Professor da UM defende que grande vantagem do sistema judiciário local é ter poucas “pessoas brancas”

Declarações de Gu Xinhua durante evento da universidade merecem condenação por parte da comunidade que pede à instituição que se demarque de um conteúdo visto como racista. O académico em causa recusa o rótulo e aponta para a “América”

 

[dropcap]F[/dropcap]oi num evento oficial da Universidade de Macau que contou com personalidades como o reitor Song Yonghua, a académica e deputada Agnes Lam, o presidente da Fundação Macau, Wu Zhiliang e Yao Jing Ming, director do Departamento de Português, que Gu Xinhua, professor associado de Economia de Negócios, defendeu que a RAEM tem um sistema judicial mais independente porque não é controlado por “pessoas brancas”, o que é uma “vantagem”. As declarações foram relatadas pelo jornal Macau Daily Times, na edição de quarta-feira, sobre o evento que decorreu na terça-feira, como publicado no portal da própria instituição da UM.

Numa intervenção em que abordou “as interferências dos estrangeiros mal-agradecidos” nos assuntos de Macau e Hong Kong, Gu apontou como uma das principais diferenças o facto do sistema jurídico da RAEM ter menos intervenientes brancos, numa alusão a pessoas de etnia caucasiana. “O sistema judiciário de Macau não é controlado por pessoas brancas”, afirmou, segundo o Macau Daily Times. “Isto é uma das nossas vantagens”, acrescentou.

O académico fez ainda o contraste com a situação da região vizinha: “O sistema legal de Hong Kong está nas mãos das pessoas brancas e dos estrangeiros. As pessoas de Hong Kong não têm soberania judicial, só têm soberania administrativa”, considerou.

O professor associado de Economia de Negócios acusou ainda os “americanos” de dominarem a indústria do jogo com lucros de 10 mil milhões e defendeu que o Governo deve fazer tudo para evitar que os “americanos” dominem uma futura bolsa de valores em Macau.

O HM entrou ontem em contacto telefónico com Gu Xinhua, que disse estar ocupado para prestar declarações, mas recusou a ideia de ter praticado qualquer acto racista: “Não acho que seja racista, o racismo está em todo o lado na América”, respondeu.

Por outro lado, o académico afirmou não querer revelar as suas ideias pessoais: “Não queria que as minhas opiniões fossem públicas porque é um tema sensível e são pessoais”, clarificou.

UM em silêncio

Ao longo do dia de ontem, o HM tentou obter junto da UM uma posição sobre as declarações prestadas pelo académico, para perceber se estas representam a instituição de ensino, ou se em sentido contrário, teria havido algum inquérito ou procedimento no sentido de penalizar o professor.

No entanto, apesar dos vários telefonemas para todos os números fixos e móveis disponibilizados aos jornalistas pela UM, além de uma mensagem por correio electrónico com as perguntas, ninguém se mostrou contactável.

Também o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, recusou fazer qualquer comentário às declarações do professor natural do Interior da China, quando questionado pelo HM.

Por sua vez, a Direcção dos Serviços de Ensino Superior (DSES) apontou as suas limitações para actuar no caso devido à “autonomia pedagógica e académica”, mas apelou a que se valorize o multiculturalismo da RAEM. “De acordo com a Lei do Ensino Superior em vigor, as instituições do ensino superior de Macau gozam, legalmente, de autonomia pedagógica e académica, assim, esta Direcção de Serviços espera que, na sociedade multicultural de Macau, sejam melhor valorizadas e transmitidas as virtudes tradicionais do respeito recíproco”, foi respondido.

As perguntas específicas sobre um eventual inquérito e penalização ao académico ficaram sem resposta.

Liberdade de expressão

De acordo com a Lei Básica de Macau, os residentes estão protegidos de racismo e “são iguais perante a lei, sem discriminação em razão de nacionalidade, raça, sexo, língua, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução e situação económica ou condição social”.

Além disso, o artigo 233.º do Código Penal define o crime de discriminação racial, que entre outras condições se aplica a “Quem em reunião pública, por escrito destinado a divulgação ou através de qualquer meio de comunicação social […] difamar ou injuriar pessoa ou grupo de pessoas por causa da sua raça, cor ou origem étnica, com a intenção de incitar à discriminação racial ou de a encorajar”. Este é um crime punido com uma pena de prisão entre 6 meses e 5 anos.

Contudo, para o advogado Pedro Leal, Gu Xinhua não terá cometido nenhum crime porque o discurso proferido se enquadra na liberdade de expressão. “Não creio que as declarações constituam crime [ao abrigo do artigo 233.º]. É uma opinião perfeitamente parva, de uma pessoa que merece ser criticada, mas não é passível de crime”, indicou.

Capacidades questionadas

Se no plano criminal, Pedro Leal considera que o professor não tem de se preocupar, o mesmo não acontece à adequação das declarações no plano académico. “Era interessante saber se a universidade que frequenta se identifica com estas declarações”, apontou.

Também Amélia António, presidente da Casa de Portugal, e Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação dos Macaenses, questionam o facto de um professor ter declarações deste conteúdo.

“Como é que um académico pode proferir afirmações desta natureza? […] Entristece-me que determinadas pessoas que ostentam determinados títulos académicos possam fazer observações desse género”, declarou Senna Fernandes.

Por sua vez, Amélia António sublinhou a gravidade das declarações: “Tendo por base uma tradução veiculada no artigo do jornal [Macau Daily Times], acho que é de uma gravidade enorme este tipo de declarações. Obviamente que a liberdade de expressão no território existe e isso é prova dessa liberdade, mas não diminui a gravidade de uma pessoa com responsabilidades, nomeadamente na área educativa, fazer declarações deste tipo”, indicou.

Os representantes das duas associações sustentaram igualmente que a UM devia, apesar de mostrar o respeito institucional pela liberdade de expressão, demarcar-se do conteúdo das declarações que visam as “pessoas brancas”.

Novo normal?

Num contexto em que as tensões se agravam em Hong Kong, devido à instabilidade social, e em que o Governo Central e os políticos de Macau responsabilizam as interferências “externas” pela situação e defendem a aposta no nacionalismo, não é de excluir os efeitos para a comunidade portuguesa. No entanto, as pessoas ouvidas pelo HM não concordam com esta leitura e afirmam que as pessoas sabem reconhecer as diferenças entre Hong Kong e Macau.

“É uma afirmação absolutamente gratuita que não prestigia. Mas não acredito que crie um ambiente mais complicado para a comunidade portuguesa”, disse Miguel de Senna Fernandes.

“Não são problemas de raiz que possam colocar em causa a comunidade portuguesa, que tem vivido os seus dias com algum receio, sempre relativo, mas não se pode falar na existência de uma situação de alarme”, sublinhou.

Já Amélia António sublinhou o contributo reconhecido da comunidade portuguesa. “A comunidade portuguesa em Macau tem sido um elemento extremamente positivo no desenvolvimento do território a todos os níveis. É uma comunidade integrada”, indicou. “Eu percebo que as pessoas estejam nervosas, também pelas referências a Hong Kong. Mas as coisas não se podem baralhar. Macau não é Hong Kong. As pessoas têm outra maneira de estar e outra visão. Não se pode falar nestes termos e generalizar”, frisou.

As declarações de Gu Xinhua foram prestadas durante a Conferência Anual dos Estudos de Macau, promovida pelo Centro de Estudos de Macau da UM, e entre os vários temas discutidos constou o “Legado Cultural Português em Macau”.

 

Gu Xinhua: Estudou e trabalhou no Canadá

Segundo o perfil disponibilizado pela Faculdade de Gestão de Empresas da UM, de que faz parte, Gu Xinhua é Doutorado em Economia Financeira pela Universidade de Toronto, no Canadá, e obteve um segundo Mestrado em Economia, no mesmo país, mas na Universidade de Concordia. No currículo conta ainda com uma licenciatura em Matemática e um mestrado Economia Quantitativa, obtidos na Universidade de Nanjing. Ao nível de experiência profissional, foi professor em três universidades do Canadá e na Universidade de Nanjing. As cadeiras que lecciona em Macau estão relacionadas com economia, finanças e sistema bancário.

18 Out 2019

O lugar da crítica 

[dropcap]E[/dropcap]stá instalada uma nova polémica com o projecto da Escola Portuguesa de Macau, já de si bastante atrasado. O arquitecto Rui Leão decidiu confrontar o projecto do arquitecto Carlos Marreiros, cuja crítica parece ser apoiada pelos pais dos alunos que frequentam a escola. Vai daí, Carlos Marreiros decidiu refutar as críticas de Rui Leão de uma forma bastante directa.

Não querendo defender um ou outro, o que este caso nos revela é a grande incapacidade para lidar com a crítica que existe no território. Não se pode criticar trabalho alheio, sobretudo se for de importantes figuras da comunidade portuguesa e macaense? Qual é o mal de debater um projecto que tem sido feito com pouca transparência e que, aparentemente, não agrada aos encarregados de educação? Aquando da acusação de plágio, relativamente ao projecto da Biblioteca Central, Carlos Marreiros defendeu bem o seu trabalho sem cair na crítica gratuita.

Agora, parece que resolveu enveredar por outro caminho que, a meu ver, não lhe fica bem. Democracia no espaço público é isto, é chamar a atenção quando algo não está bem ou não se ajusta, independentemente dos interesses em causa, que desconheço quais são. Ouve-se a crítica, refuta-se, explica-se o projecto. É disto que Macau necessita, um debate público amplo e transparente sobre um assunto que toca a todos.

