Mong Há | Construção recomeça em 2017 com custos mais altos

Com um orçamento mais alto, a segunda fase das obras de habitação pública e pavilhão de Mong Há vão recomeçar em 2017. O Governo assegura que resolveu os litígios com o empreiteiro original, mas não menciona a que preço

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Gabinete para o Desenvolvimento de Infra-Estruturas (GDI) apresentou ontem o novo plano do Complexo Desportivo e da habitação pública de Mong Há, que deverá começar as obras no primeiro semestre do próximo ano. O organismo confirmou ao HM que o Governo conseguiu chegar a acordo com o empreiteiro que estava originalmente encarregue do projecto, a quem pagou parte das infra-estruturas construídas, e que lança agora um concurso público.
As obras da 2ª fase da habitação social e do complexo desportivo de Mong Há foram suspensas há mais de quatro anos, por litígios entre o empreiteiro e o Governo. Agora, com concurso público aberto, o GDI prevê que as obras recomecem no próximo ano e durem 1470 dias úteis. É estimado também que o custo total, devido à inflação, vá aumentar 20% comparando com o original, que foi de 685,4 milhões de patacas.

Incógnitas financeiras

Era a Companhia de Construção Hobbs a responsável pela construção, que assinou o contrato em 2011 e que deveria ter as obras prontas em 2014. O GDI admite que “o Governo já efectuou pagamento sobre as despesas de construção efectivamente concluídas pelo empreiteiro original”, mas não adianta, ainda que questionado pelo HM, quanto é que foi esse valor. Lam Wai Hou, Chefe funcional de obras do GDI, também não revelou a quantidade de dinheiro envolvida no litígio com a ex-empreitada, mas garantiu que iria fornecer à comunicação social os conteúdos da resolução em breve.
Foi através de uma terceira parte que o Governo “chegou a acordo sobre a resolução do contrato com o empreiteiro original”, tendo sido posteriormente revertido “o local de obra”.
O GDI diz que a escolha dos materiais de construção já foi ajustado de forma a acabar com os problemas encontrados nas outras habitações públicas. No total foram entregues sete propostas para as obras e a vencedora terá de acabar o que ficou por fazer, que é quase toda a estrutura.
A segunda fase da Mong Há tem uma área de construção total de 87.500 metros quadrados e vai contar com 37 pisos e 768 fracções, 512 são T2.

23 Set 2016

Operação Trovoada | Resultados “reforçam necessidade” de mais acções em casinos

A “Operação Trovoada 16” terminou com 1085 indivíduos a caminho do Ministério Público e com o enfâse na necessidade de reforço de fiscalização nos casinos, onde ocorre a grande maioria dos crimes de usura associados ao Jogo. O combate aos delitos relacionados com a droga é também prioridade das autoridades

[dropcap style≠’circle’]E[/dropcap]m dois meses foram detectados 103 crimes associados ao sector do Jogo, e que compreendem essencialmente a usura, e mais 50 associados a burlas. De um total de 824 crimes distribuídos por 87 categorias, dez são directamente relacionadas com esta indústria, mas muitas há no que respeita a crimes violentos que podem ter a sua génese em dívidas mal paradas no sector.
Os dados são resultado da Operação Trovoada 16 que envolveu as autoridades policiais das regiões de Guandong, Hong Kong e Macau. A mega operação de combate a actividades criminosas decorreu durante dois meses, entre 22 de Julho e 21 de Setembro, e abrangeu dez áreas associadas a actividades criminosas.
Não sendo os crimes do jogo cometidos no seio da sociedade, os números vêm constatar a necessidade de reforçar as acções de fiscalização nos casinos e nas zonas periféricas porque “acabam por afectar a sociedade”, referiu João Augusto da Rosa, Adjunto do Comandante-geral dos Serviços de Polícia Unitários, na conferência de imprensa para a apresentação dos resultados.
O encontro, que se baseou essencialmente em números, deu ainda a conhecer que foram encaminhados para o Ministério Público 1085 indivíduos e expulsas da RAEM 967 pessoas acusadas por “crimes diversos” (774), imigração ilegal, excesso de permanência ou porque a sua estadia não “se coaduna com a qualidade de turista”.
Comparativamente aos valores apresentados no ano passado referentes à operação equivalente de combate ao crime, os números desceram, tanto em delitos como em agentes destacados. A justificação não é porque a criminalidade terá diminuído, mas sim porque o período de tempo foi menor. Em 2015 a “Trovoada” decorreu durante três meses e agora apenas dois e “por isso houve uma descida significativa de agentes disponibilizados e de casos descobertos”, justifica João Augusto da Rosa.

Coacções e apreensões

Quanto às medidas de coacção aplicadas aos envolvidos em actividades criminosas, 234 casos ficaram com termo de identidade e residência e 152 proibidos de entrar em casinos. Com pena de prisão imediata ficaram cinco indivíduos. Em números foram apreendidos quase cinco milhões de dólares de Hong Kong e quase 200 mil patacas. Ficaram ainda nas mãos das autoridades documentos falsos, notas falsas, armas, essencialmente facas e bastões extensíveis, cartões de débito, telemóveis, quatro motociclos e um veículo.
Dos artigos apreendidos, o topo da tabela vai para os estupefacientes com a retenção de cerca de 35 gramas de cocaína, 120 de ketamina e mais de 100 gr de Ice, uma metanfetamina. Outra apreensão de relevo foi a de “chá com leite”, uma nova droga que está a ganhar popularidade em Macau, com mais de cem gramas apreendidas.
Questionado acerca do possíveis casos detectados na Escola Portuguesa de Macau (EPM), João Augusto da Rosa garante que “não há dados de alunos da EPM associados a actividades criminosas nomeadamente associadas ao consumo de drogas”, salientando que este é um combate a ter permanentemente.
No total, e sob a coordenação dos Serviços de Polícia Unitários (SPU), o Corpo de Polícia de Segurança Pública (PSP) e a Polícia Judiciária (PJ) foram realizadas 760 acções de fiscalização que tiveram como alvo operações em casinos, casas de massagens e clubes nocturnos, bares, cafés, espaços de diversão e estabelecimentos hoteleiros. Paralelamente, foram reforçadas acções de identificação e verificação de viaturas bem como aumentados os patrulhamentos nos pontos mais críticos no que respeita à segurança.

23 Set 2016

Estratégia de globalidade dá bons resultados

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] aposta da China em investir além-fronteiras superou, em 2015, pela primeira vez, o valor investido por outros países na China, numa altura em que Pequim encoraja as aquisições no estrangeiro, como parte da transição para um novo modelo económico.
A China investiu no total 145.000 milhões de dólares fora do país, no ano passado, um valor que representa um crescimento homólogo de 18% e ultrapassa o valor do investimento directo estrangeiro no país, 135.6 mil milhões de dólares, segundo dados do ministério do Comércio chinês.
O marco surge como resultado da “melhoria da capacidade nacional da China”, aprofundamento da cooperação e a estratégia de Pequim de encorajar empresas chinesas a “tornarem-se globais”, lê-se no relatório do ministério. As empresas chinesas “têm de usar os recursos e mercados internacionais para se transformarem e actualizarem”, afirmou Zhang Xiangchen, porta-voz do ministério do Comércio. “Sentimos que as empresas estão agora interessadas em se internacionalizarem e procurarem activamente a integração na inovação, manufactura e mercados globais”, acrescentou.
A economia chinesa registou no ano passado o ritmo de crescimento mais baixo dos últimos 25 anos e tem continuado a abrandar à medida que Pequim enceta uma transformação do modelo económico, apostando no consumo e serviços como novos motores de crescimento.

23 Set 2016

Justiça | Advogado especialista em direitos humanos condenado

O advogado Xia Lin, especialista em direitos humanos, foi acusado em 2014 de fraude e condenado agora a 12 anos de pena de prisão. A comunidade internacional e a sua defesa consideram a sentença demasiado pesada e um acto de repressão

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m tribunal chinês condenou o causídico Lin a 12 anos de prisão, naquele que é o mais recente caso de repressão de defensores de direitos humanos no país, informou ontem a sua defesa. Xia ficou conhecido pela defesa do artista Ai Weiwei e do seu colega, também advogado na área dos direitos humanos, Pu Zhiqiang, que foi detido após um seminário privado em que se discutiu o massacre de Tiananmen, em 1989. “O tribunal condenou Xia Lin a 12 anos de prisão por fraude”, disse o seu advogado, Dong Xikui, à agência AFP.
A polícia deteve Xia em Novembro de 2014, e mais tarde acusou-o de obter, através de fraude, 100 milhões de yuan para pagar dívidas de jogo, de acordo com um comunicado da defesa. O julgamento começou em Junho deste ano, em Pequim. “Declarámo-nos inocentes, mas o tribunal aceitou apenas parte da nossa defesa e reduziu o valor da fraude de mais de 100 milhões para 48 milhões”, indicou o seu advogado.
O Presidente chinês, Xi Jinping, tem vindo a reforçar o controlo à sociedade civil desde que assumiu o poder em 2012, acabando com as possibilidades de activismo que tinham aberto nos últimos anos. Apesar de inicialmente o Governo incidir sobre activistas políticos e pessoas envolvidas em campanhas por direitos humanos, tem cada vez mais focado a sua atenção nos profissionais legais que os representam. Só no ano passado as autoridades detiveram mais de 200 pessoas na chamada “repressão 709”, assim apelidada devido à data das detenções, 9 de Julho, incluindo advogados que aceitaram casos de direitos civis considerados sensíveis pelo Partido Comunista Chinês.
Pu, o advogado detido por participar no evento sobre Tiananmen, recebeu uma pena suspensa de três anos de prisão em Dezembro por “incitar ódio étnico” e “gerar conflitos e problemas”.
A sentença de Xia foi invulgarmente severa, e de acordo com Maya Wang, uma investigadora para a Ásia da organização de defesa dos direitos humanos da Human Rights Watch, vai “provocar um profundo arrepio à comunidade de advogados de direitos humanos que tem sido alvo de repressão continuada pelo governo de Xi no último ano”, afirmando ainda “a sentença é chocante, não apenas pela sua extensão, mas também porque foi aplicada a um advogado de direitos humanos que tem tentado proteger-se ao adoptar uma postura discreta e técnica no seu trabalho”.

23 Set 2016

Hong Kong | Mais de 21.000 detidos em operação contra tríades

[dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]ais de 21.000 pessoas foram detidas em Hong Kong numa campanha de combate ao crime organizado realizada nos últimos dois meses em conjunto com as polícias de Macau e da província chinesa de Guangdong, informou ontem a imprensa local.
A designada “Operação Trovoada”, que todos os anos envolve agentes dos três territórios, levou a acções de fiscalização em mais de 3.000 locais, incluindo bares e espaços de entretenimento, e centros de jogos.
Na operação deste ano, as forças de segurança reforçaram o combate às actividades de tráfico humano depois de observarem uma tendência de aumento destes crimes, disse o superintendente Brian Lowcock, citado pela Rádio e Televisão Pública de Hong Kong (RTHK).
Outras detenções estão relacionadas com crimes como tráfico de droga, branqueamento de capitais, e posse de armas.
As autoridades apreenderam drogas como heroína e cocaína no valor de cerca de 70 milhões de dólares de Hong Kong (oito milhões de euros).
Cerca de 70 pistolas de ar comprimido ilegalmente alteradas foram também apreendidas.

