Estudo | Nova Rota da Seda chinesa expande influência de Pequim

[dropcap style=’circle’] U [/dropcap] ma organização não-governamental afirmou ontem que o projecto chinês de infraestruturas “uma Faixa, uma Rota” visa expandir a influência política e presença militar de Pequim, apesar de a China garantir que o objectivo é a cooperação económica.

O relatório, da organização não-governamental C4ADS, com sede nos Estados Unidos, concluiu que os projectos da iniciativa chinesa “uma Faixa, uma Rota” não visam beneficiar os países receptores, como anunciado pela China, mas antes expandir a influência de Pequim além-fronteiras.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês rejeita já as conclusões do relatório e reiterou que a iniciativa visa “sobretudo a cooperação económica” e a promoção do desenvolvimento comum através de infraestruturas. “A China não está a jogar jogos de geopolítica”, sublinhou, em comunicado.

Anunciado pelo Presidente chinês, Xi Jinping, a “Faixa económica da rota da seda e a Rota da seda marítima do século XXI”, mais conhecido como “uma Faixa, uma Rota”, está avaliada em 900 mil milhões de dólares, e visa reactivar as antigas vias comerciais entre a China e a Europa através da Ásia Central, África e Sudeste Asiático.

Redes ferroviárias intercontinentais, portos, aeroportos, centrais eléctricas e zonas de comércio livre estão a ser construídos em mais de 60 países, abrangendo 65 por cento da população mundial.

“Os investimentos parecem gerar influência política, expandir dissimuladamente a presença militar da China e criar um ambiente estratégico vantajoso na região”, afirmou a C4ADS, que analisa 15 portos financiados pela China no Bangladesh, no Sri Lanka, no Camboja, na Austrália, em Omã, na Malásia, na Indonésia e no Djibuti.

 

Rota bélica

A organização, especializada na análise de dados e questões de segurança, examinou documentos oficiais da China e relatórios de analistas chineses sobre a iniciativa, também conhecida como “Nova Rota da Seda”.

Apesar de não existir nenhum documento oficial que relacione a “Nova Rota da Seda” a interesses de segurança da China, analistas chineses escreveram já que ambos estão “intimamente ligados”, afirmou o relatório.

“Muitos destes observadores reconheceram que uma rede de centros logísticos marítimos, através da região do Indo-Pacífico, tem potencial para mudar o cenário estratégico da região, e muitos descreveram explicitamente o papel do investimento em infraestruturas na estratégia chinesa”, indicou.

Os projectos portuários incluem uso duplo, para fins militares e civis, aumentam a influência do Partido Comunista Chinês, através do envolvimento de firmas estatais chinesas ou o controlo através de participações ou empréstimos a longo prazo, de acordo com o documento.

Lisboa tem insistido na inclusão de uma rota atlântica no projecto chinês, o que permitiria a Sines ligar as rotas do Extremo Oriente ao Oceano Atlântico, beneficiando do alargamento do canal do Panamá.

 

19 Abr 2018

Abertura do sector financeiro a investimento estrangeiro maioritário

Investidores estrangeiros poderão “dentro de meses” adquirir participações maioritárias em seguradoras, fundos de investimento, futuros e companhias de seguros de vida da China, anunciou ontem o banco central chinês

 

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] anúncio surge um dia depois de o Presidente chinês, Xi Jinping, ter prometido acelerar a abertura do mercado financeiro do país e reduzir as barreiras ao investimento estrangeiro nos sectores automóvel, construção naval e aviação.

Em Novembro passado, o Ministério das Finanças chinês avançou que o país iria permitir a empresas estrangeiras adquirirem participações maioritárias em seguradoras ou fundos de investimento, mas não detalhou uma data.

Os novos detalhes sobre a abertura do sistema financeiro chinês ao capital estrangeiro surgem num período de tensão com os Estados Unidos em torno de questões comerciais.

A China é também alvo de frequentes críticas de Bruxelas e Washington, devido às barreiras que impõe ao investimento estrangeiro em vários sectores, enquanto as empresas chinesas têm acesso sem restrições aos mercados externos.

 

Sem limites

No comunicado do Banco do Povo Chinês (banco central) afirma-se ainda que o país irá abrir ao investimento estrangeiro as empresas de leasing e crédito ao consumo ou compra de automóvel.

A mesma nota avança que irá abolir os limites à participação estrangeira em activos de investimento de bancos comerciais e operações de gestão de riqueza.

Na semana passada, os EUA divulgaram uma lista de importações chinesas avaliadas, no conjunto, em 40.700 milhões de euros, e às quais propõem aplicar taxas alfandegárias, como retaliação pela “transferência forçada de tecnologia e propriedade intelectual norte-americana”.

Em reacção, Pequim ameaçou subir os impostos sobre um conjunto de produtos norte-americanos, que em 2017 valeram o mesmo valor nas importações chinesas.

No fim-de-semana passada, Trump ameaçou subir as taxas alfandegárias para produtos chineses num valor adicional de 81.000 milhões de euros.

12 Abr 2018

FMI | Lagarde recomenda à China que termine divisões digitais e regulatórias

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] directora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, enalteceu ontem o desejo da China em se continuar a abrir, mas recomendou que o país termine com a divisão digital e regulatória. O Presidente chinês, Xi Jinping, “foi muito especifico: falou da abertura de sectores como a banca, seguros, automóveis, redução das taxas alfandegárias e barreiras, e um ambiente mais atrativo para as empresas estrangeiras”, destacou Lagarde.

A directora-geral do FMI falava na abertura do fórum Boao. Lagarde elogiou ainda a vontade expressa por Xi em melhorar a protecção dos direitos de propriedade intelectual, destacando que isso contribuirá para o progresso do país.

Há várias décadas que firmas estrangeiras acusam empresas chinesas de pirataria e roubo de tecnologia. A responsável do FMI apelou ainda ao país que termine com a divisão digital e regulatória. “Na Ásia, assistimos a um florescimento da ‘fintech’ [o uso de novas tecnologias por empresas do sector financeiro]. Isso revela a existência de ‘gaps’ regulatórios, que se não forem resolvidos nos níveis domésticos e transfronteiriço, podem causar riscos sistémicos”, afirmou.

Lagarde referiu ainda o que designa de “divisão na inovação”. A responsável explicou que o FMI publicou recentemente um documento que “identifica como o comércio facilita a transferência de tecnologia”.

A directora lembrou que a inovação e novas tecnologia não pertencem mais apenas a um pequeno número de países, notando que dois terços dos ‘robots’ no mundo encontram-se agora no Japão, Coreia do Sul e China. “Devemos continuar assim e é através do comércio que a inovação continuará a ser compartida. Além de ser um importador de tecnologia, a Ásia converter-se-á num exportador de tecnologia”, afirmou.

11 Abr 2018

Economia | Xi promete abertura e melhores condições para firmas estrangeiras

O Presidente chinês prometeu ontem reduzir os impostos sobre a importação de automóveis, abrir mais o mercado chinês e melhorar as condições para as firmas estrangeiras, numa altura de intensas disputas comerciais com Washington

[dropcap style≠‘circle’]N[/dropcap]o discurso inaugural do fórum Boao, conhecido como o “Davos asiático”, Xi Jinping não mencionou o Presidente norte-americano, Donald Trump, mas mencionou pontos que são chave na crescente tensão com os Estados Unidos em torno do comércio e partilha de tecnologia.

Xi prometeu que a China irá abrir os seus sistemas financeiro e bancário à participação estrangeira e proteger melhor os direitos de propriedade intelectual. “A China não se fechará e irá abrir-se ainda mais”, afirmou Xi, na abertura do fórum Boao, que se realiza em Hainan, extremo sul do país, reafirmando a posição pró-globalização de Pequim, numa altura em que Trump avança com uma agenda protecionista.

Pequim vai “baixar significativamente” as taxas sobre as importações de automóveis este ano e reduzir as restrições à participação de empresas estrangeiras naquele sector “o mais rápido possível”, disse o líder chinês. É de salientar, neste aspecto, que a China é o maior mercado automóvel do mundo.

Dito nas entrelinhas

No mesmo discurso, Xi Jinping não referiu directamente a disputa, mas prometeu encorajar “o intercâmbio regular de tecnologia” e “proteger os direitos legais de propriedade intelectual das firmas estrangeiras”. Na semana passada, os Estados Unidos divulgaram uma lista de importações chinesas avaliadas, no conjunto, em 40.700 milhões de euros, e às quais propõem aplicar taxas alfandegárias, como retaliação pela “transferência forçada de tecnologia e propriedade intelectual norte-americana”.

Em reacção, Pequim ameaçou subir os impostos sobre um conjunto de produtos norte-americanos, que em 2017 valeram o mesmo valor nas importações chinesas.

No fim de semana passado, Trump ameaçou subir as taxas alfandegárias para produtos chineses num valor adicional de 81.000 milhões de euros.

11 Abr 2018

Diplomacia | Líderes da Coreia do Norte e da China reuniram-se na capital chinesa

Nem a China quer ser deixada de fora, nem a Coreia do Norte pretende transmitir essa mensagem numa altura em que faz uma aproximação a Washington e Seul, defendem analistas. A visita surpresa de Kim Jong-un a Pequim serve também para Pyongyang mostrar aos Estados Unidos e à Coreia do Sul que tem outras opções no caso do diálogo fracassar

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap]s rumores espalharam-se como um fogo florestal, mas só ontem chegou a confirmação oficial: os líderes da Coreia do Norte e de Pequim estiveram reunidos. Foi a primeira viagem de Kim Jong-un ao estrangeiro e o primeiro encontro que manteve com outro chefe de Estado desde que chegou ao poder em Dezembro de 2011.

