Flora Fong Ócios & Negócios PessoasChakra Space, restaurante| “Comer vegetariano é comer saudável” É um espaço muito pequeno mas podem experimentar-se muitas coisas: cafés e cervejas artesanais ou pratos vegetarianos com um leve sabor de caril. A ideia é que cada cliente possa aprender mais sobre comida saudável e viver com esse estilo de vida “Não quero definir este lugar como sendo um bar, café ou restaurante. É apenas um espaço onde mostro as coisas de que gosto”. É assim que o responsável do Chakra Space, Meng Wong, fala do novo canto que abriu portas para os lados da barra, onde se pode pedir comida vegetariana, cafés, vinhos ou cervejas. Inaugurado há cinco meses, Meng Wong gere o espaço com outro sócio mas decidiu o nome do espaço e até a sua decoração. “Chakra remete para os pontos do corpo onde se aplica a acupunctura e também com o Ioga e o Budismo. Apesar de não acreditar em nenhuma religião, gosto muito de ler livros sobre essa matéria e compreender a cultura e os seus significados. Comecei a gostar muito dessa área e decidi usar esse nome para o espaço”, contou ao HM. O gosto de Meng Wong revela-se numa das paredes, decorada com estátuas de buda e quadros religiosos. Mas nem só de comida se faz o Chakra Space. Quando Meng Wong nos serviu uma bebida pudemos ver a zona destinada a um bar aberto. “Disponibilizamos vinhos tintos e brancos, bem como cervejas artesanais. Optamos por escolher as bebidas que não são caras mas que têm qualidade e que são produzidas na Bélgica ou Japão, em vez das que são feitas na China”, explicou. O café no Chakra Space é também artesanal, mas segue um princípio. Cada chávena é servida na sua forma original, sem a adição de açúcar e sem leite. Meng Wong explicou que isso se deve à intenção de corrigir o hábito introduzido por muitos restaurantes conhecidos. “Começamos por explicar aos nossos clientes que os nossos cafés não combinam com açúcar nem leite. A vantagem dos cafés artesanais é que podemos experimentar o sabor original do café. Queremos alterar o pensamento comum que existe na comunidade chinesa, que acha que os cafés mais amargos e fortes devem ter açúcar ou leite. Mas os cafés verdadeiros não devem ser assim”, apontou. Sem aditivos No que diz respeito à comida, o Chakra Space quer também eliminar os aditivos que habitualmente se colocam na comida servida na maioria dos restaurantes. Os cozinheiros adicionam o caril mas não existe açúcar ou sal, apenas azeite. “As comidas vegetarianas chinesas normalmente têm muito açúcar, óleo ou sal, mas acredito que comer vegetariano é comer saudável. O nosso caril é mais leve porque o molho serve de cozedura a muitos legumes. Espero que os clientes tentem aceitar este tipo de comida”, disse Meng Wong. Outra diferença introduzida pelo Chakra Space prende-se com a ausência de menus. A escolha dos pratos ao almoço ou jantar faz-se através dos ingredientes, mas ao jantar é preciso fazer uma reserva. Para Meng Wong, não há melhor combinação do que comer um caril acompanhado por um café. Foi no Japão que o responsável do restaurante conheceu esta ideia. “Acho que as duas coisas combinam muito bem.” Do retalho para a restauração Antes de abrir o Chakra Space Meng Wong trabalhou vários anos na área do retalho, mas sentia-se “preso” à profissão. “Nos últimos três anos já não queria continuar a trabalhar dessa maneira. Achava que a vida não podia ser assim. Parece que estava a desperdiçar a minha juventude para ganhar dinheiro. Tenho 30 anos e achei que precisava de pensar no meu futuro e fazer algo de que gosto”, frisou. Antes de abrir o espaço de comidas e bebidas, Meng Wong viajou pelo mundo para conhecer o máximo de coisas possível, até que teve vontade de regressar a Macau. “É um bom sítio mas tudo depende das mudanças de pensamento e de como usamos o nosso estilo de vida”, referiu. O Chakra Space não pretende ser um espaço para ganhar muito dinheiro mas sim para ser apenas um espaço que reúne pessoas à volta da comida vegetariana e do café. O pequeno lugar de comidas e bebidas fica perto do templo de A-Má e à volta reina o sossego. Apesar dos elevados custos do negócio, com a renda a chegar às dez mil patacas mensais e um investimento de 200 mil patacas, Meng Wong garante que a localização foi um dos motivos que o fez investir. “A zona não foi muito desenvolvida ao longo dos anos e o movimento das pessoas não é grande, mas gosto desta tranquilidade”, rematou.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeJogo | Cali Group fechou mais duas salas VIP em Janeiro A associação Forefront of Macau Gaming confirma o fecho de mais duas salas VIP operadas pelo Cali Group, que também opera salas em Manila, Filipinas. Analistas corroboram tendência do fecho de mais salas, com Grant Govertsen a estimar uma queda do sector VIP em 12% Ieong Man Teng, líder do grupo Forefront of Macau Gaming, confirmou ao HM o fecho de duas salas VIP da empresa junket Cali Group, as quais operavam no casino do Grand Lisboa e do City of Dreams. Desde 2012 que o grupo opera quatro salas VIP em Macau, sendo que as restantes continuam a funcionar no MGM e no Galaxy. O líder da associação que luta pelos direitos dos trabalhadores do jogo revelou ainda que uma parte dos funcionários das salas deverão trabalhar nas salas que o Cali Group já opera em Manila, capital das Filipinas. Aqueles que não quiserem mudar-se para as Filipinas serão despedidos. Segundo Ieong Man Teng, o Cali Group funcionará com base no modelo de investimento com “depósitos em dinheiro” semelhante à Dore, mas como o sector VIP está em quebra, os juros mensais baixaram de 1,5% para 1%. O HM contactou três analistas que não se mostraram surpreendidos com a notícia. Grant Govertesen, analista do Union Gaming Group, apontou uma baixa no sector VIP de 12% para este ano. “Duas salas é obviamente um número muito pequeno se tivermos em conta toda a Macau, mas estimamos que para 2016 haja o fecho de mais salas ou mesas. Prevemos que o sector VIP sofra uma quebra de 12% em 2016”, disse o analista, falando de um crescimento no mercado de massas para este ano. “As receitas de 2016 vão ser mais estáveis do que em 2015”, revelou. Para o economista Albano Martins, o fecho das duas salas do Cali Group são reflexos do ano que ainda agora chegou ao fim. “Parece-me normal que no início do ano haja ainda reflexos de coisas decididas no ano anterior, e no primeiro trimestre deste ano ainda irá cair muita coisa que foi decidida o ano passado”, apontou ao HM. Albano Martins lembrou que as novas regras adoptadas pela Direcção de Inspecção e Coordenação de Jogos (DICJ) para a operação dos junkets pode ditar alguns encerramentos. “É natural que algumas dessas salas acabem por fechar porque acredito que as autoridades vão ser muito mais pró-activas em termos de fiscalização e alguns desses promotores não vão satisfazer os requisitos mínimos das autoridades e vão ter necessariamente que fechar. Qual é o reflexo que isso pode ter no Jogo? Nunca será positivo em termos de receitas, será sempre negativo em termos de receita bruta gerada ao longo do ano. Vamos ver como é que isso não põe em causa o que se diz do facto do Jogo estar a estabilizar. O comportamento do primeiro trimestre pode-nos indicar se de facto está a estabilizar ou não. Dois meses não é representativo, por isso vamos aguardar até Abril”, explicou. Investir nas Filipinas Tal como o Cali Group, muitas empresas junket estarão a jogar todos os trunfos em novos mercados de Jogo, como é o caso das Filipinas. Ainda assim, Grant Govertsen garante que o negócio ainda não tem o sucesso que Macau já registou. “As Filipinas estão a capturar estas mesas e salas VIP, mas penso que o casino nas Filipinas não está a ter um extraordinário desempenho, e talvez os junkets venham a perceber que transferir as operações para Manila pode não trazer grandes mudanças para o negócio”, apontou. Kuok Chi Chong, presidente da Associação de Mediadores de Jogo e Entretenimento de Macau considera que o fecho das duas salas é normal. “O Cali Group fechou duas salas VIP em Macau, porque sabemos que agora os negócios não são bons e precisam de cortar nos custos, bem como fazer uma melhor distribuição dos funcionários. Esta empresa criou o negócio das salas VIP em Manila, então é normal que queira diminuir o investimento em Macau e aumentá-lo nas Filipinas”, apontou ao HM. Malditos vistos Kuok Chi Chong lembra ainda que há uma tendência cada vez mais visível do fecho de salas VIP, mas garante que tudo depende da procura do mercado nos próximos tempos. “No estrangeiro há uma menor exigência em termos de vistos de viagem para os turistas do interior da China. Em Macau é mais difícil. Este factor pode fazer com que uma parte dos clientes optem por se divertir fora de Macau”, disse. O presidente da associação considera ainda que é necessário analisar “de forma racional” a questão da proibição do tabaco e a sua influência no sector VIP. Kuok Chi Chong citou uma notícia publicada no interior da China sobre o aumento do número de fumadores, o que pode originar um conflito para quem visita Macau. “Se esta situação continuar é possível que os jogadores deixem Macau para procurarem entretenimento noutros locais, onde há uma maior liberdade para fumar”, rematou.
Flora Fong Manchete SociedadeIeong Man Teng deixa liderança da Forefront of the Macau Gaming Tudo começou com uma manifestação contra a introdução de croupiers não residentes em 2013. Foi também em 2013 que se tornou conhecido, ao candidatar-se a um lugar de deputado à Assembleia Legislativa (AL) ao lado da Associação Novo Macau. Ieong Man Teng liderava o grupo Forefront of Macau Gaming há mais de dois anos, mas no final de Janeiro decidiu abandonar o cargo. O porta-voz dos croupiers escreveu na sua página do Facebook que vai abandonar todos os trabalhos ligados à associação. “Eu não tenho capacidade para continuar nesta posição, para além de ter muitos problemas à minha volta. Por favor perdoem a minha incompetência”, escreveu, garantindo que vai continuar a lutar pelos direitos dos trabalhadores do Jogo. Muita pressão O HM não conseguiu chegar à fala com o ex-líder, mas Lei Kuok Keong, vice-presidente do grupo, garantiu que Ieong Man Teng deixou a liderança por razões pessoais. O ex-líder publicou no Facebook uma carta do Tribunal Judicial de Base (TJB) sem explicar a que caso se refere, mas Lei Kuok Keong fala da existência de pressões. “Em Macau posso dizer que existe perseguição política. Estou envolvido em três casos, acredito que ele estará envolvido em mais”, revelou. De frisar que a antiga secretária-geral da associação, Cloee Chao, também deixou o lugar em Março do ano passado, alegando sofrer pressões. Para Lei Kuok Keong, “cada um tem um limite para aguentar a pressão”, considerando que Ieong Man Teng tem sido dos líderes mais atingidos. “Todos sabemos que Ieong Man Teng trabalha sempre no turno da noite e é mais fácil ter problemas emocionais ou familiares. E nos últimos anos os movimentos dos funcionários foram frequentes, acredito que a pressão dele tenha atingido o limite”, apontou Lei Kuok Keong. Para já, a Forefront of Macau Gaming promete continuar o trabalho, estando já agendada uma reunião para finais deste mês.
