Hoje Macau China / ÁsiaPequim e Moscovo querem investigação a uso de armas químicas no Iraque [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Rússia e a China propuseram que a comissão das Nações Unidas que investiga o uso de armas químicas na Síria alargue os trabalhos ao Iraque, uma proposta rejeitada imediatamente pelo Reino Unido. Os dois países sugeriram a possibilidade de alargar o âmbito do Mecanismo de Investigação Conjunta durante uma reunião sobre a batalha de Mossul, onde forças iraquianas combatem extremistas do Estado Islâmico. Os membros do Conselho de Segurança expressaram “preocupação unânime” com as últimas informações sobre o uso de armas químicas pelo Estado Islâmico, de acordo com o embaixador britânico Matthew Rycroft, que presidiu às negociações. A Rússia e a China apresentaram uma proposta de resolução que “pretende expandir o trabalho do Mecanismo de Investigação Conjunta ao Iraque”, disse Rycroft, acrescentando que o Reino Unido se opõe à medida. “O Reino Unido assinalou que há muitas diferenças entre a situação no Iraque e na Síria”, afirmou. Nada a esconder Ao contrário do Governo sírio, o Executivo iraquiano “está a cooperar totalmente com o OPCW”, indicou Rycroft, referindo-se à sigla inglesa da Organização intergovernamental para a Proibição de Armas Químicas, que trabalha com a ONU para implementar o Mecanismo de Investigação Conjunta. “Não há alegações” de que o Governo iraquiano use armas químicas, afirmou. O conselho não tomou qualquer decisão sobre a proposta na sexta-feira. Rycroft não indicou se a Rússia e a China vão submeter a sua resolução a votos no futuro. A disputa evidenciou uma discordância fundamental entre os países ocidentais e a Rússia sobre a Síria. O Mecanismo de Investigação Conjunta – que Moscovo ajudou a estabelecer como membro do Conselho de Segurança – concluiu que o Governo sírio, aliado da Rússia, usou armas químicas pelo menos três vezes. No entanto, em Fevereiro a Rússia e a China vetaram uma proposta de resolução para sancionar o Governo sírio devido ao uso de armas químicas.
Andreia Sofia Silva China / Ásia MancheteHong Kong | Carrie Lam eleita Chefe do Executivo com 777 votos O discurso de vitória foi feito em prol da união de uma sociedade considerada dividida. Carrie Lam, ex-número dois do Governo de CY Leung, toma posse como Chefe do Executivo de Hong Kong dia 1 de Julho. Dois jovens residentes falam das suas expectativas sobre o novo Executivo [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m total de 777 votos, oriundos de um colégio eleitoral com 1194 membros, bastaram para eleger a Chefe do Executivo de um território com cerca de sete milhões de habitantes. Carrie Lam, antiga número dois do Governo de CY Leung, em Hong Kong, já era considerada favorita para vencer as eleições de ontem. Para trás ficaram John Tsang, ex-secretário para as Finanças, que obteve 365 votos, e Woo Kwok-hing, juiz jubilado, com apenas 21 votos. Ainda assim, houve ecos de contestação. Anunciada a vitória de Lam, um grupo de activistas pró-democracia, munidos de cartazes e guarda-chuva amarelos, deu uma volta à sala a entoar palavras de ordem a exigir o sufrágio universal. Mais protestos ocorreram em Hong Kong no dia anterior às eleições. Centenas de pessoas manifestaram-se no sábado “em prol do sufrágio universal e contra a interferência de Pequim”. “Seja qual for o candidato que seja eleito, isto não é democracia, isto é apenas uma eleição [feita] por um pequeno círculo”, disse Au Nok-hin, coordenador da Frente dos Direitos Humanos e Cívicos, que organizou o protesto, em referência ao facto de o direito de voto estar restrito a um comité eleitoral composto por cerca de 1.200 pessoas. A manifestação juntou vários partidos políticos do campo pró-democrata, que estava dividido entre o voto em John Tsang e o voto em branco, como sinal de protesto pela ausência de sufrágio universal. Alan Leong, líder do Civic Party, marcou presença na manifestação “para protestar contra a interferência do Governo Central na eleição do chefe do Executivo de Hong Kong”. “Esta eleição está dentro [das competências] da autonomia de Hong Kong e o Gabinete de Ligação [do Governo Central da China] tem usado meios (…) para aumentar a pressão sobre os membros do comité eleitoral para votarem em Carrie Lam”, disse à agência Lusa. O jovem activista político Joshua Wong, que ficou conhecido como o rosto da revolução dos guarda-chuvas, não tem direito de voto na eleição do Chefe do Executivo, mas se tivesse também votava em branco. “Os três candidatos concordam ou mantêm silêncio sobre a interferência do governo de Hong Kong e também concordam com a implementação do artigo 23, por isso é difícil para nós apoiar qualquer um dos candidatos pró-China”, disse. União sim, democracia depois Carrie Lam escondeu do seu discurso a questão da reforma democrática, tendo defendido outras prioridades. “Hong Kong, a nossa casa, está a sofrer uma grave divisão e acumulou muitas frustrações. A minha prioridade vai ser sarar a divisão, aliviar a frustração, e unir a nossa sociedade para seguir em frente.” “Muita gente (…) disse-me que estava agora preocupada, porque Hong Kong parece estar a perder a competitividade”, disse ainda, falando da existência de “muitos problemas” ao nível da habitação, educação e saúde. “A minha prioridade é tentar demonstrar que podemos unir as pessoas com posições diferentes para seguir em frente e, com o ambiente propício, recomeçar o processo de reforma política”, afirmou. Que futuro? Firmino da Silva Khan é macaense mas desde criança que vive em Hong Kong. Em entrevista por email horas antes das eleições, o jovem empreendedor afirma que o futuro não será muito diferente face à era CY Leung. “Independentemente daquele que será o próximo Chefe do Executivo de Hong Kong o futuro será o mesmo, a não ser que alguém esteja disposto a ir contra os desejos da República Popular da China.” Firmino da Silva Khan explica a antipatia que muitos cidadãos sentem pela recém-eleita Chefe do Executivo. “Admito que Carrie Lam irá provavelmente acelerar o processo de morte da democracia em Hong Kong. Fez parte da Administração 689 (número de votos que elegeu CY Leung em 2012). É também bastante pró-República Popular da China. Estes dois factores fazem com que seja ainda mais odiada. É também hipócrita, pois, por um lado, diz que quer comunicar mais com as gerações mais jovens, mas por outro lado critica essa mesma geração pelas suas acções e recusa responder a várias questões”, acrescentou o jovem. John Tsang poderia receber mais apoio dos que têm menos de 30 anos, mas, ainda assim, faltava algo. “Muitos apoiaram John Tsang e muitas pessoas próximas de mim me falaram dele nos últimos dias antes das eleições”, explicou Firmino da Silva Khan. “Não havia um apoio forte, mas as pessoas odeiam tanto Carrie Lam que não lhes restava outra alternativa se não apoiar Tsang. Foi um candidato mais amigável e aberto, disposto a fazer um esforço de ligação das pessoas, sobretudo das gerações mais jovens”, acrescentou. Tâmara Liu Ying Ying, que está a realizar o estágio em advocacia, diz não estar certa se “Carrie Lam é verdadeiramente odiada pela população”. “As pessoas da minha idade e do meu circulo de amigos preferiam John Tsang, porque fez uma boa campanha e foi um dos que serviu o Governo por um longo período de tempo e, ainda assim, recebe apoio tanto dos democratas como de alguns apoiantes de Pequim. Seria o único a conseguir unir a sociedade nesta altura”, explica a jovem advogada. Para Tâmara Liu Ying Ying, caso o sufrágio universal já estivesse implementado, os resultados eleitorais teriam sido bem diferentes. “Esse sistema seria melhor do que aquele que temos actualmente. Caso essa reforma política estivesse já implementada, John Tsang teria recebido mais votos.” Amada ou odiada, a escolha está feita. Para a estagiária em advocacia Carrie Lam tem, acima de tudo, experiência governativa. “Ela fez parte do Governo (desde a sua graduação na Universidade de Hong Kong) e penso que será uma Chefe do Executivo bastante capaz. Penso até que estará mais disposta a ouvir os democratas do que CY Leung, já que, por exemplo, convidou todos os partidos para um jantar na residência oficial para discutir a questão da reforma política, há uns anos”, concluiu. Em comunicado, Chui Sai On, Chefe do Executivo de Macau, deu os parabéns pela vitória de Carrie Lam. “Estou certo de que, com base nos bons fundamentos de cooperação já existentes, os dois Governos devem dar as mãos e continuar a aprofundar as relações amigáveis, inclusive para incrementar a eficácia.”
Valério Romão h | Artes, Letras e IdeiasDa arte de contar uma história [dropcap style≠’circle’]W[/dropcap]alter Benjamin diz que os contadores de histórias se podem dividir, fundamentalmente, em dois tipos cujas raízes são tão antigas como a própria necessidade de contar uma história: aquele que, por opção ou por destino, não tem como sair do seu sítio de origem e conta as histórias, tradições e mitos locais, e aquele que, viajando mundo fora – sendo o expoente máximo dessa figura o marinheiro – vai contando, por onde passa e, sobretudo, quando regressa de onde partiu, aquilo que viu. Já nos cruzamos de algum modo com uma destas duas figuras. Mais: cada um de nós tem, em quantidades desiguais, uma destas perspectivas de estar no e de ver o mundo. Somos, naturalmente, contadores de histórias. Estas servem o propósito de constituir um património comum de experiências, lendas e mitos que nos ligam e nos situam enquanto identidades sociais. Os gregos representavam a linha do tempo – e a marcha de um homem nela – como alguém virado para o passado que anda, inexoravelmente, em direcção ao futuro, de costas. A imagem, para além de adequada, é honesta. O futuro é o atractor universal que confere direcção – e, por isso, sentido – à caminhada. Mas é desconhecido. A única coisa a que temos acesso (ainda que o estatuto desse acesso não seja de todo claro) é o património de experiências que amealhámos. E neste património incluem-se as histórias que vivemos e que ouvimos e ambas, de certo modo, nos definem. Segundo Benjamin, a arte de contar uma história está em declínio (o texto no qual o afirma data de 1936 e chama-se “The Storyteller – Reflections on the Works of Nikolai Leskov”). A massificação da informação e do seu formato específico (o de abarcar quase tudo e de ser plausível) é o oposto daquilo que alimenta a arte de contar uma história. Como diz Benjamin, quando abrimos um jornal ao calhas, de manhã, e apesar da multiplicidade de notícias de todos os cantos do globo, a quantidade de histórias dignas de relevo é incrivelmente diminuta. Isto porque, na explicação benjaminiana, tudo quanto nos chega pela via do relato e, sobretudo, do relato noticioso, já vem acompanhado de uma explicação. E a arte de contar uma história, prossegue o autor, é a de libertar a própria história da tentação de explicá-la de alguma forma, de remover quaisquer ligações psicológicas e subjectivas entre os acontecimentos da história. Um dos autores que melhor faz isso e que me vem imediatamente à cabeça é a Flannery O’Connor. A elisão a que nos vota relativamente às motivações psicológicas das suas personagens será talvez um dispositivo pelo qual faz ressair a natureza moral das mesmas. De qualquer modo, e independentemente da razão pela qual Flannery (e os contadores de histórias, na generalidade) escolhe suprimir das histórias que contam as ligações subjectivas de carácter psicológico ou explicativo acaba por dotar a história de uma miríade de ângulos que a explicação, pela sua própria natureza, tenta obviamente reduzir a um único apenas. Numa época em que a informação se tornou o meio de transmissão de conhecimento por excelência (e que, por acréscimo, deixou de ter a verdade como fundamento axiológico) e, com isso, minou a nossa capacidade inata de trocar experiências, mirrando-a como um membro que não se exercita, era importante percebermos quais as formas que subsistem de produzir as ligações invisíveis que entretecem as estruturas sobre as quais assenta a própria noção de comunidade. Ou a solidão contemporânea deixará de ser uma metáfora simplista para passar a ser um modo de vida sem alternativas.
