Ténis | Nuno Borges à procura de ser “mais rápido e forte para fazer a diferença”

Nuno Borges acredita ser necessário tornar-se mais rápido e forte para poder ter mais hipóteses frente aos melhores tenistas do mundo.

Já a trabalhar na pré-temporada, sob a orientação da equipa técnica da Federação Portuguesa de Ténis no Jamor, o tenista da Maia, número 33 do mundo, está à procura de elevar a sua condição física e o nível de ténis para conseguir ser mais eficaz e assim acompanhar a tendência ditada por jovens como Jannik Sinner ou Carlos Alcaraz.

“Acima de tudo, falta-me nível. É difícil apontar uma coisa, do género se servisse mais rápido já tinha mais hipótese. Não. Precisava de ser mais eficaz, mais rápido, que as minhas bolas fossem mais potentes, se calhar, se conseguisse fazer mais mossa no serviço e tivesse mais jogo de rede. Olhar um bocadinho para os melhores do mundo… se conseguisse gerar mais potência nas pancadas, como o Carlos e o Sinner, os dois que conseguem fazer isso um bocadinho mais que os outros e dá-lhes alguma vantagem, mas eles também se movimentam muito bem”, aponta, em entrevista à Lusa.

Definindo o espanhol (3.º ATP) como um jogador “muito rápido” e o italiano, número um mundial, como “extremamente eficaz”, Borges defende a importância de ganhar maior resistência física para conseguir um “ténis mais ágil e cada vez mais potente nas pancadas.”

“Se jogar nos sítios certos e tiver o controlo do ponto, é meio caminho andado, mas, se pudesse melhorar a minha resposta, ajudava muito. Sinto que melhorou muito, mas precisava de ser melhor ainda para jogar com o [Alexander] Zverev (2.º ATP), por exemplo. Tem um serviço excecional e quando joguei contra ele senti muitas dificuldades nos jogos de resposta. No ‘rally’ consigo estar com eles, mas no início da jogada eles estão melhores do que eu e acho que é aí que o ténis se define muito”, explica.

Face a esta leitura do ténis atual e dos adversários, sobretudo os que estão no top 20, o campeão português do ATP 250 de Bastad considera que “seria muito positivo” ter outro ano como 2024, mas que para isso precisa de “atacar estas próximas semanas para tentar ganhar um bocadinho mais de caparro.”

“Acima de tudo, o que posso melhorar mais é o nível físico e acho que os melhores do mundo também nesse aspeto estão excecionalmente acima dos outros. Vou à procura de ficar mais rápido, ter mais força, servir mais rápido, de tentar fazer mais a diferença, porque, conseguir estar na bola mais cedo é uma vantagem gigante”, justifica.

Para 2025 as ambições do tenista maiato, que iniciou a última temporada no 66.º lugar do ranking’ ATP e chegou a atingir o 30.º posto em setembro, passam também por protagonizar uma melhor campanha em Roland Garros, onde ganhou apenas um encontro em 2023, e em Wimbledon, onde há dois anos se lesionou no pé direito e onde ficou na primeira ronda em 2024.

“Gostava de fazer, pelo menos, melhor em Roland Garros e Wimbledon. Tenho um objetivo de tirar um bocadinho esse estigma de Wimbledon e da relva, de conseguir movimentar-me melhor [na superfície]. Acho que no ano que vem vou tentar fazer um bocadinho diferente, não sei como ainda. Tenho muito tempo ainda para pensar nisso, mas da maneira que joguei este ano não dá. Portanto, vou à procura de fazer algo diferente”, garante.

Apesar de ter sido apenas o segundo tenista português a quebrar a barreira do top 50 da hierarquia mundial, depois de João Sousa, 28.º colocado em 2016, e de ter encerrado a época na 33.ª posição, Nuno Borges garante não estar à procura de bater o recorde do vimaranense.

“A verdade é que não jogo para isso, jogo para melhorar. Se isso é 29.º, 28.º ou 25.º, está tudo certo. Mas vou à procura de jogar melhor e estar melhor. Se conseguir manter isso o ano todo, acho que o resultado vai acabar por vir. O ranking também é algo que não consigo controlar, depende dos meus adversários e dos quadros [dos torneios]. É uma pressão que eu não preciso ter”, sublinha, considerando ainda ser “injusto” comparar as carreiras.

Nuno Borges, de 27 anos, ainda não tem o calendário totalmente definido para 2025, mas pretende começar a época, à semelhança do último ano, em Hong Kong, no dia 01 de janeiro, e seguir para Auckland, antes de regressar a Melbourne Park para disputar o primeiro torneio do Grand Slam da temporada.

30 Nov 2024

UPorto e USJ aliam-se a centro luso-chinês de investigação em ciências do mar

A Universidade do Porto (UPorto) e a Universidade de São José, em Macau, juntaram-se na quarta-feira a um centro luso-chinês de investigação em ciências do mar, que quer atrair mais instituições, disse um dirigente à Lusa.

As duas universidades assinaram acordos com a Universidade dos Oceanos de Xangai (SHOU), durante a cerimónia de abertura da quinta conferência, realizada em Macau, do Centro Internacional de Investigação Conjunta para as Ciências do Mar.

O centro, conhecido pela sigla inglesa de Sinoport Ocean, foi inicialmente estabelecido pelo Centro de Ciências do Mar (CCMAR) da Universidade do Algarve e pela SHOU, em 2017, e teve reuniões anuais alternadas entre Xangai e Faro, interrompidas pela pandemia.

À margem da conferência, o director do CCMAR, Adelino Canário, disse que o objectivo “é de facto alargar a cooperação” e previu que o número de acordos assinados com universidades portuguesas e chinesas “vai continuar a alargar-se”.

“Até agora tem sido com um número limitado de participantes, por convite, mas estamos a pensar alargar de uma forma mais aberta, permitir que mais investigadores possam participar, porque há muito interesse mútuo em colaborar”, explicou Canário.

“Às vezes há falta de mecanismos, mas há esse interesse e quanto mais pessoas estiverem envolvidas melhor, para permitir que haja também mais diversidade”, acrescentou o professor universitário.

Incentivo ao conhecimento

Canário apontou o financiamento das colaborações como um outro desafio e lamentou interrupções nos programas da Fundação para a Ciência e a Tecnologia português e do Ministério da Ciência e Tecnologia da China. O Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia de Macau “está muito interessado em ajudar a que estas colaborações avancem e, portanto, temos confiança que vão avançar”, acrescentou o académico.

Além dos resultados científicos, Canário sublinhou a importância de encorajar a iniciativa, sobretudo dos jovens investigadores, em procurar oportunidades de colaboração e de “conhecer outras formas de fazer coisas e outras culturas”.

Por outro lado, disse o director do CCMAR, as alterações climáticas fazem com que seja “cada vez mais importante” investigar os oceanos, porque ajudam a regular o clima ao absorverem o excesso de dióxido de carbono na atmosfera.

De acordo com a televisão pública de Macau TDM, o vice-presidente da SHOU disse querer alargar às universidades da região semiautónoma chinesa a cooperação científica e académica entre a China continental e Portugal.

Após a cerimónia de abertura da conferência, Luo Yi acrescentou que os acordos poderão ajudar a criar uma rede de cooperação e investigação científica “mais vasta e mais próxima” entre instituições de ensino superior dos dois países.

29 Nov 2024

Praça do CCM oferece espectáculos gratuitos este fim-de-semana

A praça do Centro Cultural de Macau (CCM) será palco, este fim-de-semana, de uma série de espectáculos ao ar livre, totalmente gratuitos. A iniciativa chama-se “Clássicos reimaginados: Harmonias da Hora Dourada” e conta com o apoio da Sands China.

Segundo uma nota da operadora de jogo, esta iniciativa conta com actuações ao vivo do grupo “Janoska Ensemble”, Niu Niu e Gordon Lee, além de uma masterclass especial do Janoska Ensemble. Os concertos integram-se no Programa de Artes Performativas da Sands China em celebração do 75.º aniversário da fundação da República Popular da China, do 25.º aniversário do regresso de Macau à pátria e da designação de Macau como Cidade Cultural da Ásia Oriental 2025.

Este sábado terá lugar, a partir das 17h, o “Concerto dos 10 anos do Janoska Ensemble”, grupo com músicos de jazz que anda em digressão com o seu novo álbum, intitulado “The Four Seasons”. Destaque ainda para a realização de uma masterclass com este grupo no domingo, no mesmo local, a partir das 16h.

Os “Janoska Ensemble” descrevem-se como um “conjunto que transporta a improvisação na música clássica para o século XXI”, proporcionando “uma viagem emocionante e aventureira às últimas fronteiras onde nenhum músico foi antes”.

Este grupo apresenta uma espécie de fusão de vários estilos musicais, ultrapassando “todas as fronteiras com a sua linguagem musical poliglota”. Os “Janoska Ensemble” estrearam-se com o disco “Janoska Style”, em 2016, tendo lançado, há cinco anos, “Revolution”, que ganhou um Disco de Ouro. Em 2022, surgiu o terceiro trabalho de originais, “The Big B’s”.

“Resumir em poucas palavras a qualidade especial dos arranjos de Janoska não é tarefa fácil: são incursões paralelas no território clássico e em domínios distantes do repertório musical, onde os músicos exercem a sua criatividade espontânea para criar música de primeira classe, inovadora e emocionante que vive e respira”, descreve-se no website oficial do grupo.

Os “Janoska Ensemble” são compostos por três irmãos de Bratislava – Ondrej e Roman Janoska nos violinos e František Janoska ao piano – juntamente com o cunhado Julius Darvas, nascido em Konstanz, no contrabaixo.

Niu Niu Vs Gordon Lee

Esta série de espectáculos inclui ainda o “Concerto de Harmónica de Gordon Lee” e o “Recital de Piano ‘Lifetime’ de Niu Niu”, ambos a partir das 17h30.

No caso de Gordon Lee, o músico é considerado como um dos importantes harmonicistas do mundo, tendo ganho, em 2017, o Festival Mundial de Harmónica de 2017, que é a competição de grau mais elevado para este tipo de instrumento.

Gordon foi convidado a actuar no Carnegie Hall em Nova Iorque, no Muth Concert Hall em Viena, no Esplanade em Singapura, no International Harmonica Festival em Seul e no World Harmonica Festival em Trossingen na Alemanha. O seu repertório inclui o Concerto para Harmónica de Spivakovsky, o Prelúdio e Dança para Harmónica e Orquestra de Farnon, Toledo para Harmónica e Orquestra de Moody, entre outros.