Hoje Macau BrevesDSAT quer aumento de multas para estacionamento abusivo Em resposta à interpelação oral da deputada Wong Kit Cheng, sobre os lugares de estacionamento nas vias públicas, Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas indicou que “sejam os lugares nos auto-silos ou nas vias públicas”, o Governo vai “reduzir a ocupação”. “O que vamos fazer a curto prazo é que em colaboração com a DSAT [Direcção para os Serviços dos Assuntos de Trânsito] e a PSP [Polícia de Segurança Pública] vamos dar conhecimento que há muitos lugares para motociclos”, apontou. O director da DSAT, Lam Hin San, indicou que o Governo pretende “elevar as multas no caso de reboque de veículos para reduzir os abusos”. “Quanto ao estacionamento por um longo período de tempo também falámos com a PSP. No ano passado, como disse o Secretário, tínhamos 350 lugares nas vias públicas. Há auto-silos que não são muito ocupados e vamos continuar a trabalhar. Se for necessário os veículos do Governo poderão começar a ficar nesses parques menos ocupados”, apontou.
Hoje Macau PolíticaAL | Raimundo do Rosário disse não saber como implementar sistema de reciclagem O Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, admitiu, em sessão plenária da Assembleia Legislativa (AL), que o plano de reciclagem para o território falhou e que não sabe como melhorar as campanhas de sensibilização. “Tem havido um fracasso em Macau, é um plano fracassado. Em frente da minha casa tenho um recipiente de aço para recolha de plástico, papel e metais. Nunca me cruzei com alguém a fazer o mesmo, já fui lá várias vezes”, disse Raimundo do Rosário, durante um debate dedicado a responder às perguntas dos deputados. “Temos feito acções de sensibilização, destinadas a crianças e adultos. Entendo que se trata de uma obrigação do cidadão. Ensinar que se deve deitar o papel [no papelão], não sei como deve ser feito isto. Tenho andando atrás da Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental [em relação a este assunto], mas como é que podemos incutir essa ideia às pessoas?”, indagou. Raimundo do Rosário admitiu também não saber “o que acontece” aos resíduos após a sua colocação nos pontos de recolha. “Quando coloco um resíduo num local não sei o que lhe acontece. Será que todos os resíduos vão ser misturados? Isso não sei. Vou informar-me”, afirmou. O Secretário respondeu assim à questão da deputada Chan Hong, que indicou que a “taxa de reciclagem é desproporcionada em comparação com o avolumar do lixo e o desenvolvimento económico” e “está aquém do objectivo definido”. Chan Hong perguntou ao Secretário pelos resultados de um estudo que o Governo encomendou sobre o sector de recolha de resíduos, mas Raimundo do Rosário indicou apenas que “os resultados estão a ser analisados”. Quanto à criação de uma lei sobre a recolha e separação do lixo, uma questão levantada pela mesma deputada, o Secretário considerou não ser necessária. “Ou a pessoa tem intenção de fazer isto ou não tem. Acho que mais vale reforçar a sensibilização. Agora, produzir uma lei para obrigar as pessoas a separar o lixo? Não temos intenção, temos mais leis para produzir”, concluiu.
Filipa Araújo Manchete PolíticaGoverno avança com novo estudo sobre habitação O Governo vai avançar com um novo estudo, este ano, para sustentar as políticas na área de habitação. Assim confirmou Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas, durante a sessão de interpelações que decorreu ontem na Assembleia Legislativa (AL). O tema, questionado pelos deputados Lam Heong Sang e Melinda Chan, em duas interpelações orais, levantou várias questões pelo hemiciclo. “O Governo afirmou que ia criar ‘mecanismos eficientes de longo prazo para assegurar a habitação’, no entanto, os residentes não conhecem nem os objectivos nem o conteúdo desses mecanismos, assim como não sabem quando é que o Governo vai concretizar o principio ‘habitação para todos, bem-estar para todos’. Mais, os jovens não sabem como, nem têm esperança de poder adquirir uma casa em Macau”, argumentou a deputada Melinda Chan, pedindo a Raimundo do Rosário uma calendarização de trabalho. “Uma calendarização é impossível”, esclareceu de imediato o Secretário. Ainda assim, garantiu, que “será dada prioridade à construção da habitação pública”. Rever e aprender Raimundo do Rosário avançou ainda que o Governo prevê começar o processo de revisão da Lei de Habitação Económica ainda este ano, “depois da revisão do regime de habitação social”. O Secretário defendeu que é preciso perceber quais as necessidade reais e só depois avançar com um plano, definindo uma acção. “Quantas habitações sociais e económicas necessitamos?”, apontou. Sobre os novos aterros, Raimundo do Rosário confirmou aquilo que já se sabia. “Temos um rácio de 28,400 para habitação pública e 4000 para o privado. (…) a única coisa que posso garantir é que sempre que retomamos terrenos daremos prioridade à habitação pública. Em todos os terrenos vamos ponderar construir, e se for adequado construímos”, reforçou. A deputada Angela Leong aproveitou o momento para questionar o Governo sobre os dormitórios para jovens, se o mesmo tinha planos para construir. O Secretário foi claro, “Sobre os dormitórios para jovens não temos planos. Não temos essas ideias”. Terceiro tipo de habitação pública é difícil A definição do terceiro tipo de habitação pública, destinada aos jovens e defendida muitas vezes pelo Governo, foi mencionada ontem pelo Secretário e caracterizada como “muito complexa”. “Esta questão é muito difícil, mas não fui eu que a inventei, já existia quando cá cheguei (…) nós não podemos ponderar só sobre os jovens, temos de ponderar sobre todas estas pessoas da classe média. Não temos terrenos suficientes”, afirmou o Secretário.
Filipa Araújo PolíticaConselho de Renovação Urbana concluído e a entrar em funções O Secretário para os Transportes e Obras Públicas, Raimundo do Rosário, indicou que os trabalhos para a criação do Conselho de Renovação Urbana estão concluídos e que “dentro das próximas semanas” a informação será publicada em Boletim Oficial. Raimundo do Rosário indicou que os trabalhos feitos pelo extinto Conselho Consultivo para o Reordenamento dos Bairros Antigos serão tidos em conta para trabalhos futuros. A criação deste conselho vem com atraso pois já, Chui Sai On, Chefe do Executivo, tinha garantido a criação da mesma em Agosto do ano passado para esse mesmo ano. A resposta surgiu depois do deputado Leong Veng Chai interpelar o Secretário, durante a sessão de perguntas e respostas na Assembleia Legislativa. “É urgente avançar, de imediato, com o reordenamento dos bairros antigos, porque existem em Macau mais de quatro mil edifícios habitacionais, comerciais e industriais com mais de trinta anos. Este número vai continuar a crescer nos próximos dez anos, por isso, estes edifícios constituem uma ameaça para a segurança pública, uma vez que apresentam problemas relacionados com as instalações contra incêndio, com a higiene ou até mesmo com a estrutura, transformando-os em bombas escondidas e prestes a explodir a qualquer momento, caso do Bairro de Ion Hon, que necessita de reordenamento com a maior urgência”, argumentou o deputado. O deputado Au Kam San colocou em causa também a abrangência do novo conceito. “Renovação urbana é mais abrangente”, apontou, sublinhado a necessidade do Governo explicar o que se pretende. Também José Pereira Coutinho defendeu que é preciso “definir um trabalho”. Ideias ambíguas Numa segunda interpelação oral sobre o tema, o deputado Si Ka Lon acusou o Governo de “apresentar uma ideia ambígua no que respeita à renovação urbana, limitando-se à realização de um estudo ‘conceptual’, sem suporte de planeamento, fugindo ainda à disponibilização de informações quanto aos assuntos legislativos e executivos”. O deputado disse “esperar que com a criação conselho se encontrem soluções que correspondam as expectativas da população”. Em resposta, o Governo indicou que o conselho “vai estar incumbido de coadjuvar os trabalhos de renovação dos bairros antigos e quando se fala de legislação parcial da matéria provavelmente não será este conselho a tomar uma decisão”. As funções do conselho, indicou o Governo, irão passar pela, por exemplo, “revitalização de edifícios industriais”. “O conselho vai apresentar as suas opiniões e sugestões para realizar estudos. De qualquer forma, não é a única entidade que se vai responsabilizar por tudo”, rematou. Relativamente ao tempo de acção, Raimundo do Rosário sublinhou não se poder criar expectativas de que “em curto espaço de tempo se chegue a conclusões”. Clarificando, o Secretário indicou que “o Conselho para Renovação Urbana será um órgão consultivo com função de assessoria ao Governo, elaborando pareceres e de formulação de propostas”, respeitando sempre os pareces já feitos.
Filipa Araújo Manchete PolíticaAL | Raimundo do Rosário promete mais caducidades de terrenos Os terrenos abriram a sessão plenária. Mais informações pedem os deputados sobre um assunto que muito se tem falado. Raimundo do Rosário explica, uma vez mais, que o Governo vai cumprir a lei e que até meio do ano serão recuperados mais terrenos A sessão de interpelações orais, na Assembleia Legislativa (AL), que decorreu ontem, começou com um dos temas mais polémicos da actualidade do território: terrenos. O ponto de partida foi uma interpelação oral do deputado Ng Kuok Cheong que pediu a Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas, que esclarecesse o hemiciclo quanto à situação dos terrenos que estão por resolver “os quais não foram desenvolvidos nas condições contratualmente estabelecidas, ou que estão prestes a terminar, ou já excederam, o prazo de arrendamento de 25 anos”. Raimundo do Rosário garantiu que mais terrenos vão ser declarados caducados. “Dê-me uns meses de tempo, posso garantir que no primeiro semestre mais terrenos vão ser declarados de caducidade”, afirmou, admitindo as “limitações” da situação actual. “Há limitações, mas posso garantir que nos próximos meses vamos declarar caducidade a mais terrenos. É um trabalho que temos de fazer”, reforçou. Em causa não estão os 48 terrenos , indicou, mas sim novos terrenos que completam 25 anos de concessão. O Secretário, depois de solicitado para dar mais informações, indicou que a sua equipa de trabalho se tem esforçado para colocar todas as informações nos sites dos departamentos, ao acesso de qualquer pessoa. “Há cada vez mais informações nos sites do Governo, já dispomos de muito mais informações (…) os deputados podem ainda estar atentos aos boletins oficiais”, afirmou. Vários deputados, como Si Kan Lon, José Pereira Coutinho ou Au Kam San pediram que o Governo assumisse uma posição de esclarecimento sobre o futuro da recuperação dos terrenos. “O que será feito depois? É preciso esclarecer para dar consolação aos pequenos proprietários. Quais as consequências da retoma [dos terrenos]? O tribunal em nada tem que ver com o processo de retoma. O Governo não pode dizer que não pode falar de forma genérica”, confrontou o deputado Au Kam San. Outras posturas Gabriel Tong, deputado e advogado que se ofereceu a prestar apoio jurídico aos proprietários das fracções do empreendimento Pearl Horizon, defendeu que a postura do Governo não de ser recuperação. “Creio que a recuperação de terrenos não deve ser a intenção do Governo. Os terrenos não foram concedidos para mais tarde serem recuperados”, apontou. Fong Chi Keong lembrou que durante “a governação portuguesa” nunca aconteceu um caso de recuperação de terrenos. Em resposta, Raimundo do Rosário foi claro, “iremos agir em conformidade com a lei [de Terras]”. Como apontamento final, o Secretário esclareceu que depois de todas as decisões judiciais e concursos públicos para os terrenos recuperados “será dada prioridade às construção pública nos terrenos que reunirem condições”.