23 Set 2016

Global Times | Assistência do ocidente a refugiados não é superioridade moral

Pequim comprometeu-se, em sede da ONU, a doar 100 milhões de dólares para ajudar a crise dos refugiados, mas absteve-se de os receber no seu território. Ainda assim, criticou o discurso moralista do ocidente, a quem atribui a responsabilidade de vários conflitos que culminaram em vagas de refugiados

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m jornal oficial do Partido Comunista Chinês (PCC) culpou os Estados Unidos da América e a Europa pela crise dos refugiados, argumentando que a assistência que prestam “não constitui uma prova de superioridade moral” acusando ainda que “com uma mentalidade arrogante, Europa e EUA precipitaram o Médio Oriente para adoptar uma democracia ao estilo ocidental, contribuindo para o fluxo de refugiados”, diz o Global Times, jornal do grupo do Diário do Povo, o órgão central do PCC. Em editorial, a publicação sustenta que “estes países deviam sentir-se arrependidos” e não “moralmente superiores”, após terem “promovido guerras e revoluções coloridas”, que “levaram povos ao desespero, sem outra opção que não fugir”.
Durante uma cimeira promovida esta semana pelos EUA, na sede das Nações Unidas, os líderes dos 193 Estados-membros da organização aprovaram a Declaração de Nova Iorque, que pretende criar condições para um melhor tratamento dos refugiados e migrantes. Segundo Washington, 52 países e organizações comprometeram-se a “duplicar o número” de refugiados que acolheram no ano passado e a elevar o apoio em 4,5 mil milhões de dólares.

Demos o melhor

Pequim comprometeu-se a doar mais 100 milhões de dólares, um valor inferior ao anunciado pela maioria das grandes economias, optando ainda por não receber refugiados. “A China fez o seu melhor e cumpriu com as suas responsabilidades”, defende o jornal, argumentando que Pequim “foi sempre contra intervenções no Médio Oriente e revoluções coloridas”, acrescentando que “o ocidente deve assumir a culpa pela sua incessante interferência em países não ocidentais”.
Mais de 4,8 milhões de sírios deixaram o seu país devido à guerra, que já matou mais de 300.000 pessoas, desde Março de 2011. China e Rússia são os principais aliados do regime do presidente sírio, Bashar al Assad.

23 Set 2016

Pianista de Macau toca com Orquestra Filarmónica da China

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] edição deste ano do Festival Internacional de Música de Macau (FIMM) vai contar com a participação do jovem pianista de Macau Kuok-Wai Lio. Em colaboração com a Orquestra Filarmónica da China, o residente vai interpretar, “com o seu emotivo estilo musical e técnica exímia”, o Concerto para Piano e Orquestra n.º 20 em Ré Menor, K. 466 de W. A. Mozart, de acordo com o Instituto Cultural (IC). O concerto realiza-se no dia 7 de Outubro, pelas 20h00 no Centro Cultural de Macau.
O pianista Kuok-Wai Lio nasceu em Macau em 1989, tendo iniciado os estudos de piano aos cinco anos de idade. Aos oito venceu o Prémio IC. Em 2005, foi distinguido com o 1º Prémio e com o Prémio Especial no âmbito do 6º Concurso Internacional de Piano Chopin da Ásia, em Tóquio, no Japão, vencendo ainda, em 2007, o 1º Prémio no Concurso Internacional de Concerto para Pianistas Fullbright, nos EUA. Aos poucos Kuok-Wai Lio tem vindo a afirmar-se na cena musical, tendo tido múltiplos sucessos internacionais no âmbito de vários concursos de piano.

Fusão musical

A Orquestra Filarmónica da China vai estar sobre a ordens do maestro Li Xincao e interpreta um repertório de fusão entre a Ópera de Pequim, a música clássica austro-alemã e a nova música tradicional da Hungria. Vários temas serão tocados, incluindo o prelúdio sinfónico de Qigang Chen, “Instants d’un Opéra de Pékin”, “que constitui uma extraordinária fusão entre Oriente e Ocidente, entrelaçando a música da Ópera de Pequim e a música sinfónica ocidental”, como indica a organização. “Um concerto diversificado que apresentará ao público uma elegante experiência musical e estilos musicais variados”, garante o IC.
No dia 18 de Outubro é a vez de “Num Jardim Italiano – L’Accademia d’Amore por Les Arts Florissants”, um “concerto altamente aguardado” no âmbito do qual o maestro e cravista internacional William Christie irá dirigir o ensemble Les Arts Florissants e Le Jardin des Voix “para fazer renascer o mundo da música italiana antiga. O espectáculo está marcado para as 20h00 no CCM. Os bilhetes estão já disponíveis.

23 Set 2016

Cidade Criativa | Charles Landry dá palestra em Macau Espaço com imaginação O final de Outubro traz a Macau o responsável pela criação do conceito de “cidade criativa”. Um espaço que confere a possibilidade de concepção do tecido urbano por aqueles que o habitam de uma forma sustentável e com recurso à imaginação Porque a sustentabilidade urbana exige criatividade, a próxima edição deste ano das “Palestras de Mestres de Cultura” traz a Macau o britânico Charles Landry, considerado um referência internacional em desenvolvimento urbano e “pai do conceito de cidade criativa”. Landry vai orientar a conversa “Macau: O Efeito Catalisador da Ambição e da Criatividade no Desenvolvimento Urbano Sustentável” , momento em que vai expor casos bem sucedidos de cidades culturais espalhadas um pouco por todo o mundo enquanto exemplo de “cidades criativas”. Para a construção e efectivação do conceito é “fundamental a ambição e a criatividade, a somar aos eventos culturais”, segundo o autor, que considera estes factores necessários à evolução urbana. Landry abre novas perspectivas para todos os interessados no estabelecimento de uma cidade criativa, viva e habitável. Uma nova concepção Charles Landry é uma “autoridade internacionalmente reconhecida no que diz respeito à aplicação da imaginação e criatividade no desenvolvimento urbano”, como afirma um comunicado do Instituto Cultural, que apresenta o orador. Nos finais da década de 1980, Landry renovou o conceito de “Cidade Criativa” a propósito da capacidade de uma cidade gerar condições que permitam às pessoas e organizações pensar, planear e agir com imaginação na resolução de problemas e na criação de oportunidades. Esta ideia, que se transformou num movimento global, levou a uma mudança na forma das cidades pensarem as capacidades e recursos urbanos. O autor tem trabalhado e proferido palestras em mais de 60 países, ajudando a mudar a forma de avaliar e aproveitar as possibilidades de reinventar as cidades. A sua “Tabela da Cidade Criativa” é um instrumento importante para aferir o ecossistema criativo de cada lugar. Das obras que publicou fazem parte títulos como “The Creative City: A Toolkit for Urban Innovators” ou “The Digitized City”. A “Palestra de Mestres de Cultura” deste ano terá lugar no dia 30 de Outubro pelas 15h00 horas, no Salão de Convenções do Centro de Ciência de Macau. O evento conta com entrada livre mas os interessados deverão proceder à sua inscrição. Sofia Mota sofiamota.hojemacau@gmail.com

O final de Outubro traz a Macau o responsável pela criação do conceito de “cidade criativa”. Um espaço que confere a possibilidade de concepção do tecido urbano por aqueles que o habitam de uma forma sustentável e com recurso à imaginação

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]orque a sustentabilidade urbana exige criatividade, a próxima edição deste ano das “Palestras de Mestres de Cultura” traz a Macau o britânico Charles Landry, considerado um referência internacional em desenvolvimento urbano e “pai do conceito de cidade criativa”.
Landry vai orientar a conversa “Macau: O Efeito Catalisador da Ambição e da Criatividade no Desenvolvimento Urbano Sustentável” , momento em que vai expor casos bem sucedidos de cidades culturais espalhadas um pouco por todo o mundo enquanto exemplo de “cidades criativas”. Para a construção e efectivação do conceito é “fundamental a ambição e a criatividade, a somar aos eventos culturais”, segundo o autor, que considera estes factores necessários à evolução urbana. Landry abre novas perspectivas para todos os interessados no estabelecimento de uma cidade criativa, viva e habitável.
Charles Landry é uma “autoridade internacionalmente reconhecida no que diz respeito à aplicação da imaginação e criatividade no desenvolvimento urbano”, como afirma um comunicado do Instituto Cultural, que apresenta o orador.
Nos finais da década de 1980, Landry renovou o conceito de “Cidade Criativa” a propósito da capacidade de uma cidade gerar condições que permitam às pessoas e organizações pensar, planear e agir com imaginação na resolução de problemas e na criação de oportunidades. Esta ideia, que se transformou num movimento global, levou a uma mudança na forma das cidades pensarem as capacidades e recursos urbanos.
O autor tem trabalhado e proferido palestras em mais de 60 países, ajudando a mudar a forma de avaliar e aproveitar as possibilidades de reinventar as cidades. A sua “Tabela da Cidade Criativa” é um instrumento importante para aferir o ecossistema criativo de cada lugar. Das obras que publicou fazem parte títulos como “The Creative City: A Toolkit for Urban Innovators” ou “The Digitized City”.
A “Palestra de Mestres de Cultura” deste ano terá lugar no dia 30 de Outubro pelas 15h00 horas, no Salão de Convenções do Centro de Ciência de Macau. O evento conta com entrada livre mas os interessados deverão proceder à sua inscrição.

23 Set 2016

O Capitão-mor Tristão Vaz da Veiga e a ajuda contra os piratas

[dropcap style≠’circle’]”A[/dropcap] China iria fazer face, nos meados do século XVI, a um grave perigo vindo do mar; os ataques dos piratas japoneses, conhecidos pelo nome de Wokou (…), atingem a sua maior intensidade entre 1540 e 1565, e o período mais crítico situa-se nos anos 1553-1555, logo após os mais perigosos ataques dos Mongóis comandados por Altan Khan”, segundo Jacques Grenet, que refere a seguir, “O termo Wokou não deve ser tomado num sentido estrito, apesar de a maioria dos efectivos da pirataria ter sido constituído por Japoneses, dos finais do século XIV a princípios de XVI. Em verdade, é um pessoal cosmopolita, com actividades muito diversas, que se designa pelo termo geral de piratas: entre eles, encontram-se rônin (uma espécie de cavaleiros mercenários), dependentes dos daimyô Matsudaira, e antigos comerciantes e marinheiros das costas chinesas. Um dos chefes do Wokou nos meados do século XVI era um Chinês originário do Anhui chamado Wang Zhi. Grande negociante, ao mesmo tempo que pirata, faz comércio com o Japão, Luçon, Vietname, Sião e Malaca, entregando-se ao contrabando de enxofre, utilizado no fabrico de explosivos, de seda e de brocados. Instalado nas ilhas do Sul de Kyûshû, é tão temido que é conhecido pela alcunha de ‘rei que depura os mares’. Atraído ardilosamente a Hangzhou, aqui foi executado em 1557”. Por essa altura a pirataria estava sobretudo associada ao contrabando e já, muito antes, o terceiro imperador da dinastia Ming, Yong Le (1403-1424) para suster os ataques dos wokou tinha regulamentado as embaixadas japonesas; uma por cada dez anos e composta por dois barcos e 300 pessoas. Mas tal era o valor que os japoneses nutriam pelos preciosos produtos chineses, assim como a cultura que deles colhiam há mais de um milénio, que esse decénio custava a passar. Por vezes, nas embaixadas oficiais vinham mais barcos e tripulantes, outras enviadas antecipadamente eram recambiadas sem comerciar e daí a pirataria ressurgir, pois no mar se fazia o trato. Como refere Jacques Grenet, as “relações entre os Ming e o Japão iriam quebrar-se a partir de 1522, ano em que o governo central, perante a recrudescência dos ataques dos piratas, decidiu pôr termo à atitude de tolerância que tinha adoptado durante a maior parte do século XV. No ano seguinte, estala em Ningbo uma disputa entre duas embaixadas japonesas, ambas pretendendo ser consideradas como oficiais. Aquela a quem as autoridades chinesas recusam o reconhecimento do seu carácter oficial pilha a cidade e as desordens encorajam os partidários de uma atitude firme. Em 1530, os japoneses deixam de ser autorizados a enviar embaixadas a Ningbo. Desde então, a pirataria faz rápidos progressos e o seu recrudescimento alarga-se à própria China. As principais bases dos piratas situam-se nas ilhas Zhoushan (Chusan), a nordeste das costas do Zhejiang, na região de Xiamen (Amoy) e de Quanzhou, na de Chaozhou, no Nordeste do Guangdong, bem como nas ilhas do Sul do arquipélago nipónico. Todas as costas chinesas são devastadas desde o Norte do Shandong até ao Oeste do Guangdong, alongando-se as devastações uma centena de quilómetros pelo interior das terras”.