Nascido e criado em Hong Kong, Gordon formou-se na Universidade de Educação de Hong Kong, além de ter estudado Harmónica Cromática com o solista de Harmónica Cromática Franz Chmel de Viena, Sigmund Groven da Noruega. O músico estudou também Harmónica Diatónica com Howard Levy, vencedor de dois Grammys, de Nova Iorque. Em Hong Kong, estudou técnicas de execução com o solista de sheng Cheng Tak-wai.

No caso de Niu Niu, nome artístico de Zhang Shengliang, é já um famoso pianista com apenas 27 anos. Nasceu em Xiamen, China, numa família de músicos, tendo começado a estudar piano com o pai. Estreou-se em recitais de piano com apenas seis anos de idade, tocando uma Sonata de Mozart e um Étude de Chopin. Aos oito anos, Niu Niu foi o aluno mais jovem de sempre a matricular-se na escola primária afiliada do Conservatório de Música de Xangai.

29 Nov 2024

Ka-Hó | Exposição “Riding On Dreams” a partir de domingo

Será inaugurada no próximo domingo, dia 1, a exposição “Riding On Dreams” na galeria Hold On to Hope, da autoria da artista local Ada Zhang. A galeria, que é um projecto de cariz social da responsabilidade da Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau (ARTM), acolhe esta mostra até ao dia 5 de Janeiro.

Segundo uma nota de imprensa, esta exposição “apresenta uma colecção cativante de pinturas a óleo e aquarelas que celebra as paisagens encantadoras de Macau”, na qual a artista “convida os espectadores a mergulharem na beleza única desta cidade vibrante, tal como é expressa através das suas obras evocativas”.

A ARTM convida o público a deslocarem-se à pitoresca aldeia de Ka-Hó para descobrir, nestas obras, “a essência sonhadora de Macau”, para que “cada pintura o transporte para as suas cenas pitorescas”.

Ada Zhang é natural da província de Sichuan e especializou-se em aguarela, pintura a óleo, desenho e esboço. É directora da Associação de Artistas Contemporâneos de Aguarela de Macau e membro da Associação de Artes de Macau, da Associação de Arte Juvenil de Macau, da Associação de Pintura de Macau e da Associação de Calígrafos e Pintores Chineses “Yü Ün” de Macau. Os seus trabalhos ganharam o Prémio de Excelência do Concurso de Desenho Cheng Yang Bazhai em 2021 e foram seleccionados para a Bienal de Aguarela da Grande Baía de Guangdong-Hong Kong-Macau de 2021.

29 Nov 2024

Mímica | Festival no CCM e Jardim Luís de Camões no fim-de-semana

Decorre este fim-de-semana a terceira edição do Festival Internacional de Mímica de Macau, organizado pelo Teatro CANU, e que terá sessões no Centro Cultural de Macau e também ao ar livre no Jardim Luís de Camões. O evento conta com a participação de artistas locais e internacionais, peritos na arte de fazer rir, sonhar e pensar

 

Acontece este sábado e domingo a terceira edição do Festival Internacional de Mímica de Macau (MIMF), um evento organizado pelo Teatro CANU, e que este ano tem como mote “Viver a vida através dos olhos de um palhaço, e com sentido de humor”. Não surpreende, assim, que uma das secções do evento seja “Clown’s Dream” e outra “Humor Clashing”, sendo que os espectáculos, de curta duração, decorrem na Box I do Centro Cultural de Macau (CCM).

Assim, no sábado e domingo, a partir das 19h45, pode ver-se a actuação “Vitamin”, com Carlo Jacucci, de Itália. Segundo a organização, este espectáculo é “uma viagem deliciosa pelos momentos peculiares da vida, onde o quotidiano se torna extraordinário” e onde “uma lagarta luta para se libertar da sua caixa, um guru tropeça na sabedoria que nunca leu e um corredor de maratona desvia-se hilariantemente da rota, transformando-se em roubo”.

Aqui, Carlo Jacucci, o único actor, “dá vida a estas personagens inesperadas, transformando lutas simples em beleza cheia de riso”.

Segue-se “idio2 Play”, com a dupla de performers japoneses Kosube Abe e Hiroyoshi Hisatomi. Em dez minutos estes irão recorrer a chapéus e outros adereços para combinar “movimentos hábeis e uma improvisação leve e bem-humorada”.

O “Dio2” é um duo de entretenimento japonês, apostando em magia, comédia e acrobacias, num estilo “ligeiramente absurdo, mas conscientemente único”.

Ainda nesta secção do festival destaque para o espectáculo de 30 minutos protagonizado por Gregg Goldston, “The Magic of Mime”.

Este “é um espectáculo cativante de habilidade física, misturando comédia e drama para criar um mundo invisível encantador”. Gregg apresenta “um chapéu mágico”, encaminhando o público em “batalhas que transformam de forma surreal a realidade em fantasia, numa luta sincera entre o desejo de amizades e o medo de as perseguir”.

Gregg Goldston é um mimo de renome mundial, realizador e educador de mímica de Los Angeles, tendo começado a trabalhar nesta área depois de ver a actuação do mestre Marcel Marceau. Em várias tournées americanas de Marceau nos anos 2000, Gregg serviu como assistente do actor, tendo depois começado a desempenhar papéis mais importantes. Gregg Goldston, visto como alguém que está a ajudar a desenvolver a primeira geração de mimos americanos, irá dar um workshop integrado neste festival.

Sonhos dos palhaços

Se em “Humor Clashing” as actuações começam no final do dia, na secção “Clown’s Dream” o riso e a fantasia prometem prolongar-se pela noite dentro, a partir das 21h30.

Apresenta-se, com actores japoneses e o Teatro CANU, o espectáculo “The Eyes of Odin”. “Na mitologia nórdica, Odin, o rei dos deuses, enviava os seus corvos para voar até ao mundo dos humanos e observar tudo o que acontece. Desta vez, inesperadamente, um deles perdeu-se no nosso mundo – um lugar cheio de risos e mistérios insolúveis: ouviu um prisioneiro obcecado com a liberdade; testemunhou um professor apaixonadamente dedicado à musculação durante uma aula de ginástica; e encontrou uma lontra marinha numa fonte termal, tão apaixonada por se encharcar que nem os deslizamentos de terras e as tempestades ao nível de um tufão a conseguiram afastar”, descreve-se, sobre o espectáculo.

Esta actuação é “um poema visual que combina actuações de palhaços, mímica, teatro físico e música ao vivo”, com momentos poéticos dentro do absurdo, colocando questões silenciosas e guiando o público a seguir os passos do corvo para um reino indefinível”.

Destaque ainda para outras actuações, como “ZEROKO Play”, com o grupo Zeroko, composto por Masahi Kadoya e Keisuke Hamaguchi. Fica a garantia de “palhaçadas, objectos e humor para uma diversão interactiva”.

Das 12h às 18h, tanto no sábado como no domingo, é a vez do Jardim Luís de Camões receber actividades diversas como sessões de pintura facial para crianças ou actuações musicais, como é o caso do Dj Burnie, natural de Macau. Também nestas ruas haverá lugar à mímica e ao divertimento. Esta secção do festival intitula-se “WOW! Outdoor Performance Festival”.

Fonte de inspiração

O Festival Internacional de Mímica de Macau nasce das experiências teatrais de Lai Nei Chan, fundadora e directora desta iniciativa, que estudou em Londres.

“Uma vez, assisti a uma actuação de palhaços no Festival Internacional de Mímica de Londres, onde dois palhaços fizeram um espectáculo que me comoveu pelo seu poder sem palavras e impacto emocional, despertando o meu amor pela mímica. Descobri que esta forma não-verbal de actuação não exigia qualquer preparação e permitia uma imersão pura na experiência teatral, livre de pensamentos excessivos. Esta constatação alimentou o meu desejo de criar um festival internacional de mímica em Macau, permitindo ao público local experimentar as alegrias únicas desta forma de arte”, confessou.

29 Nov 2024

Marte | Pequim planeia trazer amostras até 2031

A China planeia recolher amostras do solo de Marte até 2031, através da missão Tianwen-3, que combinará a aterragem, recolha e entrega numa operação integrada, informou ontem a agência de notícias oficial Xinhua.

O plano prevê dois lançamentos por volta de 2028, com o objectivo de pousar e recolher amostras no mesmo ponto do planeta vermelho, dando prioridade a regiões geologicamente diversas como Chryse Planitia e Utopia Planitia, de um total de 86 destinos possíveis.

Estas áreas, que incluem litorais, deltas e lagos antigos, são consideradas candidatas à procura de possíveis formas de vida preservadas nos seus sedimentos.

A missão, descrita em pormenor pelo Laboratório de Exploração do Espaço Profundo da China na revista National Science Review, terá instrumentos especificamente concebidos para detectar traços de vida, optimizando a preservação de amostras recolhidas à superfície e por perfuração.

O laboratório referiu ainda que a missão Tianwen-3 faz parte de um programa de exploração mais alargado, que inclui a futura missão Tianwen-4 para estudar o sistema de Júpiter e a sua evolução.

A estratégia, de acordo com o cientista chefe da missão, Hou Zengqian, e o seu projectista chefe, Liu Jizhong, inclui considerações como “onde recolher amostras”, “o que escolher”, “como recolher” e “como utilizar” os materiais recolhidos.

A China investiu fortemente no programa espacial nos últimos anos, alcançando marcos importantes como a alunagem da sonda Chang’e 4 no lado mais distante da Lua, a chegada a Marte e a construção da Tiangong, que funcionará durante cerca de dez anos.

A plataforma chinesa poderá tornar-se a única estação espacial do mundo a partir de 2031, se a Estação Espacial Internacional, dirigida pelos Estados Unidos e interdita à China, devido aos laços militares do seu programa espacial, se retirar como previsto.

29 Nov 2024

Corrupção | Militar de alta patente sob investigação na China

A China suspendeu ontem um alto oficial do Exército, que está a ser investigado por suspeitas de corrupção, de acordo com o ministério da Defesa chinês.

O oficial Miao Hua é director do Departamento de Trabalho Político, na poderosa Comissão Militar Central, que supervisiona o Exército de Libertação Popular. Miao está a ser investigado por “graves violações da disciplina”, disse o porta-voz do ministério da Defesa, Wu Qian.

Este oficial é um dos cinco membros do órgão que supervisiona o maior exército permanente do mundo, para além do líder chinês, Xi Jinping, que dirige a comissão.

Este é o terceiro grande abalo recente no sector da Defesa da China. Em Junho, o país anunciou que o antigo ministro da Defesa, Li Shangfu, e o seu antecessor, Wei Fenghe, foram acusados de corrupção e expulsos do Partido Comunista, por suspeitas de corrupção e suborno.