Tudo começou quando duas emissoras japonesas deram conta da chegada (imprevista) de um comboio blindado com origem da Coreia do Norte, acompanhada por um invulgar reforço da segurança em torno da residência de hóspedes de Diaoyutai, e limitações no acesso à Praça de Tiananmen, um protocolo habitual quando ocorrem visitas de líderes estrangeiros ao Grande Palácio do Povo.

Tanto a China como a Coreia do Norte confirmaram finalmente a visita que Kim Jong-un realizou, de acordo com o China Daily entre domingo e quarta-feira. Durante a histórica estadia em Pequim, o líder norte-coreano transmitiu ao Presidente chinês, Xi Jinping, o seu compromisso para com a desnuclearização da península coreana.

Segundo a agência oficial chinesa Xinhua, Kim revelou a Xi que a situação “estava a começar a melhorar”, afirmando estar “comprometido com a desnuclearização na península. Neste âmbito, o jovem líder, de 34 anos, afirmou que a desnuclearização pode ser alcançada.

“Se a Coreia do Sul e os Estados Unidos responderem com boa vontade aos nossos esforços, criarem uma atmosfera de paz e estabilidade e tomarem medidas faseadas e sincronizadas para alcançar a paz, a questão da desnuclearização da península pode ser resolvida”, declarou Kim Jong-un.

“Tive discussões frutuosas com Xi Jinping sobre o desenvolvimento das relações entre os dois partidos e os dois países, as nossas situações internas respectivas, a manutenção da paz e a estabilidade na península coreana, entre outras questões”, acrescentou.

“Este ano têm havido mudanças promissoras na situação da península coreana e expressámos o nosso apreço pelos grandes esforços que a Coreia do Norte tem feito a este nível”, afirmou Xi Jinping, também citado pela Xinhua.

Depois de anos de provocações, que ganharam forma em inúmeros testes nucleares e de mísseis, que lhe valeram sucessivas sanções impostas pela ONU, Pyongyang tem feito um esforço diplomático inesperado recentemente.

O primeiro passo visível foi dado quando Kim Yo-jong, irmã de Kim Jong-un, liderou, no mês passado, uma delegação aos Jogos Olímpicos de Inverno de PyeongChang que levou a conversações directas com a Coreia do Sul. Tanto que Kim deve encontrar-se com o Presidente sul-coreano, Moon Jae-in, em Abril, assim como participar numa cimeira com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, possivelmente em Maio. Um compromisso que deve manter-se de pé, a avaliar pelas palavras de Kim Jong-un em Pequim que terá manifestado vontade de “ter um diálogo” com Washington.

Não tirar o tapete

Esta visita parece sugerir que Kim valoriza ou precisa do aval de Pequim ou, eventualmente, do seu aconselhamento, escreveu o New York Times. Enquanto faz uma aproximação aos Estados Unidos e à Coreia do Sul, Pyongyang não quer, porém, transmitir a mensagem de que a China foi posta de lado, defendem analistas.

“Perante um potencial momento histórico, antes do início de uma peça dramática na península coreana, a China estava a perder o centro das atenções”, afirmou Cheng Xiaohe, especialista em assuntos da Coreia do Norte, na Universidade Renmin, em Pequim. “É extremamente difícil para os Estados Unidos fazer um roteiro para um processo de desnuclearização viável que vá ao encontro das condições prévias da Coreia do Norte sem o apoio ou envolvimento da China”, afirmou, citado pela agência Reuters.

“A China quer mostrar que não pode ser deixada de parte”, frisou.
Em paralelo, ao reforçar os laços com Pequim, a Coreia do Norte envia também uma sinal a Washington e a Seul de que tem outras opções caso o diálogo fracasse. Afinal, não obstante o recente distanciamento, Pequim é o mais importante aliado de Pyongyang. Para além da afinidade ideológica, a China combateu ao lado da Coreia do Norte na Guerra da Coreia (1950-53).

“O Norte obviamente acredita que manter a sua tradicional relação com a China permite-lhe ter maior influência sobre os Estados Unidos”, afirmou Koh Yu-hwan, especialista em assuntos da Coreia do Norte, da Universidade sul-coreana de Dongguk, citado pela agência Associated Press. “Mesmo que o diálogo com Seul e Washington corra bem à Coreia do Norte, o país continuará a precisar da ajuda da China. E caso não funcione, a Coreia do Norte definitivamente precisará do apoio da China”, acrescentou.

A visita de Kim ocorre também numa altura em que a economia norte-coreana é fortemente atingida pelas sanções impostas pelas Nações Unidas devido ao programa nuclear e de mísseis balísticos. As provocações do regime levaram Pequim a afastar-se e a aprovar as sanções no Conselho de Segurança da ONU, onde tem poder de veto. Cerca de 90 por cento do comércio externo da Coreia do Norte é feito com a China, sendo que, recentemente, Pequim restringiu o fornecimento de petróleo, levando o regime a procurar agora uma solução diplomática.

Se, por um lado, a China não pretende ter uma ameaça nuclear junto às suas fronteiras, por outro, não deseja também o colapso de um regime que serve como tampão entre a fronteira chinesa e a Coreia do Sul, país aliado dos Estados Unidos.

Com efeito, caso o diálogo com a Coreia do Sul e os Estados Unidos fracasse, Pyongyang poderá voltar a exibir as suas capacidades nucleares. Nesse caso, defende Du Hyeogn Cha, investigador do Instituto de Estudos Políticos de Asan, em Seul, a Coreia do Norte procurará que a China não se comprometa a reforçar ainda mais as sanções.

Qualificada de “não oficial” pela China, apesar de terem sido publicadas fotografias dos dois líderes, a histórica deslocação à capital chinesa apenas foi confirmada por Pequim e Pyongyang depois de Kim Jong-un ter regressado ao hermético país. A acompanhar o líder norte-coreano esteve a sua mulher, Ri Sol-ju, e vários altos quadros de Pyongyang, incluindo o ministro dos Negócios Estrangeiros, Ri Yong Ho, e altos funcionários do Partido dos Trabalhadores.

Descrevendo a visita como um “dever solene”, num banquete oferecido pelas autoridades chinesas, Kim Jong-un afirmou que não poderia ter escolhido outro destino. “É apropriado que a minha primeira visita ao estrangeiro seja à capital da República Popular da China, como é também um dos meus deveres valorizar a amizade entre a China e a Coreia do Norte, da mesma forma que valorizo a minha própria vida”, afirmou, de acordo com a KCNA.

A agência de notícias oficial norte-coreana também destacou a “profunda” troca de opiniões sobre as relações bilaterais e a segurança na península coreana entre os dois líderes. Contudo, de acordo com o Guardian, não fez qualquer referência à promessa de desnuclearização feita por Kim Jong-un.

Washington e Tóquio pedem explicações

Horas depois de confirmada a realização da cimeira, o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reagiu, afirmando estar ansioso por reunir-se com o líder norte-coreano. “Durante anos e através de diversas administrações toda a gente dizia que a paz e a desnuclearização da península coreana não eram sequer uma pequena possibilidade. Agora, há uma boa oportunidade de Kim Jong-un fazer o que é certo pelo seu povo e pela Humanidade”.

Quem não gostou particularmente da visita surpresa foi Tóquio que pediu, entretanto, satisfações a Pequim. “Queremos receber uma explicação completa por parte da China”, afirmou ontem o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, durante um discurso no Parlamento, indicando que Tóquio “está a recolher e a analisar as informações desta visita secreta com grande interesse”.

Apesar de valorizar a “disposição para o diálogo da Coreia do Norte”, Abe reiterou que Pyongyang “deve abandonar seus programas nucleares e de mísseis de forma completa e irreversível”. Forte defensor da política de “pressão máxima” sobre Pyongyang, em linha com Washington, o primeiro-ministro japonês tem mostrado cepticismo quanto à disposição do regime norte-coreano para dialogar.

29 Mar 2018

Cooperação judicial com países lusófonos é de “grande importância”

[dropcap style =’circle’] X [/dropcap] i Jinping considerou ser de “grande importância” o fórum de cooperação entre os sistemas judiciais dos países de língua portuguesa e da China, que arrancou em Cantão.

“O encontro é de grande importância para promover o intercâmbio e cooperação judicial entre a China e outras nações”, escreveu Xi numa carta citada pela agência noticiosa oficial Xinhua.

“O encontro vai ajudar no desenvolvimento de um ambiente legal favorável e na construção de uma comunidade de futuro compartilhado para a humanidade”, disse Xi.

O presidente do Tribunal Supremo de Justiça de Portugal, António Henriques Gaspar, esteve presente no encontro, assim como os seus homólogos da China, Angola, Brasil, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, Moçambique e São Tome e Príncipe. Na ocasião, o juiz português afirmou que é a “altura certa para construir uma base de cooperação e intercâmbio” entre os sistemas judiciais dos países de língua portuguesa e da China. “Portugal está disposto a avançar com o diálogo mútuo e partilha de informação com a China”, afirmou o responsável português, segundo um comunicado difundido pelo Tribunal Supremo Popular da China.

Apresentando pelas autoridades chinesas como um novo mecanismo de cooperação e intercâmbio entre a China e os países de língua portuguesa no domínio judicial, o fórum surge numa altura em que Pequim procura maior entrosamento com as autoridades estrangeiras, visando garantir o sucesso da “Nova Rota da Seda”.

