Hoje Macau SociedadeSands China anuncia fim de palhinhas nos seus casinos [dropcap]O[/dropcap] grupo hoteleiro e operadora de jogo Sands China anunciou ontem a proibição do uso de palhinhas de plástico em todos os seus espaços, prevendo poupar uma tonelada deste material, descartável, todos os anos. A medida entrou em vigor na terça-feira e vai permitir economizar 2,2 milhões de palhinhas por ano, ou seja, uma tonelada de plástico, segundo a empresa, cujas propriedades receberam mais de 97 milhões de visitantes em 2017. “Colocadas de ponta a ponta na ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, são palhinhas suficientes para se estenderem de Macau a Hong Kong dez vezes”, exemplificou o grupo, em comunicado, comprometendo-se a avançar com outras medidas sustentáveis. Macau tem mais lixo ‘per capita’ que cidades como Pequim, Xangai ou Hong Kong. O abuso do plástico descartável na região tem mobilizado activistas e já deu azo a uma petição que reuniu milhares de assinaturas. O Governo prometeu entretanto avançar com medidas para combater o plástico, mas defensores ambientais continuam a exigir do Executivo medidas legislativas. Em Outubro, um dos rostos da petição disse à Lusa que vai continuar a recolher assinaturas até o Governo avançar com leis. “Concordaram com o que estamos a fazer, mostraram-se preocupados, o que é bom, mas não mencionaram quando é que vão avançar com medidas legislativas para proibir o plástico descartável, alegando que terá de ser dado ‘um passo de cada vez'”, disse Annie Lao, após uma reunião com a Direcção dos Serviços de Proteção Ambiental.
Paulo José Miranda h | Artes, Letras e IdeiasA mais recente provocação de Lars von Trier [dropcap]O[/dropcap] novo filme de Lars von Trier, estreado este ano em Cannes e que tem estreia marcada para o Nimas neste início de 2019 – amanhã, 3 de Janeiro – tem como foco um serial killer, Jack (Matt Dillon), Mr. Sophistication, que vai estabelecendo um diálogo com Vergo (Bruno Ganz), numa clara analogia à Divina Comédia de Dante. Podemos ver o filme de dois modos distintos, mas que se entrecruzam: o modo literal e o modo metafórico. Irei começar pelo primeiro modo de ver. Aqui o filme terá de ser visto através do distúrbio radical que conduz um ser humano a matar outros. A história de alguém que está entre nós como se não fosse um de nós – e não é, de certo modo – e despede a grande maioria dos espectadores de identificação. Na literalidade da narrativa, o espectador fica no lugar daquele que no início do século passado ia a uma feira ver as aberrações que a natureza produzia no ser humano. Porque, felizmente para a maioria de nós, Jack é uma aberração, um desvio radical do comportamento humano. Ele não mata pessoas por dinheiro ou porque em algum momento se enfurece e reage intempestivamente, ele mata pessoas por prazer e por considerar um acto artístico. Ele compara a morte às maiores criações humanas. Ao longo do filme assistimos a um excerto de um documentário em que aparece Glenn Gould a tocar Bach ao piano. Mas também compara a decomposição do corpo humano à decomposição da uva na criação dos vinhos licorosos como o Sauternes. Jack não só mata, como guarda os corpos numa câmara frigorífica. Estamos claramente nas franjas do humano. Ninguém ou muitos poucos se podem aqui identificar com Jack. Jack é um monstro, uma aberração humana, um erro de Deus e da natureza. Visto neste modo literal, a própria narrativa do filme torna impossível a identificação do espectador, pois a descida ao Inferno inviabiliza essa mesma identificação. Lars von Trier impede a identificação ao estabelecer a cumplicidade entre este novo Virgílio (Bruno Ganz) e Jack. E na literalidade do filme Jack não somos nós. É também neste modo de ver o filme que explode um dos pontos mais polémicos do filme, a aproximação deste fazer a morte à arte. Jack fala mesmo de Hitler e de Estaline como ícones. Mas a pergunta mais pertinente é a que nós mesmos fazemos: aonde é que termina a violência que pode ser considerada arte? Qual é o grau de violência a partir do qual deixa de haver arte? Por exemplo, de modo geral estamos de acordo que os filmes de Van Damme, de Stevan Seagal, de Chuck Norris não são arte, mas entretenimento, e mau entretenimento. E, por outro lado, em que pé ficam os filmes de Tarantino? Desde o violentíssimo Resevoir Dogs até à parodia Kill the Bill? E filmes de autores ainda mais independentes, como sejam os casos de Pasolini – por exemplo o Salò ou os 101 Dias de Sodoma – e de Abel Ferrara – por exemplo o The Bad Lieutenant ou o Funny Games de Michael Haneke? Até onde podemos usar a violência numa obra de arte sem que a arte deixe de ser arte? A pergunta vai um pouco mais longe, pois de modo geral a aceitação da violência na arte advém da aceitação do realismo. A premissa de que temos de filmar o real, temos de filmar aquilo que se passa, aquilo que acontece. A arte não pode fazer como a avestruz e evitar ver a realidade. Assim, quando a violência filmada ou escrita advém de uma realidade ela é aceite pela arte. E do mesmo modo que o humano tem franjas, limites radicais de ser humano, como é o caso deste Jack, também a realidade tem as suas franjas. Um serial killer é uma dessas franjas. Assim como o são os traficantes de órgãos humanos, de armas e de drogas. São realidades que estão nas franjas da realidade e, por isso mesmo, ignoradas pela arte. Se a arte se atrever a tocar nessas franjas, imediatamente é transformada em entretenimento barato ou kitsch. Isto pode advir de várias razões, uma delas é que os senhores das academias, quer de áudio-visuais, quer literárias são pessoas com vidas completamente além destas realidades, eles não vivem nestas zonas do humano. Por conseguinte, o seu olhar acerca disso será sempre a menos e a mais. A menos, porque não sabem nada do que acontece, a mais porque tendem a mistificar. Mas outras razões haverá, seguramente. Seja como for, o filme levanta a desconfortável pergunta acerca do que legitima ou não a relação entre violência e arte. Quanto ao outro modo de ver o filme, pelo seu lado metafórico, a identificação torna-se evidente, pois o protagonista representa cada um de nós cada vez mais fechados em nós mesmos, nas nossas necessidades, nos nossos caprichos, nas nossas preocupações e prazeres. Cada um de nós não levanta o olhos do monitor, seja ele do portátil, do ipad ou do iphone para atentar no outro. Os mais jovens chegam a estar lado a lado a conversar através do telemóvel. Mas não é uma crítica às tecnologias, mas a este nosso contínuo afastamento uns dos outros. Já só falamos do outro para dizer mal. Isto aparece no filme, na argumentação de Jack, por outras palavras. A vida humana está às moscas. A falta de empatia de Jack pelos outros representa a nossa crescente falta de empatia uns pelos outros. Numa cena do filme, a única em que mostra Jack próximo de uma relação com outro ser humano, e antes de assassinar essa mulher, ele incentiva-a a pedir ajuda, a grita por socorro, e ele mesmo grita na janela em busca de socorro, mostrando claramente que ninguém quer saber de ninguém, ninguém está disposto a sair de sua casa, de seu quarto para vir ajudar outrem. Várias são as palavras escritas em cartazes que Jack vai deitando fora ao longo do filme, à imagem do teledisco de Bob Dylan “Subterranean Homesick Blues”, que indicam o egoísmo da nossa sociedade actual. Não são apenas palavras que o acusam, mas que nos acusam a nós. Que o modo metafórico seja aquele que Lars von Trier quer que vejamos parece evidente, não só pela estrutura narrativa, que é ela mesma uma metáfora, uma alegoria, um poema, mas também pelo seu fim moralista. Assim, aquele que no fim cai no mais profundo abismo de fogo do Inferno somos todos nós, aqui e agora. Não porque matámos alguém, mas porque matámos ou estamos a matar o humano que somos.