Ajuda portuguesa contra os piratas

“A defesa das costas é tão precária que a administração se vê obrigada a requisitar barcos de pesca. A contra-ofensiva só se começa a organizar depois das grandes devastações e massacres dos anos 1553-1555”, segundo Grenet que refere, o General Hu Zongxian restabeleceu a ordem na costa de Zhejiang em 1556 e no ano seguinte na da província de Fujian. Mas deve-se sobretudo a Yu Dayou (?-1587) e Qi Jiguang (1528-1587), no decurso dos anos 1560-1570 terem as costas ficado mais ou menos limpas de piratas.
Jin Guo Ping, em Combates a Piratas e a Fixação Portuguesa em Macau, refere ter havido seis situações, entre 1547 e 1568, “que a pirataria levou os chineses a solicitar ajuda portuguesa, mas o factor ‘mais decisivo’ para aceitar o estabelecimento português de Macau foi a aquisição de âmbar cinzento”. Macau passou a ser a nova porta da China para o exterior, pois o anterior entreposto chinês mais ocidental desde 1433 era Malaca, então sobre governação do Sultão e em 1511 ocupada pelos portugueses. De Malaca, entraram os portugueses pelo Pacífico e apoiando-se da rede comercial explorada por mercadores do Sudeste Asiático, encontram-se a navegar de ilha em ilha em ‘veniaga’ ao longo da costa chinesa, até que lhes foi permitido fixarem-se em Macau. Situada numa pequena península no Sul da grande ilha de Hianshan, ou Hueng Chan (hoje Zhongshan), tornou-se Macau então a porta de entrada dos produtos estrangeiros e dos novos conhecimentos científicos provenientes da Europa.
Segundo Bento de França, nos finais de 1556 navegava por aquelas costas um terrível pirata, Chan-si-lau a quem os portugueses, para agradar ao mandarim local, deram caça e acabaram com o seu reinado. Já Victor F. S. Sit refere, “Fernão Mendes Pinto acredita que foi em 1557, após terem ajudado as autoridades de Guangdong na supressão do grande corsário Ahmah, que os portugueses solicitaram à China a permissão do seu estabelecimento em Macau. Foi nesse ano que os portugueses construíram pela primeira vez casas de habitação em Macau. Nos três anos anteriores a essa data, só puderam erguer cabanas provisórias exclusivamente para fins comerciais. Foi também nesse ano que o governo chinês enviou para Macau três altos funcionário, subordinados ao Sub-Comissário para a Defesa Marítima. Eram respectivamente o Superintendente de Macau (Ti-diao), com responsabilidades na administração, justiça e relações externas de Macau, o comissário para o combate à Pirataria (Bei-wo), encarregue também das patrulhas marítimas, e o Inspector de Segurança Pública (Xun-ji)”.

Chapas de agradecimento

Outro momento grave em que os chineses se viram forçados a pedir ajuda aos portugueses ocorreu em Abril de 1564 e a resolução de tão grave perturbação, criada pela rebelião interna na marinha imperial estacionada em Zhelin nos arredores de Cantão, coube à conjugação de esforços das autoridades militares de Guangdong e artilharia naval dos portugueses de Macau. A vitória sobre os rebeldes foi alcançada a 7 de Outubro em juncos chineses onde embarcaram soldados portugueses e ocorreu o combate em Dongguan. Episódio conhecido por Tropas Amotinadas em Zhelin. Por essa ajuda, no ano seguinte, os portugueses foram “brindados com chapas de um dos mandarins, aparentemente reconhecendo apenas os seus bons serviços e prometendo intercessão junto do Imperador para que fosse autorizada a entrada na China da missão diplomática de Diogo Pereira/Gil de Góis (1563-1565) e ainda, cumulativamente, terá sido dada à cidade, uma outra chapa, a título de recompensa, isentando-a do pagamento dos direitos alfandegários desse mesmo ano de 1565”, segundo Jorge dos Santos Alves em Os Primórdios do Estabelecimento dos Portugueses em Macau e esclarece Beatriz Basto da Silva, “os portugueses de Macau recebem um agradecimento formal pela ajuda prestada na luta contra a rebelião de 1564, mas não se livram de pagar 20.000 taéis de prata pela ancoragem dos seus navios, nem do foro do chão pelo uso da terra e do porto de Macau, que já vinha de 1559/1560 (500 taéis só para o foro). Recebem ainda a promessa de, caso cumpram os direitos alfandegários, não lhes serem ‘tolhidos’ os mantimentos, antes ‘dobrados’. Trata-se do fecho e abertura das Portas do Cerco”.
No entanto, “Yu Dayou, Comandante Regional de Guangdong, a despeito de ter recebido apoio naval dos portugueses, apercebendo-se do poder da sua artilharia, escreve (em 1565) e é de parecer que se deve acabar com a instalação dos portugueses em Haojing/Macau. Diz que os estrangeiros foram tolerados mas percebe-se que os considera um perigo para a zona, especialmente para Cantão, e sugere que sejam banidos por forças chinesas do mar e da terra. Não é, no entanto, opinião unânime, já que o cantonense Huo Yuhsia é contrário à via militar e adepto da harmonia comercial desde que devidamente controlada”, (Cfr. Fok Kai Cheong – Estudos sobre a Instalação dos Portugueses em Macau), segundo Beatriz Basto da Silva e com ela seguindo, também Wu Guifang (fonte expressa em Wu Zhiliang, Segredos…) nesse ano “escreveu à Corte de Pequim sobre a ambição que os bárbaros do reino Folangi têm de querer estatuto de tributários da China, mas com isenção de impostos, o que não está na sua mão, pelo que pede despacho. O assunto é premente, porque o comércio vem aliviar muito as despesas; os direitos comerciais são um rendimento a observar e “os bárbaros, quando revoltados, tornam-se perigosos”.

Capitão-mor Tristão Vaz da Veiga

O contrabando confundia-se com a pirataria do litoral, quando em 1567 o governo imperial levantou a proibição de os chineses navegarem e fazerem comércio marítimo por conta própria. E continuando pela Cronologia da História de Macau de Beatriz Basto da Silva, em Julho de 1568 “A pirataria ataca directamente as águas de Cantão. Tristão Vaz da Veiga, vindo da viagem ao Japão e Capitão-mor de Macau, domina-os; pouco depois socorre os mandarins cantonenses a seu pedido…” Já Gonçalo Mesquitela esclarece ter Tristão Vaz da Veiga recusado a oferta de D. Catarina pelos brilhantes serviços na Índia da capitania de Chaul, e em 1564 foram-lhe concedidas duas viagens à China e ao Japão, sendo ele Capitão-mor da primeira viagem Macau-Nagasaki. Essa viagem realizou-se entre 1566 e 1567 e no regresso do “Japão foi obrigado a invernar em Macau. Estava assim no porto do Nome de Deus, onde os portugueses estão na China em 12 de Junho de 1568, quando um pirata poderoso pretendeu atacar a cidade com cem velas, três a quatro mil homens e mil e quinhentas espingardas. O capitão-mor atacou-os, quando os piratas desembarcaram e repeliu-os quatro vezes. Acometida a nau, defendeu-a durante três dias, mas também os repeliu. Perdeu catorze defensores, entre os quais três portugueses, e contou cinquenta feridos. Depois de oito dias de luta, os mandarins de Cantão mandaram chapas a Tristão Vaz e ao pirata para acertarem pazes entre eles. O pirata foi para a ilha de Lamau conferenciar com os mandarins, entreteve-os com delongas e entretanto atacava Cantão, onde destruiu embarcações e os arrabaldes. Os portugueses prepararam-se para o novo ataque que esperavam sobre Macau. Construíram-se então as primeiras muralhas de defesa, até aí impedidas pelos mandarins, os quais, agora, perante as circunstâncias, não se opunham”. (…) “Durante a construção, outro pirata devastou a costa perto de Macau, pelo que os mandarins de Cantão pediram a Tristão Vaz que os combatesse, mandando-lhe alguns navios para isso. Além de que impediam a chegada de mantimentos a Macau. O capitão-mor embarcou, em quatro deles cinquenta portugueses, alguns cristãos chineses e escravos. Dos vinte e três navios dos piratas, onze foram tomados com muita gente e munições, fugindo os restantes”.
Nos anos que se seguem, até 1570, segundo Beatriz Basto da Silva, “os piratas assolam de novo. Guangdong pede auxílio às forças militares de Macau e é um mercador rico, morador, que envia dois navios armados à sua custa; trata-se de Bartolomeu Vaz Ladeiro que tem um consórcio familiar com os sobrinhos Vicente Ladeiro e Sebastião Jorge e é um grande apoiante da Companhia de Jesus. A China posiciona-se como se esta ajuda defensiva do litoral do sul fosse uma obrigação de lealdade dos estrangeiros residentes”.
Tristão Vaz da Veiga, um dos primeiros habitantes de Macau, vai pela segunda vez como Capitão-mor da Viagem ao Japão, a de 1570-1571.

