Portugal | “Geringonça” é a Palavra do Ano 2016

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] votação “online” elegeu “geringonça” como a Palavra do Ano, arrecadando 35% dos cerca de 28 mil votos expressos. O vocábulo foi anunciado esta quarta-feira pela Porto Editora, numa cerimónia na Biblioteca Municipal de Loures.

No 2.º lugar ficou “campeão” (29%, “brexit” em 3.º (8%), seguindo-se, ex-aequo, “parentalidade” e “presidente” (6%), depois “turismo”, “racismo” e “humanista” (4%) cada, “empoderamento” (3%), e, finalmente “microcefalia” (1%).

“Geringonça” foi um termo que começou a ser usado para denominar os acordos à esquerda que levaram o PS ao Governo. A expressão é de Vasco Pulido Valente aquando das primárias do PS, ganhas por António Costa, em 2014, e Paulo Portas deu-lhe visibilidade, ao citá-la, no Parlamento.

De acordo com os dicionários, o termo significa “coisa malfeita ou com pouca solidez”. Aquilo que podia ser encarado como crítica ou mesmo ofensa ganhou popularidade e foi assumida por muitos dos visados. “É geringonça, mas funciona”, disse mesmo o primeiro-ministro, António Costa.

Da bola

Quanto a “campeão”, a escolha está relacionada com a vitória de Portugal, pela primeira vez, no campeonato europeu de futebol, em Julho do ano passado, ao vencer a França, em Paris, na final da 15.ª edição do campeonato da UEFA.

“Brexit” é uma palavra que surgiu associada à saída do Reino Unido da União Europeia, em resultado do referendo realizado naquele país, em Junho do ano passado.

Nesta oitava edição participaram cerca de 28 mil cibernautas, ultrapassando os cerca de 20 mil votantes do ano passado.

A escolha da Palavra do Ano iniciou-se em Maio do ano passado, acolhendo sugestões de cibernautas, num processo que passou sobretudo pelo estudo da frequência e distribuição do uso das palavras, da monitorização da comunicação social e das redes sociais e, ainda, dos acessos e consultas aos dicionários digitais da Porto Editora.

As palavras eleitas nas edições anteriores foram “esmiuçar” (2009), “vuvuzela” (2010), “austeridade” (2011), “entroikado” (2012), “bombeiro” (2013), “corrupção” (2014) e “refugiado” (2015).

5 Jan 2017

Saúde | Tatuadores operam sem fiscalização e licenças especiais

Em Macau, as lojas de tatuagens abrem portas sem uma licença específica, enquanto nas redes sociais proliferam páginas de tatuadores que se oferecem para fazer o trabalho em casa, sem qualquer fiscalização. Tatuados e tatuadores pedem legislação que garanta a higiene e o controlo de doenças

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]iago ostenta num dos braços uma tatuagem feita em Macau há alguns anos, numa loja que, no fim de contas, não era bem uma loja. Tiago nem sequer sabe se essa loja, localizada no rés-do-chão de um prédio, tinha licença para ter as portas abertas.

“É uma habitação que foi alterada para ser uma loja de tatuagens, mas não sei se tem autorização ou não. Não sei se tem licença, é uma espécie de apartamento T2 localizado no rés-do-chão, sem qualquer publicidade ou visibilidade cá para fora. Só quem sabe é que lá vai.”

A experiência vivida por Tiago, fotógrafo e designer, radicado no território há alguns anos, é comum para quem decide fazer uma tatuagem em Macau. Se é verdade que, nos últimos dois anos, houve vários espaços a abrir portas, com alguma qualidade, a verdade é que continua a não existir legislação específica para esses serviços. Não existem, assim, quaisquer regras quanto à legalização do espaço, a utilização de materiais e equipamentos ou até quanto à idade mínima para fazer uma tatuagem. É comum vários tatuadores – chineses, portugueses ou filipinos – promoverem o seu trabalho nas redes sociais e realizarem tatuagens em casa do cliente, sem que haja qualquer fiscalização.

Tiago teve um pequeno azar, que poderia ter sido grande: após ter feito a tatuagem, teve uma pequena infecção, que tratou em casa. “A minha tatuagem tem vindo a perder a cor e quando fiz os retoques finais infectou um pouco em algumas partes. Não fui ao hospital, desinfectei em casa com água e um creme. Se fosse mais grave, talvez tivesse de ir ao hospital.”

É por isso que defende que deveria haver uma legislação específica para um sector que está a crescer e que vive no vazio em termos legais. “Penso que as coisas deviam ser abertas e legalmente mais fáceis, também não sei se é fácil ter licença para isso. Devia haver uma maior fiscalização e alguma licença especial, porque é um trabalho quase cirúrgico, são usadas agulhas. Se a tatuagem não for bem feita é uma maneira de transmitir doenças, até mortais. Como é óbvio, o Governo devia fiscalizar e andar mais em cima disso. Da parte das pessoas que fazem tatuagens, deviam investir mais em material de topo, investir na qualidade, para que os trabalhos sejam melhores”, sustenta o fotógrafo e designer.

Uma espécie de cosmética

A falta de legalização dos tatuadores e das lojas não é um problema exclusivo em Macau. Em Hong Kong, o panorama é semelhante e é bastante fácil encomendar um trabalho deste género através das redes sociais. Em Portugal chegou a existir um projecto de lei na Assembleia da República, que não avançou. Um estudo de 2016, elaborado pela Comissão Europeia, mostra que é escassa a legislação sobre tatuagens e a formação de quem as faz. Há 60 milhões de europeus com tatuagens no corpo, mas ficou provado que 60 por cento dos pigmentos usados em tintas são “azo” pigmentos, ou seja, com o passar do tempo poderão originar problemas cancerígenos. Muitas das tintas não são, sequer, fabricadas apenas para a realização de tatuagens.

Mandarim Wong, que há dois anos abriu a ZZ Tattoo, aprendeu a tatuar com um amigo. Por norma recebe um cliente a cada dois dias, tendo falado de um mercado que, apesar de recente, já está saturado.

“Há muitos artistas que prestam serviços na casa dos clientes e levam o seu próprio equipamento. Não têm lojas e não é difícil encontrar este tipo de tatuadores. Existem muitos. Em Macau não é preciso licença para ser artista de tatuagens. O Governo também não exige licença. Sou uma tatuadora e não tenho qualquer licença, porque é difícil ter uma licença própria para este sector”, contou ao HM.

“Em Hong Kong, na China e em Macau as lojas de tatuagem não precisam de uma licença específica, e muitas têm licenças como se fossem lojas de cosmética”, referiu Mandarim Wong, que defende, contudo, ser necessária alguma regulamentação.

“Concordo que é preciso alguma legislação para regular o sector das tatuagens porque, para fazer uma tatuagem, é necessária uma anestesia, e esse é um tipo de medicamento. Sei que houve clientes que sofreram algumas alergias cutâneas depois de fazer tatuagens.”

Grace Punx, da Muse Tattoo, também defende novas medidas. “Pensamos que o Governo poderia providenciar algum tipo de licença como uma opção para as lojas de tatuagens, por forma a mostrar aos clientes que seguimos padrões profissionais em termos de segurança e higiene.”

Nesta loja, em operação desde 2014, “todos os tatuadores são profissionais treinados que seguem padrões de higiene semelhantes aos das lojas do Reino Unido ou dos Estados Unidos”. Quanto ao equipamento, “é esterilizado antes e depois da sua utilização”, confirmou Grace Punx.

Rui Furtado, médico cirurgião e ex-presidente da Associação de Médicos de Língua Portuguesa, também defende a implementação de regras. “Penso que deveria haver uma supervisão para esse tipo de actividade. Agora, como poderá ser feita não faço ideia, uma vez que eles não são médicos, enfermeiros ou pessoal de saúde. Pelo menos deveria ser feita uma supervisão aos locais onde se fazem as tatuagens, pelos Serviços de Saúde. Julgo que é difícil controlar isso.”

O HM inquiriu os Serviços de Saúde e o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) quanto à atribuição das licenças. Apenas o IACM confirmou que não atribui licenciamento a este tipo de lojas. Até ao fecho desta edição não foi possível obter uma resposta por parte da direcção de serviços liderada por Lei Chin Ion.


“A qualidade não é nada de especial”

Apesar de estarmos perante um mercado em crescimento, a verdade é que a qualidade das tatuagens continua a não ser a desejada por muitos dos aficionados. Susana Torres, designer, é peremptória: “Em Macau fiz uma tatuagem há 15 anos e fiquei tão mal servida que nunca mais tive coragem de repetir. A maioria que fiz foi em Hong Kong.”

“Em Hong Kong a oferta é imensa, os artistas são vários e de muito talento. O meu tatuador, por exemplo, é da África do Sul. Existem lojas de tatuagens em Hong Kong em que a lista de espera é de quase um ano para certos artistas. Em Macau há casas de tatuagens há muitos anos, mas são muito fracas”, acrescentou a designer.

Susana Torres põe completamente de parte a possibilidade de atravessar as Portas do Cerco para fazer este tipo de trabalhos, mas garante que há muitas pessoas a procurarem Zhuhai para fazerem algo mais ligado à cosmética, como sobrancelhas permanentes.

“Antes de fazer uma tatuagem, e se estou num sítio que não me é familiar, tento ver primeiro o traço do artista. Aqui em Macau, até há pouco tempo, não havia nenhuma loja em que eu confiasse o meu corpo, pois os traços que apresentavam eram realmente muito fracos. Os tatuadores safam-se em termos básicos e pouco mais.”

Apesar de referir algumas lojas recentes com um nível mais superior, Tiago defende que “a qualidade não é péssima, mas não é nada de especial, se compararmos com Hong Kong e com o que estamos habituados a ver na Europa ou até em Taiwan, na Tailândia. Esses trabalhos não se comparam nada com o que é feito aqui. Muitas vezes não se investe no material, nas tintas.”

Jorge Tavares, jogador de futebol, tem tatuagens em várias partes do corpo, muitas delas feitas em Portugal. Nunca fez uma tatuagem em Macau, nem pensa fazer.

“Conheço pouco a situação em Macau. Colegas meus e pessoas conhecidas optam por ir fazer tatuagens em Hong Kong, os valores são mais elevados mas vale a pena pela qualidade do trabalho. Ainda há o receio de tatuar em Macau. Ainda há muita coisa para explorar. Dificilmente farei uma tatuagem aqui, é uma área que não é muito explorada. Não há o passa-palavra em termos de qualidade e higiene. Aqui temos pessoas com tatuagens e sem grande conhecimento da matéria”, disse ao HM.

Susana Torres acredita que, em termos de fiscalização de qualidade e até de higiene, cada pessoa deve escolher bem o seu tatuador. “Há imenso pessoal que publicita o trabalho no Facebook e que faz tatuagens em casa. O fazer uma tatuagem em casa não torna o trabalho mais perigoso. Tenho tatuagens feitas em minha casa que seguiram todos os códigos de higiene. Isso passa um pouco pela experiência de quem vai ser tatuado e saber o que se deve ou não fazer.”

4 Jan 2017

Macau e Hong Kong | Stanley Au sugere soluções para divergências sociais

 

 

O antigo deputado à Assembleia Legislativa falou ao jornal Ou Mun da necessidade de mudanças ao nível social e político. O homem forte do Delta Ásia defende a importação de trabalhadores

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]tanley Au, presidente do Banco Delta Ásia e antigo deputado nomeado por Edmund Ho, fez algumas sugestões para Macau no contexto do 27.o documento de ano novo publicado no jornal Ou Mun. O também presidente da Associação de Pequenas e Médias Empresas de Macau sublinhou a necessidade de mudanças sociais e políticas, sobretudo ao nível da reforma da administração pública, leis eleitorais e responsabilização ao nível dos altos cargos do Governo.

Na secção do jornal de língua chinesa, intitulada “As minhas palavras íntimas sendo parte da geração mais velha”, Stanley Au mencionou “a epidemia de populismo” que tem surgido em todo o mundo, tendo falado do caso de C.Y. Leung, o Chefe do Executivo de Hong Kong, cujas pressões terão afastado uma nova candidatura às eleições deste ano.

“Neste panorama político, com o acréscimo das disputas políticas agudas em Hong Kong e com a polarização de ricos e pobres em Macau, surgiram em ambas as sociedades diferentes níveis de divergências”, escreveu.

Por forma a limitar essas divergências e promover uma sociedade harmoniosa, Stanley Au sugeriu uma drástica reforma no actual modelo de administração pública, com base nas tendências políticas e económicas do mundo, bem como nas acções políticas nacionais e opiniões públicas.

O empresário defendeu ainda que o Governo deve “ficar de pé no planalto moral e tornar-se um exemplo para os outros, ensinando os jovens a amar o seu país e as suas regiões administrativas especiais”. Para Stanley Au, os detentores dos principais cargos políticos em Hong Kong e em Macau devem assumir em pleno as suas responsabilidades, por forma a não desapontarem a população novamente.

Em relação às actuais estruturas políticas, o ex-candidato ao mais alto cargo de Macau, em 1999, pede a revisão das leis eleitorais para o Chefe do Executivo e para a Assembleia Legislativa (AL), para que mais pessoas, “com sabedoria e perspicácia”, possam participar na Administração e na discussão dos assuntos políticos.

Para Stanley Au, a comissão eleitoral para o Chefe do Executivo deve votar com base nos critérios de alta competência, tendo ainda coragem para assumir responsabilidades. Deve ainda ser capaz de reunir diferentes sectores sociais e ser inclusiva das diferentes vozes da sociedade.