“O fórum servirá como uma nova plataforma e irá abrir um novo capítulo nos intercâmbios e comunicação no domínio jurídico”, afirmou Zhou Qiang, presidente do Tribunal Supremo Popular da China, num comunicado difundido por aquele organismo. “O Tribunal Supremo Popular da China está disposto a ter uma cooperação mais prática com os países de língua portuguesa no estudo de casos, treino de juízes, partilha de informação, protecção dos direitos de propriedade intelectual e combate contra crimes transnacionais”, disse.

Segundo a Xinhua, que não avança com mais detalhes, o tema do fórum é a governança do ciberespaço.

27 Mar 2018

Liderança colectiva ou oligárquica

Pelo que consta, Xi Jinping voltou a ser eleito para o cargo de Presidente da China no 13º Congresso Nacional do Povo (CNP), tendo sido Wang Qishan designado para Vice-Presidente, Li Zhanshu para Presidente do Comité Permanente do CNP, Wang Yang para Presidente do Comité Nacional da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês, e Li Keqiang terá sido reeleito como Primeiro Ministro.

A nova liderança da China, com Xi Jinping no centro do poder, está finalmente definida. Os resultados foram conhecidos antes da votação dos delegados do CNP, o que quer dizer que a votação é uma mera formalidade. A situação é semelhante à que ocorreu aquando da eleição do Chefe do Executivo de Macau.

Se prestarmos atenção à História do povo chinês, compreendemos que a sua noção de democracia e de liberdade é débil, este povo sempre se acostumou a viver sob o autoritarismo. Mesmo quando o sistema imperial foi derrubado na China, há cem anos atrás, e Yuan Shikai foi eleito como o primeiro Presidente da República, pouco tempo depois declarou-se Imperador. A ideologia de Sun Yat-sen, que incluía uma série de pensamentos políticos ocidentais, não passou de um conjunto de teorias. Combatia a ideologia imperial que tinha vigorado por muitos séculos, alicerçada no sistema feudal, e não se revia no comunismo que defendia a ditadura do proletariado.

Os “Três Princípios do Povo” e os “Cinco Poderes da Constituição” implementados por Sun Yat-sen, inspirados no pensamento político ocidental, não passaram de teorias que não conseguiram combater de forma eficaz o sistema imperial enraizado numa sociedade feudal, nem o comunismo que defendia a ditadura do proletariado. Chiang Kai-shek em Taiwan e Mao Tsé Tung na China, permaneceram no poder até ao fim das suas vidas. No fim de contas, do que é que a China precisa, de uma liderança colectiva ou de uma liderança oligárquica?

Depois de Deng Xiaoping ter passado pela Revolução Cultural, formulou um novo conjunto de regras para o jogo do poder. Embora nunca tenha assumido o título de líder supremo da Nação chinesa, tendo sido sim o arquitecto da reforma e das políticas de abertura, para não falar da influência significativa que exerceu sobre as Forças Armadas, não lhe foi difícil mudar o Secretário Geral do Comité Central do Partido Comunista. Mas para a China, é difícil compreender o significado da verdadeira democracia, da liberdade e o conceito do estado de direito.

Durante a ascensão e a queda das Dinastias na História da China, o papel desempenhado pelo povo e pelas instituições foi importante, embora sujeito à influência de condicionalismos internos e externos. No entanto, qualquer medida produz uma panóplia de efeitos e o seu sucesso depende da capacidade de se adaptar à situação existente.

Após o incidente de 4 de Junho de 1989, as reformas do sistema político estagnaram. Mas as reformas económicas geraram lucros gigantescos, enquanto o poder se transformava num ninho de corrupção.

A liderança colectiva foi gerando problemas institucionais e, gradualmente, foram-se formando grupos de interesses. Através de jogos de poder, os interesses individuais foram vingando. Em resultado dessas manobras, foram surgindo diversas questões no seio do Partido Comunista e da própria sociedade. Quando a crise se instalou, o autoritarismo oligárquico deu entrada na cena política.

A emenda constitucional revogou a restrição para a reeleição do Presidente da Nação e a indigitação de responsáveis vai contra a prática habitual, até aqui conhecida como “até aos sete fica, aos oito vai-se” (os responsáveis de topo deveriam ficar no poder até aos 67 anos e reformar-se aos 68). Tudo isto demonstra que a China precisa de um poder central forte de forma a enfrentar a incertezas que se avizinham.

A duração desta situação vai depender das mudanças sociais. Durante 13º Congresso Nacional do Povo, a única coisa que me agradou foi a manutenção da cerimónia do “juramento de lealdade”. É um acto simbólico do estado de direito. É a promessa de que o País será governado de acordo com a lei.

Existem relações circunstanciais entre as pessoas, a sociedade e o sistema e estes elementos estão na origem da liderança colectiva e da liderança oligárquica. A prevalência de qualquer uma delas está nas mãos das pessoas envolvidas.

23 Mar 2018

Discurso de Xi Jinping refere Macau governado pelas suas gentes

[dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] Presidente chinês prometeu que Macau vai continuar a ser governado pelas suas gentes. Xi Jinping fez a habitual referência no discurso de encerramento da Assembleia Popular Nacional. Na parte em que se referiu às duas regiões administrativas especiais, o presidente da China afirmou que o Governo se vai concentrar em implementar integralmente o princípio Um País, Dois Sistemas, assim como respeitar o elevado grau de autonomia dos dois territórios.

Xi Jinping prometeu igualmente uma governação que vai seguir rigorosamente a Constituição do país e a Lei Básica das RAE. No mesmo discurso, o Presidente prometeu um esforço do Governo para continuar a desenvolver o país, aumentar o consenso nacional e o patriotismo, tanto em Macau como em Hong Kong.

21 Mar 2018

Nomeações | Executivo chinês aponta onze novos ministros

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo chinês apontou ontem onze novos ministros, entre os quais o da Defesa e da Justiça, parte de uma remodelação do Executivo que inclui ainda novos conselheiros de Estado e vice-ministros.

Wei Fenghe é o novo ministro da Defesa, substituindo Chang Wanquan. Fu Zhenghua sucede a Zhang Jun na Justiça. Wang Zhigang é o novo ministro da Ciência e Tecnologia e Liu Kun fica responsável pelas Finanças, enquanto o seu antecessor Xiao Jie ascende a conselheiro de Estado. O Ministério dos Recursos Humanos e da Segurança Social fica a cargo de Zhang Jinan, e Lu Hao ocupará o Ministério dos Recursos Naturais e E Jingping o dos Recursos Hídricos. Ma Xiaowei substitui Li Bin à frente do Ministério da Saúde.

Os dois novos ministérios aprovados na semana passada, de Gestão de Emergências e Assuntos dos Veteranos, serão dirigidos por Wang Yupu e Sun Shaocheng, respetivamente.

As mudanças afectam 10 dos 26 ministérios ou instituições com estatuto ministerial que compõem o Governo chinês.

Os ministérios de maior importância mantêm, no entanto, os responsáveis, incluindo o dos Negócios Estrangeiros (Wang Yi), a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma (He Lifeng) ou de Segurança Pública (Zhao Kezhi).

As mudanças foram aprovadas pelos cerca de 3000 delegados da Assembleia Popular Nacional. A APN aprovou ainda quatro novos vice-primeiros-ministros e cinco conselheiros de Estado.

20 Mar 2018

Aliança | Xi Jinping felicita Putin pela reeleição e destaca relação exemplar

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente chinês, Xi Jinping, felicitou ontem o seu homólogo russo, Vladimir Putin, pela sua reeleição, saudando uma relação sino-russa no seu melhor nível histórico e exemplar para as relações internacionais, noticiou a agência Nova China.

A relação entre Pequim e Moscovo “está no seu melhor nível histórico, o que constitui um exemplo para a edificação de um novo tipo de relações internacionais, fundado sobre o respeito mútuo, a equidade e a justiça”, indicou numa mensagem o Presidente chinês, que também foi reeleito no sábado por unanimidade pelo parlamento chinês.

O Presidente russo, Vladimir Putin, garantiu 76,41 por cento dos votos expressos nas eleições presidenciais de domingo quando estavam escrutinados 90 por cento dos boletins, informou ontem a Comissão Eleitoral Central.

Putin já ultrapassava os 45,6 milhões de votos recebidos em 2012 e quando faltavam contar 10 por cento dos sufrágios, ultrapassando assim o resultado de há seis anos, quando regressou ao Kremlin após um período de quatro anos como primeiro-ministro.

Este resultado histórico, que supera o que garantiu nas presidenciais de 2004, vai permitir-lhe permanecer no poder até 2024.

20 Mar 2018

Primeiro-ministro chinês reeleito e aprovada reestruturação do governo

O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, foi hoje reeleito chefe do Governo até 2023, pela Assembleia Popular Nacional, enquanto Yang Xiaodu é o director da Comissão Nacional de Supervisão, uma espécie de “superministério”

 

[dropcap style≠‘circle’]L[/dropcap]i Keqiang, de 62 anos, que chegou a chefe do Executivo em 2013, obteve a maioria dos votos dos cerca de 3000 legisladores que assistiram à sessão plenária, no Grande Palácio do Povo, em Pequim. Nos seus primeiros cinco anos como primeiro-ministro, Li teve muito menos atenção mediática que o seu antecessor Wen Jiabao e o actual Presidente do país, Xi Jinping, que tem muito mais poder do que os seus antecessores e organizou uma máquina de propaganda mais poderosa ao seu redor, noticia a agência Efe.