João Santos Filipe DesportoFutebol | Instituto do Desporto prepara jogo entre equipa inglesa e chinesa Foi em 2007 que o Manchester United visitou Macau para defrontar o Shenzhen FC. Agora, no âmbito dos 20 anos da transição, o Governo quer reeditar este tipo de encontros, entrou em contactos com o Southampton, da Premier League [dropcap]O[/dropcap] Instituto do Desporto está a preparar um encontro amigável, a ser disputado em Macau, entre uma equipa da Premier League e uma formação do Interior da China. Neste sentido já foram feitos contactos iniciais com o Southampton, mas sem mais desenvolvimento. A revelação foi feita pelo presidente Pun Weng Kun, ontem, em declarações ao canal chinês da Rádio Macau. Neste momento ainda não está confirmado que será a equipa do Sul de Inglaterra a actuar em Macau, mas segundo Pun foi feito um convite ao Southampton, onde actua Cédric, português que se sagrou campeão europeu e 2016. Actualmente, o Southampton ocupava o 17.º lugar da Premier League, antes do encontro desta madrugada, diante do Chelsea, e encontra-se a lutar pela permanência no principal escalão do futebol britânico. Em relação à formação do Interior da China que vai ser convidada, ainda não foram revelados pormenores. Segundo as declarações de Pun, exista a expectativa que o jogo seja realizado a meio do ano, entre Junho e Agosto, quando as equipas terminarem a época e começarem a preparar a próxima temporada. O presidente do ID explicou que a ideia de organizar um jogo com dimensão internacional e equipas de diferentes continentes surgiu pelo facto de se comemorarem os 20 anos do estabelecimento da RAEM. Além disso, Pun reconheceu que há muitos anos que Macau não recebe um encontro com equipas europeias mais conhecidas. O ID aposta assim numa espécie de reedição do encontro de 2007, quando o Estádio de Macau recebeu a partida entre o Manchester United e o FC Shenzhen. Na altura, com um estádio totalmente esgotado, os ingleses ganharam por 6-0, com golos de Ryan Giggs, Wayne Rooney, Nani, que se estreou pelo Red Devils, John O’Shea, Crisitano Ronaldo e Chris Eagles. Portugal-China Além deste encontro, em Setembro de 2017, as autoridades portuguesas e chinesas já haviam manifestado o desejo receber uma partida entras as selecções dos respectivas países. Ontem, Pun Wen Kun não avançou informações sobre este assunto. Porém o desejo já havia sido manifestado e também se enquadra no âmbito das celebrações da transferência da administração de Macau e do reatamento das relações entre as duas nações. As duas selecções defrontaram-se em duas ocasiões. O primeiro encontro foi em Maio de 2002, em Macau, na preparação para o Mundial da Coreia do Sul e do Japão. Na altura, Portugal venceu por 2-0, com golos de Nuno Gomes e Pauleta. Esta foi uma partida que também ficou marcada pelo penálti desperdiçado por Rui Costa. O outro encontro foi disputado no Estádio Municipal de Coimbra, em Março de 2010, e a selecção portuguesa voltou a vencer por 2-0. Hugo Almeida, aos 35 minutos, e Liedson – que tinha substituído Cristiano Ronaldo –, aos 90 minutos, foram os marcadores de serviço.
António Cabrita Diários de Próspero h | Artes, Letras e IdeiasSe não me puderes amar no inverno, quando? [dropcap]P[/dropcap]alavras que sejam, elas próprias, desempenho, e, mais do que adejo, corte sob a pele. Não há outra medida para o escritor, mentira que lhe valha. Por isso, continuemos, venha o que vier: os pálidos gestos de ternura, as tempestades, os descalabros invisíveis da História ou o paliativo do quotidiano. Mesmo os que não nos consolam os tremores íntimos anónimos, aqueles que feriram, apesar de aparentemente irrelevantes; eu em miúdo odiei ter sabido que um bigode pode ser à Cantiflas – e, sim, o humor não resgata tudo. Contudo, só porfiando algo se articula, um raio ou uma face arregalada pelo desarme. Só transformando a escrita em vivência ela arranca à viscosidade do caos uma repetição equiparável à buzina com que Harpo Marx inscrevia no silêncio uma nova linguagem. Um novo ano, e nada me ocorre senão aquele começo poderosíssimo de Camilo José Cela em Ofício de Trevas 5: «es cómodo ser derrotado a los veinticinco años aún sin una sola cana en la cabeza sin una sola caries en la dentadura sin una sola nube en la conciencia con sólo dos o tres lagunas en la memoria y mirar el mundo desde el cielo desde el purgatorio desde el infierno desde más acá de los montes pirineos y la cordillera de los andes con frialdad con indiferencia con estupor». Conheci tantos em quem vi a comodidade de serem derrotados aos vinte e cinco. Antes de, devido à intransigência que cabe aos jovens, conseguirem sequer adivinhar que afinal nada há de intransitivo na vida. Ou melhor, que a única coisa intransitiva na vida é a idade – a única aprendizagem que se entranha. O mais é puro derrame de uma coisa noutra, contágio, intersecção, simbiose e corrupção. Só a idade nos retém e aparvalha – uma besta enfurecida – entre maxilares. E mesmo aí temos direito a momentâneos vislumbres fora da caixa palatal que nos rumina. Enquanto, merda, ficamos tardios, a congeminar que a roleta do mútuo consentimento nos abandonou e que ao selvático empenho de amar se sobrepôs o respeito, a defeção. O que quer que isso seja. Sem outro ganho que o de reconhecermos: sob a dura casca de noz que nos subjuga lateja ainda um jovem assombrado pelo tumulto das luzes que nos cegou no seio do labirinto. A chegar aos sessenta (faltam dezoito dias) pergunto-me quantos livros li até ao fim? Necessariamente um terço dos que comecei a ler. E acima das trezentas páginas contam-se pelo dedo. O Moby Dick, Dostoievski, Tolstoi, alguns Dickens, Saul Bellow, dois ou três volumes do Proust… ou livros que tive de ler por trabalho. Fico sempre banzado, no estrangeiro, quando vejo multidões nos comboios e no metro aferrarem-se a setecentas páginas de irrelevâncias. Li mais até ao fim Saramago do que Lobo Antunes. É-mais fácil. Há em Saramago um admirável trabalho de relojoaria, a que se segue o ronrom. Com Lobo Antunes levanta-se uma questão de densidade – prescinde da trama, abro qualquer livro e leio cinquenta páginas como se mergulhasse no mercúrio. É retemperador, mas preciso de pausas entre cada dose. Escusam de me perguntar de quem gosto mais, sou incapaz neste caso. Já entre Eça e Camilo alinho por este último. Demasiadas vezes interessa-me mais o processo do que a história do livro. Há escritores a quem cheguei cedo e outros a que acostei tarde. Ao Ruben A. cheguei temprano e ainda hoje me admira ser tão desconhecido da maioria, ao Augusto Abelaira cheguei tarde, à primeira só o Bolor me agarrou, mas trinta anos depois de não o ler comprei no metro O Triunfo da Morte e Sem Tecto, Entre Ruínas, e percebi que aquela liberdade livre é rara e só por extrema deficiência na educação dos leitores ele não é, foi, um sucesso. É difícil a unanimidade, mas livros há que me espantam de não a terem. O Alface impingiu-me um autor francês que, orgulhoso, só fui ler depois da precipitada morte dele, o Maurice Pons e o seu As Estações. Até chorei depois da leitura do livro por não o ter lido antes, para comentarmos o livro. É extraordinário, um dos maiores exercícios da imaginação que li na vida. Contudo, já o tentei vender a meia dúzia de pessoas que não compreendem o meu entusiasmo. Há contágios que só passam de escritor para escritor, sendo necessário lidar com os limites da imaginação própria para reconhecer um acto pleno. Em França há clubes de fãs de As Estações, em Portugal foi um fracasso absoluto. Há livros nas minhas estantes cujas edições se desfazem de tantas vezes serem relidos, dobrados e riscados, como Debaixo do Vulcão, de Malcolm Lowry, o Empresta-nos o seu marido?, de Graham Greenne ou o Mulheres e Homens, do Richard Ford; outros, apesar de lhes reconhecer a excelência, deixam-me frio e abandono-os invariavelmente a meio, como os livros do Sebald, que têm todos um ar espantosamente novo. Agora, com um pé nos sessenta, sinto-me ejectado para o espaço. É o momento de fixar um livro de memórias. E tudo só pôde começar porque arranjei um título convincente, e desta vez não lhe mudarei uma sílaba: Se não me puderes amar no inverno, quando? Será em três volumes, o primeiro sobre a infância, o segundo em torno dos amores e o terceiro sobre a escrita. O primeiro é o que me ocupará neste mês de Janeiro. O segundo escrevê-lo-ei em Janeiro de 2020 e assim sucessivamente. Será o modo de atar o meu corpo ao compromisso de durar mais uns anos, viés sobre o qual às vezes tenho dúvidas. Que as letras me catapultem e se rendam à hipótese de que existe uma realidade para além das imagens, suscita-me o desejo de toda a luz e é o projecto possível para quem não nasceu para ser discípulo do Mallarmé.
