Hoje Macau BrevesHomem faz ameaças com seringa Um homem do interior da China ameaçou, em dois casinos, outros apostadores com uma seringa que, alegou, continha sangue com o vírus da SIDA. Os casos aconteceram em casinos na ZAPE e o homem queria, segundo as autoridades, exigir aos outros jogadores que pagassem pelas suas apostas. O homem foi detido quando tentava ameaçar mais clientes noutro hotel da mesma zona. Ninguém foi atacado e o suspeito revelou à polícia que não é portador de SIDA, tendo utilizado uma seringa que continha sangue falso para ameaçar os outros apostadores. A polícia ainda está à espera do relatório ao teste de sangue. O detido de 27 anos já foi transferido para o Ministério Público para a investigação.
Sofia Margarida Mota Eventos MancheteLiteratura | Lisboa recebe Fórum do Livro de Macau A capital portuguesa vai receber nove dias de literatura de Macau em Língua Portuguesa. O Fórum do Livro de Macau vai levar obras da terra, lançar livros e promover a literatura da RAEM em Lisboa, numa iniciativa da Associação Amigos do Livro, de Rogério Beltrão Coelho [dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] “a maior acção de promoção de literatura nascida em Macau nos últimos trinta anos” e tem data marcada de 24 de Outubro a 3 de Novembro, em Lisboa. É o Fórum do Livro de Macau, uma iniciativa da Associação Amigos do Livro, liderada por Rogério Beltrão Coelho, e que pretende ser uma grande feira do livro com obras do território. Um evento “com todos os livros de Macau e sobre Macau em Língua Portuguesa”, afirmou o jornalista numa conferência de imprensa que apresentou ontem o evento e que decorreu na Fundação Rui Cunha. O acontecimento foi dado a conhecer passo a passo e apresenta uma programação eclética e recheada numa iniciativa que, “em Portugal teve todo o apoio mas que em Macau sofreu de diversas dificuldades”, como afirma Beltrão Coelho. Se, na terra de Camões, os espaços foram cedidos gratuitamente e as portas se abriram, em Macau o orçamento ficou aquém do solicitado, o que “põe em causa” alguns dos objectivos do evento, nomeadamente o transporte de livros para Lisboa. O apoio solicitado ao Instituto Cultural (IC) foi de cerca de 400 mil patacas que se concretizaram em 119 mil. A ideia era “apenas cobrir as despesas de deslocação e alojamento de oito pessoas, o lançamento dos três livros que está agendado durante o evento e o transporte dos livros que faltassem”. No entanto, esta baixa nos apoios, apesar de pôr em causa a chegada de alguns títulos, não condicionou aqueles que vão ser lançados, nem que seja “por teimosia” de Rogério Beltrão Coelho. Quanto às obras que deveriam estar a caminho, “levam-se na mala as que couberem”. No entanto, o presidente da Associação Amigos do Livro lamenta que o IC não tenha colaborado, visto ser a entidade competente para o fazer. Mas, diz, estando a obra feita poderá estar o caminho aberto para que no futuro se recorra a outro tipo de apoios. O objectivo é fazer com que este evento venha a ser regular e anual. Com uma programação abrangente, que se divide entre palestras e apresentações em diferentes espaços – dos quais se destacam a Delegação Económica e Comercial de Macau, o Centro Científico e Cultural de Macau, o Clube Militar Naval, a Fundação Casa de Macau, o Museu do Oriente e a Biblioteca Nacional de Portugal, o evento integra o lançamento de três livros. “Espíritos”, de Shee Va, é apresentado a 25 de Outubro por Beatriz Bastos da Silva. “Macau Histórico e Cultural”, do historiador António Aresta, é dado a conhecer no dia seguinte no Museu do Oriente e o mais recente livro de Carlos Morais José, “Arquivo das Confissões | Bernardo Vasques e a Inveja”, é apresentado por Ana Paula Laborinho, presidente do Instituto Camões, na Delegação Económica e Comercial de Macau, a 31 de Outubro. Escrito em Chinês De modo a seguir o princípio de levar o que é escrito em Macau, o Fórum do livro leva a Lisboa a sugestão de obras escritas em Chinês criadas por autores contemporâneos e modernos do território. Para o efeito, o evento conta com a presença da académica Han Lili, para que sejam dados os passos essenciais. “Primeiro é necessário fazer um levantamento da literatura de Macau escrita em Chinês, depois é necessária a sua leitura e ter uma opinião acerca do seu valor “, afirma Beltrão Coelho, “para que depois seja suscitado o interesse de editoras que os queiram vir a publicar em Português”. Beltrão Coelho relembra ainda a necessidade de um “fundo de tradução” e diz que Macau deveria ocupar o lugar para que está talhado: corresponder a um centro, por excelência, de tradução de Chinês para Português. Mas tal só é possível, e à semelhança do que já existiu em tempos idos, caso exista um fundo de tradução para que as obras possam ser passadas de língua para língua. “Deveria existir uma verba para isso”, reafirma o jornalista e editor, porque “não faz sentido que tal não exista numa terra como esta”. O evento contará ainda com uma extensão em Coimbra a 5 e 6 de Outubro dirigida à área do Direito.
Sofia Margarida Mota BrevesMais paragens para o 71 A carreira 71 vai ter mais quatro paragens, anunciou ontem a Direcção de Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT). A carreira faz ligação entre a Universidade de Macau e a Praça de Ferreira do Amaral e vai passar a contar com paragens na “Av. Marginal Flor de Lotus/Broadway” e “Pousada Marina Infante”, com destino à Praça de Ferreira do Amaral, e nas “Av. M. Flor de Lotus/Galaxy-1” e “Av. M. Flor de Lotus/Galaxy-2”, quando circula em direcção à Universidade. A iniciativa tem como objectivo facilitar as deslocações entre as duas zonas.
Hoje Macau BrevesAssociação diz que nova biblioteca pode trazer vitalidade cultural Wong Ka Fai, presidente da Associação para a Reinvenção de Estudos do Património Cultural, concorda com a decisão do Governo em transformar o antigo tribunal na nova Biblioteca Central. A Associação diz que, pelo facto de ficar no centro, o novo espaço pode ser articulado não só com a necessidade de leitura dos moradores da zona, mas também com o Centro Histórico e projectos culturais que a ele ficam próximos, como o Anim’Arte Nam Van e a C-SHOP. Tal, diz, contribui para mais um avanço na melhoria do ambiente artístico e cultural da zona. “Com a revitalização, o velho tribunal serve não só como um espaço de descanso dos cidadãos, mas atrai também mais a visita dos turistas à zona sul. Entrando na nova biblioteca, os turistas utilizam as instalações mas sentem também o contexto cultural histórico único de Macau.”
Hoje Macau BrevesReajustamentos de autocarros no Cotai Face à conclusão sucessiva de instalações turísticas no Cotai, a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) vai proceder ao ajustamento da localização de algumas paragens e à alteração da sua designação. Neste sentido, a paragem “Rotunda Flor de Lótus -2” será conhecida por “Est. do Istmo/Studio City”, a paragem “Av. da Nave Desportiva/Rotunda da U.C.T.” será deslocada para a frente numa distância aproximada de 250 metros e a paragem “Av. Dr. Henry Fok/Av. do Aeroporto” vai ficar fora do complexo turístico Wynn Palace, sito na Avenida Dr. Henry Fok, enquanto as paragens “Rotunda da U.C.T./M.U.S.T.”, “Rotunda do Istmo/C.O.D.”, “Av. da Nave Desportiva/Rotunda da U.C.T.” e “Av. Dr. Henry Fok/Av. do Aeroporto” passam a ser conhecidas, respectivamente, por “Av. Dr. Henry Fok/M.U.S.T.”, “Av. Dr. Henry Fok/C.O.D.”, “Av. da Nave Desportiva/Wynn Palace” e “Av. Dr. Henry Fok/Wynn Palace”. Em articulação com este ajustamento, a DSAT vai actualizar as informações dos autocarros na sua página electrónica.
Hoje Macau China / ÁsiaPequim critica visita de Dalai Lama ao Parlamento Europeu A visita do Dalai Lama ao Parlamento Europeu (PE) não foi vista com bons olhos, e o aviso de que as relações entre Pequim e Bruxelas podem sair beliscadas foi feito pelo Ministro dos Negócios chinês, durante uma conferência na capital chinesa [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China criticou na segunda-feira o Parlamento Europeu por ter recebido o Dalai Lama, o líder político e espiritual dos tibetanos, afirmando que aquela decisão poderá danificar as relações entre Bruxelas e Pequim. Durante as suas declarações em Estrasburgo, na semana passada, o líder religioso apelou à União Europeia para que “critique de forma construtiva” a China, na questão do Tibete. “A China opõe-se firmemente às acções equivocadas do Parlamento Europeu”, afirmou o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros Lu Kang, numa conferência de imprensa, em Pequim. Situada na cordilheira dos Himalaias, o Tibete é uma das regiões chinesas mais vulneráveis ao separatismo. O Dalai Lama vive exilado na vizinha Índia, na sequência de uma frustrada rebelião contra a administração chinesa, em 1959. Pele de cordeiro Pequim pressiona com frequência entidades e líderes estrangeiros a não receberem o Dalai Lama, que em 1989 foi galardoado com o Prémio Nobel da Paz, acusando-o de ser um “lobo que veste como um monge” e procura a independência do Tibete, através de “terrorismo espiritual”. Lu lembrou que as relações entre a UE e a China estão a desenvolver-se rapidamente e que existe boa comunicação entre os dois lados, acrescentando: “Mas, desta vez, os líderes do Parlamento Europeu insistiram obstinadamente em adoptar a sua própria via e tomar a posição errada, prejudicando os interesses estratégicos da China e danificando seriamente a base política para os intercâmbios parlamentares bilaterais”. O Dalai Lama apelou aos políticos europeus para que façam uma crítica construtiva à China, na questão do Tibete, “numa altura em que os líderes chineses, até os mais ortodoxos neste aspecto, estão a enfrentar um dilema sobre como lidar com o problema”. No mês passado, o Partido Comunista Chinês (PCC) anunciou a nomeação de um novo secretário-geral da organização no Tibete, Wu Yingjie, que substitiu Chen Quanguo, que abandona os seus cargos no comité central do PCC na região, por razões não detalhadas.