Tomás Chio PolíticaFinanças | Gastos de todos os serviços públicos analisados Chong Seng Sam, subdirectora dos Serviços de Finanças (DSF), confirmou que a entidade está a avaliar os gastos de todos os departamentos públicos, semanas depois do Comissariado de Auditoria (CA) ter apontado o dedo aos gastos feitos com adjudicações sem concurso público para a realização de estudos. “A DSF está a analisar os dados dos gastos de todos os organismos públicos nos últimos anos, e vamos ter em conta a experiência de Hong Kong”, explicou a responsável ao Jornal do Cidadão. Chong Seng Sam prevê que o estudo das instruções pode estar concluído no primeiro semestre deste ano, estando a ser pensada a sua implementação ainda em 2016. A responsável defendeu que os departamentos devem utilizar os cofres públicos de acordo com as instruções. A subdirectora da DSF disse que irão ser criadas regras para uma melhor regularização dos gastos, sendo que o Governo pretende continuar com as medidas de austeridade implementadas devido às quebras no sector do Jogo. A responsável garantiu que, através da nova proposta da Lei de Enquadramento Orçamental será possível criar instruções e estimativas mais científicas para a elaboração dos orçamentos. O novo diploma vai ainda confirmar os princípios da “eficácia, eficiência e economia”, levando a Função Pública a fazer mais com menos dinheiro. A subdirectora da DSF avançou que as instruções vão regulamentar a atribuição de subsídios e despesas com viagens oficiais.
Tomás Chio PolíticaSónia Chan | Funcionários públicos não ganham mais do que sector privado A Secretária para a Administração e Justiça defende que os trabalhadores não têm salários mais altos na Função Pública face ao sector privado, garantindo que o plano completo para a fusão dos departamentos será conhecido este ano Sónia Chan, Secretária para a Administração e Justiça, deu uma entrevista ao jornal Ou Mun onde considera que os salários pagos na Função Pública não são mais elevados do que no sector privado. “Os dados do Governo mostram que nos últimos dois anos a percentagem do aumento dos funcionários públicos são de 6,76% e 2,53%, enquanto que o aumento nas empresas privadas foi de 7,33% e 8,36%. Não é fácil concluir o trabalho do aumento salarial por categorias e é algo complicado, mas o Governo vai rever as carreiras gerais este ano, estando a estudar quais as carreiras que vão sofrer aumentos em função das categorias de trabalhadores”, explicou. A Secretária garantiu que a mão-de-obra no Governo não vai sofrer cortes, não estando previsto um limite ao número de funcionários públicos. Segundo dados do Governo divulgados o ano passado, o número actual de trabalhadores é de 32 mil, tendo sido recrutadas mais 600 pessoas em 2015. “As medidas para optimizar a governação visam aumentar a eficácia administrativa e judicial, mas alguns departamentos governamentais pediram para aumentarem os recursos humanos, e outros vão precisar de mais trabalhadores depois da fusão, pelo que o Governo vai considerar as diferentes realidades na hora de recrutar”, referiu Sónia Chan. Sem avançar com um limite de funcionários a contratar, a Secretária apenas falou dos cerca de três mil profissionais de saúde para o novo hospital público, sem esquecer os funcionários para a gestão das novas águas territoriais. A nível da produção legislativa, a Secretária prometeu criar um mecanismo que permita a decisão e o planeamento sem que as leis fiquem paradas, estando prevista a contratação de mais profissionais na área do Direito para a formação de uma equipa. Plano este ano Questionada sobre o processo de fusão dos departamentos públicos, Sónia Chan garantiu que este ano será tornado público. “O plano de fusão dos departamentos governamentais para os próximos dois anos vai ser divulgado este ano. Para essa fusão, o Governo vai trabalhar objectivamente e por enquanto não estamos preocupados com o número de departamentos que vão ser alvo de reorganização”, disse. Sónia Chan admitiu que o “regime da Função Pública tem muito espaço para melhorar”, sendo que “a reforma para o regime tem de responder ao desenvolvimento da sociedade e tem de facilitar o processo administrativo. A reforma será um plano de longo prazo para concluir daqui a cinco anos”, frisou. A Secretária garantiu que os funcionários públicos em Macau têm revelado dedicação, especialmente depois da transferência de soberania. Como exemplo, Sónia Chan referiu que “a Direcção dos Serviços de Identificação recebeu 97 comentários positivos, mais 30% do que as reclamações. Nos restantes departamentos do Governo também existe muita dedicação”, rematou, negando que os funcionários públicos tenham um trabalho burocrático e rígido.
Hoje Macau BrevesAlexis Tam | Salários dos médicos são “muito baixos” Alexis Tam, Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, disse ontem à margem de um evento público que os salários dos médicos deveriam ser mais elevados. Segundo a Rádio Macau, Alexis Tam disse que os salários são “muito baixos” e que não conseguem atrair profissionais de saúde de fora. “Com este vencimento actual da Administração Pública de Macau, acho que já não conseguimos atrair os bons profissionais, incluindo médicos, enfermeiros e de outras áreas. Com estas condições, eles não vêm. Mesmo da China. Hoje em dia, os médicos da China estão a ganhar muito bem e não querem vir para Macau. O vencimento é muito baixo”, referiu Alexis Tam, à margem de uma visita ao Lar da Nossa Senhora da Misericórdia e à Associação dos Aposentados, Reformados e Pensionistas de Macau (APOMAC). Apesar da necessidade, não há uma data para actualizar os salários. “Ainda vamos estudar”, explicou o Secretário, antes de acrescentar que o processo “não vai ser fácil” porque exige “consenso de toda a sociedade”.
Andreia Sofia Silva Manchete SociedadeBIR | Cônsul-geral sugere mudanças no valor dos requisitos salariais Vítor Sereno, cônsul-geral de Portugal em Macau, reuniu ontem com o Secretário para a Segurança e sugeriu que os comprovativos salariais para a obtenção do BIR tenham como base a média salarial de 15 mil patacas. Governo diz que não mudou a estratégia Macau e Portugal limaram ontem algumas arestas quanto à atribuição do Bilhete de Identidade de Residente (BIR) a portugueses, depois do Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) ter levantado a questão da exigência dos extractos bancários e limites salariais. Num comunicado emitido pelo Consulado-geral de Portugal em Macau, pode ler-se que tanto o cônsul-geral, Vítor Sereno, como o Secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, confirmaram “não ter havido qualquer mudança estratégica da política de atribuição de residência aos cidadãos portugueses”. Vítor Sereno terá sugerido que “seja avaliada a possibilidade do cumprimento desse requisito (condições sócio-económicas) ser efectuado através de uma declaração da entidade patronal referente a esses rendimentos, os quais se devem alinhar com a mediana dos auferidos pelos residentes, por volta das 15 mil patacas”. A carta entregue ao cônsul-geral pelo CCP aponta para exigências salariais dos Serviços de Migração na ordem das 25 mil patacas. Em relação à polémica com a exigência dos extractos bancários, foi referido que “quando os Serviços de Migração verificam qualquer mudança na relação laboral, torna-se imperiosa a prova do pagamento dos vencimentos declarados originariamente. Não sendo possível por outra forma, foi solicitado que, em abono do interesse do particular, (a prova) seja feita por via dos movimentos bancários”, aponta o comunicado. O ano passado apenas quatro pedidos de residência foram negados por “incumprimento grosseiro” dos requisitos, tendo sido aprovados um total de 127 requerimentos. Em 12 anos houve uma taxa de aprovação dos pedidos de 94%, sendo que o actual tempo médio para a atribuição do BIR é de 76 dias, e de 25 dias o período necessário para a renovação. Quanto ao número de portugueses com blue card, foram concedidos 97 o ano passado, pelo facto de existir uma “necessidade premente de iniciar funções laborais”. Wong Sio Chak confirmou que “tais circunstâncias não serão impeditivas da constituição, em simultâneo, do processo normal de obtenção do BIR”. Wong Sio Chak terá dito ainda que vai empenhar-se para que “na observância dos preceitos legais, os cidadãos portugueses continuem a ser bem-vindos nesta RAEM e com ela colaborar”. Lei é cumprida Numa resposta enviada ao HM, os Serviços de Migração da Polícia de Segurança Pública (PSP) garantem que cumprem os requisitos previstos na lei de 2003, relativa aos “Princípios gerais do regime de entrada, permanência e autorização de residência”. “Para o pedido de autorização de residência por razões de trabalho deve o interessado apresentar prova através de contratos ou declarações de trabalho, a fim de demonstrar que dispõe de recursos financeiros ou capacidade de subsistência e se, assim, atende aos requisitos do custo de vida em Macau”, garantiu a PSP ao HM. O Executivo diz estar atento não apenas à política de atracção de talentos mas também aos factores “custo de vida” ou “objectivos de desenvolvimento social”. A PSP diz ainda que, sempre que necessário, “será exigida a apresentação de outros documentos adicionais para melhor apreciação do pedido e aprovação deste”. Os serviços nada disseram quanto à exigência de limites salariais de 25 mil patacas.
Tomás Chio SociedadeDSPA | Consulta pública sobre regime de avaliação este ano A Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) vai começar este ano uma nova consulta pública sobre o “Regime da Avaliação de Impacto Ambiental de Projectos de Obras”, apontando que vai iniciar a legislação do regime logo após a conclusão de um relatório da consulta pública. A notícia foi dada pelo director da DSPA, Vong Hoi Ieong, numa resposta à interpelação escrita do deputado Zheng Anting, que questionou o andamento e o novo planeamento de legislação do regime de avaliação ambiental. Vong Hoi Ieong afirmou que a DSPA vai começar uma nova consulta pública este ano sobre o “Regime da Avaliação de Impacto Ambiental de Projectos de Obras”, sendo que a legislação do regime vai também começar depois da conclusão da consulta pública. Na mesma resposta, a DSPA confirmou que já avaliou 13 relatórios de impacto ambiental de projectos de obras públicas e de seis obras privadas, projectos concluídos até Novembro de 2015. Em 2011 a DSPA divulgou o “texto exploratório para a criação de um regime de avaliação do impacto ambiental”, bem como uma “lista classificativa de projectos de construção que precisam de se sujeitar à avaliação de impacto ambiental” em 2013.
Flora Fong SociedadeInquérito | Jovens dizem que associações não os representam Um inquérito realizado pela Associação de Jovens de Macau oriundos de Jiangmeng mostra que só pouco mais de 25% dos jovens acha que as associações locais representam as suas ideias, existindo uma tendência para não confiarem nestas instituições. Segundo o Jornal do Cidadão, mais de mil jovens entre os 15 e os 39 anos de idade participaram no inquérito realizado o ano passado, que versou sobre a análise social e política do território. Apenas 26,21% acredita que as associações “podem representar as suas ideias ou opiniões”, enquanto que 28,25% defende que “não podem representar”. Cerca de 14,85% dos jovens dizem conseguir revelar as suas opiniões sobre o Governo através destas associações, sendo que 13,79% prefere fazê-lo através das redes sociais. O deputado Zheng Anting, também presidente desta associação, considera que há uma tendência para os jovens não confiarem nas associações enquanto lugar de expressão de opiniões, sendo que estas entidades podem não representar as verdadeiras posições dos mais novos. Em relação às ideias sobre o panorama social, cerca de 20% dos jovens está insatisfeita com a sociedade de Macau, sendo que 24,36% está satisfeito e a maioria, 55,53%, está “mais ou menos” satisfeito. As causas para a insatisfação prendem-se com os elevados preços das casas, o trânsito ou a inflação. O deputado defende um reforço da participação activa dos jovens na sociedade.