18 Out 2019

Grande Prémio | “Sr. Macau” quer recuperar coroa perdida

[dropcap]E[/dropcap]doardo Mortara, vencedor por sete ocasiões em corridas do Grande Prémio de Macau, irá regressar no próximo mês ao Circuito da Guia. O piloto italiano irá conduzir um dos dois Mercedes-AMG GT3 da equipa Mercedes-AMG Team Craft-Bamboo Racing na “SJM Taça GT Macau – Taça do Mundo de GT da FIA”.

O “Sr. Macau”, como tem sido carinhosamente chamado pela imprensa e pelos fãs, irá tentar defender o ceptro perdido no ano passado nesta corrida para o brasileiro Augusto Farfus. Este ano, Mortara parte em ligeira desvantagem face à concorrência, pois não realizou qualquer prova de GT3 esta temporada, tendo sido colocado pela Mercedes-AMG a tempo inteiro ao serviço da equipa Venturi Formula E Team no Campeonato FIA de Fórmula E para carros eléctricos.

“Vou tentar vencer esta corrida outra vez, depois de ter triunfado em 2017 e estado no pódio o ano passado. Tive muito sucesso no passado em Macau e espero este ano conseguir um bom resultado”, disse o piloto de 32 anos, em comunicado. “Sinto-me muito motivado e determinado em regressar a Macau. Estou com fome de sucesso como nunca antes.”

Na Mercedes-AMG Team Craft-Bamboo Racing, Mortara vai encontrar o belga Alessio Picariello, um estreante no Circuito da Guia que este ano competiu com a formação de Hong Kong no Blancpain GT World Challenge Asia e no Campeonato da China de GT. De fora da corrida, desta vez ficou Darryl O’Young, que no fim-de-semana de 16 e 17 de Novembro vai trocar o “cockpit” de um dos Mercedes-AMG GT3 pelo lugar director desportivo da equipa fundada pelo piloto-empresário Frank Yu.

Mais carros

A representação da Mercedes-AMG na Taça do Mundo da FIA terá no total seis carros. Decidida a recuperar um título perdido, a marca de Affalterbach irá colocar os seus pilotos predilectos Maro Engel e Raffaele Marciello com a equipa Mercedes-AMG Team GruppeM Racing. O alemão triunfou nesta corrida por duas vezes e é desde 2014 uma presença habitual no pódio do evento da RAEM, tendo terminado em segundo lugar no ano transacto. Já o italiano, que foi uma das surpresas nos dois últimos anos, lutou com Farfus pela primeira posição na pretérita edição da corrida dos Grande Turismo até cometer um erro na Curva Lisboa. Os outros dois Mercedes-AMG inscritos na prova estarão entregues a equipas e pilotos privados.

18 Out 2019

Grande Prémio | "Sr. Macau" quer recuperar coroa perdida

[dropcap]E[/dropcap]doardo Mortara, vencedor por sete ocasiões em corridas do Grande Prémio de Macau, irá regressar no próximo mês ao Circuito da Guia. O piloto italiano irá conduzir um dos dois Mercedes-AMG GT3 da equipa Mercedes-AMG Team Craft-Bamboo Racing na “SJM Taça GT Macau – Taça do Mundo de GT da FIA”.
O “Sr. Macau”, como tem sido carinhosamente chamado pela imprensa e pelos fãs, irá tentar defender o ceptro perdido no ano passado nesta corrida para o brasileiro Augusto Farfus. Este ano, Mortara parte em ligeira desvantagem face à concorrência, pois não realizou qualquer prova de GT3 esta temporada, tendo sido colocado pela Mercedes-AMG a tempo inteiro ao serviço da equipa Venturi Formula E Team no Campeonato FIA de Fórmula E para carros eléctricos.
“Vou tentar vencer esta corrida outra vez, depois de ter triunfado em 2017 e estado no pódio o ano passado. Tive muito sucesso no passado em Macau e espero este ano conseguir um bom resultado”, disse o piloto de 32 anos, em comunicado. “Sinto-me muito motivado e determinado em regressar a Macau. Estou com fome de sucesso como nunca antes.”
Na Mercedes-AMG Team Craft-Bamboo Racing, Mortara vai encontrar o belga Alessio Picariello, um estreante no Circuito da Guia que este ano competiu com a formação de Hong Kong no Blancpain GT World Challenge Asia e no Campeonato da China de GT. De fora da corrida, desta vez ficou Darryl O’Young, que no fim-de-semana de 16 e 17 de Novembro vai trocar o “cockpit” de um dos Mercedes-AMG GT3 pelo lugar director desportivo da equipa fundada pelo piloto-empresário Frank Yu.

Mais carros

A representação da Mercedes-AMG na Taça do Mundo da FIA terá no total seis carros. Decidida a recuperar um título perdido, a marca de Affalterbach irá colocar os seus pilotos predilectos Maro Engel e Raffaele Marciello com a equipa Mercedes-AMG Team GruppeM Racing. O alemão triunfou nesta corrida por duas vezes e é desde 2014 uma presença habitual no pódio do evento da RAEM, tendo terminado em segundo lugar no ano transacto. Já o italiano, que foi uma das surpresas nos dois últimos anos, lutou com Farfus pela primeira posição na pretérita edição da corrida dos Grande Turismo até cometer um erro na Curva Lisboa. Os outros dois Mercedes-AMG inscritos na prova estarão entregues a equipas e pilotos privados.

18 Out 2019

A Grande Dama do Chá

[dropcap]O[/dropcap] restaurante chinês “Cam Seng”, no quinto andar do hotel Central era o local a que Toshio Nomura chamava o seu escritório à hora de almoço. Era um homem de hábitos às refeições, algo estranho para quem as rotinas podem ser perigosas. Sabia-se também que, às vezes, passava parte da noite no clube “Hou Heng”, no sexto andar, onde se encontravam muitos estrangeiros e alguns portugueses. Era um bom local para colher informações e, da varanda, tinha-se uma agradável vista da cidade. Nomura, que evitava ir aos locais onde a maioria dos presentes era chinesa, preferia, nos finais de tarde, ir ao Canídromo. Gostava de apostar nas corridas de cães. Depois ia até ao salão de dança do local, acompanhado quase sempre duma filipina, que apresentava como sua secretária, que muitos diziam ser a amante. O japonês mandara uma mensagem a Cândido Vilaça logo pela manhã para estar ali para almoçarem. Jin Shixin, que ainda estava em casa do português, sorrira, quase malevolamente.

Nomura estava sentado numa mesa colocada num canto, de onde se via toda a sala, e fumava um cigarro através de uma cigarrilha. Pareceu-lhe mais novo do que era. Talvez tivesse pouco mais de 40 anos. Assim que Cândido se sentou à sua frente, perguntou-lhe, no seu português com sotaque brasileiro:

– Bebe vinho? Aqui têm bom vinho tinto português?
– Aceito. Há muito tempo que não o bebo.
– Acho que sei a marca. Periquita?

Assim era. O empregado trouxe uma garrafa e antes de a abrir mostrou-a. Nomura confirmou a escolha.

– Para comer propunha uma garoupa frita. Aqui é excelente. Com arroz chao-chao.
– Parece-me uma excelente sugestão.

Nomura fixou os olhos em Cândido e pareceu estudá-lo com rigor. Era um homem habituado a ler os pensamentos dos outros.

– Parece-me um bom homem, Cândido. E tenho de lhe agradecer a informação que nos passou. Permitiu-nos saber onde é o armazém do Bando Verde.
Encomendaram a refeição e Nomuera disse:
– Só tenho pena de não terem aqui sake.
– Tem de pensar em importar. Se pensa ficar em Macau muito tempo…
– É uma boa ideia.
– Importar ou ficar em Macau?

Nomura deu uma gargalhada.
– Gosto do seu sentido de humor. Mas, aproveitando a boa disposição, deixe-me perguntar-lhe algo. Sabe do José Prazeres da Costa, o nosso comum amigo?
– Desde ontem à hora de almoço que não o veio. Estive no “Bambu Vermelho” à noite, mas ele não apareceu. O que foi estranho, porque tem andado com sorte ao jogo.
– Eu sei. Pagou-me tudo o que me devia. Bem, poderia dizer-lhe que não sei dele. Mas isso é uma mentira e depressa descobriria isso. E deixaria de confiar em mim.

Fez uma pausa, para apreciar o resultado das suas palavras. O olhar de Cândido manteve-se impassível.

– Pois bem, o nosso comum amigo embarcou esta manhã para Hong Kong. Ia acompanhado por uma senhora, Amélia de seu nome, segundo julgo saber. Acredito que vá a caminho de Portugal.

Deve ter conseguido ganhar algum dinheiro nas últimas semanas para conseguir fazer isto. Até há pouco tempo estava falido. Ele não lhe disse nada?

– O que está a dizer apanhou-me de surpresa, tal como julgo deve ter acontecido consigo. Mas deveria estar a preparar a fuga há vários dias.
– Só uma coisa estranho, porque estou habituado a que as pessoas tenham duas faces. Ou mais, ainda. Como é que ele ganhou tanto dinheiro em tão pouco tempo, tendo o suficiente para me pagar e, ainda mais, para fugir?

– A sorte do jogo também muda.
– Acha que muda sem uma mão invisível e interessada intervir?

Fixou o olhar em Cândido, que sentiu um leve arrepio. Sabia o que se tinha passado. A sorte foi que foram interrompidos pela chegada da comida. Nenhum deles reparou que, numa mesa próxima, se tinha sentado Luc LeFranc. O jogador olhou para eles, disfarçadamente e pediu algo para comer e beber. Trazia um exemplar do “South China Morning Post”, que foi lendo com interesse. Passado um par de minutos, Nomura voltou a falar:

– Diga-me honestamente, amigo Cândido. Agora que o José fugiu, estaria disposto a colaborar mais proximamente connosco?
– De que forma?
– Ajudando-nos no circuito de comunicações. Fazendo relatórios diários sobre o que ouve nos locais onde vai. Nós desejamos saber o que sentem as pessoas que vivem em Macau. E, claro, perceber quem são os nossos amigos. E os nossos inimigos.
– Eu sou apenas um músico.
– Os músicos têm os melhores ouvidos.

