Coreias | Balões do Norte interrompem tráfego aéreo no Sul

Pyongyang continua a provocar Seul com o envio de balões carregados de lixo. O tráfego aéreo no principal aeroporto internacional do país esteve interrompido durante cerca de três horas

 

Uma nova vaga de balões com lixo enviados pela Coreia do Norte para o Sul obrigou ontem à interrupção do tráfego aéreo durante cerca de três horas em Incheon, o principal aeroporto internacional do país. As descolagens e aterragens de voos nacionais e internacionais foram afectadas entre a 01:46 e as 04:44, disse o consórcio que opera o aeroporto.

A decisão foi tomada devido ao receio de que os balões pudessem ser sugados pelos motores dos aviões, disseram responsáveis do aeroporto de Incheon, que serve a capital sul-coreana, Seul.

O aeroporto está agora a funcionar normalmente, uma vez que não foram detectados mais balões nos céus sul-coreanos desde o nascer do sol. A Coreia do Norte enviou mais de 250 balões carregados de lixo para o Sul durante a madrugada, no sexto lançamento no espaço de um mês.

A partir do final de Maio, Pyongyang lançou uma série de balões com estrume, pontas de cigarro, trapos, pilhas gastas e vinil sobre várias zonas da Coreia do Sul. Não foram encontrados materiais altamente perigosos. A Coreia do Norte afirmou que a campanha de balões é uma acção de retaliação contra activistas sul-coreanos que lançaram panfletos políticos críticos da liderança norte-coreana.

Aumento de testes

O novo lançamento de balões surge num contexto de aumento das tensões transfronteiriças. A Coreia do Norte disparou um míssil hipersónico em direcção ao mar, adiantou na terça-feira a agência de notícias pública sul-coreana Yonhap, citando os militares de Seul.

O Estado-Maior Conjunto (JCS) da Coreia do Sul disse ter detectado o lançamento, mas não forneceu detalhes, destacando que está em andamento uma investigação.

De acordo com um responsável do JCS, citado pela agência de notícias France-Presse, Pyongyang parece ter testado um míssil hipersónico, embora o disparo tenha falhado depois de um voo de cerca de 250 quilómetros que terminou com uma explosão.

O Japão também confirmou o lançamento e a guarda costeira nipónica referiu que o míssil acabou por cair no mar do Japão. O último lançamento de mísseis da Coreia do Norte tinha acontecido a 30 de Maio, quando Seul acusou Pyongyang de disparar uma salva de cerca de dez mísseis balísticos de curto alcance.

No dia seguinte, a imprensa estatal norte-coreana divulgou imagens do líder Kim Jong-un a participar nos testes de um sistema de lançamento múltiplo de foguetes.

Analistas sugerem que a Coreia do Norte pode estar a aumentar a produção de mísseis para os fornecer à Rússia como parte da guerra na Ucrânia, de acordo com um relatório divulgado no mês passado pelo Departamento de Defesa dos EUA.

26 Jun 2024

Changan | Empresa quer abrir fábrica na Europa e vender 300 mil carros até 2030

O construtor automóvel chinês Changan vai abrir este ano uma subsidiária na Europa para estudar a abertura de uma fábrica no continente, onde espera vender 300 mil veículos até 2030, informou ontem a imprensa chinesa.

De acordo com documentos para os investidores, citados pelo portal de notícias económicas Yicai, a Changan vai lançar as suas marcas eléctricas Deepal, Changan Qiyuan e Avatr na Europa este ano.

A empresa, sediada em Chongqing, no centro da China, iniciou no ano passado uma estratégia global para desenvolver o seu negócio internacional e construir fábricas no estrangeiro.

Enquanto a sua estratégia na Europa se centrará nos veículos eléctricos, os planos da Changan para a América Central e do Sul são para os veículos com motor de combustão, com planos para vender cerca de 200 mil unidades até 2030.

A informação surge poucos dias depois de a Comissão Europeia ter anunciado taxas alfandegárias adicionais sobre os carros eléctricos chineses, o que, segundo analistas, poderá impulsionar a abertura de fábricas na Europa por parte dos construtores chineses, uma vez que os veículos de marcas estrangeiras produzidos localmente não seriam contabilizados como importados e não estariam sujeitos a estas tarifas.

Outros fabricantes de automóveis chineses, como a SAIC, a BYD e a Chery, anunciaram planos para abrir fábricas na Europa, enquanto a Leapmotor utilizará as fábricas europeias da Stellantis, que detém 51 por cento da sua divisão internacional.

26 Jun 2024

Shimao | Construtora consegue adiar pedido de liquidação em Hong Kong

A Shimao, uma das maiores construtoras imobiliárias da China, conseguiu ontem adiar a primeira audiência num tribunal de Hong Kong sobre um pedido de liquidação apresentado em Abril, após ter entrado em incumprimento.

De acordo com o jornal South China Morning Post, o juiz responsável pelo caso marcou a próxima sessão para 31 de Julho, dando à empresa quatro semanas para obter o apoio dos credores para o plano de reestruturação que apresentou em Março para a dívida emitida nos mercados internacionais no valor de 11,7 mil milhões de dólares.

A Shimao disse que iria “opor-se vigorosamente” ao pedido de liquidação, apresentado pela filial de Hong Kong do banco estatal chinês China Construction Bank, relativamente a uma obrigação financeira equivalente a cerca de 202 milhões de dólares.

Várias construtoras chinesas enfrentam possíveis ordens de liquidação dos tribunais de Hong Kong, com processos também abertos contra a Country Garden – a empresa número um do sector entre 2017 e 2022 – e a Kaisa. Esta última também obteve uma suspensão esta semana, embora o juiz tenha avisado que poderia ser a última.

Em Janeiro, foi ordenada a liquidação do gigante endividado Evergrande, uma decisão que deu início a um longo e incerto processo devido a dúvidas quanto ao reconhecimento do processo na China continental, onde o grupo detém a maior parte dos seus activos, uma vez que o sistema judicial de Hong Kong está separado do da China ao abrigo do estatuto de semi-autonomia da antiga colónia britânica.

No início deste mês, outro dos 100 maiores promotores imobiliários, a Dexin China Holdings, também recebeu uma decisão desfavorável num outro processo de liquidação em Hong Kong.

As vendas comerciais de habitações na China, medidas por área útil, caíram 24,3 por cento, em 2022, e mais 8,5 por cento, em 2023, de acordo com dados oficiais.

26 Jun 2024

Diplomacia | China trabalhará com Hungria para manter laços bilaterais

A China está pronta para trabalhar com a Hungria para implementar o importante consenso alcançado pelos líderes dos dois países e manter as relações China-Hungria na vanguarda das relações China-Europa, disse na terça-feira o ministro dos Negócios Estrangeiros chinês, Wang Yi.

Wang fez as declarações através de um telefonema com o ministro húngaro dos Negócios Estrangeiros e Comércio, Peter Szijjarto.

Wang disse que, durante a bem-sucedida visita recente do Presidente chinês, Xi Jinping, à Hungria, ele e o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, anunciaram conjuntamente a elevação das relações China-Hungria a uma parceria estratégica abrangente para a nova era, injetando forte impulso no desenvolvimento das relações bilaterais, indica a agência Xinhua.

Felicitando a Hungria pela sua próxima presidência rotativa da União Europeia (UE), Wang sublinhou que a China sempre apoiou a integração europeia e a independência estratégica da UE, e considera o lado europeu como um parceiro importante no caminho chinês para a modernização.

Observando que a China mantém um alto grau de estabilidade e continuidade na sua política em relação à Europa, Wang disse que se espera que o lado europeu siga uma política racional e pragmática em relação à China, mantenha uma postura aberta e trabalhe com a China para garantir o desenvolvimento sólido e estável das relações China-Europa.

Acredita-se que a Hungria desempenhará um papel positivo e construtivo na interação sólida entre a China e a Europa, acrescentou, citado pela Xinhua.

Szijjarto disse que a visita de Xi à Hungria foi um sucesso completo com resultados frutíferos. Os resultados positivos nas relações amistosas Hungria-China demonstraram que o aprofundamento da cooperação com a China está alinhado com os interesses fundamentais da Europa.

26 Jun 2024

Shenzhen | Presidente do Peru inicia visita oficial

A líder do país sul-americano vai estar na China até amanhã, com passagens por Xangai e Pequim, onde deve reunir com o Presidente chinês Xi Jinping e o primeiro-ministro, Li Qiang

 

A Presidente do Peru, Dina Boluarte, chegou ontem à cidade de Shenzhen, no sudeste da China, onde vai reunir com representantes de empresas chinesas, após assistir à inauguração de uma exposição de arte pré-colombiana.

Durante a estadia em Shenzhen, a Presidente peruana visitará os escritórios de empresas chinesas, incluindo a gigante tecnológica Huawei e a fabricante de veículos eléctricos BYD.

A primeira paragem de Boluarte na cidade foi o Museu Nanshan, onde participou na inauguração da exposição “Os Incas e o Tawantinsuyo”, uma mostra de mais de 150 peças pré-colombianas peruanas que o público chinês poderá visitar até Março de 2025.

Durante a viagem oficial à China, que se prolongará até amanhã, Boluarte vai visitar também Xangai e Pequim, onde deve reunir-se na sexta-feira com o Presidente chinês, Xi Jinping, e o primeiro-ministro, Li Qiang.

