Filipa Araújo Grande Prémio de Macau SociedadeGP | Comissão Organizadora é novamente criada. Desta vez sem remunerações [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]Comissão Organizadora do Grande Prémio, anteriormente cancelada, está de volta, mas com diferenças: desta vez não há remunerações para os membros que dela fazem parte. Segundo publicação em Boletim Oficial, a Comissão voltará a ter a responsabilidade de coordenar a actividade dos vários serviços da Administração Pública e de várias entidades da sociedade no âmbito da organização do Grande Prémio de Macau, sem que no entanto, os principais membros recebam qualquer vencimento, seja em salário ou pagamento extra, como anteriormente acontecia. A nova Comissão volta a ser presidida pelo Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, Alexis Tam, tendo ainda um coordenador, dois coordenadores-adjuntos e um secretário-geral, além de três representantes do Gabinete do Secretário para os Assuntos Sociais e Cultura, cinco representantes da Direcção dos Serviços de Turismo e um membro de diversos organismos públicos, como os Serviços de Saúde, Bombeiros, Serviços de Alfândega e da Direcção dos Serviços de Solos, Obras Públicas e Transportes. Na Comissão estará também um representante da Associação Geral de Automóvel de Macau-China e seis individualidades de “reconhecido mérito na área do turismo e do desporto de Macau”. Ainda não há nomes sobre quem vai tomar o lugar nestes cargos, ainda que ontem tenha já havido a primeira reunião oficial da Comissão. Alexis Tam vai designar os futuros membros em despacho no Boletim Oficial. Esta Comissão poderá ainda, tal como a anterior, constituir subcomissões. Os encargos com o seu funcionamento serão suportados pelo orçamento privativo do Fundo do Desporto.
Andreia Sofia Silva SociedadePlano Quinquenal | Trânsito e qualidade de vida são prioridades Melhoria do trânsito, a estabilidade da economia e a garantia da qualidade de vida da população de Macau. Eis as principais opiniões transmitidas pelas associações no âmbito da consulta pública sobre o Plano de Desenvolvimento Quinquenal da RAEM [dropcap style=’circle’]J[/dropcap]á são conhecidas as opiniões recolhidas junto de 41 associações locais quanto ao Plano de Desenvolvimento Quinquenal da RAEM, anunciado por Chui Sai On nas Linhas de Acção Governativa (LAG) para 2016. Segundo o comunicado ontem divulgado pelo Gabinete de Estudo das Políticas (GEP), o trânsito, a melhoria do ambiente e das condições de vida e uma economia estável são os grandes objectivos que têm de ser cumpridos aquando da elaboração do plano quinquenal de Macau. As associações pediram “a elevação constante da qualidade de vida dos cidadãos”, no sentido de existir uma “preocupação com a facilidade de mobilidade” ou “a construção de mecanismos de longo prazo para a habitação”. É ainda pedido o “estabelecimento do sistema de segurança social sustentável” e a “elevação do nível do serviço de saúde para responder às necessidades futuras”. Das prioridades Quanto à área do “desenvolvimento dos projectos prioritários”, as associações defendem que o plano quinquenal deve prestar “atenção ao melhoramento do trânsito nos próximos cinco anos” e que seja feito um “planeamento geral e a construção dos projectos prioritários do trânsito”, sem esquecer o metro ligeiro. Na área económica, espera-se uma “manutenção do desenvolvimento estável da economia”, sobretudo ao nível da sua diversificação. As associações esperam a “alteração da situação do monopólio da indústria do Jogo”, para além de exigirem “maior apoio ao desenvolvimento das Pequenas e Médias Empresas (PME)”. Ao nível do turismo, é pedida uma “internacionalização do mercado turístico, da fonte de turistas e dos produtos”. O comunicado expressa ainda a vontade das associações de verem um “resultado manifesto na protecção ambiental”. Deve existir “atenção com o desenvolvimento dos projectos prioritários da protecção ambiental nos próximos cinco anos”, para além da necessidade de se apostar na “eficácia da publicidade e da educação ambiental”. Na área educativa as associações pedem a “elevação do nível de educação”, ao nível do ensino não superior e superior, para que “os diversos quadros qualificados possam responder ao desenvolvimento social no futuro”. Pede-se ainda que o futuro plano quinquenal aposte num “reforço da eficiência de governação” e que aposte na melhoria da “racionalização de quadros e da simplificação administrativa”. É ainda sugerido que seja feita a aposta na “elevação da qualidade dos serviços prestados pelos funcionários públicos”. O GEP garante que 80,9% das opiniões são “favoráveis”, enquanto que 13,9% são opiniões neutras, sem esquecer as opiniões desfavoráveis, que ocupam apenas uma percentagem de 5,2%. Segundo o GEP, “as opiniões das associações foram colectadas pelos membros” desses grupos, num período de consulta que durou entre Novembro de 2015 e o passado mês de Fevereiro.
Tomás Chio SociedadeColoane | CPU “não tem direito” a pedir detalhes do projecto, diz Governo [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]Conselho do Planeamento Urbanístico (CPU) não tem poderes para pedir mais informações ao Governo sobre a construção de um edifício de luxo junto ao Alto de Coloane, já que, segundo o regulamento administrativo, apenas se pode pronunciar sobre projectos entregues pelo Executivo. Segundo o Jornal do Cidadão, Loi Hoi Ngan, membro do CPU e professor do Instituto Politécnico de Macau (IPM), explicou que “segundo o regulamento, os membros não têm direito a pedir informações, só podendo discutir os assuntos que são incluídos na agenda das reuniões”. Ainda que não negue que possam ser pedidos mais detalhes “depois das reuniões”, questionado sobre os deveres do CPU nesta matéria, por se tratar de uma construção que poderá pôr em causa a protecção de Coloane, Loi Hoi Ngan não quis comentar, referindo que todos os membros do CPU se preocupam com o desenvolvimento e o planeamento do urbanismo de Macau, mas devem “respeitar a agenda prevista”. “Podemos discutir uma alteração do regulamento administrativo no futuro”, apontou o docente. Loi Hoi Ngan referiu ainda que existe um debate no seio do CPU sobre a área da protecção ambiental onde poderá nascer o empreendimento da empresa de Sio Tak Hong, mas, diz, todos os relatórios das reuniões estão publicados e o processo é “transparente”. Para o académico, os cidadãos podem observar o desempenho dos membros caso tenham preocupações a este nível. O Jornal do Cidadão ouviu ainda Leong Chong In, também membro do CPU, que referiu que a construção de um edifício de cem metros de altura junto à montanha pode afectar o meio ambiente e a floresta, defendendo a suspensão da construção. Contudo, admitiu que é impossível que não haja desenvolvimentos nesta zona.
Joana Freitas Manchete PolíticaRendas | CPP em revisão para simplificar acções de despejo O Governo está a fazer a revisão do artigo ligado às acções de despejo nos arrendamentos. Sobre o aumento das rendas ou o atraso no pagamento destas nada será feito pela Administração [dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m dos artigos a ser revistos no Código de Processo Civil está relacionado com os arrendamentos, anunciou o Executivo numa resposta ao deputado Mak Soi Kun. De acordo com o documento, analisado pelo HM e assinado por Liu Dexue, director dos Serviços para os Assuntos de Justiça (DSAJ), a ideia é simplificar as acções de despejo e não colocar um tecto às rendas. “A DSAJ encontra-se a acompanhar os trabalhos de revisão globais do Código de Processo Civil, consistindo um dos conteúdos da actual proposta de alteração em dar mais um passo na simplificação da acção de despejo”, começa por indicar o organismo. A ideia é tornar o processo mais eficiente, permitindo “ao locador interpor, de forma ainda mais fácil e acelerada, o processo de acção de despejo” nas autoridades e “aperfeiçoar o regime de comunicação”. A questão do não pagamento das rendas é comum no território, de acordo com o que tem vindo a ser defendido por deputados. A DSAJ diz estar agora a recolher opiniões do sector jurídico e judicial, sendo que vai, mais tarde, “analisar e estudar as opiniões recolhidas e decidir a orientação e âmbito da alteração”. Posteriormente, lê-se ainda na resposta, vai ser lançada uma consulta pública. Mak Soi Kun tinha questionado a DSAJ sobre melhorias às leis que regulam o arrendamento, nomeadamente quanto à subida das rendas e de atraso nos pagamentos, já no ano passado. Na resposta agora disponível, o organismo assegura que o Governo tem dado “muita atenção à situação do desenvolvimento do mercado de arrendamento e tem dedicado esforços para o aperfeiçoamento ao nível jurídico”. Foram, contudo, deputados que apresentaram na Assembleia Legislativa um projecto de arrendamento que impõe um tecto máximo às rendas, entre outras questões que não são reguladas por lei avulsas, visto que o Governo disse não querer interferir “muito” no mercado privado. Ainda mais simples Liu Dexue relembra, no documento, que foram feitas alterações em 2004 ao CPP e à Lei de Bases de Organização Judiciária, que vieram permitir que as acções de despejo que consistem na falta de pagamento da renda e não sejam superiores a 50 mil patacas possam ser julgadas por um tribunal singular. Agora, no entanto, e depois de em 2014, Chu Lam Lam, directora dos Serviços da Reforma Jurídica e do Direito Internacional, dizer que as regras para acções de despejo já eram simples, o Executivo admite vir a simplificar ainda mais este sistema. Em 2014, o Executivo dizia também que os limites à actualização das rendas podem ser conseguidos através “de negociação entre senhorios e inquilinos”. Algo que o projecto de lei dos deputados está a tentar modificar, mas que o Executivo diz não querer mexer, à semelhança do artigo referente ao atraso no pagamento das rendas. “Já existe no Código Civil em vigor um regime que permite ao senhorio exigir uma indemnização”, remata Liu Dexue.