Luís Carmelo h | Artes, Letras e IdeiasAs voragens da “correcção” ou a gramática prometida [dropcap]É[/dropcap] fácil descrer dos humanos e criar uma infindável lista de exemplos que permita legitimar e interiorizar a descrença. Descrer é fácil e até embalador, tanto mais que o perfil da nossa época herda, já de si, um horizonte generalizado de descrença. Quando ouço alguém dizer que “descrê do ser humano”, penso logo que o debate acabou, pois o argumento pertence à casa das coisas mais óbvias, daquelas que tranquilizam e guiam as convicções consumadas. A minha gata prefere espreguiçar-se a dar atenção a esses senhores girassóis. No Ocidente (que hoje é muito mais do que um ponto cardeal no globo), o mundo moderno tem vivido da ascese da máquina e do crescente monopólio da programação, renunciando, apenas na aparência, aos mais variados rituais associados às transcendências. Na realidade, as ideologias eram formas lunáticas de transcendência, do mesmo modo que as linhas de montagem da morte (ensaiadas na primeira metade do século passado) também se ergueram em nome de um homem puro ou novo (ou fosse lá o que fosse na sua excentricidade maléfica). Daí que a crença inabalável não seja uma luz que contracene com as trevas da descrença, nada disso. É talvez por causa destes lamaçais feitos de ‘preto no branco’ (a alta definição é um olhar telecomandado) que a Europa se tornou num hematoma perigoso e descontrolado. Quando se diz “Europa”, diz-se aquela paisagem arrasada pela violência que o continente experimentou de 1914 até 1945. No final da Segunda Grande Guerra Mundial, uma mais do que improvável utopia (sublinho “improvável”) decidiu criar um projecto sem precedentes, através da ‘união’ dos antigos contendores num devir económico que deveria ter evoluído para outras fasquias mais altas. O salto foi ficando a meio, desde o alvor do século XXI. Ninguém já se lembrava, na carne, da Europa em ruínas e a ferro e fogo. A dissuasão ocultou o tremendismo e este foi-se perversamente diluindo com o passar do tempo. Faz agora 33 anos, o JL publicou um texto de Kundera sobre a Europa que hoje parece profético a este respeito. Leiamos o seu momento fulcral: “A Europa não se apercebeu do desaparecimento do seu grande foco cultural, porque, para a Europa, a sua unidade já não simboliza a sua unidade cultural. Em que bases assenta então a unidade da Europa? Na Idade Média assentava numa religião comum. Nos tempos modernos, numa altura em que o Deus medieval se transformou em Deus absconditus, a religião cedeu o seu lugar à cultura, que passou a significar a concretização dos valores mais elevados” (…) “Da mesma forma que, em tempos passados, Deus cedeu o seu lugar à cultura, é agora a vez da cultura ceder o seu lugar. Mas a quê e a quem?”. Kundera já estava, neste texto, a tactear o universo de descrença que havia de fechar o rasgo utópico nascido nos idos do pós-1945. Nada mais fácil de conjecturar, pois os humanos, no mundo moderno, não foram nunca capazes de persistir para além do ‘seu tempo’. A memória é assustadoramente curta. Há pouco menos de um milénio, a construção de uma catedral perdurava ao longo de várias gerações, já que o tempo era entendido como uma dádiva que vinha de cima. Agora os rumores fundeiam por baixo e a existência é feita de fractura, de dígitos e da apoteose tecnológica. O que acontece desaparece logo: tsunami ao longe é hemorragia mediática por perto. E depois… o vazio. Estamos tão longe uns dos outros como Werther estaria da “vida” real; só que o personagem de Goethe ainda sonhava com as “encantadoras plenitudes” e, hoje, são as portas do Colombo ou do Vasco da Gama (os nomes são entidades por vezes tão irónicas!) que fazem de simulacro da plenitude. Uma sublimação da descrença, por outras palavras. É para iludir o buraco negro da descrença contemporânea que se inventou o corpo diante da televisão, o corpo dentro da rede, o corpo caído no shopping, o corpo sitiado no ginásio, o corpo a fugir das vacinas; o corpo, enfim, a vociferar por uma liberdade tipo ‘barata tonta’, mais parecida com o vaivém controlado de uma bola de pingue-pongue tipo ‘new age’ do que com uma nave autodirigida a percorrer (sem rumo) as galáxias virtuais. Neste cenário, qualquer forma de cepticismo tem um infinito fuel à sua disposição. Azucrinar filosoficamente ou de modo chão e letal (como acontece nos comentários que surgem na rede) faz parte desse fel. O outro lado da moeda luz como prata areada em dia de festa, na medida em que hoje tudo é ensaiado e encenado através de uma lógica ‘gourmet’. O discurso político, a publicidade e até o ‘stand-up’ respiram numa ordem de tipo transgénico. Tudo lhes é previsível: quer o que se diz, quer as esperadas reacções. É desta concordância que é feita a gramática a que a correcção aspira, pois ela alimenta-se freneticamente da descrença liofilizada; quer da que tem os seus apólogos, quer daquela que insufla os que (apenas imaginariamente) se lhes opõem. Neste cenário, “to be or not to be” é uma e a mesma coisa. Sem querer cair no burlesco, é possível que, mais do que nunca, se precise de alma. Pelo menos na acepção de Amos Oz, desaparecido na semana passada, para quem a alma era descrita como “uma corsa ansiando por águas vivas” (‘O Mesmo Mar’, 1999). *Kundera, M., Europa Central: um continente sequestrado in JL nº 164, 1985, p.22, P. Projornal, Lisboa.
Hoje Macau EventosEUA e Israel saem da UNESCO [dropcap]A[/dropcap] saída dos Estados Unidos e de Israel da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) tornou-se efectiva ontem, culminando um processo desencadeado em Outubro de 2017. A saída dos dois países assenta no suposto sentimento anti-Israel da organização, alegado pelas respetivas representações diplomáticas. O Presidente norte-americano, Donald Trump, anunciou a saída da organização em 12 Outubro de 2017, poucas horas antes de anúncio similar feito pelo primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu. Os Estados Unidos invocaram “preocupações com os atrasos crescentes na UNESCO, a necessidade de uma reforma fundamental da organização e o permanente preconceito anti-Israel”. O embaixador de Israel nas Nações Unidas, Danny Danon, disse hoje que o seu país “não será membro de uma organização cujo objectivo seja deliberadamente agir contra Israel”, dando argumentos aos seus “inimigos”. A organização com sede em Paris foi acusada de criticar a ocupação israelita de Jerusalém Oriental, em particular por identificar locais reivindicados por Israel, como herança palestiniana, além de ter aprovado a plena adesão da Palestina à organização, em 2011, facto que levou os Estados Unidos a suspender, desde então, as contribuições financeiras. Nos últimos anos, a UNESCO aprovou várias resoluções muito criticadas por Israel, nomeadamente textos que omitem a vinculação judaica à denominada Esplanada das Mesquitas de Jerusalém. No verão de 2017, a Cidade Velha de Hebron (Palestina) foi incluída na Lista de Património Mundial, decisão que levou Israel a anunciar que iria retirar um milhão de dólares na sua contribuição para as Nações Unidas. Desde a chegada de Donald Trump à Casa Branca, no início de 2017, os EUA retiraram-se da UNESCO, cortaram vários financiamentos a órgãos da ONU e anunciaram a sua saída do Acordo de Paris de combate às alterações climáticas, do acordo nuclear com o Irão, apoiado pela ONU, e do Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas. Em 1984, durante a administração de Ronald Reagan, os Estados Unidos romperam igualmente com a UNESCO, por suposta cedência a interesses soviéticos, em plena Guerra Fria, tendo regressado à organização em 2003.