Laços reforçados

Em Xangai, a Presidente terá um encontro hoje com o presidente da empresa chinesa Cosco Shipping, principal accionista do porto de Chancay, no centro do Peru, que será inaugurado em Novembro.

Em Março, a Cosco exigiu estabilidade jurídica no Peru, depois do Ministério Público dos Transportes e Comunicações peruano ter apresentado uma acção judicial para anular uma cláusula do contrato que dá à empresa chinesa direitos exclusivos sobre os serviços portuários em Chancay, uma questão que ainda está em debate no país andino.

Durante a reunião entre Boluarte e Xi, serão assinados acordos para fortalecer o diálogo político, os investimentos, a transferência de tecnologia, o turismo e um maior acesso dos produtos peruanos ao mercado chinês, de acordo com a presidência peruana.

Estas reuniões terão como objectivo “reforçar a confiança política mútua e aprofundar a cooperação prática em todas as áreas”, a fim de “impulsionar os resultados positivos da parceria estratégica abrangente para o bem-estar dos povos de ambas as nações”, disse na segunda-feira a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Mao Ning.

Boluarte chefia uma delegação composta pelos ministros dos Negócios Estrangeiros, Javier González Olaechea; da Economia e Finanças, José Arista; da Habitação, Construção e Saneamento, Hania Pérez de Cuéllar; dos Transportes e Comunicações, Raúl Pérez Reyes, e da Saúde, César Vázquez.

26 Jun 2024

Ao som de Rumeng Ling 如梦令: Tradução comentada do poema “Como num sonho”, de Li Qingzhao

Li Qingzhao 李清照 (1084-1155) é um nome que atrai geral aclamação. Mesmo dentro de um ambiente literário pouco favorável para a prática literária feminina1, ela conseguiu afirmar-se sempre como letrista, além de poeta. Nos nossos dias, Li recebe a reputação de “poeta primeira”; “a maior poeta da China”, “a mais talentosa de todos os tempos”, ou uma das “Quatro Maiores Compositoras da poesia da Dinastia Song”2, justificada por uma recepção crítica que reconhece sua obra poética como uma das mais importantes da poesia chinesa clássica.

A poesia foi para ela uma tarefa dotada de alto sentido autobiográfico imanente à identidade feminina; e também um exercício de ontologia sobre a própria poesia lírica chinesa, que se encontrava em forte diálogo com a música, durante a Dinastia Song.

O processo desta tradução comentada envolveu pesquisar em profundidade o poema “Como num sonho”, baseando-se em algumas coletâneas em língua chinesa dedicadas exclusivamente a poesia de Li Qingzhao. Ademais, foram consultadas algumas traduções em língua inglesa, que me servem de contraponto para expandir a leitura do poema e melhor sustentar as escolhas de tradução adoptadas.

Assim, decidi apresentar o poema original, acompanhado da sua romanização em sistema pinyin e tradução caractere por caractere, com texto no horizontal, lido da esquerda para direita. No original também não é usado os sinais de pontuação. Após a apresentação do poema original, segue a tradução em língua portuguesa e os comentários de tradução, que visam comentar as particularidades estruturais do poema; apresentar a combinação rítmica utilizada; realçar seus aspectos semânticos e sonoros; comentar alguns traços distintivos do poema; fazer uma leitura comparada com outras traduções, revelando, verso por verso, seu conteúdo mais profundo.

O poema original:

如梦令 《昨夜雨疏风骤》

昨 夜 雨 疏 风 骤

zuó yè yǔ shū fēng zhòu

ontem noite chuva esparsa vento brusco

浓 睡 不 消 残 酒

nóng shuì bù xiāo cán jiǔ

denso dormir não eliminar fragmento álcool

试 问 卷 帘 人

shì wèn juǎn lián rén

tentar perguntar enrolar cortina pessoa

却 道 海 棠 依 旧

què dào hǎi táng yī jiù

mas dizer haitang como antes

知 否 知 否

zhī fǒu zhī fǒu

saber não saber não

应 是 绿 肥 红 瘦

yīng shì lǜ féi hóng shòu

dever estar verde gordo vermelho magro

Na tradução:

Ao som de Rumeng ling

Como num sonho: chuva e vento na noite passada

Ontem à noite: vento bravo e chuva fina

leve ebriez após sono profundo se preserva

Pergunto à donzela que ergue a cortina

disse: a mesma é macieira-brava

Sabes? Não, não sabes

estão gordas as folhas e magras as flores

O poema acima, assim como a maioria escrito por Li Qingzhao, é um poema lírico chinês (词 cí). Esta forma poética caracteriza-se por ter dois títulos: o da melodia (词牌 cí pái), e título do poema (词题 cí tí). O uso de dois títulos na poesia lírica chinesa revela-se uma das principais características deste género, difundido na dinastia Song (960-1279). No original esta particularidade serve para diferenciar o padrão melódico para qual o poema foi escrito do poema em si, dado que podemos encontrar poemas diferentes com o mesmo título melódico. Essa discrepância entre o título da melodia e o título do poema é observada com muita atenção na tradução. Em exemplo, nas traduções em língua inglesa, é, muitas vezes, destacado com “ao som de”, como na de Ronald Egan: “To the tune ‘As If in a Dream”. A tradução em língua inglesa de Xu Yuanchong também se utiliza da palavra “som”: “Tune – ‘Like a dream’”. Em português, o título da melodia aparece em caracteres romanizados, destacado com “ao som de”, como simplesmente “Ao som de Rumeng ling”. O caractere 令lìng sugere a particularidade estrutural desta obra, que se define por ser uma canção curta (小令 xiǎo lìng).

Segundo Ronald Egan (2013:327), este poema foi inspirado no último quarteto do poema “懒起” (lanqi)3 (“Lânguido para se levantar”, tradução minha), do poeta do período final da Dinastia Tang, Han Wo (韩偓, 842-923). O mesmo autor aponta adaptar “adapt” ou reescrever “rewrite” versos de poetas anteriores, de acordo com a sua identidade feminina, como uma das práticas preferidas de Li Qingzhao. Contudo, esta forma de escrever poesia não foi apenas usada por Li Qingzhao. Ainda Egan nos informa que poetas como Zhou Bangyan (1056-1121) e Su Shi (1037-1101) também eram conhecidos por adaptar versos de seus antecessores de acordo com seus estilos e identidades.

Por outro lado, o poema original abriga-se ao esquema de rimas toantes, identificados no exterior de cada verso, com exceção ao terceiro verso (tendo em vista a apresentação do poema aqui disposta). É visível a repetição do vocábulo “u” no final dos versos: /zhou/, /jiu/, (…) /jiu/, /fou/, /shou/. A tradução portuguesa introduz o esquema de rima ABABCC: /fina/, /preserva/, /cortina/, /brava/, /sabes/, /flores/.

Agora, partimos para a leitura dos versos do poema:

昨夜雨疏风骤

Ontem à noite: vento bravo e chuva fina

O verso de abertura do poema enuncia os fenómenos naturais que ocorreram na noite de ontem. Nele, há ausência de elementos verbais. A tradução inglesa de Xu Yuanchong adiciona os verbos “soprar” e “ser/estar”: “Last night the wind blew hard and rain was fine”, como forma de explicitar a experiência da chuva e vento. Em português, faz o acréscimo do sinal gráfico (:), de forma a enunciar e descrever os eventos naturais ocorridos na noite anterior.

O termo 雨疏 yǔ shū caracteriza uma chuva esparsa, que caiu de forma intermitente, como é entendido na tradução inglesa de Jiaosheng Wang: “Last night there was intermittent rain, a gusty wind”. Ainda, os elementos lexicais em 雨疏风骤 yǔ shū fēng zhòu (literalmente: chuva esparsa vento brusco) criam o efeito de paralelismo que podem ser lidos em horizontal: chuva-vento, esparsa-brusco. Na tradução, foi preservado este efeito semântico, ao incluir a palavra “bravo” em vez de “brusco”, e “fina” em vez de “esparsa”, de forma a criar não só o efeito de rima, mas também um verso mais conciso possível.

浓睡不消残酒

leve ebriez após sono profundo se preserva

Li Qingzhao começa o poema caracterizando as forças da natureza para, neste verso, revelar o seu estado de embriaguez, mesmo depois de uma noite de sono profundo. O verso pode ser lido como “embora dormida uma noite de sono, ainda não matei a embriaguez” da noite anterior. A definição da palavra 残 cán, pode ser entendida como equivalente aos adjetivos portugueses “incompleto”, “fragmentado”, ou mesmo “deficiente”, é usada no original para descrever uma embriaguez fraca, ou ainda leve, como é entendida na presente tradução portuguesa. O elemento lexical chinês 酒 jiǔ é, muitas vezes, traduzido por “vinho” nas traduções em língua inglesa, como na de Xu Yuanchong: “Sound sleep did not dispel the after taste of wine”. A tradução de Ronald Egan para o inglês também se utiliza da palavra vinho: “Deep sleep did not dispel the lingering wine”. Como explica o professor, poeta e tradutor Yao Jingming: “para os chineses, jiu indica um álcool feito de trigo, arroz ou sorgo. Para os portugueses, vinho significa álcool feito de uvas. Mesmo que as palavras sejam correspondentes, carregam significados diferentes”. Na tradução para o português, no lugar do termo 残酒 cán jiǔ, lemos “leve ebriez”, procurando reproduzir o estado em que a poetisa se encontra logo ao acordar, assim como no original.

