Angústia do não conseguir

CIAJG, Guimarães, 20 Maio

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ubo para ajuizar, na companhia do Jorge [Silva] e da Margarida Noronha, os candidatos ao Prémio Nacional e Revelação da novíssima Bienal de Ilustração de Guimarães, neófito que se saúda, com a originalidade de atribuir prémios pecuniários, os que resultam da concurso como o de carreira. Aguardemos por Outubro para saber mais, de projecto gizado pelo mano Tiago [Manuel], com o apoio do Rui Bandeira Ramos.

Habituei-me a ser surpreendido a torto e a direito pelo Norte, não tanto pela arquitectura ou pelo modo como as gentes se fazem casa, não apenas pelas comidas e bebidas ou pela maneira como as pessoas se dão comendo e bebendo, nem sequer pelos carvalhos ou os freixos ou pela forma como os sujeitos se erguem na paisagem. Surpreendem-me na singeleza com que fazem acontecer. Naturalmente, como se criar tivesse alguma coisa de natural. Bato no peito e grito por me mexer tão pouco. Recolho a papelada que posso para passeios de dedo e olho, coisa mental. Alimento para a quotidiana angústia do não conseguir. Perdi «Teatro da Alma, uma peça de dor e de sonho a partir de Raul Brandão», escrita e encenada por João Pedro Vaz, apresentada como assombração do teatro popular: «de espada em riste, à procura de Deus e do Homem». Pouso a espada, mas interessa-me este teatro, que «não é nem para jornalistas nem para burguesas serigaitas. É para toda a gente», dizia Brandão. Invejo a programação do Teatro Oficina em torno do imenso autor de Húmus. Conservo ainda os ecos da leitura encenada do poema homónimo de Herberto, pelo Paulo Campos dos Reis, na última noite da vida de um solar em Paredes de Coura. Momentos telúricos, de andar descalço pelas ruínas. «Ouve-se/ a dor das árvores. Sente-se a dor/ dos seres/ vegetativos,/ ao terem de apressar a sua/ vida lenta.» Nem na ida, menos ainda na vinda, consegui espreitar a exposição «Raul Brandão: 150 anos», que abria as portas na Casa Guerra Junqueiro e na Biblioteca Municipal do Porto, pela mão sabedora do Vasco [Rosa]. Esta não posso perder. A ignorância também se faz fábrica de muita surpresa. Desconhecia a doravante indispensável «Guimarães», revista semestral que vai no quarto número, este com «paisagem» dentro. Lá volto a entusiasmar-me com as ideias do João Pedro Vaz e a irritar-me por ver tão pouco, por subir tão pouco. Bato no peito e reencontro Brandão, com o Vasco a contar da nossa maneira descuidada de sermos, das décadas que foram passando sem que este autor sublime fosse devidamente editado. Vais sendo agora a injustiça reparada. Percebo que nunca visitei a Casa do Alto, nem que fosse para aquilatar fantasmas. Para meu deleite, ainda posso ouver as «Dissonâncias» do João Alexandrino aka JAS, cujas exposições recentes em Lisboa perdi (é dele a ilustração ao lado), bem apresentadas pelo Daniel Jonas: «nesta dança macabra, a peça exibida é anatómica e participa desse modo do silêncio espectral das coisas que confessam em silêncio. É um tipo de urna, de sarcófago, uma espera numa câmara frigorífica.»

Casa da Cultura, Setúbal, 23 Maio

Conferência de imprensa para apresentar a Festa da Ilustração ’17. Na boa companhia do Pedro Pina, vereador capaz da loucura de encher uma cidade de ilustrações, e do mano orquestrador-mor, José Teófilo [Duarte], perco-me em números. Manuel Ribeiro de Pavia, o ilustrador clássico que será homenageado este ano, nasceu há 117 anos e morreu 50 anos depois, no mesmo dia, a 19 de Março, na miséria. Neo-realismos cá dos nossos. Preparemo-nos, que oiço Zeca: «Tenho muitos anos para sofrer/ Mais do que uma vida para andar/ Bebo o fel amargo até morrer/ Já não tenho pena sei esperar».

Horta Seca, 24 Maio

«”E coisa mais preciosa no mundo não há”. Falamos de canções, certo? Não vejo maneira de crescer sem elas, miopia minha, que não distingo o longe horizonte sem degrau mínimo, este íntimo à mão de semear. As paisagens que fomos construindo no último século, hesitando ou correndo, sentados no passeio ou comendo alcatrão, seriam impossíveis de percorrer sem estes seres particulares. Chamemos-lhe canções, para facilitar, embora sejam bastante mais do que isso, síntese letal de poder que invoca diamantes e granadas. Não conheço melhor maneira de cruzar ciência e poesia, pensamento e prazer, quotidiano e intemporalidade do que nestes nós que nos acompanham vida fora, por causa do verso estilhaço ou da melodia tatuagem. Os dias deixam-se oxidar, amarelando sensaborões até que a batida nos invade, aquela que sendo de todos parece apenas nossa. E logo Lisboa amanhece. Ou o Porto fica perto. Tão fácil falar de lugares comuns! Lá está, se se tornaram comuns devemo-lo a autores como Sérgio Godinho. E se estamos neste texto habitamos tal nome.

Década após década, SG fez-se gigante construtor de canções que traçaram pontes, ruas e túneis, aliás, mapas entre gerações e géneros, temas e estilos, personagens e imagens. Foram relâmpagos que continuam acontecendo à medida que vivemos, para nos ajudar a perceber a dimensão exacta do que fomos mal o ouvimos, mal ouvimos as canções. Esta arte do Sérgio assenta na peculiar atenção ao que fica do que passa; na raiz mergulhada na experiência pessoal mas de um modo tal que rima com universal; nas coreografias com que a palavra arrasta os ritmos. Nisto e nos enigmas da curiosidade que recolhe, mistura, amadurece e atira. Para voar e nos levar também.»

Não consegui desenvolver estas ideias, impressas muito antes do Dylan feito Nobel ou vice-versa, a tempo de alinharem na fotografia feita pela exposição e catálogo, que agora me chega às mãos e com que a Câmara de Grândola celebrou vida ímpar: «Sérgio Godinho – Escritor de Canções». Desconsegui. Calquemos o detalhe, que ainda haverá tempo para lá ir, à vila morena, reconhecer a banda sonora dos meus dias. Não se contam pelos dedos, as alegrias que o Sérgio me foi dando, desde que me conheço a torcer destinos, sendo a mais vibrante uma recente fraternidade de projectos partilhados. «Dias úteis/mesmo se a dor nos fizer frente/a alegria é de repente/ transparente/quem a não receberia?/ Mesmo por pretextos fúteis/a alegria é o que nos torna/os dias úteis.»

Rodrigues Sampaio, 25 Maio

Reunião para fecho de contas anual com o Vitor [Couto], parceiro de há tantos anos, ali pertinho da Smarta, cidade da ilha chamada Natália Correia. Tão triste a paisagem, tão entediante o assunto. Os números cantam-me sempre a mesma canção. «Dias úteis/ são tão frágeis, as verdades/ que se rompem com a aurora/ quem as não remendaria?»

1 Jun 2017

Perplexidades e equilíbrios

28/05/2017

[dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]eio no DN, com perplexidade: «Nesta semana, o candidato derrotado nas primárias republicanas, o neurocirurgião Ben Carson, atual secretário da Habitação e do Desenvolvimento Urbano, responsável pelos programas de habitação social, afirmou que “a pobreza é um estado de espírito”.

Ontem, um congressista republicano, questionado numa entrevista radiofónica sobre se considerava a alimentação como um direito de cada americano, hesitou, demorou e acabou por recusar subscrever essa afirmação. Trump é apenas a face mais visível de uma América que sempre existiu, mas que com o novo presidente parece ter perdido a vergonha

Leio e cogito: é difícil imaginar pior e um cenário mais tenebroso. Porque nos começamos a situar numa orbe perigosamente próximos desta descrição: «Não se dá os mortos à sua mãe, aqui, mata-se a mãe conjuntamente, e come-se o seu pão, e arranca-se o ouro da sua boca para se poder comer mais pão, e faz-se sabão com os seus corpos. Ou então enfeita-se com as suas peles os abat-jours das fêmeas SS». Quem o conta é Roberto Antelme, no seu livro A Espécie Humana, onde testemunha a monstruosa desumanização do universo concentracionário.

Políticos para quem a pobreza não passa de um estado de espírito e que não consideram a alimentação como um direito, já podiam ser carcereiros de um campo de extermínio. Já estamos a lidar com diferenças de grau mas não de natureza – isso é que se me afigura assustador. Falta pouco para começarem a falar de castas. E quando se pensa assim, igualmente o consentimento para se obter de uma mulher o que se pretende é um percalço menor, que se ultrapassa com a violência. Ē desta massa que se forma a personalidade dos novos líderes da direita. Se se associar a esta mentalidade a abstracção algorítmica, fica o futuro duro de roer.

Isto pedia aqui uma tirada de génio de Groucho Marx, mas (não digam a ninguém) o comediante perdeu a dentadura e nenhum osso se rói por delegação.

30/05/2017

A Maria João Cantinho ganhou o Prémio Glória de Sant’Anna com o seu excelente livro de poesia Do Ínfimo. Para se entender o que isso significa teria de se começar por saber quem foi a Glória de Sant’Anna, uma estupenda poeta portuguesa que teve “o azar” de ter feito toda a sua carreira poética em Moçambique. Ē uma poeta da geração da Sophia de Mello Breyner e não lhe deve em rigor e talhe poético. Terá menos volume de trabalho (a sua obra completa não ultrapassará as duzentas páginas), mas a qualidade pede-lhe meças. O problema é que poucos sabem e quando regressou a Portugal o seu caminho estava condenado a ser discreto.

Do Ínfimo é um livro à altura da sua patrocinadora.

A Maria João Cantinho é muito mais conhecida como ensaísta e crítica, e agora como directora de revistas literárias (cf. revistacaliban.net), mas este é o seu quarto livro de poesia. Como poeta, apareceu numa altura que lhe era adversa, nos anos noventa, um período em que tudo o que não fosse “poesia do quotidiano” era claramente descriminado. Houve uma ditadura do quotidiano e a sua poesia mais metafórica e de laivos existenciais e mesmo metafísicos foi silenciada. Até por causa das suas influências, mais alemães e francesas, contra a vaga anglo-saxónica que sobraçou o país. Do Ínfimo é uma magnífica oportunidade para a conhecer.