Andreia Sofia Silva SociedadeTeatro Capitol | Vendilhões ainda não foram despejados Os cinco vendilhões que terão de sair do interior do Teatro Capitol ainda não foram despejados pelo proprietário. Ao HM, a senhora Leong, uma das filhas da família de comerciantes, confirmou que o negócio é para continuar enquanto decorrer o processo judicial, apesar de ter sido exigida a sua saída até Novembro do ano passado. “Continuamos com os nossos negócios porque não recebemos nenhuma novidade da comissão de gestão. Sei que a comissão de gestão reuniu em meados de Janeiro, mas não sabemos de nada. Pararam o processo de despejo porque pedimos ajuda a pessoas conhecidas como o deputado Chan Meng Kam e falamos com jornalistas. A associação de Chan Meng Kam já nos disse que nos ajudavam a chegar a um acordo, mas não fiz porque o deputado revelou estar preocupado”, contou a senhora Leong. Os cinco vendilhões enfrentam novo processo por difamação por terem colocado cartazes à porta do Teatro Capitol a criticarem o processo de despejo. William Kuan é o homem por detrás do projecto de renovação do Teatro Capitol, sendo que há 20 anos que esta família de comerciantes aluga cinco espaços para vender comida rápida e sumos a turistas. Os proprietários alegam agora que os vendilhões estão a ocupar o espaço público e terão de sair.
Hoje Macau EventosFotógrafo António Mil-Homens abre e reabre estúdio A proposta é de um espaço de cultura com a fotografia ao centro. Um local para conviver e ser fotografado por quem faz disso a sua profissão há mais de 40 anos. A propósito da ocasião falámos sobre o espaço e respectivos projectos, claro, mas também sobre as indústrias criativas de Macau Existe há três anos mas só agora António Mil-Homens sentiu que tinha as condições reunidas para abrir ao público. A grande inauguração foi na passada sexta-feira mas este sábado pelas três da tarde vai haver uma reinauguração. Demonstrar que em Macau existe capacidade, qualidade e condições para trabalho profissional de fotografia sem que tenha sempre de se requisitar os serviços de Hong Kong é o principal objectivo de António Mil-Homens. Mas, para além da fotografia, está apostado em transformar o espaço num clube de amigos, um local que se preste a encontros, a troca de experiências, espaço para poesia, música, tertúlias mas tendo, naturalmente, em vista a angariação de mais clientes. “Dou um exemplo: às vezes a malta não sabe o que fazer, porque não reunir os amigos e vir até ao estúdio beber uns copos, ouvir música, passar um bom bocado e fazer uma sessão fotográfica? Para além das fotografias profissionais que normalmente são solicitadas para websites, ou outros fins mais sérios, porque não fazer uma sessão fotográfica na brincadeira?”, sugere António. Não está, todavia, nos planos do fotógrafo ter uma programação regular até porque isso poderia complicar as marcações das sessões de fotografia que são a sua actividade profissional. “Isto não é uma sala de espectáculos, nem sequer um bar ou uma discoteca”, garante, “é, isso sim, um espaço de convívio, um local de cultura onde aproveitámos o facto de estarmos num edifício industrial, logo não temos problemas de ruído”, acrescenta. O drama do “vão de escada” A democratização da fotografia que o digital introduziu facilitando imagens de alta resolução a qualquer pessoa trouxe ao mercado de fotografia pessoas que, garante António Mil-Homens, “nunca viriam a ser fotógrafos e digo isto completamente convicto. Compram uma máquina e uma ou duas objectivas e vão para o mercado. A maioria são jovens, não têm encargos e, por isso, rebentam com os preços”. Esta situação tem vindo a colocar muitos profissionais fora do mercado e é também por isso que surge a necessidade de abrir espaços como este que agora se inaugura vendo nesta iniciativa uma forma de diversificação e sofisticação da sua oferta. “O que estes miúdos não percebem”, explica Mil-Homens, “é que, se realmente pretendem fazer uma carreira na fotografia, com este tipo de actuação estão não só a dinamitar o mercado actual como também a comprometer o seu próprio futuro.” E dá o exemplo de Portugal, um mercado que conhece bem, onde hoje apenas meia dúzia (mesmo) de fotógrafos consegue viver bem da profissão. “O mercado”, considera, “é exíguo mas eu acredito que ainda pode ser mais explorado”. Todavia, António Mil-Homens não tem dúvidas que tudo passa por exportar e dá o exemplo de Hong Kong há 60 ou 70 anos atrás, quando o conceito desenvolvido na região vizinha ultrapassava fronteiras e fazia com que grandes clientes mundiais fossem de propósito a Hong Kong para fotografar os seus produtos. “Desde que me comecei a interessar por fotografia”, diz-nos, “Hong Kong era uma referência para mim. Os fotógrafos de Hong Kong tinham sempre um cunho de inovação e qualidade que era único no mundo na época.”, revela António. Mais feiras de arte, mais festivais, mais intercâmbios até que um dia seja possível desenvolver um conceito criativo original em Macau é a receita do fotógrafo, “mas não falo apenas de fotografia. Falo de dança, de escultura, de cinema, música.” A este propósito cita o exemplo da Unitygate, uma plataforma de intercâmbio cultural entre Macau e Portugal e na qual também já participou como exemplo a seguir e a repetir. Controlar a especulação imobiliária Conforme aconteceu em Nova Iorque, aqui ao lado em Hong Kong, em Pequim e em muitas outras cidades, a deslocalização de unidades fabris permitiu a muitos artistas “invadirem” os espaços das ex-fábricas para aí montarem os seus ateliers e espaços de cultura. Em Macau isso está a acontecer agora mas grande parte dos artistas foram ultrapassados pelos especuladores e o valor de aluguer de espaços como estes, de há dois ou três anos, praticamente duplicou. “A grande maioria dos artistas trabalha para sobreviver, produzem arte para darem vazão à sua criatividade e não propriamente para enriquecerem”, diz António Mil-Homens, e continua, “entendo perfeitamente que quem adquiriu os espaços pretenda fazer dinheiro mas têm de perceber que se os preços sobem demasiado toda esta explosão criativa pode vir a ser aniquilada.” Como solução, fazendo fé na visão que o Secretário Alexis Tam tem demonstrado, António julga que “talvez o governo pudesse comprar alguns desses espaços e depois cedê-los a preços mais controlados porque os que existem, como o Macau Design Centre, não chegam para a procura”. Formação e diversificação da oferta turística “Adoro trabalhar em estúdio. Criar a minha própria luz, este intimismo… A não interferência de factores externos”, confessa António vendo no estúdio uma oportunidade de dar continuidade às acções de formação que tem desenvolvido com a Casa de Portugal, podendo agora adicionar a experiência de fotografia em estúdio. E vai mais além sugerindo a possibilidade de adicionar um workshop de fotografia ao menu dos turistas que nos visitam: “unir a visita ao território com a aprendizagem de fotografia parece-me uma boa ideia. No fundo, formação, para mim, é uma forma de transmissão dos meus conhecimentos e de eu próprio aprender”. O intercâmbio é mesmo uma preocupação fundamental do fotógrafo que vê no estúdio uma base para a troca de experiências: “porque existe a técnica mas depois a abordagem em termos estéticos varia de pessoa para pessoa, por isso o diálogo é fundamental para a evolução mútua”, ajuíza. A abertura deste estúdio vem na sequência da inauguração, há cerca de dois meses, do “Core Studio” de Nuno Veloso, também ele um conhecido fotógrafo profissional residente no território e com quem António Mil-Homens mantém “uma relação de estreita colaboração e não de concorrência”, como o próprio nos garante.
Hoje Macau China / ÁsiaDetidos 21 suspeitos do gigantesco esquema Ponzi As autoridades chinesas detiveram 21 pessoas suspeitas de um esquema Ponzi gigante que ludibriou cerca de 900.000 pessoas em mais de 50 mil milhões de yuans, informou a imprensa estatal. Lançado em 2014, o Ezubao era a quarta maior plataforma online’ na China a disponibilizar empréstimos entre pessoas (P2P, ‘na sigla em ingês), segundo um relatório da revista chinesa Caixin. O retorno anual oferecido aos investidores fixava-se entre nove e 14,6 por cento, em vários projectos, indicou a agência oficial Xinhua – um valor muito acima do rendimento garantido pelos produtos financeiros disponíveis nos bancos chineses. Até Dezembro de 2015, o Ezubao reuniu 50 mil milhões de yuans num esquema que resultou em perdas para 900.000 investidores. Toma lá, dá cá A empresa colocava projectos no seu portal e pagava aos credores mais antigos com o dinheiro de novos investidores, revela a Xinhua. “O Ezubao é um típico esquema Ponzi”, admitiu Zhang Min, o presidente do grupo Yucheng, que geria a plataforma, e um dos detidos, citado pela agência. Um outro responsável, Ding Ning, disse à Xinhua que a empresa gastou mais de 800 milhões de yuan na compra de informação corporativa, visando criar projectos fraudulentos. Ambos terão esbanjado o dinheiro dos investidores num estilo de vida opulento, incluindo uma moradia de 130 milhões de yuan em Singapura e gastos avaliados em 500 milhões de yuan. A imprensa estatal chinesa difunde regularmente confissões de detidos, numa prática vista por grupos estrangeiros como uma violação ao direito a um julgamento justo. A polícia revelou que, entre as 207 empresas às quais o Ezubao diz ter emprestado dinheiro, apenas uma terá beneficiado de crédito. “Tanto quanto sei, 95% dos projectos do Ezubao são falsos”, admitiu Yong Lei, um avaliador de risco empregado numa subsidiária do grupo Yucheng. A redução consecutiva das taxas de juro e a recente volatilidade no mercado bolsista chinês, aliados à incerteza no mercado imobiliário, terão atraído cada vez mais investidores chineses para esquemas de angariação ilegal de fundos.
