João Luz PolíticaNg Kuok Cheong pede reforço no combate à violência doméstica [dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uer saber quando é que a lei vai ser revista, para colmatar as lacunas entretanto detectadas. A lei de combate à violência doméstica entrou em vigor no ano passado, mas para Ng Kuok Cheong o assunto deve voltar à ordem do dia. O deputado entende ainda que é preciso um maior investimento em equipamentos que permitam o apoio às vítimas, ideia defendida numa interpelação escrita ao Executivo. Em primeiro lugar, o deputado relata na missiva que, no contacto com cidadãos, ficou com a ideia de que mulheres e crianças buscam ajuda em casos de violência doméstica mais activamente do que no passado. Além de uma maior abertura social para o problema, foram também apoiados centros de abrigo que acolhem mulheres, e os respectivos filhos, em situação de risco de violência. O internamento dura três meses. A duração é algo que preocupa Ng Kuok Cheong, dando eco aos receios de mulheres que temem regressar a casa depois de terminado o período de acolhimento nos centros. A falta de espaço é outro aspecto que o deputado foca na interpelação, sublinhando a incapacidade dos serviços em dar resposta às necessidades da sociedade. Portanto, o tribuno pede maior robustez de recursos dos serviços públicos para acolher mais vítimas de violência doméstica. Nesse sentido, Ng Kuok Cheong pede urgência ao Executivo para aumentar a eficácia no tratamento deste assunto, nomeadamente, com o alargamento do poder de resposta dos dormitórios temporários. O pró-democrata alerta ainda que o Governo não deve ignorar as situações de risco de outros grupos sociais, tais como idosos, deficientes e outros grupos vulneráveis. Na interpelação escrita, o deputado não deixou de fora os homens que são vítimas de violência doméstica, interrogando o Executivo no sentido de saber o que será feito em relação a estes casos. Outra das preocupações de Ng Kuok Cheong prende-se com medidas que o Executivo deveria tomar na prevenção, protecção e recuperação de vítimas, assim como na sanção a aplicar a quem pratica estes crimes.
Andreia Sofia Silva PolíticaUrbanismo | Seguro profissional começa a ser definido em 2019 O Governo aponta 2019 como a data em que começa a ser preparada a legislação que vai definir o seguro para profissionais ligados ao sector do urbanismo. Muitos arquitectos, engenheiros ou urbanistas terão de renovar as suas licenças sem ter um seguro profissional, apesar de ser obrigatório por lei [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá resolvido o mistério. A Direcção dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ) afirma que só em 2019 é que começam a ser definidas as directrizes para o estabelecimento de um seguro profissional para o sector da construção civil. Em resposta a uma interpelação escrita da deputada Kwan Tsui Hang, Liu Dexue, responsável máximo da DSAJ, avança que, “como o regulamento administrativo nesta área envolve a área dos seguros, a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) precisa de discutir o assunto com o sector e com vários departamentos”. “O regulamento administrativo só vai entrar em processo legislativo em 2019”, lê-se. A obrigatoriedade de engenheiros, arquitectos ou urbanistas de serem portadores de um seguro profissional consta no regime de qualificações nos domínios da construção urbana e do urbanismo, que entrou em vigor em 2015. Desde essa data que a legislação sobre seguros está por concretizar, sendo que o seguro é uma das componentes necessárias para a renovação das licenças profissionais. Numa interpelação escrita entregue ao Executivo em Fevereiro, Kwan Tsui Hang questionava a ausência desta legislação. “O regime das qualificações nos domínios da construção urbana e do urbanismo entrou em vigor em 2015 mas, até agora, ainda não foi publicado o seu respectivo regulamento administrativo complementar que regula a matéria do seguro, e já passou mais de um ano.” O arquitecto Rui Leão chegou mesmo a chamar a atenção para as consequências negativas desta lacuna. “Cria vários problemas ao nível da responsabilidade e acautelamento dos profissionais”, alem de colocar “o Governo numa situação de grande fragilidade, através das obras públicas, mas também os donos das obras privadas”. Ao mesmo tempo Na resposta à deputada ligada à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), Liu Dexue garante que a DSAJ vai levar a cabo uma melhor coordenação dos regulamentos administrativos, para que entrem em vigor na mesma altura das leis correspondentes. “Será implementado um calendário para os diplomas complementares, para executar os trabalhos legislativos conforme o plano. A DSAJ vai seguir o ponto de situação das propostas de acordo com os calendários já definidos, por forma a preparar a entrada em vigor dos regulamentos de forma atempada”, apontou. O responsável pela DSAJ acrescentou ainda que está a ser elaborado um plano de curto e médio prazo “com vista a definir as directrizes dos trabalhos legislativos entre 2017 e 2019”. Neste plano entram não apenas as propostas de lei, mas também os regulamentos administrativos complementares. Na visão de Liu Dexue, no caso do regime do ensino superior e do regime de previdência central não obrigatório a “entrada em vigor atempada” da legislação complementar será uma realidade. O dirigente máximo da DSAJ adianta ainda que os departamentos públicos já reuniram para debater as razões por detrás destes atrasos. “Os funcionários [dos departamentos] confirmaram que, durante o planeamento da proposta de lei, devem ser definidos o mais cedo possível os diplomas complementares, para que possam entrar em vigor ao mesmo tempo”, rematou.
Hoje Macau Manchete PolíticaLei de Terras | Mak Soi Kun e Zheng Anting querem explicações do Governo Dois deputados querem saber se o Executivo pretende emendar a mão para evitar “mais tragédias” causadas pela legislação que permitiu declarar a caducidade de vários terrenos. A Administração volta a dar explicações sobre o assunto na quinta-feira [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo vai à Assembleia Legislativa na próxima quinta-feira para responder a interpelações orais de 16 deputados, incluindo duas sobre a controvérsia relativa à Lei de Terras, cuja aplicação entendem gerar “conflitos sociais”. A próxima reunião destinada à resposta a interpelações é desencadeada por 16 deputados, incluindo 13 de um universo de 14 eleitos por sufrágio universal, isto quando faltam menos de seis meses para as eleições para a Assembleia Legislativa (AL), marcadas para 17 de Setembro. Apenas o empresário Chan Meng Kam – campeão dos votos nas eleições de 2013, quando conquistou três assentos – não assina uma interpelação oral da próxima ronda cujos temas visam principalmente a tutela dos Transportes e Obras Públicas. A controvérsia em torno da Lei de Terras figura como denominador comum de duas interpelações, da autoria de Mak Soi Kun e Zheng Anting. Mak Soi Kun vai chamar a atenção para os “conflitos sociais” decorrentes da aplicação da lei, que entrou em vigor há três anos, mas que começou a ser contestada desde que o Governo decidiu avançar em força com a reversão de terrenos por não terem sido aproveitados dentro do prazo. A maioria destes casos está a ser contestado judicialmente, com muitos concessionários a alegarem que o Executivo teve culpa no processo. O deputado refere que, por diversas vezes, alertou para “a necessidade” de se adoptarem medidas para “prevenir o caos social”, mas que “o Governo não só não avançou com nenhuma medida, como nem sequer ligou à situação de caos”. Cita o caso do terreno destinado ao empreendimento Pearl Horizon que o Executivo decidiu recuperar em 2015 por o projecto residencial não ter sido edificado dentro do prazo. Esse processo – que aguarda um desfecho em tribunal – figura como um dos mais polémicos, tendo desencadeado uma série de queixas, petições e protestos por parte dos proprietários que adquiriram fracções em planta. Os lesados pedem ao Governo para intervir de forma a recuperarem o investimento feito em apelos que têm tido frequentemente eco no hemiciclo, como volta a suceder agora. “Será que o Governo só vai tratar da situação quando surgirem mais famílias em desgraça?”, questionou Mak Soi Kun, elencando, com base na imprensa, casos de doença, e até de morte, de proprietários do Pearl Horizon. “Agora, os cidadãos centram a sua atenção em como resolver, pela raiz, o caos decorrente da aplicação da nova Lei de Terras, que perturba fortemente a tranquilidade social, afectando a vida da população”, referiu o deputado, antecipando “mais tragédias” caso não seja possível encontrar soluções para os problemas sociais. Neste sentido, defendeu que “o Governo deve definir melhores, mais substanciais e eficazes formas e medidas para resolver o fenómeno caótico decorrente da aplicação da nova Lei de Terras, em vez da actual forma de tratamento adoptada”, que tem sido aguardar pela respectiva decisão judicial para actuar. Bombas escondidas Zheng Anting, igualmente eleito por sufrágio universal, também começa por constatar que, “até ao momento, ainda não há soluções para os vários problemas” decorrentes da Lei de Terras, advertindo até que nela se “escondem ainda mais bombas”. “O Governo frisou, em várias ocasiões, que só era possível ‘governar de acordo com a lei’ e ‘retomar os terrenos de acordo com a lei’, mas fazendo uma retrospectiva (…) verifica-se que não deu tempo suficiente aos concessionários para desenvolverem muitos terrenos ainda dentro do prazo [e] alguns não foram aproveitados a tempo por causa do Governo”, argumentou o deputado, invocando casos concretos. Neste âmbito, Zheng Anting pretende saber de que medidas dispõe o Executivo para “remediar” os casos em que foi por sua culpa que o aproveitamento dos terrenos não foi concluído dentro do prazo. “A aplicação da Lei de Terras por parte do Governo causou já muitos conflitos sociais, e não são poucos os deputados que duvidam disto”, afirmou. O deputado lembrou que o presidente da AL, Ho Iat Seng, decidiu ouvir as gravações das reuniões em sede de comissão de análise na especialidade daquele diploma “para perceber a intenção legislativa”. Plenário para todos os gostos A sessão plenária de quinta-feira na Assembleia Legislativa vai ter também na agenda o ensino não superior. Angela Leong solicita mais fiscalização junto das instituições privadas de modo a existir clareza na aplicação dos fundos do Governo. Ng Kuok Cheong continua a batalha contra os motoristas importados. Em causa estão, para o deputado, os profissionais dos shuttle buses que, afirma “roubam os lugares a locais”. Si Ka Lon quer saber o que o Governo está a fazer, em concreto, no que respeita ao apoio a idosos, nomeadamente se tem em conta a necessidade de habitação pública que acolha agregados familiares capazes de cuidar dos elementos mais velhos. Wong Kit Cheng escolheu a amamentação como tema e questiona o Executivo acerca da formação de profissionais que acompanhem as mães no processo. Já Leong Veng Chai confronta os governantes com os casos das chefias que estão, diz, “a obrigar os funcionários a trabalharem fora do horário de serviço”. O salário mínimo e a sua generalização é o tema de Ella Lei. Melinda Chan recorda os casos de gripe das aves para saber em que ponto estão os trabalhos de proibição de venda de aves vivas. Veículos e taxas administrativas são as questões que José Pereira Coutinho suscita. Também Lam Heong Sang está preocupado com os carros no território, mas sob uma perspectiva ambiental. Chan Hong quer saber qual é o planeamento da circulação com a abertura da ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, dado que as previsões apontam para um acréscimo substancial de veículos em Macau. Song Pek Kei não esquece Lai Chi Vun e pretende obter detalhes sobre as medidas que o Governo tem para a protecção daquela zona de Coloane; Kwan Tsui Hang, também preocupada com o património, pretende ver respondidas questões relacionadas com os incentivos à conservação dos edifícios.
