Joana Freitas Manchete SociedadeToi San | Habitação pública construída a partir de Julho de 2017 O concurso para a construção da nova habitação pública em Toi San arranca no final deste ano e as obras começam a partir do terceiro trimestre de 2017. O prédio que deveria estar pronto em 2013 atrasou-se devido a problemas com o solo, que agora contam com especialistas para os resolver [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]A obras de habitação pública em Toi San deverão começar em 2017, depois de um concurso público novo ser lançado ainda este ano. A notícia é avançada pelo Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-Estruturas (GDI), numa resposta a uma interpelação escrita de Chan Meng Kam. A situação de Toi San já se arrasta há mais de cinco anos. A habitação pública deveria estar concluída em 2013, mas o projecto original incluía três andares subterrâneos, algo que criou impacto nos edifícios antigos vizinhos. Face a diversas questões dos deputados sobre os atrasos, o GDI respondia já no ano passado que se deviam a problemas inesperados com o solo, mas também com conflitos com a própria construtora do projecto, que poderiam chegar até a tribunal. Agora, o GDI anuncia novos desenvolvimentos, que passam também pela alteração do projecto, que já começou em Janeiro deste ano, devido a medidas de segurança. “Actualmente estão a ser promovidos, de acordo com o calendário, os diversos trabalhos destinados ao lançamento de um novo concurso público, previsto para o final de 2016. Os trabalhos de execução da empreitada estão previstos para o terceiro trimestre de 2017”, refere o Gabinete, numa resposta assinada por Tomás Hoi, coordenador substituto. A zona da Rua Central de Toi San, estreita e com grande aglomerado de casas, fez o GDI desistir da construção de cave no edifício que vai nascer. E vai também obrigar a que sejam feitos trabalhos de “preparação geotécnica”, que contam com especialistas da área. “Dadas as circunstâncias [do projecto] e da sua periferia, o empreendimento deve ser executado de forma técnica, pragmática e prudente, razão pela qual [o edifício] não terá cave. Além disso, antes de iniciar a execução da obra, vai incumbir-se uma entidade independente para proceder à recolha e análise de dados geológicos do terreno e da sua periferia”, frisa o GDI, explicando que o objectivo é melhorar o planeamento dos trabalhos da próxima fase e também minimizar ao máximo o impacto sobre os edifícios em redor do prédio que vai nascer. O solo vai ser preparado antes sequer das fundações serem inseridas. Custos e mercado No mesmo documento, Tomás Hoi indica ainda que o mercado que actualmente existe no local vai ser transferido, algo que está a ser coordenado com o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM), mas sobre o qual o responsável não se alargou nos detalhes. No início deste ano, o Governo anunciou a concessão da alteração do projecto de habitação pública de Toi San à JPC Consultadoria de Arquitectura Limitada. O serviço custou ao Governo 8,89 milhões de patacas, que serão pagos até 2019. Os últimos dados do Instituto de Habitação apontavam para atrasos com cerca de outras oito obras de habitação pública além da de Toi San, onde se incluía Mong Há e Fai Chi Kei.
Hoje Macau Manchete SociedadeDroga | Teste escolar obrigatório não é solução, dizem agentes sociais O sector dos assuntos sociais parece ser unânime: testes obrigatórios de despistagem de droga nas escolas pode ser mais negativo do que positivo. A solução apontada está na promoção de actividades de lazer promotoras de uma vida sem drogas, algo defendido também pelo IAS [dropcap style=’circle’]T[/dropcap]estes obrigatórios ao consumo de droga nas escolas não é a resolução mais eficaz para diminuir os casos, considera o Instituto de Acção Social (IAS). O organismo diz que a solução pode ter mais efeitos negativos do que positivos e agentes sociais ouvidos pelo HM partilham da opinião. Paul Pun, responsável da Caritas, vê como mais produtivo o investimento de tempo e recursos na prestação de serviços auxiliares do que na detecção de consumos de estupefacientes nas escolas. Ao HM, Paul Pun disse que não é adequado impulsionar o teste de drogas obrigatório nas escolas porque as instituições poderiam, ao invés disso, aproveitar o tempo para prestar formação a professores e funcionários no sentido destes detectarem sinais de consumo. “Quando há alguém a tentar equilibrar-se ou que vá à casa de banho frequentemente, os funcionários podem, por exemplo, aproximar-se dos alunos e perguntar o que se passa”, afirma o responsável da Cáritas. “É necessária sim, uma observação cuidadosa e evitar ignorar as reacções dos alunos” para que se proceda à informação aos pais e a quem de direito, “de modo a promover um acompanhamento posterior adequado.” O responsável considera que a realização de actividades de lazer em vez da “caça à droga” é mais eficaz porque é nestas actividades que os possíveis consumidores podem “encontrar motivações que evitem os consumos”. Não ao rótulo Vong Yim Mui, directora do IAS, tinha reforçado, à margem de uma actividade contra a droga, que o organismo não vai impulsionar o teste de droga obrigatório nas escolas, assunto que se levantou porque Hong Kong já promove este exame. O director-geral da Associação dos Assistentes Sociais, Ng Wan Fong, considera que é importante acompanhar a situações dos jovens. E como Macau é um território pequeno, nomeadamente quando comparado com a região vizinha, lança um alerta se o teste fosse implementado: correr-se-ia o risco de “etiquetar” e estigmatizar alunos que possam ter contacto com estupefacientes e com isso trazer efeitos mais negativos que positivos. Ng Wan Fong revelou ainda ao HM que, embora os casos de consumo de droga pelos jovens da RAEM sejam cada vez mais “escondidos”, o teste deve ser considerado com muito cuidado. “Muitos exemplos das regiões vizinhas já nos mostraram que o teste obrigatório não tem grande efeito e por isso, a meu ver, a promoção de recursos e a maior formação do sector educativo será mais eficaz” afirma o director. *por Angela Ka
Hoje Macau China / ÁsiaPresidente de Taiwan pede desculpas aos povos indígenas [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen, pediu ontem desculpas formais aos povos indígenas de Taiwan pelo sofrimento ao longo de séculos, sendo a primeira vez que um líder da ilha faz uma declaração desta natureza. Tsai, a primeira presidente da ilha a ter sangue aborígene, vai dirigir pessoalmente uma comissão de inquérito sobre as injustiças do passado, no quadro dos esforços do seu governo para apaziguar as tensões com a comunidade autóctone. “Apresento as minhas desculpas aos povos indígenas por parte do Governo, para vos transmitir as nossas mais sinceras desculpas pelos sofrimentos e pelas injustiças que têm sofrido nos últimos 400 anos”, disse Tsai num discurso. “Devemos analisar seriamente a história e dizer a verdade”, acrescentou, sublinhando que as desculpas são “um novo passo em frente”. Centenas de indígenas manifestaram-se em frente ao palácio presidencial de Taipé durante o fim de semana, apelando à protecção do seu direito de caça e exigindo acções concretas do Governo. A comunidade indígena, que representa cerca de 2% dos cerca de 23 milhões de taiwaneses, viu a sua cultura tradicional afectada depois da chegada de migrantes da China há vários séculos. As terras dos indígenas são em grande parte classificadas parques naturais, o que provoca disputas sobre a caça e pesca. O desemprego é mais elevado entre os aborígenes e os seus salários são 40% inferiores à média nacional, segundo o Conselho dos povos indígenas, um organismo público.