Pedro Lystmann h | Artes, Letras e IdeiasA propósito de águas Após semanas de angustiante espera saíram as listas da Drinks International dos melhores e mais trocados – nos melhores bares – espíritos, cervejas e águas do ano. Uísques, gins, vodkas, águas tónicas e não, até champagnes e cervejas merecem atenção. Interessam-nos de sobremaneira as águas porque uma leitura das escolhas do ano revela vários nomes que se encontram com facilidade no território. Infelizmente o mesmo não se pode dizer das águas tónicas, uma vez que em supermercados e outras lojas do território se continua a encontrar apenas uma ou duas marcas aborrecidas. O Relatório Anual oferece dois tipos de consideração por cada bebida: Best Selling Brands e Top Trending Brands, a primeira baseada no número de garrafas vendidas (repito, nos melhores bares de acordo com a D.I.) e a segunda baseada em nomes que estão na moda e que têm sido muito pedidos. Marcas da moda numa altura em que tudo está na moda. A Fever-Tree é não só a mais vendida das águas tónicas como é a mais encomendada. Está na moda, não há nada a fazer. A Schweppes é a segunda mais vendida e a Fentiman’s a terceira (considerada por alguns como tendo um sabor intenso que interfere demasiado com os espíritos a que se adiciona). As mais in-fashion são a Fever-Tree, a Fentiman’s e a Schweppes. A Q Tonic, menos doce e menos calórica, (é uma questão de gosto) também está muito bem classificada. Em Macau há Fever-Tree no bar do Ritz-Carlton, pelo menos. Na minha opinião, insisto em afirmar que o Gin Tónico é uma bebida muito simples e que se alcança domesticamente com facilidade. Basta o Gin de que se gosta, uma confecção correcta do gelo feito no dia com uma água pouco mineralizada, água tónica com bom gás, bom limão e uma disposição positiva. A escolha das águas minerais espelha também (como aliás as escolhas de todas as bebidas) o poder das grandes marcas internacionais, a sua capacidade publicitária e de distribuição, um capitalismo aquífero. A marca mais vendida e mais in-trend é a San Pellegrino. Nada tenho contra a San Pellegrino e o seu alto teor de sulfatos, uns brutais 549 mg por litro (por exemplo: Badoit 40; San Benedetto 5) ajudam a combater excessos alcoólicos ou gastronómicos, um auxílio de alto preço. Mas é pena que da Itália, onde existem, caso inultrapassável, mais de 600 marcas de água – para além de ser o país que mais a consome – não cheguem aos bares e mesas domésticas muito mais marcas para além desta vencedora, da Acqua Panna (a minha água lisa preferida) e a San Benedetto. No Japão existem mais de 450 marcas de água mas não há nenhuma que se tenha imposto no mercado, possivelmente porque não é bebida que seja reconhecida no próprio país como importante.* As mais vendidas nos melhores bares do mundo, segundo a Drinks International são: 1. San Pellegrino, 2. Acqua Panna, 3. Perrier, 4. Evian, 5. Vichy, 6. Fiji, 7. Mountain Valley, 8. Hildon, 9. Antipodes e 10. Strathmore. Destas apenas a 7 e a 10 tenho a certeza de nunca ter visto em Macau. O mercado é muito flutuante. Há muito que não vejo à venda duas das minhas águas preferidas, ambas alemãs, a Gerolsteiner e a Apollinaris. A Antipodes existia no O.T.T. mas não sei se permanece. Nota importante: Como já aqui foi dito em artigo exclusivamente dedicado a águas a propósito de livro de Mascha: “no território(…)vivemos abençoados, protegidos, pela presença de um número decente de excelentes águas portuguesas, da das Pedras à Vidago ou à Carvalhelhos”. Águas lisas há muitas. As águas no topo da moda são: 1. San Pellegrino, 2. Perrier, 3. Acqua Panna, 4. Antipodes, 5. Fiji, 6. Mountain Valley, 7. Topo Chico 8. Vichy 9. Hildon e 10. Evian. Outras notícias: 1. Dos Champagnes indicados como os mais vendidos e mais requisitados do ano praticamente todos se encontram com facilidade em Macau, marca da eficácia da distribuição e garantia de alegrias vastas. Esta categoria ilustra à perfeição a diferença entre marcas mais vendidas e marcas na moda, up-trending em bares do momento: A mais vendida, a Moët & Chandon, não figura sequer no grupo das 10 mais requisitadas nos bares mais na moda. Na cerveja a Carlsberg é a terceira mais vendida mas nem aparece na segunda lista. A Peroni é a primeira das duas listas. As escolhas de cerveja espelham a predominância (ainda) das lagers, uma tendência com uma história relativamente curta, modelo perfeito de como 2 ou 3 marcas conseguiram impor a nível mundial uma preferência por um tipo de cerveja muitas vezes desinteressante. Como é que alguém pode beber Carlsberg ou Heineken é um profundo mistério. As japonesas estão bem representadas e aproveite-se para lembrar que não há cervejas japonesas más. Os 3 Top-trending uísques são japoneses, um exemplo revelador de como uma boa distribuição, alta qualidade e paciência transformam o mercado. Ketel One, Grey Goose, Absolut, Stolichnaya, Belvedere, Aylesbury Duck, Zubrowka, Beluga e Ciroc são os vodkas que figuram nas 2 listas. Apenas grandes marcas internacionais. 2. A D.I. apresenta igualmente a lista dos melhores cocktails clássicos do ano, o primeiro dos quais é um Old Fashioned, seguido do Negroni, Manhattan, Daiquiri, Dry Martini, etc., até ao número 50, um tiki com rum e cognac. Os mais atentos terão reparado que se deslocaram a Macau, ao bar do Hotel Mandarin, num fim de tarde, 2 mixordeiros conhecidos do bar Please Don’t Tell de Nova Iorque, figurante da lista dos melhores bares da D.I., já aqui também apreciada. Apresentaram 6 cocktails clássicos que não desiludiram. 3. Abriu recentemente, para lá do bar do Hotel Ritz-Carlton e do bar do Hotel-Residências Ascott, ambos aqui descritos, um bar no Hotel St.Regis, não revisto ainda. As fotografias prometem um bom sítio. * Michael Mascha, autor do atraente livro sobre águas Fine Waters, já aqui revisto, estima existirem umas três mil marcas de água, 50% das quais italianas, japonesas, alemãs ou francesas.
Hoje Macau h | Artes, Letras e IdeiasUma travessia do Delta Literário de Macau Não deixando de referir e correlacionar textos tributários de códigos de género híbridos – memórias, diário, epistolografia, narrativa biográfica e autobiografia, relatos de viagens e testemunhos históricos, reconto etnográfico e, em especial, crónica –, nesta nossa cartografia de O Delta Literário de Macau, primeiro volante de um políptico a completar, consideramos a “literatura” no sentido específico de criação imaginativa em arte verbal. Tomamos, assim, por “literatura de Macau em língua portuguesa” a criação estético-literária de autores que em Macau se descobrem ou afirmam escritores, que em Macau são editados e/ou criticados, reconhecidos e avaliados como escritores – acrescendo que, não em todos os casos mas em grande parte deles, não figuram no cânone da literatura portuguesa de acordo com os meios de reconhecimento, legitimação e valorização do seu funcionamento institucional (editores e críticos, professores e conferencistas, júris e associações, manuais e programas escolares, etc.). Nesta literatura de Macau em língua portuguesa podemos ver confirmado e ilustrado que toda a escrita é, de algum modo, registo de certo momento de uma identidade em processo, num devir de estabilização ou de crise. Como ao longo dos séculos e em todas as latitudes, a escrita literária que agora estudamos revela-se em Macau um modo especial de dizer esse momento; e revela-se também um fazer ou refazer da sua contingência em processo de comunicação (e de autocomunicação). Quer nos géneros da “escrita do eu” (diário e memórias íntimas, epistolografia e narrativa autobiográfica, etc), quer no endosso ficcional a personagens romanescas ou dramáticas, a literatura desde sempre figurou e reconfigurou trajectos de formação de identidades – individuais e comunitárias, grupais e nacionais -, fazendo sentir que isso envolve muito de história das relações da subjectividade ou da entidade colectiva com o seu mundo próprio e com o universo espacial e temporal dos outros seres e das outras comunidades. Todas as individualidades e todas as comunidades vivem aí a passagem da ordem da natureza para a ordem da cultura; todas vão modelando o real de acordo com suas línguas e demais sistemas de signos, com a historicidade das mundividências, dos horizontes de saber e de crença, dos sistemas de valores e de comportamento; e todas prosseguem a redefinição das fronteiras do corpo ou território próprio e das interdependências existenciais, com um sentimento de continuidade temporal. Este sentimento radica na memória singular e colectiva de um património de experiências e ideais, exige empenhamento nas tarefas do presente, gera expectativas e pede projectos para o futuro. Embora o cuidado de definir conceitos de identidade e o interesse em explorá-los no jogo de forças dos indivíduos e das comunidades seja típica da modernidade, a vivência dessas identidades e o confronto com outras identidades atravessa toda a história do humano, sofrendo metamorfoses no processo de permanências e mudanças que lhe é inerente. Talvez também se deva pensar o mesmo em relação a outro aspecto que, no entanto, se foi tornando mais forte e mais consciencializado na era contemporânea: deu-se a erosão dos modelos identitários tradicionais e do seu discurso monológico com suposta base numa essência, e, em contrapartida, vem prevalecendo a convicção da relatividade histórica e contextual das identidades, da sua natureza pluridimensional e da sua interdependência de outras identidades. Assim, sendo inegável que continua a fazer-se sentir a necessidade de “reconhecimento” em que se joga uma função identitária, confirma-se hoje o que talvez já pudéssemos ter lido nas representações e figurações literárias do passado, isto é, que o humano individual e colectivo, interpessoal e inter-nacional, deriva sempre numa dialéctica de identidade e alteridade, de inclusão e exclusão, de estranhamento e acolhimento. Mas a literatura, e em particular a literatura de autores ocidentais portugueses cujos caminhos e descaminhos da vida passaram pelo Oriente, mostra-nos mais: é nesse processo do confronto com o outro e com a sua diferença étnico-cultural e é no debate sobre a exclusão ou o acolhimento dessa alteridade que o sujeito da identidade em causa se pode conhecer melhor. Reconhece-se então com outros contornos e profundezas, sente o apelo de outra autenticidade, transforma enfim a sua identidade em função do confronto ou encontro com o outro. Além disso, lendo sob nova luz essa literatura, daí ressalta que muitas vezes se trata da descoberta do “outro de si mesmo”: o abalo ou perturbação, que a aparente hiperidentidade do eu ou da comunidade sofre no encontro ou no confronto com o outro, gera condições propícias para aquela revelação do “outro de si mesmo”. Convém lembrar agora que, pensando que a subjectividade se funda na distância da consciência de si, Levinas dizia: «o sujeito é hóspede e hospedeiro»; o sujeito há-de acolher o outro, porque desde logo tem de se acolher a si mesmo com um outro. Por isso, certa linha actual de renovação da leitura literária centra-se nessa relação de hospitalidade que abre a perspectiva da diferença e da sua compreensão vivencial. Partindo dos próprios géneros tradicionais da “escrita do eu”, essa interpretação da escrita como hospitalidade e como auto-hospitalidade estende-se depois a todas as realizações da lírica, da narrativa e da dramática. Não tem dificuldade em se ilustrar na análise de diários e memórias íntimas, de obras de epistolografia e de autobiografia, etc; mas, ao mesmo tempo que vai evidenciando como todas essas modalidades de escrita do eu se tecem numa tensão entre o sonho impossível de plena fusão em si mesmo e de consciência das reservas de alteridade que em si se escondem, também não tem dificuldade em descobrir a urgência de introspecção e auto-retrato em autores de memórias histórico-sociais (caso de Raul Brandão e tantos outros), de ensaios (afinal, desde a matriz em Montaigne…), de escritos aforísticos (caso de escrita hospitaleira dos pensamentos singulares), de biografias (a tal ponto era pressionante a emergência de traços idiossincráticos e existenciais do autor por detrás da história do biografado, que hoje entrou