Julie Oyang h | Artes, Letras e IdeiasUma breve história do beijo “吻”之影史 [dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]stava eu hoje a surfar na Internet, quando me deparei com o beijo mais demorado da história do cinema: o filme – No final do Outono (2010), tem como protagonistas Hyun Bin, actor coreano, e Wei Tang, actriz chinesa, que se beijam longamente numa cena que dura dois minutos e meio. A China produziu o seu primeiro filme em 1905, 10 anos após os irmãos Lumière terem projectado, pela primeira vez, uma sequência de imagens em movimento para uma audiência que pagou para assistir. Nos 100 anos seguintes, foram realizados neste país pelo menos 7.000 filmes. Alguns deles marcaram a vida das pessoas e influenciaram a sua forma de olhar o mundo. Por volta de 1909, a China, com uma população de cerca de 400 milhões de almas, começou a ser vista como o maior mercado mundial para o cinema, mito que ainda hoje persiste. Em Xangai, o empresário russo-americano, Benjamin Brodsky, fundou a Asia Film Co., a primeira empresa chinesa produtora de filmes. Com o capital e os estúdios cedidos pela Asia Film Co., Zhang Shichuan e Zheng Zhengqiu, duas figuras de topo dos primeiros anos do cinema chinês, realizaram Dificuldades no Matrimónio (1913). É considerado o primeiro filme chinês de ficção. Na altura, não era permitido às mulheres representarem, nem no teatro, nem no cinema. Mas em menos de um ano, Yan Shanshan virou a comunidade artística chinesa do avesso, quando ingressou num mundo dominado por homens, e desempenhou o papel de uma jovem no filme Os Ciúmes de Chuang-tzu, produzido em Hong Kong. Mais tarde Brodsky levou o filme para os Estados Unidos, pelo que foi o primeiro filme chinês a ser visto no estrangeiro. É um facto que são as mulheres que continuam a mexer com o coração das audiências na China, e não os Kung Fus nem os Pandas. Um dia, um rapaz chamado Long que, quando era pequeno, só via pessoas a beijar-se nos filmes ocidentais, perguntou ao pai: “Porque é que os estrangeiros estão sempre aos beijos?” O pai respondeu, impaciente: “Porque são estrangeiros. Só os estrangeiros é que fazem isso.” Os tempos eram outros quando Long fez esta pergunta. É claro que as pessoas também se beijavam nos filmes chineses no início dos anos 30; as pessoas já se beijavam na literatura clássica! Nos anos 60, a Paramount encarnava a “luta de classes”. Considerava-se à época que beijar e abraçar eram comportamentos capitalistas e degenerados! Quero agora relembrar alguns momentos em que actores chineses se beijaram na tela. Em 1936, Fang Peiling realizou Metamorfose de Uma Rapariga. Neste filme, a protagonista feminina era uma rapariga que se vestia de rapaz desde pequenina, porque o avô queria ter um neto. Até que um dia uma amiga se apaixonou por “ele”. As duas raparigas beijavam-se apenas no rosto, mas este beijo teve um grande impacto porque foi o primeiro da história do cinema chinês. Romance na Montanha Lushan, produzido em 1980, foi considerado num artigo da Agência France-Presse, como “representativo de uma nova tendência na moda e na filmografia chinesas”. De facto, este filme não trouxe nada de verdadeiramente novo, mas aos olhos das audiências chinesas de então, culturalmente esfomeadas, Romance na Montanha Lushan Mountain foi um festim. A heroína mudava de roupa dúzias de vezes no topo da montanha. Para além do guarda-roupa, Romance tocou o coração das pessoas por causa de um pequeno beijo. A jovem protagonista, de fato de banho, com um olhar selvagem, dizia ao rapaz, “És tão tonto, mas tão adorável,” e a seguir pressionava os lábios contra a sua face. Na altura isto era novidade absoluta. Embora o beijo estivesse presente nos filmes feitos nos anos 30 e 40, depois de 1949, quando a República Popular da China foi fundada, estas manifestações de afecto foram erradicadas da tela. Romance trouxe-as de volta. Trinta anos mais tarde, Zhang Yu, actriz que desempenhou a protagonista, confessou: “Estava tão nervosa que não consegui encontrar os lábios dele. Porque a ideia era beijá-los nos lábios!” Antes de Romance, o filme Reflexos de Uma Vida, estreado em 1979, tentou quebrar o tabu do beijo no cinema pós-Revolução Cultural. Contudo, o realizador não se atreveu a mostrar o beijo na integra às audiências. Quando os dois jovens estavam quase a despedir-se com um beijo, a mãe da jovem subitamente abre a porta e.… adeus beijo. Desta forma o realizador escusou-se a críticas. Por fim, aqui vai o maior beijo da história do cinema. Desfrutem!
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesA 11.ª Cimeira do G20 na China “At this year`s G20 Summit, held in east China`s Hangzhou on September 4 and 5, countering protectionism and stepping up international economic governance in the midst of globalization were among the hot topics for discussion. The setting of this agenda shows that the world`s major economies are all trying to safeguard and push forward economic globalization, which is regarded as the foundation for the integration and progress of human society.” Beijing Review, Vol.59 No.36 September 8, 2016 [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] 11.ª Cimeira das vinte maiores potências desenvolvidas e emergentes, a nível mundial, realizou-se entre 4 e 5 de Setembro de 2016, em Hangzhou, na República Popular da China. A China como país anfitrião da Cimeira teve a grande oportunidade de mostrar-se como uma potência global face aos principais líderes mundiais. O governo chinês preparou a cidade, famosa pelas ilhas que pontilham o seu Lago Oeste, encerrando a actividade de centenas de fábricas, para garantir um céu azul e implementou medidas de segurança rigorosas. O tema da Cimeira foi “Para uma economia mundial inovadora, dinamizada, interligada e inclusiva”. Os líderes dos países aprovaram a discussão centrada no reforço do crescimento do G-20, procura de políticas e conceitos de crescimento inovadores, construção de uma economia mundial aberta e garantia de que o crescimento económico beneficie todos os países e populações. Apesar dos líderes mundiais se encontrarem num momento de incerteza económica e fraco crescimento económico global, a ausência de uma crise urgente fazia acreditar que o encontro criasse poucos avanços em relação à 10.ª Cimeira do G-20 realizada em Antália, na Turquia, entre 15 e 16 de Novembro de 2015, que tinha como principais temas de agenda, dar uma resposta colectiva à crise dos refugiados, emprego, crescimento e investimento, bem como a questão do emprego dos jovens e a inclusão social, o combate à fraude e à evasão fiscais, a abertura comercial e as negociações da ONU em matéria de alterações climáticas. O G-20 é o grupo dos 20 países (G20), incluindo as dezanove maiores economias mundiais e a União Europeia (UE), que conjuntamente, representam 85 por cento do PIB mundial e dois terços da sua população. A Cimeira tratou primeiramente de política económica e financeira, mas para os líderes reunidos foi também, a oportunidade para sociabilizar e enfrentar os temas urgentes e sensíveis da agenda, desde as crises geopolíticas até às alterações climáticas. A primeira Cimeira do G-20 realizou-se em 1999, após o embate provocado pela crise financeira asiática, que mostrou a urgente necessidade de uma maior coordenação global. O Grupo dos 7 (G7), que constitui o exclusivo clube dos países mais desenvolvidos do mundo não inclui potências como o Brasil, China e Índia, que começavam a ter um papel cada vez mais importante na economia mundial. As Cimeiras no inicio eram encontros meramente técnicos entre ministros, mas após a crise sistémica global de 2008, passaram a ser ao nível dos líderes dos países, tentando prevenir o colapso do sistema financeiro global. Quanto aos sucessos alcançados não existe unanimidade, pois pode ser visto como algo de importante para coordenar as políticas económicas, ou pode ser entendido como pouco mais que um grande palco de discursos e amena cavaqueira. O que seguramente se pode afirmar, é que as Cimeiras produziram uma longa lista de promessas. A Cimeira de 2015, na Turquia, foi pródiga, tendo os líderes dos países feitos cento e treze promessas sobre diversos temas, desde o corte de subsídios até ao aumento da ajuda aos refugiados, mas o fracasso da Cimeira no cumprimento das promessas do passado, aumentou as interrogações sobre a credibilidade das promessas no futuro. O estudo da Universidade de Toronto revelou que o cumprimento de treze promessas prioritárias feitas em 2015 era de cerca de 77 por cento. As previsões dos analistas para a Cimeira em Hangzhou, era da improbabilidade de ter algum resultado significativo. Sem nenhuma aguda crise que empurre à mudança, o sentimento geral de anti-globalização torna difícil para muitos líderes fazerem sérios compromissos. A directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), advertiu que o mundo enfrenta uma mistura potencialmente nociva de baixo crescimento a longo prazo e uma crescente desigualdade social, criando tentações políticas populistas e barreiras tarifárias mais elevadas. A Cimeira é um marco de referência para a China, desde que o mundo se direccionou ao país que está no centro do planeta Terra para sair da crise financeira de 2008, tendo o governo chinês advertido com crescente urgência, merecer ter um papel mais adequado à sua condição de segunda economia mundial. O G-20 é a maior e mais prestigiada Cimeira organizada pelo gigante asiático. Apesar de não ter sido uma entronização, o presidente chinês quis mostrar ao mundo e aos seus adversários políticos que a China é uma nação poderosa, capaz de assumir um papel de guia da economia mundial. Os países durante a Cimeira tentaram encontrar soluções para a revitalização da economia global. Os líderes dos países do G-20 tinham por objectivo reactivar a deprimida economia mundial, pese a relutância de muitos países à globalização e as tensões territoriais da China com alguns dos seus vizinhos, terem ensombrado a Cimeira. A China queria projectar uma imagem de grande potência, segura de si e consolidada como segunda economia mundial. A Cimeira começou de forma auspiciosa a 3 de Setembro de 2016, com o anúncio conjunto do presidente chinês e americano de ratificar o histórico Tratado de Paris sobre o clima e que pode encorajar outros países a tomar idêntica atitude e acelerar a sua entrada em vigor. O Secretário-geral da ONU, que recebeu das mãos do presidente chinês e americano, os documentos oficiais de ratificação, salientou que se tratava de um passo histórico na luta contra as alterações climáticas. É de recordar que os Estados Unidos e a China são as duas economias mais poluidoras do mundo. Os problemas geopolíticos, incluindo a guerra na Síria ou as tensões no Mar da China Meridional poderiam afastar