Também foram afastados, nos últimos meses, entre outros, os dois chefes da Força de Foguetões, de que depende o programa nuclear chinês. Após ascender ao poder, há pouco mais de 10 anos, Xi lançou uma vasta campanha contra a corrupção, que se estendeu ao Exército.

29 Nov 2024

Pequim saúda acordo alcançado com EUA para troca de prisioneiros

A China saudou ontem o acordo alcançado com os Estados Unidos para a troca de prisioneiros, embora não tenha especificado quem são os cidadãos chineses que cumpriam penas em solo norte-americano e que foram libertados.

Um porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca anunciou na quarta-feira a libertação de Mark Swidan, Kai Li e John Leung, que se encontravam detidos na China.

Entretanto, Washington libertou três cidadãos chineses que cumpriam penas nos Estados Unidos, confirmou ontem a porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros, Mao Ning, em conferência de imprensa.

“Após os esforços incansáveis do Governo chinês, três cidadãos chineses que tinham sido injustamente detidos pelos Estados Unidos regressaram a casa em segurança. Isto prova mais uma vez que a China nunca abandona os seus compatriotas em momento algum”, afirmou Mao.

Sublinhou que Pequim “sempre se opôs à perseguição de cidadãos chineses para fins políticos” e que “como sempre, tomará as medidas necessárias para salvaguardar firmemente os direitos e interesses legítimos dos seus cidadãos”.

“Nesta ocasião, foi repatriado um fugitivo que se encontrava em fuga nos Estados Unidos há muitos anos. Este facto demonstra igualmente que nenhum lugar pode servir como refúgio seguro para os criminosos para sempre. O Governo chinês continuará a perseguir os fugitivos e a recuperar os bens roubados. Persegui-los-emos até ao fim”, declarou Mao, que não entrou em pormenores sobre os cidadãos chineses libertados.

Mao referiu ainda que os Estados Unidos baixaram o alerta de viagem para a China do nível 3 para o 2, retirando a etiqueta de “risco de detenção injusta”, o que, afirma, “reforçará os intercâmbios entre os dois países”.

“Sempre nos opusemos à criação artificial de um ‘efeito desencorajador’ nas viagens e esperamos que a parte norte-americana continue a criar mais conveniência para promover os intercâmbios culturais entre os dois países”, disse Mao.

Últimos cartuchos

De acordo com as autoridades norte-americanas, o Presidente Joe Biden abordou a questão dos detidos com o Presidente chinês, Xi Jinping, este mês, na sua terceira reunião bilateral em Lima, à margem da cimeira da Cooperação Económica Ásia-Pacífico.

Durante o mandato de Biden, que termina em Janeiro, Washington colocou a questão dos detidos norte-americanos no topo da agenda bilateral com Pequim e, em Agosto, o Conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, trabalhou com os seus homólogos chineses sobre a questão durante uma visita à China.

Swidan, um texano de 48 anos, estava no corredor da morte na China desde 2012, acusado de tráfico de droga, que os Estados Unidos alegam ser falso. Leung, 78 anos, estava a cumprir uma pena de prisão perpétua por alegada espionagem, enquanto Li estava preso na China desde 2016.

29 Nov 2024

Demografia | Xi admite melhoria da qualidade de vida face a declínio populacional

Xi Jinping defendeu a política demográfica levada a cabo pelo país e define metas para aumentar a qualidade de vida da população no futuro

 

O Presidente chinês, Xi Jinping, defendeu num artigo que o declínio populacional pode beneficiar o futuro desenvolvimento da China, enaltecendo a redução da pressão sobre os recursos e um modelo de desenvolvimento centrado na qualidade.

No artigo, difundido na revista Qiushi, a principal publicação do Partido Comunista Chinês sobre teoria política, Xi afirmou que a decisão de implementar a política de filho único foi correcta, uma vez que permitiu conter eficazmente o crescimento excessivo da população e impulsionar o desenvolvimento da China.

“O nosso país completou em décadas o processo de industrialização que levou centenas de anos aos países desenvolvidos, resultando numa rápida transição populacional e numa redução precoce da população”, escreveu.

Reconhecendo que a redução da população pode ter “efeitos adversos”, incluindo diminuição da mão-de-obra disponível e queda no consumo e investimento, o líder chinês destacou os “efeitos positivos”, como a redução da pressão sobre os recursos e a transição para um modelo económico focado na qualidade.

“É de notar que o dividendo demográfico está relacionado não só com a quantidade e a estrutura da população, mas também com a qualidade da população, as políticas económicas e as medidas de apoio”, sublinhou.

“O nível de educação da população continua a aumentar e o dividendo demográfico abrangente ainda tem vantagens significativas”, indicou.

A população chinesa diminuiu em dois milhões de pessoas em 2023, a segunda queda anual consecutiva, face à descida dos nascimentos e aumento das mortes. Em 2022, quando se deu o primeiro declínio desde 1961, a China perdeu 850 mil habitantes.

Desde que abandonou a política do filho único, em 2016, a China tem procurado encorajar as famílias a terem um segundo ou até terceiro filho, mas com pouco sucesso. O maior custo de vida e com a saúde e educação das crianças e uma mudança nas atitudes culturais que privilegia famílias menores estão entre os motivos citados para o declínio nos nascimentos.

Mais qualidade

Em 2050, a ONU previu que 31 por cento dos chineses terão 65 anos ou mais. Em 2100, essa percentagem será de 46 por cento. A ONU estimou que a população da China desça dos actuais 1,4 mil milhões para 639 milhões, até ao final deste século, uma queda bem mais acentuada do que os 766,7 milhões previstos há apenas dois anos.

Xi Jinping pediu aos quadros do Partido Comunista um “desenvolvimento económico e social de alta qualidade através de um desenvolvimento demográfico de alta qualidade”.

“Ao promover um desenvolvimento populacional de alta qualidade, vamos construir uma base de recursos humanos de alto calibre, acelerar a formação de um novo padrão de desenvolvimento e concentrarmo-nos na promoção de um desenvolvimento de alta qualidade”, frisou.

O líder chinês destacou a educação, saúde e “qualidade moral” como pilares para uma população de “alta qualidade”.

“Temos de melhorar de forma abrangente a qualidade científica e cultural da população. Aumentar o nível de educação e a média de anos de escolaridade da população activa. Optimizar os níveis e os tipos de ensino superior, as disciplinas académicas, as estruturas profissionais e as estruturas de cultivo de talentos, e acelerar a construção de um sistema moderno de ensino profissional”, frisou.

O líder chinês enfatizou ainda a importância de “promover o crescimento saudável das crianças” e “reforçar a gestão da saúde no que se refere às principais doenças crónicas e aumentar a esperança de vida saudável”.

“Devemos elevar de forma abrangente a qualidade ideológica e moral da população. Utilizar os valores fundamentais socialistas para moldar as almas e educar as pessoas, reforçar a construção da integridade, promover o espírito de trabalho e de luta e melhorar os padrões morais e a civilidade de toda a população”, apontou.

29 Nov 2024

Construção do Grande Canal Sui

Na dinastia Han do Oeste (206 a.n.E.-23) o Rio Wei era usado para levar o arroz proveniente do Leste até à capital Chang’an (Xian), mas o trajecto com muitas curvas e cheio de altos e baixos era difícil. Por isso, em 129 a.n.E., no reinado de Wudi (140-87 a.n.E.), em três anos foi dragado entre Dongjing (Luoyang) e Chang’an (Xian) o canal Caoqu (漕渠) para facilitar o transporte. Como a dinastia Han de Leste (25-220) mudou a capital para Luoyang, o canal Cao deixou de ser usado.

Desde então, nos quatro séculos até à dinastia Sui, muitos outros canais foram rasgados e comportas construídas, criando, onde era possível, uma rede fluvial a substituir a viária, promovendo a comunicação em áreas até então separadas. Esse uso constante da água, como meio de transporte mais fácil, permitia fugir aos terrenos montanhosos e era mais seguro do que viajar por terra, levando a um contínuo labor, mas de forma pontual, até ao início do século VII. Estava por fazer uma rede fluvial integrada, ideia que ganhou força na dinastia Sui (581-618), quando foi planificado o Grande Canal aproveitando um sistema de rios, lagos, canais e comportas já de grandes dimensões e por um conjunto de dragagens ficou aberto como estrada de água.

A China, dividida desde a dinastia Han, foi reunificada pela dinastia Sui e o seu primeiro imperador, Wendi (Yang Jian, 581-604) instalou a capital em Chang’an (hoje Xian) mas como esta cidade era muito pequena e velha aditou em 582 uma nova parte, ficando assim a sua capital com o nome de Daxing. Logo em 584 mandou construiu o canal Guangtong (Guangtong qu, 广通渠), por ser necessário transportar arroz para a nova capital e daí foi usado parte do antigo canal Chao, levando a água do Rio Wei a atravessar por Noroeste a cidade de Daxing até Tongguan e assim ligá-la com o Rio Amarelo.

Este canal com 300 li no ano 604 passou a ser chamado Yongtong qu, mas logo deixou de ser usado devido ao grande assoreamento. Na dinastia Tang, o Imperador Xuanzong (Li Longji, 685-762) ordenou repará-lo e mudou-lhe o nome para Guangyun tan e após a capital deixar Dongdu (Luoyang) [para onde a Imperador Wu Zetian (684-705) ao fundar em 690 a nova dinastia Zhou aí fizera a capital] este trecho de água deixou de ser usado.

Em 587, o Imperador Wen mandou reparar o antigo canal Hangou (邗沟, construído em 486 a.n.E.) criando então o canal Shanyang (山阳渎, Shanyang du) com 300 li do Rio Huai ao Changjiang.

PROJECTOS DE YANG DI

Em 604, Yang Guang, filho do primeiro imperador da dinastia Sui Wendi (581-604), deixou a capital Daxing (Chang’an, hoje Xian) e mudou-se para Luoyang. No ano seguinte, já como segundo imperador Sui, Yangdi (605-618) ordenou a construção de dois projectos: reconstruir Luoyang [cidade a Oeste da província de Henan, nas margens do Rio Luo, fundada em 1200 a.n.E. e que tinha sido capital das dinastias, Zhou do Leste, então com o nome de Wangcheng, Han de Leste, Wei, Jin de Oeste e desde 494 do Wei do Norte] para ser a capital do Leste, Dongdu (东都). Na mesma altura, idealizou também a abertura do Grande Canal, uma extensa estrada de água com 2400 quilómetros a ligar o Norte, desde Yanjing (Beijing) ao centro Sul do país, a Yuhang (Hangzhou), ficando Dongdu a meio caminho. O projecto levou seis anos a concluir.