Filipa Araújo Manchete PolíticaAL | Rita Santos não confirma candidatura José Pereira Coutinho diz que sim, mas Rita Santos diz “nim”. Uma candidatura à AL pode não ser uma realidade tão certa como o colega e presidente da ATFPM afirma. Rita Santos diz que tudo dependerá de decisões pessoais e, apesar de preparada, diz que este pode não ser o caminho. Deputados desvalorizam [dropcap style=’circle’]”[/dropcap]Não é uma decisão. Eu ainda não tomei essa decisão”, clarificou Rita Santos, presidente da Assembleia Geral da Associação dos Trabalhadores da Função Pública (ATFPM), relativamente a uma possível candidatura à Assembleia Legislativa (AL), confirmada pelo colega e presidente da Associação José Pereira Coutinho. Depois das eleições, no passado sábado, José Pereira Coutinho, também deputado, confirmou que Rita Santos seria candidata já nas próximas eleições, em 2017. Informação que é desmentida pela própria. “Nem sequer falei com a minha família. Hoje (ontem) comecei a receber telefonemas sobre isso. Eu não confirmo. Não estou certa que o vá fazer”, explicou ao HM. Agarrada ao mote de “tempo para a família”, Rita Santos explica que deixou as suas responsabilidades como secretária-geral adjunta do Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa para se dedicar a “100%” aos seus. “Deverei entrar de novo na vida política? Quer dizer, quero estar com a minha família, sou de uma família muito numerosa e quero continuar isso e por isso tenho que estar disponível para estar presente. Eu vejo pelo Pereira Coutinho: o trabalho que ser deputado da AL dá. Não sei se quero isso”, apontou, embora sinta que está “preparada para assumir” essa função. “Não vou confirmar uma coisa que não está decidida. Não sei”, reforçou. Sem pressas Questionado sobre a possibilidade de um lugar do hemiciclo ser ocupado pela comendadora, o deputado Au Kam San desvaloriza. “Os deputados eleitos por sufrágio directo não ocupam mais de metade dos lugares e é o Governo que orienta o funcionamento da AL, por isso, seja quem for o deputado eleito para ocupar aquele lugar não terá a capacidade de trazer mudanças ao que quer que seja”, explicou ao HM. Para o deputado, que já anunciou retirar-se nas próximas eleições, “estas novidades” não irão afectar o funcionamento da própria AL. Diferente seria se o número de deputados eleitos por sufrágio directo fosse maior. “Isso sim é importante”, rematou. Para a deputada Kwan Tsui Hang o público deve respeitar todos as candidaturas às futuras eleições no próximo ano. “Não quero estar a comentar sobre isto porque não quero ser injusta para os candidatos. Temos de respeitar todos os residentes que se possam candidatar”, apontou, frisando que é “demasiado cedo para qualquer candidatura”. Outros deputados não quiseram comentar a eventual candidatura.
Tânia dos Santos Sexanálise VozesAlguns factos (no feminino) [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]stes não são os segredos do sexo no feminino, esses deixo ao critério de cada um descobri-los a seu tempo. E quando eu digo descobrir, refiro-me à contínua exploração que, na individualidade e em conjunto, deve ser exercitada e promovida. Há, contudo, informações sobre bem-estar sexual que merecem alguma atenção. Aqui vai uma pequena nomeação de factos no feminino, para a mulher emancipada e para o homem que a acompanha. Menstruação Dizem os estudos, e até a cultura popular, que os homens não têm grande interesse em envolver-se no acto sexual quando o ‘Benfica joga em casa’. Não há grande mistério nisso. O que os estudos também mostram é que as mulheres estão muito mais propensas a atingir o orgasmo em dias mais sangrentos. Para além de que, para curar dores menstruais incomodativas, não há eficácia que iguale os orgasmos, uma forma não-medicamentosa para ajudar ao bem-estar. Ademais, e tentando não ser muito gráfica, este é um período especialmente lubrificado. Mas, é claro, percebe-se a aversão. O cenário pós-sexo em menstruação mais facilmente se assemelhará a um cenário de chacina. Recomenda-se o evitamento de lençóis brancos e talvez vislumbrar a possibilidade de gozar o tempo em conjunto na banheira, com superfícies muito mais fáceis de serem limpas. Compreendo que pondo assim as coisas, o sentimento gore e sangrento continue a ser impossibilitador. Contudo, a menstruação é normalíssima. Vivam com isso, os dois. Vibradores Os vibradores foram criados como terapêutica para a histeria. Para quem não sabe, a histeria caracterizava-se como uma popular condição psicológica exclusivamente feminina durante o séc. XIX, de sintomas somáticos fortes. A razão seria uma má resolução sexual e por isso teria que ser compensada com artefactos. Actualmente, vibrador é o brinquedo sexual por excelência e o bestseller de qualquer sex shop pelo mundo. Os inquéritos sugerem que as mulheres começam a considerá-lo como um objecto doméstico essencial, para as solteiras e as casadas. O aspecto ‘sketchy’ das sex shops é que ainda impedem uma frequência mais normalizada. Espera-se que sempre que mulheres (ou casais) comecem a exigir um serviço de vibradores especializado e de qualidade, o estigma associado a usuários de lojas de sexo decairá. Quanto mais comum, mais normal se tornará. Porque as possibilidades para um vibrador na vida amorosa do casal são quantas as que queremos ter. Duas palavras em interrogação: Penetração dupla? A careca lá em baixo Os pêlos púbicos são agora, mais do que nunca, alvo de grande desdém. O que começou por uma prática feminina espalhou-se para uma prática masculina também. Em certos círculos sociais, quanto menos peludos na zona genital, melhor. A preferência começa a ser cada vez melhor disseminada graças à pornografia e à disponibilidade de casas de depilação que prometem um serviço pêlos free. Há quem se sinta mais limpa(o) ou higiénica(o) com os seus genitais descobertos do arbusto que a puberdade fez crescer. Mas qualquer que seja a preferência é sempre bom insistir que os incomodativos pêlos existem como uma barreira protectora de infecções e inflamações, e que por isso a sua ausência expõe alguma vulnerabilidade. Agora que os cavalheiros ficam contentes com uma careca quando o trabalho é oral, isso, sem dúvida. Diz-se muito mais confortável. Clitóris Essa discreta pontinha alimentada por sensivelmente 8000 nervos é causadora de muito prazer e não pára de crescer. Sim, quando se chega aos 80 anos o nosso tão especial orgão sexual estará 2.5 vezes maior do que na purbedade. Diferenças pouco visíveis mas que poderão justificar o sexo fantástico das senhoras octogenárias. Não esquecer que é o único órgão no corpo da mulher dedicado exclusivamente ao prazer e ao orgasmo (o ponto G é um candidato ao mito urbano) e por isso há que tratá-lo bem, e o parceiro que se encarregue dos cuidados também. Para a semana há mais.