Importar é preciso

Na área da economia, Stanley Au defendeu que devem existir mais medidas para apoiar as PME e deve ser feita uma abertura do mercado aos trabalhadores não residentes, por forma a diminuir as disputas que têm vindo a ocorrer em Macau e em Hong Kong. Stanley Au acredita que os não residentes podem abrir os seus negócios em Macau, por forma a criar “uma estrutura social mais plena e para que as empresas tenham mão-de-obra suficiente para manterem as operações”. A importação de trabalhadores também pode “aumentar a qualidade dos recursos humanos e do próprio trabalho, criando ganhos mútuos”.

O presidente da associação que representa as PME pede uma diversificação da economia com medidas mais concretas e viáveis, tendo frisado que isso irá permitir a sobrevivência das empresas de pequena dimensão.

Ao nível da formação, Stanley Au indicou que a sua associação, em conjunto com a Associação do Desenvolvimento Social e da Cultura Delta Ásia, irá criar o “Instituto das PME” para a formação de profissionais nesta área. “Quanto a isso, o Governo deve dar apoio”, rematou.

4 Jan 2017

Trânsito | Coimas exageradas geram polémica. ATFPM apoia protesto no domingo

O ano de 2017 trouxe um brutal aumento das multas rodoviárias. O desagrado fez-se ouvir nas redes sociais e a ATFPM vai apoiar logisticamente o descontentamento que irá para a rua manifestar-se no próximo domingo

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] resolução do Executivo para o ano que começa no que ao trânsito diz respeito parece apontar no aumento avassalador das multas constantes da tabela de taxas e preços da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego. Com aumentos que vão dos 50 por cento aos mais de mil por cento, cedo a insatisfação inundou as redes sociais, em particular no Facebook e Wechat.

A Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau fez ontem uma conferência de imprensa na qual se mostrou disponível para servir de apoio logístico ao desagrado popular nesta matéria. “Submetemos ao Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais um pedido de autorização para uma manifestação com entrega de uma petição ao Chefe do Executivo”, explicou José Pereira Coutinho.

A concentração ocorrerá no próximo domingo, pelas 15 horas, na Praça de Tap Seac e seguirá em romaria até à sede do Governo, onde será entregue uma petição para eliminar o preceito legal que instituiu o aumento das multas. O deputado acrescentou que a associação que representa “está em segundo plano”, e que esta é “uma demonstração pura, e simples, de desagrado dos cidadãos de Macau”. Pereira Coutinho explicitou ainda que chegaram muitos gritos de revolta ao Facebook e Wechat da associação, sendo esta a sequência lógica.

A semente da revolta é o despacho do Chefe do Executivo assinado no passado dia 7 de Dezembro, e que entrou em vigor no passado dia 1. O efeito do despacho não se fez esperar, com a ressaca do reveillon a ser marcada por uma caça à multa. “O Chefe do Executivo assinou o despacho e, que nós saibamos, a notícia não veio a público. Foi tudo feito às escondidas, sem auscultação popular.” As palavras são do deputado Leong Veng Chai, que acrescentou que “esta é uma matéria que diz respeito aos direitos fundamentais dos cidadãos, porque estamos a falar de sanções a aplicar”.

Para o tribuno, esta manobra do Executivo demonstra falta de transparência, e entende que a atitude mais responsável seria ouvir os cidadãos. Leong Veng Chai acrescenta ainda que os problemas de trânsito são complexos e pedem uma intervenção estruturante – não serão resolvidos pela mera aplicação de multas a quem vive e trabalha em Macau.

Uma questão de justiça

Este parece ser o culminar de um rol de problemas ligados ao tráfego rodoviário. O vertiginoso boom económico trouxe um crescimento da frota automóvel às ruas de Macau. Com os transportes públicos a não conseguirem dar respostas às necessidades da população, ter um veículo tornou-se numa necessidade imperiosa para uma família. Se juntarmos à desproporcionalidade no aumento destas multas, desacompanhados no lado dos salários, a subida do nível de vida, com os preços dos bens de subsistência a explodirem nos preços, assim como as rendas, percebemos a razão da manifestação de domingo.

Pereira Coutinho alerta ainda para a forma como o cidadão é penalizado, onde empresas passam incólumes. “Por exemplo, os autocarros das concessionárias, e de turismo, as gruas, os trolleys estacionados no Cotai com 20 e 24 metros nunca são multados”, lembra o deputado. No fundo, o representante da ATPFM considera que o “Executivo tentou resolver o problema na forma mais simples, dando castanhadas nos cidadãos”.

Para a associação, estamos perante uma evidente violação do princípio da igualdade, ao permitir que as seis concessionárias possam estacionar os seus autocarros livremente, em locais públicos. Tudo isto face aos autocarros, táxis e outras viaturas que pagam anualmente as respectivas taxas de circulação, e que são impedidos de circular e estacionar com a impunidade dos outros veículos.

A rua responde

Pereira Coutinho salientou o carácter espontâneo da manifestação de domingo, não arriscando um número de participantes. Mas como pensa que este despacho trará muito descontentamento, muitos cidadãos vão aparecer. Tem como referência a manifestação contra o regime de garantias para os principais cargos políticos, que levou mais de 20 mil pessoas para as ruas, e que fez o Executivo arrepiar caminho numa medida francamente impopular.

Quando questionado sobre o despacho favorável do Conselho para os Assuntos do Trânsito na elaboração do polémico despacho, o deputado alertou para o facto de os conselhos consultivos de Macau, na sua maioria, funcionarem por nomeação, sendo que as pessoas apenas respondem perante quem as nomeia. “É, portanto, um problema de génese, as pessoas que estão lá dentro não representam os interesses da população”, comentou. Para Pereira Coutinho, estes organismos não têm qualquer contacto com os problemas das famílias, não conhecem o seu quotidiano. Portanto, não é de estranhar que se mostrem favoráveis a uma medida que afecta desproporcionalmente a população. Essa é a razão pela qual a ATFPM espera uma grande adesão ao protesto popular de domingo.

4 Jan 2017

Emprego | Já há um esboço para salário mínimo universal

O secretário para a Economia e Finanças disse que, em 2018, o salário mínimo vai ser para todos. Pelo andar da carruagem, a ideia deverá ser concretizada a tempo. Os Assuntos Laborais já têm um esboço do projecto

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] notícia foi avançada ao jornal Ou Mun pela Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL): já está concluída a elaboração do enquadramento da proposta do salário mínimo universal. Lionel Leong, o secretário para a Economia e Finanças, tinha prometido a implementação plena desta medida laboral no espaço de três anos após a entrada em vigor do salário mínimo para os trabalhadores da limpeza e da segurança dos prédios, o que aconteceu em Janeiro do ano passado.

A DSAL explica que, agora, o próximo passo vai ser a apresentação do esboço feito ao Conselho Permanente de Concertação Social e a recolha de opiniões escritas. Além disso, o Governo vai lançar uma consulta pública sobre a matéria. É bem provável que esta seja a fase mais complicada do processo, pois o sector patronal deverá colocar alguns entraves à proposta.

Em relação ao salário mínimo para os trabalhadores da limpeza e a segurança dos prédios, os Assuntos Laborais indicam que, até Novembro passado, foram iniciados oito processos de investigação que envolveram dez empregadores. As queixas principais estão relacionadas com salários e feriados obrigatórios. Dois destes processos estão ainda em fase de investigação, sendo que os restantes já foram concluídos.

Ora, precisamente sobre o modo como tem estado a ser aplicado o salário mínimo, diz a Federação das Associações dos Operários de Macau que, neste ano de vigência, não recebeu qualquer queixa por parte de trabalhadores. A organização considera que a DSAL deve avançar com um mecanismo para que seja possível fazer actualizações do valor da remuneração obrigatória.

A Associação de Administração de Propriedades de Macau também dá sinais de que não estão a ser detectados quaisquer problemas. O sector garante que não se opõe ao salário mínimo universal.

4 Jan 2017

CEPA | Exportações de Macau para a China caíram

A diminuição não é preocupante, mas indica que não há um dinamismo local em torno do acordo de cooperação com a China. Para valores mais elevados talvez seja necessário contar com o que vem de fora

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s exportações de mercadorias com isenção de taxas aduaneiras de Macau para o interior da China atingiram 97,18 milhões de patacas no ano passado, traduzindo uma ligeira diminuição, indicam dados oficiais. No cômputo de 2015, o valor das exportações de mercadorias com isenção de direitos aduaneiros de Macau para a China atingiu 101,4 milhões de patacas.

De acordo com dados publicados no portal do CEPA – Acordo de Estreitamento das Relações Económicas e Comerciais entre o Interior da China e Macau –, sob alçada da Direcção dos Serviços de Economia, Dezembro foi o melhor mês, com o registo de 12,3 milhões de patacas, enquanto Agosto o pior, com 4,7 milhões de patacas.

No mês passado, aquando de uma visita a Lisboa, o secretário para a Economia e Finanças de Macau, Lionel Leong, e três secretários de Estado do Governo português analisaram a possibilidade de entrada de produtos alimentares portugueses na China precisamente através do CEPA.

O governo de Macau manifestou, por essa ocasião, o “desejo” de que “Portugal possa também ponderar a entrada, de modo semelhante ao CEPA, no mercado português, dos produtos da China interior, processados parcialmente em Macau”.

O CEPA tem como objectivo “promover a prosperidade e o desenvolvimento comum do Interior da China e da Região Administrativa Especial e reforçar a cooperação mútua económica e comercial”, estabelecendo “um relacionamento semelhante a parceiros de comércio livre, num país com duas regiões aduaneiras autónomas”.

Desde a entrada em vigor do acordo, em Janeiro de 2004, têm vindo a ser assinados vários suplementos, com vista ao alargamento das áreas, produtos e serviços. Até Dezembro último, o valor acumulado das exportações de mercadorias com isenção de direitos aduaneiros atingiu 764,44 milhões de patacas.

No plano do comércio de serviços, no mesmo período, foram emitidos 612 certificados de prestador de serviços de Macau, quase metade dos quais relativos a serviços de transporte (agenciamento de carga/ logística/ conservação/ armazenamento).

4 Jan 2017

Hong Kong | Donald Tsang declara-se não culpado

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] ex-chefe do Executivo da região vizinha rejeitou ontem em tribunal as acusações de má conduta e de ter beneficiado de favores

O antigo líder do Governo de Hong Kong Donald Tsang declarou-se ontem não culpado em tribunal de todas as acusações relacionadas com o arrendamento de uma ‘penthouse’ de três andares na cidade vizinha de Shenzhen, na China.

Donald Tsang, de 72 anos, chefe do Executivo da Região Administrativa Especial chinesa entre 2005 e 2012, é o ex-titular do mais alto cargo público a enfrentar um julgamento na história de Hong Kong.

Tsang negou as três acusações – duas de má conduta em cargo público e uma de aceitar vantagens –, que se reportam ao período entre 2010 e 2012 e podem ser sancionadas, cada uma delas, com até sete anos de prisão.

A primeira acusação alega que Tsang, enquanto chefe do Governo e presidente do Conselho Executivo, teve má conduta por não ter divulgado os planos de arrendar um apartamento em Shenzhen, detido por um investidor de uma estação de televisão que procurava obter uma licença por parte do Governo de Hong Kong.

Bill Wong Cho-bau era o principal accionista da Wave Media, mais tarde renomeada de Digital Broadcasting Corp., ou DBC.

Tsang alegadamente “aprovou em princípio e concedeu formalmente” as candidaturas da empresa de Wong para uma licença de radiodifusão digital, a entrega da sua licença de rádio AM e a nomeação do professor Arthur Li Kwok-cheung como director e presidente do conselho de administração da DBC sem revelar os seus negócios com Wong ao Conselho Executivo.

A segunda acusação alega que Tsang recomendou o nome de Barrie Ho Chow-lai, ‘designer’ de interiores no referido apartamento, para um prémio atribuído pelo Governo.

“Sir” Donald Tsang, cuja saída chegou a ser reivindicada a 15 dias do final do mandato, na sequência dos alegados favores a amigos empresários e acusações de despesismo em viagens oficiais, abandonou o cargo com a mais baixa taxa de aprovação na hora da saída desde a transferência da administração do território do Reino Unido para a China, em 1997.

Trabalho de casa

Tsang foi o escolhido por Pequim para substituir, a meio do mandato, Tung Chee-hwa, que, depois de uma sucessão de fracassos políticos e protestos, se demitiu em Julho de 2005 alegando problemas de saúde.

Em 2007, Donald Tsang foi reconduzido para um segundo mandato, derrotando o candidato do campo democrata, Alan Leong.

Com carreira feita na Administração Pública da antiga colónia britânica, ocupou o cargo de secretário das Finanças em 1995 e foi a partir de aí que começou a granjear admiradores com a recuperação da economia local e a baixa taxa de desemprego.

Donald Tsang honrou compromissos de relevo como a implementação de um salário mínimo, o aumento da escolaridade gratuita para 12 anos e a aprovação de reformas políticas, mas a “década de ouro” que prometeu acabou por não dar sinais.

4 Jan 2017

China | Actividade industrial sobe ao ritmo mais rápido desde 2013

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] actividade industrial chinesa expandiu ao ritmo mais rápido em quase quatro anos em Dezembro, no que é entendido como um sinal de saúde da segunda maior economia do mundo, indica um estudo da revista financeira Caixin.

O Purchasing Managers’ Index (PMI) da Caixin, focado nas pequenas empresas, superou as expectativas com 51.9 em Dezembro, acima dos 50.9 no mês passado.

Quando se encontra acima dos 50 pontos, o PMI sugere uma expansão do sector, pelo que abaixo dessa barreira pressupõe uma contracção de actividade. O PMI é tido como um importante indicador mensal do desenvolvimento da segunda maior economia do mundo.

Este foi o valor mais alto desde Janeiro de 2013, informou a revista financeira independente numa declaração conjunta com o agregador de dados IHS Markit.

