Uma solução recíproca para a disputa comercial entre os EUA e a China

Por  SHANG-JIN WEI*

[dropcap]P[/dropcap]ara muitos aliados dos Estados Unidos, as falhas na guerra comercial do presidente Donald Trump com a China – que está suspensa durante 90 dias após o encontro entre Xi e Trump na Argentina – estão na estratégia, não na motivação. De facto, a Europa e o Japão partilham muitas das queixas de Trump. O que eles não reconhecem é que também há muito que eles podem fazer para tornar o sistema de comércio global – e as suas relações com a China – mais justo e mais eficiente.

É certo que a China precisa de tomar medidas para reformar as suas políticas. Para começar, as tarifas e as barreiras não-tarifárias da China são mais altas do que as dos EUA e de outros países de elevado rendimento (embora não mais altas do que as da maioria dos países em desenvolvimento com níveis de rendimento comparáveis). E há muitas restrições para as empresas estrangeiras que desejam operar na China, incluindo limites na propriedade estrangeira de empresas nacionais.

Reduzir as barreiras ao mercado chinês beneficiaria não só os produtores estrangeiros, mas também as famílias e empresas chinesas que utilizam peças importadas. A liberalização comercial funcionaria como um corte nos impostos, aumentando os rendimentos e melhorando a eficiência, sem exigir que o governo aumentasse o défice orçamental. A passada liberalização comercial da China, após a sua adesão à Organização Mundial do Comércio há 17 anos, indica que uma medida semelhante não levaria a um aumento do desemprego, desde que o mercado de trabalho chinês permaneça suficientemente flexível.

A China também faria bem em responder a outra queixa crucial, reforçando a protecção da propriedade intelectual. O governo chinês alega que abandonou a política de exigir às multinacionais estrangeiras que partilhem a sua PI em troca de acesso ao mercado, há duas décadas. Mas as câmaras do comércio dos EUA e da Europa na China dizem que as práticas são efectivamente diferentes.

No passado, quando a própria capacidade inovadora da China era fraca, uma protecção mais forte da PI significaria meramente mais rendas para as empresas estrangeiras. Hoje, no entanto, à medida que as empresas chinesas estão a desenvolver a sua própria PI valiosa, e a sua presença global tornou-se maior, mais forte e recíproca. As protecções da PI beneficiariam tanto as empresas chinesas como as empresas estrangeiras.

A China também deveria reformar os seus programas de subsídios e o seu regime de políticas industriais. A maioria dos países utiliza impostos e subsídios para promover determinadas actividades económicas. Ainda assim, a proporção de programas governamentais que criam distorções e ineficiências, em vez de lidarem com as falhas do mercado, é maior na China do que nos países de elevado rendimento.

Tais políticas incluem subsídios que favorecem as empresas públicas em detrimento das empresas privadas, levando ao desperdício e perda de produtividade. A fim de nivelar o campo de jogo entre as empresas chinesas e as empresas estrangeiras, os programas governamentais deveriam ser submetidos a uma análise mais sistemática de custo-benefício.

Mas para que o comércio global seja realmente justo, as economias avançadas – e, em particular, os EUA – também precisam de fazer algumas mudanças. Na verdade, as barreiras desses países aos bens e investimentos chineses não são tão baixas como comummente se julga.

Nos EUA, por exemplo, as tarifas sobre muitas importações de têxteis e vestuário, das quais a China tem sido o produtor mais eficiente do mundo, estão na faixa dos 20%, muito acima da taxa média americana. Aumentar ainda mais as tarifas efectivas que as empresas chinesas enfrentam é um regime anti-dumping que é frequentemente utilizado como um instrumento de proteccionismo, com regras que são tendenciosas contra os produtores chineses. A tarifa média dos EUA subestima seriamente as tarifas reais aplicadas aos produtos chineses.

Da mesma forma, os acordos de livre comércio dos EUA têm desviado artificialmente a procura dos EUA de produtores chineses mais eficientes, para empresas menos eficazes em termos de custo em países como o México. Apesar da palavra “livre” no nome, os acordos de livre comércio não são verdadeiramente sobre um comércio mais livre, pois eles discriminam empresas em países fora dos ALC em favor de empresas algumas vezes menos eficientes nos países participantes. Esse efeito – que não é suficientemente limitado pelas regras existentes da Organização Mundial do Comércio – enfraquece a atribuição eficiente de recursos e prejudica não apenas os trabalhadores em países fora de um ALC, mas também, em muitos casos, famílias com baixos rendimentos que aí residem.

Além disso, o regime dos EUA que rege o investimento estrangeiro nem sempre é justo, previsível ou transparente. Quando se trata de rotular um investimento proposto como sendo uma ameaça à segurança nacional, os critérios parecem muito discricionários.

Segundo os advogados norte-americanos com quem falei, que fornecem aconselhamento sobre fusões e aquisições transfronteiriças, uma vez que os processos de triagem nos EUA para acordos que envolvem investidores chineses podem enfrentar longos e imprevisíveis atrasos, as empresas chinesas muitas vezes têm de pagar 15% extra para tornarem as suas propostas viáveis. Dessa forma, o regime de investimento estrangeiro dos EUA, efectivamente, expropria as empresas chinesas que desejam investir nos EUA.

As políticas ineficientes ou geradoras de distorções raramente são simples erros. Como regra, elas atendem aos interesses dos grupos de interesses especiais poderosos e bem organizados que provavelmente resistem a qualquer mudança. Mas se a China e os EUA conseguirem um grande negócio sobre um pacote de mudanças políticas que reduzam ou eliminem as distorções em ambos os lados, a resistência interna pode ser mais fácil de superar.

Essa cooperação poderia ser alargada para ajudar a conseguir um acordo nas reformas da OMC que apoiariam ainda mais a equidade no sistema global. Por exemplo, as regras anti-dumping poderiam ser melhor harmonizadas com as regras anti-monopólio nacionais e poderiam ser criados ou reforçados regulamentos para minimizar os efeitos discriminatórios dos ALC e para evitar que os governos utilizem subsídios nas empresas públicas para contornar as regras da OMC.

Uma estratégia assim tão equilibrada e recíproca ajudaria a aliviar as tensões sobre o comércio e o investimento transfronteiriços. Igualmente importante, fortaleceria a justiça e a eficiência nas duas maiores economias do mundo – uma mudança que beneficiaria não apenas os EUA e a China, mas todo o mundo.

© Project Syndicate

www.project-syndicate.org

* ex-economista-chefe do Asian Development Bank, Professor de Chinese Business and Economy e Professor de Finance and Economics na Universidade de Columbia.

 

 

4 Jan 2019

Florestas, turismo e desigualdades

[dropcap]G[/dropcap]osto da imponência das florestas tropicais, da sua esmagadora dimensão, de como são dificilmente domesticáveis à vontade das pessoas, antes impondo modestos e sistemáticos processos de adaptação e convívio com uma natureza cujo poder só muito vagamente controlamos. É nesses contactos com a brutalidade e a beleza destes magníficos ecossistemas que ainda recupero alguma esperança no futuro e na viabilidade de um planeta que consumimos desenfreadamente e destruímos cada vez mais depressa.

E no entanto, é de avião que chego a estes lugares, mais um entre milhões de viajantes na massificada indústria do turismo contemporâneo, onde em nome da “experiência” se invadem paisagens rurais e urbanas, ecossistemas sensíveis, cidades em que a facilidade da visita implica dificuldades para quem lá vive, modos de vida e culturas locais transformadas em mercadoria para consumo acelerado. As circunstanciais preocupações com a “sustentabilidade” do turismo que as entidades internacionais que regulam e promovem o sector não escondem a inviabilidade do atual processo de massificação global: as mesmas entidades que reconhecem que as viagens aéreas contribuem pelo menos com 5% para o total das emissões de CO2 no planeta, regozijam a cada ano com um novo recorde no número de passageiros internacionais.

Neste caso, foi na pequena povoação de Ubud, no centro da ilha Bali, que tive oportunidade de celebrar a entrada no novo ano, num restaurante espetacularmente integrado na paisagem da floresta, insuspeito a quem o olha ao nível do passeio, mas que se vai revelando à medida que vamos descendo no seu interior, com vistas para o rio que passa no fundo do vale e para uma variedade aparentemente infinita de árvores e flores. Ubud é um desses sinais da necessária humildade da civilização, sempre em precário equilíbrio numa permanente adaptação à incontrolável força da natureza em ambientes tropicais.

Mas Bali é também, já se sabe, um dos locais mais simbólicos da massificação turística do planeta. Sendo as praias e o entretenimento noturno nas áreas mais urbanizadas do litoral o centro dessa massificação, a impressionante diversidade paisagística e cultural da ilha oferecem uma diversidade de “experiências” a potenciais visitantes que a tornam atrativa para os mais variados públicos. Famílias completas, casais dos mais variados géneros e idades, viajantes solitários à procura de aventura, entretenimento ou conhecimento, encontram-se em Bali os mais variados tipos de turistas, das mais variadas idades e origens.

Ainda assim, a ilha está longe de estar preparada para esta afluência de visitantes, o que se nota, desde logo, na mobilidade e nos transportes, sobretudo para quem, como eu, se foi habituando aos padrões das economias mais avançadas do norte da Europa ou Japão, com uma prioridade absoluta ao transporte público e escassa utilização de transportes privados. É o contrário de Bali, onde praticamente não há transportes públicos e os automóveis e motorizadas invadem permanentemente estradas, ruas e até passeios. Será talvez mais problemática a situação dos centros urbanos do litoral, mas são também penosamente demoradas as viagens pelas congestionadas estradas do interior.

Esta insuficiência de infraestruturas nos países menos desenvolvidos faz com que as populações pobres que habitam estes países paguem mais que as populações ricas que vivem nos países mais desenvolvidos: a falta de soluções que aumentem a eficiência colectiva implica custos privados em viaturas, combustíveis, acidentes, demoras e poluição sistemática que os países mais desenvolvidos vão conseguindo evitar, ou pelo menos mitigar. Escusado será dizer, já agora, que a mobilidade em Portugal continua mais próxima dos padrões do mundo menos desenvolvido, com um privilégio sistemático ao transporte privado e manifestas insuficiências nos vários tipos de transporte público.

Em todo o caso, com ou sem infraestruturas adequadas, são turistas quem mais usufrui dos magníficos recursos de lugares como Bali: os melhores restaurantes, as melhores lojas, as melhores praias (em geral privatizadas ou com acesso difícil para quem não está instalado num hotel à beira-mar) praticamente não são utilizados pela população local. As classes médias dos países mais desenvolvidos, mesmo quando não são ricas, têm um poder de compra suficientemente alto para excluir desses inflacionados consumos os residentes locais. Na realidade, também muito disto vai acontecendo em Portugal, onde a habitação e o lazer em certas áreas das cidades mais turísticas se vão tornando proibitivos para quem lá vive. A economia da “experiência turística” vai-se fazendo muito à custa do trabalho precário e mal pago e da exclusão social, um pouco por todo o mundo.