A APN aprovou ainda Yang Xiaodu como director da Comissão Nacional de Supervisão, um novo e poderoso órgão com estatuto superior ao dos ministérios e que tem como missão intensificar a luta contra a corrupção na China.

Yang, de 64 anos, era até agora ministro da Supervisão, área que com a reestruturação governamental aprovada esta semana na APN passou a ter uma importância maior no Executivo chinês.

Alguns observadores esperavam que a liderança da Comissão Nacional de Supervisão, “superministério” como é designado por alguns, que é considerado um dos cargos de maior poder na nova estrutura do regime, fosse assumida pelo actual chefe anticorrupção do Partido Comunista, Zhao Leji. Contudo, a escolha recaiu em Yang Xiaodu que também teve um papel na luta anticorrupção no partido como subdiretor da Comissão de Inspeção e Disciplina.

A nova Comissão Nacional de Supervisão é entendida por observadores de política da China como um “quarto poder”, semelhante aos tradicionais legislativo, executivo e judicial. Na prática, a missão deste organismo é alargar a todo o estado a campanha anticorrupção que durante a presidência de Xi Jinping se concretizou no seio do partido comunista.

Na mesma sessão da APN, entre outras votações, foi aprovada a continuidade de Zhou Qiang como presidente do Supremo Tribunal Popular para os próximos cinco anos e a substituição do procurador-geral Cao Jianming (no lugar desde 2008) por Zhang Jun. No sábado, a Assembleia Popular Nacional já tinha votado por unanimidade a reeleição do Presidente do país, Xi Jinping, para um segundo mandato (2018-2023).

 

Reforma executiva

A APN aprovou no Sábado o plano de reestruturação estatal que afecta 11 ministérios. Na sessão plenária, a APN aprovou a reorganização governamental com 2966 votos a favor (99,8 por cento do total), dois contra e duas abstenções, informa a agência EFE.

O plano de reforma estatal, apresentado na Terça-feira e debatido pelos legisladores da APN ao longo desta semana, prevê, entre outras mudanças, a criação dos ministérios dos Assuntos dos Veteranos, que “visa proteger os direitos e interesses legítimos do pessoal militar”, e de Gestão de Desastres Naturais e de Emergências.

O Ministério da Cultura passa a incluir também o Turismo, enquanto o Ministério da Terra e Recursos será designado de Recursos Naturais.

Entre outras alterações está, ainda, a fusão dos reguladores da banca e seguros, com o objectivo de aumentar a estabilidade financeira da segunda economia mundial.

No plano, o Ministério de Supervisão deixa de existir, dado que será elevado a Comissão Nacional de Supervisão, acumulando poderes comparados aos do executivo, legislativo ou judicial. No total, o Governo chinês passa a ter 26 ministérios, segundo noticiou a agência noticiosa oficial Xinhua.

A proposta, cuja aprovação era quase certa tendo em conta que a Assembleia chinesa nunca recusou um documento, prevê igualmente a criação da Administração Estatal da Imigração, que ficará encarregue dos cidadãos estrangeiros que trabalham na China.

Será também criada a Agência de Cooperação Internacional, para que a ajuda prestada por Pequim além-fronteiras “seja uma parte chave da diplomacia” chinesa.

19 Mar 2018

Xi Jinping reeleito Presidente da China por unanimidade

A Assembleia Popular Nacional votou no Sábado, por unanimidade, a reeleição do Presidente do país, Xi Jinping, para um segundo mandato (2018-2023), na sessão plenária, no Grande Palácio do Povo, em Pequim

[dropcap style≠‘circle’]X[/dropcap]i Jinping, de 64 anos, que devido à reforma constitucional aprovada esta semana também pela Assembleia Popular Nacional (APN) pode continuar na presidência da China após 2023, foi eleito com 2.970 votos a favor, nenhum contra e zero abstenções.
O chefe de Estado foi igualmente reeleito, de forma unânime, presidente da Comissão Militar Central, o órgão máximo do Exército chinês, pelo que vai continuar a assumir os três cargos de maior poder na República Popular da China (Presidente, chefe das Forças Armadas e secretário-geral do Partido Comunista).
As reeleições foram recebidas com muitos aplausos e com saudações de Xi que fez depois o juramento, colocando a mão sobre a Constituição do país. “Desempenharei honestamente as minhas funções, aceitarei a supervisão do povo e trabalharei arduamente para construir um país socialista moderno”, referiu no seu juramento.
Na sessão foi ainda eleito Wang Qishan, de 69 anos, vice-presidente da China, sucedendo a Li Yuanchao, enquanto que Li Zhanshu, de 67 anos, passou a ser presidente da APN, substituindo Zhang Dejiang.
No Domingo, a APN aprovou uma emenda constitucional que estabelece uma presidência indefinida para Xi Jinping.
Outra das alterações aprovadas inclui as teorias políticas de Xi Jinping sobre o desenvolvimento do “socialismo com características chinesas numa nova era” na Carta Magna chinesa.

Emenda constitucional

A actual Constituição chinesa, que entrou em vigor em 1982, foi alterada pela última vez em 2004.
A aprovação das emendas constitucionais pressupõe uma consolidação ainda maior do poder de Xi Jinping, que acaba de terminar o seu primeiro mandato de cinco anos e atinge assim um poder indefinido que os analistas comparam ao de Mao Zedong.
Além disso, o retorno a uma liderança indefinida implica uma ruptura com o sistema criado por Deng Xiaoping, que estabeleceu um poder mais colegiado, com limites temporais para os altos cargos, a fim de evitar os excessos que causaram a acumulação do poder pessoal desmedido durante a época de Mao Zedong (1949-1976).
Constitucionalmente, a APN é o “supremo órgão do poder de Estado na China”, mas cerca de 70 por cento dos seus quase 3000 deputados são membros do Partido Comunista Chinês, assegurando a sua lealdade ao poder político.
A abolição do limite de mandatos permitirá a Xi Jinping, um dos mais fortes líderes na história da República Popular, ficar no cargo depois de 2023, quando termina o seu segundo mandato.

19 Mar 2018

Xi Jinping | Fim do limite de mandatos é “chave para modernizar sistema chinês”

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Presidente chinês qualificou a emenda constitucional que abolirá o limite de dois mandatos para o cargo que ocupa como uma “medida chave para modernizar o sistema chinês”, informou a imprensa estatal.

Segundo a agência noticiosa oficial Xinhua, Xi Jinping mostrou, durante um painel de discussão com delegados do legislativo chinês, “apoio total” à proposta do Partido Comunista (PCC), que abarca ainda a inclusão da sua teoria política na Constituição do país.

Xi destacou que a proposta foi “plenamente democrática”, feita “após uma recolha de opiniões a partir de diferentes sectores” e que “ilustra o desejo comum do Partido e do povo”.

O líder chinês referiu ainda que a emenda constitucional permitirá “modernizar a capacidade de governação do país”.

A Xinhua escreve que os outros seis membros do Comité Permanente do PCC, incluindo o primeiro-ministro, Li Keqiang, deram também o seu apoio à emenda da Constituição, que será votada no Domingo na Assembleia Popular Nacional.

A medida, que abrange ainda o cargo de vice-presidente, surge numa altura em que Xi executa uma vasta agenda, que inclui tornar o sector estatal mais competitivo, desenvolver a indústria de alta tecnologia, reduzir a pobreza e combater a poluição, visando converter a China numa “potência global” e um “Estado socialista moderno” até meados deste século.

A nível interno, Xi afastou já os principais rivais políticos, enquanto legitimou a sua liderança aos olhos da população, através da mais ampla e persistente campanha anticorrupção de que há memória na China, que puniu já mais de 1,5 milhões de membros do PCC, incluindo 400 altos quadros do regime.

11 Mar 2018

China | Fim do limite de mandatos para Presidente chinês tem amplo consenso

O órgão máximo legislativo da China disse ontem que as emendas à constituição chinesa, propostas pelo Partido Comunista (PCC) e que incluem a remoção do limite de mandatos para o cargo de Presidente, obtiveram amplo consenso.

Um relatório apresentado por Wang Chen, vice-presidente da Assembleia Popular Nacional (APN), cuja sessão anual decorre esta semana em Pequim, revela que um processo de consulta sobre as emendas à constituição foi iniciado pelo Presidente Xi Jinping durante uma reunião do Politburo do PCC, em 29 de Setembro.

Um grupo de trabalho liderado pelo presidente da APN, Zhang Dejiang, e assistido por membros leais a Xi, foi então formado para liderar o processo.

Segundo Wang Chen, vice-presidente da APN, o grupo recolheu mais de 2.600 opiniões, desde quadros regionais a outras personalidades fora do partido.

O relatório aponta que a proposta de emenda constitucional foi depois aprovada, no final de Janeiro, durante um encontro do Comité Permanente da ANP.
A última emenda à constituição chinesa, que acrescentou a teoria de Jiang Zemin, fora feita em 2004, já depois de este ter deixado o poder.

Essa emenda ocorreu após um ano de consultas, mas desta vez foram precisos apenas cinco meses, apesar de aquilo que está em questão ter um significado muito maior.
A actual emenda permitirá a Xi Jinping, um dos mais fortes líderes na história da República Popular, ficar no cargo depois de 2023, quando termina o seu segundo mandato. O PCC elimina assim uma regra que distinguia o regime chinês de outros estados autoritários. Entretanto, multiplicam-se as opiniões de analistas que consideram tratar-se do regresso da China a uma ditadura pessoal.