a abordagem das questões económicas pelo que ficaram à margem da Cimeira. A China tenta evitar a discussão acerca das suas ambições nesse mar, mas os seus vizinhos encontram-se preocupados pela recente construção na zona de infra-estruturas, que incluem pistas de aterragem em recifes e ilhotas que a China reclama, mas que os seus vizinhos as disputam. O Presidente do Conselho Europeu e o Presidente da Comissão Europeia expuseram numa carta conjunta enviada aos Chefes de Estado e de Governo dos Estados membros da UE, as principais questões que deviam ser tratadas na Cimeira, como o papel do G-20 face à crise internacional de refugiados, emprego, crescimento e investimento, transparência fiscal internacional e luta contra o financiamento do terrorismo, resiliência do sistema monetário e financeiro internacional, abertura do comércio e investimento, aplicação da Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável e ratificação do Tratado de Paris sobre alterações climáticas. O presidente dos Estados Unidos na primeira sessão plenária, afirmou que as economias crescem melhor quando todos participam desse crescimento, solicitando que fossem tomadas medidas que garantam a não aplicação de novas receitas proteccionistas e populistas. O presidente chinês por sua vez, manifestou-se contra o proteccionismo, dado considerar que o isolamento não ajudará nenhum país a sair da crise e face à tendência de alguns países mostrarem um comportamento contra a globalização, existe a necessidade de garantir uma economia global, aberta e inclusiva. É certo que a abertura económica conduz ao desenvolvimento e o isolamento ao atraso. A China tinha proposto na 10.ª Cimeira do G-20 realizar um diagnóstico de saúde da economia mundial, encontrar a melhor prescrição e trabalhar com todos os países membros no sentido de encontrar a forma de atacar os sintomas e a raiz do problema, que poderá materializar-se num “Plano Hangzhou”. O presidente chinês apostou em aproveitar o momento histórico que representam as novas tecnologias, tendo insistido que todos os países, devem trabalham em conjunto de forma a poderem maximizar os efeitos positivos da revolução tecnológica e minimizar, os seus aspectos negativos. O presidente chinês face às críticas por parte dos empresários europeus sobre as restrições que sofrem as empresas estrangeiras na China, insistiu que o seu país continuará no caminho da abertura e facilitará o acesso ao investimento. O Presidente do Conselho Europeu e o Presidente da Comissão Europeia tinham definido as prioridades da Cimeira como sendo o livre comércio, crise dos refugiados, crescimento do emprego, estabilidade financeira e transparência fiscal. O G-20 tem de melhorar a forma de comunicação dos benefícios do livre comércio, e dar o empurrão político necessário para libertar a liberalização do comércio multilateral que está estagnada. O comunicado final da Cimeira referiu a crise migratória e de refugiados, tendo sido unanimemente acordado a necessidade de unir esforços à escala mundial para fazer frente às consequências, carências de protecção e causas profundas das crises. Fizeram um apelo a favor da necessidade de intensificar a ajuda humanitária e o realojamento dos refugiados. Quanto à luta contra o terrorismo, foi reafirmado a sua solidariedade e determinação, bem como o compromisso de combater o seu financiamento. A Cimeira também ressaltou, a importância da adesão, o mais breve possível, ao Tratado de Paris sobre alterações climáticas. As principais economias mundiais expressaram a sua determinação de usar todos os instrumentos políticos, incluindo a política monetária, fiscal e estrutural para alcançar um crescimento enérgico, sustentável, equilibrado e integrador, pondo em execução o “Plano de Acção de Hangzhou” e exortando a uma rápida e plena execução das estratégias de crescimento. A Cimeira prevê o inicio da cooperação em matéria de inovação, da nova revolução industrial e da economia digital. Os líderes aprovaram o plano geral do G-20 em matéria de crescimento inovador, incluindo medidas neste âmbito. Foi debatida a forma de como seguir a construção de um sistema financeiro aberto e flexível, apoiando a cooperação fiscal internacional. Foi acordado reforçar uma economia aberta e promover os benefícios do comércio e dos mercados abertos, assim como, a contribuição para a execução da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável. À margem da Cimeira o Presidente do Conselho Europeu e o Presidente da Comissão Europeia, reuniram-se com o presidente turco para discutir as relações entre a UE e a Turquia, referente à cooperação contínua em matéria de migração, denegrindo mais os princípios e valores constitucionais da Europa ao manterem diálogo com um ditador que tudo tem desrespeitado em matéria de direitos humanos, depois do falacioso golpe de estado. Assim, foi aprovado na Cimeira do G-20 de Hangzhou, reforçar o programa do G-20 para o crescimento, pôr em prática políticas e conceitos de crescimento inovadores, construir uma economia mundial aberta, garantir o crescimento económico que beneficie todos os países e pessoas, combater a crise migratória e de refugiados, lutar contra o terrorismo e as alterações climáticas. Ficou acordado que a 12.ª Cimeira do G-20 se realizará na Alemanha, em 2017.
Fernando Eloy VozesSubtropical (episódio IV) (final do episódio passado: “Talvez aguentasse mais um mês a andar, talvez mais, até aguentaria três se fosse poupadinho e soubesse preservar as energias. “Para trás mija a burra” dizia-lhe a mãe tantas vezes quando ele era criança. Sorriu com a lembrança e teve a certeza que ainda não era altura para desistir. Para além disso, o Outono estava para chegar e previam-se dias bons para caminhar”) [dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]acinto caminhava há mais de uma semana. Talvez duas. Não tinha bem a certeza. O tempo ajudava mas para além disso nada mais contribuía para a sua esperança. Pouco faltava para o dia acabar e Jacinto resolveu procurar o abrigo de uma árvore parecida com tantas outras junto às quais tinha pernoitado em noites que já eram incontáveis. Os três que ainda lhe restavam há umas semanas atrás estavam agora reduzidos a apenas um o que não contribuía em nada para lhe animar o espírito. O desfiladeiro, esse, ali continuava como se não tivesse fim, largo e intransponível como sempre. Do outro lado, o lado onde julgava morar o seu destino sonhado e que um dia quase jurava ter visto antes da tempestade desabar, nunca mais tinha surgido no horizonte. Tal facto levava Jacinto a pensar que talvez tivesse sido uma ilusão. Ele quase podia jurar que o destino escondia-se para lá do desfiladeiro, mas provavelmente não tão perto como um dia lhe pareceu. Talvez o desfiladeiro fosse curvo e, ao acompanhá-lo, ele estivesse a afastar-se. As dúvidas sucediam-se, mas ele conforme podia lá as ia afastando para salvaguarda da sua própria sanidade. O mais estranho de tudo era não se lembrar da última vez que tinha encontrado alguém no caminho, como se estivesse para lá do fim do mundo num qualquer limbo da mente onde apenas ele e a sua obsessão viviam. Jacinto sonhava com o mar. Tinha saudades do sal e do ruído, da inconstância e da violência do fantástico reino de Neptuno, dos buracos nas rochas prenhes de vida, dos crustáceos deliciosos e das caminhadas que em criança fazia com o pai, praia fora, a sonhar com viagens para além mar, escutando atentamente as fantásticas histórias de piratas que ele lhe contava em tão vívidos detalhes que faziam a sua alma de criança vogar bem para além do seu corpo finito, bem para além das estrelas, numa sensação de possibilidades infinitas. Jacinto amava o mar e adorava barcos pois achava que água levava sempre a sítios fascinantes. “Desde que houvesse vento a favor”, pensou, pois neste momento sentia-se como um marinheiro, sim, mas ilhado no mar alto após semanas de acalmia e com as reservas de água doce a extinguirem-se perigosamente. Esse pensamento fê-lo estremecer, ou talvez fosse a mão que o abanava do seu torpor onírico avidamente alimentado pela ansiedade, pela fraqueza, pela falta de contacto humano, pelas dúvidas que teimosamente voltavam apesar de ele as afastar à varejada sempre que podia. Jacinto abriu os olhos para ver a cara de um homem fortemente tisnado pelo sol, a olhar para ele. Vestia trajes demasiado sofisticados para aquelas paragens, ou talvez fosse a comparação com os seus andrajos que lhe suscitaram a ideia. O homem olhava para ele de uma forma que Jacinto se recorda de parecer estranha, com uma atitude de quem o conhecia muito bem apesar de ele ser capaz de jurar nunca na vida o ter visto. A sensação aumentou quando o homem o chamou pelo nome. Queria saber que andava ele fazer por ali. Jacinto focou-se mais no estranho. As palavras teimavam em não lhe saltar da garganta talvez por espanto, talvez por não falar haver muitos dias, talvez por ter perdido o treino, talvez por medo. Conforme o fixava, mudo, Jacinto lembrou-se, sem saber muito bem porquê, de um Rei Mago. Talvez fossem as vestes, talvez o porte, ou talvez a fosse a sua própria necessidade de se sentir menino, de se sentir acompanhado, ajudado. Analisando melhor, cedo percebeu que, a ser um Rei Mago, não era daqueles bonzinhos dos contos de Natal. Este apresentava um certo ar feroz, apesar do sorriso que lhe montava a expressão. Eram os olhos, aqueles olhos penetrantes que o fitavam, onde Jacinto pareceu notar uma certa inclemência e que o mantinham em estado de alerta. “Mas como diabo sabe ele o meu nome?” Essa questão que abafava todas as outras. Passado uns momentos que pareceram eternos, Jacinto conseguiu finalmente mexer as cordas vocais interrogando o estranho mas não obtendo mais do que o acentuar daquele misterioso sorriso. Os olhos dele, todavia, pareceram acalmar. “Vê-se que precisas de ajuda”, disse-lhe o estranho e, simultaneamente, abriu o saco que trazia a tiracolo e de lá tirou dois. “É o que tenho comigo e dou-te”. Jacinto não queria acreditar no que lhe estava a acontecer. Quem diabo seria aquele estranho que lhe estendia a mão daquela forma? Apesar de necessitado recusou a oferta, sabendo bem que quando a esmola é grande algo não bate certo mas o estranho insistiu de uma forma que acabou por se tornar irrecusável, sabendo Jacinto o que aqueles dois extra poderiam significar para a continuação da sua odisseia. Talvez tenha verbalizado o pensamento, talvez não, mas o estrangeiro respondeu-lhe dizendo-lhe que o fazia por saber que ele precisava e não esperava nada em troca, pelo menos não para já. “Há algo em ti que me obriga a fazer isto”, disse-lhe, perguntando-lhe se era ou não verdade que ele corria atrás do sonho. Jacinto, pasmado, não sabia muito bem que dizer, ou fazer, acabou por