Diana do Mar SociedadeFundo vai apoiar área da publicação e da televisão e cinema O Fundo das Indústrias Culturais (FIC) anunciou ontem o lançamento de dois novos programas de apoio financeiro. O primeiro, no valor máximo de 5 milhões de patacas, destina-se a financiar a oferta de uma plataforma de serviço integrada de publicação, enquanto o segundo, até 6 milhões de patacas, incide sobre a área da televisão e do cinema [dropcap]P[/dropcap]ublicar pelo menos 40 livros de Macau nas áreas da Artes, História e Cultura em dois anos e tentar introduzi-los noutros mercados, especialmente na China, figuram como dois dos requisitos a preencher pelos candidatos a um novo programa de financiamento do Fundo das Indústrias Culturais (FIC). Um apoio idêntico foi definido para apoiar a assistência na pós-produção à indústria cinematográfica e a venda e distribuição, devendo os interessados garantir, igualmente em 24 meses, a participação de filmes ‘made in Macau’ em pelo menos oito festivais internacionais. As candidaturas terminam no próximo dia 31. Os destinatários-alvos para a plataforma de serviço integrada de publicação podem ser empresas, associações ou particulares, desde que sejam de Macau. Durante o período de execução do projecto – de dois anos – a entidade escolhida deve então dar à estampa, pelo menos, quatro dezenas de livros de Macau, competindo-lhe tratar dos trabalhos de planeamento, edição, tipografia e revisão. Tem ainda de introduzir os livros no contexto digital e nos mercados fora de Macau, além de ter de prestar serviços de venda, ‘marketing’ e distribuição ou organizar a participação em pelo menos duas feiras do livro na China. O apoio financeiro será facultado à medida que forem cumpridas as metas pré-definidas, ou seja, se em vez de publicar 40 livros apenas lançar 20, o apoio corresponderá a metade. “O apoio só é dado quando completarem os serviços passo a passo. Em todos os projectos que estamos a financiar eles têm de entregar relatórios e depois é que passamos à segunda fase, isto é, dividimos em prestações”, explicou Davina Chu, do conselho de administração do FIC, dando conta de que os livros a serem publicados têm de ser primeiras edições, ou seja, não podem ser obras reeditadas. “A cultura é uma área muito difícil de desenvolver”, sublinhou, apontando que o objectivo passa por “ajudar as pessoas de Macau”, particularmente num domínio com uma dimensão reduzida, abrindo caminho à expansão do sector além-fronteiras, especialmente para a China. “Em Macau há muitas pessoas que escrevem e muitas entidades que apoiam, mas muitas [obras] não vão para o mercado”, realçou a mesma responsável, embora advertindo que quem decide se um livro entra na China ou não é a própria China. Caso tal não suceda, pode sempre apostar em vendê-los noutros países e regiões, como Taiwan ou Hong Kong, e em plataformas digitais, como a Amazon, exemplificou Davina Chu. Para o apoio, no valor máximo de 5 milhões de patacas, na forma de pagamento de despesas efectivas, vai ser escolhida apenas uma entidade, como explicado em conferência de imprensa do FIC, presidida por Leong Heng Teng. Um programa semelhante foi gizado para a área do cinema e televisão, embora o montante total seja mais elevado: 6 milhões de patacas. Os trabalhos a serem desenvolvidos pela plataforma incluem a construção de ateliês, sala de pós-produção e de projecção de filmes, bem como serviços de montagem, efeitos especiais ou legendagem. Organizar a participação de filmes em pelo menos oito festivais de cinema internacionais e promover nomeadamente o intercâmbio da cinematografia sino-portuguesa constituem outros dos critérios a cumprir pela entidade a ser seleccionada. Após a estreia em 2018, o FIC anunciou ainda que vai lançar novamente o programa de apoio financeiro destinado a apoiar a criatividade cultural nos bairros comunitários a um máximo de 30 projectos. O prazo de candidaturas termina no próximo dia 28 de Junho. 77 milhões em apoios em 2018 No ano passado, o FIC aprovou apoios financeiros na ordem de 77 milhões de patacas, dos quais 56 milhões em projectos comuns. Da verba restante, seis milhões foram entregues precisamente no âmbito do programa de incentivo à criatividade cultural nos bairros comunitários, enquanto 15 foram alocados para o programa de apoio para a construção de marcas. No total, foram recebidas 59 candidaturas convencionais a apoios, apresentadas por iniciativa das empresas, das quais 24 foram aprovadas, com a concessão de 12 milhões de patacas na modalidade de subsídio a fundo perdido e 44 milhões em empréstimos sem juros. Os projectos beneficiários pertencem principalmente às áreas da moda/vestuário, design comercial/marcas , música e dança, entre outros, cujos investimentos totalizaram 277 milhões.
Diana do Mar SociedadeReceitas dos casinos cresceram 14% em 2018 [dropcap]O[/dropcap]s casinos fecharam 2018 com receitas de 302.846 milhões de patacas, reflectindo um aumento de 14 por cento face a 2017, indicam dados publicados pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ). Outubro figurou como o mês com o melhor desempenho (27.328 milhões), apesar de ter sinalizado a menor variação homóloga (+2,6%) num ano em que foram registadas crescimentos anuais de dois dígitos em oito de 12 meses. O maior aumento (+36,4%) teve lugar em Janeiro. Só em Dezembro, o terceiro melhor mês do ano, as receitas dos casinos totalizaram 26.468 milhões de patacas, traduzindo uma subida de 16,6 por cento, segundo os dados da DICJ. Trata-se do segundo ano consecutivo de aumento das receitas de jogo, depois de 2017 (+19,1%) ter invertido a tendência de queda registada nos três anos anteriores (-3,3%, em 2016, -34,3% em 2015 e -2,6% em 2014). O valor encaixado entre Janeiro e Dezembro supera amplamente as previsões orçamentais para o próximo ano. Segundo o Orçamento para 2019, o Governo, que normalmente adopta uma postura conservadora, espera arrecadar 91 mil milhões de patacas em impostos directos sobre o jogo, o que significa que estima que os casinos fechem 2019 com receitas brutas na ordem dos 260.000 milhões de patacas quando em todo o ano 2018 arrecadou mais de 302.000 milhões.
Diana do Mar SociedadeFinanças | Contas públicas com saldo positivo oito vezes superior ao orçamentado [dropcap]A[/dropcap] Administração de Macau fechou os primeiros 11 meses do ano com um saldo orçamental positivo de 57.576 milhões de patacas – mais 24,6 por cento face a igual período do ano passado. O valor da almofada financeira supera assim em oito vezes o previsto para todo o ano (6.923 milhões). Dados provisórios publicados no portal da Direcção dos Serviços de Finanças (DSF) indicam que as receitas públicas alcançaram 122.815 milhões – mais 13,3 por cento –, traduzindo uma execução de 116,6 por cento. Os impostos directos sobre o jogo – 35 por cento sobre as receitas brutas dos casinos – foram de 97.878 milhões de patacas, reflectindo uma subida anual de 14,1 por cento e uma execução de 118,8 por cento relativamente ao orçamento autorizado para 2018. A importância do jogo encontra-se patente no peso que detém no orçamento: 79,6 por cento nas receitas totais, 81,02 por cento nas correntes e 91,8 por cento nas derivadas de impostos directos. Já as despesas cifraram-se em 65.238 milhões de patacas até Novembro. Cumpridas em 66,3 por cento, aumentaram 4,8 por cento face ao período homólogo do ano passado. Neste capítulo, destacam-se os gastos ao abrigo do Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração (PIDDA) que alcançaram 11.179 milhões de patacas, valor que reflecte um aumento de 24,2 por cento. A taxa de execução correspondeu, por seu turno, a 52,9 por cento.
Hoje Macau SociedadeEconomia | Comércio externo subiu 19,3% até Novembro [dropcap]O[/dropcap] comércio externo de Macau totalizou 93,36 mil milhões de patacas até Novembro, traduzindo um aumento de 19,3 por cento face ao período homólogo do ano passado, indicam dados divulgados pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). Macau exportou bens avaliados em 11,15 mil milhões de patacas (+7,4 por cento) e importou mercadorias avaliadas em 82,21 mil milhões de patacas (+21,1 por cento) entre Janeiro e Novembro. Por conseguinte, o défice da balança comercial nos 11 primeiros meses agravou-se, atingindo 71,06 mil milhões de patacas. As exportações de Macau para a China (1,85 mil milhões de patacas) caiu 5,5 por cento, à semelhança do que sucedeu com as destinadas aos Estados Unidos (120 milhões de patacas), que diminuíram 31,1 por cento em termos anuais. Em contrapartida, as vendas para Hong Kong (6,95 mil milhões de patacas) e União Europeia (191 milhões de patacas) subiram 14,5 e 9,3 por cento, respectivamente, em termos anuais. Já as importações de Macau de produtos da China (28,89 mil milhões) aumentaram 27 por cento, em linha com as compras à União Europeia (20,46 mil milhões), que cresceram 18,6 por cento, entre Janeiro e Novembro de 2018. As trocas comerciais entre Macau e os países de língua portuguesa atingiram 747 milhões de patacas – contra 589,7 milhões entre Janeiro e Novembro do ano passado. As exportações de Macau para o universo lusófono ascenderam a 25 milhões de patacas, (contra 700 mil patacas), enquanto as importações cifraram-se em 722 milhões de patacas, contra 589 milhões em igual período de 2017.
Diana do Mar SociedadeRestaram 50 quotas de circulação para entidades comerciais na Ponte HKZM [dropcap]A[/dropcap] Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) aceita, até ao próximo dia 15, candidaturas para 50 quotas de circulação para a Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau destinadas a empresas. O anúncio, publicado ontem em Boletim Oficial, diz respeito a 50 quotas que ficaram por atribuir de um total de 300 reservadas a entidades comerciais autorizadas pelo Chefe do Executivo. As quotas, com a validade de um ano, destinam-se à circulação de automóveis ligeiros de passageiros de serviço particular, permitindo múltiplas viagens para Hong Kong através da maior travessia sobre o mar do mundo. Ligações a Hong Kong Os requisitos mantêm-se: As empresas têm de estar registadas na RAEM e possuir mais de metade das acções numa filial em Hong Kong. As empresas podem indicar, no máximo, três trabalhadores como condutores, desde que residentes permanentes da RAEM e titulares da carta de condução para automóveis ligeiros de passageiros da RAEM. À semelhança do que sucedeu anteriormente, as quotas de circulação remanescentes vão ser atribuídas mediante sorteio informático, estando a divulgação da lista de resultados prevista para o próximo dia 18. Cada quota de circulação tem um custo de 30 mil patacas. Macau anunciou, em Junho, a atribuição, mediante sorteio, de 600 quotas (300 para empresas e 300 para particulares), com a validade de um ano, para automóveis ligeiros que pretendam circular na Ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau. De acordo com estimativas oficiais, o volume diário de tráfego deve atingir os 29.100 veículos em 2030 e 42.000 em 2037, enquanto o volume diário de passageiros pode vir a rondar os 126.000 e os 175.000, respectivamente. A Ponte do Delta entrou em funcionamento em 24 de Outubro.