É um livro de grande equilíbrio, que tem arquitectura e é meditado, denotando ampla consciência do seu ofício. Sendo discursivo não cai no vício da retórica; o seu léxico medido e uma expressividade controlada não perdem de vista os seus efeitos emocionais embora prescinda de  se meter em ponta dos pés, no afã de cativar o leitor por um “sensacionalismo das imagens”.

Para além do conjunto, coeso, Do Ínfimo alia duas coisas que raramente casam com esta eficácia: a sobriedade não neutraliza a capacidade digressiva de quem reflecte e faz o poema reflectir-se.

Como disse atrás, nestes poemas a ênfase não está no brilho (as imagens fulgurantes) mas antes na justeza das palavras. São versos que testemunham um desencontro com as idealidades, disfóricos, versos de onde se parte ou nos quais se vinca que algo se perdeu e que quando encenam um retorno recortam um céu plúmbeo em fundo. Contudo, a tristeza que neles se plasma foge de consolidar-se como a abstracção de um saber, ou da congelação melancólica. Daí que surdam laivos de revolta e vários poemas reclamem um certo cariz social. E, característica tanto mais curiosa quanto o poeta alemão tem sido um dos objectos de estudo dos seus ensaios, dir-se-ia que contra o Paul Celan, estes poemas desencadeiam-se discursivamente, de forma articulada, por vezes apoiados em refrões que lhes marcam o ritmo, com Cantinho a procurar ainda balbuciar uma unidade (na sua leitura do mundo), um rosto, mesmo que amarrotado, como é o que se alude no primeiro poema do livro. Se este é um livro que coou de alguma tristeza (o mundo não está bonito) a autora não se lhe entrega num trânsito irreversível e final, da mesma forma que a clausura do círculo se liberta pela espiral, impondo a sua dignitas, uma ética.

E aqui deixo um dos seus poemas, DA VISÃO EM FILIGRANA: Desdobra-se o nojo, o sangue, a vida/ que se celebra no avesso da noite,/ o olhar acossado no nada, esta raiva/ uma bomba prestes a detonar/ na flor amaldiçoada/ de um silêncio esventrado.// Porque passas tu sem ver/ as sombras e o escuro incêndio da folhagem/ o cheiro e o dia, onde tudo se entorpece/ as ruas antigas de um muro/ onde sentiste que as palavras/ te tinham abandonado em definitivo.// Para que nos serve a língua, o coração/ em salmo adiado, se a linguagem nos abandonou/ e nos sentámos na grande pedra/ a olhar o vazio/ a decifrar modos de sentido/ que nos traem, sempre/

fugindo na sombra dos dias.// Ē esta a pobreza/ que nos faz voar/ ao encontro das árvores/ e do céu.”

1 Jun 2017

Dia do adulto (com birra)

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]is-nos em Junho! Chegou o Verão, e com ele chega o calor insuportável, a chuva das monções,  os tufões, e o período em que começamos a contar os dias até desopilar daqui para fora por um mês ou menos, para “arrefecer o radiador”. Espero ainda que tenham aproveitado bem o feriado do Barco Dragão, da última terça-feira, que agora o próximo é só em Outubro. Sim, e para quem está no rectângulo, lembre-se de nós, “os sortudos de Macau”, quando estiver a levar a cabo as sardinhadas, os arraiais, os concertos pimba e tudo mais que arranca em Junho e só acaba em Setembro – e depois ainda se arranja mais qualquer coisinha, aposto.

Enquanto isso, é Macau porta-fora, porta-dentro. Ainda na segunda-feira de manhã saí de casa todo bem disposto, com aquela sensação de “falsa sexta-feira”, pois no dia a seguir era feriado. Eram oito e meia da manhã, uma hora perfeitamente razoável para percorrer 1200 metros a pé até ao buliço. Ou seria, não fossem os percalços começar logo à saída da porta. Um vizinho meu partiu recentemente uma perna (coitado) e resolveu nesse mesmo dia sair de casa à mesma hora que eu, acompanhado da anda de metal, proporcional à sua larga moldura, uma perna no chão e a outra pendurada (outra vez, coitado), a mulher a dar-lhe o braço, e atrás vinha o seu pai, com a cadeira de rodas. Isto tudo para caber dentro de um elevador com uma área de seis metros quadrados.

Saindo dez ou quinze minutos depois para ir passar a manhã toda a apanhar o tão necessário solinho, não me deixava a rogar-lhe pragas o dia todo. Até porque depois o elevador pára noutros andares, e lá vão as mui-muis e os pi-pis, acompanhados das avós e das empregadas, e normalmente nunca falta aquele senhor obeso que entra no quarto andar para sair na garagem dois pisos abaixo. É por isso que é gordo. Curiosamente em matéria de civismo ganha o meu vizinho do sétimo andar, um taxista dono de um cão daquelas raças tipo “mastim”, e que nunca entra no elevador se estiver acompanhado do animal. Trata-se aqui de uma muito honrosa excepção.

Depois na rua é outra aventura. A desvantagem de trabalhar quinze minutos a pé de casa é não se poder alegar um atraso por “greve dos transportes”, porque aqui também não há (greves, pois os transportes “vão havendo”). Mas andar na rua já foi mais fácil. Ainda nessa tal segunda-feira passada, evitei um individuo que vinha na minha direcção direito que nem um foguetão norte-coreano, enquanto olhava para o infinito, certamente à espera de ver a deusa A-Má montada num dragão. Enquanto noutros pontos podíamos sensibilizar o indivíduo no sentido de “olhar para onde anda”, nestas situações o melhor mesmo é ligar o escudo anti-míssil, e irmos à nossa vida, para evitar conversas de surdos.

Finalmente o último terço do percurso, mais sinal ou menos sinal vermelho lá se vai chegando a horas, por entre uma multidão de gente com a cara espetada no telemóvel a ler os comentários às fotografias pirosas que partilharam no fim-de-semana, ou a jogar ao “Bubble-qualquer-coisa” no Facebook. É tudo gente muito ocupada, a quem ainda foram dar essa enorme chatice que é ter que ir de manhã para o emprego. É a esses heróis que dedico este artigo, e não é com este discurso de tosse de catarro que estou a tentar educar ninguém. Sabe bem desabafar, e ainda por cima hoje tenho um desconto; se é o dia mundial da criança, porque não também do adulto com birra?

1 Jun 2017

Bárbara Eugenia e Tatá Aeroplano – “Dos Pés”

“Dos Pés”

O vento leva para tão longe
Bem distante
Aqui tão perto
Muito perto
Estão seus pés e só
Tenho pés, tenho dedos
Tenho plantas
Tenho planos

Minha vida
Onde foi
Minha memória
Não te peço nenhum risco
Nenhum giz
Só o seu amor

Nas ruas passeiam os pés
Os pés que pisoteiam o asfalto não são meus
Não são meus, nem são seus
Os seus andam com os meus
Curvas retas e até ladeiras

O nosso andar vai junto
Porque os meus pés são os seus
E os seus estão nos meus
Pés.

Barbara Eugenia e Tatá Aeroplano

31 Mai 2017

Ella Lei, deputada: “Vou fazer o meu melhor”

Os Operários ainda não tomaram uma decisão final mas, se tudo correr como espera, Ella Lei será de novo candidata à Assembleia Legislativa. Resta saber se alinha na corrida pelo sufrágio directo ou se vai tentar assegurar um assento por via das eleições de base corporativa. A deputada acredita que pode fazer mais na garantia de habitação e na defesa dos direitos dos trabalhadores locais

[dropcap]P[/dropcap]orque é que decidiu ser deputada?
Foi um processo muito longo. Quando acabei a licenciatura, comecei a trabalhar no escritório dos deputados ligados à Federação das Associações dos Operários de Macau (FAOM), na altura em que Kwan Tsui Hang e Tong Chi Kin estavam na Assembleia Legislativa (AL). No início, fui responsável por alguns casos e, devido à natureza da FAOM, normalmente estavam relacionados com trabalhadores. Como era assistente de deputados, escrevia comunicados e dava-lhes assistência nalguns casos que tratámos. Comecei a ter a sensação de que este tipo de trabalho era muito significativo, e tinha contacto com áreas como a lei de trabalho e a segurança social. Depois, por recomendação da FAOM, tornei-me representante dos trabalhadores no Conselho Permanente de Concertação Social, e comecei a participar nas discussões relativas às políticas. Já não era só tratar de casos, também era necessário dar a minha opinião no âmbito da definição de políticas. Apresentei ideias sobre como poderiam ser alteradas as leis, incluindo as que estão em discussão há muito tempo, como o salário mínimo, a lei relativa aos acidentes de trabalho e o regime de previdência. Durante o processo, percebi que é muito importante a fiscalização do Governo e o trabalho de melhoria dos problemas sociais através de legislação. É isso que sinto em relação ao meu trabalho e foi assim que acabei por ser deputada. 

Um dos assuntos que mais preocupa os cidadãos é o imobiliário. Que medidas é que devem ser adoptadas para travar os preços da habitação?
Temos de perceber para que serve o imobiliário numa região. É difícil ao Governo impor restrições aos preços no mercado privado, mas pode fazer outras coisas. Por exemplo, podem ser aumentados os encargos de quem usa a habitação como forma de investimento. Aqueles que têm mais do que uma casa devem pagar o mesmo de contribuição predial? É normal que uma família tenha uma ou duas casas para viver. O problema é que há pessoas com várias fracções residenciais e algumas não são aproveitadas. Esta ideia merece ser discutida. Não há terrenos suficientes, as casas que existem não servem para satisfazer as necessidades. Sentem-se dificuldades, nomeadamente, entre os jovens. Quer seja para comprar ou arrendar, o custo é muito elevado. Mas é claro que, mesmo que o Governo avance com políticas para aumentar fortemente os impostos no mercado imobiliário, se faltam terrenos não temos capacidade para resolver a questão. Sendo assim, só podemos atenuar a especulação. Não acredito que o Governo consiga diminuir facilmente os preços das casas. É importante que o Executivo aproveite as terras para responder às necessidades dos cidadãos. A habitação pública é muito importante. Na minha opinião, o Executivo deve aumentar o número de fracções públicas. Apesar dos projectos que há, a proporção da habitação pública representa uma percentagem pequena no total de fracções em Macau. As casas públicas totalizam apenas vinte e tal por cento das habitações totais. Por isso, além de precisarmos de políticas de controlo da especulação, precisamos de reservar terrenos para habitação pública. Isso também pode contribuir para combater o aumento dos preços das casas.