Rui Flores VozesDijsselbloem não fez Erasmus [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s declarações infelizes sobre os países do sul da Europa proferidas pelo presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem, a poucos dias da cimeira de Roma, mostram que as divisões no interior da União Europeia (UE) continuam tão vivas, agora, 60 anos após a assinatura dos Tratados de Roma, como quando a Comunidade Económica Europeia foi estabelecida. Os líderes de 27 dos 28 países da União Europeia – o Reino Unido já não faz parte da festa – acorreram a Roma, no sábado passado, para assinalar as virtudes de um projecto que levou a paz e a prosperidade à Europa por um período e a níveis nunca antes vistos. Ainda assim, diferenças, desconfianças e preconceitos continuam a marcar os povos da Europa. No caso em concreto, em que Dijsselbloem acusou os povos dos países que têm recebido apoio internacional às suas depauperadas economias, de não fazerem um esforço sério de consolidação das suas finanças, e de gastarem parte desse apoio internacional em bebida e mulheres, expressa uma visão comum entre alguns povos da Europa. Se se quiser, é como se Dijsselbloem tivesse verbalizado o que muitos europeus do norte pensam. Há uma divisão profundamente marcada entre os povos do norte da Europa e os do sul da Europa. Essa divisão norte-sul afecta muito o modo de nos vermos uns aos outros. E mesmo quando um político experiente dá uma entrevista acaba por saltar à vista. É como a parte de cima do leite-creme queimado, tão apreciado no sul da Europa. Estala com facilidade. A UE representa hoje para 27 países europeus uma conjugação de interesses, baseada em objectivos comuns, de valores idênticos e princípios semelhantes. Cooperação pacífica, respeito pela dignidade humana, liberdade, democracia, igualdade, solidariedade são a espinha dorsal desta união. São estes valores – a par da economia de mercado – que fizeram da União o que ela é hoje: o maior mercado do mundo, onde pessoas, bens, serviços e capitais circulam livremente. Um espaço de liberdade, onde o respeito pelos direitos humanos, solidariedade e igualdade, são, não obstante algumas dificuldades de percurso, uma realidade. Apesar de tudo aquilo que a UE e os povos europeus alcançaram – e, convém sempre sublinhá-lo, não foi pouco – as diferenças culturais são ainda hoje profundas. É um facto que o programa Erasmus e a sua nova versão, o Erasmus+, tem contribuído para um certo esbatimento das diferenças. É talvez o programa da UE que mais tem feito para aproximar os diversos povos europeus. O intercâmbio de alunos por toda a Europa evidenciou o que temos em comum. Mas as divergências persistem. Sobretudo em tempos, exponenciados por actos eleitorais, em que os povos têm de escolher entre diferentes opções. A opção por um ou outro caminho leva a que as pessoas mostrem a sua verdadeira natureza – veja-se o que acontece com o discurso fácil dos populistas. É certo que no caso de Dijsselbloem a campanha eleitoral já passou e o seu partido foi um dos mais penalizados pelos eleitores holandeses. Também isso deveria tê-lo feito ver a importância da tolerância democrática. As diferenças culturais são, pois, muito difíceis de ultrapassar. Um chinês que vai estudar para os Estados Unidos, por exemplo, não deixa de ser culturalmente chinês, ainda que coma ocasionalmente no McDonald’s. Quando sai de casa para jantar vai mais frequentemente aos restaurantes chineses do que aos estabelecimentos de comida ocidental. Usa pauzinhos às refeições, vive em bairros predominantemente chineses. Algo semelhante acontece, dê-se mais um exemplo, com a comunidade portuguesa de Macau. Aqui, continue-se a generalização, uma vasta maioria de portugueses só vai a restaurantes portugueses; lê todos os dias os jornais em língua portuguesa; não perde o “jornal da Tarde” da RTPi; aplica no trabalho os valores que trouxe do outro lado do mundo e não os da comunidade de acolhimento. No caso da divisão norte-sul europeia, essas diferenças culturais têm ainda uma componente religiosa muito marcada. O norte europeu é protestante; o sul é católico. E a religião, como sabemos, imiscui-se em tudo. As diferenças não são, pois, meramente indicativas. São operativas. Formatam-nos. Nós construímos a nossa identidade por oposição aos outros. Eu sou aquilo que o outro, à minha frente, meu vizinho, não é. Os da minha tribo não fazem aquilo que os das outras fazem. Depois de a festa dos 60 anos de Roma, em que os líderes europeus voltaram a afirmar o seu empenho na unidade, o esforço principal que falta fazer para o avanço da Europa, agora formalmente a várias velocidades, é na “unidade” de que falava Donald Tusk. Essa unidade tem um nome: solidariedade. Uma solidariedade que passa por tratar as diferenças culturais não como um factor de afastamento mas de diversidade.
Hoje Macau China / ÁsiaStephen Hawking surge em holograma em Hong Kong [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] célebre astrofísico Stephen Hawking falou na sexta-feira a uma audiência em Hong Kong através de um holograma, numa sessão em que discutiu ciência e também política. O cientista britânico surgiu perante uma audiência de centenas de pessoas que aplaudiram e tiraram fotografias, num evento em que Hawking falou da sua carreira e respondeu a perguntas sobre a possibilidade de existência de vida noutros planetas, o uso da tecnologia na educação e o impacto do ‘brexit’ no Reino Unido. Hawking, de 75 anos, disse que a eleição do Presidente norte-americano Donald Trump faz parte de uma cadeia de “sucessos da extrema-direita” que vão ter implicações graves para o futuro da inovação científica. “Com o ‘brexit’ e Trump (…) estamos a assistir a uma revolta global contra os especialistas”, disse, naquela que foi a sua primeira aparição em Hong Kong desde 2006. A viragem à direita surge numa altura em que o mundo enfrenta múltiplas crises ambientais, do aquecimento global à desflorestação, acrescentou. “As respostas a estes problemas vão surgir da ciência e da tecnologia”, disse. Hawking sofre de esclerose lateral amiotrófica, uma doença neurodegenerativa que afecta os nervos que controlam os movimentos voluntários, que o deixou paralisado, só conseguindo comunicar através de um sintetizador de voz. O evento foi organizado pela empresa de jogos chinesa NetDragon Websoft, em parceria com a ARHT Media, que cria hologramas digitais humanos de celebridades, incluindo o guru espiritual Deepak Chopra, o orador motivacional Tony Robbins e o ‘rapper’ The Notorious B.I.G. A tecnologia que permite a um humano aparecer e interagir com audiências em múltiplas localizações em simultâneo está a expandir-se.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Confirmada interdição de carne de vaca do Brasil [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m porta-voz do ministério chinês do Comércio disse ontem que o país decidiu suspender as importações de carne de vaca oriundas do Brasil, na primeira confirmação oficial de Pequim sobre a interdição de carne brasileira. O ministro da Agricultura do Brasil tinha já anunciado a decisão da China de suspender as importações, mas até agora os funcionários chineses limitaram-se a dizer que o país adoptara precauções. O porta-voz do ministério do Comércio da China, Sun Jiwen, confirmou ontem que “os departamentos competentes do Governo chinês adoptaram medidas atempadas e temporárias para suspender as importações de carne de vaca oriunda do Brasil”. Uma operação policial no Brasil detectou um esquema de facilitação de licenças e fiscalização irregular de frigoríficos. De acordo com a polícia federal brasileira, funcionários públicos eram subornados por directores de empresas para darem aval a carnes com prazos de validade já ultrapassados e adulteradas. Entre as práticas, foi comprovado o uso de químicos para melhorar o aspecto das carnes, a falsificação de etiquetas com a data de validade ou a inclusão de alimentos não adequados para consumo na elaboração de enchidos. União Europeia, Japão e México anunciaram, entretanto, limites ou a interdição total da importação de carne brasileira.
Sofia Margarida Mota SociedadeEfeméride | Mais de meio milhão para festejar Lei Básica [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] orçamento para a comemoração do 24.º aniversário da Lei Básica de Macau é de cerca de 600 mil patacas, aplicadas na realização de um conjunto de actividades. A ideia é dar a conhecer o diploma aos residentes de forma lúdica. O valor, aponta a chefe de divisão de formação e informação cívicas do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais, Lam Lei Sio, é “bem investido e mostra resultados junto da população”. A efeméride é festejada no próximo sábado com a realização de um “bazar comemorativo” na Praça do Tap Seac. Cheong Kuai San, director do Centro de Educação Permanente dos Serviços de Educação e Juventude, destaca alguns dos eventos que integram a iniciativa, sublinhando a adesão da população. “Para o concurso de desenhos sobre a Lei Básica recebemos três mil trabalhos e, para os jogos sobre o mesmo tema, 32 pedidos de formação de equipa”, afirmou ontem em conferência de imprensa. O sábado vai ainda ser preenchido com concertos, espectáculos de dança e de teatro para “promover o entendimento da Lei Básica junto dos residentes através da aproximação dos seus conteúdos a iniciativas práticas”, disse Lam Mei Sio. Acresce ainda às actividades previstas um workshop dirigido a todos sobre o diploma fundamental de Macau. Entre Maio de Dezembro, os Serviços de Assuntos de Justiça vão promover um concurso alusivo ao plano de divulgação nas escolas. De acordo com os responsáveis pela iniciativa, é uma forma de juntar alunos e professores na discussão e esclarecimentos sobre a Lei Básica. A equipa que organiza as comemorações prevê que as actividades cheguem a cerca de 15 mil residentes e espera duas mil pessoas no evento do fim-de-semana. A Lei Básica de Macau foi criada em Março de 1993 pela Assembleia Popular Nacional da República Popular da China e entrou em vigor a 20 de Dezembro de 1999 com a transferência de Administração.