Sofia Margarida Mota SociedadeTurismo | Mais de meio milhão de visitantes no Ano Novo O número de visitantes continuou a tendência crescente na altura de Ano Novo. Entre 29 de Dezembro e 1 de Janeiro entraram em Macau mais de meio milhão de turistas e circularam nos postos fronteiriços locais mais de dois milhões de pessoas. Depois das Portas do cerco, a escolha dos visitantes que quiseram entrar e sair do território, recaiu maioritariamente na Ponte HKZM [dropcap]E[/dropcap]ntraram em Macau, entre 29 de Dezembro e 1 de Janeiro, mais de meio milhão de turistas, de acordo com a informação divulgada ontem pelas autoridades. Os números representam um aumento de 16,43 por cento de visitantes em relação ao mesmo período no ano passado. O número total de turistas contabilizado na época de fim de ano foi de 528 369, sendo que a circulação nos postos fronteiriços locais ultrapassou os dois milhões de pessoas. As Portas do Cerco continuaram a ser a fronteira mais utilizada, tendo registado 812 mil entradas e 798 mil saídas no período considerado. Seguiu-se a Ponte HKZM que registou 75 881 passageiros a entrar no território e 79 750 a sair, ultrapassando os números registados no posto fronteiriço do Terminal Marítimo do Porto Exterior que este ano apontou para 73 292 entradas e 76 138 saídas. Recorde-se que no mesmo período, no ano passado, o Terminal Marítimo do Porto Exterior foi a segunda fronteira mais passada por quem queria visitar o território no fim de ano. Tendência crescente O aumento de turistas no período de fim de ano segue a tendência crescente que se tem vindo a registar ao longo de 2018. No período de Natal, entre 22 e 26 de Dezembro, as autoridades registaram a entrada de 607 524 turistas, o que correspondeu a um aumento de 15,23 por cento em relação ao mesmo período de 2017. A 21 de Dezembro, as autoridades indicaram que mais de 32 milhões de pessoas tinham visitado Macau nos primeiros 11 meses do ano, um aumento de 9,1 por cento em relação ao período homólogo do ano anterior. De acordo com a Direção dos Serviços de Estatísticas e Censos (DSEC), o número de turistas (16.751.684) e de excursionistas (15.482.154) cresceu 7,2 por cento e 11,1 por cento, respectivamente, totalizando 32.233.838 visitantes em Macau de Janeiro a Novembro de 2018. Por visitante entende-se qualquer pessoa que tenha viajado para Macau por um período inferior a um ano, um termo que se divide em turista (que passa pelo menos uma noite) e excursionista (que não pernoita). Segundo a DSEC, a maioria dos visitantes é proveniente do interior da China (22.811.627), tendo-se registado uma subida de 13,3 por cento em comparação com igual período do ano passado.
Hoje Macau Manchete SociedadeCrimes de taxistas atingem ponto alto no Ano Novo [dropcap]O[/dropcap]s abusos cometidos pelos taxistas em Macau atingiram um novo ponto alto na noite de Ano Novo. Perante os olhos fechados da polícia, os taxistas não apenas se recusavam a transportar passageiros como cobravam valores exagerados, que oscilavam entre as 200 e as 500 patacas ou mais por uma viagem que custaria cerca de 50 patacas. Turistas e residentes esperaram longas horas ao frio para conseguir arranjar um transporte, sobretudo depois das 23 horas e dos autocarros terem parado os seus serviços. Idosos, crianças e bebés foram vistos em filas intermináveis e inúteis, sob o frio cortante que se fazia sentir, já que os taxistas preferiam “pescar” clientes fora das filas, a quem sugeriam outros preços. Esta situação criminosa, que se arrasta há já longos anos, coincidindo com a subida de Chui Sai On a Chefe do Executivo e de Wong Sio Chak a Secretário para a Segurança, não se verificava no tempo de Edmund Ho e do saudoso Cheong Kuok Va, que conseguiam manter a ordem nos transportes de Macau. Agora a imagem da cidade está irremediavelmente condenada porque as autoridades deixam acontecer o impensável numa cidade que vive do turismo. “Quem aqui manda são os taxistas”, queixava-se um turista chinês, ainda incrédulo de estar a sofrer com esta situação. “Pensava que só em Cantão sucediam estas coisas. Macau devia estar melhor organizado”, referiu outro turista ao HM. De facto, parece que os actuais taxistas, quase todos originários do continente, importaram para Macau e também para Hong Kong as práticas lament que existem na capital de Guangdong. Gozar com o governo Outras fontes disseram ao HM que o Governo entende que ainda se está a pagar aos taxistas as posições anti-colonialistas e patrióticas tidas nos anos 70 do século passado. “Esse tempo já passou e estas pessoas nem sequer eram nascidas. Trata-se de outra gente, que não tem qualquer respeito pela população ou pelo governo”, afirmaram ao nosso jornal. O Secretário Wong Sio Chak contava com a nova lei para punir realmente os infractores mas os deputados Vong Hin Fai, Chui Sai Peng, Cheung Lup Kwan, Angela Leong, Zheng Anting, Si Ka Lon, Pang Chuan, Lao Chi Ngai e Lei Chan U fizeram com as multas fossem reduzidas para valores insignificantes, tornando basicamente inútil a acção das autoridades. A razão pela qual o fizeram continua por explicar, mas a lei assim “ficou sem dentes”, foi-nos explicado. Estes deputados serão lembrados como “cúmplices” desta situação. “Vale a pena pagar as multas, no caso de serem apanhados, já que o valor é irrisório comparado com o que fazem cometendo crimes”, explicou outro deputado ao nosso jornal. Ora se Wong Sio Chak estava à espera da lei para agir, bem pode tirar o cavalinho da chuva porque o resultado será mais algumas sessões de gozo à custa das autoridades e a continuação impune da criminalidade. “As acções dos taxistas espelham o vazio de poder na RAEM”, comentou um cidadão ao HM. “O governo de Chui não tem poder para lutar contra esta gente, nem o vai fazer, porque tem medo da desarmonia social ou sequer de admitir que existe um problema”, concluiu. “O poder está na rua, nas mãos dos taxistas. As autoridades mostram-se impotentes para lidar com este problema que se arrasta já há quase dez anos”, explicou outro cidadão de etnia chinesa, indignado com a péssima imagem que os turistas levam da cidade. Saudades da Uber Outro aspecto interessante deste problema tem a ver com a presença da Uber na cidade. O governo proibiu a sua existência e perseguiu os motoristas ao ponto de tornar impossível a sua sobrevivência. Coisa que não faz com os taxistas. Mas o mais estranho desta questão é que a esmagadora maioria dos condutores da Uber eram residentes permanentes e gente nascida em Macau. Pelo contrário, a maior parte dos taxistas nasceu no continente. “Não compreendemos porque razão o governo nos impediu de continuar a fazer pela nossa vida. Falam tanto em diversificação económica e depois é isto. Na verdade, privilegiam os que vêm para aqui roubar os nossos trabalhos e dar uma má imagem da cidade”, afirmou um ex-condutor da Uber ao HM. De facto, a polícia mostrou-se extremamente eficiente na perseguição à Uber, mas revela-se totalmente impotente no controlo dos taxistas criminosos. O Secretário Wong Sio Chak foi-se desculpando com a inexistência de lei, mas agora, que a lei foi aprovada com sanções mínimas, poderá continuar a utilizar a mesma desculpa porque os taxistas apanhados em falta pagarão as multas alegremente. Durante o período em que a Uber funcionou, os taxistas portaram-se melhor, receando a concorrência, mas conseguiram levar à água ao seu moinho, isto é, interditar a comnpanhia, e voltaram às suas práticas do costume. “Em Macau são eles que mandam, isto é uma vergonha. A polícia não faz nada”, dizia um cidadão numa fila, revoltado com as atitudes dos taxistas. “Não esperava que isto acontecesse em Macau”, concluía um turista chinês, surpreendido com a permissividade das autoridades locais.
