Parque de Seac Pai Van | Animais em condições desiguais

No parque de Seac Pai Van, em Coloane, existe o Pavilhão do Panda Gigante, onde os animais que são considerados o tesouro da China repousam com ar condicionado. Cá fora, outras espécies têm um espaço bem mais pequeno. Há associações a alertar para a desigualdade

[dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]emur de cauda anelada, macaco folha de françois, macaca nemestrina. Todas estas espécies habitam há alguns anos no parque de Seac Pai Van, em Coloane, bem ao lado do pavilhão dos pandas que foram oferecidos pela China. Contudo, as condições não são as mesmas para todos os animais.

Se os pandas repousam dentro do pavilhão sempre com o ar condicionado ligado, cá fora os restantes animais encontram-se dentro de um espaço limpo, mas de reduzida dimensão.

Dois responsáveis de associações com quem o HM falou alertam para as desigualdades existentes. “As condições dos outros animais foram sempre fracas”, lembrou Fátima Galvão, da Associação para os Cães de Rua e Bem-Estar Animal em Macau (MASDAW).

“Aquando da construção deste alojamento para os pandas, muita gente da sociedade se revoltou porque, de facto, há dois ou três animais que têm condições luxuosas e os outros continuam a ser negligenciados”, disse ainda, fazendo uma referência ao urso da Flora, que ainda não foi transferido para o parque de Seac Pai Van, como chegou a ser prometido pelo Governo.

“Vivia cheio de reumatismo, todo torto, num cubículo miserável. Nunca fui ver o urso da Flora porque me faria imensa impressão”, disse Fátima Galvão.

Para a responsável da MASDAW, que há muito defende a protecção dos animais, o que se passa no parque de Seac Pai Van “é uma situação lamentável”. “Mas os pandas são os pandas, foram uma oferta do Governo chinês e está tudo dito”, afirmou.

FOTO: Sofia Margarida Mota

Fátima Galvão não aponta, contudo, o dedo ao Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM).

“O IACM também está sujeito às directivas superiores e o que foi determinado é que os pandas têm direito a um tratamento de imperadores, e os outros animais são os outros animais. Se morrerem não fazem falta alguma”, aponta.

“É lamentável que se faça uma lei supostamente para proteger os animais, mas que penaliza mais os donos do que quem comete crimes contra os animais, e depois os animais do parque de Seac Pai Van estejam nessas condições”, frisou ainda.

“Espaços minúsculos”

No dia em que o HM visitou as instalações dos animais no parque, estes tinham as jaulas limpas, mas era notório o pouco espaço para se movimentarem.

Sara d’Abreu, residente, confessa que há muito tempo que não vai ao parque de Seac Pai Van por ter pena dos animais. “Os espaços são minúsculos, falta zonas verdes”, apontou.

Sara fala do exemplo dos animais que estão numa zona interior, onde existem vedações eléctricas. “Faz-me muita confusão a zona onde estão os macacos, e os outros animais, lá dentro, estão sempre a olhar para a vedação eléctrica. Talvez a tenham posto para que não fujam dali. O espaço é horrível”, defendeu.

Para Sara d’Abreu, Macau não tem sequer clima para ter estes animais ao ar livre. “Os animais nem deviam estar lá, porque Macau não tem espaço nem clima para isso.” Nem mesmo os pandas, com ar condicionado, apontou.

Panda, um animal político

Joe Chan é presidente da União dos Estudantes Ambientalistas de Macau (Macau Green Student Union) e assegura: “Há de facto um desigual investimento de recursos nos pandas, se olharmos para os outros animais”.

Chan, ligado a questões do ambiente, defende ainda que a existência de pandas é uma questão meramente política. “Manter os pandas em Macau é um investimento elevado, uma vez que há uma grande exigência, tendo em conta o facto de serem espécies em vias de extinção. Além disso, o significado de ter pandas em Macau não é o de garantir a sua preservação como espécie. Estes tornaram-se numa espécie de símbolo político”, observou.

FOTO: Sofia Margarida Mota

Questionado sobre a postura que o IACM deve ter neste caso, Joe Chan diz esperar que “haja uma oportunidade para melhorar as condições gerais de habitabilidade no parque”.

Para o ambientalista, não é possível transformar o parque de Seac Pai Van num verdadeiro jardim zoológico. “As pessoas em Macau respeitam o direito a todas as vidas, mas não podemos esperar que se construa um jardim zoológico no local. Apenas pedimos que aquele seja um lugar de harmonia entre os animais que lá habitam e os visitantes”, rematou.

Um Fundo com milhões

O Fundo dos Pandas foi criado em 2010 com o objectivo de desenvolver várias actividades relacionadas com esses animais, que passam pela área da investigação e da promoção. Em 2015, foi noticiado de que este fundo financeiro já tinha recebido mais de cinco milhões de patacas, dinheiro que provém não apenas dos donativos que recebe, como do orçamento atribuído pelo Executivo.


IACM diz prestar atenção aos outros animais

O parque de Seac Pai Van tem um total de 208 animais de 27 espécies diferentes, sendo a maioria espécies de aves. Em resposta ao HM, o IACM garantiu que nunca descurou o tratamento que é dado aos restantes animais. Trabalham actualmente no parque um total de 18 técnicos de tratamento e veterinários, sem esquecer sete trabalhadores auxiliares.

“Para satisfazer as necessidades de tratamento dos animais, a equipa trabalha por turnos o dia inteiro e durante o período de férias, garantindo a sua higiene e fiscalização.”

O IACM assegura que, desde 2010, tem havido uma melhoria do “ambiente do parque e da gestão dos animais”. “O IACM aproveita ao máximo os terrenos disponíveis para melhorar e coordenar as zonas de actividades dos animais. Além de ter em conta a situação geral do parque, [o organismo] tem também em conta as necessidades de vida dos animais”, lê-se na resposta escrita.

A entidade presidida por José Tavares acrescenta que, desde a chegada dos pandas ao território, que “tem prestado atenção aos outros animais”. “Além das obras de renovação dos espaços onde estão instalados, que estão sempre em evolução, foram adicionadas outras instalações de acordo com os hábitos das diferentes espécies.”

Na prática, os animais não têm um tratamento diferente, apesar da dimensão dos lugares a que chamam casa ser bem diferente.

“A equipa responsável pelo tratamento dos animais é a mesma que define as refeições que eles fazem e que serviços médicos necessitam. Isso é igual também para os pandas. O IACM espera que todos os animais do parque tenham saúde, através de melhorias constantes.”

Ratos, um problema comum

A existência de ratos nas pequenas jaulas foi outro dos problemas relatado ao HM por alguns visitantes, mas o IACM garante que, quanto a este assunto, só pode garantir a manutenção constante.

“Esse problema existe em vários jardins zoológicos. A razão para que isso aconteça prende-se com o facto de se tratar de um espaço aberto, onde a comida está exposta. Como a colocação de produtos químicos pode afectar os animais, optamos por outros meios para controlar a situação dos ratos”, explicou o IACM.

Renovar constantemente os equipamentos, substituir vedações por vidro ou a instalação de uma rede de drenagens, para impedir o acesso dos ratos, são algumas das soluções encontradas. “Foram também definidas e implementadas instruções rigorosas da limpeza dos locais de alojamento”, rematou o organismo.

6 Jul 2017

Eleições | Chan Meng Kam deixa Assembleia Legislativa para os mais novos

O grande vencedor das eleições de 2013 não se recandidata às legislativas de Setembro. Chan Meng Kam entende que chegou a hora de deixar o trabalho na Assembleia para os mais novos. Garante que não vai para o hemiciclo por nomeação do Chefe do Executivo. E quer ser o sucessor de Chui Sai On? Isso logo se vê

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ão diz que desta água não beberá quando chegar a altura de se escolher um sucessor de Chui Sai On. Chan Meng Kam tem sido apontado como um possível futuro Chefe do Executivo, por causa do percurso político que tem feito e as ligações que lhe são apontadas ao actual Presidente da China, Xi Jinping. Para já, o ainda deputado à Assembleia Legislativa (AL) não revela quais são as suas intenções políticas.

“As pessoas têm várias coisas para fazer na vida. Ser deputado é só uma parte da minha vida”, disse, questionado sobre a possibilidade de se candidatar a líder do Governo, daqui a dois anos. O homem mais influente da comunidade de Fujian confirmou ontem que não se recandidata, deixando a tarefa para os actuais números dois e três da sua bancada. “Não vou concorrer às eleições deste ano.”

Como já era do conhecimento público, a estrutura política liderada por Chan Meng Kam dividiu-se em duas listas para as eleições deste ano. Esta separação de equipas tem como único objectivo garantir a eleição de mais deputados, dado o método de conversão de votos em mandatos aplicado em Macau que torna difícil a eleição dos terceiros candidatos das listas.

Si Ka Long fica à frente da Associação dos Cidadãos Unidos de Macau, com um total de dez candidatos. A outra lista, a Associação dos Cidadãos para o Desenvolvimento de Macau, é encabeçada pela jovem Song Pek Kei, contando também com uma dezena de aspirantes a deputados.

Em conferência de imprensa realizada ontem de manhã, Chan Meng Kam salientou que, ao longo da sua carreira de deputado, tem feito o possível para servir a população. Mas o também membro do Conselho Executivo considera que a AL ficará dotada de uma maior energia se for constituída por um número maior de jovens.

“Vou depositar as minhas esperanças em jovens como Si Ka Lon e Song Pek Kei, com a expectativa de que continuem com o espírito de proteger a justiça e tenham vontade de intervir na AL, servindo com os residentes com o coração”, disse. “Espero que, com base na prosperidade de Macau, fomentem o desenvolvimento da sua diversificação e a partilha dos frutos do desenvolvimento com os cidadãos”, acrescentou.

E agora?

Apesar de ter decidido deixar a AL, Chan Meng Kam promete continuar a servir os cidadãos e a contribuir para o desenvolvimento da sua equipa, fazendo-o noutra posição.

Quanto à possibilidade de ainda voltar ao hemiciclo, mas como deputado nomeado pelo Chefe do Executivo, o empresário nega tal hipótese, recordando o que disse no passado: só gostaria de ser membro da AL se fosse eleito por via directa.

Recorde-se que Chan Meng Kam teve um percurso surpreendente enquanto político: de empresário desconhecido fora da comunidade de Fujian, de onde é natural, passou a deputado e a membro do órgão que coadjuva o Chefe do Executivo na tomada de decisões.

Nas eleições de 2013, a lista liderada pelo homem do Golden Dragon, a Associação dos Cidadãos Unidos de Macau, alcançou um resultado histórico, ao conquistar mais de 26 mil votos, o suficiente para eleger três deputados. Em 2009, tinha conseguido 17 mil votos, ficando garantida a reeleição de uma bancada composta por dois elementos. Nas eleições em que se estreou, em 2005, entrou directamente para o segundo lugar dos mais votados, com 20.701 eleitores a expressarem o apoio, só ultrapassado então pelos pró-democratas Au Kam San e Ng Kuok Cheong.

 

Song em estado de negação

Si Ka Lon agradece a oportunidade; Song Pek Kei diz que ainda não aceitou a decisão de Chan Meng Kam. Na conferência de imprensa que serviu para apresentar os dois novos cabeças-de-lista do grupo político de Fujian, as reacções foram diferentes.