Entre 605 a 610, Yangdi mandou milhões de homens rasgar canais a complementar secções já existentes para ligar os cinco grandes rios que drenam a água para o Grande Canal. Assim, em 610 ficou Yuhang (Hangzhou) ligada à capital do Leste Dongdu (东都, hoje Luoyang) e durante a dinastia Tang chegava a Chang’an (Xian) usando o Rio Wei que corre até ao Rio Amarelo.

No ano de 605, o Imperador Sui Yangdi baseado no canal Honggou (construído em 360 a.n.E., no período dos Reinos Combatentes) ordenou ser rasgado o canal Tongji (Tongji qu, 通济渠) a unir o Rio Amarelo ao Huaihe com três secções, Leste, Centro e Oeste, tendo o conjunto dois mil li. A secção Oeste começava em Dongdu (东都, Luoyang) e a água proveniente do Rio Luo e do seu afluente Gushui juntava-se em Gongyie ao Huanghe (Rio Amarelo). A secção do Centro iniciava-se em Banzhu (板渚), seguindo o Rio Amarelo por Zhengzhou, Bianzhou (汴州, hoje Kaifeng), Songzhou (宋州) (Shangqiu) até Suzhou (宿州) e após Sizhou (泗州) chegava a Xuyi (盱眙), onde conectava com Huaihe. A secção Leste, usando o Rio Huai (Huaihe) por o antigo canal Hangou [dragado em 486 a.n.E. pelo rei Fuchai do reino Wu], de Shanyang (山阳, actual Huai’an) chegava a Jiangdu (江都, hoje Yangzhou). Era o canal Shanyang [Shanyang du] que do Rio Huai ia até ao Changjiang. No ano 587 foi reparado e limpo e em 605, Yangdi colocou mais de cem mil trabalhadores para alargar o Shanyang du e estender o comprimento desse canal de Shanyang (actual Huai’an) até Yangzijin (扬子津), parte Sul da cidade de Jiangdu (actual Yangzhou).

O Canal Tongji foi usado durante seiscentos anos pelas dinastias Sui, Tang, Cinco Dinastias (五代), Song, e Jin e quando a dinastia Song do Sul (1127-1279) mudou a capital para Lin’an (Hangzhou), começou a deixar de ser utilizado e os sedimentos entupiram-no.

No ano de 608, em Yuncheng, concelho de Yongji [conhecido nos antigos livros por Puban] na província Shanxi, foi rasgado o canal Yongji (Yongji qu, 永济渠), que na parte Sul ligava o Rio Qin (沁水, Qinshui) com o Rio Amarelo em Wuzhixian. A Norte, o Yongji qu ia de Tianjin à região de Beijing. Assim, ficava o Huanghe (Rio Amarelo) ligado ao Rio Hai (Haihe, com cinco afluentes), que atravessava a cidade de Tianjin e atingia o Mar de Bohai em Tanggu. O Rio Hai (海河Haihe) com 72 km de comprimento e mais de trezentos afluentes constitui um dos sete sistemas fluviais da China. Já na dinastia Han de Leste, no ano de 204 Cao Cao abrira Baigou (白沟) a Oeste do canal Weiyunhe (卫运河, sistema do Rio Wei), assim como o canal Pingluqu (平虏渠), a conectar Shahe (沙河, Rio Sha) a Tianjin.

Em 610, com a construção do canal Yongji passou a existir uma linha de transporte directa para trazer os cereais das regiões do Changjiang (Rio Yangzi) e do Huaihe até ao Norte e daí, na dinastia Sui foram levados 200 milhões de quilos de cereais para Luoyang. Na dinastia Tang (618-907) o sistema do canal foi desenvolvido e na dinastia Song do Norte (960-1125/26), quando a capital passou para Kaifeng, o canal tornou-se ainda mais importante. No século XI o volume de tráfego era provavelmente três vezes superior ao do período Tang, segundo a Britannica Enciclopédia. O canal foi abandonado no início do século XII, durante a divisão da China entre a dinastia Jin (Juchen, 1115-1234) a Norte e a Song do Sul (1127-1279) a Sul.

O Canal Jiangnan yunhe (江南运河) ligava o Changjiang ao Rio Qiantang. No Período Primavera-Outono, o reino Wu (Wuguo) fez o canal Taibo (泰伯渎, Taibo du) a ligar Suzhou a Wuxi e quando batalhava com o reino Yue, para transportar arroz estendeu o canal até ao Rio Qiantang (Qiantangjiang). No reinado do primeiro imperador da dinastia Qin, baseado nesse canal fez-se o prolongamento a Norte desde Zhenjiang, passando por Suzhou até Hangzhou chamando-o Lingshuidao (陵水道).

No Período dos Três Reinos, Sun Quan ordenara a construção do canal Jiangnan yunhe (江南运河) para ligar o Changjiang, a passar pela sua capital Jianye (actual Nanjing), ao Rio Qiantang (钱塘江). Em 610, usando o Jiangnan yunhe, Yangdi alargou-o e fê-lo passar pelo lago Tai (Taihu), conectando com os rios que no lago desaguavam, tornando o percurso mais recto, desde Jingkou (Zhenjiang) até Yuhang (Hangzhou).

O Rio Qiantang desde o Período Primavera-Outono está ligado a Shaoxing pelo canal Zhejiang Leste e no Período dos Três Reinos a Ningbo pelo rio Yong [rio formado pela convergência do Rio Fenhua e o Rio Yao (que passa por Shangyao e as montanhas Siming)] e desagua no Mar da China do Leste no distrito de Zhenhai em Ningbo. Assim, na dinastia Sui o Grande Canal ligava o Rio Qiantang a Yanjing (Beijing), atravessando o Changjiang, o Huaihe, o Huanghe e o Haihe.

29 Nov 2024

Criminalidade | Subida de 12% até ao fim de Setembro

Nos primeiros nove meses deste ano, as forças de segurança de Macau registaram um aumento de 12,2 por cento da criminalidade, ultrapassando também os níveis pré-pandémicos. O Governo atribuiu a subida à disseminação das burlas, mas também a criminalidade violenta registou uma subida anual de 16,7 por cento, apesar da descida dos homicídios

 

Apesar das variações produzidas pela paralisia da sociedade e posterior reabertura progressiva no fim da política de zero casos de covid-19, “o ambiente de segurança de Macau mantém-se estável”. Foi desta forma que o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, encerrou a apresentação das estatísticas da criminalidade referentes ao terceiro trimestre deste ano.

Segundo os dados apresentados, desde o início de 2024 até ao fim de Setembro, a Polícia de Macau instaurou, no total, 10.831 inquéritos criminais, mais 1.178 casos do que no mesmo período de 2023, o que representa um aumento anual de 12,2 por cento da criminalidade, e um aumento de 2,2 por cento face ao mesmo período de 2019. “Este acréscimo deve-se ao aumento contínuo dos crimes de burla (o que representa um aumento de 43,9 por cento do aumento total do número de crimes, em comparação com o mesmo período de 2023)”, explicou o governante.

Em nove meses, foram detidas e presentes ao Ministério Público 4.113 pessoas, o que reflecte um aumento de mais de um terço (34,3 por cento) em termos anuais, mas uma descida de 17,8 por cento face ao mesmo período de 2019.

Apesar do ambiente de segurança estável, no período em análise foram registados 210 casos de criminalidade violenta, um aumento de 16,7 por cento em termos anuais, mas uma diminuição de quase 60 por cento face a 2019. Neste capítulo, destaque para os sequestros que mais de duplicaram (+147,1 por cento), para um total de 42 casos, e para as violações que cresceram 48,1 por cento. Por outro lado, este ano até Setembro foi registado apenas um homicídio, uma redução significativa face aos quatro casos no mesmo período do ano passado. Também o abuso sexual de crianças desceu (37,5 por cento) para um total de 15 casos, mas continua acima dos 11 casos verificados no mesmo período de 2019.

As ofensas à integridade física, simples e graves, subiram igualmente, à semelhança dos roubos, que totalizaram 34 casos, mais 13,3 por cento do que no ano transacto.

Wong Sio Chak salientou, no entanto, que, no que diz respeito aos “crimes relacionados com a droga e com o jogo, bem como os crimes que afectam a vida quotidiana da população, nomeadamente furto e roubo, os números registados foram significativamente inferiores aos do mesmo período do ano 2019”.

Motores do crime

O secretário para a Segurança voltou a destacar a ascensão dos crimes de burla como o factor determinante para o aumento da criminalidade. Nos primeiros nove meses de 2024, as autoridades registaram 2.160 casos de burla, o que quase perfaz oito casos diários, uma subida de 31,5 por cento face ao mesmo período de 2023, um aumento para mais do dobro dos casos registados nos primeiros três trimestres de 2019.

Os dados estatísticos demonstram mudanças nos métodos dos burlões para defraudar a população. Por exemplo, as burlas telefónicas caíram um terço em relação ao ano passado, mas aumentaram quase 53 por cento face ao período pré-pandémico. Nesta categoria, mais de 70 por cento das chamadas que burlaram a população foram “simulações de chamada por pessoal de serviços públicos”.

Já as burlas cibernéticas aumentaram significativamente, totalizando 721 casos, representando aumentos de 20 por cento face ao ano anterior, e mais do triplo do registo de 2019. As burlas através do investimento online, venda de bilhetes e compras online foram as mais frequentes.

Destaque ainda para a diminuição das burlas através de nude chat, e para a prevalência dos crimes de relacionados com pagamentos online através de cartões de crédito no capítulo das burlas informáticas.

Outro aumento que traduz os tempos que se vivem, diz respeito aos crimes relacionados com o jogo, com o registo de 1.021 casos, total que reflecte uma subida anual de 42,6 por cento, mas uma redução de 36,1 por cento face ao mesmo período de 2019.

As autoridades explicam esta subida com o “aumento do número de turistas que chegaram a Macau, em comparação com o mesmo período do ano passado”, acrescentando que “a recuperação da indústria do jogo e da economia global” conduziu ao “inevitável aumento de factores de incerteza para a segurança”, e um acréscimo dos crimes associados ao jogo.

29 Nov 2024

Quase 14% dos trabalhadores do jogo pensaram em suicidar-se

No último ano, quase 14 por cento dos trabalhadores das concessionárias equacionaram a possibilidade de se suicidarem. O número consta um inquérito realizado pela associação Casa dos Trabalhadores do Jogo (Gaming Employees Homem), com base em 1182 inquéritos, que foi apresentado na quarta-feira.