Qual é a melhor forma de melhorar a situação no acesso à habitação pública em Macau?
No último concurso que o Governo abriu houve mais de 40 mil pedidos, apesar de alguns não reunirem os requisitos necessários, de acordo com os serviços. No futuro, depois de concluídas as obras do aterro da zona A, teremos terrenos disponíveis para a construção da habitação pública. Assim sendo, o Governo deve abrir concursos de admissão de modo a conhecer as necessidades reais dos cidadãos, e planear a direcção da habitação pública no futuro.

O trânsito é outro problema de que a população se queixa. O que pode ser feito?
Em relação ao trânsito, perdemos uma oportunidade importante. No passado, era expectável que o metro ligeiro ligasse os principais pontos do território, tais como as fronteiras e linhas de acesso entre Macau e Coloane, de forma a atenuar a pressão sobre os serviços de autocarro. Mas perdemos essa oportunidade. O Governo declarou que o metro ligeiro entrará em funcionamento em 2019 só no segmento da Taipa, ou seja, não terá um impacto significativo, uma vez que exclui a península de Macau. Se chegasse à zona da Barra, ao menos ligaria Macau e a Taipa. Além disso, o Governo precisa de ter em conta os serviços de autocarro com base nos dados científicos. Sei que as companhias de autocarro estão equipadas com um sistema de avaliação da eficiência dos itinerários. Estes dados podem ser aproveitados para ajustar os percursos. Podem fazer-se rotas de uma forma mais “ponto a ponto”, sem muitas paragens, isso pode facilitar a deslocação dos residentes que vivem longe do centro como, por exemplo, quem mora em Seac Pai Van. Além disso, deve ser reforçada a frequência durante a época alta de turismo. Quero acrescentar ainda que a nova companhia de radiotáxis entrou em serviço há pouco tempo. Por outro lado, Macau é uma cidade boa para andar a pé. Se os transportes públicos não são capazes de resolver as necessidades dos cidadãos, o Governo deve promover a melhoria das instalações pedonais e ligar mais pontos entre diferentes zonas da cidade. Um bom exemplo disso foi a construção da via pedonal perto da Colina da Guia que liga a Zona de Aterros do Porto Exterior ao Tap Seac. Esta medida facilita a vida aos residentes e reduz a necessidade de autocarros. Os idosos também podem aceder a esta via pedonal com a ajuda de elevadores. Se o Governo apostar em medidas destas pode atenuar muito a pressão do trânsito. 

Macau tem uma taxa de desemprego muito baixa. Porque é que insiste na redução do número de trabalhadores não residentes (TNR)?
Actualmente, o número de TNR é de cerca de 180 mil. Na minha opinião, é necessário ajustar esse número através de políticas. Por exemplo, existe uma necessidade enorme de empregados domésticos, uma área com cerca de 20 mil TNR. Nestas áreas não existe grande polémica. Mas é necessário ajustar o número de TNR e dar prioridade aos locais. Para já, o Governo deve estudar a proporção de TNR e trabalhadores locais em cada área, saber onde os residentes locais podem desenvolver a sua carreira. Isso é importante. Não estamos a proibir plenamente a importação de TNR, mas achamos que deve ser uma acção regulamentada pelas leis do território, e que deve cumprir o princípio da primazia de trabalho aos residentes locais. Apesar da taxa de desemprego baixa em Macau, há situações que precisam de ser discutidas. Por exemplo, na construção civil. Há poucos dias falámos com o director dos Serviços para os Assuntos Laborais. Em comparação com o primeiro trimestre de 2015, a taxa de desemprego local no primeiro trimestre deste ano aumentou, bem como a taxa de subemprego. Isso deve-se às obras na zona do Cotai que existiam há uns anos. Naquela altura, os residentes locais conseguiam arranjar emprego. Mas com a diminuição de número de obras em curso, a situação de subemprego piorou. Ao mesmo tempo, o número de TNR da construção civil fixou-se em 30 mil e continua a aumentar. O Governo precisa de resolver a dificuldade da população local em arranjar emprego. É um facto que a taxa de desemprego em Macau está num nível muito baixo, mas existem outros problemas tais como violação de direitos de trabalhadores e dificuldades na progressão na carreira. O Governo diz sempre que “a taxa de desemprego do nosso território é muito baixa, e tal tal tal”, como se não houvesse qualquer problema na política de TNR. A taxa de desemprego é só um factor na análise. Somos contra actos de importação excessiva e desordenada de TNR, que violem os direitos e interesses dos residentes locais.

Com a chegada do fim da actual legislatura, que balanço faz do seu trabalho enquanto deputada?
Entrei na AL através de sufrágio indirecto. Em primeiro lugar, quanto aos assuntos laborais, acho que houve progressos positivos com algumas leis que foram aprovadas. Por exemplo, trabalhámos muito no regime do contrato de trabalho nos serviços públicos, que foi apreciado em 2015. O salário mínimo avançou um pouco e precisa de definição, mas é um assunto que tem de ser resolvido até 2019. Houve pequenos avanços na legislação no que diz respeito aos acidentes de trabalho, quanto à obrigatoriedade de haver seguro de saúde nos dias de tufão de nível 8. Noutras áreas houve maiores avanços. Mas há aspectos que precisamos de melhorar na próxima legislatura, por exemplo, na sobreposição e compensação de férias, e na licença de paternidade. Por outro lado, o Governo está ainda a trabalhar no regime de previdência central não obrigatório. É necessário pensar-se num próximo passo para aperfeiçoar o regime. Em relação à fiscalização ao Governo através de comissão de acompanhamento, consegui fazer com que o Executivo prestasse atenção a alguns assuntos sociais. Por exemplo, no futuro precisamos de fazer mais para melhorar a vida dos idosos em vez de termos só o fundo de segurança social. Depois, há preocupações sobre a forma como o Governo gasta dinheiro nas obras públicas, nomeadamente no que toca a derrapagens orçamentais, falta de fiscalização e obras em atraso. Quando saíram relatórios do Comissariado contra a Corrupção e Comissariado da Auditoria, a AL avançou logo com trabalhos para dar seguimento às situações verificadas. Penso que os cidadãos querem que fiscalizemos as despesas do Governo, de modo a prevenir que se repitam erros do passado. Não podemos gastar dinheiro sem razão justificada.

Quais os assuntos que gostaria de ver discutidos na próxima legislatura?
Quero avançar com trabalhos de alteração às políticas de habitação, a que toda a gente presta muita atenção. A revisão de regulamento do sector dos táxis, que por causa do fim da actual legislatura ficou ainda por fazer. A definição do salário mínimo será uma prioridade. Também acho que o Governo deve imprimir urgência às propostas de lei que têm o seu compromisso, e levá-las à AL para que sejam realizadas de modo mais rápido possível. Por vezes, o Governo entrega as propostas à AL com urgência, sem dar tempo suficiente para apreciarmos a proposta. Esses aspectos precisam de ser melhorados através da melhoria de regimes.

Pensa, portanto, em recandidatar-se à AL?
A nossa equipa ainda não submeteu a candidatura. Quanto a mim, vou fazer o meu melhor. Espero poder continuar a fazer este tipo de trabalho, mas a decisão final depende da nossa equipa.

Vai candidatar-se pelo sufrágio directo?
Vou preparar-me. Se a nossa equipa decidir que me candidato por sufrágio directo tenho de me preparar para isso. A decisão final será confirmada quando submetermos oficialmente a nossa candidatura, porque tem de ser tomada pela nossa equipa.

31 Mai 2017

Obras viárias | Coutinho exige responsabilidades ao Governo

O deputado José Pereira Coutinho pede que o Governo assuma as responsabilidades sobre os problemas verificados ao nível das obras viárias. É também pedido um reforço dos recursos humanos na área da fiscalização

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] último relatório do Comissariado de Auditoria (CA) expôs os problemas existentes com a coordenação das diversas obras viárias que têm vindo a ser realizadas no território. Mesmo que o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) já tenha prometido melhorias a esse nível, o deputado José Pereira Coutinho exige uma maior responsabilização das autoridades.

“Vai o Governo assacar responsabilidades pelo facto de as autoridades competentes não terem aplicado medidas sancionatórias aos infractores pela execução das obras nas vias públicas?”, começa por questionar numa interpelação escrita enviada ao Governo.

Coutinho defende ainda que deveriam ser aplicadas sanções disciplinares aos responsáveis pelos problemas detectados pelo CA. “De acordo com o relatório do CA, em 36 obras atrasadas havia demoras entre dois a 72 dias, perfazendo um total de 1019 dias de incumprimento sem que fossem assacadas responsabilidades sancionatórias. Vai o Governo exigir responsabilidades disciplinares e outras que eventualmente existam, por negligência no exercício de funções públicas?”

O deputado e presidente da Associação dos Trabalhadores da Função Pública de Macau pede ainda que haja um reforço de recursos humanos por parte do IACM e da própria Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT).

“Vai o Governo reforçar os recursos humanos na área da fiscalização com a finalidade de serem cumpridas as obrigações, deveres legais e contratuais derivado dos contratos celebrados entre as autoridades competentes e os particulares?”, questionou.

Queixas de Janeiro

Na sua interpelação, o deputado lembrou que já em Janeiro deste ano, ou seja, muito antes da divulgação do relatório do CA, vários cidadãos se queixavam do excesso de obras nas vias públicas e de como isso afectava o seu dia-a-dia.

“No dia 5 de Janeiro interpelei o Governo com o facto de muitos cidadãos terem apresentado queixas ao nosso gabinete de atendimento face ao elevado número de obras executadas nas vias públicas de uma forma descoordenada, que sistematicamente tem vindo a afectar a vida dos cidadãos, principalmente na entrada e saída dos empregos e na deslocação de alunos entre a casa e escola”, escreveu.

O director da DSAT terá dito que iria promover uma melhoria dos serviços nessa área. Lam Hin San referiu que, este ano, “o grupo de coordenação das obras viárias iria continuar a aprofundar e optimizar a coordenação e gestão mediante a classificação das vias, o controlo do número de obras na mesma zona e a sua duração, bem como a criação de um mecanismo de prémios e sanções em função da conclusão antecipada ou atrasada nos concursos realizados pelas concessionárias.”

Na visão de Lam Hin San, esses trabalhos de optimização tinham como objectivo “encurtar os prazos de execução das obras e minimizar o impacto causado às deslocações na cidade”.