O actual número dois da bancada prometeu que vai tentar manter o espírito de Chan Meng Kam. O deputado traçou algumas prioridades, dizendo que, nos passados quatro anos, “algumas políticas ligadas à vida dos residentes foram levadas a cabo sem resultados satisfatórios”. Si Ka Lon deu exemplos: a proposta para a renovação urbana, a verificação de infiltrações de água, o sistema de responsabilização dos funcionários públicos e a habitação pública. O candidato promete continuar a trabalhar para que haja melhorias nestas áreas.

Já Song Pek Kei destacou a influência de Chan Meng Kam na sua vida, dizendo que, até ao momento, ainda não conseguiu aceitar a decisão do líder do grupo.

As equipas lideradas por Si Ka Lon e Song Pek Kei estiveram na Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa para entregarem as listas de candidatos e os programas políticos. Das ideias de Si Ka Lon fazem parte a criação de um fundo criado com dez por cento das receitas do jogo, que possa ser usado directamente pela população para a aquisição de seguros médicos, aquisição de imobiliário e aumento das pensões de idosos para cinco mil patacas.

Si Ka Lon explicou que os membros da sua lista são jovens oriundos das áreas do turismo, logística, advocacia e engenharia. Há também pessoas ligadas ao mundo empresarial e aos serviços sociais.

Quanto ao programa político de Song Pek Kei, destaca-se a responsabilização dos funcionários públicos, a habitação, os serviços médicos, as questões ligadas à administração de condomínios, os jovens e o funcionamento das pequenas e médias empresas.

6 Jul 2017

Eleições | CAEAL diz que queixa de Au Kam San não tem relação com sufrágio

A Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa diz estar atenta ao caso de suposta difamação alegada pelo candidato Au Kam San, mas não irá investigar por estar fora das suas competências. O deputado pró-democrata diz que não vai apresentar queixa junto das autoridades policiais

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]sta semana, o deputado Au Kam San, aquando da apresentação da lista e das ideias políticas junto da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa (CAEAL), fez uma queixa à entidade sobre um caso de alegada difamação.

Tong Hio Fong, presidente da CAEAL, confirmou a recepção da queixa do deputado. Porém, “de acordo com o conteúdo concreto da reclamação, parece não haver uma relação directa com eleições”, comentou. Ou seja, a queixa não será investigada pela entidade liderada por Tong Hio Fong. “Um candidato pode dizer que foi difamado por uma certa pessoa, se achar que foi prejudicado nos seus direitos pode participar junto das respectivas autoridades”, esclarece o presidente da CAEAL. Ainda assim, garante que a entidade irá “prestar atenção ao caso”.

Em causa está uma notícia veiculada pelo jornal “East Week”, sediado em Hong Kong, que noticiou que a saída de Au Kam San da Novo Macau foi motivada pelo facto de o deputado ter usado as instalações da associação para encontros amorosos com uma mulher. O candidato pró-democrata às eleições de Setembro desmentiu estas alegações.

Sem queixa

Tong Hio Fong fez ainda referência ao facto de a difamação ser um crime de natureza privada, ou seja, que depende da queixa do ofendido às autoridades policiais para se dar início ao processo.

Neste sentido, Au Kam San revelou ao HM não ter intenção de apresentar queixa, uma vez que já cumpriu o objectivo de alertar a sociedade.

O deputado adimitiu ainda que este é um caso que não pode ser resolvido pela lei eleitoral, uma vez que a difamação terá sido feita através de uma revista publicada fora do território. Porém, o deputado diz estar satisfeito por “ter chamado a atenção da CAEAL para o caso”, facto que poderá ser útil e “evitar a repetição de situações dessas no futuro”.

Ainda no que concerne a denúncias de corrupção, Tong Hio Fong diz ter recebido 26 queixas até agora, enquanto os pedidos de esclarecimentos quanto ao processo eleitoral ascendem a mais de 20.

O número de assinaturas múltiplas de propositura de candidatura totaliza 118. Neste capítulo, o presidente da CAEAL revelou que serão marcados encontros, ainda este mês, com mais de seis dezenas desses eleitores para esclarecer os casos em questão. Foi ainda adiantado que duas pessoas que subscreveram mais que uma constituição de comissão de candidatura disseram à CAEAL nunca terem assinado quaisquer boletins, levantando a suspeita de falsificação de documentos. No seguimento deste caso, o presidente da comissão confirmou que irá entregar o assunto à polícia para que esta proceda à investigação.

Tong Hio Fong revelou também que, até à manhã de ontem, a CAEAL tinha recebido 12 candidaturas ao sufrágio directo e duas ao indirecto, sendo que uma é oriunda do sector empresarial e outra do sector cultural e desportivo.

6 Jul 2017

FAOM | Empregados entregaram lista pelo sufrágio indirecto

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Comissão Conjunta da Candidatura das Associações de Empregados, com ligação à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), entregou ontem a sua lista e programa político com que vai concorrer este ano aos lugares pelo sufrágio indirecto. A comissão entregou 69 assinaturas de um total de 75 eleitores que legalmente podem votar, e que estão ligados ao sector do trabalho.

Lam Lon Wai, subdirector da Escola para Filhos e Irmãos dos Operários, lidera a lista, seguindo-se Lei Chan U na segunda posição. Este é coordenador do departamento de estudo das políticas e informação da FAOM.

Lam Lon Wai pretende, caso seja eleito para o hemiciclo, defender os direitos dos residentes, sobretudo dos trabalhadores, fomentando a diversificação económica do território.

O líder da lista quer ainda impulsionar o desenvolvimento do sistema democrático, sem esquecer a reorganização de toda a Administração. Lam Lon Wai adiantou ainda que os assuntos ligados aos jovens, sobretudo os que dizem respeito à ascensão na carreira, também fazem parte do seu programa político.

A primeira vez

É a primeira vez Lam Lon Wai se candidata à Assembleia Legislativa pela via indirecta, tendo referido que se sente satisfeito com o apoio dado pela FAOM desde o primeiro momento em que decidiram entregar o programa.

O número dois da lista promete prestar atenção aos benefícios sociais dos trabalhadores, tendo prometido lutar por melhores condições de trabalho, incluindo melhores salários, mais formação e dias de férias.

O número dois, que é também membro do Conselho Permanente de Concertação Social, acrescentou que tem desempenhado bem a sua função neste órgão, tendo realizado, a partir de 2015, diversos seminários sobre a área laboral.

Lei Chan U entende que a sociedade está atenta a assuntos como a sobreposição de férias com dias feriados e a necessidade de atribuir uma compensação aos trabalhadores. Questões como a implementação da licença de paternidade e o aumento dos dias de licença de maternidade são assuntos na ordem do dia, sendo também as áreas a que Lei Chan U vai dar mais atenção caso seja eleito deputado.

Na segunda metade deste ano, o responsável garantiu que vai apresentar sugestões para a revisão da lei laboral.

6 Jul 2017

Ensino superior | Nova lei só entra em vigor em 2018/2019

Cerca de dois anos depois, está concluída a análise na especialidade do regime do ensino superior. A nova lei só entra em vigor no ano lectivo de 2018/2019 por ainda faltar a implementação de sete regulamentos administrativos

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] um parecer com uma dimensão tal que a versão chinesa ainda está a ser corrigida e a versão portuguesa só estará disponível daqui a uns dias. As 190 páginas que compõem o parecer do regime do ensino superior ainda não estão disponíveis para leitura, mas os deputados concluíram, ao fim de dois anos, a análise na especialidade do diploma.

Segundo adiantou ontem Chan Chak Mo, deputado e presidente da 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL), a nova lei só entra em vigor no próximo ano lectivo, 2018/2019, por ainda ser necessária a elaboração e implementação de sete regulamentos administrativos que vão complementar a lei.

Chan Chak Mo explicou ainda que figuras do meio académico têm vindo a perguntar ao deputado Gabriel Tong, que integra a comissão permanente, quando é que o diploma estaria pronto. Gabriel Tong é actualmente o director da Faculdade de Direito da Universidade de Macau (UM).

O estatuto de personalidade jurídica das universidades públicas vai manter-se. Tal significa que a UM, o Instituto Politécnico de Macau e o Instituto de Formação Turística vão continuar a ser instituições do ensino superior de direito público, ainda que com mais autonomia.

“O Governo não vai alterar o quadro jurídico das instituições de ensino. Essa foi uma boa opção do Governo, acatou as nossas opiniões. Em qualquer situação não pode haver alterações do estatuto jurídico”, explicou Chan Chak Mo.

A importância dos créditos

Na visão de Chan Chak Mo, a adopção de um sistema de créditos em consonância com as práticas do ensino superior do exterior é uma das partes mais importantes do novo diploma. Tal é importante para que “o ensino superior local fique de acordo com as práticas internacionais”.

A nova lei vai ainda legislar sobre os cursos de universidades do exterior ministrados em Macau. Chan Chak Mo adiantou que não há qualquer vazio legal nesta matéria.

“Isso acontece há muitos anos”, frisou. “Nessas situações de cooperação com o exterior a nova lei determina as regras, a carga horária e o modo de funcionamento dos cursos. Há, por exemplo, instituições do Havai e da Austrália que têm cursos em Macau, e os procedimentos são fiscalizados pelo Gabinete de Apoio ao Ensino Superior. Há na lei uma secção própria para regulamentar esta matéria”, disse o deputado eleito pela via indirecta.

A nova lei do ensino superior chegou à AL em 2014, depois de um período de análise de dez anos para a sua implementação.

6 Jul 2017

Eleições | Poder da Sinergia entrega lista e programa político

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] comissão de candidatura Poder da Sinergia, liderada por Lam U Tou, apresentou ontem junto da Comissão de Assuntos Eleitorais da Assembleia Legislativa a lista de candidatos e o programa político.

Lam U Tou, presidente da recém-criada Associação Sinergia de Macau, será o número um da lista, sendo que os outros membros são Ian Heng Ut, Vítor da Rocha Vai, Tam Weng Chi e Che I Kei.

O líder da lista referiu que todos os membros são de áreas tão diferentes como serviço social, comunicação social, sector financeiro ou Função Pública. O programa político tem como objectivos o aumento da qualidade de vida dos residentes, incluindo a habitação, o trânsito e o funcionamento dos serviços públicos, sem esquecer o desenvolvimento do território.

“Compreendemos os problemas existentes na sociedade”, disse Lam U Tou. “Esperamos que, através das vozes dos residentes, possamos encontrar soluções para as nossas questões. Não parte tudo da nossa imaginação, mas avançamos as nossas ideias com base não só na nossa experiência, como nas opiniões que recolhemos das pessoas”, acrescentou.

A Poder da Sinergia quer ainda melhorar a transparência dos trabalhos desenvolvidos pelo Governo. “Acredito que isso pode levar a que os problemas sejam descobertos mais cedo, para que possam ser resolvidos também o mais rapidamente possível”, frisou.

Lam U Tou espera que a fiscalização dos serviços públicos possa tornar-se periódica e que se aproveite ao máximo as funções da Assembleia Legislativa. O responsável referiu que, apesar de nenhum membro da lista ter um passado político, possuem experiência em áreas diferentes.