Hoje Macau SociedadeEstatísticas | Desemprego quase sem tirar, nem pôr [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]ntre Dezembro de 2016 e Fevereiro de 2017, as taxas de desemprego (2,0 por cento), de desemprego dos residentes (2,8 por cento) e de subemprego (0,5 por cento) mantiveram-se nos mesmos níveis do período imediatamente anterior, entre Novembro de 2016 a Janeiro deste ano. De acordo com os Serviços de Estatística e Censos (DSEC), a população activa totalizou 387 mil indivíduos e a taxa de actividade foi de 70,9 por cento. A população empregada fixou-se em 379.100 pessoas, menos 2800 pessoas em comparação com o trimestre anterior. No entanto, esta quebra foi significativa sobretudo entre a mão-de-obra estrangeira, uma vez que, do total, registou-se uma diminuição de 800 residentes na lista da população com emprego. Há 277.100 indivíduos com BIR a trabalhar no território. Em termos de ramos de actividade económica, a DSEC destaca que se verificou que o número de empregados tanto das actividades culturais e recreativas, lotarias e outros serviços, como do comércio a retalho decresceu. Porém, o número de empregados dos hotéis e similares aumentou. A população desempregada era composta por 7900 indivíduos, sendo semelhante à observada no período anterior. O número de desempregados à procura do primeiro emprego representava 8,4 por cento do total da população desempregada, tendo subido 0,8 pontos percentuais. Em comparação com o período de Dezembro de 2015 a Fevereiro de 2016, a taxa de actividade decresceu 1,6 pontos percentuais, enquanto a taxa de desemprego subiu 0,1 pontos percentuais e a taxa de subemprego se manteve no mesmo nível.
Andreia Sofia Silva SociedadeIncêndios | Revisão do regulamento concluída “em breve” O comandante do Corpo de Bombeiros, Ma Io Weng, anunciou que a proposta de revisão do regulamento de segurança contra incêndios deverá ficar concluída “em breve”. A corporação quer contratar mais cem profissionais este ano [dropcap style≠’circle’]F[/dropcap]oi em Julho do ano passado que a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT) prometeu entregar uma proposta de revisão do regulamento de segurança contra incêndios. Quase um ano depois, o comandante do Corpo de Bombeiros (CB), Ma Io Weng, garante que esse trabalho deverá estar concluído em breve, sendo que a corporação ainda vai enviar as suas opiniões ao Governo. “O CB apoia a revisão do regulamento de segurança contra incêndios. Neste momento, procede-se à análise e estudo sobre a proposta de lei, que deverá estar concluída em breve. Os pareceres dos bombeiros irão ser entregues aos serviços competentes para fins de acompanhamento dos trabalhos subsequentes”, disse Ma Io Weng no encontro anual com a comunicação social. Questionado sobre a posição do CB sobre a matéria, Ma Io Weng disse apenas que está a ser estudada a possibilidade de serem aplicadas sanções por parte dos bombeiros, mas apenas depois de um pré-aviso a quem viola o regulamento. Olhando para o número de queixas do CB, conclui-se que muitas das regras actuais continuam a não ser cumpridas pela população e proprietários dos edifícios. De um total de 467 queixas, 435 dizem respeito ao “não cumprimento das disposições do regulamento”. O ano passado a corporação de bombeiros realizou um total de 3481 vistorias a edifícios, mais 665 em relação a 2015. Foram ainda avaliadas mais de 2600 plantas de projectos de construção aprovadas pela DSSOPT. Em relação a casos de incêndio, o CB registou 1074 ocorrências, mais 41 face ao ano anterior. Apenas 238 casos disseram respeito a incidentes domésticos, ocorridos devido ao esquecimento de fogões ligados. Ambulâncias controladas No que diz respeito à utilização de ambulâncias, os dados não são animadores. Em 2016, foram tratados mais de 38 mil pedidos de transporte de emergência, mais 79 casos do que em 2015. “O número aumentou, apesar do CB se ter esforçado na divulgação de informações sobre o abuso do serviço”, explicou Ma Io Weng. Ainda assim, o CB alerta para o facto de a taxa de crescimento anual do número de deslocações de ambulância nos últimos dez anos ter permanecido no nível de 6,52 por cento. “Nos serviços de ambulância, o CB reforçou as tarefas de divulgação sobre a prevenção do uso abusivo de ambulâncias desde o ano passado, para que o número de saída abrandasse. Houve uma redução significativa em relação aos últimos dez anos”, disse ainda Ma Io Weng. Bombeiros precisam-se Em relação aos recursos humanos, a corporação de bombeiros continua com o número de pessoal aquém das necessidades. Neste momento trabalham nos diversos postos operacionais um total de 1589 pessoas, sendo que o CB precisa de mais 300 pessoas. Num ano em que 16 bombeiros se vão aposentar, Ma Io Weng adiantou que durante 2017 vão tentar contratar mais cem trabalhadores. O posto operacional de Coloane ainda está em fase de reconstrução, estando também a ser preparada a edificação do novo posto de comando do CB no Cotai, que será também um lugar destinado à formação de bombeiros, adiantou Ma Io Weng. Além do posto da corporação junto à nova ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau, o CB irá também contar com um posto de operações na zona da Ilha Verde. Será de reduzida dimensão, com apenas três ou quatro veículos destacados. Ma Io Weng não soube adiantar datas para a abertura destes espaços, por se tratarem de projectos coordenados pela DSSOPT.
Hoje Macau SociedadeLai Chi Vun | Futuro dos estaleiros abordado hoje em conferência [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stá longe de terminar a polémica em torno dos estaleiros de Lai Chi Vun. O Instituto Cultural (IC) marcou para hoje uma conferência de imprensa relativa à aplicação do procedimento de classificação dos estaleiros como património. Por enquanto, resta saber a quantos estaleiros se aplicará esta classificação a que se refere o IC. Entretanto, chegou ontem a resposta a uma interpelação da deputada Ella Lei sobre a matéria. A réplica envolve vários departamentos do Executivo e abordagens diferentes quanto ao futuro dos antigos estaleiros navais. A Direcção de Serviços de Assuntos Marítimos e de Água (DSAMA), em resposta à deputada, adiantou que foram erigidas vedações em torno dos 11 lotes de estaleiros que, por falta de manutenção, estão em situação de avançada degradação. Neste domínio, foi reiterado que – pelo perigo que as infra-estruturas representam tanto para residentes, como para visitantes – as Obras Públicas devem proceder, a curto prazo, à sua demolição. A DSAMA indica ainda que as Obras Públicas já iniciaram o concurso público e o planeamento para proceder à demolição. Foi ainda referido que serão ouvidos outros departamentos e as conclusões divulgadas ao público. Por outro lado, na mesma resposta, a DSAMA explica que o Instituto Cultural (IC) começou os trabalhos de mapeamento e recolha de objectos de interesse histórico no local. O mesmo organismo será responsável pela dinamização cultural dos estaleiros que sobreviverem à demolição, assim como a duas cabines de madeira. Neste capítulo, é de salientar que tanto o IC, como a Direcção dos Serviços de Turismo (DST), vieram a terreiro dizer que não tinham sido tidos, nem achados, na matéria. Ainda no sentido de preservação, na resposta a Ella Lei sublinhou-se que a Direcção dos Serviços de Turismo deixa vincado que o documento de consulta do plano geral do desenvolvimento da indústria do turismo de Macau contém um plano de renovação da zona de Lai Chi Vun. Entre a demolição e a preservação, com departamentos a terem, aparentemente, visões diferentes para os antigos estaleiros navais, continua o pingue-pongue com o destino de Lai Chi Vun.
Hoje Macau Manchete SociedadeKim Jong-nam: Imprensa malaia fala em envio de restos mortais para Macau Os restos mortais de Kim Jong-nam, o meio-irmão do líder da Coreia do Norte, vão ser enviados para a família em Macau. A notícia foi avançada ontem pela imprensa da Malásia. Era suposto o corpo ter sido enviado ontem para o território [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] notícia foi veiculada pelo Sun Daily, um jornal malaio: o corpo de Kim Jong-nam, o filho mais velho de Kim Jong-il, ia ser libertado do hospital da capital da Malásia, para ser enviado à família a viver em Macau. Kim Jong-nam foi assassinado a 13 de Fevereiro, no aeroporto de Kuala Lumpur, quando se preparava para embarcar rumo à RAEM. Logo na primeira reacção à morte do irmão mais velho do líder da Coreia do Norte, Pyongyang reivindicou o corpo por ser um cidadão norte-coreano, apesar de não reconhecer tratar-se de Kim Jong-nam. As autoridades da Malásia negaram o pedido e seguiu-se um conflito diplomático entre os dois países. A confirmação da identidade seria feita mais tarde com recurso a ADN de um dos dois filhos que vivem em Macau. No domingo, 41 dias depois da morte de Kim Jong-nam, jornalistas e repórteres de imagem – alguns deles acampados, desde o homicídio, à porta da casa mortuária do hospital, à espera de desenvolvimentos do caso – avistaram um carro funerário escoltado pela polícia. A viatura deixou a morgue do hospital duas horas mais tarde. Rituais e inquéritos Acredita-se que o corpo foi levado para uma localização não identificada para um ritual religioso. Não se sabe se os restos mortais terão sido cremados ou colocados dentro de um caixão. A imprensa da Malásia diz ainda que o envio do corpo de Kim Jong-nam foi tratado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros do país, que tem estado em contacto com a família do primogénito de Kim Jong-il. Supostamente, os restos mortais seriam enviados ontem para Macau mas, até à hora de fecho desta edição, não havia desenvolvimentos sobre o assunto. A transferência do corpo da casa mortuária aconteceu depois de vários polícias malaios terem entrado na embaixada da Coreia do Norte em Kuala Lumpur. Algumas notícias avançam que os agentes, todos eles ligados à divisão de combate à criminalidade, foram recolher os depoimentos de três norte-coreanos que estarão escondidos dentro da representação diplomática, para evitarem ser questionados sobre a morte de Kim Jong-nam.