31 Mai 2017

Chui Sai On reuniu com presidente da Foxconn

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]acau tem condições para diversificar a sua economia no sector do turismo da saúde. A ideia foi deixada na segunda-feira por Terry Gou, presidente e fundador da empresa Foxconn do Grupo Hon Hai, num encontro com o Chefe do Executivo Chui Sai On.

Terry Gou é da opinião de que Macau e a Ilha da Montanha têm os requisitos necessários para desenvolverem  condições para desenvolverem  a diversificação económica na área da saúde. O sector da cosmética é a apontado pelo presidente da Foxconn como a área em que o território deve apostar. Por outro lado, as exposições e convenções representam também um alvo a investir quando se trata de diversificação a economia local.

No mesmo encontro, o Chefe do Executivo de Macau apontou que a cooperação entre o Governo e a Ilha da Montanha de Zhuhai baseia-se no “Acordo-Quadro de Cooperação Guangdong-Macau”. Para Chui Sai On, o acordo representa  “o empenho do Governo da RAEM na cooperação regional e no estabelecimento de uma relação de cooperação amigável a longo prazo com a Província de Guangdong”, lê-se no comunicado enviado à comunicação social.

Chui Sai On não deixou de sublinhar o desenvolvimento que o  Parque Científico e Industrial de Medicina Tradicional Chinesa tem tido deixando em aberto uma possível colaboração com o Grupo de Cuidados de Saúde de Terry Gou.

31 Mai 2017

AL defende ajustamentos na legislação sobre troca de informações fiscais

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s deputados da Assembleia Legislativa (AL) votam hoje na especialidade a proposta de lei relativa à troca de informações em matéria fiscal. Contudo, a 1ª comissão permanente da AL alerta para a possibilidade de alterações após a entrada em vigor do diploma.

“A comissão entende que é adequado, após a vigência da lei e tendo em conta as experiências obtidas e os respectivos critérios internacionais, proceder ao respectivo aperfeiçoamento, bem como reservar tempo suficiente para efeitos de apreciação legislativa”, lê-se no parecer jurídico.

“Não se exclui a hipótese de se ajustar e aperfeiçoar algumas normas no âmbito operacional, a fim de corresponder às exigências da comunidade internacional”, acrescenta ainda o documento.

A comissão alerta ainda para o facto de ser necessário tempo para ver os resultados práticos da legislação. “Como os acordos só poderão ser assinados após a entrada em vigor da presente proposta de lei, e uma vez que a primeira troca automática de informações vai ser aplicada em 2018, o resultado da troca automática de informações das diversas jurisdições ainda está a ser visto, e as instruções estão também a ser praticadas e examinadas.”

“Como se está na fase inicial da implementação dos padrões internacionais, é provável que existam, na prática, muitas dificuldades desconhecidas, e que haja lugar, a curto prazo, da alteração desses padrões devido ao funcionamento prático e à tendência internacional”, afirma o parecer.

GPDP não foi ouvido

Durante o processo de auscultação dos sectores bancário e financeiro sobre esta matéria, o Governo deixou de lado o Gabinete de Protecção de Dados Pessoais (GPDP). Os deputados da 1ª comissão permanente questionaram este facto.

“A comissão exortou o proponente a encontrar um equilíbrio entre a troca de informações fiscais e a protecção dos dados pessoais, indagando junto do proponente os motivos da ausência de consulta de opiniões junto do GPDP sobre a proposta de lei.”

O Governo considerou que não houve necessidade de ouvir o organismo pelo facto das informações fiscais dos titulares das contas estarem protegidas por mecanismos internacionais no âmbito da OCDE. Além disso, a Direcção dos Serviços de Finanças (DSF) “está muito preocupada com a protecção das informações em termos práticos”, estando a preparar a instalação de equipamentos e a adopção de provas de certificação de dados até ao final deste ano, aponta o parecer.

A comissão refere ter “levantado muitas questões”, alertando para o trabalho prático que ainda falta fazer após a implementação do diploma. “Que se saiba, Macau adopta o modelo de acordo bilateral, mas até ao momento ainda não foi celebrado qualquer acordo quanto à troca de informações a realizar em 2018”, explica.

Tal significa que “para cumprir o compromisso de efectuar, em 2018, a troca de informações com as partes contratantes interessadas, há ainda muito trabalho a fazer no âmbito da criação de uma base legal e a celebração de acordos entre as autoridades competentes, que abrangem detalhes técnicos”, remata o documento.

Actualmente Macau tem 21 acordos assinados relativos à troca de informações a pedido, incluindo cinco acordos para evitar a dupla tributação e prevenir a evasão fiscal em matéria de impostos sobre o rendimento, um deles com Portugal. Foram ainda assinados 16 acordos de troca de  informações em matéria fiscal.

31 Mai 2017

Transportes | Governo confiante na procura do novo terminal marítimo

O secretário para os Transportes e Obras Públicas diz estar “confiante na procura crescente” do novo Terminal Marítimo de Passageiros da Taipa. A estrutura entra em actividade amanhã, 12 anos após o início da construção, mas sem alguns serviços de apoio

[dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] um mega projecto que entra em funcionamento amanhã. Com uma área de 200 mil metros quadrados, o Terminal Marítimo de Passageiros da Taipa vai ter capacidade para receber 400 mil passageiros por dia, oferecendo ligações a Hong Kong e a Shenzhen – as mesmas que já eram asseguradas pelo terminal provisório, a funcionar desde 2007, que será encerrado e demolido.

O novo terminal, que tem uma ligação directa ao aeroporto, entra em funcionamento com oito de 16 lugares de atracação.

“O tempo encarregar-se-á de resolver esse problema. Para já, toda a operação que estava a decorrer no terminal provisório passará para aqui (…) e penso que as condições são bastante melhores”, disse o secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, à margem de uma conferência de imprensa e visita ao terminal.

“Estamos confiantes de que haja uma procura crescente deste terminal”, sublinhou.

Dos 30,9 milhões de visitantes que Macau recebeu ao longo de 2016, mais de um terço (ou 10,7 milhões) chegaram por via marítima, de acordo com dados oficiais.

No primeiro trimestre deste ano, 2,55 milhões de visitantes utilizaram o jetfoil como meio de transporte para o território, dos quais 957.631 pelo terminal provisório, que hoje deixa de funcionar.

O que ainda falta

Quanto à nova infra-estrutura, entra em funcionamento sem zona comercial e de restauração. Raimundo do Rosário explicou que já foi encontrada uma empresa por concurso público para a exploração dos espaços comerciais – o grupo CSI – mas que até à respectiva entrada em operação no terminal serão apenas disponibilizadas máquinas de venda automática.

“Infelizmente, essa parte não ficou resolvida como nós gostaríamos. Houve algumas questões que fizeram atrasar todo este processo mas, entretanto, ainda que as condições não sejam as melhores, decidimos manter a data da inauguração e iniciar a operação neste terminal o mais cedo possível”, disse o secretário.

“Peço paciência às pessoas porque vai demorar algum tempo até que todos os serviços de apoio funcionem normalmente, mas faremos o possível para encurtar esses prazos”, acrescentou.

A segunda fase do novo Terminal Marítimo de Passageiros da Taipa também contempla um heliporto na cobertura, com capacidade para cinco helicópteros e pista de descolagem e aterragem, um projecto que ainda não tem data definida.

“O serviço de helicópteros continuará a operar no terminal do Porto Exterior. Neste momento não temos uma data para transferir essa operação para aqui”, afirmou Raimundo do Rosário.

O novo Terminal Marítimo de Passageiros da Taipa começou a ser construído em 2005, mas sofreu uma série de alterações, que elevaram o orçamento até 3,8 mil milhões de patacas, ou seja, seis vezes mais do que o inicialmente previsto.

O terminal provisório vai ser demolido e, no âmbito da terceira fase do projecto, vai dar lugar a infra-estruturas de apoio ao definitivo, como depósitos de combustíveis e um quartel de bombeiros.

31 Mai 2017

Saúde | Seis novos casos de HIV até Abril

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] teste para a detecção da SIDA e o modo como os doentes estão a ser tratados em Macau correspondem aos padrões internacionais, garantiu o director dos Serviços de Saúde. De acordo com Lei Chin Ion, que presidiu à primeira reunião do ano da Comissão de Luta contra a SIDA, as estatísticas indicam que foi inibido o vírus de 93 por cento das pessoas infectadas que estavam a ser acompanhadas no Centro Hospitalar Conde de São Januário.

“Por outras palavras, Macau conseguiu alcançar uma das metas do programa ‘90-90-90’ (ou seja, 90 por cento dos infectados receberam tratamento) proposto pela UNAIDS”, referiu o responsável, citado em comunicado oficial.

Durante a sessão, foram apresentados os dados mais recentes em relação à doença. Nos primeiros quatro meses deste ano, foram registados em Macau um total de seis casos declarados de VIH de residentes locais: três foram infectados por transmissão homossexual, dois por via de relações heterossexuais e o restante é de transmissão desconhecida.

“De um modo geral, Macau ainda é uma região com baixa taxa de infecção”, indica o comunicado oficial que ressalva, porém, que nos últimos dez anos houve “um grande aumento de casos de infecção de residentes locais”. Em 2016, o número subiu consideravelmente em comparação com os anos anteriores. A comissão atribui o fenómeno à “forte divulgação de informações” sobre o teste rápido de detecção do vírus.

31 Mai 2017

“Uma Faixa, Uma Rota” | Fundação Macau lança bolsas de estudo

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]rrancaram esta semana as candidaturas para as bolsas de estudo da Fundação Macau ao abrigo da iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”. Os interessados podem tentar a sua sorte até ao próximo dia 12.

“A criação da bolsa de estudo ‘Uma Faixa, Uma Rota’ visa promover a internacionalização do ensino superior e o desenvolvimento diversificado de Macau”, diz a Fundação Macau.

Em paralelo, pretende “reforçar e estreitar as relações de amizade entre Macau e os países e regiões abrangidas pela iniciativa, nomeadamente os países de língua portuguesa e do Sudeste Asiático, de modo a incentivar o intercâmbio entre estudantes e preparar recursos humanos qualificados para a concretização, em conjunto, da iniciativa ‘Uma Faixa, Uma Rota’”, acrescenta o organismo em comunicado.