6 Jul 2017

Pearl Horizon | Governo promete analisar proposta de deputados

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m dia depois de um grupo de nove deputados ter estado reunido com Chui Sai On para avançar com uma proposta concreta em relação ao Pearl Horizon, o gabinete do porta-voz do Governo emitiu uma pequena nota em que anuncia que o Executivo vai analisar a ideia apresentada pelos membros da Assembleia Legislativa.

“Relativamente à proposta relativa à solução do caso do Pearl Horizon, apresentada em 4 de Julho por nove deputados, o Governo da RAEM presta muita atenção e vai analisar e estudar a viabilidade da mesma”, indica o comunicado. “Sobre o caso do Pearl Horizon, o Governo vai salvaguardar, como sempre, na medida do possível, os interesses dos compradores do prédio em construção, de acordo com o princípio da legalidade.”

Os nove deputados – Kwan Tsui Hang, Chan Meng Kam, Si Ka Lon, Ella Lei, Song Pek Kei, Ho Ion Sang e Wong Kit Cheng – sugeriram ao Governo que concessione o projecto do Pearl Horizon ao banco que concedeu os empréstimos à Polytec, a empresa promotora, e aos particulares que ficaram lesados. O objectivo é que se avance para a construção do edifício e os compradores possam recuperar o investimento feito.

Recorde-se que, na sequência da polémica desencadeada pelo Pearl Horizon, Chui Sai On recebeu também dois pedidos de autorização de iniciativa legislativa. O mais recente é um projecto da autoria dos deputados Leonel Alves e Zheng Anting, que pretendem rever alguns pontos da Lei de Terras. Apesar de se estar já em contagem decrescente para o fim da legislatura – termina em meados de Agosto – o Chefe do Executivo ainda não se pronunciou sobre estes pedidos. Sabe-se apenas que a proposta de Leonel Alves e Zheng Anting estava a ser analisada pelo gabinete da secretária para a Administração e Justiça.

6 Jul 2017

Saúde | Hospital nega responsabilidades na morte de paciente com pneumonia

O São Januário nega a existência de erro médico no caso do doente que faleceu nas suas instalações após ter sido internado com pneumonia. A reacção chega depois da filha do falecido ter afirmado à comunicação social que o hospital não cumpriu as directrizes de prática clínica

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]sta semana, o site All About Macau noticiou que um homem morreu de pneumonia na sequência de um tratamento pouco eficaz. A filha do falecido alega incumprimento por parte do pessoal do Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ) e prescrição de medicamentos errados.

O centro hospitalar nega, em comunicado, qualquer responsabilidade, especificando que o homem em causa, com 74 anos, sofria de doença respiratória crónica e insuficiência cardíaca. Além disso, o paciente apresentava sintomas de infecção do tracto respiratório e urinário, tendo sido avaliado o seu estado de saúde como instável.

Os serviços do CHCSJ argumentam que o pessoal médico procedeu com diligência ao tratamento do doente, assim como à aplicação adequada de toda a medicação. O hospital afirma que a administração de antibióticos foi realizada conforme as normas da Comissão de Antibióticos do CHCSJ.

Nesse sentido, os serviços do hospital discordam das opiniões dadas pela filha do falecido, considerando que são “acusações injustificadas relativas à decisão clínica do médico especialista” que seguiu o paciente em causa.

Conhecimento de causa

A filha do defunto mencionou à comunicação social ter conhecimento profissional no que toca a questões pneumológicas. Em entrevista à Rádio Macau, a enlutada disse ser interna complementar em cirurgia torácica de um serviço de cirurgia num hospital de referência de Taiwan. Credenciais que não convencem os serviços do CHCSJ que dizem, em comunicado, que a médica em questão não é especialista em pneumologia, ou médica especialista em doenças graves e de emergência.

Após a observação e tratamento, o médico responsável pelo paciente em questão explicou à esposa, que estava presente no hospital, que o estado de saúde do Sr. Kou era crítico, apresentando falência múltipla de órgãos, com particular destaque para a insuficiência cardíaca.

O comunicado do CHCSJ acrescenta que, de acordo com o registo constante no processo clínico, a família do paciente manifestou compreensão e concordou que o doente não fosse enviado para a Unidade de Cuidados Intensivos para tratamento adicional. Este é um dos argumentos do hospital para afastar a acusação da Sr.ª Kou que afirma terem ocorrido falhas de conhecimento de técnicas médicas e incumprimento de directrizes da prática clínica.

Os serviços hospitalares esclarecem que o Sr. Kou foi “sujeito a observação atenta”, que foi tratado adequadamente, e vigiado por um aparelho de monitorização de vida, durante 24 horas. Em comunicado, o CHCSJ desmente a alegação dos familiares do paciente que dizem ter tocado constantemente na campainha para chamar os profissionais de saúde.

O doente viria a morrer devido à falência de múltiplos órgãos, após ter sido sujeito a repetidas manobras de reanimação. Os serviços do CHCSJ adiantam ainda que, caso a família do falecido entenda ter ocorrido erro médico, deve apresentar o respectivo pedido de perícia médica à Comissão de Perícia do Erro Médico. A família pode também recorrer à via judicial para proteger os direitos que entenda terem sido posto postos em causa.

6 Jul 2017

Governo assegura que importação de veículos segue regras

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) afirma que o Executivo apenas autoriza a importação de viaturas pesadas de passageiros após um processo rigoroso que inclui a apresentação de um local para estacionamento do veículo. Os serviços de tráfego acrescentam que caso este requisito não se verifique, os pedidos não são deferidos e a viatura não é autorizada a entrar no território. A garantia foi dada em resposta a uma interpelação de Ella Lei.

A deputada pediu ao Governo que resolva a “escassez severa” de espaço para o estacionamento de viaturas pesadas, em especial as que fazem a recolha de lixo. Ella Lei especificou que, em Fevereiro deste ano, existiam em Macau 7819 veículos pesados no território. De acordo com os dados dos Serviços de Estatística, estão disponíveis no território 527 lugares de estacionamento para viaturas pesadas, das quais 44 são destinados a autocarros para transporte de passageiros. Esta situação, referiu Ella Lei, força as empresas da indústria dos transportes a violar a lei.

Nesse sentido, a DSAT lamenta a insuficiência de terrenos que possam ser usados para estacionamento deste tipo de veículos de mercadorias, assim como para os autocarros turísticos. Em resposta à interpelação de Ella Lei, os Serviços de Tráfego acrescentam que vão continuar a receber as opiniões do sector e a cooperar com as autoridades competentes para alargar espaços disponíveis.

6 Jul 2017

Hong Kong | A história que os mortos contam, por Jason Wordie

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] um passeio dedicado a quem gosta de história. Está marcada para o próximo sábado, em Hong Kong, mais uma iniciativa do historiador Jason Wordie, que organiza com regularidade caminhadas por diferentes pontos da antiga colónia britânica. Os percursos são acompanhados com enquadramentos e explicações sobre o passado do território.

Desta feita, a proposta leva os interessados até Happy Valley, uma das zonas da ilha de Hong Kong “com maiores contradições urbanas”, refere a organização do evento. Nas imediações do Hong Kong Jockey Club, vários cemitérios recebem os mortos de diferentes religiões: muçulmanos, católicos romanos e hindus.

É ali também que está o Cemitério de Hong Kong – em tempos conhecido como Cemitério Colonial – onde estão sepultados protestantes europeus, ortodoxos russos e seguidores de outras religiões. Várias campas estão ocupadas com os restos mortais de japoneses que viveram em Hong Kong antes da guerra, sendo que muitas delas são de jovens mulheres.

Com o passeio pretende-se dar a conhecer, a partir dos cemitérios, as contribuições sociais e económicas das várias comunidades que passaram por Hong Kong durante o último século e meio.

Jason Wordie é um historiador que vive em Hong Kong e que organiza este tipo de visitas com regularidade. Tem vários livros publicados sobre a antiga colónia britânica e também sobre Macau.

6 Jul 2017

Kodo | Conceito japonês inspira Fortes Pakeong Sequeira

É uma exposição relâmpago. Acontece num stand de automóveis e apresenta sete trabalhos de Fortes Pakeong Sequeira. A ideia é mostrar o que a pintura pode fazer tendo por base o conceito japonês de Kodo, o novo modelo da marca, mas também o ponto de partida para a exploração plástica

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] artista multifacetado local Fortes Pakeong Sequeira alinhou agora num projecto diferente. O convite para a produção de uma exposição individual que tivesse como mote um modelo de carro veio da Mazda.

Pakeong não hesitou. Kodo, mais do que uma palavra ou modelo de carro, é um conceito. “A palavra é japonesa e transmite uma ideia para apresentar um carro, mas refere-se sobretudo à ideia de movimento, de andamento fluido”, diz o artista ao HM.

Foi esta analogia que deu a Fortes Pakeong Sequeira o mote para começar a produzir os trabalhos que integram a exposição em formato pop up, com data marcada para o próximo sábado.

A mostra do artista local reúne sete trabalhos, entre acrílico e marcador sobre tela, sendo que “uns são grandes e outros mais pequenos”, dependendo como sentia o trabalho que ia fazendo.

Quando teve conhecimento do convite para a produção da exposição, começou a investigar o conceito que lhe foi dado. “Acabei por perceber que para mim era uma área divertida e que Kodo tinha muito por onde pegar”, conta o artista.

Simultaneamente, Fortes Pakeong Sequeira, foi notando que o que teria de tratar seria algo que não se pode tocar, mas que se sente. “É relativo a um objecto irreal, é mais como um sentimento que tem que ver com movimento e mesmo com velocidade”, diz. Para o artista é uma espécie de linha invisível, que anda, e é esta a ideia que pretende transmitir principalmente com as peças que utilizam o desenho a marcador.

Em grande formato

Por outro lado, não deixa de fazer referência a uma tela de grande dimensão que estará no stand da Mazda de Macau. “Um dos trabalhos novos que fiz é uma peça em grande escala. O nome é apenas Kodo.”

É também este o trabalho que materializa a ideia original, feito em apenas uma semana. “Quando comecei esta obra de maior dimensão – três metros por quase dois – era para ser uma peça feita apenas com o recurso a marcador sobre tela.” O objectivo, sublinha, era mostrar com a técnica uma abordagem ao mais básico que o conceito poderia ter. Com o andar da produção, as ideias foram crescendo e Fortes quis transmitir mais. “Depois de dois dias de trabalho senti que não era suficiente. Percebi que havia muito mais coisas que queria dizer e transmitir às pessoas, foi quando comecei a usar acrílico e a cor.”

Para o artista, apesar de o trabalho estar associado a uma campanha de publicidade, não deixa de ser interessante. “O conceito da própria marca é muito bom, e capaz de ser passado para a pintura, por exemplo, até porque se trata de uma ideia que vai além do carro, da máquina em si, e pode ser explorado de várias formas.”

6 Jul 2017

Pequim e Moscovo apresentam plano conjunto para Coreia do Norte

Pyongyang deve parar com os mísseis e EUA e Coreia do Sul com os exercícios militares. Para já. Depois logo se vê.

[dropcap style≠’circle’]R[/dropcap]ússia e China apresentaram nesta terça-feira um plano para tentar diminuir as tensões causadas pelo programa nuclear da Coreia do Norte. A iniciativa propõe que os norte-coreanos declarem uma moratória dos seus testes de mísseis e demais actividades nucleares e que, ao mesmo tempo, Estados Unidos e Coreia do Sul suspendam os exercícios militares conjuntos.