23 Set 2016

Grande muralha, pequeno papel

[dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]os confins do meio. Este meu costume de revirar as pequenas coisas que me ficaram impressas a bold na memória. Sempre à procura da razão de ser assim. Mas sei. Mesmo quando não o sei, que fazem sentido. E que ficam porque cimentam. E como as fibras da memória, umas revivem ciclicamente, umas crescem, outras secam, pulverizam-se ou voam inteiras. Ou sintetizam-se, resumem-se, decrescem em complexidade de detalhes, simplificam-se a um ponto de minimalismo em que ficam para sempre.
Um dia vi-me em Pequim. Sozinha numa aventura como outras de desafio dos limites, como de outras vezes. Aos vinte e poucos. Cumpridora como era em muitas coisas, precisava de equilibrar com intervalos possíveis de liberdade. Sobretudo aquela que se vê de dentro. Quando pode ser a única possível e total. Viajar sempre me foi penoso se não imbuindo o ir, de contornos absolutamente vagos, indefinidos e fora de todos os planos, horários e mapas. Planear, decidir. Diariamente. A pressão de tornar uma viajem, um tempo de eficácia. A produtividade, a ocupação minuciosa do tempo delimitado e finito a absorver o máximo de uma terra estranha. O crime de não chegar a ver um ícone fundamental. De perder tempo com coisas pequenas. De não ter ido. De não ter estado. De não ter visto. O que queria de uma viajem era muito outra coisa que me fazia sentir culpada de tão pouco que era. Lembro-me bem. Ainda sou assim. A história fica para depois, em casa. Uma outra viagem. Ali, só quero ir. E estar. E ir indo. E percorrer espaços que às vezes nem identifico. Perder-me. Não saber necessariamente onde estive. Parar ou não ao sabor de impressões mais veementes. E que ficam. E que chegam. Flanar. E ir por ali sem medir tempo e obrigações. Muitas vezes sem um rumo preciso. Só o do olhar. Ver. Ser atraída pelo desconhecido do ver. Só isso me parece diferente, livremente diferente de tudo o resto. A que me obrigo. Todos os dias. Menos esses.
Aquela minha eterna condição de não querer acordar, de falhar muitas vezes os horários de tudo, de um nascer do sol maravilhoso nas montanhas de Taiwan, a um encontro em Nova Iorque, uma reunião na escola ou um avião. Quando eu viajava. Perdi coisas por atraso, de tanto nervosismo na impaciência da espera. Ou recusa de acordar. Já não sou assim. O desinteresse em acordar parece ter enraizado mesmo dentro do próprio sono, fazendo indiferente a mudança de um estado a outro. Hoje é mais o frio. O do inverno, também. Que me faz encolher no conforto uterino da cama veementemente avessa a deixá-lo. Por isso, quando viajava só, tudo me era permitido sem remorso. Estar em Pequim, por poucos dias que fossem era em si a minha viagem. Estar, era o modelo perfeito. E percorrer a cidade naqueles autocarros a ranger de lataria, pejados de gente que parecia vinda de aldeias remotas ou das estepes frias e secas como a cidade, caras morenas e largas, de sorrisos imensos pejados de dentes metálicos a reluzir no colorido de tudo, e malares proeminentes, roupas de outros tempos e que pareciam de uma vida inteira, e eu ali com aqueles molhinhos de notas do mercado negro, pequeninas e muitas, adquiridas sei lá eu hoje como, que me diziam como usar a rir largamente do meu espanto, autocarros de que saía algures para ver uma coisa qualquer que no momento me prendia, sem saber muito bem onde estava, sem querer preocupar-me em saber.
Um dia lá tentei madrugar. E mesmo assim a fazer-me atrasada numa manhã, sem querer, para vir dos confins do noroeste da cidade, para os confins do meio, a tempo de uma pequena viagem matinal à Grande Muralha. Isso desejava imenso. Atraso irremediável. Calcorreei a homérica avenida transversal à cidade. Uma parte, claro. Quarenta quilómetros de extensão, e muito espaço a distanciar cada hotel e as suas carrinhas de tour de cada outro hotel e as suas carrinhas de tour. E cada um a que chegava já dando por partida e perdida a carrinha. E isso, eu queria muito. Ir. Por fim Tiananmen, alguém explicou. Antes de Tiananmen. Meses. Quando para mim era ainda só a grande praça e não acontecimento. Por ali. É longe, pergunto e um encolher de ombros a pensar na escala da cidade acompanhou um hesitar nos talvez dez quilómetros. Não sei já se dez quilómetros à frente. Se não foram, pareceram. Quilómetros corridos a pé, e, no último minuto uma carrinha com meia dúzia, nem tanto, de turistas de outra China daquela imensa, e eu. Um par de rapazes de confins de outro interior daquela terra vasta, ou de uma outra China do norte e com a mesma curiosidade que eu. Um, calado e ausente. O outro, numa discreta e só depois entendida ânsia de comunicar. Espaçada, tanto, que só muito depois se constituiu em ritmo e padrão. Horas depois.
A solidão espacial imensa das montanhas naquele ponto da grande muralha. Um frio negativo. Uma foto, a única, tirada pelo rapaz chinês alto. Eu ali. Nunca lá voltarei talvez, e a emoção sobra até hoje. Um posto qualquer de apoio a turistas, recordações poucas e de que não precisava, e aqueles chapéus de pele, aquele vocabulário das montanhas, das estepes e do frio. Pele de coelho, talvez, e o muito frio. Pus e voltei a pôr. Não sei a dúvida que foi. E abalámos. Um bilhetinho, laboriosamente escrito ao longo de longos momentos e quilómetros. “Do you whant to buy that hat?”. Assim. Já tentara falar com ele, prestável e atento. Curioso e sóbrio. Mas não falava. Percebi antes que sabia, mas só muito depois, que ele só sabia inglês escrito. Tudo levava horas e a entender também isso. Não sei o que lhe respondi. Aí, já por escrito. Talvez que não tinha dinheiro. Talvez que voltava para um lugar de menos frio. Talvez que não queria nunca viver num sítio de tanto frio. Ou que não era importante. Ou então: como… já que havíamos partido do lugar. Talvez quisesse dizer-lhe simplesmente e para simplificar: Não, obrigada. Ou, de tão grata e surpreendida pelo empenho alongado no tempo por tão pouca coisa, não, obrigada, mesmo. E deixar para sempre a clarificação naquele acrescento, de como me senti desvanecida e grata, pelo seu enorme esforço em mobilizar aquelas poucas palavras mágicas, sinónimo de vontade de ajudar, de vontade de comunicar, de vontade de fazer o seu melhor, mesmo tendo passado o momento. Até hoje. Tão forte como a emoção do lugar em que estive, este pequeno detalhe. Que me vem sempre à memória com aquela fotografia. E um dia escrevi, no espanto da pequenez disto. De voltar a casa com tão poucas memórias. Tão pequenas. Tão grandes. A cidade enorme. O lago gelado. As montanhas. A Grande muralha. O pequeno papel.
A pensar que, onde havia um verbo no presente, talvez um erro tivesse substituído o passado. O tempo passado. Do verbo certo. Talvez. Certo porque o tempo havia passado. O sentido, no momento inverosímil era no fundo indiferente. Se tivesse respondido sim talvez ele soubesse um outro local ou exprimisse a pena de um pequeno desígnio frustrado, o meu. Palavras difíceis. Sofridas mas esmeradas. Pequeninas. Poucas. Demais. Porque sobram até hoje. Desnecessárias, e assim mais valiosas. Por o serem. E o chapéu, esquecido na cor, para sempre aquele chapéu. Como se ainda lá estivesse. Como mágico. Aquele.

23 Set 2016

Viagem ao Ocidente (Parte 2)

[dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uando regressei da peregrinação a Portugal, Espanha e França o meu trabalho sofreu alterações e Hong Kong estava ao rubro com a campanha eleitoral para o Conselho Legislativo. Nestas eleições, o lado que se opõe ao regime obteve dois terços dos assentos no Conselho e manteve o poder de veto nas votações sectorizadas. Em consequência desta votação, passou a haver mais lugares no Conselho Legislativo. Nestas eleições, os cidadãos de Hong Kong deram uma resposta clara às políticas de C.K. Leung, – governar através da acção – ao mesmo tempo que enviaram uma mensagem explícita ao Governo Central, ou seja, pedir a substituição do Chefe do Executivo e dar início à reforma constitucional. O Governo Central tem de confiar nos habitantes de Hong Kong e estes têm de confiar no Governo Central, de forma a evitar um agravamento das relações entre a China e Hong Kong.
Vivi a peregrinação a Fátima, Santiago e Lourdes como uma formação espiritual, nesta que foi uma viagem comemorativa do ano do “Jubileu da Misericórdia”, numa iniciativa da Diocese de Macau. A paz do Santuário de Fátima deu-me uma sensação de regresso a casa, em contraste com o ambiente frenético e barulhento que se vive na nossa cidade. De alguma forma fez-me regressar à Macau dos anos 60 e 70, como se tivesse recuperado algo há muito perdido, sentimento que não há dinheiro que compre. Infelizmente, Macau foi trocando aos poucos a sua paz e tranquilidade por dinheiro fácil.
Comparada com a jornada de 20 dias, ao longo de 800 Km, a viagem de três dias, e apenas 80, pelos Caminhos de Santiago, em Espanha, não foi nada por aí além. Mas, para os macaenses, que sempre têm vivido como ilhéus, esta viagem de três dias representou uma experiência inolvidável. Sob os cuidados do Padre Manuel Machado, a viagem decorreu sem sobressaltos, permitindo-nos experienciar o milagre da comunhão entre o Homem e a Natureza e redescobrir a pureza da fé ao percorrer os trilhos há muito calcorreados pelos antigos peregrinos. Ao fim da tarde, sentado perto da Catedral de Santiago, à espera do pôr do Sol, compreendi como podemos ser livres e senhores de nós próprios. Nesta altura, na Europa, os dias são mais longos e só jantámos por volta das 21h, numa cafetaria/snack-bar de uma estação de serviço. Tudo isto me fez lembrar do que havia antigamente em Macau e que agora não passa de uma recordação.
O ambiente que se vive em Lourdes, é muito diferente do que se vive em Fátima, embora os dois locais sejam Santuários construídos para celebrar as aparições de Nossa Senhora. Lourdes encontra-se num circuito muito turístico e recebe inúmeros crentes em busca de cura para os seus males. Os voluntários recebem os peregrinos, reúnem-nos e preparam-nos para as cerimónias rituais. Embora houvesse uma fonte inesgotável de água santa, era preciso esperar numa fila três horas para poder mergulhar no liquido sagrado. Apesar da grande concentração de pessoas na gruta da Nossa Senhora de Lourdes, as acções praticadas e toda a serenidade envolvente permitiam que nos encontrássemos connosco próprios.
A peregrinação de 20 dias chegou ao fim. Antes de viajar, estava preocupado com problemas de segurança que pudessem vir a ocorrer. Mas, depois do que vi, ouvi e experienciei, percebi que estava preocupado sem razão. Todas as pessoas que conheci eram amáveis e generosas. Apenas com três saudações, “Bom Dia, Hola Hola e Bonjour”, consegui conquistar a simpatia dos locais. Uma boa atitude e um comportamento apropriado, são as chaves para ganhar o respeito e a amizade dos outros.
Quando regressei a Macau, esperavam-me alterações no trabalho e na minha vida pessoal. Os resultados da eleição para o Conselho Legislativo de Hong Kong, que teve lugar este mês, exprimem uma transição de poder da antiga para a nova geração. Em Macau, as eleições para a Assembleia Legislativa acontecerão em Setembro de 2017, mas isso é um assunto que discutiremos mais tarde.