 

 

4 Jan 2019

Repetição I

[dropcap]V[/dropcap]amos muitas vezes aos mesmos sítios. As nossas localidades têm uma referência espácio-temporal. Os locais das nossas biografias estão espalhados por diferentes latitudes e longitudes. A auto-referência espacial dá-lhes um sentido auto-biográfico. Há sítios que não tinham importância para nós e passaram a tê-la. Há sítios que tinham uma importância absoluta para nós e que também a perderam. Os sítios nos mapas das nossas vidas ganham e perdem, voltam a ganhar e voltam a perder, importância, dizem-nos muito, tudo e: nada. Sítios, lugares, localidades e espaços são à partida definidos espacial e geograficamente. Os espaços podem ser delimitados como uma casa: a casa da praia, a casa dos pais, a casa dos avós, a casa de cada elemento da nossa família ou de cada amigo, a nossa própria casa, as diversas casas que habitamos ao longo das nossas vidas e as diversas casas- ou as mesmas- dos outros. Podemos também no interior de cada habitação falar dos “nossos” espaços, como o quarto na juventude com as suas mais bizarras e peculiares bandas sonoras, conversas com amigos, ainda projectos dos seres humanos que estavam para ser, com os assuntos mais ou menos banais, resultantes da descoberta do interesse pelos outros: namoradas e namorados, estudos futuros, e tudo o que inquieta mentes jovens como a festa do fim de semana seguinte e a indumentária a usar. Mas podia ser a sala onde, ainda todos estávamos vivos, passávamos vésperas e dias de Natal, a véspera de ano novo ao jantar e o almoço do primeiro dia do ano. Ou cozinhas onde convivíamos com a avó, mãe e tia, para bater bolos, ir buscar talheres e pratos, para pôr a mesa. Havia a escola, a da infância, os liceus que frequentámos, a Faculdade. Havia ginásios onde passávamos muito tempo, um espaço que ocupávamos física e virtualmente. Depois: cafés, o café do liceu. As localidades das nossas vidas são também públicas. A beira-mar, Alcântara, Carcavelos, Estoril, Guincho. A oriente: Cais do Sodré, Terreiro do Paço, Expo. Podem ser horizontes mais ou menos alargados como províncias: Alentejo e Trás-os-Montes, rios: Tejo, Mira, Douro. Podem ser países: Portugal, Alemanha, Japão, Tailândia Brasil. Podem ser sítios onde fomos e lá estivemos em diversas épocas da vida, com as mais variadas pessoas, muito tempo ou por breves instantes. Podem ser sítios onde fomos felizes e sítios onde fomos infelizes e sítios onde fomos felizes e infelizes. Podem também ser sítios onde nunca fomos e aonde pensamos ir, aonde podemos ir. Podem ser sítios também aonde nunca iremos, mas que nos definem. Sítios há que existem nas geografias mais objectivas do mundo, mas que não existem já no tempo. Paris de Hemingway, Hollywood de Sinatra. Sítios que, sem as gentes que lá viveram e por lá foram, já não são os mesmos e existem em dimensões paralelas. Esses sítios existem em mundos paralelos e possíveis que podem ser revistados pelos portais virtuais da imagem cinematográfica ou do som das músicas, das fragrâncias, aromas e dos paladares de coktails que nos depõem em dimensões concretas mas meramente virtuais.

Cada ser humano é portador de uma data de sítios, tem guião para cada um deles. Podem ser muitos, a princípio, como as pessoas que começam a viver no estrangeiro muito cedo e estão entre cá, que é o País de origem e lá, que é o País onde vivem. O cá pode passar a ser o País onde vivem há tantos anos, há mais anos do que viveram no País de origem. Lá pode ser o País de origem, de onde partiram há tanto tempo que já não se lembram de como era. Não se lembram, não das paisagens, mas dos outros, dos que morreram, dos que desapareceram dos mapas afectivos, ficaram vida fora, passaram a ser personagens figurantes nos filmes das nossas vidas, mas apenas em episódios. Depois, ficam vida fora, mesmo que tivessem sido preponderantes na formação da nossa personalidade e até existência. Cada ser humano referencia os sítios, locais, localidades, espaços das suas existências de tal forma que a sua geografia é ainda mais complexa do que o mosaico que a constitui. É que o que constitui as nossas geografias é o sou que cada um de nós diz: sou eu lá em cada um desses sítios, locais, localidades, espaços. Ser eu lá é o que cada um de nós pressupõe, quando habita um sítio. Ser eu lá e sermos nós dois ou todos lá. É isso o que define: seres tu lá, serdes vós lá, serem eles lá nos sítios da tua vida, da vossa vida, da vida deles. Quantas vezes não revisito em memória o pátio do Rés do Chão do prédio da minha infância. Era enorme. Tinha clarabóias que davam para a garagem do prédio. Havia cereal a secar, miúdos a jogar à bola, uma luz crua no verão que ofuscava os olhos, a família indiana que o habitava com aromas de caril e sons estranhos. As traseiras das casas dos meus avós davam para o pátio do meu liceu. Agora, implodiram os ginásios e tudo irá dar lugar a um hotel. A praia do Monte Estoril que estava ligada à do Tamariz está dividida por paredões. Parecia maior na infância. Em cada um desses sítios sou eu lá a ser, são os sítios da minha vida onde lá estive. Ninguém os pode ver como eu vejo. Não que não os possam ver no que são. Não podem ver esses sítios à minha maneira. Como eu não posso ver os sítios dos outros à maneira dos outros. Nós vemos os nossos sítios como pessoas das nossas vidas e nós vemos as pessoas das nossas vidas de um modo peculiar. Influenciamos e somos influenciados. Os sítios não são apenas habitados. Habitam-nos também. Entram por nós adentro. Insinuam-se ou impõem-se, acolhem-nos ou estranham-nos. Somos nós sempre a fazer ser os sítios das nossas vidas. A auto referência biográfica constitui-os. Sem o si mesmo de cada um de nós os sítios são paisagens fotografadas em postais ou em fotografias dos álbuns de todas as famílias que não conhecemos. São sítios impermeáveis, sem história, sem nos dizerem nada para além do caracter objectivo que apresentam. São denotações e denominações ilustradas sem o figurado ou a possibilidade de conotação. Quando vejo o meu liceu, ressuscito mortos, jovens envelhecidos, adultos que foram ou não foram o que queriam ter sido e foram ou não foram como queriam ter sido, pior: nem sequer foram o que poderiam ter sido. Eu vejo-me lá, quando jovem, nem sequer era o princípio, era tão incipiente que não era a minha existência, como eu, apesar de tudo, reconheço que é a minha existência. Quando eu me lembro do pátio do prédio da minha infância eu ponho-me lá todo eu, um horizonte, uma paisagem escancarada. É a minha vida que constitui o horizonte onde eu ponho pela memória esse pátio, desse prédio, à minha frente, como também eu lá fico deposto. E sem ver os outros, quando vejo a luz crua do sol reflectida no pátio, eu ponho lá a avó na cozinha, o pai no Banco onde trabalhava, a mãe a chegar a casa, a rua da frente, o rio Tejo ao fundo, Lisboa que eu não conhecia ainda na minha ténue infância e era projectada no futuro a haver de mim ainda e Lisboa. Em embrião, nessa apresentação da infância estava já o seria e haveria de ser com todas as outras paisagens que preenchem o meu mundo, com todos os outros que perfazem os protagonistas da minha vida. Um sítio das nossas biografias nunca está isolado do mundo nem é despovoado de gente, mesmo que seja uma natureza morta.

 

4 Jan 2019

Dissimulada escravatura

[dropcap]A[/dropcap]s medidas até então tomadas sobre a emigração por Macau apenas se ocupavam da “fiscalização dos colonos enquanto se conservam nos estabelecimentos e na superintendência, mas não previnem ou castigam os abusos dos corretores no acto da aliciação no território chinês nem alteram as suas condições fundamentais nos contratos dos emigrantes. A administração buscava não perturbar um comércio que considerava como origem da prosperidade de Macau”, segundo Andrade Corvo.

“Em 1871, foram tomadas disposições contra os contratos entre agentes e cules. A partir daí, os cules eram registados e, depois da habitual inspecção a bordo, exigia-se uma declaração do capitão em como o barco não levava cules enganados, nem suspeitos de serem piratas”, segundo Montalto de Jesus (MJ).

Um novo regulamento foi promulgado em 1872 pelo Governador Januário Correia de Almeida (Visconde de S. Januário) e “englobavam todas as anteriores disposições cuja eficácia tinha sido posta à prova pela experiência”, MJ. A partir de meados desse ano, “as autoridades de Cantão começaram a actuar no sentido de impedir a emigração de cules por Macau”, segundo Liu Cong e Leonor Seabra, [Revista Cultura n.º 55 de 2017], que aditam, ter o vice-rei de Cantão, por ofício ao Zongli Yamen de 15 da 5.ª lua do 12.º ano do reinado de Tongzhi (1873), informado “quão difícil era vigiar e impedir o tráfico de cules em Macau. Por um lado, os portugueses em Macau não tinham outro comércio lucrativo senão o tráfico de cules. As receitas anuais do governo de Macau, resultantes do tráfico de cules, ascendiam a mais de 200 mil dólares de prata. Não só o governador de Macau, mas também o rei de Portugal, estavam relutantes em abolir a emigração por Macau.”

