. CAM | Secretário diz que “empresa tem de resolver os problemas” O secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, disse ontem não ser necessário um segundo relatório de acompanhamento à resolução dos problemas apontados pelo Comissariado de Auditoria, mas garantiu que a Autoridade de Aviação Civil de Macau (AACM) vai assegurar a fiscalização. “Falei com a AACM no sentido de reforçar a fiscalização relativamente a tudo, mas em particular às matérias que estão referidas no relatório. A empresa [a CAM] é uma entidade autónoma, não é do Governo, mas a sua actividade está sujeita a regulação da AACM, mas não compete a esta resolver o problema, mas sim à companhia. Os problemas que estão no relatório têm de ser resolvidos e é a empresa que tem de fazer isso”, declarou.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeAeroporto | CAM acusada de má gestão e de falhas na segurança Um sistema de gestão de bagagens que custou 70 milhões de patacas, mas que nunca foi devidamente implementado, causando graves problemas de segurança. Um hangar provisório onde foram gastos 240 milhões de patacas para um período de apenas oito anos. O Comissariado de Auditoria acusa a CAM – Sociedade do Aeroporto Internacional de Macau de má gestão financeira de ter uma “atitude passiva” [dropcap]A[/dropcap] CAM – Sociedade do Aeroporto Internacional de Macau é acusada pelo Comissariado de Auditoria (CA) de má gestão financeira e de não ter resolvido problemas de segurança graves no aeroporto. O relatório de investigação foi ontem tornado público e remete ao período compreendido entre Janeiro de 2008 e Abril de 2019. Os problemas de segurança referem-se à actualização do sistema de gestão de bagagens do Aeroporto Internacional de Macau (AIM), uma vez que “estas eram recolhidas pelos próprios passageiros e levadas até ao balcão de check-in para serem despachadas”, pelo que, “durante este percurso, podia haver o risco de serem colocados explosivos nas bagagens verificadas”. Perante esta “falha de segurança grave”, a CAM actualizou o sistema de gestão de bagagens, intitulado Baggage Handling System Upgrade (BHS, na sigla inglesa), a fim de implementar “um sistema automático de detecção de explosivos composto por quatro níveis”. Esta actualização custou aos cofres da CAM 70 milhões de patacas mas, devido a falhas de funcionamento, a Autoridade de Aviação Civil de Macau rejeitou o sistema. O CA acusa a CAM de ter tido “uma atitude passiva”, além de ter “ignorado os requisitos definidos nas especificações da concepção do projecto original do BHS sobre a instalação de equipamentos de disponibilização de imagens de raio-X”. Em 2014 ficou definida uma futura actualização, mas o novo equipamento nunca entrou em funcionamento. “Só em Junho de 2018, e após o Governo da RAEM ter instruído a CAM a melhorar a segurança do aeroporto, é que foi criado um grupo de trabalho para acompanhar as questões em causa, tendo o plano de actualização do BHS sido aprovado nove meses depois”, escreve o CA. No entanto, o organismo liderado por Ho Veng On aponta que esta actualização “não foi capaz de resolver completamente os problemas com o BHS, [pois] os riscos mantinham-se”. No hangar O relatório do CA dá ainda conta dos gastos excessivos com a construção de um hangar provisório para aeronaves executivas, no valor de 240 milhões de patacas, para um prazo de utilização de oito anos e meio. “Além de não ter havido suficientes estudos e discussões sobre os rendimentos provenientes do investimento, e de o hangar definitivo para a manutenção de aeronaves executivas entrar em serviço dentro de três anos e cinco meses, os órgãos de administração insistiram em investir 240 milhões de patacas na construção de um hangar provisório que terá de ser demolido dentro de nove anos (excluindo a fase de construção, o hangar terá apenas oito anos e meio de funcionamento efectivo).” Desde a entrada em funcionamento do hangar provisório até à sua demolição, as perdas financeiras, de acordo com preços actuais, “rondariam entre 80 e 166 milhões de patacas”, aponta o CA. O hangar provisório passou a funcionar na óptica da manutenção, reparação e revisão de aeronaves, mas quando o contrato com a empresa que presta serviços terminou, a CAM não encontrou outra entidade substituta. Perante isto, o hangar provisório passou a servir apenas para estacionar aeronaves, com uma taxa de ocupação inferior a 75 por cento. O CA conclui, assim, que “não havendo serviços de manutenção para atrair mais clientes, o hangar provisório de aviação executiva acabou por não alcançar os benefícios económicos previstos”. Como resposta, a CAM declarou que “o resultado das medidas aplicadas não é satisfatório”, uma vez que “os departamentos e entidades da especialidade envolvidos poderiam ter intensificado esforços na coordenação, assim como o órgão de administração poderia ter intervindo mais activamente”. A CAM frisou também que estão a ser adoptadas “medidas para reforçar a inspecção dos departamentos envolvidos”, além de estarem a ser estudadas “as situações e questões referidas no relatório de auditoria”. CAM | Secretário diz que “empresa tem de resolver os problemas” O secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, disse ontem não ser necessário um segundo relatório de acompanhamento à resolução dos problemas apontados pelo Comissariado de Auditoria, mas garantiu que a Autoridade de Aviação Civil de Macau (AACM) vai assegurar a fiscalização. “Falei com a AACM no sentido de reforçar a fiscalização relativamente a tudo, mas em particular às matérias que estão referidas no relatório. A empresa [a CAM] é uma entidade autónoma, não é do Governo, mas a sua actividade está sujeita a regulação da AACM, mas não compete a esta resolver o problema, mas sim à companhia. Os problemas que estão no relatório têm de ser resolvidos e é a empresa que tem de fazer isso”, declarou.