23 Set 2016

Dá-me a cidade

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m fenómeno que acontece a quem tem filhos é começar a ver as coisas em várias dimensões. Quando um filho nasce – e sobretudo quando começa a andar –, os autores do pequeno ser ficam maiores e mais fortes, capazes de transportarem todos os quilos e preocupações do mundo, mas tornam-se também mais pequenos. Um metro de gente não vê o que um metro e sessenta ou um metro e oitenta vêem: há que flectir as pernas para se perceber o mundo que é apresentado aos descendentes.
Aqueles que decidiram contribuir de forma activa para as estatísticas demográficas ganham ainda uma particular capacidade de análise do chão que sempre pisaram e que, de um dia para o outro, passa a ter uma enorme relevância: pés grandes não caem em pequenos buracos, nem tropeçam com facilidade em pisos desnivelados; já os pés pequenos têm uma particular inclinação para ajuntamentos de água e gigantes crateras no pavimento dos passeios.
Quem decidiu multiplicar-se descobre ainda um inexplicável talento para detectar o perigo. Em Macau, esta apetência adquirida por via da parentalidade é uma canseira: o perigo está em muitos sítios quando se sai à rua acompanhado por alguém que ainda mal fala. Não é preciso ser-se especialista na matéria – os espaços públicos nesta cidade, com destaque para parques infantis e passeios, são uma miséria. Basta andar na rua com olhos de ver e com uma criança pela mão.
O Comissariado da Auditoria chegou a semelhante conclusão e decidiu puxar as orelhas ao Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais. Num relatório ontem divulgado, diz-se, de forma resumida, que há um grande número de espaços públicos de lazer que representam um risco para a segurança e para a saúde pública. Gasta-se dinheiro em parques infantis e nos equipamentos desportivos, mas há desmazelo, falta manutenção, sobra lixo. Em suma: o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais não está a fazer o que devia para garantir as condições mínimas que estas áreas devem ter.
É difícil encontrar uma explicação para o estado em que se encontram muitos dos equipamentos públicos da cidade, pela simples e nada imaginativa razão de que o dinheiro não é um problema. Não havendo falta de recursos, a situação em que se encontram os locais frequentados essencialmente por crianças e velhinhos poderá ser justificada pelo desleixo, pela ignorância, pela falta de capacidade para a concepção deste tipo de áreas, pelo não-querer-saber.
Um fenómeno que acontece a quem tem filhos é a mudança do modo como se vive na cidade. Mudam-se os horários e os percursos, as zonas que se viam ao longe, da janela de casa, passam a ser frequentadas com muita regularidade. E constata-se, de um modo quase doloroso, que as pessoas que vivem nesta cidade têm uma enorme falta de espaço. Não há parque público, infantil ou não, que não esteja pejado de gente. Não há uma nova área de lazer que não seja rapidamente procurada por pais ciclistas, filhos em triciclos, novos e menos novos que gostam de correr, de andar, de respirar qualquer coisa que não seja o ar condicionado de casa e o cheiro dos casinos.
Ao falhar na manutenção dos equipamentos públicos, o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais comete um pecado maior: priva grande parte da população da aproximação a uma vida mais ou menos normal. Não é preciso ser-se especialista na matéria: googlem, senhores que decidem, googlem. Vejam o que se faz lá fora e leiam, por exemplo, as estatísticas assustadoras sobre acidentes com crianças em parques infantis. Tenham cuidado: o povo é sereno e não se queixa, mas um dia destes há um azar dos grandes e alguém vos vai perguntar por que estava o baloiço enferrujado, o escorrega partido, a vedação incompleta. Descompliquem: deixem os miúdos pisar a relva, voltem a plantá-la as vezes que for necessário, porque o cimento não é amigo de joelhos e narizes de tamanho XS. Invistam: limpem os parques, comprem caixotes do lixo, espalhem-nos pela cidade; nivelem os passeios feitos à pressa em aterros feitos à pressa, lembrem-se das rampas para que os acessos estejam garantidos a cadeiras de rodas e a carrinhos de bebés. Não queiram ser terceiro-mundistas, que o termo não vos fica bem e em nada combina com os fatos escuros, as gravatas e os automóveis de motorista fardado de branco.
Modernizem-se e pensem, pensem só um bocadinho: a cidade é das pessoas e deve ser pensada para elas. A cidade é nossa.

23 Set 2016

Todos conseguem, a menos que não queiram

[dropcap style≠’circle’]À[/dropcap]s vezes reclamamos com facilidade sobra as falhas, a incapacidade, o mau desempenho, ou pelo facto de não conseguirmos uma coisa que gatávamos de ter. É fácil cair na frustração, na rejeição e na desistência. Mas não nos devemos esquecer que não temos a pior vida do mundo e que há sempre alguém em piores condições do que nós.
Nascer, crescer, brincar, estudar, trabalhar, são as etapas essenciais dos seres humanos. São tão fáceis e comuns, contudo, para os que sofrem de deficiência congénita, a partir do momento do nascimento, crescer já acarreta imensos esforços.
A desigualdade entre pessoas ditas normais e portadores de deficiência existe em todo o mundo e Macau não escapa a essa realidade. A lentidão em aprender, a dificuldade de entrar em escolas como as outras crianças, o preconceito de outros, a pouca possibilidade de entrar no mercado de trabalho… Mas nem sempre existe apenas o lado triste.
Uma reportagem local on-line “My Own Post” revelou que a primeira turma de educação especial para as crianças com deficiência visual foi aberta na Escola Primária Luso-Chinesa Sir Robert Ho Tung, onde é permitido que alunos normais e especiais estudem juntos.
Três crianças com deficiência visual desde a nascença , com três anos de idade, foram à escola como os outros meninos no dia 1 de Setembro, o primeiro dia do novo ano lectivo. A única diferença é que eles não vêem e apenas conhecem os objectos através do toque. Mesmo assim, a inocência e a curiosidade não diminuem face à deficiência.
Apesar de ser apenas um pequeno avanço na educação com portadores de deficiências visuais, os pais parecem estar satisfeitos com a organização da escola: cada aluno especial tem uma pessoa que o acompanha no estudo, e as condições são melhores do que quando andavam na Escola Kai Chi (da Associação de Apoio aos Deficientes Mentais de Macau) em que os pais precisavam de acompanhar os filhos a todas as aulas. Agora a pressão parental também está aliviada.
Em Macau ainda não existe estimulação precoce nem treino para as crianças portadoras de deficiência visual, o que significa que as crianças com idades entre os 0 e os 3 anos não acedem a uma educação adequada. Desta forma podem vir a perder a totalidade ou parte da capacidade de aprendizagem. Há alguns casos em que mesmo tendo três anos de idade, as crianças ainda não dizem uma palavra e outros que agem como se fossem bebés de meses. Com três anos só podem estudar com outras crianças também portadoras de deficiência e não têm, por exemplo, acesso ao ensino de língua inglesa, ao contrário dos meninos “normais”.
Com esta turma inclusiva, as crianças passam a ter uma aprendizagem cognitiva em que podem, por exemplo, cantar, e fazer actividades em que não precisam da visão e que os integram com os colegas.
Sempre que vejo o esforço das pessoas com mais dificuldades digo-me a mim mesma: não temos nenhuma razão para ser preguiçosos ou desistir facilmente, porque temos muito mais quando comparados com outras pessoas.
Outro assunto que me impressionou recentemente foi o caso do fotógrafo oficial dos Jogos Olímpicos também portador de cegueira. João Maia da Silva, com 41 anos, sofreu uveíte quando tinha 28 anos e desde então não tem visão. João Maia da Silva desesperou até que começou a fotografar. Para ele, o acto de fotografar é uma oportunidade para expressar ideias e sentimentos sobre o mundo.
Nós conhecemos o mundo pelos olhos, mas para João já não é essa a forma. “Para fotografar não é preciso usar os olhos, mas sim sentir com o coração, e dessa forma conseguir boas imagens”, afirmou.
O fotógrafo, invisual, consegue tirar fotos através da audição da batida do coração, do som dos passos dos atletas e do ambiente e consegue ainda estimar distâncias.
Em chinês há um provérbio que se usa muito: “Um minuto no palco custa dez anos de trabalhos anteriores”. Para conseguir fazer isso, João tem que se esforçar muito e gastou muito tempo de modo a conseguir retomar a sua vida, para se tornar uma pessoa com um dom especial.
Ainda têm desculpas para se queixarem do azar ou da dureza da vida?

23 Set 2016

Phoebe Tong, artista: “Macau ainda não tem uma mente aberta”

[dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]hoebe Tong estudava Marketing em Melbourne, na Austrália, e regressou há três anos ao lugar que a viu nascer. Formada em Artes, a jovem decidiu abrir caminho ao empreendedorismo e criou, para tal, uma página na rede social Facebook. “Tongbay Macau” oferece um serviço de desenho, caricaturas e retratos a quem quiser decorar a casa à sua maneira.
A ida para a Austrália teve como base a opinião da família. Melbourne é uma das cidades mais conhecidas no que toca à Arte, confessa a jovem ao HM, e essa é uma das razões por que optou por ir para a terra dos cangurus. Entre a vida e o desenho, Phoebe deixa espaço para outras coisas de que gosta muito, como dançar. Mas o desenho está presente desde a sua infância e, durante os estudos na Austrália, a forma como a Arte era apresentada pelos seus colegas levou a jovem a abrir a mente.
“Alguns amigos faziam espectáculos na rua e desenhavam caricaturas ou retratos. Achei interessante e comecei a fazer o mesmo”, explica, acrescentando que chegava a fazer retratos simples em cinco minutos, entre os intervalos das aulas.
“Como chegavam muitos turistas todos os dias àquela cidade, o ambiente artístico interessou-me imenso e comecei a oferecer serviços de desenho rápido na zona turística de Melbourne. Quando voltei a Macau, precisava de trabalhar, mas queria a continuar a desenhar, portanto criei a página na Facebook para receber os pedidos de desenho”, explica.
Mas Phoebe tem outros desejos. Gostaria de introduzir esta cultura no território, ainda que afirme compreender que ser artista de rua é uma profissão menos popular por cá e a arte não é algo visto como principal em Macau.
Ainda assim, Phoebe vai continuar, porque sente que as pessoas ficam “felizes por receber desenhos feitos à mão”. Algo que a jovem “adora” e vê como muito especial.

Momentos especiais

O sucesso, aparentemente, não se fez esperar. Phoebe recebeu vários pedidos locais, mas também de fora, como Taiwan e Hong Kong e da Europa. Algo que, confessa, a surpreendeu muito, porque não previu que o feedback para o seu trabalho levasse a tanta agitação. Nos últimos três meses, recebeu centenas de pedidos.
“Muitas pessoas até gostam de levar as minhas obras como um presente para os amigos finalistas das universidades”, diz, sorridente.
Mas Phoebe destaca um dos pedido que foi o mais inesquecível: a cooperação com a Richmond Fellowship of Macau, uma associação social sem fins lucrativos. A jovem faz desenhos e ajuda os deficientes mentais que estão a receber tratamento na instituição a fazer flores secas, combinado as duas para vender como um presente.
“Embora tivesse sido paga pelo trabalho, doei parte das receitas para esta associação social”, disse com satisfação. Outro dos pedidos que destaca é o de um fã de voleibol, que lhe pediu para fazer alguns cartazes para as jogadoras brasileiras durante o Grand Prix de Voleibol de Macau. A verdade é que os cartazes de Phoebe chegaram às mãos das jogadoras.

E o futuro?

Como trabalha numa empresa grande, na qual é responsável de Marketing, Phoebe ainda divide o seu tempo entre a Arte e a vida profissional. Questionada sobre se pensa em deixar o trabalho para se dedicar a 100% ao mundo dos pincéis, a jovem define prioridades: viver os nossos sonhos é algo que os jovens pensam muito hoje em dia, diz, mas tem de se ganhar o pão. A solução é “encontrar um equilíbrio entre os interesses pessoais e a vida profissional”, deixando, por agora, o seu tempo livre para desenhar.
Sobre a aceitação desta cultura como uma cultura de rua, Phoebe acha que Macau ainda não tem uma mente aberta suficiente. Falta promoção e um lugar onde possa, efectivamente, haver mostras de rua.

23 Set 2016

Mais apoios para o Fórum do Livro de Macau

[dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]em mil patacas acrescem aos apoios para que os objectivos do Fórum do Livro de Macau em Lisboa sejam atingidos. A “ajuda” vem por parte da Santa Casa da Misericórdia de Macau e foi dada a conhecer por carta à associação promotora do evento, a “Amigos do Livro”. Segundo a associação este é um apoio que “vem contribuir, largamente, para a concretização do orçamento necessário à realização do Fórum do Livro de Macau em Lisboa”.
O argumento que sustenta este apoio é explicado, e prende-se com o facto da Santa Casa assumir “a sua matriz cultural essencialmente portuguesa”, por um lado e por outro porque “não se trata de uma associação recém-criada” mas sim de uma entidade que tem dedicado mais de 30 anos à produção da “maior parte das edições de renome sobre a história, cronologia, cultura e iconografia de Macau, em Português, Chinês e Inglês.”
As cem mil patacas anunciadas juntam-se às 119 mil cedidas pelo Instituto Cultural e que ficaram muito aquém das necessidades essenciais para a produção do Fórum. A Associação Amigos do Livro aguarda ainda a resposta do apoio pedido a uma outra instituição de modo a garantir o orçamento indispensável.