Sofia Margarida Mota EventosPoly Auction | Leilão traz obra de Zeng Fanzhi a Macau O Poly Auction Hong Kong colabora pela primeira vez com a organização homónima local. O objectivo é trazer a arte chinesa a ambos os territórios e traduz-se numa exposição de uma das obras emblemáticas de Zeng Fanzhi. Depois do Louvre, o n.º 6 da “Mask Series” está no Regency Hotel [dropcap style≠’circle’]“F[/dropcap]usão” é o nome do certame do Polly Auction que, pela primeira vez, conta com a colaboração entre as delegações de Hong Kong e de Macau. Com a iniciativa, a cargo de Sabrina Ho, pretende-se mostrar o que de melhor se faz na arte moderna e contemporânea chinesa. A ideia é partilhar entre os dois territórios a arte, em exposição e de olhos postos no mercado, que se faz no Continente. Em Macau a “Fusão” acontece no Regency Hotel com a mostra de um dos nomes mais importantes da expressão plástica chinesa da actualidade, Zeng Fanzhi. Depois de passar pelo Louvre, o n.º 6 da colecção “Mask Series” está até 5 de Abril no átrio do Regency para quem o quiser apreciar. A pintura a óleo sobre tela, de larga escala, data de 1996. Três anos antes, Zeng mudou-se para Pequim e “sobreviveu num tempo de grandes mudanças”, lê-se no catálogo do evento. Terá sido a dinâmica histórica que o incentivou à realização da série. Marcado pelo expressionismo que já caracterizava o seu trabalho, “exagera na proporção das mãos e da cabeça, enquanto esconde expressões por detrás das máscaras, brancas e frias, que sorriem”. Ao contrário dos primeiros quadros da série, em que as personagens apareciam bem vestidas e com ar contemporâneo, o n.º 6 é o primeiro trabalho que “envolve a narrativa de uma terceira pessoa na elaboração de uma perspectiva individual”. Situa-se já longe de uma experiência pessoal, mas “permanece nas memórias de quem a viveu de perto e remonta à juventude da Revolução Cultural”. “As máscaras, os sorrisos, os corpos e os contrastes compõem uma imagem íntima e cheia de hipocrisia”, ilustra a organização. A obra de Zeng Fanzhi vai a leilão, mas não é revelado o valor de licitação. Obras preciosas Já os restantes cinco trabalhos que integram o evento deste ano, e que vão estar em exposição no Grand Hyatt Hong Kong. de 1 a 4 do próximo mês, perfazem uma base de licitação de quase cinco milhões de dólares americanos. O conjunto é constituído por obras de Zao Wou-Ki, Wu Guanzhong, Chu Teh-chun, Li Keran e Xu Beihong. De Zao Wou-ki é a tela “06.02.74”, que marca uma ruptura dentro do trabalho do artista. Produzido após a morte da segunda mulher, é uma obra que deixa para trás o recurso às cores ricas que marcavam os trabalhos do mesmo período. “06.02.74” é considerado um quadro de transição técnica que revela “uma composição complexa, traços dinâmicos e uma gradiente delicada de cores, num trabalho clássico que integra a pintura a óleo do Ocidente e o a tinta do Oriente”, lê-se na apresentação. “Reclining” de Wu Ganzhong data de 1990 e é dedicado à expressão do nu, tema pelo que o artista é também conhecido e que marca “a primeira metade do seu período criativo”. Wu Ganzhong diz ter percebido, enquanto jovem estudante em França, que “toda a beleza plástica está relacionada com o corpo humano”. A partir desse momento, as suas obras passaram a retratar a nudez de forma a conceber paisagens. Foi esta abordagem que fez com que todos os seus trabalhos viessem a ser queimados durante a Revolução Cultural. “Reclining” é um regresso às origens produzido já com 72 anos de idade, motivo que tem levado à sua exibição por todo o mundo. A utilização de tons de azul é o mote para “Summer”, de Chu Teh-Chun, na representação de profundidade espacial. A ideia é a “perseguição da evolução da natureza, mais do que a combinação de elementos abstractos”. Das cinco obras presentes em Hong Kong, “Summer Mountains” de Li Keran tem a base de licitação mais valiosa. Com um valor inicial acima dos dois milhões de dólares americanos, é um “exemplo excepcional de estética da paisagem” do artista. Datado de 1986, já na final de carreira, o clássico da pintura chinesa combina técnicas orientais com ocidentais para a expressão “de uma atmosfera poética na representação de bosques e montanhas”. De 1939 é “Standing Horse” de Xu Beihong. O quadro foi criado durante a guerra sino-japonesa em que o artista foi também activista, empenhado na recolha de donativos. De acordo com a organização, “Standing Horse” é uma obra particularmente importante porque representa uma das maiores especificidades de Xu Beihong na pintura de cavalos, ao mesmo tempo que é uma representação simbólica da força chinesa”.
Hoje Macau China / ÁsiaHong Kong | Votação em Carrie Lam supera expectativas [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m deputado do principal partido pró-Pequim em Hong Kong e membro da campanha de Carrie Lam disse ontem que a votação na próxima chefe do Executivo superou as expectativas. Horace Cheung, do partido DAB, disse que quando a plataforma eleitoral estava a tentar obter nomeações, perceberam que a batalha ia ser dura e que não seria fácil conseguir os votos dos membros do colégio eleitoral, informou a Rádio e Televisão Pública de Hong Kong. “Por isso adoptámos uma abordagem conservadora e considerámos que não seriam mais do que 700 [votos]. Mas ontem [domingo] (…) o resultado foi melhor do que o esperado”, disse Cheung. Carrie Lam, “número dois” do actual governo e apontada como favorita de Pequim, foi eleita com a maior votação de sempre: 777 votos, quase mais uma centena do que os 689 votos alcançados em 2012 pelo actual chefe do Executivo, Leung Chun-ying, também conhecido por CY Leung. Donald Tsang, que em Fevereiro foi condenado a 20 meses de prisão depois de ter sido declarado culpado de conduta indevida enquanto liderou a cidade, foi eleito em 2007 com 649 votos. Já Tung Chee-wha foi nomeado chefe do Executivo de Hong Kong, no âmbito da transição para a soberania chinesa, e foi declarado vencedor das eleições de 2002, depois de ter obtido 714 nomeações escritas por um colégio eleitoral nessa altura composto por 800 pessoas, o que impossibilitava que qualquer outro candidato conseguisse as 100 nomeações à data necessárias para a formalização oficial de uma candidatura. Horace Cheung disse que os 777 votos vão ajudar Carrie Lam a estabelecer a plataforma para comunicar com diferentes sectores, incluindo os pró-democratas. Outras visões Mas o deputado do Partido Democrático James To disse que os pró-democratas não partilham os mesmos valores que Lam no que diz respeito às grandes questões políticas. Carrie Lam é associada pelos pró-democratas como a figura do governo de CY Leung que promoveu a reforma política defendida pelo governo central chinês, a qual aceitava o voto por sufrágio universal para o cargo de chefe do Executivo mas com a condição de os candidatos serem pré-seleccionados pelo colégio eleitoral. Essa proposta de reforma política conduziu aos protestos que paralisaram as ruas de Hong Kong durante 79 dias no final de 2014 e foi chumbada em Junho de 2015 no Conselho Legislativo (parlamento) de Hong Kong, com o voto contra do bloco pró-democrata. Apesar de reunir o maior apoio entre a população e de grande parte dos pró-democratas, John Tsang, o segundo classificado na votação de domingo com 365 votos, enfrentava a oposição de alguns membros desse mesmo campo e dos chamados grupos ‘localists’ que emergiram após os protestos pró-democracia em 2014. Numa declaração divulgada no domingo, o Partido Cívico apelou aos apoiantes pró-democratas para “porem de lado as suas diferenças” e manterem-se unidos. A maioria dos 3,8 milhões de eleitores de Hong Kong não vota nas eleições para o chefe do Executivo, estando o voto restrito a um colégio eleitoral composto por cerca de 1.200 membros de vários sectores, a maioria associada a posições pró-Pequim. O campo pró-democracia detém cerca de 300 lugares neste colégio. O jovem activista Joshua Wong – o rosto dos protestos pró-democracia de 2014 – que entretanto co-fundou o Partido Demosisto, foi um dos cerca de 200 ou 300 manifestantes que no domingo protestaram no exterior do centro de convenções, onde decorreu a votação, a pedir o sufrágio universal. Joshua Wong antecipou mais protestos para o dia da posse de Carrie Lam como chefe do Executivo, uma cerimónia habitualmente realizada a 1 de Julho, data que este ano marca também o vigésimo aniversário da transição da antiga colónia britânica para a soberania chinesa.
Paulo José Miranda h | Artes, Letras e IdeiasUma vida inteira dentro de um só poema [dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]ue o título do primeiro livro de Rosalina Marshall – Manucure, Companhia das Ilhas, 2013 – seja o mesmo de um poema de Mário de Sá-Carneiro, não é um mero acaso. Para além dos títulos, livro (de Rosalina) e poema (de Sá-Carneiro), os títulos dos poemas do livro da Marshall são todos versos ou partes de verso desse poema maior de Sá-Carneiro. Por exemplo, “Os meus godets de verniz” é um meio verso do poema, e “Na sensação de estar polindo as minhas unhas” é precisamente o primeiro verso do poema de Sá-Carneiro. E o mesmo iremos encontrar nos poemas: “Os polidores da minha sensação”, “Inflexões de precipício”, “Triângulos sólidos”, “Rebordo frisado a ouro”, “Desgraciosidade boçal”, “Veloz faúlha atmosférica”, “Deponho as minhas limas”, etc., etc., etc. Pois aqui não se trata de uma interpretação minha, como irá acontecer com o resto do texto, é algo concreto, preciso, algo que deve ser assinalado como aquilo que a poeta quis que fosse visto, a ligação quase umbilical entre o seu livro e o poema de Mário de Sá-Carneiro, embora seja também – e aqui começa a minha interpretação – como se a Rosalina Marshall nos dissesse que a sua vida cabe toda dentro de um poema, do poema “Manucure”, desse poeta maior da Orpheu. Mais: é como se nos dissesse que uma vida, qualquer que ela seja, cabe toda num só poema. E se em relação ao poema “Manucure” talvez não haja tantos que ponham ali toda a sua vida, já no poema “Tabacaria”, de Álvaro de Campos, não teremos dificuldade em encontrar por lá vidas e vidas inteiras. Há, por conseguinte, ao longo dos poemas deste seu primeiro livro de poesia, enunciações de modos de participar na vida com semelhante inaptidão à que é cantada no poema de Sá-Carneiro. Estamos diante de um livro de poesia assente numa hermenêutica, apesar do verso que diz “a hermenêutica fechou a porta” (p. 18). Nesta sua hermenêutica, Rosalina identifica no poema de Sá-Carneiro, não só a sua vida, mas o seu próprio modo de olhar a realidade. E, assim, Manucure é um pequeno livro de enunciação de falhas, de enunciação de falhas da realidade. A realidade está sempre errada. Havia em Portugal uma expressão antiga, de quando ainda a moeda era o escudo e não o euro, que dizia: estás-me a falhar como as notas de mil, querendo com isso dizer que alguém nos decepcionava. Ora, neste livro de Rosalina Marshall, a realidade falha-nos como as notas de mil. A realidade é uma máquina de criar decepções. Os poemas enunciam contínuas decepções, vindas da impossibilidade da realidade encaixar nas nossas vidas. E entenda-se realidade por aquilo que acontece. Para citarmos Wittgenstein, no início do seu Tractatus Lógico-Philosophicus: “O mundo é tudo o que acontece.” Entenda-se, aqui, mundo como realidade. Assim, os meus desejos chocam com a realidade. Aquilo que quero, que eventualmente me faz falta, choca com a realidade, como no poema “Os meus godets de verniz”, à página 16: Eu queria chocolates e davam-me peixe cozido travessas e travessas pratos atrás de pratos de peixe cozido em vez disso agora como o vidro do o vidro do o vidro do piano Esta falha da realidade não se fica pelo conflito de interesses entre o que eu quero e o que acontece. Não. É apenas daqui que se parte. Aonde se chega, e é onde faz sentido falar acerca da decepção da realidade, é à memória. A memória é onde a realidade se esfuma. Tudo o que acontece não passa de nevoeiro, quando deixa de ser acontece para passar a ser aconteceu ou acontecido. E é nesta transmutação do tempo, na transmutação da realidade, que o livro ganha uma enorme dimensão metafísica, que já José Mário Silva havia assinalado, na sua resenha no Expresso, a 27 de Abril de 2013: “A escrita de Rosalina tanto se aproxima de Adília Lopes (“sinto um desconforto qualquer/ por usar soutien/ mas se não usasse/ era muito ordinária/ e os homens não gostariam de mim/ por ser demasiado fácil verem-me as mamas”) como da vertigem metafísica de Fiama Hasse Pais Brandão (“por trás dos manípulos das coisas/ escorrem fontes/ escorrem cisnes/ tudo em arco/ tudo em bandeira/ para o fluxo incontornável/ do rossio do universo/ onde permaneço desde a infância/ à espera de um táxi”).” É, aliás, a dimensão metafísica que sustenta os poemas deste livro, como sobressai no início do poema “Inflexões do precipício” (p. 34): “por trás dos manípulos das coisas / saem imperiais, cervejas, pints / por trás dos manípulos das coisas / escorrem fontes (…)”. Por trás das coisas há coisas. Por trás do que acontece há outro acontece. E a memória reivindica a sua própria realidade. O acontecido, que nos acompanha aqui e agora no a acontecer, que inclusivamente sustenta este a acontecer, pois o que me faz identificar-me numa foto quando era criança é a memória, o que nos confere identidade é a memória, e esta faz da realidade sua refém. O que aconteceu chega-nos em parte como quando era no seu acontecer, mas também nos chega em parte como um nunca ter acontecido. E é esta distorção da realidade, operada pela memória, que abre um precedente hermenêutico de indagação da realidade enquanto acontece. Escreve a poeta em “Os polidores da minha sensação” (p. 12): quando abro a mala o forro frio que já foi outro