De acordo com os resultados apurados, entre os 1182 trabalhadores que responderam aos inquéritos da associação, um total de 162 admitiu ter contemplado a hipótese de terminar com a vida, o que corresponde a uma proporção de 13,7 por cento.

Entre os trabalhadores que admitiram terem considerado a hipótese de se suicidar, cerca de 26,5 por cento, correspondem a 43 dos inquiridos que reconheceram ter procurado ajuda. Os restantes 73,5 por cento, ou seja, 119 inquiridos, confessaram não ter procurado qualquer ajuda.

Quando a associação comparou os resultados do estudo realizado com os dados recolhidos em 2021, em que foi utilizado o mesmo método, concluiu que o número de trabalhadores que mostra sinais de “cansaço emocional” subiu 12,31 por cento, ao mesmo tempo que os trabalhadores que mostram “problemas de adaptação mental e física” ao trabalho cresceu 24,15 por cento.

Estes indicadores foram associados aos trabalhos por turnos, com a associação a concluir que levarem a um aumento do cansaço emocional e problemas de adaptação. Cerca de 87,1 por cento dos inquiridos, 1029 trabalhadores, admitiu trabalhar por turnos.

Mais seguros

Em termos das horas de trabalho, a maior parte dos inquiridos, cerca de 80 por cento, passava entre 45 e 48 horas por semana a trabalhar, o que significa entre 8 e 10 horas por dia. Cerca de 4 por cento dos trabalhadores também admitiu trabalhar pelo menos 10 horas por dia, com 0,8 por cento a declarar trabalhar mais de 12 horas por dia. Ao mesmo tempo 26,2 por cento indicaram trabalhar menos de oito horas por dia.

Apesar destes indicadores negativos, os trabalhadores admitem estar nesta altura menos receosos de perder o emprego do que em 2021. O ano de 2023 ficou na história de Macau por ter sido aquele em que mais pessoas acabaram com a vida, com um total de 88 mortes.

De acordo com as recomendações do Instituto de Acção Social, todos aqueles que estejam emocionalmente angustiados ou considerem que se encontram numa situação de desespero devem ligar para a Linha Aberta “Esperança de vida da Caritas” através do telefone n.º 28525222 de forma a obter serviços de aconselhamento emocional.

29 Nov 2024

Suicídio | Ocorrências aumentam quase 5 por cento

Em comparação com o ano passado, houve mais três suicídios nos primeiros nove meses do ano, o que representa um aumento de quase 5 por cento. As mulheres são quem mais morre, no que revela uma alteração demográfica do fenómeno

 

Entre Janeiro e Setembro, os casos de suicídio em Macau registaram um crescimento de 4,8 por cento face ao ano passado, de acordo com os dados revelados ontem pelo secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, durante o balanço da criminalidade e dos trabalhos de execução da lei.

Nos primeiros meses deste ano, contabilizaram-se 65 suicídios, com os meses de Fevereiro, Maio e Setembro a serem os mais mortais, com 10 ocorrências, cada. Em comparação, no período homólogo, registaram-se 62 suicídios, sendo Janeiro o mês com mais ocorrências, um total de 13, apesar do Governo ter começado a levantar as restrições ligadas à pandemia da covid-19.

Até Setembro deste ano, a principal causa de suicídio foi a queda em altura, com 24 casos, seguida pelo enforcamento, com 17 ocorrências, e ainda os envenenamentos por monóxido de carbono através queima de carvão, num total de 12 casos. Houve ainda uma morte por corte de pulsos e 11 classificadas como “outras”.

Em relação à idade dos que cometem suicídio, houve uma alteração ao nível do grupo etário mais afectado. Entre Janeiro e Setembro deste ano, as pessoas com idades entre os 55 e 64 anos foram as que mais cometeram suicídio, num total de 13 registos. A segunda faixa etária mais propicia a terminar com a vida tinha entre 65 e 74 anos, com 11 ocorrências, seguida pelas faixas etárias entre 35 e 44 anos e 45 e 54 anos, cada uma com 10 casos.

Nos primeiros nove meses de 2023, o grupo com idades compreendidas entre os 35 e os 44 anos cometeu mais suicídios, com 15 ocorrências, seguido pelo grupo entre 45 e 54 anos com 12 ocorrências. O terceiro grupo mais afectado foi ocupado pelas pessoas com idades entre 55 e 64 anos e mais de 75 anos, com 10 ocorrências cada.

Os dados mostram ainda que há menos homens a suicidarem-se, uma redução de 37 casos para 31, mas que há mais mulheres a terminarem com a vida, num aumento de 25 para 34 ocorrências.

Menos tentativas

Apesar da maior mortalidade, os dados anunciados ontem pelas autoridades indicam que há menos pessoas a tentarem colocar um fim à sua vida, no que foi uma redução de 2,5 por cento. Nos primeiros nove meses deste ano houve 193 tentativas de suicídio, uma redução de cinco casos face aos 198 registados no período homólogo.

A ingestão de medicamentos foi a principal forma de tentativa de suicídio ao longo deste ano, com 70 casos, e zero mortes. O grupo dos jovens com idades entre os 15 e 24 anos foi aquele que mais tentou suicidar-se com 60 tentativas.

Entre Janeiro e Setembro do ano passado, a ingestão de medicamentos também foi o principal método de tentativa de suicídio, tendo resultado em zero mortes. À semelhança do que acontece este ano, também o grupo de jovens com idades entre os 15 e 24 anos foi o mais afectado, com 61 casos.

De acordo com as recomendações do Instituto de Acção Social, todos aqueles que estejam emocionalmente angustiados ou considerem que se encontram numa situação de desespero devem ligar para a Linha Aberta “Esperança de vida da Caritas” através do telefone n.º 28525222 de forma a obter serviços de aconselhamento emocional.

29 Nov 2024

Veículos Eléctricos | Deputado alerta para falta de oficinas

Numa interpelação escrita, Leong Sun Iok indica que ao contrário do que acontecia no passado, os vendedores deixaram de assegurar as manutenções e reparações dos veículos, pelo que são pedidas medidas ao Governo

 

Leong Sun Iok está preocupado com a falta de conhecimento especializado no território para fazer a manutenção e reparar veículos eléctricos. Numa interpelação escrita, o deputado ligado à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM) avisa que ao contrário do que acontecia no passado, os vendedores deixaram de garantir as manutenções e reparações.

Segundo o legislador, entre Janeiro e Setembro os veículos eléctricos atingiram a proporção de 30 por cento dos novos veículos matriculados, o que significa que praticamente em cada três veículos novos um era eléctrico.

Todavia, de acordo com a interpelação, os problemas para os proprietários começam quando é necessário fazer a manutenção ou reparações. “No passado, quando os fornecedores de veículos vendiam os veículos em Macau tinham de estabelecer oficinas de reparação e equipá-los com pessoal de manutenção, de modo a que quando os residentes se deparassem com avarias nos veículos, pudessem encontrar rapidamente um local para resolvê-los”, contou o deputado. “No entanto, com o desenvolvimento e as mudanças da sociedade e a abertura do mercado de veículos eléctricos em Macau, os fornecedores já não são obrigados a criar oficinas de reparação em Macau”, lamentou.

Ao mesmo tempo, deputado indica que as oficinas locais também se queixam da falta de formação sobre a reparação deste tipo de veículos, o que o deputado diz tornar “mais difícil melhorar o nível de competências de manutenção”.

Pedida intervenção

Face a estes desenvolvimentos, Leong Sun Iok pretende saber como as autoridades vão proteger os direitos dos compradores de veículos eléctricos, e assegurar o acesso à manutenção e reparação.

Por outro lado, o deputado lamenta que na última vez que a questão foi abordada, as autoridades apenas se tenham limitado a dizer que os vendedores devem garantir que existem pontos de manutenção dos veículos, sem tomarem qualquer medida.

O deputado da FAOM pretende assim saber se o Governo está pronto para financiar este tipo de formações no território: “Tendo em conta que, nos últimos anos, apenas foram organizados cursos de instalação e manutenção de instalações de carregamento de veículos eléctricos por empresas com financiamento público, mas não cursos de manutenção de veículos eléctricos, o Governo tem algum plano para co-organizar cursos de manutenção de veículos eléctricos, de modo a melhorar o nível técnico de manutenção de veículos eléctricos na região local?”, perguntou.

29 Nov 2024

BNU | Maiores dificuldades em contratar portugueses

O Banco Nacional Ultramarino (BNU) está a ter mais dificuldades para contratar portugueses actualmente, do que antes da pandemia. O cenário foi traçado pelo CEO da instituição bancária, Carlos Cid Álvares, durante uma conferência realizada na Fundação Rui Cunha.

“Temos menos portugueses do que tínhamos antes da pandemia. Como banqueiro, 99 por cento dos nossos clientes são chineses, mas como banco português, também precisamos de ter profissionais portugueses. Quando precisamos, tentamos arranjá-los, mas agora não é tão fácil como antes, uma vez que não podem pedir uma residência não permanente como antes”, afirmou Carlos Cid Álvares, citado pelo portal da revista Macau Business.

Apesar das promessas de transformar Macau numa plataforma entre a China e os países de língua portuguesa, em Setembro de 2023, o Governo de Ho Iat Seng e a Assembleia Legislativa, eliminaram o estatuto preferencial de aquisição de residência para cidadãos portugueses com base no vínculo contratual.

Na opinião partilhada, Carlos Cid Álvares não defendeu o regresso do estatuto de residente para potenciais funcionários do banco, mas considerou que deveria haver um regime que permitisse vistos com a duração de cinco a seis anos. “Não creio que as pessoas queiram ou precisem de se tornar residentes permanentes. Precisam de menos burocracia e, pelo menos, de um visto de cinco a seis anos. Depois desse tempo, podem decidir”, observou.

29 Nov 2024

ATFPM | Realizados contactos com Timor, S. Tomé e Guiné Equatorial

Rita Santos, na qualidade de presidente da assembleia-geral da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM), e Rui Marcelo, conselheiro das Comunidades Portuguesas, reuniram em Pequim esta semana com os embaixadores de Timor-Leste, São Tomé e Príncipe e Guiné Equatorial.

Em comunicado, é referido que o objectivo da visita foi o de “aprofundar o estatuto de Macau enquanto plataforma essencial para a cooperação económica, comercial e cultural entre a China e os Países de Língua Portuguesa”.

Já os embaixadores destes países em Pequim, disseram que as estratégias dos seus países passam pela “integração harmoniosa de diversas actividades económicas como a indústria, a pesca, o turismo, a educação e a tecnologia, juntamente com o fortalecimento das pequenas e médias empresas”, em prol de uma “estratégia eficaz para promover um crescimento económico equilibrado e sustentável”.