Wang Chen garantiu que todas as pessoas envolvidas no processo “mostraram apoio unânime”.
Um académico citado pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post, e que pediu para não ser identificado, disse que o relatório de Wang é uma resposta oficial de Pequim aos rumores de que a emenda constitucional terá encontrado oposição dentro do partido. “A decisão é altamente controversa, e nas últimas semanas ouviram-se críticas e reações negativas sem precedentes de intelectuais, empresários e observadores de todo o mundo”, afirmou.

O voto dos cerca de 3.000 delegados à proposta, que inclui ainda a inclusão da Teoria de Xi na constituição do partido, decorre no Domingo e será fechada à imprensa.

7 Mar 2018

Fim do limite de mandatos domina reunião do legislativo chinês

[dropcap style=’circle’] A [/dropcap] sessão anual do órgão legislativo máximo da China arrancou hoje com o debate centrado numa emenda constitucional que removerá o limite de dois mandatos no exercício do cargo de Presidente do país

 

A proposta, que permitirá ao Presidente Xi Jinping permanecer indefinidamente no cargo, concentrará a atenção mediática sobre a reunião da Assembleia Popular Nacional (APN), que normalmente serve para aprovar o orçamento do país, o plano anual de desenvolvimento económico-social e outros documentos.

A alteração de um dos princípios fundamentais da política chinesa desde os anos 1980 ilustra a ascensão de Xi como um dos mais fortes líderes chineses na história da República Popular, com o regime a assumir contornos de uma ditadura pessoal.

Os cerca de 3.000 deputados reunidos durante os próximos dez dias no Grande Palácio do Povo, no lado ocidental da famosa Praça Tiananmen, irão também eleger os principais titulares dos órgãos do Estado, já previamente seleccionados pelo Partido Comunista Chinês (PCC), durante o seu último Congresso, que decorreu em Outubro passado.

A liderança chinesa tem defendido a necessidade de acabar com o limite de mandatos, visando assegurar a continuidade de Xi no poder, numa altura em que Pequim executa uma vasta agenda que inclui tornar o sector estatal mais competitivo, desenvolver a indústria de alta tecnologia, reduzir a pobreza e combater a poluição.

 

Líder único

Nos últimos anos, Xi desmantelou o sistema de “liderança colectiva”, cimentado pelos líderes chineses desde os anos 1980, e tornou-se o centro da política chinesa, eclipsando os outros seis membros do Comité Permanente do Politburo PCC, a cúpula do poder na China.

Além de secretário-geral do PCC, presidente da Comissão Militar Central – o braço político do exército – e Presidente do país, Xi é responsável pelos organismos encarregados da segurança nacional, finanças, reforma económica e “segurança no ciberespaço”.

A presidência é a menos importante das três posições que Xi ocupa na pirâmide do poder chinês – secretário-geral do PCC e Presidente da CMC são, por esta ordem, consideradas as mais importantes.

Ao assegurar aquelas duas posições, que não estão sujeitas a limite de mandatos, Xi Jinping seria já o líder indiscutível do partido e do Estado, pelo que a emenda constitucional surpreendeu muitos observadores.

“Caso seja aprovada, pode-se descrever esta tentativa de abolir o limite de mandatos como o regresso da China a tempos medievais”, afirma Warren Sun, um pesquisador sobre o PCC na Universidade de Monash, na Austrália, citado pela Associated Press.

 

6 Mar 2018

Xi Jinping | Exército apoia fim da limitação de mandatos para Presidente

O exército chinês expressou o seu apoio à exclusão na Constituição do país do limite de dois mandatos para o cargo de Presidente, que permitirá ao actual chefe de Estado, Xi Jinping, perpetuar-se no poder

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] reforma constitucional, proposta no Domingo pelo Comité Central do Partido Comunista Chinês, é “muito necessária” e chega “no momento certo”, afirma o jornal oficial do Exército de Libertação Popular.

Em editorial, o PLA Daily escreve que a reforma “está em linha com as principais políticas e opiniões do Partido Comunista, adoptadas durante o XIX Congresso” e “reflecte os novos feitos, experiências e necessidades de desenvolvimento das forças armadas e do país”.

Realizado em Novembro passado, o XIX Congresso do PCC consagrou Xi Jinping como o mais forte líder chinês das últimas décadas, ao incluir o nome e teoria deste na Constituição do partido.

O exército chinês, um dos principais núcleos de poder na China, apoia assim uma proposta que despertou preocupação entre os intelectuais chineses e observadores internacionais, que consideram tratar-se de uma regressão na política chinesa, rumo a um sistema mais autoritário e uma ditadura pessoal.

A limitação de mandatos vigora na política chinesa desde os anos 1980, visando prevenir os desastres causados pelo totalitarismo de Mao Zedong (governou entre 1949 e 1976).

A purga

Xi, que já acumulou mais poder do que os seus dois antecessores, Jiang Zemin e Hu Jintao, promoveu nos últimos anos uma campanha anticorrupção a mais ampla campanha anticorrupção de que há memória na China, e que atingiu também alta patentes do exército, até há pouco tempo considerado intocável.

Nos últimos anos, dois ex-vice-presidentes da Comissão Militar Central – braço político do exército -, os generais Guo Boxiong e Xu Caihou, foram acusados de corrupção.

O primeiro foi condenado a prisão perpétua, em 2016, e o segundo morreu no ano anterior, antes de ser julgado.

1 Mar 2018

Intelectuais pedem voto contra fim da limitação de mandatos

Um grupo de intelectuais chineses, encabeçado pelo colunista Li Datong, pediu a vários legisladores chineses que impeçam a emenda constitucional que prevê remover o limite de dois mandatos no exercício de cargo de Presidente

 

[dropcap style≠‘circle’]A[/dropcap] emenda, cuja proposta foi tornada pública no Domingo pelo Comité Central do Partido Comunista Chinês, permitirá ao atual Presidente chinês, Xi Jinping, ficar no cargo depois de 2023, quando termina o seu segundo mandato.

Será votada em Março, na sessão anual da Assembleia Nacional Popular (ANP), o órgão máximo legislativo da China, que é composto sobretudo por membros do PCC, pelo que é certa a sua aprovação.

Numa carta difundida através da rede social Twitter, que está bloqueada na China, Li Datong, o antigo editor da “Bingdian”, revista próxima à Juventude Comunista da China, e outros intelectuais, advertem que a emenda “causará o ridículo entre todos os países civilizados do mundo” e “será um passo atrás na História que poderá semear o caos”.

A carta encabeçada por Li, um colaborador habitual da publicação britânica openDemocracy, defende que a limitação de dois mandatos (cinco anos cada um) foi introduzida em 1982 na Constituição para “evitar a ditadura pessoal e que um indivíduo possa sobrepor-se ao partido”.

 

Posição tomada

A alteração desse princípio pode “causar danos intermináveis”, pelo que Li pede aos legisladores de Pequim (uma pequena parte dos cerca de 3.000 que participarão na sessão anual da ANP), que votem contra.

A limitação de mandatos vigora na política chinesa desde os anos 1980, visando prevenir os desastres causados pelo totalitarismo de Mao Zedong (governou entre 1949 e 1976).

Xi Jinping, o mais forte líder chinês das últimas décadas, afastou já os principais rivais políticos, enquanto legitimou a sua liderança aos olhos da população, através da mais ampla e persistente campanha anticorrupção de que há memória na China, que puniu já mais de 1,5 milhões de membros do PCC, incluindo 400 altos quadros do regime.

28 Fev 2018

Deputados analisam consequências locais do fim de limite de mandatos

A alteração da Constituição da República Popular da China pode abrir espaço para alterações à Lei Básica de Macau. Essa é a opinião de Sulu Sou que entende que, numa perspectiva “optimista”, poderiam existir alterações para dar lugar ao sufrágio universal. Já Agnes Lam vê o território com políticas muito perto de Pequim, pelo que a figura de Chefe do Executivo perde relevo

 

[dropcap style≠‘circle’]S[/dropcap]e a constituição chinesa pode ser alterada, a Lei Básica também. A ideia foi deixada ontem pelo deputado suspenso Sulu Sou aos jornalistas. À margem do almoço anual com a comunicação social promovido pela Assembleia Legislativa (AL), o pró-democrata referiu que o recente anúncio de Xi Jinping relativo à alteração constitucional para acabar com o limite de mandatos dos cargos de Presidente e de vice-Presidente pode ter uma consequência positiva para Macau. “Temos uma nova esperança com esta decisão, porque se podem mudar a Constituição, também podemos alterar a nossa Lei Básica para que seja implementado o sufrágio universal para a eleição dos deputados na Assembleia Legislativa”, disse.

O deputado suspenso com ligações à Associação Novo Macau, avança ainda que as leis são para ser alteradas e justifica a sua posição. “Defendemos que todas as leis devem ser alteradas, caso seja esse o desejo das pessoas, em prol de um sistema mais democrático. Insistimos na alteração da Lei Básica e queremos que não haja deputados nomeados no futuro”, apontou.

Trata-se de uma opinião optimista, considera Sulu Sou. “Para ser honesto é difícil mudar o regime político em Macau, mas podemos ser optimistas. Se a Constituição é alterada, os activistas podem clamar pela mudança na Lei Básica”, sublinhou o deputado suspenso.

Colocada a possibilidade da mudança da Lei Básica ir no sentido do proposto por Xi para o continente, Sulu Sou refere que além de ser uma ideia descabida é também improvável. “Seria uma decisão louca alterar a Lei Básica para eliminar os limites ao mandato do Chefe do Executivo. Não me parece que isso vá acontecer”, disse.