surpreende-me sempre inesperado odor de cama de São José onde me apalparam a perna e disseram que não merecia levar gesso. A distorção temporal levada a cabo pela memória opera também uma mudança axiológica. É através da memória que passamos a valorizar o que antes não tinha valor. Não é a passagem do tempo que opera essa transformação valorativa, é a memória. E por isso mesmo, nós voltamos sempre atrás, como ironicamente escreve a poeta, em “Obsessão débil” (p. 18): “a hermenêutica fechou a porta / depois de velha / gostava de lá voltar / e verificar as fechaduras”. E é o que na realidade estamos sempre a fazer, a voltar lá atrás e a verificar as fechaduras. Muitas das vezes não verificamos apenas, também trocamos as fechaduras do lá atrás. O próprio poema é um ser híbrido, que acontece através do acontecido. Que nasce do real e da memória, que é, nunca é de mais repeti-lo, uma ficção, aquilo que faz aparecer continuidades em completos descontínuos. Por conseguinte, este Manucure, faz do poema de Mário de Sá-Carneiro, como se fosse possível habituar um poema, a morada de uma vida, isto é, faz da memória colectiva, que é a história, seja ela da literatura ou mundial, o lugar onde tudo acontece. A memória justifica-se pela história e um poema de outro é mais descritivo da nossa vida do que uma fotografia nossa antiga. Sem os outros somos nada ou, pelo menos, sem os outros não me reconhecia. Assim, o livro de Rosalina Marshall parte do poema “Manucure” de Mário de Sá-Carneiro, para enunciar a dificuldade de entender a realidade, a dificuldade de mastigar e engolir essa coisa chamada realidade. A realidade está para cada um de nós como o sabor a que sabe a cada um de nós a sua própria boca está para os outros. Escreve a poeta em “Loiras oscilações” (p. 31) Oh! linda lisboa no azul pela manhã oh linda lisboa tudo negro pela noite ninguém sabe a que me sabe a minha boca A realidade adjudica-se a si mesma pela história. Na impossibilidade de acedermos ao que seja a realidade, e devido ao facto de a memória reivindicar para si uma realidade própria, a realidade passa a ter um uso comum, passa a ser um território colectivo, que encontra na história a sua fundação. Em Manucure, a historia é o chão não só das palavras, dos poemas, mas da própria possibilidade de entendimento da própria vida. Num poema escrito há 100 anos (neste caso) pode estar a chave da minha vida. Antes de mais, este livro é uma enorme homenagem à poesia de Mário de Sá-Carneiro, no corpo do poema “Manucure”. Mas é também uma homenagem a todo e qualquer poema onde possa caber uma vida inteira. Antes de terminar com a voz da poeta, acrescento que este livro teve uma tiragem de 100 exemplares. Desconheço se houve ou não reedição. A não ter havido, deveria haver. Na sensação de estar polindo as minhas unhas sei que morrerei no dia do aniversário da minha morte ainda há coisas certas na vida o dia do aniversário da minha morte apresenta tamanha discrição que nem dou por ele portanto não mudarei de roupa talvez passe o dia deitada no displicente descanso de não atender telefones nem me levantarei para ir ver o correio e se alguém se lembrar de me acender as inconsequentes velinhas deixarei que derretam e estraguem o bolo no dia do aniversário da minha morte nem me penteio
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesA incontida gestão da raiva “Donald Trump’s US election win is America’s Brexit – voted for by people angry with the status quo.” Daily Mirror, 09 NOV 2016 – Jack Blanchard [dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]e tivermos de expressar em uma frase a grande característica da psicopolítica da actual situação mundial, deve soar como a da entrada em uma era com uma visão do mundo, sem sinais de gestão da ira. A raiva é a chave para compreender e descrever a psicologia política do mundo, após o fim do comunismo e da era bipolar. A partir da ira de Aquiles, o mundo nunca soube gerir a energia da raiva na história. O termo grego “thymos” significa a vontade, o desejo, luxúria e ira. O “thymos” é o motor das acções do herói homérico. Mais tarde, torna-se a sede da aspiração de reconhecimento, e a falta de reconhecimento desperta a raiva e com as religiões monoteístas o património é impelido na outra vida, onde vai realizar a justiça divina. O ressentimento terreno será satisfeito no final dos tempos. A situação muda completamente com a Revolução Francesa. A possibilidade de igualdade mudou-se para um mundo futuro, que é a base da “thymotica” dos oprimidos. O líder do partido e da militância revolucionária marcou a acumulação da ira até ao colapso da União Soviética. O mundo actual é um sistema pós-histórico em que desapareceram os pontos tradicionais de gestão da ira e das energias “thymoticas”. Foi a raiva mal gerida que permitiu a vitória de Donald Trump e o sucesso dos movimentos populistas e de extrema-direita e dos seus líderes. Os novos tempos exigem paciência aos cidadãos globais e humildade aos economistas. Ambas as qualidades são necessárias porque a incerteza que reina desde Setembro de 2008 acentuou-se, embora não tenha atingido os níveis críticos desse tempo. O presidente americano surpreendeu ao concentrar a sua enorme energia sobre a questão dos imigrantes, e em menor medida, na agenda de protecção às indústrias do país e a última das muitas das suas ameaças, foi a da aplicação de uma taxa alfandegária de 20 por cento às importações, especialmente as provenientes do México, bem como a suspensão por sessenta dias das importações de limões tucumanos, que o ex-presidente Obama, depois de mais de quinze anos de proibição, tinha aprovado e, finalmente, a acusação à Alemanha de manter o euro subvalorizado. O presidente americano, surpreendentemente, acusou a Alemanha, que durante a presidência de Trichet no Banco Central Europeu, apoiou as políticas monetárias que levaram o euro ao recorde de 1,60 dólares americanos e, por outro lado, não mostrou qualquer contentamento com as políticas do actual presidente Mario Draghi, de emissão monetária e taxas de juro de zero por cento e inclusive negativas. Tudo evidencia que o presidente americano ignora as questões básicas da economia, mas mais preocupante é que da mesma doença padecem os seus principais colaboradores, sendo as suas intervenções marcadas pela ausência de políticas detalhadas, por outro lado, fazem referências às insistentes promessas eleitorais, entre elas, as de baixar impostos aos mais ricos e ambiciosos planos de infra-estruturas. É muito cedo para prever qual dos cenários acabará por prevalecer na malfada política do presidente americano cuja ignorância pelos assuntos de Estado raia o absurdo e das suas tresloucadas decisões. Os três cenários perceptíveis continham uma tendência ao proteccionismo, o aumento do deficit fiscal e a consequente queda dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos. O primeiro cenário seria acompanhado por um rápido aumento nas taxas da Reserva Federal, valorização do dólar, maior crescimento, fuga de capitais dos países emergentes, um pouco mais de inflação e, por fim, uma queda nos preços das matérias-primas à excepção do ouro. Seria, mas não necessariamente, a perspectiva negativa e dramática para os países emergentes. O segundo cenário é semelhante ao primeiro mas mais acentuado. O mundo viveu entre 1979 e 1981 um tempo delicado, quando a inflação nos Estados Unidos foi superior a 13 por cento, os rendimentos dos títulos chegaram a cair 16 por cento e a taxa da Reserva Federal foi de 20 por cento, tendo levado ao super dólar do presidente Donald Reagan, e que se traduziu numa década perdida para os países emergentes, sobretudo, na América do Sul com incumprimento financeiro de muitos países. Este cenário é de considerar como o menos provável. O terceiro cenário é quase o oposto do primeiro e assemelha-se ao acontecido entre 2004 e a crise de 2008, com o dólar no seu mínimo histórico e as matérias-primas a preços recordes, apesar de uma subida sustentada das taxas da Reserva Federal até ao máximo de 5 por cento, com a consequente subida dos rendimentos dos títulos do Tesouro e uma inflação do índice de preços ao consumidor, que atingiu um máximo de 3,8 por cento em 2008. Este seria o melhor cenário para os países emergentes e parece ser o mais provável. Existem alguns sinais desde as eleições americanas. Os mercados financeiros, em especial os bolsistas, são tanto ou mais optimistas que antes do triunfo do de Donald Trump, pois prevalece uma expectativa de crescimento da economia global, que se reflecte também na subida dos preços dos seus activos e das matérias-primas, e que não sofreu interferência até ao momento por uma moderada valorização do dólar, com excepção do peso mexicano que foi a moeda que mais se depreciou. Os indícios favoráveis ao primeiro cenário, prevaleceram nas semanas seguintes às eleições americanas, sobretudo pela subida dos rendimentos dos títulos do Tesouro, a valorização do dólar, um aumento do risco dos países emergentes e matérias-primas mais baratas, à excepção do cobre, devido ao suposto plano de infra-estruturas de Donald Trump e do petróleo pela OPEP. As valorizações do dólar e os rendimentos dos títulos do Tesouro, em contraste, no último mês de Dezembro de 2016, retrocederam, tendo ganho as matérias-primas e as bolsas e diminuído o risco emergente, apresentando uma maior semelhança com o terceiro cenário, considerado como sendo sem margem para dúvidas, o melhor para os países emergentes. Isto deve-se também ao facto de se poder observar como mais factível uma economia americana com maior inflação, não esquecendo que o desemprego é de apenas 4.8 por cento, e os aumentos do deficit e da dívida pública. O valor internacional do dólar dependerá em parte de um provável braço de ferro entre a Reserva Federal que quererá subir mais rapidamente as taxas e o presidente Trump que quer um dólar fraco. Pelo que se continuará a assistir a uma situação complexa, mas que não é de alto risco para os países emergentes. Assim se observa, por exemplo, a colocação bem sucedida de títulos da dívida pública, na solidez dos preços da soja e da tendência de recuperação do Brasil, incluindo a valorização do real. O discurso do presidente Donald Trump no Congresso a 28 de Fevereiro de 2017, impressionou favoravelmente a quem o questionava pelo seu tom moderado e conciliador, mas desencantou os que esperavam detalhes sobre a anunciada reforma impositiva ou o grande plano de obras públicas que iria pôr em prática. Foi num tom muito contido e distinto do primeiro discurso no Congresso, pronunciado a 20 de Janeiro de 2017. Inclusivamente apelou à unidade política e assinalou a urgência de substituir com uma lei, o “Obamacare”, que tem grandes fissuras, e para os seus opositores foi gratificante ver a mudança de atitude, ainda que se mantenham preventivamente atentos, de que rapidamente aparecerá o Donald Trump de sempre. Os seus seguidores aplaudiram-no como um estadista. O poder financeiro e económico do país que tinha grandes expectativas quanto à prometida orientação económica sentiram-se defraudados pela falta de anúncio de medidas reais. Foi um discurso civilizado, tranquilo, sem os usuais ataques brutais. Poderá mesmo existir a possibilidade de uma pequena mudança em algumas das matérias mais sensíveis, tendo sugerido que poderia existir um novo regime legal para os indocumentados, ao invés de os deportar a todos do país, sem vacilar. Mas há que esperar para saber se é apenas uma simples artimanha ou uma verdadeira mudança. A nova atitude não é ainda o bastante para que seus opositores acreditem, em especial os milhões de pessoas que se sentem ameaçadas pelas políticas que se cansou de anunciar, durante a campanha eleitoral e nas primeiras semanas como inquilino da Casa Branca. Se analisarmos bem, o conteúdo do discurso foi o mesmo de sempre, revestido de cuidadas expressões para não soar como mais uma intimidação. Todavia é certo que houve uma aberta condenação do anti-semitismo e um chamado à unidade política. Este inesperado ramo de oliveira alcançou também os aliados e organizações que antes tinham sido colocados no pelourinho. Acerca da NATO assegurou que esse pacto militar, que foi forjado com a guerra mundial e através da Guerra Fria, derrotou o comunismo, aclarando que os parceiros deste selecto grupo deveriam cumprir com as suas obrigações financeiras, quase abrindo um conflito diplomático com a Alemanha, ao exigir os pagamentos que esta deve aos Estados Unidos, pelas obrigações no quadro da Organização. Todavia, declarou que os Estados Unidos estavam dispostos a liderar novamente a Organização. Mas existiu uma ideia digna de realçar, que é facto de não querer liderar o mundo livre, como afirmavam os anteriores presidentes, pois afirmou que o seu trabalho, era apenas o de representar os Estados Unidos, o que ajudou a acalmar os ânimos nas fileiras republicanas, alarmadas pelo caótico movimento da Casa Branca, durante os primeiros quarenta dias de mandato. A impressão que deixou nesse discurso é que Donald Trump amadureceu, e que a sua intervenção no Congresso, foi mais presidencial e menos recheada de manhas de um político difícil de classificar, como se a intenção fosse atrair para a sua órbita os sectores mais moderados. O discurso foi mais sóbrio, até surpreender, mas não houve revelações relevantes nem sequer insinuou intenções sobre o que realmente pensa fazer no futuro. Tal como disse um senador democrata, chegou-se a um ponto, onde o discurso presidencial é um êxito, porque quem o pronuncia nada disse de embaraçoso ou abertamente ofensivo. O presidente Trump, em matéria de política externa não mencionou a China ou a Rússia, ainda que tenha ratificado as metas proteccionistas prometidas na sua campanha eleitoral.