“A actividade industrial económica continuou a melhorar em Dezembro, com a maioria dos sub-índices a parecerem optimistas”, disse o analista da Caixin Zhong Zhengsheng em comunicado.

No domingo, o PMI oficial, focado nas fábricas e minas de grande dimensão, atingiu 51.4 em Dezembro, abaixo dos 51.7 no mês anterior, que marcou o maior crescimento em dois anos.

Ameaças de fora

A estabilização da economia do país, no entanto, enfrenta riscos face à possibilidade de aplicação de taxas aduaneiras mais elevadas à China com a chegada à Casa Branca de Donald Trump.

O crescimento da economia chinesa vai abrandar para 6,5% em 2017 e a moeda do país vai continuar a desvalorizar-se, face ao dólar norte-americano, previu no mês passado o principal instituto de pesquisa do país.

A previsão surge depois de anunciados, no início de Dezembro, vários indicadores positivos para a China.

Contudo, a economia “continua a sofrer uma cada vez maior pressão negativa”, afirmou a Academia Chinesa de Ciências Sociais (ACCS).

A ACCS anunciou as previsões durante uma conferência de imprensa, realizada anualmente, três dias após os líderes chineses se terem reunido para debater a economia.

Os líderes prometeram resolver problemas urgentes, sobretudo nos grupos estatais vistos como improdutivos e no sector imobiliário, afectado por uma ‘bolha’ especulativa.

No último ano, o ACCS previu que a economia cresceria 6,7% em 2016. A previsão tem-se confirmado, com o crescimento económico a fixar-se em 6,7%, o mais baixo desde o pico da crise financeira, ao longo de três trimestres consecutivos.

Para o próximo ano, o ACCS prevê o ritmo mais lento da meta de crescimento definida por Pequim para o período entre 2015 e 2020 – entre 6,5 e 7%. Seria também o ritmo mais lento desde 1990, quando a economia do país cresceu 3,9%.

Pequim está a encetar uma transição no modelo de crescimento do país, visando maior ênfase no consumo doméstico, em detrimento das exportações e investimento, que asseguraram três décadas de trepidante, mas “insustentável”, crescimento económico.

O aumento do consumo interno deve abrandar de 10 para 9,5%, em 2017, refere o ACCS.

O país enfrenta ainda vários desafios, como excesso de capacidade de produção em empresas estatais obsoletas e fuga de capital.

4 Jan 2017

Saltar aos olhos

Horta Seca, Lisboa, 14 Dezembro

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]or causa da Inês Fonseca Santos e do seu micro-gigante programa da RTP3, Os Livros, regressei a uma das minhas paixões: Nuno Bragança. Este cometa não compôs obra, desenvolveu uma criatura. Cada leitura revela novo livro, como se as bem esculpidas personagens, entretanto tornadas tipos, ficassem por ali a viver as respectivas vidas, a evoluir em pano de fundo tuga. A nossa leitura apanhou-os naquele momento, mas podia ser outro. Pode bem ser outro. Aprendemos tanto sobre «viver em nós nervosos sustos» em modo sempre à beira da dor. Continuam a chamar-lhes romances, mas para mim são ensaios autobiográficos, alguém que na escrita sem fronteiras se busca, questionando a norma e o óbvio, alcatifa poeirenta que calcamos. A escrita foi fazendo e desfazendo o Nuno, não apenas pela língua libertina e desenvolta, fresca e inesgotável, lúbrica e divertida, poética e minuciosa. Soube rasgar-se personagem de romper para cima, putativo rei militando contra a ditadura, católico a pensar-se. Rindo sempre, alarvemente. Eis isso mesmo: a língua de Bragança é uma gargalhada. De ponta e mola. Depois há Lisboa, a Lisboa que o tempo e suas turistagens vai pisando com distracções de fugir. Que escritor nos diz hoje das lisboas por debaixo? Dói de bela e sujidade, descalça de tão despida. Carne viva. E depois há Deus, ao desafio, como convém. Ainda mais carne e verbo. Tenho para mim que a literatura portuguesa do século XX faz-se de casos únicos, mergulhando, pois claro, raízes em tradições e movimentos, mas caderneta de cromos sem grandes equipas. Nuno Bragança surge como o mais vivo dos argumentos nesta tese de trazer por casa.

Facebook, 14 Dezembro

O Cabrita dedica-me, e ao Luís Carmelo, A Arca, um conto inédito que publica na revista online, Caliban (Shakespeare, sim, mas não apenas, também o Grabato Dias da minha primeira adolescência).

Como oásis, a sua escrita desfaz-se lugar de sombra e refrigério com a palavra a galopar atrás das mil ideias, mil imagens, mil sabores, mil perfumes. Tudo começa no momento em que o céu se declarou lotado, causando, no seu embaciado espelho, um tapete de catástrofes, do suicídio papal ao tumulto generalizado, porque «se passaram a confundir o real e o imaginário, o medo e a superstição, as expectativas e o delírio». Na sequência, alguém sonha e convoca, para Tombuctu¸ «uma comunidade cosmopolita e despojada de espírito nacionalista que combatesse fraternalmente contra verdadeiros problemas, terrenos, de ordem prática e física, fundando, a partir desse empenho no trabalho comum e no sacrifício, a dignidade de uma vida arredada do consumismo e os alicerces de uma refundação humanista que pudesse servir de exemplo para os demais homens.» Este teu convite, António, a alguém que já subiu e desceu as dunas côncavas e convexas da utopia, comove-me e diverte-me, cala fundo no coração adolescente. Mas e os lacraus?

Galeria António Prates, Lisboa, 27 Dezembro

Acontece-me muito. A querer fugir da feira de gado do social, evito as inaugurações e depois a agenda desgovernada faz-me andar aos trambolhões até perder o que não queria. Envergonho-me de o escrever, foi assim com o Escada na Fundação Gulbenkian. Por um triz, acontecia com esta Monster’s Ball, do Pedro Zamith, cujo percurso admiro e acompanho há muito. Bebo-lhe a energia explosiva, a irrequietude, o olhar viperino. Desta vez o alvo é a imbecil gourmetização do mundo, estando aqui à mesa a cozinha e a moda. Vai um exemplo ainda quente? O Público presenteou-nos no dia de Natal com a nova revista Culto, cuja matéria principal desafiava chefs a imaginarem a sua última refeição se fossem condenados à morte. Dá para acreditar? Com o Pedro sai tudo esturricado, não podia ser de outro modo. O pincel pop, de cores estridentes e perspectivas delirantes, faz-se faca de cerâmica afiadíssima para esculpir cenas (domésticas) da nova burguesia tardo-cosmopolita, parvo-cosmopolita. Como descreveria Nuno Bragança tais figurinhas? Algumas peças são tridimensionais, mas nem precisavam para nos saltar aos olhos. Arte a fazer o que deve, a obrigar-nos a engolir em seco. Monster’s Ball pode ser, no inglês urbano, clube nocturno cheio de «gente feia» ou a última refeição dos condenados à morte. Dancemos.

Horta Seca, Lisboa, 29 Dezembro

A interessante Pato Lógico, do mesmo André Letria que já me iluminou, e a INCM juntaram-se para criar a Grandes Vidas Portuguesas, colecção que, com bom gosto escrito e ilustrado e paginado, procura apresentar velhos ilustres a jovens leitores. Alguns textos foram brutas desilusões, mas chega-me agora às mãos um belíssimo José Saramago – Homem-rio, da Inês Fonseca Santos e do João Maio Pinto, gente daqui do coração. Brutal dupla, esta! Quando a palavra desperta destas imagens, estamos feitos. A Inês vai namorando a metáfora, nascida em poema, com a delicadeza que lhe habita o peito para traçar o sensível retrato de um escritor que, afinal, respeitava as muitas infâncias. Convém dar atenção ao trabalho da Inês com os putos, longe que está de se esgotar na escrita. O João deu um passo em frente no seu estilo, em direcção à luxúria, mais rico em detalhe e com subtil gestão da cor e do preto e branco. Refrescante ou caloroso, consoante a estação em que nos sentemos/sintamos.

Mouriscas, 30 Dezembro

Devia estar a fazer balanços, que o ano, apesar de gordo em fracassos, também ofereceu alegrias. Não me apetece. Foi excessivo, como deveríamos viver sempre se aplicássemos os delirantes mandamentos de Bragança. Vou dormir a sesta, uma que valha pelos dias todos: bissexta.

4 Jan 2017

O fim de 2016 e mais alguns tópicos 年底的礼物

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]egundo os media chineses que se movem nos mesmos círculos que eu, as comemorações natalícias na China este ano foram feitas um bocadinho contra vontade. Durante as ultimas décadas a festa cristã foi homenageada na RPC, não propriamente de forma oficial, mas, por qualquer razão, foi sempre uma festa que as pessoas acarinharam.

No dia a seguir ao Natal, um post muito visto chamou a minha atenção, dizia assim:

“Hoje é o verdadeiro dia de Natal na China. Querido Presidente Mao, vamos sempre sentir a tua falta!”

Mao Tsé Tung nasceu a 26 de Dezembro. Aqui vai um breve sumário do sentimento geral:

“No tempo de Mao Tsé Tung o céu era azul, a água límpida, existia igualdade e o políticos eram justos! Agora ‘as três grandes montanhas’ (uma alegoria de Mao para o imperialismo, o feudalismo, e o capitalismo de estado burocrático – J O’y) que oprimem o povo, estão de volta!”

“Mao deu ao nosso País céus azuis, nuvens brancas, pessoas boas e ar fresco. Deu-nos harmonia social, garantida por quadros do partido justos e honestos. O nosso Sol era o mais vermelho e o Presidente Mao e mais querido!”

“Obrigado, Presidente Mao! Defendeste os verdadeiros valores sociais!   Defendeste a igualdade social e um rendimento justo para todos!”

“O Grande Líder viverá sempre nos corações de centenas de milhões de pessoas! No seu tempo, o povo chinês podia dormir tranquilo sem medo de ser roubado e as mulheres e as crianças não eram vendidas em plena luz do dia. As casas também eram baratas. A China estava perto de ser o paraíso.”

O fim do ano trouxe a um outro círculo de amigos chineses um presente que os encheu de orgulho. No título lia-se:

“Fábrica chinesa muda-se para os EUA para reduzir despesas.”

A vidreira Fuyao Glass comprou as instalações de uma antiga fábrica da GM nos subúrbios de Dayton, Ohio. Espera-se que crie 3.000 postos de trabalho quando estiver a operar em pleno. A Fuyao Glass America já empregou cerca de 2.000 pessoas desde a inauguração em Outubro.

Fundada em 1987, a Fuyao Glass tem fama de ser a maior vidreira a nível mundial. Tem 18.000 empregados em todo o mundo e, para além da China, tem fábricas na Austrália, no Brasil, Alemanha, Japão, Rússia, Coreia do Sul, e agora nos Estados Unidos.

Na passada segunda-feira em Pequim, o presidente da Fuyao Glass, Cao Dewang (de 70 anos), afirmou que os EUA são um local mais barato e melhor para produzir vidro, porque os impostos são muito mais baixos do que na China. Como o Presidente eleito Donald Trump está a tentar atrair as empresas para regressarem aos Estados Unidos, sob o estandarte ‘Make America Great Again’ as empresas estão a reconsiderar a sua presença na China.

4 Jan 2017

O ano da máscara

[dropcap]P[/dropcap]revisões fazem os bruxos ou, na melhor e mais enigmática das hipóteses, o Yi Jing. Da minha parte, teríeis cassandricas opções, pois que a paisagem não inspira discursos belos e ainda menos idílios. Mas tal não será caso para grandes desesperos. Aliás, a malta de hoje não é de desesperar. A coisa sagra-se mais em deixar andar o comboio e aproveitar o deslizar da carruagem, sem mesmo reparar por quais carris se rola ou se enrola ao deslizar.

É assim o mundo e podia ser pior, rezaria o Dr. Pangloss* se rezar lhe ajuntasse vantagem, nesse exacto mundo que ele percepciona e não noutro, lamentavelmente, oculto a olhares burgessos. E assim continuaremos em 2017, não muito diferente de 1917, à excepção de uma revolução cujo desfecho resultou na morte das revoluções.

Andámos muito desde então. Para a frente e também para trás. Muito se liquidou: algumas coisas bem, outras não. Há uma cegueira cíclica nesta humanidade indecisa: o extermínio de pessoas e de livros. Aos últimos, hoje, não é preciso queimá-los. Eles encarregam-se disso.

E é neste espírito, imerso e paradoxal, que vos proponho em 2017 o adensar da máscara, o aumentar da distância em relação ao outro, a construção de muros entre nós e esse México que por aí anda. E esses mexicanos que o paguem. Sejamos realmente a trampa que estamos mortinhos por ser. Provavelmente alguém nos dará razão.

Propaguemos um outro email, ainda nosso mas não totalmente, domínio do nosso ego virtual e não realmente implicado no que verdadeiramente pensamos ou sentimos. Máscara. Máscara por trás de máscara. Máscara. Máscara pintada, retocada, maquilhada; máscara exultada. Máscara gigante ou máscara anã. Máscara matrioska. Sem sobressaltos por detrás da máscara da máscara. Máscara adamascada ou em tule. Não importa: em caso algum a pele se vislumbra.

Não ousamos outro modelo, outra via, que não a via das máscaras. Impotentes ou guerreiros, vagabundos ou burgueses, sedentos ou esfomeados, 2017 exigirá a mascarada, nos melhores momentos a mascarilha. Fingiremos ser; actividade que praticamos sem remorso e quantas vezes sem presunção.

E o que fica, perguntais, quando já manso no lar ousais a máscara tirar e por debaixo outro careto vos pergunta sem cessar o que fazer do abismo que mesmo num sono sem fundo arrogante se interpõe? Nada. Talvez viver.