Por outro lado, o verbo 消 xiāo, que significa “eliminar”, “matar”, “dissipar”, está acompanhado da partícula negativa 不 bù “não”, juntos podem ser lidos como “não eliminado”, isto é, o efeito do álcool que preservou mesmo depois do sono profundo. Dessa forma, na tradução portuguesa, utilizou-se o verbo “preservar”, de forma a reproduzir este sentido. Foi acrescentado, ainda, o termo “após”, procurando trazer para a tradução o momento a seguir a noite de sono, implícito no verso original.

试问卷帘人

Pergunto à donzela que ergue a cortina

Este verso começa com o termo 试问 shì wèn, que pode ser entendido tanto como “tentar perguntar”, quanto “cabe perguntar”, e termina com 卷帘人 juàn lián rén, que, segundo as notas de Hou Jian e Lü Zhiming, “refere-se à criada que enrola a cortina”. A tradução inglesa de Ronald Egan reproduz o termo 试问 como uma ação que estava em andamento no passado: “I tried asking the maid raising the blinds”. A escolha de Jiaosheng Wang, por outro lado, introduz o verbo “perguntar” simplesmente no presente: “I ask the maid rolling up the blinds”, aparenta com a tradução inglesa de Xu Yuanchong: “I ask the maid rolling up the screen” (1982), que está mais de acordo com a presente proposta em português. É evidente que a “pessoa” (人) que ergue a cortina está interpretada nas traduções inglesas como “criada”, concordando com a explicação de Hou Jian e Lü Zhiming. Em português, utilizamos a palavra “donzela”, de forma a criar um efeito mais poético.

却道海棠依旧

disse: a mesma é macieira-brava

Aqui é o momento da fala da “donzela”, a personagem do verso anterior. Segundo Li Qingzhao, a “donzela” disse que “haitang (está) como antes”, o que indica que nada mudou depois da chuva e vento. Esta resposta, por um lado, é muito prosaica, reflete a visão comum da “donzela”; por outro lado, reflete a experiência e preferência distinta em relação às coisas do mundo exterior das duas personagens. O elemento da flora chinesa, 海棠 hǎitáng, é entendido como “flor da macieira-brava” ou “árvore da macieira-brava”, nas traduções inglesas de Xu Yuanchong: “The same crab-apple tree,’ she says, ‘is seen’”; de Jiaosheng Wang: “But she replies: ‘The crab-apple is lovely as before”; e de Ronald Egan: “What said the crab-apple blossoms were as before”, o que parece estar de acordo com a tradução portuguesa aqui apresentada.

知否 知否

Sabes? Não, não sabes…

Neste penúltimo verso, há uso de reduplicação: 知否 知否 zhī fǒu zhī fǒu, o caractere 否 fǒu “não”, ao final do verso, é usado nos textos literários para indicar pergunta. Embora formulado como uma interrogação, este verso não pretende questionar, mas sim manifestar uma resposta negativa, uma recusa em relação à fala da “donzela”, construída no verso anterior, parecendo não estar sensível ao cenário real, que a autora irá descrever no último verso. O verso é, muitas vezes, interpretado como a fala da “donzela”, por exemplo, na proposta de Xu, ao usar aspas para realçá-la: “‘But don’t you know, / O don’t you know’” (2016). A interpretação está em consonância com a de Ronald Egan (2019): “‘Don’t you know?/ Don’t you know?’”. Em português, é entendido como a fala de Li Qingzhao, o que traduz uma reação contrária à da “donzela”.

应是绿肥红瘦

estão gordas as folhas e magras as flores

O último verso é o mais apreciado pela sua capacidade expressiva de linguagem. Aqui, Li Qingzhao dá vida à “macieira-brava”, ao construir a expressão 绿肥红瘦 lǜ féi hóng shòu (literalmente: verde gordo vermelho magro), o que indica, “a macieira está verdejante e de vermelho murcho, fraco”. As cores verde-vermelho, como explicam os comentaristas, simbolizam o par de substantivos folha-flor. É visível o uso da personificação, na medida em que as características de seres animados gordo-magro são atribuídas às folhas e flores de haitang. Há também o uso de paralelismo: verde-vermelho, gordo-magro. Para alguns estudiosos, esta combinação de efeitos semânticos é uma inovação realizada por Li Qingzhao. Ela constrói o verso de acordo com a sua identidade, ao utilizar o caractere 瘦 (magra, frágil, débil), que pode subentender característica feminina. Na tradução inglesa de Xu o adjetivo magro é entendido como “lânguido”, o que não deixa de personificar a cor vermelha (flor): “‘The red should languish and the green must grow?’”. A escolha de Egan: “The green must be plump and the reds spindly”, buscou reproduzir o efeito da personificação com os adjetivos “forte” (plump) e “fininho” (spindly). Em portuguȇs, optamos por incluir “folha” e “flor” em vez de “verde” e “vermelho” e manter os adjectivos “gordo” e “magro”, como forma de reproduzir os efeitos usados no original.

Ao que tudo indica, o poema retrata a transição do cenário primaveril. Começa com chuva e vento, o que nos oferece informações meteorológicas da noite anterior. Em seguida, reflete o estado psicológico da autora após o sono profundo, o diálogo com a “donzela”, e a forma diferente de sentir as mudanças do seu mundo exterior. No final do poema, a “macieira-brava” é personificada como “gorda” e “magra, o que reflete a relação entre Li Qingzhao e os seres inanimados. Neste momento, ela manifesta o seu lamento diante do cenário que marca a passagem da primavera, marcada pela chuva esparsa e vento bravo.

Referências bibliográficas:

Egan, Ronald (2013). The Burden of Female Talent: Li Qingzhao and Her History in China. Cambridge & London: Harvard University Asia Center.

Egan, Ronald (2019). The Works of Li Qingzhao. Boston & Berlim: Walter de Gruyter Inc.

Freire, Zerbo (2022). Li Qingzhao: Do amor à mais profunda solidão. Hoje Macau, outubro, 24, Via do Meio.

Hou, Jian & Lü, Zhiming (1999). 李清照诗词评注 (Poesia de Li Qingzhao: Notas e comentários). Shanxi: Education Press.

Wang, Jiaosheng (1989). The Complete Ci-poems of Li Qingzhao: A New English Translation. Philadelphia: Sino-Platonic Papers.

Xu, Yuanchong (1982). 谈李清照词英译 (Comentário sobre a tradução inglesa da Poesia Lírica de Li Qingzhao). In Xu Yuanchong (2016), 文学与翻译: Literature and Translation, 399-497. Peking: Peking University Press.

Yao, Jingming (2001). A poesia clássica chinesa: uma leitura de traduções portuguesas. Macau: Coleção Estudos de Macau, Centro de Publicação Universidade de Macau.

Como nos conta o critico literário Ronald Egan: “Há pouca ou nenhuma evidência da emergência de comunidades de escritoras durante a dinastia Song, como sabemos que aconteceu no final da era Ming e Qing. No período Song, mulheres que eram alfabetizadas e escolheram escrever o fizeram quase inteiramente por conta própria, sem o conforto e encorajamento de outras mulheres e homens simpatizantes, que deram seu suporte à mulheres alfabetizadas nos séculos posteriores. Tudo o que sabemos sobre Li Qingzhao aponta para esse ser o caso dela. Ela não era membro de um grupo de mulheres literatas.” Contudo vale ressaltar: a educação que Li Qingzhao teve no seio familiar e, mais tarde, o suporte do seu primeiro esposo Zhao Mingcheng, as poetas do seu tempo não tiveram.

Em chinês: 宋朝四大女词人 sòng cháo sì dà nǚ cí rén.

Poema original: “昨夜三更雨,/今朝一阵寒。/海棠花在否?/侧卧卷帘看。” Na tradução: /ontem à noite, três chuvas plenas/ hoje, uma onda de frio/ a flor da macieira-brava está ou não?/ inclina na cortina para ver/.

26 Jun 2024

USJ | Projectos finalistas de arquitectura e design patentes em exposição

“Re-Imagine Macao” é o nome da exposição hoje inaugurada no campus da Universidade de São José (USJ), na Ilha Verde, mais concretamente na Galeria Kent Wong – Cave. Esta mostra, que pode ser visitada até ao dia 30 de Agosto, revela os trabalhos finalistas das licenciaturas de Arquitectura e Design da Faculdade de Artes e Humanidades da USJ, relativos ao ano lectivo de 2023/2024.

É revelado, concretamente, o projecto “Outer Harbour Scapes”, do curso de arquitectura, e “Rhizomatic Design”, da licenciatura em Design.

No caso do projecto arquitectural pensado para uma das zonas marítimas de Macau, cria-se “um novo cenário urbano que reforça a conectividade da cidade existente e celebra a proximidade da orla marítima”.

Nestes espaços “os alunos desenvolveram projectos individuais que vão desde habitações em altura, instalações públicas, centros comerciais e edifícios de escritórios a edifícios culturais, bibliotecas, museus, universidades ou hotéis à beira-mar”, explica a USJ.