Hoje Macau SociedadeAtaque à facada por “descontentamento com barulho de portas” [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]homem que atacou dois outros à facada, levando à morte do mais velho, fê-lo por estar descontente com o barulho de abrir e fechar das portas na casa dos vizinhos. O caso, que teve lugar no domingo no edifício Vai Chun do Fai Chi Kei, conheceu novos desenvolvimentos. O autor do ataque, um homem com cerca de 51 anos e de apelido Cheang, estaria alcoolizado no momento em que decidiu utilizar uma faca para desferir golpes nos dois vizinhos, um homem de 59 anos e outro de 23, pai e filho. Tanto o jovem, como o irmão mais velho são agentes da PSP. O mais jovem tentou defender o pai e o outro, que se encontrava a descansar, conseguiu parar o ataque ao irmão, que sofreu ferimentos no pescoço, cara e mãos, mas nenhum conseguiu impedir que o pai viesse a falecer, depois de entrar em coma devido aos ferimentos. A imprensa chinesa cita depoimentos que indicam que o atacante, de apelido Cheang, “estava com olhar extremamente zangado e escondia duas facas”, quando foi bater à porta dos vizinhos supostamente para falar sobre o barulho das portas. O homem terá deixado a filha de dez anos em casa e, quando a porta do vizinho se abriu, terá lançado imediatamente o ataque. Os vizinhos indicam que Cheang é “agressivo” e que mora no local com a mulher e a filha há três anos. O homem tem atitudes “estranhas”, dizem os moradores do prédio, que os levam a “ter medo e a evitar encontrá-lo no corredor”. Uma dessas atitudes, diz o Ou Mun, seria a de gritar às janelas quando está alcoolizado. Por outro lado, a família da vítima era tida como “bastante simpática”. A mulher da vítima mortal necessitou de ser hospitalizada. A PSP já apresentou as condolências à família dos dois agentes e assegura que vai apoiar no que for preciso. O perpetrador do ataque está detido e pode ser condenado a 25 anos de cadeia. *por Cláudia Tang
Joana Freitas Manchete PolíticaDeputado pede lei que obrigue a declaração de interesses “directos e indirectos” Não chega só o diploma que obriga à declaração de bens patrimoniais, é preciso ter uma lei que obrigue juízes, altos cargos e deputados a indicar se têm algum tipo de vínculo a empresas, se servem como consultores ou se têm familiares interessados em casos que estão a analisar, diz Pereira Coutinho [dropcap style=’circle’]M[/dropcap]acau deveria ter uma lei que obrigasse à declaração de interesses por parte de quem ocupa altos cargos no Governo, nos tribunais e na Assembleia Legislativa (AL). É o que diz José Pereira Coutinho, que vai pedir ao Executivo um diploma nesse sentido. A ideia do deputado é simples: que quem ocupa cargos no tribunal, no hemiciclo e nos departamentos do Executivo seja não só obrigado a declarar bens patrimoniais, como interesses que possa ter “directa ou indirectamente”. “Tanto em Hong Kong, como em Taiwan, como em quase todos os países asiáticos e europeus existe [uma lei] assim. Menos em Macau. Por isso é que acontecem casos em que, tanto a Fundação Macau, como os Secretários, em vez de se absterem de tomar decisões, por interesses directos ou indirectos, ou até familiares, tomam decisões que levantam problemas”, refere Pereira Coutinho ao HM. Separar as águas Macau aprovou em 2013 o Regime Jurídico da Declaração de Bens Patrimoniais e Interesses, um diploma que Pereira Coutinho considera diferente do que está a pedir agora. Para o deputado, apesar da declaração que aparece na página o Comissariado contra a Corrupção indicar uma parte de “interesses”, o preenchimento desta coluna não é exactamente sinónimo que todos os interesses, directos e indirectos, apareçam. E Pereira Coutinho dá exemplos. “A declaração de interesses de que falo tem a ver com as entidades com quem se trabalha, por exemplo como consultor, ou escritórios de advocacia, ou quais as empresas a que estamos ligados, para que haja maior transparência”, defende. “Veja-se o caso de António Costa, [primeiro-ministro] em Portugal. Sai uma lista do escritório de advogados onde ele é consultor. Devia poder-se saber se é consultor de algum tipo de empresa, se tem empresas quem é que são as pessoas que detêm determinadas percentagens, se é sócio de alguma empresa de advogados”, explica ao HM. Pereira Coutinho diz que, com a obrigatoriedade de declaração destes interesses, “quando a AL ou os tribunais estão a decidir casos de terras, por exemplo, poderia saber-se imediatamente se essas pessoas [que tomam ou contribuem para as decisões] têm interesses nos casos que estão a analisar”. Se declarar que existe um interesse antes, já se sabe posteriormente que essa pessoa tem de abster-se. Para o deputado não chega os actuais regulamentos internos que permitem aos altos cargos fazer isso, como foi o caso de Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas, numa sessão do Conselho do Planeamento Urbanístico, a que preside: o responsável saiu da sala antes que fosse analisado um projecto onde tinha participado antes de ser Secretário. Exemplo que, frisa Pereira Coutinho, não foi seguido por Chui Sai On, Chefe do Executivo, aquando da atribuição de um subsídio de cem milhões de yuan à Universidade de Jinan. “Ninguém sabia que [o líder do Governo] era também membro da Universidade, ao mesmo tempo que é da Fundação Macau, até ele decidir dizer que era”, atirou o deputado. Chui Sai On chegou a aprovar a doação como presidente do Conselho de Curadores, mesmo que a Fundação Macau tenha assegurado que outros membros do Conselho que eram também da Jinan saíram da sala. “A lei actual não obriga a que sejam descritos os interesses directos ou indirectos, nomeadamente acções. Estou a falar de mencionar tudo a que a pessoa está ligada, não só ao nível patrimonial, que cinge-se mais a valores monetários, bens móveis e imóveis, ou outros bens.” Pereira Coutinho diz ainda que a lei deveria obrigar a que estas declarações acontecessem não só durante o desempenho das funções, como antes da tomada de posse. “E ainda que acrescentem outros que, eventualmente, possam vir a aparecer durante o cargo. A sociedade tem o direito de saber quem é quem e o que está a defender.” O deputado não vai, para já, apresentar qualquer projecto neste sentido, mas assegura que vai “exigir” que o Governo o faça por si próprio.
Hoje Macau Manchete PolíticaCPCS | Wong Kit Cheng pede limite para discussões e mais eficiência A deputada está cansada de ter se esperar anos para chegar a uma conclusão sobre assuntos que merecem, diz, ser tratados rapidamente. Pede um prazo limite para as discussões do Conselho Permanente de Concertação Social, de forma a que se saia do lugar [dropcap style=’circle’]W[/dropcap]ong Kit Cheng não está satisfeita com o Conselho Permanente de Concertação Social (CPCS). A deputada critica o grupo por passar anos a discutir as mesmas questões sem chegar a qualquer conclusão. Numa interpelação escrita, Wong Kit Cheng alerta para a necessidade de se aumentar a eficiência do CPCS no que diz respeito aos problemas discutidos na sua sede, como é o caso da revisão da Lei das Relações Laborais e como foi a questão do salário mínimo. A deputada refere as grandes mudanças que Macau tem vindo a sofrer nestes anos e relembra que muitos sistemas jurídicos e leis têm de ser modificados conforme as situações actuais, especialmente os casos que envolvem os direitos e interesses laborais. Mas, como estes casos têm de ser discutidos primeiramente pelo CPCS e depois de um acordo é que podem ser entregues à Assembleia Legislativa (AL), essas mudanças não acontecem quando deviam. Wong Kit Cheng pede, por isso, um prazo limite para um assunto ser tema no seio do grupo. “O Governo vai considerar criar um prazo limite para as discussões do CPCS, fazendo com que se melhore a eficiência face às modificações jurídicas que servem mais rápido as necessidades dos cidadãos e da sociedade?”, questionou. Exemplos a gosto A deputada fala em “atrasos bastantes graves”, que exemplifica com informações do site do CPCS: a discussão da proposta de lei sobre o Regime do Trabalho a Tempo Parcial, a da alteração da Lei das Relações de Trabalho e a da Lei da Contratação de Trabalhadores Não Residentes, a alteração da legislação respeitante às agências de emprego e cumprimento das normas internacionais do trabalho da Convenção da ONU, entre outros, já aparecem no seu Planos de Actividades desde 2013. Dando outro exemplo, Wong Kit Cheng frisa que, desde 2013, já surgiu a discussão do aumento do montante das contribuições para o Regime da Segurança Social, algo que ainda nem sequer obteve consenso. Wong Kit Cheng relembra que, apesar de existirem organizações de carácter consultivo, constituídas por representantes do Governo, das associações patronais e das associações de trabalhadores, o Governo é quem tem de dar o primeiro passo para eliminar a discordância. Caso contrário, refere, as opiniões divergentes vão sempre fazer com que nunca haja acordo. “O Governo não foi capaz de realizar essa função. Como é que os responsáveis do Governo no CPCS vão esforçar-se para conseguir reduzir os desacordos?”, indagou a deputada. * por Cláudia Tang
Hoje Macau China / ÁsiaUber funde operações com rival chinês no continente [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]aplicativo de transporte Uber e o seu rival chinês Didi Chuxing vão fundir as suas operações na China, pondo fim a uma renhida competição pelo mercado da segunda maior economia mundial, avançou a agência Bloomberg. O negócio permitirá à Uber ficar com 20% da futura empresa, detalhou a agência. Ambas as firmas gastaram milhares de milhões de dólares com subsídios para motoristas e passageiros, e trocaram acusações mutuamente, como parte de uma campanha pelo domínio do mercado chinês. A estrutura do acordo permitirá à Didi Chuxing controlo indiscutível. O negócio poderá ser formalmente anunciado em breve, segundo o Wall Street Journal. Uma mensagem posta a circular nas redes sociais chinesas e alegadamente escrita pelo presidente executivo da Uber, Travis Kalanick, diz: “Aprendi que, para obter sucesso, é preciso ouvir a tua cabeça e seguir o teu coração”. Ambas as empresas estavam a “investir milhares de milhões de dólares na China e ambas não conseguiram ainda registar lucros”, lê-se na mensagem. “Alcançar lucros é a única forma de construir um negócio sustentável, capaz de melhor servir os passageiros chineses, motoristas e as cidades, a longo prazo”, acrescenta. Na semana passada, a China legalizou de forma definitiva as operações dos aplicativos de transporte, tornando-se o primeiro país a aprovar uma lei para regular este modelo de negócio. A normativa obriga as empresas do setor a pagar impostos e proíbe-as de praticar políticas agressivas de preços, “suscetíveis de causar perturbações no mercado”, restringindo possivelmente o recurso a subsídios. Em Maio, o gigante tecnológico norte-americano Apple investiu 1.000 milhões de dólares no Didi Chuxing, que tem uma quota de quase 90% do mercado chinês. Como parte da fusão, a Didi Chuxing investirá mil milhões de dólares na Uber, elevando o valor da firma para 68 mil milhões de dólares, detalhou a Bloomberg. A Uber assumiu-se, nos últimos anos, como uma das mais valiosas ‘startups’, à medida que se expandiu para 50 países, mas tem enfrentado barreiras legais e protestos das companhias tradicionais de táxi em quase todo o mundo.