Viver assim… ausente, no meio do nevoeiro. Sem cão, sem estrela, sem ideias de permeio. Só tactear: ser alheio, afastado das formas, dos verdadeiros corpos, dos verdadeiros copos, das orações; nada agarrar, passar fantasma, roçagar. Viver de exílio, mestre da saudade e da cidade interdita a contemporâneas efabulações. Preferir o nevoeiro às luzes rançosas. Escolher o tenebroso, a jugular impenitente, sempre a saltar à nossa frente, a deixar-se abocanhar, plena de vida, pujante de amor, ou não fôra ela natureza e mãe e tudo.

E o sabor do nosso sangue, interdito e intermitente, que tanto se ergue em tempestades como repousa ignorante e parvo em colos de além-fronteiras, onde o sossego nos maquilha de rosa e cor-de-vinho de Bordéus, alucinada cor de mantos e desmedidas cortinas.

Estaremos menos sós. A solidão é tão impossível como o convívio. As máscaras encontrar-se-ão. Dar-se-ão bailes, cruzeiros, manifestações de massas. Espectáculos de rua, mariposas, ajuntamentos. Serão breves como os dentes. Retornaremos ao sonho porque não há mais nenhum lugar para ir. O mundo encontra-se, francamente, esgotado. Nessas horas frágeis encontraremos o ano. 2017. Como poderia ser qualquer outro: os sonhos não conhecem o tempo, apenas se alimentam de espirais. Nós, omnívoros, comemos tudo.

Um Bom Ano para os uns e para os outros.

*Personagem de Voltaire para quem vivemos sempre no melhor dos mundos e da bajulação aos poderosos havemos de usufruir alguma vantagem.

4 Jan 2017

Juice Ga, empresa de sumos naturais: “Acredito cem por cento nos meus produtos”

 

Há três anos no mercado, a Juice Ga está prestes a reinventar-se como empresa local de fornecimento de sumos naturais em casinos e empresas. Vem aí a distribuição de sumos à porta de casa, a fazer lembrar o extinto hábito de entrega de garrafas de leite

 

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]uito antes de Macau receber a moda dos sumos naturais e programas de desintoxicação através dos alimentos, já Vincent Ma tinha a ideia de abrir um negócio nesta área. Tudo se deveu à sua experiência na Califórnia, nos Estados Unidos, onde fez os estudos superiores.

“Criei a empresa em 2014 e decidi apostar neste negócio porque vivi uma temporada nos Estados Unidos, em Los Angeles, e passei por várias empresas. Queria trazer essa cultura para Macau, porque não havia uma grande diversidade na altura. Queria apostar em bons produtos, saudáveis, e queria trazer isso para cá.”

Nascia assim a Juice Ga, que fabrica os seus sumos num espaço localizado na Areia Preta e que começou por fazer o fornecimento a casinos e hotéis. Mas a ideia é ir além disso: depois de um período menos bom em termos de vendas, Vicent Ma quer apostar na entrega de sumos em casa.

“Antigamente as empresas distribuíam as garrafas de leite à porta de casa. Estou a tentar lançar um projecto semelhante, mas com sumos. Queremos que muitas famílias de Macau comecem o seu dia com um bom copo de sumo”, contou ao HM.

Completamente natural

Numa altura em que há várias empresas e restaurantes de comida natural em Macau, o que torna diferente a Juice Ga? Vincent Ma garante que é o facto de todas as frutas e legumes serem biológicos.

“Fazemos sumos de pressão, com uma tecnologia diferente em relação às outras empresas. Temos sumos cem por cento naturais, sem adição de açúcar ou de água, usamos frutas e vegetais cem por cento naturais também. Temos planos detox próprios, em que a pessoa não come mais nada e apenas bebe os sumos para desintoxicar o organismo. É um tipo de dieta muito popular nos Estados Unidos e que ajuda o funcionamento do organismo”, conta.

Todas as receitas são preparadas por um nutricionista. “Acredito cem por cento nos meus produtos, porque são totalmente naturais, sem conservantes. Estou a tentar apostar numa maior diversidade de produtos para fazer os nossos sumos. Trabalhamos com uma nutricionista para criar sumos que sejam equilibrados em termos de calorias, com a dose certa para cada pessoa consumir diariamente”, adiantou Vicent Ma.

Apesar deste tipo de programas detox serem cada vez mais populares, a verdade é que a Juice Ga teve de passar por uma reestruturação recente, com um olhar mais atento ao mercado local.

“O negócio tem sofrido altos e baixos, não tem estado muito bem ultimamente. Estamos a tentar analisar o mercado de novo, porque não utilizamos quaisquer conservantes nos nossos produtos e penso que os preços que praticamos são algo elevados. Mas, neste momento, o mercado continua a aceitar os nossos produtos. Depois da nossa redução de preços em Dezembro, para metade do valor, o mercado está lentamente a aceitar os nossos produtos. Dezembro foi um mês muito importante para nós”, acrescentou.

Depois de fornecer bebidas para a indústria do turismo, a Juice Ga pretende ter uma visão mais abrangente do mercado. “A economia decresceu e muitas empresas começaram a cortar em alguns produtos. Então começámos gradualmente a passar do fornecimento da indústria hoteleira para todo o mercado. Neste momento apenas fornecemos alguns cafés, estamos mais focados no mercado no geral”, rematou o empresário.

 

 

Edifício industrial Chong Fong Bloco 1

Rua Doca dos Holandeses nº 75 84

Macau

4 Jan 2017

Filipinas | Navio militar russo visita Manila

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] chegada a Manila do navio de guerra russo parece confirmar a aproximação das Filipinas à Rússia e o afastamento, anunciado por Duterte, dos Estados Unidos

Um navio militar da Rússia atracou ontem em Manila numa invulgar visita para “promover a boa vontade”, num momento de aproximação de Manila a Moscovo e Pequim e de distanciamento em relação aos Estados Unidos.

O Admiral Tributs vai permanecer nas águas das Filipinas até sábado para participar em cerimónias e actividades conjuntas entre as forças navais de ambos os países, informou a marinha filipina em comunicado.

A visita do navio de guerra russo – a terceira na história e a primeira em quatro anos – “vai promover a boa vontade e contribuir para a amizade entre a marinha das Filipinas e da Rússia e vai melhorar a cooperação marítima através da diplomacia naval e camaradagem”, segundo o comunicado.

Aliança em causa

A chegada do navio russo é vista como uma confirmação da viragem na política externa e de defesa das Filipinas após a chegada ao poder, em Junho passado, do Presidente Rodrigo Duterte, que prometeu desfazer a tradicional aliança militar com os Estados Unidos.

O Presidente filipino, de 71 anos, ameaçou anular um pacto bilateral de defesa em vigor desde 1999 e que contempla, entre outros pontos, o uso de bases filipinas por parte do exército norte-americano e a realização de exercícios militares conjuntos de forma regular.

A tentativa de afastamento de Duterte em relação à Administração de Barack Obama – que poderá reverter-se com a chegada ao poder de Donald Trump – responde às críticas de Washington à sua “guerra contra as drogas”, que causou mais de 6.100 execuções extrajudiciais de alegados narcotraficantes e toxicodependentes nos últimos seis meses.

O Presidente filipino limou as diferenças com Pequim, com cujo Governo mantém um contencioso sobre a soberania de várias ilhas no mar do Sul da China, e apostou em estreitar os laços diplomáticos e de defesa com Moscovo.

Duterte, que criticou as políticas dos Estados Unidos e o Ocidente na sua primeira reunião bilateral com o Presidente russo, em Novembro no Peru, planeia visitar Moscovo em Abril ou Maio deste ano a convite de Vladimir Putin.

4 Jan 2017

Análise | O mundo no ano novo

Enquanto a Síria arde, a Europa explode e lança estilhaços de nativismo e xenofobia que alimentam radicalismo político. Na Ásia, joga-se um complicado xadrez, a olhar para o outro lado do Pacífico. 2017 tem a oportunidade de arrepiar caminho em relação aos erros do ano anterior, mas os sinais não apontam nesse sentido

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] ano começou com rajadas de tiros numa discoteca em Istambul que resultou na morte de 39 pessoas e em 65 feridos. O período festivo já tinha sido manchado a sangue em Berlim, quando um camião entrou numa feira de rua ceifando a vida a 12 pessoas, e ferindo mais de 50. Já vimos isto no passado, tanto no Bataclan em Paris, como na Promenade de Nice, modus operandi e resultados semelhantes. Seguindo a máxima de que o ódio gera mais ódio, o medo do terrorismo, a grande ressaca do globalismo e as falhas do neoliberalismo têm alimentado um populismo nativista que ameaça a paz e a coesão europeias. No meio da onda de medo há uma crise de refugiados que tem sido tratada com uma falta de humanismo que reforça a ideia de que nunca aprendemos com a história. Neste domínio, é imperioso uma resposta una e eficaz das instituições europeias, no plano internacional. Tanto na política externa de segurança, como na resposta à crise humanitária dos refugiados.

Infelizmente, na ressaca do Brexit e do crescimento de movimentos nacionalistas, a União Europeia parece caminhar no sentido da dissolução, numa altura em que os povos europeus mais precisam de unidade. “É necessário repensar o projecto europeu”, comenta o especialista em ciência política Rui Flores. Apesar da ascensão do eurocepticismo, as sondagens mostram que as pessoas continuam a apoiar o projecto europeu. Mas a Europa não tem correspondido com a agilidade necessária aos desafios com que se depara. O facto é que as próprias fundações do federalismo europeu parecem em risco, sendo este o tempo para agir. Situação que aflige Rui Flores, uma vez que o investigador não está certo “que tenhamos homens à altura do momento”.

Enquanto a Europa se prepara para ir a votos, a crise dos refugiados prossegue. Esta semana, mais de mil migrantes tentaram forçar entrada por Ceuta, numa sangria que parece não ter fim. O conflito sírio criou cerca de cinco milhões de refugiados, sendo que metade encontraram refúgio em solo turco. Um santuário/tampão comprado politicamente pela União Europeia, mais preocupada em acalmar oposições internas populistas do que em encontrar uma situação mais decente do ponto de vista humanitário.

Médio Oriente continua a arder

Entretanto, o Iraque continua a ser assolado por atentados como se fosse um facto natural com pouca, ou nenhuma, cobertura mediática, ou ultraje solidário nas redes sociais. Parece ser um facto incontornável da vida.

Um pouco a nordeste, prossegue uma das maiores crises humanitárias da região. A Síria continua a ser campo de batalha de uma guerra proxy entre grandes blocos bélicos e económicos, enquanto desperdiça sucessivos cessares-fogo com mais bombardeamentos. Em vez de se procurar resolução internacional, ou de se seguir a via diplomática, Aleppo continua a ser terraplanada, sem dó nem piedade, pelas aviações russa e do regime de Bashar al-Assad, indiferentes à distinção entre civis e grupos rebeldes. O regime sírio é um aliado de Moscovo, ao passo que Washington viu na guerra civil uma oportunidade para depor al-Assad, e controlar as vias de transporte de gás natural e petróleo. Pelo meio proliferou o ISIS, nascido do caos e do desacerto dos serviços secretos norte-americanos e da indiferença dos outros players internacionais.

Entretanto, o Iémen é palco de uma batalha sangrenta e silenciosa entre o Irão e a Arábia Saudita, com o conflito xiita/sunita a tomar o palco iemenita desde a tomada do poder pelos Houthis, um subgrupo xiita. Ora, aos sauditas não lhes agrada ter um país controlado por um grupo xiita à porta. Como tal, tem continuado uma campanha de bombardeamentos quase indiscriminados, arrasando escolas e hospitais, com a total indiferença das Nações Unidas, que perdem credibilidade a cada dia que passa. A assinatura do acordo nuclear do Irão não deixou Riade satisfeita, o que leva a um relativo fechar de olhos por parte de Washington, com enorme prejuízo para a decência e para o povo iemenita.

Efeito Trump

Pelo caminho surge uma wild card sem equivalente histórico no panorama internacional. Ainda antes da eleição, Donald Trump já tinha questionado a utilidade das Nações Unidas, além de romper com a solidariedade militar com membros da NATO. Declarações que deixaram Vladimir Putin com um sorriso de orelha a orelha. Há uma ambivalência na posição do Presidente eleito norte-americano em relação a Moscovo. Se, por um lado, parece confortável com a proximidade com Putin – desde a sucessiva troca de elogios, ao fechar de olhos à intervenção russa nas eleições –, por outro a nomeação do General James Mattis para secretário da Defesa parece indicar outro caminho. Mattis é um militar que afina pelo velho diapasão neocon que quer há muito invadir o Irão. Acrescentando a isto a vontade expressa de Trump em rasgar o acordo firmado pela administração Obama com Teerão, os tempos adivinham-se perigosos para o equilíbrio da região.

Seguindo uma lógica de relativa indiferença em relação à ONU, Trump nomeia Nikki Haley, uma crítica da campanha do magnata, como embaixadora para o organismo internacional. A nomeação foi uma concessão política à ala mainstream do Partido Republicano, que foi pulverizado pelo fenómeno Trump, e uma resposta à crítica de que não havia mulheres nas suas nomeações. Sem qualquer experiência no plano internacional, as suas posições em termos de política externa são desconhecidas. Tirando ser contra o acordo nuclear iraniano, um marco diplomático com elevado consenso no Conselho de Segurança da ONU. “As estruturas são feitas por quem lá está”, comenta Rui Flores. Isso significa que a ONU depende dos estados-membros que, por sua vez, são chefiados pelos partidos que estão no poder. Para o investigador, “isso faz com que, por vezes, não se defendam as instituições de forma efectiva”.