Andreia Sofia Silva SociedadeAmbiente | DSPA começa a receber elogios dos activistas Director dos Serviços de Protecção Ambiental desde 2016, Raymond Tam está a fazer um bom trabalho, de acordo com activistas ouvidos pelo HM, implementando políticas de reciclagem e contenção de resíduos e melhorando a comunicação com associações de defesa do meio-ambiente. No entanto, a activista Annie Lao diz ser necessário ir mais além [dropcap]D[/dropcap]ois activistas de defesa do meio ambiente em Macau defendem que Raymond Tam está a fazer um bom trabalho ao leme da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), cargo que ocupa desde 2016 e que vai manter até Março de 2021. No entanto, e apesar da implementação de mais medidas de reciclagem e da taxa pelo uso de sacos de plástico, faltam acções mais efectivas, defende a activista Annie Lao. Por outro lado, Joe Chan mostra-se mais optimista. “No último ano, a DSPA lançou uma série de programas para promover a reciclagem eficiente, tal como a recolha de lixo electrónico e a cobrança por sacos de plástico”, recordou Joe Chan ao HM. O activista aponta ainda o facto da DSPA ter “aumentado o número de pontos de recolha de reciclagem e investido mais na promoção e educação para a área ambiental”. “Sem dúvida que houve uma mudança significativa com tomada de posse de Raymond Tam”, frisou Joe Chan, que acrescenta ainda a melhoria ao nível da comunicação como um dos trunfos do director da DSPA. “[Raymond Tam], se compararmos com os anteriores directores, é mais eficiente a implementar mudanças e corajoso o suficiente para assumir responsabilidades. Faço uma avaliação positiva, pois as associações ambientais locais conseguiram reunir directamente com ele quando, no passado, a DSPA olhava para nós como criadores de problemas em vez de parceiros.” Não chega Annie Lao, que iniciou a luta pela redução do uso do plástico, contou ao HM que notou “melhorias” no trabalho desempenhado pela DSPA. No entanto, a situação “está ainda longe de ser ideal”, uma vez que “todo o trabalho levado a cabo pelo Governo continua a ser muito básico”. “Peço ao Executivo que implemente um calendário com carácter de urgência e uma nova lei segundo a regra do ‘poluidor-pagador’, além de decretar a reciclagem obrigatória o mais depressa possível”, disse. A activista recorda, contudo, que o trabalho desenvolvido pela DSPA teve uma evolução positiva a partir do momento em que os residentes iniciaram várias acções em 2018 e 2019, tal como a petição para reduzir ou banir o uso do plástico ou os pedidos para a remoção de lixo nas zonas costeiras. A escolha de Raymond Tam para o cargo de director da DSPA marcou o regresso às funções de chefia na Administração pública depois do processo judicial em que foi absolvido do crime de prevaricação.
Andreia Sofia Silva SociedadeAmbiente | DSPA começa a receber elogios dos activistas Director dos Serviços de Protecção Ambiental desde 2016, Raymond Tam está a fazer um bom trabalho, de acordo com activistas ouvidos pelo HM, implementando políticas de reciclagem e contenção de resíduos e melhorando a comunicação com associações de defesa do meio-ambiente. No entanto, a activista Annie Lao diz ser necessário ir mais além [dropcap]D[/dropcap]ois activistas de defesa do meio ambiente em Macau defendem que Raymond Tam está a fazer um bom trabalho ao leme da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), cargo que ocupa desde 2016 e que vai manter até Março de 2021. No entanto, e apesar da implementação de mais medidas de reciclagem e da taxa pelo uso de sacos de plástico, faltam acções mais efectivas, defende a activista Annie Lao. Por outro lado, Joe Chan mostra-se mais optimista. “No último ano, a DSPA lançou uma série de programas para promover a reciclagem eficiente, tal como a recolha de lixo electrónico e a cobrança por sacos de plástico”, recordou Joe Chan ao HM. O activista aponta ainda o facto da DSPA ter “aumentado o número de pontos de recolha de reciclagem e investido mais na promoção e educação para a área ambiental”. “Sem dúvida que houve uma mudança significativa com tomada de posse de Raymond Tam”, frisou Joe Chan, que acrescenta ainda a melhoria ao nível da comunicação como um dos trunfos do director da DSPA. “[Raymond Tam], se compararmos com os anteriores directores, é mais eficiente a implementar mudanças e corajoso o suficiente para assumir responsabilidades. Faço uma avaliação positiva, pois as associações ambientais locais conseguiram reunir directamente com ele quando, no passado, a DSPA olhava para nós como criadores de problemas em vez de parceiros.” Não chega Annie Lao, que iniciou a luta pela redução do uso do plástico, contou ao HM que notou “melhorias” no trabalho desempenhado pela DSPA. No entanto, a situação “está ainda longe de ser ideal”, uma vez que “todo o trabalho levado a cabo pelo Governo continua a ser muito básico”. “Peço ao Executivo que implemente um calendário com carácter de urgência e uma nova lei segundo a regra do ‘poluidor-pagador’, além de decretar a reciclagem obrigatória o mais depressa possível”, disse. A activista recorda, contudo, que o trabalho desenvolvido pela DSPA teve uma evolução positiva a partir do momento em que os residentes iniciaram várias acções em 2018 e 2019, tal como a petição para reduzir ou banir o uso do plástico ou os pedidos para a remoção de lixo nas zonas costeiras. A escolha de Raymond Tam para o cargo de director da DSPA marcou o regresso às funções de chefia na Administração pública depois do processo judicial em que foi absolvido do crime de prevaricação.