Trata-se de projectos que “seguem os regulamentos de construção e requisitos locais, projectando Macau para um futuro em que a inovação significativa na arquitectura se torna um activo relevante para melhorar a qualidade de vida em Macau como uma cidade de classe mundial”.

No caso do projecto de Design, são apresentadas ideias com base no conceito de “design riozomático”, tendo sido pedido aos estudantes que “questionassem o status quo” pré-existente, de forma a aceitarem “a complexidade”, imaginando “uma cidade que prosperasse através da criatividade, adaptabilidade e interligação”.

Desta forma, foram concebidos vários projectos, nomeadamente mobiliário urbano e brinquedos educativos, mobiliário doméstico e branding. Trata-se de objectos que pretendem ter “um impacto positivo nas nossas vidas e na sociedade, dando um contributo significativo para o futuro de Macau”.

26 Jun 2024

Armazém do Boi | Exposições fruto de residências artísticas em Julho

A primeira semana de Julho traz novidades para a agenda do Armazém do Boi. São inauguradas, no dia 6, três exposições que são fruto de residências artísticas realizadas em Macau, intituladas “A Slice of Cake”, “Obstinate Spine” e “Next of Kin”. O público poderá ver, assim, arte em vários formatos e meios criativos

 

O Antigo Estábulo Municipal do Gado Bovino, casa da associação artística Armazém do Boi, inaugura, no próximo dia 6 de Julho, três exposições que nascem de residências artísticas realizadas com agentes criativos locais e da China.

Uma delas, “A Slice of Cake” [Um Pedaço de Bolo] é da autoria de Xu Ge e conta com curadoria de Zheng Wen. Trata-se de uma iniciativa feita em parceria com Zheng Jing, artista e docente da Academia Chinesa das Artes.

Segundo um comunicado do Armazém do Boi, durante o período de residência artística realizado no território, o artista “embarcou numa busca para descobrir elementos e palavras-chave contraditórias, opostas e paralelas” que se podem encontrar em “diversas culturas e contextos”.

Com base nessa pesquisa, fez-se depois uma categorização de todos os conceitos, combinados numa instalação feita em forma de bolo, cada uma com uma base triangular com cerca de 40 centímetros de comprimento.

Todos os materiais para esta criação foram adquiridos localmente. Segundo o Armazém do Boi, “as obras de arte podem também integrar-se em ecrãs em miniatura, esbatendo as fronteiras entre a realidade e a virtualidade, ou incorporando meios como a mecânica do som”. Além da instalação, a mostra é composta por objectos físicos, manuscritos e imagens.

Outra mostra, apresentada no dia 6 de Julho, é “Obstinate Spine”, do artista Song Gewen. Com curadoria de Cai Guojie, esta exposição individual “dá continuidade ao esforço criativo anterior do artista de explorar os princípios e as leis das coisas e da mente”.

Em “Obstinate Spine”, observa-se também “obras baseadas nas características espaciais do Armazém do Boi e nas características locais de Macau”, apresentando-se, assim, ao público “um novo aspecto das obras do artista, que vai da exploração da materialidade à exploração da espacialidade”.

Multimédia e narrativa

“Next of Kin” é a terceira e última mostra integrada neste conjunto de inaugurações. Revelam-se os trabalhos de Cheung Zhiwan, apoiado pela curadoria de Junyan He.

Neste caso, explora-se “a complexidade da linguagem narrativa”, numa mostra multimédia em que o artista se centra “na memória e identidade, procurando um passado que nunca experimentou e um futuro que ainda está para vir”.

Esta exposição não se dissocia do contexto em que o artista viveu nos últimos meses, pois “o tempo que passou na região do Delta do Rio das Pérolas impregnou inevitavelmente as suas obras com o contexto local”. Apesar da inauguração acontecer dia 6, estas mostras podem começar a ser vistas dois dias antes. Todas elas encerram portas no dia 5 de Agosto.

26 Jun 2024

Turismo | Hotéis com quase 1,2 milhões de hóspedes em Maio

Os hotéis de Macau receberam mais de 1,19 milhões de hóspedes em Maio, uma subida de 8,4 por cento em termos anuais, foi ontem anunciado.

Em Maio, o território contava com 143 estabelecimentos hoteleiros, mais 13 do que no mesmo período do ano passado, a disponibilizar 47 mil quartos, de acordo com um comunicado da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC).

No mês em análise, a taxa de ocupação média dos quartos de hóspedes dos estabelecimentos hoteleiros fixou-se em 83,6 por cento, subindo 4,9 pontos percentuais, em termos anuais, indica a mesma nota.

Do total de 1.196.000 hóspedes, 870 mil chegaram da China continental, mais 9,7 por cento, em termos anuais, e 164 mil de Hong Kong, uma descida de 17,4 por cento. Já o número de hóspedes internacionais (88 mil), subiu 66,1 por cento.

Entre Janeiro e Maio deste ano, os estabelecimentos hoteleiros do território hospedaram 6,13 milhões de pessoas, mais 25 por cento, face a idêntico período de 2023. Macau recebeu quase 14,2 milhões de visitantes durante esse período, uma subida de 50,2 por cento em termos anuais, segundo dados da DSEC.

26 Jun 2024

Casinos | Elementos não-jogo podem gerar 15% das receitas

As concessionárias de jogo podem terminar este ano com quase 40 mil milhões de patacas apurados pelos elementos não-jogo, de acordo com as estimativas dos analistas da Seaport Research Partners. Esta fasquia pode ultrapassar os 42,6 mil milhões de patacas em 2025

 

O analista da Seaport Research Partners Vitaly Umansky prevê que o ano termine com os cofres das concessionárias de jogo bem recheados, com as receitas brutas do jogo das seis concessionárias a chegar aos 230 mil milhões de patacas, ou seja, um crescimento de 26,1 por cento face às receitas brutas do ano passado. A estimativa é também mais optimista face às projecções do Governo, que apontam para receitas de 216 mil milhões de patacas, valor à volta do qual foi elaborado o orçamento da RAEM.

Porém, um dos destaques do relatório da Seaport é a performance dos elementos não-jogo que as concessionárias oferecem nos seus resorts, e uma das prioridades apontadas pelo Executivo na busca da diversificação económica. Vitaly Umansky prevê que feitas as contas a 2024, os elementos não-jogo poderão representar cerca de 15 por cento das receitas dos casinos, chegando a 39,4 mil milhões de patacas, uma subida de 17,7 por cento em termos anuais.

Recorde-se que as novas concessões de jogo direccionam parte da estratégia das concessionárias para a aposta destes mercados, seja através de ofertas culturais, gastronómicas ou de bem-estar. Em 2022, quando Macau ainda estava fortemente afectado pelas restrições fronteiriças e sanitárias, as receitas dos elementos não-jogo totalizaram quase 12,2 mil milhões de patacas. Este registo representou 22,41 por cento das receitas das concessionárias em 2022.

Seguir a onda

A Seaport perspectiva um 2025 ainda melhor, tanto ao nível dos resultados nos casinos, como fora deles. “Em 2025, prevemos que as receitas brutas do jogo subam para 31,8 mil milhões de dólares (quase 255,8 mil milhões de patacas) e as actividades não-jogo subam para 5,3 mil milhões de dólares (mais de 42,6 mil milhões de patacas)”, adiantou Vitaly Umansky, citado pelo portal Inside Asian Gaming.

A performance dos elementos não-jogo, segundo a estimativa, vai contar com cerca de 14 por cento para o total das receitas das concessionárias. A descida do peso destes segmentos de negócio é relativa, uma vez que é estimada a continuada ascensão das receitas de jogo.

Em relação aos lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização (EBITDA, em inglês) gerados pela gestão das suas propriedades, o analista estima que as empresas registem subidas de 24,8 e 15,5 por cento este ano e em 2025, respectivamente.

26 Jun 2024

Lai Chi Vun | Dois estaleiros em obras em Julho

Dois estaleiros navais na povoação de Lai Chi Vun, Coloane, nomeadamente os lotes X11 e X15, vão entrar para obras de melhoramento a partir de 1 de Julho.

O objectivo, segundo uma nota do Instituto Cultural (IC), é “promover a requalificação e reutilização dos recursos históricos e culturais, bem como a conversão de zonas históricas em novas atracções diversificadas de turismo cultural”.

Este projecto de revitalização será feito em parceria com a Galaxy, pelo menos na primeira fase. Estes trabalhos vão obrigar a mudanças no serviço de visitas guiadas e transporte gratuito. Prevê-se que as obras estejam concluídas em Dezembro deste ano.

Os estaleiros navais de Lai Chi Vun têm sido alvo de obras progressivas a fim de transformar o local num espaço destinado ao turismo, cultura e lazer, existindo já um espaço de exposições e zona de convívio. Porém, existem ainda estaleiros degradados que, sob alçada do Executivo, serão recuperados.

26 Jun 2024

PJ | Detido por desviar dinheiro de amigo falecido

Um homem foi detido pela Polícia Judiciária (PJ) por, alegadamente, transferir dinheiro para a sua conta bancária a partir da conta de um amigo já falecido.