 

Ofício do cônsul em Havana

 

José Maria d’ Eça de Queiroz, nomeado pelo Rei D. Luís cônsul de 1.ª classe em 16 de Março de 1872, é colocado em Cuba nas Antilhas Espanholas onde chegou a 20 de Dezembro, segundo António Aresta [Revista Cultura n.º 52 de 2016], que refere, “A três dias do fim do ano [1872], com base nas informações que lhe terão sido fornecidas pelo anterior cônsul, Fernando de Gaver, [Eça] rapidamente envia um ofício ao ministro João Andrade Corvo”: <Existem, Ilmo. Sr., nesta ilha mais de cem mil asiáticos que o Regulamento de Emigração pelo porto de Macau põe hoje explicitamente sob a protecção do Consulado Português. (…) V. Exa. compreenderá a importância deste consulado que pode abrir a cem mil almas o registo de nacionalidade portuguesa: é portanto urgente que o Governo de S. M. atenda às condições em que vive aqui esta população colona>. (…) <A legislação cubana dividiu artificialmente a emigração asiática em duas espécies de colonos: os chegados a Cuba antes de 15 de Fevereiro de 1861, e os que vieram depois desta data arbitrária. Os primeiros tendo findado já o prazo de 8 anos – porque vêm contratados todos os colonos que saem de Macau – são livres no seu trabalho e podem requisitar deste consulado a cédula de estrangeiro; os outros – os que chegaram depois de 61 e estão chegando – são obrigados, findos os seus 8 anos de contrato, a sair da Ilha dentro de dois meses, ou a recontratar-se novamente>. Mas <a prática é extremamente diferente – e autoriza a opinião Europeia de que a emigração chinesa é a dissimulação traidora da escravatura. A lei permite aos asiáticos que chegarem antes de 61 que solicitem a sua cédula de estrangeiro – mas por todos os modos se impede que ele a obtenha: e o meio é explícito: formou-se na Havana, sem estatutos e sem autorização do Governo de Madrid, uma comissão arbitrária que se intitula Comissão Central de Colonização; esta comissão pretende ter o pleno domínio da emigração; formada dos proprietários mais ricos impôs-se, naturalmente às autoridades superiores da Ilha, e conseguiu que se determinasse – que nenhum asiático tire do Consulado a sua cédula de estrangeiro sem que a Comissão Central informe sobre ele e o autorize a requerê-la: ora sucede que a Comissão Central, para cada asiático, prolonga indefinidamente esta informação – e durante este tempo o colono está numa situação anormal e inclassificável – não é colono porque terminou o seu contrato – e não é livre porque não tem a sua cédula; esta situação faz a conveniência de todos – da polícia que à mais efémera infracção (encontrar, por ex. o china, fumando ópio) o sobrecarrega de multas enormes, do Governo, que o aproveita, sem salário, para as obras públicas, e dos fazendeiros que terminam por o recontratar>. Segundo A. Aresta, “O problema de base está na divisão artificial com que distinguiam os colonos.” E continuando com o que Eça de Queiroz escreve no Ofício de 29/12/1872: <Em quanto aos que vieram depois de 1861 – uma legislação opressiva obriga-os a saírem findo o seu contrato, da Ilha, em dois meses ou tornarem a contratar-se; e como naturalmente o colono não tem meios de regressar à China – a polícia recolhe-os nos depósitos – é obrigado a servir mais 8 anos>.

 

Cônsul no Peru

 

A galera peruana Fray-Bentos de 561 toneladas deixou Macau a 6 de Janeiro de 1871 e o Cônsul Geral de Portugal no Peru, Narciso Velarde certificou que esta fundeou neste porto de Callao no dia 12 de Abril, trazendo 369 passageiros chineses dos 375 que tinham embarcaram, havendo morrido durante a viagem ‘apenas’ 6. Das informações tomadas por este consulado resulta que os ditos passageiros foram bem tratados durante o transporte, em fé do qual se expede o presente certificado em Lima aos 17 dias do mês de Abril de 1871.

No ano seguinte a galera estava de novo em Macau pois em 1/8/1872 o tesoureiro da junta da fazenda, Carlos Vicente da Rocha informava ter recebido $366 patacas pelos emolumentos dos passaportes dos 366 colonos para o Perú nesse navio. A 7 de Agosto o capitão do porto de Macau, João Eduardo Scarnichia certificava a Fray-Bentos, cujo capitão era Ramon Mota, pois mediu 732 metros cúbicos de capacidade no alojamento destinado aos colonos. Sai do porto de Macau para o de Callao de Lima conduzindo 366 passageiros chineses contratados para servirem como colonos, e todos sabem o lugar do seu destino e vão por sua vontade do que me informei devidamente, bem como, que os contratos que levam foram registados na repartição competente. Certifico mais, que a dita galera se acha em estado de navegar na vistoria que lhe passei e leva a tripulação suficiente para a manobra, que tem os mantimentos e aguada determinada no regulamento da emigração, bem como há a bordo cirurgião, botica e intérprete chinês e que a embarcação tem acomodações para os passageiros que conduz, e os necessários meios de ventilação aprovados pelo facultativo do quadro de saúde que foi a bordo. Está conforme. Capitania do porto de Macau. E assim partiu nesse dia a galera Frey-Bentos para o Peru, onde a esperava um novo cônsul, Sant’anna Vasconcelos.

O regulamento da emigração chinesa publicado a 28 de Maio de 1872, no artigo 67.º referia ser necessário 2 m³ para cada colono transportado.

 

4 Jan 2019

Esperança e memória

[dropcap]É[/dropcap] difícil evitar esta onda de optimismo sazonal que nos invade no início de cada ano. O clima é tão forte e a pressão social tão intensa que mesmo velhos pessimistas antropológicos como este vosso escravo são compelidos a sorrir e a acreditar que o que aí vem será melhor. Não faz mal: é uma ilusão doce e inofensiva que, se formos a ver, até sabe bem. E há sempre a risível probabilidade de ser verdade, pelo menos durante algum tempo. É bom pensar que por algum misterioso motivo tudo se regenera para melhor a partir do primeiro dia do calendário gregoriano, como se os factos mais desagradáveis da vida ficassem suspensos por um instante num território remoto e inacessível. Para quem duvida mas despreza determinismos, como é o meu caso, é uma oportunidade perfeita para utilizar a nossa palavra preferida: “talvez”.

Mesmo assim sentimo-nos desconfortáveis neste universo paralelo momentâneo. Não queremos ser desmancha-prazeres mas também não conseguimos embarcar de boa vontade nas promessas e esperanças desmedidas que muitas vezes apenas reflectem os falhanços passados que gostaríamos de mudar. Mas há muito que é assim e, suspeito, assim será durante os próximos tempos – quanto mais não seja porque disso precisamos.

Tive a oportunidade recente de voltar a confrontar toda essa desmesurada e maravilhosa carga de esperança e confiança no futuro ao assistir a um extraordinário milagre documental: chama-se They Shall Not Grow Old e é realizado por Peter Jackson (sim, o mesmo da trilogia de O Senhor dos Anéis). A partir de filme e depoimentos de época, Jackson mostra-nos o que foi ser um soldado britânico a combater nas trincheiras da I Guerra Mundial. O impacto é imenso, tanto em termos de narrativa como na parte visual. O trabalho do realizador neo-zelandês – com a essencial cumplicidade do Imperial War Museum, que colocou à disposição todos os seus arquivos – foi seleccionar, restaurar, colorir e sonorizar filmagens de época. Para isso, para além da tecnologia que domina como ninguém, Jackson contou com a colaboração de leitores labiais para recriarem o que era dito nesses filmes para depois o entregar a actores que se encarregaram de dar voz ao que vemos. Além disso alterou a velocidade dos filmes de então para os familiares 24 fotogramas por segundo, evitando assim a pátina do tempo que passou e consequentemente envolvendo o espectador de hoje numa narrativa contemporânea.

Mas apesar de todos estes prodígios o que de facto faz a força deste documentário são os depoimentos não identificados de cerca de 120 veteranos que viveram e sobreviveram ao conflito. Ouvimo-los em off, sobre as imagens; percebemos quem são os oficiais e os soldados. Acompanhamo-los desde o entusiasmo patriótico do pré-guerra até ao final, onde apenas sobrevive uma profunda indiferença sobre o desfecho dos combates. Existe um cansaço nos dois lados beligerantes e acreditamos que o primeiro a ceder será o derrotado. São homens perdidos, abandonados numa guerra que não compreendem. Apenas conhecem o que vêem e sentem: devastação, paisagens lunares cheias de morte, condições de sobrevivência infra-humanas. Mesmo quando chegou às trincheiras o boato – e é disso que falam, do “Mr. Rumour” – de que a guerra iria acabar não houve festejos – só apatia e desconfiança. Mais do que a luta contra um inimigo, o que a I Guerra Mundial trouxe aos que nela participaram foi um combate constante e duro contra a sua desumanização. E muitos perderam.

É muito o que nos dá este They Shall Never Grow Old. Mais do que honrar a memória, faz-nos vivê-la através dos olhos e das vozes de quem lá esteve. Para nós, portugueses, não nos deve ser indiferente: foi o único conflito global em que participámos, mal armados, mal preparados e não desejados, arrastados apenas por uma criminosa vontade de um regime que almejava ser legitimado internacionalmente.

E depois, depois de tudo acabado, a esperança. Que a humanidade nunca mais iria ver semelhante carnificina; de que a Europa iria enfim ficar em paz. Como se de repente fosse Ano Novo para o planeta. Mas o diktat do Tratado de Versalhes, com as terríveis condições que impôs à Alemanha, fazia temer o pior. Churchill alertou; o marechal Foch, herói francês, foi mais longe e acertou em cheio ao dizer: «Isto não é um Armistício – é um cessar-fogo com a duração de vinte anos».

Em 1933 um antigo combatente da I Guerra, forte opositor do Tratado de Versalhes, foi eleito Chanceler da Alemanha. O que se seguiu já o sabemos.

Que a esperança não morra mas que a memória nunca a deixe sozinha.

4 Jan 2019

As penas de Bird

[dropcap]M[/dropcap]ais do que uma vez Charlie “Bird” Parker se descompôs no indecoroso e lastimável espetáculo de encalhar diante do clube Birdland aos gritos de que lhe deviam dinheiro por lhe usurparem o nome e o proibirem de entrar. Desleixado como um vagabundo não hesitava em pedir esmola aos atónitos transeuntes que Sábado à noite pejavam a Rua 52.

O alcunha de “Bird” ou “Yardbird” foi um chiste de caserna apodado a Parker, com o seu quê de jocoso. Numa digressão ele salvara uma galinha de ser atropelada, recolhendo-a viva no autocarro. Não houve clemência mas egoísmo no gesto; no dia seguinte estrangulou-a, depenou-a, eviscerou-a, assou-a e comeu-a sozinho.

O Clube Birdland deveras homenageava – e capitalizava – a celsitude de Charlie Parker, percursor e sumo-sacerdote do bebop, música endemoninhada que só os duendes que nele estrebuchavam poderiam ter soprado. E mal abriu em 1949 depressa o Birdland refulgiu como uma das entradas mais chamativas da tal Rua 52, onde a partir do final dos anos 30 e durante duas décadas o jubiloso swing estrondeava no ar. Às mesmas horas, 5 fusos mais adiante na rotação do planeta, as noites da Europa Continental sofriam doutra animação, incendiadas pelos bombardeamentos da II Guerra Mundial. Propelidos pelos ritmos fulminantes do jazz, grupos festivos ou corações solitários, aventuravam-se na Rua 52 até de madrugada, de porta em porta para dançarem, filar namoro, matar a sede e outros divertimentos. Havia naquilo tudo um frisson de transgressão, um sentimento de ousadia, de quem passa para o lado incerto da cidade.