Dito isto, Nomura deu uma gargahada.
– Meu caro, nunca se tente mostrar que é mehor do que é. Nem pior do que acham que é.
– Não tento. Prometo ir pensar na sua oferta. Mas queria deixar-lhe uma informação. Sei que amanhã à noite, vai haver uma nova descarga no Porto 16. Sei apenas que desta vez é muito importante.

– Importante? Tem ouro?
– E não só. Heroína.
Nomura franziu os olhos.
– Heroína. Os chineses não costumam traficar essa droga. É um monopólio nosso.
Foi a vez de Cândido mostrar-se surpreendido:
– Vocês traficam heroína?
Nomura fez um ar enfadado.
– Só o suficiente para pagarmos as nossas acções. Não é um negócio como o do Bando Verde. Mas agradeço a sua preciosa informação. De resto trago-lhe uma lembrança.

Dito isto, tirou de um bolso do casaco um envelope, que colocou defronte de Cândido. Este agarrou-o e viu o seu conteúdo. Tinha uma quantidade interessante de dólares americanos e de patacas.
– Não posso aceitar, meu caro Nomura.
– Pode e vai fazer isso. Porque é uma forma de selar a sua lealdade connosco.

O seu olhar era agora agressivamente fixo. Cândido cedeu. Agarrou no envelope e guardou-o. Nomura sorriu:
– Meu caro amigo, você é sincero e isso torna-o um alvo fácil. Já eu vivo entre a espada e a parede. Estes são tempos difíceis. Seremos sempre julgados depois, pelos nossos companheiros. Para o bem e para o mal.

Parou um pouco para beber um pouco de vinho. Os seus olhos brilhavam:
– Para mim quem não sabe distinguir entre o bem e o mal, entre o correcto e o errado, não merece a nossa atenção. Há coisas essenciais, a lealdade, o sentido de dever e o valor. Sabe, Cândido, sempre fui um guerreiro, nas mais diferentes tarefas que exerci. Aprendi uma coisa: a maior preocupação de um guerreiro é como se comporta defronte da morte. A vida faz parte da morte da mesma forma que a morte inclui a vida, diz um nosso provérbio.
– Mas a guerra destrói toda a lucidez, não?
– Os homens fizeram barbaridades mais cruéis que as que cometeram, invocando o Bem, enquanto cortavam cabeças aos inimigos? Em qualquer caso, quando te esqueces da morte e te distrais, perdes a prudência. Mas já viu o suficiente disso em Xangai, não foi? Ninguém deseja que isso aconteça em Macau. É uma cidade tão pacata.

Cândido ficou calado. Nomura tinha uma missão. Que chocava com a de Jin. Um deles sairia vitorioso. O outro seria derrotado. Não havia meio termo. E ele, sentiu, já escolhera o seu lado. Ouviu ainda Nomura dizer:
– Lembre-se, quando se caminha de noite por caminhos iluminados, deve-se andar pela sombra. Devemos ocultar o rosto. Mas eu sei quem são os meus amigos em Macau. E o Cândido é um deles.

Nomura não confiava totalmente nele. Mas, naquele momento, era-lhe útil. Estiveram mais algum tempo a conversar, e depois de terem bebido o chá, se levantaram. Luc LeFranc deixou-os sair. Du Yuesheng iria ficar contente ao saber que tudo corria como esperado.

18 Out 2019

Esferas

[dropcap]N[/dropcap]o primeiro volume da trilogia das “Esferas”, de Peter Sloterdijk, o filósofo alemão explana a sua “teoria do espaço diádico” (uma ontologia que não começa no Um mas no Dois e face à qual a concepção do indivíduo enquanto substância unitária e isolada é uma visão falida, que já nem como prótese pode subsistir).

Tudo começa no útero e na ressonância entre dois pólos, o interior do vaso amniótico, e o exterior que se joga no espaço intersubjectivo da mãe e que chega ao feto através do ouvido. E assim se cria a primeira esfera inicial, o primeiro aparato imunológico.

O bebé cresce dentro de uma câmara de ecos, ouve o que lhe é invisível. Mais tarde, com o corte do cordão umbilical, e à falta dessa relação de protecção configurada pelo útero, o invisível será suprido pela imaginação e os “seus” elementos subjectivos reinventam-no, projectando-o noutra esfera completada pelas figuras do anjo da guarda, do daimon, a do amigo imaginário, ou a do génio, etc.

Contra Lacan, que deu relevo ao estádio do espelho, Sloterdijk promove o ouvido como premissa fundadora da auto-percepção e reflecte nas consequências disso nas duas mil e cem páginas da sua trilogia, absolutamente persuasivas.

E ao fazer o elogio da esfera, como explica Paulo Ghiraldelli, faz-se o elogio do “entre”, o elogio do poroso, campo “em que nada existe que não seja relacional.”

O que os orientais já haviam dito há muito, mas importa realçar que este novo paradigma, duma penada, salva-nos do isolamento do cogito e da dualidade, que clivava o mundo em sujeito e objecto, e devolve-nos por outro lado a dimensão do sagrado, na medida em que faz-nos perceber que “a retirada de Deus” é distinta de uma “morte de Deus” (esta apenas traduziria um recalcamento do universo simbólico que constitui o próprio tecido da nossa propensão esferológica, o que acarreta mais patologias que benefícios), e em que arruma de vez os pressupostos hierárquicos restituindo-nos a “epifania” como um não-lugar evasivo a todas as formas de lucro (- e hoje, neste amorfo e desvitalizado reino do signo saturado pelo cálculo, este é o verdadeiro escândalo e uma coisa mais difícil de aceitar que o incesto, entretanto convertido em subplot cinematográfico).

Afinal, o que foi sempre exasperadamente equívoco na relação de Deus? A imagem que os braços políticos das igrejas quiseram cristalizar, a feição patriarcal e autoritária atribuída a Deus nas Religiões do Livro – quando o relacionamento com o divino pode adoptar uma via mais libertadora, ecológica e reguladora, tão somente, a de uma tomada de consciência do “sentido das proporções”.

Numa intuição extraordinária, Sloterdijk comenta que a metafísica começa como uma metacerâmica. Deus, na criação, teria usado da mais avançada tecnologia da época, a do oleiro, a do fazedor de vasos. Esta interpenetração, lembra Ghiraldelli, seria imprescindível à ressonância entre dois polos que, assim vibrando juntos, criam uma esfera, um campo de autoimunização.

Mas, o recurso à olaria, realça igualmente, acrescento eu, a dimensão histórica de Deus – e isso muda muito.

Pensemos nesta proposição de Martin Buber – filósofo reivindicado por Sloterdijk : «Não conheço outra revelação para além da do encontro do divino e do humano, no que o humano colabora com a mesma medida do divino. O divino aparenta-se a um fogo que derrete o mineral humano.

Mas o que resulta daí não é algo que estivesse na natureza do fogo.»
Deus seria então o que nos melhora, mas o que Ele É também depende da nossa contribuição. Ou seja, também podemos degradar Deus.

É aliás disto que, como ateu intermitente, acuso a grande massa dos fiéis – merda para a grande massa dos fiéis, ignara, que faz tábua rasa do que Kant evidenciou há três séculos: que se é “tão cómodo ser menor”, só em conseguindo dobrar a preguiça e a covardia acedemos ao nosso próprio entendimento e sairemos finalmente da condição infantil; sendo esse o lema do Esclarecimento.

O que Sartre repisará dois séculos depois: a necessidade de os homens serem responsáveis pelos seus actos, sem álibis ou entidades transcendentes que os alheiem de assumir-se como a verdadeira mola das suas escolhas. É uma evidência que os homens fazem tanto mais alarde das supostas consciência e identidade, quanto mais querem enjeitar a autonomia. Adquirir uma pauta de valores e ser activo na responsabilidade social, devia ser uma ressonância natural da necessidade de espiritualidade, para quem sinta o apego; seria esse o passo normal na constituição de uma esfera. Mas primeiro, propunha ele, devíamos arrumar a casa. Enquanto colocarmos toda a nossa segurança no airbag de Deus, pela frente e nas costas, não cresceremos o suficiente como pessoas para dedicar espontaneamente amor e respeito aos demais.

Na Índia, Deus é «uma criança eterna jogando um jogo eterno, num jardim sem fim» e nós humildemente somos os dados – a liberdade relativa dos dados – na sua mão. E contudo, desse caprichoso lance de dados depende também a “sorte” de Deus. O que volta a situar-nos na responsabilidade dos nossos actos.

Assim, procurar em Deus uma ordem, uma harmonia, para o caos do mundo é o mesmo que confundir uma decalcomania com a pele. A crer em Deus, há que aceitar a fé “apesar” do caos que se incrusta na rugosidade do real, mas o apelo deve levar-nos à insatisfação que antecipe a decisão e a autonomia.

Os Budistas não falam em Deus, dizem antes que os rios procuram o mar. De facto parece mais justo realçar que talvez nos espere o oceano fragoroso que antecede as calamidades, sendo nosso dever não fugir ao repto.

A esferologia de Sloterdijk ajuda-nos a regular as miras e não por acaso o filósofo concebe a filosofia como uma “medicina da alma”.

18 Out 2019

Pop é mas é o diabo

[dropcap]D[/dropcap]urante os últimos meses estive ocupado com um romance que foi escrito a partir de marcos familiares (não sei, francamente, se é um romance). Quer isto dizer que o projecto abraçou memórias que acabaram autonomamente por crescer, dilatando a semente dos factos. Concluí, mais uma vez, que o acto da escrita só existe se se situar no instante e no instinto da derrapagem.