Hoje Macau PolíticaFórum Macau | Portugal indica novos representantes [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] delegada da AICEP em Macau, Maria João Bonifácio, é a nova delegada de Portugal no Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre os Países de Língua Portuguesa (Fórum Macau), anunciou o cônsul-geral. Por outro lado, Rodrigo Brum – ex-chefe de gabinete do antigo governador Rocha Vieira –, passa a ser secretário-geral adjunto do Fórum, disse ainda Vítor Sereno, em declarações à margem de um encontro do secretário de Estados das Comunidades, José Luís Carneiro, com associações representantes da comunidade portuguesa que vive em Macau. A Lusa assinala que delegada da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) substitui Vítor Sereno como representante de Portugal no Fórum Macau, tal como tinha noticiado a imprensa local. O Fórum Macau tem um secretariado permanente e reúne-se ao nível ministerial de três em três anos. O secretariado permanente tem um secretário-geral (Xu Yingzhen, indicada por Pequim) e dois secretários-gerais-adjuntos, um deles nomeado pelos países de língua portuguesa e outro indicado pelo Governo de Macau (Echo Chan). Integram ainda o secretariado sete delegados de outros tantos países de língua portuguesa.
Fa Seong A Canhota VozesOs antigos inacessíveis [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]arece-me que existe uma tendência para as coisas antigas desaparecerem devagar, sem deixar qualquer vestígio, ou apenas poucos indícios. Se olharmos para Macau, temos um caso exemplar dessa realidade. A sua evolução e desenvolvimento nas últimas décadas fizeram com que este território se tenha virado para outra fase. Aquilo que os idosos e os que vivem em Macau há mais tempo viveram e observaram já será totalmente diferente do que as novas gerações pensam e vivenciam. Essa grande mudança não permite aos que nasceram nos anos 80 e 90 observar a terra ligada ao sector da pesca que Macau foi, pois não sabem onde trabalharam os pescadores e os construtores de barcos. Não compreendem o início da indústria, nem o seu fim. Num ambiente onde já existem casinos, hotéis e restaurantes, só podemos ter acesso a estas informações através dos museus, livros e fotografias. Será que os jovens sabem que Coloane não se chamava, na verdade, Coloane? E que no espaço da Ponte Cais de Coloane se fabricava sal, o que levou ao verdadeiro nome de Coloane, “Baía do Sal”? Eu própria não sabia até participar numa visita a Coloane. Penso que os jovens, na sua maioria, também não sabem, e nem querem saber, porque prestam mais atenção ao último modelo de smartphone à venda no mercado, ou quais os filmes disponíveis no cinema. É pena quando vemos que muitas escolas em Macau têm poucos materiais sobre a história de Macau. Como a maioria usa livros publicados em Hong Kong ou no interior da China, os alunos de Macau apenas sabem que os portugueses chegaram a este território e que o começaram a administrar há muitos séculos, que se proibiu o comércio do ópio pelo comissário imperial Lin Zexu no final da dinastia Qing, ou conhecem as relações entre Sun Yat-Sen e Macau (momentos históricos mais importantes). Há algumas semanas li uma história de um velho carpinteiro de Macau, uma profissão também já em extinção por causa da mudança do ambiente económico. Ele disse: “antigamente sobreviver já era uma forma de vida para muitas pessoas”. A partir do momento em que um trabalho deixou de dar dinheiro, deixou-se algumas indústrias morrerem lentamente. Com o progresso da sociedade, há cada vez mais pessoas que se preocupam com o património, os bens históricos e as memórias. Muitos esperam não se arrepender de, um dia, as coisas antigas não poderem passar para as novas gerações. É este ponto de vista que temos de olhar quando falamos da questão dos estaleiros de Lai Chi Vun. O Governo decidiu demoli-los por questões de segurança, sem ter pensado em recorrer à tecnologia para a sua reparação ou levar a cabo algum tipo de planeamento. Alguns estaleiros estão nas mãos do Governo sem que se tenham feitos avanços nos últimos anos. Quem defende a preservação de Lai Chi Vun tem o mesmo pensamento: se os antepassados não conseguiram manter a história e revitalizar um sector, cabe-nos a nós, novas gerações, que temos mais capacidade financeira, fazê-lo. Temos de fazer o máximo para deixar este legado às futuras gerações, manter a história viva e não deixarmos apenas registos espalhados em pedaços de papéis e documentos.
Hoje Macau EventosFilme “Cartas da Guerra”, de Ivo Ferreira, arrecada nove estatuetas nos Prémios Sophia [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] filme “Cartas da Guerra”, de Ivo Ferreira, realizador radicado em Macau, dominou a edição deste ano dos Prémios Sophia, da Academia Portuguesa de Cinema, ao arrecadar nove das 21 estatuetas entregues, entre as quais as de Melhor Filme e Melhor Realização. “Cartas da Guerra” foi distinguido igualmente com os prémios de Melhor Argumento Adaptado, escrito pelo realizador com Edgar Medina, Melhor Montagem (Sandro Aguilar) e Melhor Fotografia (João Ribeiro), entre outras categorias técnicas. Os prémios foram entregues no Centro Cultural de Belém (CCB), em Lisboa, numa cerimónia na noite de quarta-feira. O realizador não estava presente – tinha acabado na véspera de filmar o novo projecto em que está a trabalhar, uma película rodada em Macau. “Além de todos os lugares-comuns – de que me deixa feliz, e de que é bom ver reconhecido o meu trabalho e dos meus colegas –, tendo acabado de filmar no dia antes, tem um sabor especial”, comentou Ivo Ferreira ao HM. “Espero que possa ser uma ajuda para este filme de Macau.” O realizador afirma ainda que “a Academia é um órgão muito específico, constituído por pessoas do cinema”, para salientar a satisfação que sente ao ser reconhecido entre os seus pares, com o “Cartas da Guerra” o escolhido em tantas categorias. Construído a partir da correspondência entre o escritor António Lobo Antunes e a primeira mulher, Maria José, quando esteve destacado em Angola, durante a Guerra Colonial, “Cartas da Guerra” deixa um retrato sobre “a maior tragédia portuguesa do século XX”. Desejos para o futuro Ao receber o Prémio de Melhor Filme, o produtor, Luís Urbano, de O Som e a Fúria, dedicou-o ao Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), “apesar de não gostar muito da direcção que está lá”, por considerar que é um instrumento “essencial para fomentar esta actividade”, para prosseguir “uma política pública, que tem de existir” e “que tem de apoiar a diversidade no cinema”, com base em “concursos públicos” e “júris independentes, nomeados pelo próprio instituto do cinema, e não por qualquer arena de interesses”. Pouco antes, o realizador Luís Filipe Rocha, distinguido com o prémio Sophia de Melhor Argumento Original, por “Cinzento e Negro”, criticara os sistemas de júri para a atribuição de financiamentos ao cinema português, e apelara a uma reforma total dos mecanismos de apoio do ICA. Sem esquecer a presença do ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes, na plateia, o realizador de “Cinzento e Negro” desejou “um futuro melhor e mais solidário para o cinema português”. “Cinzento e Negro” reunia 14 nomeações, e conquistou três prémios Sophia (Melhor Actor, Melhor Banda Sonora e Melhor Argumento Original). “Cartas da Guerra” somava 11 nomeações. Miguel Borges recebeu o prémio de Melhor Actor Principal, pelo desempenho em “Cinzento e Negro”, e Ana Padrão, o de Melhor Actriz Principal, pelo trabalho em “Jogo de Damas”, de Patrícia Sequeira. O prémio de Melhor Banda Sonora Original foi para Mário Laginha, pela composição para “Cinzento e Negro”. O prémio de Melhor Curta-Metragem de Ficção foi para Simão Cayatte, por “Menina”. “Balada de um Batráquio”, de Leonor Teles, que abriu a lista de galardões com o Urso de Ouro de Berlim, em 2016, recebeu o Sophia de Melhor Documentário em Curta-Metragem. A memória da Guerra Colonial passa igualmente por “Estilhaços”, de José Miguel Ribeiro, que juntou o Prémio de Melhor Curta-Metragem de Animação, ao seu rol de distinções. “Mudar de Vida”, de Nuno Guerreiro e Pedro Fidalgo, sobre o músico José Mário Branco, recebeu o prémio de Melhor Documentário em Longa-metragem. “Mudar de Vida” chegou às salas de cinema em Maio do ano passado. Ficou em cartaz mais de dois meses e acabou por se situar entre os dez filmes portugueses mais vistos em sala, em 2016. A obra resulta de 12 anos de trabalho e não teve outros apoios financeiros se não os angariados junto de particulares: “Mais de 200”, sobretudo através de ‘crowdfunding’, porque, “quando todas as políticas falham”, viramo-nos para as pessoas, disse o realizador Nuno Guerreiro. A Academia Portuguesa de Cinema distinguiu ainda o actor Ruy de Carvalho com o Prémio Mérito e Excelência, assinalando os seus 90 anos de vida e 75 de carreira. Os prémios Sophia Carreira, destinados à actriz Adelaide João e ao director de fotografia Elso Roque, serão entregues pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na próxima segunda-feira.