Segundo o jornal Ou Mun, o suspeito foi apanhado no Posto Fronteiriço das Portas do Cerco depois de ter transferido 140 mil patacas em duas transacções, isto numa altura em que a viúva tratava dos trâmites burocráticos associados à herança do marido.

O caso foi denunciado às autoridades pela mulher. A PJ esclareceu que o homem detido obteve os dados de acesso à conta bancária através do telemóvel do falecido, tendo conseguido fazer login na plataforma digital do banco.

O caso já foi encaminhado para o Ministério Público (MP), sendo o homem suspeito da prática de crimes de furto qualificado e acesso ilegítimo a sistemas informáticos. A PJ está ainda a investigar o destino do dinheiro desviado e o paradeiro do telemóvel do falecido.

26 Jun 2024

Autocarros | TCM e Transmac com lucros de 52 milhões em 2023

As concessionárias de transporte público de autocarros anunciaram ontem lucros conjuntos de 52,82 milhões de patacas, tendo em conta os relatórios anuais publicados em Boletim Oficial. Destaque para o aumento do número de passageiros e a aquisição de mais veículos eléctricos

 

As companhias de autocarros de Macau registaram um lucro total de 52,82 milhões de patacas no ano passado, anunciaram ontem a Transmac e a Sociedade de Transportes Colectivos de Macau (TCM). Segundo os relatórios anuais das empresas publicados em Boletim Oficial (BO), a Transmac conseguiu lucros de 38,86 milhões de patacas, enquanto a TCM teve lucros inferiores, de quase 14 milhões (13.966.802 patacas).

A Transmac diz ter transportado mais de 101 milhões de passageiros em 2023, 279 mil por dia, tratando-se de um aumento de 29,6 por cento em relação a 2022. Relativamente ao quarto trimestre do ano, e face ao mesmo período de 2019, atingiu-se o volume de passageiros de 99,9 por cento, “chegando-se praticamente ao nível antes da pandemia”, lê-se.

Além disso, e “aproveitando as políticas de incentivo económico do Governo, em Fevereiro [deste ano], o número de passageiros ultrapassou o do mesmo período de 2019, com um aumento de cinco por cento”.

Em relação à TCM, esta transportou 112 milhões de pessoas no ano passado, mais 24,9 por cento face a 2022, “recuperando assim 91 por cento da lotação total de 2019”, lê-se no documento.

Apostas verdes

As duas concessionárias apostaram na compra de mais veículos sustentáveis do ponto de vista ambiental, movidos a electricidade. A TCM introduziu, em três fases, entre os anos de 2021 e 2023, 469 autocarros eléctricos, “tendo terminado, com sucesso, o trabalho de renovação da frota de exploração de acordo com o plano estabelecido”. Desta forma, a TCM diz ter feito “progressos substanciais no apoio às iniciativas de mobilidade verde em Macau”.

Posição semelhante tem a Transmac, que adquiriu 113 novos autocarros eléctricos. Também no início deste ano foram comprados 35 mini-autocarros eléctricos de alcance alargado e dois autocarros eléctricos “super-longos, de gama alargada e articulados”, com o comprimento de 18 metros. Desta forma, pretendeu-se “satisfazer a procura dos passageiros e reforçar os serviços ecológicos e elevar o nível dos serviços de transportes públicos”. A Transmac destaca também o “constante” aumento dos preços dos combustíveis, na ordem dos 4,3 por cento face a 2022.

26 Jun 2024

Pastelaria Koi Kei | Queixas de crise e aumento de salários

A empresa que gere as muito populares pastelarias Koi Kei revelou ontem que, a partir de Julho, irá aumentar os salários base dos seus funcionários em 1.000 patacas.

Num comunicado partilhado no Facebook, é sublinhado que a empresa está a enfrentar dificuldades financeiras devido à quebra de clientes e ao aumento dos custos com matérias-primas essenciais para produzir os produtos vendidos nas lojas.

“Na sequência dos desafios sérios da economia actual, observamos que a capacidade de consumo dos turistas mostrou uma queda significativa, resultando em quebras de compras na ordem dos 30 por cento. Ao mesmo tempo, a empresa enfrenta a pressão da subida dos custos de materiais brutos,” lê-se no comunicado. A empresa apontou que mesmo assim, decidiu aumentar salários para mostrar reconhecimento pelo desempenho dos funcionários.

26 Jun 2024

Hospital das Ilhas | Três personalidades passam a assessores honorários

Zhao Yupei, Zhang Suyang e Li Wei, da Comissão para o Desenvolvimento Estratégico do Hospital das Ilhas, o Hospital Macau Union, foram nomeados assessores honorários desta entidade hospitalar, deixando de ser presidente (Zhao Yupei) e membros da Comissão.

Segundo um comunicado do gabinete da secretária para os Assuntos Sociais e Cultura, Elsie Ao Ieong U, é referido que estes “vão continuar a prestar valiosas opiniões sobre o planeamento, gestão, operação e desenvolvimento hospitalar”.

“Quanto à nomeação do novo presidente e dos novos membros [da Comissão], o Governo da RAEM está a manter a comunicação com as autoridades competentes do Interior da China de acordo com os procedimentos”, procedendo-se depois “à nomeação e anúncio público após a obtenção de um acordo”, pode ler-se. A mudança ocorreu porque os membros da Comissão “são funcionários públicos do Estado e têm de continuar a assumir as suas funções no Interior da China”.

O Governo destaca que as três personalidades prestaram “contributos inovadores, proactivos e eficazes na fase inicial da construção e o funcionamento experimental do Hospital Macau Union”.

26 Jun 2024

DSF | Mantido cheque pecuniário para quem não reside na RAEM

O Governo vai manter as condições de atribuição do cheque pecuniário e não retirar o apoio a quem reside fora de Macau, como foi sugerido por Zheng Anting. O deputado sugeriu desviar os fundos poupados para incentivar o consumo local. O Governo negou essa possibilidade

 

A questão da atribuição dos cheques pecuniários a quem vive fora de Macau há muito tempo volta à superfície quase todos os anos, principalmente nas vésperas da sua distribuição. A mais recente proposta de reformulação dos requisitos do Plano de Comparticipação Pecuniária partiu do deputado Zheng Anting. Porém, o director dos Serviços de Finanças (DSF), Iong Kong Leong, afastou as sugestões feitas pelo legislador numa interpelação escrita.

Como tal, garante que vai manter as actuais condições da atribuição do cheque pecuniário.

Mas o director da DSF foi mais longe e refutou a teoria de Zheng Anting de que os beneficiários do apoio que residem no exterior já não têm uma ligação estreita a Macau. Iong Kong Leong realçou que a maioria dos portadores de BIR da RAEM que vivem fora de Macau mora em Hong Kong ou nas nove cidades da Grande Baía. Muitos destes residentes trabalham, estudam ou passam a reforma na província vizinha de Guangdong.

“Apesar de estes residentes não morarem aqui habitualmente, mantêm uma ligação estreita com Macau, moram em locais com um contacto geográfico próximo com o território e têm familiares que vivem em Macau. Portanto, achamos que é razoável atribuir o apoio do Plano da Comparticipação Pecuniária a este grupo de pessoas, cumprindo também a política de integração da RAEM na Grande Baía”, respondeu o dirigente.

Em relação aos portadores de BIR da RAEM que residem fora de Macau e das regiões vizinhas, Iong Kong Leong afirmou que representam uma proporção baixa face ao total de beneficiários, e que também não é prudente assumir que não mantêm uma ligação com Macau.

“Se alterarmos as condições limitando os destinatários do plano é preciso ter em conta os custos que isso implica e as dificuldades administrativas acrescentadas ao processo de atribuição. É preciso também reunir consenso social. Depois de considerados estes factores, decidimos manter as condições de atribuição nos mesmos moldes”, concluiu o director da DSF.

Consumo mínimo

Zheng Anting referiu que actualmente o plano já ultrapassou os 740 mil beneficiários, mas que apenas 570 mil moram em Macau, especulando que mais de 100 mil já não teriam ligação estreita ao território. Como tal, se o Governo negasse a atribuição do cheque pecuniário a estes portadores de BIR, poderia canalizar os fundos para lançar uma nova ronda do cartão de consumo, ou a emissão de vales de incentivo ao consumo, de forma a aliviar as dificuldades dos comerciantes nos bairros comunitários. Iong Kong Leong afastou ambas as ideias.

“A RAEM já tem imensas medidas para apoiar às empresas médias e pequenas e para incentivar a economia dos bairros comunitários” indicou o director da DSF.

26 Jun 2024

Zona A | Aberto concurso para construir edifício desportivo

A Direcção dos Serviços de Obras Públicas (DSOP) abriu um concurso público para a construção do edifício de equipamentos recreativos e desportivos no Lote A9 da zona A dos novos aterros. O projecto, segundo informações públicas ontem divulgadas, estará próximo das habitações públicas e lar de idosos, ocupando uma área aproximada de 1.930 metros quadrados e com uma área bruta de construção de 12.500 metros quadrados.

O edifício terá a altura de 44,5 metros, com um parque de estacionamento subterrâneo e dois pisos. Por sua vez, no piso térreo e superiores, serão construídos quatro pavilhões no total, uma piscina de 25 metros de comprimento, seis campos de badminton, dois campos de basquetebol e uma sala de ping pong, entre outras infra-estruturas.