Andreia Sofia Silva SociedadeAmbiente | DSPA começa a receber elogios dos activistas Director dos Serviços de Protecção Ambiental desde 2016, Raymond Tam está a fazer um bom trabalho, de acordo com activistas ouvidos pelo HM, implementando políticas de reciclagem e contenção de resíduos e melhorando a comunicação com associações de defesa do meio-ambiente. No entanto, a activista Annie Lao diz ser necessário ir mais além [dropcap]D[/dropcap]ois activistas de defesa do meio ambiente em Macau defendem que Raymond Tam está a fazer um bom trabalho ao leme da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), cargo que ocupa desde 2016 e que vai manter até Março de 2021. No entanto, e apesar da implementação de mais medidas de reciclagem e da taxa pelo uso de sacos de plástico, faltam acções mais efectivas, defende a activista Annie Lao. Por outro lado, Joe Chan mostra-se mais optimista. “No último ano, a DSPA lançou uma série de programas para promover a reciclagem eficiente, tal como a recolha de lixo electrónico e a cobrança por sacos de plástico”, recordou Joe Chan ao HM. O activista aponta ainda o facto da DSPA ter “aumentado o número de pontos de recolha de reciclagem e investido mais na promoção e educação para a área ambiental”. “Sem dúvida que houve uma mudança significativa com tomada de posse de Raymond Tam”, frisou Joe Chan, que acrescenta ainda a melhoria ao nível da comunicação como um dos trunfos do director da DSPA. “[Raymond Tam], se compararmos com os anteriores directores, é mais eficiente a implementar mudanças e corajoso o suficiente para assumir responsabilidades. Faço uma avaliação positiva, pois as associações ambientais locais conseguiram reunir directamente com ele quando, no passado, a DSPA olhava para nós como criadores de problemas em vez de parceiros.” Não chega Annie Lao, que iniciou a luta pela redução do uso do plástico, contou ao HM que notou “melhorias” no trabalho desempenhado pela DSPA. No entanto, a situação “está ainda longe de ser ideal”, uma vez que “todo o trabalho levado a cabo pelo Governo continua a ser muito básico”. “Peço ao Executivo que implemente um calendário com carácter de urgência e uma nova lei segundo a regra do ‘poluidor-pagador’, além de decretar a reciclagem obrigatória o mais depressa possível”, disse. A activista recorda, contudo, que o trabalho desenvolvido pela DSPA teve uma evolução positiva a partir do momento em que os residentes iniciaram várias acções em 2018 e 2019, tal como a petição para reduzir ou banir o uso do plástico ou os pedidos para a remoção de lixo nas zonas costeiras. A escolha de Raymond Tam para o cargo de director da DSPA marcou o regresso às funções de chefia na Administração pública depois do processo judicial em que foi absolvido do crime de prevaricação.
Andreia Sofia Silva SociedadeCovid-19 | Macau impõe quarentena a todos os países à excepção da China, Taiwan e Hong Kong [dropcap]O[/dropcap] Governo de Macau anunciou ontem que a partir das 00h00 de terça-feira quem chegar ao território, com excepção da China continental, Taiwan e Hong Kong, terá de ficar em quarentena de 14 dias. Esta medida é imposta a “todos os indivíduos que viajaram para estes países nos 14 dias anteriores à entrada no território”, disse, reforçando: “Têm de estar sujeitos a 14 dias de observação médica”, afirmou a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Ieong U, em conferência de imprensa. A responsável explicou que o local onde será feita a quarentena é indicado pelos Serviços de Saúde. “Não é ele [a pessoa] a optar onde fica sujeito a observação médica, quem escolhe são os serviços de saúde”, frisou. Qualquer pessoa, quer seja residente, trabalhador não residente, ou turista, que tenha estado num país considerado de alta incidência epidémica será reencaminhado para um hotel designado pelas autoridades. Caso o país não seja considerado de alta incidência epidémica, Ao Ieong U explicou que depois de avaliação, podem ficar isolados em casa para serem sujeitos a observação médica de 14 dias. Haja ponderação A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Ieong U, pediu ainda ponderação a todos os que estejam a regressar do estrangeiro para Macau, incluindo residentes e estudantes. “As pessoas que residem no exterior, quando tomarem uma decisão devem reconsiderar bem se voltam a Macau ou não e devem ponderar todos os riscos durante a viagem. Para quem decide ficar deve tomar todas as medidas de precaução”, disse. O Governo de Macau providencia ajuda no transporte do Aeroporto Internacional de Hong Kong para residentes de Macau que viajem entre hoje e domingo, dia 22. Para providenciar uma segunda ronda de transporte, o Governo promete analisar a medida de apoio. “Se não conseguirem viajar entre os dias 17 e 22, podem comprar bilhete de avião para depois e tentarem inscrever-se, para que tentemos enviar transporte”, disse Inês Chan, representante da Direcção dos Serviços de Turismo (DST). Até ao momento o Gabinete de Gestão de Crises de Turismo (GGCT) recebeu 246 pedidos de registo, havendo 19 pessoas ainda sem voo marcado.