assentir e o estranho lá o foi confortando garantindo-lhe que de onde aqueles dois vieram mais viriam. Jacinto continuava desconfiado tentando perceber as razões do outro. “Queres saber de onde me vem a riqueza?”, perguntou-lhe o estranho. Jacinto assentiu com um menear de cabeça e o estranho respondeu-lhe sem rodeios: “Engano os incautos. Sou o que normalmente se chama um vigarista. A cupidez dos outros é o meu filão. É aí que me abasteço, é disso que vivo e vivo bem porque o mundo está cheio de gente assim.” Jacinto estava embasbacado com tanta franqueza. Quis saber mais porquês, que tinha ele para merecer tamanha generosidade de um estranho. “Ainda tens, sonhos” disse-lhe o estranho, “algo que há muito perdi e vejo em ti aquele que um dia me vai ajudar a voltar mim. Porque já percebi que não é a cupidez que te move e isso é raro. Eu sei que procuras a passagem para o outro lado deste desfiladeiro. Não sei se ela existe mas se não existir eu vou ajudar-te a construir a ponte. Voltaremos a encontrar-nos no caminho.” Jacinto acordou estremunhado, a noite ia alta e do estranho nem sinal. Interrogava-se se teria sonhado ou se algo teria mesmo acontecido. Acometido por um terror instantâneo, apalpou-se para perceber se estava inteiro mas nada de errado encontrou. Foi quando se lembrou de abrir a sacola, e eles ali estavam. Mais dois do que tinha no princípio daquele estranho dia. MÚSICA DA SEMANA “Space Oddity” (David Bowie, 1969) “This is Ground Control to Major Tom You’ve really made the grade And the papers want to know whose shirts you wear Now it’s time to leave the capsule if you dare This is Major Tom to Ground Control I’m stepping through the door And I’m floating in a most peculiar way And the stars look very different today”
Andreia Sofia Silva Ócios & Negócios PessoasJosephine Lam, criadora da “Loving Macau”: “Macau inspirou-nos muito” Josephine Lam juntou-se a uma pequena equipa de designers e juntos criaram a “Loving Macau”, que cria lembranças com os tradicionais símbolos de Macau e que tem inclusivamente a vertente de merchandising, vendendo para outras empresas ou clientes. T-shirts, canecas e canetas tentam mostrar a verdadeira Macau [dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]acau é pastéis de nata, é pauzinhos e dumplings em qualquer dim sum, é Ruínas de São Paulo, é espaços cheios de cultura e calçada portuguesa. Foi a pensar em tudo aquilo que preenchia as suas memórias, e também pelo amor que sente a este território, que Josephine Lam criou a “Loving Macau”, juntamente com mais sócios. Criada em Dezembro, só há cerca de dois meses é que esta empresa de pequenas lembranças começou a promover-se. Josephine Lam estudou Design no estrangeiro, mas quis voltar à terra que a viu nascer. Aqui encontrou um nicho de mercado. “Quando regressei percebi que havia falta de projectos de design que pudessem representar Macau. Então decidi criar algo que representasse melhor a nossa cidade.” Dessa ideia nasceram t-shirts, canecas e canetas com todos os elementos que representam a história e cultura tão características de Macau. “Fomos buscar a inspiração a uma série de coisas. Macau inspirou-nos muito. Tentámos escolher os elementos mais icónicos, mas que não fossem os mais banais. Queríamos encontrar elementos que tivessem algum significado para nós, que nos fizessem lembrar a nossa infância, quando éramos jovens, quando apanhávamos o autocarro, por exemplo.” Apesar da equipa ser pequena, o sucesso tem sido muito, garantiu ao HM Josephine Lam. “Temos vindo a receber muito apoio da comunidade local e dos turistas. O mais importante para nós é produzirmos coisas a pensar nos locais, algo que os faça ficar orgulhosos e que os faça lembrar da infância. Algo que possam oferecer aos amigos.” Com parceiros de negócio e designers, a “Loving Macau” trabalha ainda com vários colaboradores. A ideia é trazer sempre novas ideias e ir além da banalização deste tipo de produtos. “Temos colaboradores e até fotógrafos, mas adoramos trabalhar com todos aqueles que tenham sempre uma perspectiva mais criativa”, contou Josephine Lam. Expansão é o caminho Um olhar sobre a loja online permite chegar à conclusão que a “Loving Macau” procura fazer diferente com aquilo que existe há muito. Há pins para camisolas feitos com o tradicional pastel de nata e não faltam sequer pins com a imagem dos velhinhos autocarros da Transmac que antes povoavam a cidade. Há outros com a imagem de uma caixa de correio com a palavra em Português, que fica bem em qualquer camisola ou mochila. Josephine Lam acredita ter criado um projecto pioneiro ao nível da criação de produtos de merchadising locais, com uma aposta na qualidade. “Em termos de merchandising acredito que somos pioneiros na área das lembranças, porque criámos algo do qual os locais também se podem orgulhar. Trabalhamos arduamente para que isso aconteça. As t-shirts são o produto que vendemos mais, sobretudo as que dizem ‘Macau’, porque somos pioneiros na criação de um t-shirt de alta qualidade que promover Macau de forma simples.” Ao criar este tipo de produtos, a “Loving Macau” acaba por estar a contar a história do seu território, tão cheia de coisas diferentes e semelhantes ao mesmo tempo. “Somos apenas uma empresa criativa que produz estes elementos sobre Macau. Tentamos ter sempre uma nova perspectiva sobre as coisas e ter uma mente criativa, a criatividade é muito importante para nós. Tentamos promover essa história que está por todo o lado, na cidade.” Para o futuro Josephine Lam pretende aumentar ainda mais a extensão do seu negócio. Sempre da maneira mais criativa e original possível. “Vamos continuar a expandir o nosso negócio e gostaríamos de fazer mais produtos e convidar mais mentes criativas para colaborarem connosco, para fazerem desta uma cidade mais bonita.”
Hoje Macau SociedadeMacau | Aberto mais um centro para tratamento de dependências [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau (ARTM) inaugurou ontem um novo centro para tratamento de dependências como droga, álcool e jogo, com capacidade para acolher um total de 80 pacientes. “É um projecto antigo. Na ARTM temos estado sempre lotados e havia necessidade de aumentar o espaço, a capacidade de apoio. É um projecto que vem desde há muito tempo, desde 2008 sensivelmente que o temos em mente, e agora finalmente concretizou-se”, explicou o presidente da ARTM, Augusto Nogueira. O centro tem capacidade para acolher 50 homens e 20 mulheres, estando reservadas dez camas para pessoas de ambos os sexos que “requeiram cuidados intensivos” ou que “estejam em grave situação de saúde”. Trata-se da primeira valência da ARTM – fundada há mais de década e meia – direccionada em particular para diferentes tipos de dependências, apesar de os vários centros da organização não-governamental terem lidado no passado com casos de outras adições. “Já temos vindo a trabalhar com pessoas com álcool e uma ou outra com problemas de jogo, apenas não estávamos focalizados para isso e agora vamos estar”, sublinhou Augusto Nogueira à agência Lusa. Frentes diversas Localizada em Ka-Hó, na ilha de Coloane, a nova unidade de reabilitação da ARTM conta com 28 funcionários, incluindo colaboradores que estiveram recentemente na Austrália a receber “formação intensiva”. Das três dependências, Augusto Nogueira salienta que a droga constitui a que “exige maior atenção”, por ser aquela em que a organização que fundou e preside é “especializada” e por “requerer maior atenção, tanto a nível do tratamento como da prevenção”. Segundo dados do Sistema de Registo Central do Instituto de Acção Social (IAS) estavam referenciados, no final do ano passado, 617 toxicodependentes em Macau. Um número calculado com base na declaração voluntária de quem solicita ajuda, junto das instituições oficiais ou organizações não-governamentais, ou em dados da polícia ou dos tribunais, pelo que, como observa o presidente da ARTM, estima-se que “o número real seja superior”. A ARTM opera em diversas frentes, contando com centros ou unidades de tratamento, incluindo com metadona, além de um programa de distribuição ou recolha de seringas e serviços de aconselhamento e apoio e ainda prevenção e sensibilização.
Angela Ka PolíticaDSAL | Protesto por despedimentos injustificados Prometeram e cumpriram: os trabalhadores da área da construção civil que dizem ter sido substituídos por não-residentes queixaram-se ontem à DSAL. O organismo assegura ajuda na procura de trabalho, mas estes dizem receber menos dos que os não-residentes [dropcap style=’circle’]D[/dropcap]ezenas de trabalhadores locais da área da construção civil protestaram ontem em frente à Direcção dos Serviços para os Assuntos Laborais (DSAL). Os motivos da manifestação estão associados a queixas relativas a alegados despedimentos do trabalho injustificados por parte do Lisboa Palace e do Wynn Palace, projectos das operadoras no Cotai. Segundo a deputada Ella Lei – que se deslocou ao Lisboa Palace na semana passada para saber o que se passava e auxiliar trabalhadores que protestavam sentados numa grua a cerca de 60 metros de altura – assegura que a manifestação de ontem contou com cerca de 90 pessoas residentes que tinham como função prestar os serviços de auxiliar de limpeza. Na sua maioria eram trabalhadores contratados depois do dia 12 deste mês e foram informados do seu despedimento dois a três dias após a contratação. Ella Lei refere ainda que o estaleiro do Lisboa Palace conta com cerca de 3700 trabalhadores não residentes e que o despedimento destes trabalhadores vai contra o princípio de contratação prioritária a locais. Na base destas afirmações está a constatação de que muitas das pessoas agora a exercerem funções nestas obras estão a ocupar os lugares daqueles que foram dispensados. Ao HM, Hong, porta-voz do grupo de operários de construção desempregados, referiu que os cerca de cem trabalhadores do Lisboa Palace se reuniram com a ajuda da Associação Poder do Povo, grupo criado recentemente que já tratou de casos semelhantes. Quase todos os trabalhadores desempregados conseguiram ter acesso a entrevistas de emprego com ajuda da DSAL, mas os trabalhadores dizem que o salário proposto pelas empresas é apenas metade do salário daquele que está a ser dado aos não residentes, pelo que estes não pretendem aceitar o trabalho. A Sociedade de Jogos de Macau, responsável pelo Lisboa Palace, assegura que já contactou com as empresas. Angela Leong, número um da operadora, diz que o caso já provocou até atrasos na obra, enquanto a DSAL assegura que ter reunido com os representantes das empresas de construção e que estes garantiram que iam averiguar a situação. Caso os residentes locais tenham as mesmas capacidades que os não residentes, então tomarão o lugar destes, asseguram as construtoras.