 

Perto de Pequim

Agnes Lam encara as alterações previstas para o continente como podendo ter dois tipos de consequências para o território. De acordo com a deputada não é assim tão importante quem governa o território. “No caso de Macau penso que não se trata de quem é o líder, até porque já temos uma política a que podemos chamar de Central”. Por outro lado, independentemente do Governo regional, “se falarmos em termos políticos, por exemplo da Grande Baía ou de “Uma Faixa, uma Rota”, não vão existir mudanças dependentes do Chefe do Executivo.

Quanto à possibilidade de alterações à Lei Básica, a deputada que se estreia na AL neste mandato, considera que não serão prováveis. “Não penso que em Macau a lei vá mudar. Aqui é diferente. No continente a política é muito mais complicada do que me Macau”, aponta.

 

De olho no popularismo

Apesar das teorizações, há que ter em conta o factor da popularidade da medida. “No continente, a maioria das pessoas que não vive nas grandes cidades ou que não são, digamos, intelectuais, gostam de Xi Jinping. Mas em Macau, mesmo quando Edmund Ho governava, houve quem defendesse que deveria continuar por mais um mandato por ser visto como um excelente líder”, começa por justificar. A possibilidade gerou algum ruído na sociedade mas nada aconteceu, recordou Agnes Lam. “Em Macau estamos habituados a modelos mais ocidentais e, por isso, penso que a alteração à Lei Básica não será fácil”, rematou a deputada.

O presidente da Assembleia Legislativa, Ho Iat Seng, preferiu remeter-se ao silêncio e não tecer considerações sobre o tema. “Estamos neste momento a falar na alteração da Constituição da República Popular da China e não da Lei Básica de Macau. Não respondo a questões de suposição”, referiu aos jornalistas.

28 Fev 2018

ONG | Repressão do Governo chinês não conseguiu silenciar activistas

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] campanha repressiva lançada pelo Governo chinês contra activistas dos Direitos Humanos no país não conseguiu abalar a sua resistência, afirmou em comunicado a organização Defensores Chineses dos Direitos Humanos (CHRD).

No seu relatório anual, intitulado “Repressão e Resistência”, a CHRD considera que os activistas chineses “demonstraram uma notável capacidade de resistência na promoção e protecção dos direitos humanos, face à repressão governamental”.

Em 2017, o regime comunista chinês cometeu “graves” violações dos direitos humanos, segundo a organização, à medida que o Presidente chinês, Xi Jinping, “consolidou o seu poder e promoveu a sua visão totalitária”.

No entanto, os activistas do país conseguiram mobilizar-se, divulgando informação ‘online’ e manifestando-se em prol dos direitos humanos, aponta a CHRD.

A organização lembra que, apesar das restrições ao direito ao protesto pacífico, que incluiu penas de prisão, ocorreram no ano passado importantes protestos espontâneos contra a poluição, despejos forçados ou salários injustos.

A resposta das autoridades face à resistência dos activistas consistiu na perseguição penal, desaparecimentos forçados, tortura ou privação de tratamento médico adequado, destacou a organização.

“Os abusos relacionados com os direitos económicos, sociais e culturais, assim como com os direitos políticos e civis, continuam a ser generalizados na China”, recordou a CHRD, que considera que as organizações de defesa dos direitos humanos no país “lutam pela sua sobrevivência”.

27 Fev 2018

Reacção | Pequim censura críticas a proposta para remover limite de mandatos

A censura chinesa está a eliminar comentários sobre a proposta do Partido Comunista de remover da Constituição o limite de mandatos para o cargo de Presidente, enquanto analistas prevêem que o país regresse ao absolutismo

 

[dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m dia depois da proposta do Partido Comunista Chinês (PCC), uma busca nas redes sociais chinesas pelas palavras “Xi Jinping servir outro mandato” não dava nenhum resultado. No entanto, utilizadores do Weibo partilharam imagens do desenho animado do Ursinho Pooh a abraçar um jarro com mel, com a legenda “Agarra-te àquilo que amas”. A imagem não é inocente, uma vez que o cartoon tem, nos últimos anos, comparado o Presidente chinês ao urso da Disney.

Outros internautas escreveram “Atenção, o veículo está a fazer marcha atrás”, – um aviso automático usado pelos veículos de entregas na China -, numa alusão ao regresso do país a um sistema absolutista semelhante ao do ‘reinado’ de Mao. Outro comentário aludia à pressão familiar em torno do casamento. “A minha mãe disse-me que eu tinha de casar enquanto o Grande Tio Xi fosse Presidente”, lê-se num outro comentário, entretanto eliminado. “Agora, posso finalmente respirar de alívio”, acrescenta.

As propostas à alteração da Constituição serão votadas na Assembleia Nacional Popular (ANP) e cuja sessão anual decorre no próximo mês.

Segundo a emenda constitucional de 1982, o exercício do cargo de Presidente está limitado a dois mandatos.

“É muito provável que se torne num posto vitalício”, afirma Zhang Ming, um antigo professor de ciência política na Universidade Renmin, em Pequim, citado pela Associated Press.

Cadeira do poder

A nível interno, Xi afastou já os principais rivais políticos, enquanto legitimou a sua liderança aos olhos da população, através da mais ampla e persistente campanha anticorrupção de que há memória na China, que puniu já mais de 1,5 milhões de membros do PCC, incluindo 400 altos quadros do regime.

Em termos de política externa, Xi adoptou uma postura mais assertiva no Mar do Sul da China, reclamando a totalidade do território, apesar dos protestos dos países vizinhos.

O professor e comentador chinês Hu Xingdou diz duvidar que Xi queira ser Presidente vitalício, mas que há preocupações de que a China “possa deslizar para um tipo de fascismo ou ditadura pessoal com graves consequências”.

Além de secretário-geral do PCC e Presidente da China, Xi é também presidente da Comissão Militar Central, Comandante-Chefe do exército chinês e chefia a Comissão Central de Segurança Nacional e o “grupo dirigente” encarregue de supervisionar o programa de “aprofundamento geral das reformas”. Um outro organismo novo, responsável pela “segurança do ciberespaço”, é também dirigido por Xi.

Xi terá já dado sinais de querer prolongar a sua estadia no poder quando durante o congresso do PCC, no ano passado, quebrou com o protocolo de elevar um possível sucessor ao comité permanente do Politburo, a cúpula do poder na China.

No mesmo congresso, o mais importante evento da agenda política chinesa, o nome e teoria de Xi foram incluídos na constituição do partido, elevando-o ao estatuto de Deng Xiaoping, o arquiteto-chefe das reformas económicas que transformaram a China, e do fundador da República Popular, Mao Zedong.

27 Fev 2018

Análise / Xi Jinping | O grande passo atrás

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] proposta de alteração da constituição chinesa, nomeadamente a remoção do limite de dois mandatos para presidente e vice-presidente, feita pelo Partido Comunista Chinês e ainda não aprovada, constitui um passo atrás na História, um golpe profundo nas aspirações “científicas” do regime e um abrir de uma caixa de Pandora de onde poderão sair malefícios dispostos a afectar o mundo.

Não foi por acaso que Deng Xiaoping introduziu esta norma, até aí e ainda hoje inexistente no dito “mundo socialista”. A China acordava do pesadelo da Revolução Cultural, na certeza de que seguir a vontade de um só homem podia conduzir o país ao descalabro. Sabiamente, Deng compreendera que a libertação das forças produtivas implicava também uma mudança significativa na estrutura do poder, de modo a que não se criassem as condições para uma repetição da História que, sabemos desde Marx, acontece primeiro como tragédia e depois como farsa.

Ora se a Revolução Cultural representa uma trágica repetição da História, nomeadamente da violenta ascensão da dinastia Qin e da destruição cultural subsequente, o regresso da China a um tenaz comando centralista e providencialista provavelmente desenrolar-se-á como farsa, sob a luz dos holofotes mediáticos, numa teatralidade já obsoleta, que não seduzirá gente esclarecida.

Isto porque confiar na existência de homens providenciais é tique de um mundo antigo, enraizado na superstição e no alívio da submissão, distante da pretensão de cientificidade que o PCC gosta de utilizar no seu discurso e na definição dos seus objectivos. Na verdade, trata-se de uma desgraça, velha como o mundo, áspera como balas e de consequências funestas. Existe aqui algo de religioso neste pensamento que, no século XXI, deveria estar totalmente afastado, erradicado, sanitizado, dos meandros do poder. Até porque o culto da personalidade, por muito que agrade às informes massas, deve ser mantido nos limiares das revistas de famosos, na medida em que roça o ridículo numa mente esclarecida, contemporânea e, sobretudo, escaldada pelo “carisma” de alguns personagens do século XX.

Trata-se, no limite, de algo exorcizado por Deng Xiaoping, cuja sabedoria proporcionou à China o lugar que hoje ocupa no plano internacional e impulsionou o crescimento interno que espanta o mundo. Infelizmente, agora prevê-se o regresso de um certo infantilismo de cariz popular, insuportável a olhos lúcidos e a ouvidos educados, na medida em que desvenda o aspecto teatral do relacionamento do poder com as massas populares. Xi Jinping, que se apressou a classificar de “nihilismo histórico” o pensamento filosófico finissecular europeu (pós-moderno), não deveria precisar de importar os valores escatológicos do Ocidente (judaico-cristãos) para justificar um Mandato do Céu.