Hoje Macau PolíticaLarry So fala de restrição da liberdade de expressão em casos como o da ANM [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]sociólogo e politólogo Larry So considera que incidentes como os que aconteceram à entrada da Assembleia Legislativa na passada quarta-feira restringem a liberdade de expressão dos cidadãos, ao não permitir vozes “que dizem mal do Governo”. As declarações do ex-professor do Instituto Politécnico de Macau foram feitas ao jornal Ou Mun, em que o sociólogo adianta que a entrega da petição pela Associação Novo Macau não estava a bloquear a passagem dos deputados que se dirigiam à sessão plenária. O caso remete para a semana passada, quando a Novo Macau foi entregar uma petição na AL. A PSP está agora a acusar a Novo Macau de desobediência por causa de uma dezena de membros do grupo ter entregue a petição sobre a doação da Fundação Macau à Universidade de Jinan, no dia em que Chui Sai On, Chefe do Executivo, se encontrava no plenário a responder a perguntas e respostas dos deputados. A Novo Macau assegura que tinha já previamente combinado com os assessores da AL para a entrega da petição quando as autoridades decidiram intervir. A PSP diz que bloquearam o caminho, a Associação diz que estava apenas a tentar entrar na AL depois da entrega da petição, quando a porta estava aberta a todos os participantes e jornalistas e depois dos funcionários do hemiciclo terem recebido o documento e cartazes com a cara de Chui Sai On caricaturada. Na semana passada, a Novo Macau já tinha emitido uma declaração a criticar as acções da PSP, por achar que esta interveio ilegalmente na comunicação da Associação com a AL, o que levou que fossem criados obstáculos no exercício de liberdade e de democracia. Larry So concorda. O analista diz que a reacção das forças da autoridade é considerada exagerada na medida em que até os jornalistas foram afastados pela polícia e as sessões de apitos para proceder ao afastamento dos representantes associativos foram feitas “junto aos seus ouvidos”. A atitude foi “excessiva”, diz ainda, porque não estava em causa a segurança das pessoas ou o impedimento do trabalho policial, mas houve “obstrução aos jornalistas, o que vem afectar o direito à informação”. A PSP, segundo a associação, impediu também que os jornalistas entrevistassem os membros do grupo. A Associação Novo Macau vai ser acusada de desobediência, naquele que é o segundo caso semelhante em menos de um mês, depois de ter sido dada a conhecer a condenação da líder da Associação dos Pais dos Filhos Maiores a três meses de cadeia suspensa pela mesma razão. *por Angela Ka
Hoje Macau SociedadeRenovação Urbana | Sugeridas parcerias privadas para acelerar processo [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oram ontem sugeridas parcerias público-privadas para acelerar a renovação urbana, que vai ter lugar nos bairros antigos. Outra das sugestões é a inclusão das famílias que habitam nestes locais em prédios de habitação pública. O debate teve lugar ontem no programa Fórum Macau da TDM, onde Kou On Fong, presidente da Macau Tri-Decade Action Union, colocou em cima da mesa a hipótese de o Governo se unir com empresas privadas, de forma a avançar com as obras que pretendem trazer uma nova vida aos bairros antigos da cidade. O responsável considera que se todos os projectos da renovação urbana forem impulsionados por investidores privados, vai haver preocupações face à forma como é feita a recuperação das fracções, “com ameaças ou persuasão com fornecimento de interesses”. Por outro lado, “se for presidida plenamente pelo Governo, os procedimentos administrativos complexos vão tardar o desenvolvimento”, o que leva Kou On Fong a sugerir uma cooperação de ambas as partes. Um dos principais problemas com a renovação urbana é a necessidade legal de haver concordância entre todos os donos de um prédio para que este possa sofrer reconstrução ou ser alvo de reparações. Face a isto, Wong Chung Yuen sugere ajustamentos. “Deveria baixar-se a proporção e haver uma separação conforme a escala do prédio”, frisou o membro do Conselho de Renovação Urbana (CRU) no mesmo programa. “Para os prédios baixos, sugiro [que seja necessário] só 80% de concordância e nos prédios com mais de cem fracções deveria chegar aos 90%.” Alojamento? Onde? Chui Sai On adiantou a semana passada no hemiciclo que iria colocar as famílias destes bairros antigos em alojamento temporário, de forma que as suas casas pudessem ser restauradas. Contudo, o membro do CRU Wong Chung Yuen revelou que ficou a saber desta notícia através dos jornais e frisa mesmo que esta nunca foi discutida no CRU. Já Kou On Fong sugere a inclusão destes alojamentos temporários em prédios de habitação pública, algo que considera ser mais viável do que a construção de alojamentos nas suas zonas originais. “Depois de se acabar a reconstrução, a habitação pública poderia ser retirada e depois serviria a sua função original”, reiterou. À porta fechada O Conselho de Renovação Urbana foi estabelecido em Março e já teve duas reuniões que versaram sobre o estatuto e o planeamento para os futuros trabalhos de renovação urbana. Hoje, o CRU tem a sua terceira reunião, mas todas elas são à porta fechada. Questionado sobre isto, Wong Chun Yuen disse ser necessário que algumas informações não sejam passadas cá para fora. “Alguns conteúdos podem ser abertos, mas quando se envolvem conteúdos confidenciais ou de grande impacto, não será adequado revelar-se ao público”, disse, exemplificando com a determinação da zona para a futura renovação, que pode causar impacto nas vendas de apartamentos. O Governo discute esta questão há mais de uma década, tendo retirado da Assembleia Legislativa uma lei que permitia o reordenamento dos bairros antigos, por esta não se adequar mais às necessidades reais de Macau. * por Angela Ka
Tânia dos Santos Sexanálise VozesAgosto é Praia [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]nosso querido mês de Agosto começa com umas palavras de ânimo. A todos aqueles que se encontram no hemisfério norte a curtir o calor na praia, espera-se o mês do corpo de Verão. Um corpo que curte o Verão e está presente na mais fantástica das estações. Fizéssemos nós uma tarefa de associação livre ao conceito de ‘corpo de Verão’ e provavelmente uma definição tão simplista não apareceria, muito provavelmente teríamos resultados como: esbelto; sem celulite; sem gordura extra; tonificado ou jeitoso. Mas sobre imagem corporal já estamos nós fartos de ouvir e ler. Estamos todos cansados de saber que é um problema real e a ter em atenção entre mulheres e homens de igual forma. A cada primavera começa-se a falar das mil e uma dietas milagrosas, e pelo Verão descobrem-se formas de exaltar os atributos ou esconder o que se considera fisicamente indesejável. Mas Agosto deixa aqui as sete dicas para o corpo de Verão (de praia) que sempre sonhámos. 1º Atrevam-se a escolher os calções de banho, biquini ou fato-de-banho que nunca pensaram usar, saiam da vossa zona de conforto e testem os vossos limites. Não deixem que as imagens distorcidas que a nossa mente maliciosa cria à frente do espelho se apodere das vossas decisões. A nossa mente às vezes prega partidas e tem que ser fortemente ignorada (pela nossa saúde mental). Experimentem o biquini mais bonito que alguma vez viram – e não se preocupem com mais nada. 2º Ignorem o fascismo anti-pêlo. Esta não é fácil de respeitar no mundo ocidental, quando a guerra à pelosidade é feroz e trata processos naturais corpóreos como aberrações da natureza. Experimentem a deixar um ou outro pêlo nos sovacos e exibem-nos com orgulho. Já que o vintage está na moda… não vejo forma mais fiel à tendência. 3º Comam quando tiverem fome e comam o que vos der prazer. Este que é o mês de férias de tanta gente… querem mesmo reduzir a experiência do palato por conta da superficialidade estética? Comam boooooooooolas de Berlim com ou sem creme na praia directamente, ou deliciem-se com outros petiscos. Comam croquetes e façam-se croquetes! A rebolar na areia. Comam na praia, fora da praia – deixem o vosso estômago contente. 4º Imaginem que a praia é um palco, uma passarela para desfilarem com orgulho. Mostrem as curvas, os corpos de tantos tamanhos diversos, abanem as gorduras gelatinosas com corridas, saltos e mergulhos. Exponham a textura de corpos porque só torna a vida colorida! E muito pouco aborrecida. 5º Protejam-se do sol com um bom protector solar porque há que cuidar da nossa bela pele e dos nossos belos sinais. Podem expor toda a pele que quiserem (em locais adequados – nunca sugeria um topless no Dubai, por exemplo) com o maior decoro e respeito pelos outros. Dispam-se de preconceito e vergonha do corpo e deixem que o sol vos beije interminavelmente, em áreas nunca expostas. 6º Usem e abusem do vosso tacto e sintam a areia e o mar pelo maior órgão do corpo: a pele. Foi-nos ensinado que o mar só traz coisas boas (saudáveis) e por isso, aproveitem para estender os exercícios tácteis ao namoriscar na água, para uma experiência kinky e fiel ao mote marítimo. Inspirem-se de romantismo que o Agosto vos oferece para a maior história de amor das vossas vidas! Romances de Verão são pura inspiração. 7º Façam o vosso tão fantástico corpo um manifesto contra a cultura da aparência, das regras estéticas pré-definidas por grupos e gentes que nos são alheios. Já que o corpo é tão alvo de conversa e crítica, porque não usá-lo como manifestação político-social? Aproveitem as férias, a praia e o calor. Tragam felicidade ao vosso corpo de Verão.