Sofia Margarida Mota Manchete SociedadeUSJ | Novo mestrado inclui Educação Especial e Inclusiva Um plano curricular que inclui o ramo de Educação Especial enquanto opção de mestrado foi ontem aprovado para a Universidade de S. José. O objectivo é colmatar a lacuna de profissionais na área e formar para uma atitude capaz de incluir a diferença [dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oi ontem aprovado um novo mestrado em Educação, a ser ministrado pela Universidade de S. José (USJ), que inclui especialização na área de Educação Especial e Inclusiva. A aprovação do novo plano curricular foi publicada ontem em Boletim Oficial e foi recebida com alegria pela professora Ana Correia, responsável pelo curso e directora da Faculdade de Psicologia e Educação da USJ. Ana Correia explica ao HM que “o facto de se dividir e especializar o grau académico teve a ver com áreas que foram identificadas com uma grande necessidade de formação de professores educadores e profissionais no geral”. A área da Educação Especial “é uma área muito querida” pela USJ e o estabelecimento tem vindo a desenvolver trabalho, nomeadamente no que respeita à investigação. Mas não só. “É uma área que necessita de muita atenção por parte das políticas da educação em Macau”, adianta ainda a académica. “De um ponto de vista legal é também uma área que está em fase de transição e mais do que educação especial estamos a falar aqui de educação inclusiva, pelo que o presente grau pretende melhorar a formação dos professores que trabalham em escolas que aceitam crianças com dificuldades de aprendizagem, deficiências ou outras características que as tornam ‘excepcionais’.” As aulas já começaram mas o facto do plano de estudos ter sido aprovado vai permitir a entrada de alunos que assim o desejem ainda neste ano lectivo. “Isto é possível porque o módulo inicial do presente mestrado ainda é idêntico ao antigo, o que vai permitir aos alunos uma sequência normal e depois, sim, poderão ter as opções agora aprovadas”, explica Ana Correia. A Universidade vai transferir directamente os alunos do módulo antigo para o agora aprovado e esta possibilidade já estava. Neste momento, o mestrado em Educação tem “uma turma pequenina constituída por 12 alunos”, mas Ana Correia espera que esta abertura a novos conhecimentos possa acrescentar alunos já nos próximos dias. Os professores serão “de topo na área da Educação Especial”, afirma a professora, na medida em que o corpo docente foi previamente preparado para a possibilidade de integração no ensino deste novo grau académico. Dos elementos destacados está a australiana Chris Forlin, especialista em Educação Especial e Inclusiva e que já trabalha com a USJ enquanto consultora. É preciso atitude O caminho ainda é longo para uma maior inclusão da diferença, mas já está a ser feito. Passa efectivamente pela educação, não só a escolar mas, “e sobretudo”, por educar as famílias, quer as que têm crianças especiais, quer as restantes que, por vezes, mostram alguma preocupação em relação à possibilidade de que os seus filhos “partilhem a escola e a sala de aula com meninos com necessidades educativas especiais”. Por outro lado, é preciso formar as escolas e professores e ter profissionais que adicionem à formação experiência e, acima de tudo, atitude. “É necessário retirar medos e preconceitos”, afirma a professora enquanto adianta que “a desculpa de ‘eu não sei nada disto, ou de não é a minha área ou não tenho conhecimento científico’, apesar de ser elemento importante não é o fundamental”. Para Ana Correia é claro que é atitude com que se desempenha esta função na área da Educação Especial e Inclusiva é “meio caminho andado para um bom desempenho”.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Rácio entre crédito e PIB acima dos 30% coloca economia em risco O principal indicador de dívida da China atingiu um nível recorde no primeiro trimestre de 2016, dando um sinal de alerta para os riscos iminentes no sistema bancário da segunda maior economia do mundo, avançou ontem uma agência financeira suíça [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]ntre Janeiro e Março, o desvio do rácio entre o crédito e o Produto Interno Bruto (PIB) atingiu 30,1%, o nível mais alto de sempre e bem acima dos 10%, o patamar que “acarreta riscos para o sistema bancário”, segundo o relatório difundido ontem pelo Bank for International Settlements (BIS) que alertou também para a possibilidade de uma crise financeira na segunda economia mundial, nos próximos três anos. A dívida da China tem aumentado à medida que Pequim tornou o crédito mais barato e acessível, num esforço para incentivar o crescimento económico. Analistas chineses e estrangeiros alertam, no entanto, que o rápido aumento da dívida e do crédito mal parado poderá resultar numa crise financeira. A agência suíça coloca o nível da dívida chinesa, entre Janeiro e Março, acima de todos os outros 41 países analisados, incluindo os Estados Unidos da América, Grécia e Reino Unido. No final do ano passado, o endividamento da China atingiu o valor total de 168,48 mil milhões de yuan, o equivalente a 249% do PIB, segundo a Academia de Ciências Sociais da China. Em combate Em Agosto, todos os quatro maiores bancos estatais chineses anunciaram um aumento do crédito mal parado, no primeiro semestre do ano. Um funcionário do regulador bancário chinês estimou, em Junho, que os bancos do país amortizaram mais de 269 mil milhões de euros, um valor superior ao PIB português, em crédito mal parado, desde 2013. Pequim anunciou, entretanto, medidas para combater o problema, incluindo a conversão das dívidas em títulos, enquanto analistas defendem que as reservas cambiais da China, as maiores do mundo, e o controlo do Estado sobre o sistema bancário podem ajudar a atenuar o impacto de uma crise financeira.
Joana Freitas SociedadeObras na Casa de Vidro começam em Outubro [dropcap style=’circle’]V[/dropcap]ão ter início as obras de remodelação da chamada Casa de Vidro do Tap Seac. Foi ontem oficialmente autorizada a celebração do contrato com a Companhia de Construção Urbana J & T Limitada que, de acordo com despacho publicado em Boletim Oficial, recebe 30,3 milhões de patacas pelo serviço. Foi em Fevereiro que mais de uma dezena de empresas concorreram ao concurso público para a remodelação do Centro Comercial. A obra, posta a concurso pela Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT), pretende transformar o espaço em algo multifuncional dedicado às indústrias criativas, “onde os empresários da indústria criativa poderão expor as suas obras”. Em 2014, o Governo já tinha anunciado a ideia, tendo inclusive dito que em Novembro desse ano o edifício da autoria de Carlos Marreiros iria sofrer obras de restauração. Mas o espaço, que tem estado vazio desde que ficou concluído em 2007, só agora vai ver iniciadas as alterações. A obra de modificação do Centro Comercial compreende cinco pisos, com uma área total de cerca de 5200 metros quadrados. Todo o espaço será projectado para lojas para a indústrias criativas, estúdios e oficinas para fins educativos. As obras começam em Outubro e duram 330 dias, podendo vir a criar, estima a DSSOPT, cem postos de trabalho. O Governo assegura que o ambiente vai ser tido em conta, com as obras a usarem produtos amigos do meio natural. “Na obra será utilizado tinta de baixos compostos orgânicos voláteis, equipamentos de iluminação eco-eficientes, dispositivos para a economia de água e aparelhos de ar-condicionado que utilizem gás refrigerante ecológico, de modo a firmar assim os princípios da protecção ambiental”, refere o Governo.
Joana Freitas PolíticaSCMP diz que morte de Lai Man Wa está relacionada com lavagem de dinheiro [dropcap style=’circle’]L[/dropcap]ai Man Wa estaria a ser paga ou forçada, ou até as duas, para fechar os olhos a transacções de dinheiro sujo e ilegal. É o que diz o jornal South China Morning Post que, na rubrica “This Week in Asia”, cita “diversas fontes” que indicam que a antiga directora dos Serviços de Alfândega (SA) sofreu com as mudanças que Pequim queria ver em Macau. “Diversas fontes dizem que a responsável, de 56 anos, estaria ou a ser paga, pressionada ou forçada – talvez uma combinação das três – a fechar os olhos a um mercado altamente lucrativo”, defende a publicação, num artigo que marca quase um ano desde a morte de Lai Man Wa. O mercado alternativo seria, então, “aviões que chegavam ao Aeroporto Internacional de Macau carregados de dinheiro do continente para ser lavado em Macau, através dos casinos, para depois ser enviado para diversos destinos asiáticos, naquilo que é uma brecha às políticas restritas da China”. O jornal de Hong Kong relembra a campanha anti-corrupção de Xi Jinping e o limite de 20 mil yuan em dinheiro que pode ser transferido para Macau para dizer que todos os focos de atenção estariam virados para estes esquemas de lavagem de dinheiro. “Ou Lai [Man Wa] não conseguia aguentar [essa pressão] e viu no suicídio a única saída, ou a directora dos SA foi calada para proteger pessoas com mais poder na cadeia do dinheiro sujo – e de uma maneira que serviu para enviar uma mensagem clara para todos os que quisessem ouvir”, defende o artigo. Recorde-se que Lai Man Wa estava a caminho de uma reunião com oficiais do Governo Central em Zhuhai precisamente sobre as fronteiras entre Macau e o continente. A morte da directora dos SA foi imediatamente rotulada como sendo “suicídio”, apesar de diversas dúvidas em torno da forma como Lai Man Wa morreu: saco na cabeça, cortes nos pulsos e medicamentos calmantes e numa casa de banho pública, além de não haver qualquer indicação de que a directora estivesse com algum tipo de problema. O jornal diz ainda que é amplamente reconhecido que o Aeroporto Internacional de Macau é um elo fraco no que à segurança das fronteiras diz respeito e cita uma fonte que diz que “o aeroporto é um ponto cego quando se trata de saber quem chega e parte” e que as ilegalidades que durante muito tempo se mantiveram escondidas “não poderiam ser mais toleradas”.