A este travo de inquietação e um tanto de lascívia que se pedia ao jazz, e ele não se fazia rogado em proporcionar, o Clube Birdland acrescentou alguma bizarria na pessoa de “Pee Wee” Marquette, o apresentador de palco, que do alto do seu metro e dez de altura, introduzia os músicos com piadas duvidosas. E se eles não lhe dessem uma gorjeta, enganava-se deliberadamente ao pronunciar os seus nomes.

Cedendo aos rogos de Parker, ou para o calar, a gerência do Birdland deu-lhe o cartaz de um fim-de-semana. Mas na sessão de 5 de Março de 1955 Bird atingiu um nadir. Ao piano Bud Powell – outro génio fatal e martirizado, que passou por estadias em hospitais psiquiátricos onde o “trataram” a electro-choques – assaz alcoolizado, incapaz de acertar nas teclas, deu em insultar Parker, também ele mais para lá do que para cá, tendo chegado meia-hora atrasado, o que lhe valeu uma admoestação pública. Perante uma casa cheia a altercação azedou e num acesso de raiva Powell bateu com a tampa do piano e saiu do palco despejando uma nuvem de impropérios. Parker, como num transe, pôs-se a recitar ao microfone “Bud Powell… Bud Powell… Bud Powell…” Apavorados ou nauseados, os espectadores retiraram precipitadamente. Tarde de mais o contrabaixista Charles Mingus ainda tentou salvar a noite com uma frase que acabaria nos anais: “Senhoras e senhores, por favor não me associem a isto. Isto não é jazz. Isto é gente perturbada.”

Uma semana depois Charlie Parker morreria engasgado no sofá da suite de Nica, a vestal e protectora dos músicos de jazz. O médico-legista que o autopsiou espantou-se ao ver na ficha a idade de 34 anos. O corpo parecia de um homem de 70.

Bird não foi uma avis rara. Com o tempo os demiurgos do jazz foram ganhando contorno e estofo de trágicos, mas enquanto vivos eram muitas vezes suportados como intoleráveis e funestos, mesmo se admirados – criaturas a evitar. Quando muito levavam-nos na conta de dramáticos; sentiam-se incompreendidos, o que raro seria verdade, eram incapazes de resistir à exigência de uma criatividade infalível e constante buscando consolo no além do vício, e despenhavam-se no lugar-comum, nem sempre errado, que associa o génio ao desmando e à loucura.

As figuras lendárias alguma vez hão-de ter sido humanas e como humanos sofreram vidas dolorosas e amarguradas. Depois de morto de Parker ficou só o que de bom dele recebemos. É uma espécie menor, mas talvez a mais segura, de imortalidade.

 

4 Jan 2019

Índia | Kerala em greve contra a entrada de mulheres em templo

[dropcap]V[/dropcap] árias localidades do estado de Kerala, no sul da Índia, estavam ontem em greve para protestar contra a entrada de duas mulheres no templo hindu de Sabarimala, prosseguindo as manifestações de quarta-feira que já causaram um morto. Na madrugada de quarta-feira, duas mulheres com menos de 50 anos entraram pela primeira vez naquele santuário, escoltadas por vários polícias, depois do Supremo Tribunal anular, em Outubro, a proibição de entrada imposta às mulheres entre os dez e os 50 anos.

Tradicionalistas hindus manifestaram-se imediatamente contra a entrada das mulheres em idade fértil no templo hindu, levando a polícia indiana a utilizar gás lacrimogéneo, granadas atordoadoras e canhões de água para deter os manifestantes.

De acordo com a agência de notícias Efe, que cita uma fonte policial que pediu para não ser identificada, as manifestações violentas em pelo menos três distritos do estado de Kerala causaram já a morte de um militante do partido nacionalista hindu BJP, do primeiro-ministro Narendra Modi.

Em conferência de imprensa, o chefe do governo de Kerala, Pinarayi Vijayan, afirmou que os protestantes já destruíram sete veículos da polícia, 79 autocarros e atacaram 39 membros das forças de segurança e de órgãos de comunicação social, principalmente mulheres.

“Há muita violência em todo o estado”, lamentou Pinarayi Vijayan, defendendo que o governo tem a responsabilidade de implementar a decisão histórica do Supremo Tribunal.

A maioria dos templos hindus não autoriza a entrada de mulheres durante o período menstrual, mas Sabarimala era um dos raros a proibir a sua entrada entre a puberdade e a menopausa.

4 Jan 2019

Tailândia | Milhares de turistas deixam ilhas na aproximação de tempestade

[dropcap]M[/dropcap]ilhares de turistas começaram a sair de várias ilhas no golfo da Tailândia à aproximação da tempestade tropical Pabuk, que deverá causar fortes chuvas, ventos e ondas de pelo menos cinco metros, anunciaram ontem as autoridades. Da ilha de Koh Phangan, uma das mais turísticas do país, as ligações marítimas para os restantes destinos no golfo tailandês foram suspensas às 12:30, prevendo-se que reabram no sábado à tarde, disse uma das empresas gestora de serviços de ‘ferry’, Songserm. Já depois da passagem do ano, entre 30 e 50 mil pessoas deixaram Koh Phangan, afirmou à agência de notícias France-Presse (AFP) o chefe do distrito, Krikkkrai Songthanee.

Apesar de as autoridades não terem emitido qualquer ordem de retirada, milhares de turistas começaram a sair na quarta-feira, antecipando o impacto da tempestade, que deverá atingir as ilhas de Koh Samui, Koh Phangnan e Koh Tao hoje, sexta-feira à noite.

“Muitos turistas saíram, mas houve também muita gente que preferiu ficar, especialmente os residentes locais, que ficaram quase todos”, disse um funcionário de uma unidade hoteleira de Koh Phangnan, Guilherme Toyosato. De acordo com o brasileiro, os que ficaram estão a prevenir-se com o abastecimento de bens essenciais.

Também em Koh Samui, as autoridades anunciaram que estão a preparar abrigos para aqueles que decidiram não partir. Pabuk, a primeira tempestade tropical a atingir esta zona do país fora da estação das monções, em quase 30 anos, não deverá evoluir para um tufão, indicaram meteorologistas.

“Esperamos ondas com cinco a sete metros, perto do coração da tempestade. Normalmente, no golfo da Tailândia, há apenas ondas de dois metros de altura”, disse o director do Centro Meteorológico da Tailândia, num comunicado à imprensa.

“É difícil prever a gravidade da tempestade, pelo que as pessoas devem seguir as recomendações das autoridades”, acrescentou.

Pabuk, nome de um peixe-gato gigante existente no Laos, deverá causar fortes chuvas noutros destinos turísticos no mar de Andaman, como Krabi, e nas províncias vizinhas da Malásia, Pattani, Narathiwat e Yala.

4 Jan 2019

Alto funcionário da diplomacia norte-coreana fugiu e está escondido em Itália

[dropcap]U[/dropcap]m alto funcionário da diplomacia norte-coreana destacado em Itália fugiu e está agora escondido, disse ontem um parlamentar sul-coreano, após uma reunião à porta fechada com funcionários dos serviços de informação sul-coreanos. “A missão do embaixador interino Jo Song Gil deveria terminar no final de Novembro. Fugiu do complexo diplomático no início de Novembro” com a sua mulher, declarou aos jornalistas Kim Min-ki.

Este encontro entre os serviços de informação e deputados da Coreia do Sul aconteceu após o diário sul-coreano JoongAng Ilbo publicar que Jo Song Gil havia pedido asilo com a sua família num país ocidental. O embaixador “pediu asilo no início do mês passado”, diz uma fonte diplomática citada pelo jornal. Segundo a mesma fonte, este caso está a ser uma dor de cabeça para as autoridades italianas, que, no entanto, “estão a protegê-lo num lugar seguro”.

Esta deserção faz lembrar a realizada pelo ex-número dois da embaixada norte-coreana na Grã-Bretanha, Thae Yong-Ho, um dos mais altos diplomatas da Coreia do Norte, que desertou nos últimos anos.

Jo, de 48 anos, exercia o cargo interinamente desde Outubro de 2017, quando a Itália pediu ao embaixador da Coreia do Norte, Mun Jong-Nam, que ainda não estava totalmente credenciado, que deixasse o país em protesto contra o lançamento de mísseis e testes nucleares conduzidos por Pyongyang.

A Itália é uma das missões importantes da rede diplomática norte-coreana, uma vez que lida especialmente com as relações entre Pyongyang e a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), sediada em Roma. A Coreia do Norte enfrenta regularmente escassez severa de alimentos.

Jo é “conhecido como sendo o filho, ou um genro de um dos mais altos responsáveis do regime de Pyongyang”, publicou o JoongAng Ilbo, citando um especialista não identificado.

As autoridades norte-coreanas obrigam a maioria dos diplomatas norte-coreanos a deixar os membros da família, muitas vezes crianças, no país, com o objectivo de desencorajá-los a desertar quando são enviados para o exterior.

Jo Song Gil, no entanto, chegou a Roma em Maio de 2015 com a sua esposa e filhos, sugerindo que poderia ser de uma família privilegiada, segundo o jornal, observando que as razões precisas para a sua deserção não são ainda conhecidas. Na época de sua deserção, Thae Yong-Ho justificou a sua atitude com o desejo de oferecer um futuro melhor para seus três filhos.

 

4 Jan 2019

Comboios de alta velocidade sem condutores para Olimpíadas de Inverno

[dropcap]A[/dropcap] China está a desenvolver um sistema que permite controlar remotamente comboios de alta velocidade, abdicando de condutores, e que se estreará durante os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022, informou hoje a imprensa oficial.

O sistema permite que o comboio arranque, circule e pare com precisão nas estações ferroviárias, segundo a agência noticiosa oficial Xinhua.

As autoridades esperam que os comboios entrem em funcionamento na linha de quase 200 quilómetros, que liga Pequim a Zhangjiakou, o local onde se realizam os Jogos Olímpicos de Inverno, na província de Hebei.

Um sistema semelhante está já em funcionamento na província de Guangdong, sudeste do país, com comboios interurbanos, que alcançam 200 quilómetros por hora.

Mas os comboios que ligarão Pequim a Zhangjiakou vão deslocar-se a uma velocidade de 350 quilómetros por hora.

Este ano, a China planeia expandir a sua malha ferroviária de alta velocidade em 3.200 quilómetros, para um total de 30.000 quilómetros, anunciou na quarta-feira Lu Dongfu, o diretor-geral da China Railway, entidade que opera as ferrovias do país.

A primeira linha chinesa de alta velocidade – um troço de 117 quilómetros entre Pequim e Tianjin – começou a funcionar em 2008, quando a capital chinesa organizou os Jogos Olímpicos, 28 anos depois do nascimento do TGV francês.

E quando o Japão lançou o seu “comboio-bala”, em 1964, a China era um país pobre e isolado, mergulhado em constantes “campanhas políticas” e empenhada em “aprofundar a luta de classes”.