23 Set 2016

Exorcismo e simbolismo

Amaro, Ana Maria, 1984, O brinco do leão, Direcção dos Serviços de Turismo de Macau, Macau.
Descritores: Ciências sociais, Etnologia, Cultura, Macau, 204 p.:il.:23 cm.
Cota: 39(512.318) Ama

[dropcap style=’circle’]B[/dropcap]rinco do Leão não é mais do que a conhecida Dança do Leão. Ana Maria Amaro explora a valência da palavra Brinco que quer dizer diversão ou espectáculo jocoso. Ana Maria Amaro prefere assim a designação macaense para traduzir a expressão chinesa mou si, que quer dizer à letra, leão dançando ou dança do leão, em linguagem falada, pois em linguagem escrita a expressão é seng si e quer dizer leão acordado. É que, para que haja dança do leão, é preciso proceder antes ao cerimonial de acordar o leão, que consiste em pincelar de vermelho, com cinábrio pastoso, os olhos e a língua do pretenso animal.
Contam-se muitas histórias acerca das origens da dança do leão. O livro faz a narrativa, não sei se exaustiva, mas demorada, o suficiente de todas as tradições e separa com nitidez as tradições do Norte da China das tradições do Sul.
“No período da Dinastia Qing, a ópera chinesa e a Dança do Leão andavam de mãos dadas. Foram as companhias de ópera que navegavam nos lendários Barcos Vermelhos, quais ciganos do Delta do Rio das Pérolas, que deram a conhecer as modernas coreografias da Dança do Leão. Eram os actores que faziam desta uma arte do palco em Macau, Hong Kong e na região do Delta, mais tarde adaptada pelas escolas de kung fu”. Em Macau, só se enraizou nos costumes a partir dos anos 40 do século XX. E em Macau, de facto, a tradição está mais ligada à prática das artes marciais do que propriamente à ópera chinesa.
A dança que chegou a ser proibida em Hong Kong por via das suas ligações ao mundo do crime organizado, manteve sempre em Macau um carácter nobre e não belicoso. Além disso a Dança do Leão era muito apreciada pelas autoridades portuguesas que convidavam os grupos de acrobatas para participarem em cerimónias oficiais. Havia em Macau muitas colectividades desportivas onde se praticava ginástica e lutas chinesas, mas só a Associação dos Lanes de Peixe, a Lei Lau e a Lo Leong apareciam regularmente. E de todas elas foi a de Lo Leong que mais se destacou através do tempo. Depois de um período em que deixou de existir, a partir da segunda metade dos anos 60 reapareceu com novas coreografias inovadoras e arrojadas.
Um dos aspectos preliminares à dança é a cerimónia do acordar do leão. “Junto ao altar da trindade taoista protectora dos dançarinos do leão, na sede da associação, na Areia Preta, o mestre acende paus de incenso. Numa bandeja, um velho rizoma de gengibre, um símbolo de poder, é almofada de um novo pincel de caligrafia chinesa. Aí está o vermelho puro do cinábrio (chu sa, em cantonês, ou zhusha, em mandarim) que vai dar vida ao leão”. Só depois o leão é engravatado com uma fita de cetim, o que significa que o leão volta a ter a cabeça ligada ao corpo, pois como se sabe por causa de maus comportamentos o Deus degolou-o, mas a deusa da misericórdia Hum Iam (Kun Iam ?) ou Guan Yin em mandarim resolve perdoar-lhe e restabelece a ligação da cabeça ao corpo atando-lhe uma fita vermelha à cabeça. Esta cerimónia é acompanhada pelos toques de cinábrio, sendo que o primeiro deve ser na testa do leão: “É na testa que Pun lhe dá o primeiro toque de cinábrio, sob a forma de um tridente, bem no centro do espelho que tão bem caracteriza os leões do sul, afugentando os espíritos que ali vêem o seu reflexo”. Da testa passa-se aos olhos, para as orelhas, para o nariz e ainda para a língua. Em cada toque há um significado, assim o toque nos olhos traz de novo ao leão a clareza, e através do toque no nariz afastam-se do leão os maus espíritos e aproximam-se dele o bem e a justiça, etc. Em todo este ritual pode ver-se que o leão desperta e começa a piscar os olhos, a mexer as orelhas e assim por diante. Está agora preparado para a dança.
Deste modo recebe o novo espírito para trazer sorte e fortuna a quem o convida para dançar depois de salpicado com o orvalho das folhas, que acompanham o gengibre e o cinábrio no tabuleiro. Pun avisa que se o leão nunca tiver passado pelo ritual junto ao altar, o azar bate à porta daquele para quem dançar.
Uma das lendas mais revisitadas a propósito da Dança do Leão aplica-se sobretudo ao sul e terá sido esta que passou para Macau. Sabe-se que só o leão do sul possui uma cabeça peculiar com grandes olhos, um espelho na testa e um chifre no centro da cabeça. E pensa-se que esses adereços lhe terão sido atribuídos pela deusa Kun Iam no processo que já salientámos. Mas outra lenda associa o leão do sul a uma criatura que aterrorizava as populações. Essa criatura era designada por nien ou nian, o que em chinês se assemelha muito à palavra ano. E será por isso que a Dança do Leão faz parte obrigatoriamente das celebrações do ano novo chinês. A história interessa-me muito porque nela se procede a uma transmutação da lenda, do realismo animista para a pura representação simbólica. E é essa transformação que lhe confere uma dimensão culta e civilizada. O nien tinha já conhecido os poderes reais do leão, tendo fugido dessa vez espavorido. Voltou contudo para se vingar e as populações ficaram alarmadas pois não podiam contar com a providencial ajuda do leão que andava muito ocupado nessa época, ao que parece, a guardar as portas do palácio imperial. Uma vez que não podiam contar com o leão real para combater o grande inimigo, as pessoas engendraram um avatar do leão, agora sob uma forma mistificada e apenas simbolicamente representada. Ao reproduzirem a imagem do leão através de panos e bambus e ao lograrem também imitar os movimentos do leão através de uma dança plena de saltos e contorções conseguiram ludibriar o inimigo que de novo fugiu espavorido. E é esta forma representada e apenas simbolizada que para mim torna a Dança do Leão naquilo que ela é, um verdadeiro exorcismo de todos os perigos e uma encenação cultural e simbólica da luta do bem contra o mal. E só quando o simbolismo se substitui à crueza do mito, um povo e uma comunidade atingem a maioridade intelectual e a plena dignidade de uma civilização.

22 Set 2016

Centro de Design de Macau participa em Expo na China

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Centro de Design de Macau (CDM), incubadora de empresas e exposições localizado na Areia Preta e dirigido pelo artista local James Chu, vai participar na Expo das Indústrias China, Japão e Coreia 2016, a qual vai decorrer no Centro de Convenções e Exposições de Shandong-Taiwan, na cidade de Shandong, na China.
O evento começa já na próxima segunda-feira, dia 23, e termina dois dias depois, sendo seu objectivo “promover uma zona de comércio livre entre a China, Japão e Coreia”, bem como “uma cooperação entre os três países”, afirma um comunicado divulgado pelo CDM.
A Expo de Shandong quer ainda “criar uma plataforma de cooperação regional única e inovadora, com vários recursos e políticas”. Esta vai ainda “servir como incubadora de um comércio mais cómodo e trocas ao nível dos investimentos, tecnologia e trocas culturais.”
O CDM vai não só apresentar produtos de design locais mas também vários vídeos de animação, projectos de banda desenhada e mostras em 3D. Sendo a “primeira plataforma a promover Macau enquanto local de desenvolvimento do design”, o CDM visa, com esta participação, “dar a conhecer o desenvolvimento do sector do design de Macau e os negócios das companhias locais de design, por forma a encontrar novas oportunidades de cooperação com parceiros regionais e globais.” Pretende-se ainda que os designers locais possam “expandir os seus negócios para outros mercados”.
Esta não é a primeira vez que o projecto pensado por James Chu busca parcerias internacionais. “No ano passado o CDM cooperou com diversas organizações da China, Hong Kong, Taiwan, Japão, Holanda e países de língua portuguesa, com vista a estabelecer uma rede de contactos para as empresas locais de design”, referiu a entidade no mesmo comunicado.

22 Set 2016

Demência | Inaugurado novo centro de diagnóstico no São Januário

O Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, inaugurou ontem o Centro de Diagnóstico e Tratamento de Demência, que vai funcionar junto às novas urgências do São Januário. Terá capacidade para atender até 30 doentes por dia, com uma lista de espera de um mês. Não estão previstas novas contratações

[dropcap style=’circle’]É[/dropcap]a segunda inauguração dos Serviços de Saúde (SS) no espaço de meses, mas desta vez a pensar nos mais velhos que sofrem de perda de memória progressiva. No novo Centro de Diagnóstico e Tratamento de Demência há mesmo uma sala que parece saída do século passado, com sofás e bordados brancos e fotografias de uma Macau que já não existe espalhadas pelos corredores. Na sala da nostalgia, a pequena caixa de música com a bailarina, o ábaco e o velhinho bule ajudam a buscar pedaços de uma memória já frágil, mas que precisa de ser tratada.
A pensar no Dia Mundial do Alzheimer, que se celebrou ontem, o Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, inaugurou o Centro que vai funcionar bem junto às novas urgências do São Januário e que terá capacidade para tratar entre 20 a 30 doentes por dia. Ali serão tratados os pacientes encaminhados a partir dos centros de saúde, sendo que no espaço haverá uma concentração dos serviços já existentes.
“Os casos encaminhados para aqui poderão levar cerca de um mês [a serem analisados]. Esperamos reduzir o mais possível no futuro”, disse Alvis Lo, médico pneumologista que trabalha no hospital na área da Geriatria e que vai coordenar o novo Centro.
O espaço terá salas de avaliação de funções cognitivas, salas de diagnóstico e tratamento médico e médicos especialistas em Geriatria, Psiquiatria e Neurologia. Contudo, segundo Alvis Lo, não está prevista a contratação de mais profissionais de saúde para este novo local. “Estamos bem preparados em termos de recursos humanos. Temos três consultas profissionais – Geriatria, Psiquiatria e Neurologia – e estes médicos vão continuar com os trabalhos. Não recrutamos novos médicos mas continuamos com os médicos que temos, vamos redistribuir os trabalhos.”
O novo Centro chega mais de um ano depois da inauguração das novas urgências, sendo que não terá sido necessário um grande investimento, garantiu Alvis Lo. “O espaço estava destinado para as consultas da urgência, já tínhamos os equipamentos. Não tivemos um grande investimento.”

Quatro mil doentes

Não será fácil chegar até ali e admitir as doenças da perda de memória. Segundo Alvis Lo, nem todos aceitam ser avaliados. “Desde que a pessoa não recuse a avaliação no centro de saúde, da nossa parte o tempo pode ser bastante reduzido. Muitas vezes as pessoas recusam receber a avaliação dessa doença no centro de saúde.”
Hoje existirão cerca de quatro mil doentes em Macau, mas continuam a faltar dados oficiais. “Há cinco anos já tínhamos uma consulta externa sobre a perda de memória. Mas em Macau não sabemos exactamente quantos são os doentes com demência, ainda que se estime que haja cerca de quatro mil doentes e mil casos confirmados”, acrescentou o coordenador do Centro.
Alexis Tam garantiu no seu discurso que estes números têm tendência a subir. “Com o envelhecimento da população e com o aumento da esperança média de vida, prevê-se que este número vá aumentar.” salanostalgiahm
Para isso já estão a ser pensadas medidas, como a criação de uma base de dados, como já tinha avançado o HM numa reportagem sobre o assunto. “Pretendemos estudar a viabilidade da constituição de um sistema de registo de dementes que possa ser útil na elaboração de políticas e na gestão de pacientes e dos serviços de acompanhamento necessários”, referiu o Secretário.
Para além disso, “será criado um grupo de prevenção e tratamento da demência no âmbito da Comissão de Prevenção e Controlo das Doenças Crónicas, a quem é incumbida a função de estabelecer laços de colaboração com associações e organizações da sociedade, por forma a promoverem os trabalhos de sensibilização”, concluiu Alexis Tam.