Andreia Sofia Silva SociedadeCovid-19 | Macau impõe quarentena a todos os países à excepção da China, Taiwan e Hong Kong [dropcap]O[/dropcap] Governo de Macau anunciou ontem que a partir das 00h00 de terça-feira quem chegar ao território, com excepção da China continental, Taiwan e Hong Kong, terá de ficar em quarentena de 14 dias. Esta medida é imposta a “todos os indivíduos que viajaram para estes países nos 14 dias anteriores à entrada no território”, disse, reforçando: “Têm de estar sujeitos a 14 dias de observação médica”, afirmou a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Ieong U, em conferência de imprensa. A responsável explicou que o local onde será feita a quarentena é indicado pelos Serviços de Saúde. “Não é ele [a pessoa] a optar onde fica sujeito a observação médica, quem escolhe são os serviços de saúde”, frisou. Qualquer pessoa, quer seja residente, trabalhador não residente, ou turista, que tenha estado num país considerado de alta incidência epidémica será reencaminhado para um hotel designado pelas autoridades. Caso o país não seja considerado de alta incidência epidémica, Ao Ieong U explicou que depois de avaliação, podem ficar isolados em casa para serem sujeitos a observação médica de 14 dias. Haja ponderação A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Ieong U, pediu ainda ponderação a todos os que estejam a regressar do estrangeiro para Macau, incluindo residentes e estudantes. “As pessoas que residem no exterior, quando tomarem uma decisão devem reconsiderar bem se voltam a Macau ou não e devem ponderar todos os riscos durante a viagem. Para quem decide ficar deve tomar todas as medidas de precaução”, disse. O Governo de Macau providencia ajuda no transporte do Aeroporto Internacional de Hong Kong para residentes de Macau que viajem entre hoje e domingo, dia 22. Para providenciar uma segunda ronda de transporte, o Governo promete analisar a medida de apoio. “Se não conseguirem viajar entre os dias 17 e 22, podem comprar bilhete de avião para depois e tentarem inscrever-se, para que tentemos enviar transporte”, disse Inês Chan, representante da Direcção dos Serviços de Turismo (DST). Até ao momento o Gabinete de Gestão de Crises de Turismo (GGCT) recebeu 246 pedidos de registo, havendo 19 pessoas ainda sem voo marcado.
Andreia Sofia Silva SociedadeCovid-19 | Macau impõe quarentena a todos os países à excepção da China, Taiwan e Hong Kong [dropcap]O[/dropcap] Governo de Macau anunciou ontem que a partir das 00h00 de terça-feira quem chegar ao território, com excepção da China continental, Taiwan e Hong Kong, terá de ficar em quarentena de 14 dias. Esta medida é imposta a “todos os indivíduos que viajaram para estes países nos 14 dias anteriores à entrada no território”, disse, reforçando: “Têm de estar sujeitos a 14 dias de observação médica”, afirmou a secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Ieong U, em conferência de imprensa. A responsável explicou que o local onde será feita a quarentena é indicado pelos Serviços de Saúde. “Não é ele [a pessoa] a optar onde fica sujeito a observação médica, quem escolhe são os serviços de saúde”, frisou. Qualquer pessoa, quer seja residente, trabalhador não residente, ou turista, que tenha estado num país considerado de alta incidência epidémica será reencaminhado para um hotel designado pelas autoridades. Caso o país não seja considerado de alta incidência epidémica, Ao Ieong U explicou que depois de avaliação, podem ficar isolados em casa para serem sujeitos a observação médica de 14 dias. Haja ponderação A secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Ao Ieong U, pediu ainda ponderação a todos os que estejam a regressar do estrangeiro para Macau, incluindo residentes e estudantes. “As pessoas que residem no exterior, quando tomarem uma decisão devem reconsiderar bem se voltam a Macau ou não e devem ponderar todos os riscos durante a viagem. Para quem decide ficar deve tomar todas as medidas de precaução”, disse. O Governo de Macau providencia ajuda no transporte do Aeroporto Internacional de Hong Kong para residentes de Macau que viajem entre hoje e domingo, dia 22. Para providenciar uma segunda ronda de transporte, o Governo promete analisar a medida de apoio. “Se não conseguirem viajar entre os dias 17 e 22, podem comprar bilhete de avião para depois e tentarem inscrever-se, para que tentemos enviar transporte”, disse Inês Chan, representante da Direcção dos Serviços de Turismo (DST). Até ao momento o Gabinete de Gestão de Crises de Turismo (GGCT) recebeu 246 pedidos de registo, havendo 19 pessoas ainda sem voo marcado.