Tânia dos Santos Sexanálise VozesMeter a colher [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]ntre marido e mulher não se mete a colher, como se dizia antigamente. Agora mete-se – e somos incentivados a meter. Não é porque as pessoas envolvidas não sejam capazes de identificar a violência doméstica que as aflige. Formalmente toda a gente consegue definir violência doméstica. O que acontece é que há muitos factores que podem influenciar o processo de denúncia. Por exemplo, na Rússia, a violência doméstica nem é um conceito per se, é simplesmente encarado com normalidade e inevitabilidade. Ao ponto do estado não criminalizar (se isolada) uma acção abusiva. Há, por isso, muitas definições diferentes (ou ausência de definições) para relacionamentos abusivos/violência doméstica, seja na prescrição legal, como nas nossas concepções mundanas de como um relacionamento funciona. Na definição mais pura e singela do amor não fará sentido enquadrá-lo nestes moldes da violência. Contudo, esta ligação existe, como se a polimorfia do amor fosse capaz de justificar um chapa na cara ou um comentário ofensivo do nosso mais que tudo. Há pouco tempo surgiu um hashtag (lá estou eu a referir-me a modernices) onde se tentou criar alguma sensibilização ao tema. É um relacionamento abusivo quando (#erelacionamentoabusivoquando) há desconsideração pessoal de qualquer forma e feitio. Isto porque normalmente considera-se a violência física como a única forma de manifestação de violência na relação. O senso comum percebe um relacionamento abusivo somente quando vê nódoas negras no corpo – mas essa é só a ponta do iceberg. Quando tentamos perceber o limiar de abuso nas palavras, percebemos que temos uma tendência natural para desculparmos os outros pelos comentários menos simpáticos. ‘Ele estava mal disposto – tinha tido um mau dia’. Justifica-se circunstancialmente as palavras que nos magoam porque é muito mais fácil assim fazê-lo. De que outra forma justificamos que a pessoa que nós amamos trata-nos mal? Estes são recursos/ defesas que criamos para dar sentido a uma história que não deveria fazer sentido. Se um estranho chegar ao pé de mim e me der um estalo – eu percebo que foi abuso. Se foi o meu namorado, é legítimo eu sentir-me confusa sobre a absurdidade da situação. A denúncia é sempre difícil – já para não falar do medo de represálias que as vítimas e as testemunhas possam sentir se o fizerem. Viram o que aconteceu numa terrinha em Portugal esta semana? Quatro pessoas foram mortas porque não quiseram testemunhar a favor de um homem que era violento com a sua ex-mulher. Aliás, em situações mais dramáticas, os abusos podem acabar em crimes, ditos, passionais, e essa denominação incomoda-me. Fazer mal a alguém não deverá ser posto no mesmo saco etimológico da paixão. Não se mata a mulher e os filhos porque um homem viu-se cheio de paixão. Parem de o chamar assim – porque a paixão não tem nada a ver com nada. É claro que podemos focarmo-nos na psicopatologia que leva estes actos a vias de facto, mas não consigo deixar de pensar que vivemos num mundo que não quer constatar um facto – a violência contra as mulheres está, de forma muito perversa, enraizada nas nossas expectativas societais. Estes cenários de violência são urgentes de serem tratados e percebidos, mas ao invés, são banalizados. Querem uns exemplos? Uma história que me incomodou especialmente foi de uma rapariga de 17 anos que foi assassinada pelo ex-namorado, depois de já ter tido feito queixa dele à polícia – ao que a polícia passou-lhe uma multa por julgarem que ela estava a desperdiçar o tempo deles com uma queixa que não lhes fazia sentido. Portanto, não só a polícia descredibilizou a preocupação da rapariga, como ela ainda teve que pagar uma multa, e mais tarde pagou com a vida. Querem mais? Uma mulher, mãe de três filhos decide pedir o divórcio porque já não aguenta o relacionamento com marido e ele mata-a e aos miúdos – e este marido nunca antes tinha mostrado um comportamento fisicamente violento e por isso esta mulher nunca teve o apoio formal (nem a protecção) para poder pedir o divórcio sem este desfecho. Podemos pensar que o problema está na cabeça destes homens, por fazerem estes disparates, mas essa é uma explicação demasiado simplista. Não, o problema não está na cabeça só de alguns homens. Há uma cultura de desculpabilização que tende a ignorar – sistematicamente – tentativas de denúncia daquilo que será a violência de género. As estatísticas confirmam que só por seres mulher, sofrerás algum tipo de violência de género durante a tua vida. Não sou o tipo de pessoa que aceita que o género possa determinar o que quer que seja (leram o artigo da semana passada?). Por isso precisamos das mensagens de ânimo, dos hashtags, do apoio formal às sobreviventes de violência doméstica, de conversas, de abertura ao tema e de consciencialização. Precisamos de condições para que, mais do que denunciar a violência, possamos não correr riscos, só por sermos mulheres.
Hoje Macau SociedadeSecretário de Estado do Ambiente português vai participar no Fórum Ambiental de Macau [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] secretário de Estado do Ambiente português vai participar no fórum ambiental sobre desenvolvimento sustentável que vai decorrer em Macau entre quinta-feira e sábado, ontem anunciado. Além de Carlos Martins, a Agência Portuguesa do Ambiente (APA) também vai participar, “mas os detalhes ainda estão em desenvolvimento”, afirmou Vong Man Hung, vice-directora da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental de Macau (DSPA), em conferência de imprensa. Este ano, o tema do 10.º Fórum e Exposição Internacional de Cooperação Ambiental de Macau (MIECF, na sigla inglesa) é o “Desenvolvimento Verde Inovador para um Futuro Sustentável” e terá como orador principal Achim Steiner, antigo director executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e actual vice-presidente internacional do Conselho Chinês para a Cooperação Internacional em Meio Ambiente e Desenvolvimento. O presidente do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), Jackson Chang, afirmou que nas nove edições anteriores da MIECF foram organizadas mais de quatro mil bolsas de contacto, que resultaram na assinatura de 241 projectos de cooperação. Destes, 187 (77,6%) já foram “postos em andamento”. Chang não quis divulgar o valor dos investimentos feitos. Atrás do tempo O evento vai contar com uma sessão sobre a visita, organizada pelo IPIM, dos representantes das nove províncias do Grande Delta do Rio das Pérolas e das duas Regiões Administrativas Especiais de Macau e de Hong Kong (conhecido como grupo “9+2”) a Portugal e ao Brasil, este mês. O presidente do IPIM não adiantou pormenores sobre essa visita, dizendo apenas que foi curta, “oito dias apenas, quatro no avião, três dias no Brasil, um em Portugal”. “Foi um calendário bastante apertado, não tiveram tempo suficiente para visitar, o tempo foi investido em contactos. Mas visitaram a Amazónia. Porquê? Porque percebemos que precisam de diferentes tecnologias de informação, de protecção do ambiente”, explicou. O Fórum Ambiental deste ano vai contar com mais de 50 oradores e tem uma área de exposição de cerca de 16.900 metros quadrados, com mais de 450 expositores de 17 países e regiões, incluindo países de língua portuguesa. Tal como nos cinco anos anteriores, o orçamento é de 25 milhões de patacas.