A China implementava o discurso do “governo científico”, mais assente na máquina do Partido do que na benevolência e sapiência de um só homem. E com esta postura distinguia-se de outros países ditos comunistas ou pós-comunistas. Inaugurava, para gáudio de alguma esquerda, um novo sistema de transferência de poder em ambiente autoritário, que garantia alguma alternância, luta política, portanto, satisfação. Sem perder mão das rédeas, nem deixar de picar o cavalo na direcção pretendida e apresentando tremendos resultados económico-sociais. Tudo isto sem recorrer ao abstruso culto da personalidade ou mesmo evitando-o como Maomé evitava o toicinho, pois lembrava-se ainda na pele dos efeitos maléficos de tal sorte.

Resta equacionar, sobretudo pelos actuais líderes chineses, se esse extraordinário desenvolvimento económico-social não foi precisamente consequência do novo ordenamento político e motivado pela constitucional e inevitável sucessão: do mesmo modo que as forças produtivas se libertavam no mercado e na sociedade, também as forças políticas prosperavam no interior do PCC e o horizonte certo de mudança não só motivava a criatividade como pacificava a mecânica dos desejos. Ao impor a alternância, a constituição pacificava as facções excluídas dos lugares cimeiros, porque instituía a possibilidade de ascensão. Neste sentido, a alteração constitucional parece um passo pouco inteligente, pelo qual o PCC se extirpa dessa dinâmica que o manteve a flutuar à tona da sociedade chinesa, sem contestações de maior, durante os anos rebeldes da transformação.

Xi Jinping, seguindo um famoso texto de 1937 de Mao Zedong (“Sobre a contradição”, no qual o fundador da RPC recusa a síntese hegeliana e funda o materialismo histórico sínico), identificou a actual contradição do socialismo com características chinesas: o fosso aberto entre ricos e pobres, alimentado pela crescente corrupção. E, de forma brilhante, entendendo que aí residia a salvação do Partido face ao crescente descontentamento popular, iniciou uma gigantesca campanha anti-corrupção, ganhando num golpe a aprovação das massas e a capacidade de eliminar indesejáveis.

Por outro lado, implementou uma internacionalização estruturada da China, através da iniciativa Uma Faixa, Uma Rota (que representa a primeira medida de carácter planetário até hoje concebida e implementada) e da modernização radical do Exército de Libertação Popular, que manteve sob o controlo estrito do Partido, agora capaz de defender as aspirações chinesas no Mar do Sul. Assim, a China surgiu no planeta como a única superpotência com capacidade e vontade para desenvolver uma cooperação mundial de benefício comum, preocupada com o meio ambiente (apesar de ser o segundo maior poluidor) e criadora de conceitos globais, como a “comunidade de futuro comum”, algo que os americanos não se preocuparam em fazer e do qual se distanciam, num exercício de arrogância que deixa descalço o ocidente perante a investida oriental, armada de dinheiro e de valores globais.

Mas, ao entrar no que o PCC define como “nova era”, com esta alteração constitucional, a China arrisca-se a dar um passo atrás, ainda que simbólico, ao deificar um governante. Deng previra este perigo e exorcizara-o constitucionalmente. Deste modo, a China arrisca-se a reproduzir, pelo menos para o mundo, uma nova dinastia semelhante à que governa a Coreia do Norte, hoje alvo da chacota de muitos chineses, que a classificam de “monarquia absoluta”. Tal não abonará a favor da sua imagem global como constituirá um rude golpe nos que viam nas alterações introduzidas no PCC um eventual modelo de para outros regimes de partido único. Pensamos, por exemplo, nalgumas ditaduras africanas e na influência benéfica que a comparação com a China poderia, eventualmente, produzir.

Contudo, tudo indica que o passo está dado e a constituição será alterada, abrindo caminho à eternização de Xi e dos seus aliados na cadeira do comando. O futuro dirá se não se trata de um tiro no pé, mais motivado pela uma arrogância infantil de quem sente um extremo poder antes sonegado, porque, sejamos francos, só uma mentalidade de criança aceita a existência de homens providenciais.

Ao negar a extensão do poder além de dois mandatos, a constituição chinesa sabiamente evitava o infantilismo político, cujas trágicas consequências estão bem documentadas pela História. Um grande político deve ter a consciência da necessidade de se retirar da cena pública, sob pena de se transformar (a si e, sobretudo, aos que gravitam à sua volta) naquilo que procurava combater. Já sem falar das maleitas sociais provocados pela inércia que decorre de tal situação, entre as quais a corrupção desempenhará papel preponderante. De facto, podemos imaginar que, à imagem do presidente, outros postos do PCC nas províncias ganharão um estatuto idêntico, eternizando os mesmos no poder, com as consequências conhecidas.

Esperemos que, em 2023, independentemente das mudanças constitucionais, Xi Jinping mostre que é um grande líder e tenha a sabedoria de escolher reformar-se, dando a outros o seu lugar. Para bem da China e do mundo.

27 Fev 2018

Xi Jinping | Alteração constitucional que acaba com limite de mandatos do Presidente divide opiniões

Xi Jinping quer acabar com o limite de dois mandatos da presidência da China. Para o efeito, vai ser discutida na próxima sessão da APN a devida alteração à constituição. Se para uns é uma medida necessária que visa a estabilidade política, para outros trata-se de um exercício de poder, um retorno aos tempos de Mao e o fim de uma Era iniciada por Deng Xiaoping

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Partido Comunista Chinês (PCC) anunciou neste Domingo a intenção de pôr fim ao limite de dois mandatos na presidência e vice-presidência, inscrito na Constituição. Na prática, a medida abre caminho a um terceiro mandato de Xi Jinping e mesmo a um Governo por tempo indeterminado. A mudança é votada a partir de 5 de Março na sessão anual da Assembleia Nacional Popular (ANP)

Apesar das vozes que já se levantam contra e a favor da mudança à constituição, para o académico Jianwei Wang “a situação ainda não está muito clara para que possamos falar de implicações e consequências no que toca a esta decisão”, afirmou ao HM. Mas, admite, trata-se de uma estratégia que visa a estabilidade do país.

Se para Deng Xiaoping era essencial a limitação de mandatos para o desenvolvimento da China, parece que agora, na inversão da situação, o argumento pode ser o mesmo. “A motivação que levou Deng Xiaoping a impor um limite de mandatos à presidência foi a abolição dos cargos vitalícios, de que Mao era um exemplo. Deng considerava que estas situações não eram benéficas para o desenvolvimento do país”, refere o Wang Jianwei.

No entanto, “o limite de dois mandatos também não é necessariamente bom se pensarmos em políticas a longo termo. Não é bom para a estabilidade política”, defende o professor da Universidade de Macau.

Contra a possibilidade de uma mudança para mandatos indeterminados passarem a vitalícios, Wang tem esperança de que os governantes chineses   estejam a pensar num mecanismo para o efeito.

A mudança à Constituição proposta por Xi Jinping pode ainda ser vista como uma medida pertinente no momento histórico actual do país. “A China está num momento crítico de desenvolvimento nacional em que precisa de uma liderança forte”, refere.

Xi já anunciou que vai levar a cabo mais pacotes de reformas, nomeadamente no que respeita à abertura externa nos próximos anos. Para o académico trata-se de um momento fulcral em que é necessário ter uma “mão firme a liderar o país”. É por isso que, considera, “há muitas pessoa na China que vêm a mudança de acordo com esta perspectiva e não como negação da democracia ou da liberdade”, refere.

Ninguém é insubstituível

A opinião não é partilhada pelo jurista António Katchi. O professor do Instituto Politécnico de Macau é claro. “Alguém acreditará sinceramente que, se em 2023 o Xi Jinping fosse substituído, por exemplo, pelo Li Keqiang (actual Primeiro-Ministro), isso levaria, por si só, a uma mudança significativa de políticas internas e externas? Eu não acredito. Alguma mudança de estilo poderia haver, mas não uma mudança significativa de políticas”, sublinha ao HM.

Sendo certo que ninguém é absolutamente insubstituível, afirma Katchi, é verdade que, “em determinadas circunstâncias históricas, aparecem certas personalidades de difícil substituição, no sentido em que a sua alteração pode ter um impacto significativo (positivo ou negativo) no país, no regime, no Governo ou nas suas políticas”. No entanto, para o académico, não será o caso de Xi Jinping. “Poderá ter sido o caso de Mao Tse Tung, mas não me parece, de todo, que seja o caso de Xi Jinping”.

Já Jorge Morbey ainda não tem opinião definida quanto aos benefícios ou malefícios da medida mas não tem dúvidas de que se trata de um retrocesso no que respeita ao sistema político. “Isto vai contra o rumo do mundo, das democracias e das políticas actuais que são praticadas”, começa por dizer.

No entanto, Morbey coloca desde já de lado a ideia de que a mudança constitucional tenha como objectivo a garantia de estabilidade. “Não me parece que seja para manter alguma estabilidade política. Quem conheça a história da China, desde Deng Xiaoping, sabe que o país não tem sofrido problemas de instabilidade nem problemas de quebra de crescimento”, aponta ao HM. De acordo com o comentador, poder-se-á tratar mais de “um exercício de poder”.

O fim de uma Era e de uma transição pacífica de poder é a consequência real da intenção de Xi. A ideia é deixada por Eric Sautedé. O académico defende que o anúncio de Domingo já era esperado desde 2003, ano em que Xi Jinping assumiu a presidência da República Popular da China. Formalizada agora a intenção de alterar a Constituição e atribuir mandatos por tempo indeterminado ao Presidente, representa o “abandono de uma zona segura para voltar ao triunfo da ideologia”, lamenta.