Andreia Sofia Silva EntrevistaAltamiro da Costa Pereira, director da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto: “Negação em nada ajuda” Horas antes do Conselho Nacional de Saúde reunir, em Portugal, e dias antes das escolas encerrarem por todo o país devido à pandemia da Covid-19, o director da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto escreveu uma carta a destacar o bom exemplo de Macau. Em entrevista, diz que o território “tomou medidas que se vieram a verificar correctas” e que o sistema de saúde público português não está preparado para este surto [dropcap]A[/dropcap] Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou o surto do novo coronavírus uma pandemia. É uma declaração que peca por tardia? Acho que sim. Na verdade, há muito que existiam critérios técnicos para essa declaração, mas talvez a OMS tenha preferido adiar esta designação por critérios de natureza política, de modo a minorar o impacto público dessa declaração. Na carta que enviou ao Conselho Nacional de Saúde, destacou o facto de, à altura, Macau já não ter doentes ou novas infecções com a Covid-19. É um exemplo que as autoridades portuguesas deveriam ter seguido desde o início? Cada território tem as suas particularidades. Sejam elas geográficas, culturais ou políticas. E é muito difícil fazer julgamentos quando não estamos na pele de quem tem o poder, a legitimidade e a obrigação de tomar este tipo de decisões. Mas os factos falam hoje por si. E sim, acho que Macau tomou todo um conjunto de decisões e de medidas que se vieram a revelar correctas. E, contra os factos já conhecidos em Macau não há argumentos. O Governo português não viu os sinais de alerta a tempo, quando teve meses para se preparar desde os primeiros casos, em Dezembro? Repito o que já disse. É muito difícil fazer julgamentos quando não estamos na pele de quem tem a legitimidade e a obrigação de tomar este tipo de decisões. Na verdade, desconheço as razões porque o não fizeram, mas tenho também a certeza de que haverá muitas variáveis que, por não estar nessa pele, desconheço. Mas sim, neste momento acho que estaremos todos de acordo que se deveria ter feito mais. E que ainda falta fazer mais! Não só em Portugal, mas em muitos outros países. O que mais o preocupa na capacidade de resposta do sistema de saúde em Portugal? A eventual falta de sensibilização ou de reconhecimento, tanto por parte dos responsáveis da saúde como da população em geral, relativamente ao grave risco que a pandemia de Covid-19 representa para as pessoas e a sustentabilidade do sistema nacional de saúde. Na verdade, nem o nosso Serviço Nacional de Saúde nem qualquer outro sistema está preparado para uma sobrecarga destas. Mas o estado de negação em nada ajuda a nos preparar para o pior. Na carta que escreveu menciona “os graus de liberdade inerentes às democracias”. Considera que as medidas restritivas impostas pela China foram as mais adequadas e necessárias. Há aqui uma politização da questão? Não creio. Sou um fervoroso adepto da liberdade e da democracia. E não defendo por isso mesmo qualquer ditadura ou sequer democracias musculadas. Mas, em alguns casos, os “graus de liberdade inerentes às democracias” e até poderia acrescentar “ocidentais” podem não ajudar a uma tomada de decisão firme e atempada. Mas isso dependerá, sobretudo, do tal grau de reconhecimento do risco por parte de um dado governo. E, nalguns casos, dependerá ainda muito de quem num dado momento influencia as decisões desses governos ou autoridades de saúde. Como devemos olhar para este novo coronavírus em termos de metodologias terapêuticas e formas de abordar esta pandemia? Penso que ninguém terá dúvidas acerca do desconhecimento deste vírus. Mas, penso também que enquanto não existirem medicamentos mais específicos e inovadores, a utilização de métodos de tratamento convencionais, e já provados como eficazes, será uma medida adequada. A carta de alerta Em busca de “medidas mais restritivas” Foi no passado dia 11 de Março, quando Portugal ainda não tinha chegado a uma centena de casos de infecção pelo vírus SARS-CoV-2 e quando as escolas estavam a dias de fechar portas, que Altamiro da Costa Pereira disse de sua justiça numa carta enviada ao Conselho Nacional de Saúde. O especialista em Epidemiologia e Saúde Pública alertou para a necessidade se tomarem, “com urgência, medidas mais restritivas que possam ainda vir a conter esta grave pandemia” em Portugal. O director da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto frisou o caso bem-sucedido de Macau no combate ao novo coronavírus. “Na China, uma vez reconhecida a magnitude do problema, rapidamente foram colocadas em prática medidas de quarentena cuja efectividade é hoje por demais notória. De facto, Wuhan começa a voltar à normalidade, Macau já não tem novos casos há mais de um mês, e em território chinês teme-se agora os casos importados! Já a Itália demorou mais tempo a tomar medidas mais restritivas, agindo maioritariamente de forma reactiva à medida que o número de novos casos disparava (e com os graus de liberdade inerentes às democracias)”, aponta. De frisar que Macau teve, entretanto, um caso importado, precisamente, da cidade do Porto, depois de ter estado 40 dias sem novas infecções. Uma questão de “timing” Na mesma carta, Altamiro da Costa Pereira defende que “o ‘timing’ para adopção das inevitáveis medidas mais restritivas em Portugal poderá ter importantes consequências. Na verdade, é possível fazê-lo agora e prevenir ao máximo o número de novos casos de infecção, ou é possível manter a atitude que tem sido adoptada de apenas actuar quando surgem novos casos”. “Por mais problemas sociais ou prejuízos económicos que venham a existir, no imediato – face às eventuais medidas de contenção que urge serem tomadas –, estes serão certamente bem menores do que aqueles que poderão advir dentro de duas a quatro semanas quando enfrentarmos o pico da epidemia, já com um SNS