Escrever nasce do delírio onde pululam afectos e todos os seus anticorpos mais negros. Ao fim e ao cabo, o delírio é uma vasta floresta sem qualquer árvore. Quem nunca entrar num espaço destes, branco e árido por natureza, é porque afinal não escreve; apenas publica livros. Pode redigir-se nos conformes, organizando-se enredos com as baias certinhas de uma boa trama; pode embelezar-se a cárie e as corrosivas – afiadas – máscaras dos advérbios, mas isso pode apenas redundar em higiene momentânea. Não deixa de ser verdade que a moralidade crítica se esquece amiúde de percorrer as galerias onde luz o minério, concentrando-se cada vez mais nos alardes que encapelam as superfícies do texto e os repetidos avatares (e palavras de ordem) da biografia literária.

Lembro-me de estar sentado, em Maio passado, diante do meu editor e de lhe ter falado sobre o que desejava fazer. Na mão tinha apenas o que não sabia. Foi importante ter registado o súbito assentimento, embora saiba que a solidão é bem mais do que estar a sós; a solidão é a indiferença radical com que o mundo nos deverá observar, quando ingressamos em territórios que se alimentam de uma compaixão igual à das ventanias do fim da tarde.

Com um nada a invadir-me a távola de lancelote, lá avancei com a obsessão de me ver a saltar de história para história, muitas delas contadas em vida pelo meu pai (sublinho “em vida”, pois há infinitas coisas que a morte também nos confidencia aos berros). Escrevi virado para um bosque, depois para um mar mortiço e, por fim, quase no desenlace, vi-me ao lado da minha gata, contemplados eu e ela pelo pátio de todos os dias.

Quando concluí a primeira versão do livro (porventura será a única), não me dei muito tempo de descanso. Teria sido penoso fazê-lo. Quase um mês depois – que entretanto ocupei com uma nova série de poemas (respondendo às ‘Cartas a Lucílio’ de Séneca) -, retirei da estante por mero acaso um livro que nunca havia lido. E estava lá tudo, dito e redito em jeito de testamento. E era-o, na realidade. Há sortilégios assim.

Eu explico: quatro anos antes de ter morrido, Marguerite Duras foi entrevistada por Benoît Jacquot. Da longa conversa resultou um filme que foi para o ar em Novembro de 1992 no canal ‘Arte’. No ano seguinte, o texto da entrevista apareceu em livro, publicado pela Gallimard com o título ‘Écrire’ (o que aconteceu entre nós, já em 1994, por iniciativa da Difel). Trata-se de uma reflexão poderosa sobre a escrita e o acto de escrever em que reencontrei todos os pontos de partida que eu vivera intimamente nas minhas reflexões de Maio passado.

Destaco três aspectos que li, como se tivessem sido escritos de propósito para aquele ápice inicial em que ainda continuo sentado diante do meu editor. Esse momento mantém-se, congelou-se. Falo, gesticulo, bem tento explicar o que quero escrever, mas sei que tudo é pantanoso, secreto, inaudito. Até hoje.

1- A primeira ideia: “estar sem tema”, sem ideia quase nenhuma do livro que nos espera, “é reencontrarmo-nos perante o livro” que desejamos. Por outras palavras ainda: “escrever é tentar saber aquilo que escreveríamos, se escrevêssemos”. É pura verdade: uma tentativa destas só avança no campo da derrapagem. Foi o que se passou.

2- A segunda ideia: “Se não é um livro o que nos espera, sabe-se sempre”; de qualquer modo, “estar só com o livro ainda não escrito é estar ainda no primeiro sono da humanidade”. Ou seja: regressar aos baldios onde persistem todas as fontes iniciais. E elas deverão ser rigorosamente inocentes, ingénuas e desconhecedoras da experiência que, nos seus vaivéns do hábito, cega bem mais do que revela.

3- A terceira ideia: “a solidão é sempre acompanhada de loucura; não a vemos, pressentimo-la”. É por isso que escrever é “uma faculdade que temos ao lado da nossa pessoa, paralelamente a ela”. Saímos de nós, é verdade: desarrumamos, desalinhamos, desabamos. No limite, é mesmo verdade e o meu editor terá toda a razão: exilamo-nos, desaparecemos. E o texto limitar-se-á a saber imprimir as marcas, a vaticinar os vestígios, a gritar o que é preciso ser gritado. E não vale a pena emoldurar o desvario. O melhor é mesmo deixá-lo respirar à vontade até que seque e se rarefaça cheio de gretas (como acontece às lamas aráveis do Nilo) diante dos olhos do público e da crítica, se os houver.

Por fim, até a “censura” – palavra perigosa! – de Duras se acabou por rever na minha reflexão de Maio sobre os mineiros ocultos que descem às profundidades da mina para a explorar, ela que permanecerá sempre encoberta pelos malabarismos da moda, das gerações e, inevitavelmente, das ‘correcções’ desferidas pelas sinuosas azagaias da coisa literária: “…censuro aos livros em geral: o facto de não serem livres. Vêmo-lo através da escrita: são fabricados, são organizados, regulamentados” (…) “o escritor torna-se no seu próprio chui. Quero dizer com isso a procura da boa forma, quer dizer, da forma mais corrente, mais clara e mais inofensiva” (…) “Mesmo os jovens: livros encantadores sem qualquer prolongamento, sem noite”.

Livros “sem noite”: livros asseados, livros sem falhas, livros centrados na expectativa do tempo que corre, livros inofensivos, livros vorazes mas apenas resguardados, aguardados, livros pop. Pop.

18 Out 2019

Deputada norueguesa propõe “povo de Hong Kong” para Nobel da Paz 2020

[dropcap]U[/dropcap]ma deputada norueguesa anunciou ontem que propôs o “povo de Hong Kong” para o Prémio Nobel da Paz 2020, condecoração que já em 2010 desagradou à China ao distinguir o dissidente Liu Xiaobo.

“Nomeei o povo de Hong Kong para o Prémio Nobel da Paz 2020″, disse Gury Melby, membro do parlamento pelo partido liberal, que faz parte da coligação no poder na Noruega, justificando a nomeação por os populares do território “arriscarem as suas vidas e segurança todos os dias para defender a liberdade de expressão e democracia básica”.

Durante uma entrevista publicada pela Aftenposten ontem, Melby explicou que “o que eles estão a fazer tem um impacto que vai muito além de Hong Kong, tanto na região quanto no resto do mundo”.

Há quatro meses que a ex-colónia britânica tem enfrentado a sua pior crise política, marcada por manifestações, às vezes violentas, que denunciaram uma restrição nas liberdades, mostrada na resposta policial considerada brutal pelos manifestantes.

A iniciativa de Melby deverá incomodar a China, cujo Governo ficou desagradado com a escolha do activista de direitos humanos Liu Xiaobo, que morreu em 2017, para o Prémio Nobel da Paz 2010.

Embora o Comité Nobel seja independente do poder do Estado norueguês, Pequim congelou as suas relações com o país escandinavo durante um período de tempo, suspendendo negociações para acordos de livre comércio e impedindo as importações de salmão norueguês.

A relação entre os dois países foi normalizada seis anos depois, em Dezembro de 2016, após Oslo prometer “não apoiar acções que comprometam” os interesses chineses.

Etiópia em festa

Este ano, o prémio foi concedido ao primeiro-ministro etíope Abiy Ahmed, que conseguiu a reconciliação do seu país com a Eritreia, distinguindo-o entre os 301 candidatos para a condecoração.

Segundo os estatutos da Fundação Nobel, entre as pessoas qualificadas para fazer indicações ao Prémio Nobel da Paz estão membros de governo e de assembleias nacionais, além de membros do Tribunal Permanente de Arbitragem e do Tribunal Internacional de Justiça em Haia, professores universitários de história, ciências sociais, filosofia, direito e teologia, reitores de universidades ou ex-laureados com aquele prémio, entre outros.

17 Out 2019

Deputada norueguesa propõe "povo de Hong Kong" para Nobel da Paz 2020

[dropcap]U[/dropcap]ma deputada norueguesa anunciou ontem que propôs o “povo de Hong Kong” para o Prémio Nobel da Paz 2020, condecoração que já em 2010 desagradou à China ao distinguir o dissidente Liu Xiaobo.
“Nomeei o povo de Hong Kong para o Prémio Nobel da Paz 2020″, disse Gury Melby, membro do parlamento pelo partido liberal, que faz parte da coligação no poder na Noruega, justificando a nomeação por os populares do território “arriscarem as suas vidas e segurança todos os dias para defender a liberdade de expressão e democracia básica”.
Durante uma entrevista publicada pela Aftenposten ontem, Melby explicou que “o que eles estão a fazer tem um impacto que vai muito além de Hong Kong, tanto na região quanto no resto do mundo”.
Há quatro meses que a ex-colónia britânica tem enfrentado a sua pior crise política, marcada por manifestações, às vezes violentas, que denunciaram uma restrição nas liberdades, mostrada na resposta policial considerada brutal pelos manifestantes.
A iniciativa de Melby deverá incomodar a China, cujo Governo ficou desagradado com a escolha do activista de direitos humanos Liu Xiaobo, que morreu em 2017, para o Prémio Nobel da Paz 2010.
Embora o Comité Nobel seja independente do poder do Estado norueguês, Pequim congelou as suas relações com o país escandinavo durante um período de tempo, suspendendo negociações para acordos de livre comércio e impedindo as importações de salmão norueguês.
A relação entre os dois países foi normalizada seis anos depois, em Dezembro de 2016, após Oslo prometer “não apoiar acções que comprometam” os interesses chineses.