Europa a votos

Entretanto, 2017 será um ano de importantes cartadas eleitorais. Enquanto nos países do leste europeu Putin continua a exercer influência como se a União Soviética nunca tivesse sido dissolvida, o centro da Europa prepara-se para ir às urnas. A própria sobrevivência das instituições de Bruxelas parece estar em perigo com os movimentos eurocépticos a ganharem peso. Em França, a possibilidade de Marine Le Pen chegar ao Palácio do Eliseu continua real. Apesar das últimas sondagens retirarem a liderança à líder da extrema-direita francesa, a imprevisibilidade dos tempos, os votos de protesto contra o establishment, a questão do terrorismo, não podem ser negligenciados como factores decisivos. Não vivemos tempos de primazia da lógica ou dos velhos conceitos políticos. Quem diria há um ano que Donald Trump ganharia a eleição à Casa Branca ou que o Brexit vingasse? Eram resultados impensáveis, logo, a eleição francesa terá de ser vista com cautela, ou poderemos estar na eminência de um Franxit. Portanto, para derrotar Le Pen, parece que a alternativa mais viável é a aliança dos partidos do centro, provavelmente em torno do candidato da direita moderada François Fillon.

Também a Alemanha vai a votos para escolher chanceler para os próximos quatro anos. Igualmente a braços com o crescente populismo, a ainda chanceler Angela Merkel apresenta-se como a candidata para derrotar o crescimento da extrema-direita no país. Os democratas cristãos, que estão no poder, sofreram duros golpes nas eleições regionais de Setembro, em particular no estado Mecklenburg-Western Pommerania, bastião de Merkel, onde foram ultrapassados pela Alternativa para a Alemanha, um movimento de extrema-direita. Apesar de não ter chances tão boas como Marine Le Pen, Frauke Petry, também conhecida como Adolfina, deverá conquistar assento no parlamento germânico, marcando o retorno sinistro da extrema-direita ao Bundestag. Para Rui Flores, o principal desafio de Merkel prender-se-á com a “necessidade de alargar a coligação, de forma a garantir estabilidade governativa”.

Embrulhadas lusófonas

Entretanto, a turbulência no Brasil tem tudo para continuar em 2017, com a possibilidade bem real de eleição indirecta, em particular a manter-se a insatisfação popular e a crise económica.

Temer continua numa posição frágil, envolvido no caso Lava Jacto, não sendo de estranhar que seja afastado do poder para responder em tribunal. Mesmo que escape à justiça, apesar de ser mencionado nas delações dos executivos da Odebrecht, Temer vê a sua popularidade decrescer de dia para dia. Grande parte da população não lhe reconhece, sequer, legitimidade para estar no poder. Entretanto, cresce o fosso entre o que a população exige do poder político e a realidade que se vive em Brasília. 2017 não será pêra doce para os brasileiros.

Na África de língua portuguesa, destaque para Angola: 2017 é o ano em que tudo vai mudar para que, provavelmente, tudo fique mais ou menos na mesma. Sabe-se já que José Eduardo dos Santos, há quase 40 anos no poder, não vai ser o candidato do MPLA nas eleições deste ano, que deverão realizar-se em Agosto. No passado, o chefe de Estado angolano chegou a colocar a possibilidade de se afastar da política activa, não tendo cumprido a pretensão; desta vez, designou um sucessor. É o actual ministro da Defesa, João Lourenço.

As eleições gerais – presidenciais e legislativas – foram anunciadas durante uma reunião do comité central do MPLA, sob orientação de José Eduardo dos Santos. O último sufrágio do género em Angola, país que vive com fortes desigualdades sociais, realizou-se a 31 de Agosto de 2012, tendo o MPLA sido declarado vencedor, com mais de 71 por cento dos votos.

A novela coreana

Na Ásia, não se perspectiva um ano fácil. O Mar do Sul da China continua a ser motivo de discórdia entre várias nações asiáticas, com Pequim no centro de disputas territoriais sem fim à vista. Depois, a contribuir para um ano de poucas certezas, a situação na península coreana: as notícias que chegam de Pyongyang não são animadoras para a região, com as promessas belicistas nucleares de Kim Jong-un; em Seul, a situação política já conheceu dias melhores.

A Coreia do Sul vai escolher um novo Presidente até 20 de Dezembro de 2017. A lei em vigor impede a reeleição de Park Geun-hye, que terá, assim, cumprido apenas um mandato à frente dos destinos do país. O Presidente eleito deverá ser empossado a 25 de Fevereiro de 2018. Herda uma nação com poucas razões para acreditar nos seus políticos, depois da polémica que, de acordo com as notícias mais recentes, parece longe de resolvida.

Esta semana, Park Geun-hye, a Presidente destituída, quebrou um mês de silêncio sobre o escândalo de corrupção em que estará envolvida, refutando as acusações que lhe são feitas. Diz que se tratam de “invenções e falsidades”, explicando que foi vítima de uma armadilha em torno da fusão de duas empresas afiliadas da Samsung, caso no centro das investigações.

O destino de Park está nas mãos do Tribunal Constitucional, que tem ainda 180 dias para confirmar a destituição ou para lhe devolver o poder. Entretanto, foi detida na Dinamarca a amiga da Presidente que está no centro do caso de alegada corrupção. É esta mulher que terá agido em conluio com Park Geun-hye para extorquir dinheiro e favores de algumas das maiores empresas do país.

A instabilidade política na Coreia do Sul tem relevância não só para a situação da península, dividida pela fronteira mais militarizada do mundo, como também para a própria equação geopolítica entre os Estados Unidos e a China. Num momento em que não se sabe qual será a futura postura de Washington em relação à região Ásia-Pacífico, é desde logo desfavorável que os tradicionais aliados da Casa Branca se encontrem em convulsões internas.

A China em mudança

Mais perto de nós, a Norte, a China prepara-se para um decisivo Congresso Nacional do Partido Comunista Chinês (PCC). Cinco anos depois da escolha de Xi Jinping para liderar a estrutura – e, consequentemente, os destinos do país –, são esperadas mudanças no topo do PCC, uma vez que várias das principais figuras políticas deverão, por causa da idade, sair da política activa.

Dos sete membros do Comité Permanente do Politburo, cinco atingem 70 anos. Apesar de não haver uma regra escrita em torno da idade limite para o exercício de funções políticas no país, desde o pós-maoísmo, com Deng Xiaoping, que tem sido esta a norma.

Para já, não se sabe quem vão ser os substitutos daqueles que saem. Há apenas uma certeza: serão homens da máxima confiança de Xi Jinping que tem acabado com as aspirações políticas de pessoas que, em tempos, chegaram a estar bem colocadas na corrida ao poder. São os efeitos colaterais da forte campanha de luta contra a corrupção.

Além de estar em jogo como vai ser constituído o Comité Permanente do Politburo, o congresso será também decisivo para se perceber quem serão os sucessores da dupla Xi Jinping e Li Keqiang, daqui a cinco anos. Na China, o caminho faz-se a um ritmo próprio.

Ainda antes do importante congresso do PCC, Xi Jinping é o anfitrião da próxima cimeira das economias emergentes dos BRICS. Os líderes do Brasil, da Rússia, da Índia, da China e da África do Sul reúnem-se em Setembro, em Xiamen. Pequim assume este ano a presidência rotativa do grupo.

A difícil Hong Kong

Na relação com as regiões administrativas especiais, Pequim tem uma pedra no sapato que, de ano para ano, tem vindo a tornar-se mais dolorosa: Hong Kong. O ano na antiga colónia britânica começou com cerca de cinco mil pessoas na rua, num protesto contra a destituição de quatro deputados da ala pró-democrata. O calendário foi substituído, mas a tónica de 2016 deverá manter-se, com a sociedade dividida em relação ao futuro político da região.

O Governo Central fez entretanto saber que não vai autorizar a utilização de Hong Kong como “uma base para a subversão” contra a China Continental ou para prejudicar a estabilidade política. Os líderes do país estão cada vez mais preocupados com a força que o movimento independentista de Hong Kong – resultado directo do fenómeno Occupy – tem vindo a ganhar na cidade.

Em 2017, há um factor importante para a relação entre a China e Hong Kong, e para a vida da própria região administrativa especial: este é o ano de eleições para o Chefe do Executivo. É consensual, entre os analistas, que um dos problemas políticos do território tem que ver com a ausência de força política dos líderes no poder desde a transferência de soberania, em 1997. Para já, na sucessão a C.Y. Leung, estão na corrida o magistrado Woo Kwok-hing, mais próximo dos liberais, e Regina Ip, profissional das lides políticas com ligações a Pequim. A secretária-chefe para a Administração, Carrie Lam, o ex-presidente do Conselho Legislativo, Jasper Tsang, e o antigo secretário para as Finanças, John Tsang também deverão ser nomes em cima da mesa.

Tudo tranquilo

Se Hong Kong é motivo de preocupação para Pequim, já Macau não deverá causar dores de cabeça de maior. Dezassete anos depois da transferência de administração, e com excepção de dois grandes processos judiciais por corrupção, as autoridades da RAEM parecem estar em sintonia com as directrizes da capital. A começar o novo ano, Chui Sai On prometeu seguir as orientações de Pequim, e “unir e orientar toda a sociedade” para “amar a pátria e Macau”, e garantiu o respeito pela autonomia da cidade.

O ano que agora começou deverá ser positivo para a principal indústria do território, com a retoma dos últimos meses a apontar para números mais sustentáveis no universo dos casinos.

Quanto à vida política, 2017 é ano de eleições para a Assembleia Legislativa. Não se esperam grandes mudanças naquilo que é hoje a composição do órgão legislativo, mas há que ter em consideração que a nova lei eleitoral traz desafios em termos de campanha, sobretudo para os candidatos com máquinas mais modestas.

No que diz respeito a matérias judiciais, este ano vai ficar a saber-se do destino do antigo procurador da RAEM – o julgamento em que Ho Chio Meng vai acusado de mais de 1500 crimes está já a decorrer. O processo conexo deste caso de corrupção, em que vão ser julgados empresários, familiares e antigos colaboradores do ex-líder do Ministério Público, tem início a 17 de Fevereiro.

Se por cá tudo bem, a instabilidade será o signo de grande parte do resto do mundo para o ano que ainda agora começou. Vivemos tempos loucos e, como disse o filósofo francês Rousseau, ser são num tempo de loucos é, em si mesmo, uma insanidade. Que prevaleça a razão.


António Guterres | Dar uma hipótese à paz

No discurso de ano novo, António Guterres, o secretário-geral da ONU, disse que quer que 2017 seja o ano em que “a paz vem em primeiro lugar”. Com o mundo a implodir com várias crises como a Síria, a Coreia do Norte e o Iémen, Guterres interrogou-se como poderá ajudar “os milhões apanhados nos conflitos e que sofrem com guerras que não têm fim à vista”. Numa mensagem profundamente pacifista, o português lembrou que ninguém ganha e todos perdem com as guerras que assolam o planeta. A eleição de Guterres tem sido um tónico para os diplomatas das Nações Unidas que vêem nele uma figura unificadora, um político capaz de gerar consensos. Para o investigador Rui Flores, “tudo dependerá da sua capacidade para se relacionar com os países que dominam a organização internacional”. A rematar, no primeiro discurso enquanto líder das Nações Unidas, Guterres acrescentou que “aquilo a que aspiramos como seres humanos, dignidade, esperança, progresso e prosperidade, só podem ser alcançados em paz”.

3 Jan 2017

Kwan Tsui Hang interpela Governo sobre futuro do Canídromo

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] deputada Kwan Tsui Hang quer saber o que é que o Governo anda a fazer para acautelar, desde já, que o terreno deixado vago pelo Canídromo será utilizado de forma apropriada, com benefícios para a população que vive nas imediações.

Numa interpelação escrita ao Chefe do Executivo, a representante dos Operários recorda que, a 21 de Julho passado, o Governo anunciou ter dado dois anos à empresa que explora o espaço para acabar com as corridas de galgos no local. Sobre a futura utilização do terreno, contextualiza, o secretário para a Economia e Finanças explicou que a Administração iria ter em consideração “o planeamento urbanístico e as opiniões dos diferentes sectores sociais”.

Porque não vê nada a ser feito, Kwan Tsui Hang pergunta a Chui Sai quais são, afinal, os trabalhos relacionados com a recolha de opiniões a que se referia Lionel Leong, sublinhando que, depois do anúncio, “a sociedade tem estado a prestar muita atenção ao caso”.

“Passou quase meio ano e o Governo ainda não assumiu uma posição pública sobre o assunto. Não se fez qualquer consulta sobre a matéria”, lamenta. “O Governo devia ouvir opiniões e fazer já um planeamento sobre o futuro uso deste lote, bem como avançar com os procedimentos relacionados com a reutilização deste terreno”, defende. Kwan vinca que ainda vai ser preciso entregar o projecto ao Conselho de Planeamento Urbanístico, porque, quanto mais cedo se avançar, melhor será o aproveitamento feito deste “recurso extremamente raro numa zona residencial”.

Escolas e actividades

A deputada deixa ainda algumas sugestões sobre o que deverá ser o futuro do espaço onde hoje se praticam corridas muito criticadas por associações internacionais de direitos dos animais. A zona tem uma grande densidade populacional e, diz a representante dos Operários, tanto os moradores, como as escolas se queixam da falta de espaço para actividades. “É muito inferior ao nível médio do resto da cidade. Os residentes e as escolas instaladas nesta zona esperam que o Governo possa aproveitar o terreno para resolver a insuficiência de áreas livres”, diz.

Kwan Tsui Hang faz também referência ao projecto “obra do céu azul”, uma ideia avançada em 2015 pelo secretário para os Assuntos Sociais e Cultura para acabar com os estabelecimentos de ensino instalados em pódios. “Ainda há 11 escolas que precisam de novas instalações. O Governo coloca a possibilidade de aproveitar o terreno do Canídromo para responder às necessidades destas instituições?”, pergunta.