exaurido e uma população desamparada e desiludida”. Neste seu contributo no âmbito da pandemia de Covid-19, em Portugal, Altamiro da Costa Pereira afirma que a sua “principal preocupação tem que ver com a limitada capacidade de resposta do SNS para enfrentar uma sobrecarga de procura”. “Se as dificuldades do SNS já eram evidentes antes da pandemia por Covid-19 (algo que se verifica, por exemplo, na dificuldade de manter urgências abertas e funcionais de alguns serviços hospitalares) e se a Linha de Saúde SNS24 já não consegue dar resposta a todas as chamadas neste preciso momento, é de esperar o pior – ou seja, uma situação mais próxima do colapso – com o passar do tempo e subsequente aumento exponencial do número de casos de infecção Covid-19”, sustentou. Actuar de forma rápida Considerando que a voz do Conselho Nacional de Saúde Pública será muito importante para o aconselhamento das autoridades de saúde e do Governo português, Altamiro da Costa Pereira defende que “actuar rapidamente de forma preventiva e efectiva parece-me ser uma absoluta necessidade nesta fase de evolução da epidemia”. “De facto, embora o enfrentamento de uma epidemia destas proporções e num mundo de tal forma globalizado seja algo inédito para todos nós, o facto de os primeiros casos de infecção Covid-19 em Portugal terem sido diagnosticados mais tardiamente que na maioria dos restantes países europeus abre-nos uma janela de oportunidade para implementarmos medidas efectivas de forma preventiva”, considerou o director da Faculdade de Medicina do Porto. Em seu entender, “é ilusório pensar que os próximos dias/semanas não trarão consigo muitos mais novos casos de infecção Covid-19. Nesse sentido, vale a pena olhar para os dois países com um maior número de casos confirmados de infecção e para o modo como foram capazes de responder à mesma”. No final, sublinha o especialista, Itália acabou por ter de decretar quarentena, mas quando o fez já mais de 9000 pessoas tinham sido infectadas e mais de 400 tinham morrido. Acresce que nos hospitais italianos, já há relatos da necessidade de fazer opções relativamente a quem tratar, e o descontrolo italiano foi parte da causa da rápida disseminação da infecção a outros países europeus. “A Itália mostra-nos que este último caminho pode revelar-se demasiadamente perigoso, tanto em termos humanos como em termos socioeconómicos”, frisa.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeCovid-19 | Residentes de Macau enviam máscaras para Portugal No início da crise epidémica, as máscaras eram enviadas da Europa para a Ásia, mas com o aumento do número de casos da Covid-19 são vários os residentes que estão a mandar máscaras para Portugal para amigos e familiares. Temem a falta deste tipo de equipamento que, aos poucos, começa a ser usado nas ruas, mas cujo uso não é ainda obrigatório [dropcap]C[/dropcap]om cada vez mais casos de Covid-19 na Europa, muitos residentes de Macau revelam-se preocupados com a falta de material de protecção em Portugal, numa altura em que, com 245 casos de infecção confirmados, continua a não ser obrigatório o uso de máscara. Neste sentido, são várias as pessoas que, de Macau, têm vindo a adquirir máscaras nas farmácias ou em plataformas de comércio online, como o Taobao, e as têm enviado para Portugal, para amigos e familiares. Rita Gonçalves, professora de yoga, enviou cinco pacotes de máscaras, em que cada um contém 50 máscaras simples, incluindo protecção para crianças. “Fartei-me de ver pessoas a dizer que não conseguiam arranjar máscaras e, em vez de ficar preocupada e frustrada, resolvi passar à acção. Se toda a gente enviar ajuda é mais fácil evitar tanta contaminação”, disse. A residente de Macau defende que as autoridades portuguesas não estão a ser tão rápidas a reagir na prevenção do surto como as autoridades de Macau. “Lá continuam a papaguear aos profissionais de saúde que a máscara é só para quem apresenta sintomas. Tenho dois primos que são enfermeiros e esse foi um factor decisivo, porque posso ajudar quem está mesmo perto de quem já está contaminado”, disse ao HM. Catarina Baptista, que trabalha como bibliotecária, também tem vindo a ouvir relatos directos de profissionais de saúde portugueses, um alerta que a fez agir. “Há um receio que faltem materiais e eles notam mesmo que os outros profissionais de saúde não estão muito atentos ou têm comportamentos de risco.” Cada residente tem direito a levantar 10 máscaras para 10 dias providenciadas pelos Serviços de Saúde de Macau (SSM), mediante a apresentação do Bilhete de Identidade de Residente (BIR). No entanto, fora desta remessa há outras máscaras, provenientes de outros locais, que podem ser adquiridas. Catarina Baptista diz já ter visto máscaras coreanas ou mesmo portuguesas. “Vou mandar máscaras para Portugal por duas razões. Tenho familiares que estão em grupos de risco, como idosos ou doentes cardiovasculares e diabetes. E vejo que em Portugal ninguém está a levar esta situação a sério, além de que as recomendações não são as mais adequadas”, frisou. Ajudas mútuas Nas redes sociais, há relatos de filas para o envio de remessas para Portugal, bem como de pessoas que enviaram centenas de máscaras. No caso de Tatiana Rocha, vai voltar a enviar máscaras que já tinha adquirido em Portugal, quando o surto da Covid-19 chegou à China. “Comprei máscaras em Portugal e trouxe-as para cá para nós usarmos e para darmos a amigos, mas agora vou enviar de volta”, contou ao HM. “Sinto que em Macau não nos falta ajuda nessa questão, portanto não precisamos de ter tantas em casa. Vou enviar apenas para prevenção da minha família, amigos e pessoas que precisarem. Se tiverem de se deslocar a algum local com multidões ou se tiverem de ir a um centro de saúde, acho que faz sentido estarem protegidos.” Se no início a comunidade chinesa em Portugal enviou centenas de máscaras para a China, constituindo a principal clientela das farmácias na compra deste tipo de produto, a