Sofia Margarida Mota PolíticaLicença de maternidade | Pereira Coutinho pede igualdade para trabalhadoras [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] princípio da igualdade determinado pela Lei Básica não está a ser cumprido no que diz respeito à licença de maternidade. A ideia é defendida pelo deputado José Pereira Coutinho que, em interpelação escrita, afirma que “há um tratamento injusto para os residentes do sexo feminino”. Pereira Coutinho vinca que a licença de maternidade para as mulheres que trabalham no sector privado são de apenas 56 dias, enquanto as funcionárias dos serviços públicos têm direito a 90 dias. O deputado lamenta a discrepância entre direitos das mães que trabalham no público e no privado. O também presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau recorda que o colega de bancada, Leong Veng Chai, em Maio do ano passado, colocou esta questão ao Governo. A Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais foi vaga na resposta e referiu que “na regulamentação dos 56 dias de licença de maternidade foram consideradas a protecção às trabalhadoras e a capacidade de aceitação das entidades patronais”. Para o deputado, não houve qualquer explicação quanto à violação do princípio da igualdade. O tribuno dá ainda o exemplo de outras jurisdições: nos países europeus a licença é de, pelo menos 90 dias, na Mongólia é de 101 e na China Continental pode chegar aos 120 dias “consoante o grupo etário da mulher”. Aqui ao lado, em Hong Kong, as mães têm 70 dias de licença sendo que, argumenta Pereira Coutinho, “quando se verifica algum tratamento injusto, é possível apresentar queixa à Equal Opportunities Comission”. Queixas no feminino O deputado justifica a missiva agora entregue ao Executivo com o aumento de queixas que tem vindo a receber por parte de mulheres. Em causa está o tratamento diferenciado no emprego, pelo que as queixosas solicitam a introdução de alterações na Lei das Relações de Trabalho. O argumento para a revisão do diploma, escreve Pereira Coutinho, assenta no dever do Governo de cumprir com rigor o Artigo 25.º da Lei Básica: “Os residentes de Macau são iguais perante a lei, sem discriminação em razão de nacionalidade, ascendência, raça, sexo, língua, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução e situação económica ou condição social”. Pereira Coutinho quer saber se o Executivo pondera corrigir a situação e se, à semelhança de Hong Kong, equaciona a possibilidade de criar um departamento público para o tratamento de desigualdades.
Hoje Macau PolíticaApanhador Só – “Mordido” “Mordido” Essa balela aqui não vai colar não tá tão fácil assim pra convencer esse teu papo de querer crescer a parceria, jogo aberto e tal não cola mais, já deu pra perceber que se alguém sai ganhando aqui é tu aqui tem peito pra identificar que ao contrário do teu lá lá lá negócio aí não é nada mais do que nãnã e meter no nosso O teu esquema sempre foi lograr criar uma imagem boa pra vender na captura do nosso querer tá conseguindo é nos provocar toma cuidado pra não se perder que aqui na espera tão querendo um um só, que sirva pra exemplificar que volte vivo pra poder contar como é que fecha assim lacrado, interditado, aqui o nosso Apanhador Só ALEXANDRE KUMPINSKI, LORENZO FLACH< FOCA, FELIPE ZANCANARO, FERNÃO AGRA, DIEGO POLONI
Sofia Margarida Mota Perfil PessoasPang Iok Chan, médica de medicina tradicional chinesa: “Quis ajudar a minha família a sobreviver” [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] amor pela medicina apareceu em pequena e quase como uma necessidade. “Os meus pais estavam sempre doentes e eu queria poder ter conhecimentos para curar os males da minha família”, conta Pang Iok Chan. A médica de medicina tradicional chinesa não esconde que a escolha da profissão ficou marcada pela morte prematura do pai, quanto tinha apenas sete anos. Ainda a frequentar o curso de medicina no Continente, Pang Iok Chan optou por abandonar os estudos e veio para Macau. “Não tinha um objectivo específico quando deixei tudo para vir para aqui.” A maior razão foi fugir à pobreza e, “já na altura, Macau aparecia como um local em que se poderiam encontrar mais oportunidades de emprego”. “Só pensava em poder ganhar dinheiro rapidamente para ajudar a minha família a sobreviver”, confessa. Já passarem muitos casos pelo consultório de Pang Iok Chan. No entanto, há um, também na família, que não lhe sai da memória e que fez com que retomasse os estudos: um primo que sofria de um tumor congénito e que, após sete anos de tratamentos, não apresentava melhoras, “estava quase a morrer”, recorda. Recorrendo aos conhecimentos adquiridos ainda na China Continental, Pang Iok Chan conseguiu mudar a situação e, um ano depois, o primo melhorou, tendo acabado por recuperar totalmente a sua saúde. “Foi quando decidi voltar à universidade, ter o meu diploma e realizar um sonho.” “Comprei um apartamento na Taipa, perto da actual Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau, que na altura estava em construção.” A proximidade, diz, foi mais um alento para continuar a estudar. Depois de licenciada, Pang Iok Chan abriu a sua clínica e desde logo se assumiu como diferente dos seus colegas de profissão. “Em vez de passar receitas com os chás que os meus doentes devem tomar, prefiro apostar no incentivo a uma boa alimentação”, explica. Para a médica, os nutrientes presentes nos alimentos do dia-a-dia têm grandes propriedades de cura e “são o melhor tratamento para doenças”. Outra inovação foi a criação de um método de massagem que, ao invés de usar a massagem tradicional, utiliza os dez dedos. Para a médica “é um método mais rápido e eficaz”. Comprimidos em excesso Relativamente à saúde no território, Pang Iok Chan tem algumas reservas, não deixando de responsabilizar o Governo pela atitude dos residentes em relação à saúde. “As pessoas não dão importância à sua alimentação o que, penso, tem tudo que ver com os produtos que estão disponíveis em Macau.” O facto de muitos alimentos serem importados faz com que os produtos frescos sejam raros e o “Governo não fiscaliza de forma eficaz a higiene dos bens que chegam ao território”. A médica não deixa de lamentar que, para as autoridades, os medicamentos ainda sejam prioritários em relação à alimentação. “Infelizmente, o Governo ainda dá mais importância à cura tradicional feita à base de remédios. Deveria promover mais a importância de uma boa alimentação.” Pang Iok Chan considera ainda que, por usar métodos de tratamento alternativos, acaba por afastar alguns utentes do serviço de saúde público, até porque considera que tem procedimentos ineficazes. “Devido à falta de conhecimento e de coragem, o serviço de saúde não ajuda os utentes”, afirma. Apesar da já longa estadia em Macau, Pang Iok Chan tem agora outro sonho: o regresso à China Continental. É lá que pensa encontrar mais pessoas com quem partilhar ideias e conhecimentos. “No Continente posso estar em contacto com colegas que pensam como eu e posso ser mais útil, enquanto aqui as pessoas dão cada vez menos importância à medicina tradicional chinesa.” Para deixar um legado, a médica está agora a trabalhar num livro. O objectivo, diz, é poder dar a conhecer e divulgar os métodos que desenvolveu ao longo da carreira, “para que possam continuar a ser aplicados e aperfeiçoados”, remata.
Paulo José Miranda Em modo de perguntar h | Artes, Letras e IdeiasMaria João Falcão: À descoberta do método [dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]á vinte anos que vens trabalhando em teatro, cinema e televisão. Imagino que exijam esforços e técnicas diferentes. Podes explicar-nos quais as maiores diferenças que encontras nesses diferentes modos de se ser actriz? E tens alguma preferência por um deles? E a tua preferência foi mudando ao longo dos anos, ou sempre se manteve a mesma? A minha preferência sempre foi o teatro…também foi o que eu estudei. Cinema fiz muito pouco, por isso estou mais à vontade para falar de televisão e teatro. São processos muito diferentes, a começar pela construção das personagens: um texto de teatro tem um princípio, meio e fim, tu sabes à partida o que acontece e como se desenvolve a tua personagem e é sobre isso que trabalhas. Num guião de televisão só sabes o início e alguns antecedentes da tua personagem, vais construindo conforme os guiões que vais recebendo. Depois em teatro ensaias durante um mês e meio e, se tiveres sorte, ficas três semanas em cena (hoje em dia é muito raro), em televisão podes ir desenvolvendo a tua personagem durante muito mais tempo, entre nove meses a um ano – este é um dos lados mais interessantes de trabalhar em televisão. Depois há outra diferença fundamental que é o que o público vê: em teatro a estreia só acontece depois de um trabalho de ensaios, de preparação dos actores e de tudo estar afinado. Em televisão tu ensaias duas ou três vezes a cena com o director de actores e realizador e depois gravas, e é o que o público vai ver! Tem de haver um trabalho de casa enorme porque chegas ao estúdio preparada para gravar várias cenas. É um treino enorme para o actor. Outra diferença fundamental é que no teatro tudo está à vista do espectador e é ele que escolhe o que vê. Em televisão há uma edição feita pelo realizador. O público só vê o que o realizador quer. Mas a grande diferença será sempre que o teatro é em directo…. se te enganares no teatro ou te esqueceres do texto, ninguém diz “corta!” Há sempre alguns personagens que marcam mais as actrizes, quais foram os personagens que mais te marcaram até hoje? E por quê? Das personagens que mais me marcaram destaco a Mona do Dias de Vinho e Rosas com encenação do Jorge Silva Melo, pelo desafio enorme que foi. Mas acho que, mais que os personagens, são os processos e os projectos que me marcam. Consigo destacar ultimamente O Feio com encenação de Toni Cafiero e A Casa de Bernarda Alba com encenação de Maria João Luís. O Feio porque é raro encontrar encenadores com um universo tão próprio como o Toni e que gostem tanto de actores e estejam constantemente a desafiá-los. A Casa de Bernarda Alba foi um projecto da Maria João Luís, o início da companhia Teatro da Terra. Este projecto foi muito importante porque entravam na peça um coro de mulheres de Ponte de Sor. Eram actrizes amadoras, tinham outras profissões, mas cada vez que iam para cena estavam tão felizes… e eu sempre que ia para cena estava tensa, não me divertia. Foi importante o projecto por descobrir que me faltava este lado lúdico e de prazer que esta profissão tem que ter…. e nesta busca acabei por ir para Paris estudar com o Philippe Gaulier. Era para ir três meses e acabei por ficar dois anos a estudar com ele. Mudou-me a vida. Além de Paris, estudaste artes de representação em Nova Iorque, e agora estás a acabar um mestrado em artes cénicas, na FSCH. Estudar é algo fundamental na tua vida? Para além da prática da representação, o estudo é-te fundamental? É fundamental. Primeiro trata-se da descoberta de um método. Ou seja, o que importa é o que se estuda. Mais do que ter ido estudar para Nova Iorque, eu fui estudar Suzuki e ViewPoints com a SITI Company. Mais do que ter ido estudar para Paris, fui estudar com o Philippe Gaulier, perceber a diferença entre a escola dele e a do Lecoq, perceber o que é o clown para Gaulier e o que é o bouffon. Mesmo recentemente fui para o Odin Teatret na Dinamarca perceber o que é o método de Eugenio Barba. Faz parte de uma pesquisa pessoal de perceber o que são estes métodos que, por muito que se leiam os livros, não há nada como conhecer e estudar com as pessoas que os criaram e desenvolveram. São cursos intensivos e prolongados, não são workshops de uma semana, o que permite um aprofundamento do trabalho que só se consegue com algum tempo de treino. Finalmente há a vantagem de se viajar e viver noutros países e estar em contacto com actores do mundo inteiro. Isso eu nunca consegui como actriz, só como estudante de teatro. Não tens televisão em casa, e és muitas vezes reconhecida na rua por causa dos teus papéis na televisão. Como entendes ou como vives esse fenómeno de te confundirem com aquilo que representas, nas telenovelas? Tens algum episódio mais caricato que nos possas contar? Normalmente as pessoas são muito simpáticas, nunca foram desagradáveis ou demasiado intrusivas. Também, confesso que quase ninguém me reconhece. Houve uma vez um senhor que me reconheceu e que me disse A menina ao ar livre é mais bonita. Adorei a expressão ao ar livre! Qual achas que está mais pujante hoje, em Portugal, o teatro ou o cinema? Sinceramente não sei nem acho que se possa comparar. Se pujante significa ser internacional, o cinema português já há uns anos que se tem destacado bastante. Mas há imensas companhias que fazem residências e são programadas no estrangeiro mas que cá não é notícia. Tem-se produzido bastante teatro em Portugal e há bastante público mas ficam, salvo raras excepções, três a cinco dias em cena, o que para um espectáculo não é nada. Os cortes nos subsídios são enormes o que obriga as companhias a esforços hercúleos para cumprir a programação e até mesmo a terminar. Por isso não sei se pujante é um adjectivo que se possa utilizar. Que projectos para este ano? Estou agora a ensaiar a peça Migrantes de Matéi Visniec com encenação do Rodrigo Francisco para o Teatro de Almada, onde tenho estado ultimamente a trabalhar. Acabar o mestrado e continuar a desenvolver um projecto pessoal sobre o treino do actor. Também gostava de viajar….mas logo se vê.