De vendas nos olhos

“A nível internacional não terá consequências”, começa por dizer Jorge Morbey. A razão é simples e pouco feliz. “No ocidente sempre viram a China com lentes bastante coloridas.”, explica. “Aquilo que é objecto de análise crítica no ocidente não o é quando se fala de China”, lamenta o historiador. Consequentemente, sendo a mudança aprovada no próximo mês, “o ocidente não vai fazer nada, mas se isto acontecesse num país ocidental caía o Carmo e a Trindade”.

António Katchi é mais radical e faz um apanhado do que considera as relações entre o ocidente e a China.

“A partir de finais dos anos 70, a classe dirigente do Partido Comunista Chinês – toda ela comprometida com as atrocidades cometidas sob o comando supremo de Mao Tse Tung, ao longo das três décadas anteriores, em nome de um pretenso “socialismo” – passou-se de armas e bagagens para o lado do grande capital, procurando encontrar para si própria, e para o seu país, um lugar ao sol dentro dessa ordem capitalista mundial. Que lugar foi esse? Primeiro, o de fábrica do mundo; depois, o de grande mercado de consumo e de grande investidor à escala global”, comenta.

Para o jurista, neste processo, a China transformou-se numa potência imperialista, exportando, já não só mercadorias, mas também capitais, e aumentando correspondentemente o seu peso político-militar (e a sua vontade de domínio político e militar) na arena internacional. “Os outros dois grandes pólos do imperialismo – Estados Unidos e União Europeia – estão ligados à China por uma relação que inclui dependência mútua, colaboração (cumplicidade na pilhagem global) e competição”, sublinha.

“Já os países situados na periferia da ordem capitalista global estão ligados à China por uma relação que é basicamente de sujeição. Socialmente, os únicos verdadeiros inimigos do regime chinês são as classes trabalhadoras do mundo inteiro, incluindo as da própria China; ideologicamente, são-no os verdadeiros socialistas, comunistas e anarquistas e, admitamo-lo também, os verdadeiros democratas-liberais. Ora, é este o quadro geral que determina as políticas do PCC, e não qualquer pretenso “pensamento de Xi Jinping”, remata o professor do Instituto Politécnico de Macau.

O acento num discurso dicotómico por parte dos Estados Unidos pode ser um dos efeitos do fim do limite de mandatos proposto por Xi. Para Wang Jianwei, “de um ponto de vista ocidental, a maioria das pessoas pensa que este não é um passo no sentido de seguir em frente mas antes um retrocesso à Era de Mao, o que também dá jeito, por exemplo, aos Estados Unidos”, refere. De acordo com o académico, o país liderado por Trump “pode aproveitar e acentuar a dualidade de políticas entre a democracia do ocidente e autoritarismo do oriente e esta mudança”.

Visão interior

“Penso que a curto prazo não haverá repercussões para Macau e Hong Kong”, aponta Wang Jianwei. “Os Chefes do Executivo das RAE têm mandatos limitados e esta mudança não vai levar a que as circunstâncias se transformem nem que se recorra ao exemplo da China como argumento para isso”, sublinha. O académico admite, porém, que o efeito se pode eventualmente sentir nos governos locais do continente. Mas Macau e Hong Kong não têm de seguir o exemplo, até porque “isso só levaria a mais discussões na área da política local”. De referir que os dois mandatos do Chefe do Executivo local tiveram como referência a situação no continente.

Proposta necessária

“De acordo com a situação, o desenvolvimento da China e as alterações recentes que o país enfrenta, a revisão constitucional que foi proposta é um reflexo do que é necessário”, disse Chui Sai Peng ao HM. No entanto, a proposta ainda vai a discussão, sendo que o deputado considera que vão estar na mesa várias opiniões. Mesmo que a alteração na Constituição vá para a frente, Chui Sai Peng ressalva que a medida não quer dizer que “o presidente Xi Jinping continue no cargo”. Já o deputado Vong Hin Fai opta por não se pronunciar para já. “Neste momento, ainda vou ter de estudar as alterações. É um tema que preciso de tempo para estudar primeiro, antes de emitir uma opinião”, disse ao HM.

27 Fev 2018

Xi Jinping | PCC propõe remover da constituição limite de dois mandatos do Presidente

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Partido Comunista Chinês (PCC) propôs excluir da constituição da China o limite de dois mandatos para o cargo de Presidente, informou ontem a imprensa oficial, quando Xi Jinping se assume como o mais forte líder das últimas décadas.

Segundo a agência noticiosa oficial chinesa Xinhua, a proposta do Comité Central do PCC aplica-se ainda ao cargo de vice-presidente do país.

Num outro despacho, a Xinhua informa que o PCC propôs ainda incluir o Pensamento de Xi Jinping na Constituição do país. As propostas à alteração da constituição serão votadas na Assembleia Nacional Popular (ANP), órgão máximo legislativo da China, composto sobretudo por membros do PCC, e cuja sessão anual decorre no próximo mês.

A decisão surge quatro meses depois de o congresso do PCC, ter decidido incluir o nome e teoria de Xi na constituição do partido, elevando-o ao estatuto de Deng Xiaoping, o arquitecto-chefe das reformas económicas que transformaram a China, e do fundador da República Popular, Mao Zedong.

Nos últimos anos, Xi desmantelou o sistema de “liderança coletiva”, cimentado pelos líderes chineses desde finais dos anos 1970, e tornou-se o centro da política chinesa, eclipsando os outros seis membros do Comité Permanente do Politburo PCC, a cúpula do poder na China.

Além de secretário-geral do PCC e Presidente da China, Xi é também presidente da Comissão Militar Central, Comandante-Chefe do exército chinês e chefia a Comissão Central de Segurança Nacional e o “grupo dirigente” encarregue de supervisionar o programa de “aprofundamento geral das reformas”. Um outro organismo novo, responsável pela “segurança do ciberespaço”, é também dirigido por Xi.

Com uma intensidade inédita desde o ‘reinado’ de Mao, a imprensa chinesa reforçou também o culto em torno da sua imagem.

Em termos de política externa, a China de Xi abdicou da discrição e passou a assumir a ambição de participar na governação de questões globais, num período em que a liderança de Donald Trump, nos Estados Unidos, ou o ‘Brexit’, na União Europeia, desafiam certezas antigas da geopolítica internacional.

Sob a sua direção, a China tem combatido a influência estrangeira na sociedade civil, meios académicos ou Internet, apontam organizações de defesa dos Direitos Humanos.

Xi Jinping foi eleito Presidente em 2013 e, no ano passado, foi eleito para um segundo mandato, que terminará em 2023, mas com a alteração constitucional pode-se estender além dos próximos cinco anos.

O anúncio foi feito depois do Politburo se ter reunido no passado Sábado e antecipa a sessão plenária de três dias do Comité Central que começa hoje e que tem na agenda alterações institucionais a ser discutidas na próxima reunião anual da Assembleia Popular Nacional.

26 Fev 2018

Economia | Xi Jinping escolhe Liu He como homem das finanças chinesas

Liu He é o homem designado por Xi Jinping para resolver os principais problemas da segunda maior economia mundial. Entre a hostilidade financeira de Washington e os desafios domésticos, o economista que representou a China em Davos terá muito que fazer

[dropcap style≠’circle’]G[/dropcap]rande parte da gestão económica chinesa poderá estar nas mãos de Liu He, tal é a confiança que Pequim tem no economista formado em Harvard. Depois de ter sido uma das estrelas do Fórum Económico Mundial, reunido no mês passado em Davos, Liu He apresentou-se como o principal conselheiro económico chinês e traçou no seu discurso o programa económico para os próximos cinco anos. A prestação na Suiça vincou a sua posição como um dos 25 mais poderosos membros do Politburo.
Prevê-se que o natural de Pequim seja nomeado no próximo mês como um dos quatro vice-Primeiros-Ministros a trabalhar debaixo de Li Keqiang.

A subida vertiginosa na hierarquia do Partido Comunista Chinês acontece aos 66 anos para o economista que se formou na prestigiada Universidade de Harvard e espera-se que se torne um dos mais poderosos vice-ministros das últimas duas décadas.
De acordo com analistas, Xi Jinping poderá mesmo delegar alguns dos maiores desafios económicos na equipa liderada por Liu, “ultrapassando as competências do Primeiro-Ministro”, refere Steve Tsang, director da SOAS China Institute de Londres ao South China Morning Post. O analista prevê mesmo que o economista não avance com nenhuma reforma económica que desagrade a Xi Jinping.

Tecnocratas ao poder

Liu continuará a dirigir uma entidade que funciona como um conselho económico nacional em Pequim e deverá ficar à frente da Comissão de Desenvolvimento e Estabilidade Financeira, uma agência que ultrapassa os reguladores financeiros na supervisão dos riscos económicos.

A equipa liderada por Liu He é composta por uma equipa de tecnocratas oriundos da banca e sistema financeiro chinês, incluindo alguns nomeados no banco central nacional, assim como players nos mercados de valores e na indústria de seguros.
Entre os maiores desafios económicos da equipa de Liu está o avassalador crescimento económico, que em média se tem situado nos 9,8 por cento todos os trimestres desde Março de 1992, e que fez crescer a economia chinesa até se tornar a segunda maior do mundo. Ultimamente, este grau de crescimento tem abrandado para 7,2 por cento nos últimos cinco anos. Uma situação que o Governo categorizou como “a nova normalidade”.

23 Fev 2018