O prazo definido para a construção é de 975 dias, divididos em duas fases. Na primeira fase devem ser construídas as fundações e a estrutura da laje do rés-do-chão em 325 dias, enquanto na segunda fase se devem concluir as estruturas superiores desde a laje do rés-do-chão até à laje de cobertura, com o prazo máximo de execução de 590 dias de trabalho. Estas metas são de cumprimento obrigatório para o futuro concessionário.

26 Jun 2024

Reserva financeira | Primeiras perdas desde Outubro

A reserva financeira de Macau perdeu 2,34 mil milhões de patacas em Abril, mas continua em terreno positivo no que toca aos quatro primeiros meses de 2024. Este foi o primeiro desempenho mensal negativo do ano. No final de Abril, a reserva financeira da RAEM totalizava mais de 595 mil milhões de patacas

 

Dados publicados ontem pela Autoridade Monetária de Macau (AMCM) no Boletim Oficial mostram que a reserva financeira perdeu 2,34 mil milhões de patacas no passado mês de Abril. Apesar do passo atrás, considerando os primeiros quatro meses de 2024, o saldo continua em terreno positivo.

Abril foi o primeiro mês desde Outubro em que a reserva financeira da região administrativa especial chinesa teve um desempenho negativo.

A reserva cifrou-se em 595,5 mil milhões de patacas no final de Abril, tendo ganho 14,1 mil milhões de patacas desde o início do ano, assim como 24,4 mil milhões de patacas nos últimos 12 meses.

O valor permanece longe do recorde de 669,7 mil milhões de patacas atingido em Fevereiro de 2021, em plena pandemia de covid-19.

O valor da reserva extraordinária no final de Abril era de 431,9 mil milhões de patacas e a reserva básica, equivalente a 150 por cento do orçamento público de Macau para este ano, era de 153,4 mil milhões de patacas.

Recorde-se que a Assembleia Legislativa aprovou, em 7 de Novembro, o orçamento da região para este ano, que prevê uma subida de 1,4 por cento nas despesas totais, para 105,9 mil milhões de patacas.

Regresso à forma

A reserva financeira de Macau é maioritariamente composta por depósitos e contas correntes no valor de 239,9 mil milhões de patacas, títulos de crédito no montante de 128,3 mil milhões de patacas e até 222 mil milhões de patacas em investimentos subcontratados.

No ano passado, a reserva financeira ganhou 22,2 mil milhões de patacas, depois de ter perdido quase quatro vezes mais no ano anterior. Isto apesar de, em 2023, as autoridades da região terem voltado a transferir quase 10,4 mil milhões de patacas da reserva financeira para o orçamento público.

No final de Janeiro, a AMCM sublinhou que os investimentos renderam à reserva financeira quase 29 mil milhões de patacas em 2023, correspondendo a uma taxa de rentabilidade de 5,2 por cento.

O orçamento de Macau para 2024 prevê o regresso dos excedentes nas contas públicas, depois de três anos de crise económica devido à pandemia da covid-19. O orçamento prevê ainda que Macau termine este ano com um saldo positivo de 1,17 mil milhões de patacas, “não havendo necessidade de recorrer à reserva financeira”.

26 Jun 2024

WikiLeaks | Pequim elogiou libertação de Julian Assange

Pequim considera que o trabalho realizado pelo fundador da WikiLeaks, Julian Assange, libertado em Londres após um acordo com a justiça norte-americana, permitiu ao mundo “conhecer melhor a verdade”.

“Quero dizer que as informações relevantes divulgadas pela (plataforma) WikiLeaks permitiram à comunidade internacional conhecer melhor os factos e a verdade”, disse a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China, Mao Ning, em conferência de imprensa.

Mesmo assim, a porta-voz afirmou que, apesar de ter conhecimento de “informações relevantes” sobre a libertação de Assange, a diplomacia chinesa não faz comentários sobre a “situação específica”.

Assange encontra-se a caminho das ilhas Marianas, território ultramarino norte-americano no Pacífico, onde o acordo vai ser formalizado.

No dia 27 de Março, a República Popular da China manifestou solidariedade para com o jornalista australiano e apelou à “equidade e justiça” no caso de Assange.

Segundo Pequim, Assange “expôs uma grande quantidade de informação secreta sobre as guerras dos Estados Unidos no Afeganistão e no Iraque e revelou também o facto de a CIA levar a cabo todo o tipo de ataques cibernéticos”.

O portal WikiLeaks anunciou segunda-feira, que Assange, 52 anos, de nacionalidade australiana, deixou a prisão de alta segurança de Belmarsh, Reino Unido, onde se encontrava detido, já tinha abandonado o país, com o objectivo de regressar à Austrália.

O anúncio ocorre depois de documentos judiciais terem revelado que Assange chegou a um acordo com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos que vai permitir o regresso à Austrália.

Assange vai comparecer em tribunal, hoje, nas Ilhas Marianas onde se vai declarar culpado de uma das 18 acusações de que é alvo por ter divulgado informações secretas dos Estados Unidos na década de 2010.

Em troca, vai ser condenado a uma pena de 62 meses de prisão, equivalente ao tempo que já cumpriu na prisão britânica de alta segurança, para finalizar o acordo com o Departamento de Justiça.

A justiça norte-americana acusou Assange de 18 crimes por violar a Lei de Espionagem no quadro de uma das maiores fugas de informação classificada da história dos Estados Unidos, em 2010, que revelou segredos das guerras no Iraque e no Afeganistão, bem como dados sobre os detidos na base de Guantánamo, entre outros assuntos.

Segredos pesados

Em 2019, o jornalista foi detido depois de a embaixada do Equador em Londres, onde Assange se refugiou durante sete anos, ter retirado o asilo que lhe tinha sido concedido em 2012.

A imagem de Assange foi muitas vezes afectada ao longo dos anos, em especial quando a plataforma WikiLeaks divulgou milhares de e-mails pirateados do Partido Democrata dos Estados Unidos e da equipa de Hillary Clinton em 2016, durante a campanha presidencial norte-americana.

Na altura, estas revelações mereceram elogios do candidato republicano Donald Trump. Segundo a CIA, os documentos foram obtidos por agentes russos, mas a WikiLeaks negou.

Em 2011, os cinco jornais (entre os quais o New York Times, Guardian e Le Monde) associados à plataforma WikiLeaks condenaram o método da plataforma de tornar públicos telegramas do Departamento de Estado dos Estados Unidos não editados, argumentando que eram susceptíveis de “colocar em perigo certas fontes”.

Mas, no final de 2022, os mesmos jornais apelaram à Administração norte-americana para que retirasse as acusações contra Julian Assange.

25 Jun 2024

Studio City | Segunda sessão do “WAVE Fest” este sábado

Decorre este sábado, entre as 15h30 e as 19h, a segunda sessão do primeiro festival de música em ambiente aquático, o “WAVE Fest”, promovido pelo Studio City, e que decorre no “Water Park Event Garden” do empreendimento, no Cotai.

Para este evento incluem-se as actuações de Hins Cheung, Vincy Chan, Dark Wong, ToNick e VIVA. A primeira sessão inaugural em Macau contou com MC Cheung Tin-fu como cabeça de cartaz e mais de mil pessoas que participaram “numa derradeira experiência de música e salpicos”, aponta um comunicado da organização.

Houve “uma mistura inovadora de música ao vivo e actividades dinâmicas” no parque aquático do Studio City, pelo que agora, depois da primeira sessão “esgotar em tempo recorde”, se espera mais animação no Cotai. Houve ainda “um enorme impacto na cena de entretenimento de Macau”.

Neste festival actuaram também os “Initial B”, banda rock de Macau, bem como o grupo, de cinco elementos, “#FFFF99”, sem esquecer os “Zpecial”, que trouxeram ao público “baladas populares que emocionaram o público”. Por sua vez, na primeira sessão do “WAVE Fest”, houve ainda espaço para o grupo feminino “Lolly Talk”, que “injectou uma dose de energia juvenil com canções de amor de ritmo ligeiro” e que pôs “os fãs a mexer com adoráveis vibrações”. Por sua vez, “Dear Jane” “inspirou o público a cantar com os seus êxitos clássicos no topo das tabelas”.

25 Jun 2024

No sexo, do que precisas?

Comunicar sobre o sexo é uma tarefa difícil. O sexo está embrenhado em tantos tabus e medos que falar sobre ele pode erguer paredes, ao invés de as destruir. Isto porque o sexo aproxima-se do ser mais íntimo, aquele que está em contacto com os medos mais primários.

Considerem o sexo como uma dança, um movimento de corpos que nos aproxima dos conteúdos mais prazerosos, mas também mais difíceis das nossas vivências, intimidades e vínculos.

Quando se tocam nesses lugares cavernosos do prazer, pode surgir a necessidade de conversar sobre eles, principalmente quando o movimento dos corpos deixa de ser síncrono.

A necessidade de comunicação surge quando esses conteúdos tão enterrados no nosso ser encontram essas águas lamacentas do outro. Por vezes, entra-se nesse espaço de bloqueio e medo, que paralisa e atiça a paralisia e a confusão no outro. No sexo, esse desencontro pode tornar-se muito evidente. A ligação dos corpos traz essas vivências inconscientes que as palavras mal conseguem expressar de forma eloquente, mas revelam-se nessa falta de união e entendimento.