João Santos Filipe PolíticaDeputada Wong Kit Cheng pede aumentos salariais para patrulhas das águas marítimas [dropcap]A[/dropcap] deputada Wong Kit Cheng quer saber se o Governo vai aumentar os salários dos trabalhadores que fazem o patrulhamento das águas marítimas do território. Numa interpelação escrita, divulgada ontem, a legisladora ligada à Associação Geral das Mulheres defende que o aumento da zona marítima de Macau vai fazer com que os trabalhadores do sector tenham de fazer mais e trabalhar durante mais horas. Por este motivo, Wong alerta para a necessidade de compensar, com aumento de salários e outros benefícios, o incremento nas tarefas e horas de trabalho. “Será que a Administração vai considerar aumentar subsídios e actualizar os salários ao nível do pontos no futuro, de forma a fazer subir o moral dos trabalhadores, aumentar o nível de retenção de profissionais e atrair outros talentos?”, questiona. Na base desta preocupação da Wong está o facto da Direcção de Serviços para os Assuntos Marítimos e de Água só terem 130 profissionais para fazer o patrulhamento de toda a costa, o que considera ser um número limitado para os 85 quilómetros quadrados de águas marítimas. Wong foca igualmente as qualificações destes profissionais, que diz terem aumentado face ao passado, com agentes Macau a ter cada vez mais agentes qualificados. No entanto, segundo a deputada, este aumento não tem sido compensado ao nível dos pagamentos. Ao mesmo tempo, há receios sobre a escassez de oportunidades para subir na carreira, muito devido à falta de comunicação com os directores. Em relação a este aspecto, Wong diz que é necessário criar um canal de comunicação. Finalmente, além do pedido de salários mais elevado, a legisladora sugere igualmente a contratação de mais profissionais para as funções.
Hoje Macau PolíticaIAM | Sulu Sou quer data para eleição do conselho consultivo [dropcap]O[/dropcap] deputado Sulu Sou solicitou ao Chefe do Executivo para que avance com uma data para a eleição dos membros do Conselho Consultivo do Instituto para os Assuntos Municipais (IAM), que entrou em funções no passado dia 1 de Janeiro, noticiou a Rádio Macau. Em interpelação escrita, o deputado pró-democrata lamenta a opção “irrazoável” do Governo de não permitir eleições para os membros do conselho consultivo, optando pela sua nomeação pelo Chefe do Executivo. Sulu Sou diz mesmo “que o desenvolvimento da democracia municipal em Macau tem estado do lado errado da História”, aponta a mesma fonte. O deputado propõe também que o Executivo abra ao público as reuniões do conselho consultivo e de eventuais grupos de trabalho, bem como permita a transmissão em directo desses mesmos encontros, para viabilizar a partilha de informações com os cidadãos.
Sofia Margarida Mota PolíticaIAM | José Tavares promete mais contacto com a população A direcção do novo Instituto para os Assuntos Municipais tomou posse esta terça-feira numa cerimónia em que o presidente José Tavares salientou a intenção de promover um maior contacto com a população. No mesmo dia foi lançada a plataforma digital que permite aos residentes darem as sua opiniões [dropcap]O[/dropcap]s membros do Conselho de Administração do novo Instituto para os Assuntos Municipais (IAM) tomaram posse no primeiro dia do ano numa cerimónia em que o presidente, José Tavares, salientou a intenção de promover a aproximação da população. “O IAM irá reforçar o contacto com os cidadãos e os representantes dos bairros comunitários”, afirmou, de acordo com um comunicado oficial. Esta aproximação será feita, disse, “ através da realização de actividades de grande escala durante as quadras festivas, com vista a criar uma plataforma comunitária enriquecedora das actividades culturais, desportivas e recreativas dos cidadãos”. Tavares afirmou ainda que o novo IAM vai reforçar a sua função de consulta nos domínios da cultura, das actividades recreativas e da salubridade pública, comprometendo-se reforçar o trabalho interdepartamental. Opinião aplicada No mesmo dia foi também apresentada a nova plataforma digital do novo instituto que vem substituir o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais. Chama-se “IAM em Contacto” e vai disponibilizar aos residentes a possibilidade de darem as suas opiniões 24 horas por dia, “num contacto imediato”. O objectivo é acelerar o contacto entre a população e a instituição, sendo que basta o acesso a um computador ou a um telemóvel para que o acesso ao IAM possa ser concretizado. As opiniões podem ser emitidas em quatro áreas: “higiene ambiental”, “jardim, espaços verdes e zonas de lazer”, “equipamentos e instalações” e ainda “segurança alimentar” e podem ainda ser dadas através de diferentes meios. A plataforma permite o envio de mensagens de texto, de imagem e de mensagem de voz, estando disponível em três línguas: chinês, português e inglês. Por outro lado, o IAM promete responder às opiniões emitidas num prazo de 24 horas aos casos relativos a “higiene ambiental” e “segurança alimentar”. Também no dia em que foi oficialmente criado, o IAM contou com a primeira reunião plenária do novo órgão consultivo que o compõe – o Conselho Consultivo para os Assuntos Municipais. Recorde-se que se trata de um órgão composto membros nomeados pelo Chefe do Executivo e que é presidido por António José Dias Azedo.
João Santos Filipe PolíticaGabinete de Ligação | Novo director quer que Macau perceba e contribua proactivamente para a economia nacional [dropcap]P[/dropcap]ara melhor implementar o princípio de “Um País” e tirar as vantagens dos “Dois Sistemas”, Macau precisa de perceber e aprofundar o seu papel no âmbito do desenvolvimento do país. A mensagem, muito ligada aos 40 anos da abertura da economia chinesa, foi deixada pelo novo director do Gabinete de Ligação do Governo Central, Fu Ziying, no lançamento do ano que começou. “A chave para assegurar o desenvolvimento futuro, nesta nova era, é ter uma compreensão profunda do papel que Macau pode assumir na reforma e abertura do País, para melhor concretizar o princípio ‘um País’ e aproveitar todos os benefícios do ‘segundo sistema’”, escreveu o novo responsável do Gabinete de Ligação, que sucedeu a Zheng Xiaosong. O responsável deixou também algumas indicações sobre as responsabilidades que o Governo Central espera que a RAEM assuma, nomeadamente “contribuir para uma maior abertura” da economia nacional, “integrar-se no desenvolvimento nacional”, “participar nas práticas governativas nacionais” e ainda procurar “de forma mais proactiva” novos caminhos alternativos para o desenvolvimento económico. É em relação à diversidade da economia, que é defendido que as iniciativas Um Faixa, Uma Rota e da Grande Baía são duas grandes oportunidades e que podem ajudar a concretizar a construção da política “Um Centro, Uma Plataforma”. Esta última política surge como uma das soluções para alcançar a diversificação da economia do território, além do sector do jogo. Na mensagem de ano novo, Fu recordou ainda as palavras recentes do presidente Xi Jinping, quando o líder da nação considerou que Hong Kong e Macau continuam a ter um estatuto especial, com vantagens únicas, e que podem continuar a desempenhar um papel insubstituível. Por outro lado, o responsável do Gabinete de Ligação mostrou confiança n os sentimentos patrióticos: “Acreditamos que ao longo deste novo ano, um vasto número de compatriotas de Macau vai continuar a promover o amor patriótico por Macau e a tradição gloriosa de implementar de forma precisa e compreensiva a política ‘Um País, Dois Sistemas’”, é antevisto. Finalmente, Fu Ziying voltou a prometer o apoio do Governo Central ao Governo de Macau e ao Chefe do Executivo, “na gestão da RAEM” de acordo com a lei.
João Santos Filipe PolíticaAno Novo | Chui Sai On quer sociedade unida no amor à pátria durante o 20º ano da RAEM Chefe do Executivo antevê ano de celebrações e quer que a sociedade se una para “difundir os valores tradicionais do patriotismo”. Chui Sai On considerou também que no ano passado a vida da população registou “melhorias” [dropcap]O[/dropcap] ano de 2019 vai ser de festa, devido às celebrações do 20.º aniversário da transição da soberania, e o Chefe do Executivo quer todos os sectores da sociedade a transmitir os valores do Amor pela Pátria, para a construção de “um lar mais belo”. Foi esta a principal mensagens divulgada por Chui Sai On, na segunda-feira, na habitual mensagem de ano novo. “Hoje é o primeiro dia do ano que assinala o 20.º aniversário do estabelecimento da Região Administrativa Especial de Macau. Nesta data de especial significado, quero, em nome do Governo da RAEM e no meu próprio, expressar as mais calorosas saudações festivas e desejar um Bom Ano Novo a todos os residentes”, começou por dizer o Chefe do Executivo, que cumpre o último ano do mandato. Depois de fazer um resumo dos trabalhos realizados ao longo de 2018, Chui Sai On deixa a mensagem sobre o que espera dos cidadãos para 2019: “Este ano em que celebramos o 70.º aniversário da implantação da República Popular da China e o 20.º aniversário do retorno de Macau à Pátria, marca uma fase crucial, e todos os sectores da sociedade devem manter-se unidos e difundir os valores tradicionais do patriotismo e do amor por Macau, construindo em conjunto um lar mais belo”, defende. “Devemos, ainda, envidar esforços incansáveis em prol do reforço da capacidade global de Macau, impulsionar o progresso dos diversos empreendimentos e promover a implementação estável e duradoura do princípio ‘um país, dois sistemas’”, acrescentou o líder do Governo. Ainda em relação ao novo ano, Chui compromete-se com o posicionamento de Macau como “Centro Mundial de Turismo e Lazer” e “Plataforma de serviços para a cooperação comercial entre a China e os países de língua portuguesa”. População melhor Chui Sai On considera igualmente que o Governo cumpriu em 2018 os objectivos e que a vida da população da RAEM está melhor. “No ano que passou, a sociedade permaneceu estável em todos os aspectos, as finanças públicas mantiveram-se sólidas, a economia continuou a crescer, a taxa de desemprego manteve-se num nível baixo, as condições de vida e o bem-estar da população registaram melhorias”, frisou. Em relação à análise dos trabalhos área-a-área, destaque para a segurança, área em que segundo o líder do Governo da RAEM se continuou a aplicar as disposições constitucionais. “Criámos a Comissão de Defesa da Segurança do Estado, aperfeiçoando, assim, o sistema e o mecanismo da segurança nacional”, é indicado. Na mesma mensagem, o líder da RAEM agradece ainda o amor do Governo chinês pelo território. “Estamos gratos ao Governo Central pelo seu amor por Macau e iremos aproveitar as oportunidades da reforma e abertura na nova era para nos integrarmos no desenvolvimento nacional”, aponta.