Isabel Castro VozesAs sombras [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]hegam de mansinho e fecham-se, bem fechados, como se as ruas lhes fizessem mal. A clausura que procuram não deve, nem pode, ser confundida com vontade de transmitir humildade. É o contrário. O isolamento que os rodeia tem características de redoma, uma redoma que julgam pintada a ouro, pintada com ouro, condicente com a sonância dos apelidos que acompanham o nome próprio, pelo que já foram e agora são. Chegam com pompa e circunstância, dentro das circunstâncias possíveis da pompa de quem já não sabe – talvez nunca tenham sabido – onde está. Comportam-se como príncipes de um reino que nunca lhes pertenceu, seres que não se confundem com a plebe, eles é que tiveram importância, sem os seus actos e omissões nada seria como é. O passado assalta-nos porque eles são o passado. Chegam com silêncios. Fecham-se em copas e espadas, ases na fuga aos microfones, para os quais não são capazes de olhar sem uma certa altivez a roçar o desprezo, ou com um certo desprezo que gostaria de ser altivo, mas que não consegue sê-lo por falta manifesta de pedigree. Mas eles estão aí. Vêm em excursão, não obstante detestarem excursionistas e autocarros, e paragens nas estações de serviço para abastecer e desabastecer. Andam aí não se sabe bem onde, nem a fazer o quê. Reúnem-se e discutem o futuro dos outros, como se pudessem decidir o futuro dos outros, trocam elogios comedidos e beijinhos contidos, gostam imenso de se verem uns aos outros enquanto se vêem uns aos outros, depois é melhor nem falarmos nisso. O resto? O resto nem paisagem consegue ser. Não quero ficar no passado, neste passado de palácios e adjuntos e transferências e tricas e o que não se disse e o que não se fez. O passado interessa-me numa perspectiva histórica, sociológica e política, mas nada me diz como forma de vida, de pensar e de estar. Há uma certa Macau que, do nada, aparece para dizer que ela é que era, porque a Macau de hoje não existe. Eles desconhecem-na, propositadamente, abafam-na com o cheiro a naftalina que imagino que sempre tiveram, pelo que me dizem os livros de história que fui lendo. Essa Macau do passado que, de vez em quando, nos assalta, ignora a realidade, é incapaz de ver a mudança, não tem capacidade de perceber que os anos têm 365 dias e que passam uns atrás dos outros, os dias e os anos, e que com eles tudo muda. Houve gente que morreu desde que foram embora. Houve gente a nascer desde que foram embora. Há gente a chegar todos os dias, a comunidade já não é a mesma, é outra, tem outras preocupações que não os desentendimentos de há duas décadas, tem os problemas de hoje para gerir e não tem culpa – nem quer ter – do passado ao qual pertence apenas por herança nacional. Esta mudança não se põe em bicos de pés. Não tem por que o fazer. Por não se pôr em pontas, passa despercebida neste bailado lento, com um ligeiro cheiro a mofo, que se dança quando a população provisoriamente se altera, por via das visitas que se sentam, lado a lado, em confortáveis poltronas, debaixo do ar condicionado que lhes seca o suor e desfaz a maquilhagem. Ainda assim, apesar de terem os pés completamente colados ao chão, os que cá estão, os que ficaram e os que entretanto chegaram, vivem e têm direito a viver sem sombras. Sem terem de levar, de modo excessivo, com as balas que se atiram lá de longe, de há 20 ou 30 anos. Chegou a altura de o retrato ser diferente, porque a fotografia de família não representa ninguém.
Manuel Afonso Costa Fichas de Leitura h | Artes, Letras e IdeiasDas raízes: José Saramago e “As Pequenas Memórias” [dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uando escrevia O Memorial do Convento, livro que lhe deu notoriedade mundial, José Saramago começou a pensar num relato autobiográfico. Levou mais de vinte anos para elaborar o projecto, cujo resultado é este livro designado As Pequenas Memórias. É verdade que chegou a sonhá-lo com o título O Livro das Tentações, mas depois concluiu que um título assim, glosando as tentações de Santo Antão de Hyeronimus Bosch, seria demais. O livro cobre os primeiros quinze anos da sua vida, do nascimento, em 1922, na aldeia da Azinhaga, Ribatejo, aos estudos na escola industrial de Lisboa, de onde sairá com a formação profissional de serralheiro mecânico. Relembra o convívio com as suas raízes camponesas, em particular através da figura altaneira de seu avô, homem sábio e contudo analfabeto, com quem “aprendeu a cuidar dos porcos e observar a via Láctea”. Fala também muito dos tempos de Lisboa, de quando era novo, da sua tendência para a solidão contemplativa e já nessa época da paixão pelo cinema. Penso que foi na Bagagem do Viajante, primeiro livro que eu li de José Saramago, que uma crónica sobre cinema me surpreendeu. Nunca mais esquecei o que Saramago disse sobre o Il general della Rovere de Roberto Rossellini, com o grande Vittorio De Sica. Na primeira oportunidade não deixei de ver o filme e lembro que correspondia exemplarmente à sua análise, e ficou para sempre registado como um dos filmes da minha vida para parafrasear João Bénard da Costa. Os textos-memória de Saramago sobre animais são também muito expressivos, em particular a sua reflexão sobre os cavalos, esses mesmo que lhe andam a coxear na alma há setenta anos, afinal por nunca os ter montado. Eu pessoalmente gosto sobretudo das memórias em que o autor narra os grandes momentos de descoberta interior, ainda que algumas vezes, ou mesmo a maior parte, as descobertas interiores apareçam ligadas a fenomenologias externas. E deixo-vos com esta pequena pérola: “A noite tinha caído, no silêncio do campo só se ouviam os meus passos. (…) Uma lua cheia, (…) iluminava tudo em redor. Antes do ponto em que teria de abandonar a estrada para meter a corta-mato, o caminho estreito por onde ia pareceu terminar de repente, esconder-se atrás de um valado alto, e mostrou-me, como a impedir o passo, uma árvore isolada, alta, escuríssima no primeiro momento contra a transparência nocturna do céu. De súbito, porém, soprou uma brisa rápida. Arrepiou os caules tenros das ervas, fez estremecer as navalhas verdes dos canaviais e ondular as águas pardas de um charco. Como uma onda, soergueu as ramagens estendidas da árvore, subiu-lhe pelo tronco murmurando, e então, de golpe, as folhas viraram para a lua a face escondida e toda a faia (era uma faia) se cobriu de branco até à cima mais alta. Foi um instante, nada mais que um instante, mas a lembrança dele durará o que a minha vida tiver de durar. Não havia tiranossauros, marcianos ou dragões mecânicos, é certo que um aerólito cruzou o céu (não custa a acreditar que sim), mas a humanidade, como veio a verificar-se depois, não esteve em perigo. Depois de muito caminhar, ainda o amanhecer vinha longe, achei-me no meio do campo com uma barraca feita de ramos e palha, e lá dentro um pedaço de pão de milho bolorento com que pude enganar a fome. Ali dormi. Quando despertei, na primeira claridade da manhã, e saí, esfregando os olhos, para a neblina luminosa que mal deixava ver os campos ao redor, senti dentro de mim, se bem recordo, se não o estou a inventar agora, que tinha, finalmente, acabado de nascer. Já era hora”. O estranhamento do mundo, o achamento da subjectividade. É disso que se trata. É nisso que consiste o nascimento, e, em boa verdade, este é que é o nascimento de facto. Não tem data marcada, acontece quando acontece, consta que para muitas pessoas nunca chega a acontecer e em muitos casos acontece muito tarde e para quase todos, raras vezes muito cedo. Enfatizo aqui a presença do verbo acontecer, uma vez que é dessa ordem a fatalidade feliz de um nascimento, ou seja da ordem do inesperado, fortuito, e sobretudo mágico. Sinopse e ficha critica de leitura “José Saramago, poeta (Os Poemas Possíveis, 1966, Provavelmente Alegria, 1970, O Ano de 1993, 1975; dramaturgo (A Noite, 1979, Que Farei com Este Livro?, 1980, A Segunda Vida de Francisco de Assis, 1987, In Nomine Dei, 1993, Don Giovanni ou O Dissoluto Absolvido, 2005 e romancista (Terra do Pecado, 1947, Manual de Pintura e Caligrafia, 1977, Levantado do Chão, 1980, Memorial do Convento, 1982, O Ano da Morte de Ricardo Reis, 1984, A Jangada de Pedra, 1986, História do Cerco de Lisboa, 1989, O Evangelho Segundo Jesus Cristo, 1991, Ensaio Sobre a Cegueira, 1995, Todos os Nomes, 1997, A Caverna, 2000, O Homem Duplicado, 2002, Ensaio Sobre a Lucidez, 2004, As Intermitências da Morte, 2005, A Viagem do Elefante, 2008, Caim, 2009, Claraboia, 2011), sobretudo, conduziu uma vida intelectual e cultural, marcada pelo auto didactismo e pelo comprometimento social e político. Nasceu no distrito de Santarém, na província geográfica do Ribatejo, no dia 16 de Novembro, embora o registo oficial apresente o dia 18 como o do seu nascimento. Saramago, conhecido pelo seu ateísmo e iberismo, foi membro do Partido Comunista Português e foi director-adjunto do Diário de Notícias. Juntamente com Luiz Francisco Rebello, Armindo Magalhães, Manuel da Fonseca e Urbano Tavares Rodrigues foi, em 1992, um dos fundadores da Frente Nacional para a Defesa da Cultura (FNDC). Casado, em segundas núpcias, com a espanhola Pilar del Río, Saramago viveu na ilha espanhola de Lanzarote, nas Ilhas Canárias. Foi galardoado com o Nobel de Literatura de 1998. Também ganhou, em 1995, o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Saramago foi considerado o responsável pelo efectivo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa”.