Hoje Macau BrevesTerminado prazo de concessão para mais terrenos dos Nam Van Mais 13 terrenos da Zona C e D junto aos lagos Nam Van viram o seu prazo de concessão por arrendamento terminar a 30 de Julho. A lembrança é do deputado Ng Kuok Cheong, que refere a situação numa interpelação escrita entregue ontem ao Governo. “O prazo de aproveitamento das dezenas de terrenos da Zona C e D, incluindo o C1, do C3 ao C12 , o C17, o D2 e D5, foi prorrogado pela modificação do contrato até 18 de Agosto de 2005. Depois disso, nenhuma das construções do empreendimento habitacional que ocupam cerca de cem mil metros quadrados da área, o empreendimento comercial de cerca de mil metros, os hotéis de 150 mil metros quadrados e o estacionamento de 40 mil quadrados foram realizadas consoante o contrato. A função civil dos terrenos foi perdida há um longo prazo”, aponta. Ng Kuok Cheong também menciona uma resposta do Governo quanto a uma interpelação escrita sobre o mesmo assunto, em Janeiro, na qual o Executivo se compromete que “quando os terrenos chegarem o seu prazo de aproveitamento, vai ser lançado o processo para denunciar a sua caducidade de concessão”. O deputado critica o facto de ainda não haver condições para a elaboração de um planeamento detalhado para as zonas C e D conforme a Lei de Planeamento Urbanístico” e pergunta se se vai ter em atenção os pedidos da sociedade relativamente à instalação de infra-estruturas de lazer.
Joana Freitas BrevesReceitas dos cainos caíram 4,5% em Julho As receitas brutas dos casinos caíram 4,5% em Julho, comparando com o mesmo mês de 2015, para os 17.774 mil milhões de patacas, segundo dados oficiais conhecidos ontem. Em termos acumulados, nos sete primeiros meses do ano, as receitas dos casinos diminuíram 10,5% em relação ao mesmo período de 2015 (variação homóloga). Este foi o 26.º mês de quedas homólogas consecutivas nas receitas, mas a segunda menor queda do ano – as receitas só diminuíram menos em Fevereiro (-0,1%). A diminuição de 4,5% em Julho é também uma das menores quedas desde que se iniciou este ciclo de contracção do sector do jogo, há mais de dois anos. Assim, com excepção de Fevereiro deste ano, as receitas tinham sempre caído mais de dois dígitos desde Setembro de 2014. Há um mês, quando se soube que as receitas dos casinos tinham caído em Junho para o valor mais baixo desde Setembro de 2010, o Governo divulgou um comunicado em que sublinhava a “enorme possibilidade” de continuarem a cair no segundo semestre, dadas “as situações económicas internacionais e regionais”, embora “com a amplitude da sua descida a abrandar-se continuamente”. Os analistas têm sido consensuais em afirmar que as receitas dos casinos, em queda há mais de dois anos, vão estabilizar no segundo semestre de 2016 e interromper o ciclo de queda, mas discordam quanto ao momento que isso acontecerá, havendo quem aponte já o mês de Agosto ou Setembro. Para o conjunto de 2016, o Governo prevê nova queda das receitas públicas e do jogo, mas continua a esperar fechar o ano com um superavit de 18,213 mil milhões de patacas. LUSA/HM
Joana Freitas BrevesSalários da construção aumentaram Os salários diários médios dos trabalhadores da construção civil aumentaram 1,2% no primeiro trimestre do ano, tendo-se fixado em 788 patacas. Segundo dados publicados pelos Serviços de Estatística e Censos, este aumento deve-se ao acréscimo de 3,8% do salário diário médio dos trabalhadores não residentes especializados e semi-especializados da construção. Já o salário diário médio dos trabalhadores da construção residentes correspondeu a 982 patacas, menos 0,8% face ao mesmo período do ano passado.
Joana Freitas BrevesJoaquim Teixeira de Sousa por mais dois anos O magistrado do Ministério Público Joaquim Teixeira de Sousa vai manter-se em funções em Macau por mais dois anos. O despacho que anuncia a renovação do contrato do magistrado português foi ontem publicado em Boletim Oficial e assinado por Chui Sai On, Chefe do Executivo. A renovação, que tem efeitos a partir de 1 de Setembro e até 2018, acontece depois de ter sido anunciado que alguns magistrados portugueses teriam de regressar a Portugal por ordem do Conselho de Magistratura Português, como foi o caso avançado pelo HM de Vítor Coelho.
Hoje Macau BrevesPanchões na Nossa Senhora da Penha Foram ontem encontradas 41 caixas de panchões na Nossa Senhora da Penha. A notícia, avançada pelo jornal Ou Mun, indica que o pacote deverá ter sido ilegalmente abandonado. A PSP foi chamada para investigação e os Bombeiros para tratar do material inflamável. As autoridades bloquearam ontem os acessos e as ruas em redor do local, por uma questão de segurança. De acordo com a PSP, o sítio onde as caixas foram deixadas não era bem visível. Um camião foi chamado para o transporte das 41 caixas. Ainda não se sabe se os panchões foram abandonados intencionalmente.
Paulo José Miranda h | Artes, Letras e IdeiasTens um minuto que me possas emprestar? | Parte II [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]m “Há sangue arterial no abate diário do sol” – poema em três páginas, contrariamente ao que se possa apressadamente pensar – Anjos leva um artifício, que usa com alguma frequência, ao limite. A penúltima estrofe termina um pouco abaixo do meio da página e a última encontra-se na página seguinte, com os seus míseros e paradoxais três versos: “É possível que / acorde sempre / no mesmo dia”. O uso do espaço gráfico, levado ao exagero neste poema – quase todos os outros espaços gráficos são entre versos – e que pode confundir-nos quanto a saber se a última estrofe pertence ou não ao poema, encontra aqui a sua explicação no facto da necessidade deste três últimos versos aparecerem isolados, sós, como se, ainda que parte do poema, pudessem também ser lidos independentes, porque, o próprio sentido dos versos assim o pede, com os dois últimos gritando, “acorde sempre / no mesmo dia”. Sempre no mesmo dia é uma página, e magra como um dia. E com isto termina o autor a primeira parte do livro. Se a primeira parte chamava-se “Dos Lírios”, a segunda chama-se “Construção”. Este capítulo é constituído por quatro poemas e, uma vez mais, deparamo-nos com uma inversão: o capítulo começa em IV e termina em I. No primeiro poema, que se chama “IV corpo em queda”, há evidentes influências futuristas, influências do célebre engenheiro, não só nas repetições dos versos “Rapart! Rapart! Rapart!”, primeira e quarta estrofes, mas ainda na intencional glosa na antepenúltima e última estrofes: “come come filho” e “come filho / que o teu mal é fome”. Um claro final anti-metafísico, restituindo assim o acto de comer a seu dono. Mas, e como já vimos, o poeta não é um poeta que rejeite a metafísica, bem pelo contrário, qual a razão que o terá levado aqui a fazer a inversão de Álvaro de Campos na sua celebre passagem da “Tabacaria”? Embora não possa afirmá-lo com certeza, julgo que a intenção de Anjos prende-se com o próprio poema – e porque não dizê-lo, com a sua própria poesia – estar eivado de surrealismo, que ele contraria no final, e com isso fazer com que o verso mais chão seja aquele que causa mais efeito. Depois, ter com isso aproveitado ainda para inverter, ou reconduzir o sentido do verbo “comer”, de Campos, ao seu sentido original, é genial. Veja-se, então, apenas na antepenúltima e última estrofe do poema, alguns versos surreais, de modo a entender-se o final chão e o seu efeito: “o comum mortal não volta ao início, a não ser que o cimento / ainda não tenha secado”, “bancadas de pulmões frescos como peixes / mortos à superfície”. Estamos, por conseguinte, diante de um poema importante, por múltiplas razões. No poema seguinte, “III porta líquida”, convém realçar o feliz jogo nos primeiros dois ou três versos, consoante seja feita a leitura – artifício literário que será levado a cabo em todos estes poemas da segunda parte do livro, ainda que seja usada apenas uma vez no primeiro poema. Mas veja-se como eles aparecem no segundo poema desta segunda parte: “em nome do fogo respirar não chegava era preciso destruir o ar todo não chegava” Podemos ler dos seguintes modos: 1) “em nome do fogo respirar o ar todo / não chegava era preciso / não chegava destruir”; 2) “em nome do fogo respirar não chegava era preciso destruir / o ar todo não chegava”. Os espaços gráfico são colocados evidentemente para que ambas as leituras, ou ainda outras sejam feitas, se possível, simultaneamente. Como se os versos deixassem a sua característica Melódica e ganhassem uma nova, harmónica. No último poema desta parte, “I fome”, há um retorno à inversão do sentido dos versos de Campos, desta vez em letras muito menores, com que acaba o poema, como se se tratasse de uma técnica musical, fade out, onde não falta também a diminuição do comprimento dos versos do antepenúltimo para o penúltimo e deste para o último “tem fome”. A terceira parte do livro chama-se “III Outros Factos Paliativos”. Comece-se