Sofia Margarida Mota Entrevista ManchetePaul Pun, secretário-geral da Cáritas: “Macau não é só dinheiro” Candidatou-se quatro vezes à Assembleia Legislativa e em todas perdeu. Em ano de eleições, o secretário-geral da Caritas Macau, Paul Pun, diz que não pondera, por enquanto, uma nova candidatura. Ao HM falou das razões e de algumas prioridades que tem na instituição que dirige [dropcap style=’circle’]É[/dropcap] candidato às eleições deste ano? Neste momento, não tenho qualquer intenção de me candidatar às próximas eleições para a Assembleia Legislativa (AL). Tenho sido abordado na rua por residentes que me colocam a mesma questão e que me incentivam a concorrer. Gosto de sentir que sou apoiado e o argumento de quem me apoia é de que a AL deve ter diferentes vozes. Mas, independentemente de concorrer ou não, continuo a ouvir o que as pessoas têm a dizer, o que pensam, e os seus apelos e preocupações. Neste momento, não tenho um plano. Se o tivesse avançaria e seria para que fosse concretizado. No entanto, se até ao momento da formalização das candidaturas, tiver ideias concretas para avançar com uma lista, assim o farei. Nas quatro vezes em que me candidatei pensava seriamente no processo e sentia que tinha de avançar. Este ano, e até à data, nem me ocorreu pensar nas pessoas que poderiam avançar comigo. Que tipo de eleitores mais se dirige a si e o que procuram com a sua representação? Posso dizer que represento os menos privilegiados, pois trabalho com eles. Mas as pessoas que me abordam são de diversos estratos sociais e não só os mais necessitados. Alguns trabalhadores, alguns reformados, alguns portugueses, por exemplo. A minha prioridade é continuar a fazer o que faço e não vejo como a minha presença na AL possa melhorar as minhas funções. As pessoas dizem que posso fazer mais, mas não vejo como. Tem defendido a integração dos imigrantes no território. Essa é uma das minhas prioridades. Mesmo nas campanhas que fiz para as eleições, tive sempre em mente a questão dos imigrantes em Macau. Acho que é essencial para qualquer deputado pensar em todas as pessoas que habitam no território. Pensa que a defesa dos imigrantes pode ter tido interferência nos resultados? Não. Os imigrantes trabalham em Macau, vivem cá e, como tal, temos de pensar neles. Mas as pessoas tendem a não falar muito no assunto. Parece que o que consta da agenda política relativamente à importância dos imigrantes no território é o silêncio. Mas eu falo sempre, talvez porque não tenho preocupações políticas, nem tenho de agir segundo o politicamente correcto. Digo o que penso com base no pulso que sinto por parte da sociedade e das necessidades das pessoas. O que acha que tem de ser feito nesta área? Cerca de 40 por cento da nossa força de trabalho depende dos imigrantes. Os residentes pensam, de alguma forma, que estas pessoas que vêm de fora lhes roubam os empregos, o que não corresponde, de todo, à verdade. Por exemplo, no que respeita a cargos de chefia, apenas 1,9 por cento são ocupados por imigrantes. Estes dados podem comprovar que não são os estrangeiros que ocupam os lugares destinados aos residentes. O seu papel tem de ser respeitado. Se não se sentirem respeitados, os residentes ficam em dívida. Se tiverem o devido respeito também trabalham melhor e contribuem activamente para a dinâmica económica e social local. Há muitas pessoas a dizer, por exemplo, que os trabalhadores não residentes não devem ter acesso e apoio nos cuidados médicos porque é uma forma de “levarem” o dinheiro do território. Dizem que a riqueza de Macau não deve ser partilhada com os estrangeiros e argumentam que devem ser os empregadores a suportar seguros de saúde. Defendo que o nosso sistema de saúde deveria incluir esta faixa da população. Estamos a falar de cuidados básicos que não devem ser negados a quem vive no território. Mas isso não está na agenda política. Sem imigrantes, Macau não existiria e seria estático, sem qualquer desenvolvimento. Temos de ter essa consciência e apoiar, pelo menos, as áreas dos cuidados básicos. Até mesmo para os turistas, que lidam directamente com esta população em várias funções, é benéfico que vejam as pessoas a sorrir e satisfeitas. Acaba por dar uma boa imagem de Macau para o exterior. O Governo tem feito melhorias no sistema de saúde e no sistema social, mas ainda é dirigido aos residentes e há uma franja da população que não é abrangida. Macau é um sítio pequeno, seria muito fácil educar as pessoas para o respeito umas pelas outras. No entanto, penso que as pessoas de Macau são generosas por natureza. Mas é necessário analisar e ter a consciência do todo da sociedade com a sua diversidade. Neste sentido, cabe aos políticos ter um papel também mais interventivo e seguirem no sentido da inclusão. Há vozes na política muito duras com a questão dos imigrantes e dos trabalhadores não residentes. Sim, mas Macau também dá a oportunidade de ter vozes livres. Foi recentemente aprovada a Lei Eleitoral. O que acha da revisão? É um passo positivo para umas eleições mais abertas e para a luta contra a corrupção. O diploma prevê também regras que são importantes para evitar comportamentos desapropriados. Mas continuo a duvidar que o sistema actue em conformidade com a lei. No meu escritório, por exemplo, não admito que ninguém pergunte a quem entra as razões da sua vinda. Defendo uma política de portas abertas. No caso das eleições, também todos se podem juntar. Desta vez, há a questão do juramento de fidelidade à Lei Básica e ao Governo Central, mas acho que sempre que alguém vai para um cargo político já deve ter subentendido a sua fidelidade ao país. No entanto, quando dizemos que amamos o nosso país, isso não pode querer dizer que não gostamos dos outros, de outras regiões e que possamos discriminar outras pessoas. Claro que quando se fala de terrorismo o trabalho é outro e tem de ser feito de forma coordenada. Ainda relativamente à nova lei, penso que poderia ser mais uma razão para me candidatar. A legislação mais clara, e uma sociedade mais desenvolvida e educada como a de hoje são factores apelativos, mas, de facto, ainda não sinto que o deva fazer. Recente também é a lei da violência doméstica. A Caritas tem vindo a trabalhar com vítimas. Foi uma lei muito importante e, depois de o diploma ter sido aprovado, as pessoas, felizmente, começam a sentir-se mais à vontade para denunciarem casos de abuso. O mesmo acontece nas situações em que as vítimas são do sexo masculino. Antes da entrada em vigor da nova lei, já tinha casos de homens a recorrem à Caritas para falar da situação. A questão do abuso está muito relacionada com a falta de auto-estima e o trabalho que tem de ser feito é o da sua recuperação. Normalmente são pessoas, principalmente nos casos do sexo masculino, que não são respeitadas por ninguém e que vivem o mesmo tipo e situações de abuso em casa e no trabalho. É necessário promover a confiança. Na Caritas, por exemplo, tentamos integrar estes casos em programas de voluntariado onde podemos fazer com que se sintam úteis e respeitadas. Tem trabalhado na área da pobreza. Quem é que procura mais ajuda? Macau não é só dinheiro. Podíamos fazer do território uma terra maravilhosa, dado o dinheiro que existe. Se me perguntasse isso há uns anos, diria que precisam de ajuda aqueles que têm uma renda alta e, como tal, não podem suportar a renda de um tecto, aqueles que partilham casas muito pequenas e aqueles que não têm cozinha em casa. Mas o que tenho constatado é que, felizmente, há cada vez menos pessoas nestas condições. Uma das acções que terá contribuído para esta diminuição é a política de habitação pública do Governo. As pessoas que têm este tipo de apoio já não procuram tanto a Caritas. Temos também o banco alimentar que se destina a quem não tem o que comer. E também aí, há cada vez menos pessoas a precisar de ajuda, sendo que são os idosos que vivem sozinhos quem mais nos procura. Além das iniciativas sociais já conhecidas da Caritas, há novos projectos? Estamos agora com o processo de abertura de uma clínica de cuidados dentários. O espaço, num momento inicial, vai ser dirigido, essencialmente, a doentes mentais e a idosos locais, mas o objectivo é que, correndo tudo bem, seja aberta a todos, e aos imigrantes também. Os idosos parecem ser dos que mais precisam de ajuda no território. É necessária ajuda em três sentidos: a criação de lares, o apoio domiciliário e o apoio ao cuidador, que pode ser um profissional ou um familiar. A Caritas já dispõe destes três serviços e damos formação geriátrica. Temos também um centro de dia para quem precisa de apoio. Não é um centro de lazer e está preparado para acolher utentes com vários tipos de problemas, como a demência, por exemplo. Está desde 1991 à frente da Caritas. Tenciona continuar por mais tempo? Não sei. Pode ser para sempre. Mas isso não é importante. Com ou sem título de secretário-geral da Caritas, pretendo continuar a trabalhar naquilo em que acredito. Algumas pessoas acham que é importante que tenha o cargo e o título porque pensam que é uma forma de ter mais respeito, tanto da população, como do próprio Governo. Não concordo. Quando acreditamos em nós e naquilo que fazemos encontramos sempre o nosso espaço para servir a sociedade. Quando era pequeno tive quem tomasse conta de mim. É a minha função também tomar conta dos que mais precisam.
Andreia Sofia Silva PolíticaLeong Veng Chai pede novo planeamento para mercado [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] deputado Leong Veng Chai entregou uma interpelação escrita ao Governo onde exige que seja feito um plano para o aproveitamento de dois andares no mercado do Iao Hon, onde antes funcionava a zona de venda de comida ao público. “O Governo dispõe de algum plano concreto para o segundo e terceiro andares do mercado do Iao Hon, que estavam destinados a acolher o antigo centro de comidas? Com vista a evitar o constante desperdício dos recursos sociais, será possível avançar, com a maior brevidade possível, o reaproveitamento dos referidos espaços?”, questiona. O número dois de José Pereira Coutinho na Assembleia Legislativa pede ainda que seja feita uma análise para um melhor aproveitamento dos recursos. “O Governo deve indicar quais são os serviços públicos que devem ser responsáveis por dar a devida sequência aos seus prédios e terrenos que se encontram desocupados, com vista à sua utilização e desenvolvimento de forma planeada. Vai fazê-lo?” Desporto e cultura Para Leong Veng Chai, os dois andares vazios do mercado do bairro do Iao Hon poderiam ser espaços importantes para actividades juvenis e para o fomento das indústrias culturais e criativas. “Deve-se planear transformá-los num espaço interior para a prática do desporto, que beneficia a saúde física e psicológica, com salas de ténis de mesa, badminton ou campos de futebol, com vista a disponibilizar espaços para a utilização dos cidadãos ou especialmente para os jovens no âmbito do desenvolvimento das indústrias culturais e criativas, contribuindo para a formação de uma cultura local.” Isto porque o bairro do Iao Hon, bem perto da fronteira com a China, constitui “uma zona de habitações onde vive e cresce uma boa parte da nossa população juvenil”. “Coloca-se então a dúvida se o Governo pode articular as características demográficas da zona norte com as suas linhas governativas ao nível do apoio ao desenvolvimento das nossas indústrias culturais e criativas”, escreve Leong Veng Chai. O deputado lembra na sua interpelação que o reordenamento do mercado trouxe vantagens aos comerciantes, mas deixou à vista o problema de ausência de planeamento. “Nos últimos anos, o Governo tem-se dedicado à recuperação dos terrenos desaproveitados, mas não procedeu a um pleno planeamento dos terrenos que já tem em mãos, como, por exemplo, o local antigamente destinado ao centro de comidas, que durante os quatro anos que se seguiram à referida deslocação, continuou bloqueado e desaproveitado, situação que constitui um desperdício de recursos de solos e resulta num aumento dos custos sociais”, conclui Leong Veng Chai.
Victor Ng PolíticaInterpelação | Mak Soi Kun com dúvidas acerca do regime de despesas [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]m Dezembro último, o Executivo respondia a uma interpelação de Mak Soi Kun relativa à alteração ao regime de despesas com obras e aquisição de bens e serviços. Em resposta às dúvidas do deputado sobre a forma como se faziam os concursos públicos, o Governo afirmou que estava a rever a legislação com base nas sugestões de vários departamentos públicos, do Comissariado contra a Corrupção (CCAC) e do Comissariado da Auditoria (CA). Esta alteração à lei é uma das iniciativas legislativas que está prevista avançar este ano, estando o Executivo a recolher e analisar opiniões nesse sentido. Mas o recente relatório do CCAC, que demonstrou de forma arrasadora falhas à forma como o Instituto Cultural (IC) contratou pessoal, veio trazer atenção extra a esta matéria. Aliás, Mak Soi Kun menciona o caso na interpelação que escreve ao Executivo, adiantando que se violaram regulamentos previstos na lei no que diz respeito à contratação de trabalhadores públicos. Por detrás deste atropelo legal estará, na opinião do deputado, uma forma de contornar a fiscalização e a aprovação de entidades superiores no processo de contratação de funcionários. O tribuno considera que o atraso em arrancar com o processo legislativo do referido regime de despesas com obras e aquisição de bens e serviços terá facilitado a prática de actos ilegais. Diz-me como contratas Nesse sentido, Mak Soi Kun interroga o Executivo no sentido de se apurar se o IC é um caso isolado, ou uma demonstração de prática comum no aparelho administrativo. No caso de ficar demonstrado que o IC é apenas a ponta de um iceberg de más práticas na contratação de pessoal, o deputado quer saber se isso indica que existem lacunas na actual legislação que regula a contratação. De qualquer forma, mesmo que não se verifique o cenário de generalização deste método pouco transparente, Mak Soi Kun é da opinião de que o Executivo deve investigar a fundo o sistema de gestão. Por último, o deputado interpelou a Administração no sentido de saber em que ponto está a situação da alteração ao regime de despesas com obras e aquisição de bens e serviços. A questão que levanta é se esta lei poderá entrar em vigor ainda no decorrer deste ano.