No mês passado, o Canídromo foi autorizado a funcionar até Julho de 2018, uma renovação da concessão que já se esperava. No início de Dezembro, questionada sobre o futuro das corridas de galgos e o espaço onde hoje acontecem, Angela Leong, a administradora-delegada da Sociedade de Jogos de Macau (SJM), afirmou que o conselho de administração da operadora esteve a analisar as possibilidades de exploração futura do local, tendo mostrado interesse em continuar a ocupar o terreno.

Para a também deputada, o Canídromo deverá manter o nome e a empresa deverá permanecer em actividade na zona – posição que, diz, é consensual no conselho de administração da SJM. Há já uma ideia para o espaço: desenvolver “projectos criativos”, como “concursos de animais domésticos”.

3 Jan 2017

Ng Kuok Cheong preocupado com órgão municipal sem poder político

Foi anunciado em 2015 mas, até agora, não há sequer um esboço do que poderá ser. Ng Kuok Cheong quer saber em que pé está o órgão municipal sem poder político e avisa o Governo de que estes atrasos não lhe ficam bem

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] a primeira missiva do ano enviada a Chui Sai On pelo deputado pró-democrata. Ng Kuok Cheong não está satisfeito com a forma como Sónia Chan, secretária para a Administração e Justiça, está a lidar com o dossiê relativo à criação de um órgão municipal sem poder político.

Os planos inicialmente anunciados pelo Governo davam o segundo semestre de 2016 como a altura para o início da consulta pública sobre a matéria, mas o ano terminou sem qualquer novidade.

Na interpelação escrita ao Chefe do Executivo, Ng recorda que a ideia da criação de um órgão desta natureza foi anunciada nas Linhas de Acção Governativa para 2016, em Novembro de 2015. “Chui Sai On referiu que no segundo semestre de 2016 iria acabar a elaboração das sugestões preliminares para que se iniciasse a consulta pública junto dos diferentes sectores sociais”, sublinha o deputado.

“Durante o plenário da Assembleia Legislativa, em resposta à minha pergunta, o Chefe do Executivo afirmou que, no segundo semestre de 2016, a consulta pública iria ser realizada, na expectativa de que o órgão municipal sem poder político pudesse ser criado em 2018”, acrescenta Ng Kuok Cheong.

O tribuno não esquece as declarações feitas por Sónia Chan, responsável por este processo. “A secretária para a Administração e Justiça também prometeu, mais do que uma vez, que a consulta pública iria ser realizada no segundo semestre de 2016”, vinca. “No entanto, o ano já acabou e ainda não foi realizada a consulta. Isto faz com que os cidadãos coloquem em causa a credibilidade do Governo”, considera.

Directos em toda a parte

Ng Kuok Cheong aproveita o texto para pedir, uma vez mais, que a constituição do futuro órgão municipal resulte de eleições directas – e pergunta ao Chefe do Executivo se esta hipótese faz parte dos planos da Administração. A talho de foice, questiona ainda o Governo sobre a possibilidade de transformar os conselhos consultivos do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais em comissões que sejam formadas por deputados municipais.

O pró-democrata pretende também saber por que razão não foi ainda realizada a consulta pública prometida.

Para já, pouco se sabe sobre o que será o futuro órgão municipal anunciado em 2015. Aquando das LAG para 2016, Sónia Chan explicou que “[o objectivo] é servir a população, designadamente nos domínios da cultura, recreio e salubridade pública, bem como dar pareceres de carácter consultivo ao Governo”, tendo então estabelecido o paralelo com os órgãos consultivos das zonas comunitárias. A secretária assegurava que se vai evitar a sobreposição de funções com outros organismos. “Quando definirmos as funções deste órgão vamos atender à existência de funções semelhantes nos outros conselhos”, garantiu.

Em Setembro de 2016, na altura da divulgação do documento final do Plano Quinquenal de Desenvolvimento de Macau, ficou a saber-se que a criação do órgão deverá ser concretizada apenas em 2019.

3 Jan 2017

Jogo | Analistas prevêem subida das receitas em Janeiro

O ano novo lunar vem aí e, por isso, os casinos vão estar cheios. Os especialistas acreditam que Janeiro vai ser o melhor mês para o jogo desde que começou a recuperação do sector

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] tendência inverteu-se em Agosto de 2016, com as receitas a recuperarem das perdas dos anos anteriores, e este mês os casinos de Macau deverão regressar a números francamente encorajadores. A expectativa é da Union Gaming Securities Asia, citada pelo site GGRAsia.

“Janeiro deve ser um mês com um crescimento grande”, apontou o analista Grant Govertsen. Para esta expectativa contribui o facto de o ano novo lunar se assinalar ainda durante o mês que agora começou. Os feriados são por norma aproveitados por muitos residentes da China Continental para virem a Macau jogar.

“Apesar de o calendário de Janeiro não ser favorável, com menos uma sexta-feira e menos um sábado [do que Janeiro de 2016], estamos à espera que a taxa de crescimento seja a mais elevada desde que começou a recuperação”, acrescenta Govertsen.

Também o Deutsche Bank Securities acredita num mês positivo para os casinos, com um crescimento das receitas brutas na ordem dos 12 por cento em termos anuais. “Como de costume, tendo em conta a volatilidade em torno do ano novo chinês, acreditamos que o melhor será analisar Janeiro e Fevereiro em termos agregados”, escreveram analistas da empresa numa nota divulgada esta semana.

Menos, mas melhor

Os casinos de Macau fecharam 2016 com receitas de 223,21 mil milhões de patacas, uma queda de 3,3 por cento face ao cômputo de 2015. Trata-se do terceiro ano consecutivo de quebra depois de uma diminuição de 34,3 por cento em 2015 e de 2,6 por cento em 2014.

Apesar da contracção em 2016, os últimos meses do ano mostraram sinais de recuperação, com Dezembro a marcar o quinto mês consecutivo de subida das receitas em termos anuais homólogos, segundo os dados publicados pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ).

No último mês do ano, as receitas dos casinos atingiram 19,815 mil milhões de patacas, ou seja, subiram oito por cento, depois de 14,4 por cento em Novembro. Em Agosto, terminaram 26 meses consecutivos de quedas anuais homólogas do sector.

Arrastada pelo desempenho do seu principal motor, a economia de Macau entrou em queda no terceiro trimestre de 2014, ano em que, pela primeira vez desde a transferência, o Produto Interno Bruto (PIB) diminuiu (menos 1,2 por cento, de acordo com os dados oficiais revistos). Em 2015, o PIB caiu 21,5 por cento. No primeiro e segundo trimestres de 2016 contraiu-se 12,4 por cento e sete por cento, respectivamente, em termos anuais homólogos.

Ao fim de dois anos de contracção, a economia de Macau voltou a crescer, com o PIB a aumentar quatro por cento no terceiro trimestre terminado em Setembro.

3 Jan 2017

Não residentes | Ginecologia e obstetrícia com preços mais elevados no hospital público

Kuok Cheong U, director do Centro Hospitalar Conde de São Januário

[dropcap style≠’circle’]K[/dropcap]uok Cheong U, director do Centro Hospitalar Conde de São Januário (CHCSJ), revelou que houve um aumento de 10 a 12 por cento face a 2015 no número de mulheres não residentes que deram entrada no hospital público para darem à luz os seus filhos.

Segundo o Jornal do Cidadão, Kuok Cheong U referiu que o hospital público está a estudar a possibilidade de cobrar preços mais elevados nos serviços de ginecologia e obstetrícia às mulheres não residentes, por forma a tornar a cobrança mais razoável.

Kuok Cheong U explicou que iriam ser tidos em conta factores como a inflação, os custos com as cirurgias e internamentos, e ainda as taxas cobradas nas regiões vizinhas. O responsável disse, contudo, que os valores cobrados às mulheres residentes não vão sofrer mudanças.

Actualmente, os titulares de bluecard pagam a totalidade das taxas moderadoras no hospital público, sem direito a qualquer desconto, ao contrário do que acontece com quem tem a residência permanente e não permanente. Ainda assim, houve queixas de que as taxas moderadoras não são actualizadas desde 1986, sendo que as despesas médicas têm vindo a aumentar nos últimos anos. O director do São Januário referiu, contudo, que se tratou de um aumento razoável, e que tanto os recursos humanos como as infra-estruturas hospitalares ainda não sofrem muita pressão. Até finais de 2016, trabalhavam em Macau cerca de 105 mil trabalhadores não residentes.

3 Jan 2017

Estudo | 24 por cento dos jovens trabalhadores são pobres

Um estudo realizado pela Comissão dos Assuntos da Juventude, da FAOM, conclui que pelo menos 24 por cento dos jovens que estão a trabalhar continuam a ser pobres, com um salário anual abaixo das 74.880 patacas. Há preocupações sobre a pobreza no pleno emprego

[dropcap style≠’circle’]T[/dropcap]endo como base o salário mínimo em vigor de 6240 patacas, pago a empregadas de limpeza e trabalhadores da área da segurança, há ainda jovens trabalhadores que são considerados pobres. Um estudo elaborado pela Comissão dos Assuntos da Juventude da Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), referido no Jornal do Cidadão, mostra que 23,9 por cento dos jovens com emprego têm um salário anual inferior a 74.880 patacas.

Além disso, 86 por cento dos jovens consideram que o baixo salário é o factor principal para a pressão sentida no trabalho, enquanto 75,4 por cento dos inquiridos já tiveram a experiência de mudar de emprego.

Pobreza na riqueza

Citado pelo Jornal do Cidadão, o académico Lian Si, docente da Universidade de Negócios e Economia Internacional de Pequim, alertou para a existência de situações de pobreza num contexto de pleno emprego. “Esta pobreza é mais especial e também mais severa, e o Governo deve prestar atenção”, apontou o académico na conferência de imprensa.

No que diz respeito à consciência profissional dos empregadores jovens, o estudo revelou que a remuneração e a perspectiva profissional são dois elementos que os jovens valorizam mais quando fazem a escolha de um emprego durante a sua carreira, ocupando 43,7 por cento e 27,2 por cento, respectivamente.

Cerca de 71,8 por cento dos inquiridos já pensaram em prosseguir os estudos académicos para aumentar a sua formação, enquanto 47,7 por cento se sentiram inferiorizados no trabalho devido ao seu baixo nível de educação.

Pelo contrário, 54,2 por cento dos inquiridos consideram que o facto de se possuir uma formação académica não traz grande influência para a remuneração, e 6,5 por cento considera que um canudo não tem qualquer influência. Apenas 35,4 por cento defendem que uma formação superior tem uma grande influência no ordenado mensal.

O estudo levado a cabo pela FAOM mostra que quanto mais elevada é a formação académica em Macau mais ganham os trabalhadores, o que significa que os jovens não têm a consciência da relação entre formação e salário.

O responsável pelo estudo considera ser necessário o estabelecimento de um mecanismo de formação contínua junto dos jovens, bem como a promoção dos estudos junto destes trabalhadores.

3 Jan 2017

Governo aumenta taxas sobre veículos acima dos 50 por cento

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stão a gerar polémica as novas taxas referentes à circulação de veículos, inspecção, exames de condução, bem como ao depósito e remoção de viaturas, que entraram em vigor no passado domingo. Segundo um comunicado da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT), os aumentos variam entre os 50 por cento e os 1233 por cento, sendo que “a taxa de remoção de veículos é aquela que tem um maior aumento”, situado entre os 400 por cento e 1233 por cento.

A DSAT explicou as razões para tão elevados aumentos. “Dado que as referidas taxas foram praticadas, sem alteração, há mais de dez anos, encontrando-se muito desfasadas do mercado, e a fim de corresponder ao objectivo de controlar o crescimento da frota de veículos, através do meio económico, e orientar o uso racional dos veículos, é relativamente grande a sua actualização”, argumentou.

As actualizações respeitantes à renovação de licença de veículos não visam apenas os condutores comuns, mas também aqueles que possuem um alvará de táxi, sem esquecer os casos de transferência de propriedade de licença. Por forma a “reprimir as especulações com as licenças”, transferir a propriedade da mesma passa das actuais duas mil patacas para 20 mil patacas.

Para depositar motos e veículos antigos, o proprietário terá de pagar 250 patacas no caso de se tratar de um velocípede e seis mil patacas para automóveis pesados e veículos especiais. A taxa de remoção de um ciclomotor sobe das 120 patacas para 750, enquanto para automóveis ligeiros sobe de 300 para 1500 patacas. A DSAT explica que o objectivo, nestes casos, é “dissuadir os condutores que tenham ocupado os lugares de estacionamento, quer em parques de estacionamento públicos, quer em parquímetros de vias”.

Haverá ainda mudanças na forma como são adquiridos os números de matrícula dos automóveis, “por forma a evitar que os cidadãos façam fila de espera toda a noite para a aquisição dos números de matrícula e reprimir as respectivas especulações”. Por isso, a DSAT aumentou o valor da taxa de alienação dos números de matrícula, além de adjudicar os números a quem oferecer preços mais elevados, em vez de ser feita a atribuição pela ordem de chegada.

Vozes do contra

Em declarações ao jornal Ou Mun, o deputado Ho Ion Sang começou por referir que o problema do trânsito existe há muito tempo em Macau, mas que o Governo não tem feito quaisquer trabalhos para controlar o tráfego. Para o deputado, o ajustamento das taxas deve corresponder à actual inflação, sendo que o seu aumento repentino poderá provocar ainda mais descontentamento junto dos cidadãos.

Para Ho Ion Sang, deve haver mais transparência em futuros aumentos. “Não se devem resolver os problemas do trânsito apenas através de meios económicos. As últimas medidas adoptadas pelo Governo estiveram todas relacionadas com pagamentos em dinheiro. Ainda assim, o serviço de transporte público não consegue satisfazer as necessidades da população em termos de deslocações. As obras nas vias públicas e o adiamento do traçado do metro ligeiro na península também constituem factores importantes para o agravamento do problema”, apontou.