Boi Luxo h | Artes, Letras e IdeiasDreams Visions Madness [dropcap style=’circle’]S[/dropcap]e o cinema fosse mais Maddin andávamos todos bem regalados e com uma vida prenhe de cores misteriosas. Prenhe é uma boa palavra porque carrega um sentido viscoso e cheio e os filmes de Maddin também. O primeiro filme que dele vi, My Winnipeg, 2007, passou num ciclo do Centro Cultural de Macau como sendo um documentário. Não sei se é. Um crítico do The Guardian, estupidamente, afirma que, lembrando um pun de Eliot que transmite que um livro como Finnegans Wake é suficiente, um filme como The Forbiddem Room chega, quando, na verdade, muitos filmes deveriam ser assim. Há poucas décadas, tomar um banho era um ritual semanal, o banho de sábado, o Grande Banho da Semana. Hoje em dia, inutilmente, toma-se banho todos os dias. Assim como os banhos, também os filmes se tornaram banais. How do I know this? People have told me, that’s how. Depois de se ver The Forbidden Room (de 2015, co-autorizado por Evan Johnson) nada parece improvável e temos de aceitar o que nos é dito. Como pode um capitão de um pequeno submarino desaparecer e, ao invés, ser substituído por um homem da floresta que subitamente aparece aos 4 marinheiros que a pequena cápsula náutica alberga? É difícil de acreditar mas está lá, bem patente, em cores antigas, para todos verem. Nem tudo se passa no interior do submarino. Intercala-se esta história com uma de lenhadores que se prestam a salvar uma mulher bonita do encarceramento a que a obrigaram os homens do grupo dos Lobos Vermelhos. Os filmes de Guy estão cheias de mulheres bonitas. As provas de admissão ao primitivo grupo são terríveis e incluem Bater numa Bexiga ou Empilhar Vísceras. Nem todos são admitidos. Outras sub-tramas preenchem o filme, episódios de amor; bastante sexo e um louco que escapa de um comboio que faz a ligação entre Berlim e Bogotá; uma história faustiana; numa lógica de histórias dentro de histórias, ao contrário de, por exemplo, Brand Upon the Brain!, 2006, que segue apenas uma trama autobiográfica (ver o doc. 97 Percent True). Não tendo visto Keyhole, de 2012, não sei bem que tipo de evolução poderá ter-se dado, para lá da escolha de um conjunto de episódios pouco relacionados uns com os outros. As histórias de The Forbidden Room aparecem envoltas num aspecto de filme mudo de cores saturadas, muitos truques e uma música sedutora, um aspecto dos seus filmes que não é secundário, a par do resto do tratamento do som, mas que Maddin molda de um modo muito subtil, por vezes quase inaudível (ver o curta metragem de Maddin Footsteps). Brand Upon the Brain!, que foi praticamente todo filmado com câmaras de Super 8 e se passa todo ele numa ilha que alberga um orfanato, mantém sempre uma intoxicante estética do mudo, com o uso frequente de intertítulos e de imagens coadas por um filtro redondo. Não é difícil de perceber que a estética do cinema mudo – uma época de liberdade, experimentação e surpresa – sirva, com a sua dimensão obsessiva e onírica, de subtexto a muitos filmes contemporâneos. Difícil de perceber é que alguém diga que não são precisos mais filmes destes, excessivos e belos. A propósito de The Forbidden Room recordo um autor que utiliza material já filmado para compor as suas peças, Peter Tscherkassky. Ambos exibem um trabalho aturado e saturado de manipulação de imagens. Outer Space, 1999, (9:58min.), é o melhor filme de terror/ficção científica que há, uma espécie de Benilde ou a Virgem Mãe com apenas uns minutos – a ameaça do que vem do espaço. No seu repetitivismo martelado e cubista espelha filmes normais que nos lembram que, quando menos esperamos, a nossa vida banal pode sofrer uma súbita transformação. Outer Space, assim como outros filmes seus, utiliza imagens do filme de 1981, The Entity, de Sidney J. Furie, em que uma mulher é violada por uma força misteriosa. Diferentemente do cinema estrutural de, a exemplo austríaco, Kurt Kren, os filmes de Tscherkassky mantém uma linha narrativa suficiente ao seguimento de uma pequena trama. Os seus filmes são muito curtos mas levam anos a fazer (não são muitos) porque são minuciosamente trabalhados, fotograma a fotograma, um labor de amor e de paciência. Há outros autores austríacos que usam footage de outros filmes, como Martin Arnold*. Estes não são os únicos austríacos vanguardistas. O cinema austríaco, não sendo um cinema poderoso, tem um conjunto firme de cineastas de vanguarda. A Tscherkassky juntam-se Peter Kubelka, Kurt Kren, Valie Export, Lisl Ponger (autora do delicioso Passagen) ou Martin Arnold, para além de autores mais recentes**. Dream Work, 2002, (11min.), tem semelhanças com a sua fantasia científica, um desconforto doméstico desta feita onírico (o de Outer Space é real) repetitivo e noisy, próprio ao prolongamento da agonia e do mistério, oferecido em apreciação à arte cinematográfica de Man Ray. Usa metragem do filme de S.J.Furie acima referido. Instructions for a Light and Sound Machine, 2005, (16:21min.), é um western. Mostra-nos minuciosamente o que se passa no íntimo deste género, de uma maneira que num western clássico não vemos, a minúcia do tiro e o momento entre a vida e a morte. De certo modo, o cinema é sempre a visão de um comboio a chegar a uma estação ou de um grupo de operários a sair de uma fábrica. Esta curta usa fita de The Good, the Bad and the Ugly, 1966, de Sergio Leone. Manufraktur, 1985, (2:54min.), é um outro filme fracturado ou fragmentário, com carros e textos publicitários. Porsches, um Peugeot 404, um Lancia Fulvia e acho que um Ford GT. Gosto muito, é muito ruidoso e quase irritante. Espero com indisfarçada ansiedade uma fantasia sexual, The Exquisite Corpus, último filme de Tscherkassky, estreado no passado Festival de Cannes. * ver A.L.Rees, A History of Experimental Film and Video. ** Tscherkassky é responsável por um livro, publicado em 2012, sobre esta matéria: Film Unframed: A History of Austrian Avant-Garde Cinema, e é o fundador da sixpackfilm, uma organização destinada à promoção da experimentalia austríaca (co-editora do livro acima referido). Existe também uma editora de DVD chamada Index cujo intento reside na divulgação de filmes e vídeos experimentais austríacos.
Filipa Araújo BrevesConselho dos Consumidores alerta para carne com antibióticos Celebra-se hoje o Dia Mundial do Consumidor e o tema escolhido para a edição deste ano é “Antibióticos Fora do Menu”, conforme explica o Conselho de Consumidores (CC). Numa campanha mundial, lançada pelo Conselho Internacional de Consumidores, da qual faz parte o grupo de Macau, o CC apela a que todos os sectores de restauração parem de servir e vender carnes de animais com antibióticos. “A questão da resistência dos micróbios aos antibióticos tem vindo a amplificar cada vez mais, pelo que a Organização Mundial de Saúde (OMS) indicou que se não for adoptada uma acção urgente, o ser humano poderá entrar numa era de pós-antibióticos, onde infecções comuns e pequenas lesões que têm cura há dezenas de anos podem voltar a ser letais”, defendeu o CC em comunicado à imprensa. Actualmente, metade dos antibióticos produzidos mundialmente são utilizados na indústria agrícola, sobretudo na promoção do crescimento e prevenção de doenças de animais domésticos, e não para a cura de doenças. Até 2030 espera-se que o uso de antibióticos na indústria agrícola aumente dois terços, de 63 mil toneladas para 105 mil toneladas. O CC explica ainda que vai entrar em cooperação com o Centro de Segurança Alimentar do Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais (IACM) a fim de organizar a realização de palestras de sensibilização sobre as legislações relativas a resíduos de medicamentos veterinários e à segurança alimentar, divulgando ainda a lista de substâncias proibidas para o uso junto das “lojas certificadas” de restauração.
Flora Fong EventosXi Wa, poeta e autora de “After Heaven is Shangai” Xi Wa nasceu no Tibete e agora reside em Pequim. Chegou a Macau para mostrar não só os seus poemas, mas também os seus sentimentos. A escritora admite a solidão, mas acredita que cada um tem um destino diferente. Actualmente, confessa, há muitos chineses que se estão a dedicar pura e simplesmente à poesia [dropcap]É[/dropcap] a sua primeira vez em Macau? Que impressões sobre esta cidade? Sim, é a primeira vez. Gosto muito deste sítio, visitei o Cotai e percebi porque é que as pessoas do interior da China gostam desta cidade. O modelo de consumo é diferente, já não se importam tanto com dinheiro, mas apreciam o ambiente confortável e a sua beleza. Depois visitei também o Museu de Macau, que é bastante rico. Pareceu-me que os trabalhadores protegem bem os pormenores do museu, com um espírito profissional. Macau traz-me uma impressão muito boa, é pequeno mas é moderno e tranquilo, pode-se observar a civilização, a raiz da cultura e a história de Macau através de pequenos detalhes à vista de todos. No domingo passado, fez uma leitura de poemas no edifício do Antigo Tribunal. Quais os poemas que escolheu para a audiência de Macau? E as suas mensagens? Li dois poemas meus, chamados Shi Tang e Sonambulismo. Quando os escolhi, não pensei em trazer quaisquer sentimentos especiais a Macau. Na verdade, não sou boa a ler poemas e estes dois são os que domino melhor. E também os que gosto mais. Já teve tempo para apreciar o ambiente literário de Macau? Até agora ainda não contactei com muitos escritores do Rota das Letras. Mas gosto e respeito muito o poeta Yao Feng (Yao Jingmin), que é muito famoso. Escreve muitos poemas clássicos, explora muito a poesia. Parece-me que é muito considerável e elegante, causa-me muito boa impressão. O que já aprendeu com ele? Leio sempre os poemas dele, mas penso que não consigo aprender a escrever como ele. É único e respeito-o muito. Como é que cria as suas obras no dia-a-dia? Consigo ser séria no meu trabalho, mas também sou séria na minha vida, concentro-me e dedico-me completamente a cada assunto que tenho pontualmente. Durante o processo de escrita, escrevo os meus sentimentos, desde as sensações físicas até às mentais. Digo a verdade, com seriedade. Amores, dores… transfiro todos os sentimentos para a poesia. Portanto, escreve o que sente? Cada poeta escreve de forma diferente. Não sou uma pessoa que nunca pára de escrever. Mesmo que sinta algo que me impressiona muito, não escrevo logo, mas guardo no meu coração e relembro muitas vezes até ao momento indispensável, em que a minha mente está cheia, e escrevo. Mas esses sentimentos têm de passar sempre pelo filtro do meu espírito e coração, porque se eles desaparecerem alguns dias depois de terem aparecido não acho que valha a pena escrevê-los. O que conta, o que me importa, é o tempo que ficam guardados em mim, no meu coração. É escritora a full-time? Trabalho também para uma revista e sou organizadora de eventos de pinturas tradicionais chinesas, escrevo também comentários sobre as pinturas. Um dos pintores convidados para o Rota das Letras, Ouyang Shijian, foi sugerido por mim. É muito jovem e pouco conhecido na China continental e o facto de conseguir ter a oportunidade de mostrar as suas obras em Macau faz-me sentir muito comovida. Como avalia o actual ambiente da escrita na China continental? Sou uma pessoa que não contacta muito com o exterior, mantenho uma distância com outros poetas. Sou uma pessoa que vive com a solidão e acho que não tenho capacidade para comentar [a vida dos outros]. Ou comento, mas não mudo. Faço o que faço, digo a verdade e o que posso estar a sentir, mas também comento o que considero que pode melhorar. Apesar de ser uma pessoa fechada, sei que existe no interior da China um bom número de pessoas que luta pelos seus poemas, que não fazem outras coisas excepto escrever poesia, com muita insistência e exigindo muito deles próprios. Mas acha que as novas gerações lêem muito a literatura do seu país? Nem todos os jovens lêem. Apenas uma pequena parte que tenha gosto, sensibilidade ou talento para a língua [chinesa]. O facto é que muitos jovens não se interessam por poemas e também não é preciso obrigá-los a interessarem-se, porque eu acredito muito no destino: cada um tem o seu gosto e talento para desenvolver: ou filmes, ou pinturas, ou tecnologia. A Xi Wa começou a escrever desde a infância? Eu gosto de poesia desde a infância, mas comecei por escrever romances quando tinha 20 e tal anos. Vários anos depois, pensei ser poeta porque senti que o meu interesse essencial era a poesia. Comecei a vida de poeta desde 2006 e até agora. Já está a preparar novas obras? Neste momento não, porque a criação surge subitamente. Não planeio trabalhos fixos para mim. Mas onde vivo, o que experimento, o que compreendo é sobre o que escrevo. Penso que, quanto mais experiência tenho, mais consigo expressar os poemas que sinto estarem mais ligados ao meu coração e sinto que estou mais sincera [a escrever].