As sugestões foram apresentadas pelos MNE da Rússia e da China depois de conversações entre os presidentes Vladimir Putin e Xi Jinping, motivadas por um novo teste de míssil pela Coreia do Norte. As duas potências rejeitaram o uso da força e defenderam a coexistência pacífica.

Segundo Putin, as duas partes concordaram em levar adiante “uma iniciativa comum, que está baseada no plano russo de resolução do conflito coreano por etapas e a ideia chinesa de congelar paralelamente as actividades nucleares e de mísseis da Coreia do Norte e as manobras militares em larga escala de Estados Unidos e Coreia do Sul”.

Rússia e China manifestaram “profunda preocupação com o anúncio da Coreia do Norte, de 4 de Julho, sobre o lançamento de um míssil balístico”, que consideram um facto inadmissível, já que contradiz resoluções do Conselho de Segurança da ONU. “As partes pedem reiteradamente à Coreia do Norte para que cumpra de maneira estrita as cláusulas incluídas nas citadas resoluções.”

Além disso, os dois países frisaram que a instalação do escudo antimísseis Thaad dos Estados Unidos na Coreia do Sul “representa um grave prejuízo para os interesses de segurança estratégica dos países da região, incluindo Rússia e China”.

“As preocupações da Coreia do Norte devem ser respeitadas”, afirmaram. Os países envolvidos devem realizar esforços para a retomada das negociações e para a criação de “uma atmosfera de paz e de confiança mútua”.

A Coreia do Norte anunciou nesta terça-feira o lançamento do seu primeiro míssil balístico intercontinental, um marco no programa armamentista do regime coreano, embora a Rússia afirme que se trata de um míssil de médio alcance.

 

ONU | EUA pedem reunião do Conselho de segurança

A embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Nikki Haley, pediu nesta terça-feira uma reunião urgente do Conselho de Segurança para abordar o lançamento de um míssil balístico intercontinental pela Coreia do Norte. O porta-voz da missão dos EUA na ONU, Jonathan Bachtel, informou sobre o pedido no Twitter. Além disso, Haley pediu ao embaixador da China na ONU, Liu Jieyi, que preside o Conselho de Segurança neste mês, que mantenha a sessão de emergência aberta. Os EUA confirmaram que o projéctil lançado ontem pela Coreia do Norte era um míssil balístico intercontinental, o primeiro com essas características que Pyongyang consegue lançar com sucesso. O míssil voou por mais tempo do que todos os outros testados pelo regime de Kim Jong-un até então, um total de 37 minutos, o que significa que agora a Coreia do Norte é capaz de atacar o Alasca.

6 Jul 2017

Médicos estrangeiros convidados para examinar saúde de Liu Xiaobo

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China convidou médicos estrangeiros para examinar o estado de saúde do Nobel da Paz Liu Xiaobo, recentemente colocado em liberdade condicional e hospitalizado devido a um cancro, anunciaram ontem as autoridades chinesas.

“A pedido da família de Liu Xiaobo”, o hospital de Shenyang (nordeste da China), onde está hospitalizado o dissidente, “convidou os principais especialistas mundiais em cancro do fígado, dos Estados Unidos, da Alemanha, e de outros países, para se deslocarem à China” para o examinar, indicou em comunicado o gabinete dos assuntos judiciários de Shenyang. O activista foi condenado em 2009 a 11 anos de prisão por subversão.

Vários países tinham pedido a Pequim para autorizar Liu Xiaobo a viajar para o estrangeiro para tratamento médico, um pedido também manifestado por organizações não-governamentais e de defesa dos direitos humanos.

Também em Hong Kong, na semana passada, durante a visita à cidade do Presidente chinês, Xi Jinping, foram realizados vários protestos a pedir a libertação incondicional do activista chinês e da mulher, Liu Xia, colocada em prisão domiciliária em 2010, depois da atribuição do Nobel ao marido, embora nunca tenha sido acusada de qualquer crime.

6 Jul 2017

China e Alemanha preenchem lacuna de liderança deixada pelos EUA

O presidente americano é um bónus para as outras potências mundiais.

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s EUA tradicionalmente assumem a liderança na procura de abordagens comuns aos grandes problemas mundiais do momento nas cimeiras do G-20. Mas não desta vez. Quando os líderes mundiais se reunirem em Hamburgo na sexta-feira, China e Alemanha vão tentar usurpar esse papel aos EUA.

As duas potências industriais da Ásia e da Europa estão a ser incentivadas a formar uma aliança informal para assumir a batuta da liderança que os EUA perderam desde que o presidente Donald Trump tomou posse no começo deste ano, de acordo com diplomatas e autoridades de diversos integrantes do G-20.

A situação cristalizou-se antes da reunião anual do G-20 deste ano, que será realizada no mais movimentado porto comercial da Alemanha. Pela primeira vez desde a fundação do grupo, os EUA serão representados por um presidente adepto do proteccionismo, abandonando décadas de uma fervorosa defesa do comércio livre por parte dos EUA.

“O carácter estratégico das relações entre China e Alemanha está continuamente a ganhar importância”, disse o presidente chinês, Xi Jinping, num artigo publicado na terça-feira no jornal alemão Die Welt. Os dois países “deveriam intensificar a cooperação para implementar ‘Uma Faixa, uma Rota da China’ e contribuir conjuntamente para a segurança, a estabilidade e a prosperidade dos países vizinhos”.

Os EUA também se isolaram em relação ao aquecimento global na cimeira realizada em Maio pelo G-7 em Itália, onde o comunicado final se dividiu em seis contra um nesta questão. Desta vez, Trump corre o risco de ficar sozinho contra uma frente unida de aliados europeus, vizinhos como o Canadá e o México, e antigos inimigos dos EUA na Guerra Fria nos dois tópicos mais importantes da cimeira.

Na condição de anfitriões actual e anterior, a chanceler alemã Angela Merkel e Xi Jinping teriam trabalhado juntos na programação do G-20 de qualquer modo. No entanto, três visitas do primeiro-ministro chinês Li Keqiang à Alemanha até o momento, a mais recente no mês passado, sugerem que os dois países estão alinhados para ocupar um espaço maior que, pelo menos temporariamente, os EUA deixaram vazio na presidência de Trump.

“A nova aproximação entre China e Alemanha aconteceu por causa da situação Trump”, disse Diego Ramiro Guelar, embaixador em Pequim da Argentina, que também integra o G-20. “Os dois líderes mais importantes do mundo no momento são o presidente Xi e a chanceler Merkel.”

Interesses comuns

Os vínculos entre a China e a Alemanha têm se fortalecido há anos, graças a interesses económicos comuns que não enfrentam obstáculos como as rivalidades geopolíticas que complicaram as relações entre Pequim e Washington muito antes da eleição de Trump. A Alemanha precisa de mercados para os seus veículos e máquinas industriais de ponta, e a China deseja-os — tanto que comprou a companhia alemã de robótica Kuka.

Os EUA “deixaram uma espécie de lacuna” na região quando abandonaram a proposta do acordo de comércio livre Parceria Transpacífico, disse Michael Clauss, embaixador da Alemanha em Pequim, em entrevista recente com jornalistas. O objectivo do acordo era construir um bloco de livre comércio centrado nos EUA entre os países do Círculo do Pacífico, do Chile ao Vietname, como alternativa às iniciativas mais dominadas pela China, como “Uma Faixa, uma Rota”. Trump retirou os EUA dos planos da Parceria Transpacífico um dia depois de tomar posse.

6 Jul 2017

Livre Pauvre – Livre Riche

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] manuscrito, que tanto saiu de moda nas lides da escrita, tem ainda pelo mundo alguns amantes que em colecções de muita beleza e criatividade unem não só a arte da caligrafia como expressão visual identitária de cada um, bem como nela inserem a pintura e o desenho numa orquestração de Livro de Horas. Falo de uma criação que há muito galgou o espaço da sua origem e tem unido poetas e pintores pelo mundo « Livre Pauvre-Livre Riche», criado por Daniel Leuwers, professor de literatura na universidade de Tours, crítico literário e especialista de Rimbaud.

Um livro que em si resume a natureza principal que o objecto designa, neste caso, um texto, sempre acompanhado de uma composição pictórica que releva para a sua primeira essência : sendo de uma extrema humildade, pois que não passa pelos circuitos editoriais, impressão, distribuição e outros, é no entanto o mais luxuoso objecto livresco dadas a sua raridade e composição e foi por isso assim apelidado por causa da não confrontação com o circuito económico. Por outro lado, a primeira colecção foi apresentada no priorado de Saint-Cosme, situado em La Riche, onde Pierre de Ronsard viveu os seus últimos vinte anos. O poeta, que era dado à botânica e cultivou rosas, não foi esquecido neste emblemático título.

É um projecto que começou por volta do ano dois mil com um vasto roteiro de correspondência pelo mundo e onde todos se foram agrupando de forma criativa, consensual, rica, em relação a projectos e aberturas de múltiplas formas. Há colecções belíssimas, desde a Gallimard às autarquias por onde passaram algumas das suas exposições de exemplares únicos em várias línguas e formatos, sem dúvida uma Babel multicultural repleta de cor e grafismos raros. Foi por aqui que conheci o poeta sírio-libanês, Adonis, outros da Martinica e argelinos, um mundo onde a política não toca, mas onde os poetas têm o dever de se comprometer na luta pelo bem dos povos sem resvalarem na forma agreste dos comentaristas, um mundo quase belo num desastre ambientalista de ideologias e esquemas internacionalmente enfadonhos, esses, sim, pobres, muito pobres.

Teve contudo este projecto o chamado projecto-mãe: a colecção « Vice Versa» com os seus delfins e grandes adeptos do livro de artista como Jacques Dupin, Bernard Noel, Jean-Luc Parant e Yves Bonnefoy, que se associou ao pintor Gérard Titus-Carmel, consagrando apaixonantes estudos. Quase que estamos numa emanação desse Livro de Horas na pista do duque de Berry, mas esta colecção galgou as fronteiras da poesia e foi extensível a Michel Tournier, Fernando Arrabal, Jean-Marie Laclavetine e outros, e se nos remetermos à ideia de Jean Cocteau para quem tudo era poesia: poesia do romance, poesia do teatro… poesia da poesia, então, estamos na presença de um grande e imenso tratado poético.

E continua a sua marcha com outra das colecções «Les amoureux solaires», a colecção «Pli», em dois mil e três e que vai em definitivo encontrar a simplicidade de uma folha de papel, anotando a expressão de Mallarmé na sua nomeação, é uma colecção da francofonia pelo mundo; colecção « Éventail», com o poeta vietnamita Nguyen Chi Trung, um iminente calígrafo que nesta colecção se apresenta como escriba. Depois, Portugal- Brasil, onde venho com Victor Belém numa Lua-Nova que no dizer do autor é aquela que irradia no mundo, vem o poeta Ernesto Melo e Castro que gentilmente convidei via Leuwers num Fractal-Vento , Roberval Pereyr (quatro rotas de solidão), António Brasileiro com pintura de Juraci Dórea.