em voga o romance do biógrafo…), etc. Esta orientação de leitura traz assim nova valorização do alcance antropológico da literatura como auto-interpretação e imaginação simbólica do humano. Essa valência da antropologia literária reforça-se ainda porque muitos textos comprovam que os gestos e movimentos de reconhecimento e de hospitalidade buscam e motivam gestos e movimentos de reciprocidade. E comprovam que, mesmo quando falta essa reciprocidade, os ganhos de autoconhecimento e auto-acolhimento podem proporcionar e acalentar processos de resiliência das identidades fragilizadas, feridas, prostradas. Podem motivar recuperações de autoconfiança e superar situações adversas à realização das potencialidades de cada homem ou de cada povo. A refracção poliédrica que o humano encontrou na literatura de todos os tempos, e com especial acuidade na literatura moderna, traz-nos sem dúvida a contraface dessa hospitalidade na escrita e dessa resiliência pela escrita, isto é, não deixa de patentear tendências de repúdio da hospitalidade (e até da auto-hospitalidade, como se vê, por exemplo, em Rimbaud) e de exclusão violenta, com regressões do humano à cruel bestialidade (como se vê em Conrad, por exemplo). Mas essa contraface não exclui a outra face da natureza humana nas contingências da historicidade – facto de que temos a contraprova irónica na retórica da alteridade que durante muito tempo estruturou, de forma mais ostensiva ou mais subtil, o discurso da novidade trazida pela viagem (como no caso português muito bem exemplifica a escrita da famosa Carta do Achamento do Brasil, por Pêro Vaz de Caminha). Ora, um tipo de literatura onde o entrechoque de tais tendências melhor se manifesta é precisamente o que incide na viagem – quer pensemos no sentido genológico do que habitualmente se designa por “literatura de viagens” (e já aí deparamos com enorme variedade de motivações, de características temáticas e formais, de efeitos pragmáticos), quer alarguemos a nossa visão para todas as modalidades de figuração da vida e da morte como viagem (outra valência antropológica da literatura, na medida em que representa ou imagina a condição do ser como Homo viator, em religiosa peregrinação para a Transcendência celeste ou por deslocação agnóstica na imanência terrena), quer tentemos actualizar o tópico da obra ou da escrita como viagem – viagem que é significado e metonímia, viagem que é significante e metáfora. Depois, a modernidade literária trouxe uma melancólica auto-reflexão – uma melancolia que, no fundo, está relacionada com a incerteza que o sujeito passa a sentir acerca de si mesmo, tanto quanto passa a pensar-se não como um dado determinado e estabelecido a priori, mas sim como uma possibilidade que tem de ser constituída no texto… e que nunca lhe garantirá uma identidade definida e definitiva. E tudo isto tem muito a ver com a obra de tantos escritores portugueses que aportaram ao Oriente, alguns a Macau, e praticaram a arte literária “das lonjuras” (como diria Jean-Marc Moura) nem sempre hipotecada à construção do “orientalismo” como modo de discurso colaço da estratégia imperialista do Ocidente – desde Camões e Fernão Mendes Pinto até Ruy Cinatti e Maria Ondina Braga, passando por Bocage e Tomás Ribeiro, por Camilo Pessanha e Wenceslau de Moraes, por Alberto Osório de Castro e António Patrício. Quanto até aqui ponderámos sobre a experiência literária da problemática de identidade e alteridade e sobre as condições de uma escrita da hospitalidade, mormente num contexto de “viagem” a Oriente, ganha particular acuidade e, ao mesmo tempo, feição diversa na leitura dos autores da literatura de Macau em língua portuguesa – bom exemplo de valência da literatura como espaço de aprendizagem da alteridade. Assim é desde logo pela condição alocêntrica que lhe reconhecemos, em relação quer à China quer ao Ocidente português, e pelo substrato genotextual que por isso pressupomos perante as suas criações estético-literárias, mas também pela condição peculiar do contexto macaense. Com efeito, Macau distingue-se como espaço histórico de multiculturalismo, primeiro na coabitação desigual das comunidades portuguesa e chinesa e no alheamento ou desdém preconceituoso perante as respectivas culturas, mais tarde em progressiva diluição das fronteiras entre “cidade cristã” e “cidade china” e com avanços e recuos na atenção mútua aos traços peculiares das ancestrais tradições socioculturais, aliás refractárias a movimentos de hibridização. Com raras quebras dessa ausência de interacção de culturas ao longo dos séculos, é recente o pendor de práticas verdadeiramente interculturais, peculiares da contemporaneidade – sem rasurar as incompreensões, patentes ou veladas, que são afinal inerentes aos fenómenos de contacto entre culturas e povos (como oportunamente alegoriza Ana Maria Amaro na última narrativa, «Aves de arribação», das Aguarelas de Macau). Gradativamente caldeada no crisol da “estética do diverso” (na acepção poetológica do poliglotismo cultural, trabalhada pelo com conhecimento de causa pelo escritor e pensador antilhano Édouard Glissant), a literatura de Macau foi despertando primeiro para o pitoresco de usos e costumes chineses ou a “cor local” do espaço macaense de multiculturalismo, sobretudo através do etnografismo lírico e romanesco. Só hodiernamente vem reflectindo (e desse modo reforçando) a interculturalidade, com o jogo de relações intertextuais, de traduções e recriações, de citações e empréstimos linguísticos, de apropriação de símbolos e mitos, etc. Se Macau se distingue por esse processo faseado de estádios de multiculturalismo e diferentes estádios de interculturalidade, a literatura de Macau em língua portuguesa também se distingue pela comparticipação faseada nesse processo, ao mesmo tempo reflectindo e promovendo a componente intercultural da identidade plural e aberta de Macau. * Não escasseiam oportunidades e razões para evidenciarmos como no delta literário de Macau é recorrente a exploração ficcional e lírica da geografia física e humana do território, não já como mera manifestação epigonal de intuitos naturalistas ou realistas, mas sim segundo uma geopoética que – como sabemos melhor desde Bachelard até à Escola de Limoges – modeliza relações criativas entre as figurações formais e semânticas dos espaços macaenses, mas subentendendo que esses espaços geofísicos são indissociáveis dos processos históricos e das dinâmicas sociais e culturais que neles ocorrem e do imaginário que neles se projecta e se sedimenta. Eis aí mais uma vertente do delta literário de Macau, às vezes polarizada pelo apelo mitográfico em torno do que Luís Sá Cunha chamou o topos sagrado de Macau, e cuja exploração deixamos in progress, no âmbito aliás de implicações mais problemáticas de outra questão que a literatura como conhecimento nos chama a dilucidar – a dos traços identitários da literatura de Macau. Não se justifica que nos continuemos a enredar excessivamente na reconsideração do problema do exotismo e do orientalismo. Todavia, não merecem ser descurados os elementos exóticos de uma literatura situada a Oriente, mas criada em óptica variável por escritores de origem ou de formação ocidental, deslocados e radicados em Macau ou filhos da terra com padrões axiológicos e culturais da portugalidade em diáspora (imperial ou pós-imperial). A literatura estudada n’O Delta Literário de Macau confirma que os intelectuais macaenses se mantiveram apegados (com orgulho patente, ou com vinculação velada, ou até à contre coeur) às marcas históricas e culturais de identidade lusíada, como meio aliás de preservação da sua identidade comunitária (sino-lusa, não chinesa), sobretudo enquanto a própria aspiração de autonomia podia ser paradoxalmente sentida como interdependente da associação política com Portugal. Mas, mesmo enquanto tal, a mais genuína literatura de Macau em língua portuguesa deve também ser encarada como processo de legitimação da auto-imagem de uma “periferia” lusíada, mais do que como profissão do olhar imperial de um “centro” remoto (como diria a Mary Louise Pratt de Imperial Eyes. Travel Writing and Transculturation). Importa, porém, chamar a atenção para a emergência de um orientalismo literário mais profundo do que os estereótipos que é costume patentear. Em nosso entender, Camilo Pessanha e Wenceslau de Moraes, Maria Anna Accaioli Tamagnini e Fernando Sales Lopes, mais alguns outros aparentados, vieram descobrir e assediar no Oriente, via Macau, um magistério esotérico, sempre com indefinido horizonte de sentido e com alcance prometido mas diferido, que vinha ao encontro de uma das mais subtis e sortílegas tendências da literatura ocidental: aquele sentido divinatório da vida analógica dos seres e das coisas, movida pela energia empática remanescente da unidade e da harmonia primigénias, e em que o poeta anseia iniciar-se para superar a cisão monádica dos entes e a dor da impossibilidade de comunicação plena e de plena comunhão no conhecimento e no amor. * O trajecto que conduzimos através d’O Delta Literário de Macau permite uma percepção mais forte e mais esclarecida do devir dos centros de interesse e das motivações que de época para época foram movendo os seus escritores, das características temático-formais que subsequentemente adquiriram os seus textos, dos padrões por que se regeram, da cultura estética que a tudo isso foi subjazendo. A esse propósito, achamos pertinente evocar certo passo, de reacção satírica e de auto-ironização local, em conto de Senna Fernandes («Ódio velho não dorme», texto notável de ilustração memorial ou ficcional do lema contido no título). Aí – já após a charneira do século XX, mas em paralelo com o que ocorrera em períodos precedentes – torna-se ficcionadamente notória a desactualização da cultura literária em Macau e a relação tardia ou frouxa com os estilos epocais euro-americanos e sua presença sincrónica na literatura portuguesa. Tal como surge apresentado, em ambíguo radical de comunicação, só o protocolo de leitura que se estabelecer com o texto poderá determinar o seu estatuto discursivo. De qualquer modo, esse texto explora abundantes dados sobre vida em Macau durante décadas e abundantes coincidências com trajectória biográfica do autor (infância e juventude nas escolas de Macau, ida para a Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, exercício da advocacia em Macau, idas a férias a Portugal, etc.); e depõe sobre a cartografia das correntes contemporâneas da literatura portuguesa, entre sátira (ao que de bluff e moda ideológico-cultural representa neste lance o pretensiosismo de Heitor, antigo amigo do liceu macaense agora lisboetamente distanciado) e auto-ironia (ao que de efectivamente retardatário, pouco informado ou pouco actualizado, terá tido a cultura literária do autor ou dos meios intelectuais de Macau): «Entre duas cervejas e debicando tremoços, estalando de superioridade intelectual, os dedos a aparar o bigodinho irritante, perguntou-me de chofre, sempre com o odioso “você” para trás e para diante, que opinião tinha eu do movimento neo-realista português. Volvi modestamente que não sabia de nada, só lera uma ligeiríssima referência num jornal de Macau. Teve claramente pena de mim e teimou no assunto. // E, na poesia, que opinião fazia de José Régio, Mário de Sá-Carneiro, Torga e Fernando Pessoa? Redargui esmagado que eram apenas nomes e não os estudara. E o movimento da Presença, o Orfeu? Nada, foi a triste resposta. Abanou a cabeça com dureza de quem está a perder tempo com um analfabeto.» O nosso trabalho sobre o delta literário de Macau permite dar conta dos fluxos de curto, médio ou longo curso, em que se traduz esse fenómeno de cultura literária e os efeitos de arrastamentos temático e formal a que ele dá origem ou cobertura de boa consciência estética. Mas permite também descobrir, nuns casos, e corroborar, noutros casos, que o estado de coisas na república das letras macaenses se alterou sensivelmente nas décadas mais recentes; e que aquele retardamento e seus nefastos efeitos foram em grande parte fecundamente erradicados pela nova literatura de Macau em língua portuguesa. A literatura de Macau, em especial no domínio da poesia, soube ir ultrapassando os estádios de simples concepção vivencial e de dicção elementar, caracterizado por uma ausência de construção e de densidade irónica, um derrame de cândido expressivismo com escassa “capacidade de inibição”, uma previsibilidade de temas e um gosto de estilemas estereotipados, sem rasgos de estranhamento perceptivo e expressivo – enfim, um versejar e um rimar que parecia alheado ou discordante das transformações trazidas pelo(s) Modernismo(s) de Orfeu e de Presença e pelos contrapontos do Neo-Realismo e do Neo-Modernismo nos meados do século XX, mais se mostrando temeroso dos riscos de inovação temática e de experimentação estilística. De época para época foram-se afirmando sinais iniludíveis de inconformismo com os padrões saturados e novos intuitos de expressão estética em equação com tendências literárias da Modernidade tardia. José Carlos Seabra Pereira