Hoje Macau Eventos MancheteCristina Branco, fadista : “O Fado só pode ser cantado na Língua Portuguesa” Esteve em Macau para um concerto onde mostrou o Fado bem português, ao lado de Mário Laginha. Convidada do Rota das Letras, Cristina Branco fala do percurso marcante da literatura na sua vida, de ser mulher e do sentimento único de ser fadista De estudante de Comunicação Social à música e, mais concretamente, ao Fado. Como é que este caminho aconteceu? Foi tudo muito rápido. De facto, era estudante de Comunicação Social e em determinado momento comecei a interessar-me pelo Fado. Pela música já era muito interessada, já ouvia imenso Zeca Afonso, Chico Buarque, os brasileiros… muito jazz, muito blues. Gostava muito de cantar, mas para mim, claro. Estava tudo lá, apesar de nunca ter imaginado ser cantora na minha vida. A determinada altura surge um convite para ir ouvir uma noite de fados, fui porque na altura estava a descobrir, não o Fado, mas a voz da Amália Rodrigues, porque o meu avô me tinha dado um disco [dela] pelo qual me apaixonei. E fui pela curiosidade de ouvir o som das guitarras ao vivo. Alguém perguntou se podia cantar. Eu cantei e fiquei completamente rendida àquela magia. De facto, sempre que o fado acontece e há aquela empatia com o público, há qualquer coisa ali. Ainda no outro dia, alguém em França me disse isso: há um misticismo que se passa naquela relação dos instrumentos com a voz, da voz com o público, há uma empatia muito grande. Há coisas que não se explicam e foi assim que comecei. Na verdade, todo o meu trabalho de fim de curso foi sempre à volta da música, com o ritmo, com a interpretação… Está aqui no âmbito do Rota das Letras, mas também na sua carreira a literatura está muito presente. Sempre gostei muito de literatura, gosto muito de literatura portuguesa, gosto muito escrever e acima de tudo gosto da Língua Portuguesa. Tenho a certeza de que de cada vez que se pega num poema em Língua Portuguesa, um poema de um autor que seja menos conhecido, só pelo facto de ser cantado passa para um público muito mais vasto. Pessoas que se calhar não conhecem determinado autor passam a conhecer, pelo simples facto de alguém o cantar. Porque a música é mais imediata, porque há pessoas que não lêem mas ouvem música. Há uma série de condicionantes para que isso aconteça, portanto a literatura entra por aí e por um gosto especial. Na minha casa sempre houve muitos livros, portanto também faz parte da minha educação. Criou personagens para o álbum “Alegria”. Como é que surgiu esta ideia, normalmente também tão associada à literatura? A intenção não era que fosse um disco exclusivamente virado para a literatura mas no fundo são todos um bocadinho, porque vou sempre pedir [letras] a autores. Os meus discos têm uma vertente muito literária porque eu peço-as a muitos escritores portugueses. No caso do “Alegria” foi talvez mais específico, porque é uma leitura feita por mim antes dos autores. Construi as personagens, fui eu que lhes fiz o BI, disse o que é que elas faziam, como é que se chamavam, de onde vinham e para onde iam, quais eram os sonhos e as angústias e depois dei cada uma aos seus autores e pedi-lhes que escrevessem um poema à volta daquela pessoa. No fundo era criar quase um livro sonoro. A sua carreira é recheada de colaborações. Como é que funciona este processo? É por empatia acho. E isso acontece quando se gosta muito de determinado autor. As coisas têm que acontecer de forma espontânea e, no caso do Mário [Laginha], uma vez que vamos estar com ele, também foi assim. Trabalhamos na mesma companhia, com a mesma gente, e as coisas acabaram por acontecer naturalmente. A primeira vez que o Mário colaborou comigo foi com “Margarida” que o Camané também gravou e cantou. Na verdade o tema foi feito para o Camané, mas fui eu a primeira pessoa que o gravou. Perguntei se o Mário gostava de fazer uma música para mim e ele disse ‘olha porque é que não tentas o ‘Margarida’?’ Por acaso, não tenho certeza se foi assim que começou, mas depois fomos fazendo mais coisas. O Mário entra nos meus discos com várias composições. Acontece sempre por acaso, não é uma coisa premeditada. Não acredito na premeditação. O Fado só pode ser cantado na Língua Portuguesa? O Fado só pode ser cantado na Língua Portuguesa porque é Português. Só se canta em Português porque é uma língua que surge naquele país e é a música certa para se cantar naquela língua. Ao cantarmos noutra língua estaremos a descaracterizar aquilo que é o Fado e, se é suposto termos algo que é nosso, o Fado será certamente uma dessas coisas. Não é que não haja uma tentativa de apropriação, antes pelo contrário, até acho que é um privilégio ver que pessoas de outras culturas cantam o Fado. Mas tenho a certeza que essas pessoas vão cantar o Fado na Língua Portuguesa e não nas suas. Porque isso não seria Fado. Não que também não cante noutras línguas, ou o faça com a guitarra portuguesa, mas interpretar uma música noutra língua com guitarra portuguesa é uma música noutra língua interpretada com guitarra portuguesa. Fado, Fado é em Português. A Cristina tem uma carreira internacional. Como é que acha que os ouvintes que não entendem a Língua Portuguesa percepcionam o fado? As pessoas não percebem Português e acontecem várias coisas nesse processo. Existem pessoas que desconhecem a Língua Portuguesa e de repente se apaixonam e querem saber mais só porque ouviram Fado, outras já conhecem a língua e descobrem o Fado pelo gosto que têm pela língua. Existem várias formas de chegar a uma convergência, que é o Fado. Cantar no Oriente é muito diferente do Ocidente? Cantar não, porque estamos a fazer o que sabemos fazer. Mas é diferente. Aqui há uma delicadeza qualquer que não se explica, é tudo muito diferente. Repare neste facto: temos que enviar rigorosamente o nosso repertório para que seja traduzido ao mínimo detalhe, o que impossibilita que possamos fazer alterações ao programa. Isso condiciona tudo, muda tudo. E depois a forma como as pessoas ouvem e o respeito imenso por aquilo que estamos a fazer. Ao deixar cair a última nota, às vezes não sabem muito bem como é que é, onde reagir, como é que fazemos. Batemos palmas agora, ou batemos palmas depois? Nota-se uma certa tensão que é positiva. Acho que há um carinho especial neste género de público quando ouve a nossa música. Vem aí um novo álbum, “Menina”. Qual a expectativa? Acho que é grande. Acho que o último disco é sempre o mais maduro, pelo menos do meu ponto de vista. Não consigo fazer um disco sem que tenha algo para dizer. Nunca aparece um disco que seja só uma imposição editorial. É mesmo porque tem que ser e, normalmente, são discos que marcam períodos importantes da minha vida. A minha história. O “Menina” é um disco que fala de mulheres. O disco fala de uma mulher que ao chegar a determinada idade, e de ter passado por vários estágios na sua vida, consegue concluir que está de bem com o que aconteceu. “Menina” é também “meninas”, “menina” é várias mulheres também em Português, é a “menina” solteira, é a “menina” prostituta. Na verdade, chamamos a tudo “menina”. Este disco pode ser um auto-retrato, portanto. Acho que é uma homenagem à condição feminina, sendo eu profundamente feminista. Feminista, mulher, mãe, cantora. Como é a gestão desta vida de mulher? É muita coisa. O meu marido costuma dizer que eu consigo abrir e fechar janelas com muita facilidade. A verdade é que quando entro em casa, entro em modo mãe, só e exclusivamente mãe. Não só por mim, mas também por imposição dos meus filhos. Não há cantora, não há artista. Tenho que ser exclusivamente aquilo que eles querem e gosto de o ser. Não gosto de misturar as tintas, mas na verdade, umas coisas entram nas outras necessariamente. A minha atitude enquanto cantora muda a partir do momento em que sou mãe. As coisas acabam por se misturar, é inevitável. Neste estar em Macau, sente alguma identificação? Há sempre qualquer coisa, porque a partir do momento em que vamos andando pela rua e há palavras que surgem em Português, há qualquer coisa que desperta de repente e pensamos: como é que é possível? A dada altura da história de um país, termos entrado em meia dúzia de cascas de noz e chegado a sítios tão longe… isso impressiona nesse sentido. Depois acho que somos sobejamente diferentes para percebermos que estamos a fazer com que haja uma afirmação da Língua Portuguesa e da cultura portuguesa num território que já se afastou de nós. E afastou-se tanto que a língua já só reside apenas em monumentos. O que acho que talvez seja menos correcto é que a língua não seja mais falada, não se ouça mais pela rua, ou que não existam mais referências à Língua Portuguesa. Passou também a ser um monumento.