Apesar de a DSAT querer, com estes aumentos, combater o estacionamento ilegal, a verdade é que, para Ho Ion Sang, esse problema deve-se à falta de parques de estacionamento. O deputado alertou para a ausência de medidas do Executivo nesse sentido.

Os novos aumentos também despertaram a atenção dos deputados José Pereira Coutinho e Leong Veng Chai, que convocaram, para hoje, uma conferência de imprensa intitulada “Acabem com as multas exageradas”. O encontro com os jornalistas decorre na Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau.

3 Jan 2017

Vincent Cheong, responsável da Live Music Association | Acabar para voltar de novo

O espaço da Live Music Association, que dá palco à música alternativa, vai fechar portas sexta-feira com a promessa de retorno. O momento é de pausa para repensar o trabalho que foi feito e reorganizar o futuro. “Reconstruction closing party” é o nome da festa de despedida. O responsável pelo local, Vincent Cheong, faz um balanço ao HM e fala dos projectos que tem para o LMA

[dropcap]O[/dropcap] que é que vai acontecer na sexta-feira?
O nome que demos ao evento de sexta-feira foi ‘festa de reconstrução’. A ideia apareceu porque o LMA está num momento em que vai fechar temporariamente. Queremos usar este tempo de pausa para podermos reconstruir tudo aqui, porque queremos fazer mais e melhor. Actualmente isso é difícil de conseguir: temos problemas de recursos humanos, o material também precisa de ser actualizado e a promoção necessita de ser repensada.

Qual foi a ideia inicial deste espaço e que desafios foram encontrados para que fosse necessário parar?
A ideia começou por eu próprio ter uma banda e sentir a necessidade de um local onde fosse possível dar concertos. Em Macau, na altura, não havia espaço para os músicos tocarem. Precisávamos de organizar um concerto e para isso tínhamos de pedir ao Governo e, na melhor das hipóteses, conseguíamos um espectáculo esporádico. Naquela altura sentíamos que não tínhamos oportunidades de tocar pelo que, na maioria das vezes, tocávamos na China Continental.

No Continente a música ao vivo é muito mais promovida?
Sim. A existência de espaços com música ao vivo é muito popular e qualquer espaço aqui à volta como Cantão, Zhuhai ou Shenzhen têm uma série de locais para esse fim. Para nós, a questão era porque é que em Macau não existiam esse tipo de salas. Foi daí que partiu a ideia do LMA: criar um espaço focado unicamente na música ao vivo. Antes do LMA já tinha um estúdio de ensaios e, sempre que ensaiávamos, apareciam amigos para nos verem. Acabávamos por ter boas conversas e beber uns copos enquanto tocávamos. Foi então que pensei que, se conseguisse ter um espaço maior para acolher mais pessoas, poderia resultar. Encontrar um sítio onde isso fosse possível podia ser complicado; no entanto, acho que estávamos no momento certo. Na altura as rendas aumentaram muito, estávamos em 2006. A renda do estúdio aumentou cerca de dez vezes e aproveitei para pensar num novo destino em que pudesse ter a valência da música ao vivo. Foi assim que apareceu o primeiro espaço do LMA. Os edifícios industriais não eram procurados. Eram prédios mais antigos e a inflação do sector imobiliário só atingia os apartamentos destinados à habitação. Por isso, conseguimos um excelente contrato. Era um espaço muito grande e perfeito para o que queria fazer.

Como foram os primeiros tempos de LMA quando nasceu, em 2007?
Dada a necessidade, o início do LMA foi muito bom. Lembro-me do primeiro concerto que tivemos: era uma banda de Berlim. A promoção foi apenas através de pósteres espalhados pela cidade e tivemos cerca de 100 pessoas a assistir. Esta audiência veio confirmar a ideia que tinha de que Macau realmente precisava de um espaço assim. Acabámos por organizar algumas festas com DJs, concertos de rock e música mais alternativa. Ficámos ali cerca de seis anos e depois fomos obrigados a mudar.

O que é que aconteceu?
O de sempre. O valor da renda subiu cerca de 20 vezes e o edifício foi vendido. Neste momento é um templo budista. Uma das maiores dificuldades que tivemos foi encontrar uma nova localização, num edifício industrial e que não ficasse fora de mão. Conseguimos aqui na Coronel Mesquita: um espaço central e onde toda a gente chega com facilidade.

Mas esta relocalização não foi totalmente positiva.
Não sei o que aconteceu nestes últimos anos, mas parece-me que o público começou a perder o interesse ou a paixão por este tipo de iniciativas. Parece que as pessoas têm outro tipo de interesses. Cada vez temos menos público a vir aqui. Penso que uma das áreas em que estamos a falhar será a da promoção. Precisamos de repensar muito este aspecto. Usamos muito o Facebook, por exemplo, e já não está a resultar. Precisamos de uma nova maneira de promover a música ao vivo.

Já existe alguma estratégia nesse sentido?
Estratégia definida ainda não, mas já existem algumas ideias. Queremos chegar à população mais jovem que está a estudar. Junto da universidade, por exemplo. Já temos muitos alunos vindos da China Continental e esse é também um mercado a ter em conta. Os estudantes precisam de encontrar actividades de lazer que considerem atractivas. Precisamos de criar uma equipa de promoção. A ideia é ter uma rede em que um grupo de pessoas fique responsável pela promoção. Macau tem várias camadas sociais com diferentes origens e interesses. Precisamos de ter uma pessoa na equipa que contacte com cada uma dessas camadas, de modo a abranger a generalidade da população. Não sei como vai resultar, mas sei que esta é uma forma. Não temos dinheiro para pagar publicidade, porque é tudo muito caro, por isso a forma que temos é fazer chegar a informação e a promoção através de uma rede de pessoas. Vamos também remodelar o espaço. Continuamos aqui mas queremos, de alguma forma, recriar este lugar. Fundamental é ainda a renovação do equipamento. O equipamento que usamos é o mesmo desde há quase dez anos. É necessário que seja renovado ou arranjado. Outra falha que sentimos e que necessita de ser colmatada é a existência de um engenheiro de som. Felizmente temos sempre um, mas é um mercado que também falta em Macau: os que há estão sempre muito ocupados e nós vamos usando os dos casinos quando estão de folga. Para um concerto ser bom tem de ter bons profissionais. Queremos investir em alguém que consiga trabalhar com diferentes tipos de música e adaptar-se sempre ao que cá vier, com garantia de qualidade.

Como é que a associação tem sobrevivido financeiramente?
Temos tarefas em que pagamos às pessoas que cá trabalham, mas a maioria das funções, como o pessoal que trabalha no bar de apoio, é trabalho de voluntariado. As pessoas que aqui trabalham acreditam no projecto e, por isso, ajudam ao mesmo tempo que acabam por se divertir e contribuir para um objectivo comum.

A equipa tem-se mantido ao longo dos anos? 
Não. Por não ser uma função estável, mudámos muitas vezes. Tenho perdido muita gente e também ganho outras pessoas que vão aparecendo. As pessoas arranjam novos empregos, a disponibilidade também muda e acabam por ir embora. Encontro novas pessoas que se interessam e o ciclo recomeça. Faço muita coisa sozinho, mas não consigo fazer tudo. A minha principal função é ter contactos para trazer cá os músicos. Gostava de conseguir apenas focar-me em trazer os músicos e no design de comunicação.

Quando é que podemos contar com um regresso?
Não temos uma data concreta. Precisamos de redefinir tudo. Sabemos que vamos voltar, mas não sabemos quando.

Em quase dez anos, quais são os melhores e piores momentos do LMA?
Os piores foram, sem dúvida, as mudanças que tivemos de fazer. Encontrar um espaço e mudar outra vez foi um pesadelo. Mas os melhores momentos são aqueles em que estamos a pensar em novos concertos. Recordo, por exemplo, o concerto com que assinalámos o nosso segundo aniversário. Tínhamos uma banda japonesa e a casa cheia.

Como é que o LMA tem conseguido trazer tantas bandas oriundas um pouco do mundo inteiro?
Não temos cachets para tratar da produção de todos os nomes que cá vêm. No entanto, há cada vez mais artistas que passam perto de Macau porque estão em digressão na China Continental. São cada vez mais e vindos de todo o lado. Há muitos festivais que trazem artistas à Ásia e que acabam por fazer digressão pelo país. Uma vez em digressão, propomos o LMA como ponto de passagem. Com estes quase dez anos de vida fomos sendo também cada vez mais conhecidos, e já temos as bandas e as produtoras a proporem a passagem dos músicos por aqui, porque sabem que em Macau existe o LMA. Com facto de se trazer bandas de fora, os músicos locais acabam por se juntar em pequenas sessões de improvisação. É óptimo para todos: não só dá a conhecer aos que vêm de fora o que se faz por cá, como expande os horizontes locais. É bom para todos. Muitas vezes, depois dos concertos, público e músicos ficam a conversar. Trocam impressões acerca do que foi tocado, de técnicas e preferências, e todos ganham com isso.

Que bandas gostaria de trazer ao LMA no futuro?
Não sei ainda mas sei, de certeza, que na reabertura teremos uma banda de referência e uma grande festa. Precisamos mesmo de fechar antes que isso aconteça. Queremos ser os melhores para acolher todo o tipo de músicos e chegar ao maior número de pessoas que conseguirmos.

 

3 Jan 2017

Taiwan insta Pequim a diálogo “calmo e racional”

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Presidente Tsai Ing-wen apela à racionalidade, mas assegura que não se deixará influenciar por manobras intimidatórias vindas de Pequim

A Presidente de Taiwan instou no fim-de-semana a China a um diálogo “calmo e racional” e disse que não cederá a movimentações que visam “ameaçar e intimidar” a ilha.

Tsai Ing-wen afirmou, numa conferência de imprensa, que Taipé e Pequim devem manter conversações com base em “atitudes flexíveis” para assegurarem a manutenção de relações pacíficas e estáveis.

Por outro lado, garantiu que não cederá às pressões da China, que recuperou “velhas formas” de intimidação, depois de protestos de Pequim por o Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, ter falado por telefone com Tsai Ing-wen no início deste mês.

Desde então, a China tem feito exercícios militares perto de Taiwan, numa aparente demonstração de força.

O Ministério da Defesa chinês admitiu na quinta-feira que manobras realizadas no Pacífico pelo porta-aviões Liaoning, que passou por águas próximas de Taiwan, visaram “dissuadir as forças independentistas taiwanesas”.

Pequim considera Taiwan uma província chinesa e ameaça com o “uso da força”, caso o território declare independência.

A ilha, onde se refugiou o antigo Governo chinês depois de o Partido Comunista (PCC) tomar o poder no continente, em 1949, assume-se como República da China. Taipé e Pequim dizem que existe uma só China.

A chamada telefónica de Trump para Taipé pôs fim ao protocolo diplomático seguido há décadas por Washington, que privilegia as suas relações com Pequim.

“As autoridades de Pequim estão a regressar às suas velhas formas de isolamento e supressão de Taiwan, e mesmo a ameaças e intimidação”, disse Tsai.

“Esperamos que isto não seja uma decisão política de Pequim”, disse ainda acrescentando: “Não cederemos à pressão, mas também não regressaremos à velha atitude de confrontação”.

A China suspendeu os contactos com Taiwan em julho, depois de Tsai ter tomado posse e ter recusado o “consenso 1992”. Trata-se de um entendimento tácito alcançado naquele ano entre a China e Taiwan, na altura com um Governo liderado pelo Kuomintang (nacionalistas), de que só existe uma China, deixando aos dois lados uma interpretação livre sobre o que isso significa.

Viagem à América

A Presidente de Twain vai passar pelos Estados Unidos em Janeiro, em trânsito para países da América central, mas não confirmou se terá algum encontro com a equipa ou representantes de Donald Trump.

Na mesma conferência de imprensa, Tsai disse que as relações diplomáticas de Taiwan com as Honduras, Guatemala e El Salvador são “consideradas estáveis”.

No dia 20 deste mês, São Tomé e Príncipe cortou relações diplomáticas com Taiwan e reconheceu a República Popular da China.

Seis dias depois, na segunda-feira, a China anunciou o restabelecimento dos laços diplomáticos com São Tomé.

Neste momento, apenas 21 países no mundo, incluindo o Vaticano, reconhecem Taiwan e mantêm relações diplomáticas com a ilha.

3 Jan 2017

Pequim diz que Hong Kong não deve ser usada para subverter o país

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m dirigente chinês advertiu Hong Kong de que a China não vai permitir que ninguém use a cidade para prejudicar a estabilidade do país, depois de nos últimos meses terem aumentado as tensões sobre o emergente movimento pró-independência.

As tensões intensificaram-se na antiga colónia britânica depois de dois jovens pró-independência, durante os seus discursos de tomada de posse como deputados, terem usado palavras consideradas difamatórias para a China, comprometendo-se a servir a “nação de Hong Kong”.

Numa entrevista à televisão estatal CCTV no domingo, o director do Gabinete de Ligação do Governo Popular Central em Hong Kong, Zhang Xiaoming, disse que controlar o movimento pró-independência na cidade requer o reforço da “consciência de fundo” entre a população.

“Em relação a Hong Kong, ninguém é autorizado a envolver-se em qualquer tipo de actividade que prejudique a soberania e segurança nacional, ou que desafie a autoridade do governo central ou a Lei Básica de Hong Kong, ou usar Hong Kong para infiltrar e subverter a estabilidade social e política do interior da China”, disse Zhang.

“Estas são as três linhas de fundo”, acrescentou.