situação agora inverteu-se. Tendo cumprido quarentenas voluntárias aquando do regresso da China, por altura do Ano Novo Chinês, são agora estas pessoas que encomendam máscaras para ajudar os portugueses. É o caso da Associação Portuguesa dos Amigos da Cultura Chinesa, que está a promover uma encomenda colectiva de máscaras. A professora Wang Suoying está a promover esta iniciativa junto de sócios e pessoas próximas da associação, sendo que cada caixa, com 50 máscaras, custa cerca de 150 renmimbis. De frisar que, até à data, não há qualquer cidadão chinês a residir em Portugal infectado com o novo coronavírus. Falta de material No sábado, a ministra portuguesa com a pasta da Saúde, Marta Temido, referiu que vão ser adquiridas um milhão de máscaras destinadas aos profissionais de saúde, tendo admitido que existem nos hospitais poucas quantidades de máscaras de protecção. “O equipamento de protecção individual (máscaras) tem de ser gerido muito criteriosamente, mas temos a preocupação de que os profissionais não se sintam desprotegidos para trabalhar”, sublinhou a governante. Marta Temido expressou a intenção de generalizar o uso de máscaras cirúrgicas junto dos profissionais de saúde e anunciou um reforço de mais um milhão, que terá sido entregue nos últimos dois dias. “Aquilo que nos temos apercebido é que algumas instituições partiram para este surto com stocks relativamente baixos e, portanto, isso representou uma dificuldade adicional”, apontou. Entretanto, farmácias de Espinho, cidade no norte do país, uma das zonas mais afectadas pela Covid-19, têm de reservar 10 por cento de máscaras e afins para Protecção Civil, uma medida com efeito até 9 de Abril. A reserva nas farmácias e outros fornecedores aplica-se a “máscaras cirúrgicas, máscaras FFP2 [contra aerossóis sólidos e/ou líquidos identificados como perigosos ou irritantes], óculos de protecção e batas impermeáveis”, destinando-se a “uso exclusivo dos agentes de protecção civil”. Estudante chinesa de Macau deixou de utilizar máscara por ninguém usar Chegou ao Porto quando Wuhan entrou no léxico mundial pelas piores razões. Assistiu à distância ao encerramento de Macau durante o combate à propagação do novo coronavírus e sentiu na pele a aflição de ver os números de infectados subirem em Portugal. Peggy Chan, uma jovem residente de Macau, mudou-se para o Porto em Fevereiro para estudar ao abrigo de um programa de intercâmbio entre dois estabelecimentos de ensino superior da RAEM e da cidade invicta. Quando aterrou no Porto, Peggy levava na bagagem máscaras cirúrgicas, objecto indispensável na Ásia, mas que é raro em Portugal. Antes de o surto do novo coronavírus começar a afectar severamente a Europa, a estudante foi a uma farmácia tentar reforçar o stock, tentativa que viria a ser frustrada. Não precisou esperar muito até receber uma recarga enviada pelo namorado. Cedo se apercebeu que era das poucas pessoas que tinham máscaras para usar. “Quando o surto chegou ao Porto, reparei que ninguém usava máscara, o que me fez sentir mal por usar”, contou ao HM a estudante. Peggy Chan não queria dar nas vistas, ou motivar reacções xenófobas, fenómeno que se espalhou pelo mundo fora em reacção à origem do novo coronavírus e que não lhe passou despercebido. Além disso, a situação não lhe parecia assustadora ao ponto de furar a convenção social. “Não havia muitos casos em Portugal, e os que havia não eram na minha zona”, recorda. Regresso marcado Quando o número de infectados começou a subir, Peggy decidiu que o melhor seria evitar saídas da residência universitária. Desde então, a estudante teve sempre presente a ideia de regressar a Macau. Hoje faz parte de um grupo de largo de estudantes que pediram ajuda ao Gabinete de Gestão de Crises do Turismo e já tem viagem de regresso marcada para quarta-feira. Após o anúncio das medidas de contenção aplicadas em Hong Kong e Macau, encontrar voos tornou-se numa tarefa hercúlea. Até chegar ao aeroporto de Hong Kong, a estudante residente de Macau terá de fazer duas escalas (Zurique e Singapura). Quando chegar à RAEM irá cumprir os 14 dias de quarentena em Coloane, abdicando da hipótese de o fazer em casa.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeCovid-19 | Residentes de Macau enviam máscaras para Portugal No início da crise epidémica, as máscaras eram enviadas da Europa para a Ásia, mas com o aumento do número de casos da Covid-19 são vários os residentes que estão a mandar máscaras para Portugal para amigos e familiares. Temem a falta deste tipo de equipamento que, aos poucos, começa a ser usado nas ruas, mas cujo uso não é ainda obrigatório [dropcap]C[/dropcap]om cada vez mais casos de Covid-19 na Europa, muitos residentes de Macau revelam-se preocupados com a falta de material de protecção em Portugal, numa altura em que, com 245 casos de infecção confirmados, continua a não ser obrigatório o uso de máscara. Neste sentido, são várias as pessoas que, de Macau, têm vindo a adquirir máscaras nas farmácias ou em plataformas de comércio online, como o Taobao, e as têm enviado para Portugal, para amigos e familiares. Rita Gonçalves, professora de yoga, enviou cinco pacotes de máscaras, em que cada um contém 50 máscaras simples, incluindo protecção para crianças. “Fartei-me de ver pessoas a dizer que não conseguiam arranjar máscaras e, em vez de ficar preocupada e frustrada, resolvi passar à acção. Se toda a gente enviar ajuda é mais fácil evitar tanta contaminação”, disse. A residente de Macau defende que as autoridades portuguesas não estão a ser tão rápidas a reagir na prevenção do surto como as autoridades de Macau. “Lá continuam a papaguear aos profissionais de saúde que a máscara é só para quem apresenta sintomas. Tenho dois primos que são enfermeiros e esse foi um factor decisivo, porque posso ajudar quem está mesmo perto de quem já está contaminado”, disse ao HM. Catarina Baptista, que trabalha como bibliotecária, também tem vindo a ouvir relatos