Hoje Macau PolíticaPortugal | “Espaço Cidadão” pode chegar a Macau, mas há outras prioridades [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Governo português inaugura na próxima quarta-feira um “Espaço Cidadão” em São Paulo, no Brasil, informou em Macau o secretário de Estado das Comunidades, afirmando ter como objectivo abrir também no território um daqueles serviços. “Levámo-lo em primeiro lugar para Paris, porque se trata do posto consular com maior movimento, estamos a falar de um posto com mais de um milhão de inscritos e 200 mil actos consulares. Vamos inaugurar o segundo ‘Espaço Cidadão’ em São Paulo no dia 29, também é um consulado que teve 192 mil actos consulares no ano de 2016”, disse José Luís Carneiro, no segundo e último dia da sua visita a Macau. A abertura de um espaço semelhante em Macau, também em resposta a pedidos dos conselheiros locais, está a ser equacionada, mas compete com outras prioridades como Londres e Bruxelas. “Vamos depois avançar com o objectivo de criar um espaço consular em Londres, que é uma comunidade que precisa de uma atenção muito especial do Estado português por força das circunstâncias que está a viver, nomeadamente o Brexit. Temos também Bruxelas, uma comunidade que cresceu muito, praticamente duplicou o número de portugueses. Queremos depois levar a experiência a outros postos consulares”, afirmou, antes da reunião com os conselheiros das comunidades portuguesas da Ásia-Oceânia. “Naturalmente que Macau não pode deixar de ser um objectivo de extensão do ‘Espaço Cidadão’ às comunidades portuguesas. Mas para isso é necessário que haja uma dimensão de infra-estrutura tecnológica. É uma questão que é preciso solucionar porque há uma parte dos serviços que são disponibilizados pela Administração Pública portuguesa que está em Portugal. Como aqui há uma diferença horária de oito horas, há este obstáculo que tem de ser vencido”, explicou o secretário de Estado, não se comprometendo com uma data para a abertura do espaço. Carneiro garantiu que a abertura deste espaço não implica a contratação de mais funcionários – difíceis de conseguir e com salários muito abaixo da média de Macau –, já que a estratégia é “garantir que os funcionários que hoje estão apenas concentrados nos actos consulares possam ter uma formação por forma a que possam tornar o seu trabalho ainda mais eficiente”. “Em regra, são os mesmos funcionários que já temos nos postos consulares”, esclareceu. Atenção e carinho A abertura de um ‘Espaço Cidadão’ tem vindo a ser pedida por Macau, com a conselheira Rita Santos a explicar que a sua existência facilitaria “não só a ida dos chineses a Portugal, com a obtenção mais rápida de vistos”, mas também para [os residentes de] Macau” poderem tratar dos seus impostos, taxas de autarquia, sem recorrerem a amigos ou advogados a quem precisam de pagar. Rita Santos, que é presidente do conselho regional das comunidades portuguesas da Ásia e Oceânia, voltou a insistir na falta de funcionários no consulado, que diz ser “um problema grave”, que se reflecte no elevado número de pessoas que contactam os conselheiros para ajuda com marcações para renovação de documentos, “simples esclarecimento dos procedimentos de aquisição de nacionalidade”, ou pedidos de apoio “de jovens empresários que querem ir para Portugal ou estudantes que querem integrar as universidades”. “Se tivesse um número adequado de funcionários, isso poderia ser feito pelo consulado”, frisou, indicando que a dificuldade em contratar pessoas é também explicada pelos “salários tão baixos”. A conselheira alertou ainda o secretário de Estado para a importância de Portugal “dar mais atenção a Macau”. “Temos de olhar para os jovens portugueses [em Macau] porque sinto que não estão a dar muito amor e carinho a Portugal. É preciso mais sensibilização, para que os jovens possam ir a Portugal, conhecer Portugal, principalmente os luso-descendentes que já não têm tanta ligação como nós tínhamos antigamente”, disse.
Hoje Macau SociedadeLai Chi Vun | Vão-se os estaleiros, ficam as peças [dropcap style=’circle’]O[/dropcap] Instituto Cultural (IC) recolheu vários objectos de valor de dois estaleiros de Lai Chi Vun. Em nota à imprensa, o organismo explica que, em coordenação com a Direcção dos Serviços de Assuntos Marítimos e de Água, concluiu recentemente o trabalho de mapeamento em dois dos estaleiros. Objectos como reclames dos estaleiros, os pilares de madeira, as tabuletas espirituais dos Deus da Terra (Tou Tei) e de Lu Ban foram retirados pelo IC para que possam ser preservados. As peças serão aproveitadas no futuro, garante o Instituto, na fase que se irá desenvolver em seguida. No comunicado, indica-se ainda que o IC mantém o trabalho de mapeamento dos outros estaleiros, sendo salientada a existência de uma boa comunicação com a DSAMA e os vários os departamentos envolvidos na questão. Recorde-se que o Instituto Cultural será o responsável pela recuperação de um estaleiro e duas pequenas casas. O plano de demolição de grande parte dos estaleiros de Lai Chi Vun tem sido recebido com desagrado por vários sectores, que gostariam de ver o local preservado, por ser o último espaço representativo da construção de embarcações em Macau. Duas das estruturas foram arrasadas no início deste mês. A Administração fundamenta o seu plano de demolição com a degradação dos estaleiros e a necessidade de manter a segurança no local.
Hoje Macau SociedadeReceitas públicas caíram 6,7 por cento em 2016 [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s receitas da Administração de Macau caíram 6,7 por cento em 2016, mas as contas públicas continuam a apresentar um saldo positivo, apesar de o excedente ter caído 26 por cento. De acordo com dados provisórios publicados no portal da Direcção dos Serviços de Finanças, a Administração de Macau arrecadou no final do ano passado receitas de 102,412 mil milhões de patacas. Os impostos directos sobre o jogo – 35 por cento sobre as receitas brutas dos casinos – foram de 79,482 mil milhões de patacas, uma diminuição de 5,9 por cento face a 2015. A importância do jogo reflecte-se no peso que o imposto detém no orçamento: 77,6 por cento nas receitas totais, 78,4 por cento nas correntes e 89,8 por cento nas derivadas dos impostos directos. Ao contrário da receita – onde todos os componentes registaram descidas em termos anuais homólogos –, a rubrica da despesa registou aumentos. A despesa global subiu 0,3 por cento face a 2015, para 80,730 mil milhões de patacas. No âmbito do PIDDA (Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração) foram gastos 8,519 mil milhões de patacas, menos 4,8 por cento que em 2015. Entre receitas e despesas, a Administração de Macau acumulou um saldo positivo de 21,681 mil milhões de patacas em 2016, isto apesar de a ‘almofada’ financeira ter emagrecido 26 por cento face ao ano anterior. Casinos e contracções Os casinos de Macau fecharam 2016 com receitas de 223,210 mil milhões de patacas, uma queda de 3,3 por cento face ao cômputo do ano anterior. Em Fevereiro, os casinos tiveram receitas de 22,991 mil milhões de patacas, um aumento de 17,8 por cento face ao período homólogo de 2016. Foi a maior subida desde Fevereiro de 2014, segundo os dados da Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos. A economia de Macau contraiu-se em 2016 pelo terceiro ano consecutivo, com o Produto Interno Bruto (PIB) a cair 2,1 por cento em termos reais, apesar da recuperação da indústria do jogo. No entanto, a agência de notação financeira Fitch prevê que o PIB cresça 2,5 por cento em termos reais este ano, apoiado pelo crescimento das receitas do jogo, depois da contracção de 2,1 por cento em 2016.
Hoje Macau SociedadeDesaparecimento | Funcionário de ONG de Taiwan estará na China [dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m funcionário de Taiwan de uma organização não-governamental que ajudava activistas na China encontra-se desaparecido, receando-se, à semelhança de outros casos, que tenha sido detido pelas forças de segurança chinesas, alertou a Amnistia Internacional (AI). As autoridades de Taiwan tem informação de que Lee Ming-cheh cruzou a fronteira através de Macau no passado dia 19, mas desde então desconhece-se qual é a situação e não há qualquer registo da sua entrada num hotel ou da sua detenção, aponta a AI num comunicado. O taiwanês, que colaborou no passado com o pró-independentista Partido Democrático Progressista de Taiwan, trabalha para uma organização que ajudava grupos civis e activistas na China, se bem que, desta vez, terá viajado para o país para gerir o tratamento médico da sua sogra. “O facto de Lee Ming-cheh ter desaparecido volta a gerar sérias dúvidas sobre a segurança das pessoas que trabalham com a sociedade civil na China”, afirmou o director da AI na região, Nicholas Bequelin. A história que se repete Bequelin pediu às autoridades de Taiwan e da China que informem a família de Lee sobre as diligências que estão a tomar para o encontrar ou que divulguem o seu paradeiro. Até à data, Pequim não fez qualquer declaração sobre o que terá acontecido ao funcionário da organização não-governamental. A mulher de Lee contactou o Gabinete Económico e Cultural de Taipé em Macau, onde lhe confirmaram que tinha abandonado o território. O caso assemelha-se aos de dissidentes, activistas, advogados e outros trabalhadores de organizações não-governamentais que desapareceram, reaparecendo meses depois sob custódia na China. Em muitas destas situações, as pessoas em causa estiveram confinadas em centros de detenção secretos, onde a lei chinesa permite que um cidadão seja mantido até seis meses sem obrigação de informar sobre o seu paradeiro, nem de providenciar contacto com um advogado ou familiares se tal colocar em perigo a segurança do Estado. Grupos de direitos humanos advertiram que esta medida dá lugar a torturas que ficam impunes devido à falta de controlo.
Hoje Macau SociedadeNovo serviço de rádio-táxis arranca este sábado [dropcap style=’circle’]É[/dropcap] já a partir do dia 1 de Abril que começam a circular os 50 veículos da Companhia de Serviços de Rádio Táxi Macau SA, sendo que outros 50 deverão começar a circular até ao final deste ano. Segundo um comunicado, 35 veículos serão destinados ao transporte normal de passageiros, sendo que dez carros são de “grande porte” e apenas cinco serão destinados ao transporte de pessoas com mobilidade reduzida. A concessão do serviço a esta empresa foi feita por um período de oito anos. Os pedidos de transporte poderão ser feitos não apenas por telefone mas também via aplicação móvel ou no website da própria empresa. Praças fixas Numa fase inicial a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) irá fixar um total de 14 paragens para estes táxis, as quais ficam situadas na zona da Barra (Rua do Dr. Lourenço Pereira Marques), Fai Chi Kei (Rua do Comandante João Belo), Areia Preta (Rua Central da Areia Preta), Hospital Kiang Wu (Rua de Tomás Vieira), Centro Hospitalar Conde de São Januário, Colégio do Sagrado Coração de Jesus (Rua do Padre João Clímaco), Dynasty Plaza (Rua de Bruxelas), Edifício do Lago (Rua de Pequim), Baixa da Taipa (Rua do Regedor), Seac Pai Van (Avenida de Ip Heng), Pavilhão Polidesportivo Tap Seac (Rua Filipe O’Costa), Portas do Cerco (Rua Marginal do Canal das Hortas), Aeroporto e Terminal Marítimo de Passageiros da Taipa (Rua Son Keng) e Praia Grande (Avenida Comercial de Macau). Caso seja necessário, “não se descarta, no futuro, a possibilidade de criar mais locais de espera nos locais adequados”, aponta a DSAT. Todos iguais No que diz respeito às tarifas, os táxis especiais irão cobrar a mesma quantia que os táxis normais, com excepção da cobrança de cinco patacas como taxa de chamada. Caso o cliente faça a marcação uma hora antes, não terá de pagar este valor. Os passageiros podem ainda fazer o pagamento da tarifa através do Macau Pass, bem como o cartão “Quick Pass” do Banco da China e do Banco Industrial e Comercial da China. A DSAT afirma ainda que “tem mantido uma comunicação estreita” com a concessionária, e que tem sido intensificada a “ realização de inspecção de respectivos táxis”, para além de destacar pessoal para “fiscalizar as acções de formação dos seus trabalhadores, vistoriar os equipamentos, os sistemas e a central de táxis especiais, no sentido de tratar e ajustar atempadamente os problemas encontrados”. Em relação ao processo de fiscalização, o organismo liderado por Lam Hin San garante que irá realizar esses trabalhos com base nos padrões de serviço do “número mínimo de veículos em operação”, bem como através do “rácio de atendimento das chamadas telefónicas” estabelecidos no contrato. Caso sejam verificadas falhas no funcionamento do serviço, a DSAT explica que cabe à concessionária “assumir as respectivas responsabilidades”, tais como a “aplicação de multas e rescisão da concessão”.