Sinal de alarme

As autoridades do Partido Comunista chinês têm visto com alarme a emergência dos políticos pró-independência, apesar de apenas uma minoria dos residentes de Hong Kong apoiar tal movimento.

Antiga colónia britânica, ocupada durante a Guerra do Ópio, em meados do século XIX, Hong Kong é desde Julho de 1997 uma Região Administrativa Especial da China.

Segundo a fórmula “um país, dois sistemas”, adoptada também em Macau, as políticas socialistas em vigor no resto da China não se aplicam no território e, excepto nas áreas da Defesa e Relações Externas, o território goza de “um alto grau de autonomia”.

O desaparecimento no ano passado de cinco livreiros conhecidos por publicarem livros sobre a vida privada dos líderes políticos chineses gerou a condenação da comunidade internacional e aumentou os receios de muitos residentes de Hong Kong quando, meses mais tarde, os cidadãos desaparecidos apareceram presos no interior da China.

Ao abrigo do actual sistema eleitoral, o líder do Governo de Hong Kong é seleccionado por um colégio eleitoral de 1.200 membros representativos dos vários sectores sociais.

O impopular líder da cidade, Leung Chun-ying, também conhecido por CY Leung, e considerado por muitos dos seus críticos como um “fantoche” de Pequim, disse no mês passado que não voltaria a concorrer ao cargo de chefe do Executivo.

Regina Ip, antiga secretária para a Segurança, e o juiz na reforma Woo Kwok-hing, são as duas candidaturas apresentadas ao cargo até à data.

3 Jan 2017

Reportagem | Visita ao mundo das corridas virtuais de Macau

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]outros tempos, os aficionados por velocidade tinham poucas opções para saciarem a adrenalina. Ou viam os Grande Prémios de Fórmula 1 na televisão, e isso só abria ainda mais o apetite, ou davam umas “aceleradelas” em Coloane ou esperavam e desesperavam por Novembro pelo Grande Prémio de Macau. Os tempos mudaram e agora nem sequer é preciso sair de casa ou esperar pelo que quer que seja. Basta um computador bem apetrechado com um volante com force feedback (reprodução exacta da sensibilidade do volante), um banco estilo competição e um bom televisor de plasma e voilá: temos um simulador de alta qualidade. Esta é a receita perfeita para quem gosta dos prazeres da velocidade e não tem possibilidades para “queimar borracha” ao vivo e a cores.

Com o crescimento dos eSports (competições profissionais de jogos electrónicos), que hoje em dia representam uma indústria que movimenta milhões e cujos profissionais, em alguns países já considerados atletas de alto rendimento e chegam a auferir chorudos ordenados, elevou a parada para outros níveis. A capacidade hoje existente de jogar online, contra “pilotos virtuais” de qualquer outra parte do planeta, abriu as portas à materialização e expansão das competições virtuais de automobilismo (ou Sim Racing, na designação inglesa). Esta resulta da fusão da tecnologia avançada da simulação de corridas para criar um desporto totalmente novo atendendo às expectativas cada vez mais exigentes de uma audiência que procura uma melhor experiência, proporcionando quase todas as reacções físicas como em competição num carro “real”.

Plataformas como as do Assetto Corsa, iRacing ou a série rFactor, ou, nas consolas, as séries F1, MotoGP, Nascar, Forza, Grid, Gran Turismo e Project Cars, abriram as portas para um novo consumidor de desportos motorizados. É fruto desta pequena revolução digital que nasceu a Associação SimRacing Macau-China (Macau SimRacing Association, na sua designação inglesa); a primeira associação para corridas de simuladores registada em Macau e no Sudeste Asiático, constituída por um grupo de apaixonados de simuladores de automóveis (Sim Racers, na designação inglesa) que esperam competir com os melhores da especialidade em todo o mundo.

“A SimRacing é uma plataforma e método de treino para aqueles que são entusiastas e apaixonados pelos desportos motorizados. A nossa missão é levar o Sim Racing (abreviatura de Simulator Racing) até outro nível em Macau e no Sudeste Asiático”, lê-se na introdução da associação fundada por Carlos Fu, Simon Sanchez e Bruno Cardoso, na rede social Facebook.

A razão de existir

Apesar da sua reduzida dimensão, Macau goza de uma história e reputação no automobilismo mundial que é de fazer inveja às grandes nações do continente asiático. Várias gerações nasceram a ver o Grande Prémio e nem todos escaparam ao “vírus” dos desportos motorizados. Com a possibilidade de participar a sério no Grande Prémio e outras competições automóveis cada vez mais reduzida, devido aos custos cada vez mais altos e profissionalismo exigido, o virtual acaba por ser um escape indicado para aqueles. Aliando uma velha paixão da terra ao rápido desenvolvimento dos desportos virtuais nasceu a Associação SimRacing Macau-China.

“Criamos a associação porque verificamos que esta modalidade tem crescido em vários países a nível de números de participantes e do nível de profissionalismo, o que implicou a necessidade de se elevar o nível organizativo”, explicou o presidente Carlos Fu ao HM. “Entendemos que Macau também devia ter uma organização para regular o Sim Racing e uma vez que existe um intercâmbio bastante activo entre várias associações de vários países, decidimos que o nome de Macau podia estar melhor representado nesta modalidade, não só a nível asiático mas também a um patamar mais alto, a nível internacional”.

Os esforços das gentes da terra não têm sido em vão, pois “até fomos convidados para ser um dos membros de uma entidade internacional de Sim Racing que se encontra a formar por várias associações internacionais, o que nos deixa bastantes orgulhosos em ver o nome de Macau nos planos de uma organização tão importante do mundo do Sim Racing”.

Sabendo que há muitos entusiastas de automobilismo no território, o panorama actual das corridas de simuladores na RAEM está ainda muito verde. “Existem poucas lojas em Macau onde se possa experimentar correr em simuladores e as corridas não são através da internet, ou seja, competem entre os que estão na loja, ao contrário dos membros da MSRT que têm montando em casa os seus próprios simuladores”, clarifica Fu.

A Macau SimRacing Team tem actualmente doze pilotos a competir em provas internacionais.

“A nível de corridas internacionais podíamos ter mais participantes porque é sabido que todos os anos vemos pilotos locais a participarem em corridas automobilísticas, por isso seria óptimo juntarmos a todos os cidadãos que querem experimentar o automobilismo sem suportar os elevados custos e riscos que o automobilismo acarreta”, aclara Fu que realça que “é ainda do conhecimento geral que os pilotos profissionais usam o Sim Racing para treinos e adaptação a circuitos. Podemos perguntar a todos os pilotos que vêm ao Grande Prémio de Macau, quantos usaram os simuladores para treino de adaptação do Circuito da Guia. Acredito que mais de 90% respondem afirmativamente. Muitas vezes encontramos vários pilotos profissionais com renome a correr na mesma corrida que nós”.

A associação apoia a equipa Macau SimRacing Team, que tem experiência em corridas internacionais há mais de 10 anos, e conta com alguns ex-pilotos que já participaram no Grande Prémio e em corridas de karting. A equipa compete neste momento no campeonato asiático de GT3 organizado pela “Sim Racers Asia” e ainda no Campeonato de Fórmula 2.0 organizado pela “Center Force Racing”, ambos na plataforma de iRacing para PC.

“Para um futuro próximo vamos entrar em mais corridas e em diferentes plataformas, como o RaceFactor 2, Project Cars, Assetto Corsa, etc”, diz o nosso interlocutor. “Bem como em breve a associação irá organizar um troféu e já recebemos aceitação de convites de vários pilotos da Ásia, Europa e dos EUA. Com a corrida a ser transmitida em directo no Youtube, com comentários em directo e em diferido para o Youku para os entusiastas da China. Estamos a obter bons resultados em quase todas as competições em que participamos, falo em vitórias e em posições do pódio em várias corridas. Esperamos ganhar o campeonato a nível de pilotos e em equipas na classe “clubman” do campeonato asiático de GT3”. Recentemente dois pilotos de Macau estrearam-se na “World Cup of iRacing 24 Hours Endurance race” a convite do iRacing Asia Club.

Falta de apoios

Até aqui a associação ainda não recebeu qualquer apoio do governamental e os únicos suportes com que conta são os pequenos patrocinadores que apoiam a equipa nas corridas do mundo virtual. “Todo o equipamento é pessoal. A equipa da Macau SimRacing Team tem patrocinadores que apoiam a modalidade e em troca têm a sua marca divulgada nos nossos carros. O SimRacing tem sido largamente divulgado nos media, as corridas são transmitidas em directo no Youtube e até tem comentários profissionais. Existem equipas que por exemplo têm patrocínios oficiais de grandes empresas mundiais, tal como acontece nas corridas de automobilismo”, explica Bruno Cardoso.

Os custos de competir não se aproximam do real, apesar das despesas dependerem da carteira de cada um. Qualquer novo entusiasta tem que estar preparado para o investimento inicial.

“O preço do material varia bastante”, diz-nos Fu. “O essencial é o conjunto volante e pedais. Existem volantes a 2 ou 3 mil patacas, como também existem uns melhores que podem chegar às dezenas de milhares patacas. O mesmo para os pedais e outros acessórios. Ainda se pode adquirir um “cockpit” fixo constituído por suportes de monitores, volante, pedais, mudanças, banco, etc, ou até um cockpit com suporte de movimentos, que se podem adquirir por dezenas de milhares até os mais sofisticados que ascendam a um milhão de patacas!”

De Macau para o mundo

A curto prazo a Associação SimRacing Macau-China espera, para além de aumentar o número de associados, crescer internacionalmente.

Fu não esconde que “a associação foi convidada para ser membro de uma organização internacional, que é constituída por associações de SimRacing de vários países e que eventualmente irá funcionar como a FIA. Queremos ser mais activos e sermos vistos como uma associação activa em prol do desenvolvimento do SimRacing na Ásia e progressivamente a nível internacional”.

Os objectivos não se ficam por aqui, pois “queremos juntar mais praticantes de Sim Racing e prestar apoio técnico, com a ajuda de membros mais experientes, para desenvolver e regular o Sim Racing em Macau com o intuito de ajudar pilotos que competem automobilismo e para aqueles que competem Sim Racing para todos obterem bons resultados em competições internacionais em representação de Macau”. Mas para crescer e para que alguns destes objectivos sejam palpáveis, Fu espera que lhe sejam concedidos “apoios por parte das entidades governamentais e até empresariais. Todos juntos temos condições de ter um papel importante no mundo Sim Racing”, conclui.

Tal como o automobilismo real, esta vertente virtual pode ser atractiva para uma RAEM que procura “diversidade” na área do turismo e diversão. Fu relembra que “eventos internacionais de SimRacing, como a Simrace Expo 2016, que se realizou em Nürburgring, Alemanha, atraem bastantes entusiastas e patrocinadores do automobilismo. Sabemos que Macau tem todas as condições de organização de eventos internacionais deste tipo, o que certamente poderá ajudar muito na diversidade do turismo local”.

Casos de Sucesso

A GT Academy – uma iniciativa da Playstation e da Nissan – tendo vindo ao longo dos anos a permitir que vários candidatos a piloto saltem do sofá para as mais reputadas pistas deste mundo. O espanhol Lucas Ordoñez foi o primeiro vencedor de sempre da GT Academy, o pioneiro da história “da virtualidade para a realidade” da Nissan. Foi o primeiro vencedor da GT Academy a competir nas 24 horas de Le Mans, dominando as manchetes quando terminou a grande corrida francesa com um lugar no pódio à classe.

Jann Mardenborough, que se estreou no Grande Prémio de Macau no passado mês de Novembro, é outro caso de sucesso maior da GT Academy até o momento. O piloto galês foi vencedor do programa em 2011, superando 90 mil candidatos. Filho de um ex-futebolista, Jann tem agora a sua carreira a ser gerida pela Nissan e compete ao mais alto nível no Japão, tanto na Fórmula 3, como no campeonato Super GT.

Em Portugal, Miguel Faísca também teve a oportunidade de sair do virtual para uma temporada a sério, em 2014. No super-competitivo campeonato Blancpain Endurance Series, o português de 27 anos conduziu um Nissan GT-R Nismo GT3 igual aquele que André Couto tem competido nos últimos anos no Japão. Em 2015, o sonho de uma carreira no desporto motorizado esvaneceu-se, mas Faísca foi viver para Inglaterra, seguindo a paixão de criança, e este ano voltou a competir, correndo nas 4 horas do Estoril com um protótipo Ligier JS P3 Nissan.

Edgar Lau é talvez o melhor exemplo na região. O “gamer” de Hong Kong participou na GT Academy nos Estados Unidos da América. Não venceu, mas esta participação deu-lhe motivação para tentar algo mais no automobilismo. Este ano alinhou pela primeira vez no Grande Prémio de Macau, com um SEAT Léon Cup Racer com o logótipo da Associação SimRacing Macau-China no carro, terminando num honroso 13º lugar na Corrida da Guia.

Uma perninha em Zhuhai

No fim-de-semana de 10 e 11 de Dezembro, a MRS Motor Racing Simulator, que pertence ao ex-piloto de Macau de Fórmula 3 Michael Ho, organizou um evento na cidade vizinha de Zhuhai que contou com a participação de algumas caras conhecidas do automobilismo da região, como André Couto ou Adderley Fong (primeiro piloto de Hong Kong a conduzir um F1 da era moderna), para além de pilotos de topo das corridas de carros de turismos locais, como Kelvin Leong, Jerónimo Badaraco ou Andy Yan (campeão do TCR Asia Series). A associação foi convidada a prestar apoio à organização do evento como “oficiais”, tendo sido responsável por colocar de pé o regulamento da prova, realizando o briefing aos participantes, para além de ter supervisionado as corridas, para que o respeito em pista fosse mantido, tal e qual como acontece na vida real.

3 Jan 2017