Etiópia em festa

Este ano, o prémio foi concedido ao primeiro-ministro etíope Abiy Ahmed, que conseguiu a reconciliação do seu país com a Eritreia, distinguindo-o entre os 301 candidatos para a condecoração.
Segundo os estatutos da Fundação Nobel, entre as pessoas qualificadas para fazer indicações ao Prémio Nobel da Paz estão membros de governo e de assembleias nacionais, além de membros do Tribunal Permanente de Arbitragem e do Tribunal Internacional de Justiça em Haia, professores universitários de história, ciências sociais, filosofia, direito e teologia, reitores de universidades ou ex-laureados com aquele prémio, entre outros.

17 Out 2019

HK | Pró-democratas forçam Carrie Lam a discursar à porta fechada

O regresso aos trabalhos no parlamento de Hong Kong ficou marcado pelos apupos dos deputados pró-democracia dirigidos à Chefe do Executivo, Carrie Lam, quando esta se preparava para fazer o discurso anual

 

[dropcap]A[/dropcap] chefe do Executivo de Hong Kong foi ontem obrigada a discursar à porta fechada, depois ter sido impedida de falar no parlamento por deputados pró-democracia, que exibiram cartazes e projectaram um vídeo.

O discurso de Carrie Lam foi apresentado como uma tentativa de recuperar a confiança do público, após mais de quatro meses de uma crise política sem precedentes.

Parlamentares pró-democracia vaiaram Carrie Lam, exibiram cartazes a mostrar a líder do Governo com sangue nas mãos e projectaram uma imagem na parede, atrás do local onde discursava, na qual se podia ler: “cinco exigências, nem uma menos”.

O protesto obrigou Lam a sair do Conselho Legislativo (LegCo), o parlamento de Hong Kong.
Na origem da contestação, que se vive no território desde o início de Junho, está uma proposta de emendas à lei da extradição, já retirada formalmente pelo Governo da região administrativa especial chinesa.

Contudo, os manifestantes continuam a exigir que o Governo responda a quatro outras reivindicações: a libertação dos manifestantes detidos, que as acções dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial e, finalmente, a demissão de Lam e eleição por sufrágio universal para este cargo e para o parlamento.

Sem hipótese

Carrie Lam tentou por duas vezes proferir o discurso anual, no dia em que o LegCo regressou aos trabalhos, mas sem sucesso, tendo sido obrigada a falar à porta fechada, durante 75 minutos, num discurso emitido pela televisão.

“As pessoas estão a perguntar: Hong Kong voltará ao normal”, questionou, para apelar, em seguida, aos 7,5 milhões de cidadãos do território para “valorizarem a cidade”. “A contínua violência e a disseminação do ódio” vai “corroer os valores centrais de Hong Kong”, alertou.

Já fora do parlamento local e depois do discurso, um grupo de deputados pró-democracia improvisou uma conferência de imprensa, durante a qual foi ouvida uma gravação, que reproduziu gritos de manifestantes a serem atacados pela polícia com gás lacrimogéneo.

“Ela é apenas uma marioneta comandada por Pequim”, acusou a deputada Cláudia Mo.
“Estas são as vozes das pessoas que gritam e são apenas pessoas comuns de Hong Kong”, disse a parlamentar Tanya Chan.

“Por favor, por favor, por favor, Carrie Lam, não nos deixes sofrer mais”, concluiu.
Os protestos, que se tornaram maciços em Junho contra a proposta de lei, transformaram-se num movimento que exige reformas democráticas em Hong Kong.

Durante os quatro meses de manifestações, registou-se uma escalada de violência. Os manifestantes têm acusado a polícia do uso de força excessiva, enquanto as autoridades condenam as tácticas violentas de alguns grupos, que apelidam de radicais.

17 Out 2019

HK | Pró-democratas forçam Carrie Lam a discursar à porta fechada

O regresso aos trabalhos no parlamento de Hong Kong ficou marcado pelos apupos dos deputados pró-democracia dirigidos à Chefe do Executivo, Carrie Lam, quando esta se preparava para fazer o discurso anual

 
[dropcap]A[/dropcap] chefe do Executivo de Hong Kong foi ontem obrigada a discursar à porta fechada, depois ter sido impedida de falar no parlamento por deputados pró-democracia, que exibiram cartazes e projectaram um vídeo.
O discurso de Carrie Lam foi apresentado como uma tentativa de recuperar a confiança do público, após mais de quatro meses de uma crise política sem precedentes.
Parlamentares pró-democracia vaiaram Carrie Lam, exibiram cartazes a mostrar a líder do Governo com sangue nas mãos e projectaram uma imagem na parede, atrás do local onde discursava, na qual se podia ler: “cinco exigências, nem uma menos”.
O protesto obrigou Lam a sair do Conselho Legislativo (LegCo), o parlamento de Hong Kong.
Na origem da contestação, que se vive no território desde o início de Junho, está uma proposta de emendas à lei da extradição, já retirada formalmente pelo Governo da região administrativa especial chinesa.
Contudo, os manifestantes continuam a exigir que o Governo responda a quatro outras reivindicações: a libertação dos manifestantes detidos, que as acções dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial e, finalmente, a demissão de Lam e eleição por sufrágio universal para este cargo e para o parlamento.

Sem hipótese

Carrie Lam tentou por duas vezes proferir o discurso anual, no dia em que o LegCo regressou aos trabalhos, mas sem sucesso, tendo sido obrigada a falar à porta fechada, durante 75 minutos, num discurso emitido pela televisão.
“As pessoas estão a perguntar: Hong Kong voltará ao normal”, questionou, para apelar, em seguida, aos 7,5 milhões de cidadãos do território para “valorizarem a cidade”. “A contínua violência e a disseminação do ódio” vai “corroer os valores centrais de Hong Kong”, alertou.
Já fora do parlamento local e depois do discurso, um grupo de deputados pró-democracia improvisou uma conferência de imprensa, durante a qual foi ouvida uma gravação, que reproduziu gritos de manifestantes a serem atacados pela polícia com gás lacrimogéneo.
“Ela é apenas uma marioneta comandada por Pequim”, acusou a deputada Cláudia Mo.
“Estas são as vozes das pessoas que gritam e são apenas pessoas comuns de Hong Kong”, disse a parlamentar Tanya Chan.
“Por favor, por favor, por favor, Carrie Lam, não nos deixes sofrer mais”, concluiu.
Os protestos, que se tornaram maciços em Junho contra a proposta de lei, transformaram-se num movimento que exige reformas democráticas em Hong Kong.
Durante os quatro meses de manifestações, registou-se uma escalada de violência. Os manifestantes têm acusado a polícia do uso de força excessiva, enquanto as autoridades condenam as tácticas violentas de alguns grupos, que apelidam de radicais.

17 Out 2019

Oktoberfest | Nova edição arranca hoje no MGM

[dropcap]C[/dropcap]omeça hoje uma nova edição do Oktoberfest no MGM Cotai, que decorre até ao dia 28 deste mês, à excepção do dia 20. O evento deste ano celebra os 20 anos de transferência de soberania de Macau para a China e, nesse sentido, serão feitos descontos a todos os residentes de Macau.

A banda “Högl Fun Band” irá actuar no Oktoberfest, apresentando uma canção especial sobre essa efeméride, intitulada “Nei Hou, Macau!”, com algumas frases em cantonês para celebrar o intercâmbio cultural existente no território.

17 Out 2019

Oktoberfest | Nova edição arranca hoje no MGM

[dropcap]C[/dropcap]omeça hoje uma nova edição do Oktoberfest no MGM Cotai, que decorre até ao dia 28 deste mês, à excepção do dia 20. O evento deste ano celebra os 20 anos de transferência de soberania de Macau para a China e, nesse sentido, serão feitos descontos a todos os residentes de Macau.
A banda “Högl Fun Band” irá actuar no Oktoberfest, apresentando uma canção especial sobre essa efeméride, intitulada “Nei Hou, Macau!”, com algumas frases em cantonês para celebrar o intercâmbio cultural existente no território.

17 Out 2019

Plataforma “Unitygate” apresenta projectos em Macau 

[dropcap]A[/dropcap] plataforma “Unitygate” apresentou ontem o seu programa de eventos em Macau, que decorre até ao dia 10 de Novembro em diferentes locais do território e com o apoio de vários parceiros, como a Fundação Rui Cunha ou a Casa de Portugal em Macau, entre outros.

O primeiro evento acontece este sábado e insere-se no programa do Festival da Lusofonia. O espectáculo “Fado Nosso” apresenta um solo de dança contemporânea com fados de Amália Rodrigues, tendo coreografia e interpretação de Sandra Battaglia, da Amalgama – Companhia de Dança. Segue-se, no dia 26 deste mês, o espectáculo de dança e teatro “Esperpento”, a ter lugar na Casa Garden, promovido pelo Clube dos Amigos do Riquexó e Amalgama. De acordo com uma nota oficial, este espectáculo pretende fazer “rir, chorar e pensar” o público, pois “faz uma viagem guiada por uma imagem reflectida num espelho, a imagem que temos de nós, a imagem que os outros têm, e a imagem que gostaríamos de ter”.

Em Novembro, no dia 2, decorre, em parceria com um estúdio de yoga, um workshop de ballet e dança criativa para crianças, com Alexandra Battaglia. Trata-se de uma “sessão aberta a todos que queiram experimentar as bases da dança clássica sem formatações, mas na sua essência mais significativa para a criança, sensibilidade, postura, musicalidade, coordenação por uma vertente criativa, lúdica e emocional, tão importante para o desenvolvimento harmonioso do ser”, aponta a mesma nota. Estão também agendados outros workshops.