Das Américas vêm também outros nomes como a jovem poeta colombiana Andrea Cote e do Quebéc Rocher des Roches e Jacques Rancourt. Há depois toda uma parte dedicada aos poetas helvéticos e seus pintores, um mundo de imensa perfusão e quase constelar. Em dois mil e quatro aparece « Feuillets entre-bâillés » que tanto entusiasmou os pintores sempre mais sensíveis ao formato da visualidade. Há um lado de «Caligramas» nesta colecção com a arte alfabética como base da expressão. « Feuillet d’album» a mais simples das colecções que são quase pequenos haikus em folhas minúsculas , poetas tunisinos e belgas numa manifesta noção de economia verbal, Alexandre Voisard, Fernando Arrabal. Segue-se «Billet» que recebe o primeiro livro em língua alemã e o primeiro livro em língua árabe de Moncef Mezghanni. E a aventura continua.

Uma bela colecção de dois mil e dezasseis «Entre Alfa e Omega», uma leitura Apocalíptica publicada em Angers do «Livre Pauvre» foi doada à Biblioteca Municipal que dela fez uma exposição com um livro-catálogo de rara beleza.

É, sem dúvida, emblemática toda esta natureza da escrita e da sua complementar amiga, a pintura, poetas e pintores foram sempre próximos, e não raro se estimularam mutuamente para a realização das suas obras, e este imenso lastro de beleza relacional não raro me recorda os tempos em que se estava junto com todos, fazendo-nos mais completos e solidários, onde ainda não havia vedetas, nem cismas, ostracizados, que inundou de modo vário o presente em que vivemos.

Parecendo tudo mais fácil, creio que é bem mais difícil formar com os da nossa natureza um mundo melhor. Dispersos os ossos como na «Quarta-feira de cinzas» quem voltará a juntá-los? Por outro lado, falta uma vocação nova ao país para certas coisas que o dinheiro pareceu amordaçar e a soberba contaminou. Estamos esquartejados uns para cada lado fazendo dos dedos a vocação que ainda não findou. Mas, se não fosse o mundo, que estaríamos também nós a fazer aqui tão dentro de casa? Nada. Com o que sabemos e podemos não tinham nada para nós. Mesmo assim, vamos deixando pedaços que o país guardará mais tarde como presentes indispensáveis e para os quais não soube ou mesmo se dignou olhar.

O luxo estará hoje naquilo que é essencial e bom. Todos parecemos fatigados do forte entulho descritivo que conseguiu eludir o mundo de falsos saberes. Regressar “à La Pauvreté”. O país e a língua portuguesa continuarão a ter assento aqui se o desejarem e se para tanto o louvor de cada um não achar esta gesta um serviço menor. Nestas coisas devemos ser como os amantes: amar e não fazer perguntas, o resultado da confiança é sempre um alto instante poético. E resulta bem quando o espaço é alargado e cada um ressalva a sua memória e a sua cultura.

É muito bom ele existir. É urgente que exista.

6 Jul 2017

Do Trânsito da Lucidez

02/07/2017

[dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]eio uma longa e admirável entrevista de Susan Sontag à Rolling Stone, depois ampliada em livro, e, como sempre, há várias coisas que ela viu antes do tempo. Uma delas esta:

«(…) voltando a falar de ciência, acho que um dos seus maiores feitos é o facto de que hoje, pela primeira vez na história do planeta, as pessoas têm a possibilidade de mudar de sexo». E dá como exemplo o caso de Jan Morris, um escritor de viagens britânico que em metade da vida e carreira foi homem e depois mulher, o que o fez escrever sobre Veneza a partir das duas percepções.

Provavelmente a última grande aventura ontológica abissal talvez passe por esta mutação voluntária da identidade sexual.

Não falo desse reajuste do corpo à representação psíquica duma sexualidade virtual e longamente desejada, como acontece na transsexualidade, mas de uma aventura infrapsíquica que explora o lado oculto de um continente subitamente iluminado. Da mesma forma que imagino que este tipo de experiência não se associa à bissexualidade, mas à dimensão distinta que só pode ocorrer com a imersão da nossa identidade num corpo outro, diverso. Em vez de irmos aos anéis de Saturno mudamos de corpo.

Admito que o ser humano possa evoluir em urbanidade e empatia no dia em que, desviado da obsessão falocrática, lhe for comum atravessar ciclos de alternância na identidade sexual. Cresço como homem, sou depois transformado em mulher e volto a ser homem, até me instalar num estranhamento ao mundo que me induza a reparar nas singularidades que só uma outra percepção me propicia. Seria uma educação-para-o-outro radical mas talvez resolvesse insensibilidades profundas, um coeficiente de desatenção à vida, na sua textura plural.

Estou prestes a aterrar em Lisboa, onde voltarei a comer caracóis, criatura que pode à vez ser macho e fêmea. Hei-de perguntar-lhes. Brinco, mas eu raramente brinco.

Na mesma entrevista, Sontag discreteia sobre a sua viagem a Hanoi, em plena guerra do Vietname, e a sua reportagem, tão controversa, na qual não iludiu a sua perplexidade face à personalidade colectivista dos vietnamitas. E, numa demonstração de honestidade intelectual, refere:

«Senti que era importante reconhecer que os vietnamitas são diferentes de nós. Não gosto dessa ideia liberal de que todos somos iguais, acho que realmente existem diferenças culturais e que é muito importante ficarmos atentos a essas coisas. Então parei de lutar para que, de alguma forma, eles fossem compreendidos e me dessem algo que eu reconheceria como um acto generoso em relação a mim, porque o seu modo de expressar generosidade era diferente do meu. Eles têm o seu modo tradicional de agir e falar e o que entendem por intimidade não é o mesmo que nós entendemos. Era como se aprendesse um tipo de respeito pelo mundo. O mundo é complicado e não pode de modo nenhum ser reduzido ao modo que você acha que deve reduzi-lo».

Treze anos depois de aterrar em África subscrevo inteiramente o que ela diz. A cultura africana é-me absolutamente exterior, nele antevejo o rosto da alteridade, e felizmente aterrei demasiado tarde (com 45 anos) para ter a ingenuidade de tentar a fusão. Um dos itens que nos diferencia sustentar-se-ia na circunstância de eu, como europeu, ser filho da Revolução Francesa e do Iluminismo, mas o que nos separa é mais profundo e gramatical, e, como ela diz: o que eles concebem como intimidade, reciprocidade, amizade, responsabilidade social, fidelidade, liberdade, poder e mando, sobre o que seja a curiosidade ou para que serve o conhecimento, está nos antípodas das noções que adquiri e desenvolvi.

Foi o que surpreendeu Sontag: os vietnamitas concebiam coisas muito divergentes sobre o uso a fazer da revolução, da sua liberdade e autonomia, das que a escritora americana (imbuída no espírito de uma esquerda que nunca deixa de repensar-se), havia alguma vez imaginado. E percebeu que viviam em mundos paralelos, que podiam ter intersecções, mas nunca poderiam coincidir. Respeitar isso é uma das maiores lições da vida.

«Todos diferentes, todos iguais», um slogan que nasceu do multiculturalismo, foi um dos slogans mais enganosos das últimas décadas, que enfermou milhões de equívocos. Ē um slogan que nasce ainda como efeito de uma ferida narcísica, sobrevinda duma situação pós-colonial.

Precisamos de reinventar os Universais, para que possamos encetar um novo diálogo, mas primeiro teremos de lucidamente aceitar a irredutibilidade do outro e só a sua assimetria em relação a nós e aos nossos valores despertará a necessidade de compreendê-lo, sendo então possível negociar uma fronteira comum, na qual as nossas diferenças não colidam. Mas facto é: as fronteiras existem.

Algo muito distinto da ideia que é veiculada pelas indústrias culturais e o seu afã de uniformização global, mas isso é já outra conversa.

04/07/2017

Daqui a três dias o Boeing fará a sua manobra de aproximação a Lisboa e sobrevoarei o Tejo. Que foi para mim um grande foco de atracção porque eu cresci em Almada, na outra margem da capital. O rio representava o trânsito do desejo. E então fantasiava sobre ele, sobre a sua profundidade. Como acontece em certos troços do Nilo, menos de seiscentos metros de profundidade era algo de inconcebível para mim; espessura submarina povoada de criaturas tentaculares, assaz discretas e inenarráveis e que só em alturas de convulsão tectónica assomariam à superfície.

Um dia, já nos trintas e muitos, tive acesso a uma carta do rio e foi um choque: no seu máximo de profundidade o Tejo não ultrapassa os 40 metros, e a maior parte do leito, entre o estuário e o Mar da Palha, queda-se a uns míseros 10 metros. Embriaguei-me nesse dia em que o Tejo passou a ser um alguidar.

Face a uma tal decepção passou a ser difícil recuperar-lhe a dignidade. Um dia contando isto ao poeta Jorge Fallorca ele desatou numa gargalhada e acrescentou, Ē incrível como as pessoas alucinam, mas então tu quando chegas de avião nunca reparaste nas escunas e caravelas que se vêem no fundo do Tejo?

Evidentemente que ele gozava comigo, mas desde aí sempre que chego a Lisboa arrisco o torcicolo no frenesim de vasculhar as naus do Fallorca.

6 Jul 2017

Crises

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]inguém gosta muito da ideia de que está a envelhecer. A determinada altura das nossas vidas recusamos aniversários porque são a lembrança de que estamos a contabilizar anos nos nossos ossos, músculos e pele. A meia idade talvez seja dos momentos mais difíceis: lembramo-nos que a melhor metade das nossas vidas já se foi e que a próxima provavelmente será de declínio. Daí que haja um momento de profunda confusão onde o passado e o futuro se encontram, que é como quem diz, a ‘crise de meia idade’.

As consequências para a forma como nos vemos sexual e romanticamente, são tremendas. Vemo-nos menos desejáveis e, sexualmente, começamos a encontrar outro tipo de obstáculos ao prazer pleno, inerentes ao envelhecimento do corpo. Estes são normais momentos de transformação física e psicológica que têm que ser trabalhadas de forma individual ou em casal. Muitas vezes os divórcios coincidem com estas alturas – Por alguma razão será, não é? As nossas identidades têm que se ajustar a uma realidade do envelhecimento… numa sociedade que preza o culto da juventude. Ninguém ensina ninguém a envelhecer graciosamente, a sociedade ensina-nos que temos que controlar a corrida do tempo de todas as formas possíveis.

Tanto os homens como as mulheres nestas condições de meia-idade, e particularmente, no estatuto de recém-solteiros, começam a perceber que não é tão fácil engatar. As mulheres temem confirmar que a sociedade já não as acha bonitas como antigamente e os homens procuram desesperadamente provar que ainda têm controlo das suas vidas amorosas e sexuais. Eu sugiro que as tentativas de adaptação serão diferentes dependendo do género a que nos referimos. Por uma questão prática, e não factual, vamos pôr uns homens num saco estereotípico e as mulheres noutro.

A crise de meia idade masculina vai ter a minha particular atenção. As tentativas de lidar com uma auto-estima estilhaçada passam por comprar carros desportivos e ‘experimentar’ coisas novas. Coisas novas que passam por fazer novos piercings, começar frequentar saídas nocturnas e dançar ao som do novo milénio, com os mesmos passos de dança dos anos 90. E sim, esta é uma fase de vida que já foi gozada vezes sem conta na cultura popular, mas se me permitem o tom pessimista, acho muito triste que a ansiedade e depressão sejam alimentadas pelo simples reconhecimento de que ninguém vai para novo. O envelhecimento é um facto irrefutável da condição humana, que se tentarmos lutar contra ele, o resultado será longe de positivo – vai ser destrutivo. Entretanto aturamos as dificuldades psico-emocionais de alguns homens que não conseguem olhar para os desafios da outra metade da vida de forma saudável.