Joana Freitas Manchete PolíticaFunção Pública | Ajustamento de salários por fases e consoante carreira Cada carreira na Função Pública merece um salário diferente, mas esse ajustamento só pode começar a ser feito em 2017. É o que diz Sónia Chan, referindo que, primeiro, tem de se fazer a revisão do Regime das Carreiras dos Trabalhadores dos Serviços Públicos [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]ajustamento de salários consoante a carreira onde os funcionários públicos se inserem será uma realidade, mas não para já. A Secretária para a Administração e Justiça frisou ontem que este sistema só pode ser introduzido depois da revisão das carreiras na Administração, algo que ainda está em progresso. Num comunicado que cita Sónia Chan, o Governo explica que há “a possibilidade de ajustamento de salários de acordo com diferentes níveis” mas só para o ano. “O Governo pretende rever o Regime das Carreiras dos Trabalhadores dos Serviços Públicos de acordo com as competências para as diferentes carreiras. Sob esta base, será definido o critério de ajustamento segundo o plano, que será iniciado no próximo ano já que presentemente as autoridades irão focar as atenções no estudo e na revisão das carreiras”, frisou Chan. Já em Março do ano passado, a Secretária para a Administração e Justiça tinha referido como uma das prioridades a revisão deste regime de carreiras, que chega 18 anos depois do diploma ter entrado em vigor. O Executivo diz ter feito já estudos para apresentar uma proposta, que pretende incluir todos os trabalhadores dos serviços públicos sob o mesmo sistema. Alargar categorias e escalões, criar melhores condições de promoção e ajustar o índice de vencimentos são algumas das alterações, a par de mudanças nos requisitos de ingresso para determinadas carreiras, como as habilitações académicas, formação e experiência de trabalho. A Comissão de Deliberação das Remunerações dos Trabalhadores da Função Pública estava a fazer um estudo sobre o regime de actualização das remunerações dos trabalhadores da Administração Pública por categorias, algo que deverá ser utilizado para esta revisão da lei. Ontem, Sónia Chan voltou a referir que o Governo pretende limitar o número de funcionários públicos, tendo como base os números deste ano. Uma das principais medidas, indica a Secretária, é “corresponder o número de pessoal à disponibilidade orçamental do Governo”. A racionalização de quadros e a simplificação administrativa foram outras políticas consideradas acções prioritárias do Executivo, uma vez que Macau está em “tempos de austeridade” e o Governo quer cortar nos custos. A reestruturação de alguns departamentos públicos já tem vindo a acontecer, a par da fusão de serviços. Mas a Administração assegura que os cortes vão acontecer apenas no futuro, não influenciando quem já trabalha na Função Pública.
Angela Ka SociedadeFocos no turismo cultural não reúnem consenso [dropcap style=’circle’]A[/dropcap] área do turismo cultural não reúne consenso entre académicos do território. A atenção a ser dada diverge, com diferentes analistas a defenderem a preservação de diferentes aspectos. Para Lam Fat Iam, presidente da Associação de História Oral de Macau, é fundamental que a tarefa principal seja “a conservação dos edifícios históricos e espaços comunitários construídos em diferentes épocas no território”. O responsável diz que a preservação do património cultural e a adição das novas actividades não “deverão ser opostos, mas sim compatíveis”, como frisou em declarações ao Jornal de Cidadão. Lam Fat Iam considera que o princípio de desenvolvimento tem que ser a manutenção do património cultural e dos costumes tradicionais que actualmente existem e, de modo a operacionalizar esta sugestão, o presidente da Associação de História Oral de Macau sugere que em primeiro lugar deverá ser feita “a protecção da textura da cidade que inclui as ruas, becos, calçadas e travessas”. Paralelamente, diz, deverão ser conservadas as demarcações das diferentes zonas tendo em conta a linha litoral e do horizonte do território. “Fazendo bem a integração destes elementos, sob uma visão macro, a história, a cultura e as construções de Macau poderão usufruir de um controlo e protecção favoráveis”, conclui. A académica e presidente da Associação Energia Cívica e membro do Conselho para as Indústrias Culturais Agnes Lam considera que um aspecto de relevo é a atenção dirigida aos monumentos contemporâneos. O Governo continua a “colocar mais ênfase no passado do que o presente e aqueles que já entraram na lista do património são tratados generosamente”, considera, acrescentando que o património contemporâneo e datado do séc. XX não está a ser devidamente tido em conta. Agnes Lam ilustra a situação com o exemplo das instalações dos estaleiros de Lai Chi Vun que integram “um vasto espectro da história do território”. Já a dedicação ao espaço criado pela fusão oriental e ocidental ao longo de 500 anos é, para o presidente da Associação para Protecção do Património Histórico e Cultural, Cheang Kok Keong, a prioridade a ter em conta no âmbito da exploração do turismo cultural de Macau, dada a sua raridade, especialmente na China. Por outro lado Cheang Kok Keong defende que o Governo tem que procurar um equilíbrio entre o espaço turístico cultural criado pelo investimento de capital e as novas tecnologias características das grandes empresas sendo que ambas fazem parte do turismo cultural da região. “O património mundial é outro cartão para atrair turistas e não se deve ceder a projectos demasiado comerciais”, defende.
Boi Luxo h | Artes, Letras e IdeiasFilmes do século XXI [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]ra impossível isto não aparecer. Uma lista de filmes preferidos do século XXI. Saiu uma semelhante na BBC e esta, pessoal e necessariamente apenas produto da investigação pobre de um curioso, é inspirada nessa. Apresenta-se em ordem alfabética porque valorizar uns sobre outros seria quase impossível. Estas listas do século XXI introduzem, agora que já não há inocentes, um aviso. O de constatar que já estamos quase em 2017 e que, no meio de tantos filmes muito bons e filmes óptimos, já não há grandes filmes ou já não existe capacidade de espanto. O artigo que acompanha a lista da BBC argumenta que se vive uma época de ouro do cinema. A ideia nuclear que nele se descobre é a de que existe um número crescente de espectadores exigentes que se não contentam com o ubíquo blockbuster norte-americano. Dá-se (concordo) como exemplo The White Ribbon, de Haneke, um filme de art-house com um público muito vasto – porque é acessível mas também atraente a vários níveis. Outro argumento é o da diversidade de tipos de filmes existente, da animação japonesa ao noir californiano. Na lista que nesta página se apresenta há uma quantidade vasta de filmes onde se encontram temas e estilos não muito convencionais mas que mantêm um apelo a que será sensível um público alargado. Se The Turin Horse, Goodbye, Dragon Inn ou Instructions for a Light and Sound Machine não entram nesta classificação, Ida, Black Coal, Thin Ice ou The White Ribbon, entre muitos outros, conseguem-no. Outro argumento que tende a elogiar a riqueza do cinema contemporâneo é o da diversidade da sua origem (concordo). Na lista que se mostra em baixo há autores de mais de 30 países diferentes, do Irão ao Mali, da Argentina à Palestina e à Tailândia (não foi intenção própria). Que estes filmes estejam acessíveis a um mero curioso e não apenas a um profissional que frequente festivais é prova de que a riqueza do cinema contemporâneo (muito ligada ao aparecimento das facilidades técnicas que o digital permite) é cada vez mais acessível. O que é irritante é que o cinema se pode estar a tornar numa espécie de coisa gira nesta época de coisas giras, produto da Wallpaperização e Monoclização do mundo, um mundo onde tudo é cool e tem design e pequenos cafézinhos como há em Taiwan e em Lisboa, um mundo de tapas, foodies, cocktails de assinatura, craft beer e suecos de barba. About Elly (Asghar Farhadi, 2009) Address Unknown (Kim Ki-duk, 2001) All About Lily Chou-Chou (Shunji Iwai, 2001) Amores Perros (Alejandro Inarritu, 2000) Amour Fou (Jessica Hausner, 2014) A Separation (Asghar Farhadi, 2011) Aurora (Cristi Puiu, 2010) Bad Guy (Kim Ki-duk, 2001) Bamako (Abderrahmane Sissako, 2006) Black Coal, Thin Ice (Diao Yinan, 2014) Blind Mountain (Li Yang, 2007) Blind Shaft (Li Yang, 2003) Brand Upon the Brain (Guy Maddin, 2006) Bullhead (Michael Roskam, 2011) Colossal Youth (Pedro Costa, 2006) Dark Water (Nakata Hideo, 2002) Devils on the Doorstep (Jiang Wen, 2000) Distant (Nuri Bilge Ceylan, 2002) Dogtooth (Yorgos Lanthimos, 2009) Downfall (Oliver Hirschbiegel, 2004) Enter the Void (Gaspar Noé, 2009) Film Socialism (Godard, 2010) Force Majeure (Ruben Ostlund, 2014) 4 Months, 3 Weeks and 2 Days (Cristian Mungiu, 2007) Girlhood (Céline Sciamma, 2014) Goodbye, Dragon Inn (Tsai Ming-liang, 2003) Hard to be a God (Alexei German, 2013) Holy Motors (Leos Carax, 2012) Hunger (Steve McQueen, 2008) I Am Love (Luca Guadagnino, 2009) Ichi the Killer (Takashi Miike, 2001) Ida (Pawel Pawlikowski, 2013) In Praise of Love (Godard, 2001) Instructions for a Light and Sound Machine (Peter Tscherkassky, 2005) In the Mood for Love (Wong Kar-wai, 2000) In Vanda’s Room (Pedro Costa, 2000) Japon (Carlos Reygadas, 2002) Kinatay (Brillante Mendoza, 2009) Le Quattro Volte (Michelangelo Frammartino, 2010) Locke (Steven Knight, 2013) Lourdes (Jessica Hausner, 2009) Love and Bruises (Lou Ye, 2011) Melancholia (Lars von Trier, 2011) Moonrak Transistor (Pen-Ek Ratanaruang, 2001) Mother (Bong Joon-ho, 2009) Mullholland Drive (David Lynch, 2001) My Winnipeg (Guy Maddin, 2007) Neighboring Sounds (Kleber Mendonça Filho, 2012) Nymphomaniac (Lars von Trier, 2013) Offside (Jafar Panahi, 2006) Old Boy (Park Chan-wook, 2003) Omar (Hani Abu-Assad, 2013) 1001 Nights (Miguel Gomes, 2015) Pieta (Kim Ki-duk, 2012) Pistol Opera (Seijun Suzuki, 2001) Princess Raccoon (Seijun Suzuki, 2005) Shirley Visions of Reality (Gustav Deutsch, 2013) Skeletons (Nick Whitfield, 2010) Still Life (Jia Zhangke, 2006) Syndromes and a Century (Apichatpong Weerasethakul, 2006) Swirl (Clarissa Campolina and Helvécio Marins Jr., 2011) Tabu (Miguel Gomes, 2012) The Act of Killing (Joshua Oppenheimer, 2012) The Assassin (Hou Hsiao-hsien, 2015) The Buffalo Boy (Minh Nguyen-Vo, 2004) The City of God (Fernando Meirelles, 2002) The Forbidden Room (Guy Maddin, 2015) The Great Beauty (Paolo Sorrentino, 2013) The Great Ecstasy of Robert Carmichael (Thomas Clay, 2005) The Headless Woman (Lucrécia Martel, 2008) The Lives of Others (Florian Henckel von Donnersmark, 2006) The Return (Andrey Zvyagintsev, 2003) The Strange Case of Angelica (Manoel de Oliveira, 2010) The Turin Horse (Béla Tarr e Ágnes Hranitzky, 2011) The Wayward Cloud (Tsai Ming-liang, 2005) The White Ribbon (Michael Haneke, 2009) Thirst (Park Chan-wook, 2009) 13 Assassins (Takashi Miike, 2010) 3-Iron (Kim Ki-duk, 2004) Uncle Boonmee Who Can Recall His Past Lives (Apichatpong Weerasethakul, 2010) Unknown Pleasures (Jia Zhangke, 2002) Untold Scandal (E J-yong, 2003) Venus in Fur (Roman Polanski, 2013) Vera Drake (Mike Leigh, 2004) Victoria (Sebastian Schipper, 2016) Winter Sleep (Nuri Bilge Ceylan, 2014) You Ain’t Seen Nothin’ Yet (Alain Resnais, 2012)