Hoje Macau SociedadeBaixos salários no consulado de Macau motivam queixas [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s salários dos funcionários do consulado-geral de Portugal em Macau, considerados baixos para a média do território, motivaram ontem queixas ao secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, que disse não ter solução para o problema. “O consulado tem uma grande falta de pessoal. Espero que olhe para Macau por um prisma diferente, porque Macau é uma cidade que ama muito Portugal”, disse Rita Santos, conselheira das comunidades portuguesas pelos círculos da China, Macau e Hong Kong, durante um encontro com José Luís Carneiro. A conselheira explicou que os salários dos funcionários consulares rondam as 11 mil patacas, o que, “reduzindo os impostos” resulta em cerca de sete mil patacas. “É muito baixo”, frisou. A queixa foi repetida por António José de Freitas, provedor da Santa Casa da Misericórdia: “Um funcionário público do cargo mais baixo, um servente, ganha cerca de 12 mil patacas, que é para ver como o pessoal do consulado ganha mal”. As queixas foram feitas durante um encontro de Carneiro com 23 representantes de todas as associações de matriz Portuguesa, em que também esteve presente o cônsul-geral. Vítor Sereno lembrou que muitos dos funcionários falam quatro línguas – português, inglês, cantonês e mandarim –, o que os torna ainda “mais apetecíveis” em Macau. “O custo de vida é dos mais altos do mundo”, alertou Sereno, lembrando que, entre 2013 e 2014, o consulado fez 16 rescisões. “As pessoas batiam-me à porta e diziam-me ‘A felicidade não enche a dispensa, não aguento mais’”, recordou. Dilema partilhado O problema dos salários é antigo e os conselheiros já o levaram à reunião plenária do Conselho das Comunidades Portuguesas, no ano passado, em Lisboa. Desta vez, a resposta não foi diferente. “Não temos solução, temos uma vontade de encetar diálogo com os sindicatos. É uma questão complexa, muito difícil de resolver. Mexer nas condições remuneratórias de Macau significa mexer nas condições remuneratórias de todo o mundo. Passa por uma revisão global das carreiras”, disse Carneiro. O problema não é exclusivo de Macau, sublinhou o responsável português. Em São Francisco (Estados Unidos) e Londres, por exemplo, foram abertos concursos e as vagas ficaram por preencher devido aos montantes oferecidos, acrescentou.
João Luz EventosElectrónica | DJ Marfox estreia-se em Macau no sábado Marlon Silva é a personificação das origens humildes que chegam ao estrelato. Desde criança que quis ser DJ. Viu o primo mais velho animar festas de bairro, baptizados e casamentos, e cedo começou a cozinhar remixes. Hoje, as suas batidas já ecoaram por todo o mundo, e chegam ao Kampek no sábado [dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]a Portela de Sacavém para o mundo. Podia ser um título alternativo para este artigo. DJ Marfox, ou Marlon Silva no cartão do cidadão, é hoje um fenómeno internacional. Tocou no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque, em festas em Los Angeles, Tóquio, Xangai, Seul e por toda a Europa. Apareceu na Rolling Stone e um pouco por todas as publicações de música de dança com renome mundial. Há um bom punhado de anos, num vídeo de uma actuação dos Buraka Som Sistema no conhecido Festival de Coachella, na Califórnia, podiam ver-se caras de espanto. As expressões pareciam trazer a interrogação “o que é isto?”. Internacionalizava-se a mistura de kuduro que nascia nas periferias de Lisboa. DJ Marfox já andava por aí antes dessa explosão, a fazer corpos abanarem-se em festas que não chegavam ao centro de Lisboa, apesar de já marcar presença em várias cidades europeias. “A música já era internacional, os putos já a faziam, chegava a Londres, Nice, Paris, mas sempre para as comunidades emigrantes de Cabo-Verde e Angola”, conta o DJ. Até que a Príncipe Discos e a produtora Filho Único chegam à história de Marfox, e levaram as sonoridades de inspiração africana da periferia para o Cais do Sodré, mais propriamente para o Musicbox. Começavam as “Noites Príncipe”, que foram ganhando notoriedade no underground lisboeta. “Deram-nos uma casa no centro da cidade e, com isso, deram-nos consistência”, revela. O artista tem uma relação umbilical com a sua editora, que considera uma família. O suporte da ‘label’ chegou ao ponto de levar artistas ao SEF para tratarem de documentação, assim como tratar de problemas familiares. Também mantinham uma relação estreita com os pais de Marlon, ligando-lhes para reiterar o talento do jovem e que tudo fariam para lhe dar uma carreira como DJ. Rumo ao Oriente Com cinco discos editados na bagagem e participação em quatro compilações, Marfox não perde o pé. O miúdo que cresceu na Quinta da Vitória, na Portela de Sacavém, tem um sentido de responsabilidade que nem sempre se encontra no mundo da música. Chegar aos palcos internacionais “é uma responsabilidade muito grande porque muita gente depositou confiança em mim”, releva o DJ. Quando pensa no sucesso e reconhecimento internacional que conseguiu, Marfox pensa no pai e na mãe, “nos sacrifícios que fizeram” para lhe darem a melhor vida possível. Ao sentido de responsabilidade junta-se a satisfação que tem em tocar e em fazer correr suor nas pistas por onde passa. Um sentimento de compromisso que cresceu há três semanas com o nascimento do seu primeiro rebento. “Os meus pais cumpriram o seu papel, agora falto eu cumprir o meu e melhorar a vida do meu filho”, conta. Este ciclo que lhe dá força, firmeza, que faz com que encare todos os públicos sem medos e com que dê tudo o que tem, mesmo que esteja cansado. Além disso, toca com prazer. Quando à definição do seu som, Marfox caracteriza-o como “uma ponte entre tudo o que é feito de melhor em África e tudo o que é feito de melhor em Lisboa”, em termos de música electrónica. Mistura as batidas africanas do kizomba, kuduro, funaná, tarraxinha aos sons urbanos do techno, house e electrónica. Ainda assim, classifica a sua música como sendo “80 por cento lisboeta”. Acrescenta que “é uma música da nova Lisboa, não Huambo, mas das periferias de Lisboa que abraça a velha Lisboa do centro”. Quanto a Macau, Marfox sente que tem “bom vibe”. Além disso, achou muita piada à forma como se nota nalgumas pessoas, e na própria cidade, a mistura que houve entre portugueses e chineses. Definitivamente, um bom remix.
Hoje Macau PolíticaRecrutamento no Governo | Deputado e associação de estudantes pedem explicações Chan Meng Kam quer o Governo a analisar os contratos de trabalho de todos os funcionários públicos. Há uma associação de estudantes que tem receio de que os estagiários do Instituto Cultural estejam em situação ilegal. O relatório do CCAC está a dar muito que falar [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]em a promessa de Alexis Tam serviu para acalmar os ânimos. Esta semana, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura anunciou que pediu, aos sete institutos e direcções de serviço sob a sua tutela, relatórios sobre a situação contratual dos funcionários públicos. O governante deixou ainda a garantia de que vão ser apuradas responsabilidades, mas há quem não esteja satisfeito com o desfecho do caso. Numa interpelação escrita ao Executivo, a propósito dos problemas detectados no Instituto Cultural (IC) pelo Comissariado contra a Corrupção (CCAC), Chan Meng Kam pede à Administração que verifique todos os contratos dos funcionários públicos, para se apurar se existem mais situações de trabalhadores contratados em regime de aquisição de serviços. O deputado entende que o assunto não deve morrer no relatório do CCAC, salientando uma ideia deixada na Assembleia Legislativa, esta semana, por outros membros do hemiciclo: o Comissariado contra a Corrupção e o Comissariado da Auditoria apontam os problemas, os serviços públicos visados fazem ‘mea culpa’ e prometem corrigir os erros, mas não são assacadas responsabilidades aos autores das irregularidades. Estagiários preocupados Também o subdirector da Associação Geral de Estudantes Chong Wa de Macau, Kwan Ka U, pede esclarecimentos ao Governo, mas sobre os estágios de alunos universitários na função pública. Em declarações ao Jornal do Cidadão, o responsável disse recear que, com a divulgação de irregularidades nas contratações do IC, os estágios dos universitários possam vir a ser afectados. “São muitos os alunos que se dirigiram à associação para esclarecer se os seus estágios no Instituto estão abrangidos pelas irregularidades detectadas”, relatou. Os estudantes, explicou, têm medo de vir a perder oportunidades futuras caso estejam incluídos em casos detectados como ilegais. O responsável sublinhou que as oportunidades de estágio são uma forma de aumentar a experiência profissional dos alunos, ao mesmo tempo que podem atenuar a pressão nos serviços públicos, colmatando algumas das necessidades sentidas ao nível dos recursos humanos. Kwan Ka U alertou ainda para a necessidade de os departamentos públicos seguirem os procedimentos de contratação de trabalhadores de acordo com os princípios da função pública. Num relatório que resultou de uma investigação iniciada em Abril de 2016, o CCAC revelou que “descobriu que o IC recorreu ao modelo da aquisição de serviços para contornar sistematicamente o regime legal do recrutamento centralizado e do concurso público”. Entre 2010 e 2015, o número de trabalhadores contratados em regime de aquisição de serviços quase duplicou, passando de 58 para 110, o que o IC justificou com o aumento do volume de trabalho nos últimos anos e com a escassez dos recursos humanos. “Sem a autorização do secretário para os Assuntos Sociais e Cultura para a dispensa de concurso, o IC recrutou, por iniciativa própria, um grande número de trabalhadores em regime de aquisição de serviços sem a realização de concurso”, refere o relatório. O CCAC detectou problemas como “a falta de publicidade de informações sobre o recrutamento, métodos de selecção menos rigorosos e a suspeita de incumprimento do regime de impedimento”. Verificou também que “as informações sobre a intenção de recrutamento de pessoal do IC em regime de aquisição de serviços têm sido transmitidas somente dentro de um determinado círculo de indivíduos ou de familiares e amigos”.