Ora, todos nós passamos por momentos difíceis, mas estas crises mostram-se particularmente relacionais e desenvolvem-se nas expectativas dos papéis de que homens e mulheres desempenham. Se me permitem a queixa, homens com quase 50 anos que procuram jovenzinhas para puderem saciar os desejos de juventude é um cliché daqueles que já me irrita. A semana passada tive a oportunidade de explorar a ideia de que o amor não escolhe idades e acredito genuinamente nisso. Mas também sei que certas dinâmicas relacionais dão espaço para perpetuar estas ‘crises’, particularmente masculinas, que evitam agarrar pelos cornos a ideia de que estão a ficar mais velhos, mais feios e mais flácidos. Mas se há quem consiga viver em negação é o homem que consegue seduzir mulheres mais novas. Não há nada como a fantasia de que o tempo na verdade não passa, e que a continuidade ou descontinuidade desta dimensão, é irrelevante.

6 Jul 2017

Vocês em Macau

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]xistem inúmeros dogmas que foram criados sobre a vida dos portugueses e outros expatriados em Macau e que, para quem não acompanhou a evolução da nova realidade, continuam actuais, e com os quais eu próprio tomo contacto cada vez que vou a Portugal de férias – e vai sendo cada vez menos. Não foram uma, nem duas, nem três as vezes que de repante salta um comentário do tipo “Vocês em Macau…”, seguido de qualquer coisa do género “…têm todos um rolls-royce na garagem”. Não é bem assim, mas não anda muito longe. Assim decidi compilar uma série de ideias feitas que muitos portugueses da metrópole ainda têm sobre nós, os expatriados, às quais convém fazer um “update”.

“Vocês em Macau” têm facilidade em arranjar emprego, sendo portugueses.

Já foi assim, mas vai sendo cada vez menos verdade que a nacionalidade portuguesa é meio caminho andado para garantir um emprego em Macau. Antes de 1999 bastava ser cidadão nacional português e obter uma declaração de que residia no território há mais de três meses confirmada por duas testemunhas para se obter o BIR, mas hoje em dia não só os critérios são mais rígidos, mas há também uma demora processual na autorização da residência que ninguém consegue explicar, e nem as autoridades justificam – é um mistério.

“Vocês em Macau” não se pode dizer exactamente que “trabalham”, quer dizer, “vão ao emprego”…

Essa é talvez uma das maiores diferenças em relação ao período da administração portuguesa. Trabalha-se sim e quem está no sector privado nem pense “encostar-se à sombra da bananeira”. Na hora de distribuir as atribuições, os portugueses não são menos que os outros.

“Vocês em Macau” têm como que “um desconto”, ao contrário dos chineses ou de outros estrangeiros.

Tal como na presunção anterior a esta, nada disso. Quem está com contrato e “pisa na bola” vai parar ao olho da rua com a mesma facilidade, seja ele português, chinês, italiano ou outro qualquer. Chefes chatinhos como aí também há por estas bandas, com a agravante de ainda precisarmos de atender ao aspecto cultural, e para quem não domina a língua, pior ainda.

“Vocês em Macau” ganham bem… em “pataquinhas”.

O mito da árvore das patacas é uma coisa do passado. Essa proverbial árvore, se realmente existiu , já há muito que secou; é verdade que se ganha melhor que em Portugal em algumas profissões, mas as despesas são muito mais que no passado. A habitação, por exemplo, tem um peso na ordem dos 30-40% da despesa total, ou mais para quem opta por viver sozinho ou dividir a renda por menos pessoas. Quem tem casa própria ou atribuida pela empresa onde trabalha está mais à vontade, mas não deixa de sentir a subida galopante da inflação em muitos dos bens de primeira necessidade.

“Vocês em Macau” têm uma vidinha tranquila. É tudo perto.

Sim, de facto é possível a muitos (como eu próprio) deslocar-se a pé para o emprego, apesar de já ter sido mais agradável, quando não era inevitável andar aos encontrões e aos empurrões, já para não falar do calor e da humidade. Para quem precisa de apanhar transporte ou conduzir, as distâncias também não são as mesmas do que entre Lisboa e a Margem Sul, por exemplo, mas a qualidade do serviço de transportes deteriorou-se, e o trânsito passou a ser um dos problemas que demoram a resolver.

“Vocês em Macau” não precisam de se preocupar com a questão da segurança, dos assaltos…

Apesar dos números da criminalidade terem vindo a aumentar, ainda é possível andar a qualquer hora e em qualquer lugar de Macau sem recear os assaltos, pois aqui não existem bairros “problemáticos”, como em Portugal. No entanto começam a surgir certas preocupações com algumas liberdades que em Portugal são praticamente “intocáveis”. Ah sim, e as penas pelos delitos relacionados com droga são muito mais pesadas que em Portugal – aqui não há lugar a certas “brincadeiras”.

“Vocês em Macau” têm os casinos, que resolvem todos os problemas de fundo, enquanto aqui os políticos são uns aldrabões e não mexem um dedo.

Os casinos são uma fonte de receitas que muitas economias invejam, sem dúvida, especialmente as micro-economias, como é o caso de Macau. O problema é que não se sabe muito bem por onde andam essas receitas, que em tempos batiam recordes atrás de recordes, e de como não estão a ser usadas para resolver problemas de longa data que têm vindo a agravar-se cada vez mais.

“Vocês em Macau” têm uma data de países à volta, praias paradisíacas, ilhas de sonho… é só passear!

É verdade e é muito mais fácil a alguém ir passar um fim-de-semana prolongado à Tailândia ou às Filipinas do que a um português fazer o mesmo em Bruxelas ou Amesterdão, que ficam mais ou menos à mesma distância de um voo. E é muito mais barato, também. Mesmo assim não se queixem, pois se vivem no litoral estão a meia-hora de carro de qualquer praia decente, enquanto para nós é necessário apanhar um avião.

“Vocês em Macau” agora queixam-se tanto… então o que estão ainda aí a fazer?

Parece uma provocação ou uma pergunta parva, mas é pertinente. Há os que se fartaram e se foram embora, há os que não gostam mas não têm outra escolha porque em Portugal têm as portas fechadas, e há os que mesmo tendo a opção de regressar, criaram aqui raízes, casaram com pessoas de cá, tiveram filhos e fazem aqui a sua vida. E para esses “queixar-se” quando as coisas correm mal é o mesmo que toda a gente faz quando quer o melhor para a si e para os seus. Esclarecidos?

Mas melhor que ouvir falar, e ainda por cima confiar em testemunhos que nada têm ver com o Macau do presente, era vir cá ver como isto é. Se não vos dá jeito, se é longe, caro, não vos interessa, ou não conhecem aqui ninguém e portanto acham que não vale a pena, paciência, só que antes de afirmar com essa dose de certeza que aqui é uma espécie de “mundo do faz-de-conta”, o melhor é informarem-se primeiro. Valeu, ó “vocês em Portugal”?

6 Jul 2017

Carrie Lam adopta tom conciliador com LegCo

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] nova líder de Hong Kong, Carrie Lam, adoptou um tom conciliador nesta quarta-feira e prometeu melhorar os laços com o Parlamento, mas sugeriu que novas reformas para levar mais democracia à cidade chinesa não entrarão na agenda tão cedo.

A ex-colónia britânica comemorou o 20º aniversário de seu retorno ao controle da China no sábado, e o presidente chinês, Xi Jinping, visitou a metrópole e alertou que esta deveria reprimir iniciativas para uma “independência de Hong Kong”.

Em 2014, Lam liderou os esforços do governo para aprovar um pacote de reforma política polémico apoiado por Pequim, que permitiria uma votação directa para a escolha do novo líder da cidade. Mas a exigência chinesa de que primeiro todos os candidatos sejam pré-seleccionados por um comité maioritariamente pró-Pequim ajudou a desencadear o movimento de desobediência civil e pró-democracia “Occupy” no final do mesmo ano.

O pacote de reforma política acabou sendo barrado em 2015 por parlamentares da oposição que o descreveram como “democracia falsa”. “A reforma política sempre foi muito sensível, muito complicada e muito difícil”, disse Lam aos deputados. “Se eu… reiniciar a reforma política imediatamente, de forma que a sociedade se envolva em conflitos sérios novamente e as questões da economia e da subsistência cheguem a um impasse, então, como a pessoa com a responsabilidade final, eu teria fracassado”, afirmou.

Na sua primeira semana no cargo, Lam passou cerca de uma hora a responder a perguntas de deputados numa reunião especialmente arranjada, na qual o clima pareceu menos hostil do que o de sessões com seu antecessor, o impopular Leung Chun-ying. Lam enfatizou seu desejo de melhorar as relações do executivo com o Conselho Legislativo (Legco).

6 Jul 2017

Coreia do Norte | Trump quer que “disparate” acabe “de uma vez por todas”

É um clima de tensão crescente numa história que pode acabar mal. No dia mais importante do ano para os Estados Unidos, a Coreia do Norte lançou um novo míssil balístico. Só que, desta vez, com capacidade para chegar ao Alasca, segundo reivindica Pyongyang. Trump não gostou da provocação e atira a batata quente para os principais países asiáticos. Pequim teme que a situação fique fora de controlo

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] dia não começou bem. Ontem, às 8h40, hora de Macau, Pyongyang realizou mais um disparo de míssil balístico em direcção ao Mar do Japão. A notícia foi dada pelo comando conjunto das forças armadas sul-coreanas, citado pelas agências internacionais. O lançamento foi feito a partir de Panghyon, a 100 quilómetros da capital Pyongyang, e o exército da Coreia do Sul estava ontem a analisar o número e o tipo de míssil usado no teste.

Poucas horas depois, ao início da tarde, a Coreia do Norte anunciou ter testado com sucesso o primeiro míssil balístico intercontinental (ICBM), uma etapa crucial para a realização do objectivo de poder ameaçar os Estados Unidos com armas nucleares. É neste sentido que o regime tem estado a trabalhar há anos. Até ontem, os especialistas na matéria consideravam que se trata de uma meta longe de ser alcançada.

O “ensaio histórico” de um míssil Hwasong-14 foi supervisionado por Kim Jong-Un, segundo afirmou uma apresentadora na televisão pública norte-coreana, num noticiário especial para dar conta do feito.

O anúncio da Coreia do Norte surgiu depois da informação divulgada por Seul e Washington de que Pyongyang tinha lançado um míssil de médio alcance. O teste desta terça-feira pode ter sido o mais bem-sucedido até à data para a Coreia do Norte. Alguns analistas acreditam que o míssil pode ser suficientemente poderoso para chegar ao Alasca, nos Estados Unidos.

Se for provado que o míssil disparado é efectivamente um ICBM, a comunidade internacional terá de repensar a estratégia usada em relação à ameaça que Pyongyang representa. O regime de Kim Jong-un tem aumentado nos últimos meses os seus ensaios com mísseis balísticos.