Em 2012, o país inaugurou a linha de alta velocidade mais extensa do mundo, com 2.298 quilómetros, que liga Pequim a Cantão.

Hoje, a malha ferroviária de alta velocidade da China compõe dois terços do total do mundo.

Durante a última dinastia imperial (1644-1911), o governo chinês começou por se opor ao caminho-de-ferro e só em 1881 autorizou a construção da primeira via-férrea.

O acelerado desenvolvimento da rede chinesa de alta velocidade ficou também marcado por um grave acidente, que matou 40 pessoas, no verão de 2011.

 

 

4 Jan 2019

Gravura | 3.ª edição da Trienal inaugurada hoje

É hoje oficialmente inaugurada a 3.ª edição da Trienal de Gravura de Macau. O evento coincide com a entrega de prémios aos vencedores e tem lugar às 18h30 no Centro de Arte Contemporânea – Pavilhão n.º 1 das Oficinas Navais. Na mostra vão estar patentes 175 trabalhos de artistas de todo o mundo

[dropcap]A[/dropcap] cerimónia de inauguração e a entrega de prémios da 3.ª edição da Trienal de Gravura de Macau tem lugar hoje pelas 18h30, no Centro de Arte Contemporânea – Pavilhão n.º 1 das Oficinas Navais. A exposição das 175 obras seleccionadas e com assinatura de autores de todo o mundo vai também ter trabalhos na Galeria Tap Seac, na Galeria de Exposições Temporárias do IACM, na Galeria de Exposições e na Casa Nostalgia das Casas da Taipa.

De acordo com a organização, o evento que teve a sua primeira edição em 2012, “pretende promover a criação e pesquisa de obras de gravura”. O objectivo passa pela oferta de uma plataforma de “intercâmbio aprofundado entre artistas internacionais” de modo a promover o desenvolvimento desta arte no território, “promovendo assim a criatividade, a apreciação, os estudos e o progresso da arte da gravura”, aponta o Instituto Cultural (IC).

Os 175 trabalhos que vão ser exibidos vieram um pouco de todo o mundo, Da Tailândia ao Irão, da Estónia à Austrália, a organização procura, mais uma vez, a inovação sem esquecer as tradições artísticas. “As obras não reflectem apenas os estudos aprofundados de técnicas pelos artistas, mas também a combinação das novas produções, média, impressão e técnicas integradas”, aponta. No total vão ser apresentada abras vindas de 39 países e regiões, sendo que de Macau estão presentes os trabalhos de Wong Wai I e Loi Chi Fong.

A selecção foi também feita por um júri internacional composto por artistas e académicos de renome como Walter Jule, Zhang Minjie, Luckana Kunavichayanont, Kwak Namsin, Sou Pui Kun, Lin Ping e Maurice Pasternak.

 

Os premiados

O IC já apresentou os vencedores desta terceira edição. Segundo a página oficial do evento, o prémio de ouro foi dado ao polaco Lukasz Koniuszy com a obra “Estrutura habitável”, enquanto a prata e o bronze foram para a Tailândia com as obras “Vestígios das coisas dolorosas 6” de Warranutchai Kajaree e “Método das ceifeiras N.º 2” de Rattana Sudjarit, respectivamente. Foram ainda atribuídas sete menções honrosas distribuídas pelo italiano Alberto Balletti, a tailandesa Chalita Tantiwitkosol, os chineses Cao Jianhong, Lee Wen-Jye, Zuo Wei e Li Can, e a britânica Bianca Cork.

Além da exposição o evento conta ainda com a realização de um apalestra temática, amanhã entre as 10h e as 12h30, no Centro de Arte Contemporânea – Pavilhão n.º 1 das Oficinas Navais, a cargo do Professor Adjunto da Escola Superior de Artes do Instituto Politécnico de Macau, Sou Pui Kun e do Vice-Director do Comité de Arte de Gravura da Associação de Artistas da China e Professor da Academia de Arte da China, Zhang Mingjie. Para a palestra estão disponíveis 40 lugares e a entrada é livre.

4 Jan 2019

Bombeiros | Posto operacional provisório vai custar pelo menos 32 milhões

[dropcap]A[/dropcap] empreitada de construção do Posto Operacional Provisório do Corpo de Bombeiros vai custar entre 32 milhões e 48 milhões de patacas, segundo os valores constantes das 32 propostas apresentadas a concurso, cujo acto público de abertura decorreu ontem. Em comunicado, a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) indicou que a obra deve arrancar no segundo trimestre. O prazo de execução mais longo proposto é de 535 dias de trabalho. O Posto Operacional Provisório do Corpo de Bombeiros da Ilha Verde terá quatro pisos com capacidade para dois veículos de combate a incêndio e um veículo de emergência, vai ser ainda apetrechado de todas as instalações e equipamentos básicos, com a área bruta de construção de aproximadamente 1500 metros quadrados. A obra irá permitir criar aproximadamente 35 postos de trabalho. O posto provisório visa responder às necessidades a curto prazo, dado que o Governo pretende reservar um terreno destinado ao posto operacional permanente do Corpo de Bombeiros aquando da elaboração do plano urbano da Ilha Verde.

 

4 Jan 2019

Aeroporto com recorde de 8,26 milhões de passageiros no ano passado

O Aeroporto Internacional de Macau (AIM) recebeu, ao longo do ano passado, um total de 8,26 milhões de passageiros, um valor recorde em 23 anos de operação.
[dropcap]E [/dropcap]m comunicado, divulgado ontem, a Companhia do Aeroporto de Macau (CAM), que fala num “forte desempenho” em 2017, indicou que o número traduz um aumento de 15 por cento comparativamente a 2017. “É o tráfego de passageiros que o AIM alcançou”, realçou a CAM, em comunicado, destacando tratar-se de um valor 12 vezes superior ao número de habitantes.
Os movimentos de aeronaves também aumentaram, registando um crescimento de 12 por cento para 65 mil.
Actualmente, 27 companhias aéreas operam no AIM, ligando Macau a meia centena de destinos cobrindo a China, Taiwan, bem como o sudeste e o nordeste da Ásia, “atraindo mais viajantes locais e internacionais”, refere a mesma nota. Segundo a CAM, o tráfego das rotas da China correspondeu a 37 por cento, enquanto o do sudeste e nordeste da Ásia ocupou uma fatia de 41 por cento no volume total de passageiros.
Ao longo do ano passado, foram adicionadas dez novas ligações, incluindo Sanya e Xian (China), Phuket e Krabi (Tailândia), Kota Kinabalu (Malásia), Cebu (Filipinas) ou Taegu (Coreia do Sul) que “ajudaram a expandir ainda mais a rede do AIM”.
De acordo com a CAM, o segmento das transportadoras ‘low-cost’ registou um crescimento de 11 por cento em termos de passageiros, enquanto as tradicionais deram um pulo de 18 por cento em relação a 2017.
“O AIM testemunhou um crescimento constante tanto no tráfego de passageiros como no movimento de aeronaves em 2018, lançando uma base sólida para a expansão da [sua] rede aérea em 2019”, observou a CAM.
Para 2019, a CAM afirmou que irá “desenvolver totalmente as ligações de longo curso, com vista a alterar a actual estrutura de mercado de passageiros, ou seja, atraindo mais viajantes locais e internacionais a voar de e para o AIM”.
O Aeroporto Internacional de Macau foi inaugurado em Dezembro de 1995 e é uma das últimas grandes infra-estruturas da administração portuguesa.
4 Jan 2019

IIM | Tese sobre ensino superior após transição distinguida com prémio

[dropcap]L[/dropcap]ai Chi Ian foi um dos investigadores distinguido pelo Instituto Internacional de Macau (IIM) para o Prémio Jovem Investigador 2018, que será entregue no próximo dia 31. A tese de Lai Chi Ian versa sobre o ensino superior após o período da transição de soberania, e intitula-se “The Impacts of Colonial Transition on the Development of Higher Education in Macau, with reference to Hong Kong”.

O IIM decidiu atribuir o mesmo prémio a um outro investigador, de nome Cheong Iok Kei, por ter desenvolvido o trabalho de investigação “Parenting stress, parental self-efficacy, social support and the quality of life with Macao SEN’s parent”. Ambos os prémios foram atribuídos na área das ciências sociais, sendo que o júri decidiu não atribuir o prémio relativo às ciências aplicadas.

De acordo com um comunicado do IIM, o prémio em questão “tem por objectivo incentivar jovens estudantes, professores, recém-licenciados e criativos a investigação e ao aprofundamento dos estudos visando o desenvolvimento da RAEM, essencialmente nos sectores estratégicos da economia e da diversificação, do património e da identidade, das ciências aplicadas, e da História de Macau”.

O concurso “foi muito concorrido”, uma vez que foram entregues 27 trabalhos de investigação a concurso, analisados pelos professores universitários Mok Kai Meng e Chan Ka Wai.

O prémio tem o apoio da Fundação Macau e um valor pecuniário de 25 mil patacas. Este é atribuído desde 2001 e “pretende estimular uma maior participação das novas gerações, destinado a diversificar a intervenção social, criar oportunidades e expandir o âmbito do conhecimento”.

4 Jan 2019

Agnes Lam e Joey Lao distinguidos com prémio da Fundação Macau

[dropcap]A[/dropcap] deputada Agnes Lam, também investigadora e docente na Universidade de Macau (UM) viu o seu trabalho distinguido na quinta edição do Prémio de Estudos de Ciências Humanas e Sociais de Macau, uma organização conjunta da Fundação Macau, Social Sciences in China Press e Guangdong Social Sciences Association.

O trabalho premiado versa sobre a história da imprensa chinesa e intitula-se “The Beginning of the Modern Chinese Press History – Macao Press History 1557-1840”. Dentro do grupo dos prémios que ficaram em primeiro lugar, ao nível das monografias, foi também distinguido o trabalho de Tong Kai Jian, intitulado “A Touch of Alienation in the Celestial Empire – Western Civilization in Macau, XVI-XIX Centuries”.

Ainda no primeiro lugar, mas no grupo de tese, foram escolhidos quatro trabalhos, dois deles em língua portuguesa. Hao Yufan escreveu a tese com o nome “’Aberta’ e ‘Fechada’ da Embaixada dos EUA em Macau em meados do século XIX”, enquanto que Kuo Hio Meng fez o trabalho “Ao encontro de uma tradição educativa da língua chinesa própria de Macau”.

Ambos os grupos foram distinguidos com prémios de excelência que variam entre 10 a 50 mil patacas. No total, foram entregues 321 trabalhos a concurso, “o que representa um aumento de dez por cento face ao ano anterior”, com um maior número de trabalhos produzidos em inglês. O processo culminou com uma selecção de 56 trabalhos.