Andreia Sofia Silva PolíticaAL | Banca capaz de congelar contas no prazo de 24 horas Deputados e Governo obtiveram a confirmação da Autoridade Monetária e Cambial de que os bancos têm capacidade para congelar contas suspeitas em casos de branqueamento de capitais no prazo de 24 horas. A Assembleia recebeu emails de residentes com dúvidas sobre esta matéria [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá praticamente concluída a análise na especialidade da revisão dos diplomas relativos à prevenção e repressão do crime de branqueamento de capitais, bem como do diploma referente à prevenção e repressão dos crimes de terrorismo. Na reunião de ontem, os deputados e o Executivo obtiveram a garantia da Autoridade Monetária e Cambial de Macau (AMCM) de que a banca será capaz de congelar contas bancárias em processos de investigação de branqueamento de capitais. A medida deve ser levada a cabo no prazo de 24 horas, após decisão do juiz. “Colocou-se a dúvida se [a medida] poderia ou não ser tomada nesse prazo mas, segundo as respostas da banca e da AMCM, será possível”, explicou o deputado Cheang Chi Keong, que preside à 3.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL). Segundo o deputado, vários residentes chegaram a enviar questões à Assembleia, por email, sobre esta matéria. “Havia algumas preocupações relativamente à comunicação de movimentações suspeitas dentro de 24 horas. Foi feito um diálogo com a banca e, em resposta, recebemos a informação de que esse formato é viável. A AL tem recebido emails de residentes que falam de receios de que essa medida possa não ser exequível. Mas na resposta dada pela AMCM foi assegurado que a banca poderá levar a cabo esse formato”, disse Cheang Chi Keong. Votação até Abril O secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, esteve ontem presente na reunião que serviu essencialmente para limar algumas arestas, após ter sido elaborado um novo documento de trabalho para a revisão dos diplomas. Cheang Chi Keong garantiu que os pontos mais importantes já foram discutidos, prevendo que, até finais de Abril, o novo diploma seja sujeito a votação na especialidade. “Alguns receios e questões técnicas foram resolvidos. Foi acrescentada a responsabilidade das pessoas colectivas”, acrescentou o presidente da comissão. Cheang Chi Keong frisou ainda que há uma unanimidade junto dos deputados em relação à autonomização entre o crime de branqueamento de capitais e o crime que precede esse delito. “As assessorias tinham posições diferentes, mas o Governo tomou a decisão. A comissão apoia com unanimidade essa decisão legislativa do Governo e somos também unânimes em aceitar as novas alterações”, concluiu. As alterações aos diplomas de controlo e prevenção dos crimes de branqueamento de capitais e terrorismo, implementados em 2006, têm carácter de urgência para responder às “deficiências identificadas” em 2007 pelo Grupo Ásia-Pacífico contra o Branqueamento de Capitais. Sem essas mudanças, o território corria o risco de ser integrado na lista negra, o que “iria afectar o crescimento de Macau, sobretudo para o sector económico e financeiro”, explicou Cheang Chi Keong.
Hoje Macau China / ÁsiaLi Keqiang adverte Austrália contra o proteccionismo [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, advertiu ontem contra o proteccionismo, afirmando que o seu país planeia reduzir o défice comercial com a Austrália através do aumento das trocas comerciais, ao invés da sua redução. Li afirmou num discurso no parlamento australiano que a globalização gerou “alguns problemas”, mas que não se pode culpar o livre-comércio. A China “não pode fechar as portas” para resolver os seus desequilíbrios comerciais com a Austrália, afirmou Li Keqiang, após em 2016 o país ter registado um défice no comércio com a Austrália no valor de 50.000 milhões de dólares, sobretudo devido à alta procura chinesa por carvão e ferro. “Acreditamos que para resolver o desequilíbrio, temos de continuar a expandir as trocas comerciais”, afirmou o primeiro-ministro chinês. Li e o seu homólogo australiano, Malcolm Turnbull, vão discutir os detalhes do alargamento do seu acordo de livre-comércio, vigente por dois anos, nas áreas investimento e serviços. Numa das suas primeiras decisões após tomar posse, o Presidente norte-americano, Donald Trump, retirou os Estados Unidos do Acordo Transpacífico (TPP, na sigla em inglês), um ambicioso bloco comercial na Ásia Pacífico e um pilar central da estratégia de Obama na região. A Austrália era um dos principais defensores do bloco, que Pequim considera ter como objectivo travar a sua crescente influência na região. A visita de Li à Austrália e Nova Zelândia, que começou na quarta-feira, é a primeira de um primeiro-ministro chinês em onze anos. Li é também o mais alto responsável chinês a visitar a Austrália desde 2014, quando o Presidente Xi Jinping, fechou o acordo de livre-comércio. Questões marítimas Turnbull sugeriu que dois lideres vão ainda abordar a questão do Mar do Sul da China, reclamado quase na totalidade por Pequim, apesar dos protestos dos países vizinhos. “O primeiro-ministro Li e eu vamos discutir, como fizemos antes, a importância de proteger a manter a estabilidade na nossa região”, disse Turnbull. “Acreditamos que a China tem uma grande contribuição a fazer para a paz global e prosperidade, numa era de rápidas mudanças”, afirmou. Li disse que a China vai cooperar com a Austrália para garantir a liberdade de navegação nas regiões divididas. A China “nunca vai procurar a hegemonia e domínio”, disse.
José Simões Morais h | Artes, Letras e IdeiasO final da boémia vida de Albino Paiva [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]m artigo anterior, deixamos a história de Albino Francisco de Paiva de Araújo após o regresso da viagem a Portugal que fizera com a sua esposa, a Thérèse Blanche Lachmann, aliás Madame Paiva. Camilo Castelo Branco referia, “A polaca regressou a Paris, e como o seu marido constituía um empacho aos seus embelecos e astúcias, requereu a separação e regressou ao exercício profissional do galanteio”. Tal visita desmente as versões a circular sobre o dia seguinte ao casamento ocorrido a 5 de Junho de 1851 e que teve como uma das testemunhas o escritor Theophile Gautier. Segundo diz Viel-Castel, nas Memórias de Conde Horace, no dia seguinte a casar a nova Madame Paiva entregou ao marido uma carta em que punha termo ao casamento. Já sobre o que ocorreu em Paris, Peter Flectwood-Hesketh refere, “Na ópera com Florentino [o jornalista napolitano Angélico Florentino], uma noite, em 1852 (ano seguinte a se ter casado com o Paiva), o cônsul alemão, Félix Bamberg, apresentou-a a Guido, conde Henckel von Donnersmark, austero mas belo jovem de 22 anos. Apesar de ser 11 anos mais novo do que ela, Guido ficou imediatamente cativo pela deslumbrante marquesa. A princípio ela apenas se divertia com a sua enfatuação; depois jogou com ele um jogo caprichoso de gato e rato. Só quando ele, desesperado, fugiu para Berlim, ela reconheceu em si uma afeição real por ele. Ela seguiu-o e lá começou uma relação que, acrescentada ao ambiente de segurança financeira que oferecia, aproximou-se mais do amor e do romance do que qualquer outra na sua vida calculada e egoísta, durante e até ao fim. Guido era herdeiro duma antiga família, cuja principal propriedade era Neudeck, perto de Tarnovitz, na Silésia [subúrbios de Munique], com valiosas minas de zinco, ferro e carvão. De Berlim foram para Neudeck, regressando a Paris, onde, em 2 de Dezembro, o príncipe Luís Napoleão recebeu o título de Imperador Napoleão III”. (…) “Ela partilhou com Henckel o entusiasmo pela música, sobretudo de Richard Wagner, assíduo visitante. A princípio evitava familiaridades com Guildo; mas quando o teve seguro, submeteu-se a este silencioso e apaixonado alemão. A adicionar a esta resposta amorosa, a sua experiência e habilidade nos negócios ajudou-o imensamente e ganhou a sua devoção e a gratidão durante toda a vida”. E continuando com Flectwood-Hesketh, “A casa de Teresa no Lugar de S. Jorge tornou-se mais uma vez o popular ponto de reunião do círculo literário, musical e artístico com grande desgosto da princesa Matilde, prima do imperador, que via naquilo uma invasão na sua área reservada, bem como da respeitável sociedade parisiense, que olhava para Teresa como pária intocável. Entre os habituais frequentadores de Teresa, quase todos do sexo masculino, contavam-se Paul de Saint-Víctor, León Gozlan, Émile de Girardin, Jacob Ponsard, Émile Augier, os irmãos Goncourt, Arsène Houssaye, Théophile Gautier, Sainte-Beuve e o austeno Taine. Entre os seus amigos havia também financeiros, que a ajudavam com conselhos salutares”. Regresso a Portugal Albino Francisco de Paiva de Araújo, após se separar da judia polaca, continuou por mais algum tempo na vida de boémia em Paris, onde gastou o que lhe sobrava da herança, que Camilo Castelo Branco referia, “uma fortuna de 400 contos de réis, que nessa época estariam reduzidos à décima parte” e veio para o Porto já endividado. E continuando com este escritor, que diz ter Albino Araújo abandonado a sua esposa dois anos decorridos, “mais ou menos espontaneamente, a um dos cinco mil príncipes russos que dão mobília nova aos bordéis parisienses, e regressou a Portugal com bastantes malas inglesas, uma dúzia de floretes, outras tantas caraças e manchetes, afora algumas dívidas. A mãe pagou-lhe as letras, e perdoou-lhe o casamento e a dissipação do património”. E continuando com Camilo Castelo Branco, “Durante quatro ou cinco anos, Paiva viveu muito recolhido no Porto, mas frequentando pouco a convivência da mãe. Habitava uma casinha de duas janelas, situada na extremidade do jardim. Saia de noite, recolhia de madrugada, e passava o dia a comer e a dormir. Um escudeiro levava-lhe em tabuleiro coberto o almoço e o jantar da cozinha da mãe, que ele raras vezes procurava. Era-lhe odiosa, porque lhe não dava dinheiro para sair de Portugal, e apenas lhe enviava mensalmente o necessário para dignamente se tratar na sociedade pacata, frugal e económica do Porto. Em 1855 e 56 encontrei-o muitas tardes nos pinhais e carvalheiras da Prelada e de Lordelo, passeando com uma francesa de muita vista, escultural, com a trança dos cabelos louros desatados sob as amplas abas d’um chapéu de palha azul ondulante de fitas escarlates. Se eu procurasse o nome dela na sepultura para lh’o dizer, não o acharia, porque a francesa, d’um espírito raro, morreu na obscuridade da pobreza, e d’uma velhice que redime e pede perdão para os delitos da juventude. Dessa época lembram-me dois episódios de Paiva Araújo. A Macaense dera azo a que se soubesse cá fora que o filho a quisera matar com veneno, para empolgar a herança. O Jornal do Porto dera a notícia com discreta prudência; mas Paiva foi insultar com ameaças de azorrague o honrado proprietário daquele jornal, que desviou de si a responsabilidade da notícia, aliás verdadeira. O outro caso, mais cómico pelas consequências, foi um duelo à espada, por motivos melindrosamente caseiros, com um fidalgo portuense chamado D. António Peixoto Pinto Coelho Pereira da Silva Padilha de Sousa e Haucourt, simplesmente. Se bem me recordo, Paiva Araújo desarmou, com pouca efusão de sangue, o contendor, D. António, alucinado com o êxito do duelo, atirou-se da ponte Pensil sobre… um barco rabelo de batatas que vinha mansamente descendo o Douro. E saiu sem contusão de entre as batatas que, de certo, não eram tão macias e flácidas como as almadraques de um kalifa de Córdova. (…) Em 1860 encontrei Paiva Araújo em Braga, leccionando francês no colégio da Madre de Deus, no palácio dos Falcões, onde uma família estrangeira tentava inutilmente a fortuna. O marido de Branca Lachmann, nesse ano, trajava menos que modestamente. O seu casaco e chapéu, em tais condições, não lhe os aceitaria um dos seus antigos criados”. Jorge Forjaz refere, “Depois da separação, Paiva Araújo voltou a Portugal, conservando-se algum tempo no Porto. Mais tarde ainda tornou a Paris, de onde / de quando em quando vinha ao Porto visitar a mãe. Lutava já com os últimos recursos, completamente esbanjada, não a legítima como a própria herança paterna. Entretanto, Blanche Lachmann já fisgara um novo amante – desta vez tratava-se do Conde Henckel von Donnermarck, magnata de cobre na Silésia e primo de Bismarck”.