O programa, com a duração de cinco anos, prevê disponibilizar um total de 150 vagas para dois tipos de bolsas de estudo: uma no exterior e outra em Macau. Actualmente, encontram-se abertas as candidaturas para a primeira, para a qual existem 20 vagas disponíveis para o próximo ano lectivo.

Dez destinam-se a residentes permanentes da Macau que estejam no último ano do ensino secundário e pretendam frequentar uma licenciatura no Brasil, Malásia, Indonésia e Filipinas; enquanto as outras dez a estudantes de Guangdong e Fujian que sejam finalistas do curso de licenciatura em Macau e queiram frequentar um mestrado nos mesmos países, bem como em Portugal.

O montante da bolsa a atribuir varia entre 60 mil e 80 mil patacas, dependendo do local de estudo. A lista final dos bolseiros vai ser divulgada até ao final de Julho.

31 Mai 2017

Economia | PIB aumentou 10,3 por cento no primeiro trimestre

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] economia de Macau cresceu 10,3 por cento em termos reais no primeiro trimestre deste ano, em relação ao mesmo período de 2016. O PIB está a ser impulsionado pelo crescimento do jogo e as melhorias do investimento.

Os dados são da Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC): o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nos primeiros três meses deste ano foi de 10,3 por cento, em comparação com o mesmo período do ano passado, superior ao do quarto trimestre do ano passado, altura em que se fixou em sete por cento.

A contínua melhoria das exportações de serviços e do investimento foi um dos factores apontados para justificar o crescimento da economia, a par da menor base de comparação no primeiro trimestre do ano passado.

“A procura externa manteve-se expandida, impulsionando o crescimento anual de 13,4 por cento das exportações de serviços. Destacam-se os aumentos de 11,3 por cento nas exportações de serviços do jogo e de 20,9 por cento nas exportações de outros serviços turísticos, tendo subido 9,7 por cento as exportações de bens”, lê-se num comunicado da DSEC.

Por outro lado, a procura interna subiu, “com acréscimos anuais de 1,6 por cento na despesa de consumo privado, de 4,8 por cento na despesa de consumo final do Governo e de 4,6 por cento no investimento, tendo também subido 5,2 por cento as importações de bens”.

“Simultaneamente, o deflator implícito do PIB, que mede a variação global de preços, ascendeu ligeiramente 0,5 por cento, em relação ao mesmo trimestre de 2016”, refere.

Mais gastadores

Já a despesa do consumo privado “aumentou 1,6 por cento, face ao primeiro trimestre de 2016, invertendo a tendência decrescente do trimestre anterior, devido ao panorama favorável do mercado de emprego, ao alívio da pressão resultante da inflação e ao ambiente de consumo durante as festividades”.

“A despesa de consumo final das famílias cresceu 1,3 por cento no mercado local e 4,9 por cento no exterior”, acrescenta.

A despesa de consumo final do Governo registou um “aumento anual de 4,8 por cento no primeiro trimestre de 2017”, contrastando “com o crescimento nulo do quarto trimestre de 2016”.

Além disso, “salientam-se as subidas de 3,7 por cento nas remunerações dos empregados e de 6,5 por cento nas aquisições líquidas de bens e serviços”.

“O investimento continuou a melhorar. A formação bruta de capital fixo (que reflecte o investimento) registou uma subida homóloga de 4,6 por cento, superior à do quarto trimestre de 2016 (+0,2 por cento)”, refere a DSEC.

No mesmo período, o investimento do sector privado aumentou um por cento em termos anuais, e o aumento do investimento em construção abrandou para 3,3 por cento, “devido principalmente à redução do investimento em obras de grandes empreendimentos de turismo e entretenimento”, tendo sido ainda registada uma queda de 13,3 por cento no investimento privado em equipamento.

“Em termos anuais, subiu significativamente (75,3 por cento) o investimento do sector público, impulsionado pelos acréscimos substanciais de 73,9 por cento em construção e de 132,6 por cento em equipamento”, adianta.

No primeiro trimestre deste ano, o PIB de Macau situou-se em 93,58 mil milhões de patacas. Em 2016, o PIB de Macau foi de 358,2 mil milhões de patacas.

31 Mai 2017

Análise da jornada da Liga de Elite | Campeonato até ao fim

Por João Maria Pegado

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]ábado quando todos esperavam uma vitória do Benfica De Macau e com esses três pontos afastar o Monte Carlo da luta pelo título da liga, eis que os canarinhos dizem presente e arrancam uma valiosa vitória sobre o campeão em título. Monte Carlo 2 vs 1 Benfica de Macau. O mérito desta vitória, para além dos jogadores canarinhos, terá que ser dado ao técnico Claudio Roberto.

No jogo anterior entre estas duas equipas tinha sido criticado aqui neste espaço por mim, por não ter potencializado o melhor que tem na sua equipa, o ataque. Neste jogo subiu as linhas para junto do ataque mantendo a sua equipa muito compacta e não deixando espaço entre linhas para o Benfica organizar o seu ataque posicional como tanto gosta. Desta forma a partida tornou-se num jogo de transições rápidas onde o Monte Carlo é mais forte.

Por parte da equipa de Henrique Nunes o que ficou mais visível foi a forma desconcentrada com que encararam este jogo decisivo e a atitude pouco aguerrida com que entraram em campo. Exemplo disso foi o canto que originou o primeiro golo do Monte Carlo. Na parte da finalização os encarnados não tiveram das suas melhores noites com muitos golos falhados ao contrário dos canarinhos que tiveram dois golos de grande execução técnica.Com este resultado o Monte Carlo reduz para 1 ponto a diferença em relação ao Benfica.

Em terceiro, a dois pontos do primeiro classificado, está o CPK, que na sexta feira derrotou o Kei Lun. CPK 2 Vs 1 Kei Lun.

Contudo não foi uma vitória fácil para os pupilos de Inacio Hu. Depois de estarem em vantagem ainda na primeira parte, a equipa de Josi Cler empatou logo no reatar da segunda parte levando a incerteza ao até ao final, com o desbloqueio a acontecer numa bela jogada protagonizada por Vinicius Akio, entrado aos 58 minutos para o lugar de Vitor Almeida. Akio fez um belo passe para Ho Ka Seng que só teve que encostar para a baliza e fazer o golo da vitória a 10 minutos do fim. Este golo coloca o CPK a dois pontos do líder, a duas jornadas do fim e com menos um jogo. Na próxima jornada defrontará o líder e em caso de vitória a meio da semana contra os Sub23, poderá entrar em campo contra o Benfica na primeira posição.

Manutenção ao rubro

Tudo na mesma em relação a luta pela manutenção. No sábado Policia 1 Vs 1 KaI. A equipa de Ka Li Man esteve em vantagem até bem perto do final e quase que conseguia os três pontos importantíssimos para a manutenção, algo que será muito difícil visto ter que jogar os últimos dois jogos frente ao segundo e terceiro classificado.

No domingo realizaram-se as outras duas partidas, Development Team 3 Vs Chuac Lun 3, a equipa do Development esteve a ganhar por 2-0 e mas permitiu a reacção do Chuac Lun na segunda parte que virou o resultado, mas entretanto no último minuto os jovens macaenses conseguiram o golo do empate, que impossibilitou o assalto da equipa de João Rosa ao quarto lugar por troca com Kei Lun.

No último jogo da jornada verificou-se mais um empate. Sporting 1 Vs 1 Lai Chi. Os leões de Macau viram a oportunidade de garantir já a manutenção gorada devido a uma segunda parte de fraco nível depois de uma primeira parte onde a equipa apresentou algumas mudanças no onze mas que mereceu a vantagem que detinha ao intervalo. Com os empates de Policia, Development Team e Sporting, fica tudo igual para as últimas duas jornadas, sendo que o Lai Chi será uma certeza na segunda divisão. Resta um lugar e quem perdeu mais uma jornada foi o grupo da Policia.

Nota negativa para Associação De Futebol de Macau

A irresponsabilidade continua a reinar na principal prova da Associação. No jogo entre Policia Vs Ka I, o jogador da Policia após um lance disputado de forma leal com um adversário, deslocou a clavícula. Um lance normal no futebol mas o que não é normal é um jogador ter que ficar 20 minutos no chão sem assistência por não haver ambulância nem paramédicos presentes no estádio, nem um saco de primeiros socorros. Triste!

Homem da jornada Anderson de Oliveira #5 Monte Carlo

Grande responsável pela vitória importantíssima do seu clube, travou uma luta praticamente sozinho no meio campo contra os médios centros do Benfica, onde quase sempre levou a melhor. Capacidade física impressionante, excelente recuperador de bolas devido a um sentido posicional acima da média. Um dos bons estrangeiros do nosso campeonato.

31 Mai 2017

MAM recebe “Cem Espécies – Obras de Peggy Chan”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Museu de Arte de Macau (MAM) organiza, sob a alçada do Instituto Cultural, uma exposição de Peggy Chan, artista local com uma paixão pelo cianótipo, um processo antigo de impressão fotográfica. A inauguração de “Cem Espécies – Obras de Peggy Chan” é amanhã e estará aberta ao público até 13 de Agosto.

O espaço da exposição foi concebido com a ideia de reproduzir o “estúdio experimental” da artista. Os visitantes são convidados a observar os diversos tipos de materiais e imagens artificiais que buscam explorar a relação entre o ser humano e a natureza.

O fio condutor das criações de Peggy Chan patentes nesta mostra é a ideia do impacto da sociedade moderna no meio ambiente. Os danos ecológicos que provocamos espelham-se em estruturas caóticas e na disfuncionalidade de ecossistemas inteiros. Esta acção do Homem tem como consequência a extinção de várias espécies e, inclusivamente, coloca o próprio ser humano em risco.

Estes são os pontos de partida para o trabalho da artista, que através do cianótipo, um ancestral processo de impressão fotográfica baseado no tempo de exposição à luz, captura a relação entre o indivíduo, a cidade e a natureza. O resultado é uma sobreposição de conceitos através de colagens paradoxais e da visão muito peculiar da artista.

Filtros do dia

As obras reflectem as observações indirectas e perceptivas de eco-fenómenos do quotidiano. A exposição espelha a realidade filtrada pela visão de Peggy Chan, na tentativa de perceber se existem regras que governem a relação entre espécies, ambiente e a evolução estranha que se perspectiva.

Peggy Chan nasceu em Macau e licenciou-se em Belas Artes no Instituto Real de Tecnologia de Melbourne com a especialidade de pintura. Experimentou diversos meios tais como a pintura, fotografia, vídeo e instalação, até se apaixonar pelo cianótipo, que está no cerne da exposição que inaugura esta quinta-feira.