Paulo José Miranda h | Artes, Letras e IdeiasTragédia Grega [dropcap style=’circle’]V[/dropcap]amos começar hoje, e prolongar por algumas semanas, a viagem a uma outra forma de poesia, que nasceu e morreu na antiga Grécia: a tragédia. A tragédia é uma composição poética dramática, isto é, que mostra uma acção a acontecer, e não uma narrativa, como em Homero, ou um estado de espírito, uma intemporalidade, como em Safo. A tragédia tem as suas origens num culto ao deus Dionísio (deus que não pertence ao Olimpo, que cresceu nos bosques do monte de Nisa); as pessoas organizavam um coro e, com máscaras semelhantes a Sátiros, celebravam a embriaguez e o vinho novo, por toda a Ática, não só nos campos, e cantavam. Estes cantos eram em forma de ditirambos, que eram versos religiosos usados no culto de Dionísio. Mais tarde, este coro evolui para um jogo de voz e canto entre o Corifeu, chefe do coro, e o coro. Nesta forma, à qual se chamou de drama satírico, eram contadas histórias brejeiras, quotidianas e com uma linguagem vulgar. No seguimento disto, Téspis introduz pela primeira vez um personagem, destacado do coro. Não obstante, a tragédia assume a sua característica fundamental apenas quando a linguagem se eleva e os mitos deixam de referir exclusivamente Dionísio, passando a referir os de toda a mitologia, inserido assim o culto do herói, daquele que enfrenta os deuses e a adversidade enviada por eles. Trata-se, por conseguinte, da união entre os deuses Dionísio e Apolo. Dionísio pela dança e pelo excesso, Apolo pela linguagem e a elevação da mesma. A tragédia tinha de ter obrigatoriamente um coro e um, dois ou três actores, que se poderiam desdobrar em muitos mais personagens. Os actores apresentavam o rosto coberto por uma máscara, reflexo do personagem que representavam. A cena da tragédia conjugava dois temas heterogéneos: os mitos dos deuses e os mitos dos heróis, daqueles que cumpriam elevadas façanhas ou padeciam de duras penas cobertos de dignidade e glória. A tragédia encenava criações originais baseadas na mitologia, na história da cultura grega. Os elementos nucleares da tragédia eram três: 1) coro; 2) corifeu e 3) actores. 1) O coro era composto por 6, 12 ou 15 elementos, e estes eram chamados de coreutas. Após entrarem na “orquestra”, que é a área de dança no teatro, os coreutas cantam e dançam nesse espaço. Estes dançarinos-cantores eram em geral homens jovens que estavam em idade de entrar para o serviço militar. Não eram profissionais do teatro e daí a importância do tragediógrafo ser também o ensaiador do coro, muito embora os atenienses desde crianças fossem ensinados a cantar e dançar. O coro trágico quase não participa da acção, limitando-se apenas a comentá-la e expressando compaixão ou outros sentimentos pelos personagens. Algumas vezes também destaca o sentido religioso da acção e a intercala com preces. Por outro lado, simboliza o grupo – cidade ou exército – cuja sorte está ligada aos personagens. De todos os elementos do teatro grego, o coro é sem dúvida o mais estranho para o público moderno, embora tenha sido o núcleo inicial do teatro grego. 2) Corifeu: é um membro destacado do coro que pode cantar sozinho. Em geral tem três tipos de funções principais: a) exortar o coro à acção, a começar o canto; b) antecipar, ou resumir, as palavras do coro; c) representar o coro, dialogando com os actores. 3) Actores: representam deuses ou heróis. São em número muito reduzido. Na verdade, pode-se dizer que o teatro surge quando Téspis cria a figura do actor, isto é, o separa do coro e ele passa a dialogar com este. O número de actores sobe para dois com Ésquilo, e em seguida três, com Sófocles, embora esta alteração tenha sido contemporânea de Ésquilo, tendo este inclusivamente usado mais tarde nas suas tragédias o terceiro actor, nomeadamente na sua famosa Oresteia. É no diálogo entre os actores que se concentra quase a totalidade da acção dramática. Os três actores tinham nomes que revelam uma relação hierárquica: protagonista – primeiro actor; deuteragonista – segundo actor; e tritagonista – terceiro actor. Os actores têm a sua etimologia conectada com agón, isto é, a luta, o confronto, embora originalmente o termo se referisse à assembleia, a uma reunião em praça pública, na agora. Proto + agón + ista quer literalmente dizer o primeiro lutador a entrar em cena, a entrar na skenê, o lugar onde se representava, para enfrentar os deuses. O actor ou actores representavam na skenê e o coro cantava e dançava nas orchestra, recinto grande em frente da skenê e que era envolvido pelo theatron, o auditório onde o público se sentava. A “orquestra” era o espaço cénico em frente e abaixo do palco (onde na nossa ópera, hoje, ficam os músicos, ao que chamamos o lugar da orquestra). Por conseguinte, os agonistas eram aqueles que subiam ao palco para enfrentar os deuses. Passemos então agora a examinar a tragédia grega do ponto de vista da sua forma, quer na sua divisão em partes principais, quer na ocorrência de cenas típicas. É contudo extremamente importante não esquecermos o aspecto criativo e inovador dos autores trágicos, que os levava muitas vezes nas suas tragédias a romper com estas regras. Ao arrepio da ideia que uma leitura equivocada da Poética de Aristóteles disseminou desde o Renascimento, não havia uma norma que não pudesse ser quebrada. O objectivo dos tragediógrafos era vencer a competição e agradar ao público, e para isso usavam tanto o recurso da tradição quanto o da inovação. Mas veja-se a divisão da maioria das tragédias. 1. Prólogo: É a primeira cena antes da entrada do coro ou antes da primeira intervenção do coro. Trata-se de uma narrativa preliminar que visava introduzir o tema, que pode estar ou não presente numa tragédia. Os dramas antigos (séc. VI a.C.) e alguns de Ésquilo começavam sem prólogo, veja-se o caso de Os Persas e de As Suplicantes. No entanto, depois de As Suplicantes não temos nenhum outro exemplo de introdução puramente musical nas tragédias, como deveria ter sido na sua origem. Há vários tipos de prólogo: a) com apenas um actor, na forma de solilóquio ou monólogo – é o caso do Agamémnon, de Ésquilo, onde o solilóquio do vigia, que durante a noite espera o sinal da vitória em Tróia, nos antecipa tanto as circunstâncias da como o próprio clima ansioso e opressivo da tragédia; b) com mais de um actor, em cena aberta com diálogo e acção – que é o caso de O Prometeu Agrilhoado, também de Ésquilo, onde a peça abre com Prometeu sendo agrilhoado por Hefesto, indicando também onde se situa a peça e quais as circunstâncias; mas também em Medeia, de Eurípedes, ocorre esse tipo de prólogo com mais acção, através do diálogo entre a ama e o preceptor. 2. Párodo: Inicialmente era a entrada do coro cantando e dançando na “orquestra” – por exemplo As Coéforas. Pode ser também a primeira ode do coro, pois este já estaria presente, em silêncio, desde o início da peça. Embora seja raro, acontece por exemplo em As Euménides. Mas o párado pode ser executado de vários modos: a) por todo o coro – que é o caso mais frequente, por exemplo, em Agamémnon, de Ésquilo; b) por dois semi-coros em sucessão – por exemplo, em As Suplicantes, de Eurípides; c) pelos membros individuais do coro em falas rápidas – por exemplo, em As Euménides. Ao invés de um párodo cantado exclusivamente pelo coro, podemos ainda encontrar em vários dramas um “diálogo lírico”, isto é, uma parte musical, entre coro e actores – por exemplo, em Prometeu Agrilhoado, de Ésquilo. Mas podemos encontrar esta escolha em muitas outras tragédias: Electra, Filoctetes e Édipo em Colono, de Sófocles; Reso, Medeia, Troianas, Héracles, Helena, Electra, e Efigénia em Tauris. Depois da sua entrada, o coro, em geral, fica presente durante toda a peça. São poucos os casos de saída de cena. Das peças que chegaram até nós, acontece apenas em As Euménides, Ájax, Helena, Alceste e Reso. O canto de retorno da orquestra é chamado de epipárodo. 3. Episódio: é a cena que acontece no palco, entre os cantos corais, sejam estásimos (ver adiante) ou diálogos líricos, em que participa no mínimo um actor. Os episódios podem variar muito de tamanho e de importância. Além dos actores, podem também participar figurantes. Estes distinguem-se dos actores pelo facto de não terem falas. Podem ocorrer diálogos de tipo actor-corifeu ou actor-actor, nos quais predominam as narrativas. Os solilóquios, contrariamente ao teatro posterior, são pouco frequentes, pois o coro em geral está sempre presente depois do párodo. Um exemplo de solilóquio, durante um episódio, encontramos no Ájax, de Sófocles. Em geral, as falas dos actores durante os episódios são recitadas e não cantadas. Em certos momentos, porém, as personagens podem ser levadas por suas paixões a uma performance musical, cantada. As partes cantadas nas tragédias encontravam-se diferenciadas pelas mudanças da métrica do verso em grego. Não obstante, e de modo geral, nas traduções essas diferenças são imperceptíveis. A actuação musical dos actores podia dar-se de duas maneiras: 1. Com coro – os chamados “diálogos líricos ou musicais”, usualmente cenas de profunda emoção (o “diálogo lírico” pode apresentar uma grande variedade de estrutura) – e que se subdividem em: a) 1 actor + coro, são em geral os mais antigos, predominante nas obras de Ésquilo, por exemplo no 1.