Nestas situações de desencontro, estimula-se a comunicação para criar pontes de diálogo. Na terapia de casal, por exemplo, tenta-se reinventar formas de comunicar que não sejam atiçadoras das situações de vulnerabilidade de cada um. O objectivo é a escuta activa.

Na relação humana (que pode ser amorosa ou não), o momento de escuta pode ser entendido como a forma como se conseguem encarar os medos ou as dificuldades do outro sem infectar a nossa experiência de medo e dificuldade. No sexo, por exemplo, é comum que a necessidade de um membro da parceria atice alguma insegurança no outro. O uso de brinquedos sexuais durante o sexo, ou a utilização de lubrificantes para facilitação do toque e quiçá penetração, são por vezes encarados com medo de substituição. Estas acções também podem ser interpretadas como um sinal de falhanço, como se o uso de auxiliadores no sexo fosse um sinal de que não somos suficientes. Essas manifestações na outra pessoa são depois interpretadas com base nas nossas histórias pessoais, e se forem mal recebidas, aí o conflito instala-se.

Quando isso acontece, uma conversa pode ser necessária para mitigar essas sensações de pavor. E como é que se comunica sobre isso? Algo que me tenho interrogado ultimamente é sobre o vocabulário do “querer” e do “precisar” neste processo de escuta activa. Muitas vezes na discussão sobre o sexo, incentiva-se que as pessoas desenvolvam o vocabulário do querer. Querem-se pessoas sexualmente emancipadas para que possam expressar o que querem na cama. O “querer” é um verbo que se refere a desejos pessoais e subjectivos. Quando se discute a necessidade de articular os desejos no sexo, esta pode ser uma linguagem individualista e desconectada, sem tornar evidente que os nossos desejos têm a ver com o outro e com aquele encontro em específico.

Remeter para a linguagem da “necessidade” ou do “precisar” já remete para vontades que, para além de serem mais imediatas em contexto, também são mais básicas e fundamentais. O necessitar ou o precisar já se refere a esse lugar um pouco mais complicado de sensação de falta, mas abrem espaços para ouvir o outro. Se no momento do sexo interpelarem o outro com “o que precisas” ao invés de “o que queres”, talvez facilite a chegar a esses sítios de vulnerabilidade que o sexo vive tanto. Estes verbos também revelam de uma forma mais cuidada a qualidade relacional das vontades, como se tornasse evidente que o que carecemos está em constante diálogo com o ambiente à nossa volta, e com as pessoas que o compõem.

No sexo talvez seja preciso um cardápio de estímulos visuais, toque, carinho, até um pouco de kink para colorir a preferência baunilha de muita gente. Questionarmo-nos sobre o que precisamos também é uma linguagem mais sensível à descoberta pessoal. Em vez de procurar os desejos como “quereres”, como se fossem provisórios e efémeros, questionar-se: o que precisamos no sexo? Essas necessidades podem revelar partes contraditórias e confusas da experiência humana porque vão a lugares de vulnerabilidade. Mas diria que é o caminho para explorar de forma mais inteira os desejos. Esse lugar onde é possível pedir ajuda e deixar o outro entrar através da pele.

Quando na vossa vida sexual encontrarem esse momento de confusão e de desencontro, vão à procura do vosso “necessitar” e o do outro. Pode ser que precisem de um dia de relaxamento total para conseguirem estar em contacto com o sexo. Pode ser que precisem de explorar outras formas de estar, de assumir papéis e performá-los. O diálogo sincero e a exploração conjunta das vossas necessidades e desejos podem transformar o sexo numa experiência mais profunda e gratificante. Ao invés de verem o sexo como uma mera acção física, encarem-no como uma oportunidade para fortalecer a conexão emocional e descobrir novas dimensões da relação. É essa abertura para comunicar e explorar que poderá transformar o sexo numa viagem contínua de descoberta e prazer mútuo.

25 Jun 2024

Espaço | Sonda lunar regressa com amostras inéditas do lado mais distante da Lua

A sonda chinesa Chang’e 6 regressou ontem à Terra com amostras de rocha e de solo do lado mais distante da Lua, pouco explorado, numa estreia mundial.

A sonda aterrou no norte da China, na região da Mongólia Interior. Os cientistas chineses prevêem que as amostras devolvidas incluirão rochas vulcânicas com 2,5 milhões de anos e outros materiais que responderão a questões sobre as diferenças geográficas entre os dois lados da Lua.

Embora missões anteriores dos Estados Unidos e da União Soviética tenham recolhido amostras do lado próximo da Lua, a missão chinesa foi a primeira a recolher amostras do lado distante, não visível a partir da Terra e virado para o espaço exterior.

Sabe-se também que o lado mais afastado tem montanhas e crateras de impacto, o que contrasta com as extensões relativamente planas visíveis no lado mais próximo. A sonda deixou a Terra a 3 de Maio e a sua viagem durou 53 dias. A sonda perfurou o núcleo e recolheu rochas da superfície.

Espera-se que as amostras “respondam a uma das questões científicas mais fundamentais na investigação científica lunar: que actividade geológica é responsável pelas diferenças entre os dois lados”, disse Zongyu Yue, geólogo da Academia Chinesa de Ciências, numa declaração publicada na Innovation Monday, uma revista publicada em parceria com a Academia Chinesa de Ciências.

Nos últimos anos, a China lançou várias missões bem-sucedidas à Lua, tendo recolhido amostras do lado próximo da Lua com a sonda Chang’e 5. A China espera também que a sonda regresse com material que contenha vestígios de impactos de meteoritos do passado da lua.

25 Jun 2024

Proteccionismo | Li Qiang adverte para “espiral destrutiva”

As políticas proteccionistas e que visam a dissociação económica entre a China e o Ocidente podem gerar um “círculo vicioso” e arrastar o mundo para uma “espiral destrutiva”, alertou ontem o primeiro-ministro chinês.

“Isto leva os países de todo o mundo a um círculo vicioso em que a luta por uma fatia maior do bolo acaba por encolher o bolo”, afirmou Li Qiang, num discurso proferido na abertura da reunião anual de Verão do Fórum Económico Mundial, que está a decorrer na cidade de Dalian, no nordeste da China.

Referindo-se à mentalidade do “pequeno quintal com uma vedação alta”, Li condenou os esforços de Washington para restringir o acesso da China a alta tecnologia e outras indústrias chave.

“A escolha certa é abordar as questões de desenvolvimento com uma visão de longo prazo e uma mente mais aberta, e juntarmo-nos a outros para expandir esse bolo. É assim que podemos sustentar o crescimento da economia mundial e abrir novos horizontes para o nosso próprio desenvolvimento”, insistiu.

O político chinês garantiu que a mentalidade proteccionista “não conseguirá travar o desenvolvimento dos outros”, em referência ao que Pequim considera serem as tentativas de Washington para conter a China: “No final, só acaba por prejudicar quem adopta essa postura”.

Li também dedicou parte do seu discurso àquilo a que a China chama “novos sectores energéticos”, como os painéis solares ou os veículos eléctricos, que estão a ser alvo dos EUA e da União Europeia (UE) devido aos subsídios industriais oferecidos por Pequim, vistos como potencialmente indutores de concorrência desleal.

“Não podemos abrandar a nossa velocidade na transição ‘verde’ em troca de crescimento a curto prazo, nem podemos praticar o proteccionismo em nome do desenvolvimento ‘verde’ ou da protecção ambiental”, afirmou.

O compromisso da China para com as energias renováveis – Li referiu que o país já representa mais de 50 por cento da capacidade instalada mundial – não se destina apenas a satisfazer as necessidades domésticas de energia limpa, mas também a alimentar o abastecimento internacional e a ajudar a aliviar a inflação mundial.

“Devemos abandonar o confronto entre blocos e ir contra a dissociação das cadeias de abastecimento”, afirmou, insistindo que “a história do desenvolvimento económico global mostra que a abertura traz progresso”.

Esforços comerciais

Referindo-se à economia chinesa e à recuperação da “dura doença” que sofreu durante os anos da política ‘covid zero’, Li reiterou a confiança na concretização dos objectivos de crescimento para este ano, de cerca de 5 por cento em termos anuais, e apelou às empresas estrangeiras para que aproveitem as oportunidades do “vasto mercado” chinês.

“Temos feito tudo o que está ao nosso alcance para criar um ambiente empresarial orientado para o mercado e de classe mundial, no âmbito de um quadro jurídico sólido. Para o efeito, revogámos regulamentos que limitavam o acesso ao mercado e a concorrência leal”, afirmou o primeiro-ministro chinês, que apelou a medidas específicas e a progressos graduais na recuperação da economia nacional.

Criado pelo FEM – uma instituição privada famosa pelo seu encontro anual de líderes mundiais no Inverno em Davos (Suíça) – em 2007, o “Davos de Verão” realiza-se todos os anos na China e, nesta ocasião, está a ter lugar na cidade costeira de Dalian, desde ontem até quinta–feira.

25 Jun 2024

A simplificação do mundo

A linguagem tem muitas funções, salta à vista a de instrumento essencialmente social. Por meio da palavra, tanto oral como escrita, participamos no mundo, moldamo-lo à nossa imagem e semelhança e os mais inventivos chegam mesmo a recriá-lo.