Hoje Macau China / ÁsiaXi Jinping diz que, em 2019, país prossegue com reforma e abertura de mercados [dropcap]O[/dropcap] presidente chinês Xi Jinping disse no domingo, em Pequim, que a China vai prosseguir as suas reformas e abertura dos mercados, apesar da complexidade do actual ambiente geopolítico. Numa mensagem a coincidir com o Ano Novo ocidental, Xi Jinping explicou que, em 2018, depois das mudanças realizadas no país por Deng Xiaoping, foram adoptadas “reformas sistemáticas, globais”, e seguida a via da “reconstrução do partido e das instituições públicas”. “O ritmo das nossas reformas não vai marcar passo, e a nossa abertura vai aumentar”, disse, num discurso difundido pela televisão estatal CCTV. A China celebrou recentemente o 40.º aniversário da mudança de política, decidida pelo Partido Comunista em 18 de dezembro de 1978, com a presidência de Deng Xiaoping, considerado o arquitecto da abertura do país ao mundo, com a sua estratégia “Um País, Dois Sistemas”. “Nós visitámos os cinco continentes, tivemos encontros com dirigentes de numerosos países, reforçámos a amizade, melhorámos a confiança, e alargámos o nosso círculo de amigos”, recordou o presidente chinês, que visitou Portugal nos dias 4 e 5 de Dezembro. Evocando o contexto geopolítico internacional, Xi Jinping disse que o mundo está a fazer face a uma situação sem precedentes: “Qualquer que seja a evolução da situação internacional, a confiança e a determinação da China na salvaguarda da soberania e da segurança nacionais permanecerão intactas”. A China, que tem estado envolvida numa guerra comercial com os Estados Unidos, confronta-se atualmente com um desaceleramento da sua economia. Ontem o departamento nacional de estatísticas da China divulgou o índice PMI (Purchasing Managers’ Index) do país – indicador sobre novas encomendas na indústria, níveis de stock, produção, entregas de fornecedores e do ambiente de trabalho – que, pela primeira vez, em mais de dois anos, apresenta uma redução de 0,6 pontos percentuais, de 50 para 49,4. Em 2019, a China vai celebrar o 70.º aniversário do estabelecimento República Popular. “Ao longo do tempo, o povo chinês tornou-se autónomo, trabalhador, e criou um milagre que chamou a atenção de todo o mundo”, rematou o presidente chinês, na sua comunicação de Ano Novo. O Ano Novo Chinês tem início a 5 de Fevereiro de 2019 do calendário gregoriano.
Hoje Macau EventosMuseu de Florença pede devolução de quadro roubado pelos nazis [dropcap]O[/dropcap] director da Galeria dos Ofícios, Eike Schmidt, o maior museu de Florença, pediu na terça-feira à Alemanha a devolução de um quadro do pintor Jan van Huysum, do século XVIII, roubado pelos nazis durante a II Guerra Mundial. “Um apelo à Alemanha para 2019: fazemos votos para que este possa finalmente ser o ano em que será restituído à Galeria dos Ofícios o célebre ‘Vaso de Flores’, roubado pelos soldados nazis”, escreveu num comunicado, o director do museu, ele próprio de nacionalidade alemã. De acordo com o responsável, o quadro está actualmente na posse de uma família alemã, que ainda não o devolveu, apesar dos vários pedidos do Estado italiano. Trata-se de um óleo sobre tela de 47×35 centímetros, assinado por Jan van Huysum (1682-1749), um pintor holandês de renome, especializado em naturezas mortas, e que pertenceu, após 1824, às colecções do Palais Pitti, outro grande museu florentino. Levado pelos alemães durante a guerra, o quadro foi transferido dentro da Alemanha e o seu paradeiro perdeu-se durante muito tempo, antes de ser redescoberto, em 1991, após a reunificação alemã, segundo Eike Schmidt. Enquanto aguarda a devolução da obra original, o museu expõe a partir de hoje uma reprodução a preto e branco do “Vaso de Flores”, com a inscrição “Roubado”, em italiano, inglês e alemão, e uma curta legenda explicativa que recorda aos visitantes que “foi roubada por soldados do exército nazi, em 1944, e encontra-se hoje numa coleção alemã privada”.
Hoje Macau China / ÁsiaTaxa de natalidade volta a cair e China arrisca crise demográfica [dropcap]O[/dropcap] número de crianças nascidas na China, em 2018, vai ser o mais baixo desde 2000, estimam demógrafos, ilustrando os riscos de uma crise demográfica no país, apesar da abolição da política de filho único. Vários demógrafos chineses citados pelo Global Times, jornal oficial do Partido Comunista, prevêem que o número de nascimentos se fixe em 15 milhões, menos dois milhões do que em 2017. O Gabinete Nacional de Estatísticas chinês deve publicar a cifra oficial no final deste mês, mas dados difundidos pelos governos locais apontam para um número muito aquém dos 20 milhões de nascimentos previstos pelas autoridades de planeamento familiar. A China, nação mais populosa do mundo com cerca de 1.400 milhões de habitantes, aboliu a 1 de Janeiro de 2016 a política de “um casal, um filho”, pondo fim a um rígido controlo da natalidade que durava desde 1980. Pelas contas do Governo, sem aquela política, a China teria hoje quase 1.700 milhões. Em 2016, o primeiro ano desde a abolição da política de filho único, o número de nascimentos aumentou, de 16,55 milhões, no ano anterior, para 17,86 milhões. Desde então, a taxa de natalidade caiu sucessivamente, apesar de Pequim ter deixado de promover abortos forçados e multas, e aberto novas creches, passando a oferecer incentivos à natalidade. Em 2017, o número total de nascimentos fixou-se em 17,23 milhões, menos 630.000 do que no ano anterior. Segundo especialistas, a queda deve-se sobretudo à redução no número de mulheres em idade fértil, um grupo que perde entre cinco e seis milhões de pessoas por ano, e aos altos custos e falta de tempo para criar uma criança. Nos primeiros onze meses do ano, na cidade de Liaocheng, província de Shandong, houve apenas 64.753 nascimentos, uma queda de 26%, face ao mesmo período de 2017, segundo o jornal local Dazhong Daily. Em Qingdao, outra cidade de Shandong, os nascimentos registaram uma queda homóloga de 21%, entre janeiro e novembro, para 81.112, segundo dados divulgados pelas autoridades locais. Ren Zeping, economista chefe no promotor imobiliário Evergrande Group, escreveu numa nota publicada esta semana que a China está a caminhar no sentido de uma “crise demográfica”. “A China deve imediatamente encorajar as pessoas a terem filhos”, escreveu.
Hoje Macau China / ÁsiaRei da Tailândia será coroado em Maio [dropcap]O[/dropcap] rei da Tailândia, Maha Vajiralongkorn, será formalmente coroado numa elaborada cerimónia de três dias, entre 4 e 6 de Maio, mais de dois anos após a morte do rei Bhumibol, anunciou esta terça-feira a casa real. Maha Vajiralongkorn, cujo nome oficial de reinado é Rama X, subiu ao trono em Outubro de 2016, após a morte do seu pai, que foi o monarca com o reinado mais longo do mundo, quase 70 anos. O rei Rama X não esperou a coroação para reformular as instituições monárquicas da Tailândia, surpreendendo os observadores que o julgavam mais passivo e pouco reformista. Maha Vajiralongkorn quadruplicou o número de policias de elite encarregues da sua vigilância, mas também assumiu o controlo de cinco órgãos que supervisionam os assuntos da realeza e a sua segurança, todos anteriormente sob alçada governamental ou militar. O monarca demitiu ainda alguns poderosos funcionários do palácio da época do seu pai, e participou activamente no esboço da nova Constituição da Tailândia. Num anúncio transmitido pela televisão, a casa real anunciou que a coroação terá lugar entre os dias 4 e 6 de Maio referindo que “será o momento oportuno para a coroação, de acordo com a tradição, para a celebração nacional e a alegria do povo”. A coroação será realizada no dia 4 de Maio, durante uma cerimónia à qual assistem a “família real, os conselheiros privados e os membros do gabinete”. Os dois dias seguintes serão marcados por outras audiências e eventos relacionados com a coroação, segundo as tradições da monarquia tailandesa. O ano de 2019 será politicamente muito movimentado para a Tailândia, com eleições gerais cinco anos após o golpe que derrubou a ex-primeira-ministra Yingluck Shinawatra.