Em nome da economia

Joey Lao, deputado nomeado pelo Chefe do Executivo e também professor universitário da UM, ganhou um prémio de excelência com os investigadores Ng Sin I e Lou Kun Teak. O trabalho de investigação tem como nome “Estudo sobre a Utilização e a Exploração adequada das Áreas Marítimas sob a jurisdição da RAEM na Perspectiva do Desenvolvimento Sustentável da Economia e Sociedade”.

Outro trabalho universitário distinguido faz referência à problemática dos terrenos e da Lei de Terras e é da autoria de Dong Hao, tendo como nome “Terreno arrendado pela RAEM: um modelo inovador do regime jurídico da cooperação regional”.

Sonny Lo e Eric Chong, de Hong Kong, também foram distinguidos pelo trabalho “Casino interests, Fujian Tongxianghui and Electoral Politics in Macao”.

4 Jan 2019

Juristas | Paulo Taipa e Paulo Cardinal sem propostas de trabalho em Macau

O clima criado pela possibilidade de Ho Iat Seng ser promovido a Chefe do Executivo fez com que as portas do mercado laboral se fechassem para os ex-assessores. Em causa está o facto de eventuais propostas e emprego poderem ser encaradas como uma afronta ao ainda presidente da AL

 

[dropcap]O[/dropcap]s juristas que terminaram o vinculo laboral com a Assembleia Legislativa no final do ano, Paulo Cardinal e Paulo Taipa, não conseguem encontrar emprego em Macau. Segundo o HM apurou, o futuro de Taipa passa pelo regresso a Portugal, que deverá acontecer brevemente. Já para Cardinal ainda é tudo uma incógnita.

Este cenário surge depois dos dois terem enfrentado muitas dificuldades para encontrarem um emprego em Macau, que lhes permitisse continuar com as respectivas carreiras, após vários anos a trabalharem na AL. Apesar de vários contactos, elogios à experiência e aos currículos dos juristas, na altura de apresentar propostas, as portas foram fechadas porque a situação é “muito complicada”.

A versão foi contada ao HM por diferentes fontes, que pediram para não ser identificadas, devido à natureza do assunto. Para os dois juristas, mesmo junto de pessoas consideradas “amigas”, as portas simplesmente ficaram por abrir.

“Toda a gente tem medo, neste momento, de contratá-los porque esse acto pode ser visto como uma afronta ao presidente da Assembleia Legislativa. Como ele é visto como o próximo Chefe do Executivo, as pessoas não querem fazer nada que possa ser visto como um desafio às decisões dele. Não se sabe que decisões podem ser tomadas no futuro e que contratos vão depender dele”, contou uma das fontes contactadas.

“Foram muitas as portas de amigos e pessoas próximas que se fecharam. Muita gentes disse-lhes que, nesta altura, com a possibilidade de Ho Iat Seng ser o futuro Chefe do Executivo, que é uma situação muito complicada”, revelou outra das pessoa ouvida.

Em alguns casos foi ainda dito aos juristas que esperassem cerca de um ano, para “ver como fica a situação após ser eleito o novo Chefe do Executivo”.

O HM entrou em contacto com Paulo Taipa, para obter uma reacção a esta situação, mas o ex-assessor da AL não quis fazer comentários. Porém, o HM sabe que o jurista vai deixar Macau nos próximos tempos e que o regresso a Portugal já está a ser preparado. A mesma postura foi adoptada por Paulo Cardinal, que recusou fazer qualquer comentário à situação.

Segundo a versão ouvida pelo HM, apesar das recusas desconhece-se a existência de qualquer indicação de governantes locais para que a contratação dos juristas fosse impedida. “Ninguém sabe se houve essa indicação, mas há um clima de medo a funcionar”, considerou uma das pessoas ouvidas.

Contratos não-renovados

Foi em Agosto deste ano que se ficou a saber que os contratos de Paulo Cardinal e de Paulo Taipa não seriam renovados. No início, Ho Iat Seng, presidente da Assembleia Legislativa, justificou a decisão com uma reorganização interna da equipa de juristas. Quando a decisão foi tornada pública, o presidente da AL chegou a apontar a existência de uma reestruturação interna, justificação que mais tarde deixou de ser utilizada. Contudo, Ho negou sempre uma eventual “natureza política” da decisão.

Mas a medida esteve longe de gerar consenso, principalmente entre os deputados pró-democratas. José Pereira Coutinho, Sulu Sou e Ng Kuok Cheong enviaram mesmo uma carta a Ho Iat Seng a pedir explicações. Até ontem, ainda não tinha havido uma resposta oficial.

Em relação a Sulu Sou, o membro mais novo da AL deixou ainda uma mensagem de agradecimento aos dois, durante uma sessão do Plenário, e acusou o líderes do hemiciclo de terem tomado uma opção que “despede de forma dissimulada os dois assessores”.

4 Jan 2019

Jockey Club | Concessionária pretende investir até 4,5 mil milhões de patacas

O Jockey Club tinha dito que iria investir 1,5 mil milhões de patacas na sua restruturação mas resolveu abrir cordões à bolsa. Agora a concessionária admite investir entre 3,4 e 4,5 mil milhões. O plano de restruturação apresentado à comissão de acompanhamento para os assuntos das terras e concessões públicas inclui a construção de dois hotéis

 

[dropcap]O[/dropcap] Jockey Club pretende investir entre 3,5 a 4,5 mil milhões de patacas na sua restruturação de modo a rentabilizar o espaço exclusivamente destinado a corridas de cavalos e que viu a concessão renovada por mais 24 anos apesar dos prejuízos. A informação foi dada ontem pela presidente da comissão de acompanhamento para os assuntos das terras e concessões públicas, Ella Lei.

A empresa inicialmente adiantou que iria investir 1,5 milhões de patacas, mas alargou o montante destinado à criação de novas estruturas que incluem agora a construção de dois hotéis, revelou Lei.

As obras vão ser feitas em quatro fases, sendo que a primeira tem início marcado para o ano de 2020 e inclui a criação de um parque na zona central da pista de corridas com “zonas verdes, instalações desportivas, campos de ténis, etc”, apontou. Vai também constar desta fase a construção e um viaduto que liga a estação do metro ligeiro, situada exactamente em frente do hipódromo, às instalações do Jockey Club e a construção de restaurantes e de zonas comerciais para o público em geral.

Já mais exclusivas serão as estruturas destinadas à segunda fase de obras marcada para o período entre 2022 e 2025. Aqui está prevista a construção instalações exclusivas aos membros e que incluem zonas verdes e escritórios.

Para a terceira fase de trabalhos, a ser executada entre 2023 e 2026, está planeada a construção de um parque temático e de uma escola de equitação.

Por último, entre 2024 e 2026 o Jockey Club pretende construir duas unidades hoteleiras uma destinada a aparthotéis e outra a um hotel de duas estrelas, a ter lugar em dois prédios de dez e de 16 pisos.

De acordo com Ella Lei, os projectos vão ter que ser aprovados pelas obras públicas e têm que incluir estudos de impacto ambiental e de tráfico. Por outro lado, Lei admite que pode ser necessário rever as condições de concessão para que a construção destas unidades possa avançar.

Entre as estruturas a ser construídas está também um parque com 800 lugares de estacionamento.

Tudo na normalidade

De acordo com responsável da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos, Paulo Martins Chan, estas estruturas vão de encontro ao que era conhecido. “Basicamente são os projectos já anunciados anteriormente, nomeadamente a renovação e algumas partes do Jockey Club e há outras novas construções”, afirmou á saída da reunião da comissão em que também marcou presença.

A restruturação consta da adenda ao contrato de concessão renovado por mais 24 anos “e será em breve publicada em Boletim Oficial”, disse. Em caso de incumprimento, imputável ao Jockey Club, o contrato prevê a sua revogação ou suspensão, acrescentou.

Rendas contraditórias

No que respeita ao pagamento da renda pelo Jockey Club, compromisso que não tem mantido, Paulo Martins Chan confirmou que, este ano a concessionária terá que cumprir com as suas responsabilidades e pagar 15 milhões de patacas. No entanto, de acordo com o orçamento para 2019, o Governo apenas admite a entrada de receitas no valor de 1000 patacas correspondentes às rendas do Jockey Club.

Martins Chan justifica a disparidade dos números com a utilização de uma técnica contabilística. “É uma técnica de contabilização. No ano de 2018 houve a dispensa do pagamento de renda, mas actualmente não estamos a ver razão para que [o Jockey Club] seja dispensado de renda nos próximos tempos até porque houve uma uma injecção de capital pelo que isso não vai acontecer”, apontou.

Mas parece que o pagamento dos 15 milhões de patacas não é certo pelo que o Governo optou por estabelecer no orçamento a previsão de um valo mínimo de 1000 patacas. “Tivemos a cautela de colocar no orçamento mil patacas para que possamos contar com elas no futuro, é uma técnica contabilística”, sendo que “no ano passado, não houve renda e não se sabe o que vai acontecer no futuro”, acrescentou.

Entretanto, o Jockey Club continua o pagamento da dívida ao Governo que pretende finalizar nos próximos três anos, com prestações mensais de 4,17 milhões de patacas. Neste momento a dívida totaliza 112 milhões de patacas. Para os deputados da comissão de acompanhamento o Governo concedeu “uma grande margem para o pagamento da dívida”, disse Ella Lei.

4 Jan 2019

Deputado dos Operários quer relatório de trabalhos para reduzir impacto de obras

[dropcap]O[/dropcap] deputado Leong Sun Iok quer saber que medidas estão a ser tomadas pelo Governo para evitar que o crescimento de 35 por cento no número de obras de grande dimensão nas estradas afecte mais o trânsito. É este o conteúdo de uma interpelação escrita da legisladora da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), com a data de 28 de Dezembro e divulgado ontem.

“O trabalho de grande dimensão vai ser maior no próximo ano. Em particular, vias como Avenida do Almirante Lacerda ou Rotunda da Amizade vão sentir um grande impacto. Que medidas específicas vão ser tomadas para reduzir o impacto? Será que o Executivo vai considerar facilitar as restrições da construção à noite em certos locais para acelerar os procedimentos?”, questiona o deputado.

Leong Sun Iok sugere também que a haja uma implementação efectiva da flexibilização dos horários da função pública, como acontece durante o Grande Prémio de Macau, para evitar os congestionamentos de grande dimensão das horas de ponta.

“Os trabalhadores de escritório são alguns dos grupos que mais se deslocam durante as horas de ponta. No passado foi dito que seria implementado um sistema de horário flexível para efectivamente reduzir a pressão sobre o trânsito nas horas de ponta. Qual é o andamento dos trabalhos nos diferentes departamentos? E que planos existem para continuar a optimizar e de forma contínua este mecanismo?”, pergunta.