“Cem Espécies –  Obras de Peggy Chan”, estará patente ao público no MAM e tem entrada livre.

31 Mai 2017

Ilha de Hengqin | Armazém do Boi acolhe exposição de fotografia

A terceira edição da exposição de fotografias que retratam o desenvolvimento da Ilha de Hengqin começa este sábado. Os trabalhos, da autoria de sete fotógrafos de Macau, estarão expostos no Armazém do Boi até 16 de Julho

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s investimentos anunciados na vizinha Ilha de Hengqin, também conhecida como Ilha da Montanha, têm levado a profundas transformações no pequeno território do continente e nas vidas que o povoam.

Sete fotógrafos de Macau deram seguimento a um trabalho de recolha de imagens que retratam estas transformações, iniciado em 2011. A terceira edição da exposição “Following The Changes in Hengqin’ 2011-2014-2017” é inaugurada já este sábado no Armazém do Boi, estando patente até ao dia 16 de Julho.

Tudo começou em 2011, quando Frank Lei Ioi Fan, o mentor do projecto, fez o primeiro trabalho sobre as pequenas aldeias que, aos poucos, vão sendo sugadas pelas torres de betão e pelo desenvolvimento económico. Esse projecto teve como título “The Disappearing Neighbouring Villages – Rediscovery of Hengqin Island Photographic Exhibition”. Em 2015, houve uma sequela, com o nome “Below Laobeishan: Hengqin Today Photos and Videos Creative Exhibition”.

Segundo um comunicado do Armazém do Boi, Frank Lei e os restantes fotógrafos têm procurado retratar o constante e rápido desenvolvimento da Ilha de Hengqin, “documentando as mudanças drásticas que afectaram a sociedade e a vida das pessoas desde que o Governo Central lançou o Plano Geral de Desenvolvimento de Hengqin, em 2009”.

A nova edição da exposição que agora se inicia “conta a história de Hengqin através da perspectiva de sete fotógrafos”, contando também com uma selecção de alguns trabalhos já exibidos entre 2011 e 2014.

O Armazém do Boi vai também compilar e publicar a obra “The once dusty land – Images of Hengqin: 2011-2014-2017”, enquanto documento visual periódico. A exposição tem entrada livre e conta com apoio da Fundação Macau.

31 Mai 2017

China | Governo planeia dar continuidade à abertura do país

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China tem actualmente em mãos planos para alargar os limites de propriedade por entidades estrangeiras em sectores como a electrónica automóvel, baterias de veículos movidos a novas energias e motociclos, numa altura em que o país altera o campo de acção do mundo dos negócios, segundo declarou o porta-voz do Ministério do Comércio na quinta-feira passada.

Sun Jiwen disse que o governo tem vindo a expandir os seus esforços no sentido de abrir ainda mais o sector manufactureiro de ponta ao investimento estrangeiro.

Sun disse, durante uma conferência de imprensa em Pequim, que uma versão revista do Catálogo para a Orientação das Indústrias de Investimento Estrangeiro será lançada e validada num futuro próximo.

Resposta pronta

Os comentários de Sun surgem no seguimento das afirmações da ministra da Economia alemã, Brigitte Zypries, nas quais referiu que os limites do investimento estrangeiro da China não são consentâneos com a posição do país no comércio livre internacional.

Sun enfatizou que a absorção de investimento estrangeiro é uma parte importante da política de abertura chinesa. O governo chinês, reiterou, tem movido esforços no sentido de abrir progressivamente o país, seguindo as normas da OMC.

De acordo com dados do ministério, o investimento directo estrangeiro totalizou 286,4 mil milhões de yuans nos primeiros quatro meses deste ano, uma queda de 0,1% face ao ano anterior.

Durante o período homólogo, 9,726 empresas internacionais estabeleceram-se ao longo do país, um aumento de 17,2% face ao mesmo período no ano passado.

Juntamente com o sector manufactureiro, a orientação deverá oferecer mais acesso ao investimento estrangeiro no sector de serviços e na indústria mineira, bem como reduzir o número de medidas restritivas de 93 para 62.

31 Mai 2017

As 72 virgens

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s religiões que conheçam postulam, todas elas, um paraíso. Este cumpre a função de resolver da morte e da sombra que esta projecta sobre todo e qualquer homem, sem excepção. Epicuro tenta solucionar lógica e friamente o medo associado à inevitabilidade da morte dizendo “enquanto somos, a morte não é; quando a morte é, não somos”. Desde logo, nada a recear, aparentemente. O problema é que o ponto de vista humano não é nem como o dos animais – completo mas cego para si próprio – nem como o dos deuses – completo e absolutamente transparente para si próprio. A forma como estamos desenhados permite-nos pensar em coisas que não existem de todo – ou ainda – ou às quais não temos um acesso adequado como, por exemplo, o infinito, deus ou o futuro. E a forma como vemos o futuro, ela própria, é paradoxal: por um lado, sabemos que vamos morrer e que isso pode acontecer a qualquer momento e, por outra parte, vivemos como se a morte fosse uma coisa que acontecer “aos mais velhos”, “aos doentes”, “àqueles que moram em países assolados pela guerra ou pela fome”, em suma, aos outros. Não conseguimos imaginar a morte própria. O mais perto que conseguimos chegar disso é imaginando a procissão de carpideiras num funeral em que somos, simultaneamente, figura principal e espectador invisível.

O paraíso cristão abjura a figura do corpo. É a alma que é sujeita a condenação ou salvação. De um ponto de vista lógico, é uma posição extremamente bem urdida: não somente elimina o problema do corpo e do seu perecimento, como a logística necessária para manter um paraíso em risco permanente sobrelotação. As almas, como se sabe, não ocupam espaço, não adoecem e são (postula-se) imortais. Não faz qualquer sentido trazer para o paraíso o plano vectorial onde acontece o desejo e a dor, em suma, o plano que possibilita a instalação de todas as formas imagináveis de desordem. O lado negativo da teologia cristã consiste na forma como o corpo é negativamente encarado em vida. Mas como o paraíso tem uma duração infinitamente superior a este “passeio no parque” a que chamamos vida, a troca parece ser, em todo o caso para o crente, vantajosa.

No caso do paraíso muçulmano, porém, a história é de todo diferente. No paraíso muçulmano, não somente o corpo existe, como existe de um modo intensamente sensual. Aos homens estão prometidas setenta e duas virgens com seios em forma de pêra, puríssimas, eternamente jovens e livres de alguns inconvenientes reservados aos corpos na terra: não menstruam, não urinam e não defecam. Em jeito de cereja no topo do bolo, diz-se também, e perdoe-se desde já a tradução livre de “appetizing vaginas”, que estas possuem como característica constitutiva, embora sendo virgens, “vaginas gulosas”.

A primeira pergunta que se pode fazer acerca deste paraíso – deixando para Deus a resolução do problema de espaço – é sobre a natureza problemática da virgindade num local em que o principal atributo é a eternidade. Quando tempo duram setenta e duas virgens no paraíso (pressupondo a virgindade um atributo fundamental, visto ser tão vincada na promoção do paraíso)? Tendo em conta os textos fundamentais da teologia muçulmana, nos quais se postula que os homens têm erecções eternas e que podem satisfazer mais de cem mulheres de seguida, muito pouco. Setenta e duas virgens não enchem nem a cova de um dente. A eternidade é muito tempo.

A forma como a sexualidade é vivida nos países nos quais a ortodoxia muçulmana está mais profundamente instalada condiciona decerto esta visão do paraíso. Na Arabia Saudita, exemplo máximo de uma concepção radical do islão, duas pessoas do sexo oposto não podem ser vistas juntas em público, sob pena de serem castigadas pela polícia dos costumes, uma dependência do Ministério da Promoção da Virtude e da Abolição do Vício. A sexualidade, que não se subsume nem por decreto real, acaba por obedecer à regra “where there’s a will, there’s a way” e as pessoas, impedidas de dar azo aos seus impulsos na forma como os sentem e como optariam exprimi-los, acaso o pudessem, adoptam soluções de recurso. Os comportamentos homossexuais, como no cárcere ou numa viagem de barco de longo curso, acabam por impor-se. E, mesmo nos casos em que a disposição fundamental é a homossexualidade, não sendo esta um recurso para algo que não tem possibilidade de cumprir-se, o comportamento não define a identidade. Por exemplo, não se considera homossexual o sujeito activo da relação, só aquele “que fica por baixo”. Sendo certo não ser possível ficarem todos “por cima”, a formulação é semelhante a que um professor meu de filosofia dava pelo nome de paradoxo mediterrânico, que se exprimia pela contradição em termos entre “todas as mulheres terem de ser castas e todos os homens, fodilhões”.

Viver desta forma absolutamente condicionada aquilo que, mesmo numa sociedade laica e tolerante, pode ser um problema fundamental da existência, a saber, a sexualidade, não pode não ter consequências. E se é certo esta leitura repousa na consideração de um sistema de variável única, não é menos certo que esta é uma variável que tem sido incompreensivelmente posta de parte nas leituras que tenho tido oportunidade de encontrar um pouco por toda a parte.

31 Mai 2017

Leitura na festa literária de Angola

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o início da Metafísica de Aristóteles, lê-se “o ser diz-se de muitas maneiras”, e podemo-lo afirmar para a poesia. Vários foram os períodos da história, e não longe de nós, em que se afirmava que a poesia deveria ser desta ou daquela maneira e não de outra. Por exemplo, muitos viram na poesia concreta aquilo que deveria ser a poesia, relegando para o passado ou um não-sentido toda a poesia que não fosse concreta. Mais recentemente, muitos afirmaram que só a poesia do quotidiano era realmente poesia, tudo o resto era história da poesia ou má poesia, que o mesmo seria dizer “não poesia”. Em Portugal, no período salazarista, também tivemos as nossas guerras poéticas, por exemplo entre os poetas da Presença e os poetas do Neo-realismo. Ambos pretendiam que a poesia fosse aquilo que cada um deles pensava ser. Mas também podemos invocar as hostilidades entre neo-realistas e surrealistas. Hoje, e pelo menos em Portugal, a poesia diz-se de muitas maneiras. E se é verdade que não acabaram completamente os policias da poesia (parafraseando o poeta e escritor António Cabrita), dizendo o que é e o que não é a poesia, passando multas nos seus artigos de jornal, não é menos verdade que diminuiu bastante esse policiamento e há uma variedade maior na expressão poética em Portugal. Esta falta de policiamento não implica uma diminuição da qualidade poética, pois o mau e o bom sempre existiu, tanto no passado quanto agora. A falta de policiamento originou uma maior liberdade de expressão, fazendo com que apareçam múltiplas vozes. A poesia apresenta hoje um horizonte temático e formal muito alargado.