Fim-de-semana para pensar

Além da possível evolução da capacidade bélica da Coreia do Norte, o disparo desta terça-feira tem várias leituras. Aconteceu numa altura em que Washington e os aliados asiáticos voltaram a colocar na agenda a questão de Pyongyang: está marcado para breve um encontro trilateral entre Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul. A reunião vai realizar-se à margem da cimeira de líderes do G20, que acontece no final desta semana na Alemanha. Depois, ontem foi 4 de Julho – o dia mais significativo do ano para os norte-americanos.

De acordo com as primeiras informações divulgadas pelas forças armadas sul-coreanas, o míssil lançado percorreu uma distância de 930 quilómetros, durante 40 minutos, até cair perto da zona económica exclusiva do Japão. Tóquio já reagiu, com um forte protesto a mais “uma clara violação das resoluções das Nações Unidas”, e confirma os cálculos dos vizinhos da Coreia do Sul. O míssil atingiu uma altitude “bastante superior” a 2500 quilómetros, informou o Ministério da Defesa nipónico.

Donald Trump também não demorou a insurgir-se, num comentário feito através do Twitter. “A Coreia do Norte acabou de lançar outro míssil. Este homem não tem nada melhor para fazer na vida?”, escreveu, referindo-se ao líder norte-coreano Kim Jong-un. “É difícil acreditar que a Coreia do Sul e o Japão vão continuar a tolerar isto por muito mais tempo. Talvez a China ponha um forte travão na Coreia do Norte e acabe com este disparate de uma vez por todas!”, acrescentou.

No início desta semana, a Coreia do Norte voltou a ser o assunto principal de telefonemas entre o Presidente Xi Jinping e o homólogo norte-americano. Trump também abordou a questão numa conversa com o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe. Os três líderes reiteraram o compromisso de trabalharem para a desnuclearização da Península Coreana.

Estragar a festa

Shea Cotton, um especialista norte-americano em estudos de não-proliferação, não tem dúvidas sobre a escolha do dia, de modo a coincidir com o aniversário da declaração de independência dos Estados Unidos. “Já é 4 de Julho na Coreia do Norte”, escreveu no Twitter. Não é a primeira vez que Pyongyang assinala a data com o lançamento de mísseis.

Quanto à Coreia do Sul, o Presidente Moon Jae-in convocou uma reunião do conselho nacional de segurança mal soube das notícias vindas do Norte.

Na semana passada, depois de um encontro com Moon, Donald Trump defendeu a necessidade de uma resposta determinada à Coreia do Norte, vincando a importância da aliança entre Estado Unidos e Coreia do Sul.

Washington tem uma enorme importância no que toca à segurança da Coreia do Sul, com um contingente de mais de 28 mil homens estacionado no país.

No que diz respeito aos Estados Unidos, desde que Donald Trump assumiu o poder que se ouve falar, com maior frequência, em acções para derrubar o regime mais isolado do mundo. A tensão aumentou com a morte de Otto Warmbier, um estudante norte-americano detido na Coreia do Norte durante uma viagem turística, há 18 meses. Em Junho, regressou a casa em coma, tendo morrido poucos dias depois.

O Presidente norte-americano tem insistido no papel que a China – o principal aliado diplomático e económico da Coreia do Norte – deve desempenhar para se resolver a situação na Península Coreana. No entanto, Trump admitiu na semana passada que, até ver, os seus esforços foram em vão.


Contenham-se, diz a China

A China apelou ontem à “contenção” de todas as partes envolvidas e à resolução “pacífica” do problema norte-coreano após o anúncio do teste de um míssil balístico intercontinental de Pyongyang. Pequim estava “a recolher informações” sobre o míssil e instou a Coreia do Norte a “parar as acções que violem as resoluções do Conselho de Segurança da ONU”, disse o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros Geng Shuang, na conferência de imprensa diária.

Vamos lá parar com isto

O aviso foi feito poucas horas antes do lançamento do míssil de ontem, e foi deixado na sequência da conversa ao telefone entre Xi Jinping e Donald Trump. A crise da Coreia do Norte pode ficar fora de controlo, disse o enviado da China junto das Nações Unidas. O embaixador Liu Jieyi alertou ainda para as consequências “desastrosas” se a comunidade internacional não conseguir encontrar uma via para aliviar a tensão na Península Coreana. “O clima de tensão é, neste momento, muito grande e gostaríamos que assim não fosse”, afirmou o diplomata numa conferência de imprensa na sede das Nações Unidas. “Se a tensão continuar a aumentar, mais cedo ou mais tarde ficará fora de controlo e as consequências serão desastrosas.” Pequim tem tentado demover o regime de Kim Jong-un no que diz respeito ao plano nuclear do país, mas sem sucesso. Os Estados Unidos garantem que estão prontos para se sentarem à mesa das negociações, mas só se a Coreia do Norte parar com os testes nucleares e com os ensaios de mísseis balísticos. Liu Jieyi descreveu a crise com a Coreia do Norte como sendo “muito, muito séria”, para sustentar que “outras partes” devem estar mais abertas a aceitar as propostas que vão sendo feitas. “Não podemos esperar muito mais antes de se dialogar”, vincou.


Pyongyang | O percurso da ambição militar

• Final dos anos 1970

Começam os trabalhos em torno de uma versão do soviético Scud-B (com alcance de 300 km). São feitos testes em 1984

• 1987-1992

É dado início ao desenvolvimento de uma variante do Scud-C (500 km), Rodong-1 (1300 km), Taepodong-1 (2500 km), Musudan-1 (3000 km) e Taepodong-2 (6700 km)

• 1998

É testado o Taepodong-1, em direcção ao Japão, numa tentativa falhada de lançamento de um satélite

• 1999

É declarada a suspensão nos testes de mísseis de longo alcance devido à melhoria das relações com os Estados Unidos

• 2000

A quinta ronda de conversações sobre mísseis entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte termina sem qualquer acordo, depois de Pyongyang ter exigido mil milhões de dólares por ano para suspender a exportação de mísseis

• 2005

Pyongyang comunica o fim da suspensão dos testes de mísseis de longo alcance, acusando a Administração Bush de ter uma política “hostil”

• 2006

A Coreia do Norte testa cinco mísseis, incluindo um de longo alcance, o Taepodong-2, que explode 40 segundos depois

• 2006

É feito o primeiro teste nuclear subterrâneo

• Abril de 2009

A Coreia do Norte lança um rocket que sobrevoa o Japão e cai no Pacífico, dizendo que se tratava da tentativa de colocação de um satélite em órbita. Os Estados Unidos, o Japão e a Coreia do Sul entenderam tratar-se de um teste disfarçado de um Taepodong-2

• Maio de 2009

É levado a cabo o segundo teste nuclear subterrâneo, bastante mais forte do que o primeiro

• Abril de 2012

O Norte lança um rocket de longo alcance para pôr um satélite em órbita, mas desintegra-se pouco tempo depois do lançamento

• Dezembro de 2012

O regime consegue colocar em órbita um satélite de observação da Terra

• 2013

É feito o terceiro teste nuclear subterrâneo

• Janeiro de 2016

É realizado o quarto teste nuclear subterrâneo, com o país a dizer que se trata de uma bomba de hidrogénio, uma reivindicação que os especialistas colocam em causa

• Março de 2016

Kim Jong-un diz que a Coreia do Norte conseguiu construir com sucesso uma ogiva termonuclear em miniatura

• Abril de 2016

Pyongyang faz um teste a um míssil balístico lançado de um submarino

• Julho de 2016

Os Estados Unidos e a Coreia do Sul anunciam planos para a instalação de um sistema avançado de defesa anti-mísseis (THAAD)

• Agosto de 2016

Pela primeira vez, a Coreia do Norte dispara um míssil balístico directamente para a zona livre económica do Japão

• Setembro de 2016

Quinto teste nuclear

• Março de 2017

São disparados quatro mísseis balísticos. O Norte diz que se trata de um exercício para atingir as bases norte-americanas no Japão

• Maio de 2017

O Norte dispara um míssil balístico que cai no Mar do Japão, percorrendo 700 quilómetros. Os analistas falam num alcance de 4500 quilómetros, o suficiente para atingir Guam

• Julho de 2017

O regime de Kim Jong-um dispara um míssil balístico que voa 930 quilómetros antes de aterrar no Mar do Japão. Os especialistas acreditam que tem um alcance de 6700 quilómetros, com capacidade para chegar ao Alasca

5 Jul 2017

Lei do tabaco | Parecer da comissão permanente está assinado

O parecer final está pronto e assinado. A proposta de lei de alteração do regime de prevenção e controlo do tabagismo volta ao plenário antes de 15 de Agosto, mas avança com modificações. Os casinos ganharam e a proibição total de fumo em locais fechados foi deixada para melhor altura

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stava apontada para o final desta semana, mas a assinatura do parecer relativo à proposta de lei de alteração do regime de prevenção e controlo do tabagismo aconteceu ontem. O diploma irá a votação na especialidade, garantiu Chan Chak Mo, até 15 de Agosto, altura em que termina actual legislatura.

A proposta final sofreu alterações relativamente ao documento aprovado na generalidade. Se a proposta original previa a extinção total do fumo em locais fechados, o documento que agora foi aprovado admite a existência destes espaços nas zonas de jogo.

Não foi sem polémica que a excepção de colocar salas de fumo nas áreas de jogo foi levada avante. O Governo recuou na intenção legislativa inicial e a 2.a Comissão Permanente, responsável pela análise na especialidade, concordou com as alterações.

Os argumentos que constam no parecer assinado têm que ver não só com um direito legal de exercer as excepções consagrado pela Convenção Quadro da Organização Mundial de Saúde (OMS) para o controlo do tabaco, mas também com as características do território.

“É a própria OMS que admite que se possam consagrar excepções, ainda que mínimas.” É neste contexto que o parecer defende a existência de salas de fumo, sendo que “a contracção da indústria do jogo que se verificou recentemente na RAEM não parece aconselhar uma medida radical de proibição total de fumar nos casinos”, lê-se no parecer.

Avançar com a extinção de fumo nas salas de jogo poderia vir a ser um grande risco para a maior fonte de rendimentos local. “A proibição total de consumo de tabaco nos casinos, ainda que seja difícil prever a sua real consequência a curto e médio prazo, assumiria a natureza de um risco que não pode e não deve ser ignorado.”

Em causa esteve ainda, para a comissão, o facto de as salas de fumadores serem admitidas nas instalações aeroportuárias e poderem vir a ser proibidas nos casinos. De acordo com a sede de análise na especialidade, a situação “poderia criar uma desigualdade de tratamento não justificada entre os viajantes que frequentam as instalações aeroportuárias e os visitantes dos casinos”.

O parecer não deixa de anotar a oposição cerrada do deputado Ng Kuok Cheong. Para o pró-democrata, não é comparável a existência de salas de fumo em aeroportos e casinos. A razão, aponta, é que nas salas de embarque as pessoas estão confinadas a um espaço do qual não podem sair, e nas salas de jogo, podem, se quiserem, deslocar-se a um local exterior para fumar.

Excepção para avançar

O parecer salienta ainda que, se não fossem aceites as salas de fumo para o sector do jogo, a proposta “não seria aprovada pela Assembleia Legislativa, pelo que seriam mantidas as actuais medidas”.

