Pequim recorre ao crédito para impulsionar economia

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s bancos chineses emprestaram mais dinheiro em Janeiro do que o valor equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB) português, à medida que Pequim tornou o crédito mais barato e acessível, visando incentivar o crescimento económico.

O incentivo ao crédito gerou, no entanto, uma dívida insustentável, que levou a China a tentar restringir a sua política monetária, ao mesmo tempo que evita o abrandamento do ritmo de crescimento económico.

Só no primeiro mês do ano, os bancos chineses concederam 2,03 biliões de yuan em novos empréstimos.

No final de 2016, o endividamento do país ultrapassou os 270% do PIB, impulsionado por múltiplos cortes das taxas de juro e pelo crescimento de empréstimos através de esquemas ilegais.

Devido em parte ao crédito fácil, a economia chinesa cresceu 6,7%, no ano passado, num ritmo suportado pelo ‘boom’ na construção e aumento dos gastos públicos com infra-estrutura.

A segunda economia mundial está agora sobrecarregada com um endividamento difícil de gerir, afirmou no mês passado em comunicado Andrew Fennell, analista da agência de ‘rating’ Fitch.

“A estabilidade do crescimento económico da China deve-se a estímulos e não à sustentabilidade”, lê-se.

Dinheiro fácil

A agência Standard & Poor’s advertiu ainda que “a dependência num crescimento alimentado pelo crédito implica o risco de uma ‘aterragem dura’ [abrandamento súbito] para a economia”,

O Banco do Povo Chinês (banco central) cortou por várias vezes as taxas de juro, entre 2014 e 2016, ajudando a contribuir para um ‘boom’ no crédito.

A abundância de dinheiro fácil teve consequência imprevisíveis, como a forte subida do preço do imobiliário ou o investimento na moeda virtual ‘bitcoin’.

No ano passado, o preço médio por metro quadrado subiu 14% em Pequim, 38% em Nanjing e 49% em Shenzhen, o centro tecnológico da China, no sul do país.

Milhões de novas habitações continuam, porém, por vender, nas médias e pequenas cidades do país. O empréstimo para compra de habitação atingiu um terço do crédito concedido pelos bancos chineses em Janeiro, uma percentagem recorde.

Entretanto, o banco central chinês subiu, em Fevereiro, as taxas de juro a curto prazo pela primeira vez em quatro anos.

Citado pela agência France Presse, Wei Yao, analista do banco Société Generale afirmou que Pequim está a arriscar um equilíbrio do fluxo de crédito.

“O alto nível de endividamento e a forte expansão dos balanços dos bancos tornam o sistema financeiro vulnerável a uma mudança abrupta”, disse. “A restrição da política monetária não pode ser demasiado súbita”.

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