Secretário visita centro que apoia 230 utentes

O Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura visitou ontem o Centro de Cuidados Especiais Longevidade, na Taipa. A funcionar desde 1998, o espaço está desde o ano passado a prestar cuidados a doentes que sofrem de várias patologias ligadas à demência. É, aliás, a única unidade na RAEM a fazê-lo.
No dia em que a demência foi o tema, e em que se assinalou o Dia Mundial do Alzheimer, Alexis Tam chegou pontualmente às 15h00 para fazer a visita. Uma visita guiada, onde foi possível visitar várias salas para acompanhamento de idosos. Aqui, são estimulados a fazer várias actividades para ocupar os seus dias, mas sobretudo para continuar a exercitar o cérebro e prevenir doenças degenerativas do foro psiquiátrico.
“Actualmente esta instituição tem capacidade para prestar cuidados a 230 utentes, todos em regime externo. Vinte e cinco vagas são destinadas a portadores de demências, sendo que neste momento existem 18 casos já identificados”, disse Paul Pun, Secretário Geral da Cáritas, que também esteve presente durante o encontro.
A Instituição, que funciona com apoios do Governo, da Cáritas e também graças a trabalho voluntário, presta também apoio domiciliário, estando neste momento a acompanhar 80 casos.
Alexis Tam, acompanhado do seu chefe de Gabinete, Ip Peng Kin, e da Presidente do Instituto de Acção Social (IAS), Vong Yim Mui, começou a visita pela sala de escrita. Munidos de pincéis e grandes folhas de papel, alguns idosos pintavam caracteres chineses. Tam esteve à conversa com alguns deles e questionou-os se estavam satisfeitos com as políticas de saúde levadas a cabo pelo Governo. A resposta foi positiva e veio pela boca de uma voluntária que ocupa os seus dias na instituição a ajudar quem mais precisa. A mulher estudou Medicina Chinesa durante seis anos e esteve mais quatro a aprender medicina ocidental. Entretanto, o filho teve uma doença e acabou por morrer, pelo que se dedica agora a ajudar quem mais precisa.
Continuando a visita, o Secretário mostrou-se surpreendido com as instalações, nomeadamente o refeitório que, “apesar de ser um espaço pequeno é arejado, bem ventilado e com muita luz”, disse.
Alexis Tam reforçou que as necessidades da população mais velha são uma preocupação para o actual Governo. “Com uma esperança de vida cada vez maior, Macau tem já uma população envelhecida e com ela vêm as dificuldades cognitivas”, daí a importância de serem criados mais espaços para diagnóstico precoce e tratamento das demências.
Alexis Tam garantiu que uma nova unidade vai abrir na zona da Areia Preta, mas ainda não tem data marcada.

22 Set 2016

‘Referendo’ | Organizadores podem ser multados mas ameaçam com tribunal

Uma nova carta do Gabinete de Protecção de Dados Pessoais chegou às mãos do grupo que organizou o ‘referendo civil’ de 2014 sobre as eleições do Chefe do Executivo. O Comité pode vir a ter de pagar uma multa que pode ir até às 40 mil patacas, mas não sem antes – como assegura o grupo – de uma luta em tribunal

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Gabinete de Protecção de Dados Pessoais (GPDP) pode vir a multar o Comité Organizador do Referendo Civil sobre a Eleição do Chefe do Executivo 2014. Dois anos depois de três associações civis terem realizado um inquérito ao qual chamaram “referendo civil”, o organismo liderado por Vasco Fong enviou uma carta a Jason Chao, promotor e administrador do grupo, onde diz que o Comité pode vir a ter de pagar uma multa por “recolha ilegítima de dados”. Os organizadores assumem estar dispostos a ir para tribunal.
Em 2014, por considerarem que não havia permissão para participação cívica na escolha do líder do Governo – uma vez que é uma Comissão liderada por 400 pessoas que faz essa escolha -, a Macau Consciência, a Juventude Dinâmica de Macau e a Sociedade Aberta de Macau formaram o Comité. Composto por duas questões, o inquérito focava-se em perceber se as pessoas queriam o sufrágio universal em 2019 e se confiavam na candidatura a solo de Chui Sai On.
A expressão ‘referendo civil’ foi inspirada em sondagens feitas em Hong Kong com o mesmo nome, mas o Governo local e o Central rotularam de imediato a actividade como “ilegal”. Na falta de leis que proíbam a realização de referendos não oficiais, a organização considerou a acção do Executivo como um ataque à liberdade de expressão.
Apesar de ter reunido mais de nove mil votos, o facto de terem sido recolhidos dados pessoais – ainda que autorizados pelos votantes – como o telefone e número do BIR, levou a um primeiro aviso do GPDP, que culminou com a detenção de Chao, Scott Chiang (activista e membro do Comité) e três outros voluntários que estavam nas mesas de ‘voto’. Depois outros vieram.
“Dois anos depois do fim do referendo, as consequências não acabaram”, relembrou ontem Jason Chao. “Foram abertos pelo menos três procedimentos contra os organizadores: a primeira carta do GPDP foi um aviso para pararmos de recolher dados e apagá-los todos. Depois [da detenção], foi uma outra, a dizer que teríamos de ser ouvidos porque poderíamos estar a transferir estes dados para fora de Macau. E agora, esta.”
Esta é uma carta que chegou a 26 de Agosto às mãos do Comité e que indica que os organizadores poderão ter de pagar “entre quatro mil a 40 mil patacas” por “infracção administrativa”, que se prende com “a recolha ilegítima de dados pessoais”.

Sem MP, mas com “medo”

Sem qualquer acusação formal do Ministério Público contra os detidos – algo que “ainda pode acontecer” mesmo que já tenham passado mais de dois anos – a carta do GPDP chega numa altura em que a Associação Novo Macau, ligada à Macau Consciência e cujos membros são os mesmos do Comité, levou a cabo uma votação alternativa para dar nomes aos pandas bebés, onde também recolheu dados. A carta, contudo, especifica o evento de 2014.
“Cremos que [a carta] poderá ter chegado por causa dos pandas, sim. Achamos que o Governo teme que seja moda este tipo de actividades onde as pessoas podem, de facto, exprimir a sua opinião”, frisou, acrescentando que as acusações nesta carta são as mesmas de há dois anos.
O Comité já respondeu ao GPDP “com avaliações de juristas”, onde se incluem o local António Katchi e o investigador de Hong Kong Kai Yeung Wong, mas promete – se necessário – ir mais longe.
“Estamos dispostos a ir para tribunal se o GPDP decidir multar. Vamos até à última instância para defender a liberdade de expressão das pessoas de Macau”, frisou Chao, acrescentando que, para assegurar os custos, há-de haver soluções como “uma recolha de fundos”.
O Comité ameaça ainda enviar documentos a relatar o sucedido a entidades de dados pessoais europeias, com quem o GPDP troca informações e baseia a legislação de Macau. Para Chao, “há uma interpretação muito defeituosa da lei” e “falhas fundamentais” no entendimento das directrizes europeias, sob a qual assentam os diplomas da RAEM.
“Não violamos a vida privada dos cidadãos, demos-lhes o direito de exercerem a sua opinião”, indica Jason Chao, recordando que, como manda a lei, os dados foram apagados depois da eleição de Chui Sai On.

Travagens à bruta?

Para o Comité não há dúvidas: o que o Governo está a tentar fazer é “impedir” que actividades deste género – “onde se ouve o que realmente pensa a população de Macau” – sejam realizadas. Isto porque, defendem Chao e Chiang, sem número de BIR, as opiniões poderiam ser fabricadas.
“Eles estão a tentar descredibilizar este tipo de acções, sem dados pessoais que comprovem [que as opiniões são verdadeiras]. O GPDP dá a entender que vai punir todas as organizações que façam actividades semelhantes. Nós estamos a encorajar as pessoas a dar a sua opinião, seja a nível político ou não.”
Sobre se fariam novo ‘referendo civil’, o Comité diz que “depende” das necessidades da sociedade, mas que estaria disposto a mais actividades deste tipo.

22 Set 2016

Alojamento Ilegal | Lei ainda em análise e atrasada

Os deputados garantiram, em Abril, dois meses para que houvesse algo de definitivo sobre a revisão da Lei de Proibição de Prestação Ilegal de Alojamento e marcaram Agosto como data da entrega da proposta pelo Governo. Mas o diploma ainda está em análise nas secretarias da Justiça e Segurança

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]revisão da Lei de Proibição de Prestação Ilegal de Alojamento ainda está a ser analisada pelos departamentos do Governo, apesar dos deputados terem tentado que o diploma chegasse ao hemiciclo em Agosto. Em vigor há mais de cinco anos, a lei tem levantado questões relativamente à sua eficácia, muito por não ter força incriminatória.
No início deste ano, a Comissão de Acompanhamento para os Assuntos da Administração Pública da Assembleia Legislativa (AL) voltou a pressionar o Executivo quanto à necessidade de rever a lei porque considerava que a situação tem vindo a piorar. Chan Meng Kam, presidente da Comissão, relembrava até que os próprios representantes do Governo concordaram que existe a necessidade de revisão.
Uma das ideias que o Governo tinha vindo a defender prendia-se com a transferência de poderes na aplicação da lei dos técnicos da Direcção dos Serviços de Turismo (DST) para os agentes da PSP. Mas, meses depois de terem de pedirem a criminalização das pensões ilegais, os deputados que compõem a Comissão voltaram com a palavra atrás. Depois de “ouvir os esclarecimentos do Governo”, deixaram de insistir na criminalização com medo que estarem a “sobrecarregar” os recursos da PSP.
Num relatório da AL, Chan Meng Kam garantia que em Junho o Governo iria apresentar uma solução definitiva e que a revisão da lei iria ser levada ao hemiciclo até Agosto, mês em que chegou ao fim a sessão legislativa. Agora, não há calendário.
“A revisão da Lei de Proibição de Prestação Ilegal de Alojamento encontra-se de momento a ser analisada pelos departamentos responsáveis pelas áreas de Justiça e de Segurança”, começa por indicar a DST numa resposta ao HM. “[O organismo] divulgará informações actualizadas assim que disponíveis, em momento oportuno”, conclui.
A DST não responde, por exemplo, se a PSP terá, de facto, mais poderes ou se há qualquer perspectiva sobre quando poderá esta lei ser analisada pelos deputados. Dados da DST e do Instituto de Habitação apontam para mais de 500 casos confirmados de prestação ilegal de alojamento em Macau, aos que se acrescentam “mais de 40 casos” suspeitos relacionados com habitações públicas, ainda que nem todos estejam concluídos.
Na AL, a deputada Song Pek Kei chegou a pedir ao Executivo a revisão da lei por considerar que muitos espaços estavam associados a casos de sequestro, entrada e permanência ilegal em Macau, prostituição ou consumo e tráfico de substâncias ilícitas. Uma das maiores dificuldades na punição dos infractores é perceber quem são os donos das fracções.