Rita Santos prometeu recorrer à ATFPM para “transmitir às associações empresariais do território os temas abordados nos encontros” para que haja maiores “oportunidades de cooperação”.

29 Nov 2024

Trabalho | Ron Lam diz que residentes são “complemento” de TNR

Ron Lam considera existir uma contradição entre a realidade e o discurso político de prioridade dos residentes locais no acesso ao emprego. Aprovações “opacas e discricionárias” de blue cards e menor segurança na manutenção de um emprego a tempo inteiro por residentes são situações para as quais o deputado pede solução

 

“Os residentes tornaram-se um suplemento dos trabalhadores não-residentes”. Esta frase resume grande parte dos problemas identificados por Ron Lam numa interpelação escrita divulgada ontem sobre a precariedade laboral que os residentes sofrem no acesso ao emprego. “A maioria dos trabalhadores estrangeiros são contratados para trabalhar a tempo inteiro, enquanto os residentes trabalham a tempo parcial”, refere o deputado, acrescentando ser frequente o despedimento de residentes após a aprovação de quotas para contratar trabalhadores não-residentes (TNR).

Apesar de sublinhar a deterioração no acesso ao mercado de trabalho, o subemprego e as mudanças no ambiente económico, Ron Lam não menciona diferenças salariais entre os dois tipos de trabalhadores.

O deputado defende que é cada vez mais difícil assegurar a protecção dos direitos e interesses dos residentes no mercado de trabalho. Para tal contribuem factores como o impacto da pandemia, falta de políticas que confiram prioridade efectiva a locais no acesso ao emprego e aprovações “extremamente discricionárias e opacas” de blue cards.

Segundo plano

Ron Lam denuncia também falta de transparência no que diz respeito à proporção de TNR e residentes empregados pelas concessionárias de jogo e a falta de cooperação do Governo. “Por duas vezes pedi ao Governo o número de trabalhadores residentes e não-residentes que trabalham nas seis concessionárias de jogo, e os postos que ocupam, mas o Governo não providenciou essa informação”, revela o deputado.

A precariedade laboral dos residentes é patente numa prática que o deputado diz ser mais frequente, em que os empregadores, “mesmo em empresas de venda a retalho, restauração, convenções e exposições em empresas de jogo”, que recorrem a intermediários para contratar locais pagos à hora. Ron Lam refere que este método é usado para aumentar a proporção de empregados residentes e, assim, justificar a abertura quotas para contratar TNR.

Também as exigências pedidas aos dois grupos demográficos nas candidaturas a vagas de emprego são injustas, na óptica do deputado, sendo exigidos aos residentes experiência no sector e conhecimentos de línguas estrangeiras que os TNR também não possuem.

Os últimos dados oficias sobre o desemprego, referentes ao terceiro trimestre deste ano, mostram que a taxa de desemprego global permaneceu em 1,7 por cento, face ao trimestre anterior, enquanto a taxa de desemprego dos residentes se fixou em 2,3 por cento, em linha com o registo anterior. Ambos as taxas ficaram dentro dos limites do que é designado internacionalmente como “pleno emprego”, ou seja, todos os que estão legalmente habilitados para trabalhar encontram em pouco tempo, e sem esforço, um emprego.

Em relação ao subemprego, o terceiro trimestre deste ano trouxe uma descida de 0,4 por cento em termos trimestrais, com a taxa a ficar-se pelos 1,1 por cento.

29 Nov 2024

Miguel Gomes, realizador: “O cinema não é um tribunal”

Molly e Edward têm casamento marcado, mas na hora de ir buscar a noiva ao comboio, Edward decide fugir, iniciando a “Grand Tour” pela Ásia. A película é um dos filmes de Miguel Gomes exibido no Festival de Cinema entre a China e os Países de Língua Portuguesa, que está a decorrer até 13 de Dezembro, dia em que é exibido “Grand Tour”

 

É um dos realizadores em foco neste festival de cinema que decorre em Macau. Como se sente pela oportunidade de mostrar o seu mais recente filme, “Grand Tour”, nesta região?

Poder mostrar o filme em qualquer sítio do mundo é sempre um objectivo para alguém que quer fazer filmes, pois estes só existem a partir do momento em que são vistos. O filme tem uma relação com a Ásia e a China. Foi comprado para Hong Kong, e não sei se será exibido comercialmente no território e quais são os planos dos distribuidores. Independentemente deste festival em Macau, o filme terá visibilidade nessa parte da China.

O filme é uma homenagem ao cinema antigo, pelo menos foi assim que o encarei.

Não. Acho que o cinema não precisa de ser homenageado, pelo facto de a história do cinema ser um património que homenageamos vendo-a. É muito importante que essa memória continue a fazer parte das nossas vidas e que os filmes possam ser exibidos. Em Lisboa temos a sorte de ter uma cinemateca muito competente e forte e que cumpre essa missão. O cinema de hoje está vivo, apesar de não ter um papel social tão forte como teve no século XX, e acho que não precisa de homenagens. O “Grand Tour” é um filme de hoje, mas digamos que tem a memória de outros filmes que foram feitos. Não pretendo homenagear o cinema, mas sim explorar o potencial que ele tem, fazendo duas coisas muito diferentes.

Quais são?

Uma delas terá a ver, de facto, com a história do cinema e do seu património histórico, que ligo ao trabalho em estúdio. Isso é uma coisa que o cinema fez muito, inventar mundos que não são o nosso mundo real. Por outro lado, quis captar a realidade, pois o cinema também tem esse potencial de colocar a câmara à frente de pessoas, filmar acontecimentos, lugares e poder registar isso.

Quando me refiro a essa homenagem ao cinema antigo refiro-me à presença de uma certa maneira de filmar que já esteve em voga. Queria misturar elementos cinematográficos antigos e contemporâneos?

Queria trabalhar com a Ásia fabricada, que nunca existiu, que o cinema criou.

Com a visão ocidental da Ásia.

A visão que os americanos e europeus criaram. Grande parte do cinema americano foi inventado por europeus, gente como [Josef von] Sternberg, que saiu da Alemanha e terá sido o expoente máximo de um autor de cinema que trabalhou com uma imagem da Ásia romantizada.

E filmou em Macau, inclusivamente. [O filme “Macao”, de 1952]

Exacto. Queria trabalhar com esse imaginário, tentando criar um diálogo em que pudéssemos sair para fora do estúdio e estar numa Ásia que correspondesse a um tempo colonial em muitos daqueles países, mas que depois, noutros momentos, pudéssemos estar num tempo presente. Esse tempo seria o futuro das personagens, já num outro tempo histórico pós-colonial.

“Grand Tour” era o nome dado ao percurso que então muitos ocidentais faziam para descobrir uma certa Ásia. Para fazer o filme presumo que tenha sido necessária alguma pesquisa histórica. Como foi esse processo?

Não lhe chamaria uma pesquisa muito profunda, porque não era esse o objectivo. [O “Grand Tour”] não é um filme de cariz sociológico, é uma fantasia de cinema. Está mais desse lado do que do lado sociopolítico, digamos assim. O ponto de partida foram duas páginas de um livro de viagens [o conto ‘Mabel’, de W. Somerset Maugham], que nos deram esse itinerário. A situação descrita [no conto] corresponde àquilo que vemos no filme, com um casal de noivos, com ele a viver na Birmânia e ela a regressar de Londres. Ele entra em pânico e foge no dia em que é suposto ir buscá-la ao cais de Rangum. O casal faz então esse itinerário, sendo que no livro ela consegue apanhar o noivo e casam-se, mas no filme é diferente.

Presumo que seja difícil comparar filmes. Mas entende que o “Grand Tour” marca uma viragem na sua carreira relativamente a produções anteriores?

Acho que não. É um filme pessoal, como todos aqueles que tive oportunidade de fazer. É pessoal no sentido em que não me foram impostas limitações ou qualquer caderno de encargos do produtor. Pude fazer exactamente o que queria. Vejo elementos comuns deste filme a outros que fiz. Acho que se insere numa continuidade do meu trabalho. Houve depois a questão da recepção do filme e do facto de ele ter ganho um prémio em Cannes [o de Melhor Realizador], o que obviamente me ajuda a continuar a trabalhar e ter uma receptividade mais favorável neste momento.

É um grande reconhecimento.

Antes de fazer este filme estava a tentar fazer outro no Brasil, uma adaptação do livro de Euclides da Cunha, “Os Sertões”, e é um projecto complicado, que envolve uma grande logística de produção. No período em que estava a tentar fazer o filme foi difícil [continuar] por várias razões, e uma delas chama-se Jair Bolsonaro [ex-Presidente do país]. Hoje estamos a retomar esse processo, de voltar ao filme. Houve uma altura de desânimo, em que pensei que tinha mesmo de abdicar do projecto, e hoje o processo de refinanciamento do filme está a avançar muito mais rapidamente. As perspectivas são mais animadoras.

Sente que o prémio ganho em Cannes é também do cinema português?

Espero que sim. Da minha parte, não tenho dúvidas de que aquilo que faço devo-o ao esforço de outros realizadores que filmaram antes de mim, e alguns deles continuam a fazê-lo. Eles tiveram de se confrontar com as características do nosso mercado e sociedade, conseguiram filmar num país onde não há indústria porque não há mercado para isso. Tiveram de lutar muito para poder filmar e fazer os filmes que fizeram. Reconheço uma experiência de identidade nesses filmes, revejo-me nisso, apesar dos filmes serem todos muito diferentes. Há, de facto, essa identidade na história do cinema português, talvez a partir dos anos 60, com o Cinema Novo, com produtores e realizadores que lutaram muito para poderem filmar. Fizeram filmes que, para mim, são muito importantes. Hoje em dia, com o sistema criado com a luta deles, é mais fácil para mim e para os meus colegas do que terá sido nos anos 60 e 70.

As condições políticas também eram outras, com menos investimento.

As condições políticas foram mudando ao longo do tempo, mas a vida deles também não foi fácil a seguir ao 25 de Abril de 1974. A forma como o cinema português se conseguiu impor e ganhar espaço para que existisse foi sendo travada em tempos históricos e interlocutores diferentes. E foi difícil.

Voltemos ao “Grand Tour”. Disse numa entrevista que a rodagem do filme foi “surrealista”. Que momentos que destaca dessa fase?