O retrocesso do diploma teria consequências também para os trabalhadores do sector. Aqueles que trabalham nas salas VIP “continuariam a ser expostos ao fumo passivo do tabaco sem qualquer protecção da sua saúde”.

De entre as vozes que se opuseram às salas de fumo tendo como argumento a saúde dos que trabalham nestes espaços, o Governo apontou um estudo feito pela Universidade de Macau que referia que cerca de 55 por cento dos trabalhadores não se opunham à sua existência.

A polémica também teve como actores as casas especializadas no comércio de produtos de tabaco. Os proprietários pediam a criação de salas de fumo nestes espaços para que os clientes pudessem fazer a prova de charutos. A comissão não cedeu. “É a protecção do direito dos não fumadores e do pessoal que exerça funções nesses locais, sendo certo que ainda assim a proibição não é absoluta, uma vez que se permite fumar naqueles locais em espaços ao ar livre”, argumenta-se.

Proibição voluntária

Da apreciação na especialidade, o parecer não deixa de referir uma nova proibição de fumo: “Em qualquer área ao ar livre de utilização colectiva onde, por determinação da entidade gestora, se proíba fumar”.

Cabe também ao secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, definir os requisitos mínimos a que devem obedecer as salas de fumo.

O diploma, depois de aprovado na especialidade, deverá entrar em vigor a 1 de Janeiro do próximo ano e os casinos têm, a partir dessa data, um ano para que as salas de fumo obedeçam aos requisitos que vierem a ser impostos.

Até 15 de Agosto, Chan Chak Mo garante que as propostas que estão em análise na 2.ª Comissão Permanente vão estar finalizadas e, se possível, com pareceres assinados. Os diplomas em questão são o regime do ensino superior, a lei do enquadramento orçamental e o regime jurídico da administração das partes comuns dos condomínios.

5 Jul 2017

Eleições | Fundação Macau deixa aviso sobre subsídios dados a associações

Em nome de eleições justas, a Fundação Macau promete controlar o modo como é utilizado o dinheiro pelas associações a quem dá subsídios. O organismo vai fazer uma lista de candidatos às legislativas, associações envolvidas e valores concedidos. E planeia fiscalizar as iniciativas financiadas com os montantes que deu, para evitar campanhas disfarçadas

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s subsídios concedidos pela Fundação Macau (FM) não podem ser aplicados nas eleições, avisou ontem a entidade liderada por Wu Zhilliang. Em comunicado, a FM salienta que está atenta “às preocupações sociais” sobre as medidas adoptadas para evitar que as associações gastem os montantes atribuídos pelo organismo na campanha eleitoral.

Garantindo que os pedidos de apoio financeiro são apreciados de forma rigorosa, a FM explica que, na análise feita, “a questão de se saber se o requerente é candidato ou não a deputado à Assembleia Legislativa (AL) não constitui um factor de ponderação”. “Sob o ponto de vista da Fundação Macau, tanto a solicitação de subsídios ao Governo para a prestação de serviços sociais, como a candidatura a deputado são direitos das associações e são também formas de participar nos assuntos sociais para servir a sociedade”, lê-se no comunicado. Ou seja, “não existe contradição, nem antagonismo entre estes dois direitos”.

Diferente é, no entanto, o modo como os montantes atribuídos são aplicados. “A Fundação Macau em caso algum atribui subsídios para apoiar qualquer actividade relativa às eleições para a AL, nem permite aos beneficiários dos subsídios desta Fundação que apliquem os montantes recebidos a título de subsídio na campanha eleitoral”, vinca. “Trata-se de uma linha vermelha que ninguém pode ultrapassar.”

A FM adianta que tem estado em contacto com o Comissariado contra a Corrupção para estabelecer vários critérios para a apreciação e aprovação da concessão de subsídios, assim como para o controlo da aplicação dos valores atribuídos. O reforço do controlo dos montantes entregues é feito em várias vertentes.

Lista e declarações

Os beneficiários dos subsídios ficam sujeitos à assinatura de uma declaração em que garantem que os valores não vão ser aplicados, directa ou indirectamente, nas eleições ou na campanha eleitoral. Nos últimos meses, a FM tem mantido encontros com associações ligadas à política local para as advertir de que os valores jamais poderão ser aplicados nas actividades ligadas às eleições. Estas associações devem ter, entre outros cuidados, a preocupação de evitar mal-entendidos por parte dos participantes e restantes cidadãos.

A Fundação Macau explica ainda que vai elaborar a lista dos candidatos admitidos às eleições para a AL com indicação para as relações que existem entre os candidatos e as associações beneficiárias dos subsídios da FM. “Segundo o calendário das actividades subsidiadas a realizar por estas associações, irão deslocar-se ao local trabalhadores para verificar in loco a boa aplicação dos subsídios na execução destas actividades que poderão contar com a presença dos candidatos à AL”, avisa o organismo.

A rematar, a FM faz um apelo ao público para que, caso detecte infracções cometidas por qualquer associação ou candidato relativamente ao uso de subsídios atribuídos pela Fundação, as suspeitas sejam comunicadas em tempo útil às várias entidades públicas competentes.

5 Jul 2017

Eleições | Au Kam San e Ng Kuok Cheong apresentam listas de candidatura 

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ão parceiros na Assembleia Legislativa (AL), ambos deixaram a Associação Novo Macau, mas concorrem em listas diferentes às eleições legislativas deste ano. Ng Kuok Cheong, líder da lista Associação Próspero Macau Democrático, e Au Kam San, da lista Associação Novo Democrático, apresentaram ontem as suas listas e ideias políticas junto da Comissão de Assuntos Eleitorais da AL.

Os deputados partilham o mesmo programa político, que volta a pedir a necessidade de implementação do sufrágio universal para a eleição do Chefe do Executivo e de todos os deputados à AL.

O programa destaca ainda, segundo um comunicado, a luta contra a corrupção e a necessidade de abertura de mais concursos para a atribuição de habitações públicas aos residentes.

Au Kam San e Ng Kuok Cheong defendem também a renovação dos bairros antigos, o adequado aproveitamento dos recursos financeiros ou a diminuição do número de trabalhadores não residentes. Há ainda a defesa de uma melhoria do sistema de transportes públicos e de maiores apoios para grávidas, idosos e residentes com dificuldades financeiras.

Novos nomes, diferentes prioridades

Ng Kuok Cheong concorre às eleições de Setembro ao lado de Luis Lam Pok Man, Lei U San, Wu Wa In, Chao Iao On e Kong Shun Mei. No comunicado, o deputado do campo pró-democrata explica por que decidiu concorrer numa lista diferente da de Au Kam San. “Todos têm de avançar e eu acredito que esta separação é apenas um resultado natural do nosso desenvolvimento”, explicou.

Ng faz-se acompanhar por nomes novos no panorama político, e assume que isso pode resultar numa surpresa eleitoral. “É possível que sejamos surpreendidos e que só percebamos o resultado depois das tentativas efectuadas”, apontou.

Já Au Kam San explicou que, apesar de ter o mesmo programa político de Ng Kuok Cheong, vai dar mais prioridade aos assuntos relacionados com a habitação e os direitos dos trabalhadores.

Para o deputado, concorrer numa lista diferente pode dar a possibilidade dos jovens adquirirem maior experiência na política, mas não mostrou certezas quanto à sua reeleição.

Au Kam San recorda que os resultados vão depender do apoio dos eleitores, manifestando o desejo de conseguir eleger dois deputados da sua lista. Helu Chan Kuok Seng é o número dois da lista, seguindo-se Lei Man Chao, Lao Meng Fai, Kuok Cheok Man e Tong Ka Io, presidente da associação Iniciativa de Desenvolvimento Comunitário, criada pelos deputados aquando da ruptura com a Novo Macau.

5 Jul 2017

Pearl Horizon | Deputados querem concessionar projecto ao banco

Nove deputados estiveram ontem reunidos com o Chefe do Executivo, tendo sugerido que o Governo concessione o projecto do Pearl Horizon ao banco que concedeu os empréstimos. Foi ainda exigida que a concessionária de um terreno na Avenida Conselheiro Borja seja recompensada

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]a contagem decrescente para as eleições legislativas, alguns deputados continuam a tentar encontrar uma solução para o caso do Pearl Horizon em parceria com o Governo. Ontem, nove deputados – Kwan Tsui Hang, Chan Meng Kam, Si Ka Lon, Ella Lei, Song Pek Kei, Ho Ion Sang e Wong Kit Cheng – foram recebidos pelo Chefe do Executivo, Chui Sai On, tendo feito uma nova sugestão para resolver o problema daqueles que investiram sem ter recebido o apartamento em troca.

Os deputados desejam que o Governo faça uma concessão do Pearl Horizon ao banco que atribuiu os empréstimos à Polytec e às famílias. Tudo para que a construção do edifício fique concluída, ainda que sob a alçada do Governo.

Quanto ao terreno localizado na Avenida do Conselheiro Borja, que foi recentemente revertido para a Administração, os deputados lembraram que a concessionária, a Companhia de Investimentos Panasonic Limitada, ainda não foi recompensada. O Governo terá prometido a atribuição de um outro terreno por arrendamento.

Na visão dos nove membros da Assembleia Legislativa, o Executivo deve reservar uma parte do lote P, dos novos aterros da Areia Preta, para a concessionária. Este terreno foi concessionado à Polytec, que detém a Companhia de Investimentos Panasonic Limitada. Por existir esta relação de negócios, os deputados entendem que se possa fazer esta atribuição.

Citando a Lei de Terras, os deputados entendem ainda que pode haver dispensa de concurso público nesta matéria, sendo que o Governo poderia, no mesmo lote de terreno, construir infra-estruturas para o uso público, como é o caso de parques de estacionamento, escolas, habitações públicas, instalações sociais ou dormitórios para funcionários públicos.

Ausência de respostas

Muitas têm sido as sugestões ou há dois projectos de lei apresentados por deputados, mas o Executivo não tem dado uma resposta clara sobre a possibilidade de rever a Lei de Terras ou de lhe dar uma nova interpretação.

Após um estudo de dois meses, os deputados decidiram apresentar uma proposta em conjunto com estas duas sugestões, para que se cumpram as leis em vigor.

Ainda assim, Kwan Tsui Hang receia que estas ideias acabem por não ser acolhidas. “Precisamos da análise do Governo para que estas duas sugestões funcionem. Decidimos apresentá-las com base na interpretação que fizemos das leis, mas é melhor do que o Governo, que até agora não avançou com qualquer proposta”, apontou.

A deputada lembra que a ideia principal é a de que as concessionárias devem assumir as suas responsabilidades para desenvolver os terrenos e cumprir a lei. “Todos os colegas têm apenas um objectivo: resolver o assunto do Pearl Horizon. Qualquer que seja a proposta basta que seja apreciada pelo Governo e pela sociedade”, acrescentou Kwan Tsui Hang.

Sobre a proposta de lei apresentada pelos deputados Leonel Alves e Zheng Anting, para a revisão de alguns pontos da Lei de Terras, a deputada não quis fazer comentários, pois afirma desconhecer o conteúdo do diploma.

A deputada nomeada Chan Hong e Lam Heong Sang, vice-presidente da AL, também deram apoio à reunião de ontem com Chui Sai On.

5 Jul 2017