Joana Freitas BrevesAlterações a projecto de Toi San custam quase nove milhões A JPC Consultadoria de Arquitectura Limitada tem nas mãos a alteração do projecto de habitação pública de Toi San. O serviço – que surge depois de as obras terem sido paradas – custará ao Governo 8,89 milhões de patacas, que serão pagos até 2019. A habitação pública da Rua Central de Toi San deveria estar concluída em 2013, mas o projecto original incluía três andares subterrâneos, algo que não deverá acontecer devido ao impacto nos edifícios antigos vizinhos.
Filipa Araújo BrevesNovo portal de informações sobre renovação urbana Raimundo do Rosário, Secretário para os Transportes e Obras Públicas, informou, na passada sexta-feira, que será criado um portal para o Conselho para a Renovação Urbana, que pretende permitir aos cidadãos terem mais conhecimento sobre o trabalho deste grupo. A apostar na “transparência”, Raimundo do Rosário quer que seja criado este portal para que, “de modo rápido e fácil”, a população consiga aceder às informações dos trabalhos do Conselho, que levantou ondas na sociedade por incluir membros do sector da construção e por ter vindo substituir o anterior grupo responsável pelo reordenamento antigo. Raimundo do Rosário frisa ainda que o grupo é constituído por 29 membros, “dos quais 21 são provenientes de diferentes associações cívicas, nomeadamente do sector de construção, imobiliário, obras, bancário, advocacia, turístico, entre outros”. Na primeira reunião, que aconteceu na passada semana, o tema principal foi o próprio regulamento interno do Conselho e os futuros trabalhos. Raimundo do Rosário informou que em breve será realizada a próxima reunião.
Tomás Chio BrevesHo Iat Seng | Tudo pela diversificação O presidente da Assembleia Legislativa, Ho Iat Seng, afirmou, durante a sua visita a Pequim, que Macau não deve estar preocupado com o desenvolvimento, ou a influência das medidas anti-corrupção na economia de Macau, porque o mais importante é a diversificação. O também membro permanente da Assembleia Popular Nacional (APN), explicava, aos jornalistas, que muitos funcionários públicos do interior da China jogavam nos casinos em Macau e com isso trouxeram problemas, “algo que está a mudar” devido às acções de anti-corrupção levadas a cabo pelo Governo Central. Estas acções “trouxeram uma influência negativa a Macau”, mas é algo que pode não ter tanto peso quanto se pensa. Ho Iat Seng acredita que o que é importante é a diversificação e não o desenvolvimento económico.
Joana Freitas BrevesDez parques de estacionamento mais caros A partir de Maio, uma dezena de parques de estacionamento vão ficar mais caros, especialmente na zona norte e na Taipa. Os lugares para automóveis ligeiros vão custar seis patacas por cada hora durante o período diurno e metade por cada hora durante o período nocturno. Já os destinados a motociclos e ciclomotores custarão duas patacas de dia e uma pataca à noite. Ao mesmo tempo, deixam de existir passes mensais nestes dez parques, que são os Auto-Silos da Rua da Tranquilidade, do Edifício Mong In, do Edifício Mong Sin, do Lido, do Edifício da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego, do Edifício Fai Fu, do Edifício Cheng Chong, do Edificio Cheng Choi, do Edificio Cheng Chun e do Parque Central da Taipa. Uma nota do Governo justifica o aumento dos preços com o facto destes não serem “actualizados desde há muitos anos” e estarem “desfasados do desenvolvimento do mercado”. A subida pretende, ainda, aumentar a rotatividade na ocupação dos lugares de estacionamento nas horas de ponta.
Tomás Chio BrevesMacau Story House fecha por fim de contrato de arrendamento A Macau Story House fechou, ou está suspensa, até a Associação de História Oral de Macau, grupo responsável pelo espaço, encontrar um novo local. O contrato de arrendamento foi terminado e, sem renovação, o espaço teve de fechar portas. “Espero que encontremos outro sítio para poder continuar. Acho que o Governo deve investir mais nos seus recursos, como por exemplo utilizar prédios antigos que reúnam as condições para uso. É preciso investir na cultura e fortalecer o poder cultural na sociedade”, afirmou Lam Fat Iam, presidente da Associação, ao jornal Ou Mun. A funcionar desde 2012, Lam Fat Iam lamenta o fecho do espaço que é um “plataforma cheia de cultura, com espaço para leitura”. Com apoio do Governo, o presidente explica que só falta arranjar um local, pois dinheiro para as rendas “não é problema”.
Joana Freitas Manchete PolíticaEleições Filipinas | Candidata a presidência acusada de receber dinheiro de Macau [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]candidata à presidência filipina Grace Poe está a ser acusada de ter recebido dinheiro da Suncity Group, grupo junket de Macau que também opera no país. Poe, que concorre nas eleições de forma independente, nega e diz que é falso. “Primeiro, isso não é, de todo, verdade”, disse Grace Poe aos média filipinos, acrescentando que foi a oposição quem lançou o documento como tentativa de arremesso de “propaganda negra” contra si, devido à corrida à presidência das Filipinas. Uma notícia avançada pelo jornal filipino Daily Tribune ontem dava conta que Grace Poe teria aceite 150 milhões de pesos filipinos – aproximadamente 25,8 milhões de patacas – do grupo Sun City de Macau, liderado por Alvin Chau. O jornal cita documentos – que publica junto à notícia – e que mostram que Poe terá aceite “150 milhões de pesos em doações com fins políticos da Sun City”, no ano passado. “Um dos vouchers, de 50 milhões de pesos, tem a assinatura de Grace Poe”, assegura ainda o Daily Tribune, que diz que “duas leis” podem ter sido violadas. Dejá vu O jornal assegura que esta não é a primeira vez que Grace Poe é posta em xeque face a contribuições para a sua campanha: “está já a ser criticada por ter utilizado helicópteros em campanha, que admitiu terem sido emprestados” por duas empresas. Poe assegura saber que aceitar este tipo de contribuições “é contra a lei filipina” e nega que a assinatura nos documentos seja, de facto, a sua. “Porque é que eu haveria de fazer isso? É fácil encontrar documentos que provem que não é verdade e desafio-os a fazerem-no”, disse à imprensa do país. A Suncity, recorde-se, está a estender a sua base de operações para as Filipinas, depois de as receitas do sector VIP em Macau terem começado a baixar, especialmente no segmento VIP, controlado pela empresa. Notícias da imprensa local, datadas do ano passado, davam conta da abertura de salas VIP pela Suncity nas Filipinas, algo visto como um problema para Macau, já que a empresa poderia levar os jogadores de altas apostas para o país. Grace Poe lidera a corrida às eleições agendas para Maio, entre quatro outros concorrentes. O HM tentou obter um comentário junto da Suncity, mas não foi possível.