Histórias do momento

No dia 10 de Novembro, haverá lugar a um outro workshop, desta vez no Jardim da Flora, intitulado “Contos e Histórias Inventadas”, com a participação do fotógrafo António Mil-Homens. “Dando corpo a mais um projecto antigo, já ‘ensaiado’ há muito tempo atrás, António Duarte Mil-Homens propõe-se, a partir de sugestões das crianças participantes, colher da sua memória e imaginação Histórias no momento inventadas. A gravação, feita em simultâneo, será depois transcrita e posteriormente editada”, explica o comunicado.

Outro dos eventos que faz parte do programa da plataforma “Unitygate” para Macau, e que acontece dia 7 de Novembro, é o “Forum Network – Arte e Movimento na Escola”, em parceria com a Fundação Rui Cunha. Trata-se de uma palestra e mesa redonda sobre a reflexão do papel do movimento criativo e artístico na Educação. “A ideia é criarmos um espaço informal de apresentações e debate sobre o assunto, aproximando pessoas, artes, partilhando saberes, experiências e exemplos, sobre um assunto da maior importância na educação da pessoa e das sociedades”, conclui o mesmo comunicado.

17 Out 2019

Armazém do Boi | Festival Internacional de Artes Performativas este fim-de-semana

Decorre este fim-de-semana o Festival Internacional de Artes Performativas no Armazém do Boi que tem como tema “Poemas Sem Título”. Mais de uma dezena de artistas, oriundos da China, Europa e América Latina, vão mostrar o seu trabalho durante três dias numa tentativa de revelar um pluralismo ao nível das artes plásticas, sempre com a humanidade como tema central

 

[dropcap]A[/dropcap]quele que é considerado um dos maiores eventos anuais do Armazém do Boi acontece este fim-de-semana, entre 18 e 20 de Outubro. O Festival Internacional de Artes Performativas (MIPAF, na sigla inglesa) contém um cartaz com 18 artistas vindos de países tão diferentes como a China, Suíça ou Chile, que vão revelar o seu trabalho lado a lado com artistas de Macau.

A exposição, intitulada “Poemas Sem Título”, tem como objectivo “adoptar a troca de abordagens artísticas com uma manifestação de distintas personalidades”. “É objectivo do MIPAF revelar uma nova geração de artistas, com os seus personagens idiossincráticas e disposições para as práticas criativas”, acrescenta a mesma nota.

A curadoria desta mostra está a cargo de Noah Ng, que seleccionou trabalhos que resultam de “diálogos multifacetados que invocam transformações culturais, teorias sociais realizadas de forma dinâmica, psico-análise e ecologia política”. A diversidade cultural dos artistas visa levar o público a estimular a imaginação, graças às “profundas preocupações sobre a humanidade” reveladas pelos trabalhos expostos.

Humanidade em foco

Na mesma nota, os promotores do MIPAF esclarecem que a humanidade é o tema central destes trabalhos, com uma ligação à poesia chinesa tradicional. “A poesia chinesa tradicional enfatiza a verdadeira essência da literatura clássica, e numa nota curiosa alguns poemas foram deixados ‘sem título’. Os trabalhos ‘sem título’ podem indicar que é melhor deixar algumas coisas sem nome, ou significa que o seu autor não quis contextualizar o que viu, ao revelar o tema da poesia. Deixar algo por dizer pode ser uma poderosa ferramenta.”

“Poemas Sem Título” é, acima de tudo, uma mostra que visa apresentar “uma visão compreensiva de trabalhos regionais e internacionais ligados a questões humanitárias”.

As performances podem ser vistas esta sexta-feira, entre as 19h00 e 22h00, sábado, entre as 14h00 e as 18h00, e domingo das 13h00 às 20h00. A entrada é gratuita. Além dos artistas individuais, o Armazém do Boi vai também contar com a presença do colectivo PRINZpod, oriundo da Áustria, composto pelos artistas Brigitte Podgorschek e Wolfgang Podgorschek. Do Chile chega o projecto DEFORMES, com Gonzalo Rabanal, Valeria León Ibánez e Teresa Catalina Varas Reyes.

O Armazém do Boi conta com o apoio da Fundação Macau para esta iniciativa, além de outras entidades internacionais.

17 Out 2019

Armazém do Boi | Festival Internacional de Artes Performativas este fim-de-semana

Decorre este fim-de-semana o Festival Internacional de Artes Performativas no Armazém do Boi que tem como tema “Poemas Sem Título”. Mais de uma dezena de artistas, oriundos da China, Europa e América Latina, vão mostrar o seu trabalho durante três dias numa tentativa de revelar um pluralismo ao nível das artes plásticas, sempre com a humanidade como tema central

 
[dropcap]A[/dropcap]quele que é considerado um dos maiores eventos anuais do Armazém do Boi acontece este fim-de-semana, entre 18 e 20 de Outubro. O Festival Internacional de Artes Performativas (MIPAF, na sigla inglesa) contém um cartaz com 18 artistas vindos de países tão diferentes como a China, Suíça ou Chile, que vão revelar o seu trabalho lado a lado com artistas de Macau.
A exposição, intitulada “Poemas Sem Título”, tem como objectivo “adoptar a troca de abordagens artísticas com uma manifestação de distintas personalidades”. “É objectivo do MIPAF revelar uma nova geração de artistas, com os seus personagens idiossincráticas e disposições para as práticas criativas”, acrescenta a mesma nota.
A curadoria desta mostra está a cargo de Noah Ng, que seleccionou trabalhos que resultam de “diálogos multifacetados que invocam transformações culturais, teorias sociais realizadas de forma dinâmica, psico-análise e ecologia política”. A diversidade cultural dos artistas visa levar o público a estimular a imaginação, graças às “profundas preocupações sobre a humanidade” reveladas pelos trabalhos expostos.

Humanidade em foco

Na mesma nota, os promotores do MIPAF esclarecem que a humanidade é o tema central destes trabalhos, com uma ligação à poesia chinesa tradicional. “A poesia chinesa tradicional enfatiza a verdadeira essência da literatura clássica, e numa nota curiosa alguns poemas foram deixados ‘sem título’. Os trabalhos ‘sem título’ podem indicar que é melhor deixar algumas coisas sem nome, ou significa que o seu autor não quis contextualizar o que viu, ao revelar o tema da poesia. Deixar algo por dizer pode ser uma poderosa ferramenta.”
“Poemas Sem Título” é, acima de tudo, uma mostra que visa apresentar “uma visão compreensiva de trabalhos regionais e internacionais ligados a questões humanitárias”.
As performances podem ser vistas esta sexta-feira, entre as 19h00 e 22h00, sábado, entre as 14h00 e as 18h00, e domingo das 13h00 às 20h00. A entrada é gratuita. Além dos artistas individuais, o Armazém do Boi vai também contar com a presença do colectivo PRINZpod, oriundo da Áustria, composto pelos artistas Brigitte Podgorschek e Wolfgang Podgorschek. Do Chile chega o projecto DEFORMES, com Gonzalo Rabanal, Valeria León Ibánez e Teresa Catalina Varas Reyes.
O Armazém do Boi conta com o apoio da Fundação Macau para esta iniciativa, além de outras entidades internacionais.

17 Out 2019

Entidades que regulam o jogo no Nevada iniciam processo para banir Steve Wynn

[dropcap]O[/dropcap] ex-CEO e fundador da Wynn Resorts, que detém a Wynn Resorts Macau, Steve Wynn, pode ter os dias contados em Las Vegas. Depois de ter sido acusado de abusos sexuais de várias antigas empregadas da concessionária, as entidades reguladoras do jogo do Estado do Nevada iniciaram o processo necessário para banir Wynn, de acordo com o Washington Post.

Numa queixa submetida na passada segunda-feira, o órgão que regula o jogo no Nevada acusou o pai do Las Vegas Strip de violar as regulações estatais e referiu que Steve Wynn era “não tem condições para continuar a ser associado com a indústria do jogo”. A queixa indica que a polémica e o repúdio público originado pelas alegações tiveram impacto na confiança da sociedade na indústria mais importante do Nevada.

Assim sendo, foi pedido ao regulador do Estado que revogue a licença de jogo de Wynn e que lhe aplique uma multa por não comparecer a uma audiência e não colaborar com a investigação.

A iniciativa junto das autoridades estatais marca o derradeiro capítulo da queda do magnata, desde que o Wall Street Journal noticiou em Janeiro do ano passado que Steve Wynn havia, alegadamente, pressionado funcionárias a ter relações sexuais. Foi ainda alegado que Wynn usou o seu poder, influência e dinheiro para criar uma cultura de cumplicidade nos seus casinos que permitia agir com impunidade.

Assinar de cruz

Em Fevereiro deste ano a Comissão de Jogos do Nevada já havia multado o magnata devido às acusações.

A penalização contra a Wynn Resorts Ltd. encerrou uma investigação que começou após informações de que o fundador da empresa assediou ou atacou várias mulheres. Como tal, a empresa foi multada pela Comissão de Jogos do Nevada a pagar 20 milhões de dólares por ter, sistematicamente, ignorado queixas de empregadas contra a má conduta sexual de Steve Wynn.

Ainda assim, e apesar da penalização, o acordo com a Comissão de Jogos do Nevada permite que a Wynn Resorts mantenha a licença de jogo.

No acordo, firmado no passado mês entre a Wynn Resorts e a Comissão de Jogos do Nevada, a empresa assume como verídicas as alegações de que alguns executivos de topo e membros do conselho de administração tinham conhecimento das queixas feitas contra Steve Wynn.