directos de profissionais de saúde portugueses, um alerta que a fez agir. “Há um receio que faltem materiais e eles notam mesmo que os outros profissionais de saúde não estão muito atentos ou têm comportamentos de risco.” Cada residente tem direito a levantar 10 máscaras para 10 dias providenciadas pelos Serviços de Saúde de Macau (SSM), mediante a apresentação do Bilhete de Identidade de Residente (BIR). No entanto, fora desta remessa há outras máscaras, provenientes de outros locais, que podem ser adquiridas. Catarina Baptista diz já ter visto máscaras coreanas ou mesmo portuguesas. “Vou mandar máscaras para Portugal por duas razões. Tenho familiares que estão em grupos de risco, como idosos ou doentes cardiovasculares e diabetes. E vejo que em Portugal ninguém está a levar esta situação a sério, além de que as recomendações não são as mais adequadas”, frisou. Ajudas mútuas Nas redes sociais, há relatos de filas para o envio de remessas para Portugal, bem como de pessoas que enviaram centenas de máscaras. No caso de Tatiana Rocha, vai voltar a enviar máscaras que já tinha adquirido em Portugal, quando o surto da Covid-19 chegou à China. “Comprei máscaras em Portugal e trouxe-as para cá para nós usarmos e para darmos a amigos, mas agora vou enviar de volta”, contou ao HM. “Sinto que em Macau não nos falta ajuda nessa questão, portanto não precisamos de ter tantas em casa. Vou enviar apenas para prevenção da minha família, amigos e pessoas que precisarem. Se tiverem de se deslocar a algum local com multidões ou se tiverem de ir a um centro de saúde, acho que faz sentido estarem protegidos.” Se no início a comunidade chinesa em Portugal enviou centenas de máscaras para a China, constituindo a principal clientela das farmácias na compra deste tipo de produto, a situação agora inverteu-se. Tendo cumprido quarentenas voluntárias aquando do regresso da China, por altura do Ano Novo Chinês, são agora estas pessoas que encomendam máscaras para ajudar os portugueses. É o caso da Associação Portuguesa dos Amigos da Cultura Chinesa, que está a promover uma encomenda colectiva de máscaras. A professora Wang Suoying está a promover esta iniciativa junto de sócios e pessoas próximas da associação, sendo que cada caixa, com 50 máscaras, custa cerca de 150 renmimbis. De frisar que, até à data, não há qualquer cidadão chinês a residir em Portugal infectado com o novo coronavírus. Falta de material No sábado, a ministra portuguesa com a pasta da Saúde, Marta Temido, referiu que vão ser adquiridas um milhão de máscaras destinadas aos profissionais de saúde, tendo admitido que existem nos hospitais poucas quantidades de máscaras de protecção. “O equipamento de protecção individual (máscaras) tem de ser gerido muito criteriosamente, mas temos a preocupação de que os profissionais não se sintam desprotegidos para trabalhar”, sublinhou a governante. Marta Temido expressou a intenção de generalizar o uso de máscaras cirúrgicas junto dos profissionais de saúde e anunciou um reforço de mais um milhão, que terá sido entregue nos últimos dois dias. “Aquilo que nos temos apercebido é que algumas instituições partiram para este surto com stocks relativamente baixos e, portanto, isso representou uma dificuldade adicional”, apontou. Entretanto, farmácias de Espinho, cidade no norte do país, uma das zonas mais afectadas pela Covid-19, têm de reservar 10 por cento de máscaras e afins para Protecção Civil, uma medida com efeito até 9 de Abril. A reserva nas farmácias e outros fornecedores aplica-se a “máscaras cirúrgicas, máscaras FFP2 [contra aerossóis sólidos e/ou líquidos identificados como perigosos ou irritantes], óculos de protecção e batas impermeáveis”, destinando-se a “uso exclusivo dos agentes de protecção civil”. Estudante chinesa de Macau deixou de utilizar máscara por ninguém usar Chegou ao Porto quando Wuhan entrou no léxico mundial pelas piores razões. Assistiu à distância ao encerramento de Macau durante o combate à propagação do novo coronavírus e sentiu na pele a aflição de ver os números de infectados subirem em Portugal. Peggy Chan, uma jovem residente de Macau, mudou-se para o Porto em Fevereiro para estudar ao abrigo de um programa de intercâmbio entre dois estabelecimentos de ensino superior da RAEM e da cidade invicta. Quando aterrou no Porto, Peggy levava na bagagem máscaras cirúrgicas, objecto indispensável na Ásia, mas que é raro em Portugal. Antes de o surto do novo coronavírus começar a afectar severamente a Europa, a estudante foi a uma farmácia tentar reforçar o stock, tentativa que viria a ser frustrada. Não precisou esperar muito até receber uma recarga enviada pelo namorado. Cedo se apercebeu que era das poucas pessoas que tinham máscaras para usar. “Quando o surto chegou ao Porto, reparei que ninguém usava máscara, o que me fez sentir mal por usar”, contou ao HM a estudante. Peggy Chan não queria dar nas vistas, ou motivar reacções xenófobas, fenómeno que se espalhou pelo mundo fora em reacção à origem do novo coronavírus e que não lhe passou despercebido. Além disso, a situação não lhe parecia assustadora ao ponto de furar a convenção social. “Não havia muitos casos em Portugal, e os que havia não eram na minha zona”, recorda. Regresso marcado Quando o número de infectados começou a subir, Peggy decidiu que o melhor seria evitar saídas da residência universitária. Desde então, a estudante teve sempre presente a ideia de regressar a Macau. Hoje faz parte de um grupo de largo de estudantes que pediram ajuda ao Gabinete de Gestão de Crises do Turismo e já tem viagem de regresso marcada para quarta-feira. Após o anúncio das medidas de contenção aplicadas em Hong Kong e Macau, encontrar voos tornou-se numa tarefa hercúlea. Até chegar ao aeroporto de Hong Kong, a estudante residente de Macau terá de fazer duas escalas (Zurique e Singapura). Quando chegar à RAEM irá cumprir os 14 dias de quarentena em Coloane, abdicando da hipótese de o fazer em casa.