Tânia dos Santos Sexanálise VozesContracepção O grito de liberdade sexual veio com os desejados métodos contraceptivos. Finalmente decisões poderiam ser tomadas relativamente à prática sexual e à gravidez indesejável. Assim chegou-se à era do gozo sexual não necessariamente procriativo que em muito contribuiu à revolução sexual do último século. Mas os métodos contraceptivos não são sexy per se (e escrever sobre eles também não será). Fazem parte de uma sexualidade saudável, sem dúvida, mas por alguma razão ainda falham. Falham porque ainda há gravidez adolescente e porque as doenças e infecções sexualmente transmissíveis continuam a ser espalhadas por aí. A variedade de métodos é extensa: preservativo masculino e feminino, DIU, diafragma, esponja vaginal, terapêuticas hormonais (pílula, anel vaginal, implantes, patches), vasectomia ou laqueação de trompas. Escolhas que deverão ser personalizadas de acordo com idade, actividade sexual, estado de saúde geral, etc. Todos estes métodos têm uma percentagem de eficácia diferente, portanto, alguns são mais falíveis que outros, mas só o preservativo é capaz de travar infecções indesejáveis. Aliás, o preservativo foi inventado exactamente na prevenção da Sífilis durante o séc. XV. Assemelhava-se a uma meia de vidro desbotada e era feito com paredes do intestino grosso de diferentes animais. Depois vieram os produtos sintéticos que trouxeram o preservativo de latex que conhecemos hoje, no início do séc. XX. Todas as campanhas que divulgam o uso do preservativo, tentam apelar pela utilidade do dito cujo. Quase não se sente, protege-nos de STD’s, impede a gravidez indesejável: perfeito. O preservativo deve ser usado s-e-m-p-r-e, não há dúvidas disso. O que se esquecem de dizer é que às vezes pode ser desconfortável ou pode desfazer o tesão, i.e., o brochar o orgão sexual masculino. Há os que se recusam, os que não conseguem, os que não gostam e os que desenvolvem profundas crenças que incentivam o seu não uso. Como contornar a questão? Não é fácil. Em relacionamentos que se prevêem de longa-duração, poder-se-á optar por uma vida sexual sem preservativo depois dos devidos testes de sangue serem feitos. Em qualquer outra situação o uso deverá ser obrigatório, e o pessoal que não se arme em esquisito. As tentativas de tornarem o preservativo um pouco mais atraente levou a que as marcas conhecidas do mercado fizessem variações do produto, ora com sabores, ora com texturas, ora com cores. Não há grandes desculpas para justificar a sua ausência, mas a verdade é que o sexo é significativamente melhor sem. Há uma maior proximidade ao vosso apaixonado/a porque não há barreiras absolutamente nenhumas entre a intimidade de um e de outro. Por isso para os que podem, e já mostraram não ter nenhuma doença nefasta a transmitir, ultrapassa-se o uso do preservativo para métodos exclusivos a prevenção da gravidez. O normal é para a mulher começar a usar a pílula, ideal para quem é organizado e pouco esquecido, e basta tomar um comprimido por dia (exceptuando durante a menstruação) e não incomodar a normatividade do acto sexual em si. Até aqui, parece tudo bem. Acontece que outros efeitos secundários podem advir, afamados desiquilíbrios emocionais, e até conheço pessoas que desenvolveram ataques de pânico. Isto na pior das hipóteses, porque depois há problemas de cariz menor, tipo celulite e retenção de líquidos. A contracepção não é um mar de rosas, mas o que tem de ser, tem muita força. Contudo (e felizmente) começaram a ser testadas formas de ‘pílula’ masculina não hormonais, e, por isso, sem alterar os ciclos naturais. As opções são diversas e os projectos ainda se encontram numa fase embrionária, salientam-se: 1.injecção para bloqueio dos canais de transporte de esperma, uma quasi-vasectomia menos invasiva e reversível; 2. Medicação para não permitir os espermatozóides de fertilizar o óvulo; 3. Medicação para alterar a capacidade de locomoção do esperma. A vantagem é que com uma maior possibilidade de contraceptivos masculinos, a responsabilidade e preocupação contraceptiva não ficará totalmente nas mãos da mulher. Espera-se que seja um tema que possa ser discutido pelo casal e em cooperação, percebendo as vantagens e desvantagens de cada método. Visto que a maioria dos produtos de contracepção são para mulheres, há uma tendência natural para julgar que as precauções contraceptivas são maiores para quem de facto carrega uma barrigona por 9 meses. Mas visto que ‘takes two to tango’ a responsabilização pela outra parte também é necessária. O investimento em novas formas de contracepção trazem a esperança de formas mais eficazes de prevenção e uma muito desejada consciencialização social.
Tomás Chio SociedadeIC vai investir 50 milhões em duas salas de espectáculos e ensaios Guilherme Ung Vai Meng, presidente do Instituto Cultural (IC), defende que o orçamento de 50 milhões de patacas para a construção de duas salas de ensaios para a Orquestra de Macau e para a Orquestra Chinesa de Macau é um valor razoável, afirmando que as instalações vão ser usadas nos futuros 15 anos. A notícia foi dada depois do presidente da Assembleia Legislativa (AL), Ho Iat Seng, ter apontado na sexta-feira passada que o orçamento para as obras das duas salas de ensaio atingiam as 50 milhões de patacas que mas ainda não tinham sido utilizadas, e continuava à espera de uma resposta do IC. Guilherme Ung Vai Meng explicou ao canal chinês da TDM que há sempre falta de espaços de ensaio para as Orquestras de Macau, e que é preciso investir nas instalações, mas assegurou que o dinheiro público vai ser usado com cautela. “As despesas são razoáveis, e o orçamento foi estipulado por profissionais”, garantiu, frisando que o IC vai fiscalizar os dois projectos com rigor. Ung Vai Meng avançou que as duas salas vão ser criadas em imóveis do Governo, e que portanto, as 50 milhões de patacas serão investidas em instalações governamentais. O presidente frisou que as salas podem satisfazer a utilização das duas Orquestras nos futuros 15 anos. Uma das salas de ensaio situa-se na Universidade de Macau (UM), explicou, dizendo que o IC vai administrar a sala em conjunto com a UM, ou seja, a instituição de ensino superior oferece o espaço e o IC paga as despesas de construção e os equipamentos musicais. O organismo prevê que a sala estará pronta ainda este ano. A outra sala localiza-se na Avenida de Amizade e pertence aos Correios de Macau. O espaço destinado à Orquestra Chinesa de Macau será também aberto ao público. Este projecto está a ser preparado para que de futuro se possam aí realizar alguns concertos.
Andreia Sofia Silva Manchete ReportagemReportagem | Homossexualidade, o tabu quase visível Ser gay ou lésbica em Macau é hoje mais fácil do que há uns anos atrás. Mas a pequenez do território e a forte cultura tradicional chinesa fazem com que ainda seja difícil assumir uma relação em pleno. A homossexualidade continua a ser um tabu tolerado mas não debatido, e nem mesmo na comunidade portuguesa as coisas são mais fáceis Calvin sabe que gosta de homens mas sente-se obrigado a casar com uma mulher para garantir a descendência familiar. António percebeu, desde o primeiro momento em que viu um tronco nu masculino na televisão, ainda em criança, que o sexo igual ao seu o atraía, mas só contou a uma prima mais próxima. Milo namora com um homem na Holanda e a família sabe de tudo. Miguel vive bem a sua homossexualidade e já não se importa com o que os outros pensam de si. Luciana é bissexual e também vive bem com isso. Todos eles são chineses nascidos em Macau ou portugueses que fizeram do território a sua casa. Vivem a homossexualidade de maneira diferente mas afirmam: apesar de uma maior abertura, continua a ser um assunto que é reconhecido, mas sobre o qual as famílias, patrões ou colegas não falam. A pequena dimensão do território e os fortes laços da cultura chinesa dificultam uma maior expressão da sua sexualidade. Devido à quase inexistência de espaços “gay friendly” ou de actividades de apoio à comunidade LGBT, as aplicações de telemóvel ou internet acabam por servir de porto de abrigo. Para falarem abertamente do assunto, nenhum entrevistado aceitou ser fotografado ou dizer o nome verdadeiro, muito menos a profissão. António, chinês nascido em Macau, nunca contou à família porque tem a certeza de que esta nunca aceitaria. “Acredito que a sociedade, no geral, tolera a existência de casais do mesmo sexo a viverem juntos. Contudo, não me sinto confortável a fazer isso ou a ter uma relação de forma aberta porque não quero que a minha família saiba. Uma vez que Macau é um território pequeno, e se me assumir como gay de forma frontal, a minha família vai saber. Sem a minha familia saber considero um dia viver com alguém. Acredito que é mais difícil ser gay em Macau devido ao tamanho do território”, contou ao HM. A cultura chinesa faz com que seja mais difícil a um homem assumir a homossexualidade, garante António. “O estereótipo da homossexualidade na cultura chinesa tradicional é que todos os homens gay agem de forma feminina e preferem sexo anal. Esse é o estereótipo existente na sociedade chinesa em Macau. Também pensam que estão a rejeitar a sua herança cultural (不孝) porque um dos deveres do homem é reproduzir-se e continuar o nome da família. A geração mais velha também fica preocupada com o facto de ninguém da família se sacrificar por eles no futuro devido à falta de descendência”, aponta. No caso de Calvin, ainda não contou à família, e provavelmente nunca o irá fazer. “Talvez venha a contar, mas não tenho a certeza quanto a isso”, contou ao HM. “Macau não é uma cidade muito gay friendly. Não há actividades ligadas à comunidade LGBT, nem espaços gay. Os homossexuais ou lésbicas só se podem conhecer através de aplicações de telemóvel. Segundo as velhas e tradicionais crenças chinesas a homossexualidade é uma doença. As famílias chinesas em Macau vão querer sempre que o seu filho ou filha não seja gay”, contou. Apesar disso, Calvin mostra-se confiante com a evolução de mentalidades. “Não sei quanto tempo vai demorar, mas há uma esperança para os gays em Macau. O facto de dois rapazes darem a mão enquanto passeiam na rua é algo normal na Europa ou na Austrália, e as pessoas olham para eles como se fossem um casal heterossexual normal. Aqui, a história é completamente diferente.” A excepção à regra O caso de Milo Cheung será certamente uma excepção à regra: a família é chinesa de Macau e ele há muito que mantém uma relação homossexual aberta no país onde vive, a Holanda. “A minha família está feliz com o facto de eu estar numa relação. Sabem da minha relação, falam com o meu companheiro, mas referem-se ao meu namorado como meu amigo, sem falarem sobre ele. Às vezes perguntam-me quando é que as coisas se tornam mais sérias, quando vou crescer e arranjar uma namorada. É algo contraditório, mas eles encaram a minha relação como sendo fruto de uma “fase rebelde”. Tenho uma prima que tem uma namorada há dez anos, todos na família sabem, ela é bem-vinda em todos os encontros familiares, mas é sempre chamada de amiga e nunca de namorada”, contou ao HM por email. Apesar disso, Milo Cheung teme expor os afectos quando visita o território. “As gerações mais velhas expandiram um pouco os seus horizontes, estudaram no estrangeiro, viajaram, mas não vejo grandes