Quando disse isso referia-me a um momento específico da rodagem, na China, que foi muito surrealista. Esta ocorreu a milhares de quilómetros, estava em Lisboa porque não conseguia entrar no país por causa da covid-19. Depois de dois anos de espera para poder filmar, decidi que a única forma de fazer o filme seria ter uma equipa chinesa e eu estar em Lisboa e fazer a rodagem à distância. Estava num Airbnb no Areeiro, rodeado de monitores e a discutir aquilo que se deveria filmar com a equipa chinesa. Aí foi tudo muito surrealista, sim.

Alguma vez teve medo de não conseguir captar a essência do lugar, da cultura asiática, tendo em conta todas essas condicionantes?

Achava que a coisa não ia funcionar. Desconfio muito da técnica, sou bastante analógico, e achava que não ia funcionar. Para resultar tinha de ter a imagem em directo, dar um “acção” e um “corta” em tempo real, que pudesse ter a imagem geral, o que estava à volta no lugar além da imagem da câmara. Precisava de ter um sistema de comunicação que funcionasse com o director de fotografia e o responsável de câmara para lhe poder dar indicações na altura em que estávamos a filmar. Isso tudo foi possível, e fiquei espantado com isso. Por outro lado, a ideia de captar a essência do lugar, ou uma coisa mais profunda da cultura de um destes países, neste caso na China, parece-me um fardo demasiado pesado. Não era essa a minha intenção no filme, porque é algo impossível. Acredito que um filme é sempre o resultado de uma negociação entre alguém que olha e aquilo que existe para ser olhado. Há um lado subjectivo. Aquilo que nos interessa, que nos apela, que dialoga connosco e nos suscita o desejo de filmar pode existir na China, no Vietname, em África ou aqui na esplanada do café onde estamos. Parti para a Ásia como parti para a zona de Arganil para fazer um filme anterior, “Aquele Querido Mês de Agosto”.

Numa aldeia.

Sim, uma zona rural de Portugal, e não sei se olhava de maneira diferente numa situação ou outra. Há sempre qualquer coisa que acho bonito ou que me toca de maneiras diferentes. O que se passa em “Grand Tour” é uma série de desencontros, o do casal, mas parece-me que há também um desencontro entre aquelas personagens europeias na relação com o território. Parece que estão sempre desconectados do espaço onde habitam. Vivem um bocado numa bolha.

Mas o colonialismo também foi um pouco isso.

Sim. Concordo, acho que há pessoas que podem ver isso no filme, essa dissociação entre aquilo que as personagens estão a viver e aquilo que se passa em redor delas. Muitas vezes optámos por não traduzir o que se passava à frente deles para que o espectador ocidental possa estar tão intrigado e perdido como as próprias personagens. Também acho que, hoje em dia, há uma ideia, da qual discordo totalmente, que o cinema existe para corrigir a história e as injustiças todas do mundo. É também tarefa demasiado pesada para o cinema. Parece-me profundamente desajustado, porque o cinema não é um tribunal para julgar nem um espaço para punir espectadores e personagens, é outra coisa. Os filmes não têm de ser denúncias, prisioneiros de uma expectativa. Tentei fazer um filme onde a questão colonial pudesse ser tratada, mas sem ter de punir nem os espectadores, nem as personagens.

Qual era a sua relação com a Ásia ou a sua ideia de Orientalismo?

Quis trabalhar a ideia de que houve uma Ásia inventada e fabricada pelo olhar europeu, e tinha consciência que isso existiu e que tinha de trabalhar com isso no filme. O mundo da ficção, por outro lado, tem como uma das vertentes essa ideia de exotismo, independentemente da questão sociológica, de ter havido um olhar ocidental sobre o Oriente, quase como uma visão superficial desse mundo. Mas a ficção trabalha com estereótipos, e isso não é mau. É o cimento para depois fazer qualquer coisa com esses estereótipos.

Miguel Gomes na Cinemateca

Depois da primeira exibição ontem de “Aquele Querido Mês de Agosto”, a Cinemateca Paixão será o local para ver os filmes de Miguel Gomes seleccionados para a edição deste ano do Festival de Cinema entre a China e os Países de Língua Portuguesa. No próximo dia 8 é vez de “As Mil e Uma Noites – Volume 1, O Inquieto”, de 2015; seguindo-se “As Mil e Uma Noites – Volume 2: O Desolado” na terça-feira dia 10. Segue-se depois, na quarta-feira, 11 de Dezembro, o episódio da saga, com o nome ” As Mil e Uma Noites – Volume 3: O Encantado”. “Grand Tour” tem uma única exibição na sexta-feira, 13 de Dezembro.

29 Nov 2024

Macau propõe dança folclórica portuguesa para Património Cultural Intangível

O Instituto Cultural de Macau (ICM) anunciou na quarta-feira uma consulta pública sobre a possível inscrição de 12 manifestações, incluindo a dança folclórica portuguesa, na Lista do Património Cultural Intangível do território.

A consulta, “para efeitos de auscultação da opinião pública” começa a 04 de dezembro, inclui uma sessão aberta à população a 07 de dezembro e irá e durar 30 dias, disse o ICM, num comunicado.

A líder de um grupo de dança folclórica portuguesa disse à Lusa que a possível listagem como património cultural intangível de Macau pode ajudar a preservar a cultura de matriz lusa na região chinesa. “Temos sempre de lutar bastante para manter o mínimo da cultura portuguesa que ainda está viva em Macau, não é fácil”, disse a presidente da Associação de Danças e Cantares Portugueses ‘Macau no Coração’.

“É muito boa essa iniciativa e se [a dança folclórica portuguesa] entrar realmente na lista era ótimo para a nossa cultura”, defendeu a macaense Ana Manhão Sou. Os macaenses são uma comunidade euro-asiática, composta sobretudo por lusodescendentes, com raízes no território.

Manhão Sou disse estar confiante que os residentes de Macau já encaram a dança folclórica portuguesa não como algo estrangeira, mas sim como parte integrante da cultura do território. “Qualquer evento grande que é realizado pelo Governo, a dança é sempre convidada”, recordou a presidente da ‘Macau no Coração’, que elogiou “o apoio máximo” das autoridades da região na promoção do grupo.

Manhão Sou disse que o grupo “é um míni Macau”, que junta pessoas das comunidades macaenses, chinesa e portuguesa, mas admitiu que continua a ser “muito difícil” atrair rapazes para a dança folclórica.

Além da dança folclórica portuguesa, estão na lista de 12 novas manifestações recomendadas para inscrição a confeção de massas Jook-Sing (uma rara especialidade feita com ovos de pato), biscoitos de amêndoa, bolos de casamento tradicional chinês e pastéis de nata. Os pastéis de nata de Macau, inspirados pelo pastel português, foram inventados por um britânico radicado na cidade, Andrew Stow.

A lista inclui ainda a crença e costumes de Tou Tei (o deus chinês da Terra), o festival e a regata de barcos-dragão, a dança do dragão, a dança do leão, o Festival da Primavera (que inclui o Ano Novo Lunar) e a arte marcial Tai Chi.

Em 2019, Macau já tinha inscrito como património cultural intangível as procissões católicas do Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos e de Nossa Senhora de Fátima, a gastronomia macaense e o teatro em patuá, o dialeto crioulo da comunidade.

Em 2021, a gastronomia macaense e o teatro em patuá foram também incluídos pela China na Lista de Património Cultural Imaterial Nacional.

28 Nov 2024

Xinjiang | Volkswagen anuncia venda das suas operações

O construtor automóvel alemão Volkswagen anunciou ontem a venda das suas operações na região chinesa de Xinjiang, onde Pequim é acusada de violações dos Direitos Humanos.

A empresa vai vender a sua fábrica na capital de Xinjiang, Urumqi, bem como uma pista de testes em Turpan, a uma empresa chinesa, informou um porta-voz do grupo, em comunicado. A empresa invocou “razões económicas” e um “realinhamento estratégico” para justificar a sua decisão.

Desde há vários anos, governos ocidentais e organizações de defesa dos Direitos Humanos acusam Pequim de exercer uma campanha repressiva contra os uigures e outras minorias étnicas de origem muçulmana em Xinjiang.

A região do noroeste da China alberga uma série de fornecedores de empresas multinacionais, incluindo grandes marcas europeias e norte-americanas. Há muito que a Volkswagen está no centro das atenções por causa da sua fábrica de Urumqi, inaugurada em 2013, na qual a empresa tem uma participação através do seu parceiro local SAIC.

No início deste ano, o diário financeiro alemão Handelsblatt afirmou que a construção da pista de testes da VW em Turpan, em 2019, poderia ter envolvido trabalho forçado. A Volkswagen respondeu que não tinha encontrado provas de violações dos Direitos Humanos relacionadas com o projecto.

No seu comunicado de imprensa, o fabricante alemão declarou que todas as suas operações na região seriam transferidas para a empresa chinesa Shanghai Motor Vehicle Inspection Center.

28 Nov 2024

CPLP | Festival de cinema arranca em Díli com “Grand Tour” de Miguel Gomes

O Festival de Cinema da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa começou ontem em Díli com a estreia do filme do realizador português Miguel Gomes “Grand Tour”, prémio de melhor realização no Festival de Cinema de Cannes.

“O festival tenciona trazer também para Timor-Leste cinema em língua portuguesa”, afirmou à Lusa a embaixadora de Portugal em Díli, Manuela Bairos, momentos antes do início do festival.

Segundo a diplomata, a CPLP tem países “com grande tradição de cinema”, dando como exemplo o Brasil, mas também o novo cinema angolano. “Queremos que isso seja um começo para talvez no próximo ano se faça um festival de maior ambição” e, disse, dar a conhecer a Timor-Leste que “há cinema em língua portuguesa”.

O festival começou no Cineplex, em Díli, com o “Grand Tour” de Miguel Gomes, que ganhou em Maio o prémio de melhor realização do Festival de Cinema de Cannes, em França. No sábado, será projectado o “Central Brasil”, um clássico do cinema brasileiro.

Timor-Leste estará presente no dia 3 de Dezembro com a projecção, no Arquivo e Museu da Resistência, de um documentário e entrevista com Nino Konis Santana, que comandou a guerrilha timorense entre 1993 e 1998. O festival, que inclui também a projecção de curtas-metragens e outros filmes de realizadores da CPLP, termina em 12 de Dezembro.

“Esta é uma forma de também diversificarmos a nossa oferta cultural. Há coisas que são mais clássicas, mas o cinema também merece ser impulsionado e o cinema destes países é muito o cinema de arte, são filmes muito bem trabalhados”, acrescentou Manuela Bairos.