Já em relação ao transporte de alunos, o deputado da FAOM defende que deve ser estudado um mecanismo para juntar as carrinhas de diferentes escolas, quando os percursos são semelhantes, para reduzir o número destes veículos circular. “Será que o Governo pode assumir os trabalhos de coordenação entre os horários das escolas do primeiro e segundo ciclos, com o objectivo de reduzir o número de deslocações das carrinhas escolares nas horas de ponta? E será que pode ser estudado um mecanismo para que uma carrinha seja utilizada por alunos de diferente escolas?”, é interrogado.

No mesmo documento, o legislador recorda o relatório do Comissariado de Auditoria (CA) de Maio de 2017, que lançou fortes críticas ao Grupo de Coordenação e Gestão de Obras Viárias por falhar nas suas tarefas. Entre as falhas apontas, constava o facto de não haver qualquer coordenação entre planos de obras para as mesas zonas das estradas da cidade. Leong Sun Iok quer agora saber que trabalhos foram implementados para mudar a situação identificada pelo CA.

“Como é que o Governo melhorou os mecanismo existentes de coordenação de obras para alcançar o objectivo de coordenar e supervisionar os trabalhos de escavação nas estradas e assegurar que o impacto é reduzido?”, pergunta.

4 Jan 2019

Administração Pública | Funcionários questionam regras de acesso ao mestrado

[dropcap]O[/dropcap] deputado José Pereira Coutinho entregou uma interpelação escrita ao Governo onde dá conta das queixas apresentadas por alguns funcionários públicos relativamente às condições de acesso no novo curso de mestrado em Administração Pública, decretado por despacho da secretária para a Administração e Justiça, Sónia Chan.

“Muitos trabalhadores, ao terem tido conhecimento do regulamento, ficaram tristes e descontentes e vieram queixar-se ao nosso gabinete de atendimento dos cidadãos, alegando que estão a ser discriminados por não dominarem uma das línguas oficiais ou por não terem o grau de licenciatura do interior da China.”

Além disso, “alguns deles já se inscreveram no curso de mestrado em Administração Pública nas universidades locais”.

Os mesmos funcionários públicos consideram que as regras de acesso ao mestrado violam a Lei Básica “no aspecto da instrução”, uma vez que os impedem “de serem considerados no futuro quadros qualificados do Governo da RAEM com consequentes prejuízos para as suas carreiras profissionais”.

Na sua interpelação, o deputado e presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau (ATFPM) questiona o Executivo sobre o facto deste exigir “como primeiro e principal critério [de acesso] a detenção de um grau académico equivalente ao grau de licenciatura do Interior da China, em detrimento dos graus de licenciatura das universidades locais, tais como a Universidade de Macau e a Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau que ministram cursos semelhantes”.

Dados relativos ao ano de 2017, e referidos na interpelação, mostram que estas duas universidades formaram 292 mestres, sendo que “muitos deles são trabalhadores da Função Pública”.

4 Jan 2019

AL | Ho Iat Seng e Sulu Sou em confronto sobre alterações a leis

Deputado da Novo Macau queria propor mudanças às propostas de lei do Governo sobre habitação económica e social, mas Ho Iat Seng exigiu-lhe autorização do Chefe do Executivo. Caso está em fase de recurso, dentro da Assembleia Legislativa

 

[dropcap]O[/dropcap] presidente da Assembleia Legislativa e o deputado Sulu Sou estão envolvidos num novo diferendo. O caso foi revelado pelo deputado ligado à Associação Novo Macau e em causa está o facto de Sulu Sou ter a intenção de propor alterações às leis da habitação económica e habitação social, nomeadamente no que diz respeito às idades de candidatura. Ho Iat Seng entende que as alterações envolvem a acção do Governo e que, segundo as regras da AL, o deputado precisa do consentimento do Executivo.

“Como órgão representativo, a Assembleia Legislativa tem de participar na definição das políticas. Por isso, mostrei a intenção de propor alterações às leis [da habitação social e económica], para que fosse a Assembleia a decidir a política que deve ser adoptada”, começou por explicar Sulu Sou, num comunicado emitido ontem. “No entanto, o Presidente decidiu que como esta alteração afecta a política do Governo, que primeiro preciso do apoio do Chefe do Executivo. Não concordo com a decisão e o diferendo está agora na fase de recurso”, revelou.

Sulu Sou justifica a sua posição com artigo 101.º do Regimento da Assembleia Legislativa, ou seja do documento que define o funcionamento do órgão legislativo. Segundo este artigo, “a iniciativa da lei pertence aos Deputados e ao Governo da RAEM”. Porém, há excepções que condicionam e impedem as alterações propostas pelos dos membros do hemiciclo em algumas áreas. Neste caso concreto da habitação, segundo a versão de Sulu Sou, Ho Iat Seng terá evocado o artigo que define que em matérias ligadas à política do Governo, que a proposta de alteração necessita de autorização por escrito do Chefe do Executivo. Esta não é uma situação inédita, por exemplo no documento em que se discutiu um mecanismo de controlo das rendas, a medida, que depois foi chumbada, só pode ser proposta com autorização de Chui Sai On.

Face a este diferendo, Sulu Sou recorreu para o próprio Ho Iat Seng. Mais tarde, se o recurso for negado, poderá fazer o mesmo para a Mesa da Assembleia Legislativa, órgão constituído pelo presidente da AL, vice-presidente, Chui Sai Cheong, e secretários, Kou Hoi In e Chan Hong.

Todavia, enquanto aguarda pelo resultado do recurso, Sulu Sou avançou com o pedido de consentimento de Chui Sai On. “Apesar de não concordar que as alterações necessitam a aprovação do Chefe do Executivo, uma vez que defendo que é o papel da AL debater e votar as propostas, estou a tentar ter o consentimento do Chefe do Executivo para as alterações”, reconheceu.

Idade e residência

Em relação às alterações desejadas, no que diz respeito à habitação social –casas arrendadas a preços baixos a pessoas em situação de carência económica – o deputado sugere que a idade mínima para a candidatura permaneça nos 18 anos de idade. A nova medida sobe o limite para os 23 anos. Outra opção do secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, que merece contestação da Novo Macau prende-se com o facto da nova lei impedir que estudantes a tempo inteiro possam pedir uma habitação social. A associação defende a abertura deste tipo de casas também a estudantes.

Já no que diz respeito às habitações económicas – casas vendidas pelo Governo com preços mais baixos para a chamada classe média que não consegue ter uma habitação própria –, Sulu Sou defende que a idade mínima de candidatura devem ser os 18 anos. O Governo sugere a idade mínima de 25 anos.

Ainda em relação a este diploma, o deputado defende que só os agregados em que metade dos membros sejam residentes permanentes se possam candidatar. Segundo a proposta da Novo Macau, num agregado com duas pessoas, uma tem de ser residente permanente. Já nos casos em que há três residentes, dois têm de ser permanentes.

As duas propostas já foram aprovadas na generalidade e estão agora a ser debatidas na primeira comissão da AL.

4 Jan 2019

Presidente chinês felicita Bolsonaro e pede respeito por “interesses fundamentais”

[dropcap]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, felicitou o novo homólogo brasileiro, Jair Bolsonaro, apelando ao respeito pelos “interesses fundamentais” dos dois países, numa carta citada pela imprensa estatal e entregue por um enviado de Pequim.

Citado pela agência noticiosa oficial Xinhua, Xi afirmou que, como dois grandes países em desenvolvimento e importantes mercados emergentes, a China e o Brasil têm “a responsabilidade” de melhorar as suas economias, preservar a paz mundial e promover o desenvolvimento.

O chefe de Estado chinês enalteceu ainda as afirmações de Bolsonaro, após vencer as eleições, nas quais assegurou que o Brasil está comprometido em manter os laços com a China, independentemente das diferenças ideológicas. A relação bilateral tem “grandes perspectivas”, escreveu Xi.

A carta do Presidente chinês foi entregue a Bolsonaro por Ji Bingxuan, vice-presidente da Comissão Permanente da Assembleia Nacional Popular, o órgão máximo legislativo da China, à margem da tomada de posse do novo presidente brasileiro, na quarta-feira, detalhou a Xinhua.

A China é o maior parceiro comercial do Brasil e o principal investidor externo no país sul-americano, tendo comprado, nos últimos anos, activos estratégicos nos sectores da energia ou mineração.

Durante a campanha eleitoral, no entanto, Bolsonaro lançou ataques ao investimento oriundo do país asiático.

“A China não está comprando no Brasil, ela está comprando o Brasil”, afirmou, advertindo: “Você vai deixar o Brasil na mão do chinês”.

Bolsonaro tem tentando uma aproximação ao presidente norte-americano, Donald Trump, e prometeu já repensar a filiação do país ao BRICS [bloco de grandes economias emergentes, que inclui ainda China, Rússia, Índia e África do Sul], pondo em causa mais de uma década e meia de diplomacia brasileira baseada em alianças com o mundo emergente.

Em Fevereiro, o político de extrema-direita visitou Taiwan, resultando num protesto formal da diplomacia chinesa, que considera a ilha parte do seu território.

3 Jan 2019

Milhares de turistas deixam ilhas na Tailândia à aproximação de tempestade

[dropcap]M[/dropcap]ilhares de turistas começaram a sair de várias ilhas no golfo da Tailândia à aproximação da tempestade tropical Pabuk, que deverá causar fortes chuvas, ventos e ondas de pelo menos cinco metros, anunciaram hoje as autoridades.

Da ilha de Koh Phangan, uma das mais turísticas do país, as ligações marítimas para os restantes destinos no golfo tailandês foram suspensas às 12h30, prevendo-se que reabram no sábado à tarde, disse à Lusa uma das empresas gestora de serviços de ‘ferry’, Songserm.

Já depois da passagem do ano, entre 30 e 50 mil pessoas deixaram Koh Phangan, afirmou à agência de notícias France-Presse (AFP) o chefe do distrito, Krikkkrai Songthanee.

Apesar de as autoridades não terem emitido qualquer ordem de retirada, milhares de turistas começaram a sair na quarta-feira, antecipando o impacto da tempestade, que deverá atingir as ilhas de Koh Samui, Koh Phangnan e Koh Tao na sexta-feira à noite.

“Muitos turistas saíram, mas houve também muita gente que preferiu ficar, especialmente os residentes locais, que ficaram quase todos”, disse à Lusa um funcionário de uma unidade hoteleira de Koh Phangnan, Guilherme Toyosato.

De acordo com o brasileiro, os que ficaram estão a prevenir-se com o abastecimento de bens essenciais.

Também em Koh Samui, as autoridades anunciaram que estão a preparar abrigos para aqueles que decidiram não partir.

Pabuk, a primeira tempestade tropical a atingir esta zona do país fora da estação das monções, em quase 30 anos, não deverá evoluir para um tufão, indicaram meteorologistas.