Evidentemente este fenómeno tem origem na multiplicação das novas editoras. Há em Portugal uma proliferação de pequenas e novas editoras, que maioritariamente se dedicam à publicação de poesia, como nunca existiu antes. Abysmo, Artefacto, Averno, Companhia das Ilhas, Do Lado Esquerdo, Douda Correria, Guilhotina, Licorne, Língua Morta, Mariposa Azual, Palavras Por Dentro, Poéticas Edições, Tea For One, Tinta da China, Volta d’Mar e ainda outras que estarei aqui a esquecer injustamente, para além das editoras mais tradicionais: Assírio & Alvim, Cotovia e Relógio D’Água… Vários destes poetas editam em várias editoras, dependendo do projecto poético do momento ou também da oportunidade, fazendo com que não haja tanto uma linha editorial, no sentido antigo do termo, em que uma editora publica apenas um determinado tipo de poesia ou um modo de entender o que deve ser a poesia. A Douda Correria, por exemplo, e talvez a mais prolífera das novas editoras de poesia, edita até inéditos de autores brasileiros, onde a realidade social, politica e estética é bem diferente dessas mesmas realidades em Portugal. O que parece estar em causa nesta nova atitude editorial é o entendimento de que é a própria  poesia que encontra os seus próprios caminhos, os seus próprios leitores, e não os editores ou os críticos.

Irá fazer no início de Julho um ano que escrevo todas as terças-feiras uma ou duas páginas no jornal Hoje Macau acerca de poesia contemporânea, de autores mais novos do que eu. Autores maioritariamente portugueses, publicados pelas editoras que antes mencionei, mas também já escrevi acerca de autores brasileiros e acerca de um autor cabo-verdiano. Devo dizer-vos, contudo, que não faço crítica literária. Escrevo acerca de cada um dos livros um diálogo que estabeleço com os mesmos. Por vezes, esse diálogo nem sequer é com todo o livro mas tão somente parte desse mesmo livro. Pois há livros que embora possam parecer desequilibrados de um ponto de vista poético, acabam por ser extremamente ricos em matéria de reflexão, tanto de um ponto de vista linguístico quanto de um ponto de vista existencial. E, parece-me, é isso que hoje os editores finalmente entenderam. Aquilo que um leitor de poesia encontra num livro não é o mesmo que outro leitor de poesia poderá encontrar. Não defendo aqui qualquer espécie de relatividade poética, ou de que tudo é válido e tudo tem qualidade. Não. Pois hoje também proliferam as pseudo-editoras que “editam” livros que não têm qualidade. E esta qualidade a que me refiro é visível por si mesma. Porque em verdade, deveríamos usar para a poesia as mesmas palavras que Duke Ellington usou para a música: “There are two kinds of music. Good music, anda the other kind.” (Há dois tipos de música. A boa música e a outra.) E dessa outra poesia não pretendo falar aqui. E acerca da boa poesia, talvez fosse bom deixarmos de lado o pensamento infantil de que há um melhor poeta, de que há uma melhor qualidade de poesia. Como disse recentemente o poeta português Vasco Gato, uma das vozes da boa poesia portuguesa, numa entrevista ao jornal Hoje Macau: “Se há território que não me apetece pisar é o da qualidade poética. Será maior hoje? Serão tempos de mediocridade? Assumo nesse âmbito uma posição cautelar: não estou em condições de o aferir, não é esse o propósito e será a lâmina da história a cortar as goelas que tiver de cortar. Com toda a injustiça, com toda a falência.” Parece, sabiamente, ser também esta a posição dos editores de poesia hoje, em Portugal, das pequenas editoras, ainda que alguns deles possam não se rever nas palavras que aqui pronuncio.

Por outro lado, um dos factores que me parece importante assinalar, em relação à poesia hoje em Portugal, é proliferação de poetas mulheres. Se recuarmos vinte anos atrás, veremos que o número de boa poesia escrita por mulheres cresceu exponencialmente. Deixo-vos aqui alguns nomes, só de poetas até aos quarenta anos de idade, todas diferentes, mas sem dúvida poesia com leitores e com qualidade: Catarina Santiago Costa, Cláudia Lucas Chéu, Cláudia R. Sampaio, Inês Dias, Inês Fonseca Santos, Joana Emídeo Marques, Matilde Campilho, Patrícia Baltasar, Raquel Nobre Guerra, Raquel Serejo Martins, Rita Taborda Duarte, Rosalina Marshall. Evidentemente a estes nomes femininos, de mais jovens poetas, juntam-se ainda outros nomes femininos. Mas os nomes anteriormente citados, 12, e outros faltarão, certamente, mostra bem a mudança registada nos últimos vinte anos.

31 Mai 2017

Vénus terá sido asiática? 亚洲人是彻底的“女尊男卑” (Parte 1)

Raça e atracção

[dropcap style≠’circle’]L[/dropcap]i recentemente uma série de artigos sobre um assunto fascinante. Aparentemente chegavam todos à mesma conclusão: os homens asiáticos encontram-se na base da “cadeia alimentar” sexual, enquanto os homens brancos e as mulheres asiáticas são considerados os “mais atraentes”.  Estas afirmações foram feitas a partir de diversos inquéritos realizados em sites de encontros e também de estatísticas da PEW. Estes dois últimos grupos encontram-se, portanto, no topo da “cadeia alimentar” sexual.

Será que me estou a meter num ninho de víboras?

Contudo, uma coisa tem de ser dita à cabeça. Os websites que mencionei são americanos, por isso uma pessoa não pode deixar de pensar que estes dados talvez tenham sido alterados.  Digamos que, se o website fosse chinês e operasse a partir de uma outra localização geográfica, não me admirava que a conclusão fosse diferente de alguma maneira. Além disso, quais são as mulheres asiáticas? As indianas? As filipinas? Claro que não, o que eles querem dizer, são mulheres do Extremo Oriente, ou seja, chinesas, japonesas e coreanas. Esta é uma temática que conheço bem demais, uma realidade que me parece tão…errada.  E, enquanto me dedico à tarefa de ser eu mesma, como sempre, escolhi alguns títulos que me vão ajudar a mim e aos meus leitores não-asiáticos a concretizar melhor estas ideias.

No livro Mitos Asiáticos: Mulheres Dragão, Jovens Geishas & As Nossas Fantasias sobre o Oriente Exótico, o autor Sheridan Prasso desenvolve a teoria apresentada na literatura de Edward Said sobre o Orientalismo, com um toque de histórias da vida real. Prasso analisa as raízes históricas dos “pré-conceitos” ocidentais sobre o fantástico e o exotismo orientais. Na realidade, poucos são os ocidentais que não vêem as mulheres orientais como um símbolo de sensualidade, decadência, perigo e mistério. Estes estereótipos criados pelo legado ocidental permanecem ícones universais: a servirem o chá, submissas, sexualmente disponíveis, em suma, um misto de Madame Butterfly e de lutadora de kung fu dominatrix. Pois é. E por que é que os brancos não hão-de continuar a ser enganados?

Pois como não sou bruxa fui pesquisar online algumas celebridades sino-americanas. Amy Tan, Connie Chung e Lucy Liu, todas casadas ou a namorar com brancos. Há quem recorra à Hierogamia (união entre deuses e humanos) para explicar este fenómeno: ou seja, as mulheres asiáticas elevam-se socialmente na “perfeição” casando com um tipo que está na moda, e, quanto ao tipo que está na moda, move-o a procura de aventura, de emoções e a necessidade de colorir a sua existência, ultrapassando os limites, o que é muito apreciado na cultura ocidental.

Agora estou provavelmente a meter-me num segundo ninho de víboras: classe e raça.  Altura em que é inevitável examinar um cancro muito antigo chamado discriminação.  Mesmo no fim do último capítulo do livro de Prasso fala-se do modo como a visão oriental das mulheres asiáticas ajuda a perpetuar estes preconceitos. O autor afirma que a percepção adulterada sobre o exotismo asiático, que se tornou generalizada, não é só culpa do Ocidente. De facto, reflecte uma realidade de muitos asiáticos. A dinâmica da estrutura social vigente utiliza a discriminação interna para pré-determinar papeis raciais (ficcionais). É um dos piores mecanismos sociais, um dos mais desagradáveis, mas infelizmente é um facto.

Da próxima vez vamos ver porque é que as miúdas asiáticas são giras. Terá a pornografia japonesa encorajado esta fantasia ariana a ganhar velocidade, montada numa kawasaki amarela? Só preciso de algumas boas perguntas e respostas sobre a “febre amarela” do fetichismo.

31 Mai 2017

Sabem o que aconteceu durante a semana passada?

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]abem? Não? Permitam-me que me refira a alguns eventos relacionados com sexo e género dos últimos dias. Hoje cá me fico a enumerar e a comentar muito brevemente o que se passou, que poderá (mais ou menos) ter passado despercebido.

  1. 1. Mais direitos LGBT a Taiwan!

Pois é, confesso que não estava a espera de ver acontecer tão cedo em países asiáticos. Foi com imenso orgulho e satisfação que recebi a notícia de que Taiwan tornará o casamento homossexual uma realidade. Haver reconhecimento constitucional e político das minorias sexuais, é um passo gigante na luta contra o preconceito que ainda ronda. Quando este reconhecimento ainda não existe, como em Macau, é normal que as pessoas se sintam privadas de direitos, ou, se sintam ‘cidadãos de segunda’. Estas conquistas são ainda mais importantes quando pensamos que ainda durante esta semana, na Indonésia, dois rapazes foram chicoteados 83 vezes em público (a sanção original era de 85 chicoteadas mas como passaram dois meses na prisão, retiraram-lhes duas) porque foram apanhados a fazer amor. Na Chechénia ainda existem campos de concentração com o único propósito de maltratar e ‘re-educar’ homens homossexuais. Com este clima internacional, é com ânimo que ouvimos acerca desta tão merecida conquista da comunidade LGBT.