28 Nov 2024

Hong Kong defende integridade financeira e adverte Estados Unidos

O governo de Hong Kong advertiu que as acções políticas norte-americanas podem ameaçar as relações bilaterais, em resposta a uma carta da Câmara de Representantes dos EUA que questiona o estatuto da cidade como centro económico internacional.

O executivo da região semiautónoma chinesa repudiou esta carta enviada à secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, afirmando ser infundada e prejudicial à reputação da região, de acordo com um comunicado divulgado pelas autoridades na terça-feira.

Além disso, o governo de Hong Kong garantiu que tem vindo a aplicar as sanções impostas pelas Nações Unidas e que mantém um mecanismo eficaz para aplicar as resoluções, incluindo o controlo de navios e empresas suspeitas, para evitar a evasão às sanções.

Um porta-voz das autoridades da antiga colónia britânica classificou o documento como uma “tentativa grosseira e repreensível” de espalhar desinformação para fins políticos.

Sublinhou que as leis de segurança nacional da cidade “garantem um ambiente estável e previsível que permite o crescimento da economia e das empresas”, referindo que a comunidade empresarial internacional continua a ter confiança em Hong Kong.

O porta-voz salientou a integridade dos sistemas financeiros locais, destacando que os bancos e instituições do território cumprem as normas internacionais, nomeadamente em matéria de prevenção do branqueamento de capitais e do financiamento do terrorismo.

As autoridades locais reafirmaram ainda o empenho no Estado de Direito no âmbito do quadro ‘um país, dois sistemas’, salientando que os direitos e liberdades fundamentais são protegidos pela Lei Básica.

O conceito ‘um país, dois sistemas’, originalmente proposto pelo líder chinês Deng Xiaoping e aplicado pela primeira vez em 1997 e 1999, com a transferência de soberania de Hong Kong e de Macau, respectivamente, prevê ao longo de 50 anos um determinado grau de autonomia para as duas regiões, com foco no respeito pelas liberdades e garantias dos cidadãos.

Dedo apontado

Na segunda-feira, legisladores norte-americanos instaram as autoridades dos EUA a reavaliar o tratamento dado aos bancos de Hong Kong e acusaram a cidade de se ter tornado “um centro de lavagem de dinheiro e de ajuda aos países autoritários para contornar as sanções”.

“Desde a imposição da Lei de Segurança Nacional por Pequim, Hong Kong deixou de ser um centro financeiro global de confiança para se tornar um actor fundamental no crescente eixo autoritário que inclui a China, o Irão, a Rússia e a Coreia do Norte”, argumentaram.

Os congressistas acrescentam que Hong Kong “se tornou líder mundial em práticas como a importação e reexportação para a Rússia de tecnologia ocidental proibida, a criação de empresas de fachada para a compra de petróleo iraniano proibido, a facilitação do comércio de ouro de origem russa e a gestão de navios fantasma envolvidos no comércio ilegal com a Coreia do Norte”.

Pequim impôs em Hong Kong uma lei de segurança nacional em Junho de 2020 que proíbe actos de secessão, subversão, terrorismo e conluio com forças estrangeiras, em resposta aos protestos que abalaram em 2019 a cidade. Depois disso, em Março deste ano, a antiga colónia britânica promulgou a própria lei de segurança nacional.

28 Nov 2024

A sensibilidade trágica perdida dos Estados Unidos (I)

(continuação)

No entanto, é com as presidências Obama e Trump, em substancial continuidade apesar de inegáveis diferenças, que um novo momento na arte da governação americana ganha forma. O erro colossal da “Guerra ao Terror” abre uma contestação popular mais ampla da política externa, um cepticismo claro não sobre os fins do projecto americano de construção de uma ordem mas sobre os custos, riscos e frustrações tradicionalmente associados a ele. Os americanos rejeitam certos pilares do papel global do seu país como o aumento das despesas de guerra (financiadas pela dívida), acordos de comércio livre, promoção da democracia e dos direitos humanos, protecção dos aliados, defesa pela força de certas normas internacionais. Por isso, elegem governantes animados por uma visão do mundo ingénua, perigosa e a-histórica.

Brands e Edel gostariam que os americanos aceitassem o seu papel e aplicassem constantemente o poder necessário para manter a ordem. O argumento é muito elitista, mas aponta para um problema real que são as capacidades narrativas da América atrofiaram. Os governantes perderam a capacidade de explicar como o modo de vida americano mudaria sem o império ou se os rivais prevalecessem. Falta a capacidade descritiva. Durante a Guerra Fria, a maioria da população tinha a noção racional de que o contra-modelo soviético era inaceitável. Hoje em dia, em parte devido à desconfiança popular em relação às instituições e aos círculos mediáticos que são incapazes de mudar de opinião, os contornos das ameaças e dos riscos para o americano médio não estão bem definidos.

O que é dito de que se a China ganhar, diminui a prosperidade americana; se a Rússia ganhar, não se fica pela Ucrânia; a América é uma nação indispensável para a estabilidade mundial. O como é escasso, o domínio da imaginação realista. Domínio da tragédia. Para sair da amnésia, Brands e Edel sugerem que se redescubram alguns princípios e convenhamos que a natureza humana não mudou e que o mundo não quer ser como nós; é impossível criar uma ordem verdadeiramente pacífica, mas não devemos deixar de tentar; não podemos concordar com os rivais porque não podemos saciar um revanchista (corolário implícito são os jogos da Conferência de Munique de 1938); para evitar a catástrofe, é necessário agir preventivamente para desviar os acontecimentos da sua trajectória (deixemos de ser reactivos, respondamos com força aos testes de credibilidade dos rivais, até agora todos falhados).

Apelam (último imperativo) ao sentido da proporção e da medida para não caírem na hybris, esgotarem-se e retirarem-se do mundo. No entanto, na prática, as afirmações mais prudentes e necessárias do poder americano não parecem ser muito diferentes da abordagem predominante da liderança dos Estados Unidoa nas últimas décadas. É aqui que entra Robert Kaplan. Na sua opinião, a tragédia é um tipo particular de catástrofe; a anarquia, o maior e mais fundamental medo dos gregos. Também ele concebe a tragédia como um meio de informar o público sobre os perigos do esquecimento de certos princípios básicos. A tónica é, no entanto, colocada no sentido da medida. Definido como modéstia, humildade, pessimismo construtivo, consciência dos limites, previsão ansiosa, extrema parcimónia no uso da força, contemplação do irracional. Embora exortando os intelectuais e a população a compreenderem os constrangimentos dos detentores do poder e a razão de Estado, o seu principal público-alvo é a “nomenklatura” de Washington e Nova Iorque. A crítica durante os últimos trinta anos, ignorou o elemento dionisíaco dos assuntos humanos e mundiais, baseando-se em suposições alegres.

Por exemplo, o fim da Guerra Fria conduziria a uma expansão imparável da democracia e dos mercados livres; quanto mais negociarmos com a China, mais rica e mais liberal se tornará; a terapia económica de choque tornará a sociedade russa democrática e capitalista; a geopolítica desapareceu da história, substituída pela geoeconomia, enquanto o que aconteceu foi a fusão entre as duas numa mistura ainda mais perigosa e explosiva para tornar a guerra melhor. A acusação mais forte de que a classe dirigente não tem um medo visceral da anarquia, nunca teve de negociar o trânsito num posto de controlo durante uma guerra civil e, por isso, subestimou demasiadas vezes uma lição de que os picos de regime são menos perigosos e aterradores do que nenhum regime. Saddam e Kadhafi acenam com a cabeça nos seus túmulos. Kaplan também se centra no conceito de defesa da ordem, mas como um apelo à modéstia para não alimentar ainda mais a desordem.

Insta a liderança americana a ser mais subtil e humilde no seu pensamento, menos maximalista e prepotente. Nas palavras de Joseph Conrad em “Under Western Eyes” as comunidades humanas oscilam entre governos autocráticos ferozes e imbecis e a resposta não menos imbecil dos ideais utópicos. O pecado crucial das últimas décadas é ter espalhado o caos em nome de objectivos ambiciosos e inatingíveis. Agora os Estados Unidos já não se podem dar a esse luxo. Nesta nova era, o nível e a qualidade do erro de cálculo que gerou o Iraque e o Afeganistão conduziriam o mundo à catástrofe. O mesmo pensamento que deu origem a guerras intermináveis, se não for moderado, corre o risco de levar a América a uma guerra total. A referência implícita é à facilidade com que os Estados Unidos ainda concebem a mudança de regime como uma solução para as rivalidades.

Não é um objectivo concretamente perseguido no desafio com a Rússia e a China, apesar de mais do que alguns o exigirem abertamente. Mas se o foco da retórica americana continuar a ser a inaceitabilidade destes regimes, em vez de apostas mais negociáveis e específicas, corre-se o risco de convencer o adversário de que a sua sobrevivência e identidade estão em jogo. Acima de tudo, diminui a possibilidade de negociar uma coexistência, mesmo que temporária, para ganhar tempo para reconstruir os factores de poder que permitem a competição. Os americanos, admite Kaplan, são alheios à ideia de que as tiranias não governam no vácuo, mas têm pelo menos algum apoio popular porque se legitimam como uma alternativa à desordem.

28 Nov 2024

Corrupção | Pequim diz que notícia sobre ministro da Defesa é “especulação”

O Governo chinês descreveu ontem como “especulação” a informação avançada pelo jornal Financial Times de que o ministro da Defesa chinês, Dong Jun, está a ser investigado por corrupção. “Estão a perseguir sombras”, reagiu Mao Ning, porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, em conferência de imprensa.

No entanto, Mao não desmentiu a informação. Citando actuais e antigos funcionários norte-americanos familiarizados com o caso, o jornal referiu que o caso faz parte de uma investigação mais ampla sobre a corrupção nas Forças Armadas chinesas.

A confirmar-se, Dong seria o terceiro ministro da Defesa consecutivo a ser acusado por este tipo de delito na China. Antigo comandante da Marinha, Dong Jun foi nomeado ministro da Defesa em Dezembro de 2023, na sequência da súbita destituição do antecessor Li Shangfu, apenas sete meses após a sua entrada em funções.

Li Shangfu foi posteriormente expulso do Partido Comunista Chinês por “suspeita de corrupção” e acusado de ter “recebido grandes somas de dinheiro”, segundo a televisão estatal. O antecessor, Wei Fenghe, que também era suspeito de corrupção, foi igualmente expulso do Partido.

Também foram afastados, nos últimos meses, entre outros, os dois chefes da Força de Foguetões, de que depende o programa nuclear chinês. Após ascender ao poder, há pouco mais de dez anos, Xi lançou uma vasta campanha contra a corrupção, que se estendeu ao Exército.

28 Nov 2024