Poemas de Li Bai

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]primeira vez que tive contacto com Li Bai remonta ao ano de 1992, com a tradução de António de Graça Abreu dos poemas deste poeta da Dinastia Tang. Seguiram-se outras traduções ou versões que fui encontrando, aqui e ali. Mais tarde, em 2001, nos três meses que passei por Macau, o contacto com o poeta Yao Jing Ming – que tinha conhecido no ano anterior em Lisboa – motivou-me para aprofundar o conhecimento do poeta. Estive sempre ciente do enorme muro da língua chinesa e limitei-me às traduções de outros e alguns textos teóricos acerca do poeta. Assim, os poemas que aqui vou apresentar, são poemas que cruzam inúmeras traduções e, sempre que possível, esclarecimentos com pessoas chinesas. Não pretendo que os poemas sejam lidos como traduções, que não são, evidentemente, nem tão pouco assumo qualquer tipo de autoridade que não seja o do amor à poesia em geral e aos poemas de Li Bai – ou o que julgo serem os seus poemas – em particular. De resto, respeito o número de versos de cada poema e tento sempre que posso apresentá-los com a concisão que me é possível, exigência dos próprios originais.

 

ENTRETENDO-ME

É impossível não olhar o vinho, e a noite cai sem que me dê conta.

Ao descer do céu, as folhas cobrem-me as vestes.

Ergo-me bêbado e vou até à lua, no riacho.

Ao longe os pássaros, não se vêem pessoas.

 

BEBENDO COM UM AMIGO

Bebemos entre as resplandecentes flores da encosta.

Um copo, dois copos, e muitos outros se seguiram.

Bêbado deixo-me dormir e tu partes.

Traz amanhã uma guitarra para abraçarmos, se quiseres.

 

AMOR POR NADA

Quão bela é, ao afastar as cortinas da janela.

Mas demora-se e vejo as rugas que lhe cavaram a testa

E as cicatrizes das lágrimas, que dia a dia lhe cortaram o rosto.

Quem será o homem com quem ela troca amor por nada?

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