  1. 2. Mexeu com uma, mexeu com todas

Vou mudar o foco geográfico para esta: sabem o que aconteceu na queima das fitas do Porto este ano? Muita bebedeira, como sempre. Entre outros incidentes que vocês possam imaginar, é lançado um vídeo num autocarro, com imensa gente a assistir, do que parece ser uma clara prática de abuso. Um miúdo (com o apoio da sua turminha) abre a braguilha das calças de uma rapariga que está completamente ‘fora’ de bêbeda, e começa a tocá-la, enquanto riem de gozo. Ora, este infeliz incidente expôs uma discussão muito séria na esfera pública portuguesa: afinal o que é abuso? O que é consentimento? As respostas dos media e da sociedade em geral não foram muito satisfatórias, daí que tenha incentivado um pequeno movimento de  ‘mexeu com uma, mexeu com todas’. Em várias cidades portuguesas mulheres e apoiantes da causa juntaram-se para dar voz contra o machismo e à objectificação feminina que ainda existe. Mas há quem conteste, há quem ache que essa luta não tem fundamento. Mas sempre que continuem a culpabilizar as mulheres por agressões sexuais (como alguns cronistas portugueses o fizeram) lá estará o activismo, o feminismo, a gritaria, e o pessoal todo de bom senso a fazer uso da sua voz para desconstruir a discriminação de género.

  1. 3. Higiene Menstrual

O dia da higiene menstrual celebra-se a 28 de Maio. Poderão pensar, porque raio haveria de existir tal dia? Então, lembram-se de eu já ter dedicado algumas palavras ao tabu que é a menstruação? Pronto, por causa disso, as pessoas acanham-se de falar acerca dos cuidados a ter e as formas mais saudáveis de lidar com a menstruação. Há casos extremos, como o Nepal. O Nepal é um país com a crença de que uma mulher menstruada é mau agoiro. Por isso, as mulheres da família, uma vez por mês, são obrigadas a dormir fora das suas casas, são proibidas de tocar em frutas ou plantas para não ‘matá-las’ e não podem atravessar o rio porque ficam amaldiçoadas. Claro que o Nepal tem crenças bastantes extremas, mas eu cresci a ouvir de que mulheres menstruadas não deveriam tentar fazer bolos, porque vai correr mal, e que não podiam estar próximas de instrumentos de corda, porque as cordas poderiam rebentar. Não é só o mundo rural ou em desenvolvimento que precisa de um toquezinho ou outro acerca da menstruação, como podem ver. É um fenómeno global. Até as mulheres mais citadinas e melhor informadas não sabem tudo acerca das suas menstruações. Soube há pouco tempo que casos sérios de síndrome pré-menstrual estavam a ser vulgarmente confundidos com doença mental, como distúrbio bipolar e depressão. Até a nossa medicina parece estar pouco à vontade com os assuntos relacionados com o nosso ‘sangramento’.

E pronto. Esta foi a semana, para a próxima há mais.

31 Mai 2017

Foto Man Cheong | Recordar é viver

Apesar de timidamente, Macau começa a mostrar interesse pela fotografia analógica. Foto Man Cheong é a loja de Denim Chou que pretende manter viva a técnica e assegurar a venda de câmaras para os interessados

[dropcap style≠’circle’]D[/dropcap]enim Chou tem 32 anos e podia ser apenas mais um proprietário de uma das muitas lojas de fotografia do território. Mas não. Denim Chou quer que a Foto Man Cheong seja diferente e que promova a fotografia como era feita em outros tempos.

Apesar de vender câmaras e toda a panóplia de acessórios digitais, a Foto Man Cheong dedica-se também à fotografia analógica.

Para o proprietário, que herdou do pai o negócio e o gosto pelas imagens, a fotografia é uma forma de viver outra vez. “As imagens que fazemos são uma forma de recordar, por exemplo, os sítios por onde passámos. São também uma maneira de matar as saudades de sítios por onde andámos e de manter as experiências vividas na memória”, conta ao HM.

Uma das especialidades da Foto Man Cheong é a venda de modelos antigos de máquinas fotográficas. No entanto, a preferência nem sempre foi uma escolha fácil. “Actualmente não há muita gente que se dedique à fotografia analógica e ao uso de rolo, mas insisto na importação deste tipo de equipamento, tanto de câmaras normais como de polaróides e lomos”, conta.

A crença de que a disponibilização destes produtos funcione como motivação para a sua utilização é um dos intuitos de Denim Chou. “Penso que a venda deste tipo de máquinas pode voltar a fazer renascer o gosto pela fotografia analógica e trazer a moda de volta”, explica.

Trazer o sucesso

Se um pouco por todo o mundo o fenómeno do regresso ao analógico se faz sentir, já em Macau a tendência não parece ser a mesma. No entanto “em Hong Kong há muitas lojas que se dedicam ao analógico e à lomografia, e tenho esperança que, pela proximidade, o panorama em Macau também mude”, revela.

O sucesso de vendas é, sem dúvida, a Polaróide. Depois de quase cair no esquecimento as imagens instantâneas ganharam vida. O formato quadrado da clássica máquina Palaróide foi transformado pela Fuji em formatos para “todos os gostos”. “Os clientes são cada vez mais para este tipo de equipamentos”, diz.

Apesar do negócio estar estável, Denim Chou ainda não está satisfeito. “Macau ainda não tem um mercado suficientemente grande e não há muita gente interessada em fotografia analógica”. No entanto, o proprietário da Foto Man Cheong não pretende baixar os braços.

Denim Chou recorda outros tempos em que o filme era ainda o rei da imagem e a sua gradual saída da vida das pessoas. “Quando a fotografia digital começou a ter relevo, as pessoas que revelavam fotos também diminuíram muito. Tornou-se tudo mais fácil e barato com a fotografia digital”, diz.

No entanto, “o analógico deu um passo em frente neste sentido”, considera. “Agora, as pessoas também podem fotografar em filme, digitalizar e depois escolher as suas imagens”. Esta possibilidade tem também sido um incentivo para o crescimento do negócio.

Para Chou o regresso do gosto pelo filme vem da sua particularidade visual. “O rolo tem uma imagem diferente e a qualidade também é diferente”, diz. “As pessoas identificam de imediato a diferença entre fotografias analógicas e digitais”. Com a lomografia, por exemplo, há efeitos especiais que podem ser conseguidos, e esta tem sido uma das motivações para a crescente aquisição deste tipo de câmaras.

“A maioria dos clientes da Foto Man Cheong está neste nicho de mercado e são estudantes do ensino secundário”, diz Chou. A razão é, não só a crescente popularidade deste tipo de fotografia, mas também  o baixo custo das câmaras”.

31 Mai 2017

Segmento de Macau da nova ponte satisfaz requisitos, diz Chui Sai On

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Chefe do Executivo, Chui Sai On, disse ontem que as obras do segmento de Macau da nova ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau “satisfazem e cumprem os requisitos”, estando a decorrer “a bom ritmo”. O governante disse ainda que a conclusão das obras deverá acontecer este ano. Esta é a primeira reacção oficial do Governo de Macau após a divulgação de suspeitas de corrupção, através da adulteração de relatórios de engenharia, por parte das autoridades de Hong Kong. Citado por um comunicado oficial, Chui Sai On referiu ainda que os trabalhos de construção “têm sido acompanhados por um grupo que integra elementos das três regiões, que dá grande atenção à qualidade dos materiais utilizados na construção da ponte e segurança da obra”. O Chefe do Executivo adiantou que o Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-estruturas (GDI) tem seguido o projecto, sendo que “as informações que constam dos relatórios mostram que a qualidade, o andamento das obras de construção e a segurança das mesmas satisfazem os requisitos, e que tudo está a correr dentro do previsto”.

31 Mai 2017

Serviços de Saúde salientam sucesso no atendimento a idosos

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s cuidados de saúde a idosos são “perfeitos”. A ideia é deixada pelos Serviços de Saúde de Macau (SSM) em resposta à interpelação do deputado Zheng Anting que pedia medidas de apoio a esta população.

De acordo com os SSM, a optimização dos serviços está a ser progressivamente resolvida, sendo que “a acessibilidade dos idosos aos cuidados de saúde é alta e as regalias médicas em Macau são perfeitas”, lê-se na resposta dos SSM.

O director dos serviços, Cheang Seng Ip, recorda que está a ser implementada a política de “manutenção dos idosos ao domicílio” e que, através desta acção, os SSM continuam a “responder à procura de assistência médica provocada pelo envelhecimento da população”. Para isso, a tutela está também a reforçar a formação em serviço dos profissionais especializados na área da geriatria.

Especialistas a crescer

Cheang Seng Ip sublinha que, ao abrigo do Plano Quinquenal, estão a ser formados médicos especializados, sendo que de 2014 a 2020 Macau poderá contar com mais 275 profissionais. Até à data, há 70 médicos em formação e “a curto prazo haverá mais 30”. Dentro das especialidades abrangidas e directamente relacionadas coma  população idosa, estão a cardiologia, a medicina interna , a oncologia  e a psiquiatria.

Por outro lado, os SSM afirmam manter uma colaboração estreita com as entidades homólogas do Continente e de Hong Kong.

Localmente, Cheang Seng Ip salienta o fácil acesso aos serviços de saúde gratuitos que têm lugar tanto nos Centros de Saúde como no Centro Hospitalar Conde de São Januário. O responsável não  esqueceu a entrada em funcionamento, no ano passado, do Centro de Avaliação e Tratamento da Demência.

Quanto às dificuldades que ainda se fazem sentir no atendimento a residentes que se encontram a viver no Continente, os SSM salientam a complexidade da situação. “A questão da assistência médica transfronteiriça é evidentemente uma questão muito complexa”, lê-se. No entanto, e como medidas a tomar, os SSM consideram que Macau deve, sem primeiro lugar, proceder “a uma investigação e avaliação aprofundada do conceito de assistência médica transfronteiriça”.

31 Mai 2017

Rita Red Shoes – “Mulher”

“Mulher”

Sou mulher
E contra mim o que vier
É bem vindo se trouxer
Igualdade e desalinho

Sou mulher
Sem vergonha de vencer
Eu aprendo a viver
E não mudo o meu caminho

Sei dizer o que quero
E o prazer ganha força
Eu não minto mas desarmo

Sei mostrar o que sinto
E lutar corpo a corpo
Eu não minto e não escondo
Que o desejo é maior
Que o medo

Sou melhor
E agarro o que vier
Boca a boca
Sem esquece
O baton e o meu destino

Sem gemer vou colher-te
E querer dar-te um nome
Ao morrer vou chamar-te
Meu menino

Rita Redshoes

30 Mai 2017