João Luz Manchete SociedadeComunicações | CTM apresenta dados de 2016 e lança prioridades Os lucros do ano passado da CTM decresceram 6,4 por cento em relação a 2015, um número que, ainda assim, ultrapassa os mil milhões de patacas de lucros. Este ano é para apostar na fibra óptica e na expansão do 4G [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]om a liberalização do mercado das telecomunicações e a (relativa) indefinição quanto à renovação do contrato de concessão com o Governo, 2017 afigura-se como um ano importante para a CTM. A empresa fechou o ano passado com receitas superiores a 4,5 mil milhões de patacas. Descontados os custos, investimentos e impostos pagos, a companhia de comunicações terminou 2016 com lucros superiores a mil milhões de patacas, o que representou uma quebra de 6,4 por cento, em relação a 2015, quando a empresa arrecadou 1,15 mil milhões. A justificação para esta quebra foi dada pela forte competição que se fez sentir no mercado das telecomunicações móveis. No final do ano passado, a CTM reduziu as suas tarifas, o que está previsto trazer um impacto de 200 milhões de patacas no fecho das contas deste ano. Quanto à muito falada e criticada rede WiFi Go, Vandy Poon, CEO da empresa, defendeu que os termos do contrato com o Executivo foram cumpridos no que toca à operação. O homem forte da CTM assegura que a empresa cumpriu a sua parte, de acordo com o que foi definido e acordado configurar e construir. Neste aspecto, Ebel Cham, vice-presidente de operações comerciais, esclareceu que não foi exigida à CTM que fizesse “actualização do software e hardware do WiFi Go”. Foi ainda salientado que até Outubro de 2014 o operador responsável pelo contrato era outro. No que toca a uma eventual compensação ao Executivo, essa possibilidade foi afastada por Vandy Poon, apesar ter sido veiculado que estava em discussão uma forma de se ressarcir não monetariamente o erário público na sequência do relatório do Comissariado da Auditoria. Neste documento, a CTM é acusada de ter recebido mais de 400 mil patacas para instalar dispositivos com um custo que não corresponderia a esse montante. Bem inventariado Depois da insistência de alguns deputados para que o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, divulgue os activos da empresa, Vandy Poon reforçou a ideia de que essa decisão está nas mãos do Executivo. Será algo que não cabe à CTM fazer, até porque é uma “lista com cerca de quatro mil itens, que não passa de um instrumento de gestão, sem qualquer interesse público”, apontou Aguinaldo Wahnon, vice-presidente dos assuntos legais e regulatórios. O responsável pela área legal acrescentou ainda que o acordo de concessão é apenas uma parte do volume de negócios em desenvolvimento pela CTM. No que concerne à publicação, ou não, da lista de activos da operadora, Wahnon confessou que tem algumas reservas tanto por motivos de estratégia comercial, como também por a CTM ser detida por empresas cotadas no mercado bolsista. No capítulo do número de clientes, a companhia de telecomunicações revelou que, no ano passado, mais de 600 mil pessoas era subscritoras do serviço 4G+, um volume seis vezes superior ao ano anterior. No que toca a consumidores da banda larga de fibra os clientes chegaram aos 112 mil, o que representou um crescimento de mais do dobro. “Até ao fim do ano, gostaríamos que todos os nossos clientes passassem a ter Internet por fibra e ter total cobertura de 4G”, projecta Vandy Poon. Um dos projectos em cima da mesa para este ano é a possibilidade de se comprar bilhetes para o Turbo Jet através de uma aplicação da CTM.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaVisita | Portugal e Macau vão cooperar na área do turismo A vinda do secretário de Estado das Comunidades Portuguesas ao território deixa uma certeza: Lisboa vai cooperar com Macau na criação de um “projecto cultural associado à valorização do património”. Quanto à atribuição de BIR, José Luís Carneiro fala de uma diminuição dos processos recusados [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]a sua primeira visita a Macau, o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, fez o percurso da praxe de todos os dirigentes: visitou o Jardim de Infância D. José da Costa Nunes e a Escola Portuguesa de Macau, encontrou-se com elementos da comunidade e com governantes do território. A agenda de ontem ficou marcada por uma reunião com o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam. Em declarações aos jornalistas após o encontro, José Luís Carneiro disse que Portugal vai cooperar com Macau na área do turismo, participando num novo projecto que o Executivo pretende desenvolver. “Foi possível falar sobre a intenção que existe em Macau de se criar uma nova unidade cultural, de valorização do património macaense. Há abertura para que o movimento da diáspora portuguesa em Macau possa ter uma nova dimensão de expressão pública muito voltada para a dinamização do turismo e da economia, nessa nova estrutura que será criada por parte das autoridades.” Portugal deverá ainda colaborar na candidatura apresentada por Macau à UNESCO, no sentido de classificar a gastronomia macaense. “O que ficou estabelecido é que Portugal vai procurar estabelecer relações de carácter cultural, tendo em vista valorizar os elementos comuns da gastronomia macaense, que integram elementos portugueses.” Para José Luís Carneiro, “é possível aprofundar a cooperação no âmbito da promoção e valorização do património na sua relação com o património material e imaterial português, e criar um alicerce de promoção do turismo e de dinamização da economia macaense e portuguesa”. Mais apoios para estudos O secretário de Estado das Comunidades falou ainda da possibilidade de facilitar as candidaturas dos alunos de Macau ao ensino superior português. “Foi estabelecida uma vontade de podermos sistematizar um conjunto de informações úteis para aqueles que querem estudar em Portugal. Tem sido desenvolvido um esforço da parte das instituições portuguesas, mas sentimos que é preciso dar uma outra eficácia às condições de informação e de esclarecimento sobre o modo como os alunos se podem candidatar às instituições de ensino superior em Portugal e aos apoios do Estado português”, apontou. Ao nível da língua portuguesa, José Luís Carneiro tomou conhecimento da vontade do Governo da RAEM em promover a extensão do ensino da língua portuguesa. “Foi possível verificar da parte das autoridades macaenses que há uma vontade muito grande de um esforço de afirmação e defesa da língua portuguesa, e há exemplos concretos, como o financiamento de um conjunto de actividades, bem como a vontade de extensão do ensino da língua portuguesa ao ensino secundário, e também do primeiro ciclo. É um reconhecimento importante”, referiu. Quanto ao protocolo assinado entre o Instituto Camões e o Instituto Politécnico de Macau, José Luís Carneiro considerou-o “da maior importância”, pois “não se trata apenas de mais um protocolo, mas de um instrumento de trabalho e eficácia politica na defesa da língua portuguesa”. BIR para todos O secretário de Estado das Comunidades Portuguesas reuniu-se também com Wong Sio Chak, secretário para a Segurança. Além de destacar o apoio ao Consulado-geral de Portugal, que o ano passado fez cerca de 60 mil atendimentos, José Luís Carneiro teve a informação de que a recusa de concessão de Bilhete de Identidade de Residente (BIR) a portugueses diminuiu. “O secretário deu-nos conta de que houve uma redução muito significativa dos indeferimentos das autorizações de residência e essa é uma dimensão que foi reconhecida. Não há qualquer assunto que mereça um reparo por parte das autoridades macaenses, o que há é um reconhecimento da boa vontade de cooperação”, apontou. Quanto ao pedido de celeridade dos processos de residência por investimento, no âmbito dos Vistos Gold, o governante garantiu que “tem havido um esforço” nesse sentido por parte do Estado português. Ontem, ao cair do dia, José Luís Carneiro reuniu-se ainda com mais de vinte associações de matriz portuguesa, estando hoje de partida para Portugal. Alexis Tam destaca importância da língua portuguesa Na sequência do encontro com José Luís Carneiro, o secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, destacou a importância da língua portuguesa, tendo referido que esta “assume particular importância na formação de quadros bilingues”, algo que tem “justificado um grande investimento de recursos facilitando a concretização do papel de Macau, confiado pelo Governo Central, como plataforma entre a China e os países de língua portuguesa”. Num comunicado oficial, frisa-se que “ambos os governantes manifestaram interesse em reforçar as boas relações de cooperação, em especial nas áreas da língua portuguesa e da cultura através das instituições de ensino superior, da rede de escolas associadas e da tradução”.