Tradicionalmente, os chineses atribuem a invenção da linguagem a Canjie, um dos ministros de Huangdi, o Grande Imperador Amarelo. Note-se que antes do aparecimento da linguagem social propriamente dita, já a religiosa tinha surgido pela mão de Fuxi, o Primeiro dos Cinco Imperadores Augustos.

A linguagem na sua faceta social terá sido fruto, em algumas versões, da observação das pegadas dos pássaros, noutras da leitura atenta das carapaças das tartarugas.

Diz-nos o quarto maior filósofo daoísta, naquela que ficou conhecida pela obra de Huainanzi, que “Canjie inventou a escrita, a fim de poder governar todos os oficiais e dirigir todos os assuntos. Os tolos utilizam-na para anotar o que não devem esquecer, os sábios servem-se dela para transmitir pensamentos profundos antes de desaparecerem. Os perversos utilizam-na para deixar registadas mentiras que os desculpem da morte de muitos inocentes.” (Huainanzi, cap. 8, in Anthologie des Mythes et Légends de la Chine Annciene, org. de Rémie Mathieu, Gallimard, 1989)

Interessa-nos reter a justificação socio-política chinesa para o aparecimento da escrita. Na versão mais positiva, surgiu para organizar e governar os homens, na mais negativa, acrescentamos nós, é um excelente instrumento de domínio. Pensamos com a linguagem e não antes dela, comunicamos e impomos, quanto temos força para tal, também através dela.

Sabia bem esta lição o Primeiro Imperador Ying Zheng, que subiu ao trono com o nome de Qin Shihuang, à letra o Primeiro Imperador dos Qin. Este conseguiu impor o reino Qin a todos os outros Estados Combatentes, entre 230 e 221 a.C. O Primeiro Imperador unificou o país, centralizou o poder económico, político e administrativo. Impôs uma só moeda e padronizou a linguagem, com base na escrita do pequeno Selo ou Xiaozhuan, isto é, na grafia utilizada no reino de Qin.

Contra a ânsia uniformizadora e redutora do Imperador, reagiu, como é fácil de perceber, a maioria dos intelectuais à época, muitos deles filiados na tradição confucionista, completamente avessa a modelos padronizadores e a simplificações. Começaram a correr históricas satíricas sobre o Imperador e ele respondeu previsivelmente: mandou queimar todos os livros, à excepção dos cientificamente úteis, aqueles relativos à medicina, agricultura e outros domínios directamente relacionados com a sobrevivência das gentes. Mas deixemos o construtor da Grande Muralha e do Exército de terracota repousar o sono dos grandes…

A reter, a simplificação da escrita utilizada como arma política centralizadora. Mais tarde, durante as dinastias Han, tanto do Oeste como do Leste, a linguagem escrita voltaria a sofrer novos processos de simplificação, o primeiro, com a adopção da Escrita Oficial, ou Lishu, por volta do século 3 a.C. e o segundo, entre o século 2 e 3 d.C, com a adopção da Escrita Regular, ou Kaishu, também denominada de Escrita Verdadeira ou Zhenshu – o estilo predominantemente quadrado que ainda hoje vigora entre os chineses, quando utilizam os caracteres, sobretudo, para funções sociais.

Os séculos foram correndo e as simplificações no domínio da escrita abrandaram, até que a chegada de missionários ocidentais à China, nomeadamente a de Mateus Ricci, volta a trazer a questão da linguagem chinesa para primeiro plano. Novamente as necessidades comunicativas falaram mais alto. Como colocar a mundividência chinesa ao dispor dos ocidentais?

Ricci optou, no início do século XVII, pela utilização do alfabeto latino para transcrever os caracteres chineses. Após a sua tentativa, outras se seguiram, sendo de destacar as do francês Nicolas Trigault, que publicaria em 1625 um livro intilulado: UM GUIA PARA INTELECTUAIS OCIDENTAIS e, sobretudo, a do inglês Thomas Francis Wade, que, após as Guerras do Ópio, em 1867, publicaria um alfabeto fonético para a linguagem chinesa, conhecido por sistema Wade, que, não só perdurou até aos nossos dias, como é bastante semelhante ao próprio Pinyin, isto é ao alfabeto latino chinês, reconhecido oficialmente no presente pelos chineses.

Às tentativas ocidentais para transcrever foneticamente a linguagem chinesa, com recurso ao alfabeto latino, vieram juntar-se os esforços chineses, nascidos da nova mentalidade que, em 1911 transformou, com Sun Yat-sen, o Império do Meio em República do Meio.

Os republicanos criam um sistema fonético, o Zhu Yin Zi Mu, que deveria vigorar em todo o país. Neste tipo de transcrição, recorria-se a 37 símbolos para registar todas as palavras no dialecto de Pequim.

Como já anteriormente sucedera, houve a necessidade de mexer na linguagem para a tornar uniforme, isto é, extensível ao maior número possível. Não obstante, a linguagem escrita e os vários dialectos locais foram preservados. Por isso, aos olhos dos que tomaram o poder em 1949, este sistema possuía dois grandes defeitos: não era capaz de funcionar como base comum para unir todas as minorias nacionais, nem de promover o intercâmbio internacional, por não recorrer a um alfabeto latino, que pela sua simplicidade pudesse ser entendido tanto por estrangeiros, como servir de fundamento à criação de uma escrita, ausente de muitos dos dialectos nacionais.

A transcrição fonética dos nacionalistas não implicava uma mudança radical na escrita, era uma uniformização ao nível oral e para consumo interno, entenda-se, para divulgação da mensagem e ideais republicanos.

Em 1949 os comunistas tomaram o poder. Traziam consigo um mundo ideológico radicalmente novo. Eles não queriam pontes com a tradição, pelo contrário, a palavra de ordem era revolucionar e em todos os campos. Por um lado, necessitavam, para espalhar a “sua boa nova” de uma linguagem, que funcionasse como um instrumento social eficaz.
Por outro, debatiam-se com um problema, como espalhar a nova mensagem se a maioria era iletrada?

Havia que cultivar as pessoas sem demora, para tal precisavam de uma arma simples, eficaz, que chegasse rapidamente às massas. Ainda no ano de 1949 é criada em Pequim a Associação para a Reforma da Linguagem Escrita Chinesa e em 1952 é estabelecido, com carácter oficial, o Comité de Pesquisa para a Reforma da Linguagem Chinesa. Este Comité, como esclareceria Zhou Enlai, no discurso proferido, em 1958, aquando da aprovação final do Novo Alfabeto Fonético Chinês, tinha tido como principais objectivos: a simplificação dos caracteres chineses; a popularização de um discurso comum (Putonghua) e a criação de um alfabeto fonético chinês.

Em 1956, o Conselho de Estado estabelecia o primeiro esquema para a simplificação dos caracteres chineses, como meio de erradicar iliteracia. Para a nova mentalidade, era necessária uma escrita com menos traços, que poupasse energia e tempo a professores e aprendizes, que permitisse, a um cada vez maior número de chineses, aprender e colocar o país no caminho do progresso científico.

Também era fundamental para a propagação do novo mundo ideológico, um discurso comum, que tivesse como padrão o dialecto de Pequim. Este, com a ajuda de um alfabeto fonético passaria a facultar não só o intercâmbio nacional, pela criação de um sem-número de materiais linguísticos e de catalogação simplificados, como também o intercâmbio internacional. Foi então aprovado o Plano para o Alfabeto Fonético pelo Congresso Nacional Popular em 1958, que adoptou, como seu modelo, o alfabeto latino.

A simplificação da linguagem chinesa possui características manifestamente chinesas. Aos olhos ocidentais, este sistema linguístico continua a ser tremendamente complicado. A nossa tendência é para simplificar a simplificação, por assim dizer. Por isso, nas transcrições fonéticas, esquecemos os acentos, que povoam individualmente as palavras e não existem por acaso, mas sim para evitar as homofonias, pródigas neste sistema linguístico.

Esquecemos e seja o que Deus quiser. Mas esse esquecimento levanta um grande obstáculo para aqueles que sonham em transformar o chinês numa língua romanizada, pois embora seja possível olvidar os acentos em palavras soltas e frases curtas, uma transcrição fonética de um escrito chinês sem os tais grafismos, que marcam os tons, torna qualquer texto absolutamente incompreensível.

No entanto, um escrito romanizado pejado de acentos, transforma a leitura, sobretudo se for de grande porte, num martírio. Por enquanto, o alfabeto fonético chinês é um instrumento de leitura e nada mais. Também não pretendia ser, pelo menos aos olhos das gentes do dragão, qualquer outra coisa.

Não obstante, a simplificação da linguagem chinesa para consumo interno, funcionou. Esta estendeu-se a um maior número de pessoas e pagou um preço – leia-se, desejado – por isso. Cortou com a tradição. Hoje, a nova geração é incapaz de entender os textos clássicos nas suas versões originais. Assim, só para nós, estrangeiros, as simplificações linguísticas são reformas, para os chineses do continente foram uma verdadeira revolução que os pôs a olhar para um mundo novo, simplificado, sem raízes, onde o progresso e a ciência, mais do que palavras, são verdadeiros programas de vida, que doravante poderão, como religiosamente se acredita, ser concretizados por meio da escrita simplificada.

25 Jun 2024