22 Set 2016

Reumatologia | Especialidade assegurada ainda que sem mais contratações

Rui Melo está de saída do hospital Conde de São Januário mas os Serviços de Saúde não vão contratar mais médicos para o serviço de Reumatologia. O serviço de Radiologia, no entanto vai contar com novas contratações

[dropcap style=’circle’]”[/dropcap]A Reumatologia no Hospital Conde de São Januário continua a ser assegurada por duas médicas.” Esta é a garantia dada pelo porta-voz dos Serviços de Saúde (SS), depois de uma notícia da TDM que dava conta que Rui Melo, médico do hospital público, não terá renovado o seu contrato de trabalho, após um ano a exercer a especialidade em Macau.
Ontem, à margem da cerimónia de inauguração do Centro de Avaliação e Tratamento da Demência, o director dos SS, Lei Chin Ion, confirmou que, para já, não vão ser recrutados mais médicos para o serviço de Reumatologia, sendo que apenas a Radiologia, que este ano sofreu com a saída de dois médicos, terá novos rostos.
“Em termos de recrutamento de médicos depende muito das nossas necessidades”, apontou. No geral vão ser contratados mais 51 médicos especialistas, 55 médicos de clínica geral e 82 internos do internato complementar.
Kuok Cheong U, director do São Januário, disse que o hospital simplesmente “deixou de ter a necessidade da prestação do serviço (por parte do médico Rui Melo)”, por isso “não foi renovado o contrato”.
Em declarações à TDM, o médico disse ter sido alvo de um boicote e garantiu “que os doentes vão sair prejudicados pela falta de especialistas na área”. A TDM noticiou que Rui Melo chegou a Macau, em Novembro do ano passado, e veio implementar um serviço de especialidade que há mais de 17 anos se encontrava extinto nos SS, no entanto o porta-voz do organismo garantiu que a “Reumatologia não é nenhuma especialidade no São Januário e quer antes quer depois da saída do referido médico, a especialidade esteve sempre inserida na medicina interna”. O mesmo garante ainda que os cuidados médicos prestados nesta área da Medicina vão continuar a ser assegurados. O caso da saída do médico acabou por ser “um namoro que não deu em casamento”, exemplificou o porta-voz.
Mário Évora, director clínico do Hospital, já tinha afirmado que não vai haver lacunas. “Continuaremos a ter todas as condições para resolver os problemas que nos surjam”, disse à TDM, referindo-se à prestação de cuidados e acrescentando que pode haver contratações futuras para reforçar o serviço de Reumatologia.
Rui Melo diz ter sido apanhado de surpresa quando soube que o seu contrato de trabalho não seria renovado. Foi então que em declarações ao Canal Macau alegou ter sido alvo de um boicote do director dos serviços de medicina interna, Ng Hou. O referido clínico acusou ainda o responsável dos serviços de discriminação e de falta de competência.

Lei Chin Ion quer menos doentes enviados para o exterior

O director dos Serviços de Saúde (SS), Lei Chin Ion, pretende reduzir o número de doentes enviados para tratamento no exterior. A garantia foi dada à margem da cerimónia de inauguração do Centro de Avaliação e Tratamento da Demência. “Estamos a trabalhar no sentido de reduzir, no futuro, o envio de doentes”, apontou, quando questionado sobre um artigo recente do jornal South China Morning Post, que relatava os milhões que já foram gastos pelos SS para o envio de doentes.
“A capacidade de equipamento e recursos é maior em Hong Kong do que em Macau, temos de admitir esta realidade. Mas em Macau temos de tomar conta de 600 mil pessoas, embora tenhamos temos plena capacidade para disponibilizar os serviços médicos fundamentais. Há casos pontuais de doenças que raramente ocorrem em Macau, e por isso enviamos os doentes para o exterior”, disse ainda Lei Chin Ion, adiantando que o número de doentes enviados foi muito baixo o ano passado.
“Em termos de técnicas e equipamentos, se tivermos insuficiências, não temos outra opção, teremos de enviar doentes para Hong Kong, mas o número é muito baixo. Em 2015 o número de doentes enviado ao estrangeiro foi muitíssimo baixo, em cada mil doentes só uma média de 1,6 pessoas foi enviada para o exterior. Depois de tratados os nossos médicos acompanharam a situação, tal como o transplante de órgãos e outras cirurgias complexas”, concluiu. A.S.S.

22 Set 2016

Deputada Wong Kit Cheng pede revisão da Lei de Dados Pessoais

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]deputada Wong Kit Cheng entregou uma interpelação escrita ao Governo onde pede a revisão da Lei de Protecção de Dados Pessoais, considerando que a mesma está em vigor há dez anos e já não consegue acompanhar os crescentes casos relacionados com dados pessoais e com o crescimento do comércio electrónico.
No final do ano passado, Vasco Fong, coordenador do Gabinete para a Protecção de Dados Pessoais (GPDP), avançou que em 2016 o grupo de trabalho iria avançar com a revisão do diploma, mas no início deste ano voltou com a palavra atrás. A lei tem erros, admitiu numa conferência de balanço, mas para uma revisão é preciso fazer estudos e analisar partes importantes, algo que ainda não está concluído.
Wong Kit Cheng deu como exemplo as recentes propostas de gravações áudio no interior dos táxis, os dados que envolvem os trabalhadores do Jogo e o sistema de troca de registos médicos, que envolvem dados pessoais. Citando o exemplo referido no último relatório anual do Gabinete, que fala da multa aplicada ao motor de busca Baidu, Wong Kit Cheng fala da necessidade de uma actualização, referindo que os mapas online começaram a ser utilizados há muitos anos. O motor de busca foi multado por ter feito a recolha e a transferência de imagens de Macau, mas deixou caras de pessoas a descoberto.
A deputada da Associação Geral das Mulheres e da União Geral das Associações de Moradores de Macau (UGAMM) lembrou ainda que a entrada de matrículas de Macau na Ilha da Montanha vai começar em Outubro, questionando, por isso, quais os avanços que foram feitos em termos de transferência de dados nas fronteiras e no sistema de videovigilância, algo que o Governo garantiu que iria implementar.
Questionado sobre as desactualizações sentidas na aplicação da actual lei em vigor, Vasco Fong explicava, em Maio, que não existe um equilíbrio entre a legislação e o desenvolvimento da tecnologia. É preciso ainda, explicava, rever a tabela das sanções, pois o valor destas não está equilibrado. “Actualmente não se consegue distinguir a gravidade das infracções. Temos de melhorar”, afirmou, sem adiantar datas.

22 Set 2016

Hovione | Avaliação de fumos em actualização

Começou com queixas por parte dos moradores do Edifício do Lago e a discussão já passou para a internet. Qual a composição dos fumos que saem da chaminé da fábrica da Hovione na Taipa? Neste momento nem a própria empresa sabe e mais informações só para o ano

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Hovione não tem passado despercebida na comunidade virtual. A empresa de produtos farmacêuticos situada na Taipa tem sido alvo de críticas online, nomeadamente no que respeita à emissão de fumos. As queixas juntam-se ao já anunciado descontentamento expresso pelos moradores do Edifício do Lago, que receiam que os conteúdos do fumo sejam prejudiciais à saúde.
Agora, na rede social Facebook, não só a imagem da chaminé da empresa a emitir fumos durante a noite, como também a referência a maus cheiros eventualmente daí advindos, têm causado alguma polémica.
Ao HM Eric Ng, coordenador de Emergência da Hovione Macau, fez saber que se encontra em curso um estudo que divulgará a composição química dos fumos emitidos pela empresa. A resposta que acabou por ser dada pessoalmente, visto os esclarecimentos pedidos por correio electrónico andarem a ser progressivamente adiados, não adianta nada acerca dos gases que chegam aos ares daquela zona. São ou não inofensivos? Eric Ng não responde, mas refere que a actualização desta informação será dada atempadamente estando agendada para o próximo ano, altura em que a empresa realiza o dia aberto e convida elementos da comunicação social para conhecerem as entranhas da indústria farmacêutica local.

Nem sim, nem sopas

Confrontado com as notícias relativamente recentes de que a Hovione havia dado a conhecer de que estes fumos seriam resultado do sistema de abastecimento de gás sem que contivessem qualquer valor tóxico, Eric Ng não confirma nem desmente.
“Não estamos autorizados em dar essa informação neste momento”, afirma o coordenador de Emergência, ao mesmo tempo que diz que apesar da informação dada anteriormente ser válida, não pode ser considerada actual, visto o processo que indica o conteúdo dos fumos da Hovione estar ainda a ser realizado.
“Não podemos adiantar qualquer informação.”
Há cerca de três meses, o HM anunciava que os moradores do Edifício do Lago, complexo de habitação pública na Taipa situado em frente à fábrica, estavam já preocupados com os fumos que diariamente saem das chaminés. Contudo, e segundo o canal chinês da Rádio Macau, a empresa descartou qualquer toxicidade dos fumos expelidos.
Eddy Leong, director-executivo da fábrica da Hovione, explicou que o fumo é oriundo “do sistema de abastecimento de gás”, sendo que nos dias em que os valores de humidade relativa no ar são mais elevados “é normal sair algum fumo branco”.
Na altura, o responsável avançou que “passa-se o mesmo nos hotéis de luxo. Já apresentamos várias explicações junto do público e o Governo tem conhecimento disto”.
Johnny Cheong, responsável pela parte de produção, referiu que é normal que o fumo contenha maus cheiros devido à utilização de alguns materiais, sendo que a Hovione faz testes antes da emissão dos fumos. Johnny Cheong também confirmou que os fumos não são tóxicos nem perigosos para a população.
O director-executivo frisou que é feita uma fiscalização rigorosa das instalações, sendo que a inspecção de segurança é feita por uma entidade de Hong Kong. A Hovione mantém ainda contactos estreitos com a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA), enviando relatórios de forma regular ao Executivo, disse Eddy Leong.

Alargamento para breveCimento com menos pó

Após a polémica gerada à volta da poluição gerada pelas poeiras da fábrica de cimento de Ka Hó, a Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental confirma que as medidas que em 2014 prometeu colocar em vigor estão, na generalidade, concretizadas, de modo a proporcionar uma maior bem estar a trabalhadores e população. Em resposta ao HM, a DSPA afirma que “continua a realizar inspecções e supervisões aos estabelecimentos industriais, os quais têm, gradualmente, melhorado as suas instalações interiores”. Actualmente, já foi plenamente implementada a utilização do tapete rolante para descargas de materiais, os veículos estão equipados com caixas integralmente cobertas, a lavagem de carros é automática e já são utilizados veículos de limpeza também automáticos. A DSPA adianta ainda que estas medidas de melhoramento “já cumprem de forma geral as exigências definidas pelo regulamento administrativo” e vão ao encontro do que foi prometido há dois anos.

22 Set 2016

MICE | Macau, pequeno mas veloz

De acordo com o relatório sobre o sector das feiras profissionais da Ásia relativo a 2015, divulgado pelo Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), o território possui um dos mercados de menor dimensão no que respeita à indústria MICE, mas também um dos mais recentes no sector.
No ano passado, a área de exposição total comercializada no âmbito das feiras profissionais realizadas em Macau ascendeu a 209.250 metros quadrados, um aumento de 147,6% em comparação com os 84.500 metros quadrados dedicados a este tipo de feiras em 2014. Macau registou uma taxa de crescimento mais rápida no âmbito do mercado asiático das feiras profissionais durante o período em causa.
Apesar da economia do território ter sido negativamente afectada no ano passado por factores económicos externos, a indústria das feiras profissionais registou um crescimento anual de 5,9% no que toca à área de exposição total comercializada, no seguimento do aumento registado em 2014. A taxa de crescimento verificada em Macau foi superior à média regional, que se situou em 5,6% em 2015.
Com estes dados o IPIM reitera que é expectável que a indústria MICE em Macau continue a crescer acima da média regional nos próximos anos.

22 Set 2016