Victor Ng Manchete SociedadeSaúde | Hetzer Siu aponta falhas na avaliação da deficiência [dropcap style=’circle’]H[/dropcap]etzer Siu, presidente da Macau Special Olympics, considera que o Governo deve melhorar o sistema de avaliação de deficiência, sob pena de muitos deficientes perderem o acesso a assistência médica gratuita, apesar de terem necessidade desse apoio. O responsável lembrou que, desde que entrou em vigor o sistema de avaliação de deficiência, em 2011, que as pessoas registadas têm direito a apoio médico sem pagar. “Enfrentamos uma situação em que nem todos os deficientes podem obter o cartão de registo de avaliação da deficiência. As pessoas são autorizadas a ter acesso ao cartão, uma vez que têm um determinado nível de deficiência, mas quem não atingir determinados patamares não consegue ter acesso a essa assistência. É preciso avaliar se, no sistema, o cartão de registo de avaliação representa também o subsídio de invalidez”, apontou o director da Macau Special Olympics. Para Hetzer Siu, as pessoas com deficiência mental não têm apenas a necessidade de uma avaliação do seu estado de saúde, mas também de tratamentos médicos de acordo com a sua situação. O responsável acredita que o Executivo deveria melhorar e rever o sistema da avaliação para os deficientes mentais. Hetzer Siu afirma ainda que a ideia inicial da criação do cartão visava a criação de uma base de dados, através da qual o Governo e as instituições pudessem prever o número de portadores de deficiência existentes. Contudo, o responsável aponta que só os portadores do cartão entram para as estatísticas, o que faz com que muitos deficientes fiquem de fora. Lei silenciosa O presidente da Macau Special Olympics deixa ainda um alerta sobre a legislação que determina que edifícios e transportes públicos devem estar equipados com instalações disponíveis para deficientes, mas que não específica quais os serviços públicos que são obrigados a ter essas infra-estruturas. Para Hetzer Siu, tal facto acaba por tornar a lei sem sentido prático, pois define requisitos sem que haja especificidades para o seu cumprimento. É ainda pedido que o Governo ajuste as políticas de acordo com as necessidades reais dos portadores de deficiência. Estas declarações foram proferidas no âmbito de uma actividade organizada ontem pela Macau Special Olympics, em torno da avaliação da saúde dos portadores de deficiência mental, pertencentes a outras associações. Segundo um comunicado, devido às dificuldades de expressão destas pessoas, é difícil tratar a tempo eventuais problemas de saúde, por ser, muitas vezes, tardio o seu diagnóstico. Por isso, a Macau Special Olympics realiza pelos menos duas vezes por ano este tipo de iniciativas, por forma a avaliar previamente o estado de saúde destas pessoas. O director executivo lamenta que a saúde destas pessoas se torne cada vez pior, devido a dificuldades económicas e à falta de conhecimentos médicos. As dificuldades no transporte é também outra das razões apontadas para um fraco diagnóstico de doenças.
Andreia Sofia Silva EventosCurta-metragem “Uma Ficção Inútil” volta a ser distinguido [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]om apenas uma curta-metragem Kin Man Cheong, realizador e antropólogo de Macau, ganhou um punhado de prémios, obtidos em vários festivais de cinema pelo mundo fora. Recentemente “Uma Ficção Inútil” obteve o seu sexto e sétimo prémio na Índia, onde foi considerado o Melhor Filme Documentário no Festival de Curtas-metragens e Documentário Atarva, em Bombaim. O filme ganhou ainda o prémio da Melhor Montagem no Festival de Cinema Mundial da Índia, em Hyderabad. Em entrevista por e-mail ao HM, Kin Man Cheong mostra-se surpreendido com tantos prémios. “A curta-metragem já tinha obtido algum sucesso entre 2014 e 2016. Não esperava que a Índia me desse mais dois prémios, parece-me bastante positivo.” “Uma Ficção Inútil” foi um trabalho que Kin Man Cheong desenvolveu para concluir o mestrado em Antropologia Visual na Universidade Livre de Berlim, Alemanha. “Foi de certa forma um diário visual, íntimo, que não pretendia mostrar ao público”, apontou. Para este ano estão ainda agendadas mais viagens para “Uma Ficção Inútil”. A curta-metragem será reproduzida amanhã na Universidade Livre de Bruxelas, seguindo-se a galeria LemoArt, em Berlim, Alemanha, já em Abril. Há ainda passagens por Colónia, em Maio, no círculo de conferências “Estética, Média e Culturas na China” da Universidade de Colónia, pela Macedónia e Paris, entre outros locais. A frequentar o doutoramento na mesma área, Kin Man Cheong pretende “aprofundar as investigações sobre a auto-etnografia”, estando a preparar um novo filme para a conclusão desta fase de estudos. Para além disto, Kin Man Cheong está a preparar uma “ficção auto-biográfica” do seu pai. “Começa na véspera da Revolução Cultural e termina com a sua emigração clandestina da República Popular da China para Macau”, contou. Uma casa necessária Esta semana é inaugurada oficialmente a Cinemateca Paixão, (ver texto principal), uma iniciativa do Instituto Cultural (IC) aplaudida por Kin Man Cheong. “Fico contente com o facto de o projecto estar bem encaminhado, embora se pudesse ter começado a desenvolver esse mesmo projecto mais cedo”, defende. “A cinemateca pode ir muito longe em termos de divulgação do cinema produzido em Macau, tanto dentro do território, como também no exterior. Existem no resto do mundo mil possibilidades à nossa espera. Agora coloca-se a questão: como aproveitar estas oportunidades?”, questiona ainda. Sendo da área da antropologia visual, Kin Man Cheong assume conhecer “mal a indústria cinematográfica”, mas acredita que “poderia ser muito útil um ‘film board’, que ainda não temos”. Kin Man Cheong defende que a iniciativa do IC pode ser um óptimo ponto de partida para a dinamização da produção cinematográfica local, mas afirma que é necessário apostar na desburocratização em termos de apoios financeiros a películas locais. “Seria importante haver maior flexibilidade no processo burocrático para aprovação desses apoios.” “Com a política de promoção e apoio aos projectos relacionados com Macau, podemos facilmente limitar-nos a temas ou conteúdos que têm de alguma maneira a ver com a região administrativa especial. Macau, e as perspectivas que de lá vêm, são igualmente interessantes. No entanto, não é só com as cenas referentes a Macau que podemos classificar um projecto que seja de interesse para o território. Qualquer trabalho, de qualquer natural macaense, ou de outra pessoa que simplesmente se tenha estabelecido aqui na terra, poderá ter um impacto positivo na sua área”, conclui.
João Luz EventosCultura | Cinemateca inaugurada na próxima quinta-feira O cinema está prestes a ter uma nova casa. Quinta-feira é inaugurada a Cinemateca Paixão e, como não poderia deixar de ser, o foco do primeiro dia de actividade será o cinema produzido em Macau [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]a próxima quinta-feira abre um espaço novo dedicado à sétima arte: a Cinemateca Paixão. Localizada no coração da cidade antiga, perto das Ruínas de S. Paulo, na Travessa da Paixão, será mais um pólo de atracção turística. “A localização é também conveniente para os turistas que queiram cá vir”, explica Rita Wong, directora da cinemateca. Acrescenta ainda que “de dois em dois fins-de-semana haverá algo que tenha Macau como tema”. Outro incentivo extra do espaço que fica sob a tutela do Instituto Cultural (IC) é o facto destes eventos terem entrada livre. A cerimónia de inauguração da Cinemateca Paixão é na quinta-feira, às 18:45, e terá como prato principal a apresentação de três curtas-metragens de três realizadores de Macau. Os cineastas escolhidos para apadrinhar a nova casa da sétima arte são Tracy Choi, Chao Koi Wang e António Faria. Na mesma noite realiza-se ainda uma sessão destinada aos cineastas de Macau, de forma a abrir, oficialmente, um novo capítulo na indústria cinematográfica do território. A abertura ao público será na sexta-feira, mas para o dia da inauguração Rita Wong pretende algo que “seja divertido e que sirva para conectar as pessoas do ramo”. A casa do cinema encerra às segundas-feiras, mas “abre todos os outros dias, incluindo nos feriados, com portas abertas das 10 da manhã às 11 da noite”, conta a directora. Casa de filmes A cinemateca está instalada num edifício de três andares, multifuncional, habilitado a ter vários propósitos. Como é natural, vão ser projectados filmes, e haverá um espaço para o armazenamento de vídeos locais. Além disso, o local terá zonas dedicadas para a leitura de livros e revistas da especialidade. “É uma área para quem queira estudar cinema e, além da sala que reúne documentação sobre cinema, vamos também coleccionar publicações sobre Macau”, revela Rita Wong. No que diz respeito à organização do espaço é de referir que a bilheteira é no rés-do-chão, onde se encontram também uma sala de projecção e outra de controle. A sala de documentação de material cinematográfico está situada no primeiro andar do edifício. Com uma periodicidade mensal, a Cinemateca organizará festivais de cinema temático e programas como o “Realizador em Foco”. Também todos os meses, o espaço irá estrear dois ou três filmes provenientes de todo o mundo. Com a intenção de promover a sétima arte em Macau, o local irá apresentar durante dois fins-de-semana por mês duas longas, ou curtas, metragens produzidas localmente. A mostra do cinema local insere-se no programa “Descobrir Macau: Produções Independentes Locais Revisitadas”, que pretende dar visibilidade aos cineastas do território. Rita Wong explica ainda que a Cinemateca Paizão terá igualmente um programa de “workshops e conferências relacionados com cinema”. É de salientar que a gestão e programação do espaço estará a cargo da Cut Lda. A inauguração deste equipamento marca um novo capítulo na promoção de filmes locais no exterior, assim como o impulsionamento da cultura e arte cinematográfica entre a população do território. Rita Wong acrescenta que a Cinemateca Paixão nasce com o intuito de “ser uma plataforma de intercâmbio entre a audiência, cineastas e também turistas”. No fundo, o cinema passa a ter uma casa em Macau, para a qual todos estão convidados.