º estásimo de Os Persas, onde ocorre um diálogo lírico entre o arauto e o coro; b) 2 ou 3 actores + coro – por exemplo As Coéforas e Ájax –, que poderiam ser lírico-epirremático, isto é, cantada pelo coro e recitada pelo actor; ou então – e que era o mais comum em Ésquilo – o diálogo lírico propriamente dito, ou seja, coro e actores cantam juntamente. 2. A solo, “monodias”, ou em duetos, era uma forma mais comum em Sófocles e em Eurípides. Pois com a diminuição do papel do coro aumentou o espaço no drama para os actores, havendo uma transferência do interesse da “orquestra” para o palco. É uma das características fundamentais nas cenas de violenta paixão nas tragédias de Eurípides. 3) Vários actores: diálogo entre 2 ou 3 actores. Forma também muito frequente em Eurípides. Neste formato, um actor canta e o outro responde em récita; o coro pode também fazer uma intervenção musical isolada dentro de um episódio, mas não temos certeza se o coro inteiro cantava ou cantava apenas uma parte dele – veja-se em Prometeu Agrilhoado, 4º episódio. Nestes casos a extensão do coro é pequena dentro do episódio. O número dos episódios não era fixo, variava de 4 (Persas) a 7 (Édipo em Colono), mas a regra generalizada era que as tragédias fossem compostas por cinco episódios. 4. Estásimos: Eram os cantos e danças do coro na orquestra que separavam os episódios, marcando pausas na acção. Seu número é variável, em geral, de 2 a 5 estásimos por drama. A dança podia restringir-se a uma gesticulação enfática e era de carácter grave e trágico. Por vezes o coro podia apresentar um canto e uma dança mais viva, chamada de hipórquema, geralmente colocado antes da cena de catástrofe (ver adiante), para intensificá-la. Ao invés do estásimo, cantado exclusivamente pelo coro, poderiam ocorrer diálogos líricos com actores, como definidos acima no caso do párodo. No final de um episódio era muito comum a saída de actores para a skene, de forma a trocarem de roupas e de máscaras durante o estásimo, aproveitando esta pausa na acção. 5. Êxodo: Inicialmente, como seu nome indica, era simplesmente a saída do coro cantando e dançando ao final da peça, como por exemplo em As Suplicantes e em As Euménides. Posteriormente, com a diminuição gradual do papel do coro, passou a ser a última cena depois do último estásimo e que encerra o drama – por exemplo, no Agamémnon. Assim, com a diminuição do papel do coro no êxodo, este poderia ser apresentado de dois modos: a) num diálogo lírico entre o coro e os actores – como por exemplo em Os Persas; ou, b) com versos finais do corifeu – neste caso poderia haver nesta última cena uma fala final de um deus que seria o epílogo, e que era a forma mais comum nas tragédias de Eurípides. Vejamos então como era arquitectura geral, mais usual, das tragédias gregas no seu período áureo: PRÓLOGO (que faltava nas tragédias mais antigas) PÁRODO 1º EPISÓDIO 1º ESTÁSIMO 2º EPISÓDIO 2º ESTÁSIMO 3º EPISÓDIO 3º ESTÁSIMO 4º EPISÓDIO 4º ESTÁSIMO 5º EPISÓDIO ÊXODO (continua)
Sofia Margarida Mota SociedadeParticipação cultural de residentes a aumentar [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]s residentes participam cada vez mais em actividades culturais e na ida ao cinema. É o que indica um inquérito sobre a participação dos cidadãos em actividades culturais divulgado ontem pela Direcção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). O objectivo do inquérito era a recolha de informações sobre a participação em actividades culturais de indivíduos, com idade igual ou superior a 16 anos. Os dados mostram que 257.900 residentes participaram em actividades culturais no segundo trimestre de 2016 e a taxa de participação nestas actividades foi de 59,2%, uma subida de 1,2% em termos anuais. A actividade que registou um maior número de participação foi a ida ao cinema. Um total de 169.800 residentes optou pela sétima arte, concretizando um aumento em 7,6%, em termos anuais. Dos filmes escolhidos, 35.100 residentes assistiram a filmes/vídeos produzidos em Macau, um número que cresceu 58,5%. Este aumento tem na sua origem, segundo o DSEC, a promoção da produção local de filmes/vídeos e de se ter organizado uma série de eventos para os exibir. A ida às bibliotecas também aumentou, com cerca de 114.400 residentes a frequentarem estes espaços, o que representa mais 3,1% em termos anuais. A taxa de participação dos residentes nesta actividade foi de 26,3% e a dos estudantes de 68%, sendo superior à aderência dos não estudantes, que foi de 22%. O número de residentes que visitaram museus ou locais do património mundial aumentou 19,1%, em termos anuais e cada participante efectuou em média 2,8 visitas a museus ou locais do património mundial, números idênticos aos do segundo trimestre de 2015. De entre os residentes que participaram nesta actividade, 72,4% visitaram locais do património mundial, com cerca de 82.500 visitantes, e 65,9% foram aos museus, num total de 75.100. Assistiram a espectáculos 90.500 residentes, menos 0,7% em termos anuais. Cada participante assistiu em média a 2,3 espectáculos, média idêntica à do segundo trimestre de 2015. De entre os vários espectáculos, os mais populares foram os musicais ou os de dança, com a participação de 65.500 pessoas que representam 72,3% do total. A opção pelo teatro foi feita por 45.200 residentes. O número de residentes que assistiram a exposições de arte foi de 38.300, registando uma subida de 5,2% em relação ao trimestre homólogo de 2015. Destaca-se ainda o facto de que 95,7% destes participantes estiveram presentes em diferentes tipos de actividades culturais e 51,6% participaram em quatro ou mais tipos de actividades.
Angela Ka BrevesPSP | Subcomissário desaparecido foi demitido O subcomissário da PSP que desapareceu em Fevereiro por estar alegadamente envolvido em crimes foi demitido por despacho do Secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, no dia 2 deste mês. A notícia foi anunciada no site oficial do Gabinete do Secretário para a Segurança. O caso remonta a 27 de Fevereiro, quando o subcomissário de apelido Iao telefonou afirmando que não podia ir trabalhar por motivo de indisposição física. Depois disso nunca mais compareceu. A PSP afirma que, até ao momento, ainda não conseguiu contactar com o subcomissário, que foi demitido “pelo facto de se ter constituído em ausência ilegítima por mais de cinco dias consecutivos e sem qualquer justificação”.
Angela Ka BrevesPonte Sai Van | Obras no sistema de ventilação adiadas O Governo não vai arrancar com as obras de melhoria do sistema de ventilação do tabuleiro inferior da Ponte de Sai Van. É o que indica uma resposta ao deputado Si Ka Lon, que se queixava que, desde que foi inaugurada em 2005, a Ponte nunca pôde funcionar em pleno porque o tabuleiro inferior apresenta problemas de ventilação, não permitindo a circulação permanente de veículos. O deputado dirigiu uma interpelação escrita ao Governo, onde pergunta se até ao momento este pensou no “erro”, que considera grosseiro, e também porque é que ao longo de todos estes anos “não executou nenhum trabalho de aperfeiçoamento”. O Executivo já tinha referido que as obras de melhoria no sistema de ventilação da ponte vão demorar cerca de dois anos, mas frisa agora que estas não vão acontecer até que estejam concluídas as obras de construção do metro ligeiro. Si Ka Lon diz que seria viável efectuar as duas obras ao mesmo tempo.
Andreia Sofia Silva SociedadeTurismo | Número de hotéis aumentou, mas receitas desceram [dropcap style=’circle’]D[/dropcap]ados oficiais dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC) revelam que o território tem mais oito hotéis em relação ao ano passado, mas isso não significa um aumento das receitas. Face a 2015, as receitas do sector hoteleiro baixaram cerca de 6,6% para 26,04 mil milhões de patacas. Estes números devem-se à quebra das receitas do alojamento, na ordem dos 12,21 mil milhões de patacas, as quais representaram quase metade das receitas do sector, ou seja, 46,9%. Em termos anuais, trata-se de uma quebra de 10,6%. Em relação às receitas do sector da restauração foram de 5,49 mil milhões de patacas, menos 2,4%. Os hotéis de cinco estrelas registaram uma quebra nas receitas de 7,1%, ou seja, conseguiram 21,43 mil milhões de patacas. Já os hotéis de categorias mais baixas, de três e duas estrelas, registaram uma maior quebra, na ordem dos 9,7%, totalizando 1,83 mil milhões de patacas em lucros. Apesar da quebra nas receitas, as despesas do sector aumentaram, sobretudo com o pessoal, um aumento de 44,6%, mais 8,9% face a 2015. Neste momento o sector hoteleiro possui mais de 45 mil trabalhadores, um aumento de 14,7%. Só 12 destes hotéis possuem 64% dos trabalhadores. Contudo, as despesas de exploração e as compras de mercadorias e comissões pagas diminuíram 1,4% e 11,6%, respectivamente, em termos anuais. Por seu turno, as despesas não operacionais, como sejam, a depreciação e os juros pagos, cifraram-se em 8,83 mil milhões de patacas, tendo aumentado 21,9%, em termos anuais. Com a quebra das receitas, também o sector hoteleiro acabou por ter uma menor contribuição para a economia local. A contribuição foi de 13,2 mil milhões de patacas, menos 9,2% em termos anuais. Quanto ao excedente bruto foi de ,76 mil milhões, uma “queda significativa” de 44,4%.