diferenças no que diz respeito aos direitos dos homossexuais e à sua aceitação, isto falando da sociedade no seu todo. Nunca me passou pela cabeça beijar o meu namorado ou dar-lhe a mão em público. Não iria sentir-me ameaçado, mas observado. Viver com alguém não deve ser um problema, tendo em conta que faz parte da cultura chinesa não interferir nas questões pessoais ou em tudo o que acontece dentro de casa. Para o bom e para o mau”, apontou. Portugueses fechados Apesar de em Portugal a sociedade ter mudado a sua postura em relação aos homossexuais, principalmente depois da aprovação do casamento entre pessoas do mesmo sexo, os portugueses não vivem a sua homossexualidade no território de forma aberta, devido à pequena dimensão da comunidade. Miguel, engenheiro a trabalhar num casino, sente isso na pele, e garante que não existe uma maior abertura face à comunidade chinesa. “Não me parece (que isso aconteça). Vivo de forma tranquila a minha homossexualidade e estou a borrifar-me para o que as pessoas pensam, mas também não ando propriamente com um autocolante na testa.” “A minha sexualidade não é tema de conversa com os meus amigos de Macau, mas estou convencido de que a maior parte sabe que eu sou gay, mas não é assunto. Nunca ninguém me perguntou se era”, disse ainda o engenheiro. Luciana é bissexual e trabalha como secretária. Apesar de ter chegado de Portugal há pouco tempo, garante que “isto é muito pequeno e toda a gente se conhece, e ainda mais na comunidade portuguesa. Essa questão deixa-me insegura, numa comunidade tão pequena às vezes pode ser um pouco complicado”. Lésbicas: maior aceitação Se em Macau ver dois homens de mão dada ou aos beijos na rua pode gerar reacções, a verdade é que ver duas mulheres juntas é bem mais comum e aceitável. “Curiosamente é mais comum ver duas raparigas de mão dada, tenho visto muitas mulheres, filipinas acho, e com uma atitude aparentemente tranquila quanto à sua exposição”, apontou Miguel. “Já falei com chineses e eles dizem-me que isso tem novamente tem a ver com a herança cultural chinesa, já que há uma enorme esperança depositada no filho masculino. E, de certa forma, o papel social das mulheres é mais secundarizado. O que os chineses me dizem é que das mulheres não se espera nada. É um bocado indiferente se andam de mão dada na rua com outra mulher ou se se deitam umas com as outras. É um assunto que não se discute”, referiu. Mas se a pressão familiar acontece no lado masculino, as mulheres lésbicas também sentem na pele a necessidade do casamento. “Conheço um casal de duas raparigas que estavam juntas desde o secundário e uma das raparigas acabou porque decidiu que era altura de casar, por pressão da sociedade e da família”, contou Luciana. Ignorada ou passada para segundo plano, a homossexualidade é muitas vezes encarada como uma fase passageira. “Tenho quase a certeza que as famílias sabem, só que simplesmente a sociedade vive de forma tão harmoniosa que prefere não falar do assunto. Sabem que os filhos têm estas relações mas não dizem nada e sempre podem ter aquela possibilidade de “um dia, quando isso te passar, arranjas alguém”. No trabalho sabem mas ignoram. Conheço pessoas que trabalham na Função Pública, e simplesmente não comentam. É como se não existisse. Quando há jantares, as pessoas não levam o seu par”, rematou Luciana. Boom, o bar que pretende mudar mentalidades “Desde que abrimos o bar nunca tivemos problemas” Há sete anos Jonathan Chong abriu o primeiro bar gay em Macau, o Candy Bar, mas um ano depois o espaço fechava portas. De regresso ao território e noivo e Piotr Szymczuk, Jonathan abriu o “Boom Bar” há cerca de um mês na Taipa, que promete noites de “speed dating”, shows travestis ou noites só para mulheres. “Sentimos que havia potencial, e certamente há um mercado e uma procura junto da comunidade gay em Macau, porque costumam sair para Hong Kong. Foi mais fácil abrir este bar do que aquilo que estava à espera, porque muitas pessoas pensam que é muito difícil para a comunidade chinesa aceitar a homossexualidade. Penso que as novas gerações mudaram muito, então aceitam”, contou ao HM. “Desde que abrimos que nunca tivemos problemas”, disse Piotr. “Na verdade as pessoas gostam do bar porque criamos um espaço para relaxar, falamos com as pessoas para que se sintam em casa. Criámos um espaço diferente porque podemos, gostamos de conversar com as pessoas.” Todos podem divertir-se no Boom Bar, que até já tem clientes heterossexuais assíduos. “Quero fazer algo pela comunidade, porque quando percebemos pela primeira vez que somos gay, especialmente em Macau, não há forma de conhecer pessoas. Com a internet e aplicações é mais fácil hoje em dia, mas para mim conhecer alguém cara a cara num bar é diferente”, disse Jonathan. Piotr, que saiu da Polónia por causa da discriminação, garante que em Macau a homossexualidade não é falada, mas também não origina violência. “A boa coisa dos chineses é que são conservadores, mas não são agressivos. Na Polónia muitas vezes senti medo, porque as pessoas olham directamente para ti e sentes-te ameaçado. Os chineses não são violentos”, contou. “A sociedade está mais aberta, especialmente as gerações mais novas. Em relação aos mais velhos, tenho amigos que ainda têm medo que as pessoas descubram. Os mais jovens são mais abertos e há muitos deles que já contam às famílias. Os nascidos na década de 70 ainda estão presos e escondem aquilo que são, mas os mais novos são mais abertos em relação à sua sexualidade”, frisou Jonathan. Anthony Lam, da Associação Arco-Íris “Há mais pessoas conscientes dos direitos LGBT” Anthony Lam é desde 2013 o principal rosto da Associação Arco-Íris, a primeira do território a colocar a homossexualidade na agenda política e social. Com apenas mil seguidores no Facebook, a associação continua a não ter membros formais. Anthony Lam garante que a comunidade continua a não querer expor-se demasiado, apesar de uma maior aberta de mentalidades. “Desde a criação da associação iniciámos uma discussão pública sobre o assunto e há mais pessoas conscientes dos direitos LGBT. Nos últimos anos temos vindo a trabalhar para atrair as atenções do público, mas vemos que os gays continuam a não gostar deste tipo de actividades, preferem coisas mais discretas. Então daqui a um ano ou dois trabalharemos nesse sentido. O debate sobre as questões LGBT ainda não é muito popular, em Macau os hotéis e casinos ainda não proporcionam uma resposta aos casais gay, ao contrário de Las Vegas”, exemplificou. “Temos sido bem aceites pelo público em geral, se a situação dos LGBT em Macau se tornar mais aceitável, a associação também o vai ser. Na estrutura familiar chinesa nem o amor é debatido de forma livre, por isso a falta de discussão não é apenas um problema da comunidade LGBT. É uma questão cultural”, rematou Anthony Lam.
Flora Fong PolíticaLionel Leong quer rever lei sobre compras públicas O Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, quer avançar já este ano com a revisão da lei referente à aquisição de bens e serviços por parte do Executivo. Segundo o jornal All About Macau, a proposta prevê o aumento do limite máximo do montante de compras de serviços e materiais sujeitos a concurso público, para que não existam facilidades junto dos organismos públicos. “Vários serviços públicos apresentaram essa ideia, e a Direcção dos Serviços de Finanças (DSF) vai tratar desta questão com rigor, estando a elaborar a lei e a comunicar com a Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes (DSSOPT). Mas o aumento do limite do montante ainda não gerou consenso”, apontou o Secretário. Uma coisa é certa: não deverá ocorrer uma redução. Lionel Leong disse não concordar com a diminuição dos requisitos para as aquisições dos organismos públicos, tendo defendendo um equilíbrio entre o trabalho legislativo e as aquisições feitas na Função Pública. O último relatório do Comissariado de Auditoria (CA) apontou o dedo a vários organismos públicos por não cumprirem a legislação referente às compras públicas. A DSF explicou que a revisão da lei é para “avançar com o tempo” mas também “abrir uma porta para uma porta mais facilitada” para a aquisição por parte dos organismos públicos.
Filipa Araújo PolíticaOrçamento | Novos relatórios e estimativas para lei sem data Nova proposta de lei ainda não tem data para apresentação, mas já foi apresentado o conteúdo da mesma. Novos relatórios, estimativas de projectos e despesas são algumas das ideias avançadas pelo Governo. Ainda assim nem todos os deputados estão contentes Depois de 45 dias de consulta pública, o Governo – através da Direcção dos Serviços de Finanças (DSF) – tornou público o conteúdo da futura proposta de Lei de Enquadramento Orçamental, que, apontam, ainda não tem data para ser entregue à Assembleia Legislativa (AL). O Governo defendeu que a proposta pretende focar-se em seis importantes pontos, sendo eles, a reformulação e o acréscimo de alguns princípios essenciais; definição do conceito de “verba destinada especificamente àquele fim”; reforçar o princípio de separação funcional da execução orçamental; normalizar a fixação do limite do valor da dotação provisional; despesas indicativas plurianuais e adicionar os relatórios intercalares do orçamento. Em termos práticos, o novo documento irá propor – para além da apresentação da proposta de orçamento a cada mês de Novembro – a apresentação de um relatório intercalar da execução orçamental, até ao final de Julho de cada ano. Relativamente às empreitadas públicas, a nova lei irá exigir que na elaboração orçamental sejam acrescentadas as “despesas indicativas plurianuais”. “Além de se incluírem as despesas previstas para o ano a que dizem respeito, deve-se apresentar a estimativa global dos projectos e as respectivas despesas indicativas dos diversos exercícios”, explicou a subdirectora da DSF, Ho In Mui. A nível de relatórios será obrigatória a apresentação do relatório de execução orçamental do Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Administração (PIDDA) a cada trimestre. A proposta de lei vai definir ainda que, independentemente do orçamento central da RAEM ou do orçamento privativo dos organismos autónomos, o valor da dotação provisional (exclusivamente destinada a situações imprevistas) não pode exceder 3% do total das despesas orçamentadas, e regulamenta explicitamente que não se admite o acréscimo do orçamento da despesa global sem a aprovação do hemiciclo. Cara de poucos amigos Citado pela Rádio Macau, Ho Iat Seng, presidente de AL, não se mostrou satisfeito, classificando de “irracional” a apreciação do orçamento do ano passado. “Este ano só podemos apreciar a execução orçamental do ano anterior. Isto deve ser revertido. Ou seja, este ano devemos apreciar a proposta de execução orçamental do próximo ano. Sabemos que o prazo é no dia 31 de Janeiro. Será que podemos pedir aos serviços competentes para nos entregar o relatório com antecedência, ou seja, apresentar em finais de Março, para elaboração do relatório de auditoria e para que nós tenhamos esta proposta de lei em mãos com antecedência”, apontou. Relativamente ao trabalho realizado pelo Comissariado de Auditoria, o presidente indicou que “muitos deputados também estão desiludidos. Quais são os trabalhos de fiscalização desenvolvidos pelos serviços competentes? Nós fazemos a fiscalização, claro. É da nossa competência. Mas acho que o Comissariado de Auditoria pode fazer ainda mais, porque também elabora um relatório de auditoria e pode apreciar o orçamento em primeiro lugar e, depois, elaborar um relatório de acompanhamento. O prazo de entrega das propostas é muito importante, e também o prazo de entrega de documentos entre os serviços competentes”. A consulta pública decorreu entre 7 de Julho a 20 de Agosto do ano passado, sendo recolhidos 300 textos de opinião e 110 opiniões proferidas verbalmente, totalizando 410. As opiniões envolveram várias áreas, como a supervisão do orçamento financeiro, as empreitadas de obras plurianuais, a elaboração orçamental, a execução orçamental, a verba destinada especificamente àquele fim, transparência, dotação provisional, base contabilística e sistema de contabilidade, conforme indicou o Governo.