Hoje Macau China / ÁsiaPelo menos 85 mortos nas Filipinas devido a tempestade tropical [dropcap]P[/dropcap]elo menos 85 pessoas morreram e 20 continuam desaparecidas nas Filipinas, na sequência das inundações e deslizamentos de terra causados pela tempestade tropical Usman, anunciaram hoje as autoridades em novo balanço. O Conselho Nacional de Redução e Gestão de Desastres (NDRRMC), o órgão filipino que coordena as informações durante os desastres, colocou o número de deslocados em 191.597, devido à tempestade que passou pelas Filipinas durante o fim-de-semana. Um total de 24.894 filipinos encontram-se em centros de acolhimento localizados nas regiões central e norte do país, as mais afetadas. As autoridades locais declararam o estado de calamidade em Camarines del Sur, uma província da região de Bicol, localizada no sudeste de Luzon, cuja capital é Pili e que tem uma população de quase dois milhões de habitantes. “Receio que (o balanço) continue a aumentar, porque ainda há muitas áreas que não alcançamos”, disse o director de protecção civil da região de Bicol, Claudio Yucot, na segunda-feira. A tempestade tropical entrou nas Filipinas pelo Pacífico e atingiu o continente no sábado, causando inundações, deslizamentos de terra, provocando falhas de electricidade um pouco por todo o país. A tempestade tropical, não chegou a ser classificada de tufão, o que, de acordo com as autoridades filipinas, fez com que as pessoas “ficassem demasiado confiantes”. Em meados de Setembro, no norte do país, mais de 80 pessoas morreram e outras 70 foram dadas como desaparecidas na sequência do tufão Mangkhut, que deixou um rasto de destruição em vários países no Pacífico. As Filipinas são atingidas todos os anos por cerca de 20 tufões, que causam centenas de mortes e agravam ainda mais a pobreza que atinge milhões de pessoas.
Andreia Sofia Silva China / Ásia MancheteTaiwan | Xi Jinping diz que reunificação é “inevitável”. Tsai Ing-wen recusa O presidente chinês disse ontem que a reunificação de Taiwan com a China continental é “inevitável”, tendo admitido que pode recorrer ao uso da força e “todos os meios necessários” caso a Formosa continue a apostar na independência. Xi Jinping defendeu uma reunificação tendo como base o princípio “Um País, Dois Sistemas”, mas Tsai Ing-wen recusou [dropcap]T[/dropcap]aiwan está cada vez mais isolada no panorama internacional, sobretudo desde que São Tomé e Príncipe quebrou laços diplomáticos com a ilha para se juntar à China e ao Fórum Macau. Ainda assim, o Governo de Tsai Ing-wen continua firme na sua vontade de se manter afastado da China, apesar de Xi Jinping ter assumido ontem que a reunificação dos dois lados do estreito é o caminho a seguir na nova era de desenvolvimento do país. No discurso ontem proferido, e que marcou os 40 anos da divulgação da “Mensagem aos Compatriotas de Taiwan”, Xi Jinping foi claro na sua mensagem: a reunificação de Taiwan com a China é “inevitável”, sendo que o território deve assumir-se como parte integrante da China no futuro. Além disso, as autoridades chinesas não hesitarão recorrer ao uso da força face a eventuais movimentos independentistas, admitiu o presidente chinês. Apesar de ter frisado que “os chineses não lutam contra chineses”, Xi Jinping deixou claro de uma reunificação pacífica é a solução que melhor defende os interesses dos taiwaneses e continentais. “Não prometemos renunciar ao uso da força e reservamo-nos à opção de tomar todas as medidas necessárias”, frisou o presidente chinês. Xi Jinping, citado pelo jornal China Daily, referiu que os “factos legais e históricos dizem-nos que Taiwan é parte da China e os dois lados do estreito de Taiwan pertencem a uma só China, e isso não poderá ser alterado por ninguém ou por nenhum tipo de força”. Para o presidente chinês, está em causa “uma conclusão histórica desenhada nos últimos 70 anos de desenvolvimento das relações entre o estreito e uma questão de obrigatoriedade em relação da nação chinesa numa nova era”. “Desde 1949 o Partido Comunista Chinês (PCC), o Governo chinês e os cidadãos chineses sempre consideraram resolvida, de forma inabalável, a questão de Taiwan, ao terem a noção da reunificação completa da China como uma tarefa histórica”, acrescentou Xi, que falou de “uma nova fase” das relações políticas entre os dois territórios. A mesma família Além de assumir o uso da força contra as forças independentistas de Taiwan, Xi Jinping deixou bem claro no seu discurso que só pela via da reunificação poderá ser garantida a segurança da Formosa. “O desenvolvimento pacífico das relações do estreito são o caminho certo para manter a paz no estreito, promover um desenvolvimento comum e beneficiar os compatriotas de ambos os lados do estreito. Tendo como base a garantia da soberania chinesa, a segurança e interesses de desenvolvimento, o sistema social e estilo de vida em Taiwan serão plenamente respeitados, tal como a propriedade privada, crenças religiosas e direitos e interesses legítimos dos compatriotas de Taiwan”, disse. “Somos a mesma família”, lembrou Xi Jinping. “As questões políticas do estreito são questões internas e devem ser sujeitas à nossa discussão e consulta. Os princípios da ‘reunificação pacífica’ e ‘Um País, Dois Sistemas’ são a melhor aproximação para a realização da unificação nacional”, frisou o governante. Reunificação negada Taiwan não se deixou amedrontar por esta mensagem clara de Xi Jinping e Tsai Ing-wen já emitiu uma mensagem onde defende que a democracia na Ilha Formosa deve ser mantida a respeitada, tendo posto de lado a ideia de uma reunificação com a China de acordo com o principio “Um País, Dois Sistemas”, que se aplica a Macau e Hong Kong e que garante autonomia política e económica dos dois territórios. Tsai afirmou que Pequim se deve “conformar com a existência” da República de Taiwan, em declarações à imprensa feitas depois do discurso de Xi Jinping ter sido tornado público. De acordo com o jornal Taipei Times, jornal inglês publicado em Taiwan, a presidente do território defendeu, num discurso de ano novo, quatro princípios base para a nova fase das relações com a China avancem numa “direcção positiva”, além de garantirem a manutenção da segurança nacional de Taiwan. Esses princípios passam pelo reconhecimento, por parte da República Popular da China (RPC), da existência da República da China, além do respeito pelos “valores da democracia e liberdade”. A governante pede também que se resolvam as diferenças entre os dois territórios de uma forma pacífica e equilibrada, além de que quaisquer negociações com o Governo de Taiwan ou com alguma instituição devem ser acompanhadas por um mandato por parte do Governo chinês. Tsai Ing-wen adiantou que só com o cumprimento destes desejos existe uma “base vital para o desenvolvimento positivo das relações do estreito”. O editorial de ontem do Taipei Times, intitulado “Taiwan vai prevalecer face à China”, dá os parabéns a Tsai Ing-wen pelo tom de resposta utilizado face às palavras de Xi Jinping. “Tendo em conta a derrota eleitoral do seu partido, as pessoas esperavam que Tsai poderia moderar a sua linguagem em relação à China, mas a sua posição resoluta, apesar de contra intuitiva, é a aproximação correcta. As diferenças entre Taiwan e China nunca foram tão grandes como agora”, pode ler-se. Para o Taipei Times, “à medida que a democracia em Taiwan evolui e se reforça, a China sob liderança de Xi Jinping está a regredir para a via de um totalitarismo rígido, com um estilo de liderança próximo de Mao Zedong”. O jornal destaca ainda as questões relacionadas com os direitos humanos no país, com a detenção de advogados que fazem carreira nesta área ou o desaparecimento de empresários, celebridades e membros do Governo devido a suspeitas de corrupção. “Isto não pode acabar bem. Apesar da força aparente da China, o seu modelo de governação mantém-se com frágeis fundações. Taiwan e o Ocidente devem ter fé nas suas superiores formas de governação e continuarem a jogar este longo jogo.”