Hoje Macau BrevesUM | Conferência sobre tecnologia com Rui Martins Rui Martins orienta, na próxima quarta-feira, uma conferência sobre a evolução do Laboratório de Referência do Estado de Sinais Análogos e Mistos VLSI da Universidade de Macau (UM). Na conferência, o professor irá abordar a história do laboratório desde a sua criação há 20 anos, até aos dias de hoje, onde se assume como um dos principais laboratórios da especialidade na China. Em discussão, também a sua afirmação no mundo competitivo da electrónica de ponta. Os Laboratórios de Referência do Estado são uma iniciativa do Governo Chinês que surgiu durante o período da política de abertura do início dos anos 80. Estabelecidos em 1984, estes laboratórios têm como premissa permitirem aos cientistas e académicos mais reputados do país conduzirem investigações nas mais diversas áreas para apoiarem o desenvolvimento tecnológico e económico do pais. Rui Martins é vice-reitor da UM e ganhou reconhecimento internacional por via das suas conquistas ao longo dos anos na área da microelectrónica, tendo chegado à instituição em 1992. Recentemente, foi eleito por unanimidade como Membro Correspondente da Academia Portuguesa de Ciências. A conferência acontece amanhã, pelas 17h00 no Edifício de Investigação da UM. As entradas serão gratuitas mas requerem inscrição prévia no site da instituição.
Hoje Macau BrevesPortugal | Casa de Macau celebra 50 anos e pede testemunhos A Casa de Macau em Portugal festeja 50 anos e, para comemorar a efeméride, vai lançar um livro que relata os principais acontecimentos desde a sua fundação em 1966. Por isso, se souber de histórias que se enquadrem neste percurso de meio centenário da Casa, ou se tiver fotografias é convidado a enviar-lhes o seu testemunho. Para efeito, pode mandar um texto até 500 palavras e ainda juntar fotos ou outros documentos que entender relevantes para a história da CMP.
Joana Freitas BrevesDoze detidos por tentativa de entrada ilegal As autoridades detiveram 12 pessoas que ontem tentaram entrar ilegalmente em Macau. De acordo com a rádio Macau, seis têm passaporte vietnamita e os restantes são cidadãos da China. Os vietnamitas foram capturados por volta da uma da madrugada, quando procuravam a nado chegar a terra, perto do Jockey Club. Cerca de duas horas mais tarde, as autoridades capturaram em Coloane um barco suspeito, com seis homens da China. A rádio avança que um desses homens será o cabecilha de uma rede de transporte ilegal de imigrantes da China para Macau e, por isso, foi entregue ao Ministério Público para ser deduzida acusação. Os outros 11 imigrantes ilegais, com idades compreendidas entre os 19 e 49 anos, continuam detidos. De acordo com os Serviços de Alfândega, os homens afirmaram que vinham com o objectivo de encontrar trabalho e para fins de entretenimento. Em 2015, registaram-se 3140 casos de entrada ilegal no território.
Filipa Araújo PolíticaATFPM | Pereira Coutinho mais quatro anos na presidência Pereira Coutinho e Rita Santos vão continuar a ser as caras da ATFPM, pelo menos até 2020. As eleições decorreram no sábado passado e a lista única conseguiu atingir 99,5% do total dos votos. A Associação quer organizar mais actividades – desportivas, sociais e culturais – mas também diz estar a preparar jovens para assumir os comandos [dropcap style=’circle’]J[/dropcap]osé Pereira Coutinho mantém-se, por mais quatro anos, na presidência da Associação de Trabalhadores de Função Pública (ATFPM). Em lista única, o actual presidente candidatou-se a mais um mandato, tendo atingido 4238 votos dos 4260 totais – 99,5%. Feitas as contas, no sábado passado, votaram mais 599 pessoas do que nas últimas eleições, em 2013, ou seja, um aumento de 17% de votantes. Do total, registaram-se 19 votos brancos e três nulos. A lista eleita leva uma equipa bem conhecida da Associação, com Rita Santos como braço direito do presidente, ocupando o cargo de Presidente da Mesa da Assembleia Geral. Maria Leong Madalena ocupa o lugar de Presidente do Conselho Fiscal e como Vice-Presidentes da Direcção estão Ché Sai Wang, Leong Veng Chai, Arnaldo Gomes Martins e Armando de Jesus. “Continuar a levar adiante o espírito dos funcionários públicos, estabilizar os trabalhadores da Função Pública, tornar-se uma ponte de ligação com o Governo e promover os funcionários públicos para fornecer um melhor serviço do Governo” são as principais metas de trabalho, conforme indica um comunicado da Associação à imprensa. O grupo indica ainda que é preciso alertar todos “os anos o Governo para proceder à actualização salarial de acordo com a inflação, carestia, custo de vida e que normalmente afecta principalmente o pessoal da linha de frente de baixos rendimentos”. Jovens na mira Uma postura “independente, abrangente e solidária no apoio aos trabalhadores, idosos, desprotegidos, injustiçados” é o lema que Pereira Coutinho garante manter. “Serão desenvolvidas mais actividades de melhor qualidade aos seus associados”, aponta a ATFPM, exemplificando com a organização de “actividades desportivas, culturais, bem como a realização de seminários destinados aos associados e familiares para aumentar os conhecimentos e reforçar o intercâmbio entre associados, familiares e as diferentes comunidades de Macau”. Ainda assim, o presidente da Associação garante que não vai estar sempre apto a ficar nos comandos. Em declarações à rádio Macau, o dirigente assegurou que estão a ser preparados jovens. “Esperamos que, até 2019, apareçam pessoas que possam dar seguimento [ao trabalho]. A estrutura base de toda a nossa intervenção política, quer no Conselho das Comunidades Portuguesas, quer na Assembleia Legislativa, passa pela ATFPM. Temos de ter pessoas”, refere Pereira Coutinho, que ocupa o cargo há 15 anos, em declarações ao Canal Macau.
Andreia Sofia Silva PolíticaJogo | Power of the Macao Gaming reuniu com Lionel Leong A associação Power of the Macao Gaming, à qual está ligada o deputado José Pereira Coutinho, pede que seja criado um sistema de reforma para os trabalhadores do Jogo e que seja reduzido o número de trabalhadores não residentes no sector [dropcap style=’circle’]J[/dropcap]osé Pereira Coutinho e Rita Santos estiveram reunidos na passada sexta-feira com o Secretário para a Economia e Finanças, Lionel Leong, para apresentarem algumas sugestões sobre o sector do Jogo, em nome da associação Power of the Macao Gaming. “Na reunião revelámos as preocupações dos trabalhadores do sector do Jogo. Referimos que, no processo de revisão intercalar do sector, é importante garantir que sejam acautelados os direitos no acesso e progressão na carreira”, referiu ao HM José Pereira Coutinho, também deputado. A Associação pede ainda que seja criado um regime de reforma próprio para os trabalhadores do Jogo. “Neste momento a média de idades dos trabalhadores é acima dos 40 anos. Nos próximos dez anos vamos ter muitas pessoas a aposentarem-se”, referiu Pereira Coutinho. Num comunicado distribuído aos jornalistas, lê-se que o Secretário para a Economia e Finanças deve “considerar [a criação] de um regime de aposentação para trabalhadores do sector do Jogo, algo que vai garantir não só a vida dos aposentados como vai levar outros sectores de Macau a estabelecer um regime. Desta forma irá aperfeiçoar-se o regime de aposentadoria para a camada social dos trabalhadores”. Contra abusos Pereira Coutinho disse ainda ao HM que é necessário “rever a Lei Laboral para que as operadoras não abusem da sua superioridade ao nível dos despedimentos sem justa causa” e também ao nível do pagamento dos subsídios, bem como apostar na regulamentação dos sindicatos. A Power of the Macao Gaming espera ainda que Lionel Leong “possa supervisionar a adequação do regime para os trabalhadores dos casinos”. “Face à queda consecutiva das receitas, esperamos que os casinos possam assumir as suas responsabilidades sociais e não devem cortar benefícios aos trabalhadores enquanto as empresas ainda lucram”, apontaram, alertando para a possibilidade de ocorrência de “situações em que os trabalhadores sejam maltratados, com o objectivo destes se demitirem, e que o sejam através de advertência indevida, sistema de classificação impróprio ou transferências inadequadas do posto de trabalho por causa da redução das receitas”. O ajustamento salarial anual dos casinos tem uma influência de longo alcance, diz ainda a Associação, que considera esta uma razão pela qual o Governo deve entender a situação do ajustamento salarial dos casinos enquanto os casinos lucram, refere ainda o mesmo comunicado. Menos quotas Relativamente ao número de trabalhadores não residentes (TNR), a Associação pediu a Lionel Leong para reduzir as quotas de importação atribuídas às operadoras. “A Associação acha que é necessário reduzir as quotas para TNR no período de ajustamento do Jogo, além de restringir a importação dos mesmos para os cargos de croupier, também é necessário implementar uma política que restrinja os mesmos de ocuparem cargos de alto nível nos casinos, com o intuito de assegurar a promoção dos trabalhadores locais e o desenvolvimento estável da economia de Macau.” Segundo Pereira Coutinho, é ainda necessário alterar a imagem do sector do Jogo, que está “degradada” devido aos casos de vencedores que não chegaram a receber o prémio das operadoras. Para além disso, diz, é preciso melhorar “a segurança interna dos casinos, pois há muitas pessoas a [furtar] fichas de jogo”. Na fase da renovação das licenças com as operadoras, Pereira Coutinho considera que o Governo deve “ter uma posição firme para garantir os direitos da RAEM”.