17 Out 2019

Jogo | Analistas apontam para Outubro com queda de receitas até 6%

A consultora Sanford C. Bernstein prevê que Outubro termine com quebras nas receitas dos casinos de Macau entre os 3 e os 6 por cento, em relação ao mesmo mês do ano passado. Destaque para o jogo VIP que não recuperou desde a semana dourada

 

[dropcap]O[/dropcap]s resultados das operadoras da indústria do jogo continuam a não deslumbrar. A Sanford C. Bernstein emitiu uma nota esta semana, citada pelo portal GGRAsia, que prevê que as receitas brutas de Outubro dos casinos do território sofram quebras entre 3 e 6 por cento, em comparação o mesmo período de 2018.

Em relação às receitas apuradas em Outubro até ao dia 13, a consultora aponta para 12,6 mil milhões de patacas. Os factores que colocam os resultados das concessionárias abaixo dos últimos anos continuam a ser a guerra comercial e o aperto à actividade dos junkets. Nesse último aspecto, os analistas Vitaly Umansky, Eunice Lee e Kelsey Zhu assinalam na nota que “o jogo VIP continuou fraco depois da semana dourada, como era esperado, e assim deverá continuar até ao final de Outubro”.

Importa referir que a semana dourada se reveste de particular importância para os cofres das concessionárias e o do sector do turismo, com a chegada de centenas de milhar de turistas chineses a Macau. Porém, este ano foi atípico. Apesar da subida do número de visitantes que entraram no território durante a semana dourada, as receitas dos casinos demonstraram uma tendência de declínio em relação ao mesmo período de 2018.

A seguir caminho

A Sanford C. Bernstein acrescenta que a média diária de receitas brutas dos casinos de Macau durante o período de seis dias entre 8 e 13 de Outubro se situou nos 750 milhões de patacas. A consultora acrescentou que “se estima que os resultados do jogo de massas tenham registado crescimento de quase dois dígitos, enquanto o segmento VIP tenha caído 20 e pouco por cento comparado com o período homólogo de 2018”.

Já a consultora Nomura perspectiva que em Outubro o crescimento nulo das receitas das operadoras, mas que no final do quatro trimestre do ano se registem quebras nas receitas.

A consultora do banco Morgan Stanley também emitiu uma previsão esta semana, onde perspectivou contracção das receitas em todos os meses até ao final do ano, comparados mês a mês com os períodos homólogos do ano passado.

17 Out 2019

Jogo | Analistas apontam para Outubro com queda de receitas até 6%

A consultora Sanford C. Bernstein prevê que Outubro termine com quebras nas receitas dos casinos de Macau entre os 3 e os 6 por cento, em relação ao mesmo mês do ano passado. Destaque para o jogo VIP que não recuperou desde a semana dourada

 
[dropcap]O[/dropcap]s resultados das operadoras da indústria do jogo continuam a não deslumbrar. A Sanford C. Bernstein emitiu uma nota esta semana, citada pelo portal GGRAsia, que prevê que as receitas brutas de Outubro dos casinos do território sofram quebras entre 3 e 6 por cento, em comparação o mesmo período de 2018.
Em relação às receitas apuradas em Outubro até ao dia 13, a consultora aponta para 12,6 mil milhões de patacas. Os factores que colocam os resultados das concessionárias abaixo dos últimos anos continuam a ser a guerra comercial e o aperto à actividade dos junkets. Nesse último aspecto, os analistas Vitaly Umansky, Eunice Lee e Kelsey Zhu assinalam na nota que “o jogo VIP continuou fraco depois da semana dourada, como era esperado, e assim deverá continuar até ao final de Outubro”.
Importa referir que a semana dourada se reveste de particular importância para os cofres das concessionárias e o do sector do turismo, com a chegada de centenas de milhar de turistas chineses a Macau. Porém, este ano foi atípico. Apesar da subida do número de visitantes que entraram no território durante a semana dourada, as receitas dos casinos demonstraram uma tendência de declínio em relação ao mesmo período de 2018.

A seguir caminho

A Sanford C. Bernstein acrescenta que a média diária de receitas brutas dos casinos de Macau durante o período de seis dias entre 8 e 13 de Outubro se situou nos 750 milhões de patacas. A consultora acrescentou que “se estima que os resultados do jogo de massas tenham registado crescimento de quase dois dígitos, enquanto o segmento VIP tenha caído 20 e pouco por cento comparado com o período homólogo de 2018”.
Já a consultora Nomura perspectiva que em Outubro o crescimento nulo das receitas das operadoras, mas que no final do quatro trimestre do ano se registem quebras nas receitas.
A consultora do banco Morgan Stanley também emitiu uma previsão esta semana, onde perspectivou contracção das receitas em todos os meses até ao final do ano, comparados mês a mês com os períodos homólogos do ano passado.

17 Out 2019

Associação queixa-se de impostos altos à entrada de produtos portugueses na China

[dropcap]O[/dropcap] presidente da Associação de Jovens Empresários Portugal-China (AJEPC) disse ontem à Lusa que a elevada carga fiscal e a falta de promoção de produtos portugueses estão a travar o potencial económico das relações sino-lusófonas.

“Continuamos a ver uma enorme carga fiscal na entrada de produtos portugueses na China, apesar de existir um acordo que permite a redução de impostos” entre Macau e o continente, em vigor desde 2004, explicou Alberto Carvalho Neto.

Na véspera da Feira Internacional de Macau (MIF) e da Exposição de Produtos e Serviços dos Países de Língua Portuguesa (PLPEX), que promovem até sábado os países lusófonos, o responsável sustentou que Portugal deveria apostar mais na promoção dos produtos portugueses no interior da China. “Deveria existir uma estratégia global que envolvesse o Ministério dos Negócios Estrangeiros, a AICEP [Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal] e as associações”, possibilitando que “a imagem da ‘marca’ Portugal” identificasse as representações portuguesas “e não o símbolo de cada uma das empresas”, defendeu.

Ainda assim, o empresário classificou de “muito positivo” o acompanhamento pelo corpo diplomático português e elementos da AICEP, no interior da China (Pequim, Xangai e Shenzhen), a uma iniciativa de ‘networking’, “Business Rail”, que termina este sábado.

Os participantes desta viagem de negócios, sobre carris, que começou em 9 de Outubro e liga Europa à China, juntam-se agora à delegação promovida pela associação na MIF e na PLPEX em Macau que “supera os 200 empresários”, indicou Alberto Carvalho Neto.

“O que temos assistido nestes dois eventos é a um aumento crescente da participação”, que se tem traduzido num aumento do próprio espaço promovido pela AJEPC: “começou nos 100 metros quadrados e já ocupa os dois mil metros quadrados”, precisou.

Responsável pela organização do “V Fórum de Jovens Empresários entre a China e os Países de Língua Portuguesa”, a AJEPC continua apostada “numa política agressiva na abordagem do mercado nestes três dias” dos eventos, garantiu o seu presidente. “Convidámos empresários chineses. De resto, seria bom ver uma maior dinâmica empresarial nestes eventos, com uma presença maior de empresários chineses”, sustentou, de forma “a dar mais força ao potencial de Macau enquanto plataforma” para as relações comerciais e económicas sino-lusófonas. “Através de Macau tem-se conseguido ter acesso a um ‘networking’ que não seria possível de outra forma, ao mais alto nível, mas há espaço para melhorar”, afirmou.

17 Out 2019

FMI | Menos receitas do jogo e investimento dos casinos explicam recessão

Economistas ouvidos pela Lusa defenderam que a recessão de 1,3 por cento em Macau este ano estimada pelo Fundo Monetário Internacional deve-se ao menor investimento dos casinos e à quebra nas receitas do jogo

 

[dropcap]J[/dropcap]á não há casinos em construção, já investiram o que havia a investir, cada um [dos seis operadores] gastou 20 mil milhões de patacas nos últimos dois, três anos, pelo que isto vai puxar a economia para baixo”, explicou Albano Martins, sustentando que alguma da construção actual “não é muito significativa”.

O economista José Pãosinho destacou o facto de Macau estar “amarrado ao jogo”, pelo que a economia é afectada porque “não se prevê a construção de novos ‘resorts’”, com implicações negativas na Formação de Capital Bruto Fixo, um indicador que inclui bens produzidos ou adquiridos por entidades locais.

O baixo investimento público é outra das razões apontadas pelos economistas. Albano Martins estima que em 2019 este não deverá superar os 10 mil milhões de patacas. Por seu lado, José Pãosinho disse não vislumbrar grande margem de evolução nesta área, como por exemplo a construção de infraestruturas de grande dimensão, assinalando que a participação de Macau no projecto de Pequim de se criar uma metrópole mundial não terá um efeito imediato na economia do território.

“Macau é jogo e pouco mais. Sem construção, sem investimento, sem Formação de Capital Bruto Fixo e com as receitas de jogo a caírem, com esta tendência a projecção do FMI até nem é má”, sublinhou Albano Martins.

José Pãosinho evidenciou o facto de a economia de Macau estar refém dos resultados dos casinos e lembrou que “as receitas do jogo VIP foram aquelas que tiveram um maior colapso”. O cenário global, portanto, acrescentou, “é de um forte contributo negativo para a economia”.

Futuro chato

Na terça-feira, o FMI reviu em baixa as previsões no relatório Perspectivas Económicas Globais para Macau este ano, antecipando agora uma recessão de 1,3 por cento e nova contracção da economia, de 1,1 por cento, em 2020. Uma forte revisão em baixa, já que no último relatório, em Abril, antecipava-se um crescimento acima dos 4 por cento para este ano.

A economia de Macau está em recessão desde o primeiro semestre. Os dados divulgados em Agosto pelas autoridades mostravam uma contracção de 1,8 por cento no segundo trimestre, que ainda assim melhorou ligeiramente face à contracção de 3,2 por cento registada nos primeiros três meses do ano face ao período homólogo.

No primeiro semestre, a economia de Macau registou uma contracção de 2,5 por cento, de acordo com os dados oficiais.

A 9 de Setembro, uma semana após os casinos de Macau terem registado uma queda de 8,6 por cento das receitas provenientes do jogo, a segunda descida consecutiva e a mais acentuada do ano, o Governo antecipou uma retracção económica no terceiro trimestre do ano. Razões avançadas pelas autoridades: a queda acentuada das receitas do jogo e a escalada da guerra comercial entre a China e os Estados Unidos.

O secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, garantiu então que “o Governo continuará atento ao desenvolvimento e à variação da economia de Macau e do exterior, mantendo a comunicação com os sectores financeiros e outros, e a acompanhar constantemente possíveis variações da taxa de desemprego e da capacidade de consumo, bem como a avaliar a pressão sentida pelo sistema financeiro”.

17 Out 2019

FMI | Menos receitas do jogo e investimento dos casinos explicam recessão

Economistas ouvidos pela Lusa defenderam que a recessão de 1,3 por cento em Macau este ano estimada pelo Fundo Monetário Internacional deve-se ao menor investimento dos casinos e à quebra nas receitas do jogo

 
[dropcap]J[/dropcap]á não há casinos em construção, já investiram o que havia a investir, cada um [dos seis operadores] gastou 20 mil milhões de patacas nos últimos dois, três anos, pelo que isto vai puxar a economia para baixo”, explicou Albano Martins, sustentando que alguma da construção actual “não é muito significativa”.
O economista José Pãosinho destacou o facto de Macau estar “amarrado ao jogo”, pelo que a economia é afectada porque “não se prevê a construção de novos ‘resorts’”, com implicações negativas na Formação de Capital Bruto Fixo, um indicador que inclui bens produzidos ou adquiridos por entidades locais.
O baixo investimento público é outra das razões apontadas pelos economistas. Albano Martins estima que em 2019 este não deverá superar os 10 mil milhões de patacas. Por seu lado, José Pãosinho disse não vislumbrar grande margem de evolução nesta área, como por exemplo a construção de infraestruturas de grande dimensão, assinalando que a participação de Macau no projecto de Pequim de se criar uma metrópole mundial não terá um efeito imediato na economia do território.
“Macau é jogo e pouco mais. Sem construção, sem investimento, sem Formação de Capital Bruto Fixo e com as receitas de jogo a caírem, com esta tendência a projecção do FMI até nem é má”, sublinhou Albano Martins.
José Pãosinho evidenciou o facto de a economia de Macau estar refém dos resultados dos casinos e lembrou que “as receitas do jogo VIP foram aquelas que tiveram um maior colapso”. O cenário global, portanto, acrescentou, “é de um forte contributo negativo para a economia”.

Futuro chato

Na terça-feira, o FMI reviu em baixa as previsões no relatório Perspectivas Económicas Globais para Macau este ano, antecipando agora uma recessão de 1,3 por cento e nova contracção da economia, de 1,1 por cento, em 2020. Uma forte revisão em baixa, já que no último relatório, em Abril, antecipava-se um crescimento acima dos 4 por cento para este ano.
A economia de Macau está em recessão desde o primeiro semestre. Os dados divulgados em Agosto pelas autoridades mostravam uma contracção de 1,8 por cento no segundo trimestre, que ainda assim melhorou ligeiramente face à contracção de 3,2 por cento registada nos primeiros três meses do ano face ao período homólogo.
No primeiro semestre, a economia de Macau registou uma contracção de 2,5 por cento, de acordo com os dados oficiais.
A 9 de Setembro, uma semana após os casinos de Macau terem registado uma queda de 8,6 por cento das receitas provenientes do jogo, a segunda descida consecutiva e a mais acentuada do ano, o Governo antecipou uma retracção económica no terceiro trimestre do ano. Razões avançadas pelas autoridades: a queda acentuada das receitas do jogo e a escalada da guerra comercial entre a China e os Estados Unidos.
O secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, garantiu então que “o Governo continuará atento ao desenvolvimento e à variação da economia de Macau e do exterior, mantendo a comunicação com os sectores financeiros e outros, e a acompanhar constantemente possíveis variações da taxa de desemprego e da capacidade de consumo, bem como a avaliar a pressão sentida pelo sistema financeiro”.

17 Out 2019

UM | Professor contestado diz que Universidade não o pressionou

Ieong Meng U, professor da Universidade de Macau acusado por alunos de ensinar conteúdos contra o princípio “Um País, Dois Sistemas”, assegura que a universidade nunca o pressionou para alterar a forma de dar aulas. O docente diz ainda que as suas aulas são diferentes do modelo a que os alunos da China estão habituados

 

[dropcap]I[/dropcap]eong Meng U, docente da Universidade de Macau (UM) cujas aulas foram contestadas por alguns alunos, por considerarem que a sua forma de ensinar vai contra o princípio “Um País, Dois Sistemas”, disse ao jornal Orange Post que a UM nunca interferiu no seu processo de ensino. Ieong Meng U disse também que já enviou um e-mail aos seus alunos com esclarecimentos sobre este assunto. Até ao momento, o professor afirma não ter recebido queixas ou ter sido alvo de intervenções por parte da universidade.

No que diz respeito às reclamações feitas num questionário por um estudante da China, o professor admitiu que houve outros alunos a exprimirem opiniões sobre o facto de as suas aulas serem diferentes da sua maneira de pensar, o que causou desconforto. Contudo, Ieong Meng U declarou que “como não foram apresentadas provas concretas” não sabe dar mais explicações sobre o caso.

O docente assegura que a liberdade académica é preservada na UM e que os alunos do ensino superior têm capacidade de pensamento crítico e independente, sendo normal ter diferentes interpretações face aos conteúdos programáticos. “Não acho que a liberdade académica tenha sido afectada na UM. Não temos muita pressão no processo de realização das nossas pesquisas e no ensino. No entanto, como professor, não tenho o poder para permitir que todos os alunos concordem com o que eu digo. O nosso dever é ensinar de maneira teórica e objectiva”, apontou Ieong Meng U.

Sem problemas em Pequim

O professor universitário contou ainda que, durante o período em que estudou na Universidade de Pequim, não sentiu diferenças culturais. Sobre os conteúdos programáticos das disciplinas que ensina, Ieong Meng U assegurou que versam sobretudo sobre teorias da política chinesa e o panorama da língua inglesa, algo que pode ser diferente face ao modelo educacional a que muitos alunos da UM estão habituados. Para ultrapassar essas diferenças de pensamento, Ieong Meng U defende uma maior comunicação.

Este caso teve início quando um grupo de alunos do interior da China se queixou do docente, que ensina Políticas de Hong Kong e Macau, depois de uma aula em que foi abordada a Lei de Extradição em Hong Kong e onde terá sido feito um contraste entre os sistemas políticos do Interior da China e da RAEHK. Vários alunos do Interior não terão gostado do conteúdo da aula e através de um grupo na aplicação WeChat, em que foram partilhados os powerpoints distribuídos pelo professor, decidiram apresentar queixa junto da direcção da UM.

17 Out 2019

UM | Professor contestado diz que Universidade não o pressionou

Ieong Meng U, professor da Universidade de Macau acusado por alunos de ensinar conteúdos contra o princípio “Um País, Dois Sistemas”, assegura que a universidade nunca o pressionou para alterar a forma de dar aulas. O docente diz ainda que as suas aulas são diferentes do modelo a que os alunos da China estão habituados

 
[dropcap]I[/dropcap]eong Meng U, docente da Universidade de Macau (UM) cujas aulas foram contestadas por alguns alunos, por considerarem que a sua forma de ensinar vai contra o princípio “Um País, Dois Sistemas”, disse ao jornal Orange Post que a UM nunca interferiu no seu processo de ensino. Ieong Meng U disse também que já enviou um e-mail aos seus alunos com esclarecimentos sobre este assunto. Até ao momento, o professor afirma não ter recebido queixas ou ter sido alvo de intervenções por parte da universidade.
No que diz respeito às reclamações feitas num questionário por um estudante da China, o professor admitiu que houve outros alunos a exprimirem opiniões sobre o facto de as suas aulas serem diferentes da sua maneira de pensar, o que causou desconforto. Contudo, Ieong Meng U declarou que “como não foram apresentadas provas concretas” não sabe dar mais explicações sobre o caso.
O docente assegura que a liberdade académica é preservada na UM e que os alunos do ensino superior têm capacidade de pensamento crítico e independente, sendo normal ter diferentes interpretações face aos conteúdos programáticos. “Não acho que a liberdade académica tenha sido afectada na UM. Não temos muita pressão no processo de realização das nossas pesquisas e no ensino. No entanto, como professor, não tenho o poder para permitir que todos os alunos concordem com o que eu digo. O nosso dever é ensinar de maneira teórica e objectiva”, apontou Ieong Meng U.

Sem problemas em Pequim

O professor universitário contou ainda que, durante o período em que estudou na Universidade de Pequim, não sentiu diferenças culturais. Sobre os conteúdos programáticos das disciplinas que ensina, Ieong Meng U assegurou que versam sobretudo sobre teorias da política chinesa e o panorama da língua inglesa, algo que pode ser diferente face ao modelo educacional a que muitos alunos da UM estão habituados. Para ultrapassar essas diferenças de pensamento, Ieong Meng U defende uma maior comunicação.
Este caso teve início quando um grupo de alunos do interior da China se queixou do docente, que ensina Políticas de Hong Kong e Macau, depois de uma aula em que foi abordada a Lei de Extradição em Hong Kong e onde terá sido feito um contraste entre os sistemas políticos do Interior da China e da RAEHK. Vários alunos do Interior não terão gostado do conteúdo da aula e através de um grupo na aplicação WeChat, em que foram partilhados os powerpoints distribuídos pelo professor, decidiram apresentar queixa junto da direcção da UM.

17 Out 2019