“Esperamos ondas com cinco a sete metros, perto do coração da tempestade. Normalmente, no golfo da Tailândia, há apenas ondas de dois metros de altura”, disse o diretor do Centro Meteorológico da Tailândia, num comunicado à imprensa.

“É difícil prever a gravidade da tempestade, pelo que as pessoas devem seguir as recomendações das autoridades”, acrescentou.

Pabuk, nome de um peixe-gato gigante existente no Laos, deverá causar fortes chuvas noutros destinos turísticos no mar de Andaman, como Krabi, e nas províncias vizinhas da Malásia, Pattani, Narathiwat e Yala.

3 Jan 2019

China torna-se primeiro país a pousar no lado ‘oculto’ da Lua

A China fez ontem história ao transformar-se no primeiro país a fazer aterrar uma sonda no lado oculto da Lua, assim chamado porque não se vê a partir da Terra, devido ao movimento de rotação. Um grande passo para a Humanidade e para as ambições espaciais de Pequim

 

[dropcap]C[/dropcap]hama-se “Chang’e 4” a protagonista do feito histórico que elevou a China a um novo patamar, quando aterrou no lado mais afastado da Lua, dando novo fulgor aos ambiciosos planos espaciais de Pequim. A sonda, baptizada com o nome da deusa da lua na mitologia chinesa, pousou, na manhã de ontem, no satélite natural da Terra.

Lançada a partir do Centro Especial de Xichang, na província de Sichuan, a 8 de Dezembro, a sonda, que entrou na orbita lunar quatro dias depois, alunou, de forma “suave e precisa”, em Von Kármán, uma zona de planície de 177 quilómetros de diâmetro que assenta sobre uma ampla bacia perto do pólo sul da Lua. O engenho transporta um robô, de 136 quilogramas, ao qual caberá a tarefa de percorrer a cratera.

A Administração Nacional Espacial da China (CNSA, na sigla inglês) fez o engenho aterrar na inexplorada bacia de Aitken, a maior, mais antiga e mais profunda cratera da superfície da Lua. O sucesso da missão gerou, no entanto, uma certa confusão inicial, depois de os ‘media’ estatais como o jornal China Daily e a CGTN terem apagado ‘tweets’ a celebrar a missão, de acordo com a imprensa estrangeira.

A confirmação oficial chegara através da CCTV, duas horas depois, que deu conta de que o engenho tinha tocado terra pelas 10h26, bem como pelo Global Times, jornal em língua inglesa do grupo do Diário do Povo, o órgão central do Partido Comunista Chinês, que destacou que a sonda tinha “efectuado, com sucesso, o seu primeiro pouso suave” no lado oculto da Lua, falando num “marco” para a exploração espacial. Uma imagem enviada através do Twitter pela versão em inglês da CCTV exibiu, pouco depois, o primeiro ‘close-up’ da distante superfície lunar.

Objectivo

A sonda deve conduzir uma série de tarefas, incluindo captar sinais rádio de baixa frequência, normalmente bloqueados pela atmosfera terrestre, testar o crescimento de plantas no ambiente de baixa gravidade e explorar a existência de água e de outros recursos nos pólos, bem como tirar medições detalhadas do terreno e da composição mineral da Lua. Acredita-se que a base Aitken terá sido formada durante uma gigantesca colisão no início da história da Lua que muito provavelmente provocou o lançamento de matéria do seu interior, pelo que “Chang’e 4” pode vir a facultar novas pistas sobre como foi formado o satélite natural. A missão “abriu um novo capítulo na exploração da Lua pelo Homem”, escreveu a agência espacial chinesa no seu portal.

As comunicações entre a sonda e a Terra são possíveis graças a um satélite, denominado de “Queqiao”, posto em órbita em Maio e que funciona como um transmissor “espelho” de informações.

Mais do que uma missão científica

A alunagem foi considerada “um grande êxito” da China, por Malcom Davis, analista sénior em defesa do Instituto de Política Estratégica Australiano. “Há muita geopolítica e astropolítica relativamente a isto, não se trata apenas de uma missão científica. Isto tem tudo a ver com a ascensão da China como superpotência”, afirmou, citado pelo Guardian. “Há muito entusiasmo em torno do programa espacial e muito nacionalismo na China, pelo que vêem o papel da China no Espaço como parte fundamental da sua ascensão”, sustentou ao mesmo jornal.

Para Malcom Davis, o feito pode “provocar os americanos”, que podem não ficar agradados com a ideia de que a próxima pessoa a pisar a Lua seja um ‘taikonauta’, como são oficialmente designados os astronautas chineses. “Imagino que venhamos a assistir ao anúncio dos chineses da intenção de enviar ‘taikonautas’ para a Lua em 2030”, complementou o especialista.

Os americanos já saudaram os chineses pela conquista, com o administrador da Agência Espacial Norte-Americana (NASA), Jim Brindestine, a deixar uma mensagem no Twitter. “Parabéns à equipa da Chang’e-4, da China, pelo que aparenta ser uma aterragem bem-sucedida no lado extremo da Lua. Esta é uma estreia para a humanidade e um feito impressionante!”, escreveu. Já um porta-voz da Agência Espacial Australiana declinou comentar a missão, limitando-se apenas a congratular a China pelo sucesso e a desejar-lhe o melhor.

Apesar de, em 2013, a China ter conseguido o feito de fazer aterrar uma sonda espacial na lua pela primeira vez – numa proeza apenas realizada até então pela antiga União Soviética e pelos Estados Unidos –, a nova missão da agência espacial chinesa foi a primeira a enviar uma sonda e um veículo robotizado para o chamado lado ‘oculto’ da lua, o hemisfério lunar que não pode ser visualizado a partir da Terra.

“Esta missão espacial mostra que a China alcançou o nível avançado de classe mundial na exploração do Espaço profundo”, afirmou Zhu Menghua, professor na Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST, na sigla em inglês), que tem trabalhado de perto com a agência espacial chinesa. “Nós, chineses, fizemos algo que os americanos não se atreveram a tentar”, enfatizou, citado pelo New York Times.

De facto, naves espaciais recolheram imagens do lado oculto da Lua há décadas, mas nunca nenhum engenho lá havia pousado, apesar de pelo menos uma tentativa falhada, pelo que este avanço marca mais um passo na sua ambição de se transformar numa potência líder na exploração espacial ao lado dos Estados Unidos e da Rússia.

“Trata-se de um grande feito tanto técnico como simbólico”, observou, por seu turno, Namrata Goswami, um analista independente que escreve sobre Espaço para o Departamento de Defesa do Instituto de Investigação Minerva, em declarações reproduzidas pelo NYT. “A China vê a aterragem como apenas um ponto de partida, já que também vê a sua futura missão lunar tripulada, dado que o seu objectivo a longo prazo passa por colonizar a Lua e usar a sua vasta fonte de recursos energéticos”, apontou. Para o especialista, no futuro, o lugar em causa pode tornar-se mesmo uma base para reabastecimento para missões de exploração do Espaço mais profundas.

“A China está ansiosa por entrar nos livros de recordes com as suas conquistas espaciais”, afirmou Joan Johnson-Freese, especialista no programa espacial chinês. “As probabilidades de a próxima voz de uma transmissão da Lua falar em mandarim são elevadas”, sublinhou a professora na US Naval War College, citada pela CNN.

Ambições variadas

As ambições extraterrestres da China são motivadas por múltiplos factores, incluindo o desejo de domínio militar do Espaço, defendeu Malcom Davis. Outras motivações têm que ver com o acesso à vasta riqueza de recursos oferecida pela Lua e pelos asteróides, em particular Helium-3, que se acredita que exista em abundância na Lua, apontou. “A China tem sido muito clara no seu entendimento relativamente a isto. Eles têm comparado a Lua ao Mar do Sul da China e a Taiwan e os asteróides ao Mar da China Oriental. Eles estão a fazer uma comparação geopolítica muito evidente com o que se está a passar no Espaço e precisamos de prestar atenção a isso”, sustentou.

Em 2020, a China planeia enviar a sonda Chang’e 5, com o objectivo final de regressar à Terra com amostras de matéria recolhida na Lua. A verificar-se será a primeira missão deste género desde 1976.
Até agora, o país realizou também cinco missões tripuladas, a primeira em 2003 e a mais recente em 2013, enviando para o espaço dez astronautas (oito homens e duas mulheres).

A primeira tentativa da China de entrar na corrida espacial foi no final dos anos 1950, como resposta ao lançamento do Sputnik 1 – o primeiro satélite em órbita – pela União Soviética.

Mao Zedong ordenou então a construção e envio do primeiro satélite chinês, antes de 1 de Outubro de 1959, por altura do 10.º aniversário da fundação da República Popular. A iniciativa acabou por falhar devido à inexperiência do país em tecnologia aeroespacial. No entanto, em Abril de 1970, em plena Revolução Cultural, uma radical campanha política de massas lançada por Mao, a China concluiu com êxito o lançamento do seu primeiro satélite para o espaço, o “Dong Fang Hong” (“O Leste é Vermelho”).

3 Jan 2019

Embaixador da Coreia do Norte em Itália terá pedido asilo político

[dropcap]O[/dropcap] embaixador interino norte-coreano em Roma terá pedido asilo político a Itália, em Dezembro passado, para evitar ser repatriado, noticiou hoje um jornal sul-coreano.

“Jo Song-gil pediu asilo no início do mês passado”, escreveu o JoongAng Ilbo, que citou fontes diplomáticas não identificadas.

O diplomata estava à frente da embaixada em Roma desde outubro de 2017, após a decisão do Governo italiano de não aceitar as cartas credenciais do anterior embaixador norte-coreano em Roma, na sequência do lançamento de um novo míssil pela Coreia do Norte.

De acordo com o jornal, as mesmas fontes indicaram que as autoridades italianas estão a proteger Jo Song-gil “num lugar seguro”.

A confirmar-se, esta deserção tem contornos muito semelhantes com a do antigo “número dois” da embaixada norte-coreana em Londres Thae Yong-ho, que em 2016 fugiu da representação diplomática norte-coreana no Reino Unido, juntamente com a mulher e os filhos, para Seul.

Thae Yong-ho, que trabalhava há dez anos na capital britânica como vice-embaixador, era também responsável pela promoção da imagem da Coreia do Norte no Reino Unido.

Thae ficou desiludido com o regime de Pyongyang, depois de conhecer a liberdade e a democracia que se vivem na Coreia do Sul, ao mesmo tempo que estava preocupado com o futuro da família, disseram, na altura, autoridades sul-coreanas.

As duas Coreias continuam tecnicamente em guerra desde o fim do conflito de 1950-53, que terminou com a assinatura de um armistício e não de um tratado de paz.

3 Jan 2019