Tomás Chio SociedadeRádio-Táxis | David Chow confiante na liderança do concurso público [dropcap style=’circle’]V[/dropcap]avid Chow, presidente da empresa Lai Ou Serviços de Táxi, S.A., diz não estar preocupado com o facto de existir uma concorrente à obtenção de licenças para operação de rádio-táxis. A candidata ao concurso público não tinha sido aceite, mas a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego resolveu voltar atrás. Ainda assim, David Chow considera que a competição tornará as empresas mais exigentes e isso, diz, é bom para os próprios residentes. “O Governo tem a sua razão. Há falta de recursos humanos no serviço de rádio-táxis. Há pouco interesse. Mas se isto é um serviço a pedido da sociedade, e se o próprio Governo também quer, é bom que várias empresas participem no concurso público”, disse a jornal Ou Mun, frisando que competição “é sempre uma coisa boa”. “No nosso caso, ao obter a licença de táxis especiais vamos sempre cumprir o que prometemos”, frisou. O empresário mostrou não se importar com mais um concorrente na corrida à licença para os serviços, mas fez questão de frisar que o Governo deve rever o processo de recolha de candidaturas e perceber de quem é o problema quando há falhas: se dos “chefes ou dos recepcionistas”. “O Governo tem de verificar isto”, disse. Com duas candidatas na corrida, David Chow diz não querer perder dinheiro. “A nossa empresa não quer perder dinheiro, embora a licença seja um serviço público. Acho que o [Executivo] vai tomar uma decisão inteligente”, frisou. Exige-se qualidade A empresa que assumir a responsabilidade, diz, terá de melhorar a qualidade dos serviços fornecidos pelo sector dos táxis. “Esta é mais uma plataforma de transportes públicos para os residentes, os ‘táxis pretos’ [o serviço comum] terá de melhorar a sua qualidade nos serviços também”, defendeu. A decisão da DSAT surge depois de um recurso da empresa que tinha incluído um documento no sobrescrito errado ter sido excluída. O Governo considerou depois “que o documento inserido no sobrescrito errado não era causa suficiente para a exclusão da concorrente, tendo em conta os princípios que devem presidir a um concurso público”, tendo esta sido novamente aceite. A Lai Ou Serviços de Táxi, empresa de David Chow – detentor da Macau Legend – foi uma das três concorrentes às licenças, sendo que foi, na altura, a única a ser aceite. O empresário, responsável por empreendimentos como a Doca dos Pescadores, constituiu a nova empresa especificamente para este investimento, que estava já delineado. “Vamos investir 70 milhões de patacas [em infra-estruturas] e mais 30 milhões em carros. Os veículos que vamos usar vão ser de boas marcas, já temos 30 Mercedes”, disse o empresário ao canal chinês da Rádio Macau, na altura. Só “no segundo ou terceiro trimestres” é que se deverá saber a decisão do Governo.
Tomás Chio PolíticaAPN | Pedido sistema de fiscalização aos titulares dos principais cargos [dropcap style=’circle’]O[/dropcap]chefe da Comissão de Assuntos Chineses Ultramarinos da Assembleia Popular Nacional (APN), Bai Zhijian, considera que o caso de corrupção de Ho Chio Meng não está relacionado com política, sendo que é apenas um problema de mau comportamento por parte do ex-procurador do Ministério Público (MP). Ainda assim, considera uma boa opção criar um mecanismo de fiscalização aos titulares dos principais cargos. Bai Zhijian, também ex-chefe do Gabinete de Ligação do Governo Central, indicou que tomou conhecimento do caso da detenção do ex-procurador do MP através dos meios de comunicação social. Para Bai, Ho Chio Meng deve ser sujeito a uma investigação à luz da lei, mas deve também servir de exemplo. “Ho Chio Meng é o segundo principal dirigente de Macau envolvido em corrupção, depois da transferência de soberania. Isto é muito grave, a sociedade de Macau deve rever a sua lei para evitar a corrupção e especialmente o sistema de fiscalização e de denúncia [de casos]”, defendeu. Para isso é preciso, diz, criar um mecanismo de observação e fiscalização aos titulares dos principais cargos. À margem das reuniões da APN, o responsável sublinhou que o caso não é “político”, mas sim algo que aconteceu devido ao comportamento pessoal do próprio ex-procurador. Os possíveis casos de corrupção, diz ainda, não estão relacionados com questões políticas. Ainda assim, Ho Cio Meng “desiludiu” a confiança que a sociedade de Macau e o Governo Central lhe atribuíram. “O Gabinete de Ligação do Governo Central não toma as decisões finais nos departamentos governamentais do interior da China, porque cabe a estes ‘gerir a sua casa e o seu dinheiro’. Nós [Gabinete de ligação do Governo Central] podemos é dar uma ajuda na governação”, apontou, defendendo que não cabe ao Governo Central tomar conta dos dirigentes de Macau. O responsável mencionou ainda temer que “os radicalismos de Hong Kong” possam influenciar os jovens de Macau. É preciso, apontou, que o Governo da RAEM reforce a educação para os jovens.
Joana Freitas Eventos MancheteAdam Johnson, autor de “The Orphan Master’s Son” e vencedor de um Pullitzer Venceu em 2012 o Pullitzer para Ficção com uma obra sobre a Coreia do Norte. A mistura de ficção com realidade é algo a que Adam Johnson se entrega de corpo e alma, num caminho onde as emoções e o ser humano são a sua maior inspiração. Em Macau pela primeira vez para o Rota das Letras, só “viu casinos” e a Universidade de Macau, da qual “gostou muito” [dropcap style=’circle’]V[/dropcap]enceu um Pullitzer para Ficção em 2012, com o livro “Orphan Master’s Son”. Alguma vez pensou conseguir este prémio? Entre os milhares de livros publicados nos EUA, apenas um é escolhido e seríamos uns tontos em pensar ganhar algo como um Pullitzer. Escrevi este livro ao longo de muitos anos e nunca conheci ninguém que estivesse a escrever ficção sobre a Coreia do Norte… todas as pessoas com quem falava sobre o livro olhavam para mim como se fosse maluco, mas eu sentia-me profundamente apaixonado pelo livro. Contudo, só queria que fosse publicado e esperar que, talvez, as pessoas ficassem tão ‘infectadas’ e curiosas face ao livro quanto eu. Foi arriscado e difícil escrever um livro de ficção sobre a Coreia do Norte? É um lugar sobre o qual sabemos muito, mas não podemos provar nada. Mas acho que é mais desafiante para jornalistas escrever sobre a Coreia do Norte, porque eles ouvem os rumores e as histórias, mas não conseguem confirmar nada. Nada pode ser verificado, mesmo que milhares de pessoas tenham saído da Coreia do Norte. Essas pessoas contam a sua história e, como um novelista, essas histórias, esses pesadelos, esses mitos e rumores são valiosos para mim. Mas um jornalista não pode usá-los, por isso acho que, neste caso, a ficção consegue preencher um vazio que a ‘não-ficção’ não pode. Esteve no país seis dias, além de ter feito investigações aprofundadas. A realidade lá é mesmo como as pessoas descrevem? Tive lá, sim, mas numa viagem muito controlada. Estava já a meio do livro e o que queria mesmo saber eram coisas que poderia ganhar com a minha visita lá: eram as ruas pavimentadas com asfalto ou pedra? Qual era o cheiro nas ruas? Que sapatos é que as pessoas usavam? Havia cortinas nas janelas ou cortinas que isolavam as casas do mundo como eu tinha lido? Perguntei onde é que estavam as caixas de correio, as estações de bombeiros… Como é que tudo funcionava. Mas o único sítio no mundo onde não se pode falar com um norte-coreano é na Coreia do Norte – é ilegal para um cidadão falar com um estrangeiro. Então soube que só iria aprender a verdade sobre o que estava à superfície naquele lugar, o que estava à vista. Mas também houve coisas que só fiquei a saber porque fui lá. E as pessoas, vivem mesmo assustadas? Não contactam? Vestem-se todas da mesma maneira? Sim. Eles têm uma variação de uniforme, mas nada com marcas. As únicas mensagens permitidas são as mensagens políticas [do líder da Coreia do Norte], nunca seria permitido qualquer tipo de slogan numa t-shirt ou mesmo uma marca. Não pude falar com ninguém… se ao menos tivesse podido falar com uma mulher, ir a casa dela, beber chá com ela e ver como vivia, todas as minhas perguntas teriam tido resposta. Mas não foi o caso. Sou uma pessoa grande, tenho 1.90m – mas, durante todo o tempo que andei nas ruas de Pyongyang tinha ‘minders’ [pessoas a controlar] comigo e eles tinham uns pins especiais no casaco, que avisavam toda a gente que estas pessoas não eram para ser incomodadas. Descíamos a rua e as multidões dispersavam. Exactamente o oposto do que pretendia… Exacto. Americanos grandes não passam lá todos os dias… mas uma coisa que reparei é que, mesmo assim, as pessoas não pareciam olhar para mim e desviar o olhar. Elas simplesmente não olhavam. Evitavam, como se tivessem sentido a sua curiosidade, afastando-a [depois]. Apanhei alguns a olhar para o meu reflexo nos espelhos e nas janelas – estavam curiosos, mas de alguma forma digeriram a censura do Governo, acho. Mas não posso ter a certeza, porque só se sabe quando se fala com as pessoas. Começou a carreira literária com “Emporium”, uma colecção de curtas. Qual a principal diferença entre escrever histórias curtas e escrever um livro? Mistura sempre ficção com realidade nas suas obras? Não é isso que a vida é? Uma mistura de ficção e realidade? Se ao menos pudéssemos distingui-las… (risos) Na nossa vida, escolhemos sempre histórias para contar aos outros. Não organizamos a grande confusão de experiências [a que estamos sujeitos] em capítulos estruturados e moldados da nossa vida? Para responder à questão: há um certo prazer em escrever histórias curtas, porque podemos ser um ditador e controlar todos os aspectos da história, aperfeiçoar cada bocadinho como se fosse uma jóia, para conseguir o efeito que queremos. Um romance é algo desorganizado, cheio de compromissos… o enredo quer uma coisa, as personagens querem outra. [A personagem] quer continuar de uma determinada forma, depois há as emoções que tenho que dar a uma cena… De certa forma, um romance é um acto político, perante o qual temos de fazer compromissos entre todos os seus pedaços estruturais. Não há “perfeição” num romance. Deixa-o fluir, então? Sim. Mas um romance pode dar muito trabalho. As pessoas falam muito em inspiração para conseguir escrever um livro. Sendo escritor a full-time, acredita na inspiração ou tem de se obrigar a escrever? Ao longo dos anos, aprendi a confiar nas minhas obsessões e reparei que começo a ouvir uma certa música e passo a vida a ouvi-la, ou leio determinadas coisas ou vejo vídeos no YouTube e não páro, como se fosse uma loucura. Foi assim com a Coreia do Norte: tornei-me curioso e, durante um ano, só lia coisas sobre o país, lia, lia, lia. Ou vou ao eBay à noite e dou por mim a comprar imensas coisas… sei que parece tonto, mas a verdade é que, se pegar nessas coisas pelas quais sou obcecado e as puser numa narrativa, isso vai retirar de mim o que quer que seja que está a fazer-me focar nisso. Qualquer que seja a emoção conectada a essa obsessão. E, na maioria das vezes, é um mistério o que me faz ficar maluco com algo, até que o ponha numa narrativa. Não sei se alguma vez penso “oh, hoje deveria começar a escrever uma história”, acho que é mais quando fico enamorado por algo que sei que a minha mente está [focada na escrita]. Mas há diferentes escritores. Sim, acho que há. Vejo imensos escritores curiosos com um tópico que não tem nada a ver com eles próprios e que fazem muita pesquisa e martelam até ter o livro cá fora. E vejo muitos escritores que são mais pessoais e escrevem sobre emoções que conhecem e assuntos seus. Os primeiros conseguem escrever um livro por ano, porque não é sobre eles. Os outros, e estes são os que eu gosto, põem o seu coração no trabalho. Tem de se esperar até que as coisas surjam, não podemos controlar quando vem de dentro. São “vítimas” dessas emoções. Então, o Adam é um escritor pessoal? Comecei assim e estou a tentar fundir as duas formas de escrita, porque eu até gosto de fazer pesquisa. Comecei como jornalista, mas depois vi a luz (risos). Se tudo correr bem, também vai ver a luz. O jornalismo tem o seu lugar e é importante, mas o dia vai chegar… (risos) Mas o jornalismo ajudou-o a escrever sobre a realidade? Alguma vez exerceu? Não, licenciei-me em Jornalismo e escrevi para jornais, mas sabia que não era um grande jornalista. Lembro-me do meu professor de Jornalismo me dizer, às vezes, “tu inventaste esta citação não foi?”. Eu admitia que sim, mas que ninguém tinha dito a verdade e que a minha posição era dizer a verdade (risos). E isto era um debate que tínhamos ao longo dos anos: eu dizia que o meu dever era mostrar a verdade, ele dizia o meu dever era dar os factos e deixar o leitor decidir qual era a verdade. Também inventava detalhes… bem, estava já a escrever ficção. E a verdade é que nunca me importei se algo é factual ou não, desde que ressoe com a verdade da experiência humana. Para mim, algo que é verdadeiro é algo que é válido para todas as culturas, para todas as pessoas, em todas as épocas. Algo que todos nós já tenhamos experienciado. Por isso é que um poema de Li Po ou uma urna grega ainda nos emocionam. Porque eles viajaram através do tempo e dos lugares, além do que é essencial. E todos nós passamos por alguma coisa na vida. E é isso que é a literatura… esses momentos. É essa a mensagem, se é que há uma, que quer passar com os seus livros? Quer que as pessoas vejam essa humanidade? Diria que escrevo para descobrir. Nunca sei onde é que a história vai parar, ou o que vai acontecer. Há algumas coisas pelas quais são obcecado, como agora, o mais recente, é o Jiu-Jitsu brasileiro, e coloco isso na minha história, porque é algo que a minha família pratica e eu quero descobrir mais sobre isso. Mas, se souber o que a história vai ser, torna-se aborrecido. Sinto-me mais como um professor a dar uma palestra. Uma das grandes alegrias no mundo é conhecer outros seres humanos. Alguém que é um mistério e que, ao longo do tempo, faz-nos construir uma relação. A confiança ganha-se. As vulnerabilidades começam a aparecer, as pessoas começam a revelar camadas mais profundas e, aí, deparamo-nos com uma sensação de que conhecemos realmente a pessoa. E a razão por que isto acontece é porque não sabemos o que a outra pessoa está a pensar, nunca conseguimos saber o que está na cabeça de outra pessoa. E não é isso que a literatura faz? Dar-nos a perspectiva de outros? Mesmo que seja uma ilusão. Se soubermos tudo sobre o outro, não há nada para descobrir: e é isso que quero transmitir com as minhas personagens. Fiquei a saber que é obsessivo com a linguagem que utiliza nos livros e que a aperfeiçoa até estar satisfeito… Não é com a sua? Com o que se pode fazer com as palavras? Há trabalhos seus que nunca viram a luz do dia porque nunca gostou de como ficaram? Quanto tempo demora a limar essas arestas? Todos escrevem de forma diferente. A minha mulher [escritora], escreve um pouco daquele capítulo, daquela cena… eu gosto de aperfeiçoar uma frase, se ela é [oca] não gosto dela, tem que ser sólida. E isso é o que traz alegria quando lê o seu escritor favorito: conseguimos sentir quando um autor passou meia hora a aperfeiçoar uma frase, a encontrar a expressão certa para esta incerteza que é a vida. E às vezes lemos uma passagem inteira e sabemos que levou dias a ser escrita. Foi reescrita vinte, cem vezes. Essa é uma das minhas grandes alegrias ao ler: sentir que alguém exprimiu algo perfeitamente. Isso é uma das coisas que quero dar e receber. Está na China agora, esteve na Coreia do Norte… regimes fechados no que à liberdade de escrita diz respeito. Alguma vez pensou não ter a liberdade de escrever/publicar o que quisesse? Tomo a liberdade como garantida. Mesmo. Vivo num reino onde todos se expressam completamente à vontade – às vezes demasiado livremente. Tenho um compromisso com a universidade, o que significa que nada do que escrevo me pode custar o meu trabalho [lá] e já levo isso muito a sério. Mas venho aqui e leio nos jornais casos como o dos livreiros [de HK], que arriscaram a sua liberdade para vender livros para que as pessoas possam ter a oportunidade de os ler e eu não sabia disso. É lamentável. É difícil de acreditar que isso ainda exista no mundo. Ensina Escrita Criativa na Universidade de Stanford e foi considerado “o professor mais influente e imaginativo” da universidade pela revista Playboy. O que pretende ensinar aos seus estudantes, aos novos escritores? Alguém tinha de ser (risos). Evangelicamente, tendo em mente o poder da ficção sinto o dever de usar esse poder para dar significado às nossas vidas. O que é bom na escrita é que todos podem fazê-lo, todos temos essa capacidade, somos todos ‘experts’ em humanidade, de certa forma, ou pelo menos em nós próprios e não há barreiras na escrita: só precisamos da nossa criatividade, ao contrário de um filme que custa dinheiro. Claro, vai haver muitas coisas mal escritas por aí, mas todos os que entram neste reino conseguem melhorar até a sua história falar com outra pessoa. “Fortune Smiles” e “George Orwell Was a Friend Of Mine” foram as umas últimas obras, lançadas em 2015. Para quando um trabalho novo? Macau pode servir de influência? Estou a escrever um grande romance agora, não sei o que vai ser, não sei se vai falhar. É o que dá não sabermos o que estamos a fazer (risos). Seria interessante [pensar que Macau poderia inspirar-me]. O livro que estou a escrever agora veio de uma visita através de um festival literário como este [Rota das Letras] e, quando fui embora, comecei a ficar obcecado por coisas que tinha visto nessa visita e, por isso, nunca se sabe. Acho que vou primeiro ler obras de autores de Macau a falarem sobre este lugar, antes de começar a escrever algo sobre Macau.