por destacar o poema “à vizinha”, onde uma vez mais encontramos um final que contrapõe o resto do poema. O uso da anáfora ao longo de todo o poema, na repetição do começo dos versos com um “é possível que” – só os versos 13 (é possível mudar), 18 (é possível deixar) e 20, e último (é possível trazer-me), alteram ligeiramente esta estrutura –, e aventando hipóteses existenciais levadas ao absurdo ou, pelo menos, a contrapelo do ponto de vista usual, sublinham, mais do que uma abertura de possibilidades ou propostas de libertação do nosso ponto de vista, a prisão e que nos encontramos. Estamos presos à gramática, ao uso da linguagem e ao modo como nos relacionamos desde sempre com as coisas. Por mais que seja possível enunciar “cair do rés-do-chão ao céu é um instante”, isto não nos fará sentido, isto não constituirá mundo, como no exemplo do verso que passo a citar: “é possível que as torradeiras te beijem o pescoço ontem de manhã”. Se por um lado é verdade que nada disto faz sentido e que não constituirá mundo, por outro, e é aqui, parece-me, a guerra de Anjos, não ficamos indiferentes quando partimos o verso ao meio e nos deparamos com “te beijem o pescoço ontem de manhã”. Esta enunciação explode, mesmo que não faça feridos. A explosão deste meio verso é a consciência da gramática e, simultaneamente, a consciência da nossa percepção da realidade através das regras gramaticais de uma língua. Por fim, e regressando à anáfora alucinada, o poema termina com um chão “é possível trazer-me um café?”. Esta possibilidade em forma de pedido, pedido retórico – já que presume-se ser um enunciado pronunciado numa pastelaria, num café ou num restaurante, e a pessoa poderia apenas levantar a mão e dizer “café”, que alguém o traria –, com que acaba o poema, deixa-nos no lugar certo das nossas possibilidades. Por outro lado, este último verso representa também a diferença entre o poeta e o advogado – para manter a dicotomia de um poema anterior, embora evidentemente se possa substituir advogado por padeiro, mecânico, gestor de empresas –, a diferença entre o tempo da criação e o tempo do dia a dia. Em “Interruptor” ficamos frente a uma inversão do sentido do ser. O poema tem apenas três versos e diz assim: “Em caso de perda / basta ligar as baratas / para acender paredes”. O último verso é sem dúvida o mais lírico, aquele que nos faz ver; o primeiro verso baralha um pouco as coisas, depois de lermos os outros versos, devido à não determinação da perda; e o segundo verso, verso do meio, é o verso que nos agride mais, o verso que liga simultaneamente o poema e nos enoja, devido à comum aversão que se tem às baratas. Sem baratas não havia poema. Imaginemos que trocamos baratas por formigas, ou por lagartixas! O poema deixa de ligar. O poema só liga porque as baratas estão lá e elas acendem as paredes. É um poema extraordinário de precisão e de inversão do sentido do ser, na medida em que tudo nos aparece ao contrário do usual: paredes que se acendem, baratas que nós ligamos e, em caso de perda. Mas que perda? Evidentemente não estamos cegos para o facto de que o título do poema é fundamental para a compreensão do mesmo. Formam um todo de quatro versos, título e poema. Em “Manual de instruções para escrever da direita para esquerda (bússola do aprendiz)” logo pelo título, fica uma vez mais sublinhado aquilo que aqui temos visto, isto é, uma obsessão pela inversão do ponto de vista usual. O poema cresce dividido em cinco partes, com os versos emprosados e escritos ao modo de sentenças ou conselhos de utilização. Em “Havia uma cidade na ponte” – novamente o hipérbato –, poema de cinco versos divididos por duas estrofes, pode ler-se na última estrofe os seguintes versos: “Pergunto simplesmente / para que servem as pessoas?” Trata-se de uma inversão total e completa da pergunta pela utilidade da poesia. É isto que explode de imediato na leitura do poema. Contrapondo à estafada pergunta “para que serve a poesia?”, José Anjos replica com “para que servem as pessoas?”. E, assim, o sentido da poesia acontece, nesta dupla interrogação – uma explícita e outra implícita – de um para que serve? No fundo, acabamos por ficar a pairar num “para que é que serve tudo o que há?” Tal como já se tinha visto em um poema anterior, aquando da inversão do sentido de uns versos de Álvaro de Campos, agora trata-se da inversão de um ponto de vista usual, jornalístico, por assim dizer, e que nos remete para uma pergunta acerca da utilidade ou não daquilo que há. Em “21:47”, poema de cinco versos, sendo dois deles compostos por apenas uma palavra e um deles por duas, com muitas peculiaridades. Começamos logo pelo título. Sendo o poema tão pequeno e o título uma hora específica, hora e minutos, parece que o autor está a apontar-nos o horário do poema. Não está apenas a mostrar que, nesse minuto 47 das 21 horas, o poema foi escrito; está também a mostrar o horário do poema: este poema é às 21h47m, hora de Lisboa (presume-se). Mas leia-se agora o poema: “Foi este poema / que se tornou / silêncio / vazio / sem silêncio” O “foi” refere-se a um futuro: o futuro da leitura do poema. “Foi este poema”, um dia, àquela hora, naquele horário. E este poema que foi, tornou-se silêncio e vazio à força de já não ser nada aquando da leitura, está morto, calado, despojado de vida, ele foi, já não é. Mas o último verso, “sem silêncio” mostra o leitor. O poema foi, aconteceu, no momento em que foi escrito e é agora uma nada, um vazio, um silêncio a não ser que seja recuperado, ressuscitado por um leitor, e tornar-se-á então sem silêncio, como um morto de quem se fala. O poema é isto. Aconteceu, foi, torna-se nada até que aconteça um leitor. Os três poemas finais – 3 versos, 4 versos, 3 versos – perfazem a parte IV e última do livro: “IV Da Vaidade (ainda 25 gramas de autofagia)”. Exponho aqui o último dos três versos: “A tua vida consiste em / apanhares o teu assassino / enquanto é o teu tempo” A primeira estranheza do poema é haver palavras em itálico nos segundo e terceiro versos: “teu assassino”, “teu tempo”. Esta estranheza leva-nos a pensar que o poeta pretende, uma vez mais, embora com artifício diferente, uma leitura harmónica do poema, ao invés de uma leitura melódica. Não podemos deixar de ler melodicamente o poema, evidentemente, mas ao mesmo tempo não podemos deixar de ficar presos no contraponto dos versos segundo e terceiro “teu assassino / teu tempo”, “teu assassino / teu tempo”, “teu assassino / teu tempo”. Mas no que a vida consiste, aquilo que ela é, resume-se a apanhares o teu assassino enquanto é o teu tempo. Estamos desde logo num labirinto lógico, num paradoxo. Paradoxo este que é a própria vida. A vida é o paradoxo que nos mata; somos o nosso próprio assassino, o nosso próprio tempo. E é nisto que a vida consiste. E porque a vida consiste nisto, este livro não poderia ser diferente dela e não poderia deixar de ser todo ele um enorme paradoxo.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Preços da habitação subiram em Julho [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]preço médio da habitação nas 100 principais cidades chinesas aumentou 1,63% em Julho, face ao mês anterior, com os compradores possivelmente a reagir às decisões de algumas cidades para travar a subida dos preços. O valor médio do metro quadrado das novas casas subiu para 12.009 yuan, segundo um estudo da organização China Index Academy (CIA). É uma subida superior à registada em Junho, de 1,32%. O imobiliário é um sector chave da economia chinesa, a segunda maior do mundo e o motor da recuperação económica global. Algumas cidades, incluindo Xangai, a “capital” económica da China, terão adoptado ou sugerido políticas para controlar o mercado, após uma acentuada subida dos preços, de acordo com a CIA. Esta decisão “teve algum impacto nas expectativas dos compradores”, lê-se no comunicado, sugerindo que os proprietários foram precipitados a comprar casa. Novos impulsos Após uma estagnação no sector imobiliário, entre a segunda metade de 2014 e a primeira de 2015, Pequim tomou várias medidas para impulsionar a compra de habitação. Entre estas, destacam-se a redução da taxa de juro para estimular o crédito bancário, a diminuição dos impostos sobre as transacções de imobiliário e a redução do pagamento inicial na compra de uma casa. Estas políticas resultaram num aumento dos preços em algumas cidades grandes. No entanto, a China tem milhões de habitações novas por vender, a maioria concentrada em cidades pequenas. O Governo apelou a medidas “especializadas” para lidar com tendências diferentes em várias regiões. “O preço médio da habitação nas 100 principais cidades deverá continuar a subir, de forma estável, apesar das políticas para estabilizar os preços e controlar os riscos”, refere a CIA. Em termos homólogos, o preço das novas habitações na China avançou 12,39%, em Julho, acima do ritmo de crescimento registado em Junho, de 11,18%, detalha.
Hoje Macau China / ÁsiaGiant chinesa compra empresa de videojogos de operadora americana Um consórcio liderado pela empresa de videojogos chinesa Giant comprou a divisão de jogos para aplicativos móveis do operador de casinos norte-americano Caesars, informou ontem a agência oficial Xinhua, que cita um comunicado da empresa. No total, os investidores chineses pagaram 4,4 milhões de dólares (3,9 milhões de euros) pela Caesars Interactive Entertainment (CIE), empresa dedicada a aplicativos de jogos de cartas e de mesa. A Yunfeng Capital, fundada por Jack Ma – dono do gigante do comércio electrónico Alibaba e o segundo homem mais rico da China – é outra das 14 empresas que compõem o consórcio. O anúncio confirma o interesse das empresas chinesas em aumentar a sua presença internacional no sector dos videojogos, depois de a Tencent ter comprado, em junho passado, a Supercell (criadora de êxitos como Hay Day ou Clash of Clans). A empresa chinesa, que opera o principal serviço de mensagens instantâneas do país, o Wechat, pagou 8.600 milhões dólares por 84,3% da empresa finlandesa. A CIE é proprietária de jogos como Slotomania, Caesars Casino, Bingo Blitz, House of Fun ou World Series of Poker e está associada com multinacionais como a Apple, Facebook, Microsoft ou Yahoo.
Hoje Macau BrevesMTel com novo investidor A companhia de telecomunicações MTel tem um novo investidor. A informação enviada por comunicado ao HM avança que a empresa Choi Wai adquiriu 30% do capital da Mtel, que declarou a sua intenção de introduzir um novo investidor em Fevereiro. Depois de várias rondas de negociações, o comité de accionistas chegou a um consenso e a Companhia de Telecomunicações Internacional Choi Wai é o novo investidor. A Choi Wai é uma empresa registada na RAEHK, com mais de dez anos de experiência em telecomunicações, sobretudo em categorias como a Internet, Cidade Inteligente e Técnicas Financeiras. O comité de accionistas da MTel já solicitou ontem ao Governo a transferência de 30% de capital para a Choi Wai e o montante investido está estimado em 800 milhões de patacas. Segundo a publicação All About Macau, Choi Tak Meng, director executivo da MTel, referiu que a transferência de capital não é devida à crise financeira mencionada pelos média. “Os detalhes da transferência começaram a ser discutidos há meio ano e se realmente estivéssemos em crise, não conseguiríamos aguentar até hoje”, frisa o representante da MTel ao mesmo tempo que garante que a curto prazo a companhia não terá novos investidores.
Joana Freitas BrevesDois juízes com contrato renovado Os juízes Gonçalves Gil de Oliveira, do Tribunal de Segunda Instância, e Carlos Armando da Cunha Rodrigues de Carvalho, da Primeira Instância, viram os seus contratos renovados por mais dois anos. O anúncio foi ontem publicado num despacho assinado por Chui Sai On, Chefe do Executivo, sendo que as nomeações entram em vigor no dia 1 de Setembro.
Sofia Margarida Mota Manchete SociedadeSaúde | MTC ganha adeptos mas ainda é “preciso mais” Medicinas tradicionais de todo o mundo ganham terreno nos países ocidentais e a Medicina Tradicional Chinesa não é excepção. Mas o trabalho ainda tem que ser muito e transformar Macau numa plataforma de transmissão de conhecimentos é algo importante mas ainda longínquo, diz um profissional da área [dropcap style=’circle’]”[/dropcap]Medicinas tradicionais e ocidentais podem e devem ajudar-se mutuamente.” É esta a opinião do deputado e médico Chan Iek Lap. As declarações são feitas ao HM depois de Macau ter recebido mais um colóquio sobre cooperação no domínio da Medicina Tradicional Chinesa (MTC) nos Países de Língua Portuguesa. O médico e deputado considera que a promoção da MTC nestes países é viável, mas alerta que há uma necessidade efectiva de partilha de informação com os países do Ocidente. Os resultados já conseguidos com a MTC são efectivos, mesmo no tratamento de doenças crónicas, e a investigação científica na área é prova disso. Por outro lado, e se Portugal pensa neste momento na inclusão da MTC na medicina comum, Macau enquanto plataforma é uma circunstância que Chan Iek Lap vê como “muito positiva”, mas que não chega. “É necessário investir muito mais esforços” nesse sentido, refere ao HM. “Se calhar ainda é difícil para outros países [ocidentais] aceitarem o convívio com a MTC.” Portas entreabertas Já há muitos países do Ocidente a mostrar cada vez mais abertura às técnicas da MTC, com a abertura de cada vez mais clínicas especializadas no tratamento de doenças através de técnicas deste tipo de medicina nos mais diversos cantos do mundo, dos quais se destacam o Canadá ou a França. Mas a forma como a própria MTC passa a existir é algo também a ter em atenção, adverte Chan Iek Lap. Isto, porque esta medicina já conta com uma história com cerca de cinco mil anos. “Vem do conhecimento popular que foi transmitido de geração em geração. É necessário ainda o constante aperfeiçoamento desse conhecimento de modo a dar cada vez mais contributos válidos para o aumento do conhecimento e da promoção da MTC.” A medicina tradicional da China que tem vindo a ganhar adeptos e terreno no meio ocidental é uma área interpretativa desta própria medicina, que parte dos sinais dados pelo doente. “Após observar a situação de saúde interna do doente este é encaminhado para o melhor tratamento”, explica Chan Iek Lap. “Na medicina ocidental são necessários equipamentos muito complexos, enquanto que para nós os instrumentos aos quase recorremos são mais simples e viáveis”, afirma, dando o exemplo da acupunctura que, como precisa de agulhas, a faz ser também mais viável em determinados contextos, passando a ser um instrumento a ter em conta seja onde for. O médico destaca ainda o crescimento do número de especialistas de origem africana que têm, cada vez mais, vindo para a China realizar os seus estudos. À procura da plataforma Entre 18 e 31 de Julho, em Macau, teve lugar o colóquio sobre cooperação neste domínio. O evento, que contou com a presença de pessoas de renome na área da saúde, teve como objectivo principal a disponibilização de uma plataforma aos participantes dos diferentes países para aprendizagem e intercâmbio, como afirma a organização, o Fórum Macau, em comunicado de imprensa. O colóquio serviu “para melhorar o conhecimento dos Países de Língua Portuguesa sobre o desenvolvimento da cooperação entre a China continental e Macau” no que respeita à medicina tradicional chinesa, sendo que é destacado o posicionamento da RAEM enquanto plataforma privilegiada entre os PLP e a China continental, até pela construção do futuro Parque Científico e Industrial de MTC na Ilha da Montanha. No âmbito de uma visita a este mesmo parque, liderada por Wu Zhen, vice-director da Administração de Alimentação e Drogas da China, foi dado a conhecer o interesse de 46 pequenas e médias empresas em ingressar no parque, estando de momento a ser processados os trabalhos de entrada.
Sofia Margarida Mota Manchete SociedadeUM | Curso de Verão de Português atrai 400 alunos Cada vez mais são os jovens interessados em frequentar os cursos de Verão de Língua Portuguesa da Universidade de Macau. A edição deste ano trouxe 390 alunos de todo o lado e o programa, pelas suas características, tende a continuar e a crescer, 30 anos depois de ter sido criado [dropcap styçe=’circle’]O[/dropcap]s cursos de Verão dedicados à Língua Portuguesa existem na Universidade de Macau (UM) há 30 anos. Foram “um dos filhos mais velhos da instituição”, como afirma Ana Nunes, coordenadora da iniciativa, e este ano juntam cerca de 400 alunos vindos de todo o mundo. “É um curso de sucesso”, expressa a coordenadora com orgulho e um sorriso. Na sua maioria, os participantes são jovens vindos da China continental, mas não só. Contam-se ainda com “muitas pessoas” da Coreia do Sul e há quem venha de Timor, Hong Kong, Austrália, Estados Unidos, Tailândia e mesmo Áustria para passar cerca de três semanas das férias estivais em Macau a consolidar os conhecimentos de Português e ir um pouco mais além na língua de Camões, que traz consigo uma carga cultural indissociável. Além da língua Apesar de ser um curso de Língua Portuguesa, parece ser o que a língua traz associado que mais atrai os participantes. A curiosidade pela cultura lusa aparenta ganhar pontos e constituir um factor de peso na decisão de frequentar os cursos da UM. “Para mim é importante conhecer a cultura portuguesa”, diz ao HM Rui, um jovem chinês de 20 anos e que vem de Pequim. Já vai no terceiro ano de presença neste curso e considera que “Macau é o laço entre a China e o mundo lusófono e aqui há ainda uma mistura interessante de culturas”, sendo esta formação de Verão uma forma de aceder a essas culturas. Já Ana vem da Universidade de Xi’An e já conhecia Macau, mas é a primeira vez que frequenta o curso. Depois de três vindas à RAEM, e considerando que por cá “o ar é bom para aprender Português”, a jovem resolveu aperfeiçoar a língua este Verão. Mas não só. “É [também] uma possibilidade de encontro com pessoas de outros lados do mundo, um lugar mais internacional e mais aberto”, frisa, acrescentando que como a Língua Portuguesa é oficial, Macau é o “melhor sítio para estudar Português”. Coordenadora do programa As características deixadas pelos portugueses são também notadas pelos jovens estudantes. “A arquitectura e outros traços que encontramos em Macau são símbolos históricos que nós devemos conhecer e respeitar e que nos ajudam a entender o que dizemos e aprendemos”, frisa Ana. Amigos lusitanos “Durante a minha presença neste curso não só aperfeiçoei a língua, como aprendi coisas que não sabia relativamente à cultura portuguesa”, afirma com entusiasmo estampado no rosto Amado de Jesus dos Santos. O jovem de Timor sente que este curso vai além da língua e que inclui conhecimentos fundamentais para quem a estuda. “Aprendi ainda um pouco da História, o que ajuda a entender a língua e a cultura”, afirma ao HM. O curso que junta gente com várias formas de expressão une os participantes numa língua só, factor também muito apreciado por Amado. “O convívio com outros colegas de curso em que a única forma de comunicar é o Português”, visto ser a língua comum para comunicar com os colegas chineses, é também uma mais valia que o curso acaba por proporcionar. “Temos que falar Português uns com os outros para nos entendermos”, remata o jovem, que vê nesta única forma de comunicação uma das grandes vantagens que leva desta experiência. Macau foi uma surpresa em que “tudo é completamente diferente”, mas é através da Língua Portuguesa que se reúnem pessoas de vários países para se concentrarem, aprenderem e aprofundarem em conjunto. É também um espaço e partilha de ideias e tudo em Língua Portuguesa. Professores que encantam A escolha de Macau não foi ao acaso. Fala-se em Pequim, Xi’An e Xangai neste curso e, para os alunos chineses, nada como estar num local onde o Português integre os idiomas oficiais para promover os seus conhecimentos linguísticos. Por outro lado, e dada a sua particularidade multicultural tanto nos estudantes como nos professores, o curso da UM parece atrair os participantes à repetição. “Aqui os professores ensinam de uma maneira diferente que nos permite compreender outras coisas e ter muitas traduções para a mesma expressão”, afirma Rui, que diz que o curso tem uma vertente prática muito boa. “Em Pequim raramente temos oportunidade de fazer interpretação simultânea e aqui temos aulas em que o fazemos, o que é muito bom principalmente para um estudante que aprende a língua por três anos”, afirma, antes de deixar o HM e ir a correr para a aula de Português avançado. Rui já está pela terceira vez a passar o Verão na UM. Os professores são também referidos pela qualidade e dedicação por Sammy, jovem estudante que vem de Xangai e fala um Português perfeito. “É uma boa oportunidade para aprofundar conhecimentos com o convívio com os professores nativos. [Os professores] vão além do estudo de textos. Ensinam-nos a contextualizar os conteúdos, a ver para além deles e a saber interpretar de outra forma”, afirma a aluna com um sorriso. “Contexto cultural, político e social são temas que passam pelo curso e que nos ajudam muito porque na China as aulas de Português são dadas em Chinês e não desenvolvemos tanto a língua.” Mas a chegada até aqui é também uma oportunidade de entrar em contacto com outras realidades que não se vivem no continente. A possibilidade de debate acerca do mundo contemporâneo em liberdade e no ambiente de aula é uma novidade para Afonso, que vem também de Xi’An. “Aqui temos Youtube”, afirma em tom de brincadeira, ao mesmo tempo que diz que “os professores são sábios e com muitos conhecimentos acerca de aspectos diferentes”, conferindo a esta experiência pedagógica um factor “muito produtivo”. “Discutimos sobre tópicos da sociedade contemporânea como por exemplo a eutanásia, censura ou regimes autoritários”, diz. Coisa que não se passa no continente. Para Afonso, a possibilidade de se expressar é “muito positiva”. As visitas agendadas pela UM para dar a conhecer Macau aos estudantes estivais também são uma mais valia. “Dá a oportunidade de ver coisas de outros lados”, afirma Afonso, e concretamente de Portugal e “assim compreendemos melhor a língua que estamos a aprender”. Mas porquê? A origem das motivações para o estudo da Língua Portuguesa é diversa e varia conforme os estudantes. Entre alunos de origem chinesa e um timorense que optaram por aprender o domínio do idioma de Pessoa, a poesia ficou mais para traz, mas não foi esquecida. Mas, e à semelhança da realidade, são as perspectivas de emprego e “ganhar muito dinheiro” que movem as ambições dos futuros homens e mulheres que ali estão. Rui vê no exercer da profissão de intérprete um descanso económico e, para isso, tenciona no final da licenciatura ir para Portugal tirar o grau de mestrado. Já Ana considera que “é uma língua muito procurada na China” e pretende ser colega de profissão de Rui, por “se poder ganhar muito dinheiro”. Afonso quer utilizar a língua que escolheu por ser umas das mais faladas no mundo, para vir a ser empresário de ligação comercial entre a China e os países de expressão portuguesa. Mas há quem tenha outros sonhos. O poder desfazer barreiras linguísticas capazes de aproximar culturas é o sonho de Sammy. A aluna quer ser professora de modo a poder fazer parte da “aproximação entre culturas”, afirma com convicção a jovem de 20 anos. Dar azo à boa tradição lusa de grandes escritores está no horizonte de Amado. O jovem timorense sonha em ser tradutor e escritor, por serem profissões com uma “função socialmente importante”. Lola, que ainda dá os primeiros passos na língua, escolheu o Português pela sua beleza e origem histórica e espera poder ter portas abertas para ir para a Europa. É de lá quem vêm os filmes e livros que mais gosta e não descura o objectivo de poder vir a trabalhar nos média e, quem sabe, em Portugal. Futuro que não passa ao lado A aprendizagem do Português é vista com bons olhos não só pelos que frequentam o curso, mas por quem os orienta. É uma possibilidade de futuro promissor, como afirma Ana Nunes. “Se um aluno, neste momento, souber falar Inglês, Português e Chinês terá muitas portas abertas no mundo actual e eles têm noção disso.” Sabendo Português, o leque de saídas profissionais também se pode alargar visto proporcionar uma oportunidade de escolha. “Podem ficar na China ou escolher com facilidade outro destino.” De vento em popa O curso vai bem e de boa saúde e “é para manter”, afirma com satisfação Ana Nunes. Faz este ano 30 anos e nasceu após cinco anos da abertura da UM. Não é uma formação estática e todos os anos é alvo de aperfeiçoamento, sendo que há condições para aumentar o número de alunos, visto as instalações da UM o permitirem e apesar do trabalho que implica, como refere a coordenadora. Quanto aos custos que implica para os alunos, “os preços são pensados tendo em conta que estamos a falar de jovens estudantes”, sendo que o valor de cerca de 5700 patacas para os alunos estrangeiros inclui “tudo”: alojamento, alimentação, material didáctico e ainda despesas relacionadas com visitas de estudo na RAEM. Os alunos locais têm benesses, com o pagamento da propina a ficar a cargo da Direcção dos Serviços de Educação e Juventude. Neste momento, 390 alunos frequentam o curso.
Hoje Macau Desporto MancheteÓbito | Morreu Moniz Pereira, o “pai” do atletismo português Foi no passado domingo que o mundo do desporto ficou mais pobre. O professor Mário Moniz Pereira morreu aos 95 anos de idade. Homem carismático e de personalidade forte, como é caracterizado, deixou um enorme legado no mundo do desporto, onde durante anos ganhou e deu a ganhar [dropcap style=’circle’]N[/dropcap]ascido em Lisboa no seio de uma família abastada, cedo percebeu que a vontade de praticar desporto lhe corria no sangue. Em criança, o quintal da família servia para imaginar e sonhar campeonatos de corridas e de salto, mas à medida que crescia, o quintal tornou-se demasiado pequeno. Contrariando o avô, e então patriarca da família, inscreveu-se no Instituto Nacional de Educação Física onde acaba por ficar a leccionar durante 27 anos, influenciando gerações e gerações de atletas. Mário Moniz Pereira era um atleta multifacetado e um apaixonado por música. Um homem que o mundo vê agora partir. Atleta de múltiplas faces Durante o serviço militar, Mário Moniz Pereira continuou a praticar desporto e aí destacou-se nas modalidades de equitação, tiro, esgrima e natação. A vida militar não o apaixonou e regressou à vida civil para cumprir uma carreira no mundo do desporto, com especial destaque no atletismo. Moniz Pereira tornou-se sócio do Sporting em 1922, mas só em 1939 integra o clube, desta feita como praticante de ténis de mesa. Mais tarde ingressa na equipa de atletismo, ginástica, ténis e hóquei em patins. Estamos então na década de 40. O voleibol deu-lhe também muitas alegrias e trouxe-lhe a glória ao sagrar-se Campeão Nacional nas temporadas de 1953-1954 e 1955-1956, esta última acumulando com o cargo de treinador. Aqui tornou-se também Seleccionador Nacional e Presidente da Comissão Central de Árbitros e foi árbitro internacional no Campeonato do Mundo de Paris, realizado em 1956. Entre 1970 e 1971 foi Preparador Físico da equipa de futebol do Sporting, tornando-se Campeão Nacional no primeiro ano e vencendo a Taça de Portugal no segundo. Como homem multifacetado que era, foi também preparador físico da Selecção Nacional. O atletismo foi sem dúvida a modalidade em que mais se destacou não só pelos títulos que conquistou, como pelos atletas que influenciou e pelos títulos que ajudou a conquistar para Portugal. Mas, como todos os grandes, também Moniz Pereira teve um percurso pessoal: tornou-se campeão universitário de Portugal no triplo salto e treinador da equipa do Sporting em 1946. Conquistou 30 campeonatos nacionais de pista masculinos, 24 campeonatos de pista femininos, 33 campeonatos Nacionais de Corta Mato masculinos e 12 taças dos Clubes Campões Europeus da mesma modalidade. Fotografia de Gonçalo Lobo Pinheiro A sua faceta de “fazedor de campeões” é talvez uma das suas características mais vincadas. A vontade de fazer crescer o atletismo português e arrecadar medalhas, deram-lhe a força e a coragem de apostar em nomes fortes e fazê-los suar e vingar. Falamos de Álvaro Dias, Domingos Castro, Aniceto de Simões, Hélder de Jesus, Carlos Lopes, Fernando Mamede, Dionísio de Castro. E a sua presença foi sentida por tantos outros mais. “Todos os sonhos, todos os caminhos, todos os passos que dei, ao professor Moniz Pereira eu agradeço a confiança e a motivação. O meu ídolo de todos os tempos. Descanse em paz professor e obrigada por tudo”, referiu Sandra Teixeira, vencedora de 1500m nos Jogos da Lusofonia de Macau em 2006, ao HM. Naíde Gomes, ex-atleta olímpica e campeã mundial de salto em comprimento, também expressa condolências, agradecendo ao professor: “por tudo o que deu ao nosso atletismo e ao nosso Sporting. Obrigada por ter acreditado em mim. Descansa em paz professor Moniz Pereira. Obrigada”, frisou. Momentos inesquecíveis O “professor” ficará na história do desporto português e sobretudo na do atletismo, por inúmeras razões, apesar de umas serem mais visíveis que outras. É o caso de momentos inesquecíveis, como o Recorde Mundial dos dez mil metros conseguido por Fernando Mamede, em 1984. Os três campeonatos de Corta Mato conquistados por Carlos Lopes, a Medalha de Ouro na Maratona Olímpica de Los Angeles e a primeira medalha olímpica do atletismo português conquistada também por Carlos Lopes, em 1976, nos Jogos de Montreal, são também momentos altos do atletismo português que ficam gravados na memória. Mário Moniz Pereira sabia o que queria e não poupava esforços nem exigências aos seus atletas. O professor ficou conhecido por impor disciplina e não tolerar atrasos durante os treinos. Disciplina e rigor eram as palavras de ordem. Tanto que há quem atribua a sua ausência a problemas no desporto português. “Estou no Rio de Janeiro e esta noite não consegui dormir porque a notícia da morte do professor deixou-me muito triste. Sabemos que pela idade avançada isso poderia acontecer a qualquer hora, mas é sempre difícil. Será uma grande perda. Aliás a grande crise do nosso meio fundo/fundo masculino tem muito a ver com o afastamento dele e também do Professor Fonseca e Costa. Espero que saibamos aproveitar todo o legado que ele nos deixou”, disse ao HM Rita Borralho, vencedora da Corrida de São Silvestre de Macau em 1981. Foto de Gonçalo Lobo Pinheiro “Foi-se o Homem mas para trás fica um legado que é toda uma modalidade e todos aqueles que tocou e deu um lugar na História do Desporto Nacional”, acrescentou Marco Fortes, atleta olímpico e vencedor do lançamento do peso nos Jogos da Lusofonia de Macau em 2006. A paixão pela música O que muitos desconhecem é a veia artística do professor e pai do atletismo português. O gosto pela música, em especial pelo Fado, levaram-no a compor várias músicas para grandes fadistas portugueses. “Valeu a Pena”, “Fado varina”, “Rosa da Madragoa”, “Rosa da noite” e “Não me conformo” são alguns dos temas, que se destacam entre muitos outros. E é nesta área que também há quem o relembre. “Há o Mário, amigo de mil histórias que nós ouviamos com muita atenção e divertimento. Também há o professor Moniz Pereira, este, um exemplo para os portugueses, espero, e para o mundo do atletismo. Neste momento todos o conhecem, todos têm histórias com ele. Sempre será assim. Agora que vai ficar nas nossas memórias, isso vai. É impossível não ser assim. Ou então, somos mesmo ingratos e não gostamos de homens bons”, frisou ao HM Paulo de Carvalho, músico, que desejou ao professor “uns bons Jogos Olímpicos”. Moniz Pereira participou em 12 jogos olímpicos e quase que como uma ironia do destino, partiu em véspera do início dos jogos do Rio. Com 95 anos, morreu no domingo. Homenagens multiplicam-se “O Sporting CP lamenta informar a morte do professor Mário Moniz Pereira, com 95 anos, pelo qual está de luto. O professor Mário Moniz Pereira é o símbolo máximo do ecletismo do Sporting CP e do desporto nacional. O clube endereça as mais sentidas condolências à família e amigos”, Comunicado do Sporting nas redes sociais “Vai com o sentimento de dever cumprido, ao longo de muitos anos, por acreditar no trabalho e nas pessoas com quem trabalhou e nas pessoas que lhe eram muito próximas”, Carlos Lopes, ex-atleta “Foi um homem muito importante para mim. Considerava-o um segundo pai. Esteve sempre comigo nos bons e nos maus momentos. E nuns e noutros tratou-me sempre da mesma maneira. Fez de mim recordista mundial dos 10 mil metros”, Fernando Mamede, ex-atleta “[Partiu] um homem bom, cujo exemplo reforça ainda mais a vontade” [dos atletas portugueses nos Jogos Olímpicos]”, Marcelo Rebelo de Sousa, presidente da República “Uma máquina de fazer campeões”, Bruno de Carvalho, presidente do Sporting CP “Obrigado por tudo o que deu ao Desporto e em particular ao Atletismo. Ficará sempre na nossa história verdadeiro mestre. Espero que tenha deixado os seus ensinamentos. Descanse em paz Sr. Atletismo”, Sara Moreira, campeã da Europa de Meia-Maratona em 2016, ao HM Condecorações Em 1976 e 1984 – Medalha de Mérito Desportivo Em 1980 – condecorado com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique Em 1984 – condecorado com a Ordem de Instrução Pública Em 1985 – galardoado com a Medalha de Mérito em ouro e nomeado Conselheiro da Universidade Técnica de Lisboa Em 1988 – galardoado com a Ordem Olímpica Em 1991 – condecorado com o grau de Grande Oficial da Ordem do Infante D. Henrique Em 2000 – o Sporting atribuiu-lhe o Leão de Ouro com Palma, que é o mais alto galardão do clube, contando ainda com o prémio Stromp na categoria Técnico Amador de 1964 Em 2015 foi distinguido com o prémio Leões Honoris Sporting, na categoria Honra especial. Fez parte da Comissão de Honra do Centenário do Sporting Clube de Portugal, do qual era o sócio número dois e desempenhou funções também como dirigente do Sporting. Começou como Secretário Técnico, depois como Vice Presidente para as Actividades Desportivas Amadoras e também como vice presidente com o pelouro das modalidades. Ficou até 26 de Março de 2011, acompanhando todo o processo que ficaria conhecido como o Projecto Roquete. Sabia que… Moniz Pereira acompanhou 12 Jogos Olímpicos, cinco Campeonatos do Mundo, 13 Campeonatos da Europa, 15 Taças da Europa, 22 Campeonatos do Mundo de Corta Mato e 18 Taças dos Clubes Campeões Europeus de Corta Mato na qualidade de técnico, jornalista e seleccionador de atletismo?
Hoje Macau PolíticaSong Pek Kei pede resolução de contratos que prejudiquem interesse público [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]deputada Song Pek Kei voltou esta semana a pedir mais controlo na atribuição de obras públicas e que se faça uma “auto-crítica” antes da assinatura dos contratos. Numa interpelação escrita, a número dois de Chan Meng Kam na Assembleia Legislativa (AL) reitera críticas da existência de monopólios e de custos excessivos. O Governo tem salientado a necessidade de se abrir o mercado de telecomunicações, algo que tem sido impossível devido ao contrato assinado com a Companhia de Telecomunicações de Macau, S.A.R.L. (CTM), tido como um “contrato desleal”, porque dá poder à empresa para alugar cabos e ligações aos preços que mais lhe convém a outras operadoras. A deputada diz que não é a primeira vez que tal acontece, dando como exemplo o caso de concessão do serviço público de autocarros, cujos contratos também violavam a lei por darem mais poder do que o devido às operadoras. “Uma vez que os serviços públicos envolvem muitos interesses e despesas públicos, o Governo deve privilegiar a imparcialidade nos contratos. Face a estes casos de contratos públicos, as autoridades têm feito investigações e autocríticas? Porque é que os contratos com problemas foram na mesma aprovados? Por falta de conhecimentos da lei, por causa dos funcionários, ou porque foi assim que quiseram?”, questiona Song Pek Kei. Já desde antes da transição de soberania que têm surgido vários problemas face concessões de serviços públicos, que acabaram por criar “prejuízos” à sociedade, como refere a deputada. Song Pek Kei considera que a situação piorou depois da transição. “Que mecanismos tem o Governo para garantir os interesses públicos em celebrações de contratos? Como é que o Governo tomará as experiências do passado para conseguir